Вы находитесь на странице: 1из 535

1, Introdução 1-1

Questões para recapitulação 1-4


Referências bibliográficas 1-4

2. A água para abastecimento público 2-1


2.1. Generalidades 2-1
2.2. A água: solvente universal 2-2
2.3. Distribuição da água sobre a Terra 2.5

Questões para recapitulação 2.6


Referências bibliográficas 2.7

3. Qualidade da água 3-1

4. Formas clássicas de tratamento 4-1


4.1. Introdução 4-1
4.2. Desinfecção simples e correção do pH 4-2
4.3. Filtração 4-2
4.4. Decantação 4-3
4.5. Coagulação e floculação 4-3
4.6. A estação clássica de tratamento de água 4-3

Questões para recapitulação 4-5


Referências bibliográficas 4-6

5. Fundamentos de química 5-1


5.1. Introdução 5-1
5.2. Impurezas encontradas na água bruta 5-1
5.3. Desestabilização das partículas coloidais 5-4
5.4. Principais coagulantes, floculantes e auxiliares 5-5
5.5. Química do sulfato de alumínio,
alcalinidade e dureza na água em tratamento5-6
5.5.1. Introdução 5-6
5.5.2. Desestabilização por adsorção e neutralização 5-9
5.5.3. Desestabilização por varredura 5-10
5.5.4. Combinação da adsorção e varredura 5-11
5.5.5. Diagrama de Amirtharajah e Mills 5-12
5.5.6. Problema resolvido 5-16

S-1
5.5.7. Problema resolvido 5-17
5.5.8. Alcalinidade e dureza 5-17
5.6. Equilíbrio carbônico da água: agressividade e incrustabilidade 5-19

Questões para recapitulação 5-23


Referências bibliográficas 5-24

6. Física, mecânica dos fluidos e hidráulica 6-1


6.1. Introdução 6-1
6.2. Massa 6-1
6.3. Velocidade 6-1
6.3.1. Problema resolvido 6-2
6.4. Aceleração 6-2
6.4.1. Problema resolvido 6-2
6.5. Força 6-3
6.5.1. Problema resolvido 6-3
6.6. Peso 6-4
6.6.1. Problema resolvido 6-4
6.7. Trabalho 6-5
6.7.1. Problema resolvido 6-5
6.8. Energia 6-6
6.8.1. Energia potencial de posição 6-6
6.8.2. Energia potencial de pressão 6-6
6.8.3. Energia Cinética 6-6
6.8.4. Problema resolvido 6-6
6.9 Potência 6-7
6.9.1 Problema Resolvido 6-8
6.10 Massa Específica e Densidade Relativa 6-8
6.10.1. Problema resolvido 6-9
6.11. Peso Específico 6-9
6.11.1. Problema resolvido 6-9
6.12. Pressão 6-10
6.12.1. Definição 6-10
6.12.2. Problema resolvido 6-10
6.12.3. Relação entre pressão e altura de água 6-11
6.12.4. Problema resolvido 6-12
6.13. Tensão Tangencial 6-13
6.13.1. Problema resolvido 6-13
6.13.2. Observações sobre a tensão tangencial 6-13
6.14. Vazão 6-13
6.14.1 Problema resolvido 6-14
6.15 Velocidade Média 6-14
6.15.1. Problema resolvido 6-15
6.15.2. Observações sobre a Velocidade Média 6-15
6.16. Tempo de detenção 6-15
6.16.1. Problema resolvido 6-15
S-2
6.16.2 Observações sobre o tempo de detenção 6-16
6.17. Carga 6-16
6.17.1. Problema resolvido 6-16
6.18 Viscosidade e Gradiente de Velocidade 6-18
6.18.1. Problema resolvido 6-19
6.18.2. Observações sobre a viscosidade
e o gradiente de velocidade 6-19
6.19. Equação de Bernoulli e perda de carga 6-20
6.19.1. Problema resolvido 6-21
6.19.2. Observações sobre a equação de
Bernoulli para fluidos reais 6-22
6.19.3. Observações sobre o termo perda de carga 6-22
6.19.4. Representação gráfica da equação de Bernoulli 6-23
6.20. Perda de cargm condutos 6-23
6.20.1. Perda de carga contínua:
fórmula universal das perdas de carga 6-23
6.20.1.1. Definição 6-23
6.20.1.2. Regime laminar e regime turbulento:
número de Reynolds 6-25
6.20.1.2.1. Problema resolvido 6-26
6.20.1.2.2. Problema resolvido 6-27
6.20.1.2.3. Camada limite 6-27
6.20.1.3. Cálculo da perda de carga contínua
em condutos de seção circular
totalmente cheios (a seção plena) 6-29
6.20.1.3.1. Problema resolvido 6-30
6.20.1.3.2. Caso particular: escoamento
com distribuição em marcha 6-32
6.20.1.3.2.1. Problema resolvido 6-34
6.20.1.4. Cálculo da perda de carga contínua em
condutos de seção não circular
totalmente cheios (a seção plena) 6-35
6.20.1.4.1. Escoamento em regime laminar 6-35
6.20.1.4.1.1. Problema resolvido 6-36
6.20.1.4.2. Escoamento em regime turbulento 6-36
6.20.1.4.2.1. Problema resolvido 6-37
6.20.1.5. Por que o regime é laminar ou turbulento? 6-37
6.20.2. Perdas de carga localizadas em condutos
circulares a seção plena 6-39
6.20.2.1. Problema resolvido 6-39
6.21.2. Cálculo da perda de carga no regime uniforme 6-43
6.21.2.1. Problema resolvido 6-44
6.21.3. Número de Froude 6-45
6.21.3.1. Problema resolvido 6-46
6.21.4. Energia específica 6-46
6.21. Perda de carga em canais 6-41
S-3
6.21.1. Regimes uniforme, gradualmente variado e
bruscamente variado 6-41
6.21.2. Cálculo da perda de carga no regime uniforme 6-42
6.21.2.1. Problema resolvido 6-43
6.21.3. Número de Froude 6-44
6.21.3.1. Problema resolvido 6-45
6.21.4. Energia específica 6-45
6.21.5. Equação da quantidade de movimento 6-48
6.21.6. Ressalto hidráulico 6-49
6.21.6.1. Caracterização do ressalto 6-49
6.21.6.2. Problema resolvido 6-51
6.21.6.3. Força específica no ressalto hidráulico:
dissipação de energia no ressalto 6-50
6.21.6.4. Alturas conjugadas e extensão do ressalto 6-52
6.22. Perda de carga em meios porosos 6-54
6.22.1. Lei de Darcy 6-54
6.22.1.1. Problema resolvido 6-55
6.22.1.2. Considerações sobre a
lei de Darcy e sua aplicação 6-56
6.22.2. Equação de Forchheimer 6-56
6.23. Bombas: altura manométrica 6-58
6.23.1. Problema resolvido 6-58
6.24. Potência das correntes líquidas 6-58
6.24.1. Problema resolvido 6-59
6.25. Potência de bombas 6-60
6.25.1. Problema resolvido 6-60
6.26. Relação entre gradiente de velocidade e potência 6-61
6.26.1. Problema resolvido 6-63
6.27. Força de arraste 6-64
6.27.1. Problema resolvido 6-64
6.28. Orifícios, bocais e vertedouros 6-65
6.28.1. Orifícios e bocais 6-65
6.28.1.1. Problema resolvido 6-67
6.28.2. Vertedouros de descarga livre 6-68
6.28.2.1. Problema resolvido 6-69
6.29. Cinética dos choques entre partículas em suspensão 6-70

Questões para recapitulação 6-73


Referências bibliográficas 6-77

7. Mistura rápida 7-1


7.1 O conceito de mistura rápida 7-1
7.2 Disposições da NBR-12216 7-1
7.2.1 Observações sobre os valores preconizados pela
NBR 12216 para o gradiente de velocidade e
o tempo de detenção 7-2
S-4
7.3 Misturadores hidráulicos 7-3
7.3.1 Introdução 7-3
7.3.2 Medidor Parshall 7-3
7.3.2.1 Generalidades 7-3
7.3.2.2. Gradientes de velocidade em
medidores Parshall 7-7
7.3.2.3. Tempos de detenção em medidores Parshall 7-8
7.3.2.4. Diretrizes para a seleção do
medidor Parshall adequado à mistura rápida 7-8
7.3.2.5. Problema resolvido 7-8
7.3.3 Queda d'água de vertedouros 7-12
7.3.3.1 Generalidades 7-12
7.3.3.2. Problema resolvido 7-13
7.3.4 Difusores ou malhas difusoras 7-14
7.3.4.1 Generalidades 7-14
7.3.4.2 Gradiente de velocidade em malhas difusoras 7-14
7.3.4.3 Recomendações da NBR 12216 7-16
7.3.4.4 Problema resolvido 7-16
7.3.4.5 O modelo matemático de Hespanhol 7-18
7.3.4.5.1. Problema resolvido 7-21
7.4. Misturadores mecanizados 7-26
7.4.1. Introdução 7-26
7.4.2. Disposições da NBR 12216 7-26
7.4.3. Turbinas e hélices 7-27
7.4.3.1. Gradientes de velocidade na turbina
estudada por Parlatore 7-28
7.4.3.1.1. Problema resolvido 7-30
7.4.3.1.2. Outros modelos de
misturadores rápidos 7-32
7.4.4. Rotores de bombas 7-33
7.4.4.1. Problema resolvido 7-33

Questões para recapitulação 7-35


Referências bibliográficas 7-37

8. Floculação 8-1
8.1. Introdução 8-1
8.2. Floculação ortocinética e floculação pericinética 8-1
8.3. Floculação ortocinética, gradiente de velocidade,
tempo de detenção e número de Camp 8-2
8.4. Tipos de floculadores 8-3
8.5. Disposições da NBR 12216 8-3
8.6. Eficiência da floculação e compartimentação de floculadores 8-4
8.7. Gradiente de velocidade em tubulações e passagens 8-6
8.7.1. Introdução 8-6
8.7.2. O modelo matemático 8-7
S-5
8.8. Hidráulica dos floculadores mecanizados 8-9
8.8.1. Disposições de norma 8-9
8.8.2. Tipos usuais 8-10
8.8.2.1. Agitadores do tipo de paletas 8-10
8.8.2.1.1. Tipos Básicos 8-10
a) Floculador de paleta
de eixo Vertical 8-10
b) Floculador de paletas
c) de eixo horizontal 8-12
c) Floculador de paleta
única, de eixo vertical 8-13

8.8.2.1.2. Modelo matemático


8.8.2.1.3. Problema resolvido 8-19
8.8.2.2. Agitadores do Tipo de Fluxo Axial
(Turbinas e Hélices) 8-20
8.8.2.2.1. Descrição 8-20
8.8.2.2.2. Modelo matemático 8-21
8.8.2.2.3. Problema resolvido 8-22
8.8.2.2.4. Floculador tipo hélice modelo Filsan 8-23
8.9. Hidráulica dos floculadores hidráulicos 8-24
8.9.1. Introdução 8-24
8.9.2. Tipos usuais 8-25
8.9.2.1. Floculador de chicanas 8-25
a) Chicanas verticais 8-25
b) Chicanas horizontais 8-27
8.9.2.2. Floculador tipo Cox 8-27
8.9.2.3. Floculador tipo Alabama 8-28
8.9.3. Recomendações da Norma 8-30
8.9.4. Problema Resolvido 8-31
8.10. Floculadores não tradicionais 8-34
8.10.1. Introdução 8-34
8.10.2. Floculador mecanizado do tipo de paletas,
de câmaras superpostas 8-34
8.10.3. Floculador hidráulico do tipo de bandejas perfuradas 8-35
8.10.4. Floculação em meio granular 8-36
8.4.10.1. Problema resolvido 8-40
8.10.5. Uso de telas em estações de tratamento 8-43
8.10.5.1. Aplicações práticas 8-43
8.10.5.2. Vantagem teórica no uso de telas 8-44
8.10.5.3. Determinação do gradiente de velocidade 8-45
8.10.5.4. Problema resolvido: floculador de Riddick 8-47
8.10.5.5. Problema resolvido 8-48

Questões para Recapitulação 8-50


Referências Bibliográficas 8-51
S-6
9. Decantação 9-1
9.1. Noções introdutórias 9-1
9.1.1. Descrição 9-1
9.1.2. Sedimentação de partículas discretas 9-1
9.1.2.1. Teoria 9-1
9.1.2.2. Dimensionamento de desarenadores
(caixas de areia) 9-4
9.1.2.2.1. Exemplo resolvido 9-8
9.1.3. Sedimentação de partículas floculentas 9-9
9.1.3.1. Considerações iniciais 9-9
9.1.3.2. Ensaio em coluna de sedimentação 9-9
9.1.3.2.1. Exemplo resolvido 9-10
9.2 Decantadores 9-12
9.2.1. Caracterização: disposições da NBR 12216 9-12
9.2.2 Tipos de decantadores 9-12
9.3 Decantadores clássicos 9-13
9.3.1 Tipos 9-13
9.3.2. Decantadores clássicos de seção retangular 9-13
9.3.2.1 Descrição 9-13
9.3.2.2. Avaliação da eficiência 9-14
9.3.2.2.1. Decantador ideal 9-14
9.3.2.2.2. Decantador real 9-16
9.3.2.3. Velocidade máxima permissível 9-20
9.3.2.3.1 Problema resolvido 9-22
9.3.3 Decantadores clássicos de seção circular 9-23
9.4 Decantadores de fluxo laminar 9-23
9.4.1 Descrição e classificação 9-23
9.4.2 Decantadores laminares de fluxo ascendente 9-23
9.4.2.1 Introdução 9-23
9.4.2.2 Descrição 9-24
9.4.2.3 Módulos para a decantação laminar 9-25
9.4.2.4 O modelo matemático de Yao 9-28
9.4.2.5 Velocidade máxima permissível para a água
no interior dos elementos tubulares 9-32
9.4.2.6 Distância entre os elementos tubulares
e as estruturas de entrada (sob os
elementos) e saída (sobre os elementos) 9-33
9.4.2.6.1 Caracterização do problema 9-33
9.4.2.6.2 O modelo matemático 9-34
9.4.3 Decantadores laminares de fluxo horizontal 9-35
9.4.3 Decantadores laminares de fluxo horizontal 9-37
9.5.1.1 Descrição 9-38
9.5.1.2 Exemplo resolvido 9-39
9.5.2 Canal de acesso aos decantadores 9-39
9.5.2.1 Descrição 9-39
S-7
9.5.2.2 Modelo matemático devido a Hudson
e colaboradores 9-40
9.5.3.4 Problema resolvido 9-52
9.5.4 Coleta de água decantada 9-52
9.5.4.1 Descrição 9-52
9.5.4.2 Modelo matemático 9-54
9.5.4.3 Bordas vertedouras ajustáveis
9.5.4.4. Disposições da NBR 12216 9-59
9.5.4.5. Problema resolvido 9-61
9.5.5. Descarga de decantadores 9-62
9.5.5.1. Tipos 9-62
9.5.5.2. Tempo de esvaziamento dos decantadores 9-64
9.5.5.2.1. Problema resolvido 9-66
9.5.5.3. Remoção hidráulica de lodos de fundo
de decantadores, através de manifolds 9-66
9.5.5.3.1. Introdução 9-67
9.5.5.3.2. Resolução do problema 9-68
9.5.6. Distribuição de água floculada sob os módulos
de decantadores laminares de fluxo vertical 9-75
9.5.6.1. Descrição 9-75
9.5.6.2. Dimensionamento 9-76
9.6. Problema resolvido 9-76
9.7. Problema resolvido 9-81

Questões para recapitulação 9-86


Referências bibliográficas 9-88

10. Filtração 10.1


10.1. Introdução 10-1
10.2. Generalidades 10-1
10.2.1. Filtros lentos 10.2
10.2.2. Filtros rápidos de fluxo descendente 10.3
10.2.3. Filtros rápidos de fluxo ascendente 10.3
10.2.4. Filtros rápidos de fluxo descendente, de camada espessa10.6
10.3. Leitos filtrantes, camada suporte e fundos falsos 10.7
10.3.1. Leito filtrante 10.7
10.3.1.1. Areia 10.7
10.3.1.2. Antracito 10.8
10.3.2. Fundos falsos 10.10
10.3.2.1. Fundos patenteados 10.10
a) Bocais 10.10
b) Blocos perfurados 10.11
10.3.2.2. Fundos que podem ser construídos
no canteiro de obras 10.13
a) Tubulação perfurada 10.13
b) Vigas pré—fabricadas 10.14
S-8
10.3.3. Camada suporte 10.14
10.4. Velocidades de interesse na filtração 10.18
10.4.1. Taxas de filtração: disposições da NBR 12216 10.18
10.4.1.1. Problema resolvido 10.19
10.4.1.2. Problema resolvido 10.19
10.5. Perda de carga no leito filtrante 10.20
10.5.1. Perda de carga em leitos estratificados 10.21
10.5.1.1. Problema resolvido 10.22
10.5.2. Perda de carga em leitos não estratificados 10.24
10.5.2.1. Problema resolvido 10.25
10.6. Perda de carga nas canalizações adjacentes ao filtro 10.26
10.6.1. Blocos Leopold 10.27
10.6.1.1. Problema resolvido 10.27
10.6.2. Tubos perfurados 10.30
10.6.2.1. Problema resolvido 10.31
10.6.3. Vigas californianas 10.33
10.6.3.1. Problema resolvido 10.34
10.7. Perda de carga total no filtro 10.34
10.7.1. Hidráulica da operação de filtros de fluxo descendente 10.35
a) Filtros com perda de carga total constante e
velocidade de aproximação variável 10.35
b) Filtros com perda de carga total e
velocidade de aproximação constantes 10.36
c) Filtros com perda de carga total variável e
velocidade de aproximação constante 10.40
d) Filtros com perda de carga total e
velocidade de aproximação variáveis 10.41
10.7.2. Hidráulica da operação de filtros de fluxo ascendente 10.44
a) Filtros com taxa constante e carga variável 10.44
b) Filtros de taxa e carga variáveis 10.45
10.8. Lavagem do leito filtrante 10.45
10.8.1. Filtros lentos 10.46
10.8.2. Filtros rápidos 10.48
10.8.2.1. Problema resolvido 10.49
10.8.2.2. Lavagem via reservatório, por gravidade 10.49
10.8.2.3. Lavagem via reservatório, por bombeamento 10.50
10.8.2.4. Sistema autolavável 10.50
10.9. Sistemas auxiliares de lavagem 10.53
10.9.1. Filtros de fluxo descendente 10.53
10.9.1.1. Bocais fixos 10.55
10.9.1.2. Bocais fixados em braços rotativos 10.55
10.9.1.3. Lavagem auxiliar com ar 10.56
10.9.1.4. Lavagem auxiliar de pequenos filtros 10.57
10.9.2. Filtros de fluxo ascendente 10.58
10.10. Determinação da expansão do leito filtrante durante a lavagem
em fluxo ascendente 10.59
S-9
10.10.1. Problema resolvido 10.61
10.11. Determinação da perda de carga no leito filtrante durante a
lavagem em contracorrente (retrolavagem) 10.63
10.11.1. Problema resolvido 10.64
10.11.2. Expressões simplificadas 10.64
10.11.3. Problema rersolvido 10.65
10.11.4. Problema resolvido 10.65
10.12. Calhas coletoras de água de lavagem 10.67
10.13. Velocidades recomendadas para as canalizações e
comportas adjacentes aos filtros 10.71
10.14. Simulação do funcionamento de um sistema de taxa
declinante variável 10.71
10.14.1. Problema resolvido 10.75

Questões para recapitulação 10.79


Referências bibliográficas 10.83

11 Tratamentos complementares 11.1


11.1 Generalidades
11.1
11.2. Desinfecção 11.2
11.2.1. Introdução 11.2
11.2.2. Cloração 11.3
I. Cloração de Águas Relativamente Puras 11.4
II. Cloração de Águas Contendo Impurezas 11.4
11.3. Fluoretação 11.11

11.4. Correção do pH 11.13


Questões para recapitulação 11.13
Referências bibliográficas 11.14

Anexo 1 Tubos: rugosidade equivalente k (mm) A1.1


Anexo 2 Valores de n das fórmulas de Ganguillet-Weiss A2.1
Anexo 3 Medidores Parshall A3.1
Anexo 4 Propriedades físicas da água A4.1
Anexo 5 Meios granulares: esfericidade e fator de forma A5.1
Anexo 6 Ábaco de Moody A6.1
Anexo 7 Perdas de carga localizadas: coeficientes k A7.1
Anexo 8 Espessura dos leitos filtrantes A8.1
Anexo 9 Camada suporte para leitos filtrantes A9.1
Anexo 10 Fundos de filtros: dimensionamento de
sistemas de tubulação perfurada A10.1
Anexo 11 Vertedouros triangulares A11.1
Anexo 12 Vertedouros retangulares A12.1
Anexo13 Resolução CONAMA de 18 de junho de 1986
publicado no DOU de 30/7/86 A13.1
S-10
Anexo14 Deliberação normativa COPAM nº 010/86 A14.1
Anexo15 Portaria nº 1469, de 29 de dezembro de 2000 A15.1
Anexo16 Método dos mínimos quadrados A16.1

Lista de Figuras

2.1 O ciclo das águas (adaptado de Fair, Geyer e Okun 7) 2-3


4.1 Tratamento convencional para fins de
potabilização – fluxograma 4-1
4.2 Estações clássicas de tratamento de água 4-4
5.1 Classificação das partículas na água, segundo seus tamanhos 5-2
5.2 Célula de eletroforese
5.3 A teoria da dupla capa 5-8
5.4 Desestabilização por adsorção e neutralização 5-9
5.5 Desestabilização por varredura 5-11
5.6 Variação da concentração de saturação do
produto de dissociação Al (OH)4 - com o pH da solução 5-13
5.7 Variação da concentração de saturação do produto de
dissociação Al +3 com o pH da solução 5-15
5.8 Diagrama para projeto e operação utilizando sulfato de alumínio 5-16
5.9 Problema resolvido 5.5.7 5-18
5.10 Diagrama para a determinação do índice de Langelier 5-22
6.1 Relação entre pressão e altura d'água 6-11
6.2 Viscosidade e gradiente de velocidade 6-18
6.3 Representação gráfica da equação de Bernoulli
para um conduto forçado 6-23
6.4 Representação gráfica da equação de Bernoulli
para um conduto livre 6-24
6.5 Filme laminar, camada limite e camada turbulenta
(conforme concebida por Ludwig Prantdl em 1904) 6-28
6.6 Filme laminar e turbulento em canalizações 6-28
6.7 Problema resolvido 6.20.1.3.1 6-30
6.8 Vazão fictícia 6-33
6.9 Perfil das velocidades 6-38
6.10 Escoamento laminar 6-38
6.11 Escoamento turbulento 6-39
6.12 Problema Resolvido 6.20.2.1 6-40
6.13 Escoamento em conduto livre 6-42
6.14 Energia específica 6-45
6.15 Representação gráfica da variação da
energia específica com y 6-46
6.16 Escoamentos sub e supercríticos com a mesma
energia específica 6-47
6.17 Escoamento no regime crítico 6-48
6.18 Dedução da equação da quantidade de movimento:
volume de controle 6-48
S-11
6.19 Ressalto hidráulico e forças intervenientes 6-51
6.20 Representação gráfica da variação da força específica com y 6-52
6.21 Ressalto hidráulico, forças específicas e energias específicas 6-52
6.22 Potência das correntes líquidas 6-59
6.23 Orifícios e bocais 6-65
6.24 Problema resolvido 6.28.1.1 6-67
6.25 Vertedouros de descarga livre 6-68
6.26 Terminologia dos vertedouros 6-69
6.27 Problema resolvido 6.28.2.1 6-69
6.28 Equação de Smoluchowsky 6-71
7.1 Medidor Parshall 7-4
7.2 O Parshall sem e com ressalto a jusante 7-4
7.3 Afogamento do Parshall 7-6
7.4.1 Gradientes de velocidade em medidores Parshall de 3” a 60”,
segundo o Eng. Jorge Arboleda Valencia 7-7
7.5 Dispositivos para criação do ressalto hidráulico 7-9
7.6 Medidor de vazão Parshall W = 1” ensaiado no DEH/EE.UFMG 7-9
7.7 Curva gradiente de velocidade x vazão 7-10
7.8 Problema resolvido 7.3.2.5 7-10
7.9 Vertedouros e aplicação de floculante 7-12
7.10 Vertedouros operando como misturadores rápidos 7-13
10.11 Resolução do Problema 7.3.3.2 7-14
7.12 Malhas difusoras 7-15
7.13 Distância para dissipação de energia dos jatos
originários de malhas difusoras 7-16
7.14 Problema 7.3.4.4 7-17
7.15 Aplicação de um produto químico através de malha difusora 7-20
7.16 Resultados experimentais de Stenquist para malhas difusoras 7-23
7.17 Exemplo de malha difusora 7-23
7.18 Alternativa para a construção da malha difusora 7-25
7.19 ETA do Alto Cotia: redução nas dosagens de
sulfato de alumínio obtidas após a introdução do difusor
para efetuar a mistura rápida 7-27
7.20 Turbinas e hélices 7-27
7.21 Número de Reynolds e número de potência 7-29
7.22 Configuração de agitadores utilizados em ensaios de jarros 7-30
7.23 Números de potência e números de Reynolds obtidos
para cada um dos agitadores ensaiados e
representados na Fig. 7.22 7-30
7.24 Problema resolvido 7.4.3.1.1 7-31
7.25 Outros modelos de misturadores mecanizados,
segundo Metcalf & Eddy (op. citada) 7-33
7.26 Rotores de bombas 7-35
8.1 Eficiência da compartimentação de floculadores 8-6
8.2 Gradientes de velocidade em tubulações e
passagens, segundo Parlatore (Q < 10 l/s) 8-8
S-12
8.3 Gradientes de velocidade em tubulações e passagens,
segundo Parlatore (10<Q<1000l/s) 8-8
8.4 Floculador mecanizado, do tipo de paletas, de eixo vertical 8-11
8.5 Floculador mecanizado, do tipo de paletas,
de eixo vertical – perspectiva 8-11
8.6 Floculador mecanizado, do tipo de paletas, de eixo horizontal 8-12
8.7 Floculador mecanizado, do tipo de paletas,
de eixo horizontal – perspectiva 8-13
8.8 Floculador mecanizado, do tipo de paleta única,
de eixo horizontal 8-14
8.9 Agitadores mecanizados do tipo de paletas 8-15
8.10 Força de arraste devida a uma paleta em movimento 8-15
8.11 Força de arraste: expressão diferencial 8-16
8.12 Floculador mecanizado de paletas, com n paletas e
B braços iguais 8-17
8.13 Floculador de paleta única, de eixo vertical: integração 8-18
8.14 Problema resolvido 5.4.1.2 8-19
8.15 Floculador mecanizado, do tipo de turbina 8-21
8.16 Turbina estudada por Parlatore 8-22
8.17 Floculador tipo hélice modelo Filsan 8-24
8.18 Floculador de Chicanas 8-25
8.19 Floculador hidráulico, de chicanas verticais 8-26
8.20 Floculador hidráulico de chicanas horizontais 8-27
8.21 Floculador Tipo Cox, Q = 36 l/s 8-28
8.22 Floculador hidráulico tipo Cox: perspectiva e
diagrama explicativo 8-29
8.23 Floculador tipo Alabama com modificações, Q = 62,9 l/s 8-29
8.24 Floculador tipo Alabama: perspectiva e diagrama explicativo 8-30
8.25 Interligação entre câmaras de floculadores 8-32
8.26 Floculador mecanizado do tipo de paletas,
de câmaras superpostas 8-34
8.27 Floculador hidráulico, do tipo de bandejas perfuradas:
concepção original 8-35
8.28 Floculador hidráulico, do tipo de bandejas perfuradas:
concepção atual 8-36
8.29 Floculador de meio granular 8-36
8.30 Tempo relativo t/θ versus remoção de turbidez 8-39
8.31 Floculador de Riddick 8-43
8.32 Floculador hidráulico, do tipo de telas 8-44
8.33 Tela re-orientando o fluxo: aplicação proposta por Richter 8-44
8.34 Telas instaladas nos canais do floculador da ETA de Tarumã 8-45
8.35 Perda de carga em telas 8-46
9.1 Sedimentação de uma partícula discreta: esforços intervenientes 9-2
9.2 Variação do coeficiente de arraste com o número de Reynolds 9-4
9.3 Velocidades de sedimentação 9-5
9.4 Determinação de vs 9-6
S-13
9.5 Desarenador clássico 9-6
9.6 Exemplo resolvido 9.1.2.2.1 9-9
9.7 Coluna de Sedimentação 9-10
9.8 Ensaio de sedimentação: exemplo resolvido 9-11
9.9 Decantadores clássicos: tipos 9-13
9.10 Decantador clássico de seção retangular: esquema típico 9-14
9.11 Decantador ideal, de fluxo horizontal: avaliação da eficiência 9-16
9.12 Modelo idealizado para o decantador real 9-17
9.13 Curvas de comportamento para decantadores
de diferentes eficiências 9-19
9.14 Tensão trativa exercida pela água sobre a
superfície de deslizamento 9-20
9.15 Reduzindo o comprimento do decantador 9-24
9.16 Decantador tubular típico, de fluxo ascendente 9-24
9.17 Decantadores tubulares: tipos 9-26
9.18 Módulos tubulares 9-27
9.19 O modelo de Yao 9-28
9.20 Variação da relação vsc/vH2O com l1 9-31
9.21 Variação de vsc/vH2O x θ 9-32
9.22 Variação da relação vsc/vH2O com l1 (θ = 60o) 9-32
9.23 Estruturas de entrada e saída em decantadores
de fluxo laminar: determinação da relação l/H 9-34
9.24 Valores máximos de l / H 9-36
9.25 Decantador de fluxo laminar, de escoamento
horizontal (conforme concebido por C. A. Richter) 9-36
9.26 Decantadores clássicos: comportas de acesso 9-38
9.27 Decantadores e canal de acesso de água floculada 9-41
9.32 Tubos perfurados coletores de água decantada 9-53
9.33 (a) Zona de saída dos decantadores clássicos: linhas isotáquicas 9-53
9.33 (b) Zona de saída dos decantadores clássicos: linhas isotáquicas 9-53
9.34 Calha coletora de água decantada 9-54
9.35 Volume de controle para a aplicação da
equação da quantidade de movimento 9-55
9.36 Cálculo da área situada na parte côncava da parábola 9-55
9.37 Cálculo do volume do volume de controle 9-56
9.38 Bordas vertedouras ajustáveis 9-60
9.39 Descarga de fundo de decantadores de seção retangular 9-63
9.40 Descarga de fundo de decantadores de seção circular 9-64
9.41 Decantadores tubulares: descarga de fundo 9-67
9.42 Remoção hidráulica de lodos através de manifolds:
distância máxima entre dois orifícios consecutivos 9-69
9.43 Fixação do valor de x em função de Di 9-70
9.44 Profundidade do registro de descarga 9-71
9.45 Decantadores tubulares: sistema distribuidor 9-75
9.46 Problema resolvido 9.6 9-77
9.47 Gradiente de velocidade nas comportas de acesso 9-78
S-14
9.48 Gradiente de velocidade na cortina 9-79
9.49 Problema 9.7 9-82
9.50 Determinação de G no tubo distribuidor 9-83
9.51 Determinação de G nos orifícios 9-83
10.1 Filtro de fluxo descendente: esquema explicativo 10.3
10.2 Filtro de fluxo ascendente: esquema explicativo 10.4
10.3 Filtro de fluxo ascendente: calha coletora comum
para água filtrada e água de lavagem 10.4
10.4 Filtro de fluxo ascendente com sistema auxiliar de
lavagem da camada suporte 10.6
10.5 Bocais patenteados para fundos falsos 10.11
10.6 Blocos patenteados para fundos falsos 10.12
10.7 Filtro de fluxo ascendente com fundo falso utilizando
blocos cerâmicos 10.12
10.8 Fundo falso utilizando tubos perfurados em filtros
de fluxo descendente 10.13
10.9 Fundo falso utilizando tubos perfurados em filtros
de fluxo descendente 10.14
10.10 Vigas pré-fabricadas (californianas) para fundos falsos 10.15
10.11 Camada suporte utilizada pela COPASA para fundos
falsos que utilizam vigas californianas 10.15
10.12 Filtro ascendente utilizando vigas californianas como fundo falso 10.16
10.13 Camadas suporte (a) assimétrica e (b) simétrica: exemplos 10.17
10.14 Blocos cerâmicos: perda de carga x taxa de lavagem 10.27
10.15 Blocos plásticos: somente água para de lavagem – perda
de carga x taxa de lavagem (temperatura média da água = 73ºF) 10.28
10.16 Blocos plásticos: lavagem com ar e água
simultaneamente – perda de carga x taxa de lavagem da água 10.29
10.17 Blocos plásticos: lavagem com ar e água
simultaneamente – perda de carga x taxa de lavagem do ar 10.30
10.18 Perda de carga em vigas californianas 10.33
10.19 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total
constante e velocidade de aproximação variável:
arranjo do filtro 10.35
10.20 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total
constante e velocidade de aproximação variável:
evolução da taxa de filtração com o tempo 10.36
10.21 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
10.22 velocidade de aproximação constantes: arranjo de filtro
10.23 (concepção clássica) 10.37
10.22 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação constantes: evolução da perda
de carga ao longo do tempo 10.37
10.23 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação constantes: arranjo do filtro
(concepção alternativa) 10.39
S-15
10.24 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total
variável e velocidade de aproximação constante: arranjo do filtro 10.39
10.25 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total
variável e velocidade de aproximação constante: evolução
da taxa de filtração e da perda de carga ao longo do tempo 10.40
10.26 Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação variáveis: arranjo de filtro 10.42
10.27 Filtros de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação variáveis: evolução da taxa de
filtração e da perda de carga ao longo do tempo 10.43
10.28 Filtros ascendentes de taxa constante e carga variável:
arranjo dos filtros 10.44
10.29 Filtros ascendentes de taxa constante e carga variável:
evolução da taxa de filtração e da perda de carga com o tempo 10.45
10.30 Filtros ascendentes de taxa e carga variáveis: arranjo dos filtros 10.46
10.31 Filtros ascendentes de taxa e carga variáveis: evolução da
taxa de filtração e da perda de carga com o tempo 10.46
10.32 Filtro lento de fluxo descendente: lavagem do leito filtrante 10.47
10.33 Filtro lento de fluxo ascendente: lavagem do leito filtrante 10.48
10.34 Filros de fluxo descendente: lavagem via reservatório, por
gravidade 10.50
10.35 Filtros de fluxo descendente: lavagem via reservatório, por
bombeamento 10.51
10.36 (a) Sistema autolavável de filtros: operação normal do sistema 10.51
10.36 (b) Sistema autolavável de filtros: lavagem de um filtro 10.52
10.36 (c) Sistema autolavável de filtros dotados de lavagem auxiliar
com ar 10.53
10.37 Cortando a superfície filtrante 10.54
10.38 Formação de bolas de lama 10.54
10.39 Bocais fixos 10.55
10.40 Bocais fixados em braços rotativos 10.56
10.41 Lavagem auxiliar com ar 10.57
10.42 Equipamento para lavagem auxiliar com ar para pequenos
filtros de camada filtrante dupla construído na própria ETA 10.58
10.43 Tubos perfurados na camada suporte para lavagem auxiliar de
filtro de fluxo ascendente 10.59
10.44 Calhas coletoras de água de lavagem: seções transversais 10.68
10.45 Calhas coletoras de água de lavagem: bordas vertedouras 10.68
10.46 Calhas coletoras de água de lavagem: posicionamento
sobre o leito filtrante 10.68
10.47 Calhas coletoras de água de lavagem: disposição
sobre o leito filtrante 10.69
10.48 Resolução do problema 10.14.1 10.78
11.1 Tanque de contato e reservatório de compensação 11.2
11.2 Variação da concentração de HClO e ClO-, NHCl2 e NH2Cl
na água, conforme o pH 11.5
S-16
11.3 Residual mínimo de cloro (livre e combinado) na água
a 25ºC, conforme o pH, para destruição de bactérias
(tempo de contato = 30 minutos
11.4 Métodos para aplicação de solução de gás cloro
na água em tratamento 11.8
11.5. Containers de cloro molecular 11.9
11.6 Esquema de uma instalação cloradora com clorador a vácuo 11.10
11.7 Curvas características de uma família de ejetores 11.10
11.8 Elementos necessários à seleção do ejetor 11.11

S-17
Sabe-se que a existência da água é essencial para o desenvolvimento de
praticamente todas as atividades realizadas pelo homem sobre a terra, sejam
elas urbanas, industriais ou agropecuárias.
A água é essencial para a existência da própria vida sobre nosso planeta.
É um dos principais componentes do protoplasma (no caso do homem, 70%
do seu corpo e 90% do seu sangue) e responsável pelo equilíbrio térmico da
Terra.
Devido a uma série de propriedades físicas, químicas e físico-químicas que
lhe são peculiares, algumas das quais fogem inteiramente às regras gerais
seguidas pelos demais compostos conhecidos (e.g.: o fato de ser, à temperatura
e pressão ambientes, um líquido), a água pode ser considerada o bem mais caro
oferecido pela mãe Natureza, capaz de mostrar, em cada uma de suas múltiplas
propriedades, uma pontinha do Dedo Divino.
Deve-se a Píndaro, o grande poeta lírico da Grécia antiga, a apreciação: de
todas as coisas, a melhor é a água 2.
Como todos os demais tópicos da engenharia, o abastecimento de água tem
sua história.
O primeiro sistema público de água de que se tem notícia, o aqueduto de
Jerwan, foi construído na Assíria (691 a.C.) 3.
Para Fair, Geyer e Okun 6, são especialmente notáveis notáveis os
aquedutos da antiga Roma e seus domínios. Segundo esses autores, Sextus
Julius Frontinus, encarregado de águas de Roma, 97 a.C., reportou a existência
de nove aquedutos abastecendo Roma, com extensões variáveis de 16
quilômetros até mais de 80 quilômetros, e com seções transversais desde 0,65
até 4,65 metros quadrados. Clemens Herschell (1842 – 1930), engenheiro
hidráulico, inventor e tradutor de manuscritos clássicos (Frontinus and the water
supply of the city of Rome, Longmans, Green Co., 1913) estimou a capacidade
somada dos aquedutos em 221,9 milhões de litros por dia. Esse volume diário
corresponde a uma vazão média de 2,57 metros cúbicos por segundo, suficiente
hoje em dia para abastecer uma cidade de 600.000 habitantes, admitidos uma
cota per capita de 300 litros por dia e um coeficiente do dia de maior consumo
igual a 1,2.
Entretanto, somente no início do século XIX é que se passou a dispensar
maior atenção à proteção da qualidade da água, desde sua captação até sua
entrega ao consumidor.
Tal preocupação decorreu das descobertas científicas efetuadas a partir de
então, que mostraram haver relação entre a água e a transmissão de muitas
1-1
doenças causadas por agentes físicos, químicos e biológicos.
Foram notáveis as contribuições devidas a, pelo menos, dois grandes
cientistas médicos: o Dr. John Snow, que demonstrou em 1819 (antes, portanto,
das descobertas de Louis Pasteur), o papel da poluição fecal da água potável no
que se relaciona com a epidemia da cólera, e o Dr. William Budd, que a partir de
1857 estudou a febre tifóide, sua natureza, suas formas de propagação e
prevenção 5.
Atualmente, um sistema de abastecimento de água compõe-se de unidades
projetadas, construídas e operadas de forma a assegurarem desempenho
hidráulico satisfatório e qualidade da água adequada à finalidade a que se
destina.
Além das preocupações com a qualidade da água, acrescentam-se as de
ordem econômica: o aparentemente infindável acréscimo da demanda hídrica,
motivado pelo crescimento dos centros urbanos e industriais, faz necessário
buscar a água de abastecimento a distâncias cada vez maiores. Somente assim
é possível encontrar mananciais suficientemente caudalosos, formados por
extensas bacias hidrográficas e que ainda estejam a salvo da poluição.
Neste ponto, é importante lembrar que a poluição hídrica exige que o
tratamento da água, visando à sua potabilização, utiliza recursos cada vez mais
sofisticados.
É certo que existem possibilidades amplas, praticamente ilimitadas, do ponto
de vista técnico, para a potabilização de águas poluídas. Entretanto, o custo
desse tratamento e a possibilidade de ocorrência de falhas operacionais nas
estações de tratamento, quase sempre conduzem à escolha de um manancial
mais distante e menos poluído.
Naturalmente, o corpo d’água captado é selecionado de forma que suas
características indesejáveis, que se pretende remover através do tratamento,
não excedam as limitações naturais de uma estação de tratamento do tipo
convencional 5.
O conceito de recurso inesgotável que prevalecia até há algum tempo atrás
para a água já foi desmistificado.
Algumas estimativas feitas a médio prazo chegam a ser preocupantes, tais
como a que foi apresentada por Stone 9, segundo a qual por volta de 2020 a
demanda de água excederá a disponibilidade de recursos hídricos nos Estados
Unidos.
Em recente publicação, Rodda 7 descreve: a vazão somada de todos os rios
do mundo está entre 35.000 e 50.000 quilômetros cúbicos de água por ano. Esta
é a maior parte do aporte de água com a qual a humanidade conviverá, o
recurso água doce que também inclui a água subterrânea e algumas fontes de
suprimento localizadamente importantes, tais como a água do orvalho e o
proveniente da dessalinização. É claro que o comportamento da vazão com que
os rios escoam varia, ano a ano, de uma para outra parte do mundo, e nem toda
essa água encontra-se disponível para uso. Como utilizar as águas do rio
Amazonas ou do Mackenzie, isto é, para abastecer São Paulo ou a cidade do

1-2
México? Como utilizar, de modo benéfico, o crescente volume de água poluída,
superficial ou subterrânea?
O mesmo autor afirma que antes do ano 2050 a demanda global mundial de
água poderá ser duas ou três vezes a atual. Nessa época estaremos utilizando
entre 25 e 35% da vazão mundial total dos rios, e grande parte dessa demanda
ocorrerá nas áreas onde atualmente os recursos hídricos já são escassos.
É, portanto, de grande profundidade a afirmação do professor José
Martiniano de Azevedo Netto 2:
O país que, por falta de visão, incapacidade de planejamento ou
negligência, permitir a dissipação de seus recursos, pagará mais cedo ou mais
tarde por seu desleixo.
Realmente, não é sem a aplicação de enormes somas em programas
específicos que os países europeus vêm promovendo a recuperação de seus
recursos hídricos (em certos casos, com muito sucesso: periódicos ingleses
exibiam, orgulhosamente, há pouco tempo atrás, fotos de pescadores em
Londres com seus anzóis mergulhados nas águas do outrora poluidíssimo rio
Tamisa).
Os núcleos urbanos e industriais demandam volumes cada vez maiores de
água para consumo.
Por outro lado, na maioria dos casos a vazão do esgoto produzido por esses
núcleos pouco difere da vazão de água consumida.
É sabido que a demanda per capita de água nas cidades tende a aumentar
com seu desenvolvimento progressivo.
Em Minas Gerais, por exemplo, consomem-se cerca de 150 litros por
habitante por dia em cidades de pequeno porte (população até 5.000
habitantes), enquanto que, em certas regiões de Belo Horizonte, esse valor
chega a atingir a casa dos 400 litros diários.
Acrescenta-se a isto a demanda industrial.
Segundo Silvestre 8, são gastos 18 litros de água para refinar um litro de
petróleo, e 270 litros para produzir um quilograma de aço, o que pode expressar
a importância desse líquido na economia mundial.
As afirmações anteriores explicam a crescente preocupação em preservar e
despoluir os corpos d’água. Não se trata de questão meramente emocional ou
econômica, mas de sobrevivência.
A preocupação com os aspectos econômicos dos sistemas de
abastecimento de água tem levado alguns autores a escreverem sobre a
indústria da água tratada, comparando sua captação com a extração da matéria
prima; o tratamento da água com o fabrico do produto final; a adução da água
tratada com o transporte do produto final ao consumidor, e finalmente o sistema
distribuidor com a entrega do produto final ao consumidos, quando ele é
entregue embalado em prefeitas condições no interior dos tubos da rede de
distribuição 4.
Talvez a maior diferença entre uma indústria qualquer e a indústria da água
tratada resida no fato de que, neste caso, quanto mais inviável seja o mercado
consumidor do produto final, mais necessária se faça a implantação da indústria,
de forma a oferecer, a médio e a longo prazos ao núcleo beneficiado, melhores
1-3
condições de saúde e desenvolvimento, capazes de, algum dia, transforma-lo
em mercado viável.
Questões para recapitulação
(Respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) fala(s) ou verdadeira(s):


1. 70% do corpo humano e 90% do seu sangue são constituídos por água.
2. A água pouco influi no equilíbrio térmico da Terra.
3. Somente no final do século XIX é que se passou a dispensar maior atenção
à proteção da qualidade da água, em virtude das descobertas científicas
efetuadas a partir de então, que mostraram haver relação entre a água e a
transmissão de muitas doenças causadas por agentes físicos, químicos e
biológicos.
4. Em 1819, o Dr. John Snow demonstrou o papel da poluição fecal da água
potável no que se relaciona com a epidemia da cólera.
5. A partir de 1857, o Dr. William Budd estudou a febre tifóide, sua natureza,
suas formas de propagação e prevenção.
6. Em virtude das possibilidades amplas e ilimitadas para a potabilização de
águas poluídas, estamos livres da ameaça da falta d’água potável devida à
poluição dos mananciais.
7. Os núcleos urbanos e industriais demandam volumes cada vez maiores de
água para consumo e, na maioria dos casos, a vazão do esgoto produzido
por esses núcleos pouco difere da vazão de água consumida.

Respostas:
1(v), 2 (f), 3(v), 4(v), 5(v), 6(f); 7(v)

Referências bibliográficas

1. AZEVEDO NETTO, J. M. de. Importância da água: o ciclo hidrológico; água


subterrânea. In: Construção, operação e manutenção de poços. São
Paulo: CETESB, 1973. 10p. (Curso).
2. ________________ Importância do problema da poluição das águas. In:
Construção, operação e manutenção de poços. São Paulo: CETESB,
1973. 22p. (Curso).
3. ________________, ALVAREZ, G. A. Manual de hidráulica. 7. ed. Ver
compl. São Paulo: Edgard Blücher, 1991, 2v.
4. BATALHA, Bem-Hur Luttembark, PARLATORE, Antônio Carlos. Controle da
qualidade da água para consumo humano; bases conceituais e
operacionais. São Paulo: CETESB, 1977. 185p.
5. BRANCO, Samuel Murgel, ROCHA, Aristides Almeida. Poluição, proteção e
usos múltiplos de represas. São Paulo: Edgard Blücher, 1977, 185p.
6. FAIR, Gordos Maskew, GEYER, John Charles, OKUN, Daniel Alexander.
Abastecimiento de aguas y remoción de aguas residuales. México:
Editorial Limusa, 1974.

1-4
7. RODDA, John C. Facing up to the looming world water crisis. Water briefing,
London, n.28, p.1-15, Jan.1995.
8. SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. Rio de Janeiro: LTC, 1979, 316p.
9. STONE, Ralph. Water reclamation: techology and public acceptance. Journal
of the Environmental Engineering Division, New York, V.102, n.EE6,
p.582-94, Jun.1976.

1-5
2.1. Generalidades

É bem maior que se pode julgar à primeira vista a profundidade das já


citadas palavras do poeta grego Píndaro: De todas as coisas, a melhor é a água.
Uma análise mais cuidadosa de suas características físicas, químicas e físico-
químicas será capaz de revelar fatos ao mesmo tempo estranhos, interessantes
e indispensáveis para a manutenção de qualquer das formas conhecidas de vida
no planeta Terra.
Com relação à sua estrutura química básica, aprende-se já na Química
ministrada nos cursos secundários que a água é constituída de um átomo de
oxigênio unido a dois átomos de hidrogênio através de ligações covalentes.
As propriedades químicas desse tipo de estrutura fariam com que se
esperasse que a água, nas condições ambientes, se apresentasse no estado
gasoso, não fosse o surgimento das denominadas pontes de hidrogênio.
Tal fenômeno surge em virtude da molécula da água (H-O-H) não ser
exatamente linear. O ângulo de ligação entre seus constituintes é de 105º, ao
invés de 180º, sendo suficiente para produzir um desequilíbrio elétrico na
molécula. O átomo de oxigênio torna-se parcialmente negativo, e os átomos de
hidrogênio tornam-se parcialmente positivos, propiciando que as moléculas de
água mantenham-se ligadas umas às outras por forças eletrostáticas. O mesmo
fenômeno não ocorre em compostos de estrutura química semelhante, tais como
o H2Se, H2Te, H2S e outros, que são gases nas condições ambientes.
Entretanto, não se consegue explicar de forma tão imediata outras
propriedades da água.
Assim, por exemplo, ao se observar sua curva densidade x temperatura,
verifica-se que não ocorre, como na maioria das demais substâncias conhecidas,
uma relação inversa entre as duas variáveis. Vê-se claramente (e constata-se
experimentalmente em atividades simples do cotidiano, como durante o degelo
de um refrigerador doméstico), que a água no estado sólido apresenta
densidade menor que no estado líquido. Sabe-se que sua maior densidade
ocorre em torno de 4ºC.
Diversas teorias, sumarizadas por Branco 3, buscam explicar essa anomalia,
responsável pelo não congelamento de todas as massas de água da terra
durante o inverno, inclusive dos oceanos, possibilitando a continuidade da vida
no planeta ao longo de toas as estações do ano. O conhecimento desta
característica particular da água é altamente relevante no estudo da limnologia e,
portanto, da qualidade da água dos lagos.
2-1
É de grande importância, do ponto de vista hidráulico e sanitário, o
conhecimento de outras propriedades básicas da água, tais como: peso
específico, módulo de elasticidade, viscosidade, tensão de vapor, tensão
superficial e calor específico 12.
Em obras clássicas de Ecologia Aplicada, Branco 3 e Rocha 10 descrevem,
de forma didática e atraente, a importância de cada uma dessas propriedades.

2.2. A água: solvente universal

Quase todas as substâncias, em maior ou menor concentração, podem ser


dissolvidas pela água.
Essas substâncias conferem-lhe características peculiares, que a tornarão
própria ou imprópria para consumo humano ou industrial.
É evidente, portanto, que não haja água pura na Natureza, do ponto de vista
químico. Aliás, para fins de abastecimento de água, é até desejável que isto
ocorra. A água quimicamente pura é insípida e imprópria para consumo, uma
vez que seria agressiva para muitos materiais constituintes das unidades dos
sistemas de abastecimento e, teoricamente, capaz de alterar o equilíbrio
osmótico do organismo humano.
A água potável é, portanto, uma solução, praticamente incolor, agradável à
vista e ao paladar. Traz dissolvida consigo, entre outras substâncias, silicatos,
bicarbonatos, íons metálicos e halogênios, cujos teores variam de local para
local (poder-se-ia dizer que é praticamente impossível encontrar dois mananciais
com águas cujas análises de laboratório apresentassem resultados idênticos),
algumas das quais são adicionadas nas estações de tratamento de água (entre
as quais destacam-se o cloro desinfetante, alcalinizantes destinados a reduzir a
agressividade da água e íons fluoreto adicionados para a redução da incidência
da cárie dentária em crianças de idade escolar).
Através das análises de laboratório realizadas em amostras de água in
natura pode-se reconstituir partes importantes de sua história, em vista de
substâncias nela contidas e que terão sido dissolvidas em seu percurso.
Para melhor caracterizar a afirmação anterior, procurar-se-á descrever, em
seguida, de modo singelo, o ciclo das águas naturais 8.
Para efeitos práticos, pode-se admitir que a água precipitada pelas chuvas
seja pura.
Ao cair, ela absorve os gases e vapores normalmente presentes na
atmosfera, notadamente: oxigênio, nitrogênio e gás carbônico.
Ao atingir a terra, parte da água filtrada infiltra-se, indo constituir as reservas
subterrâneas, e outra parte escoa sobre a superfície, indo mais tarde atingir os
lagos e os cursos d’água.
Cessada a chuva, cessa também o escoamento superficial resultante.
Contudo, os lagos e cursos d’água perenes não se extinguem, pois são
abastecidos pelos mananciais subterrâneos.
Ao escoar sobre o solo, de forma temporária, durante as chuvas, ou de
forma contínua, nos cursos d’água perenes, a água leva consigo parte dos
constituintes desse solo, sob forma de suspensões ou soluções. Evidentemente,
2-2
esses constituintes, bem como suas concentrações, dependerão das
características geológicas, topográficas e da natureza do uso do solo.

Fig. 2.1 – O ciclo das águas (adaptado de Fair, Geyer e Okun 7)

Em regiões calcárias, a água dissolverá carbonatos, enquanto que em solos


cristalinos a concentração desses compostos será menor.
Solos sobre os quais desenvolvem-se atividades agrícolas intensas,
compreendendo operações de aragem, fertilização artificial, aplicação de
biocidas, plantio e colheita, conferirão à água concentrações de matérias em
suspensão e produtos químicos sintéticos, capazes de condenar sua utilização
para abastecimento público doméstico.
Por outro lado, águas provenientes de lagos naturais, ou de lagos artificiais
construídos com os cuidados recomendados pela boa técnica 5, quase sempre
apresentam baixas concentrações de matérias em suspensão. Em alguns casos,
entretanto, são aí encontradas algas e outros organismos capazes de conferir-
lhes odores e sabores, sobretudo em épocas determinadas do ano em que
encontram condições favoráveis para se reproduzirem de forma excepcional.
No caso de águas superficiais de baixa velocidade, sobretudo em brejos e
pântanos, a decomposição da matéria orgânica contribui para o aumento da cor,
do sabor e do odor da água. Publicações especializadas têm apresentado
artigos a respeito da presença de compostos orgânicos naturais que, ao se
combinarem com o cloro adicionado nas estações de tratamento, formam
compostos denominados trihalometanos, apontados como substâncias
possivelmente carcinogênicas. Para evitar essa formação, devem ser tomadas
medidas especiais durante o tratamento da água 9,11.
As águas superficiais também arrastam consigo diversos microrganismos de
vida livre, bem como outros típicos do trato intestinal de animais de sangue
quente. Sua presença é detectável pelas análises bacteriológicas de rotina.

2-3
Números elevados desses microrganismos podem indicar a presença de algum
ponto de lançamento de esgoto orgânico a montante.
Entre esses organismos, assumem importância especial, do ponto de vista
sanitário, as bactérias do grupo coli (ao qual pertencem as do gênero
Escherichia) que são habitantes normais do intestino humano e de outros
animais homeotermos. Incluem-se nesse grupo também outras espécies
capazes de viver e reproduzir-se em vida livre, como habitantes do solo. É
possível, entretanto, fazer a distinção, no laboratório, entre os dois tipos.
Cabe observar que essas bactérias não causam, em geral, danos ao seu
hospedeiro, mas admite-se que sua ocorrência na água esteja associada à
presença de organismos patogênicos.
Dessa forma, costuma-se considerar que as águas que contenham mais de
1 bacilo coli por 100 mililitros são impróprias para consumo, devendo sofrer, pelo
menos, desinfecção prévia 4.
Existem, além disto, limites pré-estabelecidos por instrumentos legais para a
concentração de coliformes em águas naturais, acima dos quais considera-se
que o tratamento convencional é insuficiente para a sua potabilização 6 (ver
também o Anexo 13 desta publicação).
A parcela de água que se infiltra no solo vai constituir as reservas
subterrâneas.
Em seu caminho, a água absorve e libera gases, interagindo com o
ambiente circundante, conforme sua natureza.
Em solos férteis, ela desprenderá o oxigênio dissolvido e absorverá o gás
carbônico. Ocorrerá, em conseqüência, a abaixamento do pH, e a dissolução de
alguns minerais do solo.
Evidentemente, a água atingirá os lençóis subterrâneos trazendo consigo as
substâncias solúveis presentes nas sucessivas camadas do solo que terá
atravessado, variáveis de região para região, podendo conter íons Ca+2 e Mg+2,
entre outros, responsáveis pelo aumento da denominada dureza da água, e
associados principalmente a bicarbonatos, sulfatos e cloretos.
Poderá conter também ferro e manganês, capazes de encardir louças e
tecidos, entre outros efeitos 1.
Por outro lado, a filtração natural elimina, na maioria dos casos, a matéria
orgânica e os microrganismos 8.
Com menor freqüência, podem ser encontrados nas águas subterrâneas
gases dissolvidos, tais como: gás sulfídrico e metano, resultantes da
decomposição de matéria orgânica.
De modo geral, a água subterrânea é potável, ou necessita pequenas
correções em sua composição para se tornar potável. Na maioria dos casos, o
tratamento da água subterrânea inclui apenas instalações de cloração, de forma
a assegurar-lhe proteção para o caso de ocorrência de pequenas e eventuais
contaminações no sistema distribuidor, e a adição de algum alcalinizante, com
vistas a eliminar sua agressividade, caso necessário.
Algumas vezes, é necessário remover o ferro, sempre que esse metal
estiver presente em concentrações inaceitáveis.

2-4
Com menor freqüência, poderá ser necessário remover o manganês e
certos gases dissolvidos, e reduzir a concentração de fluoretos.
É preciso estar atento, entretanto, à possibilidade de contaminação do lençol
subterrâneo, especialmente do freático.
O lençol freático é especialmente sujeito à contaminação, especialmente à
bacteriológica, que pode originar-se do contato indireto com fossas ou cursos
d’água que recebam lançamentos de esgoto sanitário.
Poços profundos mal construídos costumam buscar corretamente a água do
aqüífero confinado, sob a camada impermeável do solo, mas ao atingirem a
camada impermeável, instalam filtros nesse local, com o objetivo de aproveitar
também a água do aqüífero livre (freático). Caso esse lençol esteja contaminado,
a instalação do filtro terá comprometido a boa qualidade da água do poço e,
possivelmente, estabelecido a contaminação do aqüífero confinado.
Vignoli Filho elaborou interessante levantamento em poços no estado de
Minas Gerais, tendo encontrado contaminação bacteriológica em diversos deles
13,14
.

2.3. Distribuição da água sobre a Terra

Sabe-se que grande parcela da superfície da Terra é coberta pelos oceanos,


e que os maiores desníveis existentes em nosso planeta estão submersos.
Ainda assim, torna-se de certa forma compreensível que se considerasse
inesgotáveis os recursos hídricos, e que tão pouca importância fosse atribuída à
sua conservação.
Uma análise mais cuidadosa da forma que a água se distribui sobre a Terra
certamente contribuirá para que o leitor compreenda melhor a real magnitude
dos recursos hídricos utilizáveis para abastecimento.
Azevedo Netto descreve, de forma particularmente interessante, como se
distribui a água sobre a Terra 2. Reproduz-se essa descrição a seguir.
Os oceanos contêm 97,4% de toda a água do planeta. Como água doce
sobram apenas 2,6%.
De toda a água doce existente (2,6%), a maior parte (2,3%, ou seja, 90% do
total) não se aproveita: a água encontra-se nas geleiras polares e glaciais e
também no sub-solo, em grandes profundidades (abaixo de 800 m).
A água aproveitável corresponde apenas a 0,3% do total, e em toda essa
parcela os rios e lagos somam apenas 0,01%. Quase toda a água aproveitável
encontra-se nos lençóis subterrâneos.
Essa grande parcela de água doce disponível no subsolo, aliada à sua boa
qualidade na maioria dos casos, explica o porquê de se procurar, em primeiro
lugar, sempre que possível, os mananciais subterrâneos para o abastecimento
público.
Evidentemente, nem sempre eles serão a solução almejada, em vista, entre
outros fatores, das características hidrogeológicas da região (a maioria dos
terrenos de Minas Gerais, por exemplo, apresenta sub-solo constituído de
aqüíferos pobres) quando confrontadas com a demanda a ser atendida.

2-5
São então aproveitados os recursos hídricos superficiais, principalmente
para o abastecimento de centros urbanos de maior porte.

Questões para recapitulação


(Respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) fala(s) ou verdadeira(s):


1. O fenômeno denominado pontes de hidrogênio surge em virtude da molécula
de água (H-O-H) não ser exatamente linear.
2. A água no estado sólido apresenta densidade maior que no estado líquido.
Sabe-se que sua menor densidade ocorre em torno de 4ºC.
3. Quase todas as substâncias, em maior ou menor concentração, podem ser
dissolvidas na água.
4. A água potável é uma solução, praticamente incolor, agradável à vista e ao
paladar.
5. Ao cair, sob forma de chuva, a água absorve os gases e vapores
normalmente presentes na atmosfera, notadamente oxigênio, nitrogênio e
gás carbônico.
6. Em regiões calcárias, a água dissolverá carbonatos, enquanto que em solos
cristalinos a concentração desses compostos será menor.
7. Águas provenientes de bacias hidrográficas cobertas por vegetação nativa e
permanente serão quase sempre de boa qualidade, podendo ser
potabilizadas com os recursos oferecidos por uma instalação convencional
de tratamento de água.
8. Algas e outros organismos presentes em águas de lagos poderão conferir-
lhes odores e sabores.
9. A decomposição da matéria orgânica contribui para o aumento da cor, do
odor e do sabor da água.
10. Publicações especializadas têm apresentado artigos a respeito da presença
de compostos orgânicos naturais que, ao se combinarem com o cloro
adicionado nas estações de tratamento, formam compostos denominados
trihalometanos, apontados como substâncias possivelmente carcinogênicas.
11. As bactérias do grupo coli (ao qual pertencem as do gênero Escherichia) não
são habitantes normais do intestino humano. Incluem-se nesse grupo
também outras espécies capazes de viver e reproduzir-se em vida livre,
como habitantes do solo, não sendo possível fazer a distinção, em
laboratório, entre os dois tipos.
12. Bactérias coliformes causam, em geral, danos irreparáveis ao seu
hospedeiro.
13. Ferro e manganês são capazes de encardir louças e tecidos, entre outros
efeitos.
14. De modo geral, a água subterrânea é potável, ou necessita pequenas
correções em sua composição para se tornar potável.
15. É preciso estar atento à possibilidade de contaminação do lençol
subterrâneo, especialmente do freático.
16. O lençol freático é imune à contaminação, inclusive à bacteriológica.
2-6
17. Os oceanos contêm 97,4% de toda a água do planeta. Como água doce
sobram apenas 2,6%.

Respostas:
1(v); 2 (f); 3(v); 4(v); 5(v); 6(v); 7(v); 8 (v); 9(v); 10(v); 11(f); 12(f); 13(v); 14 (v);
15(v); 16(f);17(v)

Referências bibliográficas

1. AWWA. American Water Works Association. Water quality and treatment,


3.ed. New York, Mc Graw-Hill, 1971, 654p.
2. AZEVEDO NETTO, J. M. de. Importância da água: o ciclo hidrológico; água
subterrânea. In: Construção, operação e manutenção de poços. São
Paulo: CETESB, 1973. 10p. (Curso).
3. BRANCO, Samuel Murgel. A água como meio ecológico. In: _____________.
Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária. 2. ed. São Paulo: CETESB,
1973. cap.4, P.121-57.
4. ________________, Classificação dos seres vivos. In: _____________.
Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária. 2. ed. São Paulo: CETESB,
1973. cap.3, P.55-120.
5. ________________, ROCHA, Aristides Almeida. Poluição, proteção e usos
múltiplos de represas. São Paulo: Edgard Blücher, 1977, 185p.
6. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n. 20 de 18 de
jun. 1986. Diário Oficial da União, Brasília.
7. FAIR, Gordos Maskew, GEYER, John Charles, OKUN, Daniel Alexander.
Elementos de hidrologia. In: ________________. Abastecimiento de
aguas y remoción de aguas residuales. México: Editorial Limusa,
1974.v.1, cap. 6, p. 163-84.
8. ________________. Calidad de las aguas - objectivos. In: Purificación de
aguas y tratamiento de aguas residuales. México: Editorial Limusa,
1974.v.1, cap. 19, p. 11-46.
9. NORMAN, Thomas S., HARMS, Leland L., LOOYENGA, Robert W. The use
of Chloramines to prevent trihalomethane formation. Journal AWWA,
v.72, n.3, p.176-80, Mar. 1980.
10. ROCHA, Aristides Almeisa. O meio aquático. In:
________________.Ecología aplicada e proteção ao meio ambiente. São
Paulo: CETESB, 1976, 11p. (Curso)
11. TRIHALOMETHANES in water: diagnosis and prognosis. Journal AWWA,
v.71, n.9, p.473, Sept. 1979.
12. VIANNA, Marcos Rocha. Mecânica dos fluidos para engenheiros,. 4.ed. Belo
Horizonte, Imprimatur, 2001, 581p.
2-7
13. VIGNOLI FILHO, Orlando. Observações sobre a contaminação de águas
subterrâneas em Minas Gerais [S.1;s.n]. (trabalho não publicado)
14. ________________. Estudo comparativo de ocorrência de organismos
patogênicos em águas subterrâneas e seu relacionamento com os
indicadores biológicos usuais. [S.1;s.n]. 1978. (trabalho não publicado)

2-8
3.1. Introdução

Os sistemas de suprimento de água devem ser projetados, construídos e


operados de forma a fornecerem aos consumidores água em quantidade e
qualidade compatíveis com suas necessidades, ao longo de certo tempo
comumente denominado alcance do plano.
Esse alcance é variável, sendo definido através de estudos técnico-
econômico-comparativos
Para o abastecimento de outros tipos de consumidores (indústrias, projetos
de irrigação, acampamentos provisórios) o alcance do plano deve ser examinado
caso por caso, uma vez que depende dos interesses do contratante (que poderá
ser uma ou mais empresas da iniciativa privada ou órgão estatal, etc.).
A água de abastecimento deverá estar disponível em quantidade e
qualidade compatíveis com as necessidades do consumidor.
Neste capítulo, abordar-se-á o aspecto qualidade da água, no que se refere
ao abastecimento das populações, uma vez que a quantidade demandada para
outros fins é muito variável, devendo cada caso ser analisado cuidadosamente.

3.2. Água bruta, água tratada e água potável

a) Água bruta

Água bruta é a água da forma como é encontrada na Natureza.


O termo bruta designa apenas que ela não foi trabalhada pelo homem, não
significando que ela não se preste para consumo.
É claro que, na maioria dos casos, ela é imprópria para esse fim, por haver
estado exposta aos elementos e, portanto, à poluição.
Entretanto, mananciais de águas de superfície que se mantenham
convenientemente protegidos (e, portanto, a salvo da poluição) podem conter
águas adequadas ao consumo sem tratamento prévio.
Dois fatores fundamentais contribuem para que a água de superfície torne-
se imprópria para consumo:

• A água é denominada por alguns de solvente universal. Isto porque ela é


capaz de dissolver praticamente tudo com o que entre em contato, sejam
sólidos (e.g.: rochas, partículas radioativas), líquidos (e.g.: biocidas,
detergentes) e gases (e.g.: emissões gasosas industriais e de veículos).
3-1
• O fato da água encontrar-se à superfície do solo e, portanto, exposta a
diversas fontes poluidoras.

b) Água tratada

Água tratada é a água que tenha sido submetida a algum tipo de tratamento,
buscando torna-la adequada para o consumo.
Água tratada não é, necessariamente, sinônimo de água potável (embora
freqüentemente o termo seja utilizado com essa finalidade).
Assim, por exemplo, para muitas finalidades industriais, basta remover da
água parte dos sólidos que ela traz em suspensão consigo. Isto não basta para
assegurar a potabilidade da água.
Da mesma forma, a água potável pode não se apresentar suficientemente
tratada para algumas finalidades industriais, que exigem tratamento
complementar, com vistas a torna-la praticamente pura.

c) Água potável

Entende-se por água potável aquela que pode ser bebida sem causar
danos à saúde ou objeções de caráter organoléptico. Por extensão, aquela que
pode ser empregada no preparo de alimentos 2.
Água potável não é água porá, quimicamente falando. Na realidade, a água
potável é uma solução de uma infinidade de substâncias, algumas das quais a
água trouxe consigo da Natureza, outras que lhe são introduzidas ao longo dos
processos de tratamento.
Os limites em que essas substâncias podem estar presentes na água
potável são estabelecidos pelo padrão de potabilidade.
Da definição anterior, resulta que não basta que a água esteja isenta de
substâncias ou microrganismos patogênicos para ser considerada potável. É
também necessário que ela não traga consigo substâncias capazes de
adicionar-lhe cor, turbidez ou gosto desagradáveis, ainda que essas substâncias
sejam inofensivas ao organismo humano.
Cabe salientar que, em muitos casos, à sujeira da água costumam estar
associadas substâncias e microrganismos patogênicos (embora não seja regra
geral).
Além disso, os componentes dessa sujeira costumam atuar como barreiras
protetoras para os agentes desinfetantes comumente utilizados no tratamento da
água.
É importante ter em mente, por outro lado, que águas limpas nem sempre
estão isentas de contaminantes químicos e/ou biológicos.
No Brasil, o padrão de potabilidade é estabelecido pela Portaria número
1469/2000, do Ministério da Saúde.
Para comodidade do leitor, ela é reproduzida no Anexo 15 deste livro.
O leitor verificará que essa Portaria não estabelece apenas os valores
máximos permissíveis para os diversos parâmetros ali relacionados, mas
também a freqüência mínima com que eles deverão ser verificados nas águas de
3-2
abastecimento público.

3.2.1. A evolução de potabilidade

Voltando a imaginação para um passado remoto, pode-se visualizar os


ancestrais da atual civilização à procura de uma fonte supridora de água
adequada para consumo.
Naquele tempo, em que a única forma de poluição era a fecal, certamente
as preferências recaíam sobre as nascentes ou torrentes de água límpidas e de
sabor agradável.
A experiência certamente já lhes havia ensinado que às substâncias
capazes de alterar a limpidez e o sabor das águas freqüentemente estavam
associados agentes causadores de doenças, algumas vezes fatais.
Portanto, foi através dos sentidos que o homem estabeleceu os primeiros
padrões de potabilidade, e é através deles que até nossos dias milhares de
seres humanos selecionam a água que vão beber.
Vale acrescentar que não tem sido com muito espanto que se toma
conhecimento de fatos reais de populações que rejeitaram a água oferecida por
sistemas abastecedores recém inaugurados no interior do país, de boa
qualidade, indo abastecer-se de águas provenientes de outras fontes de
abastecimento a cujo sabor já estavam familiarizadas, mas de qualidade
suspeita e, algumas vezes, inadequada.
Numa de suas andanças pelas bibliotecas do país foi que Branco 3
descobriu a que é, provavelmente, a mais antiga recomendação de critério
sanitário de água no Brasil. Encontra-se na obra Da medicina brasileira, devida à
Willem Pies, médico da corte de Nassau, que narrou, em 1648, o que se
transcreve a seguir.
Os velhos naturais, não menos solertes em distinguir pelo gosto as
diferenças das águas, que os nosso sem discernir as várias qualidades dos
vinhos, acusam de imprudência os que colhem as águas sem de nenhum modo
as discriminar. Quanto a eles, buscam as mais tênues e doces, que não deixam
nenhum depósito e as conservam em ar livre em lugares elevados (de
preferência aos subterrâneos por causa do tepor) por dias e noites, em bilhas de
barro, onde não obstante os raios a prumo do sol, se tornam num momento
muito frescas.
Voltando novamente a observar aqueles ancestrais em sua busca por uma
água adequada ao seu consumo, pode-se imaginar com que surpresa
constatavam que uma água límpida e de sabor agradável estava, de alguma
forma, transmitindo enfermidades aos membros do grupo.
É evidente que a culpa só poderia recair sobre os venenos e peçonhas que
seriam lançados à água por cobras, aranhas, sapos e outros animais, ou sobre
outras substâncias tóxicas devidas a plantas.
Registros dessa crença generalizada podem ser encontrados em relatos
devidos a autores antigos, como o famoso cirurgião Ambroise Paré 3.
Cabe neste ponto abrir um parênteses para observar que o microscópio (do
grego: mikros, pequeno + skopos, observador) foi inventado somente em 1683
3-3
por Antony van Leeuwenhock. Tratava-se de um aparelho extremamente
simples, e que em nada se assemelhava aos atuais, quanto à forma. A despeito
de sua simplicidade, os primeiros microscópios permitiam aumentos de até 270
vezes. Com esses aparelhos, esse autodidata holandês (1632 – 1723) realizou
notáveis descobertas, narradas em longa série de cartas à Real Sociedade de
Londres. Entretanto, considera-se que o inventor de fato do microscópio tenha
sido Galileu, apesar de J. e Z. Jassen, fabricantes de óculos de Middelburg,
Holanda, terem construído um microscópio composto, com duas lentes
separadas, por volta de 1590 – 1591 15.
A invenção do microscópio possibilitou a descoberta dos microrganismos,
mas não foi sem longas e acirradas discussões, amparadas por experiências
notáveis, que a suposição devida a Henle e as constatações de Koch, Pasteur e
outros, de que muitos deles eram causadores de enfermidades, passou a ser
aceita no mundo científico 13.
Vale ressaltar que Louis Pasteur (1822 – 1895), a quem atribui-se, com
muita justiça, o título de pai da bacteriologia, realizou suas mais notáveis
descobertas em meados do século passado 13, e que, mesmo em épocas bem
mais recentes, quando já se conhecia a existência de microrganismos (que, por
coincidência, foram descobertos primeiramente na água) e até mesmo sua
importância como causadora de doenças, muitos debates científicos foram
travados entre os que acreditavam mais na origem química das doenças de
veiculação hídrica e os que reconheciam a importância dos microrganismos
patogênicos 2.
Se dúvidas desse tipo persistiam, até há bem pouco tempo, entre membros
da comunidade científica mundial, é natural esperar que haja, entre a população
menos informada, total desconhecimento da existência de microrganismos
patogênicos, quanto mais de seus ciclos vitais.
Os que já tiveram oportunidade de lidar com obras sociais ou de apoio
existencial a comunidades do interior do país conhecem bem essa situação. As
fossas existentes são utilizadas (quando utilizadas) com objetivo principal de se
esconder, não para evitar a transmissão de doenças, e constitui crença mais ou
menos generalizada que a origem dos vermes está no sangue. Microrganismos
constituem para eles coisas abstratas, da mesma forma que para toda
população mundial, até há alguns séculos atrás, uma vez que fogem à sua
percepção sensorial.
É, portanto, perfeitamente natural esperar que essas populações dêem
preferência à água freqüentemente contaminada de poços freáticos, mas límpida
e (para eles) de sabor agradável, que à água tratada distribuída pelo novo e
seguro sistema abastecedor, cujo sabor foi alterado pela remoção de parte das
substâncias pré-existentes (como, por exemplo, das que são responsáveis pela
dureza) ou por serem provenientes de outros mananciais (em tais situações, é
comum que a culpa recaia sobre o cloro adicionado à água tratada, embora a
dosagem normalmente utilizada seja incapaz de alterar suas características
organolépticas).
Atualmente, com o advento dos biocidas e fertilizantes que vêm sendo
utilizados extensivamente (e, algumas vezes, de forma imprópria) na agricultura,
3-4
e com o surgimento de novos produtos de limpeza de uso doméstico, de novas
indústrias (que, em seus despejos, lançam novos compostos nos cursos d’água)
e da evolução das técnicas de laboratório, agora capazes de identificar e
quantificar essas substâncias, os padrões de potabilidade constituem grandes
listas, que apresentam os valores máximos em que elas podem estar presentes.
Mais freqüentemente, vieram juntar-se à lista as partículas e poeiras
provenientes de precipitações radioativas 4.

3.2.2. Padrões de natureza estética e econômica e de natureza sanitária

Do que foi dito anteriormente, deduz-se que os padrões de potabilidade


devem ser elaborados de forma a atender a, pelo menos, dois aspectos
fundamentais:
a) permitir que se ofereça às populações uma água límpida, de sabor
agradável e inodora;
b) impedir que a água distribuída leve consigo substâncias e/ou
microrganismos patogênicos capazes de afetar a saúde humana.
Tendo em vista que, da forma como são concebidos e implantados os
sistemas distribuidores no Brasil, a água distribuída às populações é também
utilizada com outros objetivos além da dessedentação, banho e preparo de
alimentos, e que deverá passar pelo interior dos diversos componentes dos
sistemas distribuidores públicos e prediais, cabe ainda acrescentar um terceiro
item, qual seja:
c) Torná-la adequada para a lavagem de roupas e utensílios, e não
agressiva aos componentes dos sistemas abastecedores e das
instalações hidráulicas prediais e não incrustante, especialmente em
instalações de água quente.
Costuma-se denominar os padrões destinados a atender aos itens (a) e (c)
anteriores padrões de natureza estética e econômica, enquanto que os padrões
destinados a atender ao item (b) é comum a denominação padrões de natureza
sanitária.
Conforme foi visto anteriormente, a água distribuída às populações deve,
sempre que possível, atender às duas classes de padrões.
Evidentemente, na necessidade de se optar por uma das duas alternativas,
qualidade estética e econômica ou qualidade sanitária, deve-se optar pela
última.
Entretanto, ignorar ou desmerecer a primeira pode, em muitos casos,
significar o fracasso do sistema abastecedor implantado.
Branco 2 sintetiza com as seguintes palavras a idéia anterior.
O ideal, o objetivo a ser atingido, será, evidentemente, o de distribuir à
população uma água saudável e de bom aspecto. Mas, entre fornecer água de
mau aspecto e não fornecer água alguma, é preferível a primeira alternativa,
enquanto que, entre distribuir uma água tóxica ou contaminada (enfim, capaz de
causar epidemias) e simplesmente não distribuir, é preferível a segunda
alternativa.

3-5
3.2.2.1. Padrões de natureza estética e econômica

Conforme foi visto, a inobservância desses padrões normalmente não


constitui, em si só, causa de malefícios à saúde, mas pode levar à rejeição da
água por parte da população servida, além de prejudicar as instalações de água
potável e a qualidade de certos serviços.
Entre as características limitadas por esses padrões, podem ser citadas: cor,
turbidez, ferro e manganês, alcalinidade, dureza, pH, cloretos, sulfatos, cloro
residual e flúor (embora alguns deles, quando em concentrações muito elevadas,
possam também ser enquadrados na outra classificação).
Embora não seja objeto deste livro o estudo detalhado da qualidade da
água, serão apresentados, em seguida, breves comentários a respeito de cada
um deles, de acordo com as considerações apresentadas por Sawyer e Mc Carty
14
e pela Organização Mundial da Saúde 12.

a) Cor

A denominada cor real das águas dos mananciais normalmente utilizados


para fins de abastecimento a cor natural; existem, evidentemente, águas que se
tingem devido à presença de corantes, de origem industrial, e de outros
efluentes, em conseqüência da poluição; existe ainda a denominada cor
aparente, devida à turbidez) deve-se à presença de colóides em solução,
provenientes da decomposição da matéria orgânica de origem
predominantemente vegetal. Águas originárias de pântanos, brejos e de corpos
d’água de baixa velocidade apresentam cor acentuada.
Até há bem pouco tempo não se atribuíam inconvenientes devidos à cor, do
ponto de vista sanitário, tais como toxidez ou intolerância orgânica (que não
fossem devidos a razões psicológicas). Entretanto, Branco 3 cita a existência de
algumas cepas ou linhagens de algas (e não todas)da espécie Microcistis
aeruginosa produtoras de uma toxina violentíssima, e de outras que, ao entrarem
em decomposição, originam ambientes anaeróbios propícios ao dsenvolvimento
de bactérias tóxicas. A denominada Anabaena flos-aquae produz uma toxina
extremamente violenta, conforme descobriu-se mais recentemente, podendo
provocar a morte de um camundongo inoculado em apenas 1 a 10 minutos. Mais
recentemente tem sido levantadas suspeitas a respeito da natureza
carcinogênica (capaz de causar o câncer) de algumas substâncias presentes em
águas coloridas, se cloradas nas estações de tratamento 11,16.
Em resumo, a cor natural das águas potabilizáveis deve-se a grande
variedade de substâncias que podem estar presentes, sob forma de solução, na
amostra a ser analisada.
De modo geral, tais substâncias conferem à água uma coloração amarelo-
amarronzada.
A determinação da cor real das amostras de água exige sua prévia
centrifugaçãp, de forma que apenas as partículas em solução sejam as
responsáveis pela leitura desse parâmetro.
A presença de turbidez, devida às partículas em suspensão, interfere na
3-6
leitura da cor.
Por este motivo, denomina-se de cor aparente à cor apresentada pela água
quando a amostra analisada não é previamente centrifugada.
Normalmente, os laboratórios de análises de água determinam a cor
aparente. Por isto, é importante indagar se o teor de cor trazido no laudo de
análise refere-se à cor aparente ou verdadeira, de forma a evitar interpretação
errada dos resultados.
Já a determinação da cor real de dada amostra, conforme foi dito, somente
pode ser realizada após a separação dessa amostra das partículas em
suspensão presentes.
Essa separação é feita via centrifugação, sendo que nem todos os
laboratórios de análises de água dispõem desse tipo de equipamento.
É evidente que se a cor aparente de determinada amostra é inferior ao limite
máximo estabelecido pelo padrão de potabilidade, a cor real também atenderá a
esse padrão.
Por esse motivo, em laboratório de estações de tratamento de água, é
comum determinar-se apenas a cor aparente (que dispensa a centrifugação
prévia da amostra a ser analisada), ao invés da cor real.
A Portaria nº 1469 do Ministério da Saúde refere-se à cor aparente,
conforme o leitor poderá constatar no Anexo 13 desta publicação.

b) Turbidez

Denomina-se água turva aquela que contém matérias em suspensão


capazes de interferir com a passagem de luz.
É de se esperar, portanto, que a turbidez dos rios seja maior em épocas
chuvosas (atingindo valores extremos quando recebem as primeiras águas
superficiais, que lavam o solo) do que em épocas secas.
Evidentemente, ela tende a ser mais alta nos cursos d’água, nos quais a
água está em constante agitação, e menor nos lagos, nos quais o repouso da
água permite a sedimentação das matérias em suspensão.
A turbidez em si não traria inconvenientes sanitários, não fosse a natureza
química de certas substâncias em suspensão que poderão estar presentes, bem
como a ocorrência, em muitos casos, de organismos patogênicos associados a
essas substâncias.
Além disto, freqüentemente a matéria em suspensão atua como escudo
protetor para organismos patogênicos, defendendo-os da ação de agentes
desinfetantes utilizados nas estações de tratamento, e contribuindo para a
veiculação de doenças.
A turbidez pode variar desde zero, em águas “puras”, até centenas ou
milhares de unidades, em cursos d’água poluídos.
O primeiro turbidímetro a ser utilizado denominava-se turbidímetro de
Jackson, e funcionava com luz de vela.
Atualmente, são utilizados modernos aparelhos eletrônicos para a
determinação da turbidez.

3-7
Tais aparelhos fornecem o valor da turbidez através da simples leitura de
ponteiros que se deslocam sobre escalas graduadas, ou mesmo através de
leitura de visores digitais.
Esses modernos equipamentos fornecem os valores lidos em unidades
nefelométricas de turbidez (UNT ou NTU).

c) Ferro e manganês

Normalmente, esses dois metais aparecem nas águas subterrâneas em


suas formas solúveis (íons menos oxidados) combinados com o oxigênio.
Podem também, em alguns casos, aparecer em águas superficiais,
associados a moléculas orgânicas.
A presença desses metais nas águas de abastecimento pode atribuir-lhes
um gosto levemente metálico. Porém, como será visto, do ponto de vista
sanitário e nas concentrações normalmente encontradas, não se conhecem
efeitos adversos à saúde causados pelo ferro e pelo manganês.
O ferro é um dos elementos mais abundantes da crosta terrestre. Pode ser
encontrado nas águas naturais em concentrações que variam de 0,5 a 50 mg/L.
É um elemento nutricional essencial ao ser humano.
Como o ferro, o manganês é um dos metais mais abundantes da crosta
terrestre e geralmente é encontrado junto com o ferro.
Quando presentes na água em suas formas solúveis, eles são incolores.
Porém, se, por alguma razão, eles são oxidados (devido ao arejamento ou
cloração da água, por exemplo), eles formam precipitados (de cor avermelhada,
no caso do ferro, e de cor negra, no caso do manganês) que assustam os
consumidores.
Ferro e manganês na água distribuída podem sujar roupas e louças, e
possibilitar o desenvolvimento de certas bactérias (e.g.: ferrobactérias) no interior
de tubulações, causando a redução de sua seção útil.
concentração limite para o ferro. Cita que concentrações da ordem de 2 de
manganês à saúde humana. A Organização Mundial da Saúde estabelece a
concentração limite de 0,5 mg/L para esse metal, mas reconhece que
concentrações inferiores a esse valor podem levar à rejeição da água por parte
dos consumidores, por razões estéticas.
De modo geral, o ferro em excesso pode ser removido da água através da
oxidação de sua forma solúvel (via arejamento ou cloração), seguida de filtração.
A remoção de concentrações excessivas de manganês é mais difícil que as
de ferro, exigindo condições controladas de pH e tempo de detenção.
Felizmente, a ocorrência de manganês é mais rara que a de ferro em águas de
superfície.
Em interessante artigo, Knocke et al 8 apresentam uma discussão sobre a
formação de complexos entre a matéria orgânica natural e o óxido ferroso, bem
como a habilidade dos oxidantes usuais (KmnO4, ClO2 e HClO) em oxidar o ferro
e, desta forma, possibilitar sua remoção ao longo da linha de tratamento de uma
ETA clássica.

3-8
d) Alcalinidade

O termo alcalinidade traduz, para os profissionais que lidam com a


potabilização das águas, a capacidade de certa água de neutralizar ácidos.
Quanto maior a alcalinidade de uma água, maior é a dificuldade que ela
apresenta para variar seu pH quando se lhe aplica um ácido ou uma base: o
consumo desses compostos será bem mais elevado para uma mesma variação
de pH.
De modo geral, a alcalinidade das águas naturais está relacionada com a
presença de sais de ácidos fracos, especialmente bicarbonatos.
Esses sais, quando presentes, resultam da ação da água sobre os
carbonatos presentes no solo, especialmente bicarbonato de sódio.
Em laboratório, determina-se normalmente o valor da alcalinidade total, da
alcalinidade de bicarbonatos e da alcalinidade de carbonatos.
Os livros de tratamento de água descrevem também a denominada
alcalinidade de hidróxidos.
Entretanto, caso ela esteja presente, a água será imprópria para o consumo
humano, tendo em vista que seu pH estaria acima do máximo permitido pelo
padrão de potabilidade vigente, ou mesmo pela legislação que estabelece os
parâmetros para que certa água possa ser considerada potabilizável.

e) Dureza

Denomina-se genericamente de águas duras aquelas que necessitam de


grandes quantidades de sabão para produzir espuma, e que, alam disto,
incrustam caldeiras, aquecedores, tubulações de água quente e outras unidades
em que a água escoa submetida a temperaturas elevadas.
Para o homem do povo, a dificuldade de formar espuma é o principal
inconveniente, em virtude do consumo elevado de sabão.
Para o industrial, a formação de incrustações constitui o principal
inconveniente, porque pode resultar em danos às suas instalações, inclusive
explosão.
Normalmente as águas de superfície são mais brandas que as
subterrâneas. Isto é esperado, tendo em vista que a qualidade da água reflete,
entre outros fatores, a natureza das formações geológicas com as quais entra
em contato.
De modo geral, ela é devida à presença de cálcio e magnésio.
Entretanto, podem ocorrer casos devidos à ocorrência do estrôncio, ferro
ferroso e manganês manganoso.
Quando o cálcio e o magnésio ocorrem nas águas naturais, eles costumam
estar associados a carbonatos e bicarbonatos.
Assim sendo, as águas brasileiras, quando duras, em geral são também
alcalinas. Este é quase sempre o caso geral.
Por este motivo, as análises de dureza expressam seus resultados em
termos de CaCO3, independente de seu agente causador.

3-9
Alguns autores apresentam a seguinte classificação para as águas,
conforme sua dureza:

• 0 - 75 mg/L - brandas
• 75 - 150 mg/L - moderadamente duras
• 150 - 300 mg/L - duras
• Acima de 300 mg/L - muito duras

f) pH

É um dos mais importantes parâmetros utilizados no tratamento da água.


De forma singela, diz-se que um pH exprime a intensidade com que uma
solução é ácida ou básica. Uma solução é ácida se seu pH é inferior a 7, básica
se seu pH é superior a 7 e neutra se seu pH é igual a 7.
Embora o padrão de potabilidade estabeleça a faixa de variação de valores
de 6,0 a 9,5 para a água de abastecimento, do ponto de vista de saúde pública o
pH, por si só, não significa muito.
Refrigerantes gasosos, por exemplo, nos quais o gás carbônico é
introduzido artificialmente, e em que o pH atinge valores da ordem de 4,5, são
consumidos habitualmente pelas populações.
A Organização Mundial da Saúde prefere não fixar valores limites para o pH
da água potável, mesmo admitindo que irritações oculares e certa exacerbação
de infecções cutâneas possam ser associadas a valores de pH superiores a 11.

g) Cloretos

A presença de cloretos na água pode ser atribuída à existência de jazidas


naturais no caminho percorrido por ela (sal-gema, por exemplo) e também à
poluição por esgoto sanitário e efluentes industriais.
Concentrações excessivas de cloretos aceleram a corrosão dos metais.
No caso de sistemas distribuidores construídos utilizando tubos metálicos,
cloretos em excesso aumentarão a concentração dos metais na água potável,
em virtude da corrosão das canalizações.
Existem fontes de cloretos mais importantes que a água potável às quais o
ser humano encontra-se exposto, tais como os alimentos temperados com sal
(cloreto de sódio).
Não obstante, concentrações de cloretos superiores a 250 mg/L causam
gosto perceptível na água e tendem a ser rejeitadas.

h) Sulfatos

Diversos minerais presentes na Natureza contêm sulfatos, podendo, por este


motivo, atingir as águas. Entretanto, eles podem estar presentes em efluentes de
diversas atividades industriais, especialmente químicas.
O íon sulfato é pouco tóxico, mas pode ter efeito purgativo. O sulfato de
magnésio foi utilizado durante muito tempo com essa finalidade.
3-10
O valor limite de 500 mg/L foi estabelecido pela Organização Mundial da
Saúde por essa razão.
A presença de sulfatos pode comunicar certo gosto perceptível pelo
consumidor e contribuir para acelerar a corrosão dos materiais metálicos
componentes de redes distribuidoras.

i) Cloro residual

O cloro é adicionado à água em tratamento com a finalidade primordial de


desinfeta-la, isto é, matar os microrganismos patogênicos que eventualmente
escapem dos processos da estação de tratamento de água.
Ao se clorar a água com a finalidade de desinfeta-la, normalmente adiciona-
se um excesso de cloro, responsável pelo surgimento do denominado cloro
residual.
Esse cloro garantirá à água distribuída um desejável efeito rsidual.
Isto significa que se a água tratada vier a se contaminar na rede ou nos
reservatórios do sistema distribuidor, ela ainda será capaz de combater essa
contaminação.
O cloro residual poderá estar presente sob forma combinada (cloraminas) ou
livre.
No primeiro caso, nenhum efeito dsfavorável à saúde humana foi observado
quando sua concentração na água potável atingiu 24 mg/L durante curtos
períodos. A Organização Mundial da Saúde fixou o valor de 3 mg/L para a
concentração limite desses produtos na água potável, o que afasta qualquer
possibilidade de risco à saúde de quem a ingerir.
No segundo caso, a mesma Organização Mundial da Saúde não observou
qualquer efeito indesejável relacionado ao tratamento da água pelo cloro sobre o
homem ou animais. Pode-se consumir, sem perigo, algo em torno de 15 mg de
cloro por quilograma de peso corporal por dia durante dois anos seguidos sem
que se observe qualquer efeito tóxico. Partindo desses dados, essa Organização
estabeleceu a concentração limite de 5 mg/L para o cloro na água potável.

j) Flúor (fluoreto)

O interesse na determinação do flúor em águas de abastecimento pode ser


devido a uma das duas razões a seguir:
Determinadas águas naturais, especialmente quando de origem subterrânea,
podem conter quantidades excessivas de flúor, incompatíveis com a qualidade
exigida para consumo humano; em tais casos, deve-se proceder à remoção do
excesso de flúor, através de tratamento adequado.
A fluoretação de águas de abastecimento vem sendo praticada em todo o país,
em quase todos os sistemas abastecedores, como forma de prevenção da cárie
dentária; flúor adicionado de menos não é eficaz, enquanto que flúor adicionado
em excesso pode levar à ocorrência da denominada fluorose dentária,
responsável pelo escurecimento do esmalte dos dentes.

3-11
No Brasil, a fluoretação da água em sistemas de abastecimento em que
existe estação de tratamento é obrigatória, de acordo com a Lei Federal nº
6.030, de 24 de maio de 1974. Essa lei foi posteriormente regulamentada pelo
Decreto Federal nº 76.872, de 22 de dezembro de 1975.

3.2.2.2. Padrões de natureza sanitária

Os itens cujos valores são limitados por esses padrões constituem a maior
parcela da lista que compõe o denominado padrão de potabilidade, e seu
número tende a aumentar com o tempo, em vista do avanço das técnicas de
análise de laboratório e do crescente número e volume de poluentes lançados
no meio ambiente.
Também nesta seção não cabe análise detalhada de cada um desses
padrões. É válido, entretanto, salientar sua ocorrência e importância, e que é
sempre mais aconselhável buscar água para abastecimento em mananciais
protegidos que noutros que, embora mais próximos do centro consumidor,
demandam formas especiais de tratamento para remoção de poluentes, e cuja
eficiência exija qualificações especiais das equipes de operação, além de
atenção e controle de qualidade redobrados.
É também válido ressaltar alguns aspectos relativos às doenças devidas a
organismos parasitas, de veiculação hídrica, que ainda constituem enorme
flagelo ao país, em vista das condições inadequadas de higiene e à ignorância
das populações.
A análise dos dados de mortalidade e morbidade disponíveis ressalta, na
maioria das vezes, a ausência de saneamento básico como responsável por
parcela apreciável dos óbitos e doenças que atingem a população brasileira. O
dado de mortalidade entre crianças recém-nascidas no Brasil, quando
confrontado com os prevalecentes em países como a Suécia, constitui forte
indicativo do grau de pobreza do país, além de denunciar a deficiência existente
na infraestrutura de saúde 1.
Em estudo especialmente interessante, Vignoli 17 apresentou importante
confrontação entre dados de morbidade e mortalidade e dados de análises
bacteriológicas, mostrando que as águas subterrâneas contaminadas e
consumidas sem tratamento foram responsáveis por grande parte dos primeiros.
Tem sido admitido que, dos óbitos devidos a doenças transmissíveis, 43%
seriam eliminados pelo saneamento 1.
A respeito das doenças de veiculação hídrica, cujo estudo detalhado é um
dos tópicos da disciplina Saneamento Ambiental do curso de engenheiros civis,
constituem elementos básicos para a compreensão de seus ciclos no meio
ambiente os seguintes itens e considerações apresentadas por Branco 4:

a) as doenças de veiculação hídrica - com exceção das intoxicações


produzidas por substâncias químicas, geralmente de resíduos de atividades
industriais – são provocadas por microrganismos, tais como: vírus,
bactérias, protozoários e vermes;
b) não existe geração espontânea de seres vivos, isto é, todos esses
3-12
microrganismos são originados pela reprodução de seres idênticos,
preexistentes;
c) tais organismos patogênicos não fazem parte do conjunto de seres que
normalmente habitam e se reproduzem no meio aquático. Seu ambiente
normal é o próprio ser humano parasitado.

Conseqüentemente, a existência de seres patogênicoa na água depende,


necessariamente, de sua introdução nesse meio, a partir de seres portadores.
Na maior parte das vezes, a transferência de patogênicos do ser humano
parasitado para a água é realizada pelas fezes que este elimina.
A análise bacteriológica da água procura, em última análise, determinar a
presença de matéria fecal em condições de trazer consigo microrganismos
patogênicos.
Esta determinação tem sido feita através da análise dos organismos
coliformes, que são eliminados do trato intestinal dos animais de sangue quente
(entre eles o homem) diariamente em grandes números.
Existem, entretanto, algumas espécies de coliformes Ide vida livre, isto é,
que podem viver no solo.
Daí o fato de se efetuar análises para a determinação de coliformes totais e
fecais.
A presença de coliformes fecais na água indica a possibilidade de
contaminação por fezes humanas, embora não comprove.
Por este motivo, diz-se que os coliformes são indicadores de contaminação.
Evidentemente, constatar a presença desses organismos e, a partir daí,
supor que a amostra está contaminada por organismos patogênicos, constitui
tarefa mais fácil do que a de realizar todos os ensaios, específicos para cada tipo
de organismo capaz de infectar o ser humano, que possam comprovar essa
contaminação.
Ressalta-se que os coliformes, por si só, não são patogênicos, quando
presentes nas concentrações usuais no ser humano. Mas sua presença na água
indica a possibilidade da presença de organismos patogênicos.
Os ensaios destinados à detecção dos coliformes têm evoluído bastante.
Da antiga técnica dos tubos múltiplos, a partir da qual entrava-se numa
tabela probabilística e obtinha-se o número mais provável (N.M.P.) de
coliformes, passou-se, modernamente, para a técnica das membranas filtrantes,
em que a amostra é filtrada, a vácuo, através de uma membrana contendo o
meio de cultura apropriado, e no qual desenvolver-se-ão as colônias de
organismos coliformes, cuja contagem permitirá determinar o número desses
organismos.
Mais recentemente, técnicas do tipo presença/ausência vêm sendo
desenvolvidas e comercializadas. Métodos imunofluorescentes permitem
constatar, através do desenvolvimento de cor, a presença de coliformes, que
serão fecais se essa cor tornar-se fluorescente quando submetida à presença de
luz ultravioleta. O preparo de um número pré-determinado de amostras e a
contagem do número de mostras positivas permite determinar a concentração de
coliformes na água analisada, através de metodologia específica.
3-13
Outros indicadores (também biológicos) vêm sendo testados, tais como os
estreptococos fecais.
Interessantes indicadores e a ocorrência real de organismos vêm sendo
apresentados 9, mas os coliformes (totais e fecais) ainda constituem a melhor
fonte de informação para o profissional da área de saneamento.
Estudos tais como os conduzidos por Moore et al 10 sugerem que o uso dos
coliformes como indicadores de contaminação da água pode não ser adequado
para detetar contaminação por protozoários.

3.2.3. Água potabilizável

Do ponto de vista técnico, qualquer água encontrada no ambiente, poluída


ou não, pode ser transformada em água potável, isto é, qualquer água é
potabilizável.
Do ponto de vista econômico, entretanto, certos tipos de poluentes,
especialmente os Poluentes Orgânicos Persistentes - POPs (que se degradam
lentamente com o tempo – vide Anexo 13) solúveis demandam tratamentos
especiais, além dos clássicos, para sua remoção.
De modo geral, as denominadas estações convencionais de tratamento de
água (isto é: que tratam a água através de sua floculação, decantação e
filtração) conseguem apenas eliminar os colóides e matérias em suspensão nela
presentes, que arrastam consigo, em conseqüência, os organismos patogênicos
a eles associados. Os organismos remanescentes, desprovidos de possíveis
barreiras protetoras, são submetidos em seguida à ação de desinfetantes
(normalmente o cloro ou um de seus compostos) durante certo tempo, sendo
então destruídos.
Em vista das limitações naturais das formas convencionais de tratamento,
os órgãos competentes fixam limites de qualidade para as águas dos mananciais
4,5,7
.
No Brasil, esta tarefa cabe ao CONAMA - Conselho Nacional do Meio
Ambiente (vide Anexo 13 desta publicação).
De acordo com a legislação em vigor, os Estados da Unîão podem fixar
seus próprios limites, desde que mais restritivos 5 que os fixados pelo CONAMA.
em Minas Gerais, essa tarefa cabe à FEAM - Fundação Estadual do Meio
Ambiente - através do COPAM - Conselho de Política Ambiental (vide anexo 14
desta publicação).
Entretanto, conforme pode ser concluído de tudo o que se apresentou neste
Capítulo, as análises da água efetuadas em laboratório, bem como os padrões
de potabilidade, dependem:
a) de se descobrir que determinado agente é potencialmente capaz de causar
malefícios à saúde humana, à integridade física do sistema supridor de água e à
economia de seus usuários;
b) da descoberta dos limites de concentração em que esse agente poderá estar
presente na água sem torná-la prejudicial;
c) da evolução tecnológica para obtenção da aparelhagem e método
padronizado de análise para a determinação da presença do agente na água, e
3-14
quantificação de sua concentração.
Deduz-se finalmente que um manancial somente deverá ser classificado
como potabilizável se atender simultaneamente a, pelo menos, duas condições:
a) as análises físicas, químicas, fisico-químicas e bacteriológicas efetuadas
mostrarem que a água do manancial pretendido se enquadra nos padrões
fixados pelos órgãos citados anteriormente para águas potabilizáveis;
b) a inspeção visual in loco da bacia hidrográfica do manancial mostrar que não
existem fontes poluidoras capazes de comprometerem a eficácia do tratamento
convencional da água e, por extensão, a saúde da população(e.g.: lançamento
de efluentes industriais, atividades agrícolas que utilizam fertilizantes e biocidas,
certas atividades mineradoras). Essa inspeção visual denomina-se inspeção
sanitária.
É fácil constatar a importância do atendimento simultâneo às duas
condições anteriores.
Imagine-se, para exemplificar, um manancial em cuja bacia haja certa
atividade industrial que estoca em seu pátio resíduos sólidos, contendo
substâncias tóxicas que só irão ter ao manancial em épocas chuvosas.
Uma análise da água desse manancial colhida na estação seca poderia
indicar ser ele de excelente qualidade.
Por outro lado, certas águas podem conter concentrações de íons ou
compostos químicos em níveis indesejáveis para consumo público, originários da
dissolução de minerais encontrados em seu percurso (e.g.: dureza excessiva,
íons flúor em altas concentrações, etc.).
Evidentemente, esses teores somente poderão ser constatados pelas
análises da água.

Questões para recapitulação


(respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):

1. Água bruta é sinônimo de água agressiva.


2. Água bruta nunca se presta para o consumo.
3. Água tratada é sinônimo de água potável.
4. Água potável é sinônimo de água pura.
5. Água potável pode não ser adequada a certos usos industriais.
6. Águas ácidas apresentam pH maior que 7.
7. Águas alcalinas apresentam pH menor que 7.
8. Águas neutras apresentam pH igual a 7.
9. Água potável deve apresentar pH igual a 7.
10. O parâmetro cor é considerado uma característica física e organoléptica
pela Portaria 518 do Ministério da Saúde.
11. A determinação da cor real é prejudicada pela presença de partículas em
suspensão na amostra a ser analisada.

3-15
12. Quando se determina a cor de certa amostra sem remover previamente
as partículas em suspensão nela presentes, encontra-se a denominada
cor aparente.
13. Se se determina, em laboratório, a cor aparente de certa amostra de
água, a cor real certamente apresentará valor igual ou inferior ao valor
determinado para a cor aparente.
14. A Portaria 518 do Ministério da Saúde estabelece, como limite para a cor
aparente da água entrando no sistema de distribuição, o valor de 5 UH.
15. O parâmetro turbidez é considerado uma característica física e
organoléptica pela Portaria 518 do Ministério da Saúde.
16. A mesma Portaria estabelece o valor de 1,0 uT como limite de turbidez
para a água entrando no sistema de distribuição.
17. A mesma Portaria estabelece o valor de 5,0 uT como o limite de turbidez
para a água em pontos de distribuição, se a desinfecção não for
comprometida por esse fato.
18. A turbidez de certa amostra de água pode interferir na determinação do
valor de sua cor real.
19. Dureza é considerada pela Portaria 518 do Ministério da Saúde como
característica química que afeta a qualidade organoléptica da água.
20. Águas duras consomem muito sabão.
21. Águas duras quase sempre são também alcalinas.
22. Muitas vezes, dureza e alcalinidade resultam da dissolução, pela água,
de carbonato de cálcio existente no solo.
23. Ferro e manganês são classificados pela Portaria 518 do Ministério da
Saúde como características químicas que afetam a qualidade
organoléptica da água.
24. Felizmente, ferro e manganês raramente são encontrados na Natureza.
25. Ferro e manganês nunca são encontrados juntos: a presença de um
exclui o outro.
26. Nas concentrações usuais, água contendo ferro e manganês têm
inconvenientes apenas estéticos e organolépticos, não oferecendo riscos
à saúde de quem a consome.
27. Cloretos e sulfatos são classificados pela Portaria 518 do Ministério da
Saúde como características químicas que afetam a qualidade
organoléptica da água.
28. Os limites estabelecidos por essa Portaria para cloretos e sulfatos são
250 mg/L Cl- e 400 mg/L SO4=, respectivamente.
29. Cloretos e sulfatos contribuem para acelerar a corrosão de materiais
metálicos.
30. Cloretos e sulfatos podem alterar o gosto da água.
31. Coliformes são organismos altamente patogênicos; daí a necessidade da
determinação de sua presença nas águas destinadas ao consumo
humano.
32. É mais fácil fazer a análise dos coliformes do que uma infinidade de
análises específicas destinadas a detectar a presença de cada um dos
inúmeros patogênicos que podem contaminar a água destinada ao
3-16
consumo humano.
33. Existem coliformes de vida livre, capazes de viver fora do organismo
humano.
34. Os ensaios destinados à detecção dos coliformes têm evoluído bastante.
35. A Portaria 518 do Ministério da Saúde recomenda que a concentração
mínima de cloro residual livre em qualquer ponto da rede de distribuição
deverá ser de 0,2 mg/L.
36. A Portaria 518 do Ministério da Saúde recomenda que se proceda à
análise do cloro residual em todas as amostras coletadas para análises
bacteriológicas.
37. O cloro residual garante que se a água distribuída vier a se contaminar
na rede ou nos reservatórios, ela ainda será capaz de combater essa
contaminação.
38. A fluoretação das águas como forma de prevenção da cárie dentária é
opcional no Brasil.
39. A concentração de íon flúor na água de abastecimento depende da
incidência de cárie na população. Maior incidência exige maior dosagem,
enquanto que menor incidência exige pouca ou nenhuma dosagem.
40. Fluoretos estão classificados pela Portaria 518 do Ministério da Saúde
entre as características químicas, como componente inorgânico que afeta
a saúde.

Respostas:

1(f); 2(f); 3(f); 4(f): 5(v); 6(f); 7(f); 8(v); 9(f): 10(v); 11(v); 12(v); 13(v); 14(v): 15(v);
16(v); 17(v); 18(v); 19(v); 20(v); 21(v); 22(v); 23(v); 24(f): 25(f); 26(v); 27(v);
28(v); 29(f): 30(v); 31(f); 32(v); 33(v); 34(v): 35(v); 36(v); 37(v); 38(f); 39(f); 40(v).

Referências bibliográficas

1.ADESG. Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra. Ação


governamental no campo da saúde. Belo Horizonte, 1977.
2. BRANCO, Samuel Murgel, ROCHA, Aristides Almeida. Polução, proteção e
usos múltiplos de represas. São Paulo: Edgard Blücher, 1977. 185p.
3. BRANCO, Samuel Murgel. Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária. 2.
ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1978. 620p.
4. COMISSÃO DE POLÍTICA AMBIENTAL. Estabelece normas e padrões para
qualidade das águas, dá outras providências. Deliberação Normativa n.
10/86.
5. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 357, de 17 de
março de 2005. Diário Oficial da União, Brasília.
6. FAIR, Gordon Maskew, GEYER, John Charles, OKUN, Danil Alexander.
Calidad de lãs águas – objectivos. In: _____________________
Purificación de águas Y tratamiento y remoción de águas residuales.
México: Limusa, 1973. V.2, cap. 19, p. 11-46.

3-17
7. FEDERAL WATER POLLUTION CONTROL ADMINISTRATION. Water quality
criteria. Washington D.C.: U.S. Department of the Interior, 1968.
8. KNOCKE et al. Examining the reactions between soluble iron, DOC, and
alternative oxidants during conventional treatment. Journal AWWA, v. 86,
n. 11. p.117,27, Jan.1994.
9. MARTINS, M. T. et al. Métodos simplificados e rápidos para o exame
microbiológico da água. In: CONGRESO INTERAMERICANO DE
INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL, 21, .1988, Rio de Janeiro.
Anais... Rio de Janeiro: ABES, 1988. v.2, t.1, p.408-19.
10. MOORE, Anne C. et al. Waterborne disease in the United States, 1991 and
1992. Journal AWWA. V.86, n.2, p.87-99, Jan.1994.
11. NORMAN, Thomas S. et al. The use of chloramines to prevent
trihalomethanes formation in Huron, S. D., drinking water. Journal
AWWAi, v.72, n.3, p.176-80, Mar.1980.
12. ORGANISATION MONDIALE DE LA SANTÉ. Directives de qualité pour l´eau
de boisson; recommandations. Genève, 1994, v.1.
13. PASTEUR, Louis. In: ENCYCLOAEDIA Britannica. Chicago, 1967.
14. SAWYER, Clair. McCARTY, Perry L. Chemistry for sanitary engineers.2.ed.
New York: Mc Graw-Hill Book Company, 1967. 518p.
15. STORER, T. I., USINGER, R. L. Zoologia geral. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1978. 757p.
16.TRIHALOMETHANES in water: diagnosis and prognosis. Journal AWWA,
v.71, n.9, p.473, Sept. 1979.
17.VIGNOLI FILHO, Orlando. Estudo comparativo de ocorrência de organismos
patogênicos em águas subterrâneas e seu relacionamento com os indicadores
biológicos usuais.[S.I;s.n.], 1978. (trabalho não publicado).

3-18
4.1. Introdução

Conforme foi visto no Capítulo anterior, o profissional encarregado de


efetuar o projeto do sistema público de abastecimento de água cuidará de
selecionar um manancial cuja água seja potabilizável, ou seja, que possa tornar-
se potável após submetida à linha convencional de tratamento de água.
A linha convencional completa de tratamento de água, para fins de sua
potabilização, é a indicada na Figura 4.1.

Fig. 4.1 – Tratamento convencional para fins de potabilização - fluxograma

Evidentemente, algumas das fases aí mostradas poderão ser eliminadas,


temporária ou definitivamente, de acordo com a qualidade da água a ser tratada
e sua variação ao longo do ano.
4-1
Apresentam-se, nos Itens a seguir, algumas considerações sobre as formas
usuais de tratamento de água, baseadas em publicação do professor Azevedo
Netto 2. Considerações devidas a outros autores estão assinaladas no texto.

4.2. Desinfecção simples e correção do pH

Assim, por exemplo, águas muito "puras" (desde que não sejam originárias
de manancial superficial, pois, neste caso, elas deverão ser filtradas, por força
de legislação – ver Anexo 15 desta publicação) necessitam apenas a adição de
um desinfetante que permita preservá-la contra a possibilidade de uma eventual
contaminação no sistema distribuidor de água.
Entretanto, muitas vezes as águas originárias de fontes e poços, em seu
estado bruto, mostram-se corrosivas ou, ao contrário (ou até simultaneamente)
incrustantes em vista da presença (ou ausência) de compostos em solução.
Em tais casos, não basta desinfetar. A água bruta deverá passar por um
sistema de tratamento capaz de adicionar à água os íons que lhe faltam ou, ao
contrário, remover os que estão presentes em excesso.
Citam-se, por exemplo, as águas dos lençóis subterrâneos existentes no
complexo cristalino mineiro.
Evidentemente, ao percolar pelo solo para atingir o lençol subterrâneo, a
água não terá encontrado muita coisa para dissolver, e estará ávida por dissolver
íons de diversas origens.
Tal água será, em conseqüência, agressiva.
Por seu turno, nos lençóis subterrâneos existentes nas regiões calcárias do
estado de Minas Gerais, a água bruta dissolverá, entre outros compostos, os
carbonatos de cálcio e magnésio. Tal água poderá tornar-se incrustante e dura,
e precisará ser abrandada (denomina-se abrandamento à remoção dos agentes
responsáveis pela dureza), antes de ser encaminhada ao sistema público de
abastecimento, sob pena de causar estranheza à população e prejuízos às
indústrias. Tais prejuízos poderão atingir o extremo de levar aquecedores e
caldeiras à explosão, tendo em vista que, com o aumento da temperatura, os
bicarbonatos passam à forma química de carbonatos. Estes compostos, por
serem menos solúveis que os primeiros, propiciam a formação de depósitos no
interior das canalizações, que poderão obstrui-la com o passar do tempo.
Essa transformação ocorre segundo a reação:

Ca +2 + 2HCO 3− → CaCO3 ↓ + CO2 ↑ +H 2O (1)
O termo correção do pH é, portanto, na realidade, empregado aqui para
designar um processo algumas vezes bem mais complicado que a simples
providência sugerida pelo termo.
Embora fuja ao objetivo central deste livro, algumas noções básicas sobre o
assunto serão tratadas no Item 5.7 do Capítulo 5.

4.3. Filtração

A primeira idéia que ocorre ao se lidar com uma água turva é a de filtrá-la, com o
4-2
objetivo de remover as partículas em suspensão.
Como forma de tratamento doméstico, talvez só perca a primazia para a
decantação.
Atualmente, os filtros podem ser classificados em lentos ou rápidos,
conforme a vazão tratada por unidade de área do filtro. Nos primeiros,
destinados a águas de baixa turbidez, o processo de filtração é
predominantemente biológico, enquanto que nos filtros rápidos o processo é
físico e químico (ver Capítulo 10). Assim sendo, o tratamento químico prévio da
água a ser filtrada, dispensável nos filtros lentos (que, por seu turno, só se aplica
a mananciais cuja água seja de boa qualidade) é fundamental nos filtros rápidos.
Em vista da dificuldade cada vez maior de se encontrar mananciais
adequados aos filtros lentos, e à área relativamente grande que essas unidades
devem ter (a superfície filtrante é de quarenta a cento e vinte vezes superior à
dos filtros rápidos), a filtração lenta vem se tornando cada vez mais rara,
enquanto que os filtros rápidos constituem a opção mais utilizada nas estações
de tratamento.

4.4. Decantação

Uma solução natural para reduzir o conteúdo de partículas em suspensão


na água é deixa-la decantar durante certo tempo. Como resultado, ocorrerá a
sedimentação das partículas no interior do recipiente.
A decantação pode ser simples, para a remoção de sólidos grosseiros, ou
precedida de tratamento químico, para remover partículas mais finas que
levariam muito tempo para sedimentarem.
A decantação quase sempre precede a filtração rápida, salvo no caso de
águas brutas de baixa turbidez, quando então é possível efetuar a filtração
direta. Em alguns casos, a decantação é feita apenas em épocas do ano em que
a qualidade da água se torna incompatível com a filtração direta.
A decantação será estudada no Capítulo 9.

4.5. Coagulação e floculação

Nessa fase do tratamento, deseja-se tratar quimicamente a água, de modo


que as partículas coloidais sejam desestabilizadas e aglutinadas umas às outras,
para que possam sedimentar-se de modo mais rápido, facilitando a decantação,
e tornando mais fácil sua remoção nos filtros.
A desestabilização química das partículas denomina-se coagulação, sendo
efetuada em unidades de mistura rápida (Capítulo 7). A aglutinação e
coalescência das partículas previamente desestabilizadas, efetuada em
unidades de mistura lenta, denomina-se floculação (Capítulo 8).

4.6. A estação clássica de tratamento de água

A estação clássica efetua o tratamento convencional em compartimentos


separados uns dos outros.
4-3
Nesse tipo de estação existem, portanto, os misturadores rápidos, os
floculadores, os decantadores, os filtros e o tanque de contato (onde a adequada
desinfecção é assegurada).
A Figura 4.2 apresenta alguns dos arranjos possíveis para os floculadores,
decantadores e filtros de uma estação clássica de tratamento de água, mais a
denominada casa de química.
Essa casa é, na realidade, um prédio no interior do qual são realizadas,
entre outras, as seguintes atividades: (a) armazenagem, preparo e dosagem de
produtos químicos;
(b) análises de qualidade da água;
(c) administração da estação de tratamento de água.
De acordo com esses processos, a floculação, a decantação e a filtração
podem ser realizadas no interior de meios granulares (e.g.: colunas contendo
seixos rolados).
A reunião dos três processos anteriores numa só coluna constitui o que se
denomina impropriamente de clarificador de contato (também impropriamente
denominado de filtro russo, ou ainda filtro ascendente, tendo em vista que essa
unidade não é apenas um filtro, mas a reunião dos três processos citados).
O estudo mais detalhado da hidráulica de cada fase de tratamento é o que
será visto nos capítulos 7, 8, 9, 1 e 11 desta publicação.

Fig. 4.2 – Estações clássicas de tratamento de água 2

4-4
Questões para recapitulação
(Respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) fala(s) ou verdadeira(s):

1. Ao procurar o futuro manancial abastecedor de uma comunidade urbana, o


profissional encarregado de efetuar o projeto do sistema público cuidará de
selecionar um manancial cuja água seja potabilizável.
2. Como forma de tratamento, águas muito “puras” poderão necessitar apenas
da adição de um desinfetante capaz de preserva-la contra a possibilidade de
uma eventual contaminação no sistema distribuidor de água.
3. As águas originárias de fontes e poços, em seu estado bruto, nunca se
mostram agressivas ou incrustantes em vista de sua pureza.
4. Águas duras deverão passar por sistemas de tratamento capazes de remover
certos íons que estão presentes em excesso.
5. Em tratamento de água, o termo correção de pH pode designar um processo
algumas vezes bem mais complicado que a simples providência sugerida pelo
termo.
6. A filtração terá sido o primeiro processo industrial de tratamento de água.
Como forma de tratamento doméstico, talvez só perca a primazia para a
decantação.
7. Os filtros lentos destinam-se a águas de turbidez elevada.
8. Nos filtros rápidos o processo de tratamento é físico e químico.
9. Em vista da facilidade cada vez maior de se encontrar mananciais adequados
aos filtros lentos, a filtração lenta vem se tornando cada vez mais utilizada.
10. Deixar decantar a água naturalmente durante certo tempo faz com que as
partículas em suspensão na água sedimentem-se em seu interior.
11. A decantação precedida de tratamento químico é desaconselhável para
remover partículas mais finas que levariam muito tempo para sedimentar
naturalmente.
12. A decantação quase sempre precede a filtração rápida, salvo no caso de
águas brutas de baixa turbidez, quando então é possível efetuar a filtração
direta.
13. Na coagulação e floculação deseja-se tratar quimicamente a água, de modo
que as partículas coloidais sejam desestabilizadas e aglutinadas umas às outras.
14. Se a água for previamente coagulada e floculada, dificilmente as partículas
que estiverem em suspensão em seu interior conseguirão sedimentar-se, ficando
prejudicadas a decantação e a filtração.
15. A desestabilização química das partículas denomina-se coagulação; a
aglutinação e coalescência das partículas previamente desestabilizadas
denomina-se floculação.
16. A estação clássica efetua o tratamento convencional em compartimentos
separados uns dos outros.

4-5
Respostas:
1(v); 2 (v); 3(f); 4(v); 5(v); 6(v); 7(f); 8 (v); 9(f); 10(v); 11(f); 12(v); 13(v); 14 (f);
15(v); 16(v)

Referências bibliográficas

1. ADAD, Jesus M. T. Qualidade da água. Belo Horizonte, Edições Engenharia,


1972, 135p.
2. AZEVEDO NETTO, J. M. de. Processos gerais de tratamento de água. In:
_______________ Técnica de abastecimento e tratamento de água. São
Paulo: CETESB, 1974. v2, cap. 18, p.589-615.

4-6
5.1. Introdução

Como, de resto, em todo conhecimento humano, a teoria do tratamento da


água baseia-se em modelos físicos, químicos, fisico-químicos e bioquímicos,
entre outros, que procuram explicar, do modo mais simples possível, os nem
sempre bem conhecidos mecanismos envolvidos em cada uma das fases de
tratamento.
Evidentemente, tais modelos explicam diversos fenômenos ocorridos, mas
apresentam, quase sempre, um ou mais pontos que não resistem a
questionamentos mais profundos.
A complexidade dos materiais inertes ou orgânicos (entre os quais incluem-
se os organismos vivos) a serem removidos da água em tratamento pode ser
apontada como a responsável por essa dificuldade de adaptação do modelo às
situações reais.
Entretanto, e felizmente para os profissionais sanitaristas que precisam
transformar água bruta em água tratada, os modelos disponíveis para o dia-a-dia
têm sido suficientemente práticos.
Mas a fragilidade dos modelos deve servir como lembrete permanente, do
quão parco é o conhecimento humano a respeito da real natureza do Universo, e
da grandeza da Criação.
Tal constatação faz do verdadeiro cientista um humilde, cônscio de sua
ignorância, que parece aumentar a cada acréscimo de conhecimento adquirido.
Ao mesmo tempo, torna-o orgulhoso por tornar-se, a cada nova e pequena
descoberta, cúmplice do Criador, e responsável por transmiti-la, em Seu nome, à
Humanidade, para que todos possam dela ser beneficiados.
Uma vez ressalvados os pontos anteriores, procurar-se-á apresentar, nos
Itens a seguir, breves descrições a respeito das principais idéias utilizadas no
estudo do tratamento da água.
O leitor deverá, sempre que desejar, recorrer às Referências Bibliográficas
apresentadas no final deste Capítulo, para se aprofundar mais nos tópicos
abordados.

5.2. Impurezas encontradas na água bruta

Para efeito do que se descreve a seguir, supõe-se que a água bruta seja
potabilizável, ou seja, atenda aos padrões descritos pelo CONAMA e pelo
COPAM, já do conhecimento do leitor, e anexos a este livro.

5-1
Em tais condições, a turbidez da água bruta é devida principalmente à presença
de partículas de argila, sob forma grosseira (e, assim, facilmente removíveis) ou
de suspensões coloidais (de remoção mais difícil, que exige tratamento químico)
provenientes da erosão do solo, ou, o que é menos comum, à presença de algas
ou a crescimentos bacterianos.
Já a cor (especificamente, a cor verdadeira, tendo em vista que, como foi visto,
há também a cor aparente, devida à reflexão de corpos presentes na água,
separáveis por centrifugação) deve-se principalmente à presença de substâncias
químicas provenientes da degradação da matéria orgânica (folhas e plantas
aquáticas com as quais a água tenha estado em contato).

Figura 5.1 – Classificação das partículas na água, segundo seus tamanhos

É interessante ressaltar mais uma vez que, na maioria das águas brutas
com que o sanitarista trabalha, os organismos patogênicos costumam, quase
sempre, estar associados a partículas responsáveis pela turbidez, que parecem
utilizá-las como substrato e forma de proteção.
É interessante ressaltar mais uma vez que, na maioria das águas brutas
com que o sanitarista trabalha, os organismos patogênicos costumam, quase
sempre, estar associados a partículas responsáveis pela turbidez, que parecem
utilizá-las como substrato e forma de proteção.
Assim sendo, quando se promove a redução da turbidez da água bruta, são
também removidos os patogênicos a ela associados. Além disto, os organismos
que porventura atravessem essa fase de tratamento ficam expostos à ação dos
compostos desinfetantes, sendo por eles eliminados.
5-2
O termo argila compreende grande variedade de compostos. Em geral,
refere-se à terra fina (0,002 mm de diâmetro ou menos), às vezes colorida, que
adquire plasticidade ao misturar-se com quantidades limitadas de água.
Arboleda V., em sua obra publicada pelo CEPIS 8, apresenta uma descrição
das argilas mais importantes para o sanitarista. Para efeito do que será visto
neste livro, entretanto, basta saber que, do ponto de vista químico, a argila é um
silicato de alumínio, que forma cristais. Diz-se que as argilas possuem grande
superfície específica.
Por superfície específica entende-se a superfície total que um corpo possui
em relação ao seu volume.
Ora, tomando-se, como exemplo, a forma cúbica, um cubo de aresta L tem a
seguinte área superficial:
A = 6L2
e o seguinte volume:
V= L3
Portanto, sua superfície específica será:
Superfície específica = A/V = 6L2/L3 = 6/L
Um cubo de aresta dez vezes menor tem a seguinte área superficial:
A = 6.(L/10)2 = 6L2/100
e o seguinte volume:
V = (L/10)3 = L3/1000
Portanto, sua superfície específica será:
Superfície específica = A/V = (6L2/100) / (L3/1000) = 60/L
Ou seja, o cubo menor, de aresta dez vezes menor que a do cubo maior,
tem área superficial específica dez vezes maior que a desse cubo.
Assim sendo, quanto menor é a partícula, maior é a sua superfície
específica.
Quanto maior a superfície específica das partículas, maior será a
probabilidade de sucesso de reações e interações que ocorram em suas
superfícies.
Além disto as argilas apresentam a propriedade de interagir com o meio aquoso
que as cercam, substituindo íons metálicos de seus cristais por outros, também
metálicos, mas de cargas elétricas diferentes, o que faz com que suas partículas
se tornem eletricamente carregadas (freqüentemente negativas), assim como o
meio que as circunda ( que, em conseqüência, se torna positivo).
Por seu turno, a cor das águas potabilizáveis deve-se, na maioria dos casos,
à existência de soluções coloidais, constituídas de grande variedade de extratos
vegetais. Entre os principais citam-se os taninos, ácido húmico e humatos,
originários da decomposição da lignina. O humato férrico, algumas vezes
presente, produz intensa coloração 4.
Como no caso das argilas, as partículas coloidais responsáveis pela cor
tornam-se eletricamente desequilibradas, quase sempre negativas. Graças a
este fato, a cor pode ser removida nas estações de tratamento de água
utilizando-se o mesmo processo de remoção da turbidez.
O caráter negativo das partículas descritas anteriormente pode ser
observado da seguinte forma: coloca-se a amostra de água com as partículas
em suspensão sobre uma lâmina de microscópio, e submete-se essa amostra a

5-3
um campo elétrico - vide Figura 5.2. As partículas suspensas migrarão para o
polo positivo do campo elétrico, revelando, dessa forma, sua carga.

Figura 5.2 – Célula de eletroforese

5.3. Desestabilização das partículas coloidais

Levando em conta que a água bruta contém, em seu seio, suspensões e


soluções coloidais, responsáveis, respectivamente, pela turbidez e cor, torna-se
necessário remover esses colóides, para o que eles devem ser desestabilizados.
Isto é feito através de processos químicos, nos quais são adicionados à
água certos compostos denominados coagulantes, floculantes ou auxiliares,
conforme a atividade que desempenhem.
Com referência aos termos coagulação e floculação, alguns autores
propõem que sejam definidos da forma a seguir 8.
• Coagulação: começa no mesmo instante em que são adicionados
coagulantes à água; dura apenas uma fração de segundo. Basicamente,
consiste numa série de processos físicos e químicos envolvendo os
coagulantes, a superfície das partículas, algumas substâncias químicas

5-4
presentes na água, especialmente as que lhe conferem a denominada
alcalinidade, e a própria água.
• Floculação: é o fenômeno através do qual as partículas já desestabilizadas
chocam-se umas com as outras para formar coágulos maiores.
Dois modelos, sumarizados pelo CEPIS 8 e por Campos e Povinelli 4,
nomeadamente o físico e o químico, procuram explicar o que ocorre durante a
coagulação e a floculação. Cada um deles explica parte dos fenômenos que
ocorrem de fato, deixando, por seu turno, outros sem justificativa satisfatória.
Qualquer que seja o modelo que se considere, a prática mostra ser
adequado proceder à aplicação do produto químico coagulante do modo mais
uniforme possível em toda a massa líquida, durante o tempo mais curto que for
possível e com grande intensidade de agitação. Em seguida, a agitação pode (e
deve) ser lenta, diminuindo de intensidade com o passar do tempo.
A adequada coagulação permite economizar produtos químicos e tempo de
aglutinação para a floculação da água em tratamento.
Modernamente, estudos experimentais 5 vêm sendo realizados com o
objetivo de, através da utilização de meios granulares, obter a micro-floculação
e, simultaneamente, a decantação da água em tratamento. Com isto, é possível,
a um só tempo:
a) reduzir as dimensões da unidade de tratamento (por ser necessário um
tempo de floculação bem menor para formar micro-flocos, do que o
necessário para formar flocos, cuja velocidade de sedimentação permita sua
remoção em decantadores convencionais);
b) reduzir o consumo de floculantes, tendo em vista que os colóides
desestabilizados não precisarão crescer.

5.4. Principais coagulantes, floculantes e auxiliares

Campos e Povinelli 4 relacionam os compostos a seguir como os principais


coagulantes/floculantes:
• sulfato de alumínio: fácil de transportar e de manusear. Seu custo é baixo
e é produzido em várias regiões brasileiras;
• sulfato ferroso: muito útil para tratar águas que apresentem pH elevado;
• sulfato férrico: conveniente para o tratamento de águas altamente
coloridas ou ácidas;
• cloreto férrico: produz bons flocos em amplo intervalo de pH;
• aluminato de sódio: pode ser empregado, juntamente com a cal, para
abrandamento de águas.
A Tabela 5.1 mostra que cada coagulante/floculante requer, para atuar, um
pH adequado. Assim sendo, pode ser necessário ajustar esse parâmetro antes
de adicionar o produto químico escolhido. Para tanto, utiliza-se quase sempre a
cal hidratada para aumentá-lo, ou o ácido sulfúrico para reduzi-lo.

5-5
Tabela 5.1 - Coagulantes primários e faixas de pH em que são utilizadas

Coagulantes Faixas de pH
Sulfato de alumínio 5,0 a 8,0
Sulfato ferroso 8,5 a 11,0
Sulfato férrico 5,0 a 11,0
Cloreto férrico 5,0 a 11,0
Sulfato ferroso clorado acima de 4,0
Aluminato de sódio e sulfato de alumínio 6,0 a 8,5

A coagulação e a floculação podem realizar-se com maior eficiência se forem


utilizados, em conjunto com os coagulantes/floculantes, compostos denominados
auxiliares. Entre eles, citam-se, como os mais importantes, a sílica ativada (ou
sílica coloidal; pode ser preparada na própria estação de tratamento de água,
utilizando-se solução de silicato comercial, 40° a 42° Bé, diluída em até 1,5%
de SiO2 neutralizado com H2SO4 até o pH de 8,4) e, mais recentemente, os
denominados polieletrólitos. Tais produtos químicos são compostos de longas
cadeias moleculares que podem apresentar grande número de cargas quando
lançados na água. Tais cargas são responsáveis pela atração e fixação dos
colóides que se deseja remover da água em tratamento.

5.5. Química do sulfato de alumínio, alcalinidade e dureza na água em


tratamento

5.5.1. Introdução

Tendo em vista que, entre os diversos produtos químicos capazes de se


comportarem como coagulantes/floculantes, o sulfato de alumínio vem sendo o
mais utilizado nas estações de tratamento de água brasileiras, esta publicação
contemplará somente a química deste composto. O comportamento químico de
outros compostos poderá ser estudado pelo leitor em algumas das obras citadas
entre as referências bibliográficas listadas no final deste Capítulo.
Embora não seja do escopo deste livro o aprofundamento na denominada
química aquosa do sulfato de alumínio, algumas noções básicas são importantes
para o profissional envolvido com o tratamento da água, e serão brevemente
enfocadas neste Item. Tais noções baseiam-se no trabalho publicado por
Amirtharajah e Mills 2.
Quando o sulfato de alumínio é adicionado à água, ele se dissocia,
conforme indica a equação a seguir:
Al 2(SO4 ) + 6H 2O → 2 Al +3 + 6OH − + 6H + + 3SO 4−2
3
Imediatamente após, o íon Al+3 é hidratado, coordenando seis moléculas de
água e formando o íon Al(H2O)6+3. Esse íon pode então formar diversos
produtos, alguns dos quais, das mais simples formas, são complexos
monoméricos e diméricos, em que ligações coordenadas ocorrem com o íon
hidroxila OH-, que passam a substituir as moléculas de H2O.

5-6
Por exemplo, a primeira reação é representada pela equação de equilíbrio:
Al (H 2O )+3 + H 2O → Al (H 2O )5 OH + 2 + H 3O +
6
Pode-se imaginar diversas outras espécies, à medida que as moléculas de
água vão sendo substituídas pelo OH-, que serão positivamente carregadas,
neutra ou negativamente carregadas:
Al (H 2O )+3 OH + 2 → Al (H 2O )4 (OH )2+ →
5

→ Al (H 2O )3 OH 3 → Al (H 2O )2 (OH )−4 →

→ Al (H 2O )OH − 2 → Al (OH )6−3


5
Para simplificar a exposição, as moléculas de água ligadas ao íon alumínio
serão omitidas. Assim, por exemplo, Al (H 2O )5 OH +2 será escrito AlOH +2 nas
discussões a seguir.
A partir das espécies anteriores, é possível construir polímeros com diversos
dos produtos anteriores, que formarão espécies tais como:
Al 13 (OH )+345 , Al17 (OH )17
+4
, Al 18 (OH )+204 , Al 16 (OH )+153
Por mais de duas décadas, pesquisadores buscaram determinar a
predominância, ou mesmo a existência, dessas espécies. Para os engenheiros
civis, e no que diz respeito à aplicação ao tratamento da água, é suficiente
aceitar o fato de sua existência.
Conforme foi visto no Item 5.2 anterior, as partículas responsáveis pela cor e
turbidez nas águas naturais são normalmente colóides eletricamente
desequilibrados, de carga negativa. Elas permanecem separadas umas das
outras porque possuem a mesma carga (negativa), e se repelem. Para que elas
possam se unir, é necessário desestabilizá-las, vale dizer, neutralizá-las. Para
tanto, basta fazer com que os produtos mencionados anteriormente sejam
adsorvidos pela enorme superfície específica dos colóides, de forma a anular a
carga total de cada partícula, ou torná-la próxima de zero.
Entretanto, pelo menos duas dificuldades são encontradas para a
consecução desse objetivo.
A primeira diz respeito à formação de uma espécie de dupla capa de cargas
positivas ao redor do colóide, atraídas pelas cargas negativas dessas partículas.
Assim sendo, é necessário que os produtos resultantes da dissociação do sulfato
de alumínio - positivamente carregados - sejam adicionados à água em local de
intensa dissipação de energia na massa líquida. Essa energia, transmitida sob
forma de energia cinética aos produtos e às partículas coloidais, permitirá aos
primeiros atravessar a dupla camada de carga positiva que envolve o colóide,
permitindo sua adsorção e neutralização parcial da partícula (ver Figura 5.3).

5-7
Figura 5.3 – A teoria da dupla capa

A segunda diz respeito ao curto tempo de vida dos produtos de dissociação,


inferior a um segundo para a maioria deles. Nestas condições, a adsorção
desses produtos pela superfície dos colóides somente ocorrerá durante curto
intervalo de tempo.
Dos produtos mencionados anteriormente, um é neutro e, nas condições
usuais, apresenta-se insolúvel: é o hidróxido de alumínio, Al(OH)3, que se
apresenta sob forma de um pequeno floco gelatinoso. precipitável.
Nas condições de pH que prevalecem usualmente nas unidades de mistura
rápida e floculação, decorridos alguns segundos, os diversos produtos tendem a
se transformar nesse composto. Esse tempo oscila entre um e sete segundos.

5-8
Caso os colóides não sejam desestabilizados pelas formas dissociadas do
alumínio, o hidróxido de alumínio poderá desestabilizá-los, mas através de outro
mecanismo, baseado na saturação e arraste dos colóides.
O processo que desestabiliza os colóides através da adsorção, em sua
superfície, de produtos do alumínio, de carga oposta, é denominado
desestabilização por adsorção e neutralização.
O processo que desestabiliza os colóides através da saturação da água em
tratamento com o gel hidróxido de alumínio, e arraste dos colóides aprisionados
nesse gel, denomina-se desestabilização por varredura.
Na prática, os dois processos podem ocorrer combinados, conforme será
visto adiante.
É importante salientar, mais uma vez, o curto período de existência das
formas dissociadas do sulfato de alumínio na água. Decorrido esse tempo,
grande parte do alumínio passará a existir como hidróxido de alumínio, sólido e
precipitável. Desse modo, a primeira equação apresentada neste Item tende a
evoluir para:
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2 0 → 2 Al (OH )3(s )↓ + 6H + + 3SO 4−2
Os Itens a seguir descrevem esses mecanismos.

5.5.2. Desestabilização por adsorção e neutralização

Conforme foi mencionado, nesse tipo de desestabilização as partículas


presentes na água bruta adsorvem, em suas superfícies, formas dissociadas do
sulfato de alumínio capazes de neutralizá-las. Assim sendo, será possível
aproximá-las umas das outras e, desta forma, floculá-las (vide Figura 5.4).

Figura 5.4 – Desestabilização por adsorção e neutralização

5-9
Algumas (poucas) estações de tratamento de água possuem um aparelho
eletrônico denominado zetâmetro, capaz de medir o denominado potencial zeta
das partículas (vide Figura 5.2, onde é indicado o potencial zeta da partícula
coloidal).
Quando se neutralizam as partículas coloidais, através da correta adição de
coagulante, consegue-se "zerar" o potencial zeta.
Entretanto, na maioria das vezes não se dispõe desse equipamento, e
determina-se experimentalmente como fazer para desestabilizar corretamente as
partículas, através de ensaios de jarros, em que se testam diversas dosagens de
coagulantes, floculantes e compostos para a ajustagem do pH.
A desestabilização por adsorção exige que a mistura rápida seja feita com muita
energia e durante tempo muito pequeno.
Isto porque, como foi visto, os produtos de dissociação do sulfato de
alumínio que podem ser adsorvidos pelas partículas ficam disponíveis na água
apenas alguns segundos. Em seguida, formam hidróxidos, que são importantes
nas fases seguintes do tratamento, mas não para a desestabilização por
adsorção e neutralização.
Além disto, esses produtos precisam ser lançados energicamente contra as
partículas, para que sejam capazes de atravessar as nuvens de cargas, também
positivas, que as cercam (dupla capa). Somente após atravessarem essas
nuvens é que os íons metálicos poderão ser adsorvidos pelas partículas.
Do exposto, conclui-se que, para que as partículas possam ser
desestabilizadas por adsorção e neutralização, o misturador rápido deverá
apresentar duas características essenciais:
• misturar energicamente o coagulante à água bruta;
• efetuar essa mistura em tempo muito curto.

5.5.3. Desestabilização por varredura

Neste caso, a desestabilização das partículas é feita pelo hidróxido de


alumínio.
Normalmente, nas condições de pH e dosagem de floculante que se
adiciona à água em tratamento, esse hidróxido é insolúvel. Apresenta-se sob
forma de gel (semelhante à gelatina), e precipita-se quando a água é deixada
em repouso.
Durante a floculação, as partículas desse gel chocam-se com as partículas
que se deseja remover da água em tratamento, e as adsorvem.
Funcionam como pequenas vassouras peludas, que agarram essas
partículas.
Por esse motivo, diz-se que as partículas são desestabilizadas por
varredura, isto é, elas são varridas da água utilizando essas mini-vassouras, vide
Figura 5.5.

5-10
Figura 5.5 – Desestabilização por varredura

Ao se tratar a água de piscinas, através da adição de sulfato de alumínio em


altas concentrações, pode-se observar que, de um dia para o outro, as
impurezas da piscina precipitam-se em seu fundo.
Este é um exemplo típico da ação desestabilizadora das impurezas através da
varredura.
A desestabilização por varredura não necessita de boa mistura rápida, tendo
em vista que, sendo o hidróxido de alumínio o agente responsável pela
desestabilização das partículas, e que ele vai se formar de qualquer forma, não
há mais a preocupação de se contar com uma mistura rápida e enérgica do
floculante com a água em tratamento.

5.5.4. Combinação da adsorção e varredura

Conforme foi visto, desestabilizar por varredura as partículas presentes na


água bruta é quase sempre algo fácil de ser feito.
Na realidade, e em vista do exemplo da piscina citado no sub-item anterior,
muitas vezes não é necessário nem misturador rápido nem floculador para isto,
desde que sejam utilizadas altas dosagens de coagulante.
Desestabilizar por varredura, portanto, qualquer um pode conseguir, desde
que tenha breves noções sobre o tratamento da água.
Por outro lado, desestabilizar por adsorção e neutralização é bem mais
complicado.
Primeiro, porque exige um bom misturador rápido. Segundo, porque exige
muita habilidade e conhecimento do operador.
A desestabilização por adsorção e neutralização ocorre em faixas estreitas
de pH da água floculada.

5-11
Além disto, dosagens excessivas de coagulante podem re-estabilizar as
partículas que se deseja remover.
Isto porque, sendo essas partículas de carga predominantemente negativa,
conforme foi visto, sua desestabilização é conseguida através da adsorção de
cargas positivas.
A adição em excesso, de produtos de dissociação pode fazer com que as
partículas coloidais deixem de ser negativas e se tornem positivas.
Nessas condições, ocorrerá o que se denomina re-estabiização das partículas.
O operador habilidoso saberá combinar os processos da desestabilização
por adsorção e o da desestabilização por varredura.
Para tanto, ele dosará a quantidade correta de floculante, capaz de, ao
mesmo tempo:
• fornecer íons metálicos em quantidade suficiente para que, ao serem
adsorvidos pelas partículas, reduzam suas cargas negativas, o que propiciará
sua aproximação;
• formar hidróxido metálico em quantidade suficiente para adsorver as
partículas parcialmente desestabilizadas e, portanto, mais próximas umas das
outras (por isto, são necessários flocos menores de hidróxidos para adsorvê-
las).
Observe que, neste caso, assim como na desestabilização por adsorção, é
necessário contar com um bom misturador rápido. A combinação dos dois
processos - adsorção e varredura - permite obter flocos bem formados com
pequeno consumo de floculante.

5.5.5. Diagrama de Amirtharajah e Mills

As espécies resultantes da dissociação do sulfato de alumínio que


permanecerão em solução estarão presentes em equilíbrio com a fase sólida
Al(OH)3 em concentrações muito baixas, nas faixas usuais de pH que
prevalecem nos floculadores das estações de tratamento de água, e o(s) tipo(s)
dessas espécies dependerá(ão) do pH da água em tratamento, conforme será
visto a seguir.
A título de exemplo, considere-se o que acontece com a forma Al(OH)4-.
Essa forma convive em solução aquosa com a fase sólida, o hidróxido de
alumínio, segundo a equação de equilíbrio a seguir:
Al (OH )3(s ) + H 2O ↔ Al (OH )− + H +
4
Como em toda solução aquosa, esse equilíbrio é expresso por uma
constante de equilíbrio, a qual denomina-se de K4, e que determina as
concentrações em que os solutos estarão presentes:
[ ][ ]
K 4 = Al (OH )− H +
4
Na expressão anterior, os termos entre colchetes representam as
denominadas atividades dos produtos. Entretanto, corriqueiramente utiliza-se as
concentrações molares, em substituição às atividades, com o objetivo de
simplificar os cálculos.
Aplicando logaritmo à expressão anterior, obtém-se:
5-12
[ ] [ ]
− log K 4 = − log Al (OH )− − log H +
4
Ora, o logaritmo negativo da constante K4 é outra constante, denominada
pK4 Já o logaritmo negativo da concentração hidrogênio-iônica é conhecido do
engenheiro civil, denominado de pH.
Assim sendo, pode-se escrever:
[ ]
pK 4 = − log Al (OH )− + pH
4
Observe, portanto, que a concentração de saturação do produto Al(OH)4-
será tão maior quanto maior for o pH da solução, vide Figura 5.6.

Figura 5.6 – Variação da concentração de saturação do produto de


dissociação Al (OH)4 - com o pH da solução

O mesmo pode ser feito para um produto positivo.


Tome-se, por exemplo, o próprio íon Al+3.
A equação de equilíbrio será:
Al (OH )3( s ) ↔ Al +3 + 3OH −
cuja constante de equilíbrio é:
[ ][ ]
K 3 ↔ Al + 3 OH −
3

Aplicando logaritmo a essa expressão, obtém-se:

5-13
[ ] [ ]
pK 3 = − log Al +3 − 3 log OH −
pK 3 = − log[Al ]− 3 pOH
+3

Ora, sabe-se que a própria água se dissocia, segundo a expressão


simplificada:
H 2O ↔ H + + OH −
sendo sua constante de equilíbrio, nas condições usuais:
[ ][ ]
K a = H + OH − = 10 −14
Aplicando logaritmo:
[ ] [ ]
pK a = 14 = − log H + − log OH −
pK a = 14 = pH + pOH
Do exposto, e tendo em vista que cada molécula de água dissocia-se em um
íon H+ e um íon OH-, decorre que, para a água pura:
pH = pOH = 7
ou ainda:
pOH = 14 - pH
Levando este último resultado à equação:
[ ]
pK 3 = − log Al + 3 − 3 pOH
obtém-se:
pK 3 = − log[Al ]+ (42 − 3 pH )
+3

(42 − pK 3 ) = const . = 3 pH + log[Al + 3 ]


Observe, portanto, que a concentração de saturação do produto de hidrólise
+3
Al será tão maior quanto menor for o pH da solução, conforme mostra a Figura
5.7.
Em seu trabalho, Amirtharajah e Mills (op. citada) apresentam o diagrama da
Figura 5.8, onde aparecem representadas as linhas correspondentes às
concentrações de saturação dos produtos de hidrólise considerados mais
importantes. A exemplo dos gráficos das Figuras 5.3 e 5.4 anteriores, ele tem,
nas abcissas, os valores de pH, enquanto que, nas ordenadas, aparecem: à
esquerda, o logaritmo da concentração molar do alumínio; à direita, a
concentração, em miligramas por litro, do produto comercial Al2(SO4)3.14,3H2O
(que não é necessariamente a formulação do produto químico fornecido à
estação de tratamento de água; portanto, para utilização prática do diagrama, a
correção correspondente às moléculas de água de hidratação deve ser
efetuada).
O diagrama destaca quatro áreas importantes, que são:
a) a região onde se consegue desestabilizar por adsorção os colóides presentes
na água a tratar. Observe que as dosagens de sulfato de alumínio a empregar
são baixas, inferiores a 2 mg/L de AL2(SO4)3.14,3H2O. O pH da água, após a
adição do sulfato, oscila entre o mínimo de 5,0 e o máximo de 7,0. Analisando a
grosso modo, verifica-se que, observadas essas condições, os colóides
absorverão os produtos de dissociação mais convenientes e na quantidade

5-14
exata para sua desestabilização. No limite superior da dosagem de sulfato,
portanto, a carga negativa com que o colóide se apresentava terá sido anulada.

Figura 5.7 – Variação da concentração de saturação do produto de


dissociação Al +3 com o pH da solução

b) a região de re-estabilização do colóide. Cargas positivas adsorvidas em


excesso pelo colóide, anteriormente negativo, podem reverter sua carga, re-
estabilizando-o como partícula positiva.
c) a região onde os colóides são desestabilizados por varredura, isto é, onde o
gel hidróxido de alumínio adsorve os colóides presentes na água bruta. Observe
que esta é a região onde o trabalho é realizado com maior facilidade, pois a faixa
correspondente do pH da água após a adição do sulfato de alumínio é bem mais
ampla: de 5,8 a 9,2. Por outro lado, as dosagens de sulfato necessárias são
superiores a 15 miligramas por litro.
A possibilidade de utilização de um dos mecanismos anteriores no tratamento da
água depende não só da sua qualidade, mas também do tipo de instalação de
tratamento que se tem nas mãos, e da habilidade do operador.
Recomenda-se ao leitor o estudo do texto citado, para conhecer, de modo
mais aprofundado, o assunto, e que permaneça atento aos diversos trabalhos
que evoluíram dessa obra, e vêm sendo apresentados nos diversos eventos
científicos nacionais e internacionais.

5-15
Figura 5.8 – Diagrama para projeto e operação utilizando sulfato de
alumínio

5.5.6. Problema resolvido

Ensaios de laboratório concluíram que a dosagem ótima de sulfato de


alumínio que deverá ser aplicada a determinada água bruta é igual a 23 mg/L.
Ocorre que a formulação do produto químico a ser dosado na ETA é
AL2(SO4)3.20H2O, enquanto que o produto químico utilizado nos ensaios de
laboratório era AL2(SO4)3.14,3H2O. Qual deverá ser a dosagem correspondente
na ETA, para que sejam obtidos os mesmos resultados?
Resolução:
A massa molecular do sulfato de alumínio pode ser calculada da forma a
seguir, utilizando as massas atômicas apresentadas no Anexo 17:

Assim sendo, o peso molecular do produto químico utilizado no laboratório é:

5-16
Portanto, da dosagem utilizada, a dosagem de sulfato de alumínio (subtraída
a água de hidratação) foi, na realidade:
342
dosagem = 23 = 13,12mg / L
599,4
O produto químico a ser utilizado na ETA tem, em sua molécula, 20
miligramas de água de hidratação. Portanto, seu peso molecular será:

Assim sendo, a dosagem de sulfato de alumínio na ETA deverá ser:


702
dosagem = 13,12 = 26,93mg / L
342

5.5.7. Problema resolvido

Um ensaio de jarros indicou as seguintes dosagens de sulfato de alumínio e


pH finais de floculação. Classifique o mecanismo de desestabilização dos
colóides correspondentes a cada um deles, segundo o diagrama de Amirtharajah
e Mills, admitindo que cada molécula de sulfato de alumínio tenha 14,3
moléculas de água de hidratação:
1° caso: pH = 6,8; dosagem de sulfato: 8 mg/L
2° caso: pH = 7,5; dosagem de sulfato: 8 mg/L
3° caso: pH = 7,5; dosagem de sulfato: 30 mg/L
Resolução:
Conforme mostra a Figura 5.9, o mecanismo de desestabilização em cada
caso é:
1° caso: desestabilização por adsorção e neutralização;
2° caso: combinação dos dois processos;
3° caso: desestabilização por varredura.

5.5.8. Alcalinidade e dureza

Os carbonatos e bicarbonatos são, em grande parte, os responsáveis pela


denominada alcalinidade, vale dizer: a capacidade de neutralizar ácidos.
Outros sais de ácidos fracos, tais como boratos, silicatos e fosfatos, que
podem estar presentes em pequenas quantidades, aumentam também a
alcalinidade das águas naturais potabilizáveis.
De qualquer forma, e independentemente dos compostos presentes, a
alcalinidade medida é expressa em termos de CaCO3.

5-17
Figura 5.9 – Problema resolvido 5.5.7

Já o cálcio é o principal responsável pela dureza.


Uma água dura requer grandes quantidades de sabão para formar espuma.
Outros íons bimetálicos, tais como: o Mg+2,quase sempre associado ao
SO4 ; o Sr+2 associado ao NO3-; e o Mn+2, associado ao SiO3-2; conferem dureza
=

à água.
Na maioria dos casos o cálcio encontra-se associado ao íon bicarbonato,
que se transforma em carbonato (pouco solúvel) com o aumento da temperatura,
segundo a reação:
Ca(HCO3 )2 → CaCO3 + CO2 + H 2O

À precipitação do carbonato de cálcio (CaCO3) provoca o entupimento das


canalizações de água quente e a explosão de caldeiras.
Assim sendo, a dureza devida ao bicarbonato de cálcio torna-se perigosa,
devendo ser controlada.
O aumento do pH converte os bicarbonatos (HCO3-) em carbonatos (CO3-2)
pois, na reação:
CO −2 + H + ↔ HCO 3−
3
a remoção dos íons H+ da solução deslocará o equilíbrio para a esquerda.

5-18
Assim sendo, o aumento do pH faz com que o bicarbonato de cálcio se
transforme em carbonato de cálcio, precipitável, propiciando sua remoção da
água.
Tendo em vista que a dureza devida ao bicarbonato de cálcio pode ser
facilmente removida, quer por elevação da temperatura, quer por aumento do
pH, denomina-se esse tipo de dureza de dureza temporária, contrapondo-se à
dureza devida à associação dos metais descritos com outros tipos de ânions
que, por serem mais dificilmente removíveis, constituem a denominada dureza
permanente.
Quando a água em tratamento possui alcalinidade natural devida à presença
do bicarbonato de cálcio, e a ela é adicionado o ácido sulfúrico (H2SO4), ocorrerá
a seguinte reação, que neutraliza, dessa forma, o ácido que foi adicionado à
água:
Ca(HCO3 )2 + H 2SO 4 → CaSO 4 + 2CO2 + 2H 2O
A reação anterior pode ser re-escrita da seguinte forma, após multiplicar todos
os seus termos por 3:
3Ca(HCO3 )2 + 3H 2SO4 → 3CaSO 4 + 6CO2 + 6H 2O
Em seguida, ela será somada membro a membro com a reação (já vista):
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2O → 2 Al (OH )3( s ) ↓ + 6H + + 3SO4−2
e que pode ser re-escrita da forma:
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2O → 2 Al (OH )3(s ) ↓ + 3H 2SO 4
Obtém-se:
3Ca(HCO3 )2 + 3H 2SO4 → 3CaSO 4 + 6CO2 + 6H 2O
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2O → 2 Al (OH )3(s ) ↓ + 3H 2SO 4
Al 2 (SO 4 )3 + 3Ca(HCO3 )2 → 3CaSO 4 + 6CO2 + 2 Al (OH )3( s ) ↓
Observe que foram cancelados os termos idênticos que aparecem em lados
opostos do sinal (• ).
Não obstante, a adição de sulfato de alumínio à água em tratamento tende a
reduzir seu pH, devido ao fato de que o CO2 resultante tende a reagir com a
água, formando um ácido fraco, o ácido carbônico, segundo a reação:
CO2 + H 2O → H 2CO3
Por outro lado, o bicarbonato de cálcio é convertido a sulfato de cálcio, vale
dizer: parte da dureza temporária é convertida em dureza permanente, o que
pode constituir uma desvantagem do ponto de vista da remoção da dureza.

5.6. Equilíbrio carbônico da água: agressividade e incrustabilidade

Entre as diversas equações de equilíbrio químico que prevalecem nas águas


naturais, apresentam especial interesse ao estudo do tratamento da água as que
dizem respeito ao equilíbrio dos compostos inorgânicos do carbono.
Este elemento químico se faz presente na água principalmente absorvido
sob a forma de gás carbônico:

5-19
CO2 + H 2O → H 2CO3
Se o pH da água é inferior aa 4,5 significa que ela contém ácidos minerais
fortes, não havendo o ácido carbônico (H2CO3). Conforme foi visto, a COPAM e
o CONAMA (vide Anexos 13 e 14) não consideram águas em tais condições
como potabilizáveis (para tanto, o pH deverá estar compreendido entre 6,0 e
9,0).
Se ocorrer a elevação do pH acima de 4,5, o ácido carbônico passa a
encontrar condições para permanecer dissociado na água, combinando-se com
os carbonatos (CO3-2) com os quais entra em contato, transformando-se em
bicarbonatos (HCO3-) segundo a reação:3).
H 2CO3 + CO3−2 ↔ 2HCO3−2
No caso específico do carbonato de cálcio, cuja importância já foi salientada
anteriormente, observa-se que as águas naturais contendo gás carbônico (e,
portanto, H2CO3) são capazes de solubilizar as rochas calcárias (que contêm
CaCO3), tornando-se mais duras, através do aumento de suas concentrações de
bicarbonato de cálcio.
Quanto menos elevado é o pH (e, portanto, maior a concentração de
CaCO3), mais o equilíbrio da concentração é deslocado para a direita, sendo
que, abaixo do valor 8,3, só são encontrados bicarbonatos na água,
desaparecendo os carbonatos (vale dizer, o H2CO3).
Se o pH ultrapassa o valor 8,3, os íons bicarbonato passam a se transformar
em íons carbonato, segundo a reação:
HCO3− ↔ CO3−2 H +
Os carbonatos de cálcio são pouco solúveis na água, Aproveitando-se deste
fato, um dos processos de remoção de cálcio das águas de abastecimento
(causador de dureza, conforme visto) consiste em elevar seu pH acima de 8,3
(normalmente até 10,6 - 10,8, segundo Adad 1). Nestas condições, o carbonato
de cálcio precipita-se, podendo ser removido.
Se a água tiver seu pH superior a 11, significa que contém hidróxidos, sendo
imprópria para fins de potabilização.
Em resumo, tem-se:
a) a água contém carbonatos e hidróxidos: o pH é elevado, acima de 11;
b) a água contém carbonatos e bicarbonatos: o pH é superior a 8,3 e
normalmente inferior a 11;
c) a água contém somente bicarbonatos: o pH é igual ou inferior a 8,3.
Se, por um lado, a presença excessiva de carbonatos e bicarbonatos de
cálcio poderá, como mencionado, incrustar tubulações, sua presença em
quantidades adequadas poderá ajudar a combater a corrosão das superfícies
metálicas que contenham ferro.
Os mecanismos de corrosão das superfícies metálicas são complexos,
sendo difícil avaliar, a partir de alguns parâmetros, se uma água poderá ter sua
agressividade corrigida através de medidas simples, ainda mais quando a água
tratada deverá ser potável (o que elimina de vez uma série de inibidores de
corrosão disponíveis no mercado). O leitor deverá recorrer às referências

5-20
bibliográficas 1,3 para inteirar-se do assunto e permanecer atento às publicações
periódicas que permanentemente trazem novas descobertas sobre esse tema.
Entretanto, simplificadamente pode-se assumir que a corrosão do ferro
ocorre devido à sua ionização (e conseqüente solubilização)em certo ponto da
superfície metálica, denominado ânodo:
Fe − 2e − → Fe +2
o que requer a existência de um cátodo:
2e − + 2H 2O → H 2 + 2OH −
Se a água contém íons cálcio e bicarbonato, a reação no ânodo passará a
ser:
2e − + 2H 2O → H 2 + 2OH −
2Ca +2 + 2HCO3− + 2OH − → 2CaCO3 + 2H 2O
2e − + 2Ca +2 + 2HCO3− → 2CaCO3 + H 2
O CaCO3 formado, por ser insolúvel, deposita-se sobre o ânodo, cobrindo-o
e, em conseqüência, desativando-o.
Assim sendo, o processo corrosivo é inibido.
Para avaliar se as quantidades de cálcio, bicarbonatos e carbonatos (vale
dizer: alcalinidade) e teor de sólidos totais dissolvidos (vale dizer: capacidade de
transporte de elétrons), a dada temperatura, tornam a água agressiva ou
incrustante, Langelier 6 propôs um método, sumarizado sob a forma do diagrama
representado na Figura 5.10.
A partir dos valores extraídos daí, pode-se determinar o denominado índice
de saturação:
I s = pH − pH s
onde:
pH s = pCa + pAlc + C
Se pH < pHs, Is é negativo e a água é corrosiva.
Se pH > pHs, Is é positivo e a água é incrustante.
[ ] [ ]
pCa = − log Ca + 2 , onde Ca +2 é a concentração molar do íon cálcio.
pAlc = − log[HCO ] , onde [HCO ] é a concentração molar do íon bicarbonato.

3

3
C = índice que depende do teor de sólidos e da temperatura.
Observe, entretanto, que o índice de Langelier tem caráter apenas
qualitativo, não sendo possível, somente através dele, determinar quais os
compostos (e em que proporções) que, adicionados à água, permitiriam corrigir
seu desequilíbrio.
Marques e Leão 7 redigiram um trabalho dirigido à COPASA objetivando
permitir a seus funcionários a correta interpretação do equilíbrio carbônico da
água, com base no modelo originalmente proposto por Caldwell e Lawrence.
Trata-se de um modelo bem mais poderoso, permitindo inclusive determinar
e quantificar os produtos químicos necessários para estabelecer o equilíbrio.
Para os que desejam aprofundar-se no assunto, recomenda-se a leitura da
íntegra do citado trabalho.

5-21
Figura 5.10 – Diagrama para a determinação do índice de Langelier 6

5-22
Questões para recapitulação
(respostas no final deste Item)

1. Segundo Amirtharajah e Mills, os três mecanismos através dos quais é


possível desestabilizar os colóides presentes na água bruta são:
1.a. _____________________
1.b. _____________________
1.c. _____________________
2. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
2.a. Na desestabilização por adsorção e neutralização as partículas presentes na
água bruta adsorvem, em sua superfície, íons metálicos de carga positiva
capazes de neutralizá-las.
2.b. Na desestabilização por adsorção e neutralização é importante misturar
energicamente o floculante à água bruta e efetuar essa mistura em tempo muito
curto.
2.c. Quando se neutraliza as partículas através da correta adição de floculante,
zera-se seu potencial zeta.
2.d. Observa-se experimentalmente que as partíiculas que se deseja remover da
água em tratamento apresentam cargas elétricas negativas.
3. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
3.a. Na desestabilização por varredura a desestabilização das partículas é feita
pelo hidróxido metálico, que é o composto que se forma quando se adiciona o
floculante à água bruta.
3.b. Os hidróxidos metálicos formam pequenas partículas insolúveis, sob forma
de gel, que se chocam com as partículas que se deseja remover da água em
tratamento e as adsorvem.
3.c. Os hidróxidos metálicos funcionam como pequenas vassouras peludas que
agarram as partículas que se deseja remover da água em tratamento.
3.d. A desestabilização por varredura não necessita de boa mistura rápida; não
há a preocupação de se contar com uma mistura rápida e enérgica do floculante
com a água em tratamento.
4. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
4.a. Na coagulação, se íons metálicos positivos forem adsorvidos pelas
partículas em quantidades acima da necessária para neutralizá-las, ocorrerá a
re-estabilização das partículas.
4.b. A combinação dos processos de desestabilização por adsorção e
neutralização e desestabilização por varredura permite obter flocos bem
formados com pequeno consumo de floculante.
4.c. Na combinação dos processos de desestabilização por adsorção e
neutralização e desestabilização por varredura é necessário contar com um bom
misturador rápido
4.d. A desestabilização por adsorção e neutralização ocorre em faixas estritas do
pH da água floculada.
5. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
5.a. Alcalinidade da água é a sua capacidade de neutralizar ácidos.
5.b. Outros sais de ácidos fracos, tais como boratos, silicatos e fosfatos, também
contribuem para a alcalinidade das águas naturais e potabilizáveis.

5-23
5.c. A alcalinidadde da água é expressa em termos de CaCO3.,
independentemente dos compostos que a causam.
5.d. O cálcio é o único elemento responsável pela dureza.
5.e. Uma água dura requer grandes quantidades de sabão para formar espuma.
5.f. Outros íons bimetálicos, tais como: o Mg+2, quase sempre associado ao SO4-
2
; o Sr+2 associado ao Cl-; o Fe+2 associado ao NO3-; e o Mn+2 associado ao SiO3-
2;
conferem dureza à água bruta.
5.g. O íon bicarbonato transforma-se em carbonato (pouco solúvel) com o
aumento da temperatura.
5.h. A precipitação do carbonato de cálcio provoca o entupimento das
canalizações de água quente e a explosão de caldeiras.
5.i. O aumento do pH converte os bicarbonatos em carbonatos.
5.j. A dureza devida ao bicarbonato de cálcio denomina-se temporária.
6. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
6.a. Se a água contém carbonatos e bicarbonatos, seu pH é superior a 8,3 e
normalmente inferior a 11.
6.b. Se a água contém somente bicarbonatos, seu pH é igual ou inferior a 8,3.
6.c. A presença de carbonatos e bicarbonatos de cálcio em quantidades
adequadas poderá ajudar a combater a corrosão das superfícies metálicas que
contenham ferro.
6.d. Se pH < pHs, Is é negativo e a água é incrustante.
6.e. Se pH > pHs, Is é positivo e a água é corrosiva.

Respostas:
1.a. desestabilização por adsorção e desestabilização; 1.b. desestabilização por
varredura; 1.c. Combinação dos dois processos anteriores; 2.a.(v); 2.b..(v);
2.c..(v); 2.d..(v); 3a. (v); 3b..(v); 3.c..(v); 3.d..(v); 4.a..(v); 4b.(v); 4.c.(v); 4.d.(v);
5.a.(v); 5.b.(v); 5.c.(v); 5.d.(f); 5.e.(v); 5.f.(v); 5.g.(v); 5.h.(v); 5.i.(v); 6a. (v); 6b.(v);
6c.(v); 6.d.(f); 6.e.(f)

Referências bibliográficas

1. ADAD, Jesus M. T. Qualidade da água. Belo Horizonte: Edições Engenharia,


1972, 135p.
2. AMIRTHARAJAH, A., MILLS, K. M. Rapid mix design for mechanisms of alum
coagulation. Journal AWWA, v.74, n.4, p.216-6, Apr.1972.
3. AWWA. Water quality and treatment: a handbook of public water supplies.
3.ed. New York, Mc Graw-Hill, 1971. 654p.
4. CAMPOS, José Roberto, POVINELLI, Jurandyr. Coagulação. In: Técnica de
abastecimento e tratamento de água. São Paulo: CETESB, 1974. v2, cap.21,
p.711-751.
5. DI BERNARDO, Luis et al. Coagulação e filtração direta ascendente.Revista
DAE, v.48, n.165, p.202-8, jun.1986.
6. LANGELIER, W. F. The analytical control of anti-corrosion water treatment.
Journal AWWA. v.28, n.10, p.1500, Oct. 1936.

5-24
7. MARQUES, Benjamin Campolina de A., LEÃO, Sérgio França. Dureza e
abrandamento das águas: modelos de análise gráfica. Belo Horizonte, COPASA
MG, 1984. 67p. (trabalho não publicado)
8. TEORIA, diseño y control de los procesos de clarificación del agua. Lima:
CEPIS, 1973. 558p. (serie tecnica, 13)
9. WATER treatment handbook. Paris: DEGRÈMONT, 1991.

5-25
6.1. Introdução

Neste capítulo, serão recordadas algumas noções básicas indispensáveis à


perfeita compreensão das equações que serão vistas neste livro.
Tais noções são estudadas nos cursos de Física, Mecânica dos Fluidos e
Hidráulica, e são indispensáveis para que o restante do texto possa ser
entendido sem sobressaltos.
Por este motivo, dedicar-se-á algumas paginas a elas.
Ao mesmo tempo, serão ressaltadas as diferenças existentes entre os dois
sistemas de unidades com os quais, lamentavelmente, os técnicos brasileiros
são obrigados a conviver:
• o Sistema Internacional (SI), adotado oficialmente pelo Brasil, em
sintonia com a maioria dos demais países do mundo;
• o Sistema Técnico (MKfS), do qual ainda o Brasil não conseguiu se
libertar.
A mistura entre os dois sistemas de unidades que eventualmente se faz pode
conduzir a erros (fatais) de cálculos, levando a resultados que poderão ser da
ordem de dez vezes mais ou dez vezes menos (algumas vezes até mais que
isto!) que os que se deveria encontrar.

6.2. Massa

Denomina-se massa de um corpo a quantidade de matéria que ela possui.


No SI, a unidade de massa é o quilograma.
No MKfS, a unidade de massa é a unidade técnica de massa.
Assim sendo, tem-se:
SI: {m} = kg
MKfS: {m} = u.t.m. (unidade técnica de massa)

6.3. Velocidade

Denomina-se velocidade à relação entre o espaço percorrido por um corpo e


o tempo que ele leva para percorrer esse espaço:
d
v=
t
onde:

6-1
d = espaço percorrido
t = tempo
Tendo em vista que, nos dois sistemas de unidades:
{d} = metro = m
(t) = segundo = s
então:
{v} = m/s (nos dois sistemas de unidades)

6.3.1. Problema resolvido

Um corpo percorre o espaço de 6 metros em 3 segundos. Determine sua


velocidade.

Resolução

d
v=
t
6
v = = 2m / s
3

6.4. Aceleração

Denomina-se aceleração à relação entre a variação de velocidade de um


corpo e o tempo em que essa aceleração ocorre:
∆v
a=
t
onde:
∆v = variação de velocidade
t = tempo em que a variação ocorreu
Nos dois sistemas de unidades, tem-se:
{∆v} = m/s
{t} = s
Portanto:
2
{a} = m/s , nos dois sistemas de unidades.

6.4.1. Problema resolvido

Um corpo, inicialmente animado com a velocidade de 0,5 m/s, tem sua


velocidade aumentada para 2,5 m/s em 10 segundos.
Qual foi a aceleração que ele sofreu nesse intervalo de tempo?

Resolução

Conforme foi visto, a aceleração é calculada pela expressão:

6-2
∆v
a=
t
No caso, tem-se:
V1 = 0,5 m/s
V2 = 2,5 m/s
Portanto:
∆v = v2 - v1 = 2,5 - 0,5 = 2,0 m/s
t = 10 s
Substituindo os valores, encontra-se:
2,0
a= = 0,2m / s 2
10

6.5. Força

Denomina-se força aplicada a um determinado corpo ao produto da massa


desse corpo pela aceleração que ele adquire.
F = ma
A unidade de força no SI é denominada Newton (N):
2
{F} = kg . m/s = N
A unidade de força no MKfS é denominada quilograma-força (kgf):
{F} = (u.t.m.).m/s2 = kgf
Decorre daí que:
-1 2
1 u.t.m. = 1 kgf . m . s

6.5.1. Problema resolvido


2
Um corpo de massa m = 5 kg é submetido à aceleração de 2 m/s . Qual é a
força, expressa em Newtons, que foi aplicada sobre ele?

Resolução

Aplica-se diretamente a fórmula:


F = ma
onde, neste caso:
m = 5 kg
2
a = 2 m/s
Portanto:
F = 5 x 2 = 10 N

6.6. Peso

Denomina-se peso de um corpo ao produto de sua massa pela aceleração da


gravidade.
W = mg

6-3
Para quem lida com projetos e obras de engenharia a aceleração da
gravidade é igual a:
2
g = 9,8 m/s
(na realidade, o valor de g varia, para mais ou para menos, conforme a latitude,
longitude e altitude; mas essa variação é desprezível, para efeitos práticos)
Peso é, portanto, uma força. Assim sendo, suas unidades são as mesmas da
força.
A unidade de peso no SI é denominada Newton (N):
2
{W} = kg . m/s = N
A unidade de peso no MKfS é denominada quilograma-força (kgf):
2
{W} = (u.t.m) . m/s = kgf

Reside aí a grande e fundamental diferença entre os sistemas internacional


(SI) e técnico (MKfS).
Por definição, 1 kgf é o peso de um corpo de 1 kg submetido à aceleração da
gravidade.
Ora, no SI, um corpo de massa igual a 1 kg submetido à aceleração da
gravidade pesa:

W = mg = 1 x 9,8 = 9,8 N

Assim sendo:

1 kgf = 9,8 N

Na prática utiliza-se 1 kgf = 10 N

6.6.1. Problema resolvido

Um corpo, de massa m = 10 kg, encontra-se submetido à aceleração da


gravidade.
2
Admitindo g = 10 m/s , determine o peso desse corpo, em Newtons e em
quilogramas-força.
Determine também a massa desse corpo no Sistema Técnico de unidades.

Resolução

Aplica-se diretamente a expressão:


W = mg
onde, neste caso:
m = 10 kg
2
g = 10 m/s
Portanto:
W = 10 x 10 = 100 N
Além disto, conforme foi visto, tem-se, aproximadamente:

6-4
1 kgf = 10 N
Portanto:
W = 100 / 10 = 10 kgf

Observe, portanto, que um corpo de massa igual a 10 kg (neste caso, o


Sistema Internacional de unidades está sendo utilizado) pesa 10 kgf (neste
caso, o Sistema Técnico de unidades está sendo utilizado).
Esta coincidência de números, conforme foi dito, é a responsável por grandes
confusões em cálculos de engenharia.

A massa do corpo em questão no Sistema Técnico é obtida através da


expressão:
W = mg
m=W/g
-1 2
m = 10 / 10 = 1 u.t.m = 1 kgf.m .s

6.7. Trabalho

É definido como sendo o produto da força que se realiza em determinado


sentido pelo espaço que se percorre nessa mesmo sentido:
Τ=Fd
No Sistema Internacional, a unidade de trabalho é:
{Τ} = Joule = J
No Sistema Técnico, a unidade de trabalho é:
{Τ} = quilogrâmetro = kgm

6.7.1. Problema resolvido

Qual o trabalho que deve ser realizado para elevar um corpo de peso igual a
1000 kgf até um local 50 metros mais elevado?

Resolução

Para a resolução do problema, utiliza-se a expressão:


Τ=Fd
onde, neste caso:
F = peso do corpo = 1000 kgf
d = 50 m
Portanto:
Τ = 1000 x 50 = 50000 kgm

6.8. Energia

É definida como a capacidade que um corpo possui de realizar um trabalho.


A unidade de energia é, portanto, a mesma vista para o trabalho.

6-5
A energia pode ser potencial ou cinética, como será visto a seguir.
A energia potencial pode transformar-se em energia cinética e vice-versa.

6.8.1. Energia potencial de posição

É definida como o produto do peso (W) do corpo pela altura (z) em que ele se
encontra em relação a determinado referencial:
Ep,1 = mgz = Wz

6.8.2. Energia potencial de pressão

Em se tratando da água, ela pode conter energia potencial por estar abaixo
de certa altura h de água (tanto é verdade que, ao se perfurar um recipiente a
uma altura h abaixo da superfície, a água esguicha, transformando sua energia
potencial de pressão em energia cinética).
Assim sendo, a energia potencial de pressão é igual a:
Ep2 = mgh

6.8.3, Energia Cinética

É definida como o produto da massa do corpo pelo quadrado de sua


velocidade, dividido por dois:
Ec = (m v2) / 2

6.8.4. Problema resolvido

Uma porção de água, cuja massa é igual a 50 kg, situada no interior de uma
porção maior de água, desloca-se animada de velocidade igual a 1,5 m/s, a
uma profundidade de 20 metros e a 50 metros acima do fundo.
Determine sua energia total, expressa em unidades do Sistema Técnico, em
relação a esse fundo.
Admita que se pode tomar g = 10 m/s2.

Resolução

Determina-se cada uma das três parcelas de energia que a porção de água
pode ter, que são:
• Energia potencial de posição
Ep,1 = m g z = W z
onde, neste caso:
W = 50 kgf
z = 50 m
Portanto:
Ep,1 = 50 x 50 = 2500 kgm

6-6
• Energia potencial de pressão
Ep,2 = mgh
onde, neste caso:
mg = W = 50 kgf
h = 20 m
Portanto:
Ep,2 = 50 x 20 = 1000 kgm
• Energia cinética
Ec = (m v2) / 2
onde, neste caso:
m = W / g = 50 / 10 = 5 kgf.m-1.s2
v = 1,5 m/s
Portanto:
Ec = 5 x 1,52 / 2 = 5,625 kgm
Somando as três parcelas anteriores, obtém-se a energia total:
E = Ep,1 + Ep,2 + Ec = 2500 + 1000 + 5,625 = 3505,625 kgm

6.9 Potência

É definida como sendo o quociente entre o trabalho realizado e o tempo em


que esse trabalho foi realizado:
Τ
P=
t
Decorre daí que:
F .d d 
P= = F   = F .v
t t

No Sistema Internacional, a unidade de potência é:


{P} = Watt = W
No Sistema Técnico, a unidade de potência é:
{P} = quilogrâmetro por segundo = kgm/s

6.9.1 Problema Resolvido

Admitindo que o trabalho do Problema 6.7.1 anterior deva ser realizado em


10 segundos, qual será a potência correspondente, nos Sistemas Técnico e
Internacional de unidades?

Resolução:

Conforme foi visto:


P=Τ/t
onde, neste caso:
t = 10 s

6-7
No Problema 6.7.1, encontrou-se:
Τ = 50000 kgm
Portanto, a potência será:
P = 50000 / 10 = 5000 kgm/s
Este é o valor da potência no Sistema Técnico de unidades.
No Sistema Internacional, para encontrar o valor numérico correspondente
basta multiplicar o anterior por g (no caso, igual a 10 m/s2):
P = 5000 x 10 = 50000 W = 50 kW (quilowatts)

6.10 Massa Específica e Densidade Relativa

Denomina-se massa específica de um corpo à relação entre a massa do


corpo e seu volume:
ρ = m/V
No Sistema Internacional, a unidade de massa específica é:
{ρ} = kg/m3
No Sistema Técnico, a unidade de massa específica é:
-1 2 -4 2
{ρ} = (u.t.m.)/m3 = (kgf.m .s )/m3 = kgf.m .s
Nas aplicações práticas, considera-se a massa específica da água igual a:
3
ρ = 1000 kg/m (SI)
-4 2
ρ = 100 kgf.m .s (MKfS)
Denomina-se densidade relativa (ou simplesmente densidade) de um corpo à
relação entre sua massa específica ρ e a massa específica da água ρo:
ρ
δ=
ρo
(no caso de gases, a substância utilizada como referência é o ar atmosférico ao
invés da água)
Por este motivo, a densidade relativa é uma grandeza adimensional.

6.10.1. Problema resolvido

Sabendo-se que, a 4ºC, 1000 litros de água têm massa igual a 1000 kg,
determine a massa específica desse líquido nos Sistemas Técnico e
Internacional de unidades.

Resolução:

ρ = m/V
onde:
-1 2
m = 1000 kg = 100 kgf . m .s
3
V = 1000 l = 1 m
Portanto, no Sistema Internacional:
3
ρ = 1000 / 1 = 1000 kg/m
e, no Sistema Técnico:

6-8
-4 2
ρ = 100 / 1 = 100 kgf . m .s

Nota: embora, a rigor, ocorra uma pequena variação nos valores da massa
específica da água com a variação da temperatura - ver Anexo 4, para efeitos
práticos e nas faixas usuais de temperatura com que se lida na engenharia civil,
-4 2 3
adota-se sempre ρ = 100 kgf.m .s = 1000 kg/m .

6.11. Peso Específico

Denomina-se peso específico de um corpo à relação entre o peso do corpo e


seu volume:
γ=W/V
No Sistema Internacional, a unidade de peso específico é:
3
{γ} = N/m
No Sistema Técnico, a unidade de peso específico é:
3
{γ} = kgf/m
A densidade relativa, definida no Item anterior como a razão entre as massas
específicas, exprime também a razão entre os pesos específicos, como se
mostra a seguir:
ρ ρg γ
δ= = =
ρo ρo g γ o

6.11.1. Problema resolvido

Sabendo-se que, a 4ºC, 1000 litros de água são capazes de conter 1000 kg
de água, determine o peso específico desse líquido nos Sistemas Técnico e
Internacional de unidades.
2
Considere g = 10 m/s .

Resolução

γ=W/V
onde:
2
W = mg = 1000 kg x 10 m/s = 10000 N = 1000 kgf
3
V = 1000 l = 1 m
Portanto, no Sistema Internacional:
3
γ = 10000 / 1 = 10000 N/m
e, no Sistema Técnico:
3
γ = 1000 / 1 = 1000 kgf/m

6-9
Nota: embora, a rigor, ocorra uma pequena variação nos valores do peso
especifico da água com a variação da temperatura - ver Anexo 4, para efeitos
práticos e nas faixas usuais de temperatura com que se lida na engenharia civil,
3 3
adota-se sempre γ = 1000 kgf/m = 10000 N/m .

6.12. Pressão

6.12.1. Definição

Pressão é a relação entre a forca N aplicada sobre determinada superfície,


perpendicularmente a ela, e a área A dessa superfície.
p = N/A
No Sistema Internacional, a unidade de pressão é:
2
{p} = N/m = Pascal = Pa
No Sistema Técnico, a unidade de pressão é:
2
{p} = kgf/m

6.12.2. Problema resolvido

Qual é a pressão que resulta da aplicação de uma forca de 1000 kgf sobre
uma área quadrada de 0,20 m de lado, sendo a direção da força normal à área?
2
Determine-a nos dois sistemas de unidades, considerando g = 10 m/s .

Resolução:

a) no Sistema Internacional:
F = 1000 kgf = 10000 N
2
A = 0,20 x 0,20 = 0,04 m
Portanto:
p = F/A = 10000 / 0,04 = 250000 Pa
É comum trabalhar-se com os múltiplos do Pascal:
3
• O quiloPascal (kPa): 1 kPa = 10 Pa
6
• O megaPascal (MPa): 1 MPa = 10 Pa
Assim sendo, pode-se escrever:
p = 250000 Pa = 250 kPa = 0,25 MPa
b) no Sistema Técnico:
F = 1000 kgf
2
A = 0,04 m
2
p = F/A = 1000 / 0,04 = 25000 kgf / m
2
É comum expressar-se a pressão em kgf/cm :
2 2
1 kgf/cm = 10000 kgf/m
Assim sendo, pode-se escrever:
2 2
p = 25000 kgf/cm = 2,5 kgf/cm

6.12.3. Relação entre pressão e altura de água


6-10
Imagine um recipiente cheio d' água. Considere, dentro da água, um cilindro
imaginário, de área de base A e altura h, a partir da superfície líquida, como
mostrado na Figura 6.1.
O volume d' água desse cilindro será:
V = Ah
e seu peso será:
W = γAh
O cilindro não afunda porque há uma força que o equilibra, aplicada de baixo
para cima, igual ao peso do cilindro.
Essa força é aplicada em toda a área A da base do cilindro.
Por definição, a pressão correspondente será:
p = F/A = W/A = γAh/A
p = γh
Essa expressão é aplicável às situações em que a água puder ser suposta
incompressível (em tratamento de água, quase sempre isto pode ser feito).

Figura 6.1 - Relação entre pressão e altura d'água

6.12.4. Problema resolvido

Qual é a pressão num ponto situado no interior da água, a uma profundidade


2
igual a 100 metros? Considere g = 10 m/s .

Resolução

a) no Sistema Internacional:
p = γh

6-11
onde:
h = 100 m
e, como foi visto no problema resolvido 6.11.1:
γ = 10000 N/m3
Portanto:
p = 10000 x 100 = 1000000 Pa = 1000 kPa = 1 MPa
b) no Sistema Técnico:
p = γh
onde:
h = 100 m
e, como foi visto no problema resolvido 2.11.1:
γ = 1000 kgf/m3
Portanto:
2 2
p = 1000 x 100 = 100000 kgf/m = 10 kgf/cm

Da resolução deste problema, decorre uma regra com a qual é interessante


que se esteja familiarizado:

Altura de água Pressão Pressão


2
(m) (kgf/cm ) (MPa)
100 10 1

Além disto, em hidráulica é muito comum referir-se a pressões em metros de


coluna d' água.
A rigor, não se trata de pressão, mas do que se denomina altura piezométrica
(p/γ).
Assim, por exemplo, no exercício resolvido anteriormente, dir-se-ia
comumente que o ponto em questão está submetido à pressão de 100 metros
de coluna d'água (100 m H 2O, ou 100 m.c.a, como preferem alguns).
Na realidade, a altura piezométrica é quem tem esse valor, ou seja:
p/γ = 100 m H2O.

6.13. Tensão Tangencial

É a relação entre a forca T aplicada sobre determinada superfície,


tangencialmente a ela, e a área A dessa superfície.
τ = T/A
No Sistema Internacional, a unidade da tensão tangencial é:
2
{τ} = N/m = Pa
No Sistema Técnico, a unidade da tensão tangencial é:
{τ} = kgf/m2

6-12
6.13.1. Problema resolvido

Qual é a tensão tangencial resultante da aplicação de uma forca de 1000


2
Newtons sobre uma área retangular, de dimensões (0,20 x 0,40) m , sendo a
direção da força tangente à área? Apresente o resultado nos Sistemas Técnico
e Internacional de unidades.

Resolução

Aplica-se a expressão:
τ = T/A
onde:
T = 1000 N = 100 kgf
2
A = 0,20 x 0,40 = 0,08 m
Substituindo os valores, encontra-se:

- Sistema Internacional:
2
τ = 1000 / 0,08 = 12500 N/m = 12500 Pa
- Sistema Técnico:
2
τ = 100 / 0,08 = 1250 kgf/m

6.13.2. Observações sobre a tensão tangencial

Por definição, os fluidos (e, em especial, a água) escoam imediatamente


quando submetidos à ação de tensões tangenciais, por menores que sejam.
Para dada tensão tangencial aplicada ao fluido, a velocidade de escoamento
resultante dependerá de sua viscosidade: quanto mais viscoso ele fôr, menor
será a velocidade de escoamento .
O conceito de viscosidade será visto no próximo Item 6.18.

6.14. Vazão

É o volume de água que escoa através de determinada seção durante certo


tempo:
Q = V/t
Nos dois sistemas de unidades, a unidade de vazão é:
3
{Q} = m /s

6.14.1 Problema resolvido

Através de determinada seção, escoa água com vazão suficiente para encher
um tambor de 250 litros em 60 segundos. Qual é a vazão correspondente, nas
seguintes unidades:
• litros por segundo;
• metros cúbicos por segundo;

6-13
• metros cúbicos por hora;
• metros cúbicos por dia?

Resolução

a) em litros por segundo:


V = 250 L
t = 60 s
Q = 250 / 60 = 4,17 L/s
b) em metros cúbicos por segundo:
3
V = 250 L = 0,250 m
t = 60 s
3
Q = 0,250 / 60 = 0,00417 m /s
c) metros cúbicos por hora:

Se, em 60 segundos, escoam 0,250 metros cúbicos, então em uma hora


escoarão (levando em conta que uma hora tem 60 minutos):
3
V = 0,250 x 60 = 15 m
t=1h
3
Q = 15 / 1 = 15 m /h
d) metros cúbicos por dia:
Se, em uma hora, escoam 15 metros cúbicos, então em um dia escoarão
(levando em conta que um dia tem 24 horas):
3
V = 15 x 24 = 360 m
t = 1 dia
3
Q = 360 / 1 = 360 m /dia

6.15 Velocidade Média

É igual à vazão que escoa através de determinada seção dividida pela área
dessa seção:
U = Q/A
Nos dois sistemas de unidades, a unidade de vazão é:
{U} = m/s

6.15.1. Problema resolvido

Através de uma canalização de diâmetro igual a 100 milímetros escoa a


vazão de 300 litros por segundo.
Qual é a velocidade média correspondente?

Resolução

U = Q/A
3
Q = 100 L/s = 0,100 m /s

6-14
2 2 2
A = πD /4 = π x 0,3 / 4 = 0,0707 m
U = 0,1 / 0,0707 = 1,41 m/s

6.15.2. Observações sobre a Velocidade Média

Na realidade, em dada porção de água em escoamento, suas partículas


deslocam-se com diferentes velocidades, que pouco tem a ver com a velocidade
média.
Entretanto, na maioria dos cálculos hidráulicos, a velocidade média é utilizada
para representar a velocidade de escoamento de toda a porção de água.
Embora, a rigor, algumas correções devam ser introduzidas nas formulas
hidráulicas em virtude dessa simplificação, seus efeitos práticos sobre os
resultados finais dos cálculos são quase sempre desprezíveis.
Um exemplo que será visto ainda neste capítulo é o coeficiente de Coriolis,
que é considerado igual a 1 na maioria dos cálculos hidráulicos.

6.16. Tempo de detenção

É o tempo que a água em escoamento permanece no interior de determinado


recipiente.
t = V/Q

6.16.1. Problema resolvido

Numa estação de tratamento, a água escoa com vazão de 45 litros por


segundo através de um floculador cujo volume útil é igual a 90 metros cúbicos.
Qual é o tempo de detenção do floculador?

Resolução

t = V/Q
3
V = 90 m
3
Q = 45 l/s = 0,045 m /s
t = 90 / 0,045 = 2000 s
equivalente a:
t = 2000 / 60 = 33,33 minutos
ou:
t = 33,33 / 60 = 0,56 hora.

6.16.2 Observações sobre o tempo de detenção

É claro que a maioria das partículas da água em escoamento permanecerá


no interior do recipiente durante tempo diferente do que é calculado da forma
mostrada anteriormente (podendo ser maior ou menor, conforme o caso).

6-15
Ocorrerão, inevitavelmente, os denominados curto-circuitos, isto é, muitas
partículas permanecerão no recipiente durante tempos menores que o tempo de
detenção.
Alguns autores preferem denominá-lo de tempo de detenção hidráulica, ou
tempo de detenção média. Porém a denominação geral adotada continua sendo
apenas tempo de detenção.
Ele é importante no dimensionamento de misturadores rápidos, floculadores e
decantadores e, em vista de serem inevitáveis os curto-circuitos, as
recomendações apresentadas para o dimensionamento de unidades de
tratamento de água já levam em conta essa possibilidade ao estabelecer os
valores a serem adotados em cada caso.
Os efeitos de curto-circuitos em floculadores e decantadores serão vistos nos
Capítulos 8 e 9 deste livro.

6.17. Carga

É definida como a energia que determinada porção de água possui por


unidade de peso:
H = E/W
Nos dois sistemas de unidades, a unidade de carga é:
{H} = m H2O

6.17.1. Problema resolvido

Uma porção de água, cuja massa é igual a 50 kg, situada no interior de uma
porção maior de água, desloca-se animada de velocidade igual a 1,5 m/s, a uma
profundidade de 20 metros e a 50 metros acima do fundo.
Determine sua carga total em relação a esse fundo, admitindo que se pode
2
tomar g = 10 m/s .

Resolução:

Este problema contém os mesmos dados de entrada do Problema 6.8.4


resolvido anteriormente.
Determina-se cada uma das três parcelas de energia que a porção de água
pode ter, que são:
• Energia potencial de posição
Ep,1 = mgz = Wz
onde, neste caso:
W = 50 kgf,
z = 50 m
Portanto:
E p,1= 50 x 50 = 2500 kgm

• Energia potencial de pressão

6-16
E p,2 = mgh
onde, neste caso:
mg = W = 50 kgf
h = 20 m
Portanto:
E p,2 = 50 x 20 = 1000 kgm
• Energia cinética
2
E c= (mv )/2
onde, neste caso:
-1 2
m = W/g = 50 / 10 = 5 kgf .s
v = 1,5 m/s
Portanto:
2
E c = 5 x 1,5 / 2 = 5,625 kgm
Somando as três parcelas anteriores, obtém-se a energia total:
E = E p,1 + E p,2+ E c = 2500 + 1000 + 5,625 = 3505,625 kgm
O peso da porção de água é:
W = mg = 50 x 10 = 500 N = 50 kgf
Dividindo o valor da energia total da porção considerada por seu peso,
obtém-se sua carga:
H = E/W = 3505,625 / 50 = 70,11 m
Esse valor resulta da soma das seguintes cargas:
• carga de posição:
z = 2500 / 50 = 50 m H2O
• carga de pressão:
p/γ = 1000 / 50 = 20 m H2O
• carga cinética:
2
U /2g = 5,625 / 50 = 0,11 m H2O
Mais adiante, no próximo Item 6.19, quando for recordada a equação de
Bernoulli, cada uma dessas cargas que a porção de água pode conter será
novamente recordada.

6.18 Viscosidade e Gradiente de Velocidade

Considere a Figura 6.2, que representa certa porção de água entre duas
placas paralelas, ambas de área A, espaçadas entre si de uma distancia y.
A placa inferior é fixa e a superior é móvel.
Sobre essa última, aplica-se uma forca F. Em consequência, ela se desloca com
velocidade v.
A relação:
F/A = τ
é conhecida, tendo sido denominada de tensão tangencial.

6-17
Figura 6.2 - Viscosidade e gradiente de velocidade

Nos sistemas usuais de unidades, ela é expressa em:


2
SI: {τ} = N/m
2
MKfS: {τ} = kgf/m
A relação:
v/y
denomina-se gradiente de velocidade.
A unidade dessa relação, nos sistemas de unidades que se utiliza
habitualmente, é:
-1
{v/y} = s
Newton denominou de viscosidade absoluta ou viscosidade dinâmica a
relação:
µ = τ/(v/y)
As unidades desta grandeza, nos sistemas de unidades habitualmente
utilizadas, é:
-2
SI: {µ} = N.m .s
-2
MKfS: {µ} = kgf.m .s
A 20oC, a viscosidade absoluta (ou dinâmica) da água apresenta
aproximadamente os seguintes valores:
-3 -2
SI: {µ} = 10 N.m .s
MKfS: {µ} = 10-4 kgf.m .s
-2

É também definida a viscosidade cinemática:


υ = µ/ρ
A unidade da viscosidade cinemática e a mesma nos dois sistemas de
unidades:
2
{υ} = m /s
No caso da água a 20oC, tem-se, aproximadamente:
υ = 10-6m2/s
Valores das viscosidades dinâmica e cinemática da água para diferentes
temperaturas podem ser encontrados no Anexo 4 deste livro.

6-18
6.18.1. Problema resolvido

Qual é a tensão tangencial que se deve aplicar a uma placa plana móvel que
se encontra separada 1 milímetro de outra placa plana fixa, para que ela se
movimente com velocidade igual a 0,5 metro por segundo, sabendo-se que
entre as duas existe água a 20 graus centígrados?

Resolução

Aplica-se a expressão:
µ = τ/(v/y)
F/A = τ = µ(v/y)
onde:
µ = viscosidade absoluta da água a 20oC = 10 kgf.m .s
-4 -2
-1
v/y = gradiente de velocidade = 0,5 / 0,001 = 500 s
Portanto:
2
τ = 0,0001 x 500 = 0,05 kgf/m

6.18.2. Observações sobre a viscosidade e o gradiente de velocidade

A expressão anterior:
τ = F/A = µ(v/y)
escreve-se, em sua forma diferencial:
τ = dF/dA = µ(dv/dy)
onde (dv/dy) é o gradiente de velocidade.
Na realidade, o modelo anterior pressupõe que o escoamento da água entre
as duas placas ocorre de forma laminar. Assim sendo, ele é inadequado para a
situação de regime turbulento (vide Item 6.20.1.2 mais adiante).
Para esse último caso, diversos autores vêm procurando apresentar novos
métodos de dimensionamento de unidades de tratamento, utilizando, para tanto,
a denominada viscosidade turbulenta. Neste caso, a expressão anterior passa a
ser:
τ = dF/dA = (µ+ev)(dv/dy)
onde ev é a viscosidade turbulenta da água, que independe da temperatura.
Mais adiante, no Item 6.26, mais considerações a esse respeito serão
apresentadas.

6.19. Equação de Bernoulli e perda de carga

Considere determinada porção de água, de peso W = mg, situada a uma


altura h acima de um referencial que escolhemos previamente.
Seja p a pressão a que ela está submetida.
Seja ainda U sua velocidade média

6-19
Conforme foi visto, a porção de água em questão terá, como energia total, a
soma das seguintes parcelas:
• energia potencial de posição: E p,1 = mgz
• energia potencial de pressão: E p,2 = mg(p/γ)
2
• energia cinética: E c = mv /2

ou, substituindo v (velocidade da partícula) por U (velocidade media da porção


liquida):
2
• energia cinética: Ec = mU /2
Sua energia total será, portanto:
2
mgz + mg(p/γ) + mU /2
Quando essa porção de água escoa de uma posição 1 para outra posição 2,
certa parcela dessa energia (∆E) se dissipa por atrito, perdendo-se sob forma de
calor.
Assim sendo, pode-se escrever que:
2 2
mgz1 + mg(p1/γ) + mU1 /2 = mgz2 + mg(p2/γ) + mU2 /2 + ∆E
Dividindo todos os termos da equação acima pelo peso da porção líquida:
W = mg
Obtém-se:
2 2
z1 + p1/γ + U1 /2g = z2 + p2/γ + U2 /2g + hf 1,2
onde:
• z = carga de posição;
• p/γ = carga de pressão;
2
• U /2g = carga cinética;
• hf 1,2 = perda de carga entre as posições 1 e 2.
A equação anterior é denominada Equação de Bernoulli para Fluidos Reais.
A perda de carga ocorrerá sempre que a água escoar, seja no interior de
condutos forçados (condutos em cujo interior a pressão reinante é diferente da
atmosférica em quase todos os seus pontos), seja no interior dos condutos livres
(ou canais, que se caracterizam por apresentarem uma superfície livre ao longo
de toda sua extensão, sobre a qual a pressão reinante é a pressão atmosférica).

6.19.1. Problema resolvido

Medindo-se as características do escoamento da água em duas seções


consecutivas de um canal, de seção retangular e base igual a 0,60 m, através
do qual escoam 300 litros por segundo de água, foram encontrados os dados
listados abaixo.
- Seção 1 (montante):
• altitude do fundo do canal: 950 m
• lâmina d' água na seção : 0,30 m

- Seção 2 (jusante):
• altitude do fundo do canal: 949 m

6-20
• lâmina d' água na seção : 0,60 m
Determine a perda de carga entre as duas seções.

Resolução

A carga total na seção 1 é:


• carga de posição: z1 = 950 m
• carga de pressão: p1/γ = 0,30 m
• carga de velocidade:
U1 = Q/A1 = 0,300 / (0,30 x 0,60) = 1,67 m/s
Portanto:
2 2
U1 /2g = 1,67 /(2x10) = 0,14 m
- carga total: H1 = 950 + 0,30 + 0,14 = 950,44 m
A carga total na seção 2 é:
• carga de posição: z2 = 949 m
• carga de pressão: p2/γ = 0,60 m
• carga de velocidade:
U2 = Q/A2 = 0,300 / (0,60 x 0,60) = 0,83 m/s
Portanto:
2 2
U2 /2g = 0,83 /(2x10) = 0,03 m
• carga total: H2 = 949 + 0,60 + 0,03 = 949,63 m
A perda de carga entre as duas seções terá sido, portanto:
Hf = H1 - H2= 950,44 - 949,63 = 0,81 m

6.19.2. Observações sobre a equação de Bernoulli para fluidos reais

a) A equação de Bernoulli aplica-se aos casos em que se pode considerar a


água como fluido incompressível (neste livro, isto sempre será possível)
escoando em regime permanente (durante o qual não são registradas
variações na velocidade, massa específica e pressão da água em dada seção
de controle, escolhida ao longo do escoamento - nas estações de tratamento,
o regime de escoamento da água só não é permanente, do ponto de vista
prático, durante poucos minutos após ela ser ligada ou desligada).
b) A rigor, a dedução dessa equação envolve um processamento bem mais
amplo que o que foi apresentado, de forma extremamente singela, no Item
anterior.
A dedução rigorosa da expressão referente à carga total da porção de água
em escoamento conduziria a expressão:
2
H = z + p/γ + αU /2g
em que α é o coeficiente de Coriolis (assim denominado em homenagem a
G. Coriolis, que foi o primeiro cientista a propô-lo).

O valor desse coeficiente varia desde 2,0 para o regime laminar até cerca de
1,1 para o regime turbulento (vide Item 6.20.1.2 para definição de regimes
laminar e turbulento) quando a água escoa no interior de canalizações. No caso

6-21
10
de canais, Chow afirma que os valores de α variam entre 1,03 e 1,36, sendo
mais alto em canais pequenos e mais baixo em grandes correntes de
profundidade considerável.
Não obstante, e para fins práticos, é usual admitir α = 1, voltando-se, dessa
forma à expressão apresentada anteriormente.

6.19.3. Observações sobre o termo perda de carga

Sendo carga, por definição, a energia da partícula (ou porção) líquida por
unidade de peso, o termo perda de carga (vale dizer: perda de energia) soa
incorreto, tendo em vista que energia (e por conseguinte, carga) não se cria nem
se perde: apenas se transforma.
Na realidade, é o que, de fato, ocorre. Conforme foi dito, quando a água
escoa, parte de sua carga se dissipa por atrito, perdendo-se sob forma de calor.
Entretanto, para efeito de aplicação na engenharia civil, essa parcela de fato
se perde, tendo em vista que, do ponto de vista prático, ela não se prestará mais
a nenhuma finalidade útil.
Assim sendo, embora, a rigor, do ponto de vista físico, não seja correto
utilizar a expressão perda de carga (melhor seria designá-las por
irreversibilidades), ela é utilizada pelo engenheiro civil corriqueiramente, já
estando disseminada e aceita no meio técnico.

6.19.4. Representação gráfica da equação de Bernoulli

As Figuras 6.3 e 6.4 apresentam essa representação para um conduto


forçado (Figura 6.3) e para um conduto livre (Figura 6.4)

6.20. Perda de carga em condutos

6.20.1. Perda de carga contínua: fórmula universal das perdas de carga

6.20.1.1. Definição

Denomina-se perda de carga contínua aquela que ocorre em trechos


retilíneos de canalizações.
Existe uma infinidade de fórmulas para calculá-la, cada uma específica para
determinados materiais e aplicável a certa faixa de velocidades.
Neste livro, será mencionada apenas a denominada Fórmula Universal das
Perdas de Carga, por ser uma fórmula racional e aplicável a todos os regimes
de escoamento da água.
Outras fórmulas, tais como as de Hazen-Williams, de Fair-Whipple-Hsiao e de
Flamant, não obstante seu emprego generalizado, além de serem específicas
para condutos de seção circular, são empíricas e aplicáveis a faixas limitadas de
vazões e diâmetros, normalmente correspondentes ao denominado regime
turbulento de transição. O leitor poderá encontrá-las em importantes livros de

6-22
Mecânica dos Fluidos e Hidráulica disponíveis na literatura técnica nacional e
internacional.

Figura 6.3 - Representação gráfica da equação de Bernoulli para um


conduto forçado

Figura 6.4 - Representação gráfica da equação de Bernoulli para um


conduto livre

A fórmula universal das perdas de carga baseia-se na expressão devida a


Darcy e Weisbach.
Esses dois cientistas (embora trabalhando isoladamente em diferentes
países) propuseram quase simultaneamente, que a perda de carga hf é:
• proporcional à extensão L do conduto no interior do qual a água escoa:

6-23
hf ∝ L
2
• proporcional à carga cinética U /2g da água em escoamento:
2
hf ∝ U /2g
• inversamente proporcional à dimensão linear λ característica da seção
de escoamento (no caso de condutos de seção circular, λ = D; no caso
de condutos com outras geometrias, λ = Dh = diâmetro hidráulico - ver
Item 6.20.1.2:
hf ∝ 1/λ
Reunindo todas essas grandezas numa só, obtém-se:
L U2
hf ∝
λ 2g
ou, se fôr introduzida a constante de proporcionalidade f':
L U2
hf = f '
λ 2g
A aplicação da equação anterior fica dependendo de se conhecer o valor de
f'.
No caso dos condutos forçados, que trabalham com a água ocupando toda a
seção do conduto (diz-se que o conduto funciona a seção plena) esse problema
já se encontra resolvido, conforme será visto no Item 6.20.1.3.
Por outro lado, o cálculo das perdas de carga em condutos livres (canais)
ainda é feito utilizando fórmulas empíricas, por não ter sido encontrada, até o
momento, uma fórmula racional, aplicável à engenharia, capaz de solucionar
esse problema hidráulico.

6.20.1.2. Regime laminar e regime turbulento: número de Reynolds

O valor de f' (vide Item anterior) depende, entre outros elementos, do regime
de escoamento: se laminar ou turbulento.
No regime laminar, a água escoa como se fosse constituída de lâminas
concêntricas que escoassem umas sobre as outras (não ocorreria mistura entre
elas). Decorre daí sua denominação.
No escoamento turbulento, as partículas de água trocam de posições entre si,
e não ocorre mais esse escoamento em camadas.
Um grande experimentador inglês (Sir Osborne Reynolds) descobriu a partir
de quando ocorre um e outro regime. Para tanto, estabeleceu uma grandeza
adimensional que, em sua homenagem, recebeu seu nome: é o denominado
número de Reynolds, expresso por:

ρUλ
Re =
µ
ou, o que dá no mesmo:

Re =
ν
6-24
Observa-se que se:
• Re < 2000 - o regime é laminar
• Re > 4000 - o regime é turbulento
Entre 2000 e 4000, não se pode precisar que tipo de escoamento ocorrerá.
Felizmente, na prática, quase nunca se trabalha nessa faixa de valores.
Conforme foi visto no Item anterior, no caso de condutos de seção circular, λ
= D; no caso de condutos com outras geometrias, λ = Dh = diâmetro hidráulico;
definido como:
Dh = 4 (área molhada)/(perímetro molhado)
Define-se também o denominado raio hidráulico:
Rh = (área molhada)/(perímetro molhado)
ou seja:
Dh = 4 Rh
Tome-se, por exemplo, um canal de largura igual a 0,40 m, no interior do qual
a água escoa, sendo a profundidade da lâmina d'água igual a 0,20 m.
O diâmetro hidráulico dessa seção de escoamento será:
0,40 x 0,20
Dh = 4 = 0,40m
0,20 + 0,40 + 0,20
e o raio hidráulico será:
Rh = Dh/4 = 0,10 m
Tome-se agora um duto de seção retangular, de dimensões: largura = 0,40
m; altura = 0,20 m; no interior do qual a água escoa ocupando toda a seção (diz-
se que o escoamento ocorre a seção plena).
Nestas circunstâncias, o diâmetro hidráulico da seção de escoamento será:
0,40 x 0,20
Dh = 4 = 0,267m
0,20 + 0,40 + 0,20 + 0,40
e o raio hidráulico correspondente:
Rh = Dh/4 = 0,067 m
Finalmente, considere-se o caso de uma canalização, de diâmetro D, no
interior do qual a água escoa a seção plena (isto é, ocupando toda a seção
disponível).
Neste caso, o diâmetro hidráulico será:
πD 2
Dh = 4 4 = D
πD
(observe, portanto, que para seções circulares totalmente cheias, Dh = D)

e o raio hidráulico correpondente será:


Rh = D/4

6.20.1.2.1. Problema resolvido

Através de uma canalização de diâmetro 300 mm escoam 100 litros por


segundo de água a 20 graus centígrados.

6-25
Qual e o regime de escoamento correspondente?

Resolução

Utiliza-se a fórmula:
UD
Re =
ν
onde:
D = 300 mm = 0,3 m;
-6 2
ν = 10 m /s
4Q 4 x 0,1
U= = = 1,41m / s
πD 2
π (0,3 )2
Portanto:
1,41x 0,3
Re = = 4,23 x10 5
−6
10
Como Re é maior que 4000, o regime de escoamento é turbulento.

6.20.1.2.2. Problema resolvido

Determine o número de Reynolds que prevalecerá no escoamento de 160


litros por segundo água através de um canal de largura igual a 0,40 m, sendo a
profundidade da lâmina igual a 0,20 m e a temperatura da água igual a 20 graus
centígrados.

Resolução

O diâmetro hidráulico dessa seção de escoamento será:


0,40 x 0,20
Dh = 4 = 0,40m
0,20 + 0,40 + 0,20
e o raio hidráulico será:
Rh = Dh/4 = 0,10 m
A velocidade média do escoamento será:

Q 0,160
U= = = 2m / s
A 0,2 x 0,4
Pode-se agora determinar o número de Reynolds:
U .Dh 2 x 0,40
Re = = = 8 x10 5
ν −6
10
A água escoará no regime turbulento.

6-26
6.20.1.2.3. Camada limite

Imagine-se que a água em escoamento se depare com uma chapa plana, de


pequena espessura, da forma mostrada na Figura 6.5.

Figura 6.5 - Filme laminar, camada limite e camada turbulenta (conforme


concebida por Ludwig Prantdl em 1904)

A partir da aresta inicial da chapa, observa-se uma camada onde o


escoamento sobre ela é laminar. A espessura dessa camada vai aumentando
até um ponto crítico.
Entretanto, à medida que a espessura aumenta, sua estabilidade diminui. A
partir de certo ponto, denominado T na Figura, essa estabilidade é rompida, e a
espessura do filme laminar é bruscamente reduzida para um valor δ, que se
mantém aproximadamente constante.
Essa camada de espessura δ denomina-se filme laminar. A primeira camada
(de O até T) denomina-se camada limite.
O que ocorre nos condutos é semelhante.
As Figuras 6.6 (a) e (b) representam o que ocorre nos escoamentos laminar e
turbulento, no interior de um tubo.
No primeiro caso, a espessura da camada limite (para a qual ocoreia a
desestabilização do regime laminar) é superior ao raio do tubo. Nestas
condições, o escoamento laminar propaga-se ao longo de toda a extensão do
tubo.
No segundo caso, ela é inferior ao raio do tubo, e o escoamento em seu
interior é turbulento.

6-27
Figura 6.6 - Filme laminar e turbulento em canalizações

Em cada caso, observa-se o seguinte:


Na Figura 6.6 (a), ocorre um comprimento de transição até que o regime se
7
estabeleça como laminar em toda a seção de escoamento. Segundo Idelcik , no
caso de condutos de seção circular, esse comprimento pode ser encontrado
através da expressão:
L/D = 0,029 Re
Na Figura 6.6 (b), ocorre também um comprimento de transição até que o
regime se estabeleça em toda a seção de escoamento. Por esta razão, Azevedo
2
Netto recomenda que as fórmulas para o cálculo da perda de carga em
condutos, e que serão vistas a partir do próxino item 6.20.1.3, somente sejam
utilizadas quando seus comprimentos forem superiores a 40 diâmetros.

6.20.1.3. Cálculo da perda de carga contínua em condutos de seção


circular totalmente cheios (a seção plena)

Conforme foi visto, a perda de carga contínua em condutos é calculada


através da seguinte expressão (Item 6.20.1.1 anterior):
LU 2
hf = f '
2gλ

onde:
hf = perda de carga, expressa em metros de coluna d’água;
L = mocprimento do conduto, expresso em metros;
λ = dimensão característica da seção de escoamento, expressa em metros;
U = velocidade média da água no interior da canalização, expressa em metros
por segundo;

6-28
g = aceleração da gravidade;
f’ = coeficiente de proporcionalidade.
No caso de seções circulares, como foi visto, λ = D.
Pode-se então escrever:
L U2
hf = f
D 2g
A equação anterior (em que f’ passou a denominar-se f – fator de atrito) é a
denominada fórmula de Darcy-Weisbach.
O coeficiente f depende, como foi visto, do regime de escoamento (vale dizer,
do número de Reynolds) e da relação entre a rugosidade das paredes internas
do tubo e seu diâmetro.Para determinar seu valor, destacam-se:
a) a fórmula de Hagen-Poiseuille, aplicável ao regime laminar;
b) a fórmula de Colebrook e White, ao regime turbulento;
c) a fórmula de von Karman, aplicable a tubos lisos e regime turbulento;
d) d) o ábaco de Moody (ver Anexo 6), que representa gráficamente as três
fórmulas anteriores;
e) a mais recente fórmula de Churchill, com a qual o autor vem obtendo
bons resultados:
1

  12
 8 12 1 
f = 8   + 3

 Re  
(A + B )
2
 
onde:
16
 
 
 1 
A = 2,457 ln 
0,9
  7  0,27k 
  +
  Re  D 
16
 37530 
B= 
 Re 
Nas expressões acima, tem-se:
Re = número de Reynolds,
K = rugosidade média das paredes internas da canalização, vide Anexo 1.

6.20.1.3.1. Problema resolvido

Calcular a perda de carga que ocorrerá em 2 km de canalização construída


de ferro fundido revestido internamente com argamassa de cimento e areia, com
diâmetro de 300 mm, na qual escoam 100 litros por segundo de águaa 20ºC,
como mostrado na Figura 6.7.

6-29
Figura 6.7 – Problema resolvido 6.20.1.3.1

Resolução

Para trabalhar no SI, algumas conversões devem ser feitas.


3
Vazão: Q = 0,1 m /s
Diâmetro: D = 0,300 m
Comprimento: L = 2000 m
a) Velocidade média:
π (0,300 )2
A= = 0,0707m 2
4
Q 0,1
U= = = 1,41m / s
A 0,0707
b) Número de Reynolds:
-6
Tendo em vista que, a 20ºC, a viscosidade cinemática da água é igual a 10
2
m /s, então:
Q 1,41x 0,3
Re = = = 4,2 x10 5
A −6
10
c) Rugosidade equivalente k:
Pode ser encontrada no Anexo 1 deste livro. Para o revestimento descrito,
encontra-se:
k = 0,1 mm (item 4.1 da Tabela do Anexo).

6-30
Entretanto, de acordo com as Notas ali apresentadas, e tendo em vista que a
extensão da canalização do Problema é igual a 2000 m (portanto maior que
1000 m), deve-se multiplicar o valor enconrado por 2.
Assim sendo, o valor a ser adotado nos cálculos será:
k = 0,2 mm = 0,0002 m
d) Fator de atrito:
Substituindo os valores de Re, k e D anteriores na fórmula de Churchill,
encontra-se:
21
A = 1,034 x 10
-17
B = 1,4 x 10
f = 0,019
O mesmo valor de f seria encontrado através da consulta ao ábaco de Moody
(vide Anexo 6 deste livro).
e) Perda de carga:
Substituindo os valores anteriores na fórmula de Darcy-Weisbach, encontra-
se:
L U2 2000 1,412
hf = f = 0,019 = 12,85m
D 2g 0,3 2 x 9,8

6.20.1.3.2. Caso particular: escoamento com distribuição em marcha

Algumas vezes, em estações de tratamento de água, podem ser encontrados


tubos nos quais a vazão é distribuída ao longo de seu comprimento.
Este é o caso, por exemplo, dos tubos distribuidores de água floculada sob os
módulos de decantação laminar de decantadores tubulares, ou dos tubos
perfurados de alguns fundos falsos, conforme será visto nos próximos Capítulos.
A perda de carga é calculada utilizando a denominada vazão fictícia, que é a
média geométrica das vazões a montante e a jusante do tubo, conforme será
visto a seguir.
Para a demonstração matemática a ser efetuada, uma simplificação na
fórmula de Darcy-Weisbach será permitida. A partir dessa fórmula:
2
L  4Q 
hf = f  
2gD  πD 2 

8f Q 2
hf = L
π 2g D5
Q2
hf = β L
D5
onde:
8f
β=
π 2g

6-31
será admitido constante.
Considere a Figura 6.8, que representa um tubo, de diâmetro D e extensão
L, com distribuição em marcha, isto é, que distribui água ao longo de seu
comprimento. Sejam Qm e Qj as vazões a montante e a jusante desse tubo,
respectivamente.

Figura 6.8 – Vazão fictícia


Sejam ainda:
Qi = Qm – Qj = vazão em marcha (distribuída no trecho);
Q = Q/L = vazão unitária, ou vazão distribuída por metro.
Em dada seção do tubo, localizada x metros de sua extremidade de jusante,
a vazão será:
Qi = Qm + qx
A perda de carga elementar no trecho de extensão dx imediatamente a
montante dessa seção será:
Q2
dhf = β dx
D5
Integrando esta expressão para todo o tubo (isto é, de zero a L), obtém-se:
L
hf = ∫0 dhf

L Q2
hf = ∫0 β dx
D5

6-32
L
hf = ∫0 β
(Q j + qx )2 dx
D5
Sendo constantes os valores de β , q e D, então:
hf =
β L
5 ∫0
( )
Q j + qx 2 dx
D
hf =
D
β L 2
(
Q + 2Q j .q.x + q 2 x 2 dx
5 ∫0 j
)
L
β  2 q2x3 
hf = Q j x + 2Q j .q.x 2 + 
D 5  3 
0
β  2 q 2 L3 
hf = Q j L + 2Q j .q.L2 + 
D 5  3 

β  2 q 2 L2 
hf = Q j + 2Q j .q.L + L
D 5  3 
O valor do termo:
q 2 L2
Q 2j + 2Q j .q.L +
3
está entre os seguintes valores:
2 2
 q.L  2 q 2 L2  q.L 
 Qi +  ≤ Q j + 2Q j .q.L + ≤  Qi + 
 2  3  3 
ou seja:
q 2 L2
(Qi + 0,5q.L )2 ≤ Q 2j + 2Q j .q.L +≤ (Qi + 0,577q.L )2
3
Nos cálculos corriqueiros de hidráulica, assume-se:

q 2 L2
Q 2j + 2Q j .q.L + = (Qi + 0,5q.L )2
3
e denomina-se esse valor de vazão fictícia, Qf:
Qf = Qi + 0,5q.L
Mas
Qm − Qi
= q ∴ q.L = Qm − Qi
L
Substituindo, encontra-se:
Q − Qi
Qf = Q i + m
2
Qm + Qi
Qf =
2

6-33
como queríamos demonstrar.

6.20.1.3.2.1. Problema resolvido

Num fundo de filtro, um tubo de PVC D = 25,4 mm distribui a vazão de


lavagem, igual a 2,5 litros por segundo, a 20ºC, através de orifícios ao longo de
toda sua extensão, igual a 3,00 m.
Determine a perda de carga nesse tubo.

Resolução

Este é um exemplo típico de tubo com distribuição em marcha, no qual tem-


se:
Qm = 2,5 L/s
Qj = 0
Qf = (Qm + Qj) / 2 = 1,25 L/s
Velocidade média correspondente:
4 x 0,00125
U= = 2,47m / s
π (0,0254 )2
Número de Reynolds:
2,47 x 0,0254
Re = = 63000
10 − 6
Do Anexo 1: k (PVC) = 0,06 mm
Portanto:
K/D = 0,06 / 25,4 = 0,0024
Do ábaco de Moody ou da fórmula de Churchill obtém-se:
F = 0,027

Portanto:
L U2 3 2,47 2
hf = f = 0,024 = 0,99m
D 2g 0,0254 2 x 9,8

6.20.1.4. Cálculo da perda de carga contínua em condutos de seção


não circular totalmente cheios (a seção plena)

6.20.1.4.1. Escoamento em regime laminar

Para que o leior possa aprofundar-se neste tópico, recomenda-se a leitura da


obra Hidráulica, do professor Antônio de Carvalho Quintela (Fundação Calouste
Gulbenkian, 1981).
Caso o regime de escoamento seja laminar, o professor Quintela apresenta a
expressão a seguir, em que N é um número adimensional que depende da
geometria da seção.

6-34
µ U
j =N
γ R2
h
Tabela 6.1 – Valores de N para seções retangulares

Relação altura / largura N


Sob pressão Com superfície livre
1,0 0,5 1,78
O,5 0,25 1,94
0,333 0,166 2,15
0,25 0,125 2,27
0,2 0,1 2,38
0,1 0,05 2,65
0 (*) 0 (*) 3,00

(*) Aplicável a placas paralelas de decantadores de fluxo laminar

6.20.1.4.1.1. Problema resolvido

Num decantador tubular, os módulos de decantação laminar são constituídos


de placas paralelas entre si, com largura (perpendicular à direção de
escoamento da água bruta) igual a 2,00 m, espaçadas, face a face, de 4,5 cm,
entre as quais a água em tratamento escoa com velocidade igual a 10
centímetros por minuto e à temperatura de 20ºC.
Sendo a extensão das placas (na direção do escoamento da água) igual a
1,20 m, determine a perda de carga nos módulos.

Resolução

Aplica-se a expressão:
µ U
j =N
γ R2
h
para a qual o valor N, extraído da Tabela 6.1, é igual a 3,00.
Os demais valores são:
j = perda de carga unitária;
-2
µ = 0,0001 kgf.m .s
3
γ = 1000 kgf/m
U = 10 cm / minuto = 0,00167 m/s
2,00 x 0,045
Rh = = 0,022m
2(2,00 x 0,045 )
Substituindo os valores, encontra-se:
0,0001 0,00167
j = 3,00 = 0,000001
1000 0,022 2
hf = 0,000001x1,20 = 0,0000012m

6-35
valor desprezível quando comparado com as demais perdas de carga que
ocorrem numa estação de tratamento de água.

6.20.1.4.2. Escoamento em regime turbulento

Caso o regime seja turbulento, pode-se utilizar a formulação do item 6.20.1.3,


desde que, ao invés do diâmetro, seja utilizado o diâmetro hidráulico da seção
de escoamento:
Dh = diâmetro hidráulico
Dh = 4 Rh
Rh = raio hidráulico da seção de escoamento, sendo:
Rh = área molhada / perímetro molhado

6.20.1.4.2.1. Problema resolvido

A água efluente dos filtros de uma estação de tratamento de água,


totalizando a vazão de 1,5 m3/s, é encaminhada a um duto de concreto armado,
de seção retangular, que funciona sob pressão, com as seguintes dimensões:
largura = 0,80 m; altura = 1,20 m; extensão = 20 m.
Determine a perda de carga nesse duto, à temperatura de 20ºC.

Resolução

Diâmetro hidráulico da seção:


0,80 x1,20
Dh = 4 = 0,96m
2(0,80 x1,20 )
Velocidade média:
1,5
Dh = 4 = 1,56m / s
0,80 x1,20
Número de Reynolds:
0,96 x1,56
Re = = 1,5 x10 6
−6
10
Rugosidade das paredes internas (Anexo 1; item 2.3): k = 0,3 mm
Portanto:
k/Dh = 0,0003/0,96 = 0,00031
Do ábaco de Moody (Anexo 6) obtém-se: f = 0,0155
Substituindo os valores na fórmula de Darcy-Weisbach, encontra-se:
L U2 20 1,56 2
hf = f = 0,0155 = 0,040m
D 2g 0,96 2 x 9,8

6-36
6.20.1.5. Por que o regime é laminar ou turbulento?

Pode-se compreender o porquê dessa ocorrência, através de uma explicação


simples que, embora esteja longe de ser rigorosa, é suficiente para o
engenheiro civil.
Imagine-se a água escoando no interior de um conduto, com velocidade de
escoamento que parte do zero e vai aumentando ao longo do tempo.
Inicialmente, verifica-se o aparecimento de um perfil de velocidades da forma
indicada na Figura 6.8, em que as partículas líquidas junto às paredes do
conduto permanecem com velocidade nula e, à medida em que se encaminha
em direção ao eixo do duto, as velocidades vão aumentando, até atingir seu
valor máximo nesse local.
Ora, conforme foi visto no Item 6.20.1.1 anterior, a perda de carga é
proporcional à energia cinética. Dessa forma, as partículas de menor velocidade
passam a dispor de mais carga que as de maior velocidade, e tendem a
movimentar-se em direção a essas últimas, tendo em vista que, na Natureza,
todos os corpos tendem a ocupar posições de menor energia.
Entretanto, a viscosidade da água consegue manter as partículas líquidas em
suas posições originais até certo valor dessa diferença de cargas, vale dizer, até
certa diferença de velocidades. Enquanto a viscosidade consegue manter essa
situação, o escoamento ocorre com as partículas líquidas escoando lâmina
sobre lâmina, Figura 6.9.
Diz-se então que o escoamento é laminar.
Uma vez ultrapassada a diferença de cargas capaz de ser suportada pela
viscosidade, começa a ocorrer a troca de posições entre as partículas da água,
produzindo, em consequência, uma turbulência, Figura 6.10.
Diz-se então que o escoamento é turbulento.

Figura 6.9 - Perfil das velocidades

6-37
Figura 6.9 - Escoamento laminar

Figura 6.10 - Escoamento turbulento

6.20.2. Perdas de carga localizadas em condutos circulares a seção plena

Sempre que, de alguma forma, o escoamento da água é perturbado, ocorrerá


uma perda de carga.
Elas podem ser calculadas através da expressão:
U2
hf = k
2g
onde o valor de k depende do tipo de perturbação.
O Anexo 7 deste livro indica os valores de k para diversos tipos de
perturbação.

6.20.2.1. Problema resolvido

Na instalação de recalque da Figura 6.11, admitindo que sejam bombeados


15 litros por segundo de água, qual será a perda de carga devida às
singularidades ali instaladas?

6-38
Figura 6.11 - Problema Resolvido 6.20.2.1
Resolução

Os valores de k correspondentes às diversas singularidades mostradas na


Figura 6.11 são relacionadas nos quadros a seguir, conforme seus diâmetros,
tendo sido extraídos do Anexo 7.
∅ 150 mm

Singularidade Coeficiente k
Tipo Quantidade Unitário Total
Crivo 1 0,75 0,75
Válvula de pé 1 1,75 1,75
Curva 90o 1 0,40 0,40
Total: 2,90
∅ 100 mm

Singularidade Coeficiente k
Tipo Quantidade Unitário Total
Red. ∅ 150 x 100 1 0,15 0,15
Válv. de Retenção 1 2,50 2,50
Registro de Gaveta 1 0,20 0,20
Cotovelo 90o 1 0,90 0,90
Saída de canaliz. 1 1,00 1,00
Total: 4,75
∅ 75 mm

Singularidade Coeficiente k
Tipo Quantidade Unitário Total
Ampliação ∅ 75 x 100
mm 1 0,30 0,30
Total: 0,30

6-39
Observe que as peças que apresentam dois diâmetros (no caso: a redução e
ampliação) foram incluídas nos referidos quadros conforme seus menores
diâmetros.
As velocidades médias da água nos diversos diâmetros serão:
4 x 0,015
∅ 150 mm: U = = 0,849m / s
π (0,15 )
2

4 x 0,015
∅ 100 mm: U = = 1,910m / s
π (0,10 )
2

4 x 0,015
∅ 75 mm: U = = 3,39m / s
π (0,075 )
2

A perda de carga localizada na instalação será, portanto:

0,849 2 1,910 2 3,39 2


hf = 2,90 + 4,75 + 0,30 = 1,167m
2 x 9,8 2 x 9,8 2 x 9,8

6.21. Perda de carga em canais

6.21.1. Regimes uniforme, gradualmente variado e bruscamente variado

A Figura 6.12 representa um canal que interliga dois reservatórios (A) e (B),
através de um canal de declividade variável.
Por simplicidade de raciocínio, imaginar-se-á que sua seção transversal é
invariável ao longo de toda sua extensão.
Tão logo a água deixa o reservatório (A) e passa a escoar através do canal,
observa-se a redução da profundidade da lâmina d'água, e o consequente
aumento da velocidade de escoamento. Após certa distância, a profundidade da
lâmina d' água passa a ser constante.
Em seguida, ao se aproximar da mudança de declividade do canal, a água
passa a sofrer nova redução na profundidade de sua lâmina d' água, até que ela
se estabiliza, e passa a ser novamente constante.
Finalmente, ao atingir o reservatório (B), a lâmina d' água poderá sofrer novo
aumento, de forma gradual ou brusca. Neste último caso, ocorre o denominado
ressalto hidráulico, a respeito do qual se tratará no Item seguinte.

6-40
Figura 6.12 - Escoamento em conduto livre

Nos trechos assinalados como (1) na Figura em tela o escoamento ocorre no


denominado regime uniforme. Esse tipo de regime caracteriza-se por transcorrer
nas seguintes condições:

• a profundidade, a área molhada, a velocidade média e a vazão, ao longo do


trecho, são constantes.
• a superfície livre e o fundo do canal são paralelos.

Nos trechos assinalados como (2) na mesma Figura o escoamento ocorre no


denominado regime gradualmente variado.
No trecho (3), a Figura apresenta um caso de regime bruscamente variado. É
o caso do já mencionado ressalto hidráulico.

6.21.2. Cálculo da perda de carga no regime uniforme

Na realidade, só se dispõe de fórmulas para determinar a perda de carga em


canais para o caso do escoamento em regime uniforme.
Essa fórmula pode ser obtida da fórmula de Darcy-Weisbach, já conhecida:
L U2
hf = f
D 2g
em que se substitui o diâmetro D pelo diâmetro hidráulico, igual a quatro vezes o
raio hidráulico Rh = R (vide item 6.20.1.2 anterior):
L U2
hf = f
4R 2g
8 g hf
U2 = R
f L

6-41
U = C RI
onde:
8g
C= = coeficiente
f
h
I = f = declividade do canal
L
A expressão anterior é conhecida como Equação de Chezy, e pode ser re-
escrita da forma:
Q = CA RI
tendo em vista que Q = AU
O coeficiente C pode ser calculado através da Fórmula de Manning, segundo
a qual:
1
R 6
C=
n

onde o coeficiente n depende da natureza das paredes internas dos canais.


Alguns de seus valores são transcritos no Anexo 2 deste livro.

6.21.2.1. Problema resolvido

Determine com que declividade deverá ser construído um canal de concreto


(n = 0,013), de seção retangular e base igual a 0,50 m, para que seja capaz de
transportar a vazão de 200 litros por segundo com velocidade igual a 1 metro
por segundo.

Resolução

Sabendo que:
3
Q = 200 l/s = 0,2 m /s
U = 1 m/s
então, a área molhada do canal deverá ser:
2
A = Q/U = 0,200 / 1 = 0,200 m
A lâmina d'água resultante será:
A = by ou y = A/b
onde:
2
A = 0,200 m
b = 0,50 m
Portanto:
y = A/b = 0,200 / 0,50 = 0,40 m
O perímetro molhado resultante será:
P = 2 x 0,40 + 0,50 = 1,30 m
e o raio hidráulico:

6-42
R = A/P = 0,200 / 1,30 = 0,154 m
O coeficiente C da equação de Chèzy será, segundo Manning:
1
R6
C=
n
1

C=
(0,154 )6= 57
0,013
Da fórmula de Chèzy, obtém-se:
Q = CA RI
2
 Q  1
I = 
 CA  R
2
 0,200  1
I =  = 0,002
 57 x 0,200  0,154

6.21.3. Número de Froude

O escoamento em canais pode ocorrer num dos seguintes regimes (além do


laminar e turbulento, já vistos; o regime laminar em canais, na prática, quase
nunca ocorre):
• Regime subcrítico, também denominado fluvial; caracteriza-se por
apresentar grande lâmina d' água e baixa velocidade;
• Regime supercrítico, também denominado torrencial; caracteriza-se por
apresentar pequena lâmina d' água e alta velocidade;
• Regime crítico, que ocorre em seções localizadas na transição entre os dois
regimes anteriores.
Ao se fazer com que o regime de escoamento passe do regime subcrítico
para o crítico, é possível estabelecer uma relação matemática entre a altura da
lâmina d' água a montan te da seção em que o regime é crítico e a vazão que
está escoando.
Este é o princípio de funcionamento dos medidores de vazão dos tipos
Parshall (conforme será visto no próximo Capítulo 7) e dos vertedouros,
conforme será visto mais adiante, ainda neste Capítulo.
O cientista William Froude estabeleceu uma importante relação matemática
que permite conhecer o tipo do regime de escoamento, através de calculo
matemático.
Trata-se de uma relação adimensional que, para homenagear esse cientista,
passou a ser conhecida como Número de Froude (Fr), e que se expressa por
(válida para seções retangulares):
U
Fr =
gy
onde:
6-43
U = velocidade média da água através da seção de escoamento, m/s
2
g = aceleração da gravidade, m/s
y = lâmina d' água na seção de escoamen to, m.
Dependendo do valor do número de Froude, tem-se:
Fr < 1 : regime subcrítico
Fr 〉 1 : regime supercrítico
Fr = 1 : regime crítico

6.21.3.1. Problema resolvido

Determine qual será o regime de escoamento da água no exercício 6.21.2.1


anterior.

Resolução

Conforme foi visto, trata-se de um canal de seção retangular, de base igual a


0,50 m e lâmina d'água igual a 0,40 m. Nesse canal, a água escoa com
velocidade média de 1,0 m/s.
O numero de Froude é dado por:
U 1
Fr = = = 0,51
gy 9,8 x 0,40
Conclui-se, portanto, que o escoamento se dará no regime subcrítico.

6.21.4. Energia específica

Define-se energia específica da água numa dada seção retangular de


escoamento como sendo a soma (ver Figura 6.13):

Figura 6.13 - Energia específica

6-44
U2
E=y+
2g
onde:
y = profundidade da lâmina d'água na seção de escoamento;
U = velocidade média da água nessa seção.
A expressão anterior pode ser reescrita da seguinte forma, para uma seção
retangular de largura b:
2
1 Q 
E=y+  
2g  by 
Para uma dada vazão Q constante, pode-se escrever:
C
E=y+
y2

onde:
2
1 Q 
C=  
2g  b 
Assim sendo, a energia específica é a soma de duas parcelas: a primeira,
igual à altura da lâmina d'água no canal; e a segunda, nversamente
i
proporcional ao quadrado dessa altura.
A Figura 6.14 ilustra graficamente o que foi afirmado.

Figura 6.14 - Representação gráfica da variação da energia específica


com y

O gráfico apresentado nessa Figura permite verificar que uma mesma vazão
pode ser escoada num canal de largura b com a mesma energia específica e de
duas formas diferentes, conforme seja a declividade do canal: ou com grande
lâmina d'água e pouca velocidade (vale dizer: grande energia potencial e pouca
energia cinética), ou com pequena lâmina d'água e grande velocidade (ou seja,
pequena energia potencial e grande energia cinética).
O primeiro tipo de escoamento é o subcrítico; o segundo é o supercrítico.
Ambos os tipos foram vistos anteriormente no Item 6.21.3.

6-45
Examinando a mesma Figura, verifica-se também a possibilidade de se fazer
escoar a mesma vazão no mesmo canal com tal declividade que a energia
específica seja mínima. Quando isto ocorre, diz-se que o escoamento se dá no
regime crítico.
Em tais condições, pode-se escrever, a partir da equação:

2
1 Q 
E=y+   → mín
2g  by 
Para que o mínimo ocorra, deve-se ter:

dE/dy = 0
ou seja:
d  1 Q  
2
Q2 Q2
y +    = 0 ∴ 1 − = 0 ∴ =1
dy 

2g  by  
 gb 2 y 3 gb 2 y 3

Figura 6.15 - Escoamentos sub e supercríticos com a mesma


energia específica

Mas by=A e Q/A= Uc. Portanto:


U c2 Uc
= 1∴ =1
gy c gy c
Uc
Como foi visto no Item 6.21.3, a grandeza é denominada número de
gyc
Froude.

6-46
Figura 6.16 - Escoamento no regime crítico

6.21.5. Equação da quantidade de movimento

Considere-se o volume de controle representado na Figura 6.17, tomado de


forma a seccionar um escoamento de água num canal ou conduto forçado.

Figura 6.17 – Dedução da equação da quantidade de movimento: volume


de controle

Admitindo serem nulas as resultantes dos esforços aplicados nas paredes


laterais do volume de controle, pode-se aplicar a segunda lei de Newton a esse
volume:
ρ
∑ F = ∆m.a
ρ

onde ∆m é a massa
ρ do volume de controle, ou ainda:
ρ
∑ F = ρ∆V
∆U
∆t
ρ
onde ρ é a massa específica da água ∆V é o volume de controle e ∆U é a
diferença entre as velocidades médias da água na saída e na entrada do volume
de controle.
A expressão anterior pode ser re-escrita da forma:
∑ ρ
F = ρ. (
∆V ρ )
ρ
U 2 − U1
∆t
ou ainda:

6-47
∑ F = ρQ(U 2 − U1 )
ρ ρ ρ

tendo em vista que ∆V/∆t = Q = vazão escoada através do volume de controle.


A expressão anterior é conhecida como equação da quantidade de
movimento.

6.21.6. Ressalto hidráulico

6.21.6.1. Caracterização do ressalto

Quando a água escoa no regime supercrítico e, devido a alguma razão


externa, passa bruscamente a escoar no regime subcrítico, forma-se o ressalto
hidráulico.
Trata.se de um fenômeno caracterizado pela elevação brusca do nível
d’água, e conseqüente redução da velocidade de escoamento.
Conforme o número de Froude na seção a montante do ressalto, ele é
classificado da forma a seguir.
a) Fr de 1,2 a 1,7: falso ressalto, ou ressalto ondulado;
b) Fr de 1,7 a 1,5: pré-ressalto;
c) Fr de 2,5 a 4,5: ressalto oscilante, ou ressalto fraco;
d) Fr de 4,5 a 10: ressalto verdadeiro, ou ressalto estacionário;
e) Fr maior que 10: grande turbulência, ou ressalto forte.
Nos ressaltos hidráulicos ocorrem perdas de carga elevadas, vale dizer,
grande dissipação de energia.
Em tratamento d’água pode-se aproveitar ressaltos hidráulicos para dispersar
produtos químicos, especialmente coagulantes e floculantes, conforme será
visto no próximo Capítulo 7.

6.21.5.2. Problema resolvido

Num trecho horizontal de um canal de seção retangular, de base igual a


0,50 m, a água escoa com vazão de 200 litros por segundo, e forma um ressalto
hidráulico. A lâmina d’água a montante do ressalto é igual a 10 cm e a jusante
dele é igual a 0,40 m.
Determine o número de Froude a montante e a jusante do ressalto, e a perda
de carga resultante.

Resolução

a) seção a montante do ressalto


Carga em relação ao fundo:
z=0
p
= 0,10m
γ

6-48
0,2
U= = 4m / s
0,50 x 0,10
U2 42
= = 0,80m
2g 2 x10
p U2 42
H =z+ + = = 0 + 0,10 + 0,80 = 0,90m
γ 2g 2 x10
U 4
Fr = = =4
gy 10 x 0,10
Portanto, o egime é supercrítico.
b) Seção a jusante do ressalto
Carga em relação ao fundo:

z=0
p
= 0,40m
γ
0,2
U= = 1m / s
0,50 x 0,40
U2 12
= = 0,05m
2g 2 x10
p U2 42
H =z+ + = = 0 + 0,40 + 0,05 = 0,45m
γ 2g 2 x10
U 1
Fr = = = 0,5
gy 10 x 0,40
Portanto, o egime é subrcrítico.
c) Perda de carga no ressalto:
hf = 0,90 – 0,45 = 0,45 m

6.21.6.3. Força específica no ressalto hidráulico:


dissipação de energia no ressalto

Considere-se a Figura 6.18, que representa um ressalto hidráulico


ocorrendo num canal de seção retangular e de fundo praticamente horizontal.
Considere-se também que a resultante das forças de atrito entre a água e as
paredes do canal é desprezível.

6-49
Figura 6.18 – Ressalto hidráulico e forças intervenientes

Nestas condições, a resultante das forças que atuam sobre o volume de


controle assinalado será a resultante dos empuxos hidrostáticos exercidos sobre
cada uma das faces laterais desse volume:

R = γ .y 1 .b.y 1 − γ .y 2 .b.y 2
A equação da quantidade de movimento (vide Item 6.21.5) permite
escrever que a resultante dos esforços atuantes sobre um volume líquido em
escoamento é igual ao produto dos fatores: vazão, massa específica e diferença
de velocidades, ou seja:

ρ ρ
( ρ
F = ρQ U 2 − U1 )
Tendo em vista que, no caso presente, toas as grandezas têm a mesma
direção (igual à do eixo do canal), pode-se escrever que:
γ .y 1 .b.y 1 − γ .y 2 .b.y 2 = ρQ (U 2 − U1 )
ou seja:
γ .y 1 .b.y 1 + ρQU1 = γ .y 2 .b.y 2 + ρQU 2
Dividindo todos os termos por γ = ρg e substituindo U por Q/A, obtém-se:
Q2 Q2
γ .y 1 .b.y 1 + = γ .y 2 .b.y 2 +
g .A1 g .A2
Sendo retangular a seção do canal, então y = y / 2 , donde
:
y2 y2
C C 2
.b. 1 + = .b. 2 + , onde C = Q /gb
2 .y 1 2 .y 2
Observa-se, e a Figura 6.19 ilustra esta afirmativa, que a força específica
é o resultado da soma de duas parcelas: a primeira, diretamente proporcional ao
quadrado da altura da lâmina d’água, e a segunda, inversamente proporcional a
essa altura.
A Figura 6.20 confronta os gráficos mostrados nas Figuras 6.15 e 6.19 ao se
considerar um ressalto hidráulico estacionário, em que as forças específicas são
iguais. Essa igualdade implica na desigualdade das energias específicas, sendo
maior a energia no regime supercrítico. Portanto, nos ressaltos hidráulicos (nos

6-50
quais, evidentemente, o escoamento passa de supercrítico a subcrítico), ocorre
forçosamente uma dissipação de energia.

Figura 6.19 – Representação gráfica da variação da força específica com y

Trata-se de um fenômeno bastante útil, e aproveitado no tratamento da água,


conforme será visto no próximo Capítulo.

Figura 6.20 – Ressalto hidráulico, forças específicas e energias específicas

6.21.6.4. Alturas conjugadas e extensão do ressalto

Voltando novamente à Figura 6.18, é possível lstabelecer a relação entre as


alturas y1 e y2, denominadas alturas conjugadas do ressalto, e tentar determinar
o provável valor de Lr, denominado comprimento do ressalto.
No primeiro caso, pode-se, a partir da equação vista anteriormente:
Q2 Q2
y 1.by 1 + = y 2 .by 2 +
gA1 gA2
que pode ser reescrita, tendo em vista que, no caso de canais de seção
retangular:
y
y = e A = by
2
Logo:
y1 Q2 y Q2
by 1 + = 2 by 2 +
2 gby 1 2 gby 2

6-51
2Q 2 2Q 2
y 12 + = y 22 +
gb 2 y 1 gb 2 y 2
2Q 2  1 1 
y 22 − y 12 =  − 
2 y
gb  1 y 2 
2
 y 2 − y1 
(y 2 + y 1 )(y 2 − y 1 ) = 2Q2  
gb  y 2 y 1 

(y ) = 2gbQ
2
2 2
2 y1 + y1 y 2 2

Resolvendo a equação do 2º grau anterior, inicialmente admitindo ser


conhecido o valor de y2 e desconhecido (incógnito) o valor de y1, obtém-se:
y 2Q 2 y 22
y1 = − 2 + +
2 gb 2 y 2 4
Procedendo de modo inverso, obtém-se:
y 2Q 2 y 12
y2 = − 1 + +
2 gb 2 y 1 4
As expressões anteriores podem ser reescritas em função do numero de Froude
U
(Fr = ):
gy
2
y y 22 8  Q  y 22
y1 = − 2 + +  
2 4 4g  by 2  y2
2
y y 12 8  Q  y 12
y2 = − 1 + +  
2 4 4g  by 1  y 1
Q
ou ainda, tendo em vista que = U:
by
y y U2
y1 = − 2 + 2 1 + 8
2 2 gy 2

y y U2
y2 = − 1 + 1 1+ 8
2 2 gy 1
y1 1
= −  1 + 8Fr 22 − 1
y2 2 
y2 1
= −  1 + 8Fr12 − 1
y1 2 

6-52
Já o comprimento do ressalto é difícil de ser medido, em virtude das
incertezas que cercam a exata fixação de suas seções inicial e final. Vários
investigadores estabeleceram fórmulas para determiná-lo. Silvestre (op. citada)
apresenta as quatro consideradas por ele como as mais simples, e que são
transcritas a seguir.
• Safranes: Lr = 5,2 y2
• Smetana: Lr = 6,02 (y2 –y1)
• Douma: Lr = 3 y2
• USBR: Lr = 6,9 (y2 – y1)

6.22. Perda de carga em meios porosos

6.22.1. Lei de Darcy

Em meios porosos de pequeno diâmetro (caso dos leitos filtrantes), o


escoamento da água ocorre no regime laminar.
A partir da fórmula de Darcy-Weisbach:
L U2
hf = f
D 2g
obtém-se:
hf f
= j= U2
L 2gD
onde
h
j = f = perda de carga unitária no meio poroso.
L
No regime laminar, suposto constante o valor de D para determinado meio
poroso, tem-se:
64 64ν Cte
f = = = (Cte = constante)
Re UD U
e, portanto:
Cte
j = U U2
2gD
1
j= U
C
1 Cte
onde = constante =
C 2gD
Denominando U = ve = velocidade efetiva da água entre os grãos do meio
poroso, então:

6-53
ve = Cj
Na realidade, não há interesse prático em determinar o valor de ve. Utiliza-se,
ao invés, a denominada velocidade de aproximação, ou velocidade aparente, da
água no meio poroso, que é calculada como se esse meio fosse inteiramente
vazio.
Chega-se então a expressão:
v = kj
onde:

v = velocidade média aparente no meio poroso, ou velocidade de aproximação,


m/s
k = permeabilidade do meio poroso, s/m
j=hf/L = perda de carga unitária, adimensional.
A expressão acima é denominada lei de Darcy.
Mais adiante, ao se estudar os filtros das estações de tratamento de água
(Capítulo 10), será visto como determinar a permeabilidade dos leitos filtrantes e
de suas camadas suporte.

6.22.1.1. Problema resolvido

A água escoa através do leito de areia de uma estação de tratamento de


água, com taxa de filtração igual a 150 metros cúbicos por metro quadrado por
dia. Sabendo-se que a permeabilidade da areia é igual a 0,002 m/s, e que a
profundidade do leito filtrante é igual a 45 centímetros, qual é a perda de carga
que ocorrerá nesse leito?

Resolução

v = kj
j = hfL = v/k
hf = vL/k
onde:
3 2
v = 150 m / (m .dia) = 150 / 86400 s = 0,00174 m/s
L = 0,45 m
k = 0,002 m/s
Portanto:
hf = 0,00174 x 0,45 / 0,002 = 0,39 m

6-54
6.22.1.2. Considerações sobre a lei de Darcy e sua aplicação

Transcreve-se a seguir a interessante descrição apresentada por Quintela em


sua obra Hidráulica 7.
A forma individual de estudar o escoamento em meios porosos consiste em
considerar, não a velocidade efetiva através dos canalículos (anteriormente
designada por ve) mas uma velocidade aparente v no meio poroso, definida pela
expressão:
dQ = vdA
em que dA é a área elementar (total) do meio poroso que é atravessada pela
vazão elementar dQ.
Nestas condições, a porosidade relativa, ne, ou seja a relação entre o volume
dos poros disponível para o escoamento e o volume total do meio, pode
assimilar-se à relação entre a área da seção efetivamente disponível para o
escoamento Ae e da seção total do meio:

ne = Ae/A
A equação da continuidade permite escrever:
ve.Ae = v.a
donde:
v = ne.ve = ne (Cj) = (neC)j
Obtém-se, assim, a equação:
v = kj
estabelecida por Darcy em 1856, no estudo "Fontaines publiques de la ville de
Dijon", e que se designa por lei de Darcy.
O coeficiente de proporcionalidade k entre v e j é designado por "coeficiente
de permeabilidade" ou simplesmente "permeabilidade" e tem como dimensões:
[k] = LT-1
Deve ser ressaltado que essa expressão é aplicável para números de
Reynolds inferiores a 10, onde
Re = vd/ν
sendo v a velocidade aparente e d o diâmetro das partículas do meio poroso.

6.22.2. Equação de Forchheimer

Caso o numero de Reynolds, correspondente ao escoamento da água no


meio poroso, seja superior a 10, pode-se aplicar a equação de Forchheimer:
hf
= a.v + b.v 2
L
8
Para diversos tipos de materiais granulares, Richter reproduz os dados
transcritos na Tabela 6.2, de onde e possível extrair os valores de a e b.

6-55
Tabela 6.2 - Valores de (a) e (b) para diversos materiais granulares,
aplicáveis à equação de Forchheimer8

Diâmetro Porosida- a b Fonte


2
[mm] de [%] [s/cm] [s/cm]
2,86 43,0 0,135 0,072 (Rao and Suresh - 1970)
2,86 42,3 0,225 0,088
2,86 40,3 0,340 0,40
4,04 38,4 0,075 0,053
4,04 36,7 0,105 0,708
5,5 37,2 0,043 0,043
5,5 35,6 0,075 0,055
5,5 34,6 0,105 0,078
5,5 33,34 0,230 0,380 (Rao and Suresh - 1972)
4,40 35,11 0,720 0,480
2,86 39,48 0,520 0,640
2,0 0,1904 0,2174 (Dudgeon - 1966 and recalculated by
11,0 0,0115 0,0162 Tybagy and Todd - 1970)
12,0 0,0189 0,0262
19,0 0,0082 0,0145
40,0 0,0024 0,0051
84,0 0,00064 0,0015
19 0,0104 0,0127 (Volker - 1969)
4,8 0,1514 0,0825 (Volker - 1975)
3,18 42 0,288 0,093 (Nirajan - 1973)
46 0,300 0,101
41 0,300 0,103
6,36 43,5 0,06 0,042
40,8 0,08 0,048
36 0,10 0,067
11,15 43,0 0,016 0,026
38,0 0,076 0,041
34,0 0,16 0,054
17,5 46,5 0,01 0,0102
41,5 0,02 0,0105
36,0 0,035 0,0173
23,8 44,7 0,005 0,004
40,5 0,005 0,00824
35,5 0,007 0,0148
3,3 50 0,008 0,0021
46,6 0,01 0,0029
43,0 0,055 0,004
46,6 50 0,002 0,001
46,5 0,004 0,0019
41,6 0,028 0,00372
,58 0,694 0,165 (Ahmed - 1967)
5,50 0,00232 0,00055 (Sastry - 1976)
8,15 0,00450 0,000576
14,70 0,00500 0,00188
21,00 0,00393 0,000825

6-56
6.23. Bombas: altura manométrica

Uma bomba, instalada numa linha de recalque, deve vencer não apenas o
desnível geométrico entre a água em sua posição original e em sua posição
final, mas também as perdas de carga que ocorrerão ao longo da linha de
recalque.
Essas perdas de carga incluem as perdas contínuas e as perdas localizadas.
Denomina-se altura manométrica (Hman) a soma do desnível geométrico (Hg)
mais as perdas de carga em toda a linha de recalque (∑ hf):
Hman = Hg + ∑ hf
Alguns autores preferem discriminar a perda de carga conforme o local em
que ocorre, da seguinte maneira:
Hman = Hg + hs + hr
onde:
Hg = altura geométrica ou desnível geométrico
hs = perda de carga na sucção
hr = perda de carga no recalque

6.23.1. Problema resolvido

Uma bomba recalca certa vazão contra um desnível geométrico de 40


metros.
Sabendo-se que as perdas de carga que ocorrerão nas canalizações de
sucção e no recalque são iguais a 2 m e 10 m, respectivamente, qual é a altura
manométrica correspondente?

Resolução

Conforme viu-se:
Hman = Hg + ∑ hf
Portanto:
Hman = 40 + 2 + 10 = 52 m

6.24. Potência das correntes líquidas

Considere a Figura 6.21, que representa certa porção de água, de massa m,


que se deseja elevar de uma altura H.
A força a ser aplicada será igual ao peso próprio dessa porção, ou seja:
F = W = γV
O trabalho a ser realizado será, portanto, igual à força aplicada multiplicada
pelo deslocamento na direção de sua aplicação (ou seja, na direção vertical):
Τ = Fd = WH = γVH

6-57
Figura 6.21 - Potência das correntes líquidas

Conforme foi visto, a potência é igual ao trabalho realizado dividido pelo


tempo em que esse trabalho é realizado:

P = Τ/t = γVH/t = γ(V/t)H


Volume dividido pelo tempo é igual a vazão:
V/t = Q
Portanto:
P = γQH
Nos dois sistemas de unidades contemplados neste livro, as unidades de
potência são:
• Sistema Internacional:
{P} = W
• Sistema Técnico:
{P} = kgf.m/s

6.24.1. Problema resolvido

Através de um rio escoam 5 metros cúbicos por segundo de água, com


velocidade média igual a 0,6 metros por segundo e lâmina d'água de 1,20 m.
Qual é a potência dessa corrente líquida, em relação ao fundo do rio?

Resolução:

A carga da corrente líquida, em relação a seu fundo, é obtida através da


soma de suas três parcelas:
• carga de posição: z = 0
• carga de pressão: p/γ = 1,20 m

6-58
2 2
• carga de velocidade: U /2g = 0,6 /(2 x 10) = 0,02 m
Carga total: H = 0 + 1,20 + 0,02 = 1,22 m
Portanto:
P = γQH = 10000 x 5 x 1,22 = 61000 W = 61 kW
ou, no Sistema Internacional:
P = 61000 / 10 = 6100 kgf.m/s

6.25. Potência de bombas

No caso de bombas, deseja-se conhecer a potência que é necessária


fornecer ao equipamento.
Portanto, deve-se corrigir o valor da fórmula anterior, dividindo o valor
encontrado pelo rendimento η do equipamento.
O rendimento η, que é um número menor que 1, representa a parcela da
potência transmitida à bomba que é efetivamente transferida para a água
bombeada.
Assim sendo, determina-se a potência das bombas através da expressão:

γQH
P=
η
A parcela remanescente (1 - η) é consumida pelo atrito da água com o rotor
da bomba, pelo atrito entre eixo e gaxeta, etc.
Se se deseja obter a potência em cavalos-vapor (CV), que é a forma usual de
expressá-la, então utiliza-se a fórmula:
QH
P (CV ) =
75η
onde devem ser utilizadas as seguintes unidades para cada um de seus
membros:
{Q} = litros por segundo;
{H} = metros

6.25.1. Problema resolvido

Uma bomba recalca 50 litros por segundo contra a altura manométrica de 20


metros. Sabendo-se que seu rendimento é igual a 60%, qual é a potência,
expressa em CV, que ela consome?

Resolução

Aplica-se diretamente a expressão:


QH
P (CV ) =
75η

6-59
50 x 20
P (CV ) = = 22,22CV
75 x 0,60

6.26. Relação entre gradiente de velocidade e potência

Conforme foi visto no Item 6.17, gradiente de velocidade e viscosidade absoluta


relacionam-se através da expressão:
F v

A y
A expressão acima pode ser re-escrita:
v 
F = µA 
y
v2
Fv = µA
y
v2 
Fv = µAy  
 y2 
 
Mas

d Fd Τ
Fv = F = = =P
t t t
(Ay) = volume d' águ
a entre as duas placas paralelas = V
Portanto:
2
v 
P = µV  
y
v  P
  =
y
  µV
A expressão anterior mostra que quanto maior fôr a potência dissipada na
água em tratamento, maiores serão as diferenças de velocidade entre suas
partículas (e, portanto, o gradiente de velocidade), resultando, daí, maior
número de choques entre as partículas de impurezas presentes na água.
Por outro lado, gradientes de velocidade muito elevados (ou seja, diferenças
de velocidade muito elevadas entre as partículas) podem levar ao rompimento
de flocos previamente formados.
Conforme será visto nos próximos Capítulos, a fixação dos valores dos
gradientes de velocidade em quase todas as fases do tratamento da água será
uma constante.
Considere-se que, em determinada fase do tratamento, certa potência P seja
dissipada em dado volume V de água.
Denomina-se gradiente médio de velocidade G a grandeza:

6-60
P
G=
µV
Segundo Fair, Geyer e Okun, em sua obra Purificación de aguas y
tratamiento y remoción de aguas residuales (Limusa Wiley, Mexico, 1971), essa
expressão foi desenvolvida por Camp e Stein, tendo sido apresentada no artigo
Velocity gradients and internal work in fluid motion - J. Boston Soc. Civil Engrs -
30, 219 (1943).
Ocorre que a expressão anterior, como visto, foi desenvolvida a partir de um
modelo laminar de escoamento, enquanto que, nas unidades de tratamento de
água, o escoamento é quase sempre turbulento.
Por este motivo, diversos autores vêm procurando apresentar novos métodos
de dimensionamento de unidades de tratamento, utilizando, para tanto, a
denominada viscosidade turbulenta (vide Item 6.18.2).
Neste caso, a expressão que relaciona o gradiente médio de velocidade e a
tensão tangencial passaria a ser:
dF
= (µ + ev )G
dA
onde G é o gradiente médio de velocidade, µ é a viscosidade absoluta, que
depende da temperatura da água (vide Anexo 4) e ev é a viscosidade turbulenta
da água, que independe da temperatura.
Esses novos modelos não serão vistos neste livro, mas são de grande
interesse para o aluno de pós graduação. Por esse motivo, recomenda-se a
5
leitura do texto escrito por Cleasby .
Embora muitas críticas possam ser apresentadas à forma utilizada
atualmente para o projeto de unidades de tratamento de água, que utiliza, para
escoamentos turbulentos, expressões deduzidas a partir de escoamentos
laminares, deve-se ressaltar que os valores estabelecidos para os parâmetros
básicos já foram testados na prática, e oferecem bons resultados.
É como aprender a atirar com uma arma cujo sistema de pontaria estivesse
desregulado.
A pontaria seria feita de forma errada, mas o alvo seria atingido.
O aluno de pós graduação deve estar atento, pois certamente mais cedo ou
mais tarde um modelo matemático correto será apresentado, e as normas para
o dimensionamento de unidades de tratamento de água, entre elas a NBR-
12216 da ABNT, serão alteradas.
Viu-se também neste Capítulo a seguinte expressão para o cálculo da
potência da correntes líquidas:
P = γQH
Em correntes líquidas em que ocorrem perdas de carga, tais como em
vertedouros, ressaltos hidráulicos, orifícios de passagem da água, medidores
Parshall e outros, haverá uma dissipação de potência correspondente à carga hf
perdida:
P = γQhf

6-61
Por esta razão, tais dispositivos serão responsáveis pela introdução de
gradientes de velocidade na água em tratamento, que podem ser determinados
através da expressão:
γQhf
G=
µV
Ora, no Sistema Técnico de unidades, e a 20ºC, os valores de γ e µ são:
3
γ = 1000 kgf/m
-2
µ = 0,0001 kgf.s.m
Substituindo os valores na expressão acima, obtém-se:
1000Qhf
G=
0,0001V
10Qhf
G = 1000
V
A expressão anterior é aplicável aos sistemas Internacional e Técnico, em
que os valores de Q, hf e V são expressos em:
3
{Q} = m /s
{ hf } = m
3
{V} = m

6.26.1. Problema resolvido

Um dispositivo de mistura rápida, instalado numa estação de tratamento de


água que trata a vazão de 100 litros por segundo a 20oC, permite conter 500
litros de água em tratamento e é equipado com um misturador mecanizado que
dissipa, na água em seu interior, a potência de 0,5 quilowatts.
Qual é o valor do gradiente de velocidade correspondente?

Resolução

Aplica-se a expressão:
P
G=
µV
onde:
P = 0,5 kW = 500 W
µ = 0,001 N x m-2 . s
V = 500 l = 0,5 m3
Obtém-se:
500
G= = 1000 s-1
0, 001x 0, 5

6.27. Força de arraste

6-62
Quando se movimenta um corpo sólido no interior da água, de forma a
transmitir-lhe uma velocidade v em relação à água, aplica-se sobre ele uma
força Fd para arrastá-lo.
Essa força depende:
2
• da energia cinética v /2g que se deseja transmitir ao corpo;
• da área A desse corpo, perpendicular a direção à velocidade pretendida;
• da forma geométrica do corpo (evidentemente, será mais fácil
movimentar um corpo com ponta em forma cônica do que um corpo com
ponta plana, tendo ambos a mesma área A da forma definida acima): a
influência desse formato mais ou menos favorável é expressa pelo
denominado coeficiente de arraste, denominado Cd.

Assim sendo, tem-se:


v2
Fd = Cd Aγ
2g

6.27.1. Problema resolvido

A paleta de um floculador de eixo vertical, distante 0,50 m de seu eixo de


rotação, movimenta-se com velocidade de rotação igual a 3 rpm (rotações por
minuto).
Sabendo-se que as dimensões da paleta, no sentido normal ao movimento,
são 2,80 m x 0,15 m, e que o coeficiente de arraste correspondente é Cd = 1,8,
qual é a força de arraste correspondente?

Resolução

A distância que a paleta percorre a cada minuto é:


d = 2 π r = 2 x π x 0,50 = 3,14 m
Assim sendo, a velocidade da paleta é:
v = d / t = 3,14 / 60 = 0,052 m/s
e a energia cinética correspondente é:
2
v /2g = 0,00014 m
A força de arraste correspondente é:
v2
Fd = Cd Aγ
2g
Portanto, no Sistema Técnico (em que γ H2 O = 1000 kgf/m ), obtém-se:
3

Fd = 1,8 x (2,80 x 0,15 )x1000 x 0,00014 = 0,106kgf


e, no Sistema Internacional (em que 10 N = 1 kgf):
Fd = 1,06 N.

6-63
6.28. Orifícios, bocais e vertedouros

6.28.1. Orifícios e bocais

Considere a Figura 6.22 (a), que representa a água escoando, através de um


orifício de área A. Seja h a altura da lâmina d’água a montante.
Seja 1 um ponto situado sobre o nível d’água e 2 um onto situado na
descarga livre da água, imediatamente a jusante do orifício.

Figura 6.22 – Orifícios e bocais

Será aplicada, a esses dois pontos, a equação de Bernoulli:


p U2 p U2
z1 + 1 + \ = z 2 + 2 + 2 + hf 1,2
γ 2g γ 2g
No caso tem-se:
z1 = h
p1
=0
γ
U \2
= 0 (ou desprezível, quando comparado com a carga de velocidade do
2g
ponto 2);
z 2 = 0 (pois o ponto 2 se encontra sobre o datum);
p2
= 0 (pois o ponto 2 se encontra na atmosfera);
γ

6-64
U 22
é o valor que se deseja encontrar;
2g
hf 1,2 será suposta nula (o que não é verdade; posteriormente, um coeficiente de
correção será introduzido na fórmula de cálculo da vazão que se encontrará no
final desta dedução).
Da expressão anterior, substituindo os valores:
U 22
h+0+0 =0+0+ +0
2g
U 2 = 2gh
Este é o valor da velocidade teórica com que a água sai através do orifício.
Para se conhecer a velocidade real, multiplica-se essa velocidade pelo
denominado coeficiente de velociade Cv, cujo valor, inferior a 1, depende da
geometria do orifício e de sua profundidade, entre outros fatores:
U 2 = Cv 2gh
Observe que, para se obter a velocidade U2, será necessário um valor de h
maior que o teórico, devido à perda de carga no orifício. Essa perda de carga,
igual à diferença entre o h que realmente se deve ter e o h teórico, será:
2 2 U2
1 U 2 U 2  1
hf = − = − 1 2
Cv2 2g 2g  Cv2  2g

Para encontrar a vazão, basta multiplicar a velocidade pela área da seção de
escoamento.
Observe entretanto que, no ponto 2, essa seção, denominada Ac, está
contraída em relação à seção A do orifício:
Ac = Cc . A
O valor de Cc, inferior a 1, pode ser encontrado nos manuais de hidráulica.
Por esse motivo, a vazão real é:
Q = (Cc.A) U2 = Cc .Cv .A 2gh
Normalmente fazemos Cc Cv = Cd = coeficiente de descarga, e re-
escrevemos:
Q = Cd A 2gh
onde Cd, denominado coeficiente de descarga, depende de diversos fatores, e
seu valor pode ser encontrado nos manuais de hidráulica.
Entretanto, na prática, ele varia em torno de 0,61. Este valor pode ser
utilizado, como primeira aproximação, na maioria das aplicações práticas.
Embora a fórmula anterior tenha sido deduzida para um orifício, ela pode
também ser aplicada para bocais, sendo também aplicável nesses casos o que
se afirmou para o coeficiente de descarga.
Estando afogado o orifício ou bocal (Figura 6.22 (b)), caso em que se
encontra a maioria dos exemplos encontrados em estações de tratamento de
água, h é também o valor da perda de carga.

6-65
Neste caso, pode-se escrever que a perda de carga será:
2
 Q  1
hf =  
 Cd A  2g

6.28.1.1. Problema resolvido

Determine a altura de água que deverá existir acima do eixo do bocal


mostrado na Figura 6.23 para que dele saia a vazão de 10 litros por segundo,
sabendo-se que, para esse bocal, Cd = 0,82.

Figura 6.23 – Problema resolvido 6.28.1.1


Resolução

Nessse tipo de bocal, a veia líquida cola-se em todo o interior do bocak,


fazendo com que o coeficiente de descarga seja mais elevado que em orifícios
de parede delgada.
Aplicando-se a expressão:
2
 Q  1
h =  
 Cd A  2g
onde:
π (0,100 )2
A= = 0,007854 m 2
4
obtém-se:
2
 10 
 
1  1000  = 0,123m
h=
2 x 9,8  0,82 x 0,007854 
 
 

6-66
6.28.2. Vertedouros de descarga livre

Os vertedouros mais comuns em tratamento de água são os retangulares e


triangulares, vide Figuras 6.24.e.6.25.
Evidentemente, outros tipos poderão ser utilizados, e o leitor encontrará farta
bibliografia técnica especializada a seu respeito.

Figura 6.24 – Vertedouros de descarga livre

Figura 6.25 – Terminologia dos vertedouros

As expressões comumente utilizadas para a determinação da vazão escoada


são relacionadas a seguir.

• Vertedouros retangulares:

6-67
3/2
Q = 1,838 LH (Fórmula de Francis – ver também Anexo 12 deste livro)
No caso de existência de contrações, tomar:
- para uma contração: L = L – H/10
para duas contrações: L = L – 2H/10

• Vertedouros triangulares:
5/2
Q = 1,4 H (Fórmula de Thomson – ver também Anexo 11 deste livro)

6.28.2.1. Problema resolvido

Sabendo que o valor de H, Figura 6.26, não poderá ultrapassar 20


centímetros, determinar o valor mínimo de L.

Figura 6.26 – Problema resolvido 6.28.2.1

Resolução

Por se tratar de um vertedouro retangular com duas contrações, a expressão


a ser utilizada é:
3
 2H  2
Q = 1,838 L − H
 10 
da qual se obtém:
Q
L= + 0,2H
2
1,838H 3
Substituindo os valores:

6-68
0,060
L= + 0,2 x 0,20 = 0,405m
2
1,838 x 0,20 3

6.29. Cinética dos choques entre partículas em suspensão

Conforme será visto nos próximos capítulos, a denimonada linha


convencional de tratamento tem início com a coagulação e floculação.
Nessas duas fases, as imporezas presentes na água devem chocar-se entre
si e com os produtos químicos adicionados à água.
Desses choques resultarão a desestabilização das impurezas e a formação
dos flocos.
Conforme citado por Fair, Geyer e Okun na obra Ingenieria sanitária y de
águas residuales, vol II – Purificación de águas y tratamiento y remoción de
aguas residuales, Limusa-Wiley, méxico, 1971, Smoluchowsky demonstrou que
os choques entre partículas individuais em suspensão num líquido resultam de
movimentos que podem ser classificados em dois tipos:
a) Movimento pericinético (do grego: peri: ao redor de; kinetic: do ou
resultante do movimento): é o movimento browniano ocasional (em zig-
zag) das pequenas partículas em suspensão.
b) Movimento ortocinético (do grego: ortho: apropriado ou correto; kinetic:
do ou resultante do movimento): é o movimento devido ao transporte
hidráulico mais sistemático das partículas.
Esse mesmo autor criou um modelo matemático, aplicável ao movimento
ortocinético, para descrever os choques que poderão ocorrer entre as partículas
transportadas por um líquido que escoa em regime laminar.
A Figura 6.27 apresenta os elementos necessários ao estabelecimento do
modelo. São ainda supostas aplicáveis as considerações descrias a seguir,
relativas às partículas que irão se chocar.
a) As duas partículas i e j encontram-se suspensas na água, que se
movimenta na direção x em fluxo laminar. A velocidade da partícula j é
v e o gradiente de velocidade na direção z é dv/dz. O cenro da
partícula j é a origem do sistema cartesiano de coordenadas.
b) Para que a partícula i estabeleça contato com a partícula j elas deverão
estar suficientemente próximas, de modo que as forças de Van der
Waals possam junta-las e mantê-las unidas. O lugar geométrico da
partícula i, ou de qualquer outra partícula de raio ri, que satisfaça a
esse requisito, é uma esfera cujo centro é a origem do sistema de
eixos coordenados e cujo raio é Rij = ri + rj. A soma dos raios das
esferas define o raio de influência das esferas de Van der Waals para
as partículas individuais i e j. Em certo sentido, quanto maior é a
partícula, mais estreita é a zona de influência das forças de Van der
Waals fora da superfície da partícula.

6-69
Figura 6.27 – Equação de Smoluchowsky

c) Admitindo que as linhas de corrente no interior do fluido em


escoamento desenvolver-se-ão normalmente, como se nele não
existissem as partículas, então a vazão elementar que atravessa a
esfera de Van der Waals será:
 dv   
dq = z. . 2 R ij2 − z 2 .dz 
 dz   
d) Considerando agora a existência das partículas i, cuja concentração no
líquido é igual a ni partículas por unidade de volume, então o número
de choques dessas partículas com a partícula central j na unidade de
tempo e volume será:
Rij dv  
∫ ∫
2 2
J i = n i .dq = 2.n i . z  2 R ij − z .dz 
z = 0 dz  
Assim sendo, e admitindo que, na faixa de integração entre z = 0 e z = Rij,
seja constante o gradiente de velocidade dv/dz, então:

dv Rij
J i = 4.n i . ∫
dz z = 0
z R ij2 − z 2 .dz

6-70
R
 3
 ij
J i = 4.n i
dv  1 2
dz  3
( 2
.− R ij − z 2 

)

 0
4 dv 3
J i = .n i .R
3 dz ij
Para nj partículas centrais:
4 dv 3
J ij = .n i n j .R
3 dz ij
mas
di + d j
R ij = r i + r j =
2
Portanto:
1
( )
J ij = .n i n j d i + d j 3
6
dv
dz

e) Se o gradiente de velocidade não é constante no inerior do fluido, o


termo dv/dz deve ser substituído por d v / dz , denominado gradiente de
velocidade médio temporal, ao qual se atribui o símbolo G.
Assim sendo, para as condições médias dos esforços cortantes:
1
( )
J ij = .n i n j d i + d j 3 G
6

Questões para recapitulação


(respostas no final deste item)

1. Observando o movimeno de um corpo, observou-se o seguinte: inicialmente,


ele movia-se com velocidadeconstante; constatou-se que ele era capaz de
percorrer a distância de 10 metros em 20 segundos; posteriormente ele foi
acelerado, durante um tempo de 30 segundos. Terminado esse período,
novamente ele passou a movimentar-se com velocidade constante, passano
a percorrer a mesma distância de 10 metos em apenas 5 segundos.

Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):

1.a) Sua velocidade inicial era:


1.a.1) 0,3 m/s
1.a.2) 0,5 m/s
1.a.3) 0,7 m/s
1.a.4) 0,9 m/s

1.b) Após haver sido acelerado, sua velocidade passou a ser:


1.a.1) 0,5 m/s

6-71
1.a.2) 1,0 m/s
1.a.3) 1,5 m/s
1.a.4) 2,0 m/s

1.c) A variação de velocidade ∆v sofrida pelo corpo durante os 30 segundos


em que foi acelerado foi, portanto:
1.c.1) 0,5 m/s
1.c.2) 1,0 m/s
1.c.3) 1,5 m/s
1.c.4) 2,0 m/s
1.d) A aceleração correspondente foi:
2
1.d.1) 0,03 m/s
2
1.d.2) 0,05 m/s
2
1.d.3) 0,07 m/s
2
1.d.4) 0,09 m/s

2. O peso de um corpo é igual a 500 kgf, num local em que a acelaração da


2
gravidade é aproximadamente igual a 10 m/s .
2.a) A massa desse corpo, no Sistema técnico, é:
2.a.1) 500 kg
2.a.2) 50 kg
-1 2
2.a.3) 500 kgf.m .s
-1 2
2.a.4) 50 kgf.m .s
2.b) O peso desse corpo, no Sistema Internacional, é:
2.b.1) 5000 kgf
2.b.2) 500 kgf
2.b.3) 5000 N
2.b.4) 500 N
2.c) A massa desse corpo, no Sistema Internacional, é:
2.b.1) 500 kg
2.b.2) 50 kg
-1 2
2.b.3) 500 kgf.m .s
-1 2
2.b.4) 50 kgf.m .s

3. Uma partícula de água, de massa m = 1 kg, submetida à aceleração da


2
gravidade (g = 10 m/ s ), movimenta-se submersa na água, localizada a 10
metros baixo do nível d’água, com velocidade igual a 2 metros por segundo e
a 500 metros acima o nível do mar.
Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):
3.a) a energia potencial de posição da partícula é:
3.a.1) 5 J
3.a.2) 50 J
3.a.3) 500 J
3.a.4) 5000 J

6-72
3.b) a energia potencial de pressão da partícula é:
3.b.1) 1 J
3.b.2) 10 J
3.b.3) 100 J
3.b.4) 1000 J
3.c) a energia cinética da partícula é:
3.c.1) 2 J
3.c.2) 20 J
3.c.3) 200 J
3.c.4) 2000 J

4. Uma bomba consegue transferir 1000 kg de água para uma posição 50


metros mais alta em apenas 10 segundos. Qual é a potência correspondente,
2
admitindo g = 10 m/ s ?
4.a) 50 W
4.b) 500 W
4.c) 5000 W
4.d) 50000 W
5. Quando se adquire 1 kg de mercúrio, ele vem embalado num recipiente
contendo apenas 73,5 centímetros cúbicos desse líquido. Sabendo-se que esse
-6 2
volume corresponde a 73,5 x 10 metro cúbico, e considerando g = 10 m/s ,
então:
5.a) a massa específica do mercúrio é:
3 3
5.a.1) 13,6 x 10 kg/ m
3 -4 2
5.a.2) 13,6 x 10 kgf.m . s
4 3
5.a.3) 13,6 x 10 kg/ m
4 -4 2
5.a.4) 13,6 x 10 kgf.m . s
5.b) o peso específico do mercúrio é:
3 3
5.b.1) 13,6 x 10 kgf/ m
3 3
5.b.2) 13,6 x 10 N/ m
4 3
5.b.3) 13,6 x 10 kgf/ m
4 3
5.b.4) 13,6 x 10 N/ m

6. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


A pressão a que um ponto P encontra-se submetido, quando situado 2 m abaixo
da superfície da água, é:
6.a) 0,02 MPa
2
6.b) 0,2 kgf/m
2
6.c) 2 kgf/cm
6.d) 20 kPa

7. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


2
Quando se aplicauma força de 6 kgf tangencialmente a uma área de 2 m , a
tensão tangencial resultante é:
7.a) 0,03 kPa
7.b) 0,3 MPa
6-73
7.c) 3,0 Pa
2
7.d) 30 kgf/cm

8. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


Através de uma canalização de diâmetro 50 mm escoa água ocupando toda sua
seção, e com vazão suficiente para encher um tambor de 250 litros em 30
segundos.
8.a) a vazão correspondente é:
8.a.1) 8,33 L/s
8.a.2) 500 L/minuto
3
8.a.3) 30 m /h
3
8.a.4) 720 m /dia
8.b) a velocidade média correspondente é:
8.b.1) 2,12 m/s
8.b.2) 4,24 m/s
8.b.3) 6,11 m/s
8.b.4) 8,33 m/s

9. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


Um tanque de contato, destinado à desinfecção da água originária de uma
estação de tratamento, deverá assegurar à vazão de 50 litros por segundo o
tempo de contato de 15 minutos. Para tanto, seu volume deverá ser:
3
9.a) 45 m
9.b) 450 L
3
9.c) 4500 m
9.d) 45000 L

10. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


Uma partícula líquida movimenta-se a 450 m acima do nível do mar, 2 metros
abaixo da superfície líquida, com velocidade igual a 5 metros por segundo.
10.a) Sua carga de posição relativa ao nível do mar é 450 m
10.b) Sua carga piezométrica é 2 m
10.c) Sua carga cinética é 1,25 m
10.d) Sua carga total é 453,25 m

11. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


O gradiente de velocidade que resultará numa porção de água submetida à
2
temperatura de 20 graus centígrados e à tensão tangencial de 0,5 kgf/m será:
-1
11.a) 5 s
-1
11.b) 50 s
-1
11.c) 500 s
-1
11.d) 5000 s

6-74
12. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):
Em certo trecho de canalização horizontal e de diâmetro constante, dentro da
qual escoa água sob pressão com vazão constante, foram instalados dois
2 2
manômetros, que acusaram pressões de 5 kgf/cm e 4 kgf/cm . A perda de
carga entre as seções em que os manômetros foram instalados era igual a:
12.a) 10 m
12.b) 20 m
12.c) 30 m
12.d) 40 m

13. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


A água em tratamento escoa no interior dos dutos de um decantador de fluxo
laminar, a 20 graus centígrados, com velocidade média igual a 4,5 mm/s.
Sabendo-se que esses dutos são de seção circular, de diâmetro igual a 50 mm,
então o número de Reynolds correspondente é:
13.a) 75
13.b) 150
13.c) 225
13.d) 300

14. Assinale a(s) altenativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):


A perda de carga numa canalização é tanto maior quanto:
14.a) maior o comprimento da canalização
14.b) maior a velocidade em seu interior
14.c) menor o diâmetro interno da canalização

15. A altura manométrica H que uma bomba deve ser capaz de vencer é
formada pela soma de três parcelas:
H = Hg + hs + hr
O significado de cada uma dessas parcelas é:
15.a) _________________________
15.b) _________________________
15.c) _________________________

Respostas:

1.a.1 – (f); 1.a.2 – (v); 1.a.3 – (f); 1.a.4 – (f); 1.b.1 – (f); 1.b.2 – (f); 1.b.3 – (f);
1.b.4 – (v); 1.c.1 – (f); 1.c.2 – (f); 1.c.3 – (v); 1.c.4 – (f); 1.d.1 – (f); 1.d.2 – (v);
1.d.3 – (f); 1.d.4 – (f); 2.a.1 – (f); 2.a.2 – (f); 2.a.3 – (f); 2.a.4 – (v); 2.b.1 – (f);
2.b.2 – (f); 2.b.3 – (v); 2.b.4 – (f); 2.c.1 – (v); 2.c.2 – (f); 2.c.3 – (f); 2.c.4 – (f);
3.a.1 – (f); 3.a.2 – (f); 3.a.3 – (f); 3.a.4 – (v); 3.b.1 – (f); 3.b.2 – (f); 3.b.3 – (v);
3.b.4 – (f); 3.c.1 – (v); 3.c.2 – (f); 3.c.3 – (f); 3.c.4 – (f); 4.a – (f); 4.b – (f); 4.c –
(f); 4.d – (v); 5.a.1 – (v); 5.a.2 – (f); 5.a.3 – (f); 5.a.4 – (f); 5.b.1 – (v); 5.b.2 – (f);
5.b.3 – (f); 5.b.4 – (f); 6.a – (v); 6.b – (f); 6.c – (f); 6.d – (v); 7.a – (v); 7.b – (f); 7.c
– (f); 7.d – (f); 8.a.1 – (v); 8.a.2 – (v); 8.a.3 – (v); 8.a.4 – (v); 8.b.1 – (f); 8.b.2 –

6-75
(v); 8.b.3 – (f); 8.b.4 – (f); 9.a – (v); 9.b – (f); 9.c – (f); 9.d – (v); 10.a – (v); 10.b –
(v); 10.c – (v); 10.d – (v); 11.a – (f); 11.b – (f); 11.c – (f); 11.d – (v); 12.a – (v);
12.b – (f); 12.c – (f); 12.d – (f); 13.a – (v); 13.b – (f); 13.c – (v); 13.d – (v); 14.a –
(v); 14.b – (v); 14.c – (v); 15.a – altura geométrica ou desnível geométrico; 15.b
– perda de carga na sucção15.c – perda de carga no recalque.

Referências bibliográficas

1.ABNT. P-NB-591. Elaboração de projetos de sistemas de adução de água


para abastecimento público; procedimento. Apêndice I. In: Elaboração de
projetos de sistemas de abastecimento de água. Rio de Janeiro:
ABNT/CETESB, 1977.
2. AZEVEDO NETTO, J. M. de, ALVAREZ, G. A. Manual de hidráulica. 7.ed.
São Paulo: Edgard Blücher, 1991. 2v.
3. BASTOS, Francisco de A. A. Problemas de mecânica dos fluidos. Rio de
Janeiro: Guanabara Dois, 1983. 483p.
4. CHOW, Ven Te. Open channel hydraulics. Tokyo: Mc Graw-Hill, 1958. 679p
5. CHURCHILL, Stuart W. Friction-factor equation spans all fluid-flow regimes.
Chemical engineering, Nov. 1977.
6. CLEASBY, John L. Is velocity gradient a valid turbulent flocculation
parameter? Journal of the Environmental Engineering Division, v.110, n.5,
p.875-97, Oct.1984.
7. IDELCIK, I. E. Memento des pertes de charge. Paris, Eyrolles, 311 p.
8. QUINTELA, Antônio de C. Hidráulica. Lisboa: Calouste, 1981. 539p.
9. RICHTER, Carlos A. Fundamentos teóricos de floculação em meio granular.
Engenharia; Revista do Instituto de Engenharia, São Paulo, n.429, p.20-4,
1981.
10. SILVESTRE, Paschoal. Hidráulica geral. Rio de Janeiro: LTC, 1979, 316p.

6-76
7.1 O conceito de mistura rápida

A mistura rápida é a fase crucial no tratamento convencional da água.


Nessa fase, as partículas existentes em suspensão na massa líquida, cuja
remoção se pretende efetuar, são bombardeadas por agentes químicos, com o
objetivo de desestabilizá-las, para que, em fases posteriores do tratamento,
sejam aglutinadas umas às outras, formando flocos que serão removidos por
sedimentação e filtração.
Assim sendo, e especialmente quando se deseja desestabilizar por
adsorção os colóides presentes na água bruta, a mistura rápida deve ser
efetuada em local de transmissão de grande energia à massa líquida, e no
menor tempo possível, em vista da rapidez com que as reações de
desestabilização se processam (vide Item 5.5 anterior).
Quando o tratamento da água é feito utilizando exclusivamente a
desestabilização por varredura, a mistura rápida não exige muitos cuidados para
sua realização. Porém, como foi visto, o consumo do produto químico destinado
à coagulação e floculação é bastante elevado neste caso.

7.2 Disposições da NBR-12216

A NBR 12216 reconhece como dispositivos de mistura os seguintes:

a) qualquer trecho ou seção de canal ou de canalização que produza perda de


carga compatível com as condições desejadas, em termos de gradiente de
velocidade e tempo de mistura;

b) difusores que produzam jatos da solução de coagulante, aplicados no


interior da água a ser tratada;

c) agitadores mecanizados;

d) entrada de bombas centrífugas.

Ainda, de acordo com essa Norma, podem ser utilizados como dispositivos
hidráulicos de mistura:

a) qualquer singularidade onde ocorra turbulência intensa:

7-1
b) canal ou canalização com anteparos ou chicanas;
c) ressalto hidráulico;
d) qualquer outro trecho ou seção de canal ou canalização que atenda às
condições especificadas por essa Norma para dispositivos de mistura
rápida.
Segundo Hudson (apud 10), o valor de G na mistura rápida deve ser o maior
possível economicamente, e nunca inferior a 1000 s-1, enquanto que o tempo
de detenção deverá ser inferior a 1 segundo, preferentemente menor que meio
segundo.
Em seu Item 5.8.2, a NBB 12216 prescreve que as condições ideais em
termos de gradiente de velocidade, tempo de mistura e concentração do
coagulante devem ser determinadas preferencialmente através de ensaios de
laboratório.
Quando esses ensaios não puderem ser realizados, deve ser observada a
seguinte orientação:
(a) a dispersão de coagulantes metálicos hidrolisáveis deve ser feita a
gradientes de velocidade compreendidos entre 700 a 1100 s-1, em um
tempo de mistura não superior a 5 s;
(b) a dispersão de polieletrólitos, como coagulantes primários ou auxiliares de
coagulação, deve ser feita obedecendo as recomendações do fabricante.
É claro que o tipo de ensaio a ser realizado deverá levar em conta, além da
qualidade da água e os produtos químicos a serem utilizados, o tipo e as
características de tratamento das unidades subseqüentes: se filtração direta de
fluxo descendente ou ascendente, precedida ou não de floculação; se o
tratamento seguirá a linha clássica (floculação, decantação e filtração,
realizadas em unidades separadas), e assim sucessivamente.
A transferência dos resultados experimentais obtidos em laboratório ou em
unidades piloto para a escala real encontra muitas dificuldades, em virtude das
diferenças de regime de escoamento na unidade piloto e na escala real (laminar
no primeiro e turbulento no segundo, por exemplo). O projetista consciente
deverá ater-se a todos esses detalhes.
Não obstante, bons resultados serão obtidos, de modo geral, se as
orientações transcritas na NBB 12216 forem observadas durante a elaboração
do projeto.

7.2.1 Observações sobre os valores preconizados pela NBR 12216 para o


gradiente de velocidade e o tempo de detenção

Em estações de tratamento de água existentes, é possível encontrar


misturadores rápidos em que G é superior ao valor máximo recomendado pela
NBB 12216, igual a 1100 s-1.
Isto não significa que a mistura rápida será prejudicada; apenas indicará
estar havendo desperdício de energia (vide recomendação de Hudson no Item
anterior: o valor de G na mistura rápida deve ser o maior possível
economicamente, e nunca inferior a 1000 s-1).

7-2
Por outro lado, tempos de mistura superiores ao valor máximo recomendado
pela NBB 12216, igual a 5 s, são desnecessários, e poderão até mesmo ser
contraproducentes, permitindo a denominada retromistura do floculante, o que
poderá reduzir a eficiência da mistura rápida.
(na retromistura, floculante mistura-se com floculante, ao invés de misturar-
se com as impurezas que se deseja remover; ocorrerá, em conseqüência, a
redução da eficiência do processo)

7.3 Misturadores hidráulicos

7.3.1 Introdução

Podem ser de diversos tipos. No Brasil, dois tipos são os mais utilizados: o
medidor Parshall e a queda d'água originária de vertedouros.
Outro tipo também utilizado no Brasil, porém com freqüência bem menor, é
a malha difusora, conforme concebida originalmente ou com pequenas
variações.
Cada um desses tipos será descrito a seguir.

7.3.2 Medidor Parshall

7.3.2.1 Generalidades

Também denominado algumas vezes calha Parshall ou vertedor Parshall,


este é, sem dúvida, o dispositivo mais utilizado como misturador rápido em
estações de tratamento de água brasileiras.
O medidor Parshall, idealizado pelo engenheiro R. L. Parshall, do Servico de
Irrigação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, alia, nas
estações de tratamento de água, a função de medidor de vazão à de misturador
rápido, quando convenientemente utilizado.
Hidraulicamente, o medidor Parshall é definido como um medidor de vazão
de regime critico (vide Item 6.21.3 deste livro: Ao se fazer com que o regime de
escoamento passe do regime subcrítico para o crítico, é possível estabelecer
uma relação matemática entre a altura da lâmina d' água a montante da seção
em que o regime é crítico e a vazão que está escoando).
A Figura 7.1 representa um medidor Parshall em planta e em seção
longitudinal. O Anexo 3 deste livro apresenta diversas características desses
medidores, inclusive suas medidas, fixadas em função da dimensão de sua
garganta, que caracteriza os modelos padronizados.
Como é possível verificar nesse Anexo, existem modelos de medidores
Parshall para diversas capacidades, variando suas dimensões em função
dessas capacidades. O menor Parshall tem largura da garganta igual a 1
polegada. O maior já construído, segundo Azevedo Netto, tem essa dimensão
igual a 50 pés.

7-3
Fig. 7.1 - Medidor Parshall

Observe, na Figura 7.2: a lâmina d' água a montante do Parshall é alta e,


em conseqüência, a velocidade média de escoamento é baixa. Nesse local, o
número de Froude é inferior a 1, e o regime de escoamento é subcrítico. Na
garganta, a lâmina d' água vai baixando, de forma que a seção de escoamento
e, conseqüentemente, a velocidade média e o número de Froude, vão
aumentando. Em alguma seção da garganta, o número de Froude torna-se
superior a 1, e o regime de escoamento passa a ser supercrítico.
Ocorrendo a passagem do regime subcrítico para o supercrítico, é possível
conhecer a vazão que atravessa o medidor Parshall através da realização da
leitura da altura da lamina d'água numa seção a montante de sua garganta.
O local exato em que a altura deve ser lida é denominado seção de
medição, estando assinalada nas Figuras apresentadas no Anexo 3.
No tratamento da água, aproveita-se a ocorrência do ressalto hidráulico no
trecho imediatamente a jusante de sua garganta para a aplicação do produto
químico coagulante, vide Figura 7.2 (na realidade, o valor do número de Froude
na garganta do medidor, embora superior a 1, é insuficiente para que se
obtenha ressaltos verdadeiros a jusante dessa unidade, segundo sua
classificação conforme o número de Froude - vide Item 6.21.6.1 deste livro)

Fig. 7.2 - O Parshall sem e com ressalto a jusante

7-4
Esse ressalto precisa ser provocado, fazendo-se tentativas, aumentando-se
a lâmina d'água no canal de jusante através de um artifício qualquer, utilizando,
por exemplo, stop-logs, afogados ou não (vide Figura 7.5 adiante, onde alguns
dispositivos são sugeridos). O ressalto, como foi visto, produz uma dissipação
de energia relativamente grande (vide Item 6.21.6.3). Esse fato, aliado ao
estreitamento da garganta do medidor e à pequena lâmina d'água na garganta,
torna relativamente homogênea a aplicação do coagulante na massa líquida,
permitindo que a mistura rápida seja efetuada de forma bastante proxima à
ideal, do ponto de vista das condições que devem prevalecer nessa fase de
tratamento.
Uma antiga recomendação apresentada por Parlatore 8 estabelece que,
para que o ressalto hidráulico ocorra, deve-se estabelecer o nível d'água no
canal a jusante do Parshall de modo que sua superfície esteja nivelada com o
fundo do canal a montante desse medidor. Entretanto, essa medida é
insuficiente para a produção do efeito desejado, especialmente nos casos em
que a vazão na ETA é variável ao longo do horizonte de projeto.
Embora seja possível tentar determinar matematicamente qual deve ser a
altura do nível d'água a jusante do Parshall que provocará o surgimento do
ressalto, a experiência e os motivos anteriores mostram que é mais razoável
obtê-la experimentalmente. Em experiências realizadas no Departamento de
Engenharia Hidráulica da Escola de Engenharia da UFMG, introduziu-se, no
canal a jusante do Parshall, ranhuras para o encaixe de pequenos anteparos de
madeira (stop-logs) que permitiam elevar a lâmina d' água nesse local (Figura
7.6). Foram testadas diversas alturas desses dispositivos para diversas vazões
ensaiadas, de forma a encontrar, para cada uma delas, qual a menor altura que
produziria o ressalto no local desejado. A Figura 7.7 mostra as curvas obtidas
para a relação G x Q, para duas alturas de anteparos ensaiadas. Pode-se
observar que ambas conduziram ao aumento do valor de G na seção
divergente. Entretanto, a menor altura de anteparo (10 cm) foi a que permitiu
obter os maiores valores de gradientes de velocidade.
Assim sendo, e a menos de considerações teóricas mais profundas, julga-
se válido utilizar a recomendação apresentada por Parlatore, tomando-se o
cuidado adicional de prever dispositivo que permita ajustar a altura da lâmina
d'água no canal de jusante e fazer com que o ressalto hidráulico ocorra no local
desejado.
Evidentemente, em medidores de grande porte, a instalação de stop-logs
poderá se tornar impraticável. Nesses casos, soluções alternativas, tais como as
sugeridas nas Figuras 7.5.a e 7.5.b poderão ser utilizadas.
Cabe salientar que o ressalto hidráulico para a mistura e floculação da água
foi patenteado por J. W. Ellms em 1972. Esse grande especialista de
tratamento, após extensiva experimentação, aplicou-o à importante instalação
de Detroit.
Não obstante a utilização do Parshall com ressalto hidráulico ter sido
originada nos Estados Unidos, foi no Brasil que ela se generalizou após uma
serie de investigações feitas a partir de 1950 4.

7-5
Quando convenientemente instalado, sem estar afogado, é possível
conhecer a vazão que o atravessa efetuando apenas uma medida de altura. Em
seguida, basta comparar a altura lida com uma tabela (vide Anexo 3), para que
se possa conhecer a vazão.
O Parshall estará afogado se a relação H2/H0 (veja a Figura 7.3) for
superior a 0,60, em medidores até 3 polegadas de garganta, ou superior a 0,70,
em medidores de garganta igual ou superior a 1 pé 3.
Se o Parshall estiver afogado, a medição de vazão fica bem mais
complicada. Neste caso, deve-se consultar livros especializados sobre o
assunto. Recomenda-se a leitura do Manual de Hidráulica, de autoria do
professor Jose Martiniano de Azevedo Netto (Editora Edgard Blücher).
Algumas críticas costumam surgir com referência à utilização do Parshall
em estações de tratamento de água, destacando-se, entre elas: (a) possibilidade
de back-mixing (retromistura, ou seja, mistura do coagulante aplicado com a
água ja coagulada), devida à formação do rolo no ressalto hidráulico; e (b)
pouca precisão na medida da vazão escoada, por se tratar de dispositivo
idealizado para fins agrícolas.
As primeiras críticas parecem ser muito rigorosas do ponto de vista prático,
pelo menos no caso de estações de tratamento de água de pequenas vazões.
Em experiências realizadas no Departamento de Engenharia Hidráulica da
Escola de Engenharia da UFMG, constatou-se que o número de Froude na
seção imediatamente a montante do ressalto era pouco superior a 1 (medidores
de 1" e 3" - vide Tabela 7.5 para medidores W = 1"). Já em medidores de maior
porte, esse valor é quase sempre inferior a 2,5. Nesses casos, como visto, não
se tem a formação do ressalto verdadeiro, nem a perfeita caracterização do rolo.
Experiências efetuadas por di Bernardo 6 mostraram o bom desempenho dos
ressaltos hidráulicos como misturadores rápidos, para diversos números de
Froude na seção afluente.

Fig. 7.3 - Afogamento do Parshall

Com relação à segunda crítica, parece dever-se a construção artesanal


antigamente empregada para a confecção dessas unidades. Modernamente, ao

7-6
invés das alvenarias e enchimentos de argamassas utilizadas no passado para a
obtenção de suas formas, os medidores Parshall são construídos de resina
poliéster ou outros materiais que permitam pré-fabricá-los, com dimensões
rigidamente estabelecidas, fazendo com que a imprecisão das medidas tenda a
desaparecer. Basta nivelá-lo corretamente durante sua instalação, e evitar
deformações em suas paredes ao efetuar o enchimento das paredes laterais.
Nos citados estudos experimentais, realizados no laboratório do DEH da
EE.UFMG, a precisão das unidades testadas foi bastante satisfatória.

7.3.2.2. Gradientes de velocidade em medidores Parshall

Utiliza-se a expressão:
P
G=
µV
onde substitui-se P pelo valor da potência obtida em função da energia
dissipada na massa líquida devida à perda de carga hf.
γQhf
G=
µV
ou ainda, tendo em vista que V/Q = t (tempo de detenção):
γhf
G=
µt
Os valores de G obtidos para o Parshall W = 1” são reproduzidos nas
Tabelas 7.3 e 7.4.
Na falta de outros valores experimentais de G para medidores de maior
capacidade, pode-se utilizar o gráfico da Figura 7.4, elaborado pelo engenheiro
Jorge Arboleda Valencia.

Fig. 7.4 – Gradientes de velocidade em medidores Parshall de 3” a 60”,


segundo o Eng. Jorge Arboleda Valencia 2

7-7
A partir desse gráfico, o autor encontrou a seguinte fórmula empírica, válida
para medidores com garganta até 1´(0,30m):
Q 0,70
G = 1000
W 1,2
onde:
-1
G = gradiente de velocidade, expresso em s ;
3
Q = vazão, expressa em m /s;
W = garganta do medidor, expressa em m.

7.3.2.3. Tempos de detenção em medidores Parshall

O tempo de detenção em medidores Parshall adaptados à mistura rápida é


muito pequeno, freqüentemente inferior a 1 segundo.
Os ensaios realizados no laboratório do DEH/EE.UFMG em medidor
Parshall W = 1” adaptado à mistura rápida permitiram constatar essa afirmativa,
conforme é possível verificar nas Tabelas 7.3 e 7.4.

7.3.2.4. Diretrizes para a seleção do medidor Parshall adequado à mistura


rápida
6
Tendo por base os trabalhos desenvolvidos por Di Bernardo et al e Pinto
9
Coelho , pode-se tentar estabelecer algumas diretrizes para a escolha do
medidor Parshall a ser adotado em projeto.
A primeira diz respeito à lâmina d’água na garganta, que deve ser a menor
possível (isto significaria utilizar o maior Parshall possível); a segunda é a de se
prever recursos para induzir a formação do ressalto hidráulico no trecho
divergente do medidor.
De modo geral, a Tabela Medidores Parshall para promover a mistura
8
rápida devida a Parlatore (vide Anexo 3 desta publicação) constitui um bom
guia para essa escolha.
Por exemplo, no caso de uma ETA destinada a tratar 100 litros por segundo
e com possibilidade de ter sua vazão ampliada em 50% em segunda etapa, a
escolha recairia sobre o Parshall de garganta W = 12”. De acordo com a Figura
7.3, os gradientes de velocidade correspondentes seria da ordem de 800 e 1000
-1
s , respectivamente.

7.3.2.5. Problema resolvido

Numa estação de tratamento de água, a mistura rápida é efetuada no


medidor Parshall, de garganta igual a 9” (nove polegadas).
A vazão que passa pelo medidor Parshall é igual a 100 litros por segundo.
a) Qual é a altura da lâmina d’água em sua seção de medição?

7-8
b) Qual é o gradiente de velocidade obtido? Esse valor atende à NBR
12216?

Resolução:

a) A altura da lâmina d’água pode ser obtida consultando-se o Anexo 3 – Item


A3.3.
Para tanto, procura-se, na coluna correspondente à garganta W = 9” , a
vazão de 100 L/s.
Interpolando, encontra-se h = 34 cm.
b) O gradiente de velocidade no Parshall pode ser obtido da Figura 7.4 (vide
Figura 7.8).

Fig. 7.5 – Dispositivos para criação do ressalto hidráulico

Fig. 7.6 – Medidor de vazão Parshall W = 1” ensaiado no DEH/EE.UFMG

7-9
Obtém-se, por interpolação:
-1
G = 1150 s
Ou, utilizando a fórmula empírica fornecida:

Fig. 7.7 - Curva Gradiente de velocidade x vazão

Fig. 7.8 - Problema resolvido 7.3.2.5


0,70
Q
G = 1000
W 1,2
onde faz-se:
3
Q = 100 L/s = 0,1 m /s
W = 9 x 0,0254 = 0,339 m
e a partir da qual obtém-se:
-1
G = 1172 s .
A NBR 12216 estabelece que G deve estar entre 700 e 1100 s-1.
Conforme foi visto no Item 7.2.1 anterior, o limite superior é apenas para
que o projetista não desperdice energia na mistura rápida. Entretanto, se ele fôr
ultrapassado, a mistura rápida será boa.
Assim sendo, pode-se concluir que o medidor Parshall deste problema está
funcionando muito bem.

7-10
Tabela 7.1 - Calibragem do medidor Parshall da EE.UFMG W = 1"
dados experimentais 11
Lâmina d'água (cm) Vazão (l/s) Lâmina d'água (cm) Vazão (l/s)
3,8 0,39 5,0 0,60
4,1 0,44 6,3 0,78
6,7 0,94 14,6 2,93
7,7 1,10 15,7 3,19
9,0 1,43 16,9 3,67
9,4 1,45 18,3 4,31
10,9 1,82 19,4 4,59
12,0 2,14 20,5 5,56
13,0 2,39 21,1 5,63

Tabela 7.2 - Gradientes de Velocidade no trecho divergente do Parshall da


EE.UFMG W = 1", sem anteparo 11
Vazão Área molhada Distância entre Volume Perda Gradiente de
[x10-3 m2] (1) as seções de água de velocidade (3)
(2) carga
[L/s] Seção 5 Seção 6 [m] [x10-3m3] [m] [s-1]
1,5 1,380 1,196 z 0,261 0,019 1045
2,0 1,725 1,472 0,203 0,324 0,025 1242
2,5 2,093 1,656 0,203 0,380 0,021 1175
3,0 2,415 1,840 0,203 0,431 0,020 1180
3,5 2,714 2,116 0,203 0,489 0,032 1513
4,0 3,013 2,300 0,203 0,538 0,035 1613
4,5 3,312 2,576 0,203 0,596 0,047 1884
5,0 3,657 2,668 0,203 0,639 0,038 1724
Notas:
γQh f
d
3
(
A5 + A6 + A5 .A6 ; (3) G =
a) Lâmina d'água) x (largura da seção); (2) V =
µV
)
Tabela 7.3 - Gradientes de velocidade no trecho divergente do Parshall da
EE.UFMG W = 1", com anteparo de 10 cm de altura 11
Vazão Área molhada Distância entre Volume Perda Gradiente de
[x10-3 m2] (1) as seções de água de velocidade (3)
(2) carga
[l/s] Seção 5 Seção 6 [m] [x10-3m3] [m] [s-1]
1,5 1,380 4,968 0,203 0,607 0,054 1155
2,0 1,725 5,520 0,203 0,699 0,069 1405
2,5 2,116 5,612 0,203 0,756 0,084 1667
3,0 2,438 5,520 0,203 0,787 0,100 1952
3,5 2,760 5,060 0,203 0,782 0,115 2269
4,0 3,036 5,428 0,203 0,847 0,126 2439
4,5 3,335 5,428 0,203 0,881 0,136 2636
5,0 3,680 4,784 0,203 0,857 0,139 2848
Nota: Para determinação da área molhada, volume de água e gradiente de velocidade, vide
Tabela 7.2.
Certifique-se, apenas, de que está ocorrendo o ressalto hidráulico em seu
trecho divergente.

7-11
Se ele estiver ocorrendo, e se o gradiente de velocidade for superior a 700s-
1, o medidor Parshall está ótimo como misturador rápido.

7.3.3 Queda d'água de vertedouros

7.3.3.1 Generalidades

Caso exista, numa estação de tratamento, um vertedouro para medir a


vazão afluente, será possível aproveitar a queda d'água resultante para efetuar
a mistura rápida.
Para tanto, deve-se distribuir, do modo mais uniforme possível, o floculante
ao longo de toda a queda d'água (Figura 7.9).

Fig. 7.9 - Vertedouros e aplicação de floculante

Utiliza-se uma calha perfurada para esse fim, assegurando-se de que todos
os seus orifícios estarão sempre desobstruídos.
O ideal é que a lâmina d’água vertente caia sobre um pequeno anteparo.
Nestas condições, a energia resultante dessa queda propiciará a máxima
energia, possibilitando excelentes condições de mistura rápida (Figura 7.10).

7-12
Fig. 7.10 – Vertedouros operando como misturadores rápidos

As tabelas apresentadas nos Anexos 11 e 12 permitem conhecer a vazão


num vertedouro retângulas (Anexo 12) e num vertedouto triangular (anexo 11)
em função da altura da lâmina d’água a montante.
Essas tabelas não se aplicam a veredouros afogados.
O vertedouro estará afogado se o nível d’água a jusante dele estiver mais alto
que sua soleira.

7.3.3.2. Problema resolvido

Numa estação de tratamento de água a mistura rápida é efetuada na queda


d’água de um vertedouro triangular.
A vazão tratada pela ETA é de 12 litros por segundo.
Após verter, a água atinge uma pequena câmara, de dimensões, em planta:
0,30 m x 0,30 m. A lâmina d’água no interior dessa câmara é igual a 0,10 m.
O desnível entre o fundo ca câmara e o vértice do vertevouto triangular é
igual a 0,30 m.
a) Qual é o tempo de detenção na mistura?
b) Qual é o gradiente de velocidade obtido a 20ºC?
c) Os valores anteriores atendem à NBR 12216?

Resolução:
a) O volume d’água em que a mistura é efetuada é:
V = 0,30 x 0,30 x 0,10 = 0,009 m3
Assim sendo, o tempo de detenção correspondente é:
T = V / Q = 0,009/0,012 = 0,75s
A sobre-elevação da lâmina d?água acima do vértice do vertedouro
triangular pode ser extraída da Tabela do Anexo 11:
H = 15 cm = 0,15 m
Assim sendo, a diferença de nível entre a água a montante do vertedouro
triangular e a água na câmara a jusante desse vertedouro será:

7-13
0,30 + 0,15 – 0,10 = 0,35 m

Fig. 10.11 – Resolução do Problema 7.3.3.2

Esta é, portanto, a perda de carga da água ao verter.


Tendo em vista que o volume d’água no qual esta perda se dissipa é igual a
3
0,009 m , então o gradiente de velocidade correspondente pode ser calculado
através da fórmula:
γQhf
G=
µV
onde:
3
γ = peso específico da água = 1000 kgf/m
3
Q = vazão = 12 L/s = 0,012 m /s
hf = perda de carga = 0,35 m
-4 -2
µ H2O, 20ºC = 10 kgf.m .s
3
V = volume em que a perda se dissipa = 0,009 m
Portanto:
1000 x 0,012 x 0,35
G= = 2160s −1
−4
10 x 0,009
-1
Esse valor é superior aos 1100 s recomendados pela NBR 12216.
Houve um exagero do projetista ao fixar o desnível entre a soleira do
vertedouro triangular e o fundo da câmara de mistura rápida (ela poderia ser
menor que, ainda assim, o gradiente de velocidade seria superior ao mínimo
recomendado).
Mas o desempenho do misturador rápido será bom.

7-14
7.3.4 Difusores ou Malhas Difusoras

7.3.4.1 Generalidades

São dispositivos destinados exclusivamente à mistura rápida.


Ao contrário dos medidores Parshall e vertedouros, elas não desempenham
simultaneamente o papel de misturadores e medidores de vazão.
Do ponto de vista de resultados obtidos em laboratório, as malhas difusoras
talvez sejam os misturadores rápidos mais eficientes.
Do ponto de vista prático, entretanto, as malhas difusoras ainda deixam a
desejar, por serem relativamente caras e de difícil manutenção.
Variações na concepção original das malhas difusoras vêm se mostrando
eficientes e exigindo menos atenção, por parte dos operadores, no que diz
respeito à manutenção.
A Figura 7.12 ilustra algumas concepções de malhas difusoras.

Fig. 7.12 - Malhas Difusoras

7.3.4.2 Gradiente de velocidade em malhas difusoras

Para o cálculo do gradiente de velocidade, utiliza-se a fórmula já conhecida:


P
G=
µV
O jato d'água que sai de cada orifício da malha difusora tem velocidade
média Uo.
Ao se chocar contra a velocidade média Uc da corrente líquida dentro do
tubo, toda a carga cinética será dissipada na água:

7-15
(U o
+ Uc )
2
hf ,o =
2g
Assim sendo, se N orifícios dissipam essa carga cinética, a carga total
dissipada será:
(U + U c )2
hf = N.hf ,o = N o
2g
Ora, conforme foi visto:
P = γQhf
Portanto:
(U + U c )2
P = γQo N o
2g
onde Qo = vazão proveniente de cada orifício.
Se S é a área de cada orifício, então:
Qo = S Uo
e reescreve-se:
(U + U c )2
P = γ (S.U o )N o
2g
Azevedo Netto et alii 5 admitem que a dissipação de energia correspondente
ocorrerá no volume de água situado a até duas vezes e meia o espaçamento
entre os orifícios, ou seja (vide Figura 7.13):
V = 2,5 AE
onde:
A = área da seção transversal do tubo em que a malha difusora esta instalada,
m2;
E = espaçamento entre os orifícios da malha, m.
Conhecidos os valores de P e V, pode-se calcular o valor de G, conforme
será visto no problema resolvido 7.3.4.4 adiante.

Fig. 7.13 - Distância para Dissipação de Energia dos Jatos Originários de


Malhas Difusoras

7.3.4.3 Recomendações da NBB 12216

7-16
Em seu Item 5.8.5, a NBB 12216 recomenda que sejam atendidas as
seguintes recomendações pelas malhas difusoras:
a) a aplicação da solução de coagulante deve ser uniformemente
distribuída, através de jatos não dirigidos no mesmo sentido do fluxo;
b) a área da seção transversal correspondente a cada jato não deve
ser superior a 200 cm2 e sua dimensão máxima não deve ultrapassar 20
cm;
c) a velocidade da água onde os jatos são distribuídos deve ser igual
ou superior a 2 m/s;
d) os orifícios de saída dos jatos devem ter diâmetro igual ou
superior a 3 mm;
e) o sistema difusor deve permitir limpezas periódicas nas
tubulações que distribuem a solução de coagulante.

7.3.4.4 Problema Resolvido

Na entrada de uma ETA, que trata 500 litros por segundo, foi instalado um
reator para mistura rápida do tipo malha difusora, de diâmetro D = 500 mm.
Nessa malha existem 32 orifícios de diâmetro d = 3 mm cada um.
A malha é composta de 6 tubos de diâmetro igual a meia polegada,
paralelos entre si, espaçados uns dos outros de 8 centímetros, vide Figura 7.14.

A vazão de dosagem de sulfato de alumínio é igual a 750 mililitros por


segundo.
A instalação atende à NBB 12216?
Qual o gradiente de velocidade (a 20oC) no reator?

Fig. 7.14 - Problema 7.3.4.4

Resolução:

7-17
Conforme foi visto, a NBB 12216 recomenda que sejam atendidos os
seguintes itens:
- velocidade mínima da água através do reator: 2 m/s;
- área máxima da seção transversal do reator correspondente a cada orifício:
200 cm2
- diâmetro mínimo dos orifícios da malha difusora: 3 mm;
Assim sendo, vê-se que a terceira recomendação está atendida.
Considere-se a primeira recomendação.
A velocidade da água no reator é:
Q 4.Q
U= =
A π .D 2
onde:
Q = vazão = 500 l/s = 0,5 m3/s

D = diâmetro do reator = 500 mm = 0,5 m


4 x 0,5
U=
π (0,5 )
2

U = 2,55 m/s
estando atendida, portanto, a primeira recomendação.
Considere-se, a seguir, a segunda recomendação.
A área da seção transversal do reator é:
πD 2
A=
4
onde, se se deseja obter a área em centímetros quadrados, deve-se tomar D =
50 centímetros.
Ou seja:
π (50 )
2
A=
4
A = 1963 cm2
Como existem 32 orifícios na malha difusora, a área por orifício será:
A = 1963 / 32 = 61 cm2 / orifício
inferior, portanto, aos 200 centímetros quadrados admitidos pela Norma como
máximos. Está atendida, portanto, a segunda recomendação.
Quanto ao gradiente de velocidade, a fórmula para seu cálculo é:
P
G=
µV
onde:
(U o + Uc )
2
P = γNSU o
2g
V = 2,5 AE
sendo:
N = número de orifícios da malha = 32

7-18
S = área de cada orifício = pi x 0,003^2/4 = 7,07 x 10-6 m2
E = espaçamento entre os orifícios = 8 cm = 0,08 m.
Uo = velocidade da água no reator = 2,55 m/s (já calculada)
Uc = velocidade do coagulante na saída de cada orifício:
Sendo a vazão de sulfato de alumínio igual a 750 ml/s, ou seja, igual a
0,000750 m3/s, a velocidade Uc será:
0,000750
Uc = = 3,32m / s
32 x 0,00000707
Assim sendo:
(U + U c )2
P = γNSU o o
2g

P = 1000 x 32 x 0,00000707 x 2,55


(2,55 + 3,32)2
2 x 9,8
P = 1,01 kgf x m/s
O volume em que a mistura ocorrerá é igual a:
V = 2,5 AE
ou seja:
π (0,5 )
2
V = 2,5 x 0,08 = 0,039m 3
4
P
G=
µV
1, 01
G=
0, 0001x 0, 039
G = 509 s-1
inferior, portanto, ao mínimo de 700 s-1 recomendado pela NBB 12216.

7.3.4.5 O Modelo Matemático de Hespanhol

Esse modelo foi apresentado durante o 9o Congresso Brasileiro de


Engenharia Sanitária e Ambiental por Ivanildo Hespanhol, e é descrito
simplificadamente a seguir.
Considere-se a Figura 7.15, que representa a seção longitudinal de uma
canalização no interior da qual uma malha difusora dispersa um produto
químico.
Sendo C a concentração média desse produto, após sua aplicação na
massa líquida, e C sua concentração instantânea numa seção qualquer a
jusante do local de sua aplicação, pode-se escrever que, num ponto qualquer da
canalização a jusante da malha difusora, essa concentração será igual a:
C =C +c
onde:
C = concentração instantânea no ponto considerado;

7-19
C = concentração média do produto químico na massa líquida;
c = flutuação da concentração (pode ser positiva ou negativa).

Fig. 7.15 – Aplicação de um produto químico através de malha difusora

Sendo C a concentração média desse produto, após sua aplicação na


massa líquida, e C sua concentração instantânea numa seção qualquer a
jusante do local de sua aplicação, pode-se escrever que, num ponto qualquer da
canalização a jusante da malha difusora, essa concentração será igual a:
C =C +c
onde:
C = concentração instantânea no ponto considerado;
C = concentração média do produto químico na massa líquida;
c = flutuação da concentração (pode ser positiva ou negativa).

Tendo em vista o exposto, define-se o parâmetro:


c '= C 2
onde c’ é a raiz quadrada da média dos quadrados das flutuações de
concentração do produto químico no ponto considerado, ou simplesmente RQM
das flutuações de concentração.
Evidentemente, se o sistema estiver efetuando a dispersão na massa
líquida do produto aplicado, o valor de c’ deverá diminuir de montante para
jusante.
O parâmetro intensidade de segregação é definido como:
Intensidade de segregação = c’/c’o.

7-20
E pode assumir os seguintes valores extremos, para c’o igual ao RQM das
flutuações junto à malha difusora:
Intensidade de segregação = 0 ? a segregação do produto não mais existe no
ponto considerado, ou seja, a segregação é nula nesse local;
Intensidade de segregação = 1 ? a RQM das flutuações de concentração não se
alterou, vale dizer, o produto químico não se dispersou na massa líquida;
portanto a, a segregação é total.
5
Azevedo Netto et alii consideram que, em misturadores excelentes,
pode-se limitar a segregação ao máximo de 5%, enquanto que, em instalações
consideradas boas, pode-se admitir valores mais elevados, da ordem de 15 a
20%.
Por outro lado, define-se grau de mistura como:
Grau de mistura = 1 – c’/c’o
Ele pode assumir os seguintes valores extremos:
Grau de mistura = 0 ? os valores de c’ e c’o são iguais, não tendo ocorrido,
portanto, a mistura desejada. O grau de mistura é nulo, ou seja, a mistura é
zero;
Grau de mistura = 1 ? o valor de c’ é zero. Isto quer dizer que a mistura é total.
Tendo por base o exposto, Stenquist desenvolveu a expressão:
a
c' x
'
F = α" 
co d 
onde:
F = número de orifícios por polegada quadrada de malha difusora;
α” = coeficiente aplicável ao processo, igual a 5,0 para os testes efetuados por
Hespanhol;
d = diâmetro dos tubos que compõem a malha difusora;
x = comprimento do trecho de canalização, a jusante da malha difusora,
destinado à mistura do produto químico a aplicar;
a = valor que depende do diâmetro dos tubos que compõem a malha difusora
4
(vide Figura 7.16). Azevedo Netto et alii recomendam a adoção dos seguintes
valores:
d = ¼”: a = -0,80
d = ½”: a = -1,13
d = 1”: a = -1,47
Para maiores detalhes a respeito do modelo matemático apresentado,
recomenda-se a leitura do artigo Mistura rápida e floculação – aspectos de
7
projeto, escrito por Ivanildo Hespanhol .
Para melhor ilustrar o exposto, transcreve-se a seguir o exemplo
numérico apresentado por esse autor no texto citado.

7.3.4.5.1. Problema resolvido

Dimensionar um misturador rápido rápido, sistema grade, cujos tubos


distribuidores terão diâmetro d = ½”, para a vazão média de 500 L/s que

7-21
necessita de uma dosagem média de sulfato de alumínio de 30 mg/L . Assumir a
velocidade média no tubo de 0,80 m/s e o tempo de mistura de 10 segundos.

Resolução:

1ª alternativa:
O grau de mistura é de 95%, ou seja, é permitida uma segregação
máxima de 5% para um tempo de mistura de 10 segundos.
a) seção transversal do reator:
2
A = 0,500 / 0,800 = 0,63 m
b) Diâmetro do reator:
4S
D= = 0,90m
π
c) Comprimento do reator:
x = vt = 0,80 x 10 = 8m = (aprox.)315”
d) Densidade de orifícios:
d = diâmetro da barra adotado = ½”
a = 1,13 (ver Figura 7.9)
c’/c’ o = 0,05 (5% máximo de segregação)
a
c' x
'
F = α" 
co d 
−1,13
 315 
0,05F = 5,0  = 0,07
 0,5 
ou seja, F = 0,07 orifícios por polegada quadrada, ou 0,011 orifícios por
2
centímetro quadrado, ou ainda 1 orifício cada 94 cm .
0,63
Número total de orifícios = = 67
94 x10 − 4
O sistema de mistura constaria de uma grade, cujo esquema é
apresentado na Figura 7.17, e de um reator tubular com 0,90 m de diâmetro e 8
m de comprimento.
A grade consta de um anel de distribuição de solução de sulfato de alumínio que
é alimentado em dois pontos. Do anel o coagulante adentra a tubulação de
distribuição de ½” de diâmetro, onde é distribuída através dos orifícios, voltados
para montante.

7-22
Fig. 7.16 – Resultados experimentais de Stenquist para malhas difusoras 7

Fig. 7.17 – Exemplo de malha difusora 6

O anel deverá ser montado a montante do reator tubular junto a uma


caixa de inspeção para permitir limpeza e manutenção.
e) perda de carga na grade:
Assumindo M = 15 cm = 5,91 polegadas = espaçamento entre os eixos
de grades (nos dois sentidos) e d = ½”, a solidez da grade é dada por:

7-23
2
M 
 − 1
d
S= 2
 = 0,16 (16% de solidez)
M 
 
d
e a perda de carga é dada por:
S 2 U 2 0,16 2 0,80 2
h= = = 1,18 x10 −3 m
(1 − S ) 2g 0,84 2x 9,8
2 2

f) Vazão da solução de sulfato de alumínio por orifício da grade


A quantidade média necessária de sulfato de alumínio será de:
500 L/s x 30 mg/L = 15000 mg/s = 15 g/s
A solubilidade do sulfato de alumínio é de 86,9 gramas por 100 mililitros,
ou seja, 869 g/L. Uma solução de 50 g/L seria estável.
Nessas condições, a vazão necessária de solução seria:
Qa = 15/50 = 0,30 L/s = 300 mL/s
E a vazão por orifício:
Qo = 300/67 = 4,5 mL/s
Entretanto, a malha difusora anterior não atende ao que estabelece a
NBR 12216 tanto no seu Item 5.8.5-d, que se refere ao diâmetro de saída dos
orifícios, quanto no seu Item 5.8.5-c, que se refere à própria velocidade da água
a tratar no interior do reator tubular, igual a 0,80 m/s.
Assim sendo, propõe-se a resolução do mesmo problema da forma
indicada a seguir.
2a alternativa:
Tomou-se, para reator tubular, um tubo flangeado de ferro dúctil, cuja
extensão máxima padronizada é igual a 5,80 m. A malha difusora será instalada
em uma extremidade de montante.
Para que se tenha U > 2 m/s (conforme recomenda a NBR 12216), optou-se
por D = 500 mm. Neste caso:
4Q 4 x 0,5
U= = = 2,55m / s
πD 2
π (0,5 )2
ficando, portanto, satisfeita a NBR 12216, em seu Item 5.8.5.d.
Os orifícios da malha difusora terão diâmetro mínimo igual a 3 m/s
(velocidade mínima recomendada pela P-NB-592/77 para a solução de
coagulante na saída dos orifícios da malha; a NBR 12216 não fixa mais esse
valor). Em tais condições, e admitindo a concentração da solução de sulfato
igual a 2% (donde Q = 750 mL/s - portanto: 2,5 vezes a vazão da solução do
exemplo anterior) pode-se determinar o número de orifícios da malha:
750 x10 −6 3
Q= m /s
n
4Q 4 x 750 x10 −6
U= ∴3 =
πD 2 nπ (0,003 )2

7-24
n < 35 orifícios
A distribuição dos orifícios na malha difusora será feita da forma indicada na
Figura 7.18 (foram adotados 32 orifícios).
Nestas condições, serão os seguintes os dados de dimensionamento (D =
500 mm = 20"; d = 1/2" = 0,0127 m):
a = -1,13
Portanto, para α "= 5,0:
c'
0,10 = 5,0 x 0,457 −1,13
'
co
c'
= 0,05
c o'
32
F= = 0,10
π (20 ) 2
4
x 5,80
= = 457
D 0,0127

Fig. 7.18 - Alternativa para a construção da malha difusora

que satisfaz à segregação máxima de 5% desejada por Hespanhol.


Para o cálculo do gradiente de velocidade, será utilizada a metodologia
descrita no Item 7.3.4.2 anterior, conforme a seguir.
Vazão de coagulante que sai de cada orifício da malha difusora:

7-25
750 x10 −6
Qo = = 23,44 x10 − 6 m 3 / s
32
Velocidade média do jato d'água que sai de cada orlfíni9 da malha difuso
ra:
23,44 x10 −6
Uo = = 3,31m / s
π (0,003 )2
4
Velocidade média da corrente líquida dentro do tubo (calculada
anteriormente):
U c = 2,55m / s
Potência dissipada na massa líquida em tratamento, resultante da
dissipação de energia cinética das duas correntes líquidas (água em
escoamento e jatos de todos os 32 orifícios):

P = γQo N
(U o + U c )2
= 3,31m / s
2g

P = 1000 x 23,44 x10 − 6 x 32


(3,31 + 2,55 )2
2 x 9,8
P = 1,314kgf .m / s
Volume em que a potência é dissipada:
V = 2,5AE
π (0,5 )2
V = 2,5 0,08
4
V = 0,0393 m 3
Gradiente de velocidade:
P
G=
µV
1,314
G= = 578s −1
0,0001x 0,0393
A Figura 7.19 apresenta a redução nas dosagens de sulfato de alumínio
obtidas após a modificação introduzida na ETA do Alto Cotia, em São Paulo, em
seu sistema de mistura rápida.
O antigo sistema de agitação mecanizada foi substituído por uma forma
simplificada de malha difusora, representada em seções na Figura. 7.12.O
gráfico mostra que, a despeito da simplicidade da malha utilizada (bem diferente
da que deveria ser projetada se se desejasse atender a todos os requisitos da
NBR 12216), sensível redução nas dosagens médias de sulfato de alumínio foi
obtida.

7-26
7.4. Misturadores mecanizados

7.4.1. Introdução

Muito especificados pelos projetistas há até alguns anos atrás, os


misturadores mecanizados vem caindo em desuso.
Isto porque os misturadores hidráulicos produzem resultados tão bons, ou
mesmo superiores, e apresentam uma grande vantagem: não possuem
equipamentos que, devido ao uso, manutenção inadequada, ou ambos, possam
ficar fora de serviço, ainda que temporariamente.

Fig. 7.19 – ETA do Alto Cotia: redução nas dosagens de sulfato de alumínio
obtidas após a introdução do difusor para efetuar a mistura rápida

Não obstante, algumas estações de tratamento de água ainda utilizam, com


sucesso, misturadores mecanizados.

7.4.2. Disposições da NBR 12216

A NBR 12216 estabelece, em seu Item 5.8.6, as condições a serem


satisfeitas por agitadores mecanizados. Esse Item de transcrito a seguir.

Os agitadores mecanizados devem obedecer às seguintes condições:


a) a potência deve ser estabelecida em função do gradiente de velocidade.
b) períodos de detenção inferiores a 2 s exigem que o fluxo incida diretamente
sobre as pás do agitador.
7-27
c) o produto químico a ser disperso deve ser introduzido logo abaixo da turbina
ou hélice do agitador.

7.4.3. Turbinas e hélices

São equipamentos especialmente construídos para efetuarem a mistura dos


produtos químicos.
Por serem bastante utilizados na indústria, onde efetuam a mistura de
líquidos diversos entre si, ou mesmo de sólidos e gases em líquidos, diversos
fabricantes especializaram-se em construir equipamentos desse tipo.
Entretanto, por mais diversos que sejam os modelos oferecidos no
mercado, podemos classificá-los como turbinas ou hélices.
Um autor brasileiro (C. A. Parlatore) dedicou-se ao estudo do tipo de
misturador mais utilizado em nosso meio: a turbina de seis pás.
Esses estudos são freqüentemente citados na bibliografia especializada.
Observe, na Figura 7.20 (c) (que representa o misturador estudado por
Parlatore), que tão importantes quanto as relações numéricas entre as
dimensões da turbina são também as relações numéricas que deverão existir
entre as dimensões do tanque, no interior do qual a turbina gira, e as dessa
última.

Fig. 7.20 – Turbinas e hélices

7.4.3.1. Gradientes de velocidade na turbina estudada por Parlatore

O número de Reynolds de turbinas e hélices é calculado através da


expressão:

7-28
nρD 2
Re =
µ
onde:
n é o número de rotações por segundo da hélice ou turbina;
2
ρ = massa específica da água (102 kgf x m-4 x s , ver Anexo 4):
D = diâmetro da turbina, metros;
-4 -2
µ = viscosidade absoluta da água (a 20°C: 10 kgf .m .s, ver Anexo 4).
O número de potência (grandeza adimensional aplicável às turbinas e
hélices) é definido como:
P
Np =
n 3 ρD 5
O gráfico traçado experimentalmente para a turbina em tela, apresentado na
Figura 7.21, mostrou que, para números de Reynolds superiores a 10000, o
número de potência permanece constante e igual a 5.

Fig. 7.21 – Número de Reynolds e número de potência

Cada turbina apresenta comportamento peculiar quando se procura


determinar a relação entre o número de Reynolds e o número de potência. As
Figuras 7.22 e 7.23 permitem ao leitor ter uma idéia da amplitude dessa
variação de comportamento.

7-29
Fig. 7.22 – Configuração de agitadores utilizados em ensaios de jarros

Fig. 7.23 – Números de potência e números de Reynolds obtidos para cada


um dos agitadores ensaiados e representados na Fig. 7.22

Assim, sendo aplicáveis as relações geométricas fixadas para a turbina e o


tanque, tem-se:

7-30
P
5=
n ρD 5
3

P = 5n 3 ρD 5
Substituindo (ro) por seu valor, e n por (N/60) (onde N exprime o número de
rotações por minuto) obtém-se, no sistema MKfS (sistema técnico):
3
N 
P = 5  102D 5
 60 
N 3D 5
P=
423
P
Tendo em vista que G = , decorre que:
µV

N 3D5
G=
423 µV

N 3D 5
G = 4,86 x10 − 2
µV

7.4.3.1.1. Problema resolvido

Para o misturador rápido do tipo turbina mostrado na Figura 7.24, destinado


a tratar a vazão de 8 metros cúbicos por segundo, determine:
• o tempo de detenção;
• a velocidade com que a turbina deverá girar para que, a 20°C, o gradiente de
-1
velocidade da mistura seja igual a 1000 s .

Fig. 7.24 – Problema resolvido 7.4.3.1.1

7-31
Resolução:

O tempo de detenção é:
V
t=
Q
1,5 3
t= = 1,875s
1,8
inferior aos 5 segundos recomendados como valor máximo pela NBR 12216.
Conforme foi visto, se as dimensões do misturador rápido (turbina e tanque)
satisfazem às relações geométricas apresentadas na Figura 7.20 (c), então a
seguinte expressão é aplicável:
N 3D 5
G = 4,86 x10 − 2
µV
onde:
-1
G = gradiente de velocidade, s ;
N = rotação da turbina, RPM;
D = diâmetro da turbina, m;
3
V = volume do tanque de mistura, m .
Para a verificação das relações geométricas, tem-se (ver Figura 7.20.c):
L = 1,50 m
H = 1,50 m;
D = 0,50 m;
B = 0,125 m;
h = 0,50 m;
b = 0,10 m;
e = 0,05 m.
As relações a serem observadas são:
2,7 < L/D < 3,3
2,7 < H/D < 3,9
0,75 < h/D < 1,3
B = D/4
b = D/5
e/D = 0,10
Substituindo os valores:
L/D = 1,50/0,50 = 3 atende;
H/D = 1,50/0,50 = 3 atende;
h/D = 0,50/0,50 = 1 atende;
B = 0,50/4 = 0,125 atende;
b = 0,50/5 = 0,10 atende;
e/D = 0,05/0,50 = 0,10 atende.

7-32
Assim sendo, a expressão é aplicável, e sabendo-se que, a 20°C, a
-4 -2
viscosidade absoluta da água é aproximadamente igual a 10 kgf x m x s,
escreve-se:
N 3D 5
G = 4,86 x10 − 2
µV
V = 1,50 x1,50 x1,50 = 3,375m 3
 G 
µV  
 4,86 x10 − 2 
N=  
D5
 1000 
0,0001x 3,375 
 4,86 x10 − 2 
N=   = 166rpm
0,50 5

7.4.3.1.2. Outros modelos de misturadores rápidos

Metcalf & Eddy (Wastewater engineering: treatment, disposal, reuse - New


Delhi, Tata McGraw-Hill, 1981) ressalta a indisponibilidade de um método
satisfatório que permita correlacionar resultados entre misturadores de
concepções diferentes.

Fig. 7.25 – Outros modelos de misturadores mecanizados, segundo Metcalf


& Eddy (op. citada)

Apresenta, entretanto, importantes orientações que poderão nortear o leitor,


caso ele necessite lidar com misturadores diferentes do estudado por Parlatore.
Assim sendo, Metcalf & Eddy cita as relações matemáticas devidas a
Rushton. Segundo esse autor (RUSHTON, J. H. Mixing of liquids in chemical
processing - Industrial Engineering Chemistry, v.44, n.12, pp.2931-6, 1952), a
7-33
potência dissipada na massa líquida pode ser determinada através das relações
a seguir, nos regimes laminar e turbulento (vide expressão anterior para o
cálculo do número de Reynolds em turbinas, neste Capítulo):
2 3
Regime laminar (Re < 10): P = kµn D
3 5
Regime turbulento (Re > 10000): P = kµn D
Os valores de k, segundo o modelo de Rushston, são apresentados na
Tabela 7.6. Admite que, nas condições turbulentas, o vórtex tenha sido evitado,
para o que quatro anteparos nas paredes do tanque de mistura, cada um com
comprimento, em planta, igual a 10% do diâmetro desse tanque, tenham sido
introduzidos.

Tabela 7.6 – Valores de k para misturadores mecanizados aplicáveis ao


modelo de Rushston
Misturador Regime
Laminar Turbulento
Hélice, poço de seção quadrada, 3 lâminas 41,0 0,32
Hélice, poço com 2 unidades, 3 lâminas 43,5 1,00
Turbina, 6 lâminas planas 71,0 6,30
Turbina, 6 lâminas curvas 70,0 4,80
Turbina fan, 6 lâminas 70,0 1,65
Turbina, 6 lâminas arrowhead 71,0 4,00
Pás planas, 2 lâminas 36,5 1,70
Turbina abrigada, 6 lâminas curvas 97,5 1,08
Turbina abrigada, com estator (sem anteparo) 172,5 1.12

7.4.4. Rotores de bombas

Os rotores de bombas também podem ser utilizados como misturadores


rápidos.
Entretanto, deve-se estar certo de que os materiais do rotor e da carcaça da
bomba têm condições de resistir à ação do produto químico.
Isto porque o produto químico poderá agredir esses materiais, tanto
quimicamente quanto fisicamente, ou mesmo através da ação combinada
desses dois fatores.

7.4.4.1. Problema resolvido

Numa estação de tratamento de água o floculante é aplicado na sução de


uma bomba, que recalca a vazão de 20 litros por segundo contra a altura
manométrica de 10 metros.
O rendimento da bomba é de 70%.
São também conhecidos os seguintes dados dimensionais da bomba:
- diâmetro interno da carcaça: 0,30 m;
- largura interna da carcaça: 0,05 m.
Qual é o gradiente de velocidade da mistura?

7-34
Fig. 7.26 – Rotores de bombas

Resolução:

A potência da bomba é calculada através da expressão:


γQH
P=
η
onde, fazendo:
γ = peso específico da água, igual a 1 kgf / litro;
Q = vazão bombeada, litros por segundo;
H = altura manométrica, metros;
η = rendimento da bomba.
Obtém-se:
QH
P=
η
onde a potência é obtida em kgf.m/s.
A potência que a bomba efetivamente transmite à água é:
P=QH
A parcela remanescente é dissipada na água bombeada e nos mancais,
gaxetas e outros elementos mecânicos, sob forma de calor.
Admitindo que a maior parte dessa dissipação de energia ocorra na água
bombeada, então:

Págua = Pbomba − QH
QH
Págua = − QH
η
 1 
Págua = QH  − 1
 0,7 
Substituindo os valores:

7-35
 1 
Págua = 20x10 − 1
 0,7 
Págua = 85,71 kgf.m/s.

Conhecida a potência transmitida à água, pode-se calcular o gradiente de


velocidade através da expressão:
P
G
µV
onde V é o volume de água no qual a potência é dissipada.
Tendo sido dados:
• o diâmetro interno da carcaça: 0,30 m;
• a largura interna da carcaça: 0,05 m.
pode-se então calcular:
π (0,30 )2
V = x 0,05 = 0,0035m 3
4
P
G
µV
85,71
G
0,0001x 0,0035
G=15649s
-1
muito superior aos 700 s recomendados como valor mínimo pela NBR 12216.

Questões para recapitulação


(Respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):

1. Gradiente de velocidade e tempo de detenção são parâmetros considerados


importantes pela NBR 12216 na mistura rápida.
2. A NBR 12216 recomenda que os valores do gradiente de velocidade e do
tempo de detenção devem ser determinados esperimentalmente e, a partir
daí, deve ser efetuado o projeto do misturador rápido.
3. Na retromistura, floculante mistura-se com floculante, ao invés de misturar-se
com as impurezas que se deseja remover; ocorrerá, em conseqüência, a
redução da eficiência da mistura rápida.
4. Tempos de mistura rápida superiores a % segundos são desnecessários,
podendo ser até mesmo contraproducentes.
5. O medidor Parshall alia a função de medidor de vazão à de misturador rápido,
quando convenientemente utilizado.
6. Hidraulicamente, o medidor Parshall é definido como um medidor de vazão de
regime crítico.

7-36
7. Aplicar o floculante na garganta do medidor assegura que o floculante se
disperse em todo o volume de água em tratamento que a atravessa.
8. A formação do ressalto hidráulico imediatamente a jusante da garganta do
medidor Parshall assegura grande dissipação de energia num tempo muito
curto e, em conseqüência, condições ótimas de mistura rápida.
9. O limite superior estabelecido para o gradiente de velocidade na mistura
rápida é apenas para que o projetista não desperdice energia. Se ele for
ultrapassado, a mistura rápida não será comprometida.
10. O tempo de detenção é muito pequeno em ressaltos hidráulicos criados a
jusante de medidores Parshall, freqüentemente inferior a 1 segundo.
11. É possível aproveitar a queda d'água resultante dos vertedouros para efetuar
a mistura rápida.
12. Quando se utiliza a queda d'água de vertedouros para a mistura rápida, o
floculante deve ser distribuído, do modo mais uniforme possível, ao longo de
toda a queda d’água.
13. Quando se utiliza a queda d'água de vertedouros para a mistura rápida, uma
calha perfurada pode ser utilizada para a aplicação do produto químico,
assegurando-se de que todos seus orifícios estarão sempre desobstruídos.
14. Ao se utilizar a queda d’água de vertedouros para a mistura rápida, a
energia resultante da queda da lâmina d'água vertente sobre um pequeno
anteparo proporcionará excelentes condições de mistura rápida.
15. Ao contrário dos medidores Parshall e vertedouros, as malhas difusoras não
desempenham simultaneamente o papel de misturadores e medidores de
vazão.
16. Do ponto de vista de resultados obtidos em laboratório, as malhas difusoras
talvez sejam os misturadores rápidos mais eficientes.
17. Do ponto de vista prático, as malhas difusoras ainda deixam a desejar, por
serem relativamente caras e de difícil manutenção.
18. No que diz respeito às malhas difusoras, a NBR 12216 recomenda:
18.a. velocidade mínima da água através do reator: 0,2 m/s;
18.b. área máxima da seção transversal do reator correspondente a cada
2
orifício: 200 m .
18.c. Diâmetro mínimo dos orifícios da malha difusora: 3 mm.
19. O número de potência igual a 5 para números de Reynolds superiores a
10000 aplica-se, em princípio, exclusivamente à turbina estudada por
Parlatore.
20. Os misturadores rápidos mecanizados podem ser classificados como
turbinas ou hélices.
21. Na determinação do gradiente de velocidade introduzido por misturadores
mecanizados na água em tratamento, é importante conhecer a potência
efetivamente dissipada na massa líquida.
22. tempo de detenção é um dos fatores importantes a serem considerados ao
se utilizar misturadores rápidos mecanizados no tratamento da água.
23. ode haver incompatibilidade entre os materiais construtivos da bomba e o
floculante utilizado.

7-37
24.Ao se cogitar sobre a possibilidade de utilização de bombas na mistura
rápida, o fabricante do equipamento deve ser consultado.
25. A potência dissipada pela bomba na água em tratamento depende da
potência efetivamente dissipada pela bomba na água.

Respostas:
1.(v); 2.(v); 3.(v); 4.(v); 5.(v); 6.(v); 7.(v);8.(v); 9(v); 10.(v); 11.(v); 12.(v); 13.(v);
14.(v); 15.(v);16.(v); 17.(v); 18.a.(f); 18.b.(f); 18cc.(v); 19.(v); 20.(v); 21.(v);
22.(v); 23.(v);24.(v); 25(v); 26.(v).

Referências bibliográficas

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12216 - Projeto


de estação de tratamento de águas para abastecimento público;
procedimento. Rio de Janeiro, 1992, 18p.
2. AZEVEDO NETTO, J. M. de. VILELLA, Swami M. Medidores de regime crítico
- medidores Parshall. In: __________ Manual de hidráulica. 5. ed. rev.
compl. São Paulo: Edgard Blücher, 1969, cap. 29, p.535-52.
3 AZEVEDO NETTO, J. M. de. O Parshall como misturador rápido - medidores
Parshall. Engenharia - Revista do Instituto de Engenharia.São Paulo, n.
402,pag. 21-4,dez. 1977.
4. ________________ et al. Grades de mistura rápida . Revista DAE. São
Paulo, XXI, n. 127, p.32-6, dez. 1981.
5. COAGULACIÓN - Teoria, diseño y control de los procesos de clarificación del
agua. Lima, CEPIS, 1973. Cap. II, p. 20-35.
6. DI BERNARDO, L., PENNA, Jorge Adílio. Influência na mistura rápida nas
operações de floculação e sedimentação. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 13, 1985,
Maceió: ABES, 1985. v2, p.25.
7. HESPANHOL, Ivanildo. Mistura rápida e floculação: aspectos de projeto. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA, 9, 1977,
Belo Horizonte, Anais...,: Belo Horizonte:ABES, 1977. v3, p.4.
8. PARLATORE, Antônio Carlos. Mistura e floculação. In: Técnica de
abastecimento e tratamento de água. São Paulo, CETESB, 1974. v2,
cap.22, p.767-814.
9. PINTO COELHO, M.M.L. Misturador e medidor de vazão Parshall para
estações de tratamento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 14, 1987, São Paulo,
Anais...:São Paulo, ABES, 1987. v2, tII, p.241-55.

7-38
8.1. Introdução

Uma vez desestabilizadas as partículas coloidais, na fase de tratamento


denominada coagulação (ver Capítulo anterior), pode-se, em seguida, tratar de
reuni-las umas às outras, formando os denominados flocos.
Para tanto, deve-se manter a água em agitação durante certo tempo, de
forma que as partículas desestabilizadas choquem-se entre si.
No início do processo, existem, na água em tratamento, muitas partículas
desestabilizadas a serem reunidas. Por este motivo, e para propiciar condições
favoráveis ao choque entre elas, a agitação é inicialmente intensa.
Com o passar do tempo, os flocos que se formam como resultado desses
choques vão se tornando menos numerosos e mais volumosos.
Flocos maiores não resistem a agitações intensas, como as utilizadas no
início da floculação: as forças de cisalhamento aí prevalecentes seriam capazes
de rompê-los.
Por este motivo, a intensidade da agitação vai sendo reduzida com o tempo,
e os flocos crescem cada vez mais ao longo do processo.

8.2. Floculação ortocinética e floculação pericinética

Smoluchowski demonstrou que os choques entre as partículas coloidais


suspensas num líquido resultam de movimentos ortocinéticos e de movimentos
pericinéticos.
Acredita-se que Smoluchowski tenha escolhido o termo orto para descrever
a natureza ordenada da floculação devida à ação de tensões de cisalhamento no
seio da massa fluida, e peri para a floculação devida à ação desordenada do
movimento Browniano - ver também Argaman e Kaufman3.
Modernamente, tem-se adotado o conceito apresentado por Fair et alii para
a floculação ortocinética e pericinética:
• movimentos ortocinéticos são aqueles decorrentes da introdução de energia
externa;
• movimentos pericinéticos decorrem do movimento Browniano e da ação da
gravidade, que faz com que as partículas, ao caírem, se choquem e se
aglomerem.

8-1
8.3. Floculação ortocinética, gradiente de velocidade, tempo de detenção e
número de Camp

Em vista do exposto no Item anterior, conclui Parlatore8: uma vez que o


regime de escoamento tem pequena participação nos choques pericinéticos,
mas é o fator essencial e de maior importância nos choques ortocinéticos, o
modelo matemático dos choques ortocinéticos desenvolvidos por Smolukowski é
de vital importância no tratamento da água.
A expressão a que chegou Smolukowski6 é a seguinte, e que explica o
fenômeno responsável pela floculação (vide Capítulo 6):
J ij = n i n j (d i + d j )
1 3 dv

6 dz
onde:
Jij = número de choques, por unidade de tempo e volume, entre nj partículas de
diâmetro dj, e ni partículas de diâmetro di, ambas contidas num volume unitário;
dv
= gradiente de velocidade no ponto.
dz
Fair, Geyer e Okun6 afirmam que se o gradiente de velocidade não for
constante em todo o sistema, o diferencial de velocidade em um ponto, dv/dz,
deverá ser substituído pelo gradiente de velocidade médio temporal G, ao qual
chamaram de gradiente de cisalhamento.
Portanto, para condições médias, tem-se:
J ij = n i n j (d i + d j ) G
1 3

6
Foi visto no Capítulo 6 que:
P
G=
µV
A equação de Smolukowski pode ser reescrita:

J ij = n i n j (d i + d j )
1 3 P
6 µV
Campos e Povinelli4 evoluíram a expressão anterior, e obtiveram:
GΦVt
Nt −
=e π
No
que caracteriza a floculação, e onde:
• No = número de partículas livres, inicialmente em supensão (matéria em
supensão no início do processo, caracterizada, portanto, pela turbidez antes
da floculação);
• Nt = número de partículas livres existentes após o processo (matéria livre ou
não floculada, caracterizada pela turbidez da água floculada após o tempo t);

8-2
• G = gradiente de velocidade introduzido na massa líquida;
• V = volume de flocos existentes na unidade de volume de água;
• Φ = constante, denominada razão de adesão, correspondente à fração das
partículas iniciais que se unem em virtude das colisões;
• t = tempo durante o qual as partículas são mantidas em agitação.
As expressões anteriores permitem caracterizar os elementos básicos
utilizados em projetos de floculadores: o gradiente de velocidade (vale dizer, a
potência dissipada na massa líquida) e o tempo de mistura.
Fair, Geyer e Okun 6 propõem ainda que, sendo G e t (tempo de detenção
correspondente) parâmetros que influenciam a oportunidade de choques entre
as partículas, então o produto de um pelo outro fornece uma medida
adimensional para essa oportunidade de choques.
Esse produto é denominado Número de Camp = Gt
Assim sendo, quando se projeta floculadores dotados de diversas câmaras
de floculação, com gradientes de velocidade decrescentes e tempos de
detenção crescentes de montante para jusante, pode-se fazê-lo de tal forma que
se obtenha valores iguais de Gt. Assim procedendo, confere-se, às câmaras,
iguais oportunidades de choques às partículas em tratamento.

8.4. Tipos de floculadores

Normalmente, inicia-se a floculação com muita agitação da água em


tratamento (isto é, com gradientes de velocidade mais elevados).
Ao longo do floculador, esse grau de agitação (vale dizer: o gradiente de
velocidade) vai sendo reduzido.
Com isto, os flocos vão crescendo e se tornando mais pesados.
Na saída do floculador, deseja-se obter flocos pesados o suficiente para que
a maioria deles possa ser separada da água em tratamento, por sedimentação,
no interior dos decantadores.
Existem, basicamente, duas formas de se efetuar essa agitação:
• fazendo com que a água percorra um caminho cheio de mudancas de
direção, ou...
• introduzindo equipamentos mecânicos, capazes de manter a água em
constante agitação.
No primeiro caso, tem-se os floculadores hidráulicos.
No segundo caso, tem-se os floculadores mecanizados.

8.5. Disposições da NBR 12216

Transcreve-se a seguir alguns Itens da referida Norma.


• (5.9.2) O período de detenção no tanque de floculação e os gradientes de
velocidade a serem aplicados devem ser determinados por meio de ensaios
realizados com a água a ser tratada.
• (5.9.2.1) Dependendo do porte da estação e a critério do órgão contratante,
não sendo possivel proceder aos ensaios destinados a determinar o

8-3
período de detenção adequado, podem ser adotados valores entre 20 min e
30 min, para floculadores hidráulicos, e entre 30 min e 40 min, para os
mecanizados.
• (5.9.2.2) Não sendo realizados ensaios, deve ser previsto gradiente de
velocidade máximo, no primeiro compartimento, de 70s-1 e mínimo, no
último, de 10s-1.
• (5.9.3) A agitação da água pode ser promovida por meios mecânicos ou
hidráulicos.
• (5.9.4) Deve ser previsto dispositivo que possa alterar o gradiente de
velocidade aplicado, ajustando-o às características da água e permitindo
variação de pelo menos 20% a mais e a menos do fixado para o
compartimento.
• (5.9.8) Os tanques de floculação devem ser providos de descarga com
diâmetro mínimo de 150 mm e fundo com declividade mínima de 1%, na
direção desta.
• (5.9.9) Os tanques de floculação devem apresentar a maior parte da
superfície livre exposta, de modo a facilitar o exame do processo.

Em se tratando de água, cada caso é um caso. Em certos casos, pode-se


flocular a água com tempos de floculação inferiores a vinte minutos.
Conforme salientado no Item 5.9.3 da NBR 12216, a dissipação da potência
na massa líquida (e, em consequência, o gradiente de velocidade introduzido)
poderá ser feita através da utilização de equipamentos mecânicos (tais como
agitadores rotativos de paletas ou turbinas) ou de recursos hidráulicos, valendo-
se da perda de carga da massa líquida em escoamento.
A determinação do gradiente de velocidade devido à utilização desses
expedientes é o que será visto nos Itens a seguir.

8.6. Eficiência da floculação e compartimentação de floculadores

A partir da equação de Smolukowski, vista anteriormente:


J ij = n i n j (d i + d j ) G
1 3

6
é possivel prever a redução da concentração das partículas em suspensão da
água, após certo tempo t.
Para tanto, pode-se estabelecer que, decorridos dt segundos, a variação de
concentração dn será função do número de choques Jij entre as partículas
presentes:
dn = −kJ ij dt
onde a constante k (< 1) foi introduzida porquê nem todos os choques serão
eficazes (isto é, nem todos eles propiciarão a aglutinação das partículas). O sinal
negativo deve-se ao fato de que o número de partículas em suspensão
decrescerá com o tempo.
Portanto:

8-4
dn = −k [
1
6
]
n i n j (d i + d j ) G dt
3

A integração da equação anterior fornece:


nt

no 6
[
dn = −k n i n j (d i + d j ) G dt
1 3
]∫
t

k
6
[ ]
n o − n t = n i n j (d i + d j ) G t
3

k n i n j (d i + d j )
3
no
= 1+ Gt
nt 6 nt
k n i n j (d i + d j )
3

O termo é de difícil avaliação. Entretanto, ele expressa a


6 nt
concentração das partículas na água e sua capacidade de aglutinação a partir
dos choques.
Assim sendo, reescreve-se a expressão anterior da forma apresentada a
seguir, mais simplificada:
no
= 1 + ηϕGt
nt
onde:
η = constante;
ϕ = concentração de partículas (inclusive coagulante) na água.
A expressão anterior reflete o que acontecerá num tanque de mistura após o
tempo t.
Entretanto, utilizando esse tempo, poder-se-ia efetuar a mistura em m
compartimentos, de volume iguais, em série, sendo que a água em tratamento
permaneceria durante (t/m) segundos no interior de cada um deles.
Nestas condições, o número de partículas remanescentes após o primeiro
compartimento será dado pela expressão:
no t
= 1 + ηϕG
n1 m
e, após o segundo compartimento:
n1 t
= 1 + ηϕG
n2 m
e assim sucessivamente, até:
n m −1 t
= 1 + ηϕG
nm m
Ora:
no n n n n
= o 1 ... m − 2 m −1
nm n1 n 2 n m −1 n m
Portanto:

8-5
m
n0  t 
= 1 + ηϕG 
nm  m
A expressão anterior mostra que a compartimentação do floculador aumenta
bastante sua eficiência.
Além disto, a compartimentação do floculador reduz a ocorrência de curto-
circuitos em seu interior. Hudson Jr., num de seus trabalhos clássicos (apud
Parlatore 8), apresenta o gráfico da Figura 8.1, onde mostra que, para um
compartimento, cerca de 40% da água ficam retidos por tempo inferior à metade
do tempo teórico de detenção (tt = V/Q), e que para 5 compartimentos, por
exemplo, apenas 12% ficam retidos por tempo inferior à metade do tempo
teórico.

Fig. 8.1 - Eficiência da compartimentação de floculadores

8.7. Gradiente de velocidade em tubulações e passagens

8.7.1. Introdução

O modelo matemático apresentado a seguir permite determinar o gradiente


de velocidade no interior de tubulações.
Não obstante, ele vem sendo (inadequadamente, do ponto de vista teórico)
utilizado para a determinação do gradiente de velocidade na água em tratamento
ao escoar através de orifícios, tais como comportas, dutos distribuidores de
vazão e passagens de interligação entre compartimentos de floculadores.
8-6
Não há como negar que a verificação do gradiente de velocidade em
passagens utilizando esse modelo tornou-se tradicional.
Por este motivo, em diversos problemas resolvidos neste livro, esse método
será utilizado, como será visto mais adiante neste Capítulo e também em
Capítulos posteriores.

8.7.2. O modelo matemático

O gradiente de velocidade em tubulações pode ser determinado a partir da


expressão:
P
G=
µV
onde:
P = γQh = γAUh
Mas a perda de carga em condutos forçados é dada pela expressão:
l U2
h=f
D 2g
ou, usando:
D = 4R h (o que é válido para regimes turbulentos), fica:
l U2
h=f
4R h 2g
Portanto:
γU 3 f γ f
G= = U3
4R h 2gµ 2gµ 4R h
Fazendo:
γ = 1000 kgf/m2
g = 9,8 m/s2
µ = 1,598 x 10-4 kgf.m-2.s (T = 4ºC)
obtém-se:
f
G = 565 U3
4R h
onde:
f = f (Re, k/D) (ver Capítulo 6 deste livro).
Fazendo k = 0,001 m (valor este aplicável ao concreto regular, à madeira tratada
e ao ferro fundido relativamente velho), Parlatore construiu os gráficos
reproduzidos nas Figuras 8.2 e 8.3, válidos para seções circulares e T = 4º C.

T[ºC] Fator T[ºC] Fator T[ºC] Fator


0 0,937 12 1,120 24 1,310
4 1,000 16 1,180 28 1,370
8 1,060 20 1,240 30 1,400

8-7
Fig. 8.2 - Gradientes de velocidade em tubulações e passagens, segundo
Parlatore (Q < 10 l/s)8

Fig. 8.3 - Gradientes de velocidade em tubulações e passagens, segundo


Parlatore (10<Q<1000l/s) 8

Para outros valores de T, deve-se aplicar o coeficiente de correção da


Tabela abaixo, na qual os valores de T não indicados podem ser obtidos por
interpolação linear.
Para outros valores de k, e para seções não circulares, deve-se proceder da
seguinte forma:
8-8
• extrair, dos gráficos, o valor de G correspondente a Q e D dados;
• aplicar a correção devida à temperatura;
• calcular o valor de Re = 4RhU/ν;
• calcular os valores de 0,001/D e k/D (para dutos não circulares, utilizar
D=4Rh);
• recorrer à fórmula de Churchill ou ao ábaco de Moody, para extrair os valores
de f correspondentes a 0,001/D (f1) e k/D (f2), relativos ao Re calculado
anteriormente;
• multiplicar o valor de G, já corrigido para a temperatura desejada, por
f 2 f1 .
Para seções não circulares, os gráficos permitem obter valores aproximados
(e normalmente a favor da segurança) para G.
Isto porque, embora seja correto utilizar 4Rh ao invés de D em regimes
turbulentos, o valor de U não é corrigido, como deveria ser ao se utilizar a
fórmula da qual se originaram os gráficos.

8.8. Hidráulica dos floculadores mecanizados

8.8.1. Disposições de norma

A NBR 12216 recomenda o transcrito a seguir para floculadores


mecanizados.
• A potência fornecida à água por agitadores mecânicos deve ser
determinada pela expressão:
P = µ G 2C
onde:
P = potência, em W:
µ = viscosidade dinâmica, em Pa.s;
G = gradiente de velocidade, em s-1;
C = volume útil do compartimento, em m3.
• Os tanques de floculação mecanizados devem ser subdivididos
preferencialmente em pelo menos três compartimentos em série, separados
por cortinas ou paredes, interligados, porém, por aberturas localizadas de
forma a reduzir a possibilidade de passagem direta da água de uma
abertura para a outra.
• Para definição do local conveniente das aberturas, de modo a reduzir a
passagem direta, devem ser levadas em conta as direções de fluxo
impostas pelo sistema de agitação e pela própria entrada de água no
tanque.
• Quando o fluxo de água incide diretamente sobre a abertura, deve-se
colocar um anteparo capaz de desviá-lo.
• As dimensões das aberturas devem ser suficientes para que o gradiente de
velocidade, na passagem de água, tenha valor igual ou inferior ao do

8-9
compartimento anterior (para atender a esta recomendação, vide Item 8.7
desta publicação).

8.8.2. Tipos usuais

Para esses floculadores, são utilizados normalmente agitadores dotados de


paletas ou agitadores do tipo de hélices ou turbinas.
O que se deseja determinar é:
• o volume dos compartimentos de floculação;
• o gradiente de velocidade em cada um deles.
O volume de cada compartimento de floculação pode ser determinado com
facilidade, uma vez conhecidos a vazão da água a ser tratada e o tempo de
detenção correspondente:
V = Q.t
onde:
V = volume do compartimento
Q = vazão
t = tempo de detenção
A expressão para o cálculo do gradiente de velocidade é:
P
G=
µV
onde:
• µ = viscosidade absoluta da água, cujo valor pode ser encontrado, para
diversas temperaturas, no Anexo 4 deste livro;
• V = volume do compartimento de floculação;
• P = potência dissipada na massa líquida em tratamento no compartimento
de floculação em causa, cuja determinação será vista, para os casos
usuais, nos próximos Itens.

8.8.2.1. Agitadores do tipo de paletas

8.8.2.1.1. Tipos básicos

Basicamente, os floculadores de paletas podem ser de três tipos:


• floculadores de paletas de eixo vertical;
• floculadores de paletas de eixo horizontal;
• floculadores de paleta única, de eixo vertical.

a) Floculador de paletas de eixo vertical

Um floculador desse tipo é mostrado esquematicamente nas Figuras 8.4 e


8.5.
A água coagulada é introduzida numa série de câmaras. No exemplo da
Figura, elas são em número de quatro.

8-10
Fig. 8.4 - Floculador mecanizado, do tipo de paletas, de eixo vertical8

Fig. 8.5 - Floculador mecanizado, do tipo de paletas, de eixo vertical -


perspectiva

8-11
Na primeira delas, o grau de agitação (e, portanto, o gradiente de
velocidade) é mais intenso que na segunda.
Por sua vez, o grau de agitação na segunda câmara (e, portanto, o
gradiente de velocidade) é mais intenso que na terceira.
E, assim, sucessivamente, até a quarta e última câmara.
O gradiente de velocidade depende da rotação do eixo e das características
da paleta: altura, espessura e espaçamento, entre outras.
O gradiente de velocidade depende da rotação do eixo e das características
da paleta: altura, espessura e espaçamento, entre outras.

b) Floculador de paletas de eixo horizontal

Um floculador desse tipo é mostrado esquematicamente nas Figuras 8.6 e


8.7.
A água coagulada é introduzida numa série de câmaras. No exemplo da
Figura, apenas uma dessas séries é representada.
Em cada uma delas, o gradiente de velocidade é mais intenso que na
seguinte e menos intenso que na anterior.
O gradiente de velocidade depende da velocidade de rotação do eixo e das
características da paleta: altura, espessura e espaçamento, entre outras.

Fig. 8.6 - Floculador mecanizado, do tipo de paletas, de eixo horizontal8

8-12
Fig. 8.7 - Floculador mecanizado, do tipo de paletas, de eixo horizontal -
perspectiva

Os eixos são movimentados por conjuntos motor-redutor, normalmente


instalados no interior de poços secos, construídos ao lado dos floculadores.
Essa necessidade tem sido apontada por alguns como a principal
desvantagem dos floculadores de eixo horizontal.
Como se pode ver na Figura 8.7, em dado local o eixo do equipamento
agitador atravessa a estrutura. É, portanto, necessário instalar aí uma gaxeta, ou
dispositivo semelhante, que impeça o vazamento de água através desse local.
Não obstante, a utilização de floculadores mecanizados de paletas desse
tipo pode ser alternativa interessante em estações de tratamento de água de
grandes dimensões.

c) Floculador de paleta única, de eixo vertical

Embora mais raras, algumas estações de tratamento de água brasileiras


utilizam esse tipo de equipamento.
Um floculador desse tipo é mostrado esquematicamente na Figura 8.8.
A água coagulada é introduzida numa série de câmaras. No exemplo da
Figura, elas são em número de três.
Na primeira delas, o gradiente de velocidade é mais intenso que na
segunda.
Por sua vez, o gradiente de velocidade na segunda câmara é mais intenso
que na terceira.
8-13
Fig. 8.8 - Floculador mecanizado, do tipo de paleta única, de eixo horizontal

O gradiente de velocidade depende da rotação do eixo e das características


da paleta: altura e espessura, entre outras.
Os eixos são movimentados por conjuntos motor-redutor, instalados sobre
as passarelas do floculador.

8.8.2.1.2. Modelo matemático

Serão estudados os agitadores de paletas que giram em torno de um eixo


de rotação. Esse eixo pode ser vertical ou horizontal, conforme mostra a Figura
8.9.
A expressão utilizada para o cálculo da potência introduzida na massa
líquida por ambos é a mesma.

A força do arraste devida a um obstáculo que se movimenta no interior de


uma porção fluida, relativamente a ela, é dada por:

v2 v2
Fd = C d Aρ = C d Aγ
2 2g
onde:
Fd = força de arraste;
Cd = coeficiente de arraste;
A = área do obstáculo, perpendicularmente à direção do movimento;
ρ = massa específica do fluido;
v = velocidade do obstáculo em relação ao fluido.

8-14
Fig. 8.9 - Agitadores mecanizados do tipo de paletas

Para a paleta representada pela Figura 8.10, pode-se escrever:

Fig. 8.10 - Força de arraste devida a uma paleta em movimento


(v p − v l )2
Fd = C d Aρ
2
onde:
vp = velocidade da paleta em relação ao tanque de floculação;
vl= velocidade da água em relação a esse tanque.
Admitindo que vl seja proporcional a vp, ou seja, vl = kvp, pode-se
reescrever a expressão anterior:

Fd = C d Aρ
[ ]
v p (1 − k )
2

2
Da mecânica, sabe-se que:

8-15
P = F.v
No caso presente:
P = Fd v p (1 − k )

P = Cd Aρ
1
2
[ ]
v p (1 − k )
3

Na Figura 8.11, que mostra as grandezas da paleta em estudo:


N = rotação em RPM;
Rej = distância do eixo à extremidade externa da paleta;
R ij = distância do eixo à extremidade interna da paleta;
b = comprimento da paleta.

Fig. 8.11 - Força de arraste: expressão diferencial

Considerando agora as grandezas cuja nomenclatura aparece na Figura


8.11, pode-se escrever:
• Área elementar da paleta, perpendicularmente à direção de escoamento:
dA = b.dR
• Velocidade da área elementar da paleta em relação ao tanque:
2 πN
vp = ω pR = R
60
A expressão da potência pode agora ser reescrita, em termos diferenciais:
3
ρ 3  2πN 
dP = C d (b.dR ) (1 − k )  R
2  60 

8-16
3
γ  2π 
 Cd .b.[(1 − k ).N ] ∫ R dR
3 Rej 3
P= 
2g  60  R ij

2
Fazendo g = 9,8 m/s , vem:
4 4
3 R ej − R ij
( )
P = 5,859 x10 Cd .γ .b.[(1 − k ).N ]
−5
4
( ) (
P = 1,465 x10 Cd .γ .b.[(1 − k ).N ] Rej − R ij4
−5 3 4
)
Para n paletas, colocadas em B braços iguais (vide Figura 8.12), a
expressão anterior fica:
( ) ( )
P = 1,465 x10 −5 Cd .γ .b.[(1 − k ).N ] Rej4 − R ij4 .B
3

expressão esta que é apresentada por Parlatore8 para floculadores de paletas.

Fig. 8.12 - Floculador mecanizado de paletas, com n paletas e B braços


iguais

No caso do floculador mecanizado cuja paleta é representada na Figura


8.13, da integração resulta:
( )
P = 1,465 x10 −5 C d .γ .b.[(1 − k ).N ] R 4
3

para cada um de seus dois braços. Para ambos, vale dizer, para toda a paleta,
obtém-se:
( )
P = 2,93 x10 −5 C d .γ .b.[(1 − k ).N ] R 4
3

P = (1,465 x10 )C γ .b.[(1 − k ).N ] .R 4


−5 3
d.
para cada um de seus dois braços. Para ambos, vale dizer, para toda a paleta,
obtém-se:
( )
P = 2,93 x10 −5 C d .γ .b.[(1 − k ).N ] .R 4
3

8-17
Fig. 8.13 - Floculador de paleta única, de eixo vertical: integração

Nas duas expressões anteriores, tem-se:


P = potência dissipada na massa líquida;
γ = peso específico da água;
N = rotação (RPM);
Rej = distância entre o eixo e o lado externo da paleta j;
Rij = distância entre o eixo e o lado interno da paleta j;
B = número de braços do agitador;
Cd = coeficiente de arraste;
k = relação entre a velocidade da água e da paleta.
São os seguintes os valores de Cd recomendados por Parlatore (op. citada):

b(Rej-Rij) Cd (*)
1 1,10
2 1,15
4 1,19
10 1,29
18 1,40
∞ 2,01
(*) Como primeira aproximação, Fair, Geyer e Okun recomendam adotar Cd = 1,8.
O mesmo autor apresenta ainda as recomendações transcritas a seguir.
• Para valores de k usar 0,24 para rotações de 2 a 5,2 RPM e 0,32 para
rotações de 1,1 a 2,0 RPM, valores estes medidos na estação de Cambridge,
nos EE.UU;
• o valor de k utilizado predominantemente para fins de tratamento tem sido
0,25;

8-18
• contudo, certos cuidados devem ser tomados no dimensionamento do motor,
uma vez que quando ele é acionado, k = 0 e a potência consumida na partida
é elevada;
• a velocidade periférica das paletas não deverá ultrapassar a 75 cm/s;
• a soma das áreas de todas as paletas contidas em um mesmo plano não
deve ser superior a 20% da área da seção transversal da câmara, contida
nesse plano;
• no caso de floculadores de paletas verticais, as bordas superior e inferior
deverão situar-se entre 0,15 m e 0,40 m da superfície da água e do fundo do
tanque, respectivamente;
• para floculadores de paletas horizontais, vale uma condição equivalente em
relação às paredes, fixando-se 0,40 m como distância mínima;
• o diâmetro do equipamento deve estar entre 80% e 90% da largura da
câmara (caso dos floculadores verticais) ou da profundidade da câmara
(caso dos floculadores horizontais).

8.8.2.1.3. Problema resolvido

Determine o gradiente de velocidade introduzido pelo agitados mostrado na


Figura 8.14, sabendo-se que ele gira com velocidade de 4 RPM no interior de
uma câmara com as seguintes dimensões úteis:
planta: 4,20 m x 4,20 m
profundidade: 3,45 m

Fig. 8.14 - Problema resolvido 5.4.1.2


Resolução:

Conforme foi visto, a fórmula para se calcular a potência dissipada na água


por esse tipo de agitador é:

( )
P = 1,465 x10 −5 .Cd .γ .b.[(1 − k ).N ] .
3
∑ (R
n
j =1
4
ej )
− R ij4 .B

8-19
onde:
γ= 1000 kgf/m3;
b = 3,20 m;
N = 4 RPM
k = 0,24 (segundo Parlatore);
B = 4.
Além disto, tendo em vista que:
b = 3,20 m;
Rej − Rij = 0,15 m;
Então:
b 3,20
= = 21,33
R ej − R ij 0,15
e, portanto, segundo Fair, Geyer e Okun (já que Parlatore não apresenta valor
específico de Cd para o valor anterior):
Cd = 1,8
O fator:
∑ (R )
n 4
j =1 ej − R ij4
é calculado da forma indicada no Quadro a seguir.

Paleta Rej Rij Rej4 Rij4 Rej4 − Rij4


no
1 1,20 1,05 2,074 1,216 0,858
2 0,95 0,80 0,815 0,410 0,405
3 0,70 0,55 0,240 0,092 0,148
∑ = 1,411
Substituindo os valores:
( )
P = 1,465 x10 −5 x1,8 x1000 x 3,20 x [(1 − 0,24 )x 4] x1,411x 4
3

P = 13,38 kgf.m/s
O gradiente de velocidade a 20oC é, portanto (tendo em vista que, nessa
temperatura, µ da água é aproximadamente igual a 10-4 kgf.m-2.s):
P 13, 38
G= = = 47 s −1
µV −4
10 x 4, 20 x 4 , 20 x 3, 45

8.8.2.2. Agitadores do tipo de fluxo axial (turbinas e hélices)

8.8.2.2.1. Descrição

Embora raros há pouco tempo atrás nas estações de tratamento de água


brasileiras, esses tipos de equipamentos vêm se tornando cada vez mais
utilizados.
Um floculador do tipo de turbina é mostrado esquematicamente na Figura
8.15.

8-20
Fig. 8.15 - Floculador mecanizado, do tipo de turbina

Trata-se de um equipamento que permite fácil regulagem do grau de


agitação, e que dispensa a utilização do mancal no fundo do tanque, necessário
no caso dos floculadores mecanizados do tipo de paletas, de eixo vertical.
A água coagulada é introduzida numa série de câmaras. No exemplo da
Figura, elas são em número de três.
Na primeira delas, o gradiente de velocidade é mais intenso que na
segunda.
Por sua vez, o gradiente de velocidade na segunda câmara é mais intenso
que na terceira.
O gradiente de velocidade depende da rotação do eixo e das características
da hélice ou turbina: tipo e diâmetro, entre outras.
Os eixos são movimentados por conjuntos motor-redutores, ou, mais
modernamente, por motores cujas alimentações de corrente elétrica dispõem de
variadores de frequência.
Os variadores de frequência permitem que se varie continuamente a rotação
do eixo das hélices e turbinas.
Os conjuntos motor-redutores, ou se for o caso, apenas os motores
elétricos, são instalados sobre as passarelas do floculador.

8.8.2.2.2. Modelo matemático

O modelo matemático aplicável a esses equipamentos é semelhante ao que


foi visto para as turbinas destinadas à mistura rápida.
Evidentemente, o formato de suas pás difere das primeiras, tendo em vista
que, no caso presente, o que se deseja é que as turbinas efetuem a circulação

8-21
da massa líquida no interior do tanque, além de difundirem a potência para que
se obtenha o gradiente de velocidade desejado.
Assim sendo, parte-se do já definido número de potência (ver Capítulo 7):
P
Np =
N 3 ρD 5
Caso as condições estabelecidas para a turbina da Figura 8.16 sejam
verificadas, ter-se-á:
Np = 1,3

Fig. 8.16 - Turbina estudada por Parlatore 8

8.8.2.2.3. Problema resolvido

Um floculador mecanizado é composto de quatro câmaras em série, de


dimensões:
planta: 4,65 m x 4,65 m;
profundidade útil: 5,20 m.
No interior de cada uma delas há uma turbina, de diâmetro 0,90 m.
Segundo o fabricante dessas turbinas, o número de potência determinado
para esse tipo de equipamento é igual a 0,5.
Quais deverão ser as velocidades de rotação para que os gradientes de
velocidade sejam iguais a:
1a câmara: 60 s-1
2a câmara: 45 s-1
3a câmara: 50 s-1
4a câmara: 15 s-1

8-22
Resolução:

A fórmula para o cálculo do gradiente de velocidade introduzido por


misturadores dos tipos hélices e turbinas é:
P
G=
µV
onde:
P = N p n 3 ρD 5
Portanto:
N p n 3 ρD 5
G=
µV
Sendo dados:
µ = 0,0001 kgf.m-2.s
ρ = 100 kgf.m-4-s2
Np = 0,5
D = 0,90 m
V = 4,65 m x 4,65 m x 5,20 m = 112,44 m3
vem:
0,5 xn 3 x100 x 0,90 5
G=
0,0001x112,44
a partir do que obtém-se:
2/3
n = 0,072G
mas
N = 60 n
Portanto:
2/3
N = 4,32 G
Assim sendo, para os valores de G desejados, obtém-se:

G (s-1) N (RPM)
60 67
45 55
30 42
15 26

8.8.2.2.4. Floculador tipo hélice modelo Filsan

Outro tipo muito encontrado em estações brasileiras é o modelo Filsan,


representado esquematicamente na Figura 8.17.
Lamentavelmente o fabricante não apresenta, em seus catálogos, dados
específicos sobre as relações dimensionais entre a hélice e o tanque em que
deve ser imerso, a não ser que a relação entre a largura o tanque e o diâmetro
do rotor deve ser igual a 6.
8-23
Para os casos usuais, o autor encontrou que seu número de potência é da
ordem de 0,73. Entretanto, não foi possível determinar as condições de contorno
para as quais esse valor é aplicável.

Fig. 8.17 – Floculador tipo hélice modelo Filsan

8.9. Hidráulica dos floculadores hidráulicos

8.9.1. Introdução

Provavelmente constituem o tipo mais numeroso de floculadores,


especialmente no caso de pequenas e médias estações de tratamento de água.
Antes que os atuais critérios hidráulicos de cálculo de unidades de
tratamento estivessem disseminados no meio técnico brasileiro, era comum
dimensioná-los através de critérios empíricos, que permitiam determinar o
número de compartimentos, bem como a velocidade da água nas passagens
que os interligavam (entre 0,40 m/s e 0,15 m/s).

8-24
Atualmente, seu dimensionamento é feito através do cálculo dos gradientes
de velocidade e tempos de detenção em seus diversos compartimentos, de
acordo com o que preceitua a NBR 12216, e com o que será exposto nos
próximos Itens.

8.9.2. Tipos usuais

Diversos tipos de floculadores hidráulicos podem ser encontrados, cada qual


com suas vantagens e desvantagens, entre os quais são citados os tipos mais
utilizados no Brasil.

8.9.2.1. Floculador de chicanas

Pode ser de chicanas horizontais ou verticais, vide Figura 8.18. O último


tipo é mais comum em estações de pequena capacidade.
Embora os dois tipos assegurem maior homogeneidade à mistura da água
em tratamento, apresentam como desvantagem o grande número de
compartimentos.

Fig. 8.18 - Floculador de chicanas4

a) Chicanas verticais

São representados esquematicamente na Figura 8.19.

8-25
Fig. 8.19 - Floculador hidráulico, de chicanas verticais

A água percorre o floculador em movimentos sucessivamente ascendentes


e descendentes.
Na citada Figura, a água originaria da câmara número 1 passa para a
câmara número 2 através de uma passagem situada no fundo.
Em seguida, a água passa para a câmara número 3 através de uma
passagem superior.
E assim sucessivamente. Observe que a água passa da câmara número 3
para a câmara número 4 através de uma passagem inferior.
Para evitar que os flocos se depositem no interior das câmaras de floculação
à medida que vão sendo formados, os floculadores de chicanas verticais são
projetados para que a velocidade média da água nesses locais não seja inferior
a dez centímetros por segundo.
Na Figura 8.19, as paredes das câmaras de floculação foram construídas de
madeira. Mas isto não é obrigatório. Elas podem ser construídas de qualquer
outro material que garanta estanqueidade (isto e, a não ocorrência de
vazamentos).
Os floculadores de chicanas verticais têm muitas câmaras de floculação. De
modo geral, eles têm cerca de quarenta câmaras.
Isto tem sido considerado uma desvantagem. De fato, é bem mais fácil
limpar e regular floculadores com menor número de câmaras.

8-26
b) Chicanas horizontais

A Figura 8.20 representa esquematicamente um floculador de chicanas


horizontais.

Fig. 8.20 - Floculador hidráulico de chicanas horizontais

Neste tipo de floculador, a agitação é assegurada pela passagem da água


em tratamento por sucessivas mudanças horizontais de direção.
Como no caso dos floculadores de chicanas verticais, é desejável que a
velocidade média de escoamento da água em seu interior seja superior a dez
centímetros por segundo.
Para que essa condição seja atendida, de forma que os canais de floculação
não resultem muito estreitos, costuma-se construir floculadores de chicanas
horizontais somente para o tratamento de vazões mais elevadas. Assim sendo,
no caso de vazões menores, é preferível utilizar floculadores de chicanas
verticais.

8.9.2.2. Floculador tipo Cox

Trata-se de um tipo de floculador muito utilizado pela antiga Fundação


SESP (atual FNS) em estações de tratamento de água do interior do estado de
Minas Gerais, vide Figura 8.21.
A simplicidade construtiva e operacional desse floculador, que logo passou a
ser conhecido como floculador Cox, fez com que diversos deles fossem
implantados em todo o estado de Minas Gerais.
Sua denominação deve-se ao professor norte-americano Cox, que foi
consultor dessa Fundação, e que teria projetado os primeiros modelos desse tipo
8-27
de unidade. O autor não tem conhecimento de critérios de projeto que tenham
sido deixados, por escrito, pelo citado professor.
Esse tipo de floculador tem pequeno número de câmaras (normalmente em
torno de oito), e as interligações entre as câmaras alternam posições superiores
e inferiores - veja Figura 8.22. Embora haja essa alternância, no que diz respeito
ao posicionamento altimétrico, todas elas são construidas alinhadas em planta.
Como vantagem a seu favor, cita-se o reduzido número de compartimentos.
Ao mesmo tempo, e como desvantagem decorrente desse fato, cita-se a
desuniformidade do grau de agitação conferido à massa líquida.

Fig. 8.21 - Floculador Tipo Cox, Q = 36 l/s 6

8.9.2.3. Floculador tipo Alabama

Nesse tipo de floculador, todas as passagens de água de um compartimento


para outro localizam-se na parte inferior, vide Figuras 8.23 e 8.24.
A água em tratamento, ao entrar num compartimento através da passagem
que o interliga com o de montante, é defletida para cima. Em seguida, para que
ela passe ao compartimento de jusante, deverá descer, pois é também embaixo
que se encontra a próxima passagem de interligação. Os flocos trazidos pela
corrente afluente, de sentido ascendente, chocam-se com os levados pela
corrente efluente, de sentido descendente. Resulta daí o crescimento dos flocos.

8-28
Fig. 8.22 - Floculador hidráulico tipo Cox: perspectiva e diagrama
explicativo

Fig. 8.23 - Floculador tipo Alabama com modificações, Q = 62,9 l/s6

Para o dimensionamento de unidades desse tipo, a extinta Sursan


recomendava o seguinte:
(a) Área ótima de cada compartimento:
A1 = 0,44 m2 por 1000 m3/dia de vazão tratada
(b) Área ótima para as passagens de interligação:
Ac = 0,0244 m2 por 1000 m3/dia de vazão tratada
No interior das câmaras dos floculadores do tipo Alabama não há a
necessidade de se manter a velocidade média de escoamento superior a 0,10
metros por segundo. Isto porquê não há interesse em se arrastar os flocos para
cima.

8-29
De fato, é até bom que eles desçam para o fundo da câmara, para que se
choquem com os flocos que estão sendo encaminhados para cima e, além disto,
sejam conduzidos para a passagem seguinte.
Por esta razão os floculadores podem ter menos câmaras que os
floculadores de chicanas verticais.
São, por isto, mais fáceis de operar, no que diz respeito à realização de
limpezas e ajustes.

Fig. 8.24 - Floculador tipo Alabama: perspectiva e diagrama explicativo

8.9.3. Recomendações da Norma

Para floculadores hidráulicos, a NBR 12216 apresenta as recomendações


transcritas a seguir:
(5.9.3.2) O gradiente de velocidade em um compartimento de floculador
hidráulico é dado pela seguinte expressão:
gh
G=
νt
onde:
G = gradiente de velocidade, em s-1;
g = aceleração da gravidade , em m/s2;
h = soma das perdas de carga na entrada e ao longo do compartimento, em m;
ν = velocidade cinematica, em m2/s;
t = período de detenção no compartimento, em s.

8-30
(5.9.6) Nos floculadores hidráulicos, a agitação deve ser obtida por meio de
chicanas ou outros dispositivos direcionais de fluxo que confiram à água
movimento horizontal, vertical ou helicoidal; a intensidade de agitação resulta da
resistência hidráulica ao escoamento e é medida pela perda de carga.
(5.9.6.1) A velocidade da água ao longo dos canais deve ficar entre 10 cm/s e 30
cm/s.
(5.9.6.2) O espaçamento mínimo entre chicanas deve ser de 0,60 m, podendo
ser menor, desde que elas sejam dotadas de dispositivos para sua fácil
remoção.
A expressão apresentada no Item 5.9.3.2 da NBR 12216 é obtida do modo a
seguir:
P
G=
µV
Mas
P = γQh e µ = ρν
Portanto:
γQh γ Qh gh
G= = =
νρV ρVν ν t
pois
γ
=g
ρ
e
Q 1
=
V t
Às recomendações anteriores devem ser acrescentadas as que foram
apresentadas no Item 8.5 anterior e, em especial, a constante do Item 5.9.4 da
referida Norma.
Deve ser previsto dispositivo que possa alterar o gradiente de velocidade
aplicado, ajustando-os às características da água e permitindo variação de pelo
menos 20% a mais e a menos do fixado para o compartimento.
Na realidade, o atendimento a esse Item é complicado em floculadores
hidráulicos.
De fato, qualquer que seja o tipo de floculador hidráulico adotado, ele
apresentará, como desvantagem, a difícil regulagem dos gradientes de
velocidade em seus compartimentos, seja para uma dada vazão, seja para
manter os mesmos valores de G para diferentes vazões.
A Figura 8.25 (a) apresenta um engenhoso dispositivo capaz de produzir tais
alterações em floculadores dos tipos Cox e Alabama.

8.9.4. Problema resolvido

O floculador hidráulico de uma ETA que trata 160 litros por segundo
compõe-se de dezesseis câmaras.

8-31
Fig. 8.25 - Interligação entre câmaras de floculadores7

Cada câmara tem as seguintes dimensões:


Planta: 1,10 m x 2,00 m
Profundidade da lamina d'água: 4,10 m
Foram medidos os desníveis entre a água a montante e a jusante de cada
câmara de interligação. Os valores encontrados são apresentados no quadro a
seguir.

Série de Número de câmaras em Dimensões das passagens Desnível


câmaras cada série entre as câmaras (m x m) montante / jusante (m)
1a 3 0,60 x 0,60 0,027
2a 5 0,80 x 0,75 0,010
3a 8 0,80 x 1,50 0,002

Calcule o tempo de detenção e os gradientes de velocidade que ocorrem


nesse floculador.

Resolução:

a) Tempo de detenção
Para calcular o tempo de detenção, precisa-se conhecer o volume útil do
floculador.
Conforme visto, ele é composto de 16 câmaras, cada uma das quais com as
seguintes dimensões uteis:

1,10 m x 2,00 m x 4,10 m


Assim sendo, seu volume útil é
16 x (1,10 x 2,00 x 4,10) = 144,32 m3
Portanto, o tempo de detenção correspondente é:
8-32
t = 144,32 / 0,160 = 902 segundos = 15 minutos
inferior ao tempo mínimo recomendado pela NBR 12216 para floculadores
hidráulicos (20 minutos).
b) Gradientes de velocidade nas câmaras
O gradiente de velocidade nas câmaras de floculadores hidráulicos (à
temperatura de 20o C) é calculado através da expressão:
gh
G=
νt
As câmaras são todas iguais, conforme visto, sendo o tempo de detenção
cada uma igual a 902 segundos.
Além disto, a 20oC, a viscosidade cinemática da água é aproximadamente
igual a 0,000001 m2/s.
Substituindo os valores, encontra-se:
9,8h
G= = 416,94 h
902
0,000001x
16
Assim sendo, para cada uma das três séries de passagens, os gradientes
de velocidade correspondentes serão:

série perda de carga (m) -1


gradiente de velocidade (s )
1a 0,027 69
2a 0,010 42
3a 0,002 19

que atendem à NBR 12216, por estarem entre os valores recomendados:


máximo: 70 s-1
mínimo: 10 s-1
c) Gradientes de velocidade nas passagens
Serão determinados através dos gráficos construidos por Parlatore (Figuras
8.2 e 8.3).
Para tanto, constrói-se o quadro a seguir.

série de dimensões das diâmetro gradiente de


câmaras passagens hidráulico velocidade
-1
(m x m) das passagens [s ]
(m)
1a 0,60 x 0,60 0,60 1,24 x 35 = 43
2a 0,80 x 0,75 0,77 1,24 x 15 = 19
3a 0,80 x 1,50 1,04 1,24 x 5 = 6
Observações:
1. Exemplo de cálculo do diâmetro hidráulico da passagem correspondente à
segunda série de câmaras:

Am = 0,80 x 0,75 = 0,60 m2


Pm = 0,80 + 0,80 + 0,75 + 0,75 = 3,10 m

8-33
Dh = 4 x Am / Pm = 4 x 0,60 / 3,10 = 0,77 m
2. Exemplo de obtenção de G na passagem correspondente à segunda série de
câmaras:
- consulta ao gráfico (de modo semelhante ao ilustrado nas figuras correspondentes)
G = 15 s-1;
- valor de G a 20o C: G = 1,24 x 15 = 19 s-1
Observe que os gradientes de velocidade observados nas passagens são
sempre inferiores aos gradientes de velocidade observados nas câmaras
precedentes.

8.10. Floculadores não tradicionais

8.10.1. Introdução

A descrição anterior contemplou apenas os tipos mais comuns de


floculadores, utilizados corriqueiramente em estações de tratamento de água
brasileiras.
Entretanto, muitos outros tipos e modelos podem ser idealizados, de forma a
se adaptarem às situações peculiares de cada projeto.
Alguns outros tipos de floculadores serão apresentados a seguir, sem que
se deseje (o que seria muita pretensão) contemplar todos os possíveis.

8.10.2. Floculador mecanizado do tipo de paletas, de câmaras superpostas

A Figura 8.26 apresenta a concepção adotada nas estações de tratamento


de água pré-fabricadas padrão COPASA - primeira geração.

Fig. 8.26 - Floculador mecanizado do tipo de paletas, de câmaras


superpostas

8-34
Os agitadores são do tipo de paletas verticais, e apresentam como
peculiaridade o fato de que, embora estejam presos a um mesmo eixo (o que
lhes confere a mesma rotação), imprimem diferentes valores de G à água em
tratamento devido ao número, forma e disposição das paletas existentes no
interior de cada câmara de mistura.
O cálculo dos valores dos gradientes de velocidade em cada câmara é feito
da forma vista no Item 8.8.2.1.2 anterior.

8.10.3. Floculador hidráulico do tipo de bandejas perfuradas

Esse tipo de floculador foi concebido pelo autor no final da década de 1970,
especialmente para ser utilizado em estações de tratamento de água pré-
fabricadas.
A Figura 8.27 ilustra sua concepção original.

Fig. 8.27 - Floculador hidráulico, do tipo de bandejas perfuradas:


concepção original

A água é sempre introduzida na parte de cima de cada câmara de


floculação. Ao escoar no sentido descendente, ela passa através de orifícios
existentes numa sucessão de bandejas perfuradas, interpostas
perpendicularmente à direção do fluxo.
A passagem da água através desses orifícios gera a turbulência necessária
para que a água flocule.
Ao atingir a parte inferior de cada câmara, a água é então conduzida à
câmara seguinte através de um duto.
Esse duto é dimensionado de forma que a velocidade da água em seu
interior seja igual ou superior a 10 centímetros por segundo.
Assegura-se, desta forma, o arraste dos flocos formados.

8-35
O gradiente de velocidade é calculado da mesma forma que se calcula esse
valor em cortinas distribuidoras de água floculada no interior de decantadores
clássicos, e que será vista no próximo Capítulo.
A Figura 8.28 apresenta esse tipo de floculador, da forma como vem sendo
concebido pelo autor em seus projetos atuais.

Fig. 8.28 - Floculador hidráulico, do tipo de bandejas perfuradas:


concepção atual

8.10.4. Floculação em meio granular

Os floculadores de meio granular vêm sendo muito estudados nos últimos


anos. Algumas dessas unidades desse tipo já estão em funcionamento no
Paraná, graças ao empenho do engenheiro Carlos Richter.

Fig. 8.29 - Floculador de meio granular

8-36
Os resultados obtidos são discutíveis, havendo indicações de que eles não
suportam bem grandes variações na qualidade da água bruta, especialmente
valores altos de turbidez.
Por este motivo, os floculadores de meio granular não constituem ainda
solução que se possa recomendar com a segurança desejada.
Basicamente, constituem-se de uma estrutura em forma de tronco de
pirâmide ou tronco de cone. Essa estrutura é enchida com material granular,
normalmente seixos rolados selecionados.
A água em tratamento é introduzida na base menor da estrutura, e percorre
o meio granular em direção à sua base maior.
Ao passar pelos interstícios do meio granular, a água é agitada. Desse
processo de agitação resulta a floculação.
A Figura 8.29 ilustra esquematicamente um floculador de meio granular.
Essa forma de floculação já é utilizada, de certa forma, nos filtros de fluxo
ascendente (vide Capítulo 10), no interior de suas camadas inferiores,
especialmente na região correspondente à camada suporte.
A novidade está em utilizar meios granulares em substituição aos
floculadores clássicos, isto é, com a finalidade de produzir flocos capazes de
serem removidos, por sedimentação, nos decantadores.
Constituem vantagens teóricas indiscutíveis dos floculadores de meio
granular sobre os floculadores convencionais as seguintes:
a) no interior dos meios granulares, e com as taxas de trabalho usuais, o fluxo
da água ocorre no regime laminar. Nestas condições, a realidade torna-se
mais próxima das fórmulações teóricas devidas a Camp e Stein e
Smolukowski, e que constituem a base de toda a formulação teórica
aplicável aos floculadores;
b) se o meio granular fôr suposto um floculador cujo número de
compartimentos em série tende para o infinito, então, em vista do que foi
apresentado no Item 8.6, o volume dos floculadores poderá ser
comparativamente muito inferior ao de seus correspondentes floculadores
convencionais.
A breve análise apresentada a seguir procura justificar a segunda vantagem
(a primeira e óbvia: para constatá-la, o leitor deverá recapitular o exposto no
Capítulo 6) e, em seguida, mostrar como pode ser calculado o gradiente de
velocidade num floculador desse tipo. Para melhor se informar sobre este tema,
o leitor poderá recorrer ao artigo Fundamentos Teóricos da Floculação em Meio
Granular, publicado pelo engenheiro Carlos Alfredo Richter na revista
Engenharia número 429.
Conforme foi visto no Item 8.6, o número de partículas em suspensão nm na
água em tratamento após a mésima câmara de floculação pode ser obtido da
expressão:
m
no  t 
= 1 + ηϕG 
nm  m

8-37
onde no é o número de partículas em suspensão na água no início do
processo de floculação; n e q são constantes; t é o tempo total de floculação.
Explicitando t, então:
 1

m  n o  m
t= 

 
 − 1
ηϕG  n m 
 
Admitindo que, no caso em tela, se possa admitir que m tenda para o
infinito, pode-se escrever:
 1 
m  n o  m 
t = lim   − 1
m →∞ ηϕG  n m  
 
 1 
1  n o  m 
t= lim m   − 1
ηϕG m → ∞  n m  
 
Do cálculo, sabe-se que:
 1 
 n 
lim n a − 1 = ln a
m →∞  
 
Portanto:
1 n
t= ln o
ηϕG n m
n
ln o = tηϕG
nm
É possível comparar o tempo obtido pelo emprego desta última expressão
com o tempo θ que, através de um floculador de compartimento único, permitiria
obter idêntica remoção de partículas em suspensão.
A expressão correspondente a esse tipo de floculador é:
no
= 1 + ηϕGθ
n1
A relaco t/θ será, portanto:
1 n  n 
ln o  ln o 
t ηϕG  n m  n
= =  m
θ 1  no  n 
 − 1  o − 1
ηϕG  n1   n1 
Richter 9 apresenta as curvas reproduzidas na Figura 8.30, onde são
comparados os tempos de floculação θ correspondentes a ensaios de jarros
(onde o jarro corresponde a um floculador de compartimento único) e os tempos

8-38
t que se fariam necessários num floculador de meio granular, para diversas
relações (no/nm) desejadas, bem como para os respectivos valores de remoção
de turbidez (p = 1 - no/nm).
Interpreta o citado autor que, se em dado ensaio de jarros, forem
necessários 20 minutos de floculação para propiciar uma remoção de turbidez de
90% (no/nm = 10), no floculador em meio granular o mesmo resultado será
teoricamente obtido com cerca de 5,2 minutos.
Pelo gráfico:
no t
= 10 → = 0,26
nm θ
t = 0,26θ = 0,26 x 20 = 5,2
Ainda na Figura 8.30, estão representados alguns resultados obtidos com
águas de 100, 200 e 1000 UNT. As diferenças entre a curva teórica e as curvas
praticas devem ser creditadas às eficiencias de floculação em cada caso.
Para o cálculo do gradiente de velocidade, toma-se a expressão vista no
Item 8.9.3 anterior:
gh
G=
νt

Fig. 8.30 - Tempo relativo t/θ versus remoção de turbidez

O tempo de detenção da água em tratamento no interior do floculador de


meio granular será:
V V l
t= = =
Q AU U

8-39
Em sua fórmulação, Richter 9 toma U = va = velocidade de aproximação, e l
= comprimento (na direção do fluxo) do leito granular:
ghv a
G=
νl
Para o regime laminar, determina-se o valor de h/l através da equação de
Kozeny (ver Capítulo 10):
h 180ν (1 − Po ) v a  1 
2 2
=  
l g Po3 Ce2  D 
e a expressão de G pode ser reescrita:
180ν (1 − P )2 v  1  2 
gv a
 o a
G=   
ν  g Po3
Ce2  D  
1 − Po v a
G = 13,416
P03 Ce D
Na expressão acima, tem-se:
Po = porosidade;
va = velocidade de aproximação;
Ce = coeficiente de esfericidade;
D = diâmetro das partículas constituintes do meio granular.
Observe que, hidraulicamente, num meio granular a floculação independe
da temperatura da água.
Caso a velocidade imposta à água faça com que a linearidade da lei de
Darcy (ver Capítulo 6) não seja observada (condição essa para a qual a
expressão de Kozeny é aplicável), então à equação:
ghv a
G=
νl
pode-se aplicar a expressão devida a Forchheimer:
h
= av + bv 2
l
Para diversos tipos de materiais granulares, Richter 9 reproduz os dados
transcritos no final do Capítulo 6, de onde é possivel extrair os valores de a e b.

8.4.10.1. Problema resolvido

Projetar um floculador de leito granular destinado a tratar a vazão de 30


litros por segundo, utilizando um coluna de altura máxima igual a 2,0 metros.

Resolução:

Será utilizada a experiência descrita por Richter (RICHTER, C.A., Azevedo


8-40
Netto, J.M. de - Tratamento de água: tecnologia atualizada - São Paulo, Edgard
Blücher, 1991) referente à estação de tratamento de água de Iguaçu, em
Curitiba.
Trata-se de uma experiência piloto, em que um coluna de seixos rolados, de
granulometria definida, apresentou resultados notáveis, quando comparados
com os que eram simultaneamente obtidos no floculador em escala real da ETA
propriamente dita.
As características granulométricas do seixo utilizado eram:
Tamanho efetivo: 6 mm
Coeficiente de uniformidade: 1,36
O tempo de detenção variou de 1,5 a 8,0 minutos, sendo que o tempo médio
foi de 2,8 minutos, ou seja, 170 segundos.
O gradiente de velocidade médio testado foi igual a 85 s-1.
O número de Camp médio foi igual a 14500 segundos.
A importância do número de Camp (Gt) no projeto desse tipo de floculador é
evidenciada na equação:
n
ln 0 = ηϕGt
nm
que pode ser reescrita:
n0
= eηϕ (Gt )
nm
Observe: a remoção de partículas varia exponencialmente com o número de
Camp.
Neste exemplo, será admitido que seixos de características semelhantes
serão utilizados no floculador a ser projetado.
Imaginar-se-á que procedeu-se ao ensaio da perda de carga dos seixos, e
que forneceu os resultados apresentados no Anexo 16 deste livro.
Assim sendo, é aplicável a seguinte equação de Forchheimer:
h = 6,614v + 4299v 2
Imaginar-se-á também que o ensaio de porosidade indicou, para esse
parâmetro, o valor:
Porosidade = ε = 0,50
Tendo em vista que a altura máxima do floculador está limitada em 2,0
metros, e utilizando, em primeira aproximação, o tempo de detenção de 2,8
minutos (168 segundos), então o volume útil do floculador será:
V = Qt = 0,030 x168 = 5,04m 3
Ou seja, a câmara de floculação deverá ter capacidade para conter 10,08
3
m de seixos, pois a porosidade suposta para esse material é igual a 0,50.
Isto significa que a área em planta, e, em consequência, o lado da câmara
de floculação (suposta quadrada) deverão ser:

8-41
V 10,08
A= = = 5,04m 2
h 2
l = A = 5,04 ≅ 2,25m
A velocidade de aproximação será:
Q 0,030
va = = = 0,0059m / s
A 2,25 2
Foi visto que:

G=
gv a
ν
( )
av a + bv a2

Portanto, utilizando os valores de a e b encontrados no Anexo 16:


a = 6,614
b = 4299
Econtra-se:

G=
10 −6
(
9,8 x 0,0059
)
6,614 x 0,0059 + 4299 x 0,0059 2

G = 104s −1
Em vista do resultado obtido, será utilizada maior área em planta para o
floculador, de forma a baixar o gradiente de velocidade para um valor mais
próximo de 85 s-1.

Fazendo l = 2,45 m, encontra-se:


Q 0,030
va = = = 0,0050m / s
A 2,45 2
e, portanto:

8-42
G=
9,8 x 0,0050
10 −6
(6,614x0,0050 + 4299 x0,0050 )
2

−1
G = 83s
O tempo de detenção correspondente será (considerando a porosidade igual
a 0,50):
V 2,45 2 x 2,0
t = ε = 0,50 = 200s = 3'20"
Q 0,030
e o número de Camp:
Gt = 83 x 200 = 16600
aproximadamente igual ao valor médio utilizado por Richter (14500).
A figura a seguir apresenta o desenho do floculador projetado.

8.10.5. Uso de telas em estações de tratamento

8.10.5.1. Aplicações práticas

As telas podem ser utilizadas como dispositivos de floculação.


Trata-se, na realidade, de uma nova proposta, que pode também ser útil na
melhoria das condições de operação de estações existentes.
Esse uso foi proposto pela primeira vez por Riddick, da forma ilustrada na
Figura 8.31.

Fig. 8.31 - Floculador de Riddick

Snel e Arboleda instalaram telas nos canais de um floculador de chicanas, e


verificaram que ocorre a floculação na esteira turbulenta a jusante desses
dispositivos, e que essa floculação depende essencialmente das características
geométricas da tela e da velocidade do fluxo.
Ressalta-se que, da aplicação proposta por Snel e Arboleda, resulta maior
compartimentação e, portanto, necessidade de menor tempo de floculação.
Caso as telas sejam instaladas no interior de um canal, deve-se assegurar
que a velocidade média de escoamento da água seja igual ou superior a 0,10
metros por segundo.
8-43
A turbulência resultante da passagem da água através dessas grades ou
telas é a responsavel pela floculação.
A Figura 8.32 apresenta um exemplo desse tipo de floculador.

Fig. 8.32 - Floculador hidráulico, do tipo de telas

8.10.5.2. Vantagem teórica no uso de telas

Quando a água flui através de uma tela, suas malhas, interpostas ao fluxo,
introduzem um sensível aumento no perimetro molhado da seção de
escoamento.
Ao mesmo tempo, se a tela possui elevada porosidade (caso considerado
neste Item), a área molhada da seção de escoamento sofrerá pequena redução.

Fig. 8.33 - Tela re-orientando o fluxo: aplicação proposta por Richter

8-44
Fig. 8.34 - Telas instaladas nos canais do floculador da ETA de Tarumã

Desta maneira, o raio hidráulico da seção de passagem através da tela


torna-se sensivelmente menor que o da seção imediatamente a montante.
Nestas condições o número de Reynolds será reduzido, e o regime de
escoamento da água através da tela tenderá para o laminar (é válido relembrar
que as equações de Smoluchowski e Camp e Stein, que constituem a atual base
hidráulica para o projeto de floculadores, foram deduzidas pressupondo-se a
ocorrência do regime laminar).

8.10.5.3. Determinação do gradiente de velocidade

Ao escoar através de uma tela, a água perde carga. Essa perda pode ser
calculada através da equação das perdas localizadas:
U2
hf = k
2g
onde, no caso, U é a velocidade média da água a montante da tela (ou
velocidade média de aproximação).
O valor de k é função do número de Reynolds, referido ao diâmetro da
malha, conforme mostra a Figura 8.35-c.
UD
Re d =
ν
Nos casos de telas de elevada porosidade e (Red) > 500, então:
1− ε 2
k = 0,55
ε2

8-45
Fig. 8.35 - Perda de carga em telas

O valor do gradiente de velocidade nas telas pode ser determinado a partir


da equação de Camp e Stein:
P γQhh
G= =
µV µV
onde:
2
U 2  1 − ε 2  U 2 1  1 − ε 2  Q 
hf = k = 0,55 = 0,55  
2g  ε 2  2g 2g  ε 2  A 
V = Al = A(4e ) = 4ae (ver Figura 8.35)
Nas expressões acima, A é a área de tela em contato com a água e l é a
distância a jusante da tela em que a perda de carga é dissipada.
Substituindo na equação de Camp e Stein:
γQ  1  1− ε 2  Q  2 1 
 
G=  0,55 
µ  2g  ε2  A  4ae 

 
3
Q  0,55γ  1 − ε 2 

G=  
A 8gµe  ε 2 

Fazendo:
γ = 1000 kgf/m3;
−4
µ=µ o = 10 kgf.m-2.s;
H 2O,20 C

8-46
então:
3
Q  0,55  1 − ε 2 
G = 350  
A e  ε 2 

k
G = 350 U 3
e

8.10.5.4. Problema resolvido: floculador de Riddick

O floculador de Riddick consistia de quatro câmaras em série (vide Figura


8.31) dotadas de agitadores rotativos de eixo horizontal.
Aparenta ter sido construído com arames de 1/4" (0,6 cm), formando malhas
de 2" (5 cm).
As velocidades tangenciais ótimas encontradas por Riddick eram de 24
cm/s; 18 cm/s; 12 cm/s; e 6 cm/s.
Determinar os gradientes de velocidade correspondentes.

Resolução:

Porosidade: ε = (a - nd)2
sendo:
n = número de barras por metro = 1/ 0,05 = 20
d = diâmetro das barras = 0,006 m
Portanto:
ε = (1 − 20 x 0,006 ) = 0,774
2

Coeficiente de perda de carga:


1 − 0,774 2
k = 0,55 = 0,368
0,774 2
Gradiente de velocidade:
k 0,368
G = 350 U 3 = 350 U 3 = 949 U 3
e 0,05
Para encontrar os valores de G, Richter utilizou, na fórmula anterior, as
velocidades periféricas:
v = 24cm / s → G = 949 0,24 3 = 112s −1

v = 18cm / s → G = 949 0,18 3 = 72s −1

v = 12cm / s → G = 949 0,12 3 = 39s −1

v = 6cm / s → G = 949 0,06 3 = 14s −1

8-47
8.10.5.5. Problema resolvido

30 litros por segundo de água coagulada escoam através de um canal


(rugosidade = 1 mm - Colebrook) de dimensões: b = 0,60 m; h = 0,50 m.
a) Qual é o gradiente de velocidade nesse canal?
b) Utilizando telas construídas com arame ∅ 6 mm, qual deve ser a dimensão
(eixo a eixo) da malha, de forma a obter G = 60 s-1?

Resolução:

(a)
Am = 0,60 x 0,50 = 0,30 m
Pm = 0,60 + 2 x 0,50 = 1,60 m
A 0,30
Dh = 4 m = 4 = 0,75m
Pm 1,60
Do ábaco de Moody obtém-se:
f = 0,024
O gradiente de velocidade será (vide item 8.6):
 f 3/2
G 0 = 565 U 
4 D
 
 f 3/2
G 0 = 565 U  x1,24
20 D
 
 0,024 3 / 2  −1
G 0= 565 0,1  x1,24 = 4s
20 0,75
 

b)
k
G = 350 U 3
200 e
k k
60 = 350 0,13 ∴ = 29,38
e e

1− ε 2
0,55
[
1 − (1 − nd )2 ]
2

0,55
ε 2
= 29,38 ∴
[(1 − nd ) ]
2 2
= 29,38 ∴
e e

8-48
2
 1  
2
1 − 1 − d  
 e  
0,55
2
 1  
2
1 − d  
 e  
= 29,38
e

4
 d
1 − 1 −  4 4
 e  0,006   0,006 
= 53,43e ∴ 1 − 1 −  = 53,43e1 − 
4  e   e 
 d
1 − 
 e
Obtém-se e = 0,029 m = 29 mm.
Como se trata de um espaçamento não comercial, calcularemos G para e =
1 1/4" e e = 1".
1
e = 1 " = 0,032m :
4
2
 1 
ε = 1 − 0,006  = 0,660
 0,032 
1 − 0,660 2
k = 0,55 = 0,713
0,660 2
0,713
G = 350 0,13 = 52s −1
0,032
e = 1" = 0,025m :
2
 1 
ε = 1 − 0,006  = 0,578
 0,025 
1 − 0,578 2
k = 0,55 = 1,096
0,578 2
1,096
G = 350 0,13 = 73s −1
0,025
Caberá ao projetista decidir sobre a solução mais conveniente das duas
anteriores.

8-49
Questões para Recapitulação
(respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s):

1. Na floculação, a água deve ser submetida a uma agitação lenta, durante um


tempo que pode variar, na maioria dos casos, de vinte a quarenta minutos.
2. A faixa de tempo em que a floculação deve ser realizada é invariável,
independentemente da qualidade da água a tratar.
3. Nos floculadores hidráulicos, a agitação é conseguida fazendo com que a
água percorra um caminho cheio de mudanças de direção.
4. Nos floculadores mecanizados, a agitação e conseguida introduzindo
equipamentos mecânicos, capazes de manter a água em constante agitação .
5. Nos floculadores hidráulicos, devem ser verificados os gradientes de
velocidade nas câmaras de floculação e os gradientes de velocidade nas
passagens que interligam essas câmaras.
6. Deve-se verificar os gradientes de velocidade nas passagens que interligam
os compartimentos dos floculadores, cuidando para que eles sejam iguais ou
superiores aos gradientes de velocidade nas câmaras anteriores.
7. Para calcular o tempo de detenção do floculador, é necessário conhecer seu
volume útil.
8. Ao se utilizar os gráficos de Parlatore, para determinar os valores de G nas
passagens entre as câmaras de floculadores, é preciso corrigir os valores de
G encontrados, multiplicando-os por um fator que depende da temperatura da
água.
9. Floculadores de bandejas perfuradas têm sido utilizados especialmente em
estações de tratamento de água pré-fabricadas.
10. Por seus excelentes resultados, floculadores de meio granular constituem
solução que se pode recomendar com segurança.
11. Floculadores de telas constituem uma nova proposta, que pode também
ser útil na melhoria das condições de operação de estações existentes.
12. Dois tipos básicos de floculadores mecanizados são os mais utilizados no
Brasil: os que utilizam paletas, que giram em torno de um eixo, e os que
utilizam turbinas ou hélices.
13. Floculadores de paletas podem ser de três tipos, entre outros: de paletas
de eixo vertical, de paletas de eixo horizontal e de paleta única, de eixo
vertical.
14. Diferentemente do que se faz no caso dos floculadores hidráulicos, não é
importante determinar o gradiente de velocidade em floculadores
mecanizados nas passagens que interligam as câmaras.
15. Para se determinar o gradiente de velocidade em floculadores
mecanizados nas passagens que interligam as câmaras, procede-se de forma
idêntica à indicada para os floculadores hidráulicos.
16. Embora muito utilizados, há pouco tempo atrás, nas estações de
tratamento de água brasileiras, floculadores dos tipos turbina e hélice vêm se
tornando cada vez menos utilizados.
8-50
17. O gradiente de velocidade introduzido na água em tratamento por
floculadores dos tipos turbina e hélice depende da rotação do eixo e das
características do equipamento: tipo e diâmetro, entre outras.
18. Os variadores de frequência não permitem variações na rotação do eixo
das hélices e turbinas.
19. Tão importantes quanto as relações numéricas entre as dimensões da
turbina são também as relações numéricas que deverão existir entre as
dimensões do tanque, no interior do qual a turbina gira, e as dessa última.

Respostas:
1.(v); 2.(f); 3.(v); 4.(v); 5.(v); 6.(f); 7.(v); 8.(v); 9.(v); 10.(f); 11.(v); 12.(v); 13.(v);
14.(f); 15.(v); 16. (f); 17.(v); 18.(v); 19.(v)

Referências bibliográficas

01. ABNT - Projeto de Estação de Tratamento de Água para Abastecimento


Público - NBR 12216 - jun 1989.
02. ARBOLEDA V., J. - Mezcladores e Floculadores: in: ARBOLEDA V., J. -
Teoria, Diseño y Control de los Procesos de Clarificacion del Agua.
Lima, CEPIS, 1973.
03. ARGAMAN, Y & Kaufman, W. J. - Turbulence in Ortokinetic Floculation -
SERL Report No.68-5, Berkeley, jul. 1968.
04. CAMPOS, J.R. & Povinelli, J. - Coagulação; in: CETESB - Técnica de
Abastecimento e Tratamento de Água, vol.2 - São Paulo, CETESB,
1974.
05. ENNES, Y.M. - Tratamento de Água: Projeto de uma Instalação; Apostila da
Escola de Engenharia de UFMG - out. 1966, 261 p.
06. MEZCLADORES y floculadores. In: Teoria, diseño y control de los procesos
de clarificación del agua. Lima: CEPIS, 1973, cap. III, p.80-155.
06. FAIR, G.N.Geyer, J.C., Okun, D.A. - Cinetica del Tratamiento; in: FAIR, G.N.,
Geyer, J.C., Okun, D.A. - Ingenieria Sanitaria y de Aguas Residuales -
vol II - Purificación de Aguas Y Remoción de Aguas Residuales - Mexico
D.F., Limusa, 1971.
07. MOURÃO, Fernando de M. - Mistura Rápida e Floculação: Aspectos
Construtivos; in: ABES - Anais do 9o Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental - Belo Horizonte, ABES, 1977.
08. PARLATORE, A.C. - Mistura e Floculação; in: CETESB - Técnica de
Abastecimento e Tratamento de Água, vol. 2 - São Paulo, CETESB,
1974.
09. RICHTER, C.A. - Fundamentos Teóricos da Floculação em Meio Granulado -
Engenharia; Revista do Instituto de Engenharia, São Paulo, (429):20-24,
1981.
8-51
10. ______________ - Uso de Telas em Estações de Tratamento - Revista DAE,
São Paulo, vol. 45, No.143, dez 1985.
11. VIANNA, M.R. - Floculador Hidráulico do Tipo de Bandejas Perfuradas:
Concepção Inicial, Analise do Desempenho e Evolução - Anais do 21o
Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental - vol.2,
tomo 1, p.233-49, set. 1988.

8-52
9.1. Noções introdutórias

9.1.1. Descrição

Após sair do floculador, espera-se que praticamente toda a matéria em


suspensão existente na água bruta esteja aglutinada entre si e com o hidróxido
de alumínio, constituindo o que se denomina de flocos.
Da mesma forma, espera-se que esses flocos tenham adquirido tamanho e
peso suficientes para que possam sr separados da água em tratamento através
da decantação.
Decantar significa, segundo Aurélio Buarque de Holanda: separar, por
gravidade, impurezas sólidas que se contenham em (um líquido); limpar, livrar,
purificar.
Portanto, água decantada é aquela que se purificou através de separação,
por gravidade, das partículas sólidas trazidas consigo. Tais partículas sólidas
separam-se por ação da gravidade, sedimentando-se no interior da água
(citando novamente Aurélio: sedimento: substância depositada, pela ação da
gravidade, na água ou ar; sedimentar: formar sedimentos).
Assim sendo:
- os flocos separam-se da água porque sedimentam-se;
- a água, isenta desses flocos, é chamada de água decantada;
(portanto, o floco não decanta, mas sedimenta-se; quem decanta é a água!)
As partículas trazidas pela água podem sedimentar-se como partículas
discretas ou como partículas floculentas.
O primeiro caso aplica-se principalmente, no tratamento da água, aos
desarenadores, enquanto que o segundo caso aplica-se aos decantadores
instalados após os floculadores.
O exame de cada uma dessas formas é o que se apresenta nos Itens a
seguir.
Entretanto, e em vista do escopo deste livro, maior ênfase será dada aos
decantadores propriamente ditos no restante deste Capítulo.

9.1.2. Sedimentação de partículas discretas

9.1.2.1. Teoria

Segundo Fair, Geyer e Okun8, partícula discreta é aquela que, durante a


sedimentação, não altera seu tamanho, forma ou peso.
9-1
O peso da partícula discreta imersa na água é calculada da seguinte forma:
W = (ρ s − ρ H O )gV
2

onde:
ρs = massa específica real da partícula (suposta maior que a massa
específica da água;
ρs = massa específica da água;
g = aceleração da gravidade;
V = volume da partícula

Fig. 9.1 – Sedimentação de uma partícula discreta: esforços intervenientes

O peso aparente da partícula faz com que ela tenda a sedimentar-se no


interior da água. Entretanto, à medida que sua velocidade se torna maior, mais
se faz sentir uma força frenante, denominada força de arraste, à qual já foi feita
referência no Capítulo 6, Item 6.27:
v2
Fd = C d Aρ H O
2
2
onde:
Cd = coeficiente de arraste (ou coeficiente de arraste de Newton);
v = velocidade de sedimentação;
A = área de projeção da partícula sobre um plano perpendicular à direção
do movimento.
A partir do instante em que a força de arraste iguala-se ao peso aparente da
partícula, a velocidade de sedimentação fica constante.
Tal velocidade é denominada velocidade terminal da partícula.
Nestas condições, tem-se que:
v2
C d ρ H O A t = (ρ s − ρ H O )gV
2
2 2

onde:
vt = velocidade terminal da partícula.
Explicitando-a, obtém-se:
2g (ρ s − ρ H O )V 2g (ρ s − ρ H O )  V 
vt = 2
= 2
 
Cd ρ H O A
2
Cd ρ H O
2
 A

9-2
Se a partícula fosse esférica, então:
4 d3
V = π
3 8
e:
d3
A =π
4
donde:
V 2d

A 3
Portanto:
2g (ρ s − ρ H O )  2d  4 g
vt = 2
 = (δ s − 1)d
Cd ρ H O
2
 3  3 Cd
onde
ρs
δs = = densidade relativa da partícula discreta.
ρH O
2

A Figura 9.2 apresenta a relação entre o coeficiente de arraste (Cd) e o


número de Reynolds para diversas formas de partículas em sedimentação.
Para partículas esféricas e número de Reynolds inferior ou igual a 104,
obtém-se, experimentalmente (ver Figura 9.2):
24 3
Cd = + + 0,34
Re Re
onde:
vd
Re = t
ν
Se o número de Reynolds for inferior a 0,5, pode-se desprezar os dois
últimos termos da expressão anterior, e obtém-se:
24
Cd =
Re
e, portanto:
g (ρ s − ρ H O ) 2 g (δ s − 1) 2
vt = 2
d = d
18 µ 18 µ
que traduz a denominada lei de Stokes.
Esta mesma expressão pode ser igualmente obtida de outra forma.
Para o caso do escoamento em regime laminar, Stokes determinou que:
Fd = 3πµvd
O peso aparente de uma partícula esférica, de peso específico γs,
mergulhada na água, é:

9-3
3

π   (γ s − γ H O )
4 d 
W =
3 2 2

Fig. 9.2 – Variação do coeficiente de arraste com o número de Reynolds 8

Igualando as expressões de Fd e W, obtém-se da mesma forma:


3

3πµvd = π   (γ s − γ H O )
4 d 
3 2 2

(γ s −γH O ) 2
vt = 2
d
18 µ
g (ρ s − ρ H O ) 2
vt = d 2

18 µ
No caso de resistência devida à turbulência, em presença de valores
elevados do número de Reynolds (Re da ordem de 103 a 104), Cd adquire
valores próximos a 0,4 e obtém-se:
v t = 3,3g (S s − 1)d (lei de Newton)
As Figuras 9.3 e 9.4 permitem determinar a velocidade terminal de
sedimentação de partículas esféricas discretas.

9.1.2.2. Dimensionamento de desarenadores (caixas de areia)

O modelo apresentado a seguir, embora bastante simplista, é adotado de


modo mais generalizado pelos engenheiros no projeto de desarenadores.
Unidades desse tipo são muito utilizadas na captação de águas superficiais.

9-4
Valores em água estática a 10ºC. Noutras temperaturas: multiplique o valor de Stokes por ν / 1,31
-2
x 10 , sendo ν = viscosidade cinemática na temperatura desejada.

Fig. 9.3 – Velocidades de sedimentação8

Destinam-se à remoção de areia e partículas mais pesadas que, por sua


natureza, sejam capazes de danificar equipamentos mecânicos (e.g.: rotores e
carcaças de bombas centrífugas) ou sedimentarem no interior de condutos,
levando à sua obstrução parcial ou total.
Uma vez conhecida a velocidade terminal da partícula que se deseja
remover, pode-se proceder ao dimensionamento dessas unidades.
Supõe-se que a partícula já entra no desarenador com velocidade constante
e igual a vt, e não se leva em conta as diferenças de velocidade existentes numa
seção transversal qualquer dessa unidade.
Conforme será visto adiante, a correção de eventuais distorções entre o
cálculo e a realidade é feita através da adoção de um coeficiente de segurança.
Tendo por base o indicado na Figura 9.5, pode-se escrever:
• velocidade média horizontal no interior do desarenador:
Q
vh =
bh
• tempo para que a partícula a ser removida, animada de velocidade
horizontal vh, leva para percorrer toda a extensão L do desarenador:

L bLh
t1 = =
vh Q
9-5
Fig. 9.4 – Determinação de vs8

Fig. 9.5 – Desarenador clássico

• tempo que a partícula a ser removida, que sedimenta com velocidade vs,
leva para percorrer toda a profundidade h do decantador:
h
t1 =
vs

9-6
Deseja-se obter:
t1 = t2
ou seja:
bLh h Q
= ∴vs =
Q vs bL
O produto bL é a área, em planta, do desarenador:
Q
vs =
A
vale dizer, a taxa de aplicação superficial (Q / A) na unidade desarenadora deve
ser igual ou inferior à velocidade de sedimentação da partícula a ser removida.
Tendo em vista que, em projetos de engenharia, os dados são e , a área
teórica do desarenador deverá ser:
A = Q / vs
Observe que, do ponto de vista teórico, a profundidade o desarenador não
importa.
Isto porque se, por um lado, a redução de profundidade aumenta a
velocidade de escoamento da partícula, reduzindo seu temo de percurso desde
a entrada até a saída do desarenador, por outro lado menor também será o seu
tempo de percurso desde a superfície até o fundo, pois a distância entre esses
dois pontos terá sido reduzida.
Evidentemente, do ponto de vista prático, há uma limitação para a
velocidade média de escoamento da água no interior do desarenador. Caso
contrário, a partícula recém sedimentada será arrastada até sua extremidade
final.
Nesse sentido, o professor Azevedo Netto recomenda que essa velocidade
não deve ultrapassar 0,40 m/s.
Ao se utilizar, no dimensionamento de unidades desarenadoras, valores de
velocidades terminais determinados a partir das fórmulas deduzidas
anteriormente, deve-se ter em mente as observações apresentadas por Fair,
Geyer e Okun (op. citada) e transcritas a seguir.
A matéria em suspensão na água (...) raras vezes tem forma esférica. As
partículas irregulares que, em geral, compõem as suspensões, possuem maior
área superficial por unidade de volume que a correspondente às esferas e, por
este motivo, sedimentam-se mais lentamente que as esferas de volume
equivalente.Além disto, o arraste por atrito modifica a orientação da partícula em
relação à direção do movimento. Como pode ser visto na Figura 9.2, as
irregularidades de forma exercem maior influência sobre o arraste em valores
altos de Re. Em valores reduzidos (Re < 10), as velocidades terminais de
partículas esferoidais cilíndricas e em forma de disco são, respectivamente, 78%
e 73% da velocidade terminal de uma esfera de igual volume. Em geral, para
partículas de forma irregular:
A / V = 6 / (Ced) = S / d
onde:
Ce = coeficiente de esfericidade, e:

9-7
S = 6 / Ce
recebe o nome de fator de forma (ver Anexo 5 deste livro).
O professor Azevedo Netto apresenta as seguintes velocidades terminais de
sedimentação aplicáveis a grãos de areia (T = 20º C, γareia = 2650 kgf / m3):

Tamanho da partícula Velocidade terminal de sedimentação


(mm) (cm / s)
0,3 4,3
0,2 2,4
0,1 0,9
0,01 0,01

Em seu Item 4.4.1.1, a NBR 12213 estabelece que as caixas de areia


deverão ser dimensionadas para possibilitar a sedimentação de partículas de
areia com diâmetro igual ou superior a 0,2 mm.
Esse mesmo Item estabelece que o comprimento da caixa obtido no cálculo
deverá ser multiplicado por um coeficiente de segurança de, no mínimo, 1,5.

9.1.2.2.1. Exemplo resolvido

Dimensionar um desarenador para a vazão de 50 litros por segundo, com


largura igual a 0,60 m.

Resolução:

A taxa de aplicação superficial do desarenador deverá ser igual à velocidade


terminal de sedimentação das partículas que se deseja remover.
De acordo com a NBR 12213, ela deverá remover partículas de diâmetro
igual ou superior a 0,2 mm.
De acordo com o professor Azevedo Netto, a velocidade terminal de
sedimentação dessas partículas é igual a 2,4 cm/s, ou seja, 0,024 m/s.
Assim sendo, deve-se ter:
Q / A + 0,024 ∴A = Q / 0,024 = 0,050 / 0,024 = 2,4 m2
Tendo em vista que a largura do desarenador deverá ser igual a 0,60 m,
então seu comprimento teórico é:
BL = 2,1 ∴ L = 2,1 / 0,60 = 3,5 m
No entanto, de acordo com a NBR 12213, seu comprimento real deverá ser
1,5 vezes o comprimento teórico. Assim sendo, adotar-se-á:
L = 3,5 x 1,5 = 5,25 m
Quanto à profundidade mínima da lâmina d’água em seu interior, deve-se
levar em conta que o professor Azevedo Netto recomenda que a velocidade da
água em seu interior não deve ultrapassar 0,40 m/s.
Assim sendo, essa lâmina mínima deverá ser:
0,40 = Q / (b.ymin) ∴ ymin = Q / (0,40.b) = 0,05 / (0,40 x 0,60) ≈ 0,20 m
A Figura 9.6 ilustra a solução encontrada.
Observe que ela tem duas câmaras, que são utilizadas alternadamente

9-8
(uma delas é mantida em uso enquanto a outra é submetida à limpeza de seu
depósito).

Fig. 9.6 – Exemplo resolvido 9.1.2.2.1

9.1.3. Sedimentação de partículas floculentas

9.1.3.1. Considerações iniciais

Neste caso, as partículas não mais se comportam como discretas. De fato,


durante sua sedimentação, elas chocam-se umas com as outras, e crescem
(coalescem), ocorrendo a floculação, do tipo que se denomina floculação
pericinética (ver Capítulo anterior).
Em vista de estarem envolvidas, ao mesmo tempo, todas essas variáveis, e
das complexas relações prevalecentes entre elas, as características de
sedimentação de uma determinada suspensão de partículas floculentas só
podem ser determinadas através de ensaios de sedimentação.

9.1.3.2. Ensaio em coluna de sedimentação

Para a realização dos ensaios mencionados no Item anterior, Metcalf &


Eddy 13 recomenda a utilização de uma coluna de sedimentação.
Tal coluna pode ser de qualquer diâmetro, mas deverá ter altura igual à
profundidade do futuro decantador. Resultados satisfatórios podem ser obtidos
numa coluna de sedimentação construída de tubo plástico, de diâmetro igual a
9-9
150 mm e altura igual a 3 m. Pontos de amostragem devem ser instalados a
cada 0,60 m (Figura 9.7). A solução contendo o material em suspensão deve ser
introduzida na coluna de modo que se obtenha uma distribuição uniforme das
partículas e seus diversos diâmetros, desde o topo até o fundo.
Deve-se também tomar cuidado para que seja assegurada a manutenção de
uma temperatura uniforme durante todo o teste, de forma a eliminar a ocorrência
de correntes de convexão. A decantação deverá ocorrer em condições
tranqüilas.

Fig. 9.7 - Coluna de Sedimentação

Em diversos intervalos de tempo, as amostras são retiradas a partir dos


pontos de amostragem e submetidas à análise de sólidos em suspensão. A
remoção percentual é calculada para cada amostra analisada. Num gráfico
profundidade x tempo, marca-se, no ponto correspondente à elevação e ao
tempo de coleta da amostra, o valor obtido para a remoção percentual.
Entre os pontos marcados, traçam-se curvas de iguais percentuais de
remoção. São mostradas as curvas resultantes, embora não sejam mostrados os
pontos originalmente marcados, representando os valores para as diversas
amostras coletadas, e que permitem o traçado dessas curvas.
O exemplo a seguir, utilizando o gráfico da Figura 9.8, mostra como
proceder para determinar a remoção de sólidos em suspensão.

9.1.3.2.1. Exemplo resolvido

Utilizando os resultados do teste de sedimentação mostrado na Figura 8.8,


determinar a remoção total dos sólidos se o tempo de detenção for t2 e a
profundidade h5.

9-10
Fig. 9.8 - Ensaio de sedimentação: exemplo resolvido

Resolução:

1. Determinar a remoção percentual:


∆h1 R1 + R 2 ∆h2 R 2 + R 3 ∆h3 R 3 + R 4 ∆h 4 R 4 + R 5
Remoção (%) = + + +
h5 2 h5 2 h5 2 h5 2
2. Para as curvas mostradas na Figura 9.8, os cálculos seriam os
apresentados no Quadro de Resultados, fornecendo uma remoção total, para
uma sedimentação tranquila, de 65,70%.
Para levar em conta as condições inferiores as ótimas que prevalecem no
campo, a velocidade de sedimentação de projeto, ou taxa de escoamento
superficial, obtida dos ensaios de coluna, são frequentemente multiplicados por
um fator entre 0,65 e 0,85, e os tempos de detenção são multiplicados por um
fator entre 1,25 e 1,5.

Tabela 9.1 - Quadro de resultados

∆hn Rn + Rn +1 Remoção
h5 2 percentual (%)
100 + 80
0, 20
2 18,00
80 + 70
0,11 8,25
2
70 + 60
0,15 9,75
2
0, 54 60 + 50 29,70
1, 0 2 65,70

9-11
9.2 Decantadores

9.2.1. Caracterização: disposições da NBR 12216

Os decantadores propriamente ditos das estações de tratamento de água


destinam-se à remoção das partículas floculentas formadas durante a floculação,
que é a fase de tratamento que os antecede.
Em seu Item 5.10.4 a NBR 12216 estabelece que a velocidade de
sedimentação determinada por meio de ensaios de laboratório (vide Item
anterior) deve ser multiplicada por um fator e segue:
a) estações com capacidade até 1000 m3/dia: k = 0,50
b) Estações com capacidade de 1000 a 10000 m3/dia, em que é possível
garantir bom nivel de operação: k = 0,70; caso contrário: k = 0,50
c) estações com capacidade superior a 10000 m3/dia: k = 0,80
Embora a execução de ensaios de sedimentação constitua a maneira mais
adequada de se obter parâmetros para o projeto de decantadores, a prática tem
mostrado que dificilmente o projetista pode realizá-los, em virtude do pequeno
tempo que lhe é concedido para a elaboração do seu projeto. Ciente disto, a
NBR 12216 estabelece, em seu Item 5.10.4.1:
Não sendo possível proceder a ensaios de laboratório, as velocidades de
sedimentação para o cálculo das taxas de aplicação devem ser, conforme as
capacidades das estações, as seguintes:
a) até 1000 m3/dia: 1,74 cm/minuto (25 m3/(m2.dia)
b) entre 1000 e 10000 m3/dia, em que seja possível garantir bom controle
operacional: 2,43 cm/minuto (35 m3/(m2.dia). Caso contrário: 1,74
cm/minuto (25 m3/(m2.dia)
c) Superior a 10000 m3/dia: 2,80 cm/minuto (40 m3/(m2.dia)
Assim, por exemplo, se uma estação de tratamento de água, em que o nível
operacional é bom, com capacidade para tratar 100 litros por segundo (portanto:
8640 m3/dia) tem dois decantadores clássicos de seção retangular (planta), com
as seguintes dimensões em planta, cada um deles: comprimento: 25 m; largura:
6 m; a taxa de escoamento superficial com que deles trabalharão será:
Q
=
8640
A 2 x 6 x 25
( )
= 28,8m 3 / m 2 .dia
o que atende ao que recomenda a NBR 12216.

9.2.2 Tipos de decantadores

De modo geral, dois tipos de decantadores são utilizados no Brasil para o


tratamento da água:
• decantadores clássicos;
• decantadores tubulares.
Cada um desses tipos será descrito nos Itens a seguir.

9-12
9.3 Decantadores clássicos

9.3.1 Tipos

O tipo mais utilizado é o de seção retangular, em planta.


Entretanto, algumas estações de tratamento de água possuem
decantadores de seção circular, também em planta.
Embora menos utilizado, esse último tipo permite, em determinadas
situações, que se crie um manto de lodo em seu interior, capaz de melhorar
muito a qualidade da água decantada.
A Figura 9.9 ilustra esquematicamente esses dois tipos.

9.3.2. Decantadores clássicos de seção retangular

9.3.2.1 Descrição

Constituem provavelmente o tipo mais numeroso entre os decantadores


existentes. A Figura 9.10 representa esquematicamente, em planta e corte
longitudinal, o arranjo típico dessas unidades.

Fig. 9.9 - Decantadores clássicos: tipos

De modo geral, imediatamente após ser admitida no interior do decantador, a


água floculada é distribuída em toda sua seção transversal através de uma
cortina distribuidora. Em seguida, ela percorre a extensão do decantador com
velocidade muito baixa, até atingir a zona de saída. Nesse local, a água
decantada é recolhida, através de calhas coletoras ou tubos perfurados, sendo o
primeiro tipo o modo mais comum no Brasil.
Não obstante a pequena velocidade média com que a água escoa no
interior desses decantadores, em vista do grande valor do raio hidráulico da
seção transversal o número de Reynolds também é grande, tornando turbulento
o regime de escoamento da água em tratamento.

9-13
Fig. 9.10 – Decantador clássico de seção retangular: esquema típico

Considere-se, por exemplo, um decantador desse tipo, com as seguintes


dimensões:
comprimento: 30 m
largura: 10 m
profundidade: 4 m
e que se destina a tratar a vazão de 100 litros por segundo.
Essa vazão, em metros cúbicos por dia, é igual a:
100 x 86,4 = 8640 m3 / dia
A taxa de aplicação superficial correspondente será:
Q / A = 8640 / (10 x 30) = 28,8 m3 / (m2 . dia)
A área da seção de escoamento será:
A = 10 x 4 = 40 m2
e o perímetro molhado correspondente será:
P = 4 + 10 + 4 = 18 m
Pode-se então calcular o diâmetro hidráulico dessa seção:
Dh = 4A / P = 4 x 40 / 18 = 20 m
A velocidade média de escoamento da água no interior do decantador será:
U = Q / A = 0,100 / 40 = 0,0025 m / s
Portanto, o número de Reynolds, correspondente à temperatura de 20ºC
(para a qual v = 10-6 m2 / s) será:
Re = UD / v = 0,0025 x 20 / 0,000001 = 50000
caracterizando o regime turbulento.

9-14
9.3.2.2. Avaliação da eficiência

9.3.2.2.1. Decantador ideal

Para avaliar essa eficiência, utiliza-se o modelo apresentado a seguir.


Trata-se de um modelo bastante simplificado, que considera um decantador
no interior do qual a água escoa com velocidade horizontal constante em
qualquer profundidade que se considere.
Além disto, supõe que todas as partículas sedimentáveis existentes em seu
interior já estejam sedimentando com suas velocidades terminais, independente
da profundidade em que se encontrem.
Finalmente, supõe que essas partículas comportam-se como partículas
discretas.
A Figura 9.11 representa um corte longitudinal de um decantador de fluxo
horizontal. A montante e a jusante da zona de decantação propriamente dita
encontram-se, respectivamente. A zona de entrada e a zona de saída, que
asseguram a distribuição do fluxo do modo mais uniforme possível. Sob a zona
de decantação está a zona de lodos, destinada a armazenar o lodo
sedimentado.
A parte superior da Figura mostra a trajetória de uma partícula 1, de
velocidade terminal de sedimentação vsc (velocidade crítica) que, ao entrar na
zona de decantação, encontra-se na superfície líquida. Observa-se que todas as
partículas de velocidades de sedimentação iguais ou superiores a vs serão
removidas pelo decantador, pois atingirão o fundo após percorrerem uma
distância horizontal igual ou inferior a l.
A parte inferior da Figura mostra que as partículas de velocidades terminais
inferiores a vsc poderão ser removidas ou não, dependendo da profundidade em
que se encontrarem ao entrarem na zona de decantação.
Assim sendo, e admitindo que as partículas de vs < vsc mostradas nessa
Figura estejam uniformemente distribuídas na massa líquida, o número de
partículas com essa velocidade que será removido, em relação ao seu número
total, será proporcional à relação entre as alturas h e H.
Eficiência de remoção = E = (partículas removidas / total das partículas)
E=h/H (1)
O triângulo de velocidades (parte inferior da Figura) é semelhante ao
triângulo que tem como hipotenusa a trajetória da partícula 2 que será removida.
Portanto:
vs h vs vh
= ∴ = (2)
vh l h l
Voltando à parte superior da Figura, e utilizando a semelhança entre o
triângulo de velocidades e o triângulo que tem como hipotenusa a trajetória da
partícula 1 ali indicada:
v sc H v sc v h
= ∴ =
vh l H l

9-15
Fig. 9.11 – Decantador ideal, de fluxo horizontal: avaliação da eficiência

Comparando as expressões 2 e 3, obtém-se:


v sc v s h v
= ∴ = s
H h H v sc
Levando este resultado à expressão (1), decorre que:
v
H= s
v sc

9.3.2.2.2. Decantador real

Neste caso, a eficiência é reduzida por correntes que se formam em seu


interior, entre as quais citam-se:
(a) as correntes turbulentas, criadas pela inércia do líquido afluente;
(b) as correntes superficiais, produzidas pelo vento;
(c) as correntes verticais de convecção, de origem térmica;
(d) as correntes devidas à densidade, que fazem com que a água fria (mais
densa) escoe pelo fundo do decantador, e que a água quente (menos
densa) escoe através de sua superfície. As correntes desse tipo produzem
curto-circuitos no fluxo.

9-16
Considere-se um decantador constituído de N células sucessivas. A
eficiência de remoção de partículas de velocidade de sedimentação vs em cada
uma dessas células será vs / vsc(conforme foi visto) ou, o que é a mesma coisa, h
/ (NH) (porque supõe-se que o decantador é constituído de N células, de alturas
parciais h/ N, ver Figura 9.12).

Fig. 9.12 - Modelo idealizado para o decantador real

Denominando-se:
y = número de partículas removidas, de velocidade vs;
yo = número total de partículas;
então pode-se escrever:
y h
E= =
yo NH
O número de partículas remanescentes será dado por:
yr y −y h
= o = 1−
yo yo NH

9-17
Assim sendo, é possível determinar o número de partículas remanescentes
após cada uma das N câmaras sucessivas:

y r1 h
= 1−
yo NH
yr2 h
= 1−
y r1 NH
......................
y rn h
= 1−
y rn −1 NH
de sorte que:
N
y rn y r 1 y r 2 y rn  h 
= . ... = 1 − 
yo y o y r1 y r1  NH 
A eficiência de remoção das partículas terá sido a relação entre as
partículas removidas (igual à diferença entre as partículas inicialmente presentes
e as remanescentes na saída do decantador) e as partículas inicialmente
presentes:
N
y − y rn  h 
E= o = 1 − 1 − 

yo  NH 
ou, tendo em vista que h / H = vs / vsc:
N
 v 
E = 1 − 1 − s 
Nv sc
 
Fair, Geyer e Okun fazem n = -1 / N e escrevem:

1

 nv  n
E = 1 − 1 + s 
v sc
 
A Figura 9.13 apresenta as curvas de comportamento de decantadores de
diferentes eficiências, traçadas a partir da equação anterior para diferentes
valores de n = -1 / N. Observe que a situação ideal corresponde a n = -1:
1

 v  ( −1) v v
E = 1 − 1 + ( −1) s  = 1− 1+ s = s
v sc v sc v sc
 
conforme visto no item anterior.
Por outro lado, se N → ∞ , então n → 0 .
Assim sendo, pode-se escrever:

9-18
N
 1 v s 
E = 1 − lim 1 −
N → ∞ N v sc 
Procedendo à mudança de variáveis:
v
α = − s ∴N → ∞ ⇒ α → 0
Nv sc
Então:
vs
v
− s  1 v
E = 1 − lim (1 + α ) = 1 −  lim (1 + α )− α 
sc
αv sc
α →0 α → 0 
A expressão entre barras representa o número e (base dos logaritmos
naturais):
v
− s
v sc
E = 1− e
Desta forma, é agora possível traçar a curva correspondente a n = 0
representada na Figura 9.13, e que corresponde ao melhor comportamento de
um decantador real.

Fig. 9.13 - Curvas de comportamento para decantadores de diferentes


eficiências8

Observe que, sob essa curva, a eficiência obtida para vs/vsc = 1 encontra-se
9-19
em torno de 63%, enquanto que, no sedimentador ideal, essa eficiência seria
igual a 100%. Para uma remoção de 75% das partículas de determinada
velocidade de sedimentação, os valores de vs/vsc são iguais a 1,4 para o melhor
comportamento possível (n = 0); 1,5 para comportamento muito bom (n = 1/8);
1,7 para bom comportamento (n = 1/4); 2,0 para comportamento deficiente (n =
1/2) e 3,0 para comportamento muito deficiente. Esses valores implicam que,
para uma remoção de 75%, o tempo de detenção deve ser de 40% a 20% maior
que o correspondente à sedimentação ideal, e que a taxa de escoamento
superficial deve ser adotada entre (100 / 1,4) 71% e (100 / 3,0) = 33% da
velocidade de sedimentação das partículas que se deseja remover.

9.3.2.3. Velocidade máxima permissível

Fair, Geyer e Okun (op. citada) apresentam a teoria proposta por Ingersoll,
Mc Kee e Brooks (Ingersoll, A.C., Mc Kee, J. E., Brooks, N. A, Fundamentals
concept of rectangular settling tanks. - Transactions of American Society of Civil
Engineers, 121, 1179 (1956)) a respeito do arraste de depósitos de fundo de
decantadores. Segundo esses autores, tais depósitos podem ser levantados do
fundo quando:
τ
vs = (1)
ρ
onde:
vs = velocidade de sedimentação da partícula depositada;
τ = tensão tangencial na interface líquido\/lodo sedimentado;
ρ = massa específica da água sobrenadante.
Admite-se que o arraste exercido pela água ao escoar num canal seja
análogo ao atrito exercido por um corpo que desliza sobre um plano inclinado
devido à ação de seu peso próprio.

Fig. 9.14 – Tensão trativa exercida pela água sobre a superfície de


deslizamento

A tensão trativa exercida pela água será igual à componente do peso do


paralelepípedo paralela ao plano inclinado dividida pela área de contato.
O peso do paralelepípedo é:
γblt
e sua componente paralela ao plano inclinado é:
9-20
γblt.sen α
A área de contato do paralelepípedo com a superfície do plano inclinado é:
(b + 2t) l
A tensão trativa será, portanto:
γblt γbt
τ= sen α = sen α
(b + 2t )l b + 2t
Para pequenos valores de α o seno é aproximadamente igual à tangente
que, por sua vez, é a declividade i do plano inclinado:
γbt
τ= i
b + 2t
bt
ou,tendo em vista que = raio hidráulico =Rh:
b + 2t
τ
τ = γR h i ∴ R h i = (2)
γ
A fórmula de Darcy-Weisbach (ver Capítulo 6):
l U2
hf = f .
D 2g
pode ser re-escrita, para o regime turbulento, da forma:
l U2
hf = f .
4R h 2g
ou ainda:
hf fU 2
Rh =
l 8g
ou, se se considerar a declividade do canal igual à perda de carga unitária:
hf fU 2
i= (3)
l 8g
Comparando as expressões (2) e (3), obtém-se:
τ fU 2
i=
γ 8g
ou, tendo em vista que γ = ρg:
τ fU 2
= (4)
ρ 8
Comparando as expressões (1) e (4), pode-se escrever:
fU 2
v s2 ≥
8
8
U≤ vs
f
Por medida de segurança, os autores sugerem que U deverá manter-se num
9-21
valor bastante inferior a 18 vs para f = 2,5 x 105, sendo uma relação útil 10 vs.
Em vista da simplificação introduzida anteriormente, quando o diâmetro da
fórmula de Darcy-Weisbach for substituído por 4Rh a expressão anterior não é
aplicável ao regime laminar.
A NBR 12216 apresenta as considerações transcritas a seguir (observe-se
que a notação adotada por essa Norma para U é vo):
(5.9.5) A velocidade longitudinal máxima vo não deve ser superior ao valor
resultante das expressões:
(...)
(b) vo = vs , para fluxo turbulento,com número de Reynolds Re maior que 15000.
A NBR 12216 acrescenta, ainda, o texto transcrito abaixo.
(5.10.5.1) Não sendo possível determinar a velocidade de sedimentação através
de ensaios de laboratório, a velocidade longitudinal máxima, em decantadores
horizontais convencionais, deve ser:
(a) em estações com capacidade até 10000m3/dia: 0,50 cm/s
(b) em estações com capacidade superior a 10000 m3/dia, em que é possível
garantir bom nível operacional 0,75 cm/s e, havendo ainda remoção contínua de
lodo por sistemas mecânicos ou hidráulicos, 1,00 cm/s.

9.3.2.3.1 Problema resolvido

Uma estação de tratamento de água, em que o nível operacional é bom,


com capacidade para tratar 100 litros por segundo (portanto: 8640 m3/dia) tem
dois decantadores, com as seguintes dimensões, cada um deles: comprimento:
25 m; largura: 6 m; profundidade útil: 4 m.
Verificar se a velocidade de escoamento horizontal com que eles trabalham
atende à NBR 12216.

Resolução:

A velocidade média de escoamento horizontal que prevalece nos


decantadores da ETA é igual a:
vo = 0,100 / (2x4,0x6,0) = 0,0021 m/s
A capacidade para tratar 100 litros por segundo é igual a 8640 m3/dia, Ora, a
NBR 12216 estabelece que, em estações de tratamento de. água que tratam
entre 1000 e 10000 m3/dia, e nas quais é possível garantir bom nível
operacional, a taxa de aplicação máxima recomendável é igual a35
m3/(.m2..dia), à qual corresponde a velocidade de sedimentação dos flocos igual
a 2,43 centímetros por minuto.
Assim sendo, o valor máximo admitido para a velocidade de escoamento
horizontal nos decantadores dessa ETA seria:
vo,máx = 18 vs = 18 x (2,43) = 43,74 cm / min =0,00729 m/s
Portanto, a velocidade de escoamento horizontal é satisfatória, por se encontrar
abaixo do valor máximo admitido.

9-22
9.3.3 Decantadores clássicos de seção circular

Tão eficientes quanto os decantadores clássicos de seção retangular, os


decantadores clássicos de seção circular, no Brasil, são pouco utilizados,
provavelmente porque os projetistas habituaram-se a conceber estações de
tratamento de água com unidades de formato prismático, em que é mais fácil
construir paredes comuns.
Por este motivo, eles não serão estudados detalhadamente neste livro.
Não obstante, a marcha e os critérios de cálculo são idênticos nesses dois
tipos de decantadores,
Conforme foi mencionado, em decantadores desse tipo é possível criar
mantos de lodo que podem aumentar significativamente a eficiência de remoção
de flocos.
Informações detalhadas sobre o projeto de decantadores circulares podem
ser encontradas pelo leitor em livros especializados sobre o tratamento de água
para fins de potabilização.

9,4 Decantadores de fluxo laminar

9.4.1 Descrição e classificação

São comumente denominados decantadores laminares ou decantadores


lamelares.
Podem ser classificados em, pelo menos, dois tipos:
a) decantadores de fluxo ascendente;
b) decantadores de fluxo horizontal.
Esses últimos representam uma tendência de projeto, não sendo utilizados
com freqüência.
Assim sendo, embora eles sejam citados no próximo Item 9.4.3, maior
ênfase será dada neste livro aos decantadores do primeiro tipo.

9.4.2 Decantadores laminares de fluxo ascendente

9.4.2.1 Introdução

A Figura 9.15 (a) representa a seção longitudinal de um decantador, no


interior do qual uma partícula desloca-se com velocidade horizontal vh, enquanto
precipita-se com velocidade de sedimentação vs.Observa-se que se esse
decantador possuísse uma bandeja intermediária, que não influenciasse as
velocidades representadas, seu comprimento poderia ser reduzido à metade,
Figura 15 (b), enquanto que, se as bandejas fossem duas, seu comprimento
poderia ser reduzido a um terço, Figura .15 (c), e assim sucessivamente.

9-23
Fig. 9.15 – Reduzindo o comprimento do decantador

De modo geral, as unidades desse tipo têm sido construídas com muitas
bandejas, sendo reduzido o espaço entre elas, de tal forma que introduz-se, em
conseqüência, um grande perímetro molhado na seção de escoamento,
Dessa forma, contribui-se para a redução do número de Reynolds (ver
Capítulo 6) do escoamento, tornando laminar o seu regime.

9.4.2.2 Descrição

A Figura 9.16 representa um decantador tubular típico, do tipo de fluxo


ascendente, com placas paralelas inclinadas.
A água floculada é introduzida sob as placas, Ao escoar entre elas, ocorre a
sedimentação dos flocos.
A água decantada sai pela parte de cima do decantador, após haver
escoado entre as placas paralelas, e é coletada por calhas coletoras.
Observe que as bandejas, ou módulos para decantação laminar (que podem
ser placas paralelas ou dutos superpostos, de diversas seções) são dispostos de
modo a formarem um ângulo com a horizontal superior a 50 graus.
Essa inclinação assegura a auto-limpeza dos módulos, ou seja, à medida
que os flocos vão se sedimentando em seu interior, e aglutinando-se uns aos
outros, as maiores massas de flocos que vão se formando adquirem peso
9-24
suficiente para se soltarem dos módulos e se arrastarem em direção ao fundo.
Dessa forma, os flocos removidos pelo decantador acabam por se precipitarem
para o poço de lodo, onde permanecem acumulados até serem removidos
através da abertura da descarga de fundo.

Fig. 9.16 – Decantador tubular típico, de fluxo ascendente

Em algumas situações, em que se faz necessário ampliar a capacidade


de tratamento das ETAs, cujos decantadores são clássicos, e em que não há
interesse, ou possibilidade, de se construir novos decantadores desse tipo, eles
podem ser convertidos em decantadores tubulares.
A Figura 9.17 (a) compara esse caso com a configuração típica.
Observe que foram instalados módulos tubulares cobrindo grande parte da
superfície do decantador clássico.
Com isto, é possível, muitas vezes, dobrar a vazão tratada pelo decantador,
ou até mais do que isto.

9.4.2.3 Módulos para a decantação laminar

Nas Figuras 9.18 (a) e (e), são representados módulos que podem ser
adquiridos prontos (existem outros tipos, além desses dois, produzidos por
indústrias especializadas). Ambos são construídos de plástico, e são muito
leves, especialmente quando imersos na água. São de fácil instalação.
Os módulos representados na Figura 9,18 (a) são fornecidos em bloco. Para
sua utilização, basta apenas cortá-los nas dimensões adequadas ao decantador.

9-25
Fig. 9.17 – Decantadores tubulares: tipos

Observe que, no interior do bloco, existem dutos, de seçã.o retangular,


inclinados de 60 graus em relação à horizontal, no interior dos quais a água
floculada escoará.
As inclinações dos dutos são alternadas, de modo a conferir rigidez ao
bloco.
É no interior desses dutos que ocorrerá a sedimentação dos flocos.
Já os módulos representados na Figura 9.18 (e) são dutos individuais, que
devem ser colados, uns aos outros, ao longo de seus comprimentos.
Por serem módulos de PVC, o que se faz é aplicar, com o auxílio de uma
seringa, a solda de PVC ao longo de cada seção possuidora de uma reentrância
nos dutos. Em seguida, cola-se outro duto a esse local.
Após montado, tomando-se o cuidado de que os dutos fiquem inclinados de
60 graus em relação à horizontal, os módulos adquirem a configuração de bloco,
como representado na Figura.
Outras alternativas têm sido empregadas pelos projetistas, com o objetivo
de reduzir os custos de construção.
A Figura 9.18 (b) mostra como fazer para obter módulos tubulares utilizando
placas lisas de cimento-amianto ou PVC. Espaçadores (de madeira ou outro
material) são fixados (por exemplo, através de parafusos) a cada uma das

9-26
placas. Ao se sobrepor uma placa à outra, esses espaçadores asseguram a
distância entre as placas.

Fig. 9.18 – Módulos tubulares

Consegue-se, desse modo, criar dutos através dos quais a água floculada
escoar.á, deixando sedimentados, em seu interior, os flocos que se deseja
remover.
Os espaçadores são fixados à placa distantes entre si de uma distância
suficiente para evitar a (indesejável) formação de barrigas pelas placas.
A Figura 9,18 (d) representa como obter a constituição de módulos tubulares
sobrepondo telhas onduladas, que podem ser de cimento-amianto, PVC ou fibra
de vidro.
Efeito semelhante pode ser obtido sobrepondo-se telhas de seção
hexagonal, como representado na Figura 9.18 (c).
O adequado funcionamento dos módulos tubulares depende, entre outros
fatores:
(a) do ângulo de inclinação dos módulos em relação à horizontal: embora, do

9-27
ponto de vista teórico, o melhor ângulo seja o de 2 graus e 54 minutos, do
ponto devista prático ele não funciona, pois seria difícil efetuar a limpeza dos
flocos retidos em seu interior. Por esse motivo, utiliza-se um ângulo superior
a 50 graus (quase sempre o de 60 graus, por facilidade construtiva). Com
esse ângulo, a maioria dos flocos sedimentados consegue, por seu peso
próprio, despregar-se das placas e cair para o poço de lodo, localizado no
fundo do decantador (é o que se chama capacidade de auto-limpeza).
(b) Da combinação dos fatores: (1) velocidade de escoamento; (2)
espaçamento entre os dutos ou placas; (3) comprimento dos ditos.
Equações matemáticas, fornecidas pelo denominado modelo de Yao (vide
próximo item) relacionam esses fatores, mais o ângulo de inclinação entre
as placas, e possibilitam definir a melhor relação entre eles.

9.4.2.4 O modelo matemático de Yao

O modelo matemático utilizado para o projeto e dimensionamento dos


decantadores laminares é o desenvolvido por Yao16, Apresenta-se, s seguir, um
desenvolvimento bastante simplificado desse modelo, porém suficiente para a
compreensão do processo.
A Figura 9.19 mostra uma partícula discreta, suspensa na água que escoa
entre duas placas paralelas, separadas de uma distância d, e inclinadas de um
ângulo θ em relação à horizontal. Essa partícula tende a ser levada pela água,
que escoa com velocidade v H 2O e, simultaneamente, desloca-se em direção ao
fundo com velocidade vs. Para efeito deste modelo, supõe-se que vs seja a
velocidade de sedimentação da partícula.

Fig. 9.19 – O modelo de Yao 16

Nestas condições, pode-se escrever:


• velocidade de deslocamento da partícula na direção perpendicular às
placas:
vd = vs cos θ
• velocidade de deslocamento da partícula na direção das placas:
vL = vH2O - vs sen θ

9-28
• tempo de deslocamento da partícula entre uma placa e outra:
d d
t1 = =
v d v s cos θ
vL = vH2O - vs sen θ
• tempo de deslocamento da partícula para cobrir a distância L:
L L1
t2 = 1 =
v L v H 2O − v s sen θ
Para t1 = t2, resulta:
d L1
=
v s cos θ v H 2O − v s sen θ
L1
1 d
=
v s cos θ v H 2O − v s sen θ
L1
1 d
=
cos θ v H 2O
− sen θ
vs
v H 2O L
− senθ = 1 cos θ
vs d
v H 2O L
= 1 cosθ + senθ
vs d
ou ainda:
vs 1
=
v H 2O L
senθ + 1 cos θ
d
Denominando a relação L1 / d = l1, a expressão fica:
vs 1
=
v H 2O senθ + l1 cos θ

Esta expressão, em sua forma final, incorpora ainda um coeficiente Sc, para
fazer face às diferenças dos perfis de velocidade prevalecentes no interior dos
diversos tipos de módulos utilizados para a construção da zona de decantação
laminar:
v sc Sc
=
v H 2O sen θ + l1 cos θ
onde vsc é a velocidade de sedimentação crítica do sistema de decantação
laminar, vale dizer, deseja-se remover a totalidade dos flocos (partículas em
suspensão) cujas velocidades de sedimentaÇão sejam iguais ou superiores a
9-29
vsc.
Os valores de Sc são os seguintes, segundo a NBR 12216 (item 5.10.3):
. Placas paralelas: 1,0
. Dutos de seção circular: 4/3
Dutos de seção quadrada: 11/8
Na equação anterior, o comprimento L1 (ou l1 = L1/d) deve ser tomado
apenas no trecho em que o escoamento é laminar, ou seja, deve-se descontar,
do comprimento total dos módulos de decantação laminar, o comprimento em
que ocorre a transição do regime turbulento para o laminar. Esse comprimento,
segundo Yao (op. citada), pode ser calculado através da expressão:
L2 v H 2O .d
= 0,058
d ν
ou:
v H 2O .d 2
l 2 = 0,058
ν
sendo:
L
l2 = 2
d
υ = viscosidade cinemática da água.

Modernamente, alguns projetistas vêm contestando a necessidade de se


considerar esse acréscimo de comprimento. Entretanto, a experiência do autor
recomenda sua consideração, em vista de já haver presenciado insucessos em
decantadores em que o comprimento de transição foi desprezado.
A expressão:
v sc Sc
=
v H 2O sen θ + l1 cos θ

pode ser reescrita, para Sc = 1,0 e θ = o°:


v sc 1
=
v H 2O l1
A Figura 9.20 apresenta a variação de v sc / v H O em função de l1. Nota-se
2
que, à medida que se deseja remover partículas de velocidades de
sedimentação cada vez menores, cresce assintoticamente o valor do
comprimento relativo dos módulos de decantação laminar.
Esse crescimento torna-se mais notável a partir de l1 = 20, pelo que alguns
projetistas tomam esse valor como referência para o projeto de decantadores
laminares.

9-30
Fig. 9.20 – Variação da relação vsc/vH2O com l1

Voltando à expressão:
v sc Sc
=
v H 2O sen θ + l1 cos θ
sua derivada, em relação a θ, para dada relação v sc / v H O constante, fornece:
2
S (cos θ − l1 senθ )
θ = c
sen θ + l1 cos θ
cos θ = l1 senθ
1
tan θ =
l1
A Figura 9.21 ilustra essa relação.
Observa-se que, a partir de 40°, a eficiência do sistema começa a cair de
modo mais acentuado. Entretanto, um fator prático se impõe, qual seja, o da
auto-limpeza dos módulos. Por esse motivo, o ângulo de inclinação adotado é,
normalmente, 60°.
A Figura 9.22 repete o que foi representado na Figura 9.20, após corrigida a
expressão:
v sc 1
=
v H 2O sen θ + l1 cos θ
Introduzindo θ = 60°:
v sc 1
=
v H 2O sen 60 º +l1 cos 60º

9-31
v sc 1
=
v H 2O 0,87 + 0,5l1

Observe que prevalece o valor l1 = 20 como orientação para o projeto de


decantadores laminares.

Fig. 9.21 – Variação de vsc/vH2O x θ

Fig. 9.22 – Variação da relação vsc/vH2O com l1 (θ = 60o)

9.4.2.5 Velocidade máxima permissível para a água no interior dos


elementos tubulares

Em seu Item 5.3.5.2, a NB 12216 estabelece o que se transcreve a seguir, para


a velocidade longitudinal vo:

9-32
Em decantadores de elementos tubulares, a velocidade longitudinal máxima,
para fluxo laminar, deve ser de 0,35 cm/s e, para fluxo não laminar, de 0,60
cm/s.
Na realidade, a NBR 12216 apresenta uma recomendação anterior, em seu
Item 5.9.5(a) transcrito a seguir,e que não deve ser considerada, pelos motivos
expostos em seguida:
(5.9.5) A velocidade longitudinal máxima não deve ser superior ao valor
resultante das expressões:
(,,,)
Re
a) v o = , para fluxo laminar, com número de Reynolds Re < 2000.
8
(...)
A fórmula anterior foi obtida a partir da expressão (vide Item 9.3.2.3):
8
vo = vs
f
que deriva da fórmula de Darcy-Weisbach, a partir da substituição do diâmetro D
pelo diâmetro hidráulico Dh = 4Rh.
Essa simplificação, válida para o regime turbulento, não se aplica para o
regime laminar.
Veja como a expressão foi (erroneamente) obtida.
No regime laminar, tem-se, de acordo com a equação de Hagen-Poiseuille
(vide Anexo 6: ábaco de Moody):
64
f =
Re
Portanto, a expressão anterior poderia ser re-escrita:
8 8 Re
U= v s ∴U = v s ∴U = vs
f 64 8
Re
que é idêntica à expressão apresentada pela NBR 12216.
Nestas condições, ao se aplicar, para o regime laminar, uma expressão
deduzida para o regime turbulento, corre-se o risco de se chegar a resultados
absurdos.

9.4.2.6 Distância entre os elementos tubulares e as estruturas de entrada


(sob os elementos) e saída (sobre os elementos)

9.4.2.6.1 Caracterização do problema

Do ponto de vista da melhor distribuição das linhas de fluxo no interior do


decantador, quanto maior for a distância entre os módulos tubulares e as
estruturas de entrada e saída, melhores serão os resultados obtidos.
Do ponto de vista prático, entretanto, maiores distâncias significam
estruturas mais altas, mais caras e de operação mais complicada.

9-33
Compatibilizar esses interesses opostos é, portanto, o que deve ser
buscado.
Com esse objetivo, o autor desenvolveu o modelo matemático apresentado
no próximo Item.

9.4.2.6.2 O modelo matemático

A Fìgura 9.23 representa um trecho de um decantador de fluxo laminar de


comprimento unitário (na direção perpendicular à folha de papel). Seja Q a vazão
que escoa no trecho considerado.

Fig. 9.23 – Estruturas de entrada e saída em decantadores de fluxo laminar:


determinação da relação l/H

A taxa virtual de escoamento superficial t = Q/A (em metros cúbicos por


segundo e por metro quadrado), sendo A a área em planta ocupada pelas
passagens livres dos módulos de decantação laminar, será:
Q
t = ∴ Q = t .l
l
Admitindo que as curvas isotáquicas sejam círculos concêntricos (veja
Figura 9.23), então a velocidade da água correspondente à curva isotáquica que
tangencia os módulos de decantação laminar será:

9-34
Q t .l
v= =
θ θ
2πH 2πH
360 360
A geometria indicada na Figura permite escrever:
l l
tan θ = ∴θ = arctan
H H
Portanto:
t.l .360 º
v=
l
2πH arctan
H
π .H.v l
t= arctan
180 º.l H
Sendo T a taxa virtual de aplicação superficial em metros cúbicos por metro
quadrado por dia (portanto: T = 86400t), então:
86400 H l
t= πv arctan
180 l H
−1
 l  l
T = 480πv   arctan
H
  H
Para evitar o arraste de flocos no interior de módulos de decantação
laminar, a NBR 12216 recomenda velocidades médias máximas (vo) iguais a
0,35 centímetros por segundo.
A Figura 9.24 apresenta um gráfico, elaborado tendo por base a
expressão anterior, que permite determinar as relações l/H máximas
correspondentes a esse valor de vo em função à taxa virtual de aplicação
superficial.
Acrescenta-se que a NBR 12216, em seu Item 5.10.8.6, estabelece que:
A distância entre as canaletas ou tubos de coleta não deve ser superior a duas
vezes a altura livre da água sobre os elementos tubulares.
Examinando essa Figura, é possível constatar que a observância desse Item
deixa o projeto bem a favor da segurança, no que diz respeito à possibilidade do
arraste dos flocos sedimentados.
Assim sendo, quando se tratar de obras de adaptação ou ampliação de
estações de tratamento de água existentes, é possível ao engenheiro ousar um
pouco mais no que diz respeito à utilização de alturas livres um pouco menores
que as preconizadas pela Norma, desde que se evidencie a impossibilidade de
atendimento ao referido no Item 5.10.8.6.

9.4.3 Decantadores laminares de fluxo horizontal

A Figura 9.25 ilustra uma nova tendência de se projetar decantadores


tubulares, segundo concepção apresentada pelo engenheiro Carlos A. Richter
em trabalho não publicado.
Nesse tipo de unidades, o fluxo da água é horizontal. Módulos tubulares,
9-35
instalados como placas paralelas entre si, inclinadas de, no mínimo, 50 graus,
são interpostas à passagem da água em tratamento. Entre elas, ocorre a
sedimentação dos flocos.

Fig. 9.24 – Valores máximos de l / H

Fig. 9.25 – Decantador de fluxo laminar, de escoamento horizontal


(conforme concebido por C. A. Richter)

9-36
Neste caso, a equação:
v sc Sc
=
v H 2O sen θ + l1 cos θ
reduz-se a:
v H 2O
v sc =
l
tendo em vista que::
θ = 0° (portanto: sen θ = 0, cos θ = 1)
e:
Sc = 1 (placas paralelas)
O dimensionamento do decantador é feito de modo a assegurar o
atendimento da equação acima e de forma a evitar o arraste dos flocos
sedimentados.
A inclinação dos elementos tubulares deve ser igual ou superior a 50 graus,
de forma a permitir que os flocos sedimentados sejam arrastados, pela ação da
gravidade, para o fundo do decantador.

9.4.3 Decantadores laminares de fluxo horizontal

A Figura 9.25 ilustra uma nova tendência de se projetar decantadores


tubulares, segundo concepção apresentada pelo engenheiro Carlos A. Richter
em trabalho não publicado.
Nesse tipo de unidades, o fluxo da água é horizontal. Módulos tubulares,
instalados como placas paralelas entre si, inclinadas de, no mínimo, 50 graus,
são interpostas à passagem da água em tratamento. Entre elas, ocorre a
sedimentação dos flocos.
Neste caso, a equação:
v sc Sc
=
v H 2O sen θ + l1 cos θ
reduz-se a:
v H 2O
v sc =
l
tendo em vista que:
θ = 0° (portanto: sen θ = 0, cos θ = 1)
e:
Sc = 1 (placas paralelas)
O dimensionamento do decantador é feito de modo a assegurar o
atendimento da equação acima e de forma a evitar o arraste dos flocos
sedimentados.
A inclinação dos elementos tubulares deve ser igual ou superior a 50 graus,
de forma a permitir que os flocos sedimentados sejam arrastados, pela ação da
gravidade, para o fundo do decantador.

9-37
9.5 Elementos complementares

9.5.1 Comportas de acesso aos decantadores

9.5.1.1 Descrição

A Figura 9.26 ilustra como essas comportas são normalmente dispostas (a)
nos decantadores de seção retangular e (b) nos decantadores de seção circular.

Fig. 9.26 – Decantadores clássicos: comportas de acesso

9-38
A distribuição eqüitativa da água floculada através dessas comportas para o
interior do decantador e, portanto, a inexistência de curto-circuitos nessas
unidades, depende muito de se haver feito um bom projeto da unidade a
montante dessas comportas, vide Item 9.5.2 a seguir.
Se o projeto não tiver sido bem feito, ou se a obra tiver sido realizada sem
obedecer a esse projeto (bem feito, é claro), restará ao operador a tarefa
(inglória) de tentar regular a vazão através da regulagem do grau de abertura
das comportas.
Essa é, sem dúvida, uma tarefa difícil. Isto porque a regulagem da vazão
deverá ser feita no “olhômetro”. Além disto, comportas muito estranguladas
poderão quebrar flocos, comprometendo o funcionamento do decantador.
É necessário verificar o valor do gradiente de velocidade nessas comportas,
de forma que eles sejam, no máximo, iguais ao que prevalecia na última câmara
de floculação.
Para efetuar essa verificação, recorre-se aos gráficos devidos a Parlatore,
vistos no Capítulo anterior.

9.5.1.2 Exemplo resolvido

Num decantador destinado a tratar a vazão de 50 L/s, a água será


introduzida em seu interior através de duas comportas (portanto: 25 L/s em cada
comporta).
Sabendo-se que o gadiente de velocidade na última câmara de floculação é
igual a 20 s-1, verifique a conveniência de se utilizar a comporta de diâmetro (ou
lado) igual a 400 mm para esse fim.

Resolução:

Recorrendo ao gráfico de Parlatore, encontra-se, para Q = 25 L/s, D = 400


mm e T = 4° C:
G = 15 s-1
Assim sendo, a 20° C, ter-se-á:
G = 15 x 1,24 = 19 s-1
Conclui-se que a citada comporta é adequada à finalidade pretendida.

9.5.2 Canal de acesso aos decantadores

9.5.2.1 Descrição

Conforme foi dito no Item anterior, da distribuição equitativa da água


floculada através das comportas de acesso aos decantadores depende da
inexistência de curto-circuitos no interior dessas unidades.
Nos decantadores clássicos, a melhor forma de assegurar essa distribuição
equitativa é fazer com que a velocidade ao longo do canal de acesso aos
decantadores (vide Figura 9.26) se mantenha constante, e sempre superior a
0,10 m/s (para evitar a sedimentação de flocos em seu interior),
9-39
embora nunca superior a 0,45 m/s (de forma a evitar a quebra desses flocos).
Assim é que a seção do canal que alimenta as comportas deve ser
decrescente de montante para jusante.
O Exemplo Resolvido apresentado no Item 9.5.2.4 mostra como proceder
para atender a essa recomendação, bem como os resultados obtidos quando se
submete a concepção resultante à análise efetuada à luz do modelo matemático
devido a Hudson e colaboradores, vide Item 9.5.2.2.
Caso não seja possível proceder dessa forma, o citado modelo matemático
permite determinar a vazão que será distribuída através das diversas comportas
que alimentam o decantador a partir desse canal.
Nos decantadores circulares, deve-se tomar o cuidado de assegurar a não
existência de fluxos preferenciais na distribuição das vazões para cada uma
dessas unidades.
De modo geral, isto pode ser feito sem dificuldades, pois é possível
encaminhar a totalidade da vazão a ser distribuída para um mesmo ponto de
onde partem as alimentações destinadas a todos os decantadores.
Assim sendo, desaparece o problema do decréscimo da vazão a ser
distribuída ao longo de um canal distribuidor, caso típico dos decantadores
clássicos.

9.5.2.2 Modelo matemático devido a Hudson e colaboradores

A bibliografia especializada apresenta diferentes modelos matemáticos para


a resolução do problema de divisão de vazões em manifolds.
Benefield e colaboradores3 dedicaram um tópico especial à apreciação de
alguns modelos: a discussão devida a Camp5, o sumário efetuado por Rich15 a
partir do trabalho de Fair7, bem como a análise hidráulica do problema elaborada
por Hudson e colaboradores10.
A seguir, transcreve-se as linhas gerais desse último modelo, adaptando-o
ao problema prático de interesse neste Capítulo.
A Figura 9.27 representa um canal distribuidor de água floculada aos
decantadores, bem como o detalhe de uma das interligaÇões entre o decantador
e esse canal. No detalhe, observa-se que parte da água veiculada pelo canal
desvia-se para a interligação com o decantador.
A análise a seguir pressupõe serem desprezíveis as perdas de carga no
canal distribuidor. Entretanto, a parcela de água que se desvia de 1 para 2 perde
carga ao passar através da interligaÇão.
Denominando essa perda de ∆h, pode-se escrever:
U L2
∆h = hE +
2g
onde:
hE = perda de carga na entrada da interligação;
U L2
= perda de carga na saída da interligação;
2g
9-40
UL = velocidade média da água através da interligação.

Fig. 9.27 – Decantadores e canal de acesso de água floculada

A perda de carga na entrada pode ser expressa em termos da carga cinética


da água ao passar pela interligação:
U L2
hE = α
2g
onde o coeficiente α é função do quadrado da relação ente a velocidade média
da água no canal a montante da interligação e a velocidade média da água
através da interligação, acrescida de uma constante θ.

9-41
2
U 
α = ϕ  m  + θ
 UL 
Portanto:
  U 2  U2
hf = ϕ  m  + θ  L
  UL   2g
 
ou ainda:
  U 2  U2 U2 U L2
 m  L L
∆hf = ϕ   +θ + =β
  U L   2g 2g 2g
 
onde:
2
U 
β = ϕ  m  + θ + 1
 UL 

Hudson e colaboradores4 apresentam os valores experimentais listados a


seguir, para θ e ϕ, aplicáveis a interligações com arestas vivas.

Comprimento da interligação θ ϕ
Longa 0,4 0,90
Curta 0,7 1,67

Na classificação anterior, são consideradas interligações longas aquelas


cujos comprimentos são substancialmente maiores que três vezes o seu
diâmetro, e interligações curtas aquelas cujos comprimentos são inferiores a
esse valor. Sendo perfeita a distribuição de vazão, a perda de carga será igual
em todas as interligações, ou seja:
(U L )12 (U L )22 (U L )2i
β1 = β2 = ... = β i
2g 2g 2g
o que torna possível escrever:

(U L )i = (U L )1 β1
βi
Evidentemente a soma das vazões q que escoam através das interligações
deve ser igual à vazão Qo que entra no canal distribuidor:
Qo = q1 + q2 + ...+ qi
Qo = A1(UL)1 + A2(UL)2 + ... + Ai(UL)i
onde Ai é a área da seção transversal da interligação i.
Se as áreas Ai forem todas iguais a A, pode-se escrever:
Qo = A (UL)1 + A (UL)2 + ... + A (UL)i
β1 β1
Qo = A(U L )1 + A(U L )1 + ... + A(U L )i
β2 βi

9-42
 β1 β1 
Qo = A(U L )11 + + ... +
 β2 β i 

Resolvendo a equação anterior para (UL)1, obtém-se:
−1
Q  n 1 
(U L )1 =  ∑i = 1 
A β1  β i 

9.5.2.3 Problema resolvido

O exemplo a seguir, adaptado da já citada obra de Benefield e


colaboradores3, ilustra como proceder para resolver um problema prático.
Considere-se o canal distribuidor de água floculada representado na Figura
9.28, que deve distribuir, do modo mais uniforme possível, 200 litros por segundo
para quatro decantadores, cada um dos quais possui duas comportas. Verifique
esse canal, de forma que a velocidade média da água em seu interior seja
sempre igual ou superior a 0,10 m/s, e que o gradiente de velocidade nas
comportas seja igual ou inferior a 20 s-1 para a temperatura de 20° C.

Fig. 9.28 – Problema resolvido 9.5.2.3

Resolução:

Consultando os gráficos elaborados por Parlatore13, e considerando-se que


9-43
a vazão em cada comporta seja igual à média das vazões (200/8 = 25 L/s),
conclui-se que se as comportas forem de seção quadrada, suas dimensões
mínimas deverão ser tais que proporcionem uma velocidade média em torno de
0,20 m/s. Assim sendo, optou-se pelas comportas de 0,40 m x 0,40 m.
Os cálculos a seguir são interativos e podem ser feitos com o auxílio de um
microcomputador.
Seus resultados encontram-se resumidos na planilha anexada no final da
resolução deste exemplo.

Iteração nº 1:

Admite-se certa distribuição inicial da vazão nas interligações, preenchendo


a coluna 1. É conveniente admitir que essas vazões são todas iguais:
200
q1 = q 2 = ... = q s = = 25L / s
8
Pode-se então determinar as vazões nos trechos de canal a montante de
cada interligação, preenchendo a coluna 3. As velocidades correspondentes à
coluna 2 têm todas o mesmo valor:
(U L )i = q i = 0,025 = 0,156m / s
A 0,4 x 0,4
Para calcular as velocidades da coluna 4 (velocidade no canal distribuidor
ao trecho imediatamente a montante da interligação considerada), divide-se a
vazão em cada trecho pela área da seção correspondente. As dimensões das
diversas seções são indicadas na Figura 9.28.
As colunas 5, 6 ( β1 = 0,7 + 1,67(U m / U L )2 + 1 ), 7 ( 1/ β i ) podem ser
facilmente calculadas em seguida.

Iteração nº 2:

Determina-se a velocidade na primeira interligação utilizando os valores de β ι


determinados na primeira iteração:
−1
Q  n 1 
(U L )1 =  ∑i = 1 
A β1  β i 
0,2
(U L )1 = [5,065]−1 = 0,155m / s
(0,4 x 0,4) 2,545
Em seguida, utilizando os valores de β 1 determinados na primeira iteração e
a velocidade através da primeira interligação calculada acima, estima-se a
velocidade nas demais interligações utilizando-se a expressão:

(U L )i = (U L )1 β1
βi

9-44
Por exemplo:

2,545
(U L )3 = 0,155 = 0,156m / s
2,486

Preenche-se, desta forma, a coluna 2.

A coluna 1 é preenchida multiplicando-se os valores da coluna 2 pela seção


de escoamento da interligação (0,16m2) e por 1000, para que o resultado seja
obtido em litros por segundo.
Conhecidos os valores da coluna 1, pode-se preencher a coluna 3 e, em
seguida, a coluna 4, bastando que se divida a vazão da coluna 3 por 1000 (para
converte-la para m3/s) e pela seção de escoamento correspondente,
apresentada na Figura 9.28.
Os demais cálculos desta iteração são idênticos aos efetuados na primeira.

Iteração nº 3:

Determina-se a velocidade na primeira interligação utilizando os valores de β ι


determinados na iteração anterior:
−1
Q  n 1 
(U L )1 =  ∑i = 1 
A β1  β i 
0,2
(U L )1 = [5,055]−1 = 0,155m / s
(0,4 x 0,4) 2,557
Em seguida, utilizando os valores de β 1 determinados na iteração anterior e
a velocidade através da primeira interligação calculada acima, estima-se a
velocidade nas demais interligações utilizando-se a expressão:

β1
(U L )i = (U L )1
βi

Por exemplo:

2,557
(U L )5 = 0,155 = 0,149m / s
2,755
Os demais cálculos desta iteração são idênticos aos efetuados na segunda.
Os cálculos anteriores podem prosseguir até que determinada condição pré-
estabelecida seja atendida. Pode-se estabelecer, por exemplo, que os cálculos
deverão prosseguir até que a diferença entre as perdas de carga extremas
(máxima e mínima) e a média das perdas de carga seja inferior a 1%.

9-45
Planilha do problema resolvido 9.5.2.3
It = número da iteração
Int = número da interligação (de montante para jusante)

qi (UL)i (Qm)i (Um)i (U m )2i βi 1 ∆h


It INt (L/s) (m/s) (L/s) (m/s) (x10-2)
(U L )2i βi (m)
1 2 3 4 5 6 7 8
1 25,00 0,156 200,00 0,111 0,506 2,544 0,627 0,317
2 25,00 0,156 175,00 0,110 0,493 2,523 0,630 0,314
3 25,00 0,156 150,00 0,107 0,470 2,485 0,634 0,310
4 25,00 0,156 125,00 0,112 0,510 2,552 0,626 0,318
1
5 25,00 0,156 100,00 0,119 0,580 2,669 0,612 0,333
6 25,00 0,156 75,00 0,096 0,379 2,332 0,655 0,291
7 25,00 0,156 50,00 0,104 0,444 2,442 0,640 0,304
8 25,00 0,156 25,00 0,100 0,410 2,384 0,648 0,297
Σ 200,00 5,071
1 24,72 0,155 200,00 0,111 0,517 2,563 0,625 0,312
2 24,83 0,155 175,28 0,110 0,502 2,538 0,628 0,312
3 25,02 0,156 150,45 0,107 0,472 2,489 0,634 0,310
4 24,69 0,154 125,43 0,112 0,527 2,580 0,623 0,313
2
5 24,14 0,151 100,74 0,120 0,632 2,755 0,602 0,320
6 25,82 0,161 76,60 0,098 0,370 2,318 0,657 0,308
7 25,24 0,158 50,78 0,106 0,450 2,451 0,639 0,311
8 25,54 0,160 25,54 0,102 0,410 2,384 0,648 0,310
Σ 200,00 5,054
1 24,71 0,154 200,00 0,111 0,517 2,564 0,624 0,312
2 24,84 0,155 175,29 0,110 0,501 2,537 0,628 0,312
3 25,08 0,157 150,45 0,107 0,470 2,485 0,634 0,312
4 24,64 0,154 125,36 0,112 0,528 2,583 0,622 0,312
3
5 23,84 0,149 100,73 0,120 0,648 2,782 0,600 0,315
6 25,99 0,162 76,89 0,099 0,368 2,315 0,657 0,312
7 25,27 0,158 50,90 0,106 0,451 2,453 0,639 0,312
8 25,63 0,160 25,63 0,103 0,410 2,384 0,648 0,312
Σ 200,00 5,052

No exemplo:
∆h = 0,003124
Logo:
( )
Para ∆h máx = 0,00315 → ∆h máx / ∆h x100 = 0,8%
Para ∆h mín
= 0,00312 → (∆h máx
/ ∆h )x100 = 0,1%

9-46
Alternativamente, pode-se estabelecer que os cálculos deverão parar
quando as vazões nas interligações, após duas iterações, apresentarem
diferenças relativas iguais ou inferiores a 1%.

9.5.2.4 Problema resolvido

Dois decantadores tratam, ao todo, a vazão de 100 litros por segundo. Cada
um deles tem duas comportas de acesso (semelhante ao que mostra a Figura
9.27), de seção quadrada, de dimensões 0,40m x 0,40 m.
A seção do canal que as alimenta tem seção decrescente de montante para
jusante, de modo que a velocidade em seu interior é constante e igual a 0,10
m/s, conforme mostra a Tabela a seguir.

Trecho do canal de Vazão Área do canal Dimensões: lâmina


2
montante para jusante (L/s) (m ) d’água x largura
(m x m)
Até passar pela 1ª 100 1 1,00 x 1,00
comporta
Até passar pela 2ª 75 0,75 1,00 x 0,75
comporta
Até passar pela 3ª 50 0,50 1,00 x 0,50
comporta
Até passar pela 4ª 25 0,25 0,50 x 0,50
comporta

Verificar, através do modelo matemático devido a Hudson e colaboradores,


se as vazões nas comportas serão iguais.

Resolução:

A planilha a seguir, correspondente ao modelo matemático devido a Hudson


e colaboradores, mostra que as vazões em cada comporta serão idênticas entre
si. Observe que não é necessário efetuar nenhuma iteração.
Alguns projetistas preferem tornar contínua a variação da seção do canal, ao
invés de variá-la bruscamente após cada comporta. Neste caso, o canal teria
seção constante de 1,00 m x 1,00 m até passar pela primeira comporta; em
seguida, sua lâmina d’água passaria a variar continuamente desde o máximo de
1,00 m até o mínimo de 0,50 m, imediatamente a montante da penúltima
comporta; a partir de então a lâmina d’água seria constante e a largura passaria
a variar continuamente desde o máximo de 1,00 m até o mínimo de 0,50 m,
imediatamente a jusante da última comporta (onde termina esse canal).

9-47
Planilha do problema resolvido 9.5.2.3
It = número da iteração
Int = número da interligação (de montante para jusante)

qi (UL)i (Qm)i (Um)i (U m )2i βi 1 ∆h


It INt (L/s) (m/s) (L/s) (m/s) (x10-2)
(U L )2i βi (m)
1 2 3 4 5 6 7 8
1 25,00 0,156 200,00 0,100 0,411 2,386 0,647 0,296
2 25,00 0,156 175,00 0,100 0,411 2,386 0,647 0,296
1
3 25,00 0,156 150,00 0,100 0,411 2,386 0,647 0,296
4 25,00 0,156 125,00 0,100 0,411 2,386 0,647 0,296
Σ 100,00 2,588

9.5.3 Cortinas distribuidoras

9.5.3.1 Descrição

Após entrar no decantador, a água atravessa uma cortina distribuidora, que


tem por objetivo uniformizar o fluxo da água em tratamento.
O que se espera dessa cortina é que a vazão seja aproximadamente a
mesma em todos os seus orifícios.
Cortinas mal dimensionadas poderão distribuir mal as vazões, caso a
velocidade de passagem da água através dos orifícios seja muito baixa, ou
quebrar os flocos, caso essa velocidade seja muito alta.
A quebra de flocos poderá ocorrer também em decantadores
sobrecarregados.
Por isto, ao se aumentar a vazão tratada pelo decantador, é conveniente
verificar o dimensionamento da cortina, para ver se os diâmetros de seus
orifícios são compatíveis com a vazão que os atravessará.
As cortinas distribuidoras podem ser construídas de alvenaria, concreto ou
madeira.
Muitas estações de tratamento de água utilizam cortinas distribuidoras
construídas de madeira de lei, sem apresentar qualquer inconveniente por esse
motivo. Sabe-se que a madeira de lei, quando completamente submersa, não
apodrece (é possível observar esse fato na prática: a madeira costuma
apodrecer na região de contato entre o ar e a água).
A Figura 9.29 apresenta modelos para a cortina distribuidora. Na figura (a), é
apresentada uma cortina construída de madeira, instalada num decantador de
seção retangular. Na figura (b), é representada uma cortina construída de
concreto ou de alvenaria, instalada num decantador de seção circular.

9.5.3.2 Cálculo

Camp5 estabeleceu o modelo descrito a seguir, para a determinação desse


9-48
parâmetro.

Fig. 9.29 – Cortinas distribuidoras de água floculada em decantadores

Numa cortina distribuidora, contendo orifícios de diâmetro D, espaçados


entre si, eixo a eixo, de S, os jatos de água produzidos por dois orifícios
adjacentes encontrar-se-ão a uma distância x dessa cortina, vide Figura 9.30.

Fig. 9.30 – Gradiente de velocidade em cortinas de decantadores

9-49
Para se proceder a esse cálculo, utiliza-se a expressão conhecida:

P γQhf γAUhf
G= = =
µV µV µV

onde hf é a perda de carga nos orifícios da cortina.


Admitindo que a perda de carga, devida a cada orifício, seja dissipada no
paralelepípedo de base (S x S) e altura x, obtém-se:
V = S2x
Portanto:
γAUhf
G=
µS 2 x
A perda de carga imposta pelo orifício é dada por:

2 2
 Q  1  U  1
hf =   =  
 Cd A  2g  C d  2g
Reescrevendo a expressão de G:

2
γA  U  1
G=  
µS 2 x  Cd  2g
2
ρgU πD 2  U  1
G=  
µS 2 x 4  Cd  2g

ou, após as simplificações:

D πU 3
G=
S 8C 2νx
d

Na expressão anterior, tem-se:


G = gradiente de velocidade, s-1;
D = diâmetro do orifício, m;
S = espaçamento entre os eixos de dois orifícios adjacentes, m;
U = velocidade média de passagem da água através do orifício, m/s;
ν = viscosidade cinemática da água, m2/s;
x = distância percorrida pelos jatos até que haja interferência entre eles, m;
A utilização dessa expressão, incômoda até há algum tempo, tornou-se
simples após as experiências conduzidas por Di Bernardo e Giorgetti6.
Simplificadamente, as conclusões obtidas foram as seguintes:
9-50
a) em orifícios circulares, Cd variou entre 0,8 e 0,9;
b) a relação x/S dependeu do número de Reynolds, variando com esse
parâmetro da forma apresentada na curva representada na Figura 9.31.

Fig. 9.31 – Variação de x/S em função de Re

9.5.3.3 Recomendações da Norma

Em seu item 5.10.7 a NBR 12216 apresenta as seguintes recomendações,


aplicáveis às cortinas distribuidoras:
a) ter o maior número possível de orifícios uniformemente espaçados
segundo a altura útil do decantador; a distância entre os orifícios deve ser
igual ou inferior a 0,50 m;
b) estar situada a uma distância d da entrada, calculada por:
a
d = 1,5 H
A
onde:
a = área total dos orifícios, m2;
A = área da seção transversal do decantador, m2;
H = altura útil do decantador, m
c) gradiente de velocidade nos orifícios igual ou inferior a 20 s-1;
d) quando a parede da cortina tem espessura inferior à dimensão que
caracteriza as aberturas de passagem da água, estas devem receber
bocais de comprimento pelo menos igual à referida dimensão;
e) a câmara de entrada que antecede a cortina deve ser projetada de modo
a facilitar a sua limpeza;
f) relação a/A igual ou inferior a 0,5.

9-51
9.5.3.4 Problema resolvido

Determinar o gradiente de velocidade a 20ºC nos orifícios da cortina


distribuidora de um decantados que trata 50 litros por segundo.
A cortina possui 96 orifícios de diâmetro 50 mm, espaçados entre si (eixo a
eixo) de 50 cm.
Admita que o coeficiente de descarga (Cd) dos orifícios é igual a 0,61.

Resolução:

A vazão em cada orifício será:


0,05
Q= = 0,00052m 3 / s
96
A velocidade correspondente será:
Q 4Q 4 x 0,00052
U= = = = 0265m / s
A πD 2 π (0,05 )2
O número de Reynolds correspondente é:
UD 0,265 x 0,05
Re = = = 13262
ν 0,000001
Consultando o gráfico da Figura 9.30, encontra-se:
x
= 4,5
S
x = 4,5 x 0,5 = 2,25
Pode-se agora calcular o valor de G:
D πU 3
G=
S 8C 2νx
d

0,05 π (0,265 )3
G= = 23s −1
0,50 8(0,61)2 (0,000001)(2,25 )

9.5.4 Coleta de água decantada

9.5.4.1 Descrição

A água decantada é removida dos decantadores junto à superfície livre


nesses tanques.
Normalmente são utilizadas calhas coletoras para esse fim.
Entretanto, alguns projetistas preferem utilizar tubulações perfuradas para a
coleta de água decantada, vide Figura 9.32.

9-52
Fig. 9.32 – Tubos perfurados coletores de água decantada

Em qualquer caso, quanto menor for a lâmina d’água sobre a estrutura de


coleta, menor será o arraste de flocos que já estejam chegando ao fundo do
decantador. Em conseqüência, menor será a qualidade da água coletada.
A Figura 9.33 ilustra o benefício obtido por se utilizar uma calha a mais para
a coleta de água decantada (corolário: quanto melhor distribuída estiver a malha
de calhas coletoras de água decantada no decantador, melhor a qualidade da
água coletada).

Fig. 9.33 (a) – Zona de saída dos decantadores clássicos: linhas


isotáquicas

Fig. 9.33 (b) – Zona de saída dos decantadores clássicos: linhas


isotáquicas
9-53
Observe que, na Figura (b), as linhas isotáquicas correspondentes, por
exemplo, à velocidade de 0,5 centímetro por segundo estão mais altas que na
Figura (a).
Nestas condições, os flocos cujas velocidades de sedimentação forem
iguais a esse valor serão mais dificilmente arrastados do fundo pelo decantador
da Figura (b) que pelo da Figura (a).

9.5.4.2 Modelo matemático

As expressões atualmente utilizadas no dimensionamento dessas calhas


são as apresentadas por Camp em 19404.
Parte-se da idéia de um canal de seção retangular, de largura b,
comprimento L e declividade i.
Esse canal recolhe água ao longo de todo o comprimento, e a água verte
em suas duas bordas, Figura 9.34.

Fig. 9.34 – Calha coletora de água decantada

A análise matemática desenvolvida a seguir pressupõe os seguintes pontos:


a) a linha d’água nas duas situações citadas na Figura 9.34 tem a forma de
uma parábola, cuja tangente, em sua extremidade de montante, é
horizontal;
b) a energia cinética da água na extremidade de jusante da calha não
contribui para a velocidade horizontal (de deslocamento);
c) a perda de carga no canal é desprezível;
d) o escoamento é essencialmente horizontal.
9-54
Uma vez admitidas as condicionantes anteriores, pode-se aplicar a equação
da quantidade de movimento ao volume de controle correspondente à água no
interior da calha coletora (vide Figura 9.35).
A equação da quantidade de movimento vista no Item 15 do Capítulo 6
estabelece que:
→ → → 
∑ F = ρ Q U 2 − U 1 
 
 

Fig. 9.35 – Volume de controle para a aplicação da equação da quantidade


de movimento

Considerando somente as forças que atuam segundo o eixo horizontal;


admitindo ser pequeno o valor de i, o que permite considerar as projeções
horizontais de F1 e F2 iguais a elas próprias; considerando ser nulo o valor de U1;
e, em vista do pequeno valor de i, considerando que a projeção horizontal de U2
seja igual a ela própria, pode-se então escrever, a partir da equação da
quantidade de movimento:
γ
F1 − F2 + iγV = QU 2 , onde:
g

γho γbh 2
o
F1 = p1A1 = bho =
2 2
γhL γbhL2
F2 = p 2 A2 = bhL =
2 2
Por outro lado, o volume do volume de controle é fácil de ser calculado.
Conforme pode ser recapitulado, a área situada na parte côncava da
parábola corresponde a dois terços do retângulo circunscrito, vide Figura 9.36:
x0
A = ∫ dA = ∫ x.dy = ∫ x (2.k.x.dx ) =
0

9-55
( )
xo
2 2x o
= ∫ x 2.k.x 2 .dx = k.x o3 = k .x o2
0
3 3
Mas
y o = kx o2
e:
2
A = x0 y o
3

Fig. 9.36 – Cálculo da área situada na parte côncava da parábola

Tendo em vista que, no caso presente, o retângulo circunscrito tem base L e


altura (ho + i.L – hL), vide Figura 9.37, obtém-se:
2
A = L(ho + iL − hL )
3

Fig. 9.37 – Cálculo do volume do volume de controle

A essa altura deve ser acrescida a área do trapézio de base maior hL,
base menor (hL – i.L) e altura L:
h + (hL − iL ) i .L2
A'= L L = LhL −
2 2
e obtém-se finalmente:

9-56
2 2h
A + A'=
2
(ho + iL − hL )L + L.hL − i.L = L o + iL + hL 
3 2  3 6 3 
Em conseqüência, o volume do volume de controle será:
 2h iL h 
V = bL o + + L 
 3 6 3 
e seu peso será:
 2h iL h 
W = γbL o + + L 
 3 6 3 
Pode-se agora substituir o valor das forças na equação da quantidade de
movimento:
γ
F1 − F2 + iγV = QU 2
g
2
γbho2 γbhL  2h iL h  γ
− + iγbL o + + L  = hL bU 2
2 2  3 6 3  g 2

2 2
ho2 hL  2ho iL hL  hLU 2
− + iL + + = (1)
2 2  3 6 3  g
A velocidade U2, que será igual ou inferior à velocidade crítica, pode ser
expressa em termos dessa última, como segue:
h
Q = U 2 bhL = Ucbhc ∴ U 2 = c U c (2)
hL
e a velocidade crítica (à qual corresponde o número de Froude igual a 1 – ver
Item 11 do Capítulo 6) pode ser obtida a partir da definição do número de
Froude:
Uc
= 1∴ Uc = ghc (3)
ghc
Substituindo (3) em (2), obtém-se:

h gh 3 gh 3
c 2
U2 = c ghc = ∴U = c
(4)
hL hL 2 2
h
L
Substituindo (4) em (1), obtém-se:
2
ho2 hL  2h iL h  h ghc3
− + iL o − + L  = L
2 2  3 6 3  g h2
L
 4h iL 2h  2h 3
ho2 − hL2 + iL o − + L  = c
 3 3 3  h2
L
ou ainda:

9-57
 2 2 3 
4iL i L 2iLhL 2h c 2
ho2+ ho +  + − − hL  = 0
3  3 3 hL 
 
O valor de ho pode ser determinado resolvendo a equação do segundo grau
anterior.
Logo:
 3 
4iL 16i 2 L2  i 2 L2 2iLhL 2h c 
ho = − + − + − − hL2 
6 36  3 3 hL 
 

2iL 4i 2 L2 i 2 L2 2iL 2h 3
ho = − + − − hL + c + hL2
3 9 3 3 hL
3
2iL  i 2 L2 2iL  2h c
ho = − +  − hL + hL  +
2
3  9 3  hL
 
2 2h 3
2iL  iL 
ho = − +  − hL  + c
3 3  hL
Nos casos comuns, as calhas coletoras têm declividade nula. Em tais
condições, obtém-se:
2h 3
2 c
i = 0 → ho = hL + (5)
hL
ou, tendo em conta que
Q2
U c = ghc ∴ Q = bhc ghc ∴ hc3 =
b 2g
pode-se escrever:
 Q2 
2
ho = hL 2 +  
 b 2g 
hL
 
Se, além da declividade ser nula, a descarga da calha for livre, então hc = hL.
Em conseqüência, a equação (5) pode ser re-escrita da forma:
ho = hc 2 + 2hc 2 = 3hc 2 = ho 3
ou ainda, tendo em conta que
Q2
hc = 3
b 2g
então:

9-58
2
3 3 Q 
ho =  
1 b
g3
ou seja:

A expressão anterior é mais comumente apresentada nos livros que tratam


de projetos de estações de tratamento de água sob a forma:
3
 1 
Q=   .b. h 3
 0,81  o

Q = 1,38.b. h 3
o

9.5.4.3 Bordas vertedouras ajustáveis

É difícil fazer com que as soleiras vertedouras estejam perfeitamente


niveladas, por razões construtivas.
Mesmo estando perfeitamente niveladas essas soleiras, é difícil garantir que
a altura da lâmina d’água vertente seja igual ao longo de todas as bordas
vertedouras.
A desigualdade da altura da lâmina vertente pode fazer com que haja o
arraste preferencial de flocos nos locais em que a lâmina d’água for maior.
Por este motivo, algumas estações de tratamento de água instalam, ao
longo das bordas vertedouras, bordas reguláveis, fixadas por parafusos.
Essas bordas reguláveis permitem ajustá-las, de forma que elas fiquem
perfeitamente niveladas em todo o decantador.
Normalmente elas são construídas de resina poliéster reforçada com fibra
de vidro, embora em algumas estações de tratamento de água elas sejam de
alumínio.
Na Figura 9.38, foram construídos vertedouros triangulares nessas bordas
reguláveis.
Dispositivos desse tipo permitem obter excelente ajustagem da vazão ao
longo das bordas vertedouras.

9.5.4.4. Disposições da NBR 12216

A NBR 12216 apresenta as considerações a seguir, relativas às calhas


coletoras de água decantada.
(5.20.8.1) As canaletas de coleta de água decantada devem proporcionar
escoamento à superfície livre, ter bordas horizontais, ao longo das quais podem
existir lâminas sobrepostas ajustáveis, para garantir a coleta uniforme. A
colocação das lâminas deve ser feita de modo a impedir a passagem de água
nas juntas com a canaleta.
(5.10.8.2) O nível máximo de água no interior da canaleta deve situar-se à
9-59
distância mínima de 10 cm da borda vertente.
(5.10.8.3) Em decantadores convencionais e nos elementos tubulares de
fluxo horizontal, para os quais a velocidade de sedimentação vs tenha sido
determinada através de laboratórios, a vazão por metro de vertedor ou de tubo
perfurado de coleta deve ser igual ou inferior a:
q = 0,018.H.vs
onde:
q = vazão, em l/(s.m);
H = profundidade do decantador, em m;
vs = velocidade de sedimentação, em m3/(m2.dia).

Fig. 9.38 – Bordas vertedouras ajustáveis

(5.10.8.5) Não sendo possível proceder a ensaios de laboratório, a vazão


nos vertedouros ou nos tubos perfurados de coleta deve ser igual ou inferior a
1,8 l/s por metro.
A NBR 12216 permite, no caso de decantadores tubulares, que as calhas
coletoras trabalhem com vazões coletadas de até 2,5 l/s por metro de borda
vertedoura.
Com relação aos tubos perfurados utilizados para a coleta de água
decantada, a NBR 12216 estabelece que eles devem ser submersos, podendo
descarregar em canal ou câmara, preferencialmente em descarga livre; se
afogada, a carga hidráulica deve ser uniforme, visando a obter vazões iguais nas
saídas do decantador (Item 5.10.8.3).
Quanto à calha coletora com seção não retangular, o procedimento tradicional
consiste em admitir que a área molhada da seção utilizada será igual à área da
seção retangular calculada através das fórmulas anteriores.
9-60
Em trabalhos experimentais realizados no laboratório de hidráulica da
Escola de Engenharia da UFMG, Mendes11,12 verificou que esse procedimento
funciona bem para calhas de paredes verticais e findo triangular, mas não se
aplica às seções circulares.
Para isto, propõe uma forma alternativa de cálculo, pelo método dos
elementos finitos e utilizando, como ferramenta básica, o cálculo eletrônico.

9.5.4.5. Problema resolvido

Um decantador recebe a vazão de 50 litros por segundo, e suas calhas coletoras


apresentam configuração semelhante à que é representada na Figura 9.38.
a) Qual deverá ser a extensão mínima de suas bordas vertedouras?
b) Qual deverá ser a altura interna das calhas coletoras de água decantada,
supondo que sua largura interna seja igual a 0,30 m, e que elas tenham
descarga livre?
c) Sabendo-se que os vertedouros triangulares instalados nas soleiras
vertedouras ajustáveis têm forma de triângulos retângulos, com largura
igual a 0,10 m e altura igual a 0,05 m, e que há um total de 180
vertedouros no decantador, verifique se eles funcionarão
adequadamente.

Resolução:

a) Para atender à NBR 12216, essa extensão deverá ser:


L = 50 / 1,8 = 28 m
b) Altura interna da calha coletora (supondo descarga livre):
A altura máxima h, dada em metros, que a lâmina d’água atingirá no interior
dessa calha pode ser determinada através da expressão:
2
 Q 3
h= 
 1,838b 
onde:
Q = vazão recolhida pela calha, m3/s,
b = largura interna da calha, m
No caso em tela, as vazões recebidas pelas calhas das duas extremidades
será a metade da vazão das duas calhas centrais (visto que estas recolherão
água pelos seus dois lados, enquanto que as calhas das extremidades
recolherão água apenas por um de seus lados).
Denominando-se de q a vazão recebida em cada uma das duas calhas
centrais, a vazão nas calhas das extremidades será (q/2), e escreve-se:
q/2 + q + q + q/2 = 50 l/s
q = 16,67 L/s
q/2 = 8,33 L/s
Considere-se a hipótese mais desfavorável, ou seja, a das calhas coletoras
centrais que recebem vazão maior.

9-61
Sendo a largura interna dessas calhas igual a 0,30 m, a altura máxima da
lâmina d’água em seu interior será:
2 2
 Q 3  0,01667  3
h=  =h= 
 1,838b   1,838 x 0,30 
h = 0,113 m
A NBR 12216 recomenda que o nível d’água máximo no interior da canaleta
situe-se à distância mínima de 10 centímetros abaixo da borda vertente.
Assim sendo, as calhas em consideração seriam construídas com largura
igual a 0,30 m e altura mínima igual a 0,25 m, o que asseguraria, com folga, a
recomendação citada.
c) Verificação dos vertedouros triangulares
Essa verificação é feita através da fórmula de Thomson:
5
Q = 1,4h 2
2
 Q 5
h= 
 1,4 
O decantador em tela tem 180 vertedouros triangulares, com altura total
disponível (desde seu vértice até seu topo) igual a 5 centímetros. Assim sendo, a
altura da lâmina d’água em cada um desses vertedouros é determinada do modo
a seguir.
Vazão em cada vertedouro:
0,050
Q= = 0,000278 m 3 / s
180
altura correspondente:
2
 0,000278  5
h=  = 0,033m
 1,4 
que, por ser inferior aos 0,05 m disponíveis, mostra que os vertedouros
triangulares funcionarão adequadamente.

9.5.5. Descarga de decantadores

9.5.5.1. Tipos

Em decantadores clássicos de pequeno porte, a descarga de fundo tem,


como principal finalidade, o esvaziamento dessas unidades.
Assim sendo, após esvaziados, boa parte do lodo sedimentado em seus
interiores precisa ser arrastada até a descarga de fundo para ser removida.
Esse arraste é feito manualmente, com o auxólio de jatos d’água e rodos.
De modo geral, em decantadores clássicos de seção horizontal, a maior
parte dos flocos deposita-se no primeiro terço de seus comprimentos.
Por essa razão, os projetistas costumam localizar nessa região os
9-62
dispositivos de descarga de fundo.
Em estações de tratamento de água de grande porte, podem ser utilizados
raspadores de lodo, do tipo de arraste longitudinal ou rotativos.
Quando esses equipamentos são utilizados, raramente é necessário
esvaziar completamente os decantadores.

Fig. 9.39 – Descarga de fundo de decantadores de seção retangular

A Figura 9.39 (a)ilustra alguns exemplos de dispositivos de descarga de


fundo utilizados em decantadores clássicos de seção retangular.
Na Figura 9.39(a), a limpeza é efetuada manualmente. Observe que a
descarga de fundo foi localizada no primeiro terço da extensão longitudinal do
decantador.
Na Figura 9.39(b), um dispositivo automático arrasta o lodo sedimentado até
um poço de lodo (que pode ser localizado na entrada ou na saída do
decantador).
Quando esse dispositivo viaja em direção ao poço, o lodo é arrastado por
ele.
Ao atingir o poço, é acionada uma válvula automática, que permanece
aberta durante certo tempo (ajustável) para permitir a descarga do lodo.
Em seguida, o dispositivo faz a viagem no sentido inverso.
9-63
Durante essa viagem, os raspadores de lodo são levantados do fundo do
decantador.
Somente ao iniciar novamente a viagem em direção ao poço de lodo é que
os raspadores voltam a ser baixados para o fundo.
Na Figura 9.39 (c) o decantador foi equipado com um raspador rotativo.
Neste caso, o lodo é continuamente raspado pelo equipamento, que o dirige em
direção ao centro do poço de lodo, onde se encontra instalada a tubulação de
descarga.
Periodicamente uma válvula de descarga é acionada durante desto tempo
para permitir a saída do lodo sedimentado.
A Figura 9.40 ilustra a descarga de fundo em decantadores de seção
circular.
Na Figura 9.40 (a) a limpeza é manual. O decantador deve ser
completamente esvaziado para que se possa proceder à suaa limpeza.
Na Figura 9.40 (b) a descarga de fundo é efetuada utilizando um raspador
rotativo.
Neste caso, o lodo é continuamente raspado pelo equipamento, que o dirige
em direção ao centro do poço de lodo, onde se encontra instalada a tubuçação
de descarga.
Periodicamente uma válvula de descarga é acionada durante desto
tempo para permitir a saída do lodo sedimentado.

Fig. 9.40 – Descarga de fundo de decantadores de seção circular

9.5.5.2. Tempo de esvaziamento dos decantadores

Esse tempo pode ser determinado de acordo com as orientações


9-64
apresentadas por Azevedo Netto e Villela (Manual de Hidráulica, 5ª edição, São
Paulo, Edgard Blücher, 1969).
Conforme foi visto anteriormente, a vazão escoada através de um orifício de
área A, submetido a uma carga hidráulica h, pode ser calculada através da
expressão:
Q = Cd A 2gh
onde Cd é o coeficiente de descarga do orifício.
Assim sendo, o volume dV descarregado pelo orifício em causa num
intervalo de tempo dt é:
Qdt = Cd A 2ghdt = dV
Nesse mesmo intervalo, o decantador, de área superficial As, terá baixado
seu nível de uma altura dh, de tal forma que:
dVt = As dh
Igualando as expressões anteriores, obtém-se:
As dh = Cd A 2ghdt
As dh
dt =
Cd A 2gh
Integrando a expressão anterior entre duas alturas pré-determinadas h1 e h2,
obtém-se:
h2
As 1
t= ∫ dh
Cd A 2g h1 h
Caso o decantador seja completamente esvaziado, então h2 = 0. Neste
caso, fazendo h1 = h, obtém-se:
2 As
t= h
Cd A 2g
Os autores advertem que essa última expressão é aproximada, tendo em
vista que a fórmula utilizada para a determinação da vazão escoada através do
orifício é aplicável a orifícios pequenos, e que, no caso do esvaziamento total, a
partir de certo instante o orifício de descarga do decantador deixará de ser
considerável como pequeno, em vista da reduzida lâmina d’água sobre ele.
Fazendo Cd = 0,61 e 2g = 4,43, obtém-se:
A
t = 0,74 s h
A
onde:
t = tempo de esvaziamento, s;
As = área superficial do decantador, m2;
A = área da descarga, m2;
h = lâmina d’água sobre a descarga, m.

É comum dimensionar a descarga de fundo dos decantadores de forma a


9-65
esvazia-los num tempo máximo de 6 horas.
Evidentemente, para a equipe de operação, quanto menor for esse tempo,
melhor.
9.5.5.2.1. Problema resolvido

Um decantador cuja área, em planta, é: 6,00 x 25,00 = 150 m2 tem instalada


uma canalização de descarga de diâmetro 150 mm.
Determine seu tempo de esvaziamento, sabendo-se que a lâmina d’água
sobre a descarga é igual a 4 metros.

Resolução:

Seu tempo de esvaziamento será:


150
t = 0,74 4,00 = 1253s = 3,5horas
π (0,15 )2
4

9.5.5.3. Remoção hidráulica de lodos de fundo de decantadores,


através de manifolds

9.5.5.3.1. Introdução

A necessidade de se proceder à remoção hidráulica do lodo sedimentado no


fundo de decantadores tem surgido com relativa freqüência em projetos,
especialmente quando se deseja transformar decantadores clássicos de fluxo
horizontal em decantadores tubulares, através da instalação de módulos que
permitam a criação de uma zona de fluxo laminar em seu interior.
Por sua característica básica, os decantadores tubulares apresentam uma
dificuldade para a limpeza do lodo sedimentado.
É que, quase sempre, toda sua superfície em planta encontra-se coberta
por módulos tubulares.
Assim sendo, o acesso de operários ao fundo desses decantadores fica
dificultado.
Por isto, os projetistas idealizam sistemas de descarga de lodo que possam
operar por descarga hidráulica, sem que seja necessária a descida de operários
para efetuarem o arraste manual do lodo sedimentado.
A Figura 9.41 ilustra alguns exemplos de fundos de decantadores que
operam dessa forma.
Nas Figuras 9.41 (a) e (b), os decantadores têm fundos construídos em
forma de troncos de pirâmide, cujas paredes têm inclinação mínima de 50 graus
em relação à horizontal.
Dessa forma, todo o lodo será arrastado quando o registro de descarga for

9-66
acionado.
A região interna desses troncos de pirâmide é chamada poço de lodo.

Fig. 9.41 – Decantadores tubulares: descarga de fundo

Na Figura 9.41 (c) reproduz-se a solução adotada em São Sebastião do


Paraíso, Minas Gerais. Um decantador clássico foi transformado em decantador
tubular. Sob os módulos tubulares, construídos com placas de cimento-amianto,
foram construídos módulos de concreto armado em forma de “A”.
A parte superior do “A” é utilizada para a distribuição de água floculada sob
os módulos tubulares.
A parte inferior do “A” é utilizada como duto para o recolhimento e
condução do lodo sedimentado.
Quando um registro de descarga, existente numa das extremidades do duto
de recolhimento e condução do lodo é acionado, a água, contendo o lodo

9-67
sedimentado, é succionada pelos orifícios aí existentes.
Assim sendo, consegue-se a limpeza periódica do fundo do decantador.
Observe que todas as paredes internas dos dois poços de lodo (um de cada
lado dos módulos de concreto armado) são inclinadas de ângulo superior a 50
graus, seguindo o que preceitua a NBR 12216, com o objetivo de permitir o
arraste de todo o lodo que se sedimente sobre elas.

9.5.5.3.2. Resolução do problema

Neste caso, o que se pretende é remover periodicamente o lodo


sedimentado, através da simples atuação numa válvula, à qual se encontra
ligado um duto que opera a seção plena, e que dispõe de orifícios (ou tubos)
coletores ao longo se sua extensão.
As considerações hidráulicas a seguir serão feitas supondo ser diária a
periodicidade das descargas. Nessas condições, pode-se supor que o lodo não
estará compactado. Aplica-se, portanto, a equação obtida por Ingersoll, Mc Kee
e Brooks para o cálculo da velocidade que arrastará os flocos sedimentados:
8
U≥ vs
f
A NBR 12216 estabelece que os decantadores devem ser projetados para
removerem flocos com velocidades de sedimentação iguais ou superiores a 40
m3/(m2.dia), quando a capacidade da estação de tratamento for superior a 10000
m3/dia (para capacidades menores, as velocidades de sedimentação admissíveis
são menores).
Assim sendo, será admitido que se deseja arrastar, através do sistema de
drenagem, partículas de velocidade de sedimentação igual ao dobro
estabelecido pela Norma.
Deste modo, pretende-se também arrastar, além das partículas de maior
velocidade de sedimentação que serão removidas pelo decantador, outras que,
devido ao adensamento que ocorrerá no fundo dessa unidade, passarão a
apresentar velocidades de sedimentação superiores às originais.
Com o objetivo de arredondar os cálculos, será adotado vs igual a 86,4
m3/(m2.dia), pois, neste caso, o valor correspondente em metros por segundo é
igual a 10-3.
Com relação ao valor de f, a fórmula de Ingersoll, Mc Kee e Brooks mostra
que, quanto menor seu valor, maior será a velocidade necessária para arrastar o
floco sedimentado.
Consultando o ábaco de Moody (vide Anexo 6), e levando em conta que,
nas condições normais de trabalho do engenheiro projetista de estações de
tratamento de água, o número de Reynolds raramente ultrapassa 105, pode-se
adotar, com segurança, o menor valor de f correspondente a esse valor. Obtém-
se f aproximadamente igual a 0,018.
Processando os cálculos correspondentes:

9-68
8
U≥ 10 − 3 ∴ U ≥ 0,021m / s = 2,1cm / s
0,018
Considere-se agora a Figura 9.42. Admite-se que cada orifício do manifold
faz surgir superfícies isotáquicas esféricas. Estando o orifício situado na
superfície vertical de um diedro cujo ângulo é 90º, cada superfície isotáquica tem
a área de um quarto da esfera correspondente, ou seja:

Fig. 9.42 – Remoção hidráulica de lodos através de manifolds: distância


máxima entre dois orifícios consecutivos
1 πDi2
A= 4πr 2 =
4 4
onde Di é o diâmetro da esfera de influência correspondente.
Como o que se deseja é que a velocidade da água nessa esfera seja igual
ou superior a 2,1 centímetros por segundo, então:
q 4q
0,021 = =
A πD 2
1
onde q é a vazão escoada pelo orifício.
9-69
Decorre portanto:
4q
Di =
0,021π
Nessas condições, todos os flocos que se encontram sedimentados à
distância igual ou inferior a Di do orifício serão arrastados por ele ao ser
acionado o registro de descarga.
A distância entre os dois orifícios consecutivos será obtida em função de Di.
Conforme mostra a Figura 9.43 será permitida uma pequena superposição das
áreas de influência dos orifícios. Assim sendo, praticamente toda a área do
fundo do decantador será varrida.
A distância máxima entre dois orifícios consecutivos será adotada igual a:

ou seja:
4q
x = 0,866
0,021π
x = 6,74 q
Neste caso o valor máximo de L, expresso em função de x, será:

Fig. 9.43 – Fixação do valor de x em função de Di


Di x
L= = = 0,577 x
2 2 cos 30 º
Para que o duto coletor opere coletando vazões aproximadamente iguais em
todos os orifícios, deve-se variar sua seção, aumentando-a progressivamente de
montante para jusante, de forma a mantê-la proporcional ao número de orifícios
coletados.
As Tabelas a seguir apresentam as distâncias máximas entre orifícios de
9-70
sistemas coletores de lodo semelhantes am mostrado na Figura 9.44, bem como
as vazões em cada orifício (admitindo que em todos os orifícios do sistema
coletor elas sejam iguais) e total (igual à vazão em cada orifício vezes o número
de orifícios). Para determinar essas vazões, procedeu-se da forma indicada a
seguir.
• Perda de carga em cada orifício:
2
 q  1
hf ,o =  

 Cd Ao  2g
• Perda de carga no registro de descarga:
2 2
 Q  1  nq  1
hf , r =   =  
 Cd Ar  2g  Cd Ar  2g
onde: n = número de orifícios coletores

• Perda de carga total:


2 2
 q  1  1 n 
hf = hf , o + hf , r =  
 2g  2 +
2
 Cd   Ao Ar 
Portanto:
2ghf Cd2
q= = vazão em cada orifício
1 n2
+
Ao2 Ar2
Q = nq = vazão no registro de descarga

Fig. 9.44 – Profundidade do registro de descarga

9-71
Decantadores de fluxo laminar: sistema de drenagem de fundo
Espaçamento máximo entre orifícios
Registro de descarga D = 150 mm – orifícios D = 100 mm
h = 3m h = 4m h = 5m h = 6m
N
x L q Q x L q Q x L q Q x L q Q
1 1,23 0,71 33,57 33,57 1,33 0,77 38,76 38,76 1,40 0,81 43,34 43,34 1,47 0,85 47,48 47,48
2 1,12 0,64 27,46 54,92 1,20 0,69 31,71 63,41 1,27 0,73 35,45 70,90 1,33 0,77 38,83 77,66
4 0,90 0,52 18,01 72,04 0,97 0,56 20,80 83,19 1,03 0,59 23,25 93,01 1,08 0,62 25,47 101,89
6 0,77 0,44 12,90 77,40 0,82 0,47 14,89 89,37 0,87 0,50 16,65 99,92 0,91 0,53 18,24 109,45
8 0,67 0,39 9,95 79,57 0,72 0,42 11,49 91,88 0,76 0,44 12,84 102,73 0,80 0,46 14,07 112,53
10 0,61 0,35 8,06 80,64 0,65 0,38 9,31 93,12 0,69 0,40 10,41 104,11 0,72 0,42 11,40 114,05
12 0,55 0,32 6,77 81,24 0,60 0,34 7,82 93,81 0,63 0,36 8,74 104,88 0,66 0,38 9,57 114,90
14 0,51 0,30 5,83 81,61 0,55 0,32 6,73 94,24 0,58 0,34 7,53 105,36 0,61 0,35 8,24 115,42
16 0,48 0,28 5,12 81,85 0,52 0,30 5,91 94,52 0,55 0,32 6,60 105,67 0,57 0,33 7,23 115,76
18 0,45 0,26 4,56 82,02 0,49 0,28 5,26 94,71 0,52 0,30 5,88 105,89 0,54 0,31 6,44 116,00
20 0,43 0,25 4,11 82,14 0,46 0,27 4,74 94,85 0,49 0,28 5,30 106,04 0,51 0,30 5,81 116,17
24 0,39 0,23 3,43 82,30 0,42 0,24 3,96 95,03 0,45 0,26 4,43 106,25 0,47 0,27 4,85 116,39
28 0,37 0,21 2,94 82,39 0,39 0,23 3,40 95,14 0,42 0,24 3,80 106,37 0,43 0,25 4,16 116,52

Nomenclatura:
N = número de orifícios coletores q = vazão em cada orifício, L/s
h = profundidade do registro de descarga (m) Q = vazão total, L/s
L = espaçamento máximo entre orifícios (m)

Registro de descarga D = 200 mm – orifícios D = 100 mm


h = 3m h = 4m h = 5m h = 6m
N
x L q Q x L q Q x L q Q x L q Q
1 1,27 0,73 35,64 35,64 1,37 0,79 41,15 41,15 1,45 0,83 46,01 46,01 1,51 0,87 50,40 50,40
2 1,22 0,70 32,86 65,72 1,31 0,76 37,94 75,88 1,39 0,80 42,42 84,84 1,45 0,84 46,47 92,94
4 1,09 0,63 25,98 103,91 1,17 0,67 30,00 119,98 1,23 0,71 33,54 134,15 1,29 0,75 36,74 146,95
6 0,96 0,56 20,38 122,27 1,03 0,60 23,53 141,18 1,09 0,63 26,31 157,85 1,14 0,66 28,82 172,92
8 0,86 0,50 16,43 131,44 0,93 0,54 18,97 151,77 0,98 0,57 21,21 169,68 1,03 0,59 23,23 185,88
10 0,79 0,45 13,64 136,44 0,85 0,49 15,75 157,55 0,89 0,52 17,61 176,14 0,94 0,54 19,30 192,95
12 0,73 0,42 11,62 139,41 0,78 0,45 13,41 160,98 0,83 0,48 15,00 179,98 0,86 0,50 16,43 197,15
14 0,68 0,39 10,09 141,30 0,73 0,42 11,65 163,15 0,77 0,44 13,03 182,41 0,81 0,46 14,27 199,82
16 0,64 0,37 8,91 142,56 0,68 0,39 10,29 164,62 0,72 0,42 11,50 184,05 0,76 0,44 12,60 201,61
18 0,60 0,35 7,97 143,45 0,65 0,37 9,20 165,64 0,68 0,39 10,29 185,19 0,72 0,41 11,27 202,87
20 0,57 0,33 7,20 144,10 0,61 0,35 8,32 166,39 0,65 0,38 9,30 186,03 0,68 0,39 10,19 203,78
24 0,52 0,30 6,04 144,95 0,56 0,32 6,97 167,37 0,60 0,34 7,80 187,13 0,62 0,36 8,54 204,99
28 0,49 0,28 5,20 145,47 0,52 0,30 6,00 167,98 0,55 0,32 6,71 187,80 0,58 0,33 7,35 205,73

Nomenclatura:
N = número de orifícios coletores q = vazão em cada orifício, L/s
h = profundidade do registro de descarga (m) Q = vazão total, L/s
L = espaçamento máximo entre orifícios (m)
9-72
Registro de descarga D = 200 mm – orifícios D = 150 mm
h = 3m h = 4m h = 5m h = 6m
N
x L q Q x L q Q x L q Q x L q Q
1 1,81 1,04 72,04 72,04 1,94 1,12 83,19 83,19 2,06 1,19 93,01 93,01 2,15 1,24 101,89 101,89
2 1,58 0,91 54,92 109,83 1,70 0,98 63,41 126,82 1,79 1,04 70,90 141,79 1,88 1,08 77,66 155,33
4 1,23 0,71 33,57 134,28 1,33 0,77 38,76 155,06 1,40 0,81 43,34 173,36 1,47 0,85 47,48 189,91
6 1,03 0,60 23,48 140,90 1,11 0,64 27,12 162,69 1,17 0,68 30,32 181,90 1,23 0,71 33,21 199,26
8 0,90 0,52 17,93 143,45 0,97 0,56 20,71 165,64 1,03 0,59 23,15 185,19 1,07 0,62 25,36 202,87
10 0,81 0,47 14,47 144,68 0,87 0,50 16,71 167,06 0,92 0,53 18,68 186,78 0,96 0,56 20,46 204,61
12 0,74 0,43 12,11 145,36 0,80 0,46 13,99 167,85 0,84 0,49 15,64 187,66 0,88 0,51 17,13 205,57
14 0,69 0,40 10,41 145,78 0,74 0,43 12,02 168,33 0,78 0,45 13,44 188,20 0,82 0,47 14,73 206,16
16 0,64 0,37 9,13 146,05 0,69 0,40 10,54 168,65 0,73 0,42 11,78 188,55 0,77 0,44 12,91 206,55
18 0,61 0,35 8,12 146,24 0,65 0,38 9,38 168,86 0,69 0,40 10,49 188,79 0,72 0,42 11,49 206,81
20 0,58 0,33 7,32 146,37 0,62 0,36 8,45 169,02 0,66 0,38 9,45 188,97 0,69 0,40 10,35 207,00
24 0,53 0,30 6,11 146,55 0,57 0,33 7,05 169,22 0,60 0,35 7,88 189,19 0,63 0,36 8,64 207,25
28 0,49 0,28 5,24 146,65 0,52 0,30 6,05 169,34 0,55 0,32 6,76 189,33 0,58 0,33 7,41 207,40

Nomenclatura:
N = número de orifícios coletores q = vazão em cada orifício, L/s
h = profundidade do registro de descarga (m) Q = vazão total, L/s
L = espaçamento máximo entre orifícios (m)

Registro de descarga D = 250 mm – orifícios D = 150 mm


h = 3m h = 4m h = 5m h = 6m
N
x L q Q x L q Q x L q Q x L q Q
1 1,88 1,08 77,77 77,77 2,02 1,17 89,80 89,80 2,14 1,23 100,40 100,40 2,24 1,29 109,99 109,99
2 1,75 1,01 67,08 134,16 1,88 1,08 77,46 154,92 1,98 1,14 86,60 173,20 2,08 1,20 94,87 189,73
4 1,46 0,84 47,15 188,59 1,57 0,91 54,44 217,77 1,66 0,96 60,87 243,47 1,74 1,00 66,68 266,71
6 1,26 0,72 34,73 208,36 1,35 0,78 40,10 240,60 1,43 0,82 44,83 269,00 1,49 0,86 49,11 294,67
8 1,11 0,64 27,11 216,91 1,19 0,69 31,31 250,46 1,26 0,73 35,00 280,02 1,32 0,76 38,34 306,75
10 1,00 0,58 22,12 221,23 1,08 0,62 25,55 255,46 1,14 0,66 28,56 285,61 1,19 0,69 31,29 312,87
12 0,92 0,53 18,64 223,69 0,99 0,57 21,52 258,30 1,05 0,60 24,07 288,79 1,09 0,63 26,36 316,35
14 0,85 0,49 16,09 225,22 0,92 0,53 18,58 260,06 0,97 0,56 20,77 290,76 1,02 0,59 22,75 318,51
16 0,80 0,46 14,14 226,23 0,86 0,50 16,33 261,22 0,91 0,53 18,25 292,06 0,95 0,55 20,00 319,93
18 0,76 0,44 12,61 226,92 0,81 0,47 14,56 262,03 0,86 0,50 16,28 292,96 0,90 0,52 17,83 320,92
20 0,72 0,41 11,37 227,43 0,77 0,45 13,13 262,61 0,82 0,47 14,68 293,61 0,85 0,49 16,08 321,63
24 0,66 0,38 9,50 228,09 0,71 0,41 10,97 263,37 0,75 0,43 12,27 294,46 0,78 0,45 13,44 322,56
28 0,61 0,35 8,16 228,49 0,65 0,38 9,42 263,83 0,69 0,40 10,53 294,98 0,72 0,42 11,54 323,13

Nomenclatura:
N = número de orifícios coletores q = vazão em cada orifício, L/s
h = profundidade do registro de descarga (m) Q = vazão total, L/s
L = espaçamento máximo entre orifícios (m)

9-73
Registro de descarga D = 300 mm – orifícios D = 200 mm
h = 3m h = 4m h = 5m h = 6m
N
x L q Q x L q Q x L q Q x L q Q
1 2,47 1,43 134,28 134,28 2,65 1,53 155,06 155,06 2,81 1,62 173,36 173,36 2,94 1,69 189,91 189,91
2 2,23 1,29 109,83 219,66 2,40 1,38 126,82 253,65 2,54 1,46 141,79 283,58 2,66 1,53 155,33 310,65
4 1,81 1,04 72,04 288,18 1,94 1,12 83,19 332,76 2,06 1,19 93,01 372,03 2,15 1,24 101,89 407,54
6 1,53 0,88 51,60 309,59 1,65 0,95 59,58 357,48 1,74 1,00 66,61 399,67 1,82 1,05 72,97 437,82
8 1,34 0,78 39,79 318,29 1,44 0,83 45,94 367,53 1,53 0,88 51,36 410,91 1,60 0,92 56,27 450,13
10 1,21 0,70 32,26 322,57 1,30 0,75 37,25 372,48 1,38 0,79 41,64 416,44 1,44 0,83 45,62 456,19
12 1,11 0,64 27,08 324,97 1,19 0,69 31,27 375,25 1,26 0,73 34,96 419,54 1,32 0,76 38,30 459,58
14 1,03 0,59 23,32 326,45 1,11 0,64 26,93 376,95 1,17 0,67 30,10 421,44 1,22 0,71 32,98 461,67
16 0,96 0,56 20,46 327,42 1,04 0,60 23,63 378,07 1,10 0,63 26,42 422,69 1,15 0,66 28,94 463,04
18 0,91 0,53 18,23 328,08 0,98 0,56 21,05 378,84 1,03 0,60 23,53 423,55 1,08 0,62 25,78 463,98
20 0,86 0,50 16,43 328,56 0,93 0,54 18,97 379,39 0,98 0,57 21,21 424,18 1,03 0,59 23,23 464,66
24 0,79 0,46 13,72 329,19 0,85 0,49 15,84 380,12 0,90 0,52 17,71 424,99 0,94 0,54 19,40 465,55
28 0,73 0,42 11,77 329,57 0,79 0,45 13,59 380,56 0,83 0,48 15,20 425,48 0,87 0,50 16,65 466,09

Nomenclatura:
N = número de orifícios coletores q = vazão em cada orifício, L/s
h = profundidade do registro de descarga (m) Q = vazão total, L/s
L = espaçamento máximo entre orifícios (m)

Registro de descarga D = 400 mm – orifícios D = 250 mm


h = 3m h = 4m h = 5m h = 6m
N
x L q Q x L q Q x L q Q x L q Q
1 3,12 1,80 213,87 213,87 3,35 1,93 246,96 246,96 3,54 2,04 276,11 276,11 3,71 2,14 302,46 302,46
2 2,87 1,65 180,94 361,88 3,08 1,78 208,93 417,86 3,26 1,88 233,59 467,18 3,41 1,97 255,88 511,77
4 2,37 1,37 123,77 495,09 2,55 1,47 142,92 571,68 2,69 1,55 159,79 639,15 2,82 1,63 175,04 700,16
6 2,02 1,17 90,11 540,65 2,17 1,25 104,05 624,28 2,30 1,33 116,33 697,97 2,41 1,39 127,43 764,59
8 1,78 1,03 69,98 559,83 1,92 1,11 80,81 646,44 2,03 1,17 90,34 722,74 2,12 1,22 98,97 791,73
10 1,61 0,93 56,94 569,44 1,73 1,00 65,75 657,53 1,83 1,05 73,51 735,14 1,91 1,10 80,53 805,30
12 1,48 0,85 47,91 574,86 1,59 0,91 55,32 663,80 1,68 0,97 61,85 742,15 1,75 1,01 67,75 812,98
14 1,37 0,79 41,30 578,21 1,47 0,85 47,69 667,66 1,56 0,90 53,32 746,47 1,63 0,94 58,41 817,72
16 1,28 0,74 36,28 580,42 1,38 0,80 41,89 670,21 1,46 0,84 46,83 749,32 1,53 0,88 51,30 820,83
18 1,21 0,70 32,33 581,94 1,30 0,75 37,33 671,97 1,38 0,79 41,74 751,29 1,44 0,83 45,72 822,99
20 1,15 0,66 29,15 583,04 1,24 0,71 33,66 673,24 1,31 0,75 37,64 752,71 1,37 0,79 41,23 824,55
24 1,05 0,61 24,35 584,48 1,13 0,65 28,12 674,90 1,20 0,69 31,44 754,57 1,25 0,72 34,44 826,59
28 0,97 0,56 20,91 585,36 1,05 0,60 24,14 675,91 1,11 0,64 26,99 755,69 1,16 0,67 29,57 827,82

Nomenclatura:
N = número de orifícios coletores q = vazão em cada orifício, L/s
h = profundidade do registro de descarga (m) Q = vazão total, L/s
L = espaçamento máximo entre orifícios (m)

9-74
9.5.6. Distribuição de água floculada sob os módulos de decantadores
laminares de fluxo vertical

9.5.6.1. Descrição

Após entrar no decantador laminar de fluxo vertical, a água floculada


deve ser distribuída uniformemente sob os módulos tubulares.
Diversas concepções podem ser adotadas para esse fim.
A Figura 9.45 apresenta algumas dessas concepções.
Na Figura 9.45 (a), a água floculada, após passar pela comporta de acesso
(alguns decantadores podem ter mais de uma comporta de acesso), é conduzida
a um canal, de onde segue para a região sob os módulos.

A passagem da água floculada desde o canal até a região sob os


módulos é feita através de uma seção na qual existem pequenas vigas soltas,
que podem ser movimentadas livremente, umas em relação às outras.
.

Fig. 9.45 – Decantadores tubulares: sistema distribuidor

Com isto, e através do movimento dessas vigas, pode-se regular o fluxo


da água, uniformizando-o ao longo de toda a extensão da seção.
Desta forma, caso esteja saindo mais água no final da seção que em seu
trecho inicial, pode-se aproximar mais, umas das outras, as vigas existentes no
final da seção.
Deixa-se, assim, a seção inicial do canal com mais espaço para o
escoamento da água floculada.

9-75
Na Figura 9.45 (b), a distribuição de água floculada é feita através de uma
canalização perfurada (alguns decantadores podem ter mais de uma dessas
canalizações para esse fim).
Neste caso, não é possível ao operador efetuar qualquer tipo de ajuste.
Assim sendo, o perfeito funcionamento do sistema dependerá
exclusivamente do projeto, a ser muito bem elaborado, e da correta execução da
obra.
A Figura 9.45 (c) ilustra o caso em que são utilizados tubos de
prolongamento.
Esses tubos têm por objetivo conduzir a água floculada até a região mais
central sob os módulos.
Consegue-se, desta forma, melhor distribuição de água floculada e, deste
modo, melhor desempenho do decantador.
Como pode ser visto, os tubos podem partir de um canal ou de um tubo
distribuidor.
Como no caso dos tubos distribuidores, o perfeito funcionamento do sistema
dependerá exclusivamente do projeto, que deverá ser muito bem elaborado, e
da correta execução da obra.
Ele não permite ao operador efetuar qualquer tipo de ajuste.

9.5.6.2. Dimensionamento

O sistema distribuidor deve ser dimensionado de modo que os gradientes de


velocidade em seu interior sejam, no máximo, iguais ao da última câmara de
floculação, com o objetivo de evitar a quebra dos flocos previamente formados.
A verificação dos gradientes de velocidade é feita consultando-se os
gráficos de Parlatore.
Além disto, devem assegurar que a água floculada seja distribuída do modo
mais uniforme possível sob as placas dos decantadores.
Para atingir esse objetivo, pode-se fazer com que o duto principal (que
distribui a água floculada para os orifícios ou tubos de prolongamento) tenha
seção variável, como foi feito para o canal de acesso aos decantadores
clássicos.
Se isto não for possível, uma receita de bolo é fazer com que a área da
seção transversal do duto distribuidor seja igual ao superior ao dobro da soma
das áreas dos orifícios ou tubos de prolongamento alimentados por ele.
Finalmente, é importante assegurar que a velocidade média no interior do
duto principal seja igual ou superior a 0,10 m/s, com o objetivo de impedir a
sedimentação de flocos em seu interior.

9.6. Problema resolvido

Uma estação de tratamento de água, que trata a vazão de 240 l/s, tem
dois decantadores idênticos ao que é representado na Figura 9.46, que recebem
a água de um floculador cujo gradiente de velocidade, em sua última câmara, é
igual a 20 s-1 a 20° C.
9-76
Verifique se ele atende convenientemente aos seguintes itens:
• gradientes de velocidade nas comportas de acesso e cortina
distribuidora;
• taxa de escoamento superficial;
• velocidade média de escoamento horizontal;
• vazão por metro de calha coletora de água decantada;
• altura interna da calha coletora (supondo descarga livre);
• dimensões dos vertedouros triangulares;
• tempo de esvaziamento do decantador.

Fig. 9.46 – Problema resolvido 9.6

Resolução:

a) Gradiente de velocidade nas comportas de acesso:


Por serem duas comportas de acesso, a vazão em causa será:
Q = 120/2 = 60 L/s
Entrando no gráfico de Parlatore (Figura 9.47), encontra-se:
G = 12 x 1,24 = 14,88 s-1
Esse valor é inferior ao da última câmara de floculação e, portanto, as
comportas são adequadas.
b) Gradiente de velocidade na cortina distribuidora.
O número de orifícios da cortina é:
6 orifícios na vertical;
9-77
19 orifícios na horizontal.
Portanto:
6 x 19 = 144 orifícios
Vazão em cada orifício:
120 / 114 = 1,05 L/s
Área de cada orifício:
π (0,06 )2
A= = 0,0028 m 2
4

Fig. 9.47 – Gradiente de velocidade nas comportas de acesso

Velocidade em cada orifício:


0,00105
U= = 0,37m / s
0,0028
Número de Reynolds:
UD 0,37 x 0,06
Re = = = 22200
ν 10 − 6
Determinação de x/S:

Veja como determinar esta relação na Figura 9.48.


Obtém-se:
x/S = 4,0
Determinação de x:
Sendo S a distância, eixo a eixo, entre os orifícios da cortina distribuidora, então:
x = 4,0 x 0,50 = 2,0 m.

9-78
Determinação de G:

D πU 3
G=
S 8Cd2νx

0,06 π (0,37 )3
G=
( )
0,50 8(0,61)2 10 − 6 (2,0 )
G = 19,6 s-1

Este valor é inferior ao da última câmara de flloculação e, portanto, a cortina é


adequada.

Fig. 9.48 – Gradiente de velocidade na cortina

c) Taxa de escoamento superficial


Q = 120 L/s
ou seja:
Q = 120 x 86,4 = 10368 m3/(m2.dia)
A área superficial do decantador é:
A = 30 x 10 = 300 m2
Portanto, a taxa de escoamento superficial é:
Q/A = 10368 / 300 = 34,56 m3/(m2.dia)
Tendo em vista que a capacidade da estação de tratamento de água é 240 L/s =
20736 m3/dia (superior, portanto, a 10000 m3/dia) e que, de acordo com a NBR
12216, a taxa de escoamento superficial máxima permitida para capacidades

9-79
superiores a 10000 m3/dia é 40 m3/(m2.dia), o decantador é adequado.
d) Velocidade média de escoamento horizontal
A área útil da seção transversal do decantador é (descontados os 0,50 m
reservados ao acúmulo de lodo):
A = 10 x 3 = 30 m2
Assim sendo, a velocidade procurada será:
U= 0,120 / 30 = 0,004 m/s
Compare-se esse valor ao máximo estabelecido pela fórmula:
Umáx = 18 vs
para a verificação da velocidade máxima.
Tendo em vista que esse decantador poderia trabalhar com taxa de
escoamento superficial máxima igual a 40 m3/(m2.dia), à qual corresponde a
velocidade de sedimentação igual a 2,78 cm/minuto, então obter-se-ia:
Umáx=18 x 2,78 = 50,04 cm / minuto = 0,0083 m/s
Assim sendo, a velocidade máxima de escoamento horizontal é praticamente a
metade do valor máximo permitido, e atende, com folga, ao desejado.
e) Vazão por metro de calha coletora de água decantada
O decantador tem quatro calhas coletoras de água decantada.
O comprimento das bordas vertedouras nas duas calhas centrais é:
12 + 0,30 + 12 = 24,30 m
e nas calhas laterais:
12 + 0,30 = 12,30 m
Em todo o decantador existem, portanto:
24,30 x 2 + 12,30 x 2 = 73,20 m de bordas vertedouras
A vazão por metro de borda vertedoura é, portanto:
120 / 73,20 = 1,64 L/ (s x .m)
inferior, portanto, ao limite máximo estabelecido pela NBR 12216, fixado em 1,80
L / (s x m).
f) Altura interna da calha coletora
A vazão que cada uma das calhas centrais coleta é:
1,64 x (12 + 12 + 0,30) = 40 L/s
Admitindo que as calhas coletoras tenham descarga livre, então a altura
máxima é obtida através da expressão:
2
 Q 3
h= 
 1,38b 
2
 0,040  3
h= 
 1,38 x 0,30 
h = 0,21 m
inferior, portanto, aos 30 centímetros correspondentes à altura total disponível no
interior dessas calhas.
Entretanto, a NBR 12216 estabelece que a distância entre esse nível e a
borda da calha coletora seja de 10 centímetros.
Assim sendo, para atendê-la, será necessário que a lâmina d´água no
9-80
interior da calha coletora fosse, no máximo, igual a (30 - 10) 20 centímetros.
Portanto, a norma não é atendida (embora, na prática, e face à pequena
diferença encontrada, possivelmente o engenheiro certamente aceitasse os
riscos de não atender a esse item da NBR 12216!).
g) Dimensões dos vertedouros triangulares
Conforme indica a Figura 9.46, existe um vertedouro triangular a cada 15
centímetros de borda vertedoura.
O número aproximado desses vertedouros em todo o decantador será,
portanto:
73,20 / 0,15 = 488
A vazão em cada vertedouro será:
120 / 488 = 0,246 L/s
A altura da lâmina d´água acima do vértice de cada vertedouro pode ser
obtida através da fórmula de Thomson:
5
Q = 1,4h 2
2
 Q 5
h= 
 1,4 
2
 0,000246  5
h= 
 1,4 
h = 0,033 m
inferior aos 0,05 m disponíveis (portanto, a água não passará sobre a soleira
vertedoura).
h) Tempo de esvaziamento do decantador
É obtido através da fórmula:
0,74 As
t= h
A
onde:
As = área superficial do decantador = 10 x 30 = 300 m2
2
h = altura da lâmina d'água sobre a abertura de saida =π.(0,25)
[ /4] =
2
= 0,0491 m .
Portanto:
0,74 x 300
t= 3,50 = 8458s = 2h21min
0,0491
inferior ao tempo máximo recomendado pela NBR 12216, fixado em 6 horas.

9.7. Problema resolvido

Determinar a vazão máxima suportada pelo decantador representado na


Figura 9.49, em vista dos limites estabelecidos pela NBR 12216. Sabe-se que o
gradiente de velocidade na última câmara do floculador que o precede é 20 s-1
(20oC), e que ele deverá estar apto a remover a totalidade dos
9-81
flocos com velocidade de sedimentação igual ou superior a 0,000405 m/s.

Resolução:

a) Tubo distribuidor de água floculada:


Seu diâmetro é igual a 500 mm
A vazão correspondente ao gradiente de velocidade igual a 20 s-1 (máxima
permissível) é obtida a partir dos gráficos de Parlatore.

Fig. 9.49 - Problema 9.7

Para utilizá-lo, deve-se levar em conta a temperatura da água.


Admitindo que ela seja igual a 20oC, e sabendo-se que os gráficos de
Parletore foram preparados para T = 4oC, deve-se dividir o gradiente de
velocidade desejado por 1,24:
G = 20 / 1,24 = 16 s-1
Cruzando os dados de G e D, encontra-se (Figura 9.50):
Q = 45 L/s
b) Orifícios distribuidores de água floculada
O tubo distribuidor tem 4 orifícios D = 200 mm de cada lado, ou seja, 8
orifícios ao todo.
A vazão correspondente ao gradiente de velocidade igual a 20 s-1 (máxima
permissível) é obtida a partir dos gráficos de Parlatore.
Para utilizá-lo, deve-se levar em conta a temperatura da água.
Admitindo que ela sesa igual a 20oC, e sabendo-se que os gráficos de
Parlatore foram preparados para T = 4oC, deve-se dividir o gradiente de
velocidade desejado por 1,24:
G = 20 / 1,24 = 16 s-1
Cruzando os dados de G e D, encontra-se (Figura 9.51):
Q = 5 L/s
9-82
Multiplicando-se esse valor por 8, obtém-se:
Q = 40 L/s

Fig. 9.50 - Determinação de G no tubo distribuidor

Fig. 9.51 - Determinação de G nos orifícios

9-83
c) Placas paralelas
O espaço disponível para a instalação de placas no interior do decantador é:
(6,00 - 1,20 x cos 60o) x sen 60o = 5,40 x 0,866 = 4,67 m
O número de placas que pode ser instalado no interior do decantador é:
...
A área útil disponível entre as placas (e perpendicular ao fluxo) é, portanto:
78 x 0,05 x 4,00 = 15,60 m2
O problema afirma ainda que o decantador deverá estar apto a remover a
totalidade das partículas cuja velocidade de sedimentacão seja igual ou superior
a 0,000405 m/s.
Serão utilizadas as fórmulas:
Lt = L + L'
v sc Sc
= ∴
vo sen θ + l 1 cos θ
v Sc
∴ sc = ∴
vo L1
senθ + cos θ
d
d  v H2O .Sc 
∴ L1 = − senθ 
cos θ  v sc 

v H O .d
∴ l 2 = 0,058 2 ∴
ν
L v H O .d
∴ 2 = 0,058 2 ∴
d ν
v H2O .d 2
∴ L2 = 0,058
ν
Assim sendo, obtém-se:
d  v H2O .Sc  v H2O .d 2
Lt = L1 + L2 = 
− senθ + 0,058
cos ϑ  v sc 
 ν
Substituindo os valores, obtém-se:
0,05  Qx1  Q(0,05 )2
1,20 =  − 0,866  + 0,058
0,50  15,60 x 0,000405  15,60 x10 − 6
1,20 = 15,83 Q - 0,09 + 9,29 Q
Q = 1,29 / 25,1 = 0,051 m3/s = 51 L/s
- Calha coletora de água decantada:
A vazão máxima recomendada pela NBR 12216 por metro de bodas
vertedouras dos decantadores de fluxo laminar é:
q = 2,5 L/(s . m)
No decantador em tela existem, ao todo, 12 m de bordas vertedouras.
Portanto, a vazão máxima que elas suportam é:
Q = 2,5 x 12 = 30 L/s
9-84
Além disto, a lâmina d'água máxima que elas suportam em seu interior,
respeitados os 0,10 m de borda livre, é:
h = 0,30 - 0,10 = 0,20 m
A vazão correspondente é calculada pela expressão:
3
Q = 1,38bh 2
Substituindo os valores:
Q = 1,838 x 0,30 x 0,203/2
Q = 0,059 m3/s
Conclusão:
A capacidade do decantador está limitada pela capacidade vertedoura da calha
coletora de água decantada, que permite o tratamento de, no máximo, 30 litros
por segundo.

9-85
Questões para recapitulação
(respostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)


1. Normalmente, os decantadores clássicos são: de seção retangular e de seção
circular, em planta.
2. Alguns decantadores de seção circular permitem que se crie um manto de
lodo em seu interior, capaz de melhorar muito a qualidade da água decantada.
3. Um fator determinante para o adequado desempenho dos decantadores
clássicos é a denominada taxa de escoamento superficial.
4. A NBR 12216 fixa a taxa limite de escoamento superficial dos decantadores
de acordo com a capacidade da estação de tratamento de água.
5. A observância da taxa de escoamento superficial não é suficiente, por si só,
para assegurar o adequado desempenho do decantador, devendo ser também
observada a velocidade de escoamento horizontal em seu interior, para evitar
que sejam arrastados os flocos sedimentados.
6. A distribuição equitativa da água floculada através das comportas de acesso
ao decantador para o interior dessas unidades depende muito de se haver feito
um bom projeto da unidade a montante dessas comportas.
7. É importante verificar o gradiente de velocidade nas comportas de acesso ao
decantador; ele deverá ser inferior ao gradiente de velocidade correspondente à
última câmara de floculação, para evitar que os flocos se quebrem ao passar por
elas.
8. Nos decantadores clássicos, a melhor forma de assegurar a distribuição
equitativa da água em seu interior é fazer com que a velocidade ao longo do
canal de acesso aos decantadores se mantenha constante, e sempre superior a
0,10 m/s (para evitar a sedimentação de flocos em seu interior), embora nunca
superior a 0,45 m/s (de forma a evitar aa quebra desses flocos).
9. Nos decantadores circulares, deve-se tomar o cuidado de assegurar a não
existência de fluxos preferenciais na distribuição das vazões para cada uma
dessas unidades.
10. Cortinas mal dimensionadas poderão distribuir mal as vazões, ou quebrar os
flocos, caso a velocidade de passagem da água através dos orifícios seja muito
alta.
11. Quanto maior o comprimento das soleiras vertedouras das calhas coletoras
de água decantada no interior do decantador, menor será a altura da lâmina
d'água vertente sobre eles e, em consequência, melhor será a qualidade da
água decantada.
12. É didicil fazer com que as soleiras vertedouras das calhas coletoras de água
deacantada estejam perfeitamente niveladas, por razões construtivas.
13. A NBR 12216 recomenda que, em decantadores clássicos, se tenha calhas
coletoras de água decantada em extensão suficiente para assegurar que a
vazão por metro de borda vertente não seja superior a 1,8 litros por segundo.
14. De modo geral, em decantadores clássicos de seção retangular, a maior
parte dos flocos deposita-se no último terço de seu comprimento.
9-86
15. É comum dimensionar a descarga de fundo dos decantadores de forma a
esvaziá-los num tempo mínimo de 6 horas, embora, para a equipe de operação,
quanto maior seja esse tempo, melhor.
16. Num decantador tubular típico, de placas paralelas inclinadas de 60 graus, a
água floculada é introduzida ob as placas, e a água decantada sai pela parte de
cima do decantador, sendo coletada por calhas coletoras.
17. Decantadores clássicos não podem ser convertidos em decantadoeres
tubulares.
18. Projetos adequados podem, muitas vezes, dobrar a vazão tratada por
decantadores clássicos, através de sua conversão para decantadores tubulares,
ou até mais do que isto.
19. Existe uma nova tendência de se projetar decantadores tubulares em que o
fluxo da água é horizontal.
20. Do correto projeto, e da construção cuidadosa, das comportas de acesso,
depende muito o sucesso da operação dos decantadores tubulares.
21. Entre as concepções adotadas para a distribuição de água floculada sob as
placas do decantador tubular, citam-se: (i) seção na qual existem pequenas
vigas soltas, que podem ser movimentadas livremente, umas em relação às
outras; (ii) canalização perfurada (alguns decantadores podem ter mais de uma
dessas canalizações para esse fim); (iii) tubos de prolongamento.
22. O sistema distribuidor de água floculada sob as placas do decantador tubular
deve ser dimensionado de modo que os gradientes de velocidade em seu
interior sejam sempre superiores ao da última câmara de floculação.
23. Módulos tubulares podem ser adquiridos prontos ou construídos no local,
utilizando placas lisas de cimento-amianto ou PVC, ou mesmo telhas onduladas,
que podem ser de cimento-amianto, PVC ou fibra de vidro.
24. O comprimento dos módulos tubulares compreende a soma de dois
comprimentos: o que diz respeito à zona de decantação laminar propriamente
dita e outro imediatamente anterior, correspondente à denominada zona de
transição..
25. Quanto menor o comprimento das soleiras vertedouras no interior do
decantador, menor será a altura da lâmina d'água vertente sobre eles.
26. A desigualdade da altura da lâmina vertente sobre as soleiras vertedouras no
interior do decantador pode fazer com que haja o arraste preferencial de flocos
nos locais em que a lâmina d'água for maior.
27. Sistemas de descarga de lodo de decantadores capazes de operar por
descarga hidráulica, sem que seja necessária a descida de operários para
efetuarem o arraste manual do lodo sedimentado, são usuais em decantadores
tubulares.

Respostas:

1. (v); 2. (v); 3. (v); 4. (v); 5. (v); 6. (v); 7. (v); 8. (v); 9. (v); 10. (v); 11. (v); 12. (v);
13. (v); 14. (f); 15. (f); 16. (v); 17. (f); 18. (v); 19. (v); 20. (v); 21. (v); 22. (f); 23.
(v); 24. (v); 25. (f); 26. (v); 27. (v)
9-87
Referências bibliográficas

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. P-NB-590 -


Elaboração de projetos hidráulicos de sistemas de captação de águas de
superfície para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1977.
2. ASSOCIAçÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12216 - Projeto
de estação de tratamento de água para abastecimento públco; procedimento.
Rio de Janeiro, 1992. 18p..
3. BENEFIELD, L. D. et al. Treatment plant hydraulics for environmental
engineers. New Jersey, Prentice-Hall, 1984. 231p.
4. CAMP, T. R. Lateral spillway channels. Transactions of the American Society
of civil engineers. N. 105, p. 606, 1940.
5. __________ Applied hydraulic design of treatment plants. - part 1. In:
SEMINAR PAPERS ON WASTEWATER TREATMENT AND DISPOSAL., 1961,
Boston, Anais...Boston: Boston Society of Civil Engineers, 1961, p.231.
6. DI BERNARDO, L. Decantação convencional e laminar: aspectos de projeto.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA, 9, 1977, Belo
Horizonte. Anais...Belo Horizonte: ABES, 1977, V.3, p.60-73.
7. FAIR, G. M. The hydraulics of rapid sand filters. Journal Institute of Water
Engineers
8. __________ GEYER, John Charles, OKUN, Daniel alexander. Sedimentación.
n: __________ Purificación de agyas y remción de aguas residuales. Mexico:
Limusa, 1973, v.2, cap.25, p.153-185.
9. HUDSON JR., H. E. Physical aspects of flocculation. Journal AWWA. v.57,
n.7, p.885-92, Jul. 1965.
10. __________ et al. Divding-flow manifolds with square-edged laterals. Journal
of Environmental Engineering Division. ASCE, n.105, p.745, 1999.
11. MENDES, M. F. de A. Calhas coletoras de água decantada, de seção
retangular: um estudo experimental. Hidráulica e saneamento. Belo Horizonte,
v.2, n.1, p.1-47, jan. a980.
12. ___________ Hidráulica das calhas coletoras e canalizações perfuradas
para coleta de água decantada, de seção retangular: um estudo experimental.
Hidráulica e Saneamento. Belo Horizone, v.2, n.2, p.173-97, jul.1980.
13. METCALF & EDDY. Physical unit operations. In: __________ Wastewater
engineering: treatment, disposal, reuse. New Delhi: Tataraw-Hill, 1981, cap.6,
p.180-255.
14. PARLATORE, Antônio Carlos. Mistura e Floculação. In: Técnic de
abatecimento e tratamento de água. São Paulo, CETESB, 1974, v.2, cap. 22,
p.767-814.
15. RICH, L. G. Unit operation for sanitary engineers. New York: John Wiley &
Sons, 1981.
16. YAO, K. M. Theoretical study of high-rate sedimentation. Journal WPCF,
v.42, n.2, p.218-28, Feb.1970.

9-88
10.1. Introdução

Em tratamento de água, a filtração pode ser realizada através de processos


que podem ser:
a) predominantemente biológicos: nos filtros lentos;
b) predominantemente físicos, químicos e fisico-químicos: nos filtros rápidos.
Neste livro, grande parte da atenção será dedicada à hidráulica dos filtros
rápidos, em vista de seu emprego mais generalizado, por motivos que serão
expostos mais adiante neste Capítulo.

10.2.Generalidades

Após decantada, a água em tratamento é encaminhada aos filtros.


Em algumas estações de tratamento, a água é apenas previamente
coagulada ou, noutros casos, previamente coagulada e floculada.
Conforme vimos anteriormente, denominam-se estações clássicas de
tratamento de água as estações que realizam, em unidades separadas, a
mistura rápida, a floculação, a decantação e a filtração.
Quando os filtros recebem água coagulada ou floculada, sem passar,
portanto, pelo decantador, diz-se que a estação de tratamento de água é do tipo
de filtração direta.
A filtração, numa estação de tratamento clássica, remove, da água em
tratamento, as partículas em suspensão que não foram retidas na decantação.
Juntamente com essas partículas, a filtração remove também os
microrganismos que a elas estiverem associados.
Existem diversos tipos de filtros, concebidos para atuarem de diferentes
formas no tratamento da água. Diversos autores vêm propondo modos diferentes
para classificá-los. Em especial, a classificação proposta por Libânio 8 parece ser
a mais abrangente.
Do ponto de vista da análise hidráulica do comportamento básico dos filtros,
a filtração pode ser efetuada segundo uma das seguintes concepções:
Filtração de fluxo descendente
• de baixa taxa de filtração (filtros lentos);
• de alta taxa de filtração (filtros rápidos):
a) de camada simples;
b) de camadas múltiplas: duplos (areia e antracito) - vide Obs. (I)
Filtração de fluxo ascendente
• de baixa taxa de filtração (filtros lentos ascendentes);

10-1
• de alta taxa de filtração: filtros rápidos ascendentes (ou clarificadores de
contato, ou filtros russos) - vide Obs. (II)

Observações:
(I) Embora só tenham sido citados aqui os filtros de camada dupla e simples,
poder-se-ia citar também os filtros de camada tripla (utilizando granada, areia e
antracito, nesta ordem, de baixo para cima). Teoricamente, poder-se-ia
empregar quantas diferentes camadas fossem desejadas. Entretanto, na prática,
os filtros de camada simples e dupla são os mais utilizados (a NBR 12216 só faz
menção a esses dois tipos). No que se refere ao comportamento hidráulico, o
que será visto para esses tipos de filtros poderá ser estendido para um maior
número de camadas.
(II) Na realidade, qualquer dessas denominações não faz jus à excepcional
capacidade de tratamento desse tipo de unidade. isto porque, no interior dos
filtros ascendentes ocorrem, simultaneamente, a floculação, a decantação e a
filtração. Assim sendo, ao denominá-los de filtros ascendentes deixa-se de
mencionar suas duas outras funções, tão importantes quanto a primeira. Por
outro lado, a palavra clarificação é muitas vezes utilizada como sinônimo de
decantação; repete-se, dessa forma, a injustiça; já a denominação filtros russos"
provém da origem das primeiras unidades de fluxo ascendentes implantadas no
Brasil, cuja concepção evoluiu tanto nos últimos anos que as atuais unidades
diferem, em quase tudo, das originais. Entretanto, do ponto de vista hidráulico,
os fenômenos que ocorrem em seu interior podem ser estudados utilizando o
mesmo ferramental matemático deduzido para os demais tipos de filtros. A
denominação filtros ascendentes está sendo adotada neste livro em homenagem
ao cientista que mais tem se dedicado a estudá-los no Brasil - professor Luis Di
Bernardo - que a adota em seus trabalhos.

10.2.1. Filtros lentos

Destinados a potabilizar águas brutas de excelente qualidade física, química


e fisico-química, os filtros lentos são capazes de propiciar águas tratadas com
expressivas reduções no índice de coliformes, entre outras melhorias.
Entretanto, por requererem águas brutas de boa qualidade, e por imporem
áreas filtrantes muito grandes, isto é, por exigirem grandes áreas para sua
implantação (esses dois requisitos infelizmente vêm se tornando cada vez mais
raros), os filtros lentos vêm caindo em desuso.
Como complicador, acrescenta-se o processo de lavagem de seu leito
filtrante, quase sempre realizado manualmente, o que é fortemente rejeitado por
suas equipes operacionais.
Além disto, após a lavagem do filtro, a água filtrada necessita que o leito
filtrante amadureça (isto é, readquira sua camada filtrante biológica, o que leva
dias) para voltar a produzir água filtrada de qualidade satisfatória.
Conforme foi mencionado, os filtros lentos podem ser de fluxo descendente
(mais comuns) ou ascendentes.
No primeiro caso, uma complexa comunidade biológica desenvolve-se na
superfície do leito filtrante, após certo tempo de funcionamento (é o tempo de

10-2
amadurecimento a que se fez referência anteriormente) e passa a subsistir da
matéria orgânica trazida pela água a ser filtrada.
Tal comunidade biológica é capaz de reter partículas e impedir a passagem
de microrganismos, inclusive os patogênicos, o que é responsável pela
excelente qualidade bacteriológica apontada para o efluente de filtros lentos.
No segundo caso, a água é filtrada inicialmente pela denominada camada
suporte e, em seguida, pelo leito filtrante propriamente dito.
Os defensores dessa concepção atribuem a esse tipo de filtro maiores
carreiras de filtração, tendo em vista que a passagem da água ocorre primeiro
por grãos mais grossos e, somente então, por grãos mais finos, o que propiciaria
a oportunidade do desenvolvimento da camada biológica filtrante não apenas na
superfície do filtro, mas em boa parte do seu volume.

10.2.2. Filtros rápidos de fluxo descendente

São os mais utilizados em estações clássicas de tratamento de água.


A Figura 10.1 representa o arranjo geral desse tipo de filtros.
Observe que a água a filtrar é introduzida na parte superior do filtro; percola,
em seguida, através do leito filtrante e, logo após, através da camada suporte;
atravessa, posteriormente, o fundo falso e é encaminhada, finalmente, ao duto
ou reservatório de água filtrada.

Fig. 10.1 – Filtro de fluxo descendente: esquema explicativo

10.2.3. Filtros rápidos de fluxo ascendente

Muitos estudos vêm sendo realizados a respeito desse tipo de filtro,


procurando determinar, entre outros elementos, as especificações mais
adequadas para a camada de areia e para a camada suporte.

10-3
Acima da camada de areia, calhas coletoras ou tubos perfurados recolhem a
água filtrada.
A lavagem é efetuada injetando-se água para lavagem da mesma forma - de
baixo para cima - com velocidade suficiente para expandir o leito de areia.
A água de lavagem é recolhida por calhas coletoras instaladas acima do
leito de areia.

Fig. 10.2 – Filtro de fluxo ascendente: esquema explicativo

Na maioria dos casos, a mesma calha que recolhe a água filtrada recolhe
também a água de lavagem (Figura 10.3).

Fig. 10.3 – Filtro de fluxo ascendente: calha coletora comum para água
filtrada e água de lavagem

10-4
Assim sendo, o destino da água que cai em seu interior - se vai para o
reservatório de contato ou para o esgoto - é determinado por comportas
instaladas a jusante dessas calhas.
Alguns consideram ser esta uma falha dos filtros ascendentes. Eles não são
a prova de descuido - um operador descuidado pode permitir a contaminação da
água tratada, se manobrar equivocadamente essas comportas, e permitir o
desvio da água de lavagem para o reservatório de contato.
Outros criticam o fato de que pela parte superior dos filtros ascendentes
passa água filtrada ou água de lavagem, conforme a hora, o que torna possível a
contaminação da água tratada nesse tipo de filtro.
Existe também a evidente limitação dos filtros ascendentes para o
tratamento de águas com elevados teores e sólidos, que podem fazer com que
eles colmatem rapidamente.
Nesses casos, a necessidade de lavagem dos filtros pode tornar-se muito
freqüente (no limite, toda a água tratada por eles seria gasta para lavá-los).
Críticas à parte, os filtros ascendentes constituem importante alternativa
para o tratamento da água, com custo bastante interessante (inferior, em muitos
casos, ao das instalações clássicas de tratamento, envolvendo floculação,
decantação e filtração em unidades separadas).
Sabe-se hoje que a camada suporte exerce importante papel na filtração
ascendente. É grande a quantidade de sólidos retidos em seu interior.
Assim sendo, alguns estudos apontam para a conveniência de se realizar
descargas de fundo periódicas, antes de se proceder à lavagem ascencional.
Outros estudos apontam para a conveniência de se instalar uma malha de
tubos perfurados no interior da camada suporte, com o objetivo de lavá-la melhor
(uma espécie de sistema auxiliar de lavagem, semelhante ao que existe nos
filtros de fluxo descendente) (Figura 10.4).
Utilizados principalmente na Europa, esse tipo de filtros começa a ser
estudado no Brasil. Seu leito filtrante é constituído por grãos maiores e não
estratificados.
Para lavá-lo sem estratificá-lo, é necessário injetar a água para lavagem
com velocidade inferior à que seria necessária para expandi-lo.
Entretanto, assim procedendo, não se consegue remover o material que foi
retido durante a filtração.
Por este motivo, esses leitos filtrantes são lavados simultaneamente com ar
e água.
Por não ser comum no Brasil, esse tipo de filtro não será examinado em
detalhe neste livro.
Entre os estudos experimentais realizados a respeito desses filtros, Di
Bernardo5 relatou experiências realizadas por ele com areia de diâmetro quase
uniforme (tamanho efetivo igual a 1,00 mm e coeficiente de uniformidade igual a
1,18) e profundidade de 1,20 metro. Esse filtro chegou a operar satisfatoriamente
com taxas de até 750 m3 / (m2.dia).
O diâmetro quase uniforme permite que se fluidifique o leito filtrante durante
a lavagem, tendo em vista que praticamente não ocorrerá fluidificação.

10-5
O mesmo autor relatou novas experiências comparativas com materiais
semelhantes e diferentes granulometrias (tamanhos efetivos: 0,86; 1,00; 1,30
mm; coeficientes de uniformidade respectivos: 1,16; 1,18; 1,08), e mesmas
profundidades para os leitos filtrantes, iguais a 1,20 m 6.

Fig. 10.4 – Filtro de fluxo ascendente com sistema auxiliar de lavagem da


camada suporte

10.2.4. Filtros rápidos de fluxo descendente, de camada espessa

Utilizados principalmente na Europa, esse tipo de filtros começa a ser


estudado no Brasil. Seu leito filtrante é constituído por grãos maiores e não
estratificados.
Para lavá-lo sem estratificá-lo, é necessário injetar a água para lavagem
com velocidade inferior à que seria necessária para expandi-lo.
Entretanto, assim procedendo, não se consegue remover o material que foi
retido durante a filtração.
Por este motivo, esses leitos filtrantes são lavados simultaneamente com ar
e água.
Por não ser comum no Brasil, esse tipo de filtro não será examinado em
detalhe neste livro.
Entre os estudos experimentais realizados a respeito desses filtros, Di
Bernardo5 relatou experiências realizadas por ele com areia de diâmetro quase
uniforme (tamanho efetivo igual a 1,00 mm e coeficiente de uniformidade igual a
1,18) e profundidade de 1,20 metros. Esse filtro chegou a operar
satisfatoriamente com taxas de até 750 m3 / (m2.dia).
O diâmetro quase uniforme permite que se fluidifique o leito filtrante durante
a lavagem, tendo em vista que praticamente não ocorrerá fluidificação.
O mesmo autor relatou novas experiências comparativas com materiais
semelhantes e diferentes granulometrias (tamanhos efetivos: 0,86; 1,00; 1,30
mm; coeficientes de uniformidade respectivos: 1,16; 1,18; 1,08), e mesmas
profundidades para os leitos filtrantes, iguais a 1,20 m 6.

10-6
10.3. Leitos filtrantes, camada suporte e fundos falsos

Basicamente, os filtros são constituídos de um leito filtrante, formado por


uma ou mais camadas de material granular, instalada(s) sobre um sistema
drenante, denominado fundo falso (tendo em vista que sob ele é que se encontra
o fundo verdadeiro do filtro - ver Figuras 10.5, 10.6, 10.7 e 10.8).
Entre ambos é instalada a denominada camada suporte.
Os Itens a seguir descrevem as características de cada um desses
componentes.

10.3.1. Leito filtrante

É no leito filtrante que, de fato, ocorrerá a filtração propriamente dita da água


em tratamento.
Os materiais utilizados nos filtros das estações de tratamento de água são
materiais granulares, especificados adequadamente.
Nos filtros lentos, o material normalmente utilizado é a areia.
Nos filtros rápidos, normalmente são utilizados o antracito e a areia.
Nos filtros lentos, normalmente os grãos de areia permanecem com suas
posições relativas inalteradas umas em relação às outras (leito filtrante não
estratificado).
No caso dos filtros rápidos, na maioria das estações de tratamento de água
brasileiras, os materiais filtrantes ficam estratificados no interior dos filtros.
Estratificado significa que os grãos menores ficam em cima; os grãos
maiores ficam em baixo; e que o tamanho dos grãos vai decrescendo de baixo
para cima no interior do leito filtrante.
Essa estratificação ocorre porque, nessas estações de tratamento de água,
a lavagem dos filtros é feita com uma velocidade ascencional suficiente para
fluidificar o leito filtrante.
Quando isto acontece, os grãos menores são arrastados mais para cima do
que os grãos menores.
As características da areia e do antracito utilizados em leitos filtrantes são
descritas nos sub-itens a seguir.

10.3.1.1. Areia

A areia utilizada em filtros de estações de tratamento de água pode ser


obtida nos rios ou lagos, ou mesmo em praias de água salgada.
Deverá ser limpa, sem barro ou matéria orgânica, e não conter mais de 1%
de particulas micáceas (partículas de mica ou malacacheta).
Para saber se a areia é limpa, efetua-se o denominado teste de solubilidade
em ácido clorídrico (HCl) a 40%.
Após esse teste, em que a areia permanece em contato com o ácido
durante 24 horas, a perda de material deve ser inferior a 5%.
É feito também o teste de perda por ignição. Neste caso, a perda de material
deve ser inferior a 0,7%.
O peso específico da areia é da ordem de 2,6 gramas por centímetro cúbico.

10-7
As características granulométricas estabelecidas pela NBR 12216 para a
areia destinada a leitos filtrantes são transcritas a seguir.
• Areia para filtros lentos:
Tamanho efetivo: de 0,25 mm a 0,35 mm
Coeficiente de uniformidade: menor que 3
Espessura mínima: 0,90 m
• Areia para filtros rápidos de fluxo descendente, de camada simples:
Tamanho efetivo: de 0,45 a 0,55 mm
Coeficiente de uniformidade: de 1,4 a 1,6
Espessura mínima: 0,45 m
• Areia para filtros rápidos de fluxo descendente, de camada dupla:
Tamanho efetivo: de 0,40 a 0,45 mm
Coeficiente de uniformidade: de 1,4 a 1,6
Espessura mínima: 0,25 m
• Areia para filtros rápidos de fluxo ascendente:
Tamanho efetivo: de 0,7 a 0,8 mm
Coeficiente de uniformidade: inferior ou igual a 1,2
espessura mínima: 2,0 m.
A especificação adotada pela COPASA difere um pouco da anterior, sendo a
que se apresenta a seguir.
• Areia para filtros lentos:
Tamanho efetivo: de 0,30 mm a 0,40 mm
Coeficiente de uniformidade: de 2 a 3
Diâmetro do grão menor: 0,25 mm
Diâmetro do grão maior: 1,68 mm
• Areia para filtros rápidos de fluxo descendente, de camada simples:
Tamanho efetivo: de 0,50 a 0,60 mm
Coeficiente de uniformidade: de 1,4 a 1,6
Diâmetro do grão menor: 0,42 mm
Diâmetro do grão maior: 1,68 mm
• Areia para filtros rápidos de fluxo descendente, de camada dupla:
Tamanho efetivo: de 0,45 a 0,55 mm
Coeficiente de uniformidade: de 1,4 a 1,6
Diâmetro do grão menor: 0,42 mm
Diâmetro do grão maior: 1,68 mm
• Areia para filtros rápidos de fluxo ascendente:
Tamanho efetivo: de 0,7 a 0,8 mm
Coeficiente de uniformidade: de 1,8 a 2,0
Diâmetro do grão menor: 0,50 mm
Diâmetro do grão maior: 2,38 mm

10.3.1.2. Antracito

O antracito é um carvão mineral (portanto, de origem fóssil). É de cor negra,


podendo ter aspecto brilhante. É pobre em substâncias voláteis.

10-8
Sua massa específica, da ordem de 1,4 a 1,6 gramas por centímetro cúbico,
é inferior à da areia.
Isto faz com que ele possa ser utilizado em filtros rápidos de camada dupla
sobre a areia, sem se misturar com ela.
Sendo o antracito mais leve, e sendo a granulometria da areia e do antracito
adequadamente especificadas, todas as vezes que o filtro for lavado, o antracito
subirá mais que a areia. Terminada a lavagem, a areia ficará por baixo e o
antracito por cima.
A diferença de pesos específicos faz com que o antracito possa ser
especificado com grãos maiores que a areia: a areia continuará ficando por baixo
e o antracito por cima.
Isto possibilita que filtros com areia e antracito trabalhem com taxas de
filtração superiores às dos filtros que só utilizam areia porque, nesses filtros, a
água passa primeiro pelo antracito, que tem grãos maiores (que retêm grande
parte dos flocos); caberá à areia reter a parcela remanescente.
Entretanto, para evitar que areia e antracito se misturem, sendo maiores os
grãos de antracito e menores os de areia, Fair, Geyer e Okun 7 recomendam a
observância da seguinte equação:
Du (c e )e ρ e − ρ H2O
=
De (c e )u ρ u − ρ H2O
onde os índices u e e referem-se, respectivamente, aos grãos maiores da
camada superior e aos grãos menores da camada inferior, e os demais termos
traduzem as seguintes grandezas:
D = diâmetro dos grãos constituintes da camada filtrante (vide Item a
seguir);
ce = coeficiente de esfericidade dos grãos constituintes do leito filtrante
(vide Anexo 5 deste livro);
ρ = massa específica do material constituinte da camada filtrante;
ρ H2O = massa específica do material constituinte da camada filtrante;
O conteúdo de carvão livre do antracito não deve ser inferior a 85% em
peso, e a percentagem máxima de partículas planas deve ser de 30%.
Sua solubilidade em ácido clorídrico (HCl) a 40% durante 24 horas deve ser
desprezível, e em soda cáustica (NaOH) a 1% não deve ser superior a 2%.
Uma das principais características do antracito deve ser sua resistência à
abrasão (atrito com outras partículas), pois, não sendo o antracito
suficientemente resistente, suas partículas acabarão se desintegrando. Em
conseqüência, o volume de antracito (e, portanto, sua altura dentro do filtro)
diminuirá rapidamente.
Por esta razão, deve-se escolher um antracito que apresente perda de
material não superior a 1% após 60 horas de lavagem (o ideal é que essa perda
não seja superior a 0,5%).
As características granulométricas estabelecidas pela NBR 12216 para o
antracito destinado a leitos filtrantes são transcritas a seguir.
• Antracito para filtros rápidos de fluxo descendente, de camada dupla:
Tamanho efetivo: de 0,80 mm a 1,0 mm

10-9
Coeficiente de uniformidade: inferior ou igual a 1,4
Espessura mínima: 0,45 m
A especificação adotada pela COPASA difere um pouco da anterior, sendo a
que se apresenta a seguir.
• Antracito para filtros rápidos de fluxo descendente, de camada dupla:
Tamanho efetivo: de 0,80 mm a 1,0 mm
Coeficiente de uniformidade: de 1,4 a 1,7
Diâmetro do grão menor: 0,71 mm
Diâmetro do grão maior: 2,83 mm

10.3.2. Fundos falsos

Embora existam fundos falsos construídos de materiais porosos (raros no


Brasil), o usual é que eles sejam dotados de orifícios, através dos quais é
estabelecida a comunicação entre o leito filtrante e a região sob o fundo falso
(plenum).
Nos filtros de fluxo descendente, os fundos falsos coletam a água filtrada,
sob a camada filtrante, durante a filtração. Posteriormente, por ocasião da
lavagem dos filtros, os fundos falsos distribuem uniformemente, no leito filtrante,
a água destinada a esse fim.
No caso dos filtros de fluxo ascendente, tanto durante a filtração quanto por
ocasião da lavagem dos filtros, os fundos falsos distribuem uniformemente, no
leito filtrante, a água coagulada ou para lavagem, respectivamente.
Por este motivo, diferentemente no que ocorre nos filtros de fluxo
descendente, nos quais os fundos falsos estão sempre cheios de água filtrada,
nos filtros ascendentes eles estarão quase sempre cheios de água coagulada.
Assim sendo, e conforme a origem da água bruta, ou o tipo de pré-
tratamento que ela tenha sofrido, o plenum poderá conter significativa
quantidade de sólidos - alguns até grosseiros, tais como fragmentos de folhas e
gravetos - que poderão comprometer, a médio prazo, seu funcionamento.
O projetista atento cuida para que a água afluente aos filtros ascendentes
pase por pré-tratamento adequado ao tipo de fundo falso – e vice-versa.
Além disto, cuida para que o fundo falso de filtros de fluxo ascendente
seja facilmente inspecionável, ou até mesmo desmontável, para limpá-lo no caso
de (indesejáveis, porém possíveis) obstruções.
Existe uma infinidade de tipos de fundos falsos - pré-fabricados ou do tipo
que se pode construir no próprio canteiro de obras.
Os Itens a seguir descrevem os tipos mais usuais de fundos falsos.

10.3.2.1. Fundos patenteados

a) Bocais

São representados esquematicamente na Figura 10.5.


Originalmente esses bocais eram fabricados de porcelana. Atualmente
podem ser encontrados fabricados de plástico ou nylon.

10-10
Observe que existem bocais próprios para quando se deseja efetuar a
lavagem auxiliar com ar, dotados de um pequeno tubo que desce certa distância
abaixo da laje do fundo falso.
Nesse pequeno tubo, há um rasgo, ou alguns furos, por onde o ar poderá
entrar.
Ao ser introduzido o ar para a lavagem auxiliar do filtro, é criado um colchão de
ar entre a face inferior a laje e o rasgo, ou os furos, dos tubos dos bocais, no
qual circulará o ar utilizado na lavagem auxiliar.
No caso de filtros de fluxo ascendente, em que a água coagulada é
introduzida sob o fundo falso e em que a camada suporte desempenha papel
primordial, não há qualquer vantagem em se utilizar bocais com ranhuras muito
pequenas; pelo contrário, quanto maiores forem os orifícios dos bocais, melhor.

Fig. 10.5 - Bocais patenteados para fundos falsos

b) Blocos perfurados

Quando se fala em blocos para fundos de filtros no Brasil, a marca comercial


imediatamente associada é a Leopold.
Esses blocos eram originalmente fornecidos em cerâmica, e muitas
estações de tratamento de água ainda utilizam esses modelos, próprios para a
lavagem com água (com ou sem lavagem superficial ou subsuperficial auxiliar).
Atualmente eles são fornecidos em plástico, havendo um modelo para a lavagem
apenas com água e também modelos próprios para a lavagem auxiliar com ar.
Neste último caso eles são conhecidos como blocos universais.
A Figura 10.6 ilustra esses dois tipos de blocos.

10-11
Em filtros ascendentes são utilizados blocos adequados à lavagem
apenas com água.
A Figura 10.7 ilustra esse tipo de bloco instalado com um dispositivo que
permite lavar-lhes internamente quando for necessário, através da injeção de
água para lavagem em seção oposta à saída de água de lavagem.

Fig. 10.6 - Blocos patenteados para fundos falsos

Fig. 10.7 - Filtro de fluxo ascendente com fundo falso utilizando blocos
cerâmicos

10-12
10.3.2.2. Fundos que podem ser construídos no canteiro de obras

Como salientado anteriormente, a disponibilidade financeira pode inviabilizar


a utilização de fundos patenteados, apesar do excelente desempenho desses
equipamentos.
Em tais casos, fundos falsos podem ser construídos no próprio canteiro de
obras.
Os Itens a seguir descrevem os tipos mais utilizados no Brasil.

a) Tubulação perfurada

Sua construção é extremamente simples, vide Figura 10.8.

Fig. 10.8 – Fundo falso utilizando tubos perfurados em filtros de fluxo


descendente

Um sistema de tubos perfurados, instalados em paralelo (cada um desses


tubos é chamado de lateral) recolhe a água filtrada, no caso dos filtros de fluxo
descendente, e a encaminha até um tubo, ou duto de concreto, de maior seção
(esse tubo ou duto é chamado de principal).
Daí ela é encaminhada ao seu destino final.
Durante a lavagem, a água percorre o caminho inverso.
No caso de filtros de fluxo ascendente, tanto a água coagulada quanto a
água para lavagem são encaminhadas ao principal, que a distribui para os
laterais, e daí para a camada suporte e leito filtrante, sucessivamente, através
dos orifícios dos laterais. A água filtrada, ou de lavagem, conforme o caso, é
recolhida pelas calhas coletoras, situadas sobre o leito, e segue então para seu
destino final.
O Anexo 8 apresenta diretrizes para a especificação dessas camadas
suporte.

10-13
O arranjo recomendado para sistemas de tubos perfurados utilizados como
fundo falso de filtros de fluxo ascendente é representado esquematicamente na
Figura 10.9.
Observe a diferença de concepção entre a que é apresentada nessa
Figura e a que foi apresentada para a tubulação perfurada dos filtros de fluxo
descendente.
A diferença permite assegurar a limpeza do sistema, com o objetivo de
desobstrui-lo.

Fig. 10.9 – Fundo falso utilizando tubos perfurados em filtros de fluxo


descendente

b) Vigas pré—fabricadas

No Brasil, têm sido muito utilizadas as denominadas vigas californianas,


ilustradas na Figura 10.10.
Elas podem ser fundidas no próprio canteiro de obras, utilizando o
concreto armado para esse fim.
Para a camada suporte, a COPASA utiliza os diâmetros, espessuras e
ordenamento reprodauzidos na Figura 10.11.
No caso de filtros de fluxo ascendente, é recomendável adotar o arranjo
representado na Figura 10.12.

10.3.3. Camada suporte

Normalmente ela é constituída de seixos rolados, colocados em camadas


sucessivas, umas sobre as outras, de forma a possibilitar a transição entre o
tamanho dos grãos do leito filtrante e o tamanho dos orifícios do fundo falso.

10-14
Fig. 10.10 – Vigas pré-fabricadas (californianas) para fundos falsos

Fig. 10.11 – Camada suporte utilizada pela COPASA para fundos falsos que
utilizam vigas californianas

10-15
Fig. 10.12 – Filtro ascendente utilizando vigas californianas como fundo
falso

O número de sub-camadas e diâmetros extremos dos grãos dos seixos que


constituem a camada suporte dependem da granulometria do material filtrante a
ser colocado sobre ela e do diâmetro dos orifícios do fundo falso sobre o qual ela
se apóia.
Impede-se, desta forma, que os grãos se percam através desses
orifícios, permanecendo sempre sobre a camada suporte.
No caso de fundos falsos patenteados, seus fabricantes apresentam
recomendações para a camada suporte ideal que deverá ser colocada sobre
eles.
Vigas californianas também requerem camadas suporte de espessuras
maiores que as exigidas por fundos falsos patenteados.
De modo geral, aplicam-se às camadas suporte as seguintes
características:
a) espessura mínima igual ou superior a duas vezes a distância entre os
bocais do fundo do filtro, porém não inferior a 25 cm;
b) material distribuído em estratos com granulometria decrescente no
sentido ascendente, espessura de cada estrato igual ou superior a duas vezes e
meia a dimensão característica dos seixos maiores que o constituem, porém não
inferior a 5 cm;
c) cada estrato deve ser constituído por seixos de tamanho máximo
superior ou igual ao dobro do tamanho dos menores;

10-16
d) os seixos maiores de um estrato devem ser iguais ou inferiores aos
menores do estrato situado imediatamente abaixo;
e) o estrato situado diretamente sobre os bocais deve ser constituído de
material cujos seixos menores tenham o tamanho pelo menos igual ao dobro dos
orifícios dos bocais e dimensão mínima de 1 cm;
f) o estrato em contato direto com a camada filtrante deve ter material de
tamanho mínimo igual ou inferior ao tamanho máximo do material da camada
filtrante adjacente.
Em caso de filtro de fluxo ascendente, a espessura mínima da camada
suporte deve ser de 0,40 m, sendo que cada estrato deve ter espessura mínima
de 7,5 cm.
O Anexo 9 deste livro contém orientações para o projeto da camada
suporte, inclusive para a denominada camada simétrica.
A camada suporte simétrica difere da cama suporte tradicional porque,
enquanto nestas, a granulometria é decrescente de baixo para cima; na primeira
a granulometria é decrescente até certa altura, voltando a crescer em seguida.
Ela tem se mostrado útil em filtros que utilizam lavagem auxiliar com ar e
também em modernos filtros de fluxo ascendente, conforme será visto nos
próximos Itens.
A Figura 10.13 compara os dois tipos descritos.

Fig. 10.13 – Camadas suporte (a) assimétrica e (b) simétrica: exemplos

10-17
10.4. Velocidades de interesse na filtração

Segundo Di Bernardo 3, há duas velocidades de interesse na filtração:


Velocidade de aproximação (ou taxa de filtração): igual à vazão afluente ao
filtro dividida pela área:
Q
v a = , onde:
A
Q = vazão afluente ao filtro;
A = área da seção do leito filtrante perpendicular ao fluxo.
Velocidade média intersticial: igual à velocidade de aproximação dividida pela
porosidade do leito filtrante:
v
vi = a
P
onde P é a porosidade média do leito filtrante, dada por:
Vv
P=
Vv + Vg
sendo:
Vv= volume de vazios;
Vg = volume dos grãos o meio filtrante.

Essa última velocidade tem pouco interesse prático, no que diz respeito ao
projeto e à operação de estações de tratamento de água. Por este motivo, este
livro destacará apenas a velocidade de aproximação ou taxa de filtração.

Exemplo: Uma estação de tratamento de água que trata 100 litros por segundo
e que é equipada com quatro filtros, sendo as dimensões, em planta, do leito de
cada filtro, iguais a 3,00 m x 4,00 m, terá a seguinte taxa de filtração:
Q = 100 x 86,4 = 8640 m3/dia
A (cada filtro) = 3 x 4 = 12 m2
taxa de filtração = Q/A = 2160 / 12 = 180 m3/(m2.dia)
Se se admitir que a porosidade média de seu leito filtrante é da ordem de
40%, então a velocidade média intersticial será:
vi = 180 / 0,4 = 450 m3/(m2.dia)

10.4.1. Taxas de filtração: disposições da NBR 12216

A NBR 12216 2 estabelece o seguinte, em relação às taxas de filtração:


Filtros lentos:
(5.11.9) A taxa de filtração a ser adotada deve ser determinada por
experiências em filtros piloto, em período superior ao necessário para a
ocorrência de todas as variações da qualidade da água.
Não sendo possível realizar essas experiências, a taxa de filtração não deve
ser superior a 6 m3/(m2.dia).
Filtros rápidos:

10-18
(5.12.5) A taxa de filtração a ser adotada é determinada por meio de filtro
piloto operado com a água a ser filtrada, com camada filtrante igual à dos filtros a
serem construídos.
Não sendo possível proceder a experiências em filtros piloto, as taxas
máximas são as seguintes:
a) para filtros de camada simples, 180 m3/(m2.dia).
b) para filtros de camada dupla, 360 m3/(m2.dia).
A taxa máxima em filtros de fluxo ascendente é fixada, pela citada Norma,
em 120 m3/(m2.dia).
As experiências piloto de Di Bernardo, no entanto, vêm mostrando que essa
taxa pode chegar a 300 m3/(m2.dia).

10.4.1.1. Problema resolvido

Deseja-se tratar a vazão de 100 litros por segundo através de filtração em


unidades de fluxo ascendente.
Sabendo-se que a idéia é construir quatro filtros em paralelo, qual deverá
ser a área de cada filtro?

Resolução:

De acordo com a NBR 12216, a taxa média máxima de filtração permitida


em filtros de fluxo ascendente é de 120 metros cúbicos por metro quadrado por
dia.
Assim sendo, a área filtrante total necessária é:
A = 100 x 86,4 / 120 = 72 m2
A área de cada filtro deverá ser, portanto:
A1 = 72 / 4 = 18 m2

10.4.1.2. Problema resolvido

Uma estação de tratamento de água tem quatro filtros, de leito filtrante simples
de areia, com as seguintes dimensões em planta:
comprimento: 2,50 m
Largura: 1,00m
Deseja-se ampliar sua capacidade, que passará de 40 litros por segundo.
Se os leitos filtrantes forem alterados para do tipo duplo, com areia e
antracito, os filtros assim reformados terão condições de suportar a nova vazão?

Resolução:

A nova vazão, em metros cúbicos por dia, será:


Q = 40 x 86,4= 3456 m3/dia
A área filtrante dos quatro filtros é:
A = 4 x 2,50 x 1,00= 10 m2
Portanto, a taxa de filtração correspondente será:
Q/A = 3456 / 10 = 345,6 m3/(m2.dia)

10-19
Que é inferior aos 360 m3/(m2.dia) recomendados como valor máximo pela NBR
12216.
Assim sendo, eles suportarão a nova vazão.

10.5. Perda de carga no leito filtrante

Essa perda de carga obedece às leis do escoamento em meios porosos.


Esses escoamentos, quando ocorrem com as velocidades de aproximação
estabelecidas pela NBR 12216, se fazem no regime laminar, aplicando-se a eles
a lei de Darcy (ver Item 6.22.1 do Capítulo 6):
v = kj
onde:
v = velocidade aparente no meio poroso = velocidade de aproximação = va;
k = coeficiente de proporcionalidade (denominado coeficiente de permeabilidade,
ou simplesmente permeabilidade);
j = declividade da linha de carga (perda de carga unitária).
A expressão anterior pode ser reescrita da forma:
h
va = k f (1)
l
onde:
hf = perda de carga no leito filtrante;
l = espessura da camada filtrante;
k = coeficiente de permeabilidade.
O coeficiente k varia com o tempo. Inicialmente, estando o filtro limpo
(recém lavado), seu valor é mínimo.
À medida que o tempo passa, e que o filtro vai retendo maiores quantidades de
materiais em suspensão, seu valor vai aumentando, atingindo seu valor máximo
no instante em que é retirado para ser lavado.
O valor desse coeficiente, aplicável a águas limpas percolando através de
leitos de areia limpa, pode ser calculado através da equação:
2
gρ Po3 V 
k=   (2)
K k µ (1 − P )  A 
2
o
onde:
Po = porosidade do leito de areia;
V = volume real da areia;
A = área superficial da areia correspondente a esse volume;
Kk = coeficiente de Kozeny (aproximadamente igual a 5,0 para a maior parte das
condições de filtração das águas).
Transportando a equação (2) para a equação (1), obtém-se a denominada
equação de Kozeny:
hf K µ (1 − Po )2  A 
2
= k va   (3)
l g ρ Po3 V 
Deve-se levar em conta que as partículas constituintes do leito filtrante não
são esferas.

10-20
Define-se coeficiente de esfericidade como s relação entre as áreas de duas
partículas de mesmo volume: a partícula esférica e a partícula real (ver Anexo 5
deste livro):
Aesfera / Apartícula = Ce ... Apartícula = Aesfera / Ce
Nestas condições, a equação de Kozeny pode ser reescrita como:
2
hf K µ
= k va
(1 − Po )2  Aesfera 
l g ρ Po3  V particula .Ce 
 
ou, tendo em vista que, da definição de coeficiente de esfericidade, Vpartícula =
Vesfera:

Porém:
4
Aesfera = 4πR2 e Vesfera = πR 3
3
Portanto:
Aesfera 3 6
= =
Vesfera R D
Logo:
K µ v a (1 − Po )2  6 
2
hf
= k  
l g ρ Ce2 Po3 D
Fazendo Kk = 5, encontra-se:
hf 180 µ v a (1 − Po )2  1 
2
=  
l g ρ Ce2 Po3 D
ou ainda:
hf 180ν v a (1 − Po )2  1 
2
=   (4)
l g Ce2 Po3 D

10.5.1. Perda de carga em leitos estratificados

Num filtro limpo, estratificado através de lavagem em contracorrente, a perda de


carga é a soma das perdas de carga nas camadas sucessivas de areia.
Tendo em vista que a espessura de cada uma das n camadas é
praticamente igual à fração, em peso, do material filtrante de dado diâmetro,
Fair e Hatch reescreveram a equação (4) da seguinte forma:
hf 180ν (1 − Po )2 v a n  x i 
= ∑i = 1  2 
l g Po3 Ce2  Di 
onde:
hf = perda de carga;
L = espessura da camada filtrante;
ν = viscosidade cinemática da água;

10-21
g = aceleração da gravidade;
Po = porosidade inicial;
va velocidade de aproximação;
Ce = coeficiente de esfericidade dos grãos do meio filtrante;
xi = fração, em peso, do material filtrante retido entre duas peneiras
consecutivas.
Fair, Geyer e Okun (op. citada) determinam a abertura média das malhas
das duas peneiras consecutivas .através da expressão:
Di = D j .Dk
onde:
Di = tamanho médio das malhas de duas peneiras consecutivas, de tamanhos
iguais a Dj e Dk.
Do exposto, obtém-se que o valor do coeficiente de permeabilidade k da lei
de Darcy, correspondente à situação de leitos filtrantes estratificados limpos, é:
−1
  
180ν (1 − Po )
2
n  x i 
k0 =  ∑ i = 1 2  
 gC 2 Po3
 e  Di  
Com o passar do tempo, seu valor tende a diminuir cada vez mais, até
atingir o valor correspondente à perda de carga máxima admissível, quando
então o filtro deverá ser lavado.
Esse valor é estabelecido tendo por base os resultados de estudos piloto, ou
a experiência regional adquirida para águas semelhantes àquela cujo tratamento
estiver sendo projetado.

10.5.1.1. Problema resolvido

Determinar a equação da perda de carga que ocorrerá no leito filtrante


recém lavado de um filtro de dupla camada, estando a água à temperatura de
20oC. As características principais de cada material utilizado são listadas a
seguir.
Areia
espessura: 025 m
diâmetro do grão menor: 0,50 mm
diâmetro do grão maior:1,68 mm
coeficiente de esfericidade: 0,78
porosidade: 0,43
Antracito
espessura: 0,45 m
diâmetro do grão menor: 0,71 mm
diâmetro do grão maior: 2,83 mm
coeficiente de esfericidade: 0,70
porosidade: 0,46

10-22
Resolução:

O valor do coeficiente de pemeabilidade k da lei de Darcy, correspondente à


situação de filtro limpo, é dado por:
−1
  
180ν (1 − Po )
2
n  x i 
ko =  ∑ i = 1 2 
 gC 2 Po3
 e  Di 
Para a areia,são dados os seguintes valores:
Ce = 0,78
Po = 0,43
Na ausência de ensaio granulométrico, para que se possa determinar o
valor de
 x 
∑ni=1 i2 
 Di 
pode-se fazer:
n=1
x=1
D = média geométrica dos valores extremos dos diâmetros, ou seja:
D = 0,50 x1,68 = 0,917 mm = 0,000917 m
Substituindo os valores, encontra-se:
−1
180 x 0,000001 (1 − 0,43 )2 1 
ko =  
 9,8 x 0,78 2 0,43 3 0,000917 2 
ko = 0,0069
A equação da perda de carga na areia será, portanto:
h v l 
v a = ki ∴ i = f = a ∴ hf =  v a
l k k 
 0,25 
hf =  v a = 36,23v a
 0,0069 
Para o antracito, são dados os seguintes valores:
Ce = 0,70
Po = 0,46
Na ausência de ensaio granulométrico, para que se possa determinar o
valor de
 x 
∑ni=1 i2 
 Di 
pode-se fazer:
n=1
x=1
D = média geométrica dos valores extremos dos diâmetros, ou seja:

10-23
D = 0,71x 2,83 = 1,417 mm = 0,001417 m
Substituindo os valores, encontra-se:
−1
180 x 0,000001 (1 − 0,46 )2 1 
ko = 
 9,8 x 0,70 2 0,46 3 0,001417 2 
ko = 0,0182
A equação da perda de carga no antracito será, portanto:
h v l 
va = ki ∴ i = f = a ∴ hf =  v a
l k k 
 0,45 
hf =  v a = 24,73v a
 0,0182 
A equação da perda de carga total no leito filtrante limpo será:
hf = hf ,areia + hf , antracito
hf = (36,23 + 24,73 )v a = 60,96v a
Assim, por exemplo, se esse filtro trabalhar com taxa de filtração (va) igual a
360 m3/(m2dia) (0,00417 m/s), a perda de carga correspondente no leito filtrante
limpo será:
hf = 60,96 x 0,00417 = 0,25 m

10.5.2. Perda de carga em leitos não estratificados

Nessas situações, a areia encontra-se assentada de forma homogênea.


Assim sendo, segundo Fair, Geyer e Okun 7, cada fração, em peso, de diâmetro
nominal Di do material filtrante contribui para a perda de carga com sua fração
de área total.
Considerando-se que a esfericidade seja uniforme, tem-se:
A 6 n xi
= ∑
V C e i = 1 Di
Pode-se então re-escrever a equação (3) da forma:
2
hf K µ (1 − Po )2  6 x 
= k va
g ρ
 ∑ni=1 Di 
l Po3  Ce i 
µ
ou ainda, fazendo Kk = 5 e =ν :
ρ
2
hf 180ν (1 − Po )2  1 n x i 
= va  C ∑i = 1 D 
l g Po3  e i 
Do exposto, obtém-se que o valor do coeficiente de permeabilidade k da lei
de Darcy, correspondente à situação de leitos filtrantes não estratificados limpos,
é:

10-24
−1
180 (1 − P )2  1 2
ν o n xi  
ko =   ∑ 
 g Po
3
 Ce i =1 Di  
 
Assim como nos leitos filtrantes estratificados, também neste caso, com o passar
do tempo, seu valor tende a diminuir cada vez mais, até atingir o valor
correspondente à perda de carga máxima admissível, quando então o filtro
deverá ser lavado.

10.5.2.1. Problema resolvido


Determinar a equação da perda de carga que ocorrerá na camada suporte
de um filtro, a 20oC. Suas características principais são listadas a seguir.
Coeficiente de esfericidade: 0,94
Porosidade: 0,39
Espessuras e diâmetros de cada estrato conforme discriminado a seguir.
1a sub-camada
diâmetro menor:1,68 mm
diâmetro maior: 3,36 mm
espessura: 0,10 m
2a sub-camada
diâmetro menor: 3,36 mm
diâmetro maior: 6,35 mm
espessura: 0,10 m
3a sub-camada
diâmetro menor: 6,35 mm
diâmetro maior: 12,7 mm
espessura: 0,10 m
4a sub-camada
diâmetro menor: 12,7 mm
diâmetro maior: 25,4 mm
espessura: 0,10 m

Resolução:

O valor do coeficiente de permeabilidade k da lei de Darcy, correspondente


à camada suporte (que não é estratificada, tendo em vista que ela não se move
por ocasião da lavagem do filtro) é dado pela equação:
−1
180 (1 − P )2  1 
2
ν x
ko = 
 g
o
3
 ∑ni=1 Di  

 Po  Ce i  
onde;
ν = 0,000001 m2/s
g = 9,8 m/s2
Ce = 0,94
Po = 0,39

10-25
Recorrendo aos valores fornecidos para a granulometria dos diversos
estratos da camada suporte, determina-se o valor de:
n x
∑i =1 Di
i
Este cálculo é apresentado a seguir.
Observe que, sendo a camada suporte constituída por quatro estratos de
espessuras iguais, o valor de x correspondente a todas elas será igual a 0,25.
1/2 1/2
Estrato Espessura Diâmetro Diâmetro (d.D) x x/(d.D)
número (m) menor (m) maior (m)
1 0,10 0,00168 0.00336 0,00237 0,25 105,48
2 0,10 0,00336 0,00635 0,00462 0,25 54,11
3 0,10 0,00635 0,0127 0,00898 0,25 27,84
4 0,10 0,0127 0,0254 0,01796 0,25 13,92
Σ = 201,35
Substituindo os valores na equação anterior, obtém-se:
−1
180 x 0,000001 (1 − 0,39 )2  1  
2
ko =   x 201,35  
 9,8 0,39 3  0,94  
ko = 0,189
A equação da perda de carga na camada suporte será, portanto:
 l 
hf =  v a
 ko 
 0,40 
hf =  v a = 2,116v a
 0,189 
Assim, por exemplo, se esse filtro trabalhar com taxa de filtração (va) igual a
360 m3/(m2.dia) (0,00417 m/s), a perda de carga correspondente no leito filtrante
limpo será:
hf = 2,116 x 0,00417 = 0,009 m

10.6. Perda de carga nas canalizações adjacentes ao filtro

Essas perdas de carga ocorrem, via de regra, nos seguintes locais:


comportas de acesso de água decantada aos filtros;
fundo falso;
canalizações, peças, conexões e aparelhos instalados na canalização de água
filtrada.
De modo geral, as perdas de carga singulares nesses locais são mais
importantes que as perdas de carga distribuídas, podendo-se, nos cálculos,
quase sempre desprezar essas últimas.
As perdas de carga singulares (ou perdas de carga localizadas) podem ser
determinadas através da expressão:
...
onde k é o coeficiente de perda de carga devida à singularidade considerada
(vide Anexo 7 para valores de k).

10-26
As perdas de carga no fundo falso dependem do tipo utilizado.
Os tipos mais utilizados no Brasil são descritos nos sub-itens a seguir.

10.6.1. Blocos Leopold

As Figuras 10.14, 10.15, 10.16 e 10.17, fornecidas pelo fabricante desse tipo
de fundo de filtros, permitem calcular a perda de carga desejada em diversas
situações.

Fig. 10.14 – Blocos cerâmicos: perda de carga x taxa de lavagem

10.6.1.1. Problema resolvido

Um filtro, de dimensões 3,00 x 4,00 m (planta) tem fundo falso do tipo de


blocos universais, estando os laterais dispostos na direção cujo comprimento do

10-27
lateral é igual a 3,00 m e partindo de um duto principal situado junto à parede do
filtro (diz-se, portanto, que o comprimento do lateral é igual a 3,00 m).
Determine a perda de carga que ocorrerá no fundo falso durante a lavagem
do filtro nas seguintes situações:
a) o filtro está sendo lavado com ar e água simultaneamente, sendo a taxa de
aplicação do ar igual a 0,90 Sm3/(m2.minuto) e a velocidade ascencional da água
igual a 0,20 m/minuto (5 gpm/ft2).
b) o filtro está sendo lavado apenas com água, quando a velocidade ascencional
passa a ser igual a 0,90 m/minuto.

Resolução:

a) A expressão Sm2 designa Standard metros cúbicos, isto é: nas condições


usuais (p = 1 atmosfera e T = 20oC), o volume de ar correspondente seria 0,90
m2 (isto porque não se conhece, a priori, quais serão essas condições no interior
dos dutos condutores de ar da ETA.

Fig. 10.15 – Blocos plásticos: somente água para de lavagem – perda de


carga x taxa de lavagem (temperatura média da água = 73ºF)

Para converter 1 m2 para Standard pés cúbicos (ou SCF), procede-se ao


seguinte cálculo:

10-28
1 m = (1/0,3048) ft = 3,283 ft
Portanto:
1 m3 = (3,28 ft)3 = 35,29 ft3
Assim sendo, 0,90 Nm3 correspondem a 31,76 SCF.
Além disto:
1m = (3,28 ft)2 = 10,76 ft2
2

ou seja:
0,90 Nm3/(m2.minuto) = 31,76 / 10,76 Scfm/ft2 = 2,95 Scfm/ft2
Consultando o gráfico da Figura 10.17, obtém-se:
hf = 4,8" = (4,8 x 0,0254) m H2O = 0,12 m H2O
b) Deve-se consultar o gráfico apresentado na Figura 10.16.
Para tanto, algumas conversões de unidades devem ser feitas.
Assim sendo, e tendo em vista que 1 galão = 3,785 litros = 0,003785 metros
cúbicos:

Fig. 10.16 – Blocos plásticos: lavagem com ar e água simultaneamente –


perda de carga x taxa de lavagem da água

0,45 m/min = 0,45 m3/(m2.min) =


= (0,45/0,003785)gal / (1/0,3048)2ft2.min) =

10-29
=1 gal / (ft2.min)
Da citada Figura, extrai-se:
hf = 16" H2O = 16 x 0,0254 m H2O = 0,41 m H2O
c) Deve-se consultar o gráfico apresentado na Figura 10.15.
Para tanto, a mesma conversão relativa à taxa de lavagem deve ser feita.
Encontra-se:
0,90 m/min = 22,1 gal / (ft2.min)
Conforme descrito no enunciado no problema, o comprimento dos laterais é igual
a 3,00 m, ou seja:
3,00 / 0,3048 = 10 ft
Tendo em vista que a Figura 10.15 não apresenta uma curva específica
para esse comprimento, utilizar-se á a curva correspondente ao comprimento de
15 ft, que deixa o cálculo a favor da segurança.
Obtém-se:

Fig. 10.17 – Blocos plásticos: lavagem com ar e água simultaneamente –


perda de carga x taxa de lavagem do ar

hf = 27” H2O = 27 x 0,0254 m H2O = 0,69 m H2O

10.6.2. Tubos perfurados

Foram vistos no Item 10.3.2.2.a. anterior.


A perda de carga nesse tipo de fundo é determinada utilizando as
expressões vistas no Capítulo 6 anterior.

10-30
10.6.2.1. Problema resolvido

Um filtro, de dimensões 3,00 x 4,00 m (planta) tem fundo falso do tipo de


tubos perfurados. Seu conduto principal, de comprimento igual a 3,50 m (desde
o exterior do filtro até sua extremidade final e construído no centro do filtro) é de
concreto armado e seção quadrada, de dimensões 0,30 m x 0,30 m. Desse
conduto partem os laterais, instalados a cada 0,25 m (eixo a eixo; são, portanto,
12 pares de laterais, simetricamente dispostos de cada lado do principal)
construídos com tubos de PVC, de diâmetro interno igual a 1 1/4". Ao longo dos
laterais, existem pares de furos, de diâmetro igual a 3/8", distantes entre si de
0,25 m (ou seja: cada lateral tem 7 pares desses orifícios - ver Detalhe de sua
instalação no Anexo 10 deste livro).
Determine a perda de carga que ocorrerá no fundo falso durante a lavagem
do filtro, supondo que ela seja feita com velocidade ascencional igual a 0,90
m/minuto.

Resolução:

A vazão correspondente a essa velocidade ascencional será:


Q = 3 x 4 x 0,90 / 60 = 0,18 m3/s
O número de furos de diâmetro 3/8" será:
12 x 2 x 7 x 2 = 336
A vazão em cada orifício será:
Q1 = 0,18/336 = 0,000536 m3/s
A área de cada orifício será:
A1 = πD2/4 = π (0,0254 x 3 x 3/8)2/4 = 0,0000712m2
e a área total de orifícios no filtro será:
A = 336 x 0,0000712 = 0,024 m2
A relação área dos orifícios / área do filtro será, portanto:
0,024 / (4 x 3) = 0,002
valor esse que se enquadra na faixa de 0,2% e 0,33% recomendada por
Azevedo Netto para essa relação (vide Anexo 10).
Feitas essas verificações, pode-se calcular a perda de carga no fundo falso.
A perda de carga em cada orifício será:
2
 0,000536  1
hf =   = 7,77m
 0,61x 0,0000712  2 x 9,8
A perda de carga em cada lateral é determinada utilizando o conceito de
vazão fictícia visto no Capítulo 6.
Vazão a montante do lateral:
0,18/24 = 0,0075m3/s
Vazão a jusante do lateral:
0,0075/7 = 0,0011m3/s
Vazão fictícia:
(0,0075 + 0,0011)/2 = 0,0043m3/s
Vazão fictícia:

10-31
(0,0075 + 0,0011)/2 = 0,0043m3/s
Velocidade média:
0,0043
U= = 5,43m / s
π
(0,0254 x1,25 )2
4
Carga cinética correspondente:
U2/2g = 1,51 m
Número de Reynolds:
5,43 x (0,0254 x 1,25) / 0,000001 = 172000
Rugosidade equivalente do tubo de PVC (vide Anexo 1):
k = 0,06 mm
Relação k/D:
0,06
= 0,0019
1
1 x 25,4
4
Do ábaco de Moody (Anexo 6) obtém-se:
f = 0,017
e da fórmula de Darcy-Weisbach:
1,85
hf = 0,017 (1,51) = 1,50m
1
1 x 25,4
4
A perda de carga no principal é determinada utilizando o conceito de vazão
fictícia vista no Capítulo 6.
Vazão a montante do principal: 0,18 m3/s
Vazão a jusante do principal: 0,18/12 = 0,015 m3/s
Vazão fictícia: (0,018 + 0,15)/2 = 0,0975 m3/s
Velocidade média:
0,0975
U= = 1,08m / s
0,3 x 0,3
Carga cinética correspondente:
U2/2g = 0,06 m
Número de Reynolds:
Para efetuar este cálculo, utiliza-se, no lugar do diâmetro, o diâmetro hidráulico
da seção (vide Capítulo 6):
0,3 x 0,3
Dh = 4R h = 4 = 0,3m
4 x 0,3
Portanto:
Re = 1,08 x 0,3 / 0,000001 = 34000
Rugosidade equivalente do duto de concreto (vide Anexo 1):
k = 0,3 mm (correspondente ap Item 2.3 desse Anexo)
Relação k/D:
Utiliza-se novamente o diâmetro hidráulico da seção, igual a 0,3 m, = 300 mm,
no lugar de D:
0,3/300 = 0,001

10-32
Do ábaco de Moody (Anexo 6), obtém-se:
f = 0021
E da fórmula de Darcy-Weisbach (utiliza-se novamente o diâmetro hidráulico da
seção, igual a 0,3 m, no lugar de D):
3.5
hf = 0,021 (0,06 ) = 0,015m
0,3
Somando as perdas anteriores, obtém-se a perda de carga total:
hf = 7,77 + 1,50 + 0,015 = 9,285m
que é muito elevada, quando comparada pela que é proporcionada por outros
tipos de fundos falsos.

10.6.3. Vigas californianas

Foram vistas no Item 10.3.2.2.b anterior.


A perda de carga é calculada considerando a vazão em cada um de seus
orifícios, e aplicando a equação vista no Capítulo 6:
2
 Q  1
hf =  
 Cd A  2g
Valencia 9 recomenda que se adote o coeficiente de descarga Cd = 0,65.
A Figura 10.18 apresenta um gráfico que permite extrair esses valores sem
a necessidade de realizar os cálculos anteriores, aplicável para orifícios com
diâmetro igual a 14,8 mm.

Fig. 10.18 - Perda de carga em vigas californianas

10-33
10.6.3.1. Problema resolvido

Um filtro de dimensões 3,00 x 4,00 m (planta), tem fundo falso do tipo de vigas
californianas, com orifícios de diâmetro 1/2 polegada, espaçados entre si, eixo a
eixo, de 15 cm. As vigas estão dispostas no fundo do filtro de tal forma que seus
comprimentos estão na direção correspondente aos 4,00 m.
Determine a perda de carga que ocorrerá no fundo falso durante a lavagem
do filtro, supondo que ela seja feita com velocidade ascencional igual a 0,90
m/minuto.

Resolução:

Do exposto, conclui-se que existem, no interior do filtro, 10 vigas


californianas, cada uma com extensão igual a 4,00 m.
Cada viga terá (4/0,15) 26 pares de furos de diâmetro igual a 1/2 polegada
(0,0127 m).
Portanto, em todo o fundo, existirão 520 furos com esse diâmetro.
A vazão de lavagem será:
Q = 4 x 3 x 0,9 = 10,8 m3/minuto = 0,18 m3/s
A vazão por orifício será, portanto:
Q1 = 0,18/520 = 0,000346 m3/s
A área de cada orifício é:
A = π(0,0127)2/4 = 0,001266m2
Assim sendo a perda de carga correspondente será:
2
 0,000346  1
hf =   = 0,90m
 0,65 x 0,0001266  2 x 9,8

10.7. Perda de carga total no filtro

A perda de carga total no filtro pode ser expressa através da seguinte


expressão:
hf = hl + ht
onde:
hl = perdas laminares (perdas de carga que ocorrem no leito filtrante);
ht = perdas turbulentas (perdas de carga que ocorrem no fundo falso e na
canalizações adjacentes ao filtro).
Ou seja:
v
hf = a + k t v a2 = k l v a + k t v a2
k
O coeficiente kt, que permite que sejam determinadas as perdas de carga
turbulentas a partir da velocidade de aproximação, pode ser facilmente
determinado para determinado diâmetro D da canalização e para dada área
filtrante A, como se mostra a seguir:

10-34
 U2   2
  2 2
hf = ∑  k  = ∑  k  4Q 

 
 = ∑  k  16  1  A v a 
 2g   2g  πD 2    
    2g  π  D 4
2
 
 
Portanto:
8A2
kt = ∑k
gπ 2 D 4

10.7.1. Hidráulica da operação de filtros de fluxo descendente

A expressão anterior mostra que é possível operar um filtro de quatro formas


distintas, a saber:
a) perda de carga total constante e velocidade de aproximação variável;
b) perda de carga total constante e velocidade de aproximação constante;
c) perda de carga total variável e velocidade de aproximação constante;
d) perda de carga total variável e velocidade de aproximação variável.
Examinar-se-á cada uma dessas situações nos Itens a seguir, tomando-se
como exemplo filtros de fluxo descendente.

a) Filtros com perda de carga total constante e velocidade de aproximação


variável

A Figura 10.19 representa esquematicamente um filtro operando nessa


situação.
Observa-se que a carga mantida sobre o filtro, igual a h, permanece
constante graças à válvula de bóia instalada em sua canalização afluente.
Tendo em vista esse fato, e o aumento, com o tempo, do coeficiente kl, a
velocidade de aproximação do filtro diminuirá ao longo do tempo, conforme
mostrado na Figura 10.20.

Fig. 10.19 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total constante
e velocidade de aproximação variável: arranjo do filtro

10-35
Fig. 10.20 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total constante
e velocidade de aproximação variável:evolução da taxa de filtração com o
tempo

Segundo Di Bernardo 4, essa concepção, também conhecida como taxa


declinante verdadeira, é raramente empregada na prática da filtração, poishá a
necessidade de capacidade de reservação para acumular todo o excesso de
água afluente, quando a taxa de filtração é pequena, e fornecer água aos filtros,
quando a taxa de filtração é elevada.

b) Filtros com perda de carga total e velocidade de aproximação


constantes

A Figura 10.21 representa esquematicamente um filtro rápido clássico


projetado segundo essa concepção.
Observe que, na canalização de água filtrada, existe uma válvula
controladora simultaneamente por um regulador de nível e por um controlador de
vazão. Assim sendo, quando o nível tende a subir no interior do filtro, o regulador
de nível faz com que seja aumentado o seu grau de abertura, reduzindo, em
conseqüência, o coeficiente kt, o que impede que a perda de carga total no filtro
aumente. Ao mesmo tempo, uma redução da vazão observada pelo medidor de
vazão produzirá também o aumento do grau de abertura da válvula.
Assim sendo, quando são mantidos constantes, ao longo do tempo (a
menos das pequenas variações de perda de carga e vazão, necessárias para
sensibilizar o regulador de nível e o variador de vazão).
A Figura 10.22 ilustra o comportamento da perda de carga total no filtro (e suas
duas parcelas; perdas turbulentas e perdas laminares) e a velocidade de
aproximação ao longo do tempo.

10-36
Fig. 10.21 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação constantes: arranjo de filtro (concepção
clássica)

Fig. 10.22 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e


velocidade de aproximação constantes: evolução da perda de carga ao
longo do tempo

10-37
No Brasil ainda existem algumas antigas estações de tratamento de água
que possuem filtros que funcionam dessa forma.
Mas os novos projetos de estações de tratamento de água não a utilizam
mais. Nesses projetos, vem sendo utilizada principalmente a concepção de
sistemas de taxa declinante variável, que é descrita no sub-item 10.7.1.d
adiante.
A respeito desse tipo de filtros, Di Bernardo (op. citada) apresenta os
comentários transcritos a seguir.
Geralmente, os controles de vazão e nível utilizados na prática permitem
uma variação relativamente pequena para ajustamento do nível. Assim, quando
um filtro de uma bateria é retirado de operação para que seja efetuada a
lavagem, o nível de água tenta subir nos demais e, em consequência, o
dispositivo de controle de nível aciona o controlador de vazão, permitindo que
uma vazão maior seja filtrada. Há possibi;idade dessas variações de vazão
serem bruscas e prejudicarem a qualidade dos efluentes dos filtros em operação.
Os dispositivos de controle de vazão, instalados na canalização efluente,
funcionam segundo o princípio de causa e efeito, isto é, nenhuma correção é
feita a menos que ocorra variação da característica controlada (...) Os principais
inconvenientes dos filtros operados (segundo essa concepção) são:
(I) custo elevado do equipamento;
(II) custo elevado de operação e manutenção;
(III) necessidade de controle de nível, automático ou manual;
(IV) possibilidade de deterioração do efluente produzido devido aos ajustes de
vazão e de nível realizados pelos equipamentos..
A Figura 10.23 apresenta uma concepção alternativa para esse tipo de filtro,
onde a constância da vazão é assegurada por um vertedouro instalado em sua
entrada, e a constância da perda de carga é conseguida através do ajuste de
nível de um vertedouro instalado a jusante de sua canalização de saída.
A Figura 10.24 representa esquematicamente um filtro com essa concepção.
Observa-se que a vazão de água a filtrar é mantida constante, fixada pelo
vertedouro existente em sua entrada. O coeficiente das perdas de carga
turbulentas permanece inalterado ao longo do tempo.
Assim sendo, tendo em vista que o coeficiente de perdas laminares aumenta
com o tempo, devido à colmatação do leito filtrante, a perda de carga total do
filtro crescerá ao longo do tempo, uma vez que a vazão a filtrar mantém-se
constante.
Observe que a soleira do vertedouro de água filtrada está ligeiramente mais
alta (cerca de 10 centímetros acima) que o topo do leito filtrante.
Caso essa providência não seja tomada, haverá a possibilidade do nível
d'água no interior do filtro baixar demasiadamente, deixando descoberto (e,
portanto, cheio de ar em seus interstícios) o leito filtrante.

10-38
Fig. 10.23 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação constantes: arranjo do filtro (concepção
alternativa)

Fig. 10.24 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total variável e
velocidade de aproximação constante: arranjo do filtro

10-39
c) Filtros com perda de carga total variável e velocidade de aproximação
constante

A entrada de ar no leito filtrante nessas situações costuma ser prejudicial


para a qualidade da água filtrada, tendo em vista que, ao ter início novamente a
filtração, o ar retido no interior do leito filtrante será expulso.
Ocorrerá, em conseqüência, a agitação de seus grãos, e a conseqüente
desintegração das partículas aí retidas, que acabarão por serem transportadas
pela água filtrada, deteriorando sua qualidade.
A Figura 10.25 representa a evolução das vazões (a filtrar e filtrada) e das
perdas de carga (laminares e turbulentas) ao longo do tempo.

Fig. 10.25 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total variável e
velocidade de aproximação constante: evolução da taxa de filtração e da
perda de carga ao longo do tempo

Observe que a taxa de filtração é constante.


A pequena diferença entre a vazão que entra no filtro e a vazão que sai dele
é a responsável pela elevação de nível, ao longo do tempo, em seu interior.
Por outro lado, a perda de carga aumenta ao longo do tempo.

10-40
Essa perda de carga aumenta apenas no leito filtrante (é a denominada
perda de carga laminar), pois é ele que se suja ao longo do tempo. A perda de
carga turbulenta (que é a que ocorre no fundo falso, nas canalizações e nas
válvulas e passagens) permanece constante ao longo do tempo.
A soma dessas duas perdas de carga é a perda de carga total no filtro.
Observe que a curva da perda de carga total é paralela à curva da perda de
carga laminar. Isto porque, como foi dito, a distância que separa as duas curvas,
que é a perda de carga turbulenta, é constante ao longo do tempo.

d) Filtros com perda de carga total e velocidade de aproximação variáveis

Essa concepção constitui, atualmente, das quatro aqui relacionadas, a mais


importante, não só por sua simplicidade, como também pela sua superioridade,
apresentada sobre as demais, no que se refere à carreira de filtração (tempo
decorrido entre duas lavagens consecutivas) e a qualidade da água filtrada. Tais
características, ressaltadas em diversos trabalhos publicados na literatura
especializada mundial, têm sido responsáveis pela adoção dessa concepção na
maioria dos projetos de estações de tratamento de água brasileiras.
Na realidade, um filtro só opera nessas condições quando associado, em
paralelo, a outras unidades, constituindo o que se convencionou chamar sistema
de taxa declinante variável.
A Figura 10.26 ilustra uma dessas unidades, pertencente a um dado
sistema, onde observa-se que a entrada de água decantada encontra-se
afogada, fazendo com que a perda de carga total, desde o canal de distribuição
de água aos filtros, comum a todos eles, e a câmara do vertedouro de água
filtrada (que, de preferência, deve ser individual para cada filtro) seja a mesma,
em todos os filtros. Tal perda, entretanto, é variável ao longo do tempo,
crescendo à medida que os filtros vão se colmatando.
Atendidas essas condições, o sistema funcionará distribuindo mais água
para os filtros mais limpos, e menos água para os filtros mais sujos.
Observe que a soleira do vertedouro de água filtrada está acima do topo do
leito filtrante, assegurando que ele permanecerá sempre imerso, mesmo que a
ETA pare de funcionar.
É claro que, se houver um vertedouro a jusante de cada filtro, a soleira de
todos eles deverá estar no mesmo nível.
Na prática, lava-se uma das unidades filtrantes (normalmente a que se
encontra há mais tempo sem lavar) sempre que a perda de carga total no
sistema atingir certo valor pré-determinado, para o qual a qualidade da água
filtrrada efluente de cada unidade não esteja deteriorada. Com o tempo, atinge-
se uma rotina de lavagem, na qual os filtros são lavados em intervalos regulares
de tempo.
Assim, por exemplo, num sistema dotado de quatro unidades filtrantes
(denominadas, por exemplo, de: filtro 1; filtro 2; filtro 3 e filtro 4), em que a
carreira de filtração é 24 horas, lava-se o filtro 1 às 6 horas, o fiitro 2 às 12 horas,
o filtro 3 às 18 horas e o filtro 4 às 24 horas. Essa mesma rotina é repetida nos
dias subseqüentes.

10-41
Fig. 10.26 - Filtro de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação variáveis: arranjo de filtro

A Figura 10.27 representa a evolução, ao longo do tempo, da perda de


carga total e da velocidade de aproximação num sistema de taxa declinante
variável, cujo comportamento aproxima-se do transcrito anteriormente.
Ela supõe, inicialmente, que o filtro 1 é o mais limpo de todos, e acabou de
ser lavado; o filtro 2 está mais sujo; o filtro 3 está mais sujo ainda; e o filtro 4, de
tão sujo, será o próximo a ser lavado.
Por isto, a taxa de filtração será maior no filtro 1 que, por estar mais limpo,
pode deixar passar mais água; essa taxa será menor no filtro 2, por estar mais
sujo; menor ainda no filtro 3, que está ainda mais sujo; e é a menor de todas no
filtro 4, próximo a ser lavado.
Observe que, inicialmente, a perda de carga no sistema é a mínima, tendo
em vista que o filtro 1 acabou de ser lavado. Mas, com o passar do tempo, ela
vai aumentando, porque os filtros vão se colmatando.
Quando a perda de carga atinge determinado valor, isto é, quando o nível
d'água no interior dos filtros atinge certo ponto, está na hora de lavar o filtro mais
sujo.
No caso, retira-se o filtro 4 para ser lavado.
Como a vazão na ETA não muda por causa disto, cada um dos três filtros
remanescentes deverá filtrar mais água.

10-42
Fig. 10.27 - Filtros de fluxo descendente com perda de carga total e
velocidade de aproximação variáveis: evolução da taxa de filtração e da
perda de carga ao longo do tempo

É o que, de fato, acontece. Observe que, durante a lavagem, aumentam os


valores das vazões filtradas pelos filtros 1, 2 e 3, e a perda de carga total do
sistema.
Quando termina a lavagem, o filtro 4 é re-introduzido no sistema. Só que,
desta vez, ele será o mais limpo e assumirá o lugar que, anteriormente, era
ocupado pelo filtro 1.
Por sua vez, o filtro 1 ocupará o lugar do filtro 2; o filtro 2 ocupará o lugar do
filtro 3; e o filtro 3 ocupará o lugar do filtro 4.
O nível d'água no interior dos filtros retorna, então, ao seu nível inicial.
Tudo voltará a se repetir com o passar do tempo. O nível d'água irá subir no
interior dos filtros, até atingir o valor em que se deve proceder à lavagem do filtro
mais sujo.
Desta vez será lavado o filtro 3, como pode ser visto na Figura 10.27.
Devido a esse equilíbrio, aliado à facilidade operacional proporcionada por
essa concepção, os sistemas de taxa declinante variável são capazes de
produzir água de excelente qualidade, e vêm sendo implantados na maioria das
estações de tratamento de água brasileiras.
Os sistemas de taxa declinante variável vêm sendo exaustivamente
estudados por diversos autores.
Destaque importante deve ser dado ao professor engenheiro Luiz Di
Bernardo, cujos trabalhos publicados em revistas nacionais e estrangeiras

10-43
trazem importantes subsídios aos profissionais especializados na área do
tratamento da água.

10.7.2. Hidráulica da operação de filtros de fluxo ascendente

Esse tipo de filtro pode ser implantado segundo duas concepções básicas, a
saber:
a) filtros de taxa constante e carga variável
b) filros de taxa e carga variáveis
Os sub-itens a seguir descrevem cada uma dessas concepções.

a) Filtros com taxa constante e carga variável

Nesse tipo de sistema, a água coagulada é distribuída a cada filtro através,


por exemplo, de vertedouros com descarga livre, que asseguram a distribuição
de vazões iguais para todos eles.
Essas vazões mantêm-se constantes ao longo do tempo.
Em cada filtro, a perda de carga aumenta com o passar do tempo, à medida
que ele vai se tornando mais sujo.
A Figura 10.28 ilustra um sistema desse tipo, e a Figura 10.29 representa a
evolução da taxa de filtração e da perda de carga num desses filtros.

Fig. 10.28 – Filtros ascendentes de taxa constante e carga variável: arranjo


dos filtros

10-44
b) Filtros de taxa e carga variáveis

Nesse tipo de sistema, a água coagulada é distribuída a cada filtro através


de um sistema afogado.
Nessas condições, a perda de carga será igual para todos eles, tendo em
vista que ela será igual ao desniltrada e o nível d'água no interior da câmara
distribuidora.

Fig. 10.29 - Filtros ascendentes de taxa constante e carga variável:


evolução da taxa de filtração e da perda de carga com o tempo

Embora a perda de carga seja a mesma para todos os filtros, ela será variável
para o sistema de filtros, aumentando, com o passar do tempo, à medida que ele
for se tornando mais sujo.
A vazão em cada filtro será variável ao longo do tempo, porque a água a
filtrar procurará o filtro que estiver menos sujo para atravessar.
A Figura 10.30 ilustra um sistema desse tipo, e a Figura 10.31 representa a
evolução da taxa de filtração e da perda de carga num desses filtros.

10.8. Lavagem do leito filtrante

O período decorrente entre duas lavagens sucessivas de um mesmo filtro é


denominado carreira de filtração.
Duas situações indicam a necessidade de se lavar um filtro (o filtro é lavado
quando qualquer uma delas ocorrer primeiro):

10-45
a) quando for atingida a perda de carga máxima suportada hidraulicamente pela
instalação
b) quando houver risco de deterioração da qualidade da água filtrada se o filtro
for mantido em operação.

Fig. 10.30 - Filtros ascendentes de taxa e carga variáveis: arranjo dos filtros

Fig. 10.31 - Filtros ascendentes de taxa e carga variáveis: evolução da taxa


de filtração e da perda de carga com o tempo

10.8.1. Filtros lentos

Como foi visto, nos filtros lentos tratando água bruta de qualidade adequada
às suas características, a colmatação do leito é devida principalmente ao
desenvolvimento de uma comunidade microbiana que, permanecendo fixada aos

10-46
grãos do leito filtrante, passa a alimentar-se de parte das partículas trazidas pela
água a ser tratada, retendo a parcela remanescente, que vai se aderindo aos
grãos (evidencia-se, dessa forma, uma limitação no emprego desses ffiltros, qual
seja, a do conteúdo de matéria em suspensão da água a ser filtrada, que deve
ser baixo).
No caso dos filtros lentos de fluxo descendente (mais comuns no Brasil), a
lavagem do leito filtrante é feita manualmente, através da remoção, com o auxílio
de enxada, de sua camada superficial (aproximadamente 2,5 cm de areia), se
desenvolve praticamente toda a comunidade microbiana responsável pela
filtração - Figura 10.32.

Fig. 10.32 - Filtro lento de fluxo descendente: lavagem do leito filtrante

O intervalo médio entre limpezas consecutivas é de 25 dias, e varia, de


instalação para instalação, desde 7 dias até 90 dias.
A areia removida é então transportada para um lavador de areia, onde é
enxaguada. Após lavagem essa areia é novamente introduzida no filtro lento
(pode-se também acumulá-la e só repor totalmente toda a areia removida após
sucessivas lavagens, quando a espessura do leito filtrante estiver reduzida a
aproximadamente 50 cm).
Nos filtros lentos de fluxo ascendente, também conhecidos como filtros
lentos escoceses 9, nos quais a comunidade microbiana desenvolve-se em
grande parte do volume de vazios do leito filtrante, a lavagem é feita
procedendo-se à abertura de sua descarga de fundo, Figura 10.33.

10-47
Fig. 10.33 - Filtro lento de fluxo ascendente: lavagem do leito filtrante

O volume de água acumulado sobre o leito filtrante permite a limpeza de


grande parte do volume sólido retido (a parcela remanescente, constituída, em
parte, pela comunidade microbiana que não foi removida pela descarga,
assegura a recomposição de sua população, responsável, como foi visto, pela
potabilização da água.

10.8.2. Filtros rápidos

Normalmente, nas ETAs brasileiras, a lavagem é efetuada introduzindo água


tratada em contracorrente no filtro a ser lavado, com velocidade suficiente para
fluidificar o leito filtrante.
Diz-se que o leito está fluidificado quando os grãos do material que o constituem
ficam separados uns dos outros, como que suspensos na corrente da água de
lavagem.
Para que esse efeito seja obtido, tem sido recomendado que a velocidade da
água para lavagem esteja entre 0,60 e 1,00 metro por minuto, conforme a
granulometria do leito e a temperatura da água, quando se deseja expandir o
leito filtrante.
A esse respeito, a NBR 12216 preconiza que a vazão de água de lavagem em
contracorrente deve promover a expansão do leito filtrante de 20% a 30%, sendo
que, no caso de filtro de fluxo ascendente, a velocidade mínima de lavagem
deve ser de 80 centímetros por minuto.
A água para lavagem é quase sempre armazenada em reservatórios específicos
para esse fim. Segundo a NBR 12216, eles devem ter capacidade para
armazenar água suficiente para efetuar a lavagem de dois filtros.

10-48
Para tanto, considera-se que cada filtro leva, no mínimo, dez minutos para ser
lavado, e que a velocidade ascencional não é inferior a 60 centimetros por
minuto.
Na prática, observa-se que esse tempo pode ser reduzido à metade, se
houver lavagem auxiliar (vide Item 10.9).
No caso de filtros de fluxo ascendente, esse tempo mínimo deve ser
considerado igual a 15 minutos.
A partir do reservatório, a água escoa por gravidade até os filtros, caso seu
posicionamento altimétrico seja favorável, ou é bombeado partir deles até essas
unidades.
No primeiro caso, o enchimento dos reservatórios deve ser feito
automaticamente, por meio de bombas ou derivações, por exemplo, da linha de
recalque de água tratada.
Em qualquer caso, ele deverá estar em condições de ser enchido em
sessenta minutos.
O parágrafo anterior não se aplica aos denominados sistemas autolaváveis
de filtros, que serão descritos no Item 10.8.2.4.
Algumas vezes efetua-se também a lavagem auxiliar, com água ou com ar.
A lavagem auxiliar será vista no próximo Item 10.9.
Os sub-itens a seguir descrevem as formas normalmente utilizadas para a
lavagem em contracorrente, utilizada em qualquer caso: com ou sem a lavagem
auxiliar.

10.8.2.1. Problema resolvido

Um filtro rápido de fluxo descendente, de leito simples de areia, tem as


seguintes dimensões, em planta:
comprimento: 6,00 m
largura: 3,00 m
Qual será o volume mínimo de água para lavagem que deverá ser previsto?

Resolução:

O volume de água para lavagem pode ser estimado admitindo que, para
lavá-lo, será necessário introduzir água para lavagem com velocidade
ascencional de 0,6 metro por minuto durante 10 minutos.
Assim sendo, obtém-se:
V = 0,6 x 6 x 3 x 10 = 108 m3

10.8.2.2. Lavagem via reservatório, por gravidade

É o modo mais utilizado no Brasil.


A água tratada é encaminhada até um reservatório situada em cota mais
elevada que as calhas coletoras de água de lavagem dos filtros.
Esse posicionamento altimétrico deverá ser tal que, para a vazão necessária

10-49
à lavagem do filtro, ele seja capaz de vencer o desnível altimétrico mais as
perdas de carga que ocorrerão no trajeto reservatório-calha coletora de água de
lavagem.
Eventualmente, esse reservatório pode ser construído sobre a casa de
química da estação de tratamento de água.
Na hora de lavar, basta abrir o registro de água para lavagem, situado na
galeria de tubulações.
A água proveniente do reservatório será admitida no fundo falso do filtro e
percorrerá, no sentido ascendente, o leito filtrante, fluidificando-o.
Daí a água de lavagem será coletada pela(s) calha(s) coletora(s) de água de
lavagem, seguindo, após, para o esgotamento da ETA.
A Figura 10.34 ilustra esse tipo de lavagem.

Fig. 10.34 - Filros de fluxo descendente: lavagem via reservatório, por


gravidade

10.8.2.3. Lavagem via reservatório, por bombeamento

Em alguns casos, deixa-se de construir o reservatório de água para lavagem


dos filtros em cota altimetricamente adequada para efetuar a lavagem por
gravidade, e lava-se cada filtro utilizando a água recalcada por conjuntos
motobomba especialmente instalados para esse fim.
A Figura 10.35 ilustra esse tipo de sistema.

10.8.2.4. Sistema autolavável

Algumas estações de tratamento de água possuem sistemas autolaváveis


de filtros.
A Figura 10.36 ilustra esquematicamente um sistema desse tipo.

10-50
Fig. 10.35 - Filtros de fluxo descendente: lavagem via reservatório, por
bombeamento

Fig. 10.36 (a) Sistema autolavável de filtros: operação normal do sistema

Observe que todos os filtros intercomunicam-se, uns com os outros, através


de seus fundos.
Além disto, a água filtrada sai do sistema através de um vertedouro, cuja
soleira está posicionada numa altura tal que seja igual à altura da(s) borda(s)
da(s) calha(s) coletora(s) de água de lavagem mais uma altura correspondente
a, no mínimo, a soma de todas as perdas de carga sofridas pela água quando
ela escoa, com vazão suficiente para propiciar a lavagem de um filtro, através do
fundo falso, da camada suporte, do leito filtrante e de qualquer outra
singularidade existente entre a câmara de água filtrada e a calha coletora de
água de lavagem.

10-51
Fig. 10.36 (b) - Sistema autolavável de filtros: lavagem de um filtro

Assim sendo, o sistema opera da forma descrita a seguir.


* Operação normal do sistema (Figura 10.36 (a)):
Nesta situação, todas as unidades estão filtrando.
Estão abertas as comportas de acesso de água decantada aos filtros e
fechadas as comportas de saída de água de lavagem.
A água filtrada vai até a câmara de água filtrada, que se interliga com todos
os filtros através de seus fundos falsos e vai para o seu destino final, passando
sobre o vertedouro geral de água filtrada.
* Lavagem de um filtro (Figura 10.36 (b)):
Fecha-se a comporta de acesso de água ao filtro que se deseja lavar (filtro
4) e abre-se sua comporta de saída de água de lavagem.
Nesta situação, a água existente no interior do filtro a ser lavado é
descarregada, até a altura correspondente à borda da calha coletora de água de
lavagem.
Ao mesmo tempo, a água existente na câmara de água filtrada será
encaminhada para o interior desse filtro, através de seu fundo (em virtude do
posicionamento altimétrico do vertedouro de água filtrada em relação à borda da
calha coletora de água de lavagem).
Isto propiciará a retrolavagem do filtro.
* Término da lavagem e colocação do filtro em operação

10-52
Após limpo o filtro, fecha-se a comporta de descarga de água de lavagem e
abre-se a comporta de acesso de água decantada ao filtro, o que fará com que
ele volte a operar normalmente.
Quando os filtros de um sistema autolavável dispõem de sistema de
lavagem auxiliar com ar, é necessário introduzir uma válvula entre a saída de
água filtrada de cada filtro e a câmara de água filtrada (Figura 10.36 (c) - vide
também Item 10.9.1.3), para que ele possa ser temporariamente isolado dos
demais enquanto se procede à lavagem auxiliar.

Fig. 10.36 (c) - Sistema autolavável de filtros dotados de lavagem auxiliar


com ar

10.9. Sistemas auxiliares de lavagem

A lavagem auxiliar melhora o desempenho da operação de lavagem do filtro,


permitindo, entre outros benefícios, economizar a água gasta nessa operação.
O estudo hidráulico desses sistemas não será visto neste livro, devendo o
projetista observar as recomendações específicas apresentadas pela norma
brasileira e/ou pelo fabricante para cada tipo de equipamento que se utilize.
Contudo, algumas informações básicas a seu respeito serão apresentadas
nas páginas a seguir.

10.9.1. Filtros de fluxo descendente

Antigamente, rastelava-se a superfície dos leitos filtrantes simples de areia,


antes de lavá-los em contracorrente. Atualmente, muitos operadores cortam

10-53
essa superfície com forte jato d'água, proveniente de mangueiras dotadas de
esguichos em suas extremidades (ver Figuras 10.37).

Fig. 10.37 - Cortando a superfície filtrante

Existem equipamentos que substituem, com eficiência, essa operação


manual, tais como os sistemas de bocais fixos ou rotativos, que espalham água
sob forma de fortes jatos sobre o leito filtrante.
Essa providência permite quebrar a crosta superficial de sujeira que se
forma sobre a superfície dos leitos filtrantes. Com isto, fica bastante reduzida a
possibilidade de formação das denominadas (e indesejáveis) bolas de lama (ver
Figura 10.38).

Fig.10.38 - Formação de bolas de lama

As bolas de lama surgem em decorrência dessas crostas superficiais, que


aderem ao leito filtrante, e que são quebradas pela lavagem em contracorrente.
Em conseqüência, elas tendem a penetrar no interior do leito filtrante,
podendo torná-lo imprestável com o passar do tempo.
No caso de leitos filtrantes de areia e antracito, a lavagem superficial do leito
filtrante não é eficaz, tendo em vista que as partículas penetram fundo na
camada de antracito, não sendo destruídas por esse tipo de lavagem auxiliar.

10-54
Pela mesma razão, ela não é eficaz na lavagem de filtros ascendentes.
Em se tratando de leitos de areia e antracito, existem sistemas de bocais
rotativos que, permanecendo imersos na camada de antracito, injetam água sob
pressão nos interstícios de seus grãos, estando expandido o leito.
A injeção de ar comprimido no leito filtrante, antecedendo a lavagem com
água ou durante essa lavagem, também é eficiente para a lavagem de leitos
filtrantes simples ou duplos.
Em alguns casos, a lavagem auxiliar com ar, quando efetuada em conjunto
com a lavagem com água, dispensa a necessidade de se expandir o leito
filtrante.

10.9.1.1. Bocais fixos

Podem ser construídos na própria estação de tratamento de água,


utilizando-se tubos e conexões existentes em abundância no mercado.
Independem, portanto, da aquisição de equipamentos industrializados e,
normalmente, patenteados (e, por isto, normalmente caros).
A Figura 10.39 ilustra um exemplo desse tipo de instalação.

Fig. 10.39 - Bocais fixos

As normas brasileiras de tratamento de água trazem as orientações


necessárias para que se possa projetar um sistema desse tipo.

10.9.1.2. Bocais fixados em braços rotativos

Originalmente idealizados por um técnico norte-americano de nome Palmer


(que patenteou a idéia), esses equipamentos foram conhecidos durante longo
tempo pelo nome de seu inventor.
Atualmente, diversos fabricantes fornecem equipamentos desse tipo.
Eles podem ser fornecidos para efetuarem apenas a lavagem superficial
(caso de leitos filtrantes simples) ou para efetuarem a lavagem sub-superficial
(caso de leitos filtrantes duplos).

10-55
A Figura 10.40 apresenta um tipo desses equipamentos, adequado à
lavagem superficial.

Fig. 10.40 - Bocais fixados em braços rotativos

10.9.1.3. Lavagem auxiliar com ar

Esse tipo de lavagem auxiliar é muito utilizado na Europa, onde filtros que
utilizam leitos filtrantes de areia com grande espessura utilizam-na
simultaneamente com a lavagem ascencional com água.
Enquanto que o ar revolve os grãos de areia, provocando, com isto, a
remoção dos flocos aí retidos, a água lava os espaços entre os grãos, levando,
consigo, os flocos removidos.
Por este motivo, em filtros desse tipo não é necessário expandir o leito
filtrante para lavá-lo.
A lavagem auxiliar com ar vem se mostrando muito útil para a lavagem de
leitos filtrantes múltiplos (compressores de baixa pressão, da ordem de 0,5
kgf/cm2, denominados sopradores, são utilizados com essa finalidade).
A prática brasileira tem sido a seguinte (veja Figura 10.41):
(a) Inicia-se a preparação do filtro a ser lavado fechando o acesso de água
decantada;
(b) deixa-se que a filtração da água continue até que uma lâmina d'água de
cerca de vinte centímetros persista sobre o leito filtrante;
(c) fecha-se a saída de água filtrada, pra que se dê início à operação de
lavagem; inicialmente, injeta-se apenas ar sob o leito filtrante, com velocidade
ascencional de cerca de 0,9 metro por minuto, durante alguns minutos (cerca de
4 minutos);
(d) em seguida, corta-se o ar e introduz-se a água para lavagem sob o filtro, com
velocidade ascencional adequada para a obtenção da expansão do leito (cerca
de 0,9 metro por minuto), permanecendo assim durante alguns minutos (cerca
de 4 minutos);
(e) cessada essa lavagem, o filtro pode ser colocado novamente em operação.

10-56
Fig. 10.41 - Lavagem auxiliar com ar

Especificar camadas suportes simétricas é recomendável nesses casos.


Nesse tipo de camada, os grãos são inicialmente decrescentes e, em seguida,
voltam a crescer.
Com isto, os menores grãos da camada suporte (que agora situam-se no
meio dessa camada) ficam impedidos de se moverem durante a introdução do ar
para lavagem.
A movimentação dos grãos menores possibilitaria que grãos penetrassem na
camada suporte e atingissem o fundo falso, levando à perda do leito filtrante.

10.9.1.4. Lavagem auxiliar de pequenos filtros

Relata-se, a seguir, um exemplo, visto pelo autor, de equipamento fabricado


pela própria operação local de uma ETA pré-fabricada, que auxiliava a lavagem
dos pequenos filtros de dupla camada (areia e antracito) de um sistema
autolavável.
A Figura 10.42 ilustra esquematicamente esse equipamento.

10-57
Fig. 10.42 - Equipamento para lavagem auxiliar com ar para pequenos
filtros de camada filtrante dupla construído na própria ETA

Um tubo de aço-carbono galvanizado foi utilizado para fabricá-lo. Sua


extremidade de jusante foi fechada com um cap, e sua extremidade de montante
foi adaptada para receber um mangote flexível, que permanecia interligado a um
registro abastecido por uma linha de alta pressão (aproximadamente 40 metros
de coluna d'água). Próximo à extremidade de jusante desse tubo foram feitos
orifícios de diâmetro igual a 1/8 de polegada, através dos quais a água sob
pressão pudesse sair com alta velocidade.
Durante a lavagem de cada filtro, o tubo era introduzido no leito filtrante
expandido e movimentado em seu interior.
Os jatos d'água originários do dispositivo permitiam lavar os grãos de
antracito no leito expandido.
Graças a isto, foi possível aumentar as carreiras de filtração e melhorar
muito a qualidade da água filtrada.
Com certeza, os filtros dessa estação de tratamento de água dificilmente
apresentarão problemas de bolas de lama.

10.9.2. Filtros de fluxo ascendente

Estudos experimentais concluíram pela vantagem de se proceder a


descargas de fundo nos filtros de fluxo descendente, várias vezes antes de se
proceder à lavagem propriamente dita.
Assim sendo, quando o nível d'água no interior da câmara distribuidora de
água aos filtros atinge certa altura (nível máximo ou próximo dele), ao invés de
se proceder à lavagem propriamente dita do filtro, procede-se a uma descarga
de fundo.
Pode-se realizar mais de uma descarga de fundo antes de se lavar o filtro.

10-58
Os que recomendam esse procedimento têm observado que grande parte do
acúmulo de partículas no filtro ocorre na camada suporte, e não na camada de
areia.
Assim sendo, a descarga de fundo permite arrastar boa parte das partículas
acumuladas, após o que o filtro ainda se mantém em condições de prosseguir
filtrando durante um bom tempo.
Somente quando tanto a camada suporte quanto a camada de areia
estiverem muito sujas é que se realiza a lavagem propriamente dita.
O número de descargas de fundo que se pode realizar antes de se proceder
à lavagem do filtro de fluxo ascendente dependerá da eficiência desse
procedimento em cada estação de tratamento de água.
As descargas de fundo permitem economizar bom volume de água para
lavagem.
Da mesma forma, experiências mostraram a conveniência de se efetuar
também a lavagem auxiliar da camada suporte.
Alguns projetistas instalam, no interior da camada suporte desses filtros,
tubos perfurados, nos quais é introduzida água para lavagem (Figura 10.43).

Fig. 10.43 - Tubos perfurados na camada suporte para lavagem auxiliar de


filtro de fluxo ascendente

Durante a realização das descargas de fundo, injeta-se água para lavagem


através dos tubos perfurados, que auxiliam a lavar os interstícios dos grãos
constituintes da camada suporte.
Quando utilizam esse recurso, os projetistas costumam especificar camadas
suporte do tipo simétrico.

10.10. Determinação da expansão do leito filtrante durante a lavagem em


fluxo ascendente

Essa determinação pode ser feita utilizando a metodologia apresentada por


Amirtharajah e Cleasby 1. Segundo essa metodologia, determina-se a velocidade
de fluidificação do leito filtra expressão:

10-59
v mf =
[ (γ
1,2845 x10 − 6.d 1,82 . γ H
2O
s −γ H
2O
)]
0,94

0,88
µH O
2
onde
γ H O = peso específico da água;
2
d = diâmetro da peneira que deixa passar 60% dos grãos do leito filtrante;
γs = peso específico da partícula constituinte do leito filtrante;
µ H O = viscosidade absoluta da água.
2
O valor de d pode ser obtido através das definições de tamanho efetivo e
coeficiente de uniformidade:
defetivo = d10%
cuni = d60%/d10%
Portanto.
d60% = defetivo . cuni

O valor de vmf determinado através da expressão anterior é válido para


números de Reynolds inferiores a 10, ou seja:
ρ H O .v mf .d
2
Re = < 10
µH O
2
Caso contrário, deve ser-lhe aplicado o coeficiente de correção dado pela
fórmula:
−0,272
k mf = 1,775. Re mf
e obtém-se:
v'mf = kmf.vmf
A velocidade teórica de sedimentação dos grãos é obtida através da
expressão:
vs = 8.45 . vmf
O número de Reynolds correspondente a essa velocidade será:
ρ H O .v s .d
2
Re o = = 8,45. Re mf
µH O
2
Determina-se, em seguida, o coeficiente de expansão, através da expressão
(aplicável para 1<Re<200):
 d  − 0,1
η =  4,45 + 18  Re
 Dt 
Na expressão anterior, Dt = 4Rh, onde Rh é o raio hidráulico da seção do filtro
perpendicular à direção do fluxo de lavagem.
Tem-se a expressão:
v = kP η
onde:
v = velocidade ascencional;

10-60
k = constante para um dado sistema;
h = coeficiente de expansão, determinado anteriormente.
Aplicando-se esta expressão para a velocidade mínima de fluidificação (na
qual a porosidade do leito filtrante é igual à sua porosidade inicial Po, uma vez
que, para essa velocidade, ainda não há expansão), obtém-se:
v
k = mf
Poµ
A mesma fórmula, aplicada à velocidade de lavagem do filtro, e com os
valores de h e k anteriores, permite calcular a porosidade do leito filtrante
expandido durante a lavagem:
v lavagem
P =η
k
Para o cálculo da profundidade do leito expandido, considere-se que a
profundidade L do leito filtrante sofra um acréscimo ∆L.
Nestas condições, o volume de vazios é acrescido de ∆Vv, = ∆L.A, onde A é
a área do leito filtrante.
Ora, o volume de vazios anterior era Vv,o = Po.Vo, onde Po é a porosidade
inicial e Vo é o volume inicial do leito.
Portanto:
Vv = Vv o + ∆V = Po .Vo + ∆L.A = Po .L.A + ∆L.A
Mas o volume de vazios é também igual ao novo volume do leito filtrante
vezes a nova porosidade:
Vv = A(L + ∆L ).P
Igualando as duas expressões, obtém-se:
A(L + ∆L ).P = Po .L.A + ∆L.A
∆L(1 + P ). = L.(P − Po )
P − Po
∆L = L
1− P
e a profundidade do leito expandido será:
Le = L + ∆L
 P − Po 
Le = 1 + L
 1 − P 
onde L é a profundidade do leito filtrante não expandido.

10.10.1. Problema resolvido

Determinar a expansão de um leito filtrante de areia, de espessura igual a


0,45 m, instalado num filtro com dimensões em planta 1,50 m x 3,70 m, que será
lavado com água a 20° C, com velocidade ascencional igual a 0,90 m/minuto.
Determinar também qual será a profundidade do leito filtrante expandido.
São dadas as seguintes características da areia:
Tamanho efetivo: 0,5 mm

10-61
Coeficiente de uniformidade: 1,5
Massa específica: 2,65 g/cm3
Porosidade: 0,40

Resolução:

Será utilizada a metodologia apresentada por Amirtharajah e Cleasby,


descrita anteriormente.
São dados:
defetivo = d10% = 0,5 mm
cuni = d 60% / d10% = 1,5
Portanto:
d60% = defetivo . cuni = 0,5 x 1,5 = 0,75 mm

a) Velocidade mínima de fluidificação:


b)
1,2845 x10 − 6 x 0,00075 1,82.[1000(2650 − 1000 )]0,94
v mf =
0,00010,88

b) Verificação do número de Reynolds:

102 x 0,0061x 0,00075


Re = = 4,67
0,0001
Portanto, Re < 10 e a expressão é aplicável.

c) Velocidade teórica de sedimentação dos grãos:


vs = 8,45 x 0,0061 = 0,051 m/s

d) Número de Reynolds correspondente:


102 x 0,051x 0,00075
Re o = = 39
0,0001

Como esse valor é superior a 1 e inferior a 200, os cálculos podem prosseguir.

e) Diâmetro hidráulico da seção, em planta, do filtro:


1,50 x 3,70
Dt = 4 x = 2,13m
2 x (1,50 + 3,70 )
f) Coeficiente de expansão:
 0,00075  − 0,1
η =  4,45 + 18 39 = 6,42
 2,13 
g) Constante do sistema:
0,0061
k= = 2,188
0,40 6,42

10-62
h) Velocidade ascencional:
va = 0,90 m/min = 0,015 m/s
i) porosidade do leito filtrante expandido:
0,015
P = 6,42 = 0,46
2,188
j) Expansão do leito filtrante:
0,46 − 0,40
Expansão (%) = x100 = 15%
0,40
k) Profundidade do leito expandido:
Le = L + ∆L
 0,46 − 0,40 
Le = 1 +  x 0,45 = 0,50m
 1 − 0,46 

10.11. Determinação da perda de carga no leito filtrante durante a lavagem


em contracorrente (retrolavagem)

Conforme tem sido mencionado ao longo de todo este Capítulo, é costume,


no Brasil, lavar o leito filtrante com velocidade suficiente para expandi-lo. Em sua
concepção, a hidráulica dos leitos fluidificados difere da hidráulica da filtração,
principalmente em virtude do aumento do volume dos poros do leito filtrante
expandido.
Não obstante, com os materiais e graus de expansão utilizados, o fluxo da
água num leito filtrantefluidificado é laminar, mesmo quando os grãos suspensos
se encontram em movimento.
Segundo Fair, Geyer e Okun (op. citada), para que um grão se mantenha em
suspensão, a força de arraste devida à água que passa ao redor do grão deve
ser igual ao peso da partícula menos o empuxo exercido pela agua sobre ela.
Quer dizer, a diferença (ou perda) de carga entre o fundo e a parte superior
de qualquer leito filtrante de espessura expandida Le deve ser igual ao peso na
água (peso - empuxo) do material suspenso.
Assim sendo, para cada área unitária do filtro, pode-se escrever:
( )
γ H2O .hf ,L = γ s − γ H2O .Vs
onde:
γ H O = peso específico da água;
2
γs = peso específico da partícula constituinte do leito filtrante
V s = volume das partículas presentes no leito filtrante correspondente à área
unitária considerada.
Ainda:
Ve = Le
tendo em vista que a área de sua base é igual a 1.
Pode-se, portanto, escrever:
( )
γ H2O .hf ,L = γ s − γ H2O .(1 − Pe ).Le

10-63
e obtém-se, finalmente:
hf ,L = (δ s − 1)(
. 1 − Pe ).Le
onde:
hf,L = perda de carga no leito filtrante expandido;
δs = densidade relativa dos grãos constituintes do leito filtrante;
Pe = porosidade do leito filtrante expandido;
Le = espessura do leito filtrante expandido, cuja determinação foi vista no Item
10.10.

10.11.1. Problema resolvido

Determinar a perda de carga que ocorrerá no leito filtrante descrito no


Problema 10.10.1 durante sua lavagem.

Resolução:

Aplicando a expressão:
hf ,L = (δ s − 1)(
. 1 − Pe ).Le
aos dados e rersultados do Problema 10.10.1, obtém-se:
hf ,L = (2,65 − 1)(. 1 − 0,46 ).0,50 = 0,45m

10.11.2. Expressões simplificadas

A partir da expressão:
hf ,L = (δ s − 1)(
. 1 − Pe ).Le
se for admitido, simplificadamente, que:
(1 − Pe ).Le = (1 − P ).L
pode-se então escrever:
hf , L = (δ s − 1)(
. 1 − P ).L
Partindo dos seguintes valores:
* areia:

10-68
δs = 2,5
P = 0,4
* antracito
δs = 1,5
P = 0,5

o professor Azevedo Netto chegou às seguintes expressões 'de bolso' para a


estimativa da perda de carga durante a lavagem dos leitos filtrantes que utilizam
esses materiais:
* areia:
hf ,L = (2,5 − 1)(
. 1 − 0,4 ).L

10-64
hf ,L = 0,9.L
* antracito:
hf ,L = (1,5 − 1)(
. 1 − 0,5 ).L
hf ,L = 0,25.L

10.11.3. Problema rersolvido

Resolva novamente o Problema 10.11.1, utilizando a expressão simplificada


anterior, e compare os valores encontrados nos dois casos.

Resolução:

Aplicando a expressão simplificada para um leito filtrante de areia de


espessura igual a 0,45 m, encontra-se:
hf,L = 0,9 x 0,45 = 0,41 m
O valor encontrado anteriormente havia sido 0,45 m, que difere em apenas
10% do que foi obtido pela expressão simplificada.

10.11.4. Problema resolvido

Um sistema autolavável é composto de filtros cuja descrição é apresentada


a seguir.
· Vazão filtrada pelo sistema: 200 L/s
· Número de filtros do sistema: 4
· Dimensões, em planta, de cada filtro: 3 m x 4 m
· Fundo falso: do tipo de vigas californianas, havendo 10 vigas de comprimento
igual a 4,00m, cada uma contendo 20 pares de orifícios D = 3/4" (0,019 m)
espaçados entre si, eixo a eixo, de 0,20 m.
· Camada suporte: conforme descrita no Problema 10.5.2.1.
· Composição do leito filtrante:
areia: espessura = 0,25 m
antracito: espessura = 0,45 m.
A água de lavagem de cada filtro verte para o interior de um canal coletor, de
extensão igual a 4,00 m, localizado numa de suas extremidades (há, portanto,
apenas uma borda vertedoura com essa extensão).
A interligação entre a câmara de água filtrada e a região sob o fundo falso de
cada filtro é feita através de uma passagem na parede de concreto, de seção
retangular, com as seguintes dimensões: largura = 0,6 m; altura = 0,3 m.
Determine a que altura o vertedouro de água filtrada deverá ficar acima
dessa borda vertedoura, sabendo-se que, durante a lavagem, toda a água
afluente ao sistema é utilizada na lavagem de um de seus filtros.

Resolução:

Conforme foi visto no Item 10.8.2.4 anterior, deve-se fazer com que a soleira
do vertedouro de água filtrada esteja posicionada numa altura tal que seja igual

10-65
à altura da(s) borda(s) da(s) calha(s) coletora(s) de água de lavagem mais uma
altura correspondente, no mínimo, à soma de todas as perdas de carga sofridas
pela água quando ela escoa, com vazão suficiente para propiciar a lavagem de
um filtro, através do fundo falso, da camada suporte, do leito filtrante e de
qualquer outra singularidade existente entre a câmara de água filtrada e a
calhacoletora de água de lavagem.
Serão, em seguida, calculadas todas essas perdas de carga.

a) perda de carga na interligação entre a câmara de água filtrada e a região sob


o fundo falso

Admitindo Cd = 0,61:
 0,2 2 1
hf =  . x = 0,169m
 0,61x 0,3 x 0,6  2 x 9,8

b) Perda de carga nas vigas californianas:

Do exposto, conclui-se que existem, em todo o fundo de cada filtro:


10 x 20 x 2 = 400 furos dom diâmetro D = 1/2".
Tendo em vista que a vazão de lavagem será igual a 200 L/s, a vazão em
cada orifício será:
0,2
Ql = = 0,0005m 3 / s
400
A área de cada orifício é:
π (0,019 )2
A= = 0,0002835 m 2
4
Assim sendo, a perda de carga correspondente será, considerando Cd = 0,65:
 0,0005 2 1
hf =  . x = 0,376m
 0,65 x 0,0002835  2 x 9,8
c) Perda de carga na camada suporte:
Conforme foi visto no Problema Resolvido 10.5.2.1, a perda de carga que
ocorrerá na camada suporte desse filtro é dada pela seguinte equação:
hf = 2,12.v o
0,2
hf = 2,12. = 0,035m
3x 4
d) Perda de carga no leito filtrante:
Utilizando as fórmulas simplificadas vistas no Item 10.11..2:
* areia:
hf ,L = 0,9 x 0,25 = 0,225m
* antracito:
hf ,L = 0,25 x 0,45 = 0,113m

10-66
· Perda de carga total:
0,225 + 0,113 = 0,338 m

e) Sobreelevação da água ao verter para o canal coletor de água de lavagem:


É determinada utilizando a fórmula de Francis:
2
 Q 3
h = 
 1,838.b 
2
 0,2  3
h =  = 0,091m
 1,838 x 4 
f) Diferença de altura entre o vertedouro de água filtrada e a borda vertedoura de
água de lavagem:
∆h = 0,169 + 0,376 + 0,035 + 0,338 + 0,091
∆h = 1,009 m
Por segurança, e em vista do uso de uma expressão simplificada para o
cálculo da perda de carga no leito filtrante, será adotado ∆h = 1,10 m

10.12. Calhas coletoras de água de lavagem

Destinam-se a coletar a água proveniente da lavagem do filtro e encaminha-


la, direta ou indiretamente, ao sistema de esgotamento da ETA.
Devem ser projetadas e distribuídas sobre o leito filtrante de forma a,
juntamente com a ação do fundo falso, assegurar a coleta da água de lavagem
do leito filtrante do modo mais uniforme possível.
Sua forma e seu posicionamento em relação ao topo do leito filtrante são
fundamentais.
De modo geral, deve-se preferir as que tenham seção de fundo em forma de
V, ou as arredondadas , vide Figuras 10.44 (a) e (b).
Calhas de fundo chato irão interferir no fluxo de água de lavagem, fazendo
surgir turbulências indesejáveis, vide Figura 10.44 (c).
Além disto, o fundo das calhas coletoras de fundo chato costumam acumular
certa parcela da sujeira originária da lavagem do filtro fazendo com que, cessada
a lavagem, ela caia sobre o leito filtrante recém-lavado.
A forma da borda da calha coletora de água de lavagem é motivo de
controvérsias.
Alguns preferem que elas sejam chanfradas com caimento de dentro para
fora (Figura 10.45(a)), tendo em vista que, aparentemente, essa forma favorece
o aprofundamento das linhas de corrente, facilitando o arraste das partículas
removidas do leito filtrante.
Outros preferem que elas sejam chanfradas com caimento de entro (Figura
10.45(b)), tendo em vista que essa forma impede o retorno para dentro do filtro,
após a lavagem, das impurezas depositadas sobre as bordas da calha durante
essa operação.

10-67
Fig. 10.44 – Calhas coletoras de água de lavagem: seções transversais

Fig. 10.45 – Calhas coletoras de água de lavagem: bordas vertedouras

A altura do fundo da calha em relação ao topo do leito filtrante é muito


importante. Se ela for insuficiente, ocorrerá perda de material do leito, arrastado
pela água de lavagem para o interior da calha e, daí, par o esgotamento da ETA.
Se ela for demasiada, a água de lavagem terá dificuldades para arrastar até
a calha as partículas maiores de sujeira: ou elas não sairão do filtro (e poderão
aí iniciar a formação de bolas de lama) ou será necessário gastar maior volume
de água de lavagem para arrastá-las (o que implicará em prejuízo).
O ideal, portanto, é colocá-las pouco acima da altura atingida pelo topo do
leito filtrante expandido, vide Figura 10.46.
Existe certa controvérsia com relaçao ao número e disposição das calhas
coletoras de água de lavagem sobre o leito filtrante.

Fig. 10.46 – Calhas coletoras de água de lavagem: posicionamento


sobre o leito filtrante

10-68
Enquanto a escola americana recomenda colocar muitas calhas coletoras
sobre o filtro (Figura 10.47 (a)), a escola européia costuma adotar apenas um
vertedouro lateral ao longo de uma das paredes do filtro (Figura 10.47(b)).
A Norma Brasileira aceita a proposição européia, desde que a distância
entre a borda do vertedouro e a parede oposta não ultrapasse três metros.
No caso de se adotar a escola européia, é recomendável que seja prevista a
introdução de água na parede oposta, no sentido parede-vertedouro, capaz de
impedir a permanência de impurezas nas regiões de baixa velocidade, vide
Figura 10.47 (c).
De modo geral, aplicam-se a essas calhas as recomendações a seguir.
* O espaçamento entre suas bordas deve ser no mínimo de 1 metro e no
máximo igual a 6 vezes a altura livre da` água acima do leito expandido, não
devendo ser, entretanto, superior a 3 metros.
* A seção transversal das calhas deve ser simétrica em relação ao plano
longitudinal que passa por seu eixo. A parte inferior eve ter inclinação no sentido
longitudinal e transversal, de modo a evitar o depósito de material.
* Filtro com uma dimensão em planta igual ou inferior a 3 m pode ter a água de
lavagem diretamente descarregada em canal lateral, perpendicular a essa
dimensão.

Fig. 10.47 – Calhas coletoras de água de lavagem: disposição sobre o leito


filtrante

10-69
Em se tratando de filtros ascendentes, em que a filtração é realizada no
mesmo sentido da lavagem, alguns projetistas preferem prever, como unidades
separadas, calhas coletoras de água filtrada e calhas coletoras de água de
lavagem.
Tais projetistas colocam as calhas coletoras de água de lavagem o mais próximo
possível do topo do leito filtrante, e as calhas coletoras de água filtrada bem mais
acima.
Essa providência teria por objetivo oferecer maior segurança às unidades
filtrantes, impedindo que a água de lavagem tenha acesso à calha coletora de
água filtrada.
Entretanto, na maioria dos filtros ascendentes, as calhas coletoras de água
filtrada e as calhas coletoras de água de lavagem constituem uma única
unidade.
Afirmam os defensores desta concepção que os filtros ascendentes
produzem água de boa qualidade durante a maior parte de suas carreiras de
filtração.
Assim sendo, o posicionamento altimétrico das calhas coletoras de água
filtrada não é importante.
Afirmam ainda que, caso ocorra algum fator capaz de propiciar a produção
de água filtrada de má qualidade, essa água rapidamente ocupará o espaço
acima do leito filtrante.
Assim sendo, novamente nesse caso, o posicionamento altmetrico das
calhas coletoras de água filtrada deixa de ser importante.
O dimensionamento dessas calhas é feito de forma idêntica à que é utilizada
para o dimensionamento das calhas coletoras de água decantada com descarga
livre (vide Item 9.5.4.2 deste livro):
3
Q = 1,38bh 2
Esta expressão, aplicável a calhas de seção retangular, permite determinar a
área da seção transversal de uma calha coletora de seção qualquer.
Assim, por exemplo, considere um filtro cujas dimensões, em planta, são
2,00 m x 3,00 m; e que será lavado utilizando-se a velocidade ascencional de
0,9 metro por minuto.
A vazão de lavagem correspondente será:
Q = 2 x 3 x 0,9 = 5,4 m3/minuto = 0,09 m3/s
Considere que cada uma das duas calhas coletoras de água de lavagem
proposta para esse filtro deverá ter seção transversal de formato semi-circular,
com diâmetro igual a 0,60 m.
No interior de uma calha de seção transversal retangular, de largura igual a 0,60
m, a altura da lâmina d'água em seu interior seria:
2
 Q 3
h= 
 1,38b 

10-70
2
 0,09  3
h=  = 0,228m
 1,38 x 0,60 
A área da seção de escoamento correspondente seria:
A = 0,60 x 0,228 = 0,136 m2
Ora, a área da seção transversal da calha de seção semi-circular de
diâmetro igual a 0,60 m é:
πD 2 π (0,60 )2
A= = = 0,141m
8 8
superior à área necessária, determinada anteriormente.
Assim sendo, conclui-se que as calhas propostas são adequadas.

10.13. Velocidades recomendadas para as canalizações e comportas


adjacentes aos filtros

Azevedo Netto recomenda que sejam utilizadas as seguintes velocidades


máximas:
• afluente aos filtros: 0,60 m/s
• efluente dos filtros: 1,25 m/s (vide Nota a seguir)
• água de lavagem: 1,80 m/s
• água para lavagem: 3,60 m/s
Nota: atualmente, com o emprego em grande escala dos sistemas de taxa
declinante variável, tem sido mais vantajoso utilizar velocidades maiores que a
indicada para o efluente dos filtros, para propiciar perdas de carga mais
elevadas, capazes de evitar que a vazão na unidade recém-lavada se torne
elevada, ocasionando o trespasse de flocos (com isto, evita-se o
estrangulamento de registros ou a instalação de placas de orifícios na
canalização de água filtrada).

10.14. Simulação do funcionamento de um sistema de taxa declinante


variável

De forma simplificada, é possível simular, através de um modelo matemático


singelo, o funcionamento de um sistema de taxa declinante variável.
As equações destinadas a essa simulação foram todas vistas neste
Capítulo. Imagine-se, por exemplo, que se tenha um sistema composto por
quatro filtros funcionando em paralelo, conforme foi visto na descrição
apresentada no Item 10.7.1.d anterior. Conforme foi visto, a equação da perda
de carga em cada filtro pode ser expressa pela equação:
hf = k L .v a + k 2
t .v
a
onde:
• kL é o coeficiente correspondente às perdas de carga laminares, que ocorrem
no leito filtrante e na camada suporte de cada filtro;

10-71
• kt é o coeficiente correspondente às perdas de carga turbulentas, que
ocorrem no fundo falso, nas canalizações, comportas e demais singularidades
existentes em cada filtro.
Da mesma forma, foi visto que kL pode ser determinado para a situação em
que o filtro está limpo (ou recém-lavado), mas ele tende a aumentar, à medida
que o filtro vai se colmatando.
Assim sendo, será admitido que ele assuma os seguintes valores na
simulação:
• kL: o filtro está limpo (acabou de ser lavado);
• kL1: o filtro está parcialmente colmatado; ao atingir esse valor, o filtro mais
sujo do sistema estará sendo retirado para ser lavado;
• kL2: o filtro está mais colmatado ainda; ao atingir esse valor, o próximo filtro
mais sujo do sistema estará sendo retirado para ser lavado;
• kL3: o filtro está ainda mais colmatado; ao atingir esse valor, o próximo filtro
mais sujo do sistema estará sendo retirado para ser lavado;
• kL4: o filtro terá atingido seu grau máximo de colmatação, e deverá ser
imediatamente retirado do sistema para ser lavado.
Para efeito desta simulação, será adotada também a seguinte simbologia:
• hmín = perda de carga no sistema quando um dos filtros, recém-lavado, for
colocado em operação;
• hmáx = perda de carga no sistema no intante em que o filtro mais estiver para
ser retirado de operação;
• hlav = perda de carga no sistema na situação em que o filtro que estava mais
sujo estiver fora do sistema, pois estará em processo de lavagem.
(observe que as perdas de carga anteriores referem-se ao sistema como um
todo, uma vez que elas são as mesmas para todos os filtros, como foi visto).
• Q1 = vazão no filtro mais limpo, quando as quatro unidades estiverem
• operando;
• Q2 = vazão no filtro em processo de colmatação, quando as quatro unidades
estiverem operando;
• Q3 = vazão no filtro em processo de colmatação, mais colmatado que o
anterior, quando as quatro unidades estiverem operando;
• Q4 = vazão no filtro mais colmatado de todos, próximo a ser lavado, quando
as quatro unidades estiverem operando;
• Q'1 = vazão no filtro mais limpo, quando apenas três unidades estiverem
operando (o filtro mais sujo está sendo lavado);
• Q'2 = vazão no filtro em processo de colmatação, quando apenas três
unidades estiverem operando (o filtro mais sujo está sendo lavado);
• Q'3 = vazão no filtro em processo de colmatação, mais colmatado que o
anterior, quando apenas três unidades estiverem operando (o filtro mais sujo
está sendo lavado).
Seja Q a vazão total do sistema, igual à vazão afluente à ETA.
Então, tendo em vista que a soma das vazões dos filtros deverá ser igual à
vazão do sistema, pode-se escrever:
Q = Q1 + Q2 + Q3 + Q4 (1)
Q = Q’1 + Q’2 + Q’3 (2)

10-72
Além disto, e tendo em vista que, sendo a perda de carga no sistema (ou
seja, em cada filtro) igual a hmin, um dos filtros estará recém-lavado, pode-se
escrever:
hmin = kL.Q1 + kt.Q12 (3)
hmin = kL1.Q2 + kt.Q22 (4)
2
hmin = kL2.Q3 + kt.Q3 (5)
hmin = kL3.Q4 + kt.Q42 (6)
Na realidade, a jusante desses filtros existe ainda um vertedouro de água
filtrada, cuja equação tem a seguinte expressão geral:
h = kv.Qn
Cada filtro pode ter seu vertedouro próprio, ou pode haver um vertedouro
único para todos eles.
No primeiro caso, as equações anteriores são re-escritas da seguinte forma:

hmin = kL.Q1 + kt.Q12 + kv. Q1n (3)


hmin = kL1.Q2 + kt.Q22 + kv. Q2n (4)
hmin = kL2.Q3 + kt.Q32 + kv. Q3n (5)
hmin = kL3.Q4 + kt.Q42 + kv. Q4n (6)

No segundo caso, as equações anteriores são re-escritas da seguinte forma:

hmin = kL.Q1 + kt.Q12 + kv. Qn (3)


hmin = kL1.Q2 + kt.Q22 + kv. Qn (4)
hmin = kL2.Q3 + kt.Q32 + kv. Qn (5)
hmin = kL3.Q4 + kt.Q42 + kv. Qn (6)

onde Q = Q1 + Q2 + Q3 + Q4 = vazão afluente ao sistema.


A prática mostra que, durante o tempo em que o sistema funciona sem
retirar um de seus filtros para lavar, as vazões mantêm-se inalteradas em cada
filtro.
Ou seja: ainda que os coeficientes de perdas de carga laminares aumentem
em cada filtro, as vazões mantêm-se inalteradas em cada um deles.
Assim sendo, com o passar do tempo, a perda de carga irá aumentando no
sistema, até atingir o valor hmáx.
Nesse instante, o filtro mais colmatado deverá ser retirado do sistema para
ser lavado.
Para o instante que antecede essa retirada, pode-se escrever as seguintes
equações:

hmáx = kL1.Q1 + kt.Q12 (7)


hmáx = kL2.Q2 + kt.Q22 (8)
hmáx = kL3.Q3 + kt.Q32 (9)
hmáx = kL4.Q4 + kt.Q42 (10)

Acrescentando às equações anteriores a parcela correspondente ao


vertedouro existente a jusante de cada filtro, elas serão re-escritas da forma:

10-73
hmáx = kL1.Q1 + kt.Q12 + kv. Q1n (7)
hmáx = kL2.Q2 + kt.Q22 + kv. Q2n (8)
hmáx = kL3.Q3 + kt.Q32 + kv. Q3n (9)
hmáx = kL4.Q4 + kt.Q42 + kv. Q4n (10)

ou, no caso de haver um único vertedouro para todos os filtros:

hmáx = kL1.Q1 + kt.Q12 + kv. Qn (7)


hmáx = kL2.Q2 + kt.Q22 + kv. Qn (8)
hmáx = kL3.Q3 + kt.Q32 + kv. Qn (9)
hmáx = kL4.Q4 + kt.Q42 + kv. Qn (10)

onde Q = Q1 + Q2 + Q3 + Q4 = vazão afluente ao sistema.


Ao se retirar o filtro mais colmatado para ser lavado, a perda de carga no
sistema aumenta (pois agora apenas três filtros deverão realizar a tarefa
anteriormente desempenhada por quatro) e passa a ser igual a hlav:

hlav = kL1.Q’1 + kt.Q’12 (11)


hlav = kL2.Q’2 + kt.Q’22 (12)
hlav = kL3.Q’3 + kt.Q’32 (13)

Acrescentando às equações anteriores a parcela correspondente ao


vertedouro existente a jusante de cada filtro, elas são re-escritas da forma:.

hlav = kL1.Q’1 + kt.Q’12 + kv. Q’1n (11)


hlav = kL2.Q’2 + kt.Q’22 + kv. Q’2n (12)
hlav = kL3.Q’3 + kt.Q’32 + kv. Q’3n (13)

ou, no caso de haver um único vertedouro para todos os filtros:

hlav = kL1.Q’1 + kt.Q’12 + kv. Qn (11)


hlav = kL2.Q’2 + kt.Q’22 + kv. Qn (12)
hlav = kL3.Q’3 + kt.Q’32 + kv. Qn (13)

onde Q = Q1 + Q2 + Q3 + Q4 = vazão afluente ao sistema.


Tem-se, portanto, um sistema com treze equações, em que são conhecidas
as seguintes grandezas:
Q = vazão afluente ao sistema;
KL = coeficiente de perdas de carga laminares correspondente ao filtro limpo
(recém-lavado);
kt = coeficiente de perdas de carga turbulentas;
kv = coeficiente do vertedouro de água filtrada;
n = expoente do vertedouro de água filtrada;
hlav = perda de carga máxima maximorum no sistema, acima da qual sabe-se
que a ETA transbordará ou a qualidade da água filtrada corre o risco de
deteriorar-se.
São incógnitas as demais grandezas, ou sejam:

10-74
Q1; Q2; Q3; Q4.
Q'1; Q' 2; Q'3
hmin; hmáx
kL1; kL2; kL3; kL4.

ou seja: exatamente treze incógnitas.

Esse sistema pode ser resolvido com o auxílio do cálculo eletrônico, ou


mesmo através de tentativas.
Deve-se ressaltar que, algumas vezes, a resolução do sistema de equações
pode mostrar que a vazão no filtro recém-lavado está muito alta, incompatível
com sua capacidade de reter flocos sem impedir sua fragmentação e o
conseqüente arraste de partículas pela água filtrada.
Por esse motivo, a NBR 12216 estabelece que a taxa máxima de filtração
não deve ser superior a 50% da taxa média do sistema.
Neste caso, torna-se necessário aumentar o coeficiente de perdas de carga
turbulentas, através, por exemplo, da adoção de diâmetros menores nas
canalizações de água filtrada, ou do estrangulamento parcial placas de orifícios.
Assim sendo, no sistema de equações visto anteriormente, o valor de Q1 é
conhecido; em compensação, o valor de k1 é incógnito.

10.14.1. Problema resolvido

Um sistema de filtros de taxa declinante variável, destinado a tratar a vazão


de 200 litros por segundo, compõe-se de quatro unidades filtrantes. Cada filtro
tem, em planta, as seguintes dimensões: comprimento = 4 m, largura = 3 m. Seu
leito filtrante é duplo, sendo composto de 0,25 m de areia e 0,45 m de antracito,
em que ambos atendem à especificação da COPASA (ver Itens 10.3.1.1. e
10.3.1.2). A água é admitida no interior de cada um deles através de uma
comporta de seção quadrada, afogada, de lado igual a 0,20 m. O fundo falso dos
filtros é do tipo de vigas californianas, construídas da forma descrita no Problema
Resolvido 10.6.3.1. A camada suporte existente entre o fundo falso e o leito
filtrante é da forma descrita no Problema Resolvido 10.5.2.1. Cada filtro possui
seu próprio vertedouro de água filtrada, do tipo retangular, cula soleira tem
extensão igual a 1,00 m. A interligação entre o fundo de cada filtro e a câmara
em que está instalado seu vertedouro de água filtrada tem as seguintes
singularidades, todas de diâmetro igual a 250 mm: 1 entrada normal em
canalização; 1 tê de passagem direta; 1 registro de gaveta aberto; 1 saída de
canalização; 6 metros de canalização.
Sabendo-se que a vazão na unidade recém-lavada não poderá ser superior
a 75 litros por segundo, e que a perda de carga máxima admissível para o
sistema é igual a 2,00 m, efetuar a simulação do funcionamento do sistema e
indicar, se necessária, a perda de carga turbulenta adicional para evitar que a
unidade recém-lavada ultrapasse o valor máximo recomendado.

10-75
Resolução:

a) Perdas de carga laminares no leito filtrante limpo (recém-lavado):


A equação correspondente a essas perdas de carga foi determinada no
Problema Resolvido 10.5.5.5. Encontrou-se:
hf = 60,96 va
Transformando-a para que se possa trabalhar com a vazão afluente ao filtro,
encontra-se:
2
 Q 3
hf = 60,96  = 5,08Q
 4x3 
b) Perdas de carga laminares na camada suporte:
A equação correspondente a essas perdas de carga foi determinada no
Problema Resolvido 10.5.2.1. Encontrou-se:
hf = 2,12 va
Transformando-a para que se possa trabalhar com a vazão afluente ao filtro,
encontra-se:
2
 Q 3
hf = 2,12  = 0,18Q
 4x3 
c) Perdas de carga laminares totais:
hf = (5,08 + 0,18) Q = 5,26 Q
d) Perdas de carga turbulentas na comporta de acesso ao filtro:
Pode ser calculada através da fórmula aplicável aos orifícios:
2
 Q  1
hf =  
 C d .A  2g
Admitindo Cd = 0,61, obtém-se:
2
 Q  1
hf =   = 85,70Q 2
 0,61x 0,2 x 0,2  2 x 9,8
e) Perdas de carga turbulentas nas vigas californianas:
Foram calculadas no Problema Resolvido 10.6.3.1. Encontrou-se:
2
 Q 
 
520 1
hf =   = 22,86Q 2
 0,65 x 0,0001266  2 x 9,8
 
 
f) Perdas de carga na tubulação de interligação:
Desprezar-se-á as perdas de carga contínuas, em vista da pequena extensão da
canalização (apenas 6 m). Assim sendo, serão consideradas apenas as perdas
de carga localizadas, que podem ser determinadas através da expressão:
U 2   k  2
hf = ∑ k . = ∑  .U
2g   2g 

10-76
2
  k   4Q 
hf = ∑  . 
2
  2g   πD 
2
  k   4Q 

hf = ∑  .
  2g   π (0,25 ) 
2

hf = 21,17(∑ k )Q 2
onde Σk é determinada a seguir.

Singularidade K
1 entrada normal em canalização 0,50
1 tê passagem direta 0,60
1 registro de gaveta, aberto 0,20
1 saída de canalização 1,0

Portanto:

Σk = 2,30
hf = 21,17 x 2,30 Q2
h f = 49 Q2

g) Perdas de carga turbulentas totais:


h f = (85,70 + 27,86 + 48,69) Q2
h f = 162,25 Q2
h) sobre-elevação no vertedouro de água filtrada:
2 2 2
 Q 3  Q 3
h=  =  = 0,666Q 3
 1,838 L   1,838 x1,00 

i) Equações para o diagnóstico do sistema:


0,200 = Q1 + Q2 + Q3 + Q4 (1)
0,200 = Q’1 + Q’2 + Q’3 (2)
hmin = 5,26 Q1 + 162,25.Q12 + 0,666.Q12/3 (3)
hmin = kL1. Q2 + 162,25.Q22 + 0,666.Q32/3 (4)
hmin = kL2. Q3 + 162,25.Q32 + 0,666.Q32/3 (5)
hmin = kL3. Q4 + 162,25.Q42 + 0,666.Q42/3 (6)
hmáx = kL1. Q1 + 162,25.Q12 + 0,666.Q12/3 (7)
hmáx = kL2. Q2 + 162,25.Q22 + 0,666.Q32/3 (8)
hmáx = kL3. Q3 + 162,25.Q32 + 0,666.Q32/3 (9)
hmáx= kL4. Q4 + 162,25.Q42 + 0,666.Q42/3 (10)
2,00= kL1. + 162,25. Q’12 + 0,666. Q’12/3 (11)
2,00= kL2. + 162,25. Q’22 + 0,666. Q’22/3 (12)
2,00= kL3. + 162,25. Q’32 + 0,666. Q’32/3 (13)

A resolução do sistema anterior permite encontrar os seguintes valores:

10-77
Q1 = 0,0664 m3/s
Q2 = 0,0547 m3/s
Q3 = 0,0440 m3/s
Q4 = 0,0349 m3/s
Q’1 = 0,0792 m3/s
Q’2 = 0,0665 m3/s
Q’3 = 0,0544 m3/s
hmín = 1,179 m
hmáx = 1,547 m
kL1 = 10,864 m/ (m3/s)
kL2 = 17,649 m/ (m3/s)
kL3 = 26,140 m/ (m3/s)
kL4 = 36,585 m/ (m3/s)
A Figura 10.49 apresenta os gráficos representativos do desempenho do
sistema de filtros.

Fig. 10.48 – Resolução do problema 10.14.1

Observe que a vazão máxima no filtro recém-lavado (Q = 0,0664 m3/s) é


12% superior à vazão média de filtração (Q = 0,0500 m3/s).
Fica, dessa forma, atendida a recomendação da NBR 12216, que limita esse
percentual ao valor máximo de 50%, como foi visto.

10-78
Questões para recapitulação
(respostas no final deste Item)

1. Nas "estações clássicas" (ou convencionais) o tratamento (mistura rápida,


floculação, decantação e filtração) é realizado em unidades separadas; nas
estações de filtração direta os filtros recebem água coagulada ou floculada, sem
passar, portanto, pelo decantador.
2. Os filtros podem ser de fluxo descendente ou de fluxo ascendente.
3. Filtros de leito filtrante simples utilizam quase sempre, como material filtrante,
a granada.
4. Filtros de leito filtrante duplo utilizam quase sempre, como material filtrante, a
areia e o antracito (nesta ordem, de baixo para cima).
5. Existem diversos tipos de fundo falso, alguns dos quais podem ser fabricados
no próprio canteiro de obras; outros são patenteados por diversos fabricantes.
6. A camada suporte, normalmente constituída de seixos rolados, deve ser
cuidadosamente especificada, do ponto de vista granulométrico.
7. Alguns tipos de fundo falso (pouco comuns no Brasil) dispensam a utilização
da camada suporte: o leito filtrante pode ser colocado diretamente sobre eles.
8. Em muitas estações de tratamento de água, a lavagem dos filtros utiliza
também equipamentos auxiliares, tais como: bocais fixos ou rotativos, que
espalham a água sobre o leito filtrante ou em seu interior; injeção de ar
comprimido, antecedendo a lavagem com água ou durante essa lavagem.
9. Filtros de taxa e carga constantes constituem moderna concepção de filtros.
10. No Brasil, existem estações de tratamento de água em que foram
implantados filtros de taxa e carga constantes.
11. Na saída de cada filtro de taxa e carga constantes existe um medidor de
vazão, associado a uma válvula de controle, que mantém constante a vazão
filtrada.
12. Cada filtro de taxa e carga constantes possui um controlador de nível, que o
mantém constante.
13. Filtros de taxa e carga constantes produzem, ao longo do tempo, pequenas
(porém indesejáveis) perturbações no equilíbrio interno dos filtros, que acabam
por fragmentar as impurezas retidas, possibilitando que os pequenos fragmentos
os atravessem, piorando a qualidade da água tratada.
14. No filtro de taxa constante e carga variável, a água é introduzida em cada
filtro através de uma comporta não afogada que, funcionando como um orifício
ou vertedouro, assegura que cada filtro receberá sempre a mesma vazão.
15. No filtro de taxa constante e carga variável, a carga irá aumentando com o
passar do tempo, porque o filtro vi se colmatando à medida que ele retém as
impurezas trazidas pela água decantada.
16. É sempre bom deixar o leito filtrante esvaziar completamente quando de sua
lavagem, devido à conseqüente agitação sofrida pelos grãos do leito filtrante que
reterá, em conseqüência, maior quantidade de impurezas.
17. Em geral, a soleira do vertedouro de água filtrada dos filtros de taxa
constante e carga variável é ligeiramente mais alta (cerca de 10 centímetros
acima) que o topo do leito filtrante.

10-79
18. Um sistema de taxa declinante variável é composto por diversos filtros
funcionando em paralelo, sendo a água filtrada conduzida até um vertedouro,
geralmente posicionado de tal forma que sua soleira assegura um nível d'água
no interior de cada filtro de, no mínimo, dez centímetros.
19. Em sistemas de taxa declinante variável pode haver um vertedouro apenas,
comum a todos os filtros, acima do topo do leito filtrante, ou um vertedouro a
jusante de cada filtro.
20. O sistema de taxa declinante variável funciona distribuindo menos água para
os filtros mais limpos e mais água para os filtros mais sujos.
21. No sistema de taxa declinante variável a carga (ou seja, o nível d'água no
interior dos filtros) varia, aumentando à medida que os filtros vão se colmatando.
22. Os sistemas de taxa declinante variável são capazes de produzir água de
excelente qualidade, e vêm sendo implantados na maioria das estações de
tratamento de água brasileiras.
23. Basicamente, os materiais utilizados nos filtros das estações de tratamento
de água são granulares, especificados adequadamente, sendo normalmente
utilizados, com essa finalidade, o antracito e a areia.
24. Na maioria das estações de tratamento de água brasileiras, os materiais
filtrantes ficam estratificados no interior dos filtros.
25. A estratificação ocorre porque a lavagem dos filtros é feita com uma
velocidade ascencional da água de lavagem suficiente para fluidificar o leito
filtrante.
26. Existem filtros constituídos de leitos não estratificados, que são lavados sem
que se expanda o leito filtrante (lava-se simultaneamente com ar e água).
27. Sendo o antracito mais denso que a areia, todas as vezes que o filtro de
camada dupla for lavado em contracorrente a areia subirá mais que o antracito.
Terminada a lavagem, a areia ficará por cima e o antracito por baixo.
28. Normalmente, a camada suporte é constituída de seixos rolados, colocados
em camadas sucessivas, umas sobre as outras, de forma a possibilitar a
ransição entre o tamanho dos grãos do leito filtrante e o tamanho dos orifícios
do fundo falso.
29. Durante a filtração em filtros de fluxo descendente, os fundos falsos coletam
a água filtrada, sob a camada filtrante, e, por ocasião da lavagem dos filtros, os
fundos falsos distribuem uniformemente, no leito filtrante, a água destinada a
esse fim.
30. Alguns modelos de bocais apresentam ranhuras tão pequenas que
possibilitam a colocação da camada suporte entre o fundo falso e o leito filtrante.
31. É possível construir, no próprio canteiro de obras, diferentes modelos de
fundos falsos.
32. No Brasil, têm sido utilizadas as denominadas vigas californianas na
construção de fundos falsos.
33. Normalmente, nas ETAs brasileiras, a lavagem é efetuada introduzindo água
tratada em contracorrente no filtro a ser lavado, com velocidade suficiente para
fluidificar o leito filtrante.
34. Algumas vezes, nas ETAs brasileiras, efetua-se também a lavagem auxiliar,
com água ou com ar.

10-80
35. O volume de água a ser armazenado pelo reservatório de água para
lavagem dos filtros deve ser suficiente para promover a lavagem de, pelo menos,
um filtro.
36. Em alguns casos, deixa-se de construir o reservatório de água para lavagem
dos filtros em cota adequada para que a lavagem possa ser realizada por
gravidade, e lava-se cada filtro utilizando a água recalcada por conjuntos
motobomba especialmente instalados para esse fim.
37. Algumas estações de tratamento de água possuem sistemas autolaváveis de
filtros.
38. A lavagem auxiliar dos filtros permite melhorar o desempenho da operação
de lavagem do filtro (o que possibilita, também, economizar água de lavagem).
39. O corte da superfície dos filtros com jato d’água permite quebrar a crosta
superficial de sujeira que se forma sobre ela, reduzindo a possibilidade de
formação das denominadas (e indesejáveis) bolas de lama.
40. As bolas de lama aderem as partículas de impurezas que se deseja filtrar,
permitindo obter água filtrada de melhor qualidade.
41. Filtros que utilizam leitos filtrantes de areia com grande espessura utilizam a
lavagem auxiliar com ar simultaneamente com a lavagem ascencional com água.
42. A lavagem auxiliar com ar vem se mostrando inútil para a lavagem de leitos
filtrantes múltiplos.
43. De modo geral, deve-se preferir calhas coletoras de água de lavagem que
tenham seção de fundo em forma de vê, ou as arredondadas.
44. A altura do fundo da calha em relação ao topo do leito filtrante não é
importante.
45. O número de calhas coletoras de água de lavagem a instalar no interior dos
filtros rrápidos de fluxo descendente é tema controvertido.
46. Filtros russos e clarificadores de contato são denominações outrora
utilizadas para designar os filtros ascendentes.
47. No interior do meio granular existente nos filtros ascendentes ocorrem,
simultaneamente, a floculação, a decantação e a filtração.
48. Basicamente, os filtros ascendentes são constituídos por uma fina camada
de areia colocada sobre uma espessa camada suporte de seixos rolados.
49. A lavagem dos filtros ascendentes é efetuada injetando-se água para
lavagem da forma oposta – de cima para baixo – com velocidade suficiente para
expandir o leito de areia.
50. Uma limitação dos filtros ascendentes é o teor de sólidos, que pode fazer
com que eles sujem rapidamente.
51. A camada suporte ideal exerce importante papel na filtração ascendente. É
grande a quantidade de sólidos retidos em seu interior.
52. Nos filtros ascendentes de taxa constante e carga variável, a água
coagulada é distribuída a cada filtro através, por exemplo, de vertedouros com
descarga livre, que asseguram a distribuição de vazões iguais a todos eles.
53. Nos filtros ascendentes de taxa e carga variáveis, a água coagulada é
distribuída a cada filtro através de um sistema afogado.
54. A areia utilizada em filtros ascendentes é semelhante à utilizada em filtros de
fluxo descendente, diferindo apenas quanto à sua granulometria e espessura.

10-81
55. Nos filtros de fluxo descendente, a camada suporte depende do material
filtrante a ser colocado sobre ela e do fundo falso sobre o qual ela se apóia.
56. Existe uma infinidade de tipos de fundos falsos - tantos quantos se desejar
inventar.
57. No caso dos filtros de fluxo ascendente, tanto durante a filtração quanto por
ocasião da lavagem dos filtros, os fundos falsos distribuem uniformemente, no
leito filtrante, a água destinada a esse fim.
58. Nos filtros de fluxo ascendente, não há o risco de que os fundos falsos
estejam cheios de água coagulada.
59. O projetista atento cuida para que a água afluente aos filtros ascendentes
passe por pré-tratamento adequado ao tipo de fundo falso - e vice-versa.
60. O custo dos fundos falsos patenteados pode tornar-se elevado,
inviabilizando sua utilização.
61. Blocos cerâmicos utilizados em fundos falsos de filtros ascendentes devem
ser instalados com dispositivos que permitam lavar-lhes internamente, através
da injeção de água para lavagem em seção oposta à saída de água de lavagem.
62. A necessidade de se lavar o filtro ascendente é determinada por um dos
seguintes fatores:
(i) se o filtro sujar mais, a câmara distribuidora de água aos filtros transbordará;
(ii) se ele continuar filtrando, a qualidade da água poderá deteriorar-se.
63. Experiências têm mostrado a conveniência de se efetuar, também, a
lavagem auxiliar da camada suporte.
64. O posicionamento altimétrico do reservatório de água para lavagem por
gravidade deverá ser tal que, para a vazão necessária à lavagem do filtro, ele
seja capaz de vencer o desnível altimétrico mais as perdas de carga que
ocorrerão no trajeto reservatório - calha coletora de água de lavagem.
65. O reservatório de água para lavagem nunca deve ser construído sobre a
casa de química.
66. Recentemente, estudos experimentais têm concluído pela vantagem de se
proceder a descargas de fundo nos filtros ascendentes, várias vezes antes de se
proceder à lavagem propriamente dita.
67. Alguns projetistas vêm introduzindo, no interior da camada suporte de filtros
ascendentes, tubulações perfuradas, no interior das quais é introduzida água
para lavagem.
68. Camadas suporte do tipo simétrico diferem das usuais porque, enquanto
nestas, os grãos apresentam diâmetros sempre decrescentes de baixo para
cima, na camada simétrica os diâmetros decrescem e depois voltam a crescer
de baixo para cima.
69. De modo geral, deve-se preferir as calhas coletoras de água de lavagem que
tenham seção de fundo em forma de V, ou as arredondadas.
70. O fundo das calhas de fundo chato costuma acumular certa parcela da
sujeira originária da lavagem do filtro; após cessada a lavagem, ela cairá
novamente sobre o leito filtrante recém-lavado.

10-82
Respostas:
1(v); 2(v); 3(f); 4(v); 5(v); 6(v); 7(v); 8(v); 9(f); 10(v); 11(v); 12(v); 13(v); 14(v);
15(v); 16(f); 17(v); 18(v); 19(v); 20(f); 21(v); 22(v); 23(v); 24(v); 25(v); 26(v); 27(f);
28(v); 29(v); 30(v); 31(v); 32(v); 33(v); 34(v); 35(v); 36(v); 37(v); 38(v); 39(v);
40(f); 41(v); 42(f); 43(v); 44(f); 45(v); 46(v); 47(v); 48(f); 49(f); 50(v); 51(v); 52(v);
53(v); 54(v); 55(v); 56(v); 57(v); 58(f); 59(v); 60(v); 61(v); 62(v); 63(v); 64(v);
65(f); 66(v); 67(v); 68(v); 69(v); 70(v);

Referências bibliográficas

1. AMIRTHARAJAH, A., Cleasby, j. l. - Predicting expansion of filters during


backwash. Journal AWWA, v. 64, n.1, p.52-9, Jan. 1972.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-12216 - Projeto
de estação de tratamento de água para abastecimento público; procedimento.
Rio de Janeiro, 1989. 17p.
3. DI BERNARDO, Luis. Teoria da filtração. Revista DAE, XL, n. 123, p.202 - 8,
dez. 1980.
4. __________ Características hidráulicas dos métodos de operação dos filtros
rápidos de gravidade. Revista DAE, XLIV, n. 135, p.202 - 8, dez. 1983.
5. __________ Caminhamento da frente de impurezas em meios granulares de
filtros operados com taxa constante. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 16, 1991, Goiânia. Anais... Goiânia:
ABES, 1991. v2, t.II, p. 279-300.
6. __________ Desempenho de filtros rápidos de gravidade com meio filtrante
de areia praticamente uniforme. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 16, 1991. Goiânia. Anais... Goiânia:
ABES, 1991. v.2, t.II, p.326-48.
7. FAIR, Gordon Maskew; GEYER, John Charles; OKUN, Daniel Alexander.
Filtración. In: __________ Purificación de aguas y tratamiento de aguas
residuales, Mexico: Limusa, 1973. v.2, cap. 27, p. 217 - 273.
8. LIBÂNIO, M. A filtração direta como alternativa na potabilização das água de
abastecimento das pequenas e médias comunidades. In: SIMPÓSIO DE
ENGENHARIA CIVIL, 3, 1991, Ilha Solteira. Anais...Ilha Solteira: UNESP, 1991,
p.175-85.
9. TEORIA, diseño y control de los procesos de clarificación del agua. Lima:
CEPIS, 1973, 558 p. (Série Técnica, 13).

10-83
11.1 Generalidades

O tratamento da água para fins de potabilização só sé estará completo após


haver sido assegurada à eliminação dos organismos patogênicos que porventura
tenham conseguido atravessar as fases de tratamento contempladas nos
capítulos anteriores.
Conforme foi visto, grande parte dos microorganismos patogênicos,
especialmente vírus e bactérias, é removida da água em tratamento pela
decantação e filtração.
Entretanto, alguns deles poderão estar presente na água filtrada.
Por este motivo, ela é desinfetada, para o que quase sempre utiliza-se o
cloro.
Outros métodos podem ser utilizados para a desinfecção, tais como:
ozonização, utilização de raios ultra-violeta e utilização de compostos
alternativos de cloro.
Entretanto, por serem pouco difundidos no Brasil, esta publicação
contemplará apenas a cloraçãp, ou seja, a desinfecção através da utilização do
cloro gasoso.
Além disto, o tratamento da água deve assegurar que a água tratada não
seja corrosiva, nem incrustante, aos componentes do sistema de abastecimento.
Finalmente, a água tratada deve ser utilizada para veicular, às crianças em
fase de dentição, o íon flúor, reconhecidamente capaz de reduzir o índice de
cáries dentárias nas populações.
Assim sendo, esta publicação não poderias deixar de contemplar essas
formas complementares de tratamento, ainda que de forma superficial.
De modo geral, nas estações de tratamento de água brasileiras, os agentes
desinfetantes, fluoretadores e de correção do pH são adicionados à água filtrada
numa mesma câmara, denominada tanque de contato: o desinfetante
imediatamente a montante do tanque; o produto químico destinado à correção
do pH, na saída desse tanque: e o produto destinado à fluoretação, num ponto
qualquer entre os dois anteriores.
A Figura 11.1 ilustra esquematicamente um tanque de contato seguido do
reservatório de compensação.
Este último é utilizado em estações de tratamento de água após as quais é
necessário bombear água tratada para a cidade.

11-1
11.2.1 Introdução

Os principais tipos de microrganismos patogênicos existentes em águas


contaminadas são: vírus, bactérias, fungos, protozoários e vermes, originários,
conforme foi visto, do lançamento de excrementos humanos.

Figura 11.1 – Tanque de contato e reservatório de compensação

Identificar cada representante de uma população tão grande exigiria


métodos e equipamento capazes de tornar impraticável a implantação dos
laboratórios de análise de águas, bem como a rotina de trabalho de seus
técnicos.

11.2. Desinfecção

Assim sendo, optou-se pela escola de um grupo de bactérias capazes de


identificar a presença de matéria fecal na agia. Tais bactérias pertencem ao
denominado grupo coliforme, e sua presença é facilmente detetável através de
ensaios simples de laboratório.
Estão presentes no trato intestinal dos animais denominados de sangue
quente, entre os quais encontra-se o homem, cuja matéria fecal contém cerca de
300 milhões dessas bactérias por grama³ extremamente sensível.
Muitos organismos patogênicos eventualmente presentes na água bruta são
eliminados nas fases de tratamento que antecedem a desinfecção.
Trabalhos antigos, confirmados por outros mais recentes, permitem concluir
que o tratamento convencional (coagulação, floculação, decantação e filtração
11-2
em filtros rápidos de areia) elimina cerca de 98% de bactérias, podendo atingir
até 99%.
Em filtros lentos, operados razoavelmente, remove-se mais de 90% de
coliformes, podendo-se atingir os 100%, segundo Hespanhol.
Assim sendo a desinfecção fica reservada aos organismos patogênicos que
porventura atravessem o tratamento convencional.
Diversos desinfetantes vêm sendo utilizados em todo mundo no tratamento
da água. Citam-se entre eles, os seguintes: cloro molecular (gás cloro) e seus
compostos (dos quais o hipoclorito de sódio, a cal clorada e o dióxido de cloro
são os mais importantes); ozona; luz ultravioleta. O iodo (e seus compostos) é
utilizado apenas em situações especiais, de campo.
No Brasil, o desinfetante mais utilizado em praticamente todas as estações
de tratamento de água é o gás cloro, em sua forma molecular (CI²). Em escala
bem mais reduzida, são também utilizados o hipoclorito de sódio e a cal clorada.
Por esta razão, o item a seguir contempla apenas o cloro como agente
desinfetante.

11.2.2. Cloração

A avaliação da eficiência da cloração da água filtrada é feita através da


determinação do número de organismos coliformes.
Conforme foi descrito, supõe-se que, sendo nulo esse número na água
tratada, os organismos patogênicos porventura existentes terão sido eliminados.
Entretanto, deve-se ressaltar que existem espécies muito resistentes à ação
do cloro, capazes de superar a resistência dos coliformes. Vírus causadores da
doença de Coxsakie, da hepatite infecciosa e da poliomielite (eliminados na
proporção de 95 a 99% mediante o tratamento por coagulação e decantação)
podem estar entre essas espécies.
Além disso, são mais facilmente protegidos da ação de desinfetantes pela
presença de partículas em suspensão ou matérias coloidais, recomendando-se,
para o caso de tratamento de águas severamente contaminadas, um alto grau
de eficiências no tratamento, de modo a proporcionar um efluente com turbidez
inferior a 1 UNT, assegurando assim mais contato entre o vírus e o desinfetante³.
É válido ressaltar a estrema resistência que algumas formas encistadas de
microorganismos apresentam à ação do cloro (a Entamoeba histolítica suporta,
em condições ambientais favoráveis, até 100 mg/l de cloro). Alguns nematóides
suportam, às vezes, concentrações de 50 até 100 mg/l de cloro, por tempo de
contato de 10 minutos. Vários destes, mesmo não sendo patogênicos, ingerem e
protegem contra a ação do cloro residual, microorganismos patogênicos, tais
como bactérias e vírus, que depois libertam novamente na água ³ (felizmente,
em estações de tratamento bem operadas, tais organismos não atravessam os
filtros; constituem preocupação, entretanto, os vírus, as bactérias e os cistos de
amebas).
Transcreve-se a seguir, o exposto do professor Azevedo Netto ² a respeito
da ação do cloro durante o tratamento da água.

11-3
O cloro combina-se com a água e com as impurezas presentes, para formar
vários compostos. Algumas substâncias formadas são muito ativas
(bactericidas), outras são desinfetantes mais fracos, formando-se, ainda,
compostos inativos.
Ao se examinar o efeito bactericida da cloração, é essencial conhecer os
compostos repoduzidos na água, os quais dependem da natureza das
impurezas presentes e do pH da água. Dois casos podem ser considerados:

I. Cloração de Águas Relativamente Puras

O cloro gasoso dissolvido com água pura (ou suficientemente pura) reage
completamente para formar àcido hipocloroso (HCIO):
Cl2 + H2O • HClO- + HCl
O ácido hipocloroso, por sua vez, se dissocia em:
HOCl • ClO- + H+
A extensão dessa dissociação dependerá do pH da água:
pH = 5: apresenta-se apenas HOCl (OCl ausente)
pH = 9: apresenta-se cerca de 4% de HOCl e 96% de ClO-
Em determinas condições, ClO- é apenas cerca de 2% de bactericida quanto
o HCIO
Conclui-se portanto, que o pH é um fator muito importante na cloração das
águas e que a desinfecção é mais eficiente em pH baixo. Isto é mostrado na
Figura 11.2 (curva correspondente ao residual livre).

II. Cloração de Águas Contendo Impurezas

Quando o cloro é aplicado às águas que não sejam puras( águas brutas), as
substâncias existentes, principalmente a matéria orgânica e a amônia, são
responsáveis por reações secundárias, entre as quais mais importantes são:
• As que levam à formação de cloretos inativos;
• As que causam a formação de cloraminas: monocloramina (NH2CI),
dicloramina (NHCI2) e cloraminas complexas, estas últimas em pequena
quantidade, sendo por isto desprezadas nas considerações.
As cloraminas responsáveis pela desinfecção neste caso têm sua formação
também condicionadas pelo pH:
• pH acima de 8,5: apenas monocloramina;
• pH = 7,0: cerca de 50% monocloramina;
• pH entre 4,4 e 5,0: apenas dicloramina
Os residuais combinados de cloro estão sujeitos ao fenômeno da hidrólise
produzindo maior ou menor quantidade de ácido hipocloroso.
As monocloraminas apresentam constantes hidrólise muito baixas, formando
quantidades de ácido hipocloroso muito pequenas, ao passo que as
dicloraminas produzem maior quantidade de HOCI e, por isso, apresentam
melhor efeito bactericida.

11-4
As cloraminas com desinfetantes diferem do HOCI. Os residuais são muito
estáveis, porém de ação lenta.
A dicloramina é muito mais ativa que a monocloramina (em certos casos,
cerca de três vezes).
Por outro lado, comparando-se a dicloramina com o HCOI na destruição de
esporos do bacilo Anthracis, após um período de contato de 30 minutos, a
dicloramina mostrou ter um poder desinfetante apenas 15% do correspondente
ao HOCI.
Devido à ação do íon OCI (pouco eficaz) na cloração com residual livre de
cloro, as cloraminas são mais eficientes na destruição de cistos com o pH acima
de 7,5.
A figura 11.2 mostra a distribuição percentual de mono e dicloraminas nas
águas dom pH desde 5 até 10.

Figura 11.2 – Variação da concentração de HClO e ClO-, NHCl2 e NH2Cl na


água, conforme o pH 2

Na Figura 11.3 estão comparados os efeitos bactericidas nos casos em que


se tem residuais livres (HOCI e OCI) e residuais combinados (cloraminas). As
dosagens no segundo caso devem ser mais elevadas, reduzindo-se am ambos
os casos, para valores mais baixos de pH.
Com o objetivo de assegurar adequada proteção à água contra eventuais
contaminações no sistema distribuidor, mantém-se um residual de cloro nesse
sistema.
Distingue-se o residual de cloro combinado disponível (o cloro presente está
combinado com a amônia ou outro composto de nitrogênio, porém está
disponível para destruir organismos coliformes) e o residual de cloro livre
disponível (cloro presente quer sob a forma de HCIO, quer como CIO-).
11-5
Figura 11.3 – Residual mínimo de cloro (livre e combinado) na água a 25ºC,
conforme o pH, para destruição de bactérias (tempo de contato = 30
minutos 2

Para esses tipos de residuais, Azevedo Neto ² recomenda as dosagens e


residuais mínimos apresentados na Tabela 11.1.

TABELA 11.1 - Tipo de Cloração, Dosagem de Cloro, Príodos de Contato,


pH e Residuais Mínimos²

Tipo de Dosagem de Período de pH Residual


Cloração Cloro (mg/L) Contato mínimo
(mg/l)
Residual 1-5 3 horas <7 2,0
Combinado
disponível
Residual 1 - 10 20 min <9 0,2
livre
Break Point (1) 10 x (NH3 30 min 6,5 – 8,5 0,2
como N)
Monoclora- 5 x (NH3 20 min < 8,5 0,1
minas como N)
Diclora- 10 x NH3 20 min 4,4 – 5,0 1,0
minas como N)
Observação:
(1) Trata-se de um tipo de cloração em doses elevadas, em que todo a amônia presente é
convertida em tricloramina: a partir daí, todo o cloro aplicado à água permanecerá sob forma de
cloro residual livre¹.

A Figura 11.4 apresenta algumas sugestões sobre como aplicar a solução


de gás cloro a montante dos tanques de contato, cujos volumes deverão
propiciar os períodos de contato recomendados anteriormente.
O cloro molecular é quase sempre o produto utilizado nas estações de

11-6
tratamento de águas brasileiras.
Vem acomodado em containers de aço, normalmente contendo 45 kg ou
900 kg desse gás (neste último caso, é denominado cilindro de tonelada). Em
estações de tratamento de água de grande porte, ele pode também ser fornecido
em carretas. Por se encontrar pressurizado, o cloro permanece quase todo no
estado líquido, estando sob forma gasosa apenas em sua parte superior.
Os cilindros de 45 kg são utilizados na posição vertical, enquanto que os
cilindros de tonelada são utilizados na posição horizontal. Dos primeiros, o cloro
molecular é sempre extraído da parte superior e, portanto, sempre sob a forma
gasosa. Já nos cilindros de tonelada, o cloro pode ser extraído sob a forma
gasosa ou líquida conforme se abra seu terminal superior ou inferior (vide Figura
11.4).
De modo geral, o cloro é extraído dos cilindros sob a forma gasosa, tendo
em vista que os dosadores de cloro disponíveis no mercado trabalham com o
produto sob essa forma.
É preciso ter cuidado na extração do gás do cilindro. Isto porque, ao sair, o
gás é substituído por igual peso de cloro líquido que se vaporiza absorvendo
calor reduzido a temperatura ao redor do cilindro e das canalizações, podendo
produzir congelamentos, caso a temperatura ambiente e a circulação do ar não
sejam adequadas para evitá-los.
Admite-se como adequada a retirada de até 0,8 Kg de gás cloro por hora
dos cilindros pequenos, e até 7 kg de gás por hora dos cilindros grandes. Se for
necessário efetuar tiragens maiores, pode-se interligar os cilindros a um
barrilete, forma a não ultrapassar a tiragem máxima recomendada de cada
cilindro.
A construção de grandes barriletes pode ser evitada se a tiragem de cloro
for feita sob forma líquida. Admite-se que essa solução sé é vantajosa para
consumos superiores a 500 kg por dia, e nesse caso é necessário fazer com que
o cloro líquido passe por evaporadores antes de ser conduzido aos cloradores.
Embora existam dosadores de cloro do tipo de pressão, de modo geral as
instalações brasileiras utilizam os denominados cloradores de vácuo. A Figura
11.6 ilustra esquematicamente o funcionamento de uma instalação de cloração
equipada com esse tipo de clorador.
A parte do equipamento denominado ejetor (ou injetor, como preferem
outros: trata-se apenas de uma questão de ponto de referência) é basicamente
um Venturi, que produz um vácuo capaz de succionar o gás cloro. Esse gás será
misturado à água afluente ao ejetor, formando uma solução fortemente clorada
(vide Tabela 11.2 para solubilidade do cloro na água).
A válvula redutora de pressão assegura que o gás cloro, após passar por
ela, estará a uma pressão praticamente constante, e muito próxima da pressão
atmosférica. Assim sendo, mesmo que a pressão do cloro no interior do cilindro
varie, a pressão do gás cloro que chega ao ejetor praticamente não varia.Desta
forma, desde que a vazão da água sob pressão que chega ao ejetor não varie, a
quantidade de gás cloro puxada pelo ejetor será constante, pra dada regulagem
da válvula reguladora de fluxo de gás cloro.

11-7
Figura 11.4 – Métodos para aplicação de solução de gás cloro na água em
tratamento 6

11-8
Como qualquer equipamento hidráulico, o ejetor tem sua curva
característica, ou seja, para cada vazão que o atravessa, ele tem uma perda de
carga correspondente.
Essa curva pode ser apresentada de forma como ilustra a Figura 11.7, ou
em forma de tabelas.

TABELA 11.2 - Solubilidade do Cloro na Água

Temperatura Solubilidade
ºC (g/l)
10 10,0
20 7,3
30 5,7
40 4,6
50 3,9
60 3,3
70 2,8
80 2,2
90 1,3
100 0

No caso específico da curva mencionada, observa-se que a curva


correspondente a cada ejetor permite relacionar a vazão de água que o
abastece e a pressão que lhe deve ser aplicada com a denominada
backpressure, que é a pressão jusante do ejetor. A Figura 11.8 procura ilustrar
esquematicamente cada um dos termos ali presentes.

Fig. 11.5 – Containers de cloro molecular

11-9
Fig. 11.6– Esquema de uma instalação cloradora com clorador a vácuo

Fig. 11.7 – Curvas características de uma família de ejetores

11-10
Fig. 11.8 – Elementos necessários à seleção do ejetor

11.3. Fluoretação

A adição do flúor à água constitui a mais simples, segura e, para as


condições brasileiras, a mais econômica forma de se levar esse elemento à dieta
das crianças.
De acordo com Pêra, as estatísticas têm comprovado que a ingestão de
água fluoretada, com adequada quantidade de flúor, por parte das crianças
desde seu nascimento, reduz a incidência de cárie dentária em cerca de 50 a
70%.
A fluoretação da água em sistemas de abastecimento em que existe estação
de tratamento é obrigatória no Brasil, de acordo com a Lei Federal N.6050, de 24
de maio de 1974. Essa lei foi posteriormente regulamentada pelo Decreto
Federal N.76.872, de 22 de fevereiro de 1975.
Entretanto, é importante salientar que, enquanto dosagens abaixo da
adequada resultam ineficazes, dosagens elevadas poderão ocasionar a fluorose
dentária, pelo aparecimento de manchas nos dentes.
Diversos compostos de flúor podem ser utilizados com essa finalidade, entre
os quais merecem destaque: fluoreto de sódio, fluorsilicato de sódio, fluossilicato
de amônio, fluorita (todos sódios); ácido fluorídico e ácido fluossilícico (líquidos).
Em Minas Gerais, o mais utilizado tem sido o fluossilicato de sódio, devido
às facilidades de aquisição e manipulação, embora, como os demais compostos
de flúor, seja perigosamente agressivo quando em contato com a água. Em
instalações de tratamento de grande porte, o ácido fluossilícico vem se
transformando em opção interessante.
Segundo os padrões de potabilidade do Serviço de Saúde Pública dos
Estados Unidos, as concentrações ótimas de íon flúor (Cót) na água potável são
transcritas na Tabela 11.3, e dependem da temperatura (Tm) de região.

11-11
TABELA 11.3 - Concentrações de Ótimas (Cót) de Íon Flúor nas Águas de
Abastecimento, em Função da Temperatura Média (Tm)

Tm (graus centígrados) C ót (mg/litro)


10,0 -12,1 1,2
12,2 - 14,6 1,1
14,7 - 17,7 1,0
17,8 - 21,4 0,9
21,5 - 26,3 0,8
26,4 - 32,5 0,7
32,6 - 37,5 0,6

Evidentemente, a dosagem a ser aplicada deverá levar em conta a concentração


de flúor já existente na água bruta, de forma que, após a dosagem, a
concentração de íon flúor na água tratada atinja o valor recomendado
anteriormente.
Considere-se, por exemplo, uma estação de tratamento de água, que trata a
vazão de 150 litros por segundo, que pretenda distribuir água fluoretada a uma
população que resida em região cuja temperatura média seja 25 graus
centígrados, e cuja água bruta apresente teor natural de íon flúor igual a 0,15
mg/L.
Da tabela anterior, extrai-se que o teor de íon flúor na água tratada deve ser
igual a 0,8 mg/L.
Entretanto, como a água bruta já apresenta teor de íon flúor igual a 0,15
mg/L, deve-se dosar apenas a quantidade necessária para suprir a diferença, ou
seja:
0,8 – 0,15 = 0,65 mg/L.
Assim sendo, e considerando que a estação de tratamento de água
funcionará 24 horas por dia, ao final de cada dia deve-se ter adicionado à água
tratada a seguinte massa de íon flúor:
0,65 x 150 x 86400 = 8424000 mg = 8,424 kg
Evidentemente, o consumo do produto químico comercial correspondente
será superior a isto, e dependerá do teor de íon flúor em cada produto comercial.
Assim, por exemplo, o fluossilicato de sódio 100% puro contém 60,7% de
íon fluoreto, sendo que o produto comercial apresenta pureza da ordem de
98,5%.
Isto significa que o fluossilicato de sódio comercial apresenta 60% de íon
flúor.
Por sua vez, o ácido fluossilício 100% puro contém 79,02% de íon fluoreto,
sendo que o produto comercial apresenta pureza entre 22 e 30%.
Isto significa que o fluossilicato de sódio comercial apresenta entre 13,2 e 18%
de íon flúor.
Tomando-se a título de exemplo, o fluossilicato de sódio, o consumo desse
produto, correspondente à dosagem de íon flúor pretendida, seria:
8,424/0,60 = 14 kg
O preço de 1 kg de fluossilicato de sódio comercial (data de referência:
dezembro de 1995) é da ordem de R$ 0,94.
11-12
Ou seja: a fluoretação da água custa, por metro cúbico:
R$ 0,94 x 14 / (150x 86,4) = R$ 0,001
valor este extremamente baixo, e que comprova o que se afirmou anteriormente:
a adição de flúor constitui, para as condições brasileiras, a mais econômica
forma de se levar esse elemento à dieta das crianças.
Compare este valor com o preço que se paga pelo metro cúbico de água:
será possível verificar que o preço da fluoretação é desprezível.
Se comparar este valor com o que seria necessário gastar com tratamentos
dentários (sem levar em consideração o valor incalculável da perda da qualidade
dos dentes), a desproporção entro o custoda fluoretação e os custos de saúde
pública correspondentes à prevenção e tratamento da cárie torna-se ainda mais
dramática.

11.4. Correção do pH

Conforme foi mencionado, efetua-se a correção do pH na passagem da


água em tratamento do tanque de contato para o reservatório de compensação.
Com isto, a cloração ocorre em pH mais bairo, o que lhe é favorável.
No capítulo 3 desta publicação, foi visto que o pH, por si só, não é
importante, do ponto de vista da potabilidade da água tratada.
Recorde que a Organização Mundial de Saúde prefere não fixar valores
limites para o pH da água potável, mesmo admitindo que as irritações oculares e
certa exacerbação de infecções cutâneas possam estar associadas a valores de
pH superiores a 11.
A respeito do pH, a Portaria 518 do Ministério da Saúde estabelece, em seu
item 1.1.1 – Recomendações, que o pH deverá ficar situado no intervalo de 6,0 a
9,5.
Na realidade, a correção de pH deveria ter, por objetivo final, e equilíbrio
químico da água, de modo que ele saía da estação de tratamento de água sem
características corrosivas ou incrustantes.
Atingir este objetivo não é tarefa simples, dada a complexidade da
composição química de cada água.
Entretanto uma das formas utilizadas para prever se dada água é corrosiva,
incrustante ou neutra é a determinação do índice de saturação de Langelier.

11.5. Reservatório de Compensação

Conforme foi visto, é necessário construir um reservatório de compensação


a jusante da estação de tratamento de água nas situações em que a água
tratada deva ser bombeada para cidade.
Tendo em vista que é praticamente impossível fazer com que a vazão das
bombas seja igual à vazão produzida pela estação de tratamento de água, esse
reservatório desempenha o papel de pulmão: enche quando a vazão produzida
pela ETA é maior que a vazão bombeada, e esvazia quando a vazão produzida
pela ETA é menor que a vazão bombeada.

11-13
De modo geral, seu volume útil é calculado para conter o volume de água
produzido pela estação de tratamento de água durante 30 minutos.
Considere, por exemplo, que uma estação de tratamento de água produz à
vazão de 150 litros por segundo, e que, a jusante dela, seja necessário construir
um reservatório de compensação.
O volume útil desse reservatório deverá ser:
V = 150 x 60 x 30 = 270000 litros = 270m³

Questões para recapitulação


(Repostas no final deste Item)

Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)

1. Embora grande parte dos microrganismos patogênicos, especialmente


vírus e bactérias, seja removida da água em tratamento pela decantação
e filtração, alguns deles poderão estar presentes na água filtrada.
2. O cloro é quase sempre o desinfetante utilizado no Brasil, embora outros
métodos possam ser utilizados para a desinfecção, tais como:
ozonização, utilização de raios ultra-violeta e utilização de compostos
alternativos de cloro.
3. A fluoretação, devido ao seu alto custo e baixos resultados práticos, não
deve ser utilizada no tratamento da água.
4. A correção do pH permite eliminar características corrosivas ou
incrustantes da água tratada.
5. O reservatório de compensação é utilizado em estações de tratamento de
água quando é necessário bombear água tratada para a cidade.
6. Para que a desinfecção seja eficiente, a água deve permanecer em
contato com o cloro durante algum tempo, para o que faz-se necessário
que a água em tratamento permaneça no interior de uym tanque, por isto
denominado tanque de contato.
7. O tempo que a água deve ficar em contato com o cloro independe da
forma química em que o cloro estiver presente na água.
8. O pH da água é fator importante na desinfecção a água filtrada.
9. Em determinadas condições, o íon hipoclorito é cerca de 90% tão
bactericida quanto o ácido hipocloroso.
10. Quanto mais baixo o pH, maior a concentração do ácido hipocloroso, que
desinfeta melhor que o íon hipoclorito.
11. De modo geral, 5 minutos constituem o tempo de contato adequado à
desinfecção da água filtrada.
12. Com o objetivo de assegurar a adequada proteção à água contra
eventuais contaminações no sistema distribuidor, mantém-se um residual
de cloro residual livre na rede de distribuição.
13. A Portaria 518 do Ministério da Saúde não estabelece valor para a
11-14
concentração do coro residual livre na rede de distribuição.
14. O cloro presente em águas de abastecimento pode se apresentar sob
duas formas: livre e combinado.
15. Embora seja interessante, do ponto de vista científico, conhecer o tipo de
residual obtido por determinada cloração, não há efeito prático resultante
desse conhecimento, uma vez que as duas formas são desinfetantes de
poder bactericida semelhante.
16. A adição de flúor constitui a mais simples, segura e, para as condições
brasileiras, a mais econômica forma de se levar esse elemento à dieta
das crianças.
17. As estatísticas têm comprovado que a ingestão de água fluoretada, por
parte das crianças, desde seu nascimento, pouco influencia a incidência
da caie dental.
18. Dosagens elevadas de flúor poderão ocasionar a fluorose dentária,
responsável pelo aparecimento de manchas nos dentes.
19. As concentrações ótimas de íon flúor na água potável dependem da
temperatura que prevalece na região.
20. A dosagem de flúor a ser aplicada idepende da concentração de flúor já
existente na água bruta.
21. O preço da fluoretação é desprezível quando coparado com o preço da
água tratada.
22. O composto de flúor pode ser apicado a meio caminho entre a entrada e
a saída do tanque de contato.
23. A correção do pH deve ser efetuada na passagem da água em
tratamento do tanque de contato para o reservatório de compensação.
24. Sempre que a cloração ocorre em pH mais alto, a desinfecção é
favorecida.
25. Na realidade, a correção do pH deveria ter, por objetivo final, o equilíbrio
químico da água, de modo que ela saia da estação de tratamento de
água sem características agressivas ou incrustantes.
26. Uma das formas para prever se dada água é corrosiva, incrustante ou
neutra é a determinação do índice de saturação de Langelier.
27. O índice de Langelier tem caráter apenas qualitativo, não sendo possível,
somente através dele, determinar quais os compostos (e em que
proporções) que, adicionados à água, permitiriam corrigir seu
desequilíbrio.
28. A construção de um reservatório de compensação a montante da estação
de tratamento de água é indispensável nas situações em que a água
tratada deva ser bombrada para a cidade.
29. O reservatório de compensação desempenha o papel de pulmão: enche
quando a vazão produzida pela ETA é maior que a vazão bombeada e
esvazia quando a vazão produzida pela ETA é menor que a vazão
bombeada.
30. De modo geral, o volume útil do reservatório de compensação é
calculado para conter o volume de água produzido pela estação de
tratamento de água durante 30 minutos.
11-15
Respostas:

1.(v); 2.(v); 3.(f); 4.(v); 5.(v); 6.(v); 7.(f); 8.(v); 9.(f); 10.(v); 11.(f); 12.(v); 13.(f);
14.(v); 15.(f); 16.(v); 17.(f); 18.(v); 19.(v); 20.(f); 21.(v); 22.(v); 23.(v); 24.(f);
25.(v); 26.(v); 27.(v); 28.(f); 29.(v); 30.(v).

Referências bibliográficas

1. ADAD, Jesus M. T. Qualidade da água. Belo Horizonte: Edições


Engenharia, 1972, 135p.
2. AZEVEDO NETTO, J. M. de. Desinfetantes principais. Ação bactericida do
cloro. Dióxido de cloro. Iodo. Ozona. Raios ultra-violeta. In: ________
(coord.). Desinfecção de águas. São Paulo: CETESB, 1974. Cap.4,
p.19-27.
3. BRANCO, Samuel M. Remoção de microrganismos nas diversas fases
dos processos de tratamento de águas de abastecimento. Efeitos da
sedimentação natural em represas. Remoção de organismos na
floculação, decantação e filtração. In: AZEVEDO NETTO, J. M.
de.(coord.). Desinfecção de águas. São Paulo: CETESB, 1974. Cap.4,
p.19-27.
4. HESPANHOL, Ivanildo. Investigação sobre o comportamento e
aplicabilidade de filtros lentos no Brasil. São Paulo: USP, 1969. Tese
(Doutorado), Universidade de São Paulo, 1969.
5. MANFRINI, C. Produtos químicos – dosagem e aplicação. In:
6. METALF & EDDY, Wastewater engineering: treatment, disposal, reuse.
New Dehli: Tata McGraw-Hill, 1981. 920p.
7. PERA, Armando F. Fluoretação das águas. In: Técnica de abastecimento
e tratamento de água. São Paulo: CETESB, 1974.v2, cap.28, p.987-
1000.
8. STANDARD Methods for the examination of water and wastewater.
Denver: APHA/AWWA/WPCF, 1985.

11-16
TUBOS:
RUGOSIDADE EQUIVALENTE k (mm)

1. Tubos de Aço: Juntas Soldadas e Interior Contínuo


1.1 Grandes incrustações ou tuberculizações 2,4 a 12,0
1.2 Tuberculização geral de 1 a 3 mm 0,9 a 2,4
1.3 Pintura à brocha, com asfalto, esmalte ou
betume em camada espessa 0,6
1.4 Leve enferrujamento 0,25
1.5 Revestimento por imersão em asfalto quente 0,01
1.6 Revestimento com argamassa de cimento obtida
por centrifugação 0,1
1.7 Tubo previamente alisado internamente e
posteriormente revestido de esmalte,
vinyl ou epóxi obtido por centrifugação 0,06

2. Tubo de Concreto
2.1 Acabamento bastante rugoso: executado com
formas de madeira muito rugosas; concreto pobre
com desgastes por erosão; juntas mal alinhadas 2,0
2.2 Acabamento rugoso: marcas visíveis de formas 0,5
2.3 Superfície inteira alisada a desempenadeira;
juntas bem feitas 0,3
2.4 Superfície obtida por centrifugação 0,33
2.5 Tubo de superfície lisa, executado por formas
metálicas, acabamento médio com justas bem cuidadas 0,12
2.6 Tubo de superfície interna bastante lisa, executado
com formas metálicas, acabamento esmerado,
e juntas cuidadas 0,06

3. Tubos de Cimento Amianto 0,1


4. Tubos de Ferro Fundido (novo)
4.1 Revestimento Interno com argamassa de cimento e areia
obtido por centrifugação com ou sem proteção de tinta
à base de betume 0,1
4.2 Não revestido 0,5 a 0,6
4.3 Leve enferrujamento 0,30

A1-1
5. Tubo Plástico 0,06

6. Tubos usados
6.1 Com camada inferior a 5 mm 0,6 a 3,0
6.2 Com incrustações de Iodo ou
de gorduras inferiores a 25 mm 6,0 a 30,0
6.3 Com material sólido arenoso depositado de forma irregular 60,0 a 300

Nota: Valores mínimos a adotar com tubos novos:


Para adutoras medindo mais de 1000 metros de comprimento: 2,0 vezes o valor
encontrado na Tabela acima para o tubo e acabamento escolhidos.
Para adutoras medindo menos de 1000 metros de comprimento: 1,4 vezes o
valor encontrado na Tabela acima para o tubo e acabamento escolhidos.

A1-2
VALORES DE (n) DAS FÓRMULAS DE
GANGUILLET E KUTTER E DE MANNING

Canais de chapas de rebites embutidos, juntas e águas limpas.


Tubos de cimento e de fundição em perfeitas condições.....................0,011
Canais de cimento muito liso e dimensões limitadas e canais
de madeira aplainada e lixada, em ambos os casos, trechos
retilíneos e compridos e curvas de grande raio e água limpa.
Tubos de fundição usados.....................................................................0,012
Canais com reboco de cimento liso, porém com curvas de raio
limitado e águas não completamente limpas. Canais constituídos
com madeira lisa,porém com curvas de raio moderado.........................0,013
Canais com reboco de cimento não completamente liso. Canais
de madeira como no Item 2, porém com traçado tortuoso e curvas
de pequeno raio e juntas imperfeitas ....................................................0,014
Canais com paredes de cimento não completamente lisas, com
curvas estreitas e águas com detritos. Canais constituídos de
madeira não aplainada e chapas rebitadas ...........................................0,015
Canais com reboco de cimento não muito alisado e pequenos depósitos
no fundo.Canais revestidos por madeira não aplainada. Canais de
alvenaria construída com esmero ou terra sem vegetação ...................0,016
Canais com reboco de cimento incompleto, juntas irregulares,
andamento tortuoso e depósitos no fundo. Canais de alvenaria
revestindo taludes Não bem perfilados..................................................0,017
Canais com reboco de cimento rugoso, depósitos no fundo, musgos
Nas paredes e traçado tortuoso.............................................................0,018
Canais de alvenaria em más condições de manutenção e fundo de
barro.Canais de alvenaria de pedregulhos. Canais de terra, bem
construídos com pequenos depósitos no fundo e vegetação rasteira
nos taludes ..........................................................................................0,020
Chapas rebitadas e juntas irregulares,. Canais de terra, bem.construídos
com pequenos depósitos no fundo e vegetação rasteira nos taludes...0,022
Canais de terra com vegetação rasteira no fundo e nos taludes ................0,025
Canais de terra com vegetação normal, fundo com cascalhos ou irregular
por causa de erosões. Canais revestidos com pedregulhos e vegetação..0,030
Álveos naturais cobertos de cascalho e vegetação ....................................0,035
Álveos naturais de andamento tortuoso......................................................0,040

A2-1
Valores de (n), segundo Bandini
(Fonte: Hidráulica – Vol I – Prof. Alfredo Bandini)
Material das paredes Valores de (n)
Alvenaria das pedras brutas 0,020
Alvenaria de pedras retangulares 0,017
Alvenaria de tijolos, sem revestimento 0,015
Alvenaria de tijolos, revestida 0,012
Canais de concreto, acabamento ordinário 0,014
Canais com revestimento muito liso 0,010
Canais de terra, em boas condições 0,025
Canais de terra, com plantas aquáticas 0,035
Canais irregulares e mal conservados 0,040
Condutos de madeira aparelhada 0,011
Manilhas cerâmicas 0,013
Tubos de aço soldado 0,011
Tubos de concreto 0,013
Tubos de ferro fundido 0,012
Tubos de cimento amianto 0,011
Canais de concreto, com acabamento liso 0,012

A2-2
A.3.1. Dimensões padronizadas (cm)

W A B C D E F G K N
pol cm
1” 2,5 36,3 35,6 9,3 16,8 22,9 7,6 20,3 1,9 2,9
3” 7,6 46,6 45,7 17,8 25,9 38,1 15,2 30,5 2,5 5,7
6” 15,2 62,1 61,0 39,4 40,3 45,7 30,5 61,0 7,6 11,4
9” 22,9 88,0 86,4 38,0 57,5 61,0 30,5 45,7 7,6 11,4
1’ 30,5 137,2 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
1,5’ 45,7 144,9 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
2’ 61,0 152,5 149,6 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
3’ 91,5 167,7 164,5 122,0 157,2 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
4’ 122,0 183, 179,5 152,5 193,8 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
5’ 152,5 198,3 194,1 183,0 230,3 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
6’ 183,0 213,5 209,0 213,5 266,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
7’ 213,5 228,8 224,0 244,0 303,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
8’ 244,0 244,0 239,2 274,5 340,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
10’ 305,0 274,5 427,0 366,0 475,9 122,0 91,5 183,0 5,3 34,3

Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de. Manual de hidráulica, 6.ed. São Paulo, Edgard Blücher, 1973

A3-1
A.3.2. Cálculo da vazão em medidores Parshall

Q = k.Hn
Unidades métricas: [Q] m3/s; [H} = m
Unidades inglesas: [Q] cfs; [H} = pol

W n k
pol cm métricas inglesas
3” 7,6 1,547 0,176 0,992
6” 15,2 1,580 0,381 2,06
9” 22,9 1,530 0,535 3,07
1’ 30,5 1,522 0,690 4,00
1,5’ 45,7 1,538 1,054 6,00
2’ 61,0 1,550 1,426 8,00
3’ 91,5 1,566 2,182 12,0
4’ 122,0 1,578 2,935 16,00
5’ 152,5 1,587 3,728 20,00
6’ 183,0 1,595 4,515 24,00
7’ 213,5 1,601 5,306 28,00
8’ 244,0 1,606 6,101 32,00
Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de. Manual de hidráulica, 6.ed. São Paulo, Edgard Blücher, 1973

Segundo CHOW (Open channel hydraulics, Tokyo, Mc Graw-Hill, 1958):


0 , 026
12" < W < 8ft → Q = 4WH a1,522W
10ft < W < 50ft → Q = (3,6875W + 2,5 )H a1,6

onde:

[Q] cfs;
[W} = ft
[Ha} = ft

A3-2
A3.3. Vazões em medidores Parshall (litros por segundo)

Dimensão da garganta (polegadas ou pés)


H (cm)
3" 6" 9" 1' 1,5' 2' 3' 4'
3 0,8 1,5 2,5 3,3 4,8
4 1,2 2,4 3,9 5,1 7,5
5 1,7 3,4 5,5 7,2 10,5 13,7 20,0
6 2,3 4,5 7,2 9,5 13,9 18,2 26,6
7 2,9 5,7 9,1 12,1 17,6 23,1 33,9 44,2
8 3,5 7,0 11,2 14,8 21,7 28,4 41,8 54,5
9 4,2 8,5 13,4 17,7 26,0 34,1 50,3 65,7
10 5,0 10,0 15,8 20,7 30,5 40,2 59,3 77,6
11 5,8 11,6 18,3 24,0 35,4 46,6 68,8 90,1
12 6,6 13,4 20,9 27,4 40,4 53,3 78,9 103,4
13 7,5 15,2 23,6 30,9 45,7 60,4 89,4 117,3
14 8,4 17,1 26,4 34,6 51,2 67,7 100,4 131,9
15 9,4 19,0 29,4 38,4 57,0 75,3 111,8 147,1
16 10,3 21,1 32,4 42,4 62,9 83,3 123,7 162,8
17 11,4 23,2 35,6 46,5 69,1 91,5 136,1 179,2
18 12,4 25,4 38,8 50,7 75,4 100,0 148,8 196,1
19 13,5 27,6 42,2 55,1 82,0 108,7 162,0 213,5
20 14,6 30,0 45,6 59,6 88,7 117,7 175,5 231,5
25 20,6 42,6 64,2 83,7 125,0 166,3 248,9 329,3
30 27,3 56,9 84,8 110,4 165,4 220,6 331,2 439,0
35 34,7 72,5 107,3 139,6 209,7 280,2 421,6 559,9
40 42,6 89,6 131,7 171,1 257,5 344,6 519,6 691,3
45 51,2 107,9 157,7 204,7 308,7 413,6 624,9 832,5
50 185,3 240,3 363,0 487,0 737,0 983,1
55 214,3 277,8 420,3 564,5 855,6 1142,6
60 244,9 317,1 480,4 646,0 980,5 1310,8
65 358,2 543,4 731,4 1111,4 1487,3
70 400,9 609,0 820,4 1248,2 1671,8

Adaptado de: AZEVEDO NETTO, J. M. de. Manual de hidráulica, 6.ed. São Paulo, Edgard
Blücher, 1973

A3-3
A3.4. Medidores Parshall para promover a mistura rápida

(Ha = altura da lâmina d’água na seção de medição; U = velocidade média na


garganta)

Q W = 3” W = 6” W = 9” W = 12”
(L/s) Ha [m] U [m/s] Ha [m] U [m/s] Ha [m] U [m/s] Ha [m] U [m/s]
20 0,25 1,6
30 0,31 2,0
50 0,45 2,2 0,28 1,8
75 0,36 2,0 0,27 1,8
100 0,44 2,3 0,34 2,0 0,28 1,8
150 0,44 2,3 0,37 2,0
200 0,45 2,2

Q W = 18” W = 24” W = 48”


(L/s) Ha [m] U [m/s] Ha [m] U [m/s] Ha [m] U [m/s]
150 0,29 1,8
200 0,35 2,0 0,28 1,8
300 0,45 2,2 0,37 2,0
500 0,51 2,4 0,33 1,9
750 0,41 2,3
1000 0,50 2,5

Fonte: PARLATORE, A. C. Técnica de abastecimento e tratamento de água, vol II. São Paulo,
CETESB, 1974.

A3-4
Peso específico Viscosidade Viscosidade
T Densidade (µ) absoluta cinemática (ν)
3 2 2
(ºC) (δ) [kgf/m ) [kgf.s/m ] [m /s]
0 0,99987 999,87 0,0001828 0,000001792
2 0,99997 999,97 0,0001707 0,000001673
4 1,00000 1000,00 0,0001598 0,000001567
5 0,99999 999,99 0,0001548 0,000001519
10 0,99973 999,73 0,0001335 0,000001308
15 0,99913 999,13 0,0001167 0,000001146
20 0,99823 998,23 0,0001029 0,000001007
30 0,99567 995,67 0,0000815 0,000000804
40 0,99224 992,24 0,0000666 0,000000569
50 0,988 988 0,0000560 0,00000556
60 0,983 983 0,0000479 0,000000478
70 0,978 978 0,0000415 0,000000416
80 0,972 972 0,0000364 0,00000367
90 0,965 965 0,0000323 0,00000328
100 0,958 958 0,0000290 0,00000296

Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de. Manual de hidráulica, 6.ed. São Paulo, Edgard Blücher, 1973

A4-1
MEIOS GRANULARES: ESFERICIDADE E FATOR DE FORMA

(Fonte: FAIR G.M.; Geyer, J.C.& Okun, D.A. – Purificación de águas y


tratamiento y remoción de águas residuales – Limusa, México, 1971)

A área superficial dos materiais granulares dos filtros é uma determinante


tanto operacional como hidráulica (para a determinação da perda de carga)
nessas unidades.
Infelizmente, não existe ainda uma forma satisfatória de encontrar essa área
superficial por medição direta.
Não obstante, é possível estabelecer, sem dificuldade, o volume dos poros e
o volume complementar V do material granular do filtro.
Tendo em conta que a área superficial A dos grãos em relação ao volume
da água no espaço dos poros é uma função A/V, esta é uma característica que
normalmente é utilizada nas formulações representativas do comportamento dos
filtros, e é denominada forma identificativa.
Entre as medições úteis da forma destacam-se:
Coeficiente de esfericidade (Ce)
Fator de forma (S)
O coeficiente de esfericidade é definido como a relação entre a área
superficial de uma esfera de mesmo volume V da partícula constituinte do leito
filtrante e a área superficial As,p dessa partícula.
Vale dizer, considerando duas partículas de mesmo volume; a primeira,
constituinte do leito filtrante, de área superficial As,p e a segunda, esférica, de
área superficial As,e:
As,e
Cc =
As, p
Seus valores são similares aos apresentados na Figura A5-1, na qual são
mostradas partículas de formas representativas.
O fator de forma é definido como sendo o produto da relação área / volume
de uma partícula do leito filtrante pelo diâmetro de uma esfera de mesmo volume
Vp da partícula:
As, p As, p
S= de = de
Vp Ve
Para a esfera de raio R e diâmetro de, tem-se:

A5-1
As, e 4πR 2 3 6
= = =
Ve 4 R de
πR 3
3
e, portanto:
As, p As, p As,e 1 As,e 6
S= de = de = de =
Vp As,e V p Ce Ve Ce
Assim sendo, as formas indicativas das esferas são:
Coeficiente de esfericidade: Ce = 1,0
Fator de forma: S = 6 / Ce = 6,0
Estes são, respectivamente, o valor mais alto de Ce, e o menorpossível de
S.
Na Figura A5.1 e na Tabela que a acompanha estão mostrados valores
tabelados de Ce e S de medições efetuadas por Carman (CARMAN. P. C. – Fluid
flow through granular beds – Trans. Inst. Engrs, London, 15, 150, 1937).
Esse autor atribui o pequeno valor de Ce=0,28 à esfericidade das lâminas de
mica. Em conseqüência, o fator de forma é elevado (S = 21,4), originando uma
grande resistência hidráulica.

Fig. A5.1 - Formas de partículas representativas

Coeficiente Fator Porosidade


Descrição De Esfericidade De Forma Típica
(Ce) (S) (Po)
a) Esféricos 1,00 6,0 0,38
b) Arredondados 0,98 6,1 0,38
c) Desgastados 0,94 6,4 0,39
d) Agudos 0,81 7,4 0,40
e) Angulares 0,78 7,7 0,43
f) Triturados 0,70 8,5 0,46

A5-2
A6-1
PERDAS DE CARGA LOCALIZADAS: COEFICIENTE (k)

Peça Peça k
k
Ampliação gradual 0,30* Junção 0,40
Bocais 2,75 Medidor Venturi 2,50**
Comporta aberta 1,00 Redução Gradual 0,15*
Cotovelo de 90º 0,90 Registro de ângulo aberto 5,00
Cotovelo de 45º 0,40 Registro de gaveta aberta 0,20
Crivo 0,75 Registro de globo aberto 10,00
Curva de 90º 0,40 Saída de canalização 1,00
Curva de 45º 0,20 Tê passagem direta 0,60
Entrada normal 0,50 Tê saída de lado 1,30
Entrada de borda 1,00 Tê saída bilateral 1,80
Velocidade 1,00 Válvula de pé 1,75
Válvula de retenção 2,75

* Com base na velocidade maior


** Com base na velocidade na canalização
Fonte: SILVESTRE, Paschoal – Hidráulica geral – Rio de Janeiro, Livros
Técnicos e Científicos, 1979

A7-1
A 8.1 Filtros Rápidos

Segundo Hudson1, água de qualidade inadequada é obtida de filtros rápidos


de leitos de areis quando:
QD 3 h
=B
L
onde:
Q = taxa de filtração, em galões por minuto por pé quadrado do filtro;
D = diâmetro da areia, em centímetros;
h = perda de carga máxima, em pés;
L = profundidade do leito, em polegadas;
B = Índice de fuga, cujos valores, correspondentes às unidades acima, são os
tabulados a seguir.

Resposta à Coagulação Grau de Tratamento Valor de B


Previsto (unidades inglesas)
-4
pobre médio 4 x 10
-3
média médio 1 x 10
-3
média médio 2 x 10
-3
média médio 6 x 10

A tabela anterior pode ser reescrita para as unidades usuais utilizadas em


tratamento de água, quais sejam:
[Q] = m³/(m².dia)
[D] = mm
[h] = m
[L] = m
sendo então obtidos os valores da Tabela a seguir.

Resposta à Coagulação Grau de Tratamento Valor de B


Previsto (unidades métricas)
pobre médio 281
média médio 702
média médio 1405
média médio 4214

1
HUDSON JR, H.E. – Declining rate filtration – JAWWA: Denver, 51, 1455(1959).
A8-1
A 8.2 Filtros Lentos

Para esse tipo de filtros, Azevedo Netto e Hespanhol2 afirmam ter a prática
mostrado que as espessuras que apresentam melhores resultados são aquelas
que variam entre 0,90 m e 1,20 m.
Segundo esses mesmos autores, com relação à granulometria, recomenda-
se empregar material cujo tamanho efetivo oscila entre 0,25 mm e 0,35 mm e
cujo coeficiente de uniformidade esteja entre 2 e 3.

2
AZEVEDO NETTO, J. M. DE,Hespanhol, I – Filtração lenta in: CETESB – Técnica de
abastecimento e tratamento de água, Vol.II – CETESB, São Paulo, 1974
A8-2
A transição entre o leito filtrante e o fundo falso é feita através da camada
suporte. De sua implantação em condições adequadas dependem:
a) a adequada distribuição da água de lavagem em todo o leito filtrante,
uniformizando-o, desde os orifícios do fundo falso até a porção inferior do
leito;
b) o bloqueio do transporte dos grãos do leito filtrante até os orifícios do
fundo falso.
Tipos especiais de fundo falso, tais como os constituídos por placas porosas
(quase nunca utilizados no Brasil) podem prescindir da camada suporte.
Segundo ARBOLEDA V. (CEPIS – Teoria, diseño y control de los processos
de clarificación del agua, Lima, CEPIS, 1973), esses tipos são patenteados pela
Carborundum Co., dos Estados Unidos da América, sendo fabricados utilizando
grãos relativamente grandes de óxido de alumínio, miturados com cerâmica e
fundidos a 1200º C.
Os fabricantes de fundos falsos apresentam suas recomendações para a
construção da camada suporte.
As Companhias de Saneamento, em função da experiência adquirida na
operação de seus sistemas de abastecimento de água, costumam normalizar as
camadas suporte a serem utilizadas em projetos de filtros, bem como as
características de seus leitos filtrantes (ver Figura A9-1).

Fig. A9.1 – Camada suporte padronizada pela COPASA para fundos do tipo
vigas californianas

A9-1
Na ausência de tais elementos, podem ser seguidas as orientações
apresentadas por Fair, Geyer & Okun (Filtración, in: Ingenieria sanitaria y de
aguas residuales – Vol. II – Purificación de aguas y tratamiento y remoción de
aguas residuales – México, Limusa, 1971), aplicável a sistemas drenantes
constituídos por tubulações perfuradas, e que se transcreve a seguir.
A profundidade l, em polegadas, de um estrato componente de camadas
suporte, de diâmetro D polegadas, onde D > 2/64 polegadas (0,119 cm) pode ser
calculada com aproximação bastante satisfatória através da expressão:
l = k (log D + 1.40)
onde k varia entre 10 e 14.
São colocadas pedras que podem chegar a ter diâmetro até 3 polegadas
(7,6 cm), mas em geral não são maiores que 2 polegadas (5,1 cm), próximo aos
tubos.
Para manter o pedregulho graduado em seu lugar durante a retrolavagem,
ele deve ser colocado cuidadosamente. De fato, os tamanhos maiores deveriam
ser colocados manualmente em seus lugares.
(Nota do autor: para as unidades usualmente empregadas em nossos
projetos: [D] = mm; [l] = m; a equação anterior pode ser reescrita:
l = k log D
onde k varia entre 0,2531 e 0,3543)

Exemplo A 9 – 1

Deseja-se colocar um leito de areia sobre pedregulhos com diâmetros desde


1/10 até 2 ½ polegadas (0,25 a 6,35 cm). Determinar as profundidades
requeridas para os extratos componentes da camada suporte.

Resolução:

A equação apresentada, com o valor de k = 12 (nas unidades usuais: k =


0,3037) permite estabelecer as seguintes seqüências para a relação de malha
2:1.

Diâmetro Profundidade Incremento Prof. Selecionada


(pol) [mm] (pol) [m] (pol) [m] (pol) [m]
1/10 2,5 4,8 0,122 4,8 0,122 5+1=6 0,652
3/16 4,7 8,2 0,208 3,4 0,0865 3½ 0,089
3/8 9,5 11,8 0,300 3,6 0,0965 2½ 0,089
5/8 15,9 14,4 0,365 2,6 0,0600 2½ 0,0635
11/2 38,0 17,4 0,44 23,0 0,0760 3 0,076
21/2 63,5 21,6 0,550 4,2 0,1070 4 0,102

De acordo com a Tabela anterior, profundidade total é de 21,6 polegadas


(55 cm).
A Figura A9–2(a) ilustra a camada suporte projetada.

A9-2
Fig. A9-2 – Seqüências (a) assimétrica e (b) simétrica da camada suporte de
um leito de areia

Tendo em vista que o comportamento do pedregulho fino e da areia grossa


num leito estratificado é quase o mesmo, este arranjo do pedregulho de apoio
não é, de forma alguma, tão estável quanto desejaria o projetista.
Por esta razão, algumas estações introduziram o arranjo ilustrado na Figura
A9-2(b). Nesse caso, o progresso é simétrico, indo de grossos a finos e,
novamente, grossos. Na interface areia-pedregulho, a areia grossa escorre para
os interstícios da metade superior, sem que ocorra dano algum.
Os estratos da camada suporte mantêm-se a si próprias,
independentemente da velocidade da água de lavagem, dentro de limites
razoáveis.
As profundidades efetivas dos pedregulhos são obtidas da equação anterior,
com as seguintes modificações:
a) com exceção do pedregulho mais grosso, todos os incrementos de
profundidade são produzidos à metade;
b) as metades inferiores são colocadas em seus lugares, junto com a
espessura não diminuída à metade do pedregulho mais grosso,
aumentando em 1 polegada (2,54 cm);
c) as outras metades do pedregulho, junto com a profundidade não
reduzida à metade do pedregulho mais grosso, superposta à metade
inferior, Figura A9-2 (b).

A9-3
Exemplo A 9 – 2

Deseja-se colocar um leito de areia sobre pedregulhos com diâmetros de 1/8


a 2 polegadas (0,317 a 5,1 cm).
Determinar as profundidades necessárias aos estratos componentes do
pedregulho da camada suporte, verticalmente simétrico.

Resolução:

A equação dada, com valor de k = 12 (nas unidades usuais: k = 0,3037)


estabelece as seguintes seqüências para as relações de malhas 2:1:

Diâmetro Profundidade Incremento Prof. Selecionada


(pol) [mm] (pol) [m] (pol) [m] (pol) [m]
1½ 38,8 19,0 0,485 3,6 0,0915 4+1=5 0,127
3/4 19,5 15,4 0,39 3,6 0,0915 2 0,051
3/8 9,52 11,8 0,30 3,6 0,0915 2 0,051
3/16 4,76 8,2 0,208 8,2 0,208 4 0,102
3/8 9,52 11,8 0,30 3,6 0,0915 2 0,051
¾ 19,5 15,4 0,39 3,6 0,0915 2 0,051
1 1/2 38,0 19,0 0,485 3,6 0,0915 4 0,102

Nota do Autor: com o ressurgimento da lavagem auxiliar com ar, capaz de


perturbar, com maior intensidade, a camada suporte, a adoção da seqüência
simétrica vem ganhando maior importância e, por isto, recebendo maior atenção
dos projetistas nos últimos anos.

A9-4
FUNDOS DE FILTROS: DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS DE
TUBULAÇÕES PERFURADAS

Segundo Arboleda V. (CEPIS – Teoria, diseño y control de los procesos de


clarificación del agua – Lima, CEPIS, 1973) trata-se do mais antigo sistema de
drenagem de filtros, podendo ser atualmente implantado totalmente em tubos
plásticos para evitas a corrosão.
Consiste num duto principal, em cujos lados são instalados os tubos
perfurados (ver Figura A10-1). A área total dos orifícios deve ser de 0,2% a
0,33% da área filtrante e o diâmetro de cada orifício varia entre 6,5 e 15,8 mm,
colocados a uma distância entre 7,5 e 25 centímetros uns dos outros. A distância
entre as laterais é de 20 a 30 cm (eixo a eixo), e as perfurações formam 30
graus com a vertical, um para cada lado. A altura dos tubos sobre o fundo do
filtro deve ser de 3,5 centímetros. A relação entre o comprimento do lateral e seu
diâmetro não deve exceder a 60.

Fig. A10-1 – Principal e laterais (assentam-se diretamente sobre o fundo do


filtro; para projeto da camada suporte ver Anexo 9)
A10-1
As tabelas A10.1 e A10.2, devidas a Azevedo Netto, apresentam dados
adicionais para o dimensionamento do sistema.

Tabela A10.1 - Perda de Carga

D I L = 20 cm L = 25 cm L = 30 cm
N Q C N Q C N Q C
mm pol cm /m² 1/s m /m² 1/s m /m² 1/s m
6,3 1/4 7,5 66 0,23 2,6 53 0,28 3,8 44 0,34 6,0
9,5 3/8 15,0 33 0,46 2,1 26 0,58 3,4 20 0,75 6,0
12,7 ½ 20,0 25 0,60 1,3 20 0,75 1,8 16 0,94 2,8
15,8 5/8 25,0 20 0,75 0,7 16 0,94 1,1 13 1,15 1,6
19,0 3/8 30,0 16 0,93 0,5 13 1,15 0,8 11 1,36 1,2

Nomeclatura:
D = Diâmetro dos orifícios
I = distância, eixo a eixo, entre os orifícios
L = Espaçamento entre laterais
N = número de orifícios
Q = vazão por orifícios
C = perda de carga

Tabela A10.2 - Dados para projeto

Área dos Vazão máxima Diâmetro Área Velocidade na


Filtros de lavagem Canalização
m² l/s mm pol m² m/s
2,5 38 200 8 0,031 1,21
5,0 75 250 10 0,049 1,52
7,5 113 300 12 0,071 1,60
10,0 150 350 14 0,096 1,55
15,0 225 450 28 0,159 1,41
20,0 300 500 20 0,196 1,52
25,0 375 550 22 0,238 1,58
30,0 450 600 24 0,283 1,59
35,0 525 700 28 0,385 1,43
40,0 600 800 32 0,503 1,19
45,0 675 800 32 0,503 1,34
50,0 750 800 32 0,503 1,49

A10-2
VERTEDOUROS TRIANGULARES (*)

Altura H (cm) Q (L/s) Altura H (cm) Q (L/s)


1 0,01 17 16,68
3 0,22 18 19,24
4 0,45 19 22,03
5 0,58 20 25,04
6 1,23 21 28,29
7 1,81 22 31,78
8 2,53 23 35,52
9 3,40 24 39,51
10 4,43 25 43,75
11 5,62 30 69,01
12 6,98 35 101,46
13 8,53 40 141,67
14 10,27 45 190,18
15 12,20 50 247,49
16 14,34 60 390,40

Notas:

(*) Fórmula de Thomson – parede delgada e lisa.

Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de, VILELA, S. M. Manual de hidráulica. 5 ed.


São Paulo, Edgard Blücher, 1969.

A11-1
VERTEDOUROS RETANGULARES (*)

Altura H (cm) Q (L/s) Altura H (cm) Q (L/s)


1 1,84 17 128,83
3 9,55 20 164,40
4 14,70 25 229,75
5 20,55 30 302,01
6 27,01 35 380,58
7 34,04 40 464,98
8 41,59 45 554,84
9 49,63 50 649,83
10 58,12 55 749,70
11 67,06 60 854,23
12 76,40 65 963,20
13 86,15 70 1076,45
14 96,28 75 1193,82
15 106,78 80 1315,17
16 117,63 85 1440,37

Notas:

1) vazão por metro linear da soleira.


2) Para os vertedouros com largura menor ou maior que 1 metro, multiplique
os valores de Q pela largura real.
3) (*) Fórmula de Francis – paredes delgadas, sem contrações.
4) Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de, VILELA, S. M. Manual de hidráulica.
5 ed. São Paulo, Edgard Blücher, 1969.

A12-1
Ministério do Meio Ambiente
Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama
Resolução nº 357, de 17 de março de 2005

Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e


diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das


competências que lhe são conferidas pelos arts. 6º, inciso II e 8º, inciso VII, da
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274,
de 6 de junho de 1990 e suas alterações, tendo em vista o disposto em seu
Regimento Interno, e

Considerando a vigência da Resolução CONAMA no 274, de 29 de


novembro de 2000, que dispõe sobre a balneabilidade;

Considerando o art. 9º, inciso I, da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997,


que instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos, e demais normas
aplicáveis à matéria;

Considerando que a água integra as preocupações do desenvolvimento


sustentável, baseado nos princípios da função ecológica da propriedade, da
prevenção, da precaução, do poluidor-pagador, do usuário-pagador e da
integração, bem como no reconhecimento de valor intrínseco à natureza;

Considerando que a Constituição Federal e a Lei no 6.938, de 31 de


agosto de 1981, visam controlar o lançamento no meio ambiente de poluentes,
proibindo o lançamento em níveis nocivos ou perigosos para os seres humanos
e outras formas de vida;

Considerando que o enquadramento expressa metas finais a serem


alcançadas, podendo ser fixadas metas progressivas intermediárias,
obrigatórias, visando a sua efetivação;

A13-1
Considerando os termos da Convenção de Estocolmo, que trata dos
Poluentes Orgânicos Persistentes - POPs, ratificada pelo Decreto Legislativo nº
204, de 7 de maio de 2004;

Considerando ser a classificação das águas doces, salobras e salinas


essencial à defesa de seus níveis de qualidade, avaliados por condições e
padrões específicos, de modo a assegurar seus usos preponderantes;

Considerando que o enquadramento dos corpos de água deve estar


baseado não necessariamente no seu estado atual, mas nos níveis de qualidade
que deveriam possuir para atender às necessidades da comunidade;

Considerando que a saúde e o bem-estar humano, bem como o equilíbrio


ecológico aquático, não devem ser afetados pela deterioração da qualidade das
águas;

Considerando a necessidade de se criar instrumentos para avaliar a


evolução da qualidade das águas, em relação às classes estabelecidas no
enquadramento, de forma a facilitar a fixação e controle de metas visando atingir
gradativamente os objetivos propostos;

Considerando a necessidade de se reformular a classificação existente,


para melhor distribuir os usos das águas, melhor especificar as condições e
padrões de qualidade requeridos, sem prejuízo de posterior aperfeiçoamento; e

Considerando que o controle da poluição está diretamente relacionado


com a proteção da saúde, garantia do meio ambiente ecologicamente
equilibrado e a melhoria da qualidade de vida, levando em conta os usos
prioritários e classes de qualidade ambiental exigidos para um determinado
corpo de água; resolve:

Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para


o enquadramento dos corpos de água superficiais, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes.

CAPÍTULO I
DAS DEFINIÇÕES

Art. 2º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:

I - águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 ‰;

II - águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰;

III - águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30 ‰;

A13-2
IV - ambiente lêntico: ambiente que se refere à água parada, com movimento
lento ou estagnado;

V - ambiente lótico: ambiente relativo a águas continentais moventes;

VI - aqüicultura: o cultivo ou a criação de organismos cujo ciclo de vida, em


condições naturais, ocorre total ou parcialmente em meio aquático;

VII - carga poluidora: quantidade de determinado poluente transportado ou


lançado em um corpo de água receptor, expressa em unidade de massa por
tempo;

VIII - cianobactérias: microorganismos procarióticos autotróficos, também


denominados como cianofíceas (algas azuis) capazes de ocorrer em qualquer
manancial superficial especialmente naqueles com elevados níveis de nutrientes
(nitrogênio e fósforo), podendo produzir toxinas com efeitos adversos a saúde;

IX - classe de qualidade: conjunto de condições e padrões de qualidade de água


necessários ao atendimento dos usos preponderantes, atuais ou futuros;

X - classificação: qualificação das águas doces, salobras e salinas em função


dos usos preponderantes (sistema de classes de qualidade) atuais e futuros;
XI - coliformes termotolerantes: bactérias gram-negativas, em forma de bacilos,
oxidase-negativas, caracterizadas pela atividade da enzima β-galactosidase.
Podem crescer em meios contendo agentes tenso-ativos e fermentar a lactose
nas temperaturas de 44º - 45ºC, com produção de ácido, gás e aldeído. Além de
estarem presentes em fezes humanas e de animais homeotérmicos, ocorrem em
solos, plantas ou outras matrizes ambientais que não tenham sido contaminados
por material fecal;

XII - condição de qualidade: qualidade apresentada por um segmento de corpo


d'água, num determinado momento, em termos dos usos possíveis com
segurança adequada, frente às Classes de Qualidade;

XIII - condições de lançamento: condições e padrões de emissão adotados para


o controle de lançamentos de efluentes no corpo receptor;

XIV - controle de qualidade da água: conjunto de medidas operacionais que visa


avaliar a melhoria e a conservação da qualidade da água estabelecida para o
corpo de água;

XV - corpo receptor: corpo hídrico superficial que recebe o lançamento de um


efluente;

XVI - desinfecção: remoção ou inativação de organismos potencialmente


patogênicos;
A13-3
XVII - efeito tóxico agudo: efeito deletério aos organismos vivos causado por
agentes físicos ou químicos, usualmente letalidade ou alguma outra
manifestação que a antecede, em um curto período de exposição;

XVIII - efeito tóxico crônico: efeito deletério aos organismos vivos causado por
agentes físicos ou químicos que afetam uma ou várias funções biológicas dos
organismos, tais como a reprodução, o crescimento e o comportamento, em um
período de exposição que pode abranger a totalidade de seu ciclo de vida ou
parte dele;

XIX - efetivação do enquadramento: alcance da meta final do enquadramento;

XX - enquadramento: estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água


(classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de
corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do
tempo;

XXI - ensaios ecotoxicológicos: ensaios realizados para determinar o efeito


deletério de agentes físicos ou químicos a diversos organismos aquáticos;

XXII - ensaios toxicológicos: ensaios realizados para determinar o efeito deletério


de agentes físicos ou químicos a diversos organismos visando avaliar o potencial
de risco à saúde humana;

XXIII - Escherichia coli (E.Coli): bactéria pertencente à família


Enterobacteriaceae caracterizada pela atividade da enzima β-glicuronidase.
Produz indol a partir do aminoácido triptofano. É a única espécie do grupo dos
coliformes termotolerantes cujo habitat exclusivo é o intestino humano e de
animais homeotérmicos, onde ocorre em densidades elevadas;

XXIV - metas: é o desdobramento do objeto em realizações físicas e atividades


de gestão, de acordo com unidades de medida e cronograma preestabelecidos,
de caráter obrigatório;

XXV - monitoramento: medição ou verificação de parâmetros de qualidade e


quantidade de água, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para
acompanhamento da condição e controle da qualidade do corpo de água;

XXVI - padrão: valor limite adotado como requisito normativo de um parâmetro


de qualidade de água ou efluente;

XXVII - parâmetro de qualidade da água: substâncias ou outros indicadores


representativos da qualidade da água;

XXVIII - pesca amadora: exploração de recursos pesqueiros com fins de lazer ou


A13-4
desporto;

XXIX - programa para efetivação do enquadramento: conjunto de medidas ou


ações progressivas e obrigatórias, necessárias ao atendimento das metas
intermediárias e final de qualidade de água estabelecidas para o enquadramento
do corpo hídrico;

XXX - recreação de contato primário: contato direto e prolongado com a água


(tais como natação, mergulho, esqui-aquático) na qual a possibilidade do
banhista ingerir água é elevada;

XXXI - recreação de contato secundário: refere-se àquela associada a atividades


em que o contato com a água é esporádico ou acidental e a possibilidade de
ingerir água é pequena, como na pesca e na navegação (tais como iatismo);

XXXII - tratamento avançado: técnicas de remoção e/ou inativação de


constituintes refratários aos processos convencionais de tratamento, os quais
podem conferir à água características, tais como: cor, odor, sabor, atividade
tóxica ou patogênica;

XXXIII - tratamento convencional: clarificação com utilização de coagulação e


floculação, seguida de desinfecção e correção de pH;

XXXIV - tratamento simplificado: clarificação por meio de filtração e desinfecção


e correção de pH quando necessário;

XXXV - tributário (ou curso de água afluente): corpo de água que flui para um rio
maior ou para um lago ou reservatório;

XXXVI - vazão de referência: vazão do corpo hídrico utilizada como base para o
processo de gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária
articulação das instâncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA e
do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos- SINGRH;

XXXVII - virtualmente ausentes: que não é perceptível pela visão, olfato ou


paladar; e

XXXVIII - zona de mistura: região do corpo receptor onde ocorre a diluição inicial
de um efluente.

CAPÍTULO II
DA CLASSIFICAÇÃO DOS CORPOS DE ÁGUA

Art.3º As águas doces, salobras e salinas do Território Nacional são


classificadas, segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes,
em treze classes de qualidade.
A13-5
Parágrafo único. As águas de melhor qualidade podem ser aproveitadas em uso
menos exigente, desde que este não prejudique a qualidade da água, atendidos
outros requisitos pertinentes.

Seção I
Das Águas Doces

Art. 4º As águas doces são classificadas em:

I - classe especial: águas destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;

b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,

c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de


proteção integral.

II - classe 1: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e


mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000;

d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se


desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película; e

e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.

III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e


mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000;

d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de


esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e

e) à aqüicultura e à atividade de pesca.


A13-6
IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou


avançado;

b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

c) à pesca amadora;

d) à recreação de contato secundário; e

e) à dessedentação de animais.

V - classe 4: águas que podem ser destinadas:

a) à navegação; e

b) à harmonia paisagística.

Seção II
Das Águas Salinas

Art. 5º As águas salinas são assim classificadas:

I - classe especial: águas destinadas:

a) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de


proteção integral; e

b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

II - classe 1: águas que podem ser destinadas:

a) à recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA no 274, de


2000;

b) à proteção das comunidades aquáticas; e

c) à aqüicultura e à atividade de pesca.

III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) à pesca amadora; e

b) à recreação de contato secundário.


A13-7
IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) à navegação; e

b) à harmonia paisagística.

Seção II

Das Águas Salobras

Art. 6º As águas salobras são assim classificadas:

I - classe especial: águas destinadas:

a) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de


proteção integral; e

b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

II - classe 1: águas que podem ser destinadas:

a) à recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA no 274, de


2000;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à aqüicultura e à atividade de pesca;

d) ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou


avançado; e

e) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se


desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película, e à irrigação de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os
quais o público possa vir a ter contato direto.

III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) à pesca amadora; e

b) à recreação de contato secundário.

IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) à navegação; e
A13-8
b) à harmonia paisagística.

CAPÍTULO III
DAS CONDIÇÕES E PADRÕES DE QUALIDADE DAS ÁGUAS
Seção I
Das Disposições Gerais

Art. 7º Os padrões de qualidade das águas determinados nesta Resolução


estabelecem limites individuais para cada substância em cada classe.

Parágrafo único. Eventuais interações entre substâncias, especificadas ou não


nesta Resolução, não poderão conferir às águas características capazes de
causar efeitos letais ou alteração de comportamento, reprodução ou fisiologia da
vida, bem como de restringir os usos preponderantes previstos, ressalvado o
disposto no § 3o do art. 34, desta Resolução.

Art. 8o O conjunto de parâmetros de qualidade de água selecionado para


subsidiar a proposta de enquadramento deverá ser monitorado periodicamente
pelo Poder Público.

§ 1º Também deverão ser monitorados os parâmetros para os quais haja


suspeita da sua presença ou não conformidade.

§ 2º Os resultados do monitoramento deverão ser analisados estatisticamente e


as incertezas de medição consideradas.

§ 3º A qualidade dos ambientes aquáticos poderá ser avaliada por indicadores


biológicos, quando apropriado, utilizando-se organismos e/ou comunidades
aquáticas.

§ 4º As possíveis interações entre as substâncias e a presença de


contaminantes não listados nesta Resolução, passíveis de causar danos aos
seres vivos, deverão ser investigadas utilizando-se ensaios ecotoxicológicos,
toxicológicos, ou outros métodos cientificamente reconhecidos.

§ 5º Na hipótese dos estudos referidos no parágrafo anterior tornarem-se


necessários em decorrência da atuação de empreendedores identificados, as
despesas da investigação correrão às suas expensas.

§ 6º Para corpos de águas salobras continentais, onde a salinidade não se dê


por influência direta marinha, os valores dos grupos químicos de nitrogênio e
fósforo serão os estabelecidos nas classes correspondentes de água doce.

Art. 9º A análise e avaliação dos valores dos parâmetros de qualidade de água


de que trata esta Resolução serão realizadas pelo Poder Público, podendo ser
A13-9
utilizado laboratório próprio, conveniado ou contratado, que deverá adotar os
procedimentos de controle de qualidade analítica necessários ao atendimento
das condições exigíveis.
§ 1º Os laboratórios dos órgãos competentes deverão estruturar-se para
atenderem ao disposto nesta Resolução.

§ 2º Nos casos onde a metodologia analítica disponível for insuficiente para


quantificar as concentrações dessas substâncias nas águas, os sedimentos e/ou
biota aquática poderão ser investigados quanto à presença eventual dessas
substâncias.

Art. 10. Os valores máximos estabelecidos para os parâmetros relacionados em


cada uma das classes de enquadramento deverão ser obedecidos nas
condições de vazão de referência.

§ 1º Os limites de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), estabelecidos para


as águas doces de classes 2 e 3, poderão ser elevados, caso o estudo da
capacidade de autodepuração do corpo receptor demonstre que as
concentrações mínimas de oxigênio dissolvido (OD) previstas não serão
desobedecidas, nas condições de vazão de referência, com exceção da zona de
mistura.

§ 2º Os valores máximos admissíveis dos parâmetros relativos às formas


químicas de nitrogênio e fósforo, nas condições de vazão de referência, poderão
ser alterados em decorrência de condições naturais, ou quando estudos
ambientais específicos, que considerem também a poluição difusa, comprovem
que esses novos limites não acarretarão prejuízos para os usos previstos no
enquadramento do corpo de água.

§ 3º Para águas doces de classes 1 e 2, quando o nitrogênio for fator limitante


para eutrofização, nas condições estabelecidas pelo órgão ambiental
competente, o valor de nitrogênio total (após oxidação) não deverá ultrapassar
1,27 mg/L para ambientes lênticos e 2,18 mg/L para ambientes lóticos, na vazão
de referência.
§ 4º O disposto nos §§ 2º e 3º não se aplica às baías de águas salinas ou
salobras, ou outros corpos de água em que não seja aplicável a vazão de
referência, para os quais deverão ser elaborados estudos específicos sobre a
dispersão e assimilação de poluentes no meio hídrico.

Art. 11. O Poder Público poderá, a qualquer momento, acrescentar outras


condições e padrões de qualidade, para um determinado corpo de água, ou
torná-los mais restritivos, tendo em vista as condições locais, mediante
fundamentação técnica.

Art. 12. O Poder Público poderá estabelecer restrições e medidas adicionais, de


caráter excepcional e temporário, quando a vazão do corpo de água estiver
A13-10
abaixo da vazão de referência.

Art. 13. Nas águas de classe especial deverão ser mantidas as condições
naturais do corpo de água.

Seção II
Das Águas Doces

Art. 14. As águas doces de classe 1 observarão as seguintes condições e


padrões:

I - condições de qualidade de água:

a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os


critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência,
por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método
cientificamente reconhecido.

b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;

c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;

d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;

e) corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;

f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;

g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário


deverão ser obedecidos os padrões de qualidade de balneabilidade, previstos na
Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser
excedido um limite de 200 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80%
ou mais, de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano,
com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição ao
parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo
órgão ambiental competente;

h) DBO 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2;

i) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2;

j) turbidez até 40 unidades nefelométricas de turbidez (UNT);

l) cor verdadeira: nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L; e

A13-11
m) pH: 6,0 a 9,0.

II - Padrões de qualidade de água:

TABELA I - CLASSE 1 - ÁGUAS DOCES


PADRÕES
PARÂMETROS VALOR MÁXIMO
Clorofila a 10 µg/L
Densidade de cianobactérias 20.000 cel/mL ou 2 mm3/L
Sólidos dissolvidos totais 500 mg/L
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Alumínio dissolvido 0,1 mg/L Al
Antimônio 0,005mg/L Sb
Arsênio total 0,01 mg/L As
Bário total 0,7 mg/L Ba
Berílio total 0,04 mg/L Be
Boro total 0,5 mg/L B
Cádmio total 0,001 mg/L Cd
Chumbo total 0, 01mg/L Pb
Cianeto livre 0,005 mg/L CN
Cloreto total 250 mg/L Cl
Cloro residual total (combinado + livre) 0,01 mg/L Cl
Cobalto total 0,05 mg/L Co
Cobre dissolvido 0,009 mg/L Cu
Cromo total 0,05 mg/L Cr
Ferro dissolvido 0,3 mg/L Fe
Fluoreto total 1,4 mg/L F
Fósforo total (ambiente lêntico) 0,020 mg/L P
Fósforo total (ambiente intermediário, com 0,025 mg/L P
tempo de residência entre 2 e 40 dias, e
tributários diretos de ambiente lêntico)
Fósforo total (ambiente lótico e tributários de 0,1 mg/L P
ambientes intermediários)
Lítio total 2,5 mg/L Li
Manganês total 0,1 mg/L Mn
Mercúrio total 0,0002 mg/L Hg
Níquel total 0,025 mg/L Ni
Nitrato 10,0 mg/L N
Nitrito 1,0 mg/L N

A13-12
3,7mg/L N, para pH < 7,5

2,0 mg/L N, para 7,5 < pH < 8,0


Nitrogênio amoniacal total
1,0 mg/L N, para 8,0 < pH < 8,5

0,5 mg/L N, para pH > 8,5


Prata total 0,01 mg/L Ag
Selênio total 0,01 mg/L Se
Sulfato total 250 mg/L SO4
Sulfeto (H2S não dissociado) 0,002 mg/L S
Urânio total 0,02 mg/L U
Vanádio total 0,1 mg/L V
Zinco total 0,18 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Acrilamida 0,5 µg/L
Alacloro 20 µg/L
Aldrin + Dieldrin 0,005 µg/L
Atrazina 2 µg/L
Benzeno 0,005 mg/L
Benzidina 0,001 µg/L
Benzo(a)antraceno 0,05 µg/L
Benzo(a)pireno 0,05 µg/L
Benzo(b)fluoranteno 0,05 µg/L
Benzo(k)fluoranteno 0,05 µg/L
Carbaril 0,02 µg/L
Clordano (cis + trans) 0,04 µg/L
2-Clorofenol 0,1 µg/L
Criseno 0,05 µg/L
2,4–D 4,0 µg/L
Demeton (Demeton-O + Demeton-S) 0,1 µg/L
Dibenzo(a,h)antraceno 0,05 µg/L
1,2-Dicloroetano 0,01 mg/L
1,1-Dicloroeteno 0,003 mg/L
2,4-Diclorofenol 0,3 µg/L
Diclorometano 0,02 mg/L
DDT (p,p’-DDT + p,p’-DDE + p,p’-DDD) 0,002 µg/L
Dodecacloro pentaciclodecano 0,001 µg/L
Endossulfan (α + β + sulfato) 0,056 µg/L
Endrin 0,004 µg/L
Estireno 0,02 mg/L
Etilbenzeno 90,0 µg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem com 4- 0,003 mg/L C6H5OH
aminoantipirina)

A13-13
Glifosato 65 µg/L
Gution 0,005 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,01 µg/L
Hexaclorobenzeno 0,0065 µg/L
Indeno(1,2,3-cd)pireno 0,05 µg/L
Lindano (γ-HCH) 0,02 µg/L
Malation 0,1 µg/L
Metolacloro 10 µg/L
Metoxicloro 0,03 µg/L
Paration 0,04 µg/L
PCBs - Bifenilas policloradas 0,001 µg/L
Pentaclorofenol 0,009 mg/L
Simazina 2,0 µg/L
Substâncias tensoativas que reagem com o 0,5 mg/L LAS
azul de metileno
2,4,5–T 2,0 µg/L
Tetracloreto de carbono 0,002 mg/L
Tetracloroeteno 0,01 mg/L
Tolueno 2,0 µg/L
Toxafeno 0,01 µg/L
2,4,5-TP 10,0 µg/L
Tributilestanho 0,063 µg/L TBT
Triclorobenzeno (1,2,3-TCB + 1,2,4-TCB) 0,02 mg/L
Tricloroeteno 0,03 mg/L
2,4,6-Triclorofenol 0,01 mg/L
Trifluralina 0,2 µg/L
Xileno 300 µg/L

III - Nas águas doces onde ocorrer pesca ou cultivo de organismos, para fins de
consumo intensivo, além dos padrões estabelecidos no inciso II deste artigo,
aplicam-se os seguintes padrões em substituição ou adicionalmente:

TABELA II - CLASSE 1 - ÁGUAS DOCES


PADRÕES PARA CORPOS DE ÁGUA ONDE HAJA PESCA OU CULTIVO DE
ORGANISMOS PARA FINS DE CONSUMO INTENSIVO
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Arsênio total 0,14 µg/L As
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Benzidina 0,0002 µg/L
Benzo(a)antraceno 0,018 µg/L
Benzo(a)pireno 0,018 µg/L
Benzo(b)fluoranteno 0,018 µg/L
Benzo(k)fluoranteno 0,018 µg/L
Criseno 0,018 µg/L

A13-14
Dibenzo(a,h)antraceno 0,018 µg/L
3,3-Diclorobenzidina 0,028 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,000039 µg/L
Hexaclorobenzeno 0,00029 µg/L
Indeno(1,2,3-cd)pireno 0,018 µg/L
PCBs - Bifenilas policloradas 0,000064 µg/L
Pentaclorofenol 3,0 µg/L
Tetracloreto de carbono 1,6 µg/L
Tetracloroeteno 3,3 µg/L
Toxafeno 0,00028 µg/L
2,4,6-triclorofenol 2,4 µg/L

Art 15. Aplicam-se às águas doces de classe 2 as condições e padrões da


classe 1 previstos no artigo anterior, à exceção do seguinte:

I - não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas


que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração
convencionais;

II - coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário deverá


ser obedecida a Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos,
não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100
mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o
período de um ano, com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada
em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites
estabelecidos pelo órgão ambiental competente;

III - cor verdadeira: até 75 mg Pt/L;

IV - turbidez: até 100 UNT;

V - DBO 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2;

VI - OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2;

VII - clorofila a: até 30 µg/L;

VIII - densidade de cianobactérias: até 50000 cel/mL ou 5 mm3/L; e,

IX - fósforo total:

a) até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; e,

b) até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com tempo de residência entre


2 e 40 dias, e tributários diretos de ambiente lêntico.

A13-15
Art. 16. As águas doces de classe 3 observarão as seguintes condições e
padrões:

I - condições de qualidade de água:

a) não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os


critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência,
por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método
cientificamente reconhecido;

b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;

c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;

d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;

e) não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas


que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração
convencionais;

f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;

g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato secundário


não deverá ser excedido um limite de 2500 coliformes termotolerantes por 100
mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o
período de um ano, com freqüência bimestral. Para dessedentação de animais
criados confinados não deverá ser excedido o limite de 1000 coliformes
termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras,
coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. Para os
demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4000 coliformes
termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras
coletadas durante o período de um ano, com periodicidade bimestral. A E. coli
poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes
termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental
competente;

h) cianobactérias para dessedentação de animais: os valores de densidade de


cianobactérias não deverão exceder 50.000 cel/ml, ou 5mm3/L;

i) DBO 5 dias a 20°C até 10 mg/L O2;

j) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2;

l) turbidez até 100 UNT;


A13-16
m) cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; e,

n) pH: 6,0 a 9,0.

II - Padrões de qualidade de água:

TABELA III - CLASSE 3 - ÁGUAS DOCES


PADRÕES
PARÂMETROS VALOR MÁXIMO
Clorofila a 60 µg/L
Densidade de cianobactérias 100.000 cel/mL ou 10 mm3/L
Sólidos dissolvidos totais 500 mg/L
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Alumínio dissolvido 0,2 mg/L Al
Arsênio total 0,033 mg/L As
Bário total 1,0 mg/L Ba
Berílio total 0,1 mg/L Be
Boro total 0,75 mg/L B
Cádmio total 0,01 mg/L Cd
Chumbo total 0,033 mg/L Pb
Cianeto livre 0,022 mg/L CN
Cloreto total 250 mg/L Cl
Cobalto total 0,2 mg/L Co
Cobre dissolvido 0,013 mg/L Cu
Cromo total 0,05 mg/L Cr
Ferro dissolvido 5,0 mg/L Fe
Fluoreto total 1,4 mg/L F
Fósforo total (ambiente lêntico) 0,05 mg/L P
Fósforo total (ambiente intermediário, 0,075 mg/L P
com tempo de residência entre 2 e 40
dias, e tributários diretos de ambiente
lêntico)
Fósforo total (ambiente lótico e 0,15 mg/L P
tributários de ambientes intermediários)
Lítio total 2,5 mg/L Li
Manganês total 0,5 mg/L Mn
Mercúrio total 0,002 mg/L Hg
Níquel total 0,025 mg/L Ni
Nitrato 10,0 mg/L N
Nitrito 1,0 mg/L N
13,3 mg/L N, para pH < 7,5
A13-17
5,6 mg/L N, para 7,5 < pH < 8,0
Nitrogênio amoniacal total
2,2 mg/L N, para 8,0 < pH < 8,5

1,0 mg/L N, para pH > 8,5


Prata total 0,05 mg/L Ag
Selênio total 0,05 mg/L Se
Sulfato total 250 mg/L SO4
Sulfeto (como H2S não dissociado) 0,3 mg/L S
Urânio total 0,02 mg/L U
Vanádio total 0,1 mg/L V
Zinco total 5 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Aldrin + Dieldrin 0,03 µg/L
Atrazina 2 µg/L
Benzeno 0,005 mg/L
Benzo(a)pireno 0,7 µg/L
Carbaril 70,0 µg/L
Clordano (cis + trans) 0,3 µg/L
2,4-D 30,0 µg/L
DDT (p,p’-DDT + p,p’-DDE + p,p’-DDD) 1,0 µg/L
Demeton (Demeton-O + Demeton-S) 14,0 µg/L
1,2-Dicloroetano 0,01 mg/L
1,1-Dicloroeteno 30 µg/L
Dodecacloro Pentaciclodecano 0,001 µg/L
Endossulfan (a + . + sulfato) 0,22 µg/L
Endrin 0,2 µg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem 0,01 mg/L C6H5OH
com 4- aminoantipirina)
Glifosato 280 µg/L
Gution 0,005 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,03 µg/L
Lindano (g-HCH) 2,0 µg/L
Malation 100,0 µg/L
Metoxicloro 20,0 µg/L
Paration 35,0 µg/L
PCBs - Bifenilas policloradas 0,001 µg/L
Pentaclorofenol 0,009 mg/L
Substâncias tenso-ativas que reagem 0,5 mg/L LAS
com o azul de metileno
2,4,5–T 2,0 µg/L
Tetracloreto de carbono 0,003 mg/L
Tetracloroeteno 0,01 mg/L

A13-18
Toxafeno 0,21 µg/L
2,4,5–TP 10,0 µg/L
Tributilestanho 2,0 µg/L TBT
Tricloroeteno 0,03 mg/L
2,4,6-Triclorofenol 0,01 mg/L

Art. 17. As águas doces de classe 4 observarão as seguintes condições e


padrões:

I - materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;

II - odor e aspecto: não objetáveis;

III - óleos e graxas: toleram-se iridescências;

IV - substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento


de canais de navegação: virtualmente ausentes;

V - fenóis totais (substâncias que reagem com 4 - aminoantipirina) até 1,0 mg/L
de C6H5OH;

VI - OD, superior a 2,0 mg/L O2 em qualquer amostra; e,

VII - pH: 6,0 a 9,0.

Seção III
Das Águas Salinas

Art. 18. As águas salinas de classe 1 observarão as seguintes condições e


padrões:

I - condições de qualidade de água:

a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os


critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência,
por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método
cientificamente reconhecido;

b) materiais flutuantes virtualmente ausentes;

c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;

d) substâncias que produzem odor e turbidez: virtualmente ausentes;

e) corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;


A13-19
f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;

g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário


deverá ser obedecida a Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para o cultivo de
moluscos bivalves destinados à alimentação humana, a média geométrica da
densidade de coliformes termotolerantes, de um mínimo de 15 amostras
coletadas no mesmo local, não deverá exceder 43 por 100 mililitros, e o percentil
90% não deverá ultrapassar 88 coliformes termotolerantes por 100 mililitros.
Esses índices deverão ser mantidos em monitoramento anual com um mínimo
de 5 amostras. Para os demais usos não deverá ser excedido um limite de 1.000
coliformes termtolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6
amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade bimestral. A
E. coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes
termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental
competente;

h) carbono orgânico total até 3 mg/L, como C;

i) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2; e

j) pH: 6,5 a 8,5, não devendo haver uma mudança do pH natural maior do que
0,2 unidade.

II - Padrões de qualidade de água:

TABELA IV - CLASSE 1 - ÁGUAS SALINAS


PADRÕES
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Alumínio dissolvido 1,5 mg/L Al
Arsênio total 0,01 mg/L As
Bário total 1,0 mg/L Ba
Berílio total 5,3 µg/L Be
Boro total 5,0 mg/L B
Cádmio total 0,005 mg/L Cd
Chumbo total 0,01 mg/L Pb
Cianeto livre 0,001 mg/L CN
Cloro residual total (combinado + livre) 0,01 mg/L Cl
Cobre dissolvido 0,005 mg/L Cu
Cromo total 0,05 mg/L Cr
Ferro dissolvido 0,3 mg/L Fe
Fluoreto total 1,4 mg/L F
Fósforo Total 0,062 mg/L P
Manganês total 0,1 mg/L Mn

A13-20
Mercúrio total 0,0002 mg/L Hg
Níquel total 0,025 mg/L Ni
Nitrato 0,40 mg/L N
Nitrito 0,07 mg/L N
Nitrogênio amoniacal total 0,40 mg/L N
Polifosfatos (determinado pela diferença 0,031 mg/L P
entre fósforo ácido hidrolisável total e
fósforo reativo total)
Prata total 0,005 mg/L Ag
Selênio total 0,01 mg/L Se
Sulfetos (H2S não dissociado) 0,002 mg/L S
Tálio total 0,1 mg/L Tl
Urânio Total 0,5 mg/L U
Zinco total 0,09 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Aldrin + Dieldrin 0,0019 µg/L
Benzeno 700 µg/L
Carbaril 0,32 µg/L
Clordano (cis + trans) 0,004 µg/L 30,0 µg/L
2,4-D
DDT (p,p’-DDT+ p,p’-DDE + p,p’-DDD) 0,001 µg/L
Demeton (Demeton-O + Demeton-S) 0,1 µg/L
Dodecacloro pentaciclodecano 0,001 µg/L
Endossulfan (α + β + sulfato) 0,01 µg/L
Endrin 0,004 µg/L
Etilbenzeno 25 µg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem 60 µg/L C6H5OH
com 4- aminoantipirina)
Gution 0,01 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,001 µg/L
Lindano (g-HCH) 0,004 µg/L
Malation 0,1 µg/L
Metoxicloro 0,03 µg/L
Monoclorobenzeno 25 µg/L
Pentaclorofenol 7,9 µg/L
PCBs - Bifenilas Policloradas 0,03 µg/L
Substâncias tensoativas que reagem 0,2 mg/L LAS
com o azul de metileno
2,4,5-T 10,0 µg/L
Tolueno 215 µg/L
Toxafeno 0,0002 µg/L
2,4,5-TP 10,0 µg/L
Tributilestanho 0,01 µg/L TBT
Triclorobenzeno (1,2,3-TCB + 1,2,4- 80 µg/L
TCB)
A13-21
TCB)
Tricloroeteno 30,0 µg/L

III - Nas águas salinas onde ocorrer pesca ou cultivo de organismos, para fins de
consumo intensivo, além dos padrões estabelecidos no inciso II deste artigo,
aplicam-se os seguintes padrões em substituição ou adicionalmente:

TABELA V - CLASSE 1 - ÁGUAS SALINAS


PADRÕES PARA CORPOS DE ÁGUA ONDE HAJA PESCA OU CULTIVO DE
ORGANISMOS PARA FINS DE CONSUMO INTENSIVO
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Arsênio total 0,14 µg/L As
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Benzeno 51 µg/L
Benzidina 0,0002 µg/L
Benzo(a)antraceno 0,018 µg/L
Benzo(a)pireno 0,018 µg/L
Benzo(b)fluoranteno 0,018 µg/L
Benzo(k)fluoranteno 0,018 µg/L
2-Clorofenol 150 µg/L
2,4-Diclorofenol 290 µg/L
Criseno 0,018 µg/L
Dibenzo(a,h)antraceno 0,018 µg/L
1,2-Dicloroetano 37 µg/L
1,1-Dicloroeteno 3 µg/L
3,3-Diclorobenzidina 0,028 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,000039 µg/L
Hexaclorobenzeno 0,00029 µg/L
Indeno(1,2,3-cd)pireno 0,018 µg/L
PCBs - Bifenilas Policloradas 0, 000064 µg/L
Pentaclorofenol 3,0 µg/L
Tetracloroeteno 3,3 µg/L
2,4,6-Triclorofenol 2,4 µg/L

Art 19. Aplicam-se às águas salinas de classe 2 as condições e padrões de


qualidade da classe 1, previstos no artigo anterior, à exceção dos seguintes:

I - condições de qualidade de água:

a) não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os


A13-22
critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência,
por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método
cientificamente reconhecido;

b) coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 2500 por


100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o
período de um ano, com freqüência bimestral. A E. Coli poderá ser determinada
em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites
estabelecidos pelo órgão ambiental competente;

c) carbono orgânico total: até 5,00 mg/L, como C; e

d) OD, em qualquer amostra, não inferior a 5,0 mg/L O2.

II - Padrões de qualidade de água:

TABELA VI - CLASSE 2 - ÁGUAS SALINAS


PADRÕES
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Arsênio total 0,069 mg/L As
Cádmio total 0,04 mg/L Cd
Chumbo total 0,21 mg/L Pb
Cianeto livre 0,001 mg/L CN
Cloro residual total (combinado + livre) 19 µg/L Cl
Cobre dissolvido 7,8 µg/L Cu
Cromo total 1,1 mg/L Cr
Fósforo total 0,093 mg/L P
Mercúrio total 1,8 µg/L Hg
Níquel 74 µg/L Ni
Nitrato 0,70 mg/L N
Nitrito 0,20 mg/L N
Nitrogênio amoniacal total 0,70 mg/L N
Polifosfatos (determinado pela diferença 0,0465 mg/L P
entre fósforo ácido hidrolisável total e
fósforo reativo total)
Selênio total 0,29 mg/L Se
Zinco total 0,12 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Aldrin + Dieldrin 0,03 µg/L
Clordano (cis + trans) 0,09 µg/L
DDT (p–p’DDT + p–p’DDE + p–p’DDD) 0,13 µg/L
Endrin 0,037 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,053 µg/L
A13-23
Lindano (g-HCH) 0,16 µg/L
Pentaclorofenol 13,0 µg/L
Toxafeno 0,210 µg/L
Tributilestanho 0,37 µg/L TBT

Art. 20. As águas salinas de classe 3 observarão as seguintes condições e


padrões:

I - materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;

III - substâncias que produzem odor e turbidez: virtualmente ausentes;

IV - corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;

V - resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;

VI - coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 4.000


coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6
amostras coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. A E.
coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes
termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental
competente;

VII - carbono orgânico total: até 10 mg/L, como C;

VIII - OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/ L O2; e

IX - pH: 6,5 a 8,5 não devendo haver uma mudança do pH natural maior do que
0,2 unidades.

Seção IV
Das Águas Salobras

Art. 21. As águas salobras de classe 1 observarão as seguintes condições e


padrões:

I - condições de qualidade de água:

a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os


critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência,
por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método
cientificamente reconhecido;

b) carbono orgânico total: até 3 mg/L, como C;


A13-24
c) OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/ L O2;

d) pH: 6,5 a 8,5;

e) óleos e graxas: virtualmente ausentes;

f) materiais flutuantes: virtualmente ausentes;

g) substâncias que produzem cor, odor e turbidez: virtualmente ausentes;

i) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário


deverá ser obedecida a Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para o cultivo de
moluscos bivalves destinados à alimentação humana, a média geométrica da
densidade de coliformes termotolerantes, de um mínimo de 15 amostras
coletadas no mesmo local, não deverá exceder 43 por 100 mililitros, e o percentil
90% não deverá ultrapassar 88 coliformes termolerantes por 100 mililitros. Esses
índices deverão ser mantidos em monitoramento anual com um mínimo de 5
amostras. Para a irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas
que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção
de película, bem como para a irrigação de parques, jardins, campos de esporte e
lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto, não deverá ser
excedido o valor de 200 coliformes termotolerantes por 100mL. Para os demais
usos não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por
100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o
período de um ano, com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada
em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites
estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

II - Padrões de qualidade de água:

TABELA VII - CLASSE 1 - ÁGUAS SALOBRAS


PADRÕES
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Alumínio dissolvido 0,1 mg/L Al
Arsênio total 0,01 mg/L As
Berílio total 5,3 µg/L Be
Boro 0,5 mg/L B
Cádmio total 0,005 mg/L Cd
Chumbo total 0,01 mg/L Pb
Cianeto livre 0,001 mg/L CN
Cloro residual total (combinado + livre) 0,01 mg/L Cl
Cobre dissolvido 0,005 mg/L Cu
Cromo total 0,05 mg/L Cr

A13-25
Ferro dissolvido 0,3 mg/L Fe
Fluoreto total 1,4 mg/L F
Fósforo total 0,124 mg/L P
Manganês total 0,1 mg/L Mn
Mercúrio total 0,0002 mg/L Hg
Níquel total 0,025 mg/L Ni
Nitrato 0,40 mg/L N
Nitrito 0,07 mg/L N
Nitrogênio amoniacal total 0,40 mg/L N
Polifosfatos (determinado pela diferença 0,062 mg/L P
entre fósforo
ácido hidrolisável total e fósforo reativo
total)
Prata total 0,005 mg/L Ag
Selênio total 0,01 mg/L Se
Sulfetos (como H2S não dissociado) 0,002 mg/L S
Zinco total 0,09 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Aldrin + dieldrin 0,0019 µg/L
Benzeno 700 µg/L
Carbaril 0,32 µg/L
Clordano (cis + trans) 0,004 µg/L 10,0 µg/L
2,4–D
DDT (p,p'DDT+ p,p'DDE + p,p'DDD) 0,001 µg/L
Demeton (Demeton-O + Demeton-S) 0,1 µg/L
Dodecacloro pentaciclodecano 0,001 µg/L
Endrin 0,004 µg/L
Endossulfan (α + β + sulfato) 0,01 µg/L
Etilbenzeno 25,0 µg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem 0,003 mg/L C6H5OH
com 4-aminoantipirina)
Gution 0,01 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,001 µg/L
Lindano (γ-HCH) 0,004 µg/L
Malation 0,1 µg/L
Metoxicloro 0,03 µg/L
Monoclorobenzeno 25 µg/L

Paration 0,04 µg/L


Pentaclorofenol 7,9 µg/L
PCBs - Bifenilas Policloradas 0,03 µg/L

Substâncias tensoativas que reagem 0,2 LAS


com azul de metileno
A13-26
2,4,5-T 10,0 µg/L
Tolueno 215 µg/L
Toxafeno 0,0002 µg/L
2,4,5–TP 10,0 µg/L
Tributilestanho 0,010 µg/L TBT
Triclorobenzeno (1,2,3-TCB + 1,2,4- 80,0 µg/L
TCB)

III - Nas águas salobras onde ocorrer pesca ou cultivo de organismos, para fins
de consumo intensivo, além dos padrões estabelecidos no inciso II deste artigo,
aplicam-se os seguintes padrões em substituição ou adicionalmente:

TABELA VIII - CLASSE 1 - ÁGUAS SALOBRAS


PADRÕES PARA CORPOS DE ÁGUA ONDE HAJA PESCA OU CULTIVO DE
ORGANISMOS PARA FINS DE CONSUMO INTENSIVO
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Arsênio total 0,14 µg/L As

PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO


Benzeno 51 µg/L
Benzidina 0,0002 µg/L
Benzo(a)antraceno 0,018 µg/L
Benzo(a)pireno 0,018 µg/L
Benzo(b)fluoranteno 0,018 µg/L
Benzo(k)fluoranteno 0,018 µg/L
2-Clorofenol 150 µg/L
Criseno 0,018 µg/L
Dibenzo(a,h)antraceno 0,018 µg/L
2,4-Diclorofenol 290 µg/L
1,1-Dicloroeteno 3,0 µg/L
1,2-Dicloroetano 37,0 µg/L
3,3-Diclorobenzidina 0,028 µg/L
Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,000039 µg/L
Hexaclorobenzeno 0,00029 µg/L
Indeno(1,2,3-cd)pireno 0,018 µg/L
Pentaclorofenol 3,0 µg/L
PCBs - Bifenilas Policloradas 0,000064 µg/L
Tetracloroeteno 3,3 µg/L
Tricloroeteno 30 µg/L
2,4,6-Triclorofenol 2,4 µg/L

Art. 22. Aplicam-se às águas salobras de classe 2 as condições e padrões de


qualidade da classe 1, previstos no artigo anterior, à exceção dos seguintes:

A13-27
I - condições de qualidade de água:

a) não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os


critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência,
por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método
cientificamente reconhecido;

b) carbono orgânico total: até 5,00 mg/L, como C;

c) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2; e


d) coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 2500 por
100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o
período de um ano, com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada
em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites
estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

II - Padrões de qualidade de água:

TABELA IX - CLASSE 2 - ÁGUAS SALOBRAS


PADRÕES
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Arsênio total 0,069 mg/L As
Cádmio total 0,04 mg/L Cd
Chumbo total 0,210 mg/L Pb
Cromo total 1,1 mg/L Cr
Cianeto livre 0,001 mg/L CN
Cloro residual total (combinado + livre) 19,0 µg/L Cl
Cobre dissolvido 7,8 µg/L Cu
Fósforo total 0,186 mg/L P
Mercúrio total 1,8 µg/L Hg
Níquel total 74,0 µg/L Ni
Nitrato 0,70 mg/L N
Nitrito 0,20 mg/L N
Nitrogênio amoniacal total 0,70 mg/L N
Polifosfatos (determinado pela diferença 0,093 mg/L P
entre fósforo ácido hidrolisável total e
fósforo reativo total)
Selênio total 0,29 mg/L Se
Zinco total 0,12 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Aldrin + Dieldrin 0,03 µg/L
Clordano (cis + trans) 0,09 µg/L
A13-28
DDT (p-p’DDT + p-p’DDE + p-p’DDD) 0,13 µg/L
Endrin 0,037 µg/L
Heptacloro epóxido+ Heptacloro 0,053 µg/L
Lindano (γ-HCH) 0,160 µg/L
Pentaclorofenol 13,0 µg/L
Toxafeno 0,210 µg/L
Tributilestanho 0,37 µg/L TBT

Art. 23. As águas salobras de classe 3 observarão as seguintes condições e


padrões:

I - pH: 5 a 9;

II - OD, em qualquer amostra, não inferior a 3 mg/L O2;

III - óleos e graxas: toleram-se iridescências;

IV - materiais flutuantes: virtualmente ausentes;

V - substâncias que produzem cor, odor e turbidez: virtualmente ausentes;

VI - substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento


de canais de navegação: virtualmente ausentes;

VII - coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 4.000


coliformes termotolerantes por 100 mL em 80% ou mais de pelo menos 6
amostras coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. A E.
coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes
termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental
competente; e

VIII - carbono orgânico total até 10,0 mg/L, como C.

CAPÍTULO IV
DAS CONDIÇÕES E PADRÕES DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES

Art. 24. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados,
direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento e desde
que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e
em outras normas aplicáveis.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente poderá, a qualquer momento:

I - acrescentar outras condições e padrões, ou torná-los mais restritivos, tendo


em vista as condições locais, mediante fundamentação técnica; e

A13-29
II - exigir a melhor tecnologia disponível para o tratamento dos efluentes,
compatível com as condições do respectivo curso de água superficial, mediante
fundamentação técnica.

Art. 25. É vedado o lançamento e a autorização de lançamento de efluentes em


desacordo com as condições e padrões estabelecidos nesta Resolução.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente poderá, excepcionalmente,


autorizar o lançamento de efluente acima das condições e padrões
estabelecidos no art. 34, desta Resolução, desde que observados os seguintes
requisitos:

I - comprovação de relevante interesse público, devidamente motivado;

II - atendimento ao enquadramento e às metas intermediárias e finais,


progressivas e obrigatórias;

III - realização de Estudo de Impacto Ambiental-EIA, às expensas do


empreendedor responsável pelo lançamento;

IV - estabelecimento de tratamento e exigências para este lançamento; e

V - fixação de prazo máximo para o lançamento excepcional.

Art. 26. Os órgãos ambientais federal, estaduais e municipais, no âmbito de sua


competência, deverão, por meio de norma específica ou no licenciamento da
atividade ou empreendimento, estabelecer a carga poluidora máxima para o
lançamento de substâncias passíveis de estarem presentes ou serem formadas
nos processos produtivos, listadas ou não no art. 34, desta Resolução, de modo
a não comprometer as metas progressivas obrigatórias, intermediárias e final,
estabelecidas pelo enquadramento para o corpo de água.

§ 1º No caso de empreendimento de significativo impacto, o órgão ambiental


competente exigirá, nos processos de licenciamento ou de sua renovação, a
apresentação de estudo de capacidade de suporte de carga do corpo de água
receptor.

§ 2º O estudo de capacidade de suporte deve considerar, no mínimo, a diferença


entre os padrões estabelecidos pela classe e as concentrações existentes no
trecho desde a montante, estimando a concentração após a zona de mistura.

§ 3º Sob pena de nulidade da licença expedida, o empreendedor, no processo


de licenciamento, informará ao órgão ambiental as substâncias, entre aquelas
previstas nesta Resolução para padrões de qualidade de água, que poderão
estar contidas no seu efluente.
A13-30
§ 4º O disposto no § 1º aplica-se também às substâncias não contempladas
nesta Resolução, exceto se o empreendedor não tinha condições de saber de
sua existência nos seus efluentes.

Art. 27. É vedado, nos efluentes, o lançamento dos Poluentes Orgânicos


Persistentes - POPs mencionados na Convenção de Estocolmo, ratificada pelo
Decreto Legislativo no 204, de 7 de maio de 2004.
Parágrafo único. Nos processos onde possa ocorrer a formação de dioxinas e
furanos deverá ser utilizada a melhor tecnologia disponível para a sua redução,
até a completa eliminação.

Art. 28. Os efluentes não poderão conferir ao corpo de água características em


desacordo com as metas obrigatórias progressivas, intermediárias e final, do seu
enquadramento.

§ 1º As metas obrigatórias serão estabelecidas mediante parâmetros.

§ 2º Para os parâmetros não incluídos nas metas obrigatórias, os padrões de


qualidade a serem obedecidos são os que constam na classe na qual o corpo
receptor estiver enquadrado.

§ 3º Na ausência de metas intermediárias progressivas obrigatórias, devem ser


obedecidos os padrões de qualidade da classe em que o corpo receptor estiver
enquadrado.

Art. 29. A disposição de efluentes no solo, mesmo tratados, não poderá causar
poluição ou contaminação das águas.

Art. 30. No controle das condições de lançamento, é vedada, para fins de


diluição antes do seu lançamento, a mistura de efluentes com águas de melhor
qualidade, tais como as águas de abastecimento, do mar e de sistemas abertos
de refrigeração sem recirculação.

Art. 31. Na hipótese de fonte de poluição geradora de diferentes efluentes ou


lançamentos individualizados, os limites constantes desta Resolução aplicar-se-
ão a cada um deles ou ao conjunto após a mistura, a critério do órgão ambiental
competente.

Art. 32. Nas águas de classe especial é vedado o lançamento de efluentes ou


disposição de resíduos domésticos, agropecuários, de aqüicultura, industriais e
de quaisquer outras fontes poluentes, mesmo que tratados.

§ 1º Nas demais classes de água, o lançamento de efluentes deverá,


simultaneamente:

A13-31
I - atender às condições e padrões de lançamento de efluentes;

II - não ocasionar a ultrapassagem das condições e padrões de qualidade de


água, estabelecidos para as respectivas classes, nas condições da vazão de
referência; e

III - atender a outras exigências aplicáveis.

§ 2º No corpo de água em processo de recuperação, o lançamento de efluentes


observará as metas progressivas obrigatórias, intermediárias e final.

Art. 33. Na zona de mistura de efluentes, o órgão ambiental competente poderá


autorizar, levando em conta o tipo de substância, valores em desacordo com os
estabelecidos para a respectiva classe de enquadramento, desde que não
comprometam os usos previstos para o corpo de água.

Parágrafo único. A extensão e as concentrações de substâncias na zona de


mistura deverão ser objeto de estudo, nos termos determinados pelo órgão
ambiental competente, às expensas do empreendedor responsável pelo
lançamento.

Art. 34. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados,
direta ou indiretamente, nos corpos de água desde que obedeçam as condições
e padrões previstos neste artigo, resguardadas outras exigências cabíveis:

§ 1º O efluente não deverá causar ou possuir potencial para causar efeitos


tóxicos aos organismos aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios
de toxicidade estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

§ 2º Os critérios de toxicidade previstos no § 1o devem se basear em resultados


de ensaios ecotoxicológicos padronizados, utilizando organismos aquáticos, e
realizados no efluente.

§ 3º Nos corpos de água em que as condições e padrões de qualidade previstos


nesta Resolução não incluam restrições de toxicidade a organismos aquáticos,
não se aplicam os parágrafos anteriores.

§ 4º Condições de lançamento de efluentes:

I - pH entre 5 a 9;

II - temperatura: inferior a 40ºC, sendo que a variação de temperatura do corpo


receptor não deverá exceder a 3ºC na zona de mistura;

III - materiais sedimentáveis: até 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Imhoff.


Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja
A13-32
praticamente nula, os materiais edimentáveis deverão estar virtualmente
ausentes;

IV - regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vezes a vazão média
do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos permitidos
pela autoridade competente;

V - óleos e graxas:

1 - óleos minerais: até 20mg/L;

2- óleos vegetais e gorduras animais: até 50mg/L; e

VI - ausência de materiais flutuantes.

§ 5ºPadrões de lançamento de efluentes:

TABELA X - LANÇAMENTO DE EFLUENTES


PADRÕES
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Arsênio total 0,5 mg/L As
Bário total 5,0 mg/L Ba
Boro total 5,0 mg/L B
Cádmio total 0,2 mg/L Cd
Chumbo total 0,5 mg/L Pb
Cianeto total 0,2 mg/L CN
Cobre dissolvido 1,0 mg/L Cu
Cromo total 0,5 mg/L Cr
Estanho total 4,0 mg/L Sn
Ferro dissolvido 15,0 mg/L Fe
Fluoreto total 10,0 mg/L F
Manganês dissolvido 1,0 mg/L Mn
Mercúrio total 0,01 mg/L Hg
Níquel total 2,0 mg/L Ni
Nitrogênio amoniacal total 20,0 mg/L N
Prata total 0,1 mg/L Ag
Selênio total 0,30 mg/L Se
Sulfeto 1,0 mg/L S
Zinco total 5,0 mg/L Zn
PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Clorofórmio 1,0 mg/L
Dicloroeteno 1,0 mg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem 0,5 mg/L C6H5OH
com 4- aminoantipirina)
A13-33
Tetracloreto de Carbono 1,0 mg/L
Tricloroeteno 1,0 mg/L

Art. 35. Sem prejuízo do disposto no inciso I, do § 1º do art. 24, desta Resolução,
o órgão ambiental competente poderá, quando a vazão do corpo de água estiver
abaixo da vazão de referência, estabelecer restrições e medidas adicionais, de
caráter excepcional e temporário, aos lançamentos de efluentes que possam,
dentre outras conseqüências:

I - acarretar efeitos tóxicos agudos em organismos aquáticos; ou

II - inviabilizar o abastecimento das populações.

Art. 36. Além dos requisitos previstos nesta Resolução e em outras normas
aplicáveis, os efluentes provenientes de serviços de saúde e estabelecimentos
nos quais haja despejos infectados com microorganismos patogênicos, só
poderão ser lançados após tratamento especial.

Art. 37. Para o lançamento de efluentes tratados no leito seco de corpos de água
intermitentes, o órgão ambiental competente definirá, ouvido o órgão gestor de
recursos hídricos, condições especiais.

CAPÍTULO V
DIRETRIZES AMBIENTAIS PARA O ENQUADRAMENTO

Art. 38. O enquadramento dos corpos de água dar-se-á de acordo com as


normas e procedimentos definidos pelo Conselho Nacional de Recursos
Hídricos-CNRH e Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.

§ 1º O enquadramento do corpo hídrico será definido pelos usos preponderantes


mais restritivos da água, atuais ou pretendidos.

§ 2º Nas bacias hidrográficas em que a condição de qualidade dos corpos de


água esteja em desacordo com os usos preponderantes pretendidos, deverão
ser estabelecidas metas obrigatórias, intermediárias e final, de melhoria da
qualidade da água para efetivação dos respectivos enquadramentos, excetuados
nos parâmetros que excedam aos limites devido às condições naturais.

§ 3º As ações de gestão referentes ao uso dos recursos hídricos, tais como a


outorga e cobrança pelo uso da água, ou referentes à gestão ambiental, como o
licenciamento, termos de ajustamento de conduta e o controle da poluição,
deverão basear-se nas metas progressivas intermediárias e final aprovadas pelo
órgão competente para a respectiva bacia hidrográfica ou corpo hídrico
específico.

§ 4º As metas progressivas obrigatórias, intermediárias e final, deverão ser


A13-34
atingidas em regime de vazão de referência, excetuados os casos de baías de
águas salinas ou salobras, ou outros corpos hídricos onde não seja aplicável a
vazão de referência, para os quais deverão ser elaborados estudos específicos
sobre a dispersão e assimilação de poluentes no meio hídrico.

§ 5º Em corpos de água intermitentes ou com regime de vazão que apresente


diferença
sazonal significativa, as metas progressivas obrigatórias poderão variar ao longo
do ano.
§ 6º Em corpos de água utilizados por populações para seu abastecimento, o
enquadramento e o licenciamento ambiental de atividades a montante
preservarão, obrigatoriamente, as condições de consumo.

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 39. Cabe aos órgãos ambientais competentes, quando necessário, definir os
valores dos poluentes considerados virtualmente ausentes.

Art. 40. No caso de abastecimento para consumo humano, sem prejuízo do


disposto nesta Resolução, deverão ser observadas, as normas específicas sobre
qualidade da água e padrões de potabilidade.

Art. 41. Os métodos de coleta e de análises de águas são os especificados em


normas técnicas cientificamente reconhecidas.

Art. 42. Enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos, as águas


doces serão consideradas classe 2, as salinas e salobras classe 1, exceto se as
condições de qualidade atuais forem melhores, o que determinará a aplicação
da classe mais rigorosa correspondente.

Art. 43. Os empreendimentos e demais atividades poluidoras que, na data da


publicação desta Resolução, tiverem Licença de Instalação ou de Operação,
expedida e não impugnada, poderão a critério do órgão ambiental competente,
ter prazo de até três anos, contados a partir de sua vigência, para se adequarem
às condições e padrões novos ou mais rigorosos previstos nesta Resolução.

§ 1º O empreendedor apresentará ao órgão ambiental competente o cronograma


das medidas necessárias ao cumprimento do disposto no caput deste artigo.

§ 2º O prazo previsto no caput deste artigo poderá, excepcional e tecnicamente


motivado, ser prorrogado por até dois anos, por meio de Termo de Ajustamento
de Conduta, ao qual se dará publicidade, enviando-se cópia ao Ministério
Público.

A13-35
§ 3º As instalações de tratamento existentes deverão ser mantidas em operação
com a capacidade, condições de funcionamento e demais características para as
quais foram aprovadas, até que se cumpram as disposições desta Resolução.

§ 4º O descarte contínuo de água de processo ou de produção em plataformas


marítimas de petróleo será objeto de resolução específica, a ser publicada no
prazo máximo de um ano, a contar da data de publicação desta Resolução,
ressalvado o padrão de lançamento de óleos e graxas a ser o definido nos
termos do art. 34, desta Resolução, até a edição de resolução específica.

Art. 44. O CONAMA, no prazo máximo de um ano, complementará, onde couber,


condições e padrões de lançamento de efluentes previstos nesta Resolução.

Art. 45. O não cumprimento ao disposto nesta Resolução acarretará aos


infratores as sanções previstas pela legislação vigente.

§ 1º Os órgãos ambientais e gestores de recursos hídricos, no âmbito de suas


respectivas competências, fiscalizarão o cumprimento desta Resolução, bem
como quando pertinente, a aplicação das penalidades administrativas previstas
nas legislações específicas, sem prejuízo do sancionamento penal e da
responsabilidade civil objetiva do poluidor.

§ 2º As exigências e deveres previstos nesta Resolução caracterizam obrigação


de relevante interesse ambiental.

Art. 46. O responsável por fontes potencial ou efetivamente poluidoras das


águas deve apresentar ao órgão ambiental competente, até o dia 31 de março
de cada ano, declaração de carga poluidora, referente ao ano civil anterior,
subscrita pelo administrador principal da empresa e pelo responsável técnico
devidamente habilitado, acompanhada da respectiva Anotação de
Responsabilidade Técnica.

§ 1º A declaração referida no caput deste artigo conterá, entre outros dados, a


caracterização qualitativa e quantitativa de seus efluentes, baseada em
amostragem representativa dos mesmos, o estado de manutenção dos
equipamentos e dispositivos de controle da poluição.

§ 2º O órgão ambiental competente poderá estabelecer critérios e formas para


apresentação da declaração mencionada no caput deste artigo, inclusive,
dispensando-a se for o caso para empreendimentos de menor potencial poluidor.

Art. 47. Equiparam-se a perito, os responsáveis técnicos que elaborem estudos e


pareceres apresentados aos órgãos ambientais.

Art. 48. O não cumprimento ao disposto nesta Resolução sujeitará os infratores,


entre outras, às sanções previstas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e
A13-36
respectiva regulamentação.

Art. 49. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 50. Revoga-se a Resolução CONAMA no 020, de 18 de junho de 1986.

MARINA SILVA
Presidente do CONAMA

A13-37
Deliberação Normativa COPAM nº 10, de 16 de dezembro de 1986.

Estabelece normas e padrões para


qualidade das águas, lançamento de
efluentes nas coleções de águas, e dá
outras providências.

(Publicação - Diário do Executivo - “Minas Gerais”, 10/01/1987)

A Comissão de Política Ambiental - COPAM, no uso das atribuições que


lhe confere o Art. 5º , item 1, da Lei nº 7.772, de 08 de setembro de 1980:

Considerando a necessidade de reformular e consolidar as normas e


padrões para qualidade das águas estaduais e para o lançamento de efluentes
nas coleções de águas;

E, tendo em vista as inovações introduzidas na matéria pela Resolução


nº 20, de 18 de junho de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente,

R E S O L V E:

Classificação das Coleções de Águas

Art. 1º - Para efeito desta Deliberação Normativa, são adotadas as


seguintes definições:

a. Classificação: qualificação das águas com base nos usos


preponderantes (sistema de classes de qualidade);

b. Enquadramento: estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser


alcançado e /ou mantido em um segmento de corpo d’água ao longo do tempo;

c. Condição: qualificação do nível de qualidade apresentado por um


segmento de corpo d’água, num determinado momento, em termos dos usos
possíveis com segurança determinada;

d. Efetivação do Enquadramento: conjunto de medidas necessárias para


colocar e/ou manter a condição de um segmento de corpo d’água em
correspondência com a sua classe.

Art. 2º - As coleções de águas estaduais são classificadas, segundo


seus usos preponderantes, em cinco classes:

I. Classe Especial - águas destinadas:


a. ao abastecimento doméstico, sem prévia ou com simples
desinfecção;

b. àpreservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

II. Classe 1 - águas destinadas:

a. ao abastecimento doméstico, após tratamento simplificado;

b. àproteção das comunidades aquáticas;

c. à recreação de contrato primário (natação, esqui aquático e


mergulho);

d. àirrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se


desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película;

e. àcriação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas à


alimentação humana.

III. Classe 2 - águas destinadas:

a. ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional;

b. àproteção das comunidades aquáticas;

c. àrecreação de contato primário (esqui aquático, natação e mergulho);

d. àirrigação de hortaliças e plantas frutíferas;

e. àcriação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas a


alimentação humana.

IV - Classe 3 - águas destinadas:

a. ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional;

b. àirrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

c. àdessedentação de animais.

V - Classe 4 - águas destinadas:

a. ànavegação;

b. àharmonia paisagística;
c. aos usos menos exigentes.

Parágrafo Único - Não há impedimento no aproveitamento de águas de


melhor qualidade em usos menos exigentes, desde que tais usos não
prejudiquem a qualidade estabelecida para essas águas.

Art. 3º - Para as águas de Classe Especial serão observadas suas


condições naturais, ficando estabelecido, no caso de seu uso para
abastecimento doméstico, sem prévia desinfecção, além dos padrões de
potabilidade, o limite ou condição seguinte:

COLIFORMES: os coliformes totais deverão estar ausentes em qualquer


amostra.

Art. 4º - Para as águas de Classe 1, são estabelecidos os limites e/ou


condições seguintes:

a. materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente


ausentes;

b. óleos e graxas: virtualmente ausentes;

c. substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;

d. corantes artificiais: virtualmente ausentes;

e. substâncias que formem depósitos objetáveis: virtualmente ausentes;

f. coliformes: para o uso de recreação de contato primário deverá ser


obedecido o Art. 20 desta Deliberação Normativa. As águas utilizadas para a
irrigação de hortaliças ou plantas frutíferas que desenvolvam para a irrigação
de hortaliças ou plantas frutíferas que desenvolvam rente ao solo e que são
consumidas cruas, sem remoção de casca ou película, não devem ser poluídas
por excrementos humanos, ressaltando-se a necessidade de inspeções
sanitárias periódicas. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite
de 200 coliformes fecais por 100 milititros, em 80% ou mais de pelo menos 5
amostras mensais colhidas em qualquer mês, no caso de não haver na região
meios disponíveis para o exame de coliformes fecais, o índice limite será de
1000 coliformes totais por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos cinco
amostras mensais colhidas em qualquer mês;

g. DBOs dias a 20ºC até 3 mg/l O2;

h. OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/l O2;

i. turbidez: até 40 unidades nefelométricas de turbidez (UNT);


j. cor: nível de cor natural do corpo de água em até 30 mg/Pt/l;

l. pH: 6,0 a 9,0;

m. substâncias potencialmente prejudiciais (teores máximos):

Alumínio: .................................................................................. 0,1 mg/l Al

Amônia não ionizável:.......................................................... 0,02 mg/l NH

Arsênio:................................................................................. 0,05 mg/l As

Bário: ........................................................................................ 1,0 mg/Ba

Berílio:..................................................................................... 0,1 mg/l Be

Boro: ....................................................................................... 0,75 mg/l B

Benzeno:..................................................................................... 0,01 mg/l

Benzo-a-pireno: .................................................................... 0,00001 mg/l

Cádmio:............................................................................... 0,001 mg/l Cd

Cianetos:.............................................................................. 0,01 mg/l CN

Chumbo: ............................................................................... 0,03 mg/l Pb

Cloretos: ................................................................................. 250 mg/l Cl

Cloro Residual: ...................................................................... 0,01 mg/l Cl

Cobalto: .................................................................................. 0,2 mg/l Co

Cobre: ................................................................................... 0,02 mg/l Cu

Cromo Trivalente: .................................................................... 0,5 mg/l Cr

Cromo Hexavalente: .............................................................. 0,05 mg/l Cr

1,1 dicloroeteno: ..................................................................... 0,0003 mg/l

1,2 dicloroetano: ......................................................................... 0,01 mg/l

Estanho: .................................................................................. 2,0 mg/l Sn


Índice de Fenóis: .................................................... 0,001 mg/l C6 H5 OH

Ferro Solúvel: ......................................................................... 0,3 mg/l Fe

Fluoretos: ................................................................................... 1,4 mg/ F

Fosfato total: ......................................................................... 0,025 mg/l P

Lítio: ..........................................................................................2,5 mg/l Li

Manganês: .............................................................................. 0,1 mg/l Mn

Mercúrio:........................................................................... 0,0002 mg/l Hg

Níquel: .................................................................................. 0,025 mg/ Ni

Nitrato: ........................................................................................10 mg/ N

Nitrito: ........................................................................................1,0 mg/ N

Prata: .................................................................................... 0,01 mg/l Ag

Pentaclorofenol:.......................................................................... 0,01 mg/l

Selênio:................................................................................. 0,01 mg/l Se

Sólidos dissolvidos totais: ............................................................500 mg/l

Substâncias tensoativas que reagem com o azul de metileno: 0,5 mg/l LAS

Sulfatos: ............................................................................. 250 mg/1 SO4

Sulfetos (como H2S não dissociado):.................................... 0,002 mg/l S

Tetracloroeteno:.......................................................................... 0,01 mg/l

Tricloroeteno:.............................................................................. 0,03 mg/l

Tetracloreto de carbono:........................................................... 0,003 mg/l

2,4,6 triclorofenol: ....................................................................... 0,01 mg/l

Urânio total: ............................................................................ 0,02 mg/l U

Vanádio:.................................................................................... 0,1 mg/l V

Zinco: ...................................................................................... 0,18 mg/l V


Aldrin:........................................................................................... 0,01 g/l

Clordano: ..................................................................................... 0,04 g/l

DDT: .......................................................................................... 0,002 g/l

Dieldrin: ..................................................................................... 0,005 g/l

Endrin: ....................................................................................... 0,004 g/l

Endossulfan: .............................................................................. 0,056 g/l

Epóxido de nepctacloro: .............................................................. 0,01 g/l

Heptacloro: .................................................................................. 0,01 g/l

Lindano (gama-BHC): .................................................................. 0,02 g/l

Metoxicloro: ................................................................................. 0,03 g/l

Dodecacloro+Nonacloro: ........................................................... 0,001 g/l

Bifenilas Policloradas (PCB’s): .................................................. 0,001 g/l

Toxafeno: ..................................................................................... 0,01 g/l

Demeton: ....................................................................................... 0,1 g/l

Gution: ....................................................................................... 0,005 g/l

Malation: ........................................................................................ 0,1 g/l

Paration: ...................................................................................... 0,04 g/l

Carbaril: ....................................................................................... 0,02 g/l

Composto: organofosforados e carbamatos totais: 10,0 g/l em Paration

2,4 - D: ........................................................................................... 4,0 g/l

2,4,5 - TP: .................................................................................... 10,0 g/l

2,4,5 - T: ........................................................................................ 2,0 g/l

Art. 5º - Para as águas de Classe 2, são estabelecidos os mesmos


limites ou condições da Classe 1, a exceção dos seguintes:
a. não será permitida a presença de corantes artificiais que não sejam
removidos por processo de coagulação, sedimentação e filtração
convencionais;

b. Coliformes: para uso de recreação de contato primário deverá ser


obedecido o Art. 20 desta Deliberação Normativa. Para os demais usos, não
deverá ser excedido o limite de 1000 coliformes fecais por 100 milititros em
80% ou mias de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês;
no caso de não haver, na região, meios disponíveis para o exame de
coliformes fecais, o índice limite será de até 5000 coliformes totais por 100
mililitros em 80% ou mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em
qualquer mês;

c. cor: até 75 mg Pt/l;

d. turbidez: até 100 UNT;

e. DBO5 dias a 20ºC até 5 mg/l O2;

f. OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/l.

Art. 6º - Para as águas de Classe 3 são estabelecidos limites ou


condições seguintes:

a. materiais flutuantes: inclusive espumas não naturais: virtualmente


ausentes;

b. óleos e graxas: virtualmente ausentes;

c. substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;

d. não será permitida a presença de corantes artificiais que não sejam


removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração
convencionais;

e. substâncias que formem depósitos objetáveis: virtualmente ausentes;

f. número de coliformes fecais até 4000 por 100 mililitros em 80% ou


mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês; no caso
de não haver, na região, meios disponíveis para o exame de coliformes fecais,
o índice limite será de até 20.000 coliformes totais por 100 mililitros em 80% ou
mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês;

g. DBO5 dias a 20ºC até 10 mg/l O2;

h. OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/l O2;


i. turbidez: até 100 UNT;

j. cor: até 75 mg Pt/l;

l. pH: 6,0 a 9,0;

m. substâncias potencialmente prejudiciais (teores máximos):

Alumínio: .................................................................................. 0,1 mg/l Al

Arsênio:................................................................................. 0,05 mg/l As

Bário: ...................................................................................... 1,0 mg/l Ba

Berílio:..................................................................................... 0,1 mg/l Be

Boro: ....................................................................................... 0,75 mg/l B

Benzeno:..................................................................................... 0,01 mg/l

Benzo-a-pireno: .................................................................... 0,00001 mg/l

Cádmio:................................................................................. 0,01 mg/l Cd

Cianetos:................................................................................. 0,2 mg/l Cn

Chumbo: ............................................................................... 0,05 mg/l Pb

Cloretos: ................................................................................. 250 mg/l Cl

Cobalto: .................................................................................. 0,2 mg/l Co

Cobre: ..................................................................................... 0,5 mg/l Cu

Cromo Trivalente: .................................................................... 0,5 mg/l Cr

Cromo Hexavalente: .............................................................. 0,05 mg/l Cr

1,1 dicloroeteno: ..................................................................... 0,0003 mg/l

1,2 dicloroeteno: ......................................................................... 0,01 mg/l

Estanho:.................................................................................. 2,0 mg/l Sn

Índice de fenóis:.......................................................... 0,3 mg/l C6 H5 OH


Ferro solúvel: .......................................................................... 5,0 mg/l Fe

Fluoretos:.................................................................................. 1,4 mg/l F

Fosfato total: ......................................................................... 0,025 mg/l P

Lítio: ........................................................................................ 2,5 mg/l Mn

Manganês: .............................................................................. 0,5 mg/l Mn

Mercúrio:............................................................................. 0,025 mg/l Hg

Níquel: ................................................................................. 0,025 mg/l Ni

Nitrato: ....................................................................................... 10 mg/l N

Nitrito: ........................................................................................... 1,0 mg/l

Nitrogênio amoniacal; ............................................................... 1,0 mg/l N

Prata: .................................................................................... 0,05 mg/l Ag

Pentaclorofenol:.......................................................................... 0,01 mg/l

Selênio:................................................................................. 0,01 mg/l Se

Sólidos dissolvidos totais:............................................................ 500 mg/l

Substâncias tensoativas que reagem com o azul de metileno: .................


...............................................................................................0,5 mg/l LAS

Sulfatos :.............................................................................. 250 mg/l SO4

Sulfetos (como H2S não dissociado):....................................... 0,3 mg/l S

Tetracloroeteno:.......................................................................... 0,01 mg/l

Tricloroeteno:.............................................................................. 0,03 mg/l

Tetracloreto de Carbono:.......................................................... 0,003 mg/l

2,4,6 Triclorofenol:...................................................................... 0,01 mg/l

Urânio total: ............................................................................ 0,02 mg/l U

Vanádio:.................................................................................... 0,1 mg/l V


Zinco: ...................................................................................... 5,0 mg/l Zn

Aldrin:........................................................................................... 0,03 g/l

Clordano: ....................................................................................... 0,3 g/l

DDT: .............................................................................................. 1,0 g/l

Dieldrin: ....................................................................................... 0,03 g/l

Endrin: ........................................................................................... 0,2 g/l

Endossulfan: ................................................................................. 150 g/l

Epóxido de Hepctacloro:................................................................ 0,1 g/l

Heptacloro: .................................................................................... 0,1 g/l

Lindano (gama-BHC): .................................................................... 3,0 g/l

Metoxicloro: ................................................................................. 30,0 g/l

Dodecocloro Nonacloro: ............................................................ 0,001 g/l

Bifenilas Policloradas (PCB’s): .................................................. 0,001 g/l

Toxafeno: ....................................................................................... 5,0 g/l

Demeton: ..................................................................................... 14,0 g/l

Gution: ....................................................................................... 0,005 g/l

Malation: .................................................................................... 100,0 g/l

Paration: ...................................................................................... 35,0 g/l

Carbaril: ....................................................................................... 70,0 g/l

Compostos organofosforados e carbamatos totais em Paration: ..............


....................................................................................................100,0 g/l

2,4 - D: .........................................................................................20,0 g/l

2,4,5 - TP: .................................................................................... 10,0 g/l

2,4,5 - T: ....................................................................................... 2,0 g/l.


Art. 7º - Para as águas de Classe 4, são estabelecidos os limites ou
condições seguintes:

a. materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente


ausentes;

b. odor e aspecto: não objetáveis;

c. óleos e graxas: toleram-se efeitos iridescentes;

d. substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o


assoreamento de canais de navegação: virtualmente ausentes;

e. índice de fenóis até 1,0 mg/l C6 H5 OH;

f. OD superior a 2,0 mg/l O2, em qualquer amostra;

g. pH: 6,0 a 9,0.

Art. 8º - Os padrões de qualidade das águas estabelecidas nesta


Deliberação Normativa constituem-se em limites individuais para cada
substância. Considerando eventuais ações sinérgicas entre as mesmas, estas,
ou outras não especificadas, não poderão conferir às águas características
capazes de causar efeitos letais ou alteração de comportamento, reprodução
ou fisiologia da vida.

§ 1º - As substâncias potencialmente prejudiciais a que se refere esta


Deliberação Normativa deverão ser investigadas sempre que houver suspeita
de sua presença.

§ 2º - Nos casos onde a metodologia analítica disponível for insuficiente


para quantificar concentrações dessas substâncias nas águas, os sedimentos
e/ou biota aquática deverão ser investigados quanto àsua presença eventual.

Art. 9º - Os limites de DBO, estabelecidos para as Classes 2 e 3,


poderão ser elevados, caso o estudo da capacidade de autodepuração do
corpo receptor demonstre que os teores mínimos de OD, previstos, não serão
desobedecidos em nenhum ponto do mesmo, nas condições críticas de vazão
(Qcrit=Q7, 10, onde Q7, é média das mínimas de 7 dias consecutivos em 10
anos de recorrência de cada seção do corpo receptor).

Art. 10 - Para os efeitos desta Deliberação Normativa consideram-se


“virtualmente ausentes” e “não objetáveis”, teores desprezíveis de poluentes,
cabendo àCOPAM, quando necessário, quantificá-los para cada caso.

Art. 11 - Tendo em vista os usos fixados para as Classes, a COPAM


enquadrará as coleções de água e estabelecerá programas permanentes de
acompanhamento de sua condição, bem como de controle de poluição, para a
efetivação dos respectivos enquadramentos, observado o seguinte:

a. o corpo de água que, na data de enquadramento, apresentar


condição em desacordo com sua Classe (qualidade inferior à estabelecida),
será objeto de providências, com prazo determinado, visando a recuperação,
excetuados os parâmetros que excedem os limites devido a condições
naturais;

b. os corpos de água já enquadrados na legislação anterior à data de


publicação desta Deliberação, serão objeto de reestudo, a fim de a ela se
adaptarem;

c. enquanto não forem feitos os enquadramentos, as águas serão


consideradas Classe 2 e aquelas já enquadradas na legislação anterior
permanecerão na mesma Classe, até o reenquadramento;

d. os corpos de água intermitentes terão suas condições específicas de


qualidade definidas pela COPAM.

Lançamento de Efluentes nas Coleções de Águas

Art. 12 - Nas águas de Classe Especial não serão tolerados


lançamentos de águas residuárias, domésticas e industriais, lixo e outros
resíduos sólidos, substâncias potencialmente tóxicas, defensivos agrícolas,
fertilizantes químicos e outros poluentes, mesmo tratados.

Parágrafo Único - A utilização de águas de Classe Especial para o


abastecimento doméstico, deverá ser submetida a uma inspeção sanitária
preliminar.

Art. 13 - Nas águas das Classes 1 a 4 serão tolerados lançamentos de


despejos, desde que, além de atenderem ao disposto no Art. 15 desta
Deliberação Normativa, não venham a fazer com que os limites estabelecidos
para as respectivas classes sejam ultrapassados;

Art. 14 - Não será permitido o lançamento de poluentes nos mananciais


sub-superficiais.

Art. 15 - Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser


lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, desde que obedeçam
às seguintes condições:

a. pH entre 6,5 e 8,5 (+/- 0,5);

b. temperatura: inferior a 40ºC, sendo que a elevação de temperatura


do corpo receptor não deverá exceder a 3ºC;
c. materiais sedimentáveis: até 1 ml/litro em teste de 1 hora em cone
Imhoff. Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação
seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente
ausentes;

d. regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vezes a vazão


média do período de atividade diária do agente poluidor;

e. óleos e graxas:

. óleos minerais até 20 mg/l

. óleos vegetais e gorduras animais até 50 mg/l;

f. ausência de materiais flutuantes;

g. DBOs dias a 20ºC: no máximo de 60 mg/l (este limite só poderá ser


ultrapassado no caso do sistema de tratamento de águas residuárias reduzir a
carga poluidora de efluente, em termos de DBOs dias a 20ºC do despejo, em,
no mínimo de 85%);

h. DQO - no máximo de 90 mg/l;

i. sólidos em suspensão:

. uma concentração máxima diária de 100 mg/l

. uma concentração média aritmética mensal de 60 mg/l;

Bário: ...................................................................................... 5,0 mg/l Ba

Boro: ......................................................................................... 5,0 mg/l B

Cádmio:................................................................................... 0,1 mg/l Cd

Clanetos:.............................................................................. 0,2 mg/lo CN

Chumbo: ................................................................................. 0,1 mg/l Pb

Cobre: ..................................................................................... 0,5 mg/l Cu

Cromo Trivalente: .................................................................... 1,0 mg/l Cr

Estanho:.................................................................................. 4,0 mg/l Sn

Índice de fenóis:............................................................ 0,2 mg/l C6H5OH


Ferro solúvel: ........................................................................ 10,0 mg/l Fe

Fluoretos:................................................................................ 10,0 mg/l F

Manganês solúvel:.................................................................. 1,0 mg/l Mn

Mercúrio:............................................................................... 0,01 mg/l Hg

Metais tóxicos totais: .................................................................... 3,0 mg/l

Níquel: ..................................................................................... 1,0 mg/l Ni

Prata: ...................................................................................... 0,1 mg/l Ag

Selênio:................................................................................. 0,02 mg/l Se

Sulfetos:.................................................................................... 0,5 mg/l S

Sulfitos: ................................................................................ 1,0 mg/l SO3

Zinco: ...................................................................................... 5,0 mg/l Zn

Compostos organofosforados e carbamatos totais:. 0,1 mg/l em Paration

Sulfeto de carbono:....................................................................... 1,0 mg/l

Tricloroeteno:................................................................................ 1,0 mg/l

Clorofórmio: .................................................................................. 1,0 mg/l

Tetracloreto de carbono:............................................................... 1,0 mg/l

Dicloroeteno:................................................................................. 1,0 mg/l

Aldrin, dieldrin, DDT e heptacloro: ......................... virtualmente ausentes

Compostos organoclorados não listados acima (pesticidas, solventes,


etc.): ......................................................................................................0,05 mg/l

Detergentes: ................................................................................. 2,0 mg/l

Outras substâncias, em concentrações que poderiam ser prejudiciais: de


acordo com limites a serem fixados pela COPAM;
l. tratamento especial, se provierem de hospitais e outros
estabelecimentos nos quais haja despejos infectados com microorganismos
patogênicos.

Art. 16 - Para o lançamento, não será permitida a diluição de efluentes


industrias com águas não poluídas, tais como água de abastecimento e água
de refrigeração.

Parágrafo Único - Na hipótese de fonte de poluição geradora de


diferentes despejos ou emissões individualizadas, os limites constantes desta
Norma, aplicar-se-ão a cada um deles ou ao conjunto após a mistura, a critério
da COPAM.

Art. 17 - Os efluentes não poderão conferir ao corpo receptor


características em desacordo com o seu enquadramento nos termos desta
Deliberação Normativa.

Parágrafo Único - Resguardados os padrões de qualidade do corpo


receptor, demonstrado por estudo de impacto ambiental realizado pela
entidade responsável pela emissão, a COPAM poderá autorizar lançamentos
acima dos limites estabelecidos no Art. 15, fixando o tipo de tratamento e as
condições para esse lançamento.

Art. 18 - Os métodos de coleta e análise das águas devem ser os


especificados nas normas aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO ou, na ausência, delas, no
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater APHA-
AWWA-WPCF, última edição, ressalvado o disposto no Art. 8º . O índice de
fenóis deverá ser determinado conforme o método 51OB do Standard Methods
for the Examination of Water and Wastewater, 16ª edição de 1985.

Art. 19 - As fontes de poluição que, na data da publicação desta


Deliberação Normativa, possuírem instalações ou projetos de tratamento de
seus despejos, aprovados pela COPAM que atendam à legislação
anteriormente em vigor, terão prazo de 3 (três) anos, prorrogáveis até 5 (cinco)
anos, a critério da COPAM, para se enquadrarem nas exigências desta
Deliberação Normativa.

Parágrafo Único - As instalações de tratamento das fontes de que trata


o Artigo, deverão prosseguir em operação, com capacidade, condições de
funcionamento e demais características para as quais foram aprovadas, até
que se cumpram as disposições desta Deliberação Normativa.

Art. 20 - As águas destinadas à balneabilidade (recreação de contato


primário), serão enquadradas e terão sua condição avaliada nas categorias
EXCELENTE, MUITO BOA, SATISFATÓRIA e IMPRÓPRIA, da seguinte forma:
a. EXCELENTE (3 estrelas): quando em 80% ou mais de um conjunto
de amostras obtidas em cada uma das 5 semanas anteriores, colhidas no
mesmo local, houver, no máximo 250 coliformes fecais por 100 mililitros ou
1.250 coliformes totais por 100 mililitros;

b. MUITO BOA (2 estrelas): quando em 80% ou mais de um conjunto de


amostras obtidas em cada uma das 5 semanas anteriores, colhidas no mesmo
local, houver no máximo, 500 coliformes fecais por 100 mililitros ou 2.500
coliformes totais por 100 mililitros;

c. SATISFATÓRIA ( 1 estrela): quando em 80% ou mais de um conjunto


de amostras obtidas em cada uma das 5 semanas anteriores, colhidas no
mesmo local, houver no máximo 1.000 coliformes fecais por 100 mililitros ou
5.000 coliformes totais por 100 mililitros;

d. IMPRÓPRIA: quando ocorrer, no trecho considerado, qualquer uma


das seguintes circunstâncias:

1. não enquadramento em nenhuma das categorias anteriores, por


terem ultrapassado os índices bacteriológicos nelas admitidos;

2. ocorrência, na região, de incidência relativamente elevada ou


anormal de enfermidades transmissíveis por via hídrica, a critério das
autoridades sanitárias;

3. sinais de poluição por esgotos, perceptíveis pelo olfato ou visão;

4. recebimento regular, intermitente ou esporádico, de esgotos por


intermédio de valas, corpos d’água ou canalizações, inclusive galerias de
águas pluviais, mesmo que seja de forma diluída;

5. presença de resíduos ou despejos sólidos ou líquidos, inclusive


óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou
tornar desagradável a recreação;

6. pH menor que 5 ou maior que 8,5;

7. presença, na água, de parasitas que afetam o homem ou a


constatação da existência de seus hospedeiros intermediários infectados;

8. presença, nas águas de moluscos transmissores potenciais de


esquistossomose, caso em que os avisos de interdição ou alerta deverão
mencionar especificamente esse risco sanitário;

9. outros fatores que contra-indiquem, temporariamente ou


permanentemente, o exercício da recreação de contato primário.
Art. 21 - No acompanhamento da condição dos balneários as categorias
EXCELENTE, MUITA BOA e SATISFATÓRIA, poderão ser reunidas numa
única categoria denominada PRÓPRIA.

Art. 22 - Se a deterioração da qualidade dos balneários ficar


caracterizada como decorrência da lavagem de vias públicas pelas águas da
chuva, ou como consequência de outra causa qualquer, essa circunstância
deverá ser mencionada no Boletim de condição dos balneários.

Art. 23 - A coleta de amostras será feita, preferencialmente, nos dias de


maior afluência do público aos balneários.

Art. 24 - Os resultados dos exames poderão, também, se referir a


períodos menores que 5 semanas, desde que cada um desses períodos seja
especificado e, tenham sido colhidas e examinadas, pelo menos 5 (cinco)
amostras durante o tempo mencionado.

Art. 25 - Os exames de colimetria, previstos nesta Deliberação


Normativa, sempre que possível, serão feitos para a identificação e contagem
de coliformes fecais, sendo permitida a utilização de índices expressos em
coliformes totais, se a identificação e contagem forem difíceis ou impossíveis.

Art. 26 - Os balneários deverão ser interditados se os órgãos de


controle ambiental ou sanitário estaduais ou municipais constatarem que a má
qualidade das águas de recreação primária justifica a medida.

Art. 27 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, sempre que houver


afluência ou extravasamento de esgotos capaz de oferecer sério perigo em
balneários, o trecho afetado deverá ser sinalizado, pelos órgãos competentes,
com bandeiras vermelhas contendo a palavra POLUÍDA em cor negra.

Disposições Gerais

Art. 28 - As fontes, efetiva ou potencialmente, poluidoras das águas


devem informar, ao órgão de controle ambiental, o volume e o tipo de seus
efluentes,j os equipamentos e dispositivos antipoluidores existentes, bem como
seus planos de emergência sob pena das sanções cabíveis.

Art. 29 - Os casos omissos serão decididos com base em padrões


recomendados ou aceitos internacionalmente, ou do país de origem da
tecnologia a que se refere.

Art. 30 - Esta Deliberação Normativa entra em vigor na data de sua


publicação.
Art. 31 - Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a
Deliberação Normativa nº 03 e a Deliberação Normativa nº 04, de 26 de maio
de 1981.

Belo Horizonte, 16 de dezembro de 1986.

Walfrido Silvino dos Mares Guia Neto


Presidente da COPAM
PORTARIA Nº 518/GM Em 25 de março de 2004
Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e
dá outras providências.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, INTERINO, no uso de suas atribuições e
considerando o disposto no Art. 2º do Decreto nº 79.367, de 9 de março de
1977,

RESOLVE:

Art. 1º Aprovar a Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano, na


forma do Anexo desta Portaria, de uso obrigatório em todo território nacional.

Art. 2º Fica estabelecido o prazo máximo de 12 meses, contados a partir da


publicação desta Portaria, para que as instituições ou órgãos aos quais esta
Norma se aplica, promovam as adequações necessárias a seu cumprimento, no
que se refere ao tratamento por filtração de água para consumo humano suprida
por manancial superficial e distribuída por meio de canalização e da obrigação
do monitoramento de cianobactérias e cianotoxinas.

Art. 3º É de responsabilidade da União, dos Estados, dos Municípios e do


Distrito Federal a adoção das medidas necessárias para o fiel cumprimento
desta Portaria.

Art. 4º O Ministério da Saúde promoverá, por intermédio da Secretaria de


Vigilância em Saúde – SVS, a revisão da Norma de Qualidade da Água para
Consumo Humano estabelecida nesta Portaria, no prazo de 5 anos ou a
qualquer tempo, mediante solicitação devidamente justificada de órgãos
governamentais ou não governamentais de reconhecida capacidade técnica nos
setores objeto desta regulamentação.

Art. 5º Fica delegada competência ao Secretário de Vigilância em Saúde para


editar, quando necessário, normas regulamentadoras desta Portaria.

Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.


A15-1
Art. 7º Fica revogada a Portaria nº 1469, de 29 de dezembro de 2000, publicada
no DOU nº 1-E de 2 de janeiro de 2001 , Seção 1, página nº 19.

ASS GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS

NORMA DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Capítulo I
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º Esta Norma dispõe sobre procedimentos e responsabilidades inerentes


ao controle e à vigilância da qualidade da água para consumo humano,
estabelece seu padrão de potabilidade e dá outras providências.
Art. 2º Toda a água destinada ao consumo humano deve obedecer ao padrão
de potabilidade e está sujeita à vigilância da qualidade da água.

Art. 3º Esta Norma não se aplica às águas envasadas e a outras, cujos usos e
padrões de qualidade são estabelecidos em legislação específica.

Capítulo II
DAS DEFINIÇÕES

Art. 4º Para os fins a que se destina esta Norma, são adotadas as seguintes
definições:

I - água potável – água para consumo humano cujos parâmetros


microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de
potabilidade e que não ofereça riscos à saúde;

II - sistema de abastecimento de água para consumo humano – instalação


composta por conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, destinada à
produção e à distribuição canalizada de água potável para populações, sob a
responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de
concessão ou permissão;

III - solução alternativa de abastecimento de água para consumo humano – toda


modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de
abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte, poço comunitário,
distribuição por veículo transportador, instalações condominiais horizontal e
vertical;

IV - controle da qualidade da água para consumo humano – conjunto de


atividades exercidas de forma contínua pelos responsáveis pela operação de
sistema ou solução alternativa de abastecimento de água, destinadas a verificar

A15-2
se a água fornecida à população é potável, assegurando a manutenção desta
condição;

V - vigilância da qualidade da água para consumo humano – conjunto de ações


adotadas continuamente pela autoridade de saúde pública, para verificar se a
água consumida pela população atende à esta Norma e para avaliar os riscos
que os sistemas e as soluções alternativas de abastecimento de água
representam para a saúde humana;

VI - coliformes totais (bactérias do grupo coliforme) - bacilos gram-negativos,


aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, oxidase-
negativos, capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou agentes
tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácido, gás e aldeído a
35,0 ± 0,5oC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da enzima ß -
galactosidase. A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros
Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros
gêneros e espécies pertençam ao grupo;

VII - coliformes termotolerantes - subgrupo das bactérias do grupo coliforme que


fermentam a lactose a 44,5 ± 0,2oC em 24 horas; tendo como principal
representante a Escherichia coli, de origem exclusivamente fecal;

VIII - Escherichia coli - bactéria do grupo coliforme que fermenta a lactose e


manitol, com produção de ácido e gás a 44,5 ± 0,2oC em 24 horas, produz indol
a partir do triptofano, oxidase negativa, não hidrolisa a uréia e apresenta
atividade das enzimas ß galactosidase e ß glucoronidase, sendo considerada o
mais específico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença
de organismos patogênicos;

IX - contagem de bactérias heterotróficas - determinação da densidade de


bactérias que são capazes de produzir unidades formadoras de colônias (UFC),
na presença de compostos orgânicos contidos em meio de cultura apropriada,
sob condições pré-estabelecidas de incubação: 35,0, ± 0,5oC por 48 horas;

X - cianobactérias - microorganismos procarióticos autotróficos, também


denominados como cianofíceas (algas azuis), capazes de ocorrer em qualquer
manancial superficial especialmente naqueles com elevados níveis de nutrientes
(nitrogênio e fósforo), podendo produzir toxinas com efeitos adversos à saúde; e

XI - cianotoxinas - toxinas produzidas por cianobactérias que apresentam efeitos


adversos à saúde por ingestão oral, incluindo:

a) microcistinas - hepatotoxinas heptapeptídicas cíclicas produzidas por


cianobactérias, com efeito potente de inibição de proteínas fosfatases dos tipos
1 e 2A e promotoras de tumores;

A15-3
b) cilindrospermopsina - alcalóide guanidínico cíclico produzido por
cianobactérias, inibidor de síntese protéica, predominantemente hepatotóxico,
apresentando também efeitos citotóxicos nos rins, baço, coração e outros
órgãos; e

c) saxitoxinas - grupo de alcalóides carbamatos neurotóxicos produzido por


cianobactérias, não sulfatados (saxitoxinas) ou sulfatados (goniautoxinas e C-
toxinas) e derivados decarbamil, apresentando efeitos de inibição da condução
nervosa por bloqueio dos canais de sódio.

Capítulo III
DOS DEVERES E DAS RESPONSABILIDADES

Seção I
Do Nível Federal

Art. 5º São deveres e obrigações do Ministério da Saúde, por intermédio da


Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS:

I - promover e acompanhar a vigilância da qualidade da água, em articulação


com as Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal e com os
responsáveis pelo controle de qualidade da água, nos termos da legislação que
regulamenta o SUS;

II - estabelecer as referências laboratoriais nacionais e regionais, para dar


suporte às ações de maior complexidade na vigilância da qualidade da água
para consumo humano;

III - aprovar e registrar as metodologias não contempladas nas referências


citadas no artigo 17 desta Norma;

IV - definir diretrizes específicas para o estabelecimento de um plano de


amostragem a ser implementado pelos Estados, Distrito Federal ou Municípios,
no exercício das atividades de vigilância da qualidade da água, no âmbito do
Sistema Único de Saúde – SUS; e

V - executar ações de vigilância da qualidade da água, de forma complementar,


em caráter excepcional, quando constatada, tecnicamente, insuficiência da ação
estadual, nos termos da regulamentação do SUS.

Seção II
Do Nível Estadual e Distrito Federal

Art. 6º São deveres e obrigações das Secretarias de Saúde dos Estados e do


Distrito Federal:

A15-4
I - promover e acompanhar a vigilância da qualidade da água em sua área de
competência, em articulação com o nível municipal e os responsáveis pelo
controle de qualidade da água, nos termos da legislação que regulamenta o
SUS;

II - garantir, nas atividades de vigilância da qualidade da água, a implementação


de um plano de amostragem pelos municípios, observadas as diretrizes
específicas a serem elaboradas pela SVS/MS;

III - estabelecer as referências laboratoriais estaduais e do Distrito Federal para


dar suporte às ações de vigilância da qualidade da água para consumo humano;
e

IV - executar ações de vigilância da qualidade da água, de forma complementar,


em caráter excepcional, quando constatada, tecnicamente, insuficiência da ação
municipal, nos termos da regulamentação do SUS.

Seção III
Do Nível Municipal

Art. 7º São deveres e obrigações das Secretarias Municipais de Saúde:

I - exercer a vigilância da qualidade da água em sua área de competência, em


articulação com os responsáveis pelo controle de qualidade da água, de acordo
com as diretrizes do SUS;

II - sistematizar e interpretar os dados gerados pelo responsável pela operação


do sistema ou solução alternativa de abastecimento de água, assim como, pelos
órgãos ambientais e gestores de recursos hídricos, em relação às características
da água nos mananciais, sob a perspectiva da vulnerabilidade do abastecimento
de água quanto aos riscos à saúde da população;

III - estabelecer as referências laboratoriais municipais para dar suporte às ações


de vigilância da qualidade da água para consumo humano;

IV - efetuar, sistemática e permanentemente, avaliação de risco à saúde humana


de cada sistema de abastecimento ou solução alternativa, por meio de
informações sobre:

a) a ocupação da bacia contribuinte ao manancial e o histórico das


características de suas águas;

b) as características físicas dos sistemas, práticas operacionais e de controle da


qualidade da água;

c) o histórico da qualidade da água produzida e distribuída; e


A15-5
d) a associação entre agravos à saúde e situações de vulnerabilidade do
sistema.

V - auditar o controle da qualidade da água produzida e distribuída e as práticas


operacionais adotadas;

VI - garantir à população informações sobre a qualidade da água e riscos à


saúde associados, nos termos do inciso VI do artigo 9 desta Norma;

VII - manter registros atualizados sobre as características da água distribuída,


sistematizados de forma compreensível à população e disponibilizados para
pronto acesso e consulta pública;

VIII - manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às


características da água e para a adoção das providências pertinentes;

IX - informar ao responsável pelo fornecimento de água para consumo humano


sobre anomalias e não conformidades detectadas, exigindo as providências para
as correções que se fizerem necessárias;

X - aprovar o plano de amostragem apresentado pelos responsáveis pelo


controle da qualidade da água de sistema ou solução alternativa de
abastecimento de água, que deve respeitar os planos mínimos de amostragem
expressos nas Tabelas 6, 7, 8 e 9;

XI - implementar um plano próprio de amostragem de vigilância da qualidade da


água, consoante diretrizes específicas elaboradas pela SVS; e

XII - definir o responsável pelo controle da qualidade da água de solução


alternativa.

Seção IV
Do Responsável pela Operação de Sistema e/ou Solução Alternativa

Art. 8º Cabe aos responsáveis pela operação de sistema ou solução alternativa


de abastecimento de água, exercer o controle da qualidade da água.
Parágrafo único. Em caso de administração, em regime de concessão ou
permissão do sistema de abastecimento de água, é a concessionária ou a
permissionária a responsável pelo controle da qualidade da água.

Art. 9º Aos responsáveis pela operação de sistema de abastecimento de água


incumbe:

I - operar e manter sistema de abastecimento de água potável para a população


consumidora, em conformidade com as normas técnicas aplicáveis publicadas

A15-6
pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas e com outras normas e
legislações pertinentes;

II - manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, por meio de:

a) controle operacional das unidades de captação, adução, tratamento,


reservação e distribuição;

b) exigência do controle de qualidade, por parte dos fabricantes de produtos


químicos utilizados no tratamento da água e de materiais empregados na
produção e distribuição que tenham contato com a água;

c) capacitação e atualização técnica dos profissionais encarregados da operação


do sistema e do controle da qualidade da água; e

d) análises laboratoriais da água, em amostras provenientes das diversas partes


que compõem o sistema de abastecimento.

III - manter avaliação sistemática do sistema de abastecimento de água, sob a


perspectiva dos riscos à saúde, com base na ocupação da bacia contribuinte ao
manancial, no histórico das características de suas águas, nas características
físicas do sistema, nas práticas operacionais e na qualidade da água distribuída;

IV - encaminhar à autoridade de saúde pública, para fins de comprovação do


atendimento a esta Norma, relatórios mensais com informações sobre o controle
da qualidade da água, segundo modelo estabelecido pela referida autoridade;

V - promover, em conjunto com os órgãos ambientais e gestores de recursos


hídricos, as ações cabíveis para a proteção do manancial de abastecimento e de
sua bacia contribuinte, assim como efetuar controle das características das suas
águas, nos termos do artigo 19 desta Norma, notificando imediatamente a
autoridade de saúde pública sempre que houver indícios de risco à saúde ou
sempre que amostras coletadas apresentarem resultados em desacordo com os
limites ou condições da respectiva classe de enquadramento, conforme definido
na legislação específica vigente;

VI - fornecer a todos os consumidores, nos termos do Código de Defesa do


Consumidor, informações sobre a qualidade da água distribuída, mediante envio
de relatório, dentre outros mecanismos, com periodicidade mínima anual e
contendo, no mínimo, as seguintes informações:

a) descrição dos mananciais de abastecimento, incluindo informações sobre sua


proteção, disponibilidade e qualidade da água;

b) estatística descritiva dos valores de parâmetros de qualidade detectados na


água, seu significado, origem e efeitos sobre a saúde; e
A15-7
c) ocorrência de não conformidades com o padrão de potabilidade e as medidas
corretivas providenciadas.

VII - manter registros atualizados sobre as características da água distribuída,


sistematizados de forma compreensível aos consumidores e disponibilizados
para pronto acesso e consulta pública;

VIII - comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública e informar,


adequadamente, à população a detecção de qualquer anomalia operacional no
sistema ou não conformidade na qualidade da água tratada, identificada como
de risco à saúde, adotando-se as medidas previstas no artigo 29 desta Norma; e

IX - manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às


características da água e para a adoção das providências pertinentes.

Art. 10. Ao responsável por solução alternativa de abastecimento de água, nos


termos do inciso XII do artigo 7 desta Norma, incumbe:

I - requerer, junto à autoridade de saúde pública, autorização para o


fornecimento de água apresentando laudo sobre a análise da água a ser
fornecida, incluindo os parâmetros de qualidade previstos nesta Portaria,
definidos por critério da referida autoridade;

II - operar e manter solução alternativa que forneça água potável em


conformidade com as normas técnicas aplicáveis, publicadas pela ABNT -
Associação Brasileira de Normas Técnicas, e com outras normas e legislações
pertinentes;

III - manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, por meio de


análises laboratoriais, nos termos desta Portaria e, a critério da autoridade de
saúde pública, de outras medidas conforme inciso II do artigo anterior;

IV - encaminhar à autoridade de saúde pública, para fins de comprovação,


relatórios com informações sobre o controle da qualidade da água, segundo
modelo e periodicidade estabelecidos pela referida autoridade, sendo no mínimo
trimestral;

V - efetuar controle das características da água da fonte de abastecimento, nos


termos do artigo 19 desta Norma, notificando, imediatamente, à autoridade de
saúde pública sempre que houver indícios de risco à saúde ou sempre que
amostras coletadas apresentarem resultados em desacordo com os limites ou
condições da respectiva classe de enquadramento, conforme definido na
legislação específica vigente;

A15-8
VI - manter registros atualizados sobre as características da água distribuída,
sistematizados de forma compreensível aos consumidores e disponibilizados
para pronto acesso e consulta pública;

VII - comunicar, imediatamente, à autoridade de saúde pública competente e


informar, adequadamente, à população a detecção de qualquer anomalia
identificada como de risco à saúde, adotando-se as medidas previstas no artigo
29; e

VIII - manter mecanismos para recebimento de queixas referentes às


características da água e para a adoção das providências pertinentes.

Capítulo IV
DO PADRÃO DE POTABILIDADE

Art.11. A água potável deve estar em conformidade com o padrão microbiológico


conforme Tabela 1, a seguir:

Tabela 1 - Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo


humano
(1)
PARÂMETRO VMP
(2)
Água para consumo humano
Escherichia coli ou coliformes Ausência em 100ml
(3)
termotolerantes
Água na saída do tratamento
Coliformes totais Ausência em 100ml
Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)
Escherichia coli ou coliformes Ausência em 100ml
(3)
termotolerantes
Coliformes totais Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por mês:
Ausência em 100ml em 95% das amostras examinadas no
mês;
Sistemas que analisam menos de 40 amostras por mês:
Apenas uma amostra poderá apresentar mensalmente
resultado positivo em 100ml
NOTAS:
(1) Valor Máximo Permitido.
(2) água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais como
poços, minas, nascentes, dentre outras.
(3) a detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.

§ 1º No controle da qualidade da água, quando forem detectadas amostras com


resultado positivo para coliformes totais, mesmo em ensaios presuntivos, novas
amostras devem ser coletadas em dias imediatamente sucessivos até que as
novas amostras revelem resultado satisfatório.

§ 2º Nos sistemas de distribuição, a recoleta deve incluir, no mínimo, três


amostras simultâneas, sendo uma no mesmo ponto e duas outras localizadas a
montante e a jusante.

A15-9
§ 3º Amostras com resultados positivos para coliformes totais devem ser
analisadas para Escherichia coli e, ou, coliformes termotolerantes, devendo,
neste caso, ser efetuada a verificação e confirmação dos resultados positivos.

§ 4º O percentual de amostras com resultado positivo de coliformes totais em


relação ao total de amostras coletadas nos sistemas de distribuição deve ser
calculado mensalmente, excluindo as amostras extras (recoleta).

§ 5º O resultado negativo para coliformes totais das amostras extras (recoletas)


não anula o resultado originalmente positivo no cálculo dos percentuais de
amostras com resultado positivo.

§ 6º Na proporção de amostras com resultado positivo admitidas mensalmente


para coliformes totais no sistema de distribuição, expressa na Tabela 1, não são
tolerados resultados positivos que ocorram em recoleta, nos termos do § 1º
deste artigo.

§ 7º Em 20% das amostras mensais para análise de coliformes totais nos


sistemas de distribuição, deve ser efetuada a contagem de bactérias
heterotróficas e, uma vez excedidas 500 unidades formadoras de colônia (UFC)
por ml, devem ser providenciadas imediata recoleta, inspeção local e, se
constatada irregularidade, outras providências cabíveis.

§ 8º Em complementação, recomenda-se a inclusão de pesquisa de organismos


patogênicos, com o objetivo de atingir, como meta, um padrão de ausência,
dentre outros, de enterovírus, cistos de Giardia spp e oocistos de
Cryptosporidium sp.

§ 9º Em amostras individuais procedentes de poços, fontes, nascentes e outras


formas de abastecimento sem distribuição canalizada, tolera-se a presença de
coliformes totais, na ausência de Escherichia coli e, ou, coliformes
termotolerantes, nesta situação devendo ser investigada a origem da ocorrência,
tomadas providências imediatas de caráter corretivo e preventivo e realizada
nova análise de coliformes.

Art. 12. Para a garantia da qualidade microbiológica da água, em


complementação às exigências relativas aos indicadores microbiológicos, deve
ser observado o padrão de turbidez expresso na Tabela 2, abaixo:

Tabela 2 - Padrão de turbidez para água pós-filtração ou pré-desinfecção


(1)
TRATAMENTO DA ÁGUA VMP
(2)
Desinfecção (água subterrânea) 1,0 UT em 95% das amostras
(2)
Filtração rápida (tratamento completo ou filtração direta) 1,0 UT
(2)
Filtração lenta 2,0 UT em 95% das amostras
NOTAS:
(1) Valor máximo permitido.

A15-10
(2) Unidade de turbidez.

§ 1º Entre os 5% dos valores permitidos de turbidez superiores aos VMP


estabelecidos na Tabela 2, o limite máximo para qualquer amostra pontual deve
ser de 5,0 UT, assegurado, simultaneamente, o atendimento ao VMP de 5,0 UT
em qualquer ponto da rede no sistema de distribuição.

§ 2º Com vistas a assegurar a adequada eficiência de remoção de enterovírus,


cistos de Giardia spp e oocistos de Cryptosporidium sp., recomenda-se,
enfaticamente, que, para a filtração rápida, se estabeleça como meta a obtenção
de efluente filtrado com valores de turbidez inferiores a 0,5 UT em 95% dos
dados mensais e nunca superiores a 5,0 UT.

§ 3º O atendimento ao percentual de aceitação do limite de turbidez, expresso


na Tabela 2, deve ser verificado, mensalmente, com base em amostras no
mínimo diárias para desinfecção ou filtração lenta e a cada quatro horas para
filtração rápida, preferivelmente, em qualquer caso, no efluente individual de
cada unidade de filtração.

Art. 13. Após a desinfecção, a água deve conter um teor mínimo de cloro
residual livre de 0,5 mg/L, sendo obrigatória a manutenção de, no mínimo, 0,2
mg/L em qualquer ponto da rede de distribuição, recomendando-se que a
cloração seja realizada em pH inferior a 8,0 e tempo de contato mínimo de 30
minutos.

Parágrafo único. Admite-se a utilização de outro agente desinfetante ou outra


condição de operação do processo de desinfecção, desde que fique
demonstrado pelo responsável pelo sistema de tratamento uma eficiência de
inativação microbiológica equivalente à obtida com a condição definida neste
artigo.

Art. 14. A água potável deve estar em conformidade com o padrão de


substâncias químicas que representam risco para a saúde expresso na Tabela 3,
a seguir:

Tabela 3 - Padrão de potabilidade para substâncias químicas que


representam risco à saúde
PARÂMETRO Unidade VMP
INORGÂNICAS
Antimônio mg/L 0,005
Arsênio mg/L 0,01
Bário mg/L 0,7
Cádmio mg/L 0,005
Cianeto mg/L 0,07
Chumbo mg/L 0,01
Cobre mg/L 2
Cromo mg/L 0,05
(2)
Fluoreto mg/L 1,5
A15-11
Mercúrio mg/L 0,001
Nitrato (como N) mg/L 10
Nitrito (como N) mg/L 1
Selênio mg/L 0,01
ORGÂNICAS
Acrilamida µg/L 0,5
Benzeno µg/L 5
Benzo[a]pireno µg/L 0,7
Cloreto de Vinila µg/L 5
1,2 Dicloroetano µg/L 10
1,1 Dicloroeteno µg/L 30
Diclorometano µg/L 20
Estireno µg/L 20
Tetracloreto de Carbono µg/L 2
Tetracloroeteno µg/L 40
Triclorobenzenos µg/L 20
Tricloroeteno µg/L 70
AGROTÓXICOS
Alaclor µg/L 20,0
Aldrin e Dieldrin µg/L 0,03
Atrazina µg/L 2
Bentazona µg/L 300
Clordano (isômeros) µg/L 0,2
2,4 D µg/L 30
DDT (isômeros) µg/L 2
Endossulfan µg/L 20
Endrin µg/L 0,6
Glifosato µg/L 500
Heptacloro e Heptacloro epóxido µg/L 0,03
Hexaclorobenzeno µg/L 1
Lindano (γ-BHC) µg/L 2
Metolacloro µg/L 10
Metoxicloro µg/L 20
Molinato µg/L 6
Pendimetalina µg/L 20
Pentaclorofenol µg/L 9
Permetrina µg/L 20
Propanil µg/L 20
Simazina µg/L 2
Trifluralina µg/L 20
CIANOTOXINAS
(3)
Microcistinas µg/L 1,0
DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO
Bromato mg/L 0,025
Clorito mg/L 0,2
(4)
Cloro livre mg/L 5
Monocloramina mg/L 3
2,4,6 Triclorofenol mg/L 0,2
Trihalometanos Total mg/L 0,1
NOTAS:
(1) Valor Máximo Permitido.
(2) Os valores recomendados para a concentração de íon fluoreto devem observar à legislação
específica vigente relativa à fluoretação da água, em qualquer caso devendo ser respeitado o VMP
desta Tabela.

A15-12
(3) É aceitável a concentração de até 10 µg/L de microcistinas em até 3 (três) amostras,
consecutivas ou não, nas análises realizadas nos últimos 12 (doze) meses.
(4) Análise exigida de acordo com o desinfetante utilizado.

§ 1º Recomenda-se que as análises para cianotoxinas incluam a determinação


de cilindrospermopsina e saxitoxinas (STX), observando, respectivamente, os
valores limites de 15,0 µg/L e 3,0 µg/L de equivalentes STX/L.

§ 2º Para avaliar a presença dos inseticidas organofosforados e carbamatos na


água, recomenda-se a determinação da atividade da enzima acetilcolinesterase,
observando os limites máximos de 15% ou 20% de inibição enzimática, quando
a enzima utilizada for proveniente de insetos ou mamíferos, respectivamente.

Art. 15. A água potável deve estar em conformidade com o padrão de


radioatividade expresso na Tabela 4, a seguir:

Tabela 4 - Padrão de radioatividade para água potável


(1)
Parâmetro Unidade VMP
(2)
Radioatividade alfa global Bq/L 0,1
(2)
Radioatividade beta global Bq/L 1,0
NOTAS:
(1) Valor máximo permitido.
(2) Se os valores encontrados forem superiores aos VMP, deverá ser feita a identificação dos
radionuclídeos presentes e a medida das concentrações respectivas. Nesses casos, deverão ser
aplicados, para os radionuclídeos encontrados, os valores estabelecidos pela legislação pertinente
da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, para se concluir sobre a potabilidade da água.

Art. 16. A água potável deve estar em conformidade com o padrão de aceitação
de consumo expresso na Tabela 5, a seguir:

Tabela 5 - Padrão de aceitação para consumo humano


(1)
PARÂMETRO Unidade VMP
Alumínio mg/L 0,2
Amônia (como NH3) mg/L 1,5
Cloreto mg/L 250
(2)
Cor Aparente uH 15
Dureza mg/L 500
Etilbenzeno mg/L 0,2
Ferro mg/L 0,3
Manganês mg/L 0,1
Monoclorobenzeno mg/L 0,12
(3)
Odor - Não objetável
(3)
Gosto - Não objetável
Sódio mg/L 200
Sólidos dissolvidos totais mg/L 1.000
Sulfato mg/L 250
Sulfeto de Hidrogênio mg/L 0,05
Surfactantes mg/L 0,5
Tolueno mg/L 0,17
(4)
Turbidez UT 5
Zinco mg/L 5

A15-13
Xileno mg/L 0,3
NOTAS:
(1) Valor máximo permitido.
(2) Unidade Hazen (mg Pt-Co/L).
(3) critério de referência
(4) Unidade de turbidez.

§ 1º Recomenda-se que, no sistema de distribuição, o pH da água seja mantido


na faixa de 6,0 a 9,5.

§ 2º Recomenda-se que o teor máximo de cloro residual livre, em qualquer


ponto do sistema de abastecimento, seja de 2,0 mg/L.

§ 3º Recomenda-se a realização de testes para detecção de odor e gosto em


amostras de água coletadas na saída do tratamento e na rede de distribuição de
acordo com o plano mínimo de amostragem estabelecido para cor e turbidez nas
Tabelas 6 e 7.

Art. 17. As metodologias analíticas para determinação dos parâmetros físicos,


químicos, microbiológicos e de radioatividade devem atender às especificações
das normas nacionais que disciplinem a matéria, da edição mais recente da
publicação Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, de
autoria das instituições American Public Health Association (APHA), American
Water Works Association (AWWA) e Water Environment Federation (WEF), ou
das normas publicadas pela ISO (International Standartization Organization).

§ 1º Para análise de cianobactérias e cianotoxinas e comprovação de toxicidade


por bioensaios em camundongos, até o estabelecimento de especificações em
normas nacionais ou internacionais que disciplinem a matéria, devem ser
adotadas as metodologias propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
em sua publicação Toxic cyanobacteria in water: a guide to their public health
consequences, monitoring and management.

§ 2º Metodologias não contempladas nas referências citadas no § 1º e “caput”


deste artigo, aplicáveis aos parâmetros estabelecidos nesta Norma, devem, para
ter validade, receber aprovação e registro pelo Ministério da Saúde.

§ 3º As análises laboratoriais para o controle e a vigilância da qualidade da água


podem ser realizadas em laboratório próprio ou não que, em qualquer caso,
deve manter programa de controle de qualidade interna ou externa ou ainda ser
acreditado ou certificado por órgãos competentes para esse fim.

Capítulo V
DOS PLANOS DE AMOSTRAGEM

Art. 18. Os responsáveis pelo controle da qualidade da água de sistema ou


solução alternativa de abastecimento de água devem elaborar e aprovar, junto à

A15-14
autoridade de saúde pública, o plano de amostragem de cada sistema,
respeitando os planos mínimos de amostragem expressos nas Tabelas 6, 7, 8 e
9.

Tabela 6 - Número mínimo de amostras para o controle da qualidade da


água de sistema de abastecimento, para fins de análises físicas, químicas e
de radioatividade, em função do ponto de amostragem, da população
abastecida e do tipo de manancial
SAÍDA DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (RESERVATÓRIOS
TRATAMENTO E REDE)
TIPO DE (NÚMERO DE População abastecida
PARÂME
MANAN- AMOSTRAS
TRO
CIAL POR UNIDADE > 250.000
DE <<50.000 hab. 50.000 a 250.000 hab.
hab.
TRATAMENTO)
40 + (1 para
Superficial 1 10 1 para cada cada
Cor
5.000 hab. 25.000 hab.)
Turbidez
pH
20 + (1 para
1 para cada
Subterrâneo 1 5 cada
10.000 hab.
50.000 hab.)
(1) Superficial 1 (Conforme § 3º do artigo 18).
CRL
Subterrâneo 1
Superficial 20 + (1 para
1 para cada
Fluoreto ou 1 5 cada
10.000 hab.
Subterrâneo 50.000 hab.)
1
Cianotoxin
Superficial (Conforme § 5º do - - -
as
artigo 18)
(2) (2) (2)
Trihalomet Superficial 1 1 4 4
(2) (2) (2)
anos Subterrâneo - 1 1 1
Demais Superficial
(4) (4) (4)
parâmetros ou 1 1 1 1
(3)
Subterrâneo
NOTAS:
(1) Cloro residual livre.
(2) As amostras devem ser coletadas, preferencialmente, em pontos de maior tempo de detenção
da água no sistema de distribuição.
(3) Apenas será exigida obrigatoriedade de investigação dos parâmetros radioativos quando da
evidência de causas de radiação natural ou artificial.
(4) Dispensada análise na rede de distribuição quando o parâmetro não for detectado na saída do
tratamento e, ou, no manancial, à exceção de substâncias que potencialmente possam ser
introduzidas no sistema ao longo da distribuição.

Tabela 7 - Freqüência mínima de amostragem para o controle da qualidade


da água de sistema de abastecimento, para fins de análises físicas,
químicas e de radioatividade, em função do ponto de amostragem, da
população abastecida e do tipo de manancial
PARÂME TIPO DE SAÍDA DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO
TRO MANANCIAL TRATAMENTO (RSERVATÓRIOS E REDE)
(FREQÜÊNCIA POR População abastecida
UNIDADE DE
TRATAMENTO) A15-15
UNIDADE DE <50.000 hab. 50.000 a > 250.000
TRATAMENTO) 250.000 hab. hab.
Cor Superficial A cada 2 horas
Turbidez Subterrâneo Diária Mensal Mensal Mensal
pH
Fluoreto
(1)
CRL Superficial A cada 2 horas (Conforme § 3º do artigo 18).

Subterrâneo Diária
Cianotoxin Superficial Semanal - - -
as (Conforme § 5º do
artigo 18)
Superficial Trimestral Trimestral Trimestral Trimestral
Trihalomet Subterrâneo - Anual Semestral Semestral
anos
(3) (3) (3)
Demais Superficial ou Semestral Semestral Semestral Semestral
parâmetros Subterrâneo
(2)

NOTAS:
(1) Cloro residual livre.
(2) Apenas será exigida obrigatoriedade de investigação dos parâmetros radioativos quando da
evidência de causas de radiação natural ou artificial.
(3) Dispensada análise na rede de distribuição quando o parâmetro não for detectado na saída do
tratamento e, ou, no manancial, à exceção de substâncias que potencialmente possam ser
introduzidas no sistema ao longo da distribuição.

Tabela 8 - Número mínimo de amostras mensais para o controle da


qualidade da água de sistema de abastecimento, para fins de análises
microbiológicas, em função da população abastecida
PARÂMETRO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (RESERVATÓRIOS E REDE)
População abastecida
< 5.000 hab. 5.000 a 20.000 hab. 20.000 a 250.000 hab. > 250.000 hab.
Coliformes 10 1 para cada 500 hab. 30 + (1 para cada 2.000
105 + (1 para
totais hab.)cada 5.000 hab.)
Máximo de 1.000
NOTA: na saída de cada unidade de tratamento devem ser coletadas, no mínimo, 2 (duas)
amostra semanais, recomendando-se a coleta de, pelo menos, 4 (quatro) amostras semanais.

Tabela 9 - Número mínimo de amostras e freqüência mínima de


amostragem para o controle da qualidade da água de solução alternativa,
para fins de análises físicas, químicas e microbiológicas, em função do tipo
de manancial e do ponto de amostragem
SAÍDA DO NÚMERO DE AMOSTRAS
FREQÜÊNCIA
TIPO DE TRATAMENTO RETIRADAS NO PONTO
PARÂMETRO (1) DE
MANANCIAL (para água DE CONSUMO
AMOSTRAGEM
canalizada) (para cada 500 hab.)
Cor, turbidez, Superficial 1 1 Semanal
pH e
coliformes Subterrâneo 1 1 Mensal
(2)
totais
(2) (3) Superficial
CRL 1 1 Diário
ou
Subterrâneo
A15-16
Subterrâneo
NOTAS:
(1) Devem ser retiradas amostras em, no mínimo, 3 pontos de consumo de água.
(2) Para veículos transportadores de água para consumo humano, deve ser realizada 1 (uma)
análise de CRL em cada carga e 1 (uma) análise, na fonte de fornecimento, de cor, turbidez, PH e
coliformes totais com freqüência mensal, ou outra amostragem determinada pela autoridade de
saúde pública.
(3) Cloro residual livre.

§ 1º A amostragem deve obedecer aos seguintes requisitos:

I - distribuição uniforme das coletas ao longo do período; e

II - representatividade dos pontos de coleta no sistema de distribuição


(reservatórios e rede), combinando critérios de abrangência espacial e pontos
estratégicos, entendidos como aqueles próximos a grande circulação de pessoas
(terminais rodoviários, terminais ferroviários, etc.) ou edifícios que alberguem
grupos populacionais de risco (hospitais, creches, asilos, etc.), aqueles
localizados em trechos vulneráveis do sistema de distribuição (pontas de rede,
pontos de queda de pressão, locais afetados por manobras, sujeitos à
intermitência de abastecimento, reservatórios, etc.) e locais com sistemáticas
notificações de agravos à saúde tendo como possíveis causas agentes de
veiculação hídrica.

§ 2º No número mínimo de amostras coletadas na rede de distribuição, previsto


na Tabela 8, não se incluem as amostras extras (recoletas).

§ 3º Em todas as amostras coletadas para análises microbiológicas deve ser


efetuada, no momento da coleta, medição de cloro residual livre ou de outro
composto residual ativo, caso o agente desinfetante utilizado não seja o cloro.

§ 4º Para uma melhor avaliação da qualidade da água distribuída, recomenda-


se que, em todas as amostras referidas no § 3º deste artigo, seja efetuada a
determinação de turbidez.

§ 5º Sempre que o número de cianobactérias na água do manancial, no ponto


de captação, exceder 20.000 células/ml (2mm3/L de biovolume), durante o
monitoramento que trata o § 1º do artigo 19, será exigida a análise semanal de
cianotoxinas na água na saída do tratamento e nas entradas (hidrômetros) das
clínicas de hemodiálise e indústrias de injetáveis, sendo que esta análise pode
ser dispensada quando não houver comprovação de toxicidade na água bruta
por meio da realização semanal de bioensaios em camundongos.

Art. 19. Os responsáveis pelo controle da qualidade da água de sistemas e de


soluções alternativas de abastecimento supridos por manancial superficial
devem coletar amostras semestrais da água bruta, junto do ponto de captação,
para análise de acordo com os parâmetros exigidos na legislação vigente de

A15-17
classificação e enquadramento de águas superficiais, avaliando a
compatibilidade entre as características da água bruta e o tipo de tratamento
existente.

§ 1º O monitoramento de cianobactérias na água do manancial, no ponto de


captação, deve obedecer freqüência mensal, quando o número de
cianobactérias não exceder 10.000 células/ml (ou 1mm3/L de biovolume), e
semanal, quando o número de cianobactérias exceder este valor.

§ 2º É vedado o uso de algicidas para o controle do crescimento de


cianobactérias ou qualquer intervenção no manancial que provoque a lise das
células desses microrganismos, quando a densidade das cianobactérias exceder
20.000 células/ml (ou 2mm3/L de biovolume), sob pena de comprometimento da
avaliação de riscos à saúde associados às cianotoxinas.

Art. 20. A autoridade de saúde pública, no exercício das atividades de vigilância


da qualidade da água, deve implementar um plano próprio de amostragem,
consoante diretrizes específicas elaboradas no âmbito do Sistema Único de
Saúde - SUS.

Capítulo VI
DAS EXIGÊNCIAS APLICÁVEIS AOS SISTEMAS E SOLUÇÕES
ALTERNATIVAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Art. 21. O sistema de abastecimento de água deve contar com responsável


técnico, profissionalmente habilitado.

Art. 22. Toda água fornecida coletivamente deve ser submetida a processo de
desinfecção, concebido e operado de forma a garantir o atendimento ao padrão
microbiológico desta Norma.

Art. 23. Toda água para consumo humano suprida por manancial superficial e
distribuída por meio de canalização deve incluir tratamento por filtração.

Art. 24. Em todos os momentos e em toda sua extensão, a rede de distribuição


de água deve ser operada com pressão superior à atmosférica.

§ 1º Caso esta situação não seja observada, fica o responsável pela operação
do serviço de abastecimento de água obrigado a notificar a autoridade de saúde
pública e informar à população, identificando períodos e locais de ocorrência de
pressão inferior à atmosférica.

§ 2º Excepcionalmente, caso o serviço de abastecimento de água necessite


realizar programa de manobras na rede de distribuição, que possa submeter
trechos a pressão inferior à atmosférica, o referido programa deve ser
previamente comunicado à autoridade de saúde pública.

A15-18
Art. 25. O responsável pelo fornecimento de água por meio de veículos deve:

I - garantir o uso exclusivo do veículo para este fim;

II - manter registro com dados atualizados sobre o fornecedor e, ou, sobre a


fonte de água; e

III - manter registro atualizado das análises de controle da qualidade da água.

§ 1º A água fornecida para consumo humano por meio de veículos deve conter
um teor mínimo de cloro residual livre de 0,5 mg/L.

§ 2º O veículo utilizado para fornecimento de água deve conter, de forma visível,


em sua carroceria, a inscrição: “ÁGUA POTÁVEL”.

Capítulo VII
DAS PENALIDADES

Art. 26. Serão aplicadas as sanções administrativas cabíveis, aos responsáveis


pela operação dos sistemas ou soluções alternativas de abastecimento de água,
que não observarem as determinações constantes desta Portaria.

Art. 27. As Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios estarão sujeitas a suspensão de repasse de recursos do Ministério da
Saúde e órgãos ligados, diante da inobservância do contido nesta Portaria.

Art. 28. Cabe ao Ministério da Saúde, por intermédio da SVS/MS, e às


autoridades de saúde pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
representadas pelas respectivas Secretarias de Saúde ou órgãos equivalentes,
fazer observar o fiel cumprimento desta Norma, nos termos da legislação que
regulamenta o Sistema Único de Saúde – SUS.

CAPÍTULO VIII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 29. Sempre que forem identificadas situações de risco à saúde, o


responsável pela operação do sistema ou solução alternativa de abastecimento
de água e as autoridades de saúde pública devem estabelecer entendimentos
para a elaboração de um plano de ação e tomada das medidas cabíveis,
incluindo a eficaz comunicação à população, sem prejuízo das providências
imediatas para a correção da anormalidade.

Art. 30. O responsável pela operação do sistema ou solução alternativa de


abastecimento de água pode solicitar à autoridade de saúde pública a alteração

A15-19
na freqüência mínima de amostragem de determinados parâmetros
estabelecidos nesta Norma.

Parágrafo único. Após avaliação criteriosa, fundamentada em inspeções


sanitárias e, ou, em histórico mínimo de dois anos do controle e da vigilância da
qualidade da água, a autoridade de saúde pública decidirá quanto ao
deferimento da solicitação, mediante emissão de documento específico.

Art. 31. Em função de características não conformes com o padrão de


potabilidade da água ou de outros fatores de risco, a autoridade de saúde
pública competente, com fundamento em relatório técnico, determinará ao
responsável pela operação do sistema ou solução alternativa de abastecimento
de água que amplie o número mínimo de amostras, aumente a freqüência de
amostragem ou realize análises laboratoriais de parâmetros adicionais ao
estabelecido na presente Norma.

Art. 32. Quando não existir na estrutura administrativa do Estado a unidade da


Secretaria de Saúde, os deveres e responsabilidades previstos no artigo 6º
desta Norma serão cumpridos pelo órgão equivalente.

A15-20
Entre os métodos de ajustagem de curvas a pares de valores [x, y = f(x)], o
método dos mínimos quadrados destaca-se por sua simplicidade.
Considere-se, por exemplo, a sucessão de pares de valores:
x1, y1
x2, y2
........
xn, yn
Deseja-se ajustar a eles uma função:
y = f(x)
tal que a somatória das diferenças:
[yi – f(xi)]2
seja mínima.
Ou seja:
 n 
D  ∑ [y i − f (x i )]2  = 0
i =1 
É preciso definir inicialmente o tipo de função que se deseja ajustar: se polinomial
(e de que grau), se exponencial, se logarítmica, etc.
A Figura A16.1 representa o efeito que se deseja obter.

Fig. A16.1 – Ajustagem de uma curva a pares de valores [x, f(x)] conhecidos

Exemplo prático:

Determinação dos coeficientes a e b da equação de Forchheimer.

A equação de Forchheimer é da forma:


h = av + bv 2
Como foi visto, deseja-se:
n
[
∑ h − av − bv 2 ]2
→ mínimo
i =1
ou seja:

A16-1
d 
(
 ∑  h − av − bv
 da 
)
2 2
=0


d 
 db ∑ 
( )2 
h − av − bv 2  = 0

Obtêm-se:
[( ) ]
∑ 2 h − av − bv 2 (− v ) = 0

 
(
∑ 2 h − av − bv )( )
2 2 
−v2  =0
  
∑ vh − a ∑ v 2 − b ∑ v 3 = 0

∑ v 2 h − a ∑ v 3 − b ∑ v 4 = 0
Do sistema anterior, encontra-se:

a=
∑ vh∑ v 4 − ∑ v 2 h∑ v 3
∑v 4 ∑v 2 − ∑v 3( )
2

b=
∑ v 3 ∑ v 2 h − ∑ v 3 ∑ vh
∑v 4 ∑v 2 (
− ∑v 3 )
2

Considere, por exemplo, certa amostra de seixos rolados, constituindo uma


coluna de diâmetro 200 mm, que tenha sido utilizada para a realização de ensaio de
perda de carga. O comprimento da coluna, entre os dois pontos de tomada para os
piezômetros, era igual a 2 metros.

Os resultados obtidos do ensaio são apresentados a seguir.

Q (L/minuto) hf (cm)
2 3
4 8
6 12
8 20
10 32

Deseja-se obter os coeficientes da equação de forma que seus valores sejam


expressos em unidades métricas, ou seja:
{h} = m,
{v} = m/s

A16-2
Portanto:
hf
h=
100
Q 1 4Q 1
v= = = 0,000531Q
A 1000 x 60 π (0,2 ) 60000
2

A partir daí, constrói-se o quadro a seguir.

2 -6 3 -9 4 -12 -5 2 -8
Q (L/min) hf (cm) v (m/s) h (m) (*) v (x10 ) v (x10 ) v (x10 ) vh (x10 ) v h (x10 )
2 3 0,00106 0,015 1,126 1,194 1,267 1,592 1,689
4 8 0,00212 0,040 4,503 9,556 20,278 8,488 18,013
6 12 0,00318 0,060 10,132 32,251 102,659 19,099 60,792
8 20 0,00424 0,100 18,013 76,448 324,453 42,441 180,126
10 32 0,00531 0,160 28,145 149,312 792,121 84,882 450,314

(*) Perda de carga unitária (por metro de coluna)

∑ v 2 = 6,19x10-5
∑ v 3 = 2,688x10-7
∑ v 4 = 1,241x10-9
∑ vh = 1,565x10-3
∑ v 2 h = 7,113x10-5
Substituindo nas expressões deduzidas anteriormente para a e b, encontra-se:
(1,565x10 )(1,241x10 )− (7,113x10 )(2,688x10 )
−3 −9 −6 −7
a=
(1,241x10 )(6,19x10 )− (2,688 x10 )
−9 −5 −7

a = 6,614
(6,19x10 )(7,113 x10 )− (2,688 x10 )(1,565x10 )
−5 −6 −7 −3
b=
(1,241x10 )(6,19x10 ) − (2,688x10 )
−9 −5 −7

b = 4299
Comparando os resultados obtidos dos ensaios com os resultados fornecidos
pela equação de Forchheimer:

h = 6,614v + 4299 v2

Pode-se construir o quadro comparativo a seguir.

v h (m)
(m/s) Medido Calculado
0,00106 0,015 0,012
0,00212 0,040 0,033
0,00318 0,060 0,065
0,00424 0,100 0,106
0,00531 0,160 0,156

A16-3
Massas atômicas e massas moleculares dos
principais elementos e compostos químicos

1, Pesos atômicos dos principais elementos químicos

Elemento Símbolo Massa atômica (g)


Alumínio Al 27
Cálcio Ca 40
Carbono C 12
Cloro Cl 35,5
Cobre Cu 63,5
Enxofre S 32
Ferro Fe 56
Fósforo P 31
Flúor F 19
Hidrogênio H 1
Magnésio Mg 24
Manganês Mn 55
Nitrogênio N 14
Oxigênio O 16
Potássio K 39
Silício Si 28
Sódio Na 23

A17-1
2. Massas moleculares dos principais compostos químicos

Composto Fórmula química Massa molecular (g)


Ácido fluossilícico H2SiF6 144
Ácido carbônico H2CO3 62
Ácido clorídrico HCl 36,5
Ácido nítrico HNO3 63
Ácido sulfúrico H2SO4 98
Água H2O 18
Amônia NH3 17
Bicarbonato (ânion) HCO3- 61
Bicarbonato de cálcio Ca(HCO3)2 162
Bicarbonato de sódio NaHCO3 145
Carbonato (ânion) CO3-2 60
Carbonato de cálcio CaCO3 100
Carbonato de sódio Na2CO3 106
Cloreto férrico FeCl3 162,5
Cloreto de sódio NaCl 58,5
Fluossilicato de sódio Na2SiF6 188
Hidróxido de amônio NH4OH 35
Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 74
Hidróxido de sódio NaOH 40
Hipoclorito de sódio NaClO 74,5
Íon amônio (cátion) NH4+ 18
Nitrato (ânion) NO3- 62
Óxido de cálcio CaO 56
Sulfato (ânion) SO4-2 96
Sulfato de alumínio Al2(SO4)3 342
Sulfato de cálcio CaSO4 136
Sulfato ferroso FeSO4 152

Fonte: SAWYER, C. N., MC CARTY, P. L. Chemistry for sanitary engineers. Tokyo,,


Kögakusha, 1967.

A17-2

Вам также может понравиться