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O Poder da Paixão

Private lives
Carole Mortimer

Antes de conhecer Jake, Fay jamais imaginou qual era o poder e a força
de uma paixão!
Fay estava mais do que acostumada a resolver problemas, pois dirigia uma
pequena empresa de prestação de serviços domésticos. Mas encontrar um homem nu
na cama de uma de suas clientes foi algo realmente fora do comum.
Depois disso, sua vida calma virou de cabeça para baixo. E seu coração
enlouqueceu, apaixonado. Mas quem era Jake Danvers? Misterioso e amargurado, não
podia ser o homem certo para ela. Lutar contra a atração que sentia por ele parecia
um problema insolúvel.

Digitalização: Rita
Revisão: Ana Ribeiro
Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer

CAPÍTULO I

Fay afastou o telefone do ouvido e observou-o, confusa. Tornou a encostá-lo


na orelha, ainda duvidosa de que ouvira bem.
— Fay, você está me ouvindo? Claro que está, porque a maldita secretária
eletrônica não atendeu — prosseguiu a mulher, no outro lado da linha. — Eu disse que
vi um homem na cama!
— Edna, é você?
— Claro que sou eu!— respondeu a interlocutora num murmúrio, onde era
possível detectar um início de pânico. — O que acha que devo fazer? Chamar a polícia?
— Não se precipite. Fale com calma.
— Entrei no chalé de Gail para a averiguação de costume e vi um homem na
cama! Estou ligando da sala e ele está lá em cima, no quarto! O que devo fazer?
— Saia e tranque a porta — aconselhou Fay tranqüilamente, decidida a cuidar
do caso pessoalmente.
Já fizera um bocado de coisas incomuns naqueles dois anos, desde que se
iniciara no negócio. Passara por todo os tipos de situações embaraçosas e encontrar o
namorado na cama com uma cliente não fora a pior delas.
Tudo começara quando ela comprara um velho furgão e o pintara com cores
berrantes, entrando no negócio de "ajuda doméstica". A partir de então, pegara todos
os serviços que aparecera. Não desprezara nenhum, nunca considerara um trabalho
muito grande, difícil ou pequeno demais.
Não tinha muita certeza de que seus serviços tinham sido plenamente
satisfatórios em todas as ocasiões, mas esforçara-se para isso. Sempre encontrara
pessoas habilitadas para consertos, faxinas, compras e entregas.
Ela própria muitas vezes levara cachorros para passear, fora buscar crianças
peraltas na escola e levara idosos ao médico. Além de tudo isso, mantinha casas sob
vigilância, quando os donos ausentavam-se. Era esse o caso do chalé de Gail Moore,
onde Edna encontrava-se no momento.
Além dos prestadores de serviços autônomos a que recorria em casos de
necessidade, contratara duas auxiliares: Brenda, uma jovem recém-saída da escola, e
Edna, uma mulher de mais ou menos cinqüenta anos.
Brenda não quisera empregar-se num escritório, por odiar monotonia e
acertara em cheio, porque na firma de Fay o trabalho podia ser tudo, menos monótono.
Edna fugira da solidão do lar. O marido ficava fora de casa o dia todo, trabalhando, e
os filhos ou tinham casado ou ido para outras cidades, estudar.
O primeiro trabalho de Edna, naquela manhã, fora ir verificar se tudo se
encontrava em ordem na casa de Gail, que ficava cinco dias da semana em Londres,
onde era atriz de teatro. Provavelmente Gail voltara antes, com um amigo, e esquecera
de avisar para que suspendessem a visita matinal.
— Você não entendeu, Fay! — reclamou a auxiliar. — Como posso sair e deixar
esse homem na casa de Gail? Ela não está aqui!

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— Não? Pode ser que ela tenha emprestado a casa a esse homem e esquecido
de nos avisar. Por que não pergunta a ele?
— Muito simples, minha querida. Ele está bêbado! O quarto fede a uísque e vi
uma garrafa vazia e um copo ao lado da cama.
Se for assim, o caso mudava de figura, pensou Fay. Mas ainda relutava em
chamar a polícia, um recurso extremo. Se o homem fosse amigo de Gail, a moça ficaria
furiosa.
— Vou até aí, Edna. Calma.
— Não posso sair e deixá-lo na casa, Fay! E nossa obrigação...
— Eu sei qual é nossa obrigação, Edna. Saia do chalé e espere no jardim, perto
da bicicleta, para poder fugir e chamar a polícia, se for necessário.
— Está bem, mas não demore. Tchau.
Fay pousou o telefone no gancho e acionou a secretária eletrônica. Acabara de
chegar na agência e pelas piscadas contínuas da máquina devia haver muitos recados.
Ficou ouvindo. Uma mulher queria que ela fosse comprar flores e as levasse ao
hospital, para uma amiga. Um homem avisou que ligaria mais tarde, explicando que
precisava de alguém que pregasse botões em suas camisas.
O terceiro recado pegou-a de surpresa, produzindo o efeito de uma bomba.
Era de Delia, a secretária do grupo de teatro amador a que Fay pertencia. Comunicava
que o diretor, Gerald Dunn, caíra em depressão e retirara-se do grupo, o que exigia
uma reunião dos participantes para o dia seguinte, quarta-feira.
— Na minha casa, às oito da noite em ponto — a mulher concluíra a mensagem
com a voz autoritária de costume.
Na noite anterior, Fay saíra com Derek. A mãe e o padrasto tinham ido a um
jantar da igreja e por isso Delia não conseguira falar com ninguém. E a reunião do
grupo teatral era naquele dia!
Derek não ia gostar nada de saber que ela estaria ocupada. Como não haveria
ensaio, ele planejara levá-la a um restaurante italiano que fora inaugurado pouco
tempo atrás. Não adiantava sugerir que fossem depois da reunião, porque a
deliberação sobre quem deveria substituir Gerald levaria horas, com certeza.
Apenas três semanas antes da estréia da peça no teatro local, ficavam sem
diretor! Fazia um mês que Gerald não estava bem. Perdera o emprego e ficara
extremamente preocupado com a demora em encontrar outro, tendo esposa e um bebê
para sustentar. Esse fato, juntamente com a tensão causada pela responsabilidade de
dirigir o grupo, fora demais para ele.
Tinham de ser compreensivos com ele. Claro, a situação ficara
verdadeiramente difícil para a companhia amadora, mas uma depressão nervosa era
algo que podia acontecer a qualquer um.
Fay pensou na peça de Noêl Coward que encenariam, Vidas Privadas, altamente
satírica e destinada a fazer sucesso. Estava entusiasmada, como todos os outros
atosres. Derek, porém, não estava nada satisfeito com o fato de os três ensaios
semanais estarem prejudicando o relacionamento dos dois. Ficaria possesso, quando
ela contasse que a partir da semana seguinte seriam cinco ensaios durante a semana e

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um no domingo à tarde.
No entanto, no momento, outros problemas requeriam sua atenção. Não era
hora de pensar em Derek ou no elenco em dificuldades. A pobre Edna encontrava-se a
sua espera, no jardim da casa de Gail, apavorada com a idéia de que um bêbado
apossara-se da cama da cliente. Pegou a bolsa e correu para fora do escritório em
direção ao furgão que substituíra o antigo. Era um veículo muito mais moderno e
confiável que o outro, que tinha o péssimo costume de apresentar defeitos nos
momentos menos adequados,
Era sempre com prazer que ela saía à rua para executar qualquer tarefa.
Depois dos tempos duros do início, tivera de dedicar-se à parte administrativa,
ficando cada vez mais entre as quatro paredes do escritório. Quando reclamava,
Derek que era seu contador, além de namorado, dizia que era assim que tinha de ser
para o bom andamento dos negócios.
Precisava contentar-se com o passeio diário que fazia com um cachorrinho
basset, que o dono, um senhor de idade e doente, recusava-se a deixar nas mãos de
outra pessoa.
Aquela ida ao chalé de Gail era um verdadeiro presente. Teria uma boa
desculpa para ficar umas duas horas fora da "cadeia". Só esperava que o intruso
beberrão não fosse violento.
Encontrou Edna sentada no muro baixo de pedras que cercava o jardim, com a
bicicleta do lado. Olhando de fora, a casa parecia em perfeita paz. Era início de verão
e os canteiros exibiam flores de todas as cores. Uma roseira subira pelo arco do
alpendre, contornando-o com seus cachos de flores miúdas num tom rosado bem claro.
A idéia de que um maníaco surgiria pela porta, pronto para atacá-las era uma
idéia ridícula para Fay. Nada de grave poderia acontecer num cenário tão romântico e
tranqüilo.
Edna não parecia tão certa disso, seguindo-a pela trilha que contornava a casa
até a entrada dos fundos.
— Talvez eu devesse ter tentando acordá-lo — comentou.— Mas...
— Não — Fay interrompeu-a. — Fez a coisa certa, me chamando.
Num gesto meio incoerente, passou a mão pelo cabelo ruivo, como se fosse
encontrar uma pessoa muito especial. Aprumou-se, tentando parecer mais alta do que
era, embora soubesse que não assustaria ninguém com sua altura de um metro e
cinqüenta e seis.
Além disso, tinha a desvantagem de não aparentar que já completara vinte e
um anos. Devia estar parecendo uma adolescente, esbelta como era, com sardas suaves
no nariz e nas faces, sem maquilagem, de jeans, camiseta e tênis.
— O que acha que poderá fazer, se o homem tentar agredi-la? — perguntou a
auxiliar, como que lendo seus pensamentos.
— Não se preocupe. Fiz um curso de defesa pessoal. Quando comecei a
trabalhar, alguns homens faziam uma certa confusão a respeito dos serviços que eu
prestava.
— Vou entrar com você — declarou a mulher mais velha.

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— Não é necessário, Edna — replicou Fay com uma risadinha.
Mas não protestou, quando a companheira entrou com ela na cozinha acolhera
com teto de vigas aparentes.
Tudo parecia em ordem. Nada sujo, nada quebrado, nenhuma cadeira fora do
lugar.
Andando sem fazer barulho, as duas passaram para a sala e começaram a subir
a escada de madeira para o andar superior, onde havia dois quartos e um banheiro.
No topo, Fay hesitou e Edna, que subira colada em suas costas, trombou com
ela.
— Desculpe — murmurou. — Ele está no primeiro quarto. E estava mesmo.
Deitado na cama de casal, larga e convidativa, o estranho dormia de lado, ressonando
calmamente.
Na penumbra do quarto, cujas janelas continuavam fechadas, Fay notou que o
intruso cobrira-se com a colcha até a altura do peito. Dava para perceber que era
forte e alto. O cabelo farto e escuro contrastava intensamente com a fronha branca
do travesseiro. O cheiro de uísque era mesmo insuportável, como Edna dissera.
A presença delas no aposento não perturbou o homem, que continuou dormindo.
Se ele fosse alguém conhecido, a situação seria cômica, mas tratando-se de um
estranho o fato preocupava.
Fay decidiu que ela e a companheira tinham todo o direito de exigir uma
explicação. Foi até a janela, puxou as cortinas e abriu as folhas de madeira, deixando o
sol jorrar para dentro com todo seu brilho.
A única reação do invasor foi rolar de bruços e enterrar o rosto no
travesseiro. Fay olhou para Edna, que parara perto da porta. A auxiliar deu de ombros,
sem mover-se do lugar.
— Acorde! — ordenou Fay, pondo a mão no ombro do homem, sacudindo-o com
força.
Não aconteceu nada.
— Acorde, vamos — ela insistiu. — Precisamos conversar. O estranho grunhiu e
puxou a colcha para cima do ombro.
— Situações graves requerem medidas drásticas — declarou Fay, puxando a
colcha para baixo.
Edna soltou um gritinho.
— Oh! Que horror! — exclamou. — O homem está nu! Fay olhava para o corpo
do qual só podia ver a parte de trás, como que hipnotizada por aquela exibição de
masculinidade. Costas largas, cintura estreita, nádegas firmes, pernas compridas e
musculosas, tudo coberto por uma fina camada de pêlos escuros.
As duas mulheres entreolharam-se, quando o homem não se mexeu. De súbito
sorriram, como duas adolescentes travessas. Mas alarmaram-se no instante em que ele
começou a mexer-se, talvez finalmente incomodado pela luz do sol. Virou-se de costas
e Edna abafou uma exclamação de susto, mas também de admiração.
Como que enfeitiçada, Fay examinou o intruso. Lindo como o Davi de
Michelangelo. Mas não era esse o principal motivo de sua atônita observação.

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Não podia ser ele! Qualquer outro, menos ele! Estavam na pacata
Bedfordshire, a quilômetros de Londres! "E para que servem os trens, que ligam as
duas cidades?" perguntou uma voz perversa em sua mente. Os expressos tinham
encurtado enormemente à distância. Tanto que, muitas pessoas, como Gail, por
exemplo, tinham escolhido viver na sossegada Bedfordshire e continuar trabalhando
na capital.
Mas não era ele. Não podia ser, de jeito nenhum. Quanto mais olhava para o
rosto do homem, mais Fay convencia-se de que devia estar enganada. Tudo não passava
de mera semelhança física.
Na claridade do sol, ela viu que o cabelo basto e escuro, com algumas mechas
grisalhas nas têmporas, chegava quase até os ombros largos e musculosos. Cílios longos
roçavam as faces que pareciam esculpidas em granito, o nariz reto dava uma aparência
nobre ao rosto e a boca perfeitamente cinzelada era forte e sensual. Nem o sono
conseguia amenizar o ar agressivo do queixo quadrado.
Não podia ser ele. O homem na cama de Gail era mais velho. "Naturalmente,
estúpida", Fay ralhou consigo mesma. Se for quem ela pensava que fosse, só tinha de
estar mais velho, beirando já os trinta e nove anos.
Edna aproximou-se da cama e cobriu-o com a colcha.
— Não é justo ficarmos olhando para a nudez desse homem, quando ele está
tão indefeso — comentou em tom de reprovação.
O estranho mexeu-se de novo. Edna recuou. Ele abriu os olhos e fixou-os no
rosto de Fay. Ela não poderia sair do lugar, mesmo que quisesse. Paralisada, viu os
incríveis olhos azuis, da cor da água-marinha, com um anel mais escuro ao redor das
íris.
Ele piscou várias vezes, parecendo aturdido, como se tomasse consciência de
que fizera algo errado.
— Quem é você? — perguntou.
Fay quase riu, apesar da perplexidade. Era ela que devia fazer as perguntas,
que tinha o direito de querer saber o que ele estava fazendo na casa de Gail. Isso, e
muito mais.
— Duende — respondeu.
— Oh, droga! — ele resmungou, empalidecendo. — Não acredito que isso esteja
acontecendo comigo! Muita gente, depois que bebe, vê elefantes cor-de-rosa. Eu tinha
de ver um duende!
Edna riu e ele virou a cabeça na direção dela.
— Outro! — exclamou, passando a mão no rosto. Fay prendeu o riso. Ele
pensava mesmo estar sendo vítima de uma alucinação. Ela e Edna, duendes! Essa era
muito boa.
— Acho que não me expliquei bem — admitiu. — Sou da firma Duende.
— Quê? — o homem grunhiu, esfregando os olhos.
— Duende é o nome da minha microempresa.
— E mesmo? — ele murmurou, preparando-se para sair da cama.
Então, ao erguer a colcha percebeu que estava sem roupas e baixou-a rapidamente

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sobre o corpo.
Fay olhou para o jeans jogado no chão. Pegou-o e procurou outras peças: cueca
e camisa, no mínimo. Achou uma sunga sumária e uma camiseta embaixo da cama.
— Pegue — ordenou secamente, jogando-as em cima dele.
Juntou-se a Edna e as duas olharam para a porta, deixando-o à vontade para
vestir-se.
— Pronto — ele anunciou, alguns instantes depois. Elas se viraram. Ele se
encontrava de pé, ao lado da cama. Era muito alto, realmente, e, quando foi até a
janela, moveu-se com a graça de um felino. Fay achou-o lindo, comparando-o a um
tigre.
— Pode ver meu furgão lá fora — comentou. — Tem uma paisagem onde passeia
um duende, pintada nas laterais. Só poderá ver uma, claro, mas a outra é igual.
Ele se virou para ela, olhando-a dos pés a cabeça, de modo despudorado, que a
fez sentir-se nua.
— Quem é você, se não é um duende de verdade? O que está fazendo aqui?
Ela se empertigou para livrar-se do doce calor que o olhar dele desencadeou
em seu íntimo. Tentando portar-se com naturalidade, caminhou até ele, estendendo a
mão.
— Meu nome é Fay McKenzie — apresentou-se. — E aquela é uma de minhas
assistentes, Edna Morgan.
Ele apertou a mão que ela lhe oferecia e olhou para Edna.
— Em que ela a assiste? — perguntou. — No trabalho de invadir propriedades
alheias?
Fay abriu a boca de espanto, literalmente. Ele as estava chamando de intrusas!
Ele, que se apropriara da casa e da cama de Gail!
— Acho que a situação é inversa, senhor...
Ele ignorou a insinuação clara de que ela desejava saber seu nome.
— Inversa, como?
— Fomos contratadas para cuidar desta casa, na ausência da dona. Ela não
disse que estava esperando uma visita.
Ele deu de ombros e cruzou os braços no peito em atitude displicente.
— Ela também não me disse que deixara a casa aos cuidados de duendes —
replicou.
Fay viu-se diante de um impasse. Sem saber o que fazer, procurou algo para
dizer, mas a imagem daquele homem nu não lhe saía da mente. Nem no cinema vira
corpo masculino mais perfeito. E o jeans apertado e a camiseta nada faziam para
disfarçar os músculos rijos e poderosos, a esbeltez da cintura e dos quadris.
Além disso, a impressão de que ele era alguém que ela conhecera no passado,
persistia. Contudo, podia ser que estivesse enganada. Era muito nova, na época, e não
poderia lembrar-se com clareza.
— Vou entrar em contato com Gail e pedir-lhe que fale com vocês — ele
decidiu.
Ele sabia o nome da dona da casa. Devia estar dizendo a verdade, afinal.

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— Eu mesma ligarei para ela, senhor...
— Danvers — ele apresentou-se por fim. — Jac... Jake Danvers.
Ele se corrigiu depressa, mas Fay notou o deslize. O homem do passado
chamava-se Jac e tinha outro sobrenome. Mas as iniciais dos nomes dos dois eram as
mesmas: J.D.!
Ela assentiu, escondendo a perturbação.
— Vamos deixá-lo em paz, agora, sr. Danvers — anunciou com um sorriso
forçado. — Se precisar de nós, nossa firma está nas páginas amarelas.
— Sob o nome "Duende"?
— Isso mesmo — ela confirmou.
Quando saiu com Edna, estava decidida a ligar imediatamente para Gail.
Quanto mais cedo esclarecesse o mistério sobre a identidade do homem, melhor

CAPÍTULO II

Fay voltou a fita da secretária eletrônica, suspeitando de que encontraria uma


mensagem de Gail. Apressada como estivera para ir ao encontro de Edna, devia ter
rebobinado menos tempo dó que o necessário para pegar todos os recados. Quando
ouviu a voz da moça, avisando que um tio ia passar algum tempo no chalé, Fay largou-se
na cadeira giratória com um suspiro exasperado. Se tivesse sido menos apressada, não
faria a confusão que fizera, indo tirar um estranho da cama. E nu, ainda por cima!
— Meu tio é perfeitamente capaz de cuidar-se sozinho — Mas eu agradeceria
se vocês pudessem ficar de olho nele e ajudá-lo, se for necessário — a cliente concluiu
o recado, sem explicar o motivo dessa precaução.
Fay tentou falar com Gail, ligando para Londres, mas ninguém atendeu. A atriz
devia estar dormindo, pois deitava-se tarde todas as noite ou, então, saíra. O jeito era
ligar mais tarde e, até lá, ficar imaginando que tipo de pessoa era aquele tio, que
precisava de vigilância.
E aquela história de "tio" também não parecia muito bem contada. Gail era uma
loira de pele muito clara e olhos castanhos, pernas compridas e personalidade
efervescente, sem nenhuma semelhança com o homem moreno e taciturno que Fay
conhecera. A não ser pela altura. A atriz possuía estatura realmente impressionante,
para uma mulher.
No entanto, se Jake Danvers não era tio da moça... Bem, aquilo não era da
conta de ninguém. Gail tinha vinte e cinco anos e sabia o que fazia.
Apesar de todo esse raciocínio, Fay continuou curiosa a respeito de Jake. No
fim da manhã, precisando ir ao banco, deu uma volta enorme só para passar diante do
chalé com a esperança de tornar a vê-lo.
Quando passou diante da casa, viu movimento no jardim, atrás de uns arbustos
floridos. Fez uma manobra rápida, levando o furgão para a entrada de carros coberta
de seixos. Disse a si mesma que só queria dizer a Jake que recebera o recado de Gail
e que tudo fora esclarecido. Um motivo válido, mas que ela sabia não ser inteiramente

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verdadeiro.
Parou o veículo no meio da alameda, quando viu Jake ajoelhado no chão, junto
de um canteiro, arrancando ervas daninhas. Ele não a ouvira chegar, concentrado no
trabalho, ou simplesmente ignorara a intromissão.
Fay desceu e caminhou até ficar a alguns passos dele. Parou para observá-lo,
notando que ele perdera a palidez causada pela ressaca. A testa brilhava, coberta de
suor, e o cabelo desalinhado, chegando quase aos ombros, dava-lhe um delicioso ar
descontraído.
Fay sentiu o sangue subir às faces, quando ele se virou e fixou-a com o olhar.
Viu-o erguer-se e limpar as mãos no jeans, esboçando um sorriso sarcástico.
— Você de novo? Deve ser mesmo duende, para aparecer de repente, saindo do
nada — ele comentou. — Gosta de surpreender os pobres mortais?
Um dos comerciais dá firma, veiculados pela rádio local, apregoava que os
"duendes" chegavam, saindo do nada, deixavam tudo brilhando de limpeza e iam
embora, sem perturbar ninguém com sua presença.
— Não ouviu o barulho do motor? — ela se defendeu, apontando para o veículo
parado na alameda. — Vim com o furgão, que é tudo, menos silencioso.
— Não ouvi coisa alguma. Estava distraído, pensando.
— Gail ligou e deixou recado — informou Gail em tom seco. — Ela disse que o
senhor vai ficar alguns dias por aqui.
— Disso eu já sabia. Não precisava vir me dizer — ele replicou.
— Mas eu não sabia! — ela salientou, forçando-se a não perder a calma.
Ele deu de ombros, continuando a fitá-la.
— Agora, já sabe.
Era evidente que desejava que ela fosse embora e nem se dava ao trabalho de
disfarçar. Fay refletiu que adoraria dar-lhe um bom chute na canela. Contudo, era
necessário passar por cima da própria raiva. Ele era um visitante, afinal, e os cidadãos
de Bedfordshire tinham como ponto de honra fazer com que pessoas de fora se
sentissem bem-vindas.
Entretanto, não estava disposta a ficar ali, ouvindo desaforos. Não queria ser
rude, mas também não ia bajular o grosseirão. O melhor a fazer era retirar-se,
deixando-o com seu humor azedo.
Virou-se para ir embora e então parou, lembrando-se de que Gail pedira para
que o ajudassem se fosse preciso.
— Se precisar de alguma coisa .—começou, falando por cima do ombro — nosso
telefone...
— Está nas páginas amarelas ― ele completou ― Já sei. Mas não creio que vá
precisar da ajuda de seus duendes.
— Vou indo, sr. Danvers. Não quero perturbar sua paz — despediu-se Fay,
começando a andar.
— Dessa agora eu gostei — ele replicou com uma risadinha zombeteira.
Fay não parou até chegar ao furgão. Sabia, sem precisar olhar-se num espelho
que estava vermelha como uma pimenta, de pura raiva.

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Entrou no veículo e respirou fundo diversas vezes para acalmar-se. Estava
pronta para ligar o motor, quando olhou para fora e viu que Jake a olhava com um
sorriso enviesado, carregado de ironia.
— Quero que saiba, sr. Danvers, que o povo desta cidade é muito simpático e
prestativo — declarou, aparentando uma calma que estava longe de sentir. — Assim...
— E Gail me disse que não é intrometido — ele interrompeu-a com aspereza.
Fay mordeu a língua para não retrucar. Não podia ser grosseira com alguém
que se relacionava com a cliente. Além disso, uma de suas virtudes era a capacidade de
julgar os próprios atos. Discrição e tranqüila eficiência eram atributos dos quais se
orgulhava de manter no trabalho. Naquele momento, estava agindo de um modo que
contrariava os dois, ficando num lugar onde obviamente não era desejada e prestes a
envolver-se numa discussão.
— É verdade — concordou. — As pessoas não se metem na vida dos outros.
Espero que passe dias agradáveis em Bedfordshire, sr. Danvers.
— É o que pretendo, moça.
Enfurecida, ela ligou o motor e saiu de ré. Que homem insuportável! Fosse
quem fosse, não tinha o direito de tratá-la daquela maneira. Fosse quem fosse...
Novamente, foi invadida pela dúvida que a vinha perturbando, desde que o vira na cama
de Gail.
Precisava descobrir quem era realmente Jake Danvers. Talvez devesse ter
procurado saber se suas suspeitas eram infundadas ou não, antes de voltar a vê-lo. Se
conseguisse provas de que ele era quem ela pensava, teria uma arma para defender-se
de tanta falta de educação. Por outro lado, desejava estar errada. Seria muito melhor,
se aquele homem e o outro, do passado, não fossem a mesma pessoa. Todavia, antes de
ir para casa e olhar aquelas velhas fotos, precisava ir ao banco, depois almoçar com
Derek e resolver alguns assuntos pendentes no escritório. E não podia chegar
atrasada. O namorado já ficaria bastante irritado, quando soubesse que não poderiam
sair naquela noite.
No fim do almoço simples numa lanchonete, Fay contou a Derek que não
jantaria com ele por causa da reunião do grupo de teatro.
Como previra, ele ficou irritado. Não aprovava o amor de Fay pelo palco e não
se esforçava nem um pouco para esconder isso.
Ela sempre lamentara o fato de ele não querer participar do grupo amador.
Bonito como era, alto, loiro, meio parecido com Robert Redford na época de Golpe de
Mestre e O Grande Gatsby, faria o maior sucesso no palco. E os dois teriam um elo a
mais a uni-los.
Insistira com ele, convidando-o a entrar para o elenco, várias vezes,
inutilmente. Derek dizia que seus clientes não o respeitariam, se o vissem bancando o
palhaço. A profissão de contabilista era muito séria, afirmava, e não podia ser
misturada com tais frivolidades.
— Minha mãe telefonou, hoje de manhã, nos convidando para o jantar — ele
anunciou, interrompendo-lhe os pensamentos.
— Você aceitou?

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— Claro. Como tínhamos um encontro, achei que não faria diferença, jantarmos
no restaurante italiano ou na casa de meus pais.
Realmente, não faria, pensou Fay. Gostava dos pais de Derek. Todavia, ficou
melindrada por ele ter decidido aceitar o convite sem falar com ela.
O fato era que ela estava com os nervos à flor da pele desde o segundo
encontro com Jake Danvers. E isso a levava a ser injusta com Derek. Sorriu para ele.
— Adoraria jantar com seus pais, mas a reunião desta noite é muito importante
— observou.
— Mais importante do que o nosso relacionamento? Fazia meses que saíam
juntos e, embora não estivesse empolgada por uma louca paixão, Fay gostava da
companhia dele. Tinham muita coisa em comum, apesar de Derek desaprovar o fato de
ela ser atriz amadora. Era quase certo que um dia ele a pediria em casamento.
Naquele momento, porém, ela teve a impressão de que o namorado queria
forçá-la a escolher entre o namoro e o teatro.
— Não pensei que a peça e nosso relacionamento estivessem competindo —
comentou.
— Não é isso, Fay! — ele protestou com um suspiro impaciente.— Mas você se
entrega de corpo e alma a tudo o que faz e...
— Juro que não sabia que isso era defeito — ela cortou-o, francamente
exasperada.
— Claro que não é, mas essa dedicação não existe, quando se trata de mim!
Somos um casal e...
— Nem por isso precisamos ficar grudados um no outro o tempo todo. Eu não
reclamo de seu jogo de golfe, aos sábados, nem das suas aulas de ginástica!
— Eu já fazia tudo isso, quando nos conhecemos — ele ponderou. — Não está
sugerindo que abandone meus hábitos, está?
— De jeito nenhum! Só estou exigindo o direito de me dedicar às minhas
atividades sem reclamações de sua parte.
— Mas...
— Preciso, ir, Derek — ela avisou, olhando para o relógio. — Tenho muito o que
fazer.
Ressentido, ele a observou levantar-se.
— E quanto ao jantar com meus pais?
— Acabei de explicar que não poderei ir! Peça desculpas a eles.
Compreenderão, tenho certeza.
— Talvez, mas eu não compreendo! Por que não estabelece prioridades, Fay?
Ela fez uma careta, já não suportando tanta teimosia.
— Assumi um compromisso, quando me filiei ao grupo de teatro, Derek. E
compromissos, para mim, são prioritários.
Ele a fitou com expressão implacável.
— Também tem uma espécie de compromisso comigo. Ou esse é um joguinho
para me forçar a algo mais sério?
— Isso nem merece resposta — ela respondeu, furiosa. — E vamos parar com

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esta discussão, Derek, antes que um de nós diga algo de que se arrependa depois. Por
que não me telefona à noite para...
— Para quê? — ele a interrompeu. — Provavelmente não a encontrarei em casa.
Fay sabia que ele estava recusando-se a ser compreensivo e que aquela
conversa toda só complicaria a situação.
— Na sua lista de prioridades você sempre vem em primeiro lugar, não é,
Derek? — acusou, incapaz de dominar a raiva.
— Como assim?
— Se não sabe, as coisas estão piores do que eu imaginava — ela respondeu,
fazendo menção de afastar-se.
Ele sorriu, um tanto desajeitado e pegou-a pela mão para impedi-la de partir.
— Desculpe, querida. Sei que estou sendo chato, mas à parte da manhã foi
péssima, no escritório e fiquei mal-humorado. Sei que isso não é desculpa, mas... você
me perdoa?
Ela não respondeu, ainda um pouco aborrecida.
— Além disso — ele prosseguiu — foi um desapontamento saber que você não
poderá jantar comigo hoje à noite.
Fay quase comentou que ele não tinha nenhum motivo para ficar desapontado.
Afinal, não ficariam a sós, num ambiente romântico, como aconteceria se fossem ao
restaurante italiano. Mas não disse nada.
Derek poderia achar que ela não gostava dos pais dele, o que não era verdade.
Os Simpson eram pessoas muito agradáveis e pareciam apreciá-la bastante, mas a
olhavam como se tivessem certeza de que ela seria sua nora. E era enervante sentir-se
sob constante inspeção e ser bombardeada com perguntas que pareciam não ter fim.
Com um sorriso não muito animado, ela apertou ligeiramente a mão de Derek,
antes de puxar a sua, livrando-a.
— Não devo voltar muito tarde para casa — observou. — Se quiser, posso
telefonar a você.
— É claro que quero — ele afirmou. — Se não for muito tarde, talvez possamos
sair para tomar um drinque.
— É, talvez — ela respondeu vagamente.
Não recomeçaria a discussão, comentando que a reunião do grupo de teatro
com certeza acabaria muito tarde. Inclinou-se e beijou Derek levemente no rosto. —
Tchau.
— Tchau, querida.
Fido, o cachorrinho basset, adorou o passeio daquela tarde, porque Fay levou-o
ao parque. Mostrou-se simpático com as crianças que insistiram em afagá-lo e só foi
implicante com um gato, que subiu numa árvore, todo arrepiado.
Richard, o dono de Fido, dizia que o animal só comia ração e carne cozida, bem
picada, e que dava a vida por um pedaço de maçã. Fay, porém, descobrira que o bicho
tinha uma predileção toda especial por latas de lixo. Se ela deixasse, ele mergulharia
nos latões, em busca de restos.
Não que passasse fome, isso não. Fido era tratado como se fosse uma criança.

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
Ela só podia deduzir que o cachorro devia ter um ancestral vira-lata. No entanto,
jamais ousaria fazer tal comentário ao orgulhoso dono, que poderia ofender-se.
Estava conduzindo o animal por uma alameda em direção à saída, quando viu um
homem caminhando no sentido oposto. Era alto e moreno e a fez lembrar-se de Jake
Danvers.
Ela se sentiu agitada, novamente com raiva do arrogante que a recebera tão
mal. Mas, honesta como era, até consigo mesma, tinha de admitir que jamais conhecera
homem mais atraente que ele.
O estranho passou por ela e cumprimentou-a educadamente. Não era nada
parecido com Jake. Os olhos eram de um castanho comum, e não azuis e o rosto,
embora simpático, não era bonito. Jake era lindo. E talvez muito perigoso.
Depois de entregar Fido ao dono, Fay voltou ao escritório apenas para pôr em
ordem a escrita do dia, antes do ir para casa. Já se preparava para sair, quando o
telefone tocou. Era Gail.
— Graças a Deus você ainda não foi embora! — exclamou a cliente, assim que
Fay atendeu.
— Recebi seu recado, Gail. Está tudo em ordem, na sua casa.
— Não está, não!
— Não?!
Gail deu um suspiro exagerado.
— Estou preocupada com Jake.
Fay voltou a sentar-se, desanimada. Não estava nem um pouco disposta a voltar
ao chalé para ver como estava o grosseirão que praticamente a expulsara de lá.
— Preocupada, por quê? — perguntou, escondendo a impaciência.
— Jake é um homem difícil, Fay. O que conversaram? 0 que ele disse a
respeito de si mesmo?
— Quase nada.
Gail tornou a suspirar.
— Já imaginava. Ele é muito fechado. Acontece que liguei para lá várias vezes,
só para saber se estava tudo bem, mas o telefone toca, toca, e Jake não atende.
Fay refletiu que ele não atendia porque não queria. Além de malcriado devia
ser lunático. Mas precisava tranqüilizar a cliente.
— Gail, o que a está preocupando, exatamente?
— Ah, não sei! Ele se tornou uma espécie de ermitão, depois que se enterrou
nos confins do... Bem, isso não vem ao caso. O que eu preciso saber é se ele está bem!
Fay sentiu a aflição da outra mulher. Colocou-se no lugar dela e ficou
verdadeiramente compadecida. Gail teria uma apresentação, à noite, e precisava estar
calma para desempenhar seu papel. O chalé ficava num lugar isolado, sem casas
próximas e não havia vizinhos a quem ela pudesse ligar e pedir para ver o que estava
acontecendo.
— Se está tão preocupada, por que não pede para a polícia dar uma chegadinha
lá?
— Jake me mataria!

Projeto Revisoras 13
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— Gail, por acaso está pensando que ele pode fazer uma loucura? Se for isso,
fique sossegada. Não me pareceu ser do tipo que se mata.
Se Jake Danvers era a pessoa que ela pensava, teria tido motivos para
desesperar-se e cometer suicídio, dez anos atrás. Se for ele, obviamente superara a
crise, embora não fosse possível saber que tipo de vida levara desde então.
— Não adianta, Fay. Estou à beira do desespero.
— Quer que eu vá lá? — Fay ofereceu-se, quase sem pensar.
Arrependeu-se no mesmo instante, mas era tarde demais.
— Oh, você é um amor! — exclamou a cliente com alívio evidente. — Nem sabe
como fico agradecida!
— Que fique bastante, porque aquele seu parente é de amargar!— replicou Fay.
— De amargar e mais alguma coisa, mas você é jeitosa e saberá lidar com ele.
— Vai ficar me devendo uma, Gail —murmurou Fay, achando graça na bajulação
da moça.
― Feito. Escute, Fay, vou sair de casa para o teatro dentro de uma hora. Se
conseguir falar com Jake e convencê-lo a me telefonar, ficarei eternamente grata.
― Tentarei, mas duvido que alguém consiga persuadir aquele urso rabugento a
fazer o que não quer.
— Só diga para ele fazer o favor de atender, quando o telefone tocar.
— Diga você mesma, quando falar com ele. Não quero abusar da paciência da
fera.
Gail deu uma risadinha.
— Vejo que Jake já derramou todo seu encanto em cima de você — comentou,
tornando a rir.
— Pode crer que sim.
— Tchau, querida, e obrigada por tudo.
— Tchau — respondeu Fay, pondo o telefone no gancho.
Pouco depois, saía do escritório, xingando-se por ter se deixado comover pela
aflição de Gail. Era difícil acreditar, mas pela terceira vez, no mesmo dia, teria de
enfrentar o mau humor de Jake Danvers.
"Quem manda ser burra?", repreendeu-se, entrando no pequeno furgão.
Quando chegou ao chalé, achou-o mais encantador que nunca, à luz do
entardecer. Mas não tinha tempo para ficar admirando a cena. Precisava falar com o
"urso" e ir embora o mais rápido que pudesse.
Jake não se encontrava no jardim, nem no alpendre,como faria uma pessoa
normal, numa tarde linda como aquela. Fay bateu na porta da frente, mas não houve
resposta. Tentou torcer a maçaneta, que não cedeu.
A porta dos fundos também estava trancada. Ela não vira nenhum veículo
estacionado na alameda e os vidros da garagem eram altos demais, impedindo-a de
espiar para ver se havia um carro lá dentro.
Sem outra alternativa, decidiu usar a própria chave para entrar no chalé.
Sabia que Jake ficaria furioso com, a nova intromissão, mas Gail precisava ser
tranqüilizada.

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Voltou para o alpendre e procurou o chaveiro na bolsa, sentindo o coração
palpitar fora de compasso. Derrubou o molho de chaves no chão, ao tentar abrir a
porta, pois as mãos tremiam de nervosismo. Pegou-o e preparou-se para pôr a chave na
fechadura.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou uma voz masculina atrás dela.
Assustada, Fay deu um salto, virando-se para encarar Jake Danvers. Com o
movimento brusco, o chaveiro voou de sua mão e bateu no peito dele, antes de cair no
piso de madeira.
Jake cruzou os braços no peito fitando-a com ar ameaçador. Era óbvio que
ficara possesso de raiva.
— Não posso acreditar no que vejo! — exclamou. — Gail disse que eu podia usar
o chalé, onde não seria incomodado. Não fizeram outra coisa a não ser me per turbar,
o dia todo!
Fay baixou a cabeça, incapaz de sustentar o olhar carregado de irritação e
sarcasmo.
— Não queria incomodar — balbuciou. — Mas é que...
— Diverte-se em tirar o sossego dos outros, Fay? Achou um nome bem
adequado para sua firma. Duendes e gnomos são espíritos endiabrados, não são?
— Não tem graça nenhuma! — ela reagiu, voltando a encará-lo.
— É claro que não tem! — ele rosnou. — Estou rindo, por acaso? O que foi
dessa vez? Diga logo o que quer e vá embora.
— Gail me telefonou para dizer que ligou para cá várias vezes e você não
atendeu. Ficou preocupada, adiando que poderia ter acontecido alguma coisa.
— Que tipo de coisa?
— Sei lá.
— Não aconteceu nada. Eu só desliguei o telefone da tomada. Satisfeita?
— Uma atitude um tanto irresponsável, levando-se em conta as circunstâncias
— Fay censurou friamente.
— Que circunstâncias? — ele perguntou, parecendo desconfiado.
— A casa é isolada e...
— Eu sei disso. Por que acha que vim para cá? Mas me enganei, pensando que ia
ter tranqüilidade. Quando vai me deixar dormir?
— Se não tivesse deixado Gail preocupada...
cintilantes.
— Por favor, ligue para Gail — pediu, passando por ele. — Dentro de mais ou
menos quarenta minutos ela irá para o teatro.
— Fay?
Ela parou, surpresa, e virou-se para olhá-lo.
— O que é?
Ele apanhou o molho de chaves do chão.
— Está esquecendo isto aqui — avisou com um sorriso zombeteiro.
Ela pegou o chaveiro com um gesto rápido e desceu os degraus correndo. Pouco
depois, saía com o furgão.

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Deu uma última olhada para o alpendre e viu Jake observando-a e rindo. O
miserável estava rindo dela!
A mãe e o padrasto de Fay tomavam chá na cozinha, quando ela entrou. Ele
ainda não tirara o paletó, o que significava que devia ter acabado de chegar. Era dono
de uma empresa produtora de artigos de papelaria com operações no mundo todo, o
que o deixava muito ocupado.
David McKenzie era viúvo e sem filhos, na época em que conhecera Jenny, a
mãe de Fay. Quinze anos mais! velho que a segunda esposa, continuava vigoroso e com
aparência jovem, apesar do cabelo, que embranquecera prematuramente.
Tinha loucura por crianças e os dois tentavam ter um filho, sem sucesso, desde
que tinham se casado, nove anos atrás.
Com quarenta e dois anos de idade, Jenny McKenzie j permanecia esbelta e
muito atraente. Era loira e mantinha curto o cabelo crespo, que cercava-lhe a cabeça
como uma auréola dourada. Os olhos eram verde-escuros, como os de Fay.
— Oi, querida — cumprimentou, enchendo uma xícara de chá. — Teve um dia
difícil? Parece preocupada.
Fay tratou de disfarçar a pressa em subir para o quarto. Queria dar uma
olhada naquelas fotos que a mãe nem sabia que ela ainda guardava.
— Não estou preocupada, não — respondeu. Sentou-se e aceitou a xícara que
Jenny entregou-lhe.
— Está apaixonada — brincou o padrasto. — Quando vai ser o casamento?
Fay sorriu para ele.
— Tentando livrar-se de mim?
— Claro.
— Ainda vai demorar um pouco.
David riu e levantou-se, arrepiando-lhe o cabelo num toque carinhoso. Ela
adorava aquele homem como se ele fosse seu pai verdadeiro. Um dos dias mais felizes
de minha vida fora quando David a adotara e ela passara a usar o sobrenome
McKenzie.
― Estive pensando em oferecer dinheiro a Derek para que ele apresse o
casamento.
Jenny riu.
— E por que não oferece, querido?
— Tenho medo que ele aceite — ele respondeu. — Hum, se me dão licença, vou
tomar um banho.
Saiu da cozinha e Fay abanou a cabeça com um sorriso desanimado.
— Está acontecendo alguma coisa, meu bem? — perguntou a mãe.
― Acho que estou cansada — murmurou Fay. — Tenho trabalhado muito e com
a peça às vésperas da estréia estou me sentindo um pouco ansiosa.
— Por que não fica em casa e descansa, hoje? Tem encontro com Derek?
— Tinha, mas precisei cancelar por causa de uma reunido do grupo de teatro.
— Vai precisar sair, então.
— Vou, mas não se preocupe. Depois de uma boa noite de sono, ficarei nova em

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folha.
— Espero que sim. Oh, Fay, você não imagina o que aconteceu!
— Deve ser algo bom, mamãe, porque seus olhos estão brilhando como estrelas.
― David ainda não sabe, mas preciso contar a você ou explodirei!
— O que é? Está me deixando curiosa!
— Querida, finalmente o que tanto queríamos, aconteceu. Estou grávida!
— Mamãe! — exclamou Fay, empolgada por uma onda de alegria. — É verdade,
mesmo?
— É, sim.
Fay levantou-se e abraçou a mãe, com os olhos inundados, de lágrimas
emocionadas.
— Que maravilha! Estou tão feliz!
— Eu também, querida. Imagine como David ficará contente!
De repente, Fay lembrou-se de Jake Danvers e sua alegria desapareceu. Ele
podia ser Jacob Dalton, o diretor de cinema de quem ninguém mais ouvira falar, desde
que ele desaparecera, dez anos atrás.
Se fosse, sua presença em Bedfordshire poderia destruir completamente a
felicidade de Jenny.

CAPÍTULO III

Era ele. Fay não tinha mais nenhuma dúvida. O homem que se hospedara na
casa de Gail era Jacob Dalton.
As fotos, recortadas de revistas de dez anos atrás estavam amareladas, mas
as pessoas retratadas eram perfeitamente reconhecíveis. Havia também dois artigos a
respeito de um filme da época, dirigido por Jacob Dalton, estrelado pela esposa dele,
Ângela Ripley, e por Paul Well, o pai de Fay.
Ângela fora uma beldade de cabelo preto e olhos azuis .Ela formara uma legião
de ardorosos fãs. Fay observou uma das fotos que espalhara na cama. Nela, apareciam
Ângela e Paul, ambos altos e belos. O pai de Fay, além de um homem bonito, possuíra
aquele charme inglês que agradara tanto o mundo de Hollywood na década de oitenta.
Na fotografia, de pé entre os dois protagonistas do filme, estava Jacob
Dalton. Mais alto que Paul, usava o cabelo cortado bem curto e sorria de um modo
quase debochado. Sua imagem projetava aquele cinismo áspero que falava tão
claramente de seu desprezo pela necessária publicidade.
Uma semana depois da noite em que a foto fora tirada, Ângela e Paul
morreram num incêndio, na casa dos Dalton, em Beverly Hills. Jacob salvou-se,
escapando por uma janela, e foi levado ao hospital por causa das queimaduras, que
obviamente não tinham sido graves.
Fay tivera prova disso ao vê-lo nu, naquela manhã, em casa de Gail. Não
percebera cicatrizes no corpo perfeito de estátua.
Hollywood pranteou sua estrela, que passara de menina prodígio do cinema, dos

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anos sessenta, a atriz de verdadeiro talento. Seu desempenho no último filme dirigido
pelo marido, no qual contracenara com o pai de Fay, valera-lhe uma indicação para o
Oscar.
Paul Halliwell era um novo astro, que saíra da Inglaterra para brilhar em
Hollywood, deixando na Inglaterra a esposa e a filha. Passado o primeiro choque que
abalou a todos, ninguém mais se lembrou de que ele também morrera no incêndio, a não
ser Jenny e Fay.
A esposa mergulhou em desespero profundo, recusando-se a acreditar que seu
encantador e irresponsável marido desaparecera para sempre.
Fay sentiu a morte do pai, naturalmente, mas logo conformou-se. Afinal, pouco
o vira, em seus onze anos de vida. Paul passara a maior parte do tempo longe da
família, trabalhando primeiro em Londres e depois em Hollywood. Quando aparecia
para suas raras visitas, carregado de presentes, não demorava a tornar-se melancólico
e irritado, claramente ansioso por partir outra vez.
Ao receber a notícia da tragédia, Jenny deixou Fay com amigos e foi para os
Estados Unidos com a intenção de trazer o corpo do marido para a Inglaterra. Por fim,
decidiu enterrá-lo no país que ele adotara como nova pátria, na terra das pessoas que
ele passara a amar mais do que a própria família. E descobriu que essas pessoas eram
mulheres, em sua maioria. A julgar pelos inevitáveis mexericos, Paul fora um
devastador de corações.
Voltando para casa, Jenny dedicou-se fria e metodicamente, a apagar todos os
traços deixados pelo marido riu sua vida. Rasgou as fotos, deu as roupas e outros
pertences a uma instituição de caridade e vendeu as jóias que ele lhe dera no correr
dos anos.
Fay quis protestar, pedindo que guardassem pelo menos algumas fotografias,
mas a mãe explicou que não havia razão para conservar lembranças de um traidor.
Contou que encontrara, na casa que ele alugara, em Beverly Hills, uma carta para ela, à
espera de ser remetida. Na curta mensagem, ele explicara que se apaixonara por outra
mulher c anunciara o desejo de divorciar-se.
Essa mulher era Ângela Ripley, que se casara com Jacob Dalton três anos
antes.
Fay tornou a olhar para as fotos que salvara da fúria vingadora da mãe. Na que
apareciam os três membros do triângulo amoroso, Ângela sorria com ar de adoração
para Jacob. Não dava a impressão de uma mulher infiel, que traía o marido com o outro
homem retratado com eles. Mas fingir não devia ser difícil para uma atriz de talento
tão alardeado.
O público não tomou conhecimento do fato e a memória da estrela permaneceu
reverenciada. Duas semanas atrás, no décimo aniversário da morte de Ângela e Paul,
como sempre acontecera durante todos aqueles anos, o túmulo dela fora coberto de
flores, levadas pelos fãs.
Jenny, envergonhada e chocada com a descoberta da infidelidade do marido,
nunca revelou a verdade a ninguém, a não ser a Fay. E quanto a Jacob Dalton? Saberia
de alguma coisa?

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
Ele não fez declarações a respeito da tragédia, ao sair do hospital a tempo de
comparecer ao funeral. A imprensa noticiou que, muito deprimido, ele precisava de
descanso e que pretendia retirar-se de Hollywood por uns tempos.
Ao que constava, ainda continuava "descansando", dez anos depois.
Fay mordeu o lábio, pensativa. Jake Danvers era Jacob Dalton, sem dúvida. O
que estava fazendo em Bedfordshire? Quanto tempo pretendia ficar? Reconheceria
Jenny?
Ele nunca vira Fay. No dia em que o pai a levara para conhecer o estúdio, em
Londres, Jacob, que fazia um filme na Inglaterra, estivera ausente.
Mas vira Jenny, no enterro. Era impossível que não prestasse atenção à esposa
do protagonista de seu filme, o homem que morrera junto com sua esposa no incêndio.
Jenny aos poucos se recuperou, encontrou David, casou-se com ele e começou
a levar uma vida feliz. No caso de Jacob Dalton, porém, era difícil dizer. Ele
desaparecera. O homem que se dizia chamar Jake Danvers, porém...
— Fay! — a mãe interrompeu-lhe as reflexões, chamando-a do andar de baixo.
— Telefone para você, querida!
Fay guardou apressadamente as fotos e artigos na pasta, que escondeu no
lugar de costume, na parte de baixo do armário, sob várias caixas de sapatos.
Saiu do quarto e debruçou-se na grade do patamar.
— Quem é, mamãe? — perguntou.
— Delia. Ela quer saber se você vai à reunião do grupo.
Fay fez uma careta e desceu para falar com a mulher. Minutos depois, quando
desligou, teve uma idéia súbita, ridícula e totalmente inaceitável.
Mas seria a solução para o problema criado pela falta de um diretor que
dirigisse a peça. Ali, a menos de quatro quilômetros de distância, na casa de Gail,
encontrava-se um talentoso ex-diretor de Hollywood. Nada mais e nada menos que
Jacob Dalton!
Na manhã seguinte, quando o telefone tocou, no escritório, Fay atendeu
mecanicamente.
— Alô.
— Quem está falando? Um duende, ou um gnomo? Ela quase derrubou o
aparelho ao reconhecer a voz profunda e sarcástica.
— Bom dia, sr. Danvers — respondeu, controlando-se. — esta falando com Fay
McKenzie.
— A duende-chefe — ele replicou.
— Em que posso ajudá-lo, sr. Danvers?
— Existe uma coisa que pode fazer por mim — ele respondeu em tom de
provocação, obviamente divertindo-se às custas dela.
Fay não estava para brincadeiras. Como já previra, ela e o grupo amador
tinham passado várias horas discutindo, na noite anterior, sem resolver o problema da
direção da peça. Ouvindo as sugestões e dúvidas dos colegas, ela tivera de conter-se
para não anunciar que conhecia alguém que poderia ajudá-los.
A idéia era inconcebível. Como pedir a um homem que já fora famoso como

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diretor de Hollywood para dirigir um grupo de amadores numa cidadezinha da
Inglaterra?
Para piorar as coisas, quando chegara em casa à mãe dissera que Derek ligara
duas vezes. Ela telefonara para ele e o encontrara mal-humorado e frio.
Tudo o que precisava era de um telefonema do irônico Jake Danvers, logo pela
manhã!
— O que é? — perguntou o mais educadamente que pôde.
— Está tudo bem na terra dos duendes?
— Sr. Danvers, eu...
— Já vi que não está num de seus melhores dias, Fay. Posso dispensar
formalidades e chamá-la de Fay, não é? Depois do que aconteceu ontem, acho que nos
conhecemos muito bem.
— Nós não nos conhecemos, mas pode me tratar de modo informal.
— E você pode me chamar de Jake — ele concedeu. — Estou ligando para pedir
que mande alguém para limpar o carpete do quarto de Gail.
— Ah, sei. Você derramou uísque, não foi?
— Como adivinhou? Desculpe, esqueci que estou falando com um duende.
— E isso aí. Quanto ao carpete, minha equipe de faxina está ocupada. Por
favor, procure uma limpadora especializada nas páginas amarelas.
— Não há ninguém que possa vir aqui? — ele insistiu.
— Em circunstâncias normais eu iria pessoalmente, mas no seu caso...
— As "circunstâncias" não são "normais" no meu caso? Por quê?
Ela não podia dizer que sabia que ele era Jacob Dalton e que era filha do
homem que tivera um caso com sua esposa, dez anos atrás.
— Você não gostou das minhas visitas, ontem, quando o procurei, atendendo a
exigências do meu trabalho.
— Mas Gail é sua cliente e gostaria que você cuidasse pessoalmente da casa
dela — ele pressionou.
Fay hesitou. Contudo, refletiu que ele tinha razão. Além disso, o homem não
mordia, apesar de rosnar bastante.
— Está certo sr. Danvers. Estarei aí dentro de uma hora.
Obrigado — ele agradeceu em tom quase gentil, antes de desligar.
Fay acabava de pôr o telefone no gancho, quando a sineta da porta soou,
anunciando a entrada de alguém. Era Jenny.
Mãe! Você não me disse que viria à cidade ― comentou Fay, levantando-se para
abraçá-la.
Estou indo para o consultório do dr. Ambrose, querida. — Fiz um teste para
comprovar a gravidez e ele telefonou, pedindo que eu fosse vê-lo para saber o
resultado.
― Por quê? Não podia ter dado por telefone?
— Podia, mas sabe como ele é. Se deu positivo, como tenho certeza de que deu,
deve estar querendo me fazer um sermão sobre as precauções que devo tomar,
ficando grávida na minha idade.

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— Até parece que é velha — ralhou Fay com um sorriso.
— Não sou, mas ter um filho depois dos quarenta é sempre mais complicado.
Fay assentiu, tornando a abraçar a mãe.
— Vai dar tudo certo — afirmou.
— E claro que vai, querida.
— Não esqueça de me ligar, assim que falar com o doutor, certo?
Embora não deixasse transparecer, Fay sentia-se preocupada tanto com a
possibilidade de Jenny estar grávida, como a de não estar. Se estivesse, teria de
enfrentar uma gravidez na idade de quarenta e dois anos. Se não estivesse, sofreria
profunda desilusão, pois o que mais desejava era dar um filho a David.
— Em vez de telefonar, passarei por aqui para almoçarmos juntas. O que acha?
— Adoraria — declarou Fay. — Não repare mãe, mas preciso me apressar.
Entrou no aposento vizinho, onde guardavam os equipamentos. Jenny seguiu-a e
observou-a reunir a parafernália.
— Alguma emergência?
— Minha equipe de faxina está ocupada e um pobre homem desamparado ligou,
pedindo que alguém fosse ajudá-lo. Derramou uísque no carpete da casa onde está
hospedado.
— Vou indo, então, querida. A gente se vê na hora do almoço.
Depois de passar meia hora ajoelhada no chão, limpando o carpete do quarto
de Gail, Fay levantou-se, massageando as costas doloridas.
— Quer dizer que ontem você e a outra duende pensaram que eu tivesse me
encharcado de uísque até desmaiar de bêbado — comentou Jake.
— O cheiro era insuportável, sr. Danvers.
— Acredito. Mas confesse que pensaram mal de mim.
— O que mais poderíamos pensar?
Sentado na poltrona do quarto, onde ele ficara o tempo todo, observando-a,
enquanto ela trabalhava, Jake deu uma risadinha sarcástica.
— Mentes poluídas. Tomei uns goles, é verdade, mas derrubei parte do
conteúdo da garrafa no chão. O fato é que estava exausto, depois da longa viagem de
avião. Mudanças de fuso horário sempre acabam comigo.
— Entendo.
— Cheguei dos Estados Unidos de madrugada e logo em seguida vim de carro
até aqui. Só queria cair na cama e dormir, de modo que bebi um pouco para relaxar.
Fay lançou-lhe um olhar avaliador. Ele estava com melhor aparência e seu
humor melhorara bastante. A pele tinha um brilho saudável e os olhos azuis cintilavam
no novo bronzeado. De camiseta e jeans, ambos pretos, era indiscutivelmente uma
figura masculina impressionante.
Entendo — ela repetiu, tornando a ajoelhar-se para colocar mais produto
limpador no carpete que já perdera muito do cheiro horrível.
— Não vai perguntar de que região dos Estados Unidos eu vim, Fay?
— Estava evitando mostrar-me curiosa. Esqueceu de que não gosta de gente
intrometida, sr. Danvers?

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Ele riu.
Essa eu mereci. É "senhora" ou "senhorita", Fay?
Ela sentou-se no chão e olhou para ele com ar sério. Não estou usando aliança,
estou? ― Isso não significa nada — ele comentou. — Minha mulher não usava... Mas que
diabo!
Levantou-se repentinamente e pegou Fay por baixo dos braços, obrigando-a a
ficar de pé.
Imobilizada pela surpresa, ela viu-se abraçada com força e não reagiu quando
ele colou a boca na sua. Após alguns segundos de completo aturdimento, esboçou um
protesto, tentando empurrá-lo.
Jake segurou-a com mais força, tentando forçá-la a entreabrir os lábios para
aprofundar o beijo. Vencida pela dedução do momento, ela ergueu os braços e enlaçou-
o pelo pescoço, enterrando os dedos no cabelo macio que cobria a nuca larga.
O beijo tornou-se febril, quase violento. Ondas de prazer percorriam o corpo
de Fay, que não se importou, quando Jake começou a descer as mãos por suas costas.
Por fim, ele a pegou pelos quadris e pressionou-a contra a dureza pulsante de sua
masculinidade.
Era como se ela tivesse perdido a razão, entregando-se ao desejo que tentara
negar, mas que sentira por Jake desde o instante em que o vira nu. O que a
surpreendia mais, naquele torvelinho de emoções, era descobrir que ele também a
desejava.
Então, do fundo de sua mente, ergueu-se um pensamento acusador, fazendo-a
lembrar que não podia existir nada entre eles.
— Não! — gemeu, livrando a boca. — Pare!
— Fay, o que foi? — ele perguntou, tentando segurá-la pelas nádegas.
Então, retirou uma brochura dobrada do bolso de trás do jeans que ela usava,
obviamente estranhando o volume sob sua mão.
Fay recuou, soltando-se do abraço, e observou-o desdobrar o roteiro da peça e
ler o título. Era um hábito seu levar uma cópia do roteiro aonde fosse, o que lhe
permitia estudar as falas sempre que tinha algum tempo livre.
Jake folheou a brochura como se estivesse lidando uma cobra venenosa.
— O que significa isto? — perguntou por fim, num tom frio.
Fay engoliu em seco, procurando recuperar o controle sobre as emoções
tumultuadas.
— É que... faço parte de um grupo amador — começou a explicar, hesitante. —
Vamos encenar essa peça no final do mês e...
— Você vai fazer o papel de Sybil? É atriz, Fay? Uma amaldiçoada atriz? —
indagou em tom acusador, jogando o roteiro para ela.
Fay não conseguiu pegar a brochura, que caiu no balde que ela estivera usando
para limpar o carpete. Vou sair — ele anunciou. — E não quero vê-la, quando voltar.
Suma da minha vida, Fay Mackenzie!
Saiu do quarto e pouco depois ela ouviu a porta da frente da casa bater com
um estrondo que ressoou pela casa vazia. Pelo barulho, ela percebeu quando ele tirou o

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carro da garagem e foi para a rua, fazendo os pneus deslizarem na alameda coberta
de seixos.
Sozinha no quarto começou a tremer de frio, embora era uma quente manhã de
verão.

CAPITULO IV
Jenny telefonou da rua, pedindo que Fay fosse encontrar-se com ela num
pequeno restaurante, não muito longe do consultório do dr. Ambrose. Assim que a viu
entrar, levantou-se e foi ao seu encontro, abraçando-a efusivamente.
— Deu positivo, Fay! Positivo! Fay já adivinhara, ao falar com a mãe pelo
telefone porque Jenny mal pudera disfarçar o entusiasmo. Mas nada perguntara, não
querendo estragar o prazer da mãe, que obviamente desejava dar-lhe a notícia
pessoalmente.
Conduziu-a de volta à mesa e ajudou-a a sentar-se, antes de ocupar a cadeira
em frente.
— Estou muito feliz, mamãe, mas também um pouco preocupada. Por que o dr.
Ambrose quis vê-la?
— Por causa daquilo que eu já disse a você. Estou um pouco velha para ter um
bebê e vou precisar passai por alguns testes especiais e coisas assim.
— Quer dizer que está tudo bem?
— Claro que está. Contei ao doutor que andei lendo tudo o que me caiu nas
mãos sobre gravidez e parto. Sabe como é, as coisas mudaram, em vinte e um anos;
Fay sorriu, contagiada pela excitação da mãe.
Então, já sabe tudo o que deve fazer para passar bem e ter um parto
tranqüilo, não é?
Sei. O doutor só não gostou quando eu disse que gostaria de ter o bebê em
casa, como tantas mães estão fazendo, hoje em dia.
Mãe, isso não!
Foi o que ele disse. Quer que eu vá para ao hospital no primeiro sinal de que o
trabalho de parto começou.
E você vai obedecer! — decretou Fay, teria um irmão ou irmã, quando
completasse vinte e dois anos! Além de uma tanto incrédula, também se sentia
constrangida ao pensar que a mãe David relacionavam-se sexualmente. Uma estupidez,
mas todos os filhos deviam sentir o mesmo. Jenny suspirou, olhando para ela com ar
sonhador.
— David vai ficar louco de alegria, quando souber. Se vai. Será o pai mais
coruja do mundo.
— Mal posso esperar para contar a ele, Fay.
Naquela noite, quando Jenny contou a David sobre o bebê Fay não se
encontrava em casa. Era dia de ensaio , foi para o teatro assim que saiu do escritório,
só parando numa lanchonete para comer um sanduíche.
Como esperara, o ensaio foi uma verdadeira confusão, sem diretor para

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orientar os atores. Delia sempre trabalhava como ponto, quando o grupo encenava uma
peça. No entanto, para tentar substituir Gerald na direção, deixou seu lugar a cargo
de um assistente. Era bem intencionada, mas parecia disposta a levar todos à loucura.
Prepotente como era, não tinha sensibilidade para compreender o
temperamento artístico dos atores. Annie Grey, a mulher que fazia o papel da
personagem Amanda, estava a ponto de jogar o roteiro no chão, quando Delia concedeu
um intervalo de dez minutos.
Annie desceu do palco com Fay e acendeu um cigarro com movimentos
nervosos.
— Bruxa velha! — resmungou. — Não sabe recitar uma fala de "Chapeuzinho
Vermelho" e quer nos ensinar como representar nossos papéis!
Fay concordava em que Delia era irritante, com seus modos de diretora de
escola, mas reconhecia que todos os atores estavam trabalhando muito mal, naquela
noite. Perdiam as deixas e pronunciavam as falas com péssima dicção, quando não as
esqueciam completamente.
De todos, Fay foi a que mais se atrapalhou. Tentava desculpar-se, refletindo
que não poderia fazer melhor, perturbada como se sentia.
Nem mesmo a alegria que sentira ao saber da gravidez da mãe ajudara-a a
esquecer a situação complicada com Jake Danvers. Ou Jacob Dalton, cujo simples
nome poderia ser perigoso. Não podia nem pensar na possibilidade de pronunciá-lo
perto da mãe, inadvertidamente.
O que mais a martirizava era recordar a forma como reagira ao beijo dele. O
dia todo tentara esquecer aqueles momentos e falhara.
Nunca correspondera aos beijos de Derek, nem dos namorados anteriores, com
tal intensidade. O fato era que ela queria fazer amor com Jake. Quisera isso, desde
antes de ter certeza de sua identidade. Tinha de ficar longe dele!
Esperava sinceramente que naquele instante ele estivesse arrumando as malas
para partir. Isso, por amor à mãe. Por amor a si mesma, desejava algo completamente
diferente. E onde ficava Derek nessa história toda? Ela já estava sendo desleal com o
namorado. Afinal, fazia seis meses que saíam juntos e não seria justo ficar com ele,
pensando em outro homem.
Mas era isso o que estava acontecendo. Ela não conseguia parar de pensar em
Jake. Contudo, gostava de Derek.
Depois do curto intervalo, os atores voltaram ao ensaio, eram apenas dez
horas, quando Delia mandou-os embora, convencida de que não fariam nada que
prestasse. Normalmente, sob a direção de Gerald, ensaiavam até bem mais tarde, sem
sentir, tal a forma como cada um entrava na pele de seu personagem.
Assim que saiu do teatro, Fay telefonou a Derek com a intenção de convidá-lo
para tomar um drinque. Ninguém atendeu. Passavam apenas oito minutos das dez,
quando deixou a cabine telefônica. Lamentou não ter ido com os companheiros do
elenco ao barzinho onde eles pretendiam afundar as mágoas provocadas pela péssima
representação.
Podia ir, ainda. O bar ficava a poucos quarteirões dali. Entretanto, uma espécie

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de desânimo a fez desistir da idéia. Entrou no furgão e foi embora, decidida a voltar
pura casa.
Nunca saberia como fora parar naquela rua de subúrbio onde ficava a
residência de Gail. Mal acabara de passar pelo chalé às escuras, quando o motor
começou a falhar e o veículo parou.
Olhando para o indicador de nível de combustível, Fay viu, horrorizada, que
ficara sem gasolina. Simplesmente esquecera de abastecer o tanque, algo que nunca
acontecera antes!
Desarvorada, refletiu que estava condenada a dormir no furgão, porque não
teria a quem pedir socorro. Aquela rua era quase desabitada e não havia movimento na
rua, à noite. .
A menos que... Não! O que Jake pensaria, se ela batesse em sua porta àquela
hora, alegando ter ficado sem combustível? A única alternativa era andar até a casa
mais próxima, três quilômetros adiante, e chamar um táxi por telefone. Faria qualquer
coisa para não ter de aturar os comentários sarcásticos de Jake. Ele devia estar
dormindo e ficaria furioso, acusando-a de perturbá-lo deliberadamente.
Claro, ela continuava com a chave da casa na bolsa, mas seria muito otimismo
achar que poderia entrar e telefonar, sem acordá-lo. Restava-lhe caminhar até a outra
casa e rezar para que os moradores ainda não tivessem ido para a cama.
Tirou uma lanterna da porta-luvas, desceu do furgão e trancou-o, antes de
começar a andar pela rua fracamente iluminada. Ficou mais nervosa do que imaginara,
sobressaltando-se com qualquer ruído provocado por animaizinhos noturnos. Precisava
parar de ver filmes de terror, concluiu.
A rua logo transformou-se numa estradinha estreita e escura. Nuvens
cinzentas flutuavam no céu, tapando a lua e tornando a descobri-la num jogo enervante
de luz e sombra. Corujas piavam, voando muito baixo, e gravetos estalavam sob os pés
de Fay, fazendo-a dar gritinhos de susto.
Ela vencera o primeiro quilômetro quando, lá na frente, vindo em sentido
contrário, um carro apareceu, virando a curva. O motorista pararia, sem dúvida. Quem
não ofereceria ajuda a uma mulher sozinha, andando na escuridão?
De súbito, Fay pensou em todas as histórias que já ouvira sobre mulheres que
tinham sido estupradas e assassinadas em lugares ermos. Antes que pudesse decidir
se se jogava na valeta entre o acostamento e a cerca de um pasto, ou acenava pedindo
ajuda, os faróis a iluminaram.
Ela parou, como que hipnotizada pela luz forte, e viu o veículo estacionar no
outro lado da estrada.
— Caiu da vassoura? — zombou uma voz mais do que conhecida.
Fay nem se surpreendeu. Quando uma pessoa estava azarada, tudo acontecia.
Claro, tinha de ser Jake Danvers!
Ela atravessou a estrada e parou ao lado do carro. Nesse instante, a cortina de
nuvens abriu-se e a lua iluminou o rosto moreno e cínico.
— Duendes e gnomos não usam vassouras — ela observou em tom seco.
Não sentia nada do constrangimento que pensara que experimentaria ao vê-lo

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novamente. A zombaria de Jake a deixara irritada, fazendo-a esquecer que tinham se
beijado com paixão.
— Eu sei — ele replicou em tom sugestivo.
Ela levou apenas um segundo par entender. Então, não pôde deixar de rir.
Passara de duende a bruxa!
— Diga-me, Fay, quem a ajuda, quando se vê em apuros? Você telefona para sua
firma, pedindo socorro aos duendes de plantão?
— Não. Espero que passe um bom samaritano.
— Nesse caso, ofereço-lhe uma carona. Ou gosta de andar no escuro?
Aturdida com o tom quase amigável da voz dele, apesar da ironia, ela tentou
adivinhar o que o fizera esquecer que a mandara sumir de sua vida.
— Aceito a carona — respondeu, achando que seria idiotice manter uma
atitude de orgulho em tais circunstâncias.
— O que aconteceu?— ele perguntou em tom sério.
— Fiquei sem gasolina, a um quilômetro daqui.
— Estava sozinha, no furgão? Fay McKenzie, você me desaponta.
— Muito engraçado! — ela ironizou, tornando a rir.
— Entre — ele convidou, abrindo a porta do passageiro. Ela deu a volta no
veículo e esperou que ele jogasse uma porção de papéis do assento dianteiro para o de
trás. Entrou no carro e afundou no banco confortável com um suspiro de alívio.
— Obrigada — agradeceu, batendo a porta. — Mas não precisa me levar até em
casa. Quando chegarmos a uma cabine telefônica eu...
— Vou levá-la até sua casa, Fay — ele interrompeu-a, pondo o carro em
movimento. — Posso não ser um perfeito cavalheiro, mas não vou deixá-la na rua à
espera de um táxi.
Ela refletiu quê se encontrava numa posição verdadeiramente difícil. Quando
chegassem, o mínimo que deveria fazer, para retribuir a gentileza, seria convidá-lo
para entrar e tomar um café.
Contudo, Jenny não podia vê-lo, de jeito nenhum. Ela planejara sair com David,
mas talvez já tivessem voltado. E se não tivessem ido a lugar nenhum?
— Seu nome não é muito comum — comentou Jake de repente, arrancando-a
dos pensamentos aflitivos.
— McKenzie? — ela perguntou, um tanto confusa.
— Fay — ele esclareceu.
— Ah — ela murmurou. — E comum, em certas regiões do Reino Unido.
— Você é de origem irlandesa?
— Não — respondeu Fay laconicamente.
Já estavam chegando à cidade. O carro potente devorara os quilômetros,
rodando de modo macio e silencioso.
Pouco depois, entraram numa rua larga e chegaram a uni cruzamento. Jake
olhou-a com jeito indagador.
Vire à esquerda — ela instruiu. — E depois à direita, na primeira esquina. É o
segundo sobrado do lado esquerdo da rua.

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Foi com alívio que viu, assim que se aproximaram da casa, que apenas a luz do
alpendre encontrava-se acesa. Significava que a mãe e o padrasto ainda não haviam
voltado. Com certeza tinham ido jantar em algum lugar onde também poderiam dançar,
como gostavam de fazer, e chegariam tarde. Num dia tão feliz para os dois, nada mais
natural que se portassem novamente como namorados.
Entretanto, a idéia de convidar Jake para entrar ainda deixava Fay nervosa. E
se Jenny e David chegassem antes de ele ir embora? Não, nem era bom pensar.
Pelo menos não era necessário preocupar-se com a possibilidade de Jake ver
fotos de Paul, pois não havia nenhuma. E era pouco provável que ele reconhecesse
Jenny pelas fotografias recentes, nos porta-retratos em cima do aparador da lareira.
A mulher sorridente e transbordante de felicidade tinha pouca semelhança
com aquela que ele vira, abatida e angustiada, dez anos atrás.
— Gostaria de entrar e tomar um café, sr. Danvers? — perguntou Fay, rezando
para que ele não aceitasse.
— Gostaria, sim, obrigado.
Ela seguiu na frente, pela alameda do jardim. Subiu os degraus do alpendre e
abriu a porta, tentando dominar o nervosismo. Acendeu a luz do vestíbulo e os dois
entraram. Só então, ela percebeu como Jake estava elegante, de terno, camisa branca
e gravata. Cortara o cabelo, deixando-o curto, mas não tanto quanto nas fotos antigas,
lira de fato um homem extremamente atraente.
— Vim jantar na cidade — ele explicou, como que para justificar o traje
formal. — Não há nada para comer, no chalé.
— Veio jantar na cidade e estava voltando pelo lado contrário? — Fay
estranhou.
— Passei direto pelo chalé porque me deu vontade de rodar mais um pouco por
aquela estradinha vazia. Acabei indo mais longe do que pretendia.
— Estava retornando, quando me encontrou.
— Isso mesmo — ele confirmou.
— Vamos para a cozinha? Eu...
Fay calou-se, gelada de susto, quando a porta que levava à sala de estar abriu-
se e David entrou no vestíbulo. Tomada de angústia, mal podia respirar, esperando que
a mãe aparecesse atrás dele.

CAPÍTULO V

David sorriu para Fay. — Sua mãe já foi se deitar — explicou. — Ficou cansada,
depois de tanta excitação.
— Estava sozinho, no escuro? — perguntou ela.— Estava, sim, pensando.
Fay suspirou, mais calma. Mas, se aquele joguinho de esconde-esconde durasse

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muito tempo, seus nervos acabariam ficando em frangalhos.
Olhou para o rosto do padrasto, cuja expressão era de puro deslumbramento.
Como devia estar feliz, sabendo que finalmente ia ter um filho!
Com lágrimas de emoção nos olhos, ela foi até ele e abraçou-o.
— Parabéns — murmurou. — Fiquei muito contente.
— Eu nem sei explicar o que estou sentindo — ele observou. — Esperamos
tanto tempo, que achamos que nunca teríamos essa felicidade.
Soltou-se dos braços de Fay e só então percebeu que ela não estava sozinha.
— Falaremos sobre isso depois, gatinha — afirmou, dando um tapinha amistoso
no rosto dela. — Não quero aborrecer seu amigo com conversas de família.
— Não está me aborrecendo — garantiu Jake, aproximando-se dele com a mão
estendida. — Sou Jake Danvers.
— David McKenzie — apresentou-se o homem mais velho, apertando-lhe a mão.
— É meu padrasto — explicou Fay. David meneou a cabeça, concordando.
— Estávamos falando de algo inesperado e muito emocionante que nos
aconteceu — contou. — Minha esposa e eu vamos ter um filho, depois de tentarmos
durante anos. Já havíamos desistido de ter esperança.
Fez uma pausa, quando a voz fraquejou.
— Ainda acho difícil acreditar — prosseguiu em tom mais firme. — Estou com
cinqüenta e sete anos e vou ser pai pela primeira vez! Preciso de uma bebida. Você me
acompanha, Jake?
— Bem, Fay me convidou para tomar um café, mas prefiro um conhaque, para
erguer um brinde ao bebê.
Fay sentiu-se perdida. Não poderia impedir que os dois se tornassem amigos,
pois parecia que haviam simpatizado um com o outro.
Passaram todos para a sala de estar e David caminhou até o bar, depois de
pedir a Jake que se sentasse.
— Também quer conhaque, Fay? — perguntou.
Ela assentiu. Não queria, de forma alguma, ir para a cozinha fazer café,
deixando os dois sozinhos. Se a conversa deslizasse para um terreno perigoso, ela
devia estar ali para evitar um desastre.
Sem falar que um conhaque acalmaria-lhe os nervos tensos, muito mais do que
um café.
Sentou-se na poltrona em frente ao sofá onde Jake acomodara-se, mas não
conseguiu relaxar.
David entregou-lhe um copo bojudo, antes de dar outro a Jake e voltar ao bar
para pegar o seu.
Por fim, sentou-se também no sofá e ergueu o copo.
— A saúde do meu filho, ou filha — brindou com voz embargada.
― À saúde do bebê — responderam Jake e Fay em uníssono.Tomaram um
primeiro gole e David olhou para Jake com um sorriso amigável.
— Também trabalha na peça? — indagou.
Fay sentiu a mão que segurava o copo tremer. O assunto que o padrasto

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escolhera para iniciar a conversa era uma verdadeira bomba-relógio, que mais cedo ou
mais tarde explodiria!
— Não — respondeu Jake em tom lacônico, sorvendo um grande gole do líquido
cor de âmbar.
— Fiquei sem gasolina num lugar isolado — Fay apressou-se em explicar,
rezando para que o padrasto não lhe perguntasse o que estava fazendo à noite num
lugar ermo. — Jake me deu uma carona até em casa.
David concordou com um gesto de cabeça, olhando-a um tanto desconfiado.
— Teve sorte, então — comentou.
— Tive — ela afirmou.
Olhou para Jake e viu uma expressão divertida nos olhos azuis. Era óbvio que
ele achava muito estranho o lato de ela estar perto de sua casa, num lugar onde
certamente ninguém precisaria de sua firma àquela hora da noite.
David girou o copo entre as mãos, olhando para ela.
— Como vai indo a peça, Fay? Sua mãe me disse que ficaram sem diretor e que
isso estava acarretando problemas.
— Déliá quebrou o galho, no ensaio de hoje, mas foi uma droga.
— Delia ! — exclamou o padrasto, rindo. — Oh, meu Deus! Não tinham ninguém
melhor para pôr no lugar de Gerald? Aposto como todos os atores largaram os papéis.
— Ainda não — respondeu Fay com um sorriso forçado. — Mas Anne quase
abandonou tudo. Delia foi esperta em acabar o ensaio mais cedo. Ninguém agüentava
mais.
David deu uma risadinha.
— Ela percebeu que estava sendo chata? Isso me surpreende. Aquela mulher
tem a sensibilidade de um rinoceronte. — Virou-se para Jake com um sorriso contrito.
— Desculpe. E falta de educação ficar falando de pessoas que você não conhece.
— Não conheço quase ninguém, em Bedfordshire — respondeu Jake.
— Fay é atriz amadora do grupo de teatro local, que vai encenar Vidas Privadas
e...
— David, o sr. Danvers não deve estar interessado nisso — interveio Fay.
— Pelo contrário — declarou Jake. — Estou muito interessado. Ficaram sem
diretor?
Fay encarou-o confusa, lembrando-se de como ele reagira quando descobrira
que ela era atriz.
— Ficamos — respondeu. — Gerald, nosso diretor, precisou afastar-se por
motivos pessoais.
— Deve ter ficado estressado de tanto lidar com atores temperamentais —
brincou o padrasto.
— Está cometendo uma injustiça, David — ralhou Fay.
— Sei que estou, querida. Foi só uma brincadeira. Afinal, para ele, que estava
com problemas financeiros, perder tempo com um hobby não era muito sensato.
— Derek não considera o teatro um hobby, mas uma obsessão — comentou Fay,
sem saber por que trazia o namorado para a conversa.

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— Derek? Quem é? — perguntou Jake.
— Um amigo meu — explicou Fay.
Começava a inquietar-se, imaginando quando Jake decidiria ir embora. Ela já
retribuíra a gentileza da carona, convidando-o para entrar. David fora mais do que
amável, oferecendo-lhe uma bebida. O que mais ele estava esperando? E se Jenny
descesse, estranhando a demora do marido em ir para a cama?
— Seu amigo Derek também está na peça, Fay? — Jake quis saber.
— Não! — ela exclamou, sem poder reprimir o riso.
— Ele odeia o teatro.
— Que pena — murmurou Jake, pousando o copo quase vazio na mesa de
centro. — Bem, acho que já vou.
Levantou-se e David imitou-o. Os dois tornaram a apertar as mãos, trocando
sorrisos de sincera simpatia.
— Mudou-se para Bedfordshire, Jake? — perguntou o dono da casa.
— Não, vim apenas para passar uns dias.
— Seria um prazer recebê-lo para jantar, uma noite dessas. Minha esposa
adoraria conhecê-lo.
Fay levantou-se, olhando para David, horrorizada. Jake não podia voltar àquela
casa. Ele e Jenny não deviam encontrar-se, nunca!
— Não sei quanto tempo ficarei aqui, sr. Mackenzie — respondeu Jake, olhando
para Fay com ar sardônico, como se percebesse seu enorme desconforto. — Mas não
esquecerei seu convite, obrigado.
David sorriu, satisfeito.
— Venha quando quiser, — ofereceu. — Basta nos telefonar antes, ou a Fay,
para evitar de vir e não nos encontrar em casa.
— Vou levá-lo até a porta, sr. Danvers — murmurou Fay, caminhando para o
vestíbulo.
— Quanta gentileza — ele cochichou atrás dela, seguindo-a. — Percebi que não
via a hora de me pôr para fora, desde o momento em que descobriu que seu padrasto
ainda estava acordado.
Fay girou nos calcanhares, espantada. Ficou aliviada ao ver que David ficara na
sala e não ouvira aquele comentário, que acharia, no mínimo, estranho.
— Isso é... — tentou protestar.
— A pura verdade — Jake interrompeu-a. — O que há, Fay? Tem medo de que
Derek descubra que eu a trouxe para casa e crie caso?
— É claro que não! Derek sabe que pode confiar em mim! — ela exclamou, com
perfeita consciência de que dizia uma mentira.
O namorado mostrara-se desconfiado e ciumento várias vezes, algo que a
irritara profundamente.
— Talvez ele perceba que não pode confiar em mim — observou Jake,
abraçando-a antes que ela percebesse sua intenção.
Fay não teve tempo de emitir o menor protesto, porque a boca máscula e
exigente apoderou-se da sua num beijo de tirar o fôlego.

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Num gesto instintivo, ela abraçou-o também, refletindo que não podia confiar
em si mesma, quando Jake estava por perto.
O corpo dele era duro, pressionado ao dela. As mãos grandes e quentes a
percorriam com movimentos sensuais, enquanto o beijo aprofundava-se,
transformando-se numa carícia, de erotismo, alucinante.
Sentindo-se zonza, aquecida e trêmula, ela percebeu, num instante de lucidez,
que não teria forças para parar com aquilo, se não reagisse enquanto ainda podia
pensar.
Plantou as mãos no peito largo, inclinando a cabeça para trás para interromper
o beijo.
— Por favor, Jake... Não podemos...
— Tem razão, Fay — ele concordou em tom rouco, soltando-a gentilmente. —
Não é o lugar, nem a hora, para essas efusões. Você deve mesmo ser bruxa.
— Por que diz isso?
— Porque me fez esquecer onde estávamos e que David poderia aparecer a
qualquer momento.
Fay baixou a cabeça, pensando que ela não esquecera de nada, apenas não se
importara. O prazer de estar nos braços de Jake apagara a preocupação com qualquer
outra coisa. David poderia tê-los surpreendido, ou Jenny descido, pegando-a aos
beijos com o homem que um dia conhecera como Jacob Dalton. Com nada disso Fay se
incomodaria.
— Vejo que você também se empolgou — murmurou Jake. — Já percebi que não
tenta escapar, quando a beijo.
Ela o encarou, incapaz de defender-se. Sua fraqueza não ficara evidente? O
que poderia dizer?
E Derek? Ela fora desleal com ele, duas vezes, em apenas dois dias! Mesmo que
nunca mais se encontrasse com Jake, que a cena de poucos instantes atrás jamais se
repetisse, seu relacionamento com o namorado ficara abalado.
— E melhor eu ir, agora, Fay. E claro que tornaremos a nos ver, portanto, até
logo.
Ela fechou a porta silenciosamente, depois que ele saiu. Apagou a luz do
vestíbulo e ficou parada no escuro, sentindo-se miserável. Estragara tudo no que se
referia a Derek, por um homem que não podia, que não devia voltar a ver.
Após alguns momentos, achando que o tumulto em seu coração já se acalmara,
voltou para a sala de estar.
— Impressionante — comentou David, enigmaticamente.
— Como? — perguntou Fay, olhando-o, aturdida.
— Seu amigo Jake é impressionante. Percebe-se logo que tem personalidade
forte.
— Não é meu amigo! — ela exclamou.
— É meu, por acaso, querida? Mas tenho a impressão de que poderia ser. Algo
me diz que Jake Danvers é uma pessoa confiável e muito inteligente.
— Boa noite, David — ela se despediu, dirigindo-se para a escada.

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Não queria ouvir elogios a Jake. Só precisava lembrar-se de que não podia
render-se ao encanto dele. Seria um desastre, se ficasse apaixonada por Jake
Danvers ou, melhor dizendo, Jacob Dalton.
Na manhã, seguinte, no café, Fay não pôde fugir da curiosidade da mãe, que
queria saber tudo a respeito do "amigo" que a levara para casa na noite anterior.
Respondeu evasivamente a todas as perguntas e apressou-se em sair de casa, mesmo
sabendo que chegaria cedo demais ao escritório. Foi com o carro de Jenny, pois teria
de resolver o problema do furgão.
No caminho, ia pensando no que a mãe dissera sobre querer conhecer Jake, de
quem David gostara tanto. Era uma idéia de arrepiar. Algo que ela precisava evitar a
todo custo. Assim como tinha de encontrar um jeito de nunca mais ver Jake. O que
acontecia, quando se encontravam, era uma loucura, uma vergonha. Afinal, existia
outro homem em sua vida.
Chegou ao escritório disposta a mergulhar no trabalho e esquecer o conflito
em que se debatia. Mas, por ironia, o primeiro telefonema que recebeu, um pouco
depois das nove, foi de Derek. Invadida pelo sentimento de culpa, ia responder ao
cumprimento dele, quando viu, através da porta envidraçada, Jake descer do luxuoso
carro esporte.
Ela devia estar sendo vítima de um pesadelo! Derek ao telefone e Jake prestes
a entrar em seu escritório!
— Oi, Derek, estou bem, e você? — engrolou, sentindo-se trêmula.
— Também. Como foi o ensaio, ontem? — ele perguntou.
Ela não respondeu, observando, fascinada, Jake aproximar-se da porta. Usava
calça jeans desbotada, camisa de brim azul-clara, que deixava à mostra os braços
fortes, cobertos de pêlos, e óculos escuros. Lindo.
— Fay? — chamou o namorado, em tom impaciente.
— O que está acontecendo? Fay!
— N-não está acontecendo nada, Derek, des-desculpe — ela gaguejou.
— Que diabo! S.ei que sou um pouco intolerante no que se refere a sua mania
de teatro, mas não precisa me tratar com tanta frieza.
Jake abriu a porta, fazendo a sineta bimbalhar. Deu alguns passos e parou em
frente da escrivaninha, tirando os óculos. Os olhos cor de água-marinha fixaram-se
nos de Fay, intensos e perscrutadores. Ela foi incapaz de desviar o olhar e fitou-o,
muda.
— Fay! Parece que estou falando com essa maldita secretária eletrônica, e não
com você! — ralhou o homem no outro lado da linha.
— Telefonei ontem à noite, Derek, e você não estava em casa — ela informou
em tom fraco.
— Precisei sair, ora. E só você que pode ter suas...
— Eu não estou reclamando, Derek! — ela protestou, irritada, baixando os
olhos para escapar da observação de Jake.
— Acha que vou ficar plantado em casa, esperando que você tenha um minuto
para me ligar? — perguntou o namorado com arrogância.

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Aquilo era uma injustiça. Ela nunca reclamara do fato de Derek entregar-se a
suas atividades esportivas e reuniões no clube. Mas não ia ficar discutindo, enquanto
Jake continuava ali parado, prestando atenção descaradamente ao que ela dizia!
— Vamos almoçar juntos, Derek? — perguntou.
— Alguma dúvida? Almoçamos juntos quase todos os dias! Isto é, quando você
não precisa encontrar-se com sua mãe, ou...
— Vai implicar com isso também?
— Não, eu...
— Desculpe, Derek, mas preciso desligar. Estou com um cliente.
Conversaremos no almoço.
— Está certo. Vamos ter muito o que conversar, mesmo. Você está esquisita
demais.
— Tchau, Derek— ela se despediu, desligando o telefone. Levou alguns
segundos, reunindo coragem, antes de erguer os olhos para Jake. Deveria ter
esperado mais tempo. Ao ver os cintilantes olhos azuis, iluminados por expressão
divertida sentiu a boca seca, o rosto em chamas e as mãos geladas.
— O que posso fazer para ajudá-lo, sr. Danvers? — perguntou com voz incerta.
— Eu é posso fazer alguma coisa para ajudá-la — ele respondeu com um sorriso
sugestivo.
Ela sentiu nova onda de rubor subir-lhe às faces.
— Por favor, sr. Danvers... Jake...
— Ah, que bom! Vamos deixar de ser formais, finalmente. Já era tempo,
levando-se em consideração o que tem acontecido entre nós.
— Por favor! — ela protestou, desviando o olhar.
— Calma Fay. Não vim aqui para perturbá-la. Tive de vir à cidade e já estou
voltando para casa. Passei para saber se quer uma carona até onde deixou o furgão.
— Bem... Vim no carro de minha mãe e ela irá comigo, mais tarde. Agradeço
muito, de qualquer forma.
— Se aceitar minha oferta, não precisará incomodar sua mãe. Lembre-se de
que ela está grávida. Quanto mais sossego tiver, melhor.
Fay quase disse que aquele era um argumento ridículo. Jenny não ia querer ser
tratada como boneca de porcelana. Contudo, seria realmente melhor se a mãe não
precisasse sair de casa, só para trazer o carro de volta.
— Está certo, aceito — respondeu, levantando-se.— Passaremos num posto
para comprar gasolina, se não se importar.
— E claro que não me importo. Não quer saber o que vim fazer na cidade, tão
cedo, Fay?
— Acho que não é da minha conta.
— Ah, é, sim!
— É?
— Fui fazer uma visitinha a Delia Griffin. Sou o novo diretor de Vidas Privadasl

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer

CAPITULO VI

Fay ficou olhando para Jake, completamente aturdida. Ele não podia ter dito
que ia dirigir a peça. Ela ouvira mal, com certeza.
Um diretor que já fora famoso em Hollywood estaria interessado em trabalhar
com um grupo de amadores? Não era possível.
O sorriso ligeiramente irônico que pairava nos lábios de Jake, porém, afirmava
que fora mesmo aquilo que ele dissera.
Fay refletiu que a inesperada declaração só confirmava o que ela descobrira,
apagando qualquer dúvida que ainda pudesse existir. Jake Danvers era Jacob Dalton!
Não que ela tivesse duvidado, mas esperara ter se enganado, principalmente
depois de admitir que se sentia poderosamente atraída por ele.
Ele deu uma risadinha.
— Não precisa ficar tão espantada, Fay. E nem preocupada. Sou mais do que
capaz de dirigir a peça.
Aquilo ela sabia. O que não compreendia era o motivo que o levara a oferecer-
se como diretor do grupo. Pelo que ouvira dizer, Jacob Dalton passara os últimos dez
anos sem querer ouvir falar em algo relacionado com sua antiga profissão. Por que
mudara de idéia, de repente?
A menos que... Um súbito pensamento cruzou a mente de Fay. Talvez ele
tivesse passado aquele tempo todo trabalhando com alguma companhia itinerante, sob
o disfarce de Jake Danvers.
Ela saiu de trás da escrivaninha bruscamente, enervada pelos atentos olhos
azuis fixados em seu rosto.
— Por que decidiu juntar-se ao grupo? — perguntou.
— Por quê? Ora, não tenho nada para fazer, no momento, e já fui diretor de
teatro, como expliquei a Delia. Ela ficou muito satisfeita comigo.
Fay olhou-o, cheia de suspeita.
— O que veio fazer em Bedfordshire, Jake?
— Nada. E por isso que estou com bastante tempo livre para tirar você e seus
companheiros de um apuro. Mas se achar que não devo...
Ela não só achava que ele não devia envolver-se com o povo da cidade, como
queria que desaparecesse e nunca mais voltasse. Seria impossível escondê-lo de Jenny,
quando a peça fosse encenada. O diretor, com toda a certeza seria cumulado de
elogios e bajulações, quando descobrissem seu talento.
— O que faria, se eu achasse que não devia nos dirigir? — desafiou-o.
Ele torceu os lábios numa atitude de irônico desdém.
— Iria em frente, da mesma maneira.
— Foi o que pensei.
— Mas sua desaprovação foi anotada — ele declarou em tom seco e tornou a
pôr os óculos, escondendo os olhos perturbadores. — Vamos, agora?

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Em silêncio, ela pegou a bolsa e seguiu-o para fora do escritório, trancando a
porta. No carro, só abriu a boca para dizer onde ficava o posto de gasolina mais
próximo.
Ficou furiosa, quando ele pagou pela lata de combustível, mandando-a guardar
o dinheiro. — Mas...
— Por favor, garota! Será que é tão difícil, para você, aceitar uma pequena
gentileza?
Amuada, ela cruzou os braços e ficou muda até chegarem ao local onde ficara o
furgão.
— Obrigada — agradeceu, descendo do carro. — Quer, por favor, abrir o
porta-malas para eu pegar a lata?
Jake não respondeu. Saltou do veículo, abriu o porta-malas e retirou a lata,
carregando-a para o furgão. Ela foi atrás, pisando duro.
— Dê as chaves — ele pediu. — Preciso abrir o tanque.
Ela bufou por entre os dentes, mas obedeceu. Observou-o passar a gasolina
para o tanque, tentando inutilmente ignorar o movimento dos músculos das costas
largas, apertadas na camisa de brim.
Por fim, ele entregou-lhe a lata vazia com um sorriso maroto.
— Guarde, para o caso de ficar sem combustível outra vez, num "lugar isolado".
Ela sentiu que corava, mas não se deu por vencida.
— Duvido que torne a acontecer. Essa foi à primeira vez e garanto que será a
última. Não sou uma pessoa desligada.
— Começou a ficar distraída depois que me conheceu? — ele perguntou em tom
absolutamente enfurecedor.
— É claro que não! — ela respondeu com veemência. Arrancou as chaves da mão
dele e de repente percebeu que estava sendo ingrata. Jake a irritava, torcendo tudo o
que ela dizia, mas que era prestativo, isso ninguém poderia negar.
— Agradeço muito sua ajuda — resmungou.
— Mentirosa — ele acusou, rindo. — Está querendo me matar e finge gratidão.
Mas ainda vai me agradecer com sinceridade, Fay.
— O que está querendo dizer com isso? — ela perguntou, desconfiada.
— Vai me agradecer, quando descobrir como sou bom como diretor de teatro.
O que pensou?
— Nada! — ela exclamou, sentindo-se Um ratinho nas patas de um gato
brincalhão. — Preciso ir, agora.
Entrou no furgão e bateu a porta, evitando olhar novamente para Jake.
— Até a noite, Fay — ele despediu-se suavemente. — Nós nos veremos no
ensaio.
Ela deu partida no motor e manobrou rapidamente, virando o furgão para o
lado da cidade. Foi embora sem olhar pelo espelho, sabendo que Jake devia estar rindo
dela.
Derek continuava o mesmo de sempre, disso Fay tinha certeza. Era ela que
estava diferente. Sentada diante dele, na mesa do restaurante, refletiu que mudara

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muito, desde o último encontro com o namorado. E isso fora apenas dois dias atrás,
quando vira Jake Danvers pela primeira vez.
Sofrerá uma transformação tão grande, que trocara beijos ardentes com um
estranho. Nunca fora dada a arroubos apaixonados, nem mesmo com Derek. Seria
justo prosseguir com o namoro, depois de tudo aquilo? Não, claro que não. O mais
certo seria acabar logo com aquele relacionamento, pois tomara-se óbvio que ela não
amava Derek.
No entanto, hesitava em falar. Sabia que o namorado ficaria furioso, mas não
era isso o que a detinha. O que ela mais detestava era magoar alguém e Derek ficaria
profundamente magoado.
A garçonete trouxe o pedido deles e afastou-se. Olhando para a comida, Fay
achou que não conseguiria comer uma única garfada. Não, de nada adiantaria adiar a
explicação inevitável. Até quando ela agüentaria aquela situação incômoda? Conhecia-
se muito bem e sabia que, enquanto não resolvesse aquele assunto, não só perderia o
apetite como também o sono.
— Derek...
— Antes que diga qualquer coisa — ele interrompeu-a sorrindo — quero lhe dar
um presente.
Tirou do bolso do paletó uma pequena caixa embrulhada em papel prateado e
entregou-a a Fay.
— Tenho sido um pouco chato, nos últimos dias, mas...
— Derek... — ela tentou novamente.
— Deixe-me terminar, Fay. Ando nervoso, sobrecarregado de trabalho. Sei que
isso não é desculpa, mas prometo que vou mudar. Esse presentinho é uma oferta de
paz.
Fay olhou para o pacotinho, confusa. Chegara a abrir a boca para dizer a Derek
que achava melhor não se verem por algum tempo, pelo menos até depois da
apresentação da peça. Isso lhes daria a oportunidade de avaliar o relacionamento e
descobrir se era mesmo o que desejavam. E ele lhe dava um presente!
Com gestos desajeitados, desembrulhou a caixa e viu que se tratava de seu
perfume favorito. Bem, isso não anulava sua decisão de propor ao namorado que
parassem de encontrar-se por algumas semanas. Mas de modo algum ela teria coragem
de dizer isso naquele momento!
— Adorei, Derek — afirmou sorrindo. — Obrigada.
— Ótimo — ele respondeu em tom aliviado, pegando o garfo. — O que acha de
nos encontrarmos hoje, antes do ensaio, para tomarmos um drinque?
— Tudo bem — ela concordou.
O almoço foi até agradável, com Derek realmente esforçando-se para não ser
implicante. Não reclamou, quando sugeriu que poderia ir buscar Fay no teatro e ela não
aceitou, explicando que o ensaio talvez acabasse muito tarde.
Fay quase não falou, vítima dos próprios pensamentos. Não conseguia tirar
Jake da mente, por mais que tentasse. No fim do almoço, quando já saía, andando na
frente de Derek, levou um susto ao olhar para a porta e ver Jake entrar, como que

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chamado por suas ondas mentais. Olhava em volta, obviamente procurando uma mesa, e
não a vira.
Ela parou tão bruscamente que Derek, andando logo atrás, trombou com ela.
— Desculpe — ele murmurou, segurando-a pelos ombros para equilibrá-la.
Fay virou-se para sorrir para ele e tornou a olhar para Jake, que ainda não a
vira, embora já estivesse bem próximo. Derek empurrou-a gentilmente, incitando-a a
continuar a andar.
— Fay, eu preciso...
Ela não ouviu o resto da frase, porque naquele momento Jake virou o rosto e
viu-a. Uma expressão de surpresa e alegria passou pelo rosto atraente, mas logo
desapareceu, quando os olhos azuis pousaram na mão que Derek ainda mantinha em um
de seus ombros.
Apertou os lábios numa atitude de desagrado e Fay sentiu o impulso de afastar
a mão do namorado. Então, irritou-se consigo mesma por ter pensado tal coisa, só
porque Jake Danvers demonstrara aborrecimento. Quem ele pensava que era, para não
querer que outro homem a tocasse? Nada lhe dava esse direito.
Jake estacou na frente dela e olhou-a já sem irritação, com aquela conhecida
expressão de zombaria nos olhos maravilhosos.
— Oi, Fay, que prazer tornar a vê-la — saudou-a.
— Oi, Jake — ela respondeu em tom frio.
Não queria apresentar os dois homens, mas sabia que não tinha escolha. Deu
um passo para o lado, livrando-se da mão de Derek, que olhava para Jake com
curiosidade quase hostil.
— Esse deve ser Derek — observou Jake.
— É, sim — ela confirmou. — Já falei dele, conversando com você. — Derek,
esse é Jake Danvers, um de meus clientes.
Jake estendeu a mão num gesto aparentemente amigável. Aparentemente,
porque quando Derek apertou-a, fez uma careta, como se sentisse dor nos dedos. O
aperto de mãos não fora nada amistoso, pelo jeito.
— Não sei o que faria, se Fay não fosse ao meu chalé, me tirar de apuros —
comentou Jake, abraçando-a pelos ombros. — Uma grande garota.
— Você se arranjaria sozinho — ela replicou, afastando-se dele.
Jake não pareceu abalar-se. Introduziu os polegares nos passadores do cós do
jeans desbotado e sorriu, aparentando descontração.
— Duvido. Sou péssimo para resolver problemas domésticos — declarou,
virando-se para o outro homem. — Fay me falou qualquer coisa a seu respeito, Derek.
Também é cliente dela?
— Não. Sou o contador de Fay.
— Ah! — murmurou Jake, conseguindo sugerir uma porção de coisas naquela
simples interjeição. — Então, trabalha para ela.
Derek corou de aborrecimento, como Fay já previra que aconteceria.
— Não trabalho para Fay. Sou contador dela.
— Entendo — replicou Jake com fingida inocência.

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— Sabe que achei genial o nome que ela inventou para a firma? Na primeira vez
em que a vi, julguei mesmo estar diante de um duende, porque...
— Derek, são quase duas horas — Fay avisou atropeladamente.
Morreria ali mesmo, se Jake decidisse contar como tinham se conhecido!
— Eu sei — respondeu o namorado. — Vou me atrasar para a reunião com um
cliente, se não me apressar. A gente se vê às sete, combinado?
Beijou-a de leve nos lábios e fez um gesto breve de cabeça na direção de
Jake.
— Até logo, Danvers — despediu-se formalmente, andando para a porta.
No instante em que ele saiu, Fay olhou para Jake com vontade de fulminá-lo.
Sabia que seus olhos verdes faiscavam como os de uma pantera enfurecida, como a
mãe costumava dizer.
— Espero que tenha se divertido bastante as minhas custas! — sibilou.
— De fato foi muito engraçado — concordou Jake, imperturbável.
Ela apertou os lábios, contendo-se para não gritar com ele. O miserável era
sádico, além de tudo! Percebera sua perturbação e não se importara! Notara o ciúme
de Derek e fizera de tudo para espicaçá-lo ainda mais!
No entanto, totalmente mulher como era, não pudera deixar de fazer uma
comparação entre os dois homens, apesar do constrangimento. E o namorado saíra
perdendo.
Derek era alto, loiro, de uma beleza quase rude. Contudo nada tinha da
descontração charmosa de Robert Redford, com quem tinha ligeira semelhança.
Parecia um manequim, sempre duro naquelas roupas formais. Raramente ela o vira
vestindo outra coisa que não fosse terno, acompanhado de camisa branca e gravata.
Jake, por sua vez, tinha o encanto avassalador de um homem mais maduro,
seguro de si e sempre à vontade, onde quer que estivesse. Seu modo de vestir deixava
bem claro que ele queria sentir-se bem dentro das roupas e que as convenções fossem
para o inferno. O físico, ela sabia muito bem, era perfeito e o rosto, isso todos podiam
ver, tinha beleza escultural.
Jake continuava a olhá-la com aquele ar zombeteiro, como se estivesse lendo
seus pensamentos e soubesse que fora o vencedor, em sua análise.
— Então, aquele é o admirável Derek. Por que não contou a ele que sou o novo
diretor da peça?
Ela respirou fundo, tentando controlar a raiva.
— E você? Por que não disse? — contra-atacou.
Na verdade, não fizera essa revelação e esperara que ele também não
comentasse nada, porque sabia, instintivamente, que Derek ficaria enciumado.
Jake deu de ombros.
— Não podia correr o risco de perder a atriz principal da peça, faltando
apenas três semanas para a estréia. Bastou olhar para o admirável Derek para saber
que...
— Pare de chamá-lo de "admirável"! — ela ordenou.
— Está bem. Bastou olhar para o seu namorado para saber que ele criaria caso,

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se soubesse que eu era o diretor.
Ela quase engasgou de surpresa e irritação. Aquele homem era um demônio! Lia
a alma das pessoas! E era perverso. Não se preocupara com o fato de que talvez Derek
brigasse com ela, mas com a possibilidade de perder a atriz que fazia o papel de Sybil!
— Derek falou qualquer coisa sobre vocês se encontrarem às sete horas — ele
observou em tom de censura. — Esqueceu que temos ensaio?
— O ensaio começará às sete e meia. Estarei no teatro, não se preocupe. Mas,
o que farei com meu tempo, até lá, é problema meu.
Ele a encarou por longos segundos, apertando os olhos como se estivesse
irritado.
— Saiba que não admito atrasos — declarou. — Agora, se me dá licença, vou
almoçar. Tenho muitas coisas a resolver, antes do ensaio.
Deixou-a sozinha e marchou para uma mesa vaga. Depois de um momento de
hesitação, ela saiu do restaurante, totalmente confusa.
A tarde passou de modo não muito tranqüilo para Fay, que não conseguia
vencer o nervosismo. Não era a expectativa do primeiro ensaio com um novo diretor
que a perturbava, mas o fato de esse diretor ser Jake Danvers!
Depois do jantar com o padrasto e a mãe e de um rápido encontro com Derek,
foi para o teatro, aonde chegou às sete e vinte cinco, só para descobrir que Jake
ainda não chegara. Todos os atores encontravam-se presentes e a conversa,
naturalmente, devia girar em torno do novo diretor.
Assim que a viu entrar, Delia foi ao se encontro.
— Muito obrigada por ter dito ao sr. Danvers que estávamos em dificuldades,
Fay. Ele ligou ao seu padrasto, ontem à noite, e pediu meu número de telefone. Hoje,
bem cedo, telefonou e depois foi falar comigo pessoalmente.
Fay ficou olhando para ela, atônita. David não falara nada sobre Jake ter
telefonado, provavelmente de alguma cabine, logo que saíra da casa dos McKenzie. E
não por falta de oportunidade, porque ela jantara em casa.
Teria Jake pedido a David que não dissesse nada, talvez achando que ela
poderia pôr empecilhos?
— Gostou dele, Delia? — perguntou, recuperando-se da surpresa.
— Parece competente, mas como pessoa talvez seja um pouco autoritário.
Fay quase riu. "Dois bicudos não se beijam", pensou. Se Jake entrasse em
choque com Delia, cada um querendo fazer prevalecer sua vontade, as coisas iam ficar
muito divertidas.
Ia responder ao comentário da mulher mais velha, quando Jake entrou no
auditório. Eram exatamente sete e meia.
As conversas cessaram no mesmo instante e os outros quatro integrantes da
peça olharam para ele: os dois homens com curiosidade e as duas mulheres com franca
admiração.
Lorna a jovem de dezessete anos que fazia o papel da criada francesa, abriu a
boca de espanto, literalmente, e Anne, a beldade loira, que chegava aos trinta, não
escondeu o alvoroço.

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
Jake estava mesmo maravilhoso, todo de preto. Penteara o cabelo para trás e
os olhos azuis brilhavam, destacando-se no rosto moreno.
Delia saiu de perto de Fay e correu para ele. Seus modos dominadores tinham
desaparecido e tornado-se quase bajuladores. Ela desatou numa enxurrada de palavras
e risinhos, que Jake acalmou com um gesto das mãos longas, antes de caminhar até a
frente da platéia e postar-se diante do palco.
O silêncio era tanto que seria possível ouvir um alfinete cair no chão, quando
ele fixou todos os atores, um por um, com olhar avaliador.
— Meu nome é Jake Danvers — apresentou-se. — Tenho certeza de que Delia
já disse que sou o novo diretor da peça. Se algum de vocês tem algo contra isso, que
fale agora.
"Ou cale-se para sempre", completou Fay mentalmente, enfrentando o olhar
que ele lhe lançou, antes de fitar os outros.
Ninguém tinha objeções a fazer. Por enquanto! Ele devia ser terrivelmente
exigente, como diretor.
E era. No decorrer do ensaio, Fay descobriu que ele queria que suas ordens
fossem seguidas à risca. Não tratava os atores com impaciência, mas era severo e
obviamente perfeccionista. Mudou muita coisa da marcação estabelecida por Gerald, o
que criou alguma confusão, mas logo ficou evidente que tinha razão. Os movimentos
dos atores no palco ficaram muito mais soltos e naturais.
Fay foi a que mais tropeçou nas falas, embora os outros também estivessem
nervosos. Mas estava achando impossível controlar-se, ainda mais quando percebeu
que Anne tentava flertar descaradamente com Jake.
Estava com ciúme! Ridículo! Uma estupidez! Contudo, o que mais poderia ser se,
de cada vez que Anne arrumava uma desculpa para acercar-se dele, ela fervia por
dentro?
— Vai dizer sua réplica ainda hoje, "Sybil"? — perguntou Jake, chamando-a
pelo nome da personagem.
Ela sentiu que corava até a raiz dos cabelos. Estivera tão distraída, remoendo-
se de ciúme, que perdera a deixa para recitar sua última fala do primeiro ato.
— Desculpem — murmurou, lançando um olhar em volta, para os companheiros
que a fitavam, impacientes.
Jake olhou-a friamente, mas não disse nada.
— "Amanda", "Elliot", poderiam voltar ao trecho imediatamente anterior à vez
de "Sybil"? — pediu. — Espero que agora Fay pare de pensar no namorado e faça o que
tem de fazer.
Os outros riram e Anne olhou para ela com ar triunfante. Picada pela raiva, Fay
dedicou toda sua atenção às falas dos outros e entrou no momento exato, dizendo sua
parte melhor do que já conseguira em qualquer outro ensaio.
Quando acabou, notou os olhares de admiração dos companheiros, com exceção
de Anne, que torceu os lábios, num trejeito de inveja. O rapaz que fazia o papel de
Elliot bateu palmas discretamente.
Jake, porém, não fez o mínimo comentário sobre sua atuação impecável. Aquilo

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doeu tanto, que Fay começou a desejar que os minutos passassem voando, para que ela
pudesse ir para casa e esquecer tudo, dormindo.
O ensaio, porém, só acabou às onze e quinze. Os atores, exaustos, e Delia
saíram assim que Jake os dispensou, mas Fay teve de ficar, porque era sua vez de
fechar tudo e entregar as chaves ao zelador, que morava numa casinha, nos fundos do
teatro.
Anne também ficou. Aparentemente, desejava falar com Jake sobre uma de
suas falas do segundo ato. Fay levou as canecas de café para a cozinha e lavou-as,
tentando não ouvir o murmúrio de vozes, lá na platéia.
Por fim, tudo ficou em silêncio, o que significava que os dois tinham ido
embora. Ela saiu da cozinha, trancou a porta e atravessou a platéia indo para o saguão
de entrada.
Dera dois passos na direção da grande porta principal, quando viu Jake
esparramado numa das poltronas. Anne saíra sozinha! Jake não a acompanhara, como
Fay imaginara, dominada pelo ciúme.
Ele se levantou e suspirou, passando a mão pelo cabelo já todo despenteado.
— Foi pior do que eu esperava! — comentou.
"Eu que o diga", refletiu Fay.

CAPÍTULO VII

Os atores do grupo não eram os melhores do mundo. Nada mais evidente. Nem
tinham a pretensão de competir com profissionais. Mas, como amadores, eram muito
bons. Jake acharia tão difícil perdoar os deslizes cometidos, principalmente numa
ocasião como aquela? Nada mais natural que todos ficassem nervosos e acanhados.
Afinal, era o primeiro ensaio sob a direção de uma pessoa totalmente estranha.
Ele a fitou, talvez estranhando seu silêncio. Esperou um pouco e, quando ela
ainda assim não disse nada, sorriu com amargura.
— Eu não estava criticando a atuação desta noite, Fay — observou baixinho.
Ela examinou-o atentamente e notou-lhe a palidez sob o bronzeado da pele. E
havia tensão nos olhos azuis.
— O elenco é bom — ele prosseguiu, passando a mão no cabelo desalinhado. —
Estavam todos nervosos, mas farão uma ótima apresentação, você vai ver. Temos três
semanas para trabalhar em cima das falhas, que não são muitas.
Um elogio e tanto, pensou Fay, vindo de um homem que agira como um feitor de
escravos o tempo todo do ensaio. Então, o que teria sido pior do que ele imaginara?
— Espero que não tenham notado — ele comentou enigmaticamente. — Eu
ficaria mortificado, se alguém percebesse. Mas a verdade é que perdi a prática de
dirigir um elenco.
Fez uma longa pausa, durante a qual não desviou os olhos do rosto de Fay.
— Já fui bom nisso, acredita? Mas faz dez anos que não trabalho como
diretor!

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"Faz dez anos que meu pai e Ângela morreram", refletiu Fay. E desde a
tragédia Jacob Dalton não estivera na direção de coisa alguma, filme ou peça de
teatro. Sua teoria de que ele trabalhara com companhias itinerantes, com o nome de
Jake Danvers caiu por terra. Durante todo aquele tempo, ficara longe do trabalho que
tanto amara. Incrível!
O que fizera naqueles anos? A que tipo de atividade entregara-se?
Naturalmente, não ficara na ociosidade, andando sem rumo.
— Vamos tomar um drinque em algum lugar, Fay? — ele convidou de repente,
cortando-lhe o fio dos pensamentos.
Ela ficou indecisa. Já era tarde e a maioria dos bares já fechara, com certeza.
Contudo, como perder aquela oportunidade de saber mais um pouco a respeito da vida
de Jake? Ele parecia disposto a falar sobre si mesmo, algo que talvez não mais se
repetisse.
— Vamos ver se encontramos um lugar onde possamos tomar um café — propôs
por fim.
— Ótimo.
Deixaram o furgão diante do teatro e foram no carro dele em busca de um
estabelecimento que ainda estivesse aberto. Não encontraram nenhum, o que não era
de admirar, à uma hora daquelas, numa cidade pequena.
De modo algum Fay o convidaria para ir à casa dela. Por muito pouco, na noite
anterior, sua mãe e Jake não tinham se encontrado e seria imprudência abusar da
sorte.
— O que acha de irmos ao meu chalé? — ele sugeriu. — Não estou com vontade
de ficar sozinho.
— E bom saber que presto para alguma coisa — respondeu Fay amuada,
lembrando-se de como ele a repreendera durante o ensaio.
Ele lançou-lhe um olhar enviesado.
— Não quer que eu faça comentários a essa resposta, quer? Ela sentiu que
corava, grata pela penumbra dentro do carro, que não o deixaria ver seu embaraço.
— Gostaria de tomar café com você em sua casa — afirmou. — Mas é melhor
eu ir com o furgão.
— Para quê? Eu a trarei de volta à cidade, depois do cafezinho.
Fay, entretanto, achava melhor ter sua própria condução à espera, de modo a
poder voltar quando quisesse e não quando Jake bem entendesse.
— Não — discordou. — Prefiro pegar o furgão agora. Seria péssima idéia
deixá-lo estacionado na frente do teatro. A polícia de trânsito poderia guinchá-lo.
— Não acredito que... — ele tentou protestar.
— Além do mais, esqueci de entregar as chaves ao zelador — ela argumentou,
ignorando-o. Vou colocá-las na caixa de correio e irei para o chalé logo em seguida.
— Está bem — ele se conformou, tomando a direção do teatro.
— Enquanto não chego, você vai fazendo o café — ela sugeriu.
— Certo.
Quinze minutos mais tarde, quando ela entrou na alameda que cortava o jaidim

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do chalé, viu a casa toda iluminada, como em dia de festa.
Imaginou o que levara Jake a dizer que não queria ficar sozinho. Não parecia o
tipo de homem que precisava de companhia, quando se sentia deprimido. Ao contrário,
dava a impressão de ser auto-suficiente em tudo. Mas, talvez, as lembranças evocadas
naquela noite fossem sufocantes demais.
Ele não sorriu quando abriu a porta para ela, segurando um vidro de café
solúvel em uma das mãos. Grande trabalho que teria! Bastaria ferver água, ou leite, e
pronto!
"Que pretensiosa fui", Fay ralhou consigo mesma, entrando na sala. "Imaginei
que ele se incomodaria em preparar um café de coador, como eu gosto". Mas aquilo era
pura tolice e ela sabia disso. Como Jake poderia adivinhar sua preferência pelo café
tradicional? Que detestava café solúvel, mesmo daquela boa marca, importada do
Brasil?
Com gestos distraídos, ele tirou alguns jornais das poltronas de tecido
estampado, que combinavam tão bem com a sala decorada em estilo rústico.
— Gail chegará no domingo — ele anunciou, olhando em volta com desgosto. — E
a casa está na maior bagunça. Será que você poderia...
Fay sentou-se e olhou-o com um sorrisinho de zombaria.
— Não trabalho aos domingos — declarou.
— E amanhã? — ele insistiu esperançoso. — Prometo que manterei tudo
arrumado até Gail chegar.
— O que aconteceu com toda aquela sua independência? — ela perguntou.
— Está se referindo ao fato de eu ter pedido que não se metesse na minha
vida?
— O que você acha?
— É que eu não estava prevendo que ia precisar de sua ajuda — ele explicou
candidamente. — Tornei-me um grande desordeiro, nesses anos em que morei sozinho.
Só que não tinha percebido.
Examinou a sala com o olhar, parecendo espantado com o que via.
— Estava tudo tão arrumadinho quando cheguei! — comentou. — Veja o que
consegui fazer.
Fay observou os jornais espalhados, as pilhas de pratos, xícaras e copos sobre
os móveis. Gail ficaria louca se visse aquilo. Sempre deixava tudo em ordem, quando
voltava para Londres.
— A casa não está suja — comentou. — Só desarrumada. Basta lavar a louça,
guardar tudo nos lugares e levar os jornais para o quartinho de despejo.
— Pode vir amanhã para me ajudar a fazer isso? — ele pediu com ar de
desamparo. — Eu ficaria muito grato, se me salvasse da fúria de Gail.
— Ela não o mataria por causa de um pouco de bagunça — observou Fay com um
sorriso.
— Não? Aquela menina herdou o gênio do pai. Minha irmã é calma
Então, Gail não mentira ao dizer que Jake era seu tio, pensou Fay,
absurdamente aliviada.

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— Não sei se poderei vir, Jake. Tenho...
— Estarei a sua espera — ele a interrompeu. — Não pode me abandonar num
momento de aflição. Agora vou para a cozinha preparar nosso café.
Voltou poucos instantes depois e entregou uma xícara fumegante a Fay, antes
de sentar-se na poltrona em frente dela.
— Deu para perceber que eu estava nervoso, no ensaio?
— Não — ela respondeu secamente.
— Controlei-me bem, então.
— Mas nos deixou todos umas verdadeiras pilhas de nervos — ela reclamou,
tomando um gole do café antes de prosseguir: — Disse que faz dez anos que não
trabalha como diretor...
— Eu dirigia filmes. Era... casado, na época. Então, dez anos atrás, minha
mulher morreu. Larguei tudo. Comprei uma fazenda aqui na Inglaterra e tornei-me
criador de ovelhas.
Fay sentiu-se aturdida com a revelação. Nunca imaginara que Jacob Dalton
tivesse trocado Hollywood pela Inglaterra, o mundo do cinema por uma fazenda!
Ele não revelara o nome da esposa, nem as condições em que ela morrera.
Saberia que Ângela o traíra com Paul Halliwell, que pretendera deixá-lo? O que o teria
feito abandonar a carreira? A dor causada pela morte da esposa? Ou teria descoberto
de que ela não lhe fora fiel?
Havia muitas perguntas que Fay gostaria de fazer, mas não podia, pois
levantaria suspeitas. Precisaria de muito controle para não deixar transparecer toda
sua curiosidade.
— Gostou de ser fazendeiro? — perguntou.
— Mais do que esperava. Comprei a fazenda com a intenção de me afastar
daquela ratoeira que é o mundo do cinema. Pretendia contratar um administrador e
ficar sem fazer nada, só vegetando.
— Não conseguiu, aposto.
— Depois de dois meses sem fazer absolutamente nada, comecei a subir pelas
paredes, louco para sair da ociosidade. Foi quando Andrew, meu administrador,
começou a insistir para que eu o acompanhasse nas visitas aos pastos e redis.
Houve um curto silêncio. Ele tomou um pouco do café e sorriu para Fay.
— Agora, se eu precisasse ganhar a vida, cuidando da fazenda de outra pessoa,
seria um ótimo administrador.
— E por que veio para Bedfordshire? Se precisava de descanso, o melhor lugar
para repousar não seria sua fazenda?
Ele apertou os lábios, pensativo.
— Precisava de tempo para pensar, longe de todas as pessoas que me
conhecem. Gail disse que eu podia ficar na casa dela e aqui estou.
— Chegou, foi dominado pelos duendes e acabou como diretor do grupo de
teatro amador — comentou Fay, forçando-se a brincar para aliviar a própria tensão.
Jake sorriu e então, ficando sério novamente, fixou-a com aqueles incríveis
olhos azuis.

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
— Acha possível alguém voltar a ser o que foi um dia, Fay? — perguntou,
levantando-se abruptamente e começando a andar pela sala. — Escrevi um roteiro para
um filme.
— Escreveu? — ela balbuciou tolamente.
— Tentei ficar longe de tudo aquilo e fiquei o mais que pude, mas acho que
tenho o veneno do cinema no sangue. O roteiro praticamente escreveu-se sozinho.
— O que fez com ele?
— Mandei-o para um estúdio e agora eles querem rodar o filme — respondeu
Jake como se lamentasse o fato. — Fui aos Estados Unidos conversar sobre isso e de
lá vim para Bedfordshire, para pensar e decidir.
— Decidir o quê?
— Eles exigem que eu dirija o filme.
Fay prendeu a respiração, surpresa. Jacob Dalton poderia voltar a Hollywood!
Ela nem queria pensar no que a mídia faria com essa notícia. Os jornais
pagariam milhares de libras por um furo de reportagem igual àquele. Especialmente
porque o décimo aniversário da morte de Ângela ocorrera tão pouco tempo atrás.
Não que Fay tencionasse vender tal informação. Por dinheiro nenhum trairia a
confiança que Jake depositara nela. Mas era fácil imaginar o que poderia acontecer se
deixasse vazar alguma coisa.
E muito fácil também entender o que Jacob Dalton fora fazer numa
cidadezinha como Bedfordshire, usando nome falso. Queria ter paz para decidir o que
fazer, sem o correr o risco de ver-se envolvido no circo que a imprensa armaria, se
soubesse o que estava acontecendo.
E, provavelmente, tomara a decisão de dirigir um grupo de amadores para
testar a própria capacidade, para saber se seu talento sobrevivera ao exílio
voluntário.
— Fiquei longe de Hollywood durante dez anos, Fay! — ele comentou com voz
tensa. — Dez anos! E muito tempo, pelos padrões daquele mundo onde qualquer
afastamento pode ser fatal.
Jake não fazia idéia de que Fay sabia que ele era Jacob Dalton. Não podia
imaginar que ela compreendera perfeitamente seu comentário sobre a memória curta
de Hollywood. Paul Halliwell, apesar da fama que alcançara, fora esquecido
rapidamente, após a morte. Ângela ainda era venerada por uma legião de fãs leais a
sua memória, mas fora uma atriz que atingira o ponto mais alto do estrelato, tornando-
se um mito.
— Nem pensar, não é Fay? — ele perguntou, ínterrompendo-lhe os
pensamentos. — Não posso aceitar a direção do filme.
— Por que não? — ela tentou animá-lo, escondendo a perturbação. — A história
que você escreveu é boa?
Ele a fitou com perplexidade, como se ela houvesse feito uma pergunta
absurda.
— E claro que é boa. E excelente!
Se as circunstâncias fossem outras, aquela absoluta falta de modéstia seria

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
muito engraçada. Mas, tensa como estava, Fay não sentiu nenhuma vontade de rir.
— Então, acho que o filme merece uma excelente direção — declarou. — Estou
falando como simples atriz amadora, mas você deve ser realmente muito bom para o
estúdio exigir que seja o diretor.
Jake continuou a olhá-la, digerindo o que ouvira.
— O que fará com a fazenda, se voltar para os Estados Unidos? — ela
perguntou, mais para romper o silêncio que ameaçava estender-se indefinidamente.
— Já pensei nisso e falei com Andrew, que se mostrou interessado em comprar
a propriedade.
Fay refletiu que ele já tomara sua decisão, embora ainda não tivesse
percebido. Começara a cortar os laços que o prendiam a sua nova vida, preparando-se
para voltar à antiga.
— Sabe o que penso, Jake? A gente não "volta a ser o que foi um dia". A vida
só anda para a frente, embora, às vezes, um acontecimento pareça um retorno ao
passado. Todos nós ficamos diferentes, à medida que o tempo passa. Você não é mais a
pessoa que era dez anos atrás.
— Espero que não! — ele exclamou com evidente amargura.
— E claro que não é. Nós mudamos todos os dias, adquirindo novas
experiências, aprendendo, sentindo de forma diferente.
Jake observou-a em silêncio por longos instantes. Aos poucos, pareceu relaxar
e os olhos azuis perderam a expressão carregada que beirava a angústia.
— Como pode ser tão jovem e tão sábia, Fay McKenzie? — murmurou.
Ela sorriu e pousou a xícara na mesinha ao lado da poltrona.
— Acho que sábio é o pequeno duende que mora dentro de mim. De vez em
quando ele se digna a me ajudar. — Ficou séria, encarando Jake. — Você me faria um
favor?
— Se eu puder...
— Não nos abandone antes da apresentação da peça! Ele não sorriu, como ela
esperava. Ao contrário, fixou-a com um olhar severo.
— Por falar na peça, Fay, não quis dizer nada diante dos outros, mas saiba que
não admito que meus atores bebam antes de uma representação ou mesmo de um
ensaio.
Ela sentiu uma onda de irritação invadi-la. Tomara um gim-tônica fraquinho, no
rápido encontro com Derek. Aquilo não podia ser considerado "beber"!
— Mas eu...
— Vou falar com o resto do elenco a respeito disso — ele cortou sua tentativa
de protesto. — Mas, primeiro, quis falar com você, em particular.
— Quanta gentileza! — ela ironizou. Levantou-se para partir, despedindo-se
friamente. Ele não tentou detê-la.
Foi só na metade do caminho de volta para a cidade que algo ocorreu a Fay.
Como Jake soubera que ela tomara um drinque antes do ensaio?

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
CAPÍTULO VIII

Ao chegar ao chalé na manhã seguinte, Fay suspirou de alívio, notando que


Jake saíra. Tratou de começar a pôr a casa em ordem, esperando terminar antes que
ele retornasse. Não ficaria calada, se ele voltasse a repreendê-la pelo fato de ter ido
ao bar antes do ensaio.
Na noite anterior ficara tão estupefata com a prepotência dele, que não
encontrara nada para dizer. Naquele dia, porém, acordara disposta a dizer umas
verdades, se ele insistisse em intrometer-se em sua vida particular.
A desordem na casa era maior do que ela previra, mas felizmente não havia
nada sujo, a não ser os utensílios de cozinha. Jake limpara os banheiros e, embora não
houvesse caprichado muito nos espelhos, deixara as peças e o chão brilhando.
Decidida a começar pelo andar de cima, dirigiu-se para o quarto que Jake
ocupava e respirou fundo para certificar-se de que o odor de uísque desaparecera.
Não sentiu nada. Gail, que chegaria no dia seguinte, jamais adivinharia que meia
garrafa de uísque fora derramada em seu carpete felpudo.
A cama de casal estava totalmente desarrumada. Só de olhar para os lençóis
revoltos, Fay sentiu uma onda estranha de calor. Não pôde deixar de lembrar-se de
quando vira Jake deitado ali, nu como uma estátua grega. Então, uma imagem
perturbadora desenhou-se em sua mente. Viu a si mesma, nua, deitada nos braços
dele, ruborizada de paixão.
Não, não devia ter tais pensamentos. Afinal, ainda era namorada de Derek e
não era justo ficar pensando em outro homem, principalmente num que já beijara com
tanto ardor. Perturbada, começou a trabalhar e em menos de uma hora tinha acabado
a arrumação. Felizmente, Jake ainda não voltara.
Fechou todas as janelas e saiu, trancando a porta da frente. Virou-se para
descer os degraus do alpendre e viu o carro de Jake entrar na alameda. Não tivera
tanta sorte assim, afinal. Fingindo uma calma que não sentia, caminhou para o furgão.
Ele desceu do carro e foi até ela, carregando uma grande caixa de morangos.
— Não me diga que já vai embora! — exclamou.
— Trabalhei durante uma hora — ela anunciou, defensiva. — Foi tempo
suficiente para arrumar tudo.
— Eu não estava criticando você, Fay. Apenas fiquei desapontado, quando vi
que estava saindo — ele observou em tom suave, olhando-a de modo penetrante.
Ela engoliu em seco, sentindo que corava.
— Desculpe — murmurou. — Mas acabei de arrumar a casa e agora preciso ir.
— Por quê?
Ela o encarou. Ele parecia mais relaxado. Talvez houvesse aceitado dirigir o
filme, acabando com o conflito em que se debatera durante os últimos dias. Se fosse
isso, iria embora logo e ela nunca mais o veria.
— Quero aproveitar o dia de folga para dar mais uma olhada nas minhas falas
— respondeu, tentando não deixar transparecer o que sentia.
— Não decorou o texto, ainda?

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— Já, mas não posso me dar ao luxo de cometer deslizes porque meu diretor é
muito severo e censura os atores por não pegarem as deixas com bastante rapidez,
nos diálogos.
Ele torceu os lábios num sorriso cínico.
— Pensei que já houvesse decorado o roteiro até de trás para frente —
comentou. — Carrega a brochura para todos os lugares aonde vai!
— Não carrego mais — ela declarou, lembrando-se de como ele encontrara o
roteiro em seu bolso e de como reagira.
— Não precisa ir para casa estudar coisa alguma — ele teimou. — Você está
afiada.
— Tenho de praticar os gestos.
— Também estão ótimos.
— Não pareciam tão ótimos assim, ontem. Levei bronca em cima de bronca e...
— Ontem foi ontem e hoje é hoje, Fay. Ontem eu era seu diretor, hoje sou
seu... amigo. Não confunda as duas coisas.
Fay fixou os olhos nos dele, que pareciam mais azuis que nunca no dia claro.
— Você nunca confunde seus relacionamentos? —perguntou.
— Não confundo mais. Uma vez, deixei que um relacionamento pessoal
interferisse em minha integridade profissional e me arrependi. Não voltarei a deixar
que isso aconteça.
Ele estaria referindo-se ao tempo em que fora casado com Ângela? Pelo que
Fay sabia, Jake e a esposa tinham trabalhado juntos apenas no filme interrompido pela
tragédia. Mais tarde a história fora refilmada, com outro diretor e novos atores. Nem
mesmo os papéis secundários foram entregues a pessoas que tinham atuado no
primeiro. O filme alcançara sucesso de bilheteria, se não de crítica, uma evidência de
que o público ficara morbidamente curioso. Fora apresentado pela televisão várias
vezes, nos anos subseqüentes, mas Fay nunca tivera coragem de assisti-lo.
— Trouxe morangos para nós, como pode ver, e tenho sorvete no freezer —
Jake disse com um sorriso persuasivo, tirando-a das reflexões. — Gosta de morangos,
não gosta?
— E de sorvete também — ela respondeu. — Mas... Ele apertou-lhe o nariz
entre dois dedos, como se ela fosse uma menina.
— O que está esperando, então? Vamos entrar e fazer uma festa.
Afastou-se na direção do alpendre, sem olhar para trás para ver se ela o
seguia. Era óbvio que estava acostumado a ver todas as suas sugestões acatadas,
pensou Fay com leve aborrecimento. Aquela confiança que ele demonstrava ter em si
mesmo era irritante, mas também atraente.
Ela entrou no chalé atrás dele, tentando convencer-se de que ficara com
vontade de comer morangos com sorvete. Só isso.
Foi até a cozinha e viu-o colocar a caixa em cima da pia.
— Quer me ajudar a lavar os morangos, Fay?
— Claro.
Dez minutos depois, os dois encontravam-se no alpendre, confortavelmente

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acomodados em poltronas de vime, saboreando morangos com sorvete.
Tudo era paz em volta deles. Borboletas esvoaçavam sobre as flores das
trepadeiras que subiam pelos pilares, abelhas zumbiam, ziguezagueando
diligentemente, e pássaros trinavam nas árvores vizinhas. O céu envolvia a terra como
uma redoma de cristal azul e o sol aquecia a terra.
— Nada mais belo do que um dia de verão inglês — comentou Jake.
Fay achou que ele falara em tom triste, como se estivesse despedindo-se da
beleza da Inglaterra, preparando-se para retornar aos Estados Unidos.
Se ele fosse mesmo embora, seria melhor para todos. Não, para ela não seria!
Nem queria pensar naquilo! Pousou a tigelinha na mesa e levantou-se abruptamente.
— Preciso ir.
— O que deu em você? Nem acabou de comer! — ele reclamou.
Fay sabia que engasgaria, se tentasse comer mais um único morango, com a
garganta apertada daquele jeito. Acabara de fazer uma descoberta assustadora,
catastrófica! Apaixonara-se perdidamente por Jake Danvers!
Por Jake Danvers, não! Por Jacob Dalton, cuja presença em Bedfordshire
poderia transformar a felicidade de sua mãe num monte de cacos.
Encarou-o, sabendo que devia estar pálida e com os olhos verdes muito
abertos, corno acontecia quando ficava assustada. Enlouquecera, com certeza! Deixara
crescer no coração um amor impossível.
— Preciso ir — repetiu mecanicamente. — Lembrei-me de que... de que tenho
de levar Fido para passear.
Jake suspirou e pegou a tigela que ela abandonara.
— Posso comer o resto?
Ela não respondeu. Ele encheu a colher e levou-a à boca.
— Não há ninguém que possa levar esse cachorro para um passeio, enquanto
você descansa um pouco? — perguntou.
— Não.
— Por quê? Ele é rebelde? Deve ser, tratando-se do cachorro de uma duende.
— Fido não é meu, mas de um cliente. Na verdade, de um amigo.
— Derek?
Ela quase riu, apesar da tensão. Derek não gostava de animais, alegando que só
faziam sujeira e barulho.
— Não. O dono de Fido chama-se Richard e é doente.
— Desculpe — ele murmurou, pondo a tigela na mesa. Levantou-se e deu um
passo à frente, parando diante de Fay. Ela ficou imóvel, incapaz de fazer um gesto, de
dizer uma palavra. Ele baixou o rosto e, sem tocá-la com as mãos, lambeu-lhe os lábios.
— Estavam melados de sorvete. Não pude resistir — murmurou.
Em seguida, envolveu-a nos braços e tomou-lhe a boca num beijo possessivo.
Fay não tentou livrar-se, quando ele começou a acariciar-lhe o corpo. Nem
poderia, mesmo que quisesse, porque fora inflamada pela paixão.
O beijo tornou-se faminto, exigente, avassalador. Fay moldou-se ao corpo
musculoso, apertando-se contra sua dureza, oferecendo-se, querendo dar e receber

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prazer. .
Jake desabotoou a camisa que ela usava e acariciou os seios nus e rijos, com os
mamilos empinados de excitação. Interrompeu o beijo apenas para descer os lábios
numa trilha quente e úmida pelo pescoço delgado, pelos ombros, parando nos seios.
Beijou-os, lambeu-os, sugou os mamilos com sensualidade embriagadora.
Fay gemeu, sentindo uma onda de prazer invadi-la, deixando-a aquecida 6
palpitante. Não protestou, quando ele a puxou para baixo, fazendo-a deitar-se no
grande tapete de retalhos, e estendendo-se a seu lado.
Deixou-o continuar com suas carícias loucas, atreven-do-se a tocá-lo também,
beijando-o, mordendo-lhe o ló-bulo da orelha, explorando o corpo másculo com as mãos
trêmulas de desejo.
Sentia-se em fogo, com a respiração ofegante, queria gritar, dizer a Jake que
o amava, que estava pronta para pertencer-lhe.
Talvez ele não soubesse de seu amor, mas sabia de seu desejo. Sem pedir, sem
avisar, tirou-lhe o short com movimentos rápidos e precisos. Fay emitiu um soluço,
arqueando o corpo para trás.
Então, foi à vez da calcinha, que ele fez deslizar para baixo, enquanto
acariciava as pernas esbeitas. Nem por um instante parou de distribuir beijos pelo
corpo de Fay, de excitar os bicos dos seios com a língua, os lábios, os dentes.
Aflita por oferecer-se inteira àquele prazer, ela acabou de tirar a camisa e
puxou a camiseta de Jake para cima, tentando arrancá-la.
Foi naquele instante que o telefone começou a tocar. Ela nunca gostara muito
de telefones, achando que tinham predileção por interromper coisas importantes. Mas
aquele na sala de Gail, que tocava como um desesperado, ela simplesmente odiou.
Tentou ignorá-lo, mas foi impossível. E o encanto começou a quebrar-se,
arruinado pelo toque estridente.
— Droga! — resmungou Jake, olhando para ela com ar desamparado. — Acho
que vou ter de atender, ou esse maldito tocará até o dia do juízo final.
— Vá — replicou Fay num fio de voz.
Ele se levantou sem pressa, olhando para ela.
— Você é linda. É maravilhosa. Será que adiantaria pedir que não se movesse?
Que ficasse onde está, a minha espera?
Ela sabia que nem valeria a pena tentar. O momento de loucura passara. Viu
Jake entrar na sala com passos largos e agressivos. Ouviu-o atender o telefone em
tom ríspido. Só então, sentou-se no tapete, completamente aturdida. Não sabia se
agradecia a interrupção ou se ficava furiosa com o importuno que não desligara, após
infinitos toques de chamada.
Não duvidava de que faria amor com Jake, se os dois não fossem
interrompidos. Teria sido maravilhoso pertencer a ele, nem que aquela primeira vez
também fosse a última. Todo seu corpo ainda tremia de desejo, o sangue corria com
força, o rosto parecia incendiado, de tão quente.
Por outro lado, de que serviria experimentar as delícias do sexo nos braços de
Jake, se ele iria embora? Ficariam apenas as lembranças daquele momento, uma

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tortura a mais que ela teria de suportar nos longos dias e noites de solidão.
Jake continuava a falar ao telefone, mas não era possível compreender as
palavras porque ele baixara o tom de voz, o que significava que se acalmara.
Com movimentos vagarosos, ela juntou as peças de roupa. Já estava
completamente vestida e sentada numa das poltronas, quando Jake voltou para o
alpendre, cerca de cinco minutos depois.
— Era David — ele informou.
— David? — ela ecoou, ainda meio zonza.
— Seu padrasto.
― Ele e mamãe sabiam que eu viria aqui. Por que David telefonou? Aconteceu
alguma coisa? — ela perguntou, apreensiva.
— Não aconteceu nada, Fay — ele afirmou em tom carinhoso. — Fique
sossegada.
— O que David queria, então?
― Eles vão oferecer um jantar, na semana que vem, para anunciar a chegada do
bebê aos amigos.
— E David convidou você?
— Convidou e disse que não me perdoará, se eu não for. Mas é claro que
pretendo ir.

CAPÍTULO IX

Na noite em que o furgão de Fay ficara sem gasolina e Jake a levara em casa,
David o convidara para jantar com eles numa noite qualquer. Mas fora um convite vago
que a deixara nervosa, mas não em pânico.
Contudo, o padrasto acabara de telefonar a Jake especificamente para
convidá-lo para uma reunião de amigos, com data marcada!
Fay reprimiu um gemido. O que poderia fazer para 1 evitar que Jake fosse ao
jantar? Que ele e Jenny se encontrassem? Aparentemente, nada.
Ele a fitava com ar questionador. Era natural que estranhasse o silêncio com
que ela recebera a notícia. Além disso, devia ter notado sua expressão de susto.
— Não quer que eu vá a sua casa, não é, Fay? — perguntou em tom de acusação.
Ela passou a língua pelos lábios, que tinham ficado secos, de repente.
— Não é que eu não queira...
— Você não quer — ele insistiu. — Pelo jeito, sou perfeitamente aceitável como
amante secreto, mas não me acha digno de ir a sua casa e de "conhecer mamãe".
Ela engoliu em seco. Não queria que Jenny o visse, mas por motivos muito
diferentes do que ele imaginava.
— Você não é meu amante! — atacou para defender-se.
— Seria, agora, se o telefone não tivesse tocado, nos interrompendo — ele
ponderou, fixando-a com um olhar desafiador. — Negue, se for capaz.
Ela não podia negar. Seria a maior mentira do mundo dizer que não o desejava

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tanto quanto ele aparentava desejá-la. Sem poder desviar os olhos dos dele, manteve-
se calada.
— Não sei o que pensar de você, Fay McKenzie. Esteve prestes a ser minha,
mas só posso acreditar que considera minha presença em sua casa uma ameaça.
— Como assim? — ela balbuciou, aturdida. — Que tipo de ameaça?
— Não quer que nosso caso de pé quebrado estrague seu relacionamento com o
palerma do Derek. Sua mãe deve aprovar o namoro e com certeza achará esquisita
nossa "amizade".
Fay franziu a testa, pensativa. Na realidade, não sabia o que a mãe pensava de
Derek, se gostava dele, ou não. Jenny jamais fizera comentários sobre ele e ela nunca
pedira sua opinião. Mas isso não tinha importância, no momento.
— Foi David quem o convidou — replicou. — Você e ele tornaram-se amigos, ao
que me consta. Não há nada de estranho no fato de ele o convidar.
— Vá embora, Fay. E só volte quando tiver colocado suas emoções em ordem.
Não diga mais nada, por enquanto. Seria lamentável, se eu fosse obrigado a achá-la
desprezível.
— Jake...
— Não quero ouvir coisa alguma, Fay. Talvez, quando você souber o que quer eu
ainda esteja aqui. Se não estiver, paciência.
Com os olhos turvados por lágrimas repentinas, ela desceu a escadinha do
alpendre e começou a andar para o furgão. "Se não estiver, paciência". As palavras
eram como espinhos em sua mente e seu coração. Não se enganara ao imaginar que
Jake decidira voltar para os Estados Unidos. E a idéia de ficar longe dele era
totalmente insuportável!
Confusa e ferida, não foi direto para casa. Precisava de tempo para pensar. O
que diria a David para convencê-lo a retirar o convite? E precisava falar com Derek.
Não podia mais enganá-lo. Tinha de ser honesta e dizer ao namorado que gostava dele
como amigo, mas que não o amava.
Decidida, foi para o prédio onde ele morava, num apartamento do andar térreo.
Tocou a campainha e ficou espantada quando Derek abriu a porta, despenteado,
descalço e só de calça, parecendo ter saído da cama naquele momento. Era estranho,
porque ele se gabava de levantar-se cedo todos os dias da semana.
— Perdeu a hora? — perguntou, esboçando um sorriso.
— É que... bem... — ele gaguejou, obviamente atrapalhado.
Fay notou movimento na porta que ligava a sala ao quarto e olhou naquela
direção. Viu Sheila, a secretária de Derek, caminhando para eles, enquanto amarrava
um roupão atoalhado na cintura.
— Posso explicar, querida. Sheila veio... — o namorado começou, hesitante,
calando-se em seguida.
Fay, completamente atônita, não desviava o olhar do rosto da secretária, uma
mulher atraente, mas casada, dez anos mais velha que Derek e mãe de dois filhos
adolescentes!
Por fim, controlando-se, encarou o namorado, imaginando como fora estúpida

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em ficar com remorsos pelos beijos que trocara com Jake.
— Não precisa explicar coisa alguma, Derek.
— Não faça essa cara, Fay! O que você queria? Que eu ficasse sozinho, noite
após a noite, esperando que minha namorada tivesse um minuto livre para ficar
comigo?
Fay quase o lembrou de que era meio-dia e não noite, mas seria inútil começar
uma discussão. Nem ao menos se sentira magoada com a descoberta. Ficara apenas
surpresa.
Sheila, que parará no meio da sala, pigarreou, chamando a atenção dos dois.
— Podem conversar à vontade — concedeu, parecendo tudo, menos perturbada
com a situação.
Fay seguiu-a com o olhar, até vê-la entrar no quarto e fechar a porta. Voltou-
se então para Derek, sem saber o que dizer. Não havia o que conversar. Era evidente
que tanto ela como ele tinham ficado desiludidos com o namoro. Derek arrumara uma
amante e ela não estivera longe de entregar-se a Jake. Estava tudo acabado,
simplesmente.
O namorado olhou-a, parecendo furioso por ter sido surpreendido daquela
forma.
— Entre, Fay — resmungou.
— Não, obrigada.
— Mas precisamos conversar!
— De fato, vim aqui com a idéia de falar com você. Queria dizer que achava
melhor rompermos. Agora, depois do que vi, isso tornou-se supérfluo.
— Como descobriu? Foi alguma maldita fofoqueira que nos viu juntos e correu
contar a você?
— Não. Eu não sabia de coisa alguma, até ver sua amante sair do quarto.
De fato, nunca sequer imaginara que Derek pudesse estar mantendo um caso
com outra mulher. Contudo, ali parada na porta, começou a lembrar das vezes em que
telefonara e ele não atendera. Das tardes de sábado, em que nunca saíam juntos, por
causa de um jogo de golfe, ou de tênis, no clube. Seria aquilo mesmo? Pelo jeito, não.
— Espero que não esteja pensando em espalhar por aí que Sheila e eu...
— Pode ficar tranqüilo, Derek. Não sou tão mesquinha! O marido dela não vai
saber de nada. Nem seus clientes.
— Obrigado.
— Não precisa agradecer. Até logo, Derek.
— Espere, Fay — ele pediu, segurando-a pelo braço.
— Será que não poderíamos sair hoje à noite para... Ela o encarou, perplexa.
Derek ainda queria sair com ela, depois de tudo!
— Não — respondeu com firmeza, livrando o braço.
— Acabou, Derek. E não se preocupe com o fato de ser meu contador.
Arranjarei outro.
Virou-se e voltou de cabeça erguida para o furgão estacionado na rua. Sentia-
se enojada. Não por considerar-se traída. Só haveria traição se existisse amor entre

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ela e o namorado e ficara mais do que claro que os dois não se amavam. Mas a atitude
de Derek, que quisera culpá-la por seu relacionamento com Sheila, uma mulher casada,
fora nauseante.
No entanto, não podia deixar de experimentar uma enorme sensação de alívio.
Felizmente, não corria mais i o risco de casar-se com Derek. Ele não teria escrúpulos
em enganá-la, quando se ofendesse por qualquer coisa que ela dissesse ou fizesse.
Estava livre! Não precisava mais se sentir culpada pelo amor que sentia por
Jake. Um amor sem esperança, pensou com amargura, porque as barreiras do passado
con-línuavam de pé, interpondo-se entre eles.
Fay atravessou a cidade e saiu para o campo, indo na direção contrária ao chalé
de Gail. Parou à margem de um riozinho, num local sombreado, onde tantas vezes cia,
Jenny e David tinham feito piqueniques. Precisava de paz para pensar e tomar uma
decisão sobre o que fazer a respeito de Jake.
Depois de muito refletir, reconheceu que o mais certo a fazer era contar tudo
ao padrasto, dividindo com ele o segredo que lhe pesava no coração.
Chegou em casa no meio da tarde e encontrou David sozinho na sala de estar,
lendo o jornal.
— Tudo bem com você, menina? — ele perguntou, erguendo o rosto para que ela
o beijasse. — Está pálida.
— Estou bem — ela afirmou. — Só um pouco cansada. E mamãe?
— Foi deitar-se.
— Algum problema? Ela nunca gostou de dormir depois do almoço.
— Nenhum problema. Eu é que a mandei descansar.
— Fez bem — Fay aprovou.
— Fui falar com o dr. Ambrose, sem Jenny saber, é claro. Ele garantiu que ela
goza de saúde invejável e que não há motivo para preocupação.
— Se mamãe souber disso, vai querer abusar.
— E eu não vou deixar — declarou o padrasto com um sorriso maroto. — Pelo
menos uma vez na vida sua mãe vai ter de me obedecer. Fay forçou um sorriso e
sentou-se na poltrona ao lado.
— Isso eu quero ver — replicou. — Teimosa como ela é, vai deixar você louco.
— No fundo, ela está gostando de se ver cercada de cuidados. Se não
estivesse, já teria feito uma briga dos diabos.
— Também acho — concordou Fay distraidamente. David fitou-a com atenção.
— O que aconteceu, Fay?
— Nada, por quê?
— Você está esquisita. Brigou com Jake?
— Com Jake? Eu...
— Quando telefonei para convidá-lo para o jantar, ele disse que você estava lá
no chalé — contou o padrasto. — O que houve?
Fay sentiu uma onda de calor subir-lhe ao rosto. Sabi que David era perspicaz,
mas não imaginava que fosse tanto. E se ele adivinhasse o que se passara entre ela
Jake?

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— É, eu fui ao chalé para dar uma arrumada em tudo — explicou, tentando
aparentar naturalidade. — Gail vai chegar amanhã e a casa estava na maior bagunça.
Fiquei conversando com Jake, tomamos sorvete e foi por isso que...
— Não me deve explicações, Fay — observou o padrasto em tom gentil. — E eu
compreenderia, se você estivesse atraída por Jake. Não disse que ele me
impressionou?
— Disse. Impressionou a mim também.
— Que mal há nisso? Fay suspirou.
— Não haveria mal algum, se Jake não fosse quem é — respondeu
enigmaticamente.
— Como assim?
— Ele não imagina que eu sei, mas usa nome falso.
— Tem certeza?
— Tenho. Jake Danvers não é o nome dele.
David franziu a testa, pensativo, e ficou calado durante alguns instantes.
— Eu não tiraria conclusões apressadas — comentou por fim. — Aprendi, nos
meus cinqüenta e sete anos de vida, que as pessoas muitas vezes têm motivos válidos
para certas atitudes que nos parecem suspeitas.
— Você é bom demais, David, e sempre dá um jeito de desculpar os erros dos
outros.
— Já estabeleceu que Jake errou. Está julgando, sem saber o que o levou a
usar outro nome.
— Mas eu sei! — ela exclamou, levantando-se. David tirou os óculos e limpou as
lentes com a barra da camiseta. Tornou a colocá-los e ergueu os olhos para Fay, que se
encostara na lareira.
— Tenho certeza de que Jake não é um mau-caráter, mesmo que use nome
falso — declarou. — Tenho uma espécie de instinto para essas coisas.
— Eu sei — ela concordou. — Já que estamos falando nisso, diga-me com toda a
sinceridade o que pensa de Derek.
— Com toda a sinceridade, Fay? Quer realmente ouvir?
— Quero — ela respondeu em tom quase ríspido. David deu de ombros.
— Não gosto de tecer certos comentários sobre as pessoas, Fay.
— Disso eu estou cansada de saber — ela replicou, impaciente. — Mas estou
pedindo. Por favor, diga o que pensa de Derek.
— Muito bem. Acho seu namorado um sujeitinho emproado, egoísta e
insensível.
Fay olhou-o, abismada. O padrasto podia não falar mal de ninguém, mas era
uma observador danado de bom.
— Por que nunca disse nada, David? Teria me poupado o desgosto de descobrir
isso da pior maneira possível.
— Está me dizendo que Derek a desiludiu?
— Mais ou menos.
— O namoro acabou?

Projeto Revisoras 55
Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
— Para sempre — afirmou Fay em tom decidido. David sorriu misteriosamente.
— Onde fica Jake Danvers em tudo isso?
— Não fica em lugar nenhum. Jake Danvers não existe. Aquele homem que veio
aqui chama-se Jacob Dalton.
— Jacob Dalton? — repetiu o padrasto, fitando-a com assombro. — O...
— O marido de Ângela Ripley — completou uma voz, vinda da porta.
Fay olhou para lá e viu Jenny, que entrava na sala.
— Mamãe! — gritou. — Oh, meu Deus!
David olhou-a com espanto e Jenny aproximou-se dela, segurando-a pelo braço.
— Por que está tão nervosa, Fay?
— Não era para estar? Tive tanto trabalho para evitar que você se
encontrasse com Jake... com Jacob Dalton. Não queria que soubesse que ele está aqui
em Bedfords-hire e agora...
— Acho que precisamos conversar, minha filha — observou a mãe, parecendo
perfeitamente calma.

CAPÍTULO X

Jenny ouviu com espantosa tranqüilidade a notícia de que Jake encontrava-se


na cidade e que era o novo diretor de Vidas Privadas.
Em vez de arrasada, como Fay esperara que ficasse, ela se mostrou curiosa a
respeito de Jake. Fez perguntas, querendo saber como ele estava fisicamente, onde
vivera durante dez anos e se pretendia ficar morando em Bedfordshire.
David permaneceu calado enquanto Fay respondia às perguntas da mãe,
forçando as palavras através da garganta apertada. Por fim, ergueu a mão, anunciando
que tinha algo a dizer.
— Acho que o mais importante, no momento, é saber que restrições Fay impôs
ao que sente por Jake pelo fato de conhecer sua verdadeira identidade.
— O que sinto por Jake? — balbuciou Fay, fitando o padrasto com os olhos
cheios de lágrimas.
David acariciou-lhe o rosto.
— Foi o que pensei. Apaixonou-se por ele.
— É verdade — ela murmurou. — Apesar de tudo.
— Sua mãe nunca guardou ressentimento contra Jacob Dalton, menina. Os dois
passaram pelo mesmo sofrimento e poderiam ter se tornado amigos, se houvesse
oportunidade.
Fay abanou a cabeça, discordando. — Mamãe sempre detestou tudo o que a
fizesse lembrar-se de papai e das coisas que aconteceram dez anos atrás.
— Isso foi no começo, querida — observou a mãe. — A gente faz coisas idiotas,
quando sofre. E eu estava sofrendo muito, no dia em que voltei dos Estados Unidos,
depois do enterro de seu pai.
— Eu sei, mamãe — Fay afirmou. — Você queimou todas as fotos, me proibiu de

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
falar em papai, disse que era para esquecermos nossa vida passada.
Jenny suspirou.
— Superei essa revolta, muitos anos atrás. Para ser exata, nove e meio, quando
conheci David — contou, estendendo a mão para o marido. — O passado não importa.
Nós nos amamos, vamos ter um bebê, somos felizes.
— Foi por isso que fiquei com medo que se visse Jake... Jacob...
— Ficasse perturbada? — a mãe interrompeu-a. — Não, bobinha. Nada pode
perturbar a felicidade que descobri ao lado de David. Nem mesmo as lembranças
trazidas por Jacob Dalton.
— Mas...
— Nada do que possa vir do passado me magoará, filha. Aquilo tudo acabou e
foi esquecido.
Fay escondeu o rosto nas mãos. Toda sua preocupação fora inútil. E o medo
infundado de ferir a mãe interferira em seu relacionamento com Jake. Ele a julgara
mal, pensando coisas horríveis a seu respeito. Talvez nunca mais quisesse vê-la. Talvez
estivesse se preparando para ir embora.
— Acho melhor irmos todos ao chalé, falar com Jake Danvers — sugeriu o
padrasto.
Fay tirou as mãos do rosto e fitou-o, assustada.
— Não...
— Por que não? — ele perguntou. — É hora de enterrarmos os fantasmas do
passado de uma vez por todas.
— Acho a idéia maravilhosa — aplaudiu a mãe. — Vamos, Fay.
— Não podemos ir sem avisar — ela teimou.
— Claro que podemos — replicou o padrasto. — O assunto é importante.
Fay sentou-se no banco de trás do carro e inclinou-se para a frente, onde
Jenny acomodara-se ao lado de David.
— Tem certeza de que quer ir lá, mamãe? —perguntou, talvez pela décima vez.
— Pode ser que Jake não esteja em casa.
Jenny virou a cabeça para olhá-la, sorrindo.
— E pode ser que esteja — replicou. — Já que precisamos falar com ele e não é
coisa que se trate por telefone, temos de arriscar.
— Além disso, se ele não estiver, voltaremos. Não estamos indo para a China,
mas para um subúrbio de Bedfordshire — acrescentou o padrasto.
Fay não disse mais nada. Reclinou-se no banco, desejando estar em qualquer
outro ponto do planeta. Não podia prever de que modo Jake aceitaria aquele confronto
com o passado. O que sentiria, quando descobrisse que ela era filha de Paul Halliwell?
David e Jenny conversaram o tempo todo, de modo descontraído. O passado
parecia realmente esquecido. Fay refletiu que fizera uma grande confusão, achando
que a mãe ainda guardava o mesmo ressentimento de dez anos atrás. Mas como
poderia adivinhar que seus sentimentos tinham mudado, se nenhuma das duas jamais
tocara no assunto?
Absorvida pelos pensamentos, sobressaltoü-se quando David parou o carro.

Projeto Revisoras 57
Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
Tinham chegado ao chalé. Nervosa, olhou para a entrada de veículos e viu o Jaguar de
Jake estacionado sob uma árvore. Por um instante, teve vontade de recusar-se a
descer. Mas raciocinou que de nada adiantaria acovardar-se, já que a mãe e o padrasto
estavam determinados a esclarecer toda a situação.
David desceu e deu a volta no carro para ajudar Jenny a sair. Com um suspiro,
Fay saltou para a calçada.
Foi nesse momento que Jake saiu do chalé. Desceu a escada do alpendre e
parou ao vê-los. Os três caminharam ao seu encontro.
Fay olhou para a mãe e notou que ela empalidecera ligeiramente. Apesar de
tudo o que Jenny dissera sobre ter se livrado do passado, era óbvio que se sentia um
tanto abalada. Mas examinava Jake com curiosidade, naturalmente procurando ver se
ele mudara muito em dez anos.
Jake não a reconheceu, pois mal a olhou, antes de fitar Fay rapidamente.
Depois, fixou a atenção em David e apertou a mão que ele lhe estendia, sorridente.
— Devo dizer que estou surpreso com essa visita — declarou em tom quase
frio.
— Desculpe ter aparecido sem avisar, Jake — pediu David. — Mas quando Fay
chegou em casa e explicou certas coisas, nós...
— Decidiram vir aqui e dizer que o convite para o jantar foi cancelado — Jake
interrompeu-o secamente. — Não precisavam ter tido todo esse trabalho. Eu estava
saindo justamente para ir a sua casa dizer que não posso aceitar.
Fay engoliu em seco.
— Você ia a nossa casa, agora? Jake olhou-a friamente.
— Sei que não me quer lá, mas não tinha outra alternativa, depois de perceber
que não seria bem-vindo na "reunião de amigos".
David ergueu a mão, apaziguador.
— Jake, depois falaremos sobre isso. Antes, porém, gostaria de apresentar-
lhe minha esposa, Jenny.
— Oi, Jacob, como vai? — a mãe de Fay cumprimentou baixinho, parecendo
emocionada. — Faz muito tempo que não nos vemos, não é?
Jake estremeceu ao ouvir seu nome verdadeiro e franziu a testa, olhando
atentamente para ela. Durante vários segundos, observou-lhe o rosto, tentando
reconhecê-la.
— Jenny... Halliwell? — murmurou por fim, duvidoso.
— Você é Jenny Halliwell?
— Agora sou Jenny McKenzie — ela o corrigiu com um sorriso caloroso.
Jake empalideceu visivelmente e desviou o olhar para fixá-lo em Fay.
— Quer dizer que você é filha de Paul Halliwell. Ela assentiu com relutância,
esperando vê-lo reagir com
desgosto, raiva ou até repugnância. Mas a expressão do rosto moreno não
mudou. Seria possível que ele não soubesse que Ângela tivera um caso com Paul? Se
assim fosse, ficaria muito mais difícil explicar a situação já tão constrangedora.
— Sou filha de Paul — ela afirmou, tentando manter a firmeza da voz. — E

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
você é Jacob Dalton.
Os olhos cor de água-marinha fixaram-se nos dela, estreitando-se
perigosamente.
— Você sabia disso o tempo todo? Desde o dia em que nos conhecemos? —
perguntou.
— Desde o primeiro dia, não — ela respondeu. — Quer dizer, achei que você
não me era estranho e que me fazia lembrar Jacob, mas não podia ter certeza. Depois,
sim, tive as provas.
Ele torceu os lábios num trejeito de desdém.
— Soube disfarçar muito bem — comentou. — E uma boa atriz, Fay McKenzie,
mesmo quando não está no palco.
— Por favor, Jake... — ela murmurou, não suportando o sarcasmo.
Ele ignorou-a, virando-se para David e Jenny.
— Muito bem, vocês foram muito gentis em vir aqui para explicar por que Fay
não queria que eu me encontrasse com a mãe dela. Mas agora, se não se importam,
preciso sair.
Jenny abanou a cabeça, negando.
— Nós nos importamos, Jacob — declarou em tom decisivo. — Vai ter de nos
dar um pouco do seu tempo porque não viemos aqui apenas por gentileza.
Ele franziu a testa, obviamente agastado.
— O que mais querem de mim? — indagou em tom áspero. — Fui um palhaço,
mas não preciso de platéia.
— Palhaço?! — exclamou o padrasto de Fay. — Por que diz isso, Jake?
— Eu me comportei de modo ridículo, conversando com essa moça como se ela
fosse uma verdadeira amiga, confiando minhas dúvidas e ambições de um modo como
nunca fiz antes, com ninguém.
— Jake... — Fay chamou-o baixinho, sentindo-se desesperada.
Ele virou-se para ela com ar acusador.
— O tempo todo você sabia mais a meu respeito do que eu poderia suspeitar. E
insistiu em me procurar. Para quê? Para rir de mim? Como deve ter se divertido
ouvindo o que lhe contei sobre minha vida!
— Não foi nada disso! — ela protestou, magoada. — Adorei ouvir você falar dè
sua vida na fazenda, dos seus planos! Achei que estava ajudando!
— E por que estaria preocupada em me ajudar?
— Porque sim. Porque... — ela se interrompeu bruscamente, quando percebeu
que ia dizer que o amava.
Jake deu uma risadinha de escárnio.
— A filha de Paul Halliwell! —resmungou por entre os dentes, como se apenas
naquele momento aceitasse o fato;
— É minha filha também — Jenny lembrou-o em tom manso. — E acho que ela
gosta muito de você, Jacob.
— Mamãe! — exclamou Fay, embaraçada. Mordeu o lábio, à beira das lágrimas,
esperando que Jake usasse a declaração de Jenny para humilhá-la ainda mais.

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
Contudo, ele pareceu ficar comovido com sua agitação, porque o rosto másculo
suavizou-se.
— Se tudo fosse diferente... — sussurrou e parou, passando a mão no cabelo
espesso num gesto de frustração. — Você não sabe de muitas coisas que aconteceram
dez anos atrás, Fay.
— Sei, sim — ela afirmou suavemente.
— Se soubesse, veria que um relacionamento entre Jacob Dalton e Fay
Halliwell não teria chance.
Jenny tocou-o de leve no braço.
— Está falando de Paul e Ângela? Do caso que tiveram? — perguntou.
Por um momento ele a olhou espantado, como se fosse um absurdo ela saber
daquilo. Então, assentiu lentamente.
— E do fato de Paul querer o divórcio para poder casar-se com Ângela? —
insistiu a mãe de Fay.
Jake olhou-a com ar perscrutador.
— Ele chegou a pedir o divórcio? — quis saber. Jenny apertou os lábios com
desprezo.
— Não teve tempo. Mas entre as coisas de Paul, depois de sua morte,
encontrei uma carta que ele ia mandar para mim, explicando que queria divorciar-se.
— Oh, meu Deus! — exclamou Jake num murmúrio, meneando a cabeça com
tristeza. — Pensei que pelo menos você tivesse sido poupada do sofrimento de saber
que seu marido tinha um caso com minha mulher.
Jenny deu de ombros.
— Superei isso há muito tempo atrás — afirmou. — E minha filha também.
Jake não replicou, fazendo Fay sentir-se ainda mais desamparada. O obstáculo
que existira entre eles fora derrubado com as explicações, mas isso parecia não ter
feito nenhuma diferença.
Ele continuava frio e com expressão sombria. Não havia a mínima ternura nos
olhos azuis. Mas o que ela esperara, afinal? Uma declaração de amor? Não seria uma
esperança ridícula, pensai- que Jake se apaixonara por ela? Ele a desejava, com
certeza, mas amor era algo muito diferente.
David, que estivera calado aquele tempo todo, observava Jake atentamente.
— Há mais alguma coisa, além do que já falamos, não é Jake? O que é que ainda
não sabemos? — perguntou.
Fez uma pausa, esperando uma resposta que não veio.
— Por que desapareceu de circulação durante dez anos? — persistiu. — É claro
que ficou devastado com a morte de sua esposa, mas se já sabia que ela e Paul
Halliwell eram amantes...
— Fiquei arrasado — confessou Jake, depois de um longo silêncio. — Tão
chocado e atônito que caí em depressão nervosa.
David assentiu.
— Sabemos disso. A imprensa noticiou — observou.
— Mas não foi por causa da morte de Ângela — continuou Jake com voz

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
trêmula. — Mas da forma como aconteceu. Queriam que eu morresse naquele incêndio,
não ela e Paul.
Fay olhava-o, incrédula, contendo-se para não abraçá-lo ao vê-lo empalidecer
sob o impacto das terríveis lembranças. O incêndio não fora acidental, como todos
tinham pensado, mas uma ação criminosa, destinada a fazer uma vítima: Jacob Dalton.
Mas, por obra do destino, ou qualquer outra força incompreensível, o fogo matara Paul
e Ângela.
Quem teria sido o autor do crime? Seu pai? Não, nisso ela não podia acreditar.
Paul podia ser irresponsável, mas não era um assassino! Quem, então?
Jake encarou-a.
— Não fique assim, Fay — pediu com voz enrouque-cida. — Seu pai não
participou dos planos de Ângela para acabar comigo.
— Ângela?! — exclamou Fay, horrorizada.
Jenny gemeu, encostando-se em David, que a abraçou com força.
— Ângela — confirmou Jake.
— Mas por quê? — perguntou Fay, perplexa. — Se queria casar com meu pai,
não podia simplesmente pedir o divórcio?
— Seria péssima publicidade — ele respondeu. — Na noite do incêndio, por
acaso, ouvi os dois discutindo o assunto. Melhor dizendo, brigando. Ângela queria
obrigar Paul a aprovar seu plano para me matar.
— E ele? — A voz de Fay saiu num cochicho estrangulado.
— Ficou chocado com a idéia. Disse que amava Ângela acima de tudo e que
desejava ficar com ela para sempre, mas que jamais se tornaria um assassino.
David estendeu o braço livre e passou-o pelos ombros de Fay, ao ver que ela
começara a chorar.
— Imagino como deve ter ficado abalado, quando descobriu que sua esposa
planejava matá-lo — comentou, dirigindo-se a Jake.
— Depois de viver três anos com Ângela, eu não deveria ficar abalado com
nada do que ela fizesse, mas fiquei.
— Por que não nos conta tudo? — sugeriu o padrasto de Fay. — Não é
curiosidade, entenda. Mas, depois do que você revelou, acho que seria melhor não
esconder mais nada.
Jake deu de ombros.
— Não há mais nada a contar, a não ser que desperdicei dez anos de minha
vida, preso ao passado e sozinho. E sozinho pretendo continuar.
David abanou a cabeça, discordando.
— E Fay? O que pretende fazer com o que sente por ela? Não tente me
enganar, Jake, porque sou um homem vivido. Você gosta da minha enteada.
Jake fixou o rosto de Fay com olhos nublados de tristeza.
— Gosto muito. Tanto, que não quero vê-la envolvida no maldito escândalo que a
imprensa faria, se descobrisse que Jacob Dalton está apaixonado pela filha de Paul
Halliwell.
— Jake! — ela exclamou extasiada, livrando-se do abraço protetor do

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
padrasto.
Deu um passo na direção de Jake, que estendeu as mãos, impedindo-a de
aproximar-se.
— Não, Fay. Não posso fazer isso com você.
— Estou pouco me incomodando com a imprensa ou com escândalos, Jake! Eu te
amo!
Ele meneou a cabeça.
— Amar nem sempre é suficiente — comentou.
— Mas eu te amo muito — ela insistiu.
— Você não entende que isso não basta? Eu já achava errado ter me
apaixonado por alguém tão jovem e inexperiente. Agora, então, sabendo que você é
filha de Paul Halliwell... Pode pensar que isso não faz diferença, mas está enganada.
— Mas que droga, Jake! — ela protestou, com lágrimas correndo-lhe pelo
rosto.
— Acho melhor nos sentarmos no alpendre — ele sugeriu com um suspiro de
desânimo. — Talvez, se conversarmos com calma, você compreenderá que não pode
haver nada entre nós.
Seguiram em silêncio para o alpendre agradável, emoldurado de flores, e
acomodaram-se nas poltronas de vime.
Jenny, sentada na frente de Jake, inclinou-se para ele.
— Conheço minha filha muito bem — começou em tom brando. — Nenhuma
conversa, por mais longa e persuasiva que seja, a fará mudar de idéia. Se ela descobriu
que ama você, não desistirá desse amor.
— Sei que ela é teimosa, mas terá de entender que não daria certo — replicou
Jake.
Jenny sorriu.
— Teimosa e com muito amor para dar — declarou. David deu uma risadinha.
— Parece que teimosia é o que não falta na família McKenzie — brincou,
obviamente querendo desanuviar a atmosfera tensa.
Fay respirou fundo e levantou-se, indo até a poltrona de Jake. Parou e olhou
para ele, já sem lágrimas e com expressão determinada.
— Pode dizer o que quiser, Jake. Não vai me fazer esquecer que amo você.
Agora, me responda uma coisa.
— O quê?
— Você não me quer só porque sou filha de Paul Halliwell?
— Não seja boba, Fay! — ele explodiu, mais parecido com o Jake que ela
conhecia e amava com tanta intensidade. — Você não é seu pai!
— Então...
— Quer fazer o favor de me ouvir?
— Não. A única coisa que importa é meu amor por você.
Jake bufou, impaciente, mas não replicou. Com um sorriso, Fay sentou-se no
tapete de retalhos e apoiou um braço nos joelhos dele, erguendo os olhos para ver-lhe
o rosto.

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Ele lançou-lhe um olhar rápido, mas ela teve tempo de ver um brilho diferente
nas profundezas azuis. Uni brilho de ternura.
David pigarreou, chamando a atenção dos dois. — Se eu fosse você, Jake,
contaria a história desde o começo — comentou. — Falar é um santo remédio.
— Que história? Já sabem tudo a respeito do meu maldito casamento.
— Nem tudo. Além disso, queremos saber algo a seu respeito. Não conhecemos
você, lembra-se?
— E, não me conhecem — ele concordou, tornando a suspirar. — Fui para
Hollywood quando estava com vinte e três anos. Com vinte e seis, tinha feito três
filmes.
— De grande sucesso — acrescentou o padrasto de Fay.
Jake assentiu com modéstia.
— O tempo foi passando, Ângela passou de menina-prodígio do cinema a
estrela de primeira grandeza e não desapontou ninguém nessa transição. Eu sempre a
via nas festas e sabia que ela era uma grande profissional, mas nunca tínhamos sido
apresentados.
Jake fez uma pausa longa, talvez tentando ordenar os pensamentos.
— Um dia, um produtor nos apresentou — prosseguiu. — Ela era linda, tinha
olhos hipnóticos e a habilidade de fazer um homem sentir-se o mais importante do
mundo. Como dezenas de outros antes de mim, fiquei enfeitiçado.
Parou de falar novamente e suspirou, passando a mão no cabelo.
— Ela apaixonou-se por mim e nos tornamos o casal perfeito de Hollywood.
David cruzou as pernas, recostando-se mais confortavelmente.
— Quando foi que a "perfeição" começou a sofrer arranhões? — perguntou.
Jake tomou a mão de Fay instintivamente e nem notou que a apertava com
força exagerada. Ela não reclamou, feliz demais com o contato.
— Logo depois que nos casamos — ele contou. — Ângela queria que tudo fosse
feito do seu jeito, sempre. Quando eu a contrariava, ela tinha verdadeiros ataques de
fúria. E imaginava coisas a meu respeito, demonstrado ciúme louco.
Fay sempre ouvira dizer que Hollywood era uma lugar cheio de tentações. Um
homem bonito e famoso como Jake certamente devia despertar desejo nas moderes.
No entanto, nunca houvera nenhum boato sobre ele estar envolvido com alguém. Se
Ângela o amasse, confiaria nele.
— Ela cresceu naquele mundo artificial -— continuou Jake. — Estava
acostumada a ter todos os seus caprichos satisfeitos. Não sabia nada da vida real,
nem de relacionamento reais.
— Não poderia mesmo adaptar-se ao casamento — observou David.
— Principalmente com uma pessoa como eu. Não sou do tipo que se deixa levar
pela coleira. Tinha minha cabreira para cuidar, não podia ficar o tempo todo adorando
Ângela e dizendo que a achava maravilhosa.
— Seria uma relação doentia — comentou Jenny. — Claro, mas era isso o que
ela queria. Depois de seis meses de casamento, eu disse a Ângela que não podíamos
continuar daquele jeito. As brigas eram constantes, por causa de suas exigências

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
ridículas.
Jake entrelaçou os dedos nos de Fay, parecendo distraído, enquanto recordava
o tumultuado passado.
— Quando pedi o divórcio — prosseguiu — aquela doida tomou um vidro inteiro
de pílulas para dormir.
— Oh! — exclamou Fay, — Ninguém soube disso.
— Claro que não. O estúdio abafou o caso. Nada podia manchar a reputação da
antiga menina-prodígio, que fizera tanto sucesso quanto Shirley Temple.
Fay imaginou se Ângela quisera mesmo matar-se ou se fora uma simulação de
mulher mimada.
— Além disso, o que ela tomou de pílulas nunca a mataria — esclareceu Jake,
confirmando o que Fay pensara. — Lançava mão de todos os recursos para tentar me
manipular.
David abanou a cabeça com tristeza.
— Era desequilibrada — comentou.
— Totalmente — concordou Jake. — As "tentativas de suicídio" tornaram-se
rotineiras. Sempre que eu falava em divórcio ela tomava pílulas. Não porque me
amasse. O que não queria era que os outros soubessem que nosso casamento fora um
fracasso.
— Quanto tempo isso durou? — perguntou Jenny.
— Durante quase dois anos, vivi com essa ameaça pendurada sobre minha
cabeça. Sabia que era encenação, mas receava que um dia ela tomasse pílulas demais e
morresse.
— Um receio compreensível — opinou o padrasto de Fay.
— Eu não queria ficar com a morte de Ângela na consciência, culpando-me por
não ter conseguido amá-la de verdade.
— E enquanto isso ela o obrigava a viver no inferno
— comentou Fay. — Como conseguiu agüentar tanto tempo, Jake?
— Eu me refugiava no trabalho — ele respondeu. — Trabalhava como um louco
e não tinha tempo nem energia para pensar na baderna em que minha vida se
transformara.
David, sentado ao lado dele, bateu-lhe no ombro.
— Teve muita fibra, rapaz.
— Se não bastassem às cenas de ciúme e os acessos de raiva, Ângela começou
a colecionar amantes. Sempre foi muito discreta e em público fazia questão de agir
como esposa apaixonada. Representava tão bem que acho que ela mesma acreditava na
farsa.
Fay refletiu que Ângela fora um trágico produto de Hollywood e chegou a
sentir tristeza por ela. Olhou para Jake, querendo abraçá-lo e dizer o quanto o amava
e como desejava fazê-lo feliz.
Ele esboçou um sorriso tenso.
— Evitei dirigir qualquer filme estrelado por Ângela durante três anos —
contou. — Mas ela era o maior sucesso de Hollywood, na época, e o estúdio achou que

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Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
já era tempo de fazermos alguma coisa juntos.
— Você não podia recusar-se? — Fay quis saber.
— Não, sem revelar ao mundo todo que eu me sentia doente só de estar perto
de minha mulher. Aceitei, pensando no que teria de fazer para suportar tal provação.
Mas não precisava ter me preocupado.
Fay adivinhou o que ele ia dizer e sentiu um aperto no coração.
— Assim que ela pôs os olhos em Paul Halliwell, decidiu que o queria — Jake
recordou. — Se isso lhe serve de consolo, Jenny, seu marido não tinha a menor chance
de escapar, depois que Ângela o enfeitiçou.
A mãe de Fay sorriu com desdém.
— Duvido que ele quisesse escapar — murmurou secamente. — Paul nunca foi
um marido dos mais fiéis. Apenas o caso com Ângela atingiu proporções muito mais
sérias.
Jake concordou com um gesto de cabeça.
— Foi a enorme paixão de Ângela por Paul que a fez querer livrar-se de mim,
mas sem divórcio. Ficar viúva e fingir-se de inconsolável seria muito mais glamouroso
do que reconhecer que fracassara no casamento. Foi assim que teve a idéia de
provocar o incêndio.
— Ela devia estar louca — comentou Fay.
— Com certeza — Jake replicou. — Pela discussão dos dois que ouvi naquela
noite, ela já espalhara gasolina em volta dos cômodos do andar térreo. Tudo queimaria
rapidamente, assim que o fogo fosse ateado.
Jenny escondeu o rosto nas mãos, chocada.
— Oh, Deus, que coisa horrível!
— Paul não gostou nem um pouco da idéia — contou Jake.
— Como ouviu o que os dois diziam? — perguntou Fay.
— Era tarde e eu já estava dormindo, mas eles falavam tão alto, brigando, que
acordei. Saí do quarto a tempo de ouvir quase tudo.
— E fácil imaginar como se sentiu — ela comentou.
— Acho que fiquei em estado de choque por alguns minutos, porque quando
novamente tomei consciência do que se passava lá embaixo, Ângela tinha explodido
num de seus acessos de fúria.
Jake silenciou e baixou a cabeça, fechando os olhos, como se lhe fosse muito
penoso recordar aquela noite fatídica. Por fim, tornou a endireitar-se e abriu os olhos.
— Olhei para o salão por cima da grade da galeria — continuou contando. —
Ângela estava jogando tudo em cima de Paul: os sapatos, estatuetas, abajures.
Enlouquecida atirou também um candelabro com uma vela acesa, que certamente
preparara para pôr fogo no carpete molhado de gasolina.
— Que horror! — murmuraram as duas mulheres em uníssono.
David levantou-se e pousou a mão no ombro de Jenny num gesto de proteção.
— O fogo ergueu-se no mesmo instante — relembrou Jake. — Alastrou-se por
toda à volta do salão. Os dois estavam tão envolvidos na briga que demoraram a
perceber. Quando se viram cercados pelo fogo era tarde demais.

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— Oh, meu Deus! — gemeu Fay, imaginando a cena.
— O que você fez?
— Desci alguns degraus da escadaria, sem enxergar nada por causa da fumaça
e das labaredas que já subiam na minha direção. De repente caí e senti uma dor
insuportável no tornozelo esquerdo. Mais tarde, no hospital, descobriram que estava
fraturado.
Tornou a parar de falar e o silêncio estendeu-se por longos momentos.
— Os dois tinham parado de gritar, talvez já sufocados pela fumaça. Arrastei-
me escada acima e saltei por uma das janelas.
— E não se machucou ainda mais? — quis saber Fay.
— Claro, mas não sofri nenhuma outra fratura. Tive sorte, mas Paul e Ângela
morreram de forma horrível.
Jenny começou a chorar.
— Quanta loucura — murmurou.
David ajoelhou-se ao lado dela, abraçando-a.
— Tudo já passou, querida — consolou-a, tornando a olhar para Jake. — O que
fez depois? Sabemos que foi embora de Hollywood.
— Não podia mais ficar lá e tentei esquecer. Acho que não consegui, pelo
menos completamente. Se tivesse esquecido, não estaria hesitando em voltar para lá e
dirigir um filme cujo roteiro escrevi.
Fay deitou a cabeça em seus joelhos.
— Você não irá sozinho — declarou. — Nós nos amamos e ficaremos juntos.
Jake afagou-lhe o cabelo.
— Aquela maldita cidade seria capaz de devorá-la. Imagine o que farão, quando
souberem...
Ela ergueu a cabeça e sorriu para ele.
— Eu vou com você, Jake, e não tente me impedir. Jenny enxugou as lágrimas e
sorriu para os dois.
— Vamos deixá-los sozinhos para que possam conversar — decidiu, levantando-
se.
David ergueu-se e abraçou-a pelos ombros.
— Sinto muito pelo que lhe aconteceu no passado, Jake. Mas não deixe que isso
interfira nos seus sentimentos por Fay — pediu. — Ela é uma boa moça.
— Eu sei que é — afirmou Jake, pondo-se de pé e ajudando Fay a levantar-se.
— Por isso, não quero que sofra. Irei para Hollywood, farei o filme e enterrarei o
passado de uma vez por todas. Quando voltar...
— Eu vou com você — repetiu Fay em tom firme.
— Mas... David riu.
— Tem muito o que aprender a respeito dessa menina, Jake. Quando enfia uma
coisa na cabeça, não desiste.
— Viu? — Fay desafiou, sorrindo. — Quero ir com você para os Estados Unidos
e irei.
— O que fará, quando descobrirem que é filha de Paul? — perguntou Jake,

Projeto Revisoras 66
Sabrina 853 – O poder da paixão – Carole Mortimer
abraçando-a pela cintura.
— Não precisam saber. Meu sobrenome agora é outro e mudará mais uma vez,
porque nos casaremos antes de ir. Quem ligará Fay Dalton a Paul Halliwell?
Jake riu, finalmente, apertando-a contra o corpo.
— Declaro-me vencido. Não posso lutar contra tanta teimosia. Nem contra o
amor que sinto por você.
David e Jenny esgueiraram-se para fora do alpendre e os dois nem
perceberam, porque tinham começado a beijar-se.

— Hei! — chamou Fay. — Vejam o que Daniel está fazendo!


Jake, David e Jenny olharam para cercadinho colocado num canto da sala de
estar dos McKenzie. O lindo garoto de um ano de idade olhava por cima da grade para
o carrinho onde Laura, de um mês, dormia placidamente. Balbuciava como se quisesse
conversar com a menina, sua sobrinha, filha de Jake e Fay.
Em dezoito meses a vida de todos mudara bastante e para melhor. Jake fizera
o filme, um estrondoso sucesso que os prendera em Hollywood durante quase um ano.
Nesse período, ele e Fay tinham ido à Inglaterra uma vez, por ocasião do nascimento
de Daniel, que chegara ao mundo perfeitamente saudável, pesando quatro quilos.
A felicidade dos dois completara-se quando, pouco depois, Fay descobrira que
estava grávida. Laura, pequenina e loira, nasceu na Inglaterra, onde Jake dirigia um
filme. Os três viviam numa casa antiga e confortável, em Bedfordshire, não muito
longe da residência de Jenny e David.
Fay caminhou até o cercadinho e pegou o irmão no colo.
— Tenha paciência, querido. Laura logo estará brincando com você — prometeu.
Jake foi até ela e passou um braço por sua cintura.
— Por acaso eu já disse que te amo, sra. Dalton? — cochichou-lhe ao ouvido.
—Já, mas pode repetir quantas vezes quiser, meu amor. O bebê mexeu-se no
carrinho e os dois o observaram, sorrindo.
— Nunca pensei ser tão feliz —: murmurou Jake.
— Não fiz bem em teimar? — ela replicou, virando-se para beijá-lo no rosto. —
Seremos felizes para sempre, você vai ver.

FIM

CAROLE MORTIMER cresceu em Bedfords-hire, Inglaterra, numa família


composta pelos pais e dois irmãos, sendo ela a mais nova. Agora, com pouco mais de
trinta anos, ainda adora voltar à pequena cidade para visitar a família. É casada, tem
três meninos muito peraltas, quatro gatos e um cachorro. Nem por isso deixou de ter
tempo para escrever oitenta romances.

Projeto Revisoras 67

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