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(Fantasy Girl)
Carole Mortimer
Disponibilização: Márcia Silveira
Digitalização: Simoninha
Revisão: Cris Veiga
“Eu sempre consigo o que quero". As palavras de Adam Thornton encheram de medo o coração de
Natalie. A sobrevivência de sua agência de modelos dependia de manter ele e sua companhia felizes. Sua
própria irmã – a garota propaganda da Thornton cosméticos – tinha colocado sua firma em risco. E Adam,
seu cliente irado não era homem para brincadeiras. Implacável nos negócios, ele era também perigoso no
amor, como Natalie descobriu. O que ele queria mais do que tudo era Natalie como sua amante!
CAPÍTULO II
Um observador desavisado não diria que eram irmãs; o colorido era
diferente, Judith era bem morena e Natalie tinha cabelo castanho-claro, os olhos
de Judith eram de um azul muito claro, sem manchas de verde, enquanto os de
Natalie eram de um tom difícil de definir. Os traços eram também completamente
diferentes, apesar de as duas serem bonitas; ambas eram altas e usavam o
mesmo manequim, coisa de que Natalie não se esquecia, pois a irmã sempre
pegava tudo o que era seu, sem pedir permissão. Mas Judith tinha uma graça
lânguida, que ela cultivava, e os movimentos de Natalie eram mais decididos e
objetivos.
Três anos mais velha, Natalie sempre protegera a irmã, apesar de nunca
receber agradecimentos por essa proteção; a falta de consideração de Judith pela
agência era uma prova disso.
Quando as duas se mudaram para Londres, Judith mudou-se um ano
depois de Natalie, os pais fizeram-na prometer que ia tomar conta da caçula. Não
foi uma tarefa fácil, e as duas só conseguiram dividir um apartamento por seis
meses, até o dia em que Judith se mudou, dizendo que não estava conseguindo
manter um mínimo de privacidade. O que Natalie sentiu com a mudança da irmã
foi um grande alívio, mas os pais não acharam graça nenhuma.
Quando ela abriu a agência, os pais, aflitos, lhe imploraram que arranjasse
um emprego para Judith, e, apesar de não ser absolutamente o tipo de garota que
escolheria, ela pensou nos dois, preocupa-díssimos lá em Devon, e concordou.
Eles não podiam imaginar a razão que tinham em ficar ansiosos pela filha, pois a
caçula se envolvera com homens nada recomendáveis nos últimos três anos. Os
pais ficariam horrorizados se soubessem desse último caso. Bem, teria que
colocar um ponto final naquilo antes que Judith a arruinasse. Natalie não se
iludia. Adam Thornton levaria adiante todas as ameaças que havia feito.
Judith levantou-se com graça lânguida e felina, característica da modelo
Judith Grant. Por alguma razão, a irmã caçula achara que Faulkner não era um
nome muito comercial, e Natalie se alegrou com a decisão da irmã. Pelo menos,
Adam Thornton não suspeitaria de seu parentesco. Como teria sido ferino e
sarcástico se soubesse que ela era sua irmã!
— Não, não me venha com caretas, querida — disse Judith com sua voz
rouca, saindo da escrivaninha para se sentar em uma das poltronas. — Não
estava fuxicando em suas coisas, só estava tentando ver como você consegue ficar
atrás daquela mesa o dia inteiro. Eu é que não conseguiria!
Natalie se sentou na cadeira que a irmã deixara, sabendo que aquela tinha
que ser uma conversa de negócios, sem envolvimentos familiares. Já tinha
problemas suficientes e não precisaria apelar para sentimentos fraternais.
— Judith, preciso falar com você...
— Ah, espero que não seja a respeito da sessão de fotos!. — gemeu a irmã.
— Dee já me passou um sermão, disse-me que sou irresponsável...
Natalie já tinha até se esquecido da história das fotografias, o que não era
de surpreender, depois do encontro com Adam Thornton!
— Então não vou falar mais sobre isso, a não ser para insistir que não
devia ter acontecido. Tenho uma firma aqui, Judith e...
— Achei que não ia falar mais no assunto — murmurou a irmã, tentando
encerrar a conversa.
— Está bem. Ponto final. Vamos então falar de Jason Dillman, está bem? —
Apertou os olhos e encarou Judith.
Se tinha esperança de deixar a irmã embaraçada estava sem sorte. Judith
nem ligou para a mudança de assunto e ficou observando o esmalte das unhas
brilhantes com uma expressão de tédio.
Natalie perguntou, zangada:
— Judith, você anda saindo com ele?
Os olhos azuis a enfrentaram, sem pestanejar.
— Claro, trabalhamos sempre juntos com essa história de garota símbolo.
— Não é o que quero dizer, e sabe disso muito bem! — replicou Natalie,
desesperada.
— Natalie, se quer saber se estou dormindo com ele, por que não pergunta
de uma vez?
— Está? — explodiu.
— Estou.
— Judith, ele é casado! — Natalie quase perdeu o fôlego.
— E daí? — sussurrou a irmã, desinteressada.
Às vezes tinha a impressão de não conhecer Judith. Pelo jeito, ela não se
importava a mínima com o fato de Jason Dillman ter uma mulher.
— Ele não é feliz com a mulher...
— Nunca são — ironizou Natalie, e Judith fez um muxoxo de pouco caso.
— Ora, Kenny estava me segurando há muito tempo. — Deu de ombros,
confiante. — E ele só me queria porque a mulher ia ter um bebê e não podia
transar com ele. Mas com Jason é diferente.
Natalie não entendia como a irmã podia, às vezes, ser tão sofisticada e, ao
mesmo tempo, tão boba em relação aos homens. Tivera um caso com Kenny
Richards há um ano; era um sujeito casado, que dizia que seu casamento estava
no fim, que ia largar a mulher quando chegasse a hora. Diziam que a mulher dele
estava grávida e que não podia ter relações com ele por motivos de saúde. Logo
que o bebê nasceu e ela ficou boa, Kenny deixou Judith de lado, como se fosse
um trapo.
— Isso é a verdade ou é o que ele lhe conta? — perguntou Natalie, cética.
— Pura verdade! — Os olhos azuis flamejaram. — Teria largado Tracy há
anos, se pudesse.
Ela franziu a testa.
— Como, se pudesse...?
— Falando sem rodeios, Natalie, é Tracy quem tem o dinheiro. E o emprego
na Thornton é muito importante, também. Pagam bem e ele tem um cargo
importante. Seria um horror se Adam Thornton soubesse do nosso caso.
— Por quê? Ele está paquerando você? — Natalie não conseguia entender o
interesse de Adam Thornton nessa história, já que não era parte interessada.
— Por Deus, não! — Judith riu ante essa idéia. — Adam Thornton
interessado em mim? — Riu de novo. — Ele não se envolve com modelos. A última
mulher na vida dele foi uma princesa em carne e osso, viva!
— Seria estranho se fosse morta — zombou Natalie, seca.
— Muito engraçado. O que quero dizer é que não faço o gênero dele. Mas
por que está tão interessada, se nunca o viu?
— Acabo de me encontrar com ele. E ele já sabe de você e Jason, Judith.
Chamou-me hoje de manhã em seu escritório para me falar sobre isso. Quer que
a coisa acabe e que você tome a iniciativa. — Olhou a irmã, sem pestanejar.
— Diabos! — murmurou Judith, levantando-se e pondo-se a andar pela
sala. — Como foi que ele descobriu?
— Não tenho a mínima idéia.
— Temos nos encontrado durante o dia, para que ele não desconfie —
continuou Judith, falando consigo mesma, como se Natalie não estivesse
presente.
— Então é por causa de Jason Dillman que você tem faltado às sessões de
fotos?
— Tínhamos que nos encontrar...
— ...e justo no horário de trabalho, no horário de Adam Thornton!
— Não é por causa disso que ele está zangado. É por causa da irmãzinha
dele.
— Irmãzinha?
— Hum, hum. Jason é casado com a irmã caçula de Thornton.
— E ele... você e ele... — Natalie se interrompeu, chocada demais para
conseguir falar qualquer coisa a mais.
Agora entendia porque Adam Thornton estava tão zangado com o caso e
porque queria acabar com ele imediatamente. Imagine! O marido da irmã! Deus
do céu, tinha o direito de estar uma fúria, como ela estava com Judith. A irmã
sempre havia sido rebelde, mesmo quando criança, buscando o que queria sem se
importar com os sentimentos alheios. Mas dessa vez não ia escapar. Tinha ido
longe demais. No passado, Judith podia ter sido mimada por pais indulgentes,
mas ali em Londres era diferente, tinha que pensar nos outros, em Tracy Dillman
para começar, em Adam Thornton, e por último na própria irmã. Judith nunca
havia sequer considerado a reputação da agência ao se envolver naquele caso.
— Como pôde fazer isso, Judith? — perguntou, furiosa. — Justamente o
cunhado de Adam Thornton!
A irmã deu de ombros.
— Não sabia disso quando começamos o namoro, e, quando soube, não fez
a menor diferença. Por que vou me importar com quem só é cunhado dele? Se a
bobinha não consegue segurar o marido é melhor deixá-lo ir embora e não ficar
pedindo ao irmão para interferir!
— Sua sem-vergonha, irresponsável!
— Natalie! — Judith abriu a boca, atônita com a veemência da irmã.
— Está surpresa, não é? Nunca pensou que sua irmã mais velha tivesse
coragem de dizer exatamente o que pensa de você, não é? — Suspirou fundo. —
Pois acabou-se. Você já fez muita besteira e esta foi a gota d’água. Tracy Dillman
deve amar o marido, e é por isso que quer segurá-lo. De repente aparece você,
bonita e disponível...
— Chega, Natalie. — Judith estava branca. — Não vim aqui para ser
insultada!
— Então por que veio? — As mãos de Natalie tremiam ao se levantar e
enfrentar a irmã. — Não foi para trabalhar! Quero acabar com esse caso agora,
Judith, ou perderemos o contrato da garota símbolo.
Judith permaneceu imperturbável.
— Não pode fazer isso — retrucou, confiante.
— Talvez eu não possa — respondeu, mais zangada do que nunca. — Mas
Adam Thornton pode. Ele tem advogados que conseguiriam que você desejasse
nunca ter ouvido falar em Jason Dillman!
— Jamais! — negou Judith, ardorosamente. — Eu o amo!
Tão rápido quanto se acendera, a raiva de Natalie morreu, e o instinto
protetor de irmã mais velha veio à tona.
— Talvez você pense que o ama...
— Não penso, não. Eu sei que o amo — respondeu a irmã, com firmeza.
— Mas ele é casado, Judy!
— Não me chame assim. Sabe que eu não gosto. E só porque Jason assinou
um papel há sete anos, isso não quer dizer que ele ainda queira ser casado. As
pessoas mudam muito em sete anos.
— Então por que não larga a mulher?
— Já lhe disse...
— Por causa do emprego e do dinheiro dela!... — ironizou Natalie. — O que
será que ele se importa mais de perder? Você não pode amar um homem desses,
Judith.
— Mas amo. E quero esse homem para mim — disse Judy, satisfeita.
— Tem que acabar com esse caso.
— Por quê?
— Porque é imoral, Judith! — Natalie franziu a testa, exasperada.
— Mamãe e papai ficariam chocadíssimos se soubessem disso. Além do
mais, Adam Thornton vai acabar com esta agência, se você não der um jeito
nessa história.
— Ah, agora está chegando ao ponto! Nada de amor fraternal! — zombou
Judith. — Esta agência significa mais para você do que qualquer outra coisa,
Natalie. Mais do que eu, papai e mamãe, mais do que qualquer coisa. — Curvou
os lábios. — Devia arranjar um homem, Natalie... não aquela praga daninha do
Lester. Estou falando de um homem de verdade. Talvez assim entendesse o que
sinto por Jason.
Natalie ignorou a rudeza da irmã para com Lester, sabendo que a antipatia
dos dois era mútua. Saía com Lester Fulton há uns três meses, e desde a
primeira vez que ele e a irmã se encontraram, implicaram um com o outro, e não
perdiam a oportunidade de se agredir quando podiam.
O fato de a irmã lhe dizer que precisava de um homem não a magoou.
Judith a considerava antiquada por não gostar de falar sobre seu relacionamento
com os homens, e ela mesma tinha consciência de que não era uma moça
popular. Tivera muitos amigos homens nos últimos anos, mas o fato de não falar
sobre eles não queria dizer que não houvesse acontecido amizades significativas e
profundas. Significativas e profundas! A quem ela estava querendo enganar?
Nunca se apaixonara, nunca, e Judith tinha razão. Não fazia idéia do que ela
sentia por Jason Dillman ou por qualquer outro homem.
— Não vou desistir dele, Natalie — acrescentou Judith, com veemência. —
Você e Adam Thornton podem fazer o que quiserem, mas não vou desistir de
Jason. — Abriu a porta. — Não vou desistir, Natalie. — E saiu sem fazer barulho.
Natalie levou a mão à testa febril. Conhecia a irmã o bastante para saber
que estava dizendo a verdade. Qual seria a reação de Adam Thornton se
descobrisse?
Judith a encostara na parede, dessa vez. Quando eram crianças vivia
arrancando a irmã, tão vulnerável — vulnerável para os pais, que a viam assim, é
claro, — de enrascadas incríveis. Mas Judith, dessa vez, não queria ser ajudada.
Naquela, manhã, ao falar com Adam Thornton, nem desconfiara que Tracy
Dillman era sua irmã. Meu Deus, como devia estar furioso com Judith! Nas
circunstâncias, a ameaça dele de revogar o contrato da garota símbolo era
pequena, comparada com o que realmente podia fazer. E o que ela podia fazer!
Judith se recusava a desistir de Jason Dillman e ele tinha todo o direito de
acabar com todos os contratos da agência Faulkner.
Dee entrou com os relatórios da manhã, e empoleirou-se na ponta da mesa
de Natalie.
— Ela deu trabalho hoje, hein?
— Deu mesmo — sussurrou.
— E como foi tudo lá com Adam Thornton? — perguntou Dee, interessada.
— É um cara arrogante — respondeu ela sem pensar, corando ao ver que o
interesse da outra aumentava. — Pois é. Arrogante.
— Combina com aquela voz de mormaço?
Combinaria? Bem, a imagem do homem de meia idade cheio de filhos havia
desaparecido de sua cabeça.
— Acho que sim — respondeu, displicente. — Dee, se ele telefonar, diga que
eu não estou.
Dee olhou-a, curiosa.
— Algum problema?
— Sim. — Natalie suspirou.
— Judith outra vez?
— Como foi que descobriu?
— Não é difícil. — A amiga sacudiu a cabeça. — Sei que é sua irmã, meu
bem, mas vale a pena o trabalho?
— Não. É pelos meus pais. — Mordeu o lábio inferior. — Eles não fazem a
menor idéia.
— Posso fazer alguma coisa?
— Acho que não, Dee, obrigada. — Natalie balançou a cabeça, sabendo que
tinha que resolver o problema sozinha, se pudesse. — Já será uma grande ajuda
se conseguir tirar Adam Thornton do meu caminho.
— Vou fazer força. — Dee saltou da mesa. — Acho que vou dar um pulo até
em casa para ver meu doce maridinho doente. — Levantou os olhos para o céu. —
Deve estar semimorto, como todos os homens quando adoecem.
Natalie riu, mas seu humor desapareceu logo que a outra saiu para o
almoço. O dia começara bem, e, de repente, tinha dado uma virada. E ainda tinha
aquelas contas para fazer! Tirou-as da gaveta, completamente esquecida do
almoço.
Voltou para casa depois das seis. Seu apartamento, tão calmo, foi como um
oásis para ela. Não era grande. Só um quarto, banheiro, um bom living e cozinha
espaçosa. Mas o mais importante é que ali podia relaxar. Tentara manter uma
aparente calma frente a Dee, mas o dia não tinha sido nada fácil. Para coroar
tudo, Adam Thornton ainda havia telefonado depois das cinco.
— Ele não me pareceu muito contente quando eu disse que você não
estava. — Dee fez uma careta engraçada.
Ficaria menos contente ainda se recebesse a mesma resposta várias vezes.
Não era um homem paciente, pelo contrário; tinha um temperamento que pedia
ação. Natalie não imaginava quanto tempo ele ia esperar no que dizia respeito à
Agência de Modelos Faulkner.
Não imaginava também o que ela própria ia fazer com relação a Judith. Sua
irmã não ia desistir de Jason, e não podia forçá-la a acabar com o caso, apesar de
a agência sofrer com isso. Enquanto não chegasse a uma solução não adiantava
falar com Adam Thornton.
Tomou um banho quente de banheira e relaxou, sentindo-se um pouco
melhor, pensando no encontro com Lester, à noite. Os dois tinham se visto pela
primeira vez no elevador, pois a firma de contabilidade para a qual ele trabalhava
ficava no mesmo edifício que a agência. Com o correr do tempo foram progredindo
do bom-dia até uma conversinha leve e descompromissada.
Quando Lester a convidou para jantar, ficou sem saber se aceitava. Afinal
de contas um papo no elevador era uma coisa bem diferente de um programa
noturno. Resolveu aceitar, achando que gostava dele o bastante para se
divertirem algumas horas juntos. Era alto, bonitão, moreno, olhos castanhos
cheios de calor e sempre bem-vestido. A noite foi um sucesso e o começo de várias
outras saídas.
As palavras zombeteiras de Judith voltaram a atormentá-la. Não que Lester
não fosse um amor; podia ser um amante ardoroso quando queria, mas não
acendia seu desejo, como nenhum outro homem ainda o havia feito.
Retribuiu carinhosamente o beijo de Lester quando ele chegou, antes das
oito. Era sempre muito pontual.
— Você está linda. — Ele sorriu. — Reservei uma mesa para as oito e
quinze. — Olhou o relógio de pulso. — Temos que sair logo, para chegar em
tempo.
Natalie gostava do jeito dele, tão pontual, chegando sempre na hora certa
para sair, marcando tudo e obedecendo aos compromissos combinados, o que lhe
dava segurança: aliás, tudo em Lester lhe sugeria apoio, e o ar protetor dele a
encantava. Depois de ser patroa o dia inteiro era gostoso sentir-se uma mulher
desamparada na companhia de um homem confiável.
Só não gostava quando ele metia o bedelho e lhe dizia como devia dirigir
seus negócios! Ele notou, pelo jeito, que estava preocupada e perguntou qual era
o problema. Foi só ela falar o nome de Judith para ele fechar a cara.
— Não sei porque se preocupa tanto com ela — zangou-se. — Só dá
problemas.
— Mas é minha irmã...
— Negócios são negócios, Natalie — atalhou, sério. — Lealdades familiares
não podem entrar nisso.
Judith era o único ponto de discórdia no seu relacionamento com Lester, e
geralmente procurava não falar na irmã. Mas precisava conversar com alguém
sobre o caso dela com Jason Dillman, e Lester era a pessoa mais próxima. Afinal
de contas era seu namorado, e tinham que compartilhar tudo, até os problemas.
Lester bufou, desgostoso, quando ela lhe contou do encontro com Adam
Thornton e da recusa de Judith em terminar com tudo.
— Típico dela! — caçoou ele. — Bem, já tem sua resposta, Natalie! Deixe
que Adam Thornton a dispense — aconselhou, sem dó.
Ela suspirou, bebericando o vinho que Lester havia escolhido para
acompanhar a refeição. Era um bom conhecedor e escolhera aquele com todo o
cuidado. Para Natalie, que não prestava atenção na bebida, podia perfeitamente
ser água que não faria a menor diferença. Lester não gostaria de saber que havia
desperdiçado seu talento.
— Não é tão simples assim. — Ela sacudiu a cabeça e empurrou o prato,
sem conseguir se entusiasmar com o pato e a salada verde. — Meus pais confiam
em mim, e esperam que eu proteja Judith.
Ele fez uma careta que não denotava a mínima compreensão.
— Seria melhor se lhe arranjassem um marido. Isso não é tarefa de irmã.
Mas pelo jeito como ela se comporta não vai achar um marido... só os maridos de
outras.
Natalie sabia que a crítica era merecida, que, até então, Judith só tinha
feito besteiras com relação a homens, mas mesmo assim a crítica de Lester doeu.
Ela já fora apresentada aos pais dele e ao irmão mais velho, e não tinha feito
nenhum comentário sobre eles, mesmo achando que o pai era dominado pela
mãe prepotente, e que se metia muito na vida dos dois filhos solteiros.
— Está na hora de Judith tomar conta de si mesma — continuou Lester,
sem perceber o leve recuo dela. — Ela é quem decide tudo o que quer fazer, e só
quando está em apuros é que vem correndo para você.
— Ela não está em apuros — murmurou Natalie. — E não veio pedir nada.
Já lhe disse. Foi Adam Thornton que me chamou.
— Hum. — Ele mordeu o lábio inferior, pensativo. — Não é conveniente que
você lide com um homem como ele.
— Como você sabe disso? Você o conhece?
— Já ouvi falar sobre ele e li alguma coisa no jornal de finanças que assino.
É um garoto prodígio.
— Não é bem um garoto — caçoou ela.
— Não. — Ele sorriu. — A C.T. é uma das maiores companhias de
cosméticos do mundo. O homem está rolando em dinheiro. Foi uma sorte sua
fazer os contratos com eles.
— Não foi “sorte”, Lester — contradisse, meio zangada. — Trabalhei muito
para conseguir esses contratos. — Pensando bem, já não sabia se tinha conse-
guido tudo por causa de sua habilidade. Jason Dillman lhe pedira fotos de suas
modelos, para escolher uma como garota símbolo. Na hora ela tinha achado que
era uma atitude normal, afinal tinham que ver o que iam lhe mandar.
Agora, depois que sabia do caso com Judith, via as coisas por outro ângulo.
Uma agência tão pequena como a dela, dificilmente chamaria a atenção de uma
companhia do tamanho da Thornton. Estava desconfiada de que a atração de
Jason por Judith podia ter influenciado os contratos que foram feitos depois da
escolha da garota símbolo.
— Eu sei. — Lester tocou sua mão, compreensivo. — E é uma pena deixar
que Judith estrague tudo. Ela não pode se envolver com o cunhado de Adam
Thornton.
— Mas já está envolvida!
— Então faça com que termine tudo.
— Como? Já lhe falei sobre as ameaças de Adam Thornton. Ela não se
impressionou nem um pouquinho.
— Talvez você e Thornton estejam vendo as coisas pelo ângulo errado. —
Lester franziu a testa. — Esse Jason Dillman parece um mercenário. Talvez seja
mais fácil pressioná-lo, em vez de Judith.
Por que Adam Thornton não havia pensado nisso? Será que ele não exercia
nenhuma influência sobre o cunhado? É claro que sim! Ele é quem tinha que
acabar com aquilo, já que ela não havia conseguido. Pronto. Ia parar de se
preocupar. Sorriu para Lester, e mudou de assunto. Trataria do caso de Adam
Thornton no dia seguinte.
Encorajou Lester a falar sobre o seu trabalho, maravilhando-se com a sua
habilidade em lidar com números, o que era o seu pesadelo.
— Acho que você devia ser meu contador — caçoou ela.
— Não teria dinheiro para me pagar — respondeu ele, sério. — Você gosta
mesmo de dirigir aquela agência, Natalie? Só dá trabalho!
— Gosto. — Empertigou-se. — É a minha independência.
Lester chegou-se mais perto dela no sofá, pois já tinham voltado para o
apartamento de Natalie há alguns minutos e faziam hora, bebericando um café
quente.
— Talvez eu preferisse que não fosse tão independente. Gostaria que se
apoiasse mais em mim.
Natalie riu, nervosa, não gostando nada do ar sério dele.
— Não gosta de mulheres que trabalham?
— Não muito.
— Lester! — Afastou-se dele, atônita.
— Ora, não gosto mesmo. Quando me casar, quero que minha mulher se
contente em ser dona da minha casa e mãe dos meus filhos.
Puxa, exatamente como a mãe dele!
— Não seria muito chato para... a sua mulher? — caçoou ela, imaginando-
se como outra sra. Fulton. Ah, que Deus a livrasse de tal sina.
Ele se ofendeu.
— Acho que não. E por que está rindo? — Franziu a testa, sem entender.
Rindo para não chorar! Aliás, essa conversa estava séria demais para seu
gosto; não tinha a menor dúvida de que Lester a via como a sua mulherzinha, que
ia ficar em casa cozinhando para ele e as crianças. Gostava dele, mas só de
pensar em ser aquele tipo de mulher, enchia-se de horror.
— Estou só brincando, Lester. Tenho certeza de que a mulher que você
escolher para esposa vai ficar muito feliz por tomar conta de você e dos seus
filhos. — Contanto que não fosse ela!
— Acha?
— Tenho certeza — disse objetiva, levantando-se e pondo um ponto final na
conversa. — Está ficando tarde, Lester... — jogou a indireta e esperou.
— É mesmo — concordou, sem ter a menor idéia do pânico que lhe
causara. Pôs a xícara vazia na mesa em frente a ele e levantou-se. — Vamos
almoçar juntos amanhã?
— Ótimo — concordou Natalie, sabendo que tinha que terminar aquele
namoro devagar, sem demonstrar como estava horrorizada.
Ele se inclinou para beijá-la na boca, suavemente.
— Meio-dia e meia?
— Maravilhoso — concordou ela, conduzindo-o disfarçadamente em direção
à porta.
Pouco depois, para seu alívio, ele se foi. Que dia! O terrível encontro com
Adam Thornton, a teimosia da irmã e, finalmente, a descoberta de que o homem
de sua vida era um macho chauvinista.
E o amanhã não se oferecia mais brilhante!
Para surpresa sua, a manhã passou depressa. Tinha umas reuniões com
alguns clientes, dos quais desconfiava que ia precisar muito, se perdesse os
contratos da Thornton.
Não ouvira mais falar sobre ele e não queria ligar para o homem. Se ele já
tivesse falado com Jason Dillman e este tivesse se recusado a acabar com o caso,
como Judith, então recomeçaria tudo de novo. A ignorância era uma bênção,
nesse caso. Pelo menos, era uma paz!
Uma Dee de cara vermelha entrou no escritório, depois das onze.
— Acho que ele não vai engolir muito tempo essa história, Natalie — disse,
preocupada.
— Hum? — Natalie olhou para cima, distraída.
— Adam Thornton. Ele...
— Tem telefonado? — Estatelou os olhos.
— A manhã inteira. A secretária dele, pelo menos. Tentei passar a perna
nela, mas da última vez foi ele mesmo que ligou. Acho que não acreditou quando
eu disse que você não estava.
Natalie franziu a testa.
— Mas eu... Que ódio, esqueci de avisá-la que o atenderia — gemeu,
praguejando contra si própria, lamentando sua burrice. Tinha se esquecido
completamente de avisar a Dee que queria falar com ele.
— Quer dizer que passei a manhã toda evitando o homem e você precisava
falar com ele?
— Sinto muito — disse Natalie. — Ele telefonou várias vezes? — Encostou-
se na cadeira, a pintura do rosto perfeita, como sempre, o cabelo castanho
brilhando, e o vestido turquesa combinando com os olhos.
— Pelo menos, meia dúzia de vezes. E da última vez estava uma fúria!
Natalie suspirou, preocupada.
— É melhor chamá-lo imediatamente. Sinto muito dar-lhe tanto trabalho.
— Não seja boba. Já tem coisas demais na cabeça. Mais ainda, agora!
— Pode ser. Mas não preciso ser burra por causa disso. Como está o Tom,
hoje?
— A mesma coisa. — Dee fez uma careta. — Ah, os homens!
Era uma afirmação com a qual Natalie concordava plenamente. Homens! E
um deles em particular. Dee chamou pelo interfone logo depois.
— Ele não está lá, agora.
— Verdade? Ou será que é desculpa da secretária? — Seria bem do estilo
de Adam Thornton decidir não lhe falar mais, quando ela resolvesse chamá-lo.
— Bem, ela disse que ele não estava no escritório, antes que eu dissesse
quem era. Portanto, acho que não está mesmo. Quer que continue tentando?
— Por favor.
Olhou o relógio de pulso e viu que eram quase onze e meia. Quem sabe
tinha saído para o almoço? Com certeza se cansara de se preocupar com uma
pessoa insignificante como Natalie Faulkner. Ela duvidava que ele se ocupasse
com pessoas como ela, e não teria perdido tanto tempo se não se tratasse da
felicidade de sua irmã.
Cinco minutos depois, Adam Thornton entrou no escritório sem bater, sem
ser anunciado por Dee, com um jeito dominador, impondo-se sobre ela e sua
mesa.
Tinha se esquecido de como era alto e cheio de vitalidade. A sala toda
pareceu diminuir com a presença dele, ressaltando sua selvageria; os olhos azuis
como aço ficavam mais evidentes, com aquela expressão de impaciência no rosto
duro.
Natalie percebeu tudo isso em poucos segundos. O corte do terno bege, a
camisa creme, as feições rudes e bonitas. É, era exatamente a figura de que se
lembrava e mais um pouco.
— Sinto muito, Natalie — murmurou uma Dee toda atrapalhada. — Ele foi
entrando...
Natalie viu o desafio arrogante nos olhos que se contraíram pura observar
Dee.
— Tudo bem — apaziguou ela. — Esse é o sr. Thornton, sr. Adam Thorton
— acrescentou, quase rindo, ao ouvir o “ah!” de espanto de Dee.
— E você é a moça competente que andou enganando a minha secretária a
manhã inteira — sussurrou, rouco. — Preciso de alguém como você no escritório.
Natalie pestanejou, tonta, sentindo-se também presa ao charme daquele
sorriso, e sacudiu a cabeça para se livrar do encanto. Ele parecia dez anos mais
moço quando sorria. As rugas da boca se acentuavam, os olhos se enchiam de
calor, e isso não contribuía para deixá-la mais calma. O homem era perigoso,
cruel, tinha que se lembrar disso.
— Muito obrigada, Dee. — Dispensou a secretária que, desapontada, saiu e
fechou a porta. — Agora, sr. Thornton — olhou para cima, friamente, — o que
posso fazer pelo senhor?
Ele puxou uma cadeira, sentou-se e demorou para acender um de seus
charutos, com jeito de leopardo preparando-se para atacar.
Finalmente levantou os olhos apertados, olhando-a através da fumaça.
— Para começar, pode me chamar de Adam — disse suavemente. —
Desconfio que vamos trabalhar juntos por muito tempo, tempo suficiente para
que passemos a nos tratar com mais familiaridade. — Encarou-a desafiador.
Ela respondeu, desconfiada:
— O que quer dizer com isso?
— Muito simples — caçoou. — Resolvi tratar pessoalmente todos os
assuntos relacionados com esta agência. E gostaria de aceitar as comissões que
você oferece pelos contratos que consegue.
CAPÍTULO III
Natalie quase perdeu o fôlego. Nunca fora tão insultada em toda a sua
vida.
— Esta empresa que administro, sr. Thornton, é uma firma perfeitamente
legal!
— Acredito — respondeu ele, nem um pouco impressionado. — E acredito
também que deve saber que minha companhia não costuma fazer negócios com
agências tão pequenas como a sua!
A raiva de Natalie foi tanta, que seus olhos brilharam.
— Está insinuando que induzi Judith a ir para a cama com o seu gerente
de publicidade para conseguir o contrato da garota símbolo? — Sua voz saiu
macia, perigosamente macia.
Adam Thornton deu de ombros, assoprando anéis de fumaça para o teto.
— Não, não estou sugerindo...
— Ainda bem! — atalhou ela.
— Mas estou dizendo que esta agência pegou o contrato porque Jason já
tinha ido para a cama com essa moça, Judith Grant. — Ele observou Natalie,
com os olhos apertados.
Ela corou, incerta.
— Pode me explicar melhor o que disse?
— Muito simples. Jason conheceu a garota antes de vir a esta agência. Os
dois se encontraram em uma festa, há alguns meses. Já eram amantes antes que
ele começasse a procurar a garota símbolo.
— Ah, não! — exclamou ela, perturbada, sabendo que devia ser verdade.
Isso explicaria muita coisa.
— Pois é — confirmou Adam Thornton, seco. — É desnecessário
acrescentar que eu desconhecia esse fato.
— Eu também — retrucou Natalie.
— Não achou estranho que uma companhia do tamanho da Thornton
procurasse seus serviços? — ironizou, ferino.
— E você não achou estranho que Jason trabalhasse com uma agência tão
pequena quanto a nossa?
Ele deu de ombros.
— Jason sempre foi bom no serviço. Disse que a moça era o que queríamos
e eu acreditei.
— E eu tenho uma boa reputação pelo trabalho que desenvolvi no ano
passado — defendeu-se ela, com calor. — Era possível que uma outra companhia
nos recomendasse ao sr. Dillman.
— Possível — concordou ele, — mas não era provável. Ou ficou tão contente
que resolveu não ir ao fundo da questão? — Os olhos azuis a observavam com
evidente desprezo.
Natalie sabia que havia alguma verdade no que ele dizia, tinha mesmo
custado a acreditar na sua boa sorte. Na época era exatamente o empurrão que
sua agência precisava, fazendo com que outras companhias tomassem
consciência de sua presença no mercado.
Olhou Adam Thornton. Como seria bom se ele não fosse tão confiante, se
não tivesse tanta certeza. Parecia um homem que não cometia erros.
— Deve admitir que o trabalho de minhas modelos foi tão profissional
quanto o de outras agências com as quais trabalhou.
— Exceto no caso da garota símbolo — concordou ele. — E nós sabemos
muito bem por que ela não trabalha direito. — Apertou o charuto com força no
cinzeiro.
— Sabemos?...
— Ela não tem tempo para nada, já que passa as manhãs e as tardes na
cama com Jason!
Natalie empalideceu e engoliu em seco.
— Quer dizer... quer dizer que já lhe falaram sobre isso?
— Resolvi me inteirar de tudo sobre o caso. Jason se recusa a terminar
com ela. Teve mais sorte do que eu? — perguntou, à queima-roupa.
Ela mordeu o lábio inferior, aflita.
— Ah... não.
Ele contraiu a boca, zangado.
— Foi por isso que não queria me atender?
Seu rosto se incendiou, enfatizando o azul-esverdeado dos olhos.
— Foi um erro...
— Concordo. Foi mesmo. Não teria que me “enfrentar pessoalmente se
atendesse ao telefone.
— Não é isto o que quero dizer — explodiu Natalie, agitada. — Eu disse a
Dee que não ia atender nenhum telefonema de manhã — inventou. — Quando
descobri o que aconteceu pedi a Dee que lhe telefonasse, mas o senhor já tinha
vindo para cá. — Será que ele teria sido mais simpático pelo telefone?
O homem curvou os lábios, irônico.
— Não estou acostumado a ser evitado. — Levantou-se, enchendo a sala
com seu corpo felino como o de um tigre na mata. Olhou o relógio de pulso, uma
jóia de ouro, simples, que provavelmente devia ter custado um ano do salário de
Natalie. — Meio-dia e dez — murmurou, pensativo. — Pegue o casaco, Natalie,
vamos almoçar.
Ela o olhou de boca aberta, tanto por ele saber o seu nome quanto pelo
convite. Bom, mas não era para se surpreender tanto. Havia investigado tudo
sobre a Agência Faulkner, quando percebera o que estava acontecendo entre o
cunhado e uma de suas modelos. Devia saber tudo sobre ela, até o número de
seu sutiã! “Não”, pensou, enquanto o observava. “Ele tem bastante experiência
para adivinhar , sem que ninguém o ajude.”
— Hoje só almoço ao meio-dia e meia — disse, muito digna, sabendo que
suas bochechas estavam pegando fogo.
— Você é o patrão?
— Sou.
— Então almoça na hora que quiser. Pegue o casaco.
Natalie olhou-o, rebelde.
— Talvez eu não queira almoçar com o senhor, sr, Thornton. — Ele se
divertiu com a resposta.
— Tenho certeza que não. Mas pegue seu casaco, de qualquer modo.
— Eu...
— São negócios, Natalie. Ou acha que estou pretendendo cobrar minhas
comissões agora? — zombou suavemente.
Ela respirou fundo.
— Não existem comissões do tipo que você insinua!
— Não?
— Não! — Adam Thornton apertou os lábios, pensativo.
— Então, preciso imaginar algumas. — Seus olhos estavam cheios de calor,
e tinham perdido a frieza de até então.
Natalie não podia acreditar no que estava acontecendo. Adam Thornton
flertando com ela!
— Vai imaginar em vão, sr. Thornton. Nesta agência, a única coisa que vai
conseguir de mim é eficiência.
— Serve. Para começar, serve. — Ele deu de ombros. — Vai me fazer
esperar muito para o almoço? Já vou avisando. Fico insuportável quando estou
com fome.
Ela mexeu com os lábios, reprimindo o riso.
— Quem teve a coragem de lhe dizer isso?
Adam Thornton deu um sorriso aberto, parecendo, de novo, uns dez anos
mais moço.
— Uma jovem senhora que sabe que a amo muito para me zangar com ela.
— Seu rosto se abrandou ao dizer isto.
Natalie desviou o olhar.
— Hum, entendo.
— Minha irmã — caçoou ele.
Ela mordeu o lábio. O comportamento de Judith lhe parecia mais
condenável frente ao amor e preocupação desse homem pela irmã. Meu Deus,
estava se sentindo culpada e não tinha nada a ver com isso.
— O que é que há? — Adam franziu a testa.
— Nada. É mesmo um almoço de negócios?
— É claro. Só espero que me perdoe se eu sentir prazer com a comida.
Ela ignorou o sarcasmo.
— Quer sair agora?
— O mais depressa possível.
Natalie sorriu, marota, incapaz de resistir.
— Você fica rabugento de verdade?
— Muito — confirmou. — Mas também dizem que fico manso como um
gato, depois de comer.
Ela reprimiu um sorriso.
— Sua irmã, outra vez?
— É. — Ele pegou a jaqueta de veludo preto do cabide e colocou-a em seus
ombros.
Natalie enfiou os braços, afastando-se depressa de perto do calor daquele
corpo, que cheirava a loção de barba e charuto.
Procurou ignorá-lo ao retocar o batom, mas não conseguiu vencer uma
certa timidez por ver que ele a olhava pelo espelho, olhos fixos na sua boca
entreaberta.
— Você não sabe — murmurou ele quando ela se virou, ficando muito perto
dele — que observar uma mulher fazer isso acende nos homens um desejo de
experimentar os lábios coloridos? — A voz era suavemente sedutora.
Natalie engoliu em seco e, ao se ver tão perto, perdeu o equilíbrio. E ele a
abraçou, apoiando-a contra o próprio peito. O coração dele batia rápido sob a
palma de sua mão e olhou-o meio tonta. Ela era alta, mas Adam Thornton
ganhava dela por uns doze centímetros.
Sentiu-se hipnotizada por aqueles intensos olhos azuis, e ele, calmamente,
inclinou-se e beijou-a. Não foi um beijo leve, titubeante. Abriu-lhe os lábios como
se ela fosse posse sua há muito tempo, tomou aquela boca vermelha como se
toma um fruto doce, colhido com vagar e perícia.
Ela não podia recusar nada a esse homem. Derreteu-se toda contra seu
corpo rijo, deliciando-se com as mãos que lhe acariciavam as costas, queimando
a pele delicada sob a roupa, e que depois a seguraram pela nuca, para evitar que
fugisse dele.
Ele saboreou, experimentou aquela boca em movimentos lentos, respiração
ofegante, olhos brilhantes de desejo, e quando afinal a deixou, comentou,
encantado:
— Hum, você tem um gosto delicioso!
Natalie recuou, saiu de seus braços, alisou o vestido, desconcertada. No dia
anterior havia descoberto que não existia um homem que acendesse uma fogueira
dentro dela e, agora, ali estava um, bem perto dela. Adam Thornton, era seu
adversário, e o sujeito mais arrogante e sarcástico que jamais encontrara!
Seu coração estava aos pulos, o corpo tremia e a boca latejava. Não queria
pensar em nada, só em voltar aos braços dele e sentir ó prazer daquele beijo
outra vez.
— Mas pelo gosto de sua boca sei que não está usando o brilho para lábios
da Thornton — caçoou ele, quebrando o encanto.
Ela o fuzilou com os olhos, com vontade de bater naquele desconhecido que
a deixava tão confusa.
— Não gosto das cores.
Ele levantou as sobrancelhas.
— O que há de errado com elas?
Talvez não devesse ter sido tão franca, mas não resistira, ao pensar em
quantas mulheres ele havia beijado para conhecer seus produtos pelo gosto; sua
reação ao beijo dele pareceu-lhe completamente exagerada e fora de propósito.
Tinha vinte e cinco anos, e não era uma garotinha para se impressionar tanto
com a experiência de um homem mais velho, arrogante e prepotente, por sinal.
Ela deu de ombros e balançou a cabeça.
— Não ficam bem em mim.
Ele andou até à porta, impaciente e irritado com a crítica.
— Sugiro que retoque o batom pela segunda vez, enquanto aviso sua
secretária de que vai almoçar fora.
Natalie fez o que ele sugeria, distraída, contente pelo minuto de solidão em
que poderia tentar reordenar os pensamentos. Era verdade que o sujeito sabia
beijar... e daí? Reagira como nunca havia reagido antes. Tinha sido apanhada de
surpresa, e isto não ia acontecer mais.
— E Lester? — perguntou Dee, quando Natalie apareceu na recepção,
pouco depois, aparentemente muito calma. — Telefono para ele e digo que não
pode ir almoçar com ele?
— Ah, é mesmo! — Evitou o olhar curioso de Adam Thornton. — Por favor,
diga a ele que fui a um almoço de negócios — acrescentou, querendo que Adam
Thornton soubesse exatamente o que pretendia fazer. — Telefono para ele à tarde.
— Tudo bem. — Dee respondeu com toda a naturalidade, começando a
perceber que tipo de homem era esse Adam Thornton. — Até logo — disse,
contente.
— Até logo — respodeu Adam Thornton, pegando Natalie com firmeza pelo
braço.
Ela deixou que ele a conduzisse até o elevador, e sempre em silêncio
desceram ao térreo e depois se dirigiram a um Rolls-Royce cor de vinho, cuja
porta foi aberta por um motorista que os esperava. Adam sentou-se ao seu lado,
acenando com a cabeça para o rapaz. Natalie esperava ver o Porsche prateado e
ficou surpresa ao encontrar um Rolls.
— Quem é Lester? — perguntou Adam mansamente, enquanto o motorista
deslizava pelo tráfego, separado deles por um vidro, o que lhes dava maior
privacidade.
Natalie virou-se para ele, meio impressionada com a riqueza daquele
homem.
— É um amigo — respondeu, desconfiada do interesse dele.
— Ah! Sei...
Ela franziu a testa. O que é que ele sabia? Ficou sem resposta a essa
indagação porque ele não falou mais nada até chegarem ao famoso restaurante
Savoy, onde tinha uma mesa reservada. Natalie já tinha estado lá com Jason
Dillman, em almoços de negócios, e por isso não se impressionou com o
ambiente. Pediu uma salada verde e um bife, e nem se assustou com os quatro
pratos que Adam escolheu para si mesmo.
— Sobre o que quer falar comigo? — Olhou-o friamente, tentando não se
lembrar daquele beijo, como, aliás, parecia ser o que ele fazia.
Adam bebericou seu uísque, bem relaxado, e demorou para responder.
— Sobre uma garota fantasia — disse, afinal. Natalie abriu muito os olhos.
— Garota fantasia?... — Ele concordou.
— Posso ter lhe dado uma impressão errada sobre a minha opinião a
respeito de seu trabalho na garota símbolo...
— Acho que não.
— Dei, sim. — Ele sorriu, recostando-se na cadeira, quando o almoço
chegou. — Judith Grant pode ter sido escolhida por razões erradas, mas não
posso negar seu sucesso. Aquela linha está vendendo maravilhosamente bem. Foi
uma boa idéia pegar uma desconhecida e transformá-la em garota símbolo.
— Então Jason Dillman acertou em alguma coisa.
— Sinto desapontá-la, mas a idéia de pegar uma desconhecida foi minha.
Jason só executou. Lembra-se do novo perfume que lançamos ao mesmo tempo?
Eu me concentrei mais nesse lançamento.
Ela concordou.
— Você usou duas modelos minhas.
— Exato. Escolhidas por Jason. — Ele suspirou. — Já estou começando a
suspeitar daquelas duas, também.
— Não é preciso — zangou-se ela. — Gemma e Sheri são muito bem-
casadas.
— É um alívio saber disso.
— Garota fantasia? — provocou ela, muito interessada no que parecia um
novo projeto. A C.T. estava se expandindo e ela queria pegar uma carona nessa
expansão.
— Para uma nova linha de maquilagem em tons mais profundos e
brilhantes — explicou ele.
— Combinando com a moda atual.
— Exatamente. Quem sabe até você vai usá-la? — acrescentou ele,
zombeteiro. — Gostaria que você encontrasse a garota fantasia, a garota dos
meus sonhos. Não literalmente, é claro.
— Certo.
— Acha que pode consegui-la?
— Acho que sim — respondeu devagar. — Mas preciso saber mais detalhes
sobre essa nova linha.
— Naturalmente. Espero que compreenda que o que lhe disse até agora
sobre a garota fantasia é segredo.
Natalie empertigou-se.
— Não sou uma idiota, sr. Thornton!
— Nem um pouquinho. É por isso que gostaria de trabalhar com você nesse
projeto.
— Eu... e você? — Perdeu o apetite na hora. Adam levantou as
sobrancelhas escuras.
— Tem alguma objeção em trabalhar comigo? — desafiou.
Teria? Quanto menos se aproximasse desse homem em bases pessoais,
melhor, mas com relação à agência podia ser um alto negócio. Já era uma grande
coisa ter a garota símbolo. Com outros contratos desse tipo ela e a agência
estariam lançadas para sempre.
— Parece indecisa — comentou Adam Thornton. — Acredite, Natalie, se eu
soubesse que a srta. Faulkner, dona de agência, era uma mulher tão linda, já
teria substituído Jason há muito tempo. — Os olhos azuis a acariciavam
abertamente. — Por que fica atrás da escrivaninha e não em frente às câmeras?
— perguntou, de repente.
Ela permaneceu fria diante de seus elogios, para lembrá-lo de que era um
almoço de negócios, o mais estranho almoço de negócios a que já tinha
comparecido.
— Já fotografei muito. Mas não me satisfaz.
— Não? — disse ele, pensativo. — É, acho que não.
Ela o olhou, desconfiada.
— Por que acha que não?
Adam franziu a testa
— Você é sempre assim tão ouriçada?
— Sempre.
— Deve ser engraçado.
— O quê?
— Trabalhar com você. — Inclinou-se um pouco na cadeira e cobriu sua
mão com a dele. — Acho que vou me divertir muito.
Natalie corou até a raiz dos cabelos.
— E o que vai acontecer com a garota símbolo?
O rosto dele se endureceu e ele retirou a mão.
— Tentei argumentar com Jason, com você, e com Judith Grant. Não deu
certo. É possível que tenhamos que rescindir o contrato.
— Não!... Não pode esperar um pouco? — Ficou embaraçada ao ver que ele
a observava através dos olhos semi-cerrados. Era como se estivesse implorando
alguma coisa. E ficou danada com Judith por colocá-la nessa situação. — Talvez
o caso morra sozinho, com o decorrer do tempo — acrescentou, esperançosa.
Ele balançou a cabeça
— Pelo que sei, já vem se arrastando há nove meses.
Natalie mordeu o lábio, atônita com a burrice da irmã.
— A... a mulher dele sabe?
— Não! E não quero que isso aconteça.
— Eu não sabia que era sua irmã — disse, sentindo um pouco de culpa.
— Não costumo contar que Jason Dillman é meu cunhado.
Natalie olhou as próprias mãos.
— Eles têm filhos?
— Não, graças a Deus! — Seu modo brusco e selvagem reapareceu e ele
acenou para o garçom, pedindo a conta. — Judith Grant é a última em uma
comprida lista de mulheres que entra e sai da vida de Jason. Tracy parece amá-lo
tanto que jamais lhe ocorre que tenha casos com outras mulheres. Se não fosse
por Tracy, eu já teria esganado esse patife!
“Com certeza! E adoraria fazê-lo”, pensou ela.
— Do jeito que as coisas vão — continuou ele, — eu a protejo o quanto
posso. Nem sempre é fácil. Mas de agora em diante ele vai trabalhar sentado
atrás de uma escrivaninha.
Natalie se surpreendeu ao ver que Jason Dillman ousava desafiar esse
homem, apesar de entender que a felicidade da irmã de Adam restringia a um
mínimo as ações dele. Que vergonha! Sua própria irmã estava envolvida nesse
caso sórdido! Se Adam Thornton descobrisse o parentesco... Meu Deus, seria
capaz de virar contra ela toda aquela raiva selvagem! E se Judith tivesse um
mínimo de juízo, também teria medo. Mas a irmã vivia obedecendo aos ditames
do coração e não da cabeça.
O motorista de Adam Thornton levou-os de volta ao escritório. Adam saiu
do carro com ela, mas não subiu até a agência.
— Pense no novo contrato — encorajou. — Telefono para você.
— Hum... Quando? — perguntou Natalie.
Ele, que já estava entrando no carro, virou-se e sorriu.
— Logo. — Apertou o rosto dela com as duas mãos. — Logo, logo. — Beijou-
a de leve. — Vai ver seu amigo Lester hoje à noite?
Ela ficou desapontada com o beijo e com o motorista em pé, junto à porta
aberta. Olhou-o, embaraçada, e virou-se para Adam.
— Vou, sim — respondeu, trêmula, sabendo que não podia se envolver com
aquele homem.
— Que pena. — Largou-a de repente. — Telefono, então, Natalie. E dessa
vez espero encontrá-la.
Ela se empertigou ao notar a ameaça na voz.
— Tentarei estar presente — respondeu friamente. Ele sorriu, duro.
— Vai fazer mais do que tentar. — Levantou a cabeça em sinal de
despedida, entrou no carro e não olhou para trás.
Natalie se dirigiu ao escritório. Durante o almoço conseguira se convencer
de que tinha imaginado aquela reação imediata e calorosa aos beijos de Adam
Thornton, mas os últimos segundos em seus braços haviam mostrado que era
tudo verdade. Apesar de respeitá-lo como homem de negócios, não gostava dele, e
essa reação a amedrontava um pouco. Era preciso ter cuidado com Adam
Thornton, por várias razões.
— Estou casada há três anos e senti a mesma coisa! — caçoou Dee. Ela
levantou os olhos. Estava tão mergulhada em seus pensamentos, que ia passando
pela sala de entrada sem ao menos dizer alô.
— Desculpe. Ele é um pouco demais para o meu gosto.
— Um pouco? — Dee revirou os olhos para o céu. — Ele é lindo. Como será
sem aquelas roupas todas?
— Dee!
— Eu sei, eu sei — A outra sorriu. — Nós, mulheres, não devemos pensar
nessas coisas. Mas pensamos, não é?
— Eu...
— Não pensamos, Natalie? — Dee deu um sorriso malicioso.
Natalie ficou vermelha só de pensar naquele homenzarrão nu, perto dela.
Dee pusera em palavras o que sentia, mas, assim mesmo, ficou envergonhada por
perceber que tinha tais pensamentos e com um homem que mal conhecia. Saía
com Lester há meses e nunca tinha pensado em nada disso.
— Pode sair para almoçar, Dee. — Não respondeu à outra pergunta
diretamente. — E dê lembranças a Tom.
— Está bem. — Dee levantou-se. — Quem sabe se, da próxima vez que se
encontrar com o sr. Thornton, você se lembra de mandar todo o meu amor para
ele? — Riu, maliciosa.
— Não tenho idéia de quando vou encontrá-lo outra vez — retrucou Natalie.
— Falou com Lester? — perguntou, mudando de assunto.
— Ele disse para você telefonar à tarde, pois agora ele não vai estar no
escritório. Senão, ele telefona às oito e meia para a sua casa.
— Obrigada. — Natalie entrou no escritório.
Irritada, considerou que não tinha vontade de ver Lester naquela noite.
Aliás, tinha a impressão de que não queria nunca mais, depois que ele revelara
que a desejava como dona de casa, mãezinha e nada mais. Gostava dele, mas não
o bastante para se casar. Sua mãe podia achar que, com vinte e cinco anos e sem
se casar, ela era uma solteirona. Mas ela, Natalie, não pensava assim. Achava que
era muito cedo para se casar e se dedicar à conquista da eterna felicidade
conjugal! A agência tinha lhe custado muito esforço e não ia desistir, agora que
ela começava a engrenar, e ainda mais por Lester. Gostava dele, mas não o
amava.
Tanto a agência quanto ela alcançariam o sucesso se Adam Thornton
escolhesse a Garota Fantasia entre suas modelos. Se. Esse era o problema. Se
Judith estragasse tudo por causa daquele caso estúpido com Jason, ela... ela... Ia
fazer o quê? Judith era sua irmã e a lealdade familiar contava mais do que a
agência.
Entrar em contato com a irmã não foi nada fácil. Na manhã seguinte,
Judith não estava no apartamento dela, e também não apareceu no escritório
durante o dia. Talvez só a encontrasse à noite, quando talvez Judith tivesse
voltado para casa.
Nesse ínterim, teve que lidar com outras modelos, clientes, e a manhã
passou rapidamente. Não recebeu nenhum telefonema de Adam Thornton, e
percebeu que ele ia fazê-la esperar nessa história do contrato da garota fantasia.
Mas estaria preparada quando ele a procurasse, pois já tinha três modelos em
vista.
A garota fantasia precisava ter algo de dramático, mas também de sonho,
um pouco da fantasia de todo homem e de toda mulher. Uma garota que os
homens quisessem levar para a cama e que as mulheres tentassem imitar. Dizem
que os homens preferem as louras, mas Natalie sabia que as mulheres não
acreditam muito nessa história. Para ela, a garota fantasia devia ser morena,
exótica, com o tom de pele apropriado para o produto que a C.T. pretendia lançar.
Três das moças correspondiam a essa descrição, e ela já havia preparado suas
fichas para quando Adam Thornton entrasse em contato com ela. Quando...
Outra vez, ela não foi avisada de sua chegada. A porta se abriu de repente e
Adam entrou, parecendo bem mais zangado do que no dia anterior. O que teria
feito, dessa vez?
Dee fez uma careta preocupada atrás das costas dele e fechou a porta. A
raiva dele se espalhava por toda a sala.
Natalie levantou os olhos, nervosa, aflita, com medo do que ele ia falar.
Estava furioso demais para ser capaz de dizer alguma coisa, e a seriedade de sua
expressão calava, também, a voz da moça.
De repente, ele se aproximou da mesa, levantou-a bruscamente pelo braço,
os dedos fortes machucando-a através do vestido leve que usava, o olhar perigoso
e a boca se contraindo nos cantos, num rito selvagem antes de beijá-la.
Queria causar dor mesmo e estava conseguindo. Ela gemeu baixinho e ele a
esmagou contra seu corpo com violência. Ela chegou a pensar que seria quebrada
em dois pedaços, mas ele a largou tão bruscamente que ela caiu contra a mesa,
machucando a coxa. O que não era nada, comparado ao latejar dos lábios
inchados, da boca ferida.
— Agora que já me livrei disso — murmurou ele entre dentes, — talvez não
se importe de me explicar por que não me disse que Judith Grant é sua irmã?
CAPÍTULO IV
Fez essa pergunta muitas vezes durante a noite, pois não dormiu, e chegou
no escritório um pouco depois das oito. Ocupou-se com seu trabalho até o relógio
chegar nas nove... nove e quinze... nove e meia... Será que já dava para telefonar
sem parecer muito aflita? Achava que sim.
Dee tentou a ligação.
— Ele não está no momento, Natalie — disse ela. — Devo continuar
tentando?
Natalie mordeu o lábio inferior, nervosa.
— É, daqui a pouco ligue de novo. — Esperou por uma hora, impaciente, e
chamou Dee: — Você...
— Já telefonei mais duas vezes, Natalie — confirmou a outra. — Não está
mesmo.
Para o diabo com ele! Estava fazendo aquilo de propósito, como havia feito
com ele. Gostava de se vingar até o fim. — Ligue mais uma vez, Dee — decidiu-se.
— E se ele não aparecer, diga à secretária que estarei lá às onze e meia.
— Mas...
— Diga só isso, Dee.
Alguns minutos depois Dee entrou no seu escritório.
— Ele ainda não chegou. Dei seu recado.
— E daí? — Apertou com força a caneta que segurava.
— A secretária disse que ele tinha outra hora marcada...
— Não me importo que ele tenha cinqüenta horas marcadas. — Os olhos
azul-esverdeados faiscavam. — Chame de volta, Dee, e...
— Mas ele pode vê-la ao meio-dia e quinze — atalhou a moça.
— Ah! — Ficou vermelha.
— Tudo bem? — perguntou Dee suavemente.
— Tudo ótimo.
— Foi o que eu disse a ela. Posso fazer alguma coisa, Natalie? — Via-se que
estava preocupada.
— Absolutamente nada. — Natalie sacudiu a cabeça. — Esse é um assunto
que Adam Thornton e eu temos que resolver sozinhos.
— Boa sorte!
Bem que ia precisar. Mas parecia a calma em pessoa, frente à sofisticada
secretária de Adam Thornton, quando chegou ao escritório dele, ao meio-dia e
quinze. Não ia ficar esperando, desta vez.
Estava calma o bastante para observar até o nome da moça, na agenda
sobre a mesa: Cara Shaw. Viu também o pôster mais recente da campanha, de
Judith como garota símbolo. Ah, como Thornton devia estar arrependido e com
ódio!
— O sr. Thornton vai vê-la já — anunciou Cara Shaw, com sua voz rouca.
Ela não demonstrava seu nervosismo ao entrar no escritório, e enfrentou o
olhar que passeou pelo rosto pálido, os seios rijos, a cintura fina e as coxas
esguias, fazendo-a sentir-se nua, apesar do terninho cor de ferrugem, que lhe
dava uma aparência de executiva eficiente.
— Entre e sente-se, Natalie — convidou ele gentilmente, inclinando-se para
acender um charuto com um isqueiro dourado, que estava no bolso do colete
cinzento, que combinava com o terno.
Ah, então hoje era Natalie, percebeu ela, sentindo-se um pouco como uma
mosca recebendo convite de uma aranha. Mas entrou e se sentou na poltrona em
frente a dele.
— E então? — perguntou Thornton, depois de alguns segundos. Ela piscou,
tonta.
— Então, o quê?
— Você disse que queria me ver, ou melhor, sua secretária disse... — Ele
riu.
— Eu... não. Eu... — Bom, já estava começando em desvantagem, ora essa!
— Você é que quer falar comigo — respondeu, decidida.
Ele sacudiu a cabeça devagar.
— Pedi que me telefonasse.
— E telefonei — disse impaciente. — Um montão de vezes e você não
estava.
— Mesmo?
Ela fuzilou-o com os olhos, sabendo que a estava fazendo de boba, apesar
da expressão inocente. Inocente demais. “Tenha paciência”, remoeu, sentindo-se
mais ainda como a mosca caindo na teia.
— Tive uma reunião de diretoria hoje — explicou.
— Ah, sei. Então por que a secretária não me disse? — Adam levantou as
sobrancelhas grossas.
— Nunca digo o que estou fazendo pelo telefone. E não ia abrir uma
exceção para você.
O insulto vinha nas entrelinhas, e Natalie corou, sem jeito.
— Tenho certeza de que não. Agora, pode me dizer o que queria falar
comigo?
— Se insiste... É sobre minha irmã.
— Já lhe disse que não posso fazer nada, sr. Thornton — disse ela,
impaciente.
— Eu disse minha irmã, Natalie. — A voz dele estava perigosamente mansa.
Ela corou mais uma vez, e cruzou as mãos, olhando-o, ressentida. Adam
Thornton recostou-se na cadeira, envolto pela fumaça.
— Gostou da peça de ontem?
— Sabe que não — explodiu, impaciente. Tinha certeza de que ele a tinha
visto junto com Lester e muita gente mais, saindo antes do fim. — Sua irmã...
— Maria tem um gosto terrível para peças — comentou ele, ignorando a
menção à irmã. — Felizmente, nem todas as suas preferências são absurdas.
Natalie suspirou, impaciente, entendendo a piada.
— Sua irmã, sr. Thornton — lembrou ela, querendo parar com aquele jogo
de gato e rato.
— Sim? — Olhou-a no fundo dos olhos. — Minha irmã. Acho que tem tido
algumas dificuldades com sua agência nos últimos tempos, não é? — Levantou as
sobrancelhas.
— Tenho...
— Sabe o motivo das dificuldades? — continuou ele, naquela voz tão
educada que dava vontade de esganá-lo.
— Sei — respondeu, muito tensa.
— Pois acho que descobri um jeito de afastar essas dificuldades. — Ela
engoliu em seco, desconfiada.
— Como?
Adam sorriu, o sorriso olímpico dos vencedores. Esse homem ganhava
sempre! — Quero a sua ajuda.
— Minha ajuda? — repetiu, sem acreditar. Esse homem dava a impressão
de nunca precisar de ajuda. A não ser que...
— Não — caçoou ele. — Não preciso usar de tantos artifícios para ir para a
cama com uma mulher.
— Sei que não — respondeu confusa. Onde andaria a segurança que tinha
antes de encontrar Adam Thornton? Tinha certeza de que poderia controlá-lo com
seu sorriso e com seus olhos azul-esverdeados! Nunca sabia a quantas andava
quando estava perto dele! — Então o que posso fazer para ajudá-lo? —
perguntou, friamente.
— Quer dizer que tem objeções em ir para a cama comigo? — zombou ele.
— Sr. Thornton! — Ficou tão indignada que quase perdeu o fôlego.
— Muito bem. — Sentou-se mais para a frente, já sem sorrir. — Quero que
ajude Tracy.
Natalie não pôde esconder sua confusão.
— E como eu poderia ajudar sua irmã?
— Vai ser fácil — levantou-se, — se você realmente estiver preocupada com
o caso de Jason e sua irmã.
— Claro que estou.
Adam olhou-a por segundos intermináveis, varando sua alma.
— Acredito em você — disse com muito peso, afinal.
— Muito obrigada!
Os olhos azuis gelaram, a boca se contraiu.
— Acho tudo isso desagradável demais para ter que agüentar ainda seu
maldito sarcasmo! — atalhou, prestes a explodir de raiva, e envolver Natalie nas
suas chamas.
— Sinto muito...
— Duvido. Mas vai sentir, se minha irmã não gostar de você. Quero que se
torne amiga dela, Natalie. Quero que mostre a ela que há mais coisas na vida do
que Jason Dillman.
— Mas...
— Tracy se casou com Jason aos dezoito anos, e contra a minha vontade,
devo esclarecer. — Olhou pela janela, sem ver nada, voltado para dentro de si. —
Mas ela já era maior e não pude fazer nada para impedir. Depois que não havia
mais jeito, tentei ajudá-los. Dei emprego para Jason na Thornton por causa de
Tracy. Devo confessar que é um bom funcionário, pois nem por Tracy eu colocaria
um débil mental no departamento de publicidade.
— Claro que não.
Ele apertou os olhos ao sentir o sarcasmo de sua voz, mas não a
repreendeu.
— Estavam casados há poucos meses quando descobri que Jason estava
tendo um caso com a moça que trabalhava com ele. Consegui acabar com tudo
antes que Tracy descobrisse. Na vez seguinte, não tive tanta sorte. Tracy ficou
histérica quando descobriu o que estava acontecendo. Eu queria que ela o
deixasse, que voltasse para casa, mas a bobinha... — Respirou fundo para se
controlar. — Ela o perdoou, quando ele jurou que não aconteceria outra vez. E
para Tracy, nunca mais houve nada.
Natalie sentiu uma pena profunda da irmã dele, pelo amor que sentia pelo
infiel Jason.
— E na realidade? — Adam apertou as mãos.
— Ele volta e meia está de caso novo, o que eu escondo dela.
— Como posso ajudar?
— Quer ajudar? — Olhou-a, procurando descobrir se estava sendo sincera.
— Quero.
— Tracy é muito bonita — disse, naturalmente. — Uma beleza doce. É
inteligente. Mas, casada desde os dezoito anos, é muito inexperiente. Jason a
limita muito, e quer que ela continue assim. Eu, não. Acho que se ela for forçada
a enfrentar o mundo vai ver Jason como ele é ou, pelo menos, vai adquirir uma
certa sofisticação para prendê-lo.
Natalie franziu a testa.
— E por que não lhe diz isso?
— E perder seu amor? — disse ele, com a voz magoada. — Tracy é a única
pessoa que amo na vida.
— Como eu amo minha irmã.
— Sei disso. Tenho certeza. Mas ela vai acabar ferindo você.
— Eu sei — murmurou.
— Jason se aproveita desse amor para me fazer ficar em silêncio. Sabe que
não quero fazer nada que deixe Tracy magoada. — Sacudiu a cabeça. — Mas isso
não pode continuar.
— O que vai fazer?
— Eu? Nada.
Os olhos de Natalie se arregalaram.
— Você não espera que eu...
— Não. Só quero que fique amiga dela. Você tem uma carreira de sucesso e
independência. Quero que Tracy perceba que também pode ter tudo isso, como
mulher de Jason ou não — terminou ele.
Não era demais comentar, sobretudo sabendo do papel de sua irmã no
caso...
— Judith acha que Jason vai deixar sua irmã — contou, de mansinho.
Ele curvou a boca, com desprezo.
— Então é tão boba quanto Tracy. Se esse casamento se acabar, vai ser por
iniciativa de Tracy. Jason está se sentindo muito bem nessa situação e não quer
saber de discutir o assunto.
Era o que Natalie pensava. Tentara convencer Judith, mas a teimosa da
irmã ia acabar descobrindo por si mesma, e com mais sofrimento.
— Vai fazer isso para mim? — Adam observava-a de perto. — É só ser
amiga dela e mostrar o que está perdendo.
— Tem certeza de que sou a pessoa indicada para isso? Afinal de contas,
Judith é minha irmã.
— Mas, como já disse, são o oposto uma da outra. Já me informei sobre a
sua agência e sobre você, Natalie. Tem boa reputação como mulher e como
empresária. Aliás, é exatamente o tipo de pessoa com quem a C.T. gosta de
trabalhar. Acho que lhe falei sobre a garota fantasia, não?
— Está tentando fazer chantagem comigo, sr. Thornton?
— Não. Só estou incentivando. Os negócios hoje em dia são cheios de
incentivos — brincou. — De repente, todo aquele pessoal que sumiu da agência
pode reaparecer.
Ela ficou vermelha de raiva e levantou-se furiosa.
— É melhor pedir à sua amiga princesa para ajudar. Acho que não vou
poder fazer nada.
— Quero uma mulher de sucesso. Maria só se interessa pelo teatro e é um
grande fracasso, como você viu. Além do mais, Tracy não gosta dela. É você ou
ninguém, Natalie.
— E se eu recusar? — Ele deu de ombros.
— Acho que já sabe a resposta.
Natalie tremia de raiva, tinha vontade de avançar nele. Só que ele era do
tipo que revidava, portanto, não queria se arriscar.
— Então não tenho escolha?
— Nenhuma.
— E se o plano falhar?
— Nunca penso em fracasso — respondeu, orgulhoso. — Deve fazer o
mesmo.
— Muito bem — ela murmurou, capitulando, sabendo que não tinha saída
desde o começo. — Vou tentar.
Ele não demonstrou absolutamente nada, só inclinou a cabeça, como se a
resposta dela não pudesse ser outra.
— Vou dar um jeito para que vocês duas se encontrem — disse, assumindo
de novo o executivo no comando da estratégia. — Vai gostar de Tracy —
acrescentou confiante.
Era melhor que gostasse, pensou ela.
CAPÍTULO V
A visita de Judith tinha sido há dois dias. Já era quinta-feira e ela não
recebera nenhum recado de Adam Thornton. Pensou em telefonar para ele, mas
considerou que, nas circunstâncias, nenhuma notícia era sinal de boas notícias.
Morria de medo de Tracy Dillman não gostar dela, como não gostava da
princesa. Se isso acontecesse, ela ia cair no buraco mais fundo do mundo.
Quando a campainha tocou, à noite, interrompendo a leitura do livro,
pensou que talvez fosse Judith. Não tinha vontade de ver nem Judith nem Lester,
e só podia ser um dos dois.
Estatelou os olhos, surpresa, quando abriu a porta para Adam Thornton.
Um Adam que quase não dava para reconhecer, de calça preta de brim muito
justa nas coxas e pernas, uma camisa também preta, e as mãos enfiadas nos
bolsos de um casaco militar.
Ele riu ao ver sua surpresa.
— Posso entrar?
— Claro — respondeu Natalie, consciente de que ele a observava, enquanto
o conduzia até à sala de visitas. Olhou em volta, ansiosa, e ficou aliviada ao ver
que estava tudo em ordem como sempre, a casa limpa e acolhedora. Não tinha
que se envergonhar de sua casa, apesar de ter certeza de que esse homem se
cercava de muito luxo, completamente fora de seu padrão simples e modesto.
Mas bem que podia estar com uma roupinha melhor. A calça velha e
desbotada, muito justa, uma camisa de flanela xadrez de homem, desabotoada no
peito, onde faltava um botão. Mas como não esperava ninguém, estava à vontade,
o rosto lavado, sem um pingo de maquilagem.
Pelo jeito, Adam Thornton não notou nada de errado em sua aparência.
Olhou-a dos pés descalços à cabeça, até com certo ar de aprovação. Natalie é que
se sentiu envergonhada, como se fosse uma menina de doze anos.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, preocupada.
— Não, que eu saiba — disse ele com naturalidade. — Posso sentar?
— Ora, é claro. Desculpe-me. — Umedeceu os lábios. — Estou sendo a pior
anfitriã do mundo — afligiu-se. — Sente-se, sente. Quer um drinque?
— Uísque? — Adam reclinou-se na poltrona, esticou as pernas compridas,
perfeitamente à vontade, apesar de não perder nunca a aura de poder que o
rodeava sempre.
— Está bem. Com gelo, água?
— Não. Puro.
Claro! Ela só bebia uísque misturado com água e limão, mas esse homem
tinha que beber puro, e nem faria careta quando o líquido de fogo passasse por
sua garganta.
Na cozinha, preparando um uísque para ele e um martini para si, Natalie
se sentia num caos. Bem que precisava de um drinque. Por que Adam Thornton
tinha ido lá? O que ia lhe dizer?
Continuava sentado quando ela voltou e, ao pegar a bebida, roçou os dedos
nos dela, levantando as sobrancelhas ao perceber o rápido recuo de Natalie.
Ficou sentada sobre as pernas cruzadas, na frente dele, os pés descalços
escondidos. Fez-se um silêncio estranho e elétrico. Aquele homem sentado na
intimidade do seu apartamento, e ela sabendo que fora o único a quebrar a
barreira de sua frigidez, o único a acender uma fogueira dentro dela. Tinha pavor
daquele fogo, medo de ser tocada de novo e explodir em chamas. Não era uma
emoção agradável, quando o- outro era seu inimigo...
— Fica nervosa perto de mim, Natalie? — perguntou ele, interrompendo
seus pensamentos confusos.
Ela piscou rapidamente.
— Por que acha isso? — Deu de ombros.
— Tive a impressão de que ficava.
— E acertou — admitiu ela suavemente. — Devo lembrá-lo de que me
ameaçou da última vez em que conversamos?
— Ameacei, não, Natalie. Usei de algumas vantagens para conseguir que
ajudasse minha irmã. Mas sua agência vai se beneficiar também.
— É verdade — concordou.
— Vim aqui para lhe contar as providências que tomei. — Ela ficou com um
pé atrás.
— Sim?
Ele achou graça na desconfiança dela.
— Você está convidada para jantar, sábado, em meu apartamento. —
Natalie se endireitou e abriu muito os olhos.
— Mas eu não posso...
— Jason e Tracy também foram convidados — acrescentou, bebericando o
seu uísque.
— Ah! — Era por isso que Jason ia estar ocupado no fim de semana.
— Desapontada?
— Não, é claro que não. — Para desconsolo seu, corou, coisa que fazia a
toda hora perto desse homem, e coisa que não fazia nunca, longe dele.
Os olhos azuis a examinaram profundamente, o que só fez aumentar a sua
vermelhidão. Adam se levantou devagar, pôs o copo na mesa, andou até ela, e
abriu as pernas, esticando o braço para levantá-la.
— Pois eu — murmurou ele, que era bem mais alto do que ela descalça —
estou muito desapontado.
— Adam...!
— Natalie! — caçoou ele, segurando sua coluna com firmeza e puxando-a
de encontro ao seu corpo. — Você tem idéia de como está bonita?
— Adam! — Ela até engasgou ao ouvir o tom agressivo.
— Bonita demais para a minha paz de espírito! — explodiu ele, inclinando-
se para beijá-la.
As brasas do desejo se tornaram chamas e, com um macio gemido de
capitulação, ela passou os braços por sua nuca, encostando-se nele, ao sentir a
paixão daquela boca. As mãos corriam ternas por seu corpo, acordando o que
tocavam, os dedos explorando o pescoço, o decote ousado, insinuando-se por sob
o tecido para segurar um seio dolorido, acariciando a ponta sensível com extrema
habilidade.
O gemido de prazer dela se perdeu sob a boca que a beijava. Coxas firmes e
duras apertaram as suas, causando dor e prazer ao mesmo tempo.
Adam mexeu com o que sobrava de botões em sua blusa, tirando-a devagar
e capturando os seios com mãos surpreendentemente gentis, tocando as pontas
rijas com carícias que deixaram Natalie de pernas bambas de tanto desejo.
Eram só dois passos até o sofá, e ela sentiu o tecido frio nas suas costas
nuas, quando Adam a recostou nas almofadas, a cabeça inclinada sobre seus
seios, em adoração e reverência.
O pescoço de Natalie se curvou para trás, ao primeiro toque de sua língua
úmida nos bicos duros. Um prazer quente a envolveu toda quando ele chupou a
ponta sensível, um enorme prazer por sentir aqueles lábios, dentes, língua,
provocando-lhe um frenesi de emoções que a faziam estremecer até a ponta dos
dedos.
Ele havia tirado o casaco e a camisa, e ela choveu beijos febris sobre a pele
úmida e salgada, sentindo os músculos fortes e tensos de seu corpo.
Não sentia vergonha, só prazer, quando ele tirou sua calça desbotada e a
calcinha, deixando-a nua sob seu corpo pesado. O latejar daquele corpo quente
que a amassava no sofá, o calor dos lábios contra sua pele úmida faziam correr
arrepios de êxtase por sua espinha.
— Adam! — sussurrou ela, sentindo a paixão aumentar. — Adam! Ah, meu
Deus! — estava inteiramente perdida, à mercê dele, sem vontade própria e sem
querer uma vontade própria. Só buscava saber o que ficava no fim dessa louca
espiral de desejo, e conhecer a sensação plena de êxtase junto a ele.
— Está tudo bem, querida — acalmou ele, beijando sua boca molhada,
apaziguando a tensão que sentia, amainando com ternura sua paixão, até que ela
ficou tremendo em seus braços, olhos intrigados e magoados, fixos nele.
— Ainda não chegou nossa hora, Natalie. — Acariciou-lhe o rosto, tirou o
cabelo da sua testa, beijou-a, aninhando-a no colo, como se fosse um bebê.
Ela respirou com dificuldade, ofegante. Esperou o desejo diminuir, mas o
peito nu sobre seu rosto fazia com que estivesse prestes a se afundar num
turbilhão de prazer irracional e imediato.
— É isso, meu amor! — disse ele, rouco, as mãos trêmulas. — Continue
assim, juntinho de mim. Entende porque eu parei, não é? — O olhar azul tomou
todo o seu rosto inflamado de desejo e frustração.
Ela descansou as mãos no seu peito e foi se acalmando. O mundo, devagar,
voltou ao lugar, aumentando seu embaraço por estar nua. Como pôde ele parar?
Como qualquer homem podia parar, depois de pronto a fazer amor com ela, ali,
nua a seu lado?
— Não me olhe assim, Natalie — gemeu ele. — Não é nada fácil para mim,
também.
— Então, por quê...
— Porque quando eu fizer amor com você quero lhe dar toda a minha
atenção, toda a consideração que uma mulher como você deve ter. Se
começarmos um caso agora, vou me esquecer de todo o resto, inclusive da
confusão que a minha irmã está provocando em sua vida. — Ele balançou a
cabeça. — Aquilo não pode continuar, Natalie. Você entende?
Ela estava tentando entender, tentando reprimir o desapontamento com
muito esforço.
— Eu... eu... — Escondeu o rosto no peito dele. — Não, eu não entendo,
Adam, não entendo! — Bateu os punhos nele, descarregando seu ódio em cada
soco.
— Natalie, não faça isso! Por favor, meu amor... — Segurou-lhe as mãos e
reclamou sua boca com um gemido que a silenciou, tirando seu fôlego de novo.
Quando levantou a cabeça, os dois arfavam pesadamente. — Meu Deus, quando
estou com você, desse jeito, esqueço tudo. Só penso em possuí-la, em conhecer
cada milímetro desse corpo de seda — gemeu ele.
— Você já o conhece — caçoou ela rouca e tonta, os sentidos à deriva.
A boca dele se contraiu num sorriso. O homem bruto que encontrara há
uma semana havia sumido, e ela duvidava que lhe aparecesse de novo.
— Conheço, não é? — concordou, abraçando-a pelos ombros. — Você
espera por mim, Natalie? Até resolvermos esse caso de Judith e Jason? Até nos
livrarmos desse problema?
— Aí começamos um caso só nosso. — Os olhos dela brilharam para ele, as
pernas trançadas nas dele, o brim duro machucando sua pele.
— Concorda?
— Concordo. — Ela não recusaria nada a esse homem. Não entendia como
Adam Thornton podia ser o homem de seus sonhos, o homem que a desinibia
completamente. Mas era, e ela não ia lutar contra a atração que tinham um pelo
outro. Queria viver essa situação, boiar ao sabor do desejo, e até abençoar a dor
que viria no fim. Adam havia dito que seria um caso, deixando patente que não a
amava, assim como ela não o amava. Era só um desejo inexplicável e pronto. Ela
o queria.
— Mulher linda! — Abraçou-a com mais força.
— No momento, sou apenas uma mulher gelada — disse ela calmamente.
— Querida! Eu sabia que você ia entrar na minha vida desde a primeira vez
em que a vi. — Ajudou-a a vestir a camisa xadrez e depois puxou-a para o seu
peito novamente.
— Por quê? — Ela se aninhou mais.
— Você foi uma surpresa completa. Não tinha a menor idéia de que a
Natalie Faulkner que eu ia encontrar se parecia com você — murmurou ele.
— Não?
— Procurando elogios?
— E se estiver?
— Você merece. — Alisou sua coxa num carinho. — Você me desequilibrou
no minuto em que a vi.
— Você me fez a mesma coisa, mas por uma razão diferente.
— E qual foi?
— Se comportou de um jeito arrogante, duro, rude...
— Cale a boca! — Adam gemeu, fingindo dor. — Você não era quem eu
esperava. Quando foi ao meu escritório, eu pretendia ter a maior briga com uma
bruxa de cabeça dura, e me deparei com você, feminina, doce e ótima para ir para
a cama.
— Adam! — Deu outro soco de brincadeira no seu peito.
— Mas você é demais mesmo. Quando acabarmos com essa história de
Jason e Judith, vamos nos concentrar em nós.
Natalie fez uma careta de horror, ficou de joelhos aos seus pés, braços em
volta do seu pescoço, a blusa até às coxas.
— Judith ainda tem seis meses de contrato!
— Não vou esperar tanto tempo. Tracy vai saber a verdade antes disso.
— É o que você pensa... — acrescentou ela, lamurienta.
— Vai saber, sim. — Adam puxou-a para o seu peito. — Nunca esperei seis
meses por mulher nenhuma, e não vou começar por você.
Natalie retribuiu ao beijo, abriu os lábios, dependurada no pescoço dele, e
só pensou nas outras mulheres quando ele se levantou para pôr a camisa. Adam
estava com trinta e tantos anos, e não havia se casado. Com certeza tivera muitas
mulheres, centenas delas.
— Em que está pensando?
Olhou para cima e viu-o de testa franzida. — Nada de importante — disse,
alegre.
— Natalie! — avisou ele.
Era impossível disfarçar suas emoções para aquele homem que destruíra
todas as defesas que ela havia construído com tanta dificuldade.
— Você tem muita experiência em fazer amor? — perguntou. Ele parou o
gesto de enfiar a camisa para dentro da calça.
— Tenho. — Continuou a se vestir. — E você?
— Eu... bem... — Ficou sem saber o que dizer. Como contar que era virgem
aos vinte e cinco anos? Ninguém era virgem nessa idade. — Nem tanto quanto
você — disfarçou de leve. — Quem sabe pode me dar umas aulas? — acrescentou,
irônica, as pernas compridas e bem-torneadas sobre o sofá, olhando-o, marota.
— Você apanhou quando era criança?
Ela sorriu, sabendo que ele não estava mais zangado.
— Não muito.
— Pois devia ter apanhado. — Sentou-se ao lado dela, passou o braço por
seus ombros e puxou-a para si. — Talvez eu possa passar um pito — caçoou,
dando-lhe beijinhos no rosto.
— O que foi que eu fiz? — Natalie perguntou, inocente.
— Você fica aí sentada como uma menininha, se gabando de sua
experiência com outros homens — disse, com uma severidade fingida.
Sua experiência! Adam ia levar um susto quando o caso deles começasse!
— O que está se passando atrás desses olhos misteriosos agora? —
brincou, vendo as emoções que sombreavam seu rosto bonito, a aura de
contentamento dela, depois dos carinhos trocados.
Ela o olhou por debaixo dos cílios.
— Não vou lhe contar todos os meus segredos.
— Pois vou conhecê-los todos, Natalie — ameaçou Adam, manso, dando-lhe
um beliscão no queixo. — No tempo certo. — Beijou-a demoradamente na boca.
— Vem jantar no sábado?
Ela escondeu o desapontamento, por ele não querer vê-la no dia seguinte, e
fez que sim com a cabeça.
— Espero que sua irmã goste de mim — disse, preocupada.
— Vai gostar — afirmou ele, confiante, levantando-se para vestir o casaco.
— Jamieson vem pegar você. Meu motorista — explicou, ao vê-la intrigada.
— Ah, mas você não pode...
— Sou o dono da casa, Natalie.
— Claro. Jamieson substitue você muito bem.
— Não. Não é isso. — Adam levantou-a. — Mas prometo recompensá-la no
meu apartamento. — Curvou-a contra seu corpo, beijou-a profundamente,
suspirando de frustração. — Vou mais do que recompensá-la. — Empurrou-a,
decidido. — Jamieson chega às sete e quinze.
— Estarei prontinha a essa hora.
— E eu estarei à espera de rever você.
Natalie queria perguntar porque ele não dava um jeito de encontrá-la no dia
seguinte, se a queria tanto, mas o orgulho a impediu, e ele se despediu, beijando-
a de leve nos lábios.
Natalie foi para a cama devagar, perdida num sonho de euforia, querendo
não estar sozinha, mas com ele. Talvez logo, logo, quem sabe...
CAPÍTULO VII
Natalie não tentou analisar nada. Sabia que não adiantava. Estava
apaixonada, completamente apaixonada por Adam Thornton, independente de
qualquer compromisso da parte dele. Aceitaria o pouco que ele estava preparado
para dar, e por quanto tempo ele quisesse dar.
À tarde, chegaram três dúzias de rosas brancas no escritório, e ela nem
precisou ler o cartão para saber quem as tinha mandado. Não conseguiu conter o
riso ao ler o bilhete, em letra grande e ousada, e telefonou imediatamente para
ele.
— Não mudei de idéia — disse, assim que ele atendeu. — Logo, você não
está maluco.
— Ótimo.
— Gosta de bife? — perguntou, feliz.
— Qualquer coisa serve.
— Eu posso ser a sobremesa. — Era gostoso brincar.
— Ótimo.
Só então ela percebeu que ele não reagia à brincadeira dela. — Adam, tem
alguém aí com você?
— Tem — respondeu, aliviado.
Ela riu, marota, a cabeça leve de tanta felicidade.
— Que interessante! Pretendo usar aquele vestido preto, lindo, sem costas,
quase nenhuma frente e um corte até...
— Natalie! — avisou ele, numa voz agoniada.
— É demais para você, querido? — caçoou ela.
— Neste momento, é. — Ele retomou o tom de negócios.
— E depois?
— Mal posso esperar — ameaçou, com voz rouca.
— Eu também. — Ela riu antes de desligar, e ainda estava rindo quando
Dee entrou na sala.
A outra olhou as rosas, pensativa. Cada botão delicado queria explodir em
flor, como a própria Natalie. E Adam seria sua primavera.
— Está tudo bem agora? — perguntou Dee. Natalie corou.
— Está.
A amiga sacudiu a cabeça, duvidando.
— Quando a gente se apaixona, dizem que as dúvidas se acabam, mas eu
acho que é justamente o começo de todas elas. Depois de três anos, ainda não
conheço Tom direito. Mas é gostoso tentar descobri-lo.
E era mesmo. Ia demorar a vida inteira para conhecer um homem como
Adam. Ela não ia ter tanto tempo, mas faria o possível para aproveitar ao máximo
aquele que tinha.
Natalie estava esperando lá embaixo quando ele chegou, louca para vê-lo de
novo, estar com ele. Foram até o apartamento de mãos dadas. A tensão entre eles
era tão grande que nem conversar conseguiam.
— Meu Deus! — Adam sussurrou junto de sua orelha, meia hora depois, as
roupas deles espalhadas pelo chão, deixando um rastro da sala até o quarto. —
Nunca me senti assim antes — gemeu ele! — Não posso parar de pensar em você,
de ver você! É uma espécie de loucura, mas é delicioso!
Natalie sentia a mesma coisa. Pertencia de corpo e alma a esse homem, e
essa última vez em que estivera nos seus braços sobrepujara tudo o que havia
acontecido antes, o que ela acreditara não ser possível.
— Então estamos os dois loucos, porque também não consigo parar de
pensar em você.
Dormiram nos braços um do outro por algum tempo. Adam foi o primeiro a
se mexer.
— Que horrível acabar com essa noite tão agradável, mas Tracy está nos
esperando às oito, e já são sete e meia.
— Jura? — Natalie se sentou. Já não tinha mais vergonha de sua nudez
diante dele e saiu da cama para o banheiro.
Tomou um banho rápido, vestiu-se, e se sabia bonita no vestido de seda
verde quando Adam a olhou, encantado. Apesar de terem passado no
apartamento de Adam para ele se trocar, chegaram só quinze minutos atrasados
na casa dos Dillman, um bangalô ultra-moderno nos subúrbios de Londres.
Mas ele a avisou: — Não tenho intenção de continuar assim por muito
tempo!
Os Dillman moravam em uma ruazinha sem saída. A casa era bem no fim,
afastada da rua por muitas árvores frondosas. O Mercedes de Jason estava na
entrada, junto de uma caminhonete marrom.
— Tracy geralmente anda com o cachorro dela por toda parte — explicou
Adam.
Uma empregada abriu a porta para eles, e se ficou curiosa ao ver Natalie
com Adam não o demonstrou, levando-os até o saguão. Tracy veio cumprimentá-
los, muito graciosa e elegante num conjunto de linho branco, um sorriso de boas-
vindas nos lábios.
— Jason já vem, já, já. Está no telefone — explicou.
— Sua casa é deliciosa — disse Natalie, sincera, sentindo amor a primeira
vista pela sala quente e confortável, em tons de creme e verde.
— Obrigada.
Estavam todos sentados tomando um drinque, quando Jason chegou,
esportivo, calça e camisa marrom. Imediatamente Adam ficou tenso, e Natalie,
por estar sentada muito perto dele, o sentiu. Sabia que se não fosse o amor pela
irmã, Adam arrebentaria Jason com requintes de maldade.
Foi uma refeição difícil, pois os dois homens mal conversavam. Tracy
continuava imune à tensão que havia à sua volta. Quando dispensou a
empregada e ela própria foi fazer o café, Natalie foi junto, e o velho buldogue as
seguiu. Era uma cadela amiga, chamada Sophia, que adorava Tracy.
— Você e Adam são muito amigos. — Era uma afirmativa e não uma
pergunta.
— É verdade. — Natalie corou.
— Dá para ver como são felizes juntos.
— A sua felicidade também aparece.
A irmã de Adam arrumou as xícaras na bandeja.
— Você acha? — Natalie franziu a testa.
— Não são felizes?
— É claro — disse Tracy de leve. — O que acha que aqueles dois estão
fazendo? — caçoou. — Será que já se agarraram pela garganta? — Seus olhos
brilharam, maliciosos.
— Provavelmente. — Ela riu. — Você não liga? — vTracy deu de ombros.
— Já parei de me importar há anos. Você não é o tipo de mulher que Adam
costuma transar — disse, pensativa. — Não estou falando isso por maldade.
Natalie sabia disso. Tracy dava a impressão de nunca ter feito nada com
maldade na vida. Cada vez gostava mais dela, e a raiva por Jason e a irmã au-
mentava. Tracy confiava no marido, coisa de que ele se aproveitava para traí-la.
— Então Adam tem um tipo predileto?
— Não, não quero dizer que goste só de louras ou ruivas ou qualquer coisa
parecida. — E Tracy riu. — Mas a mulheres dele são do tipo grudento, gênero
gatinhas.
— Como a princesa? — Natalie se lembrava do dengo da ruiva, no teatro.
— Maria? — Tracy arregalou os olhos. — Você a conheceu?
— Não exatamente. Mas eu a vi.
Tracy deu uma risada, mais bonita do que nunca, tendo sua própria casa
como pano de fundo. — Então você sabe o que quero dizer. Maria é o protótipo do
grude. Faz disso sua arte. Você é muito diferente.
Natalie sorriu.
— Sou?
— Sabe que é. Para começar, é mais moça do que as outras, e tem um ar de
independência. Toma conta de seu próprio negócio — acrescentou Tracy, para
esclarecer seu ponto de vista.
Natalie tinha percebido que a outra se interessava muito pela sua carreira.
Talvez os projetos de Adam a respeito da irmã não fossem nada maus.
— Você já trabalhou? — perguntou. Tracy corou.
— Não. Saí da escola quando conheci Jason, e depois que casamos ele não
me encorajou a trabalhar.
Tinha certeza que não. Jason Dillman não gostaria de ver a mulher
independente, com uma carreira própria.
— E não há necessidade — acrescentou Tracy, na defensiva.
— Duvido que Adam precise trabalhar, também.
— Não. — A outra corou. — Mas ele não é do tipo rico e playboy...
— E você é do tipo rica e playgirl? — espicaçou Natalie.
— Não — sussurrou Tracy, — mas Jason nunca me deixou trabalhar fora.
— Hum! — Natalie apertou os lábios. — Bem, talvez você gostasse de dar
um pulo na agência um dia desses e ver como funciona? — Fez o convite da
forma mais de leve que pôde, mas o interesse de Tracy foi enorme.
— Quando? — perguntou, excitadíssima. Natalie deu de ombros.
— Quando você quiser, quando não tiver nada para fazer.
— Amanhã já marquei cabeleireiro e dentista, mas que tal quinta-feira?
— Quinta-feira, o quê, meu bem? — Jason entrou na cozinha, olhou as
duas, curioso, e passou o braço no ombro da mulher: — Adam e eu achamos que
tinham se afogado no café.
Tracy fez cara de culpada.
— Natalie me convidou para conhecer a agência dela na quinta-feira —
informou, firme.
Ele apertou os olhos em direção a Natalie, que nem pestanejou.
— É mesmo? — Natalie concordou.
— Achei que Tracy podia gostar.
— Acho uma ótima idéia — disse Adam, chegando, para alívio de Natalie. —
Vai achar muito interessante, Tracy. — Passou o braço na cintura de Natalie.
— Eu também acho — concordou ela, olhando hesitante para Jason.
— Bem, se você insiste em ir... — Jason deixou as palavras no ar,
desaprovador.
Natalie achou difícil ficar quieta ao ver a luta que se travava dentro de
Tracy, que percebeu a desaprovação do marido, mas a tentação de ver a agência
era maior.
— Depois levo vocês duas para almoçar — ofereceu Adam.
— Ah, seria tão bom! — a irmã aceitou, feliz.
Jason não achou graça nenhuma e ficou calado o resto da noite.
Chantagem emocional, concluiu Natalie, mas Tracy não deu o braço a torcer.
— Foi uma ótima idéia sua, querida. — Adam guiava o Porsche sem esforço
nenhum, e tirou uma das mãos do volante para apertar a dela. — Jason não
gostou nem um pouquinho — acrescentou, satisfeito.
— Felizmente Tracy adorou.
— Só porque admira você, meu anjo — disse, orgulhoso. — Como eu
admiro.
— Não foi o que Tracy me falou. — Adam franziu a testa.
— O quê? Tracy nunca magoou ninguém na vida!
— Ainda não! — tranqüilizou-o. — Mas me disse que você gosta de gatinhas
pegajosas e não de mulheres como eu.
— Ela falou isso?
— Hum, hum. Gatas como a princesa.
— Eu disse a você que Tracy não gostava dela. — Ele riu.
— Nem eu. — E Natalie também riu.
Ele estacionou o carro atrás do M.G., fora do prédio, e veio abrir a porta
para ela.
— Você é muito grudenta também, querida — disse, ao entrarem de braço
no corredor. — Só que nas horas certas — murmurou no seu ouvido.
— Adam! — Ela ficou vermelha.
Ele trancou a porta do apartamento, aliviado, isolando-os do resto do
mundo para tomá-la nos braços.
— Achei que nunca mais ia tê-la só para mim — gemeu ele, distribuindo
beijos febris no seu pescoço.
Natalie sentia a mesma coisa, e não perderam tempo para mostrar um ao
outro o quanto se queriam.
Natalie ficou deitada na cama depois que ele se foi, feliz demais para se
mexer. Os dois últimos dias tinham sido maravilhosos e já sentia falta de Adam.
Fisicamente, eram um par perfeito. Apesar de sua inexperiência, dava tanto
prazer a Adam quanto ele lhe dava, e um simples toque dele a arrepiava toda de
desejo. Nas últimas trinta e seis horas não se cansara dele, e naquele momento
ainda queimava de vontade de vê-lo de novo.
Quando a campainha tocou ela mordiscava, distraída, uma torrada. Devia
ser Adam, que não conseguira deixá-la também!
O sorriso desapareceu de seus lábios ao abrir a porta. Era sua irmã.
Natalie fechou o roupão, apertando-o mais ao sentir o olhar irônico de Judith,
que avaliava seu aspecto sonolento, o cabelo despenteado e nenhuma
maquilagem. Era assim que Adam gostava dela, mas Judith olhou-a, sarcástica.
— Dá para entrar? — perguntou à irmã.
— Mas é claro. — Natalie corou, feliz por Adam já ter ido embora.
Judith observou a sala, interessada, e foi para a cozinha onde se sentou
numa banqueta.
— Ainda tem café? — Olhou o bule. Natalie serviu uma xícara, com a mão
trêmula.
— Açúcar?
— Sabe que nem chego perto. Você parece nervosa, Natalie.
— Não seja boba. — Sentou-se, evitando o olhar da irmã. — Por que eu
estaria nervosa?
— Não sei. Talvez tenha alguma coisa a ver com o fato de que se eu
chegasse dez minutos antes encontraria Adam Thornton na escada.
— Não seja boba, Judith.
— Boba? — ironizou a irmã. — A única coisa boba que fiz ultimamente foi
achar que minha irmã mais velha era pura e doce, e, enquanto isso, ela estava
dormindo com Adam Thornton!
— Eu...
— Papai e mamãe falaram tão bem de você a semana inteira, que até
acreditei neles. Sabe, nenhum de nós sequer sonhou que você estava transando
com Thornton. — Seu rosto endureceu. — Até briguei com Jason quando ele me
contou.
— Jason! — disse Natalie, nauseada. Os olhos de Judith brilharam,
furiosos.
— Não seja tão dona da verdade, Natalie. Agora sei que não é nada melhor
do que nós.
— O que quer dizer com isso?
— Jason me contou por que você está indo para a cama com Adam. Sei que
têm saído sempre juntos. Estava falando no telefone com Jason, na quinta-feira,
quando você chegou na casa dela para jantar.
— Na própria casa dele!
— E por que não?
— Se não sabe, não vou lhe dizer! — Tracy podia ter escutado aquela
ligação. Era só pegar o telefone por acaso, mas Judith nem se importava.
— Deixe de bancar a santinha, Natalie! Você está dormindo com esse
homem só para melhorar os negócios de sua agência e...
— O que foi que disse?
— Cresça, Natalie — caçoou Judith, levantando-se. — Está transando com
Adam só para ele não arruinar sua adorada agência. Eu sei, você sabe, e aposto
que ele também sabe.
— Saia daqui! — ordenou Natalie, trêmula. — Saia e nunca mais ponha os
pés aqui.
— Ah, já vou indo! Só queria que soubesse que não está enganando
ninguém com esse seu comportamento de duas caras. Nós todos sabemos quem é
você.
— Saia já!
A irmã saiu, sem que ela notasse uma dor que nunca sentira antes
rasgando seu corpo. Não se importava com que Judith pensava, com o que Jason
Dillman pensava, mas será que Adam podia imaginar que... Meu Deus, preferia
morrer se ele também achasse que ela tinha ido para a cama com ele só para não
perder os contratos de sua agência.
CAPÍTULO VIII
Na manhã seguinte, Natalie foi trabalhar com seu próprio carro, pois tinha
um encontro marcado. A noite nos braços de Adam tinha passado depressa
demais e, apesar de terem dormido pouco, não se sentia cansada. O amor dele a
revitalizava. Separaram-se com pesar e, como sempre, Natalie foi incapaz de
recusar quando ele disse que viria para seu apartamento à noite.
— Você consegue se virar sozinha? — perguntou, preocupada, a Tracy,
antes de ir para a reunião. — Não vou demorar mais do que uma hora.
— Não se apresse por minha causa — disse ela, tranqüila. — Dou conta do
recado.
— Dee vai ficar furiosa quando descobrir que não fez tanta falta. — Natalie
riu.
A outra sorriu.
— Mas ela não precisa se preocupar comigo. Não pretendo trabalhar o dia
inteiro fora.
— Mas está se divertindo?
— Muito.
— Já pensou em trabalhar outra vez?
— Sempre penso. Mas Jason não quer.
— Mas, como você mesma disse, isso não traria inconveniente a ele.
Natalie procurou falar tudo com bastante calma, mas sua vontade real era
esganar Jason Dillman pelas restrições que impunha à sua jovem mulher. Não
era de admirar que Adam tentasse ajudar a irmã.
Assistia a essa chantagem emocional há sete anos! Um casamento devia se
construir na base de uma troca e respeito recíprocos, e os dois parceiros deviam
dar opinião nas decisões que pudessem afetar o casamento.
Nenhum homem tinha o direito de abafar a personalidade da mulher,
impedindo-a de exercer uma profissão, ainda mais não havendo crianças que
necessitassem de cuidados.
— Ele trabalha o dia inteiro. — Tracy mastigou o lábio inferior. — Ainda
estou pensando no assunto.
— Então pense mais — encorajou Natalie. — Nunca se sabe quando a sorte
vai bater na nossa porta.
— Puxa! Está ficando parecida com Adam! — A outra fez uma careta.
— Jura?
— Está mesmo.
— Tenho que ir andando — olhou o relógio, — senão chego tarde.
— Vejo você depois — concordou Tracy.
Foi uma longa reunião, onde se discutiu um de seus modelos masculinos,
que aparecia em uma série de anúncios de loção após-barba. O homem em
questão pedia uma quantia, o cliente se recusava a chegar ao preço, e ficaram
nesse impasse. Já estavam há uma hora nessa lenga-lenga, mas Natalie sabia
que no final o cliente concordaria. Daniel Jerome era o tipo ideal para esses
anúncios: alto, moreno, bonito, um corpo que todo homem sonha ter. Daniel
sabia o quanto valia; felizmente, o cliente também, de modo que chegaram a um
acordo. Natalie voltou para o escritório com a sensação de ter sido passado numa
máquina de torcer roupa... duas vezes.
Foi com certo alívio que chegou na agência. Mas, para seu espanto, Tracy
não estava na recepção. Estava um pouco atrasada para o almoço da outra, mas
sabia que ela não deixaria o escritório sozinho.
Quando entrou na sua sala descobriu a razão da ausência de Tracy. Judith
estava sentada numa cadeira, fazendo espirais de fumaça, que soprava para o
teto com a cara mais entediada do mundo.
Natalie bateu a porta com força.
— O que está fazendo aqui? — Judith virou-se para ela devagar.
— Bons modos para cumprimentar sua irmãzinha, querida! Papai e mamãe
estão chocados.
— Não vamos falar em papai e mamãe agora — explodiu Natalie.
— Não?
— Não! — Estava ficando cada vez mais zangada com o comportamento de
Judith. — Onde está Tracy? — perguntou, aflita.
— Foi embora — informou Judith calmamente.
— Foi para onde?
A irmã sacudiu os ombros, desinteressada.
— Para casa. Para a casa de uma amiga. Como é que eu vou saber para
onde foi?
— Mas você sabe, Judith. — Inclinou-se sobre a mesa, os olhos faiscando
de raiva. — O que disse a ela? O que disse para que ela se fosse tão de repente?
— Natalie!
— Vá para o inferno, diga onde ela está!
— Muito bem. — Judith se levantou. — Disse a verdade a ela. A pura
verdade.
— Qual? — explodiu Natalie.
— Que Jason e eu somos amantes há meses. Que ele me ama e que não
gosta dela.
Natalie achou que ia desmaiar.
— Falou isso... para ela?
— Falei! Estava na hora de ela saber e dessa charada chegar ao fim. Quero
Jason o tempo todo e não só quando...
— Onde Tracy está agora? — Não estava interessada em conhecer as
vontades de Judith.
Judith deu de ombros, ao ver que a irmã não a compreendia.
— Foi embora.
— Disse para onde ia?
— Não. Olhe, eu não quero...
— Não me interessa o que você quer ou não — disse Natalie, enojada. —
Você é uma sem-vergonha, egoísta, que merece toda a infelicidade que vai lhe
chegar com o tempo. Mas Tracy não. Se ela fizer qualquer besteira...
— Besteira? — a irmã repetiu, tonta. — Quer dizer... suicídio?
— É possível. Você acabou de lhe dizer que ela está vivendo com um marido
infiel. Se acontecer qualquer coisa a Tracy, Adam Thornton vai pegar você pelo
pescoço!
Sem falar no pescoço dela, Natalie. Meu Deus, onde estaria Tracy?
CAPÍTULO IX
— Posso entrar? — perguntou uma voz tímida. — A porta estava aberta e...
— Tracy! — exclamou, com a voz presa na garganta, ao ver como a moça
tinha mudado desde o dia anterior. Sempre fragilmente bela, Tracy parecia,
naquele momento, de porcelana, o rosto lívido, os olhos enormes e fundos. De
repente, Natalie se lembrou. — Meu Deus, Judith...
— Escutei a conversa de vocês duas e não entrei para não atrapalhar.
Ela engoliu em seco.
— Escutou o que dissemos?
— Escutei. Escutei tudo sobre Jason.
Natalie umedeceu os lábios, nervosa, e se levantou.
— Judith falou por falar. Não vai mais dar trabalho. Jason nunca vai deixar
você.
— Acha que não?
— Não — disse com segurança, certa de que Adam tomaria as providências
para que isso não acontecesse.
— Espero que esteja enganada, Natalie. Espero, sinceramente, que esteja
enganada.
Natalie pestanejou.
— Por quê?
— Porque se eu tiver que passar mais um dia de minha vida com Jason,
fico louca!
CAPÍTULO X
Já eram quase dez horas quando a campainha tocou, avisando-a que ele
tinha voltado. Já tinha até desistido da idéia de vê-lo ainda naquela noite.
Ele tinha passado em casa e vestido uma calça de brim e uma camisa
justa, marron. O cabelo estava lavado e brilhante, a barba bem-feita. Natalie se
sentiu desarrumada perto dele, com aquela calça amarrotada, o rosto limpo, o
cabelo despenteado.
— Como está Tracy? — perguntou, quando se sentaram.
— Em frangalhos, mas serena. Vai levar muito tempo para se recuperar
desse casamento com Jason, mas, no fim, acho que vai dar tudo certo.
— Tenho certeza disso — concordou Natalie, muito confiante na força de
caráter da outra.
— Eu pensava mesmo que ela o amava. Não entendia como, mas...
— Eu sei.
— Nunca teria feito que vivessem juntos, se não estivesse tão enganado. Vi
Jason — acrescentou, pesadamente.
— E daí?
— Está desestruturado. Ele também pensava que Tracy o amava. Mas não
pensa mais. Não sei o que deu em mim, mas tive um enorme prazer em lhe dizer
com detalhes o que Tracy acha dele.
— Lógico, você é irmão dela — disse Natalie. — Nem sei como agüentou
tantos anos.
— Por incrível que pareça, no fim tive pena dele.
— Não precisa ter pena. Acha que ele vai voltar para Judith? — Era o que,
sua irmã esperava.
— É possível. O que é que você acha? De certo modo são parecidos.
— Eles se merecem. É o que você quer dizer, não é?
— E você e eu? — Sentou-se na ponta da cadeira. — Nós dois nos
merecemos?
Ela ficou tensa, por ele falar neles como se fossem um casal. Não eram,
nunca tinham sido. Partilhavam de um desejo que nenhum dos dois podia negar.
— Acho que não. — Desviou os olhos.
— Não faça isso. — Sentou-se à sua frente, no chão. — Não me dê o fora
outra vez, Natalie — implorou.
Ela endureceu o coração.
— Por que não? Você se afastou de mim primeiro.
— Ah, meu Deus! — gemeu ele, com os olhos faiscantes. — É, eu me afastei
de você — admitiu, vencido. — Porque, pela primeira vez na minha vida, eu
estava apaixonado e não sabia como lidar com essa emoção. Nunca uma mulher
se entregou a mim como você. Não sabia como aceitar esse amor que me chegava.
Quando o caso de Tracy estourou, senti-me traído por você.
Natalie estava sufocada.
— Apaixonado? — Só aquilo importava, no momento.
— É — admitiu ele, sardônico. — Amo-a tanto que nem consigo pensar
direito, o tempo todo.
— Mas você nunca disse...
— Não. É verdade. Sabe, nunca tive certeza de seus sentimentos. Quando
fizemos amor e descobri que era o primeiro, achei que devia significar alguma
coisa para você. Você falou que me amava e...
— Então, escutou! — Ela ficou vermelha.
— Escutei — disse, mansamente. — Mas não sabia se você queria mesmo
dizer que me amava ou se era uma manifestação do prazer que sentíamos ao fazer
amor. Você nunca repetiu.
— E você nunca me disse!
— Estou dizendo agora — afirmou, calmo. — Amo-a tanto, Natalie, que não
posso viver sem você. Nunca me apaixonei antes, e não confio muito nessa
emoção...
— Como não confia em mim — lembrou ela, amarga. Adam se levantou, os
ombros caídos, pronto para sair.
— Feri você demais, não foi? — murmurou.
— Desconfiou demais — corrigiu ela, rouca. — Como pode amar alguém, se
não acredita em uma palavra do que essa pessoa diz?
— Não sei — respondeu ele, inexpressivo, o rosto marcado. — Mas eu amo
você e preciso de você.
— Já sou sua, Adam. Você é que não me quer mais.
— Disse aquilo num momento louco, de raiva!
— Mas disse.
— Você também me disse coisas de que se arrependeu depois. Sempre
acreditei que nunca é tarde demais para pedir desculpas a alguém. E estou
arrependido, Natalie. Por que não acredita em mim?
Ela acreditava, ele jamais se humilharia daquela maneira se seus
sentimentos não fossem verdadeiros. Mas amar não era o suficiente. Era gulosa, e
o queria todo, inteiro.
Adam achou que o silêncio dela dizia tudo.
— É melhor eu ir embora, então — murmurou.
— Está certo — sussurrou ela, sem saber como agüentar a partida dele.
— Eu daria um bom marido, Natalie. Você é a única mulher que amei. E se
não posso tê-la, não vou querer mais ninguém.
Natalie ficou atônita com a palavra usada por Adam. Marido... Ele queria
que ela fosse sua mulher!
— Eu a amo — disse ele, do fundo da alma. — Eu a amo de ver dade. —
Virou-se para ir embora.
— Adam! — Pulou da cadeira e correu para ele. — Você disse a palavra
marido?
Ele franziu a testa.
— Disse.
— Mas para ser marido é preciso casar. — Ele concordou.
— É o costume, não é?
— E para ser meu marido tem que se casar comigo — teimou ela,
impaciente.
— Não consigo imaginar outro jeito.
— Nem eu!
A expressão dele se desanuviou.
— Está me pedindo em casamento, srta. Faulkner?
— Não, eu...
— Ora essa! — A tensão foi-se embora e ele começou a rir. Abraçou-a,
puxando-a para junto de si. — Está bem, Natalie. Vou pedi-la. Quer se casar
comigo? — Ficou sério, de repente.
— Quero! — Enlaçou seu pescoço com os braços. — Ah, eu quero muito! —
Faiscava de amor. — Eu o amo, eu o amo, eu o amo! — Cobriu seu rosto e seu
pescoço de beijos.
Adam riu, exultante.
— Acho que gosta mesmo de mim.
— Ah, se gosto!
— O bastante para se casar na semana que vem?
— O bastante para me casar a qualquer hora. — Ele apertou-a mais.
— Seria já, se desse. Infelizmente não dá.
— Não tem importância. — Olhou-o, amorosa. — Fique comigo até que nos
casemos.
Ele sacudiu a cabeça, antes que ela parasse de falar.
— Devo a você uma noite de núpcias digna, uma noite de núpcias legal —
beijou-a de leve na boca, — e vai ter uma, prometo. Fui tão bobo, você é
exatamente o que eu pensava: bonita, inteligente...
— Calculista... — caçoou ela.
— Não faça isso! Detesto ser idiota, e foi o que mais fui para você.
Natalie acariciou seu queixo.
— Lembro-me de várias ocasiões em que foi até muito esperto.
— Não me tente. — Empurrou-a, decidido. — Da próxima vez em que fizer
amor com você, será com uma aliança no seu dedo para o resto da vida.
Mais tarde, pôs a cabeça no ombro dele, fazendo desenhos no seu peito
com a unha, apreciando o calor de sua pele. Morton havia se tornado muito hábil
em desaparecer nos últimos dez meses, e Natalie corou, ao pensar que grande
parte desse tempo ela e Adam tinham passado juntos, na cama.
— É melhor aproveitar bem. — Riu para ele. — Logo, logo, não vamos poder
passar a hora de almoço na cama.
— Não. — Adam contornou a barriga dela com a mão, acariciando a
gravidez de cinco meses, que já aparecia no corpo esguio. — Tem só uma coisa. —
Levantou a sobrancelha.
Ela estava satisfeita, relaxada, sorrindo. — O quê?
— Acho que está na hora de mudar o nome dessa agência. Se eu a chamo
de srta. Faulkner e responde, o que vão pensar quando virem essa barriga?
— Que tenho um amante muito viril! — Adam riu.
— Na verdade tem é um marido obcecado por sexo!
— É isso mesmo. — Riu com ele. — Além disso, Adam Thornton já tem o
monopólio de muita coisa por aqui, e não precisa controlar minha agência.
Ele rolou na cama e segurou-a.
— Tenho monopólio sobre você?
— Não, não tem mais. Logo seu filho ou sua filha terão um bom pedaço de
mim.
— Se for a única competição, não me importo. — E começou a beijá-la.
Natalie se deslumbrava com o amor apaixonado que ainda sentiam um pelo
outro, depois de quase um ano de casamento. Logo teriam uma criança, como
resultado daquele amor. Talvez estivesse mesmo na hora de mudar o nome da
agência para Thornton. Ia continuar dirigindo a agência como consultora, mesmo
depois que o bebê nascesse. Dee passaria a administrar tudo, com o auxílio de
uma secretária.
Adam lhe tinha dado tudo: o orgulho de ser sua mulher, e a honra de lhe
dar um filho. E tudo isso sem acabar com a sua independência, o que a ligava
ainda mais a ele. É... Adam era um homem inteligente, que a conhecia mais do
que ela própria, prendendo-a com um amor que crescia a cada dia que passava.
Fim