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AS RESOLUÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DE

JUSTIÇA EM TEMPOS DE EMERGÊNCIA


SANITÁRIA
Como se não bastassem as dificuldades enfrentadas pela crise
sanitária causada pela pandemia do Coronavírus e, consequentemente, o
agravamento da crise econômica, a solução caolha apresentada para não
parar o Judiciário[1] causa espanto.

No dia 27 de abril de 2020, foi publicada a Lei n. 13.994/20, que


modificou a Lei n. 9099/95, a fim de possibilitar a realização de audiência de
conciliação, pelo modo não presencial, para que as demandas iniciadas
perante os Juizados Especiais Cíveis não ficassem prejudicadas em razão da
pandemia.

Aqui cabe uma explicação prévia sobre as determinações do Conselho


Nacional de Justiça no que se refere ao funcionamento do Poder Judiciário em
tempos de Coronavírus.

Apesar de a Resolução n. 313/20 do Conselho Nacional de Justiça


(CNJ) suspender a contagem dos prazos até o dia 30 de maio de 2020 e,
também, ter determinado a suspensão das audiências presenciais, uma nova
Resolução do CNJ, a de n. 314/20, determina que a contagem dos prazos
processuais dos processos físicos continuam suspensos e que os prazos dos
processos que tramitam por meio digital voltam a correr a partir do dia 04 de
maio de 2020. Nesse mesmo dispositivo, o artigo 3º da Resolução determina
que os atos presenciais ficam proibidos de serem designados.

De outro lado, apesar de possibilitar a continuidade de designação de


audiências de moto digital, o § 2º do artigo 3º da referida Resolução dispõe que
se os atos não puderem ser praticados de forma eletrônica ou digital, por
impropriedade técnica apontada por qualquer pessoa envolvida no ato (e, não
somente as partes), o ato deverá ser adiado, após decisão fundamentada pelo
magistrado e certificação nos autos.

De forma a complementar esta disposição e de limitar a decisão do


magistrado acerca do adiamento do ato no formato digital que não puder ser
praticado, o § 3º do artigo 6º da Resolução n. 314/20, dispõe que:

As audiências em primeiro grau de jurisdição por meio de videoconferência


devem considerar as dificuldades de intimação de partes e testemunhas,
realizando-se esses atos somente quando for possível a participação,
vedada a atribuição de responsabilidade aos advogados e procuradores
em providenciarem o comparecimento de partes e testemunhas a
qualquer localidade fora de prédios oficiais do Poder Judiciário para
participação em atos virtuais”.
Essa determinação de cautela do juízo para a ocorrência ou não de
atos judiciais digitais/virtuais é muito boa, mas não resolve o problema trazido
pela nova redação da Lei n. 90999/95.

Esse parágrafo apenas dispõe que um ato não deve ser designado ou
deixar de ser adiado sem que o magistrado competente analise a possibilidade
das partes realmente participarem das audiências virtuais/digitais e que essa
responsabilidade de garantir a intimação e presença das partes nessas
audiências virtuais não deve ser repassada aos advogados e aos procuradores
quando esses atos ocorrerem fora dos prédios oficiais do Poder Judiciário para
a participação dos atos virtuais.

Em tempo de pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde


(OMS) e de necessidade de distanciamento social, a aglomeração de pessoas
em prédio do Poder Judiciário para a realização de atos virtuais/digitais perde
todo o sentido, uma ideia fora do lugar, e tenho dúvidas se em momento pós
pandemia, um sentido lógico ainda persiste, pois a principal finalidade de
realização de um ato virtual/digital é que ocorra sem a presença física das
partes e testemunhas.

O problema de audiências virtuais/digitais não está somente na


transferência de responsabilidade de garantir intimação e presença das partes
e testemunhas nesses atos, nem mesmo (apesar de ser uma ideia fora do
lugar) da presença física em prédios oficiais do Poder Judiciário para
audiências virtuais, mas, principalmente, nos casos em que audiências
virtuais/digitais são designadas partindo do pressuposto de que todos os
jurisdicionados possuem um smartphone, internet móvel e/ou fixa e, até
mesmo, endereço digital (e-mail).

O CASO DE AUDIÊNCIAS VIRTUAIS/DIGITAIS


DESIGNADAS EM JUIZADOS ESPECIAIS EM
MOMENTO PÓS-PANDEMIA.
Logo após a declaração de pandemia pela OMS e a publicação da
Resolução n. 313/20 (CNJ), de 19 de março, algumas intimações para
audiências virtuais/digitais passaram a ser publicadas de modo a intimar as
partes sobre o horário e o local da audiência, com as advertências para a parte
reclamada.

A ressalva que se fizeram presentes nessas intimações é que no local


da audiência foi colocada a expressão “sala virtual da plataforma Hangouts
(Gmail). Para tanto, deverá a parte citada informar os seguintes dados, tanto da
parte, quanto do advogado: número de Whatsapp; 2- e-mail válido na
plataforma gmail”.
Para que essa audiência virtual/digital ocorra, a parte e as testemunhas
devem ter, no mínimo: um smartphone com capacidade de armazenamento do
aplicativo Hangouts e do aplicativo Whatsapp, internet móvel ou fixa e um
endereço de e-mail, mas não é qualquer um, tem que ser um e-mail da
plataforma “Gmail”[2].

Após a descrição sobre a audiência pelo aplicativo Hangouts, as


intimações trazem a advertência, que já prenunciava a edição posterior da Lei
n. 13994/20, in verbis[3]:

O não comparecimento (comparecimento online) importará em REVELIA


(artigo 344 do CPC), presumindo este juízo que são verdadeiras as alegações
afirmadas na inicial pelo autor, bem como a aplicação de multa de até 2% do
valor da causa (§ 8º do artigo 334 do CPC).
De acordo com a intimação para a audiência virtual, a parte
Reclamante que não comparecer na audiência online será imposta uma multa
de até 2% do valor da causa, em razão de ato atentatório contra a Justiça[4] e
para a parte Reclamada que não comparecer na audiência online será imposto
o efeito da revelia, além da multa afirmada acima[5], como se as medidas de
facilidade ou dificuldade de comparecer numa audiência presencial e online
fossem as mesmas.

“CORONA AUDIENCE” E OS EFEITOS DO NÃO


COMPARECIMENTO VIRTUAL.
A mudança estabelecida pela Lei n. 13.994/20, apesar de ter sido
editada na época da pandemia mundial causada pelo Coronavírus, veio para
ficar.

E, pelo tratamento similar dispensado aos efeitos das ausências das


partes nas audiências presencial e virtual é que se deve discutir e demonstrar
que possíveis ausências nas audiências presenciais e virtuais não podem ser
medidas com a mesma régua.

Antes da edição da Lei n. 13.994/20 não havia previsão, na Lei n.


9099/95, acerca da realização da audiência de conciliação no modelo virtual.

Uma das duas mudanças trazidas pela Lei n. 13994/20 foi a inserção
do § 2º no artigo 22 da Lei n. 9099/95, que passou a dispor que: “É cabível a
conciliação não presencial conduzida pelo Juizado mediante o emprego dos
recursos tecnológicos disponíveis de transmissão de sons e imagens em tempo
real, devendo o resultado da tentativa de conciliação ser reduzido a escrito com
os anexos pertinentes”.

 A outra mudança trazida pela nova Lei e que nos remete a um


problema de ordem constitucional está no artigo 23 da Lei n. 9099/95, e
autoriza o julgamento do mérito pelo juiz competente se a parte reclamada não
comparecer ou se recusar a participar da audiência de conciliação virtual[6].

Está claro que a nova Lei não trouxe mudança significativa[7] nos
efeitos de quem se ausenta da audiência de conciliação, mas trouxe uma
modificação substancial aos efeitos da ausência das partes na audiência,
quando se trata da ausência numa audiência virtual num país de tamanha
desigualdade social e no momento de uma crise sanitária mundial que agravou
uma crise econômica nacional.

 Nesse momento difícil em que grande parte da sociedade busca ajuda


de R$ 600,00 (seiscentos reais) como auxílio emergencial para sua
sobrevivência e a de sua família, não é crível achar e exigir (sim, porque se há
penalidade, sem exceções, pela ausência numa audiência virtual, caracteriza-
se como exigência!) que as partes numa ação, seja a parte reclamante ou
reclamada, tenha, por sua conta, todos os aparatos necessários para estar
presente numa audiência virtual.

Numa leitura rasa, pode-se entender que a presença na audiência


virtual é mais facilitada do que a presença na audiência presencial,
principalmente em época de pandemia em que o distanciamento social passa a
ser regra.

Essa facilidade existe sim, mas não para todos os jurisdicionados em


situação de vulnerabilidade social.

Talvez, para esses vulneráveis sociais, pegar um ônibus para estar


presente numa audiência é mais fácil e possível de ocorrer, do que exigir que
ele, fora do prédio oficial do Poder Judiciário, tenha, repito, por sua conta, um
smartphone, e-mail e internet disponível.

Usar a mesma régua para medir situações totalmente diferentes pode


caracterizar-se como algo insustentável sob a ótica constitucional.

INCOERÊNCIA CONSTITUCIONAL.
A Lei n. 13.994/20 utiliza uma única medida para tratar situações
diferentes, o que demonstra uma incoerência constitucional.

O nivelamento de situações que não poderiam ter o mesmo tratamento,


passa por três diferentes óticas, mas que se complementam:

A primeira se refere ao tratamento isonômico: tratar desigualmente os


desiguais passa longe das modificações trazidas à Lei n. 9099/95, no que se
refere à imputação de multa ao ausente na audiência virtual (por ato atentatório
à Justiça) e pela revelia à parte Reclamada quando não comparecer na
audiência virtual, conforme disposições dos artigos 22 e 23 da Lei n. 9099/95.
Não é pela necessidade de manter o andamento das demandas
iniciadas perante os Juizados Especiais Cíveis que se pode fechar os olhos
para as diferenças estruturais entre jurisdicionados que podem ou não dispor,
por conta própria, de smarthphone, internet e e-mail para terem acesso e
poderem estar presentes nas audiências virtuais, principalmente numa época
de crise sanitária mundial e de agravamento de crise econômica no Brasil.

A Lei n. 13.982/20, que instituiu o auxílio emergencial de R$600,00


(seiscentos reais), em razão da pandemia causada pelo Covid-19, buscou
atender as pessoas sem renda formal e em situação de vulnerabilidade, a fim
de mantê-las em distanciamento social.

De acordo com dados publicados pelo DATAPREV, 89,3 milhões de


pedidos foram feitos requerendo o auxílio emergencial e, apenas 48,5 milhões
foram autorizados, ficando sem renda alguma, um pouco mais de 40 milhões
de pessoas que tiveram seus cadastros não autorizados[8], sem contar os
invisíveis digitais que, sequer, conseguiram fazer seu cadastro e pedido por
estarem fora do sistema digital, por não terem acesso à internet e
smartphone[9].

Isso demonstra que não basta inserir no artigo a possibilidade de


realização de audiência virtual para resolver o problema de paralisação de
demandas judiciais, muito menos, dispensar tratamento sancionatório da
mesma forma ao jurisdicionado ausente na audiência virtual, como se todos os
jurisdicionados tivessem a mesma capacidade econômica de suportar uma
crise a ponto de possuir todos os insumos necessários para comparecer no
referido ato.

Além da impossibilidade de tratar igualmente os jurisdicionados


desiguais, no que se refere aos insumos que lhe garantem presença nas
audiências virtuais, também, não se pode lançar mão, de uma interpretação
manca, caolha, do o § 3º do artigo 6º da Resolução do CNJ n. 314/20, já citado
acima.

Esse dispositivo trata da impossibilidade de atribuir responsabilidade


aos advogados e procuradores de providenciarem a presença das partes e
testemunhas nas audiências quando essas audiências ocorrerem fora dos
prédios oficiais do Poder Judiciário.

Uma interpretação caolha desse dispositivo estaria em estabelecer um


local oficial do Poder Judiciário para a realização de audiências virtuais para
que as partes com vulnerabilidade social pudessem comparecer. Essa
interpretação soa como uma ideia fora do lugar, por dois motivos: primeiro,
porque se há prédio oficial do Poder Judiciário para reunir as partes a
audiência deixa de ser virtual e passa a ser presencial e, segundo, porque o
distanciamento social não é para alguns jurisdicionados, mas, sim, para todos
e, inclusive para o servidores.

Para além do entendimento da igualdade e isonomia no tratar


desigualmente os desiguais, o princípio da igualdade do artigo 5º, caput, da
Constituição Federal traz como consequência da isonomia, a igualdade
processual.

Didier Jr. (2016) explica que a igualdade processual é observada, entre


outros aspectos, quando há redução das desigualdades que dificultem o
acesso à justiça, como a financeira, a geográfica e de comunicação e que a
igualdade processual revela-se com mais clareza quando há regras de
tratamento diferenciado que possibilitam isonomia entre as partes perante o
Judiciário.

É isso que a Lei n. 13.994/20 deixou de fazer. Deixou de fora a


possibilidade de dar tratamento isonômico aos jurisdicionados vulneráveis em
tempo de emergência causada pela pandemia do Coronavírus.

As mudanças emergenciais na Lei, em momento de pandemia, e que


podem permanecer na pós pandemia, devem - ou pelo menos deveriam - levar
em consideração que problemas complexos exigem demandas colaborativas e
soluções não estanques, pois a legislação, “o direito é, por si só, incapaz de
absorver a crescente complexidade dos problemas sociais. É necessário um
diálogo entre os Poderes da República, que permita dar a solução mais
constitucionalmente adequada aos impasses atuais. Caso contrário,
correríamos o risco de soluções ilegítimas, insuficientes, ineficientes ou, no
limite de exceção, pura e simples” (ABBOUD, online, 2020).

A segunda, se refere ao acesso ao judiciário e tem ligação com o § 2º


do artigo 22 e, principalmente, com a disposição do artigo 23 da Lei n. 9099/95,
em suas novas redações.

Deve-se ter atenção para o disposto no artigo 23, que pressupõe o


julgamento do mérito. De acordo com esse dispositivo, se a parte reclamada
não comparecer na audiência virtual, o juiz sentenciará o feito, o que significa
que a parte reclamada, devidamente intimada, que não comparecer no ato
virtual sofrerá os efeitos da revelia e a ação terá termo. Desta forma, o
julgamento de mérito pende para o seu prejuízo, que, aliás, já está presente
desde o início quando da designação da audiência virtual.

O princípio do acesso ao judiciário, enquanto acesso a ordem jurídica


justa, significa que a parte terá seus interesses analisados e decididos pelo
Estado de forma justa. E, o que isso significa? Significa viabilizar ao
jurisdicionado análise e decisão sobre seu interesse de forma imparcial,
eficiente e de forma razoável.

Desconsiderar as motivações sociais e econômicas que levaram o


jurisdicionado a se ausentar na audiência virtual é como impedi-lo de ter
acesso a uma ordem jurídica justa que, no mínimo, foi irrazoável.

A terceira se refere ao devido processo legal substancial e pode ser


analisado tendo por parâmetro oposto a nova redação do artigo 23 da Lei n.
9099/95, que prevê o efeito da revelia e o termo do processo quando a parte
Reclamada não comparece na audiência virtual.
Por esse princípio, o devido processo legal não se apresenta, somente,
quando os aspectos formais procedimentais são seguidos.

Por exemplo: o devido processo legal formal está sendo seguido


quando o juízo designa a audiência virtual; as partes são intimadas e se uma
não comparece, autoriza o juiz a por termo na ação, pois essas fases
procedimentais estão previstas em lei e as partes foram intimadas para a
prática destes atos.

De outro lado, o devido processo legal substancial está presente


quando as fases procedimentais possuem como base a razoabilidade e a
proporcionalidade.

Lenza (2019) explica que o devido processo legal substancial


pressupõe a presença de alguns requisitos que estabelecem algumas regras,
tais como: a que a adoção de uma medida restritiva de direitos só é legítima se
for indispensável para o caso concreto e não puder ser substituída por outra
medida; que o meio escolhido atinja o objetivo desejado e, por fim, se o ato
praticado foi efetivo e restringiu ao mínimo direitos.

Se a ausência do jurisdicionado vulnerável, social e economicamente,


na audiência virtual, levar o juiz a pôr termo na ação sem levar em
consideração as motivações da sua ausência, verifica-se que o procedimento
não foi razoável, pois não levou em consideração que poderia haver outra
medida menos restritiva aos direitos do jurisdicionado vulnerável (que sequer
foram avaliados pelo juízo) e que a medida podia ser substituída por outra
menos gravosa, como, por exemplo, a redesignação da audiência presencial
para momento pós pandemia.

Levando em consideração esses três princípios constitucionais, os


artigos 22 e 23 da Lei n. 9099/95 devem ser interpretados conforme os ditames
da isonomia e da razoabilidade, sob pena de clarividente inconsistência
constitucional.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBOUD, Georges. Responsabilidade fiscal e COVID-19. Medidas de
urgência em tempos de crise.  Estado da Arte. Jornal O Estadão. On line, 2020.
In: https://estadodaarte.estadao.com.br/responsabilidade-fiscal-covid-medidas-
urgencia/. Acesso em 10 de abril de 2020.

JR. DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Parte Geral e


processo de conhecimento. 18 ed. Salvador: Ed. JusPodvum, 2016.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23 ed. São


Paulo: Saraiva, 2019.

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