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Parecer n.

º 405/2010
Data: 2010.12.22
Processo n.º 482/2010
Queixa de: Alcides Manuel Dores Viegas, Manuel Pereira Figueira e Raul Manuel Freitas
Coelho
Entidade requerida: Presidente da Câmara Municipal de Olhão

I - Factos e pedido
1. Alcides Manuel Dores Viegas, Manuel Pereira Figueira e Raul Manuel Freitas
Coelho solicitaram ao Presidente da Câmara Municipal de Olhão informação “dos
nomes e cargos respectivos dos Administradores de todas as Empresas Municipais
do Município de Olhão bem assim como dos valores na totalidade das respectivas
remunerações.” Mais requereram “o acesso para reprodução, nos termos da LADA,
aos documentos administrativos existentes nos processos das respectivas Empresas
Municipais de modo a (…) acompanhar e verificar a informação (…) pretendida.”
2. Na falta de resposta apresentaram queixa à CADA.
3. Convidada a pronunciar-se a entidade requerida informou que “sobre nomes e
cargos de titulares dos órgãos de administração de empresas municipais, bem como
o acesso a documentos existentes nos processos das empresas municipais devem-
lhes ser formulados, pois estas têm personalidade jurídica e autonomia
administrativa, e o solicitado só a elas lhes dizem respeito e estão na respectiva
disponibilidade.”
E que “não se vê que a Câmara possa satisfazer tais pedidos.”
4. Contactada pelos serviços de apoio desta Comissão, a entidade requerida informou
que o Município de Olhão não detém nem possui a informação solicitada relativa às
empresas municipais, Fesnima (Empresa Pública de Animação de Olhão, E.M.) e
Mercados de Olhão, E.M. (únicas constituídas até à data).
5. Consultado o Portal do Ministério da Justiça1 confirmou-se que se encontra
disponível a informação relativa à designação de órgãos sociais das empresas
municipais de Olhão, em concreto o nome e os cargos dos administradores.

II - Apreciação jurídica
1. De acordo com a Lei n.º 46/2007, de 24 de Agosto, diploma que regula o acesso aos
documentos administrativos e a sua reutilização, de ora em diante designada como
Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA), compete à CADA apreciar
as queixas que lhe sejam apresentadas contra a falta de resposta, indeferimento ou

1
Disponível em publicacoes.mj.pt.
outra decisão limitadora do acesso a documentos administrativos (n.º 1 do artigo
15.º, e alínea b) do n.º 1 do artigo 27.º).
Serão deste diploma legal os preceitos normativos mencionados, posteriormente,
sem qualquer outra referência.
2. A entidade requerida encontra-se sujeita à LADA (alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º).
3. De acordo com a alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º, considera-se documento
administrativo qualquer suporte de informação sob forma escrita, visual, sonora,
electrónica ou outra forma material, na posse dos órgãos e entidades referidos no
artigo 4.º, ou detidos em seu nome.
O regime geral do acesso aos documentos administrativos consta do artigo 5.º, nos
termos do qual “[t]odos, sem necessidade de enunciar qualquer interesse, têm
direito de acesso aos documentos administrativos, o qual compreende os direitos de
consulta, de reprodução e de informação sobre a sua existência e conteúdo”. São,
em princípio, de acesso livre e generalizado.
O artigo 6.º identifica algumas restrições ao direito de livre acesso:
a) Quando os documentos contenham informação nominativa (n.º 5);
b) Quando contenham segredos de empresa (n.º 6);
c) Quando haja razões para diferir ou indeferir o acesso (n.ºs 1, 2, 3 e 4).
O direito de acesso à informação está, ainda, sujeito a limites ou restrições, para
salvaguarda de outros bens constitucionalmente tutelados e de direitos que com ele
entrem em colisão, nomeadamente referentes à dignidade da pessoa humana,
direitos das pessoas à integridade moral, ao bom nome e reputação, à palavra, à
imagem, à privacidade, restrições impostas pelo segredo de justiça ou pelo segredo
de Estado2.
4. Considera-se nominativo o documento administrativo que contenha, acerca de
pessoa singular, identificada ou identificável, apreciação ou juízo de valor, ou
informação abrangida pela reserva da intimidade da vida privada (alínea b), n.º 1,
artigo 3.º).
São de carácter nominativo, e portanto de acesso reservado, os documentos que
contenham, nomeadamente, informação de saúde, uma vez que se reportam a
matéria abrangida pela reserva da intimidade da vida privada.
Os documentos nominativos são comunicados, apenas:
a) À pessoa a quem os dados digam respeito;
b) A terceiros munidos de autorização escrita ou que demonstrem possuir interesse
directo, pessoal e legítimo no acesso (n.º 5 do artigo 6.º).

2
J.J. Gomes Canotilho/Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, 4.ª Edição, Volume I,
Coimbra, 2007, pp. 573-574; Jorge Miranda/Rui Medeiros, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I,
Coimbra, 2005, p. 430.

2
5. A CADA, no Parecer n.º 379/20093, já se pronunciou sobre o acesso a nomes e
cargos desempenhados no exercício de funções públicas referindo que:
«(…) ao que parece, foi já facultado o acesso à “relação das pessoas que exerceram
e exercem cargos nos órgãos sociais da Associação” e às “actas e Contas da
Gerência aprovadas em Assembleia Geral”.
No entanto, sempre se dirá que se trata de informação não nominativa, de acesso
livre e irrestrito. Qualquer particular tem o direito de a ela aceder, sem necessidade
de enunciar qualquer interesse (artigo 5.º).»
A informação respeitante aos nomes e cargos dos Administradores das Empresas
Municipais encontra-se disponível no Portal do Ministério da Justiça, sendo
livremente acessível por qualquer particular.
Em resultado desse acesso, poderão os requerentes proceder à consulta da
informação (cfr. artigo 11.º, n.º 1, alínea, a), da LADA).
Poderão também proceder à impressão da mesma.
Deste conteúdo deve o Presidente da Câmara Municipal de Olhão informar os
requerentes.
Deve ainda, facultar-lhes o requerido acesso.
6. Tem sido entendimento desta Comissão, designadamente nos Pareceres n.ºs
459/2010, 224/2009 e 145/20104, que os vencimentos auferidos no exercício de
funções públicas e, portanto, pagos em obediência a critérios legais, não têm
carácter reservado.
Os documentos que os refiram não conterão, por princípio, informação nominativa,
tratando-se de documentos administrativos de acesso livre e generalizado, aos quais
todos podem aceder sem necessidade de justificar ou fundamentar o pedido.
Os documentos respeitantes à retribuição apenas constituem documentos
nominativos se deles constarem, por exemplo, descontos no vencimento feitos não
por força da lei, mas voluntários ou efectuados na sequência de decisão judicial.
Na eventualidade de a informação requerida estar vertida em documentos contendo
informação nominativa sempre haveria lugar à comunicação parcial da mesma (n.º 7
do artigo 6.º).
Os documentos requeridos, nomes, cargos e valores da totalidade das
remunerações dos Administradores de todas as Empresas Municipais de Olhão
(Fesnima e Mercados de Olhão), são, nos termos da LADA, documentos não
nominativos de acesso livre e generalizado.
Todos têm o direito de a eles acederem, sem necessidade de enunciar qualquer
interesse (artigo 5.º).

3
Disponível em www.cada.pt.
4
Disponíveis em www.cada.pt.

3
7. A Lei n.º 58/98, de 18 de Agosto, regula as condições em que os municípios, as
associações de municípios e as regiões administrativas podem criar empresas
dotadas de capitais próprios (artigo 1.º, n.º 1).
Consideram-se “[e]mpresas públicas, aquelas em que os municípios, associações
de municípios ou regiões administrativas detenham a totalidade do capital” (alínea a)
do artigo 3.º da Lei n.º 58/98).
De acordo com o artigo 2.º, n.º 1, da referida Lei “as empresas gozam de
personalidade jurídica e são dotadas de autonomia administrativa, financeira e
patrimonial.”
Estabelece a alínea a), do n.º 1, do artigo 4.º da mesma, que “[a] criação das
empresas (…) de âmbito municipal, [compete] sob proposta da câmara municipal, à
assembleia municipal.”
O seu artigo 16.º consagra os poderes de superintendência das câmaras municipais,
dos conselhos de administração das associações de municípios e das juntas
regionais, em relação às empresas.
De entre os poderes de superintendência das câmaras municipais destaca-se, no
caso concreto, “[a]provar o relatório do conselho de administração, as contas do
exercício e a proposta de aplicação de resultados, bem como o parecer do fiscal
único” e “[d]efinir o estatuto remuneratório dos membros do conselho de
administração” (alíneas d) e h) do artigo 16.º da Lei n.º 58/98).
Compete à câmara municipal no âmbito da organização e funcionamento dos seus
serviços e no da gestão corrente “[n]omear e exonerar o conselho de administração
dos serviços municipalizados e das empresas públicas municipais, assim como os
representantes do município nos órgãos de outras empresas, cooperativas,
fundações ou outras entidades em que o mesmo detenha alguma participação no
respectivo capital social ou equiparado” (alínea i) do n.º 1 do artigo 64.º da Lei n.º
169/995, de 18 de Setembro).
Do exposto resulta que a Câmara Municipal de Olhão possui os documentos
requeridos.
Se não os possuir não poderá deixar de justificar tal facto.
8. A entidade requerida alega que o acesso a “nomes e cargos de titulares dos órgãos
de administração de empresas municipais, bem como o acesso a documentos
existentes nos processos das empresas municipais devem-lhes ser formulados, pois
estas têm personalidade jurídica e autonomia administrativa, e o solicitado só a elas
lhes dizem respeito e estão na respectiva disponibilidade”.
E que “não se vê que a Câmara possa satisfazer tais pedidos.”

5
Alterada pela Lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro e pela Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro.

4
Acrescenta que não detém nem possui a informação requerida.
De acordo com o previsto na Lei n.º 58/98, a informação requerida, ainda que
respeitante às empresas municipais, deve estar não só na sua posse, mas também
na da Câmara Municipal de Olhão, entidade com poderes de superintendência.
9. O facto de um mesmo documento poder ser detido por mais de uma entidade
pública não permite a qualquer das detentoras a recusa do acesso com fundamento
em que uma outra o possa facultar, pois todas estão obrigadas a satisfazer os
pedidos de acesso que lhe sejam dirigidos. Isto é, detendo a entidade requerida o
documento a que o requerente pretende aceder, tem o dever de o facultar, sendo
irrelevante que uma outra qualquer entidade pública também o detenha (alínea a) do
n.º 1 do artigo 3º).
Neste sentido se pronunciou o Acórdão do Tribunal Geral da União Europeia
(Segunda Secção), proferido em 19 de Janeiro de 2010. Nesse Acórdão (n.ºs 80 a
82), o Tribunal considerou que “o legislador comunitário, com a adopção do
Regulamento n.º 1049/2001, aboliu designadamente a regra do autor que prevalecia
até então. Neste contexto, há que admitir que interpretar o artigo 4.º, n.º 5, do
Regulamento n.º 1049/2001, que prevê que um Estado-Membro pode pedir a uma
instituição que não divulgue um documento que emane desse Estado sem o seu
acordo prévio, no sentido de que confere ao Estado-Membro um direito de veto geral
e incondicional que permite que este se oponha, de forma puramente discricionária e
sem ter de fundamentar a sua decisão, à divulgação de todo e qualquer documento
na posse de uma instituição comunitária pelo simples facto de o referido documento
emanar desse Estado-Membro não é compatível com os objectivos do Regulamento
n.º 1049/2001(acórdão do Tribunal de Justiça IFAW, n.º 58).”
10. Foi requerido “o acesso para reprodução, nos termos da LADA, aos documentos
administrativos existentes nos processos das respectivas Empresas Municipais de
modo a (…) acompanhar e verificar a informação (…) pretendida.”
Entende-se que não está a Administração, nos termos da LADA, obrigada à
elaboração de documento com o fim exclusivo de satisfazer o direito de acesso nem
à prestação de quaisquer outras informações para além das previstas no artigo 5.º.
Neste sentido, estabelece o n.º 5 do artigo 11.º que “a entidade requerida não tem o
dever de criar ou adaptar documentos para satisfazer o pedido”.
Deve, no entanto, facultar o acesso aos documentos dos quais constem as
informações requeridas.
Como se refere nos Pareceres n.ºs 245/2010 e 10/20046 desta Comissão “[c]onstitui
doutrina da CADA que os serviços públicos só estão obrigados a facultar o acesso a

6
Disponíveis em www.cada.pt.

5
documentos que efectivamente detenham, não estando vinculados, para satisfazer o
requerimento de um interessado, a elaborar documentos, designadamente a fazer
qualquer trabalho de composição, de síntese ou de elaboração a partir de outros”.
11. Não estando todos os documentos requeridos na posse do Município de Olhão
deve esta entidade informar o requerente de que não os possui e, se souber qual a
entidade que os detém, remeter-lhe o requerimento, com conhecimento aos
requerentes (alínea d) do n.º1 do artigo 14.º).
Entende-se que o dever de remessa do requerimento a que se refere o artigo 14.º,
n.º 1, alínea d) só se verifica quando a informação solicitada é detida ou está na
posse de uma única entidade.
O Município de Olhão não tem a obrigação legal de proceder a um trabalho de
composição do requerimento que lhe foi dirigido pelos queixosos.
Face ao exposto, entende-se que cabe aos queixosos, querendo, dirigir à Fesnima,
E.M., e à Mercados de Olhão, E.M., o pedido de acesso.
No mesmo sentido estabelece o artigo 34.º, n.º 3 do CPA, respeitante à
apresentação de requerimento a órgão incompetente, que “[e]m caso de erro
indesculpável, o requerimento, petição, reclamação ou recurso não será apreciado,
de tal facto se notificando o particular (…)”.
Deve, por isso, o Município de Olhão comunicar aos requerentes que não lhe
compete apreciar o pedido na parte referente ao acesso a documentos existentes
nos processos das empresas municipais.

III - Conclusão
Face ao exposto, deve o Município de Olhão informar os requerentes dos nomes e
cargos dos administradores da Fesnima, E.M., e da Mercados de Olhão, E.M., bem
como dos valores das remunerações dos seus administradores.
Deve ainda informar os requerentes de que podem dirigir às referidas empresas o
pedido de acesso aos documentos que as mesmas possuam.

Comunique-se.

Lisboa, 22 de Dezembro de 2010

João Perry da Câmara (Relator) - Osvaldo Castro (tem voto de conformidade) - Diogo
Lacerda Machado - João Miranda - Antero Rôlo - Renato Gonçalves - Artur Trindade -
Vasco Almeida - António José Pimpão (Presidente)

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