Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
SANTOS-SP
Professor Adjunto I - (atuação na Educação
Infantil e no Ensino Fundamental)
Edital Nº 07/2018 – SEGES.
OT067-2018
DADOS DA OBRA
• Língua Portuguesa
• Legislação Federal
• Legislação Municipal
• Publicações Instutucionais
• Livros e Artigos
• Conhecimentos Específicos
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Leandro Filho
Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO
CURSO ONLINE
PASSO 1
Acesse:
www.novaconcursos.com.br/passaporte
PASSO 2
Digite o código do produto no campo indicado no
site.
O código encontra-se no verso da capa da apostila.
*Utilize sempre os 8 primeiros dígitos.
Ex: FV054-18
PASSO 3
Pronto!
Você já pode acessar os conteúdos online.
SUMÁRIO
Língua Portuguesa
Legislação Federal
Constituição da República Federativa do Brasil – promulgada em 05 de outubro de 1988, Artigos 205 ao 214, 227 ao
229. .............................................................................................................................................................................................................................. 01
Lei Federal nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e alterações
posteriores. ............................................................................................................................................................................................................... 03
Lei Federal nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente e alterações posteriores. .......... 20
Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. ................................ 73
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 - Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre
a Língua Brasileira de Sinais-Libras e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. ............................................. 74
Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011- Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional espe-
cializado e dá outras providências. ................................................................................................................................................................. 78
Resolução CNE/CP nº 01/04 - Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico - Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. ........................................................................................................ 80
Resolução CNE/CEB nº 04/09 - Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Edu-
cação Básica, modalidade Educação Especial. ............................................................................................................................................ 81
Resolução CNE/CEB nº 05/09 - Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. ..................................... 83
Resolução CNE/CEB nº 03/10 – Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos. ............................ 85
Resolução CNE/CEB nº 04/10– Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica. ............................. 87
Resolução CNE/CEB nº 07/10 – Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos....... 97
Legislação Municipal
Parecer CME n.º 002/05 - Proposta de Implantação na Rede Municipal de Ensino de Santos do previsto no art. 6º da Lei
Federal 9.394/1996 alterada pela Lei Federal 11.114/2005, qual seja ensino fundamental de 9 anos. Publicado no Diário
oficial do município de Santos em 22/09/2005............................................................................................................................................ 76
Deliberação CME nº 001/2005 - Institui, na Rede Municipal de Ensino de Santos, a ampliação do Ensino Fundamental
para nove anos de duração. Publicado no Diário Oficial do Município de Santos em 22/09/2005........................................ 80
Deliberação CME nº 004/2006 - Fixa normas para a implementação do Ensino Fundamental com duração de 9 anos e
organização da Educação Infantil das Unidades Municipais de Educação. Publicada no Diário Oficial do município de
Santos em 21/12/2006........................................................................................................................................................................................... 80
Deliberação CME nº 002/2007- Fixa normas para a implementação do Ensino Fundamental com duração de 9 anos e
organização da Educação Infantil das Unidades Municipais de Educação.Publicado no Diário Oficial do município de
Santos em 25/08/2007........................................................................................................................................................................................... 82
Deliberação CME nº 002/2010 - Dispõe sobre pedidos de reconsideração e recursos referentes aos resultados finais de
avaliação. Publicada no Diário Oficial do município de Santos em 25/05/2010............................................................................. 82
Deliberação CME nº 004/2011- Adequação de nomenclatura e de proporção adulto/criança do nível de ensino Educa-
ção Infantil oferecido pela Rede Municipal de Educação de Santos. Publicado no Diário Oficial do município de Santos
em 25/11/2011.......................................................................................................................................................................................................... 84
Publicações Institucionais
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação
inclusiva...............................................................................................................................................................................................................01
Livros e Artigos
ARROYO, Miguel. Formar educadoras e educadores de jovens e adultos. In: SOARES, Leôncio (org.) Formação de
educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica/SECAD-MEC/UNESCO, 2006...................................................01
CASTORINA, José Antonio et al. Piaget e Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 2003........01
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.......................................................................................02
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997........03
FREITAS, Luiz Carlos de. Ciclos, seriação e avaliação: confrontos de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. 96 p. (Cotidiano
Escolar)................................................................................................................................................................................................................16
IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez,
2004......................................................................................................................................................................................................................18
KLEIMAN, Angela e MORAES, Sílvia. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas,
SP: Mercado de Letras, 1999........................................................................................................................................................................18
LIBANEO, José Carlos. Educação escolar: Políticas, estrutura e organização – 10ª. Edição. São Paulo: Cortez, 2012.
(Coleção docência em formação: Saberes pedagógicos/coordenação Selma Garrido Pimenta)........................................21
MAINARDES, Jefferson, A organização da escolaridade em Ciclos: ainda um desafio para o sistema de ensino. In:
Avaliação, Ciclos e Promoção na Educação. FRANCO, Creso (org.). Porto Alegre: Artmed Editora, 2001, p.35-54. ....23
MANTOAN, M. T. Egler, PRIETO, R. Gavioli, ARANTES V. Amorim (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. 1ed.
São Paulo: Summus, 2006.............................................................................................................................................................................26
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000..............................................29
OLIVEIRA, D. A. (Org.). Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. Petrópolis: Vozes, 2003...........30
PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. 2. ed., São
Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002..............................................................................................................................................31
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Editora
Autêntica, 2004.................................................................................................................................................................................................32
VEIGA, Ilma Passos de Oliveira. Projeto político- -pedagógico da escola: uma construção possível. 24ª. Edição,
Campinas, SP: Papirus, 2008........................................................................................................................................................................33
SUMÁRIO
Conhecimentos Específicos
BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades, 2002. .................... 01
BONDIOLI, Anna. Manual de Educaçã o Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1988. ............................................................................ 04
MEC – Base Nacional Comum Curricular – assuntos relacionados à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental ....... 05
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e Brincadeiras de creches: manual de orientação
pedagógica. Brasília: MEC/SEF, 2012. ............................................................................................................................................................. 08
Ministério da Educação. Indicadores da Qualidade na Educação Infantil / Ministério da Educação/Secretaria da Educa-
ção Básica – Brasília: MEC/SEB, 2009. ........................................................................................................................................................... 15
CARVALHO, M.T.V.; ORTIZ,C. Interações: ser professor de bebês – cuidar, educar e brincar, uma única ação. Coleção
Interações. São Paulo: Editora Edgard Blucher. 2012 ............................................................................................................................. 17
EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação
da primeira infância. Tradução de Deyse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda., 1999. .......................................... 18
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY. Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1986. FALK, Judith (org.).
Educar os três primeiros anos: a experiência de lóczy. Araraquara: JM Editora, 2004. ............................................................ 25
FARIA, Vitótia; SALLES, Fátima. Currículo na Educação Infantil: diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagó-
gica. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2012. ................................................................................................................................................................ 25
FERREIRO, Emilia. Cultura escrita e educação: conversas de Emilia Ferreiro com José Antonio Castorina, Daniel Goldin
e Rosa MariaTorres. Porto Alegre: ARTMED, 2001 ................................................................................................................................... 26
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. O jogo e a educaçã o infantil. São Paulo:Pioneira, 1998. ........................................................ 33
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educaçã o Infantil Fundamentos e Métodos.São Paulo:Cortez,2002. ...................................... 36
COLOMER, Teresa e CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Ed. Artmed. 2001. ............................................... 37
DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004. .................................................... 51
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY. Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1986. ....................................... 63
KAMII, C. Crianças pequenas reinventam a aritmética. Porto Alegre: Artmed, 2002. ................................................................ 64
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. ......................... 64
REIS, Silvia Marina Guedes dos. A Matemática no cotidiano Infantil: jogos, atividades com crianças de 3 a 6 anos. Cam-
pinas: Papirus. .......................................................................................................................................................................................................... 73
SMOLE, K. S. e DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto
Alegre: Artmed, 2001. ............................................................................................................................................................................................ 73
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998. ...................................................................................................... 76
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed,
2002............................................................................................................................................................................................................................... 79
LÍNGUA PORTUGUESA
Ortografia (do latim ortho – correto e grafos – grafia) Grafia com “s” Grafa com “z”
significa a escrita correta das palavras de uma língua. Catequese Coalizão
Tal denominação pressupõe regras específicas para a
Gás Bazar
linguagem escrita que, muitas vezes, confunde o falante
devido a uma série de regras e exemplos. Análise Verniz
Quado falamos de linguagem verbal devemos Crise Cicatriz
entender que há a língua oral, aquela que aprendemos Curiosidade Azeite
desde o nascimento e vamos absorvendo de modo natural; Decisão Buzina
e a língua escrita, que é a passagem para outro mecanismo Hesitar Azedo
de comunicação. Através da alfabetização se aprende a Desejo Zebra
transformar os sons (fonemas) que emitimos em letras e Colisão Proeza
assim as primeiras palavras começam a ser escritas.
Usuário Cuscuz
Desde a origem da grafia se testemunham modos
distintos de escrever um vocábulo e a ortografia surgiu Cortesia Xadrez
com a função de organizar e apresentar uma forma Besouro Giz
correta, já que a unificação gráfica é fundamental para a Querosene Surdez
manutenção de uma língua. Imagine se cada região de Obséquio Cicatrizar
um país escrevesse de modo diferente, as pessoas não se
entenderiam com clareza. 3) Uso do X/CH
Escrever é transformar o som que falamos em letras e tal Usa-se o “x” nos seguintes casos:
processo pode confundir numa língua como o português, - Depois da sílaba -me: mexer, mexicano, mexerico.
que possui várias letras diferentes para um mesmo som - Depois da sílaba -en: enxada, enxame. Exceção: o
(como é o caso do som [ze] que pode ser representado por verbo “encher” e seus derivados se escreve com “ch” -
“s”, “z” e “x”). enchente, encharcar .
- Depois de ditongo: ameixa, caixa, peixe
Orientações Ortográficas - Em palavras de origem indígena ou africada: xingar,
xará.
1) Uso do H:
A letra “h” é usada: Grafia com “x” Grafia com “ch”
- No início de palavras: homem, humildade, Cheque – nota equivalente
humano, habilidade, hábil, hesitar, humor, história, hostil, Xeque – lance do xadrez
ao dinheiro
heterogêneo, hipócrita, hegemonia. Taxar – pôr taxa Tachar – rotular
- Em dígrafos “ch”, “lh”, “nh”: flecha, ninho, alho,
Chá - bebida Xá – soberano persa
fachada, chalé, alheio.
- Palavras compostas: super-homem, mini-hotel, sobre- Inexorável Chuchu
humano, hiper-humano. Êxito Chofer
- Ao fim de algumas interjeições: Ah! Uh! Oh! Exausto Chacina
Êxodo Chalé
2) Uso do S/Z Xícara Cheio
Usamos o “s” nos seguintes casos: Xenófobo Chamego
- Depois de ditongos: coisa, maisena. Xereta Chope
- Sufixos “ês”, “esa”, “isa” indicando profissão, origem
Xerocópia Chute
ou título: portuguesa, francês, poetisa.
- Sufixos “oso”, “osa” indicando qualidade, quantidade
4) Uso do G/J
ou circunstância: gostosos, feioso, bondoso, oleoso.
Usamos o “J” nos seguintes casos:
- Na conjugação dos verbos querer e pôr: puseram,
- Palavras oriundas do indígena ou da língua africana:
quiseram.
pajé, jerimum, canjica, jabá, jiló.
- Entre vogais, emitindo o som de [ze]: casa, asa,
- Conjugação do verbo viajar no modo subjuntivo: que
casamento.
eu viaje, eles viajem.
1
LÍNGUA PORTUGUESA
2
LÍNGUA PORTUGUESA
08. (UM-SP) Aponte, entre as alternativas abaixo, a d) Em formação composta de palavras que indicam
única em que todas as lacunas devem ser preenchidas espécies vegetais e zoológicas:
com a letra u: erva-mate, couve-flor, formiga-grande
a) c*rtume, escap*lir, man*sear, sin*site
b) esg*elar, reg*rgitar, p*leiro, ent*pir e) Em palavras compostas cujo primeiro termo é
c) emb*lia, c*rtir, emb*tir, c*ringa numeral:
d) *rticária, s*taque, m*cama, z*ar Primeiro-ministro, quarta-feira, segundo-tenente
e) m*chila, tab*leta, m*ela, b*eiro
g) Nomes de lugares compostos por mais de
(Exercícios retirados de http://www. um radical, se iniciados por “grã”, “grão”, verbos ou
gramaticaparaconcursos.com/2013/06/respostas-de- estejam ligados por artigo.
ortografia-exercicios.html) Passa-Vinte, Grã- Bretanha, Trás-os-Montes
conta-gotas – significado 3
3
LÍNGUA PORTUGUESA
4
LÍNGUA PORTUGUESA
5
LÍNGUA PORTUGUESA
6
LÍNGUA PORTUGUESA
Alguns autores admitem a flexão dos dois elementos. Alguns substantivos são uniformes quanto ao gênero,
É uma situação polêmica: mangas-espada (preferível) ou ou seja, possuem uma única forma para masculino e femi-
mangas-espadas. Quando dizemos (e isso vai ocorrer ou- nino. Podem ser:
tras vezes) que é uma situação polêmica, discutível, convém Sobrecomuns: admitem apenas um artigo, podendo
ter em mente que a questão do concurso deve ser resolvida designar os dois sexos: a pessoa, o cônjuge, a testemunha.
por eliminação, ou seja, analisando bem as outras opções. Comuns de dois gêneros: admitem os dois artigos, po-
dendo então ser masculinos ou femininos: o estudante − a
- Apenas o último elemento varia. Quando os ele- estudante, o cientista − a cientista, o patriota − a patriota.
mentos são adjetivos: hispano-americano − hispano-ame- Epicenos: admitem apenas um artigo, designando os
ricanos. A exceção é surdo-mudo, em que os dois adjeti- animais: O jacaré, a cobra, o polvo
vos se flexionam: surdos-mudos. Nos compostos em que O feminino de elefante é elefanta , e não elefoa. Aliá
aparecem os adjetivos grão, grã e bel: grão-duque − grão- é correto, mas designa apenas uma espécie de elefanta.
-duques; grã-cruz − grã-cruzes; bel-prazer − bel-prazeres. Mamão, para alguns gramáticos, deve ser considerado epi-
Quando o composto é formado por verbo ou qualquer ceno. É algo discutível.
elemento invariável (advérbio, interjeição, prefixo etc.) mais Há substantivos de gênero duvidoso, que as pessoas
substantivo ou adjetivo: arranha-céu − arranha-céus; sem- costumam trocar: champanha aguardente, dó, alface, eclip-
pre-viva − sempre-vivas; super-homem − super-homens. se, calformicida, cataplasma, grama (peso), grafite, milhar
Quando os elementos são repetidos ou onomatopaicos (re- libido, plasma, soprano, musse, suéter, preá, telefonema.
presentam sons): reco-reco − reco-recos; pingue-pongue − Existem substantivos que admitem os dois gêneros:
pingue-pongues; bem-te-vi − bem-te-vis. diabetes (ou diabete), laringe, usucapião etc.
Como se vê pelo segundo exemplo, pode haver algu-
ma alteração nos elementos, ou seja, não serem iguais. Se Flexão de Grau:
forem verbos repetidos, admite-se também pôr os dois no
plural: pisca-pisca − pisca-piscas ou piscas-piscas Grau do substantivo
- Normal ou Positivo: sem nenhuma alteração.
- Nenhum elemento varia. Quando há verbo mais
- Aumentativo: Sintético: chapelão. Analítico: cha-
palavra invariável: O cola-tudo – os cola-tudo. Quando há
péu grande, chapéu enorme etc.
dois verbos de sentido oposto: o perde-ganha – os perde-
- Diminutivo: Sintético: chapeuzinho. Analítico: cha-
-ganha. Nas frases substantivas (frases que se transformam
péu pequeno, chapéu reduzido etc. Um grau é sintético
em substantivos): O maria-vai-com-as-outras − os maria-
quando formado por sufixo; analítico, por meio de outras
-vai-com-as-outras.
palavras.
- São invariáveis arco-íris, louva-a-deus, sem-vergonha,
sem-teto e sem-terra: Os sem-terra apreciavam os arco-íris. Grau do adjetivo
Admitem mais de um plural: pai-nosso − pais-nossos ou - Normal ou Positivo: João é forte.
pai-nossos; padre-nosso − padres-nossos ou padre-nossos; - Comparativo: de superioridade: João é mais forte
terra-nova − terras-novas ou terra-novas; salvo-conduto que André. (ou do que); de inferioridade: João é menos
− salvos-condutos ou salvo-condutos; xeque-mate − xe- forte que André. (ou do que); de igualdade: João é tão
ques-mates ou xeques-mate; fruta-pão − frutas-pães ou forte quanto André. (ou como)
frutas-pão; guarda-marinha − guardas-marinhas ou guar- - Superlativo: Absoluto: sintético: João é fortíssimo;
das-marinha. Casos especiais: palavras que não se encaixam analítico: João é muito forte (bastante forte, forte demais
nas regras: o bem-me-quer − os bem-me-queres; o joão- etc.); Relativo: de superioridade: João é o mais forte da
-ninguém − os joões-ninguém; o lugar-tenente − os lugar- turma; de inferioridade: João é o menos forte da turma.
-tenentes; o mapa-múndi − os mapas-múndi. O grau superlativo absoluto corresponde a um aumen-
to do adjetivo. Pode ser expresso por um sufixo (íssimo,
Flexão de Gênero: Os substantivos e as palavras que érrimo ou imo) ou uma palavra de apoio, como muito,
o acompanham na frase admitem a flexão de gênero: mas- bastante, demasiadamente, enorme etc. As palavras maior,
culino e feminino: Meu amigo diretor recebeu o primeiro menor, melhor, e pior constituem sempre graus de superio-
salário. Minha amiga diretora recebeu a primeira prestação. ridade: O carro é menor que o ônibus; menor (mais peque-
A flexão de feminino pode ocorrer de duas maneiras. no): comparativo de superioridade. Ele é o pior do grupo;
pior (mais mau): superlativo relativo de superioridade.
- Com a troca de o ou e por a: lobo – loba; mestre – Alguns superlativos absolutos sintéticos que podem
mestra. apresentar dúvidas. acre – acérrimo, amargo – amaríssimo;
amigo – amicíssimo; antigo – antiqüíssimo; cruel – crudelís-
- Por meio de diferentes sufixos nominais de gênero, simo; doce – dulcíssimo; fácil – facílimo; feroz – ferocíssimo;
muitas vezes com alterações do radical: ateu – atéia; bispo fiel – fidelíssimo; geral – generalíssimo; humilde – humíli-
– episcopisa; conde – condessa; duque – duquesa; frade – mo; magro – macérrimo; negro – nigérrimo; pobre – pau-
freira; ilhéu – ilhoa; judeu – judia; marajá – marani; monje pérrimo; sagrado – sacratíssimo; sério – seriíssimo; soberbo
– monja; pigmeu – pigmeia; píton – pitonisa; sandeu – san- – superbíssimo.
dia; sultão – sultana.
7
LÍNGUA PORTUGUESA
As flexões verbais são expressas por meio dos tempos, 01. Assinale o par de vocábulos que formam o plural
modo e pessoa da seguinte forma: O tempo indica o mo- como órfão e mata-burro, respectivamente:
mento em que ocorre o processo verbal; O modo indica a a) cristão / guarda-roupa
atitude do falante (dúvida, certeza, impossibilidade, pedi- b) questão / abaixo-assinado
do, imposição, etc.); A pessoa marca na forma do verbo a c) alemão / beija-flor
pessoa gramatical do sujeito. d) tabelião / sexta-feira
Tempos: Há tempos do presente, do passado (pretéri- e) cidadão / salário-família
to) e do futuro.
02. Relativamente à concordância dos adjetivos compostos
Modo indicativos de cor, uma, dentre as seguintes, está errada. Qual?
a) saia amarelo-ouro
Modo Indicativo: Indica uma certeza relativa do falan- b) papel amarelo-ouro
te com referência ao que o verbo exprime; pode ocorrer no c) caixa vermelho-sangue
tempo presente, passado ou futuro: d) caixa vermelha-sangue
e) caixas vermelho-sangue
Presente: Processo simultâneo ao ato da fala, fato cor-
riqueiro, habitual: Compro livros nesta livraria. Usa-se tam- 03. Indique a frase correta:
bém o presente com o valor de passado, passado histórico a) Mariazinha e Rita são duas leva-e-trazes.
(nos contos, narrativas) b) Os filhos de Clotilde são dois espalhas-brasas.
c) O ladrão forçou a porta com dois pés-de-cabra.
Tempos do Pretérito (passado): Exprimem processos d) Godofredo almoçou duas couves-flor.
anteriores ao ato da fala. São eles: e) Alfredo e Radagásio são dois gentilhomens.
- Pretérito Imperfeito: Exprime um processo habitual,
04. Flexão incorreta:
ou com duração no tempo: Naquela época eu cantava
a) os cidadãos
como um pássaro.
b) os açúcares
- Pretérito Perfeito: Exprime uma ação acabada: Paulo
c) os cônsules
quebrou meu violão de estimação.
d) os tóraxes
- Pretérito Mais-que-Perfeito: Exprime um processo
e) os fósseis
anterior a um processo acabado: Embora tivera deixado a
escola, ele nunca deixou de estudar. 05. Mesma pronúncia de “bolos”:
a) tijolos
Tempos do Futuro: Indicam processos que irão acon- b) caroços
tecer: c) olhos
- Futuro do Presente: Exprime um processo que ainda d) fornos
não aconteceu: Farei essa viagem no fim do ano. e) rostos
- Futuro do Pretérito: Exprime um processo posterior
a um processo que já passou: Eu faria essa viagem se não 06. Não varia no plural:
tivesse comprado o carro. a) tique-taque
b) guarda-comida
Modo Subjuntivo: Expressa incerteza, possibilidade ou c) beija-flor
dúvida em relação ao processo verbal e não está ligado d) para-lama
com a noção de tempo. Há três tempos: presente, imperfei- e) cola-tudo
to e futuro. Quero que voltes para mim; Não pise na gra-
ma; É possível que ele seja honesto; Espero que ele fique 07. Está mal flexionado o adjetivo na alternativa:
contente; Duvido que ele seja o culpado; Procuro alguém a) Tecidos verde-olivas
que seja meu companheiro para sempre; Ainda que ele b) Festas cívico-religiosas
queira, não lhe será concedida a vaga; Se eu fosse bailari- c) Guardas noturnos luso-brasileiros
na, estaria na Rússia; Quando eu tiver dinheiro, irei para as d) Ternos azul-marinho
praias do nordeste. e) Vários porta-estandartes
Modo Imperativo: Exprime atitude de ordem, pedido 08. Na sentença “Há frases que contêm mais beleza do
ou solicitação: Vai e não voltes mais. que verdade”, temos grau:
a) comparativo de superioridade
Pessoa: A norma da língua portuguesa estabelece três b) superlativo absoluto sintético
pessoas: Singular: eu , tu , ele, ela. Plural: nós, vós, eles, elas. c) comparativo de igualdade
No português brasileiro é comum o uso do pronome de d) superlativo relativo
tratamento você (s) em lugar do tu e vós. e) superlativo por meio de acréscimo de sufixo
8
LÍNGUA PORTUGUESA
10. Aponte a alternativa em que haja erro quanto à flexão do nome composto:
a) vice-presidentes, amores-perfeitos, os bota-fora
b) tico-ticos, salários-família, obras-primas
c) reco-recos, sextas-feiras, sempre-vivas
d) pseudo-esferas, chefes-de-seção, pães-de-ló
e) pisca-piscas, cartões-postais, mulas-sem-cabeças
Respostas: 1-A / 2-D / 3-C / 4-D / 5-E / 6-E / 7-A / 8-A / 9-B / 10-E /
PRONOMES
Pronomes são as palavras que acompanham o nome (substantivo) ou o substituem. Devido a essa dupla função são
classificados em:
* Pronomes substantivos: são os que substituem o nome, exercendo a função de sujeito ou complemento verbal
Ex.: Joana adora fazer compras. Ela está sempre nas principais lojas da cidade.
* Pronomes adjetivos: são os que acompanham o nome, exercendo a função-satélite de adjunto adnominal.
Ex.: Minha casa está à venda.
PRONOMES PESSOAIS
Pronomes pessoais são os que substituem as pessoas do discurso (emissor, receptor, assunto) e se dividem em:
a) Pronomes pessoais do caso reto: substituem o nome e exercem a função de sujeito do verbo (ou seja, determina
a flexão verbal).
Ex.: Nós compramos muitos presentes.
b) Pronomes pessoais do caso oblíquo: substituem o substantivo e complementam o verbo (não determinando,
assim, a flexão verbal).
Ex.: Você encontrou Maria nas últimas semanas? Faz tempo que não a vejo.
Atente à tabela abaixo para entender melhor sobre os pronomes pessoais.
Pessoas verbais Pronomes pessoais do caso reto Pronomes pessoais do caso oblíquo
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, Ela O, a, lhe, se, si, consigo
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, Elas Os,as, lhes, se, si consigo
9
LÍNGUA PORTUGUESA
Além do mais, vale lembrar que somente os pronomes oblíquos podem ser precedidos por preposição:
Ex.: Esta festa é para ti.
Entretanto, o pronome reto pode surgir precedido por preposição quando cumprir sua função de sujeito do
verbo. Compare as duas frases:
a) Ele pediu um favor para mim.
b) Ele pediu para eu comprar o presente.
Na frase (a) o pronome é oblíquo pois completa um verbo, já na (b) está antecedendo um verbo, na função de sujeito.
Pronomes que substituem objetos diretos (completam verbo sem preposição): o, a, os, as, lo, la, los, las, no, na,
nos, nas.
Ex.: Comprei o carro. Comprei-o.
Encontraram a menina desaparecida. Encontraram-na.
Pronomes que substituem objetos indiretos (completam verbo com preposição): lhe, te.
Ex.: Enviei ao professor os documentos. Enviei-lhe os documentos.
PRONOMES POSSESSIVOS
São os que indicam a ideia de posse, informando a pessoa verbal do possuidor.
PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Como indica a denominação, os pronomes demonstrativos têm por função indicar ou localizar algum termo do discurso.
Podem ser variáreis (esse, essa, este, aquela) ou invariáveis (isso, aquilo). Vejamos o quadro.
Próximo do emissor (eu, nós) Esta (s)– Esta caneta está ruim.
10
LÍNGUA PORTUGUESA
PRONOMES DE TRATAMENTO
São pronomes usados em situações formais, indicando conduta respeitosa.
PRONOMES INDEFINIDOS
Como o próprio nome indica, os pronomes indefinidos sãos aqueles que substituem ou acompanham um substantivo a
partir de uma ideia de indefinição, imprecisão. São empregados na 3º pessoa do discurso. Podem ser variáveis ou invariáveis.
Pronomes Relativos
Os pronomes relativos são os que substituem um substantivo já mencionado anteriormente em um enunciado.
Ex.: João é o homem que foi contratado pela empresa. (o pronome “que” faz referência a João)
Suzana foi a comissária a qual tranquilizou minha mãe. (“a qual” substituiu Suzana).
Importante!
Não é correto inserir artigo após o pronome relativo “cujo”.
11
LÍNGUA PORTUGUESA
PRONOMES INTERROGATIVOS
São empregados em frases interrogativas cujas respostas se referem a substantivos.
Ex.: O que você comprou? Comprei meias. (o pronome interrogativo “o que” terá como resposta um substantivo
- “meias”)
Exercícios
1. (IBGE) Assinale a opção que apresenta o emprego correto do pronome, de acordo com a norma culta:
a) O diretor mandou eu entrar na sala.
b) Preciso falar consigo o mais rápido possível.
c) Cumprimentei-lhe assim que cheguei.
d) Ele só sabe elogiar a si mesmo.
e) Após a prova, os candidatos conversaram entre eles.
2. (IBGE) Assinale a opção em que houve erro no emprego do pronome pessoal em relação ao uso culto da língua:
a) Ele entregou um texto para mim corrigir.
b) Para mim, a leitura está fácil.
c) Isto é para eu fazer agora.
d) Não saia sem mim.
e) Entre mim e ele há uma grande diferença.
5. (EPCAR) Imagine o pronome entre parênteses no lugar devido e aponte onde não deve haver próclise:
a) Não entristeças. (te)
b) Deus favoreça. (o)
c) Espero que faças justiça. (se)
d) Meus amigos, apresentem em posição de sentido. (se)
e) Ninguém faça de rogado. (se)
6. (TTN) Assinale a frase em que a colocação do pronome pessoal oblíquo não obedece às normas do português padrão:
a) Essas vitórias pouco importam; alcançaram-nas os que tinham mais dinheiro.
b) Entregaram-me a encomenda ontem, resta agora a vocês oferecerem-na ao chefe.
c) Ele me evitava constantemente!... Ter-lhe-iam falado a meu respeito?
d) Estamos nos sentido desolados: temos prevenido-o várias vezes e ele não nos escuta.
e) O Presidente cumprimentou o Vice dizendo: - Fostes incumbido de difícil missão, mas cumpriste-la com denodo e
eficiência.
7. (FTU) A frase em que a colocação do pronome átono está em desacordo com as normas vigentes no português padrão
do Brasil é:
a) A ferrovia integrar-se-á nos demais sistemas viários.
b) A ferrovia deveria-se integrar nos demais sistemas viários.
c) A ferrovia não tem se integrado nos demais sistemas viários.
d) A ferrovia estaria integrando-se nos demais sistemas viários.
e) A ferrovia não consegue integrar-se nos demais sistemas viários.
12
LÍNGUA PORTUGUESA
8. (FFCL-SANTO ANDRÉ) Assinale a alternativa correta: 16. (UC-MG) Encontramos pronome indefinido em:
a) A solução agradou-lhe. a) “Muitas horas depois, ela ainda permanecia
b) Eles diriam-se injuriados. esperando o resultado.”
c) Ninguém conhece-me bem. b) “Foram amargos aqueles minutos, desde que
d) Darei-te o que quiseres. resolveu abandoná-las.”
e) Quem contou-te isso? c) “A nós, provavelmente, enganariam, pois nossa
participação foi ativa.”
9. (CESGRANRIO) Indique a estrutura verbal que d) “Havia necessidade de que tais idéias ficassem
contraria a norma culta: sepultadas.”
a) Ter-me-ão elogiado. e) “Sabíamos o que você deveria dizer-lhe ao chegar
b) Tinha-se lembrado. da festa.”
c) Teria-me lembrado.
d) Temo-nos esquecido. 17. (SANTA CASA) Do lugar onde ......., ....... um belo
e) Tenho-me alegrado. panorama, em que o céu ...... com a terra.
a) se encontravam - divisava-se - se ligava
10. (MACK) A colocação do pronome oblíquo está b) se encontravam - divisava-se - ligava-se
incorreta em: c) se encontravam - se divisava - ligava-se
a) Para não aborrecê-lo, tive de sair. d) encontravam-se - divisava-se - se ligava
b) Quando sentiu-se em dificuldade, pediu ajuda. e) encontravam-se - se divisava - se ligava
c) Não me submeterei aos seus caprichos.
d) Ele me olhou algum tempo comovido. 18. (UF-RJ) Numa das frases, está usado indevidamente
e) Não a vi quando entrou. um pronome de tratamento. Assinale-a:
a) Os Reitores das Universidades recebem o título de
11. (MACK) Assinale a alternativa que apresenta erro de
Vossa Magnificência.
colocação pronominal:
b) Sua Excelência, o Senhor Ministro, não compareceu
a) Você não devia calar-se.
b) Não lhe darei qualquer informação. à reunião.
c) O filho não o atendeu. c) Senhor Deputado, peço a Vossa Excelência que
d) Se apresentar-lhe os pêsames, faço-o discretamente. conclua a sua oração.
e) Ninguém quer aconselhá-lo. d) Sua Eminência, o Papa Paulo VI, assistiu à solenidade.
e) Procurei o chefe da repartição, mas Sua Senhoria se
12. (EPCAR) O que é pronome interrogativo na frase: recusou a ouvir as minhas explicações.
a) Os que chegaram atrasados farão a prova?
b) Se não precisas de nós, que vieste fazer aqui? 19. (UF-MA) Identifique a oração em que a palavra
c) Quem pode afiançar que seja ele o criminoso? certo é pronome indefinido:
d) Teria sido o livro que me prometeste? a) Certo perdeste o juízo.
e) Conseguirias tudo que desejas? b) Certo rapaz te procurou.
c) Escolheste o rapaz certo.
13. (TFT-MA) “O individualismo não a alcança.” A colocação d) Marque o conceito certo.
do pronome átono está em desacordo com a norma culta da e) Não deixe o certo pelo errado.
língua, na seguinte alteração da passagem acima:
a) O individualismo não a consegue alcançar. 20. (CARLOS CHAGAS) “Se é para ....... dizer o que
b) O individualismo não está alcançando-a. penso, creio que a escolha se dará entre ....... .”
c) O individualismo não a teria alcançado. a) mim, eu e tu
d) O individualismo não tem alcançado-a. b) mim, mim e ti
e) O individualismo não pode alcançá-la. c) eu, mim e ti
d) eu, mim e tu
14. (SANTA CASA) Há um erro de colocação pronominal em: e) eu, eu e ti
a) “Sempre a quis como namorada.” 21. (MACK) A única frase em que há erro no emprego
b) “Os soldados não lhe obedeceram as ordens.” do pronome oblíquo é:
c) “Todos me disseram o mesmo.”
a) Eu o conheço muito bem.
d) “Recusei a idéia que apresentaram-me.”
b) Devemos preveni-lo do perigo.
e) “Quando a cumprimentaram, ela desmaiou.”
c) Faltava-lhe experiência.
15. (BB) Pronome empregado incorretamente: d) A mãe amava-a muito.
a) Nada existe entre eu e você. e) Farei tudo para livrar-lhe desta situação.
b) Deixaram-me fazer o serviço.
c) Fez tudo para eu viajar. 22. (BRÁS CUBAS) “Alguém, antes que Pedro o fizesse,
d) Hoje, Maria irá sem mim. teve vontade de falar o que foi dito.” Os pronomes
e) Meus conselhos fizeram-no refletir. assinalados dispõem-se nesta ordem:
13
LÍNGUA PORTUGUESA
a) de tratamento, pessoal, oblíquo, demonstrativo 29. (FATEC) Assinale o mau emprego do pronome:
b) indefinido, relativo, pessoal, relativo a) Aquela não era casa para mim, comprá-la com que
c) demonstrativo, relativo, pessoal, indefinido dinheiro?
d) indefinido, relativo, demonstrativo, relativo b) Entre eu e ela nada ficou acertado.
e) indefinido, demonstrativo, demonstrativo, relativo c) Estava falando com nós dois.
d) Aquela viagem, quem não a faria?
23. (PUC) Na frase: “Chegou Pedro, Maria e o seu filho e) Viram-no mas não o chamaram.
dela”, o pronome possessivo está reforçado para:
a) ênfase 30. (SANTA CASA) Os técnicos .......... bem para os jogos,
b) elegância e estilo mas, .......... contra nova derrota, pediam que treinasse ainda
c) figura de harmonia mais.
d) clareza a) o haviam preparado - se tentando precaver
e) n.d.a b) haviam preparado-o - se tentando precaver
c) haviam preparado-o - tentando precaver-se
24. (FUVEST) Assinale a alternativa onde o pronome d) haviam-no preparado - se tentando precaver
pessoal está empregado corretamente: e) haviam-no preparado - tentando precaver-se
a) Este é um problema para mim resolver.
b) Entre eu e tu não há mais nada. 31. (SANTA CASA) Nas frases abaixo:
c) A questão deve ser resolvida por eu e você. 1. Os miúdos corriam barulhentos, me pedindo
d) Para mim, viajar de avião é um suplício. dinheiro.
e) Quanto voltei a si, não sabia onde me encontrava. 2. Dizia ele cousas engraçadas, coçando-se todo.
3. Ficarei no lugar onde encontro-me. Tem sombra.
25. (FMU) Suponha que você deseje dirigir-se a 4. Quando me vi sozinho, tremi de medo.
personalidades eminentes, cujos títulos são: papa, juiz, A ênclise e a próclise foram corretamente empregadas:
cardeal, reitor e coronel. Assinale a alternativa que a) nas orações I e II
contém a abreviatura certa da “expressão de tratamento” b) nas orações III e IV
correspondente ao título enumerado: c) nas orações I e III
a) Papa ............... V. Sa d) nas orações II e IV
b) Juiz ................. V. Ema e) em todas as orações
c) Cardeal ........... V.M.
d) Reitor ............... V. Maga 32. (SANTA CASA) Devemos .......... da tempestade.
e) Coronel ............ V. A. a) resguardar-mo-nos
b) resguardar-nos
26. (FGV) Assinale o item em que há erro quanto ao c) resguardarmos-nos
emprego dos pronomes se, si ou consigo: d) resguardarmo-nos
a) Feriu-se quando brincava com o revólver e o virou e) resguardar-mos
para si.
b) Ele só cuidava de si. 33. (FAAP) Assinale a alternativa em que a colocação
c) Quando V. Sa vier, traga consigo a informação pedida. pronominal não corresponde ao que preceitua a gramática:
d) Ele se arroga o direito de vetar tais artigos. a) Há muitas estrelas que nos atraem a atenção.
e) Espere um momento, pois tenho de falar consigo. b) Jamais dar-te-ia tanta explicação, se não fosses
pessoa de tanto merecimento.
27. (PUC) Assinale a alternativa que preencha c) A este compete, em se tratando do corpo da Pátria,
corretamente as lacunas da frase ao lado: “............................ revigorá-lo com o sangue do trabalho.
da terra natal, ....................... para as antigas sensações d) Não o realizaria, entretanto, se a árvore não se
adormecidas.” mantivesse verde sob a neve.
a) Nos lembrando - despertamos-nos e) n.d.a
b) Nos lembrando - despertamo-nos
c) Lembrando-nos - despertamos-nos 34. (CARLOS CHAGAS) Os projetos que .......... estão em
d) Nos lembrando - nos despertamos ordem; ........... ainda hoje, conforme .......... .
e) Lembrando-nos - despertamo-nos a) enviaram-me, devolvê-los-ei, lhes prometi
b) enviaram-me, os devolverei, lhes prometi
28. (FATEC) Indique em que alternativa os pronomes c) enviaram-me, os devolverei, prometi-lhes
estão bem empregados: d) me enviaram, os devolverei, prometi-lhes
a) Deixou ele sair. e) me enviaram, devolvê-los-ei, lhes prometi
b) Mandou-lhe ficar de guarda.
c) Permitiu-lhe, a ele, fazer a ronda.
d) Procuram-o por toda a parte.
e) n.d.a
14
LÍNGUA PORTUGUESA
35. (CARLOS CHAGAS) Quando .......... as provas, .......... 41. (FECAP) Assinale a frase gramaticalmente correta:
imediatamente. a) Quando recebe-o em minha casa, fico feliz.
a) lhes entregarem, corrijam-as b) Tudo fez-se como você mandou.
b) lhes entregarem, corrijam c) Por este processo, teriam-se obtido melhores
c) lhes entregarem, corrijam-nas resultados.
d) entregarem-lhes, corrijam-as d) Em se tratando disto, podemos contar com ele.
e) entregarem-lhes, as corrijam e) Me levantei assim que você saiu.
36. (CARLOS CHAGAS) Quem .......... estragado que .......... 42. (UNB) Assinale a melhor resposta - O resultado das
de .......... . combinações: “põe + o”, “reténs + as”, “deduz + a”, é:
a) o trouxe - encarregue-se - consertá-lo a) pões-lo, reténs-la, dedu-la
b) o trouxe - se encarregue - consertá-lo b) põe-no, retém-nas, dedu-la
c) trouxe-o - se encarregue - o consertar c) pões-lo, retém-las, deduz-la
d) trouxe-o - se encarregue - consertá-lo d) põe-no, retém-las, dedu-la
e) trouxe-o - encarregue-se - o consertar e) põe-lo, retém-las, dedu-la
37. (BRÁS CUBAS) Apontar a sentença que deverá ser 43. (UM-SP) Ninguém atinge a perfeição alicerçado
corrigida: na busca de valores materiais, nem mesmo os que
a) Poderá resolver-se o caso imediatamente. consideram tal atitude um privilégio dado pela existência.
b) Sabes o que se deverá dizer ao professor? Os pronomes destacados no período acima classificam-se,
c) Poder-se-á resolver o caso imediatamente. respectivamente, como:
d) Sabe o que deverá dizer-se ao professor? a) indefinido - demonstrativo - relativo - demonstrativo
e) Poderá-se resolver o caso imediatamente. b) indefinido - pessoal oblíquo - relativo - indefinido
c) de tratamento - demonstrativo - indefinido -
38. (FMU) Assinale a única alternativa em que haja erro demonstrativo
no emprego dos pronomes: d) de tratamento - pessoal oblíquo - indefinido -
a) Vossa Excelência e seus convidados. demonstrativo
b) Mandou-me embora mais cedo. e) demonstrativo - demonstrativo - relativo -
c) Vou estar consigo amanhã. demonstrativo
d) Vós e vossa família estais convidados para a festa.
e) Deixei-o encarregado da turma. 44. (UEPG-PR) “Toda pessoa deve responder pelos
compromissos assumidos.” A palavra destacada é:
39. (UF-SC) Observe os períodos abaixo: a) pronome adjetivo indefinido
1. Nunca soubemos quem roubava-nos nas medidas. b) pronome substantivo indefinido
2. Pouco se sabe a respeito de novas fontes energéticas. c) pronome adjetivo demonstrativo
3. Nada chegava a impressioná-lo na juventude. d) pronome substantivo demonstrativo
4. Dar-lhe-emos novas oportunidades. e) nenhuma das alternativas acima é correta
5. Eles apressaram-se a convidar-nos para a festa.
a) Estão corretas I, II, III 45. (BB) O funcionário que se inscrever, fará prova
b) Estão corretas II, III, V amanhã.
c) Estão corretas III, IV, V Colocação do pronome - no texto:
d) Estão corretas II, III, IV 1. Ocorre próclise em função do pronome relativo.
e) Estão corretas I, III, IV 2. Deveria ocorrer ênclise.
3. A mesóclise é impraticável.
40. (SÃO JUDAS) Assinale a alternativa errada quanto à 4. Tanto a ênclise como a próclise são aceitáveis.
colocação pronominal: a) correta apenas a primeira afirmativa
a) Apesar de se contrariarem não me fariam mudar de b) apenas a terceira é correta
idéia. c) somente a segunda é correta
b) Que Deus te acompanhe por toda a parte. d) são corretas a primeira e a terceira
c) Isso não me admira: eu também contrariei-me com e) a quarta é a única correta
o caso.
d) Conforme foi decidido espero que todos se 46. (BB) Pronome mal colocado:
compenetrem de seu dever. a) Lá disseram-me que entrasse logo.
e) n.d.a b) Aqui me disseram que saísse. Chamem-me.
c) Posso ir, se me convidarem.
d) Irei, se quiserem-me.
e) Estou pronto.
15
LÍNGUA PORTUGUESA
48. (EECAR) Imagine o pronome entre parênteses no devido lugar e aponte a opção em que não deve haver próclise:
a) Não desobedeças. (me)
b) Deus pague. (lhe)
c) Caro amigo, dize a verdade. (me)
d) A mão que estendemos é amiga. (te)
e) Assim que sentiu prejudicado, saiu. (se)
Gabarito
1 - D 23 - D 45 - D
2 - A 24 - D 46 - D
3 - D 25 - D 47 - E
4 - D 26 - E 48 - C
5 - D 27 - E 49 - E
6 - D 28 - C
7 - B 29 - B
8 - A 30 - E
9 - C 31 - D
10 - B 32 - B
11 - D 33 - B
12 - B 34 - E
13 - D 35 - C
14 - D 36 - B
15 - A 37 - E
16 - A 38 - C
17 - A 39 - D
18 - D 40 - C
19 - B 41 - D
20 - C 42 - D
21 - E 43 - A
22 - E 44 - A
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Quando iniciamos o estudo dos pronomes, atentamos que há os pronomes pessoais do caso reto e os pessoais do caso
oblíquo. O que diferencia um do outro é a posição frente ao verbo: enquanto os retos (eu, tu, ele, nós, vós, eles) ocupam
a posição de sujeito, os oblíquos exercem a função de complemento e podem estar dispostos antes (PRÓCLISE), no meio
(MESÓCLISE) e depois do verbo (ÊNCLISE).
A colocação pronominal se refere ao estudo da disposição dos pronomes em relação ao verbo.
Primeiramente vejamos os pronomes envolvidos nessas regras de colocação:
16
LÍNGUA PORTUGUESA
Pronome pessoa Pronome pessoal do caso reto Pronome oblíquo átono correspondente
1° pessoa do singular eu me
2° pessoa do singular tu te
3° pessoa do singular ele o, a, lhe
1° pessoa do plural nós nos
2° pessoa do plural vós vos
3° pessoa do plural eles as, as, lhes
d) Em frases exclamativas:
Deus o guarde!
Macacos me mordam!
2) MESÓCLISE: quando o pronome oblíquo é colocado entre o radical do verbo e as desinências. Só é usado em duas
situações:
a) Na forma verbal futuro do presente:
Falar-te-ei verdades.
Comprar-lhe-á um carro.
Procurar-me-ão sem descanso.
17
LÍNGUA PORTUGUESA
3) ÊNCLISE: Quando o pronome se encontra depois do 5. O pronome pessoal oblíquo átono está bem
verbo. É na ênclise a localização natural do complemento, colocado em um só dos períodos. Qual?
seguindo a sequência sujeito verbo complemento. a) Isto me não diz respeito! Respondeu-me ele,
Empregamos a ênclise nas seguintes situações: afetadamente .
b) Segundo deliberou-se na sessão, espero que todos
a) Períodos iniciados por verbos: (Não é correto apresentem-se na hora conveniente
iniciar frase com pronome oblíquo) c) Os conselhos que dão-nos os pais, levamo-los em
Convidaram-me para a festa. conta mais tarde.
Avistou-o de longe. d) Amanhã contar-lhe-ei por que peripécias consegui
Encontraram-na triste. não envolver-me.
4.Em que alternativa NÃO há erro na colocação do Verbo é a classe gramatical que indica ações, estados,
pronome? emoções e fenômenos climáticos.
a) Preciso vê-lo, me disse o rapaz. Ex.:
b) Este é um trabalho que absorve-se muito. a) O médico operou o doente. (ação)
c) Far-se-á tudo para que se salvem. b) Rodrigo está doente. (estado)
d) Não arrepender-se-ia de haver dito a verdade. c) Maria permanece chorosa. (estado, emoção)
e) Em pondo-se o sol os pássaros debandam. d) Chove muito em Brasília. (fenômeno climático)
18
LÍNGUA PORTUGUESA
1) As flexões do verbo
O verbo é uma classe complexa, pois apresenta uma série de variações e flexões. Pode variar em número, pessoa,
tempo, modo e voz:
a) Flexão de número:
Singular (um sujeito)
Plural (mais de um sujeito)
b) Flexão de pessoa:
1º pessoa (emissor: eu, nós)
2º pessoa (receptor: tu, vós)
3º pessoa (assunto: ele, ela, eles, elas)
c) Flexão de modo:
Indicativo
Subjuntivo
Imperativo
d) Flexão de tempo
Pretéritos
Presente
Futuro
e) Flexão de voz
Voz ativa
Voz passiva
Voz reflexiva
2) A estrutura do verbo
Radical CANT – VEND – PART
Vogal Temática: A – E – I
Desinências – R – MOS – S
Chamamos de tema a união do radical com a vogal temática, que possui a função de apresentar a conjugação do verbo.
- Verbos de 1º conjugação: (vogal temática a) – cantar, amar, sonhar, falar
- Verbos de 2º conjugação: (vogal temática e) – comer, vender, escreve
- Verbos de 3º conjugação: (vogal temática i) – partir, sorrir, exibir
Observação: verbos como por, compor são considerados de 2º conjugação devido a sua forma arcaica poer.
A conjugação verbal influencia a flexão dos verbos. Vejamos:
3) Modos verbais
Indicam o modo com o qual o falante se posiciona frente a ação verbal. Por isso os modos são:
a) Indicativo: indica certeza, ação certa
b) Subjuntivo: hipótese, dúvida
c) Imperativo: ordem, pedido.
19
LÍNGUA PORTUGUESA
4) Tempos verbais
Os tempos verbais se referem ao tempo em que a ação foi realizada. Surgem nos modos indicativo e subjuntivo.
O modo indicativo, por indicar ação certa, é o que mais apresenta flexões de tempo:
- Presente do Indicativo: o verbo é conjugado no tempo presente em que a ação é feita
- Pretérito Perfeito do Indicativo: ação já foi finalizada em tempo passado.
- Pretérito mais que perfeito do Indicativo – ação foi feita em tempo remoto
- Pretérito Imperfeito do Indicativo – ação tida como hábito no tempo passado
- Futuro do Presente: ação que será realizada no futuro
- Futuro do Pretérito: ação condicionada por outra ação verbal.
- Presente do Indicativo
20
LÍNGUA PORTUGUESA
5) O Modo Subjuntivo
É o que apresenta a ação verbal enquanto hipótese, dúvida. Apresenta três tempos, o presente do subjuntivo, o
imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo.
a) Presente do subjuntivo
Indica hipótese e sua construção se dá através da substituição da vogal temática pela vogal de subjuntivo. Em verbos
de primeira conjugação se substitui a vogal temática “a” por “e”, nos verbos de segunda e terceira conjugação se substitui
as vogais “e” e “i” por “a”:
b) Imperfeito do Subjuntivo
21
LÍNGUA PORTUGUESA
c) Futuro do Subjuntivo
6) Modo Imperativo
O modo imperativo está ligado à ideia de ordem e pedido. Aqui temos o Modo Imperativo Afirmativo e o Imperativo
Negativo. A construção do Imperativo Afirmativo se dá reaproveitando desinências do modo indicativo e subjuntivo. Além
do mais, vale lembrar que este modo não é flexionado na 1º pessoa do singular.
2º pessoa do singular (tu) – presente do indicativo sem o “s”
3º pessoa do singular (você) – presente do subjuntivo
1º pessoa do plural (nós) – presente do subjuntivo
2º pessoal do plural (vós) – presente do indicativo sem o “s”
3º pessoa do plural (vocês) – presente do subjuntivo
Observação: por ser ordem direta não usamos o ele, eles, e sim o você (s), que possui a mesma flexão.
Imperativo Afirmativo
Imperativo Negativo
No Imperativo Negativo usamos a mesma flexão do presente do subjuntivo
22
LÍNGUA PORTUGUESA
Presente do Indicativo
23
LÍNGUA PORTUGUESA
Ser
Presente do Indicativo Pretérito Perfeito do Indicativo Pretérito mais que perfeito do Indicativo
Sou Fui Fora
És Foste Foras
É Foi Fora
Somos Fomos Fôramos
Sois Fostes Fôreis
São Foram Foram
Estar
24
LÍNGUA PORTUGUESA
e) Anômalos: verbos que, quando conjugados, apresentam radicais distintos do radical primitivo.
Ex.: Eu sou, Eu era, Eu Fui…
Ir
25
LÍNGUA PORTUGUESA
f) Defectivos: verbos que não apresentam conjugação k) Verbos de Ligação: verbos com pouca força
completa, em algumas pessoas verbais. Ex,: Polir, banir semântica que ligam o sujeito a seu predicativo (qualidade).
Ex.: ser, estar, permanecer, ficar, continuar, andar…
Polir – Presente do Banir – Presente do
Indicativo Indicativo l) Verbos unipessoais: verbos que apresentam uma
única pessoa verbal. Ex.: Latir, miar, coaxar.
x x
x x m) Verbos impessoais: verbos que não possuem
x x sujeito. São eles os que indicam fenômenos climáticos
Polimos banimos (chover, nevar), haver (no sentido de existir), fazer (indicando
Polis banis tempo decorrido). Assim sendo permanecem na 3º pessoa
x c do singular.
g) Abundantes: verbos que apresentam duas formas n) Verbos pronominais: verbos que exigem pronome.
equivalentes no particípio, uma regular e um Ex.: queixar-se, arrepender-se.
irregular. Ex.: Aceitar = aceito, aceitado
Locução Verbal
Verbos abundantes da 1.ª conjugação
Verbo aceitar: aceitado (regular) e aceito (irregular) Chamamos de locução o conjunto de palavras que
Verbo entregar: entregado (regular) e entregue exercem a função de uma única. No caso de locução verbal,
(irregular) é quando dois verbos cumprem a função que poderia ser
Verbo ganhar: ganhado (regular) e ganho (irregular) exercida por um só verbo.
Verbo matar: matado (regular) e morto (irregular)
Verbo pagar: pagado (regular) e pago (irregular) Ex.:
Verbo pegar: pegado (regular) e pego (irregular)
Verbo salvar: salvado (regular) e salvo (irregular) Eu comprarei esta casa. - Aqui verificamos um único
Verbos abundantes da 2.ª conjugação verbo, cujo radical nos dá a informação temporal e as
Verbo acender: acendido (regular) e aceso (irregular) desinências informações gramaticais (pessoa, tempo e
Verbo eleger: elegido (regular) e eleito (irregular) número).
Verbo envolver: envolvido (regular) e envolto (irregular)
Verbo morrer: morrido (regular) e morto (irregular) Eu vou comprar esta casa. - Já neste caso temos a
Verbo prender: prendido (regular) e preso (irregular) presença de dois verbos: um auxiliar: “vou”, o qual contém
Verbo revolver: revolvido (regular) e revolto (irregular) a informação de tempo e pessoa, e “comprar” que possui a
Verbo suspender: suspendido (regular) e suspenso informação semântica.
(irregular)
Verbos abundantes da 3.ª conjugação Em uma locução verbal sempre verificamos dois verbos:
Verbo expelir: expelido (regular) e expulso (irregular) um auxiliar + um principal. Veja outros exemplos:
Verbo : exprimir exprimido (regular) e expresso a) Ainda estou estudando para a avaliação.
(irregular) Estou – verbo auxiliar
Verbo extinguir: extinguido (regular) e extinto Estudando – verbo principal
(irregular)
Verbo frigir: frigido (regular) e frito (irregular) b) João veio chorando.
Verbo imprimir: imprimido (regular) e impresso Veio – verbo auxiliar
(irregular) Chorando – verbo principal
Verbo incluir: incluído (regular) e incluso (irregular)
Verbo submergir: submergido (regular) e submerso c) Pode acontecer mais disso.
(irregular) Pode – Verbo auxiliar
Acontecer – verbo principal
h) Verbos Intransitivos: verbos que não necessitam
de complemento. Ex.: viajar, dormir, morrer, nascer. Exercícios
i) Verbos Transitivo Diretos: Verbos que necessitam 01. (MED – SANTOS) Assinale a frase inteiramente
de complemento, mas sem a necessidade de preposição. correta:
Ex.: Comprar, vender, falar a) Se você requisesse e seu advogado intervisse, talvez
reavesse todos os seus bens.
j) Verbos Transitivos Indiretos: Verbos que se ligam b) Se você requeresse e seu advogado interviesse,
ao complemento com o auxílio de preposição. Ex.: precisar talvez reouvesse todos os seus bens.
(de), necessitar (de) c) Se você requizesse e seu advogado intervesse, talvez
reaveria todos os seus bens.
26
LÍNGUA PORTUGUESA
d) Se você requisesse e seu advogado intervesse, talvez 08. Se ele _________, não ___________ de rogado,
reaveria todos os seus bens. ___________ que não os receberei.
e) Se você requeresse e seu advogado intervisse, talvez a) vir – te faças – diz-lhe
reouvesse todos os seus bens. b) vier – te faz – diz-lhe
c) vir – te faça – dizer-lhe
02. (MED – SANTOS) A forma que pode estar no futuro d) vier – te faças – dize-lhe
do subjuntivo é: e) ier – te faças – diga-lhe
a) Quando virdes a realidade dos fatos…
b) Se irmos diretamente ao assunto… 09. (CESGRANRIO) No trecho: “…fui obrigado a dá-lo
c) Quando vos verdes em idênticas situações… de presente a um bandido, seu amigo, quando, provou que
d) Se susterdes a palavra… completara na véspera o seu vigésimo nono assassinato”, o
e) Se vós imposerdes a vossa idéia… mais-que-perfeito foi empregado com seu valor normal; na
linguagem literária ele pode também aparecer no valor de:
03. (UFF) Assinale a frase em que há um erro de a) imperativo afirmativo
conjugação verbal: b) pretérito imperfeito do subjuntivo
a) Requeiro-lhe um atestado de bons antecedentes. c) pretérito perfeito do indicativo
b) Ele interviu na questão. d) infinito pretérito
c) Eles foram pegos de surpresa. e) futuro do pretérito composto
d) O vendeiro proveu o seu armazém do necessário.
e) Os meninos desavieram-se por causa do jogo. 10. (CESGRANRIO) “Acesas” é particípio adjetivo de
“acender”, verbo chamado abundante, porque possui dupla
04. (UFF) Assinale a série em que estão devidamente forma de particípio (acendido e aceso). Em abundância,
classificadas as formas verbais destacadas: que é geralmente do particípio, em alguns verbos ocorre
“Ao chegar da fazenda, espero que já tenha terminado em outras formas. Assim, por exemplo, é o caso de:
a festa”. a) coser
a) futuro do subjuntivo, pretérito perfeito do subjuntivo b) olhar
b) infinitivo, presente do subjuntivo
c) haver
c) futuro do subjuntivo, presente do subjuntivo
d) vir
d) infinitivo, pretérito imperfeito do subjuntivo
e) dançar
e) infinitivo, pretérito perfeito do subjuntivo
(Exercícios retirados de http://www.coladaweb.com/
05. (ENG – MACK) Só muito mais tarde vim, a saber,
exercicios-resolvidos/exercicios-resolvidos-de-portugues/
que a chuva os ___________ na estrada e que não _________
ninguém que ______________. verbos)
a) detera; houve; os ajudasse;
b) detivera; houve; os ajudasse;
c) detera; teve; ajudasse eles; Gabarito
d) detivera; houve; ajudasse eles;
e) detivera; teve; os ajudasse. 1–b
2–a
06. (FEB) “Ele ___________ o carro a tempo, mas não 3–b
____________ a irritação e ___________ – se com o outro 4–e
motorista”. 5–b
a) freou – conteve – desaveio 6–a
b) freiou – conteu – desaveu 7–d
c) freou – conteve – desaviu 8–d
d) freiou – conteve – desaveio 9–b
e) N. D. A. 10 - c
27
LÍNGUA PORTUGUESA
O substantivo determina o gênero e número de seus 3) quando um substantivo for determinado por
satélites. mais de um satélite:
Ex.:
a) caso esteja no plural o substantivo determinado,
Minha mãe, minhas duas irmãs, estas três lindas primas, seus satélites permanecem no singular, sem o auxílio de
todas elas vêm à festa. artigo,
Ex.:
Mãe – Substantivo, impõe seu gênero e número a seu Estou estudando as línguas francesa e italiana.
satélite
Minha – pronome, satélite, concorda com o substantivo b) se o substantivo está no singular deve-se usar o
artigo, como auxílio à determinação.
Irmãs – Substantivo feminino flexionado no plural Estou estudando a língua francesa e a italiana.
Minhas – pronome, satélite, concorda em gênero e número
Duas – numeral, satélite, concorda em gênero 4) É preciso, é bom, é necessário, é proibido
Primas – Substantivo, núcleo, feminino e plural a) Ficam no masculino e singular caso o substantivo
Estas – pronome, concorda com o substantivo não esteja determinado por artigo.
Três - satélite Ex.:
Lindas – adjetivo, satélite, concorda em gênero e número É proibido entrada de pedestres.
com o substantivo É necessário água no mundo.
É bom água com gás.
2) Quando um determinante (satélite) se refere a mais
de um substantivo b) Caso o substantivo vier precedido por determinante
a) se estiver depois dos substantivos, o satélite concorda haverá concordância em gênero e número:
com o substantivo mais próximo (e aqui será classificado como É proibida a entrada de pedestres.
adjunto adnominal); ou concordará com todos os substantivos É necessária a água no mundo.
(na função de predicativo): É boa a água com gás.
28
LÍNGUA PORTUGUESA
29
LÍNGUA PORTUGUESA
30
LÍNGUA PORTUGUESA
10) A maioria, a maior parte, grande parte: O mais 18) Sujeito expresso e infinitivo pessoal
comum é usar o verbo no singular, em concordância lógica. a) Permanece no infinitivo se o sujeito estiver
Mas também pode ser usado no plural. representado por pronome oblíquo átono:
Ex.: Ex.:
A maioria das adolescentes usa muito o celular. Apreciei-o cantar.
A maioria das adolescentes usam muito o celular. b) quando o infinitivo pessoal integrar uma locução
verbal: não é flexionado, no caso de ser o verbo principal
11) Quando os núcleos do sujeito estão compostos da locução
por pessoas gramaticais diferentes: o verbo permanece Ex: Acabei de comprar o livro de geografia.
no plural, obedecendo à seguinte ordem de prioridade: (1º,
2º e 3º pessoa).
31
LÍNGUA PORTUGUESA
32
LÍNGUA PORTUGUESA
09. Apenas uma alternativa preenche corretamente C) Se tiver de ser decidido, no último instante, as
os espaços das sentenças abaixo. Assinale-a: questões ainda não discutidas, não me responsabilizo mais
“Aquelas mulheres olhavam _______ porque queriam pelo projeto.
aproveitar a liquidação e comprar ________ vestidos D) Houvesse sido mais explícitos com relação às
_________”. normas gerais, os coordenadores de programa teriam
A. alertas, bastantes, bege. evitado alguns abusos.
B. alerta, bastante, beges. E) Será que não foi suficiente, neste tempo todo, as
C. alerta, bastantes, bege. provas de fidelidade que lhes demos?
D. alertas, bastante, beges.
E. alerta, bastantes, beges. 15. Assinale a alternativa ERRADA:
A) Nas festividades havia muitos convidados.
10. A frase em que a concordância nominal está B) Precisa-se de doadores de sangue.
correta é: C) Assistiam-se a bons espetáculos naquele teatro.
A) A vasta plantação e a casa grande pintadas há pouco D) Buscam-se novas saídas para a crise econômica.
tempo eram os sinais da prosperidade familiar. E) Foram eles quem pediu por esta reviravolta.
B) Eles, com ar entristecidos, dirigiram-se ao salão
onde se encontravam as vítimas do acidente.
16. Assinale a alternativa em que a nova redação
C) Não lhe pareciam útil aquelas plantas esquisitas que
das frases abaixo está de acordo com a norma culta.
ele cultivava em sua chácara.
D) Quando foi encontrado, ele apresentava feridos a “Não existe estudo científico” / “Há diversas
perna e o braço direitos, mas estava totalmente lúcido. explicações”.
E) Esses livro e caderno não são meus, mas poderá ser A) Não devem existir estudos científicos / podem haver
necessário para a pesquisa que estou fazendo. diversas explicações.
B) Não devem haver estudos científicos / pode existir
11. Assinale a alternativa errada: diversas explicações.
A) O escritor e o mestre alemães admiravam o belo C) Não há estudos científicos / existe diversas
quadro. explicações.
B) Estudaram o idioma francês e o espanhol. D) Não existem estudos científicos / pode haver
C) Os deputados e o ministro alagoanos votaram diversas explicações.
contra o projeto. E) Não pode existir estudos científicos / deve haver
D) Os argumentos e as opiniões expostos não diversas explicações.
agradaram à plateia.
E) Considero fácil as questões e testes propostos na 17. A frase em que a concordância verbal NÃO
prova. respeita a norma culta é:
A) Não bastam, para entendermos o século XXI,
12. Assinale a alternativa correta quanto à referências às conquistas tecnológicas e científicas.
concordância verbal. B) Foram herdados do passado muitos traços dos
A) Queria voltar a estudar, mas faltavam-lhe recursos. comportamentos atuais, inclusive o que permitiu, neste
B) Foi então que começaram a chegar um pessoal século, a perseguição aos judeus.
estranho. C) Quanto mais separados os saberes, mais se
C) Devem haver outras razões para ele ter desistido. fortalecerão, com toda certeza, os que estão no poder.
D) Não haviam exceções neste caso. D) Colocam-se em questão, neste século, aspectos
E) Basta-lhe dois ou três dias para resolver isso. importantes acerca da sobrevivência do planeta.
E) Decorre do bem-estar (de que ninguém mais quer
13. A alternativa que contém forma verbal
abrir mão) vários dos problemas que hoje atingem a
INADEQUADA à norma culta é: A) Já faz dois meses que
não nos vemos. humanidade.
B) Tratam-se de assuntos triviais, pensem em coisas
sérias! 18. A opção em que há erro de concordância verbal,
C) Choveu três dias sem parar um minuto. segundo as normas da língua culta, é:
D) Nessa cidade, faz frio e calor no mesmo dia. A) Descobriram-se muitos inventos novos na última
E) Pelo que nos consta, deveriam existir duas páginas década.
ilegíveis. B) É preciso que se realizem esforços para se atingir um
plano de desenvolvimento integrado.
14. A única frase em que NÃO há erro de C) Foi necessário que se estendesse as providências até
concordância verbal é: alcançar os menos favorecidos.
A) É da maioria dos estudantes que depende, pelo que D) Nada se poderia realizar sem que se tomassem
nos falaram os professores, as alterações do calendário novas medidas.
escolar. E) Desenvolveu-se o novo projeto de que todos
B) Acredito que deve haver, ao que tudo indica, estavam necessitados.
acomodações para mais de um terço dos convidados.
33
LÍNGUA PORTUGUESA
19. Indique a alternativa em que há erro: O estudo de regência visa, sobretudo, esclarecer quais
A) Os fatos falam por si sós. verbos e em quais sentidos exigem a presença ou não
B) A casa estava meio desleixada. de preposição. Além do mais, há verbos que mudam de
C) Os livros estão custando cada vez mais caros. significado frente a presença da preposição.
D) Seus apartes eram sempre os mais pertinentes
possíveis. Aspirar:
E) Era a mim mesma que ele se referia, disse a moça.
VTD: sorver, respirar:
(Exercícios retirados de http://solinguagem.blogspot.
com.br/2016/05/lista-de-exercicios-concordancia-verbal. Ex.: A garota aspirou o ar do campo.
html)
Visar:
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL.
VTD: olhar ou dar visto
1. REGÊNCIA VERBAL
VTI: ver
É a relação de dependência que se estabelece entre Ex.: As crianças assistiram ao jogo no domingo.
o verbo e seus complementos. Quando o assunto é
complemento verbal, vale lembrar o conceito de verbo
Querer:
transitivo, justamente aquele “transita”, que necessita
de complemento para efeito de sentido. Dentre essa VTD: desejar
categoria, há duas formas de o verbo transitivo se ligar a
seu integrante: Ex.: Querem muito o jogo novo.
a) Forma direta: quando o verbo não necessita de
preposição, e por isso o denominamos de verbo transitivo
direto:
VTI: ter afeição, carinho
Ex.:
O relator denunciou o empresário. Ex.: Ela quer muito a seu pai.
Compramos presentes para todos.
Esquecer/lembrar:
b) Forma indireta: há verbos mais fracos
gramaticalmente e, por isso, necessitam um “elemento VTD: quando não pronominais
extra” para completar seu sentido. Esse elemento de
ligação chamamos de preposição, termo responsável pela Ex.: Meu filho esqueceu a chave de casa.
união do verbo a seu complemento de forma indireta. Por
isso chamamos tal categoria de verbo transitivo indireto:
Ex.: VTI: quando pronominais
Preciso de mais tempo.
Aspiro ao cargo de coordenador. Ex.: Meu filho se esqueceu da chave de casa.
34
LÍNGUA PORTUGUESA
Ex.:Perdoou a dívida.
Obedecer: Enviar:
VTI: sempre exige a preposição a
Ex.: O aluno obedeceu ao professor. Verbo com dupla transitividade: envia-se algo a
alguém
O aluno obedeceu às regras.
Ex.: O estagiário enviou o documento aos
Responder: interessados
VTD: acarretar
Solicitam a preposição “a”, “de” e “para”:
Ex.:A situação implica reflexões.
Ex.: Vou a Roma
35
LÍNGUA PORTUGUESA
2. (IBGE) Assinale a opção que contém os pronomes 9. (UNIFIC) Os encargos ....... nos obrigaram são aqueles
relativos, regidos ou não de preposição, que completam ....... o diretor se referia.
corretamente as frase abaixo: Os navios negreiros, ....... a) de que - que
donos eram traficantes, foram revistados. Ninguém b) a cujos - cujos
conhecia o traficante ....... o fazendeiro negociava. c) por que – que
a) nos quais / que d) cujos - cujo
b) cujos / com quem e) a que - a que
c) que / cujo
d) de cujos / com quem e) cujos / de quem 10. (FTM-ARACAJU) As mulheres da noite ....... o poeta
faz alusão ajudam a colorir Aracaju, ....... coração bate de
3. (IBGE) Assinale a opção em que as duas frases se noite, no silêncio.
completam corretamente com o pronome lhe: A alternativa que completa corretamente as lacunas da
a) Não ..... amo mais. / O filho não ..... obedecia. frase acima é:
b) Espero-..... há anos. / Eu já ..... conheço bem. a) as quais / de cujo
c) Nós ..... queremos muito bem. / Nunca ..... perdoarei, b) a que / no qual
João. c) de que / o qual
d) Ainda não ..... encontrei trabalhando, rapaz. / d) às quais / cujo
Desejou-..... felicidades. e) que / em cujo
e) Sempre ..... vejo no mesmo lugar. / Chamou-..... de
tolo. 11. (SANTA CASA) É tal a simplicidade ....... se reveste
a redação desse documento, que ele não comporta as
4. (IBGE) Assinale a opção em que todos os adjetivos formalidades ....... demais.
devem ser seguidos pela mesma preposição: a) que – os
a) ávido / bom / inconsequente b) de que - aos
b) indigno / odioso / perito c) com que - para os
c) leal / limpo / oneroso d) em que - nos
d) orgulhoso / rico / sedento e) a que - dos
e) oposto / pálido / sábio
12. (PUC-RS) Diferentes são os tratamentos ....... se
5. (UF-FLUMINENSE) Assinale a frase em que está pode submeter o texto literário. Sempre se deve aspirar,
usado indevidamente um dos pronomes seguintes: o, lhe. no entanto, ....... objetividade científica, fugindo .......
a) Não lhe agrada semelhante providência? subjetivismo.
b) A resposta do professor não o satisfez. a) à que, a, do
c) Ajudá-lo-ei a preparar as aulas. b) que, a, ao
d) O poeta assistiu-a nas horas amargas, com extrema c) à que, à, ao
dedicação. d) a que, a, do
e) Vou visitar-lhe na próxima semana. e) a que, à, ao
36
LÍNGUA PORTUGUESA
17. (CESESP-PE) “... trepado numa rede afavelada cujas varandas serviam-lhe de divisórias do casebre”. Em qual das
alternativas o uso de cujo não está conforme a norma culta?
a) Tenho um amigo cujos filhos vivem na Europa.
b) Rico é o livro cujas páginas há lições de vida.
c) Naquela sociedade, havia um mito cuja memória não se apagava.
d) Eis o poeta cujo valor exaltamos.
e) Afirmam-se muitos fatos de cuja veracidade se deve desconfiar.
Gabarito
1 - D 2 -D 3 – C 4 – D 5 - E 6 - E 7 - A 8 - E 9 - E 10 – D 11 - B 12 - E 13 – E 14 - B 15 - D 16 - D 17 - B
REGÊNCIA NOMINAL
É a relação de subordinação entre um nome (termo regente) e seus complementos. Há termos nominais que apresentam
uma relação indireta com seus complementos, através da preposição.
O estudo da regência nominal abrange as diversas formas de um nome ligar-se a seus complementos. Vejamos a tabela
explicativa.
37
LÍNGUA PORTUGUESA
Perto de Longe de
Exercícios
3) Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser seguidos pela mesma preposição:
a) ávido, bom, inconsequente
b) indigno, odioso, perito
c) leal, limpo, oneroso
d) orgulhoso, rico, sedento
e) oposto, pálido, sábio
6) Diante das orações que seguem, analise-as e indique aquela que não se adéqua ao uso da preposição “a”:
a) Estou ávido * boas notícias.
b) Esta canção é agradável * alma.
c) O respeito é essencial * boa convivência.
d) Mostraram-se indiferentes * tudo.
e) O filme é proibido * menores de dezoito anos.
38
LÍNGUA PORTUGUESA
39
LÍNGUA PORTUGUESA
i) Em frente a palavra terra quando esta significar 1) Crase com pronomes demonstrativos “aquele”,
“terra firme”: “aquela”, “aquilo”:
Após o naufrágio, voltou a terra.
Vejamos as frases abaixou:
No sentido de planeta Terra ocorre crase – O foguete Aquele rapaz foi escolhido para o cargo.
retornou à Terra. Fiz referência à carta de João.
- Quando usar crase: No primeiro caso aquele rapaz não vem depois de
nenhum verbo ou nome que exija a preposição “a”. No
REGRA GERAL: Haverá crase quando o termo segundo exemplo há crase porque quem faz referência “a”
antecedente exigir a preposição “a” e o consequente algo. E agora:
o artigo “a”
Fiz referência àquele rapaz.
Comprei a blusa – (o termo antecedente “comprei” não Ainda que seja palavra masculina, o pronome
exige a preposição “a”. Aqui só temos o artigo feminino “a”) demonstrativo aquele inicia-se com a vogal “a” e para
Vou a Pernambuco – (o termo consequente não exige evitar repetição de sons como em “Fiz referência a aquele
o artigo feminino, só há aqui a preposição “a” regida pelo rapaz” utiliza-se acento de crase.
verbo “ir”)
Agora: Mais alguns exemplos:
Fui à cidade. Enviamos a carta àqueles alunos.
Falei àquela professora.
Neste caso o verbo “ir” exigiu a preposição “a” e o
substantivo “cidade” atraiu o artigo feminino “a”. Aqui 2) Antes das expressões qual e quais:
temos um exemplo clássico de crase. Haverá crase caso o correspondente masculino for “ao
qual”, “aos quais”:
Sempre ocorre crase em : Esta é a blusa à qual me referi.
Aqueles são os sapatos aos quais me referi.
a) Indicação de horas:
Cheguei no evento às cinco horas da tarde.
3) Frente a topônimos (nomes de lugares)
Atente às frases abaixo:
b) Expressões “à moda de”, “à maneira de”:
Fiz uma janta à (moda de) Fogaça. Vou à Bahia.
Quis um cenário à (maneira de) Salvador Dali. Vou a São Paulo.
40
LÍNGUA PORTUGUESA
02. Qual das alternativas completa corretamente os 07. (FUND. LUSÍADA) Assinale a alternativa que
espaços vazios? completa corretamente o período: ____ noite estava clara
I. E entre o sono e o medo, ouviu como se fosse de e os namorados foram _____ praia ver a chegada dos
verdade o apito de um trem igual ____ que ouvira em pescadores que voltavam ____ terra.
Limoeiro. (J. Lins do Rego) a) Á / à / à
II. Habituara-se ______ boa vida, tendo de um tudo, b) A / à / à
regalada. (J. Amado) c) A / a / à
III. Depois do meu telegrama (lembram: o telegrama d) À / a / à
em que recusei duzentos mil-réis ___ (pirata), a “Gazeta” e) A / à / a
entrou a difamar-me. (G. Ramos)
IV. Os adultos são gente crescida que vive sempre 08. (ITA) Analisando as sentenças:
dizendo pra gente fazer isso e não fazer _____. I. A vista disso, devemos tomar sérias medidas.
(Millôr Fernandes) II. Não fale tal coisa as outras.
a) àquele, aquela, aquele, aquilo III. Dia a dia a empresa foi crescendo.
b) àquele, àquela, aquele, aquilo IV. Não ligo aquilo que me disse.
c) àquele, àquela, aquele, àquilo Podemos deduzir que:
d) àquele, àquela, àquele, aquilo a) Apenas a sentença III não tem crase.
e) aquele, àquela, aquele, aquilo b) As sentenças III e IV não têm crase.
c) Todas as sentenças têm crase.
03. (CESCEM) Sentou-se ___ máquina e pôs-se ___ d) Nenhuma sentença tem crase.
reescrever uma ___ uma as páginas do relatório. e) Apenas a sentença IV não tem crase.
a) a / a / à
b) a / à / à 09. (ABC – MED.) A alternativa em que o acento
c) à / a / a indicativo de crase não procede é:
d) à / à / à a) Tais informações são iguais às que recebi ontem.
e) à / à / a b) Perdi uma caneta semelhante à sua.
c) A construção da casa obedece às especificações da
Prefeitura.
d) O remédio devia ser ingerido gota à gota, e não de
uma só vez.
e) Não assistiu a essa operação, mas à de seu irmão.
41
LÍNGUA PORTUGUESA
10. (FUVEST) Indique a forma que não será utilizada 1. USO DA VÍRGULA
para completar a frase seguinte:
“Maria pediu ____ psicóloga que ____ ajudasse ____ A vírgula é um sinal que indica pausa entre orações ou
resolver o problema que ___ muito ____ afligia.” palavras elencadas. Apresenta a seguintes funções:
a) preposição (a)
b) pronome pessoal feminino (a) a) separar termos de mesma função sintática dentro
c) contração da preposição a e do artigo feminino a (à) de uma oração:
d) verbo haver indicando tempo (há) Assim que cheguei, comi, bebi o vinho, dormi um
e) artigo feminino (a) pouco.
42
LÍNGUA PORTUGUESA
43
LÍNGUA PORTUGUESA
EXERCÍCIOS Gabarito:
44
LÍNGUA PORTUGUESA
45
LÍNGUA PORTUGUESA
RESPOSTA: “E”.
46
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Constituição da República Federativa do Brasil – promulgada em 05 de outubro de 1988, Artigos 205 ao 214, 227 ao
229. .............................................................................................................................................................................................................................. 01
Lei Federal nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e alterações
posteriores. ............................................................................................................................................................................................................... 03
Lei Federal nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente e alterações posteriores. .......... 20
Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. ................................ 73
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 - Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre
a Língua Brasileira de Sinais-Libras e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. ............................................. 74
Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011- Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional espe-
cializado e dá outras providências. ................................................................................................................................................................. 78
Resolução CNE/CP nº 01/04 - Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico - Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. ........................................................................................................ 80
Resolução CNE/CEB nº 04/09 - Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Edu-
cação Básica, modalidade Educação Especial. ............................................................................................................................................ 81
Resolução CNE/CEB nº 05/09 - Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. ..................................... 83
Resolução CNE/CEB nº 03/10 – Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos. ............................ 85
Resolução CNE/CEB nº 04/10– Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica. ............................. 87
Resolução CNE/CEB nº 07/10 – Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos....... 97
LEGISLAÇÃO FEDERAL
1
LEGISLAÇÃO FEDERAL
2
LEGISLAÇÃO FEDERAL
3
LEGISLAÇÃO FEDERAL
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direi-
práticas sociais. to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. cidadãos, associação comunitária, organização sindical, en-
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem tidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
ao longo da vida. Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência
A educação escolar deve permitir a formação do cida- federativa, deverá:
dão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se inserir no I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
mercado de trabalho e ter noções adequadas de cidada- idade escolar, bem como os jovens e adultos que não con-
nia e solidariedade no convívio social. Entre os princípios, cluíram a educação básica;
trabalha-se com o direito de acesso à educação de quali- II - fazer-lhes a chamada pública;
dade (gratuita nos estabelecimentos públicos), a liberdade III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
nas atividades de ensino em geral (tanto para o educador
à escola.
quanto para o educado), a valorização do professor, o in-
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi-
centivo à educação informal e o respeito às diversidades de
co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri-
ideias, gêneros, raça e cor.
gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui-
TÍTULO III da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as
Do Direito à Educação e do Dever de Educar prioridades constitucionais e legais.
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário,
será efetivado mediante a garantia de: na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal,
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspon-
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da dente.
seguinte forma: § 4º Comprovada a negligência da autoridade compe-
a) pré-escola; tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório,
b) ensino fundamental; poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.
c) ensino médio; § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de
(cinco) anos de idade; acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemen-
III - atendimento educacional especializado gratuito te da escolarização anterior.
aos educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, trans- Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a
versal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencial- matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
mente na rede regular de ensino; (quatro) anos de idade.
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamen-
tal e médio para todos os que não os concluíram na idade Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas
própria; as seguintes condições:
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da I - cumprimento das normas gerais da educação nacio-
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de nal e do respectivo sistema de ensino;
cada um;
II - autorização de funcionamento e avaliação de quali-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
dade pelo Poder Público;
condições do educando;
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o pre-
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
visto no art. 213 da Constituição Federal.
adultos, com características e modalidades adequadas às
suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que
forem trabalhadores as condições de acesso e permanência Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em eta-
na escola; pas a formação escolar, nos seguintes termos:
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da - A educação básica é obrigatória e gratuita. Envolve a
educação básica, por meio de programas suplementares pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio. A edu-
de material didático-escolar, transporte, alimentação e cação infantil deve ser garantida próxima à residência. Com
assistência à saúde; efeito, existe a garantia do direito à creche gratuita. No mais,
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defini- pessoas fora da idade escolar que queiram completar seus
dos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de estudos têm direito ao ensino fundamental e médio.
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de - A educação superior envolve os níveis mais elevados
ensino-aprendizagem. do ensino, da pesquisa e da criação artística, devendo ser
X - vaga na escola pública de educação infantil ou de acessível conforme a capacidade de cada um.
ensino fundamental mais próxima de sua residência a - Neste contexto, devem ser assegurados programas
toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) suplementares de material didático-escolar, transporte, ali-
anos de idade. mentação e assistência à saúde.
4
LEGISLAÇÃO FEDERAL
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
ensino básico e assegura a possibilidade de se buscar judi- instituições de educação superior, com a cooperação dos siste-
cialmente a garantia deste direito em caso de negativa pelo mas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino;
poder público. Será possível fazê-lo por meio de mandado IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
de segurança ou ação civil pública. Além da judicialização avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educa-
para fazer valer o direito na esfera cível, cabe em caso de ção superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.
negligência o acionamento na esfera penal, buscando-se a § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
punição por crime de responsabilidade. cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis são e atividade permanente, criado por lei.
efetuar a matrícula da criança. § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do en- IX, a União terá acesso a todos os dados e informações
sino particular, desde que sejam respeitadas as normas da necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu-
educação nacional, autorizado o funcionamento pelo po- cacionais.
der público e que tenha possibilidade de se manter inde- § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão
pendentemente de auxílio estatal, embora exista previsão ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
de tais auxílios em circunstâncias determinadas descritas mantenham instituições de educação superior.
no artigo 213, CF.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
TÍTULO IV I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
Da Organização da Educação Nacional ções oficiais dos seus sistemas de ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
respectivos sistemas de ensino. com a população a ser atendida e os recursos financeiros
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e III - elaborar e executar políticas e planos educacio-
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva nais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais
em relação às demais instâncias educacionais. de educação, integrando e coordenando as suas ações e as
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi- dos seus Municípios;
zação nos termos desta Lei. IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e ava-
liar, respectivamente, os cursos das instituições de educação
Art. 9º A União incumbir-se-á de: superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola- V - baixar normas complementares para o seu sistema
boração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; de ensino;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
ções oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
III - prestar assistência técnica e financeira aos Es- respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
tados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen- VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento estadual.
prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
redistributiva e supletiva; competências referentes aos Estados e aos Municípios.
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis-
trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni- tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os
mos, de modo a assegurar formação básica comum; às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o II - exercer ação redistributiva em relação às suas es-
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimen- colas;
tos para identificação, cadastramento e atendimento, na III - baixar normas complementares para o seu siste-
educação básica e na educação superior, de alunos com al- ma de ensino;
tas habilidades ou superdotação; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele-
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a cimentos do seu sistema de ensino;
educação; V - oferecer a educação infantil em creches e pré-
VI - assegurar processo nacional de avaliação do ren- -escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per-
dimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, mitida a atuação em outros níveis de ensino somente quan-
em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a do estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua
definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; área de competência e com recursos acima dos percentuais
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação mínimos vinculados pela Constituição Federal à manuten-
e pós-graduação; ção e desenvolvimento do ensino.
5
LEGISLAÇÃO FEDERAL
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
municipal. escolares públicas de educação básica que os integram pro-
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, gressivos graus de autonomia pedagógica e administra-
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor tiva e de gestão financeira, observadas as normas gerais
com ele um sistema único de educação básica. de direito financeiro público.
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
I - as instituições de ensino mantidas pela União;
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
II - as instituições de educação superior criadas e manti-
cumbência de: das pela iniciativa privada;
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; III - os órgãos federais de educação.
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
financeiros; Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Dis-
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- trito Federal compreendem:
-aula estabelecidas; I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
cada docente; II - as instituições de educação superior mantidas pelo
V - prover meios para a recuperação dos alunos de Poder Público municipal;
menor rendimento; III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, das e mantidas pela iniciativa privada;
criando processos de integração da sociedade com a escola; IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fede-
ral, respectivamente.
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre- educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe- integram seu sistema de ensino.
cução da proposta pedagógica da escola;
VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen-
competente da Comarca e ao respectivo representante do dem:
Ministério Público a relação dos alunos que apresentem I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
percentual permitido em lei. II - as instituições de educação infantil criadas e manti-
IX - promover medidas de conscientização, de prevenção das pela iniciativa privada;
e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a III - os órgãos municipais de educação.
intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes ní-
veis classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
de paz nas escolas.
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora-
das, mantidas e administradas pelo Poder Público;
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis-
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
estabelecimento de ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua-
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; drarão nas seguintes categorias:
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas fí-
alunos de menor rendimento; sicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, características dos incisos abaixo;
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao II - comunitárias, assim entendidas as que são insti-
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem
VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
cola com as famílias e a comunidade. representantes da comunidade;
III - confessionais, assim entendidas as que são insti-
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
gestão democrática do ensino público na educação bá- pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e
sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior;
seguintes princípios: IV - filantrópicas, na forma da lei.
I - participação dos profissionais da educação na elabo-
ração do projeto pedagógico da escola; A LDB estabelece um regime de colaboração entre as
II - participação das comunidades escolar e local em entidades de ensino nas esferas federativas diversas, no en-
conselhos escolares ou equivalentes. tanto, coloca competência à União de encabeçar e coorde-
nar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, descrito
6
LEGISLAÇÃO FEDERAL
no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de controle, I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
autorizando funcionamento ou suspendendo-o, realizando horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
avaliação constante de desempenho, entre outros deveres. distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo tra-
Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 esta- balho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
belece o dever dos Estados de garantir a educação no en- quando houver; ;
sino fundamental e priorizar a educação no ensino médio, II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos municípios primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
de garantir a educação infantil e priorizar a educação fun- a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro-
damental. É possível, ainda, integrar educação municipal e veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
estadual em um sistema único. b) por transferência, para candidatos procedentes de
Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es- outras escolas;
tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em in- c) independentemente de escolarização anterior, me-
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
tegração com seus docentes. Este processo de interação
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
entre instituição e docente, bem como destes com a co-
inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamen-
munidade local, é conhecido como gestão democrática.
tação do respectivo sistema de ensino;
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão re-
TÍTULO V gular por série, o regimento escolar pode admitir formas de
Dos Níveis e das Modalidades de Educação progressão parcial, desde que preservada a sequência do
e Ensino currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
ensino;
CAPÍTULO I IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu-
Da Composição dos Níveis Escolares nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adianta-
mento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras,
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: artes, ou outros componentes curriculares;
I - educação básica, formada pela educação infantil, V - a verificação do rendimento escolar observará os se-
ensino fundamental e ensino médio; guintes critérios:
II - educação superior. a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
CAPÍTULO II quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os
DA EDUCAÇÃO BÁSICA de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
Seção I com atraso escolar;
Das Disposições Gerais c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
diante verificação do aprendizado;
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen- d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
volver o educando, assegurar-lhe a formação comum in- e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições
de ensino em seus regimentos;
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé- VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do res-
ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância re-
pectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
gular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
aprovação;
forma diversa de organização, sempre que o interesse do
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir histó-
processo de aprendizagem assim o recomendar. ricos escolares, declarações de conclusão de série e di-
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive plomas ou certificados de conclusão de cursos, com as
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos especificações cabíveis.
situados no País e no exterior, tendo como base as normas § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci-
curriculares gerais. so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu- no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a cri- os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
tério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
número de horas letivas previsto nesta Lei. de 2 de março de 2017.
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
médio, será organizada de acordo com as seguintes re- adequado às condições do educando, conforme o inciso
gras comuns: VI do art. 4º.
7
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de-
alunos e o professor, a carga horária e as condições ma- penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação
teriais do estabelecimento. e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino,
à vista das condições disponíveis e das características regio- Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
nais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório
disposto neste artigo. o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional caracterizam a formação da população brasileira, a partir
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifica- da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
da, exigida pelas características regionais e locais da socie- indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e
dade, da cultura, da economia e dos educandos. o negro e o índio na formação da sociedade nacional, res-
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran- gatando as suas contribuições nas áreas social, econômica
ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e e política, pertinentes à história do Brasil.
da matemática, o conhecimento do mundo físico e na- § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-bra-
tural e da realidade social e política, especialmente da sileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no
República Federativa do Brasil, observado, na educação in- âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
fantil, o disposto no art. 31, no ensino fundamental, o dis- educação artística e de literatura e história brasileiras.
posto no art. 32, e no ensino médio, o disposto no art. 36.
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres- Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
rio da educação básica.
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
gica da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
comum e à ordem democrática;
cação infantil e do ensino fundamental, sendo sua prática
II - consideração das condições de escolaridade dos
facultativa ao aluno:
alunos em cada estabelecimento;
I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
seis horas; III - orientação para o trabalho;
II - maior de trinta anos de idade; IV - promoção do desporto educacional e apoio às prá-
III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em ticas desportivas não-formais.
situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou- Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
tubro de 1969; rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações ne-
V - (VETADO); cessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
VI - que tenha prole. de cada região, especialmente:
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indí- II - organização escolar própria, incluindo adequação do
gena, africana e europeia. calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do climáticas;
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
as linguagens que constituirão o componente curricular de indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do
que trata o § 2o deste artigo. órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que consi-
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério derará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educa-
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo ção, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a mani-
os temas transversais de que trata o caput. festação da comunidade escolar.
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
tituirá componente curricular complementar integrado à A educação básica tem por papel a formação da base
proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obriga- do educado.
tória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. Os critérios para mudança de série podem ser promo-
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e ção (aprovação em etapa anterior), transferência (candida-
à prevenção de todas as formas de violência contra a tos de outras escolas) e avaliação (análise da experiência e
criança e o adolescente serão incluídos, como temas trans- desenvolvimento do candidato). O ensino poderá ser ace-
versais, nos currículos escolares de que trata o caput deste lerado caso necessário. Nas situações de alunos que não
artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho acompanhem seu ritmo, deverá ser garantida recuperação.
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%,
a produção e distribuição de material didático adequado. no mínimo, para aprovação.
8
LEGISLAÇÃO FEDERAL
O currículo da educação básica segue uma base na- II - a compreensão do ambiente natural e social, do sis-
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e se fundamenta a sociedade;
da realidade social e política. A educação física deve ser III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao aluno em tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
certas situações, como de trabalho, serviço militar, idade e a formação de atitudes e valores;
superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, deve consi- IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
derar as matrizes indígena, africana e europeia como temas de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que
transversais. Ainda em tal condição, cabe o aprendizado de se assenta a vida social.
Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
de todas as formas de violência contra a criança e o ado- ensino fundamental em ciclos.
lescente. É obrigatório o estudo da história e cultura afro- § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re-
-brasileira e indígena. Ainda, a educação deve considerar gular por série podem adotar no ensino fundamental o re-
as peculiaridades da zona rural quando nela for ministrada. gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor-
Seção II mas do respectivo sistema de ensino.
Da Educação Infantil § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa- a utilização de suas línguas maternas e processos próprios
ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento inte- de aprendizagem.
gral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en-
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a sino a distância utilizado como complementação da apren-
ação da família e da comunidade. dizagem ou em situações emergenciais.
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri-
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei nº 8.069, de
até três anos de idade;
13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
do Adolescente, observada a produção e distribuição de
co) anos de idade.
material didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
com as seguintes regras comuns:
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa,
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; é parte integrante da formação básica do cidadão e cons-
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho- titui disciplina dos horários normais das escolas públicas
ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversida-
trabalho educacional; de cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) proselitismo.
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-
jornada integral; mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
IV - controle de frequência pela instituição de educação e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta dos professores.
por cento) do total de horas; § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons-
V - expedição de documentação que permita atestar os tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a de-
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. finição dos conteúdos do ensino religioso.
A educação infantil é ministrada em creches até os 3 Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental inclui-
anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de idade. rá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala
de aula, sendo progressivamente ampliado o período de
Seção III permanência na escola.
Do Ensino Fundamental § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura- § 2º O ensino fundamental será ministrado progres-
ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando- sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação ensino.
básica do cidadão, mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização,
do cálculo; também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em
9
LEGISLAÇÃO FEDERAL
contato com o mundo que o cerca estabelecendo vínculos § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
de solidariedade e amizade. O ensino fundamental deve avaliação processual e formativa serão organizados nas re-
ser presencial, em regra. O ensino religioso é facultativo. A des de ensino por meio de atividades teóricas e práticas,
carga horária diária é de no mínimo 4 horas. provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades
on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o edu-
Seção IV cando demonstre:
Do Ensino Médio I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
presidem a produção moderna;
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, II - conhecimento das formas contemporâneas de lin-
com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
guagem.
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimen-
tos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o pros-
seguimento de estudos; Art. 36. O currículo do ensino médio será composto
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz formativos, que deverão ser organizados por meio da ofer-
de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupa- ta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância
ção ou aperfeiçoamento posteriores; para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en-
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- sino, a saber:
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da I - linguagens e suas tecnologias;
autonomia intelectual e do pensamento crítico; II - matemática e suas tecnologias;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnoló- III - ciências da natureza e suas tecnologias;
gicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
prática, no ensino de cada disciplina. V - formação técnica e profissional.
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi- respectivas competências e habilidades será feita de acor-
nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas § 2º (Revogado)
seguintes áreas do conhecimento: § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
I - linguagens e suas tecnologias;
composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
II - matemática e suas tecnologias;
composição de componentes curriculares da Base Nacio-
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. nal Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata considerando os incisos I a V do caput.
o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de- § 4º (Revogado)
verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricu- § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade
lar e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en-
social, ambiental e cultural. sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao o caput.
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práti- § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for-
cas de educação física, arte, sociologia e filosofia. mação com ênfase técnica e profissional considerará:
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo par-
às comunidades indígenas, também, a utilização das respec- cerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos es-
tivas línguas maternas. tabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissional;
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga- II - a possibilidade de concessão de certificados interme-
toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar diários de qualificação para o trabalho, quando a formação
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen- for estruturada e organizada em etapas com terminalidade.
cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
§ 7º A oferta de formações experimentais relacionadas
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá-
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
e oitocentas horas do total da carga horária do ensino continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse-
médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser-
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de
esperados para o ensino médio, que serão referência nos cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação.
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que
Comum Curricular. se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti-
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
formação integral do aluno, de maneira a adotar um traba- aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
lho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais. certificada pelos sistemas de ensino.
10
LEGISLAÇÃO FEDERAL
11
LEGISLAÇÃO FEDERAL
A educação profissional e técnica pode se dar durante § 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá
o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer a op- os seguintes cursos:
ção por esta categoria de ensino (o ensino médio pode I – de formação inicial e continuada ou qualificação
ser voltado à formação técnico-profissional, preparando o profissional;
jovem para o ingresso no mercado de trabalho indepen- II – de educação profissional técnica de nível médio;
dentemente de ensino universitário), quanto após o Ensino III – de educação profissional tecnológica de gra-
Médio, em instituições próprias de ensino técnico-profis- duação e pós-graduação.
sionalizante (neste sentido, há cursos técnicos-profissio- § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de
nais com menor duração que os cursos de ensino superior graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con-
e que são equiparados a este). cerne a objetivos, características e duração, de acordo com
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con-
Seção V selho Nacional de Educação.
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida
Art. 37. A educação de jovens e adultos será desti- em articulação com o ensino regular ou por diferentes
nada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade estratégias de educação continuada, em instituições es-
de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade pecializadas ou no ambiente de trabalho.
própria e constituirá instrumento para a educação e a
aprendizagem ao longo da vida. Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profis-
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente sional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto
aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es- de avaliação, reconhecimento e certificação para prossegui-
tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro- mento ou conclusão de estudos.
priadas, consideradas as características do alunado, seus
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cur- Art. 42. As instituições de educação profissional e tec-
sos e exames. nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula
e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações à capacidade de aproveitamento e não necessariamente
integradas e complementares entre si. ao nível de escolaridade.
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
-se, preferencialmente, com a educação profissional, na A educação profissional e tecnológica pode se dar não
forma do regulamento. apenas no ensino médio, mas também em instituições pró-
prias, que podem conferir inclusive diploma de formação
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, entre outros.
supletivos, que compreenderão a base nacional comum do O acesso a este tipo de ensino não necessariamente exige
currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em ca- conclusão dos níveis prévios de educação, eis que seu prin-
ráter regular. cipal objetivo não é o ensino de conteúdos típicos, mas sim
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: a capacitação profissional.
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
maiores de quinze anos; CAPÍTULO IV
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
maiores de dezoito anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
educandos por meios informais serão aferidos e reconhe- I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento
cidos mediante exames. do espírito científico e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de co-
A educação de jovens e adultos objetiva permitir a nhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
conclusão do ensino fundamental e médio para aqueles e para a participação no desenvolvimento da sociedade bra-
que já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria sileira, e colaborar na sua formação contínua;
ter acontecido. III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tec-
CAPÍTULO III nologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, de-
Da Educação Profissional e Tecnológica senvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu-
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimen- blicações ou de outras formas de comunicação;
sões do trabalho, da ciência e da tecnologia. V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica cultural e profissional e possibilitar a correspondente concre-
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibili- tização, integrando os conhecimentos que vão sendo adqui-
tando a construção de diferentes itinerários formativos, ob- ridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhe-
servadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. cimento de cada geração;
12
LEGISLAÇÃO FEDERAL
13
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura-
salvo nos programas de educação a distância. das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, atribuições:
no período noturno, cursos de graduação nos mesmos I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo programas de educação superior previstos nesta Lei, obede-
obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga- cendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
rantida a necessária previsão orçamentária. respectivo sistema de ensino;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob-
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconheci- servadas as diretrizes gerais pertinentes;
dos, quando registrados, terão validade nacional como III - estabelecer planos, programas e projetos de pesqui-
prova da formação recebida por seu titular. sa científica, produção artística e atividades de extensão;
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacida-
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins- de institucional e as exigências do seu meio;
tituições não-universitárias serão registrados em universi- V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
dades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. em consonância com as normas gerais atinentes;
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer- VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
sidades estrangeiras serão revalidados por universidades VII - firmar contratos, acordos e convênios;
públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equi- VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos
valente, respeitando-se os acordos internacionais de reci- de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
procidade ou equiparação. geral, bem como administrar rendimentos conforme dispo-
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe- sitivos institucionais;
didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco- IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
nhecidos por universidades que possuam cursos de pós- prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos es-
-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de tatutos;
conhecimento e em nível equivalente ou superior. X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
cooperação financeira resultante de convênios com entida-
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão des públicas e privadas.
a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-
hipótese de existência de vagas, e mediante processo sele- -científica das universidades, caberá aos seus colegiados de
tivo. ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão disponíveis, sobre:
na forma da lei. I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
II - ampliação e diminuição de vagas;
Art. 50. As instituições de educação superior, quando III - elaboração da programação dos cursos;
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas IV - programação das pesquisas e das atividades de ex-
de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem tensão;
capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo V - contratação e dispensa de professores;
seletivo prévio. VI - planos de carreira docente.
Art. 51. As instituições de educação superior credencia- Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
das como universidades, ao deliberar sobre critérios e nor- gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
mas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta para atender às peculiaridades de sua estrutura, organiza-
os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino mé- ção e financiamento pelo Poder Público, assim como dos
dio, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
de ensino. § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú-
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli- blicas poderão:
nares de formação dos quadros profissionais de nível supe- I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
rior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do administrativo, assim como um plano de cargos e salários,
saber humano, que se caracterizam por: atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos dispo-
I - produção intelectual institucionalizada mediante níveis;
o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi-
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional dade com as normas gerais concernentes;
e nacional; III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu- investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
lação acadêmica de mestrado ou doutorado; geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
III - um terço do corpo docente em regime de tempo Poder mantenedor;
integral. IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
especializadas por campo do saber. suas peculiaridades de organização e funcionamento;
14
LEGISLAÇÃO FEDERAL
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen- É possível que uma pessoa assista aulas nas instituições
to, com aprovação do Poder competente, para aquisição de públicas independentemente de vínculo com o curso, des-
bens imóveis, instalações e equipamentos; de que haja vagas disponíveis.
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige-
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo- -se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição
nial necessárias ao seu bom desempenho. possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão corpo docente se dedique exclusivamente à docência.
ser estendidas a instituições que comprovem alta qualifica- Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino su-
ção para o ensino ou para a pesquisa, com base em avalia- perior, as instituições de ensino superior são dotadas de
ção realizada pelo Poder Público. autonomia para se organizarem.
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu especial.
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e As instituições públicas devem obedecer ao princípio
desenvolvimento das instituições de educação superior por da gestão democrática, assegurado pela existência de ór-
ela mantidas. gãos colegiados deliberativos que mesclem membros da
comunidade, do corpo docente e do corpo discente.
Art. 56. As instituições públicas de educação superior
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegu- CAPÍTULO V
rada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
que participarão os segmentos da comunidade institucional,
local e regional. Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei-
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocupa- tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
rão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado preferencialmente na rede regular de ensino, para educan-
e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e mo- dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
dificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha mento e altas habilidades ou superdotação.
de dirigentes. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es-
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida-
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior,
des da clientela de educação especial.
o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema-
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
nais de aulas.
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua
A educação superior se funda no tripé: ensino, pesqui-
integração nas classes comuns de ensino regular.
sa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propiciar o
acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dentro § 3º A oferta de educação especial, nos termos
do ambiente acadêmico quanto fora dele; no aspecto pes- do caput deste artigo, tem início na educação infantil e
quisa, busca-se desenvolver os conhecimentos já existen- estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art.
tes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a comunida- 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei.
de por meio de atividades que possam ir além dos ambien- Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
tes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da vida social. dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
Classicamente, a educação superior se dá nos níveis de e altas habilidades ou superdotação:
graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibulares, e I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
pós-graduação, cujo acesso também se dá por processos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
seletivos próprios, funcionando como complementação II - terminalidade específica para aqueles que não
ao ensino superior. Entretanto, o ensino superior também puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
pode se dar em cursos sequenciais e em cursos de exten- fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
são, de menor duração e complexidade. para concluir em menor tempo o programa escolar para os
O ensino superior pode ser ministrado em instituições superdotados;
públicas ou privadas. Independentemente da natureza da III - professores com especialização adequada em ní-
instituição, é necessário respeitar as regras mínimas sobre vel médio ou superior, para atendimento especializado, bem
duração do ano letivo, programas de curso, componentes como professores do ensino regular capacitados para a inte-
curriculares, etc. gração desses educandos nas classes comuns;
O diploma faz prova da formação. IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
É possível a transferência entre instituições. A transfe- efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
rência a pedido está condicionada a número de vagas e a adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
processo seletivo. As transferências de ofício se sujeitam a ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
critérios próprios. Um exemplo de transferência de ofício órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
se dá no caso de remoção de servidor público de ofício no tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
interesse da Administração (caso o servidor ou seu depen- ou psicomotora;
dente estude em instituição pública na cidade onde estava V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
lotado, tem o direito de ser transferido para a instituição sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
pública da nova lotação). ensino regular.
15
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro na- II – a associação entre teorias e práticas, mediante
cional de alunos com altas habilidades ou superdotação estágios supervisionados e capacitação em serviço;
matriculados na educação básica e na educação superior, a III – o aproveitamento da formação e experiências
fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. IV - profissionais com notório saber reconhecido pe-
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com los respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi- de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste atestados por titulação específica ou prática de ensino em
artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamen-
de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que te para atender ao inciso V do caput do art. 36;
trata o caput serão definidos em regulamento. V - profissionais graduados que tenham feito com-
plementação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino lho Nacional de Educação.
estabelecerão critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação Art. 62. A formação de docentes para atuar na educa-
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e ção básica far-se-á em nível superior, em curso de licencia-
financeiro pelo Poder Público. tura plena, admitida, como formação mínima para o exercí-
Parágrafo único. O poder público adotará, como alter- cio do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros
nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu- anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- modalidade normal.
mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
pública regular de ensino, independentemente do apoio às nicípios, em regime de colaboração, deverão promover a
instituições previstas neste artigo. formação inicial, a continuada e a capacitação dos profis-
sionais de magistério.
A educação especial volta-se a educandos com defi- § 2º A formação continuada e a capacitação dos pro-
ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas fissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecno-
habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada, logias de educação a distância.
exige-se a especialização das instituições de ensino e de § 3º A formação inicial de profissionais de magisté-
seus profissionais. rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente
fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a dis-
TÍTULO VI tância.
Dos Profissionais da Educação § 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação permanência em cursos de formação de docentes em nível
escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e superior para atuar na educação básica pública.
tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
I – professores habilitados em nível médio ou supe- nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma-
rior para a docência na educação infantil e nos ensinos gistério para atuar na educação básica pública mediante
fundamental e médio; programa institucional de bolsa de iniciação à docência a
II – trabalhadores em educação portadores de di- estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de gra-
ploma de pedagogia, com habilitação em administração, duação plena, nas instituições de educação superior.
planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacio- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
nal, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas nota mínima em exame nacional aplicado aos concluintes
mesmas áreas; do ensino médio como pré-requisito para o ingresso em
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- cursos de graduação para formação de docentes, ouvido o
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou Conselho Nacional de Educação - CNE.
afim; e § 7º (VETADO).
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú- terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.
dos de áreas afins à sua formação para atender o dispos-
to no inciso V do caput do art. 36. Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o
Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu- inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
cação, de modo a atender às especificidades do exercício técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes habilitações tecnológicas.
etapas e modalidades da educação básica, terá como fun- Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
damentos: para os profissionais a que se refere o caput, no local de
I – a presença de sólida formação básica, que propi- trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores
suas competências de trabalho; de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
16
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: Os profissionais da educação devem possuir formação
I - cursos formadores de profissionais para a edu- específica, notadamente possuir habilitação para a docên-
cação básica, inclusive o curso normal superior, destinado cia, que pode se dar pelas licenciaturas e magistérios em
à formação de docentes para a educação infantil e para as geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por formação e
primeiras séries do ensino fundamental; área afim que habilite para o ensino de matérias específicas
II - programas de formação pedagógica para portado- (ex.: profissional do Direito pode lecionar português, filoso-
res de diplomas de educação superior que queiram se dedi- fia e sociologia). Além disso, devem possuir experiência em
car à educação básica; atividades de ensino. Quanto ao ensino superior, exige-se
III - programas de educação continuada para os pro- pós-graduação, que pode ser uma simples especialização,
fissionais de educação dos diversos níveis. embora deva preferencialmente se possuir mestrado ou
doutorado. No âmbito do ensino público, exige-se valori-
Art. 64. A formação de profissionais de educação para zação do profissional, criando-se plano de carreira e aper-
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien- feiçoando-se as condições de trabalho.
tação educacional para a educação básica, será feita em
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-gra- TÍTULO VII
duação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta Dos Recursos financeiros
formação, a base comum nacional.
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educa-
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação su- ção os originários de:
perior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do
horas. Distrito Federal e dos Municípios;
II - receita de transferências constitucionais e outras
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério transferências;
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
mente em programas de mestrado e doutorado. ções sociais;
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- IV - receita de incentivos fiscais;
versidade com curso de doutorado em área afim, poderá su- V - outros recursos previstos em lei.
prir a exigência de título acadêmico.
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valori- de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
zação dos profissionais da educação, assegurando-lhes, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
do magistério público: impostos, compreendidas as transferências constitucionais,
I - ingresso exclusivamente por concurso público de pro- na manutenção e desenvolvimento do ensino público.
vas e títulos; § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
III - piso salarial profissional; considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi- receita do governo que a transferir.
litação, e na avaliação do desempenho; § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im-
V - período reservado a estudos, planejamento e avalia- postos mencionadas neste artigo as operações de crédito
ção, incluído na carga de trabalho; por antecipação de receita orçamentária de impostos.
VI - condições adequadas de trabalho. § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes
§ 1º A experiência docente é pré-requisito para o exer- aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re-
cício profissional de quaisquer outras funções de magisté- ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan-
rio, nos termos das normas de cada sistema de ensino. do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação.
no § 8º do art. 201 da Constituição Federal, são conside- § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas
radas funções de magistério as exercidas por professores e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi-
e especialistas em educação no desempenho de ativida- mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu-
des educativas, quando exercidas em estabelecimento de radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro.
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pe- nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela
dagógico. educação, observados os seguintes prazos:
§ 3º A União prestará assistência técnica aos Estados, I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de con- cada mês, até o vigésimo dia;
cursos públicos para provimento de cargos dos profissio- II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigési-
nais da educação. mo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
17
LEGISLAÇÃO FEDERAL
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Dis-
final de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. trito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor- de oportunidades educacionais para o ensino fundamen-
reção monetária e à responsabilização civil e criminal das tal, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de
autoridades competentes. assegurar ensino de qualidade.
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar-
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e tigo será calculado pela União ao final de cada ano, com
desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com validade para o ano subsequente, considerando variações
vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades
educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se de ensino.
destinam a:
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e
demais profissionais da educação; dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressiva-
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de mente, as disparidades de acesso e garantir o padrão mí-
instalações e equipamentos necessários ao ensino; nimo de qualidade de ensino.
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
ensino; fórmula de domínio público que inclua a capacidade de
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas vi- atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo
sando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da
expansão do ensino; manutenção e do desenvolvimento do ensino.
V - realização de atividades-meio necessárias ao funcio- § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
namento dos sistemas de ensino; será definida pela razão entre os recursos de uso constitu-
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas cionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimen-
públicas e privadas; to do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão
mínimo de qualidade.
VII - amortização e custeio de operações de crédito des-
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
tinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos
VIII - aquisição de material didático-escolar e manuten-
a cada estabelecimento de ensino, considerado o número
ção de programas de transporte escolar.
de alunos que efetivamente frequentam a escola.
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de en- de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o
sino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capa-
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualida- cidade de atendimento.
de ou à sua expansão;
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de ca- Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no
ráter assistencial, desportivo ou cultural; artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento
III - formação de quadros especiais para a administração pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
IV - programas suplementares de alimentação, assistên-
cia médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e ou- Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco-
tras formas de assistência social; las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para confessionais ou filantrópicas que:
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri-
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa- buam resultados, dividendos, bonificações, participações ou
ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
manutenção e desenvolvimento do ensino. II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de- escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos Público, no caso de encerramento de suas atividades;
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos rece-
se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. bidos.
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritaria- destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na
mente, na prestação de contas de recursos públicos, o cum- forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de
primento do disposto no art. 212 da Constituição Federal, no recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder
na legislação concernente. Público obrigado a investir prioritariamente na expansão
da sua rede local.
18
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu- vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
sive mediante bolsas de estudo.
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvi-
No aspecto orçamentário, merece destaque a exigên- mento e a veiculação de programas de ensino a distân-
cia de dedicação de parcela mínima dos impostos da União cia, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de
(18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) voltada à edu- educação continuada.
cação. Ainda, coloca-se o papel de suplementação e redis- § 1º A educação a distância, organizada com abertura
tribuição da União em relação aos Estados e Municípios e regime especiais, será oferecida por instituições especifica-
e dos Estados com relação aos Municípios, repassando-se mente credenciadas pela União.
verbas para permitir que estas unidades federativas consi- § 2º A União regulamentará os requisitos para a reali-
gam lograr êxito em oferecer parâmetro mínimo de quali- zação de exames e registro de diploma relativos a cursos
dade no ensino que é de sua incumbência. de educação a distância.
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de
TÍTULO VIII programas de educação a distância e a autorização para
Das Disposições Gerais sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo- diferentes sistemas.
ração das agências federais de fomento à cultura e de as- § 4º A educação a distância gozará de tratamento
sistência aos índios, desenvolverá programas integrados de diferenciado, que incluirá:
ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilín- I - custos de transmissão reduzidos em canais comer-
gue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros
objetivos: meios de comunicação que sejam explorados mediante au-
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, torização, concessão ou permissão do poder público;
a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas educativas;
e ciências; III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o Público, pelos concessionários de canais comerciais.
acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos
da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não- Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
-índias. tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as
disposições desta Lei.
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas
às comunidades indígenas, desenvolvendo programas inte- de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei
grados de ensino e pesquisa. federal sobre a matéria.
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das
comunidades indígenas. Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor-
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes mas fixadas pelos sistemas de ensino.
objetivos:
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua mater- Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
na de cada comunidade indígena; aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respecti-
II - manter programas de formação de pessoal especia- vas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo
lizado, destinado à educação escolar nas comunidades in- com seu rendimento e seu plano de estudos.
dígenas;
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titula-
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respec- ção própria poderá exigir a abertura de concurso públi-
tivas comunidades; co de provas e títulos para cargo de docente de instituição
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didá- pública de ensino que estiver sendo ocupado por professor
tico específico e diferenciado. não concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direi-
§ 3º No que se refere à educação superior, sem prejuízo tos assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19
de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efe- do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
tivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante
a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas como universidades integrar-se-ão, também, na sua condi-
especiais. ção de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de
Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica.
Art. 79-A. (VETADO).
19
LEGISLAÇÃO FEDERAL
20
LEGISLAÇÃO FEDERAL
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência do adolescente com a proteção da maternidade e da infân-
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, cia, mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreen-
ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou ado- de a proteção de outro grupo vulnerável, que é a pessoa
lescente órfão ou abandonado; portadora de deficiência, valendo lembrar que o Decreto nº
VII - programas de prevenção e atendimento especia- 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção
lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
entorpecentes e drogas afins. e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a 30 de março de 2007, foi promulgado após aprovação no
exploração sexual da criança e do adolescente. Congresso Nacional nos moldes da Emenda Constitucional
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na nº 45/2004, tendo força de norma constitucional e não de
forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efe- lei ordinária. A preocupação com o direito da pessoa porta-
tivação por parte de estrangeiros. dora de deficiência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa- lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua- dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos
lificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado
relativas à filiação. às pessoas portadoras de deficiência”.
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado- A proteção especial que decorre do princípio da prio-
lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se,
2042. ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227:
§ 8º A lei estabelecerá: “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os di- ção sexual da criança e do adolescente”.
reitos dos jovens; Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente
II - o plano nacional de juventude, de duração dece- de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da
nal, visando à articulação das várias esferas do poder públi- Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder
co para a execução de políticas públicas. Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi-
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste
No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin- sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe
cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente que sobre a adoção.
é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da
criança e adolescente deve receber tratamento especial do Constituição anterior e do até então vigente Código Civil
Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos
o futuro do país e as bases de construção da sociedade. ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de-
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên- signações discriminatórias relativas à filiação”.
Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princí-
mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á
pio da absoluta prioridade.
em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a
No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistên-
adoção de práticas de assistência social, com recursos da
cia à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se de-
seguridade social, em prol da criança e do adolescente.
preende a intrínseca relação entre a proteção da criança e
Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei
2 Art. 204. As ações governamentais na área da as- estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a re-
sistência social serão realizadas com recursos do orça- gular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juven-
mento da seguridade social, previstos no art. 195, além tude, de duração decenal, visando à articulação das várias
de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes esferas do poder público para a execução de políticas pú-
diretrizes: I - descentralização político-administrativa, blicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui
cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera fede- o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos
ral e a coordenação e a execução dos respectivos progra- jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de
mas às esferas estadual e municipal, bem como a entida- juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
Mais informações sobre a Política mencionada no inciso II
des beneficentes e de assistência social; II - participação
e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude
da população, por meio de organizações representativas,
que direcionam a implementação dela podem ser obtidas
na formulação das políticas e no controle das ações em na rede3.
todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun-
e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à in- damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e do
clusão e promoção social até cinco décimos por cento de Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig-
encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
despesa corrente não vinculada diretamente aos investi-
mentos ou ações apoiados. 3 http://www.juventude.gov.br/politica
21
LEGISLAÇÃO FEDERAL
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en-
negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda- quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan-
de e opressão. tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo”
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis-
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada criminação designatória.
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe assegu- Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
rar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever
e observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en-
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos
de compreende a primazia de receber proteção e socorro aos filhos.
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi-
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227,
(alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá
políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi- o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du-
proteção à infância e à juventude (alínea “d”). ração decenal, visando à articulação das várias esferas do
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo- poder público para a execução de políticas públicas (inciso
vem representa incumbência atribuída não só ao Estado, II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010,
mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi
prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen-
em vista que só se costuma colocar o Estado como obser- do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula-
vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso mentação infraconstitucional.
também compete à família e à sociedade.
Nesta frequência, o direito à proteção especial abran- Evolução histórica
gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
- A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posição
trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de de inferioridade, tida como um ser irracional, sem capaci-
aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al- dade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de marco
teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98); da cultura grega, que enxergava apenas poucos homens de
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas posses como cidadãos. Estes homens concentravam para
(inciso II); si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. Devido ao pátrio
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e poder, o pai de família concentrava em suas mãos plena
jovem à escola (inciso III); possibilidade de gerir a vida das crianças e adolescentes
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri- e estes não tinham nenhuma possibilidade de participar
buição do ato infracional, igualdade na relação processual destas decisões. Na Idade Média se manteve o sistema do
e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis- “pátrio poder”. As crianças eram submetidas ao absoluto
puser a legislação tutelar específica (inciso IV); poder do pai e seus destinos seguiam a mesma sorte.
- A obediência aos princípios de brevidade, excepcio- A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira-
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida mente da margem social. A moral da época passa a impor
privativa de liberdade (inciso V); aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a educa-
- O estímulo do Poder Público, através de assistência ção costumava ser oferecida apenas aos homens. Aqueles
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao que possuíam melhores condições enviavam seus filhos
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles- para estudarem nas universidades que começavam a des-
cente órfão ou abandonado (inciso VI); pontar na Europa, aqueles que possuíam condições piores
- Programas de prevenção e atendimento especializa- ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes jovens.
do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de Já as meninas permaneciam marginalizadas das atividades
entorpecentes e drogas afins (inciso VII). educacionais e profissionalizantes, apenas lhes era ensina-
Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Cons- do como desempenhar atividades domésticas.
tituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”, Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque,
ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação do ca- a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial-
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali- mente os modos e métodos de produção, a criança e o
ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias adolescente passam a ocupar papel central na sociedade,
relativas à filiação. desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva-
Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes
mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces- de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábricas,
sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da então movidas predominantemente a carvão. Foi apenas
22
LEGISLAÇÃO FEDERAL
com a emergência da Organização Internacional do Tra- a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
balho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou uma centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, a
consciência a respeito da necessidade de se limitar a parti- sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten-
cipação das crianças e adolescentes no espaço de trabalho. ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre,
Este foi o estopim para o reconhecimento da condição es- criar uma doutrina da proteção integral não somente para
pecial da criança e do adolescente. a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e em desenvolvimento, posto que, somente com o término
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- da adolescência é que o menor completará o processo de
mento internacional dos direitos humanos e a fundação aquisição de mecanismos mentais relacionados ao pensa-
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo mento, percepção, reconhecimento, classificação etc. [...]
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sabia-
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as mente, se preocupou em envolver não somente a família,
crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Estado,
da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon- para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deve-
der às necessidades das crianças e das mães nos países em res sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam
desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma- a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão
nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial- abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança
mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia, e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral,
América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se todas as condições para que o mesmo possa desenvolver-
Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a -se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma
sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF. deficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solu-
Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas ção apresentada pelo legislador foi incluir todos os seg-
documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica mentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento de
peculiar da criança, já estudados neste material. qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da pro-
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, teção integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e Adolescente exige a participação de todos, sem qualquer
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público exceção”5. Com efeito, o objeto formal do direito da criança
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se- e do adolescente é a proteção jurídica especial da criança
guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo e do adolescente. Já o objeto material é a própria criança
a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância ou adolescente.
Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo Princípios
Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
aos menores (na prática, eram tratados como criminosos penharam um importante papel social, mas foi somente na
comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida-
do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va-
novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo ob- lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do
jeto era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros
em situação irregular. Na década de 80 começa um mo- conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma6.
vimento de reelaboração da concepção de infância e ju- Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
ventude. O destaque repercute na Constituição Federal de fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, consolidados: a passagem dos princípios da especulação
que revogou o Código de Menores e substituiu a doutrina metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do
da situação irregular pela doutrina da proteção integral4. Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a
transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser-
Relações jurídicas no direito da criança e do ado- ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso
lescente nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre
princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es-
“As relações jurídicas são formas qualificadas de re- fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a
lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará-
pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu- ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo
lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do de sua positividade e concretude por obra sobretudo das
Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa Constituições; a distinção entre regras e princípios, como
4 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ri- 5 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas
cardo Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatu- decorrentes do Estatuto da Criança e do Adolescente.
to da Criança e do Adolescente. São Paulo: Revista dos Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 70, nov. 2009.
Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito) 6 Ibid., p.327.
23
LEGISLAÇÃO FEDERAL
espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in-
expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná- dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen-
rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima-
e preeminência dos princípios7. gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao
No campo do direito da criança e do adolescente, al- princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como
guns princípios assumem destaque, entre eles: conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- teção especial consistente em indenização por dano moral
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos –
decorrente de sua violação”9.
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com
Para Reale10, a evolução histórica demonstra o domínio
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
faixa etária inferior a 18 anos. é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo Reale11: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles- pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
cente não pode se restringir às situações de irregularidade, mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais
todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o da mesma espécie. O homem, considerado na sua objeti-
adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as- vidade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido
segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho-
adolescente caiam em irregularidade. mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- ser, pondo-se essencialmente como razão determinante
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação do processo histórico”.
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
que possa se considerar compatível com os valores éticos,
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar
ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo,
colocar a pessoa humana como centro e norte para qual- membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais
da norma, seja na sua aplicação. e confere a eles posição hierárquica superior às normas
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- membros, e não o inverso.
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana d) Princípio da participação popular: previsto no ar-
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or- tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par-
dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a ticipação popular, através de organizações representativas,
própria exclusão de sua personalidade. na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
Aponta Barroso8: “o princípio da dignidade da pessoa e à juventude.
humana identifica um espaço de integridade moral a ser e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me-
mundo. É um respeito à criação, independente da crença dida privativa de liberdade esta não será imposta a não
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela- ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como outra medida sócio-educativa possa ser utilizada.
com as condições materiais de subsistência”.
f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º,
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati-
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de necessário para a ressocialização do adolescente. No caso,
condições existenciais mínimas, a participação saudável e o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra-
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des- zo máximo de 3 anos.
tilação dos valores soberanos da democracia e das liber-
dades individuais. O processo de valorização do indivíduo 9 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem de Revista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alber-
to Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setem-
7 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito consti- bro de 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em:
tucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 294. 17 nov. 2012.
8 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e 10 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed.
aplicação da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 228.
2009, p. 382. 11 Ibid., p. 220.
24
LEGISLAÇÃO FEDERAL
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de- 2. A aquisição das competências é progressiva, não se
senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro- dá saltos, como se se tratasse de compartimentos estan-
cesso de formação e de transformação física e psíquica, ques, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo,
logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei- portanto, razoavelmente previsível;
tada quando da aplicação da lei. 3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se
processa são muito individualizados, fazendo com que dois
Autonomia da criança e do adolescente indivíduos de uma mesma idade possam estar em momen-
tos diferentes de desenvolvimento;
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone12 em 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-
que reflete sobre a construção da autonomia do infante: to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas evolução extremamente individualizada.
competências nas diferentes idades. É de conhecimento Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamen-
de todos que a criança nasce totalmente dependente de to concreto estendendo-o à compreensão do outro e às
cuidados alheios e que passa por um processo de desen- possíveis consequências de boa parte dos seus atos se
volvimento progressivo que a leva a alcançar a completa aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida.
independência na maturidade, o que, nas sociedades mo- Este amadurecimento se completa na adolescência, com a
dernas, se situa por volta dos vinte anos de idade. capacidade crescente de abstração que a criança desenvol-
Entretanto, para que este processo de análise de sua ve nesta fase da existência. Como consequência, é possível
autonomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmen- admitir que é na segunda fase da adolescência, em geral a
te centrado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as competên-
humano, o primeiro ponto a ser considerado é a necessida- cias necessárias para o exercício de sua autonomia, com-
de de abdicar de alguns conceitos preestabelecidos, como petências estas que necessitariam apenas serem lapidadas
é o caso da atitude paternalista. [...] ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida.
O segundo ponto a considerar neste percurso, em ge- Entretanto, isto não significa que a autonomia da crian-
ça e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a
ral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mes-
partir desta fase.
mo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos
Compete ao pediatra e aos demais profissionais de
os menores a uma mesma condição: a de incapacidade,
saúde, utilizando suas competências profissionais, definir
criando a necessidade de se ter figuras aptas a decidir e
já desde os primeiros anos de vida em que etapa a criança
responder por eles, como se estas figuras fossem sempre e
se encontra ao longo do seu processo evolutivo, tentando
inevitavelmente imbuídas das melhores intenções em rela-
diferenciar se se está diante de uma tomada de decisão
ção à criança e ao adolescente.
ditada apenas pelo receio do desconhecido, por um capri-
No entender de Kopelman, para que toda esta legisla- cho ou vontade decorrente apenas de sua visão egocên-
ção fosse realmente válida seria necessário definir melhor, trica, natural em determinadas idades, ou se a mesma já é
de maneira bem precisa, o que se entende por um padrão o resultado de uma reflexão mais amadurecida. São estes
mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os interes- extremos que dão a entender a ampla gama de estágios de
ses da criança ou do adolescente, de modo que a definição desenvolvimento, portanto de autonomia, que entre eles
não fique em aberto para a interpretação de quem detém podem se apresentar. [...]
o poder de decidir em nome deles. Além disso, estas defi- Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao
nições deveriam estar em constante revisão, para que não se utilizar definições bastante precisas como estas é o de
acabem sendo ultrapassadas, frente à evolução histórico- acabar classificando um indivíduo de maneira dicotômica,
-social dos fatos que geraram a necessidade de sua criação. no caso específico da autonomia, como sendo capaz ou
Superados estes dois pontos, que apesar de potencial- incapaz, desistindo assim de uma possível análise de sua
mente limitantes do processo de discussão da autonomia real capacidade.
da criança e do adolescente não podem ser simplesmente Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das
ignorados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e características anteriormente citadas não deve ser utilizada
mais importante: a interpretação do conceito de autono- para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz.
mia à luz do momento de desenvolvimento em que uma Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa
determinada criança ou adolescente se encontra. tentar entender como suas decisões se originaram.
Nesse sentido, diversas características do desenvolvi- Em face de situações específicas, individualizadas,
mento devem ser levadas em consideração: como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a
1. Trata-se de um processo que evolui continuamente única forma que o profissional tem de realmente respeitar
à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capaci- a autonomia da criança ou do adolescente.
dades são adquiridas, novas vivências são acumuladas e A interpretação adequada da legislação e o dimen-
integradas e, portanto, passível de rápidas e extremas mu- sionamento correto da decisão dos pais ou responsáveis
danças no tempo; dependerão fundamentalmente deste tipo de análise da
12 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a au- autonomia da criança ou adolescente. Deste modo, mes-
tonomia. Revista Bioética, v. 6, n. 1. mo que resulte em situações de conflito entre as posições,
25
LEGISLAÇÃO FEDERAL
servirá de embasamento para um trabalho, muitas vezes Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
exaustivo, de apresentação, de reflexão e de discussão de lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
argumentos e fatos, capaz de conduzir a uma decisão ama- criança e do adolescente que apenas abordasse situações
durecida e o mais isenta possível, que, respeitando a po- em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
sição da criança ou do adolescente, poderá efetivamente como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
redundar em seu benefício. nos casos de atos infracionais.
No leque das diferentes situações da prática pediá- Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
trica, que se estende desde o recém-nascido no limite de uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos de lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
validade questionável naquelas circunstâncias, passando ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
pelas pesquisas científicas que envolvem crianças e ado- o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
lescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence a pais
adolescentes, portanto autônomos nas decisões que lhes Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
dizem respeito, todas estas situações, onde nem sempre o pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
real interesse que está em jogo é o da criança, mas sim o aquela entre doze e dezoito anos de idade.
dos responsáveis por ela, clarificam que não há uma única Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
resposta ou solução mágica, perfeita, para a questão da excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
autonomia da criança e do adolescente. vinte e um anos de idade.
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun- O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate-
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no gorizar separadamente estas duas categorias de menores.
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data
ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin- de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado-
cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de
processo de interação franco, sincero, isento e realmente aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações
participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer
excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os
que seja o nível de competência que a criança ou o adoles-
21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator
cente estejam apresentando para tal”.
sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos
e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido
Imputabilidade penal
até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o
tempo máximo de internação).
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os menores
de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di-
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis- prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu-
lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor-
rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen-
emenda constitucional que alterasse a menoridade penal. volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
Inclusive, há projetos de lei neste sentido. condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli-
Comentários à lei cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi-
nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça,
Parte geral etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
Título I ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
Das Disposições Preliminares que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
que vivem.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
criança e ao adolescente. criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza-
O princípio da proteção integral se associa ao princípio ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador
e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo
tem-se também a positivação da proteção integral, que se objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles-
opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular, cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É
que era prevista no antigo Código de Menores e espe- necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi-
cificava que sua incidência se restringia aos menores em nha ela nada faz.
situação irregular, apresentando um conjunto de normas cardo Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatu-
destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”13. to da Criança e do Adolescente. São Paulo: Revista dos
13 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ri- Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito)
26
LEGISLAÇÃO FEDERAL
A implementação na prática dos direitos da criança e b) precedência de atendimento nos serviços públicos
do adolescente depende da adoção de posturas por parte ou de relevância pública;
de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto: c) preferência na formulação e na execução das po-
Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente líticas sociais públicas;
no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à pe- áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
culiar condição do infante. O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idênti-
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- co ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma das
dições suficientemente próprias de promoção e concreti- principais diretrizes do direito da criança e do adolescente
zação de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do dog- que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
matismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O Direito criança e adolescente deve receber tratamento especial do
da Criança e do Adolescente enquanto ramo autônomo Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
do direito é responsável por ressignificar a atuação estatal, o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
principalmente no campo das políticas públicas e impõe Explica Liberati15: “Por absoluta prioridade, devemos
corresponsabilidades compartilhadas”14. entender que a criança e o adolescente deverão estar em
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes;
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas to-
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- das as necessidades das crianças e adolescentes [...]. Por
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- absoluta prioridade, entende-se que, na área administra-
dição especial dos que pertencem a este grupo. tiva, enquanto não existirem creches, escolas, postos de
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di- saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes
reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas,
todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II construir praças, sambódromos monumentos artísticos
etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças
os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre
são importantes que as obras de concreto que ficam par a
eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida-
demonstrar o poder do governante”.
de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura,
O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho.
da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con-
Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga-
ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes
rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to-
diante de situações de perigo e risco (como no salvamento
dos os direitos humanos e fundamentais que as demais
em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços
pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo).
especificidades acerca de algumas das categorias de direi- Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente. favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des- reservados recursos próprios prioritariamente a eles.
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple-
na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de I - políticas sociais básicas;
discriminação. II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
sistência social de garantia de proteção social e de preven-
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- ou reincidências;
sença de um tríplice sistema de garantias. III - serviços especiais de prevenção e atendimento
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
primário, secundário e terciário. IV - serviço de identificação e localização de pais,
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda po- responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
líticas públicas de atendimento de crianças e adolescentes. V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
dos direitos da criança e do adolescente.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie- VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
dade em geral e do poder público assegurar, com abso- abreviar o período de afastamento do convívio familiar
luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, familiar de crianças e adolescentes;
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob for-
liberdade e à convivência familiar e comunitária. ma de guarda de crianças e adolescentes afastados do conví-
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: vio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crian-
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- ças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas
quer circunstâncias; de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
14 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto. 15 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Crian-
asp?id=2236 ça e do Adolescente: Comentários. São Paulo: IBPS.
27
LEGISLAÇÃO FEDERAL
O artigo 87 descreve linhas de ação na política de é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a ele ade-
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da quar-se às novas exigências sociais, aplicando-se da ma-
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção neira mais justa à vasta gama de casos concretos. Sobre a
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- interpretação, explica Gonçalves16: “Quando o fato é típico
ros para execução de tais políticas. e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da nor-
ma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há casos, no entanto,
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- em que tal enquadramento não ocorre, não encontrando o
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- juiz nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve,
lescente em situação de risco pessoal ou social. então, proceder à integração normativa, mediante o em-
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante prego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do
neste material. direito. [...] Para verificar se a norma é aplicável ao caso em
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as julgamento (subsunção) ou se deve proceder à integração
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização normativa, o juiz procura descobrir o sentido da norma, in-
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 terpretando-a. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance
anos que comete atos infracionais.
da norma jurídica”.
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian-
A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.
te neste material.
Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica,
autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa-
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ou
políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema racional, apurando o sentido e a finalidade da norma; sis-
secundário, operado predominantemente pelo Conselho temática, analisando a lei de maneira comparativa com ou-
Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir tras leis pertencentes à mesma província do Direito (livro,
para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre- título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se
dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário. na verificação dos antecedentes do processo legislativo;
sociológica, adaptando o sentido ou finalidade da nor-
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de ma às novas exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto
qualquer forma de negligência, discriminação, explora- aos resultados pode ser declarativa, quando o texto legal
ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da corresponde ao pensamento do legislador; extensiva ou
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos ampliativa, quando o alcance da lei é mais amplo que o in-
fundamentais. dicado pelo seu texto; e restritiva, na qual se limita o cam-
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA: po de aplicação da lei. Nenhum destes métodos se opera
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis- isoladamente17.
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza- pressa o método de interpretação sociológico, chamando
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res- atenção à interpretação da lei levando em conta os seus
ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es- fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de-
feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve
crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo em conta a condição peculiar da criança e do adolescente.
contra criança e adolescente, bem como respondendo por Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de
atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é
um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde- extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais
nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que
sempre se deve atentar.
se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que
o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon-
Título II
do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime
jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car- Dos Direitos Fundamentais
gos, empregos e funções públicos.
Capítulo I
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta Do Direito à Vida e à Saúde
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
soas em desenvolvimento. públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimen-
to sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
É pacífico que o processo de interpretação hoje faz
parte do Direito, principalmente se considerada a constan- 16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Bra-
te evolução da sociedade, demandando diariamente por sileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1.
novos modos de aplicação das normas. Como a sociedade 17 Ibid.
28
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neo-
programas e às políticas de saúde da mulher e de pla- natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
nejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequa- de coleta de leite humano.
da, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpé-
rio e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
no âmbito do Sistema Único de Saúde. atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro- obrigados a:
fissionais da atenção primária. I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestan- de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- II - identificar o recém-nascido mediante o registro
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
garantido o direito de opção da mulher. da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado autoridade administrativa competente;
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nasci-
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos do, bem como prestar orientação aos pais;
de apoio à amamentação. IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e vimento do neonato;
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
consequências do estado puerperal. nato a permanência junto à mãe.
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri-
zando o corpo técnico já existente.
vação de liberdade.
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
acompanhante de sua preferência durante o período do
cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescen-
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
te, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei-
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
tamento materno, alimentação complementar saudável e
promoção, proteção e recuperação da saúde.
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de es- § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
timular o desenvolvimento integral da criança. atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, reabilitação.
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
venções cirúrgicas por motivos médicos. te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tra-
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de tamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles-
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas
consultas pós-parto. necessidades específicas.
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
à mulher com filho na primeira infância que se encontrem frequente de crianças na primeira infância receberão for-
sob custódia em unidade de privação de liberdade, am- mação específica e permanente para a detecção de sinais
biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em o acompanhamento que se fizer necessário.
articulação com o sistema de ensino competente, visando
ao desenvolvimento integral da criança. Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à
saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia inten-
Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega- siva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento condições para a permanência em tempo integral de
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a me- um dos pais ou responsável, nos casos de internação de
dida privativa de liberdade. criança ou adolescente.
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigato-
materno e à alimentação complementar saudável, de for- riamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
ma contínua. localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
29
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen- O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân- dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e política.
cia e da Juventude. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: liberdade
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de para brincar e divertir-se e liberdade para buscar refúgio,
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- auxílio e orientação, processos estes essenciais para o de-
nente especializado, o Centro de Referência Especializado senvolvimento do infante.
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste-
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das de da integridade física, psíquica e moral da criança e
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção espaços e objetos pessoais.
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
mas de assistência médica e odontológica para a pre- tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
venção das enfermidades que ordinariamente afetam a po- rio ou constrangedor.
pulação infantil, e campanhas de educação sanitária para Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
pais, educadores e alunos. teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos integridade: física, psíquica e moral.
recomendados pelas autoridades sanitárias.
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui- de tratamento cruel ou degradante, como formas de cor-
dado direcionadas à mulher e à criança. reção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res-
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas so-
o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, cioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida, deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
com orientações sobre saúde bucal. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu-
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos ou o adolescente que resulte em:
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou ou- a) sofrimento físico; ou
tro instrumento construído com a finalidade de facilitar a b) lesão;
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico. ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles-
cente que:
Capítulo II a) humilhe; ou
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda-
de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, responsáveis, os agentes públicos executores de medidas so-
humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. cioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
ao adolescente que são especificados e aprofundados no tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dignidade. degradante como formas de correção, disciplina, educação
ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
aspectos: aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
comunitários, ressalvadas as restrições legais; rio de proteção à família;
II - opinião e expressão; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
III - crença e culto religioso; psiquiátrico;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; III - encaminhamento a cursos ou programas de
V - participar da vida familiar e comunitária, sem orientação;
discriminação; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento
VI - participar da vida política, na forma da lei; especializado;
30
LEGISLAÇÃO FEDERAL
31
LEGISLAÇÃO FEDERAL
32
LEGISLAÇÃO FEDERAL
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa- A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, den-
modificações ao instituto em análise, surgindo então o tre os deveres e poderes decorrentes do poder familiar,
chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de também os de ordem pessoal, ou seja, o cuidado existen-
forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili- cial do menor, a educação, a correição, e os de ordem ma-
brando dessa forma a relação familiar. terial, que envolvem a administração dos bens dos filhos.
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po- Os principais atributos do poder familiar são a guarda, a
der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder criação e a educação, que se refletem nos deveres dos pais
familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com- para com os filhos; tanto que, não cumprindo algum des-
pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade ses atributos, o detentor do poder poderá sofrer sanções
civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º, cíveis e até criminais.
parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal. O poder familiar, conforme disposição do próprio or-
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA. denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser
O poder familiar, conhecido também como autoridade extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basica-
parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri- mente, as formas de extinção se aplicam quando o exercí-
buídos aos pais para que esses administrem de forma legal cio do poder familiar não é mais necessário; ao passo que
a pessoa dos filhos e também de seus bens. as regras de perda e suspensão constituem casos de priva-
“O poder familiar pode ser definido como um conjunto ção do exercício do poder familiar pelo descumprimento
de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens do filho de seus deveres.
menor não emancipado, exercido, em igualdade de condi- Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa-
ções, por ambos os pais, para que possam desempenhar os miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me-
encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do
interesse e a proteção do filho”21. poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma
temporária ou até mesmo definitiva.
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa dos
filhos menores: Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua auto-
I – dirigir-lhes a criação e educação; ridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando
II – tê-los em sua companhia e guarda; os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça re-
casarem; clamada pela segurança do menor e seus haveres, até sus-
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento pendendo o poder familiar, quando convenha.
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobre- Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do
vivo não puder exercer o poder familiar; poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença ir-
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da recorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que fo- de prisão.
rem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser-
serviços próprios de sua idade e condição. var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação
de que os problemas que levaram à suspensão desapare-
Em relação às suas características, o poder familiar é ceram, o poder familiar poderá retornar aos genitores.
indisponível e decorre da paternidade natural ou legal, Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer
por isso, não há a possibilidade de seu titular o transfe- os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quando
rir a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a ficar evidenciado perante a autoridade competente o abuso.
viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O po- Como visto, existe, também, a probabilidade de se decretar
der familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciável e a suspensão do poder familiar, caso um dos pais seja con-
sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao titular denado por crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
do poder familiar abrir mão de seu dever, a renúncia é in- Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po-
viável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a decor- der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais
rente da adoção. que faltarem com os deveres em relação aos filhos:
Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido de
colocação do menor em família substituta, disponibilizan- Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami-
do o filho para a adoção, caso em que os direitos e deveres liar o pai ou a mãe que:
decorrentes do poder familiar serão exercidos por novos I – castigar imoderadamente o filho;
titulares, ou seja, pelos pais adotivos. II – deixar o filho em abandono;
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
21 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no arti-
Brasileiro: Direito de Família. 22. ed. São Paulo: Sarai- go antecedente.
va, 2007. v. 5.
33
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Es- Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
tatuto da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
além de preverem a suspensão e destituição do poder fami- no próprio termo de nascimento, por testamento, me-
liar, trazem também os motivos que poderão acarretá-las. diante escritura ou outro documento público, qualquer
São bastante frequentes nos casos de pais que perdem que seja a origem da filiação.
o poder familiar os atos de violência e espancamento; as- Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve- nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se
rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas deixar descendentes.
delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar
Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos
em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas
havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se
situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a
perda do poder familiar. compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio
Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o
familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci-
adotado por outra família e as causas que levaram a perda mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo
do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo
judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que ser feito em documento público.
comprovem realmente que o motivo que os levou a perder
esse poder já não existe mais. Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis- reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, po-
lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex- dendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem
tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.
pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im-
o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa
que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio- parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele
lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre- não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade
versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção. é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco-
nhece em caso de procedência.
Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela
morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos termos
do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV – pela Seção III
adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. Da Família Substituta
34
LEGISLAÇÃO FEDERAL
35
LEGISLAÇÃO FEDERAL
36
LEGISLAÇÃO FEDERAL
37
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- § 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar- se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do
da ou tutela dos adotantes. adotante durante tempo suficiente para que seja possível
avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, § 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, dispensa da realização do estágio de convivência.
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
os impedimentos matrimoniais. artigo pode ser prorrogado por até igual período, mediante
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho decisão fundamentada da autoridade judiciária.
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota- § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será
parentes. de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen- mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
vocação hereditária. deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) deferimento da adoção à autoridade judiciária.
anos, independentemente do estado civil. § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
adotando.
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os ado-
ponsáveis pela execução da política de garantia do direito
tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es-
à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
tável, comprovada a estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos acerca da conveniência do deferimento da medida.
mais velho do que o adotando. § 5o O estágio de convivência será cumprido no terri-
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os tório nacional, preferencialmente na comarca de residência
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência
que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons- do juízo da comarca de residência da criança.
tância do período de convivência e que seja comprovada a
existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque- Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
le não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionali- judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda-
dade da concessão. do do qual não se fornecerá certidão.
§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de- § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes
monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará
Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. o registro original do adotado.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. residência.
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po-
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais derá constar nas certidões do registro.
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado-
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração modificação do prenome.
e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador ado- § 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
tar o pupilo ou o curatelado. adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito
ou do representante legal do adotando.
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à
criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força
tenham sido destituídos do poder familiar. retroativa à data do óbito.
§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos § 8o O processo relativo à adoção assim como outros a
de idade, será também necessário o seu consentimento. ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, ga-
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi- rantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.
vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi- § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou adoção em que o adotando for criança ou adolescente
adolescente e as peculiaridades do caso. com deficiência ou com doença crônica.
38
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado- § 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única manutenção e correta alimentação dos cadastros, com pos-
vez por igual período, mediante decisão fundamentada da terior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.
autoridade judiciária. § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem compatível e interesse manifesto pela adoção de criança
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será reali-
no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, zado o encaminhamento da criança ou adolescente à ado-
após completar 18 (dezoito) anos. ção internacional.
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção pode- § 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interes-
rá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre
anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurí- que possível e recomendável, será colocado sob guarda de
dica e psicológica. família cadastrada em programa de acolhimento familiar.
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação cri-
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
familiar dos pais naturais. Ministério Público.
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co- de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa-
marca ou foro regional, um registro de crianças e ado- mente nos termos desta Lei quando:
lescentes em condições de serem adotados e outro de I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
pessoas interessadas na adoção. II - for formulada por parente com o qual a criança ou
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis- III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
tério Público. legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a
hipóteses previstas no art. 29.
ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será prece-
arts. 237 ou 238 desta Lei.
dida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento,
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
ponsáveis pela execução da política municipal de garantia que preenche os requisitos necessários à adoção, confor-
do direito à convivência familiar. me previsto nesta Lei.
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a prepa- § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pes-
ração referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com soas interessadas em adotar criança ou adolescente com
crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti- deficiência, com doença crônica ou com necessidades es-
tucional em condições de serem adotados, a ser realizado pecíficas de saúde, além de grupo de irmãos.
sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica
da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc- Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na
nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela qual o pretendente possui residência habitual em país-parte
execução da política municipal de garantia do direito à da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à
convivência familiar. Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado-
§ 5o Serão criados e implementados cadastros esta- ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21
duais e nacional de crianças e adolescentes em condições junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte
de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à da Convenção.
adoção. § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente
§ 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quan-
residentes fora do País, que somente serão consultados na do restar comprovado:
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca- I - que a colocação em família adotiva é a solução ade-
dastros mencionados no § 5o deste artigo. quada ao caso concreto;
§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colo-
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo- cação da criança ou adolescente em família adotiva brasilei-
-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para ra, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistên-
melhoria do sistema. cia de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil
§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e cadastros mencionados nesta Lei;
adolescentes em condições de serem adotados que não III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de de-
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à senvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,
adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § mediante parecer elaborado por equipe interprofissional,
5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
39
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 2o Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- § 3o Somente será admissível o credenciamento de or-
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional ganismos que:
de criança ou adolescente brasileiro. I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Auto-
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria ridade Central do país onde estiverem sediados e no país de
de adoção internacional. acolhida do adotando para atuar em adoção internacional
no Brasil;
Art. 52. A adoção internacional observará o procedi- II - satisfizerem as condições de integridade moral, com-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguin- petência profissional, experiência e responsabilidade exigi-
tes adaptações: das pelos países respectivos e pela Autoridade Central Fede-
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar ral Brasileira;
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua for-
de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em mação e experiência para atuar na área de adoção interna-
matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim cional;
entendido aquele onde está situada sua residência habitual; IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
II - se a Autoridade Central do país de acolhida consi- jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autori-
derar que os solicitantes estão habilitados e aptos para ado- dade Central Federal Brasileira.
tar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a § 4o Os organismos credenciados deverão ainda:
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitan- I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi-
tes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe-
meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida
assumir uma adoção internacional; e pela Autoridade Central Federal Brasileira;
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica-
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
Autoridade Central Federal Brasileira; formação ou experiência para atuar na área de adoção in-
IV - o relatório será instruído com toda a documenta- ternacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Fe-
ção necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por deral e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira,
equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da mediante publicação de portaria do órgão federal compe-
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de tente;
vigência; III - estar submetidos à supervisão das autoridades com-
V - os documentos em língua estrangeira serão devida- petentes do país onde estiverem sediados e no país de aco-
mente autenticados pela autoridade consular, observados os lhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
tratados e convenções internacionais, e acompanhados da situação financeira;
respectiva tradução, por tradutor público juramentado; IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasilei-
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên- ra, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial bem como relatório de acompanhamento das adoções inter-
do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de nacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminha-
acolhida; da ao Departamento de Polícia Federal;
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autori-
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei- dade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central
ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos envio do relatório será mantido até a juntada de cópia au-
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe tenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe- de acolhida para o adotado;
dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
validade por, no máximo, 1 (um) ano; adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasi-
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado leira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira
será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam con-
Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra cedidos.
a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no §
Autoridade Central Estadual. 4 deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
o
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o auto- tar a suspensão de seu credenciamento.
rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção § 6o O credenciamento de organismo nacional ou es-
internacional sejam intermediados por organismos creden- trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
ciados. internacional terá validade de 2 (dois) anos.
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira § 7o A renovação do credenciamento poderá ser con-
o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à ado- Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
ção internacional, com posterior comunicação às Autorida- ao término do respectivo prazo de validade.
des Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que con-
imprensa e em sítio próprio da internet. cedeu a adoção internacional, não será permitida a
40
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju- tiver processado o pedido de habilitação dos pais ado-
diciária determinará a expedição de alvará com autoriza- tivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Fe-
ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte, deral e determinará as providências necessárias à expedição
constando, obrigatoriamente, as características da criança do Certificado de Naturalização Provisório.
ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais si- § 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
nais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposi- Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
ção da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
documento com cópia autenticada da decisão e certidão de mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes-
trânsito em julgado. se superior da criança ou do adolescente.
§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a § 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá
das crianças e adolescentes adotados. imediatamente requerer o que for de direito para resguar-
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos
dar os interesses da criança ou do adolescente, comunican-
credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto-
do-se as providências à Autoridade Central Estadual, que
ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida-
fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira
mente comprovados, é causa de seu descredenciamento.
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem e à Autoridade Central do país de origem.
ser representados por mais de uma entidade credenciada
para atuar na cooperação em adoção internacional. Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domi- for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no
ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, país de origem porque a sua legislação a delega ao país de
podendo ser renovada. acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com di- aderido à Convenção referida, o processo de adoção segui-
rigentes de programas de acolhimento institucional ou fa- rá as regras da adoção nacional.
miliar, assim como com crianças e adolescentes em condi-
ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial. A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho
limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen- para que a família tivesse sucessão e para configurar a fa-
tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra- mília da época que só tinha uma configuração costumeira
tivo fundamentado. se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) anos
para que as pessoas pudessem não se arrepender do feito.
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e Quando se falava do casamento criava-se o critério de que
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de tenha se passado 05 (cinco) anos de matrimônio para que
organismos estrangeiros encarregados de intermediar pe- o casal possa adotar, pois o ideal era que os filhos fossem
didos de adoção internacional a organismos nacionais consanguíneos. A adoção poderia se dissolver por vontade
ou a pessoas físicas. das partes. Caso houvessem filhos naturais reconhecidos
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ou legitimados os filhos adotivos não participavam da su-
ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adoles- cessão além de não se desfazer o vínculo com os parentes
cente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conse- naturais, somente no que dizia respeito ao pátrio poder.
lho de Direitos da Criança e do Adolescente.
Houve um grande salto no que concerne a adoção que
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no ex-
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias
terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo pro-
cesso de adoção tenha sido processado em conformidade constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos
com a legislação vigente no país de residência e atendido o 39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz
disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, como princípio basilar o melhor interesse da criança, além
será automaticamente recepcionada com o reingresso de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que
no Brasil. haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos.
§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009,
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção.
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein- Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma
gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen- série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são
tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação comple-
ta: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que dese-
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o jam no caso de casais juntamente com os dados familiares,
Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade dados que vão completar não só a ficha do casal ou pessoa
competente do país de origem da criança ou do adolescen- que deseja adotar, mais da família onde o menor vai residir
te será conhecida pela Autoridade Central Estadual que e ter sua formação os documentos pessoais como cópias
41
LEGISLAÇÃO FEDERAL
de certidão de nascimento (quando solteiros), de certidão - Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a
de casamento (quando casados), cópias de declaração de princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre
período de união estável, Cópias de Certidão de identidade seus filhos;
(RG), Comprovante da renda da pessoa ou casal, compro- - Prevalência da família: Primeiro se dará a preferên-
vante que demostre que as condições vão suprir a neces- cia a família natural para que a criança continue com seus
sidade de se incluir mais um membro naquele lar, compro- pais depois a preferência vai ser da família contínua (família
vante de moradia em que prove a pessoa ter sua residência natural a primeira e extensa a segunda), em último caso a
que acolherá o novo integrante. criança/adolescente vai ser direcionada a família substituta.
O interessado em adotar deve juntar atestados de saú- - Obrigatoriedade da informação: respeitando o es-
de física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de cuidar tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou
e garantir uma boa vida para o adotando e atestado de adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser
saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz legal- informados o motivo em que se dá a intervenção e como
mente. esta se processou;
Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser - Oitiva obrigatória e participação: a criança ou adoles-
juntados Certidão de antecedentes criminais, que demos- cente separados ou na companhia de seus pais, responsá-
tra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Cer- veis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e
tidão negativa de distribuição civil, além da manifestação responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião
do M.P (Ministério Público) apresentando quesitos a serem deve ser considerada pelas autoridades do judiciário.
respondidos pela equipe interdisciplinar, designação de - Afastamento da criança e do adolescente do conví-
audiência para oitiva de testemunhas e requerentes, soli- vio familiar: É um processo contencioso que importara aos
citar juntada de documentos complementares que sejam pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro-
necessários. Deve ser obrigatório o estudo psicossocial cedimento é de competência do judiciário (procedimento
onde se testa a capacidade dos indivíduos para se torna- judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A;
rem pai ou mãe, o de incluir mais um membro junto aos - Acolhimento familiar: medida de proteção criada para
o amparo da criança até que seja resolvida a situação;
filhos já existente. Os programas de capacitação também
- Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju-
devem ser aderido a este sistema, levando esclarecimentos
diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de
aos pretendentes a adoção além, de manter contato com a
acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per-
criança em regime de acolhimento familiar.
manência do menor fora da sua família natural além de
Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem
todos os dados)
cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá
- Plano individual de atendimento: cada criança vai ter
ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando. um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a nova
Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de- família;
cisão pela adoção: - Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P
- Condição da criança e do adolescente como ser de (Ministério público) sendo para isto necessário prévio aviso
direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos na a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis pela
lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988; execução da política municipal de garantia do direito a
- Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer norma convivência familiar.
contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a proteção - Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu-
integral dos interesses do menor; cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen-
- Responsabilidade primária e solidaria do poder pú- tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucional
blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da devido a algum registro de maus tratos.
Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88 A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu com
(Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais es- o propósito de maximizar a efetividade das disposições do
pecíficos, é, dever dos três poderes atuarem no que for ne- ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a peculia-
cessário para a proteção do menor; ridade de ser mais rigorosa no que tange ao cumprimento
- Interesse superior da criança e do adolescente: me- de prazos para maior celeridade do processo.
diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para a Capítulo IV
criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser obser- Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
vado é o que trouxer melhor benefício a estes; Lazer
- Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem-
pre feita respeitando a privação e o direito da imagem, a Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa-
sua vida privada e a intimidade; ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, pre-
- Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e paro para o exercício da cidadania e qualificação para o tra-
risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter a situa- balho, assegurando-se-lhes:
ção presente; I - igualdade de condições para o acesso e perma-
- Intervenção mínima; nência na escola;
- Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude tomada II - direito de ser respeitado por seus educadores;
de acordo com a proporção de perigo existente no mo- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
mento, evitando e revertendo o risco de morte; recorrer às instâncias escolares superiores;
42
LEGISLAÇÃO FEDERAL
43
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi- Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de
me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido ameaça ou violação dos direitos da criança e do ado-
em entidade governamental ou não-governamental, é ve- lescente.
dado trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
dia e as cinco horas do dia seguinte; Municípios deverão atuar de forma articulada na elabo-
II - perigoso, insalubre ou penoso; ração de políticas públicas e na execução de ações des-
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e tinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento
ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; cruel ou degradante e difundir formas não violentas
IV - realizado em horários e locais que não permitam a de educação de crianças e de adolescentes, tendo como
frequência à escola. principais ações:
O menor aprendiz está proibido de trabalhar no perío- I - a promoção de campanhas educativas permanentes
do noturno, em trabalho que o coloque exposto a pericu- para a divulgação do direito da criança e do adolescente de
losidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco de incêndio serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
ou choques), insalubridade (ex.: em freezers de frigoríficos, de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de
expostos a radiação) ou penosidade (ex.: excesso de força proteção aos direitos humanos;
física exigida). II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do
Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho
Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Ado-
Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
lescente e com as entidades não governamentais que atuam
balho educativo, sob responsabilidade de entidade governa-
na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
mental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá
adolescente;
assegurar ao adolescente que dele participe condições de
III - a formação continuada e a capacitação dos profis-
capacitação para o exercício de atividade regular remu-
sionais de saúde, educação e assistência social e dos demais
nerada.
agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos di-
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
reitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento
laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao das competências necessárias à prevenção, à identificação
desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas
sobre o aspecto produtivo. as formas de violência contra a criança e o adolescente;
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra- IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pací-
balho efetuado ou a participação na venda dos produtos de fica de conflitos que envolvam violência contra a criança e
seu trabalho não desfigura o caráter educativo. o adolescente;
Os programas sociais voltados à capacitação dos ado- V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem
lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para a garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a
que ele adquira condições de inserir-se no mercado de atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e respon-
trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar sáveis com o objetivo de promover a informação, a reflexão,
tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado pelo seu o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de casti-
aprendizado. O fato do trabalho ser remunerado não des- go físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo
virtua este propósito. educativo;
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização articulação de ações e a elaboração de planos de atuação
e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec- conjunta focados nas famílias em situação de violência, com
tos, entre outros: participação de profissionais de saúde, de assistência social
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen- e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa
volvimento; dos direitos da criança e do adolescente.
II - capacitação profissional adequada ao mercado de Parágrafo único. As famílias com crianças e adoles-
trabalho. centes com deficiência terão prioridade de atendimento nas
Com efeito, profissionalização e proteção no traba- ações e políticas públicas de prevenção e proteção.
lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente,
exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine- Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem
rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que o nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem con-
trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado de tar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhe-
trabalho. cer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de
maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.
44
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela co- Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
municação de que trata este artigo, as pessoas encarrega- exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
das, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão faixa etária a que se destinam.
ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças
e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustifi- Art. 78. As revistas e publicações contendo material
cado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de-
verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor- advertência de seu conteúdo.
mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas
produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de que contenham mensagens pornográficas ou obscenas se-
pessoa em desenvolvimento. jam protegidas com embalagem opaca.
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú-
da prevenção especial outras decorrentes dos princípios blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo-
por ela adotados. tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im- os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
nos termos desta Lei. Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explo-
rem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por
Capítulo II casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas,
Da Prevenção Especial ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja per-
mitida a entrada e a permanência de crianças e adoles-
Seção I centes no local, afixando aviso para orientação do público.
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
e Espetáculos Seção II
Dos Produtos e Serviços
Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
regulará as diversões e espetáculos públicos, informan- Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles-
do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se cente de:
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se I - armas, munições e explosivos;
mostre inadequada. II - bebidas alcoólicas;
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es- III - produtos cujos componentes possam causar depen-
petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil dência física ou psíquica ainda que por utilização indevi-
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada da;
sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles
no certificado de classificação. que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar
qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di- V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
versões e espetáculos públicos classificados como ade- VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
quados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so- Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado-
mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre- lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos
responsável. pais ou responsável.
45
LEGISLAÇÃO FEDERAL
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo III - criação e manutenção de programas específicos,
pai, mãe ou responsável. observada a descentralização político-administrativa;
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu-
responsável, conceder autorização válida por dois anos. nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da
criança e do adolescente;
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a au- V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
torização é dispensável, se a criança ou adolescente: Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e As-
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res- sistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
ponsável; para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles-
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado cente a quem se atribua autoria de ato infracional;
expressamente pelo outro através de documento com VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
firma reconhecida. Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en-
carregados da execução das políticas sociais básicas e de
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne- assistência social, para efeito de agilização do atendimento
nhuma criança ou adolescente nascido em território na- de crianças e de adolescentes inseridos em programas de
cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rá-
residente ou domiciliado no exterior. pida reintegração à família de origem ou, se tal solução se
mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em famí-
Parte Especial lia substituta, em quaisquer das modalidades previstas no
art. 28 desta Lei;
Título I VII - mobilização da opinião pública para a indispen-
Da Política de Atendimento sável participação dos diversos segmentos da sociedade;
VIII - especialização e formação continuada dos pro-
Capítulo I fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à
Disposições Gerais primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos
da criança e sobre desenvolvimento infantil;
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança
IX - formação profissional com abrangência dos di-
e do adolescente far-se-á através de um conjunto articu-
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça
lado de ações governamentais e não-governamentais,
a intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles-
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
cente e seu desenvolvimento integral;
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de-
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.
I - políticas sociais básicas;
II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
sistência social de garantia de proteção social e de preven- Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos
ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do
ou reincidências; adolescente é considerada de interesse público relevante
III - serviços especiais de prevenção e atendimento e não será remunerada.
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
tos, exploração, abuso, crueldade e opressão; Capítulo II
IV - serviço de identificação e localização de pais, Das Entidades de Atendimento
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa Seção I
dos direitos da criança e do adolescente; Disposições Gerais
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
abreviar o período de afastamento do convívio familiar Art. 90. As entidades de atendimento são respon-
e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim
familiar de crianças e adolescentes; como pelo planejamento e execução de programas de prote-
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma ção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes,
de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio em regime de:
familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças I - orientação e apoio sociofamiliar;
maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de II - apoio socioeducativo em meio aberto;
saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. III - colocação familiar;
IV - acolhimento institucional;
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: V - prestação de serviços à comunidade;
I - municipalização do atendimento; VI - liberdade assistida;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacio- VII - semiliberdade; e
nal dos direitos da criança e do adolescente, órgãos delibera- VIII - internação.
tivos e controladores das ações em todos os níveis, assegura- § 1o As entidades governamentais e não governamen-
da a participação popular paritária por meio de organizações tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es-
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; pecificando os regimes de atendimento, na forma definida
46
LEGISLAÇÃO FEDERAL
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian- VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho VII - participação na vida da comunidade local;
Tutelar e à autoridade judiciária. VIII - preparação gradativa para o desligamento;
§ 2o Os recursos destinados à implementação e ma- IX - participação de pessoas da comunidade no pro-
nutenção dos programas relacionados neste artigo serão cesso educativo.
previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos § 1o O dirigente de entidade que desenvolve progra-
encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião,
Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori- para todos os efeitos de direito.
dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo § 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro-
caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e pa- gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão
rágrafo único do art. 4o desta Lei. à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses,
§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian-
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea-
cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.
critérios para renovação da autorização de funcionamento: § 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per-
como às resoluções relativas à modalidade de atendimento manente qualificação dos profissionais que atuam direta
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e ou indiretamente em programas de acolhimento institucio-
do Adolescente, em todos os níveis; nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles-
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e Público e Conselho Tutelar.
pela Justiça da Infância e da Juventude; § 4o Salvo determinação em contrário da autorida-
III - em se tratando de programas de acolhimento insti- de judiciária competente, as entidades que desenvolvem
tucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne-
na reintegração familiar ou de adaptação à família substitu- cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos
ta, conforme o caso. de assistência social, estimularão o contato da criança ou
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao
Art. 91. As entidades não-governamentais somente
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
poderão funcionar depois de registradas no Conselho
§ 5o As entidades que desenvolvem programas de aco-
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece-
qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos
dade judiciária da respectiva localidade.
princípios, exigências e finalidades desta Lei.
§ 1o Será negado o registro à entidade que:
§ 6o O descumprimento das disposições desta Lei
a) não ofereça instalações físicas em condições adequa-
das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de
b) não apresente plano de trabalho compatível com os acolhimento familiar ou institucional é causa de sua desti-
princípios desta Lei; tuição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade
c) esteja irregularmente constituída; administrativa, civil e criminal.
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. § 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três)
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten-
deliberações relativas à modalidade de atendimento pres- ção à atuação de educadores de referência estáveis e quali-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do tativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendi-
Adolescente, em todos os níveis. mento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, prioritárias.
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de Art. 93. As entidades que mantenham programa de
sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo. acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de determinação da autoridade competente, fazendo comuni-
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se- cação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da
guintes princípios: Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
I - preservação dos vínculos familiares e promoção Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade
da reintegração familiar; judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
II - integração em família substituta, quando esgotados apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas neces-
os recursos de manutenção na família natural ou extensa; sárias para promover a imediata reintegração familiar da
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for
IV - desenvolvimento de atividades em regime de isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a
coeducação; programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
V - não desmembramento de grupos de irmãos; substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.
47
LEGISLAÇÃO FEDERAL
48
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Parágrafo único. São também princípios que regem a Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
aplicação das medidas: art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos outras, as seguintes medidas:
de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direi- I - encaminhamento aos pais ou responsável, me-
tos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constitui- diante termo de responsabilidade;
ção Federal; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e apli- III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele-
cação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser cimento oficial de ensino fundamental;
voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co-
crianças e adolescentes são titulares; munitários de proteção, apoio e promoção da família, da
III - responsabilidade primária e solidária do poder pú- criança e do adolescente;
blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de VI - inclusão em programa oficial ou comunitário
responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi-
governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento cômanos;
e da possibilidade da execução de programas por entidades VII - acolhimento institucional;
não governamentais; VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a in- IX - colocação em família substituta.
tervenção deve atender prioritariamente aos interesses e di- § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa-
reitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da conside- miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
ração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito como forma de transição para reintegração familiar ou, não
da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto; sendo esta possível, para colocação em família substituta,
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da não implicando privação de liberdade.
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e
intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta-
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará
seja conhecida;
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exerci-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten-
da exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal
seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à prote- o exercício do contraditório e da ampla defesa.
ção da criança e do adolescente; § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser enca-
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção minhados às instituições que executam programas de aco-
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em lhimento institucional, governamentais ou não, por meio de
que a criança ou o adolescente se encontram no momento uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciá-
em que a decisão é tomada; ria, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser I - sua identificação e a qualificação completa de seus
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres pais ou de seu responsável, se conhecidos;
para com a criança e o adolescente; II - o endereço de residência dos pais ou do responsável,
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na com pontos de referência;
proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva- III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados
lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua em tê-los sob sua guarda;
família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
promovam a sua integração em família adotiva; convívio familiar.
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado- § 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou
lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capa- do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
cidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
a intervenção e da forma como esta se processa; ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado- em contrário de autoridade judiciária competente, caso em
lescente, em separado ou na companhia dos pais, de respon- que também deverá contemplar sua colocação em família
sável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos § 5o O plano individual será elaborado sob a respon-
atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela atendimento e levará em consideração a opinião da criança
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
§§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. § 6o Constarão do plano individual, dentre outros:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
49
LEGISLAÇÃO FEDERAL
50
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des- Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras,
crita como crime ou contravenção penal. as seguintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores infracional, mediante citação ou meio equivalente;
de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. II - igualdade na relação processual, podendo con-
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con- frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as
provas necessárias à sua defesa;
siderada a idade do adolescente à data do fato.
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos ne-
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
cessitados, na forma da lei;
corresponderão as medidas previstas no art. 101. V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
competente;
Capítulo II VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
Dos Direitos Individuais responsável em qualquer fase do procedimento.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua Capítulo IV
liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por Das Medidas Socioeducativas
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente. Seção I
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi- Disposições Gerais
cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
informado acerca de seus direitos. Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autori-
dade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local medidas:
onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados I - advertência;
à autoridade judiciária competente e à família do apreendi- II - obrigação de reparar o dano;
do ou à pessoa por ele indicada. III - prestação de serviços à comunidade;
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de IV - liberdade assistida;
responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de- VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a
basear-se em indícios suficientes de autoria e materia- gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi-
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
ciência mental receberão tratamento individual e espe-
será submetido a identificação compulsória pelos ór- cializado, em local adequado às suas condições.
gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito
de confrontação, havendo dúvida fundada. Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
99 e 100.
O adolescente não é preso, é apreendido.
A internação é a medida mais gravosa para o adoles- Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos
cente. O ECA permite a internação provisória durante o II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien-
processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda- tes da autoria e da materialidade da infração, ressalva-
mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória da a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces- Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
sidade da medida. sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
Esse prazo de internação provisória será descontado cientes da autoria.
na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança
poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor As medidas socioeducativas dependem de um proce-
de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas dimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O ECA
apenas a medida de proteção. apresenta dois critérios genéricos para a aplicação de me-
dida socioeducativa:
51
LEGISLAÇÃO FEDERAL
52
LEGISLAÇÃO FEDERAL
- supervisionar a frequência e o aproveitamento esco- Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
lar do adolescente; quando:
- profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n. 20); I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
- apresentar relatório do caso ao Juiz. ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações
Seção VI graves;
Do Regime de Semiliberdade III - por descumprimento reiterado e injustificável da
medida anteriormente imposta.
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III des-
Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
te artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo
nado desde o início, ou como forma de transição para o
ser decretada judicialmente após o devido processo legal.
meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter- § 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
nas, independentemente de autorização judicial. havendo outra medida adequada.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio-
nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entida-
recursos existentes na comunidade. de exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele
§ 2º A medida não comporta prazo determinado destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por cri-
aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à in- térios de idade, compleição física e gravidade da infração.
ternação. Parágrafo único. Durante o período de internação, inclu-
sive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que impor-
ta em privação de liberdade ao adolescente que pratica um Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberda-
ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua de, entre outros, os seguintes:
família e colocado em um estabelecimento apropriado de I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do
semiliberdade, podendo realizar atividades externas (estu- Ministério Público;
dar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
estabelecimento, não havendo necessidade de autorização III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre
judicial. Pode ser usada tanto como medida principal quan-
que solicitada;
to como medida progressiva ou regressiva. V - ser tratado com respeito e dignidade;
A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem VI - permanecer internado na mesma localidade ou na-
mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência deter- quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
minam a aplicação da medida por analogia dos prazos da VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obri- VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
gatoriedade de escolarização e profissionalização na semi- IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio
liberdade. pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi-
Seção VII giene e salubridade;
Da Internação XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
Art. 121. A internação constitui medida privativa da XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio- XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença,
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em e desde que assim o deseje;
desenvolvimento. XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, local seguro para guardá-los, recebendo comprovante da-
queles porventura depositados em poder da entidade;
a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu-
terminação judicial em contrário.
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, de- § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão § 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem-
fundamentada, no máximo a cada seis meses. porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter- existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida-
nação excederá a três anos. de aos interesses do adolescente.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi- Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física
me de semiliberdade ou de liberdade assistida. e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas ade-
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos quadas de contenção e segurança.
de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece- Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida re-
dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. servada para os atos infracionais de natureza grave. O ECA
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o pode- estabelece princípios específicos para a internação, pois é
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. medida de privação de liberdade sempre excepcional.
53
LEGISLAÇÃO FEDERAL
A internação deve durar o menor tempo possível (prin- Art. 128. A medida aplicada por força da remissão pode-
cípio da brevidade), é uma medida de exceção que só de- rá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante
verá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio- pedido expresso do adolescente ou de seu representante le-
nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição gal, ou do Ministério Público.
peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança. Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor.
O ECA estabelece hipóteses de internação para:
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São
- prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
violência à pessoa; hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju-
- reiteração de infrações graves; dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo
- descumprimento reiterado e injustificado da medi- (portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão
da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão). ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve
Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de ser concedida antes do processo - administrativamente).
3 meses. Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se-
Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para in- guinte procedimento:
ternação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA poderá - o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a
atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas só- remissão;
cio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
- o Promotor encaminha a remissão para homologação
A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à pelo Juiz;
criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe- - se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para
ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão
por internação provisória, esses dias serão computados na ou designar outro representante do MP para apresentar
internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e representação contra o menor. Essa remissão concedida
internação é que, nesta, o adolescente depende de auto- pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao
rização expressa do juiz para praticar atividades externas, conceder a remissão, inexiste o processo.
ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o
estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz. seguinte procedimento:
O art. 123 dispõe que o local para a internação deve - o Promotor oferece a representação;
ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido
por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de reali- pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão;
zação de atividades pedagógicas. - o representante do MP deverá, obrigatoriamente, ser
O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado- ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de ela ser
lescentes: aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa extinção do
- entrevista pessoal com o representante do MP; processo. Havendo discordância por parte do MP, este de-
- entrevista reservada com seu defensor, dentre outros. verá ingressar com uma apelação para reformar a decisão
As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda- do Juiz.
mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a
nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável. cumulação da remissão com uma medida sócio-educativa
que seja compatível (ex.: reparação do dano, advertência
Capítulo V
etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão do pro-
Da Remissão
cesso.
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplicação
para apuração de ato infracional, o representante do da remissão, devendo ficar a critério do membro do MP ou
Ministério Público poderá conceder a remissão, como do Juiz a sua concessão. São eles:
forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias - circunstâncias e consequências do fato;
e consequências do fato, ao contexto social, bem como à per- - contexto social em que o fato foi praticado;
sonalidade do adolescente e sua maior ou menor participa- - personalidade do agente;
ção no ato infracional. - maior ou menor participação no ato infracional.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz,
da remissão pela autoridade judiciária importará na suspen-
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência na
são ou extinção do processo.
doutrina em considerar a remissão como um acordo ou
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o não. A posição majoritária entende que a remissão não é
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão e, ain-
nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in- da, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o adoles-
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas cente, não possuindo a remissão nenhum efeito, podendo
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li- ser concedida quantas vezes forem necessárias.
berdade e a internação.
54
LEGISLAÇÃO FEDERAL
55
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po- Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre-
derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e
quem tenha legítimo interesse. um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
forma da legislação civil ou processual.
Capítulo III Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador
Da Competência especial à criança ou adolescente, sempre que os interes-
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com- quando carecer de representação ou assistência legal ainda
petência constante do art. 147. que eventual.
56
LEGISLAÇÃO FEDERAL
posição, como conciliação, mediação e arbitragem. Art. 147. A competência será determinada:
Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura, II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente,
porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de à falta dos pais ou responsável.
juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a
autoridade no território nacional e nos limites de sua com- autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re-
petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário gras de conexão, continência e prevenção.
delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à
pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma autoridade competente da residência dos pais ou respon-
lesão ou ameaça a direito. sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a
Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários criança ou adolescente.
é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba- § 3º Em caso de infração cometida através de trans-
lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais
material que não seja penal ou trabalhista, não somente de uma comarca, será competente, para aplicação da pe-
questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual
que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas
(trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su- as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado.
perior e inferior.
Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi- Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é compe-
ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica, tente para:
ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes I - conhecer de representações promovidas pelo Minis-
em localidades determinadas). A esta distribuição das par- tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
celas de jurisdição dá-se o nome de competência. adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez, II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
são aquelas que apresentam procedimentos diversos do extinção do processo;
comum. Possuem procedimentos ditos especiais, os quais III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
buscam garantir um processo mais rápido e compatível IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses indi-
com as necessidades específicas do direito em discussão. viduais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescen-
No âmbito do direito da criança e do adolescente, tem-se te, observado o disposto no art. 209;
o estabelecimento de uma tutela jurisdicional diferenciada, V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
eis que existem inúmeras regras específicas aplicáveis aos entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis;
processos que envolvem de algum modo criança ou ado- VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de in-
lescente. frações contra norma de proteção à criança ou adolescente;
A noção de jurisdição inclusiva também se aplica à tu- VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tu-
tela jurisdicional da criança e do adolescente. Basicamente, telar, aplicando as medidas cabíveis.
refere-se à propiciação de uma jurisdição que esteja atenta Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado-
às peculiaridades das minorias e dos grupos vulneráveis. lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
No caso, as crianças e adolescentes são considerados um Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
grupo vulnerável devido à condição especial que ocupam. a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
Capítulo II perda ou modificação da tutela ou guarda;
Da Justiça da Infância e da Juventude c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casa-
mento;
Seção I d) conhecer de pedidos baseados em discordância pater-
Disposições Gerais na ou materna, em relação ao exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil,
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar quando faltarem os pais;
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, f) designar curador especial em casos de apresentação
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali- de queixa ou representação, ou de outros procedimentos ju-
dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e diciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
Seção II h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri-
Do Juiz mento dos registros de nascimento e óbito.
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
forma da lei de organização judiciária local. I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
desacompanhado dos pais ou responsável, em:
57
LEGISLAÇÃO FEDERAL
a) estádio, ginásio e campo desportivo; Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor-
b) bailes ou promoções dançantes; responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a
c) boate ou congêneres; autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministé-
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. rio Público.
II - a participação de criança e adolescente em: Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica
a) espetáculos públicos e seus ensaios; para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de
b) certames de beleza. sua família de origem e em outros procedimentos necessa-
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade riamente contenciosos.
judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei; Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito
d) o tipo de frequência habitual ao local;
da criança e do adolescente voltado à criança e ao adoles-
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
cente individualmente concebidos, isto é, pensados como
frequência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo. sujeitos de direitos individuais que possam ser por eles
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar- exercidos.
tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito
determinações de caráter geral. da criança e do adolescente voltados às atividades de en-
sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação
Seção III formal quanto em relação à educação informal.
Dos Serviços Auxiliares A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difu-
sos e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua difusos e coletivos são conferidos mecanismos de tutela
proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de específicos para sua proteção, bem como atribuída com-
equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da petência para tanto a órgãos determinados que exercerão
Infância e da Juventude. um papel representativo. No Brasil, destacam-se institui-
ções como o Ministério Público e a Defensoria Pública. Sem
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras prejuízo, como visto, há remédios constitucionais que se
atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, for- voltam à proteção de interesses desta categoria, como o
necer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, mandado de segurança coletivo e a própria ação popu-
na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconse- lar, sem falar na ação civil pública, também mencionada no
lhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, texto constitucional.
tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, as- Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas
segurada a livre manifestação do ponto de vista técnico. no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela
Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servido- jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen-
res públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil,
realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto.
espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei ou por de- Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per-
terminação judicial, a autoridade judiciária poderá proceder à
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co-
nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Lei no 13.105,
locação em família substituta, apuração de ato infracional
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em
Capítulo III atendimento, apuração de infração administrativa às nor-
Dos Procedimentos mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação
em adoção.
Seção I
Disposições Gerais Seção II
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
legislação processual pertinente. do poder familiar terá início por provocação do Ministério
§ 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio- Público ou de quem tenha legítimo interesse.
ridade absoluta na tramitação dos processos e proce-
dimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos Art. 156. A petição inicial indicará:
atos e diligências judiciais a eles referentes. I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
seus procedimentos são contados em dias corridos, excluí- requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
do o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o tratando de pedido formulado por representante do Minis-
prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público. tério Público;
58
LEGISLAÇÃO FEDERAL
III - a exposição sumária do fato e o pedido; Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde concluído o estudo social ou a perícia realizada por equi-
logo, o rol de testemunhas e documentos. pe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judi-
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão em igual prazo.
do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julga- § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimen-
mento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente to das partes ou do Ministério Público, determinará a oi-
confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabili- tiva de testemunhas que comprovem a presença de uma
dade. das causas de suspensão ou destituição do poder familiar
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de
determinará, concomitantemente ao despacho de citação e janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei.
independentemente de requerimento do interessado, a reali- § 2o (Revogado).
zação de estudo social ou perícia por equipe interprofissional § 3o Se o pedido importar em modificação de guarda,
ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da
causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressal- criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen-
vado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a volvimento e grau de compreensão sobre as implicações da
Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017. medida.
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indíge- § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles
nas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter- forem identificados e estiverem em local conhecido, ressal-
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, vados os casos de não comparecimento perante a Justiça
de representantes do órgão federal responsável pela política quando devidamente citados.
indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei. § 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda-
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para
a oitiva.
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi-
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por
e documentos.
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando,
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
desde logo, audiência de instrução e julgamento.
meios para sua realização.
§ 1º (Revogado).
§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Pú-
do pessoalmente. blico, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmen-
§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou- te o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito,
ver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e
o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, infor- o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada
mar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos.
vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a
na hora que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
Civil). § 4o Quando o procedimento de destituição de poder fa-
§ 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em lo- miliar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá neces-
cal incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo sidade de nomeação de curador especial em favor da criança
de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ou adolescente.
ofícios para a localização.
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce-
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de cons- dimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz,
tituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder
família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomea- familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adoles-
do dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, cente com vistas à colocação em família substituta.
contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou
nomeação. a suspensão do poder familiar será averbada à margem do
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de registro de nascimento da criança ou do adolescente.
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. Seção III
Da Destituição da Tutela
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre- Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro-
sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces-
a requerimento das partes ou do Ministério Público. sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
59
LEGISLAÇÃO FEDERAL
A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju- § 7o A família natural e a família substituta receberão
dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos a devida orientação por intermédio de equipe técnica inter-
previstos na legislação civil, bem como na hipótese de des- profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
cumprimento injustificado dos deveres e obrigações. preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
execução da política municipal de garantia do direito à con-
Seção IV vivência familiar.
Da Colocação em Família Substituta
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque-
Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos rimento das partes ou do Ministério Público, determinará a
adotados na colocação em família substituta: realização de estudo social ou, se possível, perícia por equi-
pe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de
convivência.
colocação em família substituta:
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro-
I - qualificação completa do requerente e de seu even-
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado-
tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de responsabilidade.
seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente,
especificando se tem ou não parente vivo; Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe-
III - qualificação completa da criança ou adolescente e ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles-
de seus pais, se conhecidos; cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em
anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão; igual prazo.
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente. Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se- perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressupos-
-ão também os requisitos específicos. to lógico da medida principal de colocação em família subs-
tituta, será observado o procedimento contraditório previsto
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido nas Seções II e III deste Capítulo.
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houve- Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
rem aderido expressamente ao pedido de colocação em poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
família substituta, este poderá ser formulado diretamente observado o disposto no art. 35.
em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
dispensada a assistência de advogado. Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47.
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente
devidamente assistidas por advogado ou por defensor públi- sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento
co, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entida-
máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da de por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por ter-
Seção V
mo as declarações; e
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado-
II - declarará a extinção do poder familiar.
lescente
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventu- judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
de, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade
da medida. Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
§ 3o São garantidos a livre manifestação de vontade infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade po-
dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das licial competente.
informações. Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali-
§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá va- zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o § ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevale-
1o deste artigo. cerá a atribuição da repartição especializada, que, após as
§ 5o O consentimento é retratável até a data da reali- providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os adulto à repartição policial própria.
pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez)
dias, contado da data de prolação da sentença de extinção Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional come-
do poder familiar. tido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a auto-
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado ridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, pará-
após o nascimento da criança. grafo único, e 107, deverá:
60
LEGISLAÇÃO FEDERAL
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
o adolescente; anterior, o representante do Ministério Público poderá:
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; I - promover o arquivamento dos autos;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à com- II - conceder a remissão;
provação da materialidade e autoria da infração. III - representar à autoridade judiciária para aplicação
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, de medida sócio-educativa.
a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
ocorrência circunstanciada. Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con-
cedida a remissão pelo representante do Ministério Público,
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsá-
mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos
vel, o adolescente será prontamente liberado pela autorida-
de policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para
sua apresentação ao representante do Ministério Público, no homologação.
mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil ime- § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au-
diato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum-
sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob primento da medida.
internação para garantia de sua segurança pessoal ou ma- § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
nutenção da ordem pública. dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des-
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de-
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli- signará outro membro do Ministério Público para apresen-
cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan- tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só
te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
apreensão ou boletim de ocorrência.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au- Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Mi-
toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de nistério Público não promover o arquivamento ou conceder
atendimento, que fará a apresentação ao representante do a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. propondo a instauração de procedimento para aplicação da
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de
medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada.
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po-
licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles- § 1º A representação será oferecida por petição, que
cente aguardará a apresentação em dependência separada conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó- infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po-
tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior. dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
pela autoridade judiciária.
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po- § 2º A representação independe de prova pré-consti-
licial encaminhará imediatamente ao representante do Mi- tuída da autoria e materialidade.
nistério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de
ocorrência. Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver in- provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
dícios de participação de adolescente na prática de ato infra-
cional, a autoridade policial encaminhará ao representante Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi-
do Ministério Público relatório das investigações e demais ciária designará audiência de apresentação do adolescente,
documentos. decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado
cientificados do teor da representação, e notificados a
em compartimento fechado de veículo policial, em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devi- minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
damente autuados pelo cartório judicial e com informação tação.
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
ou responsável, vítima e testemunhas. ou responsável.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre-
sentante do Ministério Público notificará os pais ou respon- Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
sável para apresentação do adolescente, podendo requisitar toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabeleci-
o concurso das polícias civil e militar. mento prisional.
61
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac- § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, de-
terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser verá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença.
imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles- Seção V-A
cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi-
que em seção isolada dos adultos e com instalações apro- gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança
priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco e de Adolescente
dias, sob pena de responsabilidade.
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter-
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res- net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240,
ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes- 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguin-
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, tes regras:
proferindo decisão. I – será precedida de autorização judicial devidamente
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi- circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites
da de internação ou colocação em regime de semi-liberda- da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério
de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente Público;
não possui advogado constituído, nomeará defensor, de- II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú-
signando, desde logo, audiência em continuação, podendo blico ou representação de delegado de polícia e conterá a
determinar a realização de diligências e estudo do caso. demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,
no prazo de três dias contado da audiência de apresenta- quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que per-
ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas. mitam a identificação dessas pessoas;
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu- III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias,
nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cumpri- sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não
das as diligências e juntado o relatório da equipe interpro- exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada
fissional, será dada a palavra ao representante do Ministério sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial.
Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte § 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode-
minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração
da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão. antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º
deste artigo.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não § 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste
comparecer, injustificadamente à audiência de apresenta- artigo, consideram-se:
ção, a autoridade judiciária designará nova data, determi- I – dados de conexão: informações referentes a hora,
nando sua condução coercitiva. data, início, término, duração, endereço de Protocolo de In-
ternet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus- II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenti-
do procedimento, antes da sentença. cado para a conexão a quem endereço de IP, identificação
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no mo-
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer mento da conexão.
medida, desde que reconheça na sentença: § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não
I - estar provada a inexistência do fato; será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios.
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional; Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
para o ato infracional. autorização da medida, que zelará por seu sigilo.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
adolescente internado, será imediatamente colocado em li- acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Públi-
berdade. co e ao delegado de polícia responsável pela operação, com
o objetivo de garantir o sigilo das investigações.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de
internação ou regime de semi-liberdade será feita: Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
I - ao adolescente e ao seu defensor; sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240,
ou responsável, sem prejuízo do defensor. 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se- A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
-á unicamente na pessoa do defensor. de dezembro de 1940 (Código Penal).
62
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público po- Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade
derão incluir nos bancos de dados próprios, mediante proce- administrativa por infração às normas de proteção à criança
dimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as infor- e ao adolescente terá início por representação do Ministério
mações necessárias à efetividade da identidade fictícia criada. Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elabo-
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata rado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assi-
esta Seção será numerado e tombado em livro específico. nado por duas testemunhas, se possível.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a
eletrônicos praticados durante a operação deverão ser natureza e as circunstâncias da infração.
registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao § 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório cir- guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con-
cunstanciado. trário, dos motivos do retardamento.
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados
no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresen-
apensados ao processo criminal juntamente com o inquéri- tação de defesa, contado da data da intimação, que será feita:
to policial, assegurando-se a preservação da identidade do I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavra-
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos do na presença do requerido;
adolescentes envolvidos. II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habi-
litado, que entregará cópia do auto ou da representação ao
Seção VI requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
Atendimento
encontrado o requerido ou seu representante legal;
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularida-
sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.
des em entidade governamental e não-governamental terá
início mediante portaria da autoridade judiciária ou repre-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le-
sentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde
gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé-
conste, necessariamente, resumo dos fatos.
rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a auto-
ridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar limi-
narmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
mediante decisão fundamentada. procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo ne-
cessário, designará audiência de instrução e julgamento.
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re-
documentos e indicar as provas a produzir. querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorro-
gável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo neces- em seguida proferirá sentença.
sário, a autoridade judiciária designará audiência de instru-
ção e julgamento, intimando as partes. Seção VIII
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de- Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto- I - qualificação completa;
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime- II - dados familiares;
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou ca-
substituição. samento, ou declaração relativa ao período de união estável;
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida- IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu- dastro de Pessoas Físicas;
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo V - comprovante de renda e domicílio;
será extinto, sem julgamento de mérito. VI - atestados de sanidade física e mental;
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- VII - certidão de antecedentes criminais;
te da entidade ou programa de atendimento. VIII - certidão negativa de distribuição cível.
63
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 § 1o A ordem cronológica das habilitações somente po-
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério derá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando com-
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe provado ser essa a melhor solução no interesse do adotando.
interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a § 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mí-
que se refere o art. 197-C desta Lei; nimo trienalmente mediante avaliação por equipe interpro-
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos fissional.
postulantes em juízo e testemunhas; § 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado-
III - requerer a juntada de documentos complementares ção, será dispensável a renovação da habilitação, bastando
e a realização de outras diligências que entender necessárias. a avaliação por equipe interprofissional.
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi- adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do per-
fil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida.
pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda
Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que con-
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do adoles-
terá subsídios que permitam aferir a capacidade e o prepa-
cente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção
ro dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou importará na sua exclusão dos cadastros de adoção.
maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
desta Lei. Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili-
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu- por igual período, mediante decisão fundamentada da auto-
de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis ridade judiciária.
pela execução da política municipal de garantia do direito
à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devi- Capítulo IV
damente habilitados perante a Justiça da Infância e da Ju- Dos Recursos
ventude, que inclua preparação psicológica, orientação e es-
tímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância
com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades e da Juventude, inclusive os relativos à execução das me-
específicas de saúde, e de grupos de irmãos. didas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obri- no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Ci-
gatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá vil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº
o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhi- 12.594, de 2012)
mento familiar ou institucional, a ser realizado sob orien- I - os recursos serão interpostos independentemente de
tação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça preparo;
da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, II - em todos os recursos, salvo nos embargos de decla-
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de aco- ração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa será
lhimento familiar e institucional e pela execução da política sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594,
municipal de garantia do direito à convivência familiar. de 2012)
§ 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes III - os recursos terão preferência de julgamento e dis-
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora se- pensarão revisor;
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
jam preparados por equipe interprofissional antes da inclu-
instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso
são em família adotiva.
de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho funda-
mentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da partici- cinco dias;
pação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autori- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
dade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, deci- vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
dirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo
e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos
conforme o caso, audiência de instrução e julgamento. dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da in-
ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determi- timação.
nará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
em igual prazo. 149 caberá recurso de apelação.
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será ins- Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efei-
crito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a to desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de adoção internacional ou se houver perigo de dano irrepará-
crianças ou adolescentes adotáveis. vel ou de difícil reparação ao adotando.
64
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo. para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção
à infância e à juventude;
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
de destituição de poder familiar, em face da relevância das legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo
questões, serão processados com prioridade absoluta, de- as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
vendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e ha-
aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e beas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na de-
serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e fesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à
com parecer urgente do Ministério Público. criança e ao adolescente;
X - representar ao juízo visando à aplicação de penali-
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em
dade por infrações cometidas contra as normas de proteção
mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta)
à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da res-
dias, contado da sua conclusão.
ponsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da
data do julgamento e poderá na sessão, se entender neces- XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
sário, apresentar oralmente seu parecer. atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando
de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessá-
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a ins- rias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
tauração de procedimento para apuração de responsabili- XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
dades se constatar o descumprimento das providências e do dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assis-
prazo previstos nos artigos anteriores. tência social, públicos ou privados, para o desempenho de
suas atribuições.
Capítulo V § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações
Do Ministério Público cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta esta Lei.
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica. § 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
Art. 201. Compete ao Ministério Público: Ministério Público.
I - conceder a remissão como forma de exclusão do pro- § 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
cesso; cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos encontre criança ou adolescente.
às infrações atribuídas a adolescentes; § 4º O representante do Ministério Público será res-
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os ponsável pelo uso indevido das informações e documentos
procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
como oficiar em todos os demais procedimentos da compe- so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
tência da Justiça da Infância e da Juventude; Público:
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interes-
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
sados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a
taurando o competente procedimento, sob sua presidência;
prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer ad-
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
ministradores de bens de crianças e adolescentes nas hipó-
teses do art. 98; reclamada, em dia, local e horário previamente notificados
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para ou acertados;
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos re- c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
lativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no viços públicos e de relevância pública afetos à criança e
art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para ins- adequação.
truí-los:
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti- for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei,
civil ou militar; hipótese em que terá vista dos autos depois das partes,
b) requisitar informações, exames, perícias e documen- podendo juntar documentos e requerer diligências, usando
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da admi- os recursos cabíveis.
nistração direta ou indireta, bem como promover inspeções e
diligências investigatórias; Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
c) requisitar informações e documentos a particulares e caso, será feita pessoalmente.
instituições privadas;
65
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público X - de programas de atendimento para a execução das
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote-
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
Art. 205. As manifestações processuais do representante proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
do Ministério Público deverão ser fundamentadas. coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegi-
dos pela Constituição e pela Lei.
Capítulo VI § 2o A investigação do desaparecimento de crianças
Do Advogado ou adolescentes será realizada imediatamente após noti-
ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res- o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa-
ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne-
solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do
trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado
desaparecido.
para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
respeitado o segredo de justiça.
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propos-
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in-
tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem. tas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou
omissão, cujo juízo terá competência absoluta para proces-
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá- sar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e
tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será a competência originária dos tribunais superiores.
processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no- Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorren-
constituir outro de sua preferência. temente:
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adia- I - o Ministério Público;
mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal
substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito e os territórios;
do ato. III - as associações legalmente constituídas há pelo me-
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando nos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dis-
sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da pensada a autorização da assembleia, se houver prévia au-
autoridade judiciária. torização estatutária.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
Capítulo VII nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, interesses e direitos de que cuida esta Lei.
Difusos e Coletivos § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti-
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações mado poderá assumir a titularidade ativa.
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar
oferta irregular:
dos interessados compromisso de ajustamento de sua con-
I - do ensino obrigatório;
duta às exigências legais, o qual terá eficácia de título exe-
II - de atendimento educacional especializado aos por-
cutivo extrajudicial.
tadores de deficiência;
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças
de zero a cinco anos de idade; Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações per-
do educando; tinentes.
V - de programas suplementares de oferta de material § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educan- normas do Código de Processo Civil.
do do ensino fundamental; § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ções do poder público, que lesem direito líquido e certo
ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem; previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; rá pelas normas da lei do mandado de segurança.
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
centes privados de liberdade. Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício específica da obrigação ou determinará providências que as-
do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes. segurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
66
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final, poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus- informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
tificação prévia, citando o réu. prazo de quinze dias.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente- Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes-
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri- soa, organismo público ou particular, certidões, informações,
mento do preceito. exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não pode-
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em rá ser inferior a dez dias úteis.
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida des- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
de o dia em que se houver configurado o descumprimento. as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen-
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente fazendo-o fundamentadamente.
do respectivo município. § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa-
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos do Ministério Público.
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré- nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
dito, em conta com correção monetária. sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos re- § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
cursos, para evitar dano irreparável à parte. exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
Público, conforme dispuser o seu regimento.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
de peças à autoridade competente, para apuração da res- órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
ponsabilidade civil e administrativa do agente a que se atri-
bua a ação ou omissão. Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado
da sentença condenatória sem que a associação autora lhe Título VII
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, fa- Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
cultada igual iniciativa aos demais legitimados.
Capítulo I
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar Dos Crimes
ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi-
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de Seção I
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a
pretensão é manifestamente infundada. Disposições Gerais
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-
sociação autora e os diretores responsáveis pela propositura Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos. prejuízo do disposto na legislação penal.
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha- Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários pe- normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao pro-
riciais e quaisquer outras despesas. cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan- blica incondicionada.
do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de
ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção. Seção II
Dos Crimes em Espécie
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente
a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de man-
Público para as providências cabíveis. ter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
67
LEGISLAÇÃO FEDERAL
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à par- Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
turiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, ou efetiva a paga ou recompensa.
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
do parto e do desenvolvimento do neonato: Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Parágrafo único. Se o crime é culposo: com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identifi- ameaça ou fraude:
car corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no correspondente à violência.
art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci-
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- lita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
de judiciária competente: participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
Pena - detenção de seis meses a dois anos. no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pro- § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
cede à apreensão sem observância das formalidades legais. comete o crime:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela de exercê-la;
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita-
municação à autoridade judiciária competente e à família ção ou de hospitalidade; ou
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. guíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tu-
tor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- seu consentimento.
mento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa gráfica envolvendo criança ou adolescente:
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão: Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
Pena - detenção de seis meses a dois anos. distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
Pena - detenção de seis meses a dois anos. artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judi- o caput deste artigo.
cial, com o fim de colocação em lar substituto: § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. 1 deste artigo são puníveis quando o responsável legal
o
68
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual- Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven- a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
do criança ou adolescente: produtos cujos componentes possam causar dependência fí-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. sica ou psíquica:
§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter- Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se
ços) se de pequena quantidade o material a que se refere o fato não constitui crime mais grave.
o caput deste artigo.
§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos
a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241- de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
I – agente público no exercício de suas funções; dano físico em caso de utilização indevida:
II – membro de entidade, legalmente constituída, que Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
mes referidos neste parágrafo; definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
III – representante legal e funcionários responsáveis de exploração sexual:
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
de computadores, até o recebimento do material relativo à perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
ao Poder Judiciário. unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
manter sob sigilo o material ilícito referido. § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles- submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de no caputdeste artigo.
adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
ou qualquer outra forma de representação visual: sação da licença de localização e de funcionamento do es-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. tabelecimento.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven-
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor
por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
produzido na forma do caput deste artigo. induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste arti-
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de go quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
com ela praticar ato libidinoso: quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. internet.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: § 2o As penas previstas no caput deste artigo são au-
I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
com ela praticar ato libidinoso; 25 de julho de 1990.
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- Capítulo II
fica ou sexualmente explícita. Das Infrações Administrativas
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com- estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamen-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- tal, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade com-
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, petente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
cente para fins primordialmente sexuais. adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou cando-se o dobro em caso de reincidência.
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
munição ou explosivo: Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. dade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos
incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
69
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá-
cando-se o dobro em caso de reincidência. culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza- natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especifi-
ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato cada no certificado de classificação:
ou documento de procedimento policial, administrativo ou Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua cando-se o dobro em caso de reincidência.
ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer re-
cando-se o dobro em caso de reincidência. presentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par- a que não se recomendem:
cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res- plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi-
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. cidade.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe-
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreen- táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua
são da publicação ou a suspensão da programação da emis- classificação:
sora até por dois dias, bem como da publicação do periódico Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du-
até por dois números. (Expressão declarada inconstitucional plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária po-
pela ADIN 869-2). derá determinar a suspensão da programação da emissora
por até dois dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regula- Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
rizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a re classificado pelo órgão competente como inadequado às
prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pe- crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
los pais ou responsável: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
cando-se o dobro em caso de reincidência, independente-
quinze dias.
mente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso.
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deve-
de programação em vídeo, em desacordo com a classificação
res inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou
atribuída pelo órgão competente:
guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
ou Conselho Tutelar:
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
cando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompa- 79 desta Lei:
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
ou congênere: apreensão da revista ou publicação.
Pena – multa.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior sua participação no espetáculo:
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
fechado e terá sua licença cassada. caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual-
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de provi-
85 desta Lei: denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
(três mil reais).
70
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autori- subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamen-
dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de te percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma
adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de
ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca-
em regime de acolhimento institucional ou familiar. rência socioeconômica e em situações de calamidade.
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé-
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso deste artigo.
de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada § 4º O Ministério Público determinará em cada comar-
em entregar seu filho para adoção: ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni-
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen-
(três mil reais). tivos fiscais referidos neste artigo.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário § 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comu- o inciso I do caput:
nicação referida no caput deste artigo. I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in- II - não poderá ser computada como despesa operacio-
ciso II do art. 81: nal na apuração do lucro real.
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
10.000,00 (dez mil reais); Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calen-
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de
comercial até o recolhimento da multa aplicada. que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua
Declaração de Ajuste Anual.
Disposições Finais e Transitórias § 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida
até os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apu-
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da rado na declaração:
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo I - (VETADO);
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da II - (VETADO);
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabele- III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
ce o Título V do Livro II. § 2o A dedução de que trata o caput:
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios pro- I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do impos-
moverem a adaptação de seus órgãos e programas às dire- to sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso
trizes e princípios estabelecidos nesta Lei. II do caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que:
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos a) utilizar o desconto simplificado;
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, b) apresentar declaração em formulário; ou
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova- c) entregar a declaração fora do prazo;
das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de III - só se aplica às doações em espécie; e
renda, obedecidos os seguintes limites: IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido em vigor.
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lu- § 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a
cro real; e data de vencimento da primeira quota ou quota única do
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu- imposto, observadas instruções específicas da Secretaria
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, da Receita Federal do Brasil.
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de § 4o O não pagamento da doação no prazo estabeleci-
dezembro de 1997. do no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedu-
§ 1º - (Revogado) ção, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da di-
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas ferença de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais Anual com os acréscimos legais previstos na legislação.
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promo- rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
ção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacio- Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
nal pela Primeira Infância. nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de visto no inciso II do art. 260.
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
71
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração
poderá ser deduzida: das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles-
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurí- cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
dicas que apuram o imposto trimestralmente; e I - manter conta bancária específica destinada exclusi-
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, vamente a gerir os recursos do Fundo;
para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente. II - manter controle das doações recebidas; e
Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede-
do período a que se refere a apuração do imposto. ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando
os seguintes dados por doador:
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei a) nome, CNPJ ou CPF;
podem ser efetuadas em espécie ou em bens. b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie de- ou em bens.
vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi-
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações
nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que
previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do
trata o art. 260.
Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divul-
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir garão amplamente à comunidade:
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente I - o calendário de suas reuniões;
e pelo presidente do Conselho correspondente, especificando: II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
I - número de ordem; atendimento à criança e ao adolescente;
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) III - os requisitos para a apresentação de projetos a se-
e endereço do emitente; rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
do doador; municipais;
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
V - ano-calendário a que se refere a doação. lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
§ 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo ção das ações, por projeto;
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os valo- V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destina-
res doados mês a mês. ção, por projeto atendido, inclusive com cadastramento na
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante base de dados do Sistema de Informações sobre a Infância e
deve conter a identificação dos bens, mediante descrição a Adolescência; e
em campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados
informando também se houve avaliação, o nome, CPF ou com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado-
CNPJ e endereço dos avaliadores. lescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
deverá: Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
mentação hábil;
arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direi-
ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
tos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no
atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
caso de pessoa jurídica; e quer cidadão.
III - considerar como valor dos bens doados:
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
valor de mercado; da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
será considerado na determinação do valor dos bens doados, estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos nú-
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. meros de inscrição no CNPJ e das contas bancárias especí-
ficas mantidas em instituições financeiras públicas, destina-
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. das exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um
prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedu- Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil ex-
ção perante a Receita Federal do Brasil. pedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
arts. 260 a 260-K.
72
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações publicação.
a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão
serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e es-
a que pertencer a entidade. clarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
estados e municípios, e os estados aos municípios, os recur- Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697,
sos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais
tão logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança disposições em contrário.
e do adolescente nos seus respectivos níveis.
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- 102º da República.
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
autoridade judiciária.
73
LEGISLAÇÃO FEDERAL
74
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1o O exame de proficiência em Libras deve ser pro- Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita
movido, anualmente, pelo Ministério da Educação e ins- da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como
tituições de educação superior por ele credenciadas para conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia.
essa finalidade.
§ 2o A certificação de proficiência em Libras habilitará CAPÍTULO IV
o instrutor ou o professor para a função docente. DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA
§ 3o O exame de proficiência em Libras deve ser reali- PORTUGUESA PARA O
zado por banca examinadora de amplo conhecimento em ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO
Libras, constituída por docentes surdos e linguistas de ins-
tituições de educação superior. Art. 14. As instituições federais de ensino devem
Art. 9o A partir da publicação deste Decreto, as insti- garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à
tuições de ensino médio que oferecem cursos de formação comunicação, à informação e à educação nos processos
para o magistério na modalidade normal e as instituições seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares de-
de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudio- senvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de
logia ou de formação de professores devem incluir Libras educação, desde a educação infantil até à superior.
como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percen- § 1o Para garantir o atendimento educacional especia-
tuais mínimos: lizado e o acesso previsto no caput, as instituições federais
I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da de ensino devem:
instituição; I - promover cursos de formação de professores para:
II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos a) o ensino e uso da Libras;
da instituição; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Por-
III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da tuguesa; e
instituição; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda lín-
IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da insti- gua para pessoas surdas;
II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação in-
tuição.
fantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa,
Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras
como segunda língua para alunos surdos;
como disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de
III - prover as escolas com:
Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras,
a) professor de Libras ou instrutor de Libras;
ampliando-se progressivamente para as demais licencia-
b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa;
turas.
c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como
Art. 10. As instituições de educação superior devem
segunda língua para pessoas surdas; e
incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão d) professor regente de classe com conhecimento
nos cursos de formação de professores para a educação acerca da singularidade linguística manifestada pelos alu-
básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tra- nos surdos;
dução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. IV - garantir o atendimento às necessidades educacio-
Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir nais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil,
da publicação deste Decreto, programas específicos para a nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em tur-
criação de cursos de graduação: no contrário ao da escolarização;
I - para formação de professores surdos e ouvintes, V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão
para a educação infantil e anos iniciais do ensino funda- de Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da
mental, que viabilize a educação bilíngue: Libras - Língua escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos;
Portuguesa como segunda língua; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com
II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Li- aprendizado de segunda língua, na correção das provas es-
bras/Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos; critas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a
III - de formação em Tradução e Interpretação de Li- singularidade linguística manifestada no aspecto formal da
bras - Língua Portuguesa. Língua Portuguesa;
Art. 12. As instituições de educação superior, prin- VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos
cipalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, para a avaliação de conhecimentos expressos em Libras,
Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-gradua- desde que devidamente registrados em vídeo ou em ou-
ção para a formação de professores para o ensino de Libras tros meios eletrônicos e tecnológicos;
e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas
Decreto. tecnologias de informação e comunicação, bem como re-
Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Por- cursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos
tuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ou com deficiência auditiva.
ser incluído como disciplina curricular nos cursos de forma- § 2o O professor da educação básica, bilíngue, aprova-
ção de professores para a educação infantil e para os anos do em exame de proficiência em tradução e interpretação
iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, de Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de
bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habi- tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja
litação em Língua Portuguesa. função é distinta da função de professor docente.
75
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo
de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal Ministério da Educação, para atuação em instituições de
buscarão implementar as medidas referidas neste artigo ensino médio e de educação superior;
como meio de assegurar atendimento educacional espe- II - profissional ouvinte, de nível médio, com compe-
cializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. tência e fluência em Libras para realizar a interpretação das
Art. 15. Para complementar o currículo da base nacio- duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com
nal comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Mi-
escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para nistério da Educação, para atuação no ensino fundamental;
alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva III - profissional surdo, com competência para realizar
dialógica, funcional e instrumental, como: a interpretação de línguas de sinais de outros países para a
I - atividades ou complementação curricular específica Libras, para atuação em cursos e eventos.
na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas
II - áreas de conhecimento, como disciplinas curricula- dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do
res, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino mé- Distrito Federal buscarão implementar as medidas referi-
dio e na educação superior. das neste artigo como meio de assegurar aos alunos sur-
Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, dos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à
na educação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos informação e à educação.
ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação
distinto ao da escolarização, por meio de ações integra- deste Decreto, o Ministério da Educação ou instituições de
das entre as áreas da saúde e da educação, resguardado ensino superior por ele credenciadas para essa finalidade
o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência
modalidade. em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa.
Parágrafo único. A definição de espaço para o desen- Parágrafo único. O exame de proficiência em tradu-
ção e interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser
volvimento da modalidade oral da Língua Portuguesa e a
realizado por banca examinadora de amplo conhecimento
definição dos profissionais de Fonoaudiologia para atua-
dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e
ção com alunos da educação básica são de competência
tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educa-
dos órgãos que possuam estas atribuições nas unidades
ção superior.
federadas.
Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decre-
to, as instituições federais de ensino da educação básica e
CAPÍTULO V da educação superior devem incluir, em seus quadros, em
DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérpre-
LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA te de Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à
comunicação, à informação e à educação de alunos surdos.
Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Li- § 1o O profissional a que se refere o caput atuará:
bras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de cur- I - nos processos seletivos para cursos na instituição
so superior de Tradução e Interpretação, com habilitação de ensino;
em Libras - Língua Portuguesa. II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos
Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publica- aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as
ção deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de atividades didático-pedagógicas; e
Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser reali- III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às ativida-
zada por meio de: des-fim da instituição de ensino.
I - cursos de educação profissional; § 2o As instituições privadas e as públicas dos sis-
II - cursos de extensão universitária; e temas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito
III - cursos de formação continuada promovidos por Federal buscarão implementar as medidas referidas neste
instituições de ensino superior e instituições credenciadas artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com
por secretarias de educação. deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação
Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete e à educação.
de Libras pode ser realizada por organizações da socieda-
de civil representativas da comunidade surda, desde que o CAPÍTULO VI
certificado seja convalidado por uma das instituições refe- DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS
ridas no inciso III. PESSOAS SURDAS OU
Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publica- COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
ção deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação
exigida para o exercício da tradução e interpretação de Li- Art. 22. As instituições federais de ensino respon-
bras - Língua Portuguesa, as instituições federais de en- sáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de
sino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da or-
seguinte perfil: ganização de:
I - profissional ouvinte, de nível superior, com com- I - escolas e classes de educação bilíngue, abertas a
petência e fluência em Libras para realizar a interpretação alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na
das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental;
76
LEGISLAÇÃO FEDERAL
II - escolas bilíngues ou escolas comuns da rede re- I - ações de prevenção e desenvolvimento de progra-
gular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para mas de saúde auditiva;
os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou II - tratamento clínico e atendimento especializado,
educação profissional, com docentes das diferentes áreas respeitando as especificidades de cada caso;
do conhecimento, cientes da singularidade linguística dos III - realização de diagnóstico, atendimento precoce e
alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e do encaminhamento para a área de educação;
intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. IV - seleção, adaptação e fornecimento de prótese
§ 1o São denominadas escolas ou classes de educação auditiva ou aparelho de amplificação sonora, quando in-
bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da dicado;
Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no V - acompanhamento médico e fonoaudiológico e te-
desenvolvimento de todo o processo educativo. rapia fonoaudiológica;
§ 2o Os alunos têm o direito à escolarização em um VI - atendimento em reabilitação por equipe multi-
turno diferenciado ao do atendimento educacional espe- profissional;
cializado para o desenvolvimento de complementação cur- VII - atendimento fonoaudiológico às crianças, adoles-
ricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de centes e jovens matriculados na educação básica, por meio
informação. de ações integradas com a área da educação, de acordo
§ 3o As mudanças decorrentes da implementação dos com as necessidades terapêuticas do aluno;
incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos VIII - orientações à família sobre as implicações da
próprios alunos, de sua opção ou preferência pela educa- surdez e sobre a importância para a criança com perda au-
ção sem o uso de Libras. ditiva ter, desde seu nascimento, acesso à Libras e à Língua
§ 4o O disposto no § 2o deste artigo deve ser garantido Portuguesa;
também para os alunos não usuários da Libras. IX - atendimento às pessoas surdas ou com deficiência
Art. 23. As instituições federais de ensino, de educa- auditiva na rede de serviços do SUS e das empresas que
ção básica e superior, devem proporcionar aos alunos sur- detêm concessão ou permissão de serviços públicos de as-
dos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua sistência à saúde, por profissionais capacitados para o uso
Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacio- de Libras ou para sua tradução e interpretação; e
nais, bem como equipamentos e tecnologias que viabili- X - apoio à capacitação e formação de profissionais da
zem o acesso à comunicação, à informação e à educação. rede de serviços do SUS para o uso de Libras e sua tradu-
§ 1o Deve ser proporcionado aos professores acesso ção e interpretação.
à literatura e informações sobre a especificidade linguística § 1o O disposto neste artigo deve ser garantido tam-
do aluno surdo. bém para os alunos surdos ou com deficiência auditiva não
§ 2o As instituições privadas e as públicas dos sis- usuários da Libras.
temas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito § 2o O Poder Público, os órgãos da administração pú-
Federal buscarão implementar as medidas referidas neste blica estadual, municipal, do Distrito Federal e as empresas
artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com privadas que detêm autorização, concessão ou permissão
deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação de serviços públicos de assistência à saúde buscarão imple-
e à educação. mentar as medidas referidas no art. 3o da Lei no 10.436, de
Art. 24. A programação visual dos cursos de nível mé- 2002, como meio de assegurar, prioritariamente, aos alu-
dio e superior, preferencialmente os de formação de pro- nos surdos ou com deficiência auditiva matriculados nas
fessores, na modalidade de educação a distância, deve dis- redes de ensino da educação básica, a atenção integral à
por de sistemas de acesso à informação como janela com sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especia-
tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subti- lidades médicas.
tulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a
reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas, con- CAPÍTULO VIII
forme prevê o Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004. DO PAPEL DO PODER PÚBLICO E DAS EMPRESAS
QUE DETÊM CONCESSÃO OU PERMISSÃO DE SERVIÇOS
CAPÍTULO VII PÚBLICOS, NO APOIO AO USO E DIFUSÃO DA LIBRAS
DA GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE DAS PESSOAS
SURDAS OU Art. 26. A partir de um ano da publicação deste Decre-
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA to, o Poder Público, as empresas concessionárias de servi-
ços públicos e os órgãos da administração pública federal,
Art. 25. A partir de um ano da publicação deste De- direta e indireta devem garantir às pessoas surdas o trata-
creto, o Sistema Único de Saúde - SUS e as empresas que mento diferenciado, por meio do uso e difusão de Libras e
detêm concessão ou permissão de serviços públicos de da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa,
assistência à saúde, na perspectiva da inclusão plena das realizados por servidores e empregados capacitados para
pessoas surdas ou com deficiência auditiva em todas as essa função, bem como o acesso às tecnologias de infor-
esferas da vida social, devem garantir, prioritariamente aos mação, conforme prevê o Decreto no 5.296, de 2004.
alunos matriculados nas redes de ensino da educação bá- § 1o As instituições de que trata o caput devem dispor
sica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de de, pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários e
complexidade e especialidades médicas, efetivando: empregados capacitados para o uso e interpretação da Libras.
77
LEGISLAÇÃO FEDERAL
78
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1º Para fins deste Decreto, os serviços de que trata V - adequação arquitetônica de prédios escolares para
o caput serão denominados atendimento educacional es- acessibilidade;
pecializado, compreendido como o conjunto de atividades, VI - elaboração, produção e distribuição de recursos
recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados ins- educacionais para a acessibilidade; e
titucional e continuamente, prestado das seguintes formas: VII - estruturação de núcleos de acessibilidade nas ins-
I - complementar à formação dos estudantes com de- tituições federais de educação superior.
ficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como § 3o As salas de recursos multifuncionais são ambien-
apoio permanente e limitado no tempo e na frequência tes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didá-
dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; ou ticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educa-
II - suplementar à formação de estudantes com altas cional especializado.
habilidades ou superdotação. § 4o A produção e a distribuição de recursos educa-
§ 2o O atendimento educacional especializado deve in- cionais para a acessibilidade e aprendizagem incluem ma-
tegrar a proposta pedagógica da escola, envolver a partici- teriais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua
pação da família para garantir pleno acesso e participação Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de
dos estudantes, atender às necessidades específicas das voz, softwares para comunicação alternativa e outras aju-
pessoas público-alvo da educação especial, e ser realizado das técnicas que possibilitam o acesso ao currículo.
em articulação com as demais políticas públicas. § 5o Os núcleos de acessibilidade nas instituições fede-
Art. 3o São objetivos do atendimento educacional es- rais de educação superior visam eliminar barreiras físicas,
pecializado: de comunicação e de informação que restringem a partici-
I - prover condições de acesso, participação e aprendi- pação e o desenvolvimento acadêmico e social de estudan-
zagem no ensino regular e garantir serviços de apoio espe- tes com deficiência.
cializados de acordo com as necessidades individuais dos Art. 6o O Ministério da Educação disciplinará os requisi-
estudantes; tos, as condições de participação e os procedimentos para
II - garantir a transversalidade das ações da educação apresentação de demandas para apoio técnico e financeiro
direcionado ao atendimento educacional especializado.
especial no ensino regular;
Art. 7o O Ministério da Educação realizará o acompa-
III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos
nhamento e o monitoramento do acesso à escola por par-
e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de
te dos beneficiários do benefício de prestação continuada,
ensino e aprendizagem; e
em colaboração com o Ministério da Saúde, o Ministério
IV - assegurar condições para a continuidade de es-
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e a Secreta-
tudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino.
ria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Art. 4o O Poder Público estimulará o acesso ao atendi- Art. 8o O Decreto no 6.253, de 2007, passa a vigorar
mento educacional especializado de forma complementar com as seguintes alterações:
ou suplementar ao ensino regular, assegurando a dupla “Art. 9º-A. Para efeito da distribuição dos recursos do
matrícula nos termos do art. 9º-A do Decreto no 6.253, de FUNDEB, será admitida a dupla matrícula dos estudantes
13 de novembro de 2007. da educação regular da rede pública que recebem atendi-
Art. 5o A União prestará apoio técnico e financeiro mento educacional especializado.
aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios § 1o A dupla matrícula implica o cômputo do estudan-
e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, confessio- te tanto na educação regular da rede pública, quanto no
nais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade atendimento educacional especializado.
de ampliar a oferta do atendimento educacional especia- § 2o O atendimento educacional especializado aos
lizado aos estudantes com deficiência, transtornos globais estudantes da rede pública de ensino regular poderá ser
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, oferecido pelos sistemas públicos de ensino ou por ins-
matriculados na rede pública de ensino regular. tituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
§ 1o As instituições comunitárias, confessionais ou fi- fins lucrativos, com atuação exclusiva na educação especial,
lantrópicas sem fins lucrativos de que trata o caput devem conveniadas com o Poder Executivo competente, sem pre-
ter atuação na educação especial e serem conveniadas com juízo do disposto no art. 14.” (NR)
o Poder Executivo do ente federativo competente. “Art. 14. Admitir-se-á, para efeito da distribuição dos
§ 2o O apoio técnico e financeiro de que trata recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas efetivadas
o caput contemplará as seguintes ações: na educação especial oferecida por instituições comunitá-
I - aprimoramento do atendimento educacional espe- rias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com
cializado já ofertado; atuação exclusiva na educação especial, conveniadas com
II - implantação de salas de recursos multifuncionais; o Poder Executivo competente.
III - formação continuada de professores, inclusive para § 1o Serão consideradas, para a educação especial, as
o desenvolvimento da educação bilíngue para estudantes matrículas na rede regular de ensino, em classes comuns
surdos ou com deficiência auditiva e do ensino do Braile ou em classes especiais de escolas regulares, e em escolas
para estudantes cegos ou com baixa visão; especiais ou especializadas.
IV - formação de gestores, educadores e demais profis- § 2o O credenciamento perante o órgão competente
sionais da escola para a educação na perspectiva da educa- do sistema de ensino, na forma do art. 10, inciso IV e pa-
ção inclusiva, particularmente na aprendizagem, na partici- rágrafo único, e art. 11, inciso IV, da Lei no 9.394, de 1996,
pação e na criação de vínculos interpessoais; depende de aprovação de projeto pedagógico.” (NR)
79
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 9o As despesas decorrentes da execução das dis- capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que
posições constantes deste Decreto correrão por conta das garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valoriza-
dotações próprias consignadas ao Ministério da Educação. ção de identidade, na busca da consolidação da democra-
Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua cia brasileira.
publicação. § 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Art. 11. Fica revogado o Decreto no 6.571, de 17 de Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização
setembro de 2008. da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem
Brasília, 17 de novembro de 2011; 190o da Indepen- como a garantia de reconhecimento e igualdade de valori-
dência e 123o da República. zação das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das
indígenas, européias, asiáticas.
§ 3º Caberá aos conselhos de Educação dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios desenvolver as Dire-
RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 01/04 - INSTITUI trizes Curriculares Nacionais instituídas por esta Resolução,
AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes
PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO federativos e seus respectivos sistemas.
- RACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E Art. 3° A Educação das Relações Étnico-Raciais e o estu-
CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA. do de História e Cultura Afro- Brasileira, e História e Cultura
Africana será desenvolvida por meio de conteúdos, com-
petências, atitudes e valores, a serem estabelecidos pelas
Instituições de ensino e seus professores, com o apoio e
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004. (*) supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedo-
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- ras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações,
ção das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/
e Cultura Afro-Brasileira e Africana.. CP 003/2004.
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, ten- § 1° Os sistemas de ensino e as entidades mantenedo-
do em vista o disposto no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº ras incentivarão e criarão condições materiais e financeiras,
9.131, publicada em 25 de novembro de 1995, e com fun- assim como proverão as escolas, professores e alunos, de
damentação no Parecer CNE/CP 3/2004, de 10 de março material bibliográfico e de outros materiais didáticos ne-
de 2004, homologado pelo Ministro da Educação em 19 de cessários para a educação tratada no “caput” deste artigo.
maio de 2004, e que a este se integra, resolve: § 2° As coordenações pedagógicas promoverão o
Art. 1° A presente Resolução institui Diretrizes Curricu- aprofundamento de estudos, para que os professores
lares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Ra- concebam e desenvolvam unidades de estudos, projetos
ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e e programas, abrangendo os diferentes componentes cur-
Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino, riculares.
que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira § 3° O ensino sistemático de História e Cultura Afro-
e, em especial, por Instituições que desenvolvem progra- -Brasileira e Africana na Educação Básica, nos termos da
mas de formação inicial e continuada de professores. Lei 10639/2003, refere-se, em especial, aos componentes
§ 1° As Instituições de Ensino Superior incluirão nos curriculares de Educação Artística, Literatura e História do
conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cur- Brasil.
sos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais,
§ 4° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas so-
bem como o tratamento de questões e temáticas que di-
bre processos educativos orientados por valores, visões de
zem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicita-
dos no Parecer CNE/CP 3/2004. mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesqui-
§ 2° O cumprimento das referidas Diretrizes Curricula- sas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o
res, por parte das instituições de ensino, será considerado objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas
na avaliação das condições de funcionamento do estabe- para a educação brasileira.
lecimento. Art. 4° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino
Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- poderão estabelecer canais de comunicação com grupos
cação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de His- do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições
tória e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de formadoras de professores, núcleos de estudos e pesqui-
orientações, princípios e fundamentos para o planejamen- sas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a
to, execução e avaliação da Educação, e têm por meta, pro- finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para
mover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no planos institucionais, planos pedagógicos e projetos de
seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, bus- ensino.
cando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências
de nação democrática. no sentido de garantir o direito de alunos afrodescen-
§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por dentes de freqüentarem estabelecimentos de ensino de
objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem qualidade, que contenham instalações e equipamentos
como de atitudes, posturas e valores que eduquem ci- sólidos e atualizados, em cursos ministrados por profes-
dadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os sores competentes no domínio de conteúdos de ensino e
80
LEGISLAÇÃO FEDERAL
comprometidos com a educação de negros e não negros, o Decreto nº 3.956/2001; o Decreto nº 5.296/2004; o De-
sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que creto nº 5.626/2005; o Decreto nº 6.253/2007; o Decreto
impliquem desrespeito e discriminação. nº 6.571/2008; e o Decreto Legislativo nº 186/2008, e com
Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de fundamento no Parecer CNE/CEB nº 13/2009, homologado
ensino, em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
incluirão o previsto o exame e encaminhamento de solu- publicado no DOU de 24 de setembro de 2009, resolve:
ção para situações de discriminação, buscando-se criar si- Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008,
tuações educativas para o reconhecimento, valorização e os sistemas de ensino devem matricular os alunos com de-
respeito da diversidade. ficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
§ Único: Os casos que caracterizem racismo serão tra- habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
tados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, confor- regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE),
me prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988. ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em cen-
Art. 7º Os sistemas de ensino orientarão e supervisio- tros de Atendimento Educacional Especializado da rede
narão a elaboração e edição de livros e outros materiais pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou
didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/ filantrópicas sem fins lucrativos.
CP 003/2004. Art. 2º O AEE tem como função complementar ou su-
Art. 8º Os sistemas de ensino promoverão ampla di- plementar a formação do aluno por meio da disponibili-
vulgação do Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, zação de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias
em atividades periódicas, com a participação das redes das que eliminem as barreiras para sua plena participação na
escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divul- sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.
gação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, conside-
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educa- ram-se recursos de acessibilidade na educação aqueles
ção das Relações Étnico-Raciais. que asseguram condições de acesso ao currículo dos alu-
§ 1° Os resultados obtidos com as atividades mencio- nos com
nadas no caput deste artigo serão comunicados de forma deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a
detalhada ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos es-
de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de paços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de
Educação e aos respectivos Conselhos Estaduais e Munici- comunicação e informação, dos transportes e dos demais
pais de Educação, para que encaminhem providências, que serviços.
forem requeridas. Art. 3º A Educação Especial se realiza em todos os ní-
Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua veis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como
publicação, revogadas as disposições em contrário. parte integrante do processo educacional.
Roberto Cláudio Frota Bezerra Art. 4º Para fins destas Diretrizes, considera-se públi-
Presidente do Conselho Nacional de Educação co-alvo do AEE:
I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedi-
mentos de longo prazo de natureza física, intelectual, men-
tal ou sensorial.
II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimen-
RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 04/09 -
to: aqueles que apresentam um quadro de alterações no
INSTITUI DIRETRIZES OPERACIONAIS desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas
PARA O ATENDIMENTO EDUCACIONAL relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras.
ESPECIALIZADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA, Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico,
MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL. síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desin-
tegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem
outra especificação.
III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aque-
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009 (*) les que apresentam um potencial elevado e grande envol-
Institui Diretrizes Operacionais para o vimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas
Atendimento Educacional Especializado na ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e
Educação Básica, modalidade Educação criatividade.
Especial. Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de
O Presidente da Câmara de Educação Básica do recursos multifuncionais da própria escola ou em outra es-
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui- cola de ensino regular, no turno inverso da escolarização,
ções legais, de conformidade com o disposto na alínea “c” não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser
do artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada realizado, também, em centro de Atendimento Educacio-
pela Lei nº 9.131/1995, bem como no artigo 90, no § 1º nal Especializado da rede pública ou de instituições comu-
do artigo 8º e no § 1º do artigo 9º da Lei nº 9.394/1996, nitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos,
considerando a Constituição Federal de 1988; a Lei nº conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equi-
10.098/2000; a Lei nº 10.436/2002; a Lei nº 11.494/2007; valente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios.
81
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional Especia- Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso VI
lizado em ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada atuam com os alunos públicoalvo da Educação Especial em
aos alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a Educação todas as atividades escolares nas quais se fizerem neces-
Especial de forma complementar ou suplementar. sários.
Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto peda-
terão suas atividades de enriquecimento curricular desen- gógico do centro de Atendimento Educacional Especializa-
volvidas no âmbito de escolas públicas de ensino regular do público ou privado sem fins lucrativos, conveniado para
em interface com os núcleos de atividades para altas habili- essa finalidade, deve ser aprovada pela respectiva Secre-
dades/superdotação e com as instituições de ensino supe- taria de Educação ou órgão equivalente, contemplando a
rior e institutos voltados ao desenvolvimento e promoção organização disposta no artigo 10 desta Resolução.
da pesquisa, das artes e dos esportes. Parágrafo único. Os centros de Atendimento Educacio-
Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito nal Especializado devem cumprir as exigências legais esta-
do FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008, os
belecidas pelo Conselho de Educação do respectivo siste-
alunos matriculados em classe comum de ensino regular
ma de ensino, quanto ao seu credenciamento, autorização
público que tiverem matrícula concomitante no AEE.
de funcionamento e organização, em consonância com as
Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE
orientações preconizadas nestas Diretrizes Operacionais.
é condicionado à matrícula no ensino regular da rede pú-
Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter for-
blica, conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do
ano anterior, sendo contemplada: mação inicial que o habilite para o exercício da docência e
a) matrícula em classe comum e em sala de recursos formação específica para a Educação Especial.
multifuncionais da mesma escola pública; Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento
b) matrícula em classe comum e em sala de recursos Educacional Especializado:
multifuncionais de outra escola pública; I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços,
c) matrícula em classe comum e em centro de Atendi- recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias con-
mento Educacional Especializado de instituição de Educa- siderando as necessidades específicas dos alunos público-
ção Especial pública; -alvo da Educação Especial;
d) matrícula em classe comum e em centro de Atendi- II – elaborar e executar plano de Atendimento Educa-
mento Educacional Especializado de instituições de Edu- cional Especializado, avaliando a funcionalidade e a apli-
cação Especial comunitárias, confessionais ou filantrópicas cabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;
sem fins lucrativos. III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos
Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são alunos na sala de recursos multifuncionais;
de competência dos professores que atuam na sala de re- IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade
cursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de
com os demais professores do ensino regular, com a parti- aula comum do ensino regular, bem como em outros am-
cipação das famílias e em interface com os demais serviços bientes da escola;
setoriais da saúde, da assistência social, entre outros neces- V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na
sários ao atendimento. elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos
Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino re- de acessibilidade;
gular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na VI – orientar professores e famílias sobre os recursos
sua organização: pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno;
I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mo- VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a
biliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de
ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo
acessibilidade e equipamentos específicos;
autonomia e participação;
II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino
VIII – estabelecer articulação com os professores da
regular da própria escola ou de outra escola;
sala de aula comum, visando à disponibilização dos ser-
III – cronograma de atendimento aos alunos;
viços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das
IV – plano do AEE: identificação das necessidades edu-
cacionais específicas dos alunos, definição dos recursos ne- estratégias que promovem a participação dos alunos nas
cessários e das atividades a serem desenvolvidas; atividades escolares.
V – professores para o exercício da docência do AEE; Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
VI – outros profissionais da educação: tradutor e intér- publicação, revogadas as disposições em contrário.
prete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e ou- CESAR CALLEGARI
tros que atuem no apoio, principalmente às atividades de
alimentação, higiene e locomoção;
VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional,
da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso
a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que ma-
ximizem o AEE.
82
LEGISLAÇÃO FEDERAL
83
LEGISLAÇÃO FEDERAL
III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas
famílias, o respeito e a valorização de suas formas de or- populações na produção de conhecimentos sobre o mun-
ganização; do e sobre o ambiente natural;
IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão respeitem as características ambientais e socioculturais da
democrática e a consideração dos saberes da comunidade; comunidade.
V - o reconhecimento das especificidades etárias, das Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro-
singularidades individuais e coletivas das crianças, promo- posta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
vendo interações entre crianças de mesma idade e crianças
norteadores as interações e a brincadeira, garantindo ex-
de diferentes idades;
periências que:
VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das
crianças nos espaços internos e externos às salas de refe- I - promovam o conhecimento de si e do mundo por
rência das turmas e à instituição; meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas,
VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, corporais que possibilitem movimentação ampla, expres-
brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, são da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos
transtornos globais de desenvolvimento e altas habilida- da criança;
des/superdotação; II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes
VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gê-
histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, neros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dra-
asiáticos, europeus e de outros países da América; mática e musical;
IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a in- III - possibilitem às crianças experiências de narrativas,
teração das crianças com as histórias e as culturas africa- de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
nas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais
discriminação; e escritos;
X - a dignidade da criança como pessoa humana e a IV - recriem, em contextos significativos para as crian-
proteção contra qualquer forma de violência – física ou ças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações
simbólica – e negligência no interior da instituição ou pra- espaçotemporais;
ticadas pela
V - ampliem a confiança e a participação das crianças
família, prevendo os encaminhamentos de violações
nas atividades individuais e coletivas;
para instâncias competentes.
VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas
§ 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na
escolha dos modos de educação de suas crianças de 0 a para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
5 anos de idade, as propostas pedagógicas para os povos cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
que optarem VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com ou-
pela Educação Infantil devem: tras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões
I - proporcionar uma relação viva com os conhecimen- de referência e de identidades no diálogo e reconhecimen-
tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias to da diversidade;
de seu povo; VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encan-
II - reafirmar a identidade étnica e a língua materna tamento, o questionamento, a indagação e o conhecimen-
como elementos de constituição das crianças; to das crianças em relação ao mundo físico e social, ao
III - dar continuidade à educação tradicional oferecida tempo e à natureza;
na família e articular-se às práticas sócio-culturais de edu- IX - promovam o relacionamento e a interação das
cação e cuidado coletivos da comunidade; crianças com diversificadas manifestações de música, artes
IV - adequar calendário, agrupamentos etários e or- plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poe-
ganização de tempos, atividades e ambientes de modo a sia e literatura;
atender as demandas de cada povo indígena. X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e
§ 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil
o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade
das crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas,
da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recur-
pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampa-
sos naturais;
dos da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da
floresta, devem: XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas
I - reconhecer os modos próprios de vida no campo crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras;
como fundamentais para a constituição da identidade das XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores,
crianças moradoras em territórios rurais; computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos
II - ter vinculação inerente à realidade dessas popula- tecnológicos e midiáticos.
ções, suas culturas, tradições e identidades, assim como a Parágrafo único - As creches e pré-escolas, na elabo-
práticas ambientalmente sustentáveis; ração da proposta curricular, de acordo com suas caracte-
III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e ativi- rísticas, identidade institucional, escolhas coletivas e parti-
dades respeitando as diferenças quanto à atividade econô- cularidades pedagógicas, estabelecerão modos de integra-
mica dessas populações; ção dessas experiências.
84
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar de EJA, à Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por
procedimentos para acompanhamento do trabalho peda- meio da Educação a Distância (EAD), a serem obrigatoria-
gógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, mente observadas pelos sistemas de ensino, na oferta e na
sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, ga- estrutura dos cursos e exames de Ensino Fundamental e
rantindo: Ensino Médio que se desenvolvem em instituições próprias
I - a observação crítica e criativa das atividades, das integrantes dos Sistemas de Ensino Federal, Estaduais, Mu-
brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; nicipais e do Distrito Federal.
II - utilização de múltiplos registros realizados por adul- Art. 2º Para o melhor desenvolvimento da EJA, cabe
tos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); a institucionalização de um sistema educacional públi-
III - a continuidade dos processos de aprendizagens co de Educação Básica de jovens e adultos, como política
por meio da criação de estratégias adequadas aos diferen- pública de Estado e não apenas de governo, assumindo a
tes momentos de transição vividos pela criança (transição gestão democrática, contemplando a diversidade de sujei-
casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior tos aprendizes, proporcionando a conjugação de políticas
da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré- públicas setoriais e fortalecendo sua vocação como instru-
-escola/Ensino Fundamental); mento para a educação ao longo da vida.
IV - documentação específica que permita às famílias Art. 3º A presente Resolução mantém os princípios, os
conhecer o trabalho da instituição objetivos e as Diretrizes formulados no Parecer CNE/CEB nº
junto às crianças e os processos de desenvolvimento e 11/2000, que estabeleceu as Diretrizes Curriculares
aprendizagem da criança na Educação Infantil; Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos e,
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil. quanto à Resolução CNE/CEB nº 1/2000, amplia o alcance
Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a do disposto no artigo 7º para definir a idade mínima tam-
proposta pedagógica deve prever formas para garantir a bém para a frequência em cursos de EJA, bem como subs-
continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvi- titui o termo “supletivo” por “EJA”, no caput do artigo 8º,
mento das que determina idade mínima para o Ensino Médio em EJA,
crianças, respeitando as especificidades etárias, sem passando os mesmos a terem, respectivamente, a redação
antecipação de conteúdos que serão constante nos artigos 4º, 5º e 6º desta Resolução.
trabalhados no Ensino Fundamental. Art. 4º Quanto à duração dos cursos presenciais de EJA,
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orien- mantém-se a formulação do Parecer CNE/CEB nº 29/2006,
tações para a implementação dessas Diretrizes. acrescentando o total de horas a serem cumpridas, inde-
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data pendentemente da forma de organização curricular:
de sua publicação, revogando-se as disposições em con- I - para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a dura-
trário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. ção deve ficar a critério dos sistemas de ensino;
II - para os anos finais do Ensino Fundamental, a dura-
ção mínima deve ser de 1.600 (mil e seiscentas) horas;
III - para o Ensino Médio, a duração mínima deve ser de
1.200 (mil e duzentas) horas.
RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 03/10 – INSTITUI Parágrafo único. Para a Educação Profissional Técnica
DIRETRIZES OPERACIONAIS PARA A de Nível Médio integrada com o Ensino Médio, reafirma-
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. -se a duração de 1.200 (mil e duzentas) horas destinadas
à educação geral, cumulativamente com a carga horária
mínima para a respectiva habilitação profissional de Ní-
vel Médio, tal como estabelece a Resolução CNE/CEB nº
RESOLUÇÃO Nº 3, DE 15 DE JUNHO DE 2010 (*) 4/2005, e para o ProJovem, a duração estabelecida no Pa-
Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jo- recer CNE/CEB nº 37/2006.
vens e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos e Art. 5º Obedecidos o disposto no artigo 4º, incisos I e
idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade míni- VII, da Lei nº 9.394/96 (LDB) e a regra da prioridade para o
ma e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens atendimento da escolarização obrigatória, será considera-
e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância. da idade mínima para os cursos de EJA e para a realização
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- de exames de conclusão de EJA do Ensino Fundamental a
selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis- de 15 (quinze) anos completos.
posto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61, Parágrafo único. Para que haja oferta variada para o
com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, nos artigos 39 pleno atendimento dos adolescentes, jovens e adultos si-
a 41 da Lei nº 9.394/96, no Decreto nº 5.154/2004, e com tuados na faixa de 15 (quinze) anos ou mais, com defasa-
fundamento no Parecer CNE/CEB nº 6/2010, homologado gem idade-série, tanto sequencialmente no ensino regular
por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, quanto na Educação de Jovens e Adultos, assim como nos
publicado no DOU de 9/6/2010 resolve: cursos destinados à formação profissional, nos termos do
Art. 1º Esta Resolução institui Diretrizes Operacionais § 3o do artigo 37 da Lei nº 9.394/96, torna-se necessário:
para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos I - fazer a chamada ampliada de estudantes para o Ensi-
relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingres- no Fundamental em todas as modalidades, tal como se faz a
so nos cursos e exames de EJA, à certificação nos exames chamada das pessoas de faixa etária obrigatória do ensino;
85
LEGISLAÇÃO FEDERAL
II - incentivar e apoiar as redes e sistemas de ensino a cognitivos e fluxo escolar, incluindo, também, a avaliação
estabelecerem, de forma colaborativa, política própria para de outros indicadores institucionais das redes públicas e
o atendimento dos estudantes adolescentes de 15 (quinze) privadas que possibilitam a universalização e a qualidade
a 17 (dezessete) anos, garantindo a utilização de mecanis- do processo educativo, tais como parâmetros de infraes-
mos específicos para esse tipo de alunado que considerem trutura, gestão, formação e valorização dos profissionais
suas potencialidades, necessidades, expectativas em relação da educação, financiamento, jornada escolar e organização
à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho, tal como pedagógica.
prevê o artigo 37 da Lei nº 9.394/96, inclusive com progra- Art. 9º Os cursos de EJA desenvolvidos por meio da
mas de aceleração da aprendizagem, quando necessário; EAD, como reconhecimento do ambiente virtual como es-
III - incentivar a oferta de EJA nos períodos escolares paço de aprendizagem, serão restritos ao segundo seg-
diurno e noturno, com avaliação em processo. mento do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, com as
Art. 6º Observado o disposto no artigo 4º, inciso VII, da seguintes características:
Lei nº 9.394/96, a idade mínima para matrícula em cursos I - a duração mínima dos cursos de EJA, desenvolvidos
de EJA de Ensino Médio e inscrição e realização de exames por meio da EAD, será de 1.600 (mil e seiscentas) horas,
de conclusão de EJA do Ensino Médio é 18 (dezoito) anos nos anos finais do Ensino Fundamental, e de 1.200 (mil e
completos. duzentas) horas, no Ensino Médio;
Parágrafo único. O direito dos menores emancipados II - a idade mínima para o desenvolvimento da EJA
para os atos da vida civil não se aplica para o da prestação com mediação da EAD será a mesma estabelecida para a
de exames supletivos. EJA presencial: 15 (quinze) anos completos para o segun-
Art. 7º Em consonância com o Título IV da Lei nº do segmento do Ensino Fundamental e 18 (dezoito) anos
9.394/96, que estabelece a forma de organização da edu- completos para o Ensino Médio;
cação nacional, a certificação decorrente dos exames de III - cabe à União, em regime de cooperação com os
EJA deve ser competência dos sistemas de ensino. sistemas de ensino, o estabelecimento padronizado de
§ 1º Para melhor cumprimento dessa competência, os normas e procedimentos para os processos de autoriza-
sistemas podem solicitar, sempre que necessário, apoio ção, reconhecimento e renovação de reconhecimento dos
técnico e financeiro do INEP/MEC para a melhoria de seus cursos a distância e de credenciamento das instituições,
exames para certificação de EJA. garantindo-se sempre padrão de qualidade;
§ 2º Cabe à União, como coordenadora do sistema na- IV - os atos de credenciamento de instituições para a
cional de educação: oferta de cursos a distância da Educação Básica no âmbito
I - a possibilidade de realização de exame federal como da unidade federada deve ficar ao encargo dos sistemas
exercício, ainda que residual, de ensino;
dos estudantes do sistema federal (cf. artigo 211, § 1º, V - para a oferta de cursos de EJA a distância fora da
da Constituição Federal); unidade da federação em que estiver sediada, a instituição
II - a competência para fazer e aplicar exames em deverá obter credenciamento nos Conselhos de Educação
outros Estados Nacionais (países), podendo delegar essa das unidades da federação onde irá atuar;
competência a alguma unidade da federação; VI - tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino
III - a possibilidade de realizar exame intragoverna- Médio, a EAD deve ser desenvolvida em comunidade de
mental para certificação nacional em parceria com um ou aprendizagem em rede, com aplicação, dentre outras, das
mais sistemas, sob a forma de adesão e como consequên- Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na “bus-
cia do regime de colaboração, devendo, nesse caso, garan- ca inteligente” e na interatividade virtual, com garantia de
tir a exigência de uma base nacional comum. IV - garantir, ambiente presencial escolar devidamente organizado para
como função supletiva, a dimensão ética da certificação as práticas relativas à formação profissional, de avaliação e
que deve obedecer aos princípios de legalidade, impessoa- gestão coletiva do trabalho, conjugando as diversas políti-
lidade, moralidade, publicidade e eficiência; cas setoriais de governo;
V - oferecer apoio técnico e financeiro aos Estados, ain- VII - a interatividade pedagógica será desenvolvida
da como função supletiva, para por professores licenciados na disciplina ou atividade, ga-
a oferta de exames de EJA; rantindo relação adequada de professores por número de
VI - realizar avaliação das aprendizagens dos estudan- estudantes;
tes da Educação de Jovens e Adultos, integrada às avalia- VIII - aos estudantes serão fornecidos livros didáticos
ções já existentes para o Ensino Fundamental e o Ensino e de literatura, além de oportunidades de consulta nas bi-
Médio, capaz de oferecer dados e informações para sub- bliotecas dos polos de apoio pedagógico organizados para
sidiar o estabelecimento de políticas públicas nacionais tal fim;
compatíveis com a realidade, sem o objetivo de certificar o IX - infraestrutura tecnológica como polo de apoio pe-
desempenho de estudantes. dagógico às atividades escolares que garanta acesso dos
§ 3º Toda certificação decorrente dessas competências estudantes à biblioteca, rádio, televisão e internet aberta às
possui validade nacional, garantindo padrão de qualidade. possibilidades da chamada convergência digital;
Art. 8º O poder público deve inserir a EJA no Sistema X - haja reconhecimento e aceitação de transferências
Nacional de Avaliação da Educação Básica e ampliar sua ação entre os cursos de EJA presencial e os desenvolvidos com
para além das avaliações que visam identificar desempenhos mediação da EAD;
86
LEGISLAÇÃO FEDERAL
87
LEGISLAÇÃO FEDERAL
culturais, educacionais, e a função da educação, na sua § 2º O que caracteriza um sistema é a atividade inten-
relação com um projeto de Nação, tendo como referência cional e organicamente concebida, que se justifica pela
os objetivos constitucionais, fundamentando-se na cidada- realização de atividades voltadas para as mesmas finalida-
nia e na dignidade da pessoa, o que pressupõe igualdade, des ou para a concretização dos mesmos objetivos.
liberdade, pluralidade, diversidade, respeito, justiça social, § 3º O regime de colaboração entre os entes federados
solidariedade e sustentabilidade. pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência
(*) Resolução CNE/CEB 4/2010. Diário Oficial da União, entre as funções distributiva, supletiva, normativa, de su-
Brasília, 14 de julho de 2010, Seção 1, p. 824. pervisão e avaliação da educação nacional, respeitada a au-
tonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais.
TÍTULO II
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS TÍTULO IV
ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio- QUALIDADE SOCIAL
nal de educação responsabilizam o poder público, a família,
a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos
Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
de um ensino ministrado de acordo com os princípios de:
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendiza-
manência e sucesso na escola; gens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qua-
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; lidade social da educação, que é uma conquista coletiva de
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; todos os sujeitos do processo educativo.
IV - respeito à liberdade e aos direitos; Art. 9º A escola de qualidade social adota como cen-
V - coexistência de instituições públicas e privadas de tralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
ensino; atendimento aos seguintes requisitos:
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
tos oficiais; rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
VII - valorização do profissional da educação escolar; sociais na escola e fora dela;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
IX - garantia de padrão de qualidade; cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações
X - valorização da experiência extraescolar; de cada comunidade;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
as práticas sociais. aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins-
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce trumento de contínua progressão dos estudantes;
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, IV - inter-relação entre organização do currículo, do
da qual depende a possibilidade de conquistar todos os trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes-
demais direitos, definidos na Constituição Federal, no Es- sor, tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação V - preparação dos profissionais da educação, gesto-
ordinária e nas demais disposições que consagram as prer- res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
rogativas do cidadão. VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as
fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida-
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
de, buscando recuperar, para a função social desse nível
acessibilidade;
da educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa
em formação na sua essência humana. VII - integração dos profissionais da educação, dos es-
tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes-
TÍTULO III sados na educação;
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO VIII - valorização dos profissionais da educação, com
programa de formação continuada, critérios de acesso,
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a ins- permanência, remuneração compatível com a jornada de
titucionalização do regime de colaboração entre União, trabalho definida no projeto político-pedagógico;
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da es- IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de
trutura federativa brasileira, em que convivem sistemas assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das meio ambiente.
políticas públicas e superar a desarticulação institucional. Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí-
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis- nimos de qualidade da educação traduz a necessidade de
tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planeja-
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar da, coletivamente, pelos sujeitos da escola.
para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni- § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
co, sequencial e articulado. escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
88
LEGISLAÇÃO FEDERAL
I - aos princípios e às finalidades da educação, além § 2º A jornada em tempo integral com qualidade im-
do reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo plica a necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou currículo, de atividades e estudos pedagogicamente plane-
outros indicadores, que o complementem ou substituam; jados e acompanhados.
II - à relevância de um projeto político-pedagógico § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem esta-
concebido e assumido colegiadamente pela comunidade belecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à
educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu- experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens
ralidade cultural; e adultos em escolarização no tempo regular ou na moda-
III - à riqueza da valorização das diferenças manifesta- lidade de Educação de Jovens e Adultos.
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural; CAPÍTULO I
IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno- FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
-Qualidade Inicial – CAQi);
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige- Art. 13. O currículo, assumindo como referência os
-se um padrão mínimo de insumos, que tem como base princípios educacionais garantidos à educação, assegu-
um investimento com valor calculado a partir das despesas rados no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedi- conjunto de valores e práticas que proporcionam a produ-
mentos formativos, que levem, gradualmente, a uma edu- ção, a socialização de significados no espaço social e con-
cação integral, dotada de qualidade social: tribuem intensamente para a construção de identidades
I - creches e escolas que possuam condições de in- socioculturais dos educandos.
fraestrutura e adequados equipamentos; § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais
II - professores qualificados com remuneração adequa- do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos,
da e compatível com a de outros profissionais com igual do respeito ao bem comum e à ordem democrática, consi-
nível de formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) derando as condições de escolaridade dos estudantes em
horas em tempo integral em uma mesma escola; cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a pro-
III - definição de uma relação adequada entre o nú- moção de práticas educativas formais e não-formais.
mero de alunos por turma e por professor, que assegure
§ 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
aprendizagens relevantes;
assegurar o entendimento de currículo como experiências
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que res-
escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
ponda às exigências do que se estabelece no projeto polí-
permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
tico-pedagógico.
saberes dos estudantes com os conhecimentos historica-
TÍTULO V mente acumulados e contribuindo para construir as identi-
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, dades dos educandos.
POSSIBILIDADES § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
contextualizado, deve ser construída em função das pecu-
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que liaridades do meio e das características, interesses e neces-
se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo- sidades dos estudantes, incluindo não só os componentes
-se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e
as raízes próprias das diferentes regiões do País. nas normas educacionais, mas outros, também, de modo
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a su- flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e asse-
peração do rito escolar, desde a construção do currículo gurando:
até os critérios que orientam a organização do trabalho I - concepção e organização do espaço curricular e fí-
escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, sico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, am-
acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de bientes e equipamentos que não apenas as salas de aula da
crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas e os
entre todas as pessoas. socioculturais e esportivorecreativos do entorno, da cidade
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, defi- e mesmo da região;
nir o programa de escolas de tempo parcial diurno (matuti- II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
no ou vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral curriculares que pressuponham profissionais da educação
(turno e contra-turno ou turno único com jornada escolar dispostos a inventar e construir a escola de qualidade so-
de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), ten- cial, com responsabilidade compartilhada com as demais
do em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído autoridades que respondem pela gestão dos órgãos do
ao conjunto orgânico da Educação Básica, o que requer ou- poder público, na busca de parcerias possíveis e necessá-
tra organização e gestão do trabalho pedagógico. rias, até porque educar é responsabilidade da família, do
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou Estado e da sociedade;
diferentes espaços educativos, nos quais a permanência III - escolha da abordagem didático-pedagógica dis-
do estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade ciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar
do tempo diário de escolarização quanto à diversidade de pela escola, que oriente o projeto político-pedagógico
atividades de aprendizagens. e resulte de pacto estabelecido entre os profissionais da
89
LEGISLAÇÃO FEDERAL
90
LEGISLAÇÃO FEDERAL
91
LEGISLAÇÃO FEDERAL
92
LEGISLAÇÃO FEDERAL
93
LEGISLAÇÃO FEDERAL
94
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza
seus sujeitos, articular a formulação do projeto político-pe- e da finalidade da instituição, da relação da gestão demo-
dagógico com os planos de educação – nacional, estadual, crática com os órgãos colegiados, das atribuições de seus
municipal –, o contexto em que a escola se situa e as neces- órgãos e sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo
sidades locais e de seus estudantes. os critérios de acesso, promoção, mobilidade do estudante,
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeduca- dos direitos e deveres dos seus sujeitos: estudantes, profes-
tivo, artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, sores, técnicos e funcionários, gestores, famílias, represen-
etnia e diversidade cultural que compõem as ações educa- tação estudantil e função das suas instâncias colegiadas.
tivas, a organização e a gestão curricular são componentes
integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser CAPÍTULO II
previstas as prioridades institucionais que a identificam, AVALIAÇÃO
definindo o conjunto das ações educativas próprias das
Art. 46. A avaliação no ambiente educacional com-
etapas da Educação Básica assumidas, de acordo com as
preende 3 (três) dimensões básicas:
especificidades que lhes correspondam, preservando a sua
I - avaliação da aprendizagem;
articulação sistêmica. II - avaliação institucional interna e externa;
Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de III - avaliação de redes de Educação Básica.
construção coletiva que respeita os sujeitos das aprendiza-
gens, entendidos como cidadãos com direitos à proteção e Seção I
à participação social, deve contemplar: Avaliação da aprendizagem
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo; Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na con-
II - a concepção sobre educação, conhecimento, avalia- cepção de educação que norteia a relação professor-estu-
ção da aprendizagem e mobilidade escolar; dante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser um
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adul- ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica avaliativa,
tos – que justificam e instituem a vida da e na escola, do premissa básica e fundamental para se questionar o educar,
ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, so- transformando a mudança em ato, acima de tudo, político.
cioeconômico, como base da reflexão sobre as relações § 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica,
vida-conhecimento-culturaprofessor- estudante e institui- liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar,
ção escolar; refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, apon-
IV - as bases norteadoras da organização do trabalho ta para uma avaliação global, que vai além do aspecto quanti-
pedagógico; tativo, porque identifica o desenvolvimento da autonomia do
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por estudante, que é indissociavelmente ético, social, intelectual.
consequência, da escola, no contexto das desigualdades § 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendiza-
que se refletem na escola; gem tem, como referência, o conjunto de conhecimentos,
VI - os fundamentos da gestão democrática, compar- habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos do
tilhada e participativa (órgãos colegiados e de representa- processo educativo projetam para si de modo integrado e
ção estudantil); articulado com aqueles princípios definidos para a Educa-
ção Básica, redimensionados para cada uma de suas eta-
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de
pas, bem assim no projeto político-pedagógico da escola.
permanência dos estudantes e de superação da retenção
§ 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada me-
escolar;
diante acompanhamento e registro do desenvolvimento
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se tra-
profissionais da educação, regentes e não regentes; tando de acesso ao Ensino Fundamental.
IX - as ações de acompanhamento sistemático dos re- § 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Funda-
sultados do processo de avaliação interna e externa (Siste- mental e no Ensino Médio, de caráter formativo predo-
ma de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, minando sobre o quantitativo e classificatório, adota uma
dados estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação estratégia de progresso individual e contínuo que favorece
Básica), incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que com- o crescimento do educando, preservando a qualidade ne-
plementem ou substituam os desenvolvidos pelas unida- cessária para a sua formação escolar, sendo organizada de
des da federação e outros; acordo com regras comuns a essas duas etapas.
X - a concepção da organização do espaço físico da
instituição escolar de tal modo que este seja compatível Seção II
com as características de seus sujeitos, que atenda as nor- Promoção, aceleração de estudos e classificação
mas de acessibilidade, além da natureza e das finalidades
da educação, deliberadas e assumidas pela comunidade Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Funda-
educacional. mental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qual-
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela quer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de per-
comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se curso adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental,
em um dos instrumentos de execução do projeto político- alicerçando-se na orientação de que a avaliação do rendi-
pedagógico, com transparência e responsabilidade. mento escolar observará os seguintes critérios:
95
LEGISLAÇÃO FEDERAL
96
LEGISLAÇÃO FEDERAL
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura,
no cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola não esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, sabe-
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens res e habilidades referidas, razão pela qual um programa
que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa- de formação continuada dos profissionais da educação
bilidade. será contemplado no projeto político-pedagógico.
Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações
CAPÍTULO IV para que o projeto de formação dos profissionais preveja:
O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E a) a consolidação da identidade dos profissionais da edu-
CONTINUADA cação, nas suas relações com a escola e com o estudante;
b) a criação de incentivos para o resgate da imagem
Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamenta- social do professor, assim como da autonomia docente
ção da ação docente e os programas de formação inicial e tanto individual como coletiva;
continuada dos profissionais da educação instauram, refle- c) a definição de indicadores de qualidade social da
te-se na eleição de um ou outro método de aprendizagem, educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
a partir do qual é determinado o perfil de docente para a profissionais da educação revejam os projetos dos cursos
Educação Básica, em atendimento às dimensões técnicas, de formação inicial e continuada de docentes, de modo
políticas, éticas e estéticas. que correspondam às exigências de um projeto de Nação.
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
formação dos profissionais da educação, sejam gestores, publicação.
professores ou especialistas, deverão incluir em seus currí-
culos e programas:
a) o conhecimento da escola como organização com-
plexa que tem a função de promover a educação para e na
cidadania;
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 07/10 – FIXA
investigações de interesse da área educacional; DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
c) a participação na gestão de processos educativos e PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE
na organização e funcionamento de sistemas e instituições ANOS.
de ensino;
d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
construção do projeto políticopedagógico,
mediante trabalho coletivo de que todos os que com- RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRODE 2010 (*)
põem a comunidade escolar são responsáveis. Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação Ensino Fundamental de 9 (nove) anos.
nacional está a valorização do profissional da educação, O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse-
com a compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, lho Nacional de Educação, de
com qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do
estética, ambiental. art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar redação dada pela Lei nº 9.131/95, no art. 32 da Lei
vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e com fundamento no
ambas se associam à exigência de programas de formação Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado por Despacho
inicial e continuada de docentes e não docentes, no con- do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no
texto do conjunto de múltiplas atribuições definidas para DOU de 9 de dezembro de 2010, resolve:
os sistemas educativos, em que se inscrevem as funções Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curri-
do professor. culares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada anos a serem observadas na organização curricular dos sis-
dos profissionais da educação, vinculados às orientações temas de ensino e de suas unidades escolares.
destas Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
de suas atribuições, considerando necessário: sino Fundamental de 9 (nove) anos articulam-se com as
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, sa- Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
ber pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB
é, interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente; nº 4/2010) e reúnem princípios, fundamentos e procedi-
b) trabalhar cooperativamente em equipe; mentos definidos pelo Conselho Nacional de Educação,
c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os para orientar as políticas públicas educacionais e a elabo-
instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológi- ração, implementação e avaliação das orientações curricu-
ca, econômica e organizativa; lares nacionais, das propostas curriculares dos Estados, do
d) desenvolver competências para integração com a Distrito Federal, dos Municípios, e dos projetos político-
comunidade e para relacionamento com as famílias. -pedagógicos das escolas.
97
LEGISLAÇÃO FEDERAL
Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacionais § 4º A educação escolar, comprometida com a igualda-
aplicam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental de do acesso de todos ao conhecimento e especialmente
previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação empenhada em garantir esse acesso aos grupos da popu-
Nacional, bem como à Educação do Campo, à Educa- lação em desvantagem na sociedade, será uma educação
ção Escolar Indígena e à Educação com qualidade social e contribuirá para dirimir as desigual-
Escolar Quilombola. dades historicamente produzidas, assegurando, assim, o
ingresso, a permanência e o sucesso na escola, com a con-
FUNDAMENTOS sequente redução da evasão, da retenção e das distorções
Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direi- de idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolu-
to público subjetivo de cada um e como dever do Estado e ção CNE/CEB nº 4/2010, que define as Diretrizes Curricula-
da família na sua oferta a todos. res Nacionais Gerais para a Educação Básica).
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requi- PRINCÍPIOS
sito de seleção. Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão,
Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino como norteadores das políticas educativas e das ações pe-
deverão trabalhar considerando essa etapa da educação dagógicas, os seguintes princípios:
como aquela capaz de assegurar a cada um e a todos o I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autono-
acesso ao mia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de com-
conhecimento e aos elementos da cultura imprescin- promisso com a promoção do bem de todos, contribuin-
díveis para o seu desenvolvimento pessoal e para a vida do para combater e eliminar quaisquer manifestações de
em sociedade, assim como os benefícios de uma formação preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
comum, outras formas de discriminação.
independentemente da grande diversidade da popula- II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres
ção escolar e das demandas sociais. de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação
Art. 5º O direito à educação, entendido como um di- do regime democrático e dos recursos ambientais; da bus-
reito inalienável do ser humano, constitui o fundamento ca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao traba-
maior destas Diretrizes. A educação, ao proporcionar o de- lho, aos bens culturais e outros benefícios; da exigência de
senvolvimento do potencial humano, permite o exercício diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de
dos direitos civis, políticos, sociais e do direito à diferença, direitos entre os alunos que apresentam diferentes neces-
sendo ela mesma também um direito social, e possibilita a sidades; da redução da pobreza e das desigualdades so-
formação cidadã e o usufruto dos bens sociais e culturais. ciais e regionais.
§ 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente
uma educação com qualidade social, igualmente entendida com o da racionalidade; do enriquecimento das formas
como direito humano. de expressão e do exercício da criatividade; da valorização
§ 2º A educação de qualidade, como um direito funda- das diferentes manifestações culturais, especialmente a da
mental, é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa. cultura brasileira; da construção de identidades plurais e
I – A relevância reporta-se à promoção de aprendiza- solidárias.
gens significativas do ponto de vista das exigências sociais Art. 7º De acordo com esses princípios, e em confor-
e de desenvolvimento pessoal. midade com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB),
II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender as propostas curriculares do Ensino Fundamental visarão
às necessidades e às características dos estudantes de di- desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
versos contextos sociais e culturais e com diferentes capa- indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
cidades e interesses. os meios para progredir no trabalho e em estudos poste-
III – A equidade alude à importância de tratar de forma riores, mediante os objetivos previstos para esta etapa da
diferenciada o que se apresenta escolarização, a saber:
como desigual no ponto de partida, com vistas a obter I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
desenvolvimento e aprendizagens do como meios básicos o pleno
equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de di- domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
reito à educação. II – a compreensão do ambiente natural e social, do
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da sistema político, das artes, da tecnologia e dos valores em
pobreza e das desigualdades, a que se fundamenta a sociedade;
equidade requer que sejam oferecidos mais recursos e III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a
melhores condições às escolas menos providas e aos alunos formação de atitudes e valores como instrumentos para
que deles mais necessitem. Ao lado das políticas universais, uma visão crítica do mundo;
dirigidas a todos sem requisito de seleção, é preciso tam- IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
bém sustentar políticas reparadoras que assegurem maior de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que
apoio aos diferentes grupos sociais em desvantagem. se assenta a vida social.
98
LEGISLAÇÃO FEDERAL
MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE) § 1º A articulação entre a base nacional comum e a par-
ANOS E CARGA HORÁRIA te diversificada do currículo do Ensino Fundamental possi-
Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) bilita a sintonia dos interesses mais amplos de formação
anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos básica do cidadão com a realidade local, as necessidades
14 (quatorze) anos de idade e se estende, também, a to- dos alunos, as características regionais da sociedade, da
dos os que, na idade própria, não tiveram condições de cultura e da economia e perpassa todo o currículo.
frequentá-lo. § 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao
§ 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental interesse social e à preservação da ordem democrática, os
de crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até conhecimentos que fazem parte da base nacional comum
o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos a que todos devem ter acesso, independentemente da re-
termos da Lei e das normas nacionais vigentes. gião e do lugar em que vivem, asseguram a característica
§ 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após unitária das orientações curriculares nacionais, das propos-
essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil tas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Mu-
(Pré-Escola). nicípios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Funda- § 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte
mental regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, dis- diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de
tribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enri-
trabalho escolar. quecer o currículo, assegurando a contextualização dos co-
nhecimentos escolares em face das diferentes realidades.
CURRÍCULO Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional
Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendi- comum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas
do, nesta Resolução, como constituído pelas experiências científicas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção ar-
permeadas pelas relações sociais, buscando articular vi- tística, nas atividades desportivas e corporais, na área da
vências e saberes dos alunos com os conhecimentos his- saúde e ainda incorporam saberes como os que advêm das
toricamente acumulados e contribuindo para construir as formas diversas de exercício da cidadania, dos movimentos
identidades dos estudantes. sociais, da cultura escolar, da experiência docente, do coti-
§ 1º O foco nas experiências escolares significa que as diano e dos alunos.
orientações e as propostas curriculares que provêm das di- Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são cons-
versas instâncias só terão concretude por meio das ações tituídos por componentes curriculares que, por sua vez, se
educativas que envolvem os alunos. articulam com as áreas de conhecimento, a saber:
§ 2º As experiências escolares abrangem todos os as- Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciên-
pectos do ambiente escolar:, aqueles que compõem a par- cias Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a co-
te explícita do currículo, bem como os que também contri- municação entre diferentes conhecimentos sistematizados
buem, de forma implícita, para a aquisição de conhecimen- e entre estes e outros saberes, mas permitem que os re-
tos socialmente relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade ferenciais próprios de cada componente curricular sejam
e orientações de conduta são veiculados não só pelos co- preservados.
nhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino
convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, conforme
organização do espaço educativo, pelos materiais utiliza- o art. 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portugue-
dos na aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências sa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e
proporcionadas pela escola. natural e da realidade social e política, especialmente a do
§ 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o
diferentes instâncias que produzem orientações sobre o Ensino Religioso.
currículo, as escolas e os professores selecionam e trans- Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do
formam a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, Ensino Fundamental serão assim organizados em relação
ao mesmo tempo em que servem de elementos para a for- às áreas de conhecimento:
mação ética, estética e política do aluno. I – Linguagens:
a) Língua Portuguesa;
BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA: b) Língua Materna, para populações indígenas;
COMPLEMENTARIDADE c) Língua Estrangeira moderna;
Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma d) Arte; e
base nacional comum, complementada em cada sistema e) Educação Física;
de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma par- II – Matemática;
te diversificada. III – Ciências da Natureza;
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada IV – Ciências Humanas:
do currículo do Ensino Fundamental constituem um todo a) História;
integrado e não podem ser consideradas como dois blocos b) Geografia;
distintos. V – Ensino Religioso.
99
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em lín- § 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de
gua portuguesa, assegurada também às comunidades in- trabalhar os componentes curriculares, as áreas de conhe-
dígenas a utilização de suas línguas maternas e processos cimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada,
próprios de aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da conforme a Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
Constituição Federal. para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Re-
§ 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as solução CNE/CEB nº 4/2010).
contribuições das diferentes § 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, compete a produção e a disseminação de materiais sub-
especialmente das matrizes indígena, sidiários ao trabalho docente, que contribuam para a eli-
africana e europeia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96). minação de discriminações, racismo, sexismo, homofobia e
§ 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira, outros preconceitos e que conduzam à adoção de compor-
presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos tamentos responsáveis e solidários em relação aos outros e
no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no ao meio ambiente.
ensino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino
a História da África, deverão assegurar o conhecimento e Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º
o reconhecimento desses povos para a constituição da na- ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira mo-
ção (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela derna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar.
Lei nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o le- Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras moder-
que de referências culturais de toda a população escolar e nas, a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da
contribui para a mudança das suas concepções de mundo, Lei nº 11.161/2005.
transformando os conhecimentos comuns veiculados pelo
currículo e contribuindo para a construção de identidades PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
mais plurais e solidárias. Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove)
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não anos de duração exige a estruturação de um projeto edu-
exclusivo, do componente curricular Arte, o qual com- cativo coerente, articulado e integrado, de acordo com os
modos de ser e de se desenvolver das crianças e ado-
preende também as artes visuais, o teatro e a dança, con-
lescentes nos diferentes contextos sociais.
forme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do
que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como
currículo do Ensino Fundamental, integra a proposta políti-
tempos e espaços interdependentes e articulados entre si,
co-pedagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas
ao longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Funda-
nas circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº
mental.
9.394/96.
§ 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao alu-
GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO
no, é parte integrante da formação básica do cidadão e GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO
constitui componente curricular dos horários normais das Art. 20 As escolas deverão formular o projeto políti-
escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o res- co-pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo
peito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,
quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da por meio de processos participativos relacionados à gestão
Lei nº 9.394/96. democrática.
Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de co- § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a
nhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir proposta educativa construída pela comunidade escolar no
das possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abor- exercício de sua autonomia, com base nas características
dagem de temas abrangentes e contemporâneos que afe- dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo
tam a vida humana em escala global, regional e local, bem como referência as orientações curriculares nacionais e dos
como na esfera individual. Temas como saúde, sexualida- respectivos sistemas de ensino.
de e gênero, vida familiar e social, assim como os direitos § 2º Será assegurada ampla participação dos profissio-
das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade lo-
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do cal na definição das orientações imprimidas aos processos
meio ambiente, nos termos da política nacional de educa- educativos e nas formas de implementá-las, tendo como
ção ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o consumo, apoio um processo contínuo de avaliação das ações, a fim
educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e diversida- de garantir a distribuição social do conhecimento e con-
de cultural devem permear o desenvolvimento dos con- tribuir para a construção de uma sociedade democrática e
teúdos da base nacional comum e da parte diversificada igualitária.
do currículo. § 3º O regimento escolar deve assegurar as condições
§ 1º Outras leis específicas que complementam a Lei institucionais adequadas para a execução do projeto políti-
nº 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos te- co-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
mas relativos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº qualidade social, igualmente garantida a ampla participa-
10.741/2003) e à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97). ção da comunidade escolar na sua elaboração.
100
LEGISLAÇÃO FEDERAL
101
LEGISLAÇÃO FEDERAL
§ 1º Devem, portanto, adotar as providências neces- III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta
sárias para que a operacionalização do princípio da conti- a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos
nuidade não seja traduzida como “promoção automática” que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como
de alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para
que o combate à repetência não se transforme em des- o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro.
compromisso com o ensino e a aprendizagem. § 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola,
§ 2º A organização do trabalho pedagógico inclui- no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime se-
rá a mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços riado, será necessário considerar os três anos iniciais do
Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um
escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as
ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para
diversas linguagens artísticas, a diversidade de materiais,
ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematiza-
os variados suportes literários, as atividades que mobili-
ção e aprofundamento das aprendizagens básicas, impres-
zem o raciocínio, as atitudes investigativas, as abordagens cindíveis para o prosseguimento dos estudos.
complementares e as atividades de reforço, a articulação § 2º Considerando as características de desenvolvi-
entre a escola e a comunidade, e o acesso aos espaços de mento dos alunos, cabe aos professores adotar formas de
expressão cultural. trabalho que proporcionem maior mobilidade das crianças
Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e con- nas salas de aula e as levem a explorar mais intensamente
teúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento as diversas linguagens artísticas, a começar pela literatura,
do currículo contribui para o importante papel que tem a a utilizar materiais que ofereçam oportunidades de racio-
escola como ambiente de inclusão digital e de utilização crí- cinar, manuseando-os e explorando as suas características
tica das tecnologias da informação e comunicação, reque- e propriedades.
rendo o aporte dos sistemas de ensino no que se refere à: Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em componentes curriculares Educação Física e Arte poderão
número suficiente para o atendimento aos alunos; estar a cargo do professor de referência da turma, aquele
II – adequada formação do professor e demais profis- com o qual os alunos permanecem a maior parte do perío-
sionais da escola. do escolar, ou de professores licenciados nos respectivos
componentes.
§ 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estran-
ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA
geira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor
ESCOLAR
deverá ter licenciatura específica no componente curricular.
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um per-
§ 2º Nos casos em que esses componentes curricula-
curso contínuo de aprendizagens torna imperativa a arti- res sejam desenvolvidos por professores com licenciatura
culação de todas as etapas da educação, especialmente específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser
do Ensino Fundamental com a Educação Infantil, dos anos assegurada a integração com os demais componentes tra-
iniciais e dos anos finais no interior do Ensino Fundamental, balhados pelo professor de referência da turma.
bem como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio,
garantindo a qualidade da Educação Básica. AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprende- Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos
ram antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a re- professores e pela escola como parte integrante da pro-
cuperação do caráter lúdico do ensino contribuirão para posta curricular e da implementação do currículo, é redi-
melhor qualificar a ação pedagógica junto às crianças, so- mensionadora
bretudo nos anos iniciais dessa etapa da escolarização. da ação pedagógica e deve:
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais I – assumir um caráter processual, formativo e partici-
do Ensino Fundamental, especial atenção será dada: pativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da ofer- a) identificar potencialidades e dificuldades de apren-
ta educativa dos alunos transferidos das redes municipais dizagem e detectar problemas de ensino;
para as estaduais; b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias
e abordagens de acordo com as necessidades dos alunos,
II – pelas escolas, à coordenação das demandas especí-
criar condições de intervir de modo imediato e a mais lon-
ficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de
go prazo para sanar dificuldades e redirecionar o trabalho
que os estudantes possam melhor organizar as suas ativi- docente;
dades diante das solicitações muito diversas que recebem. c) manter a família informada sobre o desempenho dos
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental de- alunos;
vem assegurar: d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir
I – a alfabetização e o letramento; os resultados de avaliação, inclusive em instâncias superio-
II – o desenvolvimento das diversas formas de expres- res à escola, revendo procedimentos sempre que as reivin-
são, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Li- dicações forem procedentes.
teratura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais
como o aprendizado da Matemática, da Ciência, da Histó- como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os
ria e da Geografia; trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios,
102
LEGISLAÇÃO FEDERAL
provas, questionários, dentre outros, tendo em conta a sua II – as escolas a uma apreciação mais ampla das opor-
adequação à faixa etária e às características de desenvolvi- tunidades educativas por elas
mento do educando; oferecidas aos educandos, reforçando a sua responsa-
III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da apren- bilidade de propiciar renovadas
dizagem do aluno sobre os quantitativos, bem como os re- oportunidades e incentivos aos que delas mais neces-
sultados ao longo do período sobre os de eventuais provas sitem.
finais, tal com determina a alínea “a” do inciso V do art.
24 da Lei nº 9.394/96; A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os
Art. 36 Considera-se como de período integral a jorna-
alunos com menor rendimento
da escolar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mí-
tenham condições de ser devidamente atendidos ao
longo do ano letivo; nimo, perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos,
V – prover, obrigatoriamente, períodos de recupera- 1.400 (mil e quatrocentas) horas.
ção, de preferência paralelos ao Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sis-
período letivo, como determina a Lei nº 9.394/96; temas de ensino, conjugarão esforços objetivando o pro-
VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos con- gressivo aumento da carga horária mínima diária e, con-
teúdos curriculares, ao longo do sequentemente, da carga horária anual, com vistas à maior
ano letivo, aos alunos com frequência insuficiente, evi- qualificação do processo de ensino-aprendizagem, tendo
tando, sempre que possível, a retenção por faltas; como horizonte o atendimento escolar em período integral.
VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo in-
com defasagem idade-série. tegral promoverá a ampliação de tempos, espaços e opor-
Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos tunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de
professores e pela escola serão articulados às avaliações educar e cuidar entre os profissionais da escola e de outras
realizadas em nível nacional e às congêneres nos diferentes áreas, as famílias e outros atores sociais,
Estados e Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar sob a coordenação da escola e de seus professores,
os sistemas de ensino e as escolas nos esforços de melhoria visando alcançar a melhoria da qualidade da aprendizagem
da qualidade da educação e da aprendizagem dos alunos. e da convivência social e diminuir as diferenças de acesso
§ 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos
ao conhecimento e aos bens culturais, em especial entre as
indicadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar
populações socialmente mais vulneráveis.
os sistemas de ensino e a comunidade escolar a redimen-
§ 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido
sionarem as práticas educativas com vistas ao alcance de
melhores resultados. como um projeto educativo integrado, implica a ampliação
§ 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos re- da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento de
fere-se apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado atividades como o acompanhamento pedagógico, o
nas escolas, de sorte que as referências para o currículo reforço e o aprofundamento da aprendizagem, a experi-
devem continuar sendo as contidas nas propostas políti- mentação e a pesquisa científica, a cultura e as artes, o es-
co-pedagógicas das escolas, articuladas às orientações e porte e o
propostas curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus lazer, as tecnologias da comunicação e informação, a
propósitos ao que é avaliado pelos testes de larga escala. afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, ar-
político-pedagógicos das escolas ticuladas aos componentes curriculares e às áreas de co-
devem expressar com clareza o que é esperado dos nhecimento, a vivências e práticas socioculturais.
alunos em relação à sua aprendizagem. § 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele,
devem ser aliados à avaliação das escolas e de seus pro- em espaços distintos da cidade ou do território em que está
fessores, tendo em conta os parâmetros de referência dos situada a unidade escolar, mediante a utilização de equipa-
insumos básicos necessários à educação de qualidade para
mentos sociais e culturais aí existentes e o estabelecimen-
todos nesta etapa da educação e respectivo custo aluno-
to de parcerias com órgãos ou entidades locais, sempre de
-qualidade inicial (CAQi), consideradas inclusive as suas
acordo com o respectivo projeto político-pedagógico.
modalidades e as formas diferenciadas de atendimento
como a Educação do Campo, a Educação Escolar Indíge- § 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendiza-
na, a Educação Escolar Quilombola e as escolas de tempo gem à comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo
integral. para a construção de redes sociais e de cidades educadoras.
Parágrafo único. A melhoria dos resultados de apren- § 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos
dizagem dos alunos e da qualidade da educação obriga: sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão
I – os sistemas de ensino a incrementarem os disposi- que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral
tivos da carreira e de condições de exercício e valorização possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além
do magistério e dos demais profissionais da educação e a do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será
oferecerem os recursos e apoios que demandam as escolas passível de avaliação em cada escola.
e seus profissionais para melhorar a sua atuação;
103
LEGISLAÇÃO FEDERAL
104
LEGISLAÇÃO FEDERAL
situação de privação de liberdade, é pautada pela in- Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no
clusão e pela qualidade social e requer: Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluin-
I – um processo de gestão e financiamento que lhe as- do, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição
segure isonomia em relação ao Ensino Fundamental regular; de indicadores institucionais das redes públicas e privadas,
II – um modelo pedagógico próprio que permita a concorrerá para a universalização e a melhoria da qualida-
apropriação e a contextualização das Diretrizes Curricula-
de do processo educativo.
res Nacionais;
III – a implantação de um sistema de monitoramento
e avaliação; A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COMPRO-
IV – uma política de formação permanente de seus MISSO SOLIDÁRIO DOS
professores; SISTEMAS E REDES DE ENSINO
V – maior alocação de recursos para que seja ministra- Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretri-
da por docentes licenciados. zes, cabe aos sistemas e às redes
Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de de ensino prover:
Educação de Jovens e Adultos e para a realização de exa- I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e
mes de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos comple- espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a
tos (Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº distribuição de materiais didáticos e escolares adequados;
3/2010).
II – a formação continuada dos professores e demais
Parágrafo único. Considerada a prioridade de atendimen-
to à escolarização obrigatória, para que haja oferta capaz de profissionais da escola em estreita articulação com as ins-
contemplar o pleno atendimento dos adolescentes, jovens e tituições responsáveis pela formação inicial, dispensando
adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, com defasa- especiais esforços quanto à formação dos docentes das
gem idade/série, tanto na sequência do ensino regular, quan- modalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles
to em Educação de Jovens e Adultos, assim como nos cursos que trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilom-
destinados à formação profissional, torna-se necessário: bolas;
I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas III – a coordenação do processo de implementação do
as modalidades do Ensino Fundamental; currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabe- no interior de uma mesma realidade educacional;
lecerem política própria para o atendimento desses estu- IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas
dantes, que considere as suas potencialidades, necessida-
e ações educativas nas respectivas redes e escolas e o su-
des, expectativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao
mundo do trabalho, inclusive com primento das necessidades detectadas.
programas de aceleração da aprendizagem, quando Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com
necessário; os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá en-
III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adul- caminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida
tos nos períodos diurno e noturno, com avaliação em pro- de consulta pública nacional, proposta de expectativas de
cesso. aprendizagem dos conhecimentos
Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e escolares que devem ser atingidas pelos alunos em
Adultos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será pre- diferentes estágios do Ensino Fundamental (art. 9º, § 3º,
sencial e a sua duração ficará a critério de cada sistema desta Resolução).
de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal
Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educa-
como remete o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução
CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos finais, ou seja, do 6º ano ao ção elaborar orientações e oferecer outros subsídios para
9º ano, os cursos poderão ser presenciais ou a distância, a implementação destas Diretrizes. Art. 50 A presente Re-
devidamente credenciados, e terão 1.600 (mil e seiscentas) solução entrará em vigor na data de sua publicação, re-
horas de duração. vogando-se as disposições em contrário, especialmente a
Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os per- Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de abril de 1998.
fis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos,
o projeto político-pedagógico da escola e o regimento (Fontes Resoluções : http://portal.mec.gov.br/secre-
escolar viabilizarão um modelo pedagógico próprio para taria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-
essa modalidade de ensino que permita a apropriação e a -seres/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-
contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, as- -82187207/13684-resolucoes-ceb-2009 // http://portal.
segurando:
mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=arti-
I – a identificação e o reconhecimento das formas de
aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valoriza- cle&id=14906&Itemid)
ção de seus conhecimentos e experiências;
II – a distribuição dos componentes curriculares de
modo a proporcionar um patamar igualitário de formação,
bem como a sua disposição adequada nos tempos e espa-
ços educativos, em face das necessidades específicas dos
estudantes.
105
LEGISLAÇÃO FEDERAL
106
LEGISLAÇÃO FEDERAL
d) medida socioeducativa de liberdade assistida será educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos in-
fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual- tegrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por agentes públicos executores de medidas socioeducativas
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tra-
o defensor. tá-los, educá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está er-
e) remissão não implica necessariamente o reconhe- rada porque o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liber-
cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre- dade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar nos
valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even- logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas
tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e
em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
a internação. V - participar da vida familiar e comunitária, sem discrimi-
nação; VI - participar da vida política, na forma da lei;
R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so- VII - buscar refúgio, auxílio e orientação”. A alternativa “b”
cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º, está errada porque o artigo 17 do ECA prevê que “o direito
ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, § psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo
1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA; a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pes-
alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA. soais”. A alternativa “d” está errada porque o artigo 18 do
ECA assegura que “é direito da criança e do adolescente ser
5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar- criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmen-
da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados te, em família substituta, assegurada a convivência familiar
pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen- e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvi-
to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial mento integral”.
através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe-
cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo
6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos)
as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa
8.069/90), é considerado criança
da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais.
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade.
Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles-
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
centes têm direito,
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade.
a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá- d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade.
rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não
e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor- tenha cometido nenhum crime.
tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, exce- R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por
tuadas dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso categorizar separadamente estas duas categorias de me-
e de participar da vida política. nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na
b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente),
integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser- adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data
vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), conforme o
valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços artigo 2º do ECA.
e objetos pessoais.
c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo 7. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente
de correção, disciplina, educação ou a qualquer outro pre- (Lei nº 8.069/90) é
texto, por parte dos pais, de integrantes da família amplia- a) prover uma boa escola para que crianças e adoles-
da, dos responsáveis, dos agentes públicos executores de centes possam trabalhar o mais cedo possível.
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre- b) questionar políticas sociais que venham a proteger
gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. quem não merece.
d) de serem criados e educados no seio de sua família c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
biológica, não se admitindo a sua inserção em família subs- pulação.
tituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. rantindo políticas públicas neste sentido.
e) proteger crianças e adolescentes da prisão.
R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA:
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. O
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, princípio da proteção integral se associa ao princípio da
107
LEGISLAÇÃO FEDERAL
prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada,
artigo 227, CF. De uma doutrina da situação irregular, o pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
direito evoluiu e passou a contemplar uma noção de prote- medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre-
ção mais ampla da criança e do adolescente, que não ape- gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
nas abordasse situações de irregularidade (embora ainda c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço jurídico como pessoas humanas em processo de desenvolvimento
protetivo da criança e do adolescente, que é a doutrina da e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garan-
proteção integral. tidos na Constituição e nas leis.
d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
8. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen- moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva-
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Esta- ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores,
tuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
único fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa
CORRETA que compreende uma dessas prioridades:
R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o
a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni-
qualquer forma de negligência, descriminação e exploração.
dade como pessoas humanas em processo de desenvolvi-
b) É assegurado atendimento integral á saúde da crian-
ça e do adolescente por intermédio do sistema único de mento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
saúde. garantidos na Constituição e nas leis”.
c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos
ou de relevância pública. 11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto
d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo- - FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente,
nato a permanência junto á mãe. é correto afirmar:
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades
R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a lúdicas.
garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública”. de aprendizes.
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16
9. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo - VU- anos, salvo na condição de aprendizes.
NESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares do d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
correta. e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e
a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos atividades cinematográficas.
completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos
de idade incompletos. R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido qual-
b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons- quer trabalho a menores de quatorze anos de idade, sal-
tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescen- vo na condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho como
te às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade. aprendiz entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos, o adoles-
c) A garantia de prioridade para o adolescente com- cente pode trabalhar, não necessariamente como aprendiz,
preende a primazia na formulação das políticas sociais pú- embora a lei fixe outras restrições.
blicas para o lazer.
d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em con-
12. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto -
ta os fins políticos a que ela se destina.
FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescen-
e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas
te NÃO deverá obedecer a
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
a) horário especial, estabelecido em lei.
R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a b) horário especial, de acordo com a atividade.
garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri- c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com d) adequação ao mercado de trabalho.
a proteção à infância e à juventude”. e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
dutivas.
10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen-
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) Assinale R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro-
a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA: fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo-os especial para o exercício das atividades”. Especificamente,
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, ater- o horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à es-
rorizante, vexatório ou constrangedor. cola (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno.
b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso de Entretanto, a lei não fixa com precisão o horário de traba-
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como lho permitido ao adolescente.
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro
108
LEGISLAÇÃO FEDERAL
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
109
LEGISLAÇÃO FEDERAL
ANOTAÇÕES
__________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
110
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
SEÇÃO II
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE SANTOS. DA ORGANIZAÇÃO
ART.196 A 205. POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
1
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
2
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
3
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
•Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica XI - autorizar concessão de auxílios e subvenções;
nº. 25, de 23 de janeiro de 1995 (DOM de 26/01/1995) XII - autorizar concessão de serviços públicos;
II - licenciado pela Câmara por motivo de doença, ges- XIII - autorizar concessão de direito real de uso de bens
tação ou para tratar, sem remuneração, de interesse parti- municipais;
cular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse XIV - autorizar concessão administrativa de uso de
cento e vinte dias por sessão legislativa. bens municipais;
§ 1º - O suplente será convocado nos casos de vaga XV - autorizar alienação de bens imóveis;
ou licença, devendo tomar posse, no prazo de quinze dias, XVI - autorizar aquisição de bens imóveis, salvo quan-
contados da data da convocação, salvo justo motivo, aceito do se tratar de doação sem encargo;
pela Câmara, quando se prorrogará o prazo. XVII - autorizar a transferência temporária da sede do
§ 2º - Ocorrendo vaga e não havendo suplente, se fal- Governo Municipal;
tarem mais de quinze meses para o término do mandato, XVIII - autorizar a criação, transformação e extinção de
a Câmara representará à Justiça Eleitoral, para a realização cargos, empregos e funções públicas e fixar-lhes a respec-
de eleições, a fim de preenchê-la. tiva remuneração;
Artigo 19 - No exercício de seu mandato, o Vereador XIX - autorizar a criação, transformação, extinção e es-
terá livre acesso às repartições públicas, podendo diligen- truturação de empresas públicas, sociedades de economia
ciar, pessoalmente, junto aos órgãos da administração di- mista, autarquias e fundações;
reta, sociedades de economia mista, autarquias e funda- XX - autorizar convênios com entidades públicas ou
ções, a fim de consultar e requerer documentos, devendo particulares e consórcios que acarretem encargos ou com-
ser atendido pelos respectivos responsáveis, na forma da promissos gravosos ao patrimônio municipal;
lei. XXI - autorizar a criação, estruturação, fusão, cisão, ex-
tinção e as atribuições de Secretarias Municipais e de ór-
CAPÍTULO II gãos da administração direta e indireta.
DAS ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA Artigo 21 - Compete, privativamente, à Câmara:
I - eleger a Mesa, destituí-la e constituir as Comissões,
Artigo 20 - Cabe à Câmara, com a sanção do Prefei-
na forma regimental;
to, ressalvadas as especificadas nos artigos 21 e 36, dispor
II - elaborar seu Regimento Interno;
acerca de todas as matérias de competência do Município,
III - dispor sobre sua organização, funcionamento,
especialmente:
polícia, criação, transformação ou extinção de cargos, em-
I - legislar sobre tributos municipais, arrecadação e dis-
pregos e funções de seus serviços e fixação da respectiva
tribuição de suas rendas, isenções, anistias fiscais, remissão
de dívidas e parcelamento de débitos fiscais; remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na
II - legislar sobre plano plurianual, diretrizes orçamen- Lei de Diretrizes Orçamentárias;
tárias, orçamento anual, operações de crédito e dívida pú- IV - dar posse ao Prefeito e ao Vice-Prefeito, conhecer
blica; de sua renúncia ou afastá-los, definitivamente, do cargo;
III - legislar sobre Plano Diretor de Desenvolvimento e V - autorizar o Prefeito e o Vice-Prefeito a se ausenta-
Expansão Urbana, normas urbanísticas relativas ao zonea- rem do Município, quando o afastamento exceder a quinze
mento e parcelamento do solo, perímetro urbano, Código dias;
de Edificações e de Posturas; VI - conceder licença ao Prefeito, ao Vice-Prefeito e aos
IV - normatizar a iniciativa popular a projetos de lei Vereadores;
de interesse do Município, da cidade ou de bairros, atra- VII - mudar, temporariamente, sua sede;
vés de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do VIII - fixar a remuneração dos Vereadores, do Prefeito e
eleitorado, garantida a defesa nas Comissões Permanentes do Vice-Prefeito, em cada legislatura, para a subsequente,
da Câmara, por um dos signatários, pelo prazo de quinze observados o que dispõe o artigo 67, XII, desta Lei Orgânica
minutos; e a paridade de vencimentos entre os Chefes dos Poderes;
V - alterar denominação de próprios, vias e logradou- IX - julgar, anualmente, as contas prestadas pelo Pre-
ros públicos, consultada a população da localidade; feito e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos
VI - legislar sobre criação, organização e supressão de de governo;
distritos, observada a legislação estadual; X - proceder à tomada de contas do Prefeito, quando
VII - autorizar a alteração de denominação de próprios, não apresentadas à Câmara, dentro de sessenta dias, após
vias e logradouros públicos, consultada a população da lo- a abertura da sessão legislativa;
calidade; XI - fiscalizar e controlar, diretamente, os atos do Poder
VIII - autorizar a fixação e modificação do efetivo da Executivo, incluídos os da administração indireta;
Guarda Civil Municipal; XII - zelar pela preservação de sua competência legis-
•Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica lativa, em face da atribuição normativa do Poder Executivo;
nº. 072, de 19 de maio de 2016 (DOM de 03/06/2016) XIII - representar ao Ministério Público, por dois terços
IX - autorizar planos e programas municipais de desen- de seus membros, e instaurar processo contra o Prefeito,
volvimento; Vice-Prefeito e os Secretários Municipais, pela prática de
X - autorizar abertura de créditos suplementares, espe- crime contra a Administração Pública, de que tiver conhe-
ciais e extraordinários; cimento;
4
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
5
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
6
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 40 - Serão objeto de lei complementar, dentre § 6º - Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido
outras previstas nesta Lei Orgânica: no § 4º, o veto será colocado na Ordem do Dia da sessão
I - Código Tributário do Município; imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua vo-
II - Código de Edificações; tação final.
III - Plano Diretor Físico do Município; § 7º - Se a lei não for promulgada, dentro de quaren-
IV - Código de Posturas; ta e oito horas, pelo Prefeito, nos casos dos §§ 3º e 5º, o
V - Estatuto dos Servidores Públicos Municipais; Presidente da Câmara promulgará e, se este não o fizer,
VI - criação de cargos, funções ou empregos públicos; em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente fazê-lo obriga-
VII - criação, transformação, fusão, cisão, incorporação, toriamente.
privatização ou extinção de fundações, autarquias e órgãos § 8º - O prazo para apreciação do veto não corre nos
da administração indireta. períodos de recesso da Câmara.
Artigo 41 - Não será admitido aumento da despesa § 9º - Os motivos do veto, total ou parcial, serão resumida-
mente publicados no Diário Oficial, no mesmo prazo de qua-
prevista:
renta e oito horas que o Prefeito tem para comunicá-los ao
I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Prefeito, res-
Presidente da Câmara Municipal, conforme § 1º deste artigo.
salvado o disposto no artigo 115, desta lei;
•Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ-
II - nos projetos sobre a organização da Secretaria da
nica nº. 69, de 01 de fevereiro de 2016 (D.O. de 16/02/2016).
Câmara, de iniciativa privativa da Mesa. Artigo 45 - A matéria constante de projeto de lei re-
Artigo 42 - O Prefeito poderá solicitar urgência para jeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto,
apreciação dos projetos de sua iniciativa. na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria
§ 1º - Se a Câmara não se manifestar, em até quaren- absoluta dos membros da Câmara.
ta e cinco dias, sobre a proposição, será esta incluída na Parágrafo Único - O disposto neste artigo não se aplica
Ordem do Dia, sobrestando-se a deliberação quanto aos aos projetos de iniciativa exclusiva do Prefeito, que serão
demais assuntos, para que se ultime a votação, excetuados submetidos à deliberação da Câmara.
os casos do artigo 120 que serão preferenciais na ordem Artigo 46 - As leis complementares serão aprovadas
numerada. por maioria absoluta.
§ 2º - O prazo previsto no parágrafo anterior não cor- Artigo 47 - Nenhum projeto de lei que implique a cria-
re nos períodos de recesso nem se aplica aos projetos de ção ou o aumento de despesa pública será sancionado sem
código. que dele conste a indicação dos recursos disponíveis, pró-
Artigo 43 - Nas hipóteses em que se exige quorum prios para atender aos novos encargos.
qualificado para aprovação de qualquer proposição le- Parágrafo Único - O disposto neste artigo não se aplica
gislativa, repetir-se-á a votação quando for obtida apenas a créditos extraordinários.
maioria relativa de votos favoráveis.
§ 1º - Se na segunda votação ainda não for obtida a SEÇÃO III
maioria qualificada de votos favoráveis, considerar-se-á DOS DECRETOS LEGISLATIVOS
prejudicada a proposição, ressalvados os projetos sobre E DAS RESOLUÇÕES
plano plurianual, diretrizes orçamentárias e orçamento
anual. Artigo 48 - As proposições destinadas a regular ma-
§ 2º - Nas hipóteses ressalvadas no parágrafo anterior, téria político-administrativa de competência exclusiva da
a votação será renovada tantas vezes quantas se fizerem Câmara são:
necessárias, até que se alcance a maioria qualificada. a) decreto legislativo, de efeitos externos;
b) resolução, de efeitos internos.
Artigo 44 - O projeto de lei aprovado pela Câmara será
Parágrafo único - Os projetos de decreto legislativo e
enviado, dentro de dez dias úteis, como autógrafo ao Pre-
de resolução, terão apenas uma discussão e um só turno
feito que, aquiescendo, o sancionará.
de votação, exceto projeto de resolução visando alterar o
§ 1º - Se o Prefeito considerar o projeto, no todo ou Regimento Interno da Câmara Municipal, que será consi-
em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse pú- derado aprovado após duas discussões e votações, e inde-
blico, vetá-lo-á total ou parcialmente no prazo de quinze pendem de sanção do Prefeito, sendo promulgados pelo
dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, Presidente da Câmara.
dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente da Câmara, •Parágrafo Único alterado pela Emenda à Lei Orgânica
os motivos do veto. nº 047, de 06 de junho de 2005 (DOM de 24/06/2005)
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral
de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. CAPÍTULO IV
§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do DO EXAME PÚBLICO DAS CONTAS
Prefeito importará sanção. MUNICIPAIS
§ 4º - O veto será apreciado pela Câmara, dentro de
trinta dias, a contar de seu recebimento, só podendo ser Artigo 49 - As contas do Município ficarão à disposi-
rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Vereadores. ção de qualquer cidadão durante sessenta dias, a partir de
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado sua apresentação, para exame e apreciação, o qual poderá
ao Prefeito para promulgação. questionar-lhes a legitimidade, na forma da lei.
7
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Parágrafo Único - Vencido o prazo do parágrafo ante- § 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão com-
rior, as contas e as questões levantadas serão enviadas ao pletar o período dos antecessores.
Tribunal de Contas para emissão de parecer prévio. Artigo 56 - O Prefeito e o Vice-Prefeito não poderão,
sem licença da Câmara, ausentar-se do Município, por pe-
TÍTULO III ríodo superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.
DO PODER EXECUTIVO § 1º - O Prefeito poderá licenciar-se quando:
I - impossibilitado de exercer o cargo, por motivo de
Artigo 50 - O Poder Executivo é exercido pelo Prefeito doença devidamente comprovada, ou gestação;
Municipal, auxiliado por Secretários Municipais. II - em gozo de férias;
Parágrafo Único - São asseguradas a participação po- III - a serviço ou em missão de representação do Mu-
pular nas decisões do Poder Executivo e a realização, pe- nicípio.
riodicamente, de audiências públicas com entidades da § 2º - O Prefeito, regularmente licenciado, receberá a
comunidade. remuneração integral.
§ 3º - O Prefeito gozará férias anuais de trinta dias sem
CAPÍTULO ÚNICO prejuízo da remuneração, ficando a seu critério a época
DO PREFEITO para usufruir do descanso.
E DO VICE-PREFEITO Artigo 56-A - Quando o Prefeito se ausentar do Muni-
cípio por prazo inferior a quinze dias dará publicidade no
Artigo 51 - A eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito, Diário Oficial e comunicará à Câmara, com antecedência
para mandato de quatro anos, dá-se mediante pleito dire- de, no mínimo, vinte e quatro horas, o período em que o
to, realizado noventa dias antes do término do mandato de Vice-Prefeito responderá pela Administração.
seus antecessores, observado, quanto ao mais, o disposto
nos parágrafos 1º e 5º do artigo 77 da Constituição da Re- •Artigo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 45, de
pública. 13 de outubro de 2004 (DOM de 20/102004)
Artigo 52 - O Prefeito e o Vice-Prefeito tomarão posse Artigo 57 - O Prefeito e o Vice-Prefeito deverão apre-
sentar, no ato de posse, de seis em seis meses e no término
em sessão da Câmara, no dia 1º de janeiro do ano subse-
do mandato declarações públicas de bens, que serão pu-
quente à eleição, às dezessete horas, prestando compro-
blicadas na imprensa local e ficarão arquivadas na Câmara,
misso de manter, defender e cumprir a Lei Orgânica, ob-
constando de ata o seu resumo.
servar as Constituições Federal e Estadual, promover o bem
Parágrafo único - O Prefeito e o Vice-Prefeito deverão
geral dos munícipes e exercer o cargo sob a inspiração da
autorizar a liberação do sigilo bancário de suas contas cor-
democracia, da legitimidade e da legalidade.
rentes e investimentos.
•“Caput” com redação dada pela Emenda à Lei Orgâni- •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
ca nº. 28, de 09 de outubro de 1995 (DOM de 18/10/1995). nº. 09, de 23 de novembro de 1992 (Jornal “A Tribuna” de
Parágrafo Único - Se, decorridos dez dias da data fixa- 26/11/1992)
da para a posse, o Prefeito ou o Vice-Prefeito, salvo motivo •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
de força maior, aceito pela Câmara, não tiver assumido o nº. 18, de 18 de outubro de 1993 (DOM de 22/10/1993)
cargo, este será declarado vago. •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
Artigo 53 - Substituirá o Prefeito, no caso de impedi- nº. 19, de 07 de fevereiro de 1994 (DOM de 17/02/1994)
mento, e suceder-lhe-á, no caso de vaga, o Vice-Prefeito.
§ 1º - O Vice-Prefeito, além de outras atribuições que lhe SEÇÃO I
forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Prefeito, DAS ATRIBUIÇÕES DO PREFEITO
sempre que por ele convocado para missões especiais.
§ 2º - A investidura do Vice-Prefeito em Secretaria Mu- Artigo 58 - Compete, privativamente, ao Prefeito:
nicipal não impedirá as funções previstas no parágrafo an- I - representar o Município nas suas relações jurídicas,
terior. políticas e administrativas;
Artigo 54 - Em caso de impedimento do Prefeito e II - exercer, com auxílio dos Secretários Municipais, a
do Vice-Prefeito, ou vacância dos respectivos cargos, se- direção superior da Administração Municipal;
rão, sucessivamente chamados, ao exercício do cargo de III - nomear e exonerar os Secretários Municipais e o
Prefeito, o Presidente da Câmara e o Procurador Geral do Procurador Geral do Município;
Município. IV - nomear e exonerar os dirigentes de autarquias e
* alterado pela redação dada pela Emenda à Lei Orgâ- fundações;
nica n.º 55/2010 de 01 de fevereiro de 2010 V - fixar ou alterar os quadros, vencimentos e as van-
Artigo 55 - Vagando os cargos de Prefeito e Vice-Pre- tagens do pessoal das fundações instituídas ou mantidas
feito, far-se-á eleição, noventa dias depois de aberta a úl- pelo Município, nos termos da lei;
tima vaga. VI - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
§ 1º - Ocorrendo a vacância, nos últimos dois anos de previstos nesta Lei Orgânica;
mandato, a eleição para ambos os cargos será feita trinta VII - indicar diretores de sociedades de economia mista,
dias depois de aberta a última vaga, pela Câmara, na forma de empresas públicas e fundações, escolhidos preferencial-
da lei. mente dentre os funcionários de seus respectivos quadros;
8
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
VIII - praticar os demais atos da administração, nos li- XXVII - repassar para a Caixa de Pecúlios e Pensões dos
mites da competência do Executivo; Servidores Municipais de Santos as quantias, previstas na
IX - subscrever ou adquirir ações, realizar ou aumentar legislação, a ela devidas, até o dia 10 do mês subsequente
capital, desde que haja recursos hábeis, de sociedades de ao do recolhimento e, após essa data, devidamente corrigi-
economia mista ou empresas públicas, bem como dispor, das pelo IGP-M/FGV - Índice Geral de Preços de Mercado;
a qualquer título, no todo ou em parte, de ações ou capital •Inciso acrescentado pela Emenda à Lei Orgânica nº.
que tenha subscrito, adquirido, realizado ou aumentado, 08, de 09 de novembro de 1992 (Jornal “A Tribuna” de
mediante autorização da Câmara; 11/11/1992) renumerando-se o seguinte.
X - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, na im- XXVIII - exercer outras atribuições previstas nesta Lei
prensa oficial do Município e, na ausência desta, na im- Orgânica.
prensa local, bem como expedir decretos e regulamentos Parágrafo Único - Os projetos a que se refere o inciso
para sua fiel execução; XXVI serão enviados à Câmara, para conhecimento, no pra-
zo de dez dias, contados da data de expedição do ato de
XI - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
aprovação.
XII - dispor sobre a organização e o funcionamento da
Artigo 58-A O Prefeito, eleito ou reeleito, apresentará
administração municipal, na forma da lei;
o Programa de Metas de sua gestão, até 90 (noventa) dias
XIII - comparecer ou remeter mensagem e plano de
após sua posse, que conterá as prioridades, as ações es-
governo à Câmara, por ocasião da abertura de sessão le- tratégicas, os indicadores e metas quantitativas para cada
gislativa, expondo a situação do Município e solicitando as uma das secretarias da Administração Pública Municipal,
providências que julgar necessárias; observando, no mínimo, as diretrizes e os objetivos do
XIV - enviar à Câmara projetos de lei relativos ao plano Programa de Governo apresentado durante a campanha
plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, dívi- eleitoral, alinhados com as normas do Plano Diretor e do
da pública e operações de crédito; Plano Plurianual.
XV - prestar anualmente à Câmara, dentro de sessenta § 1º O Programa de Metas será amplamente divulga-
dias após a abertura da sessão legislativa, as contas refe- do, por meio eletrônico, pelo mídia impressa, radiofônica
rentes ao exercício anterior; e televisiva e publicado no Dário Oficial do Município no
XVI - prover e extinguir os cargos públicos municipais, dia imediatamente seguinte ao término do prazo a que se
na forma da lei, salvo os de competência da Câmara; refere o caput deste artigo.
XVII - decretar, nos termos da lei, a desapropriação por § 2º O Poder Executivo enviará ao Legislativo, no dia
necessidade, utilidade pública ou interesse social; imediatamente seguinte ao término do prazo a que se re-
XVIII - prestar, à Câmara, obrigatoriamente, dentro de fere o caput deste artigo, o Programa de Metas.
quinze dias, informações sobre qualquer matéria solicitada, § 3º O Poder Executivo comparecerá, dentro de 30
inclusive fornecer certidões de inteiro teor de assunto de (trinta) dias, após o término do prazo previsto no caput
interesse do Município, salvo prorrogação, a seu pedido deste artigo, em audiência pública na Câmara Municipal de
e por igual período, em face da complexidade do assunto Santos para debate sobre o Programa de Metas.
ou da dificuldade da obtenção, nas respectivas fontes, dos § 4º O Poder Executivo divulgará semestralmente os
dados pleiteados; indicadores de desempenho relativos à execução dos di-
•Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica versos itens do Programa de Metas.
nº. 15, de 25 de junho de 1993 (DOM de 02/07/1993) § 5º O Poder Executivo poderá proceder a alterações
•Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica programáticas no Programa de Metas sempre em confor-
nº. 24, de 13 de outubro de 1994 (DOM de 19/10/1994) midade com o Plano Diretor e do Plano Plurianual, justifi-
cando-as por escrito e divulgando-se amplamente pelos
XIX - prover os serviços e as obras da Administração
meios de comunicação previstos neste artigo.
Pública;
§ 6º Os indicadores de desempenho serão elaborados
XX - colocar à disposição da Câmara, dentro de dez
e fixados conforme os seguintes critérios:
dias de sua requisição, as quantias que devem ser despen- a) promoção do desenvolvimento ambientalmente, so-
didas de uma só vez, e, até o dia vinte de cada mês, os cialmente e economicamente sustentável;
recursos correspondentes às suas dotações orçamentárias, b) inclusão social, com redução das desigualdades re-
compreendendo os créditos suplementares e especiais; gionais e sociais;
XXI - resolver sobre os requerimentos, as reclamações c) atendimento das funções sociais da cidade com me-
ou representações que lhe forem dirigidos; lhoria da qualidade de vida urbana;
XXII - contrair empréstimo e realizar operações de cré- d) promoção do cumprimento da função social da pro-
dito, mediante prévia autorização da Câmara; priedade;
XXIII - desenvolver o sistema viário do Município; e) promoção e defesa dos direitos fundamentais indivi-
XXIV - conceder auxílios, prêmios e subvenções, nos duais e sociais de toda pessoa humana;
limites das respectivas dotações orçamentárias, mediante f) promoção de meio ambiente ecologicamente equi-
autorização da Câmara; librado e combate à população sob todas as suas formas;
XXV - fazer publicar os atos oficiais; g) universalização do atendimento dos serviços pú-
XXVI - aprovar projetos de edificações, planos de ro- blicos municipais com observância das condições de re-
teamento, arruamento e zoneamento urbano; gularidade, continuidade, eficiência, rapidez e cortesia no
9
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
atendimento ao cidadão, segurança, atualidade com as Artigo 61 - Lei Complementar disporá sobre a criação,
melhores técnicas, métodos, processos e equipamentos, e estruturação e atribuição das Secretarias Municipais e das
modicidade das tarifas e preços públicos que considerem Administrações Regionais, definindo seus limites territo-
diferentemente as condições econômicas da população. riais.
§ 7º Ao final de cada ano, o Prefeito divulgará o rela- •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
tório da execução do Programa de Metas, o qual será dis- nº. 16, de 02 de agosto de 1993 (DOM de 07/08/1993)
ponibilizado integralmente pelos meios de comunicação Artigo 62 - Os Secretários Municipais, auxiliares diretos
previstos neste artigo. e da confiança do Prefeito, serão responsáveis pelos atos
§ 8º Na primeira quinzena de dezembro de cada ano, que praticarem ou referendarem no exercício do cargo.
o Prefeito comparecerá em audiência pública na Câmara Artigo 63 - Os Secretários Municipais e os ocupantes
Municipal, para prestar informações sobre a execução do de cargos em Comissões não pertencentes ao quadro do
Programa de Metas. funcionalismo farão declarações públicas de bens, no ato
da posse, de seis em seis meses e no término do exercício
•Artigo acrescentado pela Emenda à Lei Orgânica nº.
do cargo, e terão os mesmos impedimentos estabelecidos
75, de 24 de novembro de 2016 (publicada no DOM de
nesta Lei Orgânica para os Vereadores, enquanto perma-
09/12/2016).
necerem em suas funções, devendo, ainda, autorizar a li-
beração do sigilo bancário de suas contas correntes e de
SEÇÃO II investimentos.
DA RESPONSABILIDADE DO •“Caput” com redação dada pela Emenda à Lei Orgâni-
PREFEITO ca nº. 18, de 18 de outubro de 1993 (DOM de 22/10/1993)
Parágrafo Único - As declarações de bens mencionadas
Artigo 59 - A Câmara, tomando conhecimento de qual- neste artigo deverão ser publicadas na imprensa local.
quer ato do Prefeito que possa configurar infração penal •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
comum ou crime de responsabilidade, nomeará Comissão nº. 09, de 23 de novembro de 1992 (Jornal “A Tribuna” de
Processante, para apurar os fatos que, no prazo de trinta 26/11/1992) acrescentando-se parágrafo único.
dias, deverão ser apreciados pelo Plenário. •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
§ 1º - Se o Plenário, por dois terços de seus membros, nº. 19, de 07 de fevereiro de 1994 (DOM de 17/02/1994).
entender procedentes as acusações, determinará o envio Art. 63-A - Os Secretários Municipais comparecerão,
do apurado à Procuradoria Geral da Justiça; se não, de- anualmente, em audiência pública, perante as Comissões
terminará o arquivamento. Em qualquer dos casos, serão Permanentes da Câmara Municipal que tratam dos assun-
publicadas a decisão e suas razões. tos correspondentes as suas pastas, com a finalidade de
§ 2º - Recebida a denúncia, o Prefeito ficará suspenso prestar esclarecimentos acerca de sua gestão administra-
de suas funções, e a Câmara decidirá sobre a designação tiva e demonstrar e avaliar o desenvolvimento das ações,
de advogado para assistente de acusação. programas e metas pertinentes à Secretaria que represen-
§ 3º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o tam.
julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento Parágrafo único – As audiências públicas serão realiza-
do Prefeito, sem prejuízo do regular prosseguimento do das na sede da Câmara Municipal, no último trimestre de
processo. cada ano.
•Artigo acrescentado pela Emenda à Lei Orgânica nº
SEÇÃO III 76, de 15 de dezembro de 2016 (DOM de 30/12/2016).
DOS AUXILIARES DIRETOS DO
SEÇÃO IV
PREFEITO
DA PROCURADORIA GERAL DO
MUNICÍPIO
Artigo 60 - Os Secretários Municipais, como agentes
públicos, serão escolhidos dentre brasileiros maiores de Artigo 64 - A Procuradoria Geral do Município é insti-
vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. tuição de natureza permanente, essencial à Administração
Parágrafo Único - Compete aos Secretários Municipais, Pública Municipal, vinculada diretamente ao Prefeito, res-
além de outras atribuições estabelecidas nesta Lei Orgâni- ponsável pela advocacia e consultoria do Poder Executivo,
ca e na lei referida no artigo 61: sendo orientada pelos princípios da legalidade e da indis-
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos ponibilidade do interesse público.
órgãos e entidades da Administração Municipal, na área de § 1º - A direção superior da Procuradoria Geral do
sua competência, e referendar os atos e decretos assinados Município compete ao Procurador Geral do Município, no-
pelo Prefeito; meado pelo Prefeito, em comissão, entre os Procuradores
II - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe Municipais que integram o quadro efetivo, em exercício
forem outorgadas ou delegadas pelo Prefeito; no Poder Executivo Municipal, exigindo-se, para seu provi-
III - expedir instruções para a execução das leis, dos mento, cinco anos no cargo de Procurador.
decretos e regulamentos; § 2º - O Procurador Geral do Município deverá apre-
IV - apresentar ao Prefeito relatório anual de sua ges- sentar declaração de bens no ato da posse e no ato de sua
tão na Secretaria; exoneração.
10
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
•Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ- IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital
nica n. 09, de 23 de novembro de 1992 (Jornal “A Tribuna” de convocação, o aprovado em concurso público de pro-
de 26/11/1992) vas ou de provas e títulos será convocado com prioridade
•Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ- sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego,
nica n. 18, de 18 de outubro de 193 (DOM de 22/10/1993) na carreira;
§ 3º - Todos os cargos de direção, chefia ou assessora- V - os cargos em comissão e as funções de confiança
mento que integram a Procuradoria deverão ser preenchi- serão exercidos, nos casos e nas condições previstos em lei,
dos por Procuradores do quadro efetivo, em exercício no preferencialmente por servidores estatutários ocupantes
Poder Executivo Municipal. de cargos de carreira técnica ou profissional, que tenham
§ 4º - Lei Complementar organizará a Procuradoria Ge- domicílio eleitoral neste município, há mais de dois anos;
ral do Município, disciplinará sua competência e disporá VI - é garantido ao servidor público municipal o direito
sobre o regime jurídico dos integrantes da carreira de Pro- à livre associação sindical, obedecido o disposto no artigo
curador Municipal, respeitado o disposto nos artigos 132 e 8º da Constituição Federal;
135 da Constituição Federal. VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos
Artigo 65 - O ingresso na carreira de Procurador Muni- limites definidos em lei complementar federal;
cipal far-se-á mediante concurso público de provas e títu- VIII - o servidor e o empregado público gozarão de
los para os cargos existentes ou que vierem a ser criados, estabilidade no cargo ou emprego, desde o registro de sua
assegurada a participação da 2ª Subseção de Santos da candidatura para o exercício de cargo de representação
Ordem dos Advogados do Brasil, inclusive na elaboração sindical, ou no caso previsto no inciso XXXI deste artigo,
do programa e dos quesitos das provas, observada, nas no- até um ano após o término do mandato, se eleito, salvo se
meações, a ordem de classificação. cometer falta grave definida em lei;
IX - a lei reservará percentual dos cargos e empregos
TÍTULO IV públicos para os portadores de deficiências, garantindo as
DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL adaptações necessárias para a sua participação nos con-
CAPÍTULO I
cursos públicos e definirá os critérios de sua admissão;
DISPOSIÇÕES GERAIS
X - a lei estabelecerá os casos de contratação por tem-
po determinado, para atender a necessidade temporária de
Artigo 66 - A administração pública direta, as autar-
excepcional interesse público;
quias, sociedades de economia mista, empresas públicas,
XI - a revisão geral da remuneração dos servidores pú-
companhias, cooperativas habitacionais e fundações públi-
blicos far-se-á sempre na mesma data;
cas mantidas ou instituídas pelo Poder Público obedecerão
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, •Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
publicidade, eficiência e interesse público. (NR) nº. 26, de 03 de abril de 1995 (DOM de 07/04/1995)
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica XII - a lei fixará o limite máximo e a relação de valores
nº. 81, de 24 de agosto de 2017 (D.O. de 11/09/2017) entre a maior e a menor remuneração dos servidores pú-
blicos, observados, como limites máximos, os valores per-
SEÇÃO I cebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título,
DA ORGANIZAÇÃO DA pelo Prefeito;
ADMINISTRAÇÃO XIII - até que se atinja o limite a que se refere o inciso
anterior, é vedada a redução de salários que implique a
Artigo 67 - Para a organização da administração públi- supressão das vantagens de caráter individual adquiridas.
ca direta, das autarquias, sociedades de economia mista, Atingindo o referido limite, a redução se aplicará indepen-
empresas públicas, companhias, cooperativas habitacio- dentemente da natureza das vantagens auferidas pelo ser-
nais e fundações públicas mantidas ou instituídas pelo vidor;
Poder Público é obrigatório o cumprimento das seguintes XIV - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo
normas: não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Executivo;
I - os cargos, empregos e as funções públicas são aces- XV - é vedada a vinculação ou equiparação de venci-
síveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabe- mentos, para efeito de remuneração de pessoal do serviço
lecidos em lei; público municipal, ressalvado o disposto no inciso anterior
II - a investidura em cargo ou emprego público depen- e no artigo 73, § 1º;
de de aprovação prévia em concurso público de provas ou XVI - os acréscimos pecuniários percebidos por servi-
de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo dor público não serão computados nem acumulados para
em comissão, declarado em lei de livre nomeação e exo- fins de concessão de acréscimos ulteriores, sob o mesmo
neração; título ou idêntico fundamento;
III – o prazo de validade do concurso público será de XVII - os vencimentos dos servidores públicos munici-
até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período. A pais são irredutíveis e a remuneração mensal obedecerá o
nomeação do candidato aprovado obedecerá à ordem de que dispõem os incisos XI, XII, XIV e XV deste artigo;
classificação; XVIII - é vedada a acumulação remunerada de cargos
•Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica públicos, exceto quando houver compatibilidade de horá-
nº. 79, de 02 de maio de 2017 (D.O. de 08/05/2017) rios:
11
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
12
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica II - ao servidor municipal, em geral, férias remuneradas
nº. 22, de 30 de junho de 1994 (DOM de 08/07/1994). com, pelo menos, cinquenta por cento a mais do que o
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica salário normal;
nº 60, de 23 de agosto de 2012 (DOM de 05/09/2012) III - às servidoras municipais em geral, em caso de ado-
ção, licença especial de cento e vinte dias, a partir do ato
SEÇÃO II da adoção, sem prejuízo do emprego, do salário e as pro-
DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL moções inerentes ao cargo ou função.
§ 4º O servidor público estatutário, com mais de cin-
•Título com denominação alterada pela Emenda à co anos de efetivo exercício, que tenha exercido ou venha
Lei Orgânica nº 72, de 19 de maio de 2016 (DOM de exercer cargo em comissão que lhe proporcione remune-
03/06/2016) ração superior a do cargo de que seja titular, incorporará
Artigo 70 - A Guarda Civil Municipal, órgão de natureza per- um décimo dessa diferença por ano, até o limite de dez
manente da Administração Pública Municipal, tem por finalidade décimos, contado, para esses efeitos, o tempo anterior à
precípua a proteção dos bens, serviços e instalações municipais, data da promulgação desta Lei Orgânica.
podendo, quando solicitada, funcionar em apoio às ações da Se- •Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ-
cretaria de Negócios da Segurança Pública do Estado. nica nº. 29, de 09 de outubro de 1995 (DOM de 18/10/1995)
Parágrafo Único - Os Guardas Civis Municipais que •Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei
forem requisitados para funcionar como força auxiliar da Orgânica nº. 82, de 04 de setembro de 2017 (DOM de
Secretaria de Negócios da Segurança Pública do Estado de 20/09/2017)
São Paulo, deverão, antes do início da função, passar por § 4º-A O servidor público estatutário, com mais de cin-
ampla capacitação, visando à relação de proteção da co- co anos de efetivo exercício, que tenha exercido ou venha
munidade que irão servir. (NR) exercer função gratificada que lhe proporcione remunera-
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica ção superior a do cargo de que seja titular, incorporará dois
nº. 39, de 20 de março de 2000 (DOM de 24/03/2000) décimos dessa diferença por ano, até o limite de dez déci-
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
mos, contado, para esses efeitos, o tempo anterior à data
nº 046, de 02 de maio de 2005 (DOM de 12/05/2005)
da promulgação desta Lei Orgânica.
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
•Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº.
nº. 072, de 19 de maio de 2016 (DOM de 03/06/2016)
82, de 04 de setembro de 2017 (DOM de 20/09/2017)
Artigo 71 - Serão definidos a organização, o funcio-
§ 5º - O funcionário público estatutário que estiver per-
namento, o acesso, os direitos, os deveres, as vantagens e
cebendo incorporação na forma prevista no § 4o. deste ar-
o regime de trabalho da Guarda Civil Municipal e de seus
integrantes, obedecendo-se aos preceitos da lei federal. tigo, quando investido em cargo em comissão ou em fun-
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica ção gratificada de Chefia, poderá optar pela remuneração
nº. 072, de 19 de maio de 2016 (DOM de 03/06/2016) que lhe for mais conveniente.
•Parágrafo acrescentado pela Emenda à Lei Orgânica
SEÇÃO III nº. 37, de 27 de maio de 1999 (DOM de 1o/06/1999), renu-
DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL merando-se os demais.
§ 6o - Ao funcionário público estatutário é assegurado
Artigo 72 - Os cargos públicos serão criados por lei, o percebimento do adicional por tempo de serviço, conce-
em número certo, com denominação própria, atribuições dido no mínimo por quinquênio, e vedada a sua limitação,
específicas e vencimentos correspondentes. bem como a sexta parte dos vencimentos integrais, con-
Artigo 73 - O regime jurídico único dos servidores da cedida aos vinte anos de efetivo exercício, que se incorpo-
administração pública direta, das autarquias e das fun- rarão aos vencimentos para todos os efeitos, observado o
dações públicas é o estatutário, instituído por lei, vedada disposto no artigo 67, XVI, desta Lei Orgânica.
qualquer outra vinculação de trabalho. § 7º - Os vencimentos, vantagens ou qualquer parcela
§ 1º - A lei assegurará aos servidores da administração remuneratória dos servidores, que forem pagos com atra-
direta isonomia de vencimentos para cargos de atribuições so, serão corrigidos monetariamente, de acordo com os
iguais ou assemelhados do mesmo Poder, ou entre servi- índices oficiais aplicáveis à espécie.
dores dos Poderes Legislativo e Executivo, ressalvadas as § 8º - Fica assegurada aos funcionários públicos esta-
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou tutários aposentados ou que venham a aposentar-se com
ao local de trabalho. proventos proporcionais, nos termos da legislação em vi-
§ 2º - Aplica-se aos servidores municipais o disposto gor, a contagem da fração do quinquênio incompleto, até a
no artigo 7º, IV, VI, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, data da aposentadoria, para efeito de cálculo e pagamento
XIX, XX, XXII, XXIII e XXX da Constituição Federal. do benefício proporcionalmente ao tempo de serviço tra-
§ 3º - A lei assegurará: balhado.
I - ao funcionário público estatutário, a opção de con- § 9º - Para efeito de percepção e incorporação, as
verter em pecúnia a licença-prêmio; vantagens concedidas ao funcionário público estatutário,
•Alteração da redação do inciso I do parágrafo 3.º do aí incluídos os adicionais, a sexta parte e a gratificação de
artigo 73 conforme Emenda n.º 54/2009 publicado no DO um terço, serão calculadas sobre o valor do nível do cargo
em 29/08/2009 efetivo ou do símbolo do cargo em comissão que estiver
13
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
exercendo, se na ativa, ou sobre o valor assegurado para •Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ-
base de cálculo dos proventos da aposentadoria, se inativo nica nº. 05, de 30 de março de 1992 (Jornal “A Tribuna” de
o funcionário. 1o./04/1992)
§ 10 - A lei assegurará ao funcionário público estatutá- § 3º - O disposto no «caput» deste artigo não beneficia
rio, que tenha exercido cargo ou função gratificada por um o funcionário que já tenha obtido gratificação com base na
período de três mil, seiscentos e cinquenta dias, alternados legislação anterior.
ou não, a incorporação da maior função ou símbolo, para § 4º - A transformação ou reclassificação do cargo não
efeito de aposentadoria. interrompe a contagem do prazo.
§ 11 – Fica vedada a extensão do benefício da sexta § 5º - Fica assegurado o benefício aos funcionários pú-
parte, previsto no parágrafo 6º deste artigo, aos servidores blicos estatutários inativos que tenham preenchido o tem-
integrantes de planos de cargos, carreiras e vencimentos. po necessário.
•Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº. § 6º - Fica vedada a extensão da gratificação prevista
27, de 03 de abril de 1995 (DOM de 07/04/1995) neste artigo aos servidores integrantes de planos de car-
•Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ- gos, carreiras e vencimentos.
nica nº. 37, de 27 de maio de 1999 (DOM de 1o/06/1999) Artigo 75 - O exercício de mandato eletivo por servidor
•Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ- público far-se-á com observância do artigo 38 da Consti-
nica nº 62, de 07 de março de 2013 (DOM de 16/03/2013) tuição Federal.
§ 12 – O Município manterá escola de governo para Artigo 76 - Aos servidores públicos eleitos para ocu-
a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, par, em sindicato de categoria, os cargos de direção, cujo
constituindo-se a participação nos cursos um dos requi- número e atribuições a lei definir, será assegurado o di-
sitos para a promoção na carreira, facultada, para isso a reito de afastamento, durante o tempo em que estiverem
celebração de convênios ou contratos com outros entes no exercício dessas funções, recebendo integralmente seus
federados. (NR) vencimentos e vantagens.
•Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº. Parágrafo Único - O tempo de gestão sindical será
61, de 08 de novembro de 2012 (DOM de 24/11/2012 e
computado para todos os efeitos legais.
retificação em 18/12/2012)
Artigo 77 - O funcionário público estatutário será apo-
§ 13 – Não poderão ser cedidos os servidores munici-
sentado:
pais de Santos, sem prejuízo dos vencimentos, para prestar
I - por invalidez permanente, sendo os proventos inte-
serviços em órgãos ou entidades da União, dos Estados, do
grais, quando decorrente de acidente em serviço, moléstia
Distrito Federal e de outros Municípios.
profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, es-
•Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº.
pecificadas em lei, e proporcionais nos demais casos;
80, de 11 de maio de 2017 (DOM de 24/05/17)
II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com
•Esta Emenda entrará em vigor no dia 01 de janeiro de
2018. proventos proporcionais ao tempo de serviço;
“§ 14 Não se aplica a vedação prevista no parágrafo III - voluntariamente:
anterior, nos casos de cessão dos servidores municipais de a) aos trinta e cinco anos de serviço, se homem, e aos
Santos para prestar serviço na Junta Comercial do Estado trinta anos, se mulher, com proventos integrais;
de São Paulo, Justiça Eleitoral e/ou nas unidades descen- b) aos trinta anos de serviço em funções de magistério,
tralizadas da Secretaria do Patrimônio da União localizada docentes e especialistas de educação, se homem, e aos vin-
no Município de Santos, desde que devidamente demons- te e cinco anos, se mulher, com proventos integrais;
trado, em processo administrativo, o interesse público.” c) aos trinta anos de serviço, se homem, e aos vinte
•Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº. e cinco anos, se mulher, com proventos proporcionais ao
83, de 23 de agosto de 2018. (DOM de 12/09/18) tempo de serviço;
•Esta Emenda entrará em vigor no dia 12 de setembro d) aos sessenta e cinco anos, se homem, e aos sessenta
de 2018. anos, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo
Artigo 74 - A lei assegurará ao funcionário público de serviço.
estatutário que tenha completado ou venha a completar § 1º - O funcionário público estatutário, no exercício de
oito anos de efetivo exercício em cargo do mesmo nível de atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas,
vencimentos, uma gratificação correspondente à diferença terá reduzido o tempo de serviço e a idade para efeito de
entre o nível de vencimentos do cargo que ocupa e o ime- aposentadoria, na forma da lei complementar federal.
diatamente superior. § 2º - Os proventos da aposentadoria serão revistos, na
•“Caput” com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ- mesma proporção e na mesma data, sempre que se mo-
nica nº. 05, de 30 de março de 1992 (Jornal “A Tribuna” de dificar a remuneração dos servidores em atividade, sendo
1o./04/1992) também estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou
§ 1º - Será permitido apenas o cômputo de um perío- vantagens posteriormente concedidos aos funcionários
do, pelo funcionário que for beneficiado por este artigo. públicos estatutários em atividade, ainda quando decor-
§ 2º - No caso de ocupante de cargo enquadrado no rente de reenquadramento, de transformação ou reclassifi-
maior nível de vencimentos, a gratificação será igual à dife- cação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria,
rença entre esse nível e o imediatamente inferior. na forma da lei.
14
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
15
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
16
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter
lei, a qual somente permitirá as exigências de qualificação pessoal e serão graduados segundo a capacidade econô-
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri- mica do contribuinte, facultado à administração tributária,
mento das obrigações. especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,
§ 1º - É vedada à administração pública direta, autar- identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos
quias, sociedades de economia mista, empresas públicas, da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econô-
companhias, cooperativas habitacionais e fundações públi- micas do contribuinte.
cas mantidas ou instituídas pelo Poder Público a contrata- § 2º - As taxas não poderão ter base de cálculo própria
ção de serviços e obras de empresas que não atendam às de impostos.
normas relativas à saúde e à segurança no trabalho, que § 3º - A legislação municipal tributária respeitará as dis-
não cumpram a legislação específica sobre creches nos lo- posições da lei complementar federal quanto a:
cais de trabalho, bem como reproduzam práticas discrimi- I - conflito de competência;
natórias de origem, raça, cor, credo e ideologia. II - regulamentação às limitações constitucionais ao
§ 2º - O contratado, sem prejuízo das responsabilida- poder de tributar;
des contratuais e legais, poderá subcontratar, desde que III - normas gerais sobre:
os subcontratados comprovem idoneidade, competência a) definição de tributos e suas espécies, bem como fa-
na execução da obra, serviço ou fornecimento e atenda às tos geradores, bases de cálculo e contribuintes de impos-
condições previstas no § 1º. tos;
•Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº. b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e deca-
78, de 02 de fevereiro de 2017 (D. O. De 16/02/2017). dência tributários;
Artigo 99 - A prestação de serviços públicos, pelo Mu- c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo
nicípio, diretamente ou sob regime de concessão ou per- praticado pelas sociedades cooperativas.
missão, será regulada em lei complementar que assegurará: § 4º - O Município poderá instituir contribuição, cobra-
I - exigência de licitação, em todos os casos; da de seus servidores, para custeio, em benefício destes, de
II - definição do caráter especial dos contratos de con- sistema de previdência e assistência social.
cessão ou permissão, casos de prorrogação, condições da Artigo 102 - A lei disporá sobre a isenção do recolhi-
caducidade, forma de fiscalização e rescisão; mento dos Impostos Predial e Territorial Urbano às socie-
III - direitos dos usuários; dades de melhoramentos, nas áreas ocupadas por suas
IV - política tarifária; sedes.
V - obrigação de manter serviço adequado.
Parágrafo Único - O Município manterá órgãos espe- SEÇÃO II
cializados, incumbidos de exercer ampla fiscalização dos DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR
serviços públicos por ele concedidos e revisão de suas ta-
rifas. Artigo 103 - Sem prejuízo de outras garantias assegu-
Artigo 100 - Os serviços concedidos ou permitidos fi- radas ao contribuinte, é vedado ao Município:
carão sempre sujeitos à regulamentação e fiscalização do I - exigir ou aumentar tributos sem lei que o estabeleça;
Poder Público e poderão ser retomados quando não aten- II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que
derem satisfatoriamente aos seus fins ou às condições do se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
contrato. distinção em razão de ocupação profissional ou função por
•Parágrafo único revogado pela Emenda à Lei Orgânica eles exercida, independentemente da denominação jurídi-
nº. 70, de 25 de fevereiro de 2016 (Publicada no DOM de ca dos rendimentos, títulos ou direitos;
03/03/2016). III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início
TÍTULO V da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
DA TRIBUTAÇÃO, DAS FINANÇAS b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido pu-
E DOS ORÇAMENTOS blicada a lei que os instituiu ou aumentou;
CAPÍTULO I IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
DOS TRIBUTOS MUNICIPAIS V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou
PRINCÍPIOS GERAIS bens, por meio de tributos intermunicipais, ressalvada a
cobrança de pedágio pela utilização de meios de ligação
Artigo 101 - O Município poderá instituir os seguintes na forma de túneis, balsas ou pontes entre as áreas insular
tributos: e continental de Santos e intermunicipais;
I - impostos; VI - instituir impostos sobre:
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou a) patrimônio, renda ou serviços da União ou do Estado;
pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos b) templos de qualquer culto;
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou pos- c) patrimônio, renda ou serviços de partidos políticos,
tos à sua disposição; inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos tra-
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras pú- balhadores, das instituições de educação e de assistência
blicas. social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
17
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua Artigo 106 - O Município divulgará, até o último dia
impressão; do mês subsequente ao da arrecadação, os montantes de
VII - estabelecer diferença tributária entre bens e ser- cada um dos tributos arrecadados, os recursos recebidos
viços de qualquer natureza, em razão de sua procedência e os valores de origem tributária que lhe forem entregues
ou destino. pela União e pelo Estado.
§ 1º - A vedação do inciso VI, «a», é extensiva às autar-
quias, cooperativas habitacionais e fundações públicas ins- SEÇÃO IV
tituídas ou mantidas pelo Poder Público, no que se refere DA RECEITA E DA DESPESA
ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados às suas
atividades essenciais ou às delas decorrentes. Artigo 107 - A receita municipal constituir-se-á da ar-
§ 2º - As vedações do inciso VI, «a», e do parágrafo an- recadação dos tributos municipais, da participação em tri-
terior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços butos da União e do Estado, dos recursos resultantes do
relacionados com exploração de atividades econômicas Fundo de Participação dos Municípios e da utilização de
regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos pri- seus bens, serviços, atividades e de outros ingressos.
vados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de Artigo 108 - A fixação de preços públicos, devidos pela
preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente utilização de bens, serviços e atividades municipais, será
comprador da obrigação de pagar imposto relativo ao bem estabelecida pelo Prefeito, mediante edição de decreto.
imóvel. Parágrafo Único - Os preços públicos deverão cobrir os
§ 3º - As vedações expressas no inciso VI, «b» e «c», seus custos, sendo reajustáveis quando se tornarem defi-
compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços cientes ou excedentes.
relacionados com as finalidades essenciais das entidades Artigo 109 - Nenhum contribuinte será obrigado ao
nelas mencionadas. pagamento de qualquer tributo lançado pela Prefeitura,
§ 4º - A lei determinará medidas para que os consumi- sem prévia notificação.
dores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam § 1º - Considera-se notificação a entrega do aviso de
sobre mercadorias e serviços. lançamento do domicílio fiscal do contribuinte, nos termos
§ 5º - Qualquer anistia ou remissão que envolva ma- da legislação federal pertinente.
téria tributária ou previdenciária só poderá ser concedida § 2º - Do lançamento do tributo cabe recurso ao Pre-
mediante lei específica municipal. feito, assegurado para sua interposição o prazo de quinze
dias, contados da data do recebimento da notificação.
SEÇÃO III Artigo 110 - A despesa pública atenderá aos princípios
DOS IMPOSTOS estabelecidos na Constituição Federal e às normas de di-
reito financeiro.
Artigo 104 - Compete ao Município instituir impostos Artigo 111 - Nenhuma despesa será ordenada ou satis-
sobre: feita sem que exista recurso disponível, crédito votado pela
I - propriedade predial e territorial urbana; Câmara e empenho prévio, salvo a que ocorrer por conta
II - transmissão “inter vivos”, a qualquer título, por ato de crédito extraordinário.
oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e Artigo 112 - As disponibilidades de caixa do Municí-
de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem pio, de suas autarquias e fundações e das empresas por ele
como cessão de direitos à sua aquisição; controladas serão depositadas em instituições financeiras
III - vendas a varejo de combustíveis líquidos e gaso- oficiais, salvo casos previstos em lei.
sos, exceto óleo diesel;
IV - serviços de qualquer natureza não compreendidos CAPÍTULO II
no artigo 155, I, “b”, da Constituição Federal e definidos em DAS FINANÇAS
lei complementar.
§ 1º - O imposto previsto no inciso I poderá ser pro- Artigo 113 - A despesa com pessoal ativo e inativo do
gressivo, nos termos do Código Tributário Municipal, de Município não poderá exceder os limites estabelecidos em
forma a assegurar o cumprimento da função social da pro- lei complementar federal.
priedade. Parágrafo Único - A concessão de qualquer vantagem
§ 2º - O imposto previsto no inciso III não exclui a inci- ou aumento de remuneração, a criação de cargos ou al-
dência do imposto estadual sobre a mesma operação. teração de estrutura de carreiras, bem como a admissão
§ 3º - As alíquotas dos impostos previstos nos incisos de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da
III e IV não poderão ultrapassar o limite fixado em lei com- administração direta, autarquias, sociedades de economia
plementar federal. mista, empresas públicas, companhias, cooperativas habi-
Artigo 105 - Todas as entidades beneficiadas com isen- tacionais e fundações instituídas ou mantidas pelo Poder
ção de impostos ficarão obrigadas a encaminhar aos Po- Público só poderão ser feitas:
deres Executivo e Legislativo, até 30 de junho, relatório cir- I - se houver prévia dotação orçamentária suficien-
cunstanciado das atividades do ano anterior, especificando te para atender a projeções de despesa de pessoal e aos
pormenorizadamente a aplicação de receita e despesa. acréscimos dela decorrentes:
18
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes minhado pelo Poder Executivo, para atender às Emendas
orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas, socieda- Parlamentares dos Vereadores, com subvenção, auxílio,
des de economia mista, autarquias, companhias, coope- contribuição, bem como com a celebração de parcerias
rativas habitacionais e fundações públicas instituídas ou através de termo de cooperação ou de fomento, com en-
mantidas pelo Poder Público. tidades privadas sem fins lucrativos, alé de investimentos
Artigo 114 - O Poder Executivo publicará e enviará ao em obras, equipamentos e serviços que não acarretem au-
Legislativo, até trinta dias após o encerramento de cada mento de despesas continuadas e/ou para destinação aos
bimestre, relatório resumido da execução orçamentária e Fundos Municipais, cujas previsões orçamentárias não po-
relatório circunstanciado dos gastos com publicidade da derão ser transferidas ou remanejadas para outra categoria
administração direta, indireta e fundacional. econômica de programação ou de um órgão para outro
da Administração Municipal, sem prévia autorização do
•“Caput” com redação dada pela Emenda à Lei Orgâni- Autor da Emenda Parlamentar, sendo que a metade deste
ca nº. 10, de 23 de novembro de 1992 (Jornal “A Tribuna” percentual será destinada a ações e serviços públicos de
de 26/11/1992). saúde.
§ 1º - Até dez dias antes do encerramento do prazo de •parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Or-
que trata este artigo, as autoridades nele referidas remete- gânica nº. 74, de 24 de novembro de 2016 (DOM de
rão ao Poder Executivo as informações necessárias. 09/12/2016), alteração em vigor a partir de 01 de janeiro
§ 2º - O Poder Legislativo publicará seu relatório, nos de 2017.
termos deste artigo.
§ 3º - O numerário correspondente às dotações orça- § 2º-B As proposições de despesas públicas dos Verea-
mentárias do Poder Legislativo, compreendidos os créditos dores, incluídas no Orçamento Anual, cujas previsões orça-
suplementares e especiais sem vinculação a qualquer tipo mentárias excederem o percentual estabelecido na Lei de
de despesa, será entregue em duodécimos, até o dia vinte Diretrizes Orçamentárias poderão ser transferidas ou rema-
de cada mês em cotas estabelecidas na programação fi- nejadas para outra categoria econômica de programação
nanceira.
ou de um órgão para outro da Administração Municipal, na
forma da legislação vigente no exercício financeiro”. (NR)
CAPÍTULO III
•§§ 2º-A e 2º-B.º com redação dada pela Emenda à
DOS ORÇAMENTOS
Lei Orgânica nº. 57, de 22 de novembro de 2010 (DO de
SEÇÃO I
01/12/2010)
§ 3º - Os planos e programas municipais, distritais, de
Artigo 115 - Leis de iniciativa do Poder Executivo esta-
bairros, regionais e setoriais previstos nesta Lei Orgânica
belecerão:
serão elaboradas em consonância com o plano plurianual
I - plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias; e apreciados pela Câmara.
III - os orçamentos anuais. § 4º - A lei orçamentária anual compreenderá:
§ 1º - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, I - o orçamento fiscal referente aos Poderes Legislativo
de forma regionalizada, as diretrizes e metas da Adminis- e Executivo, seus fundos, órgãos e entidades da adminis-
tração Municipal para as despesas de capital e outras delas tração direta e indireta, inclusive fundações instituídas pelo
decorrentes e para as relativas aos programas de duração Poder Público;
continuada. II - o orçamento de investimentos das empresas em
§ 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá que o Município, direta ou indiretamente, detenha a maio-
as metas e prioridades da Administração Pública Municipal, ria de capital social, com direito a voto.
incluindo as despesas de capital para o exercício financei- § 5º - O orçamento anual conterá dotação específica
ro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária destinada ao atendimento de entidades, desde que sejam
anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e consideradas de utilidade pública e que cuidem de pessoas
estabelecerá a política de fomento. deficientes de qualquer natureza, na forma do que dispu-
§ 2º-A A Lei de Diretrizes Orçamentárias deverá ser a lei.
reservar percentual do Orçamento Anual para atender às § 6º - Cabe à lei complementar, com observância da
emendas dos Vereadores, para investimento em obras, legislação federal:
equipamentos e serviços que não acarretem aumento das I - dispor sobre o exercício financeiro a vigência, os
despesas continuadas, e/ou para destinação dos Fundos prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual,
Municipais, cujas previsões orçamentárias não poderão ser da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária
transferidas ou remanejadas para outra categoria econô- anual;
mica de programação ou de orgão para outro da Adminis- II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimo-
tração Municipal, sem prévia autorização legislativa nial da administração direta ou indireta, bem como condi-
§ 2º- A A Lei de Diretrizes Orçamentárias deverá re- ções para a instituição e funcionamento de fundos.
servar percentual de 0,7% (sete décimos por cento) a 1,2% § 7º As leis orçamentárias a que se refere este artigo
(um inteiro e dois décimos por cento) da receita corrente deverão incorporar as prioridades e ações estratégicas do
líquida a ser prevista no projeto de lei orçamentário enca- Programa de Metas.
19
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
20
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
21
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 131 - A exploração direta da atividade econômi- III - mediante mecanismos definidos em lei específica,
ca, pelo Município, só será permitida em caso de relevan- consulta e aprovação prévia da população local, nos casos
te interesse coletivo, na forma da lei complementar que, de desafetação de bens de uso comum do povo;
dentre outras, especificará as seguintes exigências para as IV - espaços físicos adequados à execução de uma políti-
empresas públicas e sociedades de economia mista ou en- ca ordenada de expansão das atividades portuárias, retropor-
tidade que criar ou mantiver: tuárias e industriais não poluentes, às quais garantirá especial
I - regime jurídico das empresas privadas; atenção, salvaguardando locais de controle ambiental;
II - proibição de privilégios fiscais não extensivos ao V - prioridade aos estudos técnicos visando à inte-
setor privado; gração do território do Município, envolvendo, inclusive,
III - adequação da atividade ao plano diretor, ao plano a possibilidade de participação da iniciativa privada a ser
plurianual e às diretrizes orçamentárias; definida em lei;
IV - orçamento anual aprovado pelo Prefeito. VI - especial atenção ao patrimônio histórico e cultural,
Parágrafo Único - A lei reprimirá o abuso do poder aos sítios arqueológicos, à criação de subzonas de preser-
econômico que vise à dominação dos mercados, à elimi- vação ambiental e à proteção de referenciais urbanísticos
nação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. característicos da memória cultural da cidade.
Artigo 132 - Na aquisição de bens e serviços, o Poder Artigo 138 - O Poder Executivo criará o Conselho Muni-
Público dará tratamento preferencial, na forma a lei, a em- cipal de Desenvolvimento Urbano, através de lei específica.
presas brasileiras de capital nacional.
Artigo 133 - O Município dispensará à microempresa e SEÇÃO II
à empresa de pequeno porte, assim definidas em lei fede- DO PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO
ral, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá- EXPANSÃO URBANA
-las pela simplificação de suas obrigações administrativas e
tributárias, no seu âmbito, por meio de lei. Artigo 139 - O Plano Diretor de Desenvolvimento e
Artigo 134 - O Município criará lei específica referente Expansão Urbana abrange a totalidade do território do
aos trabalhadores portadores de deficiência física, às co- Município, contendo objetivos da comunidade e Governo,
prioridades, estratégias para alcançar as finalidades pre-
munidades rurais, artesanais e indígenas, e à sua organi-
tendidas, aspectos e diretrizes econômico-financeiras e ad-
zação, procurando proporcionar-lhes, entre outros benefí-
ministrativas, e compreende:
cios, meios de produção e de trabalho, saúde e bem-estar
I - atividades econômicas do Município;
social.
II - situação e perspectiva das atividades portuárias, re-
§ 1º - O Município deverá criar órgão de assistência e
troportuárias, turísticas e correlatas;
encaminhamento de mão-de-obra ociosa.
III - exigências fundamentais de ordenação do Municí-
§ 2º - Serão isentas de impostos e taxas as respectivas pio, incluindo:
comunidades e organizações. a) adequação entre as funções urbanas e as atividades portuárias;
Artigo 135 - O Município dará tratamento diferencia- b) revitalização de áreas degradadas, com especial
do, através de lei complementar, ao comércio ambulante, atenção às encortiçadas;
resguardados os direitos dos comerciantes legalmente es- c) conservação e recuperação do meio ambiente, elimi-
tabelecidos. nando as fontes agressoras;
d) especial atenção às áreas de risco geológico, man-
SEÇÃO I gues, restingas, comunidades indígenas, praias, região do
DO DESENVOLVIMENTO URBANO estuário, Mata Atlântica e mata ciliar;
IV - normas para produção, uso e ocupação do solo,
•O artigo 136 foi revogado pela Emenda à Lei Orgânica aplicadas a áreas urbanas, de expansão urbana e de inte-
nº. 28, de 09 de outubro de 1995 (DOM de 18/10/1995) resse urbano, tais como bacias de mananciais, sítios natu-
renumerando-se os demais. rais de interesse turístico, zona do porto e retroporto;
Artigo 136 - A política de desenvolvimento urbano, a V - fixação do perímetro urbano e de expansão urbana.
ser implantada pelo Poder Executivo, conforme diretrizes § 1º - O Plano Diretor de Desenvolvimento e Expansão
fixadas em lei, será resultante de uma ação integrada entre Urbana deve ser elaborado e/ou revisto no primeiro ano
o Executivo e o Legislativo, consultas e audiências públi- de mandato do Prefeito, definindo-se as linhas mestras da
cas com entidades organizadas, e terá por objetivo o pleno política de sua administração.
desenvolvimento social e a garantia do bem-estar da co- § 2º - O Plano Diretor de Desenvolvimento e Expansão
munidade. Urbana deve orientar a elaboração dos orçamentos anual e
Artigo 137 - No estabelecimento das diretrizes relati- plurianual, bem como do plano de ação do Governo.
vas ao desenvolvimento urbano, o Município assegurará: § 3º - As leis de parcelamento e zoneamento somente
I - justa distribuição dos benefícios, minimizando natu- poderão ser alteradas uma vez a cada ano.
rais ônus decorrentes do processo de urbanização; § 4º - A elaboração do Plano Diretor de Desenvolvi-
II - às pessoas portadoras de deficiência física, acesso mento e Expansão Urbana deve envolver a participação de
nos transportes coletivos, a edificações públicas e parti- entidades representativas, conforme lei específica, através
culares, de frequência aberta ao público, e a logradouros de consultas e debates nas várias etapas do processo de
públicos; análise e decisão.
22
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 140 - Em cumprimento ao disposto no artigo Artigo 146 - É obrigatória a manutenção atualizada,
anterior, o Município adequará a legislação existente e, em pelo Poder Público, dos respectivos cadastros imobiliários
especial, a referente ao Plano Diretor Físico, ao Código de e de terras públicas, abertos à consulta dos cidadãos, como
Edificações e ao Código de Posturas. forma de dinamizar a aquisição de áreas para fins habita-
Parágrafo Único - As alterações do Plano Diretor de cionais.
Desenvolvimento e Expansão Urbana, no que concerne às § 1º - As terras públicas municipais serão prioritaria-
atividades modificadoras do meio ambiente, ficam sujeitas mente destinadas ao assentamento da população de baixa
aos controles e restrições determinados pelas legislações renda e à instalação de equipamentos coletivos, na forma
federal e estadual. da lei.
Artigo 141 - O Município poderá exigir, mediante lei § 2º - As áreas definidas em projeto de loteamento
específica para área incluída no Plano Diretor, nos termos como áreas verdes, áreas de riscos geológicos ou áreas de
da Lei Federal, do proprietário do solo urbano não edifica- especial interesse histórico, urbanístico, ambiental e turís-
do, subutilizado ou não utilizado, que promova o seu ade- tico não poderão ter alterados seus fins, objetivos e desti-
quado aproveitamento, sob pena de, sucessivamente: nação originalmente estabelecidos, em qualquer hipótese.
I - parcelamento ou edificação compulsórios; Artigo 147 - O Município consignará, anualmente, no
II - imposto sobre propriedade predial e territorial ur- orçamento, percentual a ser aplicado no setor habitacional,
bana, progressivo no tempo; com vistas a garantir a produção e o acesso à moradia às
III - desapropriação, com pagamento mediante título populações de baixa renda, através de sistema municipal
da dívida pública, de emissão previamente aprovada pelo de financiamento, articulado com a obtenção de recursos
Senado Federal, com prazo de até dez anos, em parcelas junto a outros órgãos governamentais.
anuais iguais e sucessivas, assegurados o valor real da in- Parágrafo Único - O montante de despesas com habi-
denização e os juros legais. tação não poderá ser inferior a 5% (cinco por cento) das
Artigo 142 - Será isento de imposto sobre propriedade despesas globais do orçamento anual do município.
predial e territorial urbana o prédio ou terreno destinado Artigo 148 - O Poder Executivo criará o Fundo de In-
à morada do proprietário de pequenos recursos, que não centivo à Construção de Habitação Popular, através de lei
possua outro imóvel, nos termos e no limite do valor que específica.
a lei fixar. Artigo 149 - O Poder Executivo criará o Fundo de In-
centivo à Construção de Habitação Popular, através de lei
SEÇÃO III específica, cuja administração será fiscalizada pelo Conse-
DA HABITAÇÃO lho Municipal de Habitação.
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
Artigo 143 - A habitação é função social do Município nº. 30, de 08 de abril de 1996 (DOM de 11/04/1996)
e será exercida mediante política de ações que visem a as-
segurar a todos o direito à moradia. SEÇÃO IV
Artigo 144 - O Município, através de política fiscal, de- DOS TRANSPORTES
verá criar mecanismo que incentive a função social da pro-
priedade. Artigo 150 - Compete ao Município organizar e prestar,
Artigo 145 - As ações do Poder Público para o setor diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, o
da habitação serão desenvolvidas mediante levantamento serviço de transporte coletivo, que tem caráter essencial,
periódico das necessidades habitacionais do Município e na forma do inciso V do artigo 30, da Constituição Federal.
prioritariamente objetivarão: Artigo 151 - A prestação do serviço de transporte cole-
I - planejamento e a execução de programas de cons- tivo deve ter como objetivo:
trução de moradias populares, definidos em lei; a) acessibilidade a todo cidadão;
II - garantia de condições habitacionais e de infra-es- b) valor da tarifa condizente com o poder aquisitivo da
trutura, em especial as de saneamento básico, escola públi- população;
ca, posto de saúde e transporte; c) boa qualidade do serviço;
III - adoção de política de produção, em alta escala, de d) garantia de rentabilidade do capital empregado.
componentes básicos para a construção de moradias, os Artigo 152 - A lei disporá sobre as condições, os re-
quais possam ser repassados aos projetos a preço de custo; quisitos e incentivos que facilitem a prestação do serviço
IV - recuperação de regiões deterioradas, transforman- de táxis, transporte coletivo de escolares, autolotação em
do-as em centros habitacionais para famílias de baixa ren- peruas e demais meios de transporte alternativo do Muni-
da; cípio.
V - acesso da população aos vazios urbanos com vo- Artigo 153 - Compete ao Município avaliar as condi-
cação habitacional, através de adoção de mecanismos que ções, os requisitos e incentivos que facilitem a implemen-
não causem ônus ao Município, preferencialmente; tação e alteração do sistema de transporte intermodal e
VI - adoção de medidas que viabilizem projetos resi- intramodal.
denciais, destinados aos idosos. Parágrafo Único - O exercício da competência a que se
VII - garantia de moradia à população de baixa renda, refere este artigo pode abranger a organização e gerência
através do Programa de Locação Social. de:
23
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
24
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 164 - As condutas e atividades consideradas IV - a defesa contra eventos críticos, que ofereçam ris-
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas cos à saúde e segurança pública e prejuízos econômicos
físicas ou jurídicas, às sanções administrativas e penais, in- ou sociais;
dependentemente da obrigação de reparar os danos cau- V - a gestão das águas de interesse exclusivamente lo-
sados. cal.
Artigo 165 - O Poder Público manterá o Conselho Mu- Artigo 173 - Para proteger e conservar as águas e pre-
nicipal de Defesa do Meio Ambiente, órgão autônomo de- venir seus efeitos adversos, o Município adotará medidas
liberativo, e garantirá a participação da comunidade em no sentido:
geral, com atribuições definidas em lei. I - da instituição de áreas de preservação das águas
Artigo 166 - O Município criará fundo para preserva- utilizáveis para abastecimento às populações e da implan-
ção e recuperação do meio ambiente, através de lei, com tação, conservação e recuperação de matas ciliares;
o objetivo de promover a captação de recursos financeiros II - do zoneamento de áreas inundáveis, com restrições
destinados à proteção e recuperação do meio ambiente. a usos incompatíveis nas sujeitas a inundações frequentes,
e da manutenção da capacidade de infiltração do solo;
SEÇÃO VI III - da implantação de sistema de alerta e defesa civil,
DE METROPOLIZAÇÃO para garantir a segurança e a saúde públicas, quando de
eventos hidrológicos indesejáveis;
Artigo 167 - O Município direcionará esforços para IV - da instituição de programas permanentes de racio-
compatibilizar a sua linha de desenvolvimento aos prin- nalização do uso das águas destinadas ao abastecimento
cípios de metropolização estabelecidos no artigo 153 da público e industrial e à irrigação, assim como de combate
Constituição Estadual, em busca de uma ação integrada às inundações e à erosão.
com os demais Municípios definidos na legislação estadual. Artigo 174 - O Município deverá promover, em conjun-
Artigo 168 - A compatibilização prevista no artigo an- to com o Estado e de maneira sistemática, levantamentos
terior, no que couber, inclui a ordenação de planos, pro- geológicos básicos do seu território e executar programa
gramas, orçamentos, investimentos e ações com as metas,
permanente de cadastramento de áreas de risco, movi-
diretrizes e objetivos estabelecidos nos planos e progra-
mentos de massa-erosão, estabilidade de encostas e de
mas estaduais, regionais e setoriais de desenvolvimento
construção de obras civis.
econômico-social e de ordenação territorial.
Artigo 169 - Para vinculação ao processo e desenvolvi-
SEÇÃO VIII
mento integrado, o Município destinará recursos específi-
DO SANEAMENTO
cos, nos respectivos planos plurianuais e orçamentos, para
desempenho das funções públicas de interesse comum.
Artigo 170 - Dentro dos princípios de integração de- Artigo 175 - As ações de saneamento, executadas em
senvolvimentista, o Município atuará no conselho de cará- consonância com o Estado, devem prever a utilização ra-
ter normativo e deliberativo a ser criado pelo Estado, me- cional da água, do solo e do ar, de modo compatível com
diante lei complementar, na forma do artigo 154, § 1º, da a preservação e melhoria da qualidade da saúde pública e
Constituição Estadual. do meio ambiente.
Parágrafo Único - Em obediência à legislação esta- Artigo 176 - A lei estabelecerá política de ações, visan-
dual, o Município assegurará a participação da população do a impedir que loteamentos e conjuntos habitacionais
no processo de planejamento e tomada de decisões, bem sejam construídos e ocupados sem o funcionamento ade-
como na fiscalização da realização de serviços ou funções quado das redes de água potável e dos sistemas coletores
públicas em nível regional, dentro de orientações específi- de esgotos, com seus respectivos tratamentos e drenagem.
cas no seu âmbito.
Artigo 171 - O Município poderá buscar o desenvolvi- CAPÍTULO II
mento integrado com outros Municípios por meio da for- DA POLÍTICA SOCIAL
mação de consórcios, convênios e associações criados com DISPOSIÇÕES GERAIS
objetivo de interesse comum, mediante lei específica.
Artigo 177 - O Município, dentro de sua competência,
SEÇÃO VII assegurará o bem-estar social e garantirá o pleno acesso
DOS RECURSOS HÍDRICOS E MINERAIS aos bens e serviços essenciais ao desenvolvimento indivi-
dual e coletivo.
Artigo 172 - O Município participará do sistema inte- Artigo 178 - A ordem social tem por base o primado
grado de gerenciamento dos recursos hídricos, através do do trabalho, garantindo a todos, no âmbito da competên-
qual se assegurará meios financeiros e institucionais para: cia municipal, o direito ao emprego e à justa remuneração,
I - a utilização racional das águas superficiais e subter- que proporcionem existência digna na família e na socie-
râneas e sua prioridade para abastecimento da população; dade.
II - o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos e Artigo 179 - O Município assegurará, em seus orça-
o rateio dos custos das respectivas obras, na forma da lei; mentos anuais, percentual nunca inferior a um por cento
III - a proteção das águas contra ações que possam para financiar programas relativos à promoção social e ao
comprometer o seu uso atual e futuro; bem-estar da população.
25
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
26
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
27
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
28
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 204 - As crianças e adolescentes deficientes Artigo 210 - Constituem patrimônio municipal e deve-
físicos e mentais, que, pelo seu grau de deficiência, não rão ser protegidos pelo Poder Público os documentos, as
tenham condições de acompanhar o processo de esco- obras e outros bens materiais e imateriais de valor históri-
laridade nas salas de aula comuns, poderão se atendidos co, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens natu-
em estabelecimentos especializados, mediante bolsas de rais notáveis, os conjuntos e sítios arqueológicos, paleon-
estudo oferecidas pelo Poder Público, desde que provada tológicos, ecológicos e científicos tombados pelo Poder
a carência de recursos da família. Público, com tratamento idêntico para os bens tombados
Artigo 205 - O ensino religioso, de matrícula facultati- pela União ou pelo Estado, mediante convênio.
va, constituirá disciplina nos horários normais da rede mu- Artigo 211 - A lei disporá sobre a fixação de datas co-
nicipal de ensino. memorativas de alta significação para o Município.
Artigo 212 - O Município criará, na forma da lei, fundo
SEÇÃO V para a preservação e restauração do patrimônio histórico,
com suporte financeiro para o desenvolvimento das ações
DA CULTURA
que visem à preservação ou restauração de imóveis de pro-
priedades do Município, que possuam valor histórico ou
Artigo 206 - O Município garantirá a todos o pleno
artístico.
exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes de cul-
Parágrafo Único - Constituirão receita do fundo:
tura, apoiará e incentivará a valorização e a difusão de suas a) dotações consignadas no orçamento do Município e
manifestações, com prioridade para as diretamente ligadas créditos adicionais que lhe sejam destinados;
à história de Santos, à sua comunidade e aos seus bens. b) auxílios, subvenções, contribuições, transferências e
Artigo 207 - O Poder Público incentivará a livre mani- participações em convênios e ajustes;
festação cultural mediante: c) doações de qualquer natureza;
I - criação e manutenção de espaços públicos devida- d) rendimentos, acréscimos, juros e correções monetá-
mente equipados e capazes de garantir a produção, divul- rias provenientes de aplicação de seus recursos;
gação e apresentação das manifestações culturais e artís- e) outras receitas.
ticas;
II - desenvolvimento de intercâmbio cultural e artístico, SEÇÃO VI
integração de programas culturais e apoio à instalação de DO TURISMO
casas de cultura e de bibliotecas públicas;
III - acesso aos acervos das bibliotecas, dos museus, Artigo 213 - O Município promoverá e incentivará o tu-
arquivos e congêneres; rismo como atividade prioritária, fator de desenvolvimento
IV - promoção do aperfeiçoamento e valorização dos econômico e social.
profissionais da cultura; Artigo 214 - O Poder Público estimulará os diversos
V - planejamento e gestão do conjunto das ações, ga- segmentos ligados direta e indiretamente ao turismo e os
rantida a participação de representantes da comunidade; projetos que visem ao desenvolvimento do setor, através
VI - compromisso de resguardar e defender, em seu de incentivos fiscais e concessões a serem definidos no Pla-
território, a integridade, pluralidade, independência e au- no Diretor de Turismo.
tenticidade das culturas brasileiras; Artigo 215 - O Município, no prazo de cento e vinte
VII - cumprimento de política cultural não intervencio- dias, estabelecerá a política para atividades turísticas, atra-
nista, visando à participação de todos na vida cultural; vés do Plano Diretor de Turismo.
VIII - preservação dos documentos, das obras e demais
SEÇÃO VII
registros de valor histórico e científico.
DOS ESPORTES E LAZER
Artigo 208 - O Poder Público manterá o Conselho Mu-
nicipal de Cultura, órgão normativo, consultivo e delibera-
Artigo 216 - O Município apoiará e incentivará as prá-
tivo das ações culturais, assegurada a participação popular ticas desportivas como direito de todos, dando prioridade
paritária por meio de organizações populares e civis repre- aos alunos de sua rede de ensino e estimulando a promo-
sentativas. ção de esportes nos clubes locais.
•Artigo acrescentado pela Emenda à Lei Orgânica nº. Parágrafo único - Passa a ser considerada como ativi-
17, de 23 de agosto de 1993 (DOM de 1o./09/1993) dade desportiva e de lazer a capoeira.
Artigo 209 - O Poder Público manterá o Conselho de Artigo 217 - O Município incentivará o lazer como for-
Defesa do Patrimônio Cultural de Santos, órgão autônomo ma de promoção social e a prática de atividades físicas com
e deliberativo, composto por representantes de entidades o objetivo de promover o bem-estar, a saúde e a qualidade
culturais e da comunidade em geral que, dentre outras atri- de vida dos munícipes.(NR)
buições definidas em lei, deverá: •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
a) deliberar sobre tombamento de bens materiais; nº. 73, de 09 de junho de 2016 (DOM de 16/06/2016)
b) adotar medidas necessárias à produção dos efeitos Artigo 218 - As ações do Poder Público e a destinação
do tombamento; de recursos orçamentários para o setor darão prioridade:
c) pesquisar, identificar, proteger e valorizar o patrimô- I - ao esporte educacional, ao esporte comunitário e ao
nio cultural santista. esporte olímpico e não olímpico;
29
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
30
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
II - a inclusão, no planejamento escolar das disciplinas, Artigo 240 - O Município assegurará às pessoas porta-
em todos os níveis, de conteúdo sobre a respeitabilidade doras de deficiência, exclusivamente residentes em Santos,
ao idoso e sua importância na sociedade. prioridade na concessão de licença, no que tange ao co-
Artigo 234 - O Município assegurará gratuidade, no mércio ambulante, bem como isenção das taxas e tributos
transporte coletivo urbano, às pessoas com idade igual ou correspondentes.
superior a sessenta e cinco anos. Artigo 241 - O Município criará o Conselho Municipal
Artigo 235 - Fica assegurada a criação do Conselho para Assuntos da Mulher, composto de representantes da
Municipal do Idoso, com atribuições, composição e funcio- comunidade em geral, com atribuições definidas em lei e
namento definidos em lei. garantirá o acompanhamento e a fiscalização da política de
Artigo 236 - É dever do Município estabelecer legisla- assistência integral da mulher, assegurando:
ção específica que exija padrões mínimos e normas unifor- I - assistência à saúde, de acordo com sua especifici-
mes para o atendimento em instituições e estabelecimen- dade;
tos que acolham o idoso, de modo a garantir-lhe melhor
II - direito a auto-regulação de fertilidade, com livre
qualidade de vida.
decisão da mulher, do homem ou do casal para exercer a
Artigo 237 - O Município deverá:
procriação ou para evitá-la, vedada qualquer forma coerci-
I - criar programas de reabilitação, integração e aten-
dimento pedagógico especializado para os portadores de tiva de indução;
deficiência física, sensorial, mental e múltipla, obrigatoria- III - atendimento à mulher vítima de violência, conju-
mente na rede regular de ensino, incluindo o fornecimen- gando esforços com os órgãos estaduais competentes, no
to de material e equipamentos necessários, sem limite de sentido de assegurar:
idade; a) atendimento jurídico;
II - implantar sistema “braille” e de audiolivro em esta- b) criação e manutenção de abrigos.
belecimentos da rede oficial de ensino, bem como nas bi-
bliotecas, de forma a atender às necessidades educacionais TÍTULO VIII
e sociais dos portadores de deficiência visual; DISPOSIÇÕES GERAIS
III - celebrar convênio com entidades filantrópicas e
comunitárias, para a cessão de profissionais especializados; Artigo 242 - Incumbe ao Município:
IV - estabelecer convênio com entidades especializa- I - auscultar, permanentemente, a opinião pública;
das no treinamento, na habilitação e reabilitação de por- II - facilitar, no interesse educacional do povo, a difusão
tadores de deficiência, no sentido de dar a estes formação de jornais e outras publicações periódicas, assim como das
profissional e preparação para o trabalho; transmissões pelo rádio e pela televisão;
V - obrigar as empresas e instituições que recebam do III - adotar medidas para assegurar a celeridade na
Município recursos materiais ou financeiros para a reali- tramitação e solução de expedientes administrativos, pu-
zação de programas, projetos e atividades culturais, edu- nindo, disciplinarmente nos termos da lei, os servidores
cacionais, esportivas e de lazer, a preverem o acesso e a faltosos.
participação dos portadores de deficiência; Parágrafo Único - Os Poderes Executivo e Legislativo
VI - conceder incentivos, na forma da lei, às empresas divulgarão, sempre que o interesse público não aconselhar
que adaptarem seus equipamentos para o trabalho de por- o contrário, os projetos de lei para recebimento de suges-
tadores de deficiência; tões.
VII - conceder gratuidade nos transportes coletivos ur- Artigo 243 - Fica assegurada a criação de creches para
banos aos portadores de deficiência, bem como seu acom-
os filhos dos servidores da administração pública direta, in-
panhante, quando o deficiente tiver reconhecida dificulda-
direta e fundações.
de de locomoção;
Artigo 244 - Toda e qualquer pensão paga pelo Muni-
VIII - garantir às pessoas portadoras de deficiência o
cípio, a qualquer título, não poderá ser de valor inferior ao
percentual de 5% (cinco por cento) das unidades dos con-
juntos habitacionais que vierem a ser construídos no Muni- do salário mínimo vigente no País.
cípio, efetuando-se as devidas adaptações, se necessárias. Artigo 245 - Ficam declarados feriados municipais os
•Inciso com redação dada pela Emenda à Lei Orgâni- dias 26 de janeiro (Dia da Cidade), Sexta-feira Santa, Cor-
ca nº. 03, de 05 de março de 1992 (Jornal “A Tribuna” de pus Christi, 8 de setembro (Dia de Nossa Senhora do Monte
10/03/1992) Serrat) e 20 de novembro (Dia da Consciência Negra). (NR).
Artigo 238 - O Município criará serviço especializado, •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgâni-
dotado de aparelhagem específica que permita a correção, ca nº. 01, de 14 de março de 1991 (Jornal “A Tribuna” de
diminuição e superação das limitações dos portadores de 20/03/1991), suprimindo-se o parágrafo único.
deficiência, inclusive estabelecendo programas de assis- •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
tência integral para os não reabilitáveis, incentivando a nº 49, de 20 de abril de 2006 (DOM de 10/05/2006)
pesquisa e a aplicação de novas tecnologias. •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
Artigo 239 - A lei disporá sobre a adaptação dos lo- nº 53, de 30 de junho de 2008 (DOM de 05/07/2008)
gradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de Artigo 246 - Os jardins das praias de Santos e a plata-
transporte coletivo atualmente existentes, a fim de garantir forma do emissário submarino do Município são conside-
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. rados patrimônio inalienável da coletividade.
31
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Parágrafo Único - As modificações que visem a alterar § 2º - O tempo de serviço dos servidores referidos nes-
suas características, composição estética e utilização só po- te artigo será contado como título, quando se submeterem
derão ser efetuadas após autorização da Câmara. a concurso para fins de efetivação, na forma da lei.
Artigo 247 - Os conselhos, fundos, entidades e órgãos § 3º - O disposto neste artigo não se aplica aos ocu-
previstos nesta Lei Orgânica, não existentes na data da sua pantes de cargos, funções e empregos de confiança ou em
promulgação, serão criados mediante lei de iniciativa do comissão, nem aos que a lei declare de livre exoneração,
Poder Executivo, que terá o prazo de cento e oitenta dias cujo tempo de serviço não será computado para os fins do
para remeter à Câmara os projetos. «caput» deste artigo, exceto se se tratar de servidor.
§ 1º - Os conselhos, fundos, entidades e órgãos já exis- § 4º - Para os integrantes das carreiras docentes do ma-
tentes deverão ser adaptados às normas a que se refere o gistério municipal não se considera, para os fins previstos
«caput» deste artigo, encaminhando-se à Câmara os pro- neste artigo, a interrupção ou descontinuidade de exercício
jetos de lei. por prazo igual ou inferior a cento e vinte dias, exceto nos
§ 2º - A lei disciplinará a inclusão, nos Conselhos Mu- casos de dispensa ou exoneração solicitadas pelo servidor.
nicipais que contem com a participação comunitária, de § 5º - A lei fixará os critérios para a realização dos con-
representantes dos grupos ou organizações de mulheres. cursos referidos no § 2º deste artigo.
Artigo 248 - A Imprensa Oficial do Município promo- § 6º - Fica assegurado aos docentes do magistério mu-
verá a edição do texto integral desta Lei Orgânica que, gra- nicipal, com portaria de substituição até 08 de fevereiro
tuitamente, será colocada à disposição de todos os inte- de 1990, o aproveitamento em associações, sociedades ou
ressados. entidades conveniadas com a Prefeitura, conforme a dispo-
Artigo 249 - Na denominação de bens e serviços pú- nibilidade de classes que ainda não tenham sido providas
blicos só poderão ser utilizados nomes de pessoas ilustres por professores estatutários, garantindo-se a contagem do
já falecidas. tempo de serviço prestado à Municipalidade.
§ 1º - Para os fins deste artigo, somente após um ano Artigo 2º - Os professores em exercício, de 5ª a 8ª séries
do falecimento poderá ser homenageada qualquer pes- do 1º grau e de lª a 3ª séries do 2º grau, que, anteriormente
soa, salvo personalidades marcantes, que hajam atuado de às contratações pelo regime celetista, tenham tido vínculo
modo relevante na vida artística, cultural, esportiva ou po- empregatício com o Município, inclusive na condição de
lítica do Município, do Estado ou do País. servidores extranumerários, terão também seus direitos e
deveres iguais aos dos servidores municipais estatutários,
•Parágrafo com redação dada pela Emenda à Lei Or- ficando-lhes garantido o direito de transferência para o
gânica nº. 23, de 05 de setembro de 1994 (de 14/09/1994). regime estatutário único, na forma prevista no parágrafo
§ 2º - O disposto no «caput» deste artigo não se aplica único do artigo 6º das Disposições Transitórias desta lei.
à denominação de vias e logradouros públicos. Artigo 3º - O pagamento do adicional por tempo de
Artigo 250 - Fica proibido o depósito de material atô- serviço e da sexta parte, na forma prevista no artigo 73, §
mico no Município. 5º, será devido a partir do primeiro dia do mês seguinte ao
Artigo 251 - O Município fica autorizado a firmar con- da publicação deste Lei Orgânica, vedada sua acumulação
vênio com o 6º Grupamento de Incêndio, concedendo sub- com vantagem já percebida por esses títulos.
sídio anual à corporação. Artigo 4º - O Município editará leis a fim de que se-
Artigo 252 - O Município criará órgão de Assistência jam estabelecidos critérios para a compatibilização de seus
Judiciária, a ser regulamentado por lei, para fins de atender quadros de pessoal ao disposto no artigo 39 da Constitui-
a pessoas de baixa renda. ção Federal e à reforma administrativa dela decorrente, no
Artigo 253 - Esta Lei Orgânica, aprovada e assinada prazo previsto na Constituição.
pelos Vereadores à Câmara, bem como suas Disposições Artigo 5º - Os servidores autárquicos da Caixa de Pe-
Transitórias, entram em vigor na data da promulgação, re- cúlios e Pensões dos Servidores Municipais de Santos, que
vogadas as disposições em contrário. foram admitidos após aprovação em concurso público
realizado nos termos da Lei Municipal nº 3.357, de 18 de
TÍTULO VIII novembro de 1966, têm garantida a transferência para o
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS regime estatutário único, computado o tempo de serviço
prestado àquela autarquia como de efetivo serviço munici-
Artigo 1º - Os servidores municipais da administração pal, para todos os efeitos legais.
direta, sociedade de economia mista e autarquias, que não Parágrafo Único - No prazo de sessenta dias da data
tenham sido admitidos na forma regulada pelo artigo 37 da promulgação desta lei, o Poder Executivo encaminhará
da Constituição Federal, são considerados estáveis no ser- à Câmara projeto de lei dispondo sobre a criação dos car-
viço público, desde que contem cinco anos continuados gos correspondentes, que serão ocupados pelos servidores
e estejam em exercício na data da promulgação desta Lei autárquicos referidos neste artigo.
Orgânica. Artigo 6º - Os professores aprovados nos concursos
§ 1º - Para efeito do disposto no «caput» deste artigo públicos para Professor “A”, Professor “A” - Educação In-
será computado o tempo de serviço prestado na adminis- fantil e Professor de Educação Especial, que foram convo-
tração direta, sociedades de economia mista e autarquias. cados para o exercício do magistério municipal, mediante
32
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
regime jurídico diverso do estatutário e cujo vínculo era com o disposto na Constituição Federal, promulgada em
existente em 5 de outubro de 1988, têm garantido o direito 05 de outubro de 1988, serão imediatamente reduzidos
de transferência para o regime estatutário único. aos limites dela decorrentes, não se admitindo, neste caso,
Parágrafo Único - No prazo de sessenta dias da data invocação de direito adquirido ou percepção de excesso a
da promulgação desta lei, o Poder Executivo encaminhará à qualquer título.
Câmara projeto de lei dispondo sobre a criação dos cargos Artigo 16 - Os Poderes Legislativo e Executivo criarão
necessários à nomeação dos professores abrangidos neste condições estruturais e econômico-financeiros que forne-
artigo. çam para Bertioga a efetivação de sua emancipação pelo
Artigo 7º - Os professores estáveis nos termos do ar- menos nos limites mínimos da arrecadação do distrito.
tigo 1º, § 4º, das Disposições Transitórias desta lei terão Parágrafo Único - Será permitido o acesso das entida-
assegurada a continuidade do exercício de suas atuais fun- des legalmente constituídas e interessadas na emancipa-
ções. ção às informações controladas pelo Poder Executivo.
Artigo 8º - Ficam assegurados aos servidores públicos Artigo 17 - Até a entrada em vigor da lei complemen-
municipais, além dos direitos estabelecidos nesta Lei Or- tar a que se refere o artigo 165, § 9º, I e II, da Constituição
gânica, os previstos na Lei n¬º 4623, de 12 de junho de Federal, serão obedecidas as seguintes normas:
1984, e na legislação complementar instituidora de direitos I – o projeto de lei do plano plurianual, para vigên-
e vantagens funcionais. cia até o final do primeiro exercício financeiro do mandato
Artigo 9º - Até o ano 2000, bienalmente, o Município subsequente, será encaminhado até oito meses antes do
promoverá e publicará censo que aferirá os índices de anal- encerramento do primeiro exercício financeiro e devolvido
fabetismo e sua relação com a universalização do ensino para sanção até o encerramento do primeiro período da
fundamental, de conformidade com o preceito estabele- sessão legislativa;
cido no artigo 60, do Ato das Disposições Constitucionais •Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
Transitórias da Constituição Federal. nº 52, de 12 de fevereiro de 2007 (DOM de 28/02/2007)
II - o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será
Artigo 10 - No prazo de cinco anos, a contar da pro-
encaminhado até oito meses antes do encerramento do
mulgação da Constituição do Estado, o sistema de ensino
exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerra-
municipal tomará todas as providências necessárias à efeti-
mento do primeiro período da sessão legislativa;
vação dos dispositivos nela previstos, relativos à formação
•Artigo com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica
e reabilitação dos portadores de deficiência, em especial, e
nº 52, de 12 de fevereiro de 2007 (DOM de 28/02/2007)
quanto aos recursos financeiros, humanos, técnicos e ma-
III - no exercício de 1990, o prazo de que trata o inciso
teriais. II deste artigo será prorrogado até o dia 31 de maio.
Parágrafo Único - O sistema mencionado neste artigo, Artigo 18 - REVOGADO.
no mesmo prazo, igualmente garantirá recursos financei- •Artigo revogado pela Emenda à Lei Orgânica nº. 11, de
ros, humanos, técnicos e materiais destinados a campa- 14 de dezembro de 1992 (Jornal “A Tribuna” de 17/12/1992)
nhas educativas de prevenção de deficiências. Artigo 19 - Os servidores extranumerários estáveis do
Artigo 11 - As sociedades de economia mista, autar- Município terão direitos e deveres exatamente iguais aos
quias e fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Pú- dos servidores municipais estatutários.
blico incorporarão aos seus estatutos as normas desta Lei Artigo 20 – O pagamento dos vencimentos dos servi-
Orgânica que digam respeito às suas atividades e serviços. dores em geral, que prestam serviços à Municipalidade, e
Artigo 12 - A anistia concedida nos termos do artigo 8º das pensões da Caixa de Pecúlios e Pensões dos Servidores
das Disposições Transitórias da Constituição Federal aplica- Municipais de Santos será efetuado em duas parcelas men-
-se aos servidores públicos municipais e aos empregados sais, respectivamente nos dias 15 e 25 do mês corrente ou
em todos os níveis de governo ou em fundações, autar- dias úteis próximos.
quias ou empresas sob controle municipal, nos termos lá
explicitados, no que couber. •“Caput” com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ-
Artigo 13 - Até que seja promulgada a lei complemen- nica nº. 06, de 20 de agosto de 1992 (Jornal “A Tribuna” de
tar a que se refere a artigo 7º, I, da Constituição Federal, 25/08/1992)
fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: •“Caput” com redação dada pela Emenda à Lei Orgâ-
a) do empregado eleito para cargo de direção de co- nica nº. 21, de 16 de junho de 1994 (DOM de 22/06/1994)
missões internas de prevenção de acidentes, desde o re- Parágrafo Único - A parcela relativa ao dia 15, ou dia
gistro de sua candidatura até um ano após o final de seu útil próximo, será de 40% (quarenta por cento) do nível de
mandato; vencimento do servidor ou da pensão, desde que não ul-
b) da empregada gestante, desde a confirmação da trapasse o valor máximo de isenção de desconto do Im-
gravidez até cinco meses após o parto. posto de Renda retido na fonte.
Artigo 14 - O Poder Executivo avaliará todos os incen- •Parágrafo único com redação dada pela Emenda à Lei
tivos fiscais de natureza setorial ora em vigor, propondo ao Orgânica nº. 2, de 3 de fevereiro de 1992 (Jornal “A Tribu-
Poder Legislativo as medidas cabíveis. na” de 8/02/1992).
Artigo 15 - Os vencimentos, a remuneração, as van- •Parágrafo único com redação dada pela Emenda à
tagens e os adicionais, bem como os proventos de apo- Lei Orgânica nº. 4, de 23/03/1992 (Jornal “A Tribuna” de
sentadoria que estejam sendo percebidos em desacordo 27/03/1992).
33
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
•Parágrafo único com redação dada pela Emenda à Lei § 1° - Os cargos públicos são acessíveis a todos os bra-
Orgânica nº. 6, de 20 de agosto de 1992 (Jornal “A Tribuna” sileiros, observadas as condições de capacidade prescritas
de 25/08/1992). em Leis, regulamentos e instruções baixadas pelos órgãos
Artigo 21 - O servidor público estatutário, com mais de competentes.
cinco anos de efetivo exercício, que, na data da publicação § 2° - Os vencimentos dos cargos públicos correspon-
desta Emenda, estiver exercendo cargo em comissão que derão a níveis ou símbolos, previamente fixados em Lei.
lhe proporcione remuneração superior a do cargo de que Artigo 4º - Observar-se-á o princípio de paridade na
seja titular, continuará a incorporar dois décimos dessa di- remuneração dos funcionários do Executivo e Legislativo
ferença até completar o quinto em curso. do Município.
•Artigo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº. 82, Artigo 5º - Os cargos públicos são de carreira ou iso-
de 04 de setembro de 2017 (DOM de 20/09/2017) lados.
Parágrafo único - Após completar o quinto que estiver § 1° - São de carreira os que se integram em classes e
em curso na data da publicação desta Emenda, na forma correspondem à mesma natureza de trabalho; isolados os
prevista no “caput”, aplicar-se-á ao servidor interessado, no que não se podem integrar em classes e correspondem a
período subsequente em que exercer cargo em comissão, certa e determinada função.
a regra definida no § 4º do artigo 73 da Lei Orgânica do § 2° - Os cargos de carreira serão de provimento efeti-
Município. vo. Os isolados são de provimento efetivo ou em comissão,
•Parágrafo único acrescido pela Emenda à Lei Orgânica segundo as leis que os criarem.
nº. 82, de 04 de setembro de 2017 (DOM de 20/09/2017) Artigo 6º - Classe é o agrupamento de cargos da mes-
ma denominação e de igual nível de vencimentos.
Fonte: https://egov.santos.sp.gov.br/legis/documen- Artigo 7º - Carreira é o conjunto de classes da mesma
t/?code=7023&tid=2 natureza de trabalho, escalonadas segundo a responsabili-
dade e a complexidade das atribuições.
Artigo 8º - As exigências e atribuições para cada cargo
serão definidas em Lei ou Decreto.
LEI N° 4623, DE 12 DE JUNHO DE 1984.
§ Único - É vedado atribuir-se ao funcionário encargos
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS ou
MUNICIPAIS DE SANTOS. REGIMENTO serviços diferentes dos que os próprios de sua carreira
ESCOLAR DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE ou cargo, ressalvadas as funções de chefia e direção e as
SANTOS. comissões legais.
Artigo 9º - Quadro é um conjunto de carreiras e de
cargos isolados.
Artigo 10 - Não haverá equivalência entre as diferentes
LEI N° 4623, DE 12 DE JUNHO DE 1984 carreiras, nem entre cargos isolados, quanto às suas atri-
buições funcionais.
DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚ- Artigo 11 - É vedada a prestação de serviços gratuitos.
BLICOS MUNICIPAIS DE SANTOS E DÁ OUTRAS PROVIDÊN-
CIAS. TÍTULO II
DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO E DA VACÂNCIA
Dr. Paulo Gomes Barbosa, Prefeito Municipal de San- DE CARGOS CAPÍTULO I
tos, faço saber que a Câmara Municipal aprovou na sessão DO PROVIMENTO SEÇÃO I
realizada em 31 de maio de 1984 e eu sanciono e promul- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
go a seguinte
Artigo 12 - Os cargos públicos serão providos por:
TÍTULO I I - Nomeação;
CAPÍTULO ÚNICO II - Promoção;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES III - Acesso;
IV - Transferência;
Artigo 1º - Esta Lei institui o regime jurídico dos funcio- V - Reintegração;
nários públicos municipais de Santos. VI - Readmissão;
§ Único - As suas disposições aplicam-se, no que cou- VII - Reversão; e
ber, aos funcionários da Secretaria da Câmara Municipal. VIII- Aproveitamento.
Artigo 2º - Para os efeitos deste Estatuto, funcionário § Único - A Portaria de provimento deverá conter, ne-
público é a pessoa legalmente investida em cargo público. cessariamente, as seguintes condições, sob pena de nuli-
Artigo 3º - Cargo público é aquele criado por Lei, em dade do ato:
número certo, com denominação própria, remunerado pe- I- o cargo vago, com todos os elementos de identifi-
los cofres municipais, ao qual corresponde um conjunto de cação, o motivo da vacância, o nome do ex-ocupante, se
atribuições e responsabilidades cometidas a funcionário ocorrer a hipótese em que possam ser atendidos esses úl-
público. timos elementos;
34
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
35
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
36
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ 3° - O funcionário reintegrado será submetido à ins- § 3° - A reversão, a pedido, a cargo de carreira, depen-
peção médica. Verificada a incapacidade para o exercício derá da existência de vaga que deva ser preenchida me-
do cargo, será aposentado no cargo em que houver sido diante promoção por merecimento, desde que não tenha
reintegrado. sido publicado o Edital para Concurso de Promoção.
Artigo 36 - Reintegrado o funcionário, quem lhe hou- Artigo 41 - Será contado, para fins de nova aposen-
ver ocupado o lugar será exonerado ou reconduzido ao tadoria, o tempo em que o funcionário revertido esteve
cargo anterior, mas sem direito a indenização. aposentado.
Artigo 42 - O funcionário revertido após a vigência
SEÇÃO VIII desta Lei, não poderá ser novamente aposentado, com
DA READMISSÃO maiores proventos, antes de decorridos 5 (cinco) anos de
sua reversão, salvo se sobrevier moléstia que o incapacite
Artigo 37 - Readmissão é o ato pelo qual o funcioná- para o serviço público.
rio exonerado reingressa no serviço público, sem direito
a qualquer ressarcimento e sempre por conveniência da
SEÇÃO X
Administração.
DO APROVEITAMENTO
§ 1° - A readmissão dependerá da existência de vaga
e da observância das exigências legais quanto à primeira
investidura. Artigo 43 - Aproveitamento é a volta do funcionário
§ 2° - A readmissão dar-se-á de preferência no cargo em disponibilidade ao exercício de cargo público.
anteriormente ocupado, podendo, no entanto, verificar-se Artigo 44 - O funcionário em disponibilidade será obri-
em outro de igual nível de vencimento, respeitada a habi- gatoriamente aproveitado no preenchimento de vaga exis-
litação profissional. tente ou que se verificar nos quadros do funcionalismo.
§ 3° - Tratando-se de cargo de carreira, a readmissão § 1° - O aproveitamento far-se-á a pedido ou «ex-offí-
só poderá ser feita em vaga que devesse ser preenchida cio”, respeitada sempre a habilitação profissional.
mediante promoção por merecimento, desde que não te- § 2° - O aproveitamento dar-se-á em cargo equivalen-
nha sido publicado o Edital para o Concurso de Promoção. te, por sua natureza e vencimento, ao que o funcionário
Artigo 38 - A readmissão dependerá sempre de inspe- ocupava quando posto em disponibilidade.
ção médica, que prove a capacidade para o exercício do § 3° - Em nenhum caso poderá efetuar-se o aproveita-
cargo. mento sem que, mediante inspeção médica, fique aprova-
da a capacidade para o exercício do cargo.
SEÇÃO IX § 4° - Será tornado sem efeito o aproveitamento e cas-
DA REVERSÃO sada a disponibilidade do funcionário que, aproveitado,
não tomar posse ou não entrar em exercício dentro dos
Artigo 39 - Reversão é o ato pelo qual o funcionário prazos legais.
aposentado reingressa no serviço público, a seu pedido ou § 5° - Será aposentado no cargo anteriormente ocupa-
“ex-offício”. do o funcionário em disponibilidade que for julgado inca-
§ 1° - A reversão «ex-offício” será feita quando insub- paz, em inspeção médica. Para cálculo da aposentadoria,
sistentes as razões que determinaram a aposentadoria. será levado em conta o período da disponibilidade.
§ 2° - Será tornada sem efeito a reversão “ex-offício” e Artigo 45 - Havendo mais de um concorrente à mesma
cassada a aposentadoria do funcionário que reverter e não vaga, terá preferência o que contar mais tempo de dispo-
tomar posse ou não entrar em exercício dentro do prazo
nibilidade e, em igualdade de condições, o de maior tempo
legal.
de serviço público municipal.
§ 3° - A reversão a pedido, que será feita a critério da
Administração, dependerá da existência de cargo vago,
SEÇÃO XI
bem como da comprovação de capacidade para o exercício
do cargo mediante inspeção médica. DA READAPTAÇÃO
§ 4° - Não poderá reverter à atividade, a pedido, o apo-
sentado que tiver mais de 58 (cinquenta e oito) anos de Artigo 46 - Readaptação é o aproveitamento do fun-
idade. cionário em cargo mais compatível com a sua capacidade
Artigo 40 - A reversão far-se-á em cargo de idêntica física ou intelectual.
denominação à daquele ocupado por ocasião da aposen- Artigo 47 - A readaptação, que dependerá sempre de
tadoria ou, se transformado, no cargo resultante da trans- inspeção médica, far- se-á:
formação. I- quando se verificarem modificações no estado físi-
§ 1° - Em casos especiais, a juízo do Prefeito ou autori- co ou psíquico, ou nas condições de saúde do funcionário,
dade competente, poderá o aposentado reverter ao serviço que lhe diminuam a eficiência para o exercício do cargo; e
em outro cargo, de igual nível de vencimentos, respeitados II- quando se comprovar, em processo administrativo,
os requisitos para provimento do cargo. que a capacidade intelectual do funcionário não corres-
§ 2° - A reversão «ex-offício” não poderá ter lugar em ponde às exigências do exercício do cargo.
cargo de vencimento ou remuneração inferior ao provento Artigo 48 - A readaptação não acarretará diminuição
da inatividade. nem aumento de vencimento.
37
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 49 - A readaptação que será objeto de regula- § Único - O disposto neste artigo não se aplica ao fun-
mentação especial, se fará pela atribuição de novos cargos cionário em exercício de cargo em comissão nos Gover-
ao funcionário, respeitadas as funções inerentes à carreira nos da União, dos Estados ou Municípios, hipótese em que
a que pertencer ou mediante transferência. poderá permanecer afastado da administração municipal
enquanto perdurar o comissionamento.
CAPÍTULO II Artigo 58 - O funcionário preso em flagrante ou pre-
DO EXERCÍCIO ventivamente, ou recolhido à prisão em decorrência de
SEÇÃO I pronúncia ou condenação por crime inafiançável, será con-
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES siderado afastado do exercício do cargo, até decisão final
transitada em julgado.
Artigo 50 - Exercício é o desempenho das atribuições e § 1° - Durante o afastamento, o funcionário perderá
responsabilidades do cargo. um terço do vencimento ou remuneração, tendo o direito
§ 1° - O início, a interrupção, o reinício e a cessação do à diferença, se for, afinal absolvido.
exercício serão registrados no assentamento individual do § 2° - No caso de condenação, e se esta não for de
funcionário. natureza que determine a demissão do funcionário, conti-
§ 2° - O início do exercício e as alterações que nele nuará o mesmo afastado, na forma deste artigo, até o cum-
ocorrerem serão comunicados ao órgão de pessoal pelo primento total da pena, com direito, apenas, a um terço do
chefe imediato do funcionário. vencimento ou remuneração.
Artigo 51 - O chefe imediato do funcionário é a autori- Artigo 59 - O funcionário investido em mandato eletivo
dade competente para dar-lhe exercício. federal ou estadual ficará afastado do seu cargo.
Artigo 52 - O exercício do cargo terá início dentro do § 1° - O funcionário investido no mandato de Prefeito
prazo de 30 (trinta) dias, contados: Municipal será afastado do seu cargo, por todo o período
I- da data da posse; do mandato, sendo-lhe facultado optar pelo vencimento.
II- da data da publicação oficial do ato, em qualquer § 2° - O funcionário investido no mandato de Vereador,
outro caso.
havendo compatibilidade de horários, perceberá as vanta-
§ 1° - O prazo referido neste artigo poderá ser pror-
gens de seu cargo, sem prejuízo dos subsídios a que fizer
rogado, por solicitação do interessado e a juízo da autori-
jus. Havendo incompatibilidade, dar-se-á o afastamento do
dade competente, desde que a prorrogação não exceda a
cargo.
mais de 30 (trinta) dias.
§ 3° - O período de afastamento, para exercício do
§ 2° - O funcionário transferido ou removido, quando
mandato, será contado como tempo de serviço para todos
afastado, em virtude de férias, casamento ou luto, ou quan-
do licenciado, exceto no caso de licença para tratar de inte- os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento.
resses particulares, terá 30 (trinta) dias, a partir do término
do impedimento, para entrar em exercício. SEÇÃO II
§ 3° - O funcionário que não entrar em exercício dentro DA REMOÇÃO
do prazo será exonerado do cargo.
Artigo 53 - Nenhum funcionário poderá ter exercício Artigo 60 - Remoção é o deslocamento do funcionário
em unidade diferente daquela em que for designado, salvo de uma unidade para outra.
nos casos previstos neste Estatuto ou mediante prévia au- Artigo 61 - A remoção, que se processará a pedido do
torização do Prefeito. funcionário ou “ex- offício”, mediante ato da autoridade
Artigo 54 - Salvo nos casos previstos no presente Esta- competente, só poderá ser feita:
tuto, o funcionário que interromper o exercício por mais de I- de uma para outra Secretaria;
30 (trinta) dias consecutivos, sem motivo justificado, será II- de uma para outra unidade, dentro da mesma Se-
demitido por abandono de cargo, após o competente pro- cretaria.
cesso administrativo. Artigo 62 - A remoção prevista no item I do artigo an-
Artigo 55 - O afastamento do funcionário para partici- terior será feita mediante Portaria do Prefeito; a prevista no
pação em congressos, certames desportivos, culturais ou item II, mediante ato do respectivo Secretário.
científicos poderá ser autorizado pelo Prefeito ou autorida- Artigo 63 - A remoção permuta será processada a pe-
de competente na forma estabelecida em decreto. dido dos interessados, com a concordância das respectivas
Artigo 56 - Nenhum funcionário poderá ausentar-se chefias, a critério da Administração, atendidos os requisitos
do Município, para estudo ou missão de qualquer nature- desta Seção.
za, com ou sem ônus para os cofres públicos, sem autori- Artigo 64 - O funcionário removido deverá assumir de
zação ou designação expressa do Prefeito ou autoridade imediato o exercício na unidade para a qual foi deslocado,
competente. salvo quando em férias ou licença, hipótese em que deverá
Artigo 57 - Salvo caso de absoluta conveniência, a juí- apresentar-se no primeiro dia útil após o término do im-
zo do Prefeito, ou autoridade competente, nenhum fun- pedimento.
cionário poderá permanecer por mais de 2 (dois) anos em
missão fora do Município, nem vir a exercer outra senão
depois de decorridos 4 (quatro) anos de exercício efetivo
no Município, contados da data do regresso.
38
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
39
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
40
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 85 - Não poderá ser promovido o funcionário Artigo 91 - O funcionário que não estiver em exercício,
que não tenha, na conformidade do que a lei dispuser, ressalvadas tão somente as hipóteses por lei consideradas
completado o interstício na classe. como de efetivo exercício, não poderá concorrer à promo-
§ 1° - O interstício para todas as classes integrantes do ção.
funcionalismo público será de 2 (dois) anos. Artigo 92 - Será promovido por merecimento o funcio-
§ 2° - O interstício será apurado de acordo com as nor- nário que, dentro do número existente de vagas, estiver em
mas que regulam a contagem de tempo de serviço para condições, ao mesmo tempo, de ser promovido pelos dois
efeito da antiguidade na classe. critérios de promoção.
§ 3° - Será dispensado o interstício a que se refere este Artigo 93 - Verificada vaga em uma classe, em decor-
artigo, quando o número de vagas for igual ou superior ao rência das hipóteses previstas no Estatuto, serão conside-
de ocupantes de classe imediatamente inferior ou quando radas abertas todas as decorrentes de seu preenchimento,
nesta classe nenhum possuir interstício completo. dentro da respectiva série de classes.
Artigo 86 - Não poderá ser promovido o funcionário Artigo 94 - A antiguidade na classe e o interstício serão
que não possuir nível de escolaridade ou diploma exigido apurados até o último dia do mês que encerrar o período
em lei para o exercício das funções a que corresponderem correspondente ao concurso.
as atribuições do cargo respectivo.
Artigo 87 - Não poderá ser promovido por merecimen- SEÇÃO II
to o funcionário que estiver respondendo a processo admi- DA PROMOÇÃO POR MERECIMENTO
nistrativo, suspenso ou não, preventivamente.
§ 1° - Na hipótese formulada neste artigo, a vaga a Artigo 95 - Para concorrer à promoção por merecimen-
ser preenchida pelo critério de merecimento será reservada to, deverá o funcionário comprovar capacidade funcional
até que se conclua o processo administrativo. para o exercício das atribuições da classe a que concorra e,
§ 2° - Se da averiguação dos fatos que determinarem ainda, obter um número mínimo de pontos no boletim de
a instauração do processo administrativo não resultar pu- merecimento.
§ 1° - A comprovação da capacidade funcional se fará
nição ou se esta consistir, apenas, na pena de repreensão,
através de provas de conhecimento.
o funcionário impedido, por este fato, de ser promovido
§ 2° - O boletim de merecimento apurará, unicamente:
por merecimento, terá sua promoção na vaga para tal fim
I - assiduidade;
reservada, asseguradas as vantagens decorrentes do ato a
II - pontualidade;
partir da data em que devesse ser efetivado.
III- punições, apuradas através de Inquérito Adminis-
§ 3° - Se resultar imposição de penalidade mais grave
trativo.
que a de repreensão, a vaga será preenchida pelo funcio-
IV- diplomas ou certificados referentes a cursos corre-
nário a seguir colocado na lista de merecimento, assegu-
lacionados com a atividade do cargo.
radas as vantagens da promoção a partir da data em que § 3° - As provas de conhecimento terão peso 3 (três) e
devesse ser efetivado. o boletim de merecimento peso 2 (dois).
Artigo 88 - Não poderá, também, ser promovido por § 4° - O merecimento é adquirido na classe.
merecimento, o funcionário que tenha sido suspenso no § 5° - Não será classificado para promoção por mere-
período em que se apurou o seu grau de merecimento. cimento o funcionário que não obtiver, em cada uma das
§ Único - Aplicam-se os dispositivos dos parágrafos 1°, provas, pelo menos 50% (cinquenta por cento) de seu valor
2° e 3° do artigo anterior quando o funcionário suspenso total.
disciplinarmente, solicitar revisão ou reconsideração do ato Artigo 96 - Ocorrendo empate na classificação por me-
punitivo dentro do prazo legal. recimento, terá preferência sucessivamente:
Artigo 89 - Será declarado sem efeito, em benefício da- I - o que obtiver maior número de pontos nas provas
quele a quem caberia direito, a promoção, o ato que pro- de conhecimento;
mover indevidamente o funcionário. II - o de maior prole;
§ 1° - O funcionário promovido indevidamente não fi- III - o que tiver maior tempo de serviço público no Mu-
cará obrigado a restituir o que a mais tiver recebido. nicípio;
§ 2° - O funcionário a quem caberia a promoção, será IV - o mais idoso.
indenizado da diferença de vencimento ou remuneração a § 1° - Não serão considerados, para efeito deste artigo,
que tiver direito. os filhos maiores.
Artigo 90 - As promoções serão realizadas semestral- § 2° - Não será considerado para o mesmo efeito, o
mente, de preferência nos meses de janeiro e julho de cada número de filhos, desde que ambos os cônjuges sejam ser-
ano, desde que haja cargo que por essa forma deva ser vidores públicos.
provido, e obedecerão, rigorosamente, a ordem de clas-
sificação, por merecimento ou antiguidade, constante de SEÇÃO III
funcionários habilitados, lista que para esse fim será orga- DA PROMOÇAO POR ANTIGUIDADE
nizada pelo órgão competente.
§ Único - As vagas aludidas neste artigo serão aquelas Artigo 97 - A antiguidade, para efeito de promoção,
que ocorrerem no semestre anterior. será determinada pelo tempo de efetivo exercício na classe.
41
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ Único - O tempo de serviço para verificação de anti- c) do número de pontos obtidos pelo funcionário em
guidade de classe será apurado somente em dias, na forma razão dos títulos que possuir, e que demonstrem experiên-
prevista neste Estatuto. cia funcional e conhecimentos que o habilitem ao exercício
Artigo 98 - Para efeito de apuração da antiguidade de do novo cargo.
classe, serão considerados de efetivo exercício: § 1° - Os pontos a que se referem as alíneas «a», «b»
I- os afastamentos estatutários considerados como de e «c» deste artigo terão pesos 3 (três), 2 (dois) e 1 (um),
efetivo exercício; respectivamente.
II- o tempo de efetivo exercício na classe anterior, § 2° - Fica mantido o disposto no artigo 4° da Lei n°
quando ocorrer fusão de classes. 4.183, de 4/5/1978. Artigo 108 - Só poderá ser nomeado
Artigo 99 - A antiguidade na classe, no caso de transfe- por acesso o funcionário que obtiver, pelo menos, metade
rência, a pedido, será contada da data em que o funcioná- do grau máximo de habilitação atribuível.
rio entrar em exercício na nova classe. Artigo 109 - Os concursos de acesso a todas as classes
§ Único - Se a transferência ocorrer «ex-officio”, no in- do funcionalismo municipal terão validade de 1 (um) ano.
teresse exclusivo da administração, será levado em conta o § 1° - Para provimento dos cargos integrantes das clas-
tempo de efetivo exercício na classe a que pertencia. ses funcionais, serão consideradas as vagas existentes nas
Artigo 100 - Ocorrendo empate na classificação por datas de instauração dos concursos e as que ocorrerem du-
antiguidade, terá preferência sucessivamente: rante sua validade.
I - o de maior tempo de serviço público no Município; § 2° - Se, efetivado o acesso de todos os habilitados,
II - o de maior prole; e remanescerem ou ocorrerem vagas durante a validade dos
III - o mais idoso. concursos, o Poder Executivo poderá realizar novos con-
§ Único - Ao critério fixado por este artigo, aplicam-se cursos, proibida, em qualquer hipótese, realização de mais
os dispositivos constantes dos parágrafos 1º e 2º do artigo de um concurso por semestre.
97. § 3° - Concorrerão ao acesso os funcionários que,
preenchendo as condições legais e exigíveis, se inscreve-
CAPÍTULO III rem no respectivo concurso.
DO ACESSO
TÍTULO IV
Artigo 101 - Acesso é a passagem, pelo critério de me- DOS DIREITOS E VANTAGENS DE ORDEM PECU-
recimento, do funcionário efetivo de classe singular ou final NIÁRIA
de série de classes para a classe de nível mais elevado, sin- CAPÍTULO I
gular ou inicial de série de classes. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Artigo 102 – REVOGADO.
·Artigo revogado pelo disposto no artigo 10, da Lei Artigo 110 - Além do vencimento do cargo, o funcioná-
Complementar nº 70, de 24 de novembro de 1992 (D.O.M. rio poderá ter direito às seguintes vantagens:
de 28/11/1992). I- diárias;
Artigo 103 - REVOGADO. II- salário-família;
·Artigo revogado pelo disposto no artigo 10, da Lei III - salário-esposa;
Complementar nº 70, de 24 de novembro de 1992 (D.O.M. IV - auxílio-doença;
de 28/11/1992). V - gratificações;
Artigo 104 - REVOGADO. VI - adicional por tempo de serviço;
·Artigo revogado pelo disposto no artigo 10, da Lei VII - sexta-parte;
Complementar nº 70, de 24 de novembro de 1992 (D.O.M. VIII - outras vantagens ou concessões pecuniárias pre-
de 28/11/1992). vistas em leis especiais ou neste Estatuto.
Artigo 105 - Só poderá ser nomeado por acesso o fun- Artigo 111 - O funcionário não fará jus à percepção de
cionário que possuir quaisquer vantagens pecuniárias, nos casos em que dei-
diploma ou certificado de habilitação em curso exigido xar de perceber vencimento, excetuada expressamente a
pela legislação vigente para o exercício das atividades ine- percepção do salário-família e do salário-esposa ou com-
rentes ao cargo a ser provido. panheira.
Artigo 106 - A nomeação por acesso obedecerá à or- Artigo 112 - É proibido, fora dos casos expressamente
dem de classificação na lista respectiva organizada de acor- consignados neste Estatuto, ceder ou gravar vencimento,
do com o grau de habilitação obtido pelo funcionário. remuneração e quaisquer vantagens decorrentes do exer-
Artigo 107 - Considera-se grau de habilitação, para cício de cargo público.
efeito desta lei, a média ponderada resultante:
a) do número de pontos obtidos pelo funcionário em CAPÍTULO II
provas práticas que compreendam tarefas típicas do cargo DO VENCIMENTO, DA REMUNERAÇÃO, DO HORÁ-
para o qual se realizar o acesso; RIO E DO PONTO
a) REVOGADO;
·Alínea “b” revogada pelo disposto no artigo 10, da Lei Artigo l13 - Vencimento é a retribuição mensal paga ao
Complementar nº 70, de 24 de novembro de 1992 (D.O.M. funcionário pelo efetivo exercício do cargo, corresponden-
de 28/11/1992). te ao nível fixado em lei.
42
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 114 - Remuneração é a soma do vencimento e Artigo 119 - As reposições devidas pelos funcionários
demais vantagens pagas ao funcionário pelo efetivo exer- e as indenizações por prejuízos causados à Fazenda Pública
cício do cargo. Municipal, serão descontadas em parcelas mensais não ex-
Artigo 115 - Somente nos casos previstos em lei pode- cedentes da décima parte do vencimento ou remuneração,
rá perceber vencimento ou remuneração o funcionário que ressalvados os casos especiais previstos neste Estatuto.
não estiver no exercício do cargo. § Único - Não caberá o desconto parcelado, quando o
Artigo 116 - O funcionário não sofrerá quaisquer des- funcionário solicitar exoneração, for demitido, ou abando-
contos no vencimento ou remuneração, nos casos previs- nar o cargo.
tos no artigo 78. Artigo 120 - Os vencimentos, a remuneração ou os
Artigo 117 - Perderá o vencimento ou remuneração do proventos do servidor não poderão sofrer descontos, salvo
cargo efetivo o funcionário: os previstos em lei, e aqueles que prévia e expressamente
I- nomeado para cargo em comissão, salvo o direito forem autorizados pelo funcionário, para convênios firma-
de opção;
dos em seu benefício, com os sindicatos representantes
II- quando designado para servir em qualquer órgão
dos servidores públicos municipais de Santos.
da União, dos Estados, dos Municípios e de suas autar-
·Caput do artigo 120 com redação dada pela Lei Com-
quias, sociedades de economia mista, empresas públicas
ou fundações, ressalvadas as exceções previstas em lei; plementar nº 371, de 27 de dezembro de 1999 (D.O.M. de
III- nas demais hipóteses previstas em lei. Artigo 118 - 28/12/1999).
O funcionário perderá: § 1º - Quanto aos descontos autorizados na forma do
I- o vencimento ou remuneração do período ou do dia «caput» deste artigo e relativos a convênios:
quando não comparecer ao serviço, salvo motivo legal, ou a)não excederão em nenhuma hipótese a 30% (trinta
quando o fizer após a hora seguinte à marcada para o iní- por cento) do valor líquido mensal percebido pelo servidor;
cio dos trabalhos ou se retirar antes da última hora; b)não serão admitidos descontos simultâneos a favor
II- o vencimento ou remuneração correspondente a de duas ou mais entidades credenciadas;
uma hora diária de trabalho, quando comparecer ao ser- c)poderão ser renovados com permissão expressa do
viço dentro da hora seguinte à marcada para o início dos servidor.
trabalhos, ou quando se retirar até a uma hora antes de § 2º - As importâncias descontadas mensalmente de-
findo o período de trabalho; verão ser repassadas aos respectivos sindicatos, até o déci-
III- um terço do vencimento ou da remuneração diária, mo dia útil do mês subsequente ao desconto, sob pena de
durante o afastamento por motivo de suspensão preventi- incidir juros de mora à razão de 1% (um por cento) ao mês
va, prisão preventiva, prisão administrativa, pronúncia por e atualizadas pelos índices oficiais da inflação.
crime comum ou denúncia por crime funcional, ou ainda, ·Parágrafos 1º e 2º acrescentados pela Lei Complemen-
condenação por crime inafiançável em processo no qual tar nº 371, de 27 de dezembro de 1999 (D.O.M. 28/12/1999).
não haja pronúncia, com direito à diferença, se absolvido; Artigo 121 - A partir da data da publicação da Portaria
IV- dois terços do vencimento ou da remuneração, du- que o promover, ao
rante o período do afastamento, em virtude de condena- funcionário, licenciado ou não, ficarão assegurados os
ção por sentença definitiva, quando a pena não determine direitos do vencimento ou remuneração decorrentes da
demissão; promoção.
V- os vencimentos totais durante o afastamento por Artigo 122 - O período de trabalho, nos casos de com-
motivo de suspensão definitiva, ou de suspensão preventi- provada necessidade, poderá ser antecipado ou prorroga-
va ou prisão administrativa decretadas em caso de alcance
do pelos chefes das unidades.
ou malversação de dinheiros públicos.
§ Único - No caso de antecipação ou prorrogação, será
§ 1° - No caso de faltas sucessivas, serão computados,
remunerado o trabalho extraordinário, na forma estabele-
para efeito de descontos, os dias intercalados, domingos,
cida no capítulo V do título IV deste Estatuto.
feriados e aqueles em que não haja expediente.
§ 2° - O funcionário que, por doença, não puder com- Artigo 123 - As jornadas mínimas de trabalho diárias
parecer ao serviço, fica obrigado a fazer pronta comuni- (4, 6 e 8 horas), que cada cargo de provimento efetivo está
cação de seu estado ao chefe imediato, para o necessário sujeito, são as previstas na legislação vigente.
exame médico. Artigo 124 - Nos dias úteis, só por determinação do
§ 3° - Se o médico que tiver examinado o funcionário Prefeito poderão deixar de funcionar as repartições públi-
declarar expressamente a impossibilidade do seu compa- cas, ou ser suspenso o expediente.
recimento ao serviço, não perderá ele o vencimento ou Artigo 125 - A frequência do funcionário será apurada:
remuneração, desde que as faltas não excedam a três du- I - pelo ponto; e
rante o mês. II - pela forma determinada em regulamento, quanto
§ 4° - Verificada, em qualquer tempo, ter sido graciosa aos funcionários não sujeitos ao ponto.
a declaração do médico, o órgão competente promoverá a Artigo 126 - Ponto é o registro que assinala o compa-
responsabilidade dos faltosos, para a devida punição. recimento do funcionário ao serviço e pelo qual se verifica,
§ 5° - O comparecimento depois da primeira hora do diariamente, a sua entrada e saída.
expediente ou a retirada antes da última hora, serão com- § 1° - Para registro de ponto serão usados, de preferên-
putados como ausências, para todos os efeitos legais. cia, meios mecânicos.
43
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ 2° - É vedado dispensar o funcionário de registro de Artigo 134 - A invalidez que caracteriza a dependência
ponto salvo os casos expressamente excetuados. é a incapacidade total e permanente para o trabalho.
Artigo 127 - Aos funcionários que forem alunos de Artigo 135 - Quando ambos os genitores tiverem a
estabelecimentos de ensino de cursos de 1° e 2° Graus, e condição de funcionário público e viverem em comum, o
Superior, oficiais ou oficializados, fica facultado assinar o salário-família será concedido ao cabeça do casal.
ponto de entrada até 30 (trinta) minutos após o início do §1° - Se não viverem em comum, será concedido ao
expediente, quando frequentarem as aulas no período da que tiver os dependentes sob sua guarda.
manhã, e saída até 30 (trinta) minutos antes do término § 2° - Se ambos os tiverem, será concedido ao pai e à
do expediente, quando frequentarem as aulas no período mãe, de acordo com a distribuição dos dependentes.
noturno, desde que requeiram este benefício, acompanha- Artigo 136 - Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto e
do de atestado comprobatório, subscrito pelo Diretor do a madrasta e, na ausência destes, os representantes legais
colégio no qual estejam matriculados. dos incapazes.
§ Único - Gozarão dos benefícios deste artigo os es- Artigo 137 - O salário-família será pago, ainda, nos ca-
tudantes de estabelecimentos oficiais ou oficializados, sob sos em que o funcionário ou inativo deixar de perceber
fiscalização federal ou estadual, de cursos que, direta ou vencimento, remuneração ou provento.
indiretamente, contribuam para o aperfeiçoamento inte- § Único - Quando o funcionário vier a falecer, o salário-
lectual dos servidores. -família passará a ser pago ao responsável legal dos filhos
menores, até que estes atinjam a maioridade ou deixem de
CAPÍTULO III ser dependentes.
DAS DIÁRIAS Artigo 138 - O salário-esposa ou companheira será
concedido ao funcionário ou ao inativo, desde que a mu-
Artigo 128 - Ao funcionário que se deslocar tempora- lher não exerça atividade remunerada.
riamente da respectiva sede, no desempenho de suas atri- § 1° - O valor de salário-esposa ou companheira será
buições, poderá ser concedida, além do transporte, uma sempre o dobro do salário-família.
diária a título de indenização das despesas de alimentação
§ 2° - A concessão do benefício a que se refere este
e pousada.
artigo será processada na forma prevista em regulamento.
§ 1° - Entende-se por sede, a cidade ou localidade onde
Artigo 139 - O pagamento do salário-família e do salá-
o funcionário tem exercício.
rio-esposa ou companheira, será feito a partir da data em
§ 2° - O disposto neste capítulo não se aplica aos casos
que for requerido.
de missão ou estudo fora do País.
Artigo 129 - O cálculo de diária será feito na base do
CAPÍTULO V
valor do nível do cargo.
DAS GRATIFICAÇÕES
Artigo 130 - A tabela de diárias, bem como as autorida-
des que as concederem, deverão constar de regulamento
expedido pelo Prefeito, ou autoridade competente. Artigo 140 - Será concedida gratificação ao funcioná-
Artigo 131 - O funcionário que, indevidamente, receber rio:
diárias, será obrigado a restituir, de uma só vez, a impor- I - pela função;
tância recebida, ficando ainda sujeito à punição disciplinar. II - pela prestação de serviço extraordinário;
Artigo 132 - É vedado conceder diárias com o objetivo III - pela representação de gabinete;
de remunerar outros encargos ou serviços. IV- pelo exercício em determinadas zonas ou locais;
§ Único - Será punido com pena de suspensão, e, na V- pela execução de trabalho de natureza especial,
reincidência, com a demissão a bem do serviço público, o com risco de vida ou saúde;
funcionário que infringir o disposto neste artigo. VI- pela elaboração ou execução de trabalho técnico
ou científico, ou de utilidade para o serviço público;
CAPÍTULO IV VII- por serviço ou estudo no estrangeiro;
DO SALÁRIO-FAMÍLIA E DO SALÁRIO-ESPOSA VIII- pela participação em órgão de deliberação cole-
tiva;
Artigo 133 - O salário-família será concedido a todo IX- a título de representação, quando em serviço ou
funcionário ou inativo: estudo fora do Município, por designação do Prefeito;
I - por filho menor de 21 anos; X- pelo exercício do encargo de auxiliar ou membro de
II- por filho inválido, de qualquer idade; banca e comissões de concurso; e
III- por filho estudante, que frequentar curso secundá- XI- por outros encargos previstos em lei.
rio ou superior, em estabelecimento de ensino oficial ou § Único - O disposto no item X, deste artigo, aplicar-se-
particular, e que não exerça atividade lucrativa até a idade -á quando o serviço for executado fora do período normal
de 24 anos. ou extraordinário a que tiver sujeito o funcionário, no de-
§ Único - Compreendem-se neste artigo os filhos de sempenho de seu cargo.
qualquer condição, os enteados, os adotivos, e o menor Artigo 141 - Função gratificada é a instituída em lei
que, mediante autorização judicial, viver sob a guarda e para atender a encargos de chefia e outros que não justifi-
sustento do funcionário ou do inativo. quem a criação de cargo.
44
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 142 - O desempenho da função gratificada será Artigo 148 - Quando em serviço de natureza insalu-
atribuída ao funcionário mediante ato expresso. bre ou de periculosidade, os funcionários farão jus a um
Artigo 143 - A gratificação de função será percebida acréscimo percentual em seus vencimentos ou no salário
cumulativamente com os vencimentos ou remuneração do normal.
cargo. § Único - O acréscimo adicional de que trata este ar-
Artigo 144 - Não perderá a gratificação de função o tigo, será regulamentado após ser fixado pelo Ministério
funcionário que se ausentar em virtude de férias, luto, ca- do Trabalho, através da Divisão de Higiene e Segurança no
samento, licença-prêmio e nos afastamentos remunerados Trabalho, ou órgão devidamente credenciado, com base no
previstos neste Estatuto, ou quando em serviços obrigató- grau de insalubridade ou de periculosidade do serviço.
rios por lei ou de atribuições decorrentes de sua função. Artigo 149 - A gratificação pela elaboração ou execu-
Artigo 145 - A gratificação pela prestação de serviço ção de trabalho técnico ou científico, ou de utilidade para o
extraordinário ou pelo exercício de cargos ou funções es- serviço público será arbitrada pelo Prefeito, após sua con-
pecíficas, será: clusão.
a)previamente arbitrada pelo Prefeito, ou autoridade Artigo 150 - A gratificação relativa ao exercício em ór-
competente; e gão legal de deliberação coletiva, será fixada em lei.
b)paga por hora de trabalho prorrogado ou antecipa- Artigo 151 - A gratificação a título de representação,
do. quando o funcionário for designado para serviço ou estudo
§ 1° - A gratificação a que se refere a alínea «a», não fora do Município, será arbitrada pelo Prefeito, podendo
poderá exceder a 1/3 (um terço) do vencimento mensal do ser recebida cumulativamente com a diária.
funcionário. Artigo 152 - É vedado conceder gratificação por servi-
§ 2° - No caso da alínea «b», a gratificação será paga ço extraordinário com o objetivo de remunerar outros ser-
por hora de trabalho antecipada ou prorrogada, com o viços ou encargos.
acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento). § 1° - O funcionário que receber importância relativa
§ 3° - Esta gratificação não poderá exceder a 1/3 (um a serviço extraordinário que não prestou, será obrigado a
terço) do vencimento de um dia. restituí-la de uma só vez, ficando sujeito à punição disci-
§ 4° - Em se tratando de serviço extraordinário notur- plinar.
no, o valor da hora será acrescido de 50% (cinquenta por § 2° - A autoridade que infringir o disposto neste artigo
cento). será responsabilizada.
§ 5° - Em se tratando de domingos e feriados, a gratifi- Artigo 153 - Será punido com pena de suspensão e, na
cação será paga em dobro. reincidência, com a de demissão a bem do serviço público,
§ 6º - A supressão da hora suplementar geradora da o funcionário:
gratificação a que se refere a alínea “b” deste artigo, asse- I- que atestar falsamente a prestação de serviço ex-
gura ao funcionário que a tiver prestado com habitualida- traordinário;
de durante, pelo menos, dois anos, o direito à indenização II- que se recusar, sem justo motivo, a prestação de
correspondente ao valor de um mês das horas suprimidas serviço extraordinário.
para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de
prestação ou serviço além da jornada normal, observando- CAPÍTULO VI
-se, no cálculo, a média das horas extraordinárias efetiva- DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
mente trabalhadas nos últimos doze meses, multiplicada
pelo valor da hora extraordinária do dia da supressão. Artigo 154 - O funcionário terá direito, após cada pe-
·§ 6º acrescentado pela Lei Complementar nº 128, de 6 ríodo de cinco anos, contínuos ou não, à percepção de adi-
de junho de 1994 (D.O.M. 15/6/1994). cional por tempo de serviço público municipal, calculado
Artigo 146 - A gratificação atribuída na forma da alí- sobre o vencimento do cargo, da seguinte forma:
nea “a” do artigo anterior, será incorporada aos vencimen- I- de 5 a l0 anos - 5%
tos do funcionário, ou inativo para todos os efeitos legais, II- de l0 a 15 anos - 11% III - de 15 a 20 anos - 16%
desde que tenha percebido, esteja percebendo ou venha a IV- de 20 a 25 anos - 22%
percebê-la por período mínimo de 2 (dois) anos ininterrup- V- de 25 a 30 anos - 28%
tos, ou intercalados. VI- de 30 a 35 anos - 35% VII - mais de 35 anos - 41%
§ 1° - Os períodos de férias e de licença remuneradas § 1° - O adicional será calculado sobre o vencimento do
não interrompem a contagem do prazo, a que se refere nível ou do símbolo do cargo que estiver exercendo o fun-
este artigo. cionário, não se computando percentagens, gratificações
§ 2° - A incorporação de que trata este artigo dar-se- ou outras vantagens.
-á automaticamente, independentemente de despacho, a § 2° - Os percentuais fixados neste artigo são mutua-
partir da data da apresentação do requerimento na Seção mente exclusivos, não podendo ser percebidos cumulati-
de Protocolo Geral e incidirá sempre sobre o valor do nível vamente.
do cargo efetivo ocupado pelo funcionário ou inativo. Artigo 155 - O adicional por tempo de serviço será de-
Artigo 147 - A gratificação pelo exercício em determi- vido a partir do dia imediato àquele em que o funcionário
nadas zonas ou locais será determinada em lei. tiver completado o período aquisitivo.
45
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Artigo 156 - Para o efeito da percepção do adicional Artigo 165 - Quando o funcionário falecer fora de sua
por tempo de serviço, será contado o tempo de serviço sede, no desempenho de serviço, poderá ser concedido
prestado antes da efetivação, a qualquer título, em outro transporte, para que sua família retorne ao local do seu
cargo público municipal ou como extranumerário munici- domicílio.
pal. § 1° - Essa concessão poderá ser feita, ainda que o fa-
§ 1° - Em nenhuma hipótese, porém, qualquer que seja lecimento tenha se dado no estrangeiro.
o tempo de serviço anterior à efetivação, poderá o funcio- § 2° - Só serão atendidos ospedidosdetransporte for-
nário perceber adicionais, senão a partir de sua nomeação mulados dentro do prazo de um ano, a partir da data em
efetiva. que houver falecido o funcionário.
§ 2° - Não aproveitará para a percepção do adicional, Artigo 166 - Após cada 12 (doze) meses consecutivos
o tempo de serviço prestado, a qualquer autarquia ou en- de licença para tratamento de saúde, o funcionário mu-
tidade paraestatal. nicipal terá direito a um mês de vencimento, a título de
Artigo 157 - Será computado para efeito de percepção auxílio-doença.
do adicional todo o tempo em que o funcionário municipal Artigo 167 - Os funcionários que exerçam funções ex-
permanecer licenciado do exercício do cargo para qualquer ternas, poderão receber, a critério do Prefeito Municipal,
tratamento de saúde. levando-se em conta a natureza do serviço a ser executa-
Artigo 158 - O disposto neste Capítulo aplica-se aos do, uma importância mensal para atender às despesas de
inativos, no que couber. transportes.
Artigo 159 - O adicional por tempo de serviço previsto § Único - O pagamento de que trata este artigo, não
no artigo 154 incorpora-se ao vencimento para todos os será incorporado aos vencimentos dos funcionários para
efeitos legais, observadas a forma e o cálculo nele deter- nenhum efeito, nem está sujeito à comprovação.
minados. Artigo 168 - Aos médicos, dentistas e demais integran-
tes de equipes plantonistas que prestam serviços junto aos
CAPÍTULO VII Postos de Pronto-Socorro em plantões de, no mínimo 12
DA SEXTA-PARTE DO VENCIMENTO (doze) horas diárias, será atribuído uma importância men-
sal por plantão, para atender às despesas de refeição, que
Artigo 160 - O funcionário que completar 25 (vinte e independem de comprovação.
cinco) anos de efetivo exercício no serviço público muni- § Único - O pagamento de que trata este artigo, não
cipal perceberá importância equivalente à sexta-parte do será incorporado aos vencimentos dos funcionários para
seu vencimento. qualquer efeito.
§ Único - O benefício deste artigo é extensivo aos fun- Artigo 169 - É assegurado a todo o funcionário que
cionários aposentados. contar um ou mais anos de efetivo exercício, abono de
Artigo 161 - A sexta-parte incorpora-se ao vencimento Natal correspondente ao nível ou símbolo do cargo que
para todos os efeitos legais. estiver ocupando, acrescido das vantagens incorporadas,
verba de representação e gratificações, nessas incluídas, na
CAPÍTULO VIII proporção do valor médio anual, as que lhe tenham sido
DAS OUTRAS CONCESSÕES PECUNIÁRIAS pagas na forma do artigo 145, alínea “b”, parágrafo 2º a
5º, desta lei.
Artigo 162 - Ao funcionário licenciado para tratamento ·Caput do artigo 169 com redação dada pela Lei
de saúde que, por exigência do laudo médico, tenha de Complementar nº 58, de 2 de julho de 1992 (D.O.M. de
se ausentar da sede do serviço, será concedido transporte 21/7/1992).
por conta da municipalidade, inclusive para uma pessoa da § 1° - O funcionário com menos de um ano de efetivo
família. exercício, receberá tantos duodécimos quantos forem os
Artigo 163 - Ao funcionário estudante será permitido meses de serviços prestados, desprezando- se as frações
faltar ao serviço, sem prejuízo dos vencimentos ou outras inferiores a 15 (quinze) dias.
vantagens do cargo, para prestação de prova ou exame, § 2° - O pagamento do abono de que trata este artigo,
cujo horário coincida com o da unidade em que estiver lo- será feito da seguinte forma: 50% no mês de novembro e
tado. 50% até o dia 24/12.
Artigo 164 - À família do funcionário ou do inativo fale- Artigo 170 - O abono de Natal será concedido aos ina-
cido, será concedido a título de auxílio-funeral importância tivos na mesma base e condições do artigo anterior.
correspondente a um mês de vencimento ou remuneração, Artigo 171 - O funcionário terá preferência na locação
ou provento. de imóvel pertencente ao Município, para sua moradia,
§ 1° - Na falta de pessoa da família, quem provar ter desde que não seja necessário aos serviços públicos.
custeado o sepultamento do funcionário, será reembolsa-
do das respectivas despesas até o limite do vencimento ou
remuneração.
§ 2° - Para efeito de pagamento, deverá ser apresenta-
do requerimento instruído com atestado de óbito e com-
provantes das despesas com o funeral.
46
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
47
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ 4° - O atestado médico e o laudo deverão indicar Artigo 186 - O funcionário licenciado para tratamento
minuciosa e claramente a natureza e a sede do mal de que de saúde é obrigado a reassumir o exercício, se for consi-
está atacado o funcionário. derado apto em inspeção médica, realizada.
§ 5° - Verificando-se, em qualquer tempo, ter sido
gracioso o atestado ou o laudo da junta, a Secretaria de SEÇÃO III
Higiene e Saúde representará ao Prefeito no sentido de DA LICENÇA AO FUNCIONÁRIO ACIDENTADO NO
promover a responsabilidade do funcionário beneficiado EXERCÍCIO DE SUAS ATRIBUIÇÕES OU ATACADO DE
pela fraude. Igual procedimento será adotado quanto aos DOENÇA PROFISSIONAL
médicos, quando estes forem funcionários do Município;
aos demais médicos serão impostas as penalidades que Artigo 187 - O funcionário acidentado no exercício de
lhes couberem nos termos da legislação vigente. suas atribuições, ou que tenha adquirido doença profissio-
Artigo 184 - O funcionário acometido de tuberculose nal, terá direito à licença com vencimento ou remuneração
ativa, com lesões progressivas, regressivas ou estacioná- integral.
rias; pneumopatias evolutivas, que conduzam à insuficiên- § 1° - Entende-se por doença profissional a que se deve
cia respiratória grave incompatível com a função; aliena- atribuir, com relação de efeito e causa, às condições ine-
ção mental irrecuperável; neoplasia maligna que interfira rentes ao serviço ou a fatos nele ocorridos.
na capacidade laborativa para a atividade específica ou na § 2° - Acidente é o evento danoso que tenha como
impossibilidade de recuperação ou reabilitação, em função causa, mediata ou imediata, o exercício das atribuições ine-
dos meios terapêuticos disponíveis; cegueira irrecuperá- rentes ao cargo.
vel ou diminuição da acuidade visual que após correção § 3° - Considera-se também acidente, agressão sofri-
apresenta os limites de “0,05” em cada um dos olhos ou da e não provocada pelo funcionário no exercício de suas
“0” (zero) em um olho e até “0,20” no outro, na escala de atribuições.
Snellen; hanseníase lepromatosa, hanseníase dimorfa, e § 4° - A comprovação do acidente, indispensável para a
eventualmente as formas tuberculóide ou indetermina- concessão da licença, deverá ser feita em processo regular,
da que produzam lesões incapacitantes ou repugnantes;
no prazo máximo de 8 (oito) dias.
penfigo foliáceo; dermatopatias repugnantes e incuráveis à
§ 5° - O tratamento do acidentado em serviço correrá
terapêutica atual; paralisia irreversível e incapacitante para
por conta dos cofres municipais ou de assistência social,
o exercício da atividade inerente ao cargo ou função; sur-
mediante acordo com o Município.
dez irrecuperável incompatível com o trabalho; moléstia de
Parkinson ou Parkinsonismo primário rebelde à terapêutica
SEÇÃO IV
medicamentosa; neuroencefalopatias graves e incapacitan-
tes; myasthenia gravis; perda de membro superior e ou in- DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PES-
ferior sem possibilidade de readaptação; cardiopatia grave, SOA DA FAMÍLIA
isto é, aquela que após esforço, provoca o aparecimento de
insuficiência cardíaca, insuficiência coronariana e ou arrit- Artigo 188 - O funcionário poderá obter licença por
mias, não compatíveis com a função, ou determinando im- motivo de doença do cônjuge e de parentes até segundo
possibilidade de readaptação em outra função; espondilite grau, quando verificada, em inspeção médica, ser indispen-
anquilosante e artropatias graves evolutivas com prejuízo sável a sua assistência pessoal, impossível de ser prestada
funcional ou dor que gerem incapacidade; nefropatias gra- simultaneamente com o exercício do cargo.
ves evolutivas com insuficiência renal que apresenta no § Único - A licença de que trata este artigo não poderá
mínimo filtração glomerular diminuída a 50%; hemopatias ultrapassar o prazo de 24 (vinte e quatro) meses.
graves, sem possibilidade de controle terapêutico; síndro- Artigo 189 - A licença será concedida com vencimento
me pós-trombótica e linfangite deformante grave e irre- ou remuneração até 6 (seis) meses; com 2/3 (dois terços)
versível ao tratamento atual; hepatopatias difusas graves do vencimento ou remuneração excedendo esse prazo até
irreversíveis; hipertensão porta descompensada; retocolite 1 (um) ano; sem vencimento ou remuneração do décimo
ulcerativa inspecífica grave; mesenquimopatias (cologeno- terceiro até o vigésimo quarto mês.
ses) graves e progressivas que não possam ser controladas
pela terapêutica; mutilações cirúrgicas que determinem SEÇÃ0 V
incapacidade total para o trabalho; outras doenças graves DA LICENÇA À GESTANTE
que determinem incapacidade e cujas possibilidades tera-
pêuticas sejam nulas, será compulsoriamente licenciado Artigo 190 - À funcionária gestante será concedida,
com vencimento ou remuneração integral. mediante inspeção médica, licença de 120 (cento e vinte)
Artigo 185 - O funcionário licenciado nos termos do dias, com vencimento ou remuneração integral.
artigo 183 terá sua licença reavaliada a cada 6 (seis) meses, § Único - Salvo prescrição médica em contrário, a li-
por junta médica, podendo ser readaptado para exercer cença será concedida a partir do início do oitavo mês de
funções compatíveis com o seu estado físico ou mental. gestação.
§ Único - Não sendo possível a readaptação após 24 Artigo 191 - Se a criança nascer viva, prematuramente,
(vinte e quatro) meses em licença, o funcionário será apo- antes de concedida a licença, o início desta se contará a
sentado com proventos proporcionais ao tempo de serviço, partir da data do parto.
mediante exame por junta médica para inspeção de saúde.
48
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
49
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ Único - No caso do inciso I, restabelecido o cargo, § Único - Nos casos de aposentadoria por invalidez,
ainda que modificada a sua denominação, será obrigato- o pagamento será integral na jornada de trabalho que o
riamente aproveitado nele o funcionário posto em disponi- funcionário estiver cumprindo na ocasião.
bilidade quando da sua extinção. Artigo 213 - Preenchidas as condições legais, a apo-
Artigo 204 - O provento da disponibilidade será revisto sentadoria será concedida:
sempre que, por motivo de alteração do poder aquisitivo I- desde que o funcionário tenha permanecido inin-
da moeda, se modificarem os vencimentos dos funcioná- terruptamente por período igual ou superior a 730 (sete-
rios em atividade. centos e trinta) dias, ou por período igual ou superior a
Artigo 205 - No caso previsto no parágrafo 2° do artigo 1.825 (um mil, oitocentos e vinte e cinco) dias alternados,
198, quando terminar o motivo da licença, a funcionária em cargo em comissão, em função gratificada, (VETADO)
será aproveitada na primeira vaga que se der na classe a inclusive em substituição, com as vantagens corresponden-
que se pertencia, que tenha de ser provida mediante pro- tes à maior comissão ou à maior função gratificada, dentre
moção por merecimento. as previstas para uma ou outra hipótese, que alcance um
Artigo 206 - O funcionário em disponibilidade poderá período, ininterrupto ou não, igual ou superior a 180 (cento
ser aposentado, calculando-se o provento da aposentado- e oitenta) dias;
ria sobre o vencimento ou remuneração que perceber, ou II- com as vantagens correspondentes à maior comis-
que recebia, no caso do artigo anterior. são ou maior função gratificada, dentre as exercidas, inclu-
Artigo 207- O período relativo à disponibilidade será sive em substituição, desde que, concomitantemente:
contado unicamente para efeito de aposentadoria. Inciso II com redação dada pela Lei nº 595, de 5 de
junho de 1989 6/6/1989).
CAPÍTULO IV a)a soma dosperíodos de serviços prestados , numa e
DA APOSENTADORIA noutra, alcance no mínimo 3.650 (três mil, seiscentos e cin-
quenta) dias, alternados ou não;
Artigo 208 - O funcionário será aposentado: b)o período de exercício na maior comissão ou maior
função gratificada tenha sido igual ou superior a sessen-
I - por invalidez;
ta dias contínuos. Alíneas “a”, “b”, constantes do Inciso
II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de idade;
II acrescentadas pela Lei nº 595, de 5 de junho de 1989
III- voluntariamente, após 35 (trinta e cinco) anos de
(D.O.M. 6/6/1989).
serviço
§ Único - Para efeito de aplicação do regime estabele-
§ Único - No caso do inciso III, o prazo é de 30 (trinta)
cido nos incisos I e II, serão também considerados os perío-
anos para as mulheres.
dos de exercício em cargos ou funções transformados em
Artigo 209 - A aposentadoria nos termos do inciso I
comissões ou funções gratificadas pelo Decreto-Lei nº 118,
do artigo anterior, que precederá sempre de licença para
de 22 de maio de 1970.
tratamento de saúde, será concedida ao funcionário: Artigo 214 - As disposições relativas à aposentadoria
I- quando verificada sua invalidez para o serviço pú- aplicam-se ao funcionário ocupante de cargo em comissão
blico, em consequência de doença grave, contagiosa ou que contar com mais de 12 (doze) anos de exercício efetivo
incurável, especificada no artigo 184; e ininterrupto ou não em cargo de provimento dessa natu-
II- quando invalidado por acidente no exercício de suas reza, seja ou não ocupante de cargo de provimento efetivo.
atribuições ou por doença profissional; Artigo 215 - A aposentadoria produzirá efeito a partir
III- quando invalidado, após decorrido o prazo cons- da publicação do ato no órgão oficial.
tante no parágrafo único do artigo 185. § Único - No caso de aposentadoria compulsória, o
§ Único - No caso do inciso funcionário deixará o exercício no dia em que atingir a ida-
III, o funcionário será aposentado com proventos pro- de limite, devendo o ato retroagir a essa data.
porcionais ao tempo de serviço. Artigo 216 - Os proventos da inatividade serão revis-
Artigo 210 - A aposentadoria compulsória, prevista no tos, na mesma proporção, sempre que, por motivo de al-
inciso II, do artigo 208, é automática. teração do poder aquisitivo da moeda, se modificarem os
Artigo 211 - Os proventos da aposentadoria serão: I - vencimentos dos funcionários em atividade.
integrais, quando o funcionário: Artigo 217 - Ressalvado o disposto no artigo anterior,
a)contar 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se do sexo em caso nenhum os proventos da inatividade poderão ex-
masculino, ou 30 (trinta) anos, se do sexo feminino; ceder a remuneração percebida na atividade.
b)invalidar-se por doença grave, contagiosa ou incu-
rável, por acidente no exercício de suas atribuições ou por CAPÍTULO V
doença profissional, especificadas nos artigos 184 e 187. DA ASSISTÊNCIA AO FUNCIONÁRIO
II - proporcionais ao tempo de serviço, nos demais ca-
sos. Artigo 218 - O Município poderá promover, na medida
Artigo 212 - Para efeito de aposentadoria do funcio- de suas possibilidades e recursos, assistência ao funcioná-
nário autorizado a cumprir jornada de trabalho superior a rio e a sua família, na forma que a lei estabelecer.
mínima fixada para seu cargo, será observado o disposto § 1° - A assistência de que trata este artigo compreen-
no Artigo 5° da Lei n° 4315, de 7 de janeiro de 1980. derá:
50
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
51
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
VIII– entreter-se, durante as horas de trabalho, em pa- IV- pela falta ou inexatidão das necessárias averbações
lestras, leituras ou atividades estranhas ao serviço; nas notas de despacho, guias e outros documentos da re-
IX- empregar material do serviço público para fins par- ceita ou que tenham com eles relação;
ticulares; V- por qualquer erro de cálculo ou redução contra a
X- fazer circular ou subscrever rifas ou listas de donati- Fazenda Municipal.
vos no local de trabalho; Artigo 225 - Nos casos de indenização à Fazenda Mu-
XI- receber estipêndios de fornecedores ou de entida- nicipal, o funcionário será obrigado a repor, de uma só vez
des fiscalizadas; e com os acréscimos de lei e correção monetária, a im-
XII- designar, para trabalhar sob suas ordens imediatas, portância do prejuízo causado em virtude de alcance, des-
parentes até segundo grau, salvo quando se tratar de fun- falque, remissão ou omissão em efetuar recolhimentos ou
ção de confiança e livre escolha, não podendo, entretanto, entradas nos prazos legais.
exceder a dois o número de auxiliares nessas condições; Artigo 226 - Excetuados os casos previstos no artigo
XIII- aceitar representação de Estado estrangeiro, sem anterior, será admitido o pagamento singelo e parcelado,
autorização do Presidente da República; na forma do artigo 120.
XIV- fazer, com a Administração Direta ou Indireta, Artigo 227 - A responsabilidade administrativa não exi-
contratos de natureza comercial, industrial ou de prestação me o funcionário da responsabilidade civil ou criminal que
de serviços com fins lucrativos, por si ou como represen- no caso couber, nem o pagamento da indenização a que
tante de outrem; ficar obrigado o exime da pena disciplinar em que incorrer.
XV- participar da gerência ou administração de empre-
sas bancárias ou industriais ou de sociedades comerciais, CAPÍTULO IV
que mantenham relações comerciais ou administrativas DAS PENALIDADES
com o Município, sejam por esta subvencionadas, ou este-
jam diretamente relacionadas com a finalidade da unidade Artigo 228 - São penas disciplinares:
ou serviço em que esteja lotado; I - repreensão;
XVI- exercer, mesmo fora das horas de trabalho, em- II - suspensão;
prego ou função em empresas, estabelecimentos ou insti- III - multa;
tuições que tenham relações com o Município, em matéria IV- demissão;
que se relacione com a finalidade da unidade ou serviço V- demissão a bem do serviço público;
em que esteja lotado; VI- cassação de aposentadoria ou da disponibilidade.
XVII- comerciar ou ter parte em sociedades comerciais Artigo 229 - Na aplicação das penas disciplinares serão
nas condições mencionadas no inciso XVI deste artigo, consideradas a natureza e a gravidade da infração e os da-
podendo, em qualquer caso, ser acionista, quotista ou co- nos que dela provierem para o serviço público.
mandatário. Artigo 230 - A pena de repreensão será aplicada por
XVIII- requerer ou promover a concessão de privilégio, escrito, nos casos de indisciplina ou falta de cumprimento
garantias de juros ou outros favores semelhantes, esta- dos deveres funcionais.
duais ou municipais, exceto privilégio de invenção própria; § Único - Havendo dolo ou má fé, a falta de cumpri-
XIX- trabalhar sob as ordens diretas do cônjuge ou de mento dos deveres funcionais será punida com a pena de
parentes até segundo grau, salvo quando se tratar de fun- suspensão.
ção de imediata confiança e de livre escolha. Artigo 231 - A pena de suspensão, que não excederá a
90 (noventa) dias, será aplicada, igualmente, à violação das
CAPÍTULO III proibições consignadas neste Estatuto, bem como a reinci-
DA RESPONSABILIDADE dência em falta já punida com a repreensão.
Artigo 232 - O funcionário suspenso perderá, durante
Artigo 224 - O funcionário responde civil, penal e ad- o período de cumprimento da suspensão, todos os direitos
ministrativamente pelo exercício irregular de suas atribui- e vantagens decorrentes do exercício do cargo.
ções, sendo responsável por todos os prejuízos que, nesta Artigo 233 - Será aplicada ao funcionário a pena de
qualidade, causar à Fazenda Municipal, por dolo ou culpa, demissão nos casos de:
devidamente apurados. I - abandono de cargo;
§ Único - Caracteriza-se especialmente a responsabi- II - faltas ao serviço, sem justa causa, por mais de 60
lidade: (sessenta) dias interpolados durante o ano;
I- pela sonegação de valores ou objetos confiados à III - procedimento irregular de natureza grave;
sua guarda ou responsabilidade; IV- acumulação proibida de cargos públicos, se prova-
II- por não prestar contas ou por não as tomar, na for- da a má fé ;
ma e nos prazos estabelecidos em leis, regulamentos, regi- V- ofensas físicas, em serviço ou em razão dele, a servi-
mentos, instruções e ordens de serviço; dores ou particulares, salvo se em legítima defesa;
III- pelas faltas, danos, avarias, e quaisquer outros pre- VI- transgressão dos incisos XII, XIII, XV, XVI, XVII e XVIII
juízos que sofrerem os bens e os materiais sob sua guarda do artigo 223;
ou sujeitos a seu exame e fiscalização; VII- ineficiência no serviço.
52
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ 1° - Dar-se-á por configurado o abandono do cargo, III- os Chefes de Departamentos, até a de suspensão,
quando o funcionário faltar ao serviço por mais de 30 (trin- limitada até 15 (quinze) dias; e
ta) dias consecutivos. IV- as demais Chefias a que estiver subordinado o fun-
§ 2° - A pena de demissão por ineficiência no serviço só cionário, nas hipóteses de repreensão e suspensão até 5
será aplicada quando verificada a impossibilidade de rea- (cinco) dias.
daptação. Artigo 242 - O funcionário que, sem justa causa, deixar
Artigo 234 - Será aplicada a pena de demissão a bem de atender a qualquer exigência para cujo cumprimento
do serviço público ao funcionário que: seja marcado prazo certo, terá suspenso o pagamento de
I- praticar ato de incontinência pública e escandalosa, seu vencimento ou remuneração, até que satisfaça essa
ou der-se a vícios de jogos proibidos; exigência.
II- praticar crime contra a boa ordem e a administra- Artigo 243 - Prescreverá:
ção pública, a fé pública, e a Fazenda Municipal, ou crime I- em 2 (dois) anos, a falta que sujeite as penas de re-
previsto nas leis relativas à Segurança e à Defesa Nacional; preensão, multa ou suspensão; e
III- revelar segredos de que tenha conhecimento em II- em 5 (cinco) anos, as demais faltas.
razão do cargo ou função, desde que o faça dolosamente, Artigo 244 - A prescrição começa a correr da data em
com prejuízo para o Município ou para qualquer particular; que a autoridade tomar conhecimento da existência da fal-
IV- praticar insubordinação grave; ta.
V- lesar o patrimônio ou os cofres públicos; § 1° - O curso da prescrição interrompe-se pela abertu-
VI- receber ou solicitar propinas, comissões ou vanta- ra do competente procedimento administrativo.
gens de qualquer espécie, diretamente ou por intermédio § 2° - Na hipótese do parágrafo anterior, todo o prazo
de outrem, ainda que fora de suas funções, mas em razão começa a correr novamente, do dia da interrupção.
delas;
VII- pedir, por empréstimo, dinheiro ou quaisquer va- CAPÍTULO V
lores a pessoas que tratem de interesse, ou o tenham na DA PRISÃO ADMINISTRATIVA E DA SUSPENSÃO
PREVENTIVA
unidade de trabalho, ou estejam sujeitas à sua fiscalização;
VIII- conceder vantagens ilícitas, valendo-se da função
Artigo 245 - O Prefeito ou autoridade competente po-
pública; IX - exercer a advocacia administrativa.
derá ordenar a prisão administrativa de funcionário res-
Artigo 235 - O ato de demitir o funcionário mencionará
ponsável por dinheiro ou valores pertencentes à Fazenda
sempre a disposição legal em que se fundamente.
Municipal, ou que se acharem sob a guarda desta, nos ca-
Artigo 236 - Será cassada a aposentadoria ou a dispo-
sos de alcance, remissão ou omissão em efetuar as entra-
nibilidade, se ficar provado que o inativo:
das no devido prazo.
I- praticou, quando em atividade, falta grave para a
§ 1° - Ordenada a prisão, será ela requisitada à auto-
qual, neste Estatuto, seja cominada pena de demissão ou ridade policial e comunicada imediatamente à autoridade
demissão a bem do serviço público, desde que a apuração judiciária competente.
ocorra até 180 (cento e oitenta) dias após a aposentadoria; § 2° - A prisão administrativa não excederá a 90 (no-
II- aceitou ilegalmente cargo ou função pública; venta) dias.
III- aceitou a representação de Estado estrangeiro, sem Artigo 246 - O Prefeito ou autoridade competente
prévia autorização do Presidente da República; poderá suspender preventivamente o funcionário, até 90
IV- praticou a usura em qualquer de suas formas. (noventa) dias, desde que o seu afastamento seja neces-
Artigo 237 - As penalidades poderão ser abrandadas sário para averiguação de faltas cometidas, findos os quais
pela autoridade que as tiver de aplicar, levadas em conta cessarão os efeitos da suspensão, ainda que o processo ad-
as circunstâncias da falta disciplinar e o anterior comporta- ministrativo não esteja concluído.
mento do funcionário. Artigo 247 - Durante o período da prisão ou da sus-
Artigo 238 - Deverão constar do assentamento indivi- pensão preventiva, o funcionário perderá 1/3 (um terço) do
dual do funcionário todas as penas que lhe forem impostas. vencimento ou remuneração.
Artigo 239 - Uma vez submetido a inquérito adminis- Artigo 248 - O funcionário terá direito:
trativo, o funcionário só poderá ser exonerado a pedido, I- à diferença de vencimento ou remuneração e à con-
depois de ocorrida absolvição ou após o cumprimento da tagem do tempo de serviço relativo ao período da prisão
penalidade que lhe houver sido imposta. ou da suspensão, quando do processo não resultar puni-
Artigo 240 - À primeira infração e de acordo com a sua ção, ou esta se limitar às penas de multa ou repreensão;
natureza, poderá ser aplicada qualquer das penalidades do II- à diferença de vencimento ou remuneração e à con-
artigo 228. tagem do tempo de serviço correspondente ao período
Artigo 241 - Para a aplicação das penalidades previstas do afastamento excedente ao prazo da suspensão efetiva-
no artigo 228, são competentes: mente aplicada; e
I - o Prefeito, nos casos de demissão, multa, suspensão III- à contagem do período de prisão administrativa ou
superior a 30 (trinta) dias; 11 - os Secretários Municipais ou suspensão preventiva e ao pagamento do vencimento ou
autoridades equiparadas, até a de suspensão, limitada até remuneração e de todas as vantagens do exercício do car-
30 (trinta) dias; go, desde que reconhecida a sua inocência.
53
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
54
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ Único - A Comissão deverá sugerir outras medidas ou de Diretor em Sociedade de Economia Mista onde a
que se fizerem necessárias ou forem de interesse público. Municipalidade seja acionista majoritária, ficando asse-
Artigo 267 - Recebido o processo com o relatório, a gurada a percepção dos proventos equivalentes aos ven-
autoridade competente proferirá a decisão por despacho cimentos estipulados para aqueles cargos não podendo,
fundamentado. todavia, ultrapassar os do Símbolo CS do Quadro Perma-
§ Único - O julgamento poderá ser convertido em di- nente da Prefeitura Municipal de Santos.
ligência. Artigo 277 - É assegurado ao funcionário que tiver
tempo de serviço público municipal prestado antes de 13
CAPÍTULO VII de maio de 1967, o direito de computar esse tempo para
DA REVISÃO DO INQUÉRITO ADMINISTRATIVO efeito de aposentadoria, proporcionalmente ao número de
anos de serviço a que estava sujeito, no regime anterior,
Artigo 268 - A revisão será recebida e processada me- para obtenção do benefício.
diante requerimento quando: Artigo 278 - Fica assegurada ao funcionário municipal,
I- a decisão for manifestamente contrária a dispositivo a contagem do tempo de serviço prestado à atividade pri-
legal, ou à evidência dos autos; vada, nos termos da Lei nº 4.314, de 4 de janeiro de 1980,
II- a decisão se fundar em depoimentos, exames peri- alterada pela Lei n° 4564, de 3 de outubro de 1983.
ciais, vistorias ou documentos comprovadamente falsos ou Artigo 279 - O Poder Executivo Municipal expedirá a
eivados de erros; regulamentação necessária à perfeita execução deste Es-
III- surgirem, após a decisão, provas da inocência do tatuto, observados os princípios gerais nele consignados e
punido. de conformidade com as exigências, possibilidades e recur-
§ 1° - Não constitui fundamento para a revisão a sim- sos do Município.
ples alegação de injustiça da penalidade. Artigo 280 - Ao civil, ex-combatente da Força Expe-
§ 2° - A revisão, que poderá verificar-se a qualquer dicionária Brasileira, da Força Aérea Brasileira, da Marinha
tempo, não autoriza a agravação da pena. de Guerra e Marinha Mercante ou de Força do Exército,
§ 3° - Ocorrendo o falecimento do punido, o pedido de que tenha participado efetivamente de operações bélicas
revisão poderá ser formulado pelo cônjuge ou parente até na Segunda Guerra Mundial são assegurados os direitos
segundo grau. previstos no artigo 197 da Constituição Federal.
Artigo 269 - O pedido de revisão será sempre dirigido Artigo 281 - Os funcionários públicos municipais, no
ao Prefeito, ou autoridade competente, que decidirá sobre exercício de suas atribuições, não estão sujeitos à ação penal
o seu processamento. por ofensa irrogada em informações, pareceres ou quaisquer
Artigo 270 - Estará impedida de funcionar no processo outros escritos de natureza administrativa que para esse fim,
revisional a Comissão que participou do processo discipli- são equiparados às alegações produzidas em juízo.
nar primitivo. § Único - Ao chefe imediato do funcionário cabe man-
Artigo 271 - Julgada procedente a revisão, a autorida- dar riscar, a requerimento do interessado, as injúrias ou ca-
de competente determinará a redução, o cancelamento ou lúnias porventura encontradas.
anulação da pena. Artigo 282 - Salvo os casos expressamente previstos
§ Único - A decisão deverá ser sempre fundamentada e neste Estatuto, não será contado, em nenhuma hipótese,
publicada no órgão oficial do Município. tempo em dobro.
Artigo 272 - Aplica-se ao processo de revisão, que cou- Artigo 283 - O valor monetário dos vencimentos do
ber, o previsto neste Estatuto para o processo disciplinar. funcionalismo municipal será corrigido semestralmente, a
partir de 1° de agosto de 1985.
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS § 1° - A correção de que trata este artigo será calculada
com base no total do Índice Nacional de Preços ao Consu-
Artigo 273 - O dia 28 de outubro será consagrado ao midor fixado pelo Governo Federal aplicável nos reajustes
“Funcionário Público Municipal”. salariais relativos aos meses de fevereiro e agosto.
Artigo 274 - Salvo disposição expressa em contrário, a § 2° - Em 1° de fevereiro de 1985, será concedido rea-
contagem de tempo e de prazos previstos neste Estatuto juste dos vencimentos do funcionalismo municipal equiva-
será feita em dias corridos, excluindo-se o dia do começo e lente ao total do Índice Nacional de Preços ao Consumidor,
incluindo-se o do seu término. anual acumulado, fixado pelo Governo Federal para o mês
§ Único - Considera-se prorrogado o prazo até o pri- de dezembro de 1984.
meiro dia útil se o término cair em sábado, domingo e fe- Artigo 284 - As despesas com a execução desta Lei
riado ou em dia que: correrão por conta das dotações orçamentárias próprias,
I- não houver expediente; suplementadas se necessário.
II- o expediente for encerrado antes da hora normal. Artigo 285 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua
Artigo 275 - As disposições deste Estatuto aplicam-se publicação, ficando revogadas as disposições em contrário,
aos integrantes da carreira do Magistério Público Munici- e em especial as Leis nºs 1813, de 17 de janeiro de 1956;
pal, no que não contrariarem a legislação específica. 1855, de 9 de agosto de 1956; 2298, de 12 de setembro
Artigo 276 - Aplica-se o disposto nos incisos I e II, do de 1960; 2975, de 23 de setembro de 1964; 3762, de 22 de
artigo 213, aos funcionários quando designados para exer- maio de 1972; 3927, de 18 de dezembro de 1974; 4305, de
cerem cargos de Superintendente em Autarquia Municipal 14 de dezembro de 1979; e 4425, de 25 de agosto de 1981.
55
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
56
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
57
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
58
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
59
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
60
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Art. 37. Além da jornada de 40 (quarenta) horas-aula § 2º Os professores e especialistas de educação, consi-
semanais, o professor em regime de dedicação exclusiva derados ex-ofício, por decorrência de supressão de classes
deverá cumprir 75 (setenta e cinco) horas-aula mensais na ou cargo, terão prioridade na escolha de vagas destinadas
mesma unidade de ensino, em atividades letivas. à remoção, obedecendo ao critério de antiguidade no efe-
§ 1º Caberá à Secretaria de Educação decidir acerca tivo exercício do magistério público municipal de Santos.
do pedido, verificados os requisitos do artigo 35 desta lei § 3º Fica assegurado o retorno do professor ou espe-
complementar e a conveniência para a Administração Mu- cialista de educação ex-ofício para a unidade de ensino do
nicipal. ano anterior na qual ocorreu a supressão de classe ou car-
§ 2º O regime de dedicação exclusiva poderá ser inter- go, obedecendo ao critério de antiguidade no efetivo exer-
rompido pelo professor a qualquer tempo, ficando vedado cício do magistério municipal de Santos.
o retorno a esse regime antes de decorrido o período de Art. 46. A remoção nas classes de educador de desen-
2 (dois) anos, a contar da interrupção, exceto quando em volvimento infantil, professor e especialista de educação
substituição de especialista de educação I. dar-se-á anualmente, em classificação específica para cada
Art. 38. O professor que participar do regime de de- cargo.
dicação exclusiva terá direito a um adicional de 20% (vinte
por cento) sobre o vencimento do cargo, além do paga- CAPÍTULO III
mento das horas previstas no artigo 37. DA COMPOSIÇÃO DAS UNIDADES DE ENSINO
§ 1º No caso de eventual substituição de especialista
de educação, o pagamento do adicional será cessado, vol- Art. 47. Toda unidade de ensino deverá contar com
tando a recebê-lo desde que renove a opção pelo regime uma equipe técnica administrativa e pedagógica compos-
de dedicação exclusiva até 30 dias após o término da subs- ta de diretor de unidade de ensino, assistente de direção,
tituição. orientador educacional e coordenador pedagógico.
§ 2º O adicional de regime de dedicação exclusiva so- Parágrafo único. A distribuição dos cargos de espe-
mente será devido enquanto o servidor permanecer neste cialistas de educação I poderá ser ampliada, anualmente,
regime, não se incorporando aos vencimentos para qual-
de acordo com o grau de complexidade determinado pela
quer efeito.
Secretaria de Educação.
Art. 39. A Secretaria de Educação definirá, para cada
ano letivo, o número de vagas disponíveis para o regime de
CAPÍTULO IV
dedicação exclusiva em cada unidade de ensino.
DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
SEÇÃO XV
Da Remoção Art. 48. A avaliação de desempenho dos profissionais
do magistério, com a finalidade de aprimoramento dos
Art. 40. A remoção dos integrantes do quadro do ma- métodos de gestão, valorização do servidor, melhoria da
gistério processar-se-á por permuta ou por concurso de qualidade e eficiência do serviço público e para fins de evo-
títulos na forma que dispuser o regulamento, considerado lução funcional, integrará o Sistema Municipal de Avaliação
como título o tempo de efetivo exercício no cargo. de Desempenho, sob coordenação da Secretaria Municipal
Art. 41. O edital de abertura do concurso de remoção de Gestão.
será publicado, anualmente, pela Secretaria de Educação,
no Diário Oficial de Santos, com as instruções correspon- CAPÍTULO V
dentes. DA EVOLUÇÃO FUNCIONAL
Art. 42. Os candidatos ao concurso de remoção de- SEÇÃO I
verão requerer sua inscrição dentro do prazo fixado pelo Disposições Gerais
edital de abertura de concurso.
Art. 43. O concurso de remoção deverá preceder o Art. 49. A evolução funcional nos cargos ocorrerá me-
concurso de ingresso e o concurso de promoção, aos quais diante as seguintes formas:
somente serão oferecidas as vagas remanescentes daque- I – promoção;
le, para provimento dos cargos do magistério. II – progressão funcional;
Art. 44. Além das vagas existentes por ocasião da pu-
blicação do edital, serão oferecidas para fins de remoção, SEÇÃO II
as vagas cuja vacância se verificar no prazo estipulado pelo Da Progressão Funcional
edital.
Art. 45. Não serão consideradas vagas, para efeito de Art. 50. Progressão funcional é a passagem de uma
remoção, aquelas cuja vacância ocorrer em unidade de en- referência para outra imediatamente superior, dentro do
sino que exista professor ou especialista de educação con- mesmo nível, mediante classificação no processo de avalia-
siderado excedente ou ex-ofício. ção de desempenho.
§ 1º Haverá excedente ou ex-ofício quando o número Art. 51. Serão asseguradas na previsão orçamentária
de titulares de cargos da carreira do magistério, classifica- de cada exercício recursos suficientes para a progressão
dos na unidade de ensino, for maior que o estabelecido funcional de 35% (trinta e cinco) da totalidade do quadro
pelas normas legais. dos servidores.
61
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
62
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
63
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
64
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Art. 85. Em todos os casos de composição da jornada Art. 91. O enquadramento dos servidores dar-se-á a
na aposentadoria, deverá ser observado o disposto no ar- partir de 1º de junho do corrente ano.
tigo 84 da Lei Complementar nº 592, de 28 de dezembro Art. 92. Encerrado o processo de enquadramento ini-
de 2006. cial dos profissionais do magistério, a mudança de referên-
cia obedecerá aos critérios estabelecidos para progressão
CAPÍTULO XI funcional.
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS
SEÇÃO I SEÇÃO II
Do Enquadramento Inicial Das Disposições Finais
Art. 86. Os atuais cargos do quadro do magistério Art. 93. Os titulares do cargo de professor de educa-
passam a ser denominados conforme disposto na coluna ção física que comprovem o exercício das funções de ma-
“Situação Nova” do anexo I. gistério há mais de 10 (dez) anos na Secretaria de Educação
Parágrafo único. Os cargos serão agrupados em clas- ficarão vinculados ao Estatuto do Magistério, aplicando-se-
ses, conforme disposto no anexo II. -lhes todas as normas relativas aos professores de educa-
Art. 87. O enquadramento dos atuais integrantes do ção básica II.
quadro do magistério dar-se-á de acordo com o nível de Parágrafo único. O professor de educação física fará
vencimento do cargo e a referência constante da tabela de jus às jornadas constantes do anexo V, equiparando-se ao
progressão funcional do anexo VII, considerado o tempo professor de educação básica II, para fins de atribuição de
de efetivo exercício no quadro estatuário, conforme abaixo: aulas.
1. referência I – mais de 3 (três) anos até 6 (seis) Art. 94. Constará do demonstrativo de vencimentos
anos; do profissional do magistério o nível e a referência em que
2. referência II - mais de 6 (seis) anos até 9 (nove) estará enquadrado.
anos; Art. 95. As horas remuneradas como horas-aula livres,
3. referência III - mais de 09 (nove) anos até 12 (doze) tarefa de apoio pedagógico, substituição eventual, regên-
anos; cia de classe em substituição e horas-aula projeto, dedica-
4. referência IV - mais de 12 (doze) anos até 15 (quin- ção exclusiva, somadas à jornada de trabalho não poderão
ze) anos; exceder a 350 (trezentos e cinquenta) horas.
5. referência V - mais de 15 (quinze) anos até 18 (de- Art. 96. Os professores e educadores de desenvolvi-
zoito) anos; mento infantil em efetivo exercício nas unidades de ensino
6. referência VI - mais de 18 (dezoito) anos gozarão férias de acordo com o calendário escolar.
Art. 88. O enquadramento inicial realizado na forma Parágrafo único. No caso de impedimento de gozo
do artigo 87 importará a incorporação das seguintes par- por motivo de afastamentos ou licenças autorizados por
celas remuneratórias que os servidores já vinham receben- lei, as férias deverão ser imediatamente agendadas após o
do ou a que teriam direito na data da publicação desta lei término do afastamento, pela chefia imediata, com anuên-
complementar: cia do titular da Secretaria de Educação.
I - vencimento do cargo; Art. 97. Fica assegurado período de recesso, de acordo
II - gratificação PCCS, instituída pela Lei Complementar com o calendário escolar, ao professor e ao educador de
n° 162, de 12 de abril de 1995; desenvolvimento infantil, que estiverem em efetivo exercí-
III - gratificação “letra de 8 anos”, a que se refere o cio nas unidades de ensino.
artigo 74 da Lei Orgânica do Município. Art. 98. Fica assegurado aos professores adjuntos que
Parágrafo único. Além das verbas referidas nos incisos contarem com um ano, ou mais, de efetivo exercício, gratifi-
I a III, serão consideradas as parcelas remuneratórias refe- cação natalina e férias correspondentes ao valor médio anual
ridas nos artigos 14 e 15, da Lei Complementar n° 162, de das horas pagas a título de substituição eventual ou regência
12 de abril de 1995, no enquadramento dos servidores que de classe em substituição ou tarefa de apoio pedagógico.
não optaram por aquele plano de carreira. Art. 99. Fica assegurada aos professores adjuntos, nos
Art. 89. Caso a soma do vencimento do cargo e a refe- afastamentos ou licenças autorizados por lei, remunera-
rência em que estiver enquadrado resultar em valor inferior ção correspondente ao valor médio anual das horas pagas
à soma das parcelas definidas no artigo 88, o profissional como substituição eventual ou regência de classe em subs-
do magistério perceberá uma vantagem pessoal corres- tituição ou tarefa de apoio pedagógico.
pondente a esta diferença. Art. 100. Nos períodos de recesso escolar fica assegu-
Parágrafo único. A vantagem pessoal prevista no rado aos professores adjuntos, o valor correspondente à
caput será reajustada na mesma data e pelo mesmo índice carga horária assumida no mês imediatamente anterior ao
estabelecido para o reajuste do vencimento dos servidores recesso, a título de regência de classe em substituição ou
municipais. tarefa de apoio pedagógico.
Art. 90. Aplicam-se aos servidores aposentados e pen- Art. 101. Fica garantida a manutenção das atuais lis-
sionistas, com paridade, as regras de enquadramento dos tagens de classificação para efeito de atribuição de aula,
artigos 86 a 89, verificando-se o cargo correspondente nos remoção e fixação de sede aos Professores de Educação
anexos I, II e III. Infantil, Ensino Fundamental I e II e Educação Especial.
65
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Art. 102. O Professor Adjunto de Educação Básica I e o Professor de Educação Básica I portadores de licenciatura
plena na área da Educação serão enquadrados no nível P quando da apresentação de diploma devidamente reconhecido
e registrado no órgão competente.
Art. 103. Os valores da referência funcional constante da tabela de progressão funcional do anexo VII serão reajustados
na mesma data e pelo mesmo índice estabelecido aos servidores municipais.
Art. 104. Aplicam-se aos integrantes do quadro do magistério as disposições previstas no Estatuto dos Servidores
Públicos Municipais de Santos, no que couber.
Art. 105. As despesas decorrentes da presente lei correrão à conta das dotações orçamentárias próprias, consignadas
no orçamento vigente.
Art. 106. Esta lei complementar entra em vigor na data de sua publicação, tendo seus efeitos financeiros a partir de 1º
de junho de 2012, revogando-se as disposições em contrário, em especial a Lei Complementar nº 65, de 20 de outubro de
1992 e alterações posteriores e Lei Complementar nº 428, de 11 de julho de 2001.
Registre-se e publique-se.
Palácio “José Bonifácio”, em 30 de março de 2012.
ANEXO I
DENOMINAÇÃO DOS CARGOS DO MAGISTÉRIO
66
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
ANEXO II
CARGOS DO QUADRO DO MAGISTÉRIO
NÍVEL
DE
DENOMINAÇÃO QTDE CLASSE
VENCIMENTO
Educador de Desenvolvimento
Educador de Desenvolvimento Infantil (EDI) 169 M
Infantil
Professor Adjunto I (PA I) 1125 N Professor
Professor Adjunto II (PA II) 695 P Professor
Professor de Educação Básica I (PEB I) 1220 N Professor
Professor de Educação Básica II (PEB II) 720 P Professor
Especialista de Educação I - Assistente de
94 P Especialista de Educação
Direção (AD)
Especialista de Educação I - Coordenador
107 P Especialista de Educação
Pedagógico (CP)
Especialista de Educação I - Orientador
95 P Especialista de Educação
Educacional (OE)
Especialista de Educação II – Diretor de
88 P Especialista de Educação
Unidade de Ensino (D)
Especialista de Educação III – Supervisor de
30 P Especialista de Educação
Ensino (SE)
ANEXO III
CARGOS DA CARREIRA DO MAGISTÉRIO
67
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
ANEXO IV
DESCRIÇÃO DOS CARGOS DO QUADRO DO MAGISTÉRIO
68
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
ANEXO V
JORNADAS DE TRABALHO DOCENTE
TOTAL
JORNADA HTA HTPC HTI HA TOTAL MENSAL
SEMANAL
I 12 2 1 3 18 90
II 14 2 1 4 21 105
III 14 - 3 4 21 105
IV 20 2 2 6 30 150
V 25 2 3 7 37 185
VI 26 2 4 8 40 200
ANEXO VI
VENCIMENTO
NÍVEL
DO CARGO
M 1.886,42
N 2.048,58
P 2.337,77
69
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Art. 1º Fica alterado o Anexo II da Lei Complementar nº 752, de 30 de março de 2012, que passa a vigorar da seguinte
forma:
ANEXO II
CARGOS DO QUADRO DO MAGISTÉRIO
NÍVEL
DENOMINAÇÃO QTDE DE VENCIMENTO CLASSE
Educador de
Educador de Desenvolvimento Infantil
169 M Desenvolvimento
(EDI)
Infantil
Professor Adjunto I (PA I) 1125 N Professor
Professor Adjunto II (PA II) 695 P Professor
Professor de Educação Básica I (PEB I) 1220 N Professor
Professor de Educação Básica II (PEB II) 720 P Professor
Especialista de Educação I - Assistente Especialista de
94 P
de Direção (AD) Educação
Especialista de Educação I - Especialista de
107 P
Coordenador Pedagógico (CP) Educação
Especialista de Educação I - Orientador Especialista de
95 P
Educacional (OE) Educação
Especialista de Educação II – Diretor de Especialista de
88 P
Unidade de Ensino (D) Educação
Especialista de Educação III – Especialista de
40 P
Supervisor de Ensino (SE) Educação
Art. 2º Fica alterado o Anexo III da Lei Complementar nº 752, de 30 de março de 2012, que passa a vigorar da seguinte
forma:
70
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
ANEXO III
CARGOS DA CARREIRA DO MAGISTÉRIO
NÍVEL
DENOMINAÇÃO QTDE DE VENCIMENTO CLASSE
Professor Adjunto I (PA I) 1125 N Professor
Professor Adjunto II (PA II) 695 P Professor
Professor de Educação Básica I (PEB I) 1220 N Professor
Professor de Educação Básica II (PEB II) 720 P Professor
Especialista de Educação I - Assistente Especialista de
94 P
de Direção (AD) Educação
Especialista de Educação I - Especialista de
107 P
Coordenador Pedagógico (CP) Educação
Especialista de Educação I - Orientador Especialista de
95 P
Educacional (OE) Educação
Especialista de Educação II – Diretor de Especialista de
88 P
Unidade de Ensino (D) Educação
Especialista de Educação III – Especialista de
40 P
Supervisor de Ensino (SE) Educação
Art. 3º As despesas com a execução desta lei complementar correrão pelas dotações orçamentárias próprias, suple-
mentadas se necessário.
Art. 4º Esta lei complementar entra em vigor na data da publicação, com efeitos a partir de 1º de junho de 2012, revo-
gadas as disposições em contrário.
Registre-se e publique-se.
Palácio “José Bonifácio”, em 29 de junho de 2012.
ALTERA DISPOSITIVOS DA LEI COMPLEMENTAR Nº 752, DE 30 DE MARÇO DE 2012, QUE DISPÕE SOBRE O
ESTATUTO E PLANO DE CARGOS, CARREIRA E VENCIMENTOS DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO PÚBLICO
MUNICIPAL DE SANTOS.
71
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
PAULO ALEXANDRE BARBOSA, Prefeito Municipal de escolar, inspeção escolar ou nomenclatura equivalente, e
Santos, faço saber que a Câmara Municipal aprovou em com, no mínimo, 03 (três) anos de efetivo exercício no car-
sessão realizada em 12 de dezembro de 2014 e eu sancio- go de especialista de educação II, no magistério público
no e promulgo a seguinte: municipal de Santos.”.
Art. 1º Os incisos III, VI, VII, VIII, IX, X e XI do artigo Art. 2º O inciso III do artigo 12 da Lei Complementar
6º da Lei Complementar nº 752, de 30 de março de 2012, nº 752, de 30 de março de 2012, passa a vigorar com a
passam a vigorar com a seguinte redação: seguinte redação:
“Art. 6º “Art. 12. [...]
[...] III – professores de educação básica II: atribuídas as
III – professor adjunto II – educação especial: portador jornadas I, II, IV, V ou VI do Anexo V;”.
de diploma de pedagogia, com habilitação específica na
área de atuação ou em nível de pós-graduação na área es- Art. 3º Ficam acrescidos os parágrafos 3º e 4º ao ar-
pecífica de atuação; tigo 12 da Lei Complementar nº 752, de 30 de março de
[...] 2012, com a seguinte redação:
VI – professor de educação básica II – educação espe- “§ 3º O professor de educação básica I e o educador de
cial: portador de diploma de pedagogia, com habilitação desenvolvimento infantil, no momento da fixação de sede,
específica na área de atuação ou em nível de pós-gradua- escolherão período e unidade de ensino.
ção na área específica de atuação, e com, no mínimo, 03
(três) anos de efetivo exercício no cargo de professor ad- § 4º O professor de educação básica II, no momento da
junto II – educação especial, no magistério público muni- fixação de sede, escolherá jornada, período e/ou períodos
cipal de Santos; e unidade de ensino.”.
VII – especialista de educação I – assistente de direção:
portador de diploma de pedagogia, com habilitação em Art. 4º O “caput” do artigo 32 da Lei Complementar
administração escolar ou nomenclatura equivalente, ou em nº 752, de 30 de março de 2012, passa a vigorar com a
nível de pós-graduação em administração escolar ou no- seguinte redação:
menclatura equivalente, e com, no mínimo, 03 (três) anos “Art. 32. Haverá substituição do cargo ou função das
de efetivo exercício no cargo de professor de educação classes de especialistas de educação, quando o titular afas-
básica I ou professor de educação básica II, no magistério tar-se por período superior a 30 (trinta) dias.”.
público municipal de Santos;
VIII – especialista de educação I – coordenador pe- Art. 5º Fica acrescido o parágrafo 4º ao artigo 32 da
dagógico: portador de diploma de pedagogia, com habi- Lei Complementar nº 752, de 30 de março de 2012, com a
litação em administração escolar, orientação educacional, seguinte redação:
supervisão escolar, inspeção escolar ou nomenclatura “§ 4º Ficam asseguradas aos professores de educação
equivalente, ou em nível de pós-graduação em adminis- básica I e II e aos especialistas de educação, gratificação
tração escolar, orientação educacional, supervisão escolar, natalina e férias correspondentes ao valor médio anual do
inspeção escolar ou nomenclatura equivalente, e com, no cargo substituído.”
mínimo, 03 (três) anos de efetivo exercício no cargo de pro-
fessor de educação básica I ou professor de educação bási- Art. 6º O “caput” do artigo 33 da Lei Complementar
ca II, no magistério público municipal de Santos; nº 752, de 30 de março de 2012, passa a vigorar com a
IX – especialista de educação I – orientador educacio- seguinte redação:
nal: portador de diploma de pedagogia, com habilitação “Art. 33. Caberá substituição nos afastamentos de di-
em orientação educacional ou nomenclatura equivalente, retor por especialista de educação I efetivo, quando o pe-
ou em nível de pós-graduação em orientação educacional ríodo for igual ou superior a 10 (dez) dias e igual ou inferior
ou nomenclatura equivalente e com, no mínimo, 03 (três) a 30 (trinta) dias:”
anos de efetivo exercício no cargo de professor de educa-
ção básica I ou professor de educação básica II, no magis- Art. 7º Fica acrescido o parágrafo único ao artigo 33
tério público municipal de Santos; da Lei Complementar nº 752, de 30 de março de 2012, com
X – especialista de educação II – diretor de unidade a seguinte redação:
de ensino: portador de diploma de pedagogia, com habi- “Parágrafo único. Poderão concorrer à substituição
litação em administração escolar ou nomenclatura equi- os especialistas de educação I da unidade de ensino, que
valente, ou em nível de pós-graduação em administração preencherem os requisitos dispostos no artigo 6º, inciso X,
escolar ou nomenclatura equivalente e com, no mínimo, desta lei complementar.”
03 (três) anos de efetivo exercício no cargo de especialista
de educação I, no magistério público municipal de Santos; Art. 8º O artigo 58 da Lei Complementar nº 752, de 30
XI – especialista de educação III – supervisor de ensi- de março de 2012, acrescido de parágrafo único, passa a
no: portador de diploma de pedagogia, com habilitação vigorar com a seguinte redação:
em supervisão escolar, inspeção escolar ou nomenclatura “Art. 58. A promoção obedecerá aos seguintes crité-
equivalente, ou em nível de pós-graduação em supervisão rios:
72
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
I – habilitação exigida para o cargo; Art. 14. Esta lei complementar entra em vigor na data
II – provas de aferição de conhecimentos de caráter da publicação.
classificatório;
III – interstício de 03 (três) anos de efetivo exercício no Registre-se e publique-se.
cargo, até o início do período das inscrições para o proces- Palácio “José Bonifácio”, em 13 de janeiro de 2015.
so de promoção.
Parágrafo único. Na promoção para professor de PAULO ALEXANDRE BARBOSA
educação básica I e II, não se aplica o disposto no inciso II Prefeito Municipal
deste artigo.”
Registrada no livro competente.
Art. 9º O artigo 59 da Lei Complementar nº 752, de 30 Departamento de Registro de Atos Oficiais do Gabine-
de março de 2012, passa a vigorar com a seguinte redação: te do Prefeito Municipal, em 13 de janeiro de 2015.
“Art. 59. O concurso de promoção, após a sua homo-
logação, terá validade de um ano, podendo ser prorrogado SYLVIO ALARCON ESTRADA JUNIOR
por igual período.” Chefe do Departamento
73
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
74
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Art. 12. Cada segmento representado no Conselho de Art. 20. As reuniões serão realizadas em primeira con-
Escola elegerá sempre, concomitantemente com os Con- vocação com a presença da maioria simples dos membros
selheiros efetivos, igual número de suplentes, que substi- do Conselho ou em segunda convocação, 30 (trinta) minu-
tuirão os primeiros, automaticamente, em suas ausências e tos após, com qualquer quorum.
impedimentos. Art. 21. As deliberações do Conselho de Escola deve-
Art. 13. Deixará de pertencer ao Conselho de Escola o rão ir a voto, desde que estejam presentes a maioria sim-
conselheiro que perder seu vínculo com a unidade e com a ples dos conselheiros.
comunidade sendo substituído, automaticamente, por seu § 1.º Cada conselheiro terá direito a um voto.
suplente já eleito. § 2.º Em caso de empate em alguma votação, cabe ao
Parágrafo único. Em caso de um segmento não ter Diretor de Escola exercer o voto de desempate.
mais representantes efetivos ou suplentes pelo motivo Art. 22. Poderão ser convidados os membros da comu-
estabelecido no caput deste artigo ou por desistência ex- nidade, representantes de organismos da área de abran-
plícita, nova eleição deverá ser providenciada, sem a qual gência ou não, para ajudar nas reflexões dos conselheiros,
nenhuma reunião ordinária ou extraordinária do Conselho sempre que algum assunto da pauta o permita.
de Escola terá validade.
CAPÍTULO V
CAPÍTULO IV DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
DAS REUNIÕES ORDINÁRIAS E EXTRAORDINÁRIAS
Art. 23. A existência e o funcionamento regular do
Art. 14. As reuniões ordinárias do Conselho de Escola Conselho de Escola são, em última instância, de competên-
terão periodicidade bimestral, com calendário anual de re- cia do Diretor de Escola.
uniões marcado antecipadamente no ato da posse. Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publi-
Art. 15. Os representantes dos alunos terão sempre cação.
direito a voz e voto, salvo nos assuntos que, por força legal, Art. 25. Revogam-se as disposições da Lei n.º 670, de
02 de julho de 1990.
sejam restritos aos que estiverem no gozo da capacidade
civil.
Registre-se e publique-se.
Art. 16. Os conselheiros suplentes poderão participar
Palácio “José Bonifácio”, em 27 de novembro de 2009.
de todas as reuniões com direito a voz e sem direito a voto,
salvo quando estiverem substituindo conselheiro efetivo.
JOÃO PAULO TAVARES PAPA
Art. 17. O Conselho de Escola poderá se reunir a qual-
Prefeito Municipal
quer tempo, em caráter extraordinário, mediante convoca-
ção por escrito:
Registrada no livro competente.
I - do Diretor de Escola; Departamento de Registro de Atos Oficiais da Secre-
II - de 1/3 (um terço) dos conselheiros efetivos, em re- taria Municipal de Assuntos Jurídicos, em 27 de novembro
querimento dirigido ao Presidente, especificando o motivo de 2009.
da convocação.
§ 1.º A convocação por escrito, de que trata este artigo, CLAUDIA REGINA MEHLER DE BARROS
deverá chegar individualmente a cada conselheiro efetivo Chefe do Departamento
ou suplente, no mínimo em 72 (setenta e duas) horas antes
da reunião.
§ 2.º A reunião extraordinária do Conselho de Escola
far-se-á sempre segundo a pauta para a qual a mesma foi
convocada, com ciência antecipada dos conselheiros. LEI Nº 3.151, DE 23 DE JUNHO DE 2015 –
§ 3.º As reuniões extraordinárias só poderão ser con- ALTERA O ANEXO ÚNICO DA LEI Nº 2.681,
vocadas para horário idêntico ao estabelecido para as or- DE 13 DE JANEIRO DE 2010, QUE APROVA
dinárias. O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
Art. 18. O conselheiro efetivo que faltar a duas reu- (PUBLICADA NO D.O.S. DE 24/06/15, ÀS
niões sucessivas, sem justificativa por escrito, deverá ser PÁGINAS D1, D2, D3, D4, D5, D6, D7 E D8).
substituído por seu suplente, mediante exoneração e con-
vocação por escrito do Diretor de Escola.
Art. 19. As reuniões do Conselho de Escola deverão
ter sempre sua pauta aprovada no início da mesma e suas LEI Nº 3.151 DE 23 DE JUNHO DE 2015
deliberações deverão constar de ata lavrada em livro pró-
prio para esse fim e rubricadas por todos os conselheiros ALTERA O ANEXO ÚNICO DA LEI Nº 2.681, DE 13 DE
presentes. JANEIRO DE 2010, QUE APROVA O PLANO MUNICIPAL
Parágrafo único. As atas deverão ser sempre divul- DE EDUCAÇÃO.
gadas à comunidade escolar e com cópia afixada em local
visível ao público externo.
75
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
76
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
3. nas redes públicas estaduais e municipais não devem ser prejudicadas a oferta e a qualidade da Educação Infantil,
preservando-se sua identidade pedagógica;
4. os sistemas de ensino e as escolas deverão compatibilizar a nova situação de oferta e duração do Ensino Fundamen-
tal a uma proposta pedagógica apropriada à faixa etária dos 6 (seis) anos, especialmente em termos de recursos humanos,
organização do tempo e do espaço escolar, considerando, igualmente, materiais didáticos, mobiliário e equipamentos, bem
como os reflexos dessa proposta pedagógica em políticas implementadas pelo próprio Ministério da Educação como, por
exemplo, na distribuição de livros didáticos;
5. os sistemas de ensino deverão fixar as condições para a matrícula de crianças de 6 (seis) anos no Ensino Fundamental
quanto à idade cronológica: que tenham 6 (seis) anos completos ou que venham a completar seis anos no início do ano
letivo;
6.para a avaliação da Educação Básica, em que certamente ocorrerão impactos, devem ser discutidas as decisões de
adequação, uma vez que, atualmente, o SAEB promove a avaliação coletando dados e estimando as proficiências na 4ª
e 8ª séries do Ensino Fundamental e na 3ª série do Ensino Médio, ou seja, aos quatro, oito e onze anos de escolarização;
haverá necessidade de se adotar uma readequação contábil para o censo escolar, pois, transitoriamente, subsistirão dois
modelos – Ensino Fundamental com a duração de 8 (oito) anos e com a duração de 9 (nove) anos, para o qual deverá ser
adotada uma nova nomenclatura geral, sem prejuízo do que dispõe o Art. 23 da LDB, considerado o consequente impacto
na Educação Infantil, a saber:
7. os princípios enumerados aplicam-se às escolas criadas e mantidas pela iniciativa privada, que são livres para organi-
zar o Ensino Fundamental que oferecem mas, com obediência às normas fixadas pelo sistema de ensino a que pertencem.
(sic)”
A forma de organização, acima descrita, no caso de Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, foi indicada na Resolução
CNE/CEB nº 3, de 3 de agosto de 2005.
Em que pese os dispositivos legais e suas alterações, podemos verificar no quadro a seguir, o qual estabelece o con-
fronto entre a LDBEN nº 9.394/1996 , a Lei nº 11.114/2005, que dá nova redação aos artigos 6º, 30, 32 e 87 e a Constituição
Federal, o disposto nas legislações que não receberam nova redação e aqueles ainda em vigor sobre o tema – idade própria
para a escolarização obrigatória.
77
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
A legislação em vigência, LDBN nº 9.394/1996 alterada pela Lei Federal nº 11.114/05 vem fundamentar as Propostas
Pedagógicas que, em consonância com a Lei Federal nº 10.172/2001 que aprova o Plano Nacional de Educação, têm como
objetivos a elevação do nível de escolaridade da população e a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante
ao acesso e à permanência, com sucesso, na escola pública.
Assim, far-se-á necessário que estudos temáticos quanto à forma de abordagem dos conteúdos curriculares, elementos
fundamentais ao desenvolvimento pessoal e sociocultural dos alunos de seis anos, visto que envolvem conceitos, procedi-
mentos dos diferentes campos do conhecimento, capacidades cognitivas e sociais básicas que sejam adequadas ao ritmo
do desenvolvimento humano da criança nessa idade.
Quer inseridas no Ensino Fundamental ou na Educação Infantil, as abordagens dos temas são coerentes com a realida-
de e requerem forma significativa e contextualizada. A aprendizagem significativa requer intensa atividade e envolvimento
da criança em qualquer etapa da educação básica e em qualquer idade.
Há preocupação em respeitar conceitos e experiências anteriores na construção de novos conhecimentos. Dessa forma,
a Proposta Pedagógica da educação básica deve observar, entre outras:
- atividades significativas adequadas ao ritmo do desenvolvimento humano das diferentes idades;
- vivências de experiências significativas e prazerosas;
- oportunidade de socialização com seus pares e profissionais da escola;
78
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
- motivação e inserção na cultura escolar, no mundo A proposta da Lei do Ensino Fundamental de 9 anos
da escrita e da leitura, mesmo antes do início do processo deve estar atrelada ao atendimento qualitativo do aluno.
de alfabetização; Sendo assim, é importante adequar os espaços das UMEs
- estabelecimento das bases da personalidade huma- considerando- se as necessidades e especificidades das di-
na, da inteligência, da vida emocional, da socialização. ferentes faixas etárias, adequando e adaptando ambientes,
O espaço aberto pelas normas vigentes permite que as salas e oferecendo nesses locais de ensino-aprendizagem
Unidades de Ensino, públicas ou privadas, usem do princí- o que é vital para o desenvolvimento íntegro e integral dos
pio da autonomia que lhes foi conferida e construam, com educandos.
criatividade e compromisso, uma Proposta Educacional b) Equivalência:
adequada à criança a partir de seis anos, que poderá iniciar Considerando-se a proposta da Secretaria Municipal
seu percurso escolar durante o mínimo de oito anos no de Educação de Santos, diante da Lei 11.114/2005 é ne-
Ensino Fundamental na rede privada de ensino e/ou nove cessário haver critérios de equivalência entre a rede mu-
anos no Ensino Fundamental na rede pública. nicipal de ensino e as demais redes (estadual e privada),
diante da possibilidade de transferências e as denomina-
3- A Educação Infantil, o Ensino Fundamental e as ções diferenciadas de série, ciclo, ano, etapa, entre outros,
Políticas Públicas que precisam ser equiparadas para atender ao aluno na
Sugere-se como denominação genérica: adequação dos conhecimentos que já domina, ou não, e
UNIDADE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO (+ nome pa- direcionando-o ao momento correspondente do processo
tronímico) para: de ensino-aprendizagem.
- Escolas de ensino fundamental
- Escola de ensino médio/profissional II – Conclusão
- Escolas de educação infantil Isto posto, o que este Conselho espera é que haja, por
- Escola de educação especial parte da Secretaria Municipal de Educação, soluções bem
- Creches planejadas e discutidas pela equipe de trabalho e supervi-
sores de ensino, de modo que o objetivo seja o sucesso do
Dessa forma, estaremos em coerência com a nova no- ensino fundamental, tendo em vista a grande responsabi-
menclatura proposta na Reforma Administrativa Municipal, lidade coletiva que se coloca para a consolidação de um
ainda em processo de votação na Câmara Municipal de ensino fundamental de qualidade.
Santos, e, assim, haverá o atendimento em uma dimensão Com base nestes pressupostos, propomos a aprovação
mais abrangente, sem fragmentação entre os diversos ní- deste parecer e projeto de deliberação anexo.
veis e modalidades de ensino, buscando trabalhar a conti- Responda-se à Secretaria Municipal de Educação, nos
nuidade do processo ensino-aprendizagem sem rupturas, termos deste Parecer.
discriminação e favorecendo o envio de recursos financia-
dores da educação. DELIBERAÇÃO PLENÁRIA
O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO aprova, por
4- Os Profissionais e sua Formação unanimidade, os termos deste Parecer e Deliberação.
Para garantir a operacionalização do Ensino Funda- Santos, 19 de setembro de 2005.
mental de nove anos, a formação dos educadores que irão
atuar junto a essas crianças se faz extremamente relevante. Profa. EVA CRISTINA DE CARVALHO SOUZA MEN-
Os referidos professores deverão ser habilitados con- DES
forme legislação vigente e atender aos critérios estabele- Conselheira Presidente do Conselho Municipal de
cidos pela Secretaria Municipal de Educação para o traba- Educação
lho com as crianças de 6 anos. Dessa forma, deverá haver Parecer 02/2005-CME-Santos em 19/09/2005, publica-
preocupação com os fundamentos teóricos a respeito da do em DOS em / / 2005
utilização das múltiplas linguagens, da concepção do en-
sino da língua e das especificidades que se apresentam,
considerando os pressupostos teóricos contemporâneos.
Consideramos ser importante apresentar linhas de tra-
balho para a formação:
a) compreensão e valorização da cultura escrita;
b) apropriação do sistema de escrita;
c) leitura;
d) produção de textos escritos;
e) desenvolvimento da oralidade;
f) o aspecto lúdico como facilitador da aprendizagem.
79
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
80
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
Art. 3º - O 1º (primeiro) ano do Ensino Fundamental de nove anos deverá ser estruturado de forma lúdica, respeitan-
do-se o desenvolvimento biopsicossocial da criança nesta faixa etária, sua unidade e sua lógica, subsidiando o processo de
letramento.
Art. 4º - Durante o período de implementação do Ensino Fundamental de 9 anos, os Planos Curriculares serão adequa-
dos e ajustados em estudos de equiparação, inclusive da nomenclatura (série/ano), atendendo às especificidades do Ensino
Fundamental de 8 anos e o Ensino Fundamental de 9 anos (nove) de escolaridade
Parágrafo Único - A organização do Ensino Fundamental dar-se-á da seguinte conformidade e correspondência ade-
quada:
Art. 5º - Na fase de implementação e transição, a transferência de alunos entre escolas com cursos de Ensino Funda-
mental organizadas sob critérios diferentes, far-se-á baseada na aplicação de correspondência existente entre a idade do
aluno, a série ou o ano cursado e o ano ou a série a ser cursada.
Art. 6º - A adoção do mecanismo de reclassificação, quando aplicada no processo de transferência de alunos de cursos
de Ensino Fundamental estruturados em oito séries ou em nove anos, não pode ser realizada com o propósito de se obter
avanço ou retrocesso, mas entre projetos educacionais diferentes.
Parágrafo Único - Terão possibilidade de acesso ao Ensino Fundamental, crianças a partir de 6 anos, observando-se a
idade mínima de 14 anos completos para a conclusão deste nível de ensino.
Art. 7º - As unidades de Educação Infantil estão qualificadas a prestar serviço educacional às crianças de 0 a 6 anos, de
acordo com a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente.
Art. 8º – As crianças que estejam matriculadas no 1º ano e que apresentem seu processo de letramento devidamente
comprovado por avaliação da aprendizagem em sua função diagnóstica, realizada nos primeiros quinze dias letivos do
1º bimestre em curso, feita pela Unidade Municipal de Educação e acompanhada pela Supervisão de Ensino, poderão ser
reclassificadas para o 2º ano do Ensino Fundamental do regime de nove anos.
Art. 9º - Na fase de implementação e transição, a Educação Infantil, poderá atender a crianças de até 6 anos em classes
denominadas Infantil VI, observando-se as características da faixa etária, as especificidades do processo ensino-aprendiza-
gem e o melhor atendimento a ser oferecido às crianças.
Art. 10º - Esta Deliberação entrará em vigor na data de sua publicação, permanecendo o estabelecido na Deliberação
CME nº004/2005 e alterações dispostas pela Deliberação CME nº001/2006.
81
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, no uso de Profª. Ms. EVA CRISTINA DE CARVALHO SOUZA
suas atribuições legais em conformidade com o disposto MENDES
no artigo 1º da Lei nº 1825/1999,
CONSIDERANDO:
• A necessidade de revisão e adequação do corte de DELIBERAÇÃO CME Nº 002/2010 - DISPÕE
idade para o ingresso no Ensino Fundamental de 09 anos, SOBRE PEDIDOS DE RECONSIDERAÇÃO E
o qual se encontra em processo de implementação; RECURSOS REFERENTES AOS RESULTADOS
• A matrícula no Ensino Fundamental de 09 anos só FINAIS DE AVALIAÇÃO. PUBLICADA NO
pode ocorrer quando a criança tiver 06 anos completos ou DIÁRIO OFICIAL DO MUNICÍPIO DE SANTOS
a completar até o início do ano letivo;
EM 25/05/2010.
• Que as crianças que irão completar 06 anos depois
de iniciado o ano letivo, devem continuar frequentando a
pré-escola para que não ocorra uma indesejável desconti-
nuidade de atendimento e desenvolvimento;
DELIBERAÇÃO CME Nº 002/2010, de 17 de maio de
• A pré-escola é o espaço apropriado para criança com
2010
04 e 05 anos de idade e também para aquelas que comple-
tarão 06 anos posteriormente à idade cronológica fixada
Dispõe sobre pedidos de reconsideração e recursos
para a matrícula no Ensino Fundamental;
referentes aos resultados finais de avaliação de alunos do
Dá nova redação aos arts. 1º, 6º, 7º, 9º e 10 da Deli-
Sistema Municipal de Educação (do Ensino Fundamental e
beração CME nº 004/2006 A Deliberação CME nº 004/06 Educação Profissional) do Município de Santos.
passa a vigorar com as seguintes alterações: O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, no uso de
Art. 1º - ———————————————————— suas atribuições legais em conformidade com a Lei nº1825/
———————————————— 1999,
———————————————:
I- Educação Infantil: atende à população de 0 (zero) a DELIBERA:
5 (cinco) anos ; Artigo 1º O resultado final da avaliação feita duran-
II- Ensino Fundamental: atende à população a partir te o ano letivo pela Escola, de acordo com seu regimen-
dos 6 (seis) anos completos ou a completar até o último to, deve refletir o desempenho global do aluno durante o
dia do mês de início do ano letivo, sendo de 5 (cinco) anos período letivo, no conjunto dos componentes curriculares
a duração dos anos iniciais e de 4 (quatro) anos a duração cursados, com preponderância dos aspectos qualitativos
dos anos finais. sobre os quantitativos e dos resultados obtidos durante o
Art. 6º - ———————————————————— período letivo, considerando as características individuais
———————————————— do aluno e indicando sua possibilidade de prosseguimento
——————————————————: de estudos.
Parágrafo Único - Terão possibilidade de acesso ao § 1º Nos termos regimentais, o resultado final da avalia-
Ensino Fundamental, crianças com 06 anos completos ou a ção de que trata o “caput” deste artigo será registrado em
completar até o último dia do mês de início do ano letivo, documento escolar próprio, afixado em data e local previa-
observando-se a idade mínima de 14 anos completos para mente comunicados aos alunos e seus responsáveis legais,
a conclusão deste nível de ensino. ou entregue aos mesmos mediante ciência inequívoca.
82
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
§ 2º Após cada avaliação periódica, o professor res- § 3º Não havendo na UME procedimentos que garan-
ponsável registrará em ficha individual, de conteúdo equi- tam ao discente o cumprimento do prazo previsto no pa-
valente ao do modelo anexo, as dificuldades observadas rágrafo anterior, o pedido de reconsideração poderá ser
de aprendizagem bem como as recomendações aos pró- entregue até o 5o. dia do mês em que se inicia o período
prios alunos, aos pais e outras providências a serem to- letivo subsequente.
madas. § 4º A comunicação da decisão sobre o pedido de
§ 3º É obrigatório o registro das observações mencio- reconsideração, ao discente ou ao seu responsável legal,
nadas no parágrafo anterior, no caso de alunos com nota deverá ser feita até o 5o. dia subsequente à interposição
abaixo da média (inferior 6,0) e, nos demais casos, ficará a do pedido, mediante termo de ciência assinado pelo res-
juízo do gestor, ouvido o órgão próprio. ponsável.
§ 4º No caso de eventual recurso quanto ao resultado § 5º Na impossibilidade de reunião, por força de re-
final da avaliação, as fichas individuais das avaliações pe- cesso escolar ou férias, no final do período letivo, do co-
riódicas constituem documentos indispensáveis para deci- legiado referido no “caput” deste artigo, o mesmo deverá
são do recurso pela autoridade responsável. reunir-se até o 5o. dia do ano letivo subsequente.
Artigo 2º No início e ao final de cada ano letivo, a Artigo 6º Da decisão da Direção da UME caberá re-
UME comunicará aos alunos e seus responsáveis legais o curso do aluno ou, do seu responsável legal, dirigido ao
Calendário Escolar com informações sobre o direito de pe- Secretário de Educação, mediante petição escrita e funda-
dido de reconsideração ou recurso, nos termos do dispos- mentada que será protocolizada na Unidade Municipal de
to nos artigos 5º e 6º desta Deliberação, incluindo prazos Educação.
e procedimentos. § 1º O expediente deverá ser instruído com cópia do
Artigo 3º Divulgados os resultados das avaliações, processo de que trata do pedido de reconsideração, con-
competirá à Supervisão de Ensino, em conformidade com tendo os fundamentos da decisão adotada pelo colegiado
a ação supervisora pertinente à avaliação realizada duran- competente, à vista dos documentos referidos no artigo 1º
te o ano letivo, verificar a inobservância, total ou parcial, e parágrafos.
§ 2º O expediente será ainda instruído com relatório
do disposto nos artigos 1o. e 2o. desta Deliberação, caso
elaborado pela Supervisão de Ensino da UME.
em que indicará à Direção da Escola os procedimentos ne-
§ 3º O recurso ao Secretário de Educação deverá ser
cessários, registrando-os em Termo de Visita.
protocolizado na UME até o 3o dia subsequente ao conhe-
Parágrafo único Esgotadas todas as possibilidades
cimento inequívoco pelo interessado da decisão da Dire-
de solução na própria Escola, quanto à inobservância do
ção da Escola.
disposto nos artigos 1o. e 2o. desta Deliberação, a Super-
§ 4º O expediente, instruído nos termos dos parágrafos
visão de Ensino representará o Secretário de Educação que
1o. e 2o. deste artigo, deverá ser encaminhado pela UME à
decidirá a respeito no prazo de 10 (dez) dias, em processo
SEDUC, até o 5o dia subsequente ao protocolo do recurso.
apropriado a ser instaurado até o 3o. dia subsequente ao Artigo 7º O Secretário de Educação emitirá sua de-
recebimento da representação, ouvida a Direção da UME. cisão de mérito sobre o recurso interposto, até o 10º dia
Artigo 4º No caso de não cumprimento dos artigos 1º subsequente ao seu recebimento, após o pronunciamento
e 2º desta Deliberação, caberá pedido de reconsideração, de uma Comissão de, no mínimo, 03 (três) Supervisores de
dirigido ao Diretor da UME e posterior recurso, dirigido ao Ensino, um dos quais o Supervisor de Ensino da respecti-
Secretário de Educação ou, quando for o caso, ao órgão va UME, só se justificando a substituição deste último por
equivalente de Supervisão de Ensino, a Coordenadoria afastamento de suas atividades profissionais.
de Supervisão das Unidades Escolares, sendo legitimados § 1º O relatório da Comissão de Supervisores deverá
como recorrentes o discente, ou seu responsável legal. levar em consideração, no mínimo, os seguintes documen-
Artigo 5º Em caso de pedido de reconsideração, a Di- tos abaixo que, se requisitados por ela, deverão ser envia-
reção da UME decidirá sobre o mesmo, ouvido o órgão dos à Secretaria de Educação em sua forma original ou sob
colegiado que tenha regimentalmente essa atribuição ou, a forma de cópias reprográficas devidamente autenticadas
na falta deste, colegiado nomeado “ad hoc” pela direção, pela Unidade Escolar:
constituído por todos os professores do aluno e integran- 2. Relatório da Supervisão de Ensino da UME sobre a
tes da Equipe Técnica. situação (baseado nos termos de visita) quanto aos aspec-
§ 1º A ausência de professores do discente requerente tos administrativos e pedagógicos que envolvam a análise
no colegiado de que trata o “caput” deste artigo apenas e a avaliação dos seguintes documentos:
se justificará em caso de afastamento das respectivas fun- - planos de ensino do componente curricular objeto
ções. Ocorrendo a hipótese de estarem afastados mais de da retenção;
50% (cinquenta por cento) dos professores do aluno re- - projetos de avaliação e descrição dos seus instru-
querente, a constituição do colegiado será definida pela mentos, com indicação dos critérios utilizados;
Direção da UME, ouvida a Supervisão de Ensino. - projetos de recuperação e relatório de seu proces-
§ 2º O pedido de reconsideração, dirigido à Direção so de realização;
da UME, deverá ser interposto até o 5º dia subsequente à - ficha individual de avaliação periódica do aluno
data de afixação ou ciência inequívoca prevista no § 1º do prevista no parágrafo 2º do artigo 1º ;
artigo 1o. - histórico escolar do aluno;
83
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
- diários de classe;
- atas do Conselho de Classe em que se analisou o DELIBERAÇÃO CME Nº 004/2011-
desempenho discente no decurso e ao final do ano letivo. ADEQUAÇÃO DE NOMENCLATURA E DE
3. Análise do expediente que trata de pedido de re- PROPORÇÃO ADULTO/CRIANÇA DO NÍVEL
consideração informado pela UME.
DE ENSINO EDUCAÇÃO INFANTIL OFERECIDO
§ 2º A UME comunicará ao interessado a decisão do
PELA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE
recurso, mediante termo de conhecimento inequívoco, até
o 5º dia subsequente ao seu recebimento, devolvendo o SANTOS. PUBLICADO NO DIÁRIO OFICIAL DO
expediente de imediato à Secretaria de Educação. MUNICÍPIO DE SANTOS EM 25/11/2011.
Artigo 8º As decisões da UME e do Supervisor deverão
apontar claramente e por escrito, os aspectos que as fun-
damentam e levar em consideração, necessariamente, ao
menos um dos seguintes aspectos: DELIBERAÇÃO CME Nº 004/2011, de 21 de novem-
a) evidência da falta de procedimentos pedagógicos bro de 2011.
previstos no Regimento Escolar ou Plano Escolar/ Proposta
Pedagógica, especialmente os de reforço e recuperação, ao Adequação de nomenclatura e de proporção
longo do ano letivo, visando à superação das dificuldades adulto/criança do nível de ensino Educação Infantil
de aproveitamento demonstradas pelo aluno; oferecido pela Rede Municipal de Educação de San-
a) atitudes de alijamento perpetradas; tos
b) inobservância das normas regimentais das UMEs
do Município de Santos e ao disposto na Lei de Diretrizes O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, no uso de
e Bases da Educação Nacional, em especial as referentes a suas atribuições legais em conformidade com disposto no
avaliação, recuperação e promoção; artigo 1º da Lei 1825/1999,
c) inobservância de outras normas e leis aplicáveis.
Artigo 9º Da decisão do Secretário de Educação, ca- CONSIDERANDO:
berá recurso especial ao Conselho Municipal de Educação, . a nomenclatura do Sistema PRODESP (Processamen-
que poderá ser interposto mediante petição protocolizada to de Dados do Estado de São Paulo);
na Escola ou no . os princípios contidos nos Parâmetros de quali-
Protocolo da Secretaria de Educação, instruída com o dade da Educação Infantil do Ministério da Educação
expediente respectivo. (MEC/2008);
Parágrafo único Recebido o recurso especial pela . as determinações contidas nas Resoluções SE 55 de
UME, esta o enviará até o 2º dia subsequente à Secretaria 16/08/2011 e CNE/CEB nº 7 de 14/12/2010.
de Educação que, em igual prazo, providenciará sua remes-
sa ao Conselho Municipal de Educação, para apreciação e DELIBERA
julgamento, de todos os recursos que receba. Art. 1º A Educação Infantil será organizada em faixas
Artigo 10 Protocolizado no Conselho Municipal de etárias, as quais serão denominadas:
Educação, o recurso especial será apreciado, em caráter I – Berçário I (entrada de alunos de 4 a 11 meses);
prioritário, observadas as normas regimentais para apre- II – Berçário II (entrada de alunos de 1 ano a 1 ano e
ciação e julgamento. 11 meses);
Artigo 11 A inobservância dos prazos estabelecidos III – Maternal I (entrada de alunos de 2 anos a 2 anos
nesta Deliberação acarretará, para o interessado, o indefe- e 11 meses);
rimento do seu pedido e, quanto aos órgãos educacionais, IV – Maternal II (entrada de alunos de 3 anos a 3 anos
a apuração de responsabilidade das autoridades envolvi- e 11 meses);
das. V – Jardim – (entrada de alunos de 4 anos a 4 anos e
Artigo 12 A documentação do pedido de reconside- 11 meses);
ração ficará arquivada na UME e a do recurso na Secretaria VI – Pré-Escola – (entrada de alunos de 5 anos a 5
de Educação, devendo constar do prontuário do aluno có- anos e 11 meses).
pias de todas as decisões exaradas. Art. 2º - A Educação Infantil funcionará com a seguin-
Artigo 13 Os recursos previstos nesta Deliberação não te proporção:
têm efeito suspensivo.
I – Berçário I – 1 educador/professor para cada 5 alunos;
Artigo 14 – Esta Deliberação entrará em vigor na data
II – Berçário II – 1 educador/professor para cada 7 alu-
de sua publicação.
nos;
III – Maternal I – 1 educador/professor para cada 8 alu-
nos;
IV – Maternal II – 1 professor para cada 15 alunos;
V – Jardim – 1 professor para cada 20 alunos;
VI – Pré-Escola – 1 professor para cada 20 alunos.
84
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
85
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL
ANOTAÇÕES
__________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
86
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação
inclusiva...............................................................................................................................................................................................................01
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
1
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90, o atendimento às necessidades educacionais especiais dos
artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados, ao de- alunos, aponta um déficit referente à oferta de matrículas para
terminar que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de alunos com deficiência nas classes comuns do ensino regular,
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento
Também, nessa década, documentos como a Declaração educacional especializado. A Convenção da Guatemala (1999),
Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que
Salamanca (1994), passam a influenciar a formulação das po- as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos
líticas públicas da educação inclusiva. e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo
Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação como discriminação com base na deficiência, toda diferencia-
Especial, orientando o processo de ‘integração instrucional’ ção ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos
que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Esse De-
àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e de- creto tem importante repercussão na educação, exigindo uma
senvolver as atividades curriculares programadas do ensino reinterpretação da educação especial, compreendida no con-
comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”. texto da diferenciação adotada para promover a eliminação
(p.19). Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir das barreiras que impedem o acesso à escolarização.
de padrões homogêneos de participação e aprendizagem, Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP
a Política não provoca uma reformulação das práticas edu- nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
cacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes para a Formação de Professores da Educação Básica, define que
potenciais de aprendizagem no ensino comum, mantendo a as instituições de ensino superior devem prever em sua orga-
responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente nização curricular formação docente voltada para a atenção à
no âmbito da educação especial. diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especi-
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - ficidades dos alunos com necessidades educacionais especiais.
Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Si-
ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, re- nais como meio legal de comunicação e expressão, deter-
cursos e organização específicos para atender às suas neces- minando que sejam garantidas formas institucionalizadas de
sidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina
atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino funda- de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de
mental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de es- formação de professores e de fonoaudiologia.
tudos aos superdotados para conclusão do programa esco- A Portaria nº 2.678/02 aprova diretriz e normas para o
lar. Também define, dentre as normas para a organização da uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em
educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto
séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a recomendação
e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas para o seu uso em todo o território nacional.
as características do alunado, seus interesses, condições de Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa Edu-
vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). cação Inclusiva: direito à diversidade, visando transformar os
Em 1999, o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, que
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integra- promove um amplo processo de formação de gestores e edu-
ção da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação cadores nos municípios brasileiros para a garantia do direito de
especial como uma modalidade transversal a todos os níveis acesso de todos à escolarização, a organização do atendimento
e modalidades de ensino, enfatizando a atuação comple- educacional especializado e a promoção da acessibilidade.
mentar da educação especial ao ensino regular. Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o docu-
Acompanhando o processo de mudanças, as Diretrizes mento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Clas-
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Re- ses Comuns da Rede Regular, com o objetivo de disseminar os
solução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que: conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alu- o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e
nos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular.
aos educandos com necessidades educacionais especiais, as- Impulsionando a inclusão educacional e social, o De-
segurando as condições necessárias para uma educação de creto nº 5.296/04 regulamentou as leis nº 10.048/00 e nº
qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001). 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promo-
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial ção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mo-
para realizar o atendimento educacional especializado com- bilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessí-
plementar ou suplementar a escolarização, porém, ao admitir vel é implementado com o objetivo de promover e apoiar
a possibilidade de substituir o ensino regular, não potencia- o desenvolvimento de ações que garantam a acessibilidade.
liza a adoção de uma política de educação inclusiva na rede O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
pública de ensino prevista no seu artigo 2º. 10.436/2002, visando a inclusão dos alunos surdos, dispõe
O Plano Nacional de Educação - PNE, Lei nº 10.172/2001, sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a for-
destaca que “o grande avanço que a década da educação de- mação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/
veria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como
garanta o atendimento à diversidade humana”. Ao estabelecer segunda língua para alunos surdos e a organização da edu-
objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam cação bilíngüe no ensino regular.
2
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividade das Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os
estados e no Distrito Federal, são formados centros de referência para o atendimento educacional especializado aos alunos
com altas habilidades/superdotação, a orientação às famílias e a formação continuada aos professores. Nacionalmente, são
disseminados referenciais e orientações para organização da política de educação inclusiva nesta área, de forma a garantir
esse atendimento aos alunos da rede pública de ensino.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário,
estabelece que os Estados Parte devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambien-
tes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta de inclusão plena, adotando medidas para
garantir que:
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças
com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de
condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem (Art.24).
Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO lançam
o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações, fomentar, no currículo da educação
básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso
e permanência na educação superior.
Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento - PAC, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação
– PDE, reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo como eixos a acessibilidade arquitetônica
dos prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a formação docente para o atendimento educacional especializado.
No documento Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas, publicado pelo Ministério da Edu-
cação, é reafirmada a visão sistêmica da educação que busca superar a oposição entre educação regular e educação especial.
Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e modalidades
de ensino, a educação não se estruturou na perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades educacionais especiais,
limitando, o cumprimento do princípio constitucional que prevê a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola
e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino (2007, p. 09).
O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e
permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão
educacional nas escolas públicas.
3
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
Quanto à distribuição das matrículas nas esferas pública e privada, em 1998, registra-se 157.962 (46,8%) alunos com neces-
sidades educacionais especiais nas escolas privadas, principalmente em instituições especializadas filantrópicas. Com o desen-
volvimento de políticas de educação inclusiva, evidencia-se um crescimento de 146% das matrículas nas escolas públicas, que
passaram de 179.364 (53,2%) em 1998, para 441.155 (63%) em 2006, conforme demonstra o gráfico a seguir:
Com relação à distribuição das matrículas por etapa e nível de ensino, em 2006: 112.988 (16%) são na educação infantil,
466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150
(2%) no ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e adultos, 46.949 (6,7%) na educação profissional (básico) e
1.962 (0,28%) na educação profissional (técnico).
No âmbito da educação infantil, as matrículas concentram-se nas escolas/classes especiais que registram 89.083 alunos, en-
quanto apenas 24.005 estão matriculados em turmas comuns, contrariando os estudos nesta área que afirmam os benefícios da
convivência e aprendizagem entre crianças com e sem deficiência desde os primeiros anos de vida para o seu desenvolvimento.
O Censo das matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na educação superior registra que, entre 2003
e 2005, o número de alunos passou de 5.078 para 11.999 alunos. Este indicador, apesar do crescimento de 136% das matrículas,
reflete a exclusão educacional e social, principalmente das pessoas com deficiência, salientando a necessidade de promover a
inclusão e o fortalecimento das políticas de acessibilidade nas instituições de educação superior.
A evolução das ações da educação especial nos últimos anos se expressa no crescimento do número de municípios com matrí-
culas, que em 1998 registra 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios (89%), um crescimento de 81%. Essa evo-
lução também revela o aumento do número de escolas com matrícula, que em 1998 registra apenas 6.557 escolas e chega a 54.412
escolas em 2006, representando um crescimento de 730%. Destas escolas com matrícula em 2006, 2.724 são escolas especiais, 4.325
são escolas comuns com classe especial e 50.259 são escolas comuns com inclusão nas turmas de ensino regular.
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabelecimentos
de ensino com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais possuíam sanitários com acessibilidade. Em 2006,
das 54.412 escolas com matrículas de alunos atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam sanitários com acessibilidade
e 16,3% registraram ter dependências e vias adequadas (indicador não coletado em 1998).
Em relação à formação dos professores com atuação na educação especial, em 1998, 3,2% possuíam ensino fundamental;
51% possuíam ensino médio e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores que atuam na educação especial, 0,62%
registraram somente ensino fundamental, 24% registraram ensino médio e 75,2% Ensino superior. Nesse mesmo ano, 77,8%
destes professores, declararam ter curso específico nessa área de conhecimento.
4
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
5
PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS
comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados Especial. Lei Nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989.
nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil.
atividades que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990.
Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para Todos:
a educação bilíngüe - Língua Portuguesa/LIBRAS, desenvolve plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de
o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, aprendizagem. UNESCO, Jomtiem/Tailândia, 1990.
o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na mo- BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre
dalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/ necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.
intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
para os demais alunos da escola. O atendimento educacional ção Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília:
especializado é ofertado, tanto na modalidade oral e escrita, MEC/SEESP, 1994.
quanto na língua de sinais. Devido à diferença lingüística, na BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba-
medida do possível, o aluno surdo deve estar com outros ses da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro
pares surdos em turmas comuns na escola regular. de 1996.
O atendimento educacional especializado é realizado BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos es- Especial. Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999.
pecíficos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do Especial. Lei Nº 10.048, de 08 de novembro de 2000.
sistema Braille, do soroban, da orientação e mobilidade, das BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do Especial. Lei Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos pro- BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
gramas de enriquecimento curricular, da adequação e produ- ção Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
ção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de re- na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial - MEC/
cursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. SEESP, 2001.
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação BRASIL. Ministério da Educação. Lei Nº 10.172, de 09 de
janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá
especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar
outras providências.
as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia
BRASIL. Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Pro-
intérprete, bem como de monitor ou cuidador aos alunos
mulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de To-
com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimen-
das as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras
tação, locomoção, entre outras que exijam auxílio constante
de Deficiência. Guatemala: 2001.
no cotidiano escolar.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Para atuar na educação especial, o professor deve ter
Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre
como base da sua formação, inicial e continuada, conheci-
a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providên-
mentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos cias.
específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
no atendimento educacional especializado e deve aprofun- Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004.
dar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos cen- Especial. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Re-
tros de atendimento educacional especializado, nos núcleos gulamenta a Lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
de acessibilidade das instituições de educação superior, nas BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a Especial. Direito à educação: subsídios para a gestão dos sis-
oferta dos serviços e recursos de educação especial. temas educacionais – orientações gerais e marcos legais. Bra-
Esta formação deve contemplar conhecimentos de ges- sília: MEC/SEESP, 2006.
tão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o de- BRASIL. IBGE. Censo Demográfico, 2000. Disponível em:
senvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, <http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/cen-
visando à acessibilidade arquitetônica, os atendimentos de so2000/default.shtm>. Acesso em: 20 de jan. 2007.
saúde, a promoção de ações de assistência social, trabalho BRASIL. INEP. Censo Escolar, 2006. Disponível em: <http://
e justiça. http://www.inep.gov.br/basica/censo/default.asp >. Acesso
em: 20 de jan. 2007.
VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção so-
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Ba- bre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 2006.
ses da Educação Nacional, LDB 4.024, de 20 de dezembro BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Desenvolvi-
de 1961. mento da Educação: razões, princípios e programas. Brasília:
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases MEC, 2007.
da Educação Nacional, LDB 5.692, de 11 de agosto de 1971.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília: Imprensa Oficial, 1988.
6
LIVROS E ARTIGOS
ARROYO, Miguel. Formar educadoras e educadores de jovens e adultos. In: SOARES, Leôncio (org.) Formação de
educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica/SECAD-MEC/UNESCO, 2006...................................................01
CASTORINA, José Antonio et al. Piaget e Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 2003........01
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.......................................................................................02
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997........03
FREITAS, Luiz Carlos de. Ciclos, seriação e avaliação: confrontos de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. 96 p. (Cotidiano
Escolar)................................................................................................................................................................................................................16
IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez,
2004......................................................................................................................................................................................................................18
KLEIMAN, Angela e MORAES, Sílvia. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas,
SP: Mercado de Letras, 1999........................................................................................................................................................................18
LIBANEO, José Carlos. Educação escolar: Políticas, estrutura e organização – 10ª. Edição. São Paulo: Cortez, 2012.
(Coleção docência em formação: Saberes pedagógicos/coordenação Selma Garrido Pimenta)........................................21
MAINARDES, Jefferson, A organização da escolaridade em Ciclos: ainda um desafio para o sistema de ensino. In:
Avaliação, Ciclos e Promoção na Educação. FRANCO, Creso (org.). Porto Alegre: Artmed Editora, 2001, p.35-54. ....23
MANTOAN, M. T. Egler, PRIETO, R. Gavioli, ARANTES V. Amorim (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. 1ed.
São Paulo: Summus, 2006.............................................................................................................................................................................26
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000..............................................29
OLIVEIRA, D. A. (Org.). Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. Petrópolis: Vozes, 2003...........30
PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. 2. ed., São
Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002..............................................................................................................................................31
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Editora
Autêntica, 2004.................................................................................................................................................................................................32
VEIGA, Ilma Passos de Oliveira. Projeto político- -pedagógico da escola: uma construção possível. 24ª. Edição,
Campinas, SP: Papirus, 2008........................................................................................................................................................................33
LIVROS E ARTIGOS
1
LIVROS E ARTIGOS
inteligência; um enfoque genético partilhado na medida em ser mais perfeita. Tal busca deve ser feita pelo homem em
que as funções psicológicas em Vygotsky e os sistemas de comunhão com outros, pois a busca solitária só o leva em ter
conhecimento em Piaget podem ser estudados apenas em mais, porém sendo menos, já a busca em comunhão resulta
seu processo de formação; e o fato de que tanto Vygotsky em ser mais. Ele condiciona a busca pela educação à ligação
quanto Piaget enfatizaram a atividade do sujeito na aquisi- ao saber, pois ser este a meta, mas também à ignorância, pois
ção do conhecimento e o caráter quantitativo da mudanças pela percepção desta é iniciada a procura do saber. Ligação,
no desenvolvimento (Garcia Madruga, 1991). (...)” essa a qual se faz necessária o intermédio do amor e da espe-
Fonte: http://piagetevygotsky.blogspot. rança, pois o entendimento é uma condição para a educação
com/2012/09/piaget-vygotsky-novas-contribuicoes.html e o amor uma condição para o entendimento, já a esperança
parte desde o início da busca, pois quando há uma procura,
há ao mesmo tempo uma espera do encontro daquilo que é
FREIRE, PAULO. EDUCAÇÃO E MUDANÇA. procurado.
RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 2001. Freire afirma ser o homem um ser de relações. E ainda,
afirma a sua necessidade da estimulação da consciência re-
flexiva no educando para que este reflita sobre sua própria
Para Paulo Freire, somente o homem, quando capaz de realidade, conseguindo assim que as relações deste sejam re-
em sua reflexão-ação poder “distanciar-se” de sua realidade flexivas, consequentes, transcendentes e temporais. Reflexiva
para com ela ficar capaz de observá-la para, objetivando-a, à medida que busca contemplar sua realidade, transcendente
transformá-la e, transformando, ver-se transformado pela por na sua reflexão conseguir projetar um futuro de acordo
sua própria criação; o homem que é e está sendo no tempo, com seus desejos, tornando assim sua relação também con-
é em seu tempo um ser histórico, somente este pode com- sequente, e temporal por agir, perceber-se e fazer-se em seu
prometer-se. tempo um ser social e histórico.
Fica evidente na exposição das idéias feita pelo autor, A concepção freiriana apresenta neste capítulo, a res-
referente ao compromisso, a capacidade de exclusividade do peito da «consciência bancária» da educação, a visão do pro-
compromisso, cujo mesmo atribui essa capacidade à huma- fessor como aquele, cujo mesmo ver-se detentor do conhe-
nidade. Ele condiciona a existência do compromisso verda- cimento e o educando como um ser «oco», um depósito de
deiro, ao engajamento do homem com a realidade. Define conhecimento. E nos mostra os estados da consciência como
compromisso verdadeiro, como aquele ligado à solidarieda- sendo a: intransitiva ? quase compromisso com a realidade;
de, no entanto, não significa compromisso em dar bens ma- mágica ? superstições; transitiva ? efetivação da mudança de
teriais, mas em estar companheiro de pessoas, determinadas consciência; crítica ? efetivação do compromisso; fanática ?
pela sociedade como objetos de manobras (coisas). escravidão às ideias e técnicas importadas; ingênua ? vê o
Neste primeiro capítulo, são identificados por Freire, passado como melhor em comparação ao presente.
na relação do homem profissional e sociedade três tipos de No terceiro capítulo: «O Papel do Trabalhador Social
homem: o autenticamente comprometido (solidário, está ao
no Processo de Mudança», a obra nos propõe uma análise
lado dos «precisados»); o falsamente comprometido (soli-
crítica da frase que dar título ao capítulo para ser possível
dário até o ponto onde é beneficiado) e o impedido de se
a percepção do papel do trabalhador social em suas várias
comprometer verdadeiramente. Define compromisso profis-
dimensões da estrutura social.
sional como uma dívida do homem para com a sociedade,
Para Paulo Freire o trabalhador social como homem tem
assumida à medida que se fez profissional. Logo após, co-
de fazer sua opção. Ou adere à mudança que ocorre no sen-
loca a necessidade do constante aperfeiçoamento do pro-
fissional, ao mesmo tempo faz uma crítica ao tecnicismo, tido verdadeiro da humanização do homem, de seu ser mais,
afirmando a necessidade da superação do especialismo e ou fica a favor da permanência da atual situação. Opção que
afirmando a exigência do profissional em ser o senhor das não deve ser imposta aos demais. Sua opção determinará
técnicas e não escravo delas. seu papel e suas técnicas de ação.
A obra aqui resenhada expõe de forma singular a alie- O autor expõe nesta terceira parte da obra, que a tenta-
nação, advinda das importações de ideias e técnicas alheias à tiva de conscientização dos indivíduos com quem se traba-
realidade, como ameaça ao compromisso verdadeiro. Expri- lha, enquanto com eles também se conscientiza parece ser o
me se na existência de tais importações as mesmas devem ser papel do trabalhador social que opta pela mudança.
adaptadas à realidade local. E menciona a criatividade como Já no último capítulo do livro, intitulado: «Alfabetização
meio de superação na hora da efetivação das mudanças. de Adultos e Conscientização», o autor apresenta de maneira
Em «A Educação e o Processo de Mudança Social», detalhada seu método educacional relativo aos adultos.
segundo capítulo de «Educação e Mudança», nos é apre- Freire condiciona a implantação de seu método, a uma
sentadas baseadas no conceito filosófico-antropológico prévia reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas
de homem, concepções do autor sobre a raiz da existência condições culturais, condição esta necessária mediante qual-
da educação, e ainda as diversas relações do homem e sua quer ação educativa, frisa o mesmo. Seu método, o diálogo é
consciência. exposto como um método ativo, crítico e criticista. Este deve
Para Paulo Freire a razão pela qual se faz necessária a ter relação horizontal «A» com «B». Onde ser forte a pre-
educação é a percepção humana do próprio inacabamento, sença de amor, humanidade, esperança, fé e confiança. Um
da própria imperfeição, onde mediante desta, busca sempre objeto extraído da cultura do analfabeto, sobre o qual é dia-
logado deve ser o conteúdo programático. Tal objeto, sobre
2
LIVROS E ARTIGOS
o qual é o diálogo, deve ser advindo de um levantamento de Colégio Oswaldo Cruz, que lhe concedeu matrícula gratuita
“palavras geradoras”, ligadas às experiências existencial do e o transformou em auxiliar de disciplina, em seguida em
analfabeto, da qual a experiência profissional faz parte. De- professor de língua portuguesa. Em 1943 iniciou o curso na
pois de feito este levantamento deve-se selecionar as pala- Faculdade de Direito do Recife. Em 1944 casa-se com Elza
vras geradoras de maneira a respeitar os seguintes critérios: Maria Costa de Oliveira, professora primária. Depois de for-
riqueza fonética, dificuldade fonética, aspecto pragmático mado continuou como professor de português no Colégio
da palavra. Após isso se devem criar situações nas quais são Oswaldo Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas
colocadas as palavras geradoras em ordem crescente de di- Artes da Universidade Federal de Pernambuco.
ficuldades fonéticas. Feito isso é necessária a elaboração de Demonstrava grande preocupação com o grande núme-
fichas auxiliares com sugestões simples para os educadores ro de adultos analfabetos. Participou do movimento de Cul-
nunca uma prescrição rígida para ser obedecida. tura Popular, organizado por Germano Coelho, Norma Coe-
Após o autor detalhar seu método de alfabetização de lho e Anita Paes Barreto, durante a administração de Miguel
adultos, o mesmo expõe seus resultados práticos, sendo es- Arraes de Alencar. Desenvolveu o “Método Paulo Freire”, que
tes deixar grupos de 25 a 30 homens lendo e escrevendo se tornou famoso em diversos países. Partindo de uma pes-
entre um mês e meio a dois meses. quisa do vocabulário usado pela população, no local onde
Educação e Mudanças de Paulo Freire é uma funda- seria aplicado o método, se desenvolvia todo o trabalho de
mentação consistente de seu método de alfabetização de alfabetização. Foi usado inicialmente no Rio Grande do Nor-
adultos, cuja mesma se faz ainda hoje indispensável ao te, com o apoio do então governador, Aluísio Alves.
conhecimento de qualquer educador. Mas é também uma Com o sucesso alcançado, Paulo Freire foi convidado
apresentação de definições e análises a respeito de com- para trabalhar no Ministério da Educação, pelo então mi-
promisso, educação, estrutura social, sociedade entre outras, nistro Paulo de Tarso, no Governo João Goulart. Fez parte
daí a necessidade da apreciação destas concepções por di- também do Conselho Estadual de Educação, no Governo
versos profissionais, sejam estes sociólogos, teólogos, políti- Miguel Arraes. Com o golpe de 1964, o método foi proibido
cos e pedagogos, a fim de facilitar sua opção nos processos e Paulo Freire teve seu mandato cassado. Foi exilado para a
de mudança, levando em conta a principal busca do homem Bolívia e em seguida para o Chile. Foi depois para os Esta-
a de ser mais perfeito. No entanto, Paulo Freire deixa uma do Unidos e para a Europa. Viajou aplicado o seu método
lacuna no que diz respeito à definição do papel do trabalha- por diversos países do Terceiro Mundo, publicou livros em
dor social, pois o termo «parece» não deixa fixa a definição diversos idiomas. Privado de passaporte brasileiro, estabele-
apresentada pelo autor, porém é nas lacunas das definições ceu-se em Genebra, na Suíça, trabalhando para o Conselho
que cabem as reflexões, por isso o presente resenhista acre- Mundial das Igrejas Evangélicas. Com a anistia, retornou ao
dita que o autor assim agiu de maneira intencional para a Brasil, estabelecendo-se em São Paulo.
existência da efetivação da ação reflexiva do leitor. Dedicou toda sua vida às atividades pedagógicas como
Fonte: https://www.webartigos.com/artigos/rese- escritor e professor da UNICAMP. Foi conferencista em diver-
nha-do-livro-educacao-e-mudanca-paulo-freire/53083/ sas universidades e eventos educacionais. Militou no Partido
dos Trabalhadores. Foi Secretário de Educação da Prefeitura
de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina. Após a morte de
FREIRE, PAULO. PEDAGOGIA DA sua primeira esposa, casa-se com Ana Maria, uma ex-aluna
AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS À do Colégio Oswaldo Cruz. Paulo Freire morreu em São Paulo,
PRÁTICA EDUCATIVA. SÃO PAULO: PAZ E no dia 2 de maio de 1997.
TERRA, 1997.
Sinópse
3
LIVROS E ARTIGOS
de suas convicções. Suas mãos firmando a esperança que 1.1- Ensinar exige rigorosidade metódica;
jamais abandonou. O seu escultar traduzindo a sua postura O educador democrático não pode negar-se o dever de,
de humildade presente nas referências aos que com ele dia- na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do edu-
logou. O sue olhar está o tempo todo voltado para todos e cando, sua curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tare-
todas que ousam ensinar-aprendendo. fas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade
Quanto mais nos aprofundamos na leitura deste livro metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cog-
mais percebemos que Paulo se fez texto! O seu bem-que- noscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem nada que
rer pelos seres humanos, a gentidade de seu eu pessoa/eu ver com o discurso “bancário” meramente transferidor do
educador e a sua fé na educação estão vivamente presentes, perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste sentido
evidenciando ter sido um apaixonado pelo mundo e pela que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do
vida. Pedagogia da autonomia sintetiza a sua pedagogia do conteúdo. É exatamente neste sentido que ensinar não se
oprimido e o engrandece como gente. É o livro-testamento esgota no “tratamento” do Objeto ou do conteúdo, super-
de sua presença no mundo. Ofereceu-se nela por inteiro na ficialmente feito, mas se alonga à produção das condições
sua grandeza e inteireza. em que aprender criticamente é possível. E essas condições
em que aprender criticamente é possível. E essas condições
Nita, Ana Maria Araújo Freire implicam ou exigem a presença de educadores e de educan-
dos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curio-
Comentário sos, humildes e persistentes. Faz parte das condições em que
aprender criticamente é possível a pressuposição por parte
Paulo Freire, um dos maiores intelectuais do século XX, dos educandos de que o educador já teve ou continua tendo
elaborou uma teoria ou, como ele mesmo preferia dizer, experiência da produção de certos saberes e que estes não
“uma certa compreensão ético-crítico-política da educação”, podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos.
que tem como uma de suas bases o diálogo que possibili- Pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem
ta a conscientização com o objetivo de formar cidadãos de os educandos vão se transformando em reais sujeitos da
práxis progressista, transformadores da ordem social, eco- construção e da reconstrução do saber ensinando, ao lado
nômica e política injusta. Na Pedagogia da Autonomia, Paulo do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim po-
demos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto
Freire nos apresenta reflexões sobre a relação educadores-
ensinado é apreendido na sua casa razão de ser e, portanto,
-educandos, orientadas para prática desse diálogo político-
aprendido pelos educandos.
-pedagógico e calcadas nas virtudes éticas, para que se esta-
Percebe-se assim, a importância do papel do educador,
beleçam as condições que abram a possibilidade de ambos
o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de
se existenciarem na autonomia, na cidadania responsável e
sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas
na apropriação crítica do conhecimento e sua recriação.
também ensinar a pensar certo. Daí a impossibilidade de vir
a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memo-
Resumo rizador, é muito mais uma repetidor cadenciado de frases e
de ideias inertes do que desafiador...
Prática Docente: Primeira Reflexão
Devo deixar claro que, embora seja meu interesse cen- Páginas 28/29
tral considerar neste texto saberes que me parecem indis- 1.2- Ensinar exige pesquisa
pensáveis à prática docente de educadoras ou educadores Não Há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.
críticos, progressistas, alguns deles são igualmente necessá- Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. En-
rios a educadores conservadores. São saberes demandados quanto ensino continuou buscando, reprocurando. Ensino
pela prática educativa em si mesma, qualquer que seja a op- porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.
ção política do educador ou educadora. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo
Na continuidade da leitura vai cabendo ao leitor ou lei- educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
tora o exercício de perceber se este ou aquele saber referido conheço e comunicar ou anunciar a novidade. Pensar certo,
corresponde à natureza da prática progressista ou conserva- em termos críticos, é uma exigência que os momentos do ci-
dora ou se, pelo contrário, é exigência da prática educativa clo gnosiológico vão pondo à curiosidade que, tornando-se
mesma independentemente de sua cor política ou ideológi- mais e mais metodicamente rigorosa, transita de ingenuida-
ca. Por outro lado, devo sublinhar que, de forma não siste- de para que venho chamando “curiosidade epistemológica”.
mática, tenho me referido a alguns desses saberes em traba- A curiosidade ingênua, de que resulta indiscutivelmente em
lhos anteriores. Estou convencido, porém, é legítimo acres- certo saber, não imposta que metodicamente desrigoroso,
centar, da importância de uma reflexão como está quando é a que caracteriza o senso comum. O Saber de pura expe-
penso a formação docente e a prática educativo-crítica. riência feito. Pensar certo, do ponto de vista do professor,
O Ato de cozinhar, por exemplo, supõe alguns saberes tanto implica o respeito ao senso comum no processo de
concernentes ao uso do fogão, como acendê-lo, como equi- sua necessária superação quanto o respeito e o estímulo à
librar para mais, para menos, a chama, como lidar com cer- capacidade criadora do educando. Implica o compromisso
tos riscos, mesmo remotos, de incêndio como harmonizar os da educadora com a consciência crítica do educando, cuja
diferentes temperos numa síntese gostosa e atraente... “promoção” da ingenuidade não se faz automaticamente.
Páginas 23/24 Páginas 30/31
4
LIVROS E ARTIGOS
1.3- Ensinar exige respeito aos saberes dos educadores; de atenção que sugere alerta, faz parte integrante do fenô-
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, meno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que
mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante
saberes com que os educandos, sobretudo os das classes do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que
populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos fazemos.
na prática comunitária -, mas também, como há mais de Como manifestação presente à experiência vital, a curio-
trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão sidade humana vem sendo histórica e socialmente construí-
de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino da e reconstruída. Precisamente porque a promoção da in-
dos conteúdos. Por que não aproveitar a experiência que genuidade para a criticidade não se dá automaticamente,
têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo uma das tarefas precípuas da pratica educativo-progressiva
poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos é exatamente o desenvolvimento da curiosidade com que
riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das podemos nos defender de “irracionalismos” decorrentes
populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das do ou produzimos por certo excesso de “racionalidade”
gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e de nosso tempo altamente tecnologizado. E não vai nesta
mesmo puramente remediados dos centros urbanos? Essa consideração nenhuma arrancada falsamente humanista de
pergunta é considerada em sim demagógica e reveladora da negação da tecnologia e da ciência. Pelo contrário, é con-
má vontade de quem faz. É a pergunta de subversivo, dizem sideração de quem, de um lado, não diviniza a tecnologia,
certos defensores da democracia. mas, de outro, não a diaboliza. De quem a olha ou mesmo a
Por que não discutir com os alunos a realidade concreta espreita de forma criticamente curiosa.
a que se deve associar a disciplina cujo conteúdo se ensi- Páginas 32/33
na, a realidade agressiva em que a violência é a constante
e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do 1.5- Ensinar exige estética e ética;
que com a vida? Por que não estabelecer uma “intimidade” A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não
entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa for-
experiência social que eles têm como indivíduos? Por que mação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza
não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal
de mãos dadas. Cada vez me convenço mais de que, desperta
descanso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? A
com relação à possibilidade de enveredar-se no descaminho
ética de classe embutida neste descanso? “Porque, dirá um
do puritanismo, a prática educativa tem de ser, em si, um tes-
educador reacionariamente pragmático, a escola não tem
temunho rigoroso de decadência e de pureza. Uma crítica
nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que
permanente aos desvios fáceis com que somos tentados às
ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos,
vezes ou quase sempre, a deixar as dificuldades que os ca-
estes operam por si mesmos.”
Páginas 31/32 minhos verdadeiros podem nos colocar. Mulheres e homens,
seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de
1.4- Ensinar exige criticidade; valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo
Não há pra mim, na diferença e na “distância” entre a isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos sen-
ingenuidade e a criticidade, entre o saber de pura experiên- do é a condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os
cia feito e o que resulta dos procedimentos metodicamente seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela.
rigorosos, uma ruptura, mas uma superação. A superação e Estar longe ou, pior, fora da ética, entre nós mulheres e ho-
não a ruptura se dá na medida em que a curiosidade ingê- mens, é uma transgressão. É por isso que transformar a expe-
nua, em deixar de ser curiosidade, se criticiza. Ao criticizar-se, riência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar
tornando-se então, permito-me repetir, curiosidade episte- o que há de fundamentalmente humano no exercício edu-
mológica metodicamente “rigorizando-se” na sua aproxima- cativo; o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do
ção ao objeto, conota seus achados de maior exatidão. ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio
Na verdade, a curiosidade ingênua que, “desarmada”, à formação moral do educando. Educar é substantivamente
está associada ao saber do senso comum, é a mesma curio- formar. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma
sidade que, criticizando-se, aproximando-se de forma cada forma altamente negativa e perigosa de pensar errado. De
vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, se testemunhar aos alunos, às vezes com ares de quem possui a
torna curiosidade epistemológica. Muda de qualidade, mas verdade, um rotundo desacerto. Pensar certo, pelo contrário,
não de essência. A curiosidade de camponeses com quem demanda profundidade e não superficialidade na compreen-
tenho dialogo ao longo de minha existência político-peda- são e na interpretação dos fatos. Supõe a disponibilidade à
gógica, fatalistas ou já rebeldes diante da violência das in- revisão dos achados, reconhece não apenas a possibilidade
justiças, é a mesma curiosidade, enquanto abertura mais ou de mudar de opção, de apreciação, mas o direito de fazê-lo.
menos espantada diante de “não eus”, com que cientistas ou Mas como não há pensar certo à margem de princípios éti-
filósofos acadêmicos “admiram” o mundo. Os cientistas e os cos, se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a quem
filósofos superam, porém a ingenuidade da curiosidade do muda – exige o pensar certo – que assuma a mudança ope-
camponês e se tornam epistemologicamente curiosos. rada. Do ponto de vista do pensar certo não é possível mudar
A curiosidade como inquietação indagadora, como in- e fazer de conta que não mudou. É que todo pensar certo é
clinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbali- radicalmente coerente.
zada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal Páginas 34/35
5
LIVROS E ARTIGOS
1.6- Ensinar exige a corporificação das palavras pelo do vejo arrogância com que a branquitude de sociedades
exemplo; em que faz isso, em que se queimam igrejas de negros se
O professor que realmente ensina, quer dizer, que tra- apresenta ao mundo como pedagoga da democracia. Pen-
balha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar sar e fazer errado, pelo visto, não têm mesmo nada ver com
certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que a humildade que o pensar certo exige. Não têm nada que
mando e não o que eu faço”. Quem pensa certo está cansan- ver com o bom-senso que regula nossos exageros e evita as
do de saber que as palavras a que falta a corporeidade do nossas caminhadas até o ridículo e a insensatez.
exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer Às vezes, temo que algum leitor ou leitora, mesmo que
certo. ainda não totalmente convertido ao “pragmatismo” neoli-
Que podem pensar alunos sérios de um professor que, beral, mas por ele já tocado, diga que, sonhador, continuo
há dois semestres, falava com quase ardor sobre a necessi- a falar de uma educação de anjos e não de mulheres e de
dade da luta pela autonomia das classes populares e hoje, homens. O que tenho dito até agora, porém, diz respeito
dizendo que não mudou, faz o discurso pragmático contra radicalmente à natureza de mulheres e de homens. Natureza
os sonhos e a pratica a transferência de saber do professor entendida como social e historicamente constituindo-se, e
para o aluno?! Que dizer da professora que, de esquerda não como um a priori da história...
ontem, defendia a formação da classe trabalhadora e que, Páginas 36/37
pragmática hoje, se satisfaz, curvada ao fatalismo neoliberal,
com o puro treinamento do operário, insistindo, porém, que 1.8- Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática;
é progressista? O pensar certo sabe, por exemplo, que não é a partir
Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal dele como um dado que se conforma a prática docente crí-
que o re-diz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao pro- tica, mas sabe também que sem ele não se funda aquela. A
fessor pensar que pensa certo, mas ao mesmo tempo per- prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve
guntar ao aluno se “sabe com quem está falando”. o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar
O clima de quem pensa certo é o de quem busca seria- sobre o fazer. O Saber que a prática docente espontânea ou
mente a segurança na argumentação, é o de quem busca quase espontânea, “desarmada”, indiscutivelmente produz
seriamente a segurança na argumentação, é o de quem, dis- é um saber ingênuo, um saber de experiência feito, a que
cordando do seu oponente, não tem por que contra ele ou falta rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade
contra ela nutrir uma raiva desmedida, bem maior, Às vezes, epistemológica do sujeito. Este não é o saber que a rigo-
do que a razão mesma da discordância. Uma dessas pessoas rosidade do pensar certo procura. Por isso, é fundamental
desmedidamente raivosas proibiu certa vez uma estudante que, na prática da formação docente, o aprendiz de educa-
que trabalhava em uma dissertação sobre alfabetização e ci- dor assuma que o indispensável pensar certo não é presente
dadania que me lesse. “Já era”, disse com ares de quem trata dos deuses nem se acha nos guias de professores que ilumi-
com o rigor e neutralidade o objeto, quem era eu. “Qualquer nados intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas,
leitura que você faça deste senhor pode prejudica-la.” Não é pelo contrário, o pensar que supera o ingênuo tem que ser
assim que se pensa certo nem é assim que se ensina certo. produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o pro-
Faz parte do pensar certo o gosto da generosidade que, não fessor formador. É preciso, por outro lado, reinsistir em que a
negando a quem o tem o direito à raiva, a distingue da rai- matriz do pensar ingênuo, como a do crítico, é a curiosidade
vosidade irrefreada. mesma, característica do fenômeno vital. Neste sentido, in-
Páginas 35/36 dubitavelmente, é tão curioso o professor chamado leigo no
interior de Pernambuco quanto o professor de filosofia da
1.7- Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição educação na universidade A ou B. O de que precisa é possi-
a qualquer forma de descriminação; bilitar, que, voltando-se sobre si mesma, através da reflexão
É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a sobre a prática, a curiosidade ingênua, percebendo-se como
aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só tal, se vá tornando crítica...
porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não Páginas 39/40
é apenas o cronológico. O velho que preserva sua validade
ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no 1.9- Ensinar exige o reconhecimento e a assunção de
tempo continua novo. identidade cultural;
Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais É interessante estender mais um pouco a reflexão sobre
decida a qualquer forma de descriminação. A prática pre- a assunção. O verbo assumir é um verbo transitivo e que
conceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substan- pode ter como objeto o próprio sujeito que assim se as-
tividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. sume. Eu tanto assumo o riso que corro ao fumar quanto
Quão longe dela nos achamos quando vivemos a impuni- me assumo enquanto sujeito da própria assunção. Deixamos
dade do que matam meninos nas ruas, dos que assassinam claro que, quando ser fundamental para deixar a assunção
camponeses que lutam por seus direitos, dos que discrimi- de fumar ameaça minha vida, com assunção eu quero, so-
nam os negros, dos que inferiorizam as mulheres. Quão au- bretudo me referir ao conhecimento cabal que obtive do
sentes da democracia se acham os que queimam igrejas de fumar e de suas consequências. Outro sentido mais radical
negros porque, certamente, negros não têm alma. Negros tem assunção ou assumir quando digo: uma das tarefas mais
não rezam. Com sua negritude, os negros sujam a branqui- importantes da prática educativo-crítica é proporcionar as
tude das orações... A mim me dá pena e não raiva, quan- condições em que os educandos em suas relações uns com
6
LIVROS E ARTIGOS
os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam sua posição”; o de integração: “ Pedro sabia que ela voltaria,
a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser não é os suficiente para explicar o uso da adversativa mas na
social e histórico, como ser pensante, comunicante, transfor- relação entre a sentença “ Madalena é negra” e “Madalena
mador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva por- é competente e decente”. A conjunção mas, aí, implica um
que capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz juízo falso, ideológico: sendo negra, espera-se que Mada-
de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos lena nem seja competente nem decente. Ao reconhecer-se,
não significa a exclusão dos outros, É a “outredade” do “não porém, sua decência e sua competência a conjunção mas se
eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu. tornou indispensável. No caso de Célia, é um disparate que,
A questão da identidade cultural, de que fazem parte a sendo loura de olhos azuis não seja competente e decente.
dimensão individual e a de classe dos educandos cujo res- Daí o não senso da adversativa. A razão é ideológica, e não
peito é absolutamente fundamental na prática educativa pro- gramatical...
gressista, é problema que não pode ser desprezado. Tem que Páginas 47/48
ver diretamente com assunção de nós por nós mesmos. É isto
que o puro treinamento do professor não faz, perdendo-se 2.1- Ensinar exige consciência do inacabamento;
e perdendo-o na estreita e programática visão do processo... Como professor crítico, sou um “aventureiro” responsá-
Páginas 41/42 vel predisposto à mudança, à aceitação do diferente. Nada
do que experimentei em minha atividade docente deve ne-
2- Ensinar não é transferir conhecimento cessariamente repetir-se. Repito, porém, como inevitável,
As considerações ou reflexões até agora feitas vêm a franquia de mim mesmo, radical, diante dos outros e do
sendo desdobramentos de um primeiro saber inicialmente mundo. Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo e
apontado como necessário à formação docente, numa pers- a maneira radical como me experimento enquanto ser cultu-
pectiva progressista. Saber que ensinar não é transferir co- ral, histórico, inacabado e consciente do inacabamento.
nhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria Aqui chegamos ao ponto de que talvez devêssemos ter
educação produção ou a sua construção. Quando entro em partido. O do inacabamento do ser humano. Na verdade, o
uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indaga- inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da expe-
ções, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as inibições; riência vital. Onde há vida, há inacabamento.
um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se
tenho – a ensinar e não a de transferir conhecimento. tornou consciente. A invenção da existência a partir dos ma-
É preciso insistir: este saber necessário ao professor - teriais que a vida oferecia levou homens e mulheres a pro-
de que ensinar não é transferir conhecimento - não apenas mover o suporte em que os outros animais continuam, em
precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas mundo. Seu mundo, mundo dos homens e das mulheres.
razões de ser – odontológica, política, ética, epistemológica, A experiência humana no mundo muda de qualidade com
pedagógica -, mas também precisa ser constantemente tes- relação à vida animal no suporte. O suporte é o espaço, res-
temunhado, vivido. trito ou alongado, que o animal se prende “afetivamente”
Como professor num curso de formação docente não tanto quanto para, resistir; e o espaço necessário a seu cres-
posso esgotar minha prática discursando sobre a Teoria da cimento e que delimita seu domínio. É o espaço em que,
não extensão do conhecimento. Não posso apenas falar bo- treinado, adestrado, “aprende” a sobreviver, a caçar, a ata-
nito sobre as razões ontológicas, epistemológicas e políticas car, a defender- se nutri tempo de dependência dos adultos
da teoria. O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exem- imensamente menor do que é necessário ao ser humano
plo concerto, prático, da teoria. Sua encarnação. Ao falar da para as mesmas coisas. Quanto mais cultural é o ser maior a
construção do conhecimento, criticando a sua extensão, já sua infância, sua dependência de cuidados especiais. Faltam
devo estar envolvido nela, a construção, estar envolvendo ao “movimento” dos outros animais no suporte a linguagem
os alunos. conceitual, a inteligibilidade do próprio suporte de que re-
Fora disso, me emaranho na rede das contraindicações sultaria inevitavelmente a comunicabilidade do inteligido, o
em que meu testemunho, inautêntico, perde eficácia. Me espanto diante da vida mesma, do que há nela de mistério.
torno tão falso quanto quem pretende estimular o clima de- No suporte, os comportamentos dos indivíduos têm sua ex-
mocrático na escola por meios e caminhos autoritários. Tão plicação muito mais na espécie a que pertencem os indiví-
fingido quanto quem diz combater o racismo, mas, pergun- duos do que neles mesmos. Falta- lhes liberdade de opção.
tando se conhece Madalena, diz: “Conheço-a, É negra, mas é Por isso, não se fala em ética entre os elefantes.
competente e descente.” Jamais ouvi ninguém dizer que co- A vida no suporte não implica a linguagem nem a pos-
nhece Célia, que é loura, de olhos azuis, mas é competente tura ereta que permitiu a liberação das mãos. Mãos que, em
e decente. No discurso perfilador de Madalena, negra, cabe grande medida, nos fizeram. Quanto maior se foi tornando
à conjunção adversativa, mas; no que contorna Célia, loura a solidariedade entre mente e mãos, tanto mais o suporte
de olhos azuis, a conjunção adversativa é um não senso. A foi virando mundo e a vida, existência. O suporte veio fazen-
compreensão do papeldas conjuções que, ligando senten- do- se mundo e a vida, existêmia, na proporção que o cor-
ças entre si, impregnam a relação que estabelecem de certo po humano vira corpo consciente, captador, apreendedor,
sentido – o de causalidade: “falo porque recuso o silêncio” ; transformador, criador de beleza e não “espaço” vazio a ser
o de adversidade: “tentaram dominá-lo mas não consegui- enchido por conteúdos.
ram”; o de finalidade: “ Pedro lutou para que ficasse clara a Páginas 49/50
7
LIVROS E ARTIGOS
2.2- Ensinar exige o reconhecimento de ser condicio- tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de
nado; seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se fur-
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à
ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que experiência formadora do educando, transgride os princípios
posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o fundamentalmente éticos de nossa existência.
ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o É neste sentido que o professor autoritário, que por isso
inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histó- mesmo afoga a liberdade do educando, amesquinhando o
rica e socialmente alcançou a possibilidade de saber- se ina- seu direito de estar sendo curioso e inquieto, tanto quanto
cabado. Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal o professor licencioso rompe com a radicalidade do ser hu-
que a construção de minha presença no mundo, que não se mano - a de sua inconclusão assumida em que se enraíza a
faz no isolamento, isenta o a influência das forças sociais, que eticidade. É neste sentido também que a dialogicidade ver-
não se compreende fora da tensão entre o que herdo geneti- dadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem
camente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar
muito a ver comigo mesmo. sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, as-
Seria irônico se a consciência de minha presença no mun- sumindo- se como tais, se tornam radicalmente éticos. É pre-
do não implicasse já o reconhecimento da impossibilidade ciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode
de minha ausência na construção da própria presença. Não ser vista ou entendida como virtude, mas como ruptura com
posso me perceber como uma presença no mundo, mas, ao a decência.
mesmo tempo, explicá-la como resultado de operações ab- O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne ma-
solutamente alheias a mim. Neste caso o que faço é renunciar chis ta, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como
à responsabilidade ética, histórica, política e social que a pro- transgressor da natureza humana. Não me venha com justifi-
moção do suporte a mundo nos coloca. Renuncio a participar cativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para
a cumprir a vocação ontológica de intervir o mundo. O fato explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude,
de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empre-
me põe numa posição em face do mundo que não é de quem gados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é
nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo um dever por mais que se reconheça a força dos condiciona-
não é a de quem a ele se adapta mas a de quem nele se inse- mentos a enfrentar. A boniteza de ser gente se acha, entre ou-
re. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas tras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar. Saber
sujeito também da História. que devo respeito à autonomia e à identidade do educando
Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as con-
exige de mim uma prática em tudo coerente com este saber...
dições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e
Páginas 58/59
ideológicas em que nos achamos geram quase sempre bar-
reiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa
2.4- Ensinar exige bom-senso;
histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos
A vigilância do meu bom senso tem uma importância
não se eternizam.
enorme na avaliação que, a todo instante, devo fazer de minha
Páginas 52/53
prática. Antes, por exemplo, de qualquer reflexão mais detida
2.3- Ensinar Exige respeito à autonomia do ser do edu- e rigorosa é o meu bom senso que me diz ser tão negativo, do
cando; ponto de vista de minha tarefa docente, o formalismo insen-
Outro saber necessário à prática educativa, e que se fun- sível que me faz recusar o trabalho de um aluno por perda de
da na mesma raiz que acabo de discutir - a da inconclusão do prazo, apesar das explicações convincentes do aluno, quanto
ser que se sabe inconcluso -, é o que fala do respeito devido à o desrespeito pleno pelos princípios reguladores da entrega
autonomia do ser do educando. Do educando criança, jovem dos trabalhos. É o meu bom senso que me adverte de que
ou adulto. Como educador, devo estar constantemente ad- exercer a minha autoridade de professor na classe, tomando
vertido com relação a este respeito que implica igualmente o decisões, orientando atividades, estabelecendo tarefas, co-
que devo ter por mim mesmo. Não faz mal repetir afirmação brando a produção individual e coletiva do grupo não é sinal
várias vezes feita neste texto - o inacabamento de que nos de autoritarismo de minha parte. É a minha autoridade cum-
tornamos conscientes nos fez seres éticos. prindo o seu dever. Não resolvemos bem, ainda, entre nós, a
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um tensão que a contradição autoridade- liberdade nos coloca
imperativo ético e não um favor que podemos ou não con- e confundimos quase sempre autoridade com autoritarismo,
ceder uns aos outros. Precisamente porque éticos podemos licença com liberdade.
desrespeitar a rigorosidade da ética e resvalar para a sua ne- Não preciso de um professor de ética para me dizer que
gação, por isso é imprescindível deixar claro que a possibilida- não posso, como orientador de dissertação de mestrado ou
de do desvio ético não pode receber outra designação senão de tese de doutoramento, surpreender o pós-graduando com
a de transgressão. críticas duras a seu trabalho porque um dos examinadores foi
O professor que desrespeita a curiosidade do educando, severo em sua arguição. Se isto ocorre e eu concordo com as
o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais críticas feitas pelo professor não há outro caminho senão so-
precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que lidarizar- me de público com o orientando, dividindo com ele
ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha a responsabilidade do equívoco ou do erro criticado. Não
em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, preciso de um professor de ética para me dizer isto.
8
LIVROS E ARTIGOS
Meu bom senso me diz. Saber que devo respeito à au- pedagógica não tenho por que desamá-la e aos educandos.
tonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prá- Não tenho por que exercê-la mal. A minha resposta à ofensa
tica, procurar a coerência com este saber, me leva inapela- à educação é a luta política consciente, crítica e organizada
velmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem contra os ofensores. Aceito até abandoná-la, cansado, à pro-
as quais aquele saber vira inautêntico, palavreado vazio e cura de melhores dias. O que não é possível é, ficando nela,
inoperante. De nada serve, a não ser para irritar o educando aviltá-la com o desdém de mim mesmo e dos educandos...
e desmoralizar o discurso hipócrita do educador, falar em Páginas 65/66
democracia e liberdade, mas impor ao educando a vontade
arrogante do mestre. 2.6- Ensinar exige apreensão da realidade;
O exercício do bom senso, com o qual só temos o que Outro saber fundamental à experiência educativa é o que
ganhar se faz no “corpo” da curiosidade. Neste sentido, diz respeito à sua natureza. Como professor preciso me mover
quanto mais pomos em prática de forma metódica a nossa com clareza na minha prática. Preciso conhecer as diferentes
capacidade de indagar, de comparar, de duvidar, de aferir, dimensões que caracterizam a essência da prática, o que me
tanto mais eficazmente curiosos nos podemos tornar e mais pode tornar mais seguro no meu próprio desempenho.
crítico se pode fazer o nosso bom senso. O exercício ou a O melhor ponto de partida para estas reflexões é a in-
educação do bom senso vai superando o que há nele de conclusão do ser humano de que se tornou consciente. Como
instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos acon- vimos, aí radica a nossa educabilidade bem como a nossa in-
tecimentos em que nos envolvemos. Se o bom senso, na serção num permanente movimento de busca em que, curio-
avaliação moral que faço de algo, não basta para orientar ou sos e indagadores, não apenas nos damos conta das coisas,
fundar minhas táticas de luta, tem, indiscutivelmente, impor- mas também delas podemos ter um conhecimento cabal. A
tante papel na minha tomada de posição, a que não pode capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar mas
faltar a ética, em face do que devo fazer... sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, re-
Páginas 60/61 criando- a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto do
nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo das
2.5- Ensinar exige humildade, tolerância e luta em plantas.
defesa dos direitos dos educadores; A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de en-
sinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa habilidade
Se há algo que os educandos brasileiros precisam saber,
de apreender a substantividade do objeto aprendido. A me-
desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do respeito
morização mecânica do perfil do objeto não é aprendizado
aos educadores e à educação inclui que a briga por salários
verdadeiro do objeto ou do conteúdo. Neste caso, o aprendiz
menos imorais é um dever irrecusável e não só um direito
funciona muito mais como paciente da transferência do obje-
deles. A luta dos professores em defesa de seus direitos e de
to ou do conteúdo do que como sujeito crítico, epistemologi-
sua dignidade deve ser entendida como um momento im-
camente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou
portante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não participa de sua construção. É precisamente por causa desta
é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que habilidade de apreender a substantividade do objeto que nos
dela faz parte. O combate em favor da dignidade da prática é possível reconstruir um mal aprendizado, o em que o apren-
docente é tão parte dela mesma quanto dela faz parte o diz foi puro paciente da transferência do conhecimento feita
respeito que o professor deve ter à identidade do educando, pelo educador.
à sua pessoa, a seu direito de ser. Um dos piores males que Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e
o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamen- historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso,
te, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer somos os únicos em quem aprender é uma aventura criado-
muitos de nós correr o risco de, a custo de tanto descaso ra, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente
pela educação pública, existencialmente cansados, cair no repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir,
indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao cruzamento constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco
dos braços. “Não há o que fazer” é o discurso acomodado e à aventura do espírito.
que não podemos aceitar. Creio poder afirmar, na altura destas considerações, que
O meu respeito de professor à pessoa do educando, à toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um
sua curiosidade, à sua timidez, que não devo agravar com que, ensinando, aprende outro que, aprendendo, ensina, daí
procedimentos inibidores exige de mim o cultivo da humil- o seu cunho gnosiológico; a existência de objetos, conteúdos
dade e da tolerância. Como posso respeitar a curiosidade a serem ensinados e aprendidos; envolve o uso de métodos,
do educando se, carente de humildade e da real compreen- de técnicas, de materiais; implica, em função de seu caráter di-
são do papel da ignorância na busca do saber, temo revelar retivo, objetivo, sonhos, utopias, ideais. Daí a sua politicidade,
o meu desconhecimento? Como ser educador, sobretudo qualidade que tem a prática educativa de ser política, de não
numa perspectiva progressista, sem aprender, com maior poder ser neutra.
ou menor esforço, a conviver com os diferentes? Como ser Especificamente humana a educação é gnosiológica, é di-
educador, se não desenvolvo em mim a indispensável amo- retiva, por isso política, é artística e moral, serve-se de meios, de
rosidade aos educandos com quem me comprometo e ao técnicas, envolve frustrações, medos, desejos. Exigem de mim,
próprio processo formador de que sou parte? Não posso como professor, uma competência geral, um saber de sua na-
desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem. Desres- tureza e saberes especiais, ligados à minha atividade docente...
peitado como gente no desprezo a que é relegada a prática Páginas 67/68
9
LIVROS E ARTIGOS
2.7- Ensinar exige alegria e esperança; não como determinação. O mundo não é. O mundo está
O meu envolvimento com a prática educativa, sabida- sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora
mente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu
feito com alegria, o que não significa dizer que tenha inva- papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre
riavelmente podido criá- la nos educandos. mas também o de quem intervém como sujeito de ocor-
Mas, preocupado com ela, enquanto clima ou atmosfera rências. Não sou apenas objeto da História mas seu sujeito
do espaço pedagógico, nunca deixei de estar. igualmente.
Há uma relação entre a alegria necessária à ativida- No mundo da História, da cultura, da política, constato
de educativa e a esperança. A esperança de que professor não para me adaptar, mas para mudar. No próprio mundo fí-
e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, sico minha constatação não me leva à impotência. O conhe-
produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa cimento sobre os terremotos desenvolveu toda uma enge-
alegria. Na verdade, do ponto de vista da natureza humana, nharia que nos ajuda a sobreviver a eles. Não podemos eli-
a esperança não é algo que a ela se justaponha. A espe- miná-los, mas podemos diminuir os danos que nos causam.
rança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade,
se, inacabado e consciente do inacabamento, primeiro, o ser tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de no-
humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto vos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela. É
a participar de um movimento constante de busca e, segun- por isso também que não me parece possível nem aceitável
do, se buscasse sem esperança. A desesperança é negação a posição ingênua ou, pior, astutamente neutra de quem es-
da esperança. A esperança é uma espécie de ímpeto natural tuda, seja o físico, o biólogo, o sociólogo, o matemático, ou
possível e necessário, a desesperança é o aborto deste ím- o pensador da educação. Ninguém pode estar no mundo,
peto. A esperança é um condimento indispensável à expe- com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso
riência histórica. Sem ela, não haveria História, mas puro de- estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas.
terminismo. Só há História onde há tempo problematizado A acomodação em mim é apenas caminho para a inser-
e não pré-dado. A inexorabilidade do futuro é a negação da ção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade.
História. Há perguntas a serem feitas insistentemente por todos nós
É preciso ficar claro que a desesperança não é maneira e que nos fazem ver a impossibilidade de estudar por estu-
de estar sendo natural do ser humano, mas distorção da es- dar. De estudar descomprometidamente como se misterio-
perança. Eu não sou primeiro um ser da desesperança a ser samente de repente nada tivéssemos que ver com o mundo,
convertido ou não pela esperança. Eu sou, pelo contrário, um lá fora e distante mundo, alheado de nós e nós dele...
um ser da esperança que, por “n” razões, se tornou desespe- Páginas 74/75
rançado. Daí que uma das nossas brigas como seres huma-
nos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas 2.9- Ensinar exige curiosidade;
para a desesperança que nos imobiliza. Um pouco mais sobre a curiosidade
Por tudo isso me parece uma enorme contradição que Se há uma prática exemplar como negação da experiên-
uma pessoa progressista, que não teme a novidade, que se cia formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade do
sente mal com as injustiças, que se ofende com as discrimi- educando e, em consequência, a do educador. É que o edu-
nações, que se bate pela decência, que luta contra a impuni- cador que, entregue a procedimentos autoritários ou pater-
dade, que recusa o fatalismo cínico e imobilizante, não seja nalistas que impedem ou dificultam o exercício da curiosida-
criticamente esperançosa. de do educando, termina por igualmente tolher sua própria
A desproblematização do futuro numa compreensão curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente
mecanicista da História, de direita ou de esquerda, leva ne- no exercício da negação da outra curiosidade. A curiosidade
cessariamente à morte ou à negação autoritária do sonho, dos pais que só se experimenta no sentido de saber como e
da utopia, da esperança. É que, na inteligência mecanicis- onde anda a curiosidade dos filhos se burocratiza e fenece.
ta portanto determinista da História, o futuro é já sabido. A A curiosidade que silencia a outra se nega a si mesma tam-
luta por um futuro assim “a priori” conhecido prescinde da bém. O bom clima pedagógico- democrático é o em que
esperança. o educando vai aprendendo à custa de sua prática mesma
A desproblematização do futuro, não importa em nome que sua curiosidade como sua liberdade deve estar sujeita
de quê, é uma violenta ruptura com a natureza humana so- a limites, mas em permanente exercício. Limites eticamente
cial e historicamente constituindo- se... assumidos por ele. Minha curiosidade não tem o direito de
Páginas 70/71 invadir a privacidade do outro e expô-la aos demais.
Como professor devo saber que sem a curiosidade que
2.8- Ensinar exige a convicção de que a mudança é me move, que me inquieta, que me insere na busca, não
possível; aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma
Um dos saberes primeiros, indispensáveis a quem, che- correta é um direito que tenho como gente e a que cor-
gando a favelas ou a realidades marcadas pela traição a nos- responde o dever de lutar por ele, o direito à curiosidade.
so direito de ser, pretende que sua presença se vá tornan- Com a curiosidade domesticada posso alcançar a memori-
do convivência, que seu estar no contexto vá virando estar zação mecânica do perfil deste ou daquele objeto, mas não
como ele, é o saber do futuro como problema e não como o aprendizado real ou o conhecimento cabal do objeto. A
inexorabilidade. É o saber da História como possibilidade e construção ou a produção do conhecimento do objeto im-
10
LIVROS E ARTIGOS
plica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que
“tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assu-
de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação mem eticamente, autentica o caráter formador do espaço
metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar. pedagógico.
Estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria A reação negativa ao exercício do comando é tão in-
pergunta, o que se pretende com esta ou com aquela per- compatível com o desempenho da autoridade quanto a so-
gunta em lugar da passividade em face das explicações dis- freguidão pelo mando. O mandonismo é exatamente esse
cursivas do professor, espécies de resposta a perguntas que gozo irrefreável e desmedido pelo mando. A autoridade do-
não foram feitas. Isto não significa realmente que devamos cente mandonista, rígida, não conta com nenhuma criativi-
reduzir a atividade docente em nome da defesa da curiosi- dade do educando. Não faz parte de sua forma de ser, espe-
dade necessária, a puro vai- e- vem de perguntas e respos- rar, sequer, que o educando revele o gosto de aventurar- se.
tas, que burocraticamente se esterilizam. A autoridade coerentemente democrática, fundando- se na
A dialogicidade não nega a validade de momentos ex- certeza da importância, quer de si mesma, quer da liberdade
plicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do dos educandos para a construção de um clima de real disci-
objeto. O fundamental é que professor e alunos saibam que plina, jamais minimiza a liberdade.
a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aber- Pelo contrário, aposta nela. Empenha- se em desafiá-la
ta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou sempre e sempre; jamais vê, na rebeldia da liberdade, um si-
enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se nal de deterioração da ordem. A autoridade coerentemente
assumam epistemologicamente curiosos... democrática a está convicta de que a disciplina verdadeira
Páginas 82/83 não existe na estagnação, no silêncio dos silenciados, mas no
alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga, na esperança
3- Ensinar é uma especificidade humana que desperta...
Que possibilidades de expressar- se, de crescer, vem ten- Páginas 90/91
do a minha curiosidade? Creio que uma das qualidades es-
senciais que a autoridade docente democrática deve revelar 3.2- Ensinar exige comprometimento;
em suas relações com as liberdades dos alunos é a seguran- Outro saber que devo trazer comigo e que tem que ver
ça em si mesma. É a segurança que se expressa na firmeza com quase todos os de que tenho falado é o de que não
com que atua com que decide com que respeita as liberda- é possível exercer a atividade do magistério como se nada
des, com que discute suas próprias posições, com que aceita ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva
rever- se. expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar.
Segura de si, a autoridade não necessita de, a cada ins- Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem
tante, fazer o discurso sobre sua existência, sobre si mesmo. revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser,
Não precisa perguntar a ninguém, certa de sua legitimidade, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação
se “sabe com quem está falando?” Segura de si, ela é porque dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem impor-
tem autoridade, porque a exerce com indiscutível sabedoria. tância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma
de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a
3.1- Ensinar exige segurança, competência profissio- aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço,
nal e generosidade; entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo.
A segurança com que a autoridade docente se move Se perguntado por um aluno sobre o que é “tomar dis-
implica uma outra, a que se funda na sua competência pro- tância epistemológica do objeto” lhe respondo que não sei,
fissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente mas que posso vir a saber, isso não me dá a autoridade de
desta competência. O professor que não leve a sério sua quem conhece, me dá a alegria de, assumindo minha igno-
formação, que não estude que não se esforce para estar à rância, não ter mentido. E não ter mentido abre para mim
altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as junto aos alunos um crédito que devo preservar. Eticamente
atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a op- impossível teria sido dar uma resposta falsa, um palavrea-
ção e a prática democrática do professor ou da professora do qualquer. Um chute, como se diz popularmente. Mas, de
sejam determinadas por sua competência científica. um lado, precisamente porque a prática docente, sobretudo
Há professores e professoras cientificamente prepara- como a entendo, me coloca a possibilidade que devo esti-
dos, mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que mular de perguntas varias, preciso me preparar ao máximo
a incompetência profissional desqualifica a autoridade do para, de outro, continuar sem mentir aos alunos, de outro,
professor. Outra qualidade indispensável à autoridade em não ter de afirmar seguidamente que não sei.
suas relações com as liberdades é a generosidade. Não há Saber que não posso passar despercebido pelos alunos,
nada que mais inferiorize a tarefa formadora da autoridade e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda
do que a mesquinhez com que se comporte. A arrogância no cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em
farisaica, malvada, com que julga os outros e a indulgência mim os cuidados com o meu desempenho. Se a minha op-
macia com que se julga ou com que julga os seus. A arro- ção é democrática, progressista, não posso ter uma prática
gância que nega a generosidade nega também a humildade. reacionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o alu-
Que não é virtude dos que ofendem nem tampouco dos que no em nome de nenhum motivo. A percepção que o aluno
se regozijam com sua humilhação. O clima de respeito que tem de mim não resulta exclusivamente de como atuo mas
11
LIVROS E ARTIGOS
também de como o aluno entende como atuo. Noutro momento deste texto me referi ao fato de não
Evidentemente, não posso levar meus dias como profes- termos ainda resolvido o problema da tensão entre a autori-
sor a perguntar aos alunos o que acham de mim ou como dade e a liberdade. Inclinados a superar a tradição autoritá-
me avaliam. Mas devo estar atento à leitura que fazem de ria, tão presente entre nós resvalamos para formas licencio-
minha atividade com eles. Precisamos aprender a com- sas de comportamento e descobrimos autoritarismo onde
preender a significação de um silêncio, ou de um sorriso ou só houve o exercício legítimo da autoridade.
de uma retirada da sala. O tom menos cortês com que foi Recentemente, jovem professor universitário, de opção
feita uma pergunta. Afinal, o espaço pedagógico é um tex- democrática, comentava comigo o que lhe parecia ter sido
to para ser constantemente “lido”, interpretado, “escrito” e um desvio seu no uso de sua autoridade. Disse, constrangi-
“reescrito”. Neste sentido, quanto mais solidariedade exista do, ter se oposto a que aluno de outra classe continuasse na
entre o educador e educandos no “trato” deste espaço, tanto porta entreaberta de sua sala, a manter uma conversa gesti-
mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem culada com uma das alunas. Ele tivera inclusive que parar sua
na escola... fala em face do descompasso que a situação provocava. Para
Páginas 94/95 ele, sua decisão, com que devolvera ao espaço pedagógico
3.3- Ensinar exige compreender que a educação é o necessário clima para continuar sua atividade específica e
uma forma de intervenção no mundo; com a qual restaurara o direito dos estudantes e o seu de
Outro saber de que não posso duvidar um momento prosseguir a prática docente, fora autoritária. Na verdade,
sequer na minha prática educativo- crítica é o de que, como não. Licencioso teria sido se tivesse permitido que a indisci-
experiência especificamente humana, a educação é uma plina de uma liberdade mal centrada desequilibrasse o con-
forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do texto pedagógico, prejudicando assim o seu funcionamento.
conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou Num dos inúmeros debates de que venho participando,
aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideo- e em que discutia precisamente a questão dos limites sem
logia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética os quais a liberdade se perverte em licença e a autoridade
e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a em autoritarismo ouvi de um dos participantes que, ao falar
outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas dos limites à liberdade eu estava repetindo a cantilena que
desmascaradora da ideologia dominante. caracterizava o discurso de professor seu, reconhecidamente
Neutra, “indiferente” a qualquer destas hipóteses, a da reacionário, durante o regime militar. Para o meu interlocu-
reprodução da ideologia dominante ou a de sua contesta- tor, a liberdade estava acima de qualquer limite. Para mim,
ção, a educação jamais foi, é, ou pode ser. É um erro decretá- não, exatamente porque aposto nela, porque sei que sem
-la como tarefa apenas reprodutora da ideologia dominante ela a existência só tem valor e sentido na luta em favor dela.
como erro é tomá-la como uma força de desocultação da A liberdade sem limite é tão negada quanto à liberdade as-
realidade, a atuar livremente, sem obstáculos e duras dificul- fixiada ou castrada.
dades. Erros que implicam diretamente visões defeituosas O grande problema que se coloca ao educador ou à
da História e da consciência. educadora de opção democrática é como trabalhar no sen-
De um lado, a compreensão mecanicista da História, tido de fazer possível que a necessidade do limite seja assu-
que reduz a consciência a puro reflexo da materialidade, e mida eticamente pela liberdade. Quanto mais criticamente a
de outro, o subjetivismo idealista, que hipertrofia o papel da liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade
consciência no acontecer histórico. Nem somos mulheres e tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu
homens, seres simplesmente determinados nem tampouco nome...
livres de condicionamentos genéticos, culturais, sociais, his- Páginas 102/103
tóricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a que nos
achamos referidos. 3.5- Ensinar exige tomada consciente de decisões;
Do ponto de vista dos interesses dominantes, não há Voltemos à questão central que venho discutindo nesta
dúvida de que a educação deve ser uma prática imobiliza- parte do texto: a educação, especificidade humana, como
dora e ocultadora de verdades. Toda vez, porém, que a con- um ato de intervenção no mundo. É preciso deixar claro que
juntura o exige, a educação dominante é progressista à sua o conceito de intervenção não está sendo usado com ne-
maneira, progressista “pela metade”. As forças dominantes nhuma restrição semântica. Quando falo em educação como
estimulam e materializam avanços técnicos compreendidos intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais
e, tanto quanto possível, realizados de maneira neutra. na sociedade, no campo da economia, das relações huma-
Seria demasiado ingênuo, até angelical de nossa parte, nas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educa-
esperar que a “bancada ruralista” aceitasse quieta e concor- ção, à saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente
dante a discussão, nas escolas rurais e mesmo urbanas do pretende imobilizar a História e manter a ordem injusta.
país, da reforma agrária como projeto econômico, político e Estas formas de intervenção, com ênfase mais num as-
ético da maior importância para o próprio desenvolvimento pecto do que noutro nos dividem em nossas opções em re-
nacional... lação a cuja pureza nem sempre somos leais. Rara vez, por
Páginas 96/97 exemplo, percebemos a incoerência agressiva que existe
entre as nossas afirmações “progressistas” e o nosso esti-
3.4- Ensinar exige liberdade e autoridade; lo desastrosamente elitista de ser intelectuais. E que dizer
de educadores que se dizem progressistas, mas de prática
12
LIVROS E ARTIGOS
pedagógico- política eminentemente autoritária? Não é por sibilidade de sua transgressão e a neutralidade não importa
outra razão que insisti tanto em Professora Sim, Tia Não, na de quê.
necessidade de criarmos, em nossa prática docente, entre O que devo pretender não é a neutralidade da educação
outras, a virtude da coerência. Não há nada talvez que des- mas o respeito, a toda prova, aos educandos, aos educa-
gaste mais um professor que se diz progressista do que sua dores e às educadoras. O respeito aos educadores e edu-
prática racista, por exemplo. É interessante observar como cadoras por parte da administração pública ou privada das
há mais coerência entre os intelectuais autoritários, de direi- escolas; o respeito aos educandos assumido e praticado
ta ou de esquerda. Dificilmente, um deles ou uma delas res- pelos educadores não importa de que escola, particular ou
peita e estimula a curiosidade crítica nos educandos, o gosto publica. É por isto que devo lutar sem cansaço. Lutar pelo
da aventura. Dificilmente contribui, de maneira deliberada direito que tenho de ser respeitado e pelo dever que tenho
e consciente, para a constituição e a solidez da autonomia de reagir a que me destratem...
do ser do educando. De modo geral, teimam em depositar Páginas 106/107
nos alunos apassivados a descrição do perfil dos conteúdos,
em lugar de desafiá-los a apreender a substantividade dos 3.6- Ensinar exige saber escutar;
mesmos, enquanto objetos gnosiológicos, somente como Recentemente, em conversa com um grupo de amigos e
os aprendem. amigas, uma delas, a professora Olgair Garcia, me disse que,
É na diretividade da educação, esta vocação que ela tem, em sua experiência pedagógica de professora de crianças e
como ação especificamente humana, de “endereçar- se” até de adolescentes mas também de professora de professoras,
sonhos, ideais, utopias e objetivos, que se acha o que ve- vinha observando quão importante e necessário é saber es-
nho chamando politicidade da educação. A qualidade de ser cutar. Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático
política, inerente à sua natureza. É impossível, na verdade, a e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, so-
neutralidade da educação. E é impossível, não porque pro- bretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser
fessoras e professores “baderneiros” e “subversivos” o deter- transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é
minem. A educação não vira política por causa da decisão escutando que aprendemos a ferir com eles. Somente quem
deste ou daquele educador. Ela é política. escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele. Mesmo
Quem pensa assim, quem afirma que é por obra deste que, em certas condições, precise falar a ele. O que jamais
ou daquele educador, mais ativista que outra coisa, que a faz quem aprende a escutar para poder falar com é falar im-
educação vira política, não pode esconder a forma depre- positivamente. Até quando, necessariamente, fala contra po-
ciativa como entende a política. Pois é na medida mesmo sições ou concepções do outro, fala com ele como sujeito da
em que a educação é deturpada e diminuída pela ação de escuta de sua fala crítica e não como objeto de seu discurso.
“baderneiros” que ela, deixando de ser verdadeira educação, O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar
possa a ser política, algo sem valor. o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala
A raiz mais profunda da politicidade da educação se com ele.
acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda Há um sinal dos tempos, entre outros, que me assusta: a
na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. insistência com que, em nome da democracia, da liberdade
Inacabado e consciente de seu inacabamento, histórico, ne- e da eficácia, se vem asfixiando a própria liberdade e, por
cessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de extensão, a criatividade e o gosto da aventura do espírito. A
opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação liberdade de mover- nos, de arriscar-nos vem sendo subme-
aos quais tanto pode manter- se fiel à eticidade quanto pode tida a uma certa padronização de fórmulas, de maneiras de
transgredi-la. É exatamente porque nos tornamos éticos que ser, em relação às quais somos avaliados. É claro que já não
se criou para nós a probabilidade, como afirmei antes, de se trata de asfixia truculentamente realizada pelo rei despó-
violar a ética. tico sobre seus súditos, pelo senhor feudal sobre seus vas-
Para que a educação fosse neutra era preciso que não salos, pelo colonizador sobre os colonizados, pelo dono da
houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com rela- fábrica sobre seus operários, pelo Estado autoritário sobre
ção aos modos de vida individual e social, com relação ao os cidadãos, mas pelo poder invisível da domesticação alie-
estilo político a ser posto em prática, aos valores a serem nante que alcança a eficiência extraordinária no que venho
encarnados. Era preciso que não houvesse, em nosso caso, chamando “burocratização da mente”.
por exemplo, nenhuma divergência em face da fome e da Um estado refinado de estranheza, de “auto demissão”
miséria no Brasil e no mundo; era necessário que toda a po- da mente, do corpo consciente, de conformismo do indiví-
pulação nacional aceitasse mesmo que elas, miséria e fome, duo, de acomodação diante de situações consideradas fata-
aqui e fora daqui, são uma fatalidade do fim do século. Era listamente como imutáveis. E a posição de quem encara os
preciso também que houvesse unanimidade na forma de fatos como algo consumado, como algo que se deu porque
enfrentá-las para superá-las. Para que a educação não fosse tinha que se dar da forma como se deu, é a posição, por isso
uma forma política de intervenção no mundo era indispen- mesmo, de quem entende e vive a História como determi-
sável que o mundo em que ela se desse não fosse humano. nismo e não como possibilidade. É a posição de quem se
Há uma incompatibilidade total entre o mundo humano da assume como fragilidade total diante do todo poderosíssi-
fala, da percepção, da inteligibilidade, da comunicabilidade, mo dos fatos que não apenas se deram porque tinham que
da ação, da observação, da comparação, da verificação, da se dar, mas que não podem ser “reorientados” ou alterados.
busca, da escolha, da decisão, da ruptura, da ética e da pos- Não há, nesta maneira mecanicista de compreender a
13
LIVROS E ARTIGOS
História, lugar para a decisão humana. Na medida mesma Pega-se o trem no meio do caminho e não se discutem
em que a desproblematização do tempo, de que resulta que as condições anteriores e atuais das diferentes economias.
o amanhã ora é a perpetuação do hoje, ora é algo que será Nivelam-se os patamares de deveres entre as distintas eco-
porque está dito que será não há lugar para a escolha, mas nomias sem se considerarem as distâncias que separam os
para a acomodação bem comportada ao que está aí ou ao “direitos” dos fortes e o seu poder de usufruí-los e a fraque-
que virá. Nada é possível de ser feito contra a globalização za dos débeis para exercer os seus direitos. Se a globalização
que, realizada porque tinha de ser realizada, tem de conti- implica a superação de fronteiras, a abertura sem restrições
nuar seu destino, porque assim está misteriosamente escrito ao livre comércio acabe-se então quem não puder resistir.
que deve ser. A globalização que reforça o mando das mino- Não se indaga, por exemplo, se em momentos anteriores da
rias poderosas e esmigalha e pulveriza a presença impotente produção capitalista nas sociedades que lideram a globaliza-
dos dependentes, fazendo- os ainda mais impotentes é des- ção hoje elas eram tão radicais na abertura que consideram
tino dado. Em face dela não há outra saída senão que cada agora uma condição indispensável ao livre comércio.
um baixe a cabeça docilmente e agradeça a Deus porque Exigem, no momento, dos outros, o que não fizeram
ainda está vivo. Agradeça a Deus ou à própria globalização... consigo mesmas. Uma das eficácias de sua ideologia fatalis-
Páginas 110/111 ta é convencer os prejudicados das economias submetidas
de que a realidade é assim mesmo, de que não há nada a
3.7- Ensinar exige reconhecer que a educação é ideo-
fazer, mas seguir a ordem natural dos faros. Pois é como algo
lógica;
natural ou quase natural que a ideologia neoliberal se esfor-
Saber igualmente fundamental à prática educativa do
professor ou da professora é o que diz respeito à força, às ça por nos fazer entender a globalização e não como uma
vezes maior do que pensamos da ideologia. E o que nos ad- produção histórica...
verte de suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair. É Páginas 122/123
que a ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da
verdade dos faros, com o uso da linguagem para penumbrar 3.8- Ensinar exige disponibilidade para diálogo;
ou opacizar a realidade ao mesmo tempo em que nos torna Nas minhas relações com os outros, que não fizeram
“míopes”. necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da po-
O poder da ideologia me faz pensar nessas manhãs lítica, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir
orvalhadas de nevoeiro em que mal vemos o perfil dos ci- de que devo “conquistá-los”, não importa a que custo, nem
prestes como sombras que parecem muito mais manchas tampouco temo que pretendam “conquistar- me”. É no res-
das sombras mesmas. Sabemos que há algo metido na pe- peito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência
numbra, mas não o divisamos bem. A própria “miopia” que entre o que faço e o que digo que me encontro com eles ou
nos acomete dificulta a percepção mais clara, mais nítida da com elas. É na minha disponibilidade à realidade que cons-
sombra. Mais séria ainda é a possibilidade que temos de do- truo a minha segurança, indispensável à própria disponibi-
cilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na ver- lidade. É impossível viver a disponibilidade à realidade sem
dade é, e não a verdade distorcida. A capacidade de penum- segurança, mas é impossível cambem criar a segurança fora
brar a realidade, de nos “miopizar”, de nos ensurdecer que do risco da disponibilidade.
tem a ideologia faz, por exemplo, a muitos de nós, aceitar Como professor não devo poupar oportunidade para
docilmente o discurso cinicamente fatalista neoliberal que testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto
proclama ser o desemprego no mundo uma desgraça do fim ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor minha
de século. Ou que os sonhos morreram e que o válido hoje posição em face de uma decisão governamental. Minha se-
é o “pragmatismo” pedagógico, é o treino técnico- científi- gurança não repousa na falsa suposição de que sei tudo, de
co do educando e não sua formação de que já não se fala. que sou o “maior”. Minha segurança se funda na convicção
Formação que, incluindo a preparação técnico científica, vai de que sei algo e de que ignoro algo a que se junta à certeza
mais além dela.
deque posso saber melhor o que já sei e conhecer o que ain-
A capacidade de nos amaciar que tem a ideologia nos
da não sei. Minha segurança se alicerça no saber confirmado
faz às vezes mansamente aceitar que a globalização da eco-
pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de
nomia é uma invenção dela mesma ou de um destino que
não poderia se evitar, uma quase entidade metafísica e não que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância,
um momento do desenvolvimento econômico submetido, me abre, de outro, o caminho para conhecer.
como toda produção econômica capitalista, a uma certa Sinto-me seguro porque não há razão para me enver-
orientação política ditada pelos interesses dos que detêm gonhar por desconhecer algo. Testemunhar a abertura aos
o poder. outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são
Fala- se, porém, em globalização da economia como um saberes necessários à prática educativa.
momento necessário da economia mundial a que por isso Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em
mesmo, não é possível escapar. Universaliza- se um dado vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de
do sistema capitalista e um instante da vida produtiva de abertura ao outro como objeto da reflexão crítica deveria fa-
certas economias capitalistas hegemônicas como se o Brasil, zer parte da aventura docente. A razão ética da abertura, seu
o México, a Argentina devessem participar da globalização fundamento político, sua referência pedagógica; a boniteza
da economia da mesma forma que os Estados Unidos, a Ale- que há nela como viabilidade do diálogo. A experiência da
manha, o Japão. abertura como experiência fundante do ser inacabado que
14
LIVROS E ARTIGOS
terminou por se saber inacabado. Seria impossível saber- se rados não com discursos raivosos, sectários, que só não são
inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura ineficazes porque dificultam mais ainda meus alunos, dimi-
de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O fecha- nuo a distância que me separa de suas condições negativas
mento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao im- de vida na medida em que os ajudo a aprender não importa
pulso natural da incompletude. que saber, o do torneiro ou o do cirurgião, com vistas à mu-
O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura dança do mundo à esperança das estruturas injustas, jamais
com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como com vistas à sua imobilização...
inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanen- Páginas 132/133
te movimento na História. Certa vez, numa escola da rede
municipal de São Paulo que realizava uma reunião de quatro 3.9- Ensinar exige querer bem aos educandos;
dias com professores e professoras de dez escolas da área E o que dizer, mas sobretudo que esperar de mim, se,
para planejar em comum suas atividades pedagógicas, visi- como professor, não me acho tomado por este outro saber,
tei uma sala em que se expunham fotografias das redonde- o de que preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às
zas da escola. Fotografias de ruas enlameadas, de ruas bem vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria
postas também. Fotografias de recantos feios que sugeriam prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer
tristeza e dificuldades. Fotografias de corpos andando com bem não significa, na verdade, que, porque professor me
dificuldade, lentamente, alquebrados, de caras desfeitas, de obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira igual.
olhar vago. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não
Um pouco atrás de mim dois professores faziam comen- tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer
tários em torno do que lhes tocava mais de perto. De re- bem a maneira que tenho de autenticamente selar o meu
pente, um deles afirmou: “Há dez anos ensino nesta escola. compromisso com os educandos, numa pratica específica
Jamais conheci nada de sua redondeza além das ruas que do ser humano. Na verdade preciso descartar como falsa a
lhe dão acesso. Agora, ao ver esta exposição de fotografias separação radical entre seriedade docente e efetividade. Não
que nos revelam um pouco de seu contexto, me convenço é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que se-
de quão precária deve ter sido a minha tarefa formadora du-
rei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais
rante todos estes anos. Como ensinar, como formar sem es-
distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os
tar aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos?”
alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar.
A formação dos professores e das professoras devia in-
A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O
sistir na constituição deste saber necessário e que me faz
que não posso obviamente permitir é que minha afetividade
certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que
interfira no cumprimento ético de meu dever de professor
tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em
no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar
que vivemos. E ao saber teórico desta influência teríamos
a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou
que juntar o saber teórico- prático da realidade concreta em
que os professores trabalham. Já sei, não há dúvida, que as menor bem querer que tenha por ele.
condições materiais em que e sob que vivem os educan- A minha abertura ao querer bem significa a minha dis-
dos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, ponibilidade à alegria de viver. Justa alegria de viver, que,
sua capacidade de aprender, de responder aos desafios. assumida plenamente, não permite que me transforme num
Preciso, agora, saber ou abrir- me à realidade desses alunos ser “adocicado” nem tampouco num ser arestoso e amargo.
com quem partilho a minha atividade pedagógica. Preciso A atividade docente de que a discente não se separa é
tornar-me, se não absolutamente íntimo de sua forma de uma experiência alegre por natureza. E falso também tomar
estar sendo, no mínimo, menos estranho e distante dela. E como inconciliáveis seriedade docente e alegria, como se a
a diminuição de minha estranheza ou de minha distância da alegria fosse inimiga da rigorosidade. Pelo contrário, quanto
realidade hostil em que vivem meus alunos não é uma ques- mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e na
tão de pura geografia. minha docência, tanto mais alegre me sinto e esperançoso
Minha abertura à realidade negadora de seu projeto também. A alegria não chega apenas no encontro do acha-
de gente é uma questão de real adesão de minha parte a do mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender
eles e a elas, a seu direito de ser. Não é mudando-me para não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da
uma favela que provarei a eles e a elas minha verdadeira alegria. O desrespeito à educação, aos educandos, aos edu-
solidariedade política sem falar ainda na quase certa perda cadores e às educadoras corrói ou deteriora em nós, de um
de eficácia de minha luta em função da mudança mesma. O lado, a sensibilidade ou a abertura ao bem querer da própria
fundamental é a minha decisão ético-política, minha vonta- prática educativa de outro, a alegria necessária ao que- fazer
de nada piegas de intervir no mundo. É o que Amílcar Cabral docente. É digna de nota a capacidade que tem a experiên-
chamou “suicídio de classe” e a que me referi, na Pedagogia cia pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em
do Oprimido, como páscoa ou travessia. No fundo, diminuo nós o gosto de querer bem e o gosto da alegria sem a qual a
a distância que me separa das condições malvadas em que prática educativa perde o sentido. É esta força misteriosa, às
vivem os explorados, quando, aderindo realmente ao so- vezes chamada vocação, que explica a quase devoção com
nho de justiça, luto pela mudança radical do mundo e não que a grande maioria do magistério nele permanece, apesar
apenas espero que ela chegue porque se disse que chegará. da imoralidade dos salários. E não apenas permanece, mas
Diminuo a distância entre mim e a dureza de vida dos explo- cumpre como pode, seu dever. Amorosamente, acrescento.
15
LIVROS E ARTIGOS
Mas é preciso, sublinho, que, permanecendo e amoro- Mas sou gente. O que não posso, por uma questão de
samente cumprindo o seu dever, não deixe de lutar politica- ética e de respeito profissional, é pretender passar por tera-
mente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua peuta. Não posso negar a minha condição de gente de que
tarefa, assim como pelo zelo devido ao espaço pedagógico se alonga, pela minha abertura humana, uma certa dimen-
em que atua com seus alunos. são terápica....
É preciso, por outro lado, reinsistir em que não se pense
que a prática educativa vivida com afetividade e alegria, pres-
cinda da formação científica séria e da clareza política dos edu- FREITAS, LUIZ CARLOS DE. CICLOS,
cadores ou educadoras. A prática educativa é tudo isso: afeti- SERIAÇÃO E AVALIAÇÃO: CONFRONTOS DE
vidade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço LÓGICAS. SÃO PAULO: MODERNA, 2003. 96 P.
da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje. É (COTIDIANO ESCOLAR).
exatamente esta permanência do hoje neoliberal que a ideo-
logia contida no discurso da “morte da História” propõe. Per-
manência do hoje a que o futuro desproblematizado se reduz. O autor expõe as experiências da prefeitura de Belo Ho-
Daí o caráter desesperançoso, fatalista, antiutópico de uma tal rizonte e da Secretaria de Educação de São Paulo que em
ideologia em que se forja uma educação friamente tecnicista 94 iniciou o processo de progressão continuada: Tais expe-
e se requer um educador exímio na tarefa de acomodação ao riências colocam os limites, as possibilidades e desacertos
munido e não na de sua transformação. Um educador com destas novas propostas bem como a política pública que
muito pouco de formador, com muito mais de treinador, de norteia a implantação da nova organização escolar; a prática
transferidor de saberes, de exercitador de destrezas. de avaliação adotada dentro da nova proposta gerou deba-
Os saberes de que este educador “pragmático” necessita tes sobre a avaliação.
na sua prática não são os de que venho falando neste livro. A Segundo o autor a diferenças entre estas duas experiên-
mim não me cabe falar deles, os saberes necessários ao edu- cias; ele diferencia a partir dos exemplos de BH e São Paulo
cador “pragmático” neoliberal mas, denunciar sua atividade duas formulações que são chamadas de ciclos mas, que no
anti-humanista. O educador progressista precisa estar con- seu entender não deveriam sê-lo: trata-se da diferença entre
vencido como de suas consequências é o de ser o seu tra- a estratégia de organizar a escola por círculos de formação
balho uma especificidade humana. Já vimos que a condição que se baseiem em experiências socialmente significativas
humana fundante da educação é precisamente a inconclu- para a idade do aluno e de agrupar series com o propósito
são de nosso ser histórico de que nos tornamos conscientes. de garantir a progressão continuada do aluno; a primeira
Nada que diga respeito ao ser humano, à possibilidade de exige uma proposta global de redefinição de tempos e espa-
seu aperfeiçoamento físico e moral, de sua inteligência sen- ços da escola , enquanto a segunda é instrumental – destina-
do produzida e desafiada, os obstáculos a seu crescimento, -se a viabilizar o fluxo e alunos e tentar melhorar suas apren-
o que possa fazer em favor da boniteza do mundo como de dizagem com medidas de apoio ( reforço, recuperação).
seu enfeamento, a dominação a que esteja sujeito, a liberda- O autor apresenta no primeiro capitulo a discussão sobre
de por que deve lutar, nada que diga respeito aos homens e a lógica da escola mostrando que a progressão continuada
às mulheres pode passar despercebido pelo educador pro- não investe em grandes avanços na significação educacio-
gressista. Não importa com que faixa etária trabalhe o edu- nal, mas continua a exclusão e a submissão; mostra a lógica
cador ou a educadora. da avaliação formal que pode levar o aluno a reprovação.
O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda, jo- Em seguida mostrar a importância da redefinição da es-
vem ou adulta, mas gente em permanente processo de bus- cola em ciclos
ca. Gente formando- se, mudando, crescendo, reorientan-
do- se, melhorando, mas, porque gente, capaz de negar os A lógica da escola
valores, de distorcer-se, de recuar, de transgredir. Não sendo A escola atual usa várias terminologias para definir o
superior nem inferior a outra prática profissional, a minha, processo educativo: ciclos, promoção automática, progres-
que é a prática docente, exige de mim um alto nível de res- são continuada, etc.
ponsabilidade ética de que a minha própria capacitação cien- Para o autor o espaço mais importante da escola é a
tífica faz parte. É que lido com gente. Lido, por isso mesmo, sala de aula e o tempo é da seriação das atividades dos anos
independente- mente do discurso ideológico negador dos escolares; segundo os liberais, a escola tem que ensinar tudo
sonhos e das utopias, com os sonhos, as esperanças tímidas, a todos igualmente (equidade).
às vezes, mas às vezes, fortes, dos educandos. Se não posso, Segundo a visão liberal a escola tem a sua eficácia na
de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de equidade., não levando em conta o nível socioeconômico
outro, negar a quem sonha o direito de sonhar. Lido com todos devem aprender em um nível elevado. Já os socialis-
gente e não com coisas. E porque lido com gente, não posso, tas, embora concordam com a aprendizagem aplicada em
por mais que, inclusive, me dê prazer entregar- me à reflexão um nível elevado de domínio, tem um olhar critico e acre-
teórica e crítica em torno da própria prática docente e dis- ditam que a escola deve lutar pela eliminação dos desníveis
cente, recusar a minha atenção dedicada e amorosa à proble- sociais e culturais.
mática mais pessoal deste ou daquele aluno ou aluna. Desde De acordo com autor a escola brasileira está longe de
que não prejudique o tempo normal da docência, não posso ensinar tudo a todos porque a hierarquia econômica que
fechar-me a seu sofrimento ou à sua inquietação porque não existe fora dela, impede isso; precisa-se saber o que é desejo
sou terapeuta ou assistente social. e o que a realidade apresenta.
16
LIVROS E ARTIGOS
A unificação do tempo de aprendizagem diferencia o Os ciclos de formação constituem uma nova concepção
desempenho dos alunos, pois os alunos têm ritmos dife- de escola para o ensino fundamental, na medida em que en-
rentes de aprendizagem; quando se quer unificar aprendi- cara a aprendizagem como um direito da cidadania, propõem
zagens é necessário alterar o tempo desta, pois é preciso o agrupamento dos estudantes onde crianças e adolescen-
o respeito pelo tempo que cada aluno leva para aprender; tes são reunidos por suas faces de formação: Infância ( 6 a 8
neste caso, o acompanhamento pedagógico também preci- anos); pré-adolescência (9ª 11) e adolescência (12 a 14 ).
sa ser diferenciado. Os educadores formam coletivos por ciclo, sendo que
A diferenciação entre progressão continuada e promo- responsabilidade pela aprendizagem no ciclo é sempre
ção automática, enfatizada nos textos oficiais é assim apre- compartilhada por um grupo de docentes e não de forma
sentada: individual.
- Na progressão a criança avança em seu percurso es- O autor cita experiência russa em redefinir a escola, com
colar em razão de ter se apropriado, pela ação da escola, de temas como:
novas formas de pensar, sentir e agir. A - Formação na atualidade o aluno deve interagir com
-Na promoção automática a criança permanece na uni- a s contradições do seu tempo, aumentando gradualmente
dade escolar, independentemente de progressos terem si- forças que o levará à superação da sociedade capitalista; os
dos alcançados. ciclos devem se estruturar para que as vivências sociais este-
A escola do Estado de São Paulo baseou-se na progres- jam ligadas a realidade social do seu tempo
são continuada, reunindo da 1ª à 4º série e um único módu- B - auto-organização do estudante: Aprendizagem não
lo e da 5ª à 8º em outro módulo. pode ser baseada na subordinação e isso só pode ser possí-
Para o autor a escola eficaz seria aquela que ensina o vel quando o trabalho coletivo e a solidariedade são valori-
conteúdo, prepara o estudante – cidadão para a autonomia zados e colocados como alavancas da aprendizagem.
e para a auto-organização para intervenção da sociedade É preciso que os ciclos alterem, além dos tempos e espa-
com vistas a torná-la mais justa no sentido da eliminação da ços, o poder que estão neles inseridos; os estudantes devem
exploração do homem pelo homem. Tudo depende de que ter voz e voto.
fins atribuiremos à ação da escola Os ciclos devem se abrir para a vida real e não se separa
da realidade social vigente; a avaliação deve ser vista como
2- A lógica da avaliação resultado das relações entre professores e alunos, pais e di-
No processo avaliativo devem estar intrínsecos três rigentes das escola s.
componentes: O currículo deve ser baseado em temas que são dinâ-
micos construídos pelos professores e cujo método deve ser
1- Institucional – é mais conhecido e propõe avaliar o
uma grande inter-relação entre vida real da sociedade em
domínio de habilidades e conteúdos apresentados em provas
que vive levando-se em consideração a idade e os interesses
2- Comportamento – é por este componente que se
dos alunos.
avalia se o professor controla o aluno; na implantação dos
Par o autor os ciclos não podem constituir-se em mera
ciclos se esquece o poder do professor de aprovar ou de
solução pedagógica visando a seriação – são instrumentos
reprovar, não se cria estruturas de poder na sala de aula; por
de desenvolvimentos de soluções sociais de antagonismo
isso muitas vezes o educador lança a mão de outras manei-
com as relações sociais vigentes. Portanto, devem ser vistos
ras de controle.
como instrumentos de resistência professores, pais e estu-
3- Valores e atitudes - em que o aluno é exposto a dantes; devem compreender adequadamente a função dos
repressões verbais e físicas, estabelecendo a lógica da sub- ciclos e deixar de velos de ângulo exclusivamente metodo-
missão. lógico – pedagógico. Devem vê-los como instâncias políti-
Para o autor a avaliação ocorre em dois planos: cas de resistência à escola convencional e que junto aos
a- avaliação formal – provas que levam a notas movimentos sociais avançados irá ajudar a confirmar uma
b- avaliação informal- juízos de valores, que não apa- nova sociedade, na qual homens não sejam exploradores de
recem, mas influenciam notas das avaliações finais; esse juí- homens
zos se formam através da interação professor aluno
4- Alógica dos ciclos A LÓGICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Enquanto nova proposta, os ciclos procuram mudar a Pais e professores precisam atuar juntos, a fim de garan-
lógica e a avaliação da escola seriada; sem excluir a avaliação tir o sucesso dos ciclos.
informal ou formal, procura redefinir seus propósitos, junto As políticas públicas que querem os ciclos ou a progres-
com o reforço e recuperação paralela. são continuada são importantes para a implantação dos no-
Partindo do conceito de ciclos é preciso que se incorpo- vos processos e não podem ficar de fora. Existem políticas
re na organização social novas exigências para o sucesso e a que querem o envolvimento dos professores e pais no pro-
superação da lógica da exclusaõ e submissão. cesso, outros já atuam mais verticalmente.
A experiência de BH e da Prefeitura municipal de São As políticas públicas que se formam verticalizadas ofe-
Paulo orienta o professor fornecendo – lhe parâmetros nor- recem informações que dificultam o uso local, pois usam
teadores da prática pedagógica, sendo eles: As diferentes fa- padrões genéricos de qualidade que serão medidos por
ces do desenvolvimento humano do aluno, as características meios classificatórios centrais, não considerando as relações
de cada um e suas experiências sócios culturais. que existem entre os resultados que foram atingidos com as
17
LIVROS E ARTIGOS
condições oferecidas. É mito mais eficiente quando a escola O professor não dever ser técnico, mas dinâmico no
tem um resultado real de sua posição, lutando dentro dela cultural e social, deve ser dotado de conhecimentos objetivos
para chegar a um patamar superior, através da análise local e subjetivos, habilidades e atitudes para desenvolver profis-
dos resultados e condições que lhe foram oferecidas. sionalmente, de forma reflexiva e investigadora, superando a
A nova organização denominada “ciclos” tem sido criti- alienação.
cadas por ser avaliada como incapacitada de ensinar as dis- Fonte: http://lidialindislay.blogspot.com/2010/03/re-
ciplinas mais tradicionais. Tem-se dado a responsabilidade sumo-de-livros-imbernon-francisco.html
do processo, de manter crianças analfabetas na escola; real-
mente os ciclos mantêm o aluno com dificuldades na sala de
aula; ele não é excluída dela, o educando fica na escola de- KLEIMAN, ANGELA E MORAES, SÍLVIA.
nunciando a qualidade do sistema e tendo a oportunidade LEITURA E INTERDISCIPLINARIDADE:
de ser recuperado em séries posteriores. TECENDO REDES NOS PROJETOS DA ESCOLA.
A repetência e a evasão sob a visão neoliberal geram CAMPINAS, SP: MERCADO DE LETRAS, 1999.
gastos ao estado; conclui-se que não é apenas uma questão
da qualidade do ensino, mas o lado econômico, custo bene-
ficio, que está em questão; o lado humano, formativo fica As propostas a serem discutidas nesta obra estão basea-
em segundo plano. das na observação direta do cotidiano da escola - onde foram
examinados planos de ensino, propostas pedagógicas e livros
didáticos, e foram entrevistados professores e equipe de di-
IMBERNÓN, FRANCISCO. FORMAÇÃO reção (coordenadores pedagógicos, diretores e vice-diretores)
DOCENTE E PROFISSIONAL: FORMAR-SE -, nas novas teorias educacionais, e nos Parâmetros Curricula-
PARA A MUDANÇA E A INCERTEZA. SÃO res Nacionais (PCN), que sugerem contrapor a fragmentação
PAULO: CORTEZ, 2004. e a linearidade do currículo à interdisciplinaridade, fazer face
à alienação com a transversalidade, e neutralizar o excessivo
individualismo com o trabalho coletivo.
Há um incremento acelerado e mudanças nas formas do
contexto da sociedade. Uma evolução acelerada da socieda- INTRODUÇÃO
de que tem mudanças nas formas de agir, pensar e senti das A autora Angela Kleiman demonstra nesta obra a gran-
novas gerações. A educação não é só dos docentes passa a de diferença existente entre a teoria e a prática no contexto
ser de toda a sociedade. Há também mudanças no meio de escolar brasileiro. Mostra como a escola reflete e perpetua o
comunicação e nas tecnologias. Pra tudo isso, requer um pro- grande problema de uma sociedade contraditória, que diz
fissional da educação diferente com uma prática reflexiva. valorizar muito a educação enquanto, na verdade, empobre-
A educação deve conter a imperatividade, ou seja, in- ce, desvaloriza e menospreza seus docentes. Discorre como a
tegração com o outro. Compartilhar, trabalho coletivo. Ser escola continua sendo autoritária e cerceante, apesar da ga-
profissional requer um trabalho com objetividade política. rantia da gestão democrática nas escolas públicas pelas leis
Educar para incluir e ascender socialmente, levando em con- de Diretrizes e Bases. Também enfatiza o fato de a escola di-
sideração a complexidade de todas as formas que nos ro- fundir um ensino fragmentado, que valoriza o individualismo
deiam. e a falta de consciência coletiva e de solidariedade, enquanto
Crescer e ter acesso a informações e te atitude fazendo a sociedade e o mercado de trabalho cada vez mais exigem
o aluno participar. Cidadania. cidadãos e profissionais críticos e participativos capazes de
Conhecer os alunos, a comunidade interna e externa da interagir por inteiro com a realidade que o cerca, tanto na
escola são fatores que aumentam a qualidade docente, tan- empresa quanto na comunidade.
to como pesquisa como gestão. Apesar da flexibilidade exigida em todos os níveis pela
A prática docente deve ser refletida diariamente, para LDB, ainda prevalece o ensino baseado em livros didáticos que
evoluir e assim contribuir para que o aluno entre o embasa- apresentam um conhecimento linear, sequencial e dividido em
mento na instituição escolar. unidades arbitrárias. O currículo tradicional escolar é alienante
O professor deve ter consciência da importância do tra- e individualista, nele cabe ao aluno só responder o que está
balho coletivo, e que um aprende com o outro, em regime previsto no material disponibilizado, sem realmente ter enten-
de colaboração com todos. Deve se ter como ponto de par- dimento do que se trata. O aluno realiza atividades que não
tida, discussão coletiva que um projeto se inicie com a rea- possuem nenhuma ligação com sua realidade sociocultural.
lidade do aluno. A coletividade pressupõe partilha, reflexão, A autora apresenta sua proposta para a problemática do
comprometimento, interatividade, formação permanente, currículo da escola fundamental baseada na observação direta
colegialidade, realidade social, inclusão e ascensão social. do cotidiano da escola, nas novas teorias educacionais e nos
A qualidade da instituição escolar depende da qualida- Parâmetros Curriculares Nacionais, que sugerem a interdisci-
de do aluno por meio de suas contribuições a sociedade. plinaridade e a transversalidade em contraposição ao currículo
Para isso, deve-se desvelar o currículo oculto e descobrir tradicional, tendo como premissa ser função mor da escola for-
maneiras de seu mundo, a escola e de sua organização. necer ao aluno os instrumentos necessários para que ele saiba
A educação passa a ser democrática e a bagagem que compreender e fazer uso correto das informações complexas
o aluno traz leva a uma ação e reflexão para que aprendam que recebe do mundo atual e se tornar uma pessoa capaz e
a mudar. plenamente ciente de suas atitudes, deveres e direitos.
18
LIVROS E ARTIGOS
Para Ângela Kleiman, a leitura, por sua natureza integra- A interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem
dora de saberes é a chave para exercer esse papel na escola. epistemológica – forma diferenciada de se produzir e se
A autora acredita que desenvolver um trabalho escolar perceber o conhecimento - dos objetos do conhecimento
que articule e integre as diferentes áreas do conhecimento questionando a fragmentação e a linearidade do mesmo,
pressupõe uma capacidade comum – a leitura- valor, pré-re- enquanto a transversalidade refere-se a uma abordagem
quisito e, ao mesmo tempo objetivo do trabalho coletivo da pedagógica que permita ao aluno ter uma visão ampla e
escola e propõe-se a ajudar os professores do ensino funda- consciente da realidade brasileira e sua inserção no mundo,
mental, alunos de Letras e Pedagogia e de licenciatura em bem como sua participação social, questionando por sua
geral a desenvolverem modalidades de projetos interdiscipli- vez a alienação e o individualismo do conhecimento. São na
nares com um objetivo final e comum, o desenvolvimento de verdade conceitos inseparáveis e que podem ser postos em
leitores competentes, e com um ponto de partida também prática pelo trabalho coletivo.
em comum, a atividade de leitura. Segundo os PCN, a escola contribui muito com o pro-
De acordo com a autora sua proposta parte de quatro jeto de educação comprometida com o desenvolvimento
premissas básicas: de capacidades que permitam intervir com a realidade para
1) Os trabalhos sobre ensino da leitura nas escolas devem modificá-la. Um projeto pedagógico com esse objetivo po-
enfocar questões de linguagem comuns a todos os professo- derá ser orientado por três grandes diretrizes:
res de todas as disciplinas do currículo da escola e não apenas 1) Tomar posição quanto às questões sociais e interpre-
serem dirigidas aos profissionais de língua. tar a tarefa de educar como uma intervenção na realidade
2) Todo professor é formador e também professor de lei- no presente momento;
tura. Se a escola é a mais importante instituição na introdução 2) Não tratar os valores apenas como conceitos ideais. O
do aluno nas práticas de uso da escrita na sociedade é eviden- educador deve pautar suas opções metodológicas de modo
te que todos os professores juntos valorizem e ensinem leitu- a incorporar o valor em questão com o objetivo das ativi-
ra, o que tornará mais efetiva a formação de novos leitores. dades;
3) A maioria das escolas não tem condições materiais ne- 3) Notar que a leitura é a atividade-elo que transforma
cessárias – como boas bibliotecas, disponibilidade para mui- os projetos de um professor em projetos interdisciplinares
tas horas de planejamento, computadores etc - para desen- e que o ensino e a prática da leitura, atividade constitutiva
volver projetos, assim sendo a utilização de revistas semanais da aprendizagem deve fazer parte de todas as atividades da
escola, e que todo professor, em última instância, é um pro-
de informação que deveriam estar a disposição nas bibliote-
fessor de leitura.
cas das salas e das escolas, serve muito bem como ponto de
Quanto à transversalidade, a autora conclui que os
partida para os trabalhos da escola. O início dos trabalhos na
professores da rede pública sentem necessidade e dese-
escola partindo das notícias e reportagens dessas revistas se
jam incluir valores que valham a pena serem ensinados no
justificam por retomarem assuntos atuais de interesse público
currículo fundamental, mas ainda não sabem como fazê-lo
que preocupam a sociedade, mas levando sempre em con-
por terem uma formação dentro da concepção fragmenta-
sideração a superficialidade e alienação desse tipo de texto. da, positivista do conhecimento. Fato que não lhes permite
4) É muito importante também a formação do professor. pensar interdisciplinarmente, dificulta o desenvolvimento de
Os educadores precisam estar atualizados e bem instrumen- projetos temáticos que exigem intensos trabalhos coletivos,
tados para terem opções reais de trabalho e poderem deci- além de nunca terem participado da elaboração do sistema
dir que projetos desenvolver. A autora pretende apresentar educacional e não conseguirem ver a leitura como uma ati-
uma proposta de trabalho para o desenvolvimento de proje- vidade de linguagem fundamental para o desenvolvimento
tos interdisciplinares expondo seus fundamentos teóricos, os do indivíduo em sociedades tecnológicas.
modos de operacionalizá-los e alguns exemplos. Destacando Estudos recentes mostram a preocupação generaliza-
que cada projeto elaborado deve sempre levar em conside- da com a inclusão de temas transversais nos currículos das
ração os problemas a serem resolvidos naquele lugar, qual o escolas fundamentais, temas como ética, direitos humanos,
tipo de aluno, dos recursos humanos e dos materiais disponí- respeito ao meio ambiente, cidadania e multiculturalismo.
veis. Não existe uma fórmula única e imutável. No Brasil, o MEC, através da proposta dos PCN, os temas
transversais propostos para as escolas brasileiras são ética,
CAPÍTUO 1 pluralidade cultura, meio ambiente,orientação sexual, saúde
Este capítulo trata dos mecanismos que permitem a frag- e temas locais.
mentação e alienação da escola fundamental. Também con- Os PCN trazem os temas transversais para dentro do
textualiza as dificuldades e a urgência de se desenvolver um currículo, para os fundamentos, para os objetivos, conteúdos
currículo integrado e relevante. e critérios de avaliação de todas as áreas e passam a ser par-
te integrante dessas áreas definindo uma perspectiva para o
INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE trabalho educativo que se faz a partir delas.
NOS PCN Para a autora, por mais relevantes e atuais que sejam as
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais temáticas a escola deve ensinar o indivíduo a aprender para
(PCN) a interdisciplinaridade e a transversalidade se baseiam poder selecionar e organizar informações em redes pessoais
na crítica de uma concepção que toma a realidade como um de conhecimento. Projetos relevantes para a vida social de-
conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer vem visar também o desenvolvimento do aluno através de
isento e distanciado. sua inserção no mundo de hoje.
19
LIVROS E ARTIGOS
DIRETRIZES PARA A INTEGRAÇÃO CURRICULAR Outro fator, segundo a autora para a fragmentação do
A fragmentação da formação do cidadão há muito trabalho pedagógico é a organização do tempo da escola,
preocupa os educadores e os recentes apelos para reformas que determina um “tempo ideal” para a execução de deter-
educacionais focalizam a necessidade de se desenvolverem minados trabalhos, sem levar em consideração os diferentes
currículos que enfatizem a aprendizagem conceitual e a ritmos de aprendizagem e que se torna à camisa de força do
prática social. As experiências educacionais são mais autên- trabalho pedagógico.
ticas e de maior valor para os alunos quando os currículos A autora sabe que o desenvolvimento de leitores não irá
refletem a vida real. mudar por completo esse quadro, mas que, por outro lado
A educação interdisciplinar vale-se de conexões natu- à concepção democrática da leitura – a leitura como direito
rais e lógicas que cruzam as áreas de conteúdos e organi- para todos - poderia evitar o apronfudamento desta divisão.
za-se ao redor de perguntas, temas, problemas ou projetos.
Tal instrução responde melhor à curiosidade dos alunos so- A ESCOLA ALIENANTE
bre a vida real e resulta em uma aprendizagem produtiva e Ângela Kleiman utiliza-se da Teoria Marxista sobre o
atividades produtivas em relação à escola e aos professores. trabalho alienado para explicar o trabalho pedagógico nos
As relações interdisciplinares propiciam a solução cria- moldes como ele está sendo realizado.
tiva de problemas e tomadas de decisões e encorajam a Segundo Marx, o trabalho torna-se alienado quando o
interação entre os alunos com respeito às diversidades cul- trabalhador não se reconhece no produto de seu trabalho ,
turais, e de acordo com esses pressupostos recomenda-se quando esse é algo estranho ao trabalhador. O trabalho é a
os princípios para a laboração do currículo do ensino fun- atividade que, quando produtiva, constitui a objetivação da
damental: vida do homem, que, através dele, cria, transforma e ilumina
1) Manter a integridade do conteúdo das diferentes a natureza à sua imagem, mas quando estranho ao traba-
disciplinas, como parte de unidades integradas apropriadas lhador pode ser um poderoso meio para aliená-lo na vida.
aos interesses dos alunos e a seu conhecimento cognitivo Na escola pública brasileira , na maioria das vezes, se-
e social. gundo a autora, alunos e professores também produzem
2) Promover o desenvolvimento de uma comunidade algo cujo sentido lhes escapa; eles não se reconhecem no
de aprendizagem na qual alunos e professores, juntos,de- produto de seu trabalho. O trabalho do professor é alienante
terminem os assuntos, perguntas e estratégias de investi- porque ele está sobrecarregado pela burocracia, sem tempo
gação. para preparar suas aulas, não reconhece o objeto de seu tra-
3) desenvolver salas de aula democráticas, onde os alu- balho por estar cada vez mais desprestigiado e empobrecido
nos são encorajados a assumir cada vez mais responsabili- e por sentir que o conteúdo transmitido pela escola pou-
dades por sua aprendizagem de forma a ganharem confian- co ou nada vai adiantar para a melhora da vida dos jovens,
ça em suas habilidades de achar informações, entendê-las, ao mesmo tempo em que é alienado já que as ações dos
elaborar ideias e tomar decisões. professores dentro da escola são determinas pelas tradições
4) fornecer uma variedade de oportunidades para inte- que perpetuam as desigualdades da sociedade, fazendo do
ração entre os alunos. trabalho do professor um servidor das funções que pouco
5) ensinar aos alunos a usar uma vasta variedade de têm a ver com seus próprios objetivos e intenções.
fontes de comunicação oral e escrita, observação direta, Para a autora o aluno é alienado pelo fato de participar
experimentação, utilizando múltiplos sistemas simbólicos de processos educacionais que reproduzem as desigualda-
como instrumentos para aprender e mostrar conhecimento. des sociais, sendo passivo e sem chance de desenvolver seu
6) utilizar critérios de largo espectro para avaliar os pro- senso crítico, sem oportunidade de estabelecer suas pró-
cessos e resultados de aprendizagem dos alunos. prias relações e construções nas práticas de aprendizagem.
Para o desenvolvimento de tais projetos a autora frisa Os projetos interdisciplinares de caráter colaborativo
que é pré-requisito e objetivo que os alunos sejam usuários podem vir a se constituírem em instrumentos necessários
proficientes da língua escrita, daí privilegiar a prática social para a resistência a esse processo educacional atual e para a
da leitura. sua efetiva transformação.
20
LIVROS E ARTIGOS
Ângela Kleiman propõe que a leitura é a chave para re- do professor estabelecendo um maior conhecimento e in-
volução no processo educacional, pois permite que todos teração da criança durante o processo do ensino da leitura,
possam realmente entender e compreender o mundo e a com negociações produtivas e construtivas para o desen-
realidade ao seu redor. volvimento de atividades relacionadas a uma proposta de
Sendo a leitura um instrumento tão poderoso de trans- trabalho mais concreto, sem que haja uma simples trans-
formação tanto do sistema educacional como na formação ferência de conhecimentos do professor para o aluno, com
de verdadeiros cidadãos, todos os professores do ensino formas diferenciadas de oralidade e escrita.
fundamental devem fazer uso dela para ensinar seus alunos O sistema educativo brasileiro, tem como finalidade
a aprenderem a aprender. ainda, levar a escola e as intenções subentendidas nos cur-
A leitura é a atividade-elo entre todas as disciplinas do rículos de forma bastante honrosa. O ponto fraco é a enor-
currículo escolar e permite a interdisciplinaridade entre os me desigualdade em sua realização, em primeiro lugar na
trabalhos pedagógicos. Sendo o aluno um usuário proficien- interpretação que se faz e que determina o “currículo real”,
te da língua escrita, também será um cidadão consciente e depois, e sobretudo, nas aprendizagens efetivas dos alunos.
capaz de levar para suas relações pessoais todas as informa- *Texto adaptado de Valdec Romero.
ções oferecidas pelo mundo atual aos cidadãos comuns de
forma vertiginosa.
Outro ponto importante exposto pelo texto é a premente LIBANEO, JOSÉ CARLOS. EDUCAÇÃO
necessidade da transversalidade no currículo do ensino fun- ESCOLAR: POLÍTICAS, ESTRUTURA E
damental, uma vez que os assuntos relevantes para a socieda- ORGANIZAÇÃO – 10ª. EDIÇÃO. SÃO PAULO:
de são de suma importância para a educação do aluno , pos- CORTEZ, 2012. (COLEÇÃO DOCÊNCIA EM
sibilitando uma visão ampla e consciente da realidade do país FORMAÇÃO: SABERES PEDAGÓGICOS/
e de sua inserção no mundo, bem como sua posição social. COORDENAÇÃO SELMA GARRIDO PIMENTA)
As abordagens interdisciplinares e transversais são liga-
das e permitem um processo de educação e aquisição de
conhecimento mais eficiente e vantajoso para o aluno, uma O sistema educativo e as escolas estabelecem relações
vez que ele consegue enxergar como o que está sendo pas- entre si e existem duas importantes razões para conhecer e
sado pelo professor terá influência na sua vida. analisá-las. A primeira faz referencia às políticas educacio-
Essas abordagens dão a oportunidade do professor nais e as diretrizes organizacionais e curriculares que são as
educador a questionar prática docente, sob aspectos que o idéias, valores, atitudes e práticas capazes de influenciar as
levem a refletir sobre uma proposta de trabalho relacionada escolas e seus profissionais no que diz respeito às práticas
à interação professor/aluno por meio da leitura cujos con- formativas dos alunos. A segunda está pautada aos profis-
ceitos estarão voltados para a contribuição da aprendiza- sionais das escolas os quais podem aceitar ou rejeitar essas
gem dentro do processo do “ensino da leitura”, tornando-se políticas e diretrizes educacionais, ou até mesmo, dialogar
uma poderosa ferramenta de aprendizado. com elas e então formular, de modo coletivo, práticas for-
Sob o mesmo ponto de vista, da interdisciplinares e mativas e inovadoras.
transversais, desperta uma reflexão sobre o trabalho docen- Para tanto, é preciso conhecer e analisar como se inter-
te relacionada à interação entre professor e aluno e vice- -relacionam as políticas educacionais, a organização e ges-
-versa, o que se tem buscado é imitações e tentativas de tão das escolas e as práticas pedagógicas na sala de aula.
reproduções de métodos sem que os próprios educadores O professor não pode se contentar apenas em desenvolver
tenham os conhecimentos técnicos necessários para o de- saberes e competências para ter uma boa atuação em sala
senvolvimento dos métodos que ao mesmo tempo, sem de aula, é preciso tomar consciência do sistema escolar e
eles, acabam prejudicando acentuadamente a qualidade do enxergar além.
ensino-aprendizagem do aluno. Outra razão torna esses estudos importantes que é o
Além disso, o professor deve buscar propostas de tra- fato de que as normas, leis e diretrizes da educação, estão
balhos, alternativas metodológicas para que possam obter sujeitas a decisões políticas. Cabe ao sistema de ensino e as
resultados significativos na sua prática pedagógica relacio- escolas contribuírem de maneira significativa para a constru-
nada ao ensino da leitura, pois, antes de qualquer coisa, é ção de um projeto de nação e, para a formação de sujeitos
preciso haver uma comunicação integrada entre o professor capazes de participar ativamente desse processo.
e o aluno e sobre tudo o respeito da construção do conhe- As políticas educacionais e organizacionais que vemos
cimento que o aluno obteve fora da escola que certamente, hoje estão diretamente relacionadas às transformações eco-
ao viverem nesta sociedade são capazes de refletirem e res- nômicas, políticas, culturais e geográficas que qualificam o
ponderem sobre quaisquer assuntos que lhes forem apre- mundo atual. A exemplo disso nós temos as várias reformas
sentados, levando-se em conta, os aspectos no processo da educativas realizadas nos países da Europa e América duran-
“construção” do conhecimento. te os últimos 20 anos.
Os projetos interdisciplinares de caráter colaborativo Tais reformas se justapõem com a recomposição do
podem vir a se constituírem em instrumentos necessários sistema capitalista mundial que trouxe consigo a doutrina
para a resistência a esse processo educacional atual e para a neoliberal, caracterizada por três traços particulares: mudan-
sua efetiva transformação. Assim, um trabalho pedagógico ças no processo de produção (avanços científicos e tecnoló-
realizado pela escola, exige inúmeras formas de mediação gicos), superioridade do livre funcionamento do mercado e
21
LIVROS E ARTIGOS
redução do papel do Estado que por sua vez, afetam direta- cimento, por parte do licenciado, da escola em que iria atuar
mente a educação tendo em vista que para o neoliberalis- (seus objetivos, estrutura e seus aspectos de seu funciona-
mo, o desenvolvimento econômico fomentado pelo desen- mento), além de proporcionar uma visão única do aspecto
volvimento técnico-científico garante, por si só, o desenvol- escola-sociedade.
vimento social. Em 1968, houve a homologação dos Pareceres 252/69
Essa falta de consideração com as implicações sociais e e 672/69 como forma de se adequar os currículos de Pe-
humanas geram vários problemas sociais como desemprego, dagogia e das licenciaturas à Lei 5.540/68. Esses pareceres
fome e desigualdade entre países, classes e grupos sociais. E incluíram a disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino
também, problemas globais como a devastação ambiental, o de 2º Grau, substituindo a disciplina Administração Escolar. O
desequilíbrio ecológico, o esgotamento dos recursos natu- motivo pelo qual se deu essa substituição foi o fato de que
rais e problemas atmosféricos. com a denominação Administração Escolar, se fazia ressaltar
Progredindo na mesma proporção, mudanças signifi- o aspecto administrativo, não levando em conta aspectos re-
cativas nos processos de produção e transformações nas ferente à estrutura e ao funcionamento do ensino.
condições de vida e de trabalho devido à associação entre Já nos anos 80, propostas curriculares alternativas surgi-
ciência e técnica, proporcionou uma necessidade de se ter ram com conteúdos semelhantes à Administração Escolar e à
conhecimento e informação a tal ponto que influenciaram a Estrutura e Funcionamento do Ensino do 2º Grau, mas como
economia e seu desenvolvimento. Os países industrializados denominações diferentes: Educação Brasileira, Políticas Edu-
então viram a necessidade de se rever o lugar das institui- cacionais, Organização do Trabalho Pedagógico (ou Escolar).
ções encarregadas de produzir conhecimento e informação, As Resoluções 2/69 e 9/69 foram as primeiras a apresen-
tornando-se prioridade, a reforma dos sistemas educacionais tarem a denominação Estrutura e Funcionamento do Ensino.
os quais giram em quatro pontos: o currículo nacional, a pro- Está fixava os mínimos de conteúdos das disciplinas e a du-
fissionalização dos professores, a gestão educacional e a ava- ração do curso de Pedagogia, aquela, estabelecia os mínimos
liação institucional. de conteúdos e a duração dos cursos para a formação peda-
No Brasil, também houve algumas transformações, no gógica em nível de licenciatura.
que diz respeito ao sistema educacional. Que ocorreu a partir Segundo a Resolução 9/69, os currículos de licenciatura
deveriam abranger as seguintes matérias: Psicologia da Edu-
do ano de 1990, início do governo Collor, e também ano em
cação, Didática, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º
que se realizou a Conferencia Mundial sobre Educação para
Grau e Prática de Ensino, sob forma de estágio supervisiona-
Todos, ocasião em que se estabeleceram prioridades para a
do, mas em conformidade com a Lei 5.692/71, na qual insti-
educação, entre elas, a universalização do ensino fundamen-
tuiu o ensino de primeiro e segundo graus, a denominação
tal. Em 1993, no governo de Itamar Franco, cria-se o Plano
alterou-se para Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º
Decenal de Educação para Todos e em 1995, no governo de
e 2º graus.
Fernando Henrique Cardoso, estabeleceram-se metas pon-
De acordo com a legislação, há dois elementos básicos
tuais, que são: descentralização da administração das verbas na disciplina: a escola e o ensino, onde, primeiramente, apre-
federais, elaboração do currículo nacional, educação à dis- senta-se a organização e o funcionamento da escola e em
tância, avaliação nacional das escolas, incentivo a formação seguida, o ensino.
de professores, parâmetros de qualidade para o livro didáti- Contudo, essas abordagens mostram a escola e o ensi-
co, entre outras. Já essas, acompanham as tendências inter- no como elementos prontos e acabados no interior de um
nacionais se alinhando à política neoliberal e às orientações sistema educacional racionalmente organizado e de uma so-
dos organismos financeiros como o Banco Mundial e o FMI. ciedade organicamente constituída e funcional fazendo com
Nesse mesmo âmbito, se deu a elaboração e promul- que se torna evidente a importância da legislação como eixo
gação da LDB, do PNE, das diretrizes curriculares, normas e básico da disciplina. Obrigatória em algumas habilitações do
resoluções do Conselho Nacional de Educação. curso de Pedagogia, a disciplina Legislação do Ensino de 1º
No entanto, essas políticas e diretrizes demonstram ser, e 2º Graus tornou-se base da Estrutura e Funcionamento do
salvo raras exceções, intenções declaradas ao invés de medi- Ensino. Já na organização do ensino escolar, se tem a des-
das efetivas. Ocorre então um impasse, de um lado, políticas crição dos órgãos e seu funcionamento e, a análise de seus
educativas que expressam intenções de se aumentar a au- componentes administrativos e curriculares, através de textos
tonomia e a participação das escolas e dos professores, do legais.
outro, há a questão da crise de legitimidade dos estados que Os currículos de Pedagogia e das licenciaturas, atual-
dificulta a efetivação de investimentos em salários, carreira e mente, apresentam várias denominações, entre elas, as mais
formação do professorado, com o pretexto de que o Estado corriqueiras são: Estrutura e Funcionamento do Ensino Fun-
requer redução de despesas, transmitindo uma lógica contá- damental e Médio – oferecida no segundo ou no terceiro
bil e economista ao sistema educacional. ano do curso de Pedagogia, com carga anual que varia en-
Desde a estruturação do curso de Pedagogia, em 1939, tre 60 128 horas e ministrada em um ano ou seis meses – e,
sempre houve a preocupação com os aspectos legais e ad- Didática e Prática de Ensino de Estrutura e Funcionamento
ministrativos da escola, geralmente vistos na disciplina Admi- do Ensino Fundamental e Médio – disciplina em forma de
nistração Escolar. estágio supervisionado, geralmente com carga anual de
Está mencionado, no Parecer 292/62 – do Conselho Fe- 128 horas, no último ano do curso de Pedagogia. Em geral,
deral de Educação – a disciplina Elementos de Administração os conteúdos e objetivos dessa disciplina, assumem três
Escolar a qual tinha como finalidade proporcionar o conhe- abordagens distintas:
22
LIVROS E ARTIGOS
Abordagem legalista e formal: Os textos legais e os objeto de estudo da disciplina continuou a ser a escola e a
documentos são apresentados e analisados sistêmica e fun- organização do ensino e até mesmo se a legislação e os do-
cionalmente. Essa abordagem acosta-se à letra, linhas e ao cumentos constituem o eixo básico da apreensão da escola
texto legal. O estudo aí acaba por se tornar árido, insípido e e do ensino.
aversivo. A escola e o ensino ainda continuam como foco da dis-
Abordagem político-ideológica: Dá ênfase aos textos ciplina, mas agora contextualizados de maneira concreta,
críticos, procura-se mostrar o real com base em uma postu- crítica e histórica. Dá ótica sistêmica/tecnicista para a ótica
ra e visão político-ideológica. Essa abordagem aproxima-se histórico-crítica, onde as políticas de educação são tratadas
mais ao contexto, ao espírito e às entrelinhas dos textos le- com maior intensidade, uma vez em que são elas as respon-
gais. O estudo aí acaba por se tornar parcial e partidário. sáveis por definirem, em grande parte, a legislação educa-
Abordagem histórico-crítica: Os textos legais são usa- cional, a escola e o ensino.
dos como referencial para a análise crítica da organização É apropriado adotar então a denominação Estrutura e
escolar e como forma de confrontar a situação proclamada Organização da Educação Escolar – Políticas Educacionais e
(ideal) com a situação real. O estudo aí acaba por se tornar Funcionamento da Escola, tendo como ideia principal a pos-
mais fértil, dinâmico, investigativo e crítitco-reflexivo. sibilidade em aprender as imbricações entre decisões cen-
O desenvolvimento dos conteúdos, por uma ótica meto- trais e decisões locais, a fim de articular, em torno da escola,
dológica, deve estar alinhado à articulação de três elemen- as abordagens mais gerais de cunho sociológico, político e
tos, segundo Monteiro (1995): visão oficial (conhecimento econômico e os processos escolares internos de cunho pe-
da legislação educacional, programas e planos de governo); dagógico, curricular, psicológico e didático.
visão da realidade (comparação da visão oficial com o que A partir da leitura da obra, é possível fazer uma reflexão
realmente acontece no funcionamento do ensino) e visão crí- a respeito da educação escolar como um todo, bem como
tica (após o conhecimento das anteriores, pratica-se a leitura as suas políticas educacionais e educativas. No decorrer da
fundamentada, para geração de novos conhecimentos. leitura do livro os autores trazem informações importantes
Para Saviani (1987), há três etapas no exame crítico da relacionadas à história das políticas educacionais, como sur-
legislação de ensinos: contato com a lei (análise textual, para giram, porque surgiram e como foram transformadas para
captar a estrutura do texto); exame das razões manifestas (lei- atenderem as necessidades que se apresentaram.
tura da exposição de motivos, dos pareceres, dos relatórios, Percebe-se a dedicação dos autores em levar ao conhe-
etc.) e busca das razões reais (exame do contexto – processo
cimento do leitor os processos pelos quais ocorre a forma-
histórico socioeconômico e político – exame da gênese da
ção de professores, as disciplinas que são oferecidas, as leis
lei – processo de elaboração da lei, os autores e seus papéis).
que regulam essa formação e também as mudanças que es-
Textos legais, documentos e textos críticos, também po-
sas leis trouxeram ao longo do tempo.
dem ser usados como auxilio ao estudo de alguns temas da
Recomenda-se a leitura e a apreciação dessa obra a es-
disciplina (municipalização do ensino, organização formal e
tudantes de pedagogia e das licenciaturas, para que possam
informal da escola, financiamento do ensino, etc.), servindo
entender melhor o seu futuro ambiente de trabalho, a escola
de fundamento para elucidar uma situação/questão nortea-
dora de investigação, aliando assim, ensino e pesquisa, tor- – seus objetivos e estruturas e a professores, para que pos-
nando o método de ensino e aprendizagem mais dinâmico e sam conhecer ainda mais o seu local de trabalho e assim, se
reflexivo, desenvolvendo também, a habilidade de investiga- tornar um agente ativo no processo de construção da edu-
ção, proporcionando, assim, que o trabalho acadêmico seja cação e das políticas educacionais.
um momento em que o aluno possa procurar, investigar e Fonte: http://simboraestudar.blogspot.com/2015/05/re-
produzir conhecimento, orientado pelo professor. sumo-educacao-escolar-politicas.html
As abordagens identificadas e os aspectos metodológi-
cos de tratamento dos conteúdos se relacionam ao conheci- MAINARDES, JEFFERSON, A ORGANIZAÇÃO
mento do objeto de estudo, tendo em vista que refletem a
DA ESCOLARIDADE EM CICLOS: AINDA UM
trajetória da disciplina. Contudo, percebe-se que houve uma
significativa evolução na abordagem da disciplina, em sua DESAFIO PARA O SISTEMA DE ENSINO.
ampliação e diversificação, o mesmo não ocorreu com objeto IN: AVALIAÇÃO, CICLOS E PROMOÇÃO NA
de estudo, não com clareza. Qual é e qual era ele? EDUCAÇÃO. FRANCO, CRESO (ORG.). PORTO
Vemos que houve uma mudança na ênfase da disciplina, ALEGRE: ARTMED EDITORA, 2001, P.35-54.
de aspectos estruturais e formais do ensino para as questões
de funcionamento onde o foco saiu do ensino de primeiro
e segundo graus para a concreta escola de primeiro e se- É crescente o consenso nas sociedades contemporâneas
gundo graus. Proporcionando assim que a perspectiva lega- sobre a necessidade de ampliar e aprofundar o debate sobre
lista, descontextualizada e limitada fosse modificada com a a qualidade e a eficiência da produção e da distribuição do
finalidade de se privilegiar a discussão de alternativas para a conhecimento pelo sistema educacional, convertendo sua
reconstrução da escola e do sistema educacional brasileiro. avaliação numa questão estratégica. No Brasil, com mais
Houve assim uma transformação democrática de um en- de 95% das crianças escolarizadas e situações de exclusão
sino genérico para uma abordagem de uma escola e ensino social persistentes, a avaliação da escola se constitui num
concretos, todavia, cabe-se questionar se a mudança ocor- problema ético e político de primeira grandeza para a cons-
reu somente na abordagem/compreensão do objeto; se o trução de uma cidadania substantiva.
23
LIVROS E ARTIGOS
Nesse contexto, a coletânea Avaliação, ciclos e promo- A contribuição de Mainardes sobre a organização da es-
ção na educação organizada por Creso Franco, constitui leitura colaridade em ciclos historia as experiências já realizadas no
praticamente obrigatória por sua pertinência e pela qualidade Brasil (São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mi-
do debate que contém. Os diversos textos tomam como pon- nas Gerais e Goiás) desde a década de 60. Indo além de uma
to de partida duas dimensões da discussão sobre avaliação cuidadosa e detalhada descrição, o autor também apresenta
na educação: o desenvolvimento recente de instrumentos de as principais discussões que envolveram a formulação, a im-
medida da qualidade do ensino oferecido nos diversos níveis plantação e a avaliação (quando houve) dos frutos dessas
do sistema educacional de um lado e, de outro, as repercus- políticas de correção do fluxo escolar, criticando a racionali-
sões da avaliação de desempenho acadêmico e das políticas dade economicista frequentemente associada a seu fomen-
de inclusão ensaiadas (ciclos, avaliação continuada, promoção to. Vale ressaltar ainda sua análise das repercussões dessas
automática etc.) sobre o fluxo escolar. Os diversos capítulos políticas quanto às concepções pedagógicas e aos desafios
partem de pesquisas recentes em torno desses temas para de gestão educacional.
problematizá-los de forma consistente e profunda. O livro é Como assinala Mainardes, e parecem reconhecer tanto
um convite a professores, pesquisadores, pais e decisores de os críticos como os proponentes de tais políticas, a capa-
políticas públicas para refletir sobre os resultados e as práticas citação dos profissionais e as condições de infra-estrutura
de avaliação e a reforma do sistema educacional, tomando-os das escolas são condições necessárias para possibilitar o êxi-
como uma oportunidade para repensar a educação e a escola to dessas iniciativas. A incursão histórica do autor mostra,
hoje. entretanto, que além de tais condições não terem sido de
O percurso se abre com o texto de Franco e Bonamino fato preenchidas, pouco se tem usufruído das avaliações e
“Iniciativas recentes de avaliação da qualidade da educação no pesquisas realizadas sobre a implantação das propostas. O
Brasil”,que traça um competente mapa das políticas de avalia- autor reafirma ainda a necessária complementaridade en-
ção desenvolvidas na última década. Com base numa deta- tre a formulação e a realização de alternativas eficientes de
lhada descrição das diferentes iniciativas recentes nessa área e inclusão escolar e a implantação de sistemas de supervisão
de como estas se situam também no contexto internacional, o e avaliação dos processos propostos, sob pena de arriscar
texto atualiza o leitor e aponta desafios técnicos e éticos a se-
obter resultados muito aquém dos esperados ou mesmo
rem enfrentados tanto no campo da pesquisa e do desenvolvi-
agravar os problemas que se pretendia resolver.
mento de instrumentos de avaliação como no campo da pro-
Focalizando um estudo de caso em São João del-Rey
posição e implantação de alternativas de política educacional.
(Minas Gerais), Claudia Fernandes e Creso Franco mostram
Desde o início, como de certa forma se reflete e é confir-
em detalhe, no artigo “Séries ou ciclos: o que acontece
mado no livro como um todo, transparece o posicionamento
quando os professores escolhem?”,os diferentes pontos de
pela qualificação acadêmica e pelo balanceamento crítico e
construtivo do debate, cujo potencial o livro testemunha com vista dos professores no que se refere à implantação dessas
o exame cuidadoso de diferentes aspectos das práticas de alternativas de “progressão continuada” nas redes públicas
avaliação em curso. Os capítulos seguintes encadeiam-se de de ensino. Evidencia-se no estudo a diferenciação entre as
modo instigante e consistente, conduzindo a discussão para perspectivas e práticas dos profissionais de acordo com
questões como a eficiência da escola e dos diversos fatores sua formação, concepções e papéis profissionais na esco-
que a influenciam. la. Emerge então a imbricação entre formação docente e
Analisando as dificuldades inerentes à implantação dos identidade profissional e sua repercussão nas concepções
ciclos na educação básica, o texto de Menga Ludke “Evoluções e práticas relativas à avaliação do desempenho dos alunos
em avaliação” retoma a questão do fracasso escolar e dos de- que acarretam diferentes reações às políticas propostas de
safios da avaliação no processo educacional, enfatizando os redução da defasagem série-idade.
limites e responsabilidades dos professores e gestores na im- A análise das reações entre professores de 1ª a 4ª ou
plementação de possíveis mudanças na organização do traba- de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental, de aceitação ou
lho da escola. A autora alerta para a importância da avaliação, rejeição das propostas de organização escolar em ciclos,
no que ela denomina sua “função informativa”, como insumo respectivamente, indicou a correlação com sua identidade
necessário para a efetiva qualificação da atividade docente. profissional, marcada por diferenças relevantes na formação
Segue-se interessante problematização das implicações da or- inicial que se articulam com diferentes concepções da escola
ganização escolar em ciclos para a atividade docente e para as e de seu papel social. Nesse sentido, os autores concluem
relações e os papéis dos profissionais envolvidos, bem como pela importância decisiva do acionamento de mecanismos
sobre as condições estruturais necessárias à boa consecução de preparação abrangentes capazes de impactar tais iden-
do processo escolar, ressaltando inclusive a necessidade de tidades.
sua própria avaliação sistemática. A reflexão proposta no livro vai assim equilibrando, em
Nos dois textos subsequentes, o debate avança com a in- sucessivos e complementares níveis de abrangência e pro-
vestigação de experiências concretas de organização da esco- fundidade, os debates em torno da avaliação da escola, re-
laridade em ciclos. Se de um lado se enfatiza a necessidade de novando a cada texto o convite para avançarmos no debate
maior participação da sociedade e da adesão dos executores a partir dos dados de diferentes tipos de investigação. Os
dessas políticas para possibilitar seu sucesso, por outro, mos- capítulos seguintes se debruçam sobre as práticas de avalia-
tra-se a complexidade das questões a enfrentar, particular- ção do sistema educacional em vigor, particularmente sobre
mente no que se refere à formação e à identidade profissio- o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB
nal dos docentes. –, apresentando desde a questão do conteúdo da educação
24
LIVROS E ARTIGOS
escolar e sua seleção para referenciar as medidas que de- escola, captado por modelos adequadamente formulados,
vem avaliar o desempenho escolar, até os desafios teóricos Goldstein mostra sua fecundidade e desafia pesquisadores
e metodológicos atuais das pesquisas nesse campo, trazen- de diferentes áreas e formações para que rompam a polari-
do ainda, nos dois últimos textos, resultados instigadores de zação entre pesquisas quantitativas e qualitativas de manei-
pesquisas realizadas a partir dos dados gerados pelo SAEB. ra mais criativa e consoante com a complexidade do que se
O texto de Ortigão e Sztajn discute os dilemas presentes pretende compreender.
na elaboração das matrizes curriculares a partir dos quais A contribuição de Jean-Claude Forquin, no capítulo
são construídos os indicadores de avaliação de desempenho “Evoluções recentes do debate sobre a escola, a cultura e
do SAEB. Inicialmente é traçado um histórico cuidadoso e as desigualdades”, apresenta a riqueza das pesquisas recen-
extremamente instrutivo da elaboração dos instrumentos de tes na França, que buscam desvelar a constelação de fato-
medida de desempenho em matemática no SAEB desde seu res intra e extra-escolares que influenciam a escolarização.
lançamento em 1990, mostrando a complexidade do pro- Atualizando contribuições suas de textos anteriores, o autor
cesso, permeado por diferentes influências na definição de descortina o estado da arte do debate atual sobre as desi-
o que deve ser avaliado e o que deve compor as “matrizes gualdades educacionais naquele país e nos brinda com sua
curriculares de referência” utilizadas para a confecção das qualificada contribuição sociológica sobre a escola e a cul-
questões das provas. tura, que encontra eco em algumas das questões levantadas
Tomando um dos tópicos do currículo de matemática, a nos demais textos do livro, oriundas de pesquisas realizadas
teoria dos conjuntos, as autoras mostram os dilemas envol- no Brasil.
vidos na construção dos instrumentos e a dimensão política O debate mais uma vez ganha em profundidade e as-
inerente às definições adotadas. Ortigão e Sztajn mostram sume outras facetas neste novo horizonte. Dentre elas des-
como tais definições refletem também as concepções peda- taca-se a atenção crescente para a influência de fatores
gógicas de grupos profissionais que delas participam, reve- como gênero, origem nacional ou étnica dos alunos e suas
lando o caráter prescritivo e não apenas descritivo da avalia- famílias, a localização da escola. Além disso, a questão das
ção como política de estado. A partir de um caso concreto, estratégias familiares na escolarização da prole tem mereci-
as autoras introduzem o complexo debate sobre o que e o do relevo nas pesquisas, articulando numa constelação os
porquê se avalia. Retoma-se assim o problema do conteúdo
diversos fatores citados como a origem social e o contexto
da educação escolar e sobre quem define o “arbitrário cul-
histórico, compondo o que se tem denominado a questão
tural” expresso na seleção dos saberes presentes nos currí-
da “mobilização” em relação à escola. Tal constelação de de-
culos escolares.
terminações se expressa ainda na relação que os estudantes
O texto de Harvey Goldstein, “Modelos de realida-
travam com o saber e o saber escolar em particular, como
de: novas abordagens para a compreensão de processos
atestam os trabalhos de Lahire, Charlot, entre outros citados
educacionais” aprofunda a discussão na “outra ponta” da
por Forquin, indicando novas perspectivas de compreensão
questão, ou seja, mesmo encontrando-se consenso sobre
das histórias singulares de sucesso ou fracasso escolar.
os conteúdos e a qualidade do desempenho que se deseja
avaliar, a realidade que se quer com isso compreender me- Os dois últimos capítulos realizam uma interessante in-
lhor apresenta-se na verdade muito mais complexa do que cursão nos dados do SAEB 97, introduzindo-nos na riqueza
os instrumentos disponíveis para analisá-la. Goldstein mer- das possibilidades de reflexão e intervenção a partir de sua
gulha então na questão dos modelos utilizados na análise análise. Em ambos os textos observa-se a saudável preo-
dos resultados obtidos com a aplicação dos instrumentos cupação de mostrar ao leitor os caminhos metodológicos
de avaliação, cuja construção cheia de desafios políticos e percorridos na busca de criar modelos explicativos para o
pedagógicos testemunhamos no texto precedente. Sua desempenho dos alunos na área de matemática. O cuida-
reflexão sobre os limites e possibilidades dos modelos de doso esforço dos autores, entretanto, mais do que satisfazer
pesquisa aplicados à avaliação educacional é especialmente o leitor, revela o extenso caminho a percorrer para tornar
relevante e atual, desmistificando os métodos quantitativos mais consistente e produtiva a interlocução de pesquisado-
e o “mundo simplista das tabelas de classificação de resul- res mais especializados em investigações de caráter quan-
tados educacionais”. Nessa perspectiva o autor denuncia o titativo com aqueles de maior experiência e conhecimento
reducionismo das medidas baseadas numa sobrevalorização de métodos qualitativos. Concluímos a leitura com diversas
extremamente questionável da psicometria, pela Teoria da perguntas curiosas e ainda mais convictos da riqueza des-
Resposta ao Item, cujas limitações e riscos procura mostrar. sa interlocução e das instigantes possibilidades de pesquisa
Goldstein distingue entre a sofisticação maior ou menor que ela pode e deve abrir.
da abordagem ou modelo descritivo adotado e a aparente O texto de Soares, Cesar e Mambrini, “Determinantes de
complexidade técnica dos modelos estatísticos necessários desempenho dos alunos do ensino básico brasileiro”, busca
para a manipulação dos dados obtidos. O autor tece então dimensionar, a partir dos dados dos alunos da 8ª série em
considerações instigantes sobre as razões possíveis para a matemática que participaram do SAEB-97, a influência de
hegemonia destas posições e propõe o desenvolvimento de diferentes fatores (escolas, professores e famílias) na cons-
modelos complexos para abordar realidades complexas – trução das diferenças de desempenho observadas nas pro-
como é o caso da educação. Expondo ainda os resultados de vas. Os autores nos trazem não apenas diversos resultados
trabalhos que vem realizando nessa perspectiva, em que se interessantes que motivam a continuidade do debate, mas
destaca a quantificação do chamado “valor agregado” pela também pistas para novas incursões de análise dos dados.
25
LIVROS E ARTIGOS
26
LIVROS E ARTIGOS
p. 16) “Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado
é urgente que seus planos se redefinam para uma educação e da família, será promovida e incentivada com a colabo-
voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos, ração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
que reconheça e valorize as diferenças.”. pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qua-
lificação para o trabalho.
Declaração Universal dos Direitos Humanos? Lembrando ainda que no artigo 206 da mesma Cons-
Desta forma o objetivo desse estudo é discutir a cons- tituição, em seu inciso I, temos ressaltado a igualdade de
trução da política de inclusão escolar, tecendo reflexões sob condições para o acesso e permanência na escola. Podemos,
a ótica dos direitos humanos com vistas a elucidar a educa- além disso, destacar o artigo 208, que afirma, em seu inci-
ção como um direito de todos. Assim, o presente trabalho foi so III, ser dever do Estado para com a educação, a oferta
realizado por meio da pesquisa bibliográfica, visando obter de atendimento educacional especializado às pessoas com
maior intimidade com o tema exposto. Para tanto, foi reali- deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Te-
zada a leitura de obras de autores pertinentes, como Maria mos também o Estatuto da Criança e do Adolescente, (1990)
Teresa Eglér Mantoan (2006) e David Rodrigues (2006), com em que o direito de todos à educação é assegurado nova-
os respectivos fichamentos que possibilitaram a análise e in- mente, constando no artigo 55, que é obrigatório que os
terpretação dos dados. Diante do exposto, entende-se o ca- pais ou responsáveis matriculem seus filhos na rede de en-
ráter transformador da educação, cujo papel não se restringe sino regular, podendo os pais em caso de contrariar a lei, ter
ao aprendizado do português e da matemática, mas é muito a perda ou suspensão de seus direitos familiares, de acordo
mais abrangente, pois trata de um conjunto, onde as discipli- com o artigo 24. Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da
nas devem estar vinculadas, buscando ainda a formação de Educação Nacional (LDB), definiu a educação especial como
cidadãos. Visto desta maneira a educação inclusiva é muito modalidade educacional, que deve ser oferecida preferen-
mais uma questão de direitos humanos. Breves considera- cialmente na rede regular de ensino, para as pessoas com
ções sobre os marcos normativos da educação inclusiva Um necessidades especiais. Sobre a LDB é oportuno citar Maz-
dos documentos pioneiros no que diz respeito à inclusão es- zotta (2001, p. 87):
colar, é a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, Este projeto de LDB disciplina a educação escolar. No
pois a partir dela foram criados documentos mais específicos Capítulo III, dispondo sobre o direito à educação e o dever
na área de educação especial. Em seu artigo 26, a Declara- de educar, estabelece que “a educação, direito fundamental
ção de 1948 exalta o direito de todos à instrução, que deverá de todos, é dever do Estado e da família, com a colaboração
ser gratuita e obrigatória, pelo menos nos níveis elementar e da sociedade, cabendo ao Poder Público (...) observar mo-
fundamental, e ter por objetivos proporcionar o desenvolvi- dalidades e horários compatíveis com as características da
mento pleno da personalidade humana, possibilitar a propa- clientela”. E por último destaca-se a Política Nacional de Edu-
gação dos direitos humanos e das garantias fundamentais, e, cação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008),
também, promover a compreensão, a tolerância, e a amizade cujo objetivo é:
entre os povos das diversas nações e aos grupos raciais ou A Política Nacional de Educação Especial na Perspec-
religiosos, contribuindo com a manutenção da paz. tiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a
Desta forma a partir da Declaração Universal, o movi- inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos glo-
mento inclusivo ganhou força, e as pessoas com deficiências, bais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,
passaram a conquistar seus primeiros direitos no que diz res- orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao
peito à educação. Assim, começaram a serem criados os prin- ensino regular, com participação, aprendizagem e continui-
cipais documentos acerca dos direitos das minorias. A Decla- dade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade
ração de Jomtien, em 1990, teve como objetivo a satisfação da modalidade de educação especial desde a educação
das necessidades básicas da aprendizagem. A Declaração de infantil até a educação superior; oferta do atendimento
Salamanca, de 1994, é considerada um dos documentos mais educacional especializado; formação de professores para
importantes sobre o processo inclusivo, pois trata dos princí- o atendimento educacional especializado e demais profis-
pios, políticas e das práticas a cerca das necessidades educa- sionais da educação para a inclusão; participação da família
tivas especiais, esta declaração trata de defender a educação e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos trans-
para todos, sem discriminar suas características pessoais, pois portes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e
entende que cada pessoa tem sua forma de aprender. Vale articulação intersetorial na implementação das políticas pú-
lembrar, ainda, da Convenção de Guatemala, de 1999, cujo blicas (BRASIL, 2008). Passamos, portanto por um período
objetivo era a erradicação de todas as formas de discrimi- fértil, onde se criou documentos que hoje são essenciais na
nação contra as pessoas com deficiência, onde destaca que luta das minorias em busca de um direito tão transforma-
todos possuem direitos iguais, e dignidade. Pretendendo de- dor como a educação. Com base nas ações governamen-
senvolver a integração dessas pessoas na sociedade. tais podemos por finalidade conceber a realidade de um
No que se relaciona especificamente à acessibilidade, movimento sócio-cultural, buscando trazer novas práticas,
constata-se a Declaração de Montreal, em 2001. Dos docu- mais saberes e maneiras de ensinar e de aprender para alu-
mentos nacionais, a Constituição Federal, de 1988, a consti- nos com deficiências, visando que todos tenham os mesmo
tuição cidadã, exalta os direitos sociais como de todos. De direitos humanos e garantias fundamentais que os demais
acordo com a carta magna de nosso país, temos como ga- alunos da rede regular de ensino, na condição de valorizar a
rantia que: heterogeneidade.
27
LIVROS E ARTIGOS
28
LIVROS E ARTIGOS
ciais, por outro, já que a educação escolar pode propiciar Deste modo, ressaltamos a pretensão de se construir com
meios que possibilitem transformações na busca da melho- a diferença uma sociedade em equilíbrio, onde tenhamos o
ria da qualidade de vida da população. E isso é interessante direito de sermos diferentes ou iguais, dependo da situação
para todos! Para David Rodrigues (2008), a educação inclusi- diante de nós. A indiferença às diferenças esta acabando, pas-
va deve ser muito mais uma aposta na rede pública de en- sando da moda. Nada mais desfocado da realidade atual do
sino, e deve para tanto ter como fim a criação de vantagens que ignorá-las. Nada mais regressivo do que discriminá-las
para todos seus intervenientes. e isolá-las em categorias genéricas, típicas da necessidade
O desenvolvimento da EI depende, em grande parte, do moderna de agrupar os iguais, de organizar pela abstração
desenvolvimento do sistema educativo no seu conjunto. Pre- de uma característica qualquer, inventada, e atribuída de fora
cisamos de escolas com recursos, a funcionar os dois turnos (MANTOAN, 2006, p.22). Assim, a educação é, portanto um
do dia, com instalações dignas, com lideranças positivas, com direito fundamental, sendo necessários que todos tenham a
professores satisfatoriamente remunerados e motivados para chance de aprender, sendo também incentivados a perma-
encarar novos desafios. A EI, enquanto reforma educacional, necer no local de aprendizado, pois deve ser levado que cada
só poderá florescer em sistemas educativos capazes de acei- aluno tem o direito de aprender a seu modo.
tar uma mudança nos seus hábitos e paradigmas (RODRI- É necessário que uma boa parcela da sociedade com-
GUES, 2008, p. 40). preenda a indispensável interlocução entre escola regular e
A importância da criação de políticas públicas para a escola especial, de forma que possibilite organizar serviços
educação especial reside justamente no fato de impulsionar de apoio mútuo. É chegada a hora da metamorfose educa-
uma educação para todos, pois promove formas de incentivar cional, onde os conflitos sejam superados e, que se perceba a
os ditos alunos especiais, a participar de todo um processo dimensão de saberes que a diversidade tem a oferecer. Con-
sociocultural, onde terão como possibilidade a educação, e clui-se que as escolas não podem mais ser palco de discrimi-
passarão por inúmeras experiências que resultarão em gran- nação, ou de esquecimento. Deve-se harmonizar a questão
de aproveitamento, proporcionando a participação das pes- da igualdade com a da diferença, para que os alunos não
soas com deficiências como cidadãos ativos na sociedade. percam seu valor enquanto pessoa humana. Assim, é vali-
Para Mantoan (2006, p. 21), “A inclusão total é uma opor- do dizer que ainda que a proposta inclusiva exija mudanças
tunidade que temos para reverter a situação da maioria de radicais, não se pretende encerrar as escolas especiais, vez
nossas escolas, as quais atribuem aos alunos as deficiências
que continuarão a existir, porém atuarão de forma comple-
que são do próprio ensino ministrado por elas”. A partir das
mentar a escola regular, oferecendo seu suporte, e não mais
políticas desenvolvidas em prol destas minorias, é que tere-
monopolizando e nem segregando as pessoas com deficiên-
mos oportunidade de partir para a inclusão dessas pessoas,
cias. Não há um padrão de normalidade para julgarmos uma
criando ambientes saudáveis, reconhecendo as necessidades
pessoa mais normal que a outra, a única igualdade aparente
das escolas, para que possam ser receptivas e atender aos
que possuímos é o simples fato de sermos todos diferentes,
estudantes indistintamente.
ninguém é igual a ninguém, se houvesse necessidade de nor-
Relação entre direitos humanos e educação inclusiva malização, seu elemento seria a própria diferença.
A Declaração Universal trata dos direitos e garantias fun- *Texto adaptado de Paula Lemos de Paula, Lucas silva
damentais do homem, para que se tenha uma vida digna. Fernandes da Silveira e Washington César Shoiti Nozu.
Desta forma a Declaração toma a educação como um direito
fundamental ao homem, e a inclusão vem para possibilitar
a essas pessoas a chance de exercer um direito que já pos- MORIN, EDGAR. OS SETE SABERES
suem, mas que por diversos motivos, tiveram seus direitos NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO.
reprimidos. A inclusão escolar está articulada a movimentos SÃO PAULO: CORTEZ, 2000.
sociais mais amplos, que exigem maior igualdade e mecanis-
mos mais equitativos no acesso a bens e serviços. Ligada a
sociedades democráticas que está pautada no mérito indivi- Os sete saberes necessários à educação do futuro de Ed-
dual e na igualdade de oportunidades, a inclusão propõe a gar Morin não nos passa nenhuma formula secreta de como
desigualdade de tratamento como forma de restituir a igual- devemos pensar a educação, mas busca demonstrar algumas
dade que foi rompida por formas segregadoras de ensino lacunas existentes entre o que é educar hoje e como deveria
especial e regular (MANTOAN, 2006a, p.16). ser a educação do futuro. No seu estudo ele nos afirma que
Essa relação é muito íntima, pois a educação deve ser a educação depende da combinação desses saberes o qual
vista como um instrumento para a propagação dos direitos deveria ser tratada em toda a sociedade e em toda cultura.
humanos, como também é fundamental para se alcançar ou- Em seu primeiro saber intitulado como “Enfrentar as Ce-
tros direitos fundamentais. Quando entendemos que não é a gueiras do Conhecimento”, o autor busca trabalhar a idéia
universalidade da espécie que define um sujeito, mas as sua de erro, porque a ciência sempre buscou afastar o erro de
peculiaridades, ligadas a sexo, etnia, origem, crenças, tratar as sua concepção, sendo assim tudo aquilo que era considera-
pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, as- do como erro devia ser retirado da criação do conhecimento.
sim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as Segundo Morin “O dever principal da educação é preparar
suas especificidades e excluí-los do mesmo modo; portanto, cada um para enfrentar os não saberes com lucidez”, ou seja
ser gente é correr sempre o risco de ser diferente (MAN- a necessidade de integrar os erros nas concepções para que
TOAN, 2006b, p.17). o conhecimento consiga avançar.
29
LIVROS E ARTIGOS
30
LIVROS E ARTIGOS
um dos fatores a contribuir com a transformação tanto da algum compromisso muito importante ou simplesmente
sociedade quanto do sistema de ensino, elevando a sua qua- a possibilidade de perder o horário, por exemplo faça-nos
lidade, garantindo o acesso e a permanência da criança na dar um pulo da cama, levantar de súbito e sair correndo.
escola, auxiliando na efetivação de lutas que visem à demo- Estaremos, de qualquer forma, planejando mentalmente o
cratização política e social do país”. nosso dia: tomando algumas decisões para a nossa ação e,
Fonte: https://www.ebah.com.br/content/ABAAAe- para tanto, refletindo sobre essa mesma ação futura, con-
3dAAL/gestao-escolar-democratica-contextualizacao-te- siderando as nossas condições momentâneas físicas, psi-
ma?part=2 cológicas, financeiras e analisando rápida e racionalmente
(mesmo com sono) o que faremos... e, ao fazê-lo, prepara-
mos as condições prévias para o nosso momento futuro. Se
PADILHA, PAULO ROBERTO. PLANEJAMENTO pararmos para pensar, mesmo os que não se permitem os
DIALÓGICO: COMO CONSTRUIR O PROJETO cinco minutos a mais no conforto do colchão passam por
POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA. 2. ED., esse processo e projetam as suas ações, isto é, antecipam
SÃO PAULO: CORTEZ; INSTITUTO PAULO o futuro, ordenam as atividades e organizam mentalmente,
FREIRE, 2002 a partir das suas condições concretas, o que virá adiante, o
que faremos em seguida. Dependendo do dia, são tantas as
nossas atividades que chegamos mesmo a planificar as nos-
Planejamento, projeto, proposta sas ações: tomamos nota e registramos a ordem dos nossos
Palavras afins, mas com significados diferentes, ainda compromissos, sistematizando a sequência dos afazeres do
mais se acompanhadas, respectivamente, dos qualificativos dia, definindo itinerários, horários, pessoas que não pode-
“dialógico”, “político pedagógico” e “pedagógico”. Há quem mos deixar de encontrar, contas que precisamos pagar e,
sinta mal estar só de ouvir essas palavras, como se elas fos- melhor ainda, valores que temos a receber! Acabamos, sim,
sem sinônimos de burocracia, obrigação enfadonha, ativida- planificando as nossas ações, ou seja, documentando- as,
des distanciadas da prática etc. Mas é possível, com algum “botando as” no papel, sistematizando-as.Com esses exem-
esforço de pesquisa e de reflexão, compreender e distinguir plos pretendemos mostrar que a atividade de planejar, de
esses termos. projetar e de planificar são eminentemente humanas e, em
No entanto, se apenas esclarecer termos ou conceitos certa medida, acontecem quase sempre na nossa vida. Por
bastasse para resolvermos os problemas da nossa realidade isso, não são nem estranhas a nós nem algo necessariamente
ou das nossas escolas, os dicionários seriam as ferramentas complicado de se fazer. E na escola não é diferente, a não ser
mais importantes do mundo, principalmente nas instituições pelo seu caráter mais formalizado, organizado, intencional e
de ensino e de aprendizagem, que tantos problemas têm coletivo, como veremos. O importante, nesse âmbito, é não
para enfrentar e que sempre são chamadas a planejar, a pro- simplificarmos demais e acharmos que, mesmo ficando pa-
jetar e a planificar... visando ,justamente, a sua superação. rados, como se estivéssemos no conforto da nossa cama, o
Será que planejar, projetar e planificar realmente nos planejamento, o projeto ou a planificação vão acontecer de
ajuda a resolver os problemas da escola? qualquer jeito, porque alguém vai acabar fazendo. Por outro
Quem de nós poderia dar um exemplo? Comece quem lado, é bom que não entendamos esses processos como se
quiser. Se for difícil relatar uma experiência efetiva de pla- fossem muito complexos ou sofisticados porque, nesse caso,
nejamento, de projeção e de planificação na escola, tudo acabamos nos afastando deles e nos considerando sempre
bem. Por mais que estejamos acostumados a ouvir falar des- incompetentes para a sua realização. Diríamos, mesmo, que
se assunto, dá para entender a dificuldade de se localizar, o melhor seria encarar de frente o desafio até porque sem-
eventualmente, uma ação concreta, da qual tenhamos par- pre teremos diante de nós vários problemas para resolver e,
ticipado, que tenha a ver com planejamento. De qualquer assim, assumirmos a nossa parcela de responsabilidade nes-
forma, quem trabalha numa instituição escolar ou em qual- se processo e, sem complicarmos muito, “arregaçarmos as
quer outro tipo de organização governamental ou não-go- mangas” e partirmos para a ação -reflexão-ação. Reflexão
vernamental ou empresa na verdade qualquer profissional e ação sempre críticas, coletivas, intencionais, organizadas,
de qualquer área poderia responder a essa pergunta. Mas pensando o futuro e confirmando a nossa própria humani-
queremos facilitar ainda mais. Pensemos na nossa vida pes- dade. E, dentro do possível, fazendo-o de bom humor , no
soal. Fazemos o convite para que reflitam conosco: será que sentido da disposição para a atividade, da abertura para a
uma pessoa, criança, adolescente, adulta ou idosa, homem mudança , para o encontro com outras pessoas. Até por-
ou mulher, faz planos, elabora projetos de vida e planifica que, da mesma forma que quem acorda de mau humor e
as suas ações? Certamente que sim. Vejamos: acordamos nada faz para mudar isso achando que é normal acordar
de manhã, geralmente com vontade de dormir mais. O que assim quem mal pensa em planejamento ou no projeto da
faremos hoje? Começamos o nosso dia lá mesmo, no calor escola e já começa a torcer o nariz, a olhar “atravessado” e
do cobertor, no macio da cama, a planejar e a projetar o a apresentar resistências e mil problemas para a sua realiza-
que faremos, resgatando na memória oque ficou por fazer, ção, está fazendo coro para não mudar, não se atualizar e
desde ontem. Lá se vão alguns minutos, sempre, é claro, com conservar as coisas como estão, mesmo que elas não este-
o risco de esquecer o próprio processo do planejamento e jam tão boas para a maioria das pessoas e para si próprio.
da projeção, pois o contexto é tão, mas tão confortável, que Por isso é que fazemos este convite inicial para a seguinte
se pode acabar pegando novamente no sono, a menos que reflexão: oque temos feito para alterar a nossa rotina, a nos-
31
LIVROS E ARTIGOS
sa atitude, melhorar o nosso trabalho, alegrar a nossa vida, las concepções mais tradicionais e técnicas do currículo. “As
ressignificar a nossa escola? Afinal, qual é o nosso projeto teorias críticas do currículo efetuam uma completa inversão
individual e coletivo de vida, de trabalho, de sociedade, de nos fundamentos das teorias tradicionais” (p. 29). Entre os
mundo, de futuro? estudos pioneiros está a obra A ideologia e os aparelhos
Fonte: https://pt.scribd.com/document/284085073/Pla- ideológicos de Estado, de Louis Althusser. Sua teoria diz que
nejamento-Dialogico-Padilha “a escola contribui para a reprodução da sociedade capita-
lista ao transmitir, através das matérias escolares, as cren-
ças que nos fazem vê-la como boa e desejável” (p. 32). Já a
SILVA, TOMAZ TADEU DA. DOCUMENTOS escola capitalista, de Bowles e Gintis, “enfatiza a aprendiza-
DE IDENTIDADE: UMA INTRODUÇÃO ÀS gem, através da vivência das relações sociais da escola, das
TEORIAS DO CURRÍCULO. BELO HORIZONTE: atitudes necessárias para se qualificar um bom trabalhador
EDITORA AUTÊNTICA, 2004. capitalista” (p. 3233). Por fim, A reprodução, de Bourdieu e
Passeron, afirma que o currículo está baseado na cultura do-
minante, o que faz com que crianças das classes subalternas
Neste livro encontramos um panorama das teorias do não dominem os códigos exigidos pela escola.2
currículo, a partir de vários estudos e autores que abordam Voltando aos Estados Unidos, vemos que, a partir dos
a origem do campo do currículo, passando pelas teorias tra- anos 70, tendo como marco inicial a I Conferência sobre Cur-
dicionais, críticas e pós-críticas e tratando introdutoriamen- rículo, liderada por William Pinar, surgem duas tendências
te cada uma dessas perspectivas, assim como os principais críticas no campo do currículo, as quais vêm se opor às teo-
conceitos e definições que elas enfatizam. rias de Bobbitt e Tyler. A primeira de caráter marxista, utili-
O autor levanta indagações essenciais sobre o currículo, zando-se, por exemplo, de Gramsci e da Escola de Frankfurt.
tais como: o que é uma teoria do currículo? Onde começa A segunda de orientação fenomenológica e hermenêutica.
e como se desenvolve a história das teorias do currículo? Aquela enfatizando “o papel das estruturas econômicas e
Quais são as principais teorias do currículo? O que distingue políticas na reprodução social” (p. 38); esta enfatizando “os
as teorias tradicionais das teorias críticas do currículo? E es- significados subjetivos que as pessoas dão às suas experiên-
tas das pós-críticas? cias pedagógicas e curriculares” (p. 38).
Antes, porém, o autor fala sobre sua compreensão de Michael Apple, um dos expoentes nesse âmbito, parte
teoria do currículo. Para Silva, definições não revelam uma dos elementos centrais do marxismo, colocando o currículo
suposta ‘essência’ do currículo: “uma definição nos revela no centro das teorias educacionais críticas e relacionando-o
o que uma determinada teoria pensa que o currículo é” (p. às estruturas mais amplas, contribuindo assim para politi-
14). Segundo ele, há questões que toda teoria do currículo zá-lo. “Apple procurou construir uma perspectiva de análise
enfrenta: qual conhecimento deve ser ensinado? O que eles crítica do currículo que incluísse as mediações, as contradi-
(alunos) ou elas (alunas) devem ser, ou melhor, que identida- ções e ambiguidades do processo de reprodução cultural e
social” (p. 48).
des construir? Com base em quais relações de poder serão
Já o currículo como política cultural, de Henry Giroux,
essas perguntas respondidas?
fala numa “pedagogia da possibilidade” (p. 53) que supere
O texto está dividido em duas partes. A primeira aborda
as teorias de reprodução. Ele utiliza estudos da Escola de
teorias tradicionais e teorias críticas, apresentando a origem
Frankfurt sobre a dinâmica cultural e a crítica da racionalida-
dos estudos sobre currículo, a gênese das teorias críticas e
de técnica. Compreende o currículo a partir dos conceitos de
estudos de vários autores, entre eles: Michael Apple, Henry
emancipação e liberdade, já que vê a pedagogia e o currícu-
Giroux, Paulo Freire, Demerval Saviani etc. A segunda parte lo como um campo cultural de lutas.
aborda as teorias pós-críticas, ressaltando os conceitos de: a) De fato, suas análises se ocupam mais com aspectos
identidade, alteridade e diferença; b) subjetividade; c) signifi- culturais do que propriamente educacionais. Ultimamente,
cação e discurso; d) saber-poder; e) representação; f) cultura; Giroux incorporou contribuições do pós-modernismo e do
g) gênero, raça, etnia e sexualidade; h) multiculturalismo. pós-estruturalismo.
Outro autor de destaque é Paulo Freire. Sua teoria é
PARTE I – DAS TEORIAS TRADICIONAIS ÀS CRÍTICAS claramente pedagógica, não se limitando a analisar como
Os estudos sobre currículo nascem nos Estados Uni- é a educação existente, mas como deveria ser. Sua crítica
dos,1 onde se desenvolveram duas tendências iniciais. Uma ao currículo está sintetizada no conceito de educação ban-
mais conservadora, com Bobbitt, que buscava igualar o sis- cária. Por outro lado, concebe o ato pedagógico como um
tema educacional ao sistema industrial, utilizando o modelo ato dialógico em que educadores e educandos participam
organizacional e administrativo de Frederick Taylor. Bobbitt da escolha dos conteúdos e da construção do currículo. An-
encontrou ainda suporte na teoria de Ralph Tyler e na de tecipa a definição cultural sobre os estudos curriculares e
John Dewey. O primeiro defendia a idéia de organização e inicia uma pedagogia pós-colonialista. Nos anos 80, Freire
desenvolvimento curricular essencialmente técnica. Por sua seria contestado pela pedagogia dos conteúdos, proposta
vez, John Dewey se preocupava com a construção da demo- por Demerval Saviani. Este autor critica a pedagogia pós-
cracia liberal e considerava relevante a experiência das crian- -colonialista de Freire por enfatizar não a aquisição do saber,
ças e jovens, revelando uma postura mais progressivista. mas os métodos desse processo; para ele conhecimento é
Na década de 1960 ocorreram grandes agitações e poder, pois a apropriação do saber universal é condição para
transformações. Nesse contexto começam as críticas àque- a emancipação dos grupos excluídos.
32
LIVROS E ARTIGOS
Já a ‘nova’ sociologia da educação3 busca construir um classe como única no processo de reprodução das desigual-
currículo que reflita mais as tradições culturais e epistemo- dades sociais. O autor alerta para questões como etnia, raça
lógicas dos grupos subordinados. Essa corrente se dissol- e gênero, configurando um novo repertório educacional
veu numa variedade de perspectivas analíticas e teóricas: significativo. Insistindo nesse processo, afirma que tais ques-
feminismo, estudo sobre gênero, etnia, estudos culturais, tões apenas recentemente estão sendo problematizadas
pós-modernismo, pós-estruturalismo etc. Nesse âmbito, dentro do currículo, a partir de análises pós-estruturalistas
Bernstein investiga como o currículo é organizado estrutu- e dos estudos culturais: “é através do vínculo entre conheci-
ralmente. Distingue dois tipos fundamentais de organização: mento, identidade e poder que os temas da raça e da etnia
no currículo tipo coleção “as áreas e campos de saber são ganham seu lugar no território curricular” (p. 101).
mantidos fortemente isolados” (p. 72); no tipo integrado “as Uma outra tendência inserida nessa discussão é a teoria
distinções entre as áreas de saber são muito menos nítidas e “queer”, que “radicaliza o questionamento da estabilidade
muito menos marcadas” (p. 72). O autor quer compreender da fixidez da identidade feito pela teoria feminista recente”
como as diferentes classes sociais aprendem suas posições (p. 105). Essa teoria questiona o predomínio da heterosse-
de classe via escola. Elabora então o conceito de códigos: xualidade como a identidade considerada normal, discutin-
no elaborado “os significados realizados pela pessoa – o do a forma como os processos discursivos de significação
‘texto’ que ela produz – são relativamente independentes tentam fixar determinada identidade sexual. Segundo esse
do contexto local” (p. 75); no restrito “o ‘texto’ produzido na pensamento, “nós somos o que nossa suposta identidade
interação social é fortemente dependente do contexto” (p. define que somos” (p. 107). Isto é,
75). Para ele o código elaborado é suposto pela escola, mas o que se torna, assim, uma atitude epistemológica que
crianças de classe operária possuem códigos restritos, o que não se restringe à identidade e ao conhecimento sexuais,
estaria na base do seu ‘fracasso’ escolar. mas que se estende para o conhecimento de identidade. A
Ainda de acordo com Bernstein, o currículo oculto, con- Epistemologia que é, nesse sentido, perversa, subversiva,
ceito fundamental na teoria do currículo, “constitui-se da- impertinente, profana desrespeitosa. (p. 107)
queles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte Para as teorias pós-modernas (que não se resumem a
do currículo oficial explícito, contribui de forma implícita uma única vertente ou teoria social) vivemos uma nova cena
para aprendizagens sociais relevantes” (p. 78). Na análise histórica, com novas implicações no campo educacional.
funcionalista o currículo oculto ensina noções tidas como Basicamente elas criticam conceitos e discursos da moder-
universais, necessárias ao bom funcionamento das socieda- nidade, como, por exemplo, razão, ciência e progresso. As
des “avançadas”; já as perspectivas críticas, ao denunciálo, implicações curriculares desse movimento estão na descon-
dizem que ele ensina em geral o conformismo, a obediência, fiança de uma pedagogia e um currículo fundamentados
o individualismo, a adaptação às injustas estruturas do capi- no pensamento moderno, isto é, que se caracterizem por:
talismo. Já as pós-críticas consideram importante incluir aí as a) saber totalizante; b) razão iluminista; c) progresso cumu-
dimensões de gênero, sexualidade, raça etc. lativo; d) axiomas inquestionáveis; e) sujeito racional, livre e
autônomo.
PARTE II – AS TEORIAS PÓS-CRÍTICAS O pós-estruturalismo enfatiza os jogos de linguagem e
Segundo Silva o fenômeno chamado multiculturalismo a realidade como um “texto”. De acordo com essa teoria, a
tem sua origem nos países dominantes do norte e é dis- fixidez dos significados se torna fluida, indeterminada. Daí,
cutido atualmente em duas vertentes: “... dos grupos cultu- por exemplo, a radicalização pós-estrutural do conceito de
rais dominados no interior daqueles países para terem suas diferença, que viria substituir o de desigualdade, típico da
formas culturais reconhecidas e representadas na cultura modernidade. Segundo o pós-estruturalismo, o sujeito ra-
nacional” (p. 85); e outra que aponta”... solução para os pro- cional, autônomo e centrado da modernidade é uma ficção,
blemas que a presença de grupos raciais e étnicos coloca no pois “não existe sujeito a não ser como simples e puro re-
interior daqueles países para a cultura nacional dominante” sultado de um processo cultural e social” (p. 120). Assim, um
(p. 85). Para ambas as vertentes o multiculturalismo repre- currículo, para essa teoria, questionaria os significados trans-
senta um importante instrumento de luta política, pois ele cendentais ligados à religião, à política, à pátria, à ciência
remete à seguinte questão: o que conta como conhecimen- etc., que povoam o currículo existente.
to oficial? Assim, ele também nos lembra que “a igualdade A teoria pós-colonialista objetiva refletir sobre as rela-
não se obtém simplesmente através da igualdade de acesso ções de poder advindas da herança colonial, tais como o
ao currículo hegemônico” (p. 90), sendo preciso mudanças imperialismo econômico e cultural. Reivindica um currículo
substanciais do currículo existente. que inclua as diferentes culturas, não de forma simples e in-
Já a pedagogia feminista introduz novas questões no formativa, mas refletindo sobre aspectos culturais e expe-
tocante às formas de reprodução e produção de desigual- riências de povos e grupos marginalizados.
dades sociais através da questão de gênero, ampliando o Os estudos culturais constituem um campo de investi-
processo de reprodução cultural para além da dinâmica de gação cujo impulso inicial foi estudar a cultura através de
classe, já bastante reconhecida pelas teorias críticas, que em grandes obras literárias (e não só estas), tidas como burgue-
relação às teorias feministas ignoram outras dimensões da sas e elitistas – função semelhante à da mídia e seu papel
desigualdade (como a de gênero). na formação de consenso e conformismo político –, mas
No tópico seguinte Silva aborda o currículo como narra- concentrando-se também na análise da indústria cultural
tiva étnica e racial, reafirmando uma superação e ampliação (revistas, cinema etc.). Silva ressalta que esses estudos, as-
do pensamento curricular crítico que aponta a dinâmica de sim como o pós-modernismo e o pós-estruturalismo, não
33
LIVROS E ARTIGOS
influenciam de forma significativa o processo de elabora- O ideal é que se tenha um equilíbrio entre as duas par-
ção curricular, mas aponta que dentro do contexto atual tais tes: o aluno respeitando o professor como autoridade em
estudos apresentam conceitos relevantes à visão crítica do sala de aula e, o professor respeitando o aluno como ser hu-
currículo, especialmente por entenderem a cultura como mano em processo de aprendizagem, formação de valores e
campo de disputa simbólica pela afirmação de significados. construção de novos conhecimentos.
Pedagogia como cultura, e a cultura como pedagogia, O que me levou a escolher este tema foi quando con-
é outro ponto destacado pelo autor para explicar uma das versando com amigos, muitos relataram que o grande pro-
consequências da virada culturalista na teorização curricular, blema existente entre professores e alunos era o relaciona-
na qual percebe-se uma redução das fronteiras entre conhe- mento, devido à indisciplina, falta de educação, como o uso
cimento acadêmico/escolar e conhecimento cotidiano/cul- de palavras de baixo calão, entre outras.
tura de massa. O “currículo” e a “pedagogia” dessas formas Este estudo tem como objetivo geral demonstrar por
culturais extra-escolares possuem imensos recursos eco- meio da literatura científica como é o relacionamento pro-
nômicos e tecnológicos, como exigência de seus objetivos fessor/aluno, em relação ao processo de ensino aprendiza-
quase sempre mercadológicos. Investe-se assim de formas gem.
sedutoras irresistíveis, inacessíveis à escola. “É precisamente O estudo em questão trata do relacionamento entre
a força desse investimento das pedagogias culturais no afe- professor e aluno, aborda os possíveis conflitos no processo
to e na emoção que tornam seu ‘currículo’ tão fascinante à de ensino-aprendizagem, e tem como temática um relato da
teoria crítica do currículo” (p. 140). pedagogia da autonomia de Paulo Freire, além disso, apre-
O autor conclui reafirmando que o currículo “é uma senta um pouco mais sobre competências e habilidades.
questão de saber, poder e identidade” (p. 148), fazendo ain- Fonte: https://www.webartigos.com/artigos/o-rela-
da uma relação entre as teorias críticas e pós-críticas do cur- cionamento-entre-professor-e-aluno-no-processo-de-
rículo: as teorias pós-críticas podem nos ter ensinado que -ensino-aprendizagem/65502
o poder está em toda parte e que é multiforme. As teorias
críticas não nos deixam esquecer, entretanto, que algumas QUESTÕES
formas de poder são visivelmente mais perigosas e ameaça-
doras do que outras (p. 147). 01- (FUNDEP – PEDAGOGO Contagem) São princípios
da educação libertadora (Paulo Freire) EXCETO:
Na visão do autor, depois de conhecer as teorias críti-
(A) Acreditar na igualdade fundamental entre os seres
cas e pós-críticas, torna-se impossível conceber o currículo
humanos, independentemente de quaisquer diferenças.
de forma ingênua e desvinculado de relações sociais de po-
(B) Buscar a transformação social, constituindo-se
der. Para as teorias críticas isso significa nunca esquecer, por
como meio de contribuir para a justiça social e para a par-
exemplo, a determinação econômica e a busca de liberdade
ticipação.
e emancipação; e para as pós-críticas significa questionar e/
(C) Conceber a participação como um processo que
ou ampliar muito daquilo que a modernidade nos legou.
favoreça cada vez mais a centralização das decisões tendo
Fonte: https://www.revistas.ufg.br/fef/article/ em vista a unidade institucional.
view/83/2679 (D) Organizar-se como um processo em que as pes-
soas sejam sujeitos de sua própria formação.
VEIGA, ILMA PASSOS DE OLIVEIRA. PROJETO
2- (FUMARC - PROFESSOR GOV.VALADARES) “Não
POLÍTICO- -PEDAGÓGICO DA ESCOLA: UMA há docência sem discência”. Em seu texto, Freire (2000) dis-
CONSTRUÇÃO POSSÍVEL. 24ª. EDIÇÃO, cute a importância de uma reflexão envolvendo a formação
CAMPINAS, SP: PAPIRUS, 2008. docente e a prática educativo-crítica em favor da autonomia
dos educandos.
Avalie as afirmativas abaixo:
I. A temática abordada incorpora a análise de saberes
A educação hoje ressurge como um novo significado no fundamentais, apresentando elementos constitutivos para a
espaço de aprendizagem. A qualidade no ensino tem ocu- compreensão da prática docente enquanto dimensão social
pado, nos últimos anos, um lugar de destaque seja na fala da formação humana.
de agentes da educação, na agenda de políticos, o bom rela- II. A tarefa do educador não se resume apenas em ensi-
cionamento professor/aluno é um dos principais elementos nar os conteúdos, mas ensinar a pensar certo, exigindo rigo-
em pauta na garantia da qualidade, sobretudo, dos ensinos rosidade metódica. Ensinar, aprender e pesquisar envolvem
fundamental e médio, como também do superior. dois momentos do ciclo gnosiológico.
No ambiente educacional, o professor sente dificulda- III. O ato de ensinar exige a corporeificação das palavras
des em estar se relacionando com os alunos de forma aberta através do exemplo. Uma vez que, não há pensar certo fora
e conveniente; alguns são autoritários e tradicionais, dese- de uma prática testemunhal que o re-diz em lugar de des-
jam que os alunos sejam disciplinados, seguindo um currí- dizê-lo.
culo pré-estabelecido, o que quase sempre não acontece. IV. Na formação permanente dos professores, ensinar
Diante do problema abordado como resolvê-lo? exige reflexão crítica a respeito da prática, é pensando criti-
Como valorizar a participação do aluno e do professor camente a prática de hoje ou de ontem que se pode melho-
no processo de ensino-aprendizagem? rar a próxima prática.
34
LIVROS E ARTIGOS
Verifica-se que estão CORRETAS as afirmativas: (A) uma prática pedagógica neutra que reflete positiva-
(A) Apenas I, II e III mente no meio social.
(B) Apenas I, III e IV (B) o desenvolvimento de experiências que só servem
(C) Apenas I, II e IV para cada profissional do ensino.
(D) I, II, III, IV (C) o desenvolvimento de atividades pragmáticas que
centram o ensino em atividades descontextualizadas.
3- (FUMARC - PROFESSOR GOV.VALADARES) Leia (D) visões distorcidas do mundo do trabalho.
atentamente o trecho extraído do livro “Pedagogia da Auto- (E) novas formas de ordenação da experiência humana,
nomia: Saberes necessários à prática educativa”: com múltiplos reflexos positivos na cognição dos estudantes.
O ato de cozinhar, por exemplo, supõe alguns sabe-
res concernentes ao uso do fogão, como acendê-lo, como 6- Os pedagogos e demais profissionais e pessoas que
equilibrar para mais, para menos, a chama, como lidar com circulam na escola pública devem considerar, segundo Paulo
certos riscos mesmo remotos de incêndio, como harmoni- Freire, a importância das relações entre educador e educan-
zar os diferentes temperos numa síntese gostosa e atraente. do, entre autoridade e liberdade, entre pais, mães, filhos e
A prática de cozinhar vai preparando o novato, ratificando filhas o que contribui para a:
alguns daqueles saberes, retificando outros, e vai possibili- (A) reinvenção do ser humano no aprendizado de sua
tando que ele vire cozinheiro. A prática de velejar coloca a autonomia.
necessidade de saberes fundantes, como o do domínio do (B) elaboração do calendário escolar que marca as lições
barco, das partes que o compõem e da função de cada uma de vida e deve inibir as liberdades dos alunos na avaliação
delas, como o conhecimento dos ventos, de sua força, de da escola.
sua direção, os ventos e as velas, a posição das velas, o papel (C) elaboração de um regimento escolar apenas por
do motor e da combinação entre motor e velas. Na prática quem entende de legislação de ensino.
de velejar se confirmam, se modificam ou se ampliam esses (D) elaboração das diretrizes escolares por pessoas que
saberes. detém o saber pedagógico e encontram-se fora de sala de
FREIRE, 2000, P. 23 e 24
aula.
(E) produção de documentos e registros escolares exclu-
O texto acima permite analisar que:
sivamente pelos pedagogos.
(A) Ensinar é um processo que pode tornar o aprendiz
mais e mais criador. Quanto mais criticamente se exerça a
7- De acordo com a Pedagogia defendida por Paulo
capacidade de aprender, mais se constrói e se desenvolve o
Freire, a autonomia, enquanto amadurecimento do ser para
que pode ser chamado de “curiosidade epistemológica.
(B) Existe uma relação entre o ato de ensinar e a prática de si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É
cozinhar, mostrando que o professor precisa diversificar sua nesse sentido que os pedagogos devem estimular reflexões
prática, promovendo atividades fora do ambiente escolar. centradas em experiências estimuladoras da decisão e da
(C) Na prática pedagógica, é importante estabelecer ati- responsabilidade, o que pressupõe:
vidades que relacionem com o cotidiano dos alunos, utili- (A) experiências respeitosas da liberdade.
zando receitas familiares e atraentes. (B) o receio às críticas mesmo construtivas.
(D) Com o objetivo de criar “espaços inovadores”, cabe (C) a espera para saber onde as pessoas podem ir e em
aos professores utilizarem com frequência todo o espaço seguida mostrar o caminho certo.
escolar. (D) a licenciosidade que hipertrofia a decisão coletiva.
(E) o espontaneísmo.
4- Segundo Paulo Freire ensinar exige segurança, com-
petência profissional e generosidade. Assim o clima de res- 8- A pedagoga Cláudia respalda a sua prática na Peda-
peito que nasce de relações justas, sérias, humildes, genero- gogia da Autonomia coordena o planejamento escolar lem-
sas em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos brando a necessidade de elevar os índices de aprendizagem
se assumem eticamente deve contribuir para: do/as alunos/as e a importância das ferramentas básicas
(A) reforçar o autoritarismo na escola pública. para que eles/elas circulem na sociedade letrada. Reconhece
(B) reforçar o medo que os pais tem dos professores e os a importância dos saberes e dos conhecimentos de expe-
conduz a afastar-se da escola. riência que chegam à escola. Nesse sentido o saber ingênuo
(C) os alunos reagirem negativamente ao exercício do deve ser:
comando. (A) preservado.
(D) fortalecer o caráter formador do espaço pedagógico. (B) considerado como produto final do ensino e apren-
(E) estabelecer na escola o mandonismo que tolhe a dizagem escolar.
criatividade do educando. (C) superado pelo saber produzido através do exercício
da curiosidade epistemológica.
5- A escola X vem trabalhando na construção coletiva (D) considerado como ponto de partida e de chegada
do PPP escolar que tem como base a Pedagogia da Auto- na aprendizagem assistemática escolar.
nomia. Um dos pontos elencados e operacionalizados pelo (E) motivo de exclusão no processo de ensinar e aprender.
grupo foi a formação continuada dos docentes, partindo do
entendimento de ser essa a forma de favorecer:
35
LIVROS E ARTIGOS
9- O pedagogo Joaquim dá testemunho de respeito (A) Pensar certo é uma postura exigente, difícil e penosa
ao seu aluno pelo exercício cotidiano de responsabilidade, que o professor tem de assumir diante dos outros e com os
pontualidade, assiduidade e cumprimento dos seus deveres outros, em face do mundo e dos fatos.
como educador. Segundo Paulo Freire as características des- (B) Pensar certo é ter a certeza de que todas as ações
sa prática pedagógica docente especificamente humana é: humanas estão predeterminadas pelo destino, que a interfe-
(A) incoerente pela realidade educacional e antiética. rência do indivíduo pouco mudará a realidade.
(B) profundamente formadora, por isso, ética. (C) Pensar certo é agir com espontaneidade, a ponto de
(C) esteticamente assistemática. todas as ações serem pautadas pelo espontaneísmo.
(D) espontânea e assistencialista. (D) Pensar certo é fácil, pouco exigente e complementa
(E) assistemática e escapa ao juízo que dele fazem os a atitude autoritária do professor, que cada vez menos ne-
alunos. cessita da rigorosidade metódica.
10- Segundo Paulo Freire os homens e mulheres são os 13- A partir do saber fundamental “mudar é difícil, mas
únicos seres que socialmente são capazes de aprender. é possível” é que se deve programar a ação político-peda-
Assim toda prática educativa demanda processos inte- gógica. Com base nesse pressuposto e considerando, ainda,
rativos que favorecem: o texto de Paulo Freire, assinale a opção correta.
(A) a constatação que para mudar, é necessário práticas (A) O educador deve assumir uma postura neutra diante
assistemáticas. do real, pois a função da educação é estudar e constatar
(B) o espírito negativo e o fechamento ao risco. a realidade, para compreendê-la e admirá-la como obra da
(C) a construção, reconstrução, a constatação que para construção humana.
mudar é necessário abertura ao risco. (B) O educador deve tomar consciência de que não é
(D) o nível de adestramento dos outros animais ou do apenas objeto da história, mas também sujeito. No mundo
cultivo das plantas. da história, da cultura e da política, deve constatar a realida-
(E) a construção dos saberes do senso comum e a cons- de não para se acomodar, mas para mudar.
tatação que para mudar é necessário apenas do mérito in- (C) Para que se possa transformar o mundo por meio da
dividual. educação é preciso pregar a rebelião e instigar a revolta nas
camadas populares, pelo fato de estas serem profundamen-
te injustiçadas.
Leia o texto abaixo para responder às questões 11, 12 e 13
(D) O educador deve respeitar o saber dos grupos com
que trabalha. Porém, não pode permitir que estes predomi-
A questão da formação docente, ao lado da reflexão so-
nem, por ter consciência de que aquilo que pensa, em face
bre a prática educativo-progressista em favor da autonomia
de sua formação, é melhor para o grupo.
do ser dos educadores, é a temática central em torno da
qual gira este texto. É também temática a que se incorpora a 14- Considere as três afirmativas abaixo:
análise de saberes fundamentais àquela prática e aos quais I - A finalidade do currículo crítico é o inverso da do
espero que o leitor crítico acrescente alguns que me tenham currículo tradicional: este último tende a naturalizar’ acon-
escapado ou cuja importância não tenha percebido. tecimentos; aquele tenta obrigar o aluno a que questione
Paulo Freire. Pedagogia da autonomia: as atitudes e comportamentos que considera naturais. O
saberes necessários à prática educativa. currículo crítico oferece uma visão da realidade como um
São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 13 (com adapta- processo mutante e descontínuo, cujos agentes são os seres
ções). humanos, os quais, portanto, estão em condições de realizar
sua transformação.
11- De acordo com o pensamento predominante no II - O currículo comum é um meio para ajudar na igual-
texto, o ato de ensinar exige: dade de oportunidades; pois “numa sociedade em que a
I rigorosidade metódica, pesquisa e criticidade. cultura de procedência dos indivíduos condiciona suas ca-
II respeito aos saberes dos educandos, estética e ética. pacidades, interesses e aspirações, o currículo comum da
III corporeificação das palavras pelo exemplo. escolaridade deve ser entendido como o conjunto de co-
IV risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma nhecimentos, competências e valores para aqueles que sem
de discriminação. a sua aquisição seriam mais discriminados fora da escola.
A quantidade de itens certos é igual a Esses conteúdos são a oportunidade para que todos aqueles
(A) 1. que, por sua cultura de procedência ou origem social, teriam
(B) 2. menos oportunidades de ter acesso ao conhecimento e às
(C) 3. distintas formas de expressão cultural.
(D) 4. III - A determinação de um currículo básico comum tem
um papel essencial, já que condiciona horários, sistemas
12- Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as de especialização do professorado, disposição de recursos,
possibilidades para sua própria produção ou sua própria dotação mínima das escolas, etc. Algo que é imprescindível
construção, o que exige que o professor pense certo. Com num sistema educativo complexo e universal para garantir a
relação aos pressupostos filosóficos subjacentes a essa afir- igualdade de condições e a homologação dos resultados e
mativa e ao texto, assinale a opção correta. certificados que fornece.
36
LIVROS E ARTIGOS
A partir da compreensão das ideias expressas por Gi- Considerando as ideias defendidas por Gimeno Sacris-
meno Sacristán sobre a teoria curricular, estão corretas as tán em seu livro COMPREENDER E TRANSFORMAR O ENSI-
afirmativas: NO, podemos dizer que, no que tange à organização didáti-
a) I e II ca dos grupos de estudantes, o autor:
b) II e III a) defende grupos homogêneos na organização do en-
c) I e III sino, mas adverte que essa prática, se for mal gerida, acaba
d) I, II e III não distinguindo os estudantes por competência ou nível
e) Apenas II. de capacidade e rendimento e sim por outros critérios mais
subjetivos
15- Segundo Sacristán, interferem no processo de sele- b) defende grupos homogêneos na organização do en-
ção, elaboração e realização do currículo uma série de for- sino e argumenta que os alunos aprendem melhor e mais
ças. As alternativas abaixo trazem alguns exemplos dessas rapidamente e podem ser agrupados por nível de rendimen-
forças, EXCETO a alternativa: to e capacidade
a) As forças sociais e econômicas que brigam por he- c) defende a desconstrução da lógica homogeneizadora
gemonia e fazem com que o currículo tenha determinada da escola, propondo a superação da tendência de se orga-
tendência; nizar sempre grupos homogêneos, defendendo que os inte-
b) Decisões administrativas sobre como desenvolver o resses de “melhor funcionamento” ou de melhor manejo de
ensino (políticas públicas) classe devem ser rediscutidos à luz dos valores éticos contra
c) Elaboração e mercado de distribuição de livros e ma- a segregação dos alunos
teriais didáticos d) defende a desconstrução da lógica homogeneizadora
d) O pertencimento racial dos estudantes da escola, pois a igualdade absoluta não existe, já que os
e) Influência de determinados grupos acadêmicos que estudantes chegam à escola em pontos de partida diferen-
pressionam para que sua especialização esteja representada tes. Por isso, propõe que, ao invés de homogeneizar grupos
no sistema escolar dentro da sala de aula, sejam costuradas turmas que apro-
ximem estudantes com o mesmo grau de desenvolvimento,
16- Leia o trecho abaixo: criando salas homogêneas e não grupos homogêneos nas
“A sequência mecânica de estímulos, respostas e de re- salas de aula
forços não funciona na escola, é um esquema demasiado e) defende a homogeneização das turmas como forma
de ajudar os professores no manejo de sala de aula e de me-
simplista e não reflete a riqueza das trocas na aula. Estímu-
lhorar o funcionamento e a qualidade do ensino oferecido.
los e reforços similares provocam reações bem diferentes e
inclusive contraditórias em diferentes indivíduos, e também
18- É muito importante que o educador propicie um en-
nos próprios sujeitos em situações e contextos diferentes.
sino que instigue o educando a pensar, a refletir, elaborar
Por outro lado, quando funciona, escapa do professor a
suas próprias ideias e, também, possibilite que ele adquira
complexidade dos efeitos secundários, não previstos e não
conceitos e conhecimentos básicos: até porque os conhe-
desejáveis que pode provocar o condicionamento mecânico cimentos se desenvolvem a cada dia, sendo impossível à
de uma resposta ou linha de comportamento. O aluno pode apreensão de todo saber na escola. Os educandos, quando
aprender mecanicamente uma conduta e ao mesmo tempo estimulados a enfrentar novos problemas, por meio de pes-
se tornar incapacitado para desenvolver estratégias de bus- quisas e reflexões, estarão conquistando sua:
ca nesse mesmo âmbito ou desencadear aversões emotivas (A) autonomia
em relação à mesma.” (B) cidadania
Neste trecho, Gimeno Sacristán tece criticas a um dos (C) inteligência emocional
conjuntos de teorias de ensino e aprendizagem que analisa (D) habilidade de pensar
em seu livro COMPREENDER E TRANSFORMAR O ENSINO. A (E) honestidade intelectual
que teorias o autor se refere?
a) Teorias Construtivistas 19- O pensamento pedagógico parte de alguns princí-
b) Teorias do Processamento da Informação pios que marcam de forma clara e objetiva o modo de en-
c) Teorias da Gestalt ou do Campo tender o ato educativo.
d) Teorias do Condicionamento Considerando as características do pensamento desse
e) Teorias de fundamentação psicanalítica. autor, analise as afirmações que se seguem:
I – ensinar é um ato que envolve a reflexão sobre a pró-
17- Leia o trecho abaixo: pria prática;
As práticas de homogeneizar para manejar com mais II – modificar a cultura originária é parte do processo
facilidade o grupo foram legitimadas com a ideia de que educativo;
os alunos aprendem melhor e mais rapidamente em grupos III – superar a consciência ingênua é tarefa da ação edu-
homogêneos; o que não deixa de ocultar certo darwinis- cativa;
mo social sob a ideia de ordem e de rendimento que seria IV – educar é um ato que acontece em todos os espaços
necessário discutir, já que ao fazer grupos homogêneos se da vida;
acaba distinguindo os alunos com diferentes níveis de capa- V – educar é transmitir o conhecimento erudito e univer-
cidade e rendimento. salmente reconhecido.
37
LIVROS E ARTIGOS
Estão de acordo com este pensamento APENAS as afir- 22- O modelo piagetiano de desenvolvimento cogniti-
mações: vo aponta que o adolescente é capaz de formar esquemas
(A) I e II conceituais abstratos dos 12 anos em diante. Trata-se do
(B) II e V período
(C) I, III e IV (A) pré-operacional.
(D) I, IV e V (B) das operações formais.
(E) I, II, III e IV (C) das operações concretas.
(D) sensório-motor.
20- Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as (E) epistemofílico.
possibilidades para sua própria produção ou sua própria
construção, o que exige que o professor pense certo. Com Respostas: 01-C / 02-D / 03-A / 04-D / 05-E / 06-A /
relação aos pressupostos filosóficos subjacentes a essa afir- 07-A / 08-C / 09-B / 10-C / 11-D / 12-A / 13-B / 14-D / 15-D
mativa, assinale a opção correta. / 16-D / 17-C / 18-A / 19-C / 20-A / 21-B / 22-B
(A) Pensar certo é uma postura exigente, difícil e penosa
que o professor tem de assumir diante dos outros e com os
outros, em face do mundo e dos fatos;
(B) Pensar certo é ter a certeza de que todas as ações
humanas estão predeterminadas pelo destino, que a interfe-
rência do indivíduo pouco mudará;
(C) Pensar certo é agir com espontaneidade, a ponto de
todas as ações serem pautadas pelo espontaneísmo;
(D) Pensar certo é fácil, pouco exigente e complementa
a atitude autoritária do professor, que cada vez menos ne-
cessita da rigorosidade metódica;
(E) Pensar certo é seguir as orientações das propostas
curriculares.
38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades, 2002. .................... 01
BONDIOLI, Anna. Manual de Educaçã o Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1988. ............................................................................ 04
MEC – Base Nacional Comum Curricular – assuntos relacionados à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental ....... 05
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e Brincadeiras de creches: manual de orientação
pedagógica. Brasília: MEC/SEF, 2012. ............................................................................................................................................................. 08
Ministério da Educação. Indicadores da Qualidade na Educação Infantil / Ministério da Educação/Secretaria da Educa-
ção Básica – Brasília: MEC/SEB, 2009. ........................................................................................................................................................... 15
CARVALHO, M.T.V.; ORTIZ,C. Interações: ser professor de bebês – cuidar, educar e brincar, uma única ação. Coleção
Interações. São Paulo: Editora Edgard Blucher. 2012 ............................................................................................................................. 17
EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da
primeira infância. Tradução de Deyse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda., 1999. ................................................. 18
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY. Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1986. FALK, Judith (org.).
Educar os três primeiros anos: a experiência de lóczy. Araraquara: JM Editora, 2004. ............................................................ 25
FARIA, Vitótia; SALLES, Fátima. Currículo na Educação Infantil: diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagó-
gica. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2012. ................................................................................................................................................................ 25
FERREIRO, Emilia. Cultura escrita e educação: conversas de Emilia Ferreiro com José Antonio Castorina, Daniel Goldin
e Rosa MariaTorres. Porto Alegre: ARTMED, 2001 ................................................................................................................................... 26
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. O jogo e a educaçã o infantil. São Paulo:Pioneira, 1998. ........................................................ 33
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educaçã o Infantil Fundamentos e Métodos.São Paulo:Cortez,2002. ...................................... 36
COLOMER, Teresa e CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Ed. Artmed. 2001. ............................................... 37
DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004. .................................................... 51
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY. Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1986. ....................................... 63
KAMII, C. Crianças pequenas reinventam a aritmética. Porto Alegre: Artmed, 2002. ................................................................ 64
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. ......................... 64
REIS, Silvia Marina Guedes dos. A Matemática no cotidiano Infantil: jogos, atividades com crianças de 3 a 6 anos. Cam-
pinas: Papirus. .......................................................................................................................................................................................................... 73
SMOLE, K. S. e DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto
Alegre: Artmed, 2001. ............................................................................................................................................................................................ 73
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998. ...................................................................................................... 76
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed,
2002............................................................................................................................................................................................................................... 79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
de brinquedos e objetos de consumo “a serem desejados
BENJAMIN, WALTER. REFLEXÕES SOBRE A pelas crianças”, prometendo-lhes o acesso a um gozo sem
CRIANÇA, O BRINQUEDO E A EDUCAÇÃO. fim. Este excesso de estímulos acaba por gerar uma fra-
SÃO PAULO: DUAS CIDADES, 17 DE gilização que revela-se no próprio tecido do brincar, que
passa a compor-se de minúsculas cenas, rápidas, velozes,
OUTUBRO DE 2018 32 DIÁRIO OFICIAL DE
nas quais as crianças ensaiam metáforas incipientes.
SANTOS 2002.
A fragilização da narrativa revela-se nas novas confi-
gurações do brincar, marcadas pela exigência da novidade
incessante e pelas constantes rupturas que se operam em
Memória dos brinquedos, memória do brincar, são função dos imperativos do consumo.
processos que Walter Benjamin analisa no livro Reflexões As crianças, ao brincar, situam-se na dimensão do so-
sobre o brinquedo, a criança e a educação. Ao mesmo nho, do devaneio, como Freud apontava (FREUD, 1973).
tempo em que realiza uma análise histórica, aponta para a Hoje, este sonho encontra-se marcado pelas imagens e pa-
crescente massificação própria da evolução industrial que lavras que conformam sua vida na promessa da felicidade
acaba por inscrever o brinquedo em uma dimensão de ho- em um biscoito, do prestígio em uma Barbie, da feminili-
mogeneização. O apagamento da singularidade, a “plasti- dade em um salto da Carla Perez, da masculinidade em um
ficação” dos brinquedos, evoca a era social que Benjamin Dragon Ball, fazendo com que traços que seriam singula-
aponta como própria do capitalismo que avança revelan- rizados pela história familiar e cultural passem a sê-lo pela
do seus contornos inclusive no campo da infância. Neste via das marcas do objeto, artificial e fragmentado.
sentido, os brinquedos evocam as formações do social, As crianças encontram-se submetidas à vigência he-
são objetos que revelam em sua configuração os traços gemônica de uma formação social que anestesia na raiz
da cultura em que se inscreve. A infância contemporânea a possibilidade de diferenciação e distanciamento crítico.
apresenta traços que nos remetem a pensar acerca do que Convém ressaltar que este processo social não é ho-
encontra-se apagado no brincar, hoje. mogêneo, já que há nos laços sociais modalidades que se
Das bonecas de porcelana às Barbies, podemos tran- diferenciam em função de particularidades culturais, histó-
sitar pela história dos brinquedos que na contempora- ricas e familiares. Mas observa-se que prevalece a direção
neidade tende a ser homogênea, globalizada, apagando em que os laços sociais hoje se fundam, que é marcada
e gestando esquecimentos (HUYSSEN, 2000) ali onde se pelo repúdio a uma posição crítica e pela busca incessante
inscreveria a singularidade. A memória do brincar, hoje, de referências narcísicas, marcas de ser, no ter.
encontra-se apagada pelo excesso de estímulos oferecidos Suspender o tempo e brincar é hoje um ato de extre-
incessantemente, em um ritmo veloz e instantâneo. mo desafio que as crianças tem de enfrentar frente à avas-
A exaltação do objeto eleva minúsculos brinquedos à saladora rede de aparelhos virtuais que invadem sua vida,
extrema potência, para dali a alguns dias serem substituí- anestesiando seus movimentos corporais e seu pensamen-
dos por outros, novas versões tecno do mais avançado, do to. Os adultos costumam se sentir absolutamente incapa-
melhor. Hoje, a dimensão do social confere ao sujeito um zes de assistir do início ao fim os desenhos animados da
lugar onde o singular encontra-se fragmentado na multi- moda. Plenos de cenas rápidas e de disputas violentas, exi-
plicidade que o rege. Os brinquedos, como bem aponta gem que se consiga, a cada segundo, apreender o sentido
Benjamin, refletem esta transformação. Acabam por trans- das sequências que se processam de forma extremamente
formar-se em “brinquedos em série”. veloz. Estes desenhos são o roteiro de muitas brincadeiras
Spielberg, no filme Inteligência Artificial, revela desdo- que as crianças inventam, onde os personagens e suas fa-
bramentos do processo de tecnificação e da dimensão vir- çanhas são a referência.
tual que os brinquedos apresentam na contemporaneida- Os games, jogos virtuais, não tem a mesma dimensão
de. Este filme nos fala da memória pré-fabricada e manipu- simbólica de uma brincadeira com carrinhos ou bonecas.
lada, metaforizada no funcionamento do “menino-robô”, Prescindem da presença do outro, e da materialidade dos
programado a partir de algumas palavras-chave, dimensão brinquedos.
do “humano robotizado”, onde, para “funcionar-existir”, Obviamente, são formas que as crianças encontram
bastam algumas senhas. O culto às imagens e ao artificial de falar deste universo que as cerca, de apropriar-se dele
povoa o filme, gestando, passo a passo, o esquecimento e ao navegar nas vias eletrônicas, mas a automatização que
a anestesia social. Não há lugar para as palavras, o corpo, rege os jogos virtuais apresenta efeitos de apagamento do
as relações, as histórias. Universo programado e artificiali- tecido social que se construiria em presença.
zado, busca na mimesis a superação do humano, da falta, A dimensão com que os adultos são encontram-se fren-
pela via da tecnologização avassaladora. As paisagens das te ao desfile de objetos de consumo no social é marcante
janelas são mimetismos da natureza, imagens que apagam e opera de forma avassaladora o apagamento da história,
à memória o que está fora (MEIRA, 2001). onde gestões de memória e esquecimento se enlaçam.
Encontramos na televisão outras vias que operam a É comum os pais assistirem como espectadores ao
artificialização da existência, inclusive nas programações espetáculo cotidiano que as crianças revelam em sua in-
dirigidas às crianças, onde a publicidade desfila suas ce- fância. Não julgam, não interferem, não proíbem, apenas
nas nos intervalos apresentando uma série interminável se dedicam a oferecer às crianças os objetos que lhes são
mostrados virtualmente, em uma dimensão de excesso.
1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Questionar esta atitude é tomado como algo retrógrado e “Quando, no decorrer do século XVIII, afloraram os im-
ultrapassado. Talvez porque traga luz à memória de que o pulsos iniciais de uma fabricação especializada, as ofi-
apagado, ali, é a dimensão de brincar com o que falta, onde cinas chocaram-se por toda parte contra as restrições
o objeto encontra-se subtraído. corporativas.
A referência ao que falta, ou a um passado que con- Estas proibiam o marceneiro de pintar ele mesmo as
fronte o sujeito com a dimensão da falta se apaga, hoje. O suas bonequinhas; para a produção de brinquedos de di-
“moderno” é não ter a história como referência, prescin- ferentes materiais obrigavam várias manufaturas a dividir
dir do outro, ser autônomo, artificializado em meio a um entre si os trabalhos mais simples” (BENJAMIN, 2002, p.90).
emaranhado sem fim de objetos sem nenhuma utilidade a Nesta época fica marcada a fragmentação que passa a
não ser a de sustentar a ilusão de uma completude impos- operar também no campo da fabricação dos brinquedos.
sível. Benjamin, a este respeito escreve: “A cega vontade A partir da segunda metade do século XIX, Benjamin
de salvar o prestígio da existência pessoal, de preferência aponta para a mudança que se revela na forma dos brin-
a destacá-la, pelo menos, através da soberana avaliação de quedos, que deixam de ser miniaturas. Refere que estes
sua impotência e de seu embaraço, do pano de fundo do brinquedos, próprios para o quarto de criança que na épo-
enceguecimento geral, impõe-se quase por toda parte.” ca encontrava-se em formação, prescindem dos cuidados
(BENJAMIN, 1993, p.24) maternos. Escreve: “... em seus pequenos formatos, os volu-
Em Infância e Pensamento, Jeanne Marie Gagnebin es- minhos mais antigos exigiam a presença da mãe de maneira
creve sobre as crianças e a posição diferenciada que as- muito mais íntima; os volumes in quarto mais recentes, em
sumem diante dos adultos, onde elas veem “aquilo que o sua insípida e dilatada ternura, estão antes determinados
adulto não vê mais, os pobres que moram nos porões cujas a fazer vista grossa à ausência materna. Uma emancipação
janelas beiram as calçadas, ou as figuras menores nas bases do brinquedo põe-se a caminho; quanto mais a industria-
das estátuas erigidas para os vencedores.” (p. 182) lização avança, tanto mais decidida mente o brinquedo se
É desde esta dimensão que as crianças olham o mun- subtrai ao controle da família, tornando-se cada vez mais
do, marcando com suas perguntas as bordas, as falhas, o estranho não só às crianças, mas também aos pais.”(BEN-
invisível, o inaudito. JAMIN, 2002, p. 91-92).
Transformam objetos minúsculos em fantasias, em É interessante a observação de Benjamin sobre a trans-
brincadeiras que se estenderiam horas a fio, não fossem formação do brinquedo como efeito da industrialização,
interrompidas incessantemente pelas exigências excessivas marcando o distanciamento entre as crianças e seus pais
de desempenho a que hoje são confrontadas. que, antes, produzíamos juntos. O autor aponta para os
objetos prediletos da criança no brincar: “Madeira, ossos,
BENJAMIN E OS BRINQUEDOS tecidos, argila, representam nesse microcosmo os materiais
Walter Benjamin realizou vários escritos sobre os brin- mais importantes, e todos eles já eram utilizados em tem-
quedos e os livros infantis onde registra sua história e pos patriarcais, quando o brinquedo era ainda a peça do
configurações ao longo do desenvolvimento industrial e processo de produção que ligava pais e filhos. Mais tarde
pós-industrial. Remete-nos a museus de brinquedos onde vieram os metais, vidro, papel e até mesmo o alabastro.”
encontram-se entre outros brinquedos clássicos, como as (Idem, p. 92) Mais adiante, afirma: “Conhecemos muito
bonecas de porcelana, os soldadinhos de chumbo, já na bem alguns instrumentos de brincar arcaicos, que despre-
época em processo de “esquecimento”, conforme observa. zam toda máscara imaginária (possivelmente ligados na
É interessante notar que nas fronteiras dos brinque- época a rituais): bola, arco, roda de penas, pipa – autên-
dos vão surgindo no séc. XIX os primeiros instrumentos ticos brinquedos, “tanto mais autênticos quanto menos o
de diversão que possuem traços da virtualidade referidos parecem ao adulto”. Pois quanto mais atraentes, no sentido
por Benjamin: “Ainda mais profundamente do que por corrente, são os brinquedos, mais se distanciam dos instru-
teatro de marionetes, somos introduzidos nos mistérios mentos de brincar; quanto mais ilimitadamente a imitação
do mundo lúdico pelas câmaras ópticas, pelos dioramas, se manifesta neles, tanto mais se desviam da brincadeira
mirioramas e panoramas, cujas imagens eram confeccio- viva.” (Idem, p. 93)
nadas em sua maioria na cidade de Ausburgo. “Já não se Estes objetos que propiciam à criança o contato, a
tem mais isto”, ouve-se com frequência o adulto dizer ao construção e a desconstrução, encontrados nos mais in-
avistar brinquedos antigos. Na maior parte das vezes isso é sólitos lugares, produzem mais prazer à criança do que os
mera impressão dele, já que se tornou indiferente a essas brinquedos plastificados, até hoje. É comum a observação
mesmas coisas que por todo canto chamam a atenção da de que quando uma criança pequena recebe de presente
criança.” (BENJAMIN, 2002, p.84), comenta o autor. Ben- um brinquedo, muitas vezes interessa-se mais pela caixa
jamin realiza um interessante enlace entre a imagem e o do que por este. Observamos também que a preocupa-
lúdico, prenúncio da evolução posterior do brinquedo e ção extrema com a segurança e a saúde, marcas ideais da
do avanço das transformações que se processariam neste sociedade de consumo, acaba por revelar-se na dimensão
campo na direção do virtual. dos brinquedos, que na maioria são plastificados, esterili-
Na Europa, inicialmente elaborados em pequenas ofi- zados, inquebráveis.
cinas, os brinquedos de madeira, estanho e outros mate- No escrito Brinquedos e jogos, Benjamin analisa a re-
riais eram confeccionados a partir de especialidades que petição intrínseca ao brincar: “Sabemos que para a criança
se diferenciavam a partir das formas e materiais utilizados. ela é a alma do jogo; que nada a torna mais feliz do que o
2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
“mais uma vez”. ... Para ela, porém, não bastam duas vezes, do uso repetido dos games. Curiosamente, no Brasil há a
mas sim sempre de novo, centenas e milhares de vezes.” crença inversa enunciada no discurso corrente, a de que os
Nesta passagem, ele evoca o duplo sentido da palavra jo- games aprimoram a atenção. Podemos também apontar
gos – spiele -, na língua alemã: “... talvez aqui resida a mais para a hipótese de que os sintomas de hipercinesia recor-
profunda raiz para o duplo sentido nos “jogos” alemães: rentes na infância contemporânea tem relação com o uso
repetir o mesmo seria o elemento verdadeiramente co- excessivo destes brinquedos artificiais, que apresentam a
mum. A essência do brincar não é um “fazer como se”, mas velocidade como prerrogativa de seu funcionamento. Para
um “fazer sempre de novo”, transformação da experiência a criança que joga vídeo games, ser veloz é um ideal a se-
mais comovente em hábito.” Entre o brincar e o jogar, o guir e ao mesmo tempo seu corpo não é convocado ao
autor aponta as vias de confluência que os instalam em movimento.
uma direção própria da repetição, em que o “de novo” é Benjamin refere-se às fantasias que a criança revela no
o prenúncio de uma trajetória que não cessa (BENJAMIM, brincar, nas lutas, na destruição dos brinquedos. A diferença
2002, P. 03). em relação aos games é que nestes o roteiro da fantasia é
A polissemia própria da palavra brincar, referida por pré-programado, assim como sua travessia é virtual. As lutas
Benjamin, também ocorre na língua inglesa: play pode ter nos vídeos são narcísicas e miméticas por excelência. Escre-
o sentido de jogar ou brincar. Cabe analisarmos esta dupla vendo sobre a mimesis, Benjamin afirma que “Os jogos in-
dimensão que é própria da intersecção entre o jogo e o fantis são impregnados de comportamentos miméticos, que
brincar (Idem, p. 102-103).Os jogos de vídeo game revelam não se limitam de modo algum à imitação de pessoas.
esta dupla face: são considerados brinquedos, mas game A criança não brinca apenas de ser comerciante ou
significa jogo. Perguntei a um menino que é aficionado por professor, mas também moinho de vento e trem. A questão
estes jogos, se “afinal, vídeo game é brinquedo, ou é jogo?” importante, contudo, é saber qual a utilidade para a crian-
Ele respondeu prontamente: “É um brinquedo-jogo. Brin- ça desse adestramento da atitude mimética.”(BENJAMIN,
quedo porque tem manhas, e jogo porque tem que passar 1986, p.108)
de fase.” Os brinquedos interativos da atualidade apresen- A mimesis que se revela no brincar de “faz de conta”
tam esta duplicidade. Pergunto ao mesmo menino, a seguir: tem uma dimensão diferente quando é realizada virtual-
“Mas então, não tem faz de conta em vídeo game?” Ao que
mente. O trabalho psíquico de inventar o personagem12 e
ele responde: “Eu faço de conta que sou o personagem do
de vesti-los imaginariamente com traços, palavras, gestos,
jogo, escolho um, e passo a ser ele. Aí tem faz de conta”.
encontram-se subtraídos no jogo virtual. A única escolha
Ao final deste diálogo ele faz um discurso apologético dos
possível se dá entre as opções que o jogo oferece, cujo
games, dizendo que todas as crianças gostam destes jogos
roteiro tem fases pré-determinadas, revelando uma mime-
e que “vídeo game é quase uma religião” e que eu “deveria
sis do processo de produção, onde a escolha de objetos
me acostumar com esta ideia, e aprender mais sobre estes
jogos que todas as crianças gostam”. determina as possibilidades de trajeto.
Podemos colocar a questão referente ao duplo sentido Poderíamos considerar os vídeo games como sendo
que opera em relação a este jogo virtual a partir da inves- vias de passagem do brincar ao jogo. Um adolescente que
tigação acerca do próprio estatuto do brincar. No caso dos joga com games, escolhe entre este histórias e persona-
games evidencia-se que a dimensão virtual revela a sub- gens que tenham relação com seus desejos e fantasias. Um
tração da relação da criança com o processo de criação e menino que, quando pequeno, brincava com bonecos de
ensaio próprios do brincar, já que os processos dos games guerra - Comandos em Ação - em sua adolescência passa
estão previamente determinados. Por outro lado, podemos a jogar games onde estes personagens encontram-se em
também pensar que estes jogos virtuais representam ten- uma dimensão virtual. Hoje, muitas crianças não realizam
tativas das crianças de “brincar com as imagens” que são esta travessia ou a abreviam, instalando-se em uma posi-
hegemônicas na sociedade de consumo (MEIRA, 1997). ção onde os jogos virtuais prevalecem sobre o brincar com
As imagens na contemporaneidade são marcadas por objetos ou brinquedos. Cabe nos perguntarmos acerca dos
um culto totêmico e a resistência a analisar seus efeitos é efeitos desta nova posição da criança, que encontra-se en-
reveladora desta dimensão. Há, hoje, uma grande resistên- laçada ao tecido social contemporâneo, onde a tecnologia
cia à realização de análises críticas sobre os vídeo games, é hegemônica e prevalece no brincar.
como se estes fossem objetos de adoração religiosos. Con- As contribuições de Benjamin a respeito da história do
cede-se a estes jogos uma autonomia ilusória com a cren- brinquedo e suas configurações sociais determinadas pela
ça de que não produzem efeitos, como se fossem objetos tecnologização crescente são marcantes. Nestes pequenos
“assépticos” em sua significação. Atualmente, nos EUA, já objetos cotidianos da infância o social se revela nas dimen-
é constatado o efeito dos games sobre a atenção. A partir sões que se estendem da cultura ao inconsciente
de pesquisas na área, foi criado um aparelho chamado At- A memória do brincar, hoje apagada pelo excesso pa-
tention Trainer com vistas a melhorar a concentração das radoxal do oferecimento de objetos às crianças, pode ser
crianças. Este aparelho tem como pressuposto a adaptação resgatada através de novas vias narrativas que operem a
comportamental da criança à realidade virtual sem que haja aproximação da criança a seus pares e à cultura. É através
qualquer questão a respeito das implicações subjetivas que de sua transmissão que o brincar pode manter seu lugar
aí estão em jogo. Realiza um controle da atividade cerebral de enlace metafórico entre a criança e seu mundo. Trans-
da criança adaptando o jogo a seus ritmos, visando condi- missão que opera para além da pedagogização do brincar,
cionar e aprimorar sua atenção, que é alterada em função referida várias vezes por Benjamin.
3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Em O narrador, Benjamin escreve: “Contar histórias As crianças têm direito à brincadeira, à atenção indivi-
sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde dual, a um ambiente aconchegante, seguro e estimulante,
quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde ao contato com a natureza, a higiene e à saúde, a uma
porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a histó- alimentação sadia, entre outros. Também registram que
ria. Quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais as crianças têm direito a atenção especial nos períodos de
profundamente se grava nele o que é ouvido. Quando o adaptação à creche.
ritmo do trabalho se apodera dele, ele escuta as histórias (Texto extraído do site: brasil.gov.br/educação/2012/04/
de tal maneira que adquire espontaneamente o dom de creche)
narrá-las. Assim se teceu a rede em que está guardado o Para Rocha (1999), a creche e a pré-escola têm como
dom narrativo. E assim essa rede se desfaz hoje por todos objeto as relações educativas travadas num espaço de con-
os lados, depois de ter sido tecida, há milênios, em torno vívio coletivo que tem como sujeito a criança de 0 a 6 anos
das mais antigas formas de trabalho manual.” (p.205)
de idade.
O brincar é tecido por histórias e a travessia pelos
A instituição de ensino infantil contribuirá para que a
brinquedos feitos com arte, elaborados com as mãos das
criança amplie seu campo de interações, desenvolvendo-se
crianças e dos adultos que as cercam, representa uma via
possível de construir suas bordas. cognitiva, afetiva e socialmente. Considera-se o jogo, um
Brinquedos artesanais que se encontram nas primitivas dos principais componentes da organização e estrutura do
formas de brincar que as crianças buscam e que paradoxal- espaço educativo.
mente hoje lhes são subtraídas: a água, a terra, a areia, as fo- De acordo com Bondioli, 1998, o espaço do jogo é, um
lhas, as pedras, o papel, e tantos outros materiais que se en- espaço que se constrói uma experiência que se adquire en-
contram nas inúmeras vias invisíveis por onde elas transitam quanto compartilhada, por adultos e crianças , enriquecen-
em seus exercícios de invenção. Materiais que são colados do-a através da incorporação de modelos culturais.
pelas palavras, gestos, histórias, narrativas, que tecem sua As autoras, Anna Bondioli e Suzana Mantovani, pesqui-
forma fundando uma obra ali onde apenas havia objetos. sadoras italianas na área de educação infantil, elaboraram
Podemos refletir sobre a dimensão da memória e do es- um “manual” para tratar de assuntos de cuidado e educa-
quecimento a que Benjamin se refere em seus escritos sobre ção de crianças na Itália. O livro aborda reflexões e comen-
a infância como sendo tecida a partir das trajetórias que fun- tários críticos sobre diversos temas que interessam e tem a
dam uma posição diante do mundo e da cultura. Ali onde a ver com o cotidiano. Traz um conhecimento mais profundo
sociedade insiste em apagar sua história, Benjamin registra dos processos de desenvolvimento da criança na creche.
com preciosidades, com singulares descrições, com reflexões Para Bondioli e Mantovani (1998), nos últimos anos
críticas, os pequenos detalhes que fundam o tecido que mar- desenvolveu-se uma cultura sobre a educação na primeira
ca a vida cotidiana estampada no singular e no plural. infância, tendo chegado o momento de definir alguns de
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v15n2/a06v15n2.pdf seus múltiplos aspectos. Dependendo do ponto de partida
e do conceito/modelo de creche que se adota, é possível
analisar o que é estável e o que muda em cada momento
e ambiente, o que deve ser garantido em qualquer serviço
BONDIOLI, ANNA. MANUAL DE EDUCAÇÃO de cuidado e educação de crianças.
INFANTIL. PORTO ALEGRE: ARTMED, 1988. As Diretrizes Nacionais para a educação infantil, não
pode ser alheia a trajetória das creches. A grande incógnita
presente na prática política e pedagógica para nosso país é
a relação cuidado e educação, e a forma de integrar servi-
EDUCAÇÃO INFANTIL – 0 A 3 ANOS ços e articular instituições dos setores de educação, saúde
e assistência social.
A educação infantil é a primeira etapa da educação O manual de educação infantil levanta questões im-
básica, de acordo com a Lei de diretrizes e Bases da Edu- portantes sobre o projeto pedagógico, é necessário que
cação Nacional, tendo como finalidade o desenvolvimento a criança esteja no centro e não sobre a instituição que
integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, in- oferece os serviços ou a necessidade social e econômica
telectual e social, complementando a ação da família e da de sua existência. Aborda ainda as seguintes questões: a
comunidade. creche como serviço; os adultos frente à criança e seus pa-
(Texto extraído da LDB - Lei 9396/96 – Seção II – Art.29). péis na creche; a criança - seu desenvolvimento, a lingua-
Na primeira fase de desenvolvimento, dos 0 a 3 anos, gem, a dimensão lúdica, a autoimagem e a construção dos
as crianças são atendidas em creches. Consideradas ante- conhecimentos; alternativas à creche; experiências de cre-
riormente como ação de assistência social ou de apoio às ches em oito regiões da Itália, na qual analisam questões
mulheres trabalhadoras, passam a fazer parte de um per- sobre a elaboração do projeto pedagógico; a organização
curso educativo que deve se articular com os outros níveis e o planejamento do serviço; a integração entre a creche
de ensino formal e se estender por toda a vida. pública e a família; a pedagogia do bem estar e a questão
A educação infantil deve atuar sobre dois eixos fun- de qualidade.
damentais: a interação e a brincadeira, o ambiente escolar No Brasil, algumas cidades definem que o projeto pe-
também deve refletir esta preocupação. É necessário que dagógico na creche quando compreendido como produ-
o espaço seja dinâmico, vivo, “brincável”, explorável, trans- to da discussão coletiva, atua como mediador e plano de
formável e acessível para todos. ação de toda a comunidade escolar (todos que vivenciam
4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
o processo educativo na creche). A conquista de olhar para Com a inclusão da Educação Infantil na BNCC, mais um
a educação infantil não ocorreu há muito tempo, somente importante passo é dado nesse processo histórico de sua
após a Constituição Federal de 1988, pois se verifica tam- integração ao conjunto da Educação Básica.
bém a necessidade de avanços nesta área. A discussão do
projeto pedagógico também é pequena, em geral ela ocor- A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO DA EDU-
re internamente à Instituição. É preciso integrar o adulto, CAÇÃO BÁSICA
a criança e a família, e o projeto deverá contemplar suas Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação
propostas, seus sonhos, seus direitos e suas necessidades,
Infantil é o início e o fundamento do processo educacional.
devendo ter e ser a voz de cada um deles.
(Texto extraído e adaptado do site: http:// alb.com.br/ A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria
arquivo-morto/edicoes_anais14.../C16012.doc). das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vín-
Pesquisadores e estudiosos, em todo o momento nos culos afetivos familiares para se incorporarem a uma situa-
apontam quais os caminhos a percorrer para um ensino de ção de socialização estruturada.
qualidade em nosso país e que contribuirá para a forma- Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Edu-
ção integral dessa criança. A criança deve ser vista como cação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar,
um ser humano em processo de humanização, ou seja, um entendendo o cuidado como algo indissociável do proces-
ser histórico social construtor do seu desenvolvimento e do so educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao
seu crescimento. É preciso analisar e refletir, sobre o modo acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas
como trabalhamos o que pode ser implantado, melhorado, crianças no ambiente da família e no contexto de sua co-
o que precisa ser removido, para que possamos evoluir e munidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas,
proporcionar uma educação de qualidade. têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, co-
nhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando
e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira
complementar à educação familiar – especialmente quan-
MEC – BASE NACIONAL COMUM do se trata da educação dos bebês e das crianças bem pe-
CURRICULAR – ASSUNTOS RELACIONADOS quenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos
À EDUCAÇÃO INFANTIL E AO ENSINO dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a
FUNDAMENTAL autonomia e a comunicação.
Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens
e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o
compartilhamento de responsabilidades entre a instituição
Base Nacional Comum Curricular – Educação Infantil de Educação Infantil e a família são essenciais. Além disso,
a instituição precisa conhecer e trabalhar com as culturas
A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL CO- plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das
MUM CURRICULAR
famílias e da comunidade.
A expressão educação “pré-escolar”, utilizada no Brasil
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infan-
até a década de 1980, expressava o entendimento de que
a Educação Infantil era uma etapa anterior, independente e til (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009)27, em seu Artigo
preparatória para a escolarização, que só teria seu começo 4º, definem a criança como
no Ensino Fundamental. Situava-se, portanto, fora da edu- sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, rela-
cação formal. ções e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua iden-
Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento tidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
idade torna-se dever do Estado. Posteriormente, com a sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultu-
promulgação da LDB, em 1996, a Educação Infantil passa ra (BRASIL, 2009).
a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se no Ainda de acordo com as DCNEI, em seu Artigo 9º,
mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensino Mé- os eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa
dio. E a partir da modificação introduzida na LDB em 2006, etapa da Educação Básica são as interações e a brinca-
que antecipou o acesso ao Ensino Fundamental para os 6 deira, experiências nas quais as crianças podem construir
anos de idade, a Educação Infantil passa a atender a faixa
e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e
etária de zero a 5 anos.
Entretanto, embora reconhecida como direito de todas interações com seus pares e com os adultos, o que possibi-
as crianças e dever do Estado, a Educação Infantil passa a lita aprendizagens, desenvolvimento e socialização.
ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas com a A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano
Emenda Constitucional nº 59/200926, que determina a obri- da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e po-
gatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Essa tenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao
extensão da obrigatoriedade é incluída na LDB em 2013, observar as interações e a brincadeira entre as crianças e
consagrando plenamente a obrigatoriedade de matrícula delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a
de todas as crianças de 4 e 5 anos em instituições de Edu- expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolu-
cação Infantil. ção de conflitos e a regulação das emoções.
5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas produção científica, que se traduzem nas práticas de cuida-
pedagógicas e as competências gerais da Educação Bási- dos pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brin-
ca propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem cadeiras, nas experimentações com materiais variados, na
e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas.
condições para que as crianças aprendam em situações nas Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, or-
quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes ganizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práti-
que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se pro- cas e interações, garantindo a pluralidade de situações que
vocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significa- promovam o desenvolvimento pleno das crianças.
dos sobre si, os outros e o mundo social e natural. Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quan-
to as aprendizagens das crianças, realizando a observação
DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVI- da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas con-
MENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL quistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio
• Conviver com outras crianças e adultos, em pe- de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto
quenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios,
ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evi-
relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. denciar a progressão ocorrida durante o período observa-
• Brincar cotidianamente de diversas formas, em do, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de
diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não pron-
(crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso tas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos
a produções culturais, seus conhecimentos, sua imagina- para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam
ção, sua criatividade, suas experiências emocionais, corpo- os direitos de aprendizagem de todas as crianças.
rais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
• Participar ativamente, com adultos e outras crian-
ças, tanto do planejamento da gestão da escola e das ati- Base Nacional Comum Curricular – Ensino Fundamental
vidades propostas pelo educador quanto da realização das
atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brin-
O ENSINO FUNDAMENTAL NO CONTEXTO DA
cadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo
EDUCAÇÃO BÁSICA
diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, deci-
O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a
dindo e se posicionando.
etapa mais longa da Educação Básica, atendendo estudan-
• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, tex-
tes entre 6 e 14 anos. Há, portanto, crianças e adolescentes
turas, cores, palavras, emoções, transformações, relaciona-
que, ao longo desse período, passam por uma série de mu-
mentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na esco-
danças relacionadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos,
la e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em
suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a sociais, emocionais, entre outros. Como já indicado nas Di-
tecnologia. retrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sen- de Nove Anos (Resolução CNE/CEB nº 7/2010)28, essas mu-
sível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, danças impõem desafios à elaboração de currículos para
hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por essa etapa de escolarização, de modo a superar as rupturas
meio de diferentes linguagens. que ocorrem na passagem não somente entre as etapas
• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, da Educação Básica, mas também entre as duas fases do
social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e Ensino Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais.
de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiên- A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao
cias de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vi- valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta
venciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar para a necessária articulação com as experiências viven-
e comunitário. ciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever
tanto a progressiva sistematização dessas experiências
Essa concepção de criança como ser que observa, quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas
questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e as- de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e
simila valores e que constrói conhecimentos e se apropria formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de
do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas in- refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na
terações com o mundo físico e social não deve resultar no construção de conhecimentos.
confinamento dessas aprendizagens a um processo de de- Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mu-
senvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe danças importantes em seu processo de desenvolvimento
a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os
práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche outros e com o mundo. Como destacam as DCN, a maior
quanto na pré-escola. desenvoltura e a maior autonomia nos movimentos e des-
Essa intencionalidade consiste na organização e pro- locamentos ampliam suas interações com o espaço; a rela-
posição, pelo educador, de experiências que permitam às ção com múltiplas linguagens, incluindo os usos sociais da
crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e com- escrita e da matemática, permite a participação no mundo
preender as relações com a natureza, com a cultura e com a letrado e a construção de novas aprendizagens, na escola
6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
e para além dela; a afirmação de sua identidade em rela- Além desses aspectos relativos à aprendizagem e ao
ção ao coletivo no qual se inserem resulta em formas mais desenvolvimento, na elaboração dos currículos e das pro-
ativas de se relacionarem com esse coletivo e com as nor- postas pedagógicas devem ainda ser consideradas medi-
mas que regem as relações entre as pessoas dentro e fora das para assegurar aos alunos um percurso contínuo de
da escola, pelo reconhecimento de suas potencialidades e aprendizagens entre as duas fases do Ensino Funda-
pelo acolhimento e pela valorização das diferenças. mental, de modo a promover uma maior integração en-
Ampliam-se também as experiências para o desenvol- tre elas. Afinal, essa transição se caracteriza por mudanças
vimento da oralidade e dos processos de percepção, com- pedagógicas na estrutura educacional, decorrentes princi-
preensão e representação, elementos importantes para a palmente da diferenciação dos componentes curriculares.
apropriação do sistema de escrita alfabética e de outros Como bem destaca o Parecer CNE/CEB nº 11/2010, “os
sistemas de representação, como os signos matemáticos, alunos, ao mudarem do professor generalista dos anos ini-
os registros artísticos, midiáticos e científicos e as formas ciais para os professores especialistas dos diferentes com-
de representação do tempo e do espaço. Os alunos se ponentes curriculares, costumam se ressentir diante das
deparam com uma variedade de situações que envolvem muitas exigências que têm de atender, feitas pelo grande
conceitos e fazeres científicos, desenvolvendo observações, número de docentes dos anos finais” (BRASIL, 2010). Rea-
análises, argumentações e potencializando descobertas. lizar as necessárias adaptações e articulações, tanto no 5º
As experiências das crianças em seu contexto familiar, quanto no 6º ano, para apoiar os alunos nesse processo
social e cultural, suas memórias, seu pertencimento a um de transição, pode evitar ruptura no processo de apren-
grupo e sua interação com as mais diversas tecnologias de dizagem, garantindo-lhes maiores condições de sucesso.
informação e comunicação são fontes que estimulam sua Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os
curiosidade e a formulação de perguntas. O estímulo ao estudantes se deparam com desafios de maior complexi-
pensamento criativo, lógico e crítico, por meio da constru- dade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem
ção e do fortalecimento da capacidade de fazer perguntas das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos
e de avaliar respostas, de argumentar, de interagir com di- relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especia-
versas produções culturais, de fazer uso de tecnologias de lização, é importante, nos vários componentes curricula-
informação e comunicação, possibilita aos alunos ampliar res, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino
sua compreensão de si mesmos, do mundo natural e social, Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes
das relações dos seres humanos entre si e com a natureza. áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de reper-
As características dessa faixa etária demandam um tórios dos estudantes.
trabalho no ambiente escolar que se organize em torno Nesse sentido, também é importante fortalecer a au-
dos interesses manifestos pelas crianças, de suas vivências tonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições
mais imediatas para que, com base nessas vivências, elas e ferramentas para acessar e interagir criticamente com di-
possam, progressivamente, ampliar essa compreensão, o ferentes conhecimentos e fontes de informação.
que se dá pela mobilização de operações cognitivas cada Os estudantes dessa fase inserem-se em uma faixa
vez mais complexas e pela sensibilidade para apreender o etária que corresponde à transição entre infância e ado-
mundo, expressar-se sobre ele e nele atuar. lescência, marcada por intensas mudanças decorrentes de
Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a transformações biológicas, psicológicas, sociais e emocio-
ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, a fim nais. Nesse período de vida, como bem aponta o Parecer
de garantir amplas oportunidades para que os alunos se CNE/CEB nº 11/2010, ampliam-se os vínculos sociais e os
apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articu- laços afetivos, as possibilidades intelectuais e a capacida-
lado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura de de raciocínios mais abstratos. Os estudantes tornam-se
e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversifica- mais capazes de ver e avaliar os fatos pelo ponto de vista
das de letramentos. Como aponta o Parecer CNE/CEB nº do outro, exercendo a capacidade de descentração, “im-
11/201029, “os conteúdos dos diversos componentes curri- portante na construção da autonomia e na aquisição de
culares [...], ao descortinarem às crianças o conhecimento valores morais e éticos” (BRASIL, 2010).
do mundo por meio de novos olhares, lhes oferecem opor- As mudanças próprias dessa fase da vida implicam a
tunidades de exercitar a leitura e a escrita de um modo compreensão do adolescente como sujeito em desenvol-
mais significativo” (BRASIL, 2010). vimento, com singularidades e formações identitárias e
Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, a pro- culturais próprias, que demandam práticas escolares dife-
gressão do conhecimento ocorre pela consolidação das renciadas, capazes de contemplar suas necessidades e di-
aprendizagens anteriores e pela ampliação das práti- ferentes modos de inserção social. Conforme reconhecem
cas de linguagem e da experiência estética e intercultu- as DCN, é frequente, nessa etapa,
ral das crianças, considerando tanto seus interesses e suas observar forte adesão aos padrões de comportamento
expectativas quanto o que ainda precisam aprender. Am- dos jovens da mesma idade, o que é evidenciado pela for-
pliam-se a autonomia intelectual, a compreensão de nor- ma de se vestir e também pela linguagem utilizada por eles.
mas e os interesses pela vida social, o que lhes possibilita Isso requer dos educadores maior disposição para entender
lidar com sistemas mais amplos, que dizem respeito às re- e dialogar com as formas próprias de expressão das cul-
lações dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história, turas juvenis, cujos traços são mais visíveis, sobretudo, nas
com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente. áreas urbanas mais densamente povoadas (BRASIL, 2010).
7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Há que se considerar, ainda, que a cultura digital tem somente com os anseios desses jovens em relação ao seu
promovido mudanças sociais significativas nas sociedades futuro, como também com a continuidade dos estudos no
contemporâneas. Em decorrência do avanço e da multipli- Ensino Médio. Esse processo de reflexão sobre o que cada
cação das tecnologias de informação e comunicação e do jovem quer ser no futuro, e de planejamento de ações para
crescente acesso a elas pela maior disponibilidade de com- construir esse futuro, pode representar mais uma possibili-
putadores, telefones celulares, tablets e afins, os estudantes dade de desenvolvimento pessoal e social.
estão dinamicamente inseridos nessa cultura, não somente
como consumidores. Os jovens têm se engajado cada vez Prezado candidato, disponibilizamos a BNCC na ínte-
mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se gra em nosso site para consulta: www.novaconcursos.com.
diretamente em novas formas de interação multimidiática br/retificacoes
e multimodal e de atuação social em rede, que se realizam
de modo cada vez mais ágil. Por sua vez, essa cultura tam-
bém apresenta forte apelo emocional e induz ao imediatis-
mo de respostas e à efemeridade das informações, privile-
giando análises superficiais e o uso de imagens e formas de MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA
expressão mais sintéticas, diferentes dos modos de dizer e DE EDUCAÇÃO BÁSICA. BRINQUEDOS E
argumentar característicos da vida escolar. BRINCADEIRAS DE CRECHES: MANUAL DE
Todo esse quadro impõe à escola desafios ao cumpri- ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA. BRASÍLIA: MEC/
mento do seu papel em relação à formação das novas ge- SEF, 2012
rações. É importante que a instituição escolar preserve seu
compromisso de estimular a reflexão e a análise aprofun-
dada e contribua para o desenvolvimento, no estudante,
de uma atitude crítica em relação ao conteúdo e à multipli- A publicação Brinquedos e Brincadeiras de Creche –
cidade de ofertas midiáticas e digitais. Contudo, também é Manual de Orientação Pedagógica trata-se de um do-
imprescindível que a escola compreenda e incorpore mais cumento técnico com a finalidade de orientar professoras,
as novas linguagens e seus modos de funcionamento, des-
educadoras e gestores na seleção, organização e uso de
vendando possibilidades de comunicação (e também de
brinquedos, materiais e brincadeiras para creches, apon-
manipulação), e que eduque para usos mais democráticos
tando formas de organizar espaço, tipos de atividades,
das tecnologias e para uma participação mais consciente
conteúdos, diversidade de materiais que no conjunto cons-
na cultura digital. Ao aproveitar o potencial de comunica-
troem valores para uma educação infantil de qualidade.
ção do universo digital, a escola pode instituir novos mo-
O presente documento foi elaborado pelo Ministério
dos de promover a aprendizagem, a interação e o compar-
da Educação, por meio da Secretaria da Educação Básica,
tilhamento de significados entre professores e estudantes.
Além disso, e tendo por base o compromisso da escola visando atender ao estabelecido pela Emenda Constitu-
de propiciar uma formação integral, balizada pelos direitos cional nº 59 que determinou o atendimento ao educando,
humanos e princípios democráticos, é preciso considerar a em todas as etapas da educação básica, por meio de pro-
necessidade de desnaturalizar qualquer forma de violên- gramas suplementares de material didático-escolar, trans-
cia nas sociedades contemporâneas, incluindo a violência porte, alimentação e assistência à saúde e contou com a
simbólica de grupos sociais que impõem normas, valores e parceria do UNICEF.
conhecimentos tidos como universais e que não estabele- Esta iniciativa pretende esclarecer que o brinquedo e a
cem diálogo entre as diferentes culturas presentes na co- brincadeira são constitutivos da infância.
munidade e na escola. A brincadeira é para a criança um dos principais meios
Em todas as etapas de escolarização, mas de modo es- de expressão que possibilita a investigação e a aprendi-
pecial entre os estudantes dessa fase do Ensino Fundamen- zagem sobre as pessoas e o mundo. Valorizar o brincar
tal, esses fatores frequentemente dificultam a convivência significa oferecer espaços e brinquedos que favoreçam
cotidiana e a aprendizagem, conduzindo ao desinteresse e a brincadeira como atividade que ocupa o maior espaço
à alienação e, não raro, à agressividade e ao fracasso esco- de tempo na infância. A aquisição de brinquedos para uso
lar. Atenta a culturas distintas, não uniformes nem contí- das crianças na Educação Infantil é uma estratégia de im-
nuas dos estudantes dessa etapa, é necessário que a escola plementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
dialogue com a diversidade de formação e vivências para Educação Infantil. As propostas pedagógicas da Educação
enfrentar com sucesso os desafios de seus propósitos edu- Infantil deverão considerar que a criança, centro do pla-
cativos. A compreensão dos estudantes como sujeitos com nejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que,
histórias e saberes construídos nas interações com outras nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia,
pessoas, tanto do entorno social mais próximo quanto do constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagi-
universo da cultura midiática e digital, fortalece o potencial na, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra,
da escola como espaço formador e orientador para a cida- questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a socie-
dania consciente, crítica e participativa. dade, produzindo cultura. A partir dessa perspectiva, as
Nessa direção, no Ensino Fundamental – Anos Finais, a práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular
escola pode contribuir para o delineamento do projeto de da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as
vida dos estudantes, ao estabelecer uma articulação não interações e as brincadeiras.
8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Sugere-se que tal material seja colocado à disposição expressar sua individualidade e sua identidade, explorar a
de todos os interessados – gestores municipais e escolares, natureza, os objetos, comunicar-se, e participar da cultura
professores, coordenadores, formadores, conselhos mu- lúdica para compreender seu universo. Ainda que o brincar
nicipais de educação, pesquisadores, entre outros -, pois possa ser considerado um ato inerente à criança, exige um
oferece orientações para seleção, organização e uso dos conhecimento, um repertório que ela precisa aprender.
brinquedos e materiais lúdicos seguindo os princípios das O brinquedo visto como objeto suporte da brincadeira
Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil. pode ser industrializado, artesanal ou fabricado pela profes-
Este manual tem a finalidade de orientar a seleção, a sora junto com a criança e a sua família. Para brincar em
organização e o uso de brinquedos e brincadeiras nas cre- uma instituição infantil não basta disponibilizar brincadeiras
ches destinadas especialmente a crianças com idade entre e brinquedos, é preciso planejamento do espaço físico e de
0 e 3 anos e 11 meses, com base nas recomendações das ações intencionais que favoreçam um brincar de qualidade.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil A pouca qualidade ainda presente na educação infantil
(MEC, 2009). Embora o universo de crianças com idade até pode estar relacionada à concepção equivocada de que o
5 anos e 11 meses também seja objeto de atenção, a prio- brincar depende apenas da criança, não demanda suporte
ridade está sendo dada à educação das crianças menores do adulto, observação, registro nem planejamento. Tal vi-
que, historicamente, foram excluídas do sistema público de são precisa ser desconstruída, uma vez que a criança não
educação. nasce sabendo brincar. Ao ser educada, a criança deve en-
trar em um ambiente organizado para recebê-la, relacio-
A introdução de brinquedos e brincadeiras na creche nar-se com as pessoas (professoras, pais e outras crianças),
depende de condições prévias: escolher os brinquedos, descobrir os usos dos materiais
e contar com a mediação do adulto ou de outra criança
1. Aceitação do brincar como um direito da criança; para aprender novas brincadeiras e suas regras. Depois que
2. Compreensão da importância do brincar para a aprende, a criança reproduz ou recria novas brincadeiras e
criança, vista como um ser que precisa de atenção, carinho, assim vai garantindo a ampliação de suas experiências. É
que tem iniciativas, saberes, interesses e necessidades; nesse processo que vai experimentando ler o mundo para
3. Criação de ambientes educativos especialmente pla- explorá-lo: vendo, falando, movimentando-se, fazendo
nejados, que ofereçam oportunidades de qualidade para gestos, desenhos, marcas, encantando-se com suas novas
brincadeiras e interações; descobertas.
4. Desenvolvimento da dimensão brincalhona da pro- A brincadeira de alta qualidade faz a diferença na expe-
fessora. riência presente e futura, contribuindo de forma única para
a formação integral das crianças. As crianças brincam de
É fundamental o empenho da professora e da equi- forma espontânea em qualquer lugar e com qualquer coi-
pe da creche para que as sugestões possam ser recriadas, sa, mas há uma diferença entre uma postura espontânea e
dentro do contexto de cada prática e que, de fato, ocorra outra reveladora da qualidade. A alta qualidade é resultado
uma mudança duradoura, capaz de promover qualidade na da intencionalidade do adulto que, ao implementar o eixo
vida das crianças e de suas famílias. das interações e brincadeiras, procura oferecer autonomia
A educação da criança pequena foi considerada, por às crianças, para a exploração dos brinquedos e a recriação
muito tempo, como pouco importante, bastando que fos- da cultura lúdica. É essa intenção que resulta na intervenção
sem cuidadas e alimentadas. Hoje, a educação da criança que se faz no ambiente, na organização do espaço físico, na
pequena integra o sistema público de educação. Ao fazer disposição de mobiliário, na seleção e organização dos brin-
parte da primeira etapa da educação básica, ela é concebi- quedos e materiais e nas interações com as crianças. Para
da como questão de direito, de cidadania e de qualidade. que isso ocorra, faz-se necessária a observação das crianças,
As interações e a brincadeira são consideradas eixos funda- a definição de intenções educativas, o planejamento do am-
mentais para se educar, com qualidade. biente educativo, o envolvimento das crianças, das famílias
A criança é cidadã - poder escolher e ter acesso aos e das suas comunidades e, especialmente, a ação interativa
brinquedos e às brincadeiras é um de seus direitos como das professoras e da equipe das creches.
cidadã. Mesmo sendo pequena e vulnerável, ela sabe mui- É o conjunto desses fatores - as concepções, o plane-
tas coisas, toma decisões, escolhe o que quer fazer, olha jamento do espaço, do tempo e dos materiais, a liberdade
e pega coisas que lhe interessam, interage com pessoas, de ação da criança e a intermediação do adulto - que faz a
expressa o que sabe fazer e mostra em seus gestos, em um diferença no processo educativo, resultando em uma edu-
olhar, em uma palavra, como compreende o mundo. cação de qualidade para a primeira infância. Não se separa,
O brincar ou a brincadeira - considerados com o mes- portanto, a qualidade da brincadeira da qualidade da edu-
mo significado neste texto - é atividade principal da crian- cação infantil.
ça. Sua importância reside no fato de ser uma ação livre, Assim, no referido manual, a brincadeira é sempre con-
iniciada e conduzida pela criança com a finalidade de tomar siderada com o sentido de um brincar de qualidade. Para
decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si educar crianças pequenas, que ainda são vulneráveis, é ne-
mesma, os outros e o mundo em que vive. Brincar é repetir cessário integrar a educação ao cuidado, mas também a
e recriar ações prazerosas, expressar situações imaginárias, educação e o cuidado à brincadeira. Tal tarefa depende do
criativas, compartilhar brincadeiras com outras pessoas, projeto curricular, um documento orientador das práticas
9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
cotidianas, das programações diárias que acompanham a Como ampliar a ação recíproca entre a(s) criança(s)
vida das crianças e que ampliam gradualmente suas expe- e a professora?
riências em todo o período de vivência na creche e precisa
ser construído pela equipe junto com as crianças e seus . Agregar, estar junto;
familiares. O brincar e as interações devem ser os pilares da . Observar de fora, vigiar o grupo;
construção deste projeto curricular. . Envolver com o olhar, ser parceiro;
. Olhar de cima, impor ação.
Brincadeiras e interações nas diretrizes curriculares
para a educação infantil: As práticas pedagógicas devem garantir experiências
diversas a seguir especificadas:
Contempla-se pelas Diretrizes Curriculares de Educa-
ção Infantil: Conhecimento de si e do mundo:
Brincadeira e interações nas práticas pedagógicas e
Experiência corporal - ver-se diante de um espelho fa-
nas experiências infantis;
vorece ao bebê o conhecimento de si mesmo e o leva a se
Brincadeira e proposta curricular;
identificar como distinto de outras crianças e dos objetos.
Brincadeira nas transições da casa à creche e da
creche à pré-escola.
Experiência com cores - o conhecimento de si pró-
Brincadeira e interações nas práticas pedagógicas e prio pode ser experimentado pela imersão no universo das
nas experiências infantis: cores, através das sensações produzidas por folhas de ce-
lofane coloridas, que se penduram em varais cortinas colo-
As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação In- ridas com aplicação de chocalhos e outros objetos sonoros
fantil, de 2009, indicam que: as práticas pedagógicas que também proporcionam aos bebês a descoberta de sons na
compõem a proposta curricular da Educação infantil relação com o corpo. O toque, a investigação e a curiosida-
devem ter como eixos norteadores: as interações e a de são formas de aquisição de conhecimento de si mesmo
brincadeira, as quais devem ser observadas, registra- e do mundo que os cerca.
das e avaliadas.
Para iniciar a análise, é preciso pensar no significado Experiências corporais e afetivas - o adulto, ao pe-
de Interação: ação que se exerce mutuamente entre duas gar a criança no colo, troca olhares, sorrisos e oferece um
ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas; ação recíproca. clima afetivo e de bem-estar criando oportunidade para as
(Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa). primeiras descobertas; massagens no corpo e ambientes
planejados com materiais diversos proporcionam novas
Na educação infantil, sob a ótica das crianças, ocorrem experiências; brincadeiras corporais propiciam desafios
interações entre: motores, como subir em almofadas, pegar um brinquedo
colocado a certa distância, ou pegar vários materiais com
As crianças e as professoras/adultos - essenciais para as mãos; tocar seu próprio corpo, brincar com as mãos, pés
dar riqueza e complexidade às brincadeiras; e dedos.
As crianças entre si - a cultura lúdica ou a cultura in- Exploração e conhecimento do mundo - as expe-
fantil só acontece quando as crianças brincam entre si, com riências motoras (corporais), possibilitam posicionar o
idades iguais ou diferentes (maiores com bebês, crianças
corpo para a exploração dos objetos, de subir nas almofa-
pequenas com as maiores);
das ou entrar em um buraco, ações que favorecem o co-
nhecimento do mundo. Ao colocar o brinquedo na boca,
As crianças e os brinquedos - por meio das diferentes
as crianças sentem sua textura, conseguem diferenciar algo
formas de brincar com os objetos / brinquedos;
que é mole ou duro, mas tais características ainda estão
As crianças e o ambiente - a organização do ambien- no plano da experiência vivida, seu pensamento ainda não
te facilita ou dificulta a ação de brincar. Uma estante na consegue conceituar.
altura do olhar das crianças facilita o uso independente dos Essas experiências constituem as bases para que mais
brinquedos. Um escorregador alto no parque, além do ris- tarde possam compreender os conceitos.
co oferecido ao uso pelos pequenos, leva a uma situação Tapetes com diferentes texturas e cores ou objetos que
de estresse no grupo quando a professora proíbe utilizá-lo. podem ser explorados, trazem experiências significativas
As crianças, as instituições e as famílias - tais re- para os bebês. Estruturas com materiais pendurados de di-
lações possibilitam vínculos que favorecem um clima de ferentes cores, tamanhos e texturas que, ao serem puxados
respeito mútuo e confiabilidade, gerando espaços para o pelas mãos ou pés dos bebês, emitem sons e permitem
trabalho colaborativo e a identificação da cultura popular que eles decidam sobre o que querem fazer – balanças,
da criança e de sua família, de suas brincadeiras e brinque- puxar, ver e ouvir.
dos preferidos.
10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Brincar com frutas e legumes: nas brincadeiras de imitação; nas danças e nas músicas; nos
desenhos e grafismos; nas comunicações cotidianas e no
Frutas e legumes, presentes em todas as regiões brasi- recontar histórias; na expressão de poesias, parlendas, adi-
leiras, possibilitam inúmeras experiências que encantam os vinhas, cantigas de roda e de ninar.
bebês por seus odores, sabores e colorido. Devem-se va-
lorizar os legumes da época, de diferentes consistências e EXPRESSÃO DRAMÁTICA:
coloridos como cenoura, beterraba e tomate; o sabor ácido
da laranja e do limão, os odores do abacaxi, do maracujá. A expressão dramática começa a surgir quando as
crianças manifestam o desejo de assumir papéis, como os
As experiências expressivas – entre as brincadei- de motorista, mãe, professora. Quando entram no faz-de-
ras interativas que levam o bebê a se expressar, é muito -conta compreendem as funções desses personagens na
conhecida a de “esconder-e-achar” com fralda, dizendo sociedade: do motorista que dirige carros, da professora
“cucu”, “escondeu”, “achou”. Essa brincadeira ajuda a crian- que educa as crianças ou da mãe que dá comida para o
ça a aprender os significados dos movimentos, regras e a bebê. As imitações anteriores, embora importantes, são
expressão da linguagem oral e dos gestos. Mas somente repetições de ações observadas pelas crianças sem a com-
quando o bebê inicia a brincadeira e a conduz, escolhendo preensão do significado dos papéis desempenhados. A
se vai esconder a si mesmo, ou seu bichinho de estimação, dramatização de situações imaginárias tanto nas brinca-
há aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. deiras de faz-de-conta como no recontar histórias deve ser
Nesse momento, ele teve agência (decisão própria). livre para que as crianças possam expressar suas emoções
Essa forma de brincar para esconder outros objetos des- e seus desejos. Nessa atividade, a variedade de acessórios,
perta a curiosidade e o prazer – da descoberta, da repe- como bonecas de diversos tipos, berço, carrinho, cami-
tição e recriação da ação. Há muitos brinquedos em que nhões de diferentes tipos – cegonha, caçamba, bombeiro,
se colocam bolinhas dentro de estruturas com túneis que posto de gasolina, fantoches, bichinhos e kit médico auxi-
possibilitam a expressão do prazer do “desaparecer” e liam a representação de papéis, ampliando o repertório das
“reaparecer”. brincadeiras.
Brincadeiras de adultos e crianças de esconder objetos
em baixo de almofadas ou copinhos, além de divertirem as EXPRESSÃO PLÁSTICA:
crianças que procuram encontrá-los, criam desafios para as
mentes infantis em desenvolvimento. Atividades relacionadas às artes plásticas incluem brin-
car com tinta ou utilizar-se da natureza para fazer tintas –
Linguagens e formas de expressão: com plantas, com terra –, possibilitando tanto experiências
sensoriais e prazerosas quanto plásticas. Brincadeiras com
As crianças expressam significações quando brincam: cores iniciam-se com a exploração das tintas com as mãos,
com gestos, falam, desenham, imitam, cantam ou cons- com o corpo, com pinceis, mas ganham em qualidade ao
troem estruturas tridimensionais. São tais ações que se saber misturá-las e recriá-las.
denominam formas de expressão: gestual, verbal, plástica, Para iniciar atividades relacionadas às artes plásticas
dramática e musical. No interior dessas formas de expres- para as crianças pequenas de creches, convém introduzir
são se encontram diferentes modalidades de linguagem primeiro a brincadeira livre de explorar tintas, de sentir a
e gêneros textuais: falar, escrever cartas, contos de fadas, sensação de pintar as mãos, o corpo, o papel, de misturar
contos fantásticos etc. tintas e utilizá-las em diferentes tipos de papéis, superfícies
e objetos pequenos e grandes. Com as crianças maiores,
EXPRESSÃO GESTUAL E VERBAL: avançar em projetos relacionados à construção de uma pa-
leta de cores - o conjunto de cores de uma determinada
As crianças comunicam-se por diferentes linguagens, obra, seja ela pintura, escultura ou desenho.
por gestos, expressões, olhares, pela palavra. Os bebês se Para as maiores da pré-escola, em uma atividade ligada
expressam inicialmente por gestos e sorrisos e, depois, pe- à construção de cores a partir de elementos da natureza,
las palavras. pode-se oferecer inicialmente uma paleta com tons mar-
O aprendizado da fala (linguagem verbal) se inicia no rons, terras e verdes.
nascimento com a comunicação entre as crianças e seus pais Em uma atividade plástica ligada a pintura de flores,
em casa e, depois, entre a professora e a criança ou entre as pode-se oferecer outro conjunto com tons roxos, rosas,
crianças na creche. Há diversos estilos de comunicação fami- branco, verdes, azuis e laranjas. A paleta de cores é uma
liar que levam as crianças a aprenderem a falar e que fazem combinação inicial que visa oferecer suporte às crianças em
parte de suas culturas quando ingressam na creche. atividades plásticas que buscam aprimorar os conceitos de
A comunicação na creche, que valoriza as interações e arte e estética.
a brincadeira, acontece em diversos momentos: quando a Um brincar de qualidade inclui a experiência com a
professora conversa com o bebê e ele responde com um arte, as atividades plásticas e o uso de cores como su-
gesto, olhar ou sorriso; nas brincadeiras, ao relacionar no- porte prévio para que as crianças encontrem prazer e re-
mes dos objetos e situações do seu cotidiano; nas brinca- conheçam na sua produção artística uma estética e uma
deiras corporais de exploração dos objetos do ambiente; beleza próprias.
11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
As diversas técnicas voltadas para os trabalhos plásti- Ouvir histórias e recontar:
cos (argila, pintura, colagem etc.) requerem materiais apro-
priados. As crianças gostam de ouvir vários tipos de histórias e,
Crianças gostam de fazer marcas para expressar sua também, fazer comentários, mas não de ficar apenas ou-
individualidade e as tintas, nas artes plásticas, são ferra- vindo, caladas. Ao participarem, vão se tornando leitoras,
mentas que cumprem essa finalidade. ouvindo, vendo, falando, gesticulando, lendo, desenhando
Brincar com massinhas, argila, gesso ou materiais de sua própria história e construindo novas histórias.
desenho, pintar, fazer colagens e construções com diferen-
tes objetos, são linguagens plásticas associadas a experiên- Ampliar a vivência de ouvir e recontar histórias:
cias sociais, motoras e sensoriais prazerosas. Entretanto, é
preciso dispor de grande quantidade de massinha e argila Essa é uma tarefa que requer ampliação de dois tem-
para que as crianças possam construir seus projetos (cerca pos no cotidiano das creches: a escuta de muitas histórias
e o tempo para o seu reconto pelas crianças.
de um quilo para cada uma).
A brincadeira e o conhecimento do mundo mate-
EXPRESSÃO MUSICAL:
mático:
A música é essencial para a formação do ser humano. Os bebês experimentam a imersão no mundo mate-
Auxilia o desenvolvimento do raciocínio lógico, traz envol- mático usando o seu próprio corpo, movimentando-se no
vimento emocional e é instrumento de interação. Brinca- espaço, subindo, descendo, entrando e saindo de caixas,
deiras de experimentar diferentes sons e instrumentos mu- túneis ou buracos. Brincando de rolar sobre rolos de espu-
sicais contribuem para o desenvolvimento da linguagem e ma, subindo em estruturas preparadas para criar desafios,
a formação integral das crianças. brincando de esconder e achar objetos, olhando de cima
ou de baixo, deitado, sentado ou de pé, apalpando objetos,
Narrativas e gêneros textuais, orais e escritos: encaixando peças, balbuciando sons ao ritmo de melodias,
o bebê está explorando a geometria dos objetos, o espaço
Falada: físico, os sons e mergulhando no mundo matemático.
A entrada no mundo da matemática ocorre quando
Praticar a conversação, ouvir músicas, cantar, contar e a professora sabe como encaminhar a criança para brin-
ouvir histórias, brincar com jogos de regras, com jogos imi- cadeiras em que se vai descobrindo o significado dos nú-
tativos, ver e comentar programas de TV, vídeos e filmes. meros. O bebê ingressa no mundo matemático pelo uso
do corpo no espaço, pelas experiências que realiza com os
Escrita: objetos. Crianças maiores já vão medindo a sala com cabo
de vassoura, de braços abertos ou com as palmas da mão,
Usar ambientes impressos, livros, cartazes, letras, revis- fazendo marcas ou números. Assim vão compreendendo o
tas, jornais, embalagens de brinquedos e alimentos. significado de tamanho e quantidade.
Ver e criar imagens, desenhos, construções tridimen- As crianças brincam sozinhas ou em grupos em qual-
quer lugar, inclusive na creche. É importante ter um tempo
sionais, ilustrações, retratos, animação, TV, filmes.
individual para “pensar” sozinho, para “falar” com seu ami-
go imaginário, ou explorar um brinquedo. Uma educação
Combinação de Linguagens Visual, Escrita e Falada:
de qualidade deve ofertar tempos para brincadeiras indivi-
duais e grupais.
Baseia-se em equipamentos que utilizam a tela como
suporte e possibilitam a interação entre máquina e espec- Brincadeiras livres: cuidado pessoal, auto-organi-
tador, a exemplo dos computadores e da TV. zação, saúde e bem-estar:
Internet, jogos eletrônicos e filmes possibilitam a con-
junção das linguagens falada, escrita e visual, enquanto as Muitos acreditam que a brincadeira livre é natural nas
embalagens de brinquedos e alimentos, livros, revistas, ca- crianças. Ao imaginar que as crianças nascem sabendo
pas de CD, privilegiam as linguagens escrita e visual. brincar, que não precisam aprender, que brincam em todo
lugar e com o que existe, concluem inadequadamente que
Mediações Críticas: nada precisa ser feito.
Deve-se lembrar de que o manual aborda as brincadei-
Ao analisar os programas televisivos ou propagandas ras de qualidade que precisam de planejamento.
pode-se ampliar a experiência das crianças por meio da As brincadeiras livres devem ocorrer em ambientes
mediação crítica da professora, que consiste em comentá- planejados para essa finalidade, de modo que as crianças
rios críticos durante as brincadeiras, enquanto olha a ima- possam vivenciar durante esse processo experiências de
gem de um livro ou vê algum programa de TV. cuidado com o corpo, capazes de lhes propiciar bem-estar
e oportunidade de auto-organização.
12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Brincadeiras e vivências éticas e estéticas com ou- Brincadeiras com música, artes plásticas e gráficas,
tras crianças e grupos culturais, para favorecer a iden- cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura:
tidade e a diversidade:
As manifestações artísticas criam sempre oportunida-
VIVÊNCIAS ÉTICAS INCLUEM: des para inúmeras brincadeiras. A diversidade de experiên-
cias culturais favorece brincadeiras coletivas e dão oportu-
Ações, como respeitar o espaço de brincar do outro, nidades para as crianças se relacionarem. Tais experiências
guardar, emprestar os brinquedos e esperar sua vez de no campo das artes devem fazer parte da vida diária das
usá-lo; crianças na programação curricular.
Ações de responsabilidade e de democracia.
Brincadeiras, biodiversidade, sustentabilidade e re-
VIVÊNCIAS ESTÉTICAS INCLUEM: cursos naturais:
Uso dos objetos ao modo individual de cada criança; As crianças podem brincar tanto com brinquedos in-
Uso de acordo com a cultura estética de sua família e dustrializados como artesanais, construídos por adultos e
de sua comunidade. crianças, além de utilizar materiais de sucata e da natureza.
Brincadeiras e manifestações de tradições culturais
Brincadeiras: mundo físico e social, o tempo e a na- brasileiras:
tureza:
A riqueza cultural do Brasil proporciona uma rica di-
MUNDO FÍSICO: versidade de manifestações tradicionais do folclore, com
as festas do boi bumba, maracatu, congada, festas juninas,
O mundo físico é entendido como a forma cognitiva carnaval, reisado, entre outros. Acompanham essas expres-
sões os instrumentos musicais, os objetos e as fantasias.
da criança experimentar situações em que percebe pelos
sentidos físicos (visão, audição, tato, paladar, olfato) como
CONTAR HISTÓRIAS, APRENDER AS MÚSICAS E
é a realidade à sua volta. Ao brincar, a criança explora e
DANÇAS LEVA A CRIANÇA A
experimenta o que se pode fazer com a água ou com a
PENETRAR NO SIGNIFICADO DESSAS CULTURAS.
terra e vai compreendendo o mundo ao seu redor. Não
se trata de propor à criança a aquisição de uma definição
Cada povo tem sua identidade, sua marca cultural di-
científica do fenômeno físico, pois essa é a tarefa do ensino vulgada por suas histórias, seus contos e suas tradições na
fundamental. música e na dança. A diversidade cultural brasileira, cons-
tituída por povos vindos de países europeus, americanos,
MUNDO SOCIAL: asiáticos e latino-americanos, pode ser compreendida
quando se conhece as histórias de cada povo, suas músi-
As pessoas vivem em mundos sociais, com suas famí- cas e danças. É muito mais fácil para uma criança pequena
lias e seus vizinhos, em locais em que compartilham suas compreender a vida de diferentes povos que vivem em am-
vidas com as pessoas no mundo do trabalho, da escola, do bientes diferentes como na floresta, no deserto, na neve,
lazer, da vida doméstica, onde estudam, aprendem, traba- nas cidades ou na zona rural, por meio dos contos, de suas
lham , passeiam ou convivem com seus familiares. músicas e suas danças.
O mundo social, ao conter a diversidade de profissões,
de situações da vida na cidade, no campo, nos acampamen- Brincadeiras e tecnologia:
tos, é rico de experiências que as crianças aproveitam para
ampliar seu repertório de brincadeiras, por meio de intera- A tecnologia se faz presente em todos os aspectos da
ções com outras pessoas e expressar novas formas lúdicas. vida moderna. Até em regiões do sertão ou em quilom-
bos, mesmo de forma incipiente, a televisão, o celular e
NATUREZA: a máquina fotográfica começam a se tornar conhecidos,
como consequência da circulação desses habitantes entre
A natureza é farta de elementos que enriquecem o o campo e a cidade. Na creche, a tecnologia está presente
brincar infantil. em forma de brinquedos como fogão, geladeira, ou meios
Brincadeiras como fazer cabanas com folhas e galhos, de comunicação como o karaokê e o celular, que servem
brincar nos troncos das árvores, expressam valores rela- para as brincadeiras de imitação.
cionados a comunidades rurais, mas podem-se recriar tais
modalidades em qualquer lugar. Os brinquedos carregam Brincadeiras e proposta curricular:
significações de lugares e tempos diferentes.
Um currículo que adota a brincadeira como eixo preci-
TEMPO: sa valorizar a dimensão brincante e brincalhona da profes-
sora como condição importante. Essa atitude da professora
O tempo pode parecer algo complicado para crianças é essencial para criar vínculos com a criança e para orga-
pequenas. No entanto, elas vivem seu cotidiano mergulha- nizar situações nas programações curriculares, em que as
das em atividades que exigem a atenção para o tempo. interações e a brincadeira estejam presentes.
13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Desenvolver um currículo por meio da brincadeira é di- Acompanhamento e avaliação do trabalho peda-
ferente de um currículo de conteúdos disciplinares. O brin- gógico:
car requer uma condição: é a criança a protagonista que faz
a experiência. A abordagem disciplinar geralmente favore- Se o brincar e as interações são eixos importantes do
ce a ação do adulto, que explica ou faz a demonstração do trabalho pedagógico, é preciso observar e acompanhar
significado do conceito e não requer, necessariamente, a cada criança para verificar:
ação dinâmica e ativa das crianças. Quais foram seus brinquedos preferidos?
Propostas curriculares que valorizam o brincar levam Com quem brincou e como brincou?
crianças a experimentarem situações que impliquem a Quais brincadeiras novas ela aprendeu?
compreensão de noções como peso, quando elas brincam Ela interagiu com a diversidade dos objetos e pessoas
com uma balança, ou na gangorra do playground, quando de seu agrupamento e de outros?
duas crianças com pesos diferentes brincam juntas. Quan- Ela explorou brinquedos e materiais de diferentes tipos?
do se oferece no espaço da brincadeira com água, tubos Ela brincou de faz-de-conta com temas simples ou
ou canecas com furos, as crianças experimentam diferentes complexos?
situações, observam e fazem suas reflexões. Ela utilizou os blocos de construção e ingressou no
Os significados das profissões podem ser experimenta- mundo imaginário, ou faltaram materiais?
dos quando as crianças entram no faz-de-conta, assumin- Foi oferecida a oportunidade para interações entre as
do personagens adultos do mundo do trabalho. Para isso, crianças e entre outras, de diferentes idades, durante as
é necessária uma equipe pedagógica com perfil brincalhão, brincadeiras?
que programe espaços, materiais e tempo para que, por Houve interações entre o adulto e cada criança durante
meio das brincadeiras e interações, as crianças possam a brincadeira?
compreender o mundo ao seu redor. Os pais e a comunidade foram envolvidos durante o
Adotar o brincar como eixo da proposta curricular sig- processo de educar, cuidar e brincar?
nifica compreender que é a criança que deve iniciar a ex- Os brinquedos e os materiais foram suficientes e adequa-
dos para cada criança e, ao mesmo tempo, ao agrupamento?
periência.
Os brinquedos e materiais quebrados foram substituídos?
Toda educação tem valores. Para ter raízes na cultura é
Houve preocupação em integrar a cultura lúdica que a
preciso que a educação inclua os valores da comunidade
criança traz de casa com a da creche?
na qual está inserida. Cada comunidade deve ter o direito
Houve ampliação do repertório das brincadeiras de
de escolher para suas creches propostas curriculares que
cada criança e do agrupamento?
reflitam os valores de seu povo e espelhem as escolhas do
As expressões lúdicas revelavam a riqueza das tradições
grupo.
do folclore brasileiro e incluíam as linguagens expressivas?
Já se pode observar as crianças e suas brincadeiras
Integração das interações, brincadeiras e experiên- para detectar seus interesses e necessidades?
cias da comunidade: Essas questões, entre muitas outras, só serão respondi-
das quando se avaliar cada item das Diretrizes Curriculares
A qualidade da educação infantil depende da integra- Nacionais de Educação Infantil, tendo como foco as intera-
ção entre a creche, a família e a comunidade. Essa integra- ções e a brincadeira.
ção pode ser feita por meio da circulação das brincadeiras.
Assim, aproveita-se a diversidade da cultura lúdica das fa- Registros de adultos e crianças (relatórios, fotogra-
mílias e da comunidade e, ao mesmo tempo, propicia-se ás fias, desenhos, álbuns etc.):
crianças a manutenção de suas identidades culturais.
Como fazer registros e documentação?
Preservar valores da comunidade e integrar tecno-
logias: Escutar as crianças é um procedimento importante
para melhorar a qualidade da educação infantil. Essa es-
A tecnologia faz parte do mundo atual, mas muitas ve- cuta se faz por meio de observações e registros do que a
zes ela não tem penetração em certas comunidades. Como criança faz de seus desenhos, produções e falas. Todo esse
integrar a tecnologia preservando os valores da comuni- material é importante para identificar os seus interesses e
dade? Como conseguir manter a tradição do passado, de experiências e para planejar etapas subsequentes.
construção de brinquedos pelos brincantes e, ao mesmo
tempo, garantir o acesso aos brinquedos tecnológicos? Brincadeiras nas transições da casa à creche e da
Nos centros urbanos é mais fácil essa integração por- creche à pré-escola:
que a tecnologia se faz presente em tudo, mas na zona
rural, isso não ocorre. As transições ou mudanças são muito difíceis para toda
Cabe à creche e à pré-escola selecionar o que é impor- criança. Há transições de uma atividade para outra, de um
tante, para criar um espaço onde coexistam a tradição e a ano a outro, no interior de uma creche e entre instituições.
modernidade. Passar de uma atividade a outra requer flexibilidade de ho-
rário, para deixar a criança que ainda está brincando, que
14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
tem um ritmo mais lento, terminá-la com tranquilidade,
evitando o choro e o desconforto. Ir da casa para a creche MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. INDICADORES
e passar da creche para a pré-escola são transições temidas DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL /
pelas crianças. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/SECRETARIA DA
EDUCAÇÃO BÁSICA – BRASÍLIA: MEC/SEB,
RECOMENDAÇÕES FINAIS: 2009.
Nos tempos atuais, a educação deve agregar as ques-
tões da diversidade, da sustentabilidade e da biodiversi-
dade do país. Com suas florestas, matas, cerrados, rios, BRASIL. PARÂMETROS DE QUALIDADE PARA A
praias, plantações, montanhas, pequenos bairros e gran- EDUCAÇÃO INFANTIL. BRASÍLIA
des cidades, o país produz uma invulgar cultura lúdica que,
por meio de um rico artesanato, em conjunto com sua O documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para
produção industrial, oferece infinitas possibilidades para o a Educação Infantil (volumes 1 e 2, que encontra-se na ín-
brincar. Basta considerar tudo o que a própria natureza e tegra no CD que a companha a apostila)) busca responder
as diferentes culturas locais podem disponibilizar para as com uma ação efetiva aos anseios da área, da mesma for-
brincadeiras com as crianças. ma que cumpre com a determinação legal do Plano Nacio-
Mas é fundamental a mobilização e o desenvolvimento nal de Educação, que exige a colaboração da União para
da dimensão brincante e brincalhona das professoras para atingir o objetivo de “Estabelecer parâmetros de qualidade
garantir o direito ao brinquedo e à brincadeira. Esse é o pa- dos serviços de Educação Infantil, como referência para a
pel dos cursos de formação inicial e continuada de profes- supervisão, o controle e a avaliação, e como instrumen-
sores. Mas é também o compromisso de cada profissional to para a adoção das medidas de melhoria da qualidade”
que já atua com as crianças. Sem interações e brincadeiras (Brasil, 2001, cap. II, item 19 do tópico Objetivos e Metas
de qualidade, os materiais e os brinquedos perdem o sig- da Educação Infantil). Assegurar a qualidade na educação
infantil por meio do estabelecimento desses parâmetros é
nificado.
uma das diretrizes da Política Nacional de Educação Infantil
A infância, a criança e o brinquedo são temas impor-
(Brasil, 2005).
tantes para nossas reflexões. O bebê ingressa na creche,
Entendendo que em uma perspectiva de gestão demo-
cresce e vai embora, sua infância é passageira. Se não ga-
crática e participativa, tal definição deve emergir de amplo
rantirmos a qualidade da experiência de cada criança no debate entre os segmentos envolvidos no trabalho educa-
seu curto espaço de tempo vivenciado na creche, deixa- tivo com crianças de 0 até 6 anos1, o Ministério coordenou
remos de cumprir o nosso papel ético, social e educativo. um processo de discussão desses parâmetros em diferentes
COMENTÁRIO: regiões do país, incorporando a contribuição que muitas
secretarias de educação, entidades e grupos desenvolvem
Brinquedos e Brincadeiras, segundo o Ministério da no sentido de aprimorar a qualidade da Educação Infantil.
Educação, trata-se de um documento técnico com a fi- Para que fosse instaurada uma discussão qualificada
nalidade de orientar professoras, educadoras e gestores que contribuísse efetivamente para o avanço da Educação
na seleção, organização e uso de brinquedos, materiais e Infantil no Brasil, realizou-se um processo de trabalho em
brincadeiras para creches, apontando formas de organizar etapas, durante as quais foram discutidas versões prelimi-
espaço, tipos de atividades, conteúdos, diversidade de ma- nares deste texto. A primeira versão foi apresentada e de-
teriais que no conjunto constroem valores para uma edu- batida em seminários regionais, promovidos pela SEB/DPE/
cação infantil de qualidade. Coedi (Brasil, MEC, SEIF, s.d.) em julho e agosto de 20042,
O referido documento foi elaborado pelo Ministério da com a participação de representantes de secretarias e con-
Educação, por meio da Secretaria de Educação Básica, vi- selhos municipais e estaduais de educação e outras entida-
sando atender ao estabelecido na Emenda Constitucional des que atuam direta ou indiretamente com a criança de 0
nº 59 que determinou o atendimento ao educando em to- até 6 anos de idade. A segunda foi enviada a especialistas
das as etapas da educação básica, por meio de programas na área de Educação Infantil de todo o país e, posterior-
suplementares de material didático-escolar, transporte, ali- mente, debatida em seminário técnico realizado em maio
mentação e assistência à saúde e contou com a parceria de 2005, em Brasília. Após a incorporação de grande parte
do UNICEF. das sugestões enviadas, uma versão, ainda preliminar do 2º
volume, foi apresentada no Seminário Nacional Política de
Educação Infantil, realizado também em Brasília, em julho
do mesmo ano.
Espera-se que esta versão final, ao incorporar as con-
tribuições e sugestões recebidas, contribua para solidifi-
car consensos presentes na área e superar desafios anti-
gos, esclarecendo questões que ainda suscitam dúvidas
nos dias atuais.
15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Sendo o objetivo deste documento o de estabelecer manifestações culturais locais tenham espaço para se de-
padrões de referência orientadores para o sistema edu- senvolver, específicos para favorecer a criação de uma base
cacional no que se refere à organização e funcionamento nacional, de fácil aplicação e monitoramento a fim de pos-
das instituições de Educação Infantil, cabe apontar, ini- sibilitar sua adoção e, consequentemente, consolidar essa
cialmente, para uma distinção conceitual que deve ser base comum. Utilizou-se um tom afirmativo que incenti-
feita entre parâmetros de qualidade e indicadores de vasse as participações críticas, que tornasse as proposições
qualidade. Entende-se por parâmetros a norma, o pa- objetivas, permitindo a identificação ou contraposição
drão, ou a variável capaz de modificar, regular, ajustar o clara de leitores. Optou-se, deliberadamente, por abordar
sistema (Houaiss e Villar, 2001). Parâmetros podem ser parâmetros de qualidade tanto para as instituições de Edu-
definidos como referência, ponto de partida, ponto de cação Infantil quanto para os sistemas educacionais, dadas
chegada ou linha de fronteira. as possibilidades que essa perspectiva oferece de controle
Indicadores, por sua vez, presumem a possibilidade de social recíproco das instâncias envolvidas no cuidado e na
quantificação, servindo, portanto, como instrumento para educação da criança de 0 até 6 anos de idade.
aferir o nível de aplicabilidade do parâmetro. Parâmetros Colocaram-se em relevo questões específicas e polê-
são mais amplos e genéricos, indicadores mais específicos micas da realidade brasileira tais como, período de funcio-
e precisos. Um parâmetro de qualidade inquestionável, por namento das instituições, respeito à diversidade, regime de
exemplo, é a formação específica das professoras e dos colaboração, autonomia federativa e responsabilidade dos
professores de Educação Infantil. Nesse caso, o indicador sistemas estaduais com a Educação Infantil nos municípios
seria a série e o nível propriamente dito de formação dos onde não existe sistema de ensino.
profissionais que atuam nas instituições de Educação In- A apresentação deste documento – organizado em
fantil. A qualidade seria considerada ótima em um deter- dois volumes - visa facilitar seu manuseio pelos leitores.
minado município se o parâmetro definido neste caso fos- O primeiro aborda aspectos relevantes para a definição
se a formação exigida por lei, e todos os profissionais que de parâmetros de qualidade para a Educação Infantil no
atuam nas instituições de Educação Infantil tivessem essa país. Apresenta uma concepção de criança, de pedago-
formação em nível superior. gia da Educação Infantil, a trajetória histórica do debate
Assim, um desdobramento necessário e esperado do da qualidade na Educação Infantil, as principais tendências
documento que está sendo apresentado seria a definição identificadas em pesquisas recentes dentro e fora do país,
dos indicadores de qualidade. Estes permitirão a criação os desdobramentos previstos na legislação nacional para
de instrumentos para credenciamento de instituições, ela- a área e consensos e polêmicas no campo. No segundo,
boração de diagnósticos, e mesmo a implementação pro- explicitam-se, inicialmente, as competências dos sistemas
priamente dita dos parâmetros de qualidade nas institui- de ensino e a caracterização das instituições de educação
ções de Educação Infantil e nos sistemas educacionais. Os infantil a partir de definições legais, entendendo que um
indicadores de qualidade deverão ser definidos em níveis sistema educacional de qualidade é aquele em que as ins-
progressivos de exigência no sentido vertical e, em âmbitos tâncias responsáveis pela gestão respeitam a legislação
também progressivos de abrangência (local, regional, na- vigente. Finalmente, são apresentados os parâmetros de
cional), no sentido horizontal, permitindo, ainda, que cada qualidade para os sistemas educacionais e para as institui-
instituição ou município incorpore indicadores de qualida- ções de educação infantil no Brasil, com o intuito de esta-
de construídos pela comunidade que representam. belecer uma referência nacional que subsidie os sistemas
Feita a distinção entre parâmetros e indicadores, subli- na discussão e implementação de parâmetros de qualidade
nhamos que a finalidade de definir os parâmetros de qua- locais.
lidade se realiza neste documento de modo a estabelecer É importante reafirmar que a história da construção de
não um padrão mínimo, nem um padrão máximo, mas os uma Educação Infantil de qualidade no Brasil já percorreu
requisitos necessários para uma Educação Infantil que pos- muitos caminhos, já contou com muitos protagonistas, já
sibilite o desenvolvimento integral da criança até os cinco alcançou resultados significativos e já identificou obstácu-
anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, inte- los a serem superados. Aprender com essa história e re-
lectual e social. tomá-la, nesse momento, é a tarefa que nos aguarda em
Para subsidiar a tomada de decisões sobre conteúdo, mais essa etapa de um processo dinâmico e coletivo. Para
estrutura, formato e estilo de apresentação deste docu- tanto, faz-se necessário obter consensos a serem sempre
mento, foi realizada uma análise de experiências seme- revistos e renovados, de forma democrática, contemplan-
lhantes desenvolvidas em outros países, revelando que as do as necessidades sociais em constante mudança e incor-
propostas enfocam e enfatizam aspectos bastante varia- porando os novos conhecimentos que estão sendo produ-
dos. Umas são muito detalhadas, outras mais genéricas, al- zidos sobre as crianças pequenas, seu desenvolvimento em
gumas centram-se exclusivamente na escola ou na apren- instituições de Educação Infantil, seus diversos ambientes
dizagem da criança, outras abordam políticas e sistemas familiares e sociais e suas variadas formas de expressão.
como um todo, e a linguagem utilizada ora é mais formal, Espera-se que este documento se constitua em mais
ora mais informal. um passo na direção de transformar em práticas reais, ado-
Pretende-se, por meio deste documento, delimitar tadas no cotidiano das instituições, parâmetros de quali-
parâmetros de qualidade suficientemente amplos para dade que garantam o direito das crianças de zero até seis
abarcar diferenças regionais, flexíveis para permitir que as anos à Educação Infantil de qualidade.
16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
“Seria o espaço apenas um cenário?
CARVALHO, M.T.V.; ORTIZ,C. INTERAÇÕES: De que maneira ele é percebido pelas crianças e pelos
SER PROFESSOR DE BEBÊS – CUIDAR, adultos?”
EDUCAR E BRINCAR, UMA ÚNICA AÇÃO.
Finaliza o subcapítulo com um trecho bastante signi-
COLEÇÃO INTERAÇÕES. SÃO PAULO:
ficativo:
EDITORA EDGARD BLUCHER. 2012
“Qualquer que seja o espaço destinado às crianças pe-
quenas, muito podemos fazer para torná-lo mais confortável
e adequado às experiências infantis.”
Nas próximas páginas, aborda as especificidades do lu-
O espaço do bebê hoje gar dos bebês, a concepção que a professora organiza este
espaço, como ela o pensa, quais os elementos que o com-
Relatos da trajetória das creches no Brasil, os sentimen- põe. Aborda também a construção da identidade pessoal
tos das famílias em relação à opção de deixar seus filhos na das crianças, a importância de promover a competência
creche, a ideia do jardim de Infância disseminada por Fre- para chegar à conquista da autonomia, as oportunidades
derich Froebel e os avanços na legislação garantindo esse de crescimento através da diversidade de ambientes e es-
direito às crianças e famílias brasileiras. tímulos diversos, a sensação de segurança e de confian-
ça através dos diversos desafios planejados no espaço, as
As primeiras relações - uma questão crucial para o oportunidades para contato pessoal e privacidade nos es-
bebê paços da sala, a decoração a partir da dimensão funcional e
Neste capítulo aborda as relações dos bebês e inicia física. Apresenta propostas sobre o que deve ter as paredes
com um belo e significativo trecho: da sala e o risco de excesso de informação, a integração
“Quando falamos de bebê, falamos sempre de mais al- cuidados/saúde fazendo pontuações importantes sobre os
guém, aquele com quem o bebê está, aquele que para ele cuidados com a higiene, o bem estar, a troca de fraldas e
olha e que dele ocupa, pois ele é incapaz de sobreviver so- a relação olho no olho e por fim a importância do contato
zinho. Esta é uma realidade da qual devemos partir para das crianças com os elementos da natureza para a consti-
pensar na criança em seus primeiros meses e anos de vida: tuição dos sentidos. Muitas dicas importantes e reais para
existe sempre um outro do Bebê.” o trabalho com os pequenos.
Sábias palavras, afinal são elas, as professoras que ser- Rotina de cada criança, de grupo, de creche - possi-
vem como mediadoras na apresentação deste mundo de bilidades de conciliação
cores, sabores, aromas, texturas, sons ... Aqui nos fala sobre os desafios dessa adaptação na
Um alguém de muita importância: rotina de modo a atender a todos: crianças, pais e institui-
“Este “Alguém” é mais do que aquele que põe e tira o ção. Relatos de uma rotina nos ajuda a pensar sobre nossas
bebê do lugar, que troca, alimenta, conversa e brinca. posturas, formas de organização, a maneira como recebe-
É alguém que tem funções importantes na constituição mos os pais e crianças e a partir dessa análise pensar:
psíquica para o desenvolvimento da criança.” “Como fazer para construir uma proposta educativa
No decorrer do texto, aborda a importância da creche adequada à faixa etária?
na vida do bebê como um elemento que atua na constitui- O que os educadores precisam saber sobre as crianças
ção da criança. pequenas?”
A importância do acolhimento ao iniciar a vida fora E os bebês... brincam!
de casa Neste capítulo faz-se uma abordagem sobre o brincar
“A adaptação deve ser vivida como um momento de a partir da seguinte indagação: “E os bebês, brincam de
transição: quê?”. Discute-se as diversas formas de brincadeiras dos
da passagem do conhecido para o tempo de conhecer, bebês e a presença do adulto neste cenário, qual o seu
para o tempo de se apropriar do novo, ou seja, tornar papel e como ele pode ajudar as crianças nesta aventura de
seu o que ainda é estranho.” descobrir o mundo. Cita objetos importantes ao cenário do
Neste capítulo a abordagem nos dá elementos para brincar, a experimentação, as brincadeiras com água e aju-
pensarmos sobre a forma que estamos acolhendo nossos da os professores a pensar sobre seus medos em relação às
bebês. O espaço, as expressões, as falas, os objetos de ape- queixas das mães. Reafirma a importância da observação e
go, as relações entre pais e educadores. Nos apresenta eta- registro nos momentos da brincadeiras e traz uma série de
pas e estratégias para tornar este momento mais tranquilo. sugestões sobre espaços e materiais que podem ser traba-
Organização dos ambientes para os bebês - o olhar lhados com os bebês.
atento E os bebês... falam!
“A importância da organização do ambiente não ape- A comunicação oral como construtora do pensa-
nas entendido como espaço físico, mas humano, que ofereça mento, da interação com o outro e com a cultura.
condições de desenvolvimento para as crianças pequenas, Neste traz diferentes contribuições teóricas sobre o a
necessita ser repensada.” construção da fala. Faz pontuações significativas sobre a
Algumas questões são colocadas e nos faz pensar so- importância da interação como base para a construção do
bre os espaços que temos e como são organizados: pensamento e linguagem, a importância do ambiente rico
17
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
em interações verbais, ressalta a necessidade dos diálogos filosofia explícita sobre a natureza da criança como
individuais com os bebês, uma rotina que garanta tempos aprendiz.
para roda de conversas e diálogos e finaliza reafirmando a Este capítulo descreve a visão que Reggio Emilia tem
importância da leitura e dos contos. sobre o papel do professor, baseado em observações gra-
Acompanhando as aprendizagens e o desenvolvi- vadas em vídeo em uma pré-escola, a Escola Diana, e em
mento das crianças discussões registradas e entrevistas com professores e ad-
ministradores, conduzidas desde 1983 como parte de um
Muitas pontuações sobre a necessária tarefa de ob- estudo a ser lançado,
servar, de avaliar e acompanhar o desenvolvimento dos
bebês. Fala também sobre o papel do coordenador peda- Colaboração e Comunidade na Sala de Aula Pré-Escolar:
gógico como formador de seus professores e da avaliação Amherts, Pistóia e Reggio Emilia, por Carolyn Edwards,
citando os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Leila Gandini e John Nimmo. Citações de entrevistas for-
dentre outros.
mais, discussões em grupo e de observadores (coletadas,
transcritas e traduzidas por membros da equipe do projeto)
Sugestão aos professores
são usadas ao longo de todo este capítulo para ilustrarem
Este capítulo fecha com chave de ouro trazendo su-
os conceitos e transmitirem os significados distintivos, os
gestões aos professores em vários eixos de trabalho com
os bebês. São diversas páginas com sugestão de materiais, modos particulares de transmissão de ideias e de comuni-
receitas, suportes, técnicas, músicas, instrumentos musicais, cação com outros que foram encontrados em Reggio Emilia.
materiais de largo alcance para as brincadeiras, livros de his-
tórias, filmes e livros para estudo, documentos oficiais, revis- DEFINIÇÕES DO PAPEL DOS PROFESSORES EM
tas, blogs e sites informativos. Tudo para enriquecer ainda REGGIO EMILIA
mais o repertório de trabalho dos professores de Bebês. Nos Estados Unidos, quando definimos o papel do
professor para a primeira infância, geralmente começa-
Fonte: http://criancapequenina.blogspot. mos esboçando suas dimensões essenciais, por exemplo:
com/2012/08/ (a) promoção da aprendizagem das crianças nos domínios
cognitivo, social, físico e afetivo; (b) manejo da sala de aula;
(c) preparação do ambiente; (d) oferecimento de incentivo
e orientação; (e) comunicação com outras pessoas impor-
tantes (pais, colegas, administradores, publico em geral) e
EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, (f) busca de crescimento
G. AS CEM LINGUAGENS DA CRIANÇA: profissional. O trabalho dos professores de Reggio Emi-
A ABORDAGEM DE REGGIO EMILIA NA lia cobre esses mesmos aspectos e, além disso, há dois ou-
EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA. tros papéis essenciais: (g) engajamento no ativismo político
para defender a causa da educação pública precoce; e (h)
TRADUÇÃO DE DEYSE BATISTA. PORTO
condução de pesquisas sistemáticas sobre o trabalho diá-
ALEGRE: ARTES MÉDICAS SUL LTDA., 1999. rio em sala de aula para finalidades de difusão profissional,
planejamento do currículo e desenvolvimento do professor.
Contudo, embora os educadores de Reggio Emilia as-
sumam muitos papéis, eles invariavelmente começam, ao
Parceiro, Promotor do Crescimento e Guia – Os Papéis
definir o papel do professor, discutindo a essência do que os
dos Professores de Reggio em ação
professores fazem para a promoção do crescimento intelec-
Carolyn Edwards
tual pelas crianças em grupos. Começam notando que é im-
possível uma cultura existir sem uma imagem das crianças.
NOTA DO TRANSCRITOR: Há a figura de um desenho,
sob o qual está escrito: “’Retrato de uma professora’, reali- As crianças, como entendidas em Reggio, são protago-
zado por uma criança de 5 anos da Escola Pablo Neruda.” nistas ativas e competentes que buscam a realização atra-
FIM DE NOTA. vés do diálogo e da interação com outros, na vida coletiva
Em Reggio Emilia, o papel do professor no auxílio a das salas de aulas, da comunidade e da cultura, com os
aprendizagem é um tema de interesse e preocupação cen- professores servindo como guias.
tral e contínua. A visão intrinsecamente social da criança - um comuni-
Nos últimos 30 anos, os professores e administrado- cador com uma identidade pessoal, histórica e cultural única
res têm discutido e refletido muito acerca das responsa- - leva a sua visão particular sobre o trabalho do professor.
bilidades, dos objetivos, das dificuldades, dos prazeres e Tiziana Filippini, falando a uma grande audiência de
das oportunidades enfrentados pelos professores em seu americanos em 1990, definiu esse papel claramente. O pro-
sistema publico de cuidados infantis. Criaram juntos uma fessor, como disse Filippini, às vezes trabalha “dentro” do
forma coerente de pensar e falar sobre o papel do profes- grupo de crianças e ocasionalmente “apenas em volta” de-
sor dentro e fora da sala de aula, baseada - como todos os las. O professor estuda-as, proporciona ocasiões, intervém
aspectos de sua organização, desenho ambiental, pedago- em momentos críticos e compartilha as emoções intensifi-
gia e currículo - em uma cadas das crianças:
18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
O papel do adulto é acima de tudo o de ouvinte, de Unidos, entende-se que esse tipo de ensino é uma tarefa
observador e de alguém que entende a estratégia que as complexa, delicada e multifacetada, envolvendo e exigindo
crianças usam em uma situação de aprendizagem. Tem, muitos níveis de conhecimento e o auto-exame contínuo.
para nós, o papel de “distribuidor” de oportunidades; e é Carlina Rinaldi, pedagogista, buscou similarmente ex-
muito importante que a criança sinta que ele não é um plicar as coisas mais críticas que os professores devem
juiz, mas um recurso ao qual pode recorrer quando precisa fazer em Reggio Emilia. Em uma entrevista em 1988 com
tomar emprestado um gesto, uma palavra. De acordo com Lella Gandini, Rinaldi oferece uma descrição complementar
o que Vygotsky [o psicólogo russo] disse, se as crianças já a de Filippini.
foram do [ponto] A a B e estão chegando muito próximas a Embora à primeira vista pareça ser uma lista simples,
C, ocasionalmente, em um momento tão especial, precisam na verdade ela nos apresenta uma perspectiva em espiral,
da assistência do adulto. Sentimos que o professor enquanto fala repetidamente sobre professores, crianças,
deve estar envolvido com a exploração da criança, se dese- atelierista e pais. Além disso, sua lista é espiral em sua di-
ja entender o que é ser o organizador e o estimulador de mensão cronológica, opostamente a uma sequência rígida.
oportunidades... e nossas expectativas sobre a criança de- Isto é, Rinaldi descreve um conjunto de eventos visi-
vem ser muito flexíveis e variadas. Devemos ser capazes de tados e revisitados de acordo com o julgamento do pro-
pegar a bola que ela nos lança e jogá-la de volta, de modo fessor, à medida que o projeto avança. O modo de pensar
a fazer com que deseje continuar jogando conosco, desen- em espiral, ao invés de linear, e muito característico dos
volvendo, talvez, outros jogos, enquanto vamos em frente educadores de Reggio, estejam descrevendo o processo de
(Fillipini, Palestra, National Association for the Education of aprendizagem e desenvolvimento, planejando um projeto
Young Children, Washington, DC, November 16, 1990). ou aqui, falando sobre pedagogia.
A metáfora final de pegar a bola da criança e lançá-la Outro elemento chave na perspectiva de Rinaldi é seu
de volta foi enunciada antes por Loris Malaguzzi em uma progressivismo e idealismo social. Ela orgulha-se da longa
discussão formal com nossa equipe de pesquisas e com a tradição de empreendimento cooperativo e política pro-
equipe de profissionais da Escola Diana (15 de junho de gressista na Região de Emilia Romagna na Itália, e acredita
1990). Foi uma metáfora importante, útil para outros, vigorosamente que os adultos devem investir recursos pú-
porque foi usada depois por Vea Vecchi, a atelierista blicos no bem-estar das crianças e ingressar em um pro-
desta escola, e depois reapareceu em outras entre vistas cesso contínuo e permanente de construção do conheci-
mantidas em meses subsequentes, bem como durante a mento junto a elas, “para o progresso de Reggio Emilia e,
palestra de Filippini, a pedagogista, na NAEYC. Ao formular esperamos, de toda a sociedade”.
originalmente essa ideia, Malaguzzi estava salientando a Assim, de acordo com Rinaldi, o professor guia a apren-
importância de se observar exatamente o que as crian- dizagem de um grupo de crianças buscando as ideias dos
ças dizem no dialogo, de modo que o professor possa cap- indivíduos para usá-las na formulação da ação do grupo.
tar uma ideia e lançá-la de volta - e assim, tornar o jogo Ocasionalmente, envolve a condução de encontros de
mais interessante. Vecchi então elaborou as razões pelas grupo e a tentativa de estimular uma “fagulha” - escre-
quais considerava essa tarefa vital: porque frequentemente ver o que as crianças dizem, depois ler seus comentários,
as crianças expressam um novo insight experimental e par- buscando com elas os insights que irão motivar questões
cialmente, de modo não-claro tanto para si ou para outros. e atividade adicional do grupo. Em outros momentos, o
O professor, observando o potencial da ideia para es- professor
timular o trabalho intelectual e o crescimento pelo grupo deve sentar-se e ouvir, observar comentários instigan-
como um todo, entra em cena para reafirmar a ideia em tes ou plenos de insight, depois repetir ou esclarecê-los
uma linguagem mais clara e mais empática e, assim, toma para ajudar as crianças a manterem sua fala ou atividade. E,
o insight operante para as crianças, uma espécie de fagulha em outros momentos, especialmente no final da atividade
intelectual para conversas e ações adicionais pelo grupo: de uma manha, envolve a busca por uma ideia - especial-
Desta forma, o jogo da participação e o jogo da comu- mente
nicação realmente ocorrem. Naturalmente, a comunicação aquela que emerge em uma disputa intelectual entre as
pode ocorrer sem o seu auxílio, mas seria importante não crianças - e a tentativa de moldá-la em uma hipótese que
perder essa situação (Vecchi, Discussão em Grupo, 15 de deve ser testada, uma comparação empírica que deve ser
junho de 1990). feita, ou uma representação que deve ser tentada, como
base para uma futura atividade do grupo. Examinar a ques-
AS VÁRIAS DIMENSÕES DO PAPEL DO PROFESSOR tão, a hipótese ou o argumento de uma criança, portanto,
O papel do professor centraliza-se na provocação de torna-se parte de um processo contínuo de levantar e res-
oportunidades de descobertas, através de uma espécie de ponder questões para todos. Com o auxílio do professor, a
facilitação alerta e inspirada e de estimulação do diálogo, dúvida ou a observação de uma criança leva as outras à ex-
de ação conjunta e da co-construção do conhecimento ploração em um território jamais percorrido, talvez jamais
pela criança. Uma vez que a descoberta intelectual e su- sequer suspeitado. É isso o que os educadores de Reggio
postamente um processo essencialmente social, o profes- Emilia querem dizer com “co-ação” das crianças.
sor auxilia mesmo quando as crianças menores aprendem À medida que um projeto avança, os professores re-
a ouvir outros, a levar em consideração seus objetivos e fletem, exploram, estudam, pesquisam e planejam juntos
ideias e a se comunicar com sucesso. Como nos Estados possíveis modos de elaborar e estender o tema por meio
19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
de materiais, atividades, visitas, uso de ferramentas e assim elas precisam para realizar as experiências - mesmo quan-
por diante. As ideias são então levadas de volta à sala de do percebem que determinada abordagem ou hipótese
aula e investigadas. Nas pré-escolas municipais de Reggio não está “correta”. Servem como seus parceiros apoiando-
Emilia, os professores têm trabalhado por anos em pares -as e oferecendo auxílio, recursos e estratégias para que
NOTA DO TRANSCRITOR: Há uma fotografia que mos- possam prosseguir quando encontram dificuldades. Com
tra uma professora e um menino mexendo com cartelas frequência, os professores encorajam as crianças a conti-
que contêm vários materiais em forma de grãos. Abaixo nuarem fazendo algo, ou pedem que terminem ou acres-
da figura está escrito: “Uma professora trabalhando como centem algo ao que estão fazendo.
parceira de uma criança.” FIM DE NOTA. de co-ensino em Preferem não as deixar trabalhando sempre por conta
cada sala de aula. A organização de co-ensino é considera- própria, mas tentam cooperar com as metas dos alunos.
da difícil, pois os dois adultos devem adaptar-se e acomo- Enquanto trabalha com um grupo de crianças, cada
dar-se constantemente a fim de trabalharem juntos, mas, professor faz anotações escritas para discutir mais tarde
ainda assim, é o melhor, porque permite que cada adulto com o co-professor, com o atelierista, com o pedagogista
acostume-se a cooperar com o colega, adquira valor para e com outros colegas, no que se refere ao curso do proje-
a natureza social do crescimento intelectual e, portanto, to. Depois, sempre que possível, trabalhará com um grupo
torne-se mais útil para as crianças (e pais) enquanto esses ainda maior
engajam-se no processo social. de colegas professores (incluindo os de outras esco-
Os professores comunicam-se com os pais sobre o las) para redirecionar ou ampliar um projeto e enriquecer a
tema do projeto, encorajando-os a envolverem-se com as experiência das crianças. Atividades analíticas e críticas são
atividades de seus filhos, através da busca dos materiais vitais para o desenvolvimento do professor individualmen-
necessários, do trabalho com os professores no ambiente te e, em ultima análise, para o sistema educacional como
físico, da oferta de livros suplementares e assim por diante. um todo. A documentação sistemática permite que cada
Dessa forma, os pais são levados a revisar a imagem que professor se torne um produtor de pesquisas, isto é, al-
têm de seus filhos e a compreender a infância de um modo guém que gera novas ideias sobre o currículo e sobre a
mais rico e complexo. aprendizagem, em vez de ser meramente um “consumidor
A equipe de ensino trabalha estreitamente com outros da certeza e da tradição”.
adultos (às vezes com o atelierista, às vezes com o pedago- Os educadores de Reggio Emilia não consideram o
gista) para planejar e documentar o projeto. Isso ocorre de papel do professor algo fácil, com respostas objetivas
diferentes maneiras em diferentes escolas, mas, em geral, orientando o que os professores devem fazer. Possuem,
a documentação inclui registros em fita e transcrições do contudo, a confiança e o senso de segurança de que sua
diálogo das crianças e das discussões em grupo, materiais abordagem do ensino, desenvolvida coletivamente nos úl-
impressos e fotografias em slide de momentos cruciais das timos 30 anos em Reggio, e o modo como deveriam estar
atividades e coleta de produtos e de construções feitos pe- trabalhando. Como a professora Laura Rubizzi afirma: “É
las crianças. um método de trabalho não apenas válido, mas também
Durante todo o projeto, os professores agem como a correto” (Entrevista, 11 de novembro de 1989). Sua colega
“memória” do grupo e discutem com as crianças os resulta- na Escola Diana, Paula Strozzi, disse:
dos da documentação, permitindo que elas revisitem siste- Somos parte de um projeto baseado na co-ação das
maticamente seus próprios sentimentos e os sentimentos crianças e na certeza de que esta é uma boa maneira de
de outros, suas percepções e observações, suas reflexões, aprender (Entrevista, 14 de junho de 1990).
e então os reconstruam e reinterpretem de formas mais O trabalho no dia-a-dia, contudo, envolve desafios e
profundas. decisões constantes, em vista do uso do currículo emer-
Ao reviverem momentos passados através de fotogra- gente.
fias e de gravações em fita, as crianças são profundamente Uma tarefa: difícil para os professores é a de ajudar as
reforçadas e validadas por seus esforços e recebem um in- crianças a encontrarem problemas suficientemente gran-
centivo a sua memória, o que é fundamental nesta idade. des e difíceis para engajarem sua maior energia e pensa-
Os professores prestam atenção, constantemente, a mento ao longo do tempo. Está claro, pela descrição de
atividade das crianças. Acreditam que quando as crianças Baji Rankin do Projeto do Dinossauro, na Escola Anna Frank
trabalham em um projeto de interesse para elas, encon- (capitulo 11) que os professores às vezes voltam atrás em
trarão naturalmente problemas e questões que desejarão um projeto que não parece estar chegando a lugar algum.
investigar. Não apenas o projeto maior deve conter problemas
O papel dos professores é ajudá-las a descobrir seus excitantes, mas até mesmo uma sessão diária de trabalho
próprios problemas e questões. Neste ponto, não oferece- deve, idealmente, conter pontos mais difíceis, ou “nós”. Es-
rão soluções fáceis, mas, ao invés disso, ajudarão as crian- ses “nós” são mais do que apenas momentos de confusão
ças a focalizarem-se em um problema ou dificuldade e a ou desarmonia; em vez disso, são momentos de desequilí-
formularem hipóteses. brio cognitivo, contendo possibilidades para o teste de hi-
Seu objetivo não é tanto “facilitar” a aprendizagem no póteses e a comparação intelectual de ideias. A tarefa dos
sentido de “tornar fácil ou leve”, mas, ao contrário, pro- professores é perceber esses nós e trazê-los ao centro da
curar “estimular”, tornando os problemas mais complexos, cena para uma atenção adicional - ponto de partida para as
envolventes e excitantes. Eles perguntam às crianças o que atividades do dia seguinte.
20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Um segundo aspecto do papel do professor, que os Tais conversas ocorrem quase diariamente, em encon-
professores de Reggio experienciam como difícil, é saber tros curtos entre professor e co-professor, professor e ate-
como e quando interferir, pois isso depende de uma aná- lierista e discussões informais entre professores de diferen-
lise de momento a momento do pensamento das crianças. tes classes a hora do almoço. Os professores acreditam que
As professoras Magda Bondavalli e Marina Mori afirmaram: discutindo abertamente oferecem modelos de cooperação
Com relação às dificuldades [no ensino], nos as vemos e participação às crianças e aos pais e promovem uma
continuamente. O modo como oferecem as possibilidades atmosfera de comunicação franca e aberta. Uma análise
e sugestões às crianças deixa as coisas sempre abertas. É mais formal e extensa ocorre durante encontros da equipe
um modo de estar com elas, reajustando-nos continua- da própria escola ou em alguma reunião com um grupo
mente. Nada existe de definitivo ou absoluto. Tentamos, mais amplo, envolvendo administradores, professores de
o tempo todo, interpretar, através de seus gestos, palavras outras
e ações, como estão vivendo uma experiência; e depois escolas e talvez até mesmo visitantes e palestrantes.
prosseguimos daí. Isso é realmente difícil! (Entrevista, 14 É importante notar que a análise e feedback em Reggio
de junho de 1990). Emilia envolve tanto apoio quanto críticas. Em contraste
Também nos Estados Unidos, os professores preocu- com um sistema cuja preocupação de ferir os sentimentos
pam-se acerca de quanto e quando interferir, como apoiar ou propriedade de ideias evita o exame e a argumentação
a solução de problemas sem oferecer a solução (Edwards, extensos, em Reggio Emilia o conflito intelectual é consi-
1986). Como Malaguzzi (1987) escreveu, as crianças estão derado
«perigosamente na fronteira entre a presença que desejam agradável tanto para adultos quanto para crianças.
e a repressão que não desejam» (p. 17). Portanto, um pro- Como Paola Strozzi disse: “Estou convencida de que
fessor não deve intervir muito e, ainda assim, não deve dei- existe alguma espécie de prazer em tentar concordar sobre
xar passar um momento precioso para o ensino. Vea Vecchi como fazer as coisas” (Entrevista, 14 de junho de 1990). O
expressou isto eloquentemente: foco de uma discussão não é apenas ventilar pontos de
Você esta sempre com medo de perder aquele mo- vista diversos, mas, em vez disso, prosseguir até ficar claro
que todos aprenderam algo e avançaram um pouco em
mento quente. É realmente um ato de “equilibrar as coisas”.
seu pensamento.
Acredito na intervenção, mas pessoalmente estou propen-
Uma discussão deve continuar até aparecer uma so-
sa a esperar, pois notei que as crianças frequentemente
lução ou o próximo passo tornar-se aparente; depois, a
resolvem o problema por conta própria, e nem sempre da
tensão dissipa-se e um novo entendimento compartilhado
forma que eu teria proposto! Elas frequentemente encon-
oferece a base para a atividade futura ou esforço conjunto.
tram soluções que eu jamais teria percebido. Contudo, às
A discussão pode exigir certa resistência e perseveran-
vezes, esperar significa perder o momento. Assim, é uma
ça. Certamente, os professores e a equipe oferecem uns
decisão que precisamos tomar muito rapidamente (Discus-
aos outros apoio emocional e encorajamento, bem como
são em grupo, 18 de outubro de 1990).
sugestões concretas e conselhos. Além disso, entretanto,
O que eles estão descrevendo aqui é um compromisso um método de longas críticas mútuas e auto-exame e acei-
genuíno com o currículo emergente, não uma sutil mani- to com muito boa-vontade. Nossa equipe de pesquisas
pulação do tema do projeto para que termine em algum participou desses encontros na Escola Diana, cada um com
lugar. Os professores honestamente não sabem onde o várias horas de duração e envolvendo professores, equipe
grupo terminará. Embora a abertura acrescente uma di- auxiliar, cozinheiros, atelierista, pedagogista e Loris Mala-
mensão guzzi. Por exemplo, em uma dessas reuniões, a professora
de dificuldade a seu trabalho, ela também o torna mais Marina Castagnetti apresentou uma fita editada de vídeo
excitante. Como Laura Rubizzi coloca: e uma análise comportamental de uma sessão envolvendo
Eu trabalho em um estado de incerteza porque não sei dois meninos de cinco anos que tentavam criar um caste-
onde as crianças chegarão, mas esta é uma experiência fa- lo em um grande pedaço de papel usando uma tartaruga
bulosa! (Entrevista, 11 de novembro de 1989). Logo ativada por computador. Sua apresentação foi segui-
É como se estivéssemos decolando juntos em uma via- da por uma extensa discussão abordando as escolhas e as
gem. Ela pode ser curta; ela pode ser longa. Mas existe uma decisões pedagógicas. As crianças haviam se preparado
vontade intensa de fazê-la juntos (Discussão em grupo, 18 adequadamente para a solução de seu problema?
de outubro de 1990). Será que eles conseguiram lidar com os comandos do
Além disso, mais do que excitante, seu modo de tra- computador? Precisaram de um conjunto de regras junto a
balhar apresenta a vantagem adicional das estruturas de si para estimular noções de medida? Será que foram deixa-
apoio embutidas. Não se espera que o professor imagine dos cogitando soluções por conta própria por tempo de-
por si mesmo o que deveria estar fazendo. Ele sempre tra- mais, sem o auxílio da professora? A professora perdeu um
balha em colaboração com outros adultos, como Bonda- “momento quente” ao “abandonar” as crianças por
valli e Mori atestam: tempo demais? A linguagem frequente sobre união das
Este é realmente o caminho a seguir nesta escola, pois crianças (“Vamos fazer isso”, “Vamos tentar isso”, “Veja-
comparamos notas continuamente e falamos uns com os mos”, “Nós devemos”, etc.) indicou a colaboração produ-
outros o tempo todo (Entrevista, 14 de junho de 1990). tiva ou o desespero?
21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Em determinado ponto desta discussão, Castagnetti FIM DE NOTA.
perguntou: “Nesse ponto, como professora, o que eu su- Enquanto vai de uma para outra mesa, Giulia vê crian-
postamente devo e não devo fazer?” Os membros de nossa ças ainda não envolvidas e pergunta: “Vocês querem tra-
equipe de pesquisas estavam impressionados pela profun- balhar com a cor verde no atelier pequeno? Ou desejam
didade das discussões e pela falta de defensividade pelas cortar com as tesouras e usar cola?”
professoras. Comentamos sobre seu método de reflexão Ela vai a uma pequena mesa, onde as crianças estão
critica e Malaguzzi, com um sorriso de afeto para Castag- sentadas olhando para folhas de papel branco e pequenas
netti, disse: “Nós temos sempre dois bolsos: um para a sa- cestas cheias de folhas, ervas e flores colhidas mais cedo na-
tisfação e outro para a insatisfação” (Discussão em Grupo, quela manhã. Giulia diz: “Você está vendo o que temos aqui?
16 de outubro de 1991). Pedacinhos de verde que vocês encontraram. E as flo-
O conflito intelectual é compreendido como a maquina res que vocês colheram. Vocês podem colocá-las no papel
de todo o crescimento em Reggio. Portanto, os professores como quiserem. Se um pedaço de papel não é suficiente,
tentam trazer à tona, e vez de suprimir, os conflitos de opi- vocês podem colocar um outro ao lado dele. Tudo bem?”
nião entre as crianças. Similarmente, entre eles mesmos, acei- (Giulia explica depois que a atividade comunica a impor-
tam prontamente discordâncias e esperam uma discussão tância e o prazer da exploração e ajuda as crianças a acos-
extensa e críticas construtivas; isso é visto como o tumarem-se com a colagem). Enquanto Giulia se afasta, as
melhor meio de avançar. O prazer dos professores com a duas crianças começam a atividade alegres, conversando
equipe de trabalho e a aceitação de diferenças de opinião uma com a outra. “Você quer isto?”, “Eu também peguei
oferecem um modelo para crianças e pais. uma dessas”.
“Olha que linda esta aqui”. “Vai com calma” (O que é
EXEMPLOS DE COMPORTAMENTO DOS PROFESSORES obviamente uma imitação de algo que a professora diz
Para darmos um quadro mais completo e oferecermos ocasionalmente).
exemplos concretos dos princípios abstratos apresentados Às 9:26, Giulia retorna para olhar e admirar o trabalho
acima, oferecemos quatro curtos registros de observações das crianças, dizendo, “Gostei muito. Vocês podem usar
extraídos de fitas de vídeo gravadas na Escola Diana em
mais papei. Se quiserem algo, digam-me”.
1988 e 1990. Eles ilustram diferentes tipos de comporta-
As 9:28, ela entra em uma pequena sala que é um ane-
mento dos professores vistos geralmente nas pré-escolas
xo da sala de aula. Duas meninas estão sentadas em uma
de Reggio Emilia.
mesa. Uma está desenhando com canetas. Giulia Notari dá
à primeira menina mais materiais de desenho, depois vai
O professor Dá Início à Ação das Crianças
até à outra.
Neste episódio (24 de maio de 1988, gravação em ví-
deo realizada pela equipe de pesquisas), a professora Giulia “Bem, então, será que devemos procurar o trabalho
Notari age como “uma ofertante de ocasiões”, ajudando as que você já começou? Vejamos, onde está?” Ela retira uma
crianças a fazer a transição da reunião matinal do grupo pasta de papel de uma gaveta e começa a manuseá-la,
para sua primeira atividade. Observe sua flexibilidade e cari- passando as páginas lentamente, dizendo: “Qual é o seu?
nho ao atender as necessidades de uma menininha que não Qual é? Qual é? Qual é?” A criança parece desanimada e
está pronta para o ingresso em uma atividade focalizada. não responde. O desenho da criança é localizado, e en-
São 9:23hs, na sala de aula das crianças de 3 anos, e a tão Giulia diz, “O que isto precisa? Você precisa de uma
reunião da manhã recém terminou. Durante esse encontro, caneta preta para continuar? ... Você quer trabalhar em
a professora Giulia Notari falou a todas as crianças sobre as outro desenho? Você quer outro papel para trabalhar com
atividades da manhã, envolvendo o tema da Primavera, que a cola? Você gostaria de ir brincar? Meu amor, o que você
estão trabalhando atualmente. Depois, sua co-professora, gostaria de fazer?” A criança desanimada não responde
Paola Strozzi, afasta-se com oito crianças para trabalhar a nenhuma de suas perguntas. Finalmente, a professora
com argila na piazza central da escola. Giulia supervisiona simplesmente abaixa-se, beija-a e fala com ela gentilmen-
as 12 crianças restantes. Move-se pela sala encorajando as te. Então, pega alguns livros de figuras de uma prateleira
crianças a iniciarem uma atividade, e passa alguns momen- alta e afasta o desenho.
tos com cada grupinho, estimulando-os à ação. Uma outra criança aparece na porta, pedindo ajuda, e
Por exemplo, em uma mesa, ela mostra um grupo de Giulia diz: “Estou indo, querida”. Ela deixa a menininha en-
quatro crianças os materiais que ali estão. “Sintam, este pa- xugando suas lágrimas e folheando um livro. Enquanto sai,
pel e diferente do outro”. para e elogia o desenho da primeira menina.
“Ele é frio”, diz uma criança.
“É, ele é frio”, ela concorda. “É frio. E aqui esta outro pa- A Professora Oferece Instrução sobe o Uso de Fer-
pel, também diferente. E olhem, aqui estão os marcadores, ramentas e Técnicas
o giz e o lápis de cera, todos amarelos”. São 9:34 da manhã (24 de maio, 1988), no grande es-
NOTA DO TRANSCRITOR: Há a fotografia de um de- paço compartilhado (piazza), onde a co-professora Paola
senho que indica as localizações das salas de aula de uma Notari está trabalhando com oito crianças de 3 anos e
escola. com grandes quantidades de argila. Ela oferece instrução
Abaixo da figura está escrito: “Planta da sala de aula às crianças sobre o uso correto dos materiais e de ferra-
para crianças de 5 anos na Escola Diana. os pontos indicam mentas como parte do processo de facilitação, apoio e
a distribuição típica de crianças durante atividades matinais.” encorajamento.
22
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Quando indagada sobre isso, diz que tenta oferecer a Terminando de preparar a nova porção de argila, leva-a
ajuda e os conselhos necessários para que as crianças atin- para a outra menina que a solicitou. Vendo sua primeira
jam suas próprias metas artísticas e representativas e não peça, comenta:
sejam derrotadas pelos materiais. Por exemplo, ela sabe “Olhe esta maravilha! Agora você precisa pensar no que
que a argila pode quebrar-se se for enrolada em tiras mui- mais quer fazer. Você poderia colocar as mesmas marcas
to finas e que as crianças ficariam desapontadas. (na nova porção de argila) que na outra. Ou você poderia
As crianças estão sentadas em torno de uma grande colocar esses pedaços dobrados, ou de pé”. Ela demons-
mesa retangular, enquanto Paola esta de pé e movimentas- tra, usando pequenas tiras de argila. A menina tem em sua
se entre elas. Na frente de cada uma das crianças está uma mão um cortador de massa, que move sobre a porção de
grande prancha de madeira sobre a qual trabalharão com argila sem dizer coisa alguma.
a argila. Paola está preparando para cada criança uma fatia Paola continua: “Você apenas quer cortar com esta rodi-
plana de argila. Ela corta um bocado de argila, aplai- nha, não é mesmo? Ela realmente faz marcas muito bonitas!”
na-a com um rolo de massa, corta os lados para fazer um Paola vai ao lado oposto da mesa onde uma criança
quadrado, oferecendo-os às crianças. Ela está usando uma muito pequena parece estar tendo dificuldades, pergun-
faca para cortar a argila e diz: “Podemos usar esta ferra- tando a ele:
menta para cortar a argila quando ela está bem grossa”. “Posso limpar isto para você?” Sua mão alisa o bolo de
As crianças têm muitas ferramentas para cortar e en- argila, deslizando sobre ele. Ela explica: “É como um apa-
rolar, perto dali. Estão trabalhando no problema de “re- gador. Mostrarei a você como usar esta ferramenta (um
presentar movimento em uma superfície”. Com uma faca, cortador). Você pode fazer uma tira fina, como esta, e do-
podem cortar um pedaço de argila, depois dobrá-lo muitas brá-la ou erguê-la”.
vezes para dar uma sensação de movimento na superfície Ela mostra a ele como erguer a extremidade da tira.
do naco. (Ela explica depois que algumas das crianças não Depois, coloca o cortador nas mãos do menino e, de pé
conseguem dar qualquer sensação de movimento em sua atrás dele, orienta-o no uso de ambas as mãos. “Com esta
argila. Mas Paola não interfere e insiste em sua ideia de mão, segure a argila. Agora com esta outra mão, empurre
movimento. Uma vez que todas as crianças estão muito en- com força.
Mais. Assim. Tudo bem? Agora você pode fazer isto”.
volvidas no que estão fazendo, ela não impõe suas próprias
Às 9:41, ela pergunta a todas as crianças: «Vocês que-
ideias a elas. Entretanto, instrui as crianças sobre questões
rem mais argila? Eu posso ir pegar».
de técnica - mostrando-lhes como enrolar e cortar a argila
“Eu também!”, “Eu também!”, gritam todas as crianças.
e como usar as ferramentas).
“Muito bem”, Paola diz, “Estou indo buscar mais”. Ela
Às 9:34 Paola Notari é vista usando uma espátula para
sai da sala por alguns minutos, deixando as crianças so-
dar uma porção recém-enrolada de argila a uma criança.
zinhas por alguns momentos. A observação continua da
“Você precisa disto?”, ela pergunta. Diz a uma outra: “Você
mesma maneira, quando ela retorna.
está pressionando muito. Se pressionar demais, não po-
derá erguer a argila e então não poderemos cozinhá-la na A professora Transforma uma Disputa em uma Hi-
estufa. Não pressione muito.” Depois uma outra criança di- pótese a Ser Testada
rige-se a ela: “Isto está bom?” São 9:12 de uma manhã do final de maio (1990, gra-
“Sim, sim”, Paola responde. “Está bom. Se você quiser vação feita pela equipe de pesquisas) e a professora Laura
outra porção de argila, posso preparar uma”. Rubizzi senta-se com crianças de 5 anos em uma mesa em
NOTA DO TRANSCRITOR: Há uma fotografia de várias uma pequena sala fora do atelier. Seu grupo está envolvido
crianças e professoras debruçadas sobre alguns papéis, em um projeto para a preparação de um “livreto de instru-
conversando entre si. Abaixo da figura está escrito: “Crian- ções” sobre a escola, para remetê-lo às crianças pequenas
ças e professora discutindo um projeto.” FIM DE NOTA. Ela que ingressarão na Escola Diana no outono seguinte. O
observa uma pequena divergência entre duas crianças. grupo de três meninos e três meninas decidiu, entre outras
Uma quer o cortador de massa que a outra está usan- coisas, incluir no livreto de boas-vindas algumas orienta-
do. Esta protesta “É meu. Eu estava com ele antes”. ções sobre como encontrar o atelier.
“Mas são todos iguais”, Paola diz, apontando mais cor- Contudo, como comunicar essas orientações? Em uma
tadores. discussão ocorrida no dia anterior, uma menina, Giulia,
“São realmente todos iguais”. Ela aproxima-se mais e propôs que, uma vez que as crianças pequenas não sabem
a primeira criança mostra-lhe que na verdade o cortador ler, o grupo deve, em vez disso, desenhar uma figura. Silvio,
desejado deixa um tipo diferente de marca na argila. Paola entretanto, disse que as crianças pequenas falam de um
então diz: jeito diferente das crianças maiores, de modo que devem
“Oh, estou vendo. Bem se você olhar na caixa de fer- escrever suas instruções em “rabiscos” para falarem a lin-
ramentas, você poderá encontrar outro lá, precisamente guagem de crianças de 3 anos.
igual a este”. A criança vai olhar na caixa, contente. Os outros discordam veementemente! Um desenho
Paola começa a preparar uma porção de argila para com rabiscos não seria bom!
uma das meninas e, enquanto faz isso, olha para a criança à Laura deu uma sugestão construtiva, de que as crian-
sua frente: “O que você está fazendo? pergunta. O menino ças desenhem ambos os tipos de figuras para ver qual fun-
mostra, e Paola diz: “Hmm, está bom!” ciona melhor.
23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Assim, ao final de seu tempo, as crianças prepararam do grupo. Esta é a fila daqueles que selecionam o dese-
dois desenhos. Silvio fez seu diagrama com rabiscos, en- nho com rabiscos. De acordo com vocês, qual é a fila mais
quanto Giulia fez um desenho de uma criança jogando no longa?” O grupo aponta decisivamente para a fila atrás de
videogame na pequena sala próxima do atelier. Para testar Giulia. “Esta aqui!” dizem.
que desenho comunica melhor, o grupo propõe entrar na Agora são 9:26. Laura abaixa-se e fala diretamente com
sala de aula das crianças menores na Escola Diana e per- Silvio, a sós. Depois ergue-se novamente e diz: “Ok., obrigada
guntar a elas: “Que figura vocês preferem? Qual delas vo- a todos vocês! Voltaremos para a nossa sala”, e todos saem.
cês entendem?” Cristina, uma outra menina, observa que As crianças de 5 anos chegam na sala, tomam seus
eles deveriam mostrar o desenho a um grupo de crianças lugares e começam a discutir o desenho de um mapa de
contendo um número igual de meninos e meninas, pois as sua escola para o livreto, e todos, incluindo Silvio, parecem
meninas compreenderão melhor o desenho de Giulia, en- igualmente contentes e envolvidos.
quanto os meninos entenderão o desenho de Silvio.
Portanto, às 9:18 vemos as seis crianças de 5 anos de A Professora Encoraja as Crianças a Solucionarem
suas Próprias Disputas
pé, com Laura Rubizzi, na posição central do círculo onde
Falta pouco para o almoço (Primavera, 1990, gravação
todas as crianças na sala de aula de 3 anos estão sentadas,
em vídeo feita pela equipe da Escola Diana) e dois meninos
junto com suas professoras, Paola Strozzi e Giulia Notari. de 5 anos, Daniele e Christian, estão arrumando as mesas
Observe como as professoras cooperam para salientar o para sua turma. Nesta escola, as crianças recebem maior
interessante problema a ser resolvido por uma comparação responsabilidade na preparação da mesa para o almoço
de ideias, e como Laura, sem aumentar ou chamar a aten- conforme sua idade. As crianças de 5 anos revezam-se,
ção para a possibilidade de magoar sentimentos, oferece decidindo quem sentará onde. Os professores da escola
apoio a Silvio em um momento particularmente delicado. acreditam que seu sistema de deixar que algumas crianças
Laura diz a seus ansiosos alunos de 3 anos: “Temos um coloquem a mesa e decidam sobre o arranjo de lugares
problema grande, bem grande”. A criança, Giulia, começa funciona melhor e mais de acordo comsua filosofia do que
a explicar por que eles precisam descobrir que desenho ter uma ordem fixa para a posição dos alunos à mesa (con-
funciona melhor com crianças de 3 anos; Laura assume e, trolada pelos professores) ou
permanecendo próxima a Giulia, olhando para ela, gesti- permitir a livre escolha para todos no momento de
cula e faz comentários para tornar a explicação mais clara. sentarem-se a mesa.
Depois a professora, Giulia Notari, olhando para os rostos Daniele e Christian estendem as toalhas, colocam os
de seu grupo de 3 anos, fala como se por eles, repetindo pratos e talheres e decidem onde todos irão sentar, co-
os pontos principais. Enquanto termina, são ouvidas vozes locando seus guardanapos individuais (cada um em um
por todo o círculo, à medida que as crianças de 3 anos ofe- pequeno envelope com o nome da criança bordado). En-
recem suas opiniões iniciais. quanto trabalham, outro menino entra e pede para sentar-
Laura reúne-se com seus alunos de 5 anos em uma -se próximo a
rodinha fechada, para elaborarem um plano sobre como um determinado garoto. Os encarregados de colocar a
prosseguir a partir daí. Então, com seu auxílio, eles estão mesa concordam e ele sai. Então uma menina, Elisa, entra
prontos: Silvio e Giulia ficam no centro do círculo das crian- e pergunta:
ças de 3 anos, segurando entusiasmadamente seus dese- “Com quem vocês me colocaram?” Daniele responde:
nhos. Laura diz que crianças de 3 anos virão, estudarão os “Olhe você mesma”. Ela diz: “Bem, Daniele, você não
dois desenhos, decidirão qual deles comunica melhor as quer me dizer onde me colocou?”
Nesse meio-tempo, outras crianças chegam. É difícil
intenções, depois ficará atrás do menino ou menina que
acompanhar exatamente o que dizem, já que estão lutando
segura o desenho. Junto de Silvio e Giulia, estão os alu-
com as tampas das garrafas de água mineral, o que distrai
nos restantes, de 5 anos; sua tarefa será decidir qual fila de
Daniele e Christian da solicitação de Elisa. Eventualmente Da-
crianças é a mais longa. niele diz, mostrando a ela um dos envelopes de guardanapo:
Giulia Notari seleciona, um por um, alunos de 3 anos “Este é o seu?” Ela responde que sim. Christian comenta:
para a escolha do desenho. Um menino dá um passo à “Próximo de Michele”. Isso obviamente desagrada Eli-
frente, estuda os desenhos, aponta para o de Silvio, depois, sa, que protesta, “E eu não gosto disso”.
com o auxílio da professora, assume seu lugar atrás de Sil- A professora, Giulia, entra e observa a disputa. Daniele
vio. Outro menino vem, aponta para o desenho de Giulia, pergunta a Elisa: “Você não quer sentar ao lado de Michele?”
depois retorna a seu lugar, embora a professora lhe diga Ela diz: “Não! Finalmente você entendeu!”
para ficar de pé atrás de Giulia, A criança seguinte também Giulia olha para a segunda professora, que está gravan-
aponta para o desenho de Giulia e depois vai postar-se do a cena em silêncio, e toma a decisão de não interferir.
corretamente atrás de “Cheguem a um acordo, vocês dois”, ela diz às crianças.
Giulia. Agora o sistema está funcionando. Um outro “Elisa, chegue a um acordo com eles”. Ela volta a sala ao lado.
menino fica atrás de Silvio. Então as quatro crianças se- Christian tenta descobrir com quem Elisa sentará, de-
guintes escolhem o desenho de Giulia e assumem seus lu- pois explica que ela deve sentar onde a colocaram. Ela
gares atrás dela. grita: “Está bem!” e sai, furiosa, batendo o pé e também
Nesse ponto, Laura decide que a questão foi resol- a porta, Christian corre atrás dela, chamando seu nome e
vida e que deve intervir: “Muito bem”, afirma, olhando trazendo-a de volta à sala de aula. Ele pergunta duas ve-
para seu pequeno grupo de juízes, dizendo: “Crianças zes: “Você quer sentar perto de Maria Giulia?” Ela continua
24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
zangada. “Faça como quiser!”, grita. (Mais tarde, discutindo apropriar de toda a complexidade da língua escrita. Tais hi-
a situação, a professora Giulia Notari afirmou que julgou póteses, baseadas em conhecimentos prévios, assimilações
apropriado minimizar a situação e deixar que as crianças a e generalizações, dependem das interações delas com seus
manejassem sozinhas. pares e com os materiais escritos que circulam socialmente.
Elisa frequentemente apresenta essas reações, observou Para a Teoria da Psicogênese, toda criança passa por
e, assim, esta situação não seria muito dolorosa para ela). níveis estruturais da linguagem escrita até que se aproprie
(http://www.todosnos.unicamp.br:8080/lab/acervo/ da complexidade do sistema alfabético. São eles: o pré-si-
capitulos/EDWARDS_Parceiro%2CPromotorDeCrescimen- lábico, o silábico, que se divide em silábico-alfabético, e o
toEGuia-OsPapeisDosProfessoresDeReggioEmAcao_IN_As- alfabético Tais níveis são caracterizados por esquemas con-
CemLinguagensDaCrianca_pp159_176.doc/view) ceituais que não são simples reproduções das informações
recebidas do meio, ao contrário, são processos construti-
vos onde a criança leva em conta parte da informação rece-
bida e introduz sempre algo subjetivo. É importante salien-
tar que a passagem de um nível para o outro é gradual e
FERREIRO, EMÍLIA; TEBEROSKY. ANA. depende muito das intervenções feitas pelo/a professor/a.
PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA. PORTO Os níveis de escrita, segundo a Psicogênese da Língua
ALEGRE: ARTMED, 1986. FALK, JUDITH Escrita:
(ORG.). EDUCAR OS TRÊS PRIMEIROS ANOS: - O aprendizado do sistema de escrita alfabética não se
A EXPERIÊNCIA DE LÓCZY. ARARAQUARA: reduz a um processo de associação entre grafemas (letras)
e fonemas (sons).
JM EDITORA, 2004.9. - O sistema de escrita alfabética não é um código que
se aprende por memorização e fixação, pelo contrário, é um
objeto de conhecimento que foi construído socialmente
Para a Teoria da Psicogênese, toda criança passa por
FERREIRO, EMÍLIA; TEBEROSKY. ANA. PSICOGÊ- níveis estruturais da linguagem escrita até que se aproprie
NESE DA LÍNGUA ESCRITA. PORTO ALEGRE: ART- da complexidade do sistema alfabético. São eles: o pré-si-
MED, 1986. lábico, o silábico, que se divide em silábico-alfabético, e o
A Psicogênese da Língua Escrita é uma abordagem psi- alfabético Tais níveis são caracterizados por esquemas con-
cológica de como a criança se apropria da língua escrita e ceituais que não são simples reproduções das informações
não um método de ensino. Portanto, cabe aos profissionais recebidas do meio, ao contrário, são processos construti-
da educação, fazer a transposição desta abordagem para a vos onde a criança leva em conta parte da informação rece-
sala de aula, transformando os estudos em atividades pe- bida e introduz sempre algo subjetivo. É importante salien-
dagógicas tar que a passagem de um nível para o outro é gradual e
De acordo com a Psicogênese da Língua Escrita, o depende muito das intervenções feitas pelo/a professor/a.
aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao Texto adaptado: Emília Ferreiro e Ana Teberosky
domínio de correspondências grafo-fonêmicas (a deco-
dificação e a codificação), mas se caracterizaria como um
processo ativo no qual a criança, desde seus primeiros con-
tatos com a escrita, constrói e reconstrói hipóteses sobre a FARIA, VITÓTIA; SALLES, FÁTIMA.
sua natureza e o seu uncionamento. CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
Os pressupostos dessa abordagem psicológica são:
DIÁLOGO COM OS DEMAIS ELEMENTOS DA
A alfabetização na perspectiva construtivista é concebida
como um processo de construção conceitual, contínuo, PROPOSTA PEDAGÓGICA. 2ª ED. SÃO PAULO:
iniciado muito antes da criança ir para escola, desenvol- ÁTICA, 2012.
vendo-se simultaneamente dentro e fora da sala de aula.
Alfabetizar é construir conhecimento.
Portanto, para ensinar a ler e escrever faz-se necessário DIAS, Fátima Regina Teixeira de Salles; FARIA, Vitória Lí-
compreender que os/as alfabetizando/as terão que lidar bia Barreto de.Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os
com dois processos paralelos: as características do sistema elementos da Proposta Pedagógica. São Paulo: Scipione, 2007.
de escrita e o uso funcional da linguagem. O livro foi escrito a partir das experiências e dos co-
(...) a criança procura ativamente compreender a na- nhecimentos construídos ao longo da carreira das autoras
tureza da linguagem que se fala à sua volta, e...tratando com relação à Educação Infantil.
de compreendê-la, formula hipóteses, busca regularidades, Ele foi compilado em três capítulos. No primeiro inti-
coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gra- tulado “O currículo como um dos elementos da Proposta
mática. (...) ao tomar contato com os sistemas de escrita, a Pedagógica”, as autoras discutem sobre a Proposta Peda-
criança, através de processos mentais, praticamente rein- gógica como parte do currículo, sendo ela a construção da
venta esses sistemas, realizando um trabalho concomitante identidade, da organização e da gestão do trabalho peda-
de compreensão da construção e de suas regras de produ- gógico dentro da escola.
ção/decodificação. Esse processo de construção é imbuído de crenças,
Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as crianças valores, concepções que exercem e sofrem influências na
elaboram conhecimentos sobre a leitura e escrita, passando ação pedagógica como também no processo de avaliação
por diferentes hipóteses – espontâneas e provisórias – até se seja da instituição, seja dos alunos.
25
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A proposta pedagógica está ainda referendada por leis Portanto, é fundamental o professor de Educação In-
que normatizam sua estrutura e seu papel histórico nas lu- fantil participar da elaboração da proposta pedagógica da
tas por conquistas na Educação Infantil, por isso faz neces- instituição na qual está inserido, conhecer o currículo da
sário na sua elaboração observar alguns critérios, tais como: Educação Infantil, refletir sobre sua execução na prática de
os objetivos (Para quê?), a quem se destina (Para quem?), sala de aula para poder opinar sobre o que funciona ou não,
os sujeitos de sua elaboração (Por quem é elaborada?) rea- na prática cotidiana. Mas para isso é necessário o conheci-
firmando a necessidade de um trabalho coletivo e reflexivo mento e uma prática pedagógica reflexiva, uma participação
sobre a prática educativa desenvolvida na escola. efetiva dentro da escola, sendo um colaborador constante,
As autoras chamam a atenção a respeito da articula- um profissional engajado e preocupado com o bem maior
ção da proposta pedagógica da escola com as normatiza- da instituição de educação infantil que são as crianças.
ções referendadas pelos Conselhos de Educação devendo A leitura do livro é de suma importância para pesqui-
ser contempladas nas instituições de Educação Infantil par- sadores, gestores, professores e estudantes que se interes-
ticularidades das dimensões do cuidar-educar.
sam pelo universo da Educação Infantil.
O primeiro capítulo é concluído considerando que é
Vitória Líbia Barreto de Faria é graduada em História
importante na elaboração da proposta pedagógica a inclu-
pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Educa-
são da história da instituição, o contexto em que ela está
inserida, sua estrutura, sua filosofia e as intenções quanto à ção pela Universidade Federal de Minas Gerais. Fátima Re-
organização do tempo, do espaço e da gestão do trabalho, gina Teixeira de Salles Dias é graduada em Psicologia pela
incluindo o currículo. Universidade Federal de Minas Gerais com especialização
No segundo capítulo, “O currículo na Educação In- em Educação Infantil.
fantil: as relações da criança com os conhecimentos da na- Gina Morais Silva, pós-graduanda do Curso de Especia-
tureza e da cultura”, as autoras partem da concepção de lização em Educação Infantil pela Universidade de Brasília e
criança, de suas formas privilegiadas de aprender e de se professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito
desenvolver em uma perspectiva sociocultural. Além disso, Federal.
discutem o papel da escola e da instituição de educação in- (http://blogeducacaoinfantilrumosedesafios.blogspot.
fantil na constituição da identidade da criança como sujeito com/2011/09/resenha-do-livro-curriculo-na-educacao.html)
histórico-cultural e ainda mostram os conhecimentos, ati-
tudes, procedimentos e valores que devem ser trabalhados
apresentando as diversas possibilidades de apropriação,
criação e recriação da cultura dentro de conhecimentos
formais e informais sobre as linguagens, a sociedade e a FERREIRO, EMILIA. CULTURA ESCRITA
natureza. E EDUCAÇÃO: CONVERSAS DE EMILIA
Nessa fase de 0 a 6 anos a criança está em pleno de- FERREIRO COM JOSÉ ANTONIO CASTORINA,
senvolvimento físico-motor construindo as relações com o DANIEL GOLDIN E ROSA MARIATORRES.
mundo que a cerca, com o outro, com os objetos, começam PORTO ALEGRE: ARTMED, 2001
a adquirir e desenvolver sua capacidade simbólica, a fase
da brincadeira, da imitação, desenvolvendo assim múltiplas
linguagens que nessa fase da Educação Infantil é essencial,
assimilando a cultura historicamente construída, e produ- Em “Cultura escrita e educação”, descreve-se como a
zindo também cultura e conhecimentos numa perspectiva perspectiva obriga a recolocar aspectos tão importantes
de mundo numa visão macro, globalizada e informatizada.
como o que é errado e qual o seu papel na construção do
A escola nesse processo é caracterizada como um es-
conhecimento, o que é legitimo esperar dos métodos de
paço de acesso a conhecimentos ditos como formais que
ensino, o papel do docente na aprendizagem, as fronteiras
permitem novas formas de pensamento e comportamento
construídos historicamente e culturalmente pela humani- do sistema escolar etc. O fio da pesquisa iniciada na des-
dade através de interações entre os sujeitos e de forma coberta de teorias espontâneas das crianças sobre a escrita
intencional. Por isso, cabe ao professor promover inten- conduz à recolocação das relações no interior do sistema
cionalmente aprendizagens significativas para as crianças educativo e, mais importante ainda, à análise da localização
conduzindo-as para esses conhecimentos historicamente desse sistema no âmbito social. “A escrita é importante na
acumulados. escola, por que é importante fora dela e não o contrário”,
E por fim no terceiro capítulo cujo título é “O currícu- uma afirmação, sobre a qual Ferreiro volta continuamente,
lo em ação na Instituição de Educação Infantil”, as autoras já se anunciava nessa obra fundadora como um diagnós-
mostram experiências práticas mostrando como os diver- tico do que era a escrita no sistema educativo (um objeto
sos elementos da Proposta Pedagógica se articulam no fa- meramente escolar) e, ao mesmo tempo, uma proposta
zer cotidiano dos professores que trabalham com crianças do que deveria ser para contribuir com a democratização
de 0 a 6 anos. da língua escrita. A obra também nos mostra como a veia
Essa articulação se dá através das metodologias ado- aberta nessa aventura pioneira, longe de se ter esgotado,
tadas pelo professor e se baseiam através das crenças, va- continua sendo fonte de achados transcendentes. As per-
lores e concepções que o profissional tem sobre educação, guntas formuladas conduziram a novos achados e a novas
currículo, criança e, além disso, envolvem posturas, atitu- indagações, que agora são feitas de acordo com a recolo-
des, procedimentos, estratégias e ações. cação da cultura escrita em outras ciências.
26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Este livro é o resultado de sete sessões de conversas os fenômenos de repetência inicial porque o fracasso es-
que Emilia Ferreiro teve com José António Castorina, Rosa colar inicial está centrado na língua escrita. Antigamente, a
Maria Torres e com Daniel Goldin, entre dezembro de 1995 visão que existia era a instrumental, segundo a qual escrita
e fevereiro de 1996. é uma técnica de transcrição de sons em formas gráficas e
Primeira Jornada - A alfabetização como problema teó- vice-versa.
rico e políticoA primeira jornada relata a gênese do projeto Ferreiro então argumenta: “Dessa perspectiva técnico-
e permite ao leitor uma compreensão cabal dos diversos -instrumental nada há que conhecer, simplesmente há coi-
planos imbricados no campo da aquisição da língua escrita. sas para memorizar e reter...”. Nesse sentido, Emilia afirma
Destacam-se as complexas relações entre a aproximação que uma visão psicológica prévia deve estar vinculada à
teórica e as práticas educativas, que trazem à discussão a metodologia de ensino, deixando de lado a visão instru-
dimensão política implícita na Educação. Os testes: uma mental que se tinha. Isso foi difícil porque o conhecimento
questão teórica? Emília Ferreiro cita que o problema dos sobre a escrita estava em estado virgem, e poucos linguis-
testes pode ser visto como um problema acadêmico e po- tas da época falaram sobre o assunto. A construção de um
lítico. Recebera muitas propostas para elaborá-los, mas os novo objeto conceitual Ferreiro afirma que, para gerar no-
considerava um negócio editorial e meros instrumentos de vas práticas alfabetizadoras mais democráticas, é preciso
discriminação. Ela sabia que era difícil propor uma política promover pesquisas, e consequentes práticas.
de não-discriminação. Seu argumento era: enquanto a lín- Deve-se mudar a ideia preestabelecida do objeto de
gua escrita não estiver democraticamente distribuída entre estudo, e apoiar-se sobre mudanças já realizadas. Alfabeti-
a população, o acesso à informação vinculada à língua es- zação implica um trabalho conceitual e o problema reside
crita tampouco será acessível de uma maneira igualitária, na concepção do sistema da escrita como sistema de re-
e qualquer prova de conhecimento sobre a língua escrita, presentação, e não na noção pontual dos aspectos sonoros
aplicada no começo do Ensino fundamental, terá um efeito da linguagem. Este problema tornou-se aparente, paulati-
discriminador. Não era questão de substituir um mau teste namente, a partir de seus estudos. A pesquisadora formou
por outro melhor, mas ir contra essa política. um grupo na Argentina que gostaria de aprender mais
Começar a pensar a aquisição da língua escrita sobre a escrita. Ele era formado por Ana Teberosky, Alicia
A autora relata que começou sua pesquisa na década Lenzi, Suzana Fernández, Ana Maria Kaufman e Delia Ler-
de 70, após a conclusão de sua tese, em Genebra. Buenos ner. Todas estavam convencidas da importância da escola
Aires estava em meio a um processo de transição política, o pública, e da necessidade de garantir o direito à alfabetiza-
que dificultou sua vida profissional na universidade. Então, ção. Inicialmente, elas interrogaram crianças de seis anos,
passou a trabalhar com seu marido, em Montevidéu; isto e logo depois partiram para a faixa dos três anos, e as opi-
coincidiu com o interesse pelo estudo do uso da lingua- niões inesperadas apareceram. Apresentavam às crianças
gem oral no início do Ensino Fundamental. Ao fazer este algumas palavras que sabiam ser usadas pelos professores,
trabalho, Ferreiro percebeu que a enorme quantidade de e perguntavam se elas as conheciam, usaram o método da
intercâmbios linguísticos tinha a ver com a escrita. A língua palavra geradora, ou seja, que consiste em apresentar uma
escrita passou a ser encarada como uma espécie de passa- palavra, dividi-la primeiro em sílabas e logo depois em le-
gem inevitável pela escrita para voltar à língua oral. tras. Depois vai se juntando, isto é, fazendo o processo in-
Voltou-se à língua oral, mas em termos completamen- verso - decompor e recompor.
te distintos. A pesquisadora acredita estarem vinculadas a Algumas crianças disseram coisas muito interessan-
perspectiva puramente metodológica e a ideia de que as tes, mas não foram obtidos resultados reveladores, pelo
condições de aprendizagem da escrita são puramente uma menos naquele momento. Configurou-se, na pesquisa, o
lista de habilidades sensório-motoras, mas que elas não ingrediente de formação piagetiana: em um modelo de ex-
são iguais. Ela cita que lutou contra os métodos, apesar perimentação em que se trabalham com respostas corretas
deles serem muito discutidos. Em consequência disso, hoje e erradas, as respostas exóticas não causam dificuldade, só
alguns concluem que essa posição não conduz a nenhuma são mais uma das erradas. Todavia, com a formação piage-
alternativa metodológica, ou que tais desenvolvimentos tiana clássica, sabemos que justamente as respostas que
teóricos inibem qualquer possibilidade de considerar alter- apresentam desvios são as que dão melhor informação
nativas pedagógicas gerais ou didáticas específicas. para entender como se pensa antes de pensar convencio-
O que não se compreende é que são momentos de nalmente e como se chega a pensar convencionalmente.
um processo. Ao começar sua pesquisa, foi necessário re- Quando as crianças conseguem coordenar as semelhanças
colocar a discussão: “Vamos por os métodos entre parên- e as diferenças entre duas escritas, sendo uma transforma-
teses; vamos fazer distinção necessária entre método de ção da outra, a interpretação das mesmas é resolvida man-
ensino e processo de aprendizagem”. Segundo Emilia, a tendo-se uma família semântica. Esse princípio é o mesmo
proposta metodológica deve considerar os processos de na história da escrita principalmente os textos de Gelb e
assimilação, que são mecanismos fundamentais para aqui- Cohen. Gelb considerou as escritas silábicas como prévias
sição de conhecimento. Toda proposta do adulto, para ser às alfabéticas e isso foi visto nas crianças: no momento em
realmente entendida, deve ser assimilada pela criança. No que começam a entender que os rabiscos (as letras) têm
início da vida escolar é que são detectadas as dificulda- algo em comum com pedaços da linguagem, buscam uni-
des com a escrita. E, realmente, saber o que acontece com dades menores que as palavras e encontram a sílaba. De
aprendizagem da leitura é um dado crucial para entender diversos pontos de vista, é mais racional que se chegue a
27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
fazer um recorte em sílabas do que em fonemas; o fonema O estudo de um novo campo no diálogo entre Goldin e
é uma entidade muito abstrata.Sociogênese e psicogênese Ferreiro, é citado que historiadores começam a documen-
da língua escritaEmilia Ferreiro afirma que é um ponto de tar práticas de leitura que abrangem outras disciplinas, o
vista muito conflitante a semelhança entre certos proces- que ajuda na compreensão da complexidade da alfabe-
sos da história em geral e a biografia particular. tização. As fronteiras entre as disciplinas começam a ser
Em Piaget, não há uma ideia central de que a psico- derrubadas, e inicia-se uma leitura antropológica, histórica,
gênese recapitule a sociogênese. Existe, sim, a ideia que, linguística e também psicológica da escrita. Isso modifica a
tanto no desenvolvimento histórico como no individual, concepção da escrita, pois abre espaço para diálogos iné-
certas dificuldades epistemológicas necessitam ser supera- ditos. Ferreiro cita o exemplo da história evolutiva, como
das para que se alcance a compreensão de certos objetos, era conhecida a história da escrita nos anos 80. Ela começa
ainda que o conteúdo dessas ideias e conceitos seja dife- com sistemas pictográficos que depois se transformam na
rente em cada caso. A ideia de dificuldade epistemológica, possibilidade de utilizar um desenho não para referir-se ao
e onde se situa tal dificuldade, importa mais do que as so- objeto em questão, mas para aludir a outro objeto cujo
luções particulares que foram sendo encontradas. Ferreiro nome soasse igual. Na história evolutiva, todos os sistemas
recorre à literatura sobre a história da escrita porque ela lhe prévios ao alfabeto foram considerados deficientes: faltava
forneceu outra maneira de pensar. Não poderia entender alguma coisa a todos. Eram considerados preparatórios até
o desenvolvimento da criança se partisse de sua própria a conquista do alfabeto.
hipótese como usuária de um sistema alfabético. Na lite- Este era considerado perfeito: simples, econômico, fácil
ratura psicológica, são filtradas todas as pressuposições de aprender; permitia escrever tudo que se quisesse. Mas
que um adulto alfabetizado tem. Ferreiro começou a ver com as novas descobertas, mudou-se a forma de apreciar
essa literatura de outra maneira, recuperando a visão do os fenômenos. Emilia cita o exemplo de Piotr Michalowsky,
alfabeto que nós mesmos temos. Ao estudar os fatos histó- que sustentou que os sistemas de escrita foram criados
ricos, a autora não estava buscando analogias, mas repen- como sistemas e que em sua origem são mistos, isso por-
sando seus próprios pressupostos. Ela relata que, com sua que no começo há signos ideográficos; há signos fônicos
pesquisa, ficou mais claro que a criança constrói sistemas que geralmente são silábicos e há signos silenciosos, que
indicam categorização dos elementos. Essa ideia não ad-
interpretativos que são baseados mais em correspondên-
mitia uma origem pictográfica dos sistemas. Esse conceito
cias de significados do que em correspondências sonoras.
se estendeu a outros acadêmicos, que também recusaram
E quando começa a estabelecer correspondências sonoras,
a ideia da pictografia como primeira etapa da história da
não iniciava com as unidades que pretendem os adultos,
escrita, porque era muito duvidoso que o que chamavam
que são os fonemas, mas com outro tipo de unidade: a
de “a ordem do desenho” tivesse evoluído até se tornar a
sílaba. Isso vai de encontro à visão escolar tradicional, que
escrita, afinal o desenho teve seu desenvolvimento próprio,
é atomística, alheia a toda noção de sistema. inclusive nesta época.
A domesticação da escrita na escola Ferreiro relata que naquele momento se deu conta do
A pesquisadora piagetiana afirma que a escrita não era que se faltava fazer em relação às escritas: renunciar ao
objeto de ninguém, com exceção do professor do primeiro protótipo da escrita perfeita, o alfabeto, e analisá-la por si
ano do Ensino Fundamental, que havia se apropriado dele mesma, sem compará-la ao protótipo. A partir daí, é pos-
de tal maneira que o havia transformado, ou seja, a es- sível ver a existência dos elementos não alfabéticos, como
crita havia sido transformada de objeto social para objeto a separação entre palavras, por exemplo, ou até mesmo a
escolar: a escola faz a domesticação do objeto. O objeto pontuação. A pesquisadora piagetiana afirma que a evo-
da escrita no mundo social é um objeto selvagem. A esco- lução histórica dos sistemas alfabéticos partiu do seguinte
la decide que letras e combinações são apresentadas em principio: introduziu elementos gráficos que apontam para
certa ordem e constrói sequências com a boa intenção de o semântico, para categorias do que se diz, violando os
facilitar a aprendizagem. Essa transformação da escrita em princípios alfabéticos. A partir da grande descoberta do
um objeto de propriedade escolar exclusiva fez com se per- alfabeto, foram introduzidas marcas que já não correspon-
desse algumas funções que a justificaram como objeto de diam aos princípios fundamentais de criação desse sistema.
importância social. A escrita transformou-se em um instru- Apenas recentemente as pessoas, inclusive os linguistas,
mento para passar de ano. Pesquisar e atuar Emilia cita que animam-se a falar do ideográfico dentro do sistema alfa-
a pesquisa que fez é a chamada básica, a qual foi útil para bético; porque antes, se falássemos desse tipo de coisas,
compreender fenômenos de aprendizagem ignorados até parecia que se faltava com o respeito à sua própria escrita.
então, mas sem ter pretendido de imediato modificar a rea- Os sistemas de escrita se desenvolveram por distin-
lidade. A pesquisadora apresenta, também, a importância tas necessidades sociais, deparando-se com o fato de que
da pesquisa para o professor como fonte de conhecimento não é possível mover-se em um só nível de análise. É com-
e novas práticas educativas. Isso influencia sua atuação em preensível que tanto os sistemas atuais como os originá-
sala de aula, pois possibilita a aplicação de novas ideias que rios sejam mistos, porque expressam os diferentes modos
surgiram a partir de pesquisas realizadas. Ela considera que de analisar as unidades linguísticas e a necessidade de dar
um professor deve ter uma atitude investigativa, porque conta desses diferentes modos de analisar unidades e ní-
isso quer dizer que é alguém que pensa e, portanto, conti- veis de análise que a própria escrita ajudou a descobrir.
nua aprendendo. E isso não cabe só ao professor: a atitude Todos esses achados permitiram ver aspectos do proces-
investigativa é boa para qualquer profissional. so de alfabetização que antes não podiam ser detectados.
28
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Segunda Jornada - Com e a partir de Piaget Ferreiro narra indicadores). Ele primeiro chamou-a de função simbólica e
aqui a formação na Faculdade em Buenos Aires, a sua mu- depois de função semiótica. A autora sustenta em sua tese
dança para Genebra e o encontro com a figura intelectual que a aquisição de um sistema de símbolos socialmente
que alterou o percurso de sua vida: Piaget. Mostra também individuais não é a mesma coisa que a de um sistema orga-
como, em afinidade com as posturas piagetianas, não se nizado. A escrita tem uma existência social além das von-
limitou a realizar uma tradução mecânica da teoria psico- tades individuais.
genética. A visão que Piaget concebe da infância não é uma vi-
Ela pertenceu à primeira geração de psicólogos argen- são adocicada, é a visão de um criador intelectual, de um
tinos que, junto com os professores, praticamente inventou alguém que põe ordem no caos da experiência e que re-
esse curso. Foi delegada estudantil no Conselho diretor da constrói a realidade para poder possui-la.
Faculdade e depois no Conselho Superior da universidade Terceira Jornada - A importância da reflexão teórica
de Buenos Aires. De suas lembranças, distingue dois tipos Talvez a maior densidade conceitual. Fala sobre a im-
de professor: o que fala a partir de uma prática, ou o que portância da teoria no campo da pesquisa cientifica em
fala somente a partir da leitura; estava se referindo às pes- matéria de educação e sobre os diferentes conflitos epis-
soas com grande capacidade pessoal que tinham se atuali- têmicos que motivam o desenvolvimento intelectual da
zado bastante para dar aulas, mas não tinham uma prática criança. São analisados temas como qual é o dado rele-
coerente com o seu ensino que o sustentasse. vante na pesquisa, e a autora explica porque o objeto de
Do mestre Piaget ficaram muitas lembranças e mui- seu interesse não é a escrita e nem a leitura, mas as ideias
tas lições. Mas, o que mais interessava era ver se a teoria que as crianças têm em relação à palavra escrita. Aborda-
de Piaget era realmente uma teoria geral de processo de -se também a discussão sobre se a escrita é representação
aquisição de conhecimento, em cujo caso deveria colocá-la ou codificação um tema que tem grande importância nas
a prova em campos que não tinham sido os campos de formulações pedagógicas relativas à língua escrita. O dado:
desenvolvimento fundamental da teoria. A psicolinguística leitura, escrita, ou as ideias sobre o escrito?
contemporânea estava sendo construída. Naquela época,
Paradoxalmente, Ferreiro diz que a ela não interessa
não se podia falar de linguagem sem se falar de Chomsky,
a leitura e nem a escrita, o que a interessa é que tipos de
porque suas ideias estavam revolucionando todo mundo.
ideias o sujeito constrói sobre o escrito. É importante con-
Ele convocou os psicólogos a mostrarem a realidade psico-
siderar que o dado que manejamos não é a folha produzi-
lógica do modelo linguístico, e aí começou uma nova era
da por uma criança. O dado é o resultado das condições de
da psicolinguística.
produção, que podem ser diferentes. O dado é a intenção,
Chomsky foi uma figura de referência, absoluta inevi-
tável. Os chomskianos dedicaram-se a estudar a linguagem o próprio processo de produção, que está pronto e a inter-
em termos de como uma criança faz para descobrir que a pretação que faz, uma vez que o produto está terminado
língua particular é falada. Não se tentava construir lingua- conforme seu ponto de vista, diz Ferreiro. Nem a leitura,
gens, mas sim descobrir, entre todas as línguas possíveis, nem a escrita lhe interessam porque sua intenção não foi
que a criança podia criar a partir de seus universais, qual fazer um modelo do processamento que ocorre no detalhe
se fala, aqui neste lugar. Essa criança não é criança pia- dos fatos para poder ler alguma coisa, senão que utilizou
getiana, mas tinha alguma coisa em comum: aproximar-se a leitura como um indicador a mais dentro de todos os
da realidade por meio de uma teoria. Ferreiro trabalhou indicadores que recolheu para entender que tipo de ideias
como auxiliar de pesquisa com Herminie Sinclair, que tinha sobre o escrito as crianças constroem progressivamente.
o primeiro grupo que realmente se dedicou à análise da Isso não altera o fato de que, em alguns trabalhos não
linguagem, e também trabalhou com Bärbel Inhelder, que tenha enfatizado a leitura como tal. No entanto, construir
notou o bom conhecimento em psicanálise de Ferreiro e a modelos de funcionamento de um leitor e um produtor de
convidou para ajudar nesse tem em seu curso sobre teo- textos seria fazer outra coisa, vinculada, mas diferente. Emi-
rias contemporâneas em psicologia do desenvolvimento. lia diz que se a escrita oferece uma representação, o leitor
Mas ela queria trabalhar com Piaget, e para isso, entrou no deve reconstruir o objeto que não está ali, mas que foi re-
Centro de epistemologia Genética, onde estava estudando presentado, deixando de lado muitas de suas propriedades
a casualidade, ou seja, noções e relações físicas elementa- essenciais para uma comunicação eficaz. Por outro lado,
res. Nesse tempo, Piaget possuía uma regra: dava oportu- é preciso levar em conta que para a criança uma escrita é
nidade a quem solicitava; caso se saísse bem, ótimo, senão, um conjunto de letras e não uma letra isolada, ou seja, um
adeus. Geralmente ele designava um problema e dizia “de- composto de partes. Assim concebida a escrita, a letra não
senvolvam-no”. é interpretável; o que é interpretável é a composição de
E assim ele o fez. Ferreiro deveria desenvolver um pro- partes. A pesquisadora cita o trabalho do linguista francês
blema difícil de movimento browniano. Felizmente, Emi- Claude Hagège, em que a escrita é uma análise linguística
lia conseguiu resolvê-lo; a partir daí, teve a confiança de com diversos graus de consciência. Uma língua escrita não
Piaget. Nesse meio tempo, conheceu Alina Szeminska, es- é uma língua oral transcrita, é um novo fenômeno linguís-
creveu com Piaget o livro sobre a gênese do número na tico e cultural.
criança e que a ajudou em muitas de suas pesquisas. A A escrita como representação
língua escrita a partir da teoria psicogenética Piaget pro- No processo de objetivação da língua, a escrita pare-
punha uma função semiótica geral a partir do momento ce cumprir um papel fundamental, assim como na reflexão
em que as crianças manifestam distinguir o significante do metalinguística, na criação de um vocabulário propriamen-
significado (jogo simbólico e linguagem são os melhores te metalinguístico e na reflexão gramatical, diz Ferreiro. A
29
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
escrita foi depreciada ao ser concebida como uma repre- certa medida, um ato de violência. O educador quer que a
sentação infiel da fala e, ao mesmo tempo, como uma sim- criança chegue a certo ponto, e não quer limitar-se a um
ples convenção, uma pura atividade artificial. A partir dessa ato de contemplação.
ideia puramente instrumental da escrita, há unidades na Contudo, concebe as ideias originais que as crianças
fala que têm correspondência com unidades no escrito. têm não como um conjunto de disparates ou ideias engra-
As unidades parecem ser dadas; pelo aspecto gráfico, çadinhas, mas como um sistema coerente, entenderá que
porque existem as letras, e pelo aspecto sonoro, porque construir teorias é algo muito próprio da infância e dos
os fonemas foram descritos. Emilia afirma que há um pro- adultos que continuam aprendendo, diz Ferreiro.
blema com os termos que usamos: “representação” é um Quarta Jornada – Itinerários
termo particularmente ambíguo e, em psicologia, é um ter- Faz-se revisão da trajetória intelectual e profissional de
mo que serve para tudo. Realmente, representação men- Ferreiro desde a publicação de “Psicogênese da língua es-
tal refere-se, sem dúvida, a um fenômeno interior, mas o crita”, e analisa-se como esse livro foi recebido. Mais uma
temo “representação” não tem por que aludir somente à vez evidencia-se a importância de dotar os professores de
interioridade. Representação é o conjunto de atividades espaços teoricamente sustentados para solucionar proble-
que as sociedades desenvolveram em graus diversos, que mas fundamentais, tais como a evasão escolar. Nessa jor-
consistem em dar conta de certo tipo de realidade, com nada, recapitula e anuncia as novas linhas de pesquisa em
certos tipos de propósitos, em uma forma bidimensional. É que trabalha atualmente.
necessário que tenhamos consciência de que a escrita é um A repercussão dos sistemas de escrita no desenvolvi-
sistema de representação cujo vínculo com a linguagem mento da criança
oral é muito mais complexo do que alguns admitem. A au- Emilia Ferreiro afirma que sua temporada no México
tora dá exemplos de casos de fenômenos de entonação deu-lhe muitas oportunidades de trabalhar com o público
tão importantes na comunicação oral: palavra com sentido que lhe interessava em sua pesquisa: as crianças de po-
irônico, depreciativo, elogioso, admirativo, não transcre- pulações marginalizadas, que não tinham contato com a
ve a entonação; não há representação da entonação não língua escrita, adultos analfabetos, grupos sociais para os
escrita equivalente a representação das palavras. Ferreiro quais a escolarização não é garantida e grupos indígenas.
afirma que quando as crianças começam a aprendizagem Sobre a publicação do livro “Psicogênese da língua escrita”,
sistemática da escrita, sabem que a entonação é muito im- Castorina atribui essa difusão extraordinária nos âmbitos
portante e sabem disso perfeitamente: sabem distinguir psicológicos e pedagógicos ao fato de ter produzido uma
perguntas de pseudoperguntas, afirmações, ordens, etc. revolução profunda nos enfoques tradicionais da psicolo-
Ressalta-se a importância do nome próprio; além de gia da alfabetização; produziu-se esse impacto porque as
ser uma identificação insubstituível, ajuda a reconhecer dificuldades nos processos de alfabetização tinham a ver,
que a ordem das letras no interior de uma palavra não é em boa parte, com a aplicação de teorias psicológicas total-
aleatória e que a primeira tem um valor de indicador fun- mente falsas sobre o problema. A pesquisadora diz que as
damental para o restante. Permite ter uma espécie de abe- pessoas que vinham de práticas inspiradas em Paulo Freire
cedário básico, com o qual algumas crianças conseguem receberam bem o livro. Encontraram algo que dava uma
escrever quase tudo, utilizando as letras de seu nome, mas resposta técnica e não somente ideológica, porque embora
em outra ordem. Teorizar para quê? Emilia Ferreiro justi- o livro não seja didático, e não pretenda sê-lo, permite a
fica seu interesse pelas ideias das crianças por causa de quem tem a inquietação de encontrar algo tecnicamente
sua formação piagetiana. “Se pensamos que os esquemas eficiente e que seja consistente em termos ideológicos de
assimiladores são realmente importantes para entender a pensar didaticamente.
realidade, acreditamos também na importância das teorias, No Brasil, considerou-se que essa proposta era con-
e as teorias são de ordem distinta, são teorias menores ou gruente com uma visão não-discriminadora, que não clas-
maiores, teorias mais gerais ou mais locais, mas enfim, teo- sificava as crianças em “as que não podem aprender” e “as
rias. O que procuro é como a criança teoriza sobre a escrita, que podem”, com uma ideia evolutiva que, por um lado,
porque quero contribuir para criar a ciência da escrita, e permite reconhecer conhecimentos prévios mesmo nas
essa ciência também será, em parte, uma reconstrução das crianças marginalizadas e, por outro, caracteriza o professor
teorizações que a “humanidade fez sobre a escrita”. como quem sabe mais, mas não como quem já sabe tudo.
Ferreiro relata que um dos benefícios que se tem em Os períodos de evolução: problemas conceituais
conhecer as ideias das crianças é pôr em xeque a ideia in- Ferreiro relata que o modo de periodizar o desenvolvi-
gênua que um adulto já alfabetizado tem sobre o que é mento da criança é sempre muito complicado. Tem-se uma
escrita. Uma das coisas que permite aos adultos relacio- periodização de tipo macro em que todos podemos con-
nados com o ensino da escrita repensarem sua própria cordar, mas, ao fazer uma periodização mais detalhada, co-
relação com a escrita é entender que a criança tem uma meça o problema do que é que se privilegia realmente. As
visão legítima sobre a escrita, mesmo sendo diferente. A denominações usadas pela autora são: pré-silábico, silábi-
legitimação da visão da criança passa por lhe reconhecer co, e alfabético. O período silábico alfabético é quando, às
a racionalidade e, no momento em que se estabelece isto, vezes, a criança analisa algumas sílabas em termos de sons
deve-se dialogar com essa racionalidade a partir de outra elementares, e outras, parece não analisar e propõe uma
racionalidade, e não simplesmente descartá-la. De alguma letra para uma sílaba e, às vezes, duas letras para uma sí-
maneira, a educação não é contemplação e, por isso é, em laba. Momentaneamente, ela descreveu como um período
30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
de transição, em que há um fenômeno misto, como algo a sua maneira. O professor deveria encarar isso como uma
ser superado, precisamente por que há uma oscilação en- oportunidade sensacional de capacitação e deixar de ser o
tre um e outro tipo de regularidade. depositário de uma tradição que não o habilita a trabalhar
Novas linhas de investigação com diversos livros.
O multilinguismo e alfabetização é um dos temas fun- A diversidade na escola e a escola frente à diversidade
damentais da escola do século XXI, diz Ferreiro. Ou aceita- Ferreiro diz que os espaços, os quais a cultura não es-
mos que a globalização corre parelha com o inglês como colástica criou para que outros espaços naturais da escrita
língua dominante, ou defendemos a pluralidade linguística dentro da sala de aula, geraram muito temores, porque pa-
como algo que enriquece a espécie humana. É necessário rece que se ultrapassou uma fronteira. Há tempos fala-se
aprender a alfabetizar em contextos multilíngues, nem se que a escola tem que se abrir para a realidade, deixar a
fale em bilíngues. Ferreiro afirma que antes é preciso de- realidade entrar, sair em busca da realidade. Mas isso não
nunciar certos preconceito. Toda investigação sobre bilin- acontece, as fronteiras entre o que é próprio e inerente
guismo em nível oral tem uma distorção muito forte, a de à escola e o que é exterior ainda estão muito marcadas.
considerar o bilinguismo como uma situação rara e o mo- No caso dos livros, ainda tem-se muito que fazer. Deve-se
nolinguismo como uma situação normal. “Até agora vimos romper as barreiras existentes entre os livros didáticos e os
a alfabetização em uma língua e em um sistema de escrita; não-didáticos. O professor deve aprender a lidar com mui-
com se atrever a pensá-la em mais de uma língua e em tos livros e deixar as crianças lerem, mesmo que seja uma
vários sistemas de escrita? leitura sem controle. Ler é um bem em si mesmo. Emilia
É preciso atrever-se a pensar que o multilinguismo é afirma que o problema do livro-padrão ou do livro didático
a situação normal e que talvez o monolinguismo seja um único está vinculado à criança única, à criança-padrão, à
déficit, ou seja, dar uma volta no eixo da normalidade». criança modelo interno ou personificado em algum de seus
Dentro das novas linhas de investigação, além da defesa da tantos perfis das crianças de quatro ou cinco anos.
pluralidade linguística como algo que enriquece a espécie Qualquer criança que difira do padrão que os profes-
humana, cita outro trabalho: a construção de unidades de sores de alguma maneira têm internalizado é uma possível
análise, em que se busca saber quais são as unidades do candidata a não avançar no ritmo desejado, a não chegar
falante pré-alfabetizado e quais as que reconhece na fala na meta estipulada. Segundo Emilia, negar a heterogenei-
depois de estar alfabetizado. dade e buscar a homogeneidade é querer aproximar-se de
Quinta Jornada - A escrita descontextualizada, a escola um modelo, quer dizer, de um padrão socialmente consen-
em seu contexto sual. Porém, isso acontece em todos os níveis. Deve-se ver
Nas três jornadas seguintes, o interlocutor principal de a diversidade entre as crianças como uma vantagem a ser
Emilia Ferreiro é Rosa Maria Torres, que tem ampla traje- explorada didaticamente, e não como um problema a ser
tória como assessora de programas de educação básica resolvido.
em numerosos países e instituições. Suas experiências em Sexta Jornada - Críticas e Contracríticas
diferentes lugares levaram-na a uma revisão das causas e Rosa Maria Torres faz-se porta voz de alguns dos prin-
das implicações pelas quais a escrita tornou-se um objeto cipais críticos de Ferreiro, e vemos como a autora estabele-
escolar e, simultaneamente, a situar os professores no sis- ce posições com clareza, começando por defender o valor
tema educativo e a escola no contexto social. A conversa do pensamento científico na educação. Isto a conduz a re-
deriva para o tema da diversidade na escola: como a insti- fletir sobre quais os desafios de alfabetizar em um mundo
tuição escolar a encara e como a diversidade pode favore- de mudança.
cer a aprendizagem. Uma proposta sofisticada
A escola e o professor frente à mudança Quando questionada sobre para que ter tanta sofisti-
A pesquisadora piagetiana afirma que a escola é uma cação em suas propostas educacionais, Ferreiro argumenta
das instituições mais conservadoras que existem na so- dizendo:
ciedade. As mudanças no sistema escolar são lentíssimas. • A pedagogia está longe de ter rigor científico de ou-
“Desde a ciência, estamos lutando com uma concepção tras disciplinas, mas tenta; ela tem as mesmas possibilida-
pré-científica. Além do tema específico ser leitura, histó- des de obter avanços como as outras.
ria ou geografia, lutamos contra um fenômeno universal • Negar a possibilidade de ter um saber acumulado
que desemboca em uma incompreensão total do que é que vai sendo aperfeiçoado é grave, porque conduz a edu-
aprender e do que é ensinar”. O professor tem que falar, cação a qualquer um com boa vontade e um pouco de en-
explicar, e as crianças têm que escutar, prestar atenção, re- tusiasmo.
petir, reter. Supõe-se que assim funcionam as culturas de • Acreditar na impossibilidade de investigação peda-
tradição oral. Grande parte da experiência escolar teria de gógica é negar possibilidades de avanços.
ser o aprendizado das rotas que levam ao saber acumula- O mito de que “nos velhos tempos tudo foi melhor” te-
do durante séculos pela humanidade, mas continua sendo ria de ser aprovado pelos fatos, conclui Ferreiro. A crise dos
o professor o que sabe, e o sabe tudo. Ele é quem decide métodos tradicionais é agravada, precisamente, quando
quando recorrer ao livro, diz Emilia. se enfrenta os desafios da alfabetização universal. É nesse
Ela ainda afirma que os professores não estão prepara- ponto que a crise se torna mais aguda e que se torna evi-
dos para trabalhar com livros, no plural; ele está capacitado dente que alguns métodos funcionavam bem não porque
para trabalhar com um livro, que é o que ele domestica a o método fosse bom, mas porque se estava agindo sobre
31
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
crianças que já tinham uma informação básica bastante só- que teríamos a informação ao alcance das mãos, mas te-
lida. Tal informação não foi verificada, nem é verificada hoje mos uma informação já selecionada. Saber encontrar a ou-
em dia, por que é mais fácil supor que chegaram ignoran- tra informação, a que não está a vista, será indispensável
tes à escola. para que alguns graus de liberdade subsistam no mundo.
Proposta, método, didática ou teoria? Sétima Jornada – Contraponto Título da última jorna-
Emilia diz que nunca batizou com um nome seu tra- da: Contraponto.
balho. Ela se negou a fazer isso, e consequentemente, em Fala de Paulo Freire, suas afinidades e suas diferenças.
cada lugar foi adotada uma nomenclatura. No México, foi Mostra novamente a versatilidade do pensamento e da
usada “proposta” desde a Educação Especial. No Brasil, é atividade de Emilia Ferreiro, expressa em temas como as
usado o termo “Psicogênese”. Ninguém nunca usou a pa- relações complexas entre oralidade e escrita, os riscos e
lavra “método” porque isto sempre foi algo que Ferreiro a perspectiva de centrar a pedagogia na compreensão do
não gostaria de discutir: “todo mundo sabia que eu pra- sujeito que aprende, a cultura escrita na primeira infância
guejava contra qualquer um que dissesse que eu elaborava ou o multiculturalismo e o bilinguismo.
Paulo Freire: afinidades e diferenças
uma proposta metodológica”. O que ela realmente fez foi
Rosa Maria relata as afinidades entre Emilia Ferreiro e
tentar entender que tipo de relação é gerada entre uma
Paulo Freire. Ambos não puderam controlar suas interpreta-
criança definida como sujeito cognoscente, ou seja alguém
ções: transformaram-nas em métodos; caminhos novos para
que quer conhecer, e um objeto definido como objeto de se chegar a uma cartilha e desenvolver um programa de al-
conhecimento. Tentando entender essa relação, começou a fabetização. Emilia diz que eles se parecem muito na busca,
definir muito mais o objeto que o sujeito. O sujeito era-lhe na convicção de que é preciso reformular o problema, de que
bem conhecido graças a Piaget; porém a reconversão da não se pode continuar fazendo as mesmas coisas. O tipo de
escrita significou e continua significando um trabalho sério. indivíduo que se quer conseguir por meio do processo de
Alfabetizar em uma realidade mutante alfabetização é bastante semelhante, assim como é seme-
Ferreiro afirma que não é necessário ser um segui- lhante o fato de imbricar a alfabetização com outros temas.
dor de Piaget, nem ter conhecimentos muito sofisticados Falar e escrever
para que o professor desenvolva um bom trabalho com as Ferreiro fala de seu novo projeto, feito em conjunto
crianças. O profissional de ensino deve ser curioso, ter a com Clotilde Pontecorvo. E a análise da reescrita de narrati-
sensação e que não aprendeu tudo, e que é possível con- vas tradicionais em várias línguas. Ele está centrado em um
tinuar aprendendo. O principal é ter respeito pela criança. tema muito geral: a relação entre oralidade e escrita. Na
Grande parte dos objetivos escolares que estão vinculados pesquisa, Emilia percebeu que as crianças incluíram formas
à alfabetização está totalmente defasada em relação às repetitivas próprias do discurso oral nos textos. As crianças
exigências extraescolares. Parte do que percebemos como conseguem organizar a narrativa, mas tem dificuldade em
crise mundial da alfabetização tem a ver om essa defasa- manter diferenciados os espaços entre a narrativa e o dis-
gem. Houve uma mudança substancial muito importante curso direto. A pesquisadora piagetiana afirma que é preci-
nas exigências da alfabetização extraescolar, e a escola não so destacar as diferenças entre linguagem oral e linguagem
quer se dar conta disso. escrita, porque é preciso romper com uma tradição na qual
O mundo moderno é cada vez mais urbano, e a es- se supõe que primeiro tem-se que melhorar a expressão
crita tem um lugar cuja relevância não existe em âmbitos oral senão a escrita será lamentável, uma das maneiras de
não-urbanos. O uso da informação escrita tende a aumen- melhorar a expressão oral é pronunciar uma palavra de
tar. Nas cidades mais desenvolvidas, os seres humanos maneira que sua pronúncia corresponda à sua escrita.
são substituídos por cartazes com instruções e máquinas Todo indivíduo, adulto ou criança, por mais analfabeto
que seja, vive em uma cultura letrada, pode antecipar algo
diante das quais é preciso reagir seguindo passos em certa
sobre o que se escreve e estabelecer uma fronteira muito cla-
ordem e seguindo instruções que é preciso compreender.
ra entre o que pertence ao domínio oral e o que é do domí-
A defasagem entre a escola e o mundo externo existe de
nio escrito. A diferença entre escrita e oralidade deve ser es-
uma maneira muito drástica. O assunto de “por que tanto tabelecida desde o começo. A separação não existe em nível
barulho” tem de ser colocado em termos das exigências de oral. Ninguém fala fazendo pausas entre cada palavra, mas
alfabetização que o mundo moderno exige e que a escola escrevemos assim, e o leitor usa a informação de separação
não pode ignorar. de palavras bastante cedo. Quem controla a aprendizagem?
Houve muitos diagnósticos sobre essa situação, os Emilia Ferreiro afirma que há um grande problema ideo-
quais os franceses chamavam de illettrisme, ou seja, o ile- lógico em torno desse controle. Em suas teorias, as crianças
trismo. Iletrismo é diferente de analfabetismo. Um anal- são livres para fazer o que bem entendem; não há normas
fabeto seria aquele que não passou pela escola, que não para controlar a escrita correta, caligrafia e ortografia são se-
aprendeu. O iletrado seria aquele que passou pela escola cundárias. Muitas pessoas até identificam Ferreiro como uma
e, apesar disso, não lê. Ferreiro afirma que a pessoa que grande instigadora da libertinagem total nas aulas. Existe
sai da escola precisa ser capaz de continuar sua formação uma grande ruptura, diríamos total, com o a tradição.
por seus próprios meios. Deve saber buscar a informação e A pesquisadora argumenta que o sujeito é ativo na
saber utilizá-la; saber selecionar, julgar, discernir. Existe um construção do conhecimento e organizador da informação.
grave problema quanto ao controle da informação; ela está A resistência reside na dificuldade se reconhecer aprendi-
sendo controlada pelas grandes multinacionais. Supõe-se zagens feitas em contextos não controlados e reconhecer
32
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
na criança em desenvolvimento uma grande organizadora algo que não saberemos como recuperar, diz Ferreiro. Não
da informação. O problema da caligrafia, por exemplo, é se criam espaços para refletir sobre a estrutura das línguas
fácil de resolver, diz Ferreiro. Temos a máquina de escrever, indígenas, sobre sua organização, para transformá-la real-
ou o teclado; este é um bom instrumento didático. Ela dei- mente em objeto de reflexão. A língua indígena na educa-
xou de ser um valor em si mesmo, embora não em todas ção indígena é considerada como língua de alfabetização
as culturas. O problema da legibilidade do escrito não é o e nada mais.
mesmo que o problema da caligrafia; é um problema relati- No México, todo debate concentra-se na língua de al-
vo à escrita manual. Em relação à ortografia, a criança deve fabetização. As gramáticas das línguas indígenas que exis-
aprender a ser revisor de si mesma, de seu próprio texto. Ela tem são todas feitas por linguistas para linguistas; não há
deve ver seu texto não como produtora, mas como leitora. um texto de gramática da língua indígena acessível a um
A cultura escrita na primeira infância professor indígena comum e corrente. Ferreiro afirma que
Emilia afirma que as crianças devem aprender a língua é um assunto muito delicado, porque se trata de um con-
escrita na pré-escola, ou seja, aos quatro ou cinco anos de flito que se dá, por um lado, entre dar prioridade à consoli-
dação da escrita de uma língua e, por outro, dar prioridade
idade. É necessário expor a criança a um ambiente em que se
às necessidades de aprendizagem das crianças.
possa aprender, que não proíba aprender, que tenha livros,
O ofício de pesquisar
que circule a informação sobre a língua escrita: é evidente
Quando questionada sobre como se sente sendo um
que o ambiente por si não é o que alfabetiza. A simples pre- mito, Ferreiro confessa quando se sente tratada como uma
sença do objeto não garante conhecimento, mas a ausência pregadora ou um guru, sua reação é manter a distância,
do objeto garante o desconhecimento, diz Ferreiro. porque esse assunto de ser admirada pelas massas às ve-
A pesquisadora relata que a repetência tem estreita re- zes vai seriamente contra sua imagem acadêmica. Ela tem
lação a como se ensina e como se aprende a ler e escrever consciência de sua responsabilidade histórica, de todo im-
na escola. A repetência, para a pesquisadora, é a expres- pacto que sua teoria proporcionou. A pesquisadora acredi-
são muito mais a incapacidade do sistema escolar para dar ta que cumpriu seu projeto científico.
conta de aprendizagens diferenciadas do que a incapaci- Mas, quando questionada sobre o que gosta de fazer
dade do indivíduo para aprender. Ela não é justificável nem realmente, Ferreiro responde: “Pesquisar. O prazer que sin-
psicológica, nem pedagogicamente. to quando, depois de estar brigando durante longo tempo
Planejamento e avaliação de políticas educativas com certos tipos de problema, com certo tipo de dados,
A escola é uma instituição que deve gerar aprendiza- de repente me dou conta de que entendi. Quer dizer que
gem, inventando e medindo saberes escolares, onde é cria- construí certo encaixe teórico que dá conta de um pedaço
da a possibilidade de se aproximar do conhecimento como da realidade que permanecia ininteligível. É uma satisfação
um processo de produção que não é alheio, diz Emilia. O difícil de descrever, não troco isso por nada.”
problema é que a vocação de ser professor está cada vez (http://educacadoresemluta.blogspot.com/2009/12/
mais desprestigiada. Existe a deterioração da profissão em ferreiro-emilia-cultura-escrita-e_11.html)
termos sociais. O problema é complexo: os países não se
desenvolvem se a proporção entre universitário e estudan-
tes de educação básica não melhora. O milÊnio vai terminar
sem que o problema da alfabetização tenha sido resolvido; KISHIMOTO, TIZUCO MORCHIDA. O
não se pode depositar no sistema escolar toda a respon- JOGO E A EDUCAÇÃO INFANTIL. SÃO
sabilidade da mudança. É preciso buscar outros agentes, PAULO:PIONEIRA, 1998.
para que haja um compromisso sério de toda a sociedade.
Alguns agentes que seriam fundamentais na mudança são
os jornalistas e os editores de jornal, sem falar de organis-
mos internacionais, como a UNESCO, a UNICEF e a ONU.
A temática tratada neste livro Jogo, brinquedo, brinca-
Mas o que acontece é que a única instituição que pode deira e a educação é extremamente atual e é muito oportu-
ser controlada é a escola, e é aquela que exigimos mais na a sua publicação, na medida em que, nos últimos anos,
mudanças, diz Ferreiro. E, sozinha, a escola não consegue essas questões têm sido abordadas principalmente por
resultados. autores da área da psicologia e/ou da educação física (no
O multilinguismo, o multiculturalismo e a questão in- que se refere à psicomotricidade), e muito pouco tem sido
dígena produzido com respeito a uma abordagem educacional.
A questão indígena preocupou Emilia desde sua che- O título é muito interessante, pois trabalha com a am-
gada ao México porque o renascimento do problema in- bivalência, ou a confusão, muito comum aos termos cita-
dígena foi posto nos jornais cotidianos e fez com que o dos. Jogo? Brinquedo? Brincadeira? Serão sinônimos, ou
mundo descobrisse que os indígenas têm uma identidade existem diferenças entre cada um deles? Acredito que essa
assumida que defendem há 500 anos, e parecem dispostos é uma dúvida que muitos educadores possuem e portanto
a resistir por mais 500. Outra razão seria que o fracasso torna-se um convite à leitura dos textos.
da alfabetização é mais notório nesses grupos e porque O livro é uma coletânea de trabalhos elaborados por
estava convencida que o bilinguismo não é um mal que autores vinculados ao Grupo Interinstitucional sobre o
deve ser combatido, mas um bem que se deve incentivar e Jogo na Educação, com sede na Faculdade de Educação da
desenvolver. Se perdermos a diversidade cultural, perde-se Universidade de São Paulo. Como todos os autores perten-
33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
cem ao grupo, suas referências teóricas têm certa proximi- A segunda parte do texto procura situar historicamen-
dade, mas como também são profissionais de diversas áreas te, na Europa, o papel representado pelo jogo, sendo que
e utilizam-se de suportes teóricos de sua área de origem — a autora faz o seu principal recorte nas concepções pré-
o que, de certa forma, enriquece e pluraliza as concepções vias ao movimento romântico e naquelas posteriores a ele.
acerca do tema — aparecem também diferenças. Acredito Apresenta-nos as passagens do jogo pelas diferentes áreas
ser importante mostrar essa pluralidade de olhares sobre o do conhecimento, como a filosofia, a biologia, a psicologia,
tema, pois temos encontrado algumas coletâneas, em que a sociologia, a antropologia e a educação. Acho um pouco
os autores produzem seus textos a partir de uma bibliografia excessiva a citação de tantos autores, pois não há como
comum, mas que, pelo fato de os artigos serem produzidos aprofundar, nos limites de um artigo, as aproximações e as
individualmente, acabam tornando-se repetitivos e, muitas diferenças entre eles, e também as contextualizações ficam
vezes, apresentam uma superposição de conceitos e citações. novamente a cargo do leitor, embora a variada bibliografia
O livro inicia-se com uma apresentação dos artigos, apresentada possa servir como indicação para o aprofun-
complementada no final da edição com os dados dos au- damento no tema.
tores, que poderia ser mais precisa quanto às datas de Há ainda uma terceira parte no artigo, onde são apre-
produção dos trabalhos. Para poder analisá-los, dentro sentadas “algumas modalidades de brincadeiras presentes
dos limites de uma resenha, resolvi trabalhar com grupos na educação infantil”. Nela são citados: o brinquedo educa-
temáticos e utilizei, apenas parcialmente, a ordem de apre- tivo, a brincadeira tradicional, a brincadeira de faz-de-con-
sentação dos artigos no livro. ta e a brincadeira de construção.
O livro divide-se basicamente em três grupos de arti- O segundo artigo, de Marina Célia Moraes Dias, “Metá-
gos: o primeiro compõe-se de artigos que tratam do tema fora e pensamento: Considerações sobre a importância do
relacionando-o à educação infantil; o segundo grupo de jogo na aquisição do conhecimento e implicações para a
artigos é formado por aqueles que trabalham com crianças educação pré-escolar”, é muito interessante, pois a autora,
com necessidades especiais; e um terceiro grupo discute a partir de uma leitura das grandes dicotomias da educa-
o tema a partir do ângulo da formação docente. Há tam- ção, consegue, trazendo contribuições da filosofia, da esté-
bém um artigo, quase estrangeiro, que trata da educação tica e da política, fazer uma contraproposta para a educa-
matemática. ção infantil através da releitura das possibilidades do jogo.
A proposta do livro é que o leitor possa valorizar “os
O jogo, nesse texto, vincula-se ao sonho, à imagina-
jogos na educação, ou seja, brinquedos e brincadeiras
ção, ao pensamento e ao símbolo. É uma proposta para a
como formas privilegiadas de desenvolvimento e apropria-
educação de crianças (e educadores de crianças) com base
ção, conhecimento pela criança e, portanto, instrumentos
no jogo e nas linguagens artísticas. Texto fundamental para
indispensáveis da prática pedagógica e componente rele-
leitura e reflexão num momento de proposições pedagógi-
vante de propostas curriculares” (p. 11).
cas para a educação infantil tão baseado na cópia do mo-
Jogo, brinquedo e brincadeira & educação infantil delo escolar de 1o grau. A concepção da autora sobre o
A educação infantil é um espaço privilegiado para falar homem como ser simbólico, que se constrói coletivamente
dessa temática; afinal, dentro do sistema de ensino, a edu- e cuja capacidade de pensar está ligada à capacidade de
cação infantil, ou a pré-escola como também é chamada por sonhar, imaginar e jogar com a realidade, é fundamental
alguns autores, é um dos poucos lugares onde o lúdico ainda para propor uma nova “pedagogia da criança”. A autora
é visto como apropriado, ou mesmo “inerente” ou “natural”. vê o jogar como gênese da “metáfora” humana. Ou, talvez,
O primeiro artigo desse grupo denomina-se “O jogo aquilo que nos torna realmente humanos.
e a educação infantil” e foi escrito pela organizadora Tizu- O terceiro e último artigo desse bloco chama-se “A brin-
ko M. Kishimoto. É um artigo interessante, pois trata de cadeira de faz-de-conta: Lugar do simbolismo, da represen-
questões básicas, como por exemplo definir/ conceituar tação, do imaginário”, de Edda Bomtempo. É um artigo que
o jogo, o brinquedo e a brincadeira, uma tarefa extrema- trata, como diz o título, da brincadeira do faz-de-conta, essa
mente difícil de ser feita na medida em que estes conceitos experiência que nos torna seres simbólicos, humanos e me-
e as palavras que os significam não são precisos nem em taforizados. A autora inicia apresentando a brincadeira, suas
nossa língua portuguesa nem em grande parte das demais. características, e procura na literatura universal a presença
Essa imprecisão na linguagem, nos conceitos linguísticos, desse tipo de brincadeira. Depois, na busca de referências
constrói-se a partir das complexas relações com o projeto teóricas explicativas para esse tipo de ação humana, ela tem
histórico social e cultural em que as práticas do jogo e do encontros com Piaget e Vygotsky, por um lado, e, por outro,
brincar são exercidas e que também não estão tão defini- com S. Freud e Melanie Klein. O faz-de-conta é tratado en-
das. A própria autora trata de demonstrar a dificuldade da tão como a possibilidade na construção do homem de ser a
conceituação. Para tanto, busca essa definição em vários ponte entre a fantasia e a realidade.
autores que produziram conceitos em diferentes tempos
históricos e espaços geográficos. Este recorrido dá ao lei- Crianças com necessidades especiais & o jogo, o brin-
tor uma série de informações, cabendo a ele realizar uma quedo e as brincadeiras
reflexão comparativa. Finalmente, a autora apresenta a sua O segundo grupo de artigos trata da questão do jogo,
definição dos termos (nem sempre compartilhada por to- do brinquedo e da brincadeira, e suas articulações com as
dos os autores da coletânea), e que não é inteiramente por crianças com necessidades especiais: a pedagogia, a psi-
mim acordada, pelo menos no que se refere à linguagem e copedagogia, a avaliação, o fracasso escolar, as propostas
à(s) cultura(s) brasileira(s). curriculares e outros temas percorrem esta seção.
34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
O texto “O jogo e o fracasso escolar”, de Sahda Marta Utilizando-se de características do jogo, de acordo
Ide, inicia tratando dos testes-padrão de medidas de inteli- com Gilles Brougére, tais como a necessidade de espaço,
gência e seu questionamento como instrumento adequado papéis, materiais e tempo do jogo para pensar o currículo,
para a avaliação das crianças portadoras de deficiências. A denuncia a “cultura” do trabalho individualizado, isto é, iso-
autora indica, como saída desse ciclo “avaliação por testes lado, do educador de crianças com necessidades especiais,
e medidas e diagnóstico de fracasso escolar”, a procura das que não está presente nos debates dos demais educadores
causas desses fracassos e encontra, na bibliografia estu- e áreas de conhecimento dentro das escolas. Denuncia esta
dada, algumas generalizações com referência às famílias, experiência de prática social de educador como criador
às escolas, à atitude do educador e, a partir dessa análise único do currículo ou criatura que aplica os currículos dos
de “causas do fracasso escolar”, propõe alternativas edu- tecnocratas. Para a autora, é necessário ousadia nos pro-
cacionais de reversão dessa situação. Segundo a autora, o fessores de educação especial para que utilizem na cons-
elemento central para essa ação diferenciada, destinada à trução de suas propostas educativas as discussões coleti-
desestigmatização, seria o da mediação, tanto a humana, vas e contemporâneas de currículo e quebrem uma visão
tão “conformada” desse tipo de atendimento educativo.
como a instrumental. E é na instrumental que aparece o
jogo como recurso fundamental na educação de crianças
A formação do educador através da vivência, da discus-
deficientes mentais. são e da reflexão do jogo
O artigo seguinte, “O uso de brinquedos e jogos na in- Os últimos capítulos do livro tratam do jogo na for-
tervenção psicopedagógica de crianças com necessidades mação dos professores. O primeiro deles, “Brincadeiras e
especiais”, de Leny Magalhães Mrech, de certa forma apro- brinquedos na TV para crianças: Mobilizando opiniões de
funda aquilo que foi anteriormente analisado. A autora faz professores em formação inicial”, de Maria Felisminda de
uma crítica contundente aos conceitos piagetianos mais di- Rezende e Fusari, tem como meta a educação do educador
vulgados nos cursos superiores, tais como estágios do de- para a leitura das “vivências comunicacionais de seus alu-
senvolvimento, e todos aqueles que tiveram formação aca- nos”, e afirma que a formação dos professores pode gerar
dêmica, nessa área, nas últimas décadas são testemunhas novas formas, mais competentes e criativas, de os alunos
desse empobrecimento da epistemologia genética. Para se interagirem com multimeios. Há entre alunos e meios de
contrapor a essa tendência, a autora propõe a noção de comunicação uma teia de transmissões e influências que
equilibração e a reequilibração das estruturas cognitivas não são de simples causa e efeito ou unívocas, mas de in-
como conceito central dessa concepção de construção do terinfluências, e essas devem ser aproveitadas para uma
conhecimento. Discute os universalismos das teorias que melhor formação do cidadão.
nos amarram e propõe a busca de singularidades. Nesse A autora relata uma pesquisa feita com futuros educa-
momento, ela busca a psicanálise, trazendo o desejo, o ou- dores de nível universitário ou de 2º grau na qual é feita a
tro, o não-saber, e, de forma muito interessante, passa da análise de trecho de vídeo do Xou da Xuxa, em que aparece
visão da alienação individual para a alienação social e cul- uma situação de jogo competitivo. A partir da análise feita
tural utilizando R. Barthes e P. Bourdieu. pelas alunas, uma visão de mídia e de jogo é constituída.
A necessidade da desnaturalização dos lugares de sa- Uma nova maneira de ver o meio — a televisão — e o pro-
ber e não saber, de aprendentes e ensinantes e da dialética grama — Xou da Xuxa — se constitui.
dessas relações individuais e sociais é fundamental para Em “Jogo e formação de professores: Vídeo drama pe-
pensar a construção do conhecimento. Os jogos, os brin- dagógico”, Heloísa Dupas Penteado relata uma experiência
quedos e os materiais pedagógicos são analisados quanto com alunos de prática de ensino na qual foi usado o vídeo
drama pedagógico, derivação do psicodrama, com o ob-
à sua possibilidade de interferir nas estruturas de alienação
jetivo de fazer o aluno de 3o grau refletir tanto sobre sua
social e individual do saber — estereotipias, relações trans-
prática como aluno como sobre seu papel de professor.
ferenciais, estruturado ou estruturante.
O relato é interessante na medida em que essas pro-
Depois a autora apresenta a noção de modalidade de vocações promovidas pela vivência, na própria formação
aprendizagem, isto é, o tipo de relação que cada sujeito, a do professor e em sua vida afetiva e intelectual de adulto,
partir da sua própria história, constrói ao conhecer o mun- auxiliam a reconhecer as muitas formas de entender a cena
do, conceito este desenvolvido por Alícia Fernandes a par- educacional, a afiar a sua sensibilidade ao jogar.
tir da psicanálise e da psicologia genética.
O texto conclui com a análise das relações das mo- Educação: Lúdica ou séria
dalidades de aprendizagem e as ofertas de “ensinagem” O texto “A séria busca no jogo: Do lúdico na mate-
e coloca as experiências com jogos e materiais pedagógi- mática”, de Manoel Oriosvaldo de Moura, é de educação
cos como modos de “pluralização” destas modalidades e matemática, mas não apenas isso. Apesar de ter divergên-
também com um apelo ao trabalho educacional voltado ao cias quanto à questão de serem ou não modismos a et-
desenvolvimento das diversas formas da inteligência. nomatemática e a modelagem matemática, e de discordar
O texto “O jogo na organização curricular para defi- que o uso de materiais pedagógicos está mais presente no
cientes mentais”, de Maria Luisa Sprovieri Ribeiro, inicia século XX, gostei muito do trabalho do autor. Ele trata com
com uma análise das práticas tradicionais de atendimento propriedade de duas questões centrais na relação jogo e
às crianças com necessidades especiais e com resistências educação: a primeira diz respeito ao fato de que o jogo,
pessoais e sociais a uma mudança de concepção deste tipo em uma proposta educativa, nunca pode estar dissociado
de atendimento. “do conjunto de elementos presentes no ato de ensinar”
35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
(p. 74), isto é, ele deve estar localizado na totalidade de um cuidados de saúde, e assistencialista, que ressalta o auxílio
projeto educacional. E para justificar a sua argumentação, a populações de risco social, faz com que a propostas de
procura na história da educação, e na história da educa- creches e pré-escolas fiquem entre cuidar e o educar. No
ção matemática, exemplos que demonstram essa afirma- entanto, essa visão precisa ser analisada. Pesquisadores
ção. A outra questão, também muito bem trabalhada, é a do mundo inteiro idealizaram e debateram sobre educa-
da seriedade do jogar e os diferentes usos do jogo e seus ção infantil. Nos primórdios, não havia um direcionamento
vínculos com concepções de aprendizagem. A visão da su- próprio para o tema: no início o “cuidar” das crianças era
peração do jogo como elemento/recurso e a construção atividade doméstica, responsabilidade familiar, da mãe e
de seu papel como incorporado ao ensino como um todo de outras mulheres. O conceito, no entanto, foi mudando,
são algo que justifica a presença desse artigo na coletânea. até o surgimento gradativo de arranjos mais formais para
Sua localização no final da minha escrita justifica-se pela atendimento de crianças fora da família, em instituições de
síntese que o autor faz de ideias que perpassam todo o caráter filantrópico, constituídas para
conjunto da obra.
esse objetivo. Isso se deu na Europa, onde entre filó-
sofos e estudiosos surgiram os educadores, e foi criado o
Finalizando
primeiro jardim da infância.
Encontramos no livro uma polifonia com vozes que fa-
lam aos quatro ventos sobre o tema. Isto é bom. É jogo No Brasil, a criação do “jardim-de-infância” gerou mui-
e é brincadeira. Talvez uma das características centrais do tos debates políticos, contudo a resistência foi superada.
livro seja a aproximação do jogo às teorias, e não apenas Ao longo do tempo, alguns educadores defendiam a qua-
uma listagem dissociada de receitas de brincadeiras, e a lidade do trabalho pedagógico, gerando movimento de
proposição de alternativas de lugar para o jogo, tanto nas renovação.
propostas de ensino, com alunos de diversos níveis, como Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
na própria formação do educador. Penso que dessa tríade, cional apontou para a criação oficial do “jardim-de-infân-
jogo, brincadeira e brinquedo, o último foi o menos explo- cia” e sua inclusão no sistema de ensino.
rado nos diferentes artigos. Fica este tema como sugestão A instituição da educação infantil passou a abarcar mo-
para uma próxima coletânea, ou, quem sabe, a escrita cole- delos pedagógicos, a fim de aplicá-los nas futuras creches
tiva de um livro, pois gostaria muito de vê-los produzindo e pré-escolas. O foco passou a ser a criança e seu desenvol-
não individualmente, cada um o seu próprio artigo, mas vimento humano. Dessa forma, os pesquisadores Wallon e
jogando com os conceitos e as noções, pois a originalidade Vygotsky muito auxiliaram para compreensão e aplicação,
dos enfoques, as singularidades das visões contribuiriam, a partir de seus trabalhos. Tais pesquisadores trouxeram
de forma enriquecedora, para a continuidade da discussão grandes contribuições ao conhecimento sobre a forma de a
dessa temática. criança ser e modificar-se. Ambos exercem grande influên-
Fonte: BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Resenha do cia entre os pesquisadores da área de educação infantil.
livro de Kishimoto, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinque- As pesquisas discorrem sobre a interação das crianças,
do, brincadeira e a educação. São Paulo, Cortez, 210, 183 p. durante a realização de tarefas e, também, sobre as trans-
formações ocorridas com as informações que as crianças
recebem. Muitas informações recebidas passam a ser imi-
tadas, pelas crianças.
OLIVEIRA, ZILMA RAMOS DE. EDUCAÇÃO Imitando, a criança mostra que interiorizou o modelo
de interação com outros indivíduos, construindo com base
INFANTIL FUNDAMENTOS E MÉTODOS.SÃO
nele uma imagem mental e reproduzindo suas ações. Esse
PAULO:CORTEZ,2002. tema aparece com clareza nas brincadeiras de faz-de-conta.
Nelas, ao imitar a mãe, dando de comer a uma bone-
ca, exterioriza gestos e verbalizações a partir de sua expe-
riência pessoal. Facilmente, a criança vai se tornando hábil
A educação infantil, nível de ensino integrante da edu- em opor-se às iniciativas dos outros, passando agir por sua
cação básica, atende crianças até 03 anos de idade (aten- própria iniciativa.
dimentos em creches) e, também, crianças de 04 a 06 anos Assim, a relação eu-outro passa ser mais diferenciada
(atendimento em pré-escolas). As instituições incluídas na e a criança começa a reagir mais facilmente não apenas a
educação infantil, a creche vista com papel substituto da impressões presente, mas a lembranças e imagens.
família e a pré-escola adotando concepção de ensino indi- O ambiente e os cuidados básicos nas creches e pré-
vidualista e apartada do ambiente social, propõe à criança -escolas favorecem a formação de hábitos e a aprendiza-
atividades pouco significativas para sua experiência social. gem de conceitos de organização e saúde. Por meio de
Surge a proposta de que as creches e pré-escolas bus- atividades lúdicas, as crianças aprendem através da orga-
quem aproximar cultura, linguagem, cognição e afetivida- nização do almoço como manejar talheres, a mastigação
de, elementos constituintes do desenvolvimento humano. de alimentos;
Os estudos de psicologia do desenvolvimento sobre a isso requer bom planejamento da situação. Em segui-
construção da inteligência, da linguagem e do conheci- da, para ilustrar questões referentes à saúde e higiene, si-
mento, pelas crianças de idade precoce, têm sido assimila- tuações e ambientes favoráveis são apresentados para que
das por cheches e pré-escolas.A influência, na área da edu- as crianças guardem toalhas individuais e escovas para hi-
cação infantil, de uma história higienista, de priorização de giene bucal.
36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A qualidade do ambiente na creche e pré-escola é Capítulo 4. O planejamento da leitura na escola
muito importante, pois nenhum ambiente é neutro com Capítulo 5. A avaliação da leitura
respeito a seu impacto sobre o comportamento humano,
particularmente sobre o desenvolvimento dos que nele es- AUTOR
tão envolvidos.
Assim, o ambiente das creches e pré-escolas pode ser Teresa Colomer é formada em filologia hispânica e filo-
considerado como um campo de vivências e explorações, logia catalã e doutora em ciências da educação. É profes-
para a criança reconhecer objetos, experiências significa- sora de Didática da Língua e da Literatura na Universidade
dos de palavras e expressões, além de ampliar o mundo de Autônoma de Barcelona. Publicou mais de 150 livros e ar-
sensações e percepções. tigos sobre literatura infantil e juvenil e sobre o ensino de
Nas creches e pré-escolas, o professor deve ser o par- literatura e da leitura,um espaço de três dimensões inter-
ceiro da criança em seu processo de desenvolvimento. relacionadas que suas obras contribuíram para que fosse
Deve permitir à criança estruturar seu pensamento, dentro estabelecido. Suas publicações obtiveram vários prêmios,
das atividades propostas, a fim de que as crianças possam como o Rosa Sensat de pedagogia, pela obra escrita em
consolidar seu pensamento. parceria com Anna Camps, Ensinar a ler, ensinar a com-
Sobre educação especial, pode-se afirmar que as crianças preender. Em 1990: recebeu o prêmio Cecília Meirelles - O
com necessidades educativas especiais devem conviver com Melhor Livro Teórico, outorgado pela Fundação Nacional
as outras crianças em ambientes cotidianos, com sua comple- do Livro Infantil e Juvenil do Brasil Em 2004: ou o de Pe-
xidade habitual, interagindo no ambiente, para que possam dagogia da Fundación Enciclopédia Catalana, em 2003 e
ampliar suas habilidades e conhecimentos. Isso porque 2004. Uma vertente importante do seu trabalho é a sua
a legislação atual favorece a luta contra a exclusão dos dedicação a custos e conferências de formação de profes-
portadores de deficiência das experiências vividas nas escolas. sores o que leva a viajar repetidamente a mais de quinze
É um grande desafio para as creches e pré-escolas, países europeus e latino-americanos. Coordenou e publi-
pois devem encontrar metodologia diferenciada e recur- cou diversos títulos sobre o ensino de leitura e literatura.
sos, para que atingir os objetivos educacionais com êxito. Criadora e coordenadora do primeiro curso de pós-gra-
Segundo a LDB, a avaliação na educação infantil será duação na área de Bibliotecas Escolares na Espanha. Cola-
realizada mediante acompanhamento e registro do desen- bora regularmente com revistas educativas e de literatura
volvimento da criança, sem o objetivo de promoção, mes- para crianças e jovens. Pela Global Editora tem publicada a
mo para o acesso ao ensino fundamental. seguinte obra: formação do leitor literário: narrativa infantil
Avaliar a educação infantil implica assimilar as mudan- e juvenil atual, traduzido por Laura Sandroni.
ças em competências das crianças que sejam consideradas
como trabalho realizado na creche e na pré-escola quanto SINOPSE
à articulação dessas instituições com o cotidiano familiar.
Essa análise, com base em escalas de valores, deve ser reali- Hoje em dia não é fácil saber como ensinar língua na
zada a partir das mudanças evidenciadas. E, é necessário co- escola devido aos importantes conhecimentos produzidos
nhecer os diversos contextos de desenvolvimento de cada pelas ciências envolvidas nesta tarefa, como a linguística,
criança, sendo um retrato aberto, de uma história coletiva. É a psicopedagogia e a sociologia. Essa situação estimulan-
um campo de investigação, não de julgamento, que contri- te para os pesquisadores pode ser desorientadora para
bui para a busca de uma nova proposta pedagógica. o professor, que em sua prática ainda não conta com re-
ferenciais teóricos bem-definidos. Ensinar a ler, ensinar a
compreender sintetiza a experiência no ensino da leitura e
auxilia decisivamente o professor.
COLOMER, TERESA E CAMPS, ANNA. COMENTÁRIO
ENSINAR A LER, ENSINAR A COMPREENDER.
ED. ARTMED. 2001. Ler continua a ser “a base de quase todas as atividades
que se realizam na escola” pelo que o seu frágil domínio se
pode repercutir na aquisição de conhecimentos nas diver-
sas disciplinas do currículo. (Viana, 2002).
COLOMER, TEREZA; CAMPS, ANNA. ENSINAR A RESUMO
LER, ENSINAR A COMPREENDER. SÃO PAULO: ART-
MED, 2002. APRESENTAÇÃO
37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
O professor deverá incutir em seus alunos a neces- ensino da leitura na escola, ressaltando-se a necessidade
sidade em transformar-se em sujeitos críticos e capazes de centrar essa aprendizagem na compreensão do texto.
de manter uma visão flexível perante a realidade que os No quarto capítulo são apresentados, através de exemplos
cercam. O ensino transpôs o rótulo de quem sabe mais é diversos, os elementos que farão parte de uma programa-
aquele que simplesmente memorizou mais conteúdos. Se- ção desse ensino, considerando os seguintes aspectos:
gundo as autoras, tudo começa da concepção que se tem - A leitura como atividade real na escola em todas as
de leitura e suas implicações no ensino. Os conhecimentos suas funções e em todo tipo de textos.
prévios dos alunos devem ser bem aproveitados e valoriza- - As atividades de ensino que têm como objeto a inter-
dos perante o professor e demais colegas em sala de aula. pretação do texto em sua globalidade.
Para a partir de então construir um caminho satisfatório em - As atividades que respondem aos subprocessos en-
busca da aquisição de novas palavras e uma compreensão volvidos na leitura e na exercitação das habilidades espe-
textual positiva. Optar pela adoção de textos e exercício de cíficas. O quinto capítulo aborda o tema da avaliação, com
leituras num maior numero de gêneros possíveis. Somente foco na necessidade de se criar instrumentos que corres-
ater-se a questões memorativas e evidentes na resposta pondam aos novos enfoques teóricos, ao mesmo tempo
não ensinam a compreender o texto. O professor não po- em que se acolhe tudo aquilo que a tradição pedagógica
derá garantir bons resultados se não for capaz de planejar proporcionou e que se revelou útil para a escola.
decisivamente o que seus alunos necessitam. Pode-se es-
colher uma metodologia progressista na busca pela leitura A LÍNGUA ESCRITA
prazerosa e satisfatória.
O ensino das habilidades leitoras requer uma sistema- A sociedade e a língua escrita
tização e domínio das habilidades leitoras nos seguintes
pontos: A alfabetização
(1) Proposta dirigidas à determinação, por parte do lei-
tor, de sua intenção de leitura a à explicação dos pontos Para Cole e Griffin, e muitos outros autores, que es-
para conseguir seu propósito;
tudam a língua escrita do ponto de vista da antropologia
(2) Propostas sobre as estratégias de antecipação ne-
cultural, as raízes da lecto-escrita fazem parte da própria
cessárias ao abordar a leitura e durante todo o processo
aparição do homo sapiens, uma vez que o ser humano
leitor;
utiliza deliberadamente sinais externos para regular sua
(3) Propostas para inferir significado não explicito;
relação com o mundo de forma indireta, sendo a inven-
(4) Proposta sobre a percepção e discriminação rápida
ção do alfabeto decisiva por permitir a representação da
de indícios; (5) Propostas para a exercitação da memória a
curto prazo; linguagem com maior economia de meios. Entretanto,
(6) Propostas para o desenvolvimento de estratégias essa abstração tem como consequência a dificuldade de
de controle da própria representação mental do texto lido aprendizagem: os falantes não aprendem fixando-se na
e de compensação dos erros produzidos decomposição das palavras, mas devem se basear em mé-
Para as autoras, se, atualmente, não é fácil saber como todos e instrução e no confronto com a própria linguagem
ensinar língua na escola, orientar uma prática fundamen- escrita para alcançar o nível de consciência fonológica
tada cientificamente e, fazer uma reflexão teórica sobre a que se requer para seu domínio. Para as autoras, a base
prática, na área de língua é especialmente difícil. A obra do desenvolvimento científico e cultural de nossas atuais
pretende contribuir para fomentar os estudos a esse res- sociedades está intimamente ligada à língua escrita, uma
peito, principalmente por tratar-se de uma reflexão que vez que, por meio dela, se possibilita a existência de uma
teve sua origem na prática pedagógica. memória coletiva e uma comunicação muito maior entre
O trabalho busca uma visão compreensiva do ensino os homens e as mulheres: não mais se limita à presença
da leitura na escola, que incorpore tanto as atividades mais física dos interlocutores, o que permite níveis de análise e
globais como os exercícios de treinamento das habilidades de abstração da linguagem determinando um grande cres-
específicas da leitura, objetivando atingir como resultado cimento do saber. Ao longo do século XX, a língua escrita
a inter-relação coerente tanto de sua formulação teórica constitui-se como uma tecnologia fundamental a partir da
como de sua organização prática. Para isso, é necessário qual outras tecnologias de armazenamento e transmissão
estabelecer um marco geral em que se articulem e se su- se constituíram de tal maneira que a alfabetização deixa de
perem as tradicionais dicotomias do ensino da leitura - ter o sentido de conquista no desenvolvimento individual
aprender a ler e ler para aprender, decifrar e compreender, e social que a caracterizou, no século XIX, para se tornar
forma e conteúdo, texto literário e outros tipos de textos. um pré-requisito para qualquer progresso das sociedades
A obra está dividida em cinco capítulos, e já no primeiro modernas. Assim, a concepção da alfabetização se define,
a autora trata de determinar o que significa saber ler em conforme explicitado em documento da UNESCO (1976):
uma sociedade que se define como alfabetizada e que lu- (...) Mais do que uma finalidade em si mesma, a alfabetiza-
gar ocupa esse saber na sociedade. O segundo capítulo, ção deve ser considerada como uma maneira de preparar
aborda o tema dos modelos psicológicos que explicam o o homem para um papel social, cívico e econômico que vai
processo de leitura, e busca enfatizá-lo segundo a perspec- além dos limites de uma tarefa rudimentar de alfabetiza-
tiva dos chamados modelos interativos. No terceiro capítu- ção, que consista simplesmente em ensinar a ler e escre-
lo, são explicitadas algumas das condições básicas para o ver. O próprio processo de aprendizagem da lecto-escrita
38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
deve converter-se em uma oportunidade para adquirir in- os códigos passou a ser vista de forma distinta segundo a
formações que possam ser utilizadas imediatamente para evolução das diferentes correntes linguísticas, desde a su-
melhorar os níveis de vida; a leitura e a escrita não condu- jeição absoluta do escrito ao oral (no estruturalismo ameri-
zirão apenas a um saber geral elementar, mas a uma maior cano) até sua independência total (na glossemática). Para
participação na vida civil e a uma melhor compreensão do elas, o modelo mais consistente corresponde à relação de
mundo à nossa volta, abrindo o caminho, finalmente, ao equivalência defendida pelo Círculo de Praga. Nesse mo-
conhecimento humano básico. Portanto, a complexidade delo, considera-se que fala e escrita são duas realizações
progressiva de nossa sociedade trouxe consigo a extensão distintas de um mesmo sistema linguístico, o que implica
e a diversidade de usos da língua escrita: que compartilham a mesma estrutura, mas diferenciam-se
1. O uso prático ou funcional da língua escrita em ter- em seu uso, já que exercem funções distintas na vida social
mos de adaptação a uma sociedade moderna e urbana que da comunidade.
recorre constantemente a ela na vida cotidiana. Nas últimas duas décadas, o interesse pelo uso da
2. O uso da língua escrita como potencialização do linguagem na própria situação comunicativa propiciou a
conhecimento, como progresso individual ou coletivo, no inter-relação de várias disciplinas científicas (a lingüística
qual o domínio da linguagem escrita é entendido (e ad- textual, a psicologia cognitiva, a teoria da comunicação, a
ministrado ou reivindicado) como poder (poder da infor- sociolingüística, a pragmática etc.) na tentativa de ajustar
mação, progresso científico, poder da ascensão social que suas análises para poder descrever o fenômeno comuni-
possibilita etc.). cativo em toda sua complexidade. Nesse âmbito, as comu-
3. O uso da língua escrita como acesso ao prazer esté- nicações, oral e escrita, são concebidas como duas realiza-
tico através dos usos formais e poéticos do escrito. ções discursivas da língua, e qualquer pessoa deve adquirir
sua competência de uso a partir da competência linguística
A relação entre os diferentes códigos de represen- comum a elas. Entretanto, é necessário observar suas dife-
tação renças, tanto no nível do contexto comunicativo em que
se produzem como no das características da mensagem
O código oral e o código escrito produzida. Pesquisas do Círculo de Praga, afirmam que o
escrito é muito mais que fala escrita. Quando se muda o
canal (e a mensagem, em vez de ser veiculada pela voz,
A diversificação dos códigos disponíveis, segundo Co-
é transmitida por sinais gráficos, ou vice-versa), a própria
lomer, implicou grandes mudanças, possibilitando a comu-
mensagem muda. A partir de análises comparativas como
nicação de massas. Demonstrando essa evolução da co-
essas, estabeleceu-se claramente uma série de diferenças
municação através de novas formas, a autora utiliza como
produzidas por dois tipos de causas.
exemplo a TV, que por se tratar de um meio audiovisual,
a) as que se referem ao contexto comunicativo: no
utiliza muitas vezes a língua escrita ao mostrar gráficos, lis- caso da conversa, os interlocutores negociam um signifi-
tas de programação etc., beneficiando-se de determinadas cado circunscrito por um contexto compartilhado, na prosa
vantagens da escrita, para a apresentação objetualizada expositiva escrita, emissor e receptor devem apoiar-se, ex-
da mensagem ou a imediatidade de sua captação. Dessa clusivamente, na mensagem verbal.
forma as relações entre o conteúdo de uma mensagem, o b) as que resultam do processo de elaboração/recep-
código (oral, escrito, visual) no qual se produz e o meio de ção da mensagem e que estão relacionadas particularmen-
comunicação que o veicula (o escrito em uma carta, por te com o tempo de que dispõe emissor e receptor: na con-
exemplo, e, se complicamos mais, a carta reproduzida em versa, as mensagens se produzem com rapidez, na prosa
um livro, e o livro introduzido em um computador etc.) são expositiva escrita dispõe-se de um tempo muito mais dila-
muito mais variadas e, suas repercussões, na maneira como tado para organizar/interpretar a mensagem.
se recebe a mensagem, constituem um campo de estudo As consequências dessas condições de comunicação
que, segundo a autora, está apenas no início, dada a recen- afetam os dois tipos de discurso (oral e escrito) em todos os
te aparição dessas possibilidades comunicativas nas socie- seus níveis, seja na seleção léxica, seja na estrutura sintática
dades ocidentais. etc. O surgimento dos meios de comunicação audiovisuais
Atualmente, as novas tecnologias possibilitam novas contribuiu para essa multiplicação igualadora dos usos so-
formas de comunicação entre os indivíduos: recebemos ciais de ambos os códigos ao permitir a comunicação dife-
(ou emitimos) mensagens que foram construídas (ou que rida de mensagens orais, do mesmo modo que o acesso à
serão recebidas) em um tempo ou lugar distante, sem a alfabetização de uma grande maioria da população permi-
possibilidade de negociar sua compreensão em uma in- tiu a utilização do escrito em situações comunicativas que,
teração face a face. O aumento dessa comunicação di- historicamente, eram próprias do uso oral da língua.
ferida acarretou características bastante distintas das que
definiram, historicamente, a relação entre o código oral e o O indivíduo e a língua escrita
código escrito. As autoras ressaltam que durante séculos,
a descrição gramatical baseou-se na língua escrita, e foi Por meio da língua escrita, fixamos o pensamento ver-
somente com a aparição do estruturalismo que a atenção bal e o convertemos em objeto suscetível de ser analisado,
deslocou-se para o código oral, e os linguistas começaram favorecendo dessa forma a apropriação do conhecimento
a analisar alguns de seus aspectos básicos, especialmen- humano. Na inter-relação entre pensamento e linguagem,
te no nível fonético da língua. A partir daí, a relação entre as características do código escrito convertem-no no meio
39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
mais adequado para tarefas auto-reflexivas e de estrutu- Além do código estrito, nesse nível inclui-se saber como a
ração das próprias ideias. Enquanto o processo se desen- língua escrita varia segundo o contexto e requer instrução
volve, criam-se novas perspectivas, incorporam-se novos sobre as características de determinados tipos textuais.
significados ou se estabelecem novas conexões entre os 3. O terceiro nível é o instrumental. Nesse nível, tan-
conhecimentos anteriormente existentes. Para a autora, to o código quanto a forma textual, tendem a ser usados
a descontextualização da linguagem escrita incide na ca- como se fossem transparentes: quando o aluno depara-se
pacidade dos indivíduos de desvincular o pensamento e a com problemas textuais, a escola tende a atribuí-los aos
linguagem de sua origem concreta como experiência pes- conteúdos veiculados e não a um domínio insuficiente da
soal e permite o acesso a níveis superiores de abstração língua escrita.
e generalização. Dessa forma, para que uma comunicação 4. O quarto nível é o epistêmico. Nesse nível, conside-
escrita funcione, o emissor precisa ter uma visão global e ra-se o domínio do escrito como um meio de transforma-
antecipada do que quer dizer e de como deseja dizer, e ção e de atuação sobre o conhecimento e a experiência:
deverá julgar o texto à medida que o constrói. Posterior- refere-se ao interpretar e avaliar. Wells defende a necessi-
mente, o receptor terá de reconstruir a mensagem e julgar dade de ajudar todos os alunos e alunas a desenvolverem
a coerência alcançada. A necessidade de avaliar, do ponto um modelo completo da concepção do que se pode espe-
de vista linguístico, a adequação durante a emissão, e a rar da língua escrita.
representação durante a recepção de uma mensagem me- Assim, esse modelo deveria inspirar a programação e
ramente verbal requer, ao mesmo tempo, um importante as atividades escolares para a aquisição da língua escrita,
uso metalinguístico da linguagem. não de uma forma progressiva, passando sucessivamente
de um nível a outro, mas tentando proporcionar um gran-
A aprendizagem da língua escrita de número de oportunidades para que os aprendizes criem
expectativas sobre a utilização da língua escrita nos qua-
Analisando a produção linguística da escola, podería- tro níveis indicados. Para a autora, a necessidade de que a
mos deduzir que é a língua oral, e não a escrita, que parece língua escrita seja adquirida em situações educativas que
ostentar um predomínio absoluto. Pesquisas nesse sentido tenham sentido por si mesmas é um princípio muito ge-
neralizado nos meios educativos, mas, frequentemente, os
chegam à conclusão de que os professores tendem a falar
professores não dispõem de instrumentos para traduzi-lo à
durante a maior parte do tempo em suas aulas, e que suas
prática. A aprendizagem da língua escrita deve ser situada
explicações orais são direcionadas a, constantemente, fazer
no âmbito de domínio linguístico progressivo, em estreita
a mediação entre os alunos e a língua escrita dos livros-tex-
relação com a língua oral e com os demais códigos de re-
to e do material escrito utilizado. Entretanto, apesar dessas
presentação social. Se a linguagem é o instrumento mais
observações, as aprendizagens escolares requerem o do-
valioso para construir nossa concepção do mundo, para
mínio progressivo dos usos próprios da língua escrita. Por imaginar, interpretar, organizar, abstrair, etc., será preciso
isso, em nossa sociedade, a realização dos objetivos educa- pensar em um programa educativo que ajude a ampliar es-
tivos passa, indefectivelmente, por um grau importante do sas capacidades a partir de sua ancoragem em experiências
domínio do código linguístico escrito e de desenvolvimen- significativas.
to dos processos mentais que se encontram em sua base.
Segundo as autoras, a aprendizagem da lecto-escrita não O QUE É LER?
pode ser entendida como mera aquisição de um código
gráfico, uma vez que se trata do desenvolvimento da capa- A concepção da leitura
cidade de elaborar e utilizar a língua escrita nas situações
diversas e para as funções que cumpre socialmente. Isso Segundo Adam e Starr, ler é a capacidade de enten-
comporta a negação da dicotomia escolar entre aprender a der um texto escrito. Entretanto, se analisarmos a prática
ler e ler para aprender. A escola deve buscar a construção escolar, veremos que ela contradiz tal afirmação ao basear
de um sujeito que amplie suas possibilidades de expressão o ensino da leitura em uma série de atividades que supos-
linguística com a incorporação de um novo código de uso tamente mostrarão como se lê, mas nas quais, paradoxal-
social, que aprenda a elaborar e a encontrar o sentido de mente, nunca é prioritário o desejo de que entendam o que
um determinado texto e que constate como funciona so- diz o texto. Um exemplo disso é a escolha de pequenos
cialmente esse tipo de comunicação. Wells (1987) propõe fragmentos de textos ou palavras soltas, letras isoladas,
um modelo de concepção da língua escrita que deveria ser ler em voz alta onde se analisa a precisão na soletração,
adotado pela escola para o planejamento de seu ensino. a pronúncia correta, a velocidade de fusão dos sons pro-
1. O primeiro nível é o que se denomina executivo. O nunciados etc. Essa prática de leitura realiza-se no interior
que se entende por domínio da língua escrita consiste, sim- do marco teórico tradicional de leitura como modelo de
plesmente, em ser capaz de traduzir a mensagem do códi- processamento ascendente onde se pressupõe que o lei-
go escrito ao falado e vice-versa. Essa concepção insiste na tor começará por fixar-se nos níveis inferiores do texto (os
posse estrita do código como tal. sinais gráficos, as palavras) para formar sucessivamente as
2. O segundo nível é o funcional. A língua escrita con- diferentes unidades linguísticas até chegar aos níveis supe-
siste em um ato de comunicação interpessoal, e seu domí- riores da frase e do texto. O leitor deve decodificar signos,
nio reside na capacidade de enfrentar exigências cotidianas pronunciá-los, perceber o significado de cada unidade (pa-
de nossa sociedade (como ler jornal ou seguir instruções). lavras, frases, parágrafos etc.) e uni-los uns aos outros pra
40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
que sua soma lhe ofereça o significado global. O distan- Ensinar a ler, dessa perspectiva, deve ser concebido
ciamento dessas práticas educativas de qualquer busca do como possibilitar o desenvolvimento de habilidades volta-
significado é consequência de uma concepção leitora que das à interpretação da língua escrita. Neste contexto, duas
permaneceu vigente durante séculos, até que os avanços mudanças devem ocorrer no cenário escolar:
teóricos nesse campo, nas últimas décadas, a puseram em a decifração, que ainda tem um peso muito grande na
questão. Para Adam e Starr, (...) Quando se lê um texto com escola, deixará de ser identificada como a capacidade leito-
significado não se leem as letras, as palavras e as frases que ra para passar a redefinir seu espaço dentro do conjunto de
o compõem do mesmo modo que se fossem apresentadas habilidades necessárias para entender um texto.
isoladamente e, inclusive, a velocidade da leitura de uma o ensino da leitura, entendida como código de interpreta-
frase depende do contexto à sua volta‖. Assim, o signifi- ção da realidade, deve estender-se a todo o currículo escolar.
cado de um texto se constrói um em relação ao outro: a A forma como se ensina a ler está de certa forma liga-
aceitação do significado de cada palavra depende da frase da à concepção que se tem do ato de ler. Existem várias
em que aparece, a estrutura da frase também comporta concepções. A concepção mais tradicional, e que ainda se
significado, um parágrafo pode conter a ideia central de utiliza em muitas das nossas escolas, dá muito ênfase à
um texto ou constituir um simples exemplo segundo sua descodificação, concebe a leitura como um processo se-
articulação no discurso, o gesto de um personagem pode quencial e linear seguindo um processo ascendente, ou
ser banal ou muito significativo segundo a narrativa na qual seja, o processamento faz-se letra a letra, que depois se
apareça. Durante a leitura de uma mensagem escrita, o lei- combinam em palavras, depois em frases, que então levam
tor deve raciocinar e inferir de forma contínua. Deve captar à compreensão. Este modelo sustenta-se em três pressu-
uma grande quantidade de significados que não aparecem postos básicos que determinam a ideia do que é a língua
diretamente no texto, mas que são dedutíveis: informações escrita, do que é ler e do que é ensinar: Acredita que a rela-
que se pressupõem, conhecimentos compartilhados entre ção entre a língua oral e a língua escrita é a de uma simples
emissor e receptor, relações implícitas (temporais, de causa tradução dos signos gráficos em signos orais; entende a
e efeito etc.) entre os elementos do texto etc. Nesse mode- leitura como um processo centrado no texto, do qual o lei-
lo interativo, dialógico, o leitor é o sujeito ativo que utiliza
tor deve extrair o significado através de um sistema de ora-
conhecimentos variados para obter informação do escrito
lização, para lhe atribuir posteriormente o significado que
e que reconstrói o significado do texto ao interpretá-lo de
vai construindo por um processo ascendente; parte de uma
acordo com seus próprios esquemas conceituais, e a partir
teoria pedagógica que concebe a aprendizagem como a
de seu conhecimento do mundo. A relação entre o texto e
receção passiva do saber do professor por parte do aluno.
o leitor é dialética: o leitor baseia-se em seus conhecimen-
Uma outra concepção, mais ativa que a anterior, con-
tos para interpretar o texto, para extrair significado, e esse
novo significado, por sua vez, permite- lhe criar, modificar, cebe a leitura como um processo descendente e utiliza um
elaborar e incorporar novos conhecimentos em seus es- processo totalmente oposto ao anterior, parte do princípio
quemas mentais. Em suma, ler, mais do que um simples que ler é compreender ou mesmo um “jogo de adivinha-
ato mecânico de decifração de signos gráficos, é um ato de ção linguístico”. O leitor, em todo o processo, ativa o que
raciocínio, no sentido da construção de uma interpretação alguns autores denominam de processos cognitivos de alto
da mensagem escrita a partir da informação proporcionada nível, enquanto na concepção anterior ativa os processos
pelo texto e pelos conhecimentos do leitor e, ao mesmo cognitivos de baixo nível. Estas concepções têm sido alvo
tempo, iniciar outra série de raciocínios para controlar o de algumas críticas, contrapondo que quando se lê um tex-
progresso dessa interpretação de tal forma que se possam to com significado não se leem as letras, as palavras e as
detectar as possíveis incompreensões produzidas durante frases que o compõem do mesmo modo que se fossem
a leitura. Colomer aponta que, na década de 80, Hall sin- apresentadas isoladamente e, inclusive, a velocidade da lei-
tetiza em quatro pontos os supostos fundamentos da pes- tura de uma frase depende do contexto à sua volta ao que
quisa atual nesta área: ainda se acrescenta “…o significado de um texto não reside
1. A leitura eficiente é uma tarefa complexa que de- na soma de significado das palavras que o compõem. Nem
pende de processos perceptivos, cognitivos e linguísticos. coincide somente com o que se costuma chamar de signi-
2. A leitura é um processo interativo, o leitor expe- ficado literal do texto, já que os significados se constroem
riente deduz informação, de maneira simultânea, de vários uns em relação aos outros: a aceitação do significado de
níveis distintos, integrando, ao mesmo tempo, informação cada palavra depende da frase em que aparece…”
grafofônica, morfêmica, semântica, sintática, pragmática, Com base nestes pressupostos surge uma nova con-
esquemática interpretativa. cepção que dá ênfase à leitura como processo interativo,
3. O sistema humano do processamento da informa- distancia-se, de forma acentuada, dos modelos tradicio-
ção é uma força poderosa, embora limitada, que determina nais. Nesta nova concepção ou modelo interativo, o leitor
nossa capacidade de processamento textual. é considerado como um sujeito ativo que utiliza conheci-
4. A leitura é estratégica. O leitor eficiente atua delibe- mentos de tipo muito variado para obter informação do
radamente e supervisiona de forma constante sua própria escrito e reconstrói o significado do texto ao interpretá-lo
compreensão. Está alerta às interrupções da compreensão, de acordo com os seus próprios esquemas conceptuais e
é seletivo ao dirigir sua atenção aos diferentes aspectos do os seus conhecimentos prévios. O ato de ler, de acordo
texto e progressivamente torna mais precisa sua interpre- com esta concepção, é, assim, um processo dialético em
tação textual. que o leitor servindo-se dos seus conhecimentos prévios
41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
e esquemas conceptuais vai construindo o significado do conectarem a elementos em seu interior. Assim, podemos
texto. Esta nova concepção, denominada também de cons- estabelecer relações lógicas (de motivação, de capacidade,
trutivista, encara, assim, “a compreensão como uma procu- de causas psicológicas ou físicas etc.), relações informativas
ra ativa de significado, em vez de uma tradução mecânica (referentes ao contexto especial e temporal, de relações
de um código noutro”. pronominais e léxicas), relações de avaliação (baseadas em
juízos morais e sociais).
Um processo geral de interpretação da informação 2. A verificação das hipóteses - o que o leitor antecipou
deve ser confirmado no texto mediante os indícios gráficos.
Segundo as autoras, qualquer ato de compreensão é O significado é captado sem necessidade de oralizá-lo. Os
entendido como um processo de formar, elaborar e modifi- modelos interativos de leitura indicam que a saída está em
car as estruturas de conhecimento que o sujeito tinha antes postular a interação entre dois subprocessos (ascendente
de entender essa nova informação. Dessa forma, segundo e descendente) da leitura que se integram na atividade de
Mayer, deverão estar presentes os seguintes elementos: um sujeito que utiliza a informação visual para identificar as
a) A percepção - captação de determinados estímulos unidades com sentido. Nesse processo de captação delibe-
mediante os sentidos, e em estreita relação com as inten- rada, o que favorece, decisivamente, a compreensão do lei-
ções do sujeito que seleciona automaticamente, os estímu- tor é a significação e a amplitude das unidades captadas em
los que lhe interessa perceber. um único olhar. Isso se deve a duas razões fundamentais:
b) A memória - dados de que nosso cérebro dispõe em 1. A antecipação se realiza a partir do reconhecimento
um determinado momento, e, uma vez introduzidos, reti- do significado. O leitor constrói suas previsões em relação
dos e com os programas pertinentes para poder recuperá- ao sentido do texto e a partir dos dados que recebe do pro-
-los quando forem necessários. A memória a curto prazo cessamento simultâneo do texto em todos os seus níveis.
caracteriza-se por ter uma capacidade limitada tanto no a) As letras são identificadas com maior rapidez se fazem
tempo como na quantidade de informação retida. A me- parte de uma palavra. b) As palavras são reconhecidas com
mória a longo prazo é definida por sua grande duração e maior rapidez se fazem parte de uma frase a partir da de-
capacidade. Assim, pode-se reter tudo o que se sabe sobre
dução do leitor sobre a categoria gramatical esperável ou
o mundo, desde que a informação tenha sido organizada
do campo semântico ao qual deveria pertencer. Todas as
de forma compreensível e seja significativa para o sujeito. A
expectativas gráficas, léxicas, morfossintáticas ou semânti-
representação do mundo - os esquemas de conhecimento
cas combinam-se e reforçam-se mutuamente, de tal forma
que as pessoas formam ao longo de sua vida servem-lhes
que o leitor utiliza a ajuda do contexto, simultaneamente,
para prever, contrastar e interpretar qualquer informação.
A organização da informação em uma estrutura que em todos os níveis de processamento para descartar as
relacione os dados é fundamental para que seja retida e possibilidades de aparição de outras unidades e ajustar ao
conserve a possibilidade de ser utilizada posteriormente. máximo suas hipóteses.
Da mesma forma, uma informação significativa faz com 2. A amplitude da visão permite operar com um maior
que uma nova informação seja recordada de modo mais número de dados simultâneos e, portanto, obter mais fa-
perene, à medida que pode ser relacionada com os interes- cilmente uma interpretação do significado, já que a maio-
ses e conhecimentos de quem a recebe. O conhecimento ria, a curto prazo, não fica saturada com a informação dos
que construímos sobre nosso meio e sobre nós mesmos, níveis inferiores do texto, mas pode operar com unidades
facilita nossa compreensão pelo fato de que oferecermos significativas suscetíveis de serem integradas na memória
uma tela com muitos níveis automatizados na qual pode- a longo prazo.
mos colocar novos dados. Por essa razão, nosso conhe- 3. A integração da informação e o controle da com-
cimento nunca avança como uma soma de informações, preensão para processar o conjunto do texto, o leitor
mas cada novo elemento provoca uma reestruturação do elabora o que esses autores chamam de macroestrutura
sistema de conexões anterior. Os esquemas são ativados mental do texto. O leitor constrói essa representação do
segundo o contexto para outorgar uma informação veros- significado aplicando a cada uma das proposições do texto
símil ao que se está observando conforme nossos conheci- macrorregras que consistem em uma série de estratégias
mentos e propósitos de compreensão. de síntese. Se a nova informação lhe parece redundante
ou secundária, ele a descarta (macrorregra de omissão); se
O processo leitor encontra uma proposição com um conceito capaz de en-
globar várias informações, procede a isso (macrorregra de
A leitura utiliza segundo Smith, duas fontes de infor- generalização); e, se não há uma proposição capaz de agru-
mação: a visual por meio dos olhos (consiste na informação par um mesmo tipo de informação, passa a construir ele
do texto) e a não visual ou de trás dos olhos (conjunto de próprio a proposição-resumo (macrorregra de construção).
conhecimento do leitor). A partir da informação do texto e Em suma, é preciso que exista um mecanismo de avaliação
de seus próprios conhecimentos, o leitor construirá o signi- da nova informação que consista na relação que o leitor
ficado em um processo que, para sua descrição, podemos estabelece entre o que o texto diz e seus conhecimentos
dividir em: do mundo, em seus propósitos e em suas expectativas ao
1. A formulação de hipóteses - quando lemos ativamos iniciar a leitura, ou seja, se a informação é coerente com as
esquemas de conhecimento que nos levam a fazer inferên- hipóteses antecipadas, o leitor a integrará em seu sistema
cias que se produzem em todos os níveis do texto. Essas in- de conhecimentos para continuar construindo o significa-
ferências podem trazer informação externa ao texto ou se do do texto. Trata-se de uma atividade metacognitiva, de
42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
auto-avaliação constante do leitor sobre seu próprio pro- - Conhecimentos das relações grafofônicas: é impres-
cesso de construção de sentido, que lhe permite aceitar cindível conhecer as letras, e como elas se relacionam com
como válida a informação recebida e, portanto, continuar a as diferentes unidades fônicas. Entretanto, a capacidade de
leitura ou, caso contrário, adotar alguma estratégia que lhe análise das letras e sua relação com os sons é um conheci-
permita refazer o processo para reconstruir o significado. mento que por si só não garante uma leitura eficaz. É neces-
Fatores que incidem na compreensão leitora sário atingir uma nova fase de capacitação das relações en-
tre os sinais gráficos integrados em unidades significativas.
Os fatores que condicionam a compreensão relacio- - Conhecimentos morfológicos, sintáticos e semân-
nam-se com os dois elementos que interagem no processo ticos: a atribuição de significado das palavras será orien-
tada pelas relações de significado com as outras palavras
de leitura: o leitor e o texto. Tereza Colomer e Anna Camps
do texto. Muitas vezes, para poder atribuir esse significado,
adotam o ponto de vista do leitor e os dividiremos em: a também é preciso utilizar o conhecimento e a identificação
intenção da leitura e os conhecimentos prévios. das relações sintáticas entre as unidades linguísticas.
A intenção da leitura: a intenção, o propósito da leitu- - Conhecimentos textuais: a linguística textual esta-
ra, determinará a forma como o leitor abordará o escrito e belece noções de coerência, que consistem na adequação
o nível de compreensão que tolerará ou exigirá para con- do escrito ao contexto comunicativo (intenção do emissor,
siderar boa sua leitura. Diferentes maneiras de abordar o adaptação ao receptor etc.), e noções de coesão, a relação
escrito segundo o objetivo de leitura: entre os elementos do texto para que se ajustem à superes-
a) leitura silenciosa integral quando se lê um texto trutura geral e ao conteúdo. O conhecimento das estrutu-
inteiro com o mesmo tipo básico de atitude leitora, por ras textuais mais tipificadas em nossa sociedade (estruturas
exemplo, a leitura de um romance ou de um livro de ensaio; narrativas, argumentativas, descritivas etc.) permite anteci-
b) leitura seletiva, orientada por um propósito de orde- par o desenvolvimento do texto e facilita a compreensão
nação ou para extrair uma vaga ideia global. Caracteriza-se das ideias fundamentais que já se encontram ordenadas no
pela combinação de leitura rápida de algumas passagens e esquema do texto.
de leitura atenta de outras; 2. Conhecimentos sobre o mundo: Os conhecimentos
c) leitura exploratória, produzida em saltos, para en- do leitor permitem-lhe preencher os vazios da informação
contrar uma passagem, uma informação determinada; que lhe dá o redator. Mas, como nem todos os leitores
possuem os mesmos conhecimentos prévios, as mesmas
d) leitura lenta, para desfrutar dos aspectos formais do
experiências, evidentemente, haverá diferenças na com-
texto, para recriar suas características, inclusive fônicas, ain- preensão da informação. O grau de conhecimento com-
da que seja interiormente; partilhado entre emissor e receptor é essencial para a com-
e) leitura informativa, de busca rápida de uma informa- preensão de um texto. Quanto mais conhecimentos o leitor
ção pontual, como um telefone em uma lista, um ato em acrescenta, mais fácil será compreender o texto. Em sínte-
um programa, uma palavra em um dicionário etc. se, a compreensão leitora é o resultado de uma atividade
Segundo Foucambert, (...) Ler é ter escolhido buscar complexa na qual o leitor deve realizar muitas operações
algo; amputada dessa intenção, a leitura não existe. Visto e recorrer a muitos tipos de conhecimentos. Parece que o
que ler é encontrar a informação que se busca, a leitura é, processamento em diferentes níveis não segue uma úni-
por natureza, flexível, multiforme e sempre adaptada ao que ca direção ascendente (da letra ao texto) ou descendente
se busca. Os conhecimentos prévios: a compreensão do tex- (dos conhecimentos e hipóteses globais à letra), mas que
to é determinada por sua capacidade de escolher e de ativar há uma inter-relação constante entre eles.
todos os esquemas de conhecimento pertinentes a um texto
concreto. Os conhecimentos prévios que o leitor utiliza po- 3. O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LEITURA
dem ser descritos e agrupados em dois itens: conhecimen-
tos sobre o escrito e conhecimentos sobre o mundo. A concepção da leitura e suas implicações no ensino
1. Os conhecimentos sobre o escrito:
Segundo as autoras, a aprendizagem tradicional da
a) O conhecimento da situação comunicativa - o leitor
lecto-escrita sustenta-se em três pressupostos básicos, que
tem de aprender a contextualizar o texto a partir dos ele-
determinam sua ideia do que é a língua escrita, do que é
mentos presentes no escrito: terá de entender o tipo de ler e do que é ensinar:
interação social proposta pelo escritor, como também terá a) Acredita que a relação entre a língua oral e a língua
de contrastar sua própria finalidade de leitura, que pode escrita é a de uma simples tradução dos signos gráficos aos
coincidir em maior ou menor grau com a do escrito. signos orais.
b) Os conhecimentos sobre o texto escrito - correspon- b) Entende a leitura como um processo centrado no
dem a diferentes níveis: texto, do qual o leitor deve extrair o significado através de
- Conhecimentos paralinguísticos: os leitores pos- um sistema de oralização de suas unidades linguísticas,
suem uma grande quantidade de conhecimentos desse para atribuir-lhes, posteriormente, o significado que se vai
tipo, tais como elementos tipográficos, convenções na construindo por um processo ascendente.
distribuição e separação do texto (separação de palavras, c) Parte de uma teoria pedagógica que concebe a
frases, parágrafos, capítulos etc.), convenções na organi- aprendizagem como a recepção passiva do saber do pro-
zação da informação de cada tipo de texto (índice, prólo- fessor por parte do aluno. A escola ativa muda alguns des-
go, fórmulas de introdução e finalização etc.), e os utiliza ses pressupostos e, a partir de perspectivas teóricas, Mon-
para facilitar sua leitura. tessori, Decroly ou Freinet, a leitura deixa de centrar-se em
43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
funções tão globais como a inteligência ou a percepção realizados especialmente para a aprendizagem escolar. Os
para centrar-se em estudos mais analíticos sobre habilida- textos escolares apresentam outros problemas, linguagem
des instrumentais ou processos cognitivos. A leitura passa a quase híbrida entre as formas orais e as escritas, extensão
ser considerada como um processo psicológico específico, do texto, organização textual, quantidade de informação
formado pela integração de um conjunto determinado de apresentada. Os materiais escolares ajudam a aprendiza-
habilidades e que pode se desenvolver a partir de certo grau gem quando são organizados por temas, o número de in-
de maturação de cada uma delas. Nos últimos anos, a leitura ferências a realizar durante a leitura é reduzido.
deixou de ser considerada como um processo psicológico Experimentar a diversidade de textos e leituras: a fa-
específico para se incluir entre os processos gerais de re- miliarização com as características do escrito implica ter
presentação humana da realidade e adotou a perspectiva experiências com textos variados, de tal forma que se vão
teórica de um modelo psicolinguistico-cognitivo. Progressi- apreendendo suas características diferenciais, e que a ha-
vamente, o ensino deixou de apoiar-se na simples memori- bilidade de leitura possa ser exercitada em todas as suas
zação de conteúdos e, portanto, a capacidade de compreen- formas segundo a intenção e o texto. Todas essas situações
der o que se lê foi adquirindo uma importância crescente permitem ampliar a gama de usos leitores e conhecer as
e estreitamente relacionada com os requisitos de instrução, variáveis linguísticas adequadas a cada tipo de texto, de
mais intensos quanto mais se ascende no ciclo educativo. tal forma que o conjunto de suas experiências lhes permite
gerar um processo de apropriação do escrito muito mais
Algumas condições para o ensino da leitura rico que aquele programado oficialmente. Ler sem ter de
oralizar: as diferenças entre os códigos oral e escrito da lín-
Partir do que os alunos sabem: o professor deve co- gua supõem também a necessidade de um ensino que não
nhecer as ideias de seus alunos em relação àquilo que se se baseie na decifração literal de textos escritos. Seria con-
propõe ensinar, tanto para poder descobrir se possuem veniente criar continuamente situações para falar do que
apoios conceituais suficientes para incorporar os novos se lê e de como se faz, mais do que dedicar horas e horas
conhecimentos como para tentar entender sua forma de simplesmente a oralizar textos. A leitura em voz alta: ler em
proceder e de interpretar o escrito, visando a favorecer a voz alta tem sentido quando considerada como uma situa-
evolução positiva desses conceitos no desenvolvimento ção de comunicação oral na qual alguém deseja transmitir
das aprendizagens. Favorecer a comunicação descontex- o que um texto diz a um receptor determinado.
tualizada: durante os últimos anos, começou a difundir-se
a consciência da necessidade de inter-relacionar a intro- O ensino da compreensão leitora
dução na língua escrita com a ampliação do domínio oral
da criança para formas de sintaxe desdobradas, isto é, de A falta de ensino da compreensão leitora
linguagem oral narrativa, por meio de produções orais
descontextualizadas (relatos completos de experiências, As autoras dizem que a análise de Rockwell, Collins e
ditados de cartas à professora, descrições de objetos in- Smith revelam que nem os conceitos dos professores so-
dependentemente de sua presença física etc.). Esse desen- bre o que é aprender a ler nem as atividades que se de-
volvimento oral constituiria a ponte imprescindível entre as senvolvem normalmente nas classes para ensinar a fazê-lo
formas de comunicação familiares à criança e as caracterís- incluem aspectos referentes à compreensão. Um exame rá-
ticas de descontextualização próprias da linguagem escri- pido das situações de leitura habituais na escola nos permi-
ta. Familiarizar os alunos com a língua escrita e criar uma tirá ter uma primeira constatação, bastante evidente, a de
relação positiva com o escrito: deve constituir o primeiro que grande parte das atividades escolares apoia-se na uti-
objetivo da atuação escolar no ensino da leitura. A fami- lização do escrito. Os alunos leem e escrevem mais do que
liarização deve englobar tanto os objetos de leitura (livros, falam. Em compensação, poucas atividades e situações são
anúncios, letreiros etc.) como as situações da vida cotidia- orientadas a ensinar a compreender o texto. Para resumir,
na em que se recorre à leitura (para lembrar, para expli- podemos classificá-las, em linhas gerais, em dois grupos:
car um conto, etc.) ou os lugares nos quais se produz (na
biblioteca, na secretaria, etc.) Fomentar a consciência me- Atividades orientadas a ler para aprender: os alunos
talinguística: outra característica exigida pela comunicação lêem textos relacionados com as diferentes matérias do
escrita é um nível elevado de consciência metalinguística, o currículo para aprender seus conteúdos, sem que, de ma-
que permite concentrar-se na linguagem como objeto em neira geral, lhes tenham ensinado a ler textos informativos.
si mesmo, e não em seu uso como veículo de significado Quando se analisam os livros-texto de língua e literatura,
no interior de uma comunicação. A partir de seu domínio encontra-se um grande predomínio de textos narrativos,
oral (podem perguntar, por exemplo, o que significa tal descritivos e poéticos, com algumas incursões em outros
palavra), o acesso ao escrito requer um uso da linguagem tipos de textos, como jornalísticos ou aqueles relacionados
muito menos transparente que na comunicação oral, e em com a imagem, que foram ganhando terreno nos últimos
diferentes níveis das unidades linguísticas. Utilizar textos anos. Continua sendo uma exceção o trabalho a partir de
concebidos para sua leitura: na escola, muitas vezes, esse textos informativos. Os alunos necessitam de forma cres-
princípio é contradito pela elaboração e pelo uso de mate- cente, aprender coisas como encontrar as ideias principais
riais que tentam facilitar a leitura mediante a proposta de de um texto, contrastá-las com as expectativas e os conhe-
textos narrativos que eles conhecem em sua versão oral, ou cimentos próprios, inferir as etapas expositivas, relacionar
44
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
as informações de vários textos, integrá-las em único dis- Problemas da compreensão do texto: investigar a
curso, seguir uma exposição oral com o suporte de notas representação do texto que o leitor formou mentalmente,
suficientemente seletivas etc. Assim, a instrução necessária saber o que fez para chegar a obtê-la apresenta um pri-
para a compreensão do texto, como meio de acesso ao meiro problema básico: o da necessidade de traduzir tanto
conhecimento, fica relegada à terra de ninguém. a representação como o processo de obtenção em alguns
dados externos suscetíveis de serem analisados.
Atividades orientadas a aprender a ler: hoje se ad-
mite que um dos objetivos da aula de língua, inclusive nos Leitores que entendem o Leitores com déficit de
níveis médios de ensino, é ensinar a ler. Porém, o que a es- texto compreensão
cola faz para ensinar a ler nesses níveis mais elevados nem Resumem o texto de forma
sempre, e nem mesmo comumente, tem muito a ver com hierarquizada (destacam as
a compreensão do texto. Podem-se destacar alguns tipos Acumulam a informação
idéias mais importantes e dis-
de atividades como as mais generalizadas e representativas em forma de lista.
tinguem as relações que há
de tal ausência: entre as informações do texto).
Sintetizam a informação
a) Atividades denominadas de compreensão do texto:
(sabem utilizar palavras ou
a forma mais frequente para essa atividade nas aulas é a de Suprimem o que lhes
construir frases que as en-
leitura de um texto, oral ou silenciosa, seguida da resposta parece redundante. Co-
globem e fazem abstrações
a um questionário que interroga sobre o significado de pe- piam o resto sem orien-
a partir de expressões e
quenos detalhes secundários e referem-se a informações tação determinadas.
conceitos mais detalhados e
obtidas segundo o desenvolvimento linear do escrito. As- concretos do texto).
sim, o tipo de resposta resultante é o de uma simples ve-
rificação, concisa e facilmente localizável no texto, mesmo Selecionam a informação
Selecionam muito in-
segundo sua importância no
que o leitor não o tenha compreendido, já que não existe fluenciados pela colo-
texto e entendem como va-
nenhum tipo de elaboração pessoal nem implica sua com- cação da informação no
lorizam o emissor, embora a
preensão global. Tais atividades não ensinam a compreen- texto ou segundo seu
eles mesmos possa interes-
der o texto, porque não mostram ao aluno os caminhos interesse subjetivo.
sar uma seleção distinta.
que pode seguir para construir o significado.
b) Atividades de manipulação e exercitação de aspectos Parece característico dos bons leitores saber adapta-
formais da língua: A maioria das atividades escritas da aula rem a informação obtida à consecução de seus propósi-
de língua está centrada nos aspectos formais da linguagem tos, enquanto que os demais leitores tratam a informação
ou têm por objeto elementos isolados ou, para elementos como se apenas fosse aplicável de forma direta e são in-
que, embora sejam significativos (a palavra, a frase, etc.), capazes de utilizá-la de forma criativa para resolver seus
são tratados de forma descontextualizada, distantes do uso problemas.
linguístico. É a interação com o professor e com os colegas
durante o processo de elaboração do significado, ou seja, Causas das dificuldades de compreensão
durante o processo que conduz à compreensão do texto,
que deveria permitir aos alunos avançar além de seu nível - os leitores não dominam os níveis intermediários da
real de leitura naquele momento. informação do texto. Parece ocorrer porque os leitores não
c) Atividades nas quais o professor mantém o mono- possuem esquemas textuais claros, e não reconhecem as
pólio da interpretação: aprender é uma atividade constru- chaves que o autor usa para revelar como é organizada
tiva que o aprendiz deve empreender. É imprescindível a a informação, nem a importância que devem atribuir ao
intervenção do adulto, que tem de exercer uma função de conjunto do texto.
mediador a partir dos conhecimentos que o aluno já possui. - os leitores não dominam as estratégias de controle
de sua própria compreensão. Embora quando se lê, pos-
A necessidade de ensinar a compreender: atual- sam apresentar-se problemas de compreensão, os leitores
mente a situação educativa parece evoluir no sentido da com dificuldades caracterizam-se por não serem conscien-
possibilidade de mudar a prática escolar, e a escola está tes da ocorrência de tais problemas ou por não saberem
interessada em propiciar uma aprendizagem significativa como retificar sua interpretação.
dos saberes transmitidos. A constatação do fracasso leitor
de amplas camadas da população escolarizada, e sua vin- Como ensinar a compreender: algumas experiências
culação com o fracasso escolar, contribui também para a
- incrementar a iniciativa de alunos e alunas: para
necessidade de melhorar essas aprendizagens, visto que
melhorar o ensino da compreensão leitora será dar aos
pode operar a partir de descrições muito mais detalhadas
alunos um papel muito ativo na elaboração do significa-
sobre o modo como o leitor atua e constrói a compreensão
do, ensinando-os a elaborar os instrumentos e as maneiras
de um texto. efetivas de fazê-lo.
45
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
- utilizar formas gráficas de representação: subli- No primeiro, apresenta-se um panorama do que se
nhar os fragmentos do texto; identificar sua função (cau- chama de situações reais de leitura e consideram-se as
sas, exemplos, processos etc); identificar as partículas que possibilidades que essas atividades têm na escola e as fun-
os conectam e caracterizam (e inferi-las quando não são ções que cumprem a ela. No segundo e no terceiro, fa-
explicitas); representar o texto em um diagrama. z-se uma proposta de atividades diretamente orientadas
- oferecer modelos de compreensão e controle: A ao ensino, divididas em atividades voltadas à compreensão
modelagem do professor: Baumann e outros autores pro- global do texto (segundo item) e atividades de exercitação
põem sequencias educativas nas quais o professor mostra de habilidades específicas (terceiro item).
claramente como se faz uma tarefa e a seguir vai delegan-
do a iniciativa aos alunos: As situações “reais” de leitura
- comunicação aos alunos dos objetivos a alcançar e de
sua importância; Para fazer algumas indicações sobre a leitura real na
- instrução direta sobre como distinguir os detalhes e escola, a autora agrupa as possíveis situações de leitura:
as idéias principais dos parágrafos lidos. Uso de represen- 1. A leitura de textos relacionados com a tarefa escolar
tações gráficas do texto para a compreensão da explicação; e com a vida na escola.
- aplicação das regras dirigidas pelo professor para 2. A leitura de textos literários.
identificar, inferir ou gerar ideias principais com comentá-
rios coletivos dos alunos e feedback imediato do professor; A leitura relacionada com as tarefas escolares e a
- prática independente dos alunos; vida na escola: inter- relacionar a aprendizagem da leitu-
- aumentar a sensibilidade às incoerências do texto: as ra com as atividades habituais de relação e aprendizagem
atividades como dar textos com erros de diferentes níveis a na escola supõe uma mudança na organização das tarefas
meninos e meninas e fazê-los assinalar e corrigir as incoe- educativas. Requer uma organização do trabalho escolar
rências pode melhorar a sensibilidade leitora para o uso na qual se fomente a capacidade e a responsabilidade dos
dos indícios nos quais aprenderam a fixar-se; alunos para decidir o que querem saber e como podem
- utilizar técnicas de discussão coletiva: a discussão é
saber, e na qual coexistam as situações de trabalho indivi-
uma atividade na qual a ênfase é colocada na participação
dual, de pequenos grupos e de todo o coletivo. J. Jolibert
dos alunos, que devem interagir entre eles e com o profes-
(1984) propõe exemplos de programação nesse sentido
sor, em um tipo de intervenção que supere a típica frase de
que, embora se refiram aos primeiros níveis de escolari-
duas ou três palavras;
dade, podem ilustrar a integração da leitura nas demais
- ajudar a interiorizar orientações a serem seguidas: al-
aprendizagens escolares:
guns exemplos: os alunos lêem o título e o primeiro pará-
grafo; pede-se a eles que antecipem do que se trata o tex-
to; lêem para comprová-lo; pede-se a eles que expliquem Projeto: Ter um
Situações de leitura
por que suas previsões estavam corretas ou não; hamster na classe
- relacionar a compreensão com a produção de textos: Comprá-lo Leitura de anúncios
ex: a fase de pré- escrita: o aluno escolhe o tema sobre
o qual deseja escrever, e o professor o ajuda a pensar o Leitura dos livros de consulta;
que sabe sobre ele. A seguir, deve selecionar a informação leitura do termômetro (para que
mais importante da ficha e sintetizá-la em uma ficha de tenha uma temperatura constan-
redação do tema. O passo seguinte é escolher os detalhes Cuidar dele te), leitura do mural de respon-
que esclarecem ou desenvolvem a ideia. O último passo é sabilidades, leitura do cardápio
a correção e a escrita seguida do texto. (para escolher os alimentos e as
quantidades).
4. O PLANEJAMENTO DA LEITURA NA ESCOLA Projeto: receber
os corresponden- Situações de leitura
A intenção deste capítulo é esboçar um panorama tes
das diferentes atividades que podem modelar uma progra-
mação do ensino da leitura na escola. A partir de três eixos Leitura da carta na qual anun-
Alojá-los entre as
básicos: ciam sua chegada; leitura do ca-
famílias
1. A necessidade de que os alunos leiam realmente dife- lendário e do mapa do metrô.
rentes tipos de textos e com diferentes intenções e funções. Preparar-lhes um
2. A necessidade de que o professor ajude os alunos a Leitura das receitas
lanche
interpretar textos de dificuldade progressiva, de maneira
Leitura do guia turístico e dos
que o aluno possa avançar em sua autonomia leitora. Preparar uma visita
3. A necessidade de exercitar habilidades específicas, horários de visitas aos monu-
à cidade
seja para que o aluno tome consciência de sua importância, mentos.
seja para chegar a automatizá-las, levando em conta, no
entanto, que essa exercitação está sempre subordinada às O professor deixa de desempenhar o papel tradicional
necessidades de aprendizagem de uma leitura compreen- de administrador do saber e passa a ser a pessoa que ajuda
siva de textos reais, sejam ou não escolares. a decidir e organizar as tarefas previstas e colabora em sua
46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
realização. Deverá programar as linhas de apoio necessá- uma prática permanente de satisfação do saber e da ima-
rias para consolidar, sistematizar e avançar nos diversos co- ginação mediante o livro escrito. O desenvolvimento dos
nhecimentos e habilidades que se integram nas situações hábitos de consulta e do hábito de leitura literária é favo-
de leitura. Portanto, dessa perspectiva, o professor perde o recido pela criação de um espaço temporal para fazer esse
lugar de protagonista, que ostentava, ao assumir um papel tipo de leitura na escola. Na criação de uma consciência
exclusivo como fonte de informação e como mediador da pessoal da própria bagagem leitora, algumas atividades
interpretação do texto escrito. voltadas para essa finalidade podem ser, por exemplo:
1. A criação de algum tipo de registro das leituras feitas
A leitura literária deve receber um tratamento especí- (fichas, caderno de notas etc.) em que constem os títulos
fico na escola porque, diferentemente das demais leituras, lidos, os comentários pessoais, os desenhos etc., que re-
destina-se a apreciar o ato de expressão do autor, a de- produzem de forma gráfica o itinerário seguido.
senvolver o imaginário pessoal a partir dessa apreciação e 2. A formação de um fichário similar que favoreça a
a permitir o reencontro da pessoa consigo mesma em sua memória leitora do grupo escolar. Que contos foram ex-
interpretação. O estudo dos conteúdos literários progra- plicados de forma destacada em cada curso (por episódios
mados, os trabalhos de observação e análise das obras, o ao longo de um trimestre, por exemplo), que livros foram
comentário detalhado de uma obra lida de forma coletiva, lidos de forma coletiva, que livros da biblioteca foram mais
a relação da leitura com projetos de escrita criativa etc., de- lidos todo ano etc.
vem ser atividades diferenciadas da situação real de leitura 3. A realização de atividades que impliquem recordar
e integradas nas linhas de programação de auxílio escolar e comentar essas leituras. Por exemplo, um concurso de
que se propõem a aumentar a capacidade de compreen- reconhecimento de personagens a partir de sua imagem
são dos alunos com a intenção de que possam transferir os gráfica ou de suas descrições, um debate sobre as prefe-
conhecimentos adquiridos a todas as obras que venham a rências ou as lembranças de cada um etc.
ler autonomamente. 4. A inclusão da releitura como prática normal nas si-
tuações de leitura literária, já que a releitura, desde que
A biblioteca escolar como contexto real de leitura não se converta em uma permanência na falta de estímulo,
convertida, de fato, em uma midiateca, pode chegar a ser apresenta vantagens indubitáveis em determinados mo-
um núcleo educativo central se ocorrerem mudanças pe- mentos do itinerário leitor, por se tratar de uma atividade
dagógicas na organização do trabalho na escola, na linha que concede tempo e calma para desfrutar das aquisições
indicada anteriormente como condição necessária para a leitoras diante de um novo esforço, para experimentar a
criação de situações reais de leitura. A leitura, em qual- leitura como um gozo em intensidade e não em extensão,
quer de suas funções, tem na biblioteca um de seus es- ou para interiorizar, de forma plena, algumas obras que
paços mais naturais para educar na leitura e no domínio respondem particularmente às próprias necessidades ima-
autônomo dos caminhos de acesso à informação e à sua ginativas.
seleção, desafio educativo absolutamente imprescindível
em uma sociedade como a atual, na qual o crescimento As intervenções de ajuda à compreensão global do
da informação disponível não deixa de aumentar de forma texto
espetacular, ao mesmo tempo em que se multiplicam as
formas de acesso a ela. As linhas de intervenção educativa A interpretação orientada de textos: o professor deve-
da biblioteca escolar, nas tarefas de ensino, passam pelo rá prever uma gradação dos textos literários e não literá-
desenvolvimento de atividades específicas voltadas ao co- rios pelos quais quer fazer com que seus alunos avancem,
nhecimento e à difusão de seus materiais e à criação de partindo, naturalmente, dos que lhes são mais próximos
hábitos permanentes de leitura. e baseando-se nos conhecimentos que têm em cada mo-
mento. O comentário de textos literários: o trabalho pode
O conhecimento e a difusão dos materiais. Seus ser dirigido ao aprofundamento de um texto inteiro breve
usuários devem estar informados de tudo o que podem (uma poesia, um conto curto etc.) ou à leitura minuciosa de
encontrar nela e do que devem fazer para ter acesso a seu uma obra narrativa completa. A tarefa de compreensão de
acervo. As crianças devem apropriar-se do espaço e dos um texto breve: planejar esse tipo de trabalho de maneira
livros através de ações como olhar, folhear, comentar e ler que ajude realmente na compreensão global e profunda de
livre e comodamente, a biblioteca deverá organizar exposi- seu significado, devem ser levados em conta os seguintes
ções de seu acervo ou do que vai adquirindo e deverá rea- critérios:
lizar todo tipo de atividades voltadas a gerar uma atitude 1. Selecionar os aspectos a serem trabalhados de acor-
positiva de descoberta dos livros e materiais que possui, do com essa finalidade.
assim como de estímulo à leitura. 2. Relacionar o texto com a experiência e os conhecimen-
tos do aluno apenas nesses mesmos aspectos essenciais.
A criação de hábitos permanentes de leitura. A nar- 3. Propor exercícios que ajudem na representação
ração de contos ou sua leitura em voz alta pelo professor mental facilitando a ordenação da informação. O trabalho
como uma das atividades mais tradicionais e efetivas para de compreensão de uma narrativa extensa: na leitura de
introduzir as crianças na leitura de imaginação (Hora do uma obra completa deve-se primar pela compreensão dos
conto, Dia do Livro). A criação de hábitos de leitura requer aspectos de organização global e coerente dos elementos
47
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
textuais mais amplos. Isto é, utilizando um similar geomé- 2. Agilizar os saltos visuais no texto e evitar as regres-
trico, deve-se priorizar a análise da totalidade da obra, e sões desnecessárias do olhar sobre o que já se leu.
não convertê-la em uma soma simples de análise de frag- 3. Discriminar os detalhes diferenciadores das unida-
mentos sucessivos. Quando se trata de facilitar a consta- des linguísticas para conseguir sua identificação de uma
tação do grau de independência de todos os elementos maneira mais imediata.
narrativos ao longo da obra, essas seções de leitura pres- 4. Saber orientar-se pelos indícios. Exercitação da me-
tam-se particularmente a um trabalho e a um debate que mória a curto prazo O trabalho sobre a memória a curto
signifique um constante ir e vir do que se sabe da obra às prazo tem uma repercussão direta nas atividades de explo-
antecipações do que virá, do que se acaba de ler à lem- ração do texto e de elaboração imediata da informação. Por
brança de detalhes anteriores, para poder aprofundar-se na esse motivo, proporemos atividades voltadas a aumentar a
análise de cada um dos diferentes aspectos de construção capacidade de retenção de palavras ou frases. Estratégias de
da obra, o juízo sobre sua coerência nessa macroestrutura controle e compensação de erros As estratégias de previsão
e a discussão sobre seus diversos níveis de interpretação. e verificação do texto são utilizadas pelo leitor para ir con-
O comentário de outros tipos de texto: as situações de lei- figurando sua representação mental do significado do que
tura que mais requerem o planejamento das atividades de lê. O leitor deve estar consciente o tempo todo do que está
apoio à compreensão global e minuciosa da informação do entendendo, de quando ocorre uma falta de compreensão
texto são as situações habituais de aprendizagem que se e da importância dessa confusão para, então, poder recor-
produzem em quase todas as matérias do currículo escolar. rer à estratégia adequada para compensá-la. Normalmente,
Assim, a preocupação com a compreensão da informação em uma leitura fluida, os leitores não são conscientes do
escrita deve envolver um trabalho de todos os professores controle que têm sobre a própria compreensão, nem mes-
de todas as áreas. mo de alguns pequenos problemas com que podem se de-
parar, porque aplicam de maneira automática algumas es-
O ensino das habilidades leitoras específicas tratégias úteis. Somente quando o problema é importante
se tornam conscientes dele. Os textos com erros podem ser
Explicitar intenções: tipo de leitura e nível compreen- um instrumento útil para tomar consciência do mecanismo
sivo Exercícios de antecipação do texto A ativação dos co- que se segue na compreensão e também para aplicar expli-
nhecimentos prévios do leitor, tanto sobre o mundo como citamente estratégias para resolver a falta de compreensão
sobre o escrito, já está presente nos exercícios de explici- que se produz. É evidente que, no momento de resolvê-la,
tação de sua intenção e sua forma de leitura, mas pode se põe em funcionamento todo o processo de elaboração
ser objeto de atividades mais específicas, centradas na de hipóteses do qual falamos.
utilização dos diversos níveis do contexto para conseguir
uma maior antecipação no processo de leitura. Recompo- 1. A AVALIAÇÃO DA LEITURA
sição da sequência temporal A reflexão sobre os indícios
que limitam as possibilidades de ordenação pode incluir A avaliação formativa
uma constatação progressiva das diferenças organizacio-
nais entre os tipos textuais. Os alunos poderão observar Para as autoras, podemos distinguir duas grandes li-
que a ordenação de uma narrativa apoia-se em uma linha nhas na concepção da avaliação.
cronológica de acontecimentos, uma descrição deve seguir
uma ordem espacial determinada que não pode mudar 1. A concepção mais frequente e com mais tradição
de repente uma vez configurada, uma argumentação si- no mundo educativo é a que se entende como uma ten-
tua de forma organizada seus prós e contras etc. Exercícios tativa de medir, objetivamente, o nível dos conhecimentos
de pressuposição e inferência A emissão de hipóteses de obtidos pelos alunos ao final de um determinado processo
pressuposição é constante no processo de leitura. Os pro- de ensino. Nesse caso, a função da avaliação na escola é
blemas de compreensão de um texto residem na emissão diferenciar e selecionar os alunos através dos resultados,
de hipóteses não confirmadas que os alunos não lembram geralmente numéricos, de uma série de provas.
ter feito, mas que condicionam sua imagem mental do que 2. Uma nova concepção, bem distinta, é a que entende
estão lendo. Muitas vezes, quando os alunos percebem o como um instrumento educativo que pode ser integrado
erro, não têm consciência de onde ocorreu a ruptura e não no próprio processo de ensino- aprendizagem. Essa con-
podem retificá-lo. Os exercícios de explicitação das anteci- cepção, que se costuma denominar de avaliação forma-
pações pressupostas podem ajudar a evitar tal problema. tiva, tem a dupla função de, por um lado, informar aos
Exercícios de percepção e discriminação rápida de indícios alunos como avançaram e, em que ponto se encontram
condicionados pela percepção do que espera encontrar, o no processo de aquisição de conhecimentos e, por ou-
leitor terá de fixar-se em indícios suficientes para compro- tro lado, dar subsídios aos professores para que possam
var qual das opções possíveis o texto lhe apresenta. Trata- ajustar suas programações e seus métodos a partir do que
-se de propor atividades voltadas a: revelam os resultados da avaliação, se os objetivos previs-
tos estão sendo alcançados ou não. A adoção dessa nova
1. Facilitar a leitura instantânea da maior quantidade concepção de avaliação introduz mudanças fundamentais
de texto possível mediante a ampliação do próprio campo na prática educativa que podem ser esquematizadas nos
visual de cada leitor. seguintes aspectos:
48
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
1. A avaliação deixa de ser um instrumento nas mãos Como se avalia?
do professor e passa a envolver também o aluno no con-
trole de seu próprio processo. Assim, os alunos devem sa- Hoje, utilizam-se, normalmente, avaliações coletivas,
ber o tempo todo o que está sendo observado e que re- inclusive, se possível, padronizadas, o que situa os alunos
sultados obtiveram, ao mesmo tempo em que têm acesso em relação a uma média determinada. O sentido desse tipo
à discussão de quais podem ser suas dificuldades e o que de avaliação no campo educativo é limitado, já que reside
podem fazer para melhorar suas aquisições. apenas no fato de dar consciência aos alunos do que se
2. O reconhecimento da aprendizagem como uma espera deles, tanto de todo o grupo com relação à progra-
construção do próprio aluno implica uma mudança na mação de suas aprendizagens como de uma criança con-
utilização dos instrumentos de avaliação, que perdem creta com relação a seu grupo, comporta diversos proble-
seu habitual sentido sancionador. Assim, se a concepção mas que se devem levar em conta:
tradicional entendia o ensino como um instrumento para - Entre os problemas estão os que se referem à situa-
solucionar carências, o papel outorgado à avaliação seria, ção geral de avaliação. O fato de constituir uma situação
basicamente, de delimitá- las, isto é, tinha de especificar extraordinária de controle fora do âmbito de atividades ha-
tudo o que o aluno não sabia fazer. Em contrapartida, se o bituais afeta as atitudes dos alunos em relação à atividade
ensino é entendido como a maneira de ajudar a progredir proposta. A inquietação causada pode variar muito de um
em suas aquisições, o que é preciso delimitar, como con- aluno para outro e afeta os resultados comparativos que
sequência, é que condições deve ter a tarefa proposta e se estabelecem depois. Esse problema afeta, sobretudo as
que quantidade de ajuda o aluno necessita para obter um provas de leitura em voz alta, nas quais a consciência de
resultado satisfatório. Nesse contexto, o erro deixa de ser uma audiência pode estimular ou inibir enormemente, se-
uma amostra mensurável do fracasso individual para servir gundo o caráter de cada um, fato que torna ainda mais
como fonte de informação sobre as dificuldades especí- necessária a generalização, também, da medição da velo-
ficas de cada aluno, e os resultados da avaliação não são cidade de leitura silenciosa, não tão condicionada pela si-
dados específicos, e pretensamente impessoais, mas sim tuação de avaliação, para ter dados mais fidedignos sobre
dados que permitem a comparação entre as diferenças in-
o progresso da leitura.
dividuais das crianças ou entre os diferentes momentos de
- Com respeito à medição da compreensão leitora, o
aprendizagem de cada um. Essa comparação tem a missão
principal problema é que se trata de uma avaliação centra-
de orientar a tomada de decisões educativas ao revelar o
da no resultado, da mesma maneira que a análise de um
campo de intervenção adequado para cada aluno.
texto escrito já acabado e, portanto, apenas proporciona
3. A integração da avaliação no processo de ensino-
dados para fazer um diagnóstico, quando, ao contrário, in-
-aprendizagem comporta a diversificação dos instrumen-
tos de observação e medida, que passam a incluir tanto a teressa na situação educativa a informação sobre como se
observação sobre os aspectos positivos nas situações de leva a cabo o processo, isto é, quais dificuldades e quais
uso real dos conhecimentos (tudo o que os alunos já sa- soluções o aluno adota para chegar a compreender ou a
bem fazer), como uma grande multiplicidade de exercícios escrever o texto, uma vez que é nisso em que a escola pode
pensados especificamente para poder caracterizar as difi- intervir com sua ação formativa. Essa perspectiva de aten-
culdades de cada um em cada um dos aspectos possíveis. ção ao processo, no entanto, apresenta problemas deriva-
dos de sua aparição muito mais recente no panorama teó-
Problemas da atual avaliação da leitura na escola rico da educação e das dificuldades de sua concretização
prática/realização, já que os processos mentais como tais
Atualmente, as avaliações mais frequentes sobre leitu- não são observáveis, e é preciso buscar maneiras indiretas
ra na escola se centram nas provas de velocidade leitora e de deduzir como os alunos operam.
nos questionários fechados de perguntas de compreensão - A demanda de lembrança livre: é a atividade mais fre-
sobre um texto. Assim, a definição do saber ler de um aluno quente na escola para comprovar o grau de compreensão
nos primeiros cursos da educação básica, muitas vezes, re- de um texto. Sua facilidade de execução, no entanto, pa-
duz-se, a saber, quantas palavras por minuto consegue ler; rece inversamente proporcional à sua dificuldade de valo-
por outro lado, os objetivos das programações oficiais as- ração, já que as inconsistências de sua resposta podem ter
sinalaram durante alguns anos o número mínimo que devia causas muito diversas e, portanto, de difícil atribuição. Em
conseguir para poder vencer a etapa. primeiro lugar, o aluno que tem de explicar ou resumir um
texto precisa ter consciência do grau de detalhe com que
O que se avalia? deve proceder e deve decidir o fio condutor da exposição.
Precisará optar, por exemplo, entre seguir o fio da estrutura
Muitos testes de leitura respondem a uma concepção superficial do texto ou fazer uma breve síntese que enuncie
muito geral da compreensão leitora que a torna insepará- o tema para depois voltar atrás e dar uma explicação mais
vel de fatores comuns a diferentes processos mentais. O detalhada. Por outro lado, os textos podem apresentar di-
fato de não partir de uma concepção mais atual da com- ficuldades estruturais, como saltos cronológicos, histórias
preensão leitora como articulação de um conjunto comple- paralelas, inclusão de diversos pontos de vista etc., que re-
xo de habilidades faz com que não se saiba exatamente o querem muitas decisões do leitor no momento de sinteti-
que se está medindo e, portanto, do que depende o resul- zar sua informação (refazer a história em uma única linha
tado obtido. cronológica, separar os pontos de vista etc.). Todas essas
49
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
dificuldades deverão ser resolvidas pelo aluno a partir de 1) Sobre as atitudes emocionais em relação à leitura, já
sua capacidade de produção oral ou escrita, que, logica- que o envolvimento afetivo do aluno, seu grau de familia-
mente, não corresponde exatamente à sua capacidade de ridade e disposição nessa tarefa concreta de aprendizagem
compreensão. Assim, muitas vezes, são as dificuldades de condicionam radicalmente seu acesso à língua escrita.
saber produzir um texto, e as de saber sintetizar uma infor- 2) Sobre o manejo das fontes escritas, sobre a possi-
mação, as responsáveis por resultados que, aparentemen- bilidade dos alunos de imaginarem onde e como se pode
te, demonstram falta de compreensão do que se leu. adquirir informação por meio do escrito.
- A demanda de lembrança provocada mediante per- 3) Sobre a adequação da leitura à intenção leitora, ha-
guntas apresenta características diversas dependendo se a bilidade que inclui aspectos pouco presentes no ensino,
forma adotada é de perguntas abertas, de escolha entre como saber ignorar os sinais do texto que não interessam
verdadeiro e falso ou de resposta a perguntas de múltipla para a finalidade perseguida.
escolha. 4) Sobre a velocidade leitora e as habilidades percepti-
vas nela envolvidas.
Ajuda-se individualmente os alunos? 5) Sobre a construção mental da informação. Esse é,
sem dúvida, o núcleo essencial da compreensão, e sua ava-
As provas de avaliação leitora de Alexandre Galí liação terá de separar-se na análise das diversas operações
que o leitor deve realizar para saber:
Galí concebe a função da avaliação como forma de a) Se utiliza de forma efetiva seu conhecimento prévio
avaliar o alcance escolar, embora continue considerando-a para inferir a informação não explícita.
como um cômputo de erros para um diagnóstico escolar. b) Se integra a informação obtida em um esquema
Mas, evidentemente, seu trabalho não podia atrair a aten- mental coerente.
ção da pesquisa atual para os processos leitores. De todo c) Se retém o significado do que foi lido na memória a
modo, é preciso destacar sua insistência na integração das longo prazo.
provas às tarefas educativas e à situação de normalidade d) Se utiliza bem os sinais do texto nos diferentes níveis
que exige sua utilização, apontando, inclusive, a necessida- de processamento, dos sinais gráficos ao discurso.
de de adestramento dos alunos em seu uso. As formas de 6) Sobre os procedimentos de controle e avaliação de
reação à leitura, estabelecidas por Galí, são diversas para sua representação mental, isto é, sobre a capacidade para
que se possa aplicá-las, conforme seja oportuno, às dife- localizar os erros de compreensão e sobre os recursos uti-
rentes idades. Propõe, concretamente, a organização de lizados para corrigi-los.
textos (completar ou ordenar), a execução de propostas,
a resposta a questionários de resposta fechada, ou na mo- Como avaliar?
dalidade verdadeiro/falso, e a resolução de adivinhações.
A criação de novos instrumentos de avaliação da leitura
Critérios para a avaliação da leitura na escola terá de responder à necessidade de estabelecer
uma combinação de formas de avaliação complementares
Embora não se disponha atualmente de instrumentos de que compreendam toda a gama de aspectos a observar.
avaliação confiáveis e proveitosos na escola, podem-se esta- Será preciso ter presente também a conveniência de uti-
belecer alguns critérios e linhas de atuação que foram sendo lizar textos completos o bastante para que o leitor tenha
esboçados na análise das deficiências da situação atual. a possibilidade de utilizar todos os mecanismos habituais
de construção do significado, coisa que pode não ocorrer
O que avaliar? em textos muito fragmentados e descontextualizados de
qualquer situação comunicativa real. Os tipos de propostas
O que deve ser objeto de avaliação, conforme a defini- apropriados para avaliar os componentes da leitura devem
ção que faz dela P. H. Johnson, é o grau de integração, in- ser similares aos próprios exercícios de aprendizagem. As
ferência e coerência com que o leitor integra a informação diferenças decorrem de sua finalidade avaliadora, e con-
textual com a anterior. Para alcançar esse objetivo é preciso sistem na perspectiva de observação adotada pelo pro-
considerar o resultado das pesquisas sobre os indicadores fessor, ou mesmo pelo aluno no caso da auto- avaliação,
que são mais sensíveis a refletir esse grau de compreensão em contraste com os resultados obtidos anteriormente; na
do leitor, para enfatizar as atividades de avaliação, visto que possibilidade de medição quantitativa em alguns aspectos,
o leitor deve construir sua representação mental a partir como o da velocidade leitora.
das diversas macroestruturas do texto, terá de incorporar
também os resultados das pesquisas sobre os diferentes A aprendizagem da leitura como um processo di-
tipos de organização textual para poder avaliar o grau de versificado e controlável
compreensão dos tipos de textos mais usuais. A partir des-
ses conhecimentos, pode-se estabelecer com mais clareza A apropriação da língua escrita é um processo multi-
quais são os aspectos leitores que estão sendo avaliados, forme no qual os alunos progridem, ao mesmo tempo, em
e esse esclarecimento da informação que se obterá com as aspectos tão diversos como sua velocidade de leitura, seu
provas de avaliação permitirá saber com mais precisão as conhecimento sobre formas gramaticais próprias do escri-
causas concretas do possível fracasso. to, sua capacidade de encontrar informação, ou a maneira
50
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
de introduzir-se no mundo imaginário que lhes é proposto.
A incorporação do aluno à consciência de tudo o que está DOLZ, JOAQUIM. GÊNEROS ORAIS E
aprendendo a fazer é uma condição indispensável para a ESCRITOS NA ESCOLA. SÃO PAULO:
realização de uma aprendizagem efetiva e controlada. De- MERCADO DE LETRAS, 2004.
ve-se propor aos alunos objetivos claros e concretos como
objetivo imediato em seu processo de aprendizagem da
leitura. Como em todos os processos de aprendizagem, é
preciso levar em conta que na leitura alternam-se grandes AUTOR
avanços repentinos, e apreciáveis externamente, e perío-
dos de estancamento aparente, em que os alunos consoli- Joaquim Dolz é professor e pesquisador em Didática
dam as aprendizagens feitas e estabelecem as bases para do Francês/Língua Materna, da Faculdade de Psicologia e
os passos seguintes. Envolver os alunos nas tarefas de ava- Ciências da Educação (FAPSE) da Universidade de Genebra
liação significa também analisar juntos suas dificuldades (UNIGE), Suíça, e membro do Grupo Grafé – Grupo Româ-
concretas. Discutir as soluções a serem adotadas é a con- nico de Análise do Francês Ensinado.
sequência lógica da análise realizada, e o aluno ficará inte- Bernard Schneuwly é professor da Universidade de Ge-
ressado nela na medida direta em que tenha participado nebra; Leciona Língua Portuguesa e suas ideias sobre gê-
pessoalmente na análise do problema. Quando a consciên- neros e tipos de discurso e linguagem oral estão nos Pa-
râmetros Curriculares Nacionais. Desde a década de 1980,
cia do fracasso leitor já se produziu, a missão imediata do
o psicólogo e doutor em Ciências da Educação, pesquisa
professor é desbloquear a recusa que gera a partir de no-
como a criança aprende a escrever. Os estudos resultaram
vas vias que permitam recuperar a confiança do aluno em
na criação de sequências didáticas para ensino de expres-
si mesmo mediante experiências bem- sucedidas de leitu- são escrita e oralidade. Os conceitos presentes nesse mate-
ra. Essa consideração se enlaçaria com um aspecto, muito rial didático se difundem aos poucos no Brasil. Schneuwly
mais amplo que o das diferentes formas de se interessar vem colaborando com a Pontifícia Universidade Católica de
pela leitura, que faz referência à associação produzida en- São Paulo em trabalhos na área e pesquisadores da institui-
tre fracasso leitor e fracasso escolar. Sem disposição para ção estão publicando uma coleção com sequências didáti-
abordá-lo, gostaríamos de assinalar a necessidade de que cas inspiradas no modelo suíço.
a escola tente atenuar esse determinismo diversificando as
fontes de informação e expressão no campo educativo e SINOPSE
de estabelecer pontes mais acessíveis entre as formas de
pensamento e linguagem da criança e o desenvolvimen- Por que se trabalhar com gêneros e não com tipos de
to que proporciona a língua escrita. Para conseguir isso, textos? Em que esses trabalhos e esses conceitos são dife-
a ação educativa teria de apoiar-se muito mais na experi- rentes? O que é gênero de texto? Como entender a noção?
mentação e na observação direta dos fenômenos, teria de Que gêneros selecionar para ensino, e como organizá-los
utilizar também a linguagem oral, e mesmo a audiovisual, ao longo do currículo? Como pensar progressões curricula-
para que os próprios alunos, e não apenas o professor, res? Deve-se trabalhar somente com os gêneros de circula-
refletissem e expressassem tudo o que vão aprendendo; ção escolar? De circulação extraescolar? Ambos? Quais são
os mais relevantes em cada caso? Grandemente inspirados
e teria de criar hábitos escolares nos quais a linguagem,
nas ideias dos autores, este volume traz as orientações e os
como afirma Wells, no caso da narração de histórias, esta-
referenciais novos que os PCNs puseram em circulação nas
beleça pontes entre os exemplos concretos e os princípios escolas e nos programas de formação de professores gera-
gerais, entre as formas narrativas e as formas mais abstra- ram inúmeras dúvidas quanto a como pensar o ensino dos
tas e lógicas da exposição e do raciocínio. Mediante essa gêneros escritos e orais e como encaminhá-lo de maneira
ampliação das práticas escolares, provavelmente aqueles satisfatória - dúvidas sobre o modo de pensar e o modo de
que têm mais dificuldades no acesso à língua escrita teriam fazer esse ensino de novos objetos.
mais oportunidade de obter êxito na aquisição de conhe-
cimentos e obteriam uma ajuda e uma margem de tempo RESUMO
muito maior para a aquisição e o desenvolvimento de sua
competência leitora. 1. Gêneros Orais e Escritos como objetos de ensino:
modo de pensar, modo de fazer
51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
leva a elaborar um modelo de ensino modular, aplicável Desse modo, pode-se inferir que há uma relação de
em toda a seriação em questão, e a uma investigação geral interconexão e dependência entre gênero e contexto que
para organizar a progressão através dos diferentes ciclos cria uma dupla necessidade: conhecimento do gênero em
do Ensino Fundamental. si e, também, do contexto do qual é expressão e ao qual
O presente artigo pretende exatamente expor os pri- se destina. Nas palavras de Schneuwly, “a ação discursi-
meiros esboços desta investigação baseada essencialmente va é, portanto, ao menos parcialmente, prefigurada pelos
na noção de gênero e desenvolvê-la, sistematizando-a, no meios.” O desenvolvimento linguístico dos sujeitos se dá
sentido de assegurar sua base teórica. Trata-se também de por um processo de continuidade e ruptura através dos
demonstrar não sua exeqüibilidade - que se verificará ou usos de gêneros primários e secundários (categorias utili-
não a posteriori, por seus efeitos eventuais sobre o sistema zadas por Bakhtin), ou seja, através de discursos que se ori-
escolar francófono - mas sua coerência teórica com certos ginam de situações espontâneas (primários) ou de comuni-
postulados de base de nossa concepção sobre a didática. cações culturais (secundárias). A primeira se caracteriza, es-
Foi na década de 1980, no Brasil, que estudos e práti- sencialmente, por discursos orais e o segundo por escritos
cas pedagógicas começaram a serem desenvolvidas ten- envolvendo produção artística, científica e sociopolítica. Os
do o texto como fundamento. De lá para cá, o texto, na gêneros primários constituem-se no nível real de desenvol-
maioria das vezes, vem sendo tomado como um objeto vimento linguístico das crianças (zona de desenvolvimento
empírico através do qual se efetivam práticas de leitura, real) que, a partir deles, é possível desenvolverem os gêne-
análise linguística e produção de textos. Inserindo-se no ros secundários através de intervenção sistemática (zona
rol de estudiosos do tema que criticam essa abordagem de desenvolvimento proximal). Por isso afirma-se, no texto,
limitada do uso do texto, as organizadoras esclarecem que “os gêneros primários são os instrumentos de criação
que, a partir do século XXI, novas pesquisadas vem sendo dos gêneros secundários”.
produzidas sobre leitura e produção de textos. Esses no- Após esse percurso de análise, Schneuwly defende a
vos estudos, cujos autores dos artigos que compõe essa tese de que a diversidade de tipos de textos aos quais as
coletânea são representativos, fundamentam os atuais crianças são expostas possibilita a passagem dos gêne-
PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) orientando que,
ros primários para os secundários, constituindo-se, assim,
agora, “trata-se então de enfocar, em sala de aula, o texto
“construções necessárias para gerar uma maior heteroge-
em seu funcionamento e em seu contexto de produção/
neidade nos gêneros, para oferecer possibilidades de es-
leitura, evidenciando as significações geradas mais do que
colha, para garantir um domínio consciente dos gêneros,
as propriedades formais que dão suporte a fundamentos
em especial daqueles que jogam com a heterogeneidade”.
cognitivos.” (p.11). Os PCNs, como referenciais, objetivam
apresentar os princípios e fundamentos nos quais deve se
pautar a ação docente no ensino da linguagem oral e es- 3. Gêneros e progressão em expressão oral e escri-
crita e acabam apresentando dúvidas, aos professores, em ta – elementos para uma reflexão sobre uma experiência
como organizar o trabalho de ensino-aprendizagem com Suíça (Francófona) Este artigo foi escrito por Joaquim Dolz
base nessas novas ideias. Eis a importância e o motivo prin- e Bernard Schneuwly e relata a experiência de elaboração
cipal da organização da presente obra, cujo objeto consiste de um currículo para o ensino da expressão oral e escrita
em discutir modos de pensar e fazer a fim de orientar o em escola na Suíça Francófona. Fundamentados em Coll
trabalho docente. (1992), os autores defendem que “um currículo para o en-
sino da expressão deveria fornecer aos professores, para
2. Gêneros e Tipos de Discurso: considerações psico- cada um dos níveis de ensino, informações concretas so-
lógicas e ontogenéticas. Este artigo foi escrito por Bernard bre os objetivos visados pelo ensino, sobre as práticas de
Schneuwly e objetiva classificar as tipologias textuais de linguagem que devem ser abordadas, sobre os saberes e
modo que ajude no processo de aquisição das diferentes habilidades implicados em sua apropriação.” (p.43) Na ela-
formas de discurso. Fundamentando-se em Vygotsky, o boração de uma proposta curricular para a linguagem oral
autor define o gênero como um instrumento, de caráter e escrita deve-se levar em conta, também, a progressão,
psicológico, mediador do processo de aprendizagem da ou seja, a ordem temporal que deve seguir o processo de
criança na leitura e na escrita possibilitando, assim, novos aprendizagem. Há uma tripla ordem temporal: a que se
conhecimentos e novas ações. Gênero, por sua vez, de define em função dos objetivos propostos para cada sé-
acordo com Bakhtin, tem um sentido amplo: são os dife- rie escolar, a que se destina às finalidades de cada ciclo e,
rentes tipos de textos orais e escritos que os sujeitos uti- ainda, à referente a cada unidade de ensino. A elaboração
lizam, socialmente, de acordo com funções definidas pelo do currículo progressivo deve fundamentar-se na premissa
contexto vivido. Cada gênero linguístico possui determina- vygotskyana de que a aprendizagem alavanca o processo
das características: de desenvolvimento das funções superiores dos sujeitos,
1. Para cada situação social definida é elaborado um incluindo, aqui, a linguagem. Para a organização do traba-
tipo específico de enunciado; lho, os professores devem partir de três fatores: “as espe-
2. Cada gênero apresenta conteúdo, estilo e composi- cificidades das práticas de linguagem que são objeto de
ção própria; aprendizagem, as capacidades de linguagem dos aprendi-
3. A definição de cada gênero se dá em função da te- zes e as estratégias de ensino propostas pela sequência di-
mática em foco, dos participantes envolvidos no contexto dática” (p.51). As sequências didáticas referem-se aos mó-
e na vontade do locutor. dulos de ensino dispostos sequencialmente a fim de levar
52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
o aluno a alcançar, ao final do processo, os objetivos pro- a) legitimidade: que consiste em analisar os conheci-
postos no planejamento pedagógico. O desenvolvimento mentos produzidos pelos especialistas sobre os gêneros;
das capacidades linguísticas das crianças se constitui, em b) pertinência: refere-se “às capacidades dos alunos, às
parte, por um processo de reprodução de modelos social- finalidades e aos objetivos da escola, aos processos de en-
mente legitimados. Estratégias sistemáticas e intencionais sino-aprendizagem” (p.82);
do processo de ensino- aprendizagem são necessárias para c) solidarização: tornando “coerentes os saberes em
garantir o domínio desses instrumentos sociais por parte função dos objetivos visados”.
dos aprendizes. Cabe, portanto, à escola, e aos professores,
essa tarefa. Que critérios utilizar para a elaboração e de- 5. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apre-
senvolvimento do processo de ensino-aprendizagem das sentação de um procedimento Buscando responder a per-
expressões orais e escritas, na escola? “Nesse processo, o gunta “Como ensinar a expressão oral e escrita?” (p.95),
critério a privilegiar para tomar decisões é o da validade di- esse texto de Joaquim Dolz, Michèle Noverraz e Bernard
dática: as possibilidades efetivas de gestão do ensino pro-
Schneuwly, propõe a sequência didática como uma estra-
posto, a coerência dos conteúdos ensinados, assim como
tégia adequada para elaboração do processo de ensino-
os ganhos de aprendizagem.”
-aprendizagem, compreendendo “um conjunto de ativi-
4. Os Gêneros escolares – das práticas de linguagem
dades escolares organizadas, de maneira sistemática, em
aos objetos de ensino A ideia central desse artigo escrito
por Schneuwly e Dolz é “de que o gênero é (...) utilizado torno de um gênero textual oral ou escrito” (p.97). É suge-
como meio de articulação entre as práticas sociais e os ob- rido um modelo de sequência didática contendo quadro
jetos escolares, mais particularmente no domínio do ensi- momentos distintos, mas articulados e interdependentes,
no da produção de textos orais e escritos”. As práticas so- que serão apresentados a seguir.
ciais se dão nas relações que os sujeitos estabelecem ente 1. Apresentação da situação: essa etapa é crucial, pois
si (relações sociais) de diferentes formas, sendo a lingua- é aqui que serão definidos o contexto, a forma e conteúdo
gem uma delas. As diferentes expressões orais e escritas, do gênero a ser estudado e produzido envolvendo duas
suas formas, estilos, funções emergem das práticas sociais ações. A primeira refere-se a situação de comunicação e a
e se materializam em diferentes tipos de textos ou, em pa- escolha do gênero e a segunda diz respeito aos conteúdos
lavras mais técnicas, gêneros linguísticos. É na escola que a serem trabalhados. Para ajudar na preparação da primei-
as expressões linguísticas usadas nas práticas sociais são ra ação, são apresentadas quatro questões que devem ne-
apropriadas pelas crianças. Esse processo de apropriações cessariamente, serem respondidas: “Qual é o gênero que
ocorre através dos diferentes gêneros linguísticos. Ao ser será abordado? A quem se dirige a produção? Que forma
transposto ao ambiente escolar, o gênero é, além meio de assumirá a produção? Quem participará da produção?”. A
comunicação, objeto de ensino-aprendizagem, transfor- segunda dimensão refere-se ao tema e possíveis subtemas
mando-se, portanto, em gênero escolar. O autor destaca que serão abordados.
três vertentes de práticas pedagógicas que enfocam um 2. Primeira produção: Os alunos farão uma produção
dos aspectos constitutivos do processo de apropriação da oral ou escrita dependendo do gênero que será trabalhado.
linguagem: Essa produção tem uma dupla importância: para os alunos
a) desaparecimento da comunicação que resulta da re- será o momento de compreender o quanto sabem do gê-
dução dos gêneros em objetos de ensino esvaziados de nero e do assunto a ser estudado e, ainda, se entenderam
suas funções sociais; a situação de comunicação à qual terão de responder; para
b) a escola como lugar de comunicação, vertente na os professores têm o papel de analisar o que os alunos já
qual a própria instituição é tida como lugar de comunica- sabem, identificar os problemas linguísticos do gênero que
ção e, portanto, como espaço e finalidade da produção e
deverão ser enfocados e definir a sequência didática.
uso de textos;
3. Módulos: A quantidade e conteúdo dos módulos de
c) negação da escola como lugar específico de comu-
ensino devem ser definidos de acordo com as informações
nicação, abordagem que nega a escola como parte da prá-
colhidas pelo professor da primeira produção dos alunos.
tica social geral buscando, assim, transpor, de forma direta,
as expressões orais e escritas utilizadas na sociedade para Cada módulo deve contemplar problemas específicos do
o interior da escola. gênero em questão a fim de garantir melhora dos alunos na
Contrapondo-se a essas correntes que geram práticas compreensão e uso da expressão oral ou escrita estudada.
limitadoras de ensino-aprendizagem da linguagem, o au- 4. Produção final: Após o processo os alunos deverão
tor defende que os gêneros são “objeto e instrumento de realizar uma produção que demonstrará o domínio ad-
trabalho para o desenvolvimento da linguagem”. É apon- quirido ao longo da aprendizagem acerca do gênero e do
tada a necessidade de construir modelos didáticos de gê- tema propostos e permitirá ao professor avaliar o trabalho
neros a partir dos quais seja possível elaborar sequências desenvolvido. Os autores esclarecem, contudo, ao final do
didáticas que possibilitem a apropriação dos gêneros pelas texto, que “as sequências devem funcionar como exemplos
crianças sendo necessário o estudo das dimensões passí- à disposição dos professores. Elas assumirão seu papel ple-
veis de serem ensinadas a respeito de cada gênero linguís- no se os conduzirem, através de formação inicial ou contí-
tico. Para tanto, o autor propõe três princípios orientadores nua, a elaborar, por conta própria, outras sequências”.
da elaboração desses modelos:
53
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
6. Palavra e ficcionalização: um caminho para o en- objeto de ensino pressupõe que se conheça e compreenda
sino da linguagem oral Este texto é de autoria de Bernard as práticas orais e os saberes e linguísticos nelas implica-
Schneuwly, fruto de uma Conferência no Programa de pós- dos. Toda relação comunicacional produz um texto enten-
-graduação em Linguística Aplicada e estudos da Lingua- dido como “uma unidade de produção verbal que veicula
gem (Lael) da PUC-SP, proferida em 1997. Sua tese é de uma mensagem organizada linguisticamente e que tende
que é possível trabalhar o ensino da linguagem oral ma- a produzir um efeito de coerência sobre seu destinatário”
terna na escola através de uma nova relação da linguagem. (p.169). Selecionar diferentes textos (orais) utilizados so-
Analisando a história do ensino da linguagem na escola, cialmente tornará o ensino mais significativo para os alu-
especificamente acerca da relação entre o oral e o escri- nos e professores. Além da expressão oral propriamente
to, o autor analisa criticamente duas vertentes comuns que dita, os autores consideram que a outra dimensão dessa
orientam o processo de ensino- aprendizagem para, ao fi- expressão linguística – a oralização da escrita – também é
nal, propor um caminho possível para se trabalhar a lingua- importante na apropriação por parte dos alunos das prá-
gem oral na escola. ticas e atividades linguísticas socialmente construídas e le-
A primeira abordagem discutida é aquela na qual os gitimadas pela sociedade. Sugere-se, assim, também o tra-
alunos são levados a desenvolver habilidades linguísticas balho com recitação, teatro e leitura para os outros. Quais
orais tendo como referência a norma da linguagem escrita gêneros orais ensinar na escola? O papel da escola, para
culta. São enfocadas, aqui, as dimensões estruturais da lin- os autores, é o de instruir mais do que de educar a escolha
guagem (fonológicas, sintáticas, lexicais) e não trabalhados dos textos deve-se recair, sobretudo, nos de caráter públi-
outros aspectos relevantes na linguagem oral como, por co formal, ou seja, aqueles frutos (e utilizados) de situações
exemplo, os argumentos e a estrutura textual utilizados públicas formais (conferência, debate, entrevista jornalísti-
pelo aluno. A segunda referência aborda a linguagem oral ca, entre outros). Além disso, as expressões orais utilizadas
como uma expressão em si mesma bastando, apenas, que nas situações públicas convencionais são mais complexas
o aluno tenha espaços nos quais se expresse oralmente e requerem uma intervenção didática intencional para que
acerca de seus sentimentos. Não há, portanto, nessa con- seja possível sua apropriação e uso consciente e intencio-
cepção, objetivos didáticos estabelecidos para a linguagem nalmente. Cabe ao professor, portanto, conhecer os gêne-
oral na escola. Schneuwly propõe que o trabalho da lin- ros orais oriundos de situações públicas formais e fim de
guagem oral assuma uma outra dimensão na instituição transformá-los em objetos de ensino através de sequências
escolar objetivando levar os alunos de uma oralidade es- didáticas cujos princípios e proposta de um modelo são
pontânea a uma expressão oral gestada, ou seja, pensada e apresentados no artigo intitulado “Sequências didáticas
planejada intencionalmente pelos sujeitos em interlocução. para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento”.
Essa mudança do rumo que adquire a oralidade pressupõe
uma certa ficcionalização, ou seja, uma elaboração abstrata 8. Em busca do culpado: Metalinguagem dos alunos
de situações envolvendo quatro parâmetros: “enunciador, na redação de uma narrativa de enigma Com o intuito de
destinatário, finalidade ou objetivo, lugar social”. analisar “o papel das atividades metalinguísticas no ato
7. O oral como texto: como construir um objeto de de escrita, por meio do exemplo da narrativa de enigma”,
ensino Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly escrevem este Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly escrevem este artigo
artigo com a colaboração de Sylvie Haller com o intuito de baseado em uma pesquisa realizada com um grupo de alu-
constituir a expressão oral em objeto de ensino em função nos, organizados em pares, produzindo uma narrativa de
da centralidade que ele ocupa nas práticas sociais desde a enigma (narrativa de um crime e seu processo de investi-
mais tenra idade até a fase adulta. Para tanto, é imprescin- gação). A escolha desse gênero fundamenta-se no fato de
dível definir, clara e objetivamente, quais são as caracterís- que, para escrever um texto desse tipo é necessário bus-
ticas da linguagem oral que devem ser ensinadas. A partir car compreender como ele se estrutura a fim de seguir seu
da sua definição é possível traçar estratégias de ensino “modelo” objetivando construir a narrativa. A pesquisa foi
mais adequadas para o desenvolvimento das habilidades realizada com um grupo de 24 pré-adolescentes subdivi-
orais dos alunos. A primeira dimensão do oral é de que ele dido em duplas. Das 12 duplas formadas, 8 foram subme-
consiste numa linguagem falada com entonação, acentua- tidas a uma sequência didática na qual foram abordados
ção e ritmos próprios envolvendo um aparelho fonador in- alguns aspectos do gênero a ser trabalhado, além das ins-
terligado com o aparelho respiratório, através dos quais se truções acerca do texto a ser produzido. As outras 4 duplas
emitem sons articulados em fonemas (vogais e consoantes) receberam somente as instruções para a realização do tex-
combinados de modo a formarem sílabas. O oral pode ir to. Todas as duplas receberam um texto-base contendo o
do espontâneo que consiste numa fala improvisada diante início da história informando acerca do crime cometido e
de uma situação imediata vivenciada à escrita oralizada re- um parágrafo final genérico no qual não aparecia o culpa-
ferente à vocalização de um texto escrito através da leitura do do crime. A proposta consistia em completar a histó-
ou do recital. A oralidade tem como marca, também, a lin- ria. Dos resultados obtidos, verificou-se que, a maioria das
guagem corporal, através de mímicas, gestos, expressões duplas realizou uma certa discussão acerca dos elementos
faciais. Outra questão a considerar é da relação entre oral e principais que devia conter um texto de enigma sendo que,
escrita. A linguagem, para os autores é um sistema global grande parte deles foram dos que participaram da ativida-
que envolve tanto a oralidade e a escrita. O que define qual de didática que precedeu a elaboração do texto. Algumas
expressão será usada (oral ou escrita) é a situação comuni- conclusões ainda que iniciais, dado a amostra limitada que
cacional na qual se está inserido. Assim, tomar o oral como foi trabalhada na pesquisa, foram apresentadas:
54
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
1. A observação dos alunos durante o processo de ela- 10. Relato da elaboração de uma sequência: o deba-
boração de um texto permite estudar as atividades meta- te público Este capítulo do livro escrito por Joaquim Dolz,
linguísticas por eles desenvolvidas; Bernard Schneuwly e Jean-François de Pietro, relata uma
2. O texto-base foi uma estratégia que colaborou para sequência didática aplicada a uma situação de ensino do
o desenvolvimento da proposta; debate como uma experiência prática de ensino de expres-
3. Uma das noções discutidas pelos alunos e que, nas são oral, na escola. O debate foi escolhido como objeto de
narrativas enigmáticas é de suma importância, é de culpado; ensino porque permite desenvolver várias habilidades ne-
4. A narrativa de enigma a ser elaborada possibilitou o cessárias para a vida em sociedade, tais como: capacidades
surgimento de problemas relacionados com esse gênero linguísticas (discurso, argumentação, retomada do discur-
linguístico. Além disso, a elaboração da intriga, elemento
so), cognitivas (crítica), social (ouvir e respeitar o outro) e
central desse gênero literário, precisa de um trabalho siste-
individual (situar-se perante uma situação, tomar posição
mático que alavanque, nos alunos, a discussão sobre essa
questão; diante de um assunto, construir sua própria identidade).
5. Dividir a classe em dois grupos – um que foi alvo de Os autores apresentam três tipos de debate que se pode
um trabalho didático e outro que não possibilitou verificar trabalhar:
o papel da intervenção didática na produção dos textos;
6. Nas discussões das duplas para definição das estra- 1. De opiniões: aqui as crianças são levadas a colocar
tégias para elaboração do texto foram muito mais ricas do sua opinião e justificá-la a respeito de um tema sem, con-
que o texto produzido por eles. Este não continha várias tudo, seja necessário chegar a uma conclusão;
das questões levantadas e decididas pela dupla; 2. Deliberativo: aqui o que direciona o debate e a argu-
7. Didaticamente, é necessário intervenção para a pro- mentação é a necessidade de se tomar uma decisão;
dução das narrativas em três dimensões: processo de ab- 3. Para resolução de problemas: a discussão do proble-
dução que permite desvendar o crime e achar o culpado; ma e suas possíveis soluções é o centro do trabalho.
a necessidade de criar suspeitos dando condições de se Após a definição do tipo de debate a ser estudado,
criar intrigas para retardar a descoberta do culpado e, en- parte-se para a escolha do tema que deve levar em con-
fim, necessidade de caracterizar os personagens através de ta: os interesses dos alunos, a complexidade e saberes dos
diálogos, ações e descrições. alunos sobre o tema, a relevância social, capacidade didá-
tica. Enfim, chega-se à questão das formas de se tratar o
9. A exposição oral: O artigo em questão foi escri-
conteúdo do debate. Nessa fase, sugere-se que sejam tra-
to por quatro autores: Joaquim Dolz, Bernard Schneuwly,
Jean-François de Pietro e Gabrielle Zahnd. Partindo da balhados temas cujos argumentos podem ser buscados no
constatação de que a exposição oral, sobretudo o semi- conteúdo das disciplinas que estão sendo desenvolvidos e
nário, é muito utilizada nas salas de aula, os autores, com buscar outras fontes, preferencialmente orais, de aumentar
base em pesquisas realizadas, afirmam que, contudo, ele o repertório dos alunos acerca do assunto. Deve-se atentar,
não se configura como objeto de ensino. Assim, não há um também, para questões de ordem prática que envolvem o
trabalho sistemático e intencional cujo objetivo seja possi- ensino da oralidade na escola: duração da sequência didá-
bilitar aos alunos a apropriação das características próprias tica e de seu conteúdo em função do nível de desenvolvi-
desse gênero oral a fim de melhorar seu desempenho nas mento que os alunos estão; inserir, no projeto de classe,
exposições orais. Diante desse diagnóstico, os autores de- trabalhos com oralidade; buscar formas para registrar es-
fendem que as exposições orais sejam utilizadas, na escola, ses trabalhos (gravação: só da fala ou com imagens); pro-
como meio de comunicação e, também, como objeto de porcionar aos alunos contato com modelos de expressões
ensino. A exposição oral é um texto de caráter público e orais de caráter público formal. No ensino das expressões
formal onde um sujeito transmitirá, de forma estruturada, orais, na escola, o papel do professor é primordial visto
informações acerca de um tema que domina a uma plateia que, ao mesmo tempo, ele precisa gerenciar duas dimen-
com pré-disposição para aprender. sões articuladamente: criar uma situação de comunicação
O ensino desse gênero oral deve levar em considera- motivadora e enriquecedora e desenvolver, nos alunos,
ção dimensões inerentes a ele: capacidade de comunica-
suas capacidades argumentativas. Ao longo e ao final do
ção, conteúdo específico e procedimentos linguísticos e
processo é necessário, ainda, que o professor avalie tanto
discursivos. A situação de comunicação deve ser objeto de
análise: qual o tema, quais as problemáticas serão aborda- seu próprio trabalho como gestor do ensino bem como os
das na exposição, quem são os interlocutores, o que eles já trabalhos realizados pelos alunos que expressam o grau de
sabem sobre o tema, quais as conclusões as quais se deve desenvolvimento por eles alcançado.
chegar. O estudo do conteúdo a ser exposto também deve
ser alvo de discussão. Os alunos devem procurar diversas Currículo e progressão
fontes e utilizar, caso necessário, de gráficos, tabelas, en-
fim, do repertório de fontes como apoio à exposição do Estamos utilizando aqui a noção de currículo por opo-
tema. Após, passe-se à organização interna da exposição sição à de programa escolar. Enquanto que o programa
também considerando sete fases: abertura, introdução ao escolar supõe uma centração mais exclusiva sobre a ma-
tema, apresentação do plano da exposição, desenvolvi- téria a ensinar e é recortado segundo a estrutura inter-
mento e encadeamento dos temas, recapitulação e síntese, na dos conteúdos, no currículo, esses mesmos conteúdos
conclusão e encerramento. disciplinares são definidos em função das capacidades e
55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
das experiências necessárias ao aprendiz. Além disso, os Por outro lado, as concepções endógenas distinguem
conteúdos são sistematicamente postos em relação com o desenvolvimento da aprendizagem, mas consideram
os objetivos de aprendizagem e os outros componentes esta última um processo externo que não está implicado
do ensino. ativamente no desenvolvimento. Para esta segunda cor-
Segundo Coll (1992), as principais funções de um cur- rente, a aprendizagem não é uma condição fundamental
rículo são as seguintes: do desenvolvimento das funções superiores. Como res-
- descrever e explicitar o projeto educativo (as inten- salta notavelmente Rivière (1990, pp. 89-95), Vygotsky
ções e o plano de ação) em relação às finalidades da edu- propõe uma concepção radicalmente diferente, segundo
cação e as expectativas da sociedade; a qual a aprendizagem é uma condição prévia necessária
- fornecer um instrumento que oriente as práticas dos às transformações qualitativas que se produzem ao longo
professores; do desenvolvimento e opõe-se às duas concepções ante-
- levar em conta as condições nas quais se realizam riormente citadas, por uma única e mesma razão: “ambas
estas práticas; as orientações partem de uma concepção essencialmente
- analisar as condições de exeqüibilidade, de modo a solipsista do sujeito” (p. 91). Nos dois casos, o sujeito está
evitar uma descontinuidade excessiva entre os princípios e sozinho e não se vê o polo ativo que representa sua re-
as restrições colocadas pelas situações de ensino. lação com os outros. Num dos casos, ele está reduzido a
Um currículo para o ensino da expressão deveria for- um complexo de mecanismos reativos; no outro, está re-
necer aos professores, para cada um dos níveis de ensino, duzido a competências internas. Para Vygotsky (1934: 88),
informações concretas sobre os objetivos visados pelo en- “a aprendizagem humana pressupõe uma natureza social
sino, sobre as práticas de linguagem que devem ser abor- específica e um processo por meio do qual as crianças
dadas, sobre os saberes e habilidades implicados em sua acedem à vida intelectual daqueles que as cercam”. Quan-
apropriação. Não existe, até o momento, para a expressão do nos damos conta de que o termo russo utilizado por
oral e escrita, um currículo como este, que apresente uma Vygotsky é obouchenie, que implica tanto os processos
divisão dos conteúdos de ensino e uma previsão das prin- de ensino como os de aprendizagem (Schneuwly, 1995),
cipais aprendizagens. a posição do psicólogo parece ainda mais radical. O de-
Entre os diversos componentes do currículo, a progres- senvolvimento na idade escolar só se torna possível graças
são – ou seja, a organização temporal do ensino para que ao ensino e à aprendizagem intencionais, que supõem um
se chegue a uma aprendizagem ótima - permanece como pré-enquadre da situação e uma tomada de consciência
um problema complexo, difícil de se resolver. É preciso por parte dos participantes: o professor e seus alunos.
que nos lembremos de que as decisões relativas à ordem Tanto a aprendizagem incidental, advinda acessoria-
temporal que se deve seguir no ensino situam-se essen- mente no curso da realização de uma ação, como a apren-
cialmente em dois níveis. Segundo Coll (1992, p. 66), elas dizagem intencional, onde o sujeito está implicado numa
dizem respeito tanto à divisão dos objetivos gerais entre os situação que visa um efeito, são construções sociais. A
diferentes ciclos do ensino obrigatório (progressão inter- aprendizagem intencional frequentemente se realiza em
ciclos) como à seriação temporal dos objetivos e dos con- meio institucional. No que concerne às práticas de lin-
teúdos disciplinares em cada ciclo (progressão intraciclo). guagem, sua apropriação começa no quadro familiar, mas
Além disso, à parte a questão do currículo, o problema da certas práticas, em particular aquelas que dizem respeito
progressão coloca-se igualmente no nível das sequencias à escrita e ao oral formal, realizam-se essencialmente em
concretas de ensino realizadas em sala de aula, isto é, no situação escolar na nossa sociedade, graças ao ensino, por
momento em que o professor decide sobre a sequencia de meio do qual os alunos conscientizam-se dos objetivos
atividades e operações com que ele pretende fazer avan- relativos à produção e à compreensão. Aqui, mais ainda
çarem os alunos: definição e decomposição das tarefas a que em outras aprendizagens, a cooperação social é o fa-
serem realizadas; caminho e etapas a serem seguidas para tor determinante das transformações e dos progressos que
aproximar-se de um fim; ordem dos diversos elementos do ocorrem.
conteúdo etc. Neste contexto, o que podemos dizer sobre o mote do
pedocentrismo “a criança no coração da ação pedagógi-
Contra o solipsismo - Construção conjunta inten- ca”? Metáfora significante de um algo caduco ou emblema
cional de uma nova forma de solipsismo? Em todo caso, nas re-
presentações dos professores (Perrenoud-Aebi, 1995), esta
Na gênese social e instrumental de uma função superior fórmula aparece sistematicamente associada a uma visão
como a linguagem, é fundamental que se considere a rela- de aprendizagem na qual é a dinâmica interna inconsciente
ção existente entre a aprendizagem - a saber, os mecanismos dos aprendizes que estrutura os comportamentos. Certa-
pelos quais os fatores externos modificam os comportamen- mente, a fórmula é consensual. Mas nos resta perguntar,
tos - e o desenvolvimento. Num texto precursor, Vygotsky como o faz Rochex (1996: 33) se este consenso “não re-
(1935) criticava tanto o objetivismo reducionista quanto as pousa, pelo menos em parte, sobre uma espécie de lugar
concepções endógenas da psicologia idealista. Para o obje- comum pedagogicamente correto, cuja frequência de uso
tivismo, o desenvolvimento reduz-se a uma aprendizagem poderia perfeitamente ser inversamente proporcional ao
por associação e acúmulo de respostas, desvalorizando-se, rigor conceitual. Se podemos nos alegrar de ver assim re-
assim, o papel ativo e transformador do sujeito. conhecido que não haveria aprendizagem sem atividade
56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
e engajamento do sujeito, a meu ver, convém reafirmar – no desenvolvimento. Os discursos são considerados como
na esteira, dentre outros, de Wallon, de Vygotsky ou de objetos de aprendizagem e como instrumentos a serviço
Meyerson –, que o objeto mesmo sobre o qual se exerce da aprendizagem, mas são raramente abordados como
esta atividade confere-lhe um caráter normatizado (o que objetos de ensino. Uma progressão baseada numa teoria
não quer dizer normalizado) e demanda ao sujeito que saia como essa tenderia a selecionar objetos e situações natu-
de si mesmo para se defrontar com normas e significações rais, cada vez mais complexas, que seriam, potencialmente,
partilhadas e, logo, para confrontar-se com e expor-se à fontes de aprendizagem. Procuraria antecipar sequencias
alteridade”. possíveis e diferenciadas de aprendizagem, sem selecionar
objetivos e objetos progressivos de ensino, sem formalizar
Qual interacionismo? a ordem das intervenções do professor.
A segunda posição, a que chamaremos “interacionis-
Podemos reencontrar o debate aqui delineado, no in- mo instrumental”, insiste sobre as relações ensino-aprendi-
terior do campo da didática do francês língua materna. Não zagem e sobre os diferentes instrumentos que podem ser
se trata, como no caso de outras didáticas, de uma contro- construídos para permitir a transformação dos comporta-
vérsia entre os defensores do “interacionismo lógico” e do mentos. Uma teoria social do ensino-aprendizagem enfoca
“interacionismo social”. O primeiro, que parece ignorar que as influências sociais a que os alunos estão submetidos, ao
as relações humanas são sempre mediadas por objetos do mesmo tempo em que leva em conta as características do
mundo cultural (cf. Bronckart, 1996), não pode mais forne- lugar social no qual as aprendizagens se realizam: a esco-
cer um quadro interpretativo interessante para se refletir la. Ela leva em consideração as necessidades e finalidades
sobre o ensino de línguas. Para o “interacionismo social”, a que fazem com que os diferentes participantes busquem
consciência de si e a construção das funções superiores são uma forma de interação na qual os modelos retidos de-
estreitamente dependentes da história de relações do indi- pendem de sua valorização social. Ela analisa as interven-
víduo com sua sociedade e da utilização da linguagem. O ções intencionais dos professores em função de um pro-
fato de pertencer a uma comunidade de interpretação das jeto, distinto da esfera cotidiana de experiência do aluno,
unidades de representação permite a compreensão e a an-
e estuda não só os ajustes retrospectivos para assegurar a
tecipação das atividades de outrem; permite, igualmente,
continuidade das aprendizagens, mas sobretudo o efeito
a modificação de seu próprio comportamento, levando-se
dos ajustes prospectivos, em função do modelo buscado,
em conta o ponto de vista do outro. Considerando-se a
das novidades introduzidas e do pré-enquadre proposto.
ação recíproca dos membros do grupo e os sistemas de co-
As antecipações predispõem a uma atenção seletiva que
municação que a tornam possível como os principais fenô-
consiste em tratar certos componentes do modelo e em
menos explicativos da aprendizagem, esse quadro teórico
convém perfeitamente para interpretar e compreender os ignorar outros. As interações são reguladas pelos profes-
problemas em jogo na didática do francês língua materna. sores, que são responsáveis por ajudar o aluno a assimilar
E deixa, pelo menos, duas opções estratégicas em aberto. as novidades. A progressão curricular derivada de uma tal
Duas contribuições feitas no colóquio sobre as intera- teoria é considerada como uma elaboração “artificial”, uma
ções leitura-escrita (Reuter, 1994) ilustram-nas à perfeição. construção de instrumentos, destinada a melhor controlar
A primeira, defendida por Vinson & Privat (1994), insiste os diversos componentes que integram os processos de
sobre as interações entre o aprendiz e as propriedades cul- ensino-aprendizagem.
turais do texto num projeto de construção direta de uma Quais são as consequências desta última perspectiva
pessoa livre, criativa e autônoma. A outra, proposta por para uma concepção global da progressão?
Dolz (1994), considera que o desenvolvimento da auto- Primeiramente, o currículo deve fornecer uma visão de
nomia do aprendiz é, em grande parte, consequência da conjunto dos objetos de ensino e dos objetivos limitados
mestria do funcionamento da linguagem em situações de a atingir face a estes objetos. Estes objetos culturais são
comunicação. O objetivo primeiro é o de instrumentalizar abordados em toda sua complexidade, isto é, do ponto de
o aprendiz para que ele possa descobrir, com seus camara- vista das normas e das significações partilhadas que veicu-
das, as determinações sociais das situações de comunica- lam, mas são também decompostos para o ensino.
ção assim como o valor das unidades lingüísticas no qua- Em segundo lugar, coloca-se para o currículo o pro-
dro de seu uso efetivo. Nesta segunda opção estratégica, blema da progressão de grupos heterogêneos de alunos
as intervenções sistemáticas do professor desempenham trabalhando conjuntamente. Ele não tem por função esta-
um papel central para a transformação das interações en- belecer expectativas relativas ao desenvolvimento singular
tre o aprendiz e o texto. A primeira posição, a que chama- dos alunos, mesmo que cuide de respeitá-lo. Ele define ex-
remos “interacionismo intersubjetivo”, prioriza a dinâmica pectativas mínimas da sociedade para todos.
transacional das trocas na aprendizagem. É uma teoria Em terceiro lugar, o currículo deve antecipar os obs-
sócio cognitiva da aprendizagem, que centra sua atenção, táculos típicos da aprendizagem, nos diferentes ciclos es-
sobretudo nos contextos de interação, de influência mútua, colares e no interior destes ciclos, assim como as novas
de trocas verbais e de atividades de construção conjunta etapas pelas quais os alunos podem passar. Fornece aos
em situações “naturais”, relegando a um plano acessório as professores as grandes orientações de trabalho como re-
intervenções ditas “artificiais” e intencionais, ditadas pelo ferenciais e hipóteses a adaptar, de acordo com os gru-
meio social. Arriscam-se, assim, a perder de vista os ingre- pos de alunos e com as restrições das situações concretas
dientes de ensino que desempenham um papel catalisador de ensino.
57
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Em quarto lugar, o currículo precisa as situações de co- introduzida por Vygotsky, exige um nível de concretização
laboração entre alunos do mesmo ciclo e/ou de diferentes maior que a progressão curricular global. Tal como a anali-
ciclos, que facilitam uma construção conjunta de novas ca- sam Besson & Bronckart (1995: 46) “a ZPD não é determi-
pacidades. nável ‘a priori’; o ensino, em sua lógica educativa própria
Em quinto lugar, o currículo fornece os instrumentos (sobretudo, lógica dos programas), só pode propor situa-
e as estratégias de intervenção para transformar as capa- ções de interação que julga serem eficazes; e estas somen-
cidades iniciais apresentadas pelos alunos (resultados da te o serão se os elementos interativos forem assimiláveis
aprendizagem espontânea, mas, sobretudo do ensino in- ao estado de desenvolvimento efetivo do aluno. Portanto,
tencional anterior). Traz consigo, portanto, elementos que o sucesso na criação de uma ZPD nunca está assegurado e
permitem aos alunos passar a uma nova etapa no seu com- depende grandemente da experiência profissional do pro-
plexo processo de socialização. fessor”. A criação de um espaço potencial de desenvolvi-
mento deve ser encarada no nível local, no quadro da reali-
A tensão entre as exigências externas e as possibi- zação de sequências didáticas que têm por objeto gêneros.
lidades internas
Progressão, sequência didática e gêneros
A organização de uma progressão no ensino da ex-
pressão na escola obrigatória exige como vimos um escla- A concepção de conjunto proposta neste trabalho fun-
recimento das finalidades. Estas fazem parte de um con- da-se sobre o postulado de que comunicar-se oralmente
trato social constantemente atualizado pelos parceiros do ou por escrito pode e deve ser ensinado sistematicamente.
sistema educativo. No quadro da renovação do francês na Ela se articula por meio de uma estratégia, válida tanto para
Suiça francófona, a fórmula geral “aprender uma língua é a produção oral como para a escrita, chamada sequencia
aprender a comunicar” constitui um dos princípios em vi- didática, a saber, uma sequencia de módulos de ensino, or-
gor na metodologia de referência adotada pelos diversos ganizados conjuntamente para melhorar uma determinada
cantões. Inspirando-nos numa concepção interacionista, prática de linguagem. As sequências didáticas instauram
podemos explicitar da seguinte maneira em que consiste uma primeira relação entre um projeto de apropriação de
dar prioridade ao funcionamento comunicativo dos alunos: uma prática de linguagem e os instrumentos que facilitam
− prepará-los para dominar a língua em situações va- esta apropriação.
riadas, fornecendo-lhes instrumentos eficazes; Desse ponto de vista, elas buscam confrontar os alunos
− desenvolver nos alunos uma relação com o compor- com práticas de linguagem historicamente construídas, os
tamento discursivo consciente e voluntária, favorecendo gêneros textuais, para dar-lhes a possibilidade de recons-
estratégias de autorregulação; truí-las e delas se apropriarem. Esta reconstrução realiza-se
− ajudá-los a construir uma representação das ativi- graças à interação de três fatores: as especificidades das
dades de escrita e de fala em situações complexas, como práticas de linguagem que são objeto de aprendizagem; as
produto de um trabalho e de uma lenta elaboração. capacidades de linguagem dos aprendizes e as estratégias
As situações de ensino são concebidas, fundamen- de ensino propostas pela sequencia didática.
talmente, para permitir aos alunos que ultrapassem seus − As práticas de linguagem são consideradas como
próprios limites na direção definida pelas finalidades. Deste aquisições acumuladas pelos grupos sociais no curso da
ponto de vista, uma progressão curricular global centra-se História. Numa perspectiva interacionista, são, a uma só
em conteúdos disciplinares que se supõe que coloquem vez, o reflexo e o principal instrumento de interação social.
problemas para os aprendizes de um ciclo. Ela visa a tensão É devido a essas mediações comunicativas, que se cristali-
entre as possibilidades internas dos aprendizes e as exi- zam na forma de gêneros, que as significações sociais são
gências externas fontes de toda aprendizagem (Schneuwly, progressivamente reconstruídas. Disso decorre um princí-
1994; 1995), mas, por seu caráter geral, somente pode dar pio que funda o conjunto de nosso enfoque: O trabalho
uma visão de conjunto das exigências externas e das eta- escolar, no domínio da produção de linguagem, faz-se so-
pas necessárias para atingi-las. Sugere, portanto, formas bre os gêneros, quer se queira ou não. Eles constituem o
ideais externas com as quais os alunos devem se confron- instrumento de mediação de toda estratégia de ensino e o
tar ao longo da escolaridade obrigatória de maneira a se material de trabalho, necessário e inesgotável, para o ensi-
assegurar a aprendizagem da expressão. no da textualidade.
Se, para as atividades gramaticais, o professor dispõe A análise de suas características fornece uma primeira
de uma descrição precisa dos conteúdos que os alunos de- base de modelização instrumental para organizar as ativi-
vem adquirir a cada série; para as atividades de expressão dades de ensino que estes objetos de aprendizagem re-
escrita e oral, onde os saberes a se construir são infinita- querem. O que é um gênero? Em outro texto (Schneuwly,
mente mais complexos, ele tem tido de se contentar com 1994), desenvolvemos a ideia metafórica do gênero como
indicações muito sumárias. Tudo se passa como se a capa- (mega) instrumento para agir em situações de linguagem.
cidade de produzir textos fosse um saber que a escola deve Uma das particularidades deste tipo de instrumento - como
encorajar, para facilitar a aprendizagem, mas que nasce e de outros, aliás - é que ele é constitutivo da situação: sem
se desenvolve fundamentalmente de maneira espontânea, romance, por exemplo, não há leitura e escrita de roman-
sem que pudéssemos ensiná-la sistematicamente. A opera- ce. Sem dúvida, esta é uma das particularidades do fun-
cionalização da zona proximal de desenvolvimento (ZPD), cionamento da linguagem em geral (e, logo, um limite da
58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
metáfora instrumental...). A mestria de um gênero aparece, geral e para o processo de apropriação de gêneros em par-
portanto, como co-constitutiva da mestria de situações de ticular. Neste sentido, as sequencias didáticas são instru-
comunicação. Situando-nos na perspectiva bakhtiniana, mentos que podem guiar as intervenções dos professores.
consideramos que todo gênero se define por três dimen- Numa primeira etapa de nosso trabalho, o problema da
sões essenciais: progressão colocou-se principalmente a partir da elabora-
ção e da experimentação das sequencias didáticas.
1) os conteúdos que são (que se tornam) dizíveis atra- A definição dos objetivos de uma sequencia didática
vés dele; devia adaptar-se às capacidades e às dificuldades dos alu-
nos nela engajados. Tratava-se, sobretudo de promover
2) a estrutura (comunicativa) particular dos textos per- mudanças associadas a uma situação específica de apren-
tencentes ao gênero; dizagem. Para fazê-lo, era preciso não só analisar estas ca-
pacidades (assim como os obstáculos e as insuficiências,
muito variáveis de um grupo de alunos a outro) antes de
3) as configurações específicas das unidades de lingua-
ensinar, mas também durante o ensino. Por exemplo, o
gem, que são sobretudo traços da posição enunciativa do
esforço de elaboração de sequencias didáticas do Serviço
enunciador, e os conjuntos particulares de sequencias tex-
de Francês nestes últimos anos exerceu-se fundamental-
tuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura.
mente na organização de uma sequencia de atividades e
de exercícios que permitissem a transformação gradual das
A noção de capacidades de linguagem (Dolz, Pas- capacidades iniciais dos alunos para dominarem um gê-
quier & Bronckart, 1993) evoca as aptidões requeridas do nero - transformação esta gerada pelo desejo de resolver
aprendiz para a produção de um gênero numa situação a contradição entre o que eles são capazes de produzir e
de interação determinada: adaptar-se às características do as novidades que estão descobrindo com seus camaradas.
contexto e do referente (capacidades de ação); mobilizar As estratégias privilegiadas neste tipo de progressão são
modelos discursivos (capacidades discursivas) e dominar as seguintes:
as operações psicolinguísticas e as unidades lingüísticas 1. Adaptar a escolha de gêneros e de situações de co-
(capacidades linguístico-discursivas). O desenvolvimento municação às capacidades de linguagem apresentadas pe-
das capacidades de linguagem constitui-se, sempre, par- los alunos;
cialmente, num mecanismo de reprodução, no sentido de 2. Antecipar as transformações possíveis e as etapas
que modelos de práticas de linguagem estão disponíveis que poderiam ser transpostas;
no ambiente social e de que os membros da sociedade que 3. Simplificar a complexidade da tarefa, em função dos
os dominam têm a possibilidade de adotar estratégias ex- elementos que excedem as capacidades iniciais das crianças;
plícitas para que os aprendizes possam se apropriar deles. 4. Esclarecer com os alunos os objetivos limitados visa-
A descrição das etapas da ontogênese, a análise das dos e o itinerário a percorrer para atingi-los;
capacidades de linguagem dos aprendizes assim como o 5. Dar tempo suficiente para permitir as aprendizagens;
estudo dos processos subjacentes implicados constituem 6. Ordenar as intervenções de maneira a permitir as
referências que podem ajudar a compreender as transfor- transformações;
mações que se produzem ao longo da aprendizagem e 7. Escolher os momentos de colaboração com os ou-
contribuem para fixar os contornos das intervenções dos tros alunos para facilitar as transformações;
professores. A observação das capacidades de linguagem, 8. Avaliar as transformações produzidas.
antes e durante a realização de uma sequencia didática, Certo número de problemas de progressão pode ser
destina-se a delimitar um espaço de trabalho possível de resolvido no quadro de uma classe, isto é, no quadro da in-
teração entre o professor, que intervém para tornar possí-
ser adotado nas intervenções didáticas. As capacidades
veis as aprendizagens; um grupo de alunos, que trabalha; e
atestadas pelos comportamentos dos alunos são conside-
os gêneros, que constituem o objeto de ensino. Entretanto,
radas como produtos de aprendizagens sociais anteriores
as próprias possibilidades de se realizar sequências didá-
e fundam as novas aprendizagens sociais. ticas que visam uma progressão do ensino-aprendizagem
Finalmente, as estratégias de ensino supõem a busca dependem das restrições postas pelo sistema de ensino e
de intervenções no meio escolar que favoreçam a mudan- pelo sistema educativo. A generalização (e a própria prá-
ça e a promoção dos alunos a uma melhor mestria dos tica) das sequências didáticas que estão sendo teorizadas
gêneros e das situações de comunicação que lhes corres- permanece aleatória, enquanto os novos objetos de ensino
pondem. Trata-se, fundamentalmente, de se fornecerem propostos - os gêneros - não tenham um lugar mais claro
aos alunos os instrumentos necessários para se progredir. nos guias curriculares do primário e do secundário obri-
Para fazê-lo, as atividades comunicativas complexas que os gatórios e enquanto não for proposta uma concepção de
alunos ainda não estão aptos a realizar de maneira autôno- conjunto da progressão curricular da expressão.
ma serão, de certa maneira, decompostas, o que permitirá
abordar um a um, separadamente, os componentes que A progressão na tradição escolar
colocam problemas para os alunos. As intervenções sociais,
a ação recíproca dos membros do grupo e, em particular, Propor que se organize a progressão em torno dos gê-
as intervenções formalizadas nas instituições escolares são neros não será um retrocesso à tradição escolar centenária
fundamentais para a organização das aprendizagens em de ensino da redação e da composição?
59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Como mostram os trabalhos sobre a história deste en- como pontos cegos na maneira de Freinet conceber o tra-
sino, os gêneros as primeiras unidades de construção das balho com textos: a pouca atenção que ele dá aos gêneros
progressões nos guias curriculares. Trata-se, sobretudo e existentes socialmente e sobre os quais, de fato, modelam-
nesta ordem - citamos aqui a título de exemplo Schöne & -se sub-repticiamente os gêneros que ele desenvolve em
Mortreux (1940) -, da descrição, “domínio de observação sala de aula e a ausência de reflexão sistemática sobre os
mais fácil de abordar”; da composição à vista de gravura, problemas de progressão na mestria dos gêneros, devida,
“mais difícil [porque] o detalhamento é necessariamente sem dúvida, à sua concepção de aprendizagem como pro-
mais minucioso”; da narração, que “se apoia sobre a des- cesso natural.
crição e a composição à vista de gravura” e da disserta-
ção, que “tem o rigor de uma demonstração matemática e, Agrupamentos de gêneros: Um instrumento para
como ela, chega a uma conclusão”. construir a progressão
Os gêneros tratados no quadro do ensino da redação e Do ponto de vista teórico, um dos paradoxos dos gê-
da composição têm diversas particularidades. Mesmo tendo neros, dentre outros, reside no fato de que eles são mais
sido originados da tradição retórica, ao mesmo tempo, estão ou menos imediatamente referenciáveis e referenciados
deformados, na medida em que a função que assumiam em cotidianamente nas práticas de linguagem - de tal forma
seu quadro de origem não está mais presente. Não servindo que podemos frequentemente nomeá-los sem muita he-
mais a uma causa jurídica ou política, tornam-se, assim, ex- sitação e, na comunicação quotidiana, sempre o fazemos
clusivamente modos de apresentação da realidade tal e qual -, mas nunca se prestam à definição sistemática e geral,
e, logo, puros produtos escolares para os quais não há ver- sem dúvida por causa de seu caráter multiforme, maleável,
dadeiras referências textuais exteriores, já que toda a escrita “espontâneo”.
social extraescolar tem evidentemente também uma dimen- Sua descrição se faz, portanto, sempre a posteriori,
como explicitação da evidência cotidiana que permite seu
são comunicativa. A escola cria, assim, sua própria norma
reconhecimento e por meio de enfoques locais que não
textual, aliás pouco explícita: os gêneros escolares.
podem visar a descrição ou mesmo a explicação de regu-
laridades mais gerais da linguagem. Disto decorre que eles
Quanto à progressão, esta é definida por uma se- não podem fornecer princípios para a construção de uma
quencia quase imutável de gêneros, baseada ou em con- progressão e de um currículo, mas, apesar disso, devem
siderações sobre a complexidade do objeto a ser descrito constituir os ingredientes de base do trabalho escolar, pois,
(descrição vs. composição à vista de gravura; narração vs. sem os gêneros, não há comunicação e, logo, não há traba-
dissertação), ou em considerações de inclusão (descrição lho sobre a comunicação.
e composição à vista de gravura estão contidos na narra- A própria diversidade dos gêneros, seu número mui-
ção). Tendo-se definido a escrita como ato de representa- to grande, sua impossibilidade de sistematização impe-
ção perfeita do mundo, a progressão é concebida como a dem-nos, pois, de tomá-los como unidade de base para
construção passo a passo, aditiva, desta capacidade única pensarmos uma progressão. Não há eixo de continuidade
que é a “arte de escrever”, sempre idêntica a si própria, que permitiria pensar a construção de capacidades, senão
qualquer que seja sua finalidade, “coroamento” do esforço aquele de dominar cada vez melhor um gênero, e outro, e
pedagógico no ensino de língua materna, como o dizem outro e, através deles, a arte de escrever em geral - o que
numerosos guias curriculares. constitui precisamente a pedagogia do coroamento des-
Ao lado desta pedagogia do coroamento dominante, crita anteriormente. Já que, visivelmente, as progressões
existe, também desde sempre, uma tradição minoritária no não podem ser construídas no nível imediato da unidade
sistema escolar que não aparece nos guias curriculares e “gênero”, é necessário, então, recorrermos a outras concei-
nos manuais, mas que está presente nas práticas em graus tualizações lingüísticas e psicológicas.
variados. A título emblemático, citaremos as práticas de es- As tipologias do discurso elaboradas em lingüística e
crita diversificadas introduzidas na escola por Freinet ou por psicologia, durante um certo tempo, puderam ser consi-
ele sistematizadas: textos livres, jogos dramáticos, roman- deradas como uma saída promissora. Muito rapidamente,
ces coletivos, poemas, correspondência, jornal de classe ou verificou-se que, mesmo trazendo importantes conhe-
de escola, conferência. Poderíamos definir sua estratégia cimentos novos sobre o funcionamento da linguagem e,
dizendo que ele levou a sério as situações escolares como logo, elementos que devem ser levados em consideração
situações de comunicação e, por isso, desenvolve ou adapta no trabalho com textos, estas tipologias sofriam, do ponto
os gêneros existentes. A importância do enfoque de Freinet de vista de sua aplicação didática, de duas limitações im-
- e de numerosas práticas que a ele se referem de perto ou portantes (Schneuwly, 1991):
de longe - não pode ser subestimada no contexto francó-
fono. Prova disso é que a renovação do ensino de francês, a) seu objeto não é o texto, e ainda menos o gêne-
preparada nos anos sessenta com a introdução explícita da ro do qual todo texto é um exemplar, mas operações de
dimensão comunicativa nos objetivos e guias curriculares, linguagem constitutivas do texto, tais como a ancoragem
concretamente, não propõe senão - e Vourzay (1966), em enunciativa e a escolha de um modo de apresentação ou
sua tese notável, demonstra isso - a introdução oficial das de tipos de sequencialidades;
práticas “frenéticas” nas salas de aula da escola pública, em- b) por isso mesmo, a análise se exerce sobre subconjun-
bora desligadas de seu contexto funcional, a saber o funcio- tos particulares de unidades lingüísticas que formam confi-
namento cooperativo da classe (Clanché, 1988). gurações, traduzindo as operações de linguagem postula-
O enfoque de Freinet abre as portas à dimensão comu- das. As tipologias discursivas não podem, por si só, fornecer
nicativa da linguagem, ausente dos enfoques dominantes uma base suficientemente ampla para elaborarmos progres-
da pedagogia do coroamento. Parece-nos que ele pode e sões, que ficariam forçosamente parciais, tocando somente
deve ser desenvolvido em dois pontos que se constituem em certos aspectos do funcionamento da linguagem.
60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Sem negarmos a contribuição essencial destas proposições teóricas, optamos por um enfoque de agrupamentos de
gêneros. Sabemos e assumimos seu caráter parcialmente ad hoc, mas estes respondem, apesar disso, a três critérios es-
senciais no que diz respeito à construção de progressões, para a qual constituem um instrumento indispensável. É preciso
que os agrupamentos:
1. Correspondam às grandes finalidades sociais legadas ao ensino, respondendo às necessidades de linguagem em
expressão escrita e oral, em domínios essenciais da comunicação em nossa sociedade (inclusive a escola);
2. Retomem, de modo flexível, certas distinções tipológicas que já figuram em numerosos manuais e guias curriculares;
3. Sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem dominantes implicadas na mestria dos gê-
neros agrupados.
Os agrupamentos assim definidos não são estanques uns com relação aos outros; não é possível classificar cada gê-
nero de maneira absoluta em um dos agrupamentos propostos; no máximo, seria possível determinar certos gêneros que
seriam os protótipos para cada agrupamento e, assim, talvez particularmente indicados para um trabalho didático. Trata-se,
mais prosaicamente, de dispor de um instrumento suficientemente fundado teoricamente para resolver provisoriamente
problemas práticos.
O Quadro 1 apresenta os cinco agrupamentos de gêneros que estamos atualmente utilizando como base de nosso
trabalho e, para cada agrupamento, os três critérios que nos servem para determinar a coerência mínima da proposta com
as referências externas. De saída, devemos notar que a originalidade da estratégia não reside absolutamente nos agrupa-
mentos propostos, que, ao contrário, são semelhantes a muitos outros, mas antes de tudo no fato de trabalharmos no nível
dos gêneros e na tentativa de definirmos as capacidades de linguagem globais em relação às tipologias existentes.
61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
textos de opinião
diálogo argumentativo
carta de leitor
carta de reclamação
carta de solicitação
Discussão de problemas sociais controversos deliberação informal
ARGUMENTAR debate regrado
Sustentação, refutação e negociação de tomadas assembléia
de posição discurso de defesa (advocacia)
discurso de acusação (advocacia)
resenha crítica
artigos de opinião ou assinados
editorial
ensaio
Estes agrupamentos parecem ser suficientemente diferentes uns dos outros para que seja possível definir, para cada
um deles, algumas capacidades globais que se deve construir ao longo da escolaridade. No próximo item, exemplifica-
remos isso para o terceiro domínio. O princípio sobre o qual a progressão está elaborada é muito simples: trata-se de
construir, com os alunos, em todos os graus de escolaridade, instrumentos, visando o desenvolvimento das capacidades
necessárias para dominar os gêneros agrupados. A hipótese de trabalho subjacente é a de que há uma afinidade suficiente-
mente grande entre os gêneros agrupados, para que transferências se operem facilmente de um a outro, hipótese fundada
sobre a ideia de uma dominância no que concerne às capacidades psicológicas implicadas em cada agrupamento. Dito isso,
há também capacidades de produção de linguagem que atravessam os diferentes agrupamentos e, logo, possibilidade de
transferência transagrupamentos, que ainda não estamos levando em conta em nossa proposta.
De um ponto de vista curricular, propomos que cada agrupamento seja trabalhado em todos os níveis da escolaridade, atra-
vés de um ou outro dos gêneros que o constituem. Pelo menos, as seguintes razões militam em defesa de tal encaminhamento:
− ele oferece aos alunos vias diferentes de acesso à escrita e, assim, realiza o princípio pedagógico de diferenciação.
Podemos, com efeito, supor que as capacidades de escrita de cada aluno não se distribuem uniformemente nos diferentes
agrupamentos; determinado aluno terá mais facilidade para argumentar, um outro para narrar e assim por diante. A escrita
não aparece como um único obstáculo, difícil de transpor, mas como um domínio que se pode abordar por diversos cami-
nhos, mais ou menos fáceis;
− de um ponto de vista didático, a diversificação dos gêneros trabalhados, regulada pelos agrupamentos, oferece a
possibilidade de definirmos especificidades de funcionamento dos diferentes gêneros e tipos, para um trabalho de compa-
ração de textos. Trata-se de um princípio elementar de construção por confronto com o mesmo e o diferente;
− psicologicamente, numerosas operações de linguagem, necessárias, por exemplo, para dominar a narração no sen-
tido em que a definimos, estão intimamente ligadas a um agrupamento de gêneros e exigem um ensino aprendizagem
direcionado que, além disso, é necessário que se faça em diferentes níveis de mestria. Isto não exclui transferências de um
agrupamento a outro ou a transformação mais global da relação do aluno com sua própria linguagem;
62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
− finalmente, as finalidades sociais do ensino da ex- iniciado muito antes da criança ir para escola, desenvol-
pressão impõem um trabalho específico para desenvol- vendo-se simultaneamente dentro e fora da sala de aula.
ver as capacidades dos alunos em domínios tão diversos Alfabetizar é construir conhecimento.
quanto a linguagem como instrumento de aprendizagem Portanto, para ensinar a ler e escrever faz-se necessário
ou como mimesis da ação a serviço da reflexão sobre a compreender que os/as alfabetizando/as terão que lidar
relação do homem com o mundo e consigo mesmo. com dois processos paralelos: as características do sistema
de escrita e o uso funcional da linguagem.
Conclusão: Validade didática como único critério da (...) a criança procura ativamente compreender a na-
progressão tureza da linguagem que se fala à sua volta, e...tratando
de compreendê-la, formula hipóteses, busca regularidades,
A organização de uma progressão temporal do ensi- coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gra-
no, tal como aqui esboçada, construída sobre a base de mática. (...) ao tomar contato com os sistemas de escrita, a
um agrupamento de gêneros e levando em conta os dife- criança, através de processos mentais, praticamente rein-
rentes níveis de operações de linguagem, é somente uma venta esses sistemas, realizando um trabalho concomitante
proposta provisória de um currículo aberto e negociado. de compreensão da construção e de suas regras de produ-
Aberto, pois não recobre a totalidade das atividades pos- ção/decodificação.
síveis em expressão oral e escrita; aberto, pois não pode Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as crianças
antecipar todos os problemas de aprendizagem e, assim, elaboram conhecimentos sobre a leitura e escrita, passan-
os professores devem adaptá-lo e completá-lo em função do por diferentes hipóteses – espontâneas e provisórias –
de situações concretas de ensino. Esse caráter aberto de até se apropriar de toda a complexidade da língua escrita.
um currículo pede contínuos ajustes não somente no nível Tais hipóteses, baseadas em conhecimentos prévios, assi-
local, mas também no da progressão interciclos e intraci- milações e generalizações, dependem das interações delas
clos. Negociado, pois diferentes atores participam nas dife- com seus pares e com os materiais escritos que circulam
rentes fases de elaboração e, depois, de ajuste. socialmente.
Neste processo, o critério a privilegiar para tomar de- Para a Teoria da Psicogênese, toda criança passa por
cisões é o da validade didática: as possibilidades efetivas
níveis estruturais da linguagem escrita até que se aproprie
de gestão do ensino proposto; a coerência dos conteúdos
da complexidade do sistema alfabético. São eles: o pré-si-
ensinados; assim como os ganhos de aprendizagem. A pro-
lábico, o silábico, que se divide em silábico-alfabético, e o
gressão curricular resultante da estratégia discutida acima
alfabético Tais níveis são caracterizados por esquemas con-
ainda deverá ser testada: entrar nas práticas e ser avaliada
ceituais que não são simples reproduções das informações
do ponto de vista da validade didática.
recebidas do meio, ao contrário, são processos construti-
vos onde a criança leva em conta parte da informação rece-
bida e introduz sempre algo subjetivo. É importante salien-
tar que a passagem de um nível para o outro é gradual e
FERREIRO, EMÍLIA; TEBEROSKY. ANA. depende muito das intervenções feitas pelo/a professor/a.
PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA. PORTO Os níveis de escrita, segundo a Psicogênese da Língua
ALEGRE: ARTMED, 1986. Escrita:
- O aprendizado do sistema de escrita alfabética não se
reduz a um processo de associação entre grafemas (letras)
e fonemas (sons).
FERREIRO, EMÍLIA; TEBEROSKY. ANA. PSICOGÊ- - O sistema de escrita alfabética não é um código que
NESE DA LÍNGUA ESCRITA. PORTO ALEGRE: ART- se aprende por memorização e fixação, pelo contrário, é um
MED, 1986. objeto de conhecimento que foi construído socialmente
A Psicogênese da Língua Escrita é uma abordagem psi- Para a Teoria da Psicogênese, toda criança passa por
cológica de como a criança se apropria da língua escrita e níveis estruturais da linguagem escrita até que se aproprie
não um método de ensino. Portanto, cabe aos profissionais da complexidade do sistema alfabético. São eles: o pré-si-
da educação, fazer a transposição desta abordagem para a lábico, o silábico, que se divide em silábico-alfabético, e o
sala de aula, transformando os estudos em atividades pe- alfabético Tais níveis são caracterizados por esquemas con-
dagógicas ceituais que não são simples reproduções das informações
De acordo com a Psicogênese da Língua Escrita, o recebidas do meio, ao contrário, são processos construti-
aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao vos onde a criança leva em conta parte da informação rece-
domínio de correspondências grafo-fonêmicas (a deco- bida e introduz sempre algo subjetivo. É importante salien-
dificação e a codificação), mas se caracterizaria como um tar que a passagem de um nível para o outro é gradual e
processo ativo no qual a criança, desde seus primeiros con- depende muito das intervenções feitas pelo/a professor/a.
tatos com a escrita, constrói e reconstrói hipóteses sobre a Texto adaptado: Emília Ferreiro e Ana Teberosky
sua natureza e o seu uncionamento.
Os pressupostos dessa abordagem psicológica são:
A alfabetização na perspectiva construtivista é concebida
como um processo de construção conceitual, contínuo,
63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
corre o risco de levar a uma situação paradoxal: se a escola
KAMII, C. CRIANÇAS PEQUENAS ensina a ler e escrever com o único propósito de que os
REINVENTAM A ARITMÉTICA. PORTO alunos aprendam a fazê-Io, eles não aprenderam as práti-
ALEGRE: ARTMED, 2002. cas sociais de leitura e de escrita, se assume os propósitos
da prática social, estará abandonando ao mesmo tempo
sua função ensinante (propósitos didáticos).
RELAÇÃO SABER-DURAÇÃO
KAMII, C. CRIANÇAS PEQUENAS PRESERVAÇÃO SENTIDO VERSUS TEMPO
REINVENTAM A ARITMÉTICA. Distribuir os conteúdos no tempo é uma exigência ine-
PORTO ALEGRE: ARTMED, 2002. rente ao ensino, entretanto tal organização do tempo do
ensino entra em contradição com o tempo das aprendiza-
gens e com a natureza das práticas de leitura e escrita. O
Constance Kamii descreve um programa inovador do paradoxo se apresenta assim: se tenta parcelar as práticas,
ensino da aritmética nas primeiras séries do ensino fun- é impossível preservar sua natureza e seu sentido para o
damental. Kamii baseia suas estratégias educacionais nas aprendiz; se não são parceladas, é difícil encontrar uma dis-
ideias científicas do renomado construtivista Jean Piaget tribuição dos conteúdos que permita ensiná-Ias. O ensino e
de como as crianças desenvolvem pensamento lógico-ma- construído tomando como referência fundamental as prá-
temático. Escrito em colaboração com Leslie Baker Hous- ticas sociais de leitura e escrita, requer que a escola funcio-
man, professora de sala de aula, e baseado na convicção ne como uma micro comunidade de leitores e escritores.
de que as crianças são muito mais capazes do que profes- O necessário é fazer da escola uma comunidade de leito-
sores e pais geralmente imaginam, fornece fundamentos res que recorrem aos textos buscando resposta para os pro-
teóricos ricos e explicações irresistíveis de metas e objeti- blemas que necessitam resolver, buscando argumentos para
vos educacionais. Este livro é pleno de sugestões práticas e defender uma posição com a qual estão comprometidos, ou
atividades adequadas ao desenvolvimento que podem ser para rebater outra que consideram perigosa ou injusta ...
usadas para estimular o pensamento numérico entre estu- O necessário é fazer da escola uma comunidade de es-
dantes de diversas capacidades e estilos de aprendizagem, critores que produzam seus próprios textos para mostrar
tanto dentro quanto fora da sala de aula. suas ideias, para informar sobre fatos que os destinatários
necessitam ou devem conhecer, para protestar, para con-
vencer de seu ponto de vista, para compartilhar um bom
texto, para intrigar ou fazer rir...
O necessário é fazer da escola um âmbito onde a leitu-
LERNER, DELIA. LER E ESCREVER NA ESCOLA: ra e escrita sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever
O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO. sejam instrumentos poderosos que permitam repensar o
PORTO ALEGRE: ARTMED, 2002. mundo e reorganizar o próprio pensamento, onde inter-
pretar e produzir texto sejam direitos.
O necessário é, em suma, preservar o sentido do ob-
jeto de ensino para o sujeito da aprendizagem, o necessá-
Ler e escrever são palavras familiares para todos os edu- rio preservar na escola o sentido que a leitura e a escrita
cadores, palavras que marcam uma função da escolaridade têm como práticas sociais, para conseguir que os alunos se
obrigatória, entretanto, redefinir o sentido dessa função, apropriem delas possibilitando que se incorporem a comu-
e explicar o significado que se pode hoje atribuir a esses nidade de leitores e escritores, a fim de que consigam ser
termos tão arraigados na instituição escolar, é uma tarefa cidadãos de uma cultura escrita.
incontestável. Para a autora, ensinar a ler e escrever é um O real é que levar a prática o necessário é uma tarefa
desafio que transcende a alfabetização em sentido estrito. difícil para a escola. Difícil porque:
Participar na cultura escrita supõe apropriar-se de uma tra- 1. a escolarização das práticas de leitura e de escrita
dição de leitura e escrita, supõe assumir uma herança cultu- apresenta problemas árduos;
ral que envolve o exercício de diversas operações entre os 2. os propósitos que se perseguem na escola no ato
textos; entre eles e seus autores; entre os próprios autores; de ler e escrever são diferentes dos que orientam a leitura
entre os autores, os textos e seu contexto. Para concretizar e a escrita fora dela;
o propósito de formar todos os alunos como praticantes da 3. a inevitável distribuição dos conteúdos no tempo
cultura escrita, é necessário reconceituar o objeto de pode levar a parcelar o objeto de ensino;
4. a necessidade institucional de controlar a aprendi-
zagem leva a pôr em primeiro plano somente os aspectos
TENSÕES ENTRE OS PROPÓSITOS ESCOLARES E EX-
mais acessíveis à avaliação;
TRA-ESCOLARES DA LEITURA E DA ESCRITA.
5. a maneira como se distribuem os direitos e obri-
Na escola estão em primeiro plano os propósitos didá-
gações entre professor e alunos determinam quais são os
ticos, os propósitos comunicativos tais como ler e escrever
conhecimentos e estratégias que as crianças têm ou não
para manter contato com alguém distante, costumam ser
têm oportunidade de exercer e, portanto, quais poderão
relegados ou excluídos do âmbito escolar. Essa divergência
ou não poderão aprender.
64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
DIFICULDADES ENVOLVIDAS NA ESCOLARIZAÇÃO os que habitualmente orientam a leitura e a escrita fora
DAS PRÁTlCAS da escola. Essa articulação pode concretizar-se através de
Por serem práticas, a leitura e a escrita apresentam uma modalidade organizativa bem conhecida: os projetos
traços que dificultam sua escolarização, essas práticas são de produção-interpretação.
totalidades indissociáveis, que oferecem resistência, tanto O trabalho por projetos permite que todos os inte-
análise como programação sequencial, são tarefas apren- grantes da classe e não só o professor, oriente suas ações
didas por participação nas atividades de outros leitores e para o cumprimento de uma finalidade compartilhada,
escritores. por exemplo, gravar uma fita de poemas e enviar a outras
Assim, não é fácil determinar com exatidão o que, crianças.
como e quando os sujeitos as aprendem. Ao tentar instau- Além disso, permite resolver dificuldades: favorece o
rar as práticas de leitura e escrita na escola, apresentam-se desenvolvimento de estratégias de autocontrole de leitura
múltiplas perguntas: em que momento as crianças se apro- e de escrita por parte do aluno abrindo a possibilidade de
priam da “linguagem dos contos”?
uma nova relação entre o tempo e o saber. A relação tem-
Quando se pode dizer que um aluno aprendeu a re-
po-saber, é facilitada quando são articuladas várias ações
comendar livros ou a confrontar diversas interpretações?
(não necessariamente trabalhando somente com projetos):
As práticas de leitura e escrita são práticas sociais que
historicamente pertenceram mais a certos grupos sociais atividades que se desenvolvam com certa periodicidade
do que a outros. Isto significa que a escola deverá enfrentar - ler notícias, contos ou curiosidades cientificas em certo
a tensão entre a tendência mudança e a tendência conser- dia da semana, situações pontuais - como escrever uma
vação (democratizar o conhecimento ou reproduzir a or- mensagem por correio eletrônico para um aluno de outra
dem social estabelecida). escola. O entrecruzamento dessas diferentes temporalida-
des permite aos alunos realizar simultaneamente diferen-
TENSÃO ENTRE DUAS NECESSIDADES INSTlTUCIO- tes aproximações com as práticas.
NAIS: ENSINAR E CONTROLAR A APRENDIZAGEM E, finalmente, é possível criar um novo equilíbrio entre
A responsabilidade social assumida pela escola gera o ensino e o controle, quando se reconhece que este é ne-
forte necessidade de controle: a instituição necessita co- cessário, mas tentando evitar que prevaleça sobre o outro.
nhecer os resultados de seu funcionamento, necessita ava- Trata-se de abrir espaços para que os alunos, além de
liar as aprendizagens. Essa necessidade costuma ter conse- ler profundamente certos textos, possam ler muitos outros,
quências indesejadas: ler em voz alta para ser avaliado, a trata-se dar um lugar importante à leitura para si mesmo.
ortografia das palavras ocupa o lugar mais importante no É imprescindível, por último, compartilhar a função avalia-
processo de escrita. dora. É preciso proporcionar aos alunos oportunidades de
Assim, apresenta-se desta forma um conflito de inte- auto controlar o que estão compreendendo ao ler e de criar
resses entre o ensino e o controle: se põe o ensino em pri- estratégias para ler cada vez melhor. É preciso delegar às
meiro plano, é preciso renunciar a controlar tudo; se põe o crianças a responsabilidade de revisar seus escritos, assim
controle das aprendizagens em primeiro plano, é preciso serão geradas novas aprendizagens e novas possibilidades
renunciar a ensinar aspectos essenciais das práticas de lei- de avaliação serão encontradas.
tura e escrita. Desta forma é possível alcançar o necessário: formar
Uma última dificuldade está posta na “distribuição de todos os alunos como praticantes da língua escrita.
direitos e obrigações entre o professor e os alunos”, como
por exemplo o direito de avaliar que em geral é privativo PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DA ES-
do docente e os alunos têm muito poucas oportunidades
CRITA
de auto controlar o que compreenderam ao ler e de auto
Ler, escrever, evocar... Um texto evoca outros textos,
corrigir seus escritos.
Então o que fazer para preservar na escola o sentido um título evoca outros títulos. “Para transformar o ensino
que a leitura e a escrita têm fora dela? da leitura e da escrita”, é uma alusão à “Para fazer o retrato
O possível é fazer o esforço de conciliar as necessi- de um pássaro” (tentar que um pássaro aceite posar como
dades inerentes à instituição escolar com o propósito de modelo, que detenha seu voo sem perder sua liberdade;
formar leitores e escritores, o possível é gerar condições tentar que a escola levante voo, que produza transforma-
didáticas que permitam uma versão escolar da leitura e da ções substanciais sem perder sua especificidade institucio-
escrita mais próxima com a versão social dessas práticas. nal, sem renunciar sua função ensinante). Não se desani-
Em primeiro lugar, que os professores possam formu- mar - é o conselho do poeta persistir na tentativa, renovar
lar como conteúdos do ensino não só os saberes linguís- os esforços mais uma vez...
ticos como também as tarefas do leitor e do escritor: fazer Apelar para todas as ferramentas necessárias para tor-
antecipações sobre o sentido do texto que se está lendo e nar realidade um propósito que é difícil, mas para o qual é
tentar verificá-Ias recorrendo à informação visual, discutir imprescindível se encaminhar.
interpretações acerca de um mesmo material, comentar o
que se leu e compará-Io com outras obras do mesmo ou QUAL É O DESAFIO?
de outros autores, recomendar livros... O desafio é formar praticantes da leitura e da escri-
Em segundo lugar, é possível articular os propósitos di- ta e não apenas sujeitos que possam “decifrar” o sistema
dáticos, com os propósitos comunicativos que tenham um de escrita, formar leitores que saberão escolher o material
sentido atual para o aluno e tenham correspondência com para buscar a solução de problemas que devem enfrentar
65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
e não alunos capazes apenas de oralizar um texto selecio- alfabetizadora, missão que está nas raízes de sua função
nado por outro. É formar seres humanos críticos, capazes social. Como ajudar a produzir e generalizar uma mudança
de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente na concepção do ensino da leitura e da escrita, tornando
a apresentada pelos autores dos textos. possível que todos que têm acesso à escola sejam leitores
O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se e escritores competentes e autônomos?
em outros mundos possíveis que a literatura oferece, dis-
postas a identificar-se como semelhante ou a solidarizar-se A CAPACITAÇÃO: CONDIÇÃO NECESSÁRIA, MAS NÃO
com o diferente, capazes de apreciar a qualidade literária. SUFICIENTE PARA A MUDANÇA NA PROPOSTA DIDÁTICA.
O desafio é conseguir que os alunos cheguem a ser Segundo a autora, a atualização sempre é necessária
produtores de língua escrita, conscientes da importância para todo profissional e ainda maior para os professores la-
de emitir certo tipo de mensagem a determinado tipo de tino-americanos de hoje, principalmente pela mudança ra-
situação social. dical de perspectiva que ocorreu nos últimos vinte anos em
É conseguir que as crianças manejem com eficácia os relação à alfabetização que não teve eco nas instituições
diferentes escritos que circulam na sociedade. O desafio é formadoras de professores, além disso, a função social do
conseguir que a escrita deixe de ser na escola somente um docente está sofrendo um processo de desvalorização.
objeto de avaliação, para se constituir em objeto de ensi- Entretanto, a dificuldade para se conseguir que os pro-
no; é tornar possível que todos os alunos se apropriem da fessores tornem suas as contribuições científicas sobre a
escrita e a ponham em prática, sabendo que é um processo leitura e a escrita e sobre o sujeito que aprende não resulta
constituído por operações de planejamento, textualização apenas de uma resistência individual, já que essa dificul-
e revisão. dade tem suas raízes no funcionamento institucional. Não
O desafio é promover a descoberta e a utilização da bastará então capacitar os docentes, será imprescindível
escrita como instrumento de reflexão sobre o próprio também estudar quais as condições institucionais para a
pensamento, como recurso insubstituível para organizar e mudança, quais aspectos da proposta didática apresenta-
reorganizar o próprio conhecimento. O desafio é, em suma, da têm mais possibilidades de ser acolhidos pela escola e
combater a discriminação que a escola opera não só quan- quais requerem a construção de esquemas prévios para
do cria o fracasso escolar daqueles que não conseguem serem assimilados. Significa dizer que, além de continuar
alfabetizar, como também quando impede aos outros - os com os esforços de capacitação será necessário estudar os
que aparentemente não fracassam chegar a ser leitores e mecanismos que ocorrem na escola e impedem que todas
produtores de textos competentes e autônomos. as crianças se apropriem dessas práticas sociais que são a
O desafio é, combater a discriminação desde o interior leitura e a escrita (sem correr o risco de cair no analfabe-
da escola; é unir esforços para alfabetizar todos os alunos tismo funcional). Ao conhecê-los, será possível vislumbrar
para que tenham oportunidades de se apropriar da leitura formas de controlar sua ação e definir algumas ações rela-
e da escrita como ferramenta de progresso cognoscitivo e tivas à mudança curricular e institucional.
de crescimento pessoal.
ACERCA DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTlCA: A LEITURA E A
É POSSÍVEL A MUDANÇA NA ESCOLA? ESCRITA COMO OBJETOS DE ENSINO
A autora aponta que a instituição escolar sofre uma O primeiro aspecto a ser analisado é o abismo que
verdadeira tensão entre dois polos contraditórios: a rotina separa a prática escolar da prática social da leitura e da
repetitiva e a moda, ou seja, ao mesmo tempo em que a escrita: a língua escrita, criada para representar e comuni-
tradição opera como um fator suficiente para justificar a car significados aparece em geral na escola fragmentada;
adequação de conteúdos e métodos, costumam aparecer e a leitura em voz alta assume maior importância do que a
se difundir no sistema escolar “inovações” que nem sempre leitura silenciosa, já em outras situações ocorre o contrário.
estão fundamentadas. Ao apresentar sua proposta didática Escrever é uma tarefa difícil para os adultos e espera-se
na Venezuela, procurou rebater o título que recebera de que as crianças escrevam de forma rápida e fluente, ler é
“novo enfoque” (in “A aprendizagem da língua escrita na uma atividade orientada por propósitos que costumam fi-
escola”), essa denominação causava preocupação por en- car relegados do âmbito escolar. Por que e para que en-
fatizar a novidade pela novidade. Considera que a inovação sinar algo tão diferente do que as crianças terão que usar
tem sentido quando faz parte da história do conhecimento depois, fora da escola?
pedagógico e quando, ao mesmo tempo, retoma e supera Segundo, Chevallard (1985) o saber adquire senti-
o anteriormente produzido. É importante então, distinguir dos diferentes em diferentes instituições, funciona de um
as propostas de mudanças que são produto da busca ri- modo na instituição que o produz e de outro na instituição
gorosa de soluções para os graves problemas educativos, encarregada de comunicá-Ia. Todo saber e toda competên-
daqueles que pertencem ao domínio da moda. cia estão modelados pelo aqui e agora da instituição em
A reprodução acrítica da tradição e a adoção acrítica que se produzem.
da moda são riscos constantes para a educação, são obs- Assim, ao se transformarem em objeto de ensino, o sa-
táculos fortes para a produção de verdadeiras mudanças. ber ou a prática a ensinar se modificam: é necessário sele-
Se essas mudanças profundas se referem ao ensino da lei- cionar aspectos, há que se distribuir as ações no tempo, há
tura e da escrita a resistência do sistema escolar aumen- que se determinar uma forma de organizar os conteúdos.
ta: é questionando tanto a didática como também a for- A necessidade de comunicar o conhecimento passa a mo-
ma como a escola concebeu tradicionalmente sua missão dificá-Io.
66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A transposição didática é inevitável, mas deve ser rigo- É responsabilidade dos formadores de professores
rosamente controlada. É inevitável porque o propósito da criar situações que permitam a estudantes e professores
escola é comunicar o saber, porque a intenção de ensino compreenderem a contradição apresentada e assumirem
faz com que o objeto não possa aparecer exatamente da uma posição superadora. É responsabilidade de todas as
mesma forma, nem ser utilizado da mesma maneira que é instituições e pessoas que tenham acesso aos meios de co-
utilizado quando essa intenção não existe, porque as situa- municação informar a comunidade e pais sobre os direitos
ções que se apresentam devem levar em conta os conheci- que os alunos possuem na escola para poderem formar-se
mentos prévios das crianças que estão se apropriando do em praticantes autônomos da língua escrita.
objeto em questão. Deve ser rigorosamente controlada,
porque a transformação do objeto - da língua escrita e das FERRAMENTAS PARA TRANSFORMAR O ENSINO
atividades de leitura e escrita - teria que se restringir àque- Em primeiro lugar, no que se refere ao currículo, além
las modificações que realmente são inevitáveis. A versão do que já foi citado sobre a transposição didática, devem
escolar da leitura e da escrita não deve afastar-se demasia- ser levadas em conta as seguintes questões:
do da versão social não-escolar. 1. A necessidade de estabelecer objetivos por ciclos,
O controle da transposição didática não pode ser uma em vez de estabelecê-los por grau, não só porque isto di-
responsabilidade exclusiva do professor, é responsabilida- minui o risco de fracasso explícito na aprendizagem da lei-
de dos governos tornar possível a participação da comu- tura e da escrita, como também porque permite atenuar a
nidade cientifica nessa tarefa e é responsabilidade da co- questão da fragmentação do conhecimento.
munidade científica se pronunciar sobre a pertinência dos 2. A importância de atribuir aos objetivos gerais
“recortes” que se fazem ao selecionar conteúdos; a equipe prioridade absoluta sobre os objetivos específicos. O cum-
diretiva e docente de cada instituição deve avaliar as pro- primento do objetivo específico dificulta o desenvolvimen-
postas em função de sua adequação à natureza e ao fun- to do objetivo geral.
cionamento cultural (extra escolar) do saber que se tenta 3. A necessidade de evitar o estabelecimento de uma
ensinar. correspondência termo a termo entre objetivos e ativida-
des, correspondência que leva certamente ao parcelamen-
ACERCA “CONTRATO DIDÁTICO”
to da língua escrita e à fragmentação indevida de atos tão
Ao analisar as interações entre professores e alunos
complexos como a leitura e a escrita.
acerca dos conteúdos, pode-se postular que tudo acontece
4. A necessidade de superar a tradicional separação
como se essas interações respondessem a um contrato im-
entre “alfabetização em sentido estrito” e “alfabetização
plícito, como se as atribuições que o professor e os alunos
em sentido amplo”, ou seja, entre “apropriação do sistema
têm com relação ao saber estivessem distribuídas de uma
maneira determinada, como se cada um dos participantes de escrita” e “desenvolvimento da leitura e da escrita”.
na relação didática tivesse certas responsabilidades e não Uma última consideração sobre o currículo: é necessá-
outras quanto aos conteúdos trabalhados. Esse “contrato” rio sustentar as propostas nas contribuições das ciências da
implícito preexiste aos contratantes; é muito eficaz, apesar linguagem e nas da psicologia, principalmente nos estudos
de não ter sido explicitado, e somente se põe em evidência realizados sobre a construção de determinados conteúdos
quando é transgredido. escolares, por exemplo, a sociolinguística, quando obriga a
A distribuição de direitos e responsabilidades entre revisar criticamente a noção de “correção” da língua, pas-
professor e alunos adquire características específicas em sando a considerar os dialetos e socioletos.
relação a cada conteúdo. Que efeitos produzirão essa dis- Assim, reformular a concepção do objeto de ensino
tribuição de direitos e obrigações na formação das crian- em função das contribuições linguísticas e a concepção
ças como leitores? Se a validade da interpretação deve ser do sujeito que aprende a ler e escrever (contribuições psi-
sempre estabelecida pela autoridade, como farão depois as colinguísticas), parece ser uma condição importante para
crianças para se tornarem leitores independentes? contribuir, desde o projeto curricular, para a mudança na
Essas e outras questões levantadas pela autora querem proposta didática vigente na escola. Também é evidente,
evidenciar a flagrante contradição que existe entre a ma- no que se refere à organização institucional, a necessida-
neira como se distribuem na instituição escolar os direitos de de promover o trabalho em equipe, de abrir em cada
e as obrigações que professor e alunos têm em relação à escola espaços de discussão que permitam confrontar ex-
língua escrita e os propósitos explícitos que essa mesma periências e superar o isolamento no qual os professores
instituição se coloca em relação à formação de leitores e costumam trabalhar.
produtores de texto. A elaboração de projetos institucionais pode conside-
Ressalta ainda que é responsabilidade dos que traba- rar a participação dos pais e fazer da escola uma comu-
lham no campo da pesquisa didática como ela, proporcio- nidade de leitores. É necessário definir modificações que
nar elementos que permitam conhecer melhor as “regras” derrubam o mito da homogeneidade que impera na insti-
implícitas nas interações entre professores e alunos acerca tuição escolar e o substituam pela aceitação da diversidade
da língua escrita e analisar os efeitos que produziram tais cultural e individual dos alunos.
modificações. É responsabilidade dos organismos que re- Outro ponto a considerar sobre o currículo e a insti-
gem a educação e dos especialistas em projeto curricular e tuição, refere-se à consciência que é necessário se criar na
em análise institucional, levar em conta os dados propor- opinião pública. Parece essencial, criar-se a consciência de
cionados por essas pesquisas. que a educação também é objeto da ciência, de que dia a
67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
dia se produzem conhecimentos, que permitiriam melhorar Agora, em que se basear para tomar essas decisões?
substancialmente a situação educativa. É responsabilidade Como se apresenta essa questão no caso da leitura e
dos governos e das instituições e pessoas que têm aces- da escrita?
so aos meios de comunicação, contribuir para formar essa As decisões envolvidas na seleção e hierarquização dos
consciência na opinião pública. conteúdos são cruciais, porque decidir quais aspectos se-
Outro aspecto a considerar é quanto ao desenvolvi- rão mostrados implica em decidir em quais serão oculta-
mento da investigação didática na área da leitura e da es- dos. Tradicionalmente, o que se concebe como objeto de
crita. E evidente a necessidade de se continuar produzindo ensino é a língua, em particular em seus aspectos descri-
conhecimentos que permitam resolver os múltiplos pro- tivos e normativos. As práticas de leitura e escrita como
blemas que o ensino da língua escrita apresenta, e fazê-Io tais estiveram praticamente ausentes dos currículos, e os
através de estudos cada vez mais rigorosos, de tal modo efeitos dessa ausência são evidentes: a reprodução das de-
que a didática se constitua como um corpo de conheci- sigualdades sociais relacionadas com o domínio da leitura
mentos válido. e da escrita. Alguns estudos sociológicos e históricos é que
Mas, se quer criar uma mudança profunda, é também chegam a ser “praticantes” na leitura e da escrita no senti-
imprescindível recolocar as bases da formação dos profes- do pleno da palavra.
sores e promover a valorização de sua função. São centrais É crucial levar em conta essas conclusões para desen-
duas questões: assegurar sua formação como leitores e volver pesquisas que levem a definir quais são as condições
produtores de textos e considerar como eixo da formação didáticas que podem favorecer a sobrevivência da leitura e
o conhecimento didático relacionado à leitura e à escrita. da escrita na escola, com o propósito de incorporar todos
Dentro desta questão, a autora cita como experiência pro- os alunos a essas práticas sociais.
dutiva a situação de oficina que possibilita abarcar uma
quantidade considerável de professores, com uma instân- CARACTERIZAR O OBJETO DE REFERÊNCIA: AS PRÁTl-
cia de acompanhamento da tarefa na sala de aula. CAS DE LEITURA E ESCRITA
Quanto às condições que os capacitadores devem reu- Há muita pesquisa por fazer para se ter um conheci-
nir, ressalta a importância de aperfeiçoamento de todos os
mento confiável e rigoroso do funcionamento da leitura e
envolvidos no projeto e cita como exemplo que no projeto
da escrita enquanto práticas sociais. Para a autora, as práti-
da Província de Buenos Aires, todo o primeiro ano foi dedi-
cas sociais atuais serão objeto de novos estudos a partir da
cado à formação de coordenadores.
perspectiva sociológica e histórica.
Finalmente, para assegurar a compreensão por parte
As análises históricas revelaram que as práticas de
dos professores da concepção didática que se pretende
leitura parecem ter sido, em primeiro lugar, intensivas,
comunicar, é essencial que todo o processo de capacitação
para depois se transformarem, pouco a pouco, em práti-
esteja orientado por essa mesma concepção e que os con-
cas extensivas, isto é, originalmente se liam poucos textos
teúdos didáticos constituam o eixo do trabalho. Fazer pes-
quisa didática no terreno da capacitação permitirá também de maneira intensa, profunda e reiterada, e depois houve
encontrar recursos para transformar o ensino da leitura e uma mudança para outra maneira de ler, que abarca uma
da escrita. enorme quantidade de textos e opera de maneira mais rá-
pida e superficial. Ao analisar as práticas sociais atuais, a
APONTAMENTOS A PARTIR DA PERSPECTIVA CURRI- autora afirma que predominam as práticas extensivas de
CULAR ACERCA DOS PROBLEMAS CURRICULARES leitura, dado o aumento da quantidade de materiais de lei-
Elaborar documentos curriculares é um forte desafio, tura disponíveis, mas as práticas intensivas estão longe de
porque, além das dificuldades envolvidas em todo traba- desaparecer.
lho didático, é necessário assumir a responsabilidade da Com relação à dimensão pública privada, embora na
prescrição. Os documentos curriculares adquirem caráter atualidade a leitura tenda a ser mais privada, persistem situa-
prescritivo, mesmo quando seus autores não o desejam. ções de leitura pública, por exemplo, os discursos lidos por
Elaborar documentos curriculares supõe ainda tomar deci- políticos em voz alta. Há também leituras que são compar-
sões que afetarão muitas escolas, diferentes umas das ou- tilhadas na intimidade, leitura noturna de contos... E há um
tras, cujas especificidades nem sempre é possível conhecer denominador comum que atravessa as práticas de leitura e
de perto. A responsabilidade envolvida na elaboração de de escrita, qual seja, as interações com as outras pessoas.
documentos curriculares faz sentir fortemente a necessida-
de da pesquisa didática. EXPLICITAR CONTEÚDOS ENVOLVIDOS NAS PRÁTICAS
1. Em primeiro lugar, selecionar é imprescindível, por- Escolarizar práticas sociais é um desafio, porque as
que é impossível ensinar tudo. Mas, ao selecionar deter- práticas são totalidades indissociáveis. “Aprende-se a ler,
minados conteúdos acabam por ser separados do contex- lendo” e “aprende-se a escrever, escrevendo”, são lemas
to da ciência ou da realidade em que estão imersos e são educativos que expressam o propósito de instalar as práti-
transformados e reelaborados. cas de leitura e escrita como objeto de ensino.
2. Por outro lado, toda seleção supõe ao mesmo tempo Entretanto, sua concretização na sala de aula é pou-
uma hierarquização, uma tomada de decisão acerca do que co frequente, e entre os motivos para isso está a falta do
é que vai considerar prioritário, do que é que se enfatizará professor reconhecer quais são os conteúdos que se estão
no âmbito desse objeto de ensino. ensinando e aprendendo ao ler ou ao escrever.
68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
Ao instituir como conteúdos escolares as atividades um paradoxo em relação a essa questão: como assume a
exercidas por leitores e escritores na vida cotidiana, con- responsabilidade social de ensinar a ler e escrever tem que
sideram-se duas dimensões: por um lado, a dimensão so- apresentar a leitura e a escrita como obrigatórias e atri-
cial - interpessoal, pública, e por outro lado, a dimensão buir-Ihes, então, como propósito único ou predominante
psicológica - pessoal, privada. É importante esclarecer que: o de ao render a ler e escrever. Por outro lado, a respon-
1. Os comportamentos do leitor e do escritor são con- sabilidade que a escola tem em relação ao ensino a obriga
teúdos e não tarefas, porque são aspectos que se espera também a exercer um forte controle sobre a aprendizagem,
que os alunos aprendam e possam colocá-los em prática; exigência que leva a privilegiar algumas questões e deixar
2. O conceito de “comportamento do leitor e do escri-
outras de lado. A escolha se opõe ao controle.
tor” não coincide com o de “conteúdos procedimentais”.
Como se pode começar a resolver essas tensões? A in-
Ao exercer comportamentos de leitor e de escritor, os alu-
nos têm também a oportunidade de entrar no mundo dos serção da leitura e da escrita em projetos proporciona um
textos, de se apropriar dos traços distintivos de certos gê- princípio de solução, porque, na medida em que os alunos
neros ..., é assim que ao atuar como leitores e escritores se envolvam nesses, o obrigatório resultará em escolha.
têm a oportunidade de se apropriar de conteúdos linguís- Além disso, são necessárias atividades permanentes ou pe-
ticos que adquirem sentido na prática riódicas onde cada aluno tenha a possibilidade de ler uma
história favorita, que queira compartilhar com os demais.
PRESERVAR O SENTIDO DOS CONTEÚDOS Ter consciência dessa tensão torna possível tomar deci-
A autora afirma que aclarar os conteúdos implícitos são de tentar evitar a redução do ensinado em função das
nas práticas é indispensável, mas supõe também correr ris- necessidades de controle.
cos em relação à preservação do sentido. Na atividade, atrever-se a ler livros difíceis, alerta que isso
Um primeiro risco é o de cair na tentação de transmitir só é possível quando estes são incorporados ao trabalho,
verbalmente às crianças esses conteúdos, é pertinente res- “não se aprende a ler textos difíceis lendo textos fáceis; os tex-
saltar a importância da participação nas práticas, colocan- tos fáceis só habilitam para se continuar lendo textos fáceis”.
do-se efetivamente em ação. Um conteúdo está em ação Finalizando o capítulo, Lerner, retoma uma das ideias
cada vez que é posto em jogo pelo professor e pelos alu- essenciais enunciadas no começo: a necessidade de pre-
nos ao lerem ou ao escreverem, sendo objeto de ensino e servar o sentido da leitura e da escrita. Ela cita come exem-
de aprendizagem, em outro momento pode tornar-se ob-
plo uma experiência pessoal, ao ler um artigo, Horácio Ver-
jeto de reflexão, quando os problemas apresentados pela
escrita ou leitura o requeiram. bitsky intitulado “Lilíada”.
O segundo risco que se corre ao explicitar os compor-
tamentos do leitor e do escritor é o de produzir um novo É POSSÍVEL LER NA ESCOLA?
parcelamento do objeto de ensino. É possível ler na escola? Esta pergunta pode parecer
O terceiro risco, ao se preservar o sentido das práticas, estranha porque põe em dúvida a missão fundamental
é o de acreditar que é suficiente abrir as portas da esco- da escola que é precisamente, ensinar a ler e escrever, no
la para que a leitura e a escrita entrem nela e funcionem entanto, a descaracterização que a leitura sofre na escola
tal como fazem em outros âmbitos sociais. A escola não é irrefutável. Citando García Márquez, a autora expõe al-
pode limitar-se a reproduzir as práticas tal como são fora gumas de suas ideias presentes no capítulo: o tratamento
dela. Ao mesmo tempo deverá velar pela preservação do da leitura que costuma ser feita na escola é perigoso, por-
sentido daquelas práticas que são valiosas para o desen- que corre o risco de «assustar as crianças», distanciá-las
volvimento dos alunos. A tarefa educativa supõe o esforço da leitura em vez de aproximá-las, não se trata de pôr os
para formar sujeitos capazes de analisar criticamente a rea- professores no banco dos réus, mas s instituição escolar
lidade, além de promover um distanciamento que permita pode transformar-se num âmbito propício para a leitura
conceitualizá-Ias e analisá-Ias criticamente. , essas condições devem ser criadas desde antes que as
crianças saibam ler no sentido convencional do termo, e
OS COMPORTAMTENTOS DO LEITOR NA ESCOLA:
uma delas é que (1 professor assuma o papel de intérprete
TENSÕES E PARADOXOS
Ao tentar que as atividades do leitor ingressem na es- e os alunos possam ler através dele. O essencial é fazer da
cola, surgem alguns obstáculos sobre os quais é necessário escola um âmbito propício para a leitura é abrir para todos
refletir, para encontrar caminhos que permitam superá-Ios. as portas dos mundos possíveis, é inaugurar um caminho
A análise estará centrada em duas atividades que todo lei- que todos possam percorrer para chegar a ser cidadãos da
tor vive na prática: cultura escrita.
1. escolher o que, como, onde e quando lê;
2. atrever-se a ler textos difíceis. A REALIDADE NÃO SE RESPONSABILIZA PELA PERDA
DE SUAS (NOSSAS) ILUSÕES (OU – NÃO).
Nos dois casos, a transposição didática apresenta sé- Por que a leitura, tão útil na vida real para cumprir di-
rios problemas. versos propósitos, aparece na escola como uma atividade
Em relação à possibilidade de escolha, a autora destaca gratuita, cujo único objetivo é aprender a ler? Por que se
que enquanto, atividade fora da escola, a leitura se man- ensina uma única maneira de ler - linearmente, palavra por
tém, em geral, alheia ao obrigatório, mas dentro dela há a palavra - se os leitores usam modalidades diversas em fun-
obrigatoriedade. Na escola a leitura e a escrita são neces- ção do objetivo que se propuseram? Por que se enfatiza
sariamente obrigatórias e é por isso que a escola enfrenta tanto a leitura oral e tão pouco a leitura para si mesmo?
69
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A leitura aparece desgarrada dos propósitos que lhe dão Como se articulam os propósitos didáticos e os propó-
sentido no uso social, porque a construção do sentido sitos comunicativos aos quais aponta o projeto proposto?
não é considerada como uma condição necessária para a Se, ao criar o projeto leva-se em conta tanto os pro-
aprendizagem. pósitos que se referem ao ensino como os que se referem
Uma teoria da aprendizagem que não se ocupa do à aprendizagem como os inspirados na prática social de
sentido que a leitura possa ter para as crianças e concebe a leitura, essa articulação não apresenta maiores problemas.
aquisição do conhecimento como um processo acumulati- A seguir alguns exemplos:
vo e graduado, um parcelamento do conteúdo em elemen- 1. Produção de uma fita de poemas (projeto realizado
tos supostamente simples, uma distribuição do tempo es- em uma 2ª série do ensino fundamental, no começo do
colar que atribui um período determinado à aprendizagem ano letivo)
de cada parcela e um conjunto de regras que concedem ao A) Propósitos: propósito comunicativo, compartilhar
professor, certos direitos e deveres que somente ele pode com outras pessoas textos que o leitor considera interessante;
exercer, enquanto o aluno exerce outros complementares, B) Destinatário: grupos de educação infantil da esco-
são fatores que se articulam para tornar impossível a leitura la e da biblioteca para cegos;
na escola. C) Sequência de atividades: - proposta do projeto às
Quais são então as ilusões perdidas? Perde-se a ilusão crianças e discussão do plano de trabalho; - seleção dos
da naturalidade. Introduzir na escola a versão social da lei- poemas; - organização da tarefa; - audição de fitas gra-
tura parecia ser uma tarefa simples, entretanto a tarefa é vadas; - gravação (ensaio); -audição; - gravação (segundo
complexa! Para chegar a ser leitor, o aluno teria que exercer ensaio); - gravação final; - escuta da fita editada; - redigir a
alguns direitos e deveres que são privativos do professor, apresentação da fita aos destinatários.
não é natural para a escola que os direitos e deveres sejam 2. Instalação de uma consultoria que proporcione di-
compartilhados pelo docente e pelos alunos, porque uma ferentes tipos de informação (projeto de uma 4ª série do
distinção nítida dos papéis é necessária para concretizar ensino fundamental - também são seguidos os passos aci-
o ensino e a aprendizagem, para cumprir a função que a ma mencionados).
sociedade atribuiu à escola. Situações de leitura: os textos escolhidos cumprem
pelo menos duas condições - nenhum deles proporciona
diretamente a resposta à pergunta feita; são relativamente
A ESCOLA COMO MICROSSOCIEDADE DE LEITORES E
difíceis para os alunos, textos extraídos de enciclopédias. A
ESCRITORES (OU - SIM. É POSSÍVEL LER NA ESCOLA)
organização da tarefa leva em conta as condições anterio-
Articular a teoria construtivista da aprendizagem com
res, de tal modo que as crianças possam colaborar entre si
as regras e exigências institucionais está longe de ser fá-
e consultar o professor sempre que necessário. As crianças
cil: é preciso encontrar outra maneira de administrar o
tomam nota durante a leitura dos aspectos relevantes para
tempo, é preciso criar novos modos de controlar apren- elaborar a resposta à pergunta apresentada.
dizagem, é preciso transformar a distribuição dos papéis Situações de escrita: o planejamento do texto que será
do professor e do aluno em relação à leitura, é preciso produzido se realiza a partir das discussões das notas toma-
os objetivos institucionais com os objetivos pessoais dos das pelas crianças no curso das situações de leitura, discus-
alunos. A versão apresentada no capítulo é baseada no são que obriga a reler os textos e chegar a um acordo dos as-
trabalho de diversos pesquisadores, cujas produções con- pectos que devem ser incluídos. O processo de textualização
tribuíram para elaborá-Ia. se realiza através de um ditado das crianças para o professor,
já que se trata de produzir um único texto. São realizadas
O SENTIDO DA LEITURA NA ESCOLA: PROPÓSITOS DI- várias revisões, com várias releituras até a versão final.
DÁTICOS DO ALUNO Quando a versão final do texto está pronta, considera-se
Na escola a leitura é, antes de mais nada, um objeto o “curso de capacitação” concluído, todas as crianças obtêm
de ensino. Para que também se transforme num objeto de seus “diplomas” e se passa à segunda etapa, a abertura da
aprendizagem é preciso que tenha sentido do ponto de consultoria que começa com uma comunicação aos pais, in-
vista do aluno, deve cumprir uma função para a realização formando os objetivos do projeto e as atividades já realiza-
de um propósito que ele conhece e valoriza. Em conse- das e são convidados a enviar perguntas. Quando as pergun-
quência, cada situação de leitura responderá a um duplo tas começam a chegar, realizam-se as seguintes atividades:
propósito: um propósito didático, ensinar certos conteúdos - Leitura das perguntas, classificação por tema e se-
constitutivos da prática social da leitura, com o objetivo de leção;
que o aluno possa reutilizá-lo no futuro, por outro lado, - Distribuição das perguntas por duplas, levando-se
um propósito comunicativo relevante desde a perspectiva em conta as preferências e possibilidades das crianças;
atual do aluno. São situações que Brousseau (1986) cha- - Elaboração da resposta: cada dupla se encarrega
mou de “a - didáticas”, porque propicia o encontro dos alu- de elaborar a resposta, com a orientação do professor e
nos com um problema que devem resolver por si mesmos, quando possível da bibliotecária;
porque funciona de tal modo que o professor intervenha - Consulta a leitores: antes de fazer a revisão final,
sem explicitar o que sabe e porque tornam possível criar no cada dupla submete seu texto “a consideração de outra
aluno um projeto próprio, permite mobilizar o desejo de dupla - Revisão final;
aprender. Os projetos vinculados à leitura parecem cumprir - Envio da resposta aos destinatários;
esta finalidade. - Distribuição de uma nova pergunta para cada dupla.
70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
GESTÃO DO TEMPO, Também poderá gerar uma atividade que Ihes exija tra-
APRESENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS E ORGANIZAÇÃO balharem sozinhas durante um determinado período com
DAS ATIVIDADES o objetivo de que se esforcem por compreender e de que
O tempo é um fator de peso na instituição escolar: construam ferramentas de autocontrole.
sempre é escasso em relação à quantidade de conteúdos
fixados no programa, nunca é suficiente! Para concretizar A INSTITUIÇÃO E O SENTIDO DA LEITURA
uma mudança qualitativa na utilização do tempo didático, A problemática apresentada pela formação do leitor,
parece necessário: manejar com flexibilidade a duração das longe de ser específica de determinada série, é comum a
situações didáticas e tornar possível a retomada dos pró- toda a instituição escolar. O desafio de dar sentido à leitu-
prios conteúdos em diferentes oportunidades e a partir de ra assume uma dimensão institucional, se essa dimensão é
perspectivas diversas. assumida, se a instituição como tal se encarrega da análise
Criar essas condições requer pôr em ação diferentes do problema, se seus integrantes em conjunto elaboram e
modalidades e atividades organizativas: levam à prática projetos direcionados a enfrentá-Ios, co-
- projetos: permite uma organização flexível do tempo,
meça a se tornar possível encurtar a distância entre os pro-
de alguns dias a vários meses;
pósitos e a realidade.
- atividades habituais: acontecem de forma sistemática
uma vez por semana ou a cada quinze dias, durante vários
meses ou ao longo do ano e oferecem a oportunidade de O PAPEL DO CONHECIMENTO DIDÁTICO NA FORMA-
interagir com um determinado gênero literário em cada ÇÃO DO PROFESSOR
ano da escolaridade, são apropriadas para comunicar cer- O CONHECIMENTO DIDÁTICO COMO EIXO DO PRO-
tos aspectos ao leitor; - sequências de atividades: CESSO DE CAPACITAÇÃO
estão direcionadas para ler com as crianças diferentes O conhecimento didático assume lugar central na ca-
exemplares de um mesmo gênero ou subgênero, diferen- pacitação dos professores, é uma afirmação que parece
tes obras de um mesmo autor ou diferentes textos de um óbvia, mas necessária porque este não foi suficientemente
mesmo tema; contemplado nos processos de capacitação.
- situações independentes ocasionais ou de sistema- Deslumbrados, antes de mais nada, pelos impressio-
tização. nantes resultados das pesquisas psicogenéticas, a partir
de Ferreiro e Teberosky (1979), ávidos por incorporar as
ACERCA DO CONTROLE: AVALIAR A LEITURA E ENSI- contribuições da psicolinguística referentes ao ato de es-
NAR A LER crita (trabalhos de Smith, Goodman, Hayves e
Para que a pressão da avaliação, função inerente à es- Flowers, etc.), os capacitadores, entre os quais
cola, se torne um obstáculo para a formação de leitores, é a autora se inclui, não conseguiram fugir à tentação de pôr
imprescindível, por um lado, pôr em primeiro plano os pro- em primeiro plano os conteúdos psicológicos e linguísticos
pósitos referentes à aprendizagem, de tal modo que estes como conteúdos imprescindíveis para o ensino da leitura e
não se subordinem à necessidade de controle e, por outro da escrita, a partir dos quais se poderia pensar a ação didá-
lado, criar modalidades de trabalho que incluam momen- tica. Não conseguiram ouvir os apelos que seus alunos fa-
tos durante os quais o controle seja responsabilidade dos ziam quanto a questão de colocar as atividades em prática.
alunos. Ao refletir sobre o que pensava quando planejava ou ava-
liava suas aulas, Delia Lerner, afirma ir se conscientizando
O PROFESSOR: UM ATOR NO PAPEL DO LEITOR de que as preocupações dos professores coincidiam com
A leitura do professor é de particular importância na as suas, ou seja, ambos preocupados com as condições que
primeira etapa da escolaridade, quando as crianças ainda
as propostas tinham que cumprir para serem produtivas,
não leem eficazmente por si mesmas. Ao ler para as crian-
pela organização da aula, pelas intervenções do docente
ças o professor “ensina” como se faz para ler. Entretanto,
no curso de cada atividade, pela organização da aula e em
operar como leitor é uma condição necessária, mas não su-
ficiente, para ensinar a ler. São necessárias intervenções di- relação com distintos sujeitos ou grupos. Foi possível, com-
recionadas para que as crianças possam ler por si mesmas, preender por que os exemplos de atividades apresentados
para que progridam no uso de estratégias efetivas, em suas para os professores Ihes pareciam sempre escassos.
possibilidades de compreender melhor aquilo que leem. Tudo isso, foi imprescindível para que a autora e os
Enquanto estão lendo, o professor as incentiva a con- capacitadores realizassem mudanças no processo de capa-
tinuar a leitura sem se deter diante da cada dificuldade, citação, foi assim que o saber didático passou a ocupar o
uma leitura global, e em seguida uma segunda leitura e primeiro plano.
irá descobrindo que conhecer todo o texto permite com-
preender melhor cada parte. A ajuda do professor consiste ACERCA DE TRANSFORMAÇÕES E CONSERVAÇÕES
em propor estratégias das quais se irão apropriando pro- Assim como a transformação do processo de capaci-
gressivamente e que Ihes serão úteis para abordar novos tação foi de suma importância, também o foi a conserva-
textos que apresentem certo grau de dificuldade. Além dis- ção daquelas situações que haviam sido avaliadas como
so, o professor incitará entre os alunos a cooperação, com produtivas e que já se orientavam para a construção de
o objetivo de que a confrontação de pontos de vista leve a conhecimento didático por parte dos professores.
uma melhor compreensão do texto.
71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
AS SITUAÇÕES DE “DUPLA CONCEITUAÇÃO” trabalha, porque a reflexão sobre elas torna possível dis-
Entre as situações conservadas, possuíam particu- cutir a respeito das condições didáticas requeridas para o
lar interesse aquelas que cumpriram um duplo objetivo: ensino da leitura e da escrita;
conseguir, por um lado, que os professores construíssem 2. Tomar como objeto de análise registros de clas-
conhecimentos sobre um objeto de ensino e, por outro, ses coordenadas pelos participantes é uma tarefa que se
que elaborassem conhecimentos referentes às condições aborda numa etapa posterior, porque submeter a própria
didáticas necessárias para que seus alunos pudessem se prática ao olhar de outros não é fácil e pode dar lugar a
apropriar desse objeto. Essas situações são apresentadas situações de tensão ou competitividade;
pela autora contemplando duas fases sucessivas: 3. Levar em conta as possibilidades e limitações dos
1 - Na primeira fase, apresenta-se uma proposta como registros de classe permite seu papel no processo de ca-
a seguinte: produzir em grupo uma mensagem dirigida a pacitação.
um destinatário específico, por exemplo, elaborar um in- É fundamental considerar as seguintes questões para
forme para o diretor da escola sobre as atividades realiza- realizar um trabalho realmente produtivo com os registros
das no curso. Solicita-se, além disso, que enquanto cada de classes:
grupo escreve, um de seus membros atue como observa- - Em primeiro lugar, é importante lembrar que os regis-
dor e registre as discussões que ocorram. tros não são transparentes, nem autossuficientes para pôr
Terminada a escrita, cada grupo se dedica a discutir o em evidência os conteúdos que se quer comunicar através
registro e finalmente, faz-se uma socialização síntese ba- de sua análise.
seada nas conclusões dos diferentes grupos. O que cada professor pode observar numa classe está
O que os participantes aprendem nesta fase? determinado por seus saberes prévios, por sua própria ex-
A) Ao discutir os problemas e ao analisar os registros, periência ou inexperiência;
eles se conscientizam de que a escrita envolve processos - Em segundo lugar, é necessário pôr em relevo aquilo
de planejamento, textualização e revisão, de que ao escre- que será reproduzível, que pode ser válido para outras apli-
ver se enfrenta múltiplos problemas; cações da mesma situação ou outras situações;
B) A socialização e síntese das discussões ocorridas nos - em terceiro lugar, é preciso levar em conta que al-
diferentes grupos permite separar aspectos essenciais do guns aspectos fundamentais da situação são invisíveis: nos
ato de escrita e leva a defini-Ia como uma atividade inseri- registros não aparecem explicitamente as conceituações
da num contexto comunicativo; do professor acerca do conteúdo que está ensinando, nem
C) As intervenções do capacitador permitem estabe- as ideias que sustentam as decisões que toma no decorrer
lecer novas relações entre as contribuições dos diferentes da aula, nem as hipóteses que estão por trás do que as
grupos e ter acesso a informações que complementam os crianças dizem.
conhecimentos elaborados no curso da atividade. Por último, é importante levar em conta que o registro
Na segunda fase, uma vez conceitualizado o conteúdo, de classe é realizado em geral, por uma pessoa alheia ao
formulam-se interrogações que levam a refletir as carac- grupo e que é comum aparecerem indícios da influência
terísticas da situação didática proposta: por que escolheu que essa presença tem no desenvolvimento da situação.
essa atividade e não outra? (Escrever uma carta real para Tomar como eixo da capacitação o conhecimento di-
um destinatário específico), a situação constituiu um de- dático é reconhecer que os problemas surgidos na aula são
safio para os participantes? Para todos na mesma medida? problemas específicos que requerem soluções também es-
O que se aprende nesta segunda fase? pecíficas. No entanto, centrar-se no saber didático não sig-
A) A reflexão sobre as características da situação de nifica deixar de lado as contribuições das outras ciências,
aprendizagem em que os professores participaram como pelo contrário, abrir a possibilidade de que os professores
alunos; recorram a elas a partir de interrogações suscitadas pelo
B) A confrontação do ocorrido em distintos grupos ensino e pela aprendizagem, tentando encontrar elemen-
permitindo refletir sobre os diversos efeitos que uma mes- tos necessários para manejar melhor os saberes que devem
ma situação pode produzir; ser ensinados, para compreender melhor as interrogações
C) As apreciações do capacitador durante a socializa- e as conceitualizações dos alunos.
ção contribuem para aprofundar a fundamentação da pro-
posta e das intervenções realizadas por ele. PALAVRAS FINAIS
Segundo Delia Lerner, ainda há duas observações a se-
ATIVIDADE NA AULA COMO OBJETO DE ANÁLISE rem feitas ao terminar este capítulo: a primeira delas refe-
Centrar-se no conhecimento didático, como eixo da re-se à posição assumida pelos participantes dos processos
capacitação, supõe necessariamente incluir a aula no pro- de capacitação que foram fecundos e a segunda com a ne-
cesso de capacitação, pôr em primeiro plano o que real- cessária vinculação entre pesquisa e didática. A capacitação
mente ocorre na classe, estudar o funcionamento do ensi- poderá ser muito mais efetiva quanto melhor se conhecer
no e da aprendizagem escolar da leitura e da escrita. Para os fatos didáticos, quanto mais preciso for o saber acer-
cumprir esse requisito é essencial o registro da classe. Deci- ca do ensino e da aprendizagem escolar, quanto mais se
dir quais são os registros que serão analisados não é tarefa avançar na análise dos processos de comunicação do co-
fácil. Quais são as situações de classe que é mais produtivo nhecimento didático dos professores. Avançar na pesquisa
analisar? É importante considerar: didática sobre o trabalho em classe e sobre a capacitação
1. As situações de classe que é mais produtivo ana- permitirá ajudar os professores em sua difícil tarefa.
lisar são as que podem ser caracterizadas como “boas”,
porque permitem analisar o modelo didático com que se
72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
aliam arte e criatividade, como o desenho com formas geo-
REIS, SILVIA MARINA GUEDES DOS. A métricas e a construção de jogos e materiais com sucata,
MATEMÁTICA NO COTIDIANO INFANTIL: proporcionando às crianças a satisfação de construir seus
próprios jogos, além de trabalhar o conceito de reciclagem.
JOGOS, ATIVIDADES COM CRIANÇAS DE 3 A A obra também tem por objetivo levar à reflexão dos ca-
6 ANOS. CAMPINAS: PAPIRUS. minhos que conduzem a essa aprendizagem. É destinada
a todos que trabalham com crianças nessa faixa etária -
professores, coordenadores e orientadores, e também aos
Através destas atividades lúdicas, envolvendo jogos e estudantes na área da educação.
brincadeiras, propiciamos trocas de informações, criamos
situações que favoreceram o desenvolvimento da sociabili- http://www.pedagogia.com.br/artigos/matematicain-
dade, da cooperação e do respeito mútuo entre os alunos, fantil/index.php?pagina=2 // https://livralivro.com.br/
desenvolvendo também as noções de perto/longe, dentro/ books/show/444398?recommender=I2I)
fora, pequeno/grande, grosso/fino, por baixo/por cima, na
frente/atrás, cheio/vazio, maior/menor.
Notamos o crescimento diário de cada criança ao de-
senvolverem noções de tempo, quantidade, tamanho, clas- SMOLE, K. S. E DINIZ, M. I. LER, ESCREVER
sificação e comparação de formas, contagem identificação E RESOLVER PROBLEMAS: HABILIDADES
de algarismos, percepção espacial, entre outras. BÁSICAS PARA APRENDER MATEMÁTICA.
Este tipo de abordagem, quando cuidadosamente pre- PORTO ALEGRE: ARTMED, 2001.
parada, se apresenta como um recurso pedagógico eficaz
para a construção do conhecimento matemático.
No seu processo de desenvolvimento, a criança vai
criando várias relações entre objetos e situações viven- Aprender a ler problemas em matemática
ciadas por ela e, sentindo a necessidade de solucionar um
problema, de fazer uma reflexão, estabelece relações cada Muitos professores acreditarem que as dificuldades
vez mais complexas que lhe permitirão desenvolver noções apresentadas por seus alunos em ler e interpretar um pro-
matemáticas mais e mais sofisticadas. (Smole, 2003 p. 63). blema ou exercício de matemática estão associadas a pou-
Desde cedo as crianças devem ser acostumadas a ou- ca competência que eles têm para leitura. Também é co-
vir uma linguagem matemática empregada em diferentes mum a concepção de que, se o aluno tivesse mais fluência
contextos para que possam fazer a sua própria constru- na leitura nas aulas de língua materna, consequentemente
ção de significado na interação com os colegas e adultos ele seria um melhor leitor nas aulas de matemática.
do seu meio A professora de educação infantil deve dar Embora tais afirmações estejam em parte corretas, pois
ler é um dos principais caminhos para ampliarmos nossa
à criança oportunidade para observar tudo que a rodeia,
aprendizagem em qualquer área do conhecimento, consi-
contando, comparando, medindo, etc. Dessa iniciação de-
deramos que não basta atribuir as dificuldades dos alunos
penderá muito seu interesse pela Matemática no decorrer em ler problemas a sua pouca habilidade em ler nas aulas
de sua vida. Devemos então, como educadores incentivar de português. A dificuldade que os alunos encontram em
a criança, no seu universo povoado de sentidos, dos seres ler e compreender textos de problemas estão, entre outras
mágicos, de risos, de travessuras, de imagens, curiosidades coisas, ligadas à ausência de um trabalho pedagógico espe-
e números que irão auxiliar a criança na exploração e com- cífico com o texto do problema, nas aulas de matemática.
preensão do mundo da matemática. O estilo nos quais geralmente os problemas de mate-
O papel do professor é de grande importância nesse mática são escritos, a falta de compreensão de um concei-
processo, uma vez que, além de deixar a criança livre para to envolvido no problema, o uso de termos específicos da
manipular e experimentar os materiais, como também ob- matemática e que, portanto, não fazem parte do cotidiano
servar as reações decorrentes, deve, em seguida, propor à do aluno, e mesmo palavras que têm significados diferen-
criança problemas reais a serem resolvidos, criando, assim, tes na matemática e fora dela – total, diferença, ímpar, mé-
uma situação de aprendizagem significativa. dia, volume, produto – podem se constituir em obstáculos
para que a compreensão ocorra. Para que tais dificuldades
As noções básicas em matemática, lógica e geometria sejam superadas, ou mesmo para que elas não surjam, é
começam a ser elaboradas na infância, portanto, é vital preciso alguns cuidados com a proposição dos problemas
que a base seja sólida, bem construída e bem trabalhada. desde o início da escolarização até o final do Ensino Médio.
Cuidados com a leitura que o professor elabora o pro-
Estimular o raciocínio lógico-matemático é muito mais do
blema, cuidados em propor tarefas específicas de interpre-
que ensinar matemática, é propiciar o desenvolvimento tação do texto dos exercícios caracterizam um conjunto de
mental, é fazer pensar. Esse livro apresenta sugestões de intervenções didáticas destinadas exclusivamente a levar
jogos, brincadeiras e atividades que buscam desenvolver o os alunos a lerem problemas de matemática com autono-
raciocínio lógico-matemático e trabalhar o conteúdo a ser mia e compreensão. Neste artigo, pretendemos indicar al-
explorado com crianças de 3 a 6 anos de forma lúdica, inte- gumas intervenções que temos utilizado em nossas ações
rativa e desafiadora, auxiliando o educador a construir um junto a alunos e professores e que têm auxiliado a tornar os
ambiente matematizador em sala de aula. Várias atividades estudantes melhores leitores de problemas.
73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A Leitura dos Problemas com Alunos no Início da Alfa- Novamente não se trata de resolver o problema oralmente,
betização mas de garantir meios para que todos os alunos possam
iniciar a resolução do problema sem, pelo menos, ter dúvi-
Quando os alunos ainda não são leitores, o professor das quanto ao significado das palavras que nele aparecem.
lê todos os problemas para eles e, como leitor, auxilia os Assim, se houver um dado do problema, um termo que
alunos, garantindo que todos compreendam, cuidando seja indispensável e que os alunos não conheçam ou não
para não enfatizar palavras chave e usar qualquer recurso saibam ler, principalmente no início do ano, o professor
que os impeça de buscar a solução por si mesmos. Mas há deve revelar seu significado, proceder à leitura correta. Esse
outros recursos dos quais o professor pode se valer para processo para quando os alunos entendem o contexto dos
explorar a alfabetização e a matemática enquanto trabalha problemas.
com problemas. Nesse processo é possível, ainda, que o professor pro-
Um deles é escrever uma cópia do problema no qua- ponha aos alunos o registro, no caderno ou em um di-
dro e fazer com os alunos uma leitura cuidadosa. Primeiro cionário, das palavras novas que aprenderam, ou mesmo
do problema todo, para que eles tenham ideia geral da si- daquelas sobre as quais tinham dúvida para que possam
tuação; depois mais vagarosamente, para que percebam as consultar quando necessário. Em relação àqueles termos
palavras do texto, suas grafias e seus significados. que tenham significados diferentes em matemática e no
Propor o problema escrito e fazer questionamentos uso cotidiano, o ideal é que sejam registrados no caderno
orais com a classe, como é comum que se faça durante a dos alunos com ambos os significados, podendo inclusive
discussão de um texto, auxilia o trabalho inicial com pro- escrever frases que ilustrem os dois sentidos. Vejamos ou-
blemas escritos: tras estratégias:
Quem pode me contar o problema novamente? Apresentar aos alunos problemas com falta ou excesso
Há alguma palavra nova ou desconhecida? de dados para que eles analisem a necessidade ou não de
Do que trata o problema? informações no texto;
Qual é a pergunta?
Apresentar aos alunos o texto de um problema no qual
Novamente o cuidado é para não resolver o problema
falte uma frase ou a pergunta, deixar que eles tentem resol-
pelos alunos durante a discussão e, também, não tornar o
ver e completar o que falta para o problema ser resolvido;
recurso uma regra ou conjunto de passos obrigatórios que
Apresentar um problema com frases em ordem inverti-
representem um roteiro de resolução. Se providenciar para
da e pedir que os alunos reorganizem o texto;
cada aluno uma folha com o problema escrito, o professor
Pedir que os alunos elaborem problemas com palavras
pode ainda:
- Pedir aos alunos que encontrem e circulem determi- que apresentam sentidos diferentes quando utilizadas na
nadas palavras; matemática e no cotidiano: tira, produto, domínio, diferen-
- Escrever na lousa o texto do problema sem algumas ça etc.
palavras; Desejamos finalizar nossas considerações com o alerta
- Pedir para os alunos em duplas olharem seus textos, que de que essas ações para tornar o aluno leitor de um pro-
devem ser completos, e descobrirem as palavras que faltam. blema não podem ser esporádicas, nem mesmo isoladas. É
Conforme as palavras são descobertas, os alunos são necessário que haja um trabalho constante com as estraté-
convidados a ir ao quadro e completar os espaços com os gias, em todas as séries escolares, pois será apenas enfren-
termos ausentes. Em todos os casos, o professor pode es- tando a formação do leitor e do escritor como uma tarefa
colher trabalhar com palavras e frases que sejam significa- de todos os professores da escola, inclusive de matemática,
tivas para os alunos ou que precisem ser discutidas com que criaremos oportunidades para que todos desenvolvam
a classe, inclusive aquelas que se relacionam com noções as habilidades essenciais para o aprendizado de qualquer
matemáticas. Os problemas são resolvidos após toda a conceito, em qualquer tempo. Ler e escrever nas diferentes
discussão sobre o texto, que a essa altura já terá sido in- disciplinas constitui uma das chaves mais essenciais para a
terpretado e compreendido pela turma, uma vez que as formação da autonomia por meio da escola.
atividades que sugerimos contemplam leitura, escrita e in-
terpretação simultaneamente. A resolução de problemas e o pensamento mate-
mático
Ampliando Possibilidades para os Leitores
A necessidade atual de desenvolver nos jovens com-
Para os alunos do Ensino Fundamental e Médio que já petências de pensamento, que privilegiem a capacidade de
leem com mais fluência textos diversos, o professor pode aprender a aprender como uma forma de garantir a sua
propor outras atividades envolvendo textos de problemas. adaptação aos desafios que a sociedade do conhecimento
A primeira delas, sem dúvida, é deixar que eles façam sozi- lhes coloca, justifica a necessidade de promover em con-
nhos a leitura das situações propostas. texto escolar o ensino de Matemática por meio de proble-
A leitura individual ou em dupla auxilia os alunos a mas.
buscarem um sentido para o texto. Na ocasião, o professor Podemos afirmar, sem risco de exageros, que em se
pode indicar que cada leitor tente descobrir sobre o que o tratando de Matemática um aluno será levado a construir
problema fala, qual é a pergunta, se há palavras desconhe- competências somente confrontando-se, regular e inten-
cidas. Aí, então, é possível conduzir um debate com toda samente, com situações problematizadoras que mobilizem
a classe para socializar as leituras, dúvidas, compreensões. diversos tipos de recursos cognitivos e metacognitivos.
74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A resolução de problemas nesse sentido não é uma si- Como ingredientes desse processo, defendemos a reso-
tuação qualquer, focada em achar uma resposta de forma lução de problemas com características variadas, além da-
rápida, mas deve colocar o resolvedor diante de uma série de queles rotineiros.
decisões a serem tomadas para alcançar um objetivo previa- As tarefas e os problemas discutidos devem apresentar
mente traçado por ele mesmo ou que lhe foi proposto, mas um potencial que permita aos estudantes propor conjecturas,
com o qual ele interage, se desafia e envolve. Essa estratégia usar exemplos e contraexemplos. Acrescentamos, também, a
está centrada na ideia de superação de obstáculo pelo re- necessidade de manter periodicamente problemas novos em
solvedor, devendo, portanto, não ser de resolução imediata sala de aula, de conduzir os alunos à observação das diversas
pela aplicação de uma operação ou fórmula conhecida, mas estratégias que utilizam quando enfrentam situações novas
oferecer uma resistência suficiente, que leve o resolvedor a e a testar algumas alternativas em oportunidades de verificar
mobilizar seus conhecimentos anteriores disponíveis, bem as destrezas e as dificuldades no processo de resolver pro-
como suas representações, e seu questionamento para a ela- blemas de seus pares. São fundamentais o valor, as estraté-
boração de novas ideias e de caminhos que visem a solucio- gias, as habilidades e os processos, pois fornecem aos alunos
nar os desafios estabelecidos pela situação problematizado-
uma forma flexível e independente de pensar.
ra, gerando então novas aprendizagens e formas de pensar.
Além disso, ganha força a opção pelo processo de socia-
Sendo assim, refletir sobre o ensino e a aprendizagem
lização da aprendizagem, pautado em trabalhos em grupo,
da Matemática na escola é necessariamente identificar a
aula como um espaço problematizador, no qual os alunos se estratégia fundamental na formação de um ambiente mate-
deparam com desafios constantes, por meio dos quais bus- mático. As discussões entre pares permitem que o resolve-
cam regularidades, formulam, testam, justificam ou refutam dor-aluno analise várias alternativas, o que é essencial para
hipóteses, refletem a partir de experiências bem-sucedidas o desenvolvimento das ideias matemáticas, e desenvolva a
ou não, defendem suas ideias por meio de argumentações e percepção de que a resolução de problemas não é uma ta-
discussões com seus pares. É um recurso que auxilia os alu- refa solitária.
nos a desenvolver um fazer matemático indo além do mero Em todos os sentidos, o que se busca é que os alunos
domínio de técnicas e exercícios típicos. exerçam maior e melhor controle sobre o seu fazer e o seu
Enfrentar e resolver uma situação-problema não signi- pensar matemático, adquirindo sistemas de controle e au-
fica apenas compreender o que é exigido, aplicar as técni- torregulação que os auxiliem a escolher ou optar por deter-
cas ou fórmulas adequadas e obter a resposta correta, mas, minada estratégia, abandoná-la ou buscar outra que melhor
além disso, uma atitude de investigação científica em rela- se ajuste à situação e, ao final, avaliar o processo vivido. O
ção aquilo que está sendo resolvido e mesmo diante da so- que garante os processos metacognitivos aos quais nos re-
lução que se obtém. ferimos anteriormente.
Dessa forma, um problema não acaba na conferência da O enfoque apresentado até agora implica um repensar
resposta, porque exige a discussão das soluções, a análise o ensino de Matemática, sua concepção e as situações didá-
dos dados e, finalmente, uma revisão e o questionamento ticas propostas, visando ao processo de aprendizagem que,
da própria situação inicial. para ocorrer, atribui ao professor um papel essencial.
Por isso, ao resolvedor deve ficar claro que a resposta Cabe ao professor escolher bons problemas, planejar
correta é tão importante quanto o processo de resolução. formas de explorá-los para que os alunos sejam colocados
Ele deve perceber ainda que podem surgir diferentes solu- em situação de ver e confrontar diferentes pontos de vista,
ções, que precisam ser comparadas entre si e justificadas em explicitar o que é difícil, justificar como pensou uma solução,
relação àquilo que se desejava resolver. avaliar o processo vivido, valorizar a análise de erros, entre
Podemos afirmar que a resolução de problemas se ca-
tantas outras ações.
racteriza por uma postura de inconformismo frente aos
Podemos concluir afirmando que, se por um lado, a
obstáculos e ao que foi estabelecido por outros, sendo um
resolução de problemas é o processo que permite atribuir
exercício contínuo de desenvolvimento do senso crítico e da
criatividade, que são características primordiais daqueles que sentido e significado ao fazer matemático na escola, serão
fazem ciência e que são objetivos importantes do ensino de o planejamento e a condução do processo da aula que per-
Matemática. Atitudes naturais do aluno que não encontram mitirão ou não a ampliação das capacidades reflexivas do
espaço dentro do modelo tradicional de ensino, como é o aluno. Portanto, a mudança da visão da Matemática como
caso da curiosidade e da confiança em suas próprias ideias, uma disciplina na qual reproduzimos modelos, ou fazemos
passam a ser valorizadas nesse processo investigativo. exercícios, para uma outra marcada pela investigação, pela
Para que esse processo se desenvolva plenamente, o possibilidade de diálogo e de aprendizagem significativa é
ensino de Matemática deve primeiramente favorecer um uma decisão didática em profunda relação com aquilo que
ambiente de aprendizagem que simule na sala de aula uma acreditamos que seja ensinar e aprender Matemática.
comunidade matemática, onde todos possam participar,
opinar, comunicar e trocar informações e experiências. Fonte: Smole, K. S. e Diniz, M. I. (org.) Ler, escrever e
Nessa comunidade, os alunos – mediados por um pro- resolver problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.
fessor que questiona, instiga a análise, valoriza a troca de im- http://mathema.com.br/reflexoes/aprender-a-ler-pro-
pressões e opiniões – desenvolvem um conhecimento mate- blemas-em-matematica/
mático que lhes permite identificar, selecionar e utilizar estra-
tégias adequadas ao resolver situações-problema por meio
de diferentes processos de resolução, em detrimento das
respostas mecânicas para problemas sem sentido para eles.
75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
leitura e não em seu processo. Percebe-se que as práticas
SOLÉ, ISABEL. ESTRATÉGIAS DE LEITURA. escolares dão maior ênfase no domínio das habilidades de
PORTO ALEGRE: ARTMED, 1998. decodificação.
76
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
que se promova o uso dos livros e da disposição dos pais a 5. Comprovar continuamente se a compreensão ocorre
adquiri-los e a ler, o fato de lerem para seus filhos relatos e mediante a revisão e a recapitulação periódica e a auto in-
histórias e a conversa posterior em torno dos mesmos pare- terrogação. Qual é a idéia fundamental que extraio daqui.
cem ter uma influência decisiva no desenvolvimento poste- 6. Elaborar e provar inferências de diversos tipos, como
rior destes com a leitura. interpretações, hipóteses e previsões e conclusões. Qual po-
Assim, o conhecimento que a criança tem das palavras derá ser o final deste romance?
e suas características aumentará consideravelmente quando
ela começar a manejar o impresso. Um conjunto de propostas para o ensino de estraté-
O trabalho que se deve realizar com as crianças é mos- gias de compreensão leitora pode ser considerado segundo
trá-las que ler é divertido, que escrever é apaixonante, que BAUMANN (1985;1990) nos processos:
ela pode fazê-lo. Precisamos instigá-las a fazer parte desse 1. Introdução. Explica-se aos alunos os objetivos daquilo
mundo maravilhoso e cheio de significados. que será trabalhado e a forma em que eles serão úteis para
a leitura.
O ensino inicial da leitura 2. Exemplo. Exemplifica-se a estratégia a ser trabalhada
mediante um texto.
Na escola, as atividades voltadas para o ensino inicial da 3. Ensino Direto. O professor mostra, explica e escreve a
leitura devem garantir a interação significativa e funcional habilidade em questão, dirigindo a atividade.
da criança com a língua escrita, como um meio de construir 4. Aplicação dirigida pelo professor. Os alunos devem
os conhecimentos necessários para poder abordar as dife- pôr em prática a habilidade aprendida sob o controle e su-
rentes etapas de sua aprendizagem. pervisão do professor.
Para isso é fundamental trazer para a sala de aula, como 5. Prática individual. O aluno deve utilizar independen-
ponto de partida, os conhecimentos que as crianças já pos- temente a habilidade com material novo.
suem e a partir de suas ideias, ampliar suas significações.
Tipos de texto e expectativas do leitor
Alguns autores, entre eles ADAM (1985), classificam os
A leitura e a escrita são procedimentos e devem ser traba-
textos da seguinte forma:
lhados como tal em sala de aula.
1. Narrativo: texto que pressupõe um desenvolvimento
cronológico e que aspira explicar alguns acontecimentos em
Um aspecto importante que precisa ser garantido é o
uma determinada ordem.
acesso a diferentes materiais escritos para as crianças: jornais,
2. Descritivo: como o nome diz, descreve um objeto ou
revistas, gibis, livros, rimas, poemas, HQ, e gêneros diversos. fenômeno, mediante comparações e outras técnicas.
3. Expositivo: relaciona-se à análise e síntese de represen-
CAPÍTULO 4 - O ENSINO DE ESTRATÉGIAS DE COM- tações conceituais ou explicação de determinados fenômenos.
PREENSÃO LEITORA 4. Instrutivo-indutivo: tem como pretensão induzir a
ação do leitor com palavras de ordem, por exemplo.
Já tratamos no capítulo anterior que os procedimentos
precisam ser ensinados. Se estratégias de leitura são proce- Seria fundamental que essa diversidade de textos apa-
dimentos, então é preciso ensinar estratégias para a com- recesse na escola e não um único modelo. Principalmente os
preensão dos textos: não como técnicas precisas, receitas que frequentam a vida cotidiana.
infalíveis ou habilidades específicas, mas como estratégias Trata-se de organizar um ensino que caracterize cada
de compreensão leitora que envolvem a presença de objeti- um destes textos, mostrando as pistas que conduzem à uma
vos, planejamento das ações, e sua avaliação. melhor compreensão, fazendo com que o leitor saiba que
Estas estratégias são as responsáveis pela construção de pode utilizar as mesmas chaves que o autor usou para for-
uma interpretação para o texto. E uma construção feita de mar um significado, e além de tudo interpretá-lo.
forma autônoma.
CAPÍTULO 5 - PARA COMPREENDER... ANTES DA
Que estratégias vamos ensinar? O papel das estratégias LEITURA
na leitura
Apresentam-se aqui seis passos importantes para a
São aquelas que permitem ao aluno planejar sua tarefa compreensão, que devem ser seguidos antes da leitura pro-
de modo geral. Perguntas que o leitor deve se fazer para priamente dita:
compreender o texto: Ideias Gerais
1. Compreender os propósitos implícitos e explícitos da
leitura. Que/Por que/Para que tenho que ler? São algumas ideias que o professor tem sobre a leitura:
2. Ativar e aportar à leitura os conhecimentos prévios 1. ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de
relevantes para o conteúdo em questão. Que sei sobre o estratégias e técnicas.
conteúdo do texto? 2. ler é um instrumento de aprendizagem, informação
3. Dirigir a atenção ao fundamental, em detrimento do e deleite.
que pode parecer mais trivial. 3. a leitura não deve ser considerada uma atividade
4. Avaliar a consistência interna do conteúdo expressa- competitiva.
do pelo texto e sua compatibilidade com o conhecimento 4. quem não sente prazer pela leitura não conseguirá
prévio e com o “sentido comum”. Este texto tem sentido? transmiti-lo aos demais.
77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
5. a leitura para as crianças tem que ter uma finalidade O professor pode utilizar em sala de aula a estratégia da
que elas possam compreender e partilhar. leitura compartilhada, onde o leitor vai assumindo progres-
6. a complexidade da leitura e a capacidade que as sivamente a responsabilidade e o controle do seu processo
crianças têm para enfrentá-la. é uma forma eficaz para que os alunos compreendam as
estratégias apontadas, bem como, a leitura independente,
Motivação para a leitura onde podem utilizar as estratégias que estão aprendendo.
Toda atividade deve ter como ponto de partida a moti- Não estou entendendo, o que eu faço? Os erros e as lacu-
vação das crianças: devem ser significativas, motivantes, e a nas de compreensão
criança deve se sentir capaz de fazê-la.
Para ler eficazmente, precisamos saber quais as nossas
Objetivos da leitura dificuldades. Podem ser: a compreensão de palavras, frases,
nas relações que se estabelecem entre as frases e no texto
Os objetivos dos leitores, ou propósitos, com relação a em seus aspectos mais globais.
um texto podem ser muito variados, de acordo com as situa-
ções e momentos. Vamos destacar alguns dos objetivos da Para isso devemos ter estratégias como o uso do dicio-
leitura, que podem e devem ser trabalhados em sala de aula: nário ou a continuação da leitura que pode sanar alguma
1. ler para obter uma informação precisa; dúvida.
2. ler para seguir instruções;
3. ler para obter uma informação de caráter geral; CAPÍTULO 7- DEPOIS DA LEITURA: CONTINUAR
4. ler para aprender; COMPREENDENDO E APRENDENDO...
5. ler para revisar um escrito próprio;
6. ler por prazer; A compreensão do texto resulta da combinação entre os
7. ler para comunicar um texto a um auditório; objetivos de leitura que guiam o leitor, entre os seus conhe-
8. ler para praticar a leitura em voz alta; e
cimentos prévios e a informação que o autor queria transmi-
9. ler para verificar o que se compreendeu.
tir mediante seus escritos.
Revisão e atualização do conhecimento prévio
Para que os alunos compreendam a idéia principal do
texto, o professor pode explicar aos alunos o que consiste
Para compreender o que se está lendo é preciso ter co-
nhecimentos sobre o assunto. Mas algumas coisas podem a “idéia principal”, recordar porque vão ler concretamente o
ser feitas para ajudar as crianças a utilizar o conhecimento texto - função real, ressaltar o tema, à medida que vão lendo
prévio que têm sobre o assunto, como dar alguma explica- informar aos alunos o que é considerado mais importante,
ção geral sobre o que será lido; ajudar os alunos a prestar para que, finalmente concluam se a idéia principal é um pro-
atenção a determinados aspectos do texto, que podem ati- duto de uma elaboração pessoal.
var seu conhecimento prévio ou apresentar um tema que
não conheciam. O resumo
Estabelecimento de previsões sobre o texto Utilizar essa estratégia pode ser uma boa escolha para
estabelecer o tema de um texto, para gerar ou identificar sua
É importante ajudar as crianças a utilizar simultanea- idéia principal e seus detalhes secundários.
mente diversos indicadores: como títulos, ilustrações, o que É importante, também, que os alunos aprendam porque
se pode conhecer sobre o autor, cenário, personagem, ilus- precisam resumir, e como fazê-lo, assistindo resumos efe-
trações, etc. para a compreensão do texto como um todo. tuados pelo seu professor, resumindo conjuntamente, pas-
sando a utilizar essa estratégia de forma autônoma
Formulação de perguntas sobre ele COOPER (1990), afirma que para ensinar a resumir pará-
grafos de texto é importante que o professor:
Requerer perguntas sobre o texto é uma estratégia que 1. ensine a encontrar o tema do parágrafo e a identificar
pode ser utilizada para ajudar na compreensão de narrações a informação trivial para deixá-la de lado.
ensinando as crianças para as quais elas são lidas a centrar 2. ensine a deixar de lado a informação repetida.
sua atenção nas questões fundamentais. 3. ensine a determinar como se agrupam as ideias no
parágrafo para encontrar formas de englobá-las.
CAPÍTULO 6 - CONSTRUINDO A COMPREENSÃO... 4. ensine a identificar uma frase-resumo do parágrafo
DURANTE A LEITURA ou a elaborá-la.
Para a compreensão do texto uma das capacidades en- CAPÍTULO 8- O ENSINO E A AVALIAÇÃO DA LEITURA
volvidas é a elaboração de um resumo, que reproduz o sig-
nificado global de forma sucinta. Considerando o que foi visto até agora em relação aos pro-
cessos de leitura e compreensão é interessante ressaltar que:
Para isso, deve-se ter a competência de diferenciar o - Aprender a ler significa aprender a ser ativo ante a lei-
que constitui o essencial do texto e o que pode ser conside- tura, ter objetivos para ela, se auto interrogar sobre o con-
rado como secundário. teúdo e sobre a própria compreensão.
78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
- Aprender a ler significa também aprender a encontrar recebeu o prêmio Cecília Meirelles - O Melhor Livro Teórico,
sentido e interesse na leitura. outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
- Aprender a ler compreensivamente é uma condição do Brasil Em 2004: ou o de Pedagogia da Fundación Enciclo-
necessária par poder aprender a partir dos textos escritos. pédia Catalana, em 2003 e 2004. Uma vertente importante
- Aprender a ler requer que se ensine a ler, e isso é um do seu trabalho é a sua dedicação a custos e conferências de
papel do professor. formação de professores o que leva a viajar repetidamente a
- Ensinar a ler é uma questão de compartilhar. Compar- mais de quinze países europeus e latino-americanos. Coor-
tilhar objetivos, compartilhar tarefas, compartilhar os signifi- denou e publicou diversos títulos sobre o ensino de leitura
cados construídos em torno deles. e literatura. Criadora e coordenadora do primeiro curso de
- Ensinar a ler exige a observação dos alunos e da pró- pós-graduação na área de Bibliotecas Escolares na Espanha.
pria intervenção, como requisitos para estabelecer situações Colabora regularmente com revistas educativas e de literatu-
didáticas diferenciadas capazes de se adaptar à diversidade ra para crianças e jovens. Pela Global Editora tem publicada a
inevitável da sala de aula. seguinte obra: formação do leitor literário: narrativa infantil e
- É função do professor promover atividades significati- juvenil atual, traduzido por Laura Sandroni.
vas de leitura, bem como refletir, planejar e avaliar a própria
prática em torna da leitura. SINOPSE
Para finalizar esse livro se faz necessário ressaltar que Hoje em dia não é fácil saber como ensinar língua na
as mudanças na escola acontecem quando são feitas em escola devido aos importantes conhecimentos produzidos
equipe. Reestruturar o ensino da leitura deve passar por pelas ciências envolvidas nesta tarefa, como a linguística,
isso: uma construção coletiva e significativa para os alunos, a psicopedagogia e a sociologia. Essa situação estimulante
e também para os professores. para os pesquisadores pode ser desorientadora para o pro-
fessor, que em sua prática ainda não conta com referenciais
teóricos bem-definidos. Ensinar a ler, ensinar a compreender
Fonte: <http://www.professorefetivo.com.br/resumos/
sintetiza a experiência no ensino da leitura e auxilia decisiva-
Estrategias-de-Leitura.html
mente o professor.
COMENTÁRIO
TEBEROSKY, ANA; COLOMER, TERESA.
APRENDER A LER E A ESCREVER: UMA Ler continua a ser “a base de quase todas as atividades
PROPOSTA CONSTRUTIVISTA. PORTO que se realizam na escola” pelo que o seu frágil domínio se
ALEGRE: ARTMED, 2002. pode repercutir na aquisição de conhecimentos nas diversas
disciplinas do currículo. (Viana, 2002).
RESUMO
APRESENTAÇÃO
COLOMER, TEREZA; CAMPS, ANNA. ENSINAR A
LER, ENSINAR A COMPREENDER. SÃO PAULO: ART- Numa abordagem clara e concisa é conceituada a edu-
MED, 2002. cação e as transformações ocorridas no papel do professor,
sempre atentos ainda para o ensino e a aprendizagem da
leitura e o seu planejamento na escola. As autoras funda-
Esta obra é dividida em 5 capítulos: mentam então, algumas concepções de leitura um processo
psicológico e depois a leitura como um processo geral de
SUMÁRIO representação humana da realidade, a partir do modelo psi-
colinguístico-cognitivo.
Capítulo 1. A língua escrita O professor deverá incutir em seus alunos a necessidade
Capítulo 2. O que é ler? em transformar-se em sujeitos críticos e capazes de manter
Capítulo 3. O ensino e a aprendizagem da leitura uma visão flexível perante a realidade que os cercam. O en-
Capítulo 4. O planejamento da leitura na escola sino transpôs o rótulo de quem sabe mais é aquele que sim-
Capítulo 5. A avaliação da leitura plesmente memorizou mais conteúdos. Segundo as autoras,
tudo começa da concepção que se tem de leitura e suas im-
AUTOR plicações no ensino. Os conhecimentos prévios dos alunos
devem ser bem aproveitados e valorizados perante o pro-
Teresa Colomer é formada em filologia hispânica e filo- fessor e demais colegas em sala de aula. Para a partir de en-
logia catalã e doutora em ciências da educação. É professora tão construir um caminho satisfatório em busca da aquisição
de Didática da Língua e da Literatura na Universidade Autô- de novas palavras e uma compreensão textual positiva. Op-
noma de Barcelona. Publicou mais de 150 livros e artigos so- tar pela adoção de textos e exercício de leituras num maior
bre literatura infantil e juvenil e sobre o ensino de literatura numero de gêneros possíveis. Somente ater-se a questões
e da leitura,um espaço de três dimensões interrelacionadas memorativas e evidentes na resposta não ensinam a com-
que suas obras contribuíram para que fosse estabelecido. preender o texto. O professor não poderá garantir bons re-
Suas publicações obtiveram vários prêmios, como o Rosa sultados se não for capaz de planejar decisivamente o que
Sensat de pedagogia, pela obra escrita em parceria com seus alunos necessitam. Pode-se escolher uma metodologia
Anna Camps, Ensinar a ler, ensinar a compreender. Em 1990: progressista na busca pela leitura prazerosa e satisfatória.
79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
O ensino das habilidades leitoras requer uma sistemati- A LÍNGUA ESCRITA
zação e domínio das habilidades leitoras nos seguintes pontos: A sociedade e a língua escrita
(1) Proposta dirigidas à determinação, por parte do lei- A alfabetização
tor, de sua intenção de leitura a à explicação dos pontos
para conseguir seu propósito; Para Cole e Griffin, e muitos outros autores, que estu-
(2) Propostas sobre as estratégias de antecipação neces- dam a língua escrita do ponto de vista da antropologia cul-
sárias ao abordar a leitura e durante todo o processo leitor; tural, as raízes da lecto-escrita fazem parte da própria apa-
(3) Propostas para inferir significado não explicito; rição do homo sapiens, uma vez que o ser humano utiliza
deliberadamente sinais externos para regular sua relação
(4) Proposta sobre a percepção e discriminação rápida
com o mundo de forma indireta, sendo a invenção do al-
de indícios; (5) Propostas para a exercitação da memória a
fabeto decisiva por permitir a representação da linguagem
curto prazo;
com maior economia de meios. Entretanto, essa abstração
(6) Propostas para o desenvolvimento de estratégias de tem como consequência a dificuldade de aprendizagem: os
controle da própria representação mental do texto lido e de falantes não aprendem fixando-se na decomposição das pa-
compensação dos erros produzidos lavras, mas devem se basear em métodos e instrução e no
Para as autoras, se, atualmente, não é fácil saber como confronto com a própria linguagem escrita para alcançar o
ensinar língua na escola, orientar uma prática fundamentada nível de consciência fonológica que se requer para seu do-
cientificamente e, fazer uma reflexão teórica sobre a prática, mínio. Para as autoras, a base do desenvolvimento científico
na área de língua é especialmente difícil. A obra pretende e cultural de nossas atuais sociedades está intimamente li-
contribuir para fomentar os estudos a esse respeito, princi- gada à língua escrita, uma vez que, por meio dela, se possi-
palmente por tratar-se de uma reflexão que teve sua origem bilita a existência de uma memória coletiva e uma comuni-
na prática pedagógica. cação muito maior entre os homens e as mulheres: não mais
O trabalho busca uma visão compreensiva do ensino se limita à presença física dos interlocutores, o que permite
da leitura na escola, que incorpore tanto as atividades mais níveis de análise e de abstração da linguagem determinando
globais como os exercícios de treinamento das habilidades um grande crescimento do saber. Ao longo do século XX, a
específicas da leitura, objetivando atingir como resultado língua escrita constitui-se como uma tecnologia fundamen-
a inter-relação coerente tanto de sua formulação teórica tal a partir da qual outras tecnologias de armazenamento
e transmissão se constituíram de tal maneira que a alfabe-
como de sua organização prática. Para isso, é necessário es-
tização deixa de ter o sentido de conquista no desenvolvi-
tabelecer um marco geral em que se articulem e se superem
mento individual e social que a caracterizou, no século XIX,
as tradicionais dicotomias do ensino da leitura - aprender a
para se tornar um pré-requisito para qualquer progresso das
ler e ler para aprender, decifrar e compreender, forma e con- sociedades modernas. Assim, a concepção da alfabetização
teúdo, texto literário e outros tipos de textos. A obra está di- se define, conforme explicitado em documento da UNES-
vidida em cinco capítulos, e já no primeiro a autora trata de CO (1976): (...) Mais do que uma finalidade em si mesma, a
determinar o que significa saber ler em uma sociedade que alfabetização deve ser considerada como uma maneira de
se define como alfabetizada e que lugar ocupa esse saber na preparar o homem para um papel social, cívico e econômi-
sociedade. O segundo capítulo, aborda o tema dos mode- co que vai além dos limites de uma tarefa rudimentar de
los psicológicos que explicam o processo de leitura, e busca alfabetização, que consista simplesmente em ensinar a ler e
enfatizá-lo segundo a perspectiva dos chamados modelos escrever. O próprio processo de aprendizagem da lecto-es-
interativos. No terceiro capítulo, são explicitadas algumas crita deve converter-se em uma oportunidade para adquirir
das condições básicas para o ensino da leitura na escola, informações que possam ser utilizadas imediatamente para
ressaltando-se a necessidade de centrar essa aprendizagem melhorar os níveis de vida; a leitura e a escrita não condu-
na compreensão do texto. No quarto capítulo são apresen- zirão apenas a um saber geral elementar, mas a uma maior
tados, através de exemplos diversos, os elementos que farão participação na vida civil e a uma melhor compreensão do
parte de uma programação desse ensino, considerando os mundo à nossa volta, abrindo o caminho, finalmente, ao co-
seguintes aspectos: nhecimento humano básico. Portanto, a complexidade pro-
gressiva de nossa sociedade trouxe consigo a extensão e a
- A leitura como atividade real na escola em todas as
diversidade de usos da língua escrita:
suas funções e em todo tipo de textos.
1. O uso prático ou funcional da língua escrita em ter-
- As atividades de ensino que têm como objeto a inter-
mos de adaptação a uma sociedade moderna e urbana que
pretação do texto em sua globalidade. recorre constantemente a ela na vida cotidiana.
- As atividades que respondem aos subprocessos envol- 2. O uso da língua escrita como potencialização do co-
vidos na leitura e na exercitação das habilidades específicas. nhecimento, como progresso individual ou coletivo, no qual
O quinto capítulo aborda o tema da avaliação, com foco na o domínio da linguagem escrita é entendido (e administrado
necessidade de se criar instrumentos que correspondam aos ou reivindicado) como poder (poder da informação, progres-
novos enfoques teóricos, ao mesmo tempo em que se aco- so científico, poder da ascensão social que possibilita etc.).
lhe tudo aquilo que a tradição pedagógica proporcionou e 3. O uso da língua escrita como acesso ao prazer estéti-
que se revelou útil para a escola. co através dos usos formais e poéticos do escrito.
80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
A relação entre os diferentes códigos de representação de ser veiculada pela voz, é transmitida por sinais gráficos,
O código oral e o código escrito ou vice-versa), a própria mensagem muda. A partir de aná-
lises comparativas como essas, estabeleceu-se claramente
A diversificação dos códigos disponíveis, segundo Co- uma série de diferenças produzidas por dois tipos de causas.
lomer, implicou grandes mudanças, possibilitando a comu- a) as que se referem ao contexto comunicativo: no caso
nicação de massas. Demonstrando essa evolução da co- da conversa, os interlocutores negociam um significado cir-
municação através de novas formas, a autora utiliza como cunscrito por um contexto compartilhado, na prosa exposi-
exemplo a TV, que por se tratar de um meio audiovisual, tiva escrita, emissor e receptor devem apoiar-se, exclusiva-
utiliza muitas vezes a língua escrita ao mostrar gráficos, lis- mente, na mensagem verbal.
tas de programação etc., beneficiando-se de determinadas b) as que resultam do processo de elaboração/recep-
vantagens da escrita, para a apresentação objetualizada da ção da mensagem e que estão relacionadas particularmente
mensagem ou a imediatidade de sua captação. Dessa forma com o tempo de que dispõe emissor e receptor: na conver-
sa, as mensagens se produzem com rapidez, na prosa expo-
as relações entre o conteúdo de uma mensagem, o código
sitiva escrita dispõe-se de um tempo muito mais dilatado
(oral, escrito, visual) no qual se produz e o meio de comuni-
para organizar/interpretar a mensagem.
cação que o veicula (o escrito em uma carta, por exemplo,
As consequências dessas condições de comunicação
e, se complicamos mais, a carta reproduzida em um livro, e afetam os dois tipos de discurso (oral e escrito) em todos os
o livro introduzido em um computador etc.) são muito mais seus níveis, seja na seleção léxica, seja na estrutura sintática
variadas e, suas repercussões, na maneira como se recebe a etc. O surgimento dos meios de comunicação audiovisuais
mensagem, constituem um campo de estudo que, segundo contribuiu para essa multiplicação igualadora dos usos so-
a autora, está apenas no início, dada a recente aparição des- ciais de ambos os códigos ao permitir a comunicação dife-
sas possibilidades comunicativas nas sociedades ocidentais. rida de mensagens orais, do mesmo modo que o acesso à
Atualmente, as novas tecnologias possibilitam novas alfabetização de uma grande maioria da população permitiu
formas de comunicação entre os indivíduos: recebemos (ou a utilização do escrito em situações comunicativas que, his-
emitimos) mensagens que foram construídas (ou que serão toricamente, eram próprias do uso oral da língua.
recebidas) em um tempo ou lugar distante, sem a possibili-
dade de negociar sua compreensão em uma interação face O indivíduo e a língua escrita
a face. O aumento dessa comunicação diferida acarretou
características bastante distintas das que definiram, histo- Por meio da língua escrita, fixamos o pensamento verbal
ricamente, a relação entre o código oral e o código escrito. e o convertemos em objeto suscetível de ser analisado, favo-
As autoras ressaltam que durante séculos, a descrição gra- recendo dessa forma a apropriação do conhecimento huma-
matical baseou-se na língua escrita, e foi somente com a no. Na inter-relação entre pensamento e linguagem, as ca-
aparição do estruturalismo que a atenção deslocou-se para racterísticas do código escrito convertem-no no meio mais
o código oral, e os linguistas começaram a analisar alguns adequado para tarefas auto-reflexivas e de estruturação das
de seus aspectos básicos, especialmente no nível fonético da próprias ideias. Enquanto o processo se desenvolve, criam-
língua. A partir daí, a relação entre os códigos passou a ser -se novas perspectivas, incorporam-se novos significados ou
vista de forma distinta segundo a evolução das diferentes se estabelecem novas conexões entre os conhecimentos an-
correntes linguísticas, desde a sujeição absoluta do escrito teriormente existentes. Para a autora, a descontextualização
ao oral (no estruturalismo americano) até sua independên- da linguagem escrita incide na capacidade dos indivíduos
de desvincular o pensamento e a linguagem de sua origem
cia total (na glossemática). Para elas, o modelo mais con-
concreta como experiência pessoal e permite o acesso a ní-
sistente corresponde à relação de equivalência defendida
veis superiores de abstração e generalização. Dessa forma,
pelo Círculo de Praga. Nesse modelo, considera-se que fala
para que uma comunicação escrita funcione, o emissor pre-
e escrita são duas realizações distintas de um mesmo siste- cisa ter uma visão global e antecipada do que quer dizer e
ma linguístico, o que implica que compartilham a mesma de como deseja dizer, e deverá julgar o texto à medida que
estrutura, mas diferenciam-se em seu uso, já que exercem o constrói. Posteriormente, o receptor terá de reconstruir a
funções distintas na vida social da comunidade. mensagem e julgar a coerência alcançada. A necessidade de
Nas últimas duas décadas, o interesse pelo uso da lin- avaliar, do ponto de vista linguístico, a adequação durante
guagem na própria situação comunicativa propiciou a inter- a emissão, e a representação durante a recepção de uma
-relação de várias disciplinas científicas (a lingüística textual, mensagem meramente verbal requer, ao mesmo tempo, um
a psicologia cognitiva, a teoria da comunicação, a sociolin- importante uso metalinguístico da linguagem.
güística, a pragmática etc.) na tentativa de ajustar suas análi-
ses para poder descrever o fenômeno comunicativo em toda A aprendizagem da língua escrita
sua complexidade. Nesse âmbito, as comunicações, oral e
escrita, são concebidas como duas realizações discursivas da Analisando a produção linguística da escola, podería-
língua, e qualquer pessoa deve adquirir sua competência de mos deduzir que é a língua oral, e não a escrita, que parece
uso a partir da competência linguística comum a elas. Entre- ostentar um predomínio absoluto. Pesquisas nesse sentido
tanto, é necessário observar suas diferenças, tanto no nível chegam à conclusão de que os professores tendem a falar
do contexto comunicativo em que se produzem como no durante a maior parte do tempo em suas aulas, e que suas
das características da mensagem produzida. Pesquisas do explicações orais são direcionadas a, constantemente, fazer
Círculo de Praga, afirmam que o escrito é muito mais que a mediação entre os alunos e a língua escrita dos livros-tex-
fala escrita. Quando se muda o canal (e a mensagem, em vez to e do material escrito utilizado. Entretanto, apesar dessas
81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
observações, as aprendizagens escolares requerem o domí- organizar, abstrair, etc., será preciso pensar em um progra-
nio progressivo dos usos próprios da língua escrita. Por isso, ma educativo que ajude a ampliar essas capacidades a partir
em nossa sociedade, a realização dos objetivos educativos de sua ancoragem em experiências significativas.
passa, indefectivelmente, por um grau importante do do-
mínio do código linguístico escrito e de desenvolvimento O QUE É LER?
dos processos mentais que se encontram em sua base. Se-
gundo as autoras, a aprendizagem da lecto-escrita não pode A concepção da leitura
ser entendida como mera aquisição de um código gráfico,
uma vez que se trata do desenvolvimento da capacidade de Segundo Adam e Starr, ler é a capacidade de entender
elaborar e utilizar a língua escrita nas situações diversas e um texto escrito. Entretanto, se analisarmos a prática escolar,
para as funções que cumpre socialmente. Isso comporta a veremos que ela contradiz tal afirmação ao basear o ensino
negação da dicotomia escolar entre aprender a ler e ler para da leitura em uma série de atividades que supostamente
aprender. A escola deve buscar a construção de um sujeito mostrarão como se lê, mas nas quais, paradoxalmente, nun-
que amplie suas possibilidades de expressão linguística com ca é prioritário o desejo de que entendam o que diz o texto.
a incorporação de um novo código de uso social, que apren- Um exemplo disso é a escolha de pequenos fragmentos de
da a elaborar e a encontrar o sentido de um determinado textos ou palavras soltas, letras isoladas, ler em voz alta onde
texto e que constate como funciona socialmente esse tipo se analisa a precisão na soletração, a pronúncia correta, a
de comunicação. Wells (1987) propõe um modelo de con- velocidade de fusão dos sons pronunciados etc. Essa prática
cepção da língua escrita que deveria ser adotado pela escola de leitura realiza-se no interior do marco teórico tradicio-
para o planejamento de seu ensino. nal de leitura como modelo de processamento ascendente
1. O primeiro nível é o que se denomina executivo. O onde se pressupõe que o leitor começará por fixar-se nos
que se entende por domínio da língua escrita consiste, sim- níveis inferiores do texto (os sinais gráficos, as palavras) para
plesmente, em ser capaz de traduzir a mensagem do código formar sucessivamente as diferentes unidades linguísticas
escrito ao falado e vice-versa. Essa concepção insiste na pos- até chegar aos níveis superiores da frase e do texto. O leitor
se estrita do código como tal. deve decodificar signos, pronunciá-los, perceber o significa-
2. O segundo nível é o funcional. A língua escrita consis- do de cada unidade (palavras, frases, parágrafos etc.) e uni-
te em um ato de comunicação interpessoal, e seu domínio -los uns aos outros pra que sua soma lhe ofereça o signifi-
reside na capacidade de enfrentar exigências cotidianas de cado global. O distanciamento dessas práticas educativas de
nossa sociedade (como ler jornal ou seguir instruções). Além qualquer busca do significado é consequência de uma con-
do código estrito, nesse nível inclui-se saber como a língua cepção leitora que permaneceu vigente durante séculos, até
escrita varia segundo o contexto e requer instrução sobre as que os avanços teóricos nesse campo, nas últimas décadas,
características de determinados tipos textuais. a puseram em questão. Para Adam e Starr, (...) Quando se lê
3. O terceiro nível é o instrumental. Nesse nível, tanto o um texto com significado não se leem as letras, as palavras
código quanto a forma textual, tendem a ser usados como e as frases que o compõem do mesmo modo que se fos-
se fossem transparentes: quando o aluno depara-se com sem apresentadas isoladamente e, inclusive, a velocidade da
problemas textuais, a escola tende a atribuí-los aos conteú- leitura de uma frase depende do contexto à sua volta‖. As-
dos veiculados e não a um domínio insuficiente da língua sim, o significado de um texto se constrói um em relação ao
escrita. outro: a aceitação do significado de cada palavra depende
4. O quarto nível é o epistêmico. Nesse nível, considera- da frase em que aparece, a estrutura da frase também com-
-se o domínio do escrito como um meio de transformação e porta significado, um parágrafo pode conter a ideia central
de atuação sobre o conhecimento e a experiência: refere-se de um texto ou constituir um simples exemplo segundo sua
ao interpretar e avaliar. Wells defende a necessidade de aju- articulação no discurso, o gesto de um personagem pode
dar todos os alunos e alunas a desenvolverem um modelo ser banal ou muito significativo segundo a narrativa na qual
completo da concepção do que se pode esperar da língua apareça. Durante a leitura de uma mensagem escrita, o lei-
escrita. tor deve raciocinar e inferir de forma contínua. Deve captar
Assim, esse modelo deveria inspirar a programação e uma grande quantidade de significados que não aparecem
as atividades escolares para a aquisição da língua escrita, diretamente no texto, mas que são dedutíveis: informações
não de uma forma progressiva, passando sucessivamente que se pressupõem, conhecimentos compartilhados entre
de um nível a outro, mas tentando proporcionar um grande emissor e receptor, relações implícitas (temporais, de causa
número de oportunidades para que os aprendizes criem ex- e efeito etc.) entre os elementos do texto etc. Nesse mode-
pectativas sobre a utilização da língua escrita nos quatro ní- lo interativo, dialógico, o leitor é o sujeito ativo que utiliza
veis indicados. Para a autora, a necessidade de que a língua conhecimentos variados para obter informação do escrito
escrita seja adquirida em situações educativas que tenham e que reconstrói o significado do texto ao interpretá-lo de
sentido por si mesmas é um princípio muito generalizado acordo com seus próprios esquemas conceituais, e a partir
nos meios educativos, mas, frequentemente, os professores de seu conhecimento do mundo. A relação entre o texto e o
não dispõem de instrumentos para traduzi-lo à prática. A leitor é dialética: o leitor baseia-se em seus conhecimentos
aprendizagem da língua escrita deve ser situada no âmbito para interpretar o texto, para extrair significado, e esse novo
de domínio linguístico progressivo, em estreita relação com significado, por sua vez, permite- lhe criar, modificar, elabo-
a língua oral e com os demais códigos de representação so- rar e incorporar novos conhecimentos em seus esquemas
cial. Se a linguagem é o instrumento mais valioso para cons- mentais. Em suma, ler, mais do que um simples ato mecâni-
truir nossa concepção do mundo, para imaginar, interpretar, co de decifração de signos gráficos, é um ato de raciocínio,
82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
no sentido da construção de uma interpretação da mensa- enquanto na concepção anterior ativa os processos cog-
gem escrita a partir da informação proporcionada pelo texto nitivos de baixo nível. Estas concepções têm sido alvo de
e pelos conhecimentos do leitor e, ao mesmo tempo, iniciar algumas críticas, contrapondo que quando se lê um texto
outra série de raciocínios para controlar o progresso dessa com significado não se leem as letras, as palavras e as frases
interpretação de tal forma que se possam detectar as possí- que o compõem do mesmo modo que se fossem apresen-
veis incompreensões produzidas durante a leitura. Colomer tadas isoladamente e, inclusive, a velocidade da leitura de
aponta que, na década de 80, Hall sintetiza em quatro pon- uma frase depende do contexto à sua volta ao que ainda se
tos os supostos fundamentos da pesquisa atual nesta área: acrescenta “…o significado de um texto não reside na soma
1. A leitura eficiente é uma tarefa complexa que depen- de significado das palavras que o compõem. Nem coincide
de de processos perceptivos, cognitivos e linguísticos. somente com o que se costuma chamar de significado literal
2. A leitura é um processo interativo, o leitor experiente do texto, já que os significados se constroem uns em relação
deduz informação, de maneira simultânea, de vários níveis aos outros: a aceitação do significado de cada palavra de-
pende da frase em que aparece…”
distintos, integrando, ao mesmo tempo, informação grafo-
Com base nestes pressupostos surge uma nova concep-
fônica, morfêmica, semântica, sintática, pragmática, esque-
ção que dá ênfase à leitura como processo interativo, distan-
mática interpretativa.
cia-se, de forma acentuada, dos modelos tradicionais. Nesta
3. O sistema humano do processamento da informação nova concepção ou modelo interativo, o leitor é considera-
é uma força poderosa, embora limitada, que determina nos- do como um sujeito ativo que utiliza conhecimentos de tipo
sa capacidade de processamento textual. muito variado para obter informação do escrito e reconstrói
4. A leitura é estratégica. O leitor eficiente atua delibe- o significado do texto ao interpretá-lo de acordo com os
radamente e supervisiona de forma constante sua própria seus próprios esquemas conceptuais e os seus conhecimen-
compreensão. Está alerta às interrupções da compreensão, tos prévios. O ato de ler, de acordo com esta concepção,
é seletivo ao dirigir sua atenção aos diferentes aspectos do é, assim, um processo dialético em que o leitor servindo-se
texto e progressivamente torna mais precisa sua interpreta- dos seus conhecimentos prévios e esquemas conceptuais
ção textual. vai construindo o significado do texto. Esta nova concep-
Ensinar a ler, dessa perspectiva, deve ser concebido ção, denominada também de construtivista, encara, assim,
como possibilitar o desenvolvimento de habilidades volta- “a compreensão como uma procura ativa de significado, em
das à interpretação da língua escrita. Neste contexto, duas vez de uma tradução mecânica de um código noutro”.
mudanças devem ocorrer no cenário escolar:
a decifração, que ainda tem um peso muito grande na Um processo geral de interpretação da informação
escola, deixará de ser identificada como a capacidade leitora
para passar a redefinir seu espaço dentro do conjunto de Segundo as autoras, qualquer ato de compreensão é
habilidades necessárias para entender um texto. entendido como um processo de formar, elaborar e modifi-
o ensino da leitura, entendida como código de inter- car as estruturas de conhecimento que o sujeito tinha antes
pretação da realidade, deve estender-se a todo o currículo de entender essa nova informação. Dessa forma, segundo
escolar. Mayer, deverão estar presentes os seguintes elementos:
A forma como se ensina a ler está de certa forma liga- a) A percepção - captação de determinados estímulos
da à concepção que se tem do ato de ler. Existem várias mediante os sentidos, e em estreita relação com as inten-
concepções. A concepção mais tradicional, e que ainda se ções do sujeito que seleciona automaticamente, os estímu-
los que lhe interessa perceber.
utiliza em muitas das nossas escolas, dá muito ênfase à des-
b) A memória - dados de que nosso cérebro dispõe em
codificação, concebe a leitura como um processo sequencial
um determinado momento, e, uma vez introduzidos, retidos
e linear seguindo um processo ascendente, ou seja, o pro-
e com os programas pertinentes para poder recuperá-los
cessamento faz-se letra a letra, que depois se combinam em quando forem necessários. A memória a curto prazo carac-
palavras, depois em frases, que então levam à compreensão. teriza-se por ter uma capacidade limitada tanto no tempo
Este modelo sustenta-se em três pressupostos básicos que como na quantidade de informação retida. A memória a lon-
determinam a ideia do que é a língua escrita, do que é ler e go prazo é definida por sua grande duração e capacidade.
do que é ensinar: Acredita que a relação entre a língua oral Assim, pode-se reter tudo o que se sabe sobre o mundo,
e a língua escrita é a de uma simples tradução dos signos desde que a informação tenha sido organizada de forma
gráficos em signos orais; entende a leitura como um proces- compreensível e seja significativa para o sujeito. A repre-
so centrado no texto, do qual o leitor deve extrair o signifi- sentação do mundo - os esquemas de conhecimento que
cado através de um sistema de oralização, para lhe atribuir as pessoas formam ao longo de sua vida servem-lhes para
posteriormente o significado que vai construindo por um prever, contrastar e interpretar qualquer informação.
processo ascendente; parte de uma teoria pedagógica que A organização da informação em uma estrutura que
concebe a aprendizagem como a receção passiva do saber relacione os dados é fundamental para que seja retida e
do professor por parte do aluno. conserve a possibilidade de ser utilizada posteriormente.
Uma outra concepção, mais ativa que a anterior, con- Da mesma forma, uma informação significativa faz com que
cebe a leitura como um processo descendente e utiliza um uma nova informação seja recordada de modo mais pere-
processo totalmente oposto ao anterior, parte do princípio ne, à medida que pode ser relacionada com os interesses
que ler é compreender ou mesmo um “jogo de adivinhação e conhecimentos de quem a recebe. O conhecimento que
linguístico”. O leitor, em todo o processo, ativa o que alguns construímos sobre nosso meio e sobre nós mesmos, facilita
autores denominam de processos cognitivos de alto nível, nossa compreensão pelo fato de que oferecermos uma tela
83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
com muitos níveis automatizados na qual podemos colo- do texto. O leitor constrói essa representação do significado
car novos dados. Por essa razão, nosso conhecimento nun- aplicando a cada uma das proposições do texto macrorre-
ca avança como uma soma de informações, mas cada novo gras que consistem em uma série de estratégias de síntese.
elemento provoca uma reestruturação do sistema de cone- Se a nova informação lhe parece redundante ou secundária,
xões anterior. Os esquemas são ativados segundo o contex- ele a descarta (macrorregra de omissão); se encontra uma
to para outorgar uma informação verossímil ao que se está proposição com um conceito capaz de englobar várias in-
observando conforme nossos conhecimentos e propósitos formações, procede a isso (macrorregra de generalização); e,
de compreensão. se não há uma proposição capaz de agrupar um mesmo tipo
de informação, passa a construir ele próprio a proposição-
O processo leitor -resumo (macrorregra de construção). Em suma, é preciso
que exista um mecanismo de avaliação da nova informação
A leitura utiliza segundo Smith, duas fontes de infor- que consista na relação que o leitor estabelece entre o que
mação: a visual por meio dos olhos (consiste na informação o texto diz e seus conhecimentos do mundo, em seus pro-
do texto) e a não visual ou de trás dos olhos (conjunto de
pósitos e em suas expectativas ao iniciar a leitura, ou seja,
conhecimento do leitor). A partir da informação do texto e
se a informação é coerente com as hipóteses antecipadas,
de seus próprios conhecimentos, o leitor construirá o signi-
o leitor a integrará em seu sistema de conhecimentos para
ficado em um processo que, para sua descrição, podemos
dividir em: continuar construindo o significado do texto. Trata-se de
1. A formulação de hipóteses - quando lemos ativamos uma atividade metacognitiva, de auto-avaliação constan-
esquemas de conhecimento que nos levam a fazer inferên- te do leitor sobre seu próprio processo de construção de
cias que se produzem em todos os níveis do texto. Essas sentido, que lhe permite aceitar como válida a informação
inferências podem trazer informação externa ao texto ou se recebida e, portanto, continuar a leitura ou, caso contrário,
conectarem a elementos em seu interior. Assim, podemos adotar alguma estratégia que lhe permita refazer o processo
estabelecer relações lógicas (de motivação, de capacidade, para reconstruir o significado.
de causas psicológicas ou físicas etc.), relações informati- Fatores que incidem na compreensão leitora
vas (referentes ao contexto especial e temporal, de relações
pronominais e léxicas), relações de avaliação (baseadas em Os fatores que condicionam a compreensão relacio-
juízos morais e sociais). nam-se com os dois elementos que interagem no processo
2. A verificação das hipóteses - o que o leitor antecipou de leitura: o leitor e o texto. Tereza Colomer e Anna Camps
deve ser confirmado no texto mediante os indícios gráficos. adotam o ponto de vista do leitor e os dividiremos em: a
O significado é captado sem necessidade de oralizá-lo. Os intenção da leitura e os conhecimentos prévios.
modelos interativos de leitura indicam que a saída está em A intenção da leitura: a intenção, o propósito da leitura,
postular a interação entre dois subprocessos (ascendente e determinará a forma como o leitor abordará o escrito e o
descendente) da leitura que se integram na atividade de um nível de compreensão que tolerará ou exigirá para conside-
sujeito que utiliza a informação visual para identificar as uni- rar boa sua leitura. Diferentes maneiras de abordar o escrito
dades com sentido. Nesse processo de captação deliberada, segundo o objetivo de leitura:
o que favorece, decisivamente, a compreensão do leitor é a) leitura silenciosa integral quando se lê um texto intei-
a significação e a amplitude das unidades captadas em um ro com o mesmo tipo básico de atitude leitora, por exemplo,
único olhar. Isso se deve a duas razões fundamentais: a leitura de um romance ou de um livro de ensaio;
1. A antecipação se realiza a partir do reconhecimento b) leitura seletiva, orientada por um propósito de orde-
do significado. O leitor constrói suas previsões em relação
nação ou para extrair uma vaga ideia global. Caracteriza-se
ao sentido do texto e a partir dos dados que recebe do pro-
pela combinação de leitura rápida de algumas passagens e
cessamento simultâneo do texto em todos os seus níveis. a)
de leitura atenta de outras;
As letras são identificadas com maior rapidez se fazem parte
de uma palavra. b) As palavras são reconhecidas com maior c) leitura exploratória, produzida em saltos, para encon-
rapidez se fazem parte de uma frase a partir da dedução do trar uma passagem, uma informação determinada;
leitor sobre a categoria gramatical esperável ou do campo se- d) leitura lenta, para desfrutar dos aspectos formais do
mântico ao qual deveria pertencer. Todas as expectativas grá- texto, para recriar suas características, inclusive fônicas, ain-
ficas, léxicas, morfossintáticas ou semânticas combinam-se e da que seja interiormente;
reforçam-se mutuamente, de tal forma que o leitor utiliza a e) leitura informativa, de busca rápida de uma informa-
ajuda do contexto, simultaneamente, em todos os níveis de ção pontual, como um telefone em uma lista, um ato em um
processamento para descartar as possibilidades de aparição programa, uma palavra em um dicionário etc.
de outras unidades e ajustar ao máximo suas hipóteses. Segundo Foucambert, (...) Ler é ter escolhido buscar
2. A amplitude da visão permite operar com um maior nú- algo; amputada dessa intenção, a leitura não existe. Visto
mero de dados simultâneos e, portanto, obter mais facilmen- que ler é encontrar a informação que se busca, a leitura é,
te uma interpretação do significado, já que a maioria, a curto por natureza, flexível, multiforme e sempre adaptada ao que
prazo, não fica saturada com a informação dos níveis inferiores se busca. Os conhecimentos prévios: a compreensão do tex-
do texto, mas pode operar com unidades significativas susce- to é determinada por sua capacidade de escolher e de ativar
tíveis de serem integradas na memória a longo prazo. todos os esquemas de conhecimento pertinentes a um texto
3. A integração da informação e o controle da com- concreto. Os conhecimentos prévios que o leitor utiliza po-
preensão para processar o conjunto do texto, o leitor elabo- dem ser descritos e agrupados em dois itens: conhecimen-
ra o que esses autores chamam de macroestrutura mental tos sobre o escrito e conhecimentos sobre o mundo.
84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
1. Os conhecimentos sobre o escrito: a) Acredita que a relação entre a língua oral e a língua
a) O conhecimento da situação comunicativa - o leitor escrita é a de uma simples tradução dos signos gráficos aos
tem de aprender a contextualizar o texto a partir dos ele- signos orais.
mentos presentes no escrito: terá de entender o tipo de in- b) Entende a leitura como um processo centrado no
teração social proposta pelo escritor, como também terá de texto, do qual o leitor deve extrair o significado através de
contrastar sua própria finalidade de leitura, que pode coinci- um sistema de oralização de suas unidades linguísticas, para
dir em maior ou menor grau com a do escrito. atribuir-lhes, posteriormente, o significado que se vai cons-
b) Os conhecimentos sobre o texto escrito - correspon- truindo por um processo ascendente.
dem a diferentes níveis:
c) Parte de uma teoria pedagógica que concebe a apren-
- Conhecimentos paralinguísticos: os leitores possuem
dizagem como a recepção passiva do saber do professor por
uma grande quantidade de conhecimentos desse tipo, tais
como elementos tipográficos, convenções na distribuição e parte do aluno. A escola ativa muda alguns desses pressu-
separação do texto (separação de palavras, frases, parágra- postos e, a partir de perspectivas teóricas, Montessori, De-
fos, capítulos etc.), convenções na organização da informa- croly ou Freinet, a leitura deixa de centrar-se em funções tão
ção de cada tipo de texto (índice, prólogo, fórmulas de intro- globais como a inteligência ou a percepção para centrar-se
dução e finalização etc.), e os utiliza para facilitar sua leitura. em estudos mais analíticos sobre habilidades instrumentais
- Conhecimentos das relações grafofônicas: é impres- ou processos cognitivos. A leitura passa a ser considerada
cindível conhecer as letras, e como elas se relacionam com como um processo psicológico específico, formado pela in-
as diferentes unidades fônicas. Entretanto, a capacidade de tegração de um conjunto determinado de habilidades e que
análise das letras e sua relação com os sons é um conheci- pode se desenvolver a partir de certo grau de maturação
mento que por si só não garante uma leitura eficaz. É neces- de cada uma delas. Nos últimos anos, a leitura deixou de
sário atingir uma nova fase de capacitação das relações en- ser considerada como um processo psicológico específico
tre os sinais gráficos integrados em unidades significativas. para se incluir entre os processos gerais de representação
- Conhecimentos morfológicos, sintáticos e semânticos: humana da realidade e adotou a perspectiva teórica de um
a atribuição de significado das palavras será orientada pe- modelo psicolinguistico-cognitivo. Progressivamente, o en-
las relações de significado com as outras palavras do texto. sino deixou de apoiar-se na simples memorização de con-
Muitas vezes, para poder atribuir esse significado, também
teúdos e, portanto, a capacidade de compreender o que se
é preciso utilizar o conhecimento e a identificação das rela-
lê foi adquirindo uma importância crescente e estreitamente
ções sintáticas entre as unidades linguísticas.
- Conhecimentos textuais: a linguística textual estabelece relacionada com os requisitos de instrução, mais intensos
noções de coerência, que consistem na adequação do escrito quanto mais se ascende no ciclo educativo.
ao contexto comunicativo (intenção do emissor, adaptação ao
receptor etc.), e noções de coesão, a relação entre os elemen- Algumas condições para o ensino da leitura
tos do texto para que se ajustem à superestrutura geral e ao
conteúdo. O conhecimento das estruturas textuais mais tipifi- Partir do que os alunos sabem: o professor deve conhe-
cadas em nossa sociedade (estruturas narrativas, argumenta- cer as ideias de seus alunos em relação àquilo que se pro-
tivas, descritivas etc.) permite antecipar o desenvolvimento do põe ensinar, tanto para poder descobrir se possuem apoios
texto e facilita a compreensão das ideias fundamentais que já conceituais suficientes para incorporar os novos conheci-
se encontram ordenadas no esquema do texto. mentos como para tentar entender sua forma de proceder
2. Conhecimentos sobre o mundo: Os conhecimentos do e de interpretar o escrito, visando a favorecer a evolução
leitor permitem-lhe preencher os vazios da informação que positiva desses conceitos no desenvolvimento das aprendi-
lhe dá o redator. Mas, como nem todos os leitores possuem zagens. Favorecer a comunicação descontextualizada: du-
os mesmos conhecimentos prévios, as mesmas experiências, rante os últimos anos, começou a difundir-se a consciência
evidentemente, haverá diferenças na compreensão da infor- da necessidade de inter-relacionar a introdução na língua
mação. O grau de conhecimento compartilhado entre emis-
escrita com a ampliação do domínio oral da criança para
sor e receptor é essencial para a compreensão de um texto.
formas de sintaxe desdobradas, isto é, de linguagem oral
Quanto mais conhecimentos o leitor acrescenta, mais fácil
será compreender o texto. Em síntese, a compreensão leitora narrativa, por meio de produções orais descontextualizadas
é o resultado de uma atividade complexa na qual o leitor deve (relatos completos de experiências, ditados de cartas à pro-
realizar muitas operações e recorrer a muitos tipos de conhe- fessora, descrições de objetos independentemente de sua
cimentos. Parece que o processamento em diferentes níveis presença física etc.). Esse desenvolvimento oral constituiria
não segue uma única direção ascendente (da letra ao texto) a ponte imprescindível entre as formas de comunicação fa-
ou descendente (dos conhecimentos e hipóteses globais à le- miliares à criança e as características de descontextualização
tra), mas que há uma inter-relação constante entre eles. próprias da linguagem escrita. Familiarizar os alunos com
a língua escrita e criar uma relação positiva com o escrito:
3. O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LEITURA deve constituir o primeiro objetivo da atuação escolar no
ensino da leitura. A familiarização deve englobar tanto os
A concepção da leitura e suas implicações no ensino objetos de leitura (livros, anúncios, letreiros etc.) como as
situações da vida cotidiana em que se recorre à leitura (para
Segundo as autoras, a aprendizagem tradicional da lec- lembrar, para explicar um conto, etc.) ou os lugares nos
to-escrita sustenta-se em três pressupostos básicos, que de- quais se produz (na biblioteca, na secretaria, etc.) Fomen-
terminam sua ideia do que é a língua escrita, do que é ler e tar a consciência metalinguística: outra característica exigida
do que é ensinar: pela comunicação escrita é um nível elevado de consciência
85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
metalinguística, o que permite concentrar-se na linguagem Quando se analisam os livros-texto de língua e literatura, en-
como objeto em si mesmo, e não em seu uso como veícu- contra-se um grande predomínio de textos narrativos, des-
lo de significado no interior de uma comunicação. A partir critivos e poéticos, com algumas incursões em outros tipos
de seu domínio oral (podem perguntar, por exemplo, o que de textos, como jornalísticos ou aqueles relacionados com
significa tal palavra), o acesso ao escrito requer um uso da a imagem, que foram ganhando terreno nos últimos anos.
linguagem muito menos transparente que na comunicação Continua sendo uma exceção o trabalho a partir de textos
oral, e em diferentes níveis das unidades linguísticas. Utilizar informativos. Os alunos necessitam de forma crescente,
textos concebidos para sua leitura: na escola, muitas vezes, aprender coisas como encontrar as ideias principais de um
esse princípio é contradito pela elaboração e pelo uso de texto, contrastá-las com as expectativas e os conhecimentos
materiais que tentam facilitar a leitura mediante a proposta próprios, inferir as etapas expositivas, relacionar as informa-
de textos narrativos que eles conhecem em sua versão oral, ções de vários textos, integrá-las em único discurso, seguir
ou realizados especialmente para a aprendizagem escolar. uma exposição oral com o suporte de notas suficientemente
Os textos escolares apresentam outros problemas, lingua- seletivas etc. Assim, a instrução necessária para a compreen-
gem quase híbrida entre as formas orais e as escritas, exten- são do texto, como meio de acesso ao conhecimento, fica
são do texto, organização textual, quantidade de informação relegada à terra de ninguém.
apresentada. Os materiais escolares ajudam a aprendizagem
quando são organizados por temas, o número de inferências Atividades orientadas a aprender a ler: hoje se ad-
a realizar durante a leitura é reduzido. mite que um dos objetivos da aula de língua, inclusive nos
Experimentar a diversidade de textos e leituras: a fa- níveis médios de ensino, é ensinar a ler. Porém, o que a es-
miliarização com as características do escrito implica ter cola faz para ensinar a ler nesses níveis mais elevados nem
experiências com textos variados, de tal forma que se vão sempre, e nem mesmo comumente, tem muito a ver com a
apreendendo suas características diferenciais, e que a habili- compreensão do texto. Podem-se destacar alguns tipos de
dade de leitura possa ser exercitada em todas as suas formas atividades como as mais generalizadas e representativas de
segundo a intenção e o texto. Todas essas situações permi- tal ausência:
tem ampliar a gama de usos leitores e conhecer as variá-
a) Atividades denominadas de compreensão do texto:
veis linguísticas adequadas a cada tipo de texto, de tal for-
a forma mais frequente para essa atividade nas aulas é a de
ma que o conjunto de suas experiências lhes permite gerar
leitura de um texto, oral ou silenciosa, seguida da respos-
um processo de apropriação do escrito muito mais rico que
ta a um questionário que interroga sobre o significado de
aquele programado oficialmente. Ler sem ter de oralizar: as
pequenos detalhes secundários e referem-se a informações
diferenças entre os códigos oral e escrito da língua supõem
obtidas segundo o desenvolvimento linear do escrito. Assim,
também a necessidade de um ensino que não se baseie na o tipo de resposta resultante é o de uma simples verificação,
decifração literal de textos escritos. Seria conveniente criar concisa e facilmente localizável no texto, mesmo que o leitor
continuamente situações para falar do que se lê e de como não o tenha compreendido, já que não existe nenhum tipo
se faz, mais do que dedicar horas e horas simplesmente a de elaboração pessoal nem implica sua compreensão global.
oralizar textos. A leitura em voz alta: ler em voz alta tem sen- Tais atividades não ensinam a compreender o texto, porque
tido quando considerada como uma situação de comunica- não mostram ao aluno os caminhos que pode seguir para
ção oral na qual alguém deseja transmitir o que um texto diz construir o significado.
a um receptor determinado. b) Atividades de manipulação e exercitação de aspectos
formais da língua: A maioria das atividades escritas da aula
O ensino da compreensão leitora de língua está centrada nos aspectos formais da linguagem
ou têm por objeto elementos isolados ou, para elementos
A falta de ensino da compreensão leitora que, embora sejam significativos (a palavra, a frase, etc.), são
tratados de forma descontextualizada, distantes do uso lin-
As autoras dizem que a análise de Rockwell, Collins e guístico. É a interação com o professor e com os colegas
Smith revelam que nem os conceitos dos professores sobre durante o processo de elaboração do significado, ou seja,
o que é aprender a ler nem as atividades que se desenvol- durante o processo que conduz à compreensão do texto,
vem normalmente nas classes para ensinar a fazê-lo incluem que deveria permitir aos alunos avançar além de seu nível
aspectos referentes à compreensão. Um exame rápido das real de leitura naquele momento.
situações de leitura habituais na escola nos permitirá ter c) Atividades nas quais o professor mantém o monopó-
uma primeira constatação, bastante evidente, a de que gran- lio da interpretação: aprender é uma atividade construtiva
de parte das atividades escolares apoia-se na utilização do que o aprendiz deve empreender. É imprescindível a inter-
escrito. Os alunos leem e escrevem mais do que falam. Em venção do adulto, que tem de exercer uma função de me-
compensação, poucas atividades e situações são orientadas diador a partir dos conhecimentos que o aluno já possui.
a ensinar a compreender o texto. Para resumir, podemos
classificá-las, em linhas gerais, em dois grupos: A necessidade de ensinar a compreender: atualmente
a situação educativa parece evoluir no sentido da possibili-
Atividades orientadas a ler para aprender: os alunos dade de mudar a prática escolar, e a escola está interessada
lêem textos relacionados com as diferentes matérias do em propiciar uma aprendizagem significativa dos saberes
currículo para aprender seus conteúdos, sem que, de ma- transmitidos. A constatação do fracasso leitor de amplas ca-
neira geral, lhes tenham ensinado a ler textos informativos. madas da população escolarizada, e sua vinculação com o
86
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
fracasso escolar, contribui também para a necessidade de - utilizar formas gráficas de representação: subli-
melhorar essas aprendizagens, visto que pode operar a par- nhar os fragmentos do texto; identificar sua função (causas,
tir de descrições muito mais detalhadas sobre o modo como exemplos, processos etc); identificar as partículas que os co-
o leitor atua e constrói a compreensão de um texto. nectam e caracterizam (e inferi-las quando não são explici-
tas); representar o texto em um diagrama.
Problemas da compreensão do texto: investigar a - oferecer modelos de compreensão e controle: A
representação do texto que o leitor formou mentalmente, modelagem do professor: Baumann e outros autores pro-
saber o que fez para chegar a obtê-la apresenta um primei- põem sequencias educativas nas quais o professor mostra
ro problema básico: o da necessidade de traduzir tanto a claramente como se faz uma tarefa e a seguir vai delegando
representação como o processo de obtenção em alguns da- a iniciativa aos alunos:
dos externos suscetíveis de serem analisados. - comunicação aos alunos dos objetivos a alcançar e de
sua importância;
Leitores com déficit - instrução direta sobre como distinguir os detalhes e
Leitores que entendem o texto as idéias principais dos parágrafos lidos. Uso de represen-
de compreensão
tações gráficas do texto para a compreensão da explicação;
Resumem o texto de forma hie- - aplicação das regras dirigidas pelo professor para
rarquizada (destacam as idéias identificar, inferir ou gerar ideias principais com comentários
Acumulam a informa-
mais importantes e distinguem coletivos dos alunos e feedback imediato do professor;
ção em forma de lista.
as relações que há entre as in- - prática independente dos alunos;
formações do texto). - aumentar a sensibilidade às incoerências do texto: as
Sintetizam a informação (sabem atividades como dar textos com erros de diferentes níveis a
utilizar palavras ou construir frases Suprimem o que lhes meninos e meninas e fazê-los assinalar e corrigir as incoe-
que as englobem e fazem abstra- parece redundante. Co- rências pode melhorar a sensibilidade leitora para o uso dos
ções a partir de expressões e con- piam o resto sem orien- indícios nos quais aprenderam a fixar-se;
ceitos mais detalhados e concre- tação determinadas. - utilizar técnicas de discussão coletiva: a discussão é
uma atividade na qual a ênfase é colocada na participação
tos do texto).
dos alunos, que devem interagir entre eles e com o profes-
Selecionam a informação segun- Selecionam muito in- sor, em um tipo de intervenção que supere a típica frase de
do sua importância no texto e en- fluenciados pela colo- duas ou três palavras;
tendem como valorizam o emis- cação da informação - ajudar a interiorizar orientações a serem seguidas: al-
sor, embora a eles mesmos possa no texto ou segundo guns exemplos: os alunos lêem o título e o primeiro pará-
interessar uma seleção distinta. seu interesse subjetivo. grafo; pede-se a eles que antecipem do que se trata o texto;
lêem para comprová-lo; pede-se a eles que expliquem por
Parece característico dos bons leitores saber adaptarem que suas previsões estavam corretas ou não;
a informação obtida à consecução de seus propósitos, en- - relacionar a compreensão com a produção de textos:
quanto que os demais leitores tratam a informação como ex: a fase de pré- escrita: o aluno escolhe o tema sobre o
se apenas fosse aplicável de forma direta e são incapazes qual deseja escrever, e o professor o ajuda a pensar o que
de utilizá-la de forma criativa para resolver seus problemas. sabe sobre ele. A seguir, deve selecionar a informação mais
Causas das dificuldades de compreensão importante da ficha e sintetizá-la em uma ficha de redação
do tema. O passo seguinte é escolher os detalhes que escla-
- os leitores não dominam os níveis intermediários da recem ou desenvolvem a ideia. O último passo é a correção
informação do texto. Parece ocorrer porque os leitores não e a escrita seguida do texto.
possuem esquemas textuais claros, e não reconhecem as
chaves que o autor usa para revelar como é organizada a 4. O PLANEJAMENTO DA LEITURA NA ESCOLA
informação, nem a importância que devem atribuir ao con-
junto do texto. A intenção deste capítulo é esboçar um panorama das
- os leitores não dominam as estratégias de controle diferentes atividades que podem modelar uma programa-
de sua própria compreensão. Embora quando se lê, possam ção do ensino da leitura na escola. A partir de três eixos bá-
apresentar-se problemas de compreensão, os leitores com sicos:
dificuldades caracterizam-se por não serem conscientes da 1. A necessidade de que os alunos leiam realmente dife-
ocorrência de tais problemas ou por não saberem como re- rentes tipos de textos e com diferentes intenções e funções.
tificar sua interpretação. 2. A necessidade de que o professor ajude os alunos
a interpretar textos de dificuldade progressiva, de maneira
Como ensinar a compreender: algumas experiências que o aluno possa avançar em sua autonomia leitora.
3. A necessidade de exercitar habilidades específicas,
- incrementar a iniciativa de alunos e alunas: para seja para que o aluno tome consciência de sua importân-
melhorar o ensino da compreensão leitora será dar aos cia, seja para chegar a automatizá-las, levando em conta, no
alunos um papel muito ativo na elaboração do significado, entanto, que essa exercitação está sempre subordinada às
ensinando-os a elaborar os instrumentos e as maneiras efe- necessidades de aprendizagem de uma leitura compreensi-
tivas de fazê-lo. va de textos reais, sejam ou não escolares.
87
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
No primeiro, apresenta-se um panorama do que se cha- de leitura. Portanto, dessa perspectiva, o professor perde o
ma de situações reais de leitura e consideram-se as possi- lugar de protagonista, que ostentava, ao assumir um papel
bilidades que essas atividades têm na escola e as funções exclusivo como fonte de informação e como mediador da
que cumprem a ela. No segundo e no terceiro, faz-se uma interpretação do texto escrito.
proposta de atividades diretamente orientadas ao ensino,
divididas em atividades voltadas à compreensão global do A leitura literária deve receber um tratamento especí-
texto (segundo item) e atividades de exercitação de habili- fico na escola porque, diferentemente das demais leituras,
dades específicas (terceiro item). destina-se a apreciar o ato de expressão do autor, a de-
senvolver o imaginário pessoal a partir dessa apreciação e
As situações “reais” de leitura a permitir o reencontro da pessoa consigo mesma em sua
interpretação. O estudo dos conteúdos literários progra-
Para fazer algumas indicações sobre a leitura real na es- mados, os trabalhos de observação e análise das obras, o
comentário detalhado de uma obra lida de forma coletiva,
cola, a autora agrupa as possíveis situações de leitura:
a relação da leitura com projetos de escrita criativa etc., de-
1. A leitura de textos relacionados com a tarefa escolar e
vem ser atividades diferenciadas da situação real de leitura
com a vida na escola.
e integradas nas linhas de programação de auxílio escolar
2. A leitura de textos literários. que se propõem a aumentar a capacidade de compreensão
dos alunos com a intenção de que possam transferir os co-
A leitura relacionada com as tarefas escolares e a nhecimentos adquiridos a todas as obras que venham a ler
vida na escola: inter- relacionar a aprendizagem da leitura autonomamente.
com as atividades habituais de relação e aprendizagem na
escola supõe uma mudança na organização das tarefas edu- A biblioteca escolar como contexto real de leitura
cativas. Requer uma organização do trabalho escolar na qual convertida, de fato, em uma midiateca, pode chegar a ser
se fomente a capacidade e a responsabilidade dos alunos um núcleo educativo central se ocorrerem mudanças pe-
para decidir o que querem saber e como podem saber, e na dagógicas na organização do trabalho na escola, na linha
qual coexistam as situações de trabalho individual, de pe- indicada anteriormente como condição necessária para a
quenos grupos e de todo o coletivo. J. Jolibert (1984) propõe criação de situações reais de leitura. A leitura, em qualquer
exemplos de programação nesse sentido que, embora se re- de suas funções, tem na biblioteca um de seus espaços mais
firam aos primeiros níveis de escolaridade, podem ilustrar a naturais para educar na leitura e no domínio autônomo dos
integração da leitura nas demais aprendizagens escolares: caminhos de acesso à informação e à sua seleção, desafio
educativo absolutamente imprescindível em uma sociedade
como a atual, na qual o crescimento da informação disponí-
Projeto: Ter um vel não deixa de aumentar de forma espetacular, ao mesmo
Situações de leitura
hamster na classe tempo em que se multiplicam as formas de acesso a ela. As
Comprá-lo Leitura de anúncios linhas de intervenção educativa da biblioteca escolar, nas ta-
refas de ensino, passam pelo desenvolvimento de atividades
Leitura dos livros de consulta; leitu-
específicas voltadas ao conhecimento e à difusão de seus
ra do termômetro (para que tenha
materiais e à criação de hábitos permanentes de leitura.
uma temperatura constante), leitu-
Cuidar dele
ra do mural de responsabilidades, O conhecimento e a difusão dos materiais. Seus usuá-
leitura do cardápio (para escolher rios devem estar informados de tudo o que podem encon-
os alimentos e as quantidades). trar nela e do que devem fazer para ter acesso a seu acer-
Projeto: receber os vo. As crianças devem apropriar-se do espaço e dos livros
Situações de leitura através de ações como olhar, folhear, comentar e ler livre e
correspondentes
comodamente, a biblioteca deverá organizar exposições de
Leitura da carta na qual anunciam seu acervo ou do que vai adquirindo e deverá realizar todo
Alojá-los entre as
sua chegada; leitura do calendário tipo de atividades voltadas a gerar uma atitude positiva de
famílias
e do mapa do metrô. descoberta dos livros e materiais que possui, assim como de
Preparar-lhes um estímulo à leitura.
Leitura das receitas
lanche
A criação de hábitos permanentes de leitura. A nar-
ração de contos ou sua leitura em voz alta pelo professor
Preparar uma visita Leitura do guia turístico e dos ho-
como uma das atividades mais tradicionais e efetivas para
à cidade rários de visitas aos monumentos.
introduzir as crianças na leitura de imaginação (Hora do
conto, Dia do Livro). A criação de hábitos de leitura requer
O professor deixa de desempenhar o papel tradicional uma prática permanente de satisfação do saber e da imagi-
de administrador do saber e passa a ser a pessoa que aju- nação mediante o livro escrito. O desenvolvimento dos há-
da a decidir e organizar as tarefas previstas e colabora em bitos de consulta e do hábito de leitura literária é favorecido
sua realização. Deverá programar as linhas de apoio neces- pela criação de um espaço temporal para fazer esse tipo de
leitura na escola. Na criação de uma consciência pessoal da
sárias para consolidar, sistematizar e avançar nos diversos
própria bagagem leitora, algumas atividades voltadas para
conhecimentos e habilidades que se integram nas situações
essa finalidade podem ser, por exemplo:
88
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
1. A criação de algum tipo de registro das leituras feitas aspectos de construção da obra, o juízo sobre sua coerência
(fichas, caderno de notas etc.) em que constem os títulos nessa macroestrutura e a discussão sobre seus diversos ní-
lidos, os comentários pessoais, os desenhos etc., que repro- veis de interpretação. O comentário de outros tipos de texto:
duzem de forma gráfica o itinerário seguido. as situações de leitura que mais requerem o planejamento
2. A formação de um fichário similar que favoreça a me- das atividades de apoio à compreensão global e minuciosa
mória leitora do grupo escolar. Que contos foram explicados da informação do texto são as situações habituais de apren-
de forma destacada em cada curso (por episódios ao longo dizagem que se produzem em quase todas as matérias do
de um trimestre, por exemplo), que livros foram lidos de for- currículo escolar. Assim, a preocupação com a compreensão
ma coletiva, que livros da biblioteca foram mais lidos todo da informação escrita deve envolver um trabalho de todos
ano etc. os professores de todas as áreas.
3. A realização de atividades que impliquem recordar e
comentar essas leituras. Por exemplo, um concurso de reco- O ensino das habilidades leitoras específicas
nhecimento de personagens a partir de sua imagem gráfica
ou de suas descrições, um debate sobre as preferências ou Explicitar intenções: tipo de leitura e nível compreensivo
as lembranças de cada um etc. Exercícios de antecipação do texto A ativação dos conheci-
4. A inclusão da releitura como prática normal nas situa- mentos prévios do leitor, tanto sobre o mundo como sobre
ções de leitura literária, já que a releitura, desde que não se o escrito, já está presente nos exercícios de explicitação de
converta em uma permanência na falta de estímulo, apre- sua intenção e sua forma de leitura, mas pode ser objeto
senta vantagens indubitáveis em determinados momentos de atividades mais específicas, centradas na utilização dos
do itinerário leitor, por se tratar de uma atividade que con- diversos níveis do contexto para conseguir uma maior an-
cede tempo e calma para desfrutar das aquisições leitoras tecipação no processo de leitura. Recomposição da sequên-
diante de um novo esforço, para experimentar a leitura cia temporal A reflexão sobre os indícios que limitam as
como um gozo em intensidade e não em extensão, ou para possibilidades de ordenação pode incluir uma constatação
interiorizar, de forma plena, algumas obras que respondem progressiva das diferenças organizacionais entre os tipos
textuais. Os alunos poderão observar que a ordenação de
particularmente às próprias necessidades imaginativas.
uma narrativa apoia-se em uma linha cronológica de acon-
tecimentos, uma descrição deve seguir uma ordem espacial
As intervenções de ajuda à compreensão global do
determinada que não pode mudar de repente uma vez con-
texto
figurada, uma argumentação situa de forma organizada seus
prós e contras etc. Exercícios de pressuposição e inferência
A interpretação orientada de textos: o professor deverá
A emissão de hipóteses de pressuposição é constante no
prever uma gradação dos textos literários e não literários processo de leitura. Os problemas de compreensão de um
pelos quais quer fazer com que seus alunos avancem, par- texto residem na emissão de hipóteses não confirmadas que
tindo, naturalmente, dos que lhes são mais próximos e ba- os alunos não lembram ter feito, mas que condicionam sua
seando-se nos conhecimentos que têm em cada momento. imagem mental do que estão lendo. Muitas vezes, quando
O comentário de textos literários: o trabalho pode ser dirigi- os alunos percebem o erro, não têm consciência de onde
do ao aprofundamento de um texto inteiro breve (uma poe- ocorreu a ruptura e não podem retificá-lo. Os exercícios de
sia, um conto curto etc.) ou à leitura minuciosa de uma obra explicitação das antecipações pressupostas podem ajudar a
narrativa completa. A tarefa de compreensão de um texto evitar tal problema. Exercícios de percepção e discriminação
breve: planejar esse tipo de trabalho de maneira que ajude rápida de indícios condicionados pela percepção do que es-
realmente na compreensão global e profunda de seu signi- pera encontrar, o leitor terá de fixar-se em indícios suficien-
ficado, devem ser levados em conta os seguintes critérios: tes para comprovar qual das opções possíveis o texto lhe
1. Selecionar os aspectos a serem trabalhados de acordo apresenta. Trata-se de propor atividades voltadas a:
com essa finalidade.
2. Relacionar o texto com a experiência e os conheci- 1. Facilitar a leitura instantânea da maior quantidade de
mentos do aluno apenas nesses mesmos aspectos essenciais. texto possível mediante a ampliação do próprio campo vi-
3. Propor exercícios que ajudem na representação men- sual de cada leitor.
tal facilitando a ordenação da informação. O trabalho de 2. Agilizar os saltos visuais no texto e evitar as regres-
compreensão de uma narrativa extensa: na leitura de uma sões desnecessárias do olhar sobre o que já se leu.
obra completa deve-se primar pela compreensão dos aspec- 3. Discriminar os detalhes diferenciadores das unidades
tos de organização global e coerente dos elementos textuais linguísticas para conseguir sua identificação de uma maneira
mais amplos. Isto é, utilizando um similar geométrico, deve- mais imediata.
-se priorizar a análise da totalidade da obra, e não conver- 4. Saber orientar-se pelos indícios. Exercitação da me-
tê-la em uma soma simples de análise de fragmentos suces- mória a curto prazo O trabalho sobre a memória a curto
sivos. Quando se trata de facilitar a constatação do grau de prazo tem uma repercussão direta nas atividades de explo-
independência de todos os elementos narrativos ao longo ração do texto e de elaboração imediata da informação. Por
da obra, essas seções de leitura prestam-se particularmente esse motivo, proporemos atividades voltadas a aumentar a
a um trabalho e a um debate que signifique um constante ir capacidade de retenção de palavras ou frases. Estratégias de
e vir do que se sabe da obra às antecipações do que virá, do controle e compensação de erros As estratégias de previsão
que se acaba de ler à lembrança de detalhes anteriores, para e verificação do texto são utilizadas pelo leitor para ir con-
poder aprofundar-se na análise de cada um dos diferentes figurando sua representação mental do significado do que
89
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
lê. O leitor deve estar consciente o tempo todo do que está entendido como a maneira de ajudar a progredir em suas
entendendo, de quando ocorre uma falta de compreensão aquisições, o que é preciso delimitar, como consequência, é
e da importância dessa confusão para, então, poder recorrer que condições deve ter a tarefa proposta e que quantidade
à estratégia adequada para compensá-la. Normalmente, em de ajuda o aluno necessita para obter um resultado satis-
uma leitura fluida, os leitores não são conscientes do con- fatório. Nesse contexto, o erro deixa de ser uma amostra
trole que têm sobre a própria compreensão, nem mesmo mensurável do fracasso individual para servir como fonte de
de alguns pequenos problemas com que podem se deparar, informação sobre as dificuldades específicas de cada aluno,
porque aplicam de maneira automática algumas estratégias e os resultados da avaliação não são dados específicos, e
úteis. Somente quando o problema é importante se tornam pretensamente impessoais, mas sim dados que permitem
conscientes dele. Os textos com erros podem ser um ins- a comparação entre as diferenças individuais das crianças
trumento útil para tomar consciência do mecanismo que se ou entre os diferentes momentos de aprendizagem de cada
segue na compreensão e também para aplicar explicitamen- um. Essa comparação tem a missão de orientar a tomada
te estratégias para resolver a falta de compreensão que se de decisões educativas ao revelar o campo de intervenção
adequado para cada aluno.
produz. É evidente que, no momento de resolvê-la, se põe
3. A integração da avaliação no processo de ensino-
em funcionamento todo o processo de elaboração de hipó-
-aprendizagem comporta a diversificação dos instrumentos
teses do qual falamos.
de observação e medida, que passam a incluir tanto a obser-
vação sobre os aspectos positivos nas situações de uso real
1. A AVALIAÇÃO DA LEITURA dos conhecimentos (tudo o que os alunos já sabem fazer),
como uma grande multiplicidade de exercícios pensados
A avaliação formativa especificamente para poder caracterizar as dificuldades de
cada um em cada um dos aspectos possíveis.
Para as autoras, podemos distinguir duas grandes linhas
na concepção da avaliação. Problemas da atual avaliação da leitura na escola
1. A concepção mais frequente e com mais tradição no Atualmente, as avaliações mais frequentes sobre leitura
mundo educativo é a que se entende como uma tentativa na escola se centram nas provas de velocidade leitora e nos
de medir, objetivamente, o nível dos conhecimentos obtidos questionários fechados de perguntas de compreensão sobre
pelos alunos ao final de um determinado processo de ensi- um texto. Assim, a definição do saber ler de um aluno nos
no. Nesse caso, a função da avaliação na escola é diferenciar primeiros cursos da educação básica, muitas vezes, reduz-se,
e selecionar os alunos através dos resultados, geralmente a saber, quantas palavras por minuto consegue ler; por ou-
numéricos, de uma série de provas. tro lado, os objetivos das programações oficiais assinalaram
2. Uma nova concepção, bem distinta, é a que entende durante alguns anos o número mínimo que devia conseguir
como um instrumento educativo que pode ser integrado no para poder vencer a etapa.
próprio processo de ensino- aprendizagem. Essa concepção,
que se costuma denominar de avaliação formativa, tem a O que se avalia?
dupla função de, por um lado, informar aos alunos como
avançaram e, em que ponto se encontram no processo de Muitos testes de leitura respondem a uma concepção
aquisição de conhecimentos e, por outro lado, dar subsídios muito geral da compreensão leitora que a torna inseparável
aos professores para que possam ajustar suas programações de fatores comuns a diferentes processos mentais. O fato de
não partir de uma concepção mais atual da compreensão
e seus métodos a partir do que revelam os resultados da
leitora como articulação de um conjunto complexo de habi-
avaliação, se os objetivos previstos estão sendo alcançados
lidades faz com que não se saiba exatamente o que se está
ou não. A adoção dessa nova concepção de avaliação intro-
medindo e, portanto, do que depende o resultado obtido.
duz mudanças fundamentais na prática educativa que po-
dem ser esquematizadas nos seguintes aspectos: Como se avalia?
1. A avaliação deixa de ser um instrumento nas mãos do Hoje, utilizam-se, normalmente, avaliações coletivas, in-
professor e passa a envolver também o aluno no controle clusive, se possível, padronizadas, o que situa os alunos em
de seu próprio processo. Assim, os alunos devem saber o relação a uma média determinada. O sentido desse tipo de
tempo todo o que está sendo observado e que resultados avaliação no campo educativo é limitado, já que reside ape-
obtiveram, ao mesmo tempo em que têm acesso à discussão nas no fato de dar consciência aos alunos do que se espera
de quais podem ser suas dificuldades e o que podem fazer deles, tanto de todo o grupo com relação à programação
para melhorar suas aquisições. de suas aprendizagens como de uma criança concreta com
2. O reconhecimento da aprendizagem como uma cons- relação a seu grupo, comporta diversos problemas que se
trução do próprio aluno implica uma mudança na utiliza- devem levar em conta:
ção dos instrumentos de avaliação, que perdem seu habi- - Entre os problemas estão os que se referem à situa-
tual sentido sancionador. Assim, se a concepção tradicional ção geral de avaliação. O fato de constituir uma situação
entendia o ensino como um instrumento para solucionar extraordinária de controle fora do âmbito de atividades ha-
carências, o papel outorgado à avaliação seria, basicamen- bituais afeta as atitudes dos alunos em relação à atividade
te, de delimitá- las, isto é, tinha de especificar tudo o que proposta. A inquietação causada pode variar muito de um
o aluno não sabia fazer. Em contrapartida, se o ensino é aluno para outro e afeta os resultados comparativos que se
90
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
estabelecem depois. Esse problema afeta, sobretudo as pro- Mas, evidentemente, seu trabalho não podia atrair a atenção
vas de leitura em voz alta, nas quais a consciência de uma da pesquisa atual para os processos leitores. De todo modo,
audiência pode estimular ou inibir enormemente, segundo é preciso destacar sua insistência na integração das provas
o caráter de cada um, fato que torna ainda mais necessária a às tarefas educativas e à situação de normalidade que exi-
generalização, também, da medição da velocidade de leitura ge sua utilização, apontando, inclusive, a necessidade de
silenciosa, não tão condicionada pela situação de avaliação, adestramento dos alunos em seu uso. As formas de reação à
para ter dados mais fidedignos sobre o progresso da leitura. leitura, estabelecidas por Galí, são diversas para que se pos-
- Com respeito à medição da compreensão leitora, o sa aplicá-las, conforme seja oportuno, às diferentes idades.
principal problema é que se trata de uma avaliação centrada Propõe, concretamente, a organização de textos (completar
no resultado, da mesma maneira que a análise de um texto ou ordenar), a execução de propostas, a resposta a questio-
escrito já acabado e, portanto, apenas proporciona dados nários de resposta fechada, ou na modalidade verdadeiro/
para fazer um diagnóstico, quando, ao contrário, interessa falso, e a resolução de adivinhações.
na situação educativa a informação sobre como se leva a
cabo o processo, isto é, quais dificuldades e quais soluções o Critérios para a avaliação da leitura
aluno adota para chegar a compreender ou a escrever o tex-
to, uma vez que é nisso em que a escola pode intervir com Embora não se disponha atualmente de instrumentos de
sua ação formativa. Essa perspectiva de atenção ao proces- avaliação confiáveis e proveitosos na escola, podem-se esta-
so, no entanto, apresenta problemas derivados de sua apa- belecer alguns critérios e linhas de atuação que foram sendo
rição muito mais recente no panorama teórico da educação esboçados na análise das deficiências da situação atual.
e das dificuldades de sua concretização prática/realização,
já que os processos mentais como tais não são observáveis, O que avaliar?
e é preciso buscar maneiras indiretas de deduzir como os
alunos operam. O que deve ser objeto de avaliação, conforme a defi-
- A demanda de lembrança livre: é a atividade mais fre- nição que faz dela P. H. Johnson, é o grau de integração,
quente na escola para comprovar o grau de compreensão inferência e coerência com que o leitor integra a informação
de um texto. Sua facilidade de execução, no entanto, parece textual com a anterior. Para alcançar esse objetivo é preciso
inversamente proporcional à sua dificuldade de valoração, considerar o resultado das pesquisas sobre os indicadores
já que as inconsistências de sua resposta podem ter causas que são mais sensíveis a refletir esse grau de compreensão
muito diversas e, portanto, de difícil atribuição. Em primeiro do leitor, para enfatizar as atividades de avaliação, visto que
lugar, o aluno que tem de explicar ou resumir um texto pre- o leitor deve construir sua representação mental a partir das
cisa ter consciência do grau de detalhe com que deve pro- diversas macroestruturas do texto, terá de incorporar tam-
ceder e deve decidir o fio condutor da exposição. Precisará bém os resultados das pesquisas sobre os diferentes tipos
optar, por exemplo, entre seguir o fio da estrutura superficial de organização textual para poder avaliar o grau de com-
do texto ou fazer uma breve síntese que enuncie o tema preensão dos tipos de textos mais usuais. A partir desses
para depois voltar atrás e dar uma explicação mais detalha- conhecimentos, pode-se estabelecer com mais clareza quais
da. Por outro lado, os textos podem apresentar dificuldades são os aspectos leitores que estão sendo avaliados, e esse
estruturais, como saltos cronológicos, histórias paralelas, in- esclarecimento da informação que se obterá com as provas
clusão de diversos pontos de vista etc., que requerem muitas de avaliação permitirá saber com mais precisão as causas
decisões do leitor no momento de sintetizar sua informação concretas do possível fracasso.
(refazer a história em uma única linha cronológica, separar 1) Sobre as atitudes emocionais em relação à leitura, já
os pontos de vista etc.). Todas essas dificuldades deverão que o envolvimento afetivo do aluno, seu grau de familiari-
ser resolvidas pelo aluno a partir de sua capacidade de pro- dade e disposição nessa tarefa concreta de aprendizagem
dução oral ou escrita, que, logicamente, não corresponde condicionam radicalmente seu acesso à língua escrita.
exatamente à sua capacidade de compreensão. Assim, mui- 2) Sobre o manejo das fontes escritas, sobre a possi-
tas vezes, são as dificuldades de saber produzir um texto, e bilidade dos alunos de imaginarem onde e como se pode
as de saber sintetizar uma informação, as responsáveis por adquirir informação por meio do escrito.
resultados que, aparentemente, demonstram falta de com- 3) Sobre a adequação da leitura à intenção leitora, habi-
preensão do que se leu. lidade que inclui aspectos pouco presentes no ensino, como
- A demanda de lembrança provocada mediante per- saber ignorar os sinais do texto que não interessam para a
guntas apresenta características diversas dependendo se finalidade perseguida.
a forma adotada é de perguntas abertas, de escolha entre 4) Sobre a velocidade leitora e as habilidades percepti-
verdadeiro e falso ou de resposta a perguntas de múltipla vas nela envolvidas.
escolha. 5) Sobre a construção mental da informação. Esse é, sem
dúvida, o núcleo essencial da compreensão, e sua avaliação
Ajuda-se individualmente os alunos? terá de separar-se na análise das diversas operações que o
As provas de avaliação leitora de Alexandre Galí leitor deve realizar para saber:
a) Se utiliza de forma efetiva seu conhecimento prévio
Galí concebe a função da avaliação como forma de para inferir a informação não explícita.
avaliar o alcance escolar, embora continue considerando-a b) Se integra a informação obtida em um esquema men-
como um cômputo de erros para um diagnóstico escolar. tal coerente.
91
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
c) Se retém o significado do que foi lido na memória a o das diferentes formas de se interessar pela leitura, que faz
longo prazo. referência à associação produzida entre fracasso leitor e fra-
d) Se utiliza bem os sinais do texto nos diferentes níveis casso escolar. Sem disposição para abordá-lo, gostaríamos
de processamento, dos sinais gráficos ao discurso. de assinalar a necessidade de que a escola tente atenuar
6) Sobre os procedimentos de controle e avaliação de esse determinismo diversificando as fontes de informação
sua representação mental, isto é, sobre a capacidade para e expressão no campo educativo e de estabelecer pontes
localizar os erros de compreensão e sobre os recursos utili- mais acessíveis entre as formas de pensamento e linguagem
zados para corrigi-los. da criança e o desenvolvimento que proporciona a língua
escrita. Para conseguir isso, a ação educativa teria de apoiar-
Como avaliar? -se muito mais na experimentação e na observação direta
dos fenômenos, teria de utilizar também a linguagem oral,
A criação de novos instrumentos de avaliação da leitura e mesmo a audiovisual, para que os próprios alunos, e não
na escola terá de responder à necessidade de estabelecer apenas o professor, refletissem e expressassem tudo o que
uma combinação de formas de avaliação complementares vão aprendendo; e teria de criar hábitos escolares nos quais
que compreendam toda a gama de aspectos a observar. a linguagem, como afirma Wells, no caso da narração de
Será preciso ter presente também a conveniência de uti- histórias, estabeleça pontes entre os exemplos concretos e
lizar textos completos o bastante para que o leitor tenha os princípios gerais, entre as formas narrativas e as formas
a possibilidade de utilizar todos os mecanismos habituais mais abstratas e lógicas da exposição e do raciocínio. Me-
de construção do significado, coisa que pode não ocorrer diante essa ampliação das práticas escolares, provavelmente
em textos muito fragmentados e descontextualizados de aqueles que têm mais dificuldades no acesso à língua es-
qualquer situação comunicativa real. Os tipos de propostas crita teriam mais oportunidade de obter êxito na aquisição
apropriados para avaliar os componentes da leitura devem de conhecimentos e obteriam uma ajuda e uma margem de
ser similares aos próprios exercícios de aprendizagem. As di- tempo muito maior para a aquisição e o desenvolvimento de
ferenças decorrem de sua finalidade avaliadora, e consistem sua competência leitora.
na perspectiva de observação adotada pelo professor, ou
mesmo pelo aluno no caso da auto- avaliação, em contraste
com os resultados obtidos anteriormente; na possibilidade
de medição quantitativa em alguns aspectos, como o da ve- QUESTÕES
locidade leitora.
01. (CETRO/2016) Um diretor educacional de uma es-
A aprendizagem da leitura como um processo diver- cola de Ensino Fundamental é reconhecido entre os seus
sificado e controlável pares pelo cumprimento de suas tarefas burocráticas legais.
Entretanto, mantém uma postura de distanciamento das ati-
A apropriação da língua escrita é um processo multi- vidades curriculares, reuniões pedagógicas e de pais. Alega
forme no qual os alunos progridem, ao mesmo tempo, em que essas atividades são de competência da coordenação
aspectos tão diversos como sua velocidade de leitura, seu pedagógica e do corpo docente da escola. Em relação ao
conhecimento sobre formas gramaticais próprias do escri- assunto, assinale a alternativa correta.
to, sua capacidade de encontrar informação, ou a maneira (A) O diretor educacional tem uma atitude coerente ao
de introduzir-se no mundo imaginário que lhes é proposto. delegar tarefas e não interferir no trabalho do coordenador
A incorporação do aluno à consciência de tudo o que está pedagógico. Afinal, a área pedagógica não é de incumbên-
aprendendo a fazer é uma condição indispensável para a cia da direção da escola.
realização de uma aprendizagem efetiva e controlada. De- (B) A atitude do diretor é parcialmente coerente, vis-
ve-se propor aos alunos objetivos claros e concretos como to que, embora articule as ações da equipe educacional, as
objetivo imediato em seu processo de aprendizagem da ações pedagógicas que garantem a efetivação do processo
leitura. Como em todos os processos de aprendizagem, é de ensino-aprendizagem são divididas conforme hierarquia
preciso levar em conta que na leitura alternam-se grandes e o diretor deve apenas estar ciente, não se envolvendo di-
avanços repentinos, e apreciáveis externamente, e períodos retamente com tais assuntos.
de estancamento aparente, em que os alunos consolidam (C) Articular as ações da equipe educacional implica
as aprendizagens feitas e estabelecem as bases para os pas- acompanhar todas as ações pedagógicas que garantem a
sos seguintes. Envolver os alunos nas tarefas de avaliação efetivação do processo de ensino e de aprendizagem e a
significa também analisar juntos suas dificuldades concre- construção do conhecimento, atribuições do cargo de dire-
tas. Discutir as soluções a serem adotadas é a consequência tor educacional, previstas no Projeto Pedagógico da Escola.
lógica da análise realizada, e o aluno ficará interessado nela (D) Uma gestão democrática requer uma postura de
na medida direta em que tenha participado pessoalmente laissez-faire por parte do diretor educacional, ou seja, deixar
na análise do problema. Quando a consciência do fracas- os profissionais livres para fazerem o que acharem pertinen-
so leitor já se produziu, a missão imediata do professor é te dentro do âmbito escolar.
desbloquear a recusa que gera a partir de novas vias que
permitam recuperar a confiança do aluno em si mesmo me- 02. (CETRO/2016) Um dos pré-requisitos para ser um
diante experiências bem- sucedidas de leitura. Essa conside- bom educador é que se conheça a legislação pertinente à
ração se enlaçaria com um aspecto, muito mais amplo que educação, para que se possa recorrer às medidas e atitudes
92
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
coerentes e legais diante de assuntos e circunstâncias, além (C) Perpetuar a imagem do “bom selvagem”, atribuída
de estar ciente de seus deveres e direitos. Um diretor pro- a essas populações desde os tempos do Brasil Colonial.
curava as corretas denominações dos níveis de ensino e as (D) Promover cursos de formação de professores e
encontrou na Lei nº 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Edu- pesquisar bibliografia sobre o tema indígena.
cação Nacional – LDBEN). Sendo assim, assinale a alternativa
que as apresenta. 07. (CETRO/2016) Ao ser questionado sobre as moda-
(A) Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Mé- lidades de ensino, um diretor pesquisou sobre o assunto na
dio e Ensino Superior. LDBEN e chegou à conclusão que são consideradas modali-
(B) Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior. dades de ensino
(C) Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos (A) o Ensino Superior e a Educação à Distância (EAD).
e Ensino Médio e Profissionalizante. (B) a Educação Privada e a Pós-Graduação.
(D) Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. (C) a Educação Especial e a Educação de Jovens e Adul-
03. (CETRO/2016) O valor dos recursos financeiros re- tos (EJA).
passado às unidades educacionais será definido através de (D) a Educação Física e a Educação Artística.
critérios que levam em consideração, exceto
(A) a modalidade da unidade educacional.
(B) os índices de analfabetismo do Ministério da Edu- 08. (CETRO/2016) Um diretor observou comporta-
cação (MEC). mento estranho dos alunos do Ensino Médio. Ao observá-
(C) os estudos socioeconômicos da Secretaria Munici- -los com mais atenção, descobriu que um deles incentivava
pal de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Am- os outros alunos a praticarem atos de vandalismo dentro e
biente. fora da escola. Em dúvida sobre qual atitude tomar, além de
(D) o número de períodos de funcionamento das uni- averiguar a situação e tomar as medidas escolares cabíveis,
dades educacionais. resolveu pesquisar no Estatuto da Criança e do Adolescente
as possíveis medidas socioeducativas aplicadas ao adoles-
04. (CETRO/2016) O movimento que ficou conhecido
cente que cometeu um ato infracional. E descobriu que veri-
como Escola Nova, ocorrido na primeira metade do século
ficada a prática de ato infracional, a autoridade competente
XX, defendia princípios educacionais que continuam presen-
poderá aplicar ao adolescente, entre outras, as seguintes
tes no sistema educacional brasileiro até os dias atuais. Os
medidas:
idealizadores desse movimento, dentre eles o educador Aní-
I. obrigação de reparar o dano.
sio Teixeira, defendiam a garantia de um ensino cujos princí-
pios consideravam os seguintes aspectos, exceto II. prestação de serviços à comunidade.
(A) o público. III. liberdade assistida.
(B) o religioso. IV. inserção em regime de semiliberdade.
(C) o laico. V. internação em estabelecimento educacional.
(D) o universal.
É correto o que está contido em
05. (CETRO/2016) Um diretor deve conhecer o currícu- (A) I, II e III, apenas.
lo escolar e estar atento conforme as atualizações de acordo (B) II, III e IV, apenas.
com o Ministério da Educação. Sabendo-se que os conteú- (C) I e IV, apenas.
dos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos (D) I, II, III, IV e V.
indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, é correto afirmar que este será ministrado, 09. (CETRO/2016) O sr. José, de 38 anos, está interes-
em especial, nas áreas de educação artística e de sado em retomar os estudos e procurou uma escola de Ensi-
(A) literatura e história brasileiras. no Fundamental que oferecesse o curso de Educação de Jo-
(B) literatura e geografia geral. vens e Adultos (EJA), no período noturno, após o expediente
(C) história e sociologia. de trabalho. Ele explicou aos funcionários da secretaria que
(D) geografia e história brasileiras. deixou de estudar há muito tempo e, como a escola fica-
va numa área rural, não tem nenhuma documentação que
06. (CETRO/2016) A cultura indígena sempre esteve comprove o seu grau de escolaridade. O sr. José é alfabeti-
presente na história do Brasil desde os primórdios, influen- zado e frequentou as aulas por um período de 3 anos. Com
ciando constantemente nas tradições do país. Considerando a finalidade de regularizar a vida escolar do sr. José, o diretor
a importância que a escola tem em estar constantemente educacional deve providenciar
em contato com as tradições do país, eis a necessidade de (A) a terminalidade específica.
inserir no currículo escolar os elementos da cultura indígena. (B) a reclassificação.
Sendo assim, assinale a alternativa que não apresenta uma (C) a classificação.
diretriz que poderia subsidiar as atividades de uma escola (D) o teste vocacional.
sobre a História e Cultura Indígena.
10. (CETRO/2016) O Plano Nacional de Educação (PNE),
(A) Respeitar os costumes, línguas, crenças e tradições que vigorou entre os anos de 2001 a 2010, continha metas
indígenas. que deveriam ter sido cumpridas durante esse período. En-
(B) Respeitar o direito originário sobre as terras ocupa- tre as metas citadas abaixo, pode-se considerar como sendo
das pelos índios. a meta que obteve os melhores resultados, aquela que
93
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor Adjunto I
(A) implantou o ensino de 9 anos. (A) Considerar a diversidade de arranjos familiares.
(B) erradicou o analfabetismo no Brasil. (B) Considerar as diferenças socioeconômicas e cultu-
(C) implantou o piso salarial dos professores e os pla- rais das famílias.
nos de carreira do magistério. (C) Incluir no currículo da escola experiências trazidas
(D) atendeu em 100% a população de crianças até 3 pelos pais e mães de alunos.
anos que necessitavam de creches. (D) Analisar as dificuldades dos alunos sob a ótica do
modelo da reprovação e atribuir à ausência dos pais as difi-
11. (CETRO/2016) O conceito de Diversidade está as- culdades apresentadas pelos educandos.
sociado à
15. (CETRO/2016) R. R., docente de uma turma de
I. pluralidade. educação infantil, é uma professora que não costuma levar
II. multiplicidade. os seus alunos ao playground da escola, alegando que tem
III. heterogeneidade. medo que alguma criança se machuque. A coordenadora
pedagógica conversa com a professora, e convence-a da im-
É correto o que está contido em
portância do ato de brincar, baseada nos estudos teóricos de
(A) I e II, apenas.
(A) L.S. Vygotsky e a teoria sobre o Desenvolvimento
(B) II e III, apenas.
(C) I e III, apenas. Humano.
(D) I, II e III. (B) B.F. Skinner e o Behaviorismo.
(C) Maria Montessori e os Métodos Ativos e Individua-
12. (CETRO/2016) Leia o trecho abaixo para responder lização do Ensino.
à questão 31. (D) Santo Tomás de Aquino e a Escolástica.
94