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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

ESTRUTURAS USUAIS DE MADEIRA – EES 044

OBS: Apostila em correção. Use com precaução.

Prof. Edgar V. Mantilla Carrasco


Colaboradores: Renata de Souza Duarte, Sandra Regina da
Silva, Leonardo Braga Passos , Ana Lúcia Crespo Oliveira
Agosto de 2011 Belo Horizonte – MG
Figuras da capa (sentido horário)

1) Passarela para pedestres em madeira laminada colada – Leonardo da Vince


Bridge. Aas Norway. Fonte: http://noticias.arq.com.mx/Detalles/10611.html

2) Torre treliçada para linha de transmissão


Fonte: The European Glued Laminated Timber Industries Trade Association

3) Portaria Retiro do Chalé. Paredes e vigas da cobertura em madeira laminada


colada de eucalipto – Nova Lima. – MG. Fonte: Autor da apostila

4) Edifício residencial em painéis estruturais de madeira laminada colada cruzada


Fonte: http://www.klhuk.com/portfolio/residential/passivhaus,-haus-am-mulhweg.aspx
CAPÍTULO 01
CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA DA MADEIRA

1.1 INTRODUÇÃO

A madeira é um material orgânico, de origem vegetal. É matéria prima inesgotável,


pois é encontrada em contínua formação, aos milhões de metros cúbicos, em todas as
partes do mundo, sob a forma de árvores em florestas naturais ou artificiais resultantes de
reflorestamento racional.

Na atual situação do desenvolvimento industrial, a maior parte da madeira


consumida na fabricação de chapas de madeira aglomerada, chapas de fibras de madeira
ou na fabricação de celulose e papel é proveniente de árvores de espécies selecionadas,
plantadas com a finalidade de atender a essa utilização específica, num prazo determinado,
geralmente compreendido entre quatro a oito anos de idade da árvore. Para a utilização da
madeira roliça como estacas, postes e dormentes as árvores devem atingir os 15 anos de
idade, tendo havido durante esse intervalo de tempo, alguns desbastes para eliminar as
arvores defeituosas ou raquíticas dando melhores condições para o crescimento das
restantes. Todavia, mesmo entre as espécies mais promissoras e com a melhor técnica
silvicultura, dificilmente uma árvore com menos de 30 anos de idade pode produzir boas
peças de madeira serrada para estruturas.

No Brasil a utilização dos eucaliptos (saligna, grandis, alba, robusta, citriodora e


outros) na fabricação de papel e de chapas de fibras de madeira explica o grande
desenvolvimento que tem sido dado ao reflorestamento com essas espécies. Para o papel
vem tendo grande aceitação também a madeira de Pinus eIliottii, Pinus taeda e outros já
introduzidos no país.

Tendo em vista a crescente utilização da madeira nas suas várias formas e


produtos, é necessário conhecer bem as suas características, para poder utilizá-la
adequadamente.

1.2 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁRVORES

As árvores têm sua classificação botânica entre os vegetais do mais alto nível de
desenvolvimento e da mais elevada complexidade anatômica e fisiológica.

O conhecimento esquemático dessa classificação é útil para a compreensão do


comportamento de algumas espécies de madeira.

As árvores são classificadas na botânica na divisão das Fanerógamas, plantas


superiores propriamente dita. As Fanerógamas se subdividem em: Gimnospermas e
Angiospermas.
Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

1.2.1 GIMNOSPERMAS - CONIFERAS

A classe mais importante das Gimnospermas é a Conífera, também designada na


literatura internacional como madeiras moles “soft wood”. As árvores classificadas entre as
coníferas apresentam folhas com formato de escamas ou agulhas, geralmente perenes e
resistentes, mesmo ao inverno mais rigoroso. São árvores típicas de climas frios das zonas
temperadas e frígidas, mas há também espécies consideradas tropicais.

As coníferas constituem praticamente sozinhas, principalmente no hemisfério norte,


grandes florestas e fornecem madeira das mais empregadas na construção civil e em
outros setores. Na América do Sul há uma conífera típica: a Araucária angustifólia.

Figura 1.1 – Araucária


Fonte: http://mpcatell.sites.uol.com.br/ Acesso: maio 2003

Outras espécies de coníferas como o Pinus elliottii (Slash Pine) nativo da Flórida, o
Pinus taeda (Loblolly Pine) nativo da região do Atlântico e Golfo do México, nos EUA e o
Pinus hondurenses, variedade caribenha, estão sendo introduzidos com sucesso no Brasil,
com ampla aceitação na indústria de celulose e de chapas de madeira aglomerada.

Figura 1.2 - Pinus elliotti Figura 1.3 - Pinus taeda


P. taeda: http://www.cas.vanderbilt.edu/perl/bioview.pl?genspec=pita&action=View
Fonte:
P. elliottii: http://www.sms.si.edu/irlspec/Pinus_elliot.htm: Acesso: 02/03/2003
Edgar V. Mantilla Carrasco 1.2
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1.2.2 ANGIOSPERMAS - DICOTILEDÔNEAS

As angiospermas são plantas mais completas e organizadas que as gimnospermas.


As angiospermas podem ser: monotiledôneas ou dicotiledôneas. Entre as monotiledôneas
não há árvores propriamente ditas, mas, encontram-se as palmas e as gramíneas. Muitas
palmas têm grande utilidade pelos seus frutos. Algumas têm troncos longos, muito pesadas
e difíceis de trabalhar, mas às vezes utilizados de modo satisfatório em estruturas
temporárias como escoramentos e cimbramentos.

O bambu é classificado entre as gramíneas, não é madeira no sentido usual da


palavra, mas tendo em vista a sua boa resistência mecânica associada à sua baixa
densidade, presta-se para a construção leve, típica de moradia no oriente. O bambu comum
é da espécie botânica Bambusa arundinácea, o bambu da espécie (Bambusa brandisii)
Dendrocalamus brandisii chega a atingir 25 cm de diâmetro e 38 m de altura, figura 2.4.

Figura 1.4- Dendrocalamus brandisii


Fonte: http://www.aia.net.au/bambooland/photos/den_brandisii1.jpg
Acesso: 02/06/2003

Entre as dicotiledôneas - usualmente designadas na literatura internacional como


madeiras duras “hard woods”- encontram-se as árvores de folhas comuns, largas,
geralmente caducas. É extraordinariamente grande o número de espécies existentes
principalmente na zona tropical. Algumas das “madeiras duras” mais comuns no Brasil são:
a aroeira, o cumaru, o jatoba, a maçaranduba (parajú), os ipês, as cabriuvas, o guarantã, a
sucupira, o pau marfim, as perobas, a caviúna, os jacarandás, as canelas, as imbuias, o
cedro, o mogno, o jequitibá, o guapuruvu, o freijó, o anjico preto, o argelim pedra, etc.

No reflorestamento destaca-se a introdução dos eucaliptos, dicotiledônea originária


da Austrália, perfeitamente aclimatada no Estado de Minas Gerais, com ampla utilização
como: postes, estacas, dormentes de estradas de ferro; na fabricação de chapas de fibras
de madeira e de madeira aglomerada; na fabricação de celulose, papel, papelão e
construção.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.3


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Eucalipto Pinus

Figura 1.5 – Estrutura das árvores e exemplos de dicotiledôneas e coníferas


Elaboração própria a partir de http://www.curdev-fe-
ni.ac.uk/Wood%20Occupations/html/pdf/jobknowledge.pdf Acesso: junho 2003

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.4


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1.3 FISIOLOGIA E CRESCIMENTO DA ÁRVORE

Para entender a natureza anisotrópica da madeira é conveniente conhecer a


fisiologia e o crescimento da árvore.

A árvore cresce inicialmente segundo a direção vertical. Cada ano há um novo


crescimento vertical e a formação de camadas sucessivas que vão se sobrepondo ano após
ano ao redor das camadas mais antigas.

Figura 1.6 – Anéis de crescimento

Em um corte transversal essas camadas de crescimento aparecem como anéis de


crescimento. Examinando-se um corte transversal de um tronco de árvore pode-se
reconhecer facilmente: a medula, resultante do crescimento vertical, geralmente formada
por madeira mais fraca ou defeituosa; o conjunto dos anéis de crescimento constituem o
lenho. O lenho apresenta-se recoberto por um tecido especial: a casca da árvore. Entre a
casca e o lenho existe uma camada extremamente delgada dificilmente visível, mesmo ao
microscópio, que é a parte propriamente viva da árvore (unidade regeneradora), o câmbio.
Do câmbio se originam os elementos anatômicos que vão constituir o lenho e a casca. O
exame cuidadoso desses elementos constituintes do lenho e da casca revela como
característica importante dos mesmos, serem constituídos por um sistema capilar orientado
segundo a direção do eixo da árvore.

A solução diluída de sais minerais - a seiva bruta - que a árvore retira do solo
através de suas raízes e radículas sobe pela camada periférica do lenho, o alburno, até as
folhas, onde se transforma juntamente com o gás carbônico do ar sob a ação da clorofila e
da luz solar, em seiva elaborada, que desce pela parte interna da casca, designada como
floema, até as raízes, promovendo a alimentação das células vivas de toda a árvore, assim
permitindo o crescimento e multiplicação das mesmas. Parte da seiva elaborada é
conduzida radialmente para o centro da árvore através dos raios medulares.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.5


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Figura1.7 - Fisiologia do crescimento da árvore.


Fonte: Virginia’s Natural Resources Education Guide
http://www.vanaturally.com/chapter4.pdf. Acesso: junho 2003

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.6


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

1.4 ESTRUTURA MACROSCÓPICA

As substâncias não utilizadas pelas células como alimento são lentamente


armazenadas no lenho. As mesmas tendem a se polimerizar endurecendo e escurecendo o
lenho. A parte do lenho tomada por essas substâncias é designada como cerne. O cerne é
geralmente mais denso, menos permeável a líquidos e gases, resistente ao ataque de
fungos apodrecedores e de insetos. Ele apresenta maior resistência mecânica em
contraposição ao alburno, constituído pelo conjunto das camadas externas, mais novas,
necessariamente permeáveis a líquidos e gases, menos denso. O alburno está mais sujeito
ao ataque de fungos apodrecedores e insetos e tem menor resistência mecânica. Por sua
própria natureza o alburno tem melhores condições para a impregnação com resinas ou
adesivos sintéticos (quando se deseja melhorar a resistência da madeira ao ataque de
fungos e insetos).

As camadas do lenho não se desenvolvem uniformemente durante o ano. Na


primavera e no verão formam-se células maiores, mas com paredes finas, chamada
madeira de verão. No outono e inverno formam-se células menores, mas apresentando
paredes mais espessas, a madeira de inverno. Esse fenômeno permite que se tornem
distintas as camadas de crescimento anual, sendo possível avaliar a idade da árvore
abatida pelos seus anéis de crescimento.

Figura 1.8 – Estrutura Macroscópica


Fonte: http://www.ca.uky.edu/agc/pubs/for/for59/for59.pdf Acesso: junho 2003

1.5 ESTRUTURA MICROSCÓPICA

A madeira é um material de natureza muito complexa, um vegetal do mais alto nível


de desenvolvimento. É parte de um ser organizado, possuindo diferentes órgãos, cada qual
desempenhando função especifica.

A madeira das coníferas apresenta ao microscópio dois elementos essenciais: traqueídes


e raios medulares.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.7


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Figura 1.9 - Estrutura microscópica das coníferas


Fonte: http://www.forst.uni-freiburg.de/fobawi/fob/fob_lehre/211b/material_2002/forintek-
wood_quality.pdf Acesso: junho 2003

- Traqueídes

Os traqueídes são células alongadas, com 3 a 5 mm de comprimento, 40 a 60 μ de


diâmetro, seção transversal vazada de forma quadrada à sextavada com extremidades
biseladas fechadas. Traqueídes vizinhos se comunicam geralmente pelas extremidades,
através de válvulas típicas denominadas pontuações aureoladas; os traqueídes constituem
mais de 90% da madeira das coníferas. Têm a função de conduzir a seiva e resistir as
solicitações mecânicas.

- Raios Medulares

São células alongadas e achatadas que se dispõem radialmente em forma de fitas


da casca até o centro da árvore. No sentido da casca para a medula transportam a seiva
elaborada, depositando-a na região do cerne. As células dos raios comunicam-se com os
traqueídes através de perfurações nas suas paredes designadas pelo seu aspecto como
pontuações simples. Os raios constituem até 10% da madeira das coníferas.

A madeira das dicotiledôneas apresenta ao microscópio três elementos essenciais:


vasos, fibras e raios medulares.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.8


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Figura 1.10 - Estrutura microscópica das dicotiledôneas.


Fonte: Johnson ,H. (1991)

- Vasos

Os vasos vistos em seção transversal são chamados poros. São células alongadas,
com 0,2 a 1,0 mm de comprimento, 20 a 300 μ de diâmetro, seção transversal vazada e
arredondada. Tem basicamente a função de condutor de seiva. Os vasos constituem de 20
a 50% da estrutura da madeira das dicotiledôneas.

- Fibras

As fibras são células alongadas, com 0,7 a 1,4 mm de comprimento, de seção


transversal vazada e arredondada, paredes espessas fechadas e afinadas nas
extremidades. Podem constituir de 25 até 50% da estrutura da madeira, dependendo da
espécie. Têm basicamente a função de resistir às solicitações mecânicas. Nas
dicotiledôneas, os vasos e as fibras são os elementos anatômicos responsáveis pelo
transporte da seiva.

- Raios Medulares

São um conjunto de células dispondo-se na madeira, da casca até o centro. Têm


estrutura mais complexa e variada que os raios das coníferas, ligam-se aos vasos e as
fibras através de pontuações simples e areoladas.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.9


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

1.6 FORMAÇÃO QUÍMICA DA MADEIRA

Até o início do século XVIII a madeira era o combustível doméstico. Realmente a


150º C inicia-se o desprendimento de matérias voláteis da madeira. A parte combustível
desta queima-se retirando-se o oxigênio da atmosfera, desprendendo gás carbônico e
vapor d’água, aquecendo mais a madeira e assim produzindo mais gases combustíveis.
Aos 800º inicia-se a queima do carvão a que se reduziu a madeira pela perda das
substâncias voláteis.

Do ponto de vista químico, essa combustão é aproximadamente o processo inverso


da formação da madeira, pois, na fotossíntese ocorre nas folhas a combinação do gás
carbônico do ar com água retirada do solo e absorção de energia calorífica formando
componentes orgânicos elementares, que, por polimerização, formarão as substâncias
constituintes da madeira:

CO2 + 2H20 + 112,3 (calor, luz e clorofila) Æ CH2O + H2O + O2


(é uma reação típica citada por Rawitscher)

Figura 1.11 – Ciclo do oxigênio


Fonte: Virginia’s Natural Resources Education Guide
http://www.vanaturally.com/chapter2.pdf Acesso: junho 2003

A presença da água antes e depois da reação é explicada pela constatação da


fixação do oxigênio da água pelo carbono e a formação da água com o oxigênio do gás
carbônico. Reações posteriores dão origem aos açúcares que por sua vez formam a
maioria das substâncias orgânicas vegetais.

Em sua composição química a madeira apresenta grande quantidade de carbono


fixado como celulose e lignina. São interessantes dois fatos importantes: o baixo conteúdo
de carbono no ar 0,03 a 0,04 % e a elevada quantidade de carbono fixado pela árvore sob a
forma de madeira.

Os componentes orgânicos principais da madeira são: a celulose, hemicelulose e


lignina. A participação de cada um desses elementos varia de acordo com a classificação
botânica da árvore, como mostra o quadro apresentado na tabela 2.1.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.10


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Tabela 2.1 - Composição orgânica das madeiras [11]


Coníferas Dicotiledônias
Celulose 48-56% 46-48%
Hemicelulose 23-26% 19-28%
Lignina 26-30% 26-35%

A celulose, a hemicelulose e a lignina são ligadas por valência residual de suas


hidroxilas.

- Celulose

A celulose é um polímero constituído por várias centenas de glicoses formando


cadeias de até 3000 elementos. O algodão é celulose pura.

A fórmula geral da celulose é n(C6H10O5). As cadeias de celulose se unem


lateralmente por ligações de hidrogênio constituindo as micelas. Estas por sua vez formam
as fibrilas que constituem as paredes das fibras e dos traqueídes.
Cadeia de
OH OH celulose

HO HO
Cadeia de
celulose
Figura 2.12 - Ligações entre cadeias de celulose (pontes de hidrogênio).

Além da ligação lateral entre cadeias de celulose, as oxidrilas da celulose podem


unir-se a uma molécula de água.
Cadeias de
OH OH OH OH celulose

O H O H O H
Moléculas de água
H H H
HO HO HO HO
Cadeias de
celulose
Figura 2.13 - União das moléculas de água.

Cada conjunto (C6H10O5) forma três oxidrilas e, portanto, pode receber três
moléculas de água. A relação 54/162 entre o peso molecular de três moléculas de água e
uma de celulose dá uma indicação da porcentagem máxima (33%) de água de impregnação
da celulose.

- Lignina

A lignina é um composto aromático de alto peso molecular. A lignina exerce na


madeira a função de cimento ou adesivo, dando rigidez e dureza aos conjuntos de cadeias
de celulose. No preparo da polpa para papel a lignina é removida por dar coloração escura
ao papel.

Conhecendo-se a composição química dos elementos que constituem a maior parte


da madeira, pode-se entender perfeitamente o comportamento e a função dos elementos
anatômicos básicos da madeira (elementos microscópicos) e, depois, dos elementos
macroscópicos, completando-se ou entendimento do material, no seu aspecto intrínseco.
Edgar V. Mantilla Carrasco 1.11
Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

1.7 MADEIRAS DE REFLORESTAMENTOS

Desde sua descoberta, o Brasil, país rico em florestas nativas, vem convivendo com
a exploração destes recursos freqüentemente conduzida de maneira não racional. Isto
provocou, a partir da segunda metade do século XX, crises ambientais, localizadas
principalmente nas regiões sul e sudeste com o constante avanço da fronteira agrícola,
dada a não reposição da cobertura florestal. Na região norte, mais recentemente,
queimadas para a implantação de projetos agropastorís e de indústrias de mineração, tem
ocasionado a destruição de extensas áreas de florestas, com sub-aproveitamento dos seus
produtos.

A substituição de madeira oriunda de florestas nativas por madeira de plantações


com espécies do gênero Eucalipto é muito vantajosa por diversos motivos, incluindo os
problemas ecológicos como os grandes desmatamentos e o esgotamento das reservas. Na
fig. 1.9 a situação das áreas de florestas plantadas e nativas por estado, obtida no site da
Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, ABRAF.

Figura 1.12 – Áreas de florestas plantadas e nativas no Brasil em 2009.

Algumas empresas que possuem florestas mais antigas e árvores com dimensões
adequadas estão fornecendo madeira de Eucalipto para serraria e laminação. Outras
procuram manejar suas florestas para a produção de toras, visando diversificar a produção
florestal para enfrentar possíveis crises setoriais como as que ocorreram recentemente.
Entretanto, a maior preocupação é como obter produtos, madeira no caso, de melhor
qualidade e consequentemente com maior valor agregado.

As pesquisas e desenvolvimentos se concentram em três áreas primordiais: o


melhoramento genético, o manejo florestal e as técnicas de desdobro, secagem e utilização
da madeira. O trabalho integrado nas três áreas resulta em ganhos significativos para a
qualidade e volume de produção de madeira serrada. Um levantamento sobre florestas
plantadas com eucalipto e pinus segundo a ABRAF é mostrado na fig. 1.10.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.12


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Figura 1.13 – Florestas de Eucalipto e Pinus de 2004 a 2009 no Brasil. Fonte: ABRAF,
2010.

Outras espécies florestais utilizadas em reflorestamentos no período 2008 e 2009,


conforme a ABRAF, encontram-se listadas na tabela 1.1.

Tabela 1.1 - Características principais e área de florestas plantadas com outros grupos de
espécies no Brasil. Adaptado da ABRAF (2010).
Grupo de Nome científico Principais Área em Área em Principais usos
espécies Estados 2008 (ha) 2009 (ha)
Acácia Acacia meamsii e RS, RR 181.780 174.150 Madeira: energia, carvão, cavaco para
Acacia mangium celulose, painéis de madeira.
Tanino: curtumes, adesivos, petrolífero,
borrachas.
Seringueira Hevea Amazônia 129.850 128.460 Madeira: energia, celulose.
brasiliensis Seiva: borracha.
Paricá Schizolobium PA, MA 80.180 85.320 Lâmina e compensado, forros, palitos,
amazonicum papel, móveis, acabamentos e molduras.
Teca Tectona grandis MT, AM, 58.810 65.240 Construção civil (portas, janelas, lambris,
AC painéis, forros, assoalhos, e decks),
móveis, embarcações e lâminas
decorativas.
Pinheiro-do- Araucária PR, SC 12.520 12.110 Serrados, lâminas, forros, molduras,
Paraná ou angustifólia ripas, caixotaria, estrutura de móveis,
Araucária fósforo, lápis e carretéis.
Pópulus Populus spp. PR, SC 4.020 4.030 Fósforos, partes de móveis, portas,
marcenaria de interior, brinquedos,
utensílios de cozinha.
Outras (1) - - 1.870 2.740 -
Total - - 469.030 472.050 -
(1)
Outras espécies: ipê-roxo, fava-arara, jatobá, mogno, acapu entre outras.

A seguir um panorama da cadeia produtiva dos produtos florestais madeireiros e não


madeireiros, conforme a ABRAF, 2010, na figura 1.11.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.13


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

Figura 1.14 – Fluxo da cadeia produtiva dos produtos florestais madeireiros e não
madeireiros. Fonte: ABRAF, 2010.

A fig. 1.11 foi baseada no trabalho de Vieira, L. Setor florestal em Minas Gerais:
caracterização e dimensionamento. Belo Horizonte – UFMG. 2004. Na mesma figura, o
termo PMS (produtos de madeira sólida) se refere à produtos como madeira serrada,
compensado e lâminas. O termo PMVA (produtos de maior valor agregado) se refere à

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.14


Estruturas usuais de madeira Constituição e Estrutura da Madeira

produtos como portas, janelas, molduras, pisos, decks, dormentes, etc.

A situação das florestas plantadas de eucalipto e pinus no Brasil, segundo a ABRAF,


considerando a distribuição por estados produtores na fig. 1.12.

Figura 1.15 – Distribuição da área de florestas plantadas com eucalipto e pinus das
associadas individuais da ABRAF por estado em 2009.

O consumo de madeira em toras no período de 2009 está representado na fig. 1.13.

Figura 1.13 – Participação do consumo de madeira em tora de florestas plantadas por


segmento. Fonte: ABRAF Anuário 2009.

Edgar V. Mantilla Carrasco 1.15


CAPÍTULO 02

CARACTERÍSTICAS DA FLORESTA PLANTADA DE


EUCALIPTO

Este capítulo foi retirado do Anuário 2010 da ABRAF – Asociação Brasileira de produtores
de Florestas plantadas e trata dos aspectos sociais, ambientais e econômicos do cultivo de
Eucalipto. A fig. 2.1 apresenta a logo da ABRAF.

Por dentro do Eucalipto


Aspectos sociais, ambientais e econômicos do seu cultivo

1 - Por que plantar florestas?


2 - Por que plantar eucaliptos?
3 - Ilustre imigrante
4 - Geração de riquezas
5 - Cultivo do eucalipto
6 - Fauna e Flora
7 - Recursos Hídricos
8 - Sistema radicular do eucalipto
9 - Conservação do solo e da água
10 - Convivência com outras plantas
11 - Usos do eucalipto
12 - Referências bibliográficas

2.1. Por que plantar florestas ?

A sociedade necessita cada vez mais de produtos de base florestal para a sua
sobrevivência e conforto. As florestas nativas, antes abundantes em todo o mundo, estão
cada vez mais escassas e ameaçadas de desaparecerem. O pouco que resta é
indispensável para a manutenção da biodiversidade e de diversos serviços ambientais.
Neste contexto, as plantações florestais apresentam um papel de destaque nos cenários
nacional e internacional. Sabe-se hoje que somente por meio de florestas plantadas serão
obtidas as matérias-primas (madeira, celulose) para dar conta das necessidades sociais
sem aumentar a pressão sobre o pequeno remanescente das florestas naturais.

O Brasil apresenta alguns fatores favoráveis à silvicultura, como as condições de solo e


clima tropicais, o desenvolvimento de tecnologia de ponta, além da disponibilidade de áreas
para plantio e mão-de-obra.

Apesar da relevância desse setor para a economia brasileira, alguns aspectos,


principalmente os relacionados às interações com o meio ambiente, ainda não foram
amplamente divulgados ou não são de conhecimento da grande maioria da população.

2.2. Por que plantar eucaliptos ?

Até pouco tempo, a necessidade de madeira era suprida quase que exclusivamente por
meio das florestas nativas, cuja destruição tem provocado, muitas vezes, danos irreversíveis
a alguns ecossistemas. A situação é alarmante.

É nesse contexto que entra o eucalipto, uma árvore da maior importância para o mundo,
em virtude de seu rápido crescimento, produtividade, grande capacidade de adaptação e por
ter inúmeras aplicações em diferentes setores. Esta planta está presente nos cinco
continentes e em todos os Estados brasileiros, segundo informações da Sociedade
Brasileira de Silvicultura.

O plantio de eucalipto é, portanto, a melhor solução para diminuir a pressão sobre as


florestas nativas, viabilizando a produção de madeira para atender às necessidades da
sociedade em bases sustentáveis.

• Um hectare de floresta plantada de eucalipto produz a mesma quantidade de madeira que


30 hectares de florestas tropicais nativas.

(1 ha = 10000m2).

• No Brasil, dos 300 milhões de metros cúbicos de madeira consumidos por ano, somente
100 milhões provêm de plantios florestais.

2.3. Um ilustre imigrante


Originário da Austrália e de outras ilhas da Oceania, onde ocorrem mais de 600 espécies
do gênero, o eucalipto começou a ser trazido para o Brasil na segunda metade do século
XIX, com o objetivo de ajudar na produção de dormentes para as linhas férreas que se
instalavam no país.

A partir dessa época, o eucalipto passou a fazer parte da paisagem brasileira, ao lado de
outros estrangeiros conhecidos, como o café e o trigo (do Oriente Médio), o arroz e a soja
(da Ásia), o feijão, o coco, a cana-de-açúcar e gramíneas forrageiras (da África), o milho (do
México) e a banana (do Caribe).

Comparação das áreas de plantio de eucalipto com


as de outras culturas no Brasil:

Produtos Agrícolas Área (ha)


Pastagens 177.500.000

Soja 16.326.000

Milho 12.096.000
Cana-de-açúcar 5.034.000
Feijão 4.186.000
Arroz 3.186.000

Plantio de eucalipto 2.499.000


Café 2.362.000

Adaptado de Silva J. C., 2003

2.4. Geração de riquezas

São inúmeras as formas de contabilizar as riquezas geradas nas comunidades próximas


ao cultivo do eucalipto. Entre elas, empregos diretos e indiretos, recolhimento de impostos,
investimentos em infra-estrutura, consumo de bens de produção local, fomento a diversos
tipos de novos negócios (inclusive de plantios em áreas improdutivas) e iniciativas na área
social como construção de novas escolas e postos de saúde, além de doações, que levam
cidadania a áreas antes esquecidas.

A indústria de base florestal é estratégica para o Brasil devido ao seu perfil fortemente
exportador. Isso contribui para a realização do superávit da balança comercial, propiciando
as condições econômicas necessárias à promoção do desenvolvimento social.
O setor já responde pela segunda posição na balança comercial do agronegócio brasileiro.
No período de setembro de 2002 a setembro de 2003, celulose e papel e produtos sólidos
de madeira acumularam exportações de US$ 5,1 bilhões. A liderança desse ranking é
ocupada pelo complexo agroindustrial da soja, que faturou US$ 7,7 bilhões no mesmo
período.

Estima-se que o setor florestal no Brasil seja responsável pela existência de 500 mil
empregos diretos e outros 2 milhões indiretos. Em termos tributários, o setor também dá
uma demonstração de força, pois a estimativa é de uma arrecadação anual de US$ 4,6
bilhões em impostos.

A cada US$ 1 milhão de investimentos, são gerados:


• 85 empregos no setor automotivo
• 111 empregos no setor de construção civil
• 149 empregos no setor de comércio
• 160 empregos no setor florestal

Fonte: Silva, J. C., 2003

Além disso, as empresas de produtos florestais investem pesadamente em projetos de ação


social, uma importante contribuição para a melhoria da qualidade de vida das comunidades
no seu entorno.

2.5. Cultivo do Eucalipto


A implantação de monoculturas é, sem dúvida, um dos pontos que merecem a atenção da
sociedade. Café, soja, cana-de-açúcar, pastagens, eucalipto ou qualquer outra cultura que
seja feita sem critérios ambientais é extremamente prejudicial ao meio ambiente e ao
homem. No entanto, todos os pro dutos resultantes desses cultivos são fundamentais à
sociedade.

No caso do eucalipto, vários são os meios adotados para integrar as plantações ao


ambiente natural. Procura-se manter ou aumentar a biodiversidade dentro das áreas
plantadas, através do planejamento técnico (seleção de solos aptos para o plantio,
preservação de mananciais e matas ciliares), do estabelecimento de corredores de
vegetação natural para a movimentação da fauna, do plantio de enriquecimento nas áreas
de preservação e da adoção de práticas que garantam a sustentabilidade do sistema.

2.6. Fauna e Flora

Nas propriedades destinadas ao cultivo do eucalipto são mantidas as matas nativas para
compor áreas de reserva legal (no mínimo, 20% da propriedade). As nascentes e as matas
ciliares também são protegidas. Estas áreas protegem e fornecem alimentos para a fauna
silvestre, entre outras funções. Além disso, a fauna silvestre utiliza, além das matas, as
áreas de plantio de eucalipto para a construção de ninhos, locomoção e alimentação.

As áreas preservadas também são importantes para o equilíbrio ecológico dos sistemas
produtivos, pois mantêm espécies importantes para o controle biológico de pragas e
doenças nas plantações. Essas áreas são protegidas contra caça e pesca ilegal, corte de
árvores e incêndios florestais.

Por ser uma cultura de porte florestal, o eucalipto e o sub-bosque presente nos plantios
formam corredores para as áreas de preservação e criam um hábitat para a fauna,
oferecendo condições de abrigo, de alimentação e mesmo de reprodução para várias
espécies.

2.7. Recursos hídricos

O consumo de água por plantações de eucalipto situa-se dentro da faixa de variação do


consumo apresentado por outras espécies florestais. Isso ocorre em razão de um
mecanismo bem desenvolvido de controle da transpiração pelas folhas.
As evidências científicas disponíveis indicam que o regime da água no solo e da água
subterrânea sob plantações de eucalipto não difere marcadamente daquele observado em
plantações de outras espécies florestais. Em relação ao déficit anual da água no solo e à
dinâmica da água subterrânea, ou seja, da flutuação e da recarga do lençol freático, o
eucalipto comporta-se como qualquer outra espécie florestal.

Quantidade de água necessária durante um ano ou ciclo da cultura:

Cultura Consumo de água (mm)


Cana-de-açúcar 1000 – 2000

Café 800 – 1200

Citrus 600 – 1200

Eucalipto 800 – 1200


Milho 400 – 800

Feijão 300 – 600

Obs.: 1 mm (milímetro) corresponde a 1 litro por metro quadrado


Fontes: Calder, et. al., 1992 e Lima, W. de P., 1993

Outro aspecto interessante com relação ao eucalipto é a eficiência do uso da água para a
produção de biomassa. O eucalipto é altamente eficiente, pois, comparado a outras culturas,
ele produz mais biomassa por unidade de água consumida.

• Comparação entre o consumo de água e a produção de biomassa do eucalipto e outras


culturas:

Cultura/Cobertura Eficiência no uso da água


Batata 1 kg de batata / 2.000 l

Milho 1 kg de milho / 1.000 l

Cana-de-açúcar 1 kg de açúcar / 500 l


Cerrado 1 kg de madeira / 2.500 l

Eucalipto 1 kg de madeira / 350 l

Obs.: 1 mm (milímetro) corresponde a 1 litro por metro quadrado


Fontes: Calder, et. al., 1992 e Lima, W. de P., 1993

Comparativo do consumo de água de florestas e plantio de eucalipto:


Adaptado de: Mora, A. L. & Garcia, C. H., 2000

2.8. Sistema radicular do eucalipto

A foto abaixo evidencia uma característica do sistema radicular (raízes) dos eucaliptos
utilizados em plantios comerciais, que é a concentração, nos primeiros 60 cm do solo, das
raízes responsáveis pela absorção de água e nutrientes. A raiz pivotante, que é a
responsável pela sustentação da árvore, normalmente não ultrapassa a faixa dos 3 metros
de profundidade.

Dessa forma, a crença popular de que a raiz de eucalipto cresce para baixo o mesmo
tanto que a copa cresce para cima não condiz com a realidade, e jamais atingem os lençóis
freáticos, situados os em profundidades bem maiores.

A folhagem ou copa do eucalipto retém menos água de chuva do que as árvores das
florestas tropicais, que possuem copas mais amplas. Por isso, nos plantios de eucalipto
mais água de chuva vai direto para o solo enquanto que na floresta tropical nativa a água
retida nas copas das árvores evapora-se diretamente para a atmosfera.
2.9. Conservação do solo e da água

O solo é um dos recursos mais preciosos que uma empresa florestal possui, sendo
essencial a sua proteção. Para tanto, medidas são adotadas para que as suas
características físicas, químicas e biológicas sejam mantidas ou até mesmo melhoradas.

As plantações de eucalipto são conduzidas em ciclos de 7 anos. Após a colheita das


árvores, pode-se formar uma nova floresta com a brotação dos tocos. A renovação do ciclo,
com o plantio de novas mudas, pode ocorrer, portanto, aos 7, 14 ou 21 anos do início do
cultivo.

No plantio dessas novas mudas, o fogo não é utilizado para a limpeza da área, e toda a
matéria orgânica depositada pelas árvores do eucalipto no ciclo anterior (galhos e folhas)
permanece no local, formando a serrapilheira. O revolvimento do solo é mínimo. A área é
sulcada e nos sulcos são abertas as covas que receberão as mudas. Em locais com
topografia acidentada, abrem-se apenas as covas para o plantio.
Com esse tipo de manejo, o solo permanece protegido contra a erosão causada pela
chuva, sol e vento. Além disso, a matéria orgânica favorece a infiltração da água das
chuvas, abastecendo o lençol de água subterrâneo (lençol freático), responsável pela
formação das nascentes.

As práticas acima descritas constituem o que é denominado cultivo mínimo, que, além de
conservar o solo, permite a ciclagem dos nutrientes. Afinal, os galhos, folhas, tocos e raízes
depositados e mantidos na área se decompõem, disponibilizando, assim, nutrientes para as
plantas.

A necessidade de absorção dos principais nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) é


diferenciada conforme a cultura, como mostra a figura seguinte.
2.10. Convivência com outras plantas

Normalmente, observa-se plantios de eucaliptos sem a presença de outras plantas. Muitas


pessoas associam este fato a uma possível produção, pelo eucalipto, de alguma substância
inibidora da germinação de outras espécies vegetais.

Na realidade, nos plantios de eucalipto, como em qualquer outra cultura, é necessário


controlar a vegetação competidora, para permitir o crescimento da espécie cultivada.
Ressalta-se, também, que a copa do eucalipto proporciona um alto sombreamento nos
primeiros anos de cultivo, o que impede a entrada de luz suficiente para o aparecimento de
algumas plantas.

Apesar disso, por ser uma cultura de porte florestal, o eucalipto e o sub-bosque presente
nos plantios formam corredores para as áreas de preservação e criam um hábitat para a
fauna, oferecendo condições de abrigo, de alimentação e mesmo de reprodução para várias
espécies.

Em várias regiões do Brasil, existe o uso da vegetação do sub-bosque -especialmente


gramíneas para a criação de gado-, ocorrendo, também, o aparecimento de espécies
florestais nativas nos povoamentos mais velhos.
2.11. Usos do eucalipto

• Celulose

Papéis diversos (impressão, cadernos, revistas)


Absorvente íntimo
Papel Higiênico
Guardanapo
Fralda Descartável
Viscose, tencel (roupas)
Papel celofane
Filamento (pneu)
Acetato (filmes)
Ésteres (tintas)
Cápsulas para medicamentos
Espessantes para alimentos
Componentes eletrônicos

• Carvão Vegetal para siderurgia

• Painéis de aglomerados de madeira, MDF, HDF, chapa de fibra, compensados

• Madeira serrada

Móveis
Construção Civil
Brinquedos

• Lenha e Biomassa como fontes de energia

• Óleos essenciais

Fármacos
Produtos de higiene
Produtos de limpeza
Alimentos

• Produtos apícolas

Mel
Própolis
Geléia Real

• Postes e mourões
Outras Utilidades:

O eucalipto também remove gás carbônico (CO2) da atmosfera, contribuindo para


minimizar o efeito estufa e melhorando o micro clima local. Por fim, o eucalipto protege os
solos contra processos erosivos, conferindo-lhes características de permeabilidade,
aumentando a taxa de infiltração das águas pluviais e regularizando o regime hidrológico
nas áreas plantadas.

2.12. Referências Bibliográficas

LIMA, W. de P. “Impacto ambiental do eucalipto”. Ed. da Universidade de São Paulo. 1993.


MORA, A. L. et alli. “A cultura do eucalipto no Brasil”. São Paulo, SP. 2000.
NOVAIS, R. F. “Aspectos nutricionais e ambientais do eucalipto”. Revista Silvicultura, nº 68.
1996.
SILVA, J. C. “Reflexos Sociais e Econômicos da Agregação de Valor a Produtos de Base
Florestal”, Anais do 8º Congresso Florestal Brasileiro. São Paulo, SP. 2003.
CAPÍTULO 03
PRODUTOS COMERCIAIS DAS MADEIRAS

3.1 INTRODUÇÃO

A madeira é matéria prima de vários produtos industriais. Estes produtos englobam


tanto peças estruturais quanto não estruturais.

Os produtos de madeiras utilizados na construção variam desde peças com pouco


ou nenhum processamento – madeira roliça – até peças com vários graus de
beneficiamento, como: madeira serrada e beneficiada, lâminas, painéis de madeira e
madeira tratada com produtos preservativos. A seguir os principais produtos comerciais de
madeira segundo a publicação Madeira : uso sustentável na construção civil (IPT/2009).

MADEIRA ROLIÇA

A madeira roliça é o produto com menor grau de processamento da madeira. Consiste de


um segmento do fuste da árvore, obtido por cortes transversais (traçamento) ou mesmo
sem esses cortes (varas: peças longas de pequeno diâmetro). Na maior parte dos casos,
sequer a casca é retirada. Tais produtos são empregados, de forma temporária, em
escoramentos de lajes (pontaletes) e construção de andaimes. Em construções rurais, é
freqüente o seu uso em estruturas de telhado. A fig. 2.1 ilustra o abate de árvores e o
transporte de toras.

Figura 3.1 – Madeira roliça.

DESDOBRAMENTO DAS TORAS

A madeira serrada é obtida pelo processo de desdobramento (corte) das toras de


madeira em lâminas com dimensões variadas. Corte é o conjunto de operações de se
efetuam para dividir longitudinalmente os troncos obtidos das árvores e limpos de ramos,
fazendo deles peças menores apropriadas para a sua utilização.
Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

A tabela 3.1 apresenta esquemas de corte. Fonte: Adaptado de:


http://www.pucrs.br/feng/civil
Corte Esquema
Falquejamento -
Corte com que se obtém uma peça inteiriça
com arestas vivas e quatro costaneiras.

Corte em quatro -
Consiste em dar dois cortes perpendiculares
pelo centro.

Corte Radial - É feito seguindo a direção


dos raios medulares.

Corte em fiadas paralelas -


Obtém-se tábuas e pranchas de diferentes
larguras.

Corte de Paris - Começa-se por obter


uma grossa peça central e seguidamente
outras nos lados, de menor tamanho.

Corte em Cruz - Consiste em tirar uma


grossa peça central, dos dois lados obtém-
se outras peças grossas e finalmente os
quatro pedaços restantes dividem-se
radialmente em forma de tábuas.

Corte Holandês - Começa-se por um corte


em quatro pedaços. Depois faz-se em cada
uma das partes uma série de cortes
paralelos.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.2


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Corte por encontro de cortes -


Separa-se primeiro uma prancha central.
Dos dois lados vão-se tirando tábuas e
pranchas por meio de encontro de cortes.

O desdobramento do tronco em lâminas de madeira deve ser feito o mais cedo


possível, após o corte da árvore, a fim de evitar defeitos decorrentes da secagem da
madeira. Os troncos são cortados em serras especiais, na espessura desejada.

A madeira serrada antes de ser utilizada nas construções deve passar por um
período de secagem. Essa secagem pode ser feita naturalmente empilhando a madeira,
deixando um espaço entre elas para a circulação do ar, e deve estar abrigada contra a
chuva. O tempo de secagem demora em tomo de 1 a 3 anos, dependendo da espécie, da
espessura e da densidade da madeira.

Para acelerar essa secagem foram desenvolvidos métodos artificiais que consistem
basicamente na circulação de ar quente com baixa umidade. O tempo de demora é
geralmente de 5 a 10 dias para cada 5 cm de espessura. As madeiras serradas são
vendidas com seções padronizadas.

MADEIRA FALQUEJADA

É obtida de troncos por cortes de machado com seções transversais quadradas ou


retangulares. Dependendo do diâmetro dos troncos, podem ser obtidas seções maciças
falquejadas de grandes dimensões, como por exemplo (30 x 30) ou (60 x 60) cm. A seção
que produz menos perda é a quadrada. (fig. 3.2).

Figura 3.2 – Corte falquejamento

A seção que dá maior momento de inércia é um retângulo com as dimensões


apresentadas a seguir:

d 3
b
b= h= d
d
2 2
Figura 3.3 – Seção de madeira com maior momento de inércia

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.3


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

MADEIRA SERRADA

A madeira serrada é produzida em unidades industriais - serrarias - onde as toras são


processadas mecanicamente, transformando a peça originalmente cilíndrica em peças
quadrangulares ou retangulares, de menor dimensão. A sua produção está diretamente
relacionada com o número e as características dos equipamentos utilizados, e o rendimento
baseado no aproveitamento da tora (volume serrado em relação ao volume da tora), sendo
este função do diâmetro da tora (maiores diâmetros resultam em maiores rendimentos).

As serrarias produzem a maior diversidade de produtos: pranchas,pranchões,


blocos,tábuas, caibros, vigas, vigotas, sarrafos, pontaletes, ripas e outros. As dimensões
segundo a ABNT NBR 7203/1982 estão na fig.3.4.

Figura 3.4 - Dimensões de peças serradas segundo a ABNT NBR 7203/1982.

As diversas operações pelas quais a tora passa são determinadas pelos produtos que
serão fabricados. Na maioria das serrarias, as principais operações realizadas incluem o
desdobro, o esquadrejamento, o destopo das peças e o pré-tratamento.

MADEIRA BENEFICIADA

A madeira beneficiada é obtida pela usinagem das peças serradas, agregando valor às
mesmas. As operações são realizadas por equipamentos com cabeças rotatórias providas
de facas, fresas ou serras, que usinam a madeira dando a espessura, largura e
comprimento definitivos, forma e acabamento superficial da madeira.

Podem incluir as seguintes operações: aplainamento, molduramento e torneamento, e ainda


desengrosso, desempeno, destopamento, recorte, furação, respigado, ranhurado, entre
outras. Para cada uma destas operações existem máquinas específicas, manuais ou não,
simples ou complexas, que executam vários trabalhos na mesma peça. (fig. 3.5).

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.4


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.5 – Dimensões principais peças de madeira beneficiada segundo a ABNT NBR
7203/1982.

MADEIRA EM LÂMINAS

As lâminas de madeira são obtidas por um processo de fabricação que se inicia com o
cozimento das toras de madeira e seu posterior corte em lâminas. Existem dois métodos
para a produção de lâminas: o torneamento e o faqueamento. No primeiro, a tora já
descascada e cozida é colocada em torno rotativo. As lâminas assim obtidas são
destinadas à produção de compensados. Por outro lado, a lâmina faqueada é obtida a partir
de uma tora inteira, da metade ou de um quarto da tora, presa pelas laterais, para que uma
faca do mesmo comprimento seja aplicada sob pressão, produzindo fatias únicas.
Normalmente, essas lâminas são originadas de madeiras decorativas de boa qualidade,
com maior valor comercial, prestando-se para revestimento de divisórias, com fins
decorativos.

PAINÉIS

Os painéis de madeira surgiram da necessidade de amenizar as variações dimensionais da


madeira maciça, diminuir seu peso e custo e manter as propriedades isolantes, térmicas e
acústicas. Adicionalmente, suprem uma necessidade reconhecida no uso da madeira
serrada e ampliam a sua superfície útil, através da expansão de uma de suas dimensões - a
largura - para, assim, otimizar a sua aplicação. O desenvolvimento tecnológico verificado no
setor dos painéis à base de madeira tem ocasionado o aparecimento de novos produtos no
mercado internacional e nacional, que vêm preencher os requisitos de uma demanda cada
vez mais especializada e exigente.

Compensado

Os compensados surgiram no início do século XX como um grande avanço, ao transformar


toras em painéis de grandes dimensões, possibilitando um melhor aproveitamento e
consequente redução de custos. O painel compensado é composto de várias lâminas
desenroladas, unidas cada uma, perpendicularmente à outra, através de adesivo ou cola,
sempre em número ímpar, de forma que uma compense a outra, fornecendo maior
estabilidade e possibilitando que algumas propriedades físicas e mecânicas sejam
superiores às da madeira original.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.5


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

A espessura do compensado pode variar de 3 a 35 mm, com dimensões planas de 2,10 m x


1,60 m, 2,75 m x 1,22 m e 2,20 m x 1,10 m, sendo esta a mais comum. Há compensados
tanto para uso interno quanto externo. (fig. 3.6).

Figura 3.6 - Esquema de fabricação do compensado.

Chapas de fibra: chapa dura

As chapas duras ou hardboards, cujas marcas mais conhecidas são Duratex e Eucatex, são
chapas obtidas pelo processamento da madeira de eucalipto, de cor natural marrom,
apresentando a face superior lisa e a inferior corrugada. As fibras de eucalipto aglutinadas
com a própria lignina da madeira são prensadas a quente, por um processo úmido que
reativa esse aglutinante, não necessitando a adição de resinas, formando chapas rígidas de
alta densidade de massa, com espessuras que variam de 2,5 mm a 3,0 mm.

Chapa de fibra: MDF – Chapa de densidade média

As chapas MDF – medium density fiberboard - com densidade de massa entre 500 e 800
kg/m³, são produzidas com fibras de madeira aglutinadas com resina sintética termofixa,
que se consolidam sob ação conjunta de temperatura e pressão, resultando numa chapa
maciça de composição homogênea de alta qualidade. Estas chapas apresentam superfície
plana e lisa, adequada a diferentes acabamentos, como pintura, envernizamento,
impressão, revestimento e outros.

Estes painéis possuem bordas densas e de textura fina, apropriados para trabalhos de
usinagem e acabamento. São chapas estáveis, podendo ser cortadas em qualquer direção,
o que permite o seu maior aproveitamento. O aglomerado deve ser revestido, sendo
indicado na aplicação de lâminas de madeira natural e laminados plásticos.(fig. 3.7).

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.6


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.7 – Fibras de madeira para a fabricação de painéis


Fonte: Wood Handbook (1999)

Chapas de partículas: aglomerado

O aglomerado é uma chapa de partículas de madeiras selecionadas de pinus ou eucalipto,


provenientes de reflorestamento. Essas partículas, aglutinadas com resina sintética
termofixa, se consolidam sob a ação de alta temperatura e pressão.(fig. 3.8).

Figura 3.8 – Peças de madeira aglomerada. Fonte:


http://www.rautewood.com/products_services/end_product_applications_photo_gallery.html
Acesso: Julho 2003

Chapas de partículas: OSB – Painéis de partículas orientadas

Os painéis de partículas orientadas ou oriented strand boards, mais conhecidos como OSB,
oram dimensionados para suprir uma característica demandada, e não encontrada, tanto na
madeira aglomerada tradicional quanto nas chapas MDF - a resistência mecânica exigida
ara fins estruturais. Os painéis são formados por camadas de partículas ou de feixes de
fibras com resinas fenólicas, que são orientados em uma mesma direção e então prensados
para sua consolidação. Cada painel consiste de três a cinco camadas, orientadas em
ângulo de 90 graus umas com as outras. A resistência destes painéis à flexão estática é
alta, não tanto quanto a da madeira sólida original, mas tão alta quanto a dos compensados
estruturais, aos quais substituem perfeitamente.

O seu custo é mais baixo devido ao emprego de matéria-prima menos nobre, mas não
admitem incorporar resíduos ou “finos”, como no caso dos aglomerados. Os OSB têm a
elasticidade da madeira aglomerada convencional, mas são mais resistentes
mecanicamente. Nos EUA, a construção de casas apresenta características de uso intenso
de madeira serrada e de painéis, especialmente em paredes internas e externas, pisos e
forros, e nestes usos, os painéis OSB têm tido bom desempenho. Estes produtos estão
encontrando nichos de uso também em aplicações industriais, onde a resistência mecânica,
trabalhabilidade, versatilidade e valor fazem deles alternativas atrativas em relação à

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.7


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

madeira sólida. Entre estes usos estão mobiliário industrial, incluindo estruturas de móveis,
embalagens, containers e vagões(fig. 3.9).

Figura 3.9- Processo de fabricação do OSB - Fonte: Wood Handbook (1999)

PAINÉIS DE ISOLAMENTO

São painéis de baixa densidade e utilizados como isolantes em geral. Depois de


fabricados, alguns processos podem ser usados para melhorar a estabilidade dimensional e
suas propriedades mecânicas, como por exemplo:

-Tratamento a quente: reduz a absorção da água e melhora a colagem entre as


fibras;
-Temperados: é um tratamento a quente com a adição de óleos inicialmente.
Melhora a aparência da superfície, a resistência à abrasão e à água;
- Humidificação: adição de água para equilibrar o teor de umidade do painel com o
ar.

Chapas de partículas: MDP – Chapa de partículas de média densidade

São painéis compostos de partículas de madeira ligadas entre si por resinas de última
geração. Estas resinas, sob ação de pressão e temperatura, polimerizam garantindo a
coesão do conjunto. As partículas são classificadas e separadas por camadas, as mais
finas sendo depositadas na superfície, enquanto que aquelas de maiores dimensões são
depositadas nas camadas internas.

Os MDPs têm a densidade elevada das camadas superiores (950 a 1000 kg/m³ em
comparação a 800 kg/m³ do MDF), o que assegura um melhor acabamento para pinturas,

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.8


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

impressão e revestimentos. O MDP apresenta maior resistência à flexão, comparando-se


com aglomerados e MDF, ao empenamento e ao arrancamento de parafusos, maior
estabilidade dimensional e menor absorção de umidade. Trata-se de nova geração de
painéis de madeira industrializada com características diferenciadas do aglomerado.

DESENVOLVIMENTO EM MADEIRA ESTRUTURAL COMPOSTA

MLC (Madeira Laminada Colada).

A madeira laminada e colada (MLC), na qual as tábuas são dispostas e coladas, com as
suas fibras na mesma direção, ampliando o comprimento ou a espessura (glulam). Vigas
laminadas e coladas, fabricadas com madeiras de reflorestamento - pinus e eucalipto –
preservadas contra ataque de insetos e fungos, além de protegidas contra fogo e umidade,
são um produto já encontrado no setor da construção civil neste país.

A MLC é um produto estrutural formado por associação de duas ou mais lâminas de


madeira selecionadas e secas, coladas com adesivo. As fibras das lâminas têm,
geralmente, direção paralela ao eixo das peças. A espessura das lâminas varia de 1,5 a 3,0
cm, podendo atingir até 5,0 cm. As lâminas são emendadas com adesivos formando peças
de grandes dimensões e comprimentos.

Os produtos estruturais industrializados de madeira laminada colada são fabricados sob


rígido controle de qualidade. Um bom controle garante a preservação das características de
resistência e durabilidade da madeira; permite também melhor controle da umidade das
lâminas reduzindo efeitos provenientes da secagem irregular. Esse processo de associação
de lâminas permite confeccionar peças de grandes dimensões, peças de eixo curvo como
arcos, cascas, etc. Na figura 3.10 encontram-se algumas seções.

Figura 3.10 - Seções transversais de madeira laminada colada.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.9


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Exemplos de estruturas com MLC

Figura 3.11 – Estrutura de cobertura de Hangar com vigas curvas de seção variável e
tirantes de aço. Fonte: ESMAD – Tecnologia em Estruturas de Madeira Colada.

A figura 3.12 apresenta o edifício comercial London South Bank University, de andares
múltiplos e totalmente em madeira laminada colada.

Figura 3.12 – Edifício comercial de andares múltiplos em madeira laminada colada. Fonte:
http://www.cowleytimberwork.co.uk/SouthBankUni.html

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.10


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.13 – Cobertura de quadra esportiva em arco de madeira laminada colada, 100 m
de vão. Fonte: http://www.cwc.ca/NR/rdonlyres/0C368425-CD79-4BB4-BB6F-
6A7EE57E2936/0/RichmondOvallow_res.pdf

Madeira laminada colada cruzada (XLAM)

É um produto de madeira na qual a tecnologia consiste na utilização de


lâminas cruzadas de madeiras resinosas e cola de poliuretano, sem formaldeído. É
apresentada em painéis de diveros tamanhos e espessuras para atender a
diferentes projetos (fig. 3.14).

Figura 3.14 – Montagem da XLAM. Fonte: www.klh.at

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.11


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.15 – Peças de XLAM. Fonte: www.klh.at

3.16 – Painél de madeira laminada cruzada. Fonte: www.klh.at

A fig. 3.17 apresenta edifícios residenciais em alturas diversas fabricados totalmente em


painéis de madeira laminada colada cruzada pela empresa KLH.

Figura 3.17 - Edifícios residenciais em painéis de XLAM. Fonte: www.klh.at

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.12


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.18 - Edifícios residenciais em painéis de XLAM. Fonte: www.klh.at

O edifício Stadthaus, Murray Grove de nove pavimentos e 29 apartamentos, construído em


Londres, UK, é o mais alto edifício residencial construído em madeira no mundo, até o
momento. Os painéis de madeira laminada colada cruzada da KLH compõem a sua
estrutura e estão presentes, inclusive, nas escadas e nas lajes de piso.

Entretanto, outros produtos, em maior ou menor grau de sofisticação, estão incluídos no


grupo das madeiras estruturais compostas, como: LVL – laminated veneer lumber, PSL –
parallel strand lumber e OSL – oriented strand lumber.

LVL (Laminated veneer lumber)

O LVL é formado a partir da colagem de lâminas finas de madeira (veneer) com a


direção das fibras de todas as lâminas orientadas na direção longitudinal da peças. Em
peças de grandes espessuras, algumas lâminas podem ser posicionadas com a direção das
fibras perpendiculares ao eixo da peça com o objetivo de reforçar a peça e aumentar sua
estabilidade.

As lâminas utilizadas (veneers) possuem espessura que variam entre 2,5 a 3,2 mm e
são obtidas das toras de madeira pelo corte utilizando-se facas especiais, conforme figuras
3.19 e 3.20.

Figura 3.19– Processos de laminação de LVL. Fonte: Johnson ,H. (1991)

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.13


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.20 – Obtenção de lâminas fina de madeira (veneer).


Fonte: http://www.rautewood.com/Products_Services/LVL_technology.html

Depois de cortadas, as lâminas finas de madeira são submetidas a secagem artificial ou


natural. Na secagem natural as lâminas são abrigadas em galpões cobertos e bem
ventilados. A secagem artificial se faz a temperatura de 80 a 100º C, impedindo os
empenamentos com auxílio de prensas. A secagem artificial é rápida podendo variar de 10
a 15 minutos para lâminas de 1 mm. Os adesivos utilizados são a prova d’água, geralmente
formaldeídos e isocianetos. As emendas entre as folhas podem ser de topo, com as
extremidades sobrepostas por uma determinada distância que assegure a transferência de
carga. Pode haver um escalonamento entre as emendas ao longo da peça para minimizar
seu efeito na resistência. A prensagem utilizada é normalmente a quente.

A pressão de prensagem depende da resina e da densidade da madeira. A temperatura


depende da resina e da umidade da lâmina. As peças são normalmente produzidas com
larguras variando de 0,6 m a 1,2 m e espessura de 3,8 cm. A dimensão do comprimento
pode ser ilimitada desde que a pressão aplicada seja continuamente. Depois de fabricados,
eles podem ser cortados com as dimensões desejadas. As propriedades resistentes são
elevadas e o material bem homogêneo, pois as características que diminuem sua
resistência (como os nós) são dispersadas dentro das lâminas, tendo pouca influência nas
suas propriedades resistentes (fig. 3.21).

Figura 3.21 – LVL


Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf

LSL (Laminated Strand Lumber)

É um produto fabricado a partir de uma extensão da tecnologia para se fabricar


OSB. As tiras finas de madeira (strand) utilizadas são maiores do que as utilizadas no OSB
e mais largas que as utilizadas no PSL, com um comprimento de aproximadamente 0,3 m.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.14


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

É fabricado com adesivos à prova d’água, sendo necessários um alto grau de


alinhamento das tiras de madeira, alta pressão e temperatura. O produto final possui
elevada densidade (fig. 3.22).

Figura 3.22 – Strand e LSL


Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf

PSL (Parallel Strand Lumber)

O PSL é formado a partir da colagem de tiras longas e finas de madeira (strand) com
adesivos a prova d’água, geralmente fenol-resorcinol formaldeídos. A aparência final do
PSL é a de um “espaguete grudado”. A tiras são orientadas e distribuídas por um
equipamento especial.

A pressão aplicada na prensagem aumenta a densidade do material e a cura é feita


com microondas. As dimensões das peças são normalmente 0,28m x 0,48m e podem ser
serradas em dimensões menores. O comprimento é limitado apenas pelas condições de
manejo das peças, desde que a pressão seja contínua. Pode utilizar restos das lâminas de
LVL (fig. 3.23).

Figura 3.23 - PSL


Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf

Observe o fluxograma da madeira a partir da colheita na floresta, na fig. 3.24.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.15


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.24 – Produtos derivados da madeira. Fonte: indústria Montana Química.

MADEIRA AUTOCLAVADA

A madeira pode ser tratada com produtos químicos, para maior durabilidade das
peças. Um tratamento muito comum é a aplicação dos produtos químicos em autoclaves. O
CCA (Arsenito de Cobre Cromatado) é o produto químico mais usado no mundo para tratar
madeira. O cromo funciona como fixador, o arsênio como agente inseticida e o cobre como
fungicida. O CCA é aplicado à madeira em solução aquosa. O processo de Impregnação
com pressão em grande quantidade de madeira é o mais eficiente.

A madeira é colocada numa câmara onde é feito o vácuo para remover o ar da


madeira. O preservativo é introduzido sob pressão. O tratamento com a utilização da
autoclave é descrito a seguir e ilustrado nas figuras 3.25 e 3.26.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.16


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.25 – Processo de tratamento da madeira com autoclave


Fonte: Revista da Madeira – Setembro 2001

1- Na operação de vácuo inicial é retirado o ar das células da madeira.

2- Bomba de vácuo ligada, temperatura ambiente, a solução preservativa é transferida


para a autoclave.

3- Com a utilização da bomba, é aplicada uma pressão no interior da autoclave.

4- A bomba é desligada para aliviar a pressão, uma válvula é aberta para permitir a
saída da solução preservativa que não penetrou na madeira. Pode ser aplicado o
vácuo novamente, para facilitar a retirada da solução preservativa.

5- Aplicação de pressão final.

Figura 3.26 – Autoclave para tratamento da madeira


Fonte: Revista da Madeira – Setembro 2001

DIMENSÕES NOMINAIS DE MADEIRA SERRADA DE FOLHOSAS

A ABNT NBR ISO 8903:2011 - Madeira serrada de folhosas — Dimensões nominais,


especifica as dimensões nominais de madeira serrada de folhosas não aplainadas,
esquadrejada e não esquadrejada.

As dimensões nominais especificadas são aplicáveis para madeira serrada com teor de
umidade médio de 20% (m/m), determinado de acordo com a Norma NBR ISO – 4470.

O comprimento nominal da peça de madeira serrada deve estar compreendido entre 1 m a


6 m, com intervalos de 0,1 m ou 0,25 m.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.17


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

A espessura e a largura nominal da peça de madeira serrada devem estar de acordo com
os valores especificados na tabela.

Tabela 3.2 - Espessura e largura nominal da peça de madeira serrada de folhosas


Espessura (mm) Largura (mm)
Obs : Com intervalos de 10 mm
19 ≥ 60
22 ≥ 60
25 ≥ 60
32 ≥ 60
40 ≥ 60
45 ≥ 80
50 ≥ 80
60 ≥ 80
70 ≥ 80
80 ≥ 100
90 ≥ 100
100 ≥ 100

A última etapa de fabricação englobam os métodos de controle de qualidade do


produto e todos os cuidados para o transporte e distribuição das peças de madeira. Para
evitar problemas futuros é importante que as peças depois de prontas sejam isoladas da
umidade pela aplicação de algum produto químico ou mesmo pela utilização de
embalagens isolantes.

VIGAS PRÉ-FABRICADAS COM PAINÉIS E MADEIRAS ESTRUTURAIS

O emprego correto da madeira serrada, com peças de pequenas espessuras, associada à


utilização de uniões pregadas com pré-furação adequada, confere às estruturas de madeira
uma versatilidade comparável à que existe nas estruturas metálicas soldadas, permitindo a
construção de estruturas com as mais variadas configurações possíveis.

As pré-fabricadas mais utilizadas são as de seção I normalmente com seção


composta, sendo a alma de um painel estrutural e as mesas de compósitos estruturais de
madeiras (SCL) ou MLC. São produzidas com diferentes dimensões (fig. 3.27).

Figura 3.27 – Vigas pré-fabricadas com seção Ι


Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf Acesso: julho 2003

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.18


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Também são comuns as treliças pré-fabricadas de madeira com diferentes produtos


de madeira e mesmo aço (fig. 3.28).

Figura 3.28 – Treliças mistas pré-fabricadas de aço e LVL


Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf Acesso: julho 2003

A BUSCA DO EMPREGO RACIONAL DA MADEIRA

O emprego racional da madeira somente pode ser conseguido se existir um conhecimento


adequado de suas propriedades. Nem todas as propriedades da madeira são significativas
em todas as suas aplicações e, como as aplicações são múltiplas e as formas de emprego
são várias, algum tipo de sistematização dessas idéias precisa ser estabelecido. O primeiro
passo para a sistematização de um processo que defina uma utilização mais racional da
madeira é conhecer seus produtos derivados. As exigências a serem feitas em relação às
propriedades de cada produto vão depender essencialmente do uso a que a eles estão
destinados. As propriedades obtidas para os materiais resultantes já não são as da
madeira, mas sim da celulose, dos aglomerantes e de outros elementos empregados na
sua fabricação.

A matriz mostrada na tabela 2.3 relaciona as características necessárias para a fabricação


de um determinado uso ou produto da madeira. O preenchimento dessa matriz pode
esclarecer qual é a forma de emprego mais adequada para determinada madeira, a partir
da discussão, item por item, de porque este ou aquele emprego da madeira é recomendável
ou não.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.19


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Tabela 3.3 - Matriz de utilização dos produtos de madeira. Adaptada.

Produto ou uso

Madeira serrada,s/ uso

Embalagens, caixotes,
Instrumentos musicais

Cabos de ferramentas
Mobiliário, esquadrias

palletes e estrados
Artigos esportivos

Artigos artísticos
Uso estrutural
Combustível

Laminados

Dormentes
estrutural

Tonéis
Propriedades

Pisos
Resistência ao impacto R O R N O N N
Elasticidade N O N R
Resistência à flexão N R N R R
Mecânicas

Resistência à tração N R N O R
Resistência à compressão N R N N R N
Resistência ao cisalhamento N O N O R
Dureza R O R N N R N N
Relação resistência/peso N O N O N N N N O
Resistência a rachaduras N O N N N N N N N N
Desgaste suave e
homogêneo O O O N N N N N N
Amortecimento R O O N
Resistência à abrasão O O N N R
Isolamento térmico N O O N
Condutibilidade elétrica N O O N
Expansão térmica N O N N N N
Físicas

Resistência ao fogo N O O
Permeabilidade à água R O O R N
Durabilidade N N N N N
Estabilidade dimensional N N N N N
Energia térmica/unidade
madeira N
Empenamento, torção, etc N N N N N N
Resistência ao
arrancamento N R R R N N
Aparência R R O N N N
Cor O R N N R N N
Brilho O R N N R N
Sensoriais

Sabor O N
Odor N R N N R N
Ressonância O N N N N
Conforto acústico N R N N
Mudanças na coloração O R N N R
Conforto térmico N R O O
Trabalhabilidade R N N N N R N N N N N N R

Legenda: N Característica necessária


R Característica recomendável
O Característica opcional
Característica sem importância

Exemplo de integração estrutural:


A utilização mais racional de um material é conseguida com a exploração de suas
qualidades e eliminação de seus pontos fracos. Vejamos a figura 3.29, na qual materiais
estruturais diferentes (concreto, aço e madeira) são utilizados com harmonia.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.20


Estruturas usuais de madeira Produtos comerciais das madeiras

Figura 3.29 - Environmental Education Centre Ralph Klein Legacy Park. Fonte:
http://www.cwc.ca/NR/rdonlyres/36BBE091-47B6-41E6-B22C-
C591624CBAD1/0/Ralph_Klein_Legacy_Park.pdf

No projeto do Centro de Educação Ambiental mostrado na fig. 1.1, o concreto


armado foi utilizado na infraestrutura e na laje do primeiro piso; o aço aparece em pilares e
vigas de sustentação da laje do segundo piso e na estrutura da escada e a madeira
laminada colada, foi adotada em colunas, vigas de sustentação e laje do segundo piso.

Edgar V. Mantilla Carrasco 3.21


CAPÍTULO 04
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA MADEIRA

4.1 INTRODUÇÃO

Conhecer as propriedades físicas da madeira é de grande importância porque estas


propriedades podem influenciar significativamente no desempenho e resistência da madeira
utilizada estruturalmente.

Podem-se destacar os seguintes fatores que influem nas características físicas da


madeira:

• Classificação botânica;
• O solo e o clima da região de origem da árvore;
• Fisiologia da árvore;
• Anatomia do tecido lenhoso;
• Variação da composição química.

Devido a este grande número de variáveis que afetam as propriedades físicas da


madeira, os valores indicativos das mesmas, obtidos em ensaios de laboratório, oscilam
apresentando uma ampla dispersão, que pode ser adequadamente representada pela
distribuição de Gauss.

Entre as características físicas da madeira cujo conhecimento é importante para sua


utilização como material de construção, destacam-se:

• Anisotropia
• Umidade
• Retratibilidade (inchamento)
• Resistência química
• Densidade
• Resistência ao fogo
• Durabilidade natural

4.2 ANISOTROPIA

Como mencionado no capítulo 1, a madeira é um material anisotrópico porque suas


propriedades variam de acordo com a direção considerada. Porém, de maneira simplificada
é considerada um material ortotrópico com três eixos perpendiculares entre si: longitudinal,
radial e tangencial, como pode ser visto na figura 4.1.
Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

Figura 4.1 – Orientação das fibras da madeira


Fonte: Calil Jr., C., et al. (2003)

As diferenças das propriedades nas direções radial e tangencial são relativamente


menores quando comparadas com a direção longitudinal tambem conhecida como axial.
Comumente as propriedades da madeira são apresentadas, para utilização estrutural,
somente no sentido paralelo às fibras da madeira (longitudinal) e no sentido perpendicular
às fibras (radial e tangencial).

ANISOTROPIA DA MADEIRA

Diz-se de um corpo fisicamente homogêneo, mas cujos valores de certas


propriedades físicas, mecânicas e químicas variam em todas as direções. Como uma
simplificação para a avaliação das características da madeira, a mesma é considerada
como material ortotrópico, ou seja, com 3 direções principais: longitudinal (axial), radial e
tangencial, representadas na fig. 4.2.

Figura 4.2 – Direções principais da madeira.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.2


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

ASSIMETRIA DE PROPRIEDADES

Essa assimetria de propriedades, que também existe no concreto, porém não no


aço, sugere que as propriedades da madeira sejam devidamente investigadas. A variação
das propriedades deve-se, principalmente:

Posição de origem na árvore:


Maior resistência nas camadas inferiores do tronco e no cerne.

Influência de defeitos:
Nós, fendas, lenho de reação.

Influência de umidade
A resistência diminui até atingir o ponto de saturação das fibras de 30%, após este
nível permanece constante.

Influência de temperatura:
A resistência se altera com a variação da temperatura.

CAUSAS DA DETERIORAÇÃO

Na maioria das espécies, a natureza biológica da madeira torna-a suscetível a agressões por fungos
e insetos.

DURABILIDADE

A secagem, a preservação, o respeito a certas regras de concepção do material e a associação a


outros materiais nos locais mais sujeitos aos ataques dos microorganismos, tornam as estruturas da
madeira tão duráveis quanto às de aço ou de concreto.

CONHECIMENTO

Quando devidamente estudada e adequadamente empregada, respeitando-se a


essência de sua estrutura interna, a madeira é um material estrutural de primeira qualidade,
cujo emprego deverá crescer consideravelmente nos anos vindouros.

4.3 UMIDADE

A quantidade de água existente influi grandemente nas demais propriedades da


madeira. Sabe-se que a árvore, enquanto viva e mesmo após o corte, possui significativo
teor de umidade, que vai perdendo com o decorrer dos dias quando cortada. Inicialmente
ocorre a perda de água de embebição ou água livre, contida no interior dos vasos ou
traqueídes. A seguir, ocorre a evaporação da água de impregnação ou de constituição,
contida nas paredes dos vasos, fibras e traqueídes.
Edgar V. Mantilla Carrasco 4.3
Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

ÁGUA DE CONSTITUIÇÃO
é a parte integrante da matéria lenhosa

ÁGUA DE IMPREGNAÇÃO OU ADESÃO


retida pelas membranas ou paredes de matéria lenhosa

ÁGUA LIVRE ou água de embebição


enche as fibras lenhosas, desaparece depois do abate ou corte da árvore;.

A água de embebição pode circular livremente nos interstícios dos elementos


anatômicos básicos. Sua evaporação é rápida, provocando tensões capilares elevadas,
sem alterar, contudo, as dimensões das peças de madeira.

A água de impregnação está ligada às cadeias de celulose através das pontes de


hidrogênio. É de evaporação mais difícil e vagarosa, seguida de variações nas dimensões
da peça.

Da existência de duas formas de água no interior da madeira nasce o conceito de


ponto de saturação que é a umidade abaixo da qual toda a água existente é de
impregnação, essa umidade gira em torno de 33%, ver figura 4.3.

Umidade na Árvore Viva


Água
Livre
(Umidade)
Água

Ponto de Saturação das Fibras

Umidade de Equilíbrio

Umidade Zero
Impregnada
Água
Madeira
Sólida

Figura 4.3 - Umidade da madeira

Paralelamente, é definida a umidade de equilíbrio, que é o teor de umidade em que


se estabiliza a madeira, depois de algum tempo em contato com o ar atmosférico. A
umidade de equilíbrio é função da temperatura ambiente e da umidade relativa do ar.

No Brasil, a umidade de equilíbrio varia entre 12 e 15%. A norma brasileira


especifica a umidade de 12% como referência para a realização de ensaios e valores de
resistência nos cálculos para fins de aplicação estrutural.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.4


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

4.4 DETERMINAÇÃO DA UMIDADE

A umidade deve ser determinada experimentalmente de acordo com a NBR


7190/97. Para se ter uma ordem de grandeza da umidade, pode ser determinada através de
aparelhos elétricos portáteis.

4.4.1 Determinação experimental

Define-se como teor de umidade (U) a relação:

mi − ms
U = × 100% (4.1)
ms
Sendo:
mi = massa inicial úmida da madeira, em g.
ms = massa da madeira seca, em g.
A umidade é determinada, experimentalmente, através de corpos de prova de seção
transversal retangular, com dimensões nominais de 2,0 cm x 3,0 cm e comprimento, ao
longo das fibras, de 5,0 cm, como indicadas na figura 4.4.

Figura 4.4 - Corpo de prova para determinação da umidade da madeira.

A madeira pode ser considerada, esquematicamente, como sendo composto pela


massa compacta de madeira e volume de vazios que poderá estar parte com água e parte
com ar ou cheia de água.

Para a determinação da umidade, inicialmente, o corpo de prova úmido é pesado,


determinando-se a massa inicial úmida com n% de umidade. Em seguida é colocado em
uma estufa a temperatura constante de aproximadamente de 103º C ± 2º C e pesado a
cada 6 horas, até que ocorra uma variação, entre duas medidas consecutivas, menor ou
igual a 0,5% da última massa medida. Esta massa será considerada como massa seca da
madeira, Aplicando a equação 4.1, obtém-se a umidade da madeira.

4.4.2 Determinação através de aparelhos elétricos

Um dos medidores de umidade mais utilizado está mostrado na figura 4.5. Ele opera
pelo princípio de alta freqüência. A medição da umidade é feita por intermédio da interação
do conjunto de sensores, localizados na face superior do medidor.

O processo, além de não danificar a madeira, permite medição rápida e segura


sobre grandes superfícies. Pode inclusive ser usado em peças com películas de

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.5


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

acabamento, verniz ou plástico.

Figura 4.5 - Aparelhos para medida e umidade

4.5 RETRATIBILIDADE – INCHAMENTO

A diminuição ou o aumento da quantidade de água de impregnação provoca,


respectivamente, a aproximação ou o afastamento entre as cadeias de celulose. Quando há
pouca água de impregnação as cadeias de celulose se aproximam umas das outras
ocorrendo a retração da madeira. Com o aumento da água de impregnação, as cadeias de
celulose se afastam causando o inchamento.

Devido a anisotropia da madeira, as retrações ou inchamento ocorrem


diferentemente segundo as direções radial, tangencial e axial da peça, figura 4.6.

Figura 4.6 - Direções principais


Fonte: Pfeil, W., Pfeil, M. (2003)

As madeiras mais estáveis quanto as suas dimensões, rachaduras e empenamentos


são as que apresentam menores valores para as retrações e menores diferenças entre as
retrações nas três direções consideradas. (fig. 4.7).

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.6


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

Figura 4.7 – Fendas de retração. Fonte: Propriedades da madeira. PUCRS.

Em ordem decrescente de valores, encontra-se:

• a retração tangencial com valores de até 10% de variação dimensional;


• a retração radial com valores da ordem de 6% de variação dimensional;
• a retração longitudinal com valores de 0,5% de variação dimensional.

Na figura 4.8 é apresentado um gráfico de retração em função da umidade para


eucalipto citriodora. Notar que variações de umidade acima do ponto de saturação (33%)
não acarretam retrações nas peças.

Figura 4.8 - Retração x Umidade.


Fonte:HELLMEISTER, J. C. (1974)

Num processo inverso, também pode ocorrer, o inchamento, que se dá quando a


madeira fica exposta a condições de alta umidade e ao invés de perder água, ela absorve,
provocando um aumento nas dimensões das peças.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.7


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

A diferença entre as retrações nas três direções: tangencial, radial e axial, explica a
maior parte dos defeitos que ocorrem com a secagem da madeira, rachaduras e
empenamentos. Dependendo da regularidade ou não da direção das fibras de certas
espécies de madeira, os empenamentos são ainda mais acentuados, como mostrado na
figura 4.9.

Figura 4.9– Retração e distorção em peças de seções variadas afetadas pela


direção dos anéis de crescimento. Fonte: Wood Handbook (1999)

Os principais defeitos da madeira durante a secagem encontram-se esquematizados na


figura 4.10.

Arqueamento

Torcimento
Encurvamento

Figura 4.10 - Defeitos da madeira durante a secagem.


Fonte: Calil Jr., C., et al. (2003)

A estabilidade dimensional pode ser determinada experimentalmente. Os corpos de


prova devem ser fabricados como indicados na figura 4.4 e devem conter umidade acima
do ponto de saturação das fibras. Quando o teor de umidade estiver abaixo do ponto de
Edgar V. Mantilla Carrasco 4.8
Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

saturação das fibras, deve-se reumidificar o corpo de prova. Devem ser determinadas as
distâncias entre os lados do corpo de prova durante os processos de secagem e de
reumidificação, com precisão de 0,01 mm. As distâncias devem ser determinadas com pelo
menos 3 medidas em cada lado do corpo de prova.

As deformações específicas de retração, εr, e de inchamento, εi, são consideradas


como índices de estabilidade dimensional e são determinadas, para cada uma das direções
preferenciais, em função das respectivas dimensões da madeira saturada e seca, conforme
equações 4.2 e 4.3.:

⎛ L − L1,sec a ⎞ ⎛ L − L2 ,sec a ⎞ ⎛ L − L3 ,sec a ⎞


ε r ,1 = ⎜⎜ 1,sat ⎟ × 100 ,
⎟ ε r ,2 = ⎜⎜ 2 ,sat ⎟ × 100 , ε r ,3 = ⎜ 3,sat
⎟ ⎜
⎟ × 100
⎟ (4.2)
⎝ L1 , sat ⎠ ⎝ L2 , sat ⎠ ⎝ L3 , sat ⎠

⎛ L − L1,sec a ⎞ ⎛ L − L2 ,sec a ⎞ ⎛ L − L3,sec a ⎞


εi ,1 = ⎜⎜ 1,sat ⎟ × 100 ,
⎟ εi ,2 = ⎜⎜ 2 ,sat ⎟ × 100 , εi ,3 = ⎜ 3,sat
⎟ ⎜
⎟ × 100
⎟ (4.3)
⎝ L 1,sec a ⎠ ⎝ L 2 ,sec a ⎠ ⎝ L 3 ,sec a ⎠

A variação de volume é fornecida pela equação 4.4:


⎛ V − Vsec a ⎞
ΔV = ⎜⎜ sat ⎟⎟ × 100 (4.4)
⎝ V sec a ⎠

4.6 RESISTÊNCIA QUÍMICA

A madeira, em linhas gerais, apresenta boa resistência à ataques químicos. Em


muitas indústrias é preferida em lugar de outros materiais que sofrem mais facilmente o
ataque de agentes químicos. Em alguns casos, a madeira pode sofrer danos devidos ao
ataque de ácidos ou bases fortes.

O ataque das bases provoca aparecimento de manchas esbranquiçadas decorrentes


da ação sobre a lignina e a hemicelulose da madeira. Os ácidos também atacam a madeira
causando uma redução no seu peso e na sua resistência.

4.7 DENSIDADE

Como as demais propriedades físicas da madeira, a densidade depende da espécie


em estudo, do local de procedência da árvore, da localização do corpo de prova na tora e
da umidade. O valor da densidade também oscila entre valores próximios aos valores
médios da espécie.

A NBR 7190 apresenta duas definições de densidade a serem utilizadas em


estruturas de madeira. A densidade básica e a densidade aparente.

4.7.1 DENSIDADE BÁSICA (ρbas)

A “densidade básica” é uma massa específica convencional definida pela razão


entre a massa e o volume saturado, sendo dada por equação 3.5:

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.9


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

ms
ρbas = (4.5)
Vsat
Onde:
ms = massa seca da madeira, em kg;
Vsat = volume da madeira saturada, em metro cúbico.

O volume saturado é determinado pelas dimensões finais do corpo de prova


submerso em água até que atinja massa constante ou com o máximo uma variação de
0,5% em relação à média anterior.

A massa seca é determinada pelo mesmo procedimento apresentado quando a


determinação da umidade.

4.7.2 DENSIDADE APARENTE (ρap)

A densidade aparente é determinada em diversos corpos de prova de cada espécie


a estudar, sendo a razão entre o peso do corpo de prova e o seu volume aparente, figura
4.11. É um parâmetro importante quando se quer estimar a qualidade estrutural de
determinada espécie de madeira. Quanto maior a densidade, melhor serão as suas
características mecânicas.

mi
ρap = (4.6)
Vi

Onde:
mi = massa inicial úmida em Kgf;
Vi = volume de madeira úmida em metro cúbico.

Figura 4.11 - Esquema para determinação da ρap

É evidente que o teor de umidade do corpo influi decididamente em sua densidade,


por isso, a NBR 7190/97 define a densidade aparente à aquela determinada com teor de
umidade de 12%. Entretanto pela dificuldade experimental, esta densidade é determinada a
partir da densidade aparente úmida corrigida através do diagrama de Kollmann, figura 4.12.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.10


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

Figura 4.12 – Diagrama de Kollmann


Fonte: Calil Jr., C., et al. (2003)

4.8 RESISTÊNCIA AO FOGO

Tradicionalmente a madeira é considerada um material de baixa resistência ao fogo.


Isto se deve principalmente à falta de conhecimento da resistência de peças de madeira
com dimensões estruturais quando colocada sob ação do fogo. Sendo bem dimensionada a
madeira apresenta alta resistência ao fogo.

Uma peça de madeira exposta ao fogo torna-se um combustível para a propagação


das chamas. No entanto, com o tempo, uma camada mais externa da madeira se carboniza
bloqueando as chamas. Só que, esta mesma camada que retém o calor, tendendo a

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.11


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

propagar as chamas, auxilia na contenção do incêndio desprendendo-se da peça de


madeira não afetada pelas chamas. Isto evita que toda a peça seja destruída. A proporção
de madeira carbonizada com o tempo varia de acordo com a espécie e as condições de
exposição ao fogo. Entre a porção carbonizada e a madeira sã encontra-se uma região
intermediária afetada pelo fogo, mas não carbonizada, porção esta que não deve ser levada
em consideração na resistência.

Na figura 4.13, é mostrado o resultado de um ensaio de queima durante 15 minutos


de exposição de uma única face ao incêndio padrão, em corpo de prova de madeira
vinhático com dimensões de 15cm x 15cm x 15cm.

Figura 4.13 – Resultado de ensaio de carbonização de corpo de prova de vinhático


com uma face submetida a fogo durante 15 minutos.
Fonte: Foto dos autores

4.9 DURABILIDADE NATURAL

A durabilidade da madeira, com relação à biodeterioração, depende da espécie e


das características anatômicas. Certas espécies apresentam alta resistência natural ao
ataque biológico enquanto outras são menos resistentes.

4.9.1 CAUSAS DA DETERIORAÇÃO

• APODRECIMENTO
Desenvolvimento de fungos e bactérias, devido a umidade da atmosfera e a
temperatura do meio ambiente, quando a percentagem de umidade é superior a
30% e as temperaturas forem superiores a 25oC ou 30oC.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.12


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

• AÇÃO DOS INSETOS


carunchos e cupins

• FOGO
as peças maiores tem mais resistência, devido a uma camada de carvão mineral na
superfície do tronco, que serve como isolante térmico.

• AÇÕES MECÂNICAS
- extração de pedaços do tronco;

- diferença na durabilidade da madeira de acordo com a região da tora da qual a


peça de madeira foi extraída (o cerne e o alburno apresentam características
diferentes e o alburno sendo muito mais vulnerável ao ataque biológico).

• AGENTES QUÍMICOS

• AÇÃO DE FATORES NÃO BIOLÓGICOS COMO INTEMPERISMOS


- chuva, neblina, sol, etc

4.9.2 RESISTÊNCIA NATURAL AO ATAQUE DE MICROORGANISMOS, FUNGOS E


XILÓFAGOS

• Algumas madeiras brasileiras bastante utilizadas em estruturas (Ipê, Maçaranduba,


Jatobá) demonstraram em ensaios de laboratório e na prática uma alta resistência
ao ataque de microorganismos, fungos e xilófagos diversos.

• Os ataques ocorrem quando as madeiras demostram sinais de apodrecimento e/ou


são expostas ao intemperismo. Uma casca levantada ou ferida no curso das
operações florestais deixa brechas por onde podem entrar esses agentes xilófagos.

• As diversas espécies de madeira apresentam resistências variáveis aos fungos e


insetos em função, por exemplo, da estação do ano.

• Para espécies menos resistentes, o tratamento químico com produto eficaz é o único
processo capaz de garantir a sanidade das toras.

4.9.3 ESTRATÉGIAS PARA EVITAR OS ATAQUES DE XILÓFAGOS E PROTEGER


CONTRA DETERIORAÇÃO

• ALTERAÇÃO MECÂNICA

• TRATAMENTO DE SOLO

• USO DE ISCAS

• SECAGEM DA MADEIRA
– de maneira natural ou artificialmente.

• TRATAMENTO QUÍMICO DA MADEIRA

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.13


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

- No caso das toras, pelas dimensões das peças, o único processo de tratamento
possível é por aspersão de toda a superfície lateral e topo.

- No caso de madeira desdobrada ou desenrolada, além da aspersão simples,


podem-se usar processos de imersão com diferentes graus de automação ou
aspersão em túneis de esteiras.

• MEDIDAS PREVENTIVAS

higiene geral dos canteiros e pátios de armazenagem, retirada rápida da madeira do


meio infestado, que pode ser até a própria floresta, passando pelo tratamento
profilático;

• TRATAMENTO TEMPORÁRIO

quando uma tora é serrada ou desenrolada, a madeira ainda está verde, acima do
ponto de saturação das fibras e ainda suscetível ao ataque de fungos e insetos.
Sendo assim, a madeira necessita de um Tratamento temporário até que ela passe
por secagem ao ar livre ou em estufa e, finalmente, pelo processamento industrial
definitivo.

4.9.4 PROCESSOS DE PRESERVAÇÃO

•Superficiais
Depois da secagem, é aplicada com pincel ou imersão uma camada superficial de
preservativo para inibir a passagem de insetos e fungos.

•De Impregnação sem pressão


A madeira é colocada imersa numa solução com preservativo a 100oC. A ação do
preservativo é expelir o ar existente no interior da madeira, fazendo com que o produto seja
absorvido pela pressão atmosférica.

•De Impregnação com pressão


Em grande quantidade de madeira são os mais eficientes. •A madeira é colocada numa
câmara onde é feito o vácuo para remover o ar da madeira. O preservativo é introduzido
sob pressão.

Autoclave
MADEIRA AUTOCLAVADA - • significa madeira obtida de florestas cultivadas e renováveis
impregnada em unidades industriais (autoclaves) com um agente preservante,
apresentando alta durabilidade, economia, segurança, versatilidade, fácil manutenção e
garantia de qualidade.

O tempo de garantia de proteção conferida pelos tratamentos da madeira é informado na


tabela 4.1.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.14


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

Tabela 3.1 - Tempo de garantia de proteção conferida pelos tratamentos da madeira


Procedimento utilizado Tempo de garantia Garantia
para aplicação
Pincelamento 2 a 5 anos de proteção Incluem filtro solar, ação
fungicida e propriedade
Imersão 5 a 10 anos proteção hidrorrepelente (retarda
entrada de água na madeira
Autoclave 20 anos proteção e controla a saída da água).

4.9.5 DETALHES DE PROJETO PARA PROTEÇÃO DA MADEIRA

Pode-se evitar o apodrecimento precoce da madeira com alguns detalhes de projeto,


tais como:

• Evitar pontos de condensação de água;

• Aplicar impermeabilizantes nos encaixes e nos apoios;

• Utilizar a madeira sempre 20 cm ou mais acima do solo;

• Os telhados devem ter beirais maiores que 1 metro;

• As calçadas laterais serão sempre inclinadas para evitar acúmulo de água


junto às paredes ou alicerces;

• Deixar espaço livre entre o assoalho e o solo para ventilação;

• Deixar espaço livre entre o forro e a cobertura, também para ventilação;

• Utilizar sempre madeira com garantia de secagem.

DURABILIDADE ESTRUTURAL

Depende de um projeto estrutural adequado.

A madeira, assim como outros materiais de construção, sofre deterioração quando exposta
a condições adversas. Adequadamente protegidas, a durabilidade das estruturas de
madeira pode ser comprovada. Veja-se, por exemplo, o edifício de cinco andares no
Templo Horyu-ji, mostrado na figura 4.14.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.15


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

Figura 4.14 – Pagode japonês – Templo de cinco pisos.


Fonte: http://web-japan.org/nipponia/nipponia33/es/topic/index.html

Alguns dos edifícios do templo Horyu-ji, apresentado na fig. 3.12 constituem as


estruturas de madeira mais antigas do mundo. Muitos terremotos e tufões colocaram à
prova sua estabilidade, porém se mantiveram igual como há 1300 anos.

Qual a razão da durabilidade?

1ª) Cada parte estrutural dos pagodes japoneses foi fabricada com madeira. Por ser
flexível, a madeira absorve as tensões sísmicas.

2ª) O tipo de estrutura complementa a flexibilidade da madeira:

- os pisos se encontram fortemente unidos em juntas sem nenhum prego.


- os templos de cinco pisos contam com cerca de mil juntas.
- em caso de tremor as superfícies dos pisos se acomodam o que impede que a
energia sísmica suba pela torre.

Veja o esquema da estabilidade dos templos de cinco pisos de madeira na figura


4.15.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.16


Estruturas usuais de madeira Características Físicas da Madeira

Figura 4.15 - Estabilidade dos templos de cinco pisos de madeira.

3ª) Quando a terra treme cada piso (lâmina) oscila lentamente e independente uns
dos outros.

4º) Cada lâmina permite uma certa quantidade de oscilações em direções opostas e
logo voltam ao equilíbrio.

Em detalhes, vejamos o deslocamento das juntas, na fig. 4.16.

Figura 4.16 – Deslocamento das juntas nos templos japoneses e 5 pisos.

Apesar das vantagens evidentes da madeira, da sua já provada durabilidade e sua ampla
utilização em países como Estados Unidos, Canadá e Japão, a madeira ainda é muito
pouco utilizada nas construções brasileiras.

Nota-se preconceito a respeito do uso da madeira como material estrutural e falta de


informação da população em geral, apesar de abundância de matéria-prima e um déficit no
setor da construção civil.

Edgar V. Mantilla Carrasco 4.17


CAPÍTULO 5
CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DA MADEIRA

5.1 INTRODUÇÃO

A madeira é um material não homogêneo com muitas variações. Além disso existem
diversas espécies com diferentes propriedades. Sendo assim é necessário o conhecimento
de todas estas características para um melhor aproveitamento do material. Propriedades
físicas e mecânicas são desta forma estudadas e servem de parâmetros para escolha e
dimensionamento de peças estruturais.

As propriedades físicas já foram objeto de análise no capítulo 3. No presente


capítulo serão analisadas as propriedades mecânicas da madeira.

As propriedades mecânicas são responsáveis pela resposta da madeira quando


solicitada por forças externas.

Para a determinação das propriedades da madeira são executados ensaios


padronizados em amostras “sem defeitos” (para evitar a incerteza dos resultados obtidos
em peças com defeitos).

Os procedimentos para a caracterização completa da madeira e definição de


parâmetros para uso em estruturas são apresentados no anexo B da Norma Brasileira
(NBR 7190/97). Os métodos de ensaio para determinação das propriedades da madeira
também são apresentados na norma brasileira.

Um breve comentário sobre as propriedades mecânicas será descrito a seguir.


Maiores detalhes no entanto poderão ser vistos nos capítulos posteriores.

Para facilitar a descrição das propriedades mecânicas, as mesmas serão divididas


em propriedades de resistência e elasticidade.

5.2 PROPRIEDADES ELÁSTICAS

Elasticidade é a capacidade do material, após retirada a ação externa que a


solicitava, retornar a sua forma inicial, sem apresentar deformação residual. A madeira
apesar de não ser um material elástico ideal, pois apresenta uma deformação residual após
a solicitação, pode ser considerada como tal para a maioria das aplicações estruturais.

As propriedades elásticas são descritas por três constantes: o módulo de


elasticidade longitudinal (E), o módulo de elasticidade transversal (G) e o coeficiente de
Poisson (ν). Como a madeira é um material ortotrópico, as propriedades de elasticidade
variam de acordo com a direção das fibras em relação à direção da aplicação da força.

5.2.1 MÓDULO DE ELASTICIDADE (E)

De acordo coma a norma brasileira trabalha-se com três valores de módulo de


elasticidade: o módulo de elasticidade longitudinal (E0), determinado através do ensaio de
compressão paralela às fibras da madeira; o módulo de elasticidade normal (E90), que pode
ser representado segundo a NBR 7190/97, como uma fração do módulo de elasticidade
Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

longitudinal pela seguinte expressão:

E0
E90 = (5.1)
20

ou ser determinado por ensaio de laboratório; e o módulo de elasticidade na flexão (EM),


que também pode ser determinado de acordo com o método de ensaio apresentado pela
norma brasileira e pode ser relacionado com o módulo de elasticidade longitudinal através
das expressões abaixo:

para as coníferas E M = 0,85 E 0 (5.2)

para as dicotiledôneas E M = 0,90 E 0 (5.3)

5.2.2 MÓDULO DE ELASTICIDADE TRANSVERSAL (G)

Segundo a NBR 7190/97, pode ser estimado a partir do módulo de elasticidade


longitudinal (E0), pela seguinte relação:

E0
G= (5.4)
20

5.2.3 COEFICIENTE DE POISSON (ν)

A madeira como um material elástico, ortotrópico possui três direções principais de


elasticidade: longitudinal, radial e tangencial, ortogonais entre si, e relacionadas pelo
coeficiente de Poisson (ν). A norma brasileira NBR 7190/97, não traz em seu texto
nenhuma especificação a respeito dos valores dos coeficientes de Poisson para a madeira.

5.3 PROPRIEDADES DE RESISTÊNCIA

Estas propriedades descrevem a resistência de um material quando solicitado por


uma força.

Da mesma forma que o exposto anteriormente, as propriedades de resistências da


madeira também diferem segundo os três principais eixos, embora com valores muito
próximos nas direções tangencial e radial. Por isso as propriedades de resistência são
analisadas segundo duas direções: paralela e normal às fibras.

5.3.1 COMPRESSÃO

Três são as solicitações a que se pode submeter a madeira na compressão: normal,


paralela ou inclinada em relação às fibras.

Quando a peça é solicitada por compressão paralela às fibras, as forças agem


paralelamente à direção do comprimento das células. Desta forma as células, em conjunto,
conferem uma grande resistência à madeira na compressão.

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.2


Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

Para o caso de solicitação normal às fibras, a madeira apresenta valores de


resistência menores que os de compressão paralela, pois a força é aplicada na direção
normal ao comprimento das células, direção esta onde as células apresentam baixa
resistência. Os valores de resistência a compressão normal às fibras são da ordem de 1/4
dos valores apresentados pela madeira na compressão paralela. A figura 5.1 mostra de
maneira simplificada o comportamento da madeira quando solicitada à compressão.

Compressão paralela: tendência de encurtar as


células da madeira ao longo de seu eixo
longitudinal.

Compressão normal: comprime as células da


madeira perpendicularmente ao seu eixo.

Compressão inclinada: age tanto paralela como


perpendicularmente às fibras. Adotam-se valores
intermediários entre a compressão paralela e a
normal, valores estes obtidos pela expressão de
Hankison:
f c 0 × f c 90
f cθ = (5.5)
f c 0 × sen 2θ + f c 90 × cos 2 θ

Figura 5.1 - Compressão na madeira


Fonte: Calil Jr., C. (2003)

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.3


Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

5.3.2 TRAÇÃO

Duas solicitações diferentes de tração podem ocorrer em peças de madeira: tração


paralela ou tração perpendicular às fibras da madeira. As propriedades da madeira
referentes a estas solicitações diferem consideravelmente.

A ruptura por tração paralela às fibras pode ocorrer de duas maneiras, por
deslizamento entre as células ou por ruptura das paredes das células. Em ambos os modos
de ruptura, a madeira apresenta baixos valores de deformação e elevados valores de
resistência.

Já na ruptura por tração normal às fibras a madeira apresenta baixos valores de


resistência. Análogo ao caso da compressão normal às fibras, na tração os esforços agem
na direção perpendicular ao comprimento das fibras tendendo a separá-las, alterando
significativamente a sua integridade estrutural e apresentando baixos valores de
deformação. Deve-se evitar sempre que possível, a consideração da resistência da madeira
quando solicitada à tração na direção normal à fibras para efeito de projetos.

A figura 5.2 ilustra o comportamento da madeira sujeita à tração.

Tração paralela: alongamento das células da


madeira ao longo do eixo longitudinal

Tração normal: tende a separar as células da


madeira perpendicular aos seus eixos, onde a
resistência é baixa, devendo ser evitada

Figura 5.2 — Tração na madeira


Fonte: Calil Jr., C. (2003)

Para efeito de comparação das resistências de compressão e tração é apresentado um


gráfico tensão × deformação da madeira Combaru na figura 5.3.

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.4


Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

Figura 5.3 – Curva tensão × deformação (Madeira Combaru)

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.5


Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

5.3.3 CISALHAMENTO

Existem três tipos de cisalhamento que podem ocorrer em peças de madeira. O


primeiro se dá quando a ação age no sentido perpendicular às fibras (cisalhamento
vertical). Este tipo de solicitação não é crítico na madeira, pois antes de romper por
cisalhamento a peça já apresentará problemas de resistência na compressão normal.

Os outros dois tipos de cisalhamento referem-se à força aplicada no sentido


longitudinal às fibras (cisalhamento horizontal) e com a força aplicada perpendicular às
linhas dos anéis de crescimento (cisalhamento “rolling”). O caso mais crítico é o do
cisalhamento horizontal que leva a ruptura pelo escorregamento entre as células de
madeira. Já o cisalhamento “rolling” produz uma tendência das células rolarem umas sobre
as outras. A figura 5.4 ilustra o comportamento da madeira sujeita ao cisalhamento.

Cisalhamento vertical: deforma as células da


madeira perpendicularmente ao seu eixo
longitudinal. Normalmente não é considerado, pois
outras falhas irão ocorrer antes.

Cisalhamento horizontal: produz a tendência das


células da madeira de separar e escorregar
longitudinalmente.

Cisalhamento perpendicular: produz a tendência


das células da madeira rolarem umas sobre as
outras, transversalmente ao eixo longitudinal.

Figura 5.4 - Cisalhamento na madeira


Fonte: Calil Jr., C. (2003)

5.3.4 FLEXÃO SIMPLES

Quando a madeira é solicitada à flexão simples ocorrem quatro tipos de esforços:


compressão paralela às fibras, tração paralela às fibras, cisalhamento horizontal e nas
regiões dos apoios compressão normal às fibras. A ruptura em peças de madeira
solicitadas pelo momento fletor ocorre pela formação de minúsculas falhas de compressão
seguidas pelo desenvolvimento de enrugamentos de compressão macroscópicas. Este
fenômeno gera aumento da região comprimida e diminuição a região tracionada, a qual
pode eventualmente romper por tensão de tração. Ver figura 5.5.

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.6


Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

Figura 5.5 - Flexão na madeira


Fonte: Calil Jr., C. (2003)

5.3.5 TORÇÃO

As propriedades da madeira solicitadas por torção são muito pouco conhecidas. A


norma brasileira recomenda evitar a torção de equilíbrio em peças de madeira em virtude
do risco de ruptura por tração normal às fibras decorrentes do estado múltiplo de tensões
atuante.

5.3.6 RESISTÊNCIA DA MADEIRA EM FUNÇÃO DA VELOCIDADE DE


CARREGAMENTO

Esta propriedade da madeira é bastante peculiar. Através de ensaios experimentais


conclui-se que a madeira aumenta a sua resistência a medida que diminui o tempo de
aplicação de carga, chegando até a duplicar. Para cargas de impacto, a resistência é alta.

Na figura 5.6 encontra-se um gráfico de resistência em função do tempo de duração


da carga.

Figura 5.6 – Gráfico Resistência x Duração de carga

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.7


Estruturas usuais de madeira Características Mecânicas da Madeira

5.3.7 DEFORMAÇÃO LENTA (Fluência)

Quando uma peça de madeira está solicitada a um carregamento de longa duração,


nota-se um aumento das deformações (flechas) com o tempo, esse fenômeno é conhecido
como deformação lenta.

A figura 5.7 representa um ensaio típico de deformação lenta.

Figura 5.7 - Resultado de um ensaio de deformação lenta

Pode-se observar na figura 5.7 que o deslocamento final (df) é aproximadamente


50% maior que o deslocamento inicial elástico (d1).

Por esse motivo a norma brasileira recomenda que para o carregamento


permanente, seja adotado para o cálculo de flechas um módulo de elasticidade efetivo,
sendo igual ao módulo de elasticidade multiplicado por coeficientes de modificação que
levarão em conta estes fenômenos e outros fenômenos que serão tratados em capítulos
posteriores.

Edgar V. Mantilla Carrasco 5.8


___________________________________________________________________

CAPÍTULO 06
CARACTERIZAÇÃO DA MADEIRA
___________________________________________________________________

6. 1 INTRODUÇÃO

Os procedimentos para caracterização das espécies de madeira e a definição


destes parâmetros são apresentados nos anexos da Norma Brasileira para projetos de
Estruturas de Madeira, NBR 7190/97.

Do ponto de vista estrutural, é necessário conhecer as propriedades da madeira


relativas às seguintes características.

• Características físicas da madeira: umidade, densidade, retratibilidade.

• Características mecânicas da madeira: Compressão paralela e normal às fibras;


Tração paralela às fibras; Cisalhamento; Módulo de elasticidade; Embutimento.

De maneira simplificada podemos afirmar que para uma correta avaliação das
propriedades físicas e mecânicas de uma peça de madeira, alguns critérios relativos à
forma como a caracterização será feita devem ser considerados. Deve-se escolher
portanto o tipo de avaliação a ser feita, que poderá ser:

• Condição padrão de referência (para valores no intervalo entre 10% e 20% de


umidade), onde serão admitidos os valores f12 e E12 correspondentes à classe de
umidade 1.

• Caracterização completa da resistência da madeira, onde serão avaliadas


propriedades físicas e mecânicas dos corpos de prova ensaiados.

• Caracterização mínima da resistência de espécies pouco conhecidas onde serão


avaliadas apenas algumas propriedades das espécies. (necessário um número
mínimo de 12 amostras).

• Caracterização simplificada para espécies usuais (necessário um número mínimo


de 06 amostras). Aqui é tomado como referência o valor de fco,k e a partir daí são
estabelecidas algumas relações com as demais propriedades.

• Avaliação por meio de classes de resistências onde tem-se que fcok,ef > fcok,especif.
• Estimativa das características tabeladas. Os valores obtidos experimentalmente
são comparados a tabelas caracterizando-se assim a espécie. Os lotes
investigados devem possuir um volume inferior a 12 m3. Deve-se cuidar ainda
que sejam obedecidas as seguintes relações entre as resistências característica
e média: fwk,12=0,70×fwm,12 e fwv,k=0,54×fwv,m. Todos os valores obtidos
experimentalmente devem ser corrigidos para o teor de umidade de 12%.

Uma descrição mais detalhada de cada uma dessas avaliações será feita a seguir
aplicando-se conceitos já existentes. Porém, antes, serão definidas as propriedades a
serem consideradas para a caracterização da madeira.
Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

6. 2 REFERÊNCIAS PARA ENSAIOS

Os procedimentos de caracterização descritos a seguir estão inteiramente baseados


no anexo B da NBR 7190/97.

6. 2.1 - AMOSTRAGEM

Para a investigação direta de lotes de madeira serrada considerados homogêneos,


cada lote não deve ter volume superior a 12 m3.

Do lote a ser investigado deve-se extrair uma amostra, com corpos de prova
distribuídos aleatoriamente ao longo do lote, devendo ser representativa da totalidade do
mesmo. Para isso não se devem retirar mais de um corpo de prova de uma mesma peça.
Os corpos de prova devem ser isentos de defeitos e retirados de regiões afastadas das
extremidades das peças de pelo menos 5 vezes a menor dimensão da seção transversal da
peça considerada, mas nunca menor que 30 cm, ver figura 3.2.

O número mínimo de corpos de prova deve atender aos objetivos da caracterização:

a) Caracterização simplificada: 6 corpos de prova;


b) Caracterização mínima da resistência de espécies pouco conhecidas: 12 corpos
de prova.

⎧ 5×b ⎫
⎪ ⎪
a ≥ ⎨ ou ⎬
⎪30 cm⎪
⎩ ⎭

Figura 3.2 - Esquema para extração de corpos de prova das peças.


Fonte: NBR 7190/97

6.2.2 VALORES CARACTERÍSTICOS

Os valores característicos das propriedades da madeira devem ser estimados pela


expressão:

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.2


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

⎛ x1 + x2 + ... + x n ⎞⎟
⎜ −1
xwk = ⎜2× 2 ⎟ × 1,1 (6.1)
⎜ n
−1 ⎟
⎜ ⎟
⎝ 2 ⎠

Os resultados devem ser colocados em ordem crescente xl ≤ x2 ≤ x3 ≤ ... ≤ xn,


desprezando-se o valor mais alto se o número de corpos de prova de prova for impar, não
se tomando para xwk valor inferior a x1, nem a 0,7 do valor médio (xm).

6.3 DENSIDADE

O termo prático “densidade básica” da madeira é definido como a massa especifica


convencional, obtida pela divisão da massa seca (determinada mantendo-se os corpos de
prova em estufa a 103 0C até que a massa do corpo permaneça constante) pelo volume
saturado (determinados em corpos de prova submersos em água até atingirem peso
constante).

MS
ρ= (6.2)
Vw

onde, Ms = massa do corpo de prova seco e


Vw = volume saturado

A densidade aparente padrão é calculada para umidade a 12% (ρ12%).

6.4 UMIDADE

Para projetos das estruturas de madeira devemos levar em conta as classes de


umidade, que têm por finalidade determinar as propriedades da resistência e de rigidez da
madeira em função das condições ambientais onde permanecerão as estruturas.

6.4.1 PARÂMETROS DE UMIDADES DE PROJETO

Segundo a NBR 7190/97, o projeto das estruturas de madeira deve ser feito
admitindo-se uma das classes de umidade especificadas na tabela abaixo:

Tabela 3.1 - Umidades de projeto


Classes de Umidade relativa ao Umidade de
umidade ambiente (Uamb) equilíbrio (Ueq)
1 ≤ 65% 12%
2 65%<Uamb≤75% 15%
3 75%<Uamb≤85% 18%
4 Uamb>85%(longos períodos) ≥ 25%

As classes de umidade têm por finalidade determinar as propriedades de


resistências e de rigidez da madeira em função das condições ambientais onde
permanecerão as estruturas. Estas também podem ser utilizadas para a escolha de
métodos de tratamentos preservativos das madeiras.

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.3


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

Para escolha de métodos de tratamentos preservativos da madeira também devem


ser consideradas as classes de umidade.

6.5 RESISTÊNCIA

A resistência é determinada pela máxima tensão que pode ser aplicada aos corpos
de prova isentos de defeitos considerando até o aparecimento de fenômenos particulares
do comportamento além dos quais há restrição do emprego do material em elementos
estruturais. Estes fenômenos são os de ruptura e os de deformações específicas
excessivas.

Os efeitos da duração do carregamento e da umidade do meio ambiente são


considerados por meio dos coeficientes de modificação (Kmod1 e Kmod2).

6.6 RIGIDEZ

A rigidez é determinada pelo valor médio dos módulos de elasticidade medidos na


fase de comportamento elástico-linear.

Na falta de verificação experimental permite-se adotar.

E w0
E w90 = (6.3)
20

sendo:
E w0 o módulo de elasticidade na direção paralela às fibras, medidos no ensaio de
compressão paralela às fibras;
E w90 o módulo de elasticidade na direção normal às fibras, medidos no ensaio de
compressão normal às fibras.

6.7 CONDIÇÕES DE REFERÊNCIA

6.7.1 CONDIÇÃO PADRÃO DE REFERÊNCIA

Os valores especificados são os correspondentes à classe de umidade 1, que é a


condição padrão de referência.

Portanto resultados obtidos em ensaios realizados com valores no intervalo entre


10% a 20% devem ser apresentados com os valores corrigidos pelas expressões
apresentadas a seguir:

⎡ 3 × ( U % − 12 ) ⎤
f12 = f u % × ⎢1 + ⎥⎦ (6.4)
⎣ 100
⎡ 2 × ( U % − 12 ) ⎤
E12 = Eu % × ⎢1 + ⎥⎦ (6.5)
⎣ 100

Admite-se que a resistência e a rigidez da madeira sofram pequenas variações para


umidade acima de 20% e podendo-se admitir desprezível sua influência em faixas de

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.4


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

temperatura usuais de utilização de 100C a 600C.

6.7.2 CONDIÇÕES ESPECIAIS DE EMPREGO

Só será considerada a influência da temperatura na resistência da madeira quando


as peças estruturais puderem ser submetidas por longos períodos de tempo à temperatura
fora da faixa usual de utilização, que varia entre 100C a 600C.

6.8 CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES DA MADEIRA

6.8.1 CARACTERIZAÇÃO COMPLETA DA RESISTÊNCIA DA MADEIRA


SERRADA

A caracterização completa da resistência da madeira é determinada pelos seguintes


valores:

a) resistência à compressão paralela às fibras (fc0) a ser determinada em


ensaios de compressão uniforme com duração total entre 3 e 8 minutos, de
corpo de prova com seção transversal quadrada de 5 cm de lado e com 15
cm de comprimento;

b) resistência à tração paralela à fibras (ft0) a ser determinada em ensaios de


tração uniforme com duração total de 3 a 8 minutos, de corpos de prova
alongados, com trecho central de seção transversal uniforme da área de
8 A com extremidades mais resistentes que o trecho central e com
concordância que garantam a ruptura no trecho central;

c) resistência à compressão normal às fibras (fc90) a ser determinada em


ensaios de compressão uniforme, com duração de 3 a 8 minutos, de corpos
de prova de seção transversal quadrada de 5 cm de lado e comprimento de
10 cm;

d) resistência à tração normal às fibras (ft90) a ser determinada por meios de


ensaios padronizados;
Obs.: para efeito de projeto é considerada nula a resistência à tração normal
às fibras.

e) resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fv0);

f) resistência de embutimento paralelo às fibras (fe0) e resistência de


embutimento normal às fibras (fe90) determinados por meio de ensaios
padronizados;

g) densidade básica e densidade aparente com os corpos de prova a 12% de


umidade.

6.8.2 CARACTERIZAÇÃO MÍNIMA DA RESISTÊNCIA DE ESPÉCIES POUCO


CONHECIDAS

Para projeto estrutural a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas deve

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.5


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

ser feita por meio da determinação dos seguintes valores:

a) resistência à compressão paralela às fibras (fc0);

b) resistência à tração paralela às fibras (ft0); na impossibilidade da realização


do ensaio permite-se admitir que esse valor seja igual ao da resistência à
tração na flexão:

c) resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fv0);

d) densidade básica e densidade aparente.

6.8.3 CARACTERIZAÇÃO SIMPLIFICADA DA RESISTÊNCIA DA MADEIRA


SERRADA

Para espécies usuais permite-se a caracterização simplificada da resistência a partir


dos ensaios de compressão paralela às fibras. Para as resistências à esforços normais
admite-se um coeficiente de variação de 18% e para resistências a esforços tangenciais um
coeficiente de variação de 28%.

Para espécies usuais na falta de determinação experimental, permite-se adotar as


seguintes relações para os valores característicos das resistências:

f c 0,k
= 0,77 (6.6)
f t 0,k
f tm ,k
= 1,00 (6.7)
f t 0,k

f c 90,k
= 0,25 (6.8)
f c 0,k

f e 0,k
= 1,00 (6.9)
f c 0,k

f e90,k
= 0,25 (6.10)
f c 0,k

f v 0,k
Para coníferas: = 0,15 (6.11)
f c 0,k

f v 0,k
Para dicotiledôneas: = 0,12 (6.12)
f c 0,k

6.9 CARACTERIZAÇÃO DA RIGIDEZ DA MADEIRA

É feita por meio da determinação dos seguintes valores referidos à umidade de


12%:

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.6


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

a) valor médio do módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras,


Ec0m com no mínimo dois ensaios;
b) valor médio do módulo de elasticidade na compressão normal às fibras,
Ec90m.
Obs.: admite-se Ec0m = Et0m.
Não podendo ser realizado o ensaio de compressão simples, pode-se avaliar o
módulo de elasticidade Ec0M por meio de ensaio de flexão. Por este ensaio determina-se o
módulo de elasticidade aparente na flexão EM, admitindo as relações:

Coníferas: EM = 0,85×Ec0 (6.13)

Dicotiledôneas: EM = 0,90×Ec0 (6.14)

6.10 CLASSES DE RESISTÊNCIAS

As classes de resistências das madeiras têm por objetivo o emprego de madeiras


com propriedades padronizadas, orientando na escolha de material para elaboração de
projetos estruturais. Estão definidas em tabelas para coníferas e dicotiledôneas.

O enquadramento de peças de madeira nas classes de resistência especificados


nas tabelas 6.1 e 6.2 deve ser feito conforme as seguintes exigências:

a) as madeiras devem ser classificadas como de 1ª categoria somente quando


forem classificadas como isentas de defeitos por meio de uma classificação
visual e também mecânica. Quando não houver simultaneamente a classificação
visual e mecânica, as madeiras serão consideradas como de 2ª categoria.

b) para enquadramento nas classes de resistência deve ser feita pelo menos a
caracterização simplificada e sob a condição fc0k,ef > fc0k,esp.

Tabela 6.1 — Classe de resistência das coníferas

Coníferas
(Valores na condição padrão de referência U =12%)

fc0k fvk Ec0,m ρbas,m ρaparente


Classes
(MPa) (MPa) (MPa) (Kg/m3) (Kg/m3)
C20 20 4 3500 400 500
C25 25 5 8500 450 550
C30 30 6 14500 500 600

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.7


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

Tabela 6.2 — Classe de resistência das dicotiledôneas

Dicotiledôneas
(Valores na condição padrão de referência U = 12%)

Classes fc0k fvk Ec0,m ρbas,m ρaparente


(MPa) (MPa) (MPa) (Kg/m3) (Kg/m3)
C20 20 4 9500 500 650
C30 30 5 14500 650 800
C40 40 6 19500 750 950
C60 60 8 19500 800 1000

6.11 INVESTIGAÇÃO DIRETA DA RESISTÊNCIA

Para investigação direta dos lotes homogêneos, os mesmos não devem ter volume
superior a 12m3.

Os valores experimentais devem ser corrigidos para o teor de umidade de 12%.

Deve-se fazer no mínimo 2 ensaios para se determinar a resistência média.

Para a caracterização simplificada deve-se extrair uma amostra composta por pelo
menos 6 exemplares retirados de modo aleatório distribuídos no lote.

Para a caracterização mínima especificada para espécies pouco conhecidas, deve-


se ensaiar no mínimo 12 corpos de prova para cada uma das resistências a determinar.

O valor característico deve ser calculado pela expressão:

⎛ f1 + f 2 + ... + f n ⎞
⎜ −1 ⎟
f wk ⎜
= 2 2
− f n ⎟ × 1 .1 (6.15)
⎜ n
−1 2 ⎟
⎜ ⎟
⎝ 2 ⎠

devendo os valores de f ficar em ordem crescente, desprezando-se o valor mais alto se o


número de corpos de prova for ímpar e não devendo tomar para fwk valor inferior a f1, nem a
0,70 do valor médio.

6.12 VALORES REPRESENTATIVOS

6.12.1 VALORES MÉDIOS

O valor médio Xm das propriedades da madeira é determinado pela média aritmética


dos valores correspondentes aos elementos que compõem o lote do material considerado.

6.12.2 VALORES CARACTERÍSTICOS

Admite-se que o valor característico Xk seja o valor característico inferior Xk,inf, onde

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.8


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

Xk,inf é o valor característico inferior, menor que o valor médio onde ocorre apenas 5% de
probabilidade de não ser atingido em um dado lote de material.

6.12.3 VALORES DE CÁLCULO

O valor de cálculo Xd de uma propriedade da madeira é determinado pela


Xk
expressão: X d = K mod × (6.16)
γw

onde: γw é o coeficiente de minoração das propriedades da madeira e Kmod é o coeficiente


de modificação que leva em conta influências não consideradas por γw.

6.13 COEFICIENTES DE MODIFICAÇÃO

Os coeficientes de modificação Kmod afetam os valores de cálculo das propriedades


da madeira em função da classe de carregamento da estrutura, classe de carregamento
admitida e do eventual emprego de madeira de segunda qualidade e é dado por

Kmod = Kmod1 × Kmod2 × Kmod3 (6.17)

O coeficiente parcial de modificação Kmod1 leva em conta a classe de


carregamento e o tipo de material, e é dada pela tabela 6.3.

Tabela 6.3 — Valores de Kmod1


Tipos de madeira
Classes de Madeira serrada
Carregamento Madeira laminada colada Madeira recomposta
Madeira compensada
Permanente 0,60 0,30
Longa duração 0,70 0,45
Média duração 0,80 0,65
Curta duração 0,90 0,90
Instantânea 1,10 1,10

O coeficiente parcial de modificação Kmod2 leva em conta a classe de umidade e o


tipo de material, e é dada pela tabela 6.4.

Tabela 6.4 — Valores de Kmod2


Madeira serrada
Classes de umidade Madeira laminada colada Madeira recomposta
Madeira compensada
(1) e (2) 1,0 1,0
(3) e (4) 0,8 0,9

No caso de madeira serrada submersa, admite-se o valor de Kmod2 = 0,65.

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.9


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

O coeficiente parcial de modificação Kmod3 leva em conta se a madeira é de 1ª ou


de 2ª categoria; a espécie e a forma da madeira (para laminada colada se é reta ou curva),
e é dado pela tabela 6.5.

Tabela 6.5 — Valores de Kmod3


Situação Kmod3
Madeira de 2ª categoria 0,8
Madeira de 1ª categoria 1,0
Coníferas Madeira Serrada (sempre) 0,8
Madeira laminada colada reta 1,0
Madeira laminada colada curva 1-2000 (t/r)2
(t=espessura das lâminas , r = menor raio de curvatura)
A escolha dessa categoria não deve ser apenas na forma visual.

6.14 COEFICIENTES DE PONDERAÇÃO DA RESISTÊNCIA PARA ESTADOS


LIMITES ÚLTIMOS

Os coeficientes de ponderação para estados limites últimos γw têm os seguintes


valores para tensões paralelas às fibras:

γwc = 1,4 (tensão de compressão);


γwt = 1,8 (tensão de tração);
γwv = 1,8 (tensão de cisalhamento).

6.15 COEFICIENTES DE PONDERAÇÃO PARA ESTADOS LIMITES DE


UTILIZAÇÃO

Tem valor básico γw = 1,0.

6.16 ESTIMATIVA DAS RESISTÊNCIAS CARACTERÍSTICAS

Para as espécies já investigadas por laboratórios idôneos, que tenham apresentado


os valores médios das resistências fwm e dos módulos de elasticidade Ec0m,
correspondentes a diferentes teores de umidade U% ≤ 20%, admite-se como valor de
referência a resistência média fwm,12 correspondente a 12% de umidade. Admite-se ainda
que essa resistência possa ser calculada pela expressão:

⎡ 3 × (U % − 12) ⎤
f12 = f u % × ⎢1 + ⎥⎦ (6.18)
⎣ 100

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.10


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

Neste caso, para o projeto, pode-se admitir a seguinte relação entre as resistências
características e média (tabelas 6.6 e 6.7)

f wk ,12 = 0 ,70 × f wm ,12 f wv ,k = 0,54 × f wv ,m (6.19)

6.17 ESTIMATIVA DA RIGIDEZ

Na verificação da segurança que dependem da rigidez da madeira, o módulo de


elasticidade paralelamente às fibras deve ser tomado com o valor efetivo:

Ec0,ef = Kmod1 × Kmod2 × Kmod3 × Ec0,m (6.20)

As tabelas 6.6 e 6.7 apresentam Valores médios de madeiras coníferas nativas e de


florestamento e Valores médios de madeiras dicotiledôneas nativas e de florestamento,
respectivamente.

Tabela 6.6 — Valores médios de madeiras coníferas nativas e de florestamento

ρap
(12 ft90
Nome comum fc0 ft0 fv Ec0
Nome científico %) (MP N
(coníferas) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
(kg/ a)
m3)
Pinho do paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15
Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28
Pinus
Pinus caribea var. Bahamensis 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32
bahamensis
Pinus
Pinus caribea var. Hondurensis 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99
hondurensis
Pinus elliottii Pinus elliotti var elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71
Pinus taeda Pinas taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15

Coeficiente de variação para resistências a solicitações normais δ = 18%.


Coeficiente de variação para resistências a solicitações tangenciais δ = 28%.

Nomenclatura:

ρap(12%) = massa específica aparente a 12% de umidade


fc0 = resistência à compressão paralela às fibras
ft0 = resistência à tração paralela às fibras
ft90 = resistência à tração normal às fibras
fv = resistência ao cisalhamento
Ec0 = módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às
fibras
n = número de corpos de prova ensaiados

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.11


Estruturas usuais de madeira Caracterização da madeira

Tabela 6.7 — Valores médios de madeiras dicotiledôneas nativas e de florestamento

ρap
Nome comum fc0 ft0 ft90 fv Ec0
Nome científico (12%) N
(dicotiledôneas) 3 (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
(kg/m )
Angelim araroba Votaireopsis araroba 688 50,5 69,2 3,1 7,1 12876 15
Angelim ferro Hymenolobium spp 1170 79,5 117,8 3,7 11,8 20827 20
Angelim pedra Hymenolobium petraeum 694 59,8 75,5 3,5 8,8 12912 39
Angelim pedra
Dinizia excelsa 1170 76,7 104,9 4,8 11,3 16694 12
verdadeiro
Branquilho Termilalia ssp 803 48,1 87,9 3,2 9,8 13481 10
Cafearana Andira ssp 677 59,1 79,7 3,0 5,9 14098 11
Canafistula Cassia ferruginea 871 52,0 84,9 6,2 11,1 14613 12
Casca grossa Vochysia ssp 801 56,0 120,2 4,1 8,2 16224 31
Castelo Gossypiospermum praecox 759 54,8 99,5 7,5 12,8 11105 12
Cedro amargo Cedrella odorata 504 39,0 58,1 3,0 6,1 9839 21
Cedro doce Cedrella ssp 500 31,5 71,4 3,0 5,6 8058 10
Champagne Dipterys odorata 1090 93,2 133,5 2,9 10,7 23002 12
Cupiúba Goupia glabra 838 54,4 62,1 3,3 10,4 13627 33
Catiúba Qualea paraensis 1221 83,8 86,2 3,3 11,1 19426 13
E. Alba Eucalyptus alba 705 47,3 69,4 4,6 9,5 13409 24
E. camaldulensis Eucalyptus camaldulensis 899 48,0 78,1 4,6 9,0 13286 18
E. citriodora Eucalyptus citriodora 999 62,0 123,6 3,9 10,7 18421 68
E. cloeziana Eucaliptus cloeziana 822 51,8 90,8 4,0 10,5 13963 21
E. dunnii Eucalyptus dunnii 690 48,9 139,2 6,9 9,8 18029 15
E. grandis Eucalyptus grandis 640 40,3 70,2 2,6 7,0 12813 103
E. maculata Eucalyptus maculata 931 63,5 115,6 4,1 10,6 18099 53
E. maidene Eucalyptus maidene 924 48,3 83,7 4,8 10,3 14431 10
E. microcorys Eucalyptus microcorys 929 54,9 118,6 4,5 10,3 16782 31
E. paniculata Eucalyptus paniculata 1087 72,7 147,4 4,7 12,4 19881 29
E. propinqua Eucalyptus propinqua 952 51,6 89,1 4,7 9,7 15561 63
E. punctata Eucalyptus punctata 948 78,5 125,6 6,0 12,9 19360 70
E. saligna Eucalyptus saligna 731 46,8 95,5 4,0 8,2 14933 67
E. tereticornis Eucalyptus tereticornis 899 57,7 115,9 4,6 9,7 17198 29
E. triantha Eucalyptus triantha 755 53,9 100,9 2,7 9,2 14617 08
E. umbra Eucalyptus umbra 889 42,7 90,4 3,0 9,4 14577 08
E. urophylla Eucalyptus urophylla 739 46,0 85,1 4,1 8,3 13166 86
Garapa roraima Apuleia leiocarpa 892 78,4 108,0 6,9 11,9 18359 12
Guaiçara Luetzelburgia ssp 825 71,4 115,6 4,2 12,5 14624 11
Guarucaia Peltophorum vogelianum 919 62,4 70,9 5,5 15,5 17212 13
Ipê Tabebuia serratifolia 1068 76,0 96,8 3,1 13,1 18011 22
Jatobá Hymenaea ssp 1074 93,3 157,5 3,2 15,7 23607 20
Louro preto Ocotea ssp 684 56,5 111,9 3,3 9,0 14185 24
Maçaranduba Manilkara ssp 1143 82,9 138,5 5,4 14,9 22733 12
Mandioqueira Qualea ssp 856 71,4 89,1 2,7 10,6 18971 16
Oiticica amarela Clarisia racemosa 756 69,9 82,5 3,9 10,6 14719 12
Quarubarana Erisma uncinatum 544 37,8 58,1 2,6 5,8 9067 11
Sucupira Diplotropis ssp 1106 95,2 123,4 3,4 11,8 21724 12
Tatajuba Bagassa guianensis 940 79,5 78,8 3,9 12,2 19583 10

Coeficiente de variação para resistências a solicitações normais δ = 18% .


Coeficiente de variação para resistências a solicitações tangenciais δ = 28%.

Edgar V. Mantilla Carrasco 6.12


___________________________________________________________________

CAPÍTULO 07
CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO
SEGUNDO A NBR 7190/97
___________________________________________________________________

7.1 - INTRODUÇÃO

A verificação da segurança de peças estruturais de madeira deve obedecer à


condição:
Sd ≤ Xd

onde Sd é a solicitação de cálculo decorrente da aplicação das ações estabelecidas para a


verificação e Xd a resistência de cálculo da madeira.

A resistência de cálculo Xd foi assunto no capítulo 06. Neste capítulo será


apresentada a maneira de se determinar esta solicitação de cálculo, porém, antes serão
apresentados alguns conceitos e definições necessárias para um bom entendimento.

7.2 - CONSIDERACÕES INICIAIS

A norma brasileira para projeto de estruturas de madeira especifica que um projeto é


composto por memorial justificativo, desenhos e também por plano de execução quando há
particularidades do projeto que interfiram na construção.

O memorial justificativo deve conter os seguintes elementos:

• Descrição do arranjo global tridimensional da estrutura;


• Esquemas adotados na análise dos elementos estruturais e identificação de
suas peças (sistemas estruturais);
• Análise estrutural;
• Propriedades dos materiais;
• Dimensionamento e detalhamento esquemático das peças estruturais;
• Dimensionamento e detalhamento esquemático das emendas, uniões e
ligações.

Os desenhos devem estar de acordo com o anexo A da NBR 7190/97.

Deve ser mantida coerência de nomenclatura entre o memorial justificativo, os


desenhos e as relações entre os cálculos e detalhamentos.

7.3 - HIPÓTESES BÁSICAS DE SEGURANÇA

As hipóteses básicas de segurança se relacionam com a verificação quanto aos


estados limites, a partir dos quais a estrutura apresenta desempenhos inadequados às
finalidades da construção.
Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.3.1 - ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS

Estados que por sua simples ocorrência determinam a paralisação, no todo ou em


parte do uso da construção; usualmente caracterizados por:

• Perda de equilíbrio, global ou parcial, admitida a estrutura como corpo


rígido;
• Ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais;
• Transformação da estrutura, no todo ou em pane, em sistema hipostático;
• Instabilidade por deformações;
• Instabilidade dinâmica (ressonância).

7.3.2 - ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO

Estados que por sua ocorrência, repetição ou duração, causam efeitos estruturais
que não respeitam as condições especificadas para o uso normal da construção, ou que
são indícios de comprometimento da durabilidade da construção, usualmente
caracterizados por:
• Deformações excessivas que afetem a utilização normal da construção
comprometam seu aspecto estético, prejudiquem o funcionamento de
equipamentos ou instalações, ou causem danos aos materiais de
acabamento ou às panes não estruturais da construção;
• Vibrações de amplitude excessiva que causem desconforto aos usuários
ou causem danos à construção ou ao seu conteúdo.

7.4 - AÇÕES

7.4.1 - DEFINIÇÕES

Ações são as causas que provocam o aparecimento de esforços ou deformações


nas estruturas. Quando há aplicação de forças, diz-se que estas forças são ações diretas e
quando há deformações impostas a uma estrutura, diz-se que estas deformações são
ações indiretas.

As ações podem ser dos seguintes tipos:

• ações permanentes: são aquelas que ocorrem com valores constantes ou


de pequena variação em torno de um valor médio, durante toda a vida da
construção (ex: peso próprio);
• ações variáveis: são aquelas cujos valores variam significativamente
durante toda a vida da construção (ex: vento, sobrecarga);
• ações excepcionais: são aquelas que têm duração extremamente curta e
muito baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da construção,
entretanto, devendo ser consideradas no projeto de determinadas
estruturas (ex: explosão).

Para a elaboração dos projetos as ações devem ser combinadas, com a aplicação
de coeficientes sobre cada uma delas, para levar em conta a probabilidade de ocorrência
simultânea. A aplicação das ações deve ser feita de modo a se conseguir as situações mais
críticas para a estrutura.

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.2


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

A fim de levar em conta o bom comportamento estrutural da madeira para ações de


curta duração (vento), na verificação da segurança em relação a estados limites últimos,
pode-se fazer uma redução de 25% sobre as solicitações.

No caso da verificação de peças metálicas, inclusive nos elementos de ligação, deve


ser considerada a totalidade dos esforços devidos à ação do vento.

7.4.2 - CLASSES DE CARREGAMENTO

Um carregamento é especificado pelo conjunto das ações que têm probabilidade


não desprezível de ação simultânea. A classe de carregamento é definida pela duração
acumulada prevista para a ação variável tomada como ação variável principal, na
combinação considerada. Segue a tabela com tais classes de carregamento.

Tabela 7.1 — Classes de carregamento


Ação variável principal da combinação
Classe de carregamento Ordem de grandeza da
Duração acumulada
duração
Permanente Permanente Vida útil da construção
Longa duração Longa duração Mais de 6 meses
Média duração Média duração 1 semana a 6 meses
Curta duração Curta duração Menos de 1 semana
Duração instantânea Duração instantânea Muito curta

7.5 - CARREGAMENTOS

7.5.1 - CARREGAMENTO NORMAL

Um carregamento é dito normal quando inclui apenas ações decorrentes do uso


previsto para a construção, é considerado de longa duração e deve ser verificado nos
estados limites último e de utilização.

Como exemplo podemos citar para coberturas a consideração do peso próprio e do


vento e para pontes o peso próprio junto com o trem-tipo.

7.5.2 - CARREGAMENTO ESPECIAL

Neste carregamento estão incluídas as ações variáveis de natureza ou intensidade


especiais, superando os efeitos considerados para um carregamento normal. Como por
exemplo, o transporte de um equipamento especial sobre uma ponte, que supere o
carregamento do trem-tipo acumulado.

A classe de carregamento é definida pela duração acumulada prevista para a ação


variável especial.

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.3


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.5.3 - CARREGAMENTO EXCEPCIONAL

Na existência de ações com efeitos catastróficos o carregamento é definido como


excepcional e corresponde à classe de carregamento de duração instantânea. Como
exemplo temos a ação de um terremoto ou a ação de uma explosão.

7.5.4 - CARREGAMENTO DE CONSTRUÇÃO

Outro caso particular de carregamento de caráter transitório é o de construção, onde


os procedimentos de construção podem levar a estados limites últimos, como por exemplo,
o içamento de uma treliça.

Determina-se a classe de carregamento pela duração acumulada da situação de


risco.

7.6 - SITUAÇÕES DE PROJETO

As seguintes situações de projeto devem ser consideradas: situações duradouras,


situações transitórias e situações excepcionais.

Para cada estrutura particular devem ser especificadas as situações de projeto a


considerar, não sendo necessário levar em conta as três possíveis situações de projeto em
todos os tipos de construção.

7.6.1 - SITUAÇÕES DURADOURAS

Situações duradouras são aquelas que podem ter duração igual ao período de
referência da estrutura. São consideradas no projeto de todas as estruturas.

Nas situações duradouras, para a verificação da segurança em relação aos estados


limites últimos consideram-se apenas as combinações últimas normais de carregamento
(item 7.7.1) e, para os estados limites de utilização, as combinações de longa duração ou
de média duração.

7.6.2 - SITUAÇÕES TRANSITÓRIAS

Situações transitórias são aquelas que têm duração muito menor que o período de
vida da construção. São consideradas apenas para as estruturas de construções que
podem estar sujeitas a algum carregamento especial, que deve ser explicitamente
especificado para o seu projeto.

Em casos especiais pode ser exigida a verificação da segurança em relação a


estados limites de utilização, considerando combinações de ações de curta duração
(combinações raras) ou combinações de duração média (combinações especiais).

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.4


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.6.3 - SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS

Situações excepcionais são aquelas que têm duração extremamente curta. São
consideradas somente na verificação da segurança em relação a estados limites últimos.

Devem ser consideradas somente quando a segurança em relação às ações


excepcionais contempladas não puder ser garantida de outra forma, tal como o emprego de
elementos físicos de proteção da construção, ou a modificação da concepção estrutural
adotada.

Devem ser explicitamente especificadas para o projeto das construções particulares


para as quais haja necessidade dessa consideração.

7.7 - VALORES REPRESENTATIVOS DAS AÇÕES

7.7.1 - VALORES CARACTERÍSTICOS DAS AÇÕES VARIÁVEIS

Os valores característicos Fk das ações variáveis são os especificados por várias


normas brasileiras referentes aos diferentes tipos de construção. Quando não existir
regulamentação específica, um valor característico nominal deverá ser fixado pelo
proprietário da obra ou por seu representante técnico. Admitir-se-á Fk como um valor
característico superior.

7.7.2 - VALORES CARACTERÍSTICOS DOS PESOS PRÓPRIOS

Os valores característicos Gk dos pesos próprios da estrutura são calculados com


as dimensões nominais da estrutura e com o valor médio do peso específico do material
considerado. A madeira é considerada com umidade U=12%.

7.7.3 - VALORES CARACTERÍSTICOS DE OUTRAS AÇÕES PERMANENTES

Para outras ações permanentes que não o peso próprio da estrutura, podem ser
definidos dois valores: o valor característico superior Gk,sup, maior que o valor médio Gm,
e o valor característico inferior Gk,inf, menor que o valor médio Gm.

Em geral, no projeto é considerado apenas o valor característico superior Gk,sup. O


valor característico inferior Gk,inf é considerado apenas nos casos em que a segurança
diminui com a redução da ação permanente aplicada, assim como quando a ação
permanente tem um efeito estabilizante.

7.7.4 - VALORES REDUZIDOS DE COMBINAÇAO (ψ0×FK)


Os valores reduzidos de combinação são determinados a partir dos valores
característicos através da expressão Ψo×FK e são empregados nas condições de
segurança relativas a estados limites últimos, quando existem ações variáveis de diferentes
naturezas.
Os valores Ψo×FK levam em conta que é muito baixa a probabilidade de ocorrência

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.5


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

simultânea de duas ações características de naturezas diferentes, ambas com seus valores
característicos. Assim, em cada combinação somente uma ação característica variável é
considerada como principal. A combinação que fornecer a maior solicitação de cálculo será
a utilizada no projeto em questão.

7.7.5 - VALORES REDUZIDOS DE SERVIÇO

Na verificação relativa aos estados limites de utilização as ações variáveis são


consideradas com valores correspondentes às condições de serviço, empregando-se os
valores freqüentes ou de média duração, calculados pela expressão Ψ1×FK e os valores
quase permanentes ou de longa duração calculados pela expressão Ψ2×FK.

7.7.6 - FATORES DE COMBINAÇÃO E FATORES DE UTILIZAÇÃO

São coeficientes multiplicativos das ações nas estruturas. Seus valores encontram-
se especificados na ABNT NBR 8681:2003 e estão apresentados na tabela 7.2.

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.6


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.7.7 - COMBINAÇÃO DE AÇÕES EM ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS

7.7.7.1 - COMBINAÇÕES ÚLTIMAS NORMAIS

m ⎡ n ⎤
Fd = ∑ γ Gi × FGi ,k + γ Q ⎢ FQ1,k + ∑ψ 0 j × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =2 ⎦
Sendo FGi,k o valor característico das ações permanentes e as ações variáveis, neste caso,
são divididas em dois grupos, a principal (FQ1,k) e as secundárias (FQ2,k) com os seus
valores reduzidos pelo coeficiente Ψ0j , que leva em consideração a baixa probabilidade de
ocorrência simultânea das ações variáveis.

Para as ações permanentes, devem ser feitas duas considerações, a favorável e a


desfavorável, por meio do coeficiente γGi. No caso de se ter o vento como ação variável
principal, para as peças de madeira, esta ação deve ser multiplicada por 0,75 referente a
cargas rápida, isto é, 0,75×FQ1,k. Para as peças metálicas inclusive nos elementos de
ligação não deve ser considerado este fator.

7.7.7.2 - COMBINAÇÕES ÚLTIMAS ESPECIAIS OU DE CONSTRUÇÃO

m ⎡ n ⎤
Fd = ∑ γ Gi × FGi ,k + γ Q ⎢ FQ1,k + ∑ψ 0 j ,ef × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =2 ⎦
Onde FGi,k representa o valor característico das ações permanentes, FQ1,k o valor
característico da ação variável considerada como ação principal para a situação transitória
e Ψ0j,ef é igual ao fator Ψ0j adotado nas combinações normais, salvo quando a ação principal
FQi tiver um tempo de atuação muito pequeno, caso em que Ψ0j,ef pode ser tomado com o
correspondente Ψ2j.

7.7.7.3 - COMBINAÇÕES ÚLTIMAS EXCEPCIONAIS

m ⎡ n ⎤
Fd = ∑ γ Gi × FGi ,k + FQ ,exc + γ Q ⎢∑ψ 0 j ,ef × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =1 ⎦

Onde FQ,exc é o valor da ação transitória excepcional e os demais termos representam


valores efetivos.

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.7


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.7.8 - COMBINAÇÕES DE AÇÕES EM ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO

7.7.8.1 - COMBINAÇÕES QUASEPERMANENTES DE SERVIÇO

m ⎡n ⎤
F d
uti
= ∑ FGi ,k + ⎢∑ψ 2 j × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =1 ⎦
As combinações de longa duração são consideradas no controle das deformações
das estruturas. Nestas combinações todas as ações variáveis atuam com seus valores
correspondentes à classe de longa duração.

7.7.8.2 - COMBINAÇÕES FREQUENTES DE SERVIÇO

m ⎡ n ⎤
F
d
uti
= ∑ FGi ,k + ψ 1 × FQ1,k + ⎢∑ψ 2 j × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =2 ⎦
As combinações de média duração são consideradas quando o controle das
deformações é particularmente importante, como no caso de existirem materiais frágeis não
estruturais ligados à estrutura.

Nestas condições a ação variável principal FQ1 atua com seu valor correspondente à
classe de média duração e as demais ações variáveis atuam com seus valores
correspondentes à classe de longa duração.

7.7.8.3 - COMBINAÇÕES DE CURTA DURAÇÃO (RARAS)

m ⎡n ⎤
F
d
uti
= ∑ FGi ,k + FQ1,k + ⎢∑ψ 1 j × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =2 ⎦
As combinações de curta duração, também ditas combinações raras, são
consideradas quando, para a construção, for particularmente importante impedir defeitos
decorrentes das deformações da estrutura.

Nestas combinações a ação variável principal FQ1 atua com seu valor característico
e as demais ações variáveis atuam com os seus valores correspondentes à classe de
média duração.

7.7.9 - COEFICIENTES PARA AS COMBINAÇÕES DE AÇÕES

7.7.9.1 - COMBINAÇÕES ÚLTIMAS

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.8


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

Para as combinações nos estados limites últimos são utilizados os seguintes


coeficientes:
γg = coeficiente para as ações permanentes;
γQ = coeficiente de majoração para as ações variáveis;
Ψ0 = coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias;
Ψ0,ef = coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias de longa
duração.

Os valores dos coeficientes apresentados pela norma são os seguintes:

7.9.1.1 - AÇÕES PERMANENTES (γ g)

Adotar valores das tabelas 7.3, 7.4 ou 7.5, conforme o caso. Para madeira, a NBR 7190
adota o valor 0,9 para o efeito favorável nas tabelas 7.3 e 7.4.

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.9


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.9.1.2 — AÇÕES VARIÁVEIS (γQ)

A Norma Brasileira especifica os seguintes valores para γQ em análise de


combinações últimas:

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.10


Estruturas usuais de madeira Critérios de dimensionamento segundo a NBR 7190/97

7.9.1.3 — AÇÕES VARIÁVEIS SECUNDÁRIAS (Ψ0)

Este coeficiente varia de acordo com a ação considerada, como pode ser visto na
tabela 7.2.

7.9.1.4 — AÇÕES VARIÁVEIS SECUNDÁRIAS DE LONGA DURAÇÃO (Ψ0,ef)

O coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias (Ψ0,ef) é igual ao


coeficiente de minoração para as ações variáveis (Ψ0) adotado as combinações normais,
salvo quando a ação variável principal FQ1 tiver um tempo de atuação muito pequeno, caso
este em que Ψ0,ef pode ser tomado com o correspondente valor de Ψ2 , utilizado nas
combinações de estados limites de utilização.

7.9.2 — COMBINAÇÃO DE SERVIÇO

Para as combinações nos estados limites de serviço são utilizados os seguintes


coeficientes:
Ψ1 = coeficiente para as ações variáveis de média duração
Ψ2 = coeficiente para as ações variáveis de longa duração

Os valores de Ψ1 e Ψ2 estão apresentados na tabela 7.2.

Edgar V. Mantilla Carrasco 7.11


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 08
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS A
TRAÇÃO PARALELA ÀS FIBRAS
___________________________________________________________________________

O dimensionamento de peças solicitadas a esforços de tração, corresponde ao caso


mais simples, visto que, não apresentam fenômenos de instabilidade geral ou local.

A madeira submetida à esforços de tração paralela às fibras geralmente aparece no


banzo inferior, nos pendurais e nas diagonais das estruturas treliçadas. Para a verificação
elástica destas barras, admite-se as tensões uniformemente distribuídas nas várias seções
transversais ao longo do comprimento da peça, desprezando-se as concentrações de
tensões devido às reduções de área, figuras 8.1 e 8.2.

Figura 8.1 - Seções enfraquecidas por elementos de ligação.


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas à tração

Figura 8.2 - Seções enfraquecidas - Ligação dos banzos.

OBS.: Segundo a NBR 7190/97 o comprimento das peças tracionadas não pode exceder 50
vezes a menor dimensão, ou seja, L ≤ 50 × b ou λ ≤ 173.

As tensões atuantes causadas por esforços de tração paralelos às fibras devem ser
calculadas para a seção útil da peça, isto é, devem ser considerados todos os
enfraquecimentos da seção, (furos para colocação de parafusos ou pregos, entalhes,
defeitos na madeira, furos de insetos, etc. ou qualquer outro enfraquecimento).

Assim, tem-se:
Fd
σ td = σ td ≤ f t 0,d
Au

Sendo:
Au = Abarra - Aenfraquecida

Fd = Valor de cálculo das combinações das ações


Au = Área útil da seção transversal

OBS.: Os furos na zona tracionada das seções transversais das peças podem ser
desprezados, desde que a redução da área resistente não supere 10% da área da
peça integra.

Nas tabelas 6.5 e 6.6 da NBR 7190/97 encontram-se agrupadas as resistências


médias à tração para diferentes espécies de madeira. Na ausência desses valores adota-
se:
ft0,d = fc0,d

Exemplos de Aplicação:

1) Qual o esforço admissível à tração paralela às fibras em uma peça de Ipê de seção (7,5 x
15) cm, sendo 3 cm a altura da peça utilizada para entalhes e colocação de parafusos?

Edgar V. Mantilla Carrasco 8.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas à tração

OBS.: Considerar: Carregamento de longa duração


Ação permanente de pequena variabilidade.
Classe de umidade (2)
Peças sem classificação mecânica

Solução:
Fd
σ at = ≤ f wtd e Au = Abarra − Aenfraquecida
Au

Abarra = 7,5 x 1 5 = 112,5 cm2


Afuros = (1,5 x 7,5) + (1,5 x 7,5) = 22,5 cm2
Au = 112,5 - 22,5 = 90 cm2
ft0,m = 96,8 MPa (U = 12%)
Ipê ⇒ ft0,k = 0,70 × ft0,m = 67,76 MPa
Kmod = 0,56 com: Kmod1 = 0,7 carregamento de longa duração
Kmod2 = 1,0 classe de umidade (1) e (2)
Kmod3 = 0,8
γwt = 1,8
γG = 1,3

f t 0,k 67,76
f t 0,d = K mod = 0,56 × = 21,08 MPa = 2108,1 N/cm 2
γ wt 1,8

Como está sendo pedido a máxima carga, adotaremos a tensão atuante como a
resistência de cálculo, assim:
σ at = f td
Fd
= f t 0,d
Au
Fd = 1,3 × Nd ≤ ft0,d × Au
f t 0,d × Au 2108,1 × 90
Nd = = = 145945 N
1,3 1,3

Edgar V. Mantilla Carrasco 8.3


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas à tração

2) Dada a estrutura abaixo dimensionar a barra 1, sendo Madeira E. grandis, área de


enfraquecimento ocasionada pelos furos igual a 10% da seção bruta.

Esforços:

Ng = 20000 N (ação permanente de pequena variabilidade)


Nw = 15000 N (ação do vento)
Nq = 5000 N (ação acidental vertical)

OBS.: Considerar: Situação de projeto duradoura


Classe de umidade (2)
Madeira não classificada mecânicamente

Solução:

O carregamento será considerado normal. Assim tem-se:

γg = 1,3 γq = 1,4 ψ0q = 0,4 ψ0w = 0,5

• Primeira combinação: (considerando o vento como ação variável principal):

[
Fd = ∑ γ gi × Gik + γ q × 0,75 × wk + ψ 0 q × Qk ]
Fd = 1,3 × 20000 + 1,4 × (0,75 × 15000 + 0,4 × 5000) = 44550 N

• Segunda combinação (considerando a carga acidental como ação variável principal):

Fd = ∑ γ gi × Gik + γ q × [Qk + ψ 0 w × wk ]

Fd = 1,3 × 20000 + 1,4 × (5000 + 1,4 × 0,5 × 15000) = 43500 N

Assim, consideraremos a ação de cálculo como sendo o valor dado pela primeira
combinação:
Fd = 44550 N.

Edgar V. Mantilla Carrasco 8.4


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas à tração

Dimensionamento: σ td ≤ f t 0,d

Segundo a NBR 7190/97 o comprimento das peças tracionadas não pode exceder 50 vezes
a menor dimensão, ou seja:
L ≤ 50 × b
260 cm ≤ 50 × b ∴b ≥ 5,2 cm
Adotaremos a seção comercial: b = 7,5 cm e h = 12 cm ⇒ Abarra = 7,5 × 12 = 90 cm .
2

Consideraremos que a área enfraquecida pelos furos seja de 10%, ou seja, 9 cm2.
Au = 90 - 9 = 81 cm2.
E. Grandis:
ft0,m = 70,2 MPa (U = 12%)
ft0,k = 0,70 × ft0,m = 0,70 × 70,2 = 49,14 MPa
f 49 ,14
f t 0 ,d = k mod × t 0 ,k = 0 ,56 × = 15,29 MPa = 1529 N / cm 2
γ wt 1,8

44550 N < 1529 × 81


44550 N < 123849 N ⇒ ok!

RESUMO

a) Verificação

Dada a seção transversal (Abarra), a área enfraquecida (Aenfraquecida) e o


esforço solicitante já combinado (Fd), verificar a seção:
Au = Abarra – Aenfraquecida
F
σ td ≤ f t 0,d = d
Au

b) Dimensionamento

Dado o esforço combinado (Fd) e a área total enfraquecida (Aenfraquecida),


determinar a seção bruta:

Fd
Au ≥
f t 0,d
Fd
Abarra ≥ + Aenfraquecida
f t 0d

escolher seção comercial, obedecendo a restrição de que o comprimento da


peça não deve exceder 50 vezes a menor dimensão.

Edgar V. Mantilla Carrasco 8.5


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 09
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS A
COMPRESSÃO NORMAL ÀS FIBRAS
___________________________________________________________________

A menor resistência à compressão da madeira ocorre quando solicitamos uma peça


por esforços perpendiculares às suas fibras.

Essa solicitação aparece com muita freqüência nos telhados e ligações por
intermédio de parafusos, cavilhas ou nos tarugos, dependendo da sua colocação, figura 9.1.
Também podemos encontrar em dormentes de ferrovias, apoios de tesouras, etc...

Figura 9.1 - a) Ligação do pendural com a linha, ligação com parafusos


b) Área comprimida (b x b0) - apoio

Quando a extensão da carga na direção das fibras for menor que 15 cm, e a carga
estiver afastada de, pelo menos, 7,5 cm da extremidade da peça, figura 9.2, a condição de
segurança deve ser verificada pela expressão:

σ c 90 ,d ≤ f c 90 ,d × α n (9.1)

onde:
σc90,d = Tensão de compressão de cálculo normal às fibras.
αn = Constante que depende da extensão da carga, dada na tabela 9.1.
Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão normal às fibras

B h

Peça de apoio
>7,5cm a >7,5cm

Figura 9.2 - Dimensões mínimas da NBR 7190/97.

Segundo a NBR 7190/97, o valor da resistência de cálculo da madeira à compressão


normal às fibras pode ser obtido a partir da resistência da madeira à compressão paralela
às fibras através das expressões abaixo:

f c 90 ,k = 0,25 f c 0 ,k
(9.2)
f c 90 ,d = 0,25 f c 0 ,d

Sendo:
fc90,k = Resistência característica da madeira à compressão normal
fc0,k = Resistência característica da madeira à compressão paralela
fc90,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão normal
fc0,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão paralela

Tabela 9.1 - Valores da Constante αn


Extensão da carga normal às fibras Coeficientes
medidas paralelamente a estas (cm) αn
1 2,00
2 1,70
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
10 1,10
≥ 15 1,00

*Quando a extensão da carga for maior que 15 cm, os afastamentos da carga às


extremidades da peça de apoio não precisam ser obedecidas.

Edgar V. Mantilla Carrasco 9.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão normal às fibras

Exemplo de Aplicação

1) Indicar a madeira conveniente para resistir à tensão estática devida a compressão


normal sob a placa de apoio de um trilho de bitola larga. O dormente tem seção (18 x 22)
cm; a placa de distribuição tem (17 x 37) cm e a roda mais pesada, suposta agindo sobre
meio dormente, aplica a carga de 160 kN.
OBS: Considerar: Situação de projeto duradoura
Umidade relativa 60%
Peças sem classificação mecänica
N = 160 kN N = 160 kN

Solução:

N
σ c 90 ,d = ≤ f c 90 ,d × α r
A
A = a × b = 37 × 17 = 629 cm 2
N d = 1,4 × N = 1,4 × 160 = 224 kN
α n = 1,00 (a extensão da carga é 37 cm > 15 cm, αn = 1, da tabela 9.1)
224000
σ c 90 ,d = = 356,12 N/cm 2
629
2
E, portanto, pode-se usar qualquer espécie de madeira na qual: fc90,d = 356,12 N/cm

mas 356,12 ≤ 0,25 × fc0,d × 1 ⇒ fc0,d ≥ 1424,48 N/cm


2

O valor característico é obtido pela relação:

f c 0 ,k
f c 0 ,d = K mod ×
γw

Onde:
K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56
Kmod1 = 0,7 (carregamento de longa duração)
Kmod2 = 1,0 (classe de umidade 1 ou 2)
Kmod3 = 0,8 (levando o risco de ter defeitos para madeira de 1ª ou 2ª categoria)

Edgar V. Mantilla Carrasco 9.3


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão normal às fibras

γ w = 1,4 (compressão paralela às fibras)


1424 ,48
f wc 0 ,k ≥ 1,4 × = 3561,2 N/cm 2
0 ,56

Os valores tabelados fwm são valores médios à 12% de umidade, assim segundo a
NBR 7190/97 tem-se:
f c 0 ,k
f c 0 ,m =
0,7
3561,2
f c 0 ,m = = 5087 ,42 N/cm 2 = 50 ,87 MPa
0 ,7

Observando-se as tabelas 6.6 e 6.7, pode-se escolher as seguintes espécies:

- Angelim ferro fc0,m = 79,5 N/cm2 > 50,87 N/cm2


- Angelim pedra fc0,m = 59,8 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Angelim pedra verdadeiro fc0,m = 76,6 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Cafearana fc0,m = 59,1 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Canafístula fc0,m = 52,0 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Casca grossa fc0,m = 56,0 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Castelo fc0,m = 54,8 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Champagne fc0,m = 93,2 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Capiúba fc0,m = 54,4 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Catiúba fc0,m = 83,8 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. citriodora fc0,m = 62,0 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. cloeziana fc0,m = 51,8 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. maculata fc0,m = 63,5 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E microcorys fc0,m = 54,9 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. paniculata fc0,m = 72,7 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. propinqua fc0,m = 51,6 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. puncata fc0,m = 78,5 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. tereticornis fc0,m = 57,7 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- E. triantha fc0,m = 53,9 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Garapa roraima fc0,m = 78,4 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Guaiçara fc0,m = 71,4 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Guarucaia fc0,m = 62,4 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Ipê fc0,m = 76,0 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Jatobá fc0,m = 93,3 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Louro preto fc0,m = 56,6 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Maçaranduba fc0,m = 82,9 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Mandioqueira fc0,m = 71,4 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Oiticica amarela fc0,m = 69,9 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Sucupira fc0,m = 95,2 N/cm2 > 50,87 N/cm2
- Tatajuba fc0,m = 79,5 N/cm2 > 50,87 N/cm2

Edgar V. Mantilla Carrasco 9.4


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão normal às fibras

2) Verificar se é possível a utilização de um travesseiro de apoio, de Angelim araroba, para


uma tesoura cuja reação vertical é de G = 8000N e W = 7000N. As dimensões do
travesseiro são dadas a seguir.
OBS: Considerar: Situação de projeto duradoura
Carga permanente de pequena variabilidade
Umidade relativa de 70%
Madeira não classificada mecanicamente

N = 15.000 N

a = 7.5 cm

22,5 cm

Solução:

Sendo a = 7,5 cm < 15 cm, tem-se:

Nd
σ c 90 ,d = ≤ f c 90 ,d × α n
A

• Propriedades da madeira:

Madeira Angelim araroba:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56


f c 0 ,m = 50,5 MPa = 5050 N/cm 2 (tabela 6.6)
f c 0 ,k = 0,70 × f c 0 ,m = 0,70 × 5050 = 3535 N/cm 2
0,56 × f c 0 ,k 0,56 × 3535
f c 0 ,d = = = 1414 N/cm 2
1,4 1,4
f c 90 ,d = 0,25 × f c 0 ,d = 0,25 × 1414 = 353,5 N/cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 9.5


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão normal às fibras

Considerando o carregamento corrente do vento como variável principal temos:

[
N d = ∑ γ Gi × Gik + γ Q × 0 ,75 × Wk + ψ 0Q Qk ]
γ Gi = 1,3 (tabela 7.3)
γ Q = 1,4 (tabela 7.6)
N d = 1,3 × 8000 + 1,4 × (0,75 × 7000 + 0 ) = 17750 N
A = 7,5 × 12 = 90 cm 2
N 17750
σ c 90,d = d = = 197 N/cm 2
A 90
α n = 1,15 (tabela 9.1 considerando a extensão da carga igual a 7,5 cm)
f 90,d × α n ≥ 197 N/cm 2
197 ≤ 0,25 × f 0,d × 1,15 ⇒ f c 0,d ≥ 685,22 N/cm 2

como f c 0,d = 1414 N/cm 2 > 685,22 N/cm 2 pode-se concluir que o travesseiro de apoio pode
ser de angelim araroba com (7,5 x 12 x 22,5) cm.

3) Em uma ferrovia, para trens cuja roda mais pesada tinha 85.000 N, não foram colocadas
as placas de apoio ficando o trilho direto sobre o dormente. Os dormentes eram de catiúba
com dimensões de (22 x 22) cm, os trilhos tinham uma aba de 7,5 cm. A falta de placas de
apoio trouxe prejuízo à ferrovia devido ao esmagamento dos dormentes?
OBS: Considerar: Situação de projeto duradoura
Umidade relativa de 70%
Madeira não classificada mecanicamente

N = 85.000 N

Trilho

22 cm

22 cm 7,5 cm

Vista Frontal Vista Lateral

Solução:
Nd
σ c 90 ,d = ≤ f c 90 ,d × α n
A
N d = 1,4 × 85000 = 119000 N
A = a × b = 7 ,5 × 22 = 165 cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 9.6


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão normal às fibras

N d 119000
σ c 90 ,d = = = 721,21 N/cm 2
A 165
α n = 1,15 (tabela 9.1 considerando a extensão da carga igual a 7,5 cm)
f 90 ,d × α n ≥ 721,21 N/cm 2
721,21 ≤ 0,25 × f 0 ,d × 1,15 ⇒ f c 0 ,d ≥ 2508,56 N/cm 2
como

O valor característico é obtido pela relação:


K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56
f c 0,k f c 0,d 2508,56
f c 0,d = k mod × ⇒ f c 0,k = γ w × = 1,4 × = 6271,41 N/cm 2
γw k mod 0,56

f c 0 ,m
como f c 0 ,m = = 6271,41 = 8959 ,16 N/cm 2
0 ,70 0,70
f c 0 ,m (catiúba) = 83,8 MPa = 8380 N/cm 2 < 8959,16 N/cm 2

Desta forma, verificamos que a falta de placas de apoio trouxe prejuízo a ferrovia.

RESUMO

a) Verificação

Dada a seção transversal (A), extensão da carga no sentido das fibras (b), o
afastamento da carga a extremidade da peça (d) e o esforço solicitante (N),
verificar a seção:
A = a×b
se b ≤ 15 cm e d ≥ 7 ,5 cm ⇒ α n ≥ 1
se b > 15 cm ⇒ α n = 1

b) Dimensionamento

Dado o esforço, determinar a seção bruta (a × b ) e seu afastamento da


extremidade da peça (d):
Nd
A≥
f c 90 ,d × α n

Edgar V. Mantilla Carrasco 9.7


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 10
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS À
COMPRESSÃO INCLINADA ÀS FIBRAS
___________________________________________________________________

1 – INTRODUÇÃO

Como já dito anteriormente, devido a anisotropia da madeira, há uma variação muito


grande nas características mecânicas com a variação da direção dos esforços aplicados.
Além de se estudar a compressão normal e a paralela às fibras também se faz necessário o
conhecimento de características da peça de madeira cuja direção das fibras apresenta-se
com inclinação diferente, em relação aos esforços, das duas direções acima propostas.

2 – A INCLINAÇÃO DAS FIBRAS

Um valor intermediário na resistência entre os dois casos estudados (paralelo e


normal ao esforço) pode ser admitido, dependendo da inclinação das fibras. Esse valor está
compreendido entre a resistência máxima fwc (resistência paralela às fibras) e a mínima fwn
(resistência normal às fibras).

Para o cálculo da resistência de cálculo da madeira inclinada às fibras, a maioria das


Normas Técnicas recomendam a fórmula de Hankison:

f c 0,d × f c 90,d
f cα ,d =
(f c 0,d ) (
× sen 2α + f c 90,d × cos 2 α )
Sendo:
f cα ,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão inclinada às fibras
f c 0,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão paralela às fibras
f c 90,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão normal às fibras
α = Angulo entre a direção das fibras e o esforço solicitado.

A equação de Hankison foi obtida através da realização de vários ensaios. Corpos


de prova para ensaio de compressão foram retirados de uma prancha de madeira de forma
que as fibras apresentassem a inclinação variável conforme pode ser visto na figura 10.1.
Nestes corpos de prova foram realizados os ensaios e a partir desses uma avaliação
estatística dos dados obtidos. A equação foi obtida portanto a partir dessa análise.

Uma simplificação é admitida para inclinações menores que 6º (arco tangente igual
a 0,10) que poderão ser consideradas como paralelas às fibras, portanto não sendo
necessária a utilização da fórmula de Hankinson.
Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas à
compressão inclinada às fibras

0° 15° 30° 45° 60° 75° 90°

Figura 10.1 - a) Retirada dos corpos de prova


b) Ensaios à compressão

Sabendo-se que a resistência da madeira à compressão normal às fibras é 4 vezes


menor que a resistência à compressão paralela às fibras uma simplificação pode ser feita
de forma que:
f c 90 ,d = 0,25 × f c 0 ,d

Substituindo na equação 10.1:

f c 0,d × (0,25 × f c 0, d ) 0,25 × f c 0,d


2

f cα , d =
(f c 0,d ) (
× sen 2α + 0,25 × f c 0,d × cos 2 α )= (
f c 0, d × sen 2α + 0,25 × cos 2 α )
Simplificando,
0,25
f cα , d = × f c 0, d = Δ × f c 0, d
(
sen α + 0,25 × cos 2 α
2
)
A tabela mostrada a seguir fornece valores referentes a constante Δ para diversos ângulos.

Tabela 10.1 – Valores de Δ para cálculo da equação de Hankinson


Ângulo
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
(º)
0 1,0000 0,9991 0,9964 0,9918 0,9856 0,9777 0,9683 0,9573 0,9451 0,9316
10 0,9170 0,9015 0,8852 0,8682 0,8506 0,8327 0,8144 0,7959 0,7773 0,7587
20 0,7402 0,7219 0,7037 0,6859 0,6683 0,6511 0,6343 0,6179 0,6020 0,5865
30 0,5714 0,5569 0,5428 0,5291 0,5160 0,5033 0,4910 0,4793 0,4679 0,4570
40 0,4465 0,4364 0,4268 0,4175 0,4086 0,4000 0,3918 0,3839 0,3764 0,3692
50 0,3623 0,3556 0,3493 0,3432 0,3374 0,3319 0,3266 0,3215 0,3167 0,3121
60 0,3077 0,3035 0,2995 0,2957 0,2921 0,2887 0,2854 0,2823 0,2794 0,2766
70 0,2740 0,2716 0,2693 0,2671 0,2651 0,2632 0,2615 0,2599 0,2584 0,2570
80 0,2558 0,2547 0,2537 0,2528 0,2521 0,2514 0,2509 0,2505 0,2502 0,2501
90 0,2500 0,2501 0,2502 0,2505 0,2509 0,2514 0,2521 0,2528 0,2537 0,2547

Edgar V. Mantilla Carrasco 10.2


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 11
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS A
COMPRESSÃO PARALELA ÀS FIBRAS
___________________________________________________________________

1 - INTRODUÇÃO

A grande maioria dos elementos estruturais de madeira solicitados à compressão


trabalha com as fibras paralelas ao esforço solicitante. Será mostrado a seguir o
dimensionamento segundo a norma brasileira NBR 7190/97.

2 - DIMENSIONAMENTO SEGUNDO A NBR-7190/97

2.1 - ESBELTEZ MÁXIMA

As peças utilizadas em estruturas de madeira são geralmente esbeltas, isto é, têm


dimensões transversais pequenas em relação ao comprimento.

A NBR 7190/97 estabelece, para uma seção retangular, que o comprimento da peça
não deve ser maior que 40 vezes a menor dimensão da peça (Lmáx ≤ 40⋅b). Assim, o índice
de esbeltez máximo será:

λmáx = 140 (11.1)

2.2 - COMPRIMENTO DE FLAMBAGEM

A Norma Brasileira admite para a determinação do comprimento de flambagem


somente duas situações de acordo com o tipo de apoio; o que não é regra para as outras
Normas.

2.2.1 - APOIOS FIXOS

Considere as duas extremidades da peça indeslocáveis, isto é, fixas. Podemos


distinguir os seguintes tipos:

Figura 11.1 - Tipos de Apoio.


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

No caso de uma tesoura, as terças fixam os pontos superiores, a figura 11.2 mostra
o comprimento de flambagem das barras assinaladas.

Figura 11.2 - Esquema de flambagem das barras.

- Em relação ao plano da treliça (eixo x-x): Lf = Lx


- Em relação ao plano normal à treliça (eixo y-y): Lf = Ly (11.2)

Caso algum nó superior não seja fixado por uma terça, figura 11.3, os comprimentos
de flambagem serão:

Figura 11.3 - Esquema de flambagem das barras.

- Em relação ao plano da treliça (eixo x-x): Lf = Lx


- Em relação ao plano normal à treliça (eixo y-y): Lf = Lx + Lx (11.3)

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Observações:

1. Conceituamos apoio articulado fixo, todo o nó da treliça indeslocável no plano


relacionado com o eixo de inércia de seção transversal da barra, objeto da verificação de
sua estabilidade elástica.

2. Embora algumas Normas estrangeiras admitam condições de engastamento, a NBR


7190/97 é taxativamente discordante, portanto, não poderemos admitir as condições da
figura 11.4.

Figura 11.4 - Condições de apoio não enquadradas nas estruturas de madeira


(NBR 7190/97).

2.2.2 - APOIO LIVRE NUMA EXTREMIDADE E ENGASTADO NA OUTRA

Lf = 2L

Figura 11.5 - Esquema de flambagem de um pilar.

A consideração da base engastada no solo e livre na extremidade é o caso típico de


postes, pilares de galpões ou montantes de pórticos no plano da viga principal.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.3


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

2.2.3 - COMPRIMENTO DE FLAMBAGEM REDUZIDO POR


CONTRAVENTAMENTOS

Este caso é comum em escoramentos. O recurso empregado para reduzir o


comprimento de flambagem deve ser criteriosamente analisado, conforme os esquemas da
figura 11.6.

Figura 11.6 - Redução do comprimento de flambagem por contraventamento.

2.3 - CLASSIFICAÇÃO DO TIPO DE PEÇA EM FUNÇÃO DO ÍNDICE DE


ESBELTEZ

A resistência da madeira à compressão paralela tem comportamento variável com o


índice de esbeltez, revelando três regiões distintas para o cálculo, conforme mostrado na
figura 11.7.

1. Peça Curta
2. Peça medianamente esbelta
3. Peça esbelta

Figura 11.7 - Resistência à flambagem x Índice de esbeltez

2.4 - PEÇA CURTA (λ ≤ 40)

Define-se como peça curta àquela situação onde não ocorre flambagem. Na peça
curta a condição de segurança é expressa por:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.4


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

σ cd ≤ f wcd (11.4)

Sendo:
σcd = Tensão atuante na peça
fwcd = Resistência de cálculo da madeira à compressão paralela às fibras

ExempIos de Aplicação:

1) Qual a solicitação máxima admissível em uma peça de Jatobá de seção (15 x 15) cm?
OBS: Considerar carregamento de longa duração, com apenas ação permanente de
pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

Solução:

Admitindo-se que a peça é curta (λ ≤ 40), tem-se:

Nd
σ cd = ≤ f wcd
A

• Propriedades da madeira:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0 ,7 × 1,0 × 0 ,8 = 0 ,56

fwc0,m = 93,3 MPa = 9330 N / cm2 (Tabela 6.6)

fwc0,K = 9300 × 0,7 = 6531 N / cm2

0 ,56 × 6531
f wc 0 ,d = = 2612 ,4 N / cm 2
1,4

• Propriedades geométricas:

A = 15 x 15 = 225 cm2

Resolvendo,

225 × 2612 ,4
N= = 452146 N
1,3

2) Qual o comprimento livre máximo, de uma peça bi-articulada de Jatobá, com seção de
(15 x 15) cm e a carga encontrada acima?

Solução:

Como no máximo comprimento está sendo aplicada a solicitação máxima


admissível, para a peça curta então, o índice de esbeltez deve ser λ ≤ 40. Desta forma, o
comprimento livre máximo será obtido com λ = 40.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.5


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

L fl
λ= ; L fl = L ⇒ (peça bi - articulada)
imín

h
Iy b3 ×
imín = = 12 = b = 15 = 4 ,33cm
A b×h 12 12
L
λ = 40 = ∴ L = 40 × 4 ,33 = 173,2cm ⇒ L ≅ 1,73m
4 ,33

3) Calcular a solicitação máxima admissível numa coluna de madeira roliça de Angelim


Pedra, com diâmetros de:
- na base Db = 24,5 cm
- no topo Dt = 22,5 cm
OBS: Considerar carregamento de longa duração, com apenas ação permanente de
pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

Solução:

Lembrando-se que as peças em forma de tronco de cone, para efeito de cálculo, são
comparadas à peças cilíndricas de diâmetro igual ao diâmetro a 1/3 do comprimento da
peça a partir da parte mais delgada, e que não se pode considerar que ultrapasse a 1,5 do
diâmetro dessa extremidade. Deve-se então, calcular este diâmetro para efetuar os
cálculos.

d = Dt + x

Db − Dt x D − Dt
= ∴x = b
L L 3
3

Db − Dt 24,5 − 22,5
d = Dt + = 22,5 + ≅ 23,17cm
3 3

1,5 × 22,5 = 33,75 > 23,17 cm ∴ d = 23,17 cm.

Admitindo-se a peça como curta (λ ≤ 40), tem-se:

Nd
σ cd = ≤ f wcd ∴ N d ≤ f wcd × A
A

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.6


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

• Propriedades da madeira:

fwc0,m = 59,8 MPa = 5980 N/cm2 (Tabela 6.6)

fwc0,K = 5980 × 0,7 = 4186 N/cm2

0 ,56 × 4186
f wc 0 ,d = = 1674 ,4 N / cm 2
1,4

• Propriedades geométricas:

πd 2 π × 23,17 2
A= = = 421,64cm 2
4 4

Resolvendo,

1674,4 × 421,64
N= = 543072N
1,3

1.5 - PEÇA MEDIANAMENTE ESBELTA (40 ≤ λ ≤ 80)

A verificação da estabilidade da peça será:

σ nd σ md
+ ≤1 (11.5)
f c 0,d f c 0,d

sendo:
σnd = Valor de cálculo da tensão de compressão devido à força normal de
compressão
σmd = Valor de cálculo da tensão de compressão devido ao momento fletor Md,
calculado pela expressão:

Md
σ md = y ; (11.6)
I

Md = Ncd × ed (11.7)

com:
⎡ FE ⎤
ed = e1 ⎢ ⎥ ; (11.8)
⎣ FE − N d ⎦

Carga crítica de Euler:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.7


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

π 2 × E c 0 ,ef × I
FE = (11.9)
L20
e1 = ei + ea (11.10)
onde,
⎧ L0
⎪ 300
M 1d h ⎪
ei = ≥ e ea ≥ ⎨ (11.11)
Nd 30 ⎪ h
⎪ 30

Exemplo de aplicação:

1) Qual a solicitação máxima admissível em uma coluna de Angelim araroba, de


dimensões (12 x 12) cm, com 200 cm de altura, bi-articulada?
OBS: Considerar carregamento de longa duração, com apenas ação permanente de
pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

Solução:

• Propriedades da madeira
K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

fc,0,m = 50,5 MPa = 5050 N/cm2 (Tabela 6.6)

fwc,0,k = 5050 × 0,7 = 3535 N/cm2

0,56 × 3535
f wc , 0,d = = 1414 N / cm 2
1,4

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.8


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Ec0,m = 1287600 N/cm2

Ec0,ef = 0,56 × 1287600 = 721056 N/cm2


• Propriedades geométricas

A = 12 × 12 = 144 cm2

12 × 12 3
Ix = Iy = = 1728cm 4 y = 6 cm
12
I b 12
i x = i y = imin = = = = 3,46cm
A 12 12

L fl = L = 200 cm (Peça com as duas extremidades apoiadas)

L fl 200
λx = λy = = = 57 ,8 (Peça medianamente esbelta)
imín 3,46

• Verificação da estabilidade
σ nd σ md
+ ≤1
f c 0,d f c 0,d

Md
σ md = ×y
I
⎡ FE ⎤
M d = N d × e1ef ⎢ ⎥
⎣ FE − N d ⎦

e1,ef = ei + ea

Carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0 ,ef × I π 2 × 721056 × 1728


FE = = = 307434 N
L20 200 2
Excentricidade inicial:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ N d → ei = 0,40 cm
⎪ h = 12 = 0,40
⎩⎪ 30 30

Excentricidade acidental:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.9


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

L0 200
ea = = = 0 ,67 cm
300 300

Substituindo os valores das excentricidades na equação 11.10:

e1 = ei + ea = 0,40 + 0,67 = 1,07 cm

Substituindo os valores na equação 11.5:

N cd N cd ⎧ ⎧ 307434 ⎫⎫
+ × 6 × ⎨1,07⎨ ⎬⎬ ≤ 1
144 × 1414 1414 × 1728 ⎩ ⎩ 307434 − N cd ⎭⎭

Resolvendo,
N cd
N cd = 564668 N ⇒ N ck = ⇒ N ck = 434360 N
1,3

2) Verificar se a peça do banzo superior de uma tesoura tipo Howe de jatobá, de


250 cm de comprimento e seção transversal de 7,5x12cm, resiste aos seguintes
esforços:

Ng = 30000 N (ação permanente de pequena variabilidade)


Nq = 4000 N (ação acidental vertical)
Nw = 17000 N (ação do vento)

OBS: Considerar carregamento de longa duração, classe de umidade (2) e peças


sem classificação mecânica.

Seção Transversal

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.10


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Solução:

• Combinações

• Primeira combinação: (considerando o vento como ação variável principal):

[
Fd = ∑ γ gi × Gik + γ q × 0,75 × wk + ψ 0 q × Qk ]
Fd = 1,3 × 30000 + 1,4 × (0,75 × 17000 + 0,4 × 4000) = 59090 N

• Segunda combinação (considerando a carga acidental como ação variável principal):

Fd = ∑ γ gi × Gik + γ q × [Qk + ψ 0 w × wk ]

Fd = 1,3 × 30000 + 1,4 × (4000 + 0,5 × 17000) = 56500 N

Assim, consideraremos a ação de cálculo como sendo o maior valor entre as combinações:

Fd = 59090 N.

• Propriedades da madeira
K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

fc,0,m = 93,3 MPa = 9330 N/cm2 (Tabela 6.6)

fwc,0,k = 9330 × 0,7 = 6531 N/cm2

0,56 × 6531
f c ,0,d = = 2612,40 N / cm 2
1,4

Ec0,m = 2360700 N/cm2

Ec0,ef = 0,56 × 2360700 = 1321992 N/cm2

• Propriedades geométricas

A = 7,5 × 12 = 90 cm2

7,5 × 12 3 12 × 7,5 3
Ix = = 1080cm 4 y = 6 cm Iy = = 422 cm 4 , x= 3,75 cm
12 12

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.11


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Ix 1080 Iy 422
ix = = = 3,46cm iy = = = 2,17cm
A 90 A 90
L flx = 25 0cm , L fly = 125cm
L flx 250
λx = = = 72,25 (Peça medianamente esbelta)
ix 3,46
L fly 125
λy = = = 57,6 (Peça medianamente esbelta)
iy 2,17
• Verificação da estabilidade (em torno de x-x)

σ nd σ md
+ ≤1
f c 0,d f c 0,d

Md
σ md = ×y
I
⎡ FE ⎤
M d = N d × e1ef ⎢ ⎥
⎣ FE − N d ⎦

e1,ef = ei + ea

Carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0,ef × I π 2 × 1321992 × 1080


FE = = = 225461N
L20 250 2
Excentricidade inicial:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ Nd → ei = 0,40 cm
⎪ h 12
= = 0,40
⎪⎩ 30 30

Excentricidade acidental:
L0 250
ea = = = 0,83cm
300 300

Substituindo os valores das excentricidades na equação abaixo, temos:

e1 = ei + ea = 0,40 + 0,83= 1,23 cm

Substituindo os valores na equação abaixo:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.12


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

σ nd σ md
+ ≤1
f c 0,d f c 0,d

temos:

59090 59090 ⎧ ⎧ 225461,46 ⎫⎫


+ × 6 × ⎨1,23⎨ ⎬⎬ ≤ 1
90 × 2612,40 2612,40 × 1080 ⎩ ⎩ 225461,46 − 59090 ⎭⎭

0,46 ≤ 1 Ok!

1.6 - PEÇA ESBELTA (80 ≤ λ ≤ 140)

A verificação da estabilidade da peça deverá obedecer a inequação:


σ nd σ md
+ ≤1
f c 0,d f c 0,d

das equações 11.6 a 11.8 temos:

Md ⎡ FE ⎤
σ md = y e M d = N d × e1ef ⎢ ⎥
I ⎣ FE − N d ⎦

Conhecendo-se a equação da carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0,ef × I
FE =
L20
com:

Ec0,ef = Kmod × Ec0,m

Para o cálculo da excentricidade teremos então:

e1,ef = e1 + ec ; (11.12)

mas:

e 1 = ei + ea

onde:
Excentricidade inicial:
⎧ M 1g ,d + M 1q ,d

ei ≥ ⎨ Nd
⎪ h
⎩ 30

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.13


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

⎧ L0 ⎫
⎪ 300⎪
ea ≥ ⎨ ⎬ (11.13)
⎪⎩ h 30 ⎪⎭
[
⎧⎪ ⎡ φ N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk
ec = (eig + ea )⎨exp ⎢
] ⎤ ⎪⎫
⎥ − 1⎬
[
⎪⎩ ⎢⎣ FE − N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ]
⎥⎦ ⎪⎭
(11.14)
M 1g ,d
eig = ; ψ 1 +ψ 2 ≤ 1 (11.15)
N gd

Sendo:

φ = coeficiente de fluência (Tabela 11.1)


fc0,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão paralela às fibras;
Ec0,ef = Módulo de elasticidade efetivo da madeira;
λ = Índice de esbeltez
σnd = Tensão de cálculo atuante na peça
FE = Carga crítica de Euler
M1d = Momento de cálculo atuante
e1,ef = Excentricidade efetiva de primeira ordem
ei = Excentricidade de primeira ordem decorrente do projeto
ea = Excentricidade acidental mínima
ec = Excentricidade suplementar de primeira ordem que representa a fluência da
madeira
ψ1 e ψ2 = Fatores de combinação (tabela 7.2)
Ngk = Valor característico da força normal devido à carga permanente
Nqk = Valor característico da força normal devido às cargas variáveis
M1gd = Valor de cálculo do momento fletor devido às ações permanentes
Ngd = Valor de cálculo da força normal devido às ações permanentes

Tabela 11.1 — Coeficiente de fluência φ


Classes de umidade
Classes de carregamento
(1) ou (2) (3) ou (4)
Permanente ou de longa duração 0,8 2,0
Média duração 0,3 1,0
Curta duração 0,1 0,5

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.14


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Exemplos de Aplicação:

1) Qual a solicitação máxima de compressão paralela às fibras em uma coluna de Angelim


araroba, sendo a base engastada e o topo livre, a seção transversal de (12 x 12) cm2 e
o comprimento igual a 2,4 metros?
OBS: Considerar carregamento de longa duração, com apenas ação permanente de
pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

Solução

• Propriedades da madeira:
K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

f c 0 ,m = 50,5 MPa = 5050 N/cm 2

f c 0 ,k = 0,7 × 5050 = 3535 N/cm 2

0 ,56 × 3535
f c 0 ,d = = 1414 N/cm 2
1,4
E c 0 ,m = 1287600 N/cm 2

E c 0 ,ef = 0 ,56 × 1287600 N/cm 2 = 721056 N/cm 2

• Propriedades geométricas:
12 4
Ix = Iy = = 1728 cm 2
12
A = 12 × 12 = 144 cm 2

I b 12
i x = i y = imim = = = = 3,46 cm
A 12 12

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.15


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

L0 = 2 × L = 2 × 240 = 480 cm (Peça com uma extremidade livre e outra fixa)

L0 480
λx = λy = = = 138,7 (Peça esbelta)
imim 3,46

• Verificação da estabilidade
σ Nd σ
+ Md ≤ 1
f c 0 ,d f c 0 ,d

Md
σ Md = ×y ; M d = N d × etotal
I
⎛ FE ⎞
etotal = e1,ef × ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ FE − N d ⎠
e1,ef = ei + ea + ec

Carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0 ,ef × I π 2 × 721056 × 1728


FE = 2
= = 53374 N
L0 480 2

Excentricidade inicial:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ N d → ei = 0,40 cm
⎪ h = 12 = 0,40
⎪⎩ 30 30

Excentricidade acidental:

⎧ L0 480
⎪ 300 = 300 = 1,60
ea ≥ ⎨ → ea = 1,60 cm
h 12
⎪ = = 0 ,40
⎩ 30 30

Excentricidade que representa a fluência na madeira:

[
⎧⎪ ⎡ φ N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎤ ⎫⎪
ec = (eig + ea )⎨exp ⎢
]
⎥ − 1⎬
[
⎪⎩ ⎣⎢ Fe − N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎦⎥ ⎪⎭ ]

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.16


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

M 1g ,d
eig = =0 (Não há momento aplicado)
Nd
N qk = 0 (Não há solicitação variável)

Logo

⎧ ⎡ φ( N d / 1,3) ⎤ ⎫
ec = ea ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ Pela tabela o coeficiente de fluência vale:
⎩ ⎣ FE − ( N d / 1,3) ⎦ ⎭
φ = 0,80

Substituindo os valores das excentricidades na equação 11.12:

⎧ ⎡ 0,80 × N d ⎤ ⎫
e1,ef = 0,40 + 1,60 + 1,60 × ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬
⎩ ⎣1,3 × 53374 − N d ⎦ ⎭

Substituindo os valores na equação 11.5:

Nd Nd ⎧⎪ ⎧ ⎡ 0,80 × N d ⎤ ⎫⎫⎪ ⎛ 53374 ⎞


+ × 6 × ⎨2,0 + 1,6⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬⎬ × ⎜⎜ ⎟⎟ ≤ 1
144 × 1414 1728 × 1414 ⎪⎩ ⎩ ⎣1,3 × 53374 − N d ⎦ ⎭⎪⎭ ⎝ 53374 − N d ⎠

Resolvendo,
Nd
N d = 235.181 N ⇒ N k = = 180.908 N
1,3

2) Calcular a solicitação máxima admissível de compressão paralela às fibras em um pilar


constituído por um poste de Eucalipto citriodora com 7 metros de comprimento, bi-
articulado e diâmetros de: Db, = 24,5 cm e Dt = 17,7 cm.
OBS: Considerar carregamento de longa duração, com apenas ação permanente de
pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

Considerar bi-articulado

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.17


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Solução

• Propriedades da madeira:
K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

f c 0 ,m = 62 ,0 MPa = 6200 N/cm 2

f c 0 ,k = 0,7 × 6200 = 4340 N/cm 2

0 ,56 × 4340
f c 0 ,d = = 1736 N/cm 2
1,4
Ec 0 ,m = 1842100 N/cm 2

Ec 0 ,ef = 0 ,56 × 1842100 N/cm 2 = 1031576 N/cm 2

A NBR-7190/97 permite o dimensionamento como uma seção de diâmetro constante


(D) e igual ao diâmetro tomado a uma distância de L/3 a partir da extremidade mais
delgada, desde que esse diâmetro não seja superior a 1,5 vezes o menor diâmetro.

Db − Dt 24,5 − 17 ,7
D = Dt + = 17 ,7 + = 19,97 cm
3 3
D ≤ 1,5 × Dt = 1,5 × 17 ,7 = 26 ,6 cm ⇒ D = 19,97 cm

• Propriedades geométricas:
π × D4
I= = 7806 ,96 cm 4
64
π × D 2 π × 19,97 2
A= = = 313,22 cm 2
4 4
I
i= = 4,99 cm
A
L0 = L = 700 cm (Peça bi-articulada)

A NBR 7190/97 permite fazer o dimensionamento de uma peça circular considerando


um quadrado de área equivalente.

Adotando um quadrado de lado igual a 17,69 cm, temos:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.18


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

17 ,694
I= = 8161 cm 4
12
A = 312,94 cm 2

I
imim = = 5,11 cm
A
L0 700
λ= = = 137 ,08 (Peça esbelta)
imim 5,10

• Verificação da estabilidade

σ Nd σ
+ Md ≤ 1
f c 0 ,d f c 0 ,d

Md
σ Md = ×y ; M d = N d × etotal
I
⎛ FE ⎞
etotal = e1,ef × ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ FE − N d ⎠
e1,ef = ei + e a + e c

Carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0,ef × I π 2 × 1031576 × 8161


FE = 2
= = 169570 N
L0 700 2

Excentricidade inicial:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ N d → ei = 0,59 cm
⎪ h = 17 ,69 = 0 ,59
⎪⎩ 30 30

Excentricidade acidental:

⎧ L0 700
⎪ 300 = 300 = 2 ,33
ea ≥ ⎨ → e a = 2,33 cm
h 17 ,69
⎪ = = 0 ,59
⎩ 30 30

Excentricidade que representa a fluência na madeira:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.19


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

[
⎧⎪ ⎡ φ N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎤ ⎫⎪
ec = (eig + ea )⎨exp ⎢
]
⎥ − 1⎬
[
⎪⎩ ⎣⎢ Fe − N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎦⎥ ⎪⎭ ]
M 1 g ,d
eig = =0 (Não há momento aplicado)
Nd
N qk = 0 (Não há solicitação variável)

Logo

⎧⎪ ⎡ φ(N d / 1,3) ⎤ ⎫⎪
ec = ea ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ Pela tabela o coeficiente de fluência vale
⎪⎩ ⎣ FE − ( N d / 1,3) ⎦ ⎪⎭

φ = 0,80

Substituindo os valores das excentricidades na equação 11.12:

⎧ ⎡ 0,80 × N d ⎤ ⎫
e1,ef = 0,59 + 2,33 + 2,33 × ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬
⎩ ⎣1,3 × 169570 − N d ⎦ ⎭

Substituindo os valores na equação 11.5:

Nd Nd ⎧⎪ ⎧ ⎡ 0,80 × N d ⎤ ⎫⎫⎪ ⎛ 169570 ⎞


+ × 8,85 × ⎨2,92 + 2,33⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬⎬ × ⎜⎜ ⎟⎟ ≤ 1
313 × 1736 8161 × 1736 ⎪⎩ ⎩ ⎣1,3 × 169570 − N d ⎦ ⎭⎪⎭ ⎝ 169570 − N d ⎠

Resolvendo,
Nd
N d = 643404 N ⇒ N k = = 494926 N
1,3

3) Verificar se a peça do banzo inferior de uma tesoura tipo Pratt de jatobá, de 375
cm de comprimento e seção transversal de 2x(7,5x12cm), resiste aos seguintes
esforços:

Ng = 50000 N (ação permanente de pequena variabilidade)


Nq = 6000 N (ação acidental vertical)
Nw = 20000 N (ação do vento)

OBS: Considerar carregamento de longa duração, classe de umidade (2) e peças


sem classificação mecânica.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.20


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Seção Transversal

Solução:

• Combinações

• Primeira combinação: (considerando o vento como ação variável principal):

[
Fd = ∑ γ gi × Gik + γ q × 0,75 × wk + ψ 0 q × Qk ]
Fd = 1,3 × 50000 + 1,4 × (0,75 × 20000 + 0,4 × 6000) = 89360 N

• Segunda combinação (considerando a carga acidental como ação variável principal):

Fd = ∑ γ gi × Gik + γ q × [Qk + ψ 0 w × wk ]

Fd = 1,3 × 50000 + 1,4 × (6000 + 0,5 × 20000) = 87400 N

Assim, consideraremos a ação de cálculo como sendo o maior valor entre as combinações:

Fd = 89360 N.

• Propriedades da madeira
K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.21


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

fc,0,m = 93,3 MPa = 9330 N/cm2 (Tabela 6.6)

fwc,0,k = 9330 × 0,7 = 6531 N/cm2

0,56 × 6531
f c ,0,d = = 2612,40 N / cm 2
1,4

Ec0,m = 2360700 N/cm2

Ec0,ef = 0,56 × 2360700 = 1321992 N/cm2

• Propriedades geométricas

A = 2 x 7,5 × 12 = 180 cm2

⎛ 7,5 × 12 3 ⎞
I x = 2⎜⎜ ⎟⎟ = 2160cm 4 y = 6 cm
⎝ 12 ⎠
⎛ 7,5 × 12 3
I y = 2⎜⎜ + 7,5 × 12 7,5 2( )⎞⎟⎟ = 10969cm 4
y = 7,8 cm
⎝ 12 ⎠
Ix 2160 Iy 10969
ix = = = 3,46cm iy = = = 7,8cm
A 180 A 180

L fl x = L fl y = 375 cm
L flx 375
λx = = = 108 (Peça esbelta)
imín 3,46
L fly 375
λy = = = 48,1 A peça é múltipla separada deverá ter uma redução da
imín 7,8
inércia.

• Verificação da estabilidade

σ Nd σ Md
+ Md ≤ 1 ; σ Md = ×y ; M d = N d × etotal
f c 0 ,d f c 0 ,d I

⎛ FE ⎞
etotal = e1,ef × ⎜⎜ ⎟⎟ e1,ef = ei + e a + e c
⎝ FE − N d ⎠

Carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0,ef × I π 2 × 1321992 × 2160


FE = 2
= = 200410,18 N
L0 375 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.22


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Excentricidade inicial:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ Nd → ei = 0,40 cm
⎪ h = 12 = 0,40
⎪⎩ 30 30

Excentricidade acidental:

⎧ L0 375
⎪ 300 = 300 = 1,25
ea ≥ ⎨ → ea = 1,25 cm
h 12
⎪ = = 0,40
⎩ 30 30

Excentricidade que representa a fluência na madeira:

[
⎧⎪ ⎡ φ N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk
ec = (eig + ea )⎨exp ⎢
] ⎤ ⎫⎪
⎥ − 1⎬
[
⎪⎩ ⎢⎣ Fe − N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ]
⎥⎦ ⎪⎭

M 1 g ,d
eig = =0 (Não há momento aplicado)
Nd
Logo

[ ]
⎧⎪ ⎡ φ N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎤ ⎫⎪
ec = ea ⎨exp ⎢ os coeficientes valem: φ = 0,80 ,
⎥ − 1⎬
[ ]
⎪⎩ ⎣⎢ Fe − N gk + ∑ (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎦⎥ ⎪⎭

Ψ1 = 0,20 (0,3) ; Ψ2 = 0,00 (0,2)

Substituindo os valores das excentricidades na equação abaixo:

e1,ef = ei + e a + e c

temos:
⎧ ⎡ 0,80 × [50000 + (0,2 + 0,0 )x6000 + (0,3 + 0,2 )x 20000] ⎤ ⎫
e1,ef = 0,40 + 1,25 + 1,25 × ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬
⎩ ⎣ 200410,18 − [50000 + (0,2 + 0,0 )x6000 + (0,3 + 0,2 )x 20000]⎦ ⎭

e1,ef = 2,03 cm
Substituindo os valores na equação:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.23


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

σ Nd σ
+ Md ≤ 1
f c 0 ,d f c 0 ,d

temos:

89360 89360 ⎛ 200410,18 ⎞


+ × 6 × 2,03 × ⎜ ⎟ ≤1
180 × 2612,40 2612,40 × 2160 ⎝ 200410,18 − 89360 ⎠

0,68 ≤ 1 Ok!

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.24


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

3 – BARRAS DE TRELIÇA FORMADAS POR PEÇAS SIMPLES

Na figura 11.9 encontra-se o esquema de flambagem das barras de uma tesoura


composta por peças simples.

Figura 11.9 - Estrutura formada por peças simples.

a) Barra de Empena ou Banzo Inferior

Iy b
imin = =
A 12

L0
λ=
imín

Obs. O comprimento de flambagem é


definido pelo ponto de
contraventamento.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.25


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

b) Barra de Escora ou Diagonal

1 - No plano da treliça

Lx
λx =
ix

d
ix =
12

2 - No plano normal à treliça

Ly
λy =
iy

b
iy =
12

A verificação da capacidade da peça deve ser feita com o maior índice de esbeltez,
pois a flambagem ocorrerá em torno do eixo onde existir maior índice de esbeltez.

⎧λ x ⎫
⎨ ⎬ ≤ λcal ⇒ calcular a resistência de cálculo à flambagem
⎩λ y ⎭

OBS. Para maiores informações ver a NBR 7190/97, item 7.6.2.

4 - BARRAS FORMADAS POR PECAS MÚLTIPLAS OU COMPOSTAS

As barras compostas por peças múltiplas são utilizadas objetivando-se o


aproveitamento de bitolas comerciais.

Por mais cuidadosa que seja a execução e a solidarização das peças, a rigidez do
conjunto nunca será igual à rigidez de uma peça maciça. Na falta de demonstração da
segurança da peça múltipla através de ensaios de laboratório, algumas normas técnicas
recomendam considerar um índice de esbeltez fictício maior que o índice de esbeltez real.
Já a NBR 7190/97 recomenda uma redução no cálculo do momento de inércia, admitindo-
se um momento de inércia efetivo menor que o teórico, e ainda, considera um comprimento
de flambagem efetivo maior para o caso de peças múltiplas.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.26


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Figura 11.10 a) Peça múltipla justaposta


b) Peça múltipla separada
c) Peça múltipla separada.

Sendo:
L = Comprimento da peça
L1 = Distância entre os elementos de fixação
b1 e h = Dimensões transversais
a = Distância entre as peças

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.27


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

4.1 - BARRAS MÚLTIPLAS SOLIDARIZADAS CONTINUAMENTE

As seções mais comuns destas barras são as mostradas na figura 11.11.

(a) (b)

Figura 11.11 - Seções de peças múltiplas justapostas.

As ligações das peças podem ser feitas com pregos, parafusos, conectores e/ou
adesivos.

4.1.1 - DIMENSIONAMENTO SEGUNDO A NBR 7190/97

Como as ligações entre as peças componentes da coluna são deformáveis, as


seções devem ser calculadas com um fator de ineficiência, que se pode expressar como
fator de redução do momento de inércia.

I ef = αrI th

O coeficiente de redução do momento de inércia para os diferentes elementos de


ligação, encontram-se na tabela 11.2.

Tabela 11.2 - Coeficiente de Redução do Momento de Inércia (NBR 7190/97)


Tipo de Seção e Elemento de ligação Coeficiente de Redução
αr
Seção T 0,95
Seção 1 ou caixão 0,85
Parafusos para 2 elementos 0,85
Parafusos para 3 elementos 0,70
Adesivo 1,00

Dispensa-se a verificação da estabilidade local dos trechos de comprimento L1 dos


elementos componentes, desde que respeitada as limitações:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.28


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

λ 1 ≤ 40
L1 ≤ L
3

4.1.1.1 - Processo de Dimensionamento

Quando a peça múltipla for constituída por elementos iguais, dispostos


paralelamente e com um eixo principal comum, considerar-se-á a estabilidade, para a
flambagem segundo o plano normal a esse eixo, cada elemento como peça isolada,
solicitada pela fração da carga normal que lhe corresponder.

Figura 11.12 - Posição dos eixos - barras múltiplas justapostas.


Figura A

A = 2×b× d
2×b× d3
Ix = ⇒ I x ,ef = I x
12
d × (2 × b )
3
Iy = ⇒ I y ,ef = α r × I y (tabela 11.2)
12

Figura B

A = A1 + A2 + A3

I x ⇒ I x ,ef = α r × I x (tabela 11.2)

I y ⇒ I y ,ef = I y

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.29


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Figura C

A = A 1 + A2

I x ⇒ I x ,ef = α r × I x (tabela 11.2)

I y ⇒ I y ,ef = I y

As condições para a evitar a verificação da estabilidade local são:

λ 1 ≤ 40
L1 ≤ L
3

A verificação da estabilidade pode ser feita como se elas fossem maciças com área
A e inércia Ix,ef e Iy,ef.

Exemplo de ApIicação:

Calcular a solicitação admissível em uma seção T composta de 2 vigas de (6 x 16) cm de


maçaranduba. A peça é bi-articulada e tem comprimento de 2,2 metros.
OBS: Considerar carregamento de longa duração, com apenas ação permanente de
pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

• Propriedades geométricas:

A = 2 × (6 × 16) = 192cm 2

y cg =
(6 × 16 × 19) + (6 × 16 × 8) = 13,5cm
96 + 96

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.30


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Ix =
16 × 6 3 6 × 16 3
12
+
12
[ 2
] [
+ 16 × 6 × (19 − 13,5) + 6 × 16 × (13,5 − 8) = 8144cm 4
2
]
16 × 6 3 6 × 16 3
Iy = + = 2336cm 4
12 12

a) Eixo x-x

I x ,ef = 0,95 × I x = 0,95 × 8144 = 7736,8 cm 4

I ef 7736,8
ix = = = 6,35 cm
A 192
440
λx = = 69,4 ⇒ peça medianamente esbelta
6,35

b) Eixo y-y

Iy 2336
iy = = = 3,49cm
A 192

220
λx = = 63,0 ⇒ peça medianamente esbelta
3,49

c) Condições

L 220
L1 ≤ ⇒ 40 < = 73,3 ⇒ OK!
3 3

L1 40
λ 1 ≤ 40 ⇒ λ 1 = = = 23,1 < 40 ⇒ OK!
i1 6
12

- Indica que não existirá flambagem localizada.

d) Determinação da solicitação admissível

• Propriedades da madeira:

Para a maçaranduba temos:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

f c 0 ,m = 82,9 MPa = 8290 N/cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.31


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

f c 0 ,k = 0,7 × f c 0 ,m = 0,7 × 8290 = 5803 N/cm 2

0 ,56 × 5803
f c 0 ,d = = 2321 N/cm 2
1,4
E wc 0 ,m = 2273300 N/cm 2

E c 0 ,ef = 0 ,56 × 2273300 N/cm 2 = 1273048 N/cm 2

• Verificação da estabilidade

σ Nd σ
+ Md ≤ 1
f c 0 ,d f c 0 ,d

Md ⎛ FE ⎞
σ Md = ×y ; M d = N cd × e1 × ⎜⎜ ⎟⎟
I ⎝ FE − N d ⎠
e1 = ei + ea

Carga crítica de Euler:

π 2 × E c 0,ef × I π 2 × 1273048 × 7736,8


FE = 2
= = 502082 N
L0 440 2

Excentricidade inicial:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ Nd → ei = 0,73 cm
⎪ h 22
= = 0,73
⎪⎩ 30 30
Excentricidade acidental:
L0 440
ea ≥ = = 1,47 cm
300 300

Substituindo os valores das excentricidades na equação 11.10:


e1 = 0,73 + 1,47 = 2,20 cm

Substituindo os valores na equação 11.5:

N cd N cd ⎧ ⎧ 606418 ⎫⎫
+ × 13,5 × ⎨2,20 × ⎨ ⎬⎬ ≤ 1
192 × 2321 2321 × 7736,8 ⎩ ⎩ 606418 − N cd ⎭⎭

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.32


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Resolvendo,
Nd
N d = 1289429 N ⇒ N k = = 991868 N
1,3

4.2 - BARRAS MÚLTIPLAS SOLIDARIZADAS DESCONTINUAMENTE

As peças compostas solidarizadas descontinuamente por espaçadores interpostos


ou por chapas laterais de fixação como mostrado na figura 11.13 devem ter sua segurança
verificada em relação ao estado limite último de estabilidade global.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.33


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Figura - Peças solidarizadas descontinuamente


Fonte: NBR 7190/97

Para as peças compostas por dois ou três elementos de


seção transversal retangular, permite-se a verificação da
estabilidade conforme a itens anteriores, como se elas fossem
de seção maciça, nas condições estabelecidas adiante.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.34


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Nessa verificação, para as seções mostradas na figura 11.14, são admitidas as


seguintes relações:

Figura 11.14 - Seções compostas por dois ou três elementos iguais

- Seção do elemento componente

A1 = b1 × h1
b1 × h13
I1 =
12
h1 × b13
I2 =
12

- Seção composta

A = n × A1
I x = n × I1
I y = n × I 2 + 2 × A1 × a12
I y ,ef = β1 × I y

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.35


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

I2 × m2
β1 =
I2 × m2 + α y × I y

Sendo:
m = Número de intervalos de comprimento L1 em que fica dividido o comprimento L
total da peça (m = L / L1)
αy =1,25 para espaçadores interpostos
αy =2,25 para chapas laterais de fixação

As condições de segurança são especificadas por:

Nd M d × I2 Md ⎡ I ⎤
+ + × ⎢1 − n × 2 ⎥ ≤ f c 0 ,d
A I y ,ef × W2 2 × a1 × A1 ⎢⎣ I y ,ef ⎥⎦

I2
Com: W2 =
b1
2

Dispensa-se a verificação da estabilidade local dos trechos de comprimento L1 dos


elementos componentes desde que sejam respeitadas as limitações:

⎧9 × b1 ≤ L1 ≤ 18 × b1 (Re comendado)
⎪ a ≤ 3 × b1 ⇒ peças interpostas
⎪⎪
⎨ a ≤ 6 × b1 ⇒ peças com chapas laterais
⎪ L L
⎪ L1 = ; λ 2 = 1 ≤ 40
⎪⎩ 3 i2

A segurança dos espaçadores e de suas ligações com os elementos componentes


deve ser verificada para um esforço de cisalhamento cujo valor convencional de cálculo é
dado por:

L1
Vd = A1 × f v 0 ,d ×
a1
Exemplo de Aplicação:

Calcular a solicitação admissível em uma peça constituída por duas vigas de


Maçaranduba de (6 x 12) cm e 300 cm de comprimento, ligadas por pregos a cada 60 cm,
distanciadas de 6 cm uma da outra.

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.36


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.37


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

• Propriedades geométricas:

- Seção do elemento componente

A1 = b1 × h1 = 6 × 12 = 72 cm 2
b1 × h13 6 × 12 3
I1 = = = 864 cm 4
12 12
h × b 3 12 × 6 3
I2 = 1 1 = = 216 cm 4
12 12

- Seção composta

A = n × A1 = 2 × 72 = 144 cm 2
I x = n × I 1 = 2 × 864 = 1728 cm 4
I y = n × I 2 + 2 × A1 × a12 = 2 × 216 + 2 × 72 × 6 2 = 5616 cm 4
I y ,ef = β1 × I y

I 2 × m2
Com: β1 =
I 2 × m2 + α y × I y

L 300
m= = =5
L1 60
α y = 2,25 ⇒ Chapas laterais de fixação
216 × 5 2
β1 = = 0,3
216 × 5 2 + 2,25 × 5616
I y ,ef = 0,3 × 5616 = 1681 cm 4

- Índices de esbeltez:

L0 300
λx = = = 86 ,6 ⇒ (peça esbelta)
ix 1728
144
L 300
λy = 0 = = 87,8 ⇒ (peça esbelta)
iy 1681
144

• Verificação da estabilidade local:

9 × b1 ≤ L1 ≤ 18 × b1
onde:
b1 = 6 cm e L1 = 60 cm

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.38


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

9 × 6 ≤ 60 ≤ 18 × 6 = 54 ≤ 60 ≤ 108 ⇒ OK! (dispensa verificação)

a ≤ 6 × b1 ⇒ peças com chapas laterais


onde:
a = 6 cm

6 ≤ 6 × 6 = 36 ⇒ OK!

60
λ2 = 12 ≅ 35 < 40
6

• Verificação da estabilidade global

Nd M d × I2 Md ⎡ I ⎤
+ + × ⎢1 − n × 2 ⎥ ≤ f c 0 ,d
A I y ,ef × W2 2 × a1 × A1 ⎢⎣ I y ,ef ⎥⎦

I2 216
Onde: W2 = = = 72cm 3
b1 6
2 2

- Propriedades da madeira:

Para a maçaranduba temos:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56

f c 0 ,m = 82,9 MPa = 8290 N/cm 2

f c 0 ,k = 0,7 × f c 0 ,m = 0,7 × 8290 = 5803 N/cm 2

0 ,56 × 5803
f c 0 ,d = = 2321 N/cm 2
1,4
E wc 0 ,m = 2273300 N/cm 2

E c 0 ,ef = 0 ,56 × 2273300 N/cm 2 = 1273048 N/cm 2

Logo,

N cd M d × 216 Md ⎡ 216 ⎤ N cd M d × 216 0,74 × M d


+ + × ⎢1 − 2 × = + + ≤ 2321 (1)
144 1681 × 72 2 × 6 × 72 ⎣ 1681⎥⎦ 144 1681 × 72 864

⎛ FE ⎞
M d = N cd × e1ef × ⎜⎜ ⎟⎟ (2)
⎝ FE − N cd ⎠

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.39


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

π 2 × E c 0 ,ef × I π 2 × 1273048 × 1681


FE = 2
= = 234677 N
L0 300 2

e1,ef = ei + ea + ec

Excentricidade inicial:
Como M1d = 0 temos:

⎧ M 1g ,d + M 1q ,d
⎪⎪ =0
ei ≥ ⎨ Nd → ei = 0,60 cm
⎪ h 1`8
= = 0,60
⎪⎩ 30 30

Excentricidade acidental:
L0 300
ea ≥ = = 1,00 cm
300 300

Excentricidade que representa a fluência na madeira:

[
⎧⎪ ⎡ φ N gk + (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎤ ⎫⎪
ec = (eig + ea )⎨exp ⎢
]
⎥ − 1⎬
[
⎪⎩ ⎣⎢ Fe − N gk + (ψ 1 + ψ 2 )N qk ⎦⎥ ⎪⎭ ]
M 1g ,d
eig = = 0 Como M1g,d = 0 ⇒ eig = 0 (Não há momento aplicado)
Nd

N qk = 0 (Não há solicitação variável)

Assim:

⎧ ⎡ φ( N cd / 1,3) ⎤ ⎫
ec = ea ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ Pela tabela o coeficiente de fluência vale:
⎩ ⎣ FE − ( N cd / 1,3) ⎦ ⎭
φ = 0,80

⎧ ⎡ 0,80 × ( N cd ) ⎤ ⎫
ec = 1,0 × ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬
⎩ ⎣ 1,3 × 234677 − ( N cd ) ⎦ ⎭

Substituindo os valores das excentricidades na equação 11.12:

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.40


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas a compressão paralela às fibras

⎧ ⎡ 0,80 × N cd ⎤ ⎫
e1,ef = 0,60 + 1,0 + 1,0 × ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬
⎩ ⎣1,3 × 234677 − N cd ⎦ ⎭

Substituindo os valores na equação (2):

⎛ FE ⎞
M d = N cd × e1ef × ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ FE − N d ⎠

⎧ ⎡ 0,80 × N cd ⎤ ⎫ ⎛ 234677 ⎞
M d = N cd × ⎨0,60 + exp ⎢ ⎥ ⎬ × ⎜⎜ ⎟⎟
⎩ ⎣1,3 × 234677 − N cd ⎦ ⎭ ⎝ 234677 − N cd ⎠

Finalmente temos:

N cd M d × 216 Md ⎡ 216 ⎤ N cd M d × 216 0,74 × M d


+ + × ⎢1 − 2 × = + + ≤ 2321
144 1681 × 72 2 × 6 × 72 ⎣ 1681⎥⎦ 144 1681 × 72 864

N cd ⎛ 216 0,74 ⎞
+ Md ×⎜ + ⎟ ≤ 2321
144 ⎝ 1681 × 72 864 ⎠

Substituindo o valor de Md:

N cd ⎛ 216 0,74 ⎞ ⎪⎧ ⎡ 0,80 × N cd ⎤ ⎫⎪ ⎛ 234677 ⎞


+⎜ + ⎟ × N cd × ⎨0,60 + exp ⎢ ⎥ ⎬ × ⎜⎜ ⎟⎟ ≤ 2321
144 ⎝ 1681 × 72 864 ⎠ ⎪⎩ ⎣1,3 × 234677 − N cd ⎦ ⎪⎭ ⎝ 234677 − N cd ⎠

N cd ⎛ N cd × 619,81 ⎞ ⎧ ⎡ 0,80 × N cd ⎤⎫
+⎜ ⎟⎟ × ⎨0,60 + exp ⎢ ⎥ ⎬ ≤ 2321
144 ⎜⎝ 234677 − N cd ⎠ ⎩ ⎣1,3 × 234677 − N cd ⎦⎭

Nd
N cd = 425606 N ⇒ N ck = = 327389 N
1,3

Edgar V. Mantilla Carrasco 11.41


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 12
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS AO
CISALHAMENTO
___________________________________________________________________

1 – INTRODUÇÃO

Conforme foi visto anteriormente, o cisalhamento nas madeiras só ocorre segundo


planos paralelos às fibras.

O cisalhamento pode ocorrer nas ligações e em vigas fletidas. Neste capítulo será
visto apenas o cisalhamento nas ligações. O cisalhamento em vigas fletidas será
apresentado no capitulo 13.

2 – O CISALHAMENTO NAS LIGAÇÕES DE PEÇAS DE MADEIRA

O nó de apoio de estruturas treliçadas deve ter uma folga “a” dimensionada para
resistir ao cisalhamento ocasionado pela componente horizontal da carga na peça da perna
da treliça, figura 12.1.

Nd

Figura 12.1 - Ligação da linha com a perna de uma tesoura.

τ d ≤ f v 0 ,d (12.1)
N d × cos θ
≤ f v 0 ,d (12.2)
b×a
N × cos θ
a≥ d (12.3)
b × f v 0 ,d

Sendo:
τd = Tensão de cisalhamento de cálculo atuante na área
fv0,d = Resistência de cálculo ao cisalhamento
Nd = Carga de compressão de cálculo na peça do banzo superior
θ = Ângulo entre as duas peças
b = Largura da peça
a = folga necessária para resistir ao cisalhamento
Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas ao cisalhamento

Quando o nó é executado com dois dentes, a folga “a” é contada a partir do segundo
dente, além de se manter “ a' = a 2 ” a partir do primeiro dente como mostra a figura 12.2.

Nd

Figura 12.2 - Ligação feita com dois dentes.

Exemplo de Aplicação:

1)- Cotar a ligação do nó de apoio de uma tesoura de Jatobá.

θ = 15°

Solução:

• Considerações:
¾ Carga permanente de grande variabilidade
¾ Madeira de 2ª categoria
¾ Classe 2 de umidade
¾ Carregamento de longa duração

• Propriedades da madeira:

Madeira de Jatobá:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0 ,7 × 1,0 × 0 ,8 = 0 ,56

f v 0 ,m = 15,7 MPa = 1570 N/cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 12.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de peças solicitadas ao cisalhamento

f v 0 ,k = 0,54 × f v 0 ,m = 0,54 × 1570 = 847 ,8 N/cm 2


0,56 × f v 0 ,k 0,56 × 847 ,8
f v 0 ,d = = = 263,8 N/cm 2
1,8 1,8

N = 65000 N

Da equação 12.1 temos: τ d ≤ f v 0 ,d

N d × cos θ (65000 × 1,4 ) × cos 15° 11719 ,9


τd = = =
a2 × b a 2 × 7 ,5 a2

11719,9
≤ 263,8 ⇒ a 2 ≥ 44,4 cm
a2

a2
a1 ≥ ⇒ a1 ≥ 22 ,2 cm
2

Edgar V. Mantilla Carrasco 12.3


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 13
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS À FLEXÃO
SIMPLES
___________________________________________________________________

1 – INTRODUÇÃO

Em geral nas vigas submetidas à flexão simples, além da ocorrência de momento


fletor, ocorrem também esforços cortantes e deformações verticais (flechas). Dessa forma,
quando calculamos vigas fletidas devemos verificar a tensão oriunda da ação do momento
fletor, a tensão de cisalhamento na flexão, oriunda da ação do esforço cortante, bem como
a flecha máxima que ocorrerá na viga (figura 13.1). Isto é, deverá ser feita a verificação dos
estados limites últimos e de utilização.

Figura 13.1 - Esforços e deformações em uma viga fletida.


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

Para o cálculo das peças fletidas considera-se o vão teórico com o menor dos seguintes
valores:

a) distância entre eixos dos apoios;

b) o vão livre acrescido da altura da seção transversal da peça no meio do vão, não
se considerando acréscimo maior que 10 cm

2 - TENSÕES NORMAIS

A verificação do estado limite último para as tensões normais pode ser feita pela
expressão abaixo:

σ c1,d ≤ f cd
(13.1)
σ t 2 ,d ≤ f td
Sendo:
fcd e ftd as resistências à compressão e à tração, respectivamente;
σc1,d e σt2,d as tensões atuantes de cálculo nas bordas mais comprimida e mais
tracionada da seção transversal considerada, calculadas pelas expressões:

Md
σ c1,d =
Wc
M
σ t 2,d = d (13.2)
Wt
onde:
Wc e Wt são os respectivos módulos de resistência à compressão e à tração,
determinados a partir das equações:

I I
Wc = Wt = (13.3)
y c1 yt 2

Sendo I o momento de inércia da seção transversal resistente em relação ao eixo


central de inércia perpendicular ao plano de ação do momento fletor atuante.

Quando a peça é composta devem ser consideradas as seguintes recomendações:

• Quando se tem peças de seção Τ, Ι e caixão

A NBR 7190/97 recomenda a redução do momento de inércia, dado por: (momento


de inércia efetivo)
I ef = α r × I th (13.4)

onde:
- Ith é o momento de inércia da seção total da peça como se ela fosse maciça
- αr = 0,95 ⇒ para seções Τ
- αr = 0,85 ⇒ para seções Ι ou caixão:

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

Na falta de verificação específica da segurança em relação à estabilidade da alma,


recomenda-se o emprego de enrijecedores perpendiculares ao eixo da viga, com
espaçamento máximo de duas vezes a altura total da viga.

• Peças compostas com alma em treliça ou de chapa de madeira compensada

As peças compostas com alma em treliça formada por tábuas diagonais, e as peças
compostas com alma formada por chapa de madeira compensada devem ser
dimensionadas à flexão simples ou composta, considerando exclusivamente as peças dos
banzos tracionado e comprimido, sem redução de suas dimensões.

A alma dessas vigas e as suas ligações com os respectivos banzos devem ser
dimensionadas a cisalhamento como se a viga fosse de seção maciça.

• Peças compostas por lâminas de madeira colada

As peças de madeira laminada colada devem ser formadas por lâminas com
espessuras não superiores a 50 mm de madeira de primeira categoria, coladas com
adesivo à prova d’água à base de fenol-formaldeído sob pressão, em processo industrial
adequado que solidarize permanentemente sistema.
As lâminas podem ser dispostas com seus planos médios paralelamente ou
perpendicularmente ao plano de atuação das cargas.
Em lâminas adjacentes, de espessura t, suas emendas devem estar afastadas entre
si de um a distância pelo menos igual a 25t ou a altura h da viga.
Todas as emendas contidas em um comprimento igual à altura da viga são
consideradas como pertencentes a mesma seção resistente.
As lâminas emendadas possuem a seção resistente reduzida,

Ared = α r × Aef
Onde αr tem os seguintes valores:
− αr = 0,9 ⇒ para emendas dentadas (finger joints)
- αr = 0,85 ⇒ para emendas em cunha com inclinação de 1:10
-αr = 0 ⇒ para emendas de topo

• Peças compostas de seção retangular ligadas por conectores metálicos

As vigas compostas de seção retangular, ligadas por conectores metálicos,


solicitadas à flexão simples ou composta, suposta uma execução cuidadosa e a existência
de parafusos suplementares que solidarizem permanentemente o sistema, podem ser
dimensionadas à flexão, em estado limite último, como se fossem peças maciças,
reduzindo-se o momento de inércia da seção composta, adotando:

I ef = α r × I th
sendo:
- αr = 0,85 ⇒ para dois elementos superpostos:
- αr = 0,70 ⇒ para três elementos superpostos:

onde:
Ιef é o valor efetivo e Ιth o seu valor teórico.

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.3


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

Os conectores metálicos devem ser dimensionados para resistirem ao cisalhamento


que existiria nos planos de contato das diferentes peças como se a peça fosse maciça.

3 - TENSÕES TANGENCIAIS

A máxima tensão de cisalhamento aparece na linha neutra e é dada por:

Vd × S
τd = ≤ f v 0 ,d (13.5)
b× I
Sendo:
τd = Tensão de cisalhamento atuante na linha neutra da seção considerada
Vd = Esforço cortante na seção considerada
S = Momento estático da seção em relação à linha neutra
b = Largura da seção na linha neutra
I = Momento de inércia da seção em relação à linha neutra
fv0,d = Resistência de cálculo da madeira ao cisalhamento.

Caso a seção transversal seja retangular de largura b e altura h, tem-se:

3 Vd
τd = × (13.6)
2 b×h

Na região dos apoios, que distam de x ≤ 2h, sendo “h” a altura da viga, o efeito do
cisalhamento é diminuído pelo efeito de compressão normal. A NBR 7190/97 considera este
fato permitindo a redução da tensão de cisalhamento atuante de a/2h, obtendo-se na região
dos apoios a tensão dada a seguir:

Vd × S x
τd = × ≤ f v 0 ,d (13.7)
b× I 2× h

σ n = Rd ≤ f c 90,d (13.8)

Sendo:
x = Distância da seção considerada ao apoio
h = Altura da viga
Rd = Reação de apoio de cálculo

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.4


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

Figura 13.2 - Considerações sobre efeito do apoio. Fonte: Moliterno, 1981.

No caso de variações bruscas de seção devido a entalhes, figura 13.3, deve-se


multiplicar a tensão de cisalhamento na seção mais fraca, de altura h1 (equação 13.6), pelo
fator h h1 :
3 V ⎛h⎞
τd = × d × ⎜⎜ ⎟⎟ (13.9)
2 b × h1 ⎝ h1 ⎠

respeitada a condição de que h1 > 0 ,75 × h .

Figura 13.3 - Variação da seção.

No caso de se ter h1 h ≤ 0 ,75 recomenda-se o emprego de parafusos verticais


dimensionados à tração axial para a totalidade da força cortante a ser transmitida ou o
emprego de variações de seção com mísulas de comprimento não menor que 3 vezes a
altura do entalhe, respeitando-se sempre o limite absoluto h1 h ≤ 0 ,5 . (figura 13.4)

Figura 13.4 – Variações de seção com mísula

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.5


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

No caso da seção circular tem-se:


4 Vd
τd = × ≤ f v 0 ,d (13.10)
3 A
Observação:

Nas peças comerciais, a tensão de cisalhamento atuante é pequena, assim, é


comumente dispensada a diminuição da tensão de cisalhamento na verificação ao
cisalhamento. Esta verificação é feita com o cisalhamento máximo no apoio.

4 - FLECHA

Deve ser verificada a segurança em relação ao estado limite de deformações


excessivas que possam afetar a utilização normal da construção ou seu aspecto estético,
considerando apenas as combinações de ações de longa duração, levando-se em conta a
rigidez efetiva definida por:

E c 0 ,ef = k mod 1 × k mod 2 × k mod 3 × E c 0 ,m (13.11)

As flechas totais (flechas efetivas) u ef , determinada pela soma das parcelas devidas
à carga permanente u g e a carga acidental u q com a combinação das ações dada por:
m ⎡ n ⎤
Fd ,Uti = ∑ FGi ,k + ⎢∑ ψ 2 j × FQj ,k ⎥ (13.12)
i =1 ⎣ j =1 ⎦

com ψ 2 j = coeficiente de combinação dado pela tabela 7.2.

Estas flechas não podem superar 1 200 dos vãos, nem 1 100 do comprimento dos
balanços correspondentes.

As flechas devidas às ações permanentes podem ser parcialmente compensadas


por contra-flechas dadas na construção, u 0 . Neste caso, na verificação da segurança, as
flechas devidas às ações permanentes podem ser reduzidas de u g .

Nas construções onde haja materiais frágeis ligados à estrutura, como forros, pisos
e divisórias, cuja fissuração não possa ser evitada por meio de disposições construtivas
adequadas, a verificação da segurança em relação aos estados limites de deformações
procura evitar danos a esses materiais não estruturais.

Nestes casos, as combinações de ações de média e de curta duração a considerar,


conforme o rigor da segurança pretendida, são respectivamente:

m ⎡ n ⎤
Fd ,Uti = ∑ FGi ,k + ψ 1 × FQ1,k + ⎢∑ ψ 2 j × FQj ,k ⎥ (13.13)
i =1 ⎣ j =2 ⎦
m ⎡ n ⎤
Fd ,Uti = ∑ FGi ,k + FQ1,k + ⎢∑ ψ 1 j × FQj ,k ⎥ (13.14)
i =1 ⎣ j =2 ⎦

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.6


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

As flechas totais, incluindo o efeito da fluência, devido às combinações de ações


consideradas, não devem superar 1 350 dos vãos, nem 1 175 do comprimento dos
balanços correspondentes. As flechas devido apenas às ações variáveis da combinação
considerada não devem superar 1 300 dos vãos ou 1 150 do comprimento dos balanços
nem o valor absoluto de 15 mm.

Em construções especiais, tais como formas para concreto estrutural, cimbramentos,


torres, etc., as flechas limites devem ser estabelecidas pelo proprietário da construção, ou
por normas especiais referentes às mesmas.

Exemplos de Aplicação

1) Uma passarela para pedestres de seis metros de comprimento foi construída em Jatobá
conforme o esquema abaixo. Fazer os cálculos de verificação para as vigas principais.
OBS: Considerar situação duradoura, ação permanente de pequena variabilidade, classe de
umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

7.5 cm

Solução

• Propriedades da madeira:

Madeira de Jatobá:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56


f c 0 ,m = 93,3 MPa = 9330 N/cm 2
f c 0 ,k = 0,70 × f c 0 ,m = 0,70 × 9330 = 6531 N/cm 2
0,56 × f c 0 ,k 0,56 × 6531
f c 0 ,d = = = 2612,4 N/cm 2
1,4 1,4

f t 0 ,m = 157 ,5 MPa = 15750 N/cm 2


f t 0 ,k = 0,70 × f t 0 ,m = 0 ,70 × 15750 = 11025 N/cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.7


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

0,56 × f t 0 ,k 0,56 × 11025


f t 0 ,d = = = 3430 N/cm 2
1,8 1,80

f v 0 ,m = 15,7 MPa = 1570 N/cm 2


f v 0 ,k = 0,54 × f v 0 ,m = 0,54 × 1570 = 847 ,8 N/cm 2
0,56 × f v 0 ,k 0,56 × 847 ,8
f v 0 ,d = = = 263,8 N/cm 2
1,8 1,8

a) Cálculo do carregamento sobre a viga principal

• Peso próprio de meia passarela (carga permanente)

O peso próprio pode ser calculado a partir dos volumes e densidades dos elementos
(Jatobá: D = 0,0107 N/cm3)

P = D ×V

Viga Principal P = 0,0107 × (12 × 30 × 600) = 2311,20 N


Pranchas (20 peças) P = 20 × 0,0107 × (30 × 7,5× 50) = 2407,50 N
Sarrafos (3 peças) P = 3 × 0,0107 × (3 × 12 × 600) = 693,36 N
Caibros (7 peças) P = 7 × 0,0107 × (8 × 8 × 150) = 719,04 N
TOTAL PARCIAL = 6131,10 N

Ligações eventuais: Como nas estruturas pregadas ou parafusadas, o peso próprio


das peças metálicas de união pode ser estimado em 3% do peso próprio da madeira, tem-
se que o peso próprio total de meia passarela será de aproximadamente:

P = 6315,033 N

Distribuindo-se no comprimento da viga obtém-se a carga permanente (Fq)


uniformemente distribuída na viga.

6315,033
Fg = = 1053N / m
6

• Multidão sobre meia passarela (carga acidental)

Segundo a NBR 6120 (Cargas para o Cálculo de Estruturas de Edifícios), em


compartimentos destinados ao acesso público deve-se considerar um carregamento vertical
uniformemente distribuído de 3000 N/m2.

Carga devido a multidão = 3000 × (0,5 × 6) = 9000 N

Distribuindo-se no comprimento da viga obtém-se a carga acidental (Fq) uniformemente


distribuída na viga.
9000
Fq = = 1500 N / m
6

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.8


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

• Combinação das ações: normal e duradoura

Fd = γ g × Fg + γ q × Fq ∴ Fd = 1,3 × 1053 + 1,4 × 1500 = 3469 N / m

b) Características geométricas da seção

y = 15 cm

b × h 2 12 × 30 2
S= = = 1350 cm 3
8 8

b × h 3 12 × 30 3
I= = = 27000 cm 4
12 12

c) Esforços solicitantes

• Diagrama de momento fletor e esforço cortante para a combinação normal

Fd × L2 3469 × 6 2
M máx = = = 15610 N × m = 1561005 N × cm
8 8

Fd × L 3469 × 6
Vd = = = 10407 N
2 2

⎛L ⎞
Vd ,a = Fd × ⎜ − a ⎟ = 34,69 × (300 − a )
⎝2 ⎠

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.9


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

• Flecha máxima

Nas construções correntes as verificações da segurança em relação aos estados


limites de utilização são feitas admitindo-se apenas os carregamentos usuais,
correspondentes ás combinações de longa duração, expressas por:
m ⎡ n ⎤
Fd ,Uti = ∑ FGi ,k + ⎢∑ ψ 2 j × FQj ,k ⎥
i =1 ⎣ j =1 ⎦
onde: ψ 2j = 0,2 (tabela7.2)

Fd ,Uti = Fg + 0,2 × Fq = 1053 + 0,2 × 1500 = 1353 N/m = 13,53 N/cm

Assim:
5 × (Fd .uti ) × L4 5 × 13,53 × 600 4
uef = = = 0,64 cm
384 × Ec 0, ef × I 384 × 1321992 × 27000
L
uef ≤ = 0,64 < 3 ⇒ ok!
200

d) Verificação

• Tensão de Flexão (como a seção é retangular


σ c1,d = σ t 2 ,d )

1561005
σ cd = × 15 = 867 N / cm 2
27000

σ c1,d = 867 < f c 0,d = 2612 ⇒ ok!

σ t 2,d = 867 < f t 0,d = 3430 ⇒ ok!

• Tensão de Cisalhamento

O ponto onde se tem máximo esforço cortante teórico é no apoio, tem-se assim:

Vd × S
τd = ≤ f v 0 ,d = 264 N/cm 2
b× I

10407 × 1350
τd = = 43 N/cm 2 < 264 N/cm 2 ⇒ ok!
12 × 27000

Observação:

Caso a verificação ao cisalhamento não seja satisfeita, poderá ser reduzida a


solicitação atuante conforme permitido pela NBR 7190/97. Como se tem carga
uniformemente distribuída, a máxima tensão de cisalhamento ocorrerá em a = L 4 se
L 4 ≤ 2 × h , caso contrário, em a = 2 × h .

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.10


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

L 600
a= = = 150 cm > 2 × h = 2 × 30 = 60 cm
4 4

Portanto, a máxima tensão de cisalhamento não ocorrerá nas proximidades do


apoio, devendo ser verificada em a = 2 × h = 60 cm .

Vd = 34689 × (300 − 60 ) = 8325,36 N


V ×S
τd = d ≤ f v 0 ,d = 264 N/cm 2
b× I
8325,36 × 1350 60
τd = × = 34689 N/cm 2 < 264 N/cm 2 ⇒ ok!
12 × 27000 60

2) Calcular qual a máxima carga permanente uniformemente distribuída que poderá ser
aplicada a uma viga caixão de Angelim Pedra com 4 metros de comprimento e seção
conforme o esquema abaixo. A viga é simplesmente apoiada. Considerar carga acidental
igual a zero e considerar situação duradoura, ação permanente de pequena variabilidade,
classe de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

Solução:

• Propriedades da madeira:

Madeira Angelim Pedra:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56


f c 0 ,m = 59,8 MPa = 5980 N/cm 2
f c 0 ,k = 0,70 × f c 0 ,m = 0,70 × 5980 = 4186 N/cm 2
k × f c 0 ,k 0 ,56 × 4186
f c 0 ,d = mod = = 1674 N/cm 2
γc 1,4

f t 0 ,m = 75,5 MPa = 7550 N/cm 2


f t 0 ,k = 0,70 × f t 0 ,m = 0,70 × 7550 = 5285 N/cm 2
k × f t 0 ,k 0 ,56 × 5285
f t 0 ,d = mod = = 1644 N/cm 2
γc 1,80

f v 0 ,m = 8,8 MPa = 880 N/cm 2


f v 0 ,k = 0,54 × f v 0 ,m = 0,54 × 880 = 475 N/cm 2
0,56 × f v 0 ,k 0,56 × 475
f v 0 ,d = = = 148 N/cm 2
1,8 1,8

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.11


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

a) Características geométricas da seção

y = 15 cm

b × h 2 11 × 302 6 × 202
S= = − = 937,5 cm3
8 8 8

b × h 3 11 × 30 3 6 × 20 3
I= = − = 20750 cm 4
12 12 12

I ef = α r × I th = 0 ,85 × 20750 = 17638 cm 4

b) Esforços solicitantes

Sendo a viga simplesmente apoiada temos os seguintes diagramas de momentos e


cortantes:

M máx =
Fd × L2 Fd × 400 2
8
=
8
= 20000 × Fd N (
cm
)

Vd =
Fd × L Fd × 400
2
=
2
= 200 × Fd N (
cm
)
⎛L ⎞
(
Vd ,a = Fd × ⎜ − a ⎟ = Fd N
⎝2 ⎠ cm
)
× (200 − a )

e a seguinte flecha permanente:

E c 0 ,m = 12912 MPa = 1291200 N/cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.12


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

E c 0 ,ef = k mod × E c 0 ,m = 0 ,56 × 1291200 = 723072 N/cm 2

u ef =
5 × Fd × L4
=
5 × Fd N
cm
( )
× 400 4
= 0,0261 × Fd N ( )
384 × E c 0 ,ef × I 384 × 723072 × 17638 cm

c) Verificações

• Flexão:

σ c1,d ≤ f c 0 ,d
M
σ c1,d = d × y c1 ≤ f c 0 ,d
I
20000 × Fd N ( )
cm × 15 ≤ 1674
17638
Fd ≤ 98,42 N ( cm
)
→ Borda comprimida

σ t 2 ,d ≤ f t 0 ,d
M
σ t 2 ,d = d × y t 2 ≤ f t 0 ,d
I
20000 × Fd N ( )
cm × 15 ≤ 1644
17638
Fd ≤ 96,66 N ( cm
)
→ Borda tracionada

• Cisalhamento:

Sendo a carga uniformemente distribuída, a tensão de cisalhamento no apoio será:


Vd × S
τd = ≤ f v 0 ,d = 148 N/cm 2
b× I
200 × Fd N (
cm
)
× 937,5
< 148 N/cm 2
5 × 17638
Fd ≤ 69,61 N (
cm
)
A redução da tensão de cisalhamento, permitida pela norma, ocorrerá em. a = L 4
se L 4 ≤ 2 × h , caso contrário, em a = 2 × h .
L 400
a= = = 100 cm > 2 × h = 2 × 30 = 60 cm
4 4

Portanto, a tensão de cisalhamento máxima ocorrerá em a = 2 × h .

(
Vd = Fd N
cm
)× (200 − x) = F (N cm)× (200 − 60) = 140 × F (N cm)
d d

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.13


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

Vd × S
τd = ≤ f v 0 ,d = 148 N/cm 2
b× I

τd =
(
140 × Fd N
cm
) × 937 ,5 60
× < 148 N/cm 2
5 × 17638 60
Fd ,a ≤ 99,44 N( cm
)
• Flecha:

L
u ef ≤
200
0,0261 × Fd N( cm) ≤ 400
200
Fd ≤ 76,63 (N ) → (Solicitação de utilização de cálculo)
cm

d) Conclusão

O valor de Fd deve satisfazer as seguintes inequações:

• Tensão de flexão na borda comprimida Fd ≤ 98,42 N ( cm) ⇒ F g ,k ( cm)


= 75,71 N
• Tensão de flexão na borda tracionada Fd ≤ 96,66 (N ) ⇒ F = 74,35 (N )
cm g ,k cm
• Tensão de cisalhamento Fd ≤ 99,44 (N ) ⇒ F = 76,49 (N )
cm g ,k cm
• Flecha Fd ≤ 76,63 (N ) ⇒ F = 76,63 (N )
cm g ,k cm

Ação  Fgd (N/cm)  verificação  fator peq variab (γg)  Fgk  (N/cm) 


compressão  98,4     ELU  1,3  75,69 
tração  96,7     ELU  1,3  74,38 
Cisalhamento no apoio  69,61     ELU  1,3  53,55 
Cisalhamento máximo  99,44     ELU  1,3  76,49 
flecha  90,49     ELS  1,0  90,49 

Desta forma, o máximo valor de Fg,k que satisfaz as equações será: 74,35 N

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.14


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Simples

RESUMO
a) Verificação:
Dada as dimensões da seção transversal, a carga aplicada (permanente e
acidental), o comprimento da peça (L) e a espécie da madeira, verificar a seção:

• Flexão:
Md Md
σ c 1 ,d = = × y c1 ≤ f c 0 ,d
Wc I
M M
σ t 2 ,d = d = d × y t 2 ≤ f t 0 ,d
Wt I

• Cisalhamento:
Vd × S
τd = ≤ f v 0 ,d
b×I
Carga concentrada Carga distribuída
V ×S a a máxima tensão de cisalhamento
τd = d × ≤ f v 0 ,d ⇔ a ≤ 2 × h ocorrerá em:
b× I 2×h
a = L 4 se L 4 ≤ 2 × h ,
Vd × S 2 × h caso contrário, em a = 2 × h .
τd = × ≤ f v 0 ,d ⇔ a ≥ 2 × h
b× I 2×h

• Flecha:
L L
u ef ≤ ou
200 300

b) Dimensionamento
Dado o comprimento da peça (L) e a espécie da madeira, determinar a carga
máxima que pode ser aplicada:

• Tensão de flexão:
Md Wc × f c ,d
σ c 1 ,d = ≤ f c ,d M d = α × Fd ⇒ Fd ≤
Wc α
Md Wt × f t ,d
σ t 2 ,d = ≤ f t ,d M d = α × Fd ⇒ Fd ≤
Wt α
• Cisalhamento:
f v 0 ,d × b × I
Vd = β × Fd ⇒ Fd ≤
S×β
• Flecha:
L
u ef = ξ × Fd ⇒ Fd ×
200 × ξ
L
⇒ Fd ×
300 × ξ

Edgar V. Mantilla Carrasco 13.15


___________________________________________________________________
CAPITULO 14
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS À FLEXÃO
OBLÍQUA
___________________________________________________________________

1 – INTRODUÇÃO

Em determinados casos, deparamo-nos com peças solicitadas duplamente à flexão.


Isto acontece quando o plano de atuação dos momentos fletores não coincide com um dos
eixos principais de inércia.
Como exemplo clássico de flexão oblíqua ou flexão desviada temos as terças dos
telhados que, colocadas no plano inclinado da tesoura, são solicitadas por uma ação dupla
de flexão.
Quando a direção do carregamento não coincide com a direção de um dos eixos
principais da seção da viga ocorre a flexão oblíqua. Nestes casos, podemos decompor o
problema em dois conforme pode ser visto na figura 14.1.

α
a) FLEXÃO OBLÍQUA

α
α

b) FLEXÃO EM TORNO DE x-x

α α

c) FLEXÃO EM TORNO DE y-y

Figura 14.1 - Superposição de efeitos (flexão oblíqua).

Resolvendo-se os problemas “b” e “c” por flexão simples pode-se superpô-los e


obter as verificações para o problema “a” como flexão oblíqua.

2 - TENSÕES NORMAIS

A condição de segurança é expressa pela mais rigorosa das duas condições


seguintes, tanto em relação às tensões de tração quanto às de compressão:

σ M x ,d σ M y ,d
+ kM × ≤1
f wd f wd
(14.1)
σ M x ,d σ M y ,d
kM × + ≤1
f wd f wd
Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

Onde:

• σ M x ,d e σ M x ,d são as tensões máximas devido às componentes de flexão atuantes


segundo as direções principais, obtidas através dos esquemas estáticos dos
problemas “b” e “c”, respectivamente.
• f wd é a respectiva resistência de cálculo, de tração ou compressão conforme a
borda verificada.
• k M é o coeficiente de correção que pode assumir os seguintes valores:
ƒ seção retangular ⇒ k M = 0,5
ƒ outras seções transversais ⇒ k M = 1,0

No caso de peças com fibras inclinadas com ângulos α=60° (arctg 0,10), aplica-se a
fwd a redução abaixo definida:

f 0 × f 90
fα = (fórmula de Hankison) (14.2)
( f 0 × sen α ) + ( f 90 × cos 2 α )
2

3 - TENSÕES DE CISALHAMENTO

τ x ,d + τ y ,d ≤ f v 0 ,d (14.3)

Onde:
• τ x ,d e τ y ,d são as tensões de cisalhamento nas direções x e y, respectivamente
• f v 0 ,d é a resistência de cálculo da madeira ao cisalhamento

Observação: Nas proximidades dos apoios (a ≤ 2 × h ) tem-se:

τa = τb + τc ≤ f v 0 ,d (14.4)

Sendo que τb e/ou τc foram calculados com a redução de a 2d . Quando apenas


um dos valores de τb e τc for obtido nas proximidades do apoio, devem ser verificados os
dois planos de máximos.

4 - FLECHA

A NBR 7190/97, estabelece que os limites da flechas devem ser verificados


isoladamente para cada um dos planos principais de flexão (os limites e considerações são
os mesmos do capítulo 13).

uef ,x ≤ f
(14.5)
uef , y ≤ f

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

Observações:

1. É possível melhorar as condições de estabilidade da terça aliviando a flexão no plano


de menor rigidez (eixo Y-Y) através do travamento no centro, figura 14.2.

a) Em relação ao Plano X-X - Viga simplesmente apoiada

b) Em relação ao Plano Y-Y - Viga contínua

Figura 14.2 - Melhoramento da estabilidade através de travamentos.

Para melhor aproveitamento da seção da terça, em certos casos, quando for


possível, empregando telhas cerâmicas, pode-se adotar um chapuz de modo a reduzir a
inclinação da terça, figura 14.3.

Figura 14.3 - Redução da inclinação da terça.

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.3


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

Exemplo de Aplicação

1) Verificar se é possível utilizar uma peça de Jatobá com dimensões de (7,5 x 15) cm para
resistir a uma carga inclinada uniformemente distribuída de 1000 N/m. O vão livre é de 3,50
metros, o ângulo formado pela direção da carga e o lado de 15 cm é de 20° e a carga é
considerada permanente de pequena variabilidade (carregamento normal), figura 14.4.
OBS: Considerar Situação duradoura, ação permanente de pequena variabilidade, classe
de umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

α
α

a) Flexão Oblíqua b) Flexão em torno de x-x c)Flexão em torno de x-x


Figura 14.4 - Flexão oblíqua

Solução:

• Propriedades da madeira:

Madeira de Jatobá:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0 ,7 × 1,0 × 0 ,8 = 0,56


f c 0 ,m = 93,3 MPa = 9330 N/cm 2
f c 0 ,k = 0,70 × f c 0 ,m = 0,70 × 9330 = 6531 N/cm 2
0,56 × f c 0 ,k 0,56 × 6531
f c 0 ,d = = = 2612 ,4 N/cm 2
1,4 1,4

f t 0 ,m = 157 ,5 MPa = 15750 N/cm 2


f t 0 ,k = 0,70 × f t 0 ,m = 0 ,70 × 15750 = 11025 N/cm 2
0,56 × f t 0 ,k 0,56 × 11025
f t 0 ,d = = = 3430 N/cm 2
1,8 1,80

f v 0 ,m = 15,7 MPa = 1570 N/cm 2


f v 0 ,k = 0,54 × f v 0 ,m = 0,54 × 1570 = 847 ,8 N/cm 2
0,56 × f v 0 ,k 0,56 × 847 ,8
f v 0 ,d = = = 263,8 N/cm 2
1,8 1,8

Ec 0 ,m = 23607 MPa = 2360700 N/cm2

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.4


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

Ec 0 ,ef = kmod × Ec 0 ,m = 0 ,56 × 2360700 = 1321992 N/cm 2

• Problema B

a) Esforços solicitantes

q1,d × L2 (1,3 × 9,397 ) × 3502


M máx = = = 187059 N × cm
8 8
q1,d × L (1,3 × 9,397 ) × 350
Vd = = = 2138 N
2 2

b) Características geométricas da seção

y = 7,5 cm

b × h 2 7 ,5 × 152
S= = = 211 cm3
8 8
b×h 3
7 ,5 × 153
Ix = = = 2109 cm 4
12 12

c) Tensões atuantes

M 187059
σb = ×y= × 7 ,5 = 665,22 N/cm2 ⇒ σ M x ,d = 665,22 N/cm 2
Ix 2109
V ×S a 2138 × 211
τd = d × = = 28,53 N/cm 2
b × I x 2 × d 7,5 × 2109

d) Flecha

5 × q1,d ,util × L4 5 × 9,397 × 350 4


fb = = = 0,66 cm
384 × E c 0,ef × I x 384 × 1321992 × 2109

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.5


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

• Problema C

a) Esforços solicitantes

q2 ,d × L2 (1,3 × 3,420 ) × 3502


M máx = = = 68079 N × cm
8 8
q × L (1,3 × 3,420 ) × 350
Vd = 2 ,d = = 778 N
2 2

b) Características geométricas da seção

x = 3,75 cm

b × h 2 15 × 7 ,52
S= = = 105,5 cm3
8 8
b× h 3
15 × 7 ,53
Iy = = = 527 cm 4
12 12

c) Tensões atuantes

M 68079
σc = ×x = × 3,75 = 484 ,12 N/cm 2 ⇒ σ M x ,d = 484 ,12 N/cm 2
Iy 527
Vd × S a 778 × 105,5
τd = × = = 10,38 N/cm 2
b× Iy 2× d 15 × 527

d) Flecha

5 × q 2,d ,util × L4 5 × 3,42 × 350 4


fb = = = 0,96 cm
384 × E c 0,ef × I y 384 × 1321992 × 527

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.6


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

• Verificações:

Da equação 14.1 tem-se:


σ M x ,d σ M y ,d
+ kM × ≤1
f wd f wd
σ M x ,d σ M y ,d
kM × + ≤1
f wd f wd

Como é seção retangular: σct = σcc


Portanto,
665,22 484 ,12
+ 0,5 × ≤ 1 ⇒ 0,35 < 1 ⇒ ok !
2612 2612
A viga passa.
665,22 484 ,12
0 ,5 × + ≤ 1 ⇒ 0 ,31 < 1 ⇒ ok !
2612 2612

Da equação 14.3 pode-se verificar as relações devido ao cisalhamento:

τ x ,d + τ y ,d ≤ f v 0 ,d ⇒ 28,53 + 10,37 ≤ 264 ⇒ 38,9 < 264 ⇒ ok ! A viga passa

A verificação com relação à flecha pode ser determinada a partir das seguintes equações:
L 350
fb ≤ ⇒ 0,66 < = 1,75 ⇒ ok!
200 200
A viga passa
L 350
fc ≤ ⇒ 0,96 < = 1,75 ⇒ ok!
200 200

Conclusão: A viga pode ser usada.

Observação:

Em geral, nos problemas de flecha oblíqua, o eixo x-x possui uma série de travamentos
intermediários de forma que a flecha no problema c (fc) se torna desprezível e portanto
basta fazer f a ≤ f . É o que acontece nas terças de um telhado, onde os caibros para
fixação das ripas que receberão as telhas cerâmicas, ou as próprias telhas de cimento
amianto que são fixas nas terças, fornecem um bom travamento para as terças.

2) Calcular qual a máxima carga permanente uniformemente distribuída que poderá ser

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.7


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

aplicada a uma viga de uma terça de Angelim Pedra com 3,0 metros de vão livre e seção de
7,5 x 12 cm conforme o esquema abaixo. O ângulo formado pela direção da carga e o lado
de 12 cm é de 15°. A viga é simplesmente apoiada. Considerar situação duradoura, ação
permanente de pequena variabilidade, classe de umidade (2) e peças sem classificação
mecânica.

α
α

a) Flexão Oblíqua b) Flexão em torno de x-x c)Flexão em torno de x-x


Figura 14.5 - Flexão oblíqua

Seção transversal

Solução:

• Propriedades da madeira

Madeira Angelim Pedra:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56


f c 0 ,m = 59,8 MPa = 5980 N/cm 2
f c 0 ,k = 0,70 × f c 0 ,m = 0,70 × 5980 = 4186 N/cm 2
k × f c 0 ,k 0 ,56 × 4186
f c 0 ,d = mod = = 1674 N/cm 2
γc 1,4

f v 0 ,m = 8,8 MPa = 880 N/cm 2


f v 0 ,k = 0,54 × f v 0 ,m = 0,54 × 880 = 475 N/cm 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.8


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

0,56 × f v 0 ,k 0,56 × 475


f v 0 ,d = = = 148 N/cm 2
1,8 1,8

E c 0 ,m = 12912 MPa = 1291200 N/cm 2


E c 0 ,ef = k mod × E c 0 ,m = 0 ,56 × 1291200 = 723072 N/cm 2

PROBLEMA B

• Características geométricas da seção

y = 6 cm

b × h 2 7,5 × 12 2
S= = = 135 cm 3
8 8
b × h 3 7,5 × 12 3
I= = = 1080 cm 4
12 12

• Esforços solicitantes

Sendo a viga simplesmente apoiada temos os seguintes diagramas de momentos e


cortantes:

M máx =
q1,d × L2
8
=
1,3 × 0,96 × q × 300 2
8
= 14040 × q N (
cm
)
Vd =
q1,d × L 1,3 × 0,96 × q × 300
2
=
2
= 187,2 × q N
cm
( )
e a seguinte flecha permanente:

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.9


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

(
5 × 0,96 × q N )
× 300 4
u ef =
5 × q1, d ,util × L4
384 × E c 0,ef × I
= cm
384 × 723072 ×1080
= 0,1297 × q N (
cm
)

• Tensões atuantes

M 14040 × q
σb = ×y= × 6,0 = 78 × q (N/cm) ⇒ σ M x , d (N/cm 2 ) = 78 × q (N/cm)
Ix 1080
V ×S a 187,2 × q 24
τd = d × = × = 0,0231 × q (N/cm) ⇒ τ x ,d (N/cm 2 ) = 0,0231 × q (N/cm)
b × I x 2 × d 7,5 × 1080 2 × 12

PROBLEMA C

• Características geométricas da seção

y = 3,75 cm

b × h 2 12 × 7,5 2
S= = = 84,38 cm 3
8 8
b×h 3
12 × 7,5 3
I= = = 421,88 cm 4
12 12

• Esforços solicitantes

Sendo a viga simplesmente apoiada temos os seguintes diagramas de momentos e


cortantes:

M máx =
q 2,d × L2
8
=
1,3 × 0,26 × q × 300 2
8
(
= 3802,5 × q N
cm
)

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.10


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

Vd =
q 2,d × L
2
=
1,3 × 0,26 × q × 300
2
= 50,7 × q N
cm
( )
e a seguinte flecha permanente:

u ef =
5 × q 2,d ,util × L4
=
5 × 0,26 × q N
cm
(
× 300 4 )
= 0,0899 × q N ( )
384 × E c 0,ef ×I 384 × 723072 × 421,88 cm

• Tensões atuantes

M 3802,5 × q
σc = ×y= × 3,75 = 33,8 × q (N/cm) ⇒ σ M y , d (N/cm 2 ) = 33,8 × q (N/cm)
Ix 421,88
V ×S a 50,7 × q 24
τd = d × = × = 0,01 × q (N/cm) ⇒ τ y , d (N/cm 2 ) = 0,01 × q (N/cm)
b × I x 2 × d 12 × 421,88 2 × 12

VERIFICAÇÕES

Da equação 14.1 tem-se:


σ M x ,d σ M y ,d
+ kM × ≤1
f wd f wd
σ M x ,d σ M y ,d
kM × + ≤1
f wd f wd

Como é seção retangular: σct = σcc


Portanto,
78 × q 33,8 × q
+ 0,5 × ≤ 1 ⇒ q = 17,64 N / cm
1674 1674

78 × q 33,8 × q
0,5 × + ≤ 1 ⇒ q = 22,99 N / cm
1674 1674

O valor de q deverá ser então igual a 17,64 N/cm, pois deve-se adotar a condição mais
rigorosa.

Da equação 14.3 pode-se verificar as relações devido ao cisalhamento:

τ x ,d + τ y ,d ≤ f v 0 ,d ⇒ 0,0231 × q + 0,01 × q ≤ 148 ⇒ q < 4471,30 N / cm

A verificação com relação à flecha pode ser determinada a partir das seguintes equações:

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.11


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Oblíqua

L 300
fb ≤ ⇒ 0,1297 × q < = 11,57 N / cm
200 200

L 300
fc ≤ ⇒ 0,0899 × q < = 16,69 N / cm
200 200

O valor de q deverá ser então igual a 8,90 N/cm, pois deve-se adotar a condição mais
rigorosa.

Resp: A máxima carga permanente uniformemente distribuída que poderá ser aplicada a
esta viga será de 11,57 N/cm ou 1157 N/m, para que sejam atendidas todas as
condições.

Edgar V. Mantilla Carrasco 14.12


___________________________________________________________________
CAPÍTULO 15
DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS A
FLEXÃO COMPOSTA
___________________________________________________________________

1 – INTRODUÇÃO

Quando uma peça, além de fletida, está também submetida a uma carga axial de
compressão ou de tração tem-se um problema de flexão composta. Quando a carga axial é
de compressão tem-se a flexo-compressão, quando a carga é de tração tem-se a flexo-
tração.
Problemas de verificação das tensões na flexão composta aparecem com frequência
no cálculos das vigas inclinadas (caibros, escadas), arcos, montantes de pórticos e banzos
de tesouras com as terças colocadas fora dos nós, figura 15.1.

Figura 15 1 - Terça colocada fora do nó.

A determinação das tensões nos bordos de uma peça, solicitada concomitantemente


por um esforço axial de compressão e momento fletor, dando como resultado uma
compressão excêntrica é determinada pela superposição dos efeitos, através da conhecida
fórmula geral de flexão composta, figura 15.2.

N M
σ=− ± (15.1)
A W
Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

Figura 15.2 - Compressão excêntrica.

2 - FLEXO-COMPRESSÃO

Segundo a NBR 7190/97, o cálculo de uma peça submetida à flexo-compressão


deve ser executado conforme o roteiro que se segue:

2.1 - CÁLCULO DAS TENSÕES ATUANTES DEVIDO A FLEXAO SIMPLES E A


COMPRESSÃO

Md Nd
σ md = y (− ) e σ nd = (15.2)
I A

Sendo:
σ md = Tensão atuante de cálculo à flexão simples, devido a ação do momento fletor
M d , na borda comprimida.
σ nd = Tensão atuante de cálculo à compressão, devido a ação da carga de
compressão N d .
y (− ) = Distância da linha neutra à borda comprimida.
I = Momento de inércia em relação a linha neutra
A = Área da seção transversal.

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.2


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

2.2 - CÁLCULO DO ÍNDICE DE ESBELTEZ E ESCOLHA DO INTERVALO

L0
λ= (15.3)
i

Sendo:
λ = Indice de esbeltez da peça
L0 = Comprimento de flambagem
i = Raio de giração do eixo considerado,

Quanto aos intervalos tem-se:


λ ≤ 40 .....................peça curta
40 ≤ λ ≤ 80 ............. peça medianamente esbelta
80 ≤ λ ≤ 140 ........... peça esbelta

2.3 - VERIFICAÇÃO

2.3.1 - Verificação da Tensão de Flexo-Compressão

2.3.1.1 - Condição relativa à resistência

Além da verificação da estabilidade a ser feita para os casos citados adiante, a


condição de segurança relativa à resistência das seções transversais submetidas a flexo-
compressão é expressa pela mais rigorosa das duas expressões seguintes, aplicada ao
ponto mais solicitado da borda mais comprimida, considerando-se uma função quadrática
para a influência das tensões devidas à força normal de compressão:

⎛ σ N c ,d ⎞ σ M x ,d σ M y ,d
2

⎜ ⎟ + + k × ≤1
⎜ f ⎟ f c 0 ,d
M
f c 0 ,d
⎝ c 0 ,d ⎠
(15.4)
⎛ σ N c ,d σ σ M y ,d
2

⎜ ⎟ + k M × M x ,d + ≤1
⎜ f ⎟ f c 0 ,d f c 0 ,d
⎝ c 0 ,d ⎠

Onde,
σ N c ,d é o valor de cálculo da parcela de tensão normal atuante em virtude apenas
da força normal de compressão;
f c 0 ,d é a resistência de cálculo à compressão paralela às fibras
σ M x ,d e σ M y ,d são as tensões máximas devido às componentes de flexão
atuantes segundo as direções principais;
k M é o coeficiente de correção, como visto no capítulo 14.

2.3.1.2 - Condição relativa à estabilidade

As exigências impostas ao dimensionamento dependem da esbeltez da peça,


L0
definida pelo seu índice de esbeltez: λ =
i

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.3


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

Peças curtas

Nenhuma verificação é necessária.

Peças medianamente esbeltas

Para peças medianamente esbeltas submetidas na situação de projeto à flexo-


compressão além das condições de segurança impostas em 2.3.1.1 (relativo à
rigidez) deve-se também verificar a segurança em relação ao estado limite último de
instabilidade por meio da expressão abaixo.

σ nd σ
+ md ≤ 1 (15.5)
f c 0 ,d f c 0 ,d

sendo
Md ⎡ FE ⎤
σ md = ×y ; M d = N d × e1 × ⎢ ⎥
I ⎣ FE − N d ⎦

M 1d
ei = ≥h
π × E c 0 ,ef × I
2 Nd 30
e FE = ; e1 = ei + ea
L20 L0
ea ≥ 300
h
30

Descritos anteriormente no capítulo 11.

Sendo
fc0,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão paralela às fibras;
Ec0,d = Módulo de elasticidade efetivo da madeira;
λ = Índice de esbeltez
σn,d = Tensão de compressão de cálculo devido à carga normal de compressão
σm,d = Tensão de compressão de cálculo devido ao momento fletor
Nd = Carga de cálculo atuante na peça
A = Área da seção transversal.
FE = Carga crítica de Euler
ea = excentricidade acidental mínima
h = altura da seção transversal
ei = excentricidade de 1a ordem da situação de projeto

Peças esbeltas

Para as peças esbeltas submetidas na situação de projeto à flexo-compressão a


verificação pode ser feita pela expressão abaixo:

σ nd σ
+ md ≤ 1 (15.5)
f c 0 ,d f c 0 ,d

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.4


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

sendo

Md ⎡ FE ⎤ π 2 × E c 0 ,ef × I
σ md = ×y ; M d = N d × e1ef × ⎢ ⎥ ; FE =
I ⎣ FE − N d ⎦ L20

e e1ef = e1 + ec onde e1 = ei + ea e

M 1g ,d + M 1q, d ⎧ L0
M 1d h ⎪
ei = = ≥ ; ea ≥ ⎨ 300
Nd Nd 30 ⎪⎩ h 30

Também descritos no capítulo 11.

Sabendo-se que:
fc0,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão paralela às fibras;
Ec0,d = Módulo de elasticidade efetivo da madeira;
λ = Índice de esbeltez
σn,d = Tensão de compressão de cálculo devido à carga normal de compressão
σm,d = Tensão de compressão de cálculo devido ao momento fletor
Nd = Carga de cálculo atuante na peça
A = Área da seção transversal.
FE = Carga crítica de Euler
ea = excentricidade acidental mínima
h = altura da seção transversal
e1,ef = excentricidade efetiva de 1a ordem
ei = excentricidade de 1a ordem da situação de projeto
ec = excentricidade suplementar de 1a ordem, representando a fluência da
madeira
M1gd = momento de cálculo na situação de projeto devido às cargas permanentes
M1qd = momento de cálculo na situação de projeto devido às cargas variáveis
Ngk = valores característicos da força normal devido às cargas permanentes
Nqk = valores característicos da força normal devido às cargas variáveis
ψ1 e ψ2 = fatores de combinação e de utilização
φ = coeficiente de fluência (tabela 11.1)

2.3.2 - Verificação da Tensão de Cisalhamento

Idêntica à estudada em flexão simples, (página 13.4).

2.3.3 - Verificação da Flecha

Idêntica a estudada em flexão simples, (página 13.6).

3 - FLEXO-TRACÃO

Em peças submetidas a flexo-tração, a tensão atuante na borda tracionada não deve


ultrapassar a tensão admissível quanto à flexão estática. Dessa forma, seu roteiro de
cálculo é:

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.5


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

3.1 - CÁLCULO DAS TENSÕES ATUANTES DEVIDO A FLEXÃO E A TRAÇÃO


PARALELA

Md Nd
σ md = y (+ ) e σ nd = (15.6)
I A

Sendo:
σ md = Tensão atuante de cálculo à flexão simples, devido a ação do momento fletor
M d , na borda tracionada.
σ nd = Tensão atuante de cálculo à tração, devido a ação da carga de tração N d .
y (+ ) = Distância da linha neutra à borda tracionada.
I = Momento de inércia em relação à linha neutra
A = Área útil da seção transversal, descontados os furos e entalhes.

3.2 - VERIFICAÇÃO

3.2.1 - Verificação da Tensão de Flexo-Tração

Nas barras submetidas a flexo-tração, a condição de segurança é expressa pela


mais rigorosa das duas expressões seguintes aplicadas ao ponto mais solicitado da borda
mais tracionada, considerando-se uma função linear para a influência das tensões, devidas
a força normal de tração:

⎛ σ Nt ,d ⎞ σ M x ,d σ M y ,d
⎜ ⎟+ + kM × ≤1
⎜ f ⎟ f f t 0,d
⎝ t 0,d ⎠ t 0,d
(15.7)
⎛ σ Nt ,d ⎞ σ σ
⎜ ⎟ + k M × M x ,d + M y ,d ≤ 1
⎜ f ⎟ f t 0,d f t 0,d
⎝ t 0,d ⎠

Onde
σ N t ,d é o valor de cálculo da parcela de tensão normal atuante em virtude apenas da
força normal de tração;
f t 0 ,d é a resistência de cálculo à tração paralela às fibras
σ M x ,d e σ M y ,d são as tensões máximas devidas às componentes de flexão atuantes
segundo as direções principais;
k M é o coeficiente de correção, visto no capítulo 14.

3.2.2 - Verificação da Tensão de Cisalhamento

Idêntica à estudada em flexão simples

3.2.3 - Verificação da Flecha

Idêntica à estudada em flexão simples.

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.6


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

Exemplo de Aplicação

1) Verificar se é possível a utilização de uma viga de jatobá com as dimensões e


carregamentos indicados na figura a seguir. Os carregamentos são permanentes de grande
variabilidade.
OBS: Considerar situação duradoura, ação permanente de grande variabilidade, classe de
umidade (2) e peças sem classificação mecânica.

5000 N/m

50.000 N 50.000 N

12 cm

7,5 cm

Solução

a) Características geométricas da seção

y(-) = 15 -8,14 = 6,86 cm


x = 6 cm
A = 126 cm 2
I x − x = 2553,43 cm 4
I y − y = 853,88 cm 4
i x − x = 4,50 cm
i y − y = 2,60 cm
7 ,5 × 8,14 2
S= = 248,47 cm 3
2

b) Cálculo do índice de esbeltez e escolha do intervalo

Eixo x-x

Como se trata de uma peça composta de seção T, solidarizada continuamente devemos


considerá-la como de seção maciça e sua inércia passará a ser dada por:

I ef = α r × I th = 0 ,95 × 2553,43 = 2425,76 cm 4

Logo,
I ef 2425,76
i x − x ,ef = = = 4,39 cm
A 126

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.7


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

L0 200
λ= = = 45,58 (peça medianamente esbelta)
i x − x ,ef 4,39

Eixo y-y

L0 200
λ= = = 77 (peça medianamente esbelta)
i y − y ,ef 2,60

c) Cálculo dos esforços solicitantes

N = 50000 N
p × L2 50 × 200 2
M máx = = = 250000 N × cm
8 8
L 200
V x = p × = 50 × = 5000 N
2 2

d) Cálculo das tensões atuantes à flexão simples e à compressão

Md 250000 × 1,4
σ md = y (− ) = × 6 ,86 = 989,79 N/cm 2
I 2425,76
N 50000 × 1,4
σ nd = d = = 555,55 N/cm 2
A 126

e) Verificações

Em torno de x-x

• Verificação da tensão de flexo-compressão

Verificação à resistência
⎛ σ N c ,d σ σ M y ,d ⎛ σ N c ,d σ σ M y ,d
2 2
⎞ ⎞
⎜ ⎟ + M x ,d + k M × ≤1 e ⎜ ⎟ + k M × M x ,d + ≤1
⎜ f ⎟ f f ⎜ f ⎟ f f
⎝ c 0 ,d ⎠ c 0 ,d c 0 ,d ⎝ c 0 ,d ⎠ c 0 ,d c 0 ,d

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.8


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

Madeira de Jatobá:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56


f c 0 ,m = 93,3 MPa = 9330 N/cm 2
f c 0 ,k = 0,70 × f c 0 ,m = 0,70 × 9330 = 6531 N/cm 2
0,56 × f c 0 ,k 0,56 × 6531
f c 0 ,d = = = 2612 ,4 N/cm 2
1,4 1,4
como kM =1 (seção transversal não retangular) basta verificar para uma das equações
acima:
2
⎛ 555,56 ⎞ 0 989 ,80
⎜ ⎟ + + 1,0 × = 0,42 < 1 ⇒ ok !
⎝ 2612,4 ⎠ 2612,4 2612,4

Verificação à estabilidade

f c 0 ,d = 2612,4 N/cm 2
E c 0 ,m = 2360700 N/cm 2

E c 0 ,ef = 0 ,56 × 2360700 N/cm 2 = 1321992 N/cm 2

σ nd σ Md ⎡ FE ⎤
+ md ≤ 1 σ md = ×y M d = N d × e1 ⎢ ⎥
f c 0 ,d f c 0 ,d I ⎣ FE − N d ⎦

A = 126 cm 2 I ef = 2425,75 cm 4 y = 6,86 cm

π 2 × E c 0 ,ef × I π 2 × 1321992 × 2425,75


FE = = = 791251,64 N
L20 200 2
e1 = ei + ea

⎧ M 1d 250000
⎪⎪ N = 50000 = 5
ei ≥ ⎨ d → ei = 5,0 cm ⇒ ok !
⎪ h = 15 = 0,50
⎪⎩ 30 30

L0 200
ea = = = 0 ,67 cm
300 300
e1 = ei + ea = 5,0 + 0,67 = 5,67 cm

Logo:

⎡ 791251,64 ⎤
M d = 70000 × 5,67 × ⎢ ⎥ = 435420,54 N × cm
⎣ 791251,64 − 70000 ⎦
435420 ,54
σ md = × 6 ,86 = 1231,37 N/cm 2
2425,75

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.9


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

σ nd σ 555,56 1231,37
+ md ≤ 1 ⇒ + = 0,68 < 1 ⇒ ok !
f c 0 ,d f c 0 ,d 2612,4 2612 ,4

Em torno de y- y

• Verificação da tensão de compressão

Verificação à estabilidade
σ nd σ Md ⎡ FE ⎤
+ md ≤ 1 σ md = ×y M d = N d × e1,ef ⎢ ⎥
f c 0 ,d f c 0 ,d I ⎣ FE − N d ⎦

A = 126 cm 2 I ef = 853,87 cm 4 y = 6 cm

π 2 × E c 0,ef × I π 2 × 1321992 × 853,88


FE = = = 278522,53 N
L20 200 2
e1,ef = ei + ea

⎧ M 1d
⎪⎪ N = 0 , como M 1d = 0 em relação a este eixo
ei ≥ ⎨ d → ei = 0,4 cm
⎪ h 12
= = 0,40
⎪⎩ 30 30
L0 200
ea = = = 0 ,67 cm
300 300
h 12
= = 0,40 ⇒ logo ea=0,67
30 30

Logo:

e1,ef = 0,40 + 0,67 = 1,07 cm

temos então que:


⎡ 278522,53 ⎤
M d = 70000 × 1,07 × ⎢ ⎥ = 109393,43 N × cm
⎣ 278522,53 − 70000 ⎦
109393,43
σ md = × 6,0 = 768,69 N/cm 2
853,87

σ nd σ md 555,56 768,69
+ ≤1⇒ + = 0,507 < 1 ⇒ ok!
f c 0,d f c 0,d 2612,4 2612,4

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.10


Estruturas usuais de madeira Dimensionamento de Peças solicitadas à Flexão Composta

• Verificação da tensão de cisalhamento

Vxmax = 5000 N

Vd × S 5000 × 1,4 × 248,47


τd = = = 95,60 N/cm 2
b × I ef 7 ,5 × 2425,75
cálculo de fv0,d

f v 0 ,m = 15,7 MPa = 1570 N/cm 2


f v 0 ,k = 0,54 × f v 0 ,m = 0,54 × 1570 = 847 ,8 N/cm 2
0,56 × f v 0 ,k 0,56 × 847 ,8
f v 0 ,d = = = 263,8 N/cm 2
1,8 1,8
como 95,6 < 263,76 ⇒ ok!

• Verificação da Flecha

5 × Fd ,uti × L fl
4
5 × 50 × 200 4
u ef = = = 0,33 cm
384 × E c 0,ef × I ef 384 × 1321992 × 2425,76
L 200
u ef ≤ = = 1 cm, como 1 > 0,33 ok!
200 200

Pelas verificações acima pode-se concluir que a viga nessas condições pode ser utilizada.

Edgar V. Mantilla Carrasco 15.11


CAPÍTULO 16
ESTABILIDADE LATERAL DE VIGAS - TORSIONAL

1 – INTRODUÇÃO:

Um fenômeno parecido com a flambagem pode ocorrer em vigas fletidas.


Quando a tensão atuante na borda comprimida for elevada, a viga pode perder a
estabilidade lateral.

Para exemplificar, imaginemos dois operários transportando uma chapa de


Eucatex (1,22 x 2,70 m, espessura 4 mm), ou um compensado (2,00 x 3,00 m,
espessura 5 mm), portanto, uma viga alta e delgada, figura 16.1.

Ao primeiro movimento dos operários, logo ao levantar a chapa, esta tende a


se deformar conforme mostra a figura 16.2, ocorrendo uma instabilidade
momentânea até o momento em que os operários intuitivamente travam o bordo
comprimido da chapa, figura 16.3, segurando também o topo superior. Assim,
facilmente, podem transportá-la em condição estável.

fig 16.1

fig 16.2 fig 16.3

CONCLUSÃO:

A falta de travamento, pelo menos nas extremidades do bordo comprimido


provoca perda total de estabilidade lateral da viga alta e delgada.

A causa dessa instabilidade lateral é provocada pelas linhas isostáticas de


compressão, face a esbeltez da peça, cujo efeito crítico é a flambagem lateral por
elevado deslocamento. Somente com travamento lateral adequado, aumentando-se
a rigidez transversal, impede-se a ocorrência desse efeito.
Estruturas usuais de madeira Estabilidade Lateral de Vigas

2 - VIGA DE SEÇÃO RETANGULAR

Segundo a NBR 7190/97, as vigas de seção retangular fletidas, além de


respeitarem as condições de segurança relativas à flexão simples, devem ter sua
estabilidade lateral verificada por teoria cuja validade tenha sido comprovada
experimentalmente.

Dispensa-se esta verificação de segurança em relação ao estado limite


último de instabilidade lateral quando forem satisfeitas as seguintes condições:
- Os apoios de extremidade da viga impedem a rotação de suas seções
extremas em torno do eixo longitudinal da peça, figura 16.4 e 16.6.
- Existe em conjunto de elementos de travamento ao longo do comprimento
L da viga, afastados entre si de uma distäncia não maior que L1, que
também impedem a rotação de suas seções extremas em torno do eixo
longitudinal da peça, figura 16.5.
- Para as vigas de seção transversal retangular, de largura b e altura h
medidas no plano de atuação do carregamento
L1 E
≤ c 0 ,ef (16.1)
b β M f c 0 ,d
onde o coeficiente
3
⎛h⎞ 2
βE × ⎜ ⎟
βM =
1
× ⎝b⎠ (16.2)
0,26π ⎛h ⎞
1
2
γ f × ⎜ − 0,63⎟
⎝b ⎠
é dado na tabela 16.1, para γ f = 1,4 e para o coeficiente de correção β E = 4 .

Tabela 16.1 – Coeficiente de correção β M


h βM
b
1 6,0
2 8,8
3 12,3
4 15,9
5 19,5
6 23,1
7 26,7
8 30,3
9 34,0
10 37,6
11 41,2
12 44,8
13 48,5
14 52,1
15 55,8
16 59,4
17 63,0
18 66,7
19 70,3
20 74,0
Para as peças em que
Edgar V. Mantilla Carrasco 16.2
Estruturas usuais de madeira Estabilidade Lateral de Vigas

L1 E c 0 ,ef
> (16.3)
b β M f c 0 ,d

também se dispensa a verificação de segurança em relação ao estado limite último


de instabilidade lateral desde que sejam satisfeitas as exigëncias relativas à flexão
simples com
E c 0 ,ef
σ c1d ≤
⎛ L1 ⎞
⎜ ⎟ × βM
⎝b⎠

Figura 16.4 - Contenção nos apoios extremos.

Figura 16.5 - Travamentos intermediários.

Figura 16.6 - Viga com extremidade livre.


Exercício:
Edgar V. Mantilla Carrasco 16.3
Estruturas usuais de madeira Estabilidade Lateral de Vigas

1) Determinar o número de travamentos intermediários numa viga simplesmente


apoiada com vão de L=500 cm e seção transversal de (3x40) cm2. Considerar
situação normal de projeto, ação permanente de grande variabilidade,
(gk =1,5 kgf/cm =15 N/cm) e kmod = 0,56.

Solução:

• Propriedades da madeira:

fwc0,m = 93,3 MPa = 9330 N / cm2 (Tabela 6.6)

fwc0,K = 9300 × 0,7 = 6531 N / cm2

0,56 × 6531
f c 0,d = = 2612,4 N / cm 2
1,4

• Determinação do coeficiente de correção β M :

h 40
= = 13,3 de acordo com a tabela 16.1 o valor de β M = 48,5.
b 3

• Determinação da tensão atuante de cálculo σ c1, d :

Fd * L2 15 * 500 2
M máx = = = 468750 N * cm
8 8
3 * 40 3
I
W = = 12 = 800cm 3
yc 40
2
M 468750 * 1,4
σ c1,d = d = = 820 N / cm 2
W 800

• Determinação do espaçamento entre travamentos L1:

Considerando L1 incicial igual a L = 500 cm, então

L1 E co ,ef K mod * E co ,m 0,56 * 2360700 L1 500


≤ ; = = 166,67 e = = 10,44
b β M * f co ,d β M * f co,d 48,5 * 2612,4 b 3

como 10,44 < 167 ñOK.

Para que a verificação de segurança em relação ao estado limite último de


instabilidade lateral seja dispensada, a exigência a abaixo deverá ser satisfeita:
Edgar V. Mantilla Carrasco 16.4
Estruturas usuais de madeira Estabilidade Lateral de Vigas

E c 0,ef
σ c1d ≤
⎛ L1 ⎞
⎜ ⎟× βM
⎝b⎠

Para ser atendida, o valor de L1 deverá ser então de:

0,56 * 2360700
820 ≤ onde L1 ≤ 99,72cm
⎛ L1 ⎞
⎜ ⎟ × 48,5
⎝ 3⎠

• Determinação do número de travamentos intermediários:

L 500
= = 5 travamentos intermediários
L1 99,72

Edgar V. Mantilla Carrasco 16.5


CAPÍTULO 17
LIGAÇÕES ESTRUTURAIS EM MADEIRA

1 – INTRODUÇÃO

As peças de madeira têm o comprimento limitado pelo tamanho das árvores, meios
de transporte, etc. As peças de madeira serrada são desdobradas em comprimentos ainda
mais limitados, geralmente entre 4 e 5 metros. Porém, algumas vezes em elementos
estruturais, é necessária a utilização de peças de dimensão superior a encontrada no
mercado, sendo assim necessária a execução de ligações

As ligações nas estruturas de madeira constituem os pontos mais perigosos, pois, a


simples falha de uma única ligação poderá ser responsável pelo colapso de todo um
conjunto de elementos estruturais.

O principal requisito dos elementos de ligação é a resistência. Isto significa que as


ligações devem ser capazes de transmitir os esforços de uma peça da madeira para a
outra. Também requisito importante é a rigidez pois o funcionamento da estrutura não pode
ser prejudicado pelo deslizamento das peças ligadas, sendo por isso necessária a restrição
deste deslizamento. Algumas prescrições construtivas são indicadas pelas normas, sendo
aconselhável seu obedecimento para a garantia de um bom desempenho da estrutura.

Devido a sua importância será feita neste capítulo de forma detalhada a descrição de
ligações estruturais em peças de madeira.

2 - ASPECTOS QUE INFLUENCIAM NAS LIGAÇÕES

Além da impossibilidade de se conhecer teoricamente as deformações localizadas,


outros aspectos tem influência nas ligações tais como:

a) Tipo de Ligação

A figura 17.1 mostra o comportamento quanto à deformação em vários tipos de


ligações.
20 COLA
CAVILHA DE N/2
18 CARVALHO N
N/2
ANÉIS METÁLICOS
16
(CONECTORES)
14
2 PARAFUSOS
12
Força (t)

PLACA DENTADA
10 1 PARAFUSO

8
PREGOS
6

0
0 2 4 6 8 10
DEF (mm)

Figura 17.1 - Comportamento das ligações quanto à deformação.


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

b) Comportamento Elasto-Plástico da Madeira

O comportamento elasto-plástico da madeira é encontrado especialmente nos


pontos de concentração dos esforços das ligações, figura 17.2.

Figura 17.2 - Concentração de tensões nas paredes dos furos.

c) Qualidade da mão de obra

3 - TIPOS DE LIGAÇÕES

Os principais tipos de ligações empregados são: (Ver figura 17.3)

• Pinos metálicos (pregos e parafusos);


• Cavilhas (pinos de madeira torneados;)
• Conectores (chapas com dentes estampados e anéis metálicos);
• Ligações práticas (grampos, braçadeiras e entalhes).

Figura 17.3 - Tipos de ligações estruturais de peças de madeira.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.2


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Os grampos e braçadeiras são utilizados apenas como elementos auxiliares de


montagem, não sendo considerados elementos de ligação estrutural.

A colagem é utilizada em larga escala nas fábricas de peças de madeira laminada e


madeira compensada. Nas peças laminadas de grande comprimento, as lâminas individuais
são emendadas com cola, empregando-se uma seção dentada ou biselada.

Os pregos são peças metálicas cravadas na madeira com impacto (na maioria das
vezes é feita uma pré-furação). Eles são utilizados em ligações de montagem e ligações
definitivas. A NBR 7190/97 os considera como pinos.

Os parafusos são de dois tipos:

• Parafuso rosqueado auto-atarraxante;


• Parafuso com porca e arruela.

Os parafusos auto-atarraxantes são muito utilizados em marcenaria ou para prender


acessórios metálicos em postes, dormentes, etc. Em geral, não são utilizados como
elemento de ligação de peças estruturais de madeira.

Os parafusos utilizados nas ligações estruturais são cilíndricos e lisos, tendo numa
extremidade uma cabeça e na outra uma rosca e uma porca. Eles são instalados em furos
com folga variando de 0,5 mm até 2,0 mm e depois apertados com a porca. Para reduzir a
pressão de apoio na superfície da madeira, utilizam-se arruelas metálicas. A NBR 7190/97
os considera como pinos e não permite levar em consideração a contribuição do atrito entre
as superfícies de contato devido à retração e à deformação lenta da madeira.

Os conectores são peças metálicas especiais encaixadas em sulcos na superfície


da madeira e apresentando grande eficiência na transmissão de esforços. No local de cada
conector coloca-se um parafuso para impedir a separação das peças ligadas. Os
conectores mais usuais são em forma de anel.

4 - CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

As ligações adesivas são bastante rígidas. Seu dimensionamento se faz a partir da


resistência de cálculo da ligação adesiva que depende do tipo de adesivo utilizado.

As ligações por entalhes ou encaixes utilizam a resistência de cálculo da madeira


para os esforços atuantes.

As ligações com pregos, parafusos ou conectores são dimensionadas segundo a


NBR 7190/97. O estado limite da ligação é atingido por deficiência de resistência da
madeira ou do elemento de ligação. O dimensionamento é feito pela seguinte condição de
segurança:
Sd ≤ Rd
Onde:
Sd = Valor de cálculo das solicitações;
Rd= Valor de cálculo da resistência.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.3


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

5 - LIGAÇÕES PRÁTICAS (Sem modelo de cálculo)

Na prática, vários tipos de ligações são realizados sem um modelo de cálculo, essas
ligações são “criadas” por carpinteiros experientes e intuitivamente ou através de ensaios
simples, nota-se que são eficientes e seguras.

a) Ligações típicas para emendas de terças

Figura 17.4 - Ligações para emendas de terças.

Observação: A emenda entre as terças deve ser feita perto da região dos apoios e nunca
no meio da terça.

b) Ligações coladas em viga maciça fletida ou tracionada

Esta ligação pode ser executada conforme a figura 17.5.

Figura 17.5 - Ligação colada.

Para se obter uma boa ligação deve-se adotar adesivo de qualidade garantida por
produtor idôneo, execução perfeita com relação às dimensões de maneira a se obter
L ≥ 20 × b .

Observação: A ligação deve ser realizada o mais próximo possível dos apoios e nunca no
meio da viga.

c) Emendas para composição de vigas laminadas

Vigas laminadas são vigas compostas por tábuas coladas e/ou pregadas.

Quando uma viga é fletida ou tracionada a ligação deve ser executada conforme o
esquema da figura 17.6.

L
Figura 17.6 - Ligação para vigas laminadas fletidas ou tracionadas
Edgar V. Mantilla Carrasco 17.4
Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Quando a viga é comprimida, a ligação pode ser feita de topo, conforme o esquema
da figura 17.7, facilitando a execução da ligação.

Figura 17.7 - Ligação para vigas laminadas comprimidas.

Os pregos são utilizados para manter a peça unida durante a secagem da cola, não
se considera sua resistência na ligação.

Observação: As emendas entre as tábuas devem ser distribuídas ao longo da peça,


evitando-se ao máximo que essas emendas se posicionem em uma mesma
seção transversal.

6 – LIGAÇÕES POR ENTALHES

É o tipo de ligação mais prático e natural entre duas peças de madeira. Só pode ser
utilizada quando temos uma das peças comprimida, devendo-se verificar as resistências
das superfícies ao esmagamento e, às vezes, a resistência ao cisalhamento de um certo
trecho (caso das juntas extremas das tesouras). Os entalhes não podem ser usados para
resistir a inversões de esforços devido a ação do vento.

A B
(a) (b)

C
(c)
D
(d)

Figura 17.8 - Ligações por entalhe.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.5


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Figura 17.8a - Temos uma ligação do apoio de uma tesoura, onde o banzo superior
(comprimido) se liga ao banzo inferior (tracionado).
Figura 17.8b - Temos uma ligação de um nó superior de uma treliça, onde a diagonal é
comprimida.
Figura 17.8c - Temos uma ligação de uma diagonal comprimida com o banzo inferior.
Figura 17.8d - Temos uma ligação da cumeeira onde o banzo superior é comprimido.

(a) (b) (c)


Figura 17.9 - Ligações por entalhe.
(a) Ligação de uma empena de treliça de cobertura.
(b) Ligação de uma mão francesa comprimida.
(c) Ligação de uma peça tracionada.

6.1 - CÁLCULO DOS ENTALHES

Seja uma ligação típica por meio de entalhes do apoio de uma tesoura onde o
banzo superior (comprimido) se liga ao banzo inferior (tracionado), figura 17.10.

Figura 17.10 - Detalhe ligação por entalhe.

Os esforços de compressão P do banzo superior transmitem-se ao banzo inferior


através das componentes P1 e P2 agindo normalmente aos planos sobre os quais atuam.

Figura 17.11 - Decomposição das cargas.


Edgar V. Mantilla Carrasco 17.6
Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

a) Cálculo da altura do dente (e)

Baseando-se na figura 17.11, pode-se dizer que:


e
AB = e portanto, e = AB × cos θ
cos θ

A carga P atua sobre a área AB ⋅ b , causando uma tensão de:

Nd N d × cos θ
σ at = ou seja, σ at =
AB × b e×b

Essa tensão atuante deve ser menor ou igual à resistência de cálculo da madeira
inclinada de θ em relação às fibras, oriunda da fórmula de Hankison.

N d × cos θ
σ at = ≤ f cα ,d
e×b

e, portanto,

N d × cos θ
e≥
f cα ,d × b

generalizando γ = θ , temos:

N d × cos γ
e≥
f cα ,d × b
onde:
e = Altura do dente;
Nd = Solicitação de cálculo (banzo superior)
γ = Ângulo entre as peças de ligação
b = Largura da peça do banzo inferior
fcα ,d = Resistência de cálculo da madeira à compressão inclinada de ângulo com a
direção das fibras
θ = Ângulo entre o segmento AB e a normal ao banzo inferior.

b) Cálculo da folga necessária ao cisalhamento (f)

Para que não ocorra ruptura devido ao cisalhamento, figura 17.12, é necessário que
se mantenha uma folga (f) suficiente.

Figura 17.12 - Folga necessária.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.7


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Na área b×f aparece uma tensão de cisalhamento devido à força N d × cos γ , dada por:
N d × cos γ
τ at = ≤ f v 0 ,d
b× f

e, portanto:
N d × cos γ
f ≥
b × f v 0 ,d

Onde:
f = Folga necessária ao cisalhamento;
Nd = Solicitação de cálculo do banzo superior;
γ = Angulo entre as peças de ligação;
b = Largura da peça do banzo inferior;
f v 0 ,d = Resistência de cálculo ao cisalhamento.

6.2 - DETALHES CONSTRUTIVOS

1. Os eixos das barras de treliças devem encontrar-se, sempre que possível no nó teórico
do esquema estrutural.

2. Como a peça do banzo inferior é em geral tracionada, para que a área útil desta peça
não seja muito diminuída, a experiência prática nos diz que a altura do dente (e) não
deve ultrapassar 1/4 da altura da peça do banzo inferior (d) e não deve ser inferior a 1/8
da altura da peça ou 2 cm, assim, o dente deve se encontrar no intervalo:
1 1
d ≤e≤ d com e ≥ 2 cm
8 4

3. Quando se obtiver nos cálculos e > d/4, mantém-se o cálculo mas constroem-se dois
dentes, figura 17.13, com a altura igual a e/2 e medindo-se a folga f a partir do segundo
dente, observando-se que a partir do primeiro dente deve-se ter f/2.

Figura 17.13 - Entalhe com dois dentes.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.8


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Neste caso ainda é conveniente manter o segundo dente um pouco mais baixo que
o primeiro, evitando-se assim uma linha contínua para resistir ao cisalhamento.

Quando nem mesmo a utilização de dois dentes for suficiente para transmitir os
esforços (e/2 > d/4), costuma-se usar dois dentes de altura d/4 e o restante da carga é
transmitida através de cobrejuntas pregadas ou parafusadas.

Da carga total P os dentes absorvem 2P1, figura 17.14, e as cobrejuntas absorvem a


carga restante, P - 2P1.

Figura 17.14 – Ligação com entalhes e cobrejuntas laterais.

4. Durante a construção é comum o uso de parafusos de rosca soberba (auto-


atarraxantes) para posicionar os dentes durante a montagem.

Figura 17.15 - Fixação com parafusos auto-atarraxantes.

Para se garantir a indeslocabilidade lateral dos entalhes das treliças nas juntas
extremas e centrais, deve-se colocar estribos, braçadeiras de aço ou cobrejuntas de
madeira pregadas. Lembrando-se sempre que esse tipo de ligação serve somente para
conexão de peças comprimidas.

Figura 17.16 - Detalhe de braçadeira.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.9


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Figura 17.17 - Detalhe de estribo.

Figura 17.18 - Ligação com entalhe em diagonais comprimidas.

Além do entalhe para a ligação do banzo inferior com o superior, as ligações por
meio de dentes também são usadas nas diagonais comprimidas de tesouras. Seu cálculo é
idêntico ao visto anteriormente, podendo-se, entretanto, dispensar o cálculo da folga (f).

Figura 17.19 - Ligações com entalhes e cobrejuntas de madeira.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.10


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Como caso particular, encontra-se a ligação entre dois banzos superiores no nó da


cumeeira.

Figura 17.20 - Ligação entre dois banzos superiores e a cumeeira.

Exemplo de Aplicação:

1) Dimensionar e detalhar a ligação do nó de apoio de uma tesoura de Jatobá, sabendo-se


que a inclinação do telhado é de γ= 17º, que as peças dos banzos superior e inferior têm
uma seção de (6x16) cm2 e que a carga permanente de compressão é de 82.000N e de
pequena variabilidade.

Observação: Considerar apenas caga de longa duração e classe de umidade 2.

Solução

• Propriedades da madeira:

K mod = K mod 1 × K mod 2 × K mod 3 = 0,7 × 1,0 × 0,8 = 0,56


f c 0 ,m = 93,3 MPa ;
f c 0 ,k = 0,7 × 93,3 = 65,31 MPa
0 ,56 × 65,31
f c 0 ,d = = 26 ,12 MPa
1,4

f c 90 ,d = 0 ,25 × f c 0 ,d = 0 ,25 × 26 ,12 = 6 ,53 MPa

f v 0 ,m = 15,7 MPa
f v 0 ,k = 0 ,54 × 15,7 = 8,48 MPa
0 ,56 × 8,48
f v 0 ,d = = 2 ,64 MPa
1,8

f c 0 ,d × f c 90 ,d
f cα ,d =
f c 0 ,d × sen 2 γ + f c 90 ,d × cos 2 γ
26,12 × 6,53
f cα ,d = = 20 ,79 MPa = 2079 N/cm 2
26 ,12 × sen 17 + 6 ,53 × cos 17
2 2

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.11


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

• Cálculo da altura do dente:

N d × cos γ d d
e≥ e ≤e≤
b × f cα ,d 8 4

d = altura da peça do banzo inferior = 16 cm

N d = 1,3 × N g = 1,3 × 82000 = 106600 N (Carga permanente de pequena variabilidade)

Substituindo os valores, temos:

106600 × 0,956
e≥ = 8,17cm e 2≤e≤4
6 × 2079

Como e ≥ 4cm, deverão ser usados dois entalhes com altura de 4 cm e ainda cobrejuntas
pregadas ou parafusadas para transmitir o restante da carga.

N d' × cos γ N d' × cos 17 °


e≥ ⇒ e= ⇒ N d' ≅ 52175 N
b × f cα ,d 6 × 2079

Os dentes absorverão 2 × N d' ≅ 104350 N , sobrando para as cobrejuntas pregadas ou


parafusadas N d − 2 × N d' ≅ 2250 N .

• Cálculo da folga (f):

P × cos γ 104350 × cos 17 °


f ≥ ⇒ f ≥ ≥ 63,0 cm ≅ 64,0 cm
b × f v 0 ,d 6 × 264

Como são dois dentes, deve-se ter:


• A partir do primeiro dente: f/2 = 32 cm
• A partir do segundo dente: f= 64 cm

• Cálculo do número de pregos:

A carga a ser transmitida através das cobrejuntas é de 2.250 N. Utilizando-se


pregos 20 x 42, cujo valor de cálculo da resistência para o Jatobá e corte duplo é de 819
N/prego, pode-se obter o número de pregos em cada ligação.

P 2250
n= = = 2 ,75 ⇒ adotar 3 pregos
F prego 819

E comum utilizar-se um número par de pregos, possibilitando montar uma ligação


simétrica. Assim, deve-se usar 4 pregos em cada lado da ligação, isto é, 2 pregos em cada
face.

Observação: O cálculo de ligações pregadas será visto adiante.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.12


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

• Detalhamento

Montando-se os resultados dos cálculos em um desenho, tem-se o que chamamos


de DETALHE no nó.

20 cm

7 - LIGAÇÕES COM PINOS METÁLICOS (pregos e parafusos)

As ligações com 2 ou 3 pinos são consideradas deformáveis, permitindo o seu


emprego exclusivamente em estruturas isostáticas. No projeto estas ligações serão
calculadas como se fossem rígidas, dando-se à estrutura isostática uma contraflecha
compensatória, de pelo menos L/100.

As ligações com 4 ou mais pinos podem ser consideradas rígidas desde que sejam
seguidas as considerações de pré-furação.

7.1 - RESISTËNCIA DOS PINOS

A NBR 7190/97, define a resistência total de um pino como sendo a soma das
resistências correspondentes às suas seções de corte.

Caso existam mais de oito pinos em linha, dispostos paralelamente ao esforço a ser
transmitido, os pinos suplementares devem ser considerados com apenas 2/3 de sua
resistência individual. Neste caso, sendo n o numero efetivo de pinos, a ligação deve ser
calculada com o número convencional:
2
n0 = 8 + ( n − 8 )
3

A resistência de um pino, correspondente a uma dada seção de corte entre duas


madeiras, é determinada em função de:

• Madeira:
- Resistência ao embutimento (fed) das duas peças interligadas;
- Espessura convencional “t”, dada em função das madeiras a serem unidas.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.13


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

• Pino:
- Resistência de escoamento (fyd);
- Diâmetro do pino.

No dimensionamento das ligações de estruturas de madeira por pinos duas


situações devem ser verificadas: o embutimento da madeira e a flexão do pino. Estes dois
fenômenos são função da relação entre a espessura da peça de madeira e o diâmetro do
pino, dada pela seguinte expressão:
t
β=
d
Sendo:
t = espessura convencional da madeira;
d = diâmetro do pino.

A comparação deste coeficiente com o valor βlim, que leva em conta as resistências
da madeira e do aço, determina a forma de cálculo da resistência de uma seção de corte do
pino. O coeficiente βlim é determinado pela seguinte expressão:
f yd
β lim = 1,25
f ed
Sendo:
fyd = resistência de cálculo do pino metálico, podendo ser admitida como igual à
resistência nominal característica de escoamento;
fed = resistência de cálculo de embutimento da madeira (podendo ser paralela,
normal ou inclinada em relação às fibras, dependendo da direção da solicitação).

Assim o valor de cálculo da capacidade do pino, Rvd,1, correspondente a uma única


seção de corte, é dada pelas expressões seguintes (dependendo do estado limite atingido):

• Caso β ≤ β lim (Estado limite por embutimento da madeira)


t2
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed
β

• Caso β > β lim (Estado limite por flexão do pino)

d2
Rvd ,1 = 0,625 × × f yd
β lim
f yk
f yd = com γs=1,1
γs

Caso sejam utilizadas chapas de aço nas ligações, são necessárias as seguintes
verificações: a primeira delas do pino metálico com a madeira como visto anteriormente; e a
segunda, do pino com a chapa metálica de acordo com os critérios apresentados pela NBR
8800.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.14


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

No caso de pinos em corte duplo, como mostrado na figura 17.21, aplicam-se os


mesmos critérios apresentados anteriormente, para cada seção de corte.

(a) (b)

Figura 17.21 — Ligações com pinos. (a) um corte e (b) dois cortes

8- LIGAÇÕES PREGADAS

A resistência de uma ligação pregada depende de uma série de fatores, tais como:

Relativos aos pregos:

• Forma e dimensão (índice de esbeltez do prego para receber as marteladas (8<λ<11);


• Capacidade de carga;
• Deformação do prego por flexão.

Relativos à madeira:

• Enfraquecimento da seção resistente provocada pelo furo do prego;


• Fendas ocasionadas pela penetração do prego;
• Esmagamento do prego contra a madeira nas paredes dos furos;
• Disposição dos pregos;
• Estado de umidade da madeira. A madeira apresenta facilidade na penetração do
prego, diminuindo a possibilidade de fendilhamento, porém, devido a retratibilidade da
madeira, poderá ocorrer afrouxamento no sentido longitudinal.

Relativo à qualidade da mão de obra:

Os carpinteiros experimentados possuem certa sensibilidade para dispor os pregos


sem fendilhar a madeira e não entortar o prego ao martelar. Geralmente os carpinteiros que
trabalham com formas e forros (madeiras moles: Pinus) não se adaptam ao trabalho com
telhados (madeiras duras: Paraju) e a maioria dos marceneiros, pessoas altamente
qualificadas, não dispõem de treinamento físico para as condições e locais de trabalho das
estruturas de madeira.

Conclusão

Diante da série de fatores apresentados e a dificuldade do equacionamento da


resistência nas ligações pregadas, partiram-se inicialmente de ensaios de laboratório, que,
ainda hoje, é o critério de maior confiabilidade. Com os elementos obtidos houve subsídios
para se estabelecer as fórmulas de cálculo propostas pela NBR 7190/97, que os considera

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.15


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

como pinos. A determinação da capacidade de carga é feita como apresentado no item 6


deste capítulo.

8.1 - CONSIDERAÇÕES PARA APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE


DIMENSIONAMENTO DA NBR 7190/97

8.1.1 - Pré-furação

Em ligações pregadas será obrigatoriamente feita a pré-furação da madeira, com


diâmetro d0 não maior que o diâmetro do prego, com valores usuais:

Coníferas: d0 =0,85×def
Dicotiledôneas: d0 =0,98×def

Onde def é o diâmetro efetivo medido nos pregos a serem usados.

Em estruturas provisórias, admite-se o emprego de ligações pregadas sem a pré-furação da


madeira desde que se empreguem madeiras moles de baixa densidade ρap ≤ 600 kg/m3,
que permitam a penetração dos pregos sem risco de fendilhamento, e pregos com diâmetro
não maior que 1/6 da espessura da madeira mais delgada e com espaçamento mínimo de
10xd.

8.1.2 - Espessura convencional (t)

Em ligações pregadas em corte simples, figura 17.22-a, a espessura convencional, t,


será a menor das espessuras t1 e t2.

Quando a ligação pregada é entre uma peça de madeira e uma chapa metálica,
figura 17.22-b, a espessura convencional será a espessura da madeira.

(a) (b)
obs: t1 é o menor valor entre t1 e t2

Figura 17.22 — Espessura convencional (t) — Corte simples

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.16


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Em ligações pregadas em corte duplo, como mostrado na figura 17.23, considera-se


a espessura convencional, t, como sendo o menor dos valores t1 e t2/2 em uma das seções,
e entre t2/2 e t3 na outra.

Figura 17.23 — Espessura convencional (t) - corte duplo

8.1.3 - Limitações e disposições gerais

• Diâmetro do prego:
- O diâmetro do prego não deve exceder a 1/5 da espessura convencional. Permite-se
d < t/4 quando a pré-furação seja com d0 = def.
- Diâmetro mínimo: 3 mm.

• Penetração do prego:
- A penetração em qualquer uma das peças ligadas não deve ser menor que a
espessura da peça mais delgada e ainda a penetração na segunda peça não deve
ser menor que12d, figura 17.24.

Figura 17.24 - Penetração do prego.

8.1.4 - Espaçamento dos pregos

Para evitar o perigo de fendilhamento da madeira, quando os pregos se acham


dispostos sobre a linha de uma mesma fibra, as normas estabelecem espaçamentos
mínimos

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.17


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Pelas indicações da NBR 7190/97, o espaçamento entre os pinos é dado por:

6d = entre o centro de dois pinos situados em uma mesma linha paralela à direção das
fibras (pregos, parafusos ajustados e cavilhas);
4d = entre o centro de dois pinos situados em uma mesma linha paralela à direção das
fibras (parafusos);
7d = do centro do último pino à extremidade de peças tracionadas;
4d = do centro do último pino à extremidade de peças comprimidas;
3d = entre os centros de dois pinos situados em duas linhas paralelas a direção das
fibras, medido perpendicularmente à fibras;
1,5d = do centro de qualquer pino à borda lateral da peça, medido perpendicularmente
às fibras, quando o esforço transmitido for paralelo às fibras;
1,5d = do centro de qualquer pino à borda lateral da peça, medido perpendicularmente
às fibras, quando o esforço transmitido for normal às fibras, do lado onde atuam
tensões de tração normal;
4d = do centro de qualquer pino à borda lateral da peça, medido perpendicularmente às
fibras, quando o esforço transmitido for normal às fibras, do lado onde atuam
tensões de compressão normal.

Estes espaçamentos estão representados na figura 17.25.

Figura 17.25 - Espaçamento mínimos entre pinos.

8.1.5 - Bitolas comerciais

Os pregos são fabricados com arame doce, fy = 600 MPa, em grande variedade de
tamanho.

As bitolas comerciais antigas, ainda utilizadas no Brasil, descrevem os pregos por


dois números: o primeiro representa o diâmetro em fieira francesa; o segundo mede o
comprimento em linhas portuguesas.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.18


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Na tabela 17.1 são apresentados os pregos mais utilizados em estruturas.

Tabela 17.1 - Bitolas dos pregos mais usuais


DESIGNAÇÃO
Quantidade
(Diâmetro x Aproximada
Comprimento)
FIEIRA DIÂMETRO COMERCIAL ABNT Unidades por Kg
(nº) (mm) δ x L (nº) δ x L (mm)
16 2,7 16 x 18 2,7 x 41 458
16 x 21 2,7 x 48 416
16 x 24 2,7 x 55 349
17 3,0 17 x 21 3,0 x 48 305
17 x 24 3,0 x 55 285
17 x 27 3,0 x 62 226
18 3,4 18 x 24 3,4 x 55 211
18 x 27 3,4 x 62 187
18 x 30 3,4 x 69 175
19 3,9 19 x 27 3,9 x 62 152
19 x 30 3,9 x 69 133
19 x 33 3,9 x 76 122
19 x 36 3,9 x 83 109
20 4,4 20 x 30 4,4 x 69 99
20 x 36 4,4 x 83 91
20 x 42 4,4 x 96 76
21 4,9 21 x 33 4,9 x 76 80
21 x 36 4,9 x 83 70
21 x 45 4,9 x 103 56
22 5,4 22 x 42 5,4 x 96 51
22 x 45 5,4 x 103 49
22 x 48 5,4 x 110 45
23 5,9 23 x 54 5,9 x 124 34
24 6,4 24 x 60 6,4 x 138 27
25 7,0 25 x 66 7,0 x 152
26 7,6 26 x 72 7,6 x 165 16
26 x 84 7,6 x 193

8.1.6 - Aplicação do critério

1 - Conhecidas (ou estimadas) as dimensões das peças da ligação t1 e t2, determina-se


a espessura convencional, t;

2 - Escolha de um prego comercial que satisfaça:


1
d ≤ ×t
5
⎧12 × d ⎫
L ≥ t1 + ⎨ ⎬ com t1 < t2
⎩t1 ⎭

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.19


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

3 - Determinação β e βlim:
t f yd
β= β lim = 1,25
d f ed

Determinação da resistência ao embutimento da madeira:

- Paralela às fibras:
f c 0,m
f ed = f e 0,d = f c 0,d = k mod × 0,70 ×
γw

- Normal às fibras:
f ed = f e90 ,d = 0,25 × f c 0 ,d × α e

Os valores de αe são dados na tabela 17.2.

- Inclinada às fibras
f e 0 ,d × f e 90 ,d
f eα ,d =
f c 0 ,d × sen 2 α + f e90 ,d × cos 2 α

Determinação da resistência do aço do prego::


f yk
f yd = com γs=1,1
γs

4 - Determinar a capacidade de carga do prego, correspondente a uma seção de corte:

4.1- Se β ≤ β lim (Estado limite por embutimento da madeira)


t2
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed
β

4.2 Se β > β lim (Estado limite por flexão do pino)


d2
Rvd ,1 = 0,625 × × f yd
β lim

5 - Número de pregos: conhecida a solicitação de cálculo na ligação (Nd) e escolhido o


prego a se utilizar, calcula-se o número de pregos necessários para cada corte da
ligação.
Nd
Número de pregos ≥
Rv1,d
Onde:
Nd = Solicitação de cálculo
Rv1,d = Capacidade de carga de um prego

6 - Tendo-se o número de pregos, distribui-se metade para cada face da ligação


mantendo-se os espaçamentos mínimos, obtendo-se o comprimento necessário da
cobrejunta.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.20


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

7 - Finalmente, detalha-se a ligação.

Tabela 17.2 — Valores de αe


Diâmetro do ≤0,62 0,95 1,25 1,6 1,9 2,2 2,5 3,1 3,8 4,4 5,0 ≥7,5
Pino (cm)
Coeficiente αe 2,5 1,95 1,68 1,52 1,41 1,33 1,27 1,19 1,14 1,1 1,07 1,0

Exemplo de Aplicação:

1) Calcular o número de pregos necessários para a ligação do pendural com a linha de uma
tesoura e determinar as distâncias mínimas entre eles. Sendo a madeira Jatobá e o
carregamento permanente de pequena variabilidade.

N N/2 N/2

4d
6d
1,5d
7d

2,5 6,0 2,5


1,5d 3d 1,5d

10 cm

Esforço no pendural: 2000N.

Solução

Nd = 1,3xNgk = 1,3x2000 = 2600 N

• Espessura convencional (t):


t1 = 2,5 cm
t2/2= 3 cm ⇒ t= 2,5 cm

• Escolha dos pregos:

d = Diâmetro do prego
L = Comprimento do prego
t = Espessura convencional

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.21


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

1 2,5
d≤ ×t = = 0,5 cm = 5 mm ⇒ d= 4,9 mm
5 5
⎧12 × d = 58,8
Penetração: ≥ ⎨ ⇒ L = 58,8 + 25 = 83,8 mm
⎩ t = 25

Procurando uma bitola que mais se aproxima das dimensões (4,9 x 83,8) mm2 na
tabela 17.1 e escolhendo os prego com dimensões de 21 x 36 (4,9 x 83) mm2.

• Cálculo da capacidade do prego (normal às fibras)

- Determinação de β e βlim

f yk 60000
f yd = = = 54545 N/cm
2

1,1 1,1
0,56 × 0,7 × f c 0 ,m 0,56 × 0,7 × 9330
f c 0 ,d = = = 2612,4 N / cm 2
1,4 1,4
f e 90 ,d = 0 ,25 × f c 0 ,d × α e = 0 ,25 × 2612,4 × 2,5 = 1633 N/cm 2
Assim:
t 25
β= = = 5,1
d 4 ,9
f yd 54545,5
β lim = 1,25 × = 1,25 × = 7 ,22
f ed 1633
Como β < β lim (Estado limite por embutimento da madeira)
t2 2,5 2
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed Rv1,d = 0,40 × × 1632 = 800 N
β 5,1

• Cálculo do número de pregos


Nd 2600
n= = = 3,25 pregos
Rv1,d 800

Adotando 4 pregos, sempre simetricamente dispostos (2 na face anterior e 2 na face


posterior do pendural)

• Espaçamento mínimo – NBR 7190/97

Na direção paralela ao esforço = 6d = 3 cm


Na direção normal ao esforço = 3d = 1,5 cm
Na aresta em direção paralela ao esforço = 4d = 2 cm
Na aresta em direção paralela e normal (sem esforço) = 1,5d = 0,75 cm
Do ultimo prego a extremidade tracionada = 7d = 3,5 cm

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.22


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

2) Dimensionar uma ligação em uma peça de Jatobá com (6 x 16) cm2 de seção
transversal. A peça está sujeita a uma carga permanente de tração de 8.000 N, de
pequena variabilidade.

Solução

Nd= 1,3x8000 = 10400 N

• Espessura convencional, t

t1 = 3 cm
t2 = 6 cm ⇒ t= 3 cm

• Escolha dos pregos

d = Diâmetro do prego
L= Comprimento do prego
t= Espessura convencional
1 3,0
d ≤ × t1 = = 0,6 cm = 6 mm ⇒ d= 5,9 mm
5 5
⎧12 × d = 71
Penetração: ≥ ⎨ ⇒ L = 71 + 30 = 101 mm
⎩ t = 30

Pode-se, portanto, adotar pregos com dimensões de 23 x 54 (5,9 x 124) mm2

• Cálculo capacidade do prego (paralelo às fibras)

- Determinação de β e βlim

f yk 60000
f yd = = = 54545 N/cm
2

1,1 1,1
fc0,d = 0,56 × 0,7 × 9330 = 2612,4
1,4
fe0,d = fc0,d = 2612,4 N/cm2

Assim:
t 30
β= = = 5,08
d 5,9
f yd 54545
β lim = 1,25 × = 1,25 × = 5,71
fed 2612,4
Como β < β lim (Estado limite por embutimento da madeira)

t2 32
R vd,1 = 0,40 × × f ed R v1,d = 0,40 × × 2612,4 = 1851 N
β 5,08

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.23


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

• Cálculo do número de pregos


Nd 10400
n= = = 5,6 pregos
R v1,d 1851

Usaremos 6 pregos (23 x 59) cm2, (atravessando toda a ligação), obtendo-se uma
distribuição como mostrado abaixo (detalhe da ligação)

• Espaçamento mínimo – NBR 7190/97


- Na direção paralela ao esforço = 6d = 3,5 cm
- Na direção normal ao esforço = 3d = 1,7 cm
- Na aresta em direção paralela ao esforço = 4d = 2,5 cm
- Na aresta em direção paralela e normal (sem esforço) = 1,5d = 1,0 cm
- Do ultimo prego a extremidade tracionada = 7d = 4,0 cm

3
5

16 cm
8.000 N 8.000 N
5
3

4 4 4 4 4 4 3 6 3
24

8.000 N 8.000 N

9 - LIGAÇÕES PARAFUSADAS

Os parafusos são provavelmente os elementos de maior utilização nas ligações de


peças de madeira, principalmente nas emendas de peças tracionadas.

Serão abordados neste estudo os parafusos auto-atarraxantes e os parafusos lisos


de aço.

9.1 - PARAFUSOS AUTO-ATARRAXANTES

Os parafusos auto-atarraxantes em geral trabalham a corte simples como podemos


ver na figura 17.26. Eles são instalados com furação prévia. Estes parafusos podem ser
considerados como pinos. O critério de dimensionamento adotado será o mesmo dos
pregos. Todas as considerações sobre diâmetro, comprimento, espaçamentos e outras, são
válidas para este tipo de parafusos.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.24


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

O diâmetro a ser adotado será:


• d=dfuste Æ corte no fuste
• d=drosca Æ corte na rosca

Figura 17.26 - Parafusos auto-atarraxantes.

9.2 - PARAFUSOS DE PORCA E ARRUELA

Os parafusos lisos de aço são introduzidos na madeira após furo prévio.

Na verificação da resistência de uma ligação com parafusos devemos considerar o


estado limite for flexão do parafuso e o estado limite por embutimento da madeira. A
determinação da capacidade de carga do parafuso é feita de acordo ao item 6, visto
anteriormente.

9.2.1 - Tipos de Parafusos

São dois os tipos de parafusos mais utilizados:

a) Parafusos com cabeça e porca sextavada, arruelas circulares (figura 17.27).

Figura 17.27 - Parafuso com cabeça e porca sextavada.

b) Parafuso tipo francês

Tem cabeça semi-esférica, pescoço quadrado, espiga circular, porca e arruela


quadradas, figura 17.28.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.25


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Figura 17.28 - Parafuso tipo francês.

Dimensões dos Parafusos:

Comprimento L até 200 mm


Diâmetro d de 3/8” até < 3”
Arruelas - Proporcionais às especificações dos parafusos

Figura 17.29 - Espessura mínima da arruela.

Na tabela 17.3 temos os tipos de parafusos utilizados no Brasil.

Tabela 17.3 - Dimensões dos parafusos


Diâmetro do parafuso Espaçamentos (cm)
Polegadas Centímetros 1,5d 3d 4d 6d 7d
3/8 0,95 1,4 2,9 3,8 5,7 6,7
1/2 1,27 1,9 3,8 5,1 7,6 8,9
5/8 1,59 2,4 4,8 6,4 9,5 11,1
3/4 1,91 2,9 5,7 7,6 11,5 13,4
7/8 2,22 3,3 6,7 8,9 13,3 15,5
1 2,54 3,8 7,6 10,2 15,2 17,8
1 1/8 2,86 4,3 8,6 11,4 17,2 20,0
1 1/4 3,18 4,8 9,5 12,7 19,1 22,3
1 3/8 3,50 5,3 10,5 14,0 21,0 24,5
1 1/2 3,81 5,7 11,4 15,2 22,9 26,7
1 3/4 4,45 6,7 13,4 17,8 26,7 31,2
2 5,08 7,6 15,2 20,3 30,5 35,6

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.26


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

9.2.2 - Considerações para aplicação do critério de dimensionamento da


NBR 7190/97

9.2.2.1 – Pré-furação

Para que as ligações parafusadas sejam consideradas rígidas, a pré-furação será


feita com diâmetro d0 não maior que o diâmetro d do parafuso, acrescido de 0,5 mm. Caso
sejam empregados diâmetros d0 maiores, a ligação deve ser considerada deformável.

9.2.2.2 — Espessura convencional (t)

Em ligações parafusadas em corte simples, figura 17.30-a, a espessura


convencional, t, será a menor das espessuras t1 e t2 ( t ≥ 2d ) .

Quando a ligação parafusada é entre uma peça de madeira e uma chapa metálica,
figura 17.30-b, a espessura convencional será a espessura da madeira.

Em ligações parafusadas em corte duplo, como mostrado na figura 17.30-c,


considera-se que a espessura convencional, t é a menor entre t1 e t2/2.

(a) (b) (c)


Figura 17.30 — Espessura convencional (t): (a) e (b) Corte simples. (b) Corte duplo.

9.2.2.3 - Limitações e disposições gerais

• O diâmetro mínimo dos parafusos deve ser de 10 mm.


• A espessura mínima da cobrejunta com chapas de aço nos elementos principais e
emendas das estruturas deve ser 6 mm.
• O número mínimo de parafusos deve ser igual a 2.
• A resistência característica de escoamento do aço do parafuso fyk deve ser pelo
menos 240 MPa. A maioria dos parafusos para ligações com madeira tem fyk = 300
MPa.
• O diâmetro do parafuso deve ser menor ou igual a t/2, (recomendado).

9.2.2.4 - Espaçamentos mínimos

Os espaçamentos mínimos são os mesmos apresentados no item 8.1.4.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.27


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

9.2.2.5 - Critério de dimensionamento

1 - Conhecidas (ou estimadas) as dimensões das peças da ligação (t1 e t2), determina-
se a espessura convencional (t).

2- O diâmetro do parafuso deve satisfazer a seguinte condição:

t
d≤
2

3- Determinação β e βlim:
t f yd
β= β lim = 1,25
d f ed

Determinação da resistência ao embutimento da madeira:

- Paralela às fibras:
fed = fe0,d = fc 0,d = k mod × 0,70 × fc 0,m

- Normal às fibras:
fed = fe90,d = 0,25 × fc 0,d × α e

Os valores de αe são dados na tabela 17.2.

-inclinada às fibras
fe0,d × fe90,d
feα ,d =
fc 0,d × sen 2 α + fe 90,d × cos 2 α

Determinação da resistência do aço do parafuso:


f yk
f yd = com γs=1,1
γs

4 - Determinar a capacidade de carga do parafuso, correspondente a uma seção de


corte:

4.1- Se β ≤ β lim (Estado limite por embutimento da madeira)


t2
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed
β

4.2 Se β > β lim (Estado limite por flexão do pino)


d2
Rvd ,1 = 0,625 × × f yd
β lim

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.28


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

5 - Número de parafusos: conhecida a solicitação de cálculo na ligação (Nd) e escolhido


o diâmetro do parafuso, calcula-se o número de cortes necessários para cada ligação.
Nd
Número de cortes ≥
Rv1,d
Onde:
Nd = Solicitação de cálculo
Rv1,d = Capacidade de carga de um parafuso

Se ligação com corte simples ⇒ o número de parafusos = número de cortes;


Se ligação com corte duplo ⇒ o número de parafusos = número de cortes .
2

6 - Tendo-se o número de parafusos, deve-se distribuí-los na ligação mantendo-se os


espaçamentos mínimos.

7 - Finalmente, detalha-se a ligação.

Exemplo de Aplicação:

1) Determinar o número de parafusos para emendar duas peças de Jatoba (6 x 12) cm,
solicitadas por um esforço axial de tração de 40000 N paralelo às fibras. Considerar a
solicitação permanente e de pequena variabilidade.

Solução

Nd =1,3 × N= 1,3 × 40000 = 52000 N

• Espessura convencional, t:

t2 = 6 cm/2 ⇒ t= 3 cm

• Escolha do diâmetro:
t 3,0
d≤ = = 1,5 cm ⇒ Adotar: d = 12,7 mm
2 2

• Cálculo capacidade do parafuso (paralela às fibras):

- Determinação de β e βlim

f yk 30000
f yd = = = 27272 N/cm
2

1,1 1,1
0 ,56 × 0,7 × 9330
= = 2612 ,4 N/cm
2
f c 0 ,d
1,4
f e 0 ,d = f c 0 ,d = 2612,4 N/cm 2

Assim:

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.29


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

β = t = 30 = 2,36
d 12,7
f yd 27272
β lim = 1,25 × = 1,25 × = 4,04
f ed 2612,4

Como β < β lim (Estado limite por embutimento da madeira)

t2 32
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed Rv1,d = 0,40 × × 2612,4 = 3985 N
β 2,36

• Cálculo do número de parafusos:

Nd 52000
Número de cortes = = ≅ 13
Rv1,d 3985

Como a ligação tem corte duplo, por parafuso:

número de cortes 13
Número de parafusos = = = 6 ,5
2 2

Serão usados 7 parafusos em cada lado da ligação, obtendo-se uma distribuição


como mostrado abaixo (detalhe da ligação).

• Espaçamento mínimo – NBR 7190/97

Na direção paralela ao esforço = 4d = 5,1 cm


Na direção normal ao esforço = 3d = 3,8 cm
Na aresta em direção paralela ao esforço = 4d = 5,0 cm
Na aresta em direção paralela e normal (sem esforço) = 1,5d = 1,90 cm
Do ultimo parafuso a extremidade tracionada = 7d = 8,9 cm
3
6
3

9 8 8 8 8

2 - Determinar o número de parafusos para o caso de uma ligação de duas peças


solicitadas por um esforço axial de compressão de 3500 N normal às fibras da peça
principal. A madeira é Eucalipto grandis (8 x 12) cm e o carregamento é permanente de
pequena variabilidade.

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.30


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Solução

Nd =1,3 × N= 1,3 × 3500 = 4550 N

• Espessura convencional, t:

t1 = 3 cm
t2 = 8 cm/2 ⇒ t= 3 cm

• Escolha do diâmetro:
t 3,0
d≤ = = 1,5 cm ⇒ Adotar: d = 12,7 mm
2 2

• Cálculo capacidade do parafuso (normal às fibras):

- Determinação de β e βlim

f yk 30000
f yd = = = 27272 N/cm
2

1,1 1,1
0,56 × 0,7 × 4030
= = 1128,4 N/cm
2
f c 0,d
1,4
α e = 1,67 (por interpolação)

f e 90,d = 0,25 × f c 0,d × α e = 0,25 × 1128,4 × 1,67 = 471,11 N/cm 2


Assim:
β = t = 30 = 2,36
d 12,7
f yd 27272
β lim = 1,25 × = 1,25 × = 9,51
f ed 471,11

Como β < β lim (Estado limite por embutimento da madeira)

t2 32
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed Rv1,d = 0,40 × × 471,11 = 718,64 N
β 2,36

• Cálculo do número de parafusos:

Nd 4550
Número de cortes = = = 6,3
Rv1,d 718,64

Como a ligação tem corte duplo, por parafuso:

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.31


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

número de cortes 6,3


Número de parafusos = = = 3,15
2 2

Serão usados 4 parafusos, obtendo-se uma distribuição como mostrado abaixo


(detalhe da ligação).

• Espaçamento mínimo – NBR 7190/97

Na direção paralela ao esforço = 4d = 5,08 cm


Na direção normal ao esforço = 3d = 3,81 cm
Na aresta em direção paralela ao esforço = 4d = 5,08 cm
Na aresta em direção paralela e normal (sem esforço) = 1,5d = 1,91 cm
Do ultimo parafuso a extremidade comprimida = 4d = 5,08 cm

4d

3 - Determinar o número de parafusos para o caso de uma ligação em uma tesoura Pratt de
três peças solicitadas por: um esforço axial de tração de 13000 N na diagonal e um
esforço de compressão de 2300 N na vertical. A madeira é de Jatobá (8,0 x 12) cm e o
carregamento é permanente de pequena variabilidade. O angulo entre o banzo inferior e
a diagonal é de 39º.

Detalhe A

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.32


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Detalhe A

Vertical

Diagonal

Banzo Inferior

3,0 3,0

2,5 8,0 2,5

Medidas em cm

Solução

1º) Nd =1,3 × N= 1,3 × 13000 = 16900N


2º) Nd =1,3 × N= 1,3 × 2300 = 2990 N

Diagonal Vertical

Banzo Inferior
Banzo Inferior

3,0 8,0 3,0


3,0 2,5

Medidas em cm Medidas em cm

1º) Diagonal com o Banzo Inferior 2º) Vertical com o Banzo Inferior

• Espessura convencional, t:

Para o 1º caso
t1 = 3 cm
t2 = 8 cm/2 ⇒ t= 3 cm

Para o 2º caso

t1 = 2,5 cm
t2 = 3,0 cm ⇒ t= 2,5 cm

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.33


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

• Escolha do diâmetro:

Para o 1º caso

t 3,0
d≤ = = 1,5 cm ⇒ Adotar: d = 12,7 mm
2 2

Para o 2º caso

t 2,5
d≤ = = 1,25 cm ⇒ Adotar: d = 9,5 mm
2 2

Obs: Deve-se adotar o mesmo diâmetro do parafuso para os dois casos. É aconselhável
(não é obrigatório) adotar o diâmetro onde o β se aproxima mais do β lim .
Neste caso adotou-se então o diâmetro do primeiro caso Ø 12,7 mm, como pode ser
observado nos cálculos de β e β l im a seguir.

• Cálculo capacidade do parafuso (inclinada às fibras):

Para o 1º caso

- Determinação de β e βlim

f yk 30000
f yd = = = 27272 N/cm
2

1,1 1,1
0 ,56 × 0,7 × 9330
= = 2612 ,4 N/cm
2
f c 0 ,d
1,4

f e 90,d = 0,25 × f c 0,d × α e = 0,25 × 2612,4 × 1,67 = 1091 N/cm 2


2612,4 × 1091
f eα ,d = = 2754 N / cm 2
2612,4 × sen 39 + 1091 × cos 39
2 2

f e 0,d = f eα ,d = 2754 N/cm 2

Assim:
β = t = 30 = 2,36
d 12,7
f yd 27272
β lim = 1,25 × = 1,25 × = 3,93
f ed 2754

Como β < β lim (Estado limite por embutimento da madeira)

t2 32
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed Rv1,d = 0,40 × × 2754 = 4201 N
β 2,36

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.34


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

Para o 2º caso

- Determinação de β e βlim

f yk 30000
f yd = = = 27272 N/cm
2

1,1 1,1
0 ,56 × 0,7 × 9330
= = 2612 ,4 N/cm
2
f c 0 ,d
1,4

f e 90,d = 0,25 × f c 0,d × α e = 0,25 × 2612,4 × 1,67 = 1091 N/cm 2

f e 0,d = f e 90,d = 1091 N/cm 2

Assim:

Para Ø = 0,95
t 25
β= = = 2,63
d 9,5
Como neste caso o β está mais afastado do β l im do que no primeiro caso adotou-se o Ø
=12,7 então:

t 25
β= = = 1,97
d 12,7

f yd 27272
β lim = 1,25 × = 1,25 × = 6,25
f ed 1091

Como β < β lim (Estado limite por embutimento da madeira)

t2 2,5 2
Rvd ,1 = 0 ,40 × × f ed Rv1,d = 0,40 × × 1091 = 1384,5 N
β 1,97

• Cálculo do número de parafusos:

Para o 1º caso

Nd 16900
Número de cortes = = ≅4
Rv1,d 5201

Como a ligação tem corte duplo, por parafuso:

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.35


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

número de cortes 4
Número de parafusos = = =2
2 2

Serão usados 2 parafusos, obtendo-se uma distribuição como mostrado abaixo


(detalhe da ligação).

Para o 2º caso

Nd 2990
Número de cortes = = ≅ 2,20
Rv1,d 1384,5

Como a ligação tem corte simples:

Número de parafusos = Número de cortes = 2,20

Serão usados 3 parafusos, obtendo-se uma distribuição como mostrado abaixo


(detalhe da ligação).

• Espaçamento mínimo – NBR 7190/97



Para o 1º caso

Na direção paralela ao esforço = 4d = 5,0 cm


Na direção normal ao esforço = 3d = 3,8 cm
Na aresta em direção paralela e normal (sem esforço) = 1,5d = 1,90 cm
Do ultimo parafuso a extremidade tracionada = 7d = 8,9 cm

4,0 d
1,5 d
3,0 d
7,0 d
1,5 d

Para o 2º caso

• Espaçamento mínimo – NBR 7190/97

Na direção paralela ao esforço = 4d = 5,08 cm


Na direção normal ao esforço = 3d = 3,81 cm
Na aresta em direção paralela ao esforço = 4d = 5,08 cm
Na aresta em direção paralela e normal (sem esforço) = 1,5d = 1,91 cm
Do ultimo parafuso a extremidade comprimida = 4d = 5,08 cm

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.36


Estruturas usuais de madeira Ligações Estruturais em Madeira

1,5 d

4,0 d

4,0 d

3,0 d

1,5 d 1,5 d
3,0 d 3,0 d

• Detalhamento Geral

1,5 d

4,0 d
4,0 d
4,0 d

1,5 d
7,0 d 3,0 d

1,5 d
1,5 d 1,5 d
3,0 d 3,0 d

Edgar V. Mantilla Carrasco 17.37


CAPÍTULO 18
AÇÕES ESTRUTURAIS DE TELHADO

1 – TIPOS DE AÇÕES

As ações que devem ser consideradas, além de outras que possam surgir em casos especiais são:

• Carga permanente;
• Carga de vento (ação do vento - NBR - 6123);
• Cargas acidentais verticais - NBR - 6120.

1.1 – Ação Permanente

Segundo a NBR-6123, “A carga permanente será constituída pelo peso próprio da estrutura suposta
de madeira verde e por todas as sobrecargas fixas. O peso próprio avaliado depois do dimensionamento
definitivo da estrutura, não deve diferir de mais de 10% do peso próprio inicial admitido para o cálculo” - NBR
- 6123.

1.1.1 - Peso da cobertura

O material de cobertura e do forro constituem cargas fixas. Quando o forro fizer parte da estrutura do
edifício e for independente do telhado, pode ser dispensado.

A avaliação do peso do material de cobertura, poderá ser feita a partir dos valores apresentados nas
tabelas 18.1 e 18.2.

Na cobertura com telhas cerâmicas, pode-se incluir, no peso da cobertura, os caibros e as ripas.

gi = telhas + ripas + caibros + absorção d’água (18.1)

Os pesos das ripas e dos caibros poderão ser admitidos iguais a :

• ripas.................................................2 kgf / m2 (3 ripas por metro, considerando espaçados a cada 33


cm);
• caibros.............................................5 kgf / m2 (2 caibros por metro, considerando espaçados a cada
50 cm).

Na cobertura com chapas onduladas dispensa-se ripas e caibros, assim o peso da cobertura
distribuído na área inclinada da cobertura será:

gi = telha + absorção d’ água (18.2)

Como o peso da cobertura (gi) encontra-se distribuído na superfície inclinada do telhado, costuma-se
considerar a carga permanente atuando em projeção horizontal (planta), figura 18.1.

gi
gc =
cosα (18.3)
Onde : gc = Carga da cobertura em projeção horizontal, kgf / m2;
gi = Carga da cobertura na superfície inclinada;
α = Inclinação da cobertura;
Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Figura 18.1 - Carga em projeção horizontal

Tabela 18.1 - Características e peso de chapas onduladas

Tabela 18.2 - Características e peso de telhas

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.2


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

1.1.2- Peso próprio da estrutura

A estimativa do peso próprio dos elementos estruturais que compõem o madeiramento, poderá ser
feita através da:

a) Determinação do peso próprio dos elementos estruturais a partir de ante-projetos. É claro que para
a elaboração deste ante-projeto é necessária certa experiência profissional.

b) Aplicação de fórmulas empíricas. Uma das formas mais utilizadas para a determinação do peso
próprio da tesoura é a fórmula de Howe, apresentada a seguir:

g t = 2,45.(1 + 0,33. L) (18.4)

Onde: gt = Peso próprio da tesoura, inclusive contraventamento, kgf / m2;


L = Vão teórico da tesoura.

O peso próprio das terças pode ser estimado a partir da tabela 18.3 ou de um pré -dimensionamento.

Tabela 18.3 – Estimativa do peso próprio das terças (só para determinação do peso próprio)
TIPO DE COBERTURA VÃO MÁXIMO PESO ESTIMADO
RECOMENDADO (m) (kgf / m2)
Telha francesa 3,00 6,0
Telha colonial 2,50 8,0
Chapas de cimento e amianto 4,00 4,5

1.1.3 - Peso próprio do forro

O peso próprio do forro é composto do peso das chapas do forro e da estrutura de sustentação das
chapas.
gf = peso das chapas + estrutura de sustentação (18.5)

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.3


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

O peso das chapas pode ser determinado a partir da tabela 18.4. O peso da estrutura de sustentação
deve ser determinado após a elaboração de um projeto específico para cada tipo de forro. Por exemplo, para
forros de eucatex o peso da estrutura de sustentação em Pinho do Paraná será de 10 a 12 kgf / m2, assim o
peso total do forro será (sustentação + chapa)....gf = 15 kgf / m2.

1.1.4 - Cargas Adicionais

Estas cargas devem ser obtidas através de projetos elaborados por profissionais especializados.
Normalmente são provenientes do peso das luminárias, dutos de renovação de ar, projeção contra incêndios,
caixa d’água, painéis de propaganda comercial sobre a cobertura, etc.

gA em kgf / m2

Tabela 18.4 - Peso das placas para forros

1.1.5 – Ação Permanente

Será a soma de todas as cargas fixas.

g = gc + go + gt +gf +ga + ... (kgf / m2 em projeção horizontal) (18.6)


Onde: gc = Peso da cobertura;
go = Peso das terças;
gt = Peso da tesoura + contraventamentos;
gf = Peso do forro;

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.4


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

ga = Cargas adicionais;

Quando o peso próprio da estrutura (go + gt) for maior ou igual a 75% da totalidade dos pesos,
considera ação permanente de pequena variabilidade. Caso contrário, considerar de grande variabilidade.

1.2 - Carga acidental

As cargas acidentais para os telhados, além de outras que possam surgir em casos especiais, tais
como poeiras das minerações que se acumulam nos telhados dos edifícios próximos de algumas zonas
industriais acham-se especificadas na NBR-6123 e na NBR-6120.

1.2.1 - Ação do vento

As considerações para a avaliação das forças devidas à ação do vento, para o efeito de cálculo das
edificações, acham-se especificadas na NBR - 6123. O procedimento dessa norma recomenda o cálculo da
ação do vento visando sua atuação nas várias partes que compõem a edificação:

a) Elementos de vedação e suas fixações (telhas, vidros, painéis, ganchos e parafusos);


b) Partes da estrutura (paredes e telhados);
c) A estrutura como um todo (verificação do tombamento e deslocamento do edifício).

Será interesse deste trabalho apenas a parte da estrutura correspondente ao telhado, já que as
considerações a respeito dos elementos de vedação e suas fixações estão afetos aos fabricantes dos
materiais para a cobertura.

A estrutura como um todo, faz parte da verificação da estabilidade estática do conjunto, ou seja, a
força global do vento sobre a edificação, obtida pela soma vetorial das forças do vento que atuam em todas
as partes (força do arrasto).

1.2.2 – Cálculo da ação do vento

A carga devido à ação do vento depende de vários fatores os quais serão apresentados a seguir.

1.2.2.1 - Velocidade Básica

A determinação da velocidade básica (V0 ), adequada ao local onde será construído o telhado, é feita
pelo mapa do vento (gráfico das isopletas), fig. 18.2.

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.5


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Figura 18.2 - Gráfico das isopletas da velocidade básica do vento; Vo, em m/s

1.2.2.2 - Fatores de Variação de Velocidade Básica

Para a determinação da velocidade característica é necessário conhecer onde será construída a


edificação, a topografia do terreno, o destino e o nível de utilização. Isto é possível com a determinação dos
fatores S1, S2 e S3 que serão explicados em seguida na figura 18.3.

S1 ... Fator Topográfico, tabela 18.5;


S2 ... Fator de Rugosidade de terreno, tabela 18.6;
S3 ... Fator Estatístico (depende da utilização e do risco), tabela 18.7.

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.6


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

a) Fator topográfico S1

O fator topográfico S1 leva em consideração as variações do relevo do terreno e é determinado do


seguinte modo:

Tabela 18.5 – Fator Topográfico S1

Topografia S1
a Todos os casos, exceto os seguintes 1,0
b Encostas e cristas de morros em que ocorre aceleração do vento. 1,1
Vales com efeito de afunilamento
c Vales profundos, protegidos de todos os ventos. 0,90

1. Terreno plano ou fracamente acidentado: S1 = 1,0;


2. Taludes e morros:
- taludes e morros alongados nos quais pode ser admitido um fluxo de ar bidimensional soprando no
sentido indicado na figura abaixo:

Nos pontos A e C (taludes) e no ponto A(morros): S1 = 1,0

Figura 18.3 – Fator topográfico S1

No ponto B [ S1 é uma função S1 (z) ]:


• θ ≤ 3o : S1 (z) = 1,0;
• 6o ≤ θ ≤ 17o :

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.7


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

⎛ z⎞
(
S1 ( z) = 1,0 + ⎜ 2 ,5 − ⎟. tg θ − 3o ≥ 1
⎝ d⎠
)
• θ ≥ 45o :
⎛ z⎞
S1 ( z) = 1,0 + ⎜ 2 ,5 − ⎟.0,31 ≥ 1
⎝ d⎠
• Interpolar linearmente para 3o < θ < 6o e 17o < θ < 45o.
Onde:
z = altura medida a partir da superfície do terreno até o ponto considerado;
d = diferença de nível entre a base e o topo do talude ou morro;
θ = inclinação média do talude ou encosta do morro.

Entre A e B e entre B e C o fator estatístico S1 é obtido por interpolação linear.

3.Vales profundos, protegidos de ventos de qualquer direção: S1 = 0,90.

b) Fator de rugosidade do terreno S2

O fator S2 considera o efeito combinado da rugosidade do terreno, da variação da velocidade do vento


com a altura acima do terreno e das dimensões da edificação ou parte da edificação, tabela 18.6.

Tabela 18.6 - Fator de rugosidade do terreno S2

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.8


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Onde z é a altura medida a partir da superfície do terreno. A rugosidade do terreno é subdividida nas
categorias 1 a 5, conforme especificação a seguir:
• Categoria I: Superfícies lisas de grandes dimensões, com mais de 5 km de extensão, medida na
direção e sentido do vento incidente. Exemplos: mar calmo;lagos e rios; pântanos sem vegetação.
• Categoria II: Terrenos abertos em nível ou aproximadamente em nível, com poucos obstáculos
isolados, tais como árvores e edificações baixas. Exemplos: zonas costeiras planas; pântanos com
vegetação rala; campos de aviação; pradarias e charnecas; fazendas sem sebes ou muros.
• Categoria III: Terrenos planos ou ondulados com obstáculos, tais como sebes e muros, poucos
quebra - ventos de árvores, edificações baixas e esparsas. Exemplos: granjas e casas de campo, com
exceção das partes com matos; fazendas com sebes e/ou muros; subúrbios a considerável distância
do centro, com casas baixas e esparsas.
• Categoria IV: Terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco espaçados, em zona florestal,
industrial ou urbanizada. Exemplos: zonas de parques e bosques com muitas árvores; cidades
pequenas e seus arredores; subúrbios densamente construídos de grandes cidades; áreas industriais
plena ou parcialmente desenvolvidas.
• Categoria V: Terrenos cobertos por obstáculos numerosos, grandes, altos e pouco espaçados.
Exemplos: florestas com árvores altas de copas isoladas; centros de grandes cidades; complexos
industriais bem desenvolvidos.

A dimensão da edificação situa-se nas classes A, B ou C, conforme discriminação a seguir:

• Classe A: Todas as unidades de vedação, seus elementos de fixação e peças individuais de estruturas
sem vedação. Toda edificação na qual a maior dimensão horizontal ou vertical não exceda 20 metros.
• Classe B: Toda edificação ou parte de edificação para a qual a maior dimensão horizontal ou vertical
da superfície esteja entre 20 e 50 metros.
• Classe C: Toda edificação ou parte de edificação para a qual a maior dimensão horizontal ou vertical
da superfície exceda 50 metros.

c) Fator estatístico S3

Tabela 18.7 - Fator estatístico


Grupo Descrição S3
1 Edificações cuja ruína total ou parcial pode afetar a segurança ou possibilidade de socorro a 1,10
pessoas após uma tempestade destrutiva (hospitais, quartéis de bombeiro e de forças de
segurança, centrais de comunicação, etc.).
2 Edificações para hotéis e residências. Edificações para comércio e indústria com alto fator 1,00
de ocupação.
3 Edificações e instalações industriais com baixo fato de ocupação (depósitos, silos, 0,95
construções rurais, etc.).
4 Vedações (telhas, vidros, painéis, de vedação, etc.).
5 Edificações temporárias. Estruturas dos grupos 1 a 3 durante a construção. 0,83

1.2.2.3 - Velocidade Característica do vento

A velocidade, a ser considerada no projeto, é determinada pela expressão:

Vk = V0 . S1 . S2 . S3 (18.7)

Onde, Vo = Velocidade básica do vento, (m / s);


Vk = Velocidade Característica do vento, (m / s);

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.9


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

1.2.2.4 – Pressão Dinâmica

Depende essencialmente da velocidade do vento na região geográfica e é dada pela equação:

Vk 2
q=
16 (18.8)

Onde, q = Pressão dinâmica do vento, kgf/m2, correspondente à velocidade característica Vk , m/s,


em condições normais de pressão (1 atm = 101320 Pa) e de temperatura (15º C).

1.2.2.5 – Coeficientes de pressão e de fôrma externos para paredes e telhados (Tabelas


18.8 e 18.9)

O vento ao incidir sobre uma edificação provoca pressões ou sucções que dependem dos seguintes
fatores:

1- forma e proporção das dimensões da construção. Dois coeficientes dependem diretamente destes
fatores:
Ce = Coeficiente de forma externo - valor médio em uma superfície plana - para cálculo da
estrutura principal (Tabela 18.8 e Tabela 18.9);
Cpe = Coeficiente de pressão externo - valor médio para regiões específicas, onde há altas
sucções locais - para cálculo dos elementos de vedação e estrutura secundária ( terças, travessas,
tesouras secundárias, telhas, etc) (Tabela 18.8 e Tabela 18.9);
2- localização das aberturas (barlavento ou sotavento);
3- saliências e pontos angulosos (beirais, chaminés, ondulação da cobertura);
4- situação de outros edifícios e obstáculos circunvizinhos (turbulência);

O hachurado na figura 18.4 representa as regiões de altas sucções ( próximas às arestas e quinas da
parede e da cobertura ) - vento incidente em um ângulo qualquer.

Figura 18.4 – Regiões de altas sucções

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.10


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Tabela 18.8 - Coeficientes de pressão e de forma, externos, para paredes de edificações de planta retangular.
Fonte: NBR 6123/1988

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.11


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Tabela 18.9 - Coeficientes de pressão e forma, externos, para telhados com 2 águas, simétricos, em
edificações de planta retangular. Fonte: NBR 6123/1988

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.12


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Sentido e sinal da sobrepressão e sucção:

SOBREPRESSÃO

SUCÇÃO

Pressão do vento no exterior do galpão


- estrutura principal: Ce . q
- estrutura secundária / vedação: Cpe . q

Ilustração do fluxo da corrente de ar:

Ilustração do fluxo de ar:

1.2.2.6 – Coeficientes de pressão e de forma internos

1.2.2.6.1 – Coeficientes de pressão interna Cpi

1) Se a edificação for totalmente impermeável ao ar, a pressão no interior da mesma será invariável no
tempo e independente da velocidade da corrente de ar externa. Porém, usualmente as paredes e/ou a
cobertura de edificações consideradas como fechadas, em condições normais de serviço ou como
conseqüência de acidentes, permitem a passagem de ar, modificando-se as condições ideais supostas nos
ensaios. Enquanto a permeabilidade não ultrapassar os limites indicados em 3), pode ser admitido que a
pressão externa não é modificada pela mesma, devendo a pressão interna ser calculada de acordo com as
especificações dadas a seguir.

2) São considerados impermeáveis os seguintes elementos construtivos e vedações: lajes e cortinas


de concreto armado ou protendido; paredes de alvenaria, de pedra, de tijolos, de blocos de concreto e afins,

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.13


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

sem portas, janelas ou quaisquer outras aberturas. Os demais elementos construtivos e vedações são
considerados permeáveis. A permeabilidade deve-se à presença de aberturas tais como: juntas entre painéis
de vedação e entre telhas, frestas em portas e janelas, ventilações em telhas e telhados, vãos abertos de
portas e janelas, chaminés, lanternins, etc.

3) O índice de permeabilidade de uma parte da edificação é definido pela relação entre a área das
aberturas e a área total desta parte. Esse índice deve ser determinado com toda a precisão possível. Como
indicação geral, o índice de permeabilidade típico de uma edificação para moradia ou escritório, com todas as
janelas e portas fechadas, está compreendido entre 0,01% e 0,05%. Para aplicação dos ítens desta seção,
excetuando-se o caso de abertura dominante, o índice de permeabilidade de nenhuma parede ou água de
cobertura pode ultrapassar 30%. A determinação deste índice deve ser feita com prudência, tendo em vista
que alterações na permeabilidade , durante a vida útil da edificação, podem conduzir a valores mais nocivos
de carregamento.

4) Abertura dominante é uma abertura cuja área é igual ou superior à área total das outras aberturas
que constituem a permeabilidade considerada sobre toda a superfície externa da edificação ( inclui a
cobertura, se houver forro permeável ao ar ou na ausência de forro ) Esta abertura dominante pode ocorrer
por acidente, como a ruptura de vidros fixos causada pela pressão do vento ( sobrepressão ou sucção ), por
objetos lançados pelo vento ou por outras causas.

5) Para edificações com paredes internas permeáveis a pressão interna pode ser considerada
uniforme. Neste caso devem ser adotados os seguintes valores para o coeficiente de pressão interna Cpi:

a) duas faces opostas igualmente permeáveis; as outra faces permeáveis:

- vento perpendicular a uma face permeável........................... Cpi = +0,2


- vento perpendicular a uma face impermeável........................Cpi = -0,3

b) quatro faces igualmente permeáveis.................................... Cpi = -0,3 ou 0 (considerar o valor


mais nocivo)

c) abertura dominante em uma face; as outras faces de igual permeabilidade:

- abertura dominante na face de barlavento


Proporção entre a área de todas as aberturas na face de barlavento e a área total das
aberturas em todas as faces (paredes e cobertura, nas condições 6.2.4 da Norma) submetidas
a sucções externas:

1.....................................................Cpi = +0,1
1,5..................................................Cpi = +0,3
2.....................................................Cpi = +0,5
3.....................................................Cpi = +0,6
6 ou mais.......................................Cpi = +0,8

- abertura dominante na face de sotavento: Adotar o valor do coeficiente de forma externo, Ce,
correspondente a esta face (tabela 18.8).

- abertura dominante em uma face paralela ao vento:

1.abertura dominante não situada em zona de alta sucção externa: Adotar o valor de
coeficiente de forma externo, Ce, correspondente ao local da abertura nesta face ( tabela 18.8).

2.abertura dominante situada em zona de alta sucção externa: Proporção entre a área
da cobertura dominante ( ou área das aberturas situadas nesta zona ) e a área total das outras
aberturas situadas em todas as faces submetidas a sucções externas:

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.14


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

0,25.............................................Cpi = -0,4
0,50.............................................Cpi = -0,5
0,75.............................................Cpi = -0,6
1,0...............................................Cpi = -0,7
1,5...............................................Cpi = -0,8
3 ou mais.....................................Cpi = -0,9

Zonas de alta sucção externa são as áreas hachuradas nas tabelas de Cpemédio.

6) Para edificações efetivamente estanques e com janelas fixas que tenham uma probabilidade
desprezível de serem rompidas por acidente, considerar o mais nocivo dos seguintes valores:

Cpi = -0,2 ou 0

7) Quando não for considerado necessário ou quando não for possível determinar com exatidão
razoável a relação de permeabilidade (ítem 6.2.5-c da Norma), deve ser adotado para valor do coeficiente de
pressão interna o mesmo valor do coeficiente de forma externo, Ce (para incidências do vento de 0o e de
90o), para a zona em que se situa a abertura dominante, tanto em paredes como em coberturas.

8) Aberturas na cobertura influirão nos esforços sobre as paredes nos casos de forro permeável
(porosidade natural, alçapões, caixas de luz não estanques, etc) ou inexistente. Caso contrário, estas
aberturas vão interessar somente ao estudo da estrutura do telhado, seus suportes e sua cobertura, bem
como ao estudo do próprio forro.

9) O valor de Cpi pode ser limitado ou controlado vantajosamente por uma distribuição deliberada de
permeabilidade nas paredes e cobertura, ou por um dispositivo de ventilação que atue como uma abertura
dominante em uma posição com um valor adequado de pressão externa. Exemplos de tais dispositivos são:

- cumeeiras com ventilação em telhados submetidos a sucções para todas as orientações do vento,
causando uma redução da força ascensional sobre o telhado.
- aberturas permanentes nas paredes paralelas à direção do vento e situadas às bordas de barlavento
(zonas de altas sucções externa), causando uma redução considerável da força ascensional sobre o
telhado.

1.2.2.6.2 – Coeficiente de forma interno Ci

Ci ≡Cpi
a) Pressão do vento no interior da construção: C pi .q (18.9)
b) Ilustração da sobrepressão e sucção interna (Figura 18.5)

Figura 18.5 – Sobrepressão e sucção interna

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.15


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

1.2.2.7 – Pressão total do vento

Será a soma algébrica da (pressão externa)+(pressão interna) sendo que para:

- cálculo da estrutura principal

C = Ce - Ci ⇒ pressão do vento = C.q (18.10)

- cálculo da estrutura secundária

Cp = Cpe-Ci ⇒ pressão do vento = Cp.q (18.11)

1.2.3 –Exemplos de aplicação do cálculo da ação do vento

1- Dados:
Desenho do Projeto Arquitetônico de um edifício térreo destinado a depósito de matéria prima,
figura 18.6. (Fonte: Moliterno,1981)

Figura 18.5 - Projeto galpão

2- Considerações Preliminares:
• Telhado de duas águas, beiral de 0,50 m em todo o perímetro externo. Cobertura com chapas
onduladas de cimento amianto;

• Localização e características da região:

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.16


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

- Cidade de São Paulo (V0);


- Topografia: Meia encosta em região fracamente acidentada (S1);
- Características da região: centro urbano, altamente populoso (S2);
- Características da utilização do edifício: Indústria com baixo fator de ocupação, galpão
destinado a depósito de matéria prima (S3)

3- Cálculo da Velocidade Característica:

Vk = V0 . S1 . S 2 . S 3

- Velocidade Básica: gráfico das isopletas (mapa do vento) - Pela figura 18.2 V0 = 45 m/s
- Fator Topográfico S1 = 1,0 (Terreno plano)
- Rugosidade do terreno: Categoria V, Classe B - Altura 9,00 m.
Adotamos H = 10,00 m => S2 = 0,62
- Fator estatístico- (Tabela 18.7- S3 = 0,95)

A velocidade característica ou de projeto será:

Vk = 45 . 1,0 . 0,62 . 0,95 = 26,5 m/s


4- Pressão Dinâmica:

Vk 2
q=
16 = 26,52/16 = 44 Kgf / m2

5- Coeficientes de Pressão e Forma Externos:

5.1- Paredes

Figura 18.6 A - Paredes


a) Dados de entrada
a = 50,00 m
b = 21,00 m
h = 5,20 m
(Nota- Considera-se h até a extremidade do beiral ou topo da platibanda)

h 5,20 1 a 50,00
= = = = 2 ,4
b 21,00 4 e b 21,00

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.17


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

da tabela 18.8 temos,

h 1 1 a
= = 2,4
b 4 < 2 e 2 < b < 4

b) Coeficientes de pressão e forma externos (Ce) para Parede:

0º 90º
A1 e B1 - 0,8 A + 0,7
A2 e B2 - 0,4 B - 0,5
C + 0,7 C1 e D1 - 0,9
D - 0,3 C2 e D2 - 0,5

Sendo, 0,25b = 0,25. 21,00 = 5,25 m


Cpe = - 1,0

c) Pressão Externa ( valores de Ceq)

Figura 18.6 B

OBS: Zonas de maior sucção (Cpe médio), somente para elementos de vedação e estrutura secundária.

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.18


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

5.2- Telhados

Figura 18.7 - Telhados

a) Dados de entrada na tabela 18.9

θ = 20o (inclinação da cobertura)

h 5,20 1
= =
b 21,00 4 altura relativa

Entrada: θ = 20o

h 1
<
b 2

b) Coeficientes de Pressão e Forma Externo

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.19


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Figura 18.8 – Coeficientes de Pressão e Forma Externo

c) Coeficientes de Pressão e Formas Externos:

Condições mais desfavoráveis:

Para α= 90o _ Seção I-I Cpe = -0,4 . 44 = -17,60 kgf / m2(sucção)


Para α=0o _ Seção II-II Cpe = -0,7 . 44 = -30,8 kgf/ m2(sucção)

d) Esquemas

17,6 Kgf / m2 17,6 Kgf / m2

30,8 Kgf / m2 30,8 Kgf / m2

Figura 18.9 - Ação no Telhado

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.20


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

6- Resumo da ação Externa Efetiva

Combinando as ações determinadas separadamente para paredes (figura 18.6) e telhado (figuras 18.8
e 18.9), resultam os carregamentos das sobrepressões e sucções externas atuando no edifício, conforme as
figuras 18.10 e 18.11.
30,8 Kgf / m2
17,6Kgf / m2

22 Kgf / m2 ou 44 Kgf /
22 Kgf / m2 m2 para elemenetos de
vedação até 1uma
30,8 Kgf / m2
profundidade de 0,25xb
22 Kgf / m2 = 5,25m na direção do
comprimento do galpão.

Figura 18.10 – Resultantes externas transversais

17,6 Kgf / m2

26,4 Kgf / m2 ou 44 Kgf


/ m2 para elemenetos
de vedação até 1uma
26,4 Kgf / m2 profundidade de 0,25xb
= 5,25m na direção da
largura do galpão.

Figura 18. 11 A

30,8 Kgf / m2 30,8 Kgf / m2


26,4 Kgf / m2

30,8 Kgf / m2 8,8 Kgf / m2

Figura 18.11 B

OBS: Os diagramas não estão em escala.

Figura 18.11 - Ação do vento longitudinalmente ao edifício

Neste ponto já se pode determinar a ação do vento no beiral, objetivando-se separar o cálculo
estático da sua estrutura dos demais elementos estruturais que compõem o madeiramento do telhado.
Essa consideração é perfeitamente válida, porque, no caso, as ações da pressão interna que adiante
serão determinadas não afetam o beiral, por se encontrar exposto na parte externa do edifício.

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.21


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Convém lembrar, na figura 18.11, a nota 1 da tabela 18.9, concluindo-se que a ação do vento na face
interior do beiral é igual ao da parede correspondente.

Convém também esclarecer:

“Quando a sobrepressão e a sucção, tiverem em dada face da estrutura efeitos contrários,


deve-se considerar separadamente o efeito de cada uma delas”. Isso significa considerar as ações
devidas ao vento sempre aditivas e nunca subtrativas.

7- Ação do vento no Beiral

a) Beirais dos oitões


a1) Resultantes máximas para cima: Figura 18.11 B: 61,6 Kgf/m2; Figura 18.8: 44 Kgf/m2;
a2) Resultantes máximas para baixo: Figura 18.11 A: 44 Kgf/m2; conservativamente, não se
deve subtrair os efeitos).

b) Beirais Laterais
b1) Resultantes máximas para cima: Figura 18.10 A: 48,4 Kgf/m2; Figura 18.8: Cpe
desprezado;
b2) Resultantes máximas para baixo: Figura 18.10 B: 44 Kgf/m2; conservativamente, não se
deve subtrair os efeitos).

Figura 18.12

Evidentemente, o beiral deverá ser dimensionado para as duas solicitações máximas extremas,
ficando assim ressalvados os efeitos intermediários.

8- Coeficientes de Pressão Internos

O caso em apreço, enquadra-se na tabela 18.8, considerando-se as 4 faces da construção


permeáveis; nestas condições, teríamos o coeficiente Cpi= -0,3, ou considerar, conforme se observa
no projeto arquitetônico (figura 18.5), a adoção de uma das portas dos oitões como abertura
dominante, mas chegaríamos com φ < 1, com pouco significado para o coeficiente Cpi = +0,1 e
também Cpi = - 0,3 .

Portanto, vamos lançar mão da permissão da NBR - 6123, admitindo o mais nocivo dos dois
seguintes valores:

Cpi = +0,2 e Cpi =-0,3 .

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.22


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Sobrepressão: Cpe.q = 0,20 x 44 = 8,8 Kg/m2

Figura 18.13 - Sobrepressão em paredes e telhados

Sucção: Cpe.q = -0,30 x 44 = 13,20 Kg/m2

Figura 18.14 - Sucção em paredes e telhados

9- Ações críticas na estrutura principal das paredes

Resultante para dentro


Resultante para fora

2
13,2 Kgf / m2
30,8 Kgf / m
8,8 Kgf / m2 26,4 Kgf / m2

44 Kgf / m2 35,2 Kgf / m2

Figura 18.15 - Sobrepressão e Sucção em oitões

Resultante para dentro


Resultante para fora

2
13,2 Kgf / m2
30,8 Kgf / m
8,8 Kgf / m2 22 Kgf / m2

44 Kgf / m2 30,8 Kgf / m2

Figura 18.16 - Sobrepressão e sucção em laterais

Obs: Ver figura 18.6 B – Elementos secundários e a própria parede em regiões de alto Cpe
teriam resultantes ainda maiores.

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.23


Estruturas usuais de madeira Ações Estruturais de Telhado

Ce = 0

13,2 Kgf / m2 13,2 Kgf / m2

22 Kgf / m2 22 Kgf / m2

Cpi = -0,3
Ce = -0,5 Ce = -0,5

Ce = -0,7

39,6 Kgf / m2 39,6 Kgf / m2

8,8 Kgf / m2
8,8 Kgf / m2

Cpi = + 0,2
Ce = -0,5 Ce = -0,5

Figura 18.17 - Sobrepressão e sucção em tesouras

44 Kgf / m2
48,4 Kgf / m2

Figura 18.18 - Sobrepressão e sucção em beiral

Para complementar este exemplo, deveríamos abordar a verificação da estrutura como um


todo, conforme a NBR - 6123, mas o assunto foge do objetivo do curso, cujo interesse tem por
referência o projeto dos telhados em estruturas de madeira.

Comentário: Sobre a Carga Acidental - NBR - 6120

“No meio do vão dos elementos isolados de coberturas (ripas, terças e barras do banzo
superior de treliças), deve ser considerada atuando uma carga vertical de 1 kN (100 kgf), sempre que
a carga do vento sobre o elemento respectivo for inferior a 2 kN (200 kgf). A carga acima referida deve
ser considerada adicionalmente à carga permanente”.

Entenda-se que, para o caso das ripas, a NBR-6120 objetiva considerar a sobrecarga por m2
de telhado, visto que as bitolas usuais não podem isoladamente suportar essa solicitação de 100 kgf
no meio da peça.

Edgar V. Mantilla Carrasco 18.24


CAPÍTULO 19
ESTRUTURAS DE MADEIRA PARA TELHADOS

1 – INTRODUÇÃO

Objetivando abordar didaticamente as estruturas de sustentação das coberturas


vamos considerar separadamente os seguintes casos principais:

• Estrutura para cobertura residencial;


• Estrutura para cobertura de galpões industriais, cinemas e quadras de esportes;
• Estruturas para coberturas especiais.

2 - ESTRUTURAS PARA COBERTURAS RESIDENCIAIS

O emprego das telhas cerâmicas, tanto do tipo marselha como colonial paulista, para
a cobertura de residências, condicionam o projeto do telhado à inclinação de pelo menos
26o ou 22o respectivamente. Verifica-se facilmente, que quanto maior for a inclinação do
telhado tanto menor será a solicitação dos esforços nas barras principais de uma tesoura
(linha e empena).

Por outro lado, a carga permanente, elevada com este tipo de cobertura, torna quase
sem efeito uma possível inversão dos esforços nas barras das treliças, que poderiam ser
provocadas pela ação da sucção do vento. Convém ressaltar que o efeito da sucção,
provocada pela ação do vento, só passou a merecer um exame mais cuidadoso quando do
emprego de chapas onduladas de cimento amianto. Essas chapas, fixadas à estrutura por
meio de ganchos ou parafusos, transmitem integralmente a solicitação dessa carga; ao
passo que as telhas cerâmicas, geralmente não estando presas às estruturas, não chegam
a transmitir sucção, mas somente pressão. A explicação intuitiva está no fato de que,
quando se forma uma forte corrente de ar na face interior para a exterior da cobertura, dá-se
possivelmente o deslizamento de uma ou mais telhas ou até mesmo, conforme a
intensidade, expulsão, permitindo o escoamento desse fluxo de ar sem que a estrutura seja
solicitada.

Outro fato a ser considerado é que, usualmente, os vãos teóricos não são grandes,
pois dificilmente excedem de 8,00 m, e as bitolas comerciais empregadas satisfazem com
folga aos esforços solicitantes nas barras, desde que sejam respeitados os seguintes
espaçamentos:

a) Ripas: Aproximadamente cada 0,35 m, dependendo naturalmente da dimensão da


telha.
b) Caibro: Espaçamento variando entre 0,40 a 0,60 m, permitindo a passagem de um
homem entre ripas e caibros.
c) Terças: As distâncias entre terças deverá ser no máximo 1,50 m, para se evitar
flechas pronunciadas nos caibros e, conseqüentemente, um aspecto anti-estético à
cobertura ou quando não comprometê-la.

Para as terças nas cobertura com chapas onduladas de cimento amianto, os


espaçamentos mais comuns são de 0,90 a 2,20 m , dependendo do comprimento da chapa.
Um fator de grande importância, está nas colocação das terças de modo que as cargas
sejam aplicadas diretamente sobre os nós das tesouras, para que todas as barras trabalhem
exclusivamente com esforços axiais de compressão ou de tração, pois caso contrário,
Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

teríamos que verificar a solicitação como flexão composta, que é sem dúvida uma solução
mais trabalhosa.

Atualmente a arquitetura vem impondo soluções cada vez mais particulares aos
telhados residenciais, exigindo pouca inclinação da cobertura, o que tem dificultado o
emprego das clássicas telhas cerâmicas, que estão cedendo lugar à adoção de novas
formas ou pelo uso de cobertura de cimento amianto e alumínio. Embora esses materiais
sejam mais leves, a pouca inclinação provoca grandes solicitações nas barras das tesouras.
Os esforços devidos à ação do vento merecem cuidados especiais no tocante ao
dimensionamento e projeto dos detalhes, pelo fato da inversão dos esforços com relação
aos de carga permanente.

Por um outro lado, hoje não é possível, mesmo em obras de pequeno porte,
executar-se um telhado sem projeto como se fazia há tempos atrás, em que se relegava aos
cuidados do mestre de obra a execução do telhado. A economia com que alguns
construtores executam os telhados residenciais chegou ao ponto de suprimir as tesouras,
pois apoiam as terças diretamente sobre as paredes divisórias e perimetrais da construção.
Essa solução não é recomendada pela boa norma do trabalho. Só pode ser aceita no caso
dos oitões.

Para vãos de terças que não excedam 4,00 m, deve-se apoiá-las sempre em
paredes de um tijolo de largura, procurando distribuir a carga na alvenaria por intermédio de
uma cinta corrida de concreto armado ou apoios de madeira; jamais em paredes de meio
tijolo, pois estas não oferecem condições de apoio. O incoveniente dessa solução de apoio
diretamente sobre paredes é devido ao empuxo que as mesmas poderão sofrer, pelas
direções das reações da terça como viga inclinada verticalmente.

A tecnologia das chapas de cimento amianto em forma de canais tem permitido a


utilização de peças auto-portantes de até 7,00 m de vão livre e inclinação de 3 %,
resolvendo satisfatoriamente os problemas que vêm sendo impostos pela moderna
arquitetura das residências e construções escolares.

Os fabricantes dessas chapas em perfil canal de cimento amianto especificam: vão


máximo entre apoios até 7,00 m com balanço de 1,10 m para a peça de 9,20 m de
comprimento total. Na aplicação, é recomendável a adoção dos coeficientes como estrutura
classe A, para o cálculo do vento de acordo com a NBR - 6123; a respeito das fixações,
verificar também o efeito da fadiga do material quanto aos esforços alternados e repetidos
nas regiões de fortes ventanias.

Entre a infinidade de telhados de residências existentes para coberturas tem-se:

2.1 - Treliças ou tesouras

Entre as mais utilizadas tem-se:

• A treliça Howe;
• A treliça Pratt;
• A treliça Fink.

Para vãos até 18,00 m é aconselhável a utilização da tesoura Howe. As


características destas treliças são: as barras de linha são tracionadas, as barras de perna
são comprimidas, as barras verticais são tracionadas e as barras diagonais são
comprimidas, Todas as barras são simples exceto as verticais que são duas peças
separadas, figura 19.1.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.2


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.1 - Tesoura Howe

Para vãos maiores do que 18,00 m é recomendável utilizar a tesoura Pratt. Neste
tipo de tesoura as diagonais não serão mais comprimidas e sim tracionadas. As verticais
serão comprimidas, sendo seus comprimentos menores do que as diagonais e trabalharão
com resistências de cálculo maiores. As barras são mútiplas exceto a diagonal, figura 19.2,
detalhe B.

Figura 19.2 - Tesoura Pratt

Os americanos adotam freqüentemente a tesoura Fink em seus telhados, figura 19.3,


executando as ligações das barras tracionadas nos nós, empregando conectores.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.3


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.3 - Tesoura Fink

2.2 - Vigas Armadas de Alma Cheia

Quando a inclinação exigida para o telhado for muito pequena, isto é, em torno de 10
% (18 %), podemos recorrer ao emprego de uma viga armada de alma cheia de seção
variável em perfil duplo T ou caixão, figura 19.4.

Figura 19.4 - Viga armada de alma cheia

Nestas condições, as terças ficarão apoiadas na viga, que terá altura bem mais
reduzida que a tesoura convencional, pela existência de maior área para absorver os
esforços cortantes. Além do aspecto funcional, temos que levar em conta o aspecto estético:
o forro poderá ser fixado nas próprias terças, servindo as vigas também como efeito
decorativo.

2.3- Estrutura Pontaletada

Nos edifícios e residências econômicas, para coberturas com chapas onduladas de


cimento amianto, ou quando a cobertura for geometricamente irregular, tem-se utilizado
muito as chamadas “estruturas pontaletadas”, figura 19.5 .

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.4


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.5 - Estrutura pontaletada

Como o próprio nome indica, as terças são apoiadas em pontaletes, de altura


variável com a inclinação do telhado, e enrijecida com sarrafos ou caibros que servem de
contraventamento. Os pontaletes distribuem as cargas permanentes e acidentais
diretamente sobre as lajes do forro (no cálculo das lajes de concreto devemos prever esse
carregamento adicional).

2.4 - Estrutura em Arco Invertido (telhado com quebra em rabo de pato)

O estilo da edificação na linha colonial tem sido um constante da nossa arquitetura,


cuja moda tem-se caracterizado pela acentuada tendência da superfície externa em duas
águas convexas ou arco invertido, vulgarmente designada por rabo de pato.

As telhas cerâmicas tipo plan e telhão (capa e canal em canudo de barro branco),
têm contribuído para reavivar essa opção, onde a prioridade pela estética acaba sempre
prevalecendo sobre a econômica.

No caso do telhão, a elevação do ponto faz aumentar a quantidade de telhas, e


conseqüentemente o peso próprio da cobertura. Isso obriga substituir as ripas de peroba por
sarrafos, e os caibros de 5 x 6 por vigas de peroba 6 x 12 cm. As terças, quando
especificadas na bitola de 6 x 16 cm, deverão ficar espaçadas de metro em metro, e o seu
vão teórico máximo não poderá ultrapassar 2,00 m, para atender às tolerâncias de flecha
admissível.

Como pode-se notar, o consumo de madeira por metro quadrado de telhado


ultrapassa além do dobro os parâmetros dos telhados convencionais cobertos com telhas
cerâmicas tipo marselha.

Para se eliminar as mãos francesas das terças, é mais conveniente dimensioná-las


sem essas escoras. Vejamos algumas sugestões para esse problema.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.5


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

2.4.1- Pouca elevação da altura

a) Elevação da empena

Figura 19.6 – Elevação da emprena

b) Elevação das terças

Figura 19.7 - Elevação das terças

2.4.2 - Grande elevação da Altura

Terças apoiadas na estrutura de concreto

Figura 19.8 - Terças apoiadas na estrutura de concreto

Quando, por imposição arquitetônica, o forro de madeira tiver que ser fixado à
estrutura do telhado, solucionamos o problema lançando mão de arcos invertidos fabricados
com madeira laminada colada, executada por firma especializada, fig.19.9.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.6


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.9 - Forro de madeira fixado à estrutura do telhado

3 - ESTRUTURAS PARA COBERTURA DE GALPÕES INDUSTRIAIS, CINEMAS


E QUADRAS DE ESPORTES

Enquadraremos neste caso as estruturas cujas vigas mestras ou principais da


cobertura atinjam vãos de pelo menos 15,00 metros. Entre os vários tipos de estruturas de
madeira para a escolha dos elementos portantes principais, vamos considerar, para
facilidade do estudo, as seguintes estruturas:

• Vigas em treliça;
• Pórticos;
• Arcos.

3.1 - Vigas em treliça

Podem ser utilizadas as tesouras mencionadas no item 2.1 (Tesoura Howe até 18,00
m e Pratt acima de 18,00 m), figuras 19.10 e 19.11.

Figura 19.10 - Tesoura Howe

Figura 19.11 - Tesoura Pratt

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.7


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Em alguns casos, usa-se lanternim para melhor iluminação e ventilação, isto


geralmente quando a construção não dispõe de janelas, mas paredes laterais, figura 19.12.

Figura 19.12 - Estrutura com lanternim

Muitos projetistas têm por norma considerar o lanternim separado da estrutura, figura
19.13, considerando a sua carga como concentrada nos nós da tesoura. Isso permite
padronizar um determinado tipo de lanternim (calculado em outras estruturas, permitindo
desta forma a padronização dos detalhes não só da estrutura em si como também caixilhos,
venezianas e passadiço).

Figura 19.13 - Cálculo separado do lanternim

Poderá ocorrer o caso em que se necessite de maior aproveitamento do espaço, e


para isso, temos estruturas em que parte dos vazios entre as barras é utilizada para
pequenos depósitos, escritórios, etc, figura 19.14.

Figura 19.14 – Telhados com vãos entre barras

Essas estruturas são mais trabalhosas de serem calculadas, pois trata-se de


estruturas deformáveis ou hipoestáticas e devemos levar em conta os princípios das
estruturas como as de nós deslocáveis, como acontece com as vigas Viendel, figura 19.15,
sendo necessário colocarmos então cobrejuntas metálicas nos nós para se ter a devida
rigidez, de modo que a estrutura se torne indeslocável.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.8


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.15 – Viga Viendel

3.2- Estrutura Tipo Shed

Esse tipo de cobertura, figura 19.16, é de grande vantagem nas construções


industriais, pois além dos efeitos benéficos de boa iluminação, possibilita também com
facilidade a ampliação da área coberta em todos os sentidos, principalmente quando há um
planejamento para se construir por etapas e a longo prazo. Neste caso, costuma-se
executar as paredes de fechamento com chapas de cimento amianto, tendo como objetivo a
possibilidade de serem desmontadas quando se julgar necessária a ampliação.

Figura 19.16 - Cobertura tipo Shed

Os telhados tipo Shed são construídos por vigas mestras, vigas estas de banzos,
paralelos do tipo Howe, figura 19.17, e meias tesouras também do mesmo tipo, figura 19.18,
ou então vigas retas inclinadas de seções compostas em perfil duplo T ou vigas armadas,
figura 19.19.

Figura 19.17 – Vigas de banzos paralelos do tipo Howe

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.9


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.18 - Meia tesoura do tipo Howe

Figura 19.19 - Vigas retas inclinadas de seções compostas em perfil duplo T ou vigas
armadas

As reações das meias tesouras e vigas inclinadas, serão as concentrações nos nós
das vigas mestras. Convém esclarecer da diferença entre tesoura e vigas ou trave Howe.
Em ambas as diagonais trabalham à compressão e, para tal, temos as direções das
diagonais conforme o esquema indicado, figura 19.20.

Figura 19.20 - treliças Howe

O mesmo acontece com a conhecida tesoura e viga ou trave Pratt. Em ambos os


casos, as diagonais trabalham à tração e teremos as direções conforme os esquemas da
figura 19.21.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.10


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.21 - Viga ou trave Pratt

3.3 - Estruturas em balanço

Poderá ocorrer, por imposição do projeto arquitetônico, a necessidade de se projetar


a treliça de modo que parte fique em balanço, servindo de marquise. Neste caso poderemos
recorrer aos esquemas indicados, figura 19.22.

Figura 19.22 - Estrutura com balanço

3.4 - Estrutura com Banzo Curvo - Viga ou Trave Bowstring

É comum no caso de cinemas, onde temos cobertura de vãos superiores a 15,00 m,


com imposição de pouca altura para o telhado, a fim de que a platibanda não se eleve mais
do que 2,00m, a necessidade de fixarmos o forro na tesoura. A estrutura, que satisfaz a
contento essas condições, é conhecida como viga Bowstring, figura 19.23 e 19.24.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.11


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.23 - Viga Bowstring

Figura 19.24 - Viga Bowstring

Entre as inúmeras vantagens desse tipo de viga, podemos citar:

• Permite cobrir economicamente vãos de 10,00 a 25,00 m, com facilidade;


• O banzo superior curvo pode ser de forma parabólica, formada por vários trechos
retos;
• Não oferece dificuldade no detalhe da cumeeira, o que não acontece com os arcos;
• A forma parabólica do banzo curvo faz com que todas as barras dos painéis sejam
solicitadas por esforços da mesma ordem de grandeza, o que não acontece nas
tesouras clássicas, como do tipo Howe, em que os painéis extremos são sempre
muito mais solicitados;
• A propriedade anterior traduz um melhor aproveitamento do material empregado;
• Apresenta facilidade na elaboração do projeto e execução dos detalhes, podendo as
diagonais serem confeccionadas com ferros redondos, figura 19.25;

Figura 19.25 – Diagonais confeccionadas com ferros redondos

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.12


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

• Quando houver dúvida quanto aos esforços de tração das diagonais, adotar contra-
diagonais e sentimento, figura 19.26. A justificativa é que, aplicando-se o processo
Ritter, o centro de momentos das diagonais fica fora da treliça (prolongamento dos
banzos), ocorrendo algumas inversões, mesmo com a ação da carga permanente.

Figura 19.26 – Contra-diagonais e sentimento

4 - CONSIDERAÇÕES GERAIS DO PROJETO E DA EXECUÇÃO

De uma maneira geral, para se calcular e executar rigorosamente quaisquer das


treliças indicadas, devemos ter presentes as seguintes recomendações:

a) Os eixos geométricos das barras devem concorrer no mesmo ponto (nó ou junta),
como também os centros de gravidade das seções das barras devem coincidir com o eixo
geométrico da estrutura;

b) Deve ser evitada a introdução de número de barras redundantes, de modo a


tornar a estrutura hiperestática, barras estas muitas vezes colocadas a sentimento durante a
construção. Esse recurso, em certos casos, poderá até comprometer as demais barras da
estrutura;

c) As cargas devem ser aplicadas diretamente nos nós da treliça (posição das
terças), evitando-se assim, momentos fletores que não haviam sido previstos no cálculo
estático;

d) Manter na execução as condições de apoio estabelecidas no cálculo, não criando


engastamentos. Seja por exemplo, o caso de uma viga mestra de uma estrutura Sheed,
figura 19.27. Geralmente essa viga é calculada como simplesmente apoiada.

Figura 19.27 – Viga mestra de uma estrutura Sheed

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.13


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

A figura 19.27 mostra o caso da inversão de esforços em muitas estruturas desse


tipo, em que a execução não fica de acordo com a concepção de cálculo (flambagem do
banzo inferior no painel junto ao apoio);

e) Para se evitar a flecha pronunciada, a escolha da altura da treliça deve estar


compreendida entre 1/6 e 1/8 do vão teórico. Além do mais, na execução deve ser dada
uma certa contra-flecha para vãos além de 10,00 m.

5 - NORMAS DE SEGURANÇA NO TRANSPORTE E IÇAMENTO DE TRELIÇAS

É muito importante, antes de liberarmos um projeto da prancheta, examinar o


comportamento das treliças principais, face aos esforços que poderão ocorrer durante o
transporte, empilhamento ou movimentação da estrutura no próprio canteiro da obra, sendo
arrastada ou içada para repousar definitivamente sobre os seus apoios.

Nestas operações, se não for elaborado um esquema de montagem compatível com


a rigidez transversal das barras e rigidez dos nós, poderemos nos envolver num lamentável
insucesso.

Outro cuidado que merece atenção,é contraventamento ou fixação quando a


estrutura se encontra sobre os seus apoios em posição definitiva, porém sem que se
tenham ligadas as peças secundárias que irão compor o conjunto como por exemplo, uma
tesoura com as terças somente de um lado, sem nenhum outro travamento intermediário.

Nesses casos, deve-se estudar um sistema de contraventamento provisório, que


posteriormente possa ser removido. Isso pode ser feito com sarrafos de pinho ou estaias de
cabos ou barras de aço, evitando-se a possibilidade de que uma vibração qualquer,
ocasionada pelo vento ou mesmo movimento de um caminhão ou máquina pesada, derrube
as treliças colocadas apenas em posição na fase de montagem.

Outra observação que não deve ser descuidada, é a maneira como se processará o
carregamento permanente, por exemplo a colocação das chapas de cimento amianto na
cobertura.

Convém executá-la mantendo um avanço simétrico de colocação das fiadas de


chapas, partindo-se de ambas as extremidades e terminando ao mesmo tempo na
cumeeira. Se for o caso de uma estrutura com lanternim, executar primeiramente a
cobertura do mesmo. Essa norma de execução permite que a estrutura receba
gradativamente o carregamento principal, de modo que as juntas e ligações se acomodem
lentamente, conforme a premissa do projeto.

Cumpre ainda lembrar da intransigência obrigatória do engenheiro da obra, a


respeito das normas de segurança do trabalho, exigindo dos operários o uso de
indumentárias adequadas com a natureza das várias fases do trabalho (botinões,
capacetes, luvas de couro, cintos de segurança e sapatos anti-derrapantes para os
cobridores).

Depois de armadas as treliças (tesouras) no chão do local da obra, temos, via de


regra, as seguintes operações (caso de um galpão industrial) :

1) Colocação da treliça na posição vertical.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.14


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.28 A - Levantamento braçal com um ou mais operários em cada junta do banzo da
tesoura

Figura 19.28 B - Levantamento com máquina simples

2) Deslocamento da treliça junto à posição onde deverá permanecer definitivamente.

Figura 19.29 A - Arrastada sobre roletes com pessoal braçal e talha

Figura 19.29 B - Transporte com mastro e guincho

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.15


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.29 C - Transporte com guindaste

3) Içamento da treliça.

a) Com o auxílio de uma torre estaiada e pessoal braçal.

Figura 19.30 – Içamento da treliça com o auxilio de torre estaiada e pessoal braçal

b) Torres desmontáveis e pessoal braçal

Figura 19.31 - Estrutura tubular (pés direitos altos)

Completa-se a operação do deslocamento, aproveitando-se o


maquinário citado.

Convém alertar a respeito de uma solução perigosa no içamento,


como mostra a figura 19.32, isto é, levantar a tesoura pelo centro.

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.16


Estruturas usuais de madeira Estruturas de madeira para telhados

Figura 19.32 – Levantamento da tesoura pelo centro

Quando levantamos a treliça pelo centro, atua o momento máximo no


centro, provocando solicitações inversas às previstas no projeto.

O banzo superior será violentamente tracionado e o inferior receberá


uma compressão instantânea, que poderá levar esta parte da estrutura ao
colapso (flambagem).

Para reduzir tais efeitos, podemos verificar a inversão dos esforços,


levantando-se a treliça em três pontos, figura 19.33.

Figura 19.33 – Levantamento da treliça em três pontos

Edgar V. Mantilla Carrasco 19.17


CAPÍTULO 20
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO TELHADO

1 – INTRODUÇÃO

Os nomes que são dados às peças que compõem os elementos de um telhado são
bastante diversos nas várias regiões do Brasil. Para evitar a confusão de nomes, será
dividido o assunto em dois ítens:

• Termologia das construtoras - serve para comunicação com o pessoal das obras,
embora bastante diversa;
• Termologia Estrutural - para ser adotado na comunicação de engenheiros e
arquitetos.

2 - TERMOLOGIA DOS CONSTRUTORES (figura 20.1)

Figura 20.1- Tesoura e trama

1) RIPAS: Peças de madeira de pequena esquadria pregadas sobre os caibros para


sustentação das telhas;

2) CAIBROS: Peças de madeira de pequena esquadria, apoiadas sobre as terças


para sustentação das ripas;

3) CUMEEIRA: Terça da parte mais alta do telhado;

4) TERÇA: Viga de madeira apoiada sobre as tesouras ou sobre paredes, para


sustentação dos caibros. As coberturas executadas em chapas onduladas de cimento-
amianto, alumínio ou PVC, apresentam a vantagem econômica de dispensar o emprego de
ripas e caibros, pois apoiam-se diretamente sobre as terças, permitindo às de cimento-
amianto maior distanciamento entre as terças;
Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

5) CONTRAFRECHAL: Terça de parte inferior do telhado;

6) FRECHAL: Viga de madeira colocada em todo o perímetro superior da parede de


alvenaria de tijolos (respaldo), para amarração e distribuição da carga concentrada da
tesoura. Atualmente o contrafrechal de madeira foi substituído pelas cintas de amarração de
concreto, sendo utilizado apenas um bloco de madeira para nivelamento e distribuição da
carga da tesoura sobre pilares ou paredes. Isso tem criado um hábito costumeiro de chamar
a terça de extremidade simplesmente de “frechal”. Também já se tornou hábito generalizar
de “terças”, sem fazer diferenciação das vigas da cumeeira e do contrafrechal, isto na
comunicação entre engenheiros estruturais;

1 a 5) TRAMA : É o conjunto formado pelas ripas, caibros e terças, que servem de


lastro ao material da cobertura;

7) CHAPUZ: Pedaço de madeira, geralmente de forma triangular, pregado na asna


da tesoura, destinado a suster ou apoiar a terça;

CONJUNTO DE PEÇAS 8 A 12 - TESOURA : Viga em treliça plana vertical, formada


de barras dispostas de maneira a compor uma rede de triângulos, tornando o sistema
estrutural indeslocável;

8) ASNA, PERNA, EMPENA ou MEMBRURA SUPERIOR;

9) LINHA, ROCHANTE, TIRANTE, TENSOR, OLIVEL ou MEMBRURA INFERIOR;

10) PENDURAL ou PENDURAL CENTRAL;

11) ESCORA;

12) PONTALATE, MONTANTE, SUSPENSÓRIO OU PENDURAL;

13) FERRAGENS ou ESTRIBOS;

14) FERRAGEM ou COBREJUNTA;

15) TESTEIRA OU ABA;

16) MÃO FRANCESA;

Quando o nó de apoio da tesoura estiver fora do centro da parede, aparece devido à


excentricidade um momento fletor M= R.C. Para combater este momento e aumentar a
resistência do tirante, costuma-se colocar um consolo, figura 20.2.

Figura 20.2 – Consolo para combater o momento fletor

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.2


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

GUARDA-PÓ: Forro pregado sobre os caibros, numa largura de 30 a 60 cm junto à


platibanda, destinado ao apoio da calha, figura 20.3;

PLATIBANDA: Prolongamento do alinhamento da parede externa, acima dos


frechais, para camuflagem do telhado. A platibanda é sempre contornada por calha e rufo,
figura 20.3;

Figura 20.3 – Guarda pó e platibanda

LANTERNIM: Empregado em edifícios industriais, quando a iluminação e ventilação


trazidas pelas janelas forem consideradas insuficientes. Podem estar munidos com
caixilhos, venezianas ou com ambos, figura 20.4;

Figura 20.4 - Lanternim

BEIRAL: Prolongamento da cobertura, fora do alinhamento da parede. Os tipos de


beirais são (Figura 20.5):
a) CAIBROS APARENTES (inconveniente por possibilitar levantamento das
telhas pela ação do vento);
b, c, d, e) BEIRAIS REVESTIDOS:
b) Revestimento fixado nos caibros;
c) Revestimento fixado numa trama de caibros e sarrafos;

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.3


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

d) Revestimento com elemento decorativo (cachorro);


e) Beiral em laje de concreto armado;

Figura 20.5 – Tipos de beirais

PONTO DO TELHADO: É a relação entre sua altura e a largura ou vão. O ponto


varia entre os limites de 1:2 a 1:8, conforme tabela 20.1.

Tabela 20.1 – Ponto do Telhado

Ponto h/L Designação Inclinação αo Declividade i%


1/2 Ponto meio 45o 100%
1/3 Ponto terço 33o40’ 66%
1/4 Ponto quarto 26o30’ 49%
1/5 - 21o50’ 40%
1/6 - 18o30’ 33%
1/7 - 15o50’ 28%
1/8 - 14o 25%

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.4


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

3 - TERMOLOGIA ESTRUTURAL

3.1- Telhado de Duas Águas (figura 20.6)

Considerando-se as telhas, ripas e caibros como elementos componentes da


cobertura, visto que em algumas coberturas estes dois últimos elementos podem ser
dispensados, a sustentação depende dos seguintes elementos estruturais:

Figura 20.6 - Telhado de duas águas

1) TERÇAS: Vigas apoiadas sobre as tesouras: Para evitar flexão das terças,
empregamos escoras, denominadas mão francesas;

2) As mãos francesas servem também como elemento de travejamento dos nós


inferiores da tesoura;

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.5


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

3) TESOURA: Viga principal em treliça ou viga-mestra, que serve para transferir o


carregamento do telhado aos pilares ou paredes de edificação. Elementos que compõem
uma tesoura, segundo a terminologia do projeto estrutural:

S..................................Banzo superior;
I...................................Banzo inferior;
V.................................Barras verticais ou simplesmente verticais;
D.................................Barras Diagonais ou simplesmente diagonais
N.................................Nó ou junta.............Ponto de interseção de barras;
ρ..................................Painel - Distância entre dois nós;
h..................................Altura da tesoura;
L..................................Vão da tesoura - Distância entre os apoios extremos;
α..................................Inclinação da tesoura;

4) CONTRAVENTAMENTO VERTICAL: Estrutura plana vertical formada por barras


cruzadas, dispostas perpendicularmente ao plano das tesouras. Essas barras servem de
sustentação para a ação das forças que atuam no seu plano, travando as tesouras, de
maneira a impedir sua rotação e deslocamento, principalmente contra a ação do vento,
como também sendo elemento de vinculação do banzo inferior contra a flambagem lateral;

5) CONTRAVENTAMENTO HORIZONTAL: Estrutura formada por barras tracionadas


colocadas no plano abaixo da cobertura, para amarração do conjunto formado pelas
tesouras e terças. Essas barras servem para transferir a ação do vento, atuando na direção
esconsa ao edifício para as tesouras e ao contraventamento vertical;

OITÕES: Paredes extremas paralelas às tesouras, que muitas vezes servem de


apoio para as terças.

3.2 - Telhado de Quatro Águas (figura 20.7)

Além dos elementos estruturais mencionados no ítem 3.1 tem-se:

6) MEIA TESOURA;

7) TESOURA DE CANTO;

8) ESPIGÃO: Aresta saliente inclinada do telhado; quando horizontal é cumeeira;

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.6


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

Figura 20.7- Telhado de quatro águas

3.3 - Telhado de Várias Águas (figura 20.8)

Figura 20.8 - Telhado de várias águas

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.7


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

3.4 - Telhados com Pontaletes (Figura 20.9)

Figura 20.9 - Estrutura pontaletada

4 - IMPORTÂNCIA DOS CONTRAVENTAMENTOS DE TESOURAS

Até agora abordamos os casos das vigas mestras ou principais com suficiente
rigidez no plano em que se situam, isto é, o próprio plano da tesoura; resta, entretanto,
complementar de modo que se consiga a rigidez do conjunto. Quando não dispomos de
uma grelha de vigotas para a fixação do forro, a simples armação das tesouras e terças
passa a funcionar como uma malha de várias rótulas e, portanto, com possibilidades de livre
rotação nos vários pontos de interseção. É intuitivo que essa condição só se apresente
estável para a atuação de cargas permanentes, e a hipótese casual da carga devida à ação
do vento atuar no mesmo plano da tesoura. Acontece, porém, que o vento atua também em
outras direções, seja o caso da direção esconsa com relação ao plano da tesoura, figura
20.10, aparecendo então a componente total WT, desequilibrando o conjunto.

Figura 20.10 - Situação de direção esconsa em relação ao plano da tesoura

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.8


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

Para observarmos os efeitos WT, somos obrigados a lançar mão de outra estrutura
que denominamos de contraventamento, mesmo porque o cálculo estático é baseado na
condição de que, para cada plano de forças, corresponde uma treliça.

Sendo a intensidade de WT relativamente pouco elevada, resulta uma estrutura de


contraventamento bastante esbelta, quando se tira partido, utilizando-se o maior número
possível de peças tracionadas.

A maioria dos projetistas procura se utilizar de diagonais cruzadas, trabalhando à


tração, facilitando desta forma os cálculos e permitindo boa margem de folga.

O esquema de contraventamento usualmente empregado, situa-se na cumeeira e


funciona de modo a equilibrar as reações horizontais da meia tesoura das extremidades,
figura 20.11 A e B.

Figura 20.11 A

Figura 20.12 B

Figura 20.11 - Esquema de contraventamento

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.9


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

O cálculo estático é elaborado de maneira bem simplificada, bastando que se


considere o sistema de barras compostas pela cumeeira, diagonais e pendurais centrais das
tesouras a e b, visto que o binário H1 e H2 tende a provocar rotação da tesoura a e esta, por
intermédio das terças, arrastaria as demais (b,c,d), figura 20.12.

Figura 20.12 – Sistema de cálculo do contraventamento

O outro sistema será o triângulo composto pela diagonal D2, a cumeeira, no trecho
entre a tesoura a e b e o pendural da tesoura a.

Enrijecidas as tesouras a e b por intermédio das diagonais D1 e D2, geralmente de


seções iguais por facilidade de execução, as mãos francesas MF se encarregarão de
manter amarradas as tesouras intermediárias (c, d) em relação às tesouras externas (a,b).
Além do mais, essa MF servem de vínculo para impedir a flambagem lateral da tesoura ao
longo do próprio vão livre.

Apesar de que essa verificação é obrigatória somente no cálculo de pontes com


tabuleiro inferior, ou mesmo nos pórticos e arcos (um cálculo aproximado consiste em
considerar a viga solicitada pelo maior esforço de compressão, como se fosse o caso de
uma coluna de altura igual ao vão livre).

Possivelmente essa é uma das razões, fora do efeito favorável, da flexão, que
justifica a opção de alguns projetistas de colocarem MF em todos os vãos de terças, mesmo
que teoricamente desnecessários.

Consegue-se melhorar as condições de rigidez e dimensionamento, aplicando o


esquema indicado de contraventamento das posições correspondentes a 1/4, 1/2 e 3/4 do
vão livre da tesoura, conforme mostra a figura 20.13.

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.10


Estruturas usuais de madeira Elementos Estruturais do Telhado

Figura 20.13 – Esquema de contraventamento

Edgar V. Mantilla Carrasco 20.11


CAPÍTULO 21
O TRAÇADO DOS TELHADOS

1 – INTRODUÇÃO

Cobertura é a parte de uma residência ou edifício que tem a finalidade de cobrir e


proteger contra as intempéries da natureza.

A parte externa de uma cobertura é o telhado que é o conjunto das telhas e peças
especiais tais como: cumeeira, rufo, etc.

Uma cobertura bem feita deve ter espessura tal que o telhado tenha seus diversos
planos com inclinação constante, permitindo um rápido e eficiente escoamento das águas. E
seja tal que garanta sua integridade sob o efeito do vento. Deve-se além disso, ao se fazer
uma cobertura, procurar a melhor maneira de preservar o conforto térmico do ambiente a se
cobrir.

O que se tem notado é que a maioria das pessoas, inclusive engenheiros civis, não
têm dado a devida importância à cobertura residencial, deixando esta parte da obra
entregue aos carpinteiros, que por absoluta falta de conhecimento e, por uma questão de
tradição, fazem a estrutura de sustentação super dimensionadas, com ligação entre os
vários elementos não condizentes com os esforços existentes, e, além disso, a maneira não
racional de desenvolver o projeto da cobertura provoca um grande desperdício de madeira.

O principal objetivo deste trabalho é levantar os principais pontos a serem


observados na construção de uma cobertura residencial, assim como propor uma
metodologia racional de desenvolvimento de um projeto de cobertura residencial.

2 -TRAÇADO DOS TELHADOS

2.1 - Definição

A primeira etapa de um projeto de uma cobertura residencial é definir qual será o


traçado do telhado.

Esta é uma etapa em que o projetista deve desenvolver juntamente com o


proprietário da obra, para que este escolha qual é a geometria, qual é a estética do telhado
que mais lhe agrade.

É bom frisar que o projeto da cobertura deve ter seu início quando se começa a
definir a planta da casa, a disposição de seus cômodos, sua fachada; pois o tipo de
cobertura deve estar coerente com o tipo de residência a construir. Mesmo porque, muitas
vezes, alguma modificação pode ser feita na planta da casa, pensando numa maior
facilidade na construção da cobertura. Por exemplo, às vezes o deslocamento de 15 cm em
uma parede provoca um alinhamento tal que não seja necessária a construção de uma viga
sobre a laje para se apoiar um pontalete.

A figura 21.1 mostra um telhado onde podem ser visualizados os diversos planos
inclinados e suas interseções. Esses planos inclinados serão chamados de “águas” e suas
interseções formarão as cumeeiras (letra a das figuras 21.1 e 21.2), espigões (letra b) e
águas furtadas ou rincões (letra c).
Estruturas usuais de madeira O traçado dos telhados

Figura 21.1 – Telhado composto por diversos planos inclinados

Figura 21.2 – Telhado, vista em planta

Como pode-se ver pela figura, a cumeeira é um divisor de água horizontal; os


espigões são também divisores de água, porém inclinados; as águas furtadas ou rincões
são receptores de água inclinados.

A figura 21.2 é a vista em planta do telhado da figura 21.1. Esta planta contém as
mesmas informações contidas na figura 21.1, ou seja, nela pode-se visualizar as linhas de
cumeeiras, espigões, águas furtadas e os diversos panos do telhado com setas indicando o
sentido das respectivas quedas.

O traçado do telhado nada mais é do que o que está exposto na figura 21.2, ou seja,
fazer o traçado de um telhado é projetar o telhado em planta indicando as linhas da
cumeeira, espigões e águas furtadas, assim como indicar o sentido da queda da água nos
diversos panos constituintes. Indica-se também no traçado do telhado, a localização dos
condutores verticais e as linhas de calhas quando existirem.

Edgar V. Mantilla Carrasco 21.2


Estruturas usuais de madeira O traçado dos telhados

2.2 - Determinação do traçado de um telhado

O telhado pode terminar sobre uma parede: em oitão e em água. Vê-se na figura
21.3 um telhado de duas águas e portanto com dois oitões.

Figura 21.3 – Telhado de duas águas (vista lateral e em planta)

A figura 21.4 mostra um telhado de 4 águas e portanto sem oitões.

Figura 21.4 – Telhado de quatro águas (vista lateral e em planta)

Para determinar o traçado de um telhado, alguns autores preferem dividir a planta do


edifício a ser coberto em vários quadriláteros, aplicando a cada quadrilátero o formato do
telhado de 4 águas para, em seguida, unir os vários quadriláteros conservando as linhas
comuns a eles. Este não é um método prático, pois é difícil encontrar qual é a melhor
maneira de distribuir os quadriláteros dentro da planta.

O traçado de um telhado requer uma certa prática do projetista, mas a seguir serão
dadas algumas regras práticas que auxiliarão no traçado do telhado:

1- Os espigões formam ângulos de 45o com as paredes e saem dos cantos externos;

2- As águas furtadas formam ângulos de 45o com as paredes e saem dos cantos
internos;

3- As cumeeiras são paralelas a duas paredes eqüidistantes destas;

4- Do encontro entre uma linha de cumeeira e uma linha de água furtada sai-se com
um ângulo de 90o determinando outra linha.

Em seguida serão apresentados alguns exemplos de traçado de telhado onde foram


utilizadas as regras acima.

Edgar V. Mantilla Carrasco 21.3


Estruturas usuais de madeira O traçado dos telhados

EXEMPLO 1

Figura 21.5 – Traçados de telhado

Regra usada nos exemplos:

• Saiu-se com um ângulo de 45o de todos os cantos;

• Do encontro entre a cumeeira e água furtada saiu-se com um ângulo de 90o.

Um telhado cujo traçado foi feito de acordo com essas regras terá inclinação constante
em todos os seus panos e, além disso, terá todo o pé direito externo da casa constante.
Agora, se desejar que o telhado não tenha tantas águas, pode-se simplificá-lo, mas, no
entanto, sua inclinação pode variar nos seus panos constituintes e seu pé direito externo
não será mais constante, como mostra a figura 21.6.

Figura 21.6 – Simplificação do telhado

Edgar V. Mantilla Carrasco 21.4


Estruturas usuais de madeira O traçado dos telhados

A questão que pode ser levantada é se um telhado cuja geometria foi determinada
de acordo com essas regras é mais econômico que um telhado onde se faz algumas
simplificações, como por exemplo, obter-se planos com diferentes inclinações, cumeeiras
não eqüidistantes das paredes, etc. Essa é uma comparação difícil de ser feita pois se de
um lado um telhado de duas águas é mais simples de ser feito que um telhado de quatro
águas, por outro lado os dois oitões que um telhado de duas águas exige acaba igualando-o
em termos de trabalho ao de quatro águas.

O que poderia ser dito é que em muitos casos, esteticamente é mais agradável não
se usar tantas águas no telhado. É portanto, uma questão de gosto.

Mas, convém salientar que tem-se utilizado essas regras para determinar o traçado
devido à simplicidade de execução que elas exigem, além de terem duas características
importantes citadas anteriormente: inclinação constante em todos os panos e pé direito
externo constante. Os construtores e marceneiros responsáveis pela execução da abertura
as utilizam sempre. Eles sabem que de todos os cantos sai-se com 45o, que a cumeeira é
eqüidistante das paredes, etc. Não é preciso ninguém fiscalizar, ninguém falar nada. E é
essa simplicidade que eles preferem.

Edgar V. Mantilla Carrasco 21.5


CAPÍTULO 22
TELHADO DE DUAS ÁGUAS

1 - INTRODUÇÃO

Nos telhados de duas águas, dependendo do tipo de telha, teremos os seguintes


elementos estruturais:

Nas coberturas com telhas cerâmicas temos as ripas que são pregadas nas vigas
que constituem as terças e estas descarregam todo o peso da cobertura sobre as tesouras.

Nas coberturas com telhas onduladas as ripas e os caibros são dispensados. O


espaçamento entre as terças depende exclusivamente do comprimento da telha.

Os contraventamentos verticais, horizontais e as mãos francesas são elementos


estruturais que devem ser utilizados criteriosamente.

2 - LANÇAMENTO DA ESTRUTURA

2.1- Definição do Esquema da Estrutura

Partindo de uma área a ser coberta (retangular l x z), figura 22.1, devemos colocar
as vigas treliçadas (tesouras) na direção do menor vão, isto é, em l.

Figura 22.1- Distribuição das tesouras

a) Escolha do tipo de tesoura

Em um telhado de duas águas temos a possibilidade de utilizar dois tipos de


tesouras que se adaptam ao material madeira.

Para vãos até 18 m pode ser utilizada a tesoura Howe, figura 22.2.
Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.2- Tesoura Howe

Para vãos entre 18 e 30 m pode ser utilizada a tesoura Pratt, figura 22.3.

Figura 22.3- Tesoura Pratt

b) Determinação da inclinação do Banzo

O material de cobertura condiciona a inclinação do telhado. A inclinação mínima


depende das condições de escoamento das águas pluviais.

Na tabela 22.1 tem-se as inclinações máximas e mínimas. Na tabela 22.2,


encontram-se as características das telhas de cimento - amianto.

Tabela 22.1- Inclinações Máximas e Mínimas das Telhas

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.2


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Tabela 22.2- Características das telhas de cimento - amianto

A água de embebição máxima nas telhas de material poroso pode ser considerada
como carga acidental. A água absorvida dificilmente ultrapassa 25 % do peso da telha.

Não é conveniente a construção de grandes tesouras (15 a 30 m) com telhas


cerâmicas. Prefere-se para vãos grandes as telhas de cimento-amianto. É possível o uso de
telhas cerâmicas leves até 20 m de vão, mas é preferível limitar as tesouras menores (7 a
12 m) às telhas cerâmicas mais pesadas.

2.2- Escolha da Distância Entre as Terças

A distância entre as terças depende do material de cobertura.

a) Cobertura de Telhas Cerâmicas

Utilizando telhas cerâmicas não é difícil escolher a posição das terças. A distância
entre elas geralmente é função do peso das telhas e rigidez dos caibros, geralmente se
aproximando da valor 1,5 m, figura 22.4. Entretanto o vão deve ser calculado como sendo
uma viga simplesmente apoiada entre duas terças, com carga uniformemente distribuída
(flexão-compressão).

Figura 22.4 – Distância entre telhas

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.3


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

b) Cobertura de Telhas de Cimento-Amianto

As telhas de cimento-amianto são fixadas diretamente sobre as terças.

O comprimento das terças (l), limita o espaçamento entre as terças. Sendo


recomendado o recobrimento longitudinal de 14 cm entre as telhas, a distância entre as
terças (lt) será:

lt = l -14 (22.1)

Assim, para a telha de 1,83 m a distância entre as terças é de 1,69 cm, figura 22.5.

Figura 22.5 - Distância entre telhas

Para telhas mais compridas os fabricantes recomendam a colocação de terças


auxiliares no meio da telha, figura 22.6.

Figura 22.6 – Telhas auxiliares

Esta terça auxiliar vai introduzir um esforço adicional na tesoura, que deve ser
determinado separadamente.

A dificuldade para calcular esse esforço está em saber que parte do carregamento
pode caber à terça auxiliar e através dela à tesoura. Pode-se admitir uma contribuição
correspondente ao peso das telhas na sua área de influência, entre as duas terças
principais.

Uma maneira prática de se resolver esse problema é determinar inicialmente, os


esforços nas barras da tesoura sem considerar a existência da terça intermediária. A seguir
determina-se os esforços de flexão-composta, considerando o esquema estático da figura
22.7.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.4


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

N N

Figura 22.7 – Esquema para determinação dos esforços de flexão-composta

Onde: P= Carregamento da terça intermediária;


N= Esforço que atua no banzo inferior;
l= Distância entre as terças principais;

Entre as soluções que possam ser admitidas, para evitar o dimensionamento à flexo-
compressão, pode ser armada a perna da tesoura colocando um suporte logo abaixo do
ponto de apoio da terça auxiliar, figura 22.8.

Figura 22.8 – Esquema de perna armada para tesoura

Outra solução é acrescentar duas barras e um nó à treliça, construindo-se uma


escora auxiliar, figura 22,9.

Figura 22.9 – Acréscimo de barras e nó à treliça

Os cuidados que se deve ter na determinação do espaçamento das treliças e na


adoção do comprimento das telhas são os referentes ao beiral, ao recobrimento longitudinal
e à cumeeira, figura 22.10.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.5


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.10 – Beiral, recobrimento longitudinal e cumeeira

• BEIRAL: É o prolongamento do telhado além do alinhamento da parede, figura


22.11.

Figura 22.11 - Beiral

• RECOBRIMENTO LONGITUDINAL: Este recobrimento dependerá da inclinação do


telhado, podendo ser 10; 14; ou 20 cm, figura 22.12.

Figura 22.12 – Recobrimento longitudinal

• CUMEEIRA: As cumeeiras são fabricadas em vários tipos: cumeeira universal (figura


22.13), cumeeira normal (figura 22.14)e cumeeira articulada (figura 22.15).

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.6


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.13 - Cumeeira Universal

Figura 22.14 - Cumeeira Normal

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.7


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.15- Cumeeira Articulada

Obs: O valor de X representa o afastamento entre a terça e o nó superior da tesoura.

Geralmente para cada terça é lançada uma barra vertical e uma diagonal. Desta
maneira a geometria, o número de barras e as dimensões da tesoura estão definidas.

2.3 - Distância entre tesouras (Dimensionamento das terças)

O espaçamento entre as tesouras é limitado pela resistência das terças. Varia


geralmente de 3 a 5 m em função do vão, da rigidez da terça, do tipo de madeira, das
cargas e da utilização de mãos francesas.

Para tesouras com cobertura de telha cerâmica é aconselhável utilizar os seguintes


espaçamentos:

• Telha francesa- lt ≤ 3,50 m;


• Telha Colonial- lt ≤ 3,00 m.

Para tesouras com cobertura de telhas de cimento-amianto o espaçamento entre as


tesouras recomendado é lt ≤ 5,00 m.

O vão da terça ou a distância entre tesouras deve ser dimensionado supondo a terça
como uma viga simplesmente apoiada solicitada a flexão oblíqua com as ações
correspondentes.

• Para dimensionar a terça deve ser adotada inicialmente uma seção comercial.
• Calculam-se os elementos geométricos (A, Jx, Jy, y,x, Sx, Sy);
• A viga será calculada como uma viga simplesmente apoiada solicitada à flexão
oblíqua, figura 22.28.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.8


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.28 - Esquema estático e de Carregamento da Terça

O carregamento na direção x-x será devido à componente da carga permanente


projetada na direção x-x, gx = g.senα multiplicado pelo coeficiente de ponderação.

Devido a este carregamento aparece um momento fletor em torno de y (My), é


conseqüentemente uma tensão normal (σy ).

O carregamento na direção y-y será devido à componente projetada na direção y-y


mais o carregamento devido ao vento que carrega ou que alivia (o maior em módulo).

Devido a este carregamento aparece um momento fletor em torno de x (Mx) e


conseqüentemente uma tensão normal (σx ).

Com estas duas tensões deve ser verificada a resistência da peça.

A determinação da carga permanente absorvida pela terça será:

g= gc+go+ ....... kgf/m2 (22.2)

A ação uniformemente distribuída ao longo da terça será (figura 22.29):

Figura 22.29 - Carga na Terça

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.9


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

gt= g.lp ....... kgf/m (22.3)

Onde: lp = Distância entre painéis

A carga devida ao vento será :

qt = q . lt (kgf/m) (22.4)

Onde: lt = Distância entre terças

Com a escolha do tipo de tesoura, a inclinação do banzo superior, distância entre as


terças e o espaçamento entre as tesouras, encontra-se lançada a estrutura, figura 22.16.

Figura 22.16- Estrutura Lançada

3 - DETERMINAÇÃO DOS CARREGAMENTOS NA TESOURA

3.1 - Determinação da Carga Permanente

A determinação da carga permanente deve ser feita de acordo com o exposto no


capítulo 18.

g = gc + go + gt +gf +ga + ... (kgf / m2 em projeção horizontal) (18.6)

Onde: gc = Peso da cobertura;


go = Peso das terças;

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.10


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

gt = Peso da tesoura + contraventamentos;


gf = Peso do forro;
ga = Cargas adicionais;

3.2 - Determinação da carga do vento

A carga do vento deve ser determinada de acordo com o exposto no capítulo 18. A
seguir é apresentado um roteiro para a determinação do carregamento do vento.

a) Determinação da velocidade característica

Vk = V0 . S1 . S2 . S3 (18.7)

Onde, Vo = Velocidade básica, (m / s).


S1= fator topográfico;
S2= fator de rugosidade do terreno;
S3= fator estatístico.

b) Determinação da pressão dinâmica

- Nas paredes (tabela 18.8)

Dados de entrada:

h/b = altura relativa


a/b = proporção em planta (a ≥ b)

α = 90o ⇒ Ce
α = 0o ⇒ Ce

- No telhado (tabela 18.9)

Dados de entrada:

h/b = altura relativa


θ = inclinação do telhado

α = 90o ⇒ Ce
α = 0o ⇒ Ce

- Resumo da ação externa efetiva

c) Coeficientes de pressão e de formas internas (tabela 18.8)

Caso os coeficientes determinados na tabela 18.08 forem menores que os dados da


permissão (b) da NB-599, adotamos os valores da referida permissão:

Cpi = + 0,2 ..............................................pressão


Cpi = - 0,3 ................................................sucção

d) Determinação dos carregamentos do vento

Será o produto dos coeficientes de pressão e a pressão dinâmica, isto é:


q.Ce e q.Cpi kgf/m2.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.11


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

e) Determinação das ações críticas

- Vento que carrega

Nesta composição será considerado todo carregamento que sobrecarregar a


estrutura, figura 22.17

Figura 22.17 – Vento que carrega

- Vento que alivia

Nesta composição será considerado todo carregamento que alivia a estrutura, figura
22.18.

Figura
22.18 – Vento que alivia

4- NUMERAÇÃO DOS NÓS DA TESOURA

Os nós da tesoura devem ser numerados de preferências sequencionalmente como


indica a figura 22.19. As referências das barras encontram-se na Tabela 22.3.

Figura 22.19 – Numeração dos nós

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.12


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Tabela 22.3 – Referências das barras

5- DETERMINAÇÃO DAS AÇÕES CONCENTRADOS NOS NÓS

Para calcular a carga concentrada em um nó qualquer da tesoura, considera-se a


zona de contribuição do nó (área de influência). Essa zona de contribuição fica determinada
por 4 planos verticais que dividem ao meio os quatro vãos adjacentes ao nó concentrado.

5.1- Carga permanente (g , em kgf/cm2)

Seja a tesoura i, do esquema apresentado na figura 22.20.

Figura 22.20 - Esquema de distribuição das tesouras

Toda carga que estiver na área de influência da tesoura i (área hachurada), será
absorvida pela tesoura i. Multiplicando a carga permanente (g) pela distância entre tesoura
(lT), obtém-se uma carga uniformemente distribuída ao longo da tesoura, figura 22.21.

Figura 22.21 - Carga uniformemente distribuída sobre a tesoura

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.13


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

A ação concentrada no nó (6) será :

g(6) = g . lT . l

Onde : l = (l1 + l2)/2

Analogamente podem ser calculadas as cargas concentradas nos outros nós.

5.2- Carga de vento

Voltando à tesoura i da figura 22.20, a área de influência da tesoura i será a área


inclinada, isto é, no plano de cobertura. Multiplicando a carga de vento (q) (vento que
carrega ou alivia) pela distância entre tesouras (lT), obtém-se uma carga uniformemente
distribuída ao longo do banzo superior da tesoura, figura 22.22.

Figura 22.22 - Carga de vento distribuída na tesoura

O carregamento concentrado no nó (6) será:

q(6)= q . lT . l

Onde: l = (l1 + l2)/2

Analogamente podem ser determinadas as cargas concentradas nos outros nós.

Deve ser determinada a concentração das cargas nos nós da tesoura para os dois
tipos de vento (qc = vento que carrega e qa = vento que alivia).

6- DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS

Determinada a concentração de carga nos nós, temos três situações de


carregamento, figura 22.23.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.14


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

22.23 - Esquema de carregamento de Tesouras

A determinação dos esforços nas barras poderá ser feita por qualquer método de
cálculo (equilíbrio de nós, processo das forças, processo dos deslocamentos, método
cremona e através de programas para o computador). Um dos métodos mais práticos é o
método cremona.

Resolvidas as três estruturas monta-se a tabela de esforços na qual colocamos os


esforços em todas as barras da tesoura, devido à carga permanente, à carga de vento que
carrega e a carga de vento que alivia. A continuação deve ser feita à composição da carga
permanente, com cada uma das cargas de vento, como mostra a tabela 22.4.

Tabela 22.4 – Tabela dos esforços

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.15


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

7 - ADOÇÃO DE UM SISTEMA DE CONTRAVENTAMENTO

A peça de contraventamento vertical mais comum é constituída por mão francesa,


unindo as barras verticais às terças, figura 22.24. A mão francesa pode ser prevista também
para ajudar a terça, permitindo considerar-se o menor vão para a mesma.

Figura 22.24 - Mão Francesa

Os contaventamentos verticais, formados por diagonais cruzadas são usados


quando o espaçamento entre tesouras é maior.

Os contraventamentos horizontais, também formados por diagonais cruzadas, no


plano da cobertura, são usados quando o espaçamento entre as tesouras é muito grande
tornando a terça pouco rígida à compressão.

A finalidade destes contraventamentos, como já foi dita em capítulos anteriores, é


absorver o carregamento do vento que estiver fora do plano da tesoura, contraventar ou
tornar indeslocável alguns nós da tesoura.

Costuma-se utilizar o contraventamento vertical alternadamente nas barras verticais


partindo da barra central. Nas restantes barras, se for necessário são colocadas mãos
francesas, conforme figura 22.25.

Figura 22.25 - Contraventamento de uma tesoura

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.16


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

8 - ESCOLHA DAS SEÇÕES DAS BARRAS

Para poder iniciar o dimensionamento das barras da tesoura, devem ser adotadas
algumas dimensões iniciais que poderão ser feitas através de ante-projetos. Na tabela 22.5
são apresentadas algumas indicações para a adoção dessas seções.

Tabela 22.5 – Seções aconselhadas

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.17


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

9 - DIMENSIONAMENTO DAS PEÇAS

Escolhidas as seções das barras é possível iniciar o dimensionamento. Para


facilidade e para visualização do conjunto das peças é aconselhável montar uma tabela de
dimensionamento, conforme tabela 22.6.

Tabela 22.6 – Tabela de dimensionamento

Onde: lx = Comprimento de flambagem em torno de x-x;


ly = Comprimento de flambagem em torno de y-y;
ix , iy = Raio de giração em x e y, respectivamente;
λx , λy = Índice de esbeltez em torno de x e y, respectivamente;
σμ = Maior tensão de flambagem da peça.

Um critério de dimensionamento econômico é adotar a seção indicada no ante-


projeto e verificar inicialmente a peça menos solicitada. Por exemplo, quando vai ser
dimensionado o banzo inferior de uma tesoura Howe, adotar inicialmente uma peça de 7,5 x
15 cm para a peça menos solicitada, isto é, a peça imediatamente a seguir de cumeeira,
figura 22.25. Caso não seja superdimensionada continua verificando a peça seguinte. Sendo
suficiente a seção, passa para a peça seguinte. Supondo que esta terceira peça não seja
suficiente para o esforço atuante, neste caso continua com a seção adotada colocando uma
peça de reforço, transformando a seção, retangular, em uma seção T, ver figura 22.26.
Seguindo o mesmo critério dimensionam-se as demais peças.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.18


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.26 – Seção T

Na figura 22.27 são mostradas as possíveis maneiras de reforçar as peças simples e


múltiplas.

Figura 22.27 - Reforço nas seções

10- DIMENSIONAMENTO DAS LIGAÇÕES

O dimensionamento das ligações deve ser feito de acordo ao exposto em capítulos


anteriores, inclusive espaçamento e detalhamento.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.19


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

11- CÁLCULO DA CONTRAFLECHA

A contraflecha será a soma da flecha elástica mais a flecha devida à deformação dos
elementos de ligação.

Δ = ΔE + 0,3 . ΔE = 1,3 . ΔE (22.4)

Onde: Δ = Contraflecha;
ΔE = Flecha elástica.

A contraflecha deve ser calculada somente para a carga permanente ( E = Ec,ef ).

Aplicando o princípio dos trabalhos virtuais, temos:

Figura 22.30 – Estado de deslocamento

1 n li
1. ΔE = .∑ .N i .N i (22.5)
E i =1 Ai

Onde: li = Comprimento da barra i


Ai = Área da barra i

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.20


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

12 - DESENHOS E DETALHES

Deve ser feito inicialmente um esquema geral da cobertura, figura 22.32.

Figura 22.32 - Esquema Geral da Cobertura

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.21


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Os detalhes das ligações devem ser feitos em escala e com as respectivas vistas,
figura 22.33.

Figura 22.33 – Detalhe da ligação

Finalmente deve ser apresentado um desenho completo da tesoura com todas as


especificações indicando o tipo de contraventamento utilizado.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.22


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Na figura 22.34 é apresentado um exemplo do desenho final do projeto.

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.23


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Figura 22.34- Exemplo de apresentação do desenho final do projeto

Na figura 22.35 é mostra da a ligação entre a ripa e o caibro, utilizando pregos de 18


x 21

Figura 22.35 - Ligação ripa com caibro

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.24


Estruturas usuais de madeira Telhado de duas águas

Na figura 22.36 é mostrada a ligação entre o caibro e a terça, utilizando pregos de 25


x 30.

Figura 22.36 - Ligação caibro com terça

Na figura 22.37 é mostrada a ligação entre terça e tesoura.

Figura 22.37 - Ligação terça com tesoura

Edgar V. Mantilla Carrasco 22.25


CAPÍTULO 23
TELHADO DE QUATRO ÁGUAS

1 – INTRODUÇÃO

Os elementos estruturais das terças, como já foi mencionado anteriormente, são: a


tesoura principal, a meia tesoura, o espigão, a tesoura de canto e os contraventamentos (
mão francesa, contraventamento vertical e horizontal), figura 23.1.

Figura 23.1 - Elementos estruturais dos telhados de quatro águas

O lançamento da estrutura deve seguir o critério adotado no capítulo 22.

A determinação dos carregamentos pode ser feita seguindo o roteiro dado no


capítulo 22 (carga permanente e carga de vento).

A determinação dos esforços e o dimensionamento da tesoura principal já foram


vista no capítulo anterior. Os carregamentos e o dimensionamento da meia tesoura serão
vistos a seguir.
Estruturas usuais de madeira Telhado de quatro águas

2 - MEIA TESOURA

Esta meia tesoura pode ser considerada como sendo apoiada e móvel, figura 23.2.

Figura 23.2 - Esquema estático da meia tesoura

A determinação dos carregamentos e dos esforços solicitantes pode ser feita da


mesma maneira apresentada no capítulo 22.

O dimensionamento das peças da meia tesoura também segue os mesmos critérios.

3 - ESPIGÃO

O espigão vem a ser a linha de interseção de dois planos de inclinação das águas do
telhado.

É uma peça que servirá de apoio e mudança de direção das terças. Geralmente
somos obrigados a fazer alterações no projeto durante a execução, ora por razões de
concordâncias de níveis, ora por diferenças no esquadro das paredes. Na figura 23.3
observa-se claramente os pontos de apoio do espigão: no vértice da tesoura a, na tesoura
de canto e no frechal.

Figura 23.3 - Posição de espigão

O cálculo estático poderá ser elaborado para o caso de uma viga inclinada
recebendo as concentrações das terças, podendo ser do tipo de alma cheia ou armada,
figura 23.4.

Edgar V. Mantilla Carrasco 23.2


Estruturas usuais de madeira Telhado de quatro águas

Figura 23.4 - Tipos de espigão

É freqüente o caso do espigão apresentar um vão tal que as sugestões apresentadas


na figura 23.4 não solucionam satisfatoriamente. Então será prática a colaboração de uma
treliça como mostra a figura 23.5.

Figura 23.5 – Treliça

4 - TESOURA DE CANTO

A finalidade desta tesoura é reduzir o vão do espigão e combater os empuxos


devidos ao vento.

O sistema estático pode ser adotado como o apresentado na figura 23.6.

Edgar V. Mantilla Carrasco 23.3


Estruturas usuais de madeira Telhado de quatro águas

Figura 23.6 - Esquema estático da tesoura de canto

O carregamento na tesoura de canto será a reação do espigão. O dimensionamento


deve ser feito de acordo com o apresentado anteriormente.

5 - DETALHES

5.1 - Ligação entre cumeeira, espigão e tesoura

O encontro do espigão com a cumeeira, será feito através de um entalhe como


mostra a figura 23.7.

Figura 23.7 – Entalhe para ligação do espigão com a cumeeira

Edgar V. Mantilla Carrasco 23.4


Estruturas usuais de madeira Telhado de quatro águas

5.2 - Apoios

As tesouras geralmente apoiam-se sobre muros, pilares ou vigas, nas extremidades


da tesoura.

No cálculo das tesouras supõe-se um apoio articulado fixo e o outro articulado


móvel. Na execução da estrutura devem ser previstos os dispositivos construtivos que se
aproximem daqueles tipos de apoio admitidos no cálculo. Para as tesouras cobrindo
grandes vãos, estes detalhes construtivos têm maior importância devido aos fortes empuxos
horizontais que podem ser exercidos nos muros de apoio.

Para tesouras de pequeno vão em construções fechadas a figura 23.8 mostra o tipo
freqüente de apoio. É conveniente proteger a madeira colocando uma lâmina de zinco ou
chumbo, separada do tirante. por feltro alcatronado. Deve-se também permitir a ventilação a
fim de aumentar sua durabilidade.

Figura 23.8 – Tipo de apoio

5.3 - Fixação

Para as construções abertas é sempre necessário ancorar a tesoura nos apoios a


fim de evitar um possível levantamento pelo vento.

A cobertura, sendo leve, toda estrutura pode ser lançada fora por não haver
dispositivos de fixação.

A figura 23.9 representa uma forma de efetuar a ancoragem da tesoura.

Edgar V. Mantilla Carrasco 23.5


Estruturas usuais de madeira Telhado de quatro águas

Figura 23.9 – Ancoragem da tesoura

A extremidade do tirante pode ficar embutida, mas arejada. O apoio móvel pode ser
executado conforme a figura 23.9, acrescentando-se um coxim de madeira dura entre o
tirante e a cinta, a fim de facilitar os deslocamentos horizontais que possam ocorrer.

Outra solução para o apoio móvel seria aquele da figura 23.9, desde que os furos
das faces verticais das cantoneiras sejam rasgados horizontalmente.

Edgar V. Mantilla Carrasco 23.6


CAPÍTULO 24
COBERTURAS PONTALETADAS

1 – INTRODUÇÃO

Como já foi dito anteriormente, em construções residenciais que oferecem condições


de apoios intermediários, devido à disposição das paredes internas e existência de forro em
laje, é mais aconselhável o uso de pontaletes para suporte da trama ao invés de tesouras.

O pontalete é uma peça de madeira, vertical, que trabalha exclusivamente à


compressão.

O pontalete não é fixado na laje e sim fixado em um berço de madeira que é


simplesmente apoiado na laje. O peso próprio do telhado fornece a necessária estabilidade
ao pontalete.

Mesmo fixando o pontalete no berço, a distribuição da carga será concentrada sobre


a laje, sendo assim, os pontaletes deverão ser apoiados na direção das paredes se a laje for
pré-moldada. Caso a laje seja maciça o pontalete pode ser apoiado em qualquer ponto
desta. Agora, se houver necessidade de se colocar um pontalete fora da direção de uma
parede é necessário que se faça uma viga de concreto, invertida sobre a laje para apoiar o
pontalete.

À primeira vista pode parecer que a necessidade de se fazer vigas invertidas para
apoio dos pontaletes, quando necessário, seja um inconveniente para o seu uso. Mas é bom
frisar que quando se tem uma laje relativamente grande, é preferível fazer uma laje
invertida, dividindo ao meio esta laje, para que esta se torne mais rígida; e é nesta laje que
se apoiará o pontalete, pois se a laje for grande, além da viga exigida para sua rigidez, o vão
exigirá um pontalete para apoio da trama.

A distância entre dois pontaletes está limitada pela seção das terças. Para terças de
peroba rosa com seção de (6 x 12) cm, essa distância máxima é de 2,20 m; para terças de
(6 x 16) cm pode-se ter uma distância de até 3,00 m, isso para telhas cerâmicas.

Quando houver necessidade de se vencer um vão maior do que 3,00 m, pode-se


usar mãos francesas nos pontaletes.

Os caibros são pregados nas terças com pregos de 25 x 30. Por facilidade
construtiva, os caibros serão emendados sobre as terças, daí a necessidade de se prever os
locais onde serão emendados os caibros, para na compra da madeira, não perder
comprando a mais.

2 - DETALHES

2.1- Ligação entre terça e pontalete e entre pontalete e berço (figura 24.1)
Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Figura 24.1 Ligação entre terça e pontalete e entre pontalete e berço

Os pontaletes são fixados sobre os berços de madeira que podem ser pedaços de
vigas (6 x 12) ou (6 x 16).

Os calços de fixação do pontalete no berço são pedaços de caibro (5 x 6) com 10 cm


mais ou menos de comprimento. Para fixação destes calços pode-se usar pregos 25 x 30.
Os pregos de fixação da terça no pontalete podem ser de 19 x 26.

Ao invés de se usar os calços para fixação do pontalete no berço, pode-se


simplesmente pregar os quatro lados do pontalete no berço com pregos de 25 x 30. A figura
24.2 mostra isso.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.2


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Figura 24.2 – Ligação com pregos do pontalete com o berço

2.2 - Ligação entre pontalete, terça de cumeeira e caibros

Figura 24.3 – Ligação pontalete, terça de cumeeira e caibro

A seguir serão indicadas as principais características dos elementos estruturais


usados.

2.2.1 – Ripas

Figura 24.4 – Dimensões da ripas

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.3


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

As ripas constituem a última parte da trama e são dispostas perpendicularmente aos


caibros.

São encontradas com seções de 1,2 x 5 cm ou 1,5 x 5 cm em tamanhos que variam


de 0,5 m em 0,5 m, de 2,5 m a 5,0 m.

O espaçamento entre duas ripas consecutivas depende da telha utilizada. Portanto


para a colocação das ripas é necessário que se tenha na obra pelo menos algumas telhas
para que o carpinteiro possa medir sua bitola, isto é, o espaço entre duas ripas (os
carpinteiros costumam chamar de garga essa bitola).

É importante que o espaçamento entre as ripas seja constante e igual à bitola da


telha, pois se variar a distância entre as ripas, varia-se a disposição das telhas e isso causa
enormes problemas no telhado, como por exemplo a infiltração causada pelo não
encaixamento das telhas.

Portanto, para garantir esse espaçamento constante, o carpinteiro constrói uma guia
(figura 24.5).

Figura 24.5 - Guia

As ripas são compradas por dúzia e sem comprimento padronizado, pois podem ser
emendadas, raramente dando retalhos. Porém normalmente as serrarias especificam as
ripas com um comprimento padrão de 4,40 m, ou seja, ao informarem o preço das ripas,
subentende-se que o preço dito é para 12 ripas de 4,40m.

As ripas suportam diretamente o peso das telhas, portanto, a verificação do


espaçamento entre os apoios das ripas (caibros) é feita considerando a carga das telhas
distribuídas sobre a ripa. Normalmente tem-se usado 0,50 m como vão para as ripas.

2.2.2 - Caibros

Os caibros apoiam-se nas terças e servem de apoio às ripas. Sua disposição é


perpendicular às terças e à cumeeira.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.4


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Figura 24.6 – Dimensões dos caibros

Os caibros são encontrados em seções de (5 x 6) e (6 x 8), com comprimentos de


2,50; 3,50; 4,00; 4,50 e 5,00 metros; acima dessas medidas as serrarias costumam
aumentar mais o preço.

A bitola dos caibros varia com o espaçamento entre as terças, já que este
espaçamento constitui o vão livre em que irão trabalhar. Assim, quando as terças estão
espaçadas de até 2,00 m, usam-se caibros de 5 x 6; quando as terças estão espaçadas de
mais de 2,00 m e menos de 2,80 m, usam-se caibros de 6 x 8.

A distância entre os caibros é no máximo 0,50 m (de eixo a eixo), isso para ripas
comuns de peroba rosa com seção (1,2 X 5,0 cm).

2.2.3 – Terças

Figura 24.7 – Dimensões das terças

As terças apoiam-se nas tesouras ou nos pontaletes e servem de apoio aos caibros.
Sua disposição na cobertura é paralela à cumeeira.

As serrarias utilizam como bitolas comerciais as de 6 x 12 e 6 x 16 (centímetros),


com comprimentos de 2,50; 3,00; 3,50; 4,00; 4,50 e 5,00 metros, as peças com
comprimentos maiores terão preço mais elevado, o que obriga a evitá-las tanto quanto
possível.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.5


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Usam-se terças de 6 x 12 se o vão entre tesouras ou entre pontaletes não exceder


2,50 m e terças de 6 x 16 para vãos entre 2,50 e 3,50 m.

3 - DIMENSIONAMENTO DAS RIPAS, CAIBROS E TERÇAS

A seção e o vão máximo admissíveis de uma peça, além do carregamento, variam


de acordo com a madeira utilizada; por isso, o projetista deve sempre calcular com exatidão
qual a seção necessária e qual o vão máximo que uma peça com essa seção consegue
vencer, e não estimar a seção e o vão a vencer, levando em conta simplesmente, por
exemplo, a palavra e a experiência do carpinteiro da obra. Outro fato importante a
argumentar, é que a peroba rosa tem sido a madeira que mais se tem utilizado na
construção de coberturas residenciais, e devido à escassez atual desta espécie de madeira,
há uma tendência e uma necessidade de substituí-la por outra espécie. Já em outras
regiões brasileiras, região Norte, por exemplo, existem outras espécies de grande uso em
coberturas. Portanto, afirmar que o vão máximo de uma ripa é de 0,50 m ou que o vão
máximo de uma terça 6 x 12 é de 2,50 m pode não ser muito coerente com a real situação,
pois isso é válido com a peroba rosa e para um certo carregamento. Sendo assim, convém
sempre dimensionar a seção e vão da peça, considerando o tipo de madeira e
carregamento atuante.

O projetista deve sempre ter em mãos um catálogo ou as informações necessárias


sobre a telha a ser utilizada. As principais informações são: peso da telha seca e molhada,
inclinação mínima e máxima e número de telhas por metro.

Conhecido o peso da telha é possível estimar o peso distribuído sobre as ripas,


caibros e terças.

Sobre as ripas atua somente o peso das telhas, para telha francesa é de 45 kg/m2.
As ripas devem ser dimensionadas à flexão oblíqua.

Sobre os caibros atuam o peso das telhas mais o peso das ripas. Conhecida a
densidade da madeira utilizada e estimando qual é a área de influência do caibro é possível
calcular o peso das ripas nessa área, que somando com o peso das telhas nessa mesma
área fornece a carga distribuída sobre o caibro. Os caibros devem ser dimensionados à
flexão composta.

Sobre as terças atuam o peso das telhas mais o peso das ripas e dos caibros.
Novamente, conhecida a densidade da madeira e a área de influência da terça é possível
calcular o peso das ripas e dos caibros nessa área, que somado com as telhas nessa área
fornece a carga distribuída sobre a terça. As terças devem ser dimensionadas à flexão
oblíqua.

4 - PROJETO DE UMA COBERTURA EM PONTALETES

As etapas que devem ser analisadas são apresentadas a seguir e serão mostradas
através do desenvolvimento de um projeto de uma cobertura residencial.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.6


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

1- Planta da casa;

Figura 24.8 - Planta da casa

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.7


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

2- Planta com indicação das águas, linhas de espigão, cumeeiras, águas


furtadas, calhas internas e externas, elevação frontal e lateral, tamanho e tipo de
beiral, inclinação do telhado, ponto e tipo de telha;

Figura 24.9 - Planta do com indicação das águas, beirais, inclinações, elevações e principais
linhas do telhado

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.8


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Figura 24.10 - Planta com a localização dos principais pontos

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.9


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

3- Planta com localização dos pontaletes juntamente com as linhas de terças,


cumeeiras, águas furtadas e espigões;

Figura 24.11 - Planta de localização dos pontaletes, terças, cumeeiras, espigões e água-
furtada

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.10


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

4- Planta das emendas;

Figura 24.12 - Planta de localização das emendas das terças, cumeeiras, espigões e água-
furtada

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.11


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

5- Planta de forma das vigas invertidas com seções e ferragens e localização


da caixa d’água;

Figura 24.13 – Planta com localização das vigas invertidas

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.12


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

6- Planta com ripas e caibros;

Figura 24.14 – Planta com localização das ripas

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.13


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Figura 24.15 – Planta com localização dos caibros

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.14


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

7- Detalhes de ligações e de alguns pontos importantes:

Já foram apresentados anteriormente;

8- Listagem dos materiais

8.1- Contagem de madeira

8.1.1- Ripas

Com a planta de localização das ripas do ítem 6 e com uma tabela adequada,
somam-se os comprimentos das ripas, acrescentando-se 10 % ao valor obtido

TOTAL DAS RIPAS: 716 m

8.1.2- Caibros

Com a planta do ítem 6, medem-se os comprimentos dos caibros de emenda a


emenda, a seguir, acrescenta-se 10 cm em cada valor medido, que é o que se perde em
cada ligação, para depois encaixar nas dimensões comerciais. A tabela 24.1 mostra isso. Na
coluna 1 da tabela está o valor medido, na coluna 2 está o valor acrescido (10 cm) e na
coluna 3 está o valor do comprimento pedido na peça onde as setas indicam como a peça
deverá ser cortada.

Tabela 24.1 – Medidas dos comprimentos dos caibros

Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor


medido acrescido pedido (m) medido acrescido pedido (m) medido acrescido pedido (m)
(m) (m) (m) (m) (m) (m)
0,6 0,7 1,6 1,7 4,0 4,1 4,5
1,0 1,1 3,5 1,2 4,5 4,6 5,0
1,5 1,6 0,7 0,8 4,5 14 de 4,9 14 de 5,0 14 de 5,0
2,0 2,1 0,2 0,3 4,6 4,7 5,0
1,6 1,7 4,0 0,4 0,5 4,1 4,2 4,5
2,1 2,2 1,0 1,1 3,6 3,7 4,0
1,1 1,2 4,0 1,5 1,6 5,0 3,1 3,2 3,5
0,5 0,6 2,0 2,1 2,5 2,6 5,0
0,6 0,7 2,4 2,5 2,5 2,1 2,2
1,0 1,1 3,5 2,9 3,0 3,0 1,5 1,6
1,6 1,7 3,6 3,7 4,0 1,0 1,1 4,0
2,0 2,1 4,5 4,1 4,2 4,5 0,5 0,6
2,3 2,4 4,6 4,7 5,0 0,6 0,7
1,9 2,0 5,2 5,3 5,5 1,1 1,2 3,0
1,4 1,5 5,0 4,9 5,0 5,0 1,7 1,8
0,9 1,0 4,4 4,5 4,5 2,1 2,2 5,0
0,4 0,5 4,0 4,1 4,5 2,7 2,8
0,4 0,5 3,4 3,5 3,5 3,3 3,4 3,5
1,3 1,4 4,5 2,8 2,9 3,0 3,9 4,0 4,0
2,3 2,4 2,2 2,3 4,5 4,4 4,5 4,5
3,3 3,4 3,5 1,7 1,8 4,9 5,0 5,0
4,2 4,3 4,5 1,1 1,2 5,4 5,5 5,5
4,7 4,8 5,0 0,6 0,7 4,8 4,9 5,0
14 de 4,9 14 de 5,0 14 de 5,0 0,3 0,4 4,2 4,3 4,5
4,6 4,7 5,0 0,8 0,9 3,6 3,7 4,0
4,1 4,2 4,5 1,2 1,3 3,1 3,2 3,5
3,6 3,7 4,0 1,7 1,8 4,0 6 de 2,4 6 de 2,5 6 de 2,5
3,1 3,2 3,5 2,1 2,2 2,0 2,1
2,6 2,7 5,0 2,6 2,7 3,0 1,5 1,6 5,5
2,1 2,2 3,1 3,2 3,5 1,0 1,1
3,6 3,7 4,0 0,5 0,6

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.15


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

A quantidade de caibros de acordo com seus comprimentos está indicada na tabela


24.2.

Tabela 24.2 – Quantidade de caibros

Seção (5x6) cm
Comprimento Unidade
2,50 7
3,00 4
Caibros 3,50 9
4,00 10
4,50 14
5,00 41
5,50 3

OBSERVAÇÃO: Foram pedidas 3 vigas de 5,50 m, o que foge do anteriormente


aconselhado, mas é que no caso em questão não houve maneira de ser evitado.

8.1.3- Vigas (terças, cumeeiras, águas furtadas, espigões, pontaletes e berços dos
pontaletes);

a) Terças, Cumeeiras, Águas Furtadas e Espigões

Com a planta de localização das emendas, ítem 4, monta-se a tabela 24.3:

Tabela 24.3 - Medidas dos comprimentos das terças, cumeeiras, águas furtadas e espigões

Valor medido já Valor pedido Valor medido já Valor pedido Valor medido já Valor pedido
acrescido (m) acrescido (m) acrescido (m)
(m) (m) (m)
4,50 4,50 5,00 5,00 5,00 5,00
4,50 4,50 5,00 5,00 2,00 5,00
3,00 3,00 3,50 3,50 2,60
2,90 3,00 3,50 3,50 4,00 4,00
2,60 3,00 5,00 5,00 3,35 3,50
3,25 3,50 3,50 3,50 3,90 4,00
4,20 4,50 5,00 5,00 4,30 4,50
3,40 3,50 5,00 5,00 5,00 5,00
4,00 4,00 5,00 5,00 4,50 4,50
2,80 3,00 4,30 4,50 4,00 4,00
3,30 3,50 3,20 3,50 5,00 5,00
3,20 3,50 3,00 3,00 3,20 3,50
4,00 4,00 4,00 4,00 4,50 4,50
3,20 3,50 2,90 3,00 4,30 4,50
3,20 3,50 2,70 3,00

Tabela 24.4 – Quantidade de terças, cumeeiras, águas furtadas e espigões

Seção (6x12) cm
Comprimento Unidade
2,50 -
Terças, Cumeeiras,
3,00 7
Águas Furtadas,
3,50 12
Espigões
4,00 6
4,50 8
5,00 10

b) Pontaletes

Como os telhados têm inclinação de 21 % os pontaletes a, a’, b, b’, c e c’ (ítem 3)


possuem os seguintes comprimentos:

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.16


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

a = 0,50 m b = 0,85 m c = 1,00 m


a’= 0,30 m b’= 0,65 m c’= 0,80 m

É possível montar a tabela 24.5.

Tabela 24.5 – Medidas dos comprimentos dos pontaletes

Pontaletes Unidades Comp. Unitário Comp. Total Valor Pedido


a 9 0,50 4,50 4,50
a’ 7 0,30 2,10 2,50
b 10 0,85 8,50 2 de 4,50
b’ 1 0,65 0,65
c 2 1,00 2,00 4,50
c’ 2 0,80 1,60

Tabela 24.6 – Quantidade de pontaletes

Seção (6x16) cm
Comprimento Unidades
2,50 1
3,00 -
Pontaletes
3,50 -
4,00 -
4,50 4
5,00 3

c) Berço dos Pontaletes

São 31 pontaletes, portanto são 31 berços de 0,50 m. Pedem-se 3 vigas de 5,00 m


que dá para tirar 30 berços, o outro berço pode ser feito de alguma sobra de madeira
existente.

8.1.4- Listagem final de madeira

• Ripas: 716 m;
• Caibros: Tabela 24.2;
• Vigas: Tabela 24.4 e Tabela 24.6.

8.2- Contagem das telhas

A telha usada é a capa e canal que tem um consumo médio por m2 de 28 unidades.

A área a ser coberta é de 185 m2 . Logo serão necessárias 5180 telhas. Faz-se o
pedido de 5200 telhas.

8.3- Contagem das ferragens (pregos, parafusos e cantoneiras).

9- Observações construtivas

Etapas principais:

• Controle do material que chega (conferição e verificação da qualidade);


• Abrigo do material;
• Seqüência construtiva;
• Inspeção da obras.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.17


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Finalmente com o projeto da cobertura pronto, antes de começar a sua execução é


preciso que o projetista deixe bem claros alguns pontos que deverão ser observados pelo
construtor no transcorrer da obra.

É preciso que se mostre ao responsável pela execução que a segurança da


cobertura estará diretamente ligada à eficiência de todas as ligações, pois com todos os
elementos da cobertura trabalhando conjuntamente, como um único corpo, contínuo e
homogêneo, todo e qualquer tipo de esforço extra-normal será distribuído igualmente pelos
elementos (por exemplo, uma pressão anormal do vento).

Portanto, a primeira providência do projetista é conversar com o responsável técnico


e mostrar a importância da fiscalização durante todo o decorrer da obra. Em seguida, é
necessário explicar que para conseguir uma boa eficiência da cobertura, é também
necessário, além da execução bem feita, que a madeira esteja em perfeitas condições. É
preciso que se examine peça por peça, assim que seja feita a entrega, já selecionando, às
vistas do entregador, as peças que necessitem que sejam devolvidas, para serem trocadas
por outras melhores.

Deve-se recusar peças com excesso de rachaduras, manchas escuras, buracos de


insetos, peças retorcidas ou fora do esquadro, etc.

O abrigo do material é de extrema importância, pois sabe-se que a cobertura demora


dias para ser feita, portanto vai-se consumindo a madeira aos poucos, e se esta permanecer
sob o intemperismo, certamente será prejudicada. Sendo assim, se a laje da casa já estiver
pronta, abriga-se a madeira dentro de algum cômodo da casa, tomando o cuidado para
empilhar a madeira sobre algumas escoras para que não fique em contato com o solo
úmido.

Se não houver nenhum cômodo da casa com teto para proteger o madeiramento, é
necessário que se cubra com algum tipo de lona ou plástico. O que não pode é deixar a
madeira ao intemperismo.

É aconselhável que se empilhe o madeiramento ordenadamente, pois muitas vezes


a madeira vem verde da serraria, e se durante a secagem ela não estiver numa posição
retilínea, certamente ficará torta e ondulada.

Não se pode jogar a madeira de qualquer jeito num canto da obra. Para facilitar o
uso das várias peças é conveniente empilhá-las de acordo com o seu comprimento e seção,
assim quando se necessita, por exemplo, de uma viga de 3,5 m, facilmente ela é localizada
na pilha.
Depois de tomar todos esses cuidados com a madeira, começa-se a construção
propriamente dita da cobertura. E a primeira etapa da construção é a marcação dos
pontaletes que sustentarão as cumeeiras. A figura 24.16 mostra a colocação das
cumeeiras.
Os primeiros pontaletes são escorados inicialmente, depois de pronta a cobertura
essas escoras são retiradas, figura 24.17.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.18


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Figura 24.16 – Colocação das cumeeiras

Figura 24.17 – Retirada das escoras

A seguir as cumeeiras são colocadas, as linhas de espigão e águas furtadas, para


depois virem as terças.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.19


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

Depois das terças são colocados os caibros, depois as ripas e por fim as telhas,
figuras 24.18 e 24.19.

Figura 24.18 – Terças coladas nos caibros

Figura 24.19 – Colocação das ripas

Antes de arrematar o telhado é aconselhável uma boa vistoria em todos os


elementos, verificando não só terças, caibros ou ripas seladas. Muitas vezes só depois, com
o peso das telhas é que uma peça se mostra não ser boa, sendo necessária sua
substituição. Verifica-se nesta etapa se os pontaletes estão todos retilíneos.

Quando se for usar beirais aparentes, costuma-se, para embelezar, moldar os


caibros e terças que ficarão aparentes. Como este é um serviço demorado é aconselhável

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.20


Estruturas usuais de madeira Coberturas pontaletadas

que o carpinteiro comece a realizá-lo antes mesmo de estar pronta a laje para receber a
cobertura. Cabe ao projetista indicar ao carpinteiro quais serão as peças que ficarão com as
suas pontas aparentes no beiral, para que sejam moldadas.

Uma cobertura bem feita mostra um telhado com cada pano plano e uniforme, sem
saliências e reentrâncias, permitindo um escoamento rápido e eficiente das águas das
chuvas.

Edgar V. Mantilla Carrasco 24.21


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Estatístico da ABRAF 2011 - Ano Base 2010.

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CALIL Jr., C., Estruturas de madeira - notas de aula, Escola de Engenharia de São
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Engenharia Civil – FECIV, Universidade Federal de Uberlândia – UFU,
Uberlândia, MG, 2003.

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(tradução de: The International Book of Wood)

HELLMEISTER. J.C., Estruturas de Madeira - Notas de Aula, Escola de Engenharia


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HELLMEISTER, J.C., Madeiras e suas Características - Notas de Aula, Escola de


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Escola de Engenharia de São Carlos - USP, São Carlos, 1973 (tese de
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Forças devidas ao vento em edificações

ABNT NBR 7188:1984


Carga móvel em ponte rodoviária e passarela de pedestre

ABNT NBR 7189:1985


Cargas móveis para projeto estrutural de obras ferroviárias

ABNT NBR 8681:2003 com Errata 1:2004


Ações e segurança nas estruturas – Procedimento

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