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DE HABERMAS A FOUCOULT: O FUTURO DA NATUREZA HUMANA E AS

RELAÇÕES ENTRE “BIOPODER” E “EUGENIA LIBERAL”

INTRODUÇÃO

Talvez, desde Nicolau Copérnico, nenhuma outra “revolução científica” tenha sido tão
relevante quanto a publicação, em 1859, da primeira triagem de “A Origem das Espécies”.
Nesta obra monumental, Charles Darwin, relata pela primeira vez o processo de “seleção
natural”, que segundo ele seria o responsável pela evolução biológica no nosso planeta. A
ideia de que os seres não são imutáveis e a hipótese da descendência com modificações,
permiti-nos entender como as novas espécies aparecem lenta e sucessivamente e, também o
porquê, desparecendo as formas antigas, uma espécie não aparece jamais. Tais premissas,
levadas aos últimos fins, dão lastro a teoria de que apenas os mais fortes sobrevivem, uma vez
que “as espécies dominantes pertencendo a grupos extensos e preponderantes tendem a deixar
numerosos descendentes” (DARWIN, 2003, p. 410), enquanto que “as espécies dos grupos
menos vigorosos, em razão da inferioridade que devem por herança a um antepassado
comum, tendem a desaparecer sem deixar descendentes modificados à superfície da Terra”
(DARWIN, 2003, p. 410-411).
Apesar da resistência inicial, sobretudo, pelas controvérsias religiosas, as teses de
Darwin em pouco tempo se disseminaram no meio científico, dando ensejo a uma nova era no
campo das ciências. A popularidade de suas constatações, logo chegariam também ao largo
dos cientistas sociais, alguns deles também médicos e biólogos, que passaram a adotar as
categorias darwinianas como objeto de pesquisa. Alguns desses estudos, chegaram, inclusive,
a sugerir que determinadas características físicas estariam associadas a predisposição de
comportamentos criminosos, incitando o racismo e, por conseguinte, a eugenia. Não por outro
motivo, Francis Galton, ao propor pela primeira vez o conceito de “eugenia”, admitiu a
intrínseca relação entre o neologismo e a “seleção natural”. A propósito, se na visão de
Darwin, apenas as espécies que melhor se adaptam e, portanto, as mais fortes são as que
sobrevivem, na visão de Galton, os avanços e testes genéticos poderiam garantir uma melhor
eficácia deste processo. (MELO, 2008).
A eugenia, assim, seria a possibilidade de manipulação genética da espécie, visando
produzir seres ainda mais fortes ou, pelo menos, sem as limitações e doenças que a natureza
por si só não foi capaz de extinguir. Em outros termos, Galton propõe um regime de
“perfectibilidade” progressiva, só que artificial e socialmente controlada. A apreensão
ideológica destas teses, conduziu ao assassinato em massa dos judeus pelo governo nazista e,
muito embora este episódio trágico tenha sido superado, novas descobertas e avanços na
manipulação do genoma humano, parecem despertar mais uma vez o receio pelo retorno de
práticas similares, ainda que solapadas ao encalço da medicina.
Por meio dos métodos de reprodução assistida e outras técnicas laboratoriais, já se é
possível intervir cirurgicamente em fetos para evitar o desenvolvimento de doenças graves.
Além disso, o “diagnóstico genético pré‐implantacional”  (PGD) permite investigar alterações
cromossômicas e genéticas em embriões in vitro e, dessa forma, descartar aqueles tidos como
“defeituosos”, procedendo a implantação uterina daquele que apresentar os melhores
resultados. É neste sentido, que Habermas elabora as reflexões contidas no ensaio “O Futuro
da Natureza Humana”, questionando os limites das técnicas de PGD e a falta de uma
demarcação precisa entre a manipulação genética voltada a prevenção de doenças e aquela
interessada no aperfeiçoamento biológico do embrião. Essa distinção coloca em relevo uma
“eugenia negativa”, cujo foco seria tão somente eliminar anomalias graves e, que inclusive,
poderia suscitar no futuro o aborto; e uma “eugenia positiva”, orientada à seleção de
características fisiológicas desejadas, ou seja, o favorecimento de um código genético
específico, o que incluiria a seleção de gametas e terapia gênica alternativa.
A grande questão, contudo, parece residir no território movediço em que as
regulamentações se encontram. Uma vez que não existem barreiras concretas entre a “eugenia
negativa” e a “eugenia positiva”, isso abriria espaço para todo tipo de intervenção, cujas
consequências futuras ainda são desconhecidas. Ademais, se é um fato o inevitável progresso
da ciência, não podemos nos escusar em uma tomada de posição tradicionalista, o que não
elimina os desafios impostos por uma realidade ainda incompleta. O paradoxo, portanto, só
pode ser enfrentado na medida de um esforço prospectivo, em que se leva em conta, não só o
estágio atual, mas as potencialidades futuras, que embora abordadas dentro de um certo grau
de probabilidade, não podem ser levadas a termo longe de quaisquer suspeitas. Tais ressalvas,
são as mesmas que se utiliza Habermas, ao conduzir um estudo filosófico preocupado, talvez,
nem tanto em oferecer um padrão ético a ser seguido, algo que poderia vir a ser questionado
dentro do paradigma processualista e do modelo de sociedades plurais contemporâneas, mas
sem dúvida disposto a fecundar uma discussão contundente sobre que identidade a
humanidade como um todo pretende a ou não assumir.
Desse modo, ainda que “à filosofia não seja adequado atribuir à função de oferecer um
estudo sobre o que constitui a vida correta”, pelo menos não como se fez no passado, seria um
grande equívoco ignorar, no que diz respeito aos indivíduos e grupos de indivíduos, que a
biotecnologia e os avanços na engenharia genética, parecem abrir espaço à filosofia para pôr
em cheque referências a melhor forma de “vida boa” e também sobre a autocompreensão
normativa desta mesma sociedade. A programação biológica, ao interferir diretamente na
matriz genética dos sujeitos, lhe tolhe a possibilidade de ser ele próprio o autor único de sua
existência, além de criar expectativas desmesuradas em relação ao seu futuro. Outrossim, este
tipo de intervenção desconsidera as interferências sociais e outros fatores externos que
concorrem na formação do indivíduo. Ao tratar o ser humano como uma espécie puramente
celular, as práticas de “eugenia positiva”, oferecem riscos irreversíveis para a autonomia e
construção da subjetividade, além de favorecer o desenvolvimento de um “mercado de capital
genético”.
É justamente, por este ângulo, que Habermas aborda a problemática da “eugenia
liberal”, enquanto uma prática que desconhece os limites entre intervenções terapêuticas e
aperfeiçoamento genético, deixando a cargo dos “clientes” a decisão sobre as alterações no
patrimônio hereditário. Essa escolha, além de não estar livre de preconceitos, também incita
um debate transversal sobre os fluxos de mercado, afinal de contas, a maioria dessas
pesquisas estão atreladas a investimentos de grandes indústrias. À vista disso, caso não haja
uma proteção jurídica satisfatória, a identidade dos sujeitos e, até mesmo, a manutenção de
uma esfera pública livre e esclarecida, correm sérios riscos de desintegração. As
manipulações genéticas, em suma, aquelas realizadas com o fito de promover
aperfeiçoamentos na espécie, alteram significativamente e para sempre a autocompreensão
normativa dos seres humanos. Neste sentido, “caminhar na direção de uma eugenia liberal,
que ultrapassa objetivos rigorosamente terapêuticos” (HABERMAS, 2004, p. 39), não só
representaria uma violação ruinosa a dignidade humana e ao um possível direito a uma
herança genética não manipulada, como fatalmente deslocaria de uma vez por todas “a
fronteira entre aquilo que é naturalmente indisponível e o reino da liberdade afeta a estrutura
geral de nossa experiência moral” (FELDHAUS, 2005, p. 313). Ao denunciar os riscos de
uma ciência irreflexiva, em que progresso é mais importante do que a vida humana, Habermas
aponta para uma necessária “moralização da natureza”, como forma de garantir a preservação
ética da espécie.
As constatações de Habermas parecem conduzir inevitavelmente aos estudos de Michel
Foucault, sobretudo, no que toca a sistemática dos “mecanismos de segurança”. Muito
próximo dos filósofos nominalistas, Foucault recusa-se a tematizar o poder enquanto uma
propriedade intrínseca de uns em relação a outros, ou mesmo a partir de um arranjo vertical
entre dominadores e dominados. Para Foucault, o poder opera de modo difuso, constituindo
uma verdadeira rede de relações de força multilaterais (FOUCOULT, 1999). Essas relações
de forças são móveis e não possuem um centro permanente, ao contrário, compõem
programas transitórios, o que as torna suscetíveis de se modificarem e, de gerar com isto,
novas formas de opressão. Por esta lógica, diferente de Habermas, por exemplo, e também de
todos os filósofos de tradição marxista, Foucault não busca uma apreensão do poder pela via
das instituições estatais, mas sim através de pequenas técnicas, procedimentos, fenômenos e
mecanismos localizados. Assim, quando Foucault afirma que é preciso estudar o poder para
além do Leviatã, o que ele precisamente quer informar, é a necessidade de tematizar esses
estudos fora do campo do Estado e, também, fora das teorias economicistas, que buscam
associar o poder a um direito passível de transmissão e posse. É, por isto, que o poder em
Foucault ultrapassa as instituições macrossociais, para encontrar no “micro” os elementos
moleculares de sua realização cotidiana.
Neste ínterim, inscrevem-se as análises de Foucault sobre o “biopoder” e, que de certa
forma, ensejam o conceito maior de “biopolítica”. Uma vez que a conceituação do poder não
interessa ao nosso autor, mas apenas a descortinação dos processos e mecanismos a ele
inerentes, Foucault explica, como em nossas sociedades, a fim de administrar problemas
relativos a gestão populacional, vide aglomeração urbana e epidemias, estabeleceu-se um
contingente de medidas que levando em conta a realidade biológica, seriam capazes de conter
determinados fenômenos. A isso Foucault chamou de “biopoder”. Em síntese, um conjunto de
práticas voltadas a regulação estratégica de características biológicas fundamentais. O poder
sobre a vida seria, portanto, o último estágio de três etapas de controle social, das quais o
poder disciplinar e o poder jurídico-penal seriam os antecessores iminentes. Por meio da
temática do “biopoder”, Foucault identifica como o desenvolvimento no campo das ciências,
contribuiu significativamente para um aperfeiçoamento continuo das técnicas de manipulação
dos fenômenos biológicos, com vistas a processos de massificação e burocratização da
sociedade, além de técnicas individualizantes e dispositivos de assujeitamento, orientados a
uma instrumentalização dos sujeitos e dos saberes como forma engenhosa de dominação.
O presente artigo, situado entre as provocações de Habermas acerca da “eugenia liberal”
e as análises foucoultianas a respeito dos “mecanismos de segurança”, busca oferecer um
panorama crítico sobre o avanço das pesquisas em biotecnologia, além de suscitar o debate e
questionamentos de como os resultados dessas pesquisas podem, no futuro, intervir na
liberdade e autonomia em face do governo da vida. Além disso, indagamos sobre os modos de
resistência a esses mecanismos de controle, tratando do papel do Direito dentro desta
conjectura e, acima de tudo, a necessidade de tomada de posição mediante uma “atitude
crítica”.

ADICIONAR MAIS UM PARÁGRAFO PARA METODOLOGIA E OUTRO PARA A


CONCLUSÃO.

1. ADMIRÁVEL MUNDO NOVO: OS AVANÇOS EM ENGENHARIA GENÉTICA E


OS PROCESSOS DE MANIPULAÇÃO DO GENOMA HUMANO
2. O CONCEITO DE “EUGENIA LIBERAL” EM JÜRGEN HABERMAS
2.1. O CAMPO MOVEDIÇO ENTRE “EUGENIA NEGATIVA” E “EUGENIA POSITIVA”
3. “BIOPODER” E “BIOPOLÍTICA” EM MICHEL FOUCAULT
4. A NOVA ERA DE DOMINAÇÃO BIOLÓGICA: PERSPECTIVAS PARA UM
FUTURO INCERTO
CONCLUSÃO

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