Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Introdução
Angola viveu um longo período de guerra que teve o seu culminar em 2002 com a
assinatura do Memorando de Entendimento entre as partes em conflito. Para os milhares
de angolanos que durante todos estes anos viveram este martírio, depois de 4 de Abril
nada deveria ser como antes porque a Paz veio para ficar, apresentando-se para todos o
grande desafio da reconstrução nacional, da caminhada para um exercício democrático
mais inclusivo.
Para o efeito foi constituída uma equipa de três consultores que teve como principais
tarefas a consulta a parceiros da FES com o fim de determinar as áreas de potencial
conflito cujo interesse é prioritário; Identificar e decidir sobre os locais para realização
do estudo, realizar o estudo nas províncias seleccionadas e socializar dos resultados
preliminares com os parceiros da FES.
1
1.1. Entrevistas realizadas por província
2
No âmbito da democracia a maioria dos entrevistados reconhece ter havido muitos
avanços no processo de construção mas vêem-na com alguma apreensão e como um
objectivo por atingir uma vez que a democracia não é extensiva a todas as províncias.
Ela vai diminuindo do centro (capital nacional e provinciais) para a periferia (província,
município, localidade). Esta situação é mais preocupante a nível provincial, já que a
aplicação das regras democráticas é fortemente influenciada pela percepção de quem
detém o poder, pelo grau de abertura democrática e pelo deficiente convívio na
diferença. As feridas de guerra ainda prevalecentes e difíceis de gerir pelas pessoas mais
afectadas (perca de familiares, de bens, mutilações,…), a fidelidade, gratidão ao partido
no poder por tê-los protegido durante a guerra e o receio de represálias proporciona um
clima de intolerância política (principalmente no meio rural) e a limitação da livre
expressão. Os Partidos Políticos da Oposição (PPO) representados em algumas
províncias, têm dificuldades em trabalhar nas aldeias, localidades.
“Muitas pessoas têm medo de perder o emprego caso mostrem simpatia por um outro
partido.” (Hbo)
“Quando estás num caminho e a cobra te pica é difícil esquecer onde a cobra te picou.
Sempre que passares vais-te lembrar.”(Mje)
“A UNITA não consegue fazer isso. Tem que trabalhar muito para apagar a “má”
imagem que tem junto das populações ligada ao temor. Até mesmo as populações que
estiveram com a UNITA durante a guerra têm medo.”(ONG/Mje)
“ Os PPO são bem recebidos uma vez que estão autorizados pelo governo. Mas o povo
tem receio de ser mal visto. Quando aparecem problemas são os primeiros a serem
procurados.”(Hbo)
3
Alguns entrevistados consideram que a liberdade de expressão e o acesso à informação
são ainda muito deficientes, uma vez que são impostas algumas restrições à actuação
dos partidos políticos; o debate político sobre as questões nacionais não é extensivo a
todo o país, tendendo a diminuir no interior, principalmente a nível comunitário; não
existem rádios privadas e os jornais não chegam regularmente a algumas províncias.
Consideram existir também uma disparidade muito grande no acesso aos recursos pelos
Partidos Políticos, inclusive aos media. Na maioria das vezes as iniciativas dos PPO não
são reportadas pelos media ou são reportadas em horários com pouca audiência.
“Em 2003 a rádio Eclesia fez uma experiência só com música para testar e tivemos
muitos problemas com o governo.”(Hbo)
“ A lei de manifestação e reunião prevê que cada partido tem os mesmos direitos.
Porém, para nós é só possível fazer uma manifestação nos dias úteis depois das 19H00’
e aos sábados a partir das 15H00’. Mesmo nestes horários impróprios é muito difícil
conseguir a aprovação de uma manifestação. Uma manifestação a favor do MPLA ou
do Presidente da República pode ser feita a qualquer hora da semana.”(Lda.)
No que se refere ao processo eleitoral todos os entrevistados pensam que poderão haver
alguns choques antes e depois das eleições mas nunca o retorno à guerra pelos sucessos
conseguidos nos últimos anos: - a criação de um exército único; a integração de
combatentes da UNITA na polícia nacional e pelo facto da desmobilização e reinserção
dos ex-militares dos acordos de Luena terem beneficiado grandemente a UNITA. Todas
as pessoas manifestam interesse em votar no entanto, o medo prevalece porque de um
modo geral associam as eleições ao conflito armado. Por essa razão alguns PPO
defendem a necessidade de leis específicas que protejam os que participarem nas
campanhas partidárias e punam actos de violência ou intimidação. Em Malange o medo
prevalece e as pessoas posicionam-se em relação a este sentimento da seguinte forma:
4
“Não querem votar para evitar conflitos até mesmo nas famílias. Não estão a ver os
benefícios do voto.” (grupo de Mulheres)
“Muitos deles ainda têm armas. Às vezes disparam. Falta uma recolha sistemática.
Sem formação profissional e a base económica para iniciar um negócio o desespero
vai continuar e eles vão continuar a ser uma fonte de instabilidade.”(Hbo)
“A forma como a população vai actuar durante as eleições dependerá muito dos
posicionamentos assumidos pelos líderes locais dos grandes partidos e da forma
como os níveis provincial e nacional vão reagir.”(Hbo)
“ A história de outros povos dá-nos lições. Caso haja vontade política a situação de
intolerância pode ser controlada. Há alturas em que o Presidente da República tem
que dizer que direcção o país tem que seguir.”(Hbo)
5
foco de conflito, podendo-se perder de vista a discussão de grandes temas para o país
empobrecendo os discursos eleitorais. Consideram preocupante o facto de a sociedade
civil ter sido posta à margem do processo eleitoral, o que na sua opinião demonstra que
a sociedade civil foi pouco incisiva na conquista de espaço neste campo.
Com o Memorando de Luena em Fevereiro de 2002, Angola pôs fim a uma guerra que
não só matou pessoas e destruiu as infra-estruturas do país mas também destruiu muitas
relações e mentes. As armas continuam caladas, o que por si só já é um grande sucesso.
“É necessário a montagem de um programa onde se trata tudo por igual, e que não
provoque discrepância, como até agora.”(ONG/Mge)
6
muito frequentes as queixas da população e de outros combatentes sobre o “tratamento
especial” que estes desmobilizados recebem. Uma componente bastante problemática é
a entrega de bois de tracção para grupos de desmobilizados. A reacção da população é
do tipo”Primeiro mataram e roubaram os nossos bois e agora ainda recebem de graça”.
Apesar desse sentimento a relação entre os antigos combatentes da FALA e da
FAPLA/FAA é boa. Raras vezes foram reportados actos de vingança ou outro tipo de
violência.
“Existe muita tolerância entre os ex-militares da FALA e das FAPLA, não tem havido
conflitos entre eles motivado por esse facto.”
“Os regressados das áreas da UNITA têm tido muitas dificuldades porque muitos não
têm formação profissional e porque o convívio na diferença ainda não é um facto.
Alguns discursos de forças políticas incitam a que as pessoas não convivam. Nos locais
de trabalho os jovens sofrem quando conotados com um partido da oposição, quer os
que vieram de Luanda como das zonas anteriormente ocupadas pela UNITA.”
“Os da FAPLA têm muito mais facilidade de achar emprego no serviço público. Além
disso os nossos quase não têm chance de conseguir uma licença para qualquer negócio.
Simplesmente são ignorados”. (Hbo)
“A maioria deles vinha do mato e não conhecia as regras do mercado; não sabem fazer
negócio. Poucos conseguiram fazer algo, na maioria os melhor formados.”
7
“ Alguns dos desmobilizados não voltaram porque pensaram que a população não
aceitaria o seu regresso. Outros voltaram para as zonas de origem mas tinham que sair
porque encontraram barreiras.”
A reconciliação até aqui era vista por todos como um assunto dos “políticos” ou dos
“militares”. Sempre que se falasse deste assunto com as pessoas elas diziam que já
estavam reconciliadas. Mesmo nas províncias que foram mais afectadas pela guerra
existe uma tendência para o perdão na população. No entanto, apesar do conflito militar
ter terminado e da atitude das pessoas com relação aos então “inimigos”, as sequelas da
guerra são muito fortes tendo-se herdado o costume de procurar soluções através das
armas, que ainda permanecem em número considerável nas mãos das populações. Esta
situação combinada com a “cultura de violência” constitui uma ameaça permanente,
principalmente para as comunidades rurais. Na opinião de alguns representantes da
oposição e ONG’s a continuação da Defesa Civil significa uma ameaça, tanto para o
processo da democratização como de reconciliação.
“De um modo geral a resposta que as pessoas dão é que a guerra acabou e que todos
devem viver juntos. Mas há sempre algumas reticências principalmente em relação às
feridas de guerra (morte de familiares, mutilações,...).”
“O obstáculo principal para a reconciliação é a defesa civil. Ela está sendo utilizada
pelos militantes do MPLA como estrutura partidária. Oficialmente a ODP já foi extinta
pelo MINDEF, como ratificado no acordo de Luena, mas continuam a existir. O
escritório deles em Huambo fica ao lado da delegação da UNITA. A ODP utiliza o
factor da pobreza para conseguir agressores. Suspeita-se que muitas armas continuam
nas mãos da ODP.”
Uma das situações que preocupa bastante as populações refere-se com o tipo de
discurso adoptado por alguns políticos que, de um modo geral já não trata mais da paz e
da reconciliação. É de um modo geral dominado pela luta pelo poder, utilizando muitas
vezes uma linguagem de violência do tipo “lembram-se de quem matou as vossas
crianças …”.
“Os militantes da MPLA e da UNITA são muito fanáticos. Reconciliação será muito
difícil e levará muitos anos. A maioria dos militantes dos dois lados não aceita a ideia
da reconciliação ou da tolerância. O perigo que eles aproveitam um tumulto durante as
eleições para se vingar é muito grande.”
8
passado ao invés de se confrontar com ele e procurar formas de perdão. Durante a
campanha eleitoral este fanatismo pode criar muitos conflitos.
“Não concordo com a Amnistia instaurada, já que as atrocidades cometidas por ambas
as partes foram muitas. A criação de um tribunal da verdade, tal como fizeram na
África do Sul, ajudaria imenso o processo. Não acontecendo isso será provável que a
geração seguinte herde os conflitos vividos pelos seus antepassados.”
Angola ficou conhecida pela sua prolongada guerra e por se considerar a riqueza do país
como sendo a causa de todos males, dando-se de certa forma razão a Salazar quando, ao
ouvir dizer que se tinha descoberto petróleo em Angola, teria levado as mãos à cabeça e
exclamado: “ai, que desgraça!”2. Concorda-se que a riqueza de um país torna fácil a
aquisição de armas para alimentar a guerra, como foi o caso de Angola e que a pobreza
pode igualmente tornar fácil a revolta das pessoas que são capazes de fazer guerra
mesmo sem armas de elevado preço.
O certo é que nos três anos de paz definitiva, ainda não são visíveis mudanças
significativas no domínio económico e social, razão pela qual um considerável número
de pessoas tem as suas expectativas frustradas. Ao mesmo tempo, os longos anos de
guerra, que para trás ficaram estimularam de certo modo uma mentalidade de
dependência e um pensamento pouco analítico em relação aos princípios universais de
rigor e disciplina. Cada um a seu nível sonhava ter a sua situação de vida melhorada. O
funcionário público esperava melhorias no seu salário, quer no montante que haveria de
receber como em recebê-lo em tempo oportuno. As pessoas da aldeia contavam com
pontes reconstruídas e com estradas melhoradas para escoar os seus produtos do campo
para as cidades onde pudessem vender a preços aceitáveis. Com o dinheiro melhorariam
o seu nível de vida. Mas a paz que era a esperança para a maioria dos angolanos ainda
não produziu efeitos imediatos na vida da maioria das pessoas prevalecendo na maior
parte dos casos, uma situação de extrema pobreza. As causas que estruturam este
problema são as seguintes:
• A desigualdade no acesso aos recursos (benesses da indústria extractiva e
inacessibilidade a créditos bancários);
• As dificuldades de acesso à saúde, educação, emprego;
• A situação de extrema pobreza da maioria da população, cuja taxa é
estimada a 68,2 por cento3;
• A outra causa importante do surgimento do fenómeno da pobreza em Angola
é sem dúvida a elevada cifra de desemprego;
• A dependência absurda das importações que afasta e marginaliza um sector
económico do qual depende uma esmagadora maioria – o sector informal.
9
tráfico de influências a forma mais utilizada para conseguir algumas benesses como o
acesso aos sistemas de saúde pública, educação, emprego, fuga ao fisco, etc.
“Para o polícia não te levar a sua banheira de negócio no mercado tem que lhe dar
uma gasosa.” (Hbo)
“Quando você não tem nada acabas recebendo favores que um dia vão
comprometer seriamente a vida”(Lda)
A exclusão social em Angola tem também uma estreita ligação com a opção política das
pessoas devido ao enraizamento do partido maioritário no sector público e privado em
alguns casos e por causa do fraco exercício de cidadania ligado a falta de informação.
Ninguém assume cargos de chefia de relevo caso não se identifique com o partido no
poder.
“ Sem cartão do MPLA é quase impossível recebe micro-crédito, mesmo nos bancos
privados.”
10
“Por causa de sermos uma organização implementadora dos programas do IRSEM e
por estarmos a frente do processo de legalização das terras comunitárias estamos a ser
mal interpretados e associam-nos à UNITA.”
“A Endiama, projecto Catoca tem reagido de forma antagónica a essa questão das
“grandes famílias”. (Lda)
São evidentes as assimetrias entre Luanda e o resto do país, cujo exemplo mais gritante
é a desigualdade na distribuição dos recursos do Orçamento Geral do Estado, mesmo
sabendo que a lógica dos grandes investimentos em Luanda ou no litoral aparentemente
não tem funcionado. Esta situação agrava a contraposição entre um país virtualmente
rico e um país efectivamente pobre.
“Em Malanje existe apenas dois institutos médios só de nome que funcionam em
escolas anexas”.
“Houve recentemente a distribuição de 20 milhões de dólares americanos para as
províncias sem ter-se em conta a extensão e as reais necessidades de cada Província. A
titulo de exemplo o Bengo recebeu o mesmo montante que Benguela e Huambo, que
geograficamente se situam muito distantes da capital do país, possuem um território
mais vasto e um número de habitantes mais elevado e maiores desafios de
reabilitação.”
O meio rural é sempre o mais afectado, quer pelo desemprego principalmente para os
jovens como pela dificuldade de acesso ao mercado. Por exemplo foi constatado que
camponeses vendem o seu produto a baixos preços por inundação do mercado por
produtos importados. O camponês que produz muito milho não sabe o que fazer. Por
isso, as pessoas produzem mais para o seu próprio auto sustento. Um indicador de
relevo é o facto dos camponeses em Malanje não conseguirem até aqui trocar a
cobertura de suas casas de capim para chapas de zinco.
Isto provoca de certa forma a falta de alternativas para a sobrevivência e faz com que os
direitos sociais dos cidadãos sejam vistos como um favor e não uma obrigação do
Estado. As reconhecidas debilidades do aparelho de Estado, que é extraordinariamente
burocratizado, centralizado e carente de pessoal qualificado, impede a plena assunção
do seu papel de agente.
11
Um considerável número de entrevistados considera que as questões de ordem social
ainda não são uma prioridade para o Governo devido ao distanciamento entre pobres e
ricos, à mobilização da maior percentagem do Orçamento Geral do Estado para as
questões de segurança e ao fraco investimento nos outros sectores do desenvolvimento
que não a indústria extractiva e pela forte aposta no consumismo em detrimento da
produção local. A descoberta de mais poços de petróleo que entram em exploração não
é em si só indicador de desenvolvimento económico e social. Outras condições são
necessárias para promover um verdadeiro processo de transformação social.
Em Novembro 2004 foi publicada a nova lei da terra de Angola. O objectivo declarado
foi a adaptação da lei ao novo contexto, especialmente à migração do campo para as
grandes cidades. Consequentemente a nova lei é em primeiro lugar uma lei sobre a terra
urbana. Sobre a terra rural, base de sobrevivência de cerca 65% da população angolana,
a nova lei fica muito vaga. Aqui ela reconhece o papel das autoridades tradicionais, que
sempre foram actores importantes na entrega de terra rural e na resolução de conflitos.
Apesar deste aspecto positivo, a nova lei não define claramente a divisão de tarefas e
responsabilidades entre poder tradicional e o poder moderno, ou seja entre a lei
costumeira e a lei escrita.
“Às vezes aqueles que querem ocupar a terra da população dizem que querem
implementar um projecto do governo. Muitas vezes são funcionários do governo,
mas são os projectos privados deles.”
“A lei de Terra tem muitas falhas. A expropriação eminente vai ser uma das
consequências. A terra como propriedade de quem pode, e não de quem a trabalha,
pode vir a ser um pólo de conflito futuro.”
12
“Um problema será, as pessoas, e não tanto o sistema, cultivar uma mentalidade de
“pequenos capitalistas” e esta reflectir-se na utilização dada ao campo.”
Nos casos que as ONGs locais tiveram conhecimento dos conflitos foi possível achar
uma solução com meios pacíficos. Dois conflitos foram entregues aos órgãos da justiça.
Um destes foi resolvido em favor da população, um outro ainda está pendente.
“Alguns sobas pobres deixam-se corromper por aquela parte que tem mais
recursos. Assim já perdem qualquer credibilidade.”
Em Malange não têm havido grandes conflitos de terra na província. O que é mais
visível são pequenos conflitos entre populares nos bairros da periferia da capital. Em
alguns municípios ocorreram conflitos entre a população local e desmobilizados que
queriam se instalar.
13
Houve muitos casos na periferia da cidade de Luanda onde diferentes instituições do
Estado em vários níveis deram títulos de terra sem informar as outras instituições. Isto e
a aplicação arbitrária da lei provocaram e continuam a provocar muitos conflitos de
terra. Em alguns bairros de Luanda os residentes foram forçados a sair para bairros mais
distantes do centro. Muitas vezes isto acontece fora de qualquer lei e sem pagamento de
indemnizações dignas.
“Em geral os residentes não têm nenhuma chance de se defender contra os grandes,
principalmente quando estes tem “estrelas”.
Outro senão é o facto de na maior parte das vezes a concessão de títulos ser feita em
Luanda, sem o envolvimento das autoridades ao nível provincial, municipal ou comunal
ou mesmo do soba. Tanto a antiga lei como a nova previam o envolvimento destas
instituições locais. Como estas regras muitas vezes foram violadas, hoje existem terras
com dois títulos ou com títulos bastante duvidosos. A nova Lei de Terras, que entrou
em vigor no dia 9.2.2005 é pouco conhecida, não possui ainda um regulamento que
garanta a sua aplicabilidade. Mesmo a antiga (de 1992) não foi suficientemente
divulgada pelo que as populações não conhecem os direitos e responsabilidades.
“A nova lei de terra não foi suficientemente divulgada, uma vez que os
principais problemas começaram a surgir no meio rural.”
Outra questão levantada por alguns entrevistados é o facto da nova lei não regular a
exploração das riquezas do subsolo, referindo simplesmente que o subsolo pertence ao
Estado o que poderá dar origem a futuros conflitos.
“Alguns acham que a maioria dos políticos não está interessado no uso da terra,
mas somente no uso do subsolo. Com a nova lei conseguiram que os sobas e as
comunidades rurais não tenham direito ao uso do subsolo.”
Para alguns entrevistados o processo de regulamentação da referida lei vai demorar pelo
menos até às próximas eleições. Outros acham que existem pessoas influentes no
governo que tentam atrasar o processo, o máximo possível, por causa de interesses
pessoais. Por exemplo, a nova lei prevê o pagamento de taxas para cada hectare de terra
em posse. Esta taxa, caso seja aplicada, resultará demasiado onerosa, já que os
proprietários de grandes áreas terão que pagar um montante alto. Como a grande
maioria deles actualmente não trabalha estes terrenos, estas posses poderiam se tornar
um problema económico. Alguns entrevistados são de opinião que a entrada em vigor
14
do regulamento não melhorará a situação já que o problema está na ausência de
instâncias públicas que garantam a sua implementação.
“O atraso do processo actualmente tem como consequência que nenhum título sobre
terra foi dado desde Novembro 2004. Ao mesmo tempo, têm sido atribuídos títulos
“informais” frequentemente, à margem de qualquer lei. A longo prazo esta “fase de
transição” pode e vai criar bastantes conflitos.”(Lda)
15
suficientemente tradicionais de perdão e reconciliação; da FALA foram cumpridos. Maiores
estruturado e - Poucas organizações trabalham esta conflitos somente poderão haver antes,
coordenado dimensão. durante e depois das eleições,
Falta de - Insuficiente análise de contexto; principalmente quando os grandes partidos
- Receio de revolta pelos soldados da recordam o passado nas suas campanhas;
sensibilidade por - Caso os parceiros principais do Programa
parte dos UNITA;
- Ausência de coordenação entre as Geral da Reintegração, IRSEM e o Banco
doadores e Mundial, não abram os programas para
instituições envolvidas.
IRSEM na outros antigos combatentes e a população
planificação de geral, a implementação destes programas
projectos para vai trazer novas fronteiras e conflitos no
desmobilizados meio das comunidades;
16
instituições intermédias entre os dos cidadãos Angolanos e
produtores e o mercado. consequentemente a perpetuação da
corrupção a todos os níveis.
d) O acesso à terra
Desigualdade de - Uso de força e influências para - Os conflitos de terra vão aumentar
acesso e posse conseguir títulos ou ocupar terras; significativamente, tanto no meio urbano
de terra - Falta de uma lei aplicável na ausência como no meio rural. Com a reabilitação de
de um regulamento; estradas e pontes o potencial de conflitos
- Fraco poder jurídico; sobre a terra rural vai diminuir em algumas
- Falta de conhecimento da lei; regiões e aumentar em outras;
- Cultura de violência
- Excessiva burocracia ou ausência do - A lei terras ora aprovada ainda não foi
Estado a nível local; suficientemente divulgada e carece de um
- A lei tradicional discrimina as mulheres regulamento. Segundo as informações
(poder nivelador e inveja). recolhidas este não será aprovado até ao dia
9.8.2005 (prazo estabelecido na lei), o que
pode agravar a situação e dar espaço para
muitos conflitos futuros;
As sugestões apresentadas têm como fim último ajudar a FES a orientar futuras
intervenções em Angola. Para tal, teve-se como referência os pontos críticos
identificados em cada área de potencial conflito estudada e os respectivos cenários
prováveis.
A democratização de uma sociedade, quando esta sai de uma guerra de quase 30 anos,
não é alcançada do dia para a noite. É um processo que deve ser construído de forma
paulatina e com a participação de todos.
Necessário se torna:
2. A conquista de espaço quer pela sociedade civil como pelos partidos políticos;
3. A criação de uma cultura democrática que deve começar nas células mais
pequenas da sociedade(família, escola, instituições públicas, …);
17
4. A promoção e o estímulo do surgimento de novas lideranças carismáticas,
fugindo da lógica das capacidades técnicas;
Necessário se torna:
1. Criar espaços para debate sobre o papel dos sobas no processo de reconciliação e
na reintegração dos ex-combatentes nas comunidades em particular;
3. Aprofundar estudos sobre perdão tradicional para permitir uma convivência nas
aldeias sem medo entre as famílias e vizinhos;
18
c) Em relação à Exclusão económica e social
A exclusão económica e social é sem dúvida o campo mais propenso a conflitos pelas
razões anteriormente apontadas. A caminhada em busca de uma sociedade socialmente
justa é tarefa de todos, havendo necessidade de influenciar as lideranças a vários níveis
para que ocorram mudanças significativas e duradouras.
Necessário se torna:
4. Definir uma estratégia conjunta com o fim de influenciar para que sejam
definidas políticas mais justas que possam contribuir para a redução da exclusão
social e da pobreza.
Necessário de torna:
19
porque já não vale? (por exemplo possibilitar que mulheres possam herdar a casa
e a terra);
5. Promover uma discussão sobre “Segurança de uso de terra”, tanto nas áreas
urbanas como rurais (incluindo a discussão sobre o papel das instâncias do
Estado na aplicação de títulos e de instâncias jurídicas na controle do processo.
20