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CASO FAIRPLACE

Aula 05: Atividade Bancária – Negociação de Recursos Financeiros:


mútuo, abertura de crédito, desconto, antecipação bancária e garantias
reais e fidejussórias.

André Camargo Medeiros, Beatriz Viana, Carolina


Carvalho Pena, Fernanda Rodrigues Lana e Silva, Joana
Moreira dos Santos Marques, João Vítor Marques
Fernandes e José Filipe Pagio

Nos últimos anos, o mundo tem assistido ao fenômeno de proliferação das


chamadas fintechs. A expressão, que corresponde à financial technology, representa
empreendimentos de tecnologia financeira que compõem um modelo próprio de
negócio, ainda que ofereça produtos e serviços financeiros que anteriormente eram
oferecidos exclusivamente por bancos. Para se diferenciarem do modelo bancário
tradicional, as fintechs apostaram no uso intensivo da tecnologia, de modo que a maioria
de suas transações são feitas pela internet.
Uma dessas fintechs que ganhou destaque recentemente é o portal Fairplace.
O site foi criado em abril de 2010 pelo empresário Eldes Mattiuzzo. Segundo ele, trata-
se de uma “tecnologia que permite que os bancos deixem de ser necessários para fazer
a intermediação [entre quem precisa e quem quer emprestar dinheiro]”. O site funciona,
assim, da seguinte forma: através do portal, pessoas que precisam de dinheiro
emprestado fazem o pedido, enquanto investidores que têm capital de sobra entram
para analisar a quem querem emprestar o dinheiro.
É o que se chama de operações Peer-to Peer Lending, que segundo a revista
Conexão Fintech, correspondem a “...modalidade de concessão de empréstimo para
pessoas físicas ou empresas sem necessariamente contar com uma instituição
financeira no triângulo operacional”. Assim, a característica essencial desse modelo de
negócio é apresentar um ambiente seguro de conexão entre pessoas que precisam de
empréstimo àqueles dispostos a emprestar dinheiro, em troca de juros. Quem pede
empréstimo na comunidade não paga nada, mas se consegui-lo, é cobrada taxa de
cadastro e de aproximação. Do investidor, por sua vez, são cobrados 2% do valor
recebido.
O modelo é interessante pois apresenta possibilidade de mútuos a juros muito
mais baixos do que aqueles ofertados pelo mercado financeiro. Para se ter uma noção
desta disparidade, no Fairplace, os juros dos empréstimos até 4,99% ao mês, enquanto
o pico de taxa praticada por Instituição Financeira relativo ao mesmo período, em 2010,
chegou a até 19,52% a.m., em operações de crédito pessoal.
Apenas em seu primeiro mês de funcionamento, o portal já havia contabilizado
850 usuários cadastrados, 306 investidores e 240 pedidos de empréstimo – sendo 23
liberados, em um valor de R$ 77,8 mil.
No entanto, esse modelo negocial chamou a atenção do Banco Central. Por mais
que o sócio fundador do Fairplace tenha ponderado que não empresta dinheiro, mas faz
somente uma aproximação, de modo que, na visão da equipe do portal as operações
realizadas pelo site não corresponderiam a atividades privativas de Instituições
Financeiras, o BACEN acionou o Ministério Público Federal, que, por sua vez, acionou
a Polícia Federal, que instaurou inquérito e interrompeu as operações do site no dia 15
de Dezembro de 2011.
O Banco Central afirma que a empresa estaria agindo como instituição
financeira. A questão se torna polêmica na medida em que a definição de instituição
financeira é por demais ampla, e não permite uma definição clara. Segundo o art.17 da
Lei 4595/64 :
Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em
vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham como
atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de
recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

A atividade de negociação de recursos financeiros é aquela por meio da qual a


instituição repassa recursos financeiros por variadas causas, com uso de diferentes
instrumentos jurídicos, dentre eles, os próprios contratos de mútuo.
Nesse sentido, a questão central é definir se o portal Fairplace se enquadraria
nessa definição, pois, em caso afirmativo, não poderia atuar no mercado, já que a
mesma não teria autorização do BC, autoridade no mercado financeiro, para intermediar
empréstimos; autorização, esta, exigida pelo art. 18 da lei supra citada, para as
instituições financeiras. Trata-se de forma de regulação prudencial, por meio do qual o
Estado Regulador visa criar parâmetros para a atividade financeira e evitar crises.
As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante
prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto
do Poder Executivo, quando forem estrangeiras.

Por sua vez, o site alega que não atua como instituição financeira e que “a
diferença é que, como mediadora, a Fairplace não está submetida às regulamentações
do Banco Central”.
Em 2016, o caso chegou, em sede de recurso voluntário, ao Conselho de
Recursos do Sistema Financeiro Nacional. O CRSFN é um órgão colegiado, de segundo
grau, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, que tem por finalidade julgar,
em última instância administrativa, os recursos contra as sanções aplicadas pelo
BACEN e CVM.
No processo administrativo, a Fairplace Serviços e Empreendimentos Ltda.
(“Fairplace”), ora parte recorrente, foi intimada a apresentar defesa em face da
imputação de atuação como instituição financeira, sem a prévia e indispensável
autorização pelo Banco Central do Brasil (“BACEN”), recorrido, que a sujeitaria, nos
termos da peça inicial, à sanção prevista no art. 17, c/c art. 18, caput e §1º da Lei nº
4.595/64. O relatório afirma que:
no período de 10.3.2010 a 15.12.2010, a Fairplace sem a prévia e
necessária autorização do Banco Central do Brasil, atuou como
instituição financeira, atividade caracterizada pela coleta, intermediação
e aplicação de recursos financeiros. Verificou-se, ainda, que a atividade
desenvolvida pela acusada teve como características o fim lucrativo, a
habitualidade, o caráter público da oferta e a exploração do dinheiro
como mercadoria.

Em sua defesa, a acusada, resumidamente, alegou algumas questões


processuais preliminares, assim como questões de fato: que sua atuação não se
enquadra nas restrições dos dispositivos da Lei nº 4.595, de 1964, pois é uma
comunidade de empréstimos constituída sob a forma de sociedade empresária limitada;
que não faz concessão direta de empréstimos, financiamentos, crédito direto,
aplicações financeiras vinculadas ou garantidas, investimentos em mercados
imobiliários ou operações assemelhadas, não podendo ser vista como instituição
financeira sob o controle do Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM); e que na intermediação direta proposta pela sua forma de atuação,
não assume o risco, diferentemente dos bancos, que emprestam dinheiro de terceiros
em nome próprio, responsabilizando-se pela solvabilidade do crédito. Segundo o site,
assim, a plataforma web funcionaria como um marketplace virtual, ou seja, um espaço
que visa ao fomento de negócios entre membros de sua comunidade online, divulgando,
de forma eficiente, oportunidades de investimentos, que serão assumidas por cada um,
por sua conta e risco.
Por sua vez, o BACEN concluiu restar comprovado que a acusada realizou a
intermediação de recursos financeiros, com habitualidade e fim lucrativo, o que
caracteriza atividade privativa de instituição financeira, aplicando a pena de multa de
R$250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) à Fairplace. No mérito, verificou o
BACEN que seria possível constatar das informações obtidas no sítio da Fairplace, que,
diferentemente do alegado pela defendente, a Fairplace não se limitava a somente
aproximar pessoas com intenção de celebrar contratos de mútuo, mas observa-se que
os recursos financeiros envolvidos nos empréstimos efetivamente transitavam pela
empresa, já que o próprio portal da recorrente afirma que o que faz a Fairplace é
formalizar os contratos a 1 % ao mês, limite de cobrança de juros fora do SFN, mas
cobrar tarifas pelo serviço prestado. Parte dessas tarifas seria repassada aos
investidores, de forma que quando o investidor receber uma remuneração de 2% ao
mês estaria recebendo 1 % ao mês de juros do tomador, e o restante era pago
diretamente pela Fairplace. Ficaria, assim, caracterizada a intermediação de recursos
financeiros.
Nesse sentido, ponto central da questão ora posta em julgamento reside em se
saber se a Recorrente atuou como instituição financeira não autorizada pelo BACEN,
mesmo não recebendo em seu nome o dinheiro e fazendo os recursos irem diretamente
aos tomadores, sem que ela suportasse os riscos do inadimplemento.
A decisão que encerra a controvérsia é exarada no voto do conselheiro-relator,
Flávio Maia Fernandes dos Santos, voto este seguido pelos demais conselheiros que
compõe a turma. Nesse voto, o relator decide por negar provimento ao recurso,
mantendo a decisão do BACEN, que aplicou a multa ao portal.
Segundo o relator, no caso em exame, mesmo tratando-se do que a Recorrente
chamou de peer-to-peer lending, seria possível observar-se que ela atuou ao menos
como corretora de dinheiro, apresentando quem o disponibilizasse e quem o tomasse
emprestado, e ainda atuou especulativamente no mercado, remunerando-se pelas duas
pontas e concorrendo com as demais instituições financeiras.
Esse tipo de intermediação financeira já seria suficiente para caracterizar a
atuação como instituição financeira, desde que realizada com um mínimo de
habitualidade, com um volume que caracterize o atuar próprio de uma instituição
financeira, o que claramente se evidencia no caso, já que haveria registro de mais de
mil pedidos, de março a dezembro de 2010. Assim, o registro no BACEN se fazia
necessário.
No entanto, em abril de 2018, foi editada a resolução n,º 4656 do CMN que veio
a regular as sociedades de empréstimo entre pessoas, que são instituições financeiras
que tem por objeto a realização de operações de empréstimo entre pessoas, de objeto
semelhante àquele já praticado pelas fintechs de mútuo entre pessoas e que vir a
representar um novo panorama para essa modalidade de P2P Lending, a partir de
regulação legal.

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