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Nos últimos anos, os estudos e a política queer cultivaram mudanças significativas nas
questões de gênero, corpo e sexualidade. As compreensões que tomavam a correspondência
do tripé sexo-desejo-gênero como inequívocas, paulatinamente passaram a ser tensionadas.
Esse movimento desnudou as ligações entre a heteronormatividade e o sexismo implícito a uma
perspectiva calcada, sobretudo, no positivismo. Com frequência, as teorias que reivindicaram
a neutralidade, o fizeram (e ainda o fazem) minorando o interesse por essas questões, quer
fosse porque as considerassem questões menores e, portanto, interessantes apenas para as
minorias, ou, talvez, porque encarassem o movimento de inflexão proposto pelo queer como
moda passageira.
Xs teóricxs queer compreendem a sexualidade como um dispositivo histórico do poder,
como um conjunto heterogêneo de discursos, desejos e práticas sociais; como uma rede que se
estabelece entre elementos tão diversos como a literatura, enunciados científicos, instituições
e proposições morais (MISKOLCI, 2009, p.154). Nesse jogo, a construção dos sujeitos abjetos
expos as marcas dos discursos de poder e experiências de exclusão que estão referidas aos
processos históricos, marcando subjetividades (PELÚCIO, 2014, p.20).
Guacira Lopes Louro, reconhecidamente uma das anfitriãs dos estudos queer no Brasil,
apresentou essa vertente teórica como reativa à normalização, “venha ela de onde vier” (LOURO,
2001, p.546). Essa reatividade, como crítica à hegemonia normalizadora, se estendeu desde
a constituição dos corpos e seus limites, passando pelas sexualidades, desejos, alcançando
as bio, tecno e geopolíticas.
Atualmente, explica Richard Miskolci (2009, p.160):
Implodidas algumas das muralhas que blindavam o discurso normativo, percebemos também
a necessidade de expandir as reflexões tensionando também noções como margem e centro.
Essas noções são poderosas, sobretudo, quando percebemos que podem funcionar delimitando
de maneira precária os processos tensos de constituição das identificações (BENTO, 2011).
a
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar,
bolsista CNPq e membro do Quereres – Núcleo de Pesquisa em Diferenças, Gênero e Sexualidade. Contato:
felipeapa@yahoo.com.br
b
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar,
bolsista FAPESP e membro do SexEnt – Grupo de Pesquisa Sexualidade, Entretenimento e Corpo. Contato:
julianafjusta@gmal.com.
Comprometidxs com esse descentramento, queremos torcer essa potente vertente teórica
para fazer dela múltipla, mas sem deixar de lado uma construção situada capaz de uma
compreensão geopolítica mais afetuosa, provocante, instigante e desestabilizadora. Esse intuito
ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda
européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos
vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976. Disponível em: <http://www.ufrgs.
br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf>.
LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Revista de
Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 59-90, 2001. Disponível em: <https://periodicos.
ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2001000200012/8865>.
PELÚCIO, Larissa. Traduções e torções ou o que se quer dizer quando dizemos queer no Brasil?
Revista Periodicus, v.1, n.1 maio-outubro, 2014. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.
br/index.php/revistaperiodicus/article/view/10150/7254>.
PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. De corpos e travessias: uma antropologia de corpos e afetos.
São Paulo: Annablume, 2014.