Вы находитесь на странице: 1из 36

INTRODUÇÃO

A adoção tem sua origem etimológica no termo ‘ab initio’ que significa
ato ou efeito de adotar. Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
adoção é a “aceitação voluntária e legal de uma criança como filho, perfilhação”. Nesse
sentido traz Caio Mário da Silva Pereira: “É o ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe
outra como filho, independentemente de existir entre elas qualquer relação de
parentesco consanguíneo ou afinidade.” A adoção não resulta de relação biológica, mas
de manifestação de vontade ou sentença judicial, sendo uma filiação exclusivamente
jurídica que se sustenta sobre uma relação afetiva. Há uma definição, escrita por
Orlando Gomes, que é adequada aos dias de hoje e se encontra em consonância com o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que assim diz: “adoção é o ato jurídico
pelo qual se estabelece, independente de fato natural de procriação, o vínculo de
filiação.”

Uma definição no sentido mais natural é conceber um lar a crianças


necessitadas e abandonadas em face de várias circunstâncias, como a orfandade, a
pobreza, o desinteresse dos pais biológicos e os desajustes sociais que se desencadeiam
no mundo atual. Torna-se possível para os adotados ter um ambiente de convivência
mais humano, no qual suas necessidades afetivas, materiais e sociais são satisfeitas. O
objetivo da adoção, de acordo com o Tribunal de Justiça, é dar ao adotado o direito à
convivência familiar sadia, direito este previsto no artigo 217 da Constituição Federal
de 1988. A família é, portanto, o locus nascendi da criança. É de grande interesse do
Estado inserir os que estão em estado de abandono ou carência num ambiente familiar
homogêneo e afetivo.

A recente reformulação das leis que dispunham sobre a adoção – através


da Lei 12.010/09, sancionada em 03 de agosto de 2009, publicada no Diário Oficial em
04 de agosto de 2009, a qual entrou em vigor 30 dias após sua publicação – é um
aspecto novo que precisa ser incorporado pelos interessados no assunto, sejam eles
juristas, adotantes, assistentes sociais, estudantes de direito, entre outros. A lei teve
origem no Projeto 6.222/05 da senadora do PSB do Ceará, Patrícia Saboya. Esta lei veio
acompanhada de muitas mudanças nos processos adotivos. Resta-nos saber se estas se
concretizam no âmbito jurídico-social. Isso traz uma problemática, sobre a qual se
focará nossa pesquisa: Quais são os efeitos acarretados na prática pela nova lei de
adoção? Segundo Maria Bárbara Toledo, presidente da Associação Nacional dos
Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD), “é uma lei que trata especificamente da
criança institucionalizada, que trata dos direitos dela como indivíduo, e não como um
objeto de uma família. Ou seja, que garante o direito a uma família que cuide dela. E
voltada não para o pai adotivo, mas para a criança, que é vítima de abuso e negligência,
e que precisa de uma família rapidamente para receber cuidado.”

Cabe-nos, portanto, adotar uma postura crítico-reflexiva para levantar


hipóteses sobre o problema em questão, descobrindo quais delas o contornam.
Primeiramente, verificar-se-á se a nova lei promove uma redução na morosidade para
proferir a sentença judicial da adoção, diminuindo a defasagem apresentada pela antiga
lei e apresentando soluções para que se acelere tal processo. Verificar-se-á também se
houve uma flexibilização no perfil dos adotantes, promovendo a habilitação de pessoas
físicas que antes não dispunham de tal direito. Por fim, se pesquisará se a nova lei
engloba dispositivos que facilitam a adoção de crianças que estão a mais tempo em
abrigos, inserindo-as com maior regularidade no seio de uma família, na qual devem ser
providos de assistência social, material, psíquica, afetiva, dentre outros, tendo
assegurada a pretensão de seu direito. A partir da integração destas hipóteses,
estabelecemos um centro de interesse prático da pesquisa. Esta é fruto da ligação que
existe na necessidade de se discutir mais as novas leis que regem a adoção no Brasil
para garantir, acima de tudo, o bom vínculo entre as partes (adotante e adotado) e o bem
estar da criança ou adolescente.
Abordar o tema da adoção já se faz relevante e pertinente pelo simples
fato da condição social, econômica, educacional e cultural do Brasil, sem precisar ser
ressaltado o contexto de abandono e violência em que vive grande parte das crianças e
adolescentes do país. Segundo dados divulgados no jornal O Globo do dia 26 de julho
de 2009, há no Brasil 22.859 interessados em se tornar pais adotivos e 3.519 crianças
aguardando em abrigos o acolhimento em nova família. Justificamos a escolha do tema
com base no artigo 226 da Carta Magna que dispõe a família como a base da sociedade,
possuindo proteção do Estado, bem como nos artigos 19, 165 e seguintes da Lei
8.069/90 (ECA) e suas reformulações, onde se lê: “Toda criança ou adolescente tem
direito a ser criado e educado no seio de sua família ou, excepcionalmente, em família
substituta.” Essa pesquisa trará a sociedade maior compreensão quanto à adoção,
possivelmente estimulando tal atitude, visto que “a informação pode ser uma grande
aliada para as centenas de crianças e jovens que, atualmente, se encontram em abrigos,
ansiosos por encontrarem uma família e um futuro num lar onde recebam afeto, amor e
carinho.” Aproximar-se-á a sociedade do instituto jurídico da adoção, conscientizando-a
de sua responsabilidade social e conferindo maior credibilidade ao Direito brasileiro que
envolve o tema abordado.

O objetivo dessa pesquisa não é esgotar o assunto tratado, porquanto a


matéria desenvolvida transcende o âmbito jurídico, atingindo variáveis políticas, sócio-
econômicas e morais. Visto isso, adotamos uma postura zetética, permitindo a
abrangência do tema sob várias perspectivas e promovendo uma interdisciplinaridade
investigativa e racional. A primeira tarefa a que nos propomos é fazer um levantamento
da evolução histórica no decorrer dos séculos, conceito e natureza jurídica do instituto
da adoção. Isso se dará através do método histórico, que permitirá maior cognição das
formas jurídicas relativas ao nosso objeto. Para um melhor entendimento do processo da
adoção, estudaremos os artigos, livros, cartilhas e toda a bibliografia possível que
tutelem sobre o tema, fazendo um estudo comparativo entre a antiga e a nova lei. Esse
cotejo entre o contexto precedente e posterior a lei 12.010/09 permitirá reflexões mais
profundas. Em seguida, através do método estatístico, apresentaremos uma coleta de
dados que explicitará tendências relacionadas ao objeto de pesquisa. Realizaremos
também uma demonstração do método qualitativo das entrevistas semi-estruturadas.
Através de uma minuciosa análise sobre estas, objetivaremos alcançar conclusões de
extrema relevância para o trabalho.
Em suma, procura-se realizar um estudo detalhado da intervenção
jurisdicional que norteia o instituto, procurando elucidar os aspectos materiais e
processuais jurídicos envolvidos. Visa, sobretudo, a transmitir que a adoção só se
realiza dentro da lei e que apenas a certidão de nascimento emitida após sentença de
adoção pode conferir aos adotantes a verdadeira tranquilidade de ter um filho “de
direito”.

Se uma nação caminha pelos pés de suas crianças e delas depende o seu
futuro, desenvolver uma “cultura de adoção” constitui, sem dúvida, um imperativo de
ordem nacional que merece ser abordado pelos diversos meios.
I

PARTE TEÓRICA

1. MARCO TEÓRICO

Nossa pesquisa não é pioneira em relação ao tema, muitas obras também


abarcam a adoção como ponto principal e, através da análise destas, muitos aspectos de
nosso trabalho puderam ser examinados a partir de outras abordagens. A observância
desses livros, artigos e cartilhas é fundamental pelo fato de mediante eles podermos
identificar o que foi produzido até agora a respeito do assunto em questão.

Iniciamos a exposição das produções intelectuais a respeito da adoção


com o livro “Adoção - Significados E Possibilidades” de Leila Dutra de Paiva - Mestre
em Psicologia pela USP, Psicóloga Judiciária do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, Professora da Universidade Mackenzie, Especialista em família e casal. A autora
nos oferece um trabalho inovador que leva os conhecimentos psicanalíticos ao contexto
do judiciário. Contribui para a compreensão do complexo tema da adoção respeitando
as sutilezas e singularidades de cada situação atendida. Evidencia a necessidade de
questionamentos constantes por parte do profissional que é responsável por lidar com
situações referentes ao tema, desconstruindo idealizações e preconceitos sobre os
significados de maternidade e paternidade. Demonstra o quanto é importante a busca
por concepções teóricas consistentes evitando o cumprimento automático de regras e
leis. Leila problematiza a concepção presente no imaginário social de que a adoção, por
se referir quase sempre a situações de abandono, estaria relacionada diretamente a
problemas e conflitos. Salienta o valor de um trabalho que abranja a opinião e as
fantasias dos envolvidos sobre a adoção e suas eventualidades. O livro traz uma valiosa
reflexão sobre as questões da adoção ao abordar pontos cruciais deste tema sob o olhar
da psicanálise, mas também contribui para propiciar questionamentos quanto aos limites
e alcance de sua utilização no âmbito institucional.

O Autor do livro “Duas filhas: dois pais – Adoção


homoafetiva”, Henrique Souza da Cruz, considera em sua obra um dos temas atuais
mais polêmicos em relação à adoção, a adoção por casais homoafetivos, esta não foi
contemplada pelas mudanças ocorridas na nova lei. Na realidade, o livro é, em grande
parte, uma biografia em que o autor relata a experiência difícil e bem-sucedida que o
levou a realizar a mais nova forma de adotar uma criança. O mesmo ainda menciona o
primeiro caso de adoção homoafetiva no país, onde os parceiros entraram com o pedido
conjuntamente. Referindo-se ao mesmo assunto, temos ainda “A Possibilidade Jurídica
de Adoção Por Casais Homossexuais” de autoria do advogado e escritor Enézio de Deus
Silva Júnior, que incidi sobre dúvidas em adoções desse tipo e que, como o próprio
título explicita, mostra as possibilidades destas se efetivarem. Maria Aparecida Silva
Matias Diniz, Professora Bacharela em Direito pela Faculdade de Tecnologia e Ciências
(FTC), é a autora do livro “Adoção por pares homoafetivos - uma tendência da nova
família brasileira”, a obra se preocupa em destacar um dos novos núcleos familiares,
surgidos a partir de mudanças inegáveis na sociedade brasileira, que é a família
homoparental. Esta, diante da impossibilidade biológica de gerar filhos entre si, recorre
à adoção como meio de realizar o desejo da maternidade ou da paternidade afetiva.
Segundo a autora, através da interpretação analógica, começa surgir a possibilidade
jurídica da equiparação da união estável à família homoafetiva e, consequentemente, da
adoção homoparental. Esse entendimento vem, aos poucos, ganhando guarida na
jurisprudência que, além de reconhecer a família formada por par do mesmo sexo, tem
decidido, ainda que timidamente, pela adoção de menores e adolescentes por dois
homens ou duas mulheres que convivem afetivamente nos moldes da união estável.

Alguns trabalhos importantes referentes à nova lei de adoção foram


publicados, um deles é o livro “Nova Lei de Adoção Comentada”, produzido pelos os
autores Paulo Hermano Soares Ribeiro, Vivian Cristina Maria Santos e Ionete de
Magalhães Souza, este mostra como a nova lei é um significativo passo no longo
caminho a ser percorrido para dar efetividade às garantias constitucionais inerentes à
criança e ao adolescente, seguindo a trilha já demarcada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente - ECA (Lei 8.069/1990). Os autores acreditam que a novidade legislativa
oxigena e revitaliza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA ou Estatuto),
ampliando a aplicação de princípios, além de modernizar, organizar e alargar o sistema
protetivo. Outra autora que também trata da nova lei é Eunice Ferreira Rodrigues
Granato, que é advogada, assistente social e diretora do GAADI (Grupo de Apoio à
Adoção de Itapetininga) e que anteriormente foi professora e diretora universitária. Seu
livro, intitulado “Adoção Doutrina e Pratica - Com Comentários à Nova Lei da Adoção
Lei 12.010/09” salienta e analisa as diversas particularidades da adoção, em suas
múltiplas expressões, inserida na história da humanidade e em sua evolução no Brasil,
no antigo e no novo Código Civil, e também no Estatuto da Criança e do Adolescente.
De forma imediata, a autora traz importantes auxílios a respeito de assuntos tão
polêmicos como os da adoção internacional, da adoção por homossexuais, da adoção
intuito personae, da adoção à brasileira e da adoção do nascituro, dentre outros temas
que, pouco conhecidos do público em geral, estão a exigir a realização de novos e
aprofundados estudos e pesquisas nas diversas regiões do país.

Dando enfoque a um dos temas também comentado por Eunice Ferreira


Rodrigues Granato, Tatiana Wagner Lauand de Paula produz uma obra chamada
“Adoção À Brasileira - Registro de Filho Alheio em Nome Próprio”, o estudo trata da
adoção realizada através do registro de filho alheio em nome próprio, numa perspectiva
social e jurídica. Segundo a autora, a modalidade de adoção em que a criança é
registrada em nome de pessoas que não são seus pais biológicos sem atender aos
procedimentos legais garante benefício aos adotados e, portando, deve ser reconhecida
judicialmente, quando consolidada. A adoção por consentimento da família de origem,
ou seja, a entrega de um filho a terceiros escolhidos e entregues e não abandonados pela
mãe ou pais biológicos é o assunto central do livro de Dalva Azevedo Gueiros, “Adoção
consentida do Desenraizamento social da família à prática de adoção aberta”. O estudo
mostra como mães e pais que entregam filhos em adoção vivem o processo de
desenraizamento pessoal e social e a oposição dos sentimentos de dor e alegria ao
decidirem e realizarem uma adoção aberta ou consentida. A autora nos convoca a
reflexões críticas e criativas sobre este fenômeno, ao visualizá-lo nas dimensões da
relevância da família, das políticas de proteção social à família e, principalmente, de
uma situação de violação do direito da criança e do adolescente de conviver com sua
família de origem.

Wilson Donizeti Liberati é autor do livro “Adoção: Adoção


Internacional”, que versa sobre a adoção internacional e a adoção por estrangeiros, este
se tornou um tema contemporâneo, principalmente com as mudanças trazidas pelo novo
Código Civil (Lei 10.406/2002). Algumas modificações atingiram o ECA, no que diz
respeito à adoção de crianças e adolescentes por nacionais. Apesar da adoção
internacional não ter sido objeto de preocupação da nova lei, o autor buscou analisar as
mudanças ocorridas naquela a partir da Convenção de Haia, de 1993, e do Decreto
3.174/1999. Fazendo alusão também ao tema da adoção internacional, o Mestre em
Ciências Jurídico - Políticas e Doutor em Direito, Gustavo Ferraz de Campos Monaco,
escreve a obra “Direito da criança e adoção internacional”. Nela há o exame e a
interpretação dos tratados internacionais que envolvem a criança e o adolescente, bem
como os de nossa legislação interna, e expõe as garantias técnicas que o Direito
Internacional Privado procura fornecer ao procedimento da adoção internacional,
balizado pelos direito humanos. O autor procura, para tornar uma obra mais didática,
iniciá-la com uma exposição histórica e, num segundo momento, parte para o estudo
sobre o que seja o elemento de conexão e quais os reflexos gerados no exame da adoção
internacional.

Permitir e valorizar a opinião das crianças em processos de adoção ou já


adotadas foi o tema principal da pesquisa da psicóloga clínica Lilian de Almeida
Guimarães Solon, que transformou seu trabalho científico sobre o tema em livro para
ampliar o debate sobre o mesmo e estimular a desmistificação sobre a adoção. A obra
“Conversando com crianças sobre adoção” ressalta a necessidade de programas de
acompanhamento para famílias que querem adotar ou já iniciaram o processo,
retratando informações importantes oriundas de pesquisas realizadas pelo Grupo de
Investigações sobre Acolhimento Familiar, Abrigamento e Adoção – GIAAA, ligado ao
CINDEDI (Centro de Investigações sobre Desenvolvimento Humano e Educação
Infantil) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP/Ribeirão. Portando, seu
conteúdo se diferencia dos demais e traz à pesquisa sobre adoção esclarecimentos
valiosos.
Finalizando a exposição de nosso marco teórico, apresentamos a obra,
não menos importante, de Maria Antonieta Pisano Motta, Roy P. Mottahedeh, “Mães
Abandonadas - A ENTREGA DE UM FILHO EM ADOÇÃO”. Essa obra discorre
sobre um assunto pouco ou quase nunca tratado pela literatura científica brasileira sobre
adoção, focalizando as mães que entregam seus bebês para outros criarem. A autora,
psicanalista e psicóloga, mostra não só o que pensam e sentem essas mulheres, como
também oferece consideráveis elementos teóricos para o enfrentamento dos mitos e
preconceitos que as cercam.

O Livro de Gina Khafif Levinson, intitulado “Adoção”, explora o


assunto de maneira sensivelmente abrangente, levantando pontos como as motivações
dos pais adotivos, as fantasias das crianças adotadas e as repercussões afetivas nos
diversos integrantes do processo de adoção. Tomando como base a sua experiência
clínica, a autora expõe as vicissitudes que se destacam na psicoterapia psicanalítica com
crianças e pais adotivos, evidenciando o papel da angústia de separação e as dúvidas
inconscientes quanto à solidez do vínculo parental. Além disso, é ainda abordada a
influência da hereditariedade, a revelação para a criança, assim como a formação de sua
identidade e os sentimentos de perda e rejeição subjacentes.

Outro livro que capta várias perspectivas sobre o assunto é “Adoção: Os


vários lados dessa história”. A obra, na verdade, é uma coletânea de textos, que tem, por
exemplo, como títulos “A importância da família extensa na adoção”, de Maria de
Souza Brito Dias; “Preparando os candidatos para a adoção”, de Hália Pauliv de Souza;
“Adoção de crianças maiores”, de Marlizete Maldonado Vargas; e “O processo
educativo do filho adotado”, deSuzana Sofia Moeller Schettini. A reunião desses textos
permite vislumbrar as diversas possibilidades de adoção que se apresentam, hoje, sob
novas e múltiplas formas e em diferentes contextos, como famílias monoparentais,
homossexuais ou reconstituídas; e os diversos aspectos, psicológicos, jurídicos,
pedagógicos e, inclusive, teológicos, que a matéria envolve, mostrando as idéias e
pensamentos desses autores a respeito desses aspectos, além de contribuir com novas
reflexões a respeito do processo adotivo.

Preconceitos permeiam a adoção, em especial no que se refere à de


crianças mais velhas, denominada adoção tardia. Este assunto é o que aborda o
psicólogo Mário Lázaro Camargo em seu livro “Adoção Tardia: Mitos, Medos e
Expectativas”. A obra traz uma pesquisa do psicólogo Maurício Ribeiro de Almeida,
realizada em Bauru e Marília, que ilustra a realidade da adoção na região. Os resultados
dessa pesquisa dizem um pouco sobre a cultura de adoção no Brasil e mostram um
conjunto de crenças e mitos que tem dificultado a adoção tardia, o que, para o autor,
acaba condenando muitas crianças a viverem em abrigos institucionais ou a percorrem
as ruas das cidades do Brasil.

A partir desta exposição, torna-se notório o fato de que nosso tema de


pesquisa pode ser tratado de diversas perspectivas e focando diversos “subitens”, todos
essências para o entendimento das complexidades que o tema, em condições gerais,
traz. Apesar de todas as particularidades das obras apresentadas, um ponto em comum
pode ser enxergado em sua maioria, a busca de uma visão mais humanitária e subjetiva
sobre o tema. Por se tratar de um assunto que envolve momentos cruciais das relações
humanas, os autores, em geral, se preocuparam em não tornar suas obras muito
objetivas, de forma que não percam os aspectos sociológicos que a matéria abrange.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO BRASIL

Até o Código Civil de 1916, o perfilhamento, no Brasil, era realizado nos


mesmos padrões do direito português. A legislação brasileira só passou a disciplinar a
adoção a partir da promulgação da lei 3.071, de 1º de janeiro de 1916 (Código Civil
Brasileiro de 1916, artigos 368 a 378). A mesma propunha que somente podiam adotar
as pessoas que não tivessem filhos legítimos, que o adotante deveria ter mais de 50 anos
e, pelo menos, 18 anos a mais que o adotado. Em caso de adoção conjunta, ela só
poderia ocorrer se os adotantes fossem casados. O vínculo da adoção poderia ser
dissolvido se as duas partes (adotante e adotado) anuíssem ou se o adotado cometesse
ingratidão contra o adotante.

Em 1927, é lançado o Código de Menores de 1927 (Decreto 17.949 de


12/10/2007), que dispunha sobre a assistência, proteção e vigilância da criança e/ou
adolescente que se encontrasse abandonado, exposto, carente ou que apresentasse
desvio de conduta. A doutrina deste código segura princípios e diretrizes que violariam
a legislação hoje vigente. A criança e o adolescente eram tratados como seres
‘inferiores’, objetos tutelados pela lei e pela justiça. Também não havia distinção entre
esses, ambos com idade inferior a 18 (dezoito) anos eram considerados ‘menores’.

Com a Lei 3.133, promulgada em 1957, alterações na legislação


aconteceram. Houve a redução da idade do adotante para 30 anos e a diferença de idade
entre adotante e adotado para 16 anos; deixou de existir a exigência de o adotante não
possuir filhos e passou a se exigir que os adotantes fossem casados há, pelo menos, 5
anos. A lei era preconceituosa no tocante à sucessão hereditária, pois o adotado só tinha
direito a metade do quinhão a que teriam direito os filhos biológicos.

Em 1965, entra em vigor a Lei 4.655, que inovou no sentido de


que o registro civil - que antes continha o nome dos pais biológicos e possibilitava
acrescentar o nome dos pais adotivos – seria anulado e os pais adotivos seriam
considerados como legítimos, incluindo os ascendentes. Além disso, criou-se a
legitimação adotiva, que se caracteriza por haver parentesco civil entre o pai adotante e
o filho adotando, podendo ser revogado entre as partes e, o parentesco consanguíneo
ainda se revestia de legitimidade. Tal lei tornava, portanto, o filho adotivo praticamente
igual ao filho consanguíneo, em direitos e deveres. Com a legitimação adotiva, passou-
se, realmente, a visar ao bem-estar da criança e do adolescente, uma vez que o instituto
viabiliza um lar e uma família a esses, e não apenas filhos a quem não os tinha.

A Lei 6.697, de 10/10/1979, substituiu a legitimação adotiva pela


adoção plena. Nesta, o registro de nascimento era corrigido com o nome dos pais
adotivos, ascendentes e, assim, todos os resquícios da família natural eram eliminados.

Em 1979, em plena ditadura militar, foi promulgado um novo


Código de Menores. Obedecendo ao anseio de ampliar a esfera de abrangência de
proteção ao menor, a Lei 6.697 acolheu a doutrina situação irregular do menor,
definindo em seu artigo 2º as hipóteses que autorizavam a proteção, a assistência e a
vigilância dos menores. Apesar de ter se constituído como uma revisão do Código de
Menores de 1927, não rompeu com sua linha principal de arbitrariedade,
assistencialismo e repressão para com a população infanto-juvenil, mediante o caráter
tutelar da legislação e a ideia de criminalização da pobreza.
Somente com a Constituição Federal de 1988 que foi abolida
qualquer distinção entre filhos biológicos e filhos adotivos consagrando,
definitivamente, os direitos do adotado. O Código de Menores tornou-se ultrapassado.
Foi, então, revogado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.609 de
13/07/1990, que modifica a estrutura do instituto da adoção no Brasil. Com o ECA, a
adoção simples e a adoção plena foram unificadas numa única forma de adoção,
destinada à criança e ao adolescente.

Hoje, além da Constituição Federal e do ECA, a adoção tem


embasamento legal no Código Civil de 2002, além de em 2009, ter sido extremamente
reformulada pela nova lei de adoção, a Lei 12.010/09, objeto de nosso estudo.
II

PARTE EMPÍRICA

Ao decorrer da pesquisa, procuramos corroborar as hipóteses


apresentadas na introdução, através de uma minuciosa análise sobre as conclusões a que
os métodos de pesquisa, empregados cientificamente, nos permitiram chegar. A partir
disso, apresentar-se-ão tais métodos.

1. ESTRATÉGIA METODÓLOGICA

1.1. Método comparativo

Com o intuito de esclarecer as mudanças ocorridas no âmbito da adoção,


o presente tópico visa elucidar as diretrizes trazidas pela chamada Nova Lei Nacional de
Adoção que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionada em 29 de
Julho de 2009, em vigor desde 02 de Novembro do mesmo ano. Analisaremos a Lei
12.010, apresentando as principais alterações previstas nos dispositivos legais, seus
objetivos, aplicação prática e outras inovações da nova lei, em uma análise comparativa
com os dispositivos anteriores. Para se fazer tal análise, debruçamo-nos sobre um
estudo minucioso da Lei 12.010, em conjunto com aquela que a precede, focando-nos
nos artigos que sofreram mudanças e, assim, verificando quais deles estão relacionados
às hipóteses levantadas, podendo suscitar alguma conclusão sobre as mesmas.

O artigo 25 da Lei 12.010/09 dispõe sobre o conceito de família extensa:

“Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende


para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e
mantém vínculos de afinidade e afetividade”.

A lei regulamenta o que já acontece na prática, com a priorização, por


parte dos magistrados, da família biológica em caso de adoção. No entanto, devem ser
esgotadas todas as tentativas de a criança ou adolescente ser adotado por parentes
próximos. Há também a reafirmação da necessidade de afinidade e afetividade da
criança com os parentes, elementos fundamentais para garantir, de modo pleno, o direito
à convivência familiar. Assim, por exemplo, tios, primos, e cunhados têm prioridade na
adoção (não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando). Este é um ponto
que causa divergências. Segundo pesquisas feitas, que serão posteriormente
apresentadas, há uma concordância quanto a essa reinserção, visto que é fundamental
para a afetividade infantil, porém há outro lado, uma vez que esta ‘incessante’
reinserção pode acabar atrasando a fila de quem espera pra adotar.

O artigo 8 § 4º e 5º e o artigo 13 discorrem sobre outro ponto:


“assistência às gestantes”. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar
seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da
Juventude. Logo, as mães que não desejam criar os filhos passam a ter amparo legal e
assistência para doá-lo à adoção. “É uma decisão difícil de ser tomada, e neste
momento, o que a genitora precisa é de orientação”, afirma a Associação dos
Magistrados Brasileiros. Com a implementação deste dispositivo, é observada a
atenção ao período anterior ao nascimento. Vale ressaltar que caso as gestantes não
sejam encaminhadas ao Poder Judiciário, conforme o artigo 13, médico, enfermeiro ou
dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestantes estarão sujeitos a infração
administrativa prevista no art. 258-B, que também é uma novidade. Essa
obrigatoriedade de encaminhamento da mãe ao juizado da infância e da juventude, de
acordo com a AMB, vai ajudar a evitar “aproximações indevidas” entre pessoas que
querem adotar e as crianças. A medida privilegia, ainda, os candidatos a pais que já
estão inscritos em cadastro nacional de adoção e que foram previamente habilitados
pelo judiciário para o procedimento, o que imprime maior celeridade aos processos.

Quanto à preparação dos adotantes, agora, quem deseja adotar precisará


passar por uma preparação prévia. Hoje, muitos juízes já adotam a prática, mas agora
será obrigatório que os pretendentes passem por uma preparação psicossocial e jurídica.

A respeito da adoção internacional, sobre a qual dispõe o artigo 50 § 10,


a nova lei traz regras mais rígidas para permitir que crianças brasileiras sejam adotadas
por estrangeiros, visando evitar irregularidades no processo. O prazo de habilitação para
casais residentes no exterior adotarem após conseguirem autorização, tanto em seu país
quanto no Brasil, foi reduzido de dois anos para um. A lei exige ainda que o estágio de
convivência seja cumprido dentro do território nacional, por no mínimo, trinta dias.
Contudo, a adoção internacional será possível somente em ultima hipótese, sendo a
preferência dada sempre a adotantes nacionais e, em seguida, a brasileiros residentes no
exterior. A medida está de acordo com a convenção de Haia para adoção internacional.
Retirou-se o artigo que obrigava o acompanhamento da família adotiva pelo período
mínimo de um ano depois de deferida a adoção.

Outra questão importante a ser suscitada é a retirada do texto original da


punição com dois a quatro anos de cadeia das pessoas que mantém uma criança ou
adolescente sob sua guarda sem regularizar a situação com a justiça em prazo de
máximo de trinta dias. Esse tipo de ato é chamado de “adoção à brasileira". Muitas
pessoas com a intenção de ajudar praticam o que se identifica como síndrome da
cegonha, ou seja, procuram crianças para pais sem filhos, desconsiderando a
complexidade da colocação de uma criança em família substituta e, principalmente, de
prover meios aos genitores de fazerem uma entrega consciente do filho, caso não seja
possível a sua permanência junto à família biológica.

A família substituta é aquela que acolhe uma criança ou adolescente


desprovido de família natural (de laços de sangue), de modo que faça parte da mesma.

§ 5º A colocação da criança ou adolescente em família substituta será


precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior,
realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância
e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito
à convivência familiar.

No artigo 50 § 11, a lei estabelece também com medida protetiva a figura do


acolhimento familiar, a qual a criança ou o adolescente é encaminhado para os cuidados
de uma família acolhedora que cuidará daquele de forma provisória. Na hipótese deste
artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber
a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta
Lei. Além disso, as alterações advindas da nova lei aumentam também a
responsabilidade dos municípios na promoção e garantia dos direitos a convivência
familiar. O poder público fica obrigado a estimular, por meio de assistência jurídica,
incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob forma de guarda, de criança ou do
adolescente afastado do convívio familiar. Além disso, a política municipal deve
estimular a “adoção inter-racial, de crianças maiores ou adolescentes, com necessidades
especificas de saúde ou com deficiência e de grupos de irmãos”, ou seja, incutir a “nova
cultura de adoção”, muito difundida pelos grupos de apoio à adoção.

No artigo 28 § 2, estabelece-se que “a adoção dependerá de concordância


em audiência do adotado se este possuir mais de 12 anos”. No artigo 28 §4, há a
determinação de que irmãos não mais poderão ser separados, devem ser adotados pela
mesma família, existindo casos específicos que serão analisados pela justiça.

O artigo 19 discorre sobre um tema levantando em uma de nossas


hipóteses: o prazo máximo para abrigamento.

§ 2º A permanência da criança e do adolescente em programa de


acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 anos como
tempo máximo para a definição do retorno à família biológica ou
encaminhamento à adoção, salvo comprovada necessidade que atenda
ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade
judiciária.

Meninos e meninas não poderão ficar mais de dois anos esperando por
uma decisão sobre sua vida. Ou voltam para a família de origem ou seguem para adoção
sendo inseridas no Cadastro de Adoção. Antes da nova Lei de adoção, crianças e
adolescentes perdiam a oportunidade de serem inseridas no seio familiar, pois sem um
prazo determinado e sem fiscalização, as mesmas permaneciam muitos anos nos abrigos
mesmo estando aptas para adoção, ou seja, passando a infância institucionalizadas.
Além disso, o parágrafo 1º traz a necessidade de fundamentação do juiz.

§1 Ademais os juízes terão de analisar e justificar, a cada seis meses, a


necessidade da criança permanecer em instituições - o que revela o
caráter transitório da permanência da criança nos abrigos (salvo
necessidade) - cabendo a estes enviarem relatórios semestrais para a
autoridade judicial, informando as condições de adoção ou de retorno à
família dos menores sobre sua tutela.

O artigo 50 também traz dispositivos que merecem ser elucidados:

§ 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacionais de


crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou
casais habilitados à adoção.

§ 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção terão


acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca de informações e
a cooperação mútua, para melhoria do sistema.

É medida fundamental que já está em funcionamento, administrada pelo


Conselho Nacional de Justiça e que possui duas finalidades. Primeiramente,
potencializa as possibilidades de adoção para os pretendentes e crianças e adolescentes
disponíveis na medida em que, ao ter o nome inserido no sistema, ele aparece em todas
as cerca de 3.000 varas com competência para infância e juventude no país, § 12.
Anteriormente a esta lei, o processo só era válido na localidade onde a pessoa ou o casal
morasse, exigindo uma nova habilitação para buscar uma criança encontrada em outra
comarca. No entanto, foi criado o chamado Cadastro Nacional de Adoção (CNA), onde
estando o requerente habilitado, ele estará apto para adotar em qualquer lugar do Brasil.
Outra finalidade é que esta medida possibilita conhecer quem são os pretendentes e as
crianças e adolescentes disponíveis, o que ajuda na orientação das políticas públicas em
torno do assunto.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou o Banco Nacional de


Adoção, em 2008, com a finalidade de armazenar, em um sistema nacional, todos os
dados sobre casais habilitados à adoção e sobre crianças e adolescentes disponíveis à
adoção1. Auxiliando os juízes das Varas da Infância e da Juventude na condução dos
processos adotivos, o CNA, constituía-se como uma ferramenta precisa e segura. Após a
implantação do Banco Nacional de Adoção todas as buscas de pretendentes que residam
no território nacional deveriam ser realizadas pelo próprio Juízo, diretamente no
Sistema do CNA. Contudo, ainda que sua criação tenha sido de extrema importância,
sem uma fiscalização adequada e determinação de prazos para os estabelecimentos e
tribunais atualizarem o sistema, o mesmo perdia parte de sua finalidade, não garantindo,
portanto, sua operacionalização e funcionamento efetivo.

Objetivando mudar essa realidade, a Nova Lei 12.010, determina que os


tribunais que não atualizarem o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) pagarão multas de
até R$ 3 mil. Pela nova regra, também será criado um cadastro de adotantes
estrangeiros, que reúne os nomes dos interessados de outros países a construir uma
família com os brasileiros.

A nova lei também prevê outra mudança na habilitação ao cadastro de


adoção: todas as pessoas maiores de 18 anos independentemente do estado civil, podem
adotar uma criança ou adolescente. A única restrição para adoção individual que sempre
será avaliada antes pela justiça, é que o adotante tenha pelo menos 16 anos a mais que o
adotado. No caso da adoção por casais, eles precisam ser legalmente casados ou manter
união civil estável reconhecida pela autoridade judicial. Na lei antiga, só poderiam
entrar para o CNA depois que ambos completassem 21 anos. Essa medida é de
fundamental importância para nossa pesquisa, podendo-nos trazer uma conclusão sobre
uma de nossas hipóteses.

1.2. Método Zetético

Este método consiste na utilização da interdisciplinaridade, ou seja, o


conteúdo de diversos âmbitos (jurídico, político, psicológico, sociológico, entre outros)
sendo utilizados concomitantemente, com o intuito de se obterem resultados mais

1
Esse sistema nacional visa a impedir a “adoção direta”, em que o interessado já comparece no Juizado
da Infância e Juventude com a pessoa que quer adotar.
precisos. Durante a pesquisa foram observadas várias áreas e opiniões que estão
presentes direta ou indiretamente no campo da adoção.

Além de questões do plano jurídico propriamente dito, utilizamos


conteúdos provenientes da psicologia, sendo nossa fonte a representante do Conselho
Federal de Psicologia. O campo psíquico tem plena importância devido ao seu estudo
sobre o comportamento humano. Durante o processo de adoção, a análise do perfil
psicológico dos candidatos a adotante é um fator determinante.

O âmbito histórico contribuiu com a pesquisa, no sentido em que


mostrou a evolução da lei através dos séculos e de seus dispositivos, ou seja, uma
análise da evolução jurídica do instituto da adoção no Brasil.

Já a questão política foi analisada em conjunto com uma entrevista


realizada com o deputado responsável pela Frente Parlamentar Pró-Adoção.

Finalmente, o Serviço Social entra também como ponto essencial dessa


interdisciplinaridade, uma vez que os assistentes sociais que trabalham nas Varas da
Infância e da Juventude são os responsáveis por comandar os processos de adoção.

Assim, observamos que a utilização de fontes provenientes de várias


áreas, além de serem necessárias, são de extrema importância para que a pesquisa tenha
maior credibilidade e imparcialidade.

1.3. Método Estatístico

Neste ponto analisaremos quantitativamente no que a tange aos critérios


para a adoção no Brasil. Nessa perspectiva, abordaremos numericamente esse assunto a
partir da vigência da Nova Lei de Adoção do ano de 2009.

Uma mudança bastante expressiva no perfil das crianças e adolescentes


que habitam os abrigos está no fato de a questão econômica ser a principal causa da
separação de pais e filhos, através do abandono dos primeiros. Atualmente, a situação
financeira das famílias passa a não ser o fator preponderante dando lugar a violência
doméstica - inclusive o abuso sexual - que lidera o número de ocorrências, seguida pelo
abandono derivado do vício em drogas. Esse ponto é bastante expressivo em todo o
país.

O coordenador dos abrigos da Liga Solidária, Mariano Gaioski, explicou


ao G1 que a mudança nesse perfil teve início em 2006. “Estamos vivendo agora a plena
transição da mudança do público das crianças abrigadas. Com a melhoria da renda
média, as características delas mudaram. A questão econômica ainda existe, mas os
casos de traumas sociais e emocionais pesados superaram essa condição. São casos de
abuso sexual, pedofilia e maus-tratos”, disse.

De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento


Social de São Paulo (SMADS), há 2,3 mil vagas para crianças na rede de instituições
conveniadas. Dessas vagas, 3,3% são ocupadas por vítimas de violência sexual. A
prefeitura informou que nos Núcleos de Proteção Social Especial, voltados para atender
menores vítimas de abuso e suas famílias, são atendidas em média 1.000 pessoas por
mês.

O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) registrou, até o início de março


de 2010, 26.735 pretendentes à adoção e 4.578 crianças e adolescentes aptas a serem
adotadas. Obviamente existe um número maior de crianças abandonadas, porém, só o
número anteriormente citado já passou por todo o processo e já estão habilitadas a
serem adotadas.

Outro dado importante é que segundo o levantamento, feito com


exclusividade para a Gazeta, os candidatos a adoção são pessoas na faixa dos 40 anos,
com renda média mensal de R$ 7 mil e que vivem problemas de infertilidade. A maioria
desses pretendentes (39,2%) quer crianças da raça branca e com idades de até três anos
(78,65% dos pretendentes). Dessa forma, tais restrições com relação ao perfil do
adotado traçam barreiras que acabam por dificultar todo o processo, uma vez que as
crianças e adolescentes aptos a adoção não se encaixam nas exigências apresentadas.
Lançado em 29 de abril de 2008, o CNA é uma ferramenta criada para auxiliar os juízes
das varas da infância e da juventude na condução dos procedimentos de adoção. O CNA
tem o objetivo de agilizar os processos de adoção por meio do mapeamento de
informações unificadas. De acordo com os dados do cadastro, também a maioria das
pessoas candidatas a adotar (85,72%) deseja apenas uma criança e outros 13,40% dos
pretendentes disseram querer adotar duas crianças. Por outro lado, do total de crianças e
adolescentes aptas à adoção, 35,21% delas são brancas e 71,89% deles possuem irmãos,
mas nem todos têm esses irmãos também cadastrados no CNA. As estatísticas ainda
revelam que 45,76% das crianças cadastradas são pardas, 17,85% são negras, 0,76% são
indígenas e 0,42% são da raça amarela.

O estado de São Paulo lidera o ranking do CNA com 7.192 pretendentes


cadastrados para 1.414 crianças, seguido do Rio Grande do Sul, com 4.319 pretendentes
para 798 crianças e, em terceiro lugar, vem o Paraná com 3.694 pretendentes para 482
crianças aptas a serem adotadas. No quarto lugar aparece Minas Gerais, com 2.920
pretendentes para 370 crianças cadastradas.

De acordo com o site G1, uma estatística que demonstra a queda no


preconceito é a que trata das deficiências físicas e psicológicas. Foram mais de dez
pontos percentuais de queda quando elas são consideradas tratáveis e leves. Tal
crescimento foi uma enorme conquista já que, mesmo habilitados a adoção muitas
crianças e menores não se encontravam na preferência por não serem saudáveis. Já um
índice que permanece inalterado com o passar dos anos é a preferência por meninas,
citada por 29% dos candidatos, contra 9% que dizem preferir somente meninos.

Nesse sentido, vê-se que as dificuldades do processo de adoção não se


encontram somente no processo burocrático, mas sim na mentalidade dos brasileiros.
Para que ocorra uma melhora e uma agilização no processo, não é só necessária que a
lei seja mudada ou reformulada, é necessário que seja feita uma conscientização
nacional e que esse problema seja tratado de forma clara e aberta para que as pessoas
possam entender que todos merecem uma família e um lar independente de aspectos
físicos ou psíquicos. Mudanças estatísticas já vêm sendo vistas, porém, é preciso que o
máximo seja feito.

1.4. Entrevistas semi-estruturadas

Primeiramente, procedeu-se uma análise sobre as pessoas que seriam


entrevistadas e que poderiam, de alguma forma, trazer elucidações sobre o tema em
questão, facilitando a verificação das hipóteses. A pesquisa em curso optou por colocar
em prática esse método juntamente aos líderes de movimentos, organizações, institutos
relacionados à adoção, o que permite uma maior credibilidade das informações
veiculadas, uma vez que os entrevistados têm conhecimento sobre a Nova Lei da
Adoção, além de conviverem com os processos adotivos diariamente e, até mesmo,
possuírem experiências pessoais com a adoção. Em virtude do método zetético
anteriormente citado, procuramos abranger uma diversidade de âmbitos, incluindo
entrevistas com administradores dos grupos de apoio à adoção e políticos ligados ao
assunto.

Logo após a escolha dos entrevistados, procedeu-se o contato com cada


um deles e o agendamento das entrevistas. Nesse período, foram elaboradas perguntas
que pudessem trazer um maior entendimento sobre as questões apontadas pelas
hipóteses. As perguntas possuíam uma estrutura, o que permite certa comparabilidade,
contudo, não prendiam o pesquisador. Este possuía a liberdade de fazer perguntas
subsidiárias conforme o curso da entrevista, não se atendo fielmente a um roteiro
prescrito. Possibilitou-se, portanto, uma maior abertura aos entrevistados, que
enriqueceram a pesquisa com a contribuição de experiências vividas por eles mesmos,
seja como adotantes, como adotados, ou como familiares de um destes.

Segue uma breve análise das entrevistas feitas:

1.4.1. Para a presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à


Adoção (ANGAAD), a nova lei não facilitou o andamento dos processos em curso.
Entretanto, a fixação de prazos para as autoridades competentes tomarem as
providências necessárias para diminuir o tempo das crianças e adolescentes em abrigos,
justificando a sua permanência a cada 6 meses, foi de fundamental importância. Através
do próprio Poder Judiciário, estabeleceu-se uma parceria com os grupos de apoio à
adoção para preparar os pretendentes no processo de habilitação, uma vez que estes têm
que freqüentar, de acordo com a nova Lei, no mínimo 3 reuniões desses grupos, o que
lhes garante maior informação sobre os dispositivos relacionados à adoção, imprimindo
maior celeridade ao processo.

Para a entrevistada, houve uma flexibilização do perfil do adotante no


sentido em que a nova lei permitiu que maiores de 18 anos pudessem adotar. Entretanto,
sua crítica a esse ponto surge no momento em que esta não autoriza expressamente a
adoção por homossexuais, apesar de a Jurisprudência admitir reiteradamente essa
possibilidade. Em relação ao conceito de família extensa, esta defende que, por ser uma
lei de convivência familiar e comunitária, deve mesmo defender a reintegração familiar,
visto que essa é a ordem natural, incluindo esse conceito, desde que a criança mantenha
com a família vínculo afetivo e afinidade. Se o prazo máximo de 2 anos de abrigamento
previsto pela nova lei não for suficiente para a reintegração, a criança passará a constar
no Cadastro Nacional de Adoção, continuando abrigada até posterior adoção.

O grande diferencial da nova lei no que tange ao tratamento da criança


foi a elevação da criança e do adolescente como sujeitos do direito à convivência
familiar. Não são apenas objetos; são responsabilidades das famílias em questão. Caso
estas não cumpram seu papel, a criança será encaminhada a outra família incumbida de
garantir os direitos daquela.

A entrevistada exemplifica com sua própria experiência o processo de


adoção. Na primeira vez que adotou o Judiciário a encaminhou a uma criança e seu
processo de habilitação se deu concomitantemente com o processo adotivo. Já na
segunda vez que adotou, se habilitou previamente, esperou e então, foi chamada pelo
Judiciário para adotar a criança num processo que durou 1 ano e 5 meses.

1.4.2. Para o deputado estadual entrevistado, presidente da Frente


Parlamentar Pró-Adoção da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a nova
lei de adoção melhorou os procedimentos, imprimindo maior rapidez devido ao
estabelecimento de prazos. Afirma ainda que não só a legislação garantiu uma
flexibilidade no perfil do adotante, assim como a própria Justiça vem garantindo. Como
exemplo, cita a decisão jurisprudencial a respeito de casais homossexuais que cada vez
mais estão no grupo dos que pretendem adotar. Esta frente lançou com a ALERJ uma
cartilha informativa sobre adoção.

Em sua opinião, apesar da possibilidade de atraso na fila de adoção


devido aos esforços para reinserir a criança na família de origem antes de encaminhá-la
ao processo adotivo, essa é uma questão de justiça com a família natural. O que
fundamentalmente deve ser priorizado é o direito a proteção da criança, de modo que se
for preciso um pouco mais de tempo para a garantia de tal direito, este deve ser dado.
Outra medida fundamental teria sido o estabelecimento de prazos para a permanência de
crianças sem situação ajustada em abrigos que, antigamente, não existia. Entretanto,
para o deputado, este dispositivo por si só não resolve o problema, pois a criança
mesmo depois de encaminhada à adoção, pode não encontrar uma família que a queira.
Logo, mais importante do que fixar prazos, seria a criação de dispositivos que
promovam o interesse por esse instituto e o incutir de uma “nova cultura de adoção”, na
qual não importa idade, sexo, raça, etc., dos adotados, mas o vínculo afetivo, o amor.

O deputado finaliza afirmando que ainda há muito que ser aprimorado no


processo de adoção. Entretanto, o início dessa mudança deve ser pelo incentivo da
abordagem do tema pela população, tornando o debate público e passível de discussão.
A criação da Frente Parlamentar visa ao envolvimento do tema pela população e o traz
para o dia a dia da sociedade, integrando outras questões como a da educação, a da
saúde, dos direitos da criança e do adolescente, etc. Dessa forma, haveria uma plena
integração dos cidadãos.

1.4.3. Para a presidente dos grupos de apoio à adoção Ana Gonzaga I e


II, a nova lei não trouxe celeridade aos processos adotivos, pois falta equipe técnica
necessária para que se possa atender com devida presteza a população interessada,
inclusive devido à morosidade, que continua a ocorrer mesmo com o implemento da
nova lei. Ela cita a palestra do Corregedor Nacional de Justiça, Ministro Gilson Dipp,
que defende a especialização das Varas da Infância e da Juventude.

Apesar de assumir a densidade do processo, ela não concorda que o


mesmo seja burocrático, visto que todos os processos existentes são de fundamental
importância na escolha de uma família adequada. Acredita que o mesmo é moroso,
citando até um caso concreto. Como solução, a entrevistada propõe a estipulação de um
prazo de 90 dias para a realização do estudo psicossocial.

Em sua opinião, a lei não flexibiliza o perfil do adotante. Ela traz à tona a
realidade das instituições, buscando encontrar famílias para crianças de todas as idades,
etnias e condições de saúde. No tocante à jurisprudência, comenta decisões o STJ a
favor da adoção por casais homoafetivos que viviam em ‘união estável’.

De acordo com sua própria experiência, crê que os dispositivos criados


para diminuir o tempo de permanência das crianças em abrigos funcionam em tese. No
entanto, ainda não se sabe como se procede no caso de crianças que ultrapassarem o
tempo limite previsto de 2 anos, uma vez que a lei é nova e ainda não completou esse
tempo de vigência.
De acordo com a presidente do Ana Gonzaga I e II, não houve
uma maior procura pela adoção devido às mudanças na lei, pois esta já vem aumentando
há 15 anos. O bom da nova lei é que esta trouxe maior visibilidade à questão, porém, a
sociedade ainda se encontra muito aquém de ter um conhecimento pleno deste processo.

2. EXPLICITAÇÃO DOS RESULTADOS

A primeira de nossas hipóteses consiste na afirmação de que a nova lei


promove uma redução na morosidade para proferir a sentença judicial da adoção.

Para o senador Aloizio Mercadante, a nova legislação “desburocratiza o


processo, garante proteção integral à criança e ao adolescente e mostra que existem
possibilidades diferentes de adoção.”

Contrapondo-se à opinião do senador, Maria Berenice Dias, ex-


desembargadora do TJ do Rio Grande do Sul, diz que a nova lei já nasceu burocrática e
não atende ao melhor interesse da criança. Berenice acredita que o primeiro sinal de
morosidade está contido nas regras para mãe que deseja entregar seus filhos à adoção.
“O consentimento precisa ser acolhido em audiência pelo juiz, com a presença do
Ministério Público, e isso depois de esgotados os esforços para manutenção do filho
junto à família. Esse procedimento é tão burocrático que vai fazer crescer ainda mais a
fila de interessados à adoção.”, diz.

A presidente dos grupos de apoio à adoção assume a mesma postura da


ex-desembargadora, mas justificando que a Nova Lei não causou celeridade dos
processos adotivos, pois falta equipe técnica necessária para que se possa atender com
devida presteza. Portanto, para a mesma, “o processo não é burocrático, é moroso.”
Como exemplificação de tal constatação, ela cita, durante sua entrevista, a extrema
morosidade impressa num caso específico, demonstrando o tempo decorrido desde a
distribuição do processo que se iniciou em 18/03/2009 e durou até 01/07/2010 (Proc. N°
2009.8.19.0001). De acordo com a Nova Lei, a autoridade judiciária dará vistas ao
Ministério Público no prazo de 48 horas, tendo o MP prazo de 6 dias para apresentar
quesitos, requerer audiência e documentos complementares (art. 197B, inciso de I a III).
Embora essa parte mencionada do processo se mostre célere, a entrevistada destaca que
a morosidade do processo se encontra no previsto pelo art. 197C que determina a
intervenção obrigatória da equipe interdisciplinar, sem, contudo, especificar prazo para
realização dos respectivos estudos. A solução encontrada pela entrevistada é o
estabelecimento de prazo, por exemplo: até 90 dias, para a realização do estudo
psicossocial.

Outrossim, Malheiros considera que a estrutura do Judiciário brasileiro


impede a aplicação da lei completamente. Para ele, a nova lei, por exemplo, obriga que
o julgamento do processo seja feito entre 7 e 8 meses, o que será difícil devido à
quantidade de trabalho na mesa dos juristas. “Há muita demanda. Como atender este
novo padrão com tão poucos juízes?”

Mediante o exposto, pode-se concluir que as mudanças no processo em si


visam a diminuir, na medida do possível, sua morosidade, já que esse possui aspectos
complexos que devem ser considerados com cautela. Embora essas modificações
existam, não podem ser efetivadas pela falta de aparato que permitam a sua
concretização.

Outro aspecto abordado pela pesquisa é o perfil do adotante. A hipótese


relativa a esse aspecto aponta que, com a inserção da nova lei, houve uma possível
flexibilização desse perfil. Na prática, isso corresponderia à habilitação de pessoas com
desejo de adotar que antes não dispunham de tal direito.

Essa hipótese é confirmada. Primeiramente, a lei traz novidades em


relação à idade dos pretensos pais adotivos, que cai de 21 anos para 18 anos de idade,
conforme disposto no artigo 42. Abre-se um leque também no que tange ao estado cível
dos adotantes. Pela lei antiga, só poderiam ser habilitados os que mantivessem união
estável2. Hoje, a adoção ocorre independentemente do estado civil (salvo para adoção
conjunta3), proporcionando a habilitação, por exemplo, de pessoa solteira.

O dispositivo que corrobora a comprovação de união estável no caso de


adoção conjunta reforça a opção do legislador brasileiro de não aceitar a adoção por
pessoas do mesmo sexo figurando como pai e como mãe. A Constituição reconhece

2
Ambos depois de completassem 21 anos.
3
Artigo 42 § 2º: “Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou
mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.”
como união estável só aquela constituída por homem e mulher (artigo 226, parágrafo
3º).

Não obstante, registre-se que existem decisões judiciais que superam esse
entendimento e deferem adoções a pessoas em união homoafetiva. Em pergunta feita,
sobre a existência ou não de jurisprudência em relação a casos de adoção por casal de
mesmo sexo, uma das entrevistadas afirma que sim, e relembra caso mais recente do
STJ com relação a casal homoafetivo do Rio Grande do Sul. Para ela, o pensamento de
que casais homoafetivos não vivem em união estável ou que não seja possível a união
estável entre pessoas do mesmo sexo, é absolutamente preconceituoso. Daí tamanha
polêmica a respeito dessa problemática.

Em suma, a nova lei possibilitou uma abrangência do perfil do possível


habilitado à adoção, o que acarretaria em um aumento de pessoas aptas para adotar.
Todavia, ainda com a modificação proporcionada, a lei ainda não contempla aos casais
homoafetivos a instituição da adoção. O que se questiona, portanto, é a lacuna deixada
na lei, uma vez que não há na legislação especificidade no que concerne a qualquer
restrição expressa à sexualidade do adotante. É preciso apenas que tenha a idade mínima
exigida pelo Código Civil de 2002, ou seja, basta que a pessoa tenha 18 anos. Com isso
se a pessoa está dentro dos requisitos exigidos para a adoção, ela poderá adotar
independentemente da sua opção sexual.

Devido à grande discussão referente a este assunto, o que tem ensejado


inúmeras discussões e controvérsias (seja nos meios jurídico, religioso e social), ainda
há dúvidas e conflitos sobre a adoção por casal homoafetivo. Desse modo é
imprescindível a realização de uma análise maior e cuidadosa a respeito. Ademais,
ressalta-se que qualquer que seja a decisão do legislativo, deve-se pautar
primordialmente no melhor para a criança.

Agora, entramos na elucidação da terceira hipótese que verifica se a nova


lei engloba dispositivos que facilitam a adoção de crianças que estão a mais tempo em
abrigos, inserindo-as com maior regularidade no seio de uma família. É importante
ressaltar que a lei 12.010/09 é uma lei de convivência familiar e comunitária e seu
objetivo é que a adoção ocorra de maneira legal, segura e permanente.
Ao longo de todos os estudos, pode-se concluir que a lei cria tais
dispositivos. Estes estão expressos no art. 19 §1º e 2º, que determinam que a situação de
abrigamento seja reavaliada no máximo a cada 6 meses e que o acolhimento
institucional não se prolongue por mais de 2 anos, salvo comprovada necessidade que
atenda ao superior interesse da criança.

O período de 2 anos é o termo final para a autoridade judiciária definir a


situação da criança e do adolescente. Esse prazo, por ser relativamente pequeno,
pretende garantir que o abrigado não passe toda a sua infância institucionalizado. Caso a
família original esteja apta a retomar a criança, isto é feito de imediato. Caso isso não
seja possível, a criança deve ser incluída no Cadastro Nacional de Adoção. Este
cadastro possui as características da criança e pretende encontrar famílias para elas, de
acordo com a realidade dos abrigos, em nível nacional. Isso traz maior celeridade ao
processo adotivo, evitando também as chamadas ‘desistências por incompatibilidade’,
uma vez que busca a sinceridade dos pais em optar pelas características preferenciais do
adotado. O CNA é um dispositivo criado pela lei que diminui esse tempo de
abrigamento. Segundo a presidente da ANGAAD, anteriormente entrevistada, “se todos
os atores responsáveis cumprirem a lei, a convivência familiar (biológica ou adotiva)
será garantida e os processos de adoção serão mais céleres.”

Segundo outra de nossas entrevistadas, a presidente do Ana Gonzaga I e


II, esses dispositivos funcionam em tese. Entretanto, ela destaca um elemento: “Aqui no
Rio, existem as audiências concentradas, onde os processos de cada abrigo são
verificados em audiências dentro dos próprios abrigos. Estas contam com representantes
das Secretarias Municipais de Educação, Habitação, Saúde, Assistência Social, etc. São
bastante interessantes e efetivamente imprimem celeridade aos procedimentos.” Vê-se,
portanto que, apesar das audiências concentradas não se encontrarem expressas na nova
lei, são boas alternativas no sentido de diminuir o tempo de permanência das crianças
em abrigos.

Para o desembargador Malheiros, dois anos pode ser pouco para trabalhar
uma família desestruturada. “Em muitos casos, a família só precisa de uma assistência
para ter a criança de volta e fazer com que ela permaneça no lar”, salienta.

Um ponto de discussão deverá ser mantido: o artigo que coloca a adoção


como último recurso depois das tentativas de reinserção familiar. Essa medida causa
polêmica, pois, pra alguns, ela acabaria por atrasar o processo, funcionando como uma
etapa burocrática que, ao invés de reduzir, só aumentaria a estada nos abrigos. Sobre
isso, Andreá Pachá, membro do Conselho Nacional de Justiça, diz: “A nossa grande
dúvida é saber o que é menos complicado: insistir nessa recolocação ou destituir o
poder familiar e disponibilizar a criança imediatamente para adoção. O senador Aloízio
Mercadante também se pronuncia: “Sei que é questionável, mas temos de lembrar que
parte dessas crianças são vítimas de miséria e, nesses casos, temos de ajudá-la e não
separá-la. Os pais adotivos têm interesse em acelerar o processo de adoção e esse gesto
de amor tem de ser valorizado, estimulado, mas tem de haver regras para evitar que se
retire de uma família a criança que pode continuar lá.”

Todos esses processos pelos quais passam adotados e famílias que


pretendem adotar querem garantir uma adoção segura para ambas as partes, diminuindo
os riscos de ‘desistência’ e inserindo as crianças com maior regularidade no seio de uma
família. Logo, pode-se concluir que a hipótese em questão é confirmada, mesmo que em
relação a ela, ainda haja muitas polêmicas envolvidas.
CONCLUSÃO

Diante do estudo realizado pode-se concluir que a nova lei de adoção


teve mudanças significativas, sobretudo com relação à convivência familiar, focando
bem esse tema. Entretanto, tais mudanças não importam em maior morosidade para o
procedimento, e sim, que o mesmo seja conduzido com maior responsabilidade.

Em primeiro lugar, com relação à desburocratização do processo, há


posições divergentes entre os responsáveis pela criação e aplicação da Nova Lei de
Adoção. Por um lado, o senador Aloizio Mercadante defende que a lei serviu para
desburocratizar o processo. Em contrapartida, a ex-desembargadora Maria Berenice
Dias afirma que a nova lei mantém a burocracia do processo adotivo, justificando tal
posição através da etapa de entrega dos filhos pela mãe à adoção. Sob outra ótica, a
presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD) afirma
que o processo de adoção não é burocrático, mas, sim, moroso. Na sua opinião, isso se
deve à falta de equipe técnica e estrutura adequada para os tribunais atenderem em um
tempo satisfatório a demanda de processos. Além disso, tal morosidade é salientada pela
ausência de prazo para elaboração de estudo psicossocial, conforme se observa no
artigo197C :

“Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe


interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que
deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam
aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma
paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e
princípios desta Lei.”

A flexibilização do perfil do adotante, em segundo lugar, é dos pontos


positivos inquestionáveis da Nova Lei de Adoção, uma vez que a idade mínima
necessária para se adotar foi alterada de 21 para 18 anos, possibilitando que mais
pessoas consigam habilitação para a adoção. Além disso, a nova lei permite que
pessoas solteiras adotem, visto que a habilitação independe do estado civil do adotante.
No caso de adoção conjunta, é necessário que haja, pelo menos, a união estável entre os
adotantes. Por isso, não é possível adoção conjunta por um casal homoafetivo, uma vez
que a Constituição Federal de 1988 não permite nem o casamento nem a união estável
para os mesmos. Apesar disso, existem decisões judiciais que superam esse
entendimento e deferem adoções a pessoas em união homoafetiva. Sendo, portanto, esse
assunto uma questão controvertida.

Concluímos, também, que a nova lei engloba dispositivos que facilitam a


adoção de crianças que estão há mais tempo em abrigos. Pode-se perceber essa
preocupação por meio da análise do art. 19 §1º, 2º da Nova Lei de Adoção.

“Adotar é fazer um bem à sociedade, é uma atitude afirmativa, pois as


chances de ter um adulto frustrado, descrente de instituições familiares, marcado por
traumas de desespero e violência moral e física, se diminuiriam consideravelmente,
pois teria a orientação de alguém que pudesse confiar, para acompanhá-lo nas
vicissitudes de sua vida, principalmente nos períodos de transição de criança,
adolescente e adulto. No entanto, o que as pessoas não percebem, embutidas pelo
preconceito é que o maior bem seria feito à família adotante, por reconhecer em uma
criança o brilho de um olhar para o futuro, e a alegria, o carinho, o abraço afetuoso
que ela traz para qualquer lar.”
ANEXO

Um dos objetivos do nosso trabalho é trazer informação a respeito do


processo adotivo elucidando, de forma clara, as etapas que se seguem para a
concretização do mesmo, das formas e vicissitudes da adoção. Segue, portanto, nesse
anexo, um breve resumo informativo de como se proceder.

- Cartilha lançada pela ALERJ:

A cartilha busca auxiliar os futuros pais e mães adotivos, transmitindo-


lhes a nova cultura da adoção e mostrando a eles que a adoção só se realiza dentro da lei
e que apenas a certidão de nascimento emitida após a sentença pode conferir aos
adotantes a verdadeira tranqüilidade de ter um filho de “direito”.

Segundo o Deputado estadual e Presidente da Assembléia Legislativa do


Estado do Rio de Janeiro, Jorge Picciani, “ao se editar uma cartilha com todas as
explicações necessárias para quem deseja adotar uma criança, a Assembléia Legislativa
do Rio de Janeiro pretende dar sua contribuição para que mais pessoas optem pela
adoção (...). Sabemos que o processo de adoção não é tão simples, mas talvez nem deva
mesmo ser, pois estamos falando sobre o futuro de bebês, jovens, crianças que estão sob
a responsabilidade do Estado.”

- Etapas da adoção:

1) O interessado deve dirigir-se a uma das Varas da Infância e da


Juventude de sua comarca, ou à vara competente para o processo de adoção de sua
região, para dar início ao processo de habilitação. O requerente é encaminhado ao setor
técnico da Vara da Infância e inserido em grupos de palestras, onde receberá orientações
em relação aos documentos necessários e aos procedimentos da habilitação e da adoção.
Não é necessária a assistência de um advogado. De acordo com o ECA, deve ser
preenchido um formulário adquirido na própria Vara da Infância e da Juventude
constando os seguintes dados: a) Requerimento inicial (fornecido pelo Juizado da
Infância e da Juventude ou Fórum); b) Certidão de casamento ou prova de união estável
dos candidatos; c) Certidão de nascimento para os solteiros e para os que vivem em
união estável; d) Comprovante de residência; e) Comprovante de rendimentos; f)
Atestado médico de sanidade física e mental feito por médico particular ou da rede
oficial de saúde; g) Carteira de identidade; h) CPF (Cadastro Pessoa Física); i) Certidão
negativa dos distribuidores cíveis e criminais, do foro de seu domicílio (normalmente
obtida pela própria Vara da Infância e da Juventude); j) Outros documentos, a critério
do interessado, comprobatórios de sua aptidão para adotar.

2) De posse desta documentação, a autoridade judiciária terá 48 horas


para enviar o processo ao Ministério Público, que terá cinco dias para se pronunciar,
questionar quesitos a serem respondidos pela equipe responsável por analisar os
requerentes, decidir sobre a realização de audiências em juízo ou solicitar outros
documentos.

3) Se aprovado em análise preliminar, o interessado em adotar passa por


uma equipe multidisciplinar, onde são entrevistados por assistências sociais e
psicólogos forenses. Estas entrevistas, necessárias para elaborar um parecer psicossocial
dos candidatos, buscam traçar o perfil socioeconômico e psicológico dos futuros pais.
Além disso, durante essa etapa, o candidato informa as características da criança que
busca: sexo, idade e tipo físico. Sendo estimulados à adoção inter-racial, de crianças
maiores ou de adolescentes, ou ainda de crianças com necessidades específicas de saúde
ou deficiências, além de grupos de irmãos.

4) Deferida a habilitação, o candidato será inserido no Cadastro Nacional


de Adoção (CNA). Os candidatos que não forem considerados aptos serão direcionados
para um dos vários grupos de apoio à adoção existentes.

5) O serviço social confrontará os dados fornecidos pelo interessado com


o cadastro de crianças disponíveis para adoção da comarca, estes só são inseridos no
cadastro como disponíveis depois da decisão definitiva sobre a destituição do poder
familiar dos pais biológicos, ou no caso de crianças em que não é necessária a
propositura de ação de destituição do poder da família, que é o caso, por exemplo, dos
órfãos; caso haja coincidência de dados, o interessado é avisado.

6) Avisado sobre a existência da criança, é iniciada a visitação da


criança, que poderá acontecer na própria Vara da Infância e Juventude ou em abrigo,
conforme decisão do juiz. O tempo entre a habilitação e o encontro da criança
dependerá muito do perfil do candidato inserido no CNA.

7) O juizado promoverá uma aproximação gradativa entre a criança e o


candidato à adoção, chamado de estágio de convivência. Este é um estágio dispensável,
a critério do juiz, para crianças menores de um ano, e recomendável, tanto para a
criança quanto para o adotante, em casos de crianças com idade superior a um ano. Esse
estágio é acompanhado por equipe psicossocial e entrevistas periódicas.

8) Correndo tudo bem no processo de conhecimento entre pais e filhos,


os habilitandos recebem a guarda provisória da criança, período que pode variar de
duração, mas que, em média, é de 120 dias.

9) A sentença definitiva só é deferida quando a família é considerada


como aquela que atende ao melhor o interesse da criança, com base nos laudos de
equipe judiciária e em outras provas que fazem parte do processo. A partir daí, o filho
adotivo passa a ter todos os direitos e deveres de um filho biológico, sendo esta decisão
irrevogável.

- Quem pode adotar?

1) Não se podem adotar seus próprios irmãos;

2) Os divorciados, judicialmente separados ou ex-companheiros podem


adotar conjuntamente, desde que acordem sobre a guarda e o regime de visitas. Também
é necessário obedecer aos trâmites para o estágio de convivência e que seja comprovada
a existência de vínculos de afinidade e afetividade com a parte não-detentora da guarda,
que justifique a excepcionalidade da concessão. Nestes casos, também poder ser
assegurada a guarda compartilhada.
(Em decisão que abre um precedente jurídico, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) legislou, em abril de 2010, em favor de um casal de mulheres de Bagé
(RS) e, com isso, manteve o registro de adoção no nome das duas postulantes,
possibilitando que casais homossexuais tenham de fato direito a adotarem crianças.)

- Outras formas de adoção, além da adoção pelo Cadastro Nacional de


Adoção:

a) Adoção pronta, dirigida, consensual ou intuito personae – É adoção


onde a família biológica entrega a criança em adoção à pessoa teoricamente conhecida.
Com a nova Lei de Adoção ficou estabelecido que a adoção consensual deve seguir os
mesmos trâmites de uma adoção comum, ou seja, só será avaliada quando os
postulantes à adoção forem previamente habilitados.

b) Adoção Unilateral: É a situação em que o marido, ou companheiro da


mãe, que exerce o papel de pai, passa a tornar-se pai de direito.

c) Adoção Litigiosa: É aquela que ocorre sem o consentimento dos pais


biológicos da criança. Neste tipo de adoção, os adotantes arcam com o risco do
processo, uma vez que a criança só será entregue à família substituta se esgotadas pelas
equipes técnicas do abrigo e do Judiciário as alternativas de inserção familiar.

d) Entrega para adoção: Os pais que quiserem entregar seu filho em


adoção, seja por qualquer motivo, devem fazê-lo junto à Vara da Infância competente.
Entregar um filho em adoção não é crime. A Vara da Infância tem a obrigação de tentar
ajudar as famílias a se manterem unidas, mas, ao verificar esta impossibilidade, deve
oferecer todo o apoio para que a entrega seja sem danos.

Esperamos que, através do nosso anexo, tenhamos trazido compreensão


em relação ao instituto da adoção contribuindo, assim, para a desmistificação dos
paradigmas relativos ao mesmo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, 1961

“Direito de Família”, 14ª ed. 2003.

• GOMES, Orlando. Direito de Família, 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.369.

• http://www.doinet.com.br/bdp/default.aspx

• http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/07/17/ult5772u4675.jhtm

• http://veja.abril.com.br/especiais_online/adocao/

• Cartilha “Adoção legal, segura e pra sempre” da ALERJ

• http://www.mp.rs.gov.br/areas/infancia/.../adocaopassoapassso.pdf

• http://www.stj.jus.br/SCON/

• Estatuto da Criança e do Adolescente

• Constituição Federal Brasileira de 1988.

Вам также может понравиться