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Artigo

Alguns pontos da Lei 11.638 e a


internacionalização da contabilidade brasileira
por Eliseu Martins e Ariovaldo dos Santos

1. Introdução essa internacionalização significa uma mu-


Em 28 de dezembro de 2007 foi sancio- dança de filosofia, postura e pensamento
nada a Lei no 11.638 que modificou a Lei das quanto a pelo menos três tópicos: prima-
Sociedades por Ações, de no 6.404/76, prin- zia da essência sobre a forma, primazia
cipalmente em suas disposições de natureza da análise de riscos e benefícios sobre
contábil. Alguns ajustes relativos à tributação a propriedade jurídica e normas orien-
e de outra natureza também foram inseridos. tadas por princípios e não por regras ex-
Essa lei entrou em vigor no primeiro dia cessivamente detalhadas e formalizadas. Es-
deste ano de 2008. Muitas normatizações sa deve ser, de fato, a grande mudança na
precisam ser emitidas pelos órgãos próprios, Contabilidade brasileira que se inicia com
a começar pelo CPC – Comitê de Pronun- essa nova Lei. Como conseqüência haverá
ciamentos Contábeis e, a seguir, pela CVM a necessidade cada vez maior do julga-
– Comissão de Valores Mobiliários e demais mento por parte do profissional da con-
órgãos reguladores. tabilidade, quer como elaborador de de-
Algumas dúvidas parecem estar surgin- monstrações quer como auditor, e a cons-
do quanto a essa Lei estar colocando a ciência disso por parte de todos os usuários
nossa contabilidade já em- das informações contábeis.
parelhada com as normas Como se pode ver, os profissionais liga-
"A Lei apenas está ajustando internacionais. Isso não é dos à área de contabilidade terão que utilizar
determinadas disposições que impediam verdade! A Lei apenas está de forma mais constante sua capacidade de
a adoção dessas normas, introduzindo ajustando determinadas dis- julgamento e isso poderá criar grandes difi-
algumas normas já alinhadas com as posições que impediam a culdades; afinal, subjetividade é algo ineren-
regras internacionais, e determinando adoção dessas normas, in- te às pessoas, portanto sem condições para
que, daqui para frente, todas as novas troduzindo algumas normas fixação de regras. Assim, será de todo re-
normas contábeis que forem emitidas já alinhadas com as regras comendável que esteja presente, cada vez
pela CVM sejam convergentes a tais internacionais, e determi- mais, a máxima proferida pelo professor Sér-
normas internacionais" nando que, daqui para fren- gio de Iudícibus: “subjetivismo responsável”.
te, todas as novas normas
contábeis que forem emiti- 3. Modificações no ativo imobilizado
das pela CVM sejam convergentes a tais A nova Lei modifica a definição do Imo-
normas internacionais. Mas isso não signifi- bilizado, passando a excluir dele os bens
ca, em absoluto, que a completa obediência não-corpóreos (marcas, patentes, conces-
à Lei das Sociedades por Ações, já com tudo sões etc.) e passando a incluir bens que não
o que está sendo introduzido de novo, seja sejam da propriedade da empresa, desde
o suficiente. Um bom caminho ainda resta que decorrentes de operações que transfi-
para a completa convergência. ram à entidade seus benefícios e riscos ou
Vamos aqui comentar apenas alguns pon- o seu controle. Além disso, obriga ao contí-
tos que consideramos relevantes e que pare- nuo teste de impairment sobre esse grupo.
cem não estar sendo muito comentados, sem (Os ativos intangíveis, não-corpóreos, que
qualquer pretensão de uma análise completa estavam no Imobilizado, passam agora para
das modificações trazidas por essa Lei. o grupo de Intangíveis que também incluirá
ativos que estavam em outros lugares que
2. Nova filosofia e nova postura não o Imobilizado.)
Gostaríamos de lembrar que, acima de Veja-se a enorme novidade trazida agora
tudo, mais do que mudanças em normas, pela Lei. Além da figura das benfeitorias em
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propriedade de terceiros, que já eram um tipo amortizações. Nossa prática brasileira tem si-
de ativo reconhecido não de propriedade físi- do, infelizmente, a da adoção, na contabilida-
ca da entidade em muitas circunstâncias, ou- de, dos prazos de vida útil admitidos para fins
tras situações agora surgem de reconhecimen- tributários, quando deveríamos estar utilizan-
to, como ativo, de bens juridicamente não do os prazos de vida útil econômica e o valor
pertencentes à entidade. residual esperado ao fim dessa vida.
A Lei, seguindo totalmente as normas in- Agora, a expressão “vida útil econômica”
ternacionais, passa a incluir os bens cujo con- aparece de forma literal, expressa e com todas
trole ou cujos riscos e benefícios passem à en- as letras (§ 3o, item II) e não pode mais deixar
tidade. Assim, se houver a situação em que de ser aplicada. Assim, espe-
tais bens passem ao controle da entidade, ra-se que se possa, no LA-
e/ou cujos riscos e benefícios passem a per- LUC, ajustar-se as taxas de "Além da figura das benfeitorias em
tencer a ela, deverão ser incorporados ao seu depreciação e de amortiza- propriedade de terceiros, que já eram
Ativo Imobilizado, ainda que juridicamente ção às válidas econômica e um tipo de ativo reconhecido não
não sejam a ela pertencentes. contabilmente. Se faremos is- de propriedade física da entidade em
É claro que algumas normatizações de- so com base nos prazos res- muitas circunstâncias, outras situações
verão especificamente ser emitidas, mas a tantes ou se existirão efeitos agora surgem de reconhecimento, como
regra em que a essência se sobrepõe à forma retrospectivos para acertos ativo, de bens juridicamente não
está já colocada legalmente para essa situa- do passado, apenas a norma- pertencentes à entidade"
ção. Assim, as operações de arrendamento tização a sair definirá.
mercantil financeiro que tenham essas carac- Veja-se como esses pon-
terísticas passarão a ser contabilizadas como tos passam a exigir muito
operações de compra pela arrendatária, com mais preocupação com a análise da essên-
registro, no ativo, do valor original da transa- cia econômica das transações e da efetiva
ção (por exemplo, o valor de fornecimento realidade e a exigir muito mais julgamento.
por parte do fabricante ou, na sua ausência,
o valor presente das contraprestações assu- 4. Modificações nas combinações
midas) e a ser depreciado pela sua vida útil de negócios: incorporação, cisão e
econômica. A contrapartida será o registro, fusão
no passivo, da dívida; esta será atualizada A Lei trouxe também novidades a esse
com base nas taxas de juros implícitas na respeito: nossa legislação sempre permitiu
contratação e, se for o caso, ajustadas pelo que essas operações fossem registradas a
índice de atualização contratado, gerando partir dos valores contábeis dos balanços
então despesas financeiras. E as prestações
serão meras liquidações desse passivo.
Provavelmente a aplicação dessa regra se Eliseu Martins é professor titular, doutor e livre-docente em contabilidade e ex-
dará retrospectivamente – ou seja, abarcará diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Univer-
os bens em arrendamento com essas carac- sidade de São Paulo – FEA/USP. Autor e co-autor de diversos livros, teses e
centenas de artigos, foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários e diretor de
terísticas existentes na empresa, independen- Fiscalização do Banco Central. É consultor, palestrante e parecerista na área
temente de o contrato haver sido efetuado contábil e participou de Conselhos de Administração, Consultivo e Fiscal de
antes da vigência da nova Lei –, mas isso de- empresas privadas e estatais e de associações e entidades sem fi ns lucrativos.
Foi, também, representante do Brasil na ONU – Grupo Experts Contábeis,
Divulgação

verá ficar completamente claro quando da membro de Conselhos Editoriais de diversas Revistas Técnicas e membro do
emissão das normas. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
É possível que enormes mudanças acon-
Ariovaldo dos Santos é professor titular do Departamento de Contabilidade e Atu-
teçam também no mundo das concessões, já
ária e professor dos programas de graduação e pós-graduação do mesmo departa-
que, em muitas situações, algo bastante seme- mento desde 1986. É coordenador técnico da Edição das 500 Melhores e Maio-
lhante ao comentado para o leasing financeiro res da Revista Exame, presidente do Ipecafi, ex-presidente da Fipecafi – da qual
é pesquisador – no período de 2003 a 2005. É autor do livro Demonstração do
também ocorra.
Valor Adicionado – Editora Atlas, 2003, co-autor do livro Aprendendo Conta-
Uma outra enorme conseqüência a deri- bilidade em Moeda Constante – Editora Atlas, 1994, coordenador/revisão das
var do novo art. 179, acoplado à figura co- 4ª, 5ª e 7ª edições do livro Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações,
Divulgação

1995, co-autor do livro Retorno de Investimentos – Editora Atlas, 1999. É inte-


mentada do “LALUC” – apelido dado à escri-
grante da comissão encarregada da escolha do prêmio Anefac/Fipecafi (transpa-
turação agora prevista no art. 177, § 2o, item rência contábil) e possui diversos artigos e trabalhos publicados.
II – deverá ser o cálculo das depreciações e
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utilizados para a fusão ou incorporação ou pecífica sobre esses procedimentos deverá


derivados de uma cisão; essa alternativa, também ser expedida pelo CPC.
apesar de não obrigatória, sempre foi segui- Apenas ressaltamos algo com relação a
da porque a outra implicava, via de regra, essas e a outras transações de participações
em tributação imediata. societárias que cada vez mais parece esque-
Já as regras internacionais determinam cido na nossa prática contábil brasileira. A
que todas as operações de business combi- legislação e a normatização brasileiras, prin-
nations sejam registradas a valores de mer- cipalmente em função do Decreto-Lei no
cado, pressupondo sempre uma transferên- 1.598/77 e Instrução CVM no 01/78, hoje
cia de controle, mesmo nos casos de fusão. substituída pela Instrução CVM no 247/96,
Desapareceu há já um certo tempo, tanto já definem há muito tempo que o ágio
do IASB quanto das normas do FASB nor- pago na aquisição de qualquer participa-
te-americano, a possibilidade de manuten- ção societária precisa ser separado em dois
ção de valores contábeis para os balanços grandes blocos: o relativo à diferença entre
das empresas nessas transações. o valor de mercado dos ativos e passivos da
Agora, no caso de fusão ou incorporação, adquirida e seus respectivos valores contá-
desde que tenha havido, previamente a isso, beis, e o relativo à diferença entre esses va-
uma transferência de controle, as demonstra- lores de mercado e o valor pago na aquisi-
ções da(s) empresa(s) adquirida(s) devem ter ção. Só esta parte é genuinamente ágio, co-
seus ativos e passivos ajustados ao valor justo nhecido como derivado de expectativa de
de mercado previamente. rentabilidade futura, ou fundo de comér-
É realmente importante lembrar que o cio, ou goodwill. E eles têm vida diferente
custo de aquisição dos seus na contabilidade: o primeiro é baixado pro-
ativos era um valor relevan- porcionalmente à baixa dos ativos e passi-
te para a empresa adquirida vos a que se referem e o segundo, no Bra-
"As regras internacionais determinam até que ela tenha sido ven- sil, com base nas projeções que fundamen-
que todas as operações de business dida. A partir daí, para o no- taram tal fundo de comércio.
combinations sejam registradas a valores vo adquirente, o valor que Nem sempre, infelizmente, isso vinha sen-
de mercado, pressupondo sempre uma interessa é o que ele, novo do obedecido, parecendo ter prevalecido uma
transferência de controle, mesmo nos adquirente, pagou por tais deliberada posição em que se assumia que os
casos de fusão ativos e passivos; esse é o valores de mercado igualavam o valor contá-
novo valor de custo a ser re- bil, e todo o ágio ficava, erroneamente, como
gistrado. E o goodwill é o va- fundo de comércio (goodwill).
lor representado pela dife- Acoplando-se a isso a fusão ou incorpo-
rença entre o valor total pa- ração a valores contábeis, tínhamos demons-
go na aquisição contra o saldo líquido dos trações que não representavam a essência
valores de mercado dos ativos e passivos e a realidade factual das transações havidas.
constantes da empresa adquirida. Tem-se, agora, muito maior exigência de es-
Uma das formas de se fazer esses regis- sa representação ser muito mais fidedigna e
tros agora, inclusive para compatibilização têm-se as condições legais para evitar que es-
das boas práticas contábeis com o problema sa maior transparência produza qualquer al-
da incidência tributária, poderá ser a de a teração tributária.
empresa adquirida ter seus ativos e passivos Restringimo-nos a esses pontos, por razões
ajustados a mercado contra a conta de Ajus- de espaço, mas parecem-nos suficientes para
tes a Valor Patrimonial, para isso criada pela mostrar que uma nova postura será necessária
nova Lei (art. 182, § 3o), e depois o saldo por parte dos administradores, dos contado-
dessa conta ser transferido à incorporadora res e dos auditores, bem como dos analistas e
para que a tributação se dê apenas a partir usuários das informações contábeis, já que as
das realizações dos correspondentes ativos. exigências quanto à representação da essência
Assim, nenhuma incidência tributária adicio- ficam muitíssimo mais fortes.
nal será criada com tal ajuste a valor de mer-
(Este artigo estará sendo utilizado no encarte do livro
cado na fusão ou na incorporação. O mes- Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações,
mo ocorre com a cisão. Normatização es- da Fipecafi.)

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