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A ARTE DE LER AS MÃOS:

SABERES E CRENÇAS DO QUIRÓLOGO CONTEMPORÂNEO.

K. BORGES1

RESUMO
O presente artigo trás uma síntese da pesquisa realizada no campo de aplicação de tema a ‘Arte de Ler
as Mãos’ realizado pelo trabalho de conclusão de curso. A partir da ótica das Ciências da Religião
objetivou-se no geral: analisar como ocorrem as formas de apropriação de saberes à Arte de Ler as
Mãos na contemporaneidade brasileira. E especificamente teve como objetivo: apresentar as narrativas
e personalidades que compõe a trajetória da leitura de mãos, analisar o perfil daqueles que têm
saber/conhecimento na Arte de Ler as Mãos; e por fim, compreender como ocorrem as formas de
apropriação à Arte de Ler as Mãos. No primeiro momento dessa pesquisa, através de um levantamento
bibliográfico, foram vistos alguns apontamentos sobre o universo da Arte de Ler as Mãos por
reconhecer que é um assunto pouco conhecido e também abordado no espaço acadêmico. No segundo
momento, para compreender como ocorrem na contemporaneidade brasileira os saberes voltado a Arte
de Ler as Mãos, apresento a pesquisa em sua natureza qualitativa para o desenvolvimento e finalização
desse trabalho. Os resultados apontam que é possível obter o saber e aprendizado para essa Arte
através da tradição em família, através de cursos, e até mesmo por concepções que perpassam o
fenômeno religioso.
PALAVRAS CHAVES: Arte de Ler as Mãos; saberes; crenças.

ABSTRACT
This course conclusion work is the result of researches conducted on the effort of the theme of the
“Art of Hand Reading”. This thematic represents all the symbolic complex of this technique shrouded
on ancient narratives. So from the perspective of the sciences of religion this work aims in general to:
examine how occur forms of appropriation of knowledge to Art of Hand Reading on Brazilian
nowadays. And specifically aims: to present the stories and personalities that make up the trajectory of
palm reading, analyzing the profile of those who have knowledge / expertise in Art of Hand Reading;
and finally understand how occur forms of ownership to the Art of Reading Hands. At first this
research, through a literature review, were seen some notes about the universe of Art of Hand Reading
to recognize that is a little known subject and sparing discussed in academic space. In the second
phase, to understand how they occur in the Brazilian contemporary knowledge aimed at the Art of
Hand Reading, here I present the research in its qualitative nature to the development and completion
of this work. The results show that is possible to obtain the knowledge and learning for this Art
through the family tradition, through courses, and even by conceptions that pervade the religious
phenomenon.
KEYWORDS: Art of Hand Reading; Beliefs; Ecology; Knowledges.

1
Licenciada em Ciências da Religião e Mestre no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião –
Ambos pela Universidade do Estado do Pará. O artigo aqui exposto tem como base a pesquisa realizada para o
Trabalho de Conclusão do Curso em 2015. Este artigo também consta no livro intitulado “Religião e Cultura:
Diálogos entre corpo, a festa e espiritualidade da Terra” – organizado pela Prof. Dr. Maria Roseli Santos. Para
mais informações: kellen.borges@hotmail.com.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Existem diversas especulações e hipóteses a respeito de onde e como teria surgido a


prática de ler as mãos e, poucas são as pesquisas acadêmicas vinculadas a esse tema. Muitos
autores que se dispõem a abordar sobre a Arte de Ler Mãos buscam compor um itinerário
dessa prática desde sua possível origem até os dias atuais. De acordo com Cheiro (1985),
partindo-se dos antigos hindus, o estudo das mãos pode ser acompanhado através de
civilizações como as da China, Tibete, Pérsia, Egito e, finalmente Grécia. 2 Para que essa
questão seja abordada o aporte teórico sobre narrativas míticas e lendárias são de suma
importância para compreender o universo da leitura de mãos.
Apesar de apresentar algumas narrativas e personalidades que compõe o percurso da
leitura das mãos, essa pesquisa procurou debruçar-se em compreender as formas de
apropriações do saber da leitura de mãos a partir da seguinte indagação: como ocorrem, na
contemporaneidade brasileira, as formas de apropriação dos saberes da Arte de Ler as Mãos?
A partir dessa problemática foi preciso realizar uma análise no perfil de pessoas que têm
saberes voltado para essa temática para compreender a questão proposta.
Para analisar as formas de apropriações, buscou-se estruturar um caminho onde as
ferramentas metodológicas proporcionassem dados que dessem visibilidade à problemática
em seu contexto real. Dessa forma, a metodologia é “o caminho do pensamento e a prática
exercida na abordagem da realidade [...] A metodologia inclui as concepções teóricas de
abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade” (MINAYO,
1994, p. 16).
Sendo assim, para analisar a problemática, essa pesquisa foi dividida em três
momentos: 1) levantamento bibliográfico tanto das literaturas nativas como também aos
teóricos utilizados, nessa fase recorri também à aplicação do estado da arte, ou segundo
Ferreira (2002, p. 258), “estado do Conhecimento”, que é um método que também faz parte
da pesquisa bibliográfica, mas que “procura mapear a produção acadêmica produzida por
diferentes campos do conhecimento”; 2) pesquisa de campo, onde organizei a escolha dos
interpretes da pesquisa, além das ferramentas utilizadas, como por exemplo, entrevista e
questionário; 3) a sistematização dos dados coletados para realizar as análises do material.

2
Outros povos são ressaltados, como por exemplo, Hebreus, Assírios e Romanos.
A partir do estado da arte realizei um levantamento de trabalhos acadêmicos voltados
ao tema “leitura de mãos”.3 No primeiro momento não obtive registros nos bancos virtuais
acadêmicos sobre essa temática. Através de artigos que envolviam o tema do povo Cigano
que fui encontrar referências ao trabalho de Conclusão de Curso intitulado de “Olhares
Múltiplos: O significado da Quirologia para pessoa com diferentes escolaridades, crenças e
superstição.” de Karine Zancanaro (2008). Enquanto a pesquisadora, Zancanaro se atém ao
estudo e analise a partir da semiótica, a pesquisa que desenvolvi parte do universo das crenças
e saberes do quirólogo contemporâneo.
Para dar conta da problemática recorri a uma pesquisa qualitativa que, de acordo com
Minayo (1994, p. 22), “trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes”. Dessa forma, através de balizadores foi feita a seleção dos interpretes que
4
participaram dessa pesquisa pelo recurso de uma etnografia virtual. As ferramentas
utilizadas para sistematizar os dados e compor a análises foram: entrevistas e questionários.
Esses procedimentos viabilizaram a coleta de dados para compreender como ocorrem as
formas de apropriação dos intérpretes.
Após toda a coleta de dados, por fim, chegou-se a terceira etapa: sistematização dos
dados coletados e sua análise. A análise consistiu na organização do conteúdo em forma de
quadro temático com identificação das recorrências, sensos e dissensos entre os conteúdos das
diversas entrevistas. A partir disso foi possível realizar considerações e conclusões sobre o objeto de
pesquisa.

1. Narrativas e personalidades que compõe o percurso da leitura das mãos.

Uma pesquisa que traz como objeto o tema leitura de mãos, não deve desconsiderar as
narrativas que compõe esse tradicional universo. Apresentá-lo é expor uma parte da vasta
tradição passível de se encontrar em um número expressivo de referências secundárias. É
importante ressaltar que essa pesquisa procurou apresentar um pouco desses elementos
presente nas narrativas como forma de oferecer, ao público que desconhece, a história
tradicional envolta no tema da Arte de Ler as Mãos.

3
Verifiquei através dos bancos virtuais das universidades no Brasil, com a delimitação a partir do ano de 2010
até o ano de 2015, se existiam pesquisas acadêmicas com o tema da leitura de mãos.
4
Essa pesquisa ficou composta por quatro intérpretes com idades entre 30 a 59 anos, com diferentes
escolaridades, crenças e que tem saberes e conhecimentos voltados à área de leitura de mãos e diferentes
localidade do território brasileiro. Todos assinaram o termo de cessão e estão nos anexos do trabalho de
conclusão de curso (2015).
Segundo Eliade (1972), o mito tal qual como era compreendido pela sua comunidade,
é uma história verdadeira e extremamente preciosa por seu caráter sagrado. A narrativa mítica
é responsável por relatar um acontecimento significativo dentro das sociedades, pois ele é o
relato de um acontecimento originário, no qual os deuses agem (CROATTO, 2001, p. 209).
Dessa forma, o mito tem como intuito relatar o surgimento de uma instância, uma lei, rito
religioso, um sacrifício, uma cerimônia, uma prática oracular e entre outros acontecimentos de
caráter originário onde os deuses são os protagonistas.
Nessa perspectiva de relato de uma instância, aparentemente a Arte de Ler as Mãos
sob a ótica hindu apresenta uma narrativa de caráter mítico. De acordo Palm Reading
Perspective (2011), o livro intitulado “Sariraka Sastra – Indian Science of Hand Reading
based on Kartikeyan System” publicado em 1960, por Vak Ayer, ressalta que quando Vishun
estava ao lado de sua consorte Laksmi, Samudra teria anotado os sinais auspiciosos que
estavam marcados nos corpos do casal divino e, depois teria presenteado a humanidade.
Dessas anotações os antigos sábios – os rishis – da Índia teriam desenvolvido e aprimorado
ainda mais esses ensinamentos. No entanto, há ainda outra versão no qual é dito que Shiva
que teria ensinado sobre sinais auspiciosos.
Os famosos “sinais auspiciosos” são mencionado nas literaturas da Arte de Ler as
Mãos sinalizando grandes personalidades. Tais marcas ressaltam características de uma
pessoa ligada, ou pré-destinada a algo: seja uma espiritualidade ou uma religiosidade elevada,
também apontaria as riquezas, um grande rei ou político, ou um esplêndido orador,
habilidades artísticas e entre outras características. As narrativas tradicionais fazem
referências às marcas auspiciosas atribuídas aos príncipes Vardhamana, Rama e Sidarta
Gautama – o Buda. Tais personagens dão margem para abordamos a categoria de lendas, um
tema diferente daquilo que se compreende as narrativas míticas.
De acordo com Croatto (2001, p. 233), tanto o mito como as lendas são considerados
verdadeiras pelo narrador e sua assembleia. Os protagonistas dos mitos são seres divinos e
seus relatos narravam como e de onde teriam surgido, como por exemplo, uma prática ou um
rito religioso. Diferente dos mitos que são considerados sagrados, as lendas podem ou não ter
um teor sagrado em suas narrações, com a presença das divindades em alguns momentos. Mas
é comum nas lendas os seres humanos serem os personagens principais.
O local mais citado nas literaturas que abordam a temática da leitura de mãos é o
oriente, mais precisamente na Índia, pois esse tema seria “mencionado em antigos
manuscritos indianos datados de 3.000 anos” (KING, 1983, p.5). Nessa perspectiva essa
pesquisa encontrou através dos seis Angas – conhecido como membros explicativos – um
componente responsável pela astronomia e astrologia. O quinto componente intitulado de
Jyotish abordaria então a respeito dos movimentos dos copos celestes e sua influência sobre
as questões dos seres humanos.
Dentro do jyotish teria a categoria de estudo intitulada de Hast Jyotish. Segundo
Ghanshyam (1998), Hast Jyotish significa o estudo dos efeitos da luz dos corpos celestes
sobre hast – a mão. Para Marcio Pombo (2015), o hast jyotish seria uma enciclopédia de
autoconhecimento através dos astros. Os registros de tal enciclopédia apresentam-se sob a
forma de signos, como por exemplo, impressões digitais, linhas, montes e sinais.
Uma segunda referência da cultura hindu é um método de interpretação a partir do
corpo humano: o Samudrika Shastra. De acordo com Vedic Vidya Institute (2005), o
Samudrika Shastra é um método complexo de interpretação e análises do corpo humano, onde
todas as marcas naturais, genéticas ou até mesmo as que são adquiridas com o decorrer da
vida de uma pessoa é levando consideração nas análises. Dentro do Samudrik Shastra
existem diversos ramos de estudo e conhecimento, como por exemplo, o estudo da face
humana e das mãos – hast. Para Vedic Vidya Institute (2005), as mãos seria um tipo de
espelho que reflete a natureza de seu dono e de seu destino. As marcas encontradas nas mãos
de uma pessoa atêm-se a um bloco de estudo voltado para a Tradição Védica chamada de
Hast Samudrika Shastra.

1.1.Vestígios da leitura de mãos na Europa.

Saindo desse universo oriental, a pesquisa também procurou concentrar-se nas


narrativas referente ao ocidente. Até o momento em que se finalizava a pesquisa não foi
possível obter conhecimento se havia mitos referentes à Europa. Porém, lenda é o que não
falta e, especialmente as que são mencionadas filósofos, imperadores, e até mesmo religiosos.
Segundo Pinheiro (2010), Hipócrates, Anaxágoras, Aristóteles, são alguns dos filósofos que
mantiveram algum contanto com método de analisar as mãos.
Para King (1983), alguns manuscritos medievais da Europa Ocidental sobre leituras de
mãos recotam a tradicional lenda de como tal prática teria atingindo a Europa. Essas lendas
narram à descoberta do possível manuscrito achado no altar de Hermes contendo aspectos da
prática de ler de mãos. Alguns livros sobre a Arte de Ler Mãos ressaltam o achado através de
Anaxágoras, e outros a Aristóteles. Outros materiais mencionam o fato de ser um trato árabe
que foi descoberto durante as viagens por um desses filósofos.
As diversas lendas que existem daquilo que se aproxima da ideia da chegada da leitura
de mãos no Ocidente, se apresentam confusas. Segundo King (1983), Aristóteles teria
descoberto o manuscrito e entregado ao imperador Alexandre Magno. Mas outra lenda alude
o fato que a expansão do império da macedônia possibilitou que Alexandre III (Grande),
nascido por volta de 356 a.C., tivesse entrado em contato com a leitura de mãos. Para Pinheiro
(2010), no oriente médio se encontravam adeptos da prática de ler mãos, por causa expansão
de seu império, Alexandre Magno acabou descobrindo tal técnica e levado à Europa. 5
Do contexto de supremacia em 1184 uma bula papal determinava o excomungasse de
todos que agissem contra os dogmas. No ano de 1233, o papa Gregório IX criou o Tribunal do
Santo Ofício, para perseguir e punir os dissidentes considerados hereges. Em 1252, segundo
Baigent e Leigh (2001. p. 19), o papa Inocêncio IV havia autorizado uso da tortura para obter
confissões de práticas heréticas. Dentre as várias práticas consideradas heréticas, se
encontravam as consultas a métodos de adivinhação do futuro. De acordo Rinaldi (2014), a
leitura do futuro era considerada perigosa e obra do demônio por parte dos cristãos, porque
apenas Deus podia ver o que estava para além do presente.
Dentre os diversos povos perseguidos, os Ciganos foram um alvo de diversas
brutalidades. Na tradição da leitura de mãos, Pinheiro (2010) alega que a expulsão dos
ciganos de algumas partes da Europa se deu pelas ameaças sofridas, em boa parte, pela
população que era instigada pela Igreja Católica, pois essa instituição nutrira receio ao modo
de viver cigano e suas práticas, como por exemplo, a leitura de mãos. De acordo com Bel-
Adar (1993), durante o medievo, a prática de ler as mãos entrou em aparente declínio e sua
estrutura geral havia perdido quase toda a solidez apesar de alguns segredos terem sido
guardados também por hermetistas.
Ao mesmo tempo em que os métodos de adivinhação do futuro, em especial a
quiromancia – uma prática que também tem propriedades de adivinhar – eram combatidos por
ser consideradas heréticas, aparentemente foi guardada e estudada pelo magistrado cristão e
cultivada em sigilo. Um exemplo disso é a especulações a respeito de clérigos estudarem a
morfologia das mãos, suas linhas e seus sinais. Dentre eles é mencionado o Padre Ignácio
Vieira (1678-1739), o provável autor do Tratado de Chiromancia6.

5
Nas referências que utilizei há outras personalidades que são aludidas como parte do universo da Arte de Ler
Mãos. Citei apenas algumas com o intuito de apresentar um pouco o imaginário que circunda tal tema.
6
No site ‘Europena think culture’ é possível encontrar o Tratado da Chriomancia.
Segundo King (1983), há manuscritos medievais da Europa que apontam a leitura de
mãos, geralmente relacionada à Astrologia. Alguns dos manuscritos estão na Bodleian
Library, a principal biblioteca de pesquisa da Universidade de Oxford, uma das mais antigas
da Europa, situado no Reino Unido desde o século XVIII. A tradição alega que a primeira
publicação sobre a leitura de mãos no Ocidente foi entorno do século XV. Segundo Pinheiro
(2010), Johann Harlieb (1400-1541), escreveu Die Kunst Chiromantie, um tratado sobre a
Arte da Quiromancia.
No século XIX, a leitura de mãos parece ganhar novos delineamentos no ocidente com
observações, analises e interpretações específicas: de um lado a fisionomia das mãos, e do
outro lado encontrasse os sinais que as palmas podem e/ou não apresentar. Os nomes que se
destacam nesse período é o de Casimir Stanislas d’Arpentigny7 (1798-1865) e posteriormente
o de Adrien Adolphe Desabarolles (1801-1886). De acordo com Pinheiro (2010), ambos
seriam considerados pais da quiromancia moderna. Sendo o Capitão Casimir, o observador da
fisionomia das mãos. E Adrien Desbarolles o responsável por aprimorar as análises feitas por
Casimir, abordando também as linhas e sinais presente nas mãos.
Em Os mistérios da mão, Adrien Desbarolles além de expor suas análises sobre as
questões da leitura de mãos faz observações a d’Arpentigny. Na segunda parte desse livro,
intitulado de Quirognomia, Desbarroles parece dar voz ao Capitão d’ Arpentigny, oferecendo
a hipótese que ambos mantinham diálogos a respeito da prática de leitura de mãos, “Perguntei
um dia ao senhor d’Arpentigny como descobrira o seu sistema: <<Por uma inspiração
divina>>, respondeu-me.” (DESBAROLLES, 2000, p.67).

1.2.A Quirologia do século XX.

No finalzinho do século XIX, o estudo a respeito do formato, da textura das mãos


e dos dedos, assim como também, sobre as linhas, os montes e os símbolos continuavam a ser
criticados por não apresentar métodos devidos e sistemáticos aos moldes do cientificismo
moderno. Apesar disso, segundo Pinheiro (2010), esse é período que marca o possível início
da moderna Quiromancia, que passa a ser considerada por alguns autores como sendo uma
ciência e devendo, portanto, ser chamada de Quirologia.
Quirologia é o termo por nós preferido, a Quiromancia, por ser mais
cientifico e por excluir toda ideia oculta. A Quirologia estuda, na mão, a
marca astral, no que acreditava Desbarolles, o grande mestre deste

7
Possível autor de La Chirognomie (1839).
conhecimento. A mão é o gesto; o gesto é a palavra, a palavra é a alma; a
alma é o homem (CARDOSO, 2000, p. 159).

O irlandês William John Warner (1866-1927), conhecido como Conde Louis Hamon,
de epíteto Cheiro8, teria impulsionado o universo da Arte de Ler Mãos a outros patamares.
Segundo King (1983, p. 80), a vida de Cheiro – em um momento correspondia a de um
quiromante da sociedade, em seguida de um conferencista público. A tradição envolta dessa
personalidade alega que ele era versado a astrologia, numerologia e clarividência. Para
Broekman (1972, 11), o Conde Cheiro, “alegava também possuir poderes ocultos, de forma
que se tornou difícil separar o aspecto técnico (leitura) da quiromancia, da parte psíquica
(oculta) de suas interpretações”.
O Conde William Warner teria escrito alguns livros com temática que do universo da
leitura das mãos, um deles é intitulado Como ler as mãos, publicado 1894, traduzido por
Florenzano onde conta com pequena autobiografia. No entanto, William não foi o único que
deixou publicações a respeito da leitura de mãos, o médico do exército mexicano Arnold
Krumm-Heller (1876-1949) também desenvolveu o Tratado de Quirologia médica (1927).
Também é importante ressaltar Julius Spier (1887-1942), um psicólogo especialista na
morfologia e linhas das mãos, teria seria o autor de The Hands of Children (1944), contendo
uma introdução de autoria de Carl Gustav Jung (1875-1961).

2. O QUIRÓLOGO CONTEMPORÂNEO.

Após ter apresentado algumas narrativas e personalidades do universo narrativo da


leitura de mãos, a pesquisa volta-se para compreender como ocorre na contemporaneidade
brasileira, as formas de apropriação dos saberes à Arte de Ler as Mãos (ALM). Para isso,
realizou-se uma pesquisa de campo, onde a metodologia foi estabelecida em consonância às
concepções teóricas adotadas diante do caráter qualitativo do fenômeno em estudo, o que
permitiu realizar uma pesquisa que buscasse compreender a problemática.
Para a coleta dos dados, a estrutura do questionário estava dividida em três partes: a
primeira intitulado de Perfil: nomes, idades, localidade, escolaridade, religião e/ou
espiritualidade, e também o contato com outras religiões; a segunda responsável pela
Apropriação da ALM: de onde provinha o conhecimento da ALM, processos de
aprendizagem da ALM, métodos durante o aprendizado e se recebia ajuda ou auxilio durante

8
Segundo FLORENZANO, (1985, p. 9), Pronunciar: Ki-ro.
a prática da ALM. E por fim, o terceiro visava o Ensino da ALM: como alguém poderia
dispor ou obter conhecimento da ALM, ensinar outras pessoas e, também, a estrutura do
Ensino da ALM. Através dos temas, foi possível organizar de uma forma mais didática a
análise dos dados coletados.
A primeira parte do questionário envolveu o tema do perfil dos intérpretes. Essa parte
estava responsável por coletar: nome, idade, localidade, escolaridade, religião ou
espiritualidade e contato com outras formas em que o fenômeno religioso possa se manifestar.
Os quatros intérpretes da pesquisa ofereceram, por diferentes abordagens, diversos temas que
formam unidades que resultam em um vasto saber, ou seja, uma ecologia de saberes, que na
perspectiva de Boaventura (2008b, p. 142), também é uma “pluralidade de saberes
heterogêneos”. Entre os saberes dos intérpretes procurei destacar três aspectos que coexistem
em suas vidas: os saberes voltado ao tema da ALM, os conhecimentos adquiridos pelo nível
superior da educação formal e os conhecimentos nutridos pela religião ou espiritualidade em
que eles se identificam.
Os quatros intérpretes dessa pesquisa ofereceram por diferentes abordagens diversos
temas que formam unidades que resultam em um vasto saber, ou seja, uma ecologia de
saberes, que na perspectiva de Boaventura (2008b, p. 142), também é uma “pluralidade de
saberes heterogêneos”. Entre os saberes dos intérpretes procurei destacar três aspectos que
coexistem em suas vidas: os saberes voltado ao tema da ALM, os conhecimentos adquiridos
pelo nível superior e os conhecimentos nutridos pela religião ou espiritualidade em que eles se
identificam. Começando por Adriana, a respeito do contanto com outras religiões escreveu:
Nasci em um lar católico, trabalhei como voluntária de espiritismo 30 anos entre kardecismo
e umbanda, conheci a igreja evangélica, mas foi só de passagem por conhecimento.
Dentre os intérpretes apenas Jasmim, a respeito de sua espiritualidade, concentrou uma
resposta mais detalhada: Hoje não pratico nenhuma religião convencional, me considero
espiritualista, acredito que cada religião com as quais tive contato tem aspectos positivos que
podem me auxiliar na minha caminhada espiritual. Considero que tenho minha própria
religião. Já faz uns três anos que pratico. E sobre contato com outras religiões ela escreveu:
Sou uma curiosa de religiões, fui criada na religião católica, conheci ainda na infância um
pouco da evangélica, depois de adulta, conheci a budista, adventista, umbanda, candomblé,
kardecismo. Em sua fala é possível observar o absorvimento para si próprio benefícios de ter
estado com outras religiões, anteriormente abordado por Ivo Oro.
Na abordagem de Jorge, é possível verificar não só o aspecto de absorvimento de
diferentes concepções traçada por Ivo Oro (2013), mas também a própria tessitura de ecologia
saberes de Boaventura. O contato com outras religiões aconteceu desde sua infância, e toda a
sua vida ele se viu em contato com diferentes tradições religiosas: Sou filho de pai luterano e
mãe católica. Meus filhos estudaram em Colégio Adventista. Minha esposa foi Criada na
Assembleia de Deus. Meu padrasto era da Igreja Reformada. Minha família é batizada na
Igreja Mormon, inclusive eu. Faço parte de todas estas religiões. Fiz escola de aprendizes do
Evangelho. Faço parte da Fraternidade dos Discípulos de Jesus. Faço parte da Grande
Fraternidade Branca do Espaço. Fiz curso completo e fui médium de Umbanda. E outras
coisas mais como Mahikari, I am, etc.
Com a necessidade de se realizar uma entrevista, almejando obter um melhor
desenvolvimento de algumas respostas, Maria das Graças possibilitou uma compreensão das
religiões que escreveu em questionário. Em entrevista alegou: Sou umbandista e fiz
recentemente... É... feitura no Candomblé. Eu sou do Ketu. Em dúvida, perguntei se ela tinha
então passando de uma religião para outra, e sua resposta foi: Continuo nelas todinhas. E sou
espírita. Sou mentora espiritual na mesa espírita. Eu abro a mesa espírita e faço a cura
espiritual também. Entre as três religiões citadas por Maria a sua relação com o espiritismo se
deu primeiramente dentro de sua casa por intermédio de sua mãe: eu seguia o espiritismo com
ela [a mãe de Maria] em casa, ela abria a mesa espírita. Depois eu fui ser a secretária,
depois eu fui ser a presidente de mesa. Hoje eu sou a presidente de mesa espírita,
trabalhamos no espiritismo, fazemos cura espiritual.
Assim como os demais intérpretes, Maria também está situada no plano da ecologia de
saberes. Várias unidades heterogenias de saberes compõem a sua história de vida: desde aos
saberes vinculados a Umbanda-Espiríta – por onde ela preside e faz cura espiritual – como os seus
próprios saberes voltado a tema da leitura de mãos, e a importância que a graduação em
psicologia teve em sua vida, que é um dado muito interessante que está pesquisa revelou. O
contato contanto com outras religiões que Maria teve, foi o fato de sua graduação em psicologia,
onde estudou a antropologia da religião: eu fui em várias religiões. Seicho-no-ie, eu fui ao
Budismo, Espiritismo, Umbanda, Candomblé, Igreja Evangélica... Eu percorri, estudei porque
tem que ter a filosofia da das religiões, cada religião tem a sua filosofia. Através da graduação
em psicologia Maria conheceu outras religiões porque precisava estuda-las na academia, em
entrevista também informou o contato que esteve com as dissidências da Igreja Evangélica, como
a Batista e a Quadrangular.
É interessante notar que na pergunta relacionada ao contato com outras religiões ou
espiritualidades, todos os intérpretes expuseram em suas respostas mais de três tradições
religiosas. Em suas respostas apareceram subsídios para visualizar a vasta manifestação do
fenômeno religioso no Brasil, assim como a possibilidade de absorver “ideias, valores,
propostas, símbolos de outras religiões e Igrejas” (ORO, 2013, p. 77). Como os dados que
foram obtidos são extensos e detalhados, pois estão atrelados à história de vida de cada um,
procurei organizar para esse artigo apenas um bloco de resposta dos interpretes.
Na segunda parte, intitulada de “Apropriação”, quatro perguntas fizeram parte de sua
estrutura. Para compreender melhor as questões e as respostas dos participantes dessa
pesquisa permitir que apresentar esses dados em conjunto. Considerei esse aspecto porque o
questionário era de caráter aberto e cada resposta estava atrelada a outra, pois se trata de
histórias de vidas. Gostaria de ressaltar que nessa parte do questionário é possível visualizar,
em resumo, primeiramente dois grupos: os de tradição na família e aqueles que não têm
tradição em suas famílias.
Começando por Adriana, em questionário a respeito de onde teria provindo seu
conhecimento sobre ALM, respondeu: É tradição na minha família minha tia, hoje falecida,
foi quem me ensinou a ler mãos e jogar cartas, passou alguns conhecimentos herméticos,
astrológicos, isso aos 08 anos de idade, mas o curso de astrologia me auxiliou a determinar e
compreender a energia planetária contida nos montes das mãos. Questionada sobre o seu
Processo de Aprendizagem Adriana informou alguns livros e que teve sempre a intuição e as
informações da cigana, assim como também as pesquisas que realizou para compreender a
eficácia das informações. Em relação ao Método durante aprendizagem, Adriana citou alguns
autores com as quais esteve em contato, como por exemplo, Bel Adar, Cheiro, Cécile Sagne.
E, por fim, se referiu novamente a intuição da cigana: e a intuição que a entidade cigana
Maria Dolores me favoreceu aprender, desde então até hoje em minhas consultas e aulas que
forneço me baseio nesses estudos e ajuda espiritual. Nessa frase é possível observar a
finalização de Adriana com ajuda espiritual, aspecto esse que perpassa a questão se receberia
algum tipo de ajuda ou auxilio espiritual da sua religião e sua resposta foi a seguinte: Tenho o
conhecimento, a didática e o auxilio espiritual da cigana Maria Dolores. [...] O Candomblé
cultua orixás, [...] me auxilia na proteção, para que eu não absorva os problemas alheios,
quando faço uma leitura, ler as mãos é estar em contato com o profundo do ser, e nem
sempre a energia é tão agradável o que poderá ocasionar problemas obsessivos, desordens
espirituais.
Sendo também a leitura de mãos tradição em sua família, Jorge descreveu que seu
conhecimento teria provindo do conjunto entre seu dom de nascimento e os ensinamentos de
sua mãe: Meu dom de nascimento e conhecimento prático, provêm da minha mãe, hoje
chamada de Vovó Dora. Meu conhecimento, provem do meu estudo autodidata e da minha
experiência de mais de 50 anos lendo as mãos das pessoas. Minha mãe conviveu com os
ciganos na Hungria que moravam e trabalhavam na sua fazenda. Ela aprendeu com eles
diversas artes, "mancias", recebeu o dom desde a juventude e aprendeu a ler a mão, tirar a
sorte nas cartas, procurar águ com varinha e muitas outras coisas. Ela me passou, a benção
e o conhecimento, bem como me ensinou na prática durante vários anos. Esta herança aliada
ao meu dom de nascimento, fez de mim quem sou hoje. Do mesmo modo, eu transferi o meu
conhecimento aos meus filhos. O meu filho mais novo, Daniel, por ter o dom de nascimento,
recebeu a minha bênção (juntamente com o Patriarca da Igreja) patriarcal, por escrito, que
se encontra nos arquivos da Brian Yung University - BYU nos Estados Unidos, e os demais
segredos ciganos e da cabala, que estão na minha família há gerações. Entre tradição em
família e o dom de nascimento que Jorge alegou, perpassa toda uma ecologia de
conhecimento que tem precedência muito antes de seu nascimento.
Um fato curioso durante a infância e pré-adolescência de Jorge está atrelado também
ao seu Processo de Aprendizagem na ALM. Jorge relatou que quando criança sentia muitas
dificuldades de se expressar em português na escola, pois em sua casa, todos falavam em
húngaro. Quando ele ficava muito nervoso, sua marca de nascença, situada no meio da testa,
acima do nariz entre os dois olhos, ficava de coloração roxa, essa marca era motivo de
gozação entre seus colegas de escola. Um dia, quando criança, teria voltado chorando para
casa, e sua mãe o indagou sobre o que havia acontecido e ele contou que todos de sua sala, na
escola, tinham habilidades específicas: um sabia desenhar, outro recitar, tocar violão, e só ele
não sabia nada. De acordo com Jorge, eu queria ser popular, querido entre os colegas e não
mais motivo de chacota. Então sua mãe pacientemente teria dito que o ensinaria um segredo,
que se ele tivesse dom, nunca mais ficaria sozinho, nas palavras de Jorge: E de fato, ela me
ensinou pacientemente a ler as cartas e a ler as mãos e algumas outras coisas. Desenvolvi
muito este dom mais tarde, quando minha consciência expandiu devido a um avistamento de
nave extraterrestre que sobrevoou à noite a minha casa na Vila Rosália, ainda na minha pre-
adolescência. Passei então a ter o dom da vidência e a minha mediunidade se ampliou ao
longo dos anos durante os meus estudos esotéricos. Entre outros processos de aprendizagem,
Jorge também informou ter feito diversos cursos de modo autodidata através de livros.
A respeito de métodos durante a ALM, Jorge respondeu que fez diversos cursos de
modo autodidata através de livros, como por exemplo, Elementos de Quiromancia, de
Francisco Valdomiro Lorenz, Editora Pensamento. E faço uso permanente de livros nas
consultas, como por exemplo, Enciclopédia de Quiromancia Prática. Também aprendi com a
minha mãe durante muitos anos, o que também é um curso prático. Nessa parte do
questionário Jorge informou também ser autor do livro: Como Ler a Mão de minha autoria
publicado e à venda na amazon.com (basta pesquisar por PURGLY). Sobre ajuda ou auxilio
respiritual Jorge informou que seu Mentor Espiritual pertence à Falange da Fraternidade da
Rosa, da Cruz e do Triângulo, em suas palavras: É um Preto Velho que me acompanha me
inspirando nestes trabalhos. Também tenho cobertura espiritual da Fraternidade Branca do
Espaço. É interessante notar que nessa resposta Jorge foi o único que mencionou o aspecto de
como faz atendimento de suas consultas, ele informou que faz atendimento em estado
sonâmbulo, meio dormindo e meio acordado. Também informou que em geral faz um
trabalho onde resulta um relatório de cerca de sete páginas sobre suas análises.
Os que declaram não ter a ALM na família obtiveram o conhecimento de tal prática
por diferentes modos. As formas de apropriação de saberes/conhecimentos de Jasmim,
aconteceram durante um curso de quiromancia presencial por onde nutriu afetividade e
admiração pelo método: Não é tradição de minha família. Fiz cursos presenciais. Um
workshop e me apaixonei pela leitura de mãos, é incrível, maravilhoso o poder que se
encontra na palma de nossas mãos.
No questionário, Maria respondeu que a sua apropriação de saberes voltado ao tema da
ALM teria provindo Através da Quiromancia, resposta que não pude compreender ao certo
nesse primeiro momento. Só através da entrevista ficou claro a sua resposta. Ela informou
mais detalhadamente a respeito de seus saberes e conhecimentos estavam atrelados à intuição
de sua Cigana que havia aparecido em um sonho e informando alguns significados da leitura
de mão: Eu, eu sonhei como uma cigana lendo a minha mão. A cigana lia a minha mão. E aí,
a partir do momento que aquela Cigana veio e leu a minha mão aí eu me interessei em
conhecer o significado do que ela tava me dizendo [...] Foi, a minha cigana. A minha cigana
é que me dá toda essa intuição e a quiromancia foi a cigana. Ela vinha muito bonita ela
pegava a minha mão, era uma senhora de idade e, ela usava um pito assim na cabeça (fez o
gesto com o cabelo para exemplificar o penteado). Aí no sonho ela dizia “me dê aqui sua
mão” aí ela ia dizendo “olha a linha da vida olha a linha do coração, olha a linha da sua
cabeça o seu destino está cruzado” ela começava a dizer... aí eu acordei com aquilo... Aí eu
digo assim “meu deus eu vou ter que saber o significado melhor dessas coisas”. Aí eu
comecei, desde os 17 anos a me interessar a procurar a conhecer. Aí eu peguei... Eu mesmo
comecei a desenhar a minha mão.
Em questionário, a respeito de seu processo de aprendizagem Maria respondeu: Lendo
minha própria mão despertou minha mediunidade cigana. Durante a entrevista foi possível
compreender mais detalhadamente tal resposta. O sonho que teve com a Cigana que lia a mão
de Maria a deixou muito interessada em saber do que se tratavam todas aquelas informações.
Dessa forma, em um caderno passou a registrar os conhecimentos que a Cigana instruía, como
por exemplo, a textura das mãos, unhas, montes, linhas, símbolos entre outras coisas mais.
Em entrevista ela também informou e mostrou um caderno antigo em que havia feito um
desenho de sua mão para estudar a partir da mesma. A partir da entrevista então ficou claro
que o método que Maria responde sobre o seu aprendizado ter sido através da Orientação
através da Quiromancia (mediunidade). Essa mediunidade, que em entrevista ela também
intitulou de mediunidade cigana teria despertado através dos estudos e leituras que Maria
fazia em sua própria mão. Maria também ressaltou em entrevista que uma cigana a
acompanhava em seus trabalhos.
É possível verificar na coleta dos dados que já foi traçada uma vasta ecologia de
saberes que perpassa pelas instâncias do fenômeno religioso por diferentes abordagens dos
intérpretes dessa pesquisa. Tal aspecto mostra que a “experiência social em todo mundo é
mais ampla e variada do que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera
importante” (SOUSA, 2008a, p. 94). E dessa forma, a partir da experiência social é possível
construir uma cadeia de saberes heterogêneo. Essa característica foi possível de se observar
também nos dados coletados na terceira parte do questionário responsável pelo tema Ensino e
a Prática da ALM. A respeito dessa parte no item a seguir fiz reflexões para concluir a
pesquisa.
A pergunta relacionada como alguém poderia obter conhecimento para praticar a
ALM, Adriana respondeu que Desde que haja interesse pelo tema e tenha a capacidade de
desenvolver, alem do conhecimento a sensibilidade, que toda profissão, exige. A respeito da
questão se ensinava outras pessoas ela respondeu: Sim, dou aulas através de cursos,
workshops, já é uma rotina que vivencio, e a procura tem sido frequente. Sobre a estrutura do
assunto, Adriana escreveu sobre fazer uma programação desde: surgimento, as
características, influencia e o método preditivo, partindo em seguida as aulas pratica.
Jasmim deu a seguinte resposta sobre, como alguém poderia obter conhecimento sobre
a ALM: todos somos energia e todos temos intuição e se nos propormos a estudar, nos
dedicar e abrir nossos olhos para esse tipo de leitura que o mundo espiritual e energético tem
para nos mostrar, tudo fica muito simples e possível a todos. Indagada se ensinaria outras
pessoas, respondeu que sim, mas que precisaria de tempo e desenvolver um material para que
isso se concretizasse.
Além de livros, cursos e através das ferramentas virtuais, como vídeos e blogs, onde
fez referencia a sua página O Biometro, Jorge também ressaltou o aspecto de aprender por
meio da tradição em família, como por exemplo, o seu caso, onde sua mãe repassou
conhecimento. No questionário, também consta a informação que Jorge repassou para o seu
filho, em conjunto com a sua benção patriarcal de transferência dos dons. A respeito de
ensinar outras pessoas, Jorge respondeu que está em seus planos oferecer um curso de como
ler as mãos online pela internet. Contudo, ainda não foi colocado em pratica por falta de
tempo, já que ele está voltado para outros projetos. A estrutura que sobre as aulas, segundo
Jorge, seria dividido em duas partes: Quirognomonia Palmisteria. A quirognomonia aborda
As formas da mão em geral Os sete tipos de mão Os dedos As unhas O polegar Afinidades
das mãos A palmisteria aborda Os montes As 7 linhas principais das mãos As outras linhas
das mãos e dos pulsos Duração de vida Saúde Número de filhos Contato com extraterrestres
Mediunidade Reflexologia palmar.
Em questionário Maria escreveu que as pessoas podem obter o conhecimento da ALM
Através de Estudo Sobre o assunto - além de também – Ter mediunidade e Alma Cigana.
Referente à pergunta se ensinaria outra pessoa, ela respondeu “Sim, se a pessoa se dedicar e
ter mediunidade”. Em entrevista, detalhou mais a respeito dessa informação: esse
conhecimento [o conhecimento de ler as mãos] vem da mediunidade de cada um. Então não é
qualquer um que chega e vai saber... (Na breve gesticulação de suas próprias mãos) Mesmo
olhando isso aqui... (se refindo as mãos) não sabe pegar a mão assim e ir dizendo... (pegou as
minhas mãos a apontou com o dedo indicador as três linhas principais da vida para
exemplificar que a pessoa que não tivesse mediunidade não sabia analisar as informações que
as mãos podem revelar). Em questionário, sobre a estrutura dos assuntos, Maria escreveu três
temas: Psicológica. Mental e espiritual. Em entrevista, tais elementos se tornaram
compreensivos porque, primeiro, Maria tem formação em psicologia, e estudos adquiridos
também na Umbanda-Espírita.

3. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Além de apresentar as narrativas e personalidades que compõe a trajetória da leitura de


mãos, foi analisado o perfil daqueles que têm saberes/conhecimentos voltados ao tema da
ALM para compreender como é que ocorrem, na contemporaneidade brasileira, as
apropriações desses saberes. É possível afirmar, com base nos dados obtidos, que os
intérpretes são detentores de histórias específicas sobre suas apropriações na técnica de ler as
mãos, assim como todos se reconhecem ou se identificam com alguma religião ou
espiritualidade. Outro aspecto identificado é que todos possuem escolaridades intituladas de
nível superior, com apenas uma pessoa em estado de “incompleto”. Os seguintes cursos que
apareceram nos questionário foram: ‘Direito’ e ‘Psicologia’. E em níveis mais prolongados de
estudos surgiram: ‘Mestrado em Administração e Empreendedorismo’, assim como também
surgiu o ‘Pós em logística’.
Quando questionados sobre o contato com outras religiões ou espiritualidades, através
de diferentes abordagens, foi possível comprovar ainda mais a possibilidade que as pessoas
têm na contemporaneidade brasileira de conhecer outras manifestações religiosas ou
espiritualidades, discussão traçada por Ivo Oro sobre o Fenômeno Religioso no Brasil (2013).
A pesquisa revelou que o contato com outras religiões é um dado característico entre os
intérpretes. Em uma escala percentual, 100% dos intérpretes alegaram no mínimo o contato
com mais de três religiões que estiveram em contato. Sendo predominantes entre eles as
seguintes instituições: o Cristianismo, o Candomblé e a Umbanda.
Apesar das diferentes abordagens dos intérpretes sobre como teria se apropriados dos
conhecimentos voltados ao tema da leitura de mãos foi possível separar, como mencionado
anteriormente, dois grupos: os de tradição em família e aqueles que não têm tradição em suas
famílias. Mas esse não é o único resultado que gostaria de ressaltar, um dado interessante que
se revela nessa pesquisa são os elementos que perpassam a categoria de fenômeno religioso,
como por exemplo, as seguintes designações: “Auxílio Espiritual da Cigana Maria Dolores”,
“Mentor Espiritual Preto Velho”, assim como, “Inspiração da Cigana e mediunidade Cigana”.
A respeito de como alguém pode dispor ou obter conhecimento referente à leitura de
mãos, os endereços de sites virtuais surgiram como ferramentas contemporâneas para leigos
obterem conhecimento. Livros e cursos também aparecem como utensílios de aprendizados.
Nessa perspectiva de aprendizado, os quatros intérpretes da pesquisa alegaram que todas as
pessoas poderiam obter saberes voltados ao tema da leitura de mãos, assim como também se
disponibilizavam a ensinar tal técnica por meio de uma estrutura didática. Mas cada um deles
ressaltou peculiaridades para esse método, tais como: benção, estudo, intuição, interesse pelo
tema, mediunidade e alma Cigana.
A partir desse conjunto de informações é possível compreender que apesar de
diferentes abordagens coletadas esta pesquisa revelou as seguintes instâncias:
 Todos os intérpretes estão na área de graduação;
 Os dados revelaram boa parte das afirmativas já ressaltadas por Ivo Oro (2010), tendo-se
baseado referencias dos dados do IBGE. As religiões e espiritualidades citadas foram as
seguintes: Catolicismo, Luterana, Assembleia de Deus, Adventista, Igreja Batista, Igreja
Reformada, Quadrangular e “evangélica” (mas não especificada); Kardecismo, Mórmons e
Umbanda e Umbanda-Espírita; dentre nações de Candomblé foram registradas: Candomblé
(não especificado), Candomblé Jêje e Candomblé Ketu; Budismo e Seicho-no-ie. No entanto
surgiram nessa pesquisa outras formas de crenças e ensinamentos, como por exemplo,
“Grande Fraternidade Branca” e “I AM”.
 Todos os intérpretes estão situados no fenômeno religioso, não só pelo fato de se
reconhecerem ou identificarem com uma religião ou espiritualidade, ou por terem
frequentando outros espaços e instituições religiosas ou de espiritualidade. Mas especialmente
por causa dos elementos que passam pela categoria do fenômeno está diretamente conectado
com a prática da leitura de mãos. Esses elementos foram possíveis de se verificar nos
seguintes frases: “ajuda espiritual da Cigana Maria Dolores”, “intuitiva [...] Mentores e
Mestre espirituais”, “Mentor Espiritual pertence à Falange da Fraternidade da Rosa, da
Cruz e do Triângulo. É um Preto Velho que me acompanha me inspirando nestes trabalhos.”
e “Espiritualidade – mediunidade”. Essas são algumas das características que compõe
também o fenômeno religioso.
 A respeito de onde provinham os saberes voltados à Arte de Ler Mãos, os intérpretes
revelaram questões que envolviam as suas próprias histórias de vida. Todos os intérpretes
tiveram diferentes formas de adquirem o conhecimento e o saber à Arte de Ler as Mãos. Tais
conhecimentos podem estar vinculados a uma habilidade que advém de uma tradição na
família, como também livros e endereços virtuais, como por exemplo, sites, blogs, páginas e
vídeos-aulas. Esta pesquisa ainda revelou que os saberes também podem advir através de
cursos ou workshops e, até mesmo pela via do fenômeno religioso: através de uma
mediunidade.

Os dados revelaram ainda que, apesar de haver aqueles que têm a Arte de Ler as Mãos
como tradição na família, e outros não, foram apontadas algumas concepções que perpassam
o fenômeno religioso. Dessa forma, as experiências que compõe os saberes dos intérpretes
coexistem com elementos pertencentes ao fenômeno religioso, fato esse mencionado
anteriormente. E esses saberes formam uma infinita cadeia de ecologia de saberes que são
heterogêneos.
Trazer o tema da Arte de Ler as Mãos para o espaço acadêmico é discutir não só novas
temáticas, mas a importância de abordar práticas que foram subalternizadas por um olhar
cientificista que organizou uma monocultura do saber, crítica essa proposta por Boaventura de
Sousa Santos. Nesta pesquisa procurou-se expor um pouco da história de vida de cada
interprete reconhecendo a proposta de Boaventura sobre a ecologia de saberes. Cada ser
humano é detentor de experiências únicas que trás em si um arcabouço de aprendizados. Um
arcabouço formando de várias unidades da vasta ecologia de saberes.
O tema da Arte de Ler as Mãos, seja através da quiromancia ou da quirologia, ainda
tem muito que problematizar. A própria questão envolta da ideia de vaticinar o futuro através
das mãos, ou o estudo e análise da linguagem simbólica dessa prática, e ainda mais, como
permanecem em atividade na própria contemporaneidade, são alguns dos assuntos que deixo
como proposta para futuras pesquisas.

REFERENCIAS

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