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COLÓQUIO DE PESQUISA QUALITATIVA EM MOTRICIDADE HUMANA: ECOMOTRICIDADE E BEM VIVER /
COLLOQUIUM ON QUALITATIVE RESEARCH IN HUMAN MOTRICITY: ECOMOTRICITY AND GOOD LIVING /
COLOQUIO DE INVESTIGACIÓN CUALITATIVA EN MOTRICIDAD HUMANA: ECOMOTRICIDAD Y BUEN VIVIR, 7.,
2017, Aracaju; São Cristóvão. Anais... / Annals... / Anales... São Carlos: SPQMH, 2017. p. 534-540.
Resumo: A arte por sua dimensão de conhecimento sensível, faz com que as relações
presentes no local que habitamos, seja o espaço de possibilidades; percepções que
abarcam o vivido e o transforma em diálogo. Neste minicurso intencionamos realizar
atividades que explorem as linguagens artísticas em seus cruzamentos, de modo que os
processos criativos elaborados dialoguem com o entorno, meio ambiente que se
reinventa entre pactos sensíveis e dinâmicos para comunicação e circulação de ideias.
Problematizando deste modo, os desafios que uma educação do sensível pode encontrar
em contextos que visam a autenticidade de projetos educativos amparados em um fazer
compartilhado, que tem na cultura e sua formação, a finalidade da construção de um
bem viver.
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(p.502), mas que deste contato com o mundo existente, surja dele, uma consciência real
de existência de mundo, e não abstrata.
Fiori (1986), ao discorrer sobre a constituição de nossa consciência, nos diz que
é feita do encontro entre ela e mundo, presenças que se constituem e juntas ganham
realidade, em que “[...] o outro – uma estrela, uma flor, ou um pássaro – só é presente
nessa luz da presença. A uma chamamos interioridade, e a outra exterioridade –
metáforas devidas, uma vez mais às ilusões da imaginação espacializante” (p. 4). O
acesso para a interioridade passa mutuamente pelo da exterioridade, em que todo
dualismo entre consciência e mundo já prefigura a destituição de sua composição. Por
isso que “[...] a consciência, é de um lado a outro transcendência” (MERLAU-PONTY,
1994, p.503), ou seja, não se atém em inércia, mas em-ação, em abertura à
circunvizinhança sensível que manifesto com meu ser, simultâneo com o ser do mundo.
Como nos orienta Mignolo (2010), a palavra aesthesis, originada no grego
antigo, se relacionou nos primórdios às sensações visual, gustativa e auditiva, mas que a
partir da modernidade, atrelou-se apenas à sensação do belo, tendendo em seu
significado à estética como teoria e conceito de arte como prática, operação que nada
menos se constituiu na colonização da aesthesis pela estética. A educação estésica,
refere-se ao aprimoramento dos sentidos para ampliação da percepção sobre os
contextos em que se constitui a vida, de forma que nos tornemos mais sensíveis aos
entornos que nos situamos e conscientes aos acontecimentos à nossa volta, para melhor
refletirmos sobre eles.
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fundamentos dos processos pedagógicos e da construção das finalidades do aprender a
saber” (BRANDÃO, 2014, p.14), para superação de posturas que fazem do professor, o
único dotado de conhecimento, mas que conhecedor de assuntos específicos, pode
mediar a busca de apreensões que geram o saber sobre o contexto e mundo existente. Aí
que uma educação da sensibilidade envolva questões ambientais para além de assuntos
abstratos que abarcam o planeta, como a salvação da Amazônia, mas sim, que possam
abranger temáticas tocantes ao entorno do ambiente de aprendizagem e comunidade
próxima, para problematização o que é vivido no dia a dia.
A busca por uma ampliação da visão que categoriza o saber para além das
especialidades, das matérias escolares, representa uma significativa mudança nos modos
de pensar as esferas de atuação humana, para além das divisões entre prática e teoria
que hoje despontam em comportamentos dicotómicos entre os seres humanos e a
natureza, e de modo semelhante, os conhecimentos elaborados em comunidades
populares e as científicas. Santos (2010), almejando uma mudança radical nos modos de
conceber o conhecimento, propõe uma ecologia dos saberes, a partir de uma copresença
radical, a qual “[...] implica conceber simultaneidade como contemporaneidade, o que
só pode ser conseguido abandonando a concepção linear de tempo” (p. 53). Implicando
uma contemporaneidade de conhecimentos, para valorização de saberes que
simultaneamente desvelam mundos e possibilidades de ser, para satisfação de homens e
mulheres que ao conviver, apreciam a si mesmos e comunidade em que habitam.
Pautar a descolonização em ambientes de aprendizagem, como prática para a
superação dos mecanismos coloniais que impingiram a discriminação de práticas e
saberes de grupos sociais diversos, perpassa colocar em questionamento as histórias e
produtos culturais próprios dos períodos de colonização, e que atualmente ainda
engendram uma sociedade patriarcal e com traços de discriminação étnico-racial, bem
como o modelo de desenvolvimento perpetrado pelo capitalismo, como sistema
totalizante e global, determinista de desenvolvimentos tecnológicos e científicos.
Indagar a palavra desenvolvimento, compreende visualizar em sua projeção
moderna, a própria revalorização do capital que faz das relações humanas, a condição
da produção da mais valia para acumulação de bens de posse, em contradição a todo
valor comunitário que venhamos a ter. Superar esta condição de opressão para
descolonização do viver, nos alerta Freire (2011), decorre a necessidade de buscar
coerências entre o vivido e o imaginado, entre a fala e as ações, movimento em que
“[...] nenhum colonizado, como individuo ou como nação, sela sua libertação, conquista
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ou reconquista sua identidade cultural sem assumir sua linguagem, seu discurso e por
eles ser assumido” (p.243).
Esta crítica, já existente na cosmovisão de nossos grupos ameríndios, suplantam
alternativas que partem da unidade do universo, e do ser humano à natureza, pautando
perspectivas fundadas na igualdade da vida entre os seres humanos, em que a
integralidade da forma do viver, é concebida como dom; o cuidado para satisfação de
um bem mútuo, um Bem Viver. Conceito encontrado na tradição de muitos povos
indígenas da américa latina, como no mundo quechua se encontra a ideia de “SUMAK
KAWSAY (a vida em plenitude e harmonia), no mundo Kuna BALUWABA (a unidade
da natureza), e em aymara, o SUMA OAMAÑA (o bem estar de sua força interna) 1”
(MEJÍA, 2013, p.379).
1
Tradução nossa.
2
Tradução nossa.
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A imaginação não é, como sugere a etimologia, a faculdade de formar
imagens da realidade; é antes a faculdade de formar imagens que ultrapassam
a realidade, que cantam a realidade. [...], a imaginação surge inevitavelmente
de qualquer ato criador. (SÉRGIO, 2003, p. 52)
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos R. Prefácio: perguntas, pesquisas. Para quem? Para quê? In:
OLIVEIRA, Maria Waldenez; SOUSA, Fabiana R. (Org.). Processos educativos em
práticas sociais: pesquisas em educação. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2014. p.11-18.
DUARTE JÚNIOR, João F. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. 2. ed.
Curitiba: Criar, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
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MEJÍA, Marco R. Pósfácio - la educacion popular: una construcción colectiva desde el
sur y desde abajo. In: STRECK, Danilo S; ESTEBAN, Maria T. Educação popular:
lugar de construção social e coletiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. p. 369-398.
SANTOS, Boaventura S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma
ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura S.; MENESES, M. P. (Org.).
Epistemologias do sul. São Paulo: Cortez, 2010. p. 31-83.
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