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INTRODUÇÃO
OBJETIVOS
Neste trabalho, tomamos como objeto de estudo a obra Últimos Fuegos (2005),
da escritora chilena Alejandra Costamagna, narrativa composta por dezesseis relatos
breves que surpreendem justamente pelo modo como estão construídos: há um
imbricamento entre os relatos, em que alguns apresentam-se como a continuação do
outro; há também a presença de uma arranjo mise en abyme, em que um enredo está
inserido “dentro do outro”; e a repetição de situações, objetos e personagens que
constantemente (e aleatoriamente) encontramos nos relatos.
Tendo em vista esta emaranhada narrativa contemporânea, o intuito foi
compreender de que modo como os elementos narrativos estabelecem relações entre si e
estão arquitetados de modo a originar uma estrutura discursiva particular.
Consequentemente, a pretensão foi a de especular como através desta organização
discursiva a obra apresenta uma imago mundi, e uma determinada concepção de
realidade.
METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida a partir de leituras de textos teóricos e literários, leituras
estas que auxiliaram na análise discursiva da obra, e no desenvolvimento da
problematização proposta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o desenvolvimento deste estudo, a proposta de explorarmos qual a
imago mundi que a obra da escritora chilena edifica veio acompanhada da necessidade
de buscarmos em outras áreas do conhecimento, tanto humana, quanto das ciências
naturais, conceitos que nos auxiliassem na compreensão dessa representação literária.
Tal busca foi decorrente da forte imagem caleidoscópica que a obra sugere, tanto na sua
temática, quanto na sua estrutura discursiva: o constante movimento dos personagens, e
as montagens/cruzamentos que as distintas narrativas oferecem entre si, apresentam o
afastamento da noção determinista, calcada em certezas, que o mundo moderno tenta
configurar.
Esta imagem caleidoscópica foi surgindo durante o estudo da obra, que revela a
presença de elementos de repetição que estabelecem nexos e relações entre si, e que
vistos em seu conjunto sugere a formação (ou o reflexo) de uma imagem muito maior
do que apenas pequenos “fragmentos” isolados. A obra está arquitetada de modo que
muitos destes elementos estão diretamente relacionados uns aos outros, e a impressão é
a de estarmos frente à disposição de dispersas peças pertencentes a um mesmo objeto,
peças estas que não cansam de (re)combinar-se, de (re)encaixar-se entre si, na tentativa
de formar algo maior. Considerando a presença destes elementos, e para que possamos
compreender melhor o funcionamento destes na obra, empregamos então a
imagem/metáfora do caleidoscópio.
Na caótica geometria caleidoscópica, estes elementos que se repetem são os
“caquinhos”, são as “peças” (miudezas dos vidros, pedras e espelhos coloridos) que dão
origem a infinitas imagens, pois cada vez que giramos o objeto essas formas mudam,
assim como as nossas percepções sobre as cores e contornos, ainda que “as peças”
permaneçam exatamente as mesmas. Transpondo tal configuração para a obra em
questão, tomamos aqui os contos como as distintas imagens que o caleidoscópio forma
e que nosso olho capta, imagens estas que são constituídas a partir da combinação das
diversas “peças” que por sua vez possuem nuances, formas, e detalhes que as
particularizam. Essas “peças”, que são comuns a mais de um relato, são aqui os
personagens, os objetos, e as situações, que ao acaso e com a força do aleatório,
combinam-se entre si. Assim, com o girar do caleidoscópio essas peças, que dão origem
a figuras diversas, ou seja, contos/imagens variadas que são visualizadas pela retina do
atento observador. Essa visão humana, habituada com imagens fixas e únicas, depara-se
então com a aleatoriedade caótica do modo como as imagens articulam-se entre si: com
o constante mudar das peças, em que os mesmos personagens transitam entre um conto
e outro, ou mesmo como os objetos de um relato invadem repentinamente o outro,
causam estranhamento e angústia na retina do leitor. Este “repentinamente” relaciona-se
diretamente a concepção do aleatório, do caótico, do não-linear, que a realidade humana
pode apresentar, e que teve suas origens nas ciências naturais, principalmente na Física
e na Matemática.
No estudo procuramos destacar aqueles “caquinhos” que assumem de modo
mais enfático a presença desta reiteração, para que através da visualização de um
“mapa” esquemático (que contém a presença de personagens, objetos e situações
comuns aos contos) observemos que é a partir deles que muitas narrativas se estendem e
se enredam, e que mesmo que conservem sua autonomia, são permeadas pela criação de
uma atmosfera comum que vai paulatinamente, através destes elementos, criando uma
imagem mais abrangente do real: estamos diante de um mundo fragmentado, mas que
ao mesmo tempo se é envolvido por elementos comuns que “saltam” aleatoriamente
entre histórias, vidas, pessoas, e situações distintas.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006.