Вы находитесь на странице: 1из 203

Morfologia da Língua

Portuguesa
Prof.ª Elisabeth Penzlien Tafner

2011
Copyright © UNIASSELVI 2011

Elaboração:
Prof.ª Elisabeth Penzlien Tafner

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

469
M124m Tafner, Elisabeth Penzlien
Morfologia da língua portuguesa / Elisabeth Penzlien
Tafner. Indaial : UNIASSELVI, 2011.

193 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-392-1

1. Língua Portuguesa - Morfologia


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Ensino a Distância. II. Título.

Impresso por:
Apresentação
Olá! Antes de começarmos nossa caminhada, gostaríamos de dizer a
você algumas palavras iniciais sobre a disciplina de Morfologia.

Ao longo de nossos estudos pretendemos explorar a morfologia, que


se ocupa da descrição das formas linguísticas mínimas (os morfemas) e de
suas combinações nas palavras da língua.

Para você ir se acostumando, chamamos de formas linguísticas


aos elementos da língua, de extensão variável, que possuem significação.
Quando falamos de funções, estamos nos referindo às funções morfológicas
(substantivos, adjetivos etc.) que as formas linguísticas podem assumir.

A morfologia é um assunto que pode ser abordado sob diferentes


perspectivas, depois dos avanços da ciência linguística. Para a elaboração
deste Caderno de Estudos optamos por um tratamento mais tradicional,
pensando em você, caro(a) acadêmico(a), que, mesmo estando a distância,
foi o centro das atenções em cada página. Por questões didáticas, tentamos
deixar as fronteiras entre um assunto e outro bem delimitadas. Entretanto, é
bom que você saiba que as discussões teóricas que têm como foco a Língua
Portuguesa podem divergir em alguns conceitos. Nem tudo é tão bonitinho
e arrumadinho como parece, nas remissões a outras leituras que fazemos ao
longo do Caderno, ou, em outros momentos, quando você estiver preparando
suas aulas, pesquisando materiais, você certamente vai perceber que nem
todos falam a mesma língua...

Portanto, ao longo do texto, você encontrará indicações de leituras


complementares que serão úteis para conhecer outros pontos de vista
que tratam do assunto e também para aprofundar seus conhecimentos.
Futuramente, você poderá fazer a sua opção por alguma das vertentes
teóricas que discutem a riqueza da nossa língua.

Vamos começar!

Prof.ª Elisabeth Penzlien Tafner

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS.................................................... 1

TÓPICO 1 – ESTRUTURA DAS PALAVRAS..................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 PALAVRA E MORFEMA...................................................................................................................... 3
2.1 ELEMENTOS MÓRFICOS............................................................................................................... 5
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 10
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 14

TÓPICO 2 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS........................................................ 17


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 17
2 DERIVAÇÃO.......................................................................................................................................... 17
3 COMPOSIÇÃO...................................................................................................................................... 21
4 HIBRIDISMO......................................................................................................................................... 22
5 ONOMATOPEIA................................................................................................................................... 22
6 ABREVIAÇÃO VOCABULAR............................................................................................................ 23
7 FORMAÇÃO DE SIGLAS.................................................................................................................... 23
8 ESTRANGEIRISMOS........................................................................................................................... 24
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 25
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 28

UNIDADE 2 – ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I............................................................. 31

TÓPICO 1 – SUBSTANTIVO................................................................................................................. 33
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 33
2 CONCEITUANDO................................................................................................................................ 37
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS.................................................................................... 37
2.2 FLEXÃO DO SUBSTANTIVO......................................................................................................... 47
2.2.1 Flexão de gênero...................................................................................................................... 47
2.2.1.1 Formação do feminino................................................................................................ 47
2.2.2 Flexão de número.................................................................................................................... 51
2.2.2.1 Formação do plural..................................................................................................... 51
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 56
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 58
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 59

TÓPICO 2 – ADJETIVO.......................................................................................................................... 63
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 63
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 63
2.1 FORMAÇÃO DOS ADJETIVOS..................................................................................................... 64
2.2 ADJETIVOS PÁTRIOS..................................................................................................................... 64
2.3 FLEXÃO DOS ADJETIVOS ............................................................................................................ 65

VII
2.3.1 Flexão de número.................................................................................................................... 65
2.3.2 Flexão de gênero...................................................................................................................... 66
2.3.3 Flexão de grau.......................................................................................................................... 67
2.4 LOCUÇÃO ADJETIVA..................................................................................................................... 69
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 70
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 75
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 76

TÓPICO 3 – VERBO................................................................................................................................. 79
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 79
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 79
2.1 ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO VERBO.................................................................................. 80
2.2 CONJUGAÇÕES............................................................................................................................... 80
2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS VERBOS................................................................................................... 81
2.4 FLEXÃO DO VERBO........................................................................................................................ 84
2.6 TEMPOS PRIMITIVOS E DERIVADOS......................................................................................... 96
2.6.1 Formação dos tempos compostos......................................................................................... 99
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 101
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 103
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 105

TÓPICO 4 – ADVÉRBIO......................................................................................................................... 109


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 109
2 CONCEITUANDO................................................................................................................................ 109
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS........................................................................................... 110
2.1.1 Advérbios interrogativos........................................................................................................ 111
2.2 Locuções adverbiais.......................................................................................................................... 111
2.3 GRADAÇÃO DOS ADVÉRBIOS.................................................................................................... 112
2.3.1 O grau comparativo................................................................................................................ 112
2.3.2 O superlativo............................................................................................................................ 112
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 114
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 116
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 117

UNIDADE 3 – ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II........................................................... 119

TÓPICO 1 – NUMERAL.......................................................................................................................... 121


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 121
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 121
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS............................................................................................. 121
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 125
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 126

TÓPICO 2 – ARTIGO............................................................................................................................... 127


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 127
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 127
2.1 CLASSIFICAÇÃO DO ARTIGO..................................................................................................... 127
2.2 EMPREGOS DO ARTIGO............................................................................................................... 128
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 135
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 138
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 139

VIII
TÓPICO 3 – PRONOME.......................................................................................................................... 143
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 143
2.1 CLASSIFICAÇÃO DO PRONOME................................................................................................ 143
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 153
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 155
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 156

TÓPICO 4 – PREPOSIÇÃO.................................................................................................................... 159


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 159
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 159
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES....................................................................................... 160
2.1.1 Aprofundando a crase............................................................................................................. 161
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 168
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 170
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 171

TÓPICO 5 – CONJUNÇÕES................................................................................................................... 175


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 175
2 CONCEITUANDO................................................................................................................................ 175
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES....................................................................................... 176
2.1.1 Conjunções coordenativas...................................................................................................... 176
2.1.2 Conjunções subordinativas.................................................................................................... 178
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 181
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 182

TÓPICO 6 – INTERJEIÇÕES.................................................................................................................. 187


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 187
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 187
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS INTERJEIÇÕES....................................................................................... 188
RESUMO DO TÓPICO 6........................................................................................................................ 189
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 190
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................... 191
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 193

IX
X
UNIDADE 1

ESTRUTURA E FORMAÇÃO
DAS PALAVRAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• reconhecer os elementos mórficos das palavras;

• compreender os mecanismos de flexão de gênero e número;

• explicar os diferentes processos de formação de palavras.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos e ao final de cada um deles
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a refletir e a compreender os
conhecimentos abordados.

TÓPICO 1 – ESTRUTURA DAS PALAVRAS

TÓPICO 2 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ESTRUTURA DAS PALAVRAS

1 INTRODUÇÃO
Ao longo da leitura deste Caderno, nossa atenção será dedicada ao estudo
da Morfologia. Mas dizer simplesmente que estudaremos morfologia não é algo
muito claro, o termo não nos parece muito familiar, não é mesmo? Portanto, caro(a)
acadêmico(a), antes de mais nada é necessário conhecermos um pouquinho da
origem desta palavra, a fim de nos tornarmos mais íntimos do assunto.

Observando a etimologia da palavra, ou seja, sua origem, morfologia é


constituída pelas formas gregas morphê (forma) e logos (estudo). Com base então
nos seus elementos de origem, temos o ‘estudo da forma’. Se vasculharmos os
dicionários, encontraremos algo mais ou menos assim: estudo da estrutura, da
formação, da flexão e da classificação das palavras. Ficou mais claro?

A morfologia é uma parte da Gramática cuja atenção é dada ao aspecto


formal das palavras ou à estrutura gramatical delas. Quer ver? As palavras da
Língua Portuguesa podem ter os seguintes elementos na sua estrutura: morfema,
raiz, afixos (prefixos e sufixos), e... lembrou? No Tópico 1 estudaremos esses e
outros elementos que compõem as palavras.

TURO S
ESTUDOS FU

Você verá mais tarde, nas Unidades 2 e 3, a classificação das palavras. Por hora,
nossa preocupação serão os elementos presentes na estrutura das palavras. Vamos a eles!

2 PALAVRA E MORFEMA
Vamos começar a estudar a estrutura das palavras da Língua Portuguesa.
Para conhecer uma língua não basta apenas saber o significado das palavras que
a compõem. Mesmo que isso seja importante, é essencial conhecer a estrutura
das palavras, isto é, de que elementos elas são formadas, uma vez que esse
conhecimento auxiliará no entendimento de seu significado.

Falando em significado, vamos observar o seguinte grupo:

3
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

PEDRARIA
PEDREIRO
APEDREJAR
EMPEDRAR

Você percebeu que há um elemento comum ao grupo, certo? Esse elemento


é a forma pedr–. Além disso, você deve ter reparado também que em todas elas
há outros elementos destacáveis, responsáveis pela alteração no significado. Se
compararmos pedraria e pedreiro, verificamos que a troca do elemento final –
aria por – eiro provoca alteração no sentido da palavra, trazendo o significado de
“agente profissional”.

Prosseguindo nossa análise com o mesmo grupo de palavras acima,


notamos que estão presentes diferentes elementos na estrutura das palavras:

PEDR – ARIA
PEDR – EIRO
A – PEDR – EJAR
EM– PEDR – AR

ATENCAO

Ei, cuidado para não confundir as coisas: o radical contém o sentido básico da
palavra. O termo raiz mantém relação com a origem histórica das palavras, sendo objeto de
estudo da etimologia, parte da gramática que estuda a origem das palavras.

Esses diferentes elementos afetam a significação da palavra da qual


fazem parte e não podem ser decompostos em unidades menores de significação.
A esses elementos damos o nome de morfemas, elementos significativos
indecomponíveis.

Os morfemas podem ser classificados, quanto à significação, em lexicais


e gramaticais. Os morfemas lexicais têm significação externa, uma vez que se
referem aos símbolos básicos de tudo o que os falantes diferenciam na realidade
objetiva ou subjetiva.

4
TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS

Exemplo:
folha leão planta
forma leite pedra

Quanto aos morfemas gramaticais, sua significação é interna, visto que


deriva das relações e categorias consideradas pela língua (indicação de gênero,
número, grau, modo, tempo, pessoa). Assim, ao observarmos as mesmas palavras
do conjunto de exemplo, veremos que se colocarmos a palavra pedra no plural
será necessário incluir a letra s (pedra – pedras), que será o indicativo de que
esta palavra se refere a mais de um elemento. O mesmo se aplica às palavras
folha (folhas), forma (formas), leite (leites). Ao agregarmos o morfema gramatical
s anunciamos que estão no plural. Já no caso da palavra leão, se quisermos
transformá-la em feminino, precisamos usar o indicativo específico de gênero
(leão – leoa). A letra A é o morfema gramatical, representando o gênero feminino.

2.1 ELEMENTOS MÓRFICOS


Bom, agora que já vimos que cada morfema é uma unidade de significação
mínima, é hora de estudar quais são os elementos mórficos e sua função na
estrutura da palavra. Vamos estudá-los um a um.

a) Radical: chamamos de radical o morfema básico, comum a palavras de uma


mesma família. É só resgatarmos mais uma vez nosso grupo exemplo:

PEDR – ARIA
PEDR – EIRO
A – PEDR – EJAR
EM– PEDR – AR

O morfema pedr– está em todas as palavras do grupo e contém o sentido


básico de cada palavra. As palavras que possuem o mesmo radical são chamadas
de cognatas. Vejamos um outro grupo que também forma uma família de palavras:

FOLH – A
FOLH – AGEM
DES – FOLH – AR
FOLH – INHA

Portanto, o radical é a parte significativa central das palavras a que se


juntam outros elementos mórficos, que estudaremos a seguir.

5
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

E
IMPORTANT

É bom lembrar que existem palavras formadas unicamente pelo radical, como
céu, cor, paz, mar, flor, rua.

b) Afixos: são elementos mórficos que se juntam ao radical, capazes de alterar seu
sentido ou mudar a classe gramatical da palavra a que são acrescentados.

PEDR – ARIA
PEDR – EIRO
A – PEDR – EJAR
EM – PEDR – AR

Novamente, resgatamos nosso grupo exemplo em que os afixos estão
destacados agora. Os afixos, conforme a posição em que são acrescentados ao
radical, podem ser chamados de:

 prefixos: quando são colocados antes do radical;

 sufixos: quando são colocados depois do radical.

Exemplo:

c) Desinências: são morfemas colocados após os radicais. As desinências podem


ser nominais e verbais:

 desinências nominais: indicam o gênero (masculino/feminino) e o número


(singular/plural) dos nomes (adjetivos, substantivos). Observe a palavra
gatinhas:

6
TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS

 desinências verbais: indicam nas formas verbais o modo, o tempo, o número


e a pessoa. Veja agora a indicação destas variações em cantávamos:

Cant Radical
A vogal temática: indica a que conjugação o verbo pertence.
pretérito imperfeito e
desinência que informa simultaneamente tempo: pretérico
Va modo: indicativo.
desinência que informa simultaneamente pessoa e número.
Mos
No caso: pessoa: 1ª e número: plural.

 desinências verbo-nominais: referem-se às formas nominais do verbo, o


infinitivo, o gerúndio e o particípio, marcadas pelas desinências –r, –ndo, –do
(a): sentir, chegando, comprado.

O quadro a seguir pode ajudar você a reconhecer com mais facilidade as


principais desinências em português:

QUADRO 1 – DESINÊNCIAS NOMINAIS, VERBAIS E VERBO-NOMINAIS


DESINÊNCIAS
NOMINAIS gênero masculino (–o)
feminino (–a)
número singular (não há)
plural (–s)
VERBAIS de tempo –va, –ve: imperfeito do indicativo, 1a conjugação (amava)
e modo –ia, ie: imperfeito do indicativo, 2a e 3a conjugações (partia)
–ra, re: mais–que–perfeito do indicativo (átono) (amara)
–sse: imperfeito do subjuntivo (amasse)
–ra, –re: futuro do presente do indicativo (tônico) (amará,
amaremos)
–ria, rie: futuro do pretérito do indicativo (amaria)
–r: futuro do subjuntivo (quiser)
–a: presente do subjuntivo, 1a conjugação (peça)
–e: presente do subjuntivo, 2a e 3a conjugações (ame)
–u: pretérito perfeito do indicativo (amou)
de número –o: 1a pessoa do singular, presente do indicativo (amo)
e pessoa –s: 2a pessoa do singular (amas)
–mos: 1a pessoa do plural (amamos)
–is, –des: 2a pessoa do plural (amais, amardes)
–m: 3a pessoa do plural (amam)
VERBO– –r: infinitivo
NOMINAIS –ndo: gerúndio
–do: particípio regular
FONTE: A autora

7
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

Como você percebeu no quadro 1, na formação das palavras temos as


desinências nominais que podem indicar o gênero (-a [feminino], -o [masculino])
e o número (-s [plural], 0 para o singular) das palavras. Além das desinências
nominais, existem as desinências verbais que indicam o tempo, o modo, o gênero
e o número do verbo. Como mostra o quadro, temos para indicar o tempo e o
modo do verbo: imperfeito do indicativo, 1ª conjugação (-va, -ve); imperfeito
do indicativo, 2ª e 3ª conjugações (–ia, -ie); mais-que-perfeito do indicativo (–ra,
-re); imperfeito do subjuntivo (–sse); futuro do presente do indicativo (–ra, –re);
futuro do pretérito do indicativo (–ria, -rie); futuro do subjuntivo (–r); presente
do subjuntivo, 1ª conjugação (–a); presente do subjuntivo, 2ª e 3ª conjugações
(–e); pretérito perfeito do indicativo (–u). Já para indicar o gênero e o número do
verbo, usamos: 1a pessoa do singular, presente do indicativo (–o); 2ª pessoa do
singular (–s); 1ª pessoa do plural (–mos); 2ª pessoa do plural (–is, –des); 3ª pessoa
do plural (–m). Há, ainda, as desinências verbo-nominais utilizadas para indicar
o infinitivo (-r), o gerúndio (-ndo) e o particípio regular (-do).

E
IMPORTANT

Neste momento, você não deve ficar preocupado em definir com exatidão
o tempo e modo informados por uma determinada desinência. Deixe essa atividade para
a Unidade 2, Tópico 3 – Verbos. Por enquanto, basta você conseguir fazer uma análise
morfológica básica, apontando elementos como o radical e, se houver, prefixos, sufixos ou
desinências.

d) Vogal temática: é um elemento que se junta ao radical de certas palavras para


que estas possam receber as desinências e sufixos. A vogal temática aparece
entre o radical e a desinência. Sua função é a de marcar classes (é um morfema
classificatório) de nomes (substantivos/adjetivos) e verbos. Existem dois tipos
de vogais temáticas:

 Vogais temáticas nominais (a, e, o): marcam classes de substantivos (casa,


leite, bloco) e adjetivos ( forte, triste, grande).

E
IMPORTANT

Não devemos confundir a desinência do feminino (–a) com a vogal temática


(–a). Ela será considerada desinência do feminino quando for marca de gênero. Vamos
comparar algumas palavras. Em foca, o –a não se opõe a foco, neste caso o –a é uma vogal
temática. Já em gata, o –a é desinência de gênero (em oposição a gato).

8
TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS

 Vogais temáticas verbais (a, e, i): marcam as três conjugações: canta(r), come(r),
fugi(r).

E
IMPORTANT

O verbo pôr e seus derivados (antepor, compor, supor) pertencem à 2a


conjugação, visto que a forma latina do verbo era poer. Porém, depois a forma evoluiu e
chegou até nós como pôr.

e) Tema: a junção da vogal temática com o radical chamamos de tema. Algumas


palavras, ditas invariáveis, são puro radical. Veja o caso de atlas, bônus, lápis,
ônibus, tênis, vírus. Outras, são chamadas de variáveis, pois possuem tema
acrescido de desinência, casas e corres ilustram este caso:

CAS radical
tema
A vogal temática

S desinência de número (plural)

CORR radical
tema
E vogal temática

S desinência de número (plural)

f) Vogal e consoante de ligação: são elementos que intercalamos entre os


elementos mórficos para facilitar a pronúncia. Esses elementos, porém, não
possuem significação alguma e distinguem-se claramente dos afixos.

A ocorrência desse elemento pode ser analisada na palavra paulada,


onde pau é radical e ada é o sufixo. O l entra para que não ocorra dissonância
(encontro desagradável de vários sons). Já em gasômetro, palavra formada por
dois radicais: gás + – metro, foi necessário o emprego de uma vogal de ligação
para facilitar a pronúncia.

9
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

UNI

Indicação de leitura
Para complementar seus estudos sobre este tema, visite os sites:
<http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-formacao-de-palavras-i.htm>.
<http://www.gramaticaonline.com.br/texto/826/Estrutura_das_palavras>.

Vimos até o momento como as palavras estão estruturadas (radical,


morfema, tema etc.), como os elementos se articulam para constituir um
todo significativo em si e integrante de nossa língua. Para completar essas
informações é importante que você leia o texto de Flávia de Barros Carone,
pois ele complementa os conhecimentos que construímos sobre a estrutura das
palavras. Boa leitura!

LEITURA COMPLEMENTAR

O MORFEMA

Flávia de Barros Carone

A menor unidade significativa [...] é o morfema, que tem a propriedade


de articular-se com outras unidades de seu próprio nível. No entanto, a maior
unidade de que o falante da língua tem cons­ciência nas frases que diz ou ouve,
escreve ou lê, é a palavra. Ora, esta nem sempre coincide com o morfema, isto é,
são rela­tivamente poucos os vocábulos que constam de um só morfema (boi, sal,
mar, etc.).

[...] Chega­mos, assim, a outra concepção de morfema: “unidade mínima


significativa”, que tem a propriedade de articular-se com outras unidades de seu
nível. Ou, mais especificamente, unidade formal abstrata, provida de um (ou
mais de um) valor semântico — referencial ou gramatical.

O morfema é, pois, uma abstração que envolve significados e possibilidades


combinatórias. Apresenta-se, o mais das vezes, formalizado em fonemas, que se
concretizam por meio de sons. [...] Uma forma linguística só pode ser reconhecida
se se define o nível em que está sendo observada. O fonema /a/, por exem­plo, não
se confunde com o morfema –a de feminino, nem com o vocábulo a, artigo; são
entidades diferentes, de níveis diferentes. [...]

10
TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS

A PALAVRA

Formas presas, formas livres, formas dependentes

Será útil, para a compreensão do comportamento dos mor­femas, a


distinção que faz Bloomfield (1933) entre formas livres e formas presas. Formas
livres são aquelas que podem constituir, isoladas, um enunciado suficiente para a
comunicação. Em sen­tido amplo, toda frase, da mais simples à mais complexa, é
uma forma livre, desde que dotada de uma entonação adequada.

Interessam-nos, neste momento, as formas livres mínimas, cuja extensão


não excede os limites do vocábulo. Podem com­portar-se como unidades de
comunicação quando a elas se sobre­põe a mencionada entonação. A esse conceito
se opõe ao de formas presas, aquelas que não são suficientes para, sozinhas, cons­
tituírem um enunciado; são formas presas ré–, lamp– e todo o cortejo de segmentos
que a esta última se articulam.

O vocábulo infeliz é uma forma livre mínima porque seus constituintes


imediatos não são, ambos, formas livres: feliz é, mas o prefixo in– é uma forma
presa, visto que não ocorre isoladamente. Por outro lado, palavras como beija-
flor e vaivém não são formas livres mínimas, pois seus constituintes imediatos o
são, eles próprios — cada um, evidentemente, com outros valores gra­maticais e
semânticos, uma vez desfeita a composição.

Uma palavra pode ser constituída

 de uma forma livre mínima: leal;


 de duas formas livres mínimas: couve-flor;
 de uma forma livre e uma ou mais presas: leal–dade, in–feliz–mente.
 apenas de formas presas: re–a–bert–ur–a.

Não cabem nessa classificação, porém, certas palavras pecu­liares pela


atonicidade: artigos, preposições, algumas conjunções, pronomes oblíquos átonos
— que não podem, por si sós, constituir um enunciado. (CÂMARA JUNIOR, 1970).
(Julgamos que se incluem aí também os oblíquos tônicos: mim, ti, si.) Cada uma
dessas palavras só será um enunciado possível quando constituir uma citação,
mas, nessa circunstância, qualquer palavra é um substan­tivo (— Não ouvi bem:
você ditou de ou me? — Me.).[...]

Para resolver as lacunas que persistem, Câmara Junior (1970, p. 60)


propõe um terceiro conceito: o de formas dependentes. Estas não são livres porque
não constituem, isoladas, um enun­ciado; e não são presas porque são separáveis
como vocábulos formais. Isso se comprova por admitirem intercalações e/ou in­
versões, relativamente ao vocábulo com que se relacionam sintaticamente:

11
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

 o irmão / o meu irmão / o meu bom irmão


 diga-me / não me diga / que me não diga
 preciso de dinheiro / preciso de muito dinheiro
 um menino que vi / um menino que ontem mesmo eu vi
 dizem que virás / dizem que nunca mais virás

São estes os critérios para avaliar a coesão gramatical (in­terna, estrutural)


da palavra: a “mobilidade de posição” e a “sequência ininterrupta de elementos”.

Uma das características da palavra é que ela tende a ser estável


internamente, quanto à ordem dos morfemas que a compõem, mas é móvel
quanto à posição: pode trocar de posição com outras pa­lavras na mesma frase. [...]

O conceito de vocábulo diz respeito a uma estrutura, algo interno: o
vocábulo é uma unidade construída de morfemas. Todavia, é difícil chegar ao
conceito de palavra, realidade que todo falante intui.

FONTE: CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 9. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 21-33.

12
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você estudou que:

 O morfema é a menor unidade significativa de uma palavra.

 O radical é o elemento estrutural, que contém o sentido básico das palavras.

 Os
afixos (prefixos e sufixos) são elementos que anexamos ao radical para
mudar o significado ou alterar a classe gramatical das palavras.

 Os prefixos são colocados antes do radical (reacender).

 Os sufixos são colocados após o radical (mortal).

 Asdesinências (nominais, verbais e verbo-nominais) são elementos mórficos


colocados ao término do radical.

 Asdesinências nominais indicam gênero e número dos nomes (substantivos e


adjetivos).

 As desinências verbais indicam pessoa, número, tempo e modo dos verbos.

 A vogal temática (a, e, i) indica a conjugação a que pertence o verbo.

 O tema é formado pela soma do radical e vogal temática.

 Asvogais ou consoantes de ligação são elementos secundários na palavra, mas


que facilitam sua pronúncia ou ligam morfemas.

13
AUTOATIVIDADE

Você percebeu quantos elementos participam da estrutura de uma


palavra? Então, é hora de começar a explorá-los, levando em consideração
todas as explicações apresentadas até aqui.

Nos exercícios a seguir, tentaremos relembrar um pouco do que


aprendemos.

1 Indique a alternativa em que o elemento mórfico está incorretamente


classificado:

2 Palavras cognatas são aquelas que têm a mesma raiz. Assinale a alternativa
em que não há três cognatos.

a) ( ) Governo – desgovernado – ingovernável.


b) ( ) Ensinar – ensino – ensinamento.
c) ( ) Certo – incerto – incerteza.
d) ( ) Viver – vida – vidente.

3 Assinale a opção em que todos os vocábulos têm radical com o mesmo valor
semântico.

a) ( ) Campestre – camponês – campus.


b) ( ) Amigável – amistoso – amizade.
c) ( ) Terra – terrorista – aterrorizar.
d) ( ) Bengala – bengalada – bengali.

4 Os morfemas dent- (em desdentado), in- (em insatisfeito) e -oso (em perigoso)
são, respectivamente:

a) ( ) Radical – prefixo- prefixo.


b) ( ) Prefixo - radical – sufixo.
c) ( ) Radical - prefixo – sufixo.
d) ( ) Sufixo – prefixo - radical.

14
5 Assinale a única alternativa em que a primeira palavra apresenta prefixo e a
segunda, sufixo.

a) ( ) Desgraças - pimenta.
b) ( ) Incômoda – realmente.
c) ( ) Tristeza – realmente.
d) ( ) Refresco - ninguém.

6 Identifique os radicais das palavras que seguem:

a) ( ) Terra – terrinha – térrea – terreiro.


b) ( ) Descampado - campestre - campesino – acampar.
c) ( ) Cardiologia – cardíaco - cardiologista – taquicardia.
d) ( ) Envelhecimento – velhice – envelhecer - velharia.

15
16
UNIDADE 1
TÓPICO 2

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1 nossa atenção foi dedicada à estrutura das palavras,
estudamos seus elementos mórficos (radical, desinências, prefixos, sufixos etc.).
Compreender esses elementos é fundamental, pois seu conhecimento será útil
na análise dos processos de formação de palavras de que a Língua Portuguesa
dispõe. É isso mesmo, a língua não está pronta e acabada, ela acompanha e reflete
as mudanças que a sociedade vivencia.

Constantemente o homem procura melhorar sua qualidade de vida.


Esta busca gera desenvolvimento e progresso. A ciência e a tecnologia a todo
instante nos surpreendem com novidades e, neste fluxo incessante de mudanças,
novas ideias e invenções geram novas necessidades de expressão. Portanto,
língua e sociedade não podem caminhar em direções opostas; a língua, em sua
dinamicidade, apresenta mecanismos capazes de gerar novas palavras para
acompanhar e traduzir as transformações (novos objetos de consumo, por
exemplo, pedem novas palavras). Para expressar a nova realidade, o falante às
vezes produz novas palavras (a partir de elementos já existentes) ou, ainda, muda
o significado de uma palavra antiga.

A Língua Portuguesa tem dois processos básicos de formação de palavras:


a derivação e a composição. Além desses, existem o hibridismo, a onomatopeia,
a abreviação vocabular e a formação de siglas, os quais exploraremos juntos, um
a um.

2 DERIVAÇÃO
Um dos processos que permite a criação de novas palavras é a derivação.
Bom, este processo usa palavras já existentes (primitivas) na língua para formar
uma palavra nova (derivada). Você deve ter reparado o aparecimento de duas
novas classificações, primitiva e derivada, certo?

Chamamos de primitivas as palavras que não se formam a partir de


outras palavras (lua, menina, cidade).

Já aquelas formadas a partir de outras palavras anteriormente existentes,


denominamos de derivadas (pedreiro, derivada de pedra; folhagem, derivada de
folha).

17
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

Vamos conhecer agora os modos pelos quais a derivação ocorre:

a) Por prefixação: antepomos um prefixo a um radical.



Vamos analisar a estrutura da palavra imoral. Que elementos podemos
identificar em sua estrutura? Temos o prefixo i– e a palavra primitiva moral.
Imoral, portanto, foi formada pelo acréscimo de um prefixo à palavra primitiva.
Outros exemplos que ilustram esse processo: desligar, refazer, inculto.

b) Por sufixação: acrescentamos um sufixo a um radical.



Observando os elementos da palavra pedreiro, identificamos o radical,
pedr– e o sufixo –eiro. Concluímos então que a palavra pedreiro formou-se
pelo acréscimo de um sufixo ao radical da palavra primitiva. Outros exemplos:
folhagem, certamente, barbear.

c) Por derivação parassintética (ou parassíntese): neste caso, anexamos, ao


mesmo tempo, um prefixo e um sufixo a um radical.

Considere a palavra ensurdecer. Aqui você identifica três elementos,


o prefixo en–, o radical surd e o sufixo –ecer. Neste caso, diferentemente dos
anteriores, temos o acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo a um mesmo
radical. Os casos de derivação parassintética têm como base um substantivo ou um
adjetivo e podem gerar formas verbais (alistar, anoitecer, avermelhar, emudecer,
enegrecer etc.) ou nominais (alinhamento, desalmado, desgovernado, esvaziado).

E
IMPORTANT

Nos casos de derivação parassintética não é possível suprimir nem prefixo nem
o sufixo, pois a ausência de um ou de outro deixa a palavra sem sentido. Veja a seguinte
análise:

Em ensurdecer, temos en– prefixo, o radical surd e o sufixo –ecer. Temos aqui um prefixo
e um sufixo que se agregam ao mesmo tempo ao radical. Se suprimirmos o sufixo, ficamos
com “ensurde” e, se excluirmos o prefixo, sobra apenas “surdecer”, isto é, duas palavras que
não existem na Língua Portuguesa.
Já em palavras como desigualdade, desumano, desvalorização, imoralidade, infelizmente, se
tirarmos o prefixo (ou sufixo) elas ainda vão continuar tendo sentido, o que indica um caso
de derivação prefixal e sufixal. Observe a palavra infelizmente:
 se tirarmos o prefixo in–, teremos a palavra felizmente.
 se tirarmos o sufixo –mente, teremos a palavra infeliz.
Tanto felizmente quanto infeliz existem na Língua Portuguesa e são formadas pelo processo
de derivação prefixal e sufixal.

18
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

d) Por derivação regressiva: quando trocamos a terminação de um verbo pelas


desinências –a, –o ou –e.

Nestes casos, temos uma derivação que forma, principalmente,


substantivos a partir de verbos (chamados de substantivos deverbais). O
substantivo constituído a partir de derivação regressiva sempre indica ação.

Vejamos:
crítica = criticar – r
combate = combater – r
pesca = pesca – r
planta = planta – r

Se você quiser saber se um substantivo é palavra primitiva ou derivada,


observe alguns itens:

É
 palavra derivada o substantivo que denotar ação.

Exemplo:

pesca (substantivo) pescar (verbo)

palavra derivada palavra primitiva

É
 palavra primitiva o substantivo que nomeia objeto ou substância.

Exemplo:

planta (substantivo) plantar (verbo)

palavra primitiva palavra derivada

e) derivação imprópria: este processo ocorre quando mudamos a classe de uma


palavra, estendendo sua significação, porém sua grafia permanece a mesma.
Pode ocorrer nas seguintes situações:

19
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

TURO S
ESTUDOS FU

Você verá mais tarde, nas Unidades 2 e 3, as classes de palavras. Para entender
a mudança de classe gramatical, basta, por enquanto, observar o contexto em que a palavra
foi empregada. É muito fácil!

 substantivo usado como adjetivo:


criança capeta, funcionário fantasma, traje esporte, mulher gato, homem
aranha.

 adjetivo usado como substantivo:


A feia não veio hoje.

 adjetivo usado como advérbio:


Falava baixo para que ninguém o ouvisse.

 substantivo, adjetivo ou verbo usados como interjeição:


Bico!, rua!, silêncio!, boa!, passa!

 conjunção usada como substantivo:


Não sei o porquê da minha existência.

 verbo usado como substantivo:


O jantar foi servido pontualmente.

 particípio usado como adjetivo:


Sempre foi a neta preferida.

 substantivo próprio usado como substantivo comum:


Era um caxias de tão pontual.

NOTA

O livro “Teoria Lexical”, de Margarida Basílio, é uma boa opção para você se
aprofundar um pouco nos processos de formação de palavras. A referência completa da
obra é:
FONTE: BASILIO, Margarida. Teoria Lexical. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995.

20
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

3 COMPOSIÇÃO
Ei, você. Atenção! Estamos agora iniciando o estudo de um novo processo
de formação de palavras, a composição. Esse processo cria palavras a partir da
combinação de duas ou mais palavras ou radicais já existentes. “Os elementos
primitivos perdem a significação própria em benefício de uma significação
nova, global. A palavra composta exprime um conceito novo, mais ou menos
independente do sentido das partes componentes”. (LUFT, 2002, p. 131).

A composição pode ocorrer de duas formas: por justaposição ou por


aglutinação. O que diferencia um processo do outro é o critério fonético. Agora,
vamos entender como acontece cada um desses processos.

a) Composição por justaposição: ocorre quando se juntam duas ou mais palavras


e estas mantêm sua estrutura, isto é, não sofrem alteração. Na junção dos
radicais não há alteração fonética, portanto as palavras associadas continuam
a ser faladas (e escritas) da mesma forma como eram antes, daí o nome
justaposição, pois os radicais são apenas colocados lado a lado (justapostos),
sem que nenhum deles sofra alteração. Cada um deles mantêm sua integridade
sonora. Vamos analisar um caso para você entender melhor.

Tomemos a palavra beija-flor. Ela é formada por duas palavras simples


(palavras simples são aquelas que têm apenas um radical), beija e flor. Mas,
quando se juntam, formam uma nova palavra, com um novo significado, neste
caso beija-flor é o nome de uma ave. Este novo significado é diferente da expressão
beija flor, em que cada radical tem seu sentido original.

Vejamos mais alguns exemplos em que houve justaposição:

porco-espinho girassol guarda-roupa passatempo


amor-perfeito guarda-chuva vaivém malmequer

E
IMPORTANT

A justaposição deve ser entendida como um processo em que cada radical


guarda sua individualidade ou autonomia fonética na formação de uma nova palavra. A
forma de grafar, com ou sem hífen, não é critério para identificar se a formação ocorreu por
justaposição ou composição. O importante é verificar alterações na pronúncia (e na grafia)
da nova palavra.

21
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

b) Composição por aglutinação: é processo de formação de palavras caracterizado


por mudanças na estrutura fonética das palavras. Os dois radicais associados
se unem, formando um todo fonético, no qual algum dos elementos sofre
alteração (perda de acento tônico, de vogais e consoantes).

Vamos explorar um destes casos de perto. Vejamos a palavra pontiagudo.


O que ocorreu com ela? Inicialmente tínhamos ponta + i + agudo, porém durante
a fusão desses elementos, houve perda de som, o que gerou pontiagudo. Eis aqui
o que chamamos de perda da autonomia fonética de uma palavra. Existem vários
casos assim na Língua Portuguesa, observe alguns deles: aguardente (água +
ardente), boquiaberto (boca + aberto), embora (em + boa + hora), fidalgo (filho +
de + algo), pernalta (perna + alta), pernilongo (perna + longo), planalto (plano +
alto).


4 HIBRIDISMO
A formação de palavras ocorre a partir da reunião de elementos de línguas
diferentes. Ficou surpreso? Mas é isso mesmo, usamos várias palavras em nosso
cotidiano que são formadas por hibridismo. Você deve estar se perguntando,
“mas como vou saber a origem de uma palavra híbrida?” A consulta a um bom
dicionário certamente trará uma boa resposta.

Vejamos alguns exemplos muito usados:

Burocracia = buro (francês bureau, significa escritório) + cracia (grego krátos,


significa poder, domínio).

Sambódromo = samba (origem africana, significa animação) + dromo (grego


drómos, significa corrida).

Sociologia = socio (latim societas, socius, significa sociedade, companheiro) + logia


(grego lógos, significa estudo).

Surfista = surf (inglês, significa arrebentação das ondas) + ista (grego),

Televisão = tele (grego, significa longe) + visão (latim).

5 ONOMATOPEIA
São palavras criadas com o objetivo de imitar certos sons ou ruídos. A
partir do conjunto de fonemas de que a Língua Portuguesa dispõe, a palavra
formada reproduz sons ou ruídos gerados por armas de fogo, campainhas,
fenômenos naturais, instrumentos musicais, sinos, vozes de animais.

22
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Chamamos de palavras onomatopaicas os verbos que reproduzem as


vozes de animais. Exemplos: chirriar (coruja), guinchar (porco), miar (gato),
mugir (boi, vaca), rugir (leão, onça), uivar (cão).

Para os demais casos, você já deve ter visto: tique-taque , reco-reco, zum-
zum, nhec-nhec, pingue-pongue.

6 ABREVIAÇÃO VOCABULAR
O ritmo acelerado em que vivemos e a agilidade proporcionada pelas
novas tecnologias provocam alterações na língua. Uma delas é redução de algumas
palavras até limites que não prejudiquem o entendimento entre os interlocutores.
Assim, algumas palavras longas possuem uma variante simplificada, que
assumiu o sentido da forma plena. Para ilustrar tal fato, veja estes exemplos: auto
(automóvel), curta (curta-metragem), foto (fotografia), micro (microcomputador),
moto (motocicleta), pólio (poliomielite), pneu (pneumático), quilo (quilograma),
vídeo (videocassete), zoo (zoológico) etc.

7 FORMAÇÃO DE SIGLAS
Também é um processo de formação de palavras influenciado pela
necessidade de economizar tempo e espaço na comunicação falada e escrita. As
siglas são um tipo especial de redução, que trazem agilidade aos interlocutores.
São constituídas pelas letras iniciais que formam o nome de uma associação
(cultural, estudantil, operária, patronal, recreativa), empresa, firma, instituição,
organização internacional, partidos políticos, serviços públicos, sociedades
comerciais. Em geral, conhecemos mais as siglas do que as denominações
completas, quer ver?

Observe a lista e não se assuste, pois as siglas às vezes provêm de outras


línguas:

AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência


Adquirida)
CD – Compact Disc
CPF – Cadastro de Pessoas Físicas
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano
ONU – Organização das Nações Unidas
UNE – União Nacional dos Estudantes

23
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

A sigla, depois de criada, pode atuar como uma palavra primitiva,


formando derivados: petista (membros do PT – Partido dos Trabalhadores),
peemedebista (membros do PMDB – Partido do Movimento Democrático
Brasileiro).

8 ESTRANGEIRISMOS
São palavras estrangeiras introduzidas na língua devido ao contato com
outros povos.

Elas são mais comuns do que você imagina, basta pensar em ir ao shopping
ou comer um cheeseburguer... E, se você estiver diante do computador, ao lado
do seu teclado deve haver um...? Um mouse, viu? Olha aí mais uma palavra que
tomamos emprestada de outra língua.

Existe uma certa polêmica em torno do assunto, discutindo até que ponto
o emprego de elementos de outras línguas pode fazer mal à Língua Portuguesa.
E, você? O que acha da questão? Antes de tomar partido, não esqueça que o
português é uma língua que veio do latim, hein? E está recheada de contribuições
vindas do contato com outras línguas (sábado, Jesus – hebraico; algodão, azeite
– árabe; bife, clube, esporte – inglês; lasanha, soneto – italiano; tatu, araponga,
saci – tupi; macumba, maxixe, quilombo – línguas africanas) que enriqueceram
seu patrimônio léxico.

Para não nos alongarmos demais no assunto, sugerimos que você passe a
dar mais atenção aos anúncios publicitários, às inovações da informática (vamos
citar aqui apenas esses dois contextos, mas se você for mais longe...).

ATENCAO

Leia sobre o emprego de estrangeirismos e reflita acerca da polêmica.


Indicamos o artigo de Miguel Ventura Santos Gois, A influência dos estrangeirismos na
Língua Portuguesa: Um processo de globalização, ideologia e comunicação. Disponível
em:<http://www.filologia.org.br/xiicnlf/textos_completos/A%20influ%C3%AAncia%20dos%20
estrangeirismos%20na%20l%C3%ADngua%20portuguesa-%20um%20processo%20de%20
globaliza%C3%A7%C3%A3o,%20ideologia%20e%20comunica%C3%A7%C3%A3o%20-%20
MIGUEL.pdf>.

Vimos neste tópico como se dá o processo de formação das palavras. Agora


é uma boa hora para complementar o conhecimento que construímos nesta etapa
com a leitura do texto de Andréa Lacotiz sobre a função dos sufixos na formação
das palavras e sua significação. Boa leitura!

24
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

LEITURA COMPLEMENTAR

A SEMÂNTICA DOS SUFIXOS E SUA FUNÇÃO NA FORMAÇÃO DE


PALAVRAS

Qualquer leigo ou iniciante no estudo da gramática, ao abri-la para


consultar os processos de formação de palavras, irá se espantar com a quantidade
de sufixos presentes na língua portuguesa. Ainda, o emprego desses sufixos
se relaciona à mudança de classes gramaticais, processo pelo qual é possível a
nominalização de verbos e adjetivos, por exemplo. Entretanto, caso seja feita uma
leitura atenta da gramática, ficará a pergunta: por que existem tantos sufixos de
valor semelhante se, pelo que parece, não há alteração semântica significante pelo
uso de uma ou outra partícula constituinte de palavras? O que faz existir no léxico
a forma lembrança e não “lembração”, vingança e não “vingação”?

Sandman (1991:75–81) trata em sua obra dos bloqueios pertinentes à


formação de palavras, ao discutir as condições de lexicalidade de termos da língua.
De acordo com o autor, vários são os impedimentos responsáveis pela ausência
de palavras, como as apontadas no parágrafo anterior. Em geral, a existência de
uma palavra na língua impede o surgimento de outra de valor igual; embora o
sistema possibilite uma forma nova, o uso promove e privilegia a já existente. O
autor delineia os seguintes casos de bloqueio:

a) bloqueio por derivados com sufixos de função igual: *trancamento/trancação;


*tombamento/tombação; *avaliação/avaliamento, dentre outros;

b) bloqueio de formas complexas por formas simples ou outras formas complexas:


*ridículo(subs.)/ridiculeza ou ridiculidade; *ladrão/roubador; *silêncio/
silenciosidade; *valia/valiosidade. [...]

Interessa–nos investigar o ponto em que o sistema virtual da língua


possibilita a existência de certos termos, à medida que haja o bloqueio ou,
especialmente, quando existem formas paralelas, advindas da mesma base.

Casos há em que o dicionário e o próprio uso registram termos como


observância/observação, aparência/aparição. Sobre esses sufixos, –ança/–ância/–
ência e –ção/–são, as gramáticas assinalam o sentido de “ação ou resultado dela”
. Se os verbetes forem consultados no dicionário, saber-se-á que eles não têm o
mesmo significado: aparência/aparição, são ambos formados no latim [...]

Tais fatos mostram que os sufixos fazem mais do que alterar a classe
gramatical de um termo. Faz-nos ver fortes indícios de que os sufixos carregam
em si uma carga semântica, variável, que é acrescida à base. Sobre isso, Sandman
(1989:30) demonstra o equívoco existente na gramaticologia portuguesa “de que os
afixos, principalmente os sufixos, são elementos semanticamente mais vazios do que, por
exemplo, radicais (...)”.

25
UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

O autor cita duas afirmações existentes em diferentes gramáticos:

“Ao contrário dos sufixos, que assumem um valor morfológico, os prefixos têm
mais força significativa...” (BECHARA apud SANDMAN).

“Ao contrário dos prefixos que, como vimos, guardam certo sentido, com o qual
modificam, de maneira mais ou menos clara, o sentido da palavra primitiva, os sufixos,
vazios de significação (sic), têm por finalidade formar séries de palavras da mesma classe
gramatical.” (ROCHA LIMA apud SANDMAN).

Sobre tais assertivas, Sandman cita, como exemplo contra-argumentativo,


o sufixo –ada, o qual não tem o mesmo significado em formações como: martelada
‘golpe de martelo’, facada ‘pontada com a faca’ (ibidem). Acrescentamos a esses
exemplos, laranjada ‘suco de laranja’, goiabada ‘doce de goiaba’, goleada ‘grande
quantidade de gols’, dentre outros sentidos que o sufixo pode adquirir, em certos
contextos.

FONTE: LACOTIZ, Andréa. Análise dos sufixos –ança/–ença, –ância/–ência na obra do simbolista
João da Cruz e Sousa. Estudos Linguísticos XXXV, p. 320-329, 2006. Disponível em: <http://gel.
org.br/4publica–estudos–2006/sistema06/569.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2006.

26
RESUMO DO TÓPICO 2
Caro(a) acadêmico(a), no Tópico 2, exploramos os seguintes processos
de formação de palavras:

 Por derivação: ocorre a formação de novas palavras (derivadas) a partir de


uma já existente (primitiva):
a) prefixal: quando acrescentamos um prefixo ao radical (ex.: descuidar);
b) sufixal: quando acrescentamos um sufixo ao radical (ex.: pontudo);
c) parassíntese: quando acrescentamos ao mesmo tempo um prefixo e um sufixo
ao radical (ex.: envelhecer);
d) regressiva: quando há redução da palavra primitiva (ex.: sobrar – sobra);
e) imprópria: quando há mudança da classe gramatical da palavra (ex.: jantar – o
jantar).

 Por composição: ocorre a formação de palavras, denominadas compostas, a


partir da união entre dois ou mais radicais:
a) justaposição: quando os radicais se unem sem que haja alteração fonética (ex.:
couve-flor);
b) aglutinação: quando os radicais se juntam e ocorre alteração fonética (ex.:
vinagre – vinho + acre).

 Outros processos:
a) hibridismo: quando usamos radicais de línguas diferentes para formar novas
palavras (micro-ondas – grego e português);
b) onomatopeia: quando imitamos certos sons ou ruídos, usando palavras para
isso (cacarejar, cri-cri, tique-taque);
c) abreviação vocabular: quando ocorre a redução fonética de uma palavra (ex.:
cine – cinema);
d) siglas: quando há redução de certos nomes, usando apenas a letra inicial de
cada um dos elementos (CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, FGTS –
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

27
AUTOATIVIDADE

Para verificar os conceitos apresentados neste tópico, vamos fazer


alguns exercícios.

1 Indique o processo de formação das palavras a seguir, usando o seguinte


código:

(a) prefixal (b) sufixal (c) parassíntese


(d) justaposição (e) aglutinação (f) abreviação vocabular

2 Assinale a alternativa em que a palavra destacada não está corretamente


classificada quanto ao seu processo de formação:

a) ( ) Semideus: composição por aglutinação.


b) ( ) Agito: derivação regressiva.
c) ( ) Silencioso: derivação por sufixação.
d) ( ) Infatigavelmente: derivação prefixal e sufixal.

3 Em qual alternativa todos os vocábulos não são formados por prefixação:

a) ( ) Injusto - desigual - prever.


b) ( ) Desligar - irrestrito - readquirir.
c) ( ) Infeliz - desmentir - inculto.
d) ( ) Pernoitar - irregular - dever.

4 O processo de formação das palavras cerimonial, envernizar e girassol é,


respectivamente, o mesmo de:

a) ( ) Roseira - oficial - guarda-livros.


b) ( ) Entrever - rendeira - passatempo.
c) ( ) Leiteiro - enlouquecer - amor-perfeito.
d) ( ) Bondade - endireitar - palidez.

5 Todas as palavras não foram formadas pelo mesmo processo em:

a) ( ) Repor - ilegal - desfolhar.


b) ( ) Outrora - lobisomem - arranha-céu.

28
c) ( ) Beleza - perigoso - livraria.
d) ( ) Avermelhar - entardecer - intoxicação.

6 Assinale a alternativa em que a palavra foi formada por um processo de


derivação sufixal.

a) ( ) Bem-te-vi.
b) ( ) Retrocesso.
c) ( ) Guloso.
d) ( ) Esfriar.

7 Relacione a primeira coluna com a segunda:

(1) Parassíntese.
(2) Hibridismo.
(3) Redução.
(4) Sigla.
(5) Onomatopeia.

( ) Moto.
( ) Envergonhar.
( ) Monocultura.
( ) Ciciar.
( ) Funai.

29
30
UNIDADE 2

ESTUDO DAS CLASSES DE


PALAVRAS I

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• reconhecer as classes: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio;

• analisar a flexão dessas classes gramaticais.

PLANO DE ESTUDOS
A presente unidade de ensino está dividida em quatro tópicos, e no final de
cada um deles, você encontrará atividades que contribuirão para a apropria-
ção dos conteúdos.

TÓPICO 1 – SUBSTANTIVO

TÓPICO 2 – ADJETIVO

TÓPICO 3 – VERBO

TÓPICO 4 – ADVÉRBIO

31
32
UNIDADE 2
TÓPICO 1

SUBSTANTIVO

1 INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) acadêmico(a)! Esperamos contar com sua dedicação
novamente para juntos conhecermos um pouco mais sobre a Língua Portuguesa.
Na Unidade 1 conhecemos os elementos morfológicos que constituem as palavras
e os processos de formação de palavras que a Língua Portuguesa possui.

Agora que estamos na Unidade 2 vamos estudar a classificação das


palavras de nossa língua, assunto que já era uma preocupação dos filósofos gregos,
como Platão e Aristóteles. Falar em classes de palavras significa fazer referência à
divisão das palavras da língua. E, você, neste momento, deve se perguntar, mas
“por que dividir as palavras de uma língua”? Bom, há duas razões que podemos
apresentar, porém certamente você perceberá outras ao longo de seus estudos:
primeiro, porque classificá-las em classes ajuda a entender seu funcionamento na
língua e, segundo, porque há milhares de palavras na nossa língua e agrupá-las,
portanto, facilita seu entendimento.

Para nossos estudos, vamos adotar a seguinte divisão: substantivo,


adjetivo, verbo e advérbio. As demais classes (pronome, numeral, artigo,
preposição, conjunção e interjeição) serão vistas na Unidade 3.

Antes de começarmos, seria interessante você fazer a leitura do texto que


segue, extraído de Margarida Basílio (1995, p. 49-54). Nele você vai conhecer
alguns critérios utilizados para a classificação das palavras.

CLASSES DE PALAVRAS

Já é quase uma tradição em estudos da linguagem dizer-se que as


classes de palavras (também conhecidas como partes do discurso ou categorias
lexicais) podem ser definidas por critérios semânticos, sintáticos e morfo­
lógicos.
As gramáticas normativas privilegiam o critério se­mântico na
classificação das palavras, embora utilizem todos os critérios. No estruturalismo,
critica-se a gramática tradicional pela mistura de critérios e privilegiam-se
os critérios morfológico e funcional. Na teoria gerativa transformacional, as
classes de palavras são definidas apenas em termos de propriedades sintáticas.

33
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

A questão da definição de classes de palavras é bas­tante complexa,


quer em relação aos critérios, quer em relação ao fato de que a adequação
de definições de clas­ses varia de língua para língua. Aqui, vamos colocar a
questão a partir das necessidades de uma abordagem ade­quada aos processos
de formação de palavras em português.

OS TRÊS CRITÉRIOS

Passaremos a considerar a questão dos critérios de definição de classes


de palavras a partir das motivações internas à formação de palavras. Para
isso, vamos inicial­mente caracterizar cada critério e posteriormente estudar
sua relevância. Dado que apenas substantivos, adjetivos, verbos e advérbios
estão envolvidos em processos de for­mação de palavras, vamos nos deter aqui
apenas nessas classes.

O CRITÉRIO SEMÂNTICO

Dizemos que as classes de palavras são definidas pelo critério semântico


quando estabelecemos tipos de signifi­cado como base para a atribuição de
palavras a classes.

A maior parte das definições de substantivo que en­contramos nas


gramáticas é de base semântica. Em geral, o substantivo é definido como a
palavra com que designamos os seres. Pela sua própria natureza, o substantivo
é definido com relativa facilidade pelo critério semântico.

O adjetivo, no entanto, é de definição bem mais di­fícil a partir de um


critério semântico puro, dada a sua vocação sintática, por assim dizer. De fato,
o adjetivo não pode ser definido por si só, sem a pressuposição do substantivo,
já que sua razão de ser é a especificação do substantivo.

No entanto, a função semântica do adjetivo é de im­portância crucial


na estrutura linguística: de certa maneira, o adjetivo tem a mesma razão de
ser que os afixos, no sentido de permitir a expressão ilimitada de conceitos
sem a exigência de uma sobrecarga da memória com rótulos particulares. Para
esclarecer esse ponto, considere o exemplo a seguir:

(3) criança: a) bonita, feia, simpática;


b) magra, gorda, alta, baixa;
c) sadia, doente, subnutrida;
d) bem-educada, malcriada;
e) feliz, infeliz;
f) neurótica, autista;
g) brasileira, estrangeira e assim por diante.

34
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

Como vemos, uma série de conceitos diferentes po­dem ser expressos


pela especificação de um adjetivo ao substantivo; é esta a função do adjetivo:
uma função niti­damente semântica, a de especificar o substantivo, assim
permitindo a expressão de um teor praticamente ilimitado de especificações
com o uso de elementos fixos; mas uma função dependente do substantivo
por sua própria natu­reza e razão de ser.

Quanto ao verbo, é normal defini-lo semanticamente como a palavra


que exprime ações, estados ou fenômenos. Essa definição pura e simples
em termos semânticos não é suficiente, no entanto, já que ações, estados e
fenômenos podem ser expressos por substantivos. Assim, há que se acrescer
à definição semântica do verbo ou uma dimensão morfológica, em virtude
da gama de variações flexionais que lhe são características, ou uma dimensão
discursiva, relacionada à questão do momento do enunciado, por exemplo.

No caso do advérbio, teríamos algo análogo ao caso do adjetivo, já que


advérbios permitem especificação da ação, estado ou fenômeno descrito pelo
verbo.

Em suma, o critério semântico é fundamental para a definição das


classes vocabulares produtivas no léxico. Mas não é um critério suficiente,
pelo menos nos termos até agora encontrados em definições, já que noções
igual­mente rotuladas podem ser expressas por mais de uma das classes
estabelecidas. Por exemplo, ações podem ser expressas por nomes e verbos,
qualidades são designadas por substantivos e adjetivos, e assim por diante.

O CRITÉRIO MORFOLÓGICO

Entendemos por critério morfológico a atribuição de palavras a


diferentes classes, a partir das categorias gra­maticais que apresentem, assim
como das características de variação de forma que se mostrem em conjunção
com tais categorias.

De acordo com o critério morfológico, o substantivo é definido como


uma palavra que apresenta as categorias de gênero e número, com as flexões
correspondentes.

Embora demonstre alto teor de eficiência em relação a classes como


verbo e advérbio, a definição morfológica do substantivo não distingue
adequadamente esta classe da dos adjetivos, já que estes possuem as mesmas
categorias. A diferença entre substantivos e adjetivos, neste particular, pode
ser abarcada, no entanto, pela distinção imanente/dependente, já que o gênero
e o número dos adjetivos de­pendem do gênero e número de substantivos a
que se referem, enquanto no caso dos substantivos o gênero e o número são
imanentes.

35
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

A classe dos verbos é talvez a mais privilegiada no que respeita a uma


definição pelo critério morfológico, dada a riqueza e particularidade da flexão
verbal. Assim, o verbo às vezes é definido exclusivamente em termos de sua
caracterização morfológica.

Quanto ao advérbio, este pode ser definido em oposi­ção às demais


classes observadas, pela simples propriedade de ser morfologicamente
invariável.

O critério sintático

As classes de palavras podem também ser definidas por um critério


sintático. Nesse caso, atribuímos palavras a classes a partir de propriedades
distribucionais (em que posições estruturais as palavras podem ocorrer) e/ou
fun­cionais (que funções podem exercer na estrutura sintática).

Por exemplo, afirma-se que o substantivo é a palavra que pode exercer


a função de núcleo do sujeito, objeto e agente da passiva. Outra possibilidade
de caracterização é a posição de núcleo frente a determinantes, como artigos,
demonstrativos e possessivos, ou modificadores, como adjetivos e sintagmas
preposicionados. Assim, por exemplo, dizemos que sapato é um substantivo
porque podemos dizer o sapato, meu sapato, este sapato, sapato bonito, sapato
de Pedro. Já bonito não é um substantivo, pois não podemos dizer o bonito,
meu bonito, este bonito, bonito bonito ou bonito de Pedro.

A definição do adjetivo em termos funcionais é bas­tante fácil, dada a


função natural do adjetivo em relação ao substantivo. Assim, muitas vezes
o adjetivo é definido como palavra que acompanha, modifica ou caracteriza
o substantivo. É interessante notar, no entanto, que a defi­nição puramente
sintática do adjetivo não é suficiente, dado que não distingue adjetivos de
determinantes: estes últimos também acompanham o substantivo. A diferença
é que determinantes apontam e estabelecem relações, enquanto adjetivos
caracterizam ou especificam. Mas essa diferença é mais de natureza semântica
e discursiva do que sintática.

A classe dos verbos é bastante difícil de definir em termos sintáticos,


dado que o predicado pode não ser verbal.

Já no caso do advérbio, a definição sintática é fácil, pois o advérbio


exerce junto ao verbo função de modifi­cador, análoga à função exercida pelo
adjetivo junto ao nome. Essa colocação não cobre todos os casos, natural­
mente, já que as palavras que consideramos como advérbios podem se referir
à frase como um todo, entre outras possibilidades que necessitam de um
estudo detalhado.

36
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

2 CONCEITUANDO
Entendemos por substantivo uma palavra que designa diferentes
entidades (pessoas, entidade, coisas).

Desta forma, são substantivos:

a) os nomes de uma espécie ou de seus representantes, de um gênero, de


instituições, de lugares, de pessoas:

Roma cachorro Luiza cartório Alemanha


bananeira homem João igreja boi

b) os nomes de noções, ações, estados e qualidades, tomados como seres:

corrida viagem altura maldade


mentira negócio saúde consciência
beleza culto raiva brancura

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS


a) Comuns/próprios

Chamamos de substantivo próprio aquele que designa um objeto


individualmente.

Exemplos: Pedro, Matilde, Joana, Brasil.

Cada um desses substantivos nomeia um ser dentre outros da mesma


espécie; designa, portanto, um ser específico e particular.
Já o substantivo comum designa a espécie (designação genérica), que
reúne características inerentes de determinada classe.

Exemplos: rio, mesa, livro, papa, planeta, animal, cidade.

b) Concretos/abstratos

Por substantivos concretos devemos entender aqueles que nomeiam um


ser de existência independente. São os que designam os seres propriamente ditos.

Exemplos: mulher, cidade, sol, automóvel, pai, avô.

Os substantivos abstratos designam noções, ações, estados e qualidades


dos seres, dos quais se podem abstrair (=separar). São os que designam uma
essência ou qualidade separada de seu sujeito, como se tivessem existência
individual. Veja os exemplos:
37
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

• substantivos abstratos de qualidade (derivados de adjetivos): altura (de alto);


largura (de largo);

• substantivos abstratos de ação (derivados de verbos): estudo (de estudar);


recordação (de recordar), trabalho (de trabalhar).

c) Simples/compostos

Os substantivos simples são aqueles que possuem apenas um radical.

Exemplos: mulher, cidade, sol.

Já os compostos são formados por dois radicais.

Exemplos: vaivém, girassol, segunda-feira.

Como você já sabe, caro(a) acadêmico(a), em 1º de janeiro de 2009 entrou


em vigor o Novo Acordo Ortográfico. Embora as alterações que ele apresente
para a nossa língua sejam pequenas, não significa que não precisem ser estudadas
ou não exijam um pouco da nossa atenção.

Uma das mudanças se refere ao uso do hífen em vocábulos compostos,


em sua maioria substantivos compostos, por isso, nossa preocupação em mostrá-
las aqui.

Vamos a elas!

● Hífen em vocábulos compostos

a) Separam-se por hífen os vocábulos compostos formados pela justaposição


de duas palavras existentes na língua que, deixando de lado seu significado
original, passam a constituir uma nova unidade significativa.

Exemplos:

ano-luz
arco-íris
decreto-lei
médico-cirurgião
tenente-coronel
tio-avô
amor-perfeito
guarda-noturno
mato-grossense
norte-americano
porto-alegrense,
sul-africano

38
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

primeiro-ministro
conta-gotas
guarda-chuva
zás-trás
blá-blá-blá etc.

UNI

Em alguns casos, embora se perceba a presença de dois elementos vocabulares,


com o uso, os falantes da língua perderam a noção da composição e passaram a vê-los
como substantivos simples.
Exemplos:
girassol
madressilva
mandachuva
pontapé
paraquedas etc.

b) Haverá hífen em nomes cujo elemento inicial seja grã ou grão.

Exemplos:

Grã-Bretanha
Grão-Pará
grã-fino
grão-duque etc.

c) Separam-se por hífen os nomes de espécies botânicas ou zoológicas.

Exemplos:

abóbora-menina
couve-flor
erva-doce
feijão-verde
andorinha-grande
formiga-branca
cobra-d’água
bem-te-vi etc.

● Hífen em vocábulos compostos em que o primeiro elemento é um prefixo ou


falso prefixo

39
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Trata-se dos casos em que o primeiro elemento é um prefixo ou elemento


antepositivo (de origem grega ou latina) que, geralmente não tendo autonomia
na língua, são considerados falsos prefixos.

Prefixos citados pelo Acordo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-,
extra-, hiper, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, super-, sub-, supra-,
ultra- etc.

Antepositivos, ou falsos prefixos, citados pelo Acordo: aero-, agro-,


arqui-, auto-, hio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-,
mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele- etc.
(LEME, 2009, p. 5)

a) Separam-se por hífen os prefixos e falsos prefixos do segundo elemento quando


este começar com a letra h.

Exemplos:

anti-herói
anti-higiênico
extra-humano
super-homem
mini-hotel
semi-hospitalar
macro-história etc.

b) Quando o primeiro elemento for um prefixo ou falso prefixo terminado em


vogal e o segundo elemento iniciar com a mesma vogal, deve-se separar por
hífen.

Exemplos:

anti-ibérico
contra-almirante
infra-auxiliar
anti-inflamatório
micro-ondas
contra-ataque
aqui-inimigo etc.

● Serão sempre separados por hífen:

a) Prefixos ex, sota, soto, vice e vizo.

Exemplos:

ex-almirante
ex-diretor
soto-mestre

40
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

sota-piloto
vice-rei
vice-reitor

b) Prefixos tônicos acentuados graficamente pós, pré, pró, quando o segundo


elemento tiver utilização própria.

Exemplos:

pós-graduação
pós-tônico
pré-escolar
pré-natal
pró-europeu
pró-africano

c) Prefixos como além, recém, sem.

Exemplos:

além-mar
recém-casado
recém-nascido
sem-vergonha
sem-número

d) Prefixos hiper, inter e super serão separados por hífen se o segundo elemento
iniciar com h ou r.

Exemplos:

hiper-humano
inter-relacionar
super-reativo

e) Prefixo sub quando o segundo elemento começar por r.

Exemplos:

sub-região
sub-raça
sub-radial

41
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

f) Prefixos circum e pan antes de palavra iniciada por m, n e vogal.

Exemplos:

circum-navegação
circum-escolar
pan-americano
pan-africano

● Uso de hífen com sufixos.

a) Separam-se por hífen os sufixos de origem tupi-guarani.

Exemplos:

Amoré-guaçu
Anajá-mirim
Itajaí-mirim
capim-açu

● Casos em que não ocorre o hífen.

a) Não se emprega o hífen em locuções de qualquer tipo.

Exemplos:

cão de guarda
fim de semana
sala de jantar
cor de vinho
dia a dia
à toa etc.

E
IMPORTANT

Neste caso há algumas exceções. Permanecem com hífen algumas locuções


já consagradas pelo uso.
Exemplos:
água-de-colônia
arco-da-velha
cor-de-rosa
mais-que-perfeito
pé-de-meia
ao deus-dará
à queima-roupa

42
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

b) Não se usa hífen entre o prefixo que termina em vogal e o elemento que começa
com s ou r, ocorrendo duplicação dessas consoantes.

Exemplos:

antirreligioso
antissemita
autorregulamentação
contrarregra
cosseno
cossecante
extrarregular
infrassom
microssistema
intrarrenal
ultrarromântico
suprassensível etc.

c) Não haverá hífen quando o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento


começar por qualquer consoante diferente de r ou s.

Exemplos:

autopeça
antipedagógico
anteprojeto
geopolítica
autoproteção
semideus
microcomputador
semicírculo etc.

d) O hífen não será usado quando o prefixo terminar em vogal diferente da vogal
com que se inicia o segundo elemento.

Exemplos:

antiaéreo
socioeconômico
antiamericano
autoafirmação
autoescola
autoestrada
infraestrutura
semiaberto
supraocular
ultraelevado

43
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

e) Quando o prefixo terminar em consoante e o segundo elemento começar por


consoante diferente ou vogal não haverá hífen.

Exemplos:

hiperacidez
hiperativo
interestadual
superamigo
superexigente
superinteressante
hipermercado
intermunicipal etc.

UNI

Indicação de leitura!
A Academia Brasileira de Letras, órgão regulador da língua portuguesa no Brasil, disponibilizou
a versão eletrônica do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Caso tenha
dúvida sobre a grafia de qualquer palavra, basta acessar o site:<http://www.academia.org.br/
abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23> e fazer a consulta.

d) Primitivos/derivados

Os substantivos primitivos são aqueles que não derivam de outra palavra


da Língua Portuguesa.

Exemplo: pedra, folha, real.

Os substantivos derivados são aqueles formados a partir de outra palavra


da Língua Portuguesa.

Exemplo: pedreira, folhagem, irreal.

e) Coletivos

Entre os substantivos comuns, encontramos os coletivos. São aqueles que,
no singular, designam um conjunto de seres ou coisas da mesma espécie.

Exemplos: O povo brasileiro é hospitaleiro.

44
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

Analisando o exemplo, percebemos que não há ali indicativo de número,


e sim o uso de uma forma no singular, capaz de expressar pluralidade. Há um
número bastante significativo de coletivos na Língua Portuguesa. Apresentamos
na sequência uma lista de coletivos, elaborada pelo professor Evanildo Bechara
(2003).

QUADRO 2 – LISTA DE COLETIVOS

A) CONJUNTO DE PESSOAS:

Alcateia, bando, caterva, corja, horda, farândula, malta, quadrilha, récova,


súcia, turba: de ladrões, desordeiros, assassinos, malfeitores e vadios.
Associação, clube, comício, comissão, congresso, conselho, convenção,
corporação, grêmio, sociedade: de pessoas, reunidas para fim comum.
Assistência, auditório, concorrência, aglomeração, roda: de assistentes, ouvintes
ou espectadores.
Cabido: de cônegos de uma catedral.
Caravana: de viajantes.
Claque, torcida: de espectadores para aplaudir ou patear.
Clientela: de clientes, de advogados, de médicos, etc.
Comitiva, cortejo, séquito, acompanhamento: de pessoas que acom­panham
outra por dever ou cortesia.
Comunidade, confraria, congregação, irmandade: ordem de religiosos.
Concílio, conclave, consistório, sínodo, assembleia: de párocos ou de outros
padres.
Coro: conjunto, bando de pessoas que cantam juntas.
Elenco: de artistas de uma companhia, peça ou filme.
Equipagem, marinhagem, companha, maruja, tripulação: de marinheiros.
Falange: de heróis, guerreiros, espíritos.
Junta: de credores, de médicos.
Pessoal: de uma fábrica, repartição pública ou escola, loja.
Plêiade ou plêiada: de poetas, artistas, talentos.
Ronda: de policiais que percorrem as ruas velando pela ordem pública.
Turma: de estudantes, trabalhadores, médicos.

B) GRUPO DE ANIMAIS:

Alcateia: de lobos, panteras ou outros animais ferozes.


Bando, revoada: de aves, pardais.
Cáfila: de camelos.
Cardume, boana, corso (ô), manta: de peixes.
Colmeia, enxame, cortiço: de abelhas.
Correição, cordão: de formigas.
Fato: rebanho de cabras.
Fauna: conjunto de animais próprios de uma região.
Gado: conjunto de animais criados nas fazendas.

45
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Junta, obesana, cingel, jugo, jugada: de bois.


Lote: de burros, grupos de bestas de carga.
Malhada, oviário, rebanho: de ovelhas.
Manada: de cavalos, de porcos, éguas.
Matilha: de cães.
Ninhada: rodada de pintos.
Nuvem, miríade, onda, praga: de gafanhotos, marimbondos, percevejos.
Piara, vara: de porcos.
Récova, récua: de cavalgaduras.
Rebanho, armentio, armento, grei, maromba: de bois, ovelhas.

C) GRUPO DE COISAS:

Acervo, chorrilho, enfiada: de asneiras, tolices. Acervo também se aplica aos


bens materiais: É grande o acervo da Biblioteca Nacional.
Antologia, analecto, cresfomatia, coletânea, florilégio, seleta: de trechos lite­
rários ou científicos.
Aparelho, baixela, serviço: de chá, café, jantar.
Armada, esquadra, frota: de navios de guerra.
Bateria, fileira: de peças de artilharia.
Braçada, braçado, buquê, ramo, ramalhete (ê), festão: de flores.
Cacho: de uvas, de bananas.
Cancioneiro: de canções. É erro empregar o vocábulo como sinônimo de cantor
em expressões como cancioneiros românticos.
Carrada: de razões.
Chuva, chuveiro, granizo, saraiva, saraivada: de balas, pedras, setas.
Coleção: de selos, quadros, medalhas, moedas, livros.
Constelação: de estrelas.
Cordilheira, cadeia, série: de montes, montanhas.
Cordoalha, cordame, enxárcia: de cabos de um navio.
Feixe, lio, molho (ó): de lenha, capim.
Fila, fileira, linha: de cadeiras.
Flora: conjunto de plantas de uma determinada região.
Galeria: de quadros, estátuas.
Gaveta ou gabela, paveia: feixe de espigas.
Herbário: coleção de plantas para exposição ou estudo.
Hinário: de hinos.
Instrumental: de instrumentos de orquestra, de qualquer ofício mecânico, de
cirurgia.
Mobília, mobiliário: de móveis.
Monte, montão: de pedras, palha, lixo.
Penca: de bananas, laranjas, chaves.
Pilha, ruma: de livros, malas, tábuas.
Réstia: de cebolas, alhos.
Sequência: série de cartas do mesmo naipe.
Troféu: de bandeiras.
FONTE: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

46
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

2.2 FLEXÃO DO SUBSTANTIVO


Os substantivos admitem flexão de gênero, número e grau. Caro(a)
acadêmico(a), vamos começar observando a flexão de gênero.

2.2.1 Flexão de gênero


O primeiro esclarecimento importante é não confundirmos gênero
gramatical e gênero biológico (sexo do indivíduo). O gênero gramatical é um
princípio puramente linguístico e diz respeito a todos os substantivos, quer se
refiram a seres animados providos de sexo (aluno, aluna), quer nomeiem apenas
coisas (relógio, caneta, bola).

Vamos ver se você entendeu a diferença. Repare no substantivo caneta,


temos aqui um nome que designa uma coisa, isto é, não existe a ideia de sexo;
o que se aplica neste caso é a ideia de gênero gramatical: o substantivo caneta
pertence ao gênero feminino, assim como relógio ao gênero masculino.

Dizemos ainda que quando é possível usar os artigos o, os na frente de


um substantivo, ele é masculino. São femininos os substantivos a que antepomos
os artigos a, as. Quer ver um exemplo? O substantivo criança pode ser usado
para se referir tanto a pessoas do sexo feminino quanto do masculino, porém
pertence ao gênero feminino visto que é possível construirmos “a criança precisa
de cuidados”.

2.2.1.1 Formação do feminino


Ocorre a flexão de gênero geralmente para aqueles substantivos que
designam pessoas e animais. Estes substantivos, portanto, vão apresentar uma
forma para indicar os seres do sexo masculino e outra para o feminino. Vejamos
alguns casos:

homem/mulher bode/cabra cantor/cantora cavalo/égua


galo/galinha gato/gata mestre/mestra pai/mãe

Os casos anteriormente apresentados mostram que a formação do


feminino pode ser:

a) Uma forma diferente da do masculino, isto é, formada por um radical distinto:


bode/cabra, homem/mulher.

b) Derivada da forma masculina, ocorrendo apenas a substituição das vogais o e


e por a ou pelo acréscimo da desinência –a. Essa troca pode ser vista em gato –
gata, mestre – mestra.

47
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Vamos explorar agora cada um desses modos de formação do feminino


na nossa língua.

Inicialmente, é bom que você conheça alguns substantivos cuja forma


feminina é formada por radical distinto . Esses substantivos recebem também o
nome de heterônimos.

NOTA

Como você já estudou na disciplina de Linguística Aplicada à Língua Portuguesa


e também na Unidade 1 deste Caderno de Estudos, radical é a parte da palavra que exprime
a ideia geral, ou seja, seu significado mesmo sem o prefixo ou sufixo. O radical cria relações
entre as palavras da mesma família (cognatas) e lhes dá uma base comum de significação.

QUADRO 3 – SUBSTANTIVOS HETERÔNIMOS


Nomes de pessoas Nomes de animais
Masculino Feminino Masculino Feminino
cavaleiro amazona bode cabra
cavalheiro dama boi vaca
confrade confreira burro besta
compadre comadre cão cadela
frade freira carneiro ovelha
frei sóror cavalo égua
genro nora zangão abelha
FONTE: A autora

Vejamos agora as possibilidades de formação dos substantivos femininos


formados a partir do radical masculino.

1 Os substantivos terminados em ­– o trocam o – o por – a: filho/filha, gato/gata,


aluno/aluna, menino/menina.

Ainda no grupo dos que trocam o – o por –a, temos alguns casos cuja
forma feminina é formada por desinências especiais, como: diácono/ diaconisa,
papa/papisa, imperador/imperatriz, duque/duquesa, príncipe/princesa.

48
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

E
IMPORTANT

Para o substantivo embaixador, a Língua Portuguesa apresenta duas formas


femininas que não devem ser confundidas: embaixatriz (a esposa do embaixador) e
embaixadora (funcionária chefe de embaixada).

2 Os substantivos terminados em consoante acrescentam a desinência –a sem


qualquer alteração: camponês/camponesa, freguês/freguesa, juiz/juíza, oficial/
oficiala.

3 Os substantivos terminados em –or formam o feminino com o acréscimo da


desinência –a: cantor/cantora, autor/autora, pastor/pastora.

Outros casos:

1 A forma feminina dos substantivos terminados em –ão pode ocorrer de três


maneiras:

a) trocando –ão por –oa: leitão/leitoa, leão/leoa, patrão/patroa;


b) trocando –ão por –ã: cidadão/cidadã, irmão/irmã, cirurgião/cirurgiã;
c) trocando –ão por –ona: comilão/comilona, sabichão/sabichona, valentão/
valentona.

2 Para os substantivos terminados em –e há duas possibilidades: ou ficam


invariáveis (amante, cliente, doente, habitante, ouvinte) ou trocam o –e pela
desinência –a (mestre, mestra, governante, governanta, parente, parenta).

3 Não se enquadram em nenhum dos casos listados anteriomente: avô/avó,


maestro/ maestrina, galo/galinha, herói/heroína, rapaz/rapariga, rei/rainha,
réu/ré.

Até aqui, estudamos os substantivos que apresentavam uma forma para o
masculino e outra para o feminino. Porém, nem todos os substantivos da Língua
Portuguesa seguem essa regra, há casos em que só existe uma forma gramatical
para indicar o gênero, são os chamados substantivos uniformes. Vamos ver quais
são esses casos?

Substantivos uniformes

a) Substantivos epicenos: referem-se aos nomes de animais que só possuem


uma forma gramatical para os dois gêneros.

Exemplos: a baleia, a onça, o gavião, o tigre.

49
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Se quisermos especificar o sexo do animal, acrescentamos as palavras


macho e fêmea ao substantivo, assim: tigre macho/ tigre fêmea; o macho ou a
fêmea do tigre.

b) Substantivos sobrecomuns: são aqueles que possuem apenas um gênero para


designar pessoas de ambos os sexos.

Exemplos: o cônjuge, o indivíduo, a criança, a pessoa, a vítima.

Se houver necessidade de discriminar o sexo, podemos dizer: a vítima do


sexo masculino, uma pessoa do sexo feminino.

c) Substantivos comuns de dois gêneros: também apresentam só uma forma


para os dois gêneros, porém diferenciam o masculino do feminino com o
auxílio de um artigo colocado antes do substantivo.

Exemplos: o agente/ a agente, o colega/ a colega, o estudante/ a estudante,


o cliente/ a cliente, o gerente/ a gerente, o jovem/ a jovem, o servente/ a servente.

E
IMPORTANT

Podemos usar indistintamente a forma o personagem ou a personagem


quando nos referirmos ao protagonista homem ou mulher.

d) Mudança de sentido na mudança de gênero: alguns substantivos sofrem


alteração na sua significação quando empregados no masculino ou no feminino.
Veja alguns casos em que os substantivos são femininos ou masculinos,
conforme o sentido com que estão empregados.

Exemplos:
o cabeça (chefe, líder) a cabeça (parte do corpo)
o capital (bens materiais) a capital (cidade)
o guia (pessoa) a guia (documento)
o rádio (aparelho) a rádio (emissora)
o moral (ânimo) a moral (bons costumes)

e)
Substantivos de gênero vacilante: há alguns substantivos na Língua
Portuguesa cujo emprego geralmente causa dúvida quanto ao gênero. Portanto,
apresentamos aqui as ocorrências mais comuns para você consultar sempre
que tiver alguma dificuldade. Caso o substantivo procurado não esteja aqui,
um bom dicionário também é fonte segura para sanar sua dúvida.

50
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

a) São masculinos: alvará, champanha, diabete(s), dó, eclipse, herpes, guaraná,


grama (unidade de peso), milhar, pijama, telefonema.

b) São femininos: alface, cal, dinamite, faringe, omoplata.

2.2.2 Flexão de número


Em relação à flexão de número, os substantivos podem estar no singular
ou plural.

a) Singular: os substantivos no singular indicam um ser único (ave, aluno, gato,


soldado) ou um grupo de seres (bando, manada, tropa).

b) Plural: os substantivos no plural indicam mais de um ser (aves, alunos, gatos,


soldados) ou mais de um desses conjuntos orgânicos (bandos, manadas,
tropas).

2.2.2.1 Formação do plural


A Língua Portuguesa dispõe de várias flexões para fazer o plural dos
substantivos. Você já deve ter percebido esta característica, certo? O que regula
a formação do plural é a terminação do substantivo no singular, portanto, o que
você acha de observarmos caso a caso essas regras?

a) Substantivos terminados em vogal ou ditongo: formam o plural com o


acréscimo de –s ao singular.

Exemplos: mesa – mesas, pé – pés, boi – bois, cipó – cipós, pau – paus,
lei – leis, chapéu – chapéus, herói – heróis, mãe – mães.

Veja a seguir alguns casos especiais.

 substantivos terminados em – ão formam o plural de três maneiras:

51
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

QUADRO 4 – FORMAÇÃO DO PLURAL DE SUBSTANTIVOS TERMINADOS EM –ÃO

FONTE: A autora

E
IMPORTANT

Há alguns substantivos terminados em –ão que não possuem ainda uma forma
definitiva de plural, porém a flexão –ões tem apresentado maior preferência na linguagem
corrente. Vejamos alguns casos que ilustram a possibilidade de mais de uma forma de
plural para um mesmo substantivo: alazão (alazães, alazões), anão (anãos, anões), corrimão
(corrimões, corrimãos), verão (verões, verãos), vilão (vilões, vilãos), cirurgião (cirurgiões,
cirurgiães).

b) Substantivos terminados em –r ou –z: formam plural acrescentando –es ao


singular.

Exemplos: colher – colheres, mar – mares, diretor – diretores, raiz – raízes,


juiz – juízes, cruz – cruzes, noz – nozes, rapaz – rapazes.

Fique atento ao plural da palavra caráter – caracteres.

c) Substantivos terminados em –m: trocam o –m por –ns.

Exemplos: bem – bens, som – sons, fim – fins, refém – reféns, pajem –
pajens, álbum – álbuns, atum – atuns, item – itens.

d) Substantivos terminados em –s: os monossílabos e oxítonos formam o plural


com o acréscimo da desinência –es ao singular.

Exemplos: país – países, deus – deuses, gás – gases, mês – meses, português
– portugueses.

52
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

Porém, caro(a) acadêmico(a), fique atento: se o substantivo terminar em


–s, mas for paroxítono, ele fica invariável. Observe estes casos: o atlas – os atlas,
o lápis – os lápis, o vírus – os vírus.

e) Substantivos terminados em –al, –el, –ol e –ul: trocam o –l por –is.

Exemplos: animal – animais, papel – papéis, móvel – móveis, farol – faróis,


lençol – lençóis, jornal – jornais.

Exceções: mal – males, cônsul – cônsules.

f) Substantivos terminados em –il formam o plural de duas maneiras:

se
 oxítonos: trocam o –il por –is (barril – barris, funil – funis, fuzil – fuzis).

se
 paroxítonos: trocam o –il por –eis (fóssil – fósseis, réptil – répteis, projétil –
projéteis).

2.2.2.1.1 Plural dos substantivos compostos


O plural dos substantivos compostos acontece conforme as seguintes
normas:

1 Se o substantivo composto é formado por palavras unidas sem hífen, seu plural
ocorre como se fosse um substantivo simples.

Exemplos: aguardente(s), malmequer(es), pontapé(s), vaivén(s).

2 Se o substantivo composto é formado por palavras unidas por hífen, seus


termos componentes podem ir ambos para o plural ou apenas um deles. Vamos
analisar quando ocorre cada uma dessas situações.

a) substantivo + substantivo:

Exemplos: cirurgião-dentista, cirurgiões-dentistas, abelha-mestra,


abelhas-mestras, couve-flor, couves-flores.

b) substantivo + adjetivo:

Exemplos: amor-perfeito, amores-perfeitos, carro-forte, carros-fortes,


cachorro-quente, cachorros-quentes, obra-prima, obras-primas, guarda-noturno,
guardas-noturnos.

c) adjetivo + substantivo

53
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Exemplos: boa-vida, boas-vidas, curta-metragem, curtas-metragens.

d) numeral + substantivo

Exemplos: segunda-feira, segundas-feiras, sexta-feira, sextas-feiras.

e) verbo + substantivo

Exemplos: guarda-chuva, guarda-chuvas, bate-boca, bate-bocas, beija-


flor, beija-flores, caça-níquel, caça-níqueis.

f) elemento invariável + palavra variável

Exemplos: vice-presidente, vice-presidentes, abaixo-assinado, abaixo-


assinados.

g) termos ligados por preposição

Exemplos: pé de moleque, pés de moleque, mula sem cabeça, mulas sem


cabeça, pão de ló, pães de ló.

h) se o segundo elemento determina o primeiro

Exemplos: caneta-tinteiro, canetas-tinteiro, pombo-correio, pombos-


correio, salário-família, salários-família.

i) palavras onomatopaicas ou repetidas

Exemplos: bem-te-vi, bem-te-vis, tique-taque, tique-taques, tico-tico, tico-


ticos, corre-corre, corre-corres.

2.2.2.1.2 Outros casos de plural

Plural
 com alteração de timbre

Alguns substantivos formam plural com mudança de timbre da vogal


tônica (o fechado e o aberto). Observamos essa alteração em: corpo (ô), corpos
(ó), ovo (ô), ovos (ó). Além desses, temos ainda: corno, corvo, destroço, fogo,
forno, imposto, jogo, poço, porto, posto, reforço.

Plural
 dos diminutivos

Naqueles formados pelos sufixos –zinho e –zito, tanto o substantivo


primitivo como o sufixo vão para o plural.

54
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

Note os seguintes exemplos: balãozinho – balõe(s)+zinhos = balõezinhos/


cãozito – cãe(s)+zinhos = cãezitos.

Substantivos
 usados apenas no plural

A Língua Portuguesa possui alguns substantivos que são usados apenas


no plural. Exemplos: anais, condolências, férias, núpcias, óculos, pêsames.

2.2.3 Flexão de grau


Caro(a) acadêmico(a), você deve lembrar que o substantivo pode se
apresentar:

a) na sua forma normal: homem, boca;

b) na sua forma exagerada (grau aumentativo): homenzarrão, homem grande,


bocarra, boca enorme;

c) na sua forma atenuada (grau diminutivo): homenzinho, homem pequeno,


boquinha, boca minúscula.

Percebemos que, com exceção da ideia de tamanho, as formas aumentativas


e diminutivas traduzem ideias “de anormalidade, defeituosidade; outras vezes
as de simpatia, afeição. Daí que os sufixos aumentativos e diminutivos sejam
frequentemente pejorativos, ou então hipocorísticos (de carinho): livrinho, livreco,
filhinha, benzinho, etc.” (LUFT, 2002, p. 144).

Para que os substantivos possam expressar essa “gradação” do seu


significado, há dois processos possíveis na Língua Portuguesa:

 Sintético:quando ocorre um acréscimo de sufixo derivacional aumentativo ou


diminutivo: livrinho, bocarra.
 Analítico: quando empregamos um adjetivo junto ao substantivo que indique
aumento ou diminuição: boca minúscula, homem pequeno.

UNI

Indicação de leitura!
No site do Brasil Escola (www.brasilescola.com) você encontra mais informações sobre os
substantivos e outros assuntos da língua portuguesa.

55
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Após nossos estudos sobre o substantivo, vamos aprofundar um pouco a


questão com o texto de Silva e Koch (2000). Nele você terá mais informações sobre
a flexão nominal, a flexão dos gêneros e poderá complementar os conhecimentos
que construímos sobre este assunto. Boa leitura!

LEITURA COMPLEMENTAR

A FLEXÃO NOMINAL

Embora, nas gramáticas do português, o adjetivo e o substantivo sejam


considerados como duas categorias distintas, a flutuação categorial entre eles é
grande.

Funcionalmente, muitos dos nomes podem ser, conforme o contexto,


substantivos (termos determinados) ou adjetivos (termos determinantes). Assim,
no enunciado um diplomata mexicano, o segundo vocábulo é substantivo e o terceiro
adjetivo, já em um mexicano diplomata dá-se o inverso. Há, entretanto, alguns nomes
que são essencialmente adjetivos (triste, grande, etc.). Mesmo assim, a distinção
funcional não é absoluta: um homem tigre designa aquele que tem a ferocidade de
um tigre e corresponde a homem feroz.

Formalmente, a diferença entre essas duas classes gramaticais é muito


pequena. Por um lado, tanto os substantivos como os adjetivos são marcados
por vogais temáticas (criança, mestre, medo; agrícola, verde, cinzento) ou por
formas atemáticas terminadas em vogais tônicas e consoantes (filó, gibi, urubu,
inspetor; cru, nu, burguês, tentador). Por outro lado, os adjetivos estão quase
exclusivamente distribuídos nas formas –e e –o e em consoantes, enquanto os
substantivos encontram-se distribuídos em todas as formas.

Flexionalmente, ambos são suscetíveis de flexão de gênero e número,


evidentemente apresentando pequenas diferenças. O gênero, que condiciona uma
oposição entre forma masculina e forma feminina, é caracterizado por flexão,
através do morfema /-a/ (forma marcada) no feminino, e do morfema zero (forma
não marcada), no masculino (peru-perua). O número, que cria o contraste entre
forma singular e plural, é também caracterizado por flexão, através do morfema
flexional –s, no plural, e da forma não marcada no singular (peru-perus). Assim,
conforme já se disse, o masculino e o singular em português caracterizam-se pela
ausência de marca, isto é, por um morfema zero.

56
TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO

A FLEXÃO DE GÊNERO

Tal flexão opera através do acréscimo do morfema flexional –a átono final


à forma masculina. Quando a forma masculina é atemática, há simplesmente o
acréscimo mencionado: peru – perua/autor – autora; mas, quando tal forma termina
em vogal temática como pombo, parente, essa vogal é suprimida, através de uma
mudança morfofonêmica, decorrente do acréscimo do morfema –a: pombo-o+a =
pomba; parente –e + a = parenta.

No entanto, nem todas as palavras são marcadas flexionalmente. Veja-


se, por exemplo: casa, livro, cônjuge, criança, em que a vogal final não indica
gênero, mas simplesmente registra a classe gramatical. Embora não marcadas
flexionalmente, tais palavras admitem a anteposição de um artigo: a casa, o livro,
o cônjuge, a criança. Assim, em português, cabe ao artigo marcar, explícita ou
implicitamente, o gênero dos nomes substantivos. Consequentemente, a flexão
de gênero nos nomes é um traço acessório, redundante.[...]

Quanto à natureza, a flexão de gênero costuma ser associada intimamente


ao sexo dos seres. Contra essa interpretação tem-se os seguintes argumentos: a) o
gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se refiram a seres
animados, providos de sexo, quer designem “coisas” como: mesa, ponte, tribo, que
são femininos (precedidos do artigo a), ou sofá, pente, prego, que são masculinos
(precedidos pelo o); b) o conceito de sexo não está necessariamente ligado ao de
gênero: mesmo que em substantivos referentes a animais e pessoas há algumas
vezes discrepância entre gênero e sexo. Assim, a testemunha, a cobra são sempre
femininos e o cônjuge, o tigre, sempre masculinos, quer se refiram a seres do sexo
masculino ou feminino.

FONTE: SILVA, M. C. P. de S.; KOCH, I.V. Linguística aplicada ao português: morfologia. 11. ed.
São Paulo: Cortez, 2000 p. 40-42.

57
RESUMO DO TÓPICO 1
Oi, chegamos ao término do primeiro tópico da Unidade 2. Depois
de estudarmos vários conceitos relacionados ao substantivo, é hora de tentar
organizar, de forma esquemática, tudo o que foi estudado.

Inicialmente, observamos que:

• Substantivo é a palavra que usamos para identificar os seres em geral.

Depois, estudamos a classificação dos substantivos. Verificamos que


eles podem ser:

• Comuns: designam os seres de uma mesma espécie (cidade, rio, menino).

• Próprios: designam um ser em particular dentre uma série da mesma espécie


(São Paulo – cidade, Amazonas – rio, João – homem).

• Concretos: designam coisas, entidades, lugares e pessoas (rio, anjo, São Paulo,
João).

• Abstratos: designam ações (ataque, justiça), estado e qualidade (vida, bondade),


considerados fora dos seres, como se fossem dotados de existência individual.

• Simples: formado por apenas um radical (cama, sol, rua).

• Compostos: formado por mais de um radical (amor-perfeito, bem-te-vi).

• Primitivos: não provêm de nenhuma outra palavra da Língua Portuguesa


(rosa, dente).

• Derivados: são aqueles que provêm de outra palavra da Língua Portuguesa


(roseira, dentista).

• Coletivos: designam um conjunto de elementos ou seres, mesmo que


empregados no singular (arquipélago – de ilhas, elenco – de artistas, multidão
– de pessoas).

Além disso, analisamos também a flexão dos substantivos. Vimos que o


substantivo pode sofrer flexão em:

• Gênero: feminino (garota, mãe, poetisa) e masculino (garoto, pai, poeta).

• Número: singular (garota, mãe) e plural (garotos, pais).

• Grau: diminutivo (garotinha, garota pequena) e aumentativo (garotão, garoto


grande).
58
AUTOATIVIDADE

Olá, caro(a) acadêmico(a)! Vamos colocar agora em prática tudo o que você
aprendeu sobre os substantivos. Para isso, preciso que você se dedique um
pouquinho aos exercícios a seguir. Sugiro que você tenha ao seu lado um
dicionário, pois certos substantivos podem gerar dúvidas e, como ninguém
sabe tudo, a consulta a uma fonte segura sempre é bem-vinda. Vamos lá!

1 Assinale a alternativa em que aparece um substantivo cujo plural esteja


incorreto:

a) ( ) Redator-chefe, redatores-chefes.
b) ( ) Boa-vida, boas-vidas.
c) ( ) Beija-flores, beijas-flores.
d) ( ) Recém-nascido, recém-nascidos.

2 Qual dos pares a seguir não está correto?

a) ( ) Arquipélago – de ilhas.
b) ( ) Molho – de chaves, capim.
c) ( ) Enxame – de abelhas, insetos.
d) ( ) Réstia – de sentinelas, de guardas.

3 Assinale a alternativa que não seja formada apenas por substantivos


femininos:

a) ( ) Trama - laringe - acne.


b) ( ) Ágape - diabetes - monja.
c) ( ) Deusa - dinamite - judia.
d) ( ) Doutora - anciã - libido.

4 Verifique em qual das alternativas o substantivo não foi classificado


corretamente:

a) ( ) A testemunha não compareceu ao tribunal. (sobrecomum).


b) ( ) Os jornalistas precisam de sólida formação em Língua Portuguesa.
(epiceno).
c) ( ) A atriz precisava de tratamento psicológico. (heterônimo).
d) ( ) O cliente deve ser bem tratado para retornar à loja. (comum de dois).

5 Qual das alternativas a seguir apresenta erro na classificação do substantivo?

a) ( ) Plantação – substantivo simples, comum, concreto.


b) ( ) Maceió – substantivo simples, próprio, concreto.
c) ( ) Confiança – substantivo simples, comum, abstrato.
d) ( ) Autoescola – substantivo simples, comum, concreto.
59
6 Assinale a única alternativa na qual todos os substantivos estejam
adequadamente empregados:

a) ( ) Seu pai pediu para comprar duzentos gramas de carne.


b) ( ) Os melães estavam com um aspecto feio.
c) ( ) De quantos balãozinhos sua turma necessita?
d) ( ) Você deve entregar os abaixos-assinados na prefeitura ainda hoje.

7 Indique qual a única alternativa que forma o plural da mesma forma que
obras-primas e pães de ló:

a) ( ) Cachorro-quente, pé de moleque.
b) ( ) Caça-níquel, manga-rosa.
c) ( ) Pisca-pisca, bota-fora.
d) ( ) Padre-nosso, reco-reco.

8 Alguns substantivos da Língua Portuguesa admitem mais de uma forma de


plural. Sabendo dessa informação, verifique qual das alternativas a seguir
apresenta apenas substantivos com duas formas para o plural.

a) ( ) Anão, botão.
b) ( ) Cidadão, mãe.
c) ( ) Verão, cão.
d) ( ) Charlatão, ancião.

9 Indique a alternativa em que todos os substantivos fazem o plural da


mesma forma que a palavra mão:

a) ( ) Caixão, melão, falcão.


b) ( ) Cidadão, corrimão, grão.
c) ( ) Irmão, capitão, escrivão.
d) ( ) Cristão, capitão, tabelião.

10 Verifique em qual das alternativas a seguir o diminutivo não expressa


afetividade:

a) ( ) Cuidado com seu pezinho, amor.


b) ( ) Paizinho, fica comigo, estou com medo.
c) ( ) Você precisa mais do que um cursinho para passar no vestibular.
d) ( ) O jornalzinho feito pelos alunos da primeira série ganhou o prêmio da
escola.

11 Assinale os termos que sofreram modificação com o novo Acordo


Ortográfico e escreva a nova forma da palavra ao lado:

60
( ) auto-serviço ______________________________
( ) micro-sistema ______________________________
( ) contra-razões ______________________________
( ) reeleição__________________________________
( ) auto-estrada _______________________________
( ) co-responsável _____________________________
( ) microondas ________________________________
( ) co-operação _______________________________
( ) erva-doce _________________________________
( ) fim-de-semana _____________________________
( ) sub-solo __________________________________
( ) pré-fabricado ______________________________
( ) sub-humano _______________________________
( ) inter-resistente _____________________________
( ) pseudo-estilista____________________________
( ) anti-cárie __________________________________
( ) micro-empresário ___________________________
( ) megainvestidor _____________________________
( ) autoajuda _________________________________
( ) contracheque ______________________________
( ) antirreflexo ________________________________
( ) vice-diretor ________________________________
( ) vaga-lume ________________________________

61
62
UNIDADE 2 TÓPICO 2
ADJETIVO

1 INTRODUÇÃO
Oi, preparado(a) para mais um tópico? Vamos continuar a conhecer mais
sobre a Língua Portuguesa? No Tópico 1 estudamos os substantivos e analisamos
suas flexões em gênero, número e grau. Neste tópico, nosso interesse será conhecer
uma outra classe de palavras, os adjetivos. Vamos começar!

2 CONCEITO
Podemos começar nossos estudos dizendo que o adjetivo é um modificador
do substantivo, com o qual concorda em gênero e número, se for variável.

O adjetivo apresenta as seguintes funções, conforme Cunha e Cintra
(2001):

a) caracterizar os seres, objetos ou as noções nomeadas pelo substantivo,


expressando:

• qualidade (ou defeito): postura elegante, mulher honesta;


• o modo de ser: pessoa quieta, funcionário dinâmico;
• o aspecto ou aparência: noite clara, cozinha limpa;
• o estado: pessoa triste, restaurante vazio.

b) estabelecer com o substantivo uma relação de tempo, de espaço, de matéria, de


finalidade, de propriedade, de procedência, etc. (adjetivo de relação):

• fatura anual (= fatura relativa ao ano);


• movimento sindical (= movimento feito pelo sindicato);
• vinho italiano (= vinho proveniente da Itália).

Os autores apresentam uma situação muito interessante referente à


relação entre substantivos e adjetivos. Às vezes, existe uma única forma para
as duas classes de palavras e, nesse caso, a distinção é feita na frase, como no
exemplo a seguir.

Uma preta velha vendia laranjas.


Uma velha preta vendia laranjas.

63
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Analisando as orações acima, verificamos que na primeira preta é


substantivo, porque é a palavra núcleo, caracterizada por velha, que neste caso é
adjetivo, por caracterizar o termo-núcleo. Já na segunda oração, velha funciona
como substantivo e preta como adjetivo.

2.1 FORMAÇÃO DOS ADJETIVOS


O adjetivo quanto à formação pode ser:

a) primitivo: quando não deriva de outra palavra (grande, lindo, forte);


b) derivado: quando deriva de substantivos (bondoso, amoroso) ou verbos
(agradável, quebrado);
c) simples: formado por um radical apenas (bondoso, agradável);
d) composto: formado por mais de um radical (surdo-mudo, amarelo-canário,
médico-cirurgião).

2.2 ADJETIVOS PÁTRIOS


São adjetivos, derivados de substantivos, que se referem a cidades,
estados, regiões, países ou continentes e indicam a nacionalidade ou a origem de
alguém de ou de alguma coisa. A esses adjetivos chamamos de adjetivos pátrios.
Se você não tem muita familiaridade com eles, seguem alguns.

Inicialmente, vamos conhecer alguns adjetivos pátrios de estados e


capitais do Brasil:

QUADRO 5 – ALGUNS ADJETIVOS PÁTRIOS DE ESTADOS E CAPITAIS DO BRASIL


ESTADO ADJETIVO PÁTRIO CAPITAL ADJETIVO PÁTRIO
Amazonas amazonense Manaus manauense
Ceará cearense Fortaleza fortalezense
Mato Grosso mato-grossense Cuiabá cuiabano
Minas Gerais mineiro Belo Horizonte belo-horizontino
Paraná paranaense Curitiba curitibano
Rio de Janeiro fluminense Rio de Janeiro carioca
Rio Grande do rio-grandense-do-norte, Natal natalense
Norte norte-rio-grandense,
potiguar
Rio Grande do rio-grandense-do-sul, Porto Alegre porto-alegrense
Sul sul-rio-grandense,
gaúcho
Santa Catarina catarinense Florianópolis florianopolitano
São Paulo paulista São Paulo paulistano
Tocantins tocantinense Palmas palmense
FONTE: A autora

64
TÓPICO 2 | ADJETIVO

O que você acha agora de conhecer alguns adjetivos pátrios que designam
a nacionalidade das pessoas? Veja estes exemplos: Angola – angolano; Áustria –
austríaco; Egito – egípcio; Estados Unidos – norte-americano, ianque; Japão
– japonês, nipônico.

Existem também os chamados adjetivos pátrios compostos. Veja alguns


bem frequentes: romance anglo-americano (anglo = inglês), império austro-
húngaro (austro = austríaco); relações ítalo-europeias (ítalo = italiano), acordo
nipo-brasileiro (nipo = japonês).

2.3 FLEXÃO DOS ADJETIVOS


O adjetivo, da mesma forma como o substantivo, flexiona-se em gênero,
número e grau.

2.3.1 Flexão de número


O adjetivo simples concorda no singular ou plural com o substantivo a
que se refere. A formação do plural é a mesma já vista no estudo dos substantivos.

Veja alguns exemplos: carro limpo – carros limpos, aluno francês – alunos
franceses, produto brasileiro – produtos brasileiros.

Viu só? É bastante simples a flexão de número quando o adjetivo é simples.


Agora, se ele for composto, você precisa ficar atento. Neste caso, apenas o último
elemento dos adjetivos compostos vai para o plural. Observe:

Terno verde-claro – ternos verde-claros, evento cívico-religioso – eventos


cívico-religiosos.

Porém, na Língua Portuguesa, temos que nos habituar às chamadas


exceções. Você já deve ter ouvido o famoso adágio “toda regra tem sua exceção”,
certo? Pois é, lembre então: o plural de surdo-mudo é surdos-mudos.

65
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

ATENCAO

Há outras exceções que você precisa conhecer:


• substantivos usados com valor de adjetivo ficam invariáveis no plural. Não entendeu? A palavra
rosa é um substantivo, porém é usada frequentemente como adjetivo, observe: saias rosa. Este
caso também vale para outras palavras como cinza, por exemplo (terno cinza – ternos cinza).
• nos adjetivos compostos referentes a cores, se o último elemento for um substantivo, este fica
invariável no plural. Veja: camisas vermelho-sangue, ternos verde-oliva, gravatas amarelo-ouro.
Além destes, temos ainda: amarelo-canário, verde-garrafa, azul-turquesa.
• azul-marinho, azul-celeste são adjetivos compostos invariáveis, isto é, não se flexionam no
plural. Portanto, vamos ficar atentos!

2.3.2 Flexão de gênero


O adjetivo geralmente assume o gênero do substantivo. Temos adjetivos
biformes (variáveis, portanto) e uniformes (ficam invariáveis). Vejamos com
mais detalhes esses casos.

a) Adjetivos uniformes: apresentam uma única forma para o feminino e o


masculino.

Exemplos: menina feliz – menino feliz, garoto leal – garota leal.

Existem ainda vários outros adjetivos que possuem a mesma forma para
ambos os gêneros. Vamos listar mais alguns exemplos, conforme a terminação,
para ajudá-lo(a):

 terminados em –a: otimista, paulista, indígena, agrícola.


 terminados em –e: breve, nômade, terrestre, doce.
 terminados em –l: azul, leal, vil, cordial, infiel, ágil.
 terminados em –m: bom, ruim, comum.
 terminados em –r: exemplar, regular, ímpar, inferior, superior, maior, anterior.
 terminados em –s: simples, cortês, reles.
 terminados em –z: feliz, atroz, audaz.

b) Adjetivos biformes: apresentam uma forma para o feminino e uma para o


masculino.

Exemplos: limpo – limpa, bom – boa, esperto – esperta.

Da mesma forma como os substantivos, os adjetivos também possuem


alguns mecanismos para formação do feminino. Vamos analisar agora esses
mecanismos.

66
TÓPICO 2 | ADJETIVO

 terminados em –o átono: trocam o –o pelo –a (esperto – esperta, alto – alta);


 terminados em –u, –ês e –or: acrescentamos –a ao masculino (português
– portuguesa, sonhador – sonhadora, nu – nua). Exceções: alguns adjetivos
terminados em –u, – ês ou –or são invariáveis. Veja estes casos: melhor, anterior,
hindu, cortês;
 terminados em –ão: formam o feminino em –ã ou –ona (cristão – cristã, chorão
– chorona);
 terminados em –eu (com e fechado): formam o feminino em – eia (plebeu –
plebeia, europeu – europeia). Mas, fique atento! O feminino de judeu será
judia.

 Feminino dos adjetivos compostos



No caso de você ter que fazer o feminino de um adjetivo composto, como
cívico-religioso, apenas o segundo elemento é flexionado, portanto teremos “festa
cívico-religiosa”. Essa regra vale também para: verde-escuro – verde-escura, luso-
brasileiro – luso-brasileira, médico-cirúrgico – médico-cirúrgica.

Observação: o feminino de surdo-mudo é menina “surda-muda”.

2.3.3 Flexão de grau


Grau é flexão que expressa as noções de quantidade e intensidade. Ocorre
com adjetivos que indicam tamanho ou quantidade: pequeno, grande.

O adjetivo tem dois graus: o comparativo e o superlativo. Vamos explorar


brevemente cada um, iniciando pelo grau comparativo.

 Comparativo: permite comparar qualidades dos seres.

Comparativo de igualdade: João é tão simpático como (ou quanto) Rute.


Comparativo de superioridade: João é mais simpático do que Rute.
Comparativo de inferioridade: João é menos simpático do que Rute.

A comparação também pode expressar que num mesmo ser determinada


qualidade é superior, igual ou inferior a outra que possui. Você perceberá essa
ideia no exemplo a seguir.

João é tão simpático quanto competente.
João é mais simpático do que competente.
João é menos simpático do que competente.

Nos exemplos dados, observamos que existem três graus de comparação


(igualdade, superioridade e inferioridade) e que a ideia de comparação pode
ocorrer num mesmo ser.

67
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

 Superlativo: indica uma qualidade associada a um ser num grau muito elevado.
Temos dois tipos de superlativo: absoluto e o relativo. Que tal começarmos a
estudar o absoluto?

No superlativo absoluto, destacamos a qualidade de um ser, isolado,


considerado de forma absoluta. Há duas maneiras de construirmos o superlativo
absoluto, veja os casos a seguir.

João era muito triste.

Neste exemplo, temos a palavra muito que intensifica a qualidade
(triste) associada ao ser (João). Como usamos duas palavras (muito = elemento
intensificador + triste = adjetivo) para expressar a ideia, temos aqui um caso de
superlativo absoluto analítico.

O exemplo a seguir vai nos levar a um outro modo de fazer o superlativo


absoluto.

João era tristíssimo.

Tristíssimo expressa a ideia de tristeza num grau muito elevado, mas faz
isso usando apenas uma palavra, portanto temos aqui um caso de superlativo
absoluto sintético.

O superlativo relativo ocorre quando se destaca uma qualidade de
um ser em relação à totalidade de outros seres que também tenham a mesma
característica. Essa característica pode estar presente em grau maior ou menor
que os demais. Veja exemplos dessas duas possibilidades:

João era o funcionário mais competente da empresa.


João era o funcionário menos competente da empresa.

No primeiro exemplo, temos o superlativo relativo de superioridade. No


segundo, o superlativo relativo de inferioridade.

Os adjetivos bom, mau, pequeno e grande possuem formas especiais para


o comparativo de superioridade e para superlativo, veja:

QUADRO 6 – FORMAS ESPECIAIS DOS ADJETIVOS


Grau Comparativo de Superlativo Superlativo
normal superioridade absoluto Relativo
bom melhor ótimo o melhor
mau pior péssimo o pior
grande maior máximo o maior
pequeno menor mínimo o menor
FONTE: A autora

68
TÓPICO 2 | ADJETIVO

E
IMPORTANT

Você deve ter reparado que usamos muitos nomes para designar os graus dos
adjetivos, certo? Mas não fique preocupado em decorá-los, procure ficar atento ao efeito de
sentido que o emprego de certo grau pode gerar no enunciado.

2.4 LOCUÇÃO ADJETIVA


Para você entender o que é uma locução adjetiva, acompanhe-me neste
exemplo.

O amor de mãe é insubstituível.

Neste exemplo, temos o substantivo amor sendo modificado pela locução


adjetiva de mãe. Uma locução adjetiva é uma expressão formada por mais de
uma palavra que equivale a um adjetivo, no exemplo de mãe equivale a materno
(o amor maternal é insubstituível).

Outros exemplos de locuções adjetivas: problemas da cidade (problemas


urbanos), aves da noite (aves noturnas), paixões sem freio (paixões desenfreadas).

Você deve estar atento(a), porém, ao fato de que nem todas as locuções têm
um adjetivo equivalente. Observe este caso: Jardim com flores – jardim florido.
Agora, para jardim sem flores, não há um adjetivo equivalente.

UNI

Indicação de leitura!
Para saber mais sobre os adjetivos e outras questões de nossa Língua Portuguesa, visite o site
Só Português (http://www.soportugues.com.br/index2.php).
Indicamos, ainda, a dissertação de Janaíne dos Santos (2009) que discute o uso de
adjetivos, advérbios e figuras de linguagem em textos informativos de revistas de circulação
nacional. O texto na íntegra está disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/
handle/10183/17168/000711632.pdf?sequence=1>.

Aprendemos bastante neste tópico, não é mesmo? Para complementar


nossos conhecimentos, levando em consideração que nosso objetivo é utilizá-los
em nossas práticas em sala de aula, sugerimos a leitura de uma parte do artigo
elaborado por Evilásio dos Santos Silva (2010). Nele, o autor discute o ensino

69
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

do adjetivo por meio de anúncios publicados em revistas de circulação nacional.


Como você pode notar, é uma leitura que nos permite observar o quanto a
morfologia se vincula à prática textual. Sucesso!

LEITURA COMPLEMENTAR

O USO DO ADJETIVO EM COMERCIAIS DE REVISTAS: SUBSÍDIO


AO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

Evilásio dos Santos Silva

[...]

1.1 O adjetivo nos textos publicitários: possibilidades de trabalho

Ao se utilizar da publicidade para ensinar o uso do adjetivo, dispõe-se de


oportunidades diversas de trabalho com os alunos. É possível:

1. trabalhar aspectos pragmáticos: relação entre locutor e alocutário;


2. abordar a forma de se influenciar alguém pelo discurso;
3. discutir o papel da propaganda e sua função na sociedade como um dos mais
potentes “aparelhos ideológicos” dos últimos tempos;
4. trabalhar aspectos gramaticais, o léxico empregado, a morfologia, a sintaxe,
entre outros.

Portanto, o discurso publicitário constitui um material de grande eficácia,


que pode ser utilizado como recurso para o ensino/aprendizagem de língua
materna. Através da discussão e análise desse material em sala de aula é possível
chegar a resultados satisfatórios no que concerne aos aspectos já mencionados,
bem como à leitura e produção textual, entre outros.

Segundo Silva (1999, p. 93), o discurso publicitário da propaganda e do


marketing

pode ser um elemento poderoso para ajudar a fazer da


escola um espaço mais transformador do que reprodutor,
a formar alunos leitores e produtores de textos conscientes
do lugar que ocupam na sociedade e capazes de reagir
criticamente àquilo que se institui.

70
TÓPICO 2 | ADJETIVO

O uso da publicidade como recurso didático integra, portanto, o estudo


teórico da gramática, obrigatório nas escolas, a despeito do questionamento crescente
à sua relevância e métodos, ao uso real e concreto não só do elemento linguístico
adjetivo, mas de outros elementos e funções que, nos textos estudados, isto é, nos
comerciais de revistas, apoiam o emprego do adjetivo, tornando-o significativo.

Veja-se um exemplo da força persuasiva do adjetivo na publicidade. Na


cidade de Campina Grande-PB havia um outdoor do plano de saúde UNIMED
com o seguinte texto:

“CAMPINA: Grande no trabalho, boa no forró, e melhor na saúde”.

Observe-se que os adjetivos “grande” e “boa” ressaltam duas qualidades


da cidade de Campina Grande que a fazem conhecida no Nordeste e no Brasil
como um todo: seu desenvolvimento socioeconômico e a prodigalidade das festas
juninas. O adjetivo “grande”, inclusive, insere-se como referência à própria essência
da cidade, uma vez que faz parte do seu nome. Remete ainda, através de seu
complemento “no trabalho”, às raízes históricas da formação da cidade em torno
da extração do algodão, do comércio e posteriormente do funcionalismo público.

No entanto, o adjetivo “melhor” vem trazer uma informação que vai se


sobrelevar como novidade em relação às duas primeiras: a presença na cidade
do plano de saúde UNIMED. A utilização do adjetivo “melhor” como recurso
publicitário nesta propaganda vai projetar na mente das pessoas a ideia de que
o produto vendido passa a ser uma característica da cidade que se sobrepõe às
outras já mencionadas e que encontrará vantagens àquele que fizer a sua aquisição.

Através desses recursos que atuam subliminarmente na mente dos


indivíduos, a publicidade se adequa à realidade cultural da região ou nacionalidade
em que irá atuar.

Outros pesquisadores apontam características do adjetivo que interessam à


proposta defendida neste trabalho. Perini (1997), por exemplo, numa posição que
reforça o caráter multissignificativo do adjetivo, afirma que adjetivos e substantivos
são classes gramaticais “extremamente difíceis de distinguir [...]. Acredito que são
impossíveis de distinguir, pelo menos em duas classes [distintas] como fazem as
gramáticas usuais”.

71
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Existem milhares de palavras, segundo Perini, que, dependendo do contexto


em que são empregadas, podem comportar-se tanto como adjetivo quanto como
substantivo. Um exemplo disso é a palavra amiga:

a) uma palavra amiga (qualidade);


b) uma amiga fiel (nome de coisa).

Aponta-se, portanto, como inadequada a distinção entre substantivo e


adjetivo nos moldes da gramática tradicional. Isto reflete diretamente sobre o
relacionamento entre um e outro no discurso. Para Perini, as duas classes de
palavras são nitidamente diferentes, mas, potencialmente, possuem capacidades
expressivas variadas, que se permutam entre si, como no exemplo anterior.

Propõe-se, aqui, o estudo do adjetivo em consonância com outras classes


de palavras que com ele se relacionam, linguística e pragmaticamente, no
texto. Paralelamente ao estudo gramatical, a produção textual também seria
significativamente beneficiada por este tipo de trabalho, pois ele deixa claro para
o aluno que as classes de palavras podem assumir funções e valores diferenciados
nos textos, dependendo da intenção do enunciador.

1. 2 O Adjetivo

O presente trabalho pretende se inserir num contexto mais amplo em


relação às pesquisas que já vêm sendo realizadas acerca dos usos do adjetivo. As
gramáticas tradicionais definem o adjetivo como

a espécie de palavra que serve para caracterizar os seres


ou os objetos nomeados pelo substantivo, indicando-
lhe: a) uma qualidade ou defeito; b) o modo de ser; c) o
aspecto ou aparência; d) o estado. (Cunha, 1971).

Do mesmo modo, Cegalla (1981) e Sacconi (1983) o definem como a palavra


que se junta ao substantivo para denotar e expressar as qualidades ou características
dos seres. Em alguns casos, o adjetivo tem a finalidade de marcar relação de tempo,
procedência, finalidade etc.

Bechara (2000), Vilela e Koch (2001) ampliam esse conceito, levando


em consideração as nuances discursivas e argumentativas da atribuição de
características. Neste sentido, discordam de Nicola e Infante (1997), em sua
Gramática, quando este define o adjetivo como sendo “a palavra que modifica o

72
TÓPICO 2 | ADJETIVO

substantivo, atribuindo-lhe um estado, qualidade ou característica”, mas acrescenta,


de forma conclusiva, fechando questão acerca de sua perspectiva do assunto:
“Portanto, o adjetivo também se refere aos seres; daí que a distinção feita entre
o substantivo e o adjetivo não é semântica (de significado) e sim funcional (de
função)”.

De fato, de acordo com essa visão, a atribuição de características, bem como


a determinação, são funções que o adjetivo exerce sintaticamente, mas que estão
intimamente ligadas à intencionalidade do discurso.

Tomando-se as palavras “japonês” e “doente” isoladamente, existem as


possibilidades de classificá-las tanto como substantivos quanto como adjetivos, pois
em “o japonês doente” tem-se “japonês” designando o ser (portanto, substantivo)
e “doente” como adjetivo. Invertendo-se a sequência para “o doente japonês”,
agora o “doente” é um substantivo e “japonês” um adjetivo. Isso significa que não
só é possível classificar as palavras “japonês” e “doente” partindo da função que
elas exercem num determinado contexto sintático, como também permutar seus
valores gramaticais em função de um novo objetivo discursivo.

Os limites entre substantivos e adjetivos não são fáceis de serem


estabelecidos, como se pode depreender, visto que há adjetivos que assumem o
papel da nomeação e substantivos que designam propriedades (= características).
É com base nesta concepção, movida pelo princípio de que a interação humana
se concretiza na e pela linguagem, que esta pesquisa aceita, de acordo com os
postulados da Linguística Textual, a argumentatividade como fator preponderante
no convívio humano.

Isto é fundamental para a percepção da importância da função argumentativa


que exerce o adjetivo na propaganda publicitária. Pois, através desta função a
interação social fundamentalmente se concretiza. Sendo assim, com o intuito de
intencionalmente conduzir o discurso para uma determinada direção (= sentido), o
texto publicitário se caracteriza por manifestar em sua estrutura elementos básicos
para induzir a adesão de seus receptores.

Não é aleatória a seleção dos modalizadores, conectores, operadores


argumentativos, substantivos, verbos e, sobretudo, adjetivos na produção dos
textos publicitários. Focaliza-se particularmente o adjetivo, por ser uma classe
de palavras que, segundo Faulstichi (1990), se reveste de multissignificações.
Na publicidade, contexto pragmático que será examinado de forma mais direta
nesta pesquisa, ele pode assumir diversos significados de acordo com o contexto,
o que corrobora a posição aqui defendida segundo a qual o adjetivo não se presta
simplesmente a dar qualidade ao substantivo, mas estabelece a coerência textual
73
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

e funciona como importante operador argumentativo, destacando-se entre os


elementos linguísticos acima citados.

[...]

FONTE: SILVA, Evilásio dos Santos. O uso do adjetivo em comerciais de revistas: subsídio ao
ensino de língua materna. Disponível em: <http:// entrechoques.ccha.uepb.edu.br/GT0206.
doc>. Acesso em: 15 nov. 2010.

NOTA

Para ler o artigo na íntegra, acesse o site : <http:// entrechoques.ccha.uepb.edu.


br/GT0206.doc>.

74
RESUMO DO TÓPICO 2
Vejamos, caro(a) acadêmico(a), o que foi estudado neste tópico:

 Adjetivos são palavras que modificam os substantivos, atribuindo-lhes


características específicas.

 Podemos dividir os adjetivos em: primitivos (elétrico), derivados (eletricista),


simples (brasileira), composto (luso-brasileira).

 Os adjetivos flexionam-se em:

75
AUTOATIVIDADE

1 Nas frases a seguir só não existe adjetivo em:

a) ( ) O domínio da Língua Portuguesa é essencial a todos os profissionais


qualificados.
b) ( ) O mercado precisa de profissionais competentes.
c) ( ) Ele se queixou com o gerente.
d) ( ) Existiam vinte candidatos classificados para a vaga.

2 Verifique em qual dos pares a seguir o adjetivo não corresponde à locução


adjetiva:

a) ( ) Teor sacarino – de açúcar.


b) ( ) Noite hibernal – de inverno.
c) ( ) Material bélico – de guerra.
d) ( ) Água fluvial – de chuva.

3 Assinale a alternativa cuja flexão de número esteja incorreta:

a) ( ) Vestidos verde-garrafa.
b) ( ) Gravatas azul-turquesa.
c) ( ) Blusas verde-mares.
d) ( ) Camisas amarelo-laranja.

4 Há erro em:

a) ( ) A relação entre a França e a Rússia é bastante profícua. (franco-russa).


b) ( ) O acordo entre a Itália e o Brasil precisa ser revisto. (ítalo-brasileiro).
c) ( ) O comércio entre a Alemanha e a Inglaterra deve ser mais estimulado.
(indo-britânico).
d) ( ) A rivalidade entre China e Japão é preocupante. (sino-japonesa).

5 Todos os adjetivos são biformes em:

a) ( ) Infiel, nu, ligeiro.


b) ( ) Portátil, feroz, simples.
c) ( ) Rasgado, arejado, belo.
d) ( ) Mau, anterior, curto.

6 Em qual das frases a seguir um adjetivo foi usado como substantivo?

a) ( ) O culpado foi levado até o presídio.


b) ( ) O jardim imenso convidava para um passeio.
c) ( ) Seus olhos atentos não deixavam escapar nada.
d) ( ) O ambiente acolhedor deixou as pessoas à vontade.
76
7 Assinale a alternativa em que a palavra sublinhada não tem valor de adjetivo.

a) ( ) A malha azul está molhada.


b) ( ) O sol desbotou o verde da bandeira.
c) ( ) Tinha os cabelos branco-amarelados.
d) ( ) As nuvens tornavam-se cinzentas.

8 No texto a seguir, o escritor Rubem Braga está descrevendo um pequeno
jardim da casa de um amigo. Leia-o, observando a classe gramatical das
palavras destacadas. A seguir, classifique-as em substantivo ou adjetivo.

“É um pequeno espaço folhudo e florido de cores, que parece respirar;


tem a vida misteriosa das moitas perdidas, um gosto de roça, uma alegria meio
caipira de verdes, vermelhos e amarelos”.

Pequeno:______________
Espaço:_______________
Folhudo:_______________
Florido:________________
Misteriosa:_____________
Gosto:________________
Alegria:_______________
Caipira:________________

9 Em que alternativa o termo grifado indica aproximação?

a) ( ) Ao visitar uma cidade desconhecida, vibrava.


b) ( ) Tinha, na época, uns dezoito anos.
c) ( ) Ao aproximar de uma garota bonita, seus olhos brilhavam.
d) ( ) Não havia um só homem corajoso naquela guerra.

10 Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:

a) ( ) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.


b) ( ) Estes são os candidatos que lhe falei.
c) ( ) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
d) ( ) Muita é a procura; pouca é a oferta.

77
78
UNIDADE 2 TÓPICO 3

VERBO

1 INTRODUÇÃO
Oi, você já estudou duas importantes classes gramaticais, os substantivos
e os adjetivos. Entretanto, há uma classe de palavras que desempenha um papel
essencial na frase, considerada o núcleo da frase sintaticamente construída, o
verbo. Para os gramáticos latinos, o verbo era tido como “a palavra por excelência”.

Após os comentários acima, você já deve ter reparado que temos uma tarefa
especial neste tópico: estudar com atenção esta classe gramatical indispensável
para a organização do período. Não se assuste com a extensão deste tópico, é
que há muita coisa a ser dita e explicada quando falamos de verbo. Portanto,
contamos com seu entusiasmo e dedicação para trilhar juntos esse caminho.

2 CONCEITO
Verbos são palavras que exprimem ação (falar), estado (ser, estar) ou
mudança de estado (tornar-se), fenômenos meteorológicos (chover, trovejar),
sempre em relação a um determinado tempo. É uma palavra, de forma variável,
que indica um acontecimento e situa-o no tempo.

Enquanto o nome (substantivo) situa os seres no espaço, o verbo é capaz


de situá-los no tempo. No estudo dos verbos é essencial a noção temporal.

E
IMPORTANT

Você encontrará muitos conceitos novos neste tópico, porém não precisa ficar
preocupado(a). Todos eles serão explicados ao longo do texto, ok?

79
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

2.1 ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO VERBO



Vamos falar um pouco sobre os morfemas que constituem o verbo. Você
lembra o que são os morfemas? Claro que sim, porque foi a nossa primeira
unidade de estudos. Conhecer os morfemas que fazem parte da estrutura do
verbo é muito importante para entender a formação dos tempos verbais.

Radical: contém a significação básica da palavra, é a parte invariável que


se repete em todos os modos e tempos. Observe o verbo cantar, conjugado no
presente do indicativo: canto, cantas, canta, cantamos, cantais, cantam. O radical
cant – permaneceu sem alterações.

Ao radical verbal junta-se uma terminação, composta por pelo menos um


dos seguintes elementos:

 Vogal temática: indica a conjugação a que o verbo pertence (a – primeira


conjugação, e – segunda conjugação, i – terceira conjugação).

 Tema: formado pelo radical acrescido da vogal temática (cant: radical + a:


vogal temática).

 Desinência modo-temporal: morfema que identifica o modo e o tempo do


verbo. Na forma verbal cantaremos – o elemento destacado indica que o verbo
está no futuro do indicativo.

 Desinência número-pessoal: indica a pessoa e o número. Usando novamente


cantaremos, verificamos que a parte em destaque configura a primeira pessoa
do plural.

2.2 CONJUGAÇÕES
Antes de qualquer coisa, vamos entender o que é conjugar. Se você ainda
não havia entendido bem esse conceito, agora vamos esclarecê-lo. Conjugar
um verbo é dizê-lo em algum dos modos, tempos, pessoas, números e vozes. O
conjunto de todas essas flexões, de acordo com uma ordem determinada, recebe
o nome de conjugação.

Na Língua Portuguesa temos três conjugações, marcadas por uma vogal


temática:

a) primeira conjugação: verbos que possuem a vogal temática –a: cant a r, am a r;


b) segunda conjugação: verbos que possuem a vogal temática –e: vend e r, bat e r;
c) terceira conjugação: verbos que possuem a vogal temática –i: part i r, divid i r.

80
TÓPICO 3 | VERBO

ATENCAO

O verbo pôr (e seus derivados repor, supor, compor etc.) é considerado verbo
de 2a conjugação, uma vez que historicamente perdeu a vogal temática –e. Acompanhe a
evolução da forma latina do verbo: ponere > poer > pôr.

É no infinitivo que a vogal temática aparece com maior clareza. Portanto,


costuma-se indicar pela terminação dessa forma verbal (vogal temática + sufixo –r)
a conjugação a que o verbo pertence. Desta maneira, consideramos pertencentes
à primeira conjugação os verbos terminados em –ar; à segunda, os terminados
em –er; e à terceira, os terminados em –ir.

2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS VERBOS


Levando em consideração a flexão dos verbos, temos verbos regulares,
irregulares, anômalos. Vejamos de perto cada um desses tipos de verbos.

a) Regulares: são aqueles que se flexionam conforme o modelo (também chamado


de paradigma) comum de conjugação, mantendo o radical sem alterações.

Servem como modelo para observarmos a manutenção das desinências


nos verbos regulares os seguintes verbos: cantar/estudar/trabalhar, bater/vender/
correr e partir/dividir/permitir.

QUADRO 7 – MODELOS DE CONJUGAÇÃO DE VERBOS REGULARES


cantar bater partir
presente do indicativo
canto bato parto
cantas bates partes
cantar bater partir
presente doindicativo
canto bato parto
cantas bates partes
canta bate parte
cantamos batemos partimos
cantais bateis partis
cantam batem partem

canta bate parte


cantamos batemos partimos
cantais bateis partis
cantam batem partem
FONTE: A autora

b) Irregulares: são aqueles que, ao se flexionarem, não seguem o modelo da sua


conjugação, apresentando alterações no radical.

Como exemplos de verbos irregulares, temos os verbos dar/odiar/ansiar,


ler/dizer/trazer e ir/ferir/ouvir.

81
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

QUADRO 8 – MODELOS DE CONJUGAÇÃO DE VERBOS IRREGULARES


dar dizer ouvir
presente do indicativo
dou digo ouço
dás dizes ouves
dá diz ouve
damos dizemos ouvimos
dais dizeis ouvis
dão dizem ouvem
FONTE: A autora

c) Anômalos: são aqueles que, ao se flexionarem, apresentam alterações mais


profundas no radical. Veja alguns exemplos de verbos que sofrem uma
completa mudança no seu radical ao serem conjugados: ser, ir, além de: pôr,
ter, vir; haver, estar, ver. Para ter uma ideia do grau de alteração que esses
verbos sofrem, veja a conjugação a seguir dos verbos ser e ir:

QUADRO 9 – MODELOS DE CONJUGAÇÃO DE VERBOS ANÔMALOS

FONTE: A autora

Você viu? Comparou os quadros com os três tipos de verbos que


apresentamos até aqui? Nos verbos regulares, pode reparar, o radical não sofreu
alteração quando o verbo foi conjugado, o que não aconteceu com os verbos que
chamamos de irregulares ou anômalos. Fique atento(a), precisamos muito que
você nos acompanhe a cada novo conceito.

Considerando agora a conjugação dos verbos, vamos encontrar verbos


defectivos e abundantes. Viu? Temos mais dois conceitos diferentes, vamos
explorá-los.

a. Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação completa. Na maior


parte dos casos, ocorre um problema de eufonia ou significação. Achou estranha
a palavra eufonia? Você vai entender rapidinho. Pense no verbo abolir, agora
conjugue-o na primeira pessoa do singular (eu ...), viu o resultado? Não achou

82
TÓPICO 3 | VERBO

esquisito, não soou mal? Pois é, nesse e em outros casos de deficiência verbal,
recorremos a um sinônimo para dar conta da ausência de alguma pessoa verbal.
Agora, só para você se familiarizar um pouco mais com esse tipo de verbo, veja
as conjugações a seguir e compare-as com os demais quadros para entender
melhor porque os verbos defectivos não são usados em alguns modos, tempos
ou pessoas.

QUADRO 10 – MODELOS DE CONJUGAÇÃO DE VERBOS DEFECTIVOS

reaver abolir
presente do indicativo
- -
- aboles
- abole
reavemos abolimos
reaveis abolis
- abolem
FONTE: A autora

b. Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes.


Geralmente, a abundância ocorre no particípio, quando encontramos uma forma
chamada regular e outra irregular, contraída. A forma regular habitualmente é
empregada com os auxiliares ter e haver, já a irregular com ser e estar. Vamos
exemplificar um pouco, temos certeza de que você vai entender.

Ele tinha imprimido o trabalho ontem. (particípio regular)


O trabalho foi impresso ontem. (particípio irregular)

Entendeu agora? Além do verbo imprimir, há mais alguns que possuem


formas equivalentes no particípio. Observe o quadro a seguir.

QUADRO 11 – PARTICÍPIOS REGULARES E IRREGULARES MAIS COMUNS


Infinitivo Particípio Particípio
Regular Irregular
aceitar aceitado aceito, aceite
acender acendido aceso
eleger elegido eleito
entregar entregado entregue
expressar expressado expresso
ganhar ganhado ganho
isentar isentado isento
matar matado morto
omitir omitido omisso
salvar salvado salvo
FONTE: A autora
83
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Outro fator que devemos observar na classificação de um verbo é a


sua função na locução verbal, pois podemos ter tanto verbos ditos auxiliares
quanto principais. Acompanhe-nos.

I. Auxiliar: é aquele que se junta ao verbo principal para formar as locuções


verbais que expressam matizes significativos especiais. Veja alguns casos:

Todos teriam de ler mais.



No caso anterior, teriam (auxiliar) forma com ler (verbo principal) uma
locução verbal. Como outros exemplos de verbos auxiliares, podemos citar os
verbos haver, ser e estar. Porém não são os únicos, se você consultar algumas
gramáticas vai ver que a lista de verbos auxiliares varia. Existe essa variação porque
não há uniformidade de critério linguístico para determinação da auxiliaridade.

II. Principal: é núcleo da locução verbal, dotado de significação plena. Como


segundo elemento da locução, assume uma das seguintes formas verbais:
infinitivo, particípio ou gerúndio.

Todos deviam ler mais. (infinitivo)


Tenho lido muito ultimamente. (particípio)
Estou lendo há duas semanas o mesmo livro. (gerúndio)

2.4 FLEXÃO DO VERBO


O verbo é a classe de palavras mais rica em flexões. Possui variações de
número, de pessoa, de modo, de tempo, de aspecto e de voz. Vamos explicar
esses conceitos e esclarecer nossas dúvidas. Estudaremos cada conceito, um a
um, porém devagar.

a) Número: o verbo, como palavra variável, pode estar no singular ou no plural,


fazendo a concordância com o sujeito da oração.

No singular, temos: canto, cantas, canta.


No plural, temos: cantamos, cantais, cantam.

b) Pessoas: o verbo tem três pessoas ligadas à pessoa gramatical que lhe serve de
sujeito. Essas três pessoas incluem todo ato de comunicação e serão detalhadas
a seguir:

 primeira pessoa: é aquela que fala e refere-se aos pronomes eu (canto - singular)
e nós (cantamos - plural);

 segunda pessoa: é aquela com quem se fala e refere-se aos pronomes tu (cantas
– singular) e vós (cantais – plural);

84
TÓPICO 3 | VERBO

 terceirapessoa: é aquela de quem se fala e refere-se aos pronomes ele (canta –


singular) e eles (cantam – plural).

c) Modo: entendemos por modo as diferentes formas que o verbo assume para
expressar a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de ordem) do sujeito
que fala em relação a um fato que enuncia.

Como você deve saber, os verbos na Língua Portuguesa podem ser


empregados em três modos: o indicativo, o subjuntivo e o imperativo. Vejamos o
sentido que cada um deles dá ao enunciado.

 Indicativo: expressa a certeza do falante em relação ao que acontece, aconteceu


ou acontecerá.

Exemplo: Leio o jornal todos os dias.

 Subjuntivo: expressa a incerteza, a dúvida do falante em relação a algo que


pode vir a acontecer.

Exemplo: Talvez eu leia seu trabalho amanhã.

 Imperativo: expressa a atitude ativa do falante, persuadindo, mandando,


aconselhando ou convidando seu interlocutor a cumprir a ação indicada pelo
verbo.

Exemplo: Leia mais, pois a prova é amanhã.


Estudem meia hora por dia e terão resultados melhores.

d) Tempo: expressa a relação temporal do fato expresso pelo verbo com o


momento de fala (antes, durante ou após ele). Os tempos verbais são:

 Presente: designa o fato que ocorre durante o momento de fala. Pode também
expressar uma ação que se repete ou perdura.

Exemplo: Agora eu leio mais, porque quero passar no vestibular.

 Pretérito (passado): designa o fato que ocorre antes do momento de fala. O


pretérito está dividido em: imperfeito, perfeito e mais-que-perfeito.

Exemplos: Ontem eu li bastante (pretérito perfeito – indica ação


completamente concluída). Lia muito para fazer algum concurso (pretérito
imperfeito – expressa uma ação habitual). Quando ele perguntou, eu já lera todo
jornal (pretérito mais-que-perfeito – indica uma ação no passado - lera, porém
anterior a outra ação, também passada - perguntou).

 Futuro: designa um fato que ocorre depois do momento de fala. Temos o futuro
do presente e o futuro do pretérito.

85
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Exemplos: Lerei este livro quando tiver mais tempo livre (futuro do
presente – expressa uma ação futura em relação ao momento de fala). Leria este
livro, se tivesse mais tempo livre (futuro do pretérito – expressa uma ação que
aconteceria se outra condição também fosse atendida).

NOTA

Para você que quer conhecer um pouco mais sobre o tempo verbal futuro, há
um artigo bem legal: “Como os manuais de português para estrangeiros tratam a expressão
da futuridade?”, disponível no endereço <http://www.letras.ufmg.br/rbla/2007_1/03-Elizabeth
%20Tafner.pdf>.
O texto é muito interessante para você fazer uma analogia com a apresentação dos conteúdos
de Língua Portuguesa que usamos para o ensino de nossos alunos. Vale a pena conferir o
artigo no material de apoio da disciplina.

e) Aspecto: a categoria do aspecto verbal é pouco discutida, porém essencial


para compreensão de certas construções verbais na Língua Portuguesa. É uma
noção que aparece ligada à noção de tempo: o tempo faz referência à ação
verbal no percurso, já a ideia de aspecto está ligada à forma como percebemos
a ação verbal no tempo.

A categoria de aspecto pode ser expressa por meio da interação da flexão


verbal, locuções verbais, lexema do verbo, formas nominais e também por
outros meios. Para você entender um pouco mais, vamos explorar a expressão
da aspectualidade a partir do significado lexical do próprio verbo. Os verbos
podem expressar o tempo interno (princípio, duração, fim) e a quantidade
(intensificação, diminuição, quantificação) do acontecer verbal. Vejamos como os
verbos conseguem indicar duração: o verbo dormir, por exemplo, implica uma
certa duração, por isso faz parte dos verbos durativos, já locuções verbais como
começou a rir indicam o início de ação (incepetivos).

f) Voz: expressa o tipo de relação mantida entre sujeito e verbo . Existem três vozes
verbais.

 Ativa: o verbo indica que a pessoa a que se refere é aquela que pratica a ação, é
agente da ação verbal. Veja:

86
TÓPICO 3 | VERBO

O professor leu todas as obras exigidas neste vestibular.


agente da ação verbal ação verbal

 Passiva: o verbo indica que a ação foi sofrida pelo sujeito. Aqui o sujeito é dito
paciente da ação verbal.

O aluno foi orientado pelo professor na leitura das


obras.
paciente da ação verbal ação verbal

A voz passiva pode acontecer:

a. com um verbo auxiliar (ser, estar, etc.) combinado com o particípio do verbo
principal:

Exemplo: O aluno foi (auxiliar) orientado (principal) pelo professor na


leitura.

Neste caso temos aqui o que os gramáticos denominam de passiva


analítica. Ou seja, será voz passiva analítica sempre que houver o verbo auxiliar
(predominantemente o verbo ser) seguido do particípio do verbo principal.

Veja mais alguns exemplos:

O homem é afligido pelas doenças.


Paciente da ação verbal Passiva analítica (verbo ser + particípio)

A criança era levada pelo pai.


Paciente da ação verbal Passiva analítica (verbo ser + particípio)

Foram realizados reparos nas instalações.


Passiva analítica (verbo ser + particípio)

Note que em todos os exemplos aparece o verbo ser (é, eram, foram),
seguido do particípio do verbo principal (afligido, levada, realizados). Portanto,
voz passiva analítica.

b. com o acréscimo do pronome apassivador (se) e uma terceira pessoa verbal (no
plural ou singular, concordando com o sujeito):

87
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Exemplo: Lê-se (= é lido) um capítulo por dia da obra de Drummond


nesta escola. Leem-se (= são lidos) dois capítulos por dia da obra de Drummond
nesta escola.

Observe que neste tópico ocorre um fenômeno diferente. A voz passiva


ocorre associando-se o pronome apassivador se (ou partícula apassivadora, como
também é conhecida) com um verbo em 3ª pessoa (ele). Assim, temos o que os
gramáticos denominam de voz passiva pronominal, porque não há um verbo
auxiliar, mas um pronome exercendo a função de apassivador.

Observe outros exemplos:

Organizou-se o campeonato.
Verbo em 3ª pessoa + pronome apassivador se

Vendem-se casas.
Verbo em 3ª pessoa + pronome apassivador se

Não se vê uma rosa neste jardim.


Verbo em 3ª pessoa + pronome apassivador se

Como você já concluiu, nos exemplos a voz passiva ocorre em virtude


da associação do verbo principal, conjugado em 3ª pessoa, com o pronome se.
Lembre-se de que a voz passiva pronominal pode ser substituída por uma voz
passiva analítica.

Passiva pronominal Passiva analítica


Organizou-se o campeonato. O campeonato foi organizado.
Vendem-se casas. Casas são vendidas.
Não se vê uma rosa neste jardim. Não é vista uma rosa neste jardim

Agora que já estudamos as questões sobre a voz passiva, gostaríamos


que complementasse seus conhecimentos sobre o assunto com a leitura de um
fragmento do artigo de Líbia Mara S. Saraiva, cujo título é “O ensino na escrita
padrão na língua portuguesa: em busca de fontes atuais”.

88
TÓPICO 3 | VERBO

NOTA

No fragmento sugerido, Saraiva analisa as visões da Gramática Tradicional


(GT) e dos linguistas, especificamente Marcos Bagno, sobre a voz passiva sintética. Você
perceberá que a autora apresenta um ponto de vista que apoia a perspectiva defendida pelos
linguistas, o que não significa dizer que a Gramática tradicional está equivocada, apenas que
são visões diferentes sobre um mesmo tema. Lembre-se de que é sempre muito bom ter
conhecimento de visões diferentes para construir nossa própria visão sobre os assuntos. Boa
leitura e uma ótima reflexão!

O ENSINO NA ESCRITA PADRÃO NA LÍNGUA


PORTUGUESA: EM BUSCA DE FONTES ATUAIS

Líbia Mara S. Saraiva

[...]

3. Da pesquisa propriamente dita: 3.1 Uma análise crítica – e contrastiva –


acerca da postura de alguns linguistas, das gramáticas tradicionais e dos
resultados obtidos

A fim de analisar os fenômenos mencionados, foram apontadas, nesta


pesquisa, posições de alguns linguistas quanto às regras tradicionais, com que
se efetuou o cotejo dos resultados alcançados. Revisadas algumas obras que
tratam do estudo desses fenômenos, passar-se-á à análise dos mesmos, de
acordo com o levantamento real dos dados coletados na investigação.

3.1.1. Voz passiva sintética

Visto que o estudo da Concordância Verbal tem apresentado sérios


problemas tanto de análise como de uso, atentar-se-á, aqui, para o caso das
orações em que se encontra a partícula se como apassivadora da oração – um
dos objetos desta pesquisa –, a saber, Vendem-se carros; Emprestam-se livros;
Não se podem atribuir a elas os erros que encontramos etc.

Conforme a gramática tradicional, existem três vozes verbais: a


voz ativa, a reflexiva e a passiva (que se divide em sintética e analítica). E esta
última é, dentre as vozes verbais, a que vem sendo alvo das mais diversas
“confusões” concernente ao seu estudo e análise.

Segundo os ditames tradicionais, a voz passiva ocorre quando o


sujeito é o ser que sofre a ação expressa pelo verbo (o que é contraditório
quando comparado à classificação tradicional do sujeito enquanto elemento

89
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

que pratica a ação verbal) e pode ocorrer de duas maneiras: uma delas é a de
forma desenvolvida, com um verbo auxiliar mais verbo na forma nominal
de particípio, como em “A lata foi aberta pela menina”. (a lata – sujeito – sofre
a ação de ser aberta pela menina). Essa forma é chamada, pela gramática
tradicional, de “voz passiva analítica”. A outra maneira de se construir a voz
passiva, conforme a Gramática Tradicional (doravante, GT), seria com o verbo
na terceira pessoa seguido do pronome se (que, quando da voz passiva, será
denominado pronome apassivador), como nos exemplos: “Vendem-se roupas”;
“Compra-se metal”, o que permite uma pequena observação: ora, se na voz
passiva o sujeito sofre a ação verbal, onde estaria o sujeito em tais orações?

Conforme já explicitado, na voz passiva o sujeito é o termo que sofre


a ação expressa pelo verbo. Assim, em “Comem-se maçãs”, tradicionalmente
o termo maçãs deve ser entendido como sujeito, e, estando no plural, o
verbo deve concordar com ele, flexionando-se igualmente para o plural. Já
em “Lê-se o livro”, o termo livro, agora no singular, por ser tradicionalmente
entendido como sujeito, é acompanhado pelo verbo em número.

Para justificar os termos maçãs e livro como sujeitos das chamadas


orações passivas sintéticas, a GT propõe o contraste entre as vozes passivas.
Assim, basta “transformar” a voz passiva sintética em voz passiva analítica:
→ Alugam-se casas = voz passiva sintética → Estas casas são alugadas =
voz passiva analítica. Por considerar o termo casas sujeito da oração na voz
passiva analítica, a GT dita ser ele também sujeito na voz passiva sintética,
justificando, assim, o plural do verbo quando o sintagma nominal estiver no
plural.

Desse modo, a GT considera a construção “Aluga-se esta casa”


como contenedora da mesma carga semântica que “Esta casa é alugada”
(transformou-se a voz passiva sintética em voz passiva analítica), o que Bagno
(2001) refuta ao dizer que tal observação se faz um tanto incoerente, em
ambas as construções, pois que em “Alugam-se estas casas” percebe-se que a
ação verbal não é concluída: as casas estão passíveis de serem alugadas por
alguém; e isso não se repete em “Estas casas são alugadas”, por se perceber
claramente que a ação verbal é conclusa: as casas já estão alugadas por
alguém.

Ainda consoante as análises desse autor, há uma incompatibilidade


semântica entre ambas, pois, da leitura do primeiro exemplo (Aluga-se esta
casa), infere-se a existência de um sujeito X que não se sabe quem é (Alguém
que não conhecemos aluga esta casa), e, no segundo (Esta casa é alugada),
atribui-se uma qualidade para a casa: Esta casa é alugada (e não pintada,
ou vendida, por exemplo). Nota-se, claramente, que o verbo de “Aluga-se
esta casa” se transformou em adjetivo em “Esta casa é alugada”, mudando-
se a função sintática. Avançando nos critérios semânticos, ressalta-se que se

90
TÓPICO 3 | VERBO

alguma pessoa (A) pretende alugar uma casa e pergunta para alguém (B) se
esta casa está para ser alugada, o ato de “alugar” vai depender da resposta
que (A) obtiver de (B). Se (B) disser, defronte a tal casa: “Aluga-se esta casa”,
(A) provavelmente entenderá que não há moradores na casa, ou que a casa
está vazia, pronta para ser alugada. No entanto, se (B) disser “Esta casa é
alugada”, (A) entenderá que já existem moradores na casa, o que o impedirá,
então, de alugar a casa que almeja.

Logo, o que se percebe é uma não correspondência semântica entre a


chamada voz passiva sintética e a voz passiva analítica em Língua Portuguesa,
conforme as normas prescritas pela GT. Por esse motivo, Bagno (2001) se
refere a essas orações passivas sintéticas, assim intituladas pela GT, como
sendo um mito, afirmando que as mesmas simplesmente não existem. Assim,
ele as nomeia como pseudopassivas, como ilógicas, sem sentido, considerando
como passivas apenas as chamadas analíticas pela GT. Ou seja, as orações
formadas comumente pelo verbo ser.

Por meio de diversos exemplos, Bagno (2001) busca comprovar


a ilogicidade da doutrina gramatical ao afirmar que o se funciona como
partícula apassivadora, em construções do tipo “Vendem-se fogões”, fazendo
com que o termo fogões seja classificado como sujeito da oração. Isto é,
conforme a GT, na referida frase, o verbo deve, então, aparecer no plural,
concordando com seu sujeito. O autor critica também, juntamente com
Mourão (2001), o fato de a regra da GT pautar-se apenas no critério sintático
e ser “comprovada” através de meros testes, desconsiderando os aspectos
pragmáticos e semânticos do fenômeno.

Contrariamente à GT, Bagno (2001), por meio de seus exemplos,


explica que o fato de muitos falantes manterem o verbo da referida oração
no singular se deve à interpretação da partícula se como indicadora de
indeterminação do sujeito. Para a GT, ler-se-ia a construção “Alugam-se
mesas” como alugam – o verbo, se – a partícula apassivadora e mesas – sujeito
da oração, o que, para Bagno (2001), representa uma incompatibilidade
tamanha, pois se considerar o aspecto semântico, certamente se constatará
que o referido verbo (e o(s) dos demais exemplos) só pode ser praticado
por um sujeito, visto que somente seres humanos são capazes de alugarem
mesas, assim como venderem fogões etc.

Assim, esse autor considera a proposta dos tradicionalistas altamente


antipedagógica, alegando que não se deve, de maneira alguma, apresentar aos
alunos uma regra baseada em truques e/ou decorebas, mas sim, apresentar
a natureza científica do fenômeno analisado, considerando-se a realidade
dos fatos. Mourão (2001) completa essa alegação ressaltando que há, por
parte dos falantes do português (e também escritores consagrados), uma
tendência em interpretar o sujeito das sintéticas como indeterminado, o que

91
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

explicaria o fato de se encontrarem diversos enunciados do tipo “Aluga-se


casas; Dá-se aulas de violão; Vende-se salgados; Passa-se materiais de construção...”,
pois, os que assim escrevem, o fazem crendo na indeterminação expressa do
sujeito. Isto é, sabe-se que diversos serviços são oferecidos por alguém – que
está representado pelo que aqui seria índice de indeterminação se –, e o que
a gramática normativa nomeia como sujeito, os autores desses enunciados
classificam como objeto, já que alguém, não se sabe quem, vende, aluga
alguma coisa.

A fim de comprovar a inadequação da regra gramatical, como a


respeito do termo casas no enunciado “Aluga-se casas”, que seria um sujeito e
não objeto, como grande parte dos falantes acreditam, Bagno (2001) declara
que a prescrição gramatical tem sido desconsiderada em, até mesmo, escritos
de requinte. Torna-se, aqui, imprescindível pontuar o fato de os autores
supracitados, ao se referirem ao estudo da voz passiva, mais especificamente,
ao caso das orações em que encontramos a partícula se como apassivadora
– elemento aqui pesquisado – ousarem afirmar que a utilização – falada e
escrita – da mesma não tem seguido os moldes tradicionais, ao contrário,
partilhando da opinião de Mourão (2001), Bagno (2004) assevera que

muitas pesquisas científicas, baseadas em coleta de dados


da língua real, em levantamentos estatísticos rigorosos e em
teorias linguísticas consistentes, mostram que a imensa maioria
dos brasileiros – de todas as classes sociais, cultos ou não, na
língua falada e na língua escrita – usam verbos no singular nos
enunciados em que aparece o se com um verbo transitivo e um
substantivo no plural: Vende-se casas, Aluga-se salas, Joga-se búzios,
Avia-se receitas...” (p. 98, Grifos meus).

Vale ressaltar que se compartilha da postura desses autores no tocante


às ocorrências na língua falada e na língua escrita informal, haja vista que
nelas, nota-se, comumente, uma não observância das regras tradicionais,
quando da utilização da voz passiva sintética, em que o verbo fica no singular,
mesmo estando o sujeito passivo no plural.

Entretanto, por meio desta pesquisa, verificou-se que o mesmo não


ocorre na linguagem escrita culta, pois as 79 ocorrências encontradas aparecem
de acordo com a norma tradicional, isto é, tanto as estruturas com um núcleo
verbal como as constituídas com dois verbos seguem os ditames tradicionais,
conforme tabelas a seguir:

TABELA 1 – VOZ PASSIVA SINTÉTICA COM 1 VERBO

GT Sim GT Não TOTAL


Nº % Nº % Nº %
72 100 00 00 72 100

92
TÓPICO 3 | VERBO

TABELA 2 – VOZ PASSIVA SINTÉTICA COM 2 VERBOS

GT Sim GT Não TOTAL


Nº % Nº % Nº %
07 100 00 00 07 100

Notável é que tais estruturas aparecem em pequena quantidade,


pois se tem observado uma maior preferência por estruturas consideradas
passivas analíticas – talvez pela complexidade que possuem as de formas
sintéticas. Quanto às passivas sintéticas com mais de um núcleo verbal, o
número torna-se ainda menor (apenas sete ocorrências), do que podemos
deduzir que tais estruturas têm-se tornado cada vez mais raras na língua
escrita, pois a quantidade dessas equivale a apenas 8,86% do total:

TABELA 3 – VOZ PASSIVA SINTÉTICA

GT Sim 1 GT Não 1 GT Sim 2 GT Não 2


TOTAL
verbo verbo verbos verbos
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
72 91,14 00 00 7 8,86 00 00 79 100

Isso nos permite concluir que, mesmo em número bastante reduzido,


as construções passivas sintéticas, quando no plural, mantêm os verbos
também no plural, diferente do que afirmam os linguistas citados, como
em: “Buscam-se a simetria e a beleza” (Revista “Época”, n. 370, p. 66-c). E,
por mais que sejam raras as construções, principalmente as das passivas
sintéticas com dois verbos, não se deixa de fazer a concordância com o
plural, como estabelecem as GT’s: “Não se podem atribuir ao Governo as faltas
que desvendamos”.

Tais investigações contradizem as afirmações dos linguistas, em


especial, as do linguista Bagno (2004). Certo é que, por mais que as construções
passivas sintéticas com dois verbos estejam caminhando para uma possível
extinção, as que ainda são usadas estão de acordo com os critérios da GT –
aquilo que se vê nas revistas atuais é o corrente nos usos cultos da língua
escrita, é o que tem sido escrito/lido, é, então, o que constitui a norma, por
seu caráter constante, nos moldes tradicionais, o que também foi constatado
por Lima (2003), em sua pesquisa acerca desse fenômeno:

93
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Na pesquisa feita com textos técnicos, científicos e jornalísticos,


ficamos diante do seguinte quadro: enquanto a passiva sintética
com um único verbo é relativamente comum, observa-se um uso
bastante restrito da construção com dois verbos [...] Podemos
afirmar que a maioria dos textos formais coincide com a norma
fixada pela gramática clássica. (p. 188-189).
[...]

FONTE: SARAIVA, Líbia Mara S. O Ensino na Escrita Padrão na Língua Portuguesa: em busca de
fontes atuais. Disponível em: < http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_319.pdf>. Acesso
em: 15 out. 2010.

DICAS

Indicamos a leitura na íntegra do artigo de Líbia Saraiva, disponível no


endereço:<http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_319.pdf>. Caso tenha interesse
em aprofundar a visão desenvolvida por Marcos Bagno, sugerimos que conheça o site do
autor (http://marcosbagno.com.br/site/) e faça a leitura do livro “A Língua de Eulália”. Há uma
resenha sobre dois capítulos deste livro, disponível em: <http://www.portuguesdobrasil.net/
pdf/lingua_eulalia_3.pdf>. Boa Leitura!

 Reflexiva: temos casos de voz reflexiva quando o sujeito pratica e recebe a ação
verbal ao mesmo tempo. Para formação da voz reflexiva, acrescentamos ao
verbo os pronomes oblíquos me, te, nos, vos e se.

Exemplo: Os alunos se machucaram quando caíram.

UNI

E, então, os conceitos estão ficando mais claros? Acreditamos que agora você
já esteja se sentindo mais familiarizado com o assunto. Na verdade, parece que lidamos com
um quebra-cabeças, onde cada peça tem seu valor e merece, portanto, toda nossa atenção.

94
TÓPICO 3 | VERBO

2.5 FORMAS NOMINAIS DO VERBO


Você deve lembrar que no início do nosso estudo sobre verbos dissemos
que teríamos contato com muitos conceitos novos e eles seriam explicados
conforme fôssemos progredindo. Pois bem, já falamos sobre as formas nominais,
quando estudamos os verbos abundantes, lembra? Aqueles que apresentam duas
formas para o particípio (uma regular – entregado/uma irregular – entregue).
Agora, vamos analisar com um pouco mais de profundidade essas formas, que,
além do particípio, englobam o infinitivo e o gerúndio.

Primeiro, seria bom dizermos que o infinitivo, o particípio e o gerúndio
são chamados de formas nominais do verbo porque podem atuar na função de
nomes (substantivos, adjetivos, advérbios). Quer ver?

Vamos iniciar pelo infinitivo, esta forma pode desempenhar a função de
um substantivo, como neste exemplo: Rir faz bem para a alma.

O particípio pode funcionar como um adjetivo: Comeu um sanduíche


estragado.

O gerúndio pode funcionar como advérbio: Veio correndo abraçar a avó.

As formas nominais derivam do tema (radical + vogal temática) acrescido


das desinências. Esperamos que você se lembre do que seja o radical e a vogal
temática de que estamos falando, caso não, esses conceitos serão discutidos no
item a seguir.

 –r:
para o infinitivo: cantar, bater, partir
 –do: para o particípio: cantado, batido, partido
 –ndo: para o gerúndio: cantando, batendo, partindo

E
IMPORTANT

Fique atento(a)! Nem todas as formas verbais apresentam desinências e/ou


vogal temática.

No caso do presente do subjuntivo e algumas formas do imperativo, por


exemplo, não há indicação da vogal temática: cante, cantes, cantem etc.

No presente, no pretérito do indicativo e nas formas do imperativo


derivadas do presente do indicativo não há desinência temporal: canto, canta,
cantei, cantou, canta (tu), cantai (vós) etc.

95
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

Já na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo (canta), na 1ª e


3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito (cantava), do mais-que-perfeito
(cantara) e do futuro do pretérito (cantaria) do indicativo, bem como nestas
mesmas pessoas no presente (cante), do imperfeito (cantasse) e do futuro (cantar)
do subjuntivo e nas formas do infinitivo (cantar), não ocorre a desinência pessoal.

2.6 TEMPOS PRIMITIVOS E DERIVADOS


Adotando aqui uma postura didática, que facilite nossos estudos,
podemos dizer que a Língua Portuguesa possui três tempos primitivos: o presente
do indicativo, o pretérito perfeito do indicativo e o infinitivo pessoal. Os demais
tempos são derivados.

Fique tranquilo(a)! Vamos explicar melhor o que acabamos de dizer!

Os tempos já mencionados (presente e pretérito perfeito do indicativo e


infinitivo pessoal) são aqueles que se aproximam mais das formações que existiam
no latim clássico e no latim vulgar, embora, claro, tenham sofrido alterações
fonéticas ao longo dos tempos. Portanto, como são os que têm relação mais
estreita com o latim, recebem a denominação de tempos primitivos. Observe:

Presente do Indicativo Pretérito Perfeito do Infinitivo pessoal


indicativo
Canto Cantei Cantar
Cantas Cantaste Cantares
Canta Cantou Cantar
Cantamos Cantamos Cantarmos
Cantais Cantastes Cantardes
Cantam Cantaram Cantarem

Os demais tempos verbais, formados, predominantemente, pelo radical


dos tempos primitivos, somados às desinências modo-temporal e número-
pessoal, são conhecidos como derivados.

Vejamos agora os tempos verbais derivados:

 Derivados do presente do indicativo: são derivados o pretérito imperfeito do


indicativo, o presente do subjuntivo e o imperativo.

a) Pretérito imperfeito do indicativo:

Observe o quadro que segue, o imperfeito do indicativo é formado assim:

96
TÓPICO 3 | VERBO

 Nos verbos de 1ª conjugação: a partir da troca da desinência –o pelas flexões


–ava, –avas, –ávamos, –áveis, –avam.

 Nos verbos de 2ª e 3ª conjugação: a partir da troca da desinência –o pelas


flexões –ia, –ias, –íamos, –íeis, –iam.

1a conjugação 2a conjugação 3a conjugação


Presente do Imperfeito Presente Imperfeito do Presente Imperfeito do
indicativo do indicativo do indicativo do indicativo
indicativo indicativo
canto cantava bato batia parto partia
cantas cantavas bates batias partes partias
canta cantava bate batia parte partia
cantamos cantávamos batemos batíamos partimos partíamos
cantais cantáveis bateis batíeis partis partíeis
cantam cantavam batem batiam partem partiam

b) Presente do subjuntivo:

1a conjugação 2a conjugação 3a conjugação


Presente do Presente do Presente do Presente do Presente do Presente do
indicativo subjuntivo indicativo subjuntivo indicativo subjuntivo
canto cante bato bata parto parta
cantas cantes bates batas partes partas
canta cante bate bata parte parta
cantamos cantemos batemos batamos partimos partamos
cantais canteis bateis batais partis partais
cantam cantem batem batam partem partam

Se você observar o quadro acima, o presente do subjuntivo é formado


assim:

 Nos verbos de 1ª conjugação: a partir da troca da desinência –o pelas flexões


–e, –es, –emos, –eis, –em.

 Nos verbos de 2ª e 3ª conjugação: a partir da troca da desinência –o pelas flexões


–a, –as, –amos, –ais, –am.

c) Imperativo:

97
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

1a conjugação 1ª Conjugação
2a conjugação 3a conjugação
Presente do
Presente do Imperativo Presente do Imperativo
indicativo
indicativo afirmativo subjuntivo negativo
canto **** cante ****
cantas canta cantes não cantes tu
canta cante cante não cante você
cantamos cantemos cantemos não cantemos nós
cantais a
cantei canteis não canteis vós
cantam cantem cantem não cantem vocês

Para entender a formação do imperativo, oriente-se pelas setas. Veja que


o imperativo (afirmativo e negativo) é formado a partir do presente do indicativo
e do presente do subjuntivo.

A seguir, repare que no imperativo não existe a primeira pessoa do
singular (veja os quatro asteriscos no afirmativo e no negativo).

Para formarmos o imperativo afirmativo, usamos somente 2ª pessoa
(singular e plural) do presente indicativo sem –s (veja as setinhas  que saem do
presente). As outras pessoas vêm do presente do subjuntivo (veja as setinhas 
que saem do subjuntivo).

Para formarmos o imperativo negativo, agora ficou simples. Veja, ele


é formado de todas as pessoas do presente do subjuntivo (veja as setinhas 
saindo do subjuntivo).

 Derivados do pretérito perfeito do indicativo: são derivados o pretérito-mais-


que-perfeito do indicativo, o imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo.
Acompanhe conosco as mudanças nas desinências em cada um desses tempos.
Veja como o tema (radical + vogal temática) do pretérito perfeito se mantém em
todos os tempos derivados.

INDICATIVO SUBJUNTIVO
Pretérito Pretérito mais- Pretérito Futuro
perfeito que-perfeito Imperfeito
cantei cantara cantasse cantar
cantaste cantaras cantasses cantares
cantou cantara cantasse cantar
cantamos cantáramos cantássemos cantarmos
cantastes cantáreis cantásseis cantardes
cantaram cantaram cantassem cantarem

 Derivados do infinitivo impessoal: são derivados o futuro do presente e o


futuro do pretérito do indicativo e o infinitivo pessoal. Acompanhe no quadro
a seguir as alterações nas desinências.

98
TÓPICO 3 | VERBO

2.6.1 Formação dos tempos compostos


Devemos entender por tempos compostos aqueles formados por um verbo
auxiliar + o particípio do verbo principal. Os quadros que seguem apresentam
esses tempos.

Quase finalizando, temos ainda as formas nominais:

 Infinitivo impessoal composto: constituído pelo infinitivo impessoal do verbo


ter (ou haver) + o particípio do verbo principal: ter cantado.

 Infinitivo pessoal composto: constituído pelo infinitivo pessoal do verbo ter


(ou haver) + o particípio do verbo principal: ter cantado, teres cantado, ter
cantado, termos cantado, terdes cantado, terem cantado.

 Gerúndio composto: constituído pelo gerúndio do verbo principal ter (ou


haver) + o particípio do verbo principal: tendo cantado.
99
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

UNI

Indicação de leitura!
Às vezes, temos dúvida a respeito da forma como o verbo deve ser conjugado em um
determinado modo, tempo ou pessoa, não é mesmo? Saiba que na internet há uma
ferramenta muito bacana que nos ajuda neste sentido. Visite o site Conjuga-me (http://
www.conjuga-me.net), digite o verbo no infinito e pronto! A conjugação aparece rapidinho
para você!

Você percebeu que o tema verbo, neste Tópico 3, trouxe muitas


informações. É natural, pois esta é uma classe importante na morfologia da
Língua Portuguesa. Para completar e fixar os conhecimentos que construímos
com este tópico, que tal fazer a leitura do texto de Vilela e Koch (2001)? Ele
traz informações importantes que contribuirão muito para nossa formação
profissional. Sucesso na leitura!

100
TÓPICO 3 | VERBO

LEITURA COMPLEMENTAR

VERBOS PLENOS E VERBOS AUXILIARES

O gramatical e o lexical diferenciam-se ainda no que tradi­cionalmente


se exprime por verbo “pleno” e verbo “auxiliar”. O verbo pleno é o verbo cujo
conteúdo se dirige diretamente para a configuração da processualidade existente
no mundo extralinguístico e que gramaticalmente pode funcionar como predicado
da frase sem qualquer apoio ou suporte. O verbo auxiliar é o verbo em que o peso
gramatical é preponderante, ou porque o verbo se deslexicalizou e reforçou o seu
peso gramatical (gramaticalizando-se) e necessita de um verbo pleno para poder
funcionar como predicado ou porque o núcleo predicativo é constituído por um
nome (ter consideração por), por um adjetivo (ser inteligente). Neste caso, trata-
se de verbos cuja função é só a de serem “auxiliares”, ou de verbos que podem
funcionar como verbos plenos e como verbos auxiliares:

Começar: começar um trabalho vs. começar a trabalhar


Acabar: acabar um trabalho vs. acabar de chegar, etc.

Os verbos ser e ter podem ser auxiliares e verbos plenos:


Ele tem uma casa no Algarve vs. Ele tem tido muita sorte.
Ela é de Lisboa vs. Ele é muito amado de todos.
Eis uma classificação e caracterização muito breve:

a) Verbos auxiliares de tempos compostos: ter e por vezes haver.


Nem bem tinha acabado de tomar o café da manhã e já estava às voltas com a polícia.

b) Auxiliares de “modo”: os que modificam a relação entre o sujeito frásico e o


processo verbal, exprimindo valores como “necessidade” (ter de/ que, dever),
“capacidade” ou “possibilidade” (poder), “desejo” (querer).

Trata-se de uma apresentação muito geral. Por exemplo, o verbo poder


comporta valores diferenciados. Transporta um “valor radical”, ao indicar:

(i) Permissão: Esta autoestrada pode atravessar os campos dos par­ticulares.


(ii) Capacidade: Esta sala pode conter duas mil pessoas.
(iii) Possibilidade lógica: Este curso pode acabar.

e um valor contextual, indicando:


(i) Eventualidade: Um informático pode fazer este trabalho.
(ii) Esporadicidade: Os turistas podem gostar de vinho.

O verbo dever apresenta dois valores bem diferenciados:

(i) Dever com semantismo pleno que exprime a obriga­ção (= valor deôntico) e

101
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

(ii) Dever que, como auxiliar, é desprovido de seman­tismo próprio e cujo papel
é apenas o de modalizar o enunciado em que ocorre com os valores de
“probabilidade”, “incerteza” relativamente ao futuro (=valor epistêmico).[...]

c) Os verbos copulativos (também chamados de ligação) ver­balizam os chamados


predicados nominais: ser, estar, ficar, permanecer, continuar. Há verbos
copulativos eventuais, como cair de cama (‘ficar/ estar doente’), o dia amanhece
sempre triste, andar de cara ao lado, andar de cara feia/ amarrada, etc.

d) Os verbos auxiliares de aspecto (= a linguagem perfrástica tradicional), como


começar a + inf. ou começar + gerúndio, estar a/ para + inf. ou estar + gerúndio,
continuar a + inf. ou continuar + gerúndio, etc.

Trata-se de verbos que se associam ao gerúndio ou ao infinitivo para


exprimir a “imperfectividade”. Todos os verbos copulativos podem, neste sentido,
contribuir para a expressão da “aspectualidade”, direta ou indiretamente. Por
exemplo:

- ser: é o verbo “perfectivo” desta série. A perfectividade está implicada


no seu significado;

- estar, coloca o evento numa fração de tempo, recorta a temporalidade,


atribuindo-lhe um período de vigên­cia, visualizando o “estado”. Isto quanto ao
seu signi­ficado. Mas com infinitivo ou gerúndio ganha outros valores: estou para
partir (iminência), estou partindo (cursividade), estou a partir cacos (cursividade,
num dado momento).

FONTE: VILELA, Mário; KOCH, Ingedore Villaça. Gramática da língua portuguesa. Almedina:
Coimbra, mar. 2001. p. 72-74.

102
RESUMO DO TÓPICO 3
Chegamos ao término de um dos tópicos mais longos da disciplina.
Aprendemos muito e agora chegou a hora de listar os conteúdos de forma
breve, para agilizar suas consultas, quando tiver dúvidas.

 Verbo: palavra que indica um fato (ação, estado, fenômeno) e situa-o em relação
ao tempo.

 Morfemas que formam o verbo:


– Radical: parte do verbo que não sofre alteração (cant-, bat-, part-).
– Vogal temática: indica a conjugação a que o verbo pertence (1ª -ar, 2ª -er,
3ª -ir).
– Tema: radical + vogal temática (cant-+-a = canta, bat-+-e = bate, part-+-i=
parti).
– Desinência modo-temporal: indica modo e tempo (cantaremos – futuro
do indicativo).
– Desinência número-pessoal: indica número e pessoa (cantaremos – 1ª
pessoa do plural).

 Classificação dos verbos:


– regulares: seguem o modelo geral de conjugação e não sofrem alterações
no radical (amar, vender, dividir);
– irregulares: não seguem completamente o modelo de conjugação e
sofrem alterações no radical (ouvir – ouço, ouves, ouve, ouvimos, ouvis,
ouvem);
– anômalos: modificam-se completamente no radical (ir – vou, vais, vai,
vamos, ides, vão);
– defectivos: não se conjugam em todos os modos, tempos ou pessoas
(chover);
– abundantes: têm mais de uma forma para o mesmo tempo e a mesma
pessoa (entregue – entregado);
– auxiliares: usados ao lado de um verbo principal para formar as locuções
verbais ou os tempos compostos (ser, estar, haver, ter);
– principal: núcleo da locução verbal (está chovendo).

 Flexão dos verbos: os verbos flexionam-se em:


– número (singular, plural);
– pessoa (eu, tu, ele, nós, vós, eles);
– modo (indicativo, subjuntivo, imperativo);
– tempo (presente, pretérito, futuro);
– voz (passiva e ativa).

103
 Formas nominais:
– infinitivo(terminação –r);
– gerúndio (terminação –ndo);
– particípio (terminação –ado/–ido).

 Tempos primitivos e derivados:


– derivados do presente do indicativo:
– pretérito imperfeito do indicativo (eu cantava);
– o presente do subjuntivo (que eu cante);
– o imperativo (afirmativo - canta tu, negativo - não cantes tu).

 Derivados do pretérito perfeito:


– pretérito mais-que-perfeito (eu cantara);
– infinitivo impessoal: cantar.

104
AUTOATIVIDADE

1 Verifique nas frases a seguir se o verbo expressa ação, estado ou fenômeno:

a) Trovejou muito na noite passada.


b) Estava bastante deprimida.
c) No meio da confusão, saiu sem levar seu material.
d) Choveu pouco este ano no sul.
e) Tornara-se apática depois de tantas decepções.

2 A letra de música a seguir deve servir para você responder às questões de


2.1 a 2.3.
Domingo no parque Juliana seu sonho, uma ilusão
O rei da brincadeira - ê José Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
O rei da confusão – ê João
E o sorvete gelou seu coração
Um trabalhava na feira - ê José
Outro na construção – ê João O sorvete e a rosa - ê José
A semana passada A rosa e o sorvete - ê José
No fim da semana Õ dançando no peito - é José
Do José brincalhão - ê José
João resolveu não brigar
No domingo de tarde Juliana girando, ai girando
Saiu apressado Oi na roda gigante, oi girando
não foi pra Ribeira jogar O sorvete é morango - é vermelho
Capoeira, não foi pra lá E a rosa é vermelha - é vermelha
Oi girando, girando - olha a faca
Pra Ribeira, foi namorar
0 José como sempre no fim da semana Olha o sangue na mão - ê José
Foi fazer no domingo um passeio no Juliana no chão - ê José
Outro corpo caído - ê José
parque
Seu amigo João - ê José
lá perto dá boto do rio
Amanhã não tem feira - ê José
foi no porque que ele avistou
Juliana, foi que ele viu Não tem mais construção - ê João
Não tem mais brincadeira - ê José
Foi que ele viu
Juliana na roda com João Não tem mais confusão - ê João
(Gilberto Gil)
Uma rosa e um sorvete na mão

GIL, Gilberto. Todas as letras. Organização Carlos Rennó. São Paulo: Companhia das Letras,
1996.

2.1 Identifique e transcreva a partir da leitura da música “Domingo no parque”:

a) 3 verbos no pretérito perfeito:


b) 3 verbos no presente do indicativo:
c) 4 verbos de primeira conjugação:

105
d) 2 verbos de segunda conjugação:
e) 3 verbos de terceira conjugação:
f) 2 verbos no infinitivo:
g) 2 verbos no particípio:
h) 2 verbos no gerúndio:

2.2 Na música, além dos verbos empregados no modo indicativo, podemos


encontrar algum outro modo verbal? Em caso afirmativo, transcreva o
verso em que isso acontece.

2.3 No fragmento a seguir, passe os verbos do pretérito perfeito para o mais-


que-perfeito e futuro do presente do indicativo:

No fim da semana.
João resolveu não brigar.
No domingo de tarde.
Saiu apressado.

3 Reescreva as frases a seguir usando os verbos na voz passiva analítica:

a) Um empresário da região comprou todo o estoque de peças.


b) A nova secretária doou vários livros à biblioteca.
c) Os políticos fazem muitas promessas em época de campanha.
d) O governo impediu o aumento do salário mínimo.
e) Os sem-terra invadiram várias fazendas.

4 Informe a voz dos verbos:

(a) Ativa.
(b) Passiva analítica.
(c) Passiva pronominal.
(d) Reflexiva.

( ) As peças eram vendidas apenas no atacado.


( ) Reformaram todas as instalações elétricas das casas.
( ) Vendem-se apartamentos mobiliados.
( ) Os brasileiros jogaram muito mal na copa.
( ) Os espertos orgulham-se quando enganam o próximo.

5 Complete as frases, flexionando corretamente os verbos irregulares entre


parênteses:

a) Caso _______ mais móveis, avise a empresa contratada pelo transporte.


(caber)
b) Quando eu _________ minha aposentadoria, vou tirar mais tempo para
mim. (requerer)

106
c) Eles _________ muito pouco, não suspeitam do que o futuro lhes reserva.
(ver)
d) Ainda que desmintam a notícia, ________ nas pessoas que me ajudaram.
(crer)
e) ______ meu cargo, mas não minha dignidade. (perder)

6 Nas frases a seguir, complete com uma das formas entre parênteses:

a) Estava _________________ desde às seis da manhã. (despertado; desperto)


b) Havia _________________ uma questão sem gabarito. (inserido; inserto)
c) Seu pedido fora _________________ pelo juiz. (aceitado; aceito)
d) Tinha _________________ o documento para comprovar a devolução.
(anexado; anexo)
e) Os ladrões foram _________________ antes de fugirem. (prendidos; presos)

7 Indique a pessoa, o número, o tempo e o modo das formas verbais:

a) alugávamos – b) descansarão –
c) casaste – d) ouço –
e) ajudássemos – f) conversem –

8 Nas questões 8.1 a 8.4 assinale a alternativa correta:

8.1
a) ( ) Eu componho, se você compor.
b) ( ) Eu componho, se você compuser.
c) ( ) Eu componho, se vocês comporem.
d) ( ) Eu componho, se ele compor.

8.2
a) ( ) Se eu reouvesse o valor roubado, acabaria com a dívida.
b) ( ) Se eu reouvesse o valor roubado, acabarei com a dívida.
c) ( ) Se eu reavia o valor roubado, acabaria com a dívida.
d) ( ) Se eu reouvera o valor roubado, acabo com a dívida.

8.3
a) ( ) Quanto estivesse mais acessível, o acesso à internet certamente será um
eficiente meio de pesquisa.
b) ( ) Quando estiver mais acessível, o acesso à internet certamente seria um
eficiente meio de pesquisa.
c) ( ) Quando estiver mais acessível, o acesso à internet certamente será um
eficiente meio de pesquisa.
d) ( ) Quando estivesse mais acessível, o acesso à internet certamente será um
eficiente meio de pesquisa.

107
8.4
a) ( ) Quando você vir e ver nossas instalações, já estaremos prontos para
receber seus clientes.
b) ( ) Quando você vier e vir nossas instalações, já estaremos prontos para
receber seus clientes.
c) ( ) Quando você ver e vir nossas instalações, já estaremos prontos para
receber seus clientes.
d) ( ) Quando você vier e ver nossas instalações, já estaremos prontos para
receber seus clientes.

108
UNIDADE 2
TÓPICO 4

ADVÉRBIO

1 INTRODUÇÃO
E, então, que tal a caminhada até aqui? Já estudamos juntos os substantivos,
depois os adjetivos que atribuem certas características aos substantivos. Na
sequência, exploramos o verbo, seus elementos mórficos, suas categorias. Chegou
a hora de analisarmos as circunstâncias em que ocorre a ação expressa pelo verbo.
Apresentamos-lhe, portanto, caro(a) acadêmico(a), a última classe de palavras
desta segunda unidade, o advérbio.

2 CONCEITUANDO
O advérbio é a palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo ou
de outro advérbio.

Como ele altera o sentido, bem, é isso que vamos ver nos exemplos a
seguir, acompanhe-me.

O candidato proferiu seu discurso.


O candidato proferiu lentamente seu discurso.

Compare os exemplos, a palavra lentamente modificou a ação expressa
pelo verbo (proferiu): portanto, lentamente é um advérbio.

Vamos fazer mais uma alteração no exemplo:



O candidato proferiu muito lentamente seu discurso.

Neste exemplo modificado, muito intensificou o sentido de lentamente,
isto é, temos um advérbio (muito) modificando o sentido de um outro advérbio
(lentamente).

Vejamos uma última alteração:



O candidato estava emocionado.
O candidato estava muito emocionado.

Este último par de exemplos leva-nos a perceber que o advérbio muito
reforça o sentido do adjetivo emocionado.

109
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS


Os advérbios são classificados conforme o sentido ou circunstância que
expressam:

a) Advérbios de afirmação: sim, certamente, realmente, efetivamente etc.

Exemplo: Certamente o político fez seu discurso.

b) Advérbios de dúvida: acaso, talvez, provavelmente, possivelmente etc.

Exemplo: Possivelmente o político fez seu discurso.

c) Advérbios de intensidade: muito, pouco, bastante, bem, mal, demais, mais,


menos, tão, quanto, meio, quase, apenas, completamente, profundamente,
excessivamente, levemente etc.

Exemplo: O político fez seu discurso bastante emocionado.

E
IMPORTANT

Os advérbios são palavras invariáveis em gênero e número.


Veja: Há menos candidatas naquele partido. Meio será advérbio e, portanto, ficará invariável
quando puder ser substituído por “um pouco”. Observe: O candidato está meio (um pouco)
rouco hoje. Porém, o numeral meio flexiona-se em gênero: O candidato tomou meio
copo de suco e seu vice meia lata de refrigerante. (meio aqui equivale à metade).

d) Advérbios de lugar: abaixo, acima, ali, aqui, atrás, dentro, fora, junto, lá, longe,
perto, aonde, onde etc.

Exemplo: O político fez ali seu discurso.

e) Advérbios de modo: assim, depressa, devagar, bem, mal, melhor, pior, e quase
todos os terminados em –mente: calmamente, fielmente, livremente, levemente,
pausadamente etc.

Exemplo: O político fez calmamente seu discurso.

f) Advérbios de negação: não, tampouco.

Exemplo: O político não fez seu discurso.

110
TÓPICO 4 | ADVÉRBIO

g) Advérbios de tempo: agora, ontem, amanhã, hoje, anteontem, já, nunca,


sempre, cedo, tarde, breve etc.

Exemplo: O político fez ontem seu discurso.

2.1.1 Advérbios interrogativos


Os advérbios que indicam circunstância de causa, de lugar, de modo
e de tempo são chamados de interrogativos. São palavras empregadas nas
interrogações diretas ou indiretas, os exemplos ilustram essas situações.

a) advérbio de causa:

Exemplos: Por que não trabalhas? (interrogativa direta)


Não sei por que não trabalhas. (interrogativa indireta)

b) advérbio de lugar:

Exemplo: Onde está seu celular? / Perguntei onde estava seu celular.

c) advérbio de modo:

Exemplo: Como está seu pai? Indaguei como estava seu pai.

d) advérbio de tempo:

Exemplo: Quando você retorna? Desejo saber quando você retorna.

2.2 Locuções adverbiais


Quando duas ou mais palavras desempenham a função de um advérbio,
prezado(a) acadêmico(a), temos uma locução adverbial. É uma expressão
formada por uma preposição + substantivo, preposição + adjetivo ou preposição
+ advérbio. Vamos ilustrar esses casos, mas o importante é você ficar atento(a)
às modificações de sentido que as locuções, bem como os advérbios, produzem:

Ex.: O candidato fez seu discurso de improviso. (preposição + substantivo)

Exemplos: O candidato fez seu discurso às escondidas. (preposição + adjetivo)


O candidato fez por aqui seu discurso. (preposição + advérbio)

111
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

TURO S
ESTUDOS FU

Você verá mais tarde, na Unidade 3, o que são as preposições.

2.3 GRADAÇÃO DOS ADVÉRBIOS


Alguns advérbios, principalmente os de modo, podem sofrer variação de
grau, apresentando-se, no comparativo e superlativo, conforme os processos que
regulam a flexão dos adjetivos. Caso não lembre, retorne algumas páginas e leia
novamente a flexão de grau dos adjetivos.

2.3.1 O grau comparativo


a) comparativo de superioridade:

Exemplo: Fez seu discurso mais depressa que (ou do que) o adversário.

b) comparativo de igualdade:

Exemplo: O candidato falava tão depressa como (ou quanto) o adversário.

c) comparativo de inferioridade:

Exemplo: O candidato falava menos depressa (ou que) o adversário.

2.3.2 O superlativo
a) superlativo sintético: (ocorre com acréscimo de sufixo)

Exemplo: O candidato falou lentamente.

b) superlativo analítico: (ocorre com o auxílio de um advérbio indicador de


excesso).

Exemplo: O candidato falou muito mal.

112
TÓPICO 4 | ADVÉRBIO

ATENCAO

Fique atento(a) quanto ao uso das formas melhor, pior e bem, mal. Veja:
melhor e pior são comparativos dos advérbios bem e mal (e também dos adjetivos bom e
mau). Portanto, algumas construções merecem sua atenção. Exemplos:

O candidato fala melhor que seus adversários.


O candidato fala pior que seus adversários.

Mais bem e mais mal ocorrem junto de adjetivos representados por particípios.

Exemplo: O candidato estava mais bem preparado que seus adversários.

Geralmente, empregamos adjetivos com valor de advérbios. Os exemplos


abaixo ilustram como adjetivos podem passar a funcionar como advérbios:

Exemplos: Fala claro na hora do seu discurso.
Pagaram caro as fotos da campanha.

Os advérbios são uma classe importante na Morfologia da Língua


Portuguesa e muito empregados, tanto na linguagem oral quanto na escrita.
Por isso, recomendamos o texto de Vilela e Koch (2001) para que você possa
complementar as informações que obteve neste tópico. Sucesso na leitura!

113
UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I

LEITURA COMPLEMENTAR

ADVÉRBIOS

Caracterização geral

Embora a designação advérbio [= ADVERBIUM/ EPIRRHEMA] aponte


para uma determinada relação destas palavras com o verbo (“aplicado ao verbo”)
- e por isso mesmo tenha sido tratado como o “adjetivo do verbo” -, contudo,
os advérbios não modificam ape­nas os verbos, mas também adjetivos e mesmo
outros advérbios e frases totais:

Há pessoas que falam pouco e dizem muito. [verbo]


Eles não sabem muito [verbo], mas também são pouco estudiosos. [adj.]
Ela, muito inteligentemente [adv.], entrou muda e saiu calada [...]

Tem-se discutido se os advérbios podem modificar substan­tivos e, em


casos como:

Se ele é muito homem, também ela é muito mulher

ou se admite essa possibilidade, ou justifica-se este uso do advérbio


pela adjetivização dos referidos substantivos. Podemos afirmar que a marca
“categorial” do advérbio é a de modificar: o verbo, a frase, o adjetivo, o próprio
advérbio, ou a enunciação. Em casos como:

Só Deus é justo

temos contudo a modificação do substantivo.

Uma boa parte dos advérbios - como também a maior parte dos
adverbiais e as chamadas partículas modais -, ao contrário do que acontece com
as demais categorias gramaticais, são palavras que se podem deslocar com certa
liberdade na frase. Além disso, podem ser interrogados com formas próprias dos
complementos adverbiais, e que, por isso mesmo, podem representar elementos
frásicos, situar estados de coisas e caracterizar circunstâncias.

Os advérbios são classificados, via de regra, como invariáveis, embora


admitam graduação e mesmo mobilidade derivacional:

- Saí mais cedo/ tarde do que pensava.


- Ele disse “adeusinho”/ “até loguinho” e foi-se embora.

O número dos advérbios simples, como hoje, ontem, amanhã, então, assim,
sim, não, bem, mal, etc., é reduzido. E mesmo a maior parte destes advérbios
resultou de formas compostas:

114
TÓPICO 4 | ADVÉRBIO

in tunc: então; admane: amanhã; hoc die: hoje; hac hora: agora etc.

Grande parte das formas adverbiais são formas compostas ou locuções


adverbiais: anteontem, doravante, depois de amanhã, no dia seguinte, lado a lado, à toa,
a tempo e hora, pouco a pouco, etc. E a forma mais produtiva de advérbios - adjetivo
(no femi­nino) + mente - é originariamente uma forma composta: intensa­mente,
formalmente, estupidamente, graciosamente.

Há também um processo relativamente produtivo de formação de


advérbios, a adverbialização do adjetivo:

Mãe e filha falavam tão alto que se ouvia do outro lado da rua.
Eles vestem jovem.
Ela pagou caro o que fez.
Eles vendem barato quando não o podem fazer caro.
Ela, quando se sente protegida, fala grosso.

FONTE: VILELA, Mário; KOCH, Ingedore Villaça. Gramática da língua portuguesa.


Almedina: Coimbra, mar. 2001, p. 244-246.

115
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você viu que:

 Advérbio: palavra que altera o sentido do verbo, do adjetivo ou do próprio


advérbio.

Exemplo: Estudamos x Estudamos pouco.

 Locução adverbial: expressão formada por mais de uma palavra e que tem
função de advérbio. Exemplo: Falou às pressas, falou de repente.

 Classificação dos advérbios:


– de afirmação (sim, certamente);
– de dúvida (acaso, talvez);
– de intensidade (muito, pouco, mais, menos);
– de lugar (abaixo, ali, aqui, atrás);
– de modo (assim, depressa, calmamente);
– de negação (não);
– de tempo: (agora, ontem).

 Graduação dos advérbios:


– Comparativo de igualdade: tão rapidamente como.
– Comparativo de superioridade: mais rapidamente que.
– Comparativo de inferioridade: menos rapidamente que.
– Superlativo analítico: muito rapidamente.
– Superlativo sintético: rapidissimamente.

116
AUTOATIVIDADE

1 No fragmento a seguir há três advérbios. Identifique-os e indique a


circunstância que eles expressam.

“Senhores, andamos falando demais, e mal. Usa­mos frivolamente ter­


mos perigosos e abusamos das palavras de respeito.” (LUFT, Lya. A república
do rabo preso. Veja, São Paulo, n. 32, p. 24, 10 ago. 2005.)

2 Leia o fragmento a seguir:

“[...] nossos jovens deixam um país que não lhes dá estímulo, para
eventualmente morrer de forma miserável em terra estrangeira” (LUFT, Lya.
A república do rabo preso. Veja, São Paulo, n. 32, p. 24, 10 ago. 2005).

Que ideia é expressa pelo advérbio eventualmente?


a) ( ) Condição.
b) ( ) Intensidade.
c) ( ) Dúvida.
d) ( ) Tempo.

3 Você viu anteriormente que algumas palavras, dependendo do contexto,


funcionam como adjetivos (portanto, variáveis) e em outros como advérbios
(portanto, invariáveis). Analise as frases a seguir e verifique se a palavra
destacada é adjetivo ou advérbio:

a) Meu pai anda melhor, já está se recuperando.


b) O melhor candidato deve ser alguém ético.
c) Seu pior comportamento foi no término do semestre.
d) Aquele teria sido o pior ano da equipe.

4 Substitua as locuções destacadas pelos advérbios correspondentes:

a) O funcionário trabalhou sem interrupção.


b) O cliente agiu com precipitação ao gritar com o atendente.
c) Ele ouve música e estuda ao mesmo tempo.
d) Foi demitido com frieza.

5 Acrescente advérbios ou expressões adverbiais ao seguinte texto, conforme


as circunstâncias indicadas:

Separados pelo destino, amaram-se _________ (intensidade). Sem


que um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se __________ (modo,
tempo) através dos continentes, cruzavam pontes e oceanos, vasculhavam

117
vielas, indagavam. Bússola da longa busca, levavam ________ (afirmação) a
lembrança de um rosto sempre mutante, em que o desejo redesenhava _______
(modo) os traços apagados pelo tempo.

6 Assinale a frase em que o advérbio expressa ao mesmo tempo as ideias de


tempo e negação:

a) ( ) Conversei ontem com os funcionários.


b) ( ) Jamais quis sua posição.
c) ( ) Ele sempre cumpre o prazo de entrega.
d) ( ) Provavelmente faltarão lugares no evento.

118
UNIDADE 3

ESTUDO DAS CLASSES


DE PALAVRAS II

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• reconhecer as classes: numeral, artigo, pronome, preposição, conjunção,


interjeição;

• compreender que algumas dessas classes podem funcionar como conecto-


res nos textos.

PLANO DE ESTUDOS
A presente unidade de ensino está dividida em seis tópicos e no final de cada
um deles você encontrará atividades que contribuirão para a apropriação dos
conteúdos.

TÓPICO 1 – NUMERAL

TÓPICO 2 – ARTIGO

TÓPICO 3 – PRONOME

TÓPICO 4 – PREPOSIÇÃO

TÓPICO 5 – CONJUNÇÕES

TÓPICO 6 – INTERJEIÇÕES

119
120
UNIDADE 3
TÓPICO 1

NUMERAL

1 INTRODUÇÃO
Nossa, já percorremos um longo caminho! Agora, a classe gramatical que
nos interessa é o numeral. Vamos estudar seus tipos e empregos.

2 CONCEITO
Numeral é a palavra que expressa quantidade, ordenação ou proporção
de pessoas ou coisas.

Quando acompanha um substantivo, temos um numeral adjetivo; quando


o substitui, numeral substantivo, veja:

Contratei quatro atendentes, dois já faltaram no primeiro dia.

No exemplo, quatro é numeral adjetivo (acompanha o substantivo


atendentes), dois é numeral substantivo (substitui o substantivo atendentes).

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS

a) Cardinais: são os números básicos e podem designar:



- a quantidade em si: Cinco e quatro são nove.
- uma quantidade de pessoas ou coisas: Preciso de vinte estagiários para
esta pesquisa.

b) Ordinais: indicam a ordem, série ou posição.



A primeira reunião do ano ficou marcada pela presença de todos.
Obteve o décimo lugar entre os candidatos à vaga de digitador.

c) Multiplicativos: expressam o aumento proporcional da quantidade.



Fez o dobro de acertos na prova deste ano.
Após ser demitida, passou a receber o triplo do seu salário no novo emprego.

121
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

d) Fracionários: exprimem a diminuição proporcional a divisões (frações) da


unidade.

Faltava pagar um terço da dívida.
Perdeu metade do salário em jogos de azar.

E
IMPORTANT

Agora que estamos falando de numerais, você deve estar se perguntando: nos
textos escritos, o que devo usar, algarismos ou numerais? De preferência, use os numerais,
porém se a informação for um número de telefone, uma data ou dados estatísticos, os
algarismos são indicados.

Continuando, existem também os numerais coletivos, que designam


um conjunto de pessoas ou coisas. Entretanto, é bom dizer que os substantivos
coletivos diferem dos numerais coletivos porque estes últimos indicam um
número exato de seres: novena, dezena, década, dúzia, milheiro, milhar, par etc.

2.2 FLEXÃO DOS NUMERAIS


a) Cardinais:

 variam em gênero um, dois e as centenas a partir de duzentos. (um/ uma,


trezentos/ duzentos);
 variam em número – milhão, bilhão, trilhão, etc. (três milhões, dez trilhões);
 variam em gênero – ambos – substitui o numeral os dois (ambos os pés estavam
feridos);
 os demais cardinais são invariáveis.

b) Ordinais:

 variam em gênero e número: primeiro/primeira, terceiro/terceira, décimo/


décima.

c) Multiplicativos:

 são invariáveis quando equivalem a um substantivo, veja:

Mesmo que ganhasse o dobro, não voltaria para aquela empresa.

122
TÓPICO 1 | NUMERAL

 são variáveis quando empregados com valor de adjetivo:

As doses duplas de calmantes não o deixavam mais aliviado.

d) Fracionários:

 concordam com os cardinais que indicam o número das partes:

Preciso de um quarto do valor adiantado.


Falta você receber dois terços da dívida.

 meio varia em gênero, observe:

Pediu três quilos e meio de carne.


Queria apenas meia porção de batata frita.

2.3 LEITURA E ESCRITA DOS NÚMEROS


Intercala-se a conjunção e entre as centenas e dezenas e entre estas e as
unidades.
Exemplo: 2.540. 788 = dois milhões quinhentos e quarenta mil setecentos e oitenta
e oito.

NOTA

Você percebeu que não usamos vírgulas, certo? É porque na escrita dos
números por extenso não se põe vírgula, ok?

Além disso, não devemos usar ponto na escrita dos anos: 1978, 2001, 2004
etc.

Na referência a capítulos, séculos, papas, reis etc, fazemos a leitura dos


numerais assim:

Numeral
 depois do substantivo:

– empregamos os ordinais até dez (Paulo VI = Sexto, capítulo V = quinto,


século III = terceiro, Pedro II = segundo)
– empregamos os cardinais acima de dez (século XV = século quinze,
capítulo XI = capítulo onze, Bento XVI = dezesseis).

123
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

 Numeral antes do substantivo:

– empregamos sempre os ordinais (X capítulo – décimo capítulo, XX


século = vigésimo século).

Artigos de leis, decretos e portarias, empregamos o ordinal até o nono


(Artigo 1º = primeiro, Artigo 9º = nono), e o cardinal de dez em diante (Artigo 23
= vinte e três).

Empregamos os cardinais também na enumeração de páginas e folhas de


um livro, bem como na de apartamentos, casas, cabines de navio, poltronas de
casas de diversões, quartos de hotel.

Exemplos: página 2 (dois), folha 10 (dez), casa 37 (trinta e sete),


apartamento 505 (quinhentos e cinco), quarto 15 (quinze).

UNI

Indicação de leitura!
O site Redação Criativa (http://www.redacaocriativa.com.br/grafia-de-numerais-dicas-para-
uso-cotidiano-e-provas-de-vestibulares-e-enem.html) apresenta uma série de dicas úteis de
como grafar os numerais em textos de nosso dia a dia.
Além dele, Maria Tereza de Queiroz Piacentini, no site Kplus: <http://www.kplus.com.br/
materia.asp?co=131&rv=Gramatica>, esclarece dúvidas quanto ao uso e grafia de números e
numerais. Vale a pena conferir!

124
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você estudou que:

• Numeral: palavra que designa quantidade, lugar numa série, múltiplo ou


fração.

• Classificação:

- Cardinais: expressam quantidades (um, cinco, vinte).

- Ordinais: expressam a posição que uma pessoa ou coisa ocupa em uma


sequência: (primeiro, quarto, décimo primeiro).

- Multiplicativos: expressam multiplicação de uma certa quantidade (triplo,


quádruplo).

- Fracionários: expressam a divisão de uma quantidade (metade, três quartos,


um quinto).

• Flexão:

- Cardinais: são invariáveis, com exceção de um, dois (uma, duas) e as centenas
acima de cem (duzentos/duzentas, trezentos/trezentas).

- Ordinais: variam em gênero e número (segundo/segunda, segundos/


segundas, terceiro/terceira, terceiros/terceiras).

125
AUTOATIVIDADE

1 Escreva por extenso os números a seguir:

a) 7.662.251 –
b) 15.713.068 –
c) 2.011.005 –
d) 542 –

2 Escreva por extenso os numerais:

a) Século III –
b) Século XIX –
c) Capítulo V –
d) Leão XIII –

3 Os algarismos nas frases a seguir devem ser lidos como ordinais ou


cardinais?

a) A história de Pedro II precisa ser mais explorada.


b) O trabalho deve conter o resumo dos capítulos XV ao capítulo XVIII.
c) O século XX passou por profundas transformações.
d) Quem foi Luís XIV?

4 Assinale o emprego incorreto do numeral:

a) ( ) Rei Felipe II: segundo.


b) ( ) Papa Pio XII: Papa Pio Doze.
c) ( ) Capítulo XI: décimo primeiro.
d) ( ) Antes do artigo dez vem o artigo nono.

126
UNIDADE 3
TÓPICO 2

ARTIGO

1 INTRODUÇÃO
Puxa, já estamos na sexta classe de palavras. Pretendemos agora desvendar
os segredos dos artigos. É, segredos sim, porque o entendimento sobre os artigos
ajuda a entender melhor outras classes gramaticais. O caminho, você já sabe.
Primeiro sempre é bom compreender o conceito, depois seguimos estudando
outros tópicos relacionados à classificação, à flexão etc. Os artigos desempenham
um papel importante no interior do texto.

2 CONCEITO
É a palavra colocada antes de um substantivo para defini-lo ou indefini-
lo. Você entendeu o conceito? O trecho a seguir deve ajudá-lo a compreender a
definição:

Passeando pela cidade, vimos um menino caminhando solitário. Ao


partirmos, avistamos novamente o menino, agora pedindo esmolas no sinal.

Repare, primeiro é necessário saber o que são os substantivos para


entender o conceito, certo? Caso não lembre, retorne à Unidade 2.

Segundo, as palavras um e o são os artigos nos exemplos acima que


acompanham o substantivo menino. O uso do artigo um ou do artigo o produz
diferenças de sentido.

Ao usarmos o artigo um, fazemos referência de forma vaga ao substantivo
menino, trata-se de um menino que não é conhecido para o leitor (por isso
indefinido). Porém, ao usarmos o artigo o, é como se o leitor já o conhecesse,
porque já foi citado antes no texto (por isso definido). Essa forma de fazer
referência (definida ou indefinida) aos termos citados no texto é muito importante
na construção dos textos. Você vai perceber esse valor já, já, aguarde.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DO ARTIGO


Bom, depois da explicação anterior, você já deve ter deduzido que temos
então dois tipos de artigos na língua portuguesa: os definidos e os indefinidos.

127
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

Os definidos são: o, a, os, as (o professor, a professora, os professores,


as professoras).

Definem o substantivo, indicando que se trata de um ser conhecido (foi


mencionado antes ou porque dele se pressupõe um conhecimento prévio por
parte do leitor ou ouvinte). O artigo definido atribui ao ser um sentido preciso,
destacado, particularizando-o.

Os indefinidos são: um, uma, uns, umas (um professor, uma professora,
uns professores, umas professoras).

Atribuem um sentido indeterminado ao ser, referindo-se a ele de forma
genérica.

Os artigos podem combinar-se com as preposições (a, de, em, por),


gerando as formas a seguir:

2.2 EMPREGOS DO ARTIGO


Os artigos podem substantivar qualquer palavra a que se antepõem. Ou
seja, como o artigo é uma classe de palavra que acompanha o substantivo, sempre
que estiver diante de outras classes de palavras terá o poder de transformá-las em
substantivos.

Um não vindo de você espanta.

Para entender a capacidade que os artigos têm de substantivar qualquer


palavra a que se antepõem, é necessário, a partir de agora, que você identifique
as demais classes de palavras. Quando, na introdução, falamos para você que os
artigos guardavam segredos, não estávamos brincando.

Retomando o exemplo anterior, precisamos saber que não originalmente


é um advérbio de negação, lembra? Estudamos isso na Unidade 2. Mas, se antes
dele vier um artigo (definido ou indefinido), como em um não, não agora passa a
funcionar como substantivo. Se quisermos ir mais longe nesta análise, podemos
dizer também que estamos diante de um caso de derivação imprópria, já estudado
lá na Unidade 1.

Para você não ter mais dúvidas, veja outro caso:

128
TÓPICO 2 | ARTIGO

O olhar perdido e o corpo frágil indicavam que ela não estava bem.

A que classe de palavras olhar pertence? Pense um pouquinho, eu


olho, tu olhas, ele olha...? E então? A resposta é exatamente essa que você está
pensando, olhar é um verbo de primeira conjugação (-ar). Entretanto, na frase
que estamos analisando, olhar aparece depois de um artigo definido, portanto ali
o classificamos como um substantivo.

- Entre o numeral ambos e o substantivo a que ele se refere devemos


empregar o artigo definido:

Ambos os alunos precisavam dar explicações sobre sua ausência na prova.

- Após o pronome relativo cujo (cujos, cuja, cujas) não devemos empregar
artigo:

Este é o livro cujo autor é um grande amigo.

- Antes das palavras casa (no sentido de lar) e terra (no sentido de chão
firme) não devemos usar artigo, veja:

Aos domingos, eles ficavam em casa. (= moradia)


Os passageiros, depois do susto, preferiram ficar em terra. (= chão firme)

Porém, caso as palavras casa ou terra sejam especificadas, então usamos


artigos, assim:

Aos domingos, eles ficavam na casa da tia Lu. [na= em (preposição) + a


(artigo), a casa em questão foi especificada, é da tia Lu, certo?].

Os passageiros, depois do susto, preferiram ficar na terra dos vinhos e


dos queijos.

Antes da maioria dos nomes de lugar não usamos artigos, portanto, fique
esperto:

As férias seriam em São Paulo, onde havia muitas opções de diversão.

Ficamos em Portugal por dois meses.


Voltamos de Roma ontem.

Nos três exemplos anteriores, temos apenas preposições (em, de).

Agora, se você especificar esses nomes, então teremos a presença do


artigo:

129
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

As férias seriam na atraente São Paulo, onde havia muitas opções de


diversão.
Voltamos da histórica Roma ontem.

Nos dois casos, temos o encontro da preposição com artigo (na = em +a, da =
de +a).

Antes dos pronomes possessivos você pode usar ou não o artigo, isto é, é
facultativo o seu emprego nesta situação:

Roubaram meu carro./Roubaram o meu carro.


Não vi seu pai no jantar./ Não vi o seu pai no jantar.

No entanto, Cunha e Cintra (2008) apresentam alguns casos em que o


artigo não pode ser empregado com o possessivo. São eles:

a) Quando o possessivo é parte integrante de uma fórmula de tratamento ou de


expressões como Nosso Pai, Nossa Senhora, Nosso Senhor.

Sua excelência já virá atendê-lo.


Pedimos a Vossa Senhoria que se sente.

b) Quando o possessivo é parte de um vocativo:

Você sabe, meu filho, não consegui aquela vaga.


Ajude-me, minha mãe!

c) Quando o possessivo pertence a uma expressão já feita: em minha opinião, em


meu poder, a seu bel-prazer, por minha vontade etc.

E
IMPORTANT

Note que é crescente, na fala e em texto, o uso de Na minha opinião, que para
os autores Cunha e Cintra (2008) se constituiria em um erro.

d) Quando o possessivo vem precedido de um demonstrativo.

Não aguento mais esse teu jeito displicente de falar de nós.

Você já deve ter percebido que agora o conhecimento das classes


gramaticais já analisadas começa a ser requisito para as próximas. Veja, a ideia
não é decorar regras, mas sim entender o funcionamento das classes de palavras.

130
TÓPICO 2 | ARTIGO

Antes de nomes de pessoas geralmente não usamos artigos, a não ser que
haja a ideia de familiaridade ou afetividade, observe:

A Carla deve chegar um pouco atrasada hoje.


Priscila faltou e não justificou.
Carmem Miranda foi uma grande cantora brasileira.

Nos três exemplos anteriores, o único em que percebemos uma certa


intimidade é o primeiro. Provavelmente, Carla deve ser uma pessoa íntima
de quem fala. Já nos casos de Priscila e Carmem Miranda ocorre um certo
distanciamento, que não favorece o emprego do artigo.

No superlativo (lembra???) usamos artigo definido:

Não passei, porque queria as vagas mais disputadas.

No nome de jornais, obras literárias e revistas, se houver artigo, este não


deve se combinar com preposição:

Em O Estado de São Paulo estão publicados todos os escândalos do


governo. (Não podemos juntar em + o. O resultado seria No Estado de São
Paulo...)

O artigo pode assumir a função de pronome demonstrativo. Observe as


frases:

Permaneceu a semana inteira em casa.


Levarei produtos da região.

Nos dois exemplos o artigo, associado ou não à preposição que rege o nome
ou o verbo, assumiu a função de pronome demonstrativo. Em ambas as frases o
sentido é:

Permaneceu [esta ou aquela] semana inteira em casa.


Levarei produtos [desta] região.

Ao fazermos uso do nome dos meses, também não usamos o artigo, exceto
se o mês estiver qualificado, adjetivado.

As aulas terminam em dezembro.


No setembro primaveril, os campos se cobrem de flores.

Antes de datas devemos evitar o uso de artigos.

O parecer é de 25 de março de 2009.


Ela nasceu em 13 de abril de 1967.

131
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

Os nomes dos dias da semana vêm precedidos de artigo, principalmente


quando aparecem em plural.

Na segunda-feira tenho uma consulta médica.


Vai ao parque aos domingos pela manhã.

Nas designações de horas e com as expressões meio-dia e meia-noite não


usamos o artigo.

O relógio marcava onze e meia.


Já são dezoito e vinte e cinco.
É meia-noite.

Há, porém, uma exceção. Veja o que dizem Cunha e Cintra (2008, p. 233):

O artigo é, porém, de regra quando, antecedidas de preposição, tais


formas [horas] se empregam adverbialmente:
Já não se almoça às 9 da manhã
E não se janta às 4
(C. Drummond de Andrade, MA, 99)
Ao meio-dia já as águas do porto eram prata fundida.
(U. Tavares Rodrigues, JE, 47)

O artigo normalmente é empregado com expressões de peso e medida


quando associadas ao valor ou ao custo.

A mandioca custa R$ 2,00 o quilo.


Este tecido custa R$ 25,00 o metro.

Com a palavra outro, empregamos o artigo quando seu sentido for


determinado.

Enviamos dois convites: o primeiro era para o prefeito; o outro para o


governador.
Uma era alta, a outra bem baixa.

Não podemos nos esquecer do emprego dos artigos indefinidos, afinal, eles
são bastante utilizados em nosso idioma. Como já vimos antes, o artigo indefinido
apresenta um ser ou objeto ainda não conhecido do interlocutor (ouvinte ou leitor),
no entanto, há alguns empregos dessa classe de palavras que ultrapassam esse
conceito geral.

O artigo indefinido pode ser empregado diante de um substantivo para


referir-se a toda a espécie.

Espera-se que um homem aja com honradez.


Uma mulher deseja sempre ser amada.

132
TÓPICO 2 | ARTIGO

Quando empregado diante de um numeral cardinal, o artigo indefinido


indica aproximação numérica.
Andou cerca de uns doze quilômetros.

Neste mesmo sentido, indicando aproximadamente, pode ser empregado


diante da palavra meia.

Conversamos por uma meia hora.

O artigo indefinido pode ser utilizando antes de nomes próprios nas


seguintes circunstâncias:

a) Reforçar a semelhança ou diferença de alguém com uma personalidade, uma


figura conhecida da História, Arte, Ciência etc.

Marcos era um Apolo.

b) Indicar que o indivíduo é um símbolo em sua espécie ou classe.

Ele é um Ayrton Senna das rampas.

c) Indicar que o indivíduo pertence a uma determinada família.

Ele é um Bourbon e Bragança.

d) Indicar as obras de um artista (geralmente um pintor).

No museu estive diante de um Picasso.

e) Como ocorre com os artigos definidos, os indefinidos podem ser utilizados


diante de nomes geográficos quando estiverem qualificados.
Estávamos diante de um Brasil renovado e ambicioso.

Há casos em que devemos evitar o uso do artigo indefinido. São eles:

a) Antes dos pronomes demonstrativos igual, semelhante, tal.

Meu amigo usou semelhante argumento.

b) Antes de pronomes indefinidos certo, outro, qualquer, tanto.

Em outro momento poderemos conversar melhor.

Cunha e Cintra (2008, p. 255), no entanto, ressaltam que:

133
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

Advirta-se, porém, que algumas dessas formas, quando pospostas


a um substantivo, passam a ser outros adjetivos, caso em que se
constroem normalmente com artigo indefinido:
Ele disse uma coisa certa.
Quero um livro igual a esse.
Uma hora qualquer irei vê-lo.
Tens um modo semelhante de falar.

c) Antes de expressões indicativas de quantidade indeterminada, constituídas por


substantivos (coisa, gente, infinidade, multidão, número, parte, pessoa, porção,
quantidade, soma, etc.) ou por adjetivos (escasso, excessivo, suficiente etc.).

Havia grande número de pessoas na festa.


Ficou com boa parte do lucro.
Tenho escassos recursos para poder ajudá-lo.

O artigo pode indicar o gênero (masculino/feminino) e o número (singular/


plural) dos substantivos:

o repórter/a repórter, o lápis/os lápis


a rádio (empresa de radiodifusão)/ o rádio (aparelho).

Você já percebeu, estudando os dois primeiros tópicos desta Unidade 3, a


importância que o numeral e o artigo têm na Língua Portuguesa. Mas sua utilidade
não para nas páginas deste caderno. Costa Val (2004), no texto que sugerimos para
a complementação de seus estudos, analisa como essas duas classes gramaticais
auxiliam e interferem no processo de coesão textual. Esperamos que seja uma
leitura bem produtiva e que contribua para a complementação de seu conhecimento
sobre o assunto.

134
TÓPICO 2 | ARTIGO

LEITURA COMPLEMENTAR

COESÃO

A coesão diz respeito ao inter-relacionamento entre os elementos


linguísticos do texto. Aparentemente, a coesão já vem feita no texto e o ouvinte
ou leitor só tem que reconhecê-la. Mas, de fato, não é isso que ocorre: a coesão
também é coconstruída pelos interlocutores. A língua dispõe de vários recursos
com os quais os falantes podem indicar em seus textos as relações que pensaram
entre os elementos linguísticos, mas esses recursos apenas indicam, sinalizam,
instruem. Quem de fato estabelece a relação é o ouvinte ou leitor.

Vejamos como isso acontece, começando pela chamada “coesão nominal”,


que diz respeito aos processos anafóricos, aqueles com os quais se estabelece a
cadeia dos referentes textuais. Dois exemplos:

(1) Era uma vez, num país muito distante, um rei que tinha uma filha muito
amada, que vivia triste e não sorria nunca. Um dia, preocupado com a menina,
o rei decidiu convocar todos os seus súditos e (...)

(2) Uma vez, num congresso em São Paulo, entrei em um auditório lotado e
pensei ter reconhecido, de costas, um velho amigo de Recife. Não tive dúvida:
cheguei por trás e lhe dei um beijo na face. Um rosto completamente estranho
me olhou assustado, sorriu e retribuiu o beijo. Eu saí de fininho, como se nada
de mais tivesse acontecido. Ainda bem que o aluno da PUC era educado e teve
presença de espírito...

Os artigos definidos são um dos recursos de coesão nominal disponíveis


na língua portuguesa. Uma de suas funções é indicar que a informação que
introduzem é considerada pelo locutor como conhecida ou dada no texto. O
fragmento de texto (1), acima, exemplifica o uso considerado mais típico: as
informações novas são marcadas com artigo indefinido (um rei, uma filha) e,
uma vez apresentadas, quando retomadas são sinalizadas pelo artigo definido
(a menina, o rei). A relação de retomada não vem pronta no texto, mas apenas
sinalizada; quem a estabelece é o leitor.

No texto (2) acontece algo um pouco diferente, que torna mais fácil
compreender que a coesão não vem pronta, mas apenas sinalizada no texto. O
artigo definido em “o aluno da PUC” convida o leitor a tomar essa informação

135
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

como dada, conhecida, embora seja a primeira vez que ela aparece no texto. Para
entender o texto, o leitor deverá considerar essa marca linguística, relacioná-la
com os elementos anteriores “congresso”, “em São Paulo”, “auditório” e inferir que
o rapaz beijado por engano era aluno da PUC. A associação entre as expressões
“o aluno da PUC” e “um rosto completamente estranho” não está feita no texto, foi
produzida ‘na cabeça’ do autor e precisa ser estabelecida pelo leitor. Ao relacionar
essas duas expressões, o leitor está construindo a coesão, estabelecendo a cadeia
de referentes, a partir da qual ele produz a coerência e entende o texto.

O artigo definido – assim como os demonstrativos e os possessivos – são


recursos que sinalizam – dão instrução – para que o ouvinte/leitor considere o
termo que eles introduzem como informação dada no texto e, então, relacione esse
termo com algum elemento textual, que pode estar explicitado ou não. Diferentes
tipos de relação podem ser estabelecidos entre a expressão linguística marcada
com esses recursos e o outro elemento textual. Vejamos:

No exemplo (1), no caso de um rei/o rei, tem-se a retomada de um conceito,


indicada pela repetição da palavra (rei) marcada pelo definido (podia ser também
“esse rei”). A seguir, em uma filha/a menina, tem-se também uma retomada de
conceito, indicada pela substituição da palavra “filha” por outra que, nesse texto,
pode ser equivalente a ela e vem marcada com o artigo definido. A equivalência
entre os dois termos é resultado de uma escolha entre outras possibilidades
que a língua oferece e tem consequências na construção do sentido do texto:
dependendo do termo com que se retomasse “uma filha”, poder-se-ia indicar, além
da retomada, algumas características dessa personagem da história: sua classe e
status social (“a princesa”), sua idade (“a princesinha”, “a criança”, “a jovem”, “a
moça”), sua aparência física (“a linda princesinha”), traços de sua personalidade (“a
simpática menina”, “a infeliz criança”, “a bondosa princesinha”).

No exemplo (2), ao empregar “o aluno da PUC” (poderia ser também


“aquele aluno da PUC”), o locutor do texto sinaliza aos seus alocutários não só
a retomada de um elemento anterior (“um rosto completamente estranho”), mas
também a classificação desse elemento num grupo ou categoria (a categoria “aluno
da PUC”, que é diferente da de “professor da PUC”, ou de “estudante universitário”).
Essa expressão tem implicações específicas para a construção do sentido do texto,
diferentes das que teria, por exemplo, o uso de “o/aquele rapaz” .[...]

136
TÓPICO 2 | ARTIGO

Na aula de Português, levar o aluno a atentar para essas relações, na leitura,


contribui para a construção e a ampliação da compreensão; na escrita, favorece a
produção de textos mais elegantes, mais expressivos, mais interessantes.

FONTE: Extraído de: COSTA VAL, Maria da Graça. Texto, textualidade e textualização. In:
CECCANTINI, J. L. Tápias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal. Pedagogia Cidadã:
cadernos de formação: Língua Portuguesa. v. 1. São Paulo: UNESP, Pró-Reitoria de Graduação,
2004, p. 113-128.

137
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você estudou que:

• O artigo é uma palavra que vem antes do substantivo, determinando-o ou


generalizando-o (a mulher, uma mulher).

• Artigo indica o gênero e o número dos substantivos:


- o artista/ a artista, os artistas/ as artistas;
- a alface (substantivo feminino);
- o guaraná (substantivo masculino).

• Os artigos podem ser:


- Definidos: indica um substantivo único, específico (o, a, os, as).
- Indefinidos: generalizam, determinam o substantivo de modo impreciso,
vago (um, uma, uns, umas).

• Qualquer palavra precedida de artigo passa a pertencer à classe dos substantivos


(O triste é saber que não vamos mais nos ver). Triste originalmente é um
adjetivo.

138
AUTOATIVIDADE

1 Nas alternativas a seguir, verifique quais apresentam erro quanto ao uso do


artigo.

a) Fraturou o omoplata no acidente.


b) Os clientes cujas as senhas foram retiradas podem levar os produtos
escolhidos.
c) O presidente sempre citava Albert Einstein em seus discursos.
d) O omelete ficou muito salgado.

2 Indique o artigo que deve ser usado antes dos substantivos a seguir. A
consulta a um bom dicionário vai ajudá-lo(a):

a) ___ champanha b) ____ alvará c) ____ grama (unidade de peso)


d) ___ aguardente e) ____apêndice f) ____ alface

3 Leia o fragmento a seguir. Verifique qual palavra foi substantivada:

Usar o termo “elites” requer muito cuidado. É teme­rário empregá-lo como


se falássemos de uma entidade abstrata, bicho-papão para assustar — não
criancinhas, mas os tolos (LUFT, Lya. Veja, 10 ago. 2005, p. 24).

4 Em qual dos casos não temos artigo e sim um pronome?

a) ( ) Juntava o indicador e contraía o médio, para que se conservassem em


posição horizontal, movia-os ligeiramente. (Graciliano Ramos)
b) ( ) O espanto do farmacêutico foi grande. (Lima Barreto)
c) ( ) O desconhecido declarou chamar-se Fortunato Gomes da Silveira, ser
capitalista, solteiro, morador em Catumbi. (Machado de Assis)
d) ( ) Só a cabeça é que dizem que ficou na sepultura. (Bernardo Guimarães)

5 Comente o uso do artigo junto à palavra irmão no fragmento a seguir:



- [...] Estudávamos juntos, vivíamos juntos. Vou. Se não fosse, o homem havia
de reparar. Um irmão. Escovara e vestira a roupa menos batida. Isso de roupa
era tolice, mas afinal fazia uma eternidade que não via o amigo, o irmão, unha
com carne. (RAMOS, Graciliano. Dois dedos. In: TUFANO, Douglas (Org.).
Antologia do conto brasileiro: do Romantismo ao Modernismo. São Paulo:
Moderna, 1994, p. 62).

6 Considere a presença ou a ausência do artigo nas seguintes frases:

I. O governador visitou Florianópolis.


II. O governador visitou a Florianópolis das belas praias.
III. O governador visitou a Florianópolis.

139
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) A afirmativa I está correta.
d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.

7 A manhã era linda (A borboleta) veio por ali, modesta e negra, espairecendo
as suas borboletices, sob a vasta cúpula de um céu azul, que é azul para todas
as asas. Passa pela minha janela, entra e dá comigo. Suponho que nunca
teria visto um homem; não sabia, portanto, o que era o homem; descreveu
infinitas voltas [...]. (Machado de Assis).

Qual a diferença de sentido da palavra homem no fragmento?

8 Considerando o emprego do artigo, coloque C (certo) ou E (errado) nas


frases abaixo:

( ) As pessoas cujos os nomes constam da lista serão atendidas.


( ) Eu não concordo com a sua opinião.
( ) Eu não concordo com sua opinião.
( ) O professor sempre falava sobre o Cristóvão Colombo.

A sequência correta é:
a) CCEE.
b) ECEC.
c) ECCE.
d) CEEC.

9 Observe o uso do artigo nas seguintes frases:

I. “[...] perdia a sua musculatura estudando em Belém.”


II. “[...] até invejou o fumar do vaqueiro.”
III. “[...] dela a escola era um lombo de búfalo.”
IV. “De repente foi ouvido que andava pelo Por Enquanto uma pequena [...].”

Em quais das alternativas foi usado o recurso da substantivação?


a) ( ) Nas afirmativas I e II.
b) ( ) Nas afirmativas I e III.
c) ( ) Nas afirmativas II e III.
d) ( ) Nas afirmativas II e IV.

10 Em que alternativa o termo grifado indica aproximação?

a) ( ) Ao visitar uma cidade desconhecida, vibrava.


b) ( ) Tinha, na época, uns dezoito anos.
c) ( ) Ao aproximar de uma garota bonita, seus olhos brilhavam.
d) ( ) Não havia um só homem corajoso naquela guerra.

140
11 Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:

a) ( ) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.


b) ( ) Estes são os candidatos que lhe falei.
c) ( ) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
d) ( ) Muito é a procura; pouca é a oferta.

141
142
UNIDADE 3
TÓPICO 3

PRONOME

1 INTRODUÇÃO
Oi, chegamos a mais um tópico. Agora vamos estudar juntos os
pronomes. Inicialmente, vamos discutir o que é o pronome para depois conhecer
sua classificação, flexão, emprego, etc. Esta é mais uma classe de palavras com
importante função para o estabelecimento da coesão e da coerência textuais.

2 CONCEITO
O exemplo a seguir pode nos ajudar a entender com clareza o que são os
pronomes.

Exercícios físicos fazem bem à saúde, mas não devemos praticá-los sem
orientação médica.

A forma los substitui e representa o substantivo exercícios, portanto


ela é um pronome. Os pronomes são palavras que substituem ou acompanham
outras palavras, especialmente os substantivos. Podem ainda remeter a palavras,
orações e frases expressas anteriormente. Esta última função pode ser analisada
no fragmento a seguir:

[...] Mas os serviços também têm um evidente apelo comer­cial. Da mesma


forma que outras fer­ramentas que já eram oferecidas pelo Google e pelo MSN (e
também pelo Yahoo!), eles listam estabelecimentos comerciais para o usuário e
apontam sua localização. (Do espaço à loja da esquina. Veja, São Paulo, n. 32, p.
124, 10 ago. 2005).

Observe, no fragmento anterior, extraído da revista Veja, o pronome eles


remete o leitor para a palavra serviços, integrante da primeira oração.

E então, você já deve ter começado a entender como o pronome é


importante nos textos que produzimos a todo instante.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DO PRONOME


Existem sete espécies de pronomes:

143
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

a) Pronomes pessoais: denotam uma das pessoas do discurso.

 quem fala (o locutor): 1a pessoa: eu (singular) ou nós (plural);


 com quem se fala (o locutário): 2a pessoa: tu (singular) ou vós (plural);
 de quem ou do que se fala (o referente ou o assunto): 3a pessoa ele/ela (singular)
ou eles/elas (plural).

E
IMPORTANT

Você deve estar se perguntando em que situações o pronome vós é usado,


certo?
Bom, ele ainda é encontrado em textos bíblicos e em situações muito formais, como nos
textos jurídicos e políticos. Já nas situações cotidianas, emprega-se a forma vocês.

Falando ainda de pronomes pessoais, você deve lembrar que estes podem
ser retos ou oblíquos. Dizemos pronomes retos quando funcionam como sujeito
da oração e pronomes oblíquos quando funcionam como objeto (direto ou
indireto). Acompanhe-nos no quadro a seguir e você entenderá com bastante
facilidade essa divisão.

QUADRO 12 – PRONOMES PESSOAIS


Pronomes Pronomes Pessoais
Pessoais Oblíquos
retos Átonos Tônicos
Singular 1a pessoa eu me mim, comigo
2a pessoa tu te ti, contigo
3a pessoa ele, ela o, a, lhe si, ele, ela, consigo
Plural 1a pessoa nós nos nós, conosco
2a pessoa vós vos vós, convosco
3a pessoa eles, elas os, as, lhes si, eles, elas, consigo
FONTE: A autora

Sobre o quadro, fique atento, pois:

 as formas o, a, os e as:

Elas assumem as formas lo, la, los e las quando associadas a verbos
terminados em –r, –s ou –z. Veja os exemplos a seguir.

144
TÓPICO 3 | PRONOME

Disseram para mantê-lo vivo. (Disseram para manter ele vivo)


Fê-la estudar. (Fez ela estudar)

Observe que no exemplo anterior, a forma lo funciona como complemento


do verbo manter, portanto nesta função cabe o uso dos pronomes oblíquos. Você
também deve ficar atento(a) a outra alteração: manter é um verbo terminado em
–r, logo, ao se associar com a forma lo perde o –r.

Caso o verbo seja terminado em ditongo nasal (–am, –em, –ão, –õe) e se
associe com as formas o, a, os e as, estas assumem as formas no, na, nos e nas. Os
exemplos ilustram esse caso:

Mataram-na ontem. (Mataram ela ontem)
Vendem-no a preço de banana. (Vendem ele a preço de banana)

 os pronomes oblíquos reflexivos

São aqueles que se referem ao sujeito do verbo, veja:

Se você analisar os casos a seguir, verá que as formas nos, vos e se podem
exprimir também a reciprocidade da ação, ou seja, que a ação é mútua entre dois
ou mais indivíduos.

Gerentes e funcionários se cumprimentaram ao chegar.

b) Pronomes de tratamento: são usados para tratar com as pessoas. O tratamento


será familiar ou cerimonioso, conforme for a pessoa (cargo, título, idade) a
quem nos dirigimos.

145
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

QUADRO 13 – PRONOMES PESSOAIS

Tratamento Abreviatura Usado para


Você v. tratamento familiar, informal
Senhor, senhora Sr., Sra. tratamento de respeito, usado com
pessoas mais velhas que nós ou com
quem não há muita intimidade.
Vossa Senhoria V.S.ª pessoas de cerimônia, especialmente
na correspondência comercial; para
funcionários públicos graduados, oficiais
(até coronel) .
Vossa Excelência V. Ex.ª altas autoridades do governo e das
forças armadas.
Vossa V. Rev.ma sacerdotes em geral
Reverendíssima
Vossa Eminência V. Em.ª cardeais
Vossa Santidade V.S. Papa
Vossa Majestade V.M. reis e rainhas
Vossa Alteza V. A. príncipes, arquiduques, duques
Vossa V. Mag.ª reitores das universidades
Magnificência
FONTE: A autora

Esses pronomes usam as formas verbais e os pronomes possessivos de


3a pessoa, apesar de serem pronomes de 2a pessoa (aquela com quem falamos).
Observe:

Vossa Alteza deseja mais alguma coisa? (a forma verbal deseja está
empregada na 3a pessoa).

Sua Alteza retorna hoje? (o pronome sua refere-se à 3a pessoa, isto é, de


quem falamos).

Ainda sobre o emprego dos pronomes de tratamento da 2a pessoa,


vamos conversar um pouco sobre o uso de tu e você. Ambas as formas são
válidas, mas tu parece ser mais frequente em algumas cidades do Sul, do Norte
e do Nordeste. Nas demais regiões, o pronome de tratamento você é usado
como forma de intimidade ou também em situações de tratamento de igual
para igual ou de superior para inferior.

146
TÓPICO 3 | PRONOME

NOTA

Você já ouviu falar de variação linguística? É um tema muito interessante. No


nosso caso, há um estudo muito interessante sobre a variação entre o pronome nós e a gente.
Acesse o site: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44501998000200006&script=sci_
arttext>.
O artigo “Nós e a gente no português falado culto do Brasil” é de Célia Regina dos Santos
Lopes. Acreditamos que a leitura será enriquecedora.

E
IMPORTANT

Quanto ao uso de tu e você, na variedade padrão da língua, devemos ficar


atentos para não misturá-los: ou se usa tu (2ª pessoa) ou você (3ª pessoa).

c) Pronomes possessivos: são aqueles que indicam posse em relação às três


pessoas do discurso.

Podem aparecer sozinhos ou acompanhados de substantivos, sendo
chamados respectivamente de pronomes possessivos substantivos ou pronomes
possessivos adjetivos.

Exemplo:
 A nossa foi a melhor aposta. (pronome possessivo substantivo)

 A nossa aposta foi a melhor. (pronome possessivo adjetivo)

 Sua mesa precisa de uma faxina. (pronome possessivo adjetivo)

O Quadro 14 vai nos mostrar os pronomes possessivos com maior


detalhamento:

QUADRO 14 – PRONOMES POSSESSIVOS


Pronomes Possessivos
Singular Plural
Número Pessoa Masculino Feminino Masculino Feminino
1ª meu minha meus minhas
singular 2ª teu tua teus tuas
3ª seu sua seus suas
1ª nosso nossa nossos nossas
plural 2ª vosso vossa vossos vossas
3ª seu sua seus suas
FONTE: A autora
147
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

d) Pronomes demonstrativos: situam o(s) ser(es) em relação às três pessoas do


discurso. Esta localização pode ser no tempo, no espaço ou no próprio texto.
Conheçamos os pronomes demonstrativos no quadro a seguir:

QUADRO 15 – PRONOMES POSSESSIVOS


Pronomes Demonstrativos
Pessoas Variáveis Invariáveis
Masculino Feminino
Singular Plural Singular Plural
1ª este estes esta estas isto
2ª esse esses essa essas isso
3ª aquele aqueles aquela aquelas aquilo
FONTE: A autora

O quadro 15 mostra primeiro que há formas variáveis (este, esse, aquele,


etc.) e invariáveis (isto, isso, aquilo). Consequentemente, somente as formas
variáveis podem funcionar como pronomes adjetivos e pronomes substantivos.
Veja:

Esta casa onde moro é minha. (pronome demonstrativo adjetivo)


Aquele carro verde é o meu. (pronome demonstrativo substantivo)

Caro(a) acadêmico(a), outra importante consideração a ser feita sobre os


pronomes demonstrativos é que eles podem se combinar com as preposições de e
em, gerando as formas: deste, desta, disto; neste, nesta, nisto; desse, dessa, disso;
nesse, nessa, nisso; daquele, daquela, daquilo; naquele, naquela, naquilo.

O, a, os, as, mesmo, próprio, semelhante e tal também podem funcionar


como pronomes demonstrativos. Analise conosco os exemplos a seguir:

O que mais vendas fizer neste mês receberá um dia de folga. (o equivale
a aquele)
Ele já imaginava o que tais atos poderiam gerar. (tais equivale a esses)

Bom, caro(a) acadêmico(a), depois de estudarmos tantas classificações,


você, assim como um grande número de pessoas, já deve ter ficado em dúvida
quanto ao emprego de alguns pronomes demonstrativos, como este e esse. Vamos
detalhar um pouco esses usos.

 Este (e suas flexões): indicam o que está perto da pessoa que fala (1ª pessoa do
discurso). Também indicam tempo presente.

Preciso ler estas correspondências com urgência.


Estas pessoas devem ser atendidas hoje ainda.

148
TÓPICO 3 | PRONOME

 Esse (e suas flexões): indicam o que está perto da pessoa com quem se fala (2ª
pessoa do discurso). Também indicam tempo passado ou tempo futuro pouco
distante.

Por favor, organize essas correspondências que estão na sua mesa.


No próximo final de semana ocorre o segundo turno das eleições, essa
data é muito importante para o futuro do país.

 Aquele (e suas flexões): indicam o que está distante tanto da pessoa que fala
(1ª pessoa) como da pessoa com quem se fala (2ª pessoa). Expressam também
passado vago ou muito remoto.

Aquele carro no outro lado da rua é meu.
Naquele tempo, gostava muito de ir de casa para o colégio andando.

Quando usados no interior dos textos (falados ou escritos), percebemos
que:

 Este (s), esta (s): fazem referência a alguma coisa que ainda vai ser falada:
O tema do evento é este: liderança e gestão de pessoas.

 Esse (s), essa(s): fazem referência a alguma coisa que já foi dita:
Comprometimento, habilidades técnicas e pontualidade, são essas as exigências
para o cargo.

 Este e aquele: empregamos este em oposição a aquele quando fazemos


referência a algo que já foi dito. Este recupera a informação mais próxima e
aquele, a informação mais distante.

Inácio e Gustavo são os candidatos mais indicados ao cargo: este (refere-
se a Gustavo) demonstra iniciativa, aquele (Inácio) comprometimento.

e) Pronomes indefinidos: são aqueles que fazem referência à terceira pessoa do


discurso, de maneira vaga, indeterminada.

Alguém sempre aparece para interromper nossa concentração.


Nada atrapalha sua concentração.

Os indefinidos podem ser também pronomes substantivos (como nos
exemplos anteriormente comentados) ou pronomes adjetivos:

Certas pessoas não merecem nossa confiança.
Alguns alunos faltaram no exame de seleção.

Os pronomes indefinidos podem variar quanto ao gênero e número.
Temos, portanto, pronomes indefinidos:

149
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

 Variáveis em gênero e número: algum (alguma, algumas, alguns), nenhum,


todo, outro, muito, pouco, certo, vário, tanto, quanto.

 Variáveis em número: qualquer, quaisquer, qual, quais, bastante, bastantes.

 Invariáveis em gênero e número: alguém, ninguém, tudo, outrem, nada, cada,


algo.

Os pronomes indefinidos podem surgir na forma de locuções: cada qual,


cada um, qualquer um, qualquer outro, seja qual for, seja quem for, todo aquele
que etc.

f) Pronomes interrogativos: são aqueles empregados para fazer uma pergunta


direta ou indireta.

Como interrogativos, temos: que, quem, qual, quais, quanto (s), quanta (s).

Quem era responsável pelo envio do pedido?


Quantos dias já faz que a mercadoria foi enviada?
Que motivos daremos aos clientes para explicar o atraso?

g) Pronomes relativos: recebem este nome porque se referem a um termo anterior


(antecedente), fazendo ligação entre duas orações.

Observe estas duas orações:

Comprei o livro.
O professor pediu o livro.

Você percebeu a repetição de livro, certo? Se lembrarmos que a função dos


pronomes é substituir um nome (substantivo), evitando sua repetição, podemos
unir as orações acima e substituir livro por um pronome.

Comprei o livro que o professor pediu.

Agora, fica bem clara a função citada no início de nossas explicações


sobre pronomes relativos, certo? Dissemos “se referem a um termo anterior”, no
exemplo o relativo que se refere à palavra livro (termo anterior) e o representa,
evitando sua repetição.

Temos pronomes relativos variáveis e invariáveis. Para que você conheça
os relativos melhor, leia com atenção o quadro a seguir:

150
TÓPICO 3 | PRONOME

QUADRO 16 – PRONOMES RELATIVOS


Variáveis
Masculino Feminino Invariáveis
singular plural singular plural
o qual os quais a qual as quais que
cujo cujos cuja cujas quem
quanto quantos quanta quantas onde
FONTE: A autora

Os pronomes relativos podem ser antecedidos ou não das preposições (a,


com, de, em e por). Veja:

Doei alguns exemplares do livro que fiz à biblioteca. (sem preposição)
A escola a que você se referiu não tem mais vagas. (com preposição)

NOTA

Olha, você não precisa ficar preocupado, vamos falar sobre preposições nesta
unidade ainda. Mas, para você entender o exemplo anterior, é bom saber que a preposição
acompanha o verbo referir, no segundo exemplo.

Continuando o estudo sobre os pronomes relativos, é bom que você


compreenda o emprego de cada um deles. Para tanto, acompanhe-nos nas
explicações e exemplos a seguir.

 Que: é usado com referência a pessoas ou coisas. Pode ser substituído por o
qual, os quais etc.

Comprei o livro que o professor pediu.

Pode ser usado sem preposição (exemplo acima) ou com preposição:

Comprei o livro de que o professor falou.


O livro a que o professor se referiu é muito caro.
Conheço a cidade em que mora o autor do livro.

 Quem: é usado com referência a pessoas ou coisas personificadas e deve


aparecer precedido de preposição.

Estes são os clientes a quem nos referimos na última reunião.


As alunas de quem tanto os professores se queixam não vieram.

151
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

 Cujo: expressa relação de posse entre o antecedente e o termo que ele especifica.

O setor cujo gerente foi demitido teve baixa produtividade. (cujo


gerente = gerente do setor)
O eleitor cujo voto é fundamental não pode ser ingênuo. (cujo voto = voto
do eleitor)

 Quanto: é pronome relativo quando está depois de um dos pronomes
indefinidos tudo, tanto (s), tanta (s), todos, todas:

Traga tantos convidados quantos quiser.


Enviou tudo quanto era necessário para fazer a inscrição no concurso.

 Onde: é pronome relativo quando pode ser substituído por em que.

A faculdade onde estudo fica no centro da cidade. (onde = em que estudo)


A rua onde meus pais moram é muito movimentada. (onde = em que
moram)

Após termos estudado os pronomes e suas funções, que tal complementar


as informações com a leitura que estamos sugerindo? Ela é a continuação do texto
de Costa Val (2004) que você leu no tópico anterior e mostra como os pronomes
podem servir como mecanismos coesivos importantes para a construção do
sentido do texto. Boa leitura!

152
TÓPICO 3 | PRONOME

LEITURA COMPLEMENTAR

[...]

Partilhando com os artigos definidos, os demonstrativos e os possessivos


a função de sinalizar que devem ser conectados a um elemento anterior do
texto, os pronomes pessoais (retos e oblíquos) também são recursos linguísticos
importantes para a construção da cadeia de referentes textuais. [...]

Tradicionalmente, as gramáticas apontam como ‘corretos’ apenas os casos


em que o pronome concorda em gênero e número com o seu antecedente; no
entanto, não é esse o único uso que se verifica nas práticas linguageiras sociais.
Abaixo temos o caso mais tradicional:

• Meu sobrinho de cinco anos está cada dia mais esperto e engraçado. Outro dia
ele me pediu um presente de Dia das Crianças “rápido e sem burocracia”!!!

Já nos exemplos abaixo (a) e (b), temos exemplos usuais, embora não
‘canônicos’:

(a) No primeiro dia de aula, ela perguntou o nome de todo mundo, conversou, foi
muito simpática, mas já passou tarefa para casa.

(b) Tenho a maior gratidão a essa equipe médica, porque eles salvaram a vida do
meu pai.

Um exemplo como (a) pode ocorrer numa conversa cotidiana em que


o tema seja escola e o pronome “ela” seja usado pelo locutor mesmo sem que
antes ele tenha se referido à professora. As informações precedentes permitem ao
alocutário inferir que “ela” só pode ser a professora. O importante é que o ouvinte
realiza com rapidez e facilidade essa operação de inferência, em geral sem se dar
conta disso e sem reclamar que o texto está incompleto. Exemplos como esse são
bem mais frequentes no dia a dia do que a gente imagina.

Do mesmo modo, no caso (b) o ouvinte é “instruído” a realizar uma


operação mental que ultrapassa as formas linguísticas: conectar o pronome “eles”,
masculino e plural, com “essa equipe médica”, expressão substantiva no feminino

153
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

singular, priorizando outros conhecimentos, como o de que uma equipe é formada


por várias pessoas, entre as quais pode haver homens e mulheres. Esse tipo de
uso também é muito comum no nosso cotidiano.

FONTE: COSTA VAL, Maria da Graça. Texto, textualidade e textualização. In: CECCANTINI, J. L.
Tápias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal. Pedagogia Cidadã: cadernos de formação:
Língua Portuguesa. v. 1. São Paulo: UNESP, Pró-Reitoria de Graduação, 2004, p. 113-128.

154
RESUMO DO TÓPICO 3

Você lembra ainda o que é o pronome e suas classificações? Bem, caso


não, fique esperto(a), seguem alguns tópicos que vão ajudá-lo(a):

• Pronome: palavra que representa ou acompanha o substantivo.

Exemplo: Meu funcionário fez a solicitação, mas não a concluiu. (meu –


pronome que acompanha o substantivo funcionário; a – pronome que representa
o substantivo solicitação)

• Classificação:
a) Pronomes pessoais: se referem às pessoas do discurso. Dividem-se em:
- Retos (funcionam como sujeito): eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas.
- Oblíquos (complemento): me, mim, comigo, te, ti, contigo, se si, consigo,
o, a, lhe, ele, ela, nós, nos, conosco, vós, vos, convosco, se, si, consigo,
os, as, lhes, eles, elas.

b) Pronomes de tratamento: equivalem a pronomes pessoais e são utilizados para


designar o interlocutor. (Vossa Alteza, Vossa Eminência, Vossa Excelência,
Vossa Magnificência, Vossa Majestade, Vossa Santidade, Vossa Senhoria).

c) Pronomes possessivos: exprimem posse em relação a cada uma das pessoas do


discurso.[meu(s), minha(s), nosso(s), nossa(s), teu(s), tua(s), vosso(s), vossa(s),
seu(s), sua(s)].

d) Pronomes demonstrativos: são capazes de situar os seres no espaço e no


tempo, tomando como referência as pessoas do discurso. [este(s), esta(s),
esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s)].

e) Pronomes indefinidos: referem-se à 3a pessoa do discurso de modo vago,


indeterminado. (algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, certo, qualquer,
alguém, ninguém, algo).

f) Pronomes interrogativos: usados na formulação de uma pergunta direta ou


indireta. (que, quem, qual e quanto).

g) Pronomes relativos: referem-se a termos já expressos anteriormente,


substituindo-os na oração seguinte. (que, o qual, a qual, os quais, as quais,
quem, cujo, cuja, cujos, cujas, onde, quanto, quanta, quantos, quantas).

155
AUTOATIVIDADE

1 Verifique qual das alternativas traz a melhor união do par de frases usando
pronome relativo:

Perto da entrada da cidade vi uma moça.


Pedi à moça informações.

a) ( ) Perto da entrada da cidade vi uma moça e pedi a ela informações.


b) ( ) Perto da entrada da cidade vi uma moça a quem pedi informações.
c) ( ) Perto da entrada da cidade vi uma moça cuja informação pedi.
d) ( ) Perto da entrada da cidade vi uma moça que pedi informações.

2 Assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Veja o risco a que você se sujeita.


b) ( ) Antes da inauguração houve uma missa, quando todos se reuniram em
silêncio.
c) ( ) Conheço o diretor cuja empresa está falindo.
d) ( ) Os planetas são súditos em que o rei deles é o sol.

3 Complete com os pronomes relativos adequados ao contexto:

a) Ela não reagiu à ameaça _____lhe fiz.


b) Afastei-me da mesa de manipulação, sobre ______ havia vários produtos
químicos.
c) A funcionária a _______me dirigi estava muito bem informada sobre o
evento.
d) São perigosos os locais em _____ não há saídas de emergência.

4 Complete as frases a seguir com o demonstrativo adequado:

a) Preciso que você compre ______itens: papel A4, grampos e canetas.


b) ______semana que passou foi bastante tumultuada.
c) ______ pacote no depósito deve ser enviado ainda hoje para São Paulo.
d) Onde você comprou _______ lindo casaco?

5 Substitua o termo destacado por um pronome oblíquo nas frases abaixo:

a) ( ) Enviei o pedido ao cliente.


b) ( ) Enviei o pedido ao cliente.
c) ( ) Devo informar o gerente amanhã.
d) ( ) Obrigaram o colega a emprestar seu trabalho.

156
6 Assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Você está certo de que este pacote é para mim?


b) ( ) Não compre nada sem eu autorizar.
c) ( ) Você estará bem com nós.
d) ( ) Isto é muito importante para minha carreira.

7 Indique a única alternativa CORRETA:

a) ( ) Lígia, precisamos falar consigo.


b) ( ) Infelizmente, não me lembro da obra cujo autor você citou.
c) ( ) Não encontrei ele em lugar nenhum.
d) ( ) Juça e Renato são muito diferentes: aquela sempre calma; este sempre
agitado.

157
158
UNIDADE 3
TÓPICO 4

PREPOSIÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Olá, depois de você ouvir falar tanto sobre as preposições em tópicos
anteriores, chegou a hora de conhecê-las mais a fundo. Existem várias preposições,
que estabelecem as mais diversas relações. Você vai analisar as preposições
essenciais, acidentais, as locuções prepositivas, as combinações e as contrações.


2 CONCEITO

São formas linguísticas que não possuem independência, isto é, não podem
aparecer sozinhas no discurso. As preposições ligam duas palavras, assim:

Gosto de viajar nos finais de semana.

A preposição (de) faz a ligação entre gosto (termo principal) e viajar (termo
complementar). De une os termos, de modo que o sentido do primeiro (gosto) é
completado ou explicado pelo segundo (viajar). Veja outros casos:

Termo principal Preposição Termo dependente


Precisamos de ajuda
Entreguei para a secretaria
Sou contra a proposta
Falei sobre o assunto
Estive em casa

O termo complementar (ou dependente) pode também ser uma oração:

O professor referia-se a atitudes que deviam ser evitadas durante a aula.


Estou convencido de que a contratação do novo funcionário foi uma boa
ideia.

159
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

E
IMPORTANT

Ao longo do seu curso você vai estudar a sintaxe, isto é, uma parte da gramática
dedicada à compreensão da relação existente entre os termos que formam uma frase.
Nesta fase, certamente vamos falar sobre as preposições novamente, uma vez que elas
se antepõem a objetos indiretos, complementos nominais, adjuntos, enfim, conceitos que
serão explorados no momento certo. Agora, basta que você tenha bastante clareza do que
são e quais são preposições disponíveis na língua portuguesa.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES



As preposições podem ser divididas em:

a) Essenciais (ou simples): funcionam apenas como preposições.

a com em sem
ante contra entre sob
após de perante sobre
até desde por trás

b) Acidentais: palavras que podem às vezes funcionar como preposições.


 afora, conforme, consoante, segundo, durante, mediante;
 visto, exceto, fora, salvo, senão etc.

c) Locução prepositiva: grupo de palavras que podem funcionar como


preposições. São formadas de um advérbio seguido de preposição. A seguir
trazemos para você algumas delas:

abaixo de antes de debaixo de entre frente a


acerca de ao lado de de cima de em lugar de
acima de ao redor de depois de graças a
a fim de ao par de embaixo de para baixo de
além de a respeito de em cima de por causa de
apesar de atrás de entre frente de por detrás de

d) Combinações e contrações: as preposições a, com, de, em, para, por podem


unir-se com outras palavras (artigo, pronome ou advérbio), formando
combinações e contrações.

A combinação ocorre quando a preposição se liga com outras palavras e
não há perda de fonema.

160
TÓPICO 4 | PREPOSIÇÃO

Obedeceu ao regulamento. (a - preposição + o -artigo= ao)


Não sei aonde vai com tanta pressa. (a – preposição + onde –
advérbio=aonde)

A contração gera perda de fonema na ligação entre a preposição e outras


palavras.

Nesta região fala-se muito ainda o alemão. (em – preposição + esta –


pronome = nesta)

Fui à palestra. (a – preposição + a – artigo = à)

É importante você ficar atento(a) quando a preposição a se unir ao artigo


a ou aos pronomes a, aquele, aquilo, pois nestes casos temos um tipo especial de
contração, a famosa crase. Você já deve ter ouvido falar dela, certo? A ocorrência
de crase aparece marcada pelo uso do acento grave na escrita.

Fui à palestra. (a – preposição + a – artigo = à)


Entreguei àquele rapaz os documentos. (a – preposição + aquele – pronome
= àquele)

2.1.1 Aprofundando a crase


A palavra crase, de origem grega (krásis), significa fusão, mistura. Na
gramática a palavra é utilizada para designar a contração que ocorre entre o a
(preposição) e o a (artigo ou inicial de pronomes demonstrativos).

a) Preposição a com os artigos definidos a, as

Observe os seguintes exemplos:

Irei à escola pela manhã.

Dedico-me às tarefas domésticas.

Nos dois casos o acento grave (`) indica que houve uma fusão entre o a
(preposição) e o a (artigo), portanto, ocorreu o fenômeno chamado de crase.

Originalmente as frases seriam:

161
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

Irei a a escola pela manhã.


Verbo ir pede a preposição a Escola é substantivo feminino que
permite o uso do artigo definido a.

Dedico-me a as tarefas domésticas.


Verbo dedicar-se pede a preposição a Tarefas é substantivo que permite o uso
do artigo definido as.

Como ficaria muito estranho usar as frases da forma como vimos


anteriormente, estabeleceu-se o uso da contração, portanto, da crase.

E
IMPORTANT

Você já deve ter percebido que somente haverá crase, no caso que acabamos
de mencionar, se o verbo for regido por uma preposição a e na sequência vier um substantivo
feminino que permita o uso dos artigos definidos a, as.

b) Preposição a com pronomes demonstrativos aquele (s), aquela(s), aquilo.

A crase também ocorre quando aparecem seguidos na frase uma


(preposição) e um a (início de pronome demonstrativo).

Veja os exemplos:

Não irei àquela comemoração.


Recomeçamos a caminhada, rumo àquele pico.

Originalmente as frases citadas seriam assim:

Não irei a aquela comemoração.


Verbo ir é regido pela preposição a Pronome demonstrativo aquela.

Recomeçamos a caminhada, rumo a aquele pico.


A palavra rumo é regida pela preposição a Pronome demonstrativo aquele.

162
TÓPICO 4 | PREPOSIÇÃO

Perceba que para que não haja uma repetição de duas letras iguais, ocorre
a contração ou a crase.

Casos em que não ocorre crase:


a) Diante de palavras masculinas.

Isso cheira a vinho.

b) Diante de substantivos femininos usados em sentido geral e indeterminado:

Não vai a festas nem a reuniões.


Contei o caso a certa senhora supersticiosa.

Note que nos exemplos mencionados os substantivos femininos são usados


em sentido geral.

c) Diante de nomes de parentesco, precedidos de pronome possessivo:

Recorri a minha mãe.


Farei uma visita a nossa avó.

d) Diante de nomes próprios que não aceitam o artigo:

Fiz uma promessa a Santa Teresinha.


Iremos a Curitiba.

e) Diante da palavra casa, no sentido de lar, domicílio, quando não acompanhada


de adjetivo ou locução adjetiva:

Voltamos a casa.

Agora observe a frase:


Voltamos à casa de nossos pais.
Neste caso ocorre a crase porque a palavra casa está especificada por
uma locução adjetiva.

E
IMPORTANT

Quando a palavra casa for utilizada no sentido de estabelecimento comercial ou


hospitalar, residência oficial de chefe de Estado ou dinastia, será obrigatoriamente precedida
de crase.
O presidente americano regressou à Casa Branca (residência oficial). O príncipe pertencia à
Casa de Bourbon e Bragança. (dinastia)

163
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

f) Locuções formadas por repetição da mesma palavra:

Estiveram frente a frente durante todo o debate.

g) Diante do substantivo terra, quando este estiver em oposição a bordo ou a mar:

Os marinheiros tinham descido a terra para visitar a cidade.

h) Diante de artigos indefinidos, pronomes pessoais (excetuando-se os pronomes


de tratamento senhora e senhorita) e pronomes interrogativos:

Chegamos ao parque a uma hora muito delicada.


Referiu-se a mim na palestra.
Solicito permissão a Vossa Excelência.
A qual delas você se refere?

i) Diante de numerais cardinais referentes a substantivos não determinados pelo


artigo, usados em sentido genérico:

Presidente inicia visita a dez países europeus.


Daqui a três semanas muita coisa terá mudado.
O número de aprovados não chega a doze.

j) Diante de verbos:

Estamos dispostos a trabalhar.


Começou a chover.

E
IMPORTANT

Lembre-se de que o uso de artigo diante de pronomes possessivos é opcional,


portanto, torna-se possível, aceitável e correto não encontrar crase diante desta classe
gramatical.
Referiu-se a (à) minha viagem.

Ainda é importante lembrar algumas locuções que obrigatoriamente


usam crase.

Optamos por colocar uma lista bem completa para que você possa
consultar sempre que tenha dúvidas.
à altura (de)
à americana

164
TÓPICO 4 | PREPOSIÇÃO

à argentina à paisana
à baiana à passarinho
à baila à paulista
à base de à porta
à beça à praia
à beira (de) à primeira vista
à beira-mar à procura (de)
à brasileira, à proporção que
à caça (de) à prova
à cata (de) à prova d’água
à custa (de) à prova de fogo
à deriva à queima-roupa
à disposição à razão (de)
à entrada (de) à raiz
à escolha (de) à rédea curta
à espera (de) à retaguarda
à espreita (de) à revelia
à exaustão à risca
à evidência à saúde de
à flor da pele às cegas
à francesa às claras
à feição às costas
à força à semelhança de
à frente às escondidas
à guisa de às escuras
à imitação de às favas
à janela às gargalhadas
à larga às lágrimas
à livre escolha às mil maravilhas
à Luís XV às moscas
à mão às ocultas
à mão armada à sombra (de)
à máquina às ordens (de)
à margem (de) à sorte
à medida que às portas de
à meia-noite às pressas
à mercê (de) às vésperas (de)
à mesa às vezes
à mesma hora à tarde
à milanesa à toa
à míngua (de) à tona (de)
à minha espera à traição
à moda (de) à venda
à maneira à vontade
à morte chegar à conclusão
à mostra dar à luz
à noite dar a mão à palmatória

165
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

dar vazão à mãos à obra


de uma ponta à outra marcha à ré
de frente à passar à frente
exceção à regra pôr à mostra
falar à razão pôr à prova
faltar às aulas tirar à sorte
graças às voltar à carga
ir à forra voltar à cena
ir às compras voltar às boas
ir às nuvens à esquerda
jogar às feras à direita
mandar às favas à risca

Agora que já vimos o uso da crase em profundidade, podemos retornar


às preposições.

2.2 VALORES DAS PREPOSIÇÕES


As preposições, como dissemos a você no início, podem estabelecer
diferentes relações de sentido. Para ilustrar esse conceito, leia o exemplo abaixo:

O carro de Luana está aqui.


Chegou de São Paulo muito cansado.

No primeiro exemplo, o de faz ligação entre os termos carro e Luana,
certo? Mas que relação de sentido é possível percebermos? É a relação de posse (o
livro pertence a Luana) entre as palavras ligadas por meio da preposição.

Agora não pense que o de sempre expressará a ideia de posse. É preciso


observar o contexto, pois no exemplo seguinte (Chegou de São Paulo...), a
preposição em estudo indica origem. Portanto, não aconselhamos você a sair
decorando a lista de sentidos possíveis e sim a analisar a oração em que a
preposição foi empregada.

Vamos verificar agora outros sentidos expressos pelas preposições.



a) Assunto: Os candidatos não falaram sobre seus projetos.

b) Causa: Morreu de sede./ Estávamos cansados de correr./ Com a chuva,


perdemos a plantação.

c) Companhia: Almocei com clientes.

d) Direção: Olhe para os lados antes de atravessar.

e) Direção contrária: Protestou contra a decisão.

166
TÓPICO 4 | PREPOSIÇÃO

f) Distância no espaço: Daqui a um quilômetro estou em casa.

g) Especialidade: Graduou-se em Letras.

h) Fim: Estudou bastante para passar no vestibular.

i) Falta: Sem verbas não há como reformar o teatro da cidade.

j) Instrumento: Cortou o pé com a foice./ Corrigiu as provas a caneta.

k) Lugar: Estou em Porto Alegre./ O relatório está sobre a mesa./Foi à cidade


cedo./Passou por regiões pobres.

l) Matéria: Comprou uma mesa de mármore./ Queria um vestido de cetim.

m) Meio: Retornei de ônibus.

n) Modo: Ficou à vontade./ Sirva-se sem cerimônia./Falava com calma./Foram


organizados em ordem alfabética.

o) Origem: Chegou de Manaus ontem.

p) Tempo: Às duas horas começamos./De manhã é melhor para caminhar.

Você leu com atenção os valores que uma mesma preposição pode indicar?
Não?, pois então volte à lista e perceba que a preposição com, por exemplo,
pode expressar causa, companhia, instrumento e modo. Este fato mostra que
precisamos ficar atentos ao contexto e não preocupados em decorar conceitos.

Vimos, ao longo deste tópico, o conceito, as funções e a importância do


uso das preposições, procurando, inclusive, aprofundar o uso da tão questionada
crase. Por isso, acreditamos que seria muito proveitoso que você lesse o texto de
Queilla Moraes (2009) que apresenta uma discussão interessante sobre o uso (ou
desuso) da preposição a em nossa língua. Vale a pena refletir sobre as questões
que a autora coloca. Boa leitura!

167
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

LEITURA COMPLEMENTAR

(DES) USO DA PREPOSIÇÃO “A” NO PORTUGUÊS DO BRASIL

Queilla Moraes

A preposição “a” deriva do latim “ad” e significa primordialmente “um


movimento em aproximação”. Dessa noção de movimento visando um objetivo
derivou uma ideia de intensidade e um interesse afetivo, que até hoje subsistem em
alguns casos, como em: Amar a Deus, Querer a alguém, cuja preposição exprime
uma relação direta entre sujeito e objeto.

Ao longo do tempo foi ganhando novos significados e, atualmente, é


classificada pela gramática tradicional como uma preposição essencial, ou seja,
que sempre desempenha função de preposição – ligar duas palavras ou termos.
(MESQUITA, 1999, p. 361). Além disso, rege uma enorme quantidade de nomes e
verbos e é utilizada para estabelecer relações de:

• Objetividade: Peço a Deus que me ajude.


• Direção/movimento: Quero ir a São Paulo.
• Modo: Vítor adora andar a cavalo.
• Situação: Quando cheguei, ela estava à janela.

É também a mais comum e menos especificativa de todas as preposições,


pois exprime quase todas as relações existentes entre as palavras, podendo
substituir várias outras.

No entanto, apesar da infinidade de casos em que pode ser utilizada,


acontece no português do Brasil exatamente o contrário: ao invés de substituir,
vem sendo substituída.

É cada vez mais frequente, tanto na língua falada quanto na escrita, nos
depararmos com sentenças (condenadas pelos gramáticos como incorretas) em
que ocorre a substituição de “a” por “para”, “em” e “de”.

De acordo com Bagno (2001, p. 145), essa substituição pode ser explicada
pelo fato de não haver na fonética brasileira distinção entre a preposição simples
“a” e a combinada com o artigo, que resulta a crase “à”, podendo assim causar
riscos de ambiguidade, como em: Recomendei a professora à escola, que permite ao
leitor/ouvinte duas possibilidades de interpretação “A professora foi recomendada
à escola”, que seria o verdadeiro sentido, ou

“A escola foi recomendada à professora”. Para eliminar essa ambiguidade


o falante, involuntariamente, substitui a preposição “a” por “para”: A professora
foi recomendada para a escola, o que funciona, ao mesmo tempo, como um recurso
para livrar-se do uso da crase, uma das grandes dificuldades de nós brasileiros.

168
TÓPICO 4 | PREPOSIÇÃO

Ainda segundo este autor, outra hipótese para a substituição da preposição


“a” seria o fato da existência de mais de dois itens gramaticais com mesma
pronúncia, o artigo feminino A, coincidentemente com igual grafia, e a forma verbal
Há (Haver). Novamente, com a intenção de eliminar as possíveis dificuldades
causadas por esses homônimos, o artigo feminino é preservado, substitui-se Há por
Tem e a preposição por outras, conforme o verbo e a situação. Consequentemente,
tudo isso acarreta um crescente declínio do uso dessa preposição, que está ficando
cada vez mais restrita à escrita formal.

Percebe-se, portanto, que a troca da preposição “a” por outra ocorre com
variados tipos de verbos: estáticos, indicadores de repouso, situação (Estava
falando no telefone / Estava falando ao telefone), com verbos indicadores de
movimento (Vou no mercado / Vou ao mercado), com verbos indicadores de
sentido/destino (Emprestei o livro para João / Emprestei o livro a João), com verbos
que indicam meio ( Andei de cavalo / Andei a cavalo). Porém, em alguns casos,
de tão estigmatizada, acaba sendo utilizada pelos falantes como frase feita, Como
em: Andar a cavalo/Andar a pé.

Este declínio do uso da preposição “a” não significa dizer que acontece pelo
simples fato de o falante não saber utilizá-la. O que ocorre é apenas um reflexo da
linguagem informal, ou seja, apesar de conhecerem a forma correta, muitos falantes
dão preferência à forma que consideram mais fácil de ser entendida, que já estão
acostumados e que acontece com mais frequência em seu cotidiano. Porém, esse
constante apego à linguagem falada e corriqueira pode acarretar deslizes quando
for necessário recorrermos à linguagem escrita formal.

BIBLIOGRAFIA

MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. 8. ed. São Paulo:


Saraiva, 1999.

BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo:


Parábola, 2001.

FONTE: MORAES, Queilla. (Des) Uso da preposição “A” no português do Brasil. Publicado em
12 mar. 2009. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/15494/1/Des-Uso-da-
Preposicao-a-no-Portugues-do-Brasil/pagina1.html#ixzz123OFseEM>. Acesso em: 5 out. 2010.

169
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, vimos que:

• Preposição: palavra que liga dois termos da oração, estabelecendo entre eles
relações de dependência e de sentido.
Agiu com cautela.
Precisa de ajuda.

• As preposições dividem-se em:


- essenciais (a, antes, contra, de, desde, perante, sob, sobre);
- acidentais (conforme, exceto, salvo);
- locuções prepositivas (abaixo de, junto de);
- combinação (ao, aos, aonde);
- contração (da, dessa, naquele).

Ainda sobre a contração, há o caso da crase: contração, fusão do a


(preposição) com o a (artigo ou início de pronome demonstrativo), representada
pelo acento grave (`).

• Os valores das preposições são: assunto, causa, companhia, direção, direção


contrária, distância no espaço, especialidade, fim, falta, instrumento, lugar,
matéria, meio, modo, origem, posse e tempo.

170
AUTOATIVIDADE

1 Analise a relação estabelecida pelas preposições e assinale a alternativa


CORRETA:

I. Ela ficou ainda mais deprimida com a notícia da morte do pai.


II. O projeto foi feito com a colaboração de todos.
III. Com as velhas ferramentas, trabalhava nas casas.

a) ( ) Causa – companhia – causa.


b) ( ) Causa – modo – instrumento.
c) ( ) Companhia – modo – instrumento.
d) ( ) Tempo – modo – lugar.

2 Saiu às pressas.
Na frase acima, a preposição destacada expressa uma determinada relação.
Verifique qual das alternativas a seguir estabelece essa mesma relação.

a) ( ) Acharam o carro de Beatriz.


b) ( ) Enjoo quando viajo de ônibus.
c) ( ) Ficou sem um centavo.
d) ( ) Fazia o atendimento de crianças e idosos com atenção e carinho.

3 “Sentado num banco de pedra, José Alferes sente aumentar sua irritação
pelas lisonjas, as apresentações cerimoniosas, os gestos delicados. Rejeitava
firme, às vezes duro, novas solicitações para aderir aos grupos de criaturas
cativantes e vazias.” (RUBIÃO, Murilo. O convidado. In: TUFANO, Douglas
(Org.). Antologia do conto brasileiro: do romantismo ao modernismo. São
Paulo: Moderna, 1994, p. 82).

3.1 Sobre o fragmento acima, as formas num, pelas, aos, de podem ser
classificadas como:

a) ( ) Contração – contração – preposição acidental – combinação.


b) ( ) Combinação – combinação – contração – preposição acidental.
c) ( ) Contração – contração – combinação – preposição essencial.
d) ( ) Locução prepositiva – contração – combinação – preposição essencial.

3.2 Ainda sobre o fragmento, verifique qual relação de sentido é estabelecida


pelas preposições em: “banco de pedra” e “irritação pelas lisonjas”:

a) ( ) Fim e causa.
b) ( ) Tempo e modo.
c) ( ) Instrumento e matéria.
d) ( ) Matéria e causa.

171
4 Assinale a opção em que o “a” sublinhado nas duas frases deve receber
acento grave indicativo de crase:

a) ( ) Bateram a porta e fui atender. / O carro entrou a direita da rua.


b) ( ) Pedimos silêncio a todos. Pouco a pouco, a praça central se esvaziava.
c) ( ) Esta música foi dedicada a ele. / Os romeiros chegaram a Bahia.
d) ( ) Fui a Lisboa receber o prêmio. / Paulo começou a falar em voz alta.

5 Chegar ao desrespeito ...... propriedade privada, na cidade e no campo, e


...... um eventual não cumprimento de contratos, pode levar ...... ruptura das
instituições democráticas vigentes no país.

As lacunas da frase acima estão corretamente preenchidas por:


a) ( ) à – à – à.
b) ( ) à – à – a.
c) ( ) a – à – a.
d) ( ) à – a – à.

6 O Brasil é um país favorável ...... ascensão social, ao contrário dos países


ricos, onde quem chega ...... uma posição social de prestígio já parte de
condições favoráveis ...... essa situação.

As lacunas da frase apresentada acima estão corretamente preenchidas por:


a) ( ) a – a – à.
b) ( ) a – à – à.
c) ( ) à – a – a.
d) ( ) à – à – à.

7 Está correto o emprego do sinal de crase em:

a) ( ) Quem recorre às escolas de jornalismo deve saber que terá acesso apenas
às informações básicas acerca da profissão.
b) ( ) Não dá para ensinar jornalismo à todo aquele que se dispõe à fazer o
curso.
c) ( ) Ocorrendo à falta de talento, um diplomado não terá acesso à nenhum
órgão da imprensa.
d) ( ) Instituindo-se à obrigatoriedade do diploma, muitos profissionais
competentes poderão ficar à ver navios.

8 Não nos víamos ..... tanto tempo, que ..... primeira vista não ..... reconheci.

a) ( ) a – à – a.
b) ( ) a – à – há.
c) ( ) há – à – a.
d) ( ) há – a – há.

172
9 A população de miseráveis não tem acesso ...... quantidade mínima de
alimentos necessária ...... manutenção de uma vida saudável, equivalente
...... uma dieta de 2000 calorias diárias.

A alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase apresentada é:


a) ( ) a – à – a.
b) ( ) à – à – a.
c) ( ) à – à – à.
d) ( ) à – a – a.

173
174
UNIDADE 3
TÓPICO 5

CONJUNÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Existem classes de palavras na língua portuguesa capazes de estabelecer
relações entre as palavras, são as chamadas palavras relacionais. Acabamos
de estudar a classe que faz ligação entre duas palavras, isto é, as preposições;
agora, conheceremos a classificação e o funcionamento das conjunções, que ligam
palavras e orações. As conjunções desempenham um papel fundamental nos
textos que produzimos e lemos todos os dias, você vai perceber...

2 CONCEITUANDO
Conjunção é uma palavra invariável (não sofre flexão, lembra?), cuja
função é relacionar orações ou dois termos dentro da mesma oração. Vamos
exemplificar para entender melhor a função das conjunções:

A carreira e a família eram suas preocupações.

Neste primeiro exemplo, a palavra e está ligando dois termos da mesma


oração, certo? Por isso, podemos chamá-lo de conjunção. Já o mas, no exemplo
abaixo, liga duas orações.

Estudei muito, mas não passei.

Para você entender:

 Frase:unidade de texto que possui sentido completo (Que bom!, Quietos!,


Socorro!, Sou feliz!). A frase pode ou não ter um verbo. Veja que, dentre os
exemplos, apenas em sou feliz há verbo.

 Oração: é o enunciado que se organiza ao redor de um verbo. Pode ou não ter


sentido completo. (Cheguei cansado ontem./ Nunca tomo café ou almoço em
casa).

 Período: é formado por uma ou mais orações. Descobrimos o número de


orações que um período possui conforme o número de verbos presentes na
frase.

175
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

Você precisará destes conceitos para entender o funcionamento das


conjunções. Não nos aprofundaremos muito neles porque fazem parte da sintaxe,
uma outra parte da gramática que você estudará ao longo do curso.

Bom, voltando à análise do exemplo com a palavra mas, percebemos que


ali existem dois verbos (estudei e passei), isto é, duas orações (lembre-se, toda
oração tem verbo!) ligadas pelo mas, que é uma conjunção.

E então, entendeu? É isso mesmo que você está pensando, conjunções


podem ligar tanto palavras quanto orações. Ao fazerem estas ligações, as
conjunções podem relacionar orações que não dependam uma da outra ou que
sejam dependentes. Essa (in)dependência vai nos levar a estudar a classificação
das conjunções.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES


As conjunções podem ser classificadas em coordenativas e subordinativas.
Nas seções a seguir vamos poder verificar cada grupo.

2.1.1 Conjunções coordenativas



São aquelas que reúnem orações independentes umas das outras.

A internet informa e diverte.



A conjunção e liga as orações (há duas, certo? pois temos dois verbos –
informa /diverte), porém entre elas não existe relação de dependência. Veja que a
segunda oração (diverte) não completa o sentido da primeira (a internet informa).
Por isso, podemos dizer que e é uma conjunção coordenativa.

Como sua função é unir elementos independentes, unidades menores de
mesmo valor funcional também podem ser “conectadas”:

A alegria e a tristeza habitam nossos corações. (dois substantivos)


Ele e ela formam um belo casal. (dois pronomes)
Ele e Nádia sumiram. (um pronome e um substantivo)
Bonito e inteligente. (dois adjetivos)
Hoje e amanhã. (dois advérbios)

Para você entender bem: alegria e tristeza são dois substantivos (portanto,
têm o mesmo valor funcional) e estão conectados pela conjunção e, assim como
os demais exemplos.

176
TÓPICO 5 | CONJUNÇÕES

As relações estabelecidas entre as palavras ou orações podem ser de:

a) Adição: estabelece uma relação de soma entre as palavras ou orações.


Algumas conjunções aditivas: e, nem, mas também, mas ainda, senão também,
como também, bem como.

A alegria e a tristeza habitam nossos corações.


Ele ainda não falava nem andava.
Escondeu recibos bem como desviou verbas.

b) Adversativas: indicam uma relação de oposição, contraste, ressalva,


compensação.
Algumas conjunções adversativas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto,
no entanto.

Queria casar, entretanto não tinha dinheiro.


Veio, mas foi embora cedo.
Estava ali, porém seus pensamentos não.

c) Alternativas: expressam uma relação de separação, exclusão ou


incompatibilidade.
Algumas conjunções alternativas: ou, ou...ou, ora...ora, já...já, quer...quer.

Estude ou trabalhe!
Ora pulava ora gritava ao saber do resultado.

d) Conclusivas: introduzem uma oração que expressa conclusão em relação à


anterior.
Algumas conjunções conclusivas: logo, portanto, pois (no meio ou no fim da
oração), por isso.

Preparou-se muito para a entrevista, portanto deve ir bem.


Esperei uma hora, logo pensei que você não viria.

e) Explicativas: a segunda oração é introduzida por uma conjunção que explica


ou justifica o que se disse na primeira.

Algumas conjunções explicativas: pois (anteposto), que, porque.

Precisava relaxar, pois estava muito estressado.


Queria a informação cedo, porque a reunião era às 14h.

177
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

2.1.2 Conjunções subordinativas


A relação que se estabelece entre duas orações unidas por uma conjunção
subordinativa é a de subordinação: uma oração é chamada principal e a outra
subordinada. Veja:

Como estava doente, não veio à aula.

A primeira oração (principal) depende da segunda (subordinada) para ter


sentido completo.

As conjunções subordinadas, exceto as integrantes, introduzem orações


adverbiais, classificadas como: causais, comparativas, concessivas, condicionais,
conformativas, consecutivas, finais, temporais.

É hora de analisarmos uma a uma, entretanto mais importante do que


decorar a nomenclatura é perceber o efeito de sentido que as conjunções produzem
no texto. Você perceberá que o que dizemos é verdade quando se deparar com
algumas conjunções que podem pertencer a mais de uma classe. Neste caso, o
valor expresso pela conjunção vai depender do contexto em que for usada.

NOTA

Ah, antes que nos esqueçamos, não se espante, as conjunções podem


aparecer antecedidas de advérbios, de preposições e de particípios, sendo chamadas então
de locuções prepositivas.

a) Causais: iniciam uma oração que exprime causa.

Algumas delas são: porque, pois, como, visto que, uma vez que, já que etc.

Como estava doente, não veio à aula. (a causa para faltar à aula foi a
doença)
Já que você não veio, fui dormir cedo.
Fui dormir cedo, porque você não veio.

b) Comparativas: iniciam orações que representam o segundo membro de uma


comparação.

Algumas delas: como, que, do que (depois de mais, menos, maior, menor,
melhor, pior), qual (depois de tal), assim como, bem como etc.

178
TÓPICO 5 | CONJUNÇÕES

O impacto da política em nossas vidas é maior do que imaginamos.


Gostava de trabalhar na cidade assim como seu pai amava a vida no
campo.

c) Concessiva: introduzem orações que expressam um fato contrário à ação


principal, porém incapaz de interrompê-la.

Algumas delas: embora, ainda que, mesmo que, se bem que, apesar de
que etc.

Realizaria a compra, mesmo que tivesse que recorrer a empréstimos


bancários.
Ainda que trabalhasse o dia inteiro, não perderia a festa.

d) Condicional: iniciam orações que indicam uma condição para que o fato
expresso na oração principal ocorra.

Algumas delas: se, caso, contanto que, desde que, a não ser que, salvo se.

Se chover, não iremos ao evento.


Não compraremos mais o produto, a menos que o prazo de pagamento
seja ampliado.

e) Conformativa: iniciam uma oração que expressa uma relação de conformidade


com o fato indicado na oração principal.

Algumas delas: conforme, segundo, como.

Segundo o diretor de esportes, os jogos foram adiados.


Configuramos o computador, como recomendavam as instruções do
manual.

f) Consecutivas: iniciam uma oração que expressa uma consequência do que foi
declarado na oração principal.

Algumas delas: que (associado com tal, tanto, tão, tamanho), de forma
que, de maneira que, de modo que etc.

Estávamos sem dinheiro, de modo que pedir carona era a única alternativa.
Corremos tanto que mal conseguíamos respirar.

g) Finais: introduzem uma oração que expressa a finalidade da oração principal.


Algumas delas: para que, a fim de que, porque (=para que), que etc.

Chegue mais cedo para que possamos ficar mais tempo juntos.
Reuniu todos os documentos a fim de que não houvesse dúvida sobre o
conteúdo do relatório.

179
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

h) Proporcionais: iniciam uma oração que indica simultaneidade em relação a


outro fato expresso na principal.

Algumas delas: à proporção que, à medida que, ao passo que, enquanto,


quanto mais...tanto mais, quanto mais...menos etc.

À medida que uma limpava a casa, a outra já fazia o almoço.


Fazia as compras, pagava as contas, cuidava das crianças, enquanto o
marido estava fora.

i) Temporais: iniciam uma oração que indica circunstância de tempo, o momento


da ocorrência do fato.

Algumas delas: quando, antes que, depois que, logo que, sempre, assim
que etc.

Depois que acabou a faculdade, nunca mais viu os colegas de sala.

TURO S
ESTUDOS FU

Você deve ter percebido que não exploramos as conjunções subordinadas


integrantes. Elas serão objeto de estudo de outro caderno, quando falarmos de sintaxe. Por
enquanto, saiba que elas introduzem orações substantivas, que funcionam como sujeito,
objeto direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal ou aposto da oração
principal. Viu, são muitos conceitos novos, mas não se preocupe, haverá tempo para você
se aprofundar neles.

180
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você viu que:

 Conjunção é uma palavra que tem como função conectar dois termos ou duas
orações.

 As conjunções podem ser classificadas em: coordenadas e subordinadas.

- coordenadas: unem duas orações independentes. Seus tipos podem ser:


- aditiva (e, mas também);
- adversativa (mas, porém);
- alternativa (ou, ora...ora);
- conclusiva (portanto, logo);
- explicativa (porque, pois).

- subordinadas: unem duas orações que são dependentes uma da outra.


Seus tipos podem ser:
- integrantes (que, se)
- subordinativas:
- causais (porque, visto que);
- comparativas (como);
- concessivas (ainda que, embora);
- condicionais (se, caso);
- conformativas (como, segundo);
- consecutivas (de modo que, de forma que);
- finais (a fim de que, para que);
- proporcionais (à medida que, enquanto).
- temporais (depois que, quando).

181
AUTOATIVIDADE

1 Os textos a seguir necessitam de conectores para sua coesão. Empregue as


partículas que estão entre parênteses no lugar adequado.

a) Nos últimos quinze anos, os custos das campanhas eleitorais brasileiras


aumentaram em proporção extraordinária. Hoje, elas figuram entre as mais
caras do mundo, ultrapassam em muito os gastos com eleições na mais
portentosa democracia e economia do planeta, a americana.
(como, não só)

b) Trata-se de uma propaganda peculiaríssima, a que se faz referência nas


campanhas – baseada exatamente no oposto do que receitam os melhores
manuais de publicidade. São escassos os atributos pessoais do candidato
(o produto), inventam-se qualidades para ele. Seu capital de ideias é muito
limitado, cria-se um modo de ampliá-lo de tal forma que a tacanhez se torne
grandiosidade.
(se, se)

c) As razões da explosão dos custos eleitorais estão claras há algum tempo


para os cientistas políticos, suas consequências só recentemente começaram
a ficar evidentes. [...] Grande parte das empresas impõe o anonimato como
condição para as doações (para escapar do imposto de renda, para proteger-
se de acusações sobre possíveis privilégios no futuro governo), o resultado,
para os partidos, é a formação de um vultoso caixa dois.
(seja, seja, mas)

d) Os contratos de risco funcionam da seguinte forma: o candidato não


tem dinheiro suficiente para bancar a campanha milionária bolada pelo
marqueteiro, este cobra apenas uma parte do custo durante a realização do
trabalho. O restante dos gastos, o lucro do publicitário, é pago depois, em
caso da vitória do candidato – então o profissional é agraciado com gordas
contas de publicidade no governo. O risco desses contratos, evidentemente,
está em perder a eleição, o político não dispõe de verbas governamentais
remunerar o marqueteiro.
(bem como, quando, como, para, quando)

FONTE: Fragmentos extraídos de: PEREIRA, Camila. O marketing e a corrupção. Veja, São
Paulo, n. 35, p. 40-48, 31 ago. 2005.

182
2 Leia o texto a seguir:

A REPÚBLICA DO RABO PRESO

Senhores, andamos falando demais, e mal. Usa­mos frivolamente ter­


mos perigosos e abusamos das palavras de respeito. Exagera­mos nos clichês e
nos rótulos, geralmente burros e pobres, embora às vezes necessá­rios — como
tantas coisas pobres e burras que é preci­so suportar neste mundo.

Usar o termo “elites” requer muito cuidado. É teme­rário empregá-lo


como se falássemos de uma entidade abstrata, bicho-papão para assustar —
não criancinhas, mas os tolos. Usamos a palavra sem se­quer a definir direito.
O conceito “elite” significa “o melhor, os melhores”, o que não envolve
necessariamente di­nheiro nem sede de poder, muito menos arrogância, mas
decência, por exemplo. Honradez, pudor e consciência, por exemplo. Boa
educação e cortesia tam­bém, não vamos esquecer. Nada disso é privilégio de
ricos e poderosos.

O que deve nos assustar é o predo­mínio de um tipo de ralé: a da


hipocri­sia, da ambição e do cinismo, que pas­sa por cima do cadáver — não
da mãe, mas do povo e da pátria. Nós, a gente brasileira, não somos mais tão
bobos assim. Um populismo tardio e a velha demagogia barata ainda tentam
sedu­zir o povo, fingindo que o protegem para melhor o explorar. Porém, acho
que falas delirantes, acusações falsas e autoelogios pueris enganarão cada vez
menos os mais pobres e menos cultos, que mere­cem algo bem melhor. Talvez
ainda os conta­minem alguns conceitos superados, fa­zendo-os pensar que
estão sendo aju­dados, quando apenas os manipulam. Mas esta crise deve nos
tornar mais lúcidos. Esperemos que sim.

Paira no ar uma — espero que passageira — sensa­ção de que tudo


poderá se resolver nos velhos moldes do grande PIP, o Partido do Interesse
Próprio. Fala-se em tentar estabelecer pactos dos quais nós, comuns mortais,
em outros tempos nada saberíamos. Mas hoje em dia, com políticos honrados,
jornalistas íntegros e pessoas conhecidas ou anônimas avisando, ninguém
mais vai poder dizer “Eu não sabia”. Por isso tenho esperança de que os atuais
boatos de acordos e arranjos para que todo mundo se acomode e continue se
locupletando em paz sejam apenas boatos.

Cautela, senhores: não se pode enganar muita gente por longo tempo
com tamanha desfaçatez. Somos país pouco desenvolvido, com muita gente
ainda desinformada e por isso facilmente manobrada, mas somos povo
honrado. E os honrados podem se manifestar e na indignação da integridade
— privilégio de poucos.

183
“Blindar” um tumor não ajuda na cura do corpo contrário: é preciso
refletir bem nisso. Que a dolorosa crise propicie uma grande mudança
servindo para crescimento e esclarecimento, novas tomadas de posições,
e um recomeço positivo. Depende de cada um de nós. E, à medida que os
crimes forem comprovados, que sejam varridos os elementos maus de todos
os partidos, e eliminados de seus cargos os corruptos, os incompetentes e os
omissos — que são seus cúmplices.

Caso o que deveria ser rigorosíssima investigação de dinheiros mal


ganhos e mal aplicados (portanto de corrupção) acabe numa ciranda geral,
em que os enganadores dançam segurando o rabo do vizinho, senhores,
afundaremos todos juntos num mar morno e de odor suspeito. De lá não se
retorna fácil.

Se a verdade não for perseguida e as consequências honestamente


tiradas, vamos naufragar, sim: cúmplices do cinismo que vai recobrir esta
terra — enquanto o povo trabalha com salários indecentes mas paga impostos,
acredita em promessas mas morre nas filas e nossos jovens deixam um país
que não lhes dá estímulo, para eventualmente morrer de forma miserável
em terra estrangeira. Não é hora de falar de esquerda, direita, centro, elite
ou povão, termos caducos e mofados. Falemos da grande faxina moral,
judicial e institucional que deve estar começando, sem a qual seremos
meros sobreviventes. Todos nós, os enganados e os enganadores, seremos
os humilhados habitantes da República dos Rabos Presos. Se isso acontecer,
condolências, senhores.

FONTE: LUFT, Lya. A república do rabo preso. Veja, São Paulo, n. 32, p. 24, 10 ago., 2005.

2.1 Quanto às conjunções empregadas no texto, transcreva:

a) Duas orações onde há ideia de adição:


b) Duas orações onde há ideia de contraste/oposição:
c) Duas orações onde há ideia de condição:
d) Uma oração onde há ideia de comparação:

2.2 No trecho a seguir, a conjunção ou expressa que ideia? Qual é a classe


gramatical dos termos que ela conecta?

Mas hoje em dia, com políticos honrados, jornalistas íntegros e pessoas


conhecidas ou anônimas avisando, ninguém mais vai poder dizer “Eu não
sabia”.

2.3 Qual é a ideia expressa pela conjunção em destaque?

E, à medida que os crimes forem comprovados, que sejam varridos os


elementos maus de todos os partidos, e eliminados de seus cargos os corruptos,
os incompetentes e os omissos — que são seus cúmplices.

184
2.4 Assinale a alternativa que contém a sequência correta sobre os valores
expressos pelas conjunções em destaque:

Se a verdade não for perseguida e as consequências honestamente


tiradas, vamos naufragar, sim: cúmplices do cinismo que vai recobrir esta
terra — enquanto o povo trabalha com salários indecentes mas paga impostos,
acredita em promessas mas morre nas filas e nossos jovens deixam um país
que não lhes dá estímulo, para eventualmente morrer de forma miserável em
terra estrangeira.

a) ( ) Condição, adição, tempo, oposição, oposição, adição, finalidade.


b) ( ) Condição, adição, proporção, oposição, oposição, oposição, finalidade.
c) ( ) Condição, condição, tempo, oposição, oposição, adição, finalidade.
d) ( ) Condição, adição, comparação, oposição, oposição, adição, finalidade.

185
186
UNIDADE 3
TÓPICO 6

INTERJEIÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Viva! Vamos tratar da última classe de palavras, as interjeições. Elas estão
presentes na nossa comunicação diária e traduzem nossos estados emotivos. Se
você já quiser um exemplo, tome o viva que usamos no início desta conversa. Ele
transmite a nossa satisfação ao concluirmos as dez classes de palavras da Língua
Portuguesa.

2 CONCEITO
As interjeições são os elementos linguísticos (fonema, palavra, grupo de
palavras) que expressam nossas emoções, apelos, sentimentos, sensações.

Se a interjeição for formada por duas ou mais palavras, então teremos o


que se chama de locução interjetiva. Vamos aos exemplos.

Atenção! Você só tem ainda dois minutos para acabar a prova.


Coragem! Você vai ser bem-recebido.
Ufa! Chegamos.

As interjeições em destaque nos exemplos expressam sentimentos de


advertência (atenção), ânimo (coragem) e alívio (ufa).

Nos exemplos, as interjeições acompanham orações, mas elas possuem


existência autônoma, veja:

Bravo!
Olá!
Silêncio!

As interjeições funcionam como frases resumidas. Para ilustrar essa


afirmação é só analisarmos a interjeição silêncio, ela equivale a “fiquem quietos”.

187
UNIDADE 3 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II

2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS INTERJEIÇÕES


Antes de enumerarmos a classificação desta classe de palavras, é bom que
você fique ciente de que para reconhecer o valor de uma interjeição precisamos
verificar o contexto e a entoação com que essa expressão é proferida. Uma
interjeição pode expressar sentimentos variados, até mesmo opostos. Além disso,
um mesmo sentimento pode ser traduzido por mais de uma interjeição.

a) advertência: Atenção!, Cuidado!, Fogo!


b) afugentamento: Sai!, Fora!, Passa!, Rua!
c) agradecimento: Grato!, Obrigado!
d) alegria: Ah!, Oba!, Viva!, Opa!
e) alívio: Ah!, Ufa!, Eh!
f) ânimo: Ânimo!, Força!, Vamos!
g) apelo ou chamamento: Ei!, Oi!, Ô!, Alô!, Psiu!
h) aplauso: Bis!, É isso aí!, Bravo!, Muito bem!
i) aversão: Credo!, Droga!
j) desejo: Oxalá!, Queira Deus!, Quem dera!
k) despedida: Adeus!, Até logo!, Tchau!
l) dor: Ai!, Ui!, Ah!, Ai de mim!
m) espanto ou surpresa: Caramba!, Nossa!, Puxa!
n) medo: Credo!, Cruzes!
o) reprovação: Fora!, Para!, Ora!
p) satisfação: Boa!, Viva!, Oba!
q) silêncio: Calada!, Psiu! (demorado), Bico calado!

Procuramos trazer para você os valores das interjeições mais citados nos
manuais.

É bom também que você saiba que alguns autores, como os gramáticos
Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova Gramática do Português
Contemporâneo, não consideram as interjeições como uma classe de palavras.
Segundo eles, as interjeições não são classificadas nem como morfemas lexicais
(substantivos, adjetivos, verbos e advérbios de modo), nem como morfemas
gramaticais (artigos, pronomes, numerais, preposições, conjunções, advérbios
e as formas indicativas de número, gênero, tempo, modo e aspecto verbal).
Também não podem ser divididas em formas variáveis e invariáveis. Por conta
disso, os autores as consideram como vocábulo-frase, excluídas, portanto, das
classificações que apresentam em sua obra.

188
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico, você estudou que:

 Interjeição é a expressão que indica nossos sentimentos ou emoções.


Exemplo: Caramba!

 As interjeições podem ser classificadas em: advertência, afugentamento,


agradecimento, alegria, alívio, ânimo, apelo ou chamamento, aplauso, aversão,
desejo, despedida, dor, espanto ou surpresa, medo, reprovação, satisfação,
silêncio.

189
AUTOATIVIDADE

1 Leia as frases a seguir e identifique os estados, os sentimentos ou as emoções


que cada uma delas expressa:

a) Cuidado! O chão está molhado.


b) Puxa! Não pensei que este lugar fosse tão bonito!
c) Puxa vida! Você não para um segundo sequer, Chiquinho!
d) Ufa! Consegui terminar o exercício!
e) Ué! Seu irmão não veio com você?

2 Escreva orações utilizando as interjeições a seguir para exprimir as emoções


ou estados indicados:

a) Desejo: tomara!
b) Pena: coitado!
c) Espanto: credo!
d) Espanto: nossa!
e) Concordância: claro!
f) Apoio: muito bem!
g) Espanto: meu Deus!
h) Pena: meu Deus!
i) Aborrecimento: puxa vida!
j) Desejo: queira Deus!

190
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado (a) acadêmico (a), chegamos ao final do Caderno de Estudos de
Morfologia e desejamos que a leitura tenha sido importante para a construção de
seus conhecimentos sobre este assunto. Afinal, um licenciado em Letras precisa
conhecer a Língua Portuguesa, na qual se insere a Morfologia, seu instrumento
de trabalho.

Durante a Unidade 1, nossa preocupação foi mostrar, da forma mais


clara possível, como as palavras estão estruturadas. Aprendemos a reconhecer
os elementos mórficos (radical, sufixos, prefixos, vogal temática, desinências
nominais e verbais, vogais e consoantes de ligação), os mecanismos que indicam
a flexão de gênero (feminino, masculino) e de número (singular, plural) e vimos
como ocorrem os processos de formação das palavras. Ainda nesta unidade,
aprendemos que os vocábulos podem ser formados por derivação (prefixal,
sufixal, parassíntese, regressiva e imprópria), por composição (justaposição e
aglutinação) ou por outros processos, como hibridismo, onomatopeia, abreviação
vocabular e sigla.

No decorrer da Unidade 2, tratamos de estudar as quatro primeiras classes


gramaticais: substantivos, adjetivos, verbos e advérbios, tentando reconhecê-
los e analisar suas flexões. Nesse sentido, aprendemos que o substantivo é
a palavra que usamos para identificar os seres em geral, classificando-se em
comum, próprio, concreto, abstrato, simples, composto, primitivo, derivado
e coletivo. Também pudemos perceber que variam em gênero, número e grau.
Sobre os adjetivos aprendemos que são palavras que modificam os substantivos,
atribuindo-lhes características específicas, dividindo-se em: primitivos, derivados,
simples, compostos, além de variarem em gênero, número e grau. Na sequência,
descobrimos que os verbos são palavras que indicam o fato (ação, estado,
fenômeno), situando-o no tempo. Podem ser regulares, irregulares, anômalos,
defectivos, abundantes, auxiliares, principais e flexionam-se em número, pessoa,
modo, tempo e voz. Já os advérbios foram identificados como palavras que
alteram o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. Vimos, também,
sua classificação e sua graduação.

A Unidade 3, por fim, apresentou-nos as demais classes gramaticais:


numeral, artigo, pronome, preposição, conjunção, interjeição. Nela aprendemos
que numeral é uma palavra que designa quantidade, lugar numa série, múltiplo
ou fração e se classifica em cardinal, ordinal, multiplicativo, fracionário.
Depois, estudamos o artigo, que é uma palavra que vem antes do substantivo,
determinando-o ou generalizando-o, podendo ser definidos ou indefinidos.

Em seguida, foi a vez de aprendermos sobre o pronome, palavra que


representa ou acompanha o substantivo. Descobrimos que ele se classifica em
pessoal do caso reto e do caso oblíquo, de tratamento, possessivo, demonstrativo,
relativo, interrogativo e indefinido. Na sequência, vieram as preposições, que são
palavras que ligam dois termos da oração, estabelecendo entre eles relações de

191
dependência e de sentido. Já sobre as conjunções, estudamos que sua função é ligar
dois termos ou duas orações e que se dividem em coordenadas e subordinadas.
Por último, vimos as interjeições, palavras ou expressões que indicam nossos
sentimentos e emoções.

Como você notou, percorremos um longo caminho, que nos permitiu


construir sólidos conhecimentos sobre a Morfologia de nossa língua. Mas, lembre-
se de que há muito mais pela frente, afinal, estudar é um ato contínuo. Sucesso!

192
REFERÊNCIAS
BASÍLIO, Margarida. Teoria lexical. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro:


Lucerna, 2003.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa.


46. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática


reflexiva. 2. ed. São Paulo: Atual, 2005.

CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português


contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

LEME, Odilon Soares. A nova ortografia. 2. ed. São Paulo: Barros, Fischer &
Associados, 2009. (Resumão).

LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. 2. ed. São Paulo: Globo,
2002.

SILVA, M. C. P. de S.; KOCH, I.V. Linguística aplicada ao português:


morfologia. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

193

Вам также может понравиться