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1. O Povo
2. Os Delatores – Representa, os “bufos” do regime salazarista
3. Os Governadores - Representam o poder político e são o cérebro da conjura
que acusa Gomes Freire de traição ao país; não querem perder o seu
estatuto; são fracos, mesquinhos e vis; cada um simboliza um poder e
diferentes interesses; desejam permanecer no poder a todo o custo
O futuro
A projecção do tempo no futuro é importante para a revelação do mundo
interior e, por isso, tem grande destaque em Felizmente Há Luar!
1) Desejos para o futuro
Para a compreensão das personagens e dos seus comportamentos é
importante conhecer os desejos para o futuro que norteiam os seus
objectivos.
2) Medos e projectos
Da incapacidade de aceitar as mudanças (D. Miguel) ou da percepção de que
os seus interesses estão em jogo (Beresford e Principal Sousa) nascem visões
medonhas do futuro e projectos maquiavélicos de acção para manter o poder
a todo o custo.
D. Miguel tem medo de “um mundo em que se não distinga, a olho nu, um
prelado dum nobre, ou um nobre dum popular”, em “que o taberneiro da
esquina possa discutir a opinião d’el-rei”, em que a sua opinião valha “tanto
como a de qualquer arruaceiro”, isto é, teme perder a sua posição se o povo
puder “escolher os seus chefes”. Por isso, tendo em conta o seu
conhecimento da psicologia popular, planeia minuciosamente uma acção
contra-revolucionária que envolverá, também, o clero e o exército e, mais
tarde, planifica, igualmente, o julgamento de Gomes Freire, de modo a tornar
inevitável a sua condenação.
3) Esperança
O final da peça demonstra que o passado e o presente determinam os
acontecimentos seguintes, já que, devido à morte de Comes Freire, o futuro,
que na sequência do presente se antevia como pouco esperançoso, irá tornar-
se, na perspectiva de Matilde, um tempo de esperança e de luta eficaz pela
liberdade.
O passado irreal
Uma das facetas mais complexas do tempo é o passado irreal, isto é, o tempo
imaginado do que poderia ter sido e não foi. Em Felizmente Há Luar! revela-
se assim o universo idealizado, de tranquilidade familiar, sonhado por Matilde,
que não passa de uma ilusão desesperada e cega, própria de quem tem a
consciência de que a realidade está completamente desfasada do desejo.
Tempo psicológico
Para Matilde, o passado, que começou por ser tempo de anulação, tornou-se
tempo de felicidade, em Paris, apesar das dificuldades financeiras. O presente
é, assim, um tempo marcado pela saudade do passado. O futuro, que
inicialmente se apresenta negro, devido à prisão e provável morte do seu
homem, acaba por transformar-se em tempo de esperança, quando ela
assume os valores sociais que são atribuídos a Gomes Freire.
Também para o Antigo Soldado, que tem em comum com Matilde a
convivência com Gomes Freire, o passado é tempo de saudade; no entanto,
os restantes populares, marcados pelo determinismo, vivem exclusivamente o
momento presente, ou melhor, sem passado nem futuro de relevo, limitam-
se a sobreviver. Para eles, o passado é apenas a memória de momentos em
que a esmola foi maior. Até Manuel, o elemento que mais se destaca, se
deixa dominar pela fatalidade perante a prisão de Gomes Freire.
Vicente, pelo contrário, é marcado pelo passado de miséria igual ao dos
outros, mas que ele consciencializa. É este facto que vai ditar o seu presente
de delator, tendo em vista não só a fuga ao determinismo do futuro, mas
também procurando apagar o próprio passado e mesmo o presente.
Envelhecimento
O tempo é um factor de desgaste físico e evolução psicológica. Se para
Gomes Freire o tempo trouxe um processo de amadurecimento já que “a
idade lhe aumentou a fome e a sede de justiça”, para o Principal Sousa o
envelhecimento será um processo gradativo de remorsos — é a praga, de
provável realização, com que Matilde o amaldiçoa. O tempo desenvolveu
capacidades em Vicente, particularmente a de compreender os mecanismos
do poder. Mas, desenvolveu, também, o espírito crítico com que observa o
envelhecimento dos outros — é por ele que se sabe que os velhos soldados,
já sem préstimo para o exército, são obrigados a pedir esmola pelas igrejas.
Aflora-se, assim, a problemática socioeconómica da velhice.
Espaço
Espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e
interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários
diferentes
Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens,
havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo
vestuário e pela linguagem das várias personagens
Estrutura
A acção da peça está dividida em dois actos (estrutura externa), o
primeiro com onze sequências e o segundo com treze (estrutura interna). No
acto I trama-se a morte de Gomes Freire; no acto II põe-se em prática o
plano do acto I.
Simbologia
Trinta moedas - Gesto de traição por não conseguirem ajudar o General
Saia verde - Em vida – esperança, felicidade, liberdade da sua relação
Na morte – alegoria ao reencontro e tranquilidade (Matilde
acredita na vida depois da morte)
Fogueira
Presente – tristeza, escuridão
Futuro – esperança, liberdade
Luar
Noite – morte, mal, infelicidade
Luz – vida, saúde, felicidade
Lua – dependência (da luz do sol), periocidade e rejuvenescimento (ciclo
lunar) e renovação (crescimento)
Felizmente Há Luar!
Para os opressores – efeito dissuasor
O luar servirá para fazer com que as pessoas saiam à rua
Fogueira – purificadora da sociedade
Serve de exemplo – eficácia da execução
Para os oprimidos – coragem e estímulo para a revolta contra a tirania
Fogueira – alerta e luz que ilumina o caminho da liberdade
Estímulo e encorajamento para que o povo se possa revoltar.
Moeda de 5 reis: símbolo de desrespeito que os mais poderosos mantinham
para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus
Tambores: símbolos da repressão
Didascálias
Explicações do autor
Posição das personagens
Caracterização do tom de voz
Indicação das pausas
Saída ou entrada das personagens
Movimentações cénicas
Expressão do estado de espírito
Expressão fisionómica e gestual
Linguagem e estilo
Recursos estilísticos: enorme variedade (tomar espacial atenção à ironia e ao
sarcásmo)
Funções da linguagem: apelativa (frase imperativa); informativa (frase
declarativa); emotiva [frase exclamativa, reticências, anacoluto (frases
interrompidas)]; metalinguística
Marcas da linguagem e estilo: provérbios, expressões populares, frases
sentenciosas
natural, viva e maleável, utilizada como marca caracterizadora e
individualizadora de algumas das personagens
uso de frases em latim com conotação irónica, por aparecerem no momento
da condenação e da execução
frases incompletas por hesitação ou interrupção
marcas características do discurso oralTexto principal: As falas das
personagens
secundário: as didascálias/indicações cénicas (têm um papel crucial na peça)
A didascália
A peça é rica em referências concretas (sarcasmo, ironia, escárnio,
indiferença, galhofa, adulação, desprezo, irritação – relacionadas com os
opressores; tristeza, esperança, medo, desânimo – relacionadas com os
oprimidos). As marcações são abundantes: tons de voz, movimentos,
posições, cenários, gestos, vestuário, sons (tambores, silêncio, voz que fala
antes de entrar no palco, sino que toca a rebate, murmúrio de vozes, toque
duma campainha) e efeitos de luz (contraste entre a escuridão e a luz; os
dois actos terminam em sombra). De realçar que a peça termina ao som de
fanfarra (“Ouve-se ao longe uma fanfarronada que vai num crescendo de
intensidade até cair o pano.”) em oposição à luz (“Desaparece o clarão da
fogueira.”); no entanto, a escuridão não é total, porque “felizmente há luar”.