Вы находитесь на странице: 1из 8

Matéria de capa

O novo capital social


por Carolina Bridi

A sustentabilidade como um conceito em


movimento: empresas brasileiras devem incorporar
práticas à estratégia do negócio

Diante do triple bottom line, que coloca as esfe-


ras social, ambiental e econômica lado a lado, é
indispensável lembrar que não podemos resolver
um problema usando o mesmo raciocínio que o criou,
como pensou Einstein. Hoje, nasce, perante uma socie-
dade formada por consumidores – entre outros stakeholders,
cada vez mais atentos –, uma vertente do capitalismo liderada
pela preocupação socioambiental. Um novo conceito de capital
surge quando o consumo selvagem de recursos dá espaço à
consciência da palavra sustentabilidade: é o novo significado
da expressão capital social.
No universo financeiro, hoje, já se ouve dizer que
é difícil imaginar uma organização responsável
obtendo ótimos resultados mediante negócios
que são realizados com terceiros pouco preo-
cupados com o ambiente social, econômico
e ambiental. No entanto, é inevitável a cer-
teza de que muito se tem a evoluir neste
campo no Brasil. Desde o completo entendi-
mento do que significa o conceito sustenta-
bilidade até a sua inserção no core business
das empresas, traça-se um caminho que está
sendo construído enquanto trilhado, onde so-
ciedade civil, governo, entidades e empresas
aprendem juntos a partir de diretrizes discutidas
no mundo todo.
Enquanto a sustentabilidade cria-se e recria-se em suas necessidades, seu
conceito não permanece imutável. Trata-se de um movimento que interage
com suas práticas e praticantes.

IBEF NEWS • Março 2008


20
Uma questão moral
Em Uma Verdade Inconveniente, o ati-
vista ecológico Al Gore defende que
as questões ambientais dizem respeito “Esta forma de conduzir os
à questão moral. Para o diretor de co- negócios torna a empresa parceira
municação institucional da Accor Brasil,
e co-responsável pelo
Jean François Hue, trata-se de um com-
desenvolvimento de uma
promisso do ser humano. Especifica-
mente dentro da empresa, é uma ques- sociedade viável para as próximas
tão que exige o engajamento individual gerações. A Responsabilidade
e coletivo em todas as áreas e níveis da Social dá lucro, promove o bem-
organização, ele defende. Esta é a forma estar e faz evoluir”
de conduta que o Grupo Accor disse- Anne Louette
mina aos seus funcionários e colabora- (Autora do livro Compêndio para a
dores. E talvez este tenha sido o segredo Sustentabilidade)
para o reconhecimento da organização

Divulgação
recentemente como uma das 20 melho-
res empresas em sustentabilidade.
Para a autora do livro Compêndio para
a Sustentabilidade, Anne Louette, é uma
questão que já não se restringe a poucos panhias, porém, o que falta ainda é a dação Getulio Vargas), Renata Brito.
visionários. “Integrar-se nesta discussão tomada da sustentabilidade como parte Desta forma, é preciso que os pro-
é imperativo. Trata-se de um exercício da estratégia. “O primeiro ponto é des- fissionais da área financeira fiquem
inexorável em que, quanto mais breve- mistificar, ou seja, tirar a sustentabilida- atentos para a existência de novos per-
mente começarmos, mais eficazes sere- de das áreas de comunicação ou de sonagens no cenário de seu ofício diá-
mos”, afirma. Com maneiras incontáveis RI simplesmente. Tem que levar para o rio. Para a coordenadora da área de
de praticá-las, bem como incontáveis core business. É quando a empresa co- capacitação comunitária do Instituto
são os seus benefícios, Anne diz que se meça a pensar em como isso impacta Akatu, Raquel Diniz, é preciso obser-
envolver é estrategicamente necessário no seu negócio”, argumenta a coordena- var as mudanças de paradigmas vindas
para todos. dora do Programa Finanças Sustentáveis com a governança corporativa, às quais
Neste contexto, fica evidente o papel do GVces (Centro de Estudos em Sus- as empresas ainda estão se adaptando.
do executivo de finanças diante da tentabilidade da Escola de Administra- “Diz respeito principalmente à área fi-
incorporação destas práticas pelas com- ção de Empresas de São Paulo da Fun- nanceira, em relação aos stakeholders.
O que é importante? Será que é só
o acionista que conta?”, questiona. Ela
defende que existe um deslocamento
de eixo, em que a atenção do finan-
ceiro fica voltada não só ao acionista,
mas a outros stakeholders de toda a
cadeia que antes eram importantes
“Acredito que temos sinais
para outros setores da empresa, como
promissores: a difusão de
consumidores, clientes, fornecedores,
testemunhos de líderes meio-ambiente e comunidade.
empresariais que se envolvem Para Carlos Nomoto, superintenden-
pessoalmente com as boas te de desenvolvimento sustentável do
práticas a favor dessa grande Banco ABN Amro – outra empresa lis-
causa é cada vez mais freqüente” tada entre as 20 melhores em sustenta-
Jean François Hue bilidade –, cada vez mais os profissio-
(Accor) nais da área financeira devem ampliar
sua visão do que significa ser um inter-
mediador financeiro. Ele lembra que
Cacalo Kfoury

devem estar cada vez mais atentos aos


tratados internacionais, como Princípios
IBEF NEWS • Março 2008
21
Matéria de capa

do Equador, Pacto Global, Metas do


Milênio e Protocolo de Kyoto, entre Ações indicativas de responsabilidade social de uma
outros. “Com todas as suas perfeições grande empresa - Brasil e mundo (2005)
e imperfeições, são documentos que
“O que uma empresa deve fazer para você considerá-la socialmente responsável?”
começam a reger e direcionar o setor
(menções espontâneas, até 2 por entrevistado)
financeiro para incluir cada vez mais
Média mundial (12 países)
este critério nas decisões de negócios”,
Tratar os empregados de forma justa 26%
afirma. Para ele, isso evidencia a impor- 25%
tância dos profissionais da área finan- Proteger o meio ambiente 19%
11%
ceira compreenderem o impacto des- Criar empregos/dar suporte à economia 17%
18%
tes aspectos nos resultados financeiros
Providenciar serviços sociais/retorno à comunidade 14%
da empresa. Produzir produtos de qualidade/seguros 12%
A diretora executiva da Fundação Ser honesto/confiável 7%
Brasileira para o Desenvolvimento Sus- Fazer doações/caridade 7%
19%
tentável (FBDS) e especialista em Sus- Mostrar preocupação/ter responsabilidade social 7%
tentabilidade Corporativa, Clarissa Lins, Obedecer leis/pagar impostos 5%
8%
defende que estes profissionais são res- Lucrar/bom desempenho 5%
ponsáveis por evidenciar as práticas de Preços baixos/justos 3%
6% Mundo
sustentabilidade em todas as comuni-
Ficar no país/não mudar de país 2% Brasil
cações da empresa para o mercado, Proteger direitos humanos/lutar contra trabalho infantil 1% Os contrastes entre a
mostrando o impacto de sua adoção Outros 8% opinião pública mundial
Investir em educação/educação profissional 7% e a brasileira são
na valorização da empresa. “Executi- Investir em esporte 4% destacados pelas setas
vos da área financeira da maioria das Creches 3% laranjas
empresas já começaram a incorporar
variáveis não-financeiras aos negócios Fonte: Globescan/Market Analysis Brasil

da companhia. E, na prática, a adoção


de práticas de sustentabilidade abre as
portas para investidores mais seletivos A visão dos executivos - Motivação
e financiadores que utilizem essas prá-
Nível de Conhecimento do Conceito Desenvolvimento do Conceito
ticas em suas análises.”
de Sustentabilidade dentro da Empresa
As companhias que adotam estas
práticas se destacam por atender a cri- 1%
1% 6%
térios mínimos de saúde financeira, res- Muito familiarizada
42%
ponsabilidade social, ambiental e gover- Aumentará
Familiarizada
nança corporativa. Teoricamente, isso Permanecerá sem
Alguma coisa
significa que essas companhias apre- mudanças
sentam menor risco aos seus acionistas. Pouco
Diminuirá
51%
Portanto, suas ações tendem a oferecer Nenhum
desempenho melhor no longo prazo. 99%
Ou seja, é possível captar mais recur-
sos financeiros. Disposição para Integração do Reação do Mercado de Capitais
Para Jean François, além disso, há be- Conceito na Estratégia ao tema
nefícios em relação à maior produtivi-
dade, já que os melhores profissionais Muito mais
preferem trabalhar em empresas cida- 16% positivamente 1% 5%
39% 34%
dãs. Ele cita ainda melhores negociações Bastante Um pouco mais
com fornecedores e investidores, cada positivamente
Muito
dia mais preocupados com este assunto, Alguma coisa
Sem mudanças
além de uma imagem institucional e Um pouco mais
Um pouco
comercial mais favorável, criando maio- negativamente
45%
res e melhores oportunidades de negó- Nada
Muito mais 60%
cios. O presidente do Centro Empresa- negativamente
rial para o Desenvolvimento Sustentável
Fonte: Pesquisa FBDS/IMD.
IBEF NEWS • Março 2008
22
(Cebds) e autor do livro “Os desafios da
sustentabilidade: uma ruptura urgente”,
Fernando Almeida, lembra ainda como
benefício, a facilidade maior em linhas
de crédito. Ou seja, por aspectos diver- “Com todas as suas perfeições
sos chega-se à mesma conclusão: o cres- e imperfeições, [os tratados
cimento dos resultados.
internacionais] são documentos
Almeida alerta para a questão dos
que começam a reger e direcionar
bens intangíveis, referentes à marca e
reputação. “Os bens intangíveis respon- o setor financeiro para incluir cada
dem pelo menos por 75% do seu valor vez mais este critério nas decisões
de mercado”, observa. Ele afirma que de negócios”
sustentabilidade é um conceito multis- Carlos Nomoto
setorial e multifacetado, ou seja, deve (ABN Amro)
envolver os profissionais da área finan-
ceira bem como todos os demais funcio-

Divulgação
nários, independentemente da área de
atuação ou graduação hierárquica.
Assim, ele explica que, se uma em-
presa desenvolve um produto ou presta
um serviço de forma irresponsável social no modelo tradicional, com foco basica- coerente e, conseqüentemente, os im-
e ambientalmente, será alvo de críticas e mente nos investidores e acionistas. pactos financeiros são positivos não só
campanhas e acabará rejeitada pelo mer- para a empresa, mas também para seus
cado. Ou seja, não sobreviverá no longo Ativos e passivos numa questão de acionistas, funcionários e comunidade,
prazo. Se o procedimento for o oposto, impacto entre outros. “Todos ganham direta ou
a empresa terá ganhos com a valoriza- Anne Louette diz que a amplitude indiretamente. Trata-se de um modus
ção de seus ativos intangíveis e garan- do impacto financeiro da sustentabilida- operandi pragmático e estratégico, e não
tirá sobrevivência no longo prazo. Isso de depende do grau de incorporação de um exercício ideológico”, afirma.
fica claro ao analisarmos que as empre- do conceito na estratégia e nas práticas Ela explica o processo. A compa-
sas listadas no Índice Dow Jones de Sus- cotidianas da organização. É consenso nhia reconsidera seus critérios de renta-
tentabilidade de Nova York chegam a que aquelas que comungam com o con- bilidade eficaz, integra o socioambien-
ser 20% mais valorizadas no mercado ceito porque têm seus valores internali- tal em sua estratégia global de desen-
em relação às empresas que se mantêm zados avançam de forma consistente e volvimento, passa a associar lucro com
o bem comum, redefine os critérios
de prosperidade e progresso e, assim,
torna-se uma “empresa-ativo” da socie-
dade, que agrega valor a todos. “Esta
forma de conduzir os negócios torna a
empresa parceira e co-res-
ponsável pelo desen-
“O primeiro ponto é desmistificar,
volvimento de uma
ou seja, tirar a sustentabilidade
sociedade viável para
das áreas de comunicação ou de as próximas gerações.
RI simplesmente. Tem que levar A Responsabilidade
para o core business. É quando Social dá lucro, pro-
a empresa começa a pensar em move o bem-estar e
como isso impacta no seu negócio” faz evoluir”, declara.
Renata Brito Renata Brito, do
(GVces) GVces, observa que
a disseminação da
sustentabilidade
Divulgação

dentro das empre-


sas ainda é pequena
IBEF NEWS • Março 2008
23
Matéria de capa

e localizada. “Temos que admitir para


poder avançar. Não adianta fingir que A visão dos executivos
isto é algo que faz parte de toda reu- Alinhamento das diversas áreas da organização
nião de board. Já começou a fazer parte,
mas muito mais pelos problemas do que Principais barreiras à
• Bom alinhamento entre executivos de sustentabilidade
pelas soluções. E isso é às vezes tratado
uma mesma instituição
como algo paliativo, como uma questão 6%
de comunicação, e pouco introduzido 3% 17%
• Não identificação de áreas com maior
3%
no que chamamos de core business da resistência ao tema
empresa”, reclama. O foco da empresa
• Principais barreiras apontadas:
tem que ser no seu negócio, mas susten-
Cultura organizacional e falta de
tabilidade, assim como outros aspectos,
conhecimento ou expertise gerencial 23% 20%
deve influenciar e fazer parte da tomada
Percepção diferente daquela
de decisão e da estratégia da empresa,
apontada pelos executivos
ela defende. entrevistados
“As práticas que são temporárias
14%
e não incorporadas na estratégia não 14%
chegam a afetar a área financeira”, ob-
serva Raquel Diniz, do Instituto Akatu. Cultura organizacional Ausência de ferramentas e
processos apropriados
Ela diz que quando sustentabilidade Falta de conhecimento/expertise gerencial
é encarada como uma estratégia, os Outros
Mentalidade gerencial
ganhos são maiores não só para a Falta de interesse dos clientes
Regulação (ex. subsídios, baixo padrão
área financeira, mas para a companhia ambiental/social) Oposição ou falta de interesse
como um todo, principalmente na hora por parte dos investidores
de uma nova aquisição ou de atrair
Fonte: Pesquisa FBDS/IMD.
novos investidores e novos mercados.
Ela lembra da questão da inovação,
em que empresas desenvolvem pes- Agenda Futura
quisas para criar novos produtos vol-
tados à sustentabilidade. Nesta ques-
tão, a Braskem é um exemplo, com
o desenvolvimento de matéria-prima
para a fabricação de plásticos derivados
CO
A

da cana-de-açúcar, chamada de resina


CI

NS
ÊN

verde. No dia que a Braskem divulgou


CI
AR

EN

seu novo produto, as ações na bolsa


SP

TIZ

subiram 4%. “É um bem tangível, prin-


AN


TR

cipalmente este investimento em pes-


ÃO

quisa, quando se chega a um


produto que é voltado à
sustentabilidade e que
está coberto de inova- FERRAMENTAS
ção”, aponta Raquel.
Há ainda empresas
Transparência Conscientização
que traçam novos nichos
Prestação de contas para todos Disseminação do conceito
do negócio com base na
os stakeholders Engajamento de stakeholders
sustentabilidade. O
Maior abertura ao diálogo
ABN Amro tem uma
série de negócios
voltados à respon- Ferramentas
Aprimoramento para inserção efetiva das
sabilidade socioam-
variáveis socioambientais
biental. O Fundo
Ethical é um deles.
Fonte: Pesquisa FBDS/IMD.
IBEF NEWS • Março 2008
24
Para Carlos Nomoto, este fundo prova
que é possível desenvolver um pro-
duto sustentável em todos os sentidos.
“Executivos da área financeira da
É um fundo de ações, então remunera
maioria das empresas já
o acionista. Ao mesmo tempo, a avalia-
ção e escolha das empresas que com- começaram a incorporar variáveis
põem este fundo são feitas com base não-financeiras aos negócios da
em um conjunto de critérios sociais companhia. E, na prática, a adoção
e ambientais. “Ou seja, conseguimos de práticas de sustentabilidade
garantir, desta forma, as pessoas, o pla- abre as portas para investidores
neta e o retorno financeiro. Promovo mais seletivos e financiadores que
as empresas que têm boas práticas,
utilizem essas práticas em suas
rentabilizo o acionista, e o cliente tem
análises”
ainda a possibilidade de alavancar ou
Clarissa Lins
diversificar os seus investimentos”, ex-
(FBDS)
plica o superintendente de desenvol-

Divulgação
vimento sustentável do Banco ABN.
O Fundo Ethical é uma operação de
microcrédito que já passou de 40 mil
clientes.
Há ainda empresas que têm a sus- çaremos a negociar a venda desta ener- Brasil
tentabilidade como foco inicial do seu gia para consumidores. Vamos trans- Mesmo assim, é evidente o atraso
negócio, como a Novagerar, empresa formar os dejetos da população em brasileiro no movimento mundial pela
de tratamento de resíduos para gera- energia limpa para comercializar, além sustentabilidade. Entre pontos fortes, o
ção de energia responsável pelo pri- de não poluir o solo, a água e a atmos- País ainda amarga um avanço pequeno
meiro projeto de mecanismo de de- fera”, conta a diretora da Novagerar, e centralizado, mesmo que venha ga-
senvolvimento limpo do Protocolo de Adriana Felipetto. Para ela, a empresa nhando maior destaque e preocupação
Kyoto registrado no mundo. Hoje, a que não investir em sustentabilidade perante as recentes divulgações sobre os
Novagerar investe na criação de uma está fadada ao fim num intervalo de efeitos da degradação do meio-ambiente.
usina de geração de energia a partir do tempo pequeno. Adriana diz que sus- “Produzir sim, mas de forma diferente,
gás da decomposição do lixo. “No iní- tentabilidade é um bom negócio, e ex- sem provocar impactos negativos na so-
cio de 2009 devemos estar com a usina plica: “Além de se transformar num ciedade. Consumir sim, mas de forma
de geração de energia pronta e come- ativo, evitam-se os passivos”. consciente e equilibrada, sem consumir
o mundo em que se vive”, defende
Anne Louette.
Fica claro que este movimento é
liderado pelas empresas exportadoras e
pelas multinacionais através do contato
“No início de 2009 devemos estar direto com as exigências para sobreviver
no mercado mundial. A FBDS realizou
com a usina de geração de energia
uma pesquisa para avaliação da susten-
pronta e começaremos a negociar
tabilidade corporativa, que ouviu cerca
a venda desta energia para de 300 executivos das maiores empre-
consumidores. Vamos transformar sas de cinco diferentes setores do Bra-
os dejetos da população em sil. Clarissa Lins conta que os processos
energia limpa para comercializar, estão em estágio inicial na maior parte
além de não poluir o solo, a água e das empresas. O conceito da sustenta-
a atmosfera” bilidade não é plenamente entendido e
Adriana Felipetto
em função disso a gestão ainda não foi
(Novagerar) adaptada à nova realidade. Os execu-
tivos brasileiros são sensíveis ao tema
Divulgação

responsabilidade social, mas a maioria


ainda confunde ações de sustentabilida-
IBEF NEWS • Março 2008
25
Matéria de capa

cional entre os três setores – empre-


sas, setor público e sociedade civil –
como o principal obstáculo à incorpo-
ração dos desafios da sustentabilidade
Se uma empresa desenvolve um aos objetivos e ações estratégicas das
produto ou presta um serviço organizações.
de forma irresponsável social e Segundo a autora do Compêndio para
a Sustentabilidade, o caminho da trans-
ambientalmente, será alvo de
formação exige estratégia, metodologia,
críticas e campanhas e acabará
persistência e muita coerência, além do
rejeitada pelo mercado. Ou seja, reconhecimento de políticas públicas
não sobreviverá no longo prazo como fator de universalização de inte-
Fernando Almeida resses coletivos e a coerência dos agen-
(Cebds) tes econômicos entrando em consenso.
Para Anne, este movimento, no Brasil,
é centrado na atuação de empresas.
Divulgação

A diretora da Novagerar, Adriana Feli-


petto, acredita que este processo, no
País, começou tardiamente, e lembrando
que algumas regiões lideram esta arran-
de com políticas assistencialistas. Entre- tituto para o Desenvolvimento Sustentá- cada, como Região Sul e São Paulo, ela
tanto, as empresas mais expostas ao vel (IDS), Antonio Luís Aulicino, avalia lamenta uma evolução lenta. “Se pen-
mercado internacional – seja em fun- que os executivos adquiriram o hábito, sarmos na Alemanha, que está na ponta
ção de seus clientes, financiadores ou in- no Brasil, de pensar em curto prazo deste processo, o Brasil tem entre 20 a
vestidores – tendem a implementar as em razão do período em que havia 30 anos de atraso”, argumenta.
práticas com mais eficácia. “Ter relacio- alta inflação. “Dificilmente, as empresas Na análise do desenvolvimento da
namento com o mercado internacional, brasileiras quando elaboram seus pla- sustentabilidade no mundo empresa-
aliás, é um fator que vai influenciar bas- nos consideram todas as dimensões do rial, Jean François, da Accor, defende
tante as práticas de sustentabilidade cor- desenvolvimento sustentável ao mesmo que, para o sucesso desse engajamento,
porativa, principalmente entre empresas tempo”, observa. a exemplaridade dos dirigentes é fun-
exportadoras, que têm uma boa parcela De acordo com ele, o hábito é pla- damental. “Acredito que temos sinais
da receita vinda do exterior, ou empre- nejar considerando a dimensão eco- promissores nesse sentido: a difusão
sas que tenham na sua base de acionis- nômica e uma reflexão política de de testemunhos de líderes empresa-
tas investidores estrangeiros, que costu- maneira simplista, sabendo-se que esta riais que se envolvem pessoalmente
mam ter políticas mais avançadas de res- interpretação gerará muitos problemas com as boas práticas a favor dessa
ponsabilidade social”, explica. empresariais que serão detectados anos grande causa é cada vez mais freqüen-
Fernando Almeida, do Cebds, alerta depois da tomada de decisão, gerando te”, observa. Para Fernando Almeida, as
que o padrão de compreensão a respeito passivos e queda de rentabilidade. Auli- empresas devem se posicionar no que
da sustentabilidade está muito aquém do cino lembra que essa situação é mun- chama de “zona-chave”, na
mínimo necessário. Ele lembra que exis- dial, com exceção de alguns países qual a empresa está
tem exemplos extremamente positivos como a Holanda, onde o conceito da acima das exigências
de ações estratégicas de empresas com sustentabilidade está incorporado pelo legais e, ao mesmo
visão de futuro. Mas observa que, nas povo em razão da geografia física do tempo, mantém a
empresas de menor porte, difunde-se país, principalmente. valorização crescen-
o conceito de ecoefiência. “São mu- Para Anne Louette, a competitivida- te de seus ativos tan-
danças importantíssimas e fundamentais. de necessária ainda está no estágio ini- gíveis e intangíveis.
Mas não o suficiente para reformulação cial. Ela lembra que, apesar do avanço Fazendo um retros-
estruturada e articulada do modelo de metodológico e técnico e do número pecto desta evo-
negócios e do padrão de desenvolvi- expressivo de ferramentas, o Brasil está lução de concei-
mento”, argumenta. apenas começando uma longa etapa de tos, Raquel Diniz
O professor da Fundação Instituto remodelação de um sistema que prio- cita ações que
de Administração da Universidade de rizava apenas os aspectos econômicos. ocorreram depois
São Paulo (FIA/USP) e fundador do Ins- Ela cita a falta de articulação institu- da Segunda Guerra
IBEF NEWS • Março 2008
26
Mundial, com a criação de alguns prin- cesso de mudanças de paradigmas que afirma que nenhuma empresa pode se
cípios internacionais, como princípios levaram até o conceito de sustentabi- dizer sustentável e talvez nunca possa.
da OCDE (Organização para Coope- lidade. Hoje, ela vê novas configura- Não se trata de uma opinião pessimista.
ração para Desenvolvimento Econômi- ções de parcerias envolvendo empre- Ela explica que, cientificamente, é difícil
co) e declarações da OIT (Organiza- sas, ONGs, cooperativas, comunidade, definir o que é sustentável. “Todos os
ção Internacional do Trabalho). Além governo. “São novas perspectivas de dias estamos mudando esta realidade. Sus-
disso, na década de 70 a 80, houve a parceria em busca de um desenvolvi- tentabilidade pretende ter um equilíbrio,
redemocratização, após um período de mento”, reflete. Entre evoluções, Car- mas um equilíbrio dinâmico porque está
ditadura, em que as empresas ganha- los Nomoto, do ABN, lembra que em constante movimento”, diz. “O fato é
ram destaque, “não só pelo tamanho grandes universidades já oferecem cur- que nós estamos engatinhando neste pro-
de operação, mas pelo poder econô- sos de especialização específicos nes- cesso”, lamenta. Entre o que são opiniões
mico das empresas. Sabemos que das tes temas, “o que mostra a existência e o que já se tornou ação, está a inversão
100 maiores economias do mundo, de busca por este conhecimento, que do processo de destruição em movimento
cerca de 30 são empresas”, afirma. é fundamental para a perpetuidade das de aprendizado constante e a recriação
Depois disso, aconteceram movimen- empresas”, segundo ele. “É um movi- de um mundo, por onde empresas transi-
tos de direitos aos consumidores, de mento onde todos ganham, em que o tam com a responsabilidade de atingir as
ciência do impacto de transformação elemento principal é o capital social”, expectativas de uma sociedade formada
e movimentos ambientais. Raquel enu- declara Raquel Diniz. por consumidores interessados em man-
mera estes fatos como pilares do pro- Contudo, Renata Brito, do GVces, ter a própria sobrevivência.

Ferramentas a serviço do futuro

Um fator importante do processo de inserção de práticas de sustentabilidade na estratégia da empresa


passa pela instrumentalização de suas lideranças e gestores na escolha de ferramentas que os auxiliem
na estruturação planejada de suas ações, no estabelecimento de indicadores de performance, na
aferição de resultados concretos, na prestação de contas e no efetivo diálogo com a sociedade. As
ferramentas são instrumentos de aprendizagem, por meio dos quais é possível integrar as atividades
cotidianas às decisões estratégicas em prol da sustentabilidade do planeta.

Existe, no mundo, um conjunto significativo de ferramentas e cabe a cada empresa eleger aquelas
mais alinhadas às suas crenças e valores, à sua visão e que melhor se alinhem ao seu posicionamento
perante o mercado e a sociedade. O Compêndio para Sustentabilidade - Ferramentas de Gestão de
Responsabilidade Socioambiental: uma Contribuição para o Desenvolvimento Sustentável é a publicação
mais recente e atualizada voltada ao tema. A obra reúne e sistematiza as ferramentas de apoio à gestão
sustentável utilizadas em 33 países.

Tais ferramentas de gestão têm em comum a capacidade de ordenar o tema da responsabilidade


sociambiental (RSA) nas organizações. “Talvez seja esta a principal motivação para quem procura um
modelo de gestão: integrar as práticas de RSA de forma natural, respeitando os diferentes estágios
de evolução de cada organização, desmistificando seus aspectos abstratos e tornando-as, assim, uma
atividade cotidiana”, afirma Anne Louette, autora do Compêndio.

Serviço: O Compêndio para a Sustentabilidade tem sua obra completa disponível


em http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/8

IBEF NEWS • Março 2008


27

Вам также может понравиться