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Dom Henrique Soares

Homilias
(Vigília Pascoal a Solenidade de São Pedro e S. Paulo)

Editora Saint-Exupéry
Assu-RN
2020

1
Esta edição não tem fins lucrativos, apenas desejamos colocar à disposição
de todos os irmãos e irmãs um pouco da sabedoria do Servo de Deus, Dom
Henrique Soares. Leia, compartilhe!

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Dom Henrique Soares da Costa

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Homilia para a Solenidade de São Pedro
e São Paulo
June 27, 2020

At 12,1-11
Sl 33
2Tm 4,6-8.17-18
Mt 16,13-19

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu
sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. – Estas palavras
que o missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente
o significado de São Pedro e são Paulo. A Igreja chama a ambos de “corifeus”, isto é,
líderes, chefes, colunas. E eles o são!

Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e


ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram, de
tal modo que uma das características essenciais da Igreja de Cristo é ser “apostólica".

Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de Sua pregação, recebeu do
Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do Colégio dos Doze e de todos os
discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após
a Ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o
Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o Imperador
Nero por volta do ano 64.

Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até
ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez Seu apóstolo.
Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do Império Romano e
fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã,
separando a Igreja da Sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma, sob o
Imperador Nero em torno do ano 67.

O que nos encanta nestes gigantes da fé não é somente o fruto de sua obra, tão fecunda.
Encanta-nos igualmente a fidelidade à missão. As palavras de Paulo servem também para
Pedro: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. Ambos foram
perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e
lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, como pastores solícitos pelo
rebanho, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Não largaram o arado,
não olharam para trás, não desanimaram no caminho... Ambos experimentaram também,
dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: “Agora
sei, de fato, que o Senhor enviou o Seu anjo para me libertar...”

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Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a
vida, tudo dando pelo Senhor. Pedro disse com acerto: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes
que Te amo”; Paulo exclamou com verdade: “Para mim, viver é Cristo. Minha vida
presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim”.
Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus
Cristo! Em Jesus eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da
Cruz e da esperança da Ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de
vida.

Finalmente, ambos derramaram o Sangue pelo Senhor: “Beberam do cálice do Senhor


e se tornaram amigos de Deus”. Eis a maior de todas a honras e de todas as glórias de
Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos Seus sofrimentos, unido
a Ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de Sua glória. Eis por que
eles são modelo para todos os cristãos; eis por que celebramos hoje, com alegria e
solenidade o seu glorioso martírio junto ao altar de Deus! Que eles intercedam por nós na
Glória de Cristo, para que sejamos fieis como eles foram.

Hoje também, nossos olhos e corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que
foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus
túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro. Alguns, com má fé e pouco apreço
pela verdade, dizem, deturpando totalmente a Escritura, que ela é a Grande Prostituta, a
Babilônia. Nós sabemos que ela é a Esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste.
Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus
sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a
primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o “Cristo, Filho do Deus
vivo”. Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em
Roma.

Hoje, a missão de Pedro é exercida por Francisco. Ao Santo Padre, nossa adesão filial,
por fidelidade a Jesus, que o constituiu pastor do rebanho. Não esqueçamos: o Papa será
sempre, para nós, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé apostólica e na
unidade da Igreja de Cristo. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas
cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência
seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula
pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura
daquilo que é ou não é conforme o Evangelho.

Rezemos, hoje, pelo nosso Santo Padre, Francisco. Que Deus lhe conceda saúde de
alma e de corpo, firmeza na fé, constância na caridade e uma esperança invencível. E a
nós, o Senhor, por misericórdia, conceda permanecer fiéis até a morte na profissão da fé
católica, a fé de Pedro e de Paulo, pala qual, em nome de Jesus, “Cristo Filho do Deus
vivo”, os Santos Apóstolos derramaram o próprio sangue.

Ao Senhor, que é admirável nos seus santos e nos dá a força para o martírio, a glória
pelos séculos dos séculos. Amém.

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Homilia para a Solenidade da Natividade
de São João Batista
June 25, 2020

Is 49,1-6
Sl 138
At 13,22-26
Lc 1,57-66.80

Além da Virgem Maria Mãe de Deus, Nossa Senhora, de nenhum outro santo a Igreja
celebra o nascimento, a não ser São João, chamado Batista, Batizador. Dele, Jesus fez o
maior elogio jamais feito pelo Salvador a alguém: “Em verdade vos digo que, entre os
nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior que João, o Batista” (Mt 11,11). Por isso,
caríssimos, a hodierna solenidade!

Que lições, que meditações, que exemplos poderíamos colher nesta Festa, tendo
escutado a Palavra que nos foi anunciada? Sugiro-vos três, que alimentem o coração,
afervorem o desejo de colocar-se ao serviço do Senhor e nos conduzam à herança eterna.

Primeiro. A primeira leitura da Liturgia nos fez escutar a profecia de Isaías, colocando
as palavras do profeta na boca de João Batista: “O Senhor chamou-me antes de eu nascer,
desde o ventre de minha mãe Ele tinha na mente o meu nome... fez de mim uma flecha
aguçada e disse-me ‘Tu és Meu servo, em quem serei glorificado’” E o salmo responsorial
fez eco a tão bela ideia: “Senhor, Vós me sondais e conheceis. Fostes Vós que me
formastes as entranhas/ e no seio de minha mãe Vós me tecestes./ Até o mais íntimo me
conheceis;/ nenhuma sequer de minhas fibras ignoráveis,/ quando eu era modelado
ocultamente,/ era formado nas entranhas subterrâneas!” O que aparece aqui, caríssimos
em Cristo, é que viemos a este mundo não por acaso, não sem um propósito. Somos todos
fruto de um sonho de Deus, fomos todos misteriosamente chamados à vida: o Senhor
pensou em nós, nos chamou, nos plasmou – e aqui estamos! O nascimento que hoje
celebramos, do filho de Zacarias e Isabel, foi fruto do desígnio amoroso do Pai, que pelo
Filho Jesus e para o Filho Jesus, na força do Espírito Santo, plasmou João. Por isso seu
nome é tão verdadeiro: “Iohanah”, em hebraico: Deus dá a graça! Ele mesmo, João, já é
uma graça de Deus para seus pais e para todos os que esperavam a salvação de Israel.

Hoje, quando um mundo insensível e descrente já não reconhece que a vida é um


mistério de amor, é um chamado de Deus, quantos são abortados, quantos deixados de
modo indigno e imoral no frio congelamento dos laboratórios de procriação artificial: lá
esquecidos, lá manipulados em inaceitáveis experiências pseudocientíficas! Nós,
caríssimos, que ouvimos a Palavra santa de Deus; nós, que nos alegramos com este
nascimento, nunca esqueçamos: toda vida humana é sagrada do primeiro ao último
instante do nosso caminho terreno. É imoral, perverso e desumano um governo que reduz
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a questão do aborto a problema de “política pública”. Um dia esses senhores irão prestar
contas a Deus. Será mesmo que Deus aceitará este argumento, que não passa de disfarce
para matar? É imoral, em nome do lucro, aviltar seres humanos, jogando-os na pobreza,
é imoral lucrar com a guerra, com o tráfico de drogas, com a prostituição, com a
imoralidade, é imoral tudo quanto fere a dignidade da vida humana! Que o Senhor nos
ajude a defender a vida, a gritar por ela! Que o Senhor também nos dê a sabedoria para
descobrir e experimentar que a nossa vida – por quanto pobre e pequena – também e
preciosa! Que hoje eu me pergunte: Qual o propósito da minha existência? Já o descobri?
Já me conformei a ele? Vosso sou, Senhor, de Vós nasci e para Vós nasci! Que quereis
fazer de mim?

Segundo. Ainda que a vida nossa seja fruto do amor do Senhor, isso não significa
facilidades. João deveria preparar o caminho do Messias, do Cristo de Deus. E isto iria
custar-lhe: “Eu disse: ‘Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente;
entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus me dará recompensa’” O grande desafio
da nossa vida de crentes é viver na presença de Deus, é ser fiel à Sua santa vontade e à
missão que Ele nos confiou. Ser fiel à missão custou a João: a dureza do deserto, as
incompreensões dos inimigos, a trama de Herodíades, a dificuldade de perceber a vontade
Deus (basta recordar João perguntando a Jesus: “És Tu aquele que há de vir, ou devemos
esperar um outro?”- Mt 11,3) e, finalmente, o aparente abandono, o aparente absurdo do
silêncio de Deus, na solidão e na morte naquele cárcere. O que manteve João fiel até o
fim? A confiança no Senhor, a capacidade de deixar-se guiar por Deus, sem querer ele
mesmo controlar sua vida! Grande João! Fiel João! Pobre de Deus, João! Que exemplo
para nós, tanta vez tentados a fazer da vida o que bem queremos, como se nascêssemos
de nós mesmos e vivêssemos para nós mesmos! “Quer vivamos quer morramos,
pertencemos ao Senhor! (Rm 14,8)”

Terceiro. Certa vez São Paulo escreveu: “Nenhum de nós vive para si...” (Rm
14,7) Desde o ventre materno, o Senhor chamou João para ser o que prepara o caminho,
o que vem antes, o “pré-cursor” Toda a sua existência foi “precursar”! No terceiro
evangelho isso aparece de modo comovente: anuncia-se o nascimento de João e depois o
de Jesus; narra-se a natividade de João e a seguir a do Messias; apresenta-se o ministério
de João e, após sua prisão, o do Salvador; finalmente, narra-se a morte de João, prenúncio
da morte do nosso Senhor! Eis! Não é fácil não viver para si, não é fácil deixar que Outro
seja o centro! E, no entanto, como diz a segunda leitura, “João declarou: ‘Eu não sou
aquele que pensais que eu seja! Depois de mim vem Aquele, do qual nem mereço
desamarrar as sandálias’”; “É necessário que Ele cresça e eu diminua!” Santo profeta João
Batista: sendo humilde, foi o maior dos nascidos de mulher; sendo totalmente preso à sua
missão de modo fiel e constante, foi livre de verdade; sendo todo esquecido de si e
lembrado de Deus, foi maduro e feliz! Por isso mesmo, seu nome foi verdadeiro e traduziu
perfeitamente seu ser e sua missão: João, Iohanah: Deus dá a graça. E a graça que, para
seus pais, foi João no seu nascimento, na verdade era outra graça: a graça que Deus dá é
Jesus, o Messias; graça que João anunciou com seu nascimento, com sua vida, com sua
pregação e com sua morte!

Que este grande profeta, o maior do Antigo Testamento, do Céu interceda por nós,
nascidos do Novo Testamento e, por isso, maiores que João, o Grande Precursor! Amém.

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Homilia para o XII Domingo Comum
Ano A
June 20, 2020

Jr 20,10-13
Sl 68
Rm 5,12-15
Mt 10,26-33

O Evangelho que escutamos neste Domingo é parte do capítulo décimo do Evangelho


de São Mateus, que traz o Discurso apostólico do Senhor Jesus: aí, Ele chama os Doze -
como ouvimos no Domingo passado, previne Seus discípulos para as incompreensões e
perseguições que sofrerão, exorta-os a não terem medo de falar, afirma claramente que
Ele mesmo, Cristo, é causa de divisão e, finalmente, renova o convite para segui-Lo.

Então, estejamos atentos, pois o Senhor nos está falando dos desafios próprios da
missão de ser cristão, ontem como hoje!

Claramente, Ele nos previne sobre as dificuldades e perseguições: “Não existe


discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor. Se chamaram Beelzebu
ao Chefe da casa, quanto mais chamarão assim Seus familiares” (Mt 10,24s).

Estamos vivendo hoje, neste início de terceiro milênio, a verdade dessas palavras do
Senhor. Basta que recordemos as terríveis censuras da cultura pós-cristã e neopagã atual
à Igreja por suas posições quando verdadeiramente proclama a fé católica na sua
integralidade. Num mundo que não aceita mais Deus como critério do homem e a religião
como ministra e sinal do Eterno – a não ser no âmbito da vida privada, sem nenhuma
importância para a sociedade –, anunciar o Cristo e Suas exigências virou um crime
insuportável para a sociedade paganizada!

E, no entanto, a ordem que o Senhor nos dá é clara: “O que vos digo na escuridão,
dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!” A
Igreja e cada cristão não podemos calar a novidade e a Vida que encontramos em Cristo,
não podemos passar por alto as exigências do amor ao Senhor! Não se trata de querer
impor, não se trata de nos julgarmos superiores, não se trata de uma atitude fechada,
moralista e antipática de quem se sente dono da verdade; trata-se, sim, do humilde serviço
à Verdade, que é Cristo Senhor, Verdade do mundo, Verdade da história, Verdade do
homem! A Igreja propõe ao mundo a Verdade não porque seja dona dela ou porque a viva
perfeitamente! Nada disto! A Verdade é Cristo e a caminho dela nós todos estamos –
inclusive a própria Igreja.

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Longe de ser dona da Verdade, a Igreja é dela peregrina e sem medo deve dizê-la toda
ao mundo, quer agrade quer desagrade! Dizer a Verdade de Cristo, a Verdade que é
Cristo, com doçura, com paciência, mas também com inteireza e com firmeza: eis a
missão dos cristãos! Para isto fomos chamados, para isto, feitos testemunhas, para isto,
enviados como humildes missionários!

E o sofrimento? E as incompreensões? Fazem parte do anúncio do Evangelho. São


Paulo claramente afirmava aos Gálatas: “Se eu quisesse agradar aos homens não seria
servo de Cristo” (1,10). Seria trair o nosso Senhor esconder, mascarar que Ele, o Cristo
do Pai, é o único Senhor e Salvador; seria sim traição a Jesus nosso Senhor silenciar ou
adaptar ao mundo as exigências do Evangelho em nome de um falso diálogo com a
mentalidade atual, de uma falsa misericórdia e de uma falsa compreensão do homem de
hoje. Somente Cristo liberta de verdade o ser humano – o Cristo inteiro, pregado
integralmente, com todas as consequências do Seu Evangelho! Qualquer um que deseje
ser fiel a Deus experimentará a incompreensão e a solidão. Não há outro caminho!
Recordemos, na primeira leitura, a queixa do Profeta Jeremias, as calúnias por ele
sofridas.

Ora, a Igreja não pode fugir desse destino; o cristão – eu, você – não pode fugir desse
compromisso com Cristo! Aliás, o século XX, ainda tão próximo de nós, foi o século que
mais matou cristãos, que mais os perseguiu e exterminou. E o século XXI vai se
anunciando ainda mais cruel e frio, totalmente indiferente à cristofobia e à cristianofobia!
Só que os meios de comunicação e os governos politicamente corretos mudam e
disfarçam a expressão “perseguição religiosa” com a mentira açucarada chamada “choque
de culturas”. Não! É mesmo perseguição por causa do Evangelho, perseguição genuína
por amor a Cristo, perseguição verdadeira que gera mártires! Também nós, estejamos
prontos e nos acostumemos aos ataques contra a Igreja, que visam desmoralizar o
cristianismo: nos meios de comunicação, muitas vezes, nas universidades, na opinião
pública em geral...

Como responder a esta dolorosa realidade? Certamente, com uma atitude de fé,
colocando-nos nas mãos do Senhor, como Jesus, o Filho amado, colocou-Se nas mãos do
Pai: “Ó Senhor, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração... eu Te
declarei a minha causa!” Não irá se sustentar na fé quem não cravar os olhos e o coração
no Senhor crucificado por nós, quem não estiver disposto a participar do mistério de Sua
Cruz! As perseguições de hoje dão-nos a chance de testemunhar nosso amor ao Senhor e
escutar aquelas comoventes palavras Suas aos discípulos: “Fostes vós que permanecestes
Comigo em todas as Minhas tentações” (Lc 22,31).

O que não podemos, caríssimos, é nos acovardar, negociar com um mundo que refuta
o Cristo Jesus: “Todo aquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei
diante do Meu Pai que está nos Céus!”

Também não podemos pagar o mal com o mal, violência com violência, calúnia com
calúnia, mentira com mentira! Não devemos nunca nos deixar vencer pelo mal: Cristo
sofreu por vós, deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais Seus passos. Quando
injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava; antes, punha a Sua causa nas mãos
Daquele que julga com justiça” (1Pd 1,21.23).

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A Igreja – e nós somos Igreja – não deve se calar ante os inimigos do Evangelho! Com
paciência, firmeza, coragem e amor à verdade deve fazer ouvir sua voz, quer agrade quer
desagrade, quer aceitem quer não!

Mas – pode alguém perguntar -, por que essas dificuldades? Por que a rejeição ao
anúncio do Evangelho? Todos ouvimos São Paulo falar hoje, na segunda leitura, do
mistério do pecado: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado,
entrou a Morte”. O Apóstolo quer dizer que toda a humanidade se encontra numa situação
de fechamento em relação ao Deus vivo e vivificante, encontra-se, portanto, numa
situação de Morte! “Todos pecaram!” – quão triste é a condição do coração humano; quão
triste, a situação do mundo! Pecaram os judeus, desobedecendo os preceitos da Lei;
pecaram os pagãos, mesmo sem terem conhecido um preceito como aquele dado a Adão
ou os preceitos da Lei de Moisés! Pecamos e embotou-se o nosso entendimento, a nossa
sensibilidade para as coisas de Deus! O Senhor, tanta vez, parece-nos pesado demais,
distante demais, até inexistente demais; as exigências do Seu amor, às vezes parecem nos
oprimir. É que somos egoístas, somos fechados sobre nós mesmos! Por isso, a primeira
palavra de Jesus, nosso Senhor, é “convertei-vos” (Mc 1,15)!

E, no entanto, ainda que dirigido a um mundo fechado no seu pecado e na sua


prepotência, o anúncio de Cristo é anúncio de uma maravilhosa novidade para a
humanidade: se nos primeiros homens, iniciou-se uma corrente maldita, uma cadeia de
pecado, em Cristo, o novo Adão, iniciou-se a possibilidade de uma humanidade nova: “A
transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior
que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus
Cristo, se derramou em abundância sobre todos”.

Eis! Ainda que incompreendido, o anúncio que a Igreja faz é de Vida e salvação para
toda a humanidade! O cristianismo não é negativo, nunca dirá que o mundo está perdido,
que as coisas não têm jeito! É verdade que o mundo crucificou o Senhor Jesus – e nos
crucifica e crucificará com Ele; mas também é verdade que o Senhor ressuscitou, venceu
para a Vida do mundo e estará sempre presente conosco!

Caríssimos, vivamos com coerência, com coragem, com amor a nossa fé! Não
tenhamos medo, não desanimemos, não vivamos como os que não conhecem a Cristo!
Não nos fechemos em nós mesmos! De esperança em esperança, vivamos e anunciemos
o Senhor, certos de Sua presença e de Seu amor. Ele jamais nos deixará! A Ele a glória
para sempre. Amém.

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Homilia para o XI Domingo Comum Ano
A
June 13, 2020

Ex 19,2-6a
Sl 99
Rm 5,6-11
Mt 9,36 – 10,8

Caríssimos no Senhor, a Palavra que ouvimos neste Domingo sagrado convida-nos a


olhar com os olhos da fé para a Igreja, Povo santo de Deus. Mas, atenção: olhar a Igreja
não significa pensar no Vaticano ou nas dioceses ou na hierarquia ou no aparato visível
da instituição histórica! Nada disso! Esta seria uma visão pobre, superficial! A alma da
Igreja, sua essência está bem mais escondida no Coração e no desígnio do Senhor! A
Igreja é mistério de fé e somente à luz da fé pode ser compreendida, ainda que sua
realidade mais profunda nunca possa ser esgotada pelo nosso entendimento.

Contemplar a Esposa de Cristo, nossa Mãe católica, significa, primeiramente, olhar


para nós mesmos, para o Povo reunido na Unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
aquele Povo de quem diz a Escritura, na Primeira Epístola de São Pedro: “Vós sois uma
raça eleita, um sacerdócio real, isto é, um sacerdócio do Reino de Deus, uma nação santa,
o Povo de Sua propriedade, a fim de que proclameis as excelências Daquele que vos
chamou das trevas para a Sua luz maravilhosa; vós, que outrora não éreis povo, mas,
agora, sois o Povo de Deus, vós, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora,
alcançastes misericórdia” (2,9s).

Comecemos com a primeira leitura: Israel, o Povo da Antiga Aliança, imagem e


princípio da Igreja, Povo que é a raiz santa de onde viemos! Tudo que as Escrituras dizem
do antigo Israel servem para nós, Igreja de Cristo, novo “Israel de Deus” (Gl 6,16). Saídos
do Egito de modo maravilhoso, libertados pela benevolência e o poder do Senhor Deus,
os israelitas chegaram aos pés do Monte Sinai. Ali, o Senhor Deus de Abraão, de Isaac e
de Jacó iria fazer um pacto, uma aliança com o Seu Povo. Vede, Irmãos, saídos do Egito
na Páscoa, cinquenta dias depois chegaram aos pés do Sinai para o Pentecostes, a festa da
Aliança, do dom da Lei! Então, o Senhor Deus, através de Moisés, recordou aos israelitas
todo o bem que lhes fizera. E resumiu tudo em palavras cheias de ternura, que ouvimos
na primeira leitura: “Eu vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a Mim!” Em outras
palavras: Eu vos atraí, Eu cuidei de vós, Eu vos protegi, vos guardei! Eu vos escolhi!
Compreendeis, Irmãos? Israel foi um Povo amado, escolhido, atraído, cuidado
gratuitamente pelo Senhor! Israel não fizera nada para merecer tão grande graça, tão
singular dom!

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O Senhor escolhera Israel por puro amor. E revela que tem um plano, um desígnio para
esse Povo: “Se ouvirdes a Minha voz e guardardes a Minha Aliança, sereis para Mim a
porção escolhida dentre todos os povos porque Minha é toda a terra. E vós sereis para
Mim um Reino de sacerdotes e uma Nação santa!” Em outras palavras: Israel deveria ser
propriedade exclusiva do Senhor no meio dos outros povos; Israel deveria ter somente o
Senhor por seu Deus; Israel deverá ter por lei, vida e norma somente os preceitos do
Senhor. E por quê? Para quê? Porque toda a terra é do Senhor e Ele deseja que Israel seja
um Povo separado, um Povo escolhido, consagrado, um Povo sacerdotal, um Povo que,
em nome dos outros povos da terra, louve, sirva e adore o Senhor e diante dos outros
povos dê testemunho do verdadeiro e único Deus! Israel deveria ser um Reino de
servidores do Senhor em nome de toda a criação e de todos os povos. Eis o seu sacerdócio!
Israel viveria no meio dos povos, mas seria um Povo diferente, em benefício de todos os
povos! A resposta do Povo não apareceu no trecho da liturgia de hoje, mas está lá, nas
Escrituras: “O Povo exclamou: ‘Tudo o que o Senhor disse, nós o faremos’” (Ex 19,8).

Agora, pensemos no Evangelho que escutamos: o mundo, os povos são descritos por
São Mateus como “multidões cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”,
isto é, uma multidão sem rumo de sentido e de pensamento, uma humanidade desiludida,
sem uma orientação, um propósito global que dê verdadeira razão para viver, sonhar, ser
bom e verdadeiramente empenhar a vida como um todo. O homem é assim: tem sede de
um sentido para a existência e, no entanto, não o encontra, contentando-se com migalhas
de pequenos projetos e realização e nelas cansando o coração.

Compadecido, penalizado, o Senhor Jesus olha para estas multidões de ontem e de


hoje... O que faz? Como o Senhor Deus, na antiga Aliança, forma um Povo. Chama os
Doze, como alicerce do Seu novo Israel, um Povo que seja também Povo sacerdotal a
serviço de todos os povos, de todas as multidões do mundo! Esse Povo é a Igreja; esse
Povo somos nós, novo e definitivo Israel, do qual o antigo era imagem e profecia!
Observai, caríssimos, que não será um Povo forte da sua própria força: será sempre
formado por uns poucos operários! Sim, operários, aqui, são todos os cristãos, são todos
os membros desse Povo! Observai que é o Senhor quem chama os operários, membros
desse Povo, e, por isso, é preciso suplicar ao Senhor da messe do mundo que Ele mesmo
chame, que Ele mesmo atraia, que Ele mesmo envie operários à Sua messe. Nunca
esqueçamos: o Povo é do Senhor, os operários são chamados pelo Senhor e a colheita
também pertence ao Senhor! Tudo é Dele; tudo é para Ele! Irmãos, o destino da Igreja
não é ser maioria, não é se encher de poder e prestígio, não é sua própria glória, não é ser
aplaudida pelo mundo! A Igreja não existe para si mesma, mas para ser ministra,
testemunha e mensageira do Reino de Deus! Quantas vezes nos enganamos com estas
coisas, ontem e hoje ainda!

Observai bem o significado das recomendações que o Senhor dá aos Seus operários,
aos cristãos, a nós, à Igreja: Ele mesmo é o Senhor da obra de evangelização, Ele mesmo
diz o traçado, o ritmo, o caminho. Não são nossos projetos, nossas técnicas, nossas
medidas! Nós somos o Seu Povo, o Povo que Cristo veio reunir com o Seu sangue, com
a Sua Morte amorosa e Ressurreição poderosa! Por isso o Pai entregou o Seu Filho: para
que, salvos da ira, isto é, da situação miserável de pecado e perdição em que se encontra
toda a humanidade, nós vivamos agora “por Sua Vida”, isto é, pela Vida divina, o Espírito
divino do Cristo ressuscitado!

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É este o serviço sacerdotal do novo Povo de Deus, a Igreja de Cristo: levar ao mundo,
a todos os povos, a todas a multidões “cansadas e abatidas” a Boa Notícia de que “Deus
amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo aquele que Nele crê
não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16), como São Paulo nos disse com outras
palavras na Epístola desta Missa.

Éramos pecadores, vivíamos segundo nossos pecados, seguindo e elogiando a índole


deste mundo, “por natureza, como os demais, filhos da ira” (Ef 2,3), éramos fracos,
éramos ímpios e Cristo foi entregue por nós, lavou-nos no Seu amor feito sangue e nos
justificou, isto é, tornou-nos justos, amigos, diante de Deus, o Pai! Queridos no Senhor,
o pecado, a dispersão humana não são uma brincadeira: “éramos inimigos de Deus”, diz-
nos hoje o Apóstolo! É esta a realidade da humanidade sem Cristo! Não há escapatória!
As Escrituras nos advertem todo o tempo sobre isto! Aqui não há apelo, não há disfarces,
não há politicamente correto que mascare esta triste realidade! Se o fizermos, trairemos a
Palavra de Deus, a Sua divina Revelação! É em Cristo que somos reconciliados, salvos,
reunidos como novo Povo de Deus, que é a Igreja.

Mas, atenção: ser membro desse Povo santo, que é uma graça enorme, não nos confere
privilégios ou superioridades diante dos demais! Somos, primeiramente, um Povo
consagrado: pertencemos ao Senhor, não a nós mesmos, a ponto de o Apóstolo afirmar
claramente: “Ninguém de nós vive e ninguém de nós morre para si mesmo, porque se
vivemos, é para o Senhor que vivemos, e se morremos, é para o Senhor que morremos.
Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,7s); somos o
Povo sacerdotal, que tem como dever e missão proclamar o Reino que não é nosso, mas
do Senhor; e fazê-lo não dos nossos modos, mas segundo aqueles modos e tempos e
pensamentos do Senhor, que têm como critério o amor manifestado na Cruz e na
Ressurreição. O anúncio é do Senhor, na força do Senhor e nos critérios do Senhor! Eis
que enormes desafios para a Igreja atual! Como o Israel do Antigo Testamento, somos
nós um Povo que vive da misericórdia de Deus e não deveria ter outro compromisso a
não ser levar Deus ao mundo e o mundo a Deus, trazer a Vida divina e plena do Pai através
do Filho, no Espírito e levar tudo ao Pai, pelo Filho no Espírito até que Deus seja tudo em
todos! A missão da Igreja são as coisas de Deus, a voz da Igreja deve ser eco da Palavra
de Deus, os gestos da Igreja devem ser os sacramentos da graça de Deus, os critérios da
Igreja devem ser os critérios do Reino de Deus, tais como aparecem no Evangelho! Eis aí
o Povo santo, o Povo escolhido, o Povo separado, o Povo sacerdotal, o Povo enviado, o
Povo que traz em si a Vida da eternidade! É desta Vida que o Senhor fala, é esta Vida que
Ele nos dá para reparti-la com o mundo, é com esta Vida divina e eterna o nosso
compromisso!

Eis, pois, caríssimos Irmãos, o mistério da Igreja, da sua missão sagrada, o nosso
mistério! Sim, porque a Igreja que é tudo isso, realiza-se concretamente nas nossas
comunidades, nas nossas assembleias eucarísticas e em cada um de nós, na sua vida e nos
seus desafios, enquanto caminhamos para a Pátria eterna. Que o Senhor nos dê a graça de
sermos fieis, nós a Igreja deste atribulado e incerto terceiro milênio, a Igreja peregrina no
mundo, sempre em situações tão mutáveis e, no entanto, a mesma Igreja de Cristo, una,
santa, católica e apostólica. Ao Senhor que nos chamou e jamais nos deixará, a glória
pelos séculos dos séculos. Amém.

15
16
Homilia para a Solenidade da Santíssima
Trindade - Ano A
June 6, 2020

Homilia para a Solenidade da Santíssima Trindade - ano a

Ex 34,4b-6.8-9
Dn 3
2Cor 13,11-13
Jo 3,16-18

Após termos celebrado o Natal do Senhor, quando contemplamos o amor do Pai, que
preparou na Antiga Aliança e, na plenitude dos tempos, enviou Seu Filho ao mundo na
potência do Espírito Santo, Espírito que tornou fecundo o seio virginal de Maria Mãe de
Deus;

Após a celebração do santo tempo pascal, quando fizemos memorial da Paixão, Morte,
Sepultura e Ressurreição do Senhor, que por nós ofereceu-Se ao Pai num Espírito eterno;

Após concluirmos a Santa Páscoa com a celebração do dom do Espírito em


Pentecostes, neste Domingo, a Igreja nos faz proclamar a glória da Trindade Santa, o
Deus uno e trino que é amor e deu-Se a nós e nos salvou por amor!

Na Liturgia, no correr do ano, é o Mistério e a história do nosso Deus conosco que


celebramos, contemplamos e experimentamos na nossa vida! Todo o mistério de salvação
consiste nisto: o Pai que, pelo Filho, no Espírito, veio ao nosso encontro, nos perdoou,
nos encheu de Sua Vida divina e Se nos dá continuamente nos sacramentos da Sua Igreja.

Mas, o que nos revela essa história de Deus, do Pai que nos enviou o Filho na força do
Espírito Santo? Revela-nos que o Deus uno e único, o Santo Deus de Israel é, ao mesmo
tempo e de modo misterioso e impenetrável, uma eterna e perfeita Comunidade de amor!

Ele é um só! Perfeitamente Uno, infinitamente Um: Deus é um só, o Senhor é Único
– Um é o nosso Deus nos Céus e na terra! Ele é indivisível, nada ou ninguém pode ser
colocado ao lado Dele: um só é o nosso Deus no céu e na terra!

Ao mesmo tempo, Ele é Comunidade de Amor! Ele é eternamente Trino, perfeitamente


Trino, totalmente Trino!

Absolutamente Um e absolutamente comunidade! Eis o Mistério que nem no Céu


poderemos esquadrinhar!

Não é à toa que, na primeira leitura de hoje o Senhor Se revela Se escondendo na noite
e na nuvem: “Ainda era noite... e o Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés”.
17
Eis! Nosso Deus Se faz próximo, desce até nós por amor, mas não podemos
compreendê-Lo, abarca-Lo, domá-Lo, domesticá-Lo!

Ele Se revela como amor puro e generoso: Seu Nome é Amor e Misericórdia: “Senhor,
Senhor! Deus misericordiosos e clemente, paciente, rico em bondade e fiel...”, mas para
experimentá-Lo, para caminhar com Ele, e preciso a atitude de Moisés: “ele curvou-se
até o chão, prostrado por terra... E disse: ‘Senhor, acolhe-nos como propriedade Tua’”.

Nosso Deus nos ama, nosso Deus faz-Se próximo, mas jamais será nosso parceiro,
nosso amiguinho, nosso coleguinha, que pode por nós ser subornado e com o qual
podemos negociar! Não! Ele é Deus! O Seu Nome é Eternidade, o Seu Nome é Infinitude,
o Seu Nome é Amor! Ele é Deus!

E, no entanto, Ele quis caminhar conosco, veio a nós e revelou-Se no Mistério da Sua
intimidade. Que coisa: um Deus que nos procura e quer nos unir a Ele!

Como dizia Santa Teresa: “Juntais aquela que não é com a Plenitude acabada: sem
acabar, acabais; sem ter que amar, amais, e engrandeceis nosso nada!”

Ele, gratuitamente, deu-Se a nós, para nos salvar, fazendo-nos viver com Ele,
participando da Sua Vida: por isso o Pai entregou ao mundo o Seu Filho, Seu Amado:
para viver conosco, sonhar conosco, sofrer e morrer conosco e, assim, dá-nos sua vitória
e Seu Céu: “Deus, o Pai, amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho unigênito, para
que não morra quem Nele crer, mas tenha a Vida eterna. Pois Deus não enviou o Seu
Filho para condenar o mundo, mas que o mundo seja salvo por Ele”.

No Filho único, Jesus, o Pai mostrou o Seu Rosto, o Pai mostrou Sua bondade, o Pai
mostrou o Seu amor. Jesus mesmo disse: “Quem Me vê, vê o Pai. Eu e o Pai somos uma
só coisa! (Jo 14,9s).

Mas, não bastava para Deus viver no nosso meio, entre nós! Ele quis viver em nós,
dentro de nós, sendo mais íntimo de nós que nós mesmos! Por isso, o Filho Jesus, Deus
entre nós, Deus conosco, após Sua Morte e Ressurreição, deu-nos o Seu Espírito Santo,
que Ele mesmo recebera do Pai: “Porque sois filhos, Deus, o Pai, enviou aos vossos
corações o Espírito do Seu Filho, que clama: Abbá, Pai! (Gl 4,6).

Deus foi grande para conosco!

Foi bom demais! Foi infinitamente generoso, foi magnânimo!

Não só nos revelou coisas, mas revelou-Se a Si mesmo! Eis o Mistério totalmente
impenetrável até mesmo aos anjos do Céu: Ele, no mais íntimo de Si, sem deixar de ser
Um só, é Pai, eterno Amante, é Filho, eterno Amado, é Espírito, eterno Amor!

E não somente revelou-Se a nós como é, mas deu-Se a nós: o Pai, pelo Filho, no
Espírito deu-nos a própria Vida divina!

Deus veio a nós, quis fazer história na nossa história, quis viver a nossa vida para nos
elevar à Vida Dele, Vida feliz, Vida plena, Vida eterna!

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É nesta fé que vivemos, é na Vida desse Deus triúno que fomos batizados. Aquele
amor eterno entre o Pai, o Filho e o Espírito, é o amor que nos invade e que devemos
viver entre nós!

A Trindade não é uma teoria para os doutores em teologia. Ela é uma realidade
concreta que deve invadir a nossa vida e a vida da Igreja: “Amemo-nos uns aos outros,
pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele
que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor!” (1Jo 4,7-8).

Porque somos cristãos, nascidos nas águas batismais, em Nome da Trindade, nossa
vida deve ser vida e comunhão de amor: “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus
Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” Estas palavras de São Paulo
revela o que nós somos, o que devemos ser, o que devemos testemunhar diante do mundo:
uma comunidade que nasceu do amor, vive no ninho do Deus de amor e caminha para o
Deus de amor. Por isso o Apóstolo recomenda-nos: “Alegrai-vos, cultivai a concórdia,
vivei em paz, saudai-vos com o ósculo santo!”

Caríssimos, crer e experimentar que Deus é uno e trino é viver no amor que nos faz
uma só coisa no Filho Jesus e nos conserva respeitosos das diferenças e diversidades entre
nós.

Uma comunidade cristã que não seja unida e respeitosa das diferenças de dons,
carismas, ministérios e sensibilidades, não é uma comunidade realmente nascida da
Trindade, que vive o mistério da Trindade e caminha para a Trindade.

Nunca esqueçamos: vimos do Pai pelo Filho no Espírito; caminhamos, peregrinos,


para o Pai, pelo Filho no Espírito.

A Trindade é nosso berço, nosso ninho e nosso destino. Contemplá-La e adorá-La é


viver o amor. Como dizia Santo Agostinho: viste o amor, viste a Trindade!

“Bendito seja Deus Pai, bendito seja o Filho unigênito, bendito seja o Espírito Santo!
Deus foi misericordioso para conosco!” A Ele, a glória pelos séculos. Amém.

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Homilia para a Solenidade de
Pentecostes - Ano A
May 31, 2020

At 2,1-11
Sl 103
1Cor 12,3b-7.12-13
Jo 20,19-23

A Igreja conclui hoje o Tempo Pascal com a Solenidade de Pentecostes. Não poderia
ser diferente, pois o Espírito Santo é o fruto maduro da Paixão, Morte e Ressurreição do
Senhor Jesus.

Ele morreu entregando na Cruz, amorosamente, o Espírito ao Pai e, no mesmo Espírito,


foi ressuscitado pelo Pai. Agora, plenificado por esse Espírito, derramou-O e derrama-O
sobre a Igreja e sobre toda a criação (cf. At 2,33). Sim: derramou-O e derrama-O porque
o Espírito é como “um rio de água viva” (Jo 4,13s), brotado do Coração aberto do
Cordeiro de pé como que imolado (cf. Jo 7,37ss; Ap 5,6), que corre continuamente,
sempre o mesmo e sempre novo, tudo renovando, tudo vitalizando, tudo sustentando. Por
isso, a Igreja suplica e suplicará sempre de novo: “Vinde, ó Santo Espírito!”

Vejamos alguns aspectos da ação do Espírito:

(1) Primeiramente, por ser Espírito do Cristo, Ele nos une ao Senhor Jesus, dando-nos
a Sua própria Vida, como a cabeça dá vida ao corpo e o tronco dá vida aos ramos.

É no Espírito que Cristo habita realmente em nós desde o nosso Batismo, e faz crescer
Sua presença em nós em cada Eucaristia, quando comungamos o Corpo e o Sangue
Daquele Senhor, que é pleno do Espírito, tão pleno que a Escritura chega a exclamar,
sobre o Ressuscitado: “O Senhor é o Espírito” (2Cor 3,17).

Só no Espírito podemos dizer que Cristo permanece em nós e nós permanecemos Nele;
só no Espírito podemos dizer que já não somos nós que vivemos, mas Cristo vive em nós
(cf. Gl 2,20), com Seus sentimentos, Suas atitudes e Sua entrega ao Pai (cf. Fl 2,5-8). Por
isso, somente no Santo Espírito nossa vida pode ser vida em Cristo, vida de santidade.

(2) Mas, o Espírito, além de agir em cada cristão, age na Comunidade como um todo,
edificando a Igreja, fazendo-a sempre Corpo de Cristo.

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Antes de tudo, Ele vivifica a Igreja com a Vida do Ressuscitado, incorporando sempre
nela novos membros, fazendo-a crescer mais na plenitude de Cristo. Depois, Ele suscita
incontáveis ministérios, carismas e dons, desde os mais simples até aqueles mais vistosos
ou mais estáveis, como os ministérios ordenados: os Bispos, padres e diáconos.

É o Espírito que mantém esta variedade em harmonia e unidade, para que tudo e todos
contribuam para a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja, em liberdade interior, a
liberdade dos filhos de Deus, pois “onde Se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”
(2Cor 3,17).

Assim, é no Espírito que surge e ressurge sempre a vida consagrada, com tantas
expressões, tantos modelos e tantos carismas diferentes, é no Espírito que os mártires
testemunham Cristo até a morte, é no Espírito que se exerce a caridade, se visitam os
enfermos, se consolam os sofredores, se aconselha, se socorrem os pobres, se prega o
Evangelho...

Enfim, é no Espírito que a Igreja vive, cresce e respira!

(3) É no Espírito que os santos sacramentos são celebrados com eficácia, pois que o
Espírito é a própria Energia, a própria Graça, a própria Força de Vida e Ressurreição que
o Cristo recebe do Pai e derrama sobre a Igreja. Sendo assim, é no Espírito que a Igreja é
continuamente edificada e renovada, num Pentecostes constante, continuado, no todo do
Corpo e em cada um dos membros que a ele está unido, até a Vida eterna.

(4) É no Espírito que os cristãos podem rezar, proclamando do fundo do coração que
Jesus é Senhor e que Deus é nosso Pai de verdade.

Somente porque temos o Espírito recebido no Batismo é que somos realmente filhos
de Deus, já que recebemos o Espírito do Filho que clama em nós “Abbá” – Pai.

O Espírito une a nossa oração à oração de Jesus, dando-lhe valor e eficácia e


colocando-nos na Vida da própria Trindade Santa. Sem o Espírito, não poderíamos
chamar a Deus de Pai, sem o Espírito nossa oração não seria a de Jesus, nosso Senhor, e
nosso louvor, nossa adoração e nossa intercessão não estariam unidas e inseridas na
própria união do Cristo Jesus com o Pai. Sem o Espírito, a Igreja não estaria inserida em
Cristo e jamais seria povo sacerdotal!

(5) É o Espírito quem recorda sempre à Igreja a verdade do Evangelho, conduzindo-a


sempre mais adiante no conhecimento de Cristo. Por isso, assistida pelo Espírito da
Verdade, a Igreja jamais poderá separar-se da memória do seu Senhor, jamais poderá
contradizer sua herança, a fé católica e apostólica, jamais poderá adulterar ou ceder na
sua firme profissão de fé com o intuito maléfico e enganador de agradar ao mundo, e
jamais poderá errar na sua profissão de fé; enfim, jamais poderá afastar-se da verdade
católica que recebeu dos Apóstolos.

Assim, somente no Espírito é que cremos com fé certa na fé da Igreja e sabemos com
certeza que a fé da Igreja é a fé católica e apostólica!

22
(6) É ainda o Espírito quem fala ao coração da Igreja das coisas futuras (cf. Jo 16,13),
isto é, do Mundo que há de vir, daquilo que o Senhor nos preparou e para que nós fomos
criados; por isso, é no Santo Paráclito que a Igreja, ansiosa, olha para a frente, para o
futuro e, inquieta, clama que o Esposo venha logo para consumar todas as coisas (cf. Ap
22,17). Por isso, na força do Espírito, a Igreja deverá ser sempre fiel a cada época, sem
saudosismos nem medos, acolhendo, vivendo e testemunhando e difundindo com
humildade o Reino de Deus, até que venha o seu Esposo e leve tudo à consumação.

É no Espírito que os cristãos devem viver como profetas do Reino dos Céus que está
por vir, denunciando com doçura e vigor tudo quanto se oponha à manifestação desse
Reino, a começar por seus próprios pecados e infidelidades, presentes em cada coração.
No Espírito, a Igreja anunciará sempre o Evangelho, superando todo medo de falar de
modo novo a constante e imutável verdade do Evangelho, que interpela, transforma e
converte o coração.

(7) Mas, o Espírito não está restrito à Igreja. Dado à Igreja, Ele, que a habita e a
impregna, a partir do Corpo da Igreja, que é Corpo de Cristo, enche também, impregna e
renova o universo inteiro e toda a humanidade. Onde menos esperamos, onde ainda não
chegamos, lá já podemos encontrar a ação do Espírito do Senhor, que Se derrama, que
age, suave e fortemente, cristificando toda a humanidade e todas as coisas.

(8) É o Espírito que vai, com força e discrição, guiando a história humana para a
plenitude de Cristo - e isto por mais que, tantas vezes, o mundo pareça perdido e sem
rumo, em meio a guerras, injustiças, hipocrisias, violências, tristezas e mortes. Cabe aos
cristãos, saber discernir e interpretar os sinais dos tempos, que o Santo Espírito faz brotar
por toda parte, tendo ouvidos para ouvir o que o Ele diz à Igreja.

(9) Finalmente, é no Espírito, que um dia, no Dia de Cristo, quando Ele, nossa Vida,
aparecer em Glória, tudo será glorificado, a história será passada a limpo, a criação inteira
será transfigurada, o pecado será destruído para sempre, a Morte será vencida e nossos
corpos mortais ressuscitarão, transfigurados como o corpo do Cristo Jesus ressuscitado.
Então, plena do Espírito, toda criação será plenamente Corpo de Cristo, Igreja plena,
universo glorificado. O Ressuscitado será Cabeça dessa nova criação e entregará tudo ao
Pai, para que o Pai, pelo Filho, no Espírito, seja tudo em todas as coisas. É esta a nossa
esperança, a nossa certeza e a plenitude da nossa salvação. É esta realidade estupenda que
se iniciou com o dom do Espírito e continuará sempre e permanecerá sempre, celebrado
na Festa de hoje.

Só nos resta implorar novamente o que cantamos antes do “aleluia” da Missa hodierna:

“Espírito de Deus, / enviai dos Céus/ um raio de luz!


Vinde, Pai dos pobres, / dai aos corações/ Vossos sete dons.
Consolo que acalma, / Hóspede da alma, / doce Alívio, vinde!
No labor, Descanso, / na aflição, Remanso, / no calor, Aragem.
Enchei, Luz bendita, / Chama que crepita, / o íntimo de nós.
Sem a Luz que acode, / nada o homem pode, / nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai, / ao seco regai, / curai o doente.
Dobrai o que é duro, / guiai-nos no escuro, /o frio aquecei.
Dai à Vossa Igreja, / que espera e deseja, / Vossos sete dons.
Dai em prêmio ao forte/ uma santa morte, / alegria eterna. / Amém.

23
24
Homilia para a Solenidade da Ascensão
do Senhor - Ano A
May 23, 2020

At 1,1-11
Sl 46
Ef 1,17-23
Mt 28,16-20

Estamos ainda nos dias pascais, nas alegrias da Ressurreição do Senhor. A Solenidade
que hoje celebramos – a Ascensão – e aquela do Domingo próximo – Pentecostes - são
ainda partes, aspectos do único e maravilhoso Mistério da Páscoa: Ressurreição, Subida
aos Céus e dom do Espírito são três aspectos do mesmo mistério! Celebramo-lo num arco
de cinquenta dias porque, enquanto o Senhor Jesus deixou este nosso tempo, feito de
ontens, de hojes e de amanhãs, nós continuamos presos às horas, dias, meses e anos deste
mundo... Quanto ao Cristo Senhor, desde a morte saiu do nosso tempo e, com Sua
Ressurreição, entrou na Eternidade de Deus, no Santuário celeste, onde não já tempo
algum, mas somente perene Eternidade!

Eis: Jesus ressuscita no Pai; não ressuscita para depois ir ao Seu Deus e Pai!
Ressuscitar é, precisamente, sair da morte, entrando na Vida divina e imortal, que é o Pai.
Isso aparece claro em alguns textos dos próprios evangelhos. Em Lc 24,44, Jesus
ressuscitado, conversando com Seus apóstolos e sendo tocado por eles, diz claramente
que com eles não está mais: “São estas as palavras que Eu vos falei quando estava
convosco...”No próprio Evangelho deste hoje, o Senhor, aparecendo aos Seus sobre o
monte, dá a entender que já está nos Céus: “Toda autoridade Me foi dada no Céu e na
terra!” Vede: Ele já recebeu tal autoridade! Ele, durante quarenta dias apareceu aos Seus,
mas já não está fisicamente entre os Seus! Seu novo modo de permanecer conosco é na
potência do Seu Espírito Santo, também fruto da Sua Ressurreição e entrada no Pai...

Se é assim, qual o sentido desta Solene Ascensão do Senhor? Eis o seu significado, tão
importante para nós e para a nossa salvação: ressuscitado, Jesus foi glorificado na Sua
Pessoa, isto é, em Si mesmo. Agora, com a Ascensão, aparece o que Sua Ressurreição
significa para nós, o que o Cristo Se torna em relação a nós. Vejamos:

Em primeiro lugar, a Ascensão marca o fim daquele período de encontros que o


Ressuscitado teve com Seus discípulos para fortalecer-lhes a fé explicar-lhes a missão. É,
portanto, uma despedida! Como já foi dito, a partir desse momento o Senhor estará com
os Seus e poderá ser por eles percebido de uma forma nova: na potência do Seu Espírito
Santo, presente na força da Palavra anunciada e nos sacramentos da Igreja. É assim, que
a Ascensão abre caminho para o Pentecostes, quando o Espírito, de um modo visível e
barulhento, marca a inauguração da missão da Igreja, que é testemunhar e anunciar o
Senhor, tornando-o presente nos gestos sacramentais.

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Segundo: a Ascensão nos revela aquilo que aconteceu nos Céus com o Cristo Jesus e
que, na terra, somente pela fé podemos saber e crer, isto é, Sua glorificação como Senhor
do Céu e da terra, Senhor da história humana e da Igreja. Ele ressuscitou e subiu aos Céus
para tudo recapitular e de tudo ser a Cabeça, fonte de Vida e salvação! São Paulo nos
disse na segunda leitura que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a Quem
pertence a glória ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos e fê-Lo sentar-se à Sua direita
nos Céus. Ele pôs tudo sob os Seus pés e fez Dele, que está acima de tudo, Cabeça da
Igreja, que é o Seu Corpo...” É assim que hoje, cheios de alegria, proclamamos Jesus
ressuscitado como Cabeça de toda a criação, Cabeça da humanidade toda, Cabeça e
sentido da história humana. E tudo isso Ele o é enquanto Cabeça da Igreja, que é o seu
Corpo! Isso significa que toda a criação caminha para Ele e Nele será um dia glorificada;
que toda história somente Nele encontra a direção e o sentido profundo; e que a Igreja
participa da Sua obra universal de salvação! Se toda salvação neste mundo somente pode
vir através de Cristo, vem desse Cristo que é, inseparavelmente, Cabeça da Igreja. Assim,
podemos e devemos dizer que sem o ministério da Igreja não há salvação possível! Isso
mesmo: fora da Igreja não há salvação, porque ela é o Corpo do Cristo, sua Cabeça e
único Salvador. Em outras palavras: todo ser humano de boa vontade e consciência reta
pode salvar-se, mas pode-o somente porque Cristo, Cabeça da Igreja, morreu e ressuscitou
e está à Direita do Pai em favor de toda a humanidade, até de quem não crê Nele!

Em terceiro lugar, glorificado, o Senhor é nosso Juiz! Para Ele caminham a história
humana e as nossas histórias. Somente Ele pode ver nosso caminho neste mundo com seu
sentido profundo, somente Ele nos julgará, porque, à Direita do Pai, somente Ele abarca
toda a história com o Seu Espírito e desvela seu sentido pleno.

Quarto: desaparecendo de nossa vista humana, Ele nos dá o Seu Espírito, inaugurando
um novo modo de estar presente entre nós, mais profundo e eficaz: agora Ele nos é
interior, age em nós pela energia do Seu Espírito Santo: “Eis que Eu estarei convosco
todos os dias, até o fim do mundo!” – Essa promessa não é palavra vazia; é, sim, uma
impressionante realidade!

Em quinto lugar, Sua presença na Glória, à Direita do Pai, o constitui para sempre
como nosso Intercessor, como diz o Autor da Epístola aos Hebreus: “Cristo entrou no
próprio Céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor!” (9,24)

Caríssimos, a hodierna Solenidade é também nossa festa e motivo de alegria para nós!
Aquele que hoje sentou-Se à Direita do Pai é o Filho eterno feito homem, é um de nós!
Que coisa impressionante: hoje, a nossa humanidade foi colocada acima dos Anjos!
Aquele que, como Deus, foi colocado no Presépio e no Sepulcro, hoje, como homem, foi
colocado acima dos anjos, à Direita do próprio Pai! Ora, alegremo-nos: onde já está o
Cristo, nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós, membros do Seu Corpo! Era isso que
rezava a oração inicial da Missa de hoje: “Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso
Filho já é a nossa vitória: membros do Seu Corpo, somos chamados a participar da Sua
Glória!” E a oração que faremos após a comunhão dirá claramente que junto do Pai já se
encontra a nossa humanidade, no Cristo glorificado.

Irmãos e irmãs! Elevemos o olhar para os Céus: à Direita do Pai, Deus como o Pai,
encontra-Se o homem Jesus, nosso irmão, um de nossa raça... Ele é o objetivo para o qual
se dirigem a nossa existência e a história humana, Ele é o nosso Juiz, Ele é o nosso
Intercessor! Que nossa vida, neste mundo que passa, seja cheia do gosto da Eternidade,

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porque Nele, nossa esperança é certíssima! Não temamos: Aquele que está nos Céus Se
nos dá em comunhão para que o experimentemos, O anunciemos e O testemunhemos, até
sermos plenamente unidos a Ele quando aparecer em Sua Glória e entregar o Reino a
Deus Seu Pai. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será por toda a Eternidade”
(Hb 13,8). Amém.

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Homilia para o VI Domingo da Páscoa -
Ano A
May 16, 2020

At 8,5-8.14-17
Sl 65
1Pd 3,15-18
Jo 14,15-21

Nestes dias pascais em honra do Ressuscitado, contemplamos e experimentamos nos


santos mistérios não somente a Sua Ressurreição e Ascensão, como também dom do Seu
Espírito Santo em Pentecostes. Pois bem, caríssimos irmãos, a Palavra de Deus que
escutamos nesta liturgia do VI Domingo da Páscoa coloca-nos precisamente neste clima.
Com um coração fiel e recolhido, contemplemos o mistério que o Evangelho de hoje nos
revela! Meditemos nas palavras do Senhor Jesus: é Ele mesmo que, sempre vivo, glorioso,
soberano Senhor da Igreja, nesta Ceia sacrifical da Eucaristia, nos diz novamente, aquelas
palavras ditas na Ceia derradeira. Eis as Suas palavras:

“Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós! Pouco tempo ainda, e o mundo não mais Me
verá, mas vós Me vereis, porque Eu vivo e vós vivereis!” São palavras estupendas, cheias
de promessa e de vitória...

Mas, será que são verdadeiras? Como pode ser verdade tudo isso? Uma coisa é certa:
o Senhor não mente jamais! E Ele nos garante: Eu virei a vós! Eu vivo! Vós vivereis!
Vivereis da Minha Vida de Ressurreição!

Mas, como se dá tal experiência? Como podemos realmente experimentar tal realidade
estupenda em nossa vida e na vida da Igreja? Eis a resposta, única possível: somente no
Espírito Santo que o Ressuscitado nos deu ao derramá-Lo sobre nós após a Sua vitória
sobree a morte. Vejamos:

“Eu virei a vós!” Na potência do Santo Espírito, Cristo realmente permanece no


coração de Sua Igreja, primeiro pela Palavra, pregada na potência do Espírito, como
Filipe, na primeira leitura, que, anunciando o Cristo, realizava curas e exorcismos e,
sobretudo, tocava os corações! A Palavra que Filipe pregava e que a Igreja proclama é
cheia de Espírito Santo de Cristo e, por isso, Palavra que realmente toca os corações e
coloca os ouvintes diante do Cristo vivo, soberano, atual e atuante.

Mas, conjuntamente com a Palavra, os sacramentos, sobretudo o Batismo e a


Eucaristia. Em cada sacramento é o próprio Espírito do Ressuscitado Quem age,
conformando-nos ao Cristo Jesus, unindo-nos a Ele, fazendo-nos experimentar Sua Vida
e Sua força. Pelo Batismo, mergulhados no Espírito do Ressuscitado, realmente nascemos
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para uma nova Vida, como nova criatura; pela Eucaristia, Seu Corpo e Sangue plenos do
Espírito, entramos na comunhão mais plena que se possa ter neste mundo com o Senhor:
Ele em nós e nós Nele, num só Espírito Santo que Ele nos doa continuamente!

“Vós Me vereis!” Porque o Santo Espírito do Senhor Jesus habita em nossos corações,
nós experimentamos Jesus em nós como uma Presença real e atuante e, com toda a
certeza, proclamamos que Jesus é o Senhor, como diz São Paulo: “Ninguém pode dizer:
‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). Porque vivemos no Espírito,
experimentamos todos os dias Jesus como Alguém vivo e presente na nossa vida, em
outras palavras: vemos Jesus; vemo-Lo de verdade!

“Eu vivo!” Sabemos que o Senhor está vivo: “morto na Sua existência humana,
recebeu nova Vida pelo Espírito Santo”. Sabemos com toda a certeza da fé que Cristo é
o Vivente para sempre, cheio de Vida divina, o Vencedor da Morte!

“Vós vivereis”. O Senhor Jesus não somente está vivo, totalmente transfigurado pela
ação potente do Espírito que o Pai derramou sobre Ele... Vivo na potência do Espírito,
Ele nos dá esse mesmo Espírito em cada sacramento. Assim, sobretudo no Batismo e na
Eucaristia, tornam-se verdadeiras as palavras do Senhor: “Vós vivereis!”, isto é:
recebendo Meu Espírito, Nele vivendo, tereis a Minha Vida mesma! Vivereis porque Meu
Espírito “permanece junto de vós e estará dentro de vós!”

Então, caríssimos, palavras de profunda intensidade e de profunda verdade! Num


mundo da propaganda, da ilusão, dos simples sentimentalismos, essas palavras do Senhor
são uma concreta e impressionante realidade. Mas, escutemos ainda o Senhor: “Naquele
dia sabereis que Eu estou no Meu Pai e vós em Mim e Eu em vós!”

É na oração, na prática piedosa dos sacramentos, na celebração ungida e piedosa da


Eucaristia que experimentamos essas coisas! Aqui não é só a inteligência, aqui não basta
a razão, aqui não são suficientes os nossos esforços! É na fé profunda de uma vida de
união com o Senhor, na força do Espírito Santo que experimentamos isso que Jesus disse:
Ele está no Pai, no Espírito Ele e o Pai são uma só coisa.

Mas, tem mais: experimentamos que nós estamos Nele, Nele enxertados como os
ramos na videira, Nele incorporados como os membros do corpo unidos à Cabeça! Repito:
é nos sacramentos que essa experiência maravilhosa torna-se realidade concreta. Um
cristianismo que tivesse somente a Palavra de Deus, sem valorizar os sete sacramentos –
sobretudo o Batismo e a Eucaristia -, seria um cristianismo mutilado, deficiente, anêmico,
não condizente com a fé do Novo Testamento e a Tradição constante da Igreja! Irmãos,
atenção para a nossa vida sacramental!

Ora, é esta comunhão misteriosa e real com o Senhor no Espírito, que nos faz amar o
Senhor Jesus e vive-Lo com toda seriedade de nossa existência. É cristão de modo pleno
quem experimenta o Senhor Jesus vivo e íntimo em sua vida e celebra tal união, tal
cumplicidade de amor, nos sacramentos! Aí sim, as exigências do Senhor, Seus
mandamentos, não nos parecem pesados, não nos são pesados, não são um fardo exterior
que suportamos porque é o jeito. Quem vive a experiência desse Jesus presente e doce no
Espírito derramado em nós, experimenta que cumprir os preceitos do Senhor é uma
exigência doce, porque é exigência de amor e, portanto, libertadora, pois nos tira de nós
mesmos e nos faz respirar um ar novo, o ar do Espírito do Ressuscitado, o Homem Novo!

30
Mas, quem pode fazer tal experiência? Somente quem vive de modo dócil ao Espírito
Consolador, que nos consola mesmo nos desafios mais duros. Somente viverá o
cristianismo com um dom e não como um peso quem vive na consolação do Espírito, que
é também Espírito de Verdade, pois nos faz mergulhar na gozo da Verdade que é Jesus.

Ora, o mundo jamais poderá experimentar esse Espírito; jamais poderá experimentar
o Evangelho como consolação, jamais poderá experimentar e ver que Jesus está vivo e é
doce e suave Vida para a nossa vida! Por isso mesmo, o mundo jamais poderá
compreender as exigências do Evangelho: aborto, desconstrução da família segundo o
plano de Deus, assassinato de embriões com fins pseudocientíficos, ideologia de gênero,
eutanásia... Como o mundo poderá compreender as exigências do Evangelho se não
conhece o Cristo? “O mundo não mais Me verá!” Nunca nos esqueçamos disso! Ai
daqueles que pensam que a Igreja deve correr atrás do mundo, adotando a sua lógica, e
os seus critérios! Este não é capaz de receber, de acolher o Evangelho porque – diz Jesus,
nosso Senhor – não vê nem conhece o Espírito Paráclito! Mas, vós, cristãos, “O conheceis
porque Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós!” Irmãos, como nosso Senhor
é claro, como é verdadeiro, como nos preveniu!

É esta experiência viva do Senhor Jesus no Espírito que nos dá a força cheia de
entusiasmo na pregação como Filipe, na primeira leitura. Dá-nos também a coragem e o
discernimento para dar ao mundo “a razão da nossa esperança”, santificando o Senhor
Jesus em nossos corações, isto é, pregando Jesus Cristo primeiro com a coerência da nossa
fé na vida concreta e, depois, com respeito pelos que não creem como nós, mas com a
firmeza de quem sabe no que acredita! Dá-nos, enfim, a graça de participar da Cruz do
Senhor, Ele que “morreu uma vez por todas, por causa dos nossos pecados, o Justo pelos
injustos, a fim de nos conduzir a Deus”. Assim, com Ele morreremos para uma vida velha
e ressuscitaremos no Espírito para uma Vida nova.

Eis! Esta será sempre a grande novidade cristã, o centro, o núcleo de a nossa identidade
e nossa força! Nunca esqueçamos disso! Vamos! Sigamos o Senhor! Abramo-nos ao Seu
Espírito, E teremos a Vida eterna! Amém.

31
32
Homilia para o V Domingo da Páscoa -
Ano A
May 9, 2020

At 6,1-7
Sl 32
1Pd 2,4-9
Jo 14,1-12

Neste Domingo, quinto do Tempo da Páscoa, elevemos o olhar para o Ressuscitado;


deixemo-nos tomar por Sua palavra: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em
Deus, tende fé em Mim também!” Estejamos atentos: estas não são palavras ditas ao
vento, para ninguém! São palavras, é exortação a nós, cristãos de agora; palavras para
cada um de nós e para nós todos.

No mundo complexo, numa realidade plena de desafios, de pontos escuros e tão


obscuros, na nossa vida pessoal tantas vezes sofrida, tantas vezes ferida, cheia de tantas
contradições e desafios, o Senhor nos olha, estende-nos as mãos, abre-nos o coração e
nos enche de serenidade e confiança: “Não se perturbe o vosso coração!”

Pensemos nos desafios dos tempos atuais: o desafio de crer e testemunhar o Senhor
em situações tão cheias de promessas, mas também tão confusas, de tantos relativismos,
num mundo em que tudo parece desfazer-se ou, como dizem atualmente, liquefazer-se...

Pois bem, o Senhor insiste: “Tendes fé em Deus, tende fé em Mim também!” Ter fé
em Cristo! Eis o desafio para nós! Ontem, como hoje, é necessário proclamar nossa fé
Nele, nossa entrega a Ele, nossa certeza de que Ele pode dar um sentido e Vida à nossa
existência.

E por quê? Não seria loucura, alienação, infantilidade, confiar assim, de modo tão
absoluto, em um alguém? Por que apostar toda a vida em Jesus e somente em Jesus? Por
que não um pouquinho de Buda, um pouquinho de Maomé, um pouquinho de Dalai Lama,
um pouquinho de esoterismo, um bocadinho nas ideologias disponíveis, um pouquinho
mais de consumismo e outro tantinho de rédea solta aos nossos instintos? Por que somente
Cristo? Por que absolutizar Jesus?

33
Eis a resposta, que Ele mesmo nos dá; eis a resposta surpreendente; escutemo-la: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim!” É precisamente
neste mundo de tantos desafios e de tantos caminhos, que o Senhor Jesus nos diz: "Eu sou
o Caminho!" Nestes tempos de tantas verdades, Ele nos proclama: "Eu sou a
Verdade!" Neste mundo que nos tenta, oferecendo Vida onde não há vida verdadeira,
Jesus nosso Senhor anuncia: "Eu sou a Vida!" De fato, Ele não é simplesmente um
profeta, um sábio, não é alguém a quem podemos admirar e seguir ao lado de outros
personagens igualmente ilustres! Jesus Se nos apresenta como Aquele que vem de Deus
e é o único que nos pode revelar de modo pleno, de modo claro e conclusivo o caminho
para Deus! Mais ainda: Aquele que é nosso Caminho é também nossa única Verdade e
nossa única e verdadeira Vida!

Caríssimos, é diante Dele que temos sempre que nos decidir, que somos chamados a
dar um rumo à nossa existência em seus múltiplos aspectos, e à existência da sociedade,
da família, das relações sociais, do mundo. O mundo tem tantas e tantas medidas para
avaliar o bem e o mal, o certo e o errado... Mas, cristãos, a nossa medida é Cristo!

Eis! Ele é nossa medida porque é o único Caminho, a única Verdade, a única Vida! O
próprio Apóstolo São Pedro nos afirma na segunda leitura da Missa deste
Domingo: “Aproximai-vos do Senhor, Pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida
e honrosa aos olhos de Deus! Com efeito, nas Escrituras se lê: ‘Eis que ponho em Sião
uma Pedra angular, escolhida e magnífica; quem Nela confiar, não será confundido!’ Mas,
para os que não creem, ‘a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular
pedra de tropeço e rocha que faz cair’”. Não há como escapar: diante de Cristo, é
necessária uma escolha, uma decisão! Aqui não se tem nada a ver com ser aberto ou
fechado, otimista ou pessimista! Aqui se tem a ver com a experiência tremenda de Deus
que entregou o Seu Filho ao mundo para ser nossa Vida e Caminho e os homens O
rejeitaram. Ora, é diante do Cristo, Caminho, Verdade e Vida que nossa existência será
julgada, que o mundo será examinado! E, no entanto, Ele será sempre sinal de contradição
e pedra de tropeço...

Há muitos dentre nós que se iludem – e teimam em iludir-se! –, pensando numa Igreja
que faça o jogo da moda, que diga amém a um modo de pensar, agir e viver estranho ao
Evangelho! Que engano tão danado! A renovação da Igreja está em voltar sempre a Cristo
e Nele se reencontrar sempre, retomando o vigor, como de uma fonte puríssima! O
verdadeiro serviço à humanidade e ao mundo é apresentar o Cristo e Nele colocar toda a
esperança! Somente em Cristo a Igreja terá razão de ser e despertará interesse por quem
deseje encontrar a Vida!

“Não se perturbe o vosso coração!” – Já nos inícios da Igreja havia tensões, desafios,
dificuldades externas e internas. Pois bem, já ali o Senhor dizia aos cristãos: “Não se
perturbe o vosso coração!” Já ali lhes garantia a grandeza do amor do Pai: “na Casa do
Meu Pai há muitas moradas!” E já ali, entre as consolações de Deus e as provações da
vida, “a Palavra do Senhor se espalhava”. Portanto, não temamos em colocar toda a nossa
confiança no Senhor; não hesitemos em procurar de todo o coração seguir os passos do
Senhor Jesus! A oração inicial da Missa de hoje exprimiu muito bem o que espera o
cristão, ao colocar no Senhor a sua existência. Recordemo-la: “Ó Deus, Pai de bondade,
concedei aos que creem no Cristo a liberdade verdadeira e a Herança eterna!” – Eis o que
buscamos, o que esperamos, o que temos a certeza de alcançar: a liberdade verdadeira e
a Herança eterna! Amém.

34
Homilia para o IV Domingo da Páscoa -
Ano A
May 2, 2020

At 2,14a.36-41
Sl 22
1Pd 2,20b-25
Jo 10,1-10

“Ressuscitou o bom Pastor, que deu a vida por Suas ovelhas e quis morrer pelo
rebanho”. Estas palavras da Liturgia exprimem admiravelmente o espírito deste Domingo
IV do Tempo Pascal, chamado Domingo do Bom Pastor.

Valeria a pena ler e meditar de modo contemplativo o capítulo 10,1-18 do Evangelho


de São João. Aí, Jesus Se revela como o Bom Pastor, ou melhor, o Perfeito, o Belo, o
Completo e Pleno Pastor: “Eu sou o bom Pastor: o bom pastor dá Sua vida pelas Suas
ovelhas” (Jo 10,11). Criticando duramente os pastores, isto é, os líderes do Povo de Israel,
Deus havia prometido Ele mesmo vir pastorear o Seu rebanho: “Ai dos pastores de Israel
que se apascentam a si mesmos! Os Meus pastores não se preocupam com o Meu rebanho!
Eu mesmo cuidarei do Meu rebanho e o procurarei. Eu mesmo apascentarei o Meu
rebanho, Eu mesmo lhe darei repouso. Buscarei a ovelha que estiver perdida, reconduzirei
a que estiver desgarrada, pensarei a que estiver fraturada e restaurarei a que estiver
abatida” (cf. Ez 34). Pois bem! Agora, o Senhor Jesus – e pensemos Nele ressuscitado,
trazendo as marcas gloriosas da paixão – declara solenemente: “Eu sou o Bom
Pastor!” Ele é o próprio Deus, que vem apascentar pessoalmente o Seu Povo, o novo
Israel, a Igreja!

Mas, sigamos a Palavra que hoje nos é anunciada. São Pedro e a Igreja proclamam
com convicção: “Que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza; Deus constituiu
Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes”. Mas, quem é Este, constituído Senhor?
Por que foi crucificado? A resposta está na segunda leitura, nas palavras do próprio São
Pedro: “Cristo sofreu por vós. Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi
encontrada em Sua boca. Quando injuriado, não retribuía as injúrias; atormentado, não
ameaçava... Sobre a Cruz, carregou nossos pecados em Seu próprio corpo, a fim de que,
mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por Suas feridas fostes curados. Andáveis
como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o Pastor e Guarda de vossas
vidas!” Eis o nosso Bom Pastor, Aquele que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer para
que o rebanho tivesse Vida!

Diante de um amor assim, de uma doação dessas, de um compromisso tão grande


conosco, somente podemos fazer a pergunta que os ouvintes de Pedro fizeram: “Que
devemos fazer?” E a resposta continua a mesma: “Convertei-vos e cada um de vós seja
batizado, isto é, mergulhado, no Nome de Jesus Cristo! Salvai-vos dessa gente
corrompida!”

35
Caríssimos, somos cristãos, somos ovelhas do rebanho do Bom Pastor! Ele é tudo: é o
Pastor e é também a Porta do redil: somente encontra a Vida verdadeira quem entrar por
Ele. Há tantos falsos pastores no mundo atual, tantos sábios a seus próprios olhos, tantos
que, nos meios de comunicação e nas redes sociais determinam o que é certo e o que é
errado, o que é verdade e o que é mentira. Pastores falsos, que vêm “para roubar, matar e
destruir”. Nós somos cristãos; nosso Pastor é o Cristo, Aquele que por nós deu a vida,
Aquele que diz: “Eu vim para que tenham a Vida e a tenham em abundância!” Atenção,
que aqui, não se trata de uma vida qualquer, mas da Vida eterna, da Vida divina, da Vida
que sacia o coração! Somente Jesus, o nosso Cristo, o nosso Bom Pastor, no-la pode dar
pela Sua Morte e Ressureição e pelo dom do Seu Espírito! Nunca nos esqueçamos disto,
nunca nos deixemos enganar! Nunca nos contentemos com menos que isto! É grande
demais o que o Senhor nos conquistou e nos concede!

Mas, atenção, que seremos ovelhas desse Pastor se escutarmos Sua voz e atendermos
ao Seu chamado. Seguindo-O, encontraremos pastagens para a nossa vida. Atenção ainda
aqui: não poderemos segui-Lo sem a conversão do nosso coração, sem nos deixarmos a
nós mesmos, sem rompermos com aquilo que, no mundo, é modo de pensar e viver
contrário ao Evangelho. Supliquemos, pois, ao Bom Pastor, o estado de espírito da ovelha
confiante do salmo da Missa de hoje: “O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta
coisa alguma. Ele me guia no caminho mais seguro. Mesmo que eu passe pelo vale
tenebroso, nenhum mal eu temerei...”

Hoje também é Jornada de Oração pelas vocações sacerdotais e religiosas. Peçamos


ao Senhor que nos envie santos e sábios sacerdotes, cheios daquele amor que o Senhor
Jesus tem pelo Seu rebanho. Não nos iludamos: o único modo que o Senhor nos indicou
para termos os pastores de que necessitamos é a oração: “Pedi ao Senhor da colheita que
envie operários para a Sua messe”. Rezemos, portanto, e nos empenhemos também, tanto
material como espiritualmente, pela formação de nossos seminaristas! E que o Cristo
nosso Deus, Senhor da messe e Pastor do rebanho, nos conduza a todos, pastores e ovelhas
à Vida plena que somente Ele nos pode conceder. Amém.

36
Homilia para o III Domingo da Páscoa -
Ano A
April 25, 2020

At 2,14.22-33
Sl 15
1Pd 1,17-21
Lc 24,13-35

No Tempo Pascal a Igreja vive, celebra e testemunha sua certeza, aquela convicção
que a faz existir e sem a qual ela não teria sentido neste mundo: “Jesus de Nazaré foi um
homem aprovado por Deus pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio
Dele entre vós. Deus, em Seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue
nas mãos dos ímpios e vós O matastes pregando numa cruz... Deus ressuscitou este
mesmo Jesus e disto todos nós somos testemunhas. Exaltado pela Direita de Deus, Jesus
recebeu o Espírito Santo prometido e O derramou...” Este é o núcleo da nossa fé cristã, o
fundamento da nossa esperança pascal, a inspiração para a nossa vida e nossa ação, isto
é, para nossas atitudes concretas, nossa vida moral.

Na Liturgia da Palavra deste Domingo, o encontro de Emaús sintetiza muito bem a


experiência cristã. Prestemos atenção, porque é de nós que fala o Evangelho de hoje! O
que há aí?

Há, primeiramente o caminho – aquele da vida: nele, os discípulos conversavam sobre


todas as coisas que tinham acontecido com o. Cristo Jesus. Mas, os acontecimentos, lidos
somente à nossa luz, segundo a nossa razão e os nossos critérios, são opacos, são tantas e
tantas vezes, sem sentido... Por isso, no coração e no rosto daqueles dois havia tristeza e
escuro; eles estavam cegos e tristes... Dominava-os o desânimo e a incerteza: esperaram
tanto e, agora, só restava um túmulo vazio... É isto o homem na sua própria medida, são
estas as parcas esperanças, quando contamos simplesmente com nossas possibilidades!

Mas, à luz do Ressuscitado – quando o experimentamos vivo entre nós – tudo muda,
absolutamente. Primeiro o coração arde no nosso peito. Arde com a alegria e o calor de
quem vê um sentido – e um sentido de amor e de vida – para os acontecimentos da
existência, mesmo os mais sombrios: “Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso
para entrar na Glória?” Que palavras impressionantes! São do mesmo sentido dos Atos
dos Apóstolos, na primeira leitura: “Deus em Seu desígnio e previsão, determinou que
Jesus fosse entregue...” Aqui, compreendamos bem: só na fé se pode penetrar o mistério
e ultrapassar o absurdo! Então, com o Senhor ressuscitado, na Sua luz, os olhos nossos se
abrem e reconhecemos Jesus, experimentamo-Lo vivo, próximo, como Senhor, que dá
orientação, sustento e sentido à nossa vida! Sentimos, então, a necessidade de conviver e
compartilhar com outros que fizeram a mesma experiência, todos reunidos em torno
37
daqueles que o Senhor constituiu como primeiras testemunhas Suas – os Apóstolos e seus
sucessores, os Bispos. É assim que somos cristãos; é assim que somos Igreja!

Esta é, portanto, a certeza dos cristãos, a nossa certeza! Hoje somos nós as
testemunhas! Hoje somos nós quem devemos pedir: “Mane nobiscum, Domine!” – “Fica
conosco, Senhor!”

Somente seremos cristãos de verdade se ficarmos com o Senhor que permanece


conosco, se O encontrarmos sempre na Palavra e no Pão eucarístico. Nunca esqueçamos:
os discípulos sentiram o coração arder ao escutá-Lo na Escritura e O reconheceram ao
partir o Pão! Esta é a experiência dos cristãos de todos os tempos. Poderiam ser
recordadas aqui as palavras de São João Paulo II, na sua Carta Apostólica Mane
Nobiscum Domine afirmando a necessidade absoluta de Cristo, a necessidade de voltar
sempre a Ele: “Cristo está no centro não só da história da Igreja, mas também da história
da humanidade. Tudo é recapitulado Nele. Cristo é o fim da história humana, o ponto para
onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria
de todos os corações e a plenitude de suas aspirações. Nele, Verbo feito carne, revelou-
se realmente não só o mistério de Deus, mas também o próprio mistério do homem. Nele,
o homem encontra a redenção e a plenitude!” (n. 6).

O mundo atual – e o mundo de sempre – deseja apontar outros caminhos de realização


para o homem; outras possibilidades de vida... Os cristãos não deveriam se iludir!
Sabemos onde está a nossa Vida, sabemos onde encontrar o caminho e a verdade de nossa
existência: em Cristo sempre presente na Palavra e na Eucaristia experimentadas na vida
da Igreja! Repito: este é o centro da experiência cristã; e, precisamente daqui, brotam as
exigências de coerência de nossa vida: “Fostes resgatados da vida fútil herdade de vossos
pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata e o ouro, mas pelo precioso sangue
de Cristo, como de um Cordeiro sem mancha e sem defeito. Antes da criação do mundo
Ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, Ele apareceu por amor de vós!”

Eis, que mistério! O Autor sagrado afirma que, antes do início do mundo, o Pai nos
tinha preparado este Cordeiro imolado, para que Nele encontrássemos a vida e a paz! Por
Ele alcançamos a fé em Deus; por Ele, nossa vida ganhou um novo sentido; por Ele, não
mais pensamos, vivemos e agimos como o mundo das trevas! E porque Deus O
ressuscitou dos mortos e Lhe deu a Glória, a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus,
estão firmadas na Rocha! “Vivei, pois, respeitando a Deus durante o tempo da vossa
migração neste mundo!” Vivamos para Deus e manifestemos isso pelo nosso modo de
pensar, falar, agir e viver!

Irmãos! Irmãs! Não tenhais medo de colocar em Cristo toda a vossa vida e toda a vossa
esperança! É Ele quem nos fala agora, na Palavra, e agora mesmo, para que nossos olhos
se abram e o reconheçamos, Ele mesmo, na Eucaristia, nos partirá o Pão. A Ele a glória
pelos séculos! Amém.

38
Homilia para o II Domingo da Páscoa
ano A
April 18, 2020

At 2,42-47
Sl 117
1Pd 1,3-9
Jo 20,19-31

Estamos ainda em pleno dia da Páscoa, “o Dia que o Senhor fez para nós” – é esta a
Oitava da Santa Páscoa.

Se no dia mesmo da Ressurreição, a Liturgia centrava nossa atenção no próprio Senhor


ressuscitado, vencedor da morte, hoje, neste Domingo da Oitava, a atenção concentra-se
nos efeitos dessa vitória formidável para nós e para toda a humanidade.

Eis! O Senhor Jesus, morto como homem, morto na Sua natureza humana, foi
ressuscitado pelo Pai, que derramou sobre Ele o Espírito Santo, Senhor que dá a Vida;
como diz a Primeira Epístola de São Pedro: “Morto na carne, isto é, na Sua natureza
humana, foi vivificado no Espírito, isto é, na força vivificante, que é o Espírito do Pai (cf.
3,18). E agora, cheio do Espírito, Jesus Senhor nos dá esse Dom divino, esse fruto da Sua
Ressurreição. Sim, caríssimos: pleno do Espírito, a tal ponto de São Paulo exclamar “o
Senhor é Espírito” (2Cor 3,17), Ele agora e para sempre, derrama o Seu Espírito sobre
todo aquele que Nele crê e no Seu Nome for batizado!

Primeiro dá-Lo aos Seus apóstolos “ao anoitecer daquele dia, o primeiro depois do
sábado”. Passou o sábado dos judeus, passou a Lei de Moisés, passou a antiga criação. E
Jesus ressuscitado sopra sobre os Apóstolos o Espírito Santo, recebido do Pai na
Ressurreição: “Como o Pai Me enviou na potência do Espírito, também Eu vos envio
agora na força desse mesmo Espírito! Recebei, pois, o Espírito Santo, dado para gerar o
mundo novo, o homem novo, o homem segundo a Minha imagem, o homem
transfigurado, reconciliado, na paz, no shalom com Deus! Paz a vós! Por todas as
gerações os pecados do mundo serão perdoados nesse dom do Meu Espírito!” Assim
começa o cristianismo, assim ganha vida a Igreja: no Espírito do Ressuscitado, Espírito
ressuscitante, “Senhor que dá a Vida”!

Os Apóstolos agora, recebendo o Espírito, recebem a Vida nova do Cristo, a Vida que
dura para a Eternidade. Esse mesmo Espírito, nós O recebemos nas águas do Batismo e
na comunhão com o Sangue do Senhor na Eucaristia, prefigurados no sangue e na água
brotados do Coração do Salvador entregue por nós (cf. Jo 19,34). Por isso mesmo, a
oração da Missa hodierna nos pede a graça de compreender melhor, isto é, de viver
intensamente na vida “o Batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova Vida e o
39
Sangue que nos lavou”. Em outras palavras: pela participação aos santos sacramentos,
sobretudo o Batismo e a Eucaristia, nós recebemos continuamente o Espírito do
Ressuscitado e, assim, recebemos a Sua nova Vida, a Vida que nos renova já aqui, neste
mundo, e nos dá a Vida eterna, preparando para a plenitude do Reino, na Glória. Por isso
a segunda leitura de hoje nos diz que o Pai, “em Sua grande misericórdia, pela
Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, nos fez nascer de novo, para uma
esperança viva, para uma herança incorruptível”, reservada para nós nos Céus! A
Ressurreição de Cristo é garantia da nossa, o Seu Espírito, que nós recebemos, é semente
e garantia de Vida eterna e, por isso, é causa de alegria e força para nós, cristãos. Nós
recebemos a Vida eterna, nós cremos na Vida eterna, nós já vivemos tendo em nós as
sementes da Vida eterna! (cf. Jo 6,54)

Mas, estejamos atentos: esta nossa fé na Ressurreição não é uma teórica e distante
esperança, mas tem consequências concretas para nós: “Os que haviam se convertido
eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na
fração do pão e nas orações. Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam
tudo em comum...” Eis: a fé na Ressurreição do Senhor, a vida vivida na Vida nova que
Cristo nos concedeu, faz-nos existir de um modo novo, iluminados por uma nova regra
de vida (o ensinamento dos apóstolos e seus sucessores), sustentados pela fração do Pão
eucarístico e testemunhas de uma vida de comunhão, de amor fraterno, de mansidão, de
coração aberto para Deus e os irmãos.

Mais uma coisa: estejamos atentos para um fato importantíssimo: a Ressurreição do


Senhor não é uma fábula, não é um mito, não é uma parábola. O Senhor realmente venceu
a morte, realmente entrou no Cenáculo e realmente Tomé, admirado e envergonhado,
feliz pelo Senhor e triste por sua incredulidade, tocou as mãos e o lado do Senhor vivo,
ressuscitado! Por isso, o cristão não se apavora diante dos reveses da vida, dos
compromissos e renúncias pelo testemunho de Cristo e nem mesmo diante da
morte: “Sem ter visto o Senhor, vós O amais. Sem o ver ainda, Nele acreditais. Isso será
para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a
vossa salvação”. Esta é a nossa fé, a nossa esperança, a firme certeza da nossa existência
neste mundo e naquele que há de vir! Por tudo isto, continuamos a dizer, de coração: Feliz
Tempo Pascal, Irmãos! Que vossa Páscoa permaneça para sempre! Amém.

40
Homilia para o Dia da Páscoa
April 12, 2020

Hoje é o dia mais solene do ano: é a Páscoa!

Aquele que vimos envolto em sangue, tomado pelas dores da morte na Sexta-feira,
Aquele que velamos respeitosamente no silêncio da morte no Sábado, agora proclamamo-
Lo Ressuscitado, Vivo, Vitorioso!

Hoje pela manhã, “quando ainda estava escuro”, nossas irmãs foram ao túmulo e
encontraram-no aberto e vazio! Elas correram apavoradas: foram contar ao nosso líder,
Simão Pedro. Ele foi também ao túmulo com o outro discípulo, aquele a quem Jesus
amava: viram as faixas de linho no chão... O túmulo estava vazio... O que acontecera?
Roubaram o corpo? Os judeus levaram-no? Que houve? Que ocorrera?

Na tarde de hoje, dois outros irmãos nossos estavam voltando para Emaús, sem
esperança nenhuma: voltavam para sua vida de cada dia; estavam deixando a Comunidade
dos discípulos, a Igreja que ia nascer: Jesus morrera, tudo acabara, a esperança fora
embora... Mas, um Desconhecido começou a caminhar com eles, e lhes falava sobre tudo
quanto a Escritura havia predito a respeito do Messias: Sua pregação, Suas dores, Sua
derrota, Sua morte, Sua vitória final... E o coração daqueles dois começou a encher-se de
nova esperança, a arder de alegria! Eles, agora, começavam a compreender: tudo quanto
havia acontecido com Jesus não fora simplesmente um cego absurdo, uma loucura, um
sinal de maldição! Tudo fazia parte de um incrível projeto de amor do Pai: “Será que o
Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na Sua Glória?” E, o que é mais
impressionante: ao sentarem-se à mesa, o Desconhecido tomou a iniciativa, não esperou
o dono da casa: pegou o pão e deu graças, partiu-o.... Coisa impressionante, irmãos: os
olhos daqueles dois se abriram, e eles o reconheceram: era Jesus! Jesus vivo! Jesus
reconhecido nas Escrituras e no partir o pão! Como mais uma vez, acontecerá agora, nesta
Missa! Os dois voltaram, imediatamente a Jerusalém e, lá, a alegria foi maior ainda: os
apóstolos confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão Pedro!”

Irmãos, por esta fé nós vivemos, por esta fé somos cristãos, por esta fé empenhamos a
vida toda! Neste Dia santíssimo, Jesus entrou na Glória do Pai. Nós continuamos aqui;
Ele já não mais está preso a dia algum, a tempo algum, a limitação alguma: Ele entrou na
Eternidade de Deus, na plenitude do Seu Deus e Pai! Irmãos, escutai: a Morte, hoje, foi
vencida! Jesus abriu o caminho, Jesus atravessou o tenebroso e doloroso mar da Morte,
Jesus entrou no Pai! Jesus “passou”, fez Sua Páscoa!

41
Mas, não só: Ele fez isso por nós, por cada um de nós: “Vou preparar-vos um lugar...
a fim de que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,2-3). Ele, que morrera da nossa
Morte, tem agora o poder de nos dar a Sua vitória. Para isso, irmãos, Ele nos deu, no
Batismo, o Seu Espírito de ressurreição, o mesmo no qual o Pai O ressuscitou na
madrugada de hoje!

Irmãos, eis a Páscoa de Cristo e nossa! Na certeza desta Vida nova, renovemos nossa
própria vida! “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos para alcançar as coisas do Alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus!” Vivamos uma Vida nova em Cristo! Crer na
Sua Ressurreição, viver Sua Vida de ressuscitado é, já agora, viver numa perspectiva
nova, viver com o olhar a partir da Eternidade. São Paulo nos diz, para a Festa de
hoje: “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos a Festa, não com o velho
fermento, nem com o fermento da maldade ou da perversidade, mas com os pães sem
fermento de pureza e de verdade”. É o pão sem fermento, pão ázimo, da Eucaristia que
vamos comer daqui a pouco; pão que é o próprio Cordeiro imolado, Cordeiro pascal,
Cordeiro que tira o pecado do mundo! Nós vamos entrar em comunhão com Ele, vivo e
vencedor!

Irmãos, Irmãs!

Pelo dia de hoje, não mais tenhamos medo do pecado, da maldade e da morte!
Pela festa deste hoje bendito, abramos nosso coração a Deus e aos irmãos!
Pela Páscoa que estamos celebrando, perdoemo-nos, acolhamo-nos e demo-
nos a paz!

Terminemos com as comoventes palavras da Liturgia Bizantina:

Dia da Ressurreição,
resplandeçamos, ó povos!
Páscoa do Senhor! Páscoa!
Cristo Deus nos fez passar
da morte à Vida, da terra ao Céu,
entoando o hino de Sua vitória!
Purifiquemos os sentidos e veremos
a Luz inacessível da Ressurreição
a Cristo resplandecente
que diz: Alegrai-vos!

Exultem os Céus e a terra.


Exulte o universo inteiro, visível e invisível:
Cristo ressuscitou. Alegria eterna!
Exultem os Céus e exulte a terra,
faça festa todo o universo
visível e invisível.
Alegria eterna,
porque Cristo ressuscitou!

Dia da Ressurreição,
resplandeçamos, ó povos:
Cristo ressuscitou dentre os mortos,

42
ferindo com Sua Morte a própria morte
e dando a Vida aos mortos em seus túmulos.
Ressurgindo do túmulo,
como havia predito
Jesus nos deu a Vida eterna e a grande misericórdia!

Este é o Dia que o Senhor fez:


seja ele nossa alegria e nosso gozo!
Páscoa dulcíssima,
Páscoa do Senhor, Páscoa!
Uma Páscoa santíssima nos amanheceu.

Páscoa! Plenos de gozo,


abracemo-nos todos!
Ó Páscoa, que dissipas toda tristeza!
É o Dia da Ressurreição!
Irradiemos alegria por tal Festa,
abracemo-nos mutuamente
e chamemos de irmãos até àqueles que nos odeiam;
perdoemos-lhes tudo
por causa da Ressurreição,
e gritemos sem cessar dizendo:

Cristo ressuscitou dentre os mortos,


ferindo a morte com a Sua Morte
e dando a Vida aos mortos em seus túmulos!

Amados Irmãos, queridas Irmãs, Surrexit Dominus vere! O Senhor ressuscitou


verdadeiramente! Aleluia! Feliz Páscoa!

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Homilia para a Vigília Pascal - Ano A
April 11, 2020

Irmão caríssimos, Cristo, o nosso Senhor, o nosso Cordeiro pascal, suspenso na Cruz
como homem de dores, feito nosso Sumo Sacerdote, nosso Salvador, Ele, Cristo,
ressuscitou!

Ouçamos atentamente, nesta Noite santíssima - Noite testemunha do túmulo vazio,


Noite bendita, clara como o dia -, ouçamos as santas palavras do Evangelho! Era após o
sábado dos judeus, sábado da antiga criação, sábado da antiga Lei, da antiga Aliança.
Era “após o sábado” ... (v. 1). Era o raiar de um dia novo, “o primeiro dia” (v. 1), como
na criação, quando o Senhor Deus disse: “Haja luz” (Gn 1,3) e houve luz e Deus viu que
era bom (cf. Gn 1,2). Era o raiar, o despontar luminoso do primeiro dia do mundo, do
mundo novo, mundo Daquele que veio para fazer novas todas as coisas (cf. 2Cor 5,17;
Ap 21,5)!

E as mulheres, nossas irmãs, vieram ao jardim; vieram “para ver o sepulcro” (v. 1),
para ver o lugar de um morto, Daquele que fora crucificado (cf. v. 5)!

E o Anjo do Senhor, poderoso, forte, fulgurante como um relâmpago (cf. v. 3),


anunciou-lhes: “Ele não está aqui, pois ressuscitou, como havia dito!” (28,5) Eis a notícia,
eis o Evangelho, eis a causa da nossa alegria, a razão da nossa esperança, eis a certeza da
nossa vida: o nosso Salvador, Jesus Cristo, venceu a morte, saiu dela, levantou-Se dela,
entrou na Glória do Pai: Cristo ressuscitou como havida dito! Ele é potente, Ele é
verdadeiro, Ele é fiel, Ele é vitorioso, Ele ressuscitou do meio dos mortos! Ele, o mesmo
que havia dito que ressuscitaria, dissera também que nos prepararia um lugar e onde Ele
estivesse em Glória, estaríamos nós também (cf. Jo 14,1-3).

Alegrai-vos! Alegremo-nos! Alegre-se a Igreja! Rejubile a humanidade! Cristo


ressuscitou e, Nele, nós ressuscitaremos! Cristo venceu a morte e, Nele, nós venceremos!
Cristo entrou na plenitude da Vida divina e, Nele e com Ele, nós também entraremos!
Páscoa de Cristo Jesus, nossa Páscoa, Páscoa do mundo!

Irmãos, observai o Evangelho que escutamos: tudo é surpresa, é alegria, é pressa, é


colocar-se a caminho! Era necessário que as mulheres, nossas irmãs, corressem até os
discípulos e lhes anunciassem a grande novidade: Ele ressuscitou! Venceu a morte! Ele
os precederia na Galileia, na região mestiça, habitada por judeus e gentios, “Galileia das
nações” (Mt 4,15) Seria lá, na Galileia que representa todos os povos, lá, no meio do
mundo, não mais em Jerusalém, não mais nos limites do judaísmo, do Templo, da Lei de
Moisés, a partir de agora será no meio das nações que o Ressuscitado espera os Seus; é lá

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que poderão vê-Lo! Ele os precede, vai adiante, os espera, os acompanha, os protege,
estará sempre com eles, lá, no mundo! É assim que também nós poderemos encontrá-Lo,
experimentar a Sua presença e Sua companhia. Lá poderemos comprovar a Sua
palavra: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt
28,20).
Queridos irmãos, eis o que nos diz o Senhor: somente quando tivermos coragem de
testemunhá-Lo diante dos outros, de irmos ao mundo, aos outros, é que poderemos vê-
Lo, isto é, experimentá-Lo vivo, com toda a Sua força! Isto vale para cada discípulo, isto
vale para toda a Igreja, sobretudo para os seus pastores! Vamos, pois,
corramos “comovidos” (v. 8), como as mulheres, para anunciar que o Senhor ressuscitou!
Porque elas foram, porque não receberam a notícia com medo, com dúvidas, com
covardias e hesitações, mas com coragem e entusiasmo, Jesus veio ao encontro delas (cf.
v. 9), o Senhor lhes deu a Sua alegria e entusiasmo pascal: “Alegrai-vos! Não temais” –
Ele lhes disse (vv. 9s). E as confirmou na missão de toda a Igreja: “Ide anunciar aos Meus
irmãos que se dirijam à Galileia; lá Me verão!” (v. 10).

Caríssimos, Cristo, por nós, foi crucificado; Cristo, por nós, morreu; Cristo
ressuscitou! E, agora, chama-nos de “Meus irmãos”! Caríssimos, o nosso Irmão Jesus
ressuscitou! Ele é o Vivente (cf. Ap 1,18), Ele é o Senhor (cf. Fl 2,11)! Ide, anunciai com
a palavra e com a vida esta mensagem pascal ao mundo! E que a luz pascal ilumine todas
as nossas trevas e as escuridões do mundo! Feliz Páscoa a todos! Surrexit Dominus vere!
Alleluia!

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Esta singela obra foi editada pela Embaixada Cultural de Pernambuco no Estado do Rio
Grande do Norte no dia 22 de julho de 2020, na cidade de Assu/RN.

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