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E COLONIZADORAS
aspectos da territorialização
agrária no sul do Brasil
João Carlos Tedesco
Rosane Marcia Neumann
(Org.)
2019
NEHI
EDITORA Núcleo de Estudos de
História da Imigração
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
Antônio Thomé
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Vice-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários
E COLONIZADORAS
aspectos da territorialização
agrária no sul do Brasil
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das Editoras Universitárias
Sumário
Introdução.................................................................................................................. 7
Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como
possibilidade investigativa................................................................................ 11
Marcos Antônio Witt
Appunti sulla presenza degli italiani nel processo di colonizzazione
in Argentina e Brasile........................................................................................... 46
Federica Bertagna
Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha ............ 63
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
Chłopi, os camponeses e a imigração: as teorias do campesinato e
os colonos poloneses no Paraná e no Rio Grande do Sul ...................... 87
Rhuan Targino Zaleski Trindade
Detratores e marqueteiros da imigração italiana para o Brasil:
Borges de Medeiros e as exposições mundiais de 1904 e 1906......... 111
João Carlos Tedesco
Giovani Balbinot
Política imigrantista e identidade étnica: o elemento
teuto-brasileiro na visão de Karl von Koseritz.......................................... 142
Tiago Weizenmann
Colonização e capitalização: relações jurídicas e
político-econômicas no norte do Rio Grande do Sul............................. 171
Ironita A. Policarpo Machado
Desmatamento e migração no Alto Vale do Rio do Peixe.................... 201
Susana Cesco
“Atrair para povoar”: as propagandas do projeto de colonização
Porto Novo nas décadas de 1920 e 1930.................................................... 223
Leandro Mayer
Maikel Gustavo Schneider
Políticas indigenistas e colonização: fragmentos históricos para
compreensão dos atuais conflitos entre indígenas e agricultores
no Sul do Brasil..................................................................................................... 243
João Carlos Tedesco
Rosane Marcia Neumann
Apontamentos para uma história do Campo do Meio.......................... 262
Ney Eduardo Possapp d’Avila
Sobre os autores.................................................................................................. 290
João Carlos Tedesco | Rosane Marcia Neumann (Org.)
Introdução
A
coletânea Colonos, colônias e colonizadoras: aspectos da territo-
rialização agrária no sul do Brasil tem por propósito discutir o
processo de imigração e colonização no sul do Brasil, nos séculos
XIX e XX, reduzindo a escala de análise para os espaços – as colônias
– e seus sujeitos – os colonos e as colonizadoras –, no que diz respeito à
territorialização agrária, levando em consideração que esse intrincado
emaranhado de relações e interesses era atravessado pelas políticas pú-
blicas – ou por sua ausência –, planejadas e executadas pelo Estado, seja
em nível nacional, estadual ou local.
O crescimento dos programas de pós-graduação em História, soma-
do à retomada das discussões sobre os movimentos migratórios atuais
em escala global e seus desdobramentos, trouxe essa temática à pauta
de discussões acadêmicas em fóruns e congressos, projetos de pesquisa,
dissertações e teses. Além desse movimento, também se sobressai o diá-
logo com a historiografia clássica, bem como novas abordagens e temas,
ampliação das possibilidades de fontes de pesquisa, revisitação de temas
e fontes.
Todavia, essa mobilização no campo da pesquisa ainda carece de es-
tudos em escala reduzida, na busca pelas redes sociais, as trajetórias no-
minais de imigrantes, os projetos de colonização particulares, o cotidiano
dos colonos e das colônias e, especialmente, os desdobramentos dessas co-
lônias – ou seja, qual o seu perfil hoje? Avançando um pouco mais, temos
as novas ondas e/imigratórias do século XXI, bem mais difusas quanto à
sua origem, ao seu destino e ao perfil do e/imigrante, mas que carregam
consigo demandas e expectativas semelhantes às anteriores, impactando
de imediato no mercado de trabalho e nas políticas sociais, retomando a
7
Colonos, colônias e colonizadoras
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João Carlos Tedesco | Rosane Marcia Neumann (Org.)
vani Balbinot analisam como o Rio Grande do Sul se fez presente e foi
representado nas exposições mundiais de Louisiana, em 1904, e Milão,
em 1906, com o intuito de atrair os imigrantes italianos ao estado.
A política imigratória no Brasil também contou com os próprios imi-
grantes entre seus defensores. Um dos expoentes mais atuantes na defe-
sa da imigração e dos imigrantes alemães, na segunda metade do século
XIX, foi Karl von Koseritz. Debruçado sobre uma vasta documentação,
Tiago Weizenmann traça o perfil desse intelectual e seu engajamento
público e político em defesa dos imigrantes alemães, a construção de uma
identidade étnica e sua inserção nos diferentes espaços da sociedade sul-
-rio-grandense, inclusive a política.
Já nas primeiras décadas do século XX, encontramos esses descen-
dentes de imigrantes inseridos na dinâmica local, envolvidos na disputa
pela posse de terras nas colônias novas. Ironita A. P. Machado, a par-
tir do estudo exaustivo de um processo judicial, demonstra a correlação
entre colonização e capitalização da propriedade da terra, bem como os
sujeitos envolvidos e seu capital social.
Um dos traços apontados pela historiografia no perfil dos imigran-
tes e seus descendentes é sua propensão para a mobilidade espacial, des-
locando-se toda vez que novas e melhores possibilidades de acesso à pos-
se da terra ou de melhores rendimentos se apresentavam. No início do
século XX, a nova fronteira de atração aos colonos sul-rio-grandenses era
o oeste de Santa Catarina. Susana Cesco estuda a imigração, colonização
e construção da ferrovia e os seus impactos ambientais no Alto Vale do
Rio do Peixe. Investiga esse processo na colônia Caçador sob a perspec-
tiva da história ambiental, afirmando que a floresta foi a razão para a
colonização, ocupação e transformação da região. Por sua vez, Leandro
Mayer e Maikel Gustavo Schneider tratam da propaganda divulgada na
imprensa sul-rio-grandense sobre a mesma região, visando à venda de
lotes coloniais aos colonos. Centram a análise na colônia étnica-confes-
sional de Porto Novo.
As tensões e os conflitos entre os diferentes grupos em disputa pela
posse da terra marcaram o processo histórico da colonização e permane-
cem latentes no norte do Rio Grande do Sul, como apontam João Carlos
Tedesco e Rosane M. Neumann. Em uma leitura panorâmica, mapeiam
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Colonos, colônias e colonizadoras
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Marcos Antônio Witt
Estudos comparados
na imigração: Brasil e
Chile como possibilidade
investigativa
Marcos Antônio Witt
1
Consejo Superior de Emigración de España (1916, p. 168).
11
Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
T
alvez, a maior dificuldade em se realizar estudos comparados no
âmbito da imigração esteja relacionada ao forte embate entre a
produção acadêmica e a não acadêmica – esta última também in-
titulada de memorialista ou municipalista.3 Produzidos, normalmente,
no seio da comunidade de descendentes de imigrantes, os textos não aca-
dêmicos chegam com maior facilidade ao seu destino, isto é, ao público
da própria coletividade na qual foram escritos e publicados. Obras de
cunho laudatório reforçam a ideia de que os estudos sobre os imigrantes
estão mais para o folclore do que para a análise científica. Mesmo com a
produção acadêmica em crescimento, os livros mais requisitados e lidos
ainda trazem uma história que tem como pauta principal a travessia do
Atlântico, as promessas não cumpridas, o trabalho árduo dos primeiros
anos e a vitória sobre todos os obstáculos. Narrativas com esse perfil fa-
zem do imigrante e de seus descendentes algo semelhante a heróis que,
apesar de todas as dificuldades, contribuíram de forma relevante para o
desenvolvimento das Colônias4 onde foram instalados, da futura cidade
que daí surgiu e do próprio sul da América. Oswaldo Truzzi (2005, p. 140)
2
O projeto de pesquisa “Imigrantes em ação: organização social e participação política. Estudo
comparado sobre a imigração no Brasil, Argentina e Chile – séculos XIX e XX”, foi desenvolvido
no período de 2015 a 2017, junto ao Núcleo de Estudos Teuto-Brasileiros (NETB), vinculado ao
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos),
conta com o apoio do Edital Universal do CNPq e tem em sua equipe três bolsistas de iniciação
científica: Luís Henrique Malaquias Lemos, Samanta Ritter e Welington Augusto Blume. Para o
presente texto, a comparação compreende somente a imigração no Brasil e no Chile. Analisar,
ainda, a imigração na Argentina significaria um aporte de fontes e de referencial teórico que ex-
trapolaria os limites deste trabalho.
3
A divisão entre produção acadêmica e não acadêmica é complexa, uma vez que autores e obras
se enquadram em múltiplas interpretações. Observa-se que um livro elaborado na academia, em
determinado tempo e lugar, traz conteúdo e análise que o aproximam mais à produção memo-
rialista que à acadêmica. Já uma obra de cunho memorialista pode alçar à categoria de clássico
dependendo do seu alcance enquanto referência para os estudos migratórios. O primeiro caso
é representado por Aurélio Porto, autor de O trabalho alemão no Rio Grande do Sul (1934); o
segundo, por Germano Oscar Moehlecke, autor de O Vale dos Sinos era assim (1978). Outra
referência singular é a produção de Telmo Lauro Müller, fundador do Museu Histórico Visconde
de São Leopoldo, em 1959, e diretor da instituição por 48 anos. Não obstante sua formação em
História, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, seus livros abordam a história da imi-
gração de tal forma que integram o rol de obras memorialistas sobre o tema.
4
Quando escrito com a inicial em maiúscula, Colônia(s) significa o núcleo onde foram assentadas
inúmeras famílias, como a Colônia de São Leopoldo; com a inicial em minúscula, colônia(s)
representa a pequena propriedade agrícola recebida por uma família, também chamada de mini-
fúndio. Assim, uma Colônia era formada por muitas colônias, ou seja, por centenas de pequenas
propriedades rurais onde famílias de colonos plantavam e criavam pouca quantidade de animais.
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Marcos Antônio Witt
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Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
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Marcos Antônio Witt
Theda Skocpol (1985, p. 11-12), por sua vez, ao colocar lado a lado
países como China, França e Rússia, explica da seguinte forma como
pode se dar o trabalho de um sociólogo comparativo:
O comparativista não dispõe nem do tempo nem de todas as capacidades apro-
priadas para realizar a investigação primordial que necessariamente consti-
tui, em grande medida, a base na qual se assentam os estudos comparativos.
Em vez disso, o comparativista vê-se obrigado a concentrar-se na busca e no
exame sistemático das publicações dos especialistas que se relacionem com as
questões consideradas importantes, quer pelas considerações teóricas, quer
pela lógica da análise comparativa. Na realidade, o trabalho do comparativis-
ta só se torna viável depois de ser elaborada pelos especialistas uma extensa
literatura básica.
15
Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
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Além das obras referidas no presente estudo, apresentamos, ao final, as obras consultadas,
que não têm por objetivo esgotar o tema, mas fazer um breve inventário das publicações sobre
imigração na perspectiva da história comparada, contribuindo para fomentar novas pesquisas.
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Marcos Antônio Witt
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Os termos “alemã” e “alemão”, em suas variadas formas, referem-se aos indivíduos de línguas
germânicas que habitavam pequenas aldeias ou cidades que, em 1871, iriam compor o Estado
alemão. Além disso, populações de língua germânica que vieram à América habitavam outros
territórios que extrapolavam o limite das fronteiras que formariam a Alemanha.
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Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
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Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
Também para Vivó (2009, p. 268), “[...] trabalhar uma rede é muito
mais complexo do que fazê-lo com um grupo de família de elite”.
Ao se propor a análise comparativa nos estudos migratórios, os mo-
delos apresentados por Nancy Green podem se constituir em ferramen-
tas relevantes para a concretização de tal exercício. De acordo com Green
(1990, p. 1335), o modelo “divergente” seria aquele em que se procura
avaliar as diferentes trajetórias seguidas por um mesmo grupo étnico em
países distintos. No que toca ao projeto de pesquisa desenvolvido pelo au-
tor, “Imigrantes em ação: organização social e participação política. Es-
tudo comparado sobre a imigração no Brasil, Argentina e Chile – séculos
XIX e XX”, o modelo “divergente” permite que se compare a trajetória de
imigrantes alemães no Brasil e no Chile, desde o século XIX. A indagação
formulada por Frederik Luebke (1987 apud TRUZZI, 2005, p. 147-148)
tem servido de inspiração para o estudo em andamento: “[...] por que
alemães saídos de uma mesma região tornaram-se tão diferentes nos
Estados Unidos e no Brasil?”. O subcapítulo a seguir busca responder a
esta questão, colocando Brasil e Chile em ambiente comparativo.
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Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
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Quando não compunham os quadros do exército ou das milícias, os imigrantes e seus descen-
dentes integravam-se a outros esquadrões, como o de bombeiros, de Valdivia, Chile, no início do
século XX (BLANCPAIN, 1987, p. 123-125).
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Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
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Archivo Histórico de Chile, Catálogo del Fondo Ministerio de Relacionaes Exteriores, 1810-1900,
Volume 160, 1873-1875.
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Marcos Antônio Witt
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Estudos comparados na imigração: Brasil e Chile como possibilidade investigativa
Desse modo, de acordo com as fontes, percebe-se que não havia con-
senso em relação à instalação de imigrantes europeus no Brasil e Chile.
Se havia vozes muito favoráveis à concretização dos projetos que visa-
vam ao crescimento via mão de obra branca, livre e europeia, de igual
modo surgiram facções que discordavam desses encaminhamentos.
Quanto ao aspecto religioso, imigrantes acatólicos se defrontaram com
situação marginal em ambos os países, que professavam, oficialmente,
a fé católica. Na redação dos artigos constitucionais, encontra-se a de-
claração explícita de vínculo com a Igreja Católica Apostólica Romana.
Todavia, há pequena diferença na parte final dos artigos, pois o governo
brasileiro registrou como os acatólicos poderiam praticar o seu culto, en-
quanto que o chileno posicionou-se de forma mais evasiva nesse quesito.
O texto da Constituição brasileira de 1824 (BRASIL, 1824) estabeleceu,
em seu Título I, artigo 5º, que “[...] a Religião Católica Apostólica Ro-
mana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões
serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para
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Marcos Antônio Witt
isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo”. Por sua vez,
o texto da Constituição chilena de 1833 (CHILE, 1833) assinalava, em
seu Capítulo III, artigo 5º, que “[...] la religión de la República de Chile
es la Católica, Apostólica y Romana, con exclusión del ejercicio público
de cualquiera otra”. No mesmo projeto de colonização, com data de 15
de dezembro de 1871, redigido pela Sociedad Nacional de Agricultura,
na terceira cláusula, defensores do catolicismo no Chile propuseram que
“[...] en igualdade de circunstancias se preferira emigrantes catolicos”.10
Apesar de tais restrições, a América recebeu imigrantes alemães
católicos e protestantes (evangélico-luteranos).11 Colônias dos mais di-
versos tipos foram criadas, desde as que abrigaram somente um dos gru-
pos confessionais, até as mistas, que reuniram vários grupos étnicos e/
ou de religiões diferentes. Ao longo dos séculos XIX e XX, a fundação e o
desenvolvimento de núcleos coloniais estiveram sob a responsabilidade
de governos centrais, provinciais, estaduais e, também, de particulares
– indivíduos ou empresas. Isso ocorreu tanto no Brasil quanto no Chile.
Em se tratando da experiência brasileira, os projetos de imigração vi-
sando desenvolvimento territorial e social têm início, ainda, com o rei
português, D. João VI, quando de sua estada no país. De acordo com
Giralda Seyferth (2000), os primeiros imigrantes alemães chegaram ao
Brasil antes da independência. Alguns, com mão de obra especializada,
fixaram-se nas cidades a partir da abertura dos portos, em 1808; outros
foram encaminhados para as sesmarias de Jorge Guilherme Freyreiss,
na Bahia.
Em 1818, Freyreiss obteve a concessão de cinco sesmarias no sul da
Bahia, onde estabeleceu uma Colônia alemã denominada de Leopoldi-
na. Na mesma região, outras sesmarias foram concedidas com o objetivo
de criar novas Colônias alemãs, caso da Frankental, do recrutador Ma-
jor Georg Anton von Schäffer. Várias razões impediram o florescimento
desses empreendimentos coloniais. Em poucos anos, a Colônia Leopol-
dina foi transformada em uma plantation escravista. Segundo Seyfer-
10
Archivo Histórico de Chile, Catálogo del Fondo Ministerio de Relacionaes Exteriores, 1810-1900,
Volume 160, 1873-1875.
11
O termo protestante refere-se aos integrantes das igrejas luteranas alemãs que formariam, no
final do século XIX, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). No Rio Grande
do Sul, o pastor Wilhelm Rotermund fundou o primeiro Sínodo em 1886. Para maiores detalhes,
ver Witt (2015).
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Palavras finais
Bem-vinda seja a imigração europeia, porque ela traz consigo o avanço mo-
ral para as nossas massas ignorantes; introduz entre nós práticas úteis e
contribui para cimentar a paz e a prosperidade, o progresso nas instituições
e a liberdade... Saúdo essa imigração que traz consigo o estandarte da igual-
dade, da fraternidade e do progresso universais (VILLARINO, 1867, p. 171).
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ANEXOS
Figura 1 – Valdivia e Osorno, região de colonização alemã (Chile)
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Appunti sulla presenza degli italiani nel processo di colonizzazione in Argentina e Brasile
Introduzione
A
lla conclusione dei loro processi di indipendenza, rispettivamente
nel 1816 e nel 1822, Argentina e Brasile avevano in comune sia
l’enorme estensione dei loro territori che la scarsissima popola-
zione che li occupava: in Argentina 700 mila abitanti erano sparsi su 2,8
milioni di km2, in Brasile 3,6 milioni di persone erano distribuite su 8,5
milioni di km2 (FAUSTO; DEVOTO, 2004).
Non sorprende, dunque, che entrambi i Paesi si aprissero all’im-
migrazione già all’avvio dei medesimi processi di indipendenza, ovvero
nel 1808 a Rio de Janeiro, con l’arrivo dell’imperatore Don João VI e nel
1810 a Buenos Aires, con la formazione della Prima Giunta di governo;
e neppure che adottassero rapidamente, già negli anni Venti, politiche
attive di popolamento.
Così, mentre la libertà di immigrazione, coincidendo con la conclu-
sione del ciclo delle guerre napoleoniche in Europa, favoriva l’afflusso
46
Federica Bertagna
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Appunti sulla presenza degli italiani nel processo di colonizzazione in Argentina e Brasile
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Appunti sulla presenza degli italiani nel processo di colonizzazione in Argentina e Brasile
1
Questa cifra è una stima per difetto, o meglio include solo gli immigrati considerati tali dalla stessa
legge del 1876, ovvero le persone sbarcate da navi provenienti “de ultramar”: restano esclusi dal
calcolo tutti coloro che, per esempio, giungevano in Argentina da Montevideo.
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tanto esteso nello spazio e nel tempo, le note positive prevarrebbero pro-
babilmente su quelle negative. Nel caso della pampa gringa nessuno lo
mette in discussione ma anche laddove, come nelle fazendas brasiliane,
le condizioni di vita e di lavoro, particolarmente degradanti e dure, ave-
vano costretto alla fuga molti e avevano a un certo punto indotto persino
il governo italiano a intervenire per bloccare le partenze, quello che era
l’obiettivo della stragrande maggioranza, “fazer a América”, che voleva
dire accedere alla proprietà della terra, per una quota parte piuttosto
significativa degli emigrati italiani si era rivelato raggiungibile, sia pure
a prezzo di immani sforzi e sacrifici.
Tralasciando storie di successo straordinarie quanto eccezionali,
come quella del “Rey do cafè” Geremia Lunardelli, che da colono divenne
imprenditore e giunse a possedere decine di migliaia di ettari in diversi
Stati del Brasile, secondo i dati raccolti da Thomas Holloway il numero
di proprietari italiani nella zona occidentale dello Stato di San Paolo,
quella di più recente colonizzazione, era aumentato costantemente nei
primi decenni del Novecento, fino a raggiungere nel 1923 il 32% del tota-
le delle proprietà: gli italiani a quella data erano secondi solo ai brasilia-
ni, che ne possedevano il 56,9% (HOLLOWAY, 1980, p. 155).
Anche nelle aree di colonizzazione degli Stati meridionali la percen-
tuale di proprietari sul totale degli immigrati era piuttosto elevata: sia
nel Rio Grande do Sul che in Santa Catarina circa il 30% degli italiani era
proprietario della terra che lavorava alla volta del 1920 (TRENTO, 2002).
Benché non tutta la storiografia sia concorde oggi nel dare una let-
tura ottimista di questi numeri e in generale della traiettoria degli ita-
liani in Brasile,2 è certo che in Italia il mito della colonizzazione agricola,
che fin dall’età liberale era legato in particolare alle due grandi repubbli-
che sudamericane, resistette tenacemente, tanto nell’immaginario degli
emigranti (FRANZINA, 1992) quanto nella visione di una parte della
classe dirigente dell’epoca, la quale aveva considerato le “colonie libere”,
ovvero la colonizzazione agricola spontanea degli emigrati in particolare
proprio in Sudamerica, una potenziale forma di espansionismo (PROTA-
SI; SONNINO, 2003).
2
Di diverso avviso sono per esempio Franzina (1995) e Trento (2002), mentre altri hanno messo in
rilievo giustamente che queste traiettorie devono essere lette in modo più complesso, ovvero non
come un crescendo lineare verso il successo economico e l’ascesa sociale (TRUZZI; PALMA,
2014).
59
Appunti sulla presenza degli italiani nel processo di colonizzazione in Argentina e Brasile
La novità fu però che, dagli anni Venti agli anni Cinquanta del No-
vecento, lo stesso Stato italiano condusse numerosi tentativi di colonizza-
zione, finanziandoli con capitali pubblici dell’Istituto nazionale di Credito
per il Lavoro italiano all’Estero (FAURI, 2009). Dapprima, negli anni tra
le due guerre, per impulso del regime fascista vennero fondate colonie
soprattutto in Argentina, e nel secondo dopoguerra, anche col sostegno
di compagnie private e previa costituzione di cooperative di lavoratori
in Italia, si puntò ancora una volta soprattutto sullo stato paulista e in
generale sul Brasile3 (SERGI, 2013). La sconfitta militare nella secon-
da guerra mondiale, del resto, aveva fatto tramontare definitivamente
i sogni imperiali e nazionalistici di popolamento in Africa, ponendo fine
all’ambiguità che aveva contraddistinto nell’Italia unita il termine “colo-
nia”, volutamente impiegato sia per indicare i possedimenti territoriali
che appunto le colonie degli emigrati, entrambe destinate a conservare,
nell’idea delle classi dirigenti, un forte vincolo con la madrepatria.
Considerazioni conclusive
Una comparazione tra questi ultimi tentativi di colonizzazione e
quelli della fase precedente è resa estremamente difficile dalla diversità
dei contesti storici e geografici. Per quanto riguarda i decenni tra le due
guerre, si può parlare, per alcune colonie, come per esempio Villa Regina,
nell’Alta valle del Rio Negro in Argentina, di un successo nel medio e lun-
go periodo; esso però fu merito quasi esclusivo non dell’amministrazione
della colonia, che si mostrò inadeguata sotto molteplici punti di vista, ma
della tenacia dei coloni, che riuscirono a superare le enormi difficoltà dei
primi anni (SERGI, 2016).
Gli esiti furono, invece, pressoché ovunque fallimentari4 nel secondo
dopoguerra, per una serie di motivi. Terreni che si rivelarono inadat-
ti alle coltivazioni, per quanto fossero state inviate missioni di tecnici
per valutare la fattibilità dei progetti; carenza di risorse adeguate per il
3
Ma anche altrove, a riprova di quanto la classe dirigente italiana ancora credesse nella coloniz-
zazione agricola ovunque e comunque: una missione tecnica e poi tentativi di colonizzazione
furono condotti anche in Cile, con famiglie soprattutto trentine (GROSSELLI, 2011).
4
Non è affatto certo, peraltro, che quelli che ex post, da una prospettiva storiografica, vengono
giudicati come dei fallimenti lo fossero anche nella percezione degli emigranti o nel loro ricordo
successivo dell’esperienza migratoria: sono interessanti al riguardo le osservazioni di Elmir e Witt
(2014, p. 9-13).
60
Federica Bertagna
primo impianto delle colonie; vere e proprie truffe ai danni dei coloni; e
da ultimo, anche, immigrati che abbandonarono rapidamente le colonie
perché non erano disposti a tollerare le precarie condizioni abitative e
di vita nelle medesime (GROSSELLI, 2011; TRENTO, 2002, p. 9). Non
perché tali condizioni fossero peggiori di quanto fossero state in passato,
al tempo della “Merica” e della frontiera: anzi, erano senza dubbio assai
migliori. Era piuttosto la situazione di partenza dell’emigrante, e quindi
erano le sue esigenze e le aspettative riposte nel progetto migratorio, a
essere cambiate: in Italia nel secondo dopoguerra mancava il lavoro e lo
sforzo economico imposto dalle esigenze della ricostruzione costrinse il
Paese, almeno fino alla seconda metà degli anni Cinquanta, a comprime-
re al massimo i livelli di consumo, anche alimentari, ma non si moriva
più di fame, come succedeva durante la crisi agraria di fine Ottocento.
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61
Appunti sulla presenza degli italiani nel processo di colonizzazione in Argentina e Brasile
62
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
Imigrantes e colônias:
da Pampa bonaerense à
Serra Gaúcha
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
Primeiras palavras
O
presente trabalho integra uma investigação maior sobre o Rio
Grande do Sul e a província de Buenos Aires, focada, sobretudo,
em um estudo que inter-relaciona o local e o nacional. Argumen-
tamos, a partir de duas áreas de colonização, a organização do espaço, as
vivências e experiências dos imigrantes em relação ao desenvolvimento
econômico1 e social. A América Latina se apresenta como uma região fe-
cunda de estudos comparados, sobretudo, na ideia de Marc Bloch (1998),
comparando o que é comparável e preservando as peculiaridades regio-
nais.
O processo de colonização na segunda metade do século XIX é o que
nos propomos a discutir neste texto. Analisamos a colonização francesa,
ao sudoeste da província de Buenos Aires, e a alemã, na Serra sul-rio-
-grandense, como estudos de caso. À luz da compreensão de Charles Tilly
1
Ao falar em desenvolvimento econômico, referimo-nos ao estudo sobre a criação de cooperati-
vas de crédito que ali se desenvolveram, trabalho que que foi desenvolvido na tese de doutorado
Tudo para todos?. Um estudo comparado de princípios e de práticas cooperativas: de Pigüé (Bs
As) e de Nova Petrópolis (RS) (1898-1920) (SALATINO, 2018).
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Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
2
A política de branqueamento refere-se a africanos. Ver mais, para o caso brasileiro, em Schwartz
(1993) e Cook-Martín e Fitzgerald (2014). Para o caso argentino, observamos para análise a po-
lítica de branqueamento étnico em relação aos grupos ameríndios, ver mais em: Secreto (2013).
Pode-se consultar também o capítulo 2 da tese de Salatino (2018).
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O tema do evento foi “Imigração: diálogos e novas abordagens”, tendo ocorrido entre os dias 1º
e 3 de julho de 2010, em Novo Hamburgo, RS. O texto da autora encontra-se publicado no livro
Imigração: diálogos e novas abordagens (2012), que reúne as comunicações e as conferências
do evento.
69
Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
6
“A prática oficial da política de aldeamentos no Rio Grande do Sul teve início no ano de 1846.
Foi uma prática constante para literalmente tirar o índio das terras que deveriam ser utilizadas
para colonização”. Evitar ataques dos índios às estâncias e garantir a presença do Estado nas
fronteiras também eram objetivos dessa estruturação. O discurso político era o de integrar os
índios à “civilização” (RODRIGUES, 2012, p. 67-68).
70
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
7
Tomamos como exemplo Graciela Blanco (2009), que, em seu artigo sobre Los atores sociales de
la ganadería patagônica, reitera a visão de conquistar e civilizar do Estado em relação aos índios
nas últimas décadas do século XIX. A expansão da fronteira era necessária para atender a cam-
pos de pastoreio e garantia da propriedade rural, mediante a supressão dos índios e uma reforma
do sistema prático da administração da região da Campanha (BLANCO, 2009, p. 196-197).
71
Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
72
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
8
Uma revolução técnica colocou a agricultura como principal atividade econômica do mundo oci-
dental, um novo industrialismo que impulsionou o imperialismo. Portanto, a crise nesse setor,
com queda de preço, de produtos e da terra, bem como o empobrecimento de pequenos e mé-
dios proprietários, causaria profundos prejuízos. As crises agrícolas constituíram, segundo Otero
(1999), um mecanismo regulador, que afetou diretamente o cotidiano dos pequenos proprietários
rurais. “Os exemplos mais significativos são: a crise da videira entre 1853-1858 e a mais devas-
tadora, a da filoxera entre 1870-1890. Essa última afetou países como Languedoc, o País Basco
e Aveyron” (OTERO, 1999, p. 132, grifo nosso).
73
Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
9
Pi-Hué: termo indígena que significa vale redondo, lugar de encontro ou onde se reúnem. Tam-
bém se encontra pino del lugar entre os significados. O fato é que, com o passar do tempo, foi
sendo chamado de Pigüé, mesmo nome do arroio que corta a cidade (ALRIC, 1947, p. 1). Lugar
de encontro é utilizado até os dias de hoje na propaganda turística da cidade.
10
“Art. 4º. Destinase igualmente a la presente ley, el producido de las tierras públicas que la provin-
cia ceda de la que se le adjudicará por esta ley. Esas tierras serán enajenadas en la misma forma
que las nacionales sin afectar la jurisdicción provincial y los derechos adquiridos por particulares”
(MONFERRAN, 1955, p. 33).
74
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
11
Nas bibliografias consultadas, encontramos a data de 1882. No tomo II sobre a formação das
cidades da província de Buenos Aires, encontramos a data de 1881 (ARGENTINA, 1895).
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12
O transporte da França para a Argentina foi por conta dos colonos, tendo suas passagens bara-
teadas mediante parceria firmada com as companhias de viagem. O transporte de Buenos Aires
até a colônia, os materiais agrícolas e as casas provisórias foram gratuitos (ISSALY, 1993, p. 23).
13
A empresa Ferrocarril Sud atendeu à solicitação de Casey para que se fizesse, ali em suas ter-
ras, uma estação, aquela que ficaria no centro da Colônia de Pigüé. A inauguração foi no mesmo
ano, em 1884.
14
Era considerada como família toda relação de duas pessoas que se declaravam como tal, ca-
sados ou não (ISSALY, 1993, p. 22). É importante dizer que, no censo de 1895, a maioria dos
franceses de Pigüé declararam que sabiam ler e escrever (ARGENTINA, 1895).
15
A bibliografia sobre a Colônia de Pigüé encontrada carrega, em grande medida, as marcas da
historiografia do seu tempo, isto é, ainda que se procure contar a história dos anos iniciais da
colônia inserindo a figura do índio, sua escrita tem as marcas da ideia da “civilização” e do selva-
gem, justificando a ocupação do “deserto”.
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Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
escola. Julio Huret, em uma de suas viagens, esteve ao sul de Buenos Ai-
res e passou pela colônia de aveyroneses em Pigüé. Ele conta que as ter-
ras abrangiam 25 mil hectares e, mais tarde, 50 mil. Para ele, era quase
uma cidade francesa, com casas no estilo francês e nomes franceses es-
tampados nos armazéns (FERNÁNDEZ, 1999, p. 27). Huret evidenciou a
presença francesa inscrita em pequenos detalhes da vida na colônia, ha-
via, para ele, a cultura francesa preservada naquele recanto bonaerense.
Para obter a propriedade da terra, os imigrantes deveriam pagar
50% do total da colheita, durante seis anos, e por isso deveriam semear
logo. Eles plantavam cereais, majoritariamente o trigo. Nos primeiros
anos, ocorreu tudo como se imaginara, sempre de olhos bem abertos a
“invasões” e roubos dos indígenas. No final da década 1880 e no início
de 1890, o cenário mudou. Foram anos muito difíceis para a colheita, o
clima serrano foi severo. Precisavam pensar numa solução que suprisse
os danos causados pelo granizo nas plantações, que não foram poucos.
Dessa necessidade, um grupo de 53 pessoas teve a ideia de criar uma so-
ciedade mútua, a qual foi registrada no ano de 1898 (SALATINO, 2017).
Essa sociedade recebeu o nome de El Progreso Agrícola de Pigüé: So-
ciedade Cooperativa Mútua de Seguros Agrícolas y Anezos Ltda. Essa foi
a primeira experiência de uma cooperativa agrária na Argentina, criada
a partir de experiências associativas e cooperativas francesas. A coopera-
tiva – existente até os dias de hoje – influenciou outros a unirem esforços
mútuos, principalmente no meio rural, e a constituírem cooperativas. A
El Progreso atuou também como uma linha de crédito para seus associa-
dos. Clemente Cabanettes também atuou como um dos sócios fundadores
e foi um grande fomentador do sistema cooperativo na região. Por meio
dessa iniciativa, a colônia foi ganhando cada vez mais visibilidade na
organização social.
Ao contrário da imigração francesa, a alemã tem uma literatura ex-
pressiva. No entanto, os estudos de caso sempre podem contribuir nas
reflexões, sobretudo da ideia de homogeneidade do processo imigratório.
Os alemães chegaram no Rio Grande do Sul no ano 1824, para fundar a
Colônia de São Leopoldo. Em sua tese, Marcos Tramontini (2000) mos-
trou a disputa por terras desde a má distribuição até a demarcação dos
lotes da Real Feitoria – às margens do Rio dos Sinos, a qual deu origem
à Colônia de São Leopoldo – para os colonos. Essas falhas, por muitas
77
Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
16
A imigração no Brasil teve o patrocínio do governo imperial, do governo provincial e de inicia-
tivas particulares. Registramos, em trabalho anterior (SALATINO, 2017), que essa colônia não
recebeu subsídios do Estado. Com o avançar da pesquisa e uma leitura mais atenta na literatura
específica, esclarecemos e corrigimos tal dado.
78
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
De acordo com Angelo Muniz Ferraz, essa colônia provincial foi es-
tabelecida para servir como um ponto intermediário entre Porto Alegre e
os Campos de Cima da Serra. A colônia, para ele, cumpria o papel de in-
teriorização do povoamento no sul do Brasil. A sua criação teve também
objetivos econômicos, que visavam integrar a região serrana aos merca-
dos da região metropolitana. Entre os Rios Cadeia e Caí, aos fundos da
Linha Nova17 (Colônia de São Leopoldo), teremos a mais linda colônia,
próxima às linhas do Café e do Hortêncio, registrou o presidente. Pela di-
mensão e pelo terreno, nomeou Nova Petrópolis (PICCOLO, 1989, p. 50).
O primeiro grupo de imigrantes foi composto por 80 pessoas estran-
geiras. De acordo com Helga Piccolo (1989), os imigrantes que Nova Pe-
trópolis recebeu foram diversos, inclusive o elemento nacional, o qual
nem sempre recebeu o apoio e as vantagens dadas ao elemento estrangei-
ro. Porém, os primeiros grupos podem ser destacados como os lavradores
originários da Pomerânia e da Saxônia, em grande medida, professavam
a fé protestante. Da região renana e dos territórios anexados pela Prús-
sia, veio uma população majoritariamente católica, que vivia da pequena
propriedade rural e da prática da agricultura familiar.
Segundo Schallenberger (2012, p. 16-17), essa população era mar-
cada pelo conservadorismo agrário, o que favoreceu uma organização
social caracterizada e constituída pelas raízes culturais plantadas nas
tradições de comunidades rurais e baseadas nos princípios ético-religio-
sos do catolicismo, concebendo assim uma visão romântica da sociedade.
As questões do campo ganhavam a Europa. A industrialização tardia e os
problemas fronteiriços nos quais aquela região se inseria – entre França,
Bélgica e Suíça – contribuíram ainda mais para essa tensão. Em meio a
esses conflitos, cristãos encontraram um novo campo de ação e se dedi-
caram a essas questões.
Assim como os imigrantes franceses da Argentina, esses alemães
também viram a crise agrícola e a do campo chegar na Europa. Nesse
sentido, eles podem também ter tido algum conhecimento da crescente
atuação de líderes religiosos no campo. Em que pese a França, a Bélgica
17
Linha ou picada são termos originados a partir das primeiras trilhas de penetração na mata
virgem da colônia. Quando se abria uma clareira para ali erguer sua moradia, configurava-se
uma nova propriedade, e o termo foi gerado da própria estratégia de ocupação adotada. Em
sua acepção original, linha nada mais significava do que o desmatamento, a trilha de acesso às
novas propriedades (RAMBO, 2011, p. 15-16).
79
Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
18
O governo da província ficaria responsável, de acordo com o art. 3 da Lei nº 514, pela demar-
cação de estradas, igrejas, portos, cemitérios e outras servidões públicas, as quais achasse
necessário. Ao que tudo indica, o presidente da província não achou essas demarcações tão
necessárias assim.
19
Acervo Especial da Biblioteca Central Irmão José Otão – Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul.
80
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
20
A transcrição da ata da fundação – Relação dos sócios fundadores – encontra-se na dissertação
de Leonel Pedro Cerutti, História do cooperativismo de crédito: estudo comparativo entre Rio
Grande do Sul e República Argentina (2000, p. 57-58). Após várias denominações e transforma-
ções na legislação das cooperativas financeiras, a então Caixa Rural é conhecida atualmente
como Sicredi Pioneira/RS, integrando o Sistema de Crédito Cooperativo, o qual atende, pelo
menos, 21 estados brasileiros.
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Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
Considerações finais
A propaganda, aliada a uma política de ocupação, ao embranque-
cimento e à mão de obra livre, tornou o processo migratório algo que
lograria algum sucesso, para o Estado e para o imigrante, sobretudo para
aqueles que vieram com algum subsídio. Veremos que as áreas nas quais
foram instaladas as colônias francesa e alemã, em específico, tiveram ob-
jetivos de ocupação que se aproximavam em relação ao alargamento da
fronteira interna. Os imigrantes tiveram que lidar com as adversidades
do novo mundo e suas próprias expectativas – imprimindo, em menor ou
maior grau, seus costumes e suas tradições –, sem perder de vista suas
obrigações e a expectativa do Estado de ocupar e produzir.
Há muitas semelhanças no processo imigratório para os dois países,
em especial para cada região. No Rio Grande do Sul, assim como em Bue-
nos Aires, tem-se uma colonização que atende à organização do espaço
nacional em primeiro lugar, isto é, o Estado utilizou a colonização como
fronteira (seja na expansão da fronteira interna, seja para assegurar e
ampliar a fronteira nacional), diante de eminentes tensões (inclusive
depois de instalados), assim como de invasões platinas (no caso do Rio
Grande do Sul).
A Colônia de Pigüé foi criada poucos anos depois da principal inves-
tida militar contra as populações ameríndias. Foi instalada numa região
que não estava desocupada, mas abandonada pelo Estado. Também, con-
sideremos que a ocupação na Argentina ocorria, primeiro, com o gado
e/ou a agropecuária, demarcando, dessa forma, a fronteira que estava
sendo alargada para além do Rio Salado. Na Colônia de Nova Petrópolis,
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Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
não ocorreu essa ocupação. Ela foi criada a partir das linhas ou picadas
já abertas quando da expansão para o norte da Colônia de São Leopoldo.
Em ambas as colônias, houve uma preocupação de não entrar em
conflito com os grandes estancieiros na disputa da terra, pela própria lo-
calidade onde foram instaladas. Rodeados de morros, a produção ficaria
limitada a agricultura e pequenas chácaras, atendendo as necessidades
agrícolas dos governos. Sobre os subsídios recebidos para o transporte
desde o lugar de origem até a América, houve diferenças, mas aquele da
província até a colônia teve o mesmo tratamento para todos os imigran-
tes.
Em ambos os casos, os colonos tiveram o compromisso de pagar pela
terra dentro de um prazo específico. Tal fato, ao lado do pagamento de
suas próprias passagens, justifica, de certa maneira, o discurso que afir-
ma a realização dessas colônias somente a partir de iniciativas particu-
lares e espontâneas.
A reprodução de costumes agrícolas nem sempre foi útil em terras
do sul da América. Deve-se admitir a necessidade de observar o clima, o
solo, as rochas e as novas técnicas para lidar com a nova vida, ações que
não são premeditadas. O Estado, por sua vez, após o incentivo e a propa-
ganda de colonizar, não foi tão presente como parecia ser nessas áreas,
deixando, muitas vezes, os problemas se solucionarem “sozinhos”.
A prática agrícola, assim como a organização do espaço colonial, foi
se construindo numa fusão de conhecimentos, locais e tradicionais. O
cooperativismo foi uma estratégia econômica para atender as demandas
agrícolas, mas também atendeu os investimentos futuros, nos emprésti-
mos para construções, nas estradas, na concretização do desenvolvimen-
to da colônia.
A singularidade das colônias em relação ao mutualismo e ao coo-
perativismo rural se deve à expansão sistemática dessas organizações,
após 1880, na Europa, mas também aos indivíduos que compartilharam
conhecimentos comuns sobre o tema – empregados quando os desafios da
nova terra se fizeram presentes. Tais informações auxiliaram significati-
vamente no cumprimento dos compromissos contratuais, no desenvolvi-
mento local e no fortalecimento da identidade étnica.
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Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
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84
Alba Cristina Couto dos Santos Salatino
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Imigrantes e colônias: da Pampa bonaerense à Serra Gaúcha
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Rhuan Targino Zaleski Trindade
Chłopi, os camponeses e
a imigração: as teorias do
campesinato e os colonos
poloneses no Paraná e no
Rio Grande do Sul
Rhuan Targino Zaleski Trindade
E
m polonês, a palavra Chłop (no plural Chłopi), entre outras coisas,
designa o “camponês”, personagem consagrado na literatura polo-
nesa do escritor Wladyslaw Reymont, o qual retrata, em diferentes
títulos, os habitantes do campo polonês no século XIX. São em geral estes
camponeses que, diante das inúmeras dificuldades de seu país, imigram
para o Brasil e, neste novo ambiente, constituem uma figura central da
paisagem rural do país.
A imigração e a colonização europeias no Brasil fazem parte do pro-
cesso de ocupação do território brasileiro, da formação da sua população
e da paisagem rural, em especial dos estados sulinos, os quais mais for-
temente foram atingidos por esse fenômeno. A imigração de poloneses
integra esse processo mais amplo, sendo importante no Paraná e Rio
Grande do Sul. Nesse sentido, se considerarmos, a partir de Wachowicz
(1974), que 95% dos imigrantes poloneses eram camponeses em busca
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[...] entre todos os grupos dominados, a classe camponesa, sem dúvidas porque
ela nunca se deu ou nunca lhe deram o contra-discurso capaz de a constituir
em sujeito de sua própria verdade, é o exemplo por excelência da classe objeto,
constrangida de formar sua própria subjetividade a partir da sua objetivação
[...].5
5
Do original: “Entre tous les groupes domines, la classe paysanne, sans doute parce qu’elle ne
s’est jamais donné ou qu’on ne lui a jamais donné le contre-discours capable de la constituer em
sujet de sa propre vérité, est l’example par excellence de la classe objet, contrainte de former sa
propre subjectivité à partir de son objectivation”.
6
Termo de definições escorregadias (SILVA, 2014), necessitando de análise nos seus respectivos
contextos, pois há ingerências raciais, econômicas e sociais. Serão entendidos como “brasileiros
pobres do meio rural”, pois sua aplicação neste trabalho está intimamente ligada à interação
imigrante/colono versus caboclo.
7
Conferir Zanini (2006, 2008, p. 89-108). Segundo Seyferth (1993), a noção de colono está dia-
leticamente oposta ao caboclo, portador de características desabonadoras, como atraso, agri-
cultura rudimentar, desapego à terra, entre outras, portanto, a caboclização, enquanto termo
que exprimia a apropriação pelo colono daquelas características, deveria ser evitada. O colono
também seria uma antinomia aos fazendeiros, assim sendo, trabalho árduo, produção de alimen-
tos, cuidado da terra, pioneirismo/civilização, o enraizamento, a liberdade, entre outras virtudes,
caracterizariam o colono enquanto categoria social.
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Segundo Seyferth (2009), a colonização produziu colonos mais remediados, mas não o farmer.
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Considerações finais
Não é difícil perceber que a proposição do exercício de pensar a cate-
gorização “camponês” para uma realidade empírica não é tarefa fácil, em
primeiro lugar, por ter de levar em consideração inúmeros aspectos cul-
turais, econômicos, sociais e, inclusive, políticos, os quais se destrincham
em elementos religiosos, étnicos, etc. Além disso, tal exercício para este
número restrito de páginas é algo que demanda muito esforço e termina
com uma sensação de incompletude. Apesar das dificuldades, a vincula-
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“Em primeiro lugar, o campesinato, mesmo tendo perdido a significação e a importância que
tinha nas sociedades tradicionais, continua a se reproduzir nas sociedades atuais integradas ao
mundo moderno. Pode-se identificar, portanto, em diversos países, na atualidade, setores mais
ou menos expressivos, que funcionam e se reproduzem sobre a base de uma tradição campo-
nesa, tanto em sua forma de produzir, quanto em sua vida social” (WANDERLEY, 1996, p. 6).
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Detratores e marqueteiros
da imigração italiana
para o Brasil: Borges de
Medeiros e as exposições
mundiais de 1904 e 1906
João Carlos Tedesco
Giovani Balbinot
Introdução
A
imigração é um fato totalizante da humanidade; é um dado civili-
zatório. De uma forma ou de outra, ela sempre foi e continua sen-
do impactante. O mundo continua em movimento. Nesse início de
novo século, a imigração revela ser altamente preocupante, produzindo
tensões sociais e políticas; suas causalidades e consequências continuam
sendo múltiplas. Para alguns países, ela é uma grande fonte de recursos,
em razão das remessas financeiras recebidas; para outros, os de destino
de fluxos, os imigrantes, não obstante as falácias políticas e econômicas,
contribui para o desenvolvimento socioeconômico e cultural. O mundo
globalizado dinamiza múltiplos processos que ocasionam fluxos migrató-
rios, principalmente nas esferas informacionais, econômicas e culturais.
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1
Disponível em: <http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 12 ago. 2017.
2
Não é nossa intenção, neste texto, confrontar e/ou questionar as fontes. Sabemos que o jornal A
Federação era o órgão de divulgação do governo do estado, portanto do PRR. Em razão disso,
notícias poderiam superestimar a presença sul-rio-grandense nas duas exposições e exaltar as
ações de Borges de Medeiros. É nosso projeto, para outro momento, confrontar as correspon-
dências (cartas) com o conteúdo expresso e narrado no referido jornal, bem como comparar com
notícias do Correio Paulistano e de outros jornais ítalo-brasileiros em torno do tema.
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3
Ver análises de jornais ítalo-brasileiros analisados por Ângelo Trento, dentre suas várias pro-
duções, ver o artigo “Os viajantes italianos na América Latina durante o período fascista: entre
curiosidade e ideologia” (2008); além de obras como as de Alvim (1986), Franzina (2006), Gros-
selli e Gianotti (1987).
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4
Adolpho Rossi (1857-1921) foi escritor, jornalista e diplomata italiano. Nascido em uma pequena
cidade do Vêneto, emigrou para os Estados Unidos da América com 20 anos. Depois de ten-
tar carreira em diversas profissões, destacou-se rapidamente pela sua competência no âmbito
literário e jornalístico. Em Nova York, fundou e dirigiu o periódico Il progresso Italo-Americano,
tornando-se, em breve espaço de tempo, um distinto enviado especial de importantes jornais
italianos, especialmente Il Messagero, La Tribuna e Il Corriere della Sera. Autor de reportagens
ligadas ao fenômeno migratório italiano, escreveu sobre a realidade dura e as dificuldades da
inserção dos italianos no país norte-americano, mas também as grandes possibilidades e opor-
tunidades oferecidas pela pátria norte-americana. Sua ligação com o Brasil iniciou nos primeiros
anos do século XX, quando a crise do café no estado de São Paulo começava a prejudicar as
condições de vida dos muitos imigrantes italianos. De fato, em 1901, com o encardo de inspetor
viajante, passou a fazer parte do Commissariatto dell’emigrazione Italiana, um novo organismo
dependente do Ministério do Exterior, criado para garantir uma cadeia assistencial aos sempre
mais numerosos emigrantes italianos no estrangeiro.
5
Correio Paulistano, São Paulo, 10 de junho de 1902. Ano 1902 - Arquivo 13937. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º fev. 2017.
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10
Correio Paulistano, São Paulo, 13 de junho de 1902. Ano 1902 - Arquivo 13940. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º fev. 2017.
11
Correio Paulistano, São Paulo, 22 de junho de 1902. Ano 1902 - Arquivo 13949. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º fev. 2017.
12
Correio Paulistano, São Paulo, 22 de junho de 1902. Ano 1902 - Arquivo 13949. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º fev. 2017.
13
Correio Paulistano, São Paulo, 13 de junho de 1902. Ano 1902 - Arquivo 13940. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º fev. 2017.
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“Nesta exposição universal teremos que assistir ao duelo industrial entre a Allemanha e os Es-
tados Unidos, por amor da conquista commercial do mundo inteiro. É o que se pode concluir
desde já em vista das instalações que a Allemanha está fazendo em todos os departamentos da
feira de S. Luiz. Pois tudo que os Estados Unidos inventão, aperfeiçoão e fabricão em grandes
proporções e caro, a Allemanha reproduz logo depois em maior quantidade e muitíssimo mais
barato, embora de qualidade inferior. Dahi procedem as dificuldades da competência dos Esta-
dos Unidos nos mercados consumidores, sem contar o systema de negociações deste paiz fora
da Europa. A Inglaterra mostra que mantem a sua indústria especial e universalmente preferida
ela influencia dos seus capitaes em constante guia commercial e na exploração das riquezas
naturaes de paizes novos e das suas colônias”. Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Sul. Arquivo Borges de Medeiros. Carta de José Carlos Carvalho. Saint Louis, Estados Unidos,
2/4/1904. 8 folhas. Documento 12106. Descritores: Política Internacional, Partido Republicano
Rio-Grandense, Exposição Internacional.
15
A Federação, Porto Alegre, 11 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00137. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
16
A Federação, Porto Alegre, 11 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00137. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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A Federação, Porto Alegre, 11 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00137. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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A Federação, Porto Alegre, 11 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00137. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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A Federação, Porto Alegre, 11 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00137. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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20
Carta de José Carlos Carvalho. Saint Louis, Estados Unidos, 2/4/1904. 8 folhas. Documen-
to 12106. Descritores: Política Internacional, Partido Republicano Rio-Grandense, Exposição
Internacional.
21
A Federação, Porto Alegre, 11 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00137. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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Figura 2 – Parte interna do pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1904, destacando-se os vasos de
cristal em que o café era exposto
22
A Federação, Porto Alegre, 23 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00148. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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A Federação, Porto Alegre, 23 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00148. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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24
A Federação, Porto Alegre, 23 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00148. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
25
A Federação, Porto Alegre, 23 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00148. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
26
A Federação, Porto Alegre, 23 de maio de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00148. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
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27
A Federação, Porto Alegre, 2 de abril de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00156. Disponível em: <http://
memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
28
A Federação, Porto Alegre, 2 de abril de 1904. Ano 1904 - Arquivo 00156. Disponível em: <http://
memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 30 nov. 2017.
29
Carta de José Carlos Carvalho. Saint Louis, Estados Unidos, 2/4/1904. 8 folhas. Documento
12106. Descritores: Política Internacional, Partido Republicano Rio-Grandense, Exposição Inter-
nacional.
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Nos poucos dias que estive em Nova York, vi alguma couza de interessante
nos trabalhos de escavação e conservação desse porto. As machinas modernas
fazem prodígios em pouco tempo, e ahi no Brazil acredito que se tinha noticia
destes trabalhos novíssimos, pelo que dizem revistas especiaes [...] assistir
como se faz o trabalho e como se removem de prompto as dificuldades que
aparecem a todo o momento, e de inquestionável vantagem para tirar-se todo
o proveito da machina.30
30
Carta de José Carlos Carvalho. Saint Louis, Estados Unidos, 2/4/1904. 8 folhas. Documen-
to 12106. Descritores: Política Internacional, Partido Republicano Rio-Grandense, Exposição
Internacional.
31
CARVALHO, José Carlos. Carta. Saint Louis, Estados Unidos. 2/4/1904. 8 folhas. Documen-
to 12106. Descritores: Política Internacional, Partido Republicano Rio-Grandense, Exposição
Internacional.
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32
A Federação, Porto Alegre, 10 de abril de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00085. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
33
Site oficial da Exposição Universal de 1906. Disponível em: <http://mi1906.ning.com/>. Acesso
em: 1º mar. 2016.
34
Disponível em: <http://mi1906.ning.com/>. Acesso em: 1º mar. 2016.
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Figura 4 – Palácio da América Latina destinado às exposições de Argentina, Chile, Uruguai, Peru, Guate-
mala, Costa Rica, São Domingos e Rio Grande do Sul
35
A Federação, Porto Alegre, 11 de abril de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00086. Disponível em: <http://
memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
36
Disponível em: <http://mi1906.ning.com/>. Acesso em: 1º mar. 2016.
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37
“Como verá da correspondência official, além do salão de 136 metros quadrados, alguns exposi-
tores poderão servir-se de vitrines e de bases de estantes. Convirá, porem, que se decidam com
urgência”. Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Arquivo Borges de Medeiros.
Carta de Bruno Chaves. Roma, Itália, 1º/2/1906. 2 folhas. Documento 12147. Descritores: Políti-
ca internacional, Partido Republicano Rio-Grandense.
38
A Federação, Porto Alegre, 11 de abril de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00086. Disponível em: <http://
memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
39
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Arquivo Borges de Medeiros. Carta de
Bruno Chaves. Roma, Itália, 14/2/1906. 2 folhas. Documento 12148. Descritores: Política inter-
nacional, Partido Republicano Rio-Grandense.
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40
A Federação, Porto Alegre, 15 de outubro de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00239. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
41
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Arquivo Borges de Medeiros. Carta de
Murillo Furtado. Milão, Itália, 23/9/1906. 2 folhas. Documento 12143. Grifo nosso. Descritores:
Política internacional, Partido Republicano Rio-Grandense.
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42
A Federação, Porto Alegre, 15 de outubro de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00239. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016. Grifo nosso.
43
A Federação, Porto Alegre, 3 de setembro de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00206. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016. Grifo nosso.
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44
A Federação, Porto Alegre, 3 de setembro de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00206. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016. Grifo nosso.
45
A Federação, Porto Alegre, 29 de agosto de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00202. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
46
“Ao próprio rei não vacilou Moutier em fallar sobre o Rio Grande do Sul e fazer breve e eloquente
improviso alusivo ao heroe Garibaldi e suas primeiras campanhas na arte da guerra pela liber-
dade no território do Rio Grande. Aproveitou elle para isso o momento em que o rei se detinha
a examinar o projecto em gesso da estatua de Garibaldi”. A Federação, Porto Alegre, 17 de de-
zembro de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00291. Disponível em: <http://memoria.bn.br/hdb/periodico.
aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
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Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Arquivo Borges de Medeiros. Carta de
Murillo Furtado. Milão, Itália, 12/11/1906. 2 folhas. Documento 12144. Descritores: Política inter-
nacional, Partido Republicano Rio-Grandense.
48
“Como é de seus hábitos, o rei d’Italia não acceitou, confessando-se penhoradíssimo. Estres fac-
tos parecem indicar a previsão de ser revogado o celebre decreto Prinetti, contrário a imigração
para o Brasil”. A Federação, Porto Alegre, 17 de dezembro de 1906. Ano 1906 - Arquivo 00291.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 1º mar. 2016.
49
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Arquivo Borges de Medeiros. Carta de
Murillo Furtado. Milão, Itália, 12/11/1906. 2 folhas. Documento 12144. Descritores: Política inter-
nacional, Partido Republicano Rio-Grandense.
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GROSSELLI, R.; GIANOTTI, A. Vencer ou morrer: camponeses trentinos (Vêne-
tos e Lombardos) nas florestas brasileiras. Florianópolis: UFSC, 1987.
MACEDO, Oigres Leici Cordeiro de. Construção diplomática, missão arquite-
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Nova York (1939). 2012. 268 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo)
140
João Carlos Tedesco | Giovani Balbinot
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Política imigrantista e identidade étnica: o elemento teuto-brasileiro na visão de...
Política imigrantista e
identidade étnica:
o elemento
teuto-brasileiro na visão
de Karl von Koseritz
Tiago Weizenmann
O
s diversos escritos deixados por Karl von Koseritz, bem como seu
engajamento na imprensa, na política e nos círculos intelectuais
do século XIX, permitem pensar sobre alguns dos condicionantes
fundamentais para uma identidade étnica teuto-brasileira em constru-
ção e que, ao longo do tempo, contribuíram para consolidar atributos
políticos e culturais como referenciais identitários pertinentes às gera-
ções descendentes das primeiras levas de imigrantes.1 Ao considerar a
sua chegada ao Brasil, em 1851, com destaque à intensa atuação polí-
1
A apresentação deste texto é parte dos resultados obtidos nos estudos desenvolvidos na cons-
trução da tese de doutoramento (WEIZENMANN, 2015), ao analisar e compreender as possibi-
lidades criadas por Karl von Koseritz na atuação em diversos empreendimentos tipográficos de
Porto Alegre, entre os anos de 1864 e 1890. O período entre sua chegada à capital da província
e sua morte configurou o momento de maior produção intelectual, enquanto jornais, álbuns ilus-
trados, folhas literário-científicas e almanaques constituíram os instrumentos fundamentais de
divulgação de suas ideias.
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Tiago Weizenmann
2
Brummer é o termo atribuído aos soldados mercenários contratados pelo Império brasileiro, que
chegaram ao país em 1851. Era uma legião composta por mais de 1.700 soldados, entre eles
50 oficiais, tecnicamente e intelectualmente qualificados para a guerra. Sua atuação voltava-se
às agitações políticas da metade do século XIX, na fronteira entre o Império brasileiro e as
nações platinas – Argentina e Uruguai. Brummer, em alemão, significa “zumbidor”, “rezingão”,
“murmurador”, descontente com a sua sorte. Um dos brummer relatava que chamavam assim
as moedas graúdas de cobre que recebiam os soldados como soldo, passando a expressão a
denominar os próprios mercenários. Depois de dissolvida a legião, alguns brummer passaram a
exercer influências política, social, econômica e cultural: Barão von Kahlden, além de Karl von
Koseritz, Wilhelm ter Brüggen e Frederico Hänsel, que foram membros da Assembleia Provincial
do Rio Grande do Sul; Herrmann Rudolf Wendroth, pintor que registrou em aquarelas a vida da
província naqueles tempos; Franz Lothar de la Rue, primeiro diretor da colônia de Teutônia; Carl
Otto Brinckmann, atuou na imprensa em Santa Maria; Carlos Jansen, jornalista em Porto Alegre
(WEIZENMANN, 2015, p. 31-34).
3
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 10/7/1889.
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Política imigrantista e identidade étnica: o elemento teuto-brasileiro na visão de...
Rotermund, ao dizer que Koseritz era o líder, embora agradável para al-
guns ou lamentável para outros, “[...] podemos felicitar a coletividade por
esse líder ou podemos cordialmente deplorar esta situação. O fato é que o
senhor Koseritz, entre todos, é o que goza de maior confiança dos teutos
na Província” (DEUTSCHE POST, 1882 apud GANS, 2004, p. 247).
Na historiografia sobre a imigração alemã no Brasil, a discussão
sobre a identidade teuto-brasileira tem reforçado e elucidado, ainda que
não o suficiente, a contribuição de Karl von Koseritz para a temática.
Nessa perspectiva, Martin Dreher (2001, p. 8) refere-se a três distintos
grupos que ofereceram, já no século XIX, orientações filosófico-religiosas
para a população imigrante e para os seus descendentes estabelecidos
no Brasil. Tal classificação, que define uma história intelectual para a
imigração alemã no sul do Brasil, coloca em evidência duas importantes
vertentes religiosas, sobretudo na figura dos pastores Wilhelm Roter-
mund e Hermann Dohms, para os teuto-brasileiros luteranos, e na figura
dos jesuítas Theodor Amstad e Max von Lassberg, para o contingente
católico. Finalmente, uma terceira orientação encontrar-se-ia vinculada
à liderança de Karl von Koseritz e reuniria, sobretudo, uma vertente de
cunho liberal,4 sendo, diferente das anteriores, desprendida dos movi-
mentos religiosos. Nesse ponto, devemos pensar que a vertente liberal
em Koseritz não se apresentava somente no sentido político-partidário,
mas muito mais, como bem lembra Guilhermino Cesar (1971, p. 252),
na presença do racionalismo agressivo e contundente. A demonstração
dessa heterogeneidade, marcada pela existência das diferentes correntes
de pensamento que mobilizaram imigrantes e descentes de uma maneira
distinta, aponta para o reconhecimento das disputas travadas entre os
grupos.
Diante dessas considerações iniciais, podemos afirmar que, assim
como alguns estudiosos já o fizeram,5 Koseritz é um proponente original
4
Hailke R. K. da Silva ainda se refere a outros critérios que podem ser utilizados para elencar lide-
ranças. Para tanto, cita-se a afirmação de René Gertz, quanto à chamada “Geração de 48”, que
teria trazido consigo uma experiência política e de guerra maior, além de pertencerem a níveis
sociais e culturais mais privilegiados, se comparados aos primeiros emigrantes (SILVA, 2005, p.
301; GERTZ, 1987, p. 34).
5
É importante ressaltar que, entre os estudos realizados, Oberacker Jr. sinaliza o papel primordial
desempenhado por Koseritz para a instituição de uma ideologia teuto-brasileira. Segundo ele,
“[...] ninguém melhor do que Koseritz, talvez manifestou de modo tão claro e categórico, a ideia
de uma germanidade radicada no solo do País” (1961, p. 52).
144
Tiago Weizenmann
6
A nacionalidade é definida a partir do território onde a pessoa nasce.
7
Atribui-se determinada nacionalidade a alguém, levando em consideração critérios consanguíne-
os de ancestralidade.
8
Para Seyferth (1999, p. 75), “[...] mais do que as diferenças concretas, caracterizáveis como
étnicas, o discurso sobre Deutschtum e Deutschbrasilianertum, e a ênfase, principalmente da
elite local, na identidade teuto-brasileira, deram margem a conflitos, principalmente para aqueles
cuja trajetória de ascensão social ultrapassou os limites da comunidade local, e pelo fato de a et-
nicidade ser considerada pelos brasileiros como obstáculo à assimilação e risco para a unidade
nacional”.
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9
Koseritz’ Deutscher Volkskalender, 1880, p. 169.
146
Tiago Weizenmann
“Nós não vivemos no Brasil sob a bandeira alemã, mas pela língua e pe-
los costumes fazemos parte da Alemanha; nós estamos ligados por todas
as fibras do coração à velha pátria, politicamente, porém, somos plena e
completamente cidadãos brasileiros [...]” (KOSERITZ, 1885, p. 241).
Ao analisar as categorias que compõem a questão identitária do teu-
to-brasileiro e que estão presentes em Koseritz pelo viés da imprensa,
percebemos que ele dimensiona conscientemente duas perspectivas dife-
rentes, mas complementares: a esfera étnico-cultural e a esfera política.
Traço original do seu pensamento, trouxe à tona uma necessidade que se
mostrava basilar, separando a face político-estatal da cultural. Compre-
ender essa perspectiva, segundo Oberacker Jr. (1961, p. 53), é diferenciar
Koseritz de outros casos que, de alguma maneira, tiveram importância
na definição teuto-brasileira. Johann Daniel Hillebrand, um dos direto-
res da Colônia de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, referenciado por
Koseritz como o “Patriarca de São Leopoldo”,10 por exemplo, não teria
contribuído para a construção teórica de uma concepção teuto-brasileira,
uma vez que não compreendera a importância em separar a cidadania
política do imigrante no Brasil da esfera cultural. De outro modo, o tra-
ço original de Koseritz confirma-se pela criação de uma alternativa a
correntes que detinham maior influência sobre as áreas de colonização
alemã. Fez valer uma identidade teuto-brasileira que não se encontrava
ligada à vertente religiosa, fosse ela católica ou protestante. Projetou
uma via de participação política capaz de manifestar os interesses, os
anseios e os direitos de uma população que reivindicava o seu espaço de
cidadania. Era, portanto, uma via independente e liberal.
Para André Fabiano Voigt (2008, p. 119-120), ao propor um estu-
do sobre aquilo que denomina de “invenção do teuto-brasileiro”, desta-
ca que algumas releituras realizadas a partir do papel de Koseritz no
contexto da colonização alemã, em especial no artigo apresentado por
Arpad Szilvassy no I Colóquio de Estudos Teuto-brasileiros,11 em 1963,
equivocaram-se, ao atribuir ao intelectual do século XIX a separação do
político-estatal do cultural.
10
Koseritz’ Deutscher Volkskalender, 1874.
11
O “I Colóquio de Estudos Teuto-brasileiros” foi realizado entre os dias 24 e 30 de julho de 1963,
organizado pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Intelectuais ligados aos estudos da imigração alemã no
Brasil participaram do colóquio, como Emílio Willems, Artur Hehl Neiva, Egon Schaden, José
Fernando Carneiro, além do convite feito a Gilberto Freyre para presidi-lo, embora não pudesse
comparecer (VOIGT, 2008, p. 107).
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12
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 25/10/1885.
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13
Koseritz’ Deutscher Volkskalender, 1879.
14
Sobre sua passagem no Rio de Janeiro e Petrópolis, Koseritz não consegue reconhecer os nú-
cleos germânicos como semelhantes aos instalados nas regiões coloniais do Rio Grande do Sul.
Para tanto, basta observar os registros que se encontram na obra Bilder aus Brasilien, de 1885
(KOSERITZ, 1885, 1972).
15
Gazeta de Porto Alegre, 10/3/1879.
151
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16
Deutsche Zeitung, 21/2/1879.
17
Como já destacamos anteriormente, embora tenha ocorrido uma aproximação durante quinze
anos, com a entrada de Koseritz como redator do jornal Deusche Zeitung, sendo Wilhelm ter
Brüggen um dos administradores do periódico, o rompimento definitivo ocorreu em 1881, tendo
em vista as fortes divergências que se apresentaram entre eles, devido à Exposição Brasileira-
-Alemã.
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Tiago Weizenmann
18
Segundo Giralda Seyferth (2002, p. 131), é possível encontrar discursos xenofóbicos e panfletá-
rios em Silvio Romero, especialmente aqueles apresentados na Conferência no Real Gabinete
Português de Leitura do Rio de Janeiro, em 1902, bem como em texto datado em 1906.
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19
O texto ao qual Alberto Luiz Schneider se refere é “O elemento português no Brasil”, no qual
Romero condensa e aprofunda suas especulações sobre a herança ibero-lusitana na formação
histórica e cultural do Brasil, considerando, entre outras coisas, a primazia dos portugueses na
fundação da nacionalidade brasileira.
20
Herrmann Blumenau foi fundador da colônia de mesmo nome, em Santa Catarina. Hugo Gruber
ocupou o cargo de diretor do jornal Allgemeine Deutsche Zeitung, no Rio de Janeiro.
21
Anais da Assembleia da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1885, p. 23-24.
154
Tiago Weizenmann
22
Seus nomes estão também nos manifestos, publicados em diferentes jornais, como o manifesto
público ao povo brasileiro no jornal Koseritz’ Deutsche Zeitung, 12/11/1883, bem como o segun-
do manifesto, impresso no mesmo jornal, em 18/12/1883.
23
A perspectiva de Michael Hall (1976, p. 148) sustenta uma análise baseada na formação de uma
classe média, com o incentivo à pequena propriedade, em detrimento do latifúndio, tarefa que
passava a ser sistematicamente defendida pela Sociedade Central de Imigração. O seu estudo
busca compreender as características e limitações do liberalismo da classe média do Brasil do
século XIX, a partir da análise da organização, das atividades e do programa da sociedade.
155
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Tiago Weizenmann
26
Na Sociedade Central de Imigração de Porto Alegre, os sócios podiam ser as pessoas que se re-
gistrassem em lista e que pagassem, previamente, a contribuição anual de 6$000 réis. Koseritz’
Deutsche Zeitung, 8/10/1884.
27
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 8/11/1883.
28
Tradução de Steyer (1979, p. 23-24).
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29
Encontra-se, dias depois, no jornal de língua alemã, o projeto de estatuto da entidade, com sede
na capital da província. Koseritz’ Deutsche Zeitung, 8/10/1884.
30
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 29/11/1884.
158
Tiago Weizenmann
novos sócios, afirmando que “já hoje a elite de toda sociedade do Rio já
pertence à jovem associação”, e que a Sociedade Central de Berlim en-
contraria um grande apoio na Sociedade Central de Imigração do Rio de
Janeiro.31 De maneira geral, foram frequentes as referências e os textos
sobre a Sociedade, reproduzidos do Allgemeine Deutsche Zeitung para o
jornal de Koseritz, em Porto Alegre.32
Como já destacado, a questão de imigrantes chineses no Brasil trans-
formou-se em uma das pautas mais importantes da Sociedade Central de
Imigração, o que acabou dividindo opiniões entre políticos do Império.
Em cartas aos seus jornais,33 Koseritz (1972, p. 208) chegou a citar o
grande entusiasmo dos barões do café durante a presença do embaixador
chinês no Rio de Janeiro, em 1883, e o grande apoio desses cafeicultores
ao projeto da “imigração amarela”, como forma de preservar a “vida va-
gabunda” e substituir os escravos negros. O que estava em jogo, segundo
sua impressão, era o egoísmo dos fazendeiros, mesmo que houvesse uma
expressiva opinião pública contrária aos “filhos do Celeste Império”.
Como destaca Egon Frederico Steyer (1979, p. 28), a ideia de trazer
do Extremo Oriente os cules chineses era muito popular entre latifundi-
ários e políticos. O barão de Cotegipe era um de seus defensores, e sua
ideia reforçou-se, segundo o exposto pelo Koseritz’ Deutsche Zeitung,34
após conhecer pessoalmente as colônias de Santa Catarina e conven-
cer-se da existência de uma “ameaça alemã”. Nesse contexto, proferiu
discursos no Senado favoráveis à imigração de chineses, que seria mais
segura e ocorreria de maneira paralela à europeia, o que resultou na
aprovação da verba para a imigração, sendo utilizada igualmente para
promover a vinda de chineses ao país.
Na outra ponta, a Sociedade de Imigração passou a fazer campa-
nha sistemática contra a vinda de orientais para o Brasil, argumentando
que o incentivo à imigração europeia seria o elemento diferencial para
a solução do país. A isso ainda se somavam discursos preconceituosos
31
A notícia termina com a reprodução do breve artigo de Ferdinand Schmid para o jornal Allgemei-
ne Deutsche Zeitung, no qual fala sobre a realização do evento descrito por Koseritz. Koseritz’
Deutsche Zeitung, 27/11/1884.
32
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 13/12/1883; 5/3/1884.
33
Há uma descrição sobre a visita de Koseritz ao Imperador, acompanhado de sua filha, e durante
a sua saída do palácio imperial, observou a presença do embaixador chinês para também reali-
zar sua audiência com D. Pedro II (KOSERITZ, 1972).
34
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 8/11/1883.
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Segundo Hall (1976, p. 160), até mesmo “Taunay, normalmente um homem refinado e compas-
sivo, apressou-se a informar ao público brasileiro” impressões preconceituosas para com os
chineses.
36
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 24/11/1883.
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39
A Central Verein für Handelsgeographie tinha sede em Berlim, incluindo representações em al-
gumas cidades brasileiras, como Porto Alegre.
162
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40
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 31/12/1884.
41
O jornal vinha noticiando artigos sobre as “florescentes colônias” da província do Rio Grande do
Sul, a partir dos escritos do cônsul italiano – sob o título “As nossas colônias julgadas por um es-
trangeiro imparcial”. O texto em questão era o quinto de uma mesma série. O Paiz, 25/11/1884.
42
Não foi possível identificar quem foi “Flávio”.
43
Essa referência feita pelo jornal O Paiz aos escritos de Koseritz encontra-se em citação direta –
“mais ou menor por este trecho e com pequenas variantes para pior está calcado o trabalho do
Sr. Koseritz”. O Paiz, 25/11/1884.
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Tiago Weizenmann
44
Depois de viver anos no Brasil, Joseph Hörmeyer (1824-1866) dedicou-se a atividades literárias
na Alemanha. Chegou ao Rio de Janeiro, como Capitão de Infantaria, em 1851 e foi destacado
para o Rio Grande do Sul, assumindo uma tropa na guerra contra o argentino Rosas. Após o
conflito, viveu algum tempo nas colônias alemãs de Santa Catarina. Retornou, posteriormente, à
Alemanha e publicou, em 1854, Beschreibung der Provinz Rio Grande do Sul in Südbrasilien mit
besonderer Rücksicht auf deren Kolonisation (Descrição da Província do Rio Grande do Sul, com
especial atenção à sua colonização), pelo qual recebeu uma boa crítica no Allgemeine Auswa-
nderungs Zeitung, um dos mais importantes jornais sobre a imigração alemã nesse período.
165
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Como destaca Gerson Norberto Neumann (2005, p. 50-52), a produção de Joseph Hörmeyer é
propagandística, ao tentar desviar a intensa emigração alemã dos EUA para o Brasil. “Nesse pe-
ríodo Hörmeyer também entra em conflito com J. J. Sturz, antigo cônsul brasileiro em Hamburg,
que fazia propaganda contra a emigração alemã para o Brasil com textos agressivos em jornais
e revistas alemães”. O governo brasileiro o nomeou como agente de imigração em Viena. É de
sua autoria a obra literária Was Georg seinen deutschen Landsleuten über Brasilien zu erzählen
weiss, reescrita em nova versão para o título Georg, der Auswanderer. Oder: Ansiedlerleben in
Süd-Brasilien.
45
Koseritz’ Deutsche Zeitung, 31/12/1884.
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Tiago Weizenmann
Considerações finais
Para finalizar, ao considerar a presença de Koseritz nas discussões
sobre a identidade teuto-brasileira, confirma-se seu papel como intelec-
tual, manifestação que se revela em seu engajamento público e político
sobre o tema da imigração. Poder-se-ia, também, apontar para a constru-
ção daquilo que foi denominada por Oberacker Jr. (1961) como a ideolo-
gia teuto-brasileira, ao destacar a figura emblemática assumida por Ko-
seritz ao ser um dos primeiros a discutir os elementos de uma identidade
em construção, fossem eles políticos ou culturais. Seu pensamento, nessa
perspectiva, encontra-se nas mais diferentes tarefas que desempenhou
como político, redator da imprensa ou advogado de causas públicas, na
defesa de alemães e descendentes. Contudo, como observa Ana Elisete
Motter (1998), a imprensa pareceu constituir um significado maior para
a construção da concepção teuto-brasileira, uma vez que, no espaço da
tribuna na Assembleia Legislativa, o programa de Koseritz em muito
pouco tratou da preservação da língua e da cultura germânicas entre
teutos e teuto-brasileiros no país.
Para Motter (1998, p. 151), essa cautela representava uma estraté-
gia para que se evitassem “as prevenções de deputados luso-brasileiros
em relação à diversidade étnica do elemento teuto”, presente na provín-
cia. Nesse sentido, como lembra Motter (1998, p. 77), Koseritz proferiu
apenas um discurso na Casa Legislativa, no qual defendeu o direito aos
teuto-brasileiros de utilizarem a língua alemã e de continuarem preser-
167
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Referências
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trismo e contra a ‘ameaça’ do ‘elemento chinez’, cujo ‘odio à raça branca é innato’.
2014. Disponível em: <http://midiacidada.org/sociedade-central-de-immigracao-
-em-defesa-do-eurocentrismo-e-contra-a-ameaca-do-elemento-chinez-cujo-odio-
-a-raca-branca-e-innato/> Acesso em: 27 dez. 2014.
46
Deutsche Zeitung, 14/5/1864.
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Tiago Weizenmann
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Ironita A. Policarpo Machado
Colonização e
capitalização: relações
jurídicas e
político-econômicas no
norte do Rio Grande do Sul
Ironita A. Policarpo Machado
Introdução
C
olonização e capitalização apresentam um elo histórico. A afirma-
ção da existência de um elo entre o público e o privado na ocupação
e comercialização de terra, no processo de capitalização sul-rio-
-grandense, na República Velha, considera que, de um lado, atuavam as
Comissões de Terras e Colonização, subordinadas à Diretoria de Terras
e Colonização, por sua vez, afeta à Secretaria dos Negócios das Obras
Públicas do estado, determinando a centralização e o controle do poder;
de outro, as companhias particulares de colonização e empresas de ini-
ciativa privada de infraestrutura e/ou exploração e comercialização de
recursos naturais, na maioria das vezes tuteladas pelo Estado.
171
Colonização e capitalização: relações jurídicas e político-econômicas no norte do...
1
Núcleos que concentravam a administração das terras públicas: núcleo que abrangia as terras
nos municípios de Cachoeira, Rio Pardo, Santa Cruz, Venâncio Aires, Lajeado e Soledade, sob a
administração da Comissão de Terras de Soledade, foi seu primeiro chefe o engenheiro Lindolfo
Alípio Rodrigues da Silva, em 1908; em 1890, foi criada a colônia Ijuí; em 1891, a colônia Gua-
rani; em 1908, foi criado o núcleo que abrangia terras do município de Erechim, sendo nesse a
sede da Comissão de Terras, seguindo na direção norte até a divisa com Santa Catarina. Como
chefe desta colônia, Carlos Torres Gonçalves nomeou Severiano de Souza Almeida; em 1915,
seguindo a estrada de ferro do norte do estado, foi instalado o núcleo, com sede localizada no
município de Santa Rosa; o diretor-chefe era o engenheiro João de Abreu Dahne; outro núcleo
de colonização do norte do estado concentrou-se no município de Palmeira das Missões, com
instalação da Comissão de Terras e Colonização em 1917, sob a direção de Frederico Westhalen
(cf. DALLA NORA, 2006; FRANCO, 1975; JACOMELLI, 2004).
2
Ações Cíveis da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Acervo do Judiciário, Arquivo Histórico
da Universidade de Passo Fundo.
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Ironita A. Policarpo Machado
3
Os processos civis (Justiça do Estado RS), Comarca de Cruz Alta, Soledade e Passo Fundo –
Arquivo Histórico Regional da Universidade de Passo Fundo (AHR-UPF) e Arquivo Público do
Estado do Rio Grande do Sul (APERS) –, de tipologias restituição de posse, reivindicação de
propriedade, dissolução de sociedade, esbulho, execução, entre outras, permitem identificar as
relações entre privado e público, colonização e capitalização.
4
Processo de Reivindicação. Dr. Rodolpho Ahrons e Dr. Timotheo Pereira da Rosa vs. Carlos
Guilherme Theophilo Sontag. Juízo Distrital do Civil e Crime de Soledade, Rio Grande do Sul.
1930. AHR-UPF, acervo do Judiciário.
5
Documento da Secretaria das Obras Públicas – Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio
– Secretaria da Agricultura e Abastecimento. AHR-UPF.
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174
Ironita A. Policarpo Machado
175
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[...] então terceiro distrito da Cruz Alta, sobre a Serra Geral do Taquari, divi-
dindo-se com o rio Fão ao nascente e com o Lageado Honorato; ao sul, com uma
picada que vai do campo para o Rio Taquari; ao poente com uma coxilha seca
que divide as águas do Lageado Honorato das do Lageado Grande, tendo mais
ou menos três quartos de légua.7
7
Processo de Reivindicação. Dr. Rodolpho Ahrons e Dr. Timotheo Pereira da Rosa vs. Carlos Gui-
lherme Theophilo Sontag. Juízo Distrital do Civil e Crime de Soledade, Rio Grande do Sul. 1930,
p. 50. Arquivo da autora, Síntese – Processos Civis – Terra, 1870 a 1930, décadas de 1920/30;
e AHR-UPF, acervo do Judiciário.
8
Documento juntado ao Processo Civil de Reivindicação de Propriedade - 1930. AHR-UPF.
176
Ironita A. Policarpo Machado
Fonte: Arquivo da autora. Processos Civis 1870 a 1930, AHR-UPF acervo do Judiciário. Adaptação de Alex Vanin.
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’ Processo Civil de Reivindicação de Propriedade, 1930. AHR-UPF.
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Processo Civil de Reivindicação de Propriedade, 1930. AHR-UPF.
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Dados retirados das plantas das terras e das cadernetas de campo. AHR-UPF: A-2.4. Secretaria
das Obras Públicas – Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio / Secretaria da Agricultura
e Abastecimento / Secretaria da Agricultura. Ver Anexo 11 - Plantas e Cadernetas de Campo de
Terras indenizadas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul na República Velha, p. 282.
182
Ironita A. Policarpo Machado
Fonte: Arquivo da autora. Processos civis 1870 a 1930, AHR-UPF, acervo do Judiciário. Adaptação de Alex Vanin.
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Figura 3 – Plantas e cadernetas de campo de terras indenizadas pelo governo do estado do Rio Grande do
Sul na República Velha
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Processo Judicial de Hipoteca. Leonardo Seffrin (credor) vs. Aníbal Gregório Alonso (devedor).
Juízo Distrital do Civil e Crime de Soledade, Rio Grande do Sul. 1911. Arquivo da autora, Síntese
– Processos Civis – Terra – 1870 a 1930, década de 1910; e AHR-UPF, acervo do Judiciário.
21
Arquivo digitalizado dos autores e Casa de Cultura de Soledade – Soledade, Rio Grande do Sul.
22
Escritura de Hipoteca, Livro 55 “b”, fls. 86, de 1930, Cartório de Notas, 17 de maio de 1930,
Soledade. Fonte: Arquivo digitalizado da autora e Casa de Cultura de Soledade – Soledade, Rio
Grande do Sul.
23
Extrato n° 8.939, p. 98 v; n° 212, p. 13, do Livro nº 2 “A”, do Protocolo apresentado em Soledade
em 03 de fevereiro de 1928. Casa de Cultura de Soledade – Soledade, Rio Grande do Sul.
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Cf.: Axt (2001), Reinheimer (2007), Guerreiro (2005), Processos Civis – Terra – 1870 a 1930,
décadas de 1920/30, e AHR-UPF, acervo do Judiciário.
28
Cf.: Axt (2001); Reinheimer (2007); Guerreiro (2005); Processos Civis – Terra – 1870 a 1930,
décadas de 1920/30; e AHR-UPF, acervo do Judiciário.
29
Outras companhias são citadas, mas não obtivemos outras fontes de consulta; portanto, sendo
apenas referências, optamos em não incorporá-las no corpo do texto. São as seguintes: Tomas
Cia. & Chispim José Silva, os sócios diretores eram cidadãos moradores de Soledade e Cruz
Alta e tinham relações comerciais com V. Torres e Cia. de comerciantes da capital do estado; F.
G. Bier e Cia. um de seus acionistas era Emílio Textor, morador do 5º distrito de Soledade; Fraeb
Hieckole e Cia detinha a hipoteca de terras de Luiz Landroigt e outros, no município de Cruz
Alta. Fonte: Processos Civis – Terra – 1870 a 1930, décadas de 1920/30; e AHR-UPF, acervo do
Judiciário.
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Considerações finais
Diante das questões apresentadas referentes a colonização e capita-
lização sul-rio-grandense através de relações jurídicas e político-econô-
micas, podemos afirmar que, a partir da última década do século XIX, a
figura do proprietário fundiário começa a se associar e/ou ceder lugar às
companhias de loteamento, criadas especificamente para atuar no mer-
cado de terras e no ideário da modernização das lideranças locais e do es-
tado por meio da expansão demográfica e da produção agrícola da região,
32
Segundo Strohaecker (2005), a Companhia Predial e Agrícola foi a única empresa que conse-
guiu sobreviver aos difíceis anos que deram início ao século XX. Com a incorporação das extin-
tas companhias Territorial Porto Alegrense, Territorial Rio Grandense e Cia. Rural e Colonizado-
ra, a Companhia Predial e Agrícola praticamente monopolizou o mercado de terras da capital do
estado até a metade da década de 1920. Ela detinha um patrimônio fundiário considerável na
periferia da cidade em arrabaldes ou bairros emergentes da zona sul (Glória, Teresópolis, Parte-
non), como nos bairros ao norte da capital (Navegantes, São João, Higienópolis e Auxiliadora).
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194-13.htm>. Acesso em: 20 maio 2018.
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Susana Cesco
Desmatamento e
migração no Alto Vale
do Rio do Peixe
Susana Cesco
Introdução
O
s trabalhos recentes sobre imigrações e colonização não deixam
de analisar os fatores ambientais condicionantes desses proces-
sos e, por vezes, elementos fundamentais e até instigadores de
tais eventos. Pesquisas de autores como Donald Worster, Warren Dean
ou Keith Thomas, por exemplo, que passaram a incluir a cobertura flo-
restal de uma região como “sujeito” da história, não podem mais ser igno-
radas e acrescentaram novos elementos à pesquisa histórica.
Pesquisas mais antigas sobre o tema migrações e colonização no
Brasil, realizadas até meados do século XX, têm por base a tradição de
antigos viajantes, como Saint-Hilarie, Avé-Lallemant, von Tschudi, en-
tre outros. No caso específico do Alto Vale do Rio do Peixe, no estado de
Santa Catarina, mesmo não tendo sido rota desses naturalistas/viajan-
tes estrangeiros que se aventuraram pelo interior do Brasil até o século
XIX, os textos produzidos tiveram inspiração nesses relatos de viajantes.
As obras de autores que escreveram sobre o local fizeram uso de longas
descrições e se apropriaram das noções de civilizado e selvagem. Tais
textos, em sua maioria, descreveram o estado de Santa Catarina, para
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Desmatamento e migração no Alto Vale do Rio do Peixe
além da serra, como um sertão bravio e selvagem, que precisava ser des-
bravado e civilizado.
A identificação, muito comum nesse período, de regiões pouco ou não
povoadas33 como “sertões” ou “grotões”, em oposição às cidades, foi uma
clara divisão da sociedade brasileira em espaços simbólicos dicotômicos
(ARRUDA, 2000, p. 13). Essa divisão é, mais que tudo, uma forma de
atribuir qualidades positivas a uma das partes – no caso, as cidades – e
mostrar que a outra – o sertão – pode vir a ser tão boa quanto as cida-
des, desde que domesticada e civilizada, além de ocupada por modernos
equipamentos.
As representações envolvidas nesse processo de explicação da sociedade bra-
sileira remetem a outros termos que historicamente formaram pares opostos:
moderno/arcaico, civilizado/incivilizado, progresso/atraso. Cidades e sertões
são termos que traduzem novas sensibilidades surgidas no processo acelerado
de concentração populacional e de urbanização, por que algumas regiões pas-
saram na primeira metade deste século. Mais propriamente pode-se falar que
se trata de “lugares da memória” do processo de urbanização vivenciado de
diferentes formas por diversos contingentes populacionais. Processo de trans-
formação das paisagens, de construção e reelaboração de representações sobre
o território e populações (ARRUDA, 2000, p. 14).
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Susana Cesco
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Entende-se por recursos naturais o que tinha valor econômico no período, ou seja, a madeira e
outros produtos agropastoris e florestais abundantes na região e passíveis de serem explorados
economicamente.
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Folheto de propaganda em língua alemã, acervo de Evangelischer Zentralarchiv, Berlin, [192?].
Tradução de João Klug.
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Folheto de propaganda em língua alemã, acervo de Evangelischer Zentralarchiv, Berlin, [192?].
Tradução de João Klug. Grifos do autor.
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Folheto de propaganda em língua alemã, acervo de Evangelischer Zentralarchiv, Berlin, [192?].
Tradução de João Klug. Grifos do autor.
39
Processo de venda de terras da Lumber a Bertholdo Mendes de Queirós, Comarca de Porto
União, 16 de outubro de 1928.
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Iniciada em outubro de 1912, na região sul do país, foi um conflito armado que opôs forças do
governo (federal e estadual) e sertanejos que viviam na região disputada, área entre os estados
de Santa Catarina e do Paraná. Estendeu-se por 4 anos, até 1916, e estima-se que tenha dei-
xado mais de 10 mil mortos. Guerra do Contestado – 100 anos (1912/16 - 2012). Disponível em:
<https://cpdoc.fgv.br/contestado/abertura>. Acesso em: 11 jan. 2019.
41
Sobre o tema, ver As tropas da moderação, de Alcir Lenharo (1993), e “Pobres rurais e
desflorestamento no interior fluminense na segunda metade do século XIX”, Ailton Fernandes da
Rosa Junior e Susana Cesco (2013).
42
Sobre o tema, ver Lideranças do Contestado: a formação e atuação das chefias caboclas (1912-
1916), de Paulo Pinheiro Machado (2004).
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Desmatamento e migração no Alto Vale do Rio do Peixe
a hydrografia é exelente, sendo que as terras são cortadas por muitos rios e
arroios, afluentes do Rio do Peixe, de modo que cada lote é banhado por águas
correntes; mata virgem, não existe campo [...]. A qualidade geral do solo é
humoso; a cor do solo é escura (tosca); na qualidade das matas predomina a
de mato branco, encontrando-se pinheiros ralos e ainda alguma mancha de
pinheiro fechado e de grande porte, sendo as demais madeiras de lei, como:
angico, sedro [sic], louro, cabriúva, etc.43
43
Processo de terras. Legitimação de posse requerida por Alberto Schmidt no ano de 1935 ao
Governo de Santa Catarina.
44
Processo de terras. Legitimação de posse requerida por Alberto Schmidt no ano de 1935 ao
Governo de Santa Catarina.
45
Processos de terras. Legitimação de posse requerida por Alberto Schmitt no ano de 1935 ao
Governo de Santa Catarina.
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Susana Cesco
Imagens da região
O início do século XX, em especial as décadas de 1930 e 1940, vi-
vencia também uma nova ferramenta para estimular a imigração e a
colonização da região do Alto Vale do Rio do Peixe, qual seja, a fotogra-
fia. Se, de acordo com Vania Carneiro Carvalho, “a pintura se detém na
representação da natureza selvagem e da vida no campo, o fenômeno da
urbanização é amplamente registrado pela fotografia” (1998, p. 225 apud
ARRUDA, 2000, p. 82). A natureza urbanizada, adaptada ao desenho das
46
Texto datilografado da prefeitura de Caçador, de 11 de abril de 1935. Acervo da Biblioteca Muni-
cipal de Caçador.
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Considerações finais
Revelar o valor real da floresta e a relação mantida entre o homem
e o meio natural foi o que se procurou apresentar neste trabalho. Con-
siderada por seu valor muito além do econômico, a floresta do Alto Vale
do Rio do Peixe foi parte das causas e consequências da colonização, foi
personagem importante dos processos de ocupação e transformação da
região no início do século XX.
Considerando novos ângulos, observam-se melhor a floresta que co-
bria o “oeste selvagem” de Santa Catarina e as relações sociais existentes
em torno dela e dos usos que lhe foram atribuídos. Observando as pri-
meiras tentativas de povoamento, as propagandas para venda de terras
e instalação de imigrantes de origem europeia vindos do Rio Grande do
Sul, percebe-se que o corte indiscriminado da floresta, na primeira me-
tade do século XX, não era motivo de preocupação, pois o recurso natural
era visto somente sob seu aspecto econômico, como uma “reserva” de di-
nheiro a ser administrado.
Tendo por base, além dos conhecidos textos sobre a região, entre-
vistas e fotografias, foi possível ver a colonização sob aspectos variados:
como as fotografias foram manipuladas ou construídas para passar a
imagem de progresso e desenvolvimento, como os novos habitantes locais
relacionaram-se com a mata que cobria suas terras recém-adquiridas e
como as descreviam em contratos e processos de legitimação. Toda a pes-
quisa, que passou desde o trabalho em arquivos e museus até as entre-
vistas feitas, serviu para mostrar o quanto a construção da história do
oeste catarinense é interessante e complexa.
Mais do que encerrar o debate, a intenção deste estudo foi mostrar
que a história do Alto Vale do Rio do Peixe e “outras histórias” careceram,
durante muito tempo, de um personagem: a floresta, e de uma análise
das relações dos antigos e novos habitantes da região com essa floresta.
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Desmatamento e migração no Alto Vale do Rio do Peixe
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222
Leandro Mayer | Maikel Gustavo Schneider
Introdução
E
ste estudo trata da propaganda empregada para a comercialização
de lotes de terras na colônia Porto Novo, projeto implantado pela
Volksverein em 1926, no Oeste de Santa Catarina. A colonização
foi planejada, organizada e promovida pela Volksverein für die Deuts-
chen Katholiken in Rio Grande do Sul (Sociedade União Popular para
Alemães Católicos no Rio Grande do Sul), destinada prioritariamente a
colonos de etnia alemã e católicos.
As campanhas publicitárias enfatizavam que as terras da colônia
Porto Novo eram muito férteis, sem “intrigas” ou “confusões”, ideais para
as famílias criarem os filhos dentro dos preceitos religiosos. Com esse
discurso, a colônia recebeu milhares de (i)migrantes nos primeiros anos
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Localizada no Noroeste do Rio Grande do Sul, a colônia Serro Azul foi fundada em 04 de outu-
bro de 1902, portanto, considerada colônia nova. Contudo, para os migrantes oriundos daquela
colônia, as terras vermelhas e as formigas motivaram a migração para Porto Novo.
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Fonte: autores.
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Complementa-se que:
É notória a elevada taxa de natalidade entre os imigrantes da época. Ao mes-
mo tempo a alimentação relativamente farta e equilibrada, somada aos há-
bitos e condições de higiene de bom nível, fizeram com que a mortalidade
infantil se situasse num limite aceitável. O resultado da soma desses fatores
levou a um permanente estado de saturação populacional nas comunidades
coloniais (RAMBO, 2011, p. 255).
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Disponível em: <historialocalportonovo.blogspot.com>. Acesso em: 14 nov. 2015.
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Nodari (2009, p. 42) aponta ainda que, além desses fatores, havia o
emprego da técnica do assédio e da persuasão por parte de agentes ven-
dedores a determinados membros da família, influenciando o processo
migratório:
[...] as famílias numerosas eram alvo das colonizadoras e podem ser aponta-
das, até certo ponto, como uma das causas da migração das colônias velhas do
Rio Grande do Sul para as novas terras em Santa Catarina. No Oeste, ainda
era possível a compra de glebas de terras contíguas, o que permitia que as
famílias permanecessem unidas, o que já não estava ocorrendo mais no Rio
Grande do Sul, onde as famílias tinham que se separar por causa da falta de
áreas perto dos pais.
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3
Livro Tombo, 1931, p. 6, Arquivo histórico da paróquia São Pedro Canísio, Itapiranga, SC.
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Figura 3 – Capa do livro Porto Novo: Urwaldsiedlung deutscher katoliken in Südbrasilien, 19334
4
A imagem da capa procura evidenciar duas finalidades principais. A primeira é a questão geográ-
fica. O mapa tem por objetivo situar a colônia Porto Novo, destacando as duas pátrias separadas
pelo oceano. A segunda é mostrar o que era a colônia Porto Novo: uma terra que ainda preci-
sava ser preparada para a agricultura, a começar pela derrubada da mata. Derrubar a floresta e
depois cultivar eram sinônimos de terra fértil. Dessa forma, a imagem da capa é importante em
ambos os aspectos citados, influenciando diretamente na comercialização dos lotes.
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Uma análise dos nomes dados às comunidades em formação da colônia Porto Novo revela que,
apesar da influência direta dos jesuítas na colonização, poucos são os associados à igreja ou,
até mesmo, à ordem dos jesuítas. Entre os nomes que remetem ao sentido religioso, estão Linha
Glória, Linha Santa Isabel, Linha Santa Thereza, Linha Santa Fé, Linha São Miguel, Linha São
Pedro, Linha São Paulo e Linha Capella. Nomes diversos são atribuídos às linhas, como Linha
Ipê, Linha Rickia, Linha Macaco Branco, Linha Hervalzinho, Linha Cotovelo, entre outros, o que,
de certa forma, mostra que os jesuítas perderam a luta simbólica relacionada aos nomes das
linhas, se é que tinham essa intenção.
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Isso justifica a formação e a atual conjuntura da Linha Presidente Becker, nome dado à co-
munidade em homenagem ao primeiro presidente da Volksverein, Jacob Becker. As famílias
residentes na comunidade atualmente, em sua grande maioria, são descendentes de imigrantes
vindos da Alemanha. Foi nessa comunidade que, em 1978, surgiu a Oktoberfest, festa que dá ao
município de Itapiranga o título de Berço Nacional da Oktoberfest.
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Foi então que no final da década de 1920, após ouvirem falar bastante sobre
o Projeto de Colonização Porto Novo, decidiram se migrar para essa região,
trazendo na bagagem alguns poucos pertences e as crianças nascidas em Ro-
lante. A viagem foi realizada de caminhão até o município de Mondaí, donde
os imigrantes seguiram de lancha sobre o Rio Uruguai até chegarem à casa do
Imigrante, que se localizava no local onde hoje funciona o Açougue Berwan-
ger, junto ao trevo em Itapiranga (JORNAL EXPRESSÃO, 2009, p. 10, grifos
nossos).
De Santa Cruz do Sul a Porto Novo – [...] Pedro nasceu em Santa Cruz do Sul
[...]. Como tantas outras famílias da época, também a família Wink foi atraída
para Porto Novo em função da propaganda que existia em relação a quali-
dade da terra disponível em nossa região. Em Santa Cruz do Sul as terras
já estavam desgastadas e havia poucos recursos para fertilização (JORNAL
EXPRESSÃO, 2010b, p. 17, grifos nossos).
Elvira Otília Luft por sua vez, nasceu em Poço das Antas, Boa Vista, no Rio
Grande do Sul [...]. Sua família se mudou para Itapiranga em 1948 quando
Elvira já tinha 19 anos. Em Poço das Antas a família se dedicava à agricultura
de subsistência e foi atraída para Itapiranga pela propaganda que existia em
relação a grande fertilidade da terra (JORNAL EXPRESSÃO, 2010b, p. 17,
grifos nossos).
Apesar da vida tranquila perto dos familiares, Bruno e Rosa sentiam de que
o solo da propriedade em que moravam já apresentava graves problemas de
fertilidade, devido às intensas colheitas feitas já há muitos anos pelos colo-
nizadores das velhas colônias do Rio Grande do Sul. Era preciso buscar um
solo fértil para continuar a construir a família. Nesse sentido constantemente
ouvia-se nas rodas de conversas e nas reuniões comunitárias a propaganda
de uma nova terra, uma nova colônia que estava de portas abertas para rece-
ber agricultores interessados em cultivar um solo fértil e construir os valores
familiares e comunitários nos velhos e bons costumes cristãos (JORNAL EX-
PRESSÃO, 2011, p. 37, grifos nossos).
Considerações finais
Em linhas gerais, a colonização de Porto Novo teve características
de relativas homogeneidades étnica e religiosa. Executada pela Volksve-
rein e desenvolvendo-se em meio a uma região de matas, cujos limites
geográficos são o estado do Rio Grande do Sul e a República Argentina,
240
Leandro Mayer | Maikel Gustavo Schneider
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João Carlos Tedesco | Rosane Marcia Neumann
Políticas indigenistas
e colonização:
fragmentos históricos
para compreensão dos
atuais conflitos entre
indígenas e agricultores
no Sul do Brasil1
João Carlos Tedesco
Rosane Marcia Neumann
Introdução
O
s objetivos deste estudo são lançar um olhar panorâmico sobre
e auxiliar na compreensão de alguns elementos históricos que,
entendemos, estão presentes nos atuais conflitos de luta pela
terra entre indígenas e agricultores, sejam estes pequenos ou grandes
produtores, no centro-norte do Rio Grande do Sul. É um conflito que, em
1
O estudo é fruto do projeto de pesquisa Bases Históricas dos Conflitos Agrários Contemporâne-
os no Norte do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina: indígenas, quilombolas e peque-
nos agricultores, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,
Edital nº 12/2015 – Memórias Brasileiras: conflitos sociais.
243
Políticas indigenistas e colonização: fragmentos históricos para compreensão dos...
alguns casos, já se estende por quase três dezenas de anos sem nenhuma
solução definitiva até o momento.
Partimos dos pressupostos de que ambos os grupos envolvidos são
portadores de direitos e de que, uns mais, outros menos, são vítimas
de um processo histórico marcado por mudanças políticas e territoriais
implementadas entre meados do século XIX e meados do século XX, em
nível de deliberações das esferas públicas nacional e estadual.
Entendemos que esses sujeitos sociais (indígenas e pequenos agri-
cultores, em particular) compõem um quadro de coletividades subalter-
nizadas na história brasileira, vítimas de processos históricos mal consti-
tuídos no passado e mal resolvidos no presente; são sujeitos sociais alija-
dos ou inclusos marginalmente nas dinâmicas econômicas, nas políticas
de desenvolvimento e de permanência como trabalhadores e moradores
na terra (produtores rurais ou não), extrativistas, sujeitos de amplas di-
mensões culturais, antropológicas e sociais.
As atuais demandas indígenas pela retomada da terra, seja pela
ampliação da área já existente, seja pela reivindicação de nova área,
atingem mais de duas dezenas de grupos sociais. A área reivindicada
pelos grupos indígenas no centro-norte do estado abarca mais de 100
mil hectares e atinge mais de 3 mil agricultores, na sua grande maioria,
pequenas unidades familiares com média de 15 a 25 hectares de terras.
Isso demonstra ser um cenário de intensos conflitos agrários e de tensões
sociais (TEDESCO, 2017).
A Constituição federal de 1988, em seu Capítulo VIII, Artigo 231, dá
base jurídica às demandas de indígenas, uma vez que enfatiza horizon-
tes e dimensões ligados a tradição, preservação de culturas e ocupação
da terra. No referido artigo, menciona-se que
[...] são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas
em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as im-
prescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
-estar e às necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,
costumes e tradições (BRASIL, 2016, p. 133).
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Relatório apresentado por Manuel Antônio Galvão ao Conselho Geral, Rio Grande do Sul, em 1º
de dezembro de 1832, p. 11. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1055/000001.html>.
Acesso em: 16 jan. 2017.
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Local de ocupação tradicional de determinada etnia indígena.
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Ver Laroque (2000; 2007), Nonnenmacher (2000), D’Angelis e Veiga (2013), Silveira (1979),
Mabilde (1983) e Roderjan (1991).
5
Laroque (2000, 2007) estuda as relações de poder dos kaingang, destacando o papel cumprido
pelos pay-bang (caciques gerais), que agregavam em torno de si um conjunto pays (caciques
subordinados). O autor demonstra que eram comuns as disputas entre essas lideranças pelo
poder político e pelo domínio de territórios. Tudo indica que o ocorrido entre o pay-bang Braga e
o pay-Doble tenha sido uma insubordinação de Doble em busca de maior poder político.
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Figura 1 – Mapa da Estrada das Missões ligando os campos da Vacaria e territórios contíguos, 1843
Fonte: Arquivo Histórico do Exército, RJ, código: MH-7/Santa Catarina, Carta: 013, Loc.: M6 G4 C30.
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Figura 2 – Indígenas reunidos próximos ao moinho e à usina elétrica da Povoação Indígena de Passo
Fundo, 1928
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Decreto nº 658 10/03/1949 do Governador Walter de Sá Jobim.
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Enfim...
Vimos que, em alguns períodos históricos, houve maior expressão de
ações, em geral, motivadas pela esfera pública, para alterar a realidade
territorial indígena. Políticas de aldeamento deram a tônica das ações. A
intenção delas era permitir a livre circulação de grupos sociais e a ven-
da das terras. A livre presença indígena nos territórios tornava-se um
empecilho ao empreendimento público. Havia necessidade de delimitar
territórios e enclausurar os agrupamentos indígenas, controlá-los pela
catequese, por ações integrativas e de assimilação sociocultural.
As parcialidades indígenas no Norte do Rio Grande do Sul resisti-
ram aos aldeamentos enquanto puderam, com as armas e estratégias
possíveis; para isso, produziram-se alianças, contrapartidas, coerções,
promessas, proteção e uso da força. Conflitos foram produzidos entre
indígenas e o Estado, bem como com estancieiros e entre parcialidades
comandadas por determinados caciques.
A presença de padres, a instalação de colônias militares, de coloni-
zações pública e particular, a abertura de estradas, a permissão de en-
trada de colonos no interior das terras indígenas demarcadas, entre uma
série de outras ações, intencionavam controlar, assimilar e apaziguar os
indígenas. O empreendimento colonizador e as consequentes mercanti-
lização das terras e produção agrícola de excedentes pressupunham isso
tudo.
Os atuais conflitos expressam esses fatos históricos e remontam a
eles. No caso específico da Colônia Militar de Caseros (1858-1878), há
cinco acampamentos de indígenas nas suas proximidades reivindicando
terras e tendo-as como referência histórica, principalmente em torno da
constituição de um grande aldeamento (Santa Izabel) no seu interior e ao
seu entorno no período, sob o comando do cacique Doble. Com a extinção
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Referências
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Apontamentos para uma história do Campo do Meio
Apresentação
N
o presente estudo, buscar-se-á sinalizar alguns temas julgados
pertinentes à pesquisa e à escrita de uma história do Campo do
Meio. O intuito é socializar, com os estudiosos da história do Cam-
po do Meio, os conhecimentos acumulados durante 70 anos de vivências
em Passo Fundo, ao longo dos quais se ouviram relatos e “causos” a res-
peito daquele distrito e de seu entorno. Convivemos com gente moradora
ou originária daquela terra. A esse conhecimento empírico, acrescenta-
mos 30 anos de estudos e pesquisas sobre o município de Passo Fundo,
desde seus primórdios, área onde se situou o Campo do Meio.
Primeiramente, é preciso definir o que deve ser entendido por Cam-
po do Meio. As citações mais antigas referem Campo do Meio ou Campos
do Meio à faixa de campos “sujos” (isto é, entremeados com outro tipo de
vegetação além de gramíneas) que separava os matos. Outra definição
dada para Campo do Meio foi área do tipo “campos neutrais”, uma “ter-
ra de ninguém”, com o Mato Português a Leste e o Mato Castelhano a
Oeste. Nesses dois casos, era o território que se estendia desde um pouco
além dos atuais limites a ocidente do município de Passo Fundo até pró-
ximo do atual município de Lagoa Vermelha. No mapa a seguir, pode-se
observar a localização de Campo do Meio como segundo distrito de Passo
Fundo.
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Figura 1 – Mapa geográfico do município de Passo Fundo em 1929, elaborado por Antonino Xavier e
Oliveira
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Apontamentos para uma história do Campo do Meio
Fonte: Wikipédia.7
Campo do Meio, tal como Passo Fundo, pode ser designado “terra
de passagem”, pela importância que as rotas terrestres tiveram em seu
surgimento e progresso. É preciso notar que a construção da rodovia BR-
285 provocou a involução da localidade do Campo do Meio, que deixou de
ser “terra de passagem”.
A expressão “terra de passagem” tem caráter geográfico, mais do
que histórico; caracteriza um meio favorável ao trânsito de contingentes
humanos e, consequentemente, à abertura de vias terrestres. “Terra de
passagem” tem sido empregada para designar uma área desocupada, de-
sabitada, devoluta, quando dela se apossaram os ascendentes dos atuais
proprietários. Nada mais falso. Essas áreas de trânsito e seus entornos
já eram habitadas por parcialidades indígenas desde tempos imemoriais.
No caso específico da região de Passo Fundo, da qual o Campo do Meio
faz parte, as antigas trilhas indígenas foram convertidas em estradas,
das quais as atuais rodovias federais e estaduais são as expressões mais
modernas (D’AVILA, 1993, 1996, 2014, 2015).
De acordo com Cafruni, no amplo estudo intitulado Passo Fundo das
Missões (1966), os padres jesuítas espanhóis, nos relatos produzidos na
década de 1630, designavam o extenso pedaço de terras que ia desde a
Redução de Santa Tereza até a Vacaria dos Pinhais pelo nome indígena
de Cariroí: “Era habitado pelos [índios] carijós ou ibiaçaguaras, também
7
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Gentil_(Rio_Grande_do_Sul)#/media/File:RioGran-
dedoSul_Municip_Gentil.svg>. Acesso em: 17 mar. 2016.
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Classes multisséries, sob a responsabilidade de um professor, que podiam ser particulares ou
subvencionadas pelo Poder Público.
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Contém, com a cordilheira, que por todos os lados o circunda, 342 quilômetros
quadrados, mais ou menos, sendo seus limites: o rio Uruguai, desde a conflu-
ência do Forquilha, subindo por este até o Mato Português, pela contraverten-
te, que deságua no rio Ligeiro, ao Sul pelo Mato Castelhano, a Leste e Oeste
pelas duas cordilheiras, que nesses dois rumos unem os dois matos Castelha-
no e Português, formando um polígono irregular.
Esse campo era precisamente o caminho por onde deveriam transitar os tro-
peiros e viandantes em viagem de São Paulo ou de Vacaria em direção a Passo
Fundo e mais terras missioneiras, ou, vice- versa, destas para outros pontos.
Em 1866, mais ou menos, fundaram no Campo do Meio, três quilômetros além
da extremidade Leste da estrada que corta o Mato Castelhano, a povoação que
ainda existe.
A estrada, que pelo meio corta-a, ficou sendo a rua principal e a frente das
casas que se construíram nas margens Norte e Sul.
Tomou parte nessa fundação o Major Theodoro da Rocha Ribeiro que, com o
concurso dos fiéis, fez edificar uma capela dedicada a Nossa Senhora da Con-
ceição Aparecida [sic], mas confiou a execução a um intitulado mestre de obras
e este fez um trabalho tal, que logo desabou.
Os proprietários das casas que se construíram tais como: Manoel de Quadros,
Antônio Alves de Rezende, Januário Nunes de Camargo, Manuel de Albu-
querque, e o velho João Paz incumbiram a Antônio de Paula Matos a constru-
ção da nova capela e esta (que ainda perdura) ficou ao Sul da estrada.
Prosperou consideravelmente a nova povoação, mas, apesar de elevada a paró-
quia por lei de 16 de outubro de 1880, nunca conseguiu provimento canônico.
Durante a última guerra civil [Revolução Federalista, 1893-1895], houve um
abandono quase geral da povoação. Ultimamente reencentou [sic] o seu pro-
gresso e conta 52 casas habitadas sendo 6 comerciais, e é de crer não seja
entorpecido esse desenvolvimento por causas, como as que infelizmente de-
ram-se.
A população do distrito de Campo do Meio atinge a 4.000 almas e destas uma
sétima parte [570] será a da povoação.
Quem estiver na cidade de Passo Fundo e quiser, através desse distrito chegar
até Lagoa Vermelha, chamada pelos tropeiros Birivas, Passo Fundo de Cá, ob-
servará precisamente o itinerário seguinte: - o arroio Passo Fundo, os campos
de Dona Rosa, o Lageado, o lugarejo chamado A Entrada, o Mato Castelhano a
capela e povoado de Nossa Senhora da Conceição, as estâncias de Ramon Rico,
de Manoel Machado de Albuquerque, dos herdeiros de Francisco de Oliveira,
o Mato Português, as terras da extinta colônia Caceros e a Lagoa Vermelha,
que, sendo fundada em 1848, pouco ou nada excede a povoação de Campo do
Meio (SILVEIRA, 1997, p. 294-296).
Cabe notar que, segundo Silveira (1997), no início do século XX, épo-
ca da redação final da obra As missões orientais e seus antigos domínios,
o número de habitantes do povoado de Campo do Meio era aproximada-
mente o mesmo da população da vila de Lagoa Vermelha.
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Ametista ou ametistas?
“O Decreto-Lei no 720, de 29 de dezembro de 1944, altera o nome da
sede do 2º distrito de Campo do Meio para Vila Ametistas” (FORTES;
WAGNER, 1963, p. 315). O Decreto-Lei n° 720 foi assinado pelo prefeito
Arthur Ferreira Filho e alterou os nomes de Sede Teixeira para Tapejara
e de Campo do Meio para Ametista.
Em 07 de junho de 1966, a Lei Municipal nº 1.214, assinada pelo
prefeito Mário Menegaz, remodelou a divisão administrativa do municí-
pio e reverteu a denominação do 2º distrito de Ametista para Campo do
Meio e, por consequência, a da vila sede distrital.
Houve desencontro de nomenclatura. Na mesma página 315, os au-
tores, ao relacionarem “Distritos atuais” (1963), repetem “Ametistas”
como 2o Distrito de Passo Fundo. Porém, o coronel Mário Calvet Fagun-
des, em Passo Fundo: Estudo Geográfico do Município – publicado em
1962, reprodução de separata do Boletim Geográfico do Rio Grande do
Sul, no 12, julho a dezembro de 1961 –, ao tratar dos distritos, cita “Ame-
tista” (páginas 22 e 23), mas, ao referir-se às altitudes, cita o “Campo
do Meio” (página 17). No mapa localizado na página 8 – desenhado por
Gilberto P. Fagundes, da Secção de Geografia, 1962, e reproduzido a par-
tir do Trecho da Carta da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul,
1868 –, consta “Campos do Meio” (FAGUNDES, 1962).
Antonino Xavier, em publicações posteriores ao Decreto-Lei no 720,
reeditadas em 1957, ora refere “Ametistas”, ora “Campo do Meio”, ora
“Campo do Meio, hoje Ametistas” (OLIVEIRA, 1990, v. 1).
No Relatório dos Exercícios 1952-1954, do prefeito Daniel Dipp, à
Câmara Municipal de Vereadores, em três itens, na página 10, Distrito de
Ametista, ou simplesmente Ametista, é citado duas vezes em cada item.
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Em uma excursão que fizemos nas matas que ficam ao sul do Mato Caste-
lhano, encontramos em 16 de fevereiro de 1836, um campo no meio daquele
sertão [...] havia sete túmulos de selvagens [...] que estavam todos cobertos
de relva. Era aquele lugar um antigo cemitério de uma tribo de indígenas
selvagens.
Nhucoré, conhecido como “Chico sem nariz” (esse no Campo do Meio) [...] tem
permanecido com sua tribo a maior parte do tempo nos Campos do Meio, nos
fundos da Fazenda de Diogo José de Oliveira.
Nas matas compreendidas entre os campos de Passo Fundo e os de Vacaria
– matas essas que abrangem o Mato Castelhano, foi o ponto em que se con-
centravam os Coroados – existia uma grande tribo da Nação Coroada, da qual
era cacique principal o Coroado Braga [...]. Ao saírem das matas, em maio
de 1850, o cacique Braga e 304 selvagens aldearam-se, provisoriamente, nos
fundos dos Campos de Vacaria, na estância do Sr. Manoel de Vargas, num
rincão sobre a margem esquerda do rio Turvo, donde, no fim de dois meses,
foram removidos para os Campos do Meio onde se aldearam definitivamente
(TEDESCO, 2014, p. 168-171).
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Apontamentos para uma história do Campo do Meio
Para afugentar os bugres selvagens que atacam os viajantes nas picadas dos
matos Português e Castelhano ordenei ao Ten. Cel. Antônio Maia, comandan-
te do 2º Batalhão de Caçadores e da guarnição de Cruz Alta, que mandasse
alargar com mais 20 braças as duas picadas na extensão de 2 léguas e meia
[15 km] pelo Mato Português e de meia légua [3 km] pelo Mato Castelhano,
empregando nesse serviço para maior economia 100 praças do dito batalhão,
vencendo a gratificação de 200 réis diários e autorizando-o a chamar paisanos
habilitados a esse trabalho (ZARTH, 1986, p. 34-35).
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Considerações finais
Conforme explicitado anteroirmente, esses apontamentos buscam
fornecer elementos para futuras pesquisas. São transcrições diretas e
indiretas de trechos que referem o Campo do Meio, encontrados na lite-
ratura, em especial a historiadora, relativa à região em que se insere o
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Apontamentos para uma história do Campo do Meio
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Sobre os autores
290
João Carlos Tedesco | Rosane Marcia Neumann (Org.)
291
COLONOS, COLÔNIAS
E COLONIZADORAS
aspectos da territorialização
agrária no sul do Brasil