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Jornada Acadêmica Integrada - 28º Salão de Iniciação Científica

O ACASO SEGUNDO ALEJANDRA COSTAMAGNA:


um olhar caleidoscópico sobre o real

Luciane Bernardi de Souza1


Ana Teresa Cabañas Mayoral2

INTRODUÇÃO

O conceito de representação é sempre tema de inúmeras controvérsias e


discussões por parte daqueles que refletem sobre as formas de manifestação artística.
Neste trabalho, defendemos o princípio de que a obra literária não é mero reflexo, cópia,
ou imitação fiel da realidade, mas uma construção discursiva e estética que cria
realidades. Reforçando essa leitura, o filósofo tcheco Karel Kosík em sua obra
Dialéctica de lo concreto (1979), realiza uma importante colocação sobre o ato da
criação literária ao afirmar que “la obra de arte no es sólo expresión de la
representación de la realidad; en unidad indisoluble con tal expresión, crea la realidad,
la realidad de la belleza y del arte” (1979, p.144).
Partindo dessa premissa, e considerando que toda a leitura estética do real é
também uma leitura social, acreditamos que a obra literária é a imago mundi que revela,
constrói, e comunica, através de uma forma estética, uma percepção individual e ao
mesmo tempo coletiva do mundo. Desse modo, entendemos que toda a obra literária é
um produto social resultante de um modo específico de apreender e pensar o mundo em
um determinado momento, e que em decorrência disso carrega os valores e intenções do
autor. Ao ponderar que a obra é um elemento íntegro, Antônio Candido não permite que
dissociemos sua estrutura de seu contexto. O crítico brasileiro enfatiza a necessidade de
compreender os fatores sociais que incidem na criação de uma obra, para que não
dissociemos esta de seu contexto de produção, e afirma que o entendimento da obra só
ocorre se fundirmos:
texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em
que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores
externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a
estrutura é virtualmente independente, se combinam como
momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos,
1
Autora. Graduanda em Letras Português e respectivas literaturas. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC-
Universidade Federal de Santa Maria- RS
2
Orientadora. Professora Associada da Universidade Federal de Santa Maria- RS
ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como
causa, nem como significado, mas como elemento que
desempenha certo papel na constituição da estrutura, tornando-
se, portanto, interno. (CANDIDO, 2006, p.13)

Desse modo, a criação literária nos possibilita o acesso às infinitas visões e


representações de um tempo e de uma realidade social, a partir do recorte particular que
um sujeito realiza. No entanto, ainda que possa ser tomada como um recorte particular
da realidade, toda a obra consiste em uma totalidade, ou nas palavras de Antonio
Candido, um objeto íntegro, ao ser conformada por inúmeros elementos e aspectos que
a compõem, apresentando assim uma construção discursiva que pode representar um
“microcosmo”.

OBJETIVOS
Neste trabalho, tomamos como objeto de estudo a obra Últimos Fuegos (2005),
da escritora chilena Alejandra Costamagna, narrativa composta por dezesseis relatos
breves que surpreendem justamente pelo modo como estão construídos: há um
imbricamento entre os relatos, em que alguns apresentam-se como a continuação do
outro; há também a presença de uma arranjo mise en abyme, em que um enredo está
inserido “dentro do outro”; e a repetição de situações, objetos e personagens que
constantemente (e aleatoriamente) encontramos nos relatos.
Tendo em vista esta emaranhada narrativa contemporânea, o intuito foi
compreender de que modo como os elementos narrativos estabelecem relações entre si e
estão arquitetados de modo a originar uma estrutura discursiva particular.
Consequentemente, a pretensão foi a de especular como através desta organização
discursiva a obra apresenta uma imago mundi, e uma determinada concepção de
realidade.

METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida a partir de leituras de textos teóricos e literários, leituras
estas que auxiliaram na análise discursiva da obra, e no desenvolvimento da
problematização proposta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o desenvolvimento deste estudo, a proposta de explorarmos qual a
imago mundi que a obra da escritora chilena edifica veio acompanhada da necessidade
de buscarmos em outras áreas do conhecimento, tanto humana, quanto das ciências
naturais, conceitos que nos auxiliassem na compreensão dessa representação literária.
Tal busca foi decorrente da forte imagem caleidoscópica que a obra sugere, tanto na sua
temática, quanto na sua estrutura discursiva: o constante movimento dos personagens, e
as montagens/cruzamentos que as distintas narrativas oferecem entre si, apresentam o
afastamento da noção determinista, calcada em certezas, que o mundo moderno tenta
configurar.
Esta imagem caleidoscópica foi surgindo durante o estudo da obra, que revela a
presença de elementos de repetição que estabelecem nexos e relações entre si, e que
vistos em seu conjunto sugere a formação (ou o reflexo) de uma imagem muito maior
do que apenas pequenos “fragmentos” isolados. A obra está arquitetada de modo que
muitos destes elementos estão diretamente relacionados uns aos outros, e a impressão é
a de estarmos frente à disposição de dispersas peças pertencentes a um mesmo objeto,
peças estas que não cansam de (re)combinar-se, de (re)encaixar-se entre si, na tentativa
de formar algo maior. Considerando a presença destes elementos, e para que possamos
compreender melhor o funcionamento destes na obra, empregamos então a
imagem/metáfora do caleidoscópio.
Na caótica geometria caleidoscópica, estes elementos que se repetem são os
“caquinhos”, são as “peças” (miudezas dos vidros, pedras e espelhos coloridos) que dão
origem a infinitas imagens, pois cada vez que giramos o objeto essas formas mudam,
assim como as nossas percepções sobre as cores e contornos, ainda que “as peças”
permaneçam exatamente as mesmas. Transpondo tal configuração para a obra em
questão, tomamos aqui os contos como as distintas imagens que o caleidoscópio forma
e que nosso olho capta, imagens estas que são constituídas a partir da combinação das
diversas “peças” que por sua vez possuem nuances, formas, e detalhes que as
particularizam. Essas “peças”, que são comuns a mais de um relato, são aqui os
personagens, os objetos, e as situações, que ao acaso e com a força do aleatório,
combinam-se entre si. Assim, com o girar do caleidoscópio essas peças, que dão origem
a figuras diversas, ou seja, contos/imagens variadas que são visualizadas pela retina do
atento observador. Essa visão humana, habituada com imagens fixas e únicas, depara-se
então com a aleatoriedade caótica do modo como as imagens articulam-se entre si: com
o constante mudar das peças, em que os mesmos personagens transitam entre um conto
e outro, ou mesmo como os objetos de um relato invadem repentinamente o outro,
causam estranhamento e angústia na retina do leitor. Este “repentinamente” relaciona-se
diretamente a concepção do aleatório, do caótico, do não-linear, que a realidade humana
pode apresentar, e que teve suas origens nas ciências naturais, principalmente na Física
e na Matemática.
No estudo procuramos destacar aqueles “caquinhos” que assumem de modo
mais enfático a presença desta reiteração, para que através da visualização de um
“mapa” esquemático (que contém a presença de personagens, objetos e situações
comuns aos contos) observemos que é a partir deles que muitas narrativas se estendem e
se enredam, e que mesmo que conservem sua autonomia, são permeadas pela criação de
uma atmosfera comum que vai paulatinamente, através destes elementos, criando uma
imagem mais abrangente do real: estamos diante de um mundo fragmentado, mas que
ao mesmo tempo se é envolvido por elementos comuns que “saltam” aleatoriamente
entre histórias, vidas, pessoas, e situações distintas.

CONCLUSÕES

O tipo de representação que a obra estabelece com a realidade vai depender do


momento histórico em que ela vai ocorrer. Assim, a obra é um produto criado por um
determinado sujeito social, contextualizado em uma época particular, e que revela
consequentemente uma parcela deste mundo que mais lhe apraz e condiz com as suas
intenções. Neste estudo podemos visualizar a relação desta obra (discurso de um sujeito
situado em um tempo social e histórico contemporâneo) com o real, que é uma relação
de desintegração e simultânea construção: como se girássemos o caleidoscópio e
tivéssemos imagens distintas compostas sempre pelos mesmos elementos, mas
apresentados, em sua totalidade, de distintas maneiras.
O estudo atento à obra mostrou que alguns elementos que configuram o mundo
contemporâneo estão presentes nesta. A ruptura com as coordenadas de localização
precisa na realidade, as possibilidades de diversos reais, a individualização do sujeito
convivendo ao lado de uma “sociedade enredada”, configuram um cenário social que
pode ser encontrado na própria estrutura da obra literária, no seu discurso, no modo de
montagem da narrativa, que muitas vezes torna a obra embaralhada.
Nesta relação interior/exterior, obra/realidade, é necessário que a luz do
exterior, da realidade empírica ilumine o caleidoscópio e permita a formação de
imagens. Em nosso estudo, vimos como o particular arranjo discursivo de Últimos
Fuegos está sugerindo uma representação da organização e estruturação dessa realidade
exterior que ela ajuda a compor: o constante movimento dos personagens, e as
montagens/cruzamentos que as distintas narrativas oferecem entre si, apresentam o
afastamento da noção determinista, calcada em certezas, que o mundo moderno tenta
configurar, em razão de possibilitar uma visão abrangente e heterogênea de ações e
fatos que ocorrem em nossa sociedade: a partir da revelação de realidades simultâneas
que se interrelacionam, a obra escamoteia uma leitura dominante da realidade,
explicitando, através da forma e da temática, a heterogeneidade, fragmentação e cisão
do mundo contemporâneo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006.

COSTAMAGNA, Alejandra. Ùltimos Fuegos. Ediciones B. Santiago, Chile, 2005.

LEFEBVRE, Henri. Introdução à Modernidade: prelúdios. Paz e Terra: 1969.

IANNI, O. Sociologia do futuro. In: BARREIRA, C. (Org.). A sociologia no tempo:


memória, imaginação e utopia. São Paulo: Cortez, 2003, p.107-131.

PACHECO, Carlos. LINARES, Luis Barrera. Del cuento e sus arededores.


Aproximaciones a una teoría del cuento. Caracas: Monte Avila Editores,
Latinoamericana, 1993.

ROSENFELD, Anatol. Reflexões sobre o Romance Moderno, in Texto/Contexto I. São


Paulo, Perspectiva, 1996.

SANTIAGO, Silviano. Nas Malhas da Letra: o narrador pós-moderno. São Paulo:


Companhia das Letras, 1989.

WATT, Ian. A ascensão do romance : estudos sobre Defoe, Richardson e. Fielding.


Tradução Hildegard Feist. 2010.

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