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UNISUL
TRANSMISSÃO E OPERAÇÃO DE
SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA
Engenharia Elétrica
2019 – 10 Semestre
geraldokindermann@gmail.com
anderson.andre@unisul.br
roberto.salgado@ufsc.br
Sumário
1 Máquinas Sı́ncronas 1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Operação em Regime Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2.1 Modos de Operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2.2 Curva de Capabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Sistemas Trifásicos Balanceados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.1 Carga conectada em Y . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.2 Carga conectada em ∆ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4 Sistema Por Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4.1 Seleção dos valores base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.2 Base em Termos de Valores Trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.3 Mudança de Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Máquinas Sı́ncronas
1.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a modelagem analı́tica da máquina sı́ncrona trifásica para es-
tudos de operação em regime permanente nas redes de energia elétrica. Inicialmente,
a representação e os modos de operação deste equipamento em regime permanente são
mostrados, com ênfase no funcionamento da máquina como gerador sı́ncrono. A seguir,
considerando que a transmissão de energia elétrica no sistema de potência é essencialmente
trifásica, é feita uma revisão dos principais conceitos dos circuitos trifásicos equilibrados.
O capı́tulo é concluı́do com a introdução da representação do gerador sı́ncrono no sistema
por unidade.
• frequência nominal (f , Hz) e velocidade angular nominal (ω, rpm), que são estabe-
pω
lecidas de acordo com a equação f = , onde p denota o número de pólos da
2 60
máquina sı́ncrona;
• corrente (contı́nua) de campo (If em A), cujo valor não deve ser ultrapassado, sob
risco da ocorrência de sobreaquecimento do enrolamento de campo.
Observe que:
• A potência de saı́da da máquina sı́ncrona é limitada pela injeção de potência mecânica
no eixo e pela corrente de armadura (por causa do aquecimento das bobinas);
• a corrente de campo indica uma faixa de operação viável e pode ser interpretada
como um limite superior recomendado;
Gerador Sı́ncrono
Os circuitos monofásicos equivalentes da máquina sı́ncrona funcionando como gerador e
como motor são mostrados na figura 1.1.
As equações que representam a geração de potência são obtidas supondo-se as tensões
terminais Vg = Vg ∠00 e de excitação Eg = Eg ∠δg , e separando-se as partes real e ima-
ginária do produto Sg = Vg I∗g . Isto fornece as potências ativa e reativa liberadas pelo
gerador, as quais são expressas respectivamente por
Vg Eg Vg
Pg = sin δg Qg = (Eg cos δg − Vg ) (1.1)
Xg Xg
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Ig Im
Xg Xm
+ + + +
- - - -
onde δg é denominado ângulo de carga (ou potência) da máquina sı́ncrona. Desde que Eg >
0, Vg > 0 e Xg > 0, o sentido (sinal) da potência gerada, e portanto o modo de operação
como gerador ou motor, depende do ângulo de carga ou, em termos fı́sicos, da injeção de
potência mecânica no eixo da máquina. Ou seja, se δg > 0, a máquina opera como gerador,
e se δg < 0 a máquina opera como motor. Por outro lado, o fornecimento e a absorção
de potência reativa dependem do termo (Eg cos δg − Vg ); isto é, se (Eg cos δg − Vg ) > 0
a máquina opera sobre-excitada (Qg > 0), e se (Eg cos δg − Vg ) < 0, a máquina opera
subexcitada (Qg < 0).
No circuito equivalente mostrado na figura 1.1(b), observe que o sentido da corrente
é invertido, pois a máquina sı́ncrona opera como motor. Desta forma, as potências ativa
e reativa absorvidas pelo motor sı́ncrono possuem a mesmo sentido que a corrente na
armadura e são dadas por,
Vm Em Vm
Pm = − sin δm Qm = (Vm − Em cos δm ) (1.2)
Xm Xm
onde, considerando que o ângulo da tensão terminal do motor (Vm ) é adotado como
referência, o ângulo de carga (δm ) é negativo. Neste caso, o motor sı́ncrono opera subex-
citado quando (Vm − Em cos δm ) > 0 e sobre-excitado quando (Vm − Em cos δm ) < 0.
Os diagramas fasoriais do gerador sı́ncrono e do motor sı́ncrono sub-excitados e sobre-
excitados são mostrados nas figuras 1.2 e 1.3. Para estabelecer estes diagramas, considere
que duas máquinas sı́ncronas semelhantes são interligadas e operam uma como um gerador
e a outra como um motor, conforme mostra a figura 1.2.
No primeiro caso, supõe-se que o motor opera com fator de potência atrasado; ou seja,
o gerador sı́ncrono fornece potência ativa e reativa a uma carga de natureza indutiva, tal
que a corrente Ig = Im nos seus terminais está atrasada (pelo ângulo φ) com relação a
tensão terminal Vg = Vm . As equações que modelam esses equipamentos são mostradas
a seguir.
Eg = Xg Ig + Vg
(1.3)
Em = − Xm Im + Vm
4 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
Ig Im
Xg Xm
+ + + +
- - - -
Eg cos δg > Vg
(1.4)
Em cos δm < Vm
• o motor sı́ncrono opera sub-excitado; isto é, absorve potência reativa com fator de
potência em atraso nos seua terminais.
O caso em que o motor sı́ncrono opera com fator de potência em avanço é representado
na figura 1.4. Com base nas Eqs. (1.3), e considerando que a corrente Ig = Im nos
terminais dos equipamentos está adiantada (pelo ângulo φ) com relação a tensão terminal
Vg = Vm , a análise do diagrama fasorial indica que,
• Eg cos δg < Vg , tal que o gerador sı́ncrono opera sub-excitado; isto é, absorve
potência reativa com fator de potência em avanço nos seua terminais;
• Em cos δm > Vm , e portanto o motor sı́ncrono opera sobre-excitado; isto é, fornece
potência reativa com fator de potência em avanço nos seua terminais.
Eg
−Ig
Xg Ig
δg
δm Vg = Vm
Ig
−Xm Im
Em
Em cos δm
Vg = Vm
Eg cos δg
Eg
Ig = Im Xg Ig
δg Vg = Vm
δm −Xm Im
−Im
Em
Eg cos δg
Vg = Vm
Em cos δm
reativa. Por outro lado, desde que a velocidade angular do eixo da máquina é constante, a
única maneira de variar a potência ativa de saı́da é através do controle do torque imposto
no eixo pela máquina primária no caso do gerador e pela carga mecânica no caso do motor.
Sg = Pg + jQg
= Vg I∗g
= Vg Ig (cos φ + j sin φ)
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Valvula de vapor
Pref
Para o
condensador Regula-
dor de Retificador
tensao Filtro
Transformador
de potencial
Pg = Vg Ig cos φ
(1.5)
Qg = Vg Ig sin φ
Controle de Tensão
A excitatriz é o dispositivo que supre corrente contı́nua para o enrolamento de campo
localizado no rotor dos geradores sı́ncronos. A bobina de campo pode ser excitada por
um gerador de corrente contı́nua, através de anéis de escorregamento e escovas coleto-
ras. Alternativamente, excitatrizes estáticas ou sem escova também podem ser utilizadas.
Neste caso, a potência em corrente alternada obtida diretamente dos terminais do gerador
8 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
ou de uma estação de serviço externa é retificada via tiristores e transferida ao rotor via
anéis de escorregamento e escovas coletoras.
O controle de tensão adota basicamente o seguinte procedimento: a magnitude da
tensão terminal do gerador é comparada com a magnitude da tensão de referência (es-
tabelecida previamente) para fornecer o sinal de erro de magnitude da tensão, o qual é
enviado ao regulador. Posteriormente, o regulador de tensão aplica uma tensão na excita-
triz, tal que a saı́da desta é a tensão contı́nua aplicada nas bobinas de campo do gerador
para ajustar a magnitude de tensão terminal.
Ex. 1.1 Considere um gerador sı́ncrono com valores nominais 635 MVA, fator de potência
0,90 atrasado, 60 Hz, 3600 rpm, 24 kV e reatância sı́ncrona 1,5639 Ω conectado a uma
barra infinita. Se esta máquina supre uma corrente de 12,221 kA com fator de potência
0,9 atrasado, determine:
1. a magnitude e o ângulo da tensão interna do gerador e as potências ativa e reativa
supridas a barra infinita.
Compensadores Sı́ncronos
Quando a máquina sı́ncrona opera como um Compensador Sı́ncrono, a potência ativa
suprida ou absorvida é teoricamente zero. Na prática, a potência ativa oriunda de uma
fonte externa supre as perdas internas da máquina, e o compensador sı́ncrono opera
fornecendo ou absorvendo potência reativa. Este modo de funcionamento é o mesmo de
um motor sı́ncrono operando sem carga mecânica. Ou seja, a corrente alternada é suprida
através das bobinas da armadura, e dependendo da corrente de excitação o dispositivo
pode gerar ou absorver potência reativa. Desde que as perdas neste tipo de dispositivo
são consideráveis, se comparadas às dos Capacitores Estáticos, o fator de potência com
que operam os compensadores sı́ncronos não é exatamente igual a zero.
Quando operam em conjunto com os reguladores de tensão, os compensadores sı́ncronos
podem automaticamente funcionar superexcitados (sob condição de carga pesada) ou su-
bexcitados (sob condições de carga leve). Em termos analı́ticos, estas condições são es-
tabelecidas considerando as Eqs. (1.3) e lembrando que o ângulo de carga é zero. No
caso do motor sı́ncrono, o ângulo de carga é igual a zer (δm = 00 ), e as Eqs. (1.2) são
re-escritas como,
Vm
Pm = 0 Qm = (Vm − Em ) (1.6)
Xm
tal que, (Vm > Em ) indica a absorção (subexcitação) e (Vm < Em ) indica o fornecimento
(sobre-excitação) de potência reativa pela máquina sı́ncrona.
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Em Vg = Vm Eg φ Eg Vg = Vm Em
Ig −Im
Volts
Eg
Xg Ig
φ Xg Ig cos φ
δg Vg
Volts
φ Xg Ig sin φ
Ig
kW
3Eg Vg
Xg
3Vg Ig
φ P = 3Vg Ig cos φ
3Vg2
Xg
kVAr
φ Q = 3Vg Ig sin φ
Vg2
Eg Vg Eg Vg
Pg = sin δg Qg + = cos δg
Xg Xg Xg
Eg Vg
A Eq. (1.7) representa geometricamente um cı́rculo de raio (magnitude
Xg
Vg
da tensão interna da máquina escalonada pelo fator do passo 2), centrado no
Xg
Vg2
ponto 0; − , o qual é interpretado como o conjunto de pontos correspondentes
Xg
a operação do gerador sı́ncrono com a corrente de excitação constante, conforme
mostra a figura 1.9.
3Vg2
−
Xg kVAr
Figura 1.9: Curva de capabilidade - lugar geométrico dos limites do gerador sı́ncrono
Vg2
reta entre o ponto − ; 0 e o ponto de intercessão dos dois semi-cı́rculos relativos
Xg
as operações com a corrente de excitação constante (passo 2) e com a corrente de
armadura constante (passo 3) representa o limite de subexcitação da máquina.
Ex. 1.2 Determine a curva de capabilidade de um gerador sı́ncrono trifásico com valores
nominais 635 MVA, 24 kV (Y), fator de potência 0,9 e reatância sı́ncrona 1,5639 Ω/f ase,
3600 rpm (dados da referência [1]).
4. (Passo 4) O cı́rculo centrado na origem e com raio igual a 635 MVA representa os
pontos de operação do gerador sı́ncrono com magnitude da corrente da armadura
constante. Este cı́rculo e o do passo anterior se interceptam nos pontos (571.50
MW; ± 276.79 MVAr), correspondente a figura 1.9, os quais representam os valores
limites simultâneos relativos a corrente de armadura nominal e a força eletromotriz
interna do gerador sı́ncrono, para o fator de potência nominal. A magnitude do
ângulo de carga correspondente é ±48, 460 .
5. Não são considerados o limite imposto pela máquina primária e os pontos de operação
com geração de potência reativa constante, e portanto os passos 5 e 6 não são exe-
cutados.
14 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
500
300
200
φ
g
100 Limite devido a Eg
δg
0
−800 −600 −400 −200 0 200 400 600 800
Potência Reativa (MVAr)
Eg Vg
A potência expressa pela grandeza permite calcular o valor da tensão interna
Xg
da máquina (no caso para a tensão nominal de 24 kV) multiplicando este valor pelo fator
Xg
de escalonamento . A curva de capabilidade é determinada segundo a condição de
3Vg
operação nominal, e portanto a análise de diferentes condições de operação requer o cálculo
dos valores correspondentes da tensão de excitação. Se a tensão terminal da máquina é
Vg2 Vs2
diferente da tensão nominal, então o valor deve ser corrigido para (onde Vs é a
Xg Xg
magnitude da tensão de operação). Esta mudança altera o escalonamento da figura 1.10,
de tal forma que as quantidades obtidas através do diagrama devem ser re-escalonadas,
de modo a fornecer os valores efetivos de potência ativa e reativa da operação.
Ex. 1.3 Se o gerador do exemplo 1.2 está conectado a uma barra infinita e fornecendo
458,47 MW e 114,62 MVAr na tensão de 22,8 kV, calcule a tensão interna da máquina
utilizando o diagrama de capabilidade.
A figura 1.11 mostra a localização do ponto (114,62 MVAr, 458,47 MW) no diagrama
de capabilidade, cuja distância até o ponto limite de subexcitação (-368,31; 0) é a hipote-
nusa do triângulo retângulo indicado na figura: isto é,
Vg Eg p
= (458, 47 M)2 + ((114, 62 + 368.30) M)2 = 665, 88 M
Xg
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tal que,
665, 88 M 1, 5639
Eg = × = 25, 05 kV (tensão fase-neutro)
3 13, 85 k
ou alternativamente,
1, 5639
Eg = 665, 88 M × = 43, 39 kV (tensão de linha)
24 k
ou alternativamente,
800
600
Potência Ativa (MW)
300
200
100
0
−800 −600 −400 −200 0 200 400 600 800
Potência Reativa (MVAr)
+ + Ic
Vcn Van
Ia ZY ZY
- -
n N
-
Vbn ZY
+ Ib
tiva (ou abc) e tomando o fasor Van como referência, as tensões complexas são expressas
por
Van = Van ∠00 = Vf ∠00
Vbn = Vbn ∠ − 1200 = Vf ∠ − 1200
Vcn = Vcn ∠1200 = Vf ∠1200
onde Vf é a magnitude da tensão fase-neutro.
Do circuito da figura 1.12, as tensões de linha (ou fase-fase) são dadas por
Vab = Van − Vbn
= Vf ∠00 − Vf ∠ − 1200
= Vf (1∠00 − 1∠ − 1200 )
√
= 3Vf ∠300
fase positiva,
√
Vab = 3Van ∠300
√
Vbc = 3Vbn ∠300 (1.8)
√ 0
Vca = 3Vcn ∠30
isto é,
√
• os fasores tensão de linha √
possuem módulo igual a 3 vezes a magnitude dos fasores
tensão fase-neutro (VL = 3Vf );
Desde que as tensões fase-fase formam um triângulo que representa um caminho fe-
chado, a sua soma é zero, mesmo para sistemas desbalanceados; isto é,
e de maneira análoga,
Van + Vbn + Vcn = 0
A diferença de potencial entre os pontos neutros do gerador e da carga (figura 1.12) é
Vn − VN = VnN = 0.
Vbn Vf ∠ − 1200
Ib = = = IL ∠ − 1200 − θ
ZY ZY ∠θ
Vcn Vf ∠ + 1200
Ic = = = IL ∠ + 1200 − θ
ZY ZY ∠θ
Vf
onde IL = é a magnitude da corrente de linha.
ZY
As correntes de linha do sistema trifásico mostrado na figura 1.12 são iguais em mag-
nitude e defasadas de 1200 e por isso também são balanceadas. A corrente no neutro é
dada por
In = Ia + Ib + Ic
e é nula para o circuito trifásico em questão. Se o sistema é balanceado, a corrente no
neutro é zero para qualquer valor de impedância variando desde curto-circuito até circuito
18 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
aberto. Se o sistema não é balanceado, as correntes de linha não serão balanceadas e uma
corrente não nula flui entre os pontos n e N.
A potência complexa em cada ramo da carga é dada por
Sa = Van I∗a
= Vf IL ∠θ
Sb = Vbn I∗b
= Vf ∠ − 1200IL ∠1200 + θ
= Vf IL ∠θ
Sc = Vcn I∗c
= Vf ∠ + 1200 IL ∠ − 1200 + θ
= Vf IL ∠θ
S3φ = Sa + Sb + Sc
= 3Vf IL ∠θ
VL
= 3 √ IL ∠θ
3
e portanto √
S3φ = 3VL IL ∠θ (1.9)
√
Vbc 3Vf ∠ − 900
Ibc = =
Z∆ Z∆ ∠θ
√
Vca 3Vf ∠1500
Ica = =
Z∆ Z∆ ∠θ
Essas correntes são balanceadas
√ para qualquer valor do ângulo da impedância Z∆ e
3Vf
possuem magnitude igual a If = .
Z∆
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+ + Ic
Vcn Van
Ia Z∆
- -
Z∆ Z∆
-
Vbn
+ Ib
ou, alternativamente,
√
Ia = 3Iab ∠ − 300
√
Ib = 3Ibc ∠ − 300 (1.10)
√ 0
Ic = 3Ica ∠ − 30
Portanto, para uma carga balanceada conectada em ∆ e suprida com tensões trifásicas
balanceadas em seqüência de fase positiva,
√
• a magnitude das correntes de linha é igual a 3 vezes a magnitude das correntes
nos ramos da conexão ∆;
• os fasores correntes de linha estão atrasados de 300 em relação aos fasores corres-
pondentes às correntes nas fases do ∆.
dada por
S3φ = Sa + Sb + Sc
= 3Vf IL ∠θ
VL
= 3 √ IL ∠θ
3
e portanto √
S3φ = 3VL IL ∠θ
que é a mesma representada pela Eq. (1.9).
Das equações deduzidas anteriormente, o módulo da impedância da carga conectada
em Y é dada por
Vf
ZY = √
3If
e da carga conectada em ∆ é expressa como
√
3Vf
Z∆ =
If
Ex. 1.4 Num sistema trifásico balanceado, dois geradores conectados a barramentos dis-
tintos suprem uma carga através de duas linhas de transmissão, cada uma com impedância
igual a 0,1+j1,0 Ω/fase. A carga absorve 30 kW, com fator de potência 0,8 atrasado. Su-
ponha que o gerador G1 supre 15 kW, com fator de potência 0,8 atrasado, na tensão de
380 V. Adotando a seqüência positiva de fases e o fasor Van como referência, determine:
2. a potência complexa suprida pelo gerador G2 e o fator de potência com que opera o
gerador G2 ;
• a quantidade em pu é adimensional;
O sistema percentual é mais conveniente para expressar valores de impedância (ou ad-
mitância). No caso do cálculo de tensões, correntes etc, o uso do sistema percentual pode
resultar em valores discrepantes, sendo portanto o sistema por unidade mais adequado
para esta finalidade. Por exemplo, uma corrente de 1,0 pu através de uma impedância de
0,02 pu resulta numa queda de tensão de 0,02 pu (ou 2%). A utilização dos correspon-
dentes valores percentuais (corrente de 100% e impedância de 2%) resulta numa queda
de tensão de 200%, o que é um valor incorreto.
22 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
1. dois valores base (entre tensão, corrente, impedância e potência) são arbitrariamente
selecionados num determinado ponto do sistema;
2. os outros dois valores base são calculados utilizando-se as relações entre tensão, cor-
rente, impedância e potência num circuito monofásico. Por exemplo, em sistemas de
energia elétrica geralmente a tensão (Vb ) e a potência são escolhidas como grandezas
base (Sb ). Então os valores de corrente base (Ib ) e impedância base (Zb ) são dados
por, por
Sb Vb V2
Ib = Zb = ou Zb = b
Vb Ib Sb
Isto permite interpretar a impedância base Zb como um elemento de circuito mo-
nofásico, o qual submetido a uma tensão base de valor Vb fornecerá uma corrente base de
valor Ib e uma potência base igual a Sb .
É importante ressaltar que a quantidade adotada como base para o cálculo da potência
ativa e da potência reativa no sistema por unidade é a potência aparente base, isto é,
Pb = Qb = Sb
Rb = Xb = Zb
Sb1φ Sb3φ /3 S
Ib = = √ = √ b3φ
Vbf VbL / 3 3VbL
√
Vbf VbL / 3 V2
Zb = = √ = bL
Ib Sb3φ / 3VbL Sb3φ
Num sistema de potência trifásico, as seguintes regras são adotadas para a especificação
das quantidades base:
1. o valor de potência aparente trifásica base Sb3φ é o mesmo ao longo de todo o sistema;
2. a relação entre as tensões de linha base nos lados do transformador é igual aquela
entre os valores nominais da tensão do transformador, ou seja, a tensão de linha base
passa através do transformador trifásico segundo a sua relação nominal de tensões
de linha.
Ex. 1.5 Considere o sistema trifásico representado no diagrama unifilar da figura 1.14.
Os dados dos geradores e das cargas são mostrados nas tabelas 1.1 e 1.2.
Assuma que;
e que é necessário referir este valor a uma nova base, tal que
Sb nova
Zbpunova = Z real
Vb2 nova
A combinação dessas duas últimas equações fornece
2
pu pu Sb nova Vb antiga
Zb nova = Zb antiga
Sb antiga Vb nova
que é a relação utilizada para efetuar a mudança de base
requerida.
Vb antiga
Observe que, no caso dos transformadores a relação deve ser calculada
Vb nova
com valores base correspondentes a um mesmo lado do transformador.
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Ex. 1.6 A placa de um gerador sı́ncrono apresenta os seguintes valores: 50 MVA; 13,8
kV; 20 %. Calcular:
1. a reatância deste equipamento no sistema por unidade na base 100 MVA, 12 kV;
2. o valor da reatância em unidades reais.
1.5 Exercı́cios
1.1 Os valores nominais de um gerador sı́ncrono trifásico são 50 kVA, 480 V (Y), fator
de potência 0,8 atrasado; 60 Hz, 6 polos, reatância sı́ncrona 1,0 Ω/f ase. Suponha que o
gerador está conectado a uma turbina a vapor capaz de suprir até 45 MW. As perdas por
atrito e ventilação totalizam 1,5 kW e as perdas no cobre valem 1,0 kW.
2. Verifique se este gerador pode suprir uma corrente de linha de 56 A com fator de
potência 0,70 atrasado.
3. Qual a máxima quantidade de potência reativa que este gerador pode produzir?
4. Se o GS fornece 30 kW, qual a máxima quantidade de potência reativa que pode ser
suprida simultaneamente?
1.2 Uma fonte trifásica operando na tensão de 380 V supre duas cargas trifásicas balan-
ceadas cujas caracterı́sticas são:
1. carga 1: 15 kW, fator de potência 0,6 atrasado;
2. carga 2: 10 kVA, fator de potência 0,8 adiantado;
Adotando a base trifásica de 10 kVA e 380 V na fonte, determine:
1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;
2. o valor da corrente fornecida pela fonte em pu e em ampères;
3. o valor da reatância em pu/fase e em Ω/fase, da compensação reativa necessária
para tornar unitário o fator de potência da carga composta, supondo constante a
magnitude da tensão da fonte;
4. o valor da corrente fornecida pela fonte após a compensação reativa em pu e em
unidades reais.
1.3 Determine a corrente fornecida por uma linha de transmissão trifásica, com im-
pedância igual a 0,3+j1,0 Ω/fase, a um motor de 15 HP operando a plena carga, com
rendimento de 90%, fator de potência de 0,80 em atraso e tensão de 440 V. Calcule
a magnitude da tensão e a potência complexa na entrada da linha de transmissão, e a
potência complexa absorvida pela mesma. Adote os valores de operação do motor como
base. (1 HP(Horse Power) = 745,7 watts.)
26 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
1.4 Uma planta industrial necessita instalar um compressor para recalcar água de um
poço semi-artesiano. O compressor é alimentado por uma linha trifásica, conectada no
secundário do transformador da subestação de suprimento local. A tensão no secundário
do transformador trifásico é de 220 V, a corrente absorvida pelo motor do compressor é
de 100 A, com fator de potência 0,7 em atraso, e a linha trifásica tem uma impedância
de 0,1 +j 0,05 Ω/fase. Determine (em valores reais e pu, na base 20 kVA, 220 V.):
1.5 Uma carga trifásica absorve 250 kW com um fator de potência de 0,707 em atraso
através de uma linha de transmissão trifásica de 400 V. Esta carga está conectada em
paralelo com um banco trifásico de capacitores de 60 kVAr. Determinar a corrente total
fornecida pela fonte e o fator de potência resultante. Repita estes cálculos excluindo o
banco de capacitores e mantendo a tensão na carga, e compare os valores da corrente
fornecida pela fonte. Adote a base de 250 kVA, 400 V
1.6 Um gerador supre duas cargas trifásicas conectadas em paralelo através de uma linha
de transmissão de impedância igual a 0,1+j1,0 Ω/fase. A primeira carga é um motor de
7,5 kW, operando com potência nominal na tensão de 440 V, com rendimento de 90% e
fator de potência 0,8 em atraso. A segunda carga é representada por três impedâncias de
20,0+j50,0 Ω/fase, conectadas em ∆. Adote a base 10 kVA, 440 V, e calcule (em pu e
valores reais):
1.7 Um gerador trifásico operando na tensão de 380 volts supre, através de uma linha
de transmissão com impedância 0,1 + j1,0 Ω/fase, uma carga trifásica que absorve uma
corrente de 50 Ampéres com fator de potência 0,8 em atraso. Supondo seqüência de
fases positiva e tomando o fasor tensão fase-neutro na fase a da carga como referência,
determinar em pu (na base 10 kVA, 380 V) e em valores reais:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 27
1.8 Duas cargas trifásicas conectadas em paralelo são supridas por um gerador sı́ncrono,
com bobinas da armadura conectadas em Y e reatância sı́ncrona de 0,5 Ω/fase, através de
uma linha de transmissão de impedância 0,5 + j0,5 Ω/fase. A tensão interna do gerador é
380 V. A carga 1 consiste de três impedâncias de 6,0 + j9,0 Ω conectadas em ∆ e a carga
2 é composta de três admitâncias de 0,12+j0,16 S conectadas em Y. Supondo seqüência
de fases positiva e adotando o fasor tensão Vab como referência, determinar em pu (na
base 10 kVA, 380 V) e em valores reais:
1. os fasores corrente na linha de transmissão;
2. a potência complexa suprida à carga;
3. a perda de potência complexa na linha de transmissão;
4. o fator de potência com que opera cada uma das cargas, a carga total e o gerador
sı́ncrono;
5. os fasores corrente em cada fase da carga conectada em ∆.
1.9 Num sistema trifásico, um gerador sı́ncrono com valores de placa: 200 MVA, 16
kV, bobinas da armadura conectadas em Y com reatância sı́ncrona de 3 Ω/fase e fator
de potência 0,8 atrasado, supre uma carga trifásica, na tensão nominal, através de um
sistema de transmissão de impedância desprezı́vel. A carga consome 100 MVA com fator
de potência 0,8 em avanço. Adotando a seqüência de fases positiva, o fasor Van como
referência, e a base 200 MVA, 16 kV, calcule:
1. os fasores corrente de linha que suprem a carga;
2. a impedância por fase correspondente à carga, supondo esta conectada em ∆;
3. a potência complexa fornecida pelo gerador e o correspondente fator de potência;
4. a compensação reativa necessária pata tornar o fator de potência da carga compen-
sada igual a 0,95 adiantado.
1.10 Um gerador sı́ncrono trifásico supre uma carga através de um sistema de trans-
missão. Os valores de placa do gerador são: 50 kVA, 380 V, 0,5 Ω/fase, fator de potência
0,8 atrasado, 60 Hz, 1800 rpm. A impedância das linhas de transmissão é 0,1 + j0,4
Ω/ fase, e as caracterı́sticas da carga são: 25 kW, 360 V, fator de potência 0,9 atrasado.
Adote a seqüência de fases positiva e o fasor tensão de linha entre as fases a e b da carga
como referência.
28 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
1.11 Considere o sistema trifásico da figura 1.16, cujos dados dos componentes são
mostrados na tabela 1.5. Adote a sequência de fase positiva ( abc), a tensão fase-neutro
na barra 1 como referência, e os valores base 1000 kVA e 2, 4 kV na barra 1.
1 3 2
G2
G1
~ M
~
~ Banco Cap.
2. Considere que o conjunto motor + banco capacitor consome 1684 kVA com fator de
potência 0, 95 atrasado, e que o gerador 1 injeta no sistema 1000 kVA com fator de
potência 0, 8 atrasado e tensão com valor 5% acima do nominal. Determine, em pu
e em unidades reais:
1.12 Deseja-se supir uma carga trifásica através de uma linha de transmissão de im-
pedância de 0,1 +j 0,05 Ω/fase. A tensão de entrada na linha de transmissão é 380 V e
a corrente absorvida pela carga é 250 A, com fator de potência 0,7 indutivo. Adotando os
valores base de 165 kVA e 380 V, determine
1. a tensão complexa na carga no sistema por unidade;
1.14 Considere um motor sı́ncrono trifásico sendo suprido por um gerador sı́ncrono
através de uma linha de transmissão com perdas desprezı́veis. Os valores nominais do
gerador, do motor e da linha de transmissão são mostrados na tabela 1.4. Suponha que o
motor opera com tensão nominal, absorvendo 60 kW, com tensão de excitação 1,7 kV/fase
por fase. Adote os valores nominais de potência aparente e tensão do gerador como base,
e determine (em pu e em unidades reais):
1. o ângulo de potência (ou carga), a corrente de entrada e a potência complexa com
que opera o motor;
1.15 Considere o sistema trifásico do diagrama da figura 1.16, cujos dados são mostrados
na tabela 1.5. Adote a sequência de fase positiva ( abc) e a tensão fase-neutro na barra 3
como referência.
1 2 3 M1
G1
~ ~
G2 ~ ~ M2
Carga Estática
Suponha que o motor 1 consome 900 kVA com fator de potência 0,9 adiantado, o motor
2 consome 1000 kVA com fator de potência 0,9 atrasado e que o gerador 2 opera com fator
de potência 0,8 atrasado injetando 1500 kVA no sistema. Os motores operam com tensão
terminal igual a 95% do valor nominal. Para essas condições operativas calcule:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 31
1.16 Considere o diagrama unifilar da figura 1.17. Os valores nominais dos componentes
deste sistema são apresentados na tabela 1.6.
1 2 3
Carga
Gerador 1
2.1 Introdução
Em estudos de redes elétricas em regime permanente, os sistemas trifásicos equilibra-
dos são modelados analiticamente pelo diagrama de impedâncias de uma fase do circuito
Y equivalente. Cada elemento constituinte do diagrama unifilar é representado por um
circuito monofásico de seqüência positiva, com os parâmetros e variáveis da rede elétrica
expressos no sistema por unidade. Este capı́tulo mostra como este circuito é determinado.
Para esta finalidade, três aspectos fundamentais são apresentados. O primeiro é o dia-
grama unifilar, que fornece uma idéia sobre a estrutura e a conexão dos componentes do
sistema, e à partir do qual é possı́vel determinar o diagrama de impedâncias. O segundo é
a representação do diagrama de impedâncias no sistema por unidade, o que visa facilitar
os cálculos de correntes e tensões no circuito elétrico. O terceiro é a modelagem analı́tica
dos componentes da rede elétrica em termos de elementos de circuitos. Isto permite obter
um modelo do sistema de potência em termos de equações obtidas aplicando-se as leis de
circuitos elétricos, cuja solução fornece os subsı́dios para a análise da rede elétrica.
Transformador de Disjuntor a ar
dois enrolamentos
Transformador de Conexão Delta
três enrolamentos
Disjuntor Conexão Y
sem aterramento
Transformador de
corrente Conexão Y
Zn aterrado com Zn
ou Transformador de
potencial
A Amperı́metro Conexao Y
solidamente aterrado
Voltı́metro
V
1 2
Zng1 Zng3
G1 T1 T2 G3
Zng2 G2 LT
Carga 1 Carga 2
2.3 Transformadores
As principais caracterı́sticas do transformador são:
1. os enrolamentos possuem resistência, às quais estão associadas perdas de potência
ativa;
permeabilidade µc
seção transversal Ac
φc
I2
I1
Bobina 1 Bobina 2 +
+
N1 N2 V2
V1
−
−
comprimento médio lc
E1 = N1 (jω)φc (2.2)
N1 φc = Lm Im
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 37
−jℜc E1 N2
= + I2
N12 ω N1
′
= Im + I2
′
onde Im e I2 representam respectivamente as correntes de excitação e de carga, esta última
referida ao primério.
A análise da equação
ℜc
Im = −j 2 E1
N1 ω
revela que Im está atrasada de 900 em relação a E1 , sendo portanto a quantidade Bm =
ℜc
interpretada como uma susceptância que representa o efeito indutivo no núcleo.
N12 ω
As perdas por histerese e correntes parasitas são representadas por um ramo shunt
1
adicional contendo uma resistência (ou condutância) Rc = , através da qual circula
Gc
uma corrente de perda Ic .
Essas considerações conduzem ao circuito equivalente mostrado na figura 2.5, o qual
′
inclui as correntes de magnetização e de perdas no núcleo. Nesta figura, I1 é a componente
da carga na corrente fornecida ao primário do transformador e Rc é a resistência shunt que
representa as perdas por histerese e correntes parasitas. Os parâmetros R1 , X1 , R2 e X2
são denominados parâmetros longitudinais enquanto Rc e Xm são chamados parâmetros
transversais.
Observe que o circuito equivalente é determinado de forma a satisfazer as leis de
′ ′
Kirchhoff. As impedâncias de dispersão dos enrolamentos R1 , X1 , R2 e X2 representam
as perdas Joule e a indutância própria das bobinas do primário e secundário.
A admitância do núcleo
1 1
Ym = + = Gc − jBm
Rc jXm
representa as perdas no núcleo e a potência reativa necessária para magnetizar o núcleo.
Portanto, se uma tensão alternada é aplicada nos terminais do enrolamento primário
de um transformador real, com o terminal secundário em circuito aberto, surge uma
38 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
′
R1 jX1 I1 jX2 R2
I1 I2
Iφ + +
+ +
Ic Im
V1 Rc jXm E1 E2 V2
− − − −
a:1
Transformador
ideal
+ +
V1 Rc jXm V2
′
− −
• transformadores de grande porte, com potência aparente nominal maior do que 500
kVA, possuem enrolamentos com as resistências desprezı́veis quando comparadas
com as reatâncias de dispersão, e portanto essas resistências podem ser desprezadas.
Isto possibilita utilizar os circuitos equivalentes mostrados nas figuras 2.7 e 2.8. Nesses
circuitos, os parâmetros do transformador referidos ao lado 1 são dados por
2
N1
Req = R1 + R2
N2
2
N1
Xeq = X1 + X2
N2
sem a inclusão do ramo de magnetização.
′
I1 I2
Req Xeq
+ +
′
V1 V2
− −
′
Req = R1 + R2
′
Xeq = X1 + X2
+ +
′
V1 V2
− −
′
Xeq = X1 + X2
Os valores base de tensão e corrente nos dois lados do transformador monofásico estão
40 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
relacionadas da mesma forma que os valores nominais dessas quantidades, isto é,
VbAT VnomAT
=
VbBT VnomBT
IbAT InomAT
=
IbBT InomBT
Por esta razão, o sistema por unidade apresenta as seguintes vantagens:
1. as impedâncias e admitâncias do transformador expressas em pu não se modificam
quando referidas aos lados de alta tensão ou de baixa tensão, evitando-se desta
forma os erros de cálculos provenientes de se referir as grandezas a um lado ou ao
outro do transformador;
Ex. 2.1 Uma carga de 15 kW com fator de potência 0,8 atrasado, é suprida na tensão
de 110 V por um transformador monofásico de dois enrolamentos com valores nominais
20 kVA, 480/120 V, 60 Hz e impedância equivalente referida ao lado de baixa tensão de
0,0525 ∠78, 130 Ω. Selecione valoes base para a potência e tensão, e determine:
• o circuito monofásico equivalente em pu;
• a corrente fornecida pelo gerador e pela compensação reativa, supondo que a tensão
na carga é mantida;
2.3.2 Autotransformadores
Conforme verificado previamente, num transformador convencional como aquele repre-
sentado na figura 2.9 as bobinas são acopladas apenas magneticamente, via fluxo mútuo
no núcleo.
O autotransformador é um dispositivo no qual as bobinas estão acopladas elétrica e
magneticamente. Isto representa a principal diferença entre este tipo de equipamento e o
transformador convencional.
As figuras 2.10 e 2.11 ilustram duas possı́veis estruturas de um autotransformador
monofásico construı́do à partir do transformador convencional da figura 2.9.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 41
I1 I2
+ +
V1 V2
− −
a:1
Ex. 2.2 No ensaio de curto circuito para um transformador monofásico de dois enrola-
mentos, com valores de placa 10 kVA, 2500/115 V, 60 Hz, foram medidas as seguintes
grandezas: 93 watts, 162 V e 4 A. Determine:
1. os valores de placa de um autotransformador com relação de transformação 2500/2615
V, construı́do à partir deste transformador monofásico.
I1
+ +
V1
I1 + I2
− V1 + V2
I2 V2
− −
− +
V1
I1 − I2
+ −V1 + V2
I2 V2
− −
• pela conexão adequada de um mı́nimo de seis bobinas iguais dispostas num mesmo
núcleo.
a A
′ ′
a A
b B
n ′ N
b
′ B
c C
′
c
′ C
Y Y
1. Nas conexões ∆∆ e Y Y, as bobinas são rotuladas de tal maneira que não há defa-
sagem angular entre as grandezas dos lados de AT e BT . O circuito equivalente é
portanto semelhante ao do transformador monofásico convencional.
a A
′ ′
a A
b B
n ′
b
′ B
c C
′
c
′ C
Y ∆
1. Uma potência aparente trifásica base é selecionada para ambos os lados (alta tensão
e baixa tensão) do transformador;
Ex. 2.3 Três transformadores monofásicos devem ser conectados para formar um banco
trifásico, com o lado de baixa tensão em Y e o lado de alta tensão em ∆. A placa de cada
transformador monofásico indica os valores 50 MVA, 13,8/138 kV, 0,381 Ω referida ao
lado de baixa tensão. Determinar o circuito equivalente do banco trifásico no sistema por
unidade.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 45
AT BT ′
I1 j300
I2
Req Xeq e : 1, 0
+ +
′
V1 V2
− −
′
Req = R1 + R2 Transformador
Xeq = X1 + X2
′ Defasador
N1 I1 = N2 I2 + N3 I3
V1 V2 V3
= =
N1 N2 N3
A figura 2.16 mostra o circuito monofásico equivalente do transformador de três en-
rolamentos. Desde que as bobinas estão dispostas sobre um mesmo núcleo, apenas um
ramo de magnetização é incluı́do na representação do circuito monofásico. Os parâmetros
deste ramo são determinados via ensaio de circuito aberto.
O circuito equivalente de um transformador de três enrolamentos utilizado em estudos
de sistemas de potência é mostrado na figura 2.17. Neste circuito, são incluı́dos apenas os
ramos correspondentes às impedâncias dos enrolamentos. Os parâmetros correspondentes
são calculados através do ensaio de curto-circuito, efetuando-se as seguintes medidas:
46 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
I2
I1
+
N2 V2
+
−
N1 I3
V1
+
N3
− V3
−
′ ′
R2 jX2
R1 jX1 +
′ ′
R3 jX3
+
′
+ V2
V1 Rc jXm
′
V3
−
− −
′
Z2
Z1
+
′
Z3
+
+ V2
V1
V3
− − −
Z12 = Z1 + Z2
Z13 = Z1 + Z3
Z23 = Z2 + Z3
• as tensões VbAT , VbM T e VbBT são selecionadas de acordo com as relações nominais
de tensão do transformador.
3. Com relação ao item anterior, determine a tensão nos terminais do enrolamento se-
cundário e as correntes de linha nos terminais dos enrolamentos primário e terciário
em unidades reais.
certas condições, esses transformadores também são utilizados para controlar os fluxos
de potência ativa e reativa. Para controlar a magnitude da tensão, são utilizados basica-
mente os taps do transformador enquanto que para monitorar o fluxo de potência ativa é
necessário que conexões adicionais sejam feitas, de forma a modificar a defasagem entre
os fasores tensão nos terminais do equipamento.
No caso do controle da magnitude da tensão, um dos lados do transformador possui
uma bobina com taps, utilizados para variar o número de espiras, o que permite modificar a
relação de transformação das tensões. A figura 2.18 mostra o esquema de um equipamento
deste tipo, com relação nominal de tensões 220 V/380 V. Os taps estão no lado de 380 V,
para ajustar a magnitude da tensão em ±10% do valor nominal, em passos de 5%.
1,1
1,05
1,00 Taps
0,95
0,90
Os Transformadores com Comutação sob Carga (Load Tap Changing (LTC) ou Tap
Changing Under Load (TCUL)) permitem o ajuste do tap enquanto o transformador
está energizado. A variação do tap é operada por servo-motores comandados por relés
ajustados de forma a manter a tensão num determinado nı́vel. Circuitos eletrônicos
especiais permitem esta mudança sem interrupção de corrente.
A representação de um transformador monofásico com tap variável é mostrada na
figura 2.19. O transformador com relação de transformação a : 1 é ideal, tendo como
finalidade refletir a relação variável entre os fasores tensão. O parâmetro a pode ser um
número real ou complexo. Se apenas a magnitude da tensão é ajustada o parâmetro a
é um número real. Se o equipamento opera com valores nominais de tensão, a = 1 e o
circuito mostrado na figura 2.19 se reduz ao circuito monofásico equivalente convencional.
Ii Yeq 1:a Ij
+ + +
Vj
Vi Vj
a
- - -
Transformador
ideal
a qual pode ser estabelecida a partir da figura 2.19, observando-se que no transformador
ideal,
Vj
Si = I∗i
a
Sj = Vj I∗j
Ii = −a∗ Ij
Yeq
= Vi Yeq − Vj
a
Yeq Yeq
Ij = −Vi ∗
+ Vj ∗
a aa
Yeq Yeq
= −Vi ∗
+ Vj 2
a |a|
Yii = Yeq
Yeq
Yjj =
a2
Yeq
Yij = Yji = −
a
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 51
Yeq
A=
Ii a Ij
✲ ✛
+ +
a−1 1−a
Vi B= Yeq C = Yeq Vj
a a2
− −
Yeq
A=
a
a−1
B= Yeq
a
1−a
C= Yeq
a2
Ex. 2.5 Um transformador trifásico possui os seguintes dados de placa: 1000 MVA,
13,8kV(∆)/345kV(Y), reatância de dispersão igual a 11,9025 Ω referida ao lado de alta
tensão. As bobinas de baixa tensão do transformador possuem taps com variação ± 10 %.
• Resistência série: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela corrente
que flui através do condutor;
52 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
Zser
Ysh Ysh
2 2
• Indutância série: que representa o campo magnético criado pela corrente que per-
corre o condutor;
• Condutância shunt: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela dife-
rença de potencial no meio que circunda os condutores;
• Linhas curtas: apenas os parâmetros série da linha são levados em conta, com a
impedância série da linha de transmissão sendo expressa por Zser = Rser + jXser .
Os parâmetros shunt da linha são desprezados.
Ysh = jBsh S
′
Ysh cosh (γl) − 1
= S
2 Z′ser
onde, s
r
Z R + jX
Z0 = = Ω
Y G + jB
γ = α + jβ
sendo γ a constante de propagação (Np/m), α a constante de atenuação (Np/m) e
β a constante de fase (rad/m).
2.5 Cargas
Em estudos de sistemas de potência em regime permanente, é necessário modelar ade-
quadamente a carga, tanto em termos quantitativos como em termos qualitativos. Numa
barra tı́pica, a demanda consiste em geral de:
• motores de indução;
• aquecimento e iluminação;
• motores sı́ncronos.
S = P + Q
Impedância constante
P(Q)
Corrente constante
α(β) = 0,0
Potência constante
α(β) = 1,0
α(β) = 2,0
Tensão V
nominal
β
V
Q = Q0 (2.4)
V0
onde V0 é a tensão nominal de referência e os expoentes α e β dependem do tipo de
carga. Os termos P0 e Q0 são as potências ativa e reativa consumidas no nı́vel de tensão
V igual à tensão de referência V0 . O ajuste dos termos exponenciais das equações (2.3)
e (2.4) permite representar a carga em termos de potência constante, corrente constante
ou impedância constante, isto é,
• se a carga for representada como injeção de potência constante (P ), os coeficientes
α e β são selecionados iguais a zero (α = β = 0, 0);
• se a carga for representada como injeção de corrente constante (I), o valor dos
coeficientes α e β é unitário (α = β = 1, 0);
• se a carga for representada como impedância constante (Z), o valor dos coeficientes
α e β é especificado como α = β = 2, 0;
A tabela 2.3 apresenta valores tı́picos dos expoentes α e β de algumas cargas carac-
terı́sticas. No caso de cargas compostas, a especificação do expoente α é geralmente feita
na faixa entre 0,5 e 1,8 enquanto que o valor de β assume valores na faixa entre 1,5 e 6,0.
Devido à saturação magnética dos transformadores de distribuição e à carga composta de
motores, o expoente β varia como função não linear da tensão.
I Potência constante
α(β) = 0,0 Impedância constante
α(β) = 2,0
Corrente constante
α(β) = 1,0
Vnom V
Componentes da carga α β
Lâmpadas incandecentes 1,54 -
Condicionadores de ar 0,50 2,50
Ventiladores de forno 0,08 1,60
Carregadores de bateria 2,59 4,06
Fluorescentes compactas eletrônicas 0,95 - 1,03 0,31 - 0,46
Fluorescentes convencionais 2,07 3,21
seguintes condições:
ap + bp + cp = 1, 0
aq + bq + cq = 1, 0
De maneira análoga ao caso anterior, o ajuste conveniente dos coeficientes a, b e c
deste modelo permite representar a demanda de diferentes formas. Por exemplo,
• se a carga for representada como injeção de potência constante, os coeficientes bp ,
cp , bq e cq são selecionados iguais a zero e ap e aq assumem valores unitários;
• se a carga for representada como injeção de corrente constante, os coeficientes ap ,
cp , aq e cq são selecionados iguais a zero e bp e bq assumem valores unitários;
• se a carga for representada como impedância constante, os coeficientes ap , bp , aq e
bq são selecionados iguais a zero e cp e cq assumem valores unitários;
Ex. 2.6 Analise a representação de uma carga constituı́da por um chuveiro elétrico, cujos
valores nominais são 2400 W, 220 V, submetido a uma tensão de 240 V através de um
condutor com reatância indutiva igual a 1 Ω.
2.6 Exercı́cios
2.1 Considere um transformador com os seguintes valores nominais: 5 kVA, 220/500 V,
60 Hz, 2,5 %. Supondo que este equipamento está operando à vazio sob condições nomi-
nais, calcule a corrente que circulará neste transformador caso ocorra um curto circuito
nos terminais do secundário.
2.2 Qual a tensão que deve ser aplicada nos terminais do primário de um transformador
de 50 kVA, 200/1000 V, 60 Hz, impedância de dispersão de 3+j5 % , para que ele supra
uma carga nominal, na tensão nominal, com fator de potência 0,8 indutivo?
2.3 Um gerador monofásico operando na tensão de 6650 V está conectado a um trans-
formador com valores nominais 150 kVA, 8750/500 V, e reatância de dispersão 10 %,
através de uma linha de transmissão de impedância j50 Ω. Uma carga representada por
uma impedância de j2 Ω é suprida através do lado de baixa tensão do transformador.
Determine as tensões, correntes e potências em pu e em unidades reais nos dois lados do
transformador.
2.4 Um transformador monofásico de três enrolamentos possui os seguintes parâmetros:
Z1 = Z2 = Z3 = j0, 05 pu, Gc = 0 e Bm = 0, 20 pu. Três transformadores com estes
mesmos valores nominais são conectados com as bobinas dos seus primários em Y e
com as bobinas dos respectivos secundários e terciários em ∆. Mostre o diagrama de
impedâncias deste banco de transformadores.
2.5 Os valores nominais de um transformador trifásico de três enrolamentos são: primário
(1), 66kV (Y ), 20MV A; secundário (2), 13, 2kV (Y ), 15MV A; terciário (3), 2, 3kV (∆),
5MV A. As reatâncias de dispersão são: X12 = 8% (na base 15MV A, 66kV ), X13 = 10%
(na base 15MV A, 66kV ) e X23 =9% (na base 10MV A, 13, 2kV ). Determine o circuito
equivalente deste transformador em pu, na base 15 MVA, 66 kV nos terminais primários.
58 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
2.10 Considere o diagrama do sistema trifásico da figura 2.24, para o qual são fornecidos
os seguintes dados:
• gerador G1 : 150 MVA, 13,8(Y) kV, Xg1 = 30%;
YY Y∆
Ha Hb Hc
220 V
Xa Xb Xc
−
110 V
Y∆ Y∆
LT14 Transformador 2 Carga L5
Gerador 2
∆Y
Carga L1
1. indutiva pura;
2. capacitiva pura.
Adotar como base os valores 10 kVA e 380 V no lado de AT do trafo.
2.16 Considere o sistema cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 2.27. Os valores
nominais dos equipamentos são:
• Gerador: 30 MVA, 13,8 kV, 15 %;
• Transformadores 1 e 2: 35 MVA, 115/13,2 kV, 10 %;
• Linha de transmissão: 80 Ω;
• Motor 1: 20 MVA, 12,5 kV, 20 %;
• Motor 2: 10 MVA, 12,5 kV, 20 %, Zn = j2 Ω;
1 2 3 4 M1
G
Zn
T1 LT T2 M2
2.17 Um transformador trifásico com valores de placa 200 MVA, 345(∆)/34,5(Y ) kV,
8 %, opera como um elo, conectando um sistema de transmissão de 345 kV e um sistema
de distribuição de 34,5 kV.
1. Determine os valores de placa e o circuito equivalente dos três transformadores
monofásicos, que conectados adequadamente seriam equivalente ao transformador
trifásico em questão.
2. Supondo que uma carga uma carga trifásica de valor 180 MVA, na tensão 33 kV e
fator de potência 0,8 atrasado, é suprida por este transformador. Calcule os valores
de tensão corrente, potência aparente e fator de potência nos terminais de entrada
do transformador em pu e em unidades reais.
2.18 Um gerador trifásico (35 kVA, 380 V, X=10%) operando na tensão nominal, su-
pre, através de uma linha de transmissão com impedância 0,1 + j1,0 Ω/fase, uma carga
trifásica que absorve uma corrente de 50 Ampéres com fator de potência 0,8 em atraso.
Supondo seqüência de fases positiva, tomando o fasor tensão Vab na carga como referência
e adotando os valores nominais do gerador como base, determinar (em pu e em unidades
reais):
1. os fasores tensão de fase e de linha na carga e no gerador;
2.19 No sistema trifásico da figura abaixo, os parâmetros das duas linhas de transmissão
são 0,163 (LT1 ) e 0,327 (LT2 ) Ω/km por fase, com respectivos comprimentos de 220 km
(LT1 ) e 150 km (LT2 ).
3 Trafo 2 4 MS
2
1 2
MS1 Trafo 1 LT1
5 Trafo 3 6
LT2
Adotando como valores base a tensão 13,2 kV e a potência de 2000 MVA na barra 1,
determinar:
1. o circuito equivalente na representação por fase, no sistema por unidade;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 63
3.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a modelagem analı́tica das linhas de transmissão para o estudo
da operação em regime permanente. Primeiramente, representa-se a linha de transmissão
por um quadripolo, definido por quatro constantes calculadas com base nos parâmetros da
linha. A seguir, estuda-se o problema do máximo carregamento que a linha pode suprir,
com enfoque na construção e na análise das curvas PV e QV. Posteriormente, mostra-
se como os parâmetros da linha podem ser utilizados em cálculos rápidos, com nı́vel
de precisão satisfatório apesar das aproximações adotadas em alguns casos. O capı́tulo é
finalizado enfocando aspectos relacionados aos fluxos de potência e a compensação reativa
das linhas de transmissão.
• Indutância série: que representa o campo magnético criado pela corrente que per-
corre o condutor;
• Condutância shunt: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela dife-
rença de potencial no meio que circunda os condutores;
Zser
Ysh Ysh
2 2
+ +
Ve Quadripolo Vr
- -
As relações entre as variáveis tensão e corrente nos terminais do quadripolo são ex-
pressas pela equação
Ve = AVr + BIr
(3.1)
Ie = CVr + DIr
ou na forma matricial pela expressão
Ve A B Vr
=
Ie C D Ir
onde, A, B, C e D são parâmetros que dependem das constantes das linhas de trans-
missão. No caso de circuitos lineares passivos e bilaterais, como o da linha de transmissão,
a relação
AD − BC = 1
é satisfeita. Esses parâmetros são números complexos, com A e D adimensionais, B
expresso em ohms (Ω) e C expresso em siemens (S).
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 67
+ +
- -
x + ∆x x
Tensão e corrente Tensão e corrente
na posição x + ∆x na posição x
(terminal emissor) (terminal receptor)
Figura 3.3: Modelo incremental da linha de transmissão
√
onde γ = zy, denominada constante de propagação, pode ser expressa em termos da
constante de atenuação α (néper/metro ou decibéis/metro) e da constante de fase (radi-
anos/metro) por
γ = α + jβ
O termo Zc , denominado impedância caracterı́stica da linha de transmissão, é expresso
como r
z
Zc = (Ω)
y
As constantes A1 e A2 são calculadas observando-se que no terminal receptor (x = 0)
Vr = V(0) Ir = I(0)
tal que
Vr = A1 + A2
A1 − A2
Ir =
Zc
o que fornece
Vr + Zc Ir
A1 =
2 (3.5)
Vr − Zc Ir
A2 =
2
Agrupando-se convenientemente os termos das Eqs. (3.4) e (3.5), obtêm-se as ex-
pressões que fornecem a tensão e a corrente em qualquer ponto x da linha de transmissão;
isto é,
onde, Ve (x) e Ie (x) são a tensão e a corrente no terminal emissor (de entrada) e Vr (x)
e Ir (x) são a tensão e a corrente no terminal receptor (de saı́da), expressos em função
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 69
Ie Z
′ Ir
+ +
′ ′
Y Y
Ve Vr
2 2
- -
Z = zl = R + jX (Ω)
(3.9)
Y = yl = G + jB (S)
e portanto
′ ′
ZY
A(x) = D(x) = cosh(γx) = 1 +
2
′
B(x) = Zc sinh(γx) = Z (3.10)
′ ′
1 ′ ZY
C(x) = sinh(γx) = Y 1 +
Zc 4
A segunda das Eqs. (3.10) pode ser escrita como
r r
′ z zl z
Z = Zc sinh(γx) = sinh(γx) = sinh(γx)
y zl y
resultando
′ sinh(γl)
Z =Z (3.11)
γl
De forma semelhante, a primeira das Eqs. (3.10) fornece
′
Y cosh(γx) − 1
=
2 Z′
tal que,
′
Y Y tanh(γl/2)
= (3.12)
2 2 (γl/2)
sinh(γl) tanh(γl/2)
Os termos e , denominados fatores de correção, são utilizados
γl (γl/2)
para converter a impedância série e a admitância shunt (Z e Y) do circuito π-nominal
′ ′
nos correspondentes parâmetros (Z e Y ) do circuito π-equivalente. As Eqs. (3.10),
(3.11) e (3.12) representam uma linha de transmissão de qualquer comprimento. Nas
linhas longas, os efeitos de propagação de onda são consideráveis, tal que a impedância e
a admitância são submetidas a correção indicada pelas Eqs. (3.11) e (3.12) e este tipo de
linha é representado pelo circuito da figura 3.4.
No caso das linhas médias, a perda na condutância shunt é desprezı́vel porém o efeito
capacitivo é levado em conta. Por esta razão, estas linhas são representadas pelo circuito
π-nominal, no qual a impedância série e a admitância shunt são calculados com base nos
parâmetros distribuı́dos fornecidos pelo fabricante e no comprimento da linha. O modelo
analı́tico das linhas médias é mostrado na figura 3.5.
As equações de quadripolo que caracterizam este circuito são semelhantes àquelas
obtidas para uma linha de transmissão genérica, ou seja,
ZY
A= D=1+ pu
2
B= Z Ω
ZY
C= Y 1+ S
4
onde Z e Y são os parâmetros concentrados da Eq. (3.9) .
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 71
Ie Z = zl Ir
+ +
Y yl Y yl
Ve = = Vr
2 2 2 2
- -
Nas linhas curtas a perda na condutância shunt e o efeito capacitivo entre os condutores
(ou entre os condutores e a terra) não é acentuado, e portanto apenas os parâmetros
série da linha são levados em conta. A representação deste tipo de linha de transmissão
considera apenas os parâmetros série, conforme ilustrado na figura 3.6. tal que as equações
Ie Z = zl Ir
+ +
Ve Vr
- -
Ex. 3.1 Para exemplificar o uso dos modelos de linha definidos com base no comprimento
da mesma, seja uma linha de transmissão trifásica, composta de condutores ACSR 127000
CMil 54/3, com espaçamento assimétrico, transposta, com impedância série e admitância
shunt respectivamente iguais a 0, 0165 + j0, 3306 Ω/km e j4, 674 × 10−6 S/km. A tabela
3.1 mostra os parâmetros que representam linhas de transmissão com estas caracterı́sticas
e com comprimentos iguais a 300 km, 160 km e 50 km.
l 300 km 160 km 50 km
Z(Ω) 4,95 + j99,18 2,64 + j52,89 0,82 + j16,53
′
Z (Ω) 4,72 + j96,90 2,60 + j52,54 0,82 + j16,51
Y(S) j0,0014 j0,00074 j0,00023
′
Y (S) j0,0014 j0,00074 j0,00023
Zc (Ω) 266,15 - j6,63 266,15 - j6,63 266,15 - j6,63
γ(km−1 ) j0,0012 j0,0012 j0,0012
A(pu) 0,9313 + j0,0034 0,9803 + j0,001 0,9981 + j0,0001
B(Ω) 4,72 + j96,90 2,60 + j52,54 0,82 + j16,51
C(S) j0,0014 j0,00074 j0,00023
Observa-se nesta tabela, que o efeito dos fatores de correção sobre determinados parâ-
metros é reduzido à medida que o comprimento da linha diminui. Por exemplo, a diferença
entre os valores nominais e equivalente da reatância indutiva da linha de 300 km (99,18 Ω
e 96,9 Ω) é de 2,28 Ω (2,30%). Conseqüentemente, se os parâmetros série desta linha de
transmissão longa não fossem corrigido, o cálculo da queda de tensão ao longo da linha
apresentaria um erro de aproximadamente 2%. No caso das linhas de 160 e 50 km, a
diferença entre os valores nominais e corrigidos é insignificante, indicando que não há
necessidade de se utilizar o circuito π-equivalente da linha. Com relação à admitância
shunt, no caso especı́fico desta linha o fator de correção não tem efeito considerável, tal que
os valores nominais e corrigidos são iguais, independentemente do comprimento da linha.
Nota-se ainda, que tanto a impedância caracterı́stica como a constante de propagação não
variam com o comprimento da linha de transmissão, pois estas constantes são definidas
com base nos parâmetros distribuı́dos da linha.
Vr Ve AVr2
PrM ax = − cos(θz − θa )
Z′ Z′
sendo a potência reativa correspondente expressa como
AVr2
QM
r
axp
= − ′ sin(θz − θa )
Z
• Sij = Pij + jQij e Sji = Pji + jQji são os fluxos de potência aparente que saem das
barras i e j, respectivamente.
Vi ∠δi Vj ∠δj
′
i Pij
′
Pji j
Qij ❄ ❄Pij ✲
Z = R + jX
✛
Pji
❄ ❄Qji
✲ ✛
Qshi ❄ Q′ij ❄Qshj
′
Qji
Y
2
= j B2 Y
2
= j B2
A potência aparente que flui no ramo shunt relativo a barra i é dada por
∗
V 2B
Vi Y
∗
Sshi = Vi Ishi = Vi = −j i
2 2
e então
Vi2 B
Qshi = −
2
Portanto, os fluxos de potência ativa e reativa numa linha de transmissão são expressos
como
1
Pij = (RVi2 − RVi Vj cos δij + XVi Vj sin δij )
R2
+ X2
(3.16)
V 2B 1
Qij = − i + 2 (XVi2 − XVi Vj cos δij − RVi Vj sin δij )
2 R + X2
De maneira análoga, como sen δij = −sen δji e cos δij = cos δji , os fluxos de potência
ativa e reativa da barra j para a barra i são
1
Pji = (RVj2 − RVi Vj cos δij − XVi Vj sin δij )
R2
+ X2
(3.17)
Vj2 B 1
Qji = − + 2 (XVj2 − XVi Vj cos δij + RVi Vj sin δij )
2 R + X2
O fluxo máximo de potência ativa que é injetado na barra j é obtido derivando-se
Pr = −Pji com relação a δji e igualando-se o resultado a zero, isto é,
∂(−Pji )
= −RVi Vj sin δij + XVi Vj cos δij = 0
∂δji
76 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
o que fornece
X
tan(δij ) =
R
e portanto δ = θz , conforme observado no final da subseção 3.4.1.
As perdas de potência ativa e reativa são dadas respectivamente por
PL = Pij + Pji
QL = Qij + Qji
R 2 2
Pij + Pji = (V i + V j ) − 2V i V j cos δij
R2 + X 2
ou seja,
R
Pij + Pji = |Vi − Vj |2
R + X2
2
O primeiro termo desta equação pode ser identificado como a geração de potência
reativa nos elementos shunt, enquanto que o segundo pode ser interpretado como a perda
de potência reativa no elemento série da linha de transmissão.
Ex. 3.2 Para ilustrar o comportamento dos fluxos de potência, considere a linha de trans-
missão longa da tabela 3.1 conectando as barras e e r. Os fluxos de potência ativa e reativa
em ambos os sentidos são calculados com auxı́lio das Eqs. (3.16), mantendo-se a mag-
nitude das tensões nos terminais constante em 1,0 pu e variando-se a abertura angular
da linha de −π a π. A soma algébrica dos fluxos de potência ativa Per e Pre fornece o
valor da perda de potência ativa na transmissão Pl . Observa-se ainda que, fluxos positivos
de potência reativa Qer e Qre saem respectivamente das barras e e r, indicando que para
manter o nı́vel de tensão plano em 1,0 pu ambas as barras devem operar de forma a suprir
a reatância da linha de transmissão.
Ex. 3.3 Seja a linha de transmissão longa da tabela 3.1, operando na tensão de 765 kV.
′
Os parâmetros do circuito π-equivalente que representa esta linha são Z = 97, 0∠87, 20 Ω
′ ′
e Y = 0, 0014∠89, 990 S e do quadripolo são A = 0, 9313∠0, 2090 pu, B = Z e C =
0, 0014∠90, 060 S. Adotando a tensão nominal da linha e a potência aparente de 2199
′ ′
MVA como valores base, obtém-se Z = 0, 0177 + j0, 3641 pu, Y = 0, 0002 + j0, 3772 pu,
A = 0, 9313∠0, 2090 pu, C = −0, 0004 + j0, 3643 pu. A impedância caracterı́stica vale
Zc = 266, 15 − j6, 6376 Ω ou 1,00-j0,024 pu e a SIL é igual a 2199 MW ou 1,0 pu.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 77
Qer x Delta
4
Qre x Delta
Per x Delta
Pl (perda)
−2
Pre x Delta
−4
−6
−150 −100 −50 0 50 100 150
Ângulo da Tensão (graus)
3.5 Curvas PV e QV
A magnitude da tensão no terminal receptor é determinada re-escrevendo-se a Eq. (3.14)
como
Vr Ve AVr2
cos(δ − θz ) = P r + cos(θz − θa )
Z′ Z′
(3.18)
Vr Ve AVr2
sin(δ − θz ) = Qr + sin(θz − θa )
Z′ Z′
78 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
2 P x Delta
−1 Q x Delta
−2
−3
−4
−5
−6
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Ângulo da Tensão (graus)
Fazendo-se y = Vr2 e
a = A2
Pr2 + Q2r Z ′2
c=
a Eq. (3.19) pode ser re-escrita como uma equação de segundo grau em y, tendo como
raı́zes
√
−b + b2 − 4ac
ys =
2a
(3.20)
√
2
−b − b − 4ac
yi =
2a
√ p
tal que duas magnitudes da tensão com significado fı́sico são Vrs = y s e Vri = y i .
A curva PV de uma barra é obtida fixando-se a tensão no terminal emissor, variando-se
a demanda no terminal receptor sem alterar o fator de potência da mesma, e resolvendo-se
a Eq. (3.19) para cada valor da demanda (caso mais simples). Nos casos práticos, esta
curva é traçada com base em sucessivas soluções do fluxo de potência correspondentes à
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 79
1.2
fp unitário fp capacitivo
1
0.6
0.4
0.2
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Potência Ativa (pu)
Ex. 3.4 A figura 3.10 mostra as curvas PV obtidas para cargas com diferentes fatores
de potência, com a tensão no terminal emissor fixada no valor nominal, para a linha de
transmissão referida anteriormente.
Desta figura, observa-se que:
• para cada fator de potência, existe uma potência máxima que pode ser transmitida;
• para cada demanda especificada abaixo do valor máximo, existem duas possı́veis
soluções para Vr (duas raı́zes da Eq. (3.19));
• o perfil plano de tensão ocorre para a carga de fator de potência unitário, caso no
qual P < 1, 0 pu e Vr = Ve = 1, 0 pu.
no terminal emissor até que um ponto de equilı́brio seja alcançado (região estável ). Na
parte inferior da curva, um aumento na demanda resulta numa elevação da magnitude
da tensão do sistema e a medida corretiva também causa decréscimo na magnitude da
tensão, o que indica que o sistema está operando num ponto de equilı́brio instável (região
instável ). Para qualquer nı́vel de carga inferior ao nı́vel máximo de potência a ser trans-
mitida, duas soluções em termos de magnitude da tensão no terminal receptor podem ser
encontradas. A solução mais próxima ao ponto de equilı́brio estável é o correspondente
ponto de equilı́brio instável. Estes pontos de equilı́brio se aproximam um do outro con-
forme a demanda aumenta, até a condição de operação onde somente uma única solução
do fluxo de potência existe. Esta condição caracteriza o ponto extremo da curva, o qual
é denominado ponto crı́tico ou ponto de bifurcação sela-nó. A partir deste ponto, não
existem soluções reais para as equações da rede elétrica.
As curvas QV são traçadas de maneira análoga às curvas PV. Neste caso, a injeção de
potência ativa demandada é mantida constante, variando-se a potência reativa no terminal
receptor.
Ex. 3.5 Curvas QV correspondentes a diferentes nı́veis de potência ativa demandada são
mostradas na figura 3.11 para a linha de transmissão apresentada anteriormente.
1.2
1 Pr = Prmax
Modulo da Tensão (pu)
0.8
Pr = 0,75Prmax
0.6
0.4 Pr = 0,50Prmax
0.2 Pr = 0,25Prmax
0
−2.5 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1
Potência Reativa (pu)
Ex. 3.6 As figuras 3.12, 3.13 e 3.14 mostram linhas de transmissão com comprimentos
variando entre 50 km e 300 km, para cargas com fatores de potência iguais a 0,70 atrasado,
unitário e 0,90 adiantado. Nestas figuras observa-se que:
Curva P x V − Carga Capacitiva
l = 300 km
1.2
l = 150 km
1
Modulo da Tensão (pu)
l = 75 km
0.8
l = 50 km
0.6
0.4
0.2
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Potência Ativa (pu)
• linhas de transmissão com comprimento entre 150 km e 300 km podem operar com
nı́vel de tensão normal, desde que o fator de potência da carga seja elevado;
• devido às acentuadas variações na magnitude da tensão, a operação de linhas longas
não compensadas é impraticável para toda a faixa de variação do fator de potência;
• mesmo quando a linha de transmissão longa supre uma demanda igual a SIL,
condição em que as magnitudes das tensões nos terminais emissor e receptor ten-
dem a se igualar, quando o comprimento da linha é 300 km a tensão no terminal
receptor é extremamente sensı́vel a qualquer variação na potência ativa da carga;
• conforme o comprimento da linha aumenta, aproximando-se de 300 km, o ponto
de magnitude da tensão correspondente à demanda é igual à SIL se localiza em
82 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
0.8
Modulo da Tensão (pu)
300 km 150 km 75 km 50 km
0.6
0.4
0.2
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Potência Ativa (pu)
0.8
Modulo da Tensão
300 km 150 km 75 km 50 km
0.6
0.4
0.2
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
Potência Ativa
diferentes posições das curvas PV, tendendo a se deslocar para a parte inferior da
curva, ou seja, correspondendo à menor das duas soluções, como pode ser observado
na figura 3.13 desde linhas de 50 km e 300 km. Neste caso, a operação da LT é
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 83
virtualmente instável.
+ +
′ ′
B B
Vs = Vs ∠δ Vr = Vr ∠00
2 2
- -
A figura 3.15 mostra a representação de uma linha com a resistência série e a con-
dutância shunt desprezadas (R = G = 0). Os parâmetros relativos à propagação das
ondas de tensão e corrente na linha são apresentados a seguir.
• Impedância caracterı́stica: r
L
Zc = Ω
C
• Constante de propagação:
√
γ = jβ = jω LC m−1
1
O termo √ representa a velocidade de propagação das ondas de tensão e corrente
LC
1
ao longo da linha de transmissão sem perda. Em linhas aéreas √ ≈ 3×108 m/s,
LC
e na freqüência de 60 Hz, λ ≈ 5 × 106 m; ou seja, comprimentos tı́picos de linhas
de transmissão são apenas uma fração de λ = 5000 km (lembrar que µ0 = 4π ×
10−7 H/m e ǫ0 = 8, 85 × 10−12 F/m).
′ ′ sin(βl)
Z = jX = jX
βl
′ ′
Y B B tan(βl/2)
= j =j
2 2 2 (βl/2)
Portanto, se a carga é igual à SIL, o perfil de tensão é horizontal, isto é, a magnitude da
tensão e da corrente em qualquer ponto da linha sem perda é constante. Por esta razão, a
potência real suprida à carga também permanece constante ao longo da linha. A potência
reativa que flui do terminal emissor ao terminal receptor é nula, como conseqüência de
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 85
que os Mvar gerados pela capacitância shunt são iguais aqueles consumidos pela reatância
indutiva série.
Na tensão nominal, a potência real liberada é dada por
2
Vnom
SIL =
Zc
onde Vnom é a tensão nominal da linha de transmissão (de fase ou de linha, dependendo
do valor de potência desejado). A tabela 3.2 apresenta valores tı́picos da impedância
caracterı́stica e da potência natural (SIL) para linhas de transmissão aéreas operando na
freqüência de 60 Hz.
r
2
L Vnom
Vnom (kV) Zc = (Ω) SIL = (MW)
C Zc
69 366-400 12-13
138 366-405 47-52
230 365-395 134-145
345 280-366 325-425
500 233-294 850-1075
750 254-266 2200-2300
Ex. 3.7 A figura 3.16 mostra o perfil de tensão na linha de transmissão da seção anterior,
desprezando as perdas, para diferentes tipos de carga conectadas ao terminal receptor,
com a tensão no terminal emissor mantida constante no valor nominal. A impedância
série e a susceptância shunt da linha valem respectivamente z = 0, 3306 Ω/km e y =
4, 674 µS/km. A impedância caracterı́stica, a SIL e a constante de propagação desta
linha valem respectivamente 266,1 Ω; 2199,3 MW e 0.0012 rad/m. As grandezas estão
expressas no sistema por unidade, na base 765 kV e 2199,5 MVA. Com relação a esta
figura, observa-se que:
• na condição à vazio, a corrente que supre o terminal receptor é nula, isto é, Ir0 = 0,
tal que a tensão ao longo da linha aumenta de 1,0 pu (no terminal emissor) até
1,0733 pu (no terminal receptor), segundo a expressão Ve0 (x) = cos(βx)Vr0 ;
Curva V x Comprimento
circuito aberto
SIL
1
carga indutiva 1
0.8
Modulo da Tensão (pu)
0.6
carga indutiva 2
0.4
0.2
carga indutiva 3
0
0 50 100 150 200 250 300
Distância (km)
Figura 3.16: Perfil de tensão da linha de transmissão para diferentes tipos de carga
• Variando-se a impedância da carga de (1, 0+j1, 0)Zc a (0, 01+j0, 01)Zc, a magnitude
da tensão decresce ao longo da linha, de 0,8865 pu até 0,0380 pu.
• se a impedância da carga é nula (curto circuito), Vrcc = 0 e Vcc (x) = (Zc sin(βx)) Ircc ;
isto é, a tensão decresce de Vs = (Zc sin(βl)) Ircc no terminal emissor até Vrcc = 0
no terminal receptor;
Com relação à potência liberada no terminal receptor de uma linha sem perda, con-
siderando que A possui apenas a componente real (e portanto θa = 0 grau) e Z e Y
possuem apenas as componentes imaginárias (e portanto θz = θy = 90 graus), as Eqs.
(3.14) se tornam
Vr Ve
Pr = sin δ
X′
(3.22)
Vr Ve AVr2
Qr = cos δ −
X′ X′
′ ′
XB
e, desde que A = D = 1 − ,
2
′
Vr2 Vr Ve
B 2
Qr = V − − cos δ
2 r X′ X′
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 87
onde a primeira parcela representa a potência reativa gerada pela suceptância shunt e a
segunda parcela é o fluxo de potência reativa na reatância série. Estas expressões podem
ser obtidas através das Eqs. (3.17), com R = G = 0.
A máxima potência que pode ser transferida ao terminal receptor sem perda de esta-
bilidade em regime permanente ocorre quando δ = 900 e vale
Vr Ve
Prmax =
X′
com a correspondente potência reativa igual a
′
B 1
Qr (Prmax ) = Vr2 − ′
2 X
′ 2π
e, desde que X = Zc sin(βl) e β = , o limite de estabilidade em termos da SIL é dado
λ
por
V pu V pu SIL
Prmax = e r
2πl
sin
λ
onde as tensões terminais da linha são expressas em por unidade, adotando a tensão
nominal como base.
Ex. 3.8 Considerando a linha de transmissão da seção anterior, com as perdas despreza-
das, a qual tem reatância série e susceptância shunt nominais iguais a 99,18 Ω e 0,0014
S, respectivamente, reatância série e susceptância shunt equivalentes iguais a 96,90 Ω
e 0,0014 S, impedância caracterı́stica igual a 266,1 Ω, constante de propagação igual a
j0,0012 m−1 e comprimento de onda igual a 5000 km. Supondo que a magnitude das
tensões terminais são fixas no valor nominal, o ângulo de fase δ aumenta de 00 a 900 ,
conforme a potência ativa liberada pela linha aumenta. Quando a abertura angular da
linha é zero, a potência ativa suprida ao terminal receptor é zero, porém uma pequena
quantidade de potência ativa é gerada pela capacitância da linha, conforme pode ser ve-
rificado com auxı́lio da Eq. (??). A máxima potência que a linha pode liberar é dada
por
Vr Ve V pu V pu SIL
Prmax = = e r
X ′
2πl
sin
λ
(765k)(765k) (1, 0)(1, 0)2199, 3
= ⇔
96, 89 2π × 300
sin
5000
= 6040, 1 MW ⇔ 2, 7165SIL = 5974.4 MW
a qual representa o limite teórico de estabilidade em regime permanente para uma linha
sem perdas, com a correspondente potência reativa igual a -2,5579 pu. Note que a tensão
nominal da linha e a SIL foram adotados como valores base nestes cálculos.
A figura 3.17 mostra a representação geométrica da potência ativa transmitida em
função da variação da diferença angular entre as tensões terminais da linha. Note que,
88 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
neste caso a potência máxima transmitida ao terminal receptor através da linha de trans-
missão sem perdas ocorre quando a abertura angular entre as tensões terminais da linha
é 900 . Quando a abertura angular da linha é zero, não há fluxo de potência através do
Curvas P x Delta e Q x Delta − LT sem perdas
3
P x Delta
2
1
Potência Ativa (Reativa) (pu)
Q x Delta
−1
−2
−3
−4
−5
−6
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Ângulo da Tensão (graus)
Com relação às curvas PV e QV no caso da linha de transmissão sem perdas, a equação
do quadripolo relativa à tensão é dada por
Vr4 cos2 (βl) + Vr2 2Zc Q cos(βl) sin(βl) − Ve2 + Zc2 Q2 + P 2 sin2 (βl) = 0
ay 2 + by + c = 0 (3.24)
onde a = cos2 (βl), b = (2Zc Q cos(βl) sin(βl) − Ve2 ) e c = Zc2 (Q2 + P 2 ) sin2 (βl).
Da mesma forma que no caso da Eq. (3.19), a magnitude da tensão no terminal
receptor é obtida resolvendo-se a Eq. (3.24), a qual a rigor possui quatro soluções, duas
das quais com significado fı́sico.
Ex. 3.9 A figura 3.18 mostra as curvas PV obtidas para cargas com diferentes fatores
de potência, com a tensão no terminal emissor fixada no valor nominal, para a linha de
transmissão da seção anterior. No caso da linha sem perdas, observa-se que quando a
carga é igual à potência natural (SIL) com fator de potência unitário, o perfil de tensão
é plano em 1,0 pu. Observe que neste caso a potência ativa máxima correspondente à
demanda crı́tica é superior àquela correspondente ao caso das linhas de transmissão com
perdas. As curvas QV correspondentes à linha sem perda são apresentadas na figura 3.19.
90 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
fp capacitivo
1.2
fp unitário
1
0.6
0.4
0.2
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Potência Ativa (pu)
1.2
1 Pr = Prmax
Modulo da Tensão (pu)
0.8
Pr = 0,75Prmax
0.6
Pr = 0,50Prmax
0.4
0.2 Pr = 0,25Prmax
0
−2.5 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1
Potência Reativa (pu)
Y Y
2 2
Terminal Z = R + jX Terminal
receptor emissor
Y Y
2 2
B Nl B Nl
−j( )( ) −j( )( )
2 100 2 100
Os reatores shunt são utilizados para consumir potência reativa gerada por linhas com
baixo carregamento. Os reatores shunt são geralmente instalados em pontos selecionados
ao longo das linhas de transmissão de Extra Alta Tensão, de cada fase ao neutro. Os
indutores absorvem potência reativa e reduzem as sobretensões durante os perı́odos de
carga leve e/ou resultantes de surtos de chaveamentos. Entretanto, sob condições de plena
carga é necessário remover o seu efeito da linha de transmissão a fim de que a capacidade
de carregamento da mesma não seja reduzido.
Os capacitores shunt são utilizados para gerar potência reativa em sistemas com alto
consumo de reativo e/ou muito carregados, com o objetivo de elevar a tensão num dos
terminais da linha de transmissão durante os perı́odos de carga pesada. No caso da
conexão desses bancos em paralelo com uma carga indutiva, os capacitores shunt fornecem
uma parte ou o suprimento total da potência reativa. Nesta condição, eles reduzem
a corrente transmitida para suprir a carga e portanto a queda de tensão na linha de
transmissão. Conseqüentemente, as perdas de potência ativa são reduzidas, melhorando
o fator de potência da carga e com isto uma quantidade de potência ativa maior pode ser
transmitida pela linha de transmissão.
A figura 3.22 mostra o circuito que ilustra o uso do capacitor shunt na compensação
reativa de uma barra. Neste circuito, toda a rede elétrica com exceção da barra em
questão é representada pelo circuito equivalente de Thèvenin. A tensão no barramento
antes do chaveamento do capacitor é igual à tensão da fonte, isto é
Vt = Eth
O diagrama fasorial mostrado na figura 3.23 ilustra como a magnitude da tensão au-
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 93
Chave S
Rth jXth
+ Ic
+
Eth G Capacitor C
Vt
- -
Ic jXth
Eth
Ic Ic Rth
Vth
Vt
menta na barra onde o capacitor foi instalado. Supondo que a tensão Eth é constante,
o aumento na tensão Vt causado pela adição do capacitor é aproximadamente igual a
Ic Zth , desde que antes do chaveamento Vt = Eth . Observe que tanto no caso dos capa-
citores shunt como no caso dos reatores shunt, quando a magnitude da tensão decresce a
potência reativa envolvida por estes dispositivos também decresce. No caso particular dos
capacitores, em perı́odos de carga leve, quando a magnitude da tensão tende a aumentar,
a potência reativa gerada por estes equipamentos tende a fazer com que a magnitude da
tensão aumente ainda mais, com o risco de exceder os limites.
Sob o ponto de vista da representação da linha de transmissão por um quadripolo,
os esquemas de compensação série e shunt podem ser vistos como um agrupamento de
quadripolos, da forma mostrada na figura 3.24. O quadripolo 2 representa a linha de
transmissão enquanto que os quadripolos 1 e 3 são iguais e representam a compensação
reativa. Os parâmetros correspondentes à compensação série são dados por
A1 = A3 = 1
X Nc
B1 = B3 = −j( )( )
2 100 (3.25)
C1 = C3 = 0
D1 = D3 = A 1
94 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
A1 = A3 = 1
B1 = B3 = 0
B Nl (3.26)
C1 = C3 = −j( )( )
2 100
D1 = D3 = A 1
Ie I1 I2 Ir
e portanto
Ve A1 B1 A2 B2 A3 B3 Vr
= (3.27)
Ie C1 D1 C2 D2 C3 D3 Ir
0.8
0.4
(1): fp unitário (s/comp)
transferida ao longo da linha. Assim, supondo uma compensação série de 30% (metade
instalada em cada extremo), os parâmetros dos quadripolos referidos na Eq. (3.27) são
A1 = A3 = 1
B1 = B3 = −j14, 53 S (0, 0546 pu)
C1 = C3 = 0
D1 = D3 = A 1
Aeq = 1, 0
Beq = 0.0177 + j0.2549 (pu)
Ceq = C3 = 0
Deq = D3 = A 1
o que resulta num aumento do limite de estabilidade estática para 3,642 pu (sem a com-
pensação série este limite é 2,610 pu), para o qual corresponde uma potência reativa de
-3,89 pu (o valor sem compensação é -2,551 pu). Portanto a compensação série resultou
num aumento de aproximadamente 39% da potência ativa que pode ser transferida man-
tendo a linha plana em 1,0 pu de tensão. Entretanto, isto requer que uma quantidade
maior de potência reativa seja suprida pelo terminal receptor ao sistema de transmissão.
A figura 3.26 mostra as curvas P δ e Qδ da linha com e sem compensação reativa.
96 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
(2)
2 (1)
−2
(3)
−4
(1): P−Delta (s/comp) (4)
(2): P−Delta (c/comp)
(3): Q−Delta (s/comp)
−6 (4): Q−Delta (c/comp)
−8
−150 −100 −50 0 50 100 150
Ângulo da Tensão (graus)
No presente caso, a corrente na linha de transmissão é zero na condição à vazio (Ir0 = 0),
tal que Vs = Vr0 .
V s = V r0
Vrpc jXIrpc
RIrpc
Irpc
V s = V r0
jXIrpc
Irpc
RIrpc
Vrpc
Nas figuras 3.27 e 3.28, observa-se que a regulação mais elevada tende a ocorrer no
caso do fator de potência em atraso. Um valor mais reduzido da regulação (as vezes até
negativo) pode ser obtido no caso de fator de potência em avanço. A regulação de tensão
é uma figura de mérito relativamente fácil de se calcular e fornece uma medida escalar
da queda de tensão ao longo da linha. O valor exato desta queda de tensão é obtido
através da diferença entre os fasores tensão nos terminais emissor e receptor da linha de
transmissão.
O rendimento de uma linha de transmissão é definido como:
Pr Pe − Pl
η(%) = = × 100
Pe Pe
onde, Pr é a potência ativa de saı́da, Pe é a potência ativa de entrada e Pl é o valor das
perdas de potência ativa na linha de transmissão. Estas perdas compreendem basicamente
as perdas Joule nas resistências série das linhas de transmissão.
O nı́vel de carregamento das linhas de transmissão pode ser caracterizado de três
formas:
• através do limite térmico;
98 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
O limite térmico está relacionado à máxima temperatura que o condutor pode supor-
tar, a qual afeta o arco formado no seu vão (entre as torres de sustentação) e a sua rigidez
térmica. A temperatura do condutor depende:
• da temperatura ambiente;
• da velocidade do vento;
3.9 Exercı́cios
3.1 Considere uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 300 km, 765 kV, transposta,
composta de quatro condutores ACSR 1272000 CMil 54/3, cada um destes com com z =
0, 0165 + j0, 3306 = 03310∠87, 140 Ω/km e y = j4, 674 × 10−6 S/km por fase. A tensão
no terminal emissor é constante e igual à tensão nominal da linha. Determine:
3.2 Reatores shunt idênticos são conectados de cada fase ao neutro em ambos os termi-
nais da linha de transmissão do problema 3.1. Durante as condições de carga leve, eles
fornecem uma compensação reativa de 75 %. Os reatores são removidos durante o perı́odo
de plena carga. A plena carga é 1,90 kA a 730 kV e fator de potência unitário. Supondo
que a tensão no terminal transmissor é mantida constante, determine:
3.3 Capacitores série idênticos são instalados em cada fase de ambos os extremos da LT
do problema 3.1, fornecendo 30 % de compensação. Supondo que a tensão nos extremos
da LT é 765 kV, determine a potência ativa máxima que a linha compensada pode liberar
e compará-lo com aquele da LT não compensada.
3.4 Deseja-se transmitir 9000 MW de uma usina hidrelétrica até uma carga localizada a
500 km. Determine o número de linhas trifásicas, 60 Hz, requeridas para transmitir esta
potência supondo a necessidade de uma linha de transmissão de reserva (a qual estará
sempre fora de serviço) nos seguintes casos:
Considere que as perdas de potência ativa na linha são desprezı́veis, a magnitude da tensão
nos terminais emissor e receptor são respectivamente 1,00 e 0,95 pu, e a abertura angular
da linha é 350 . Verifique se é possı́vel transmitir a potência requerida no exemplo anterior
com 5 ao invés de 6 condutores, se existem duas subestações intermediárias que dividem
cada linha em três seções de 167 km, e se uma seção de um dos condutores da linha está
fora de serviço.
3.5 Seja uma linha de transmissão com uma reatância série de 30 Ω/fase. Com o
objetivo de aumentar a sua capacidade de transmissão, deseja-se reduzir a sua impedância
por fase em 40 %, inserindo-se compensação série em cada fase. A corrente de maior
intensidade que pode fluir na linha é 1,0 kA. Considerando que a freqüência do sistema é
60 Hz,
1. calcule a capacitância que deve ser instalada em cada fase, a fim de que seja feita a
compensação série desejada;
100 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
3. se a corrente que flui na linha atinge o seu valor máximo, qual a potência produzida
por cada unidade? Qual a potência reativa total produzida pela compensação da LT?
3.6 Considere uma linha de transmissão trifásica, de 130 km, com resistência e in-
dutância séries e e capacitância shunt de 0,036 Ω/km, 0,8 mH/km e 0,0112 µF/km por
fase, respectivamente. Determine a impedência série e a admitância shunt do circuito
π-nominal que representa esta linha, e os parâmetros E, F, G e H da equação matricial
Vr E F Ve
=
Ir G H Ie
3.7 As constantes de uma linha de transmissão trifásica, 230 kV, 370 km de compri-
mento, em 60 Hz são: A = D = 0, 8904∠1, 340 pu, B = 186, 78∠79, 460 Ω e C =
0, 001131∠900 S.
3. Calcule a tensão no terminal receptor quando esta linha opera em circuito aberto,
com 230 kV no terminal emissor.
3.8 Uma linha de transmissão trifásica de 480 km supre uma carga de 300 MVA, na
tensão de 500 kV, com fator de potência 0,8 atrasado. Os parâmetros de quadripolo desta
linha são: A = D = 0,8180 ∠1, 30 pu; B = 62,2 ∠84, 20 Ω e C = 0.0054 ∠90, 50 S.
3.9 Considere uma linha de transmissão trifásica sem perdas, 60 Hz, 500 kV, 300 km,
com parâmetros 0,97 mH/km e 0,0115 µF/km.
Interprete os resultados.
3.11 Considere uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 280 km, impedância série
igual a 35 + j140 Ω e admitância shunt igual a 930 ×10−6 ∠900 S. Supondo que esta linha
está suprindo 40 MW, na tensão de 220 kV, com fator de potência 0,90 atrasado,
1. determine a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor:
3. Qual o valor da compensação reativa que fará com que esta linha se comporte como
uma linha curta?
3.12 A tensão no terminal emissor de uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 400
km, é 220 kV. Os parâmetros da linha são: resistência série igual a 0,125 Ω/km, reatância
série igual a 0,500 Ω/km e susceptância shunt igual a 3,312 µS/km.
1. determine a corrente no terminal emissor quando o terminal receptor está operando
à vazio;
3.13 Considere uma linha de transmissão trifásica com as seguintes caracterı́sticas: 100
km, 230 kV e 60 Hz, com resistência série de 0,088 Ω/km, reatância série de 0,4654
Ω/km por fase, susceptância shunt igual a 3.524 µS/km e corrente em regime normal de
operação igual a 900 A. Tomando como base a potência de 100 MVA e a tensão nominal
da linha, determine:
1. a potência da linha de transmissão em MVA, em regime normal de operação;
2. Qual a compensação shunt nos dois extremos da linha, necessária para manter a
tensão de 1,0 pu no gerador e na carga.
3.16 Considere uma linha de transmissão trifásica com as seguintes caracterı́sticas: 300
km, 230 kV e 60 Hz, com perdas desprezı́veis, reatância série de 0,48 Ω/km por fase,
susceptância shunt igual a 2,25 µS/km. Determine:
1. os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo que representam a linha de
transmissão; e a potência natural (SIL) desta linha;
3. no caso anterior, qual a potência reativa produzida pelos parâmetros série e shunt
da linha?
3.17 Considere uma linha de transmissão trifásica, 345 kV, comprimento de 320 km,
dois condutores 795000 CMil por fase, 60 Hz, resistência, reatância e susceptância res-
pectivamente de 0,0369 Ω/km, 0,3675 Ω/km e 4,5×10−6 S/km. Despreze as perdas de
potência ativa e determine:
3. a magnitude da tensão no terminal receptor, quando a linha supre uma carga igual
a SIL, com tensão nominal aplicada no terminal emissor. Justifique.
Fluxo de Potência
4.1 Introdução
Este capı́tulo aborda o problema de fluxo de potência, com ênfase em três aspectos.
O primeiro é a representação analı́tica da operação do sistema de potência em regime
permanente por um conjunto de equações algébricas não lineares. Para a determinação
deste modelo, assume-se que o sistema trifásico é balanceado e a rede de transmissão é
representada pelas correspondentes impedâncias de seqüência positiva. O segundo aspecto
enfocado diz respeito a descrição dos métodos básicos de solução para determinar as
tensões complexas ao longo da rede elétrica, e a partir destas calcular outras grandezas de
interesse tais como a corrente e os fluxos de potência nas linhas de transmissão, as injeções
de potência etc. O terceiro aspecto mostra como as soluções do fluxo de potência devem
ser ajustadas visando servir de referência a operação do sistema em regime permanente
sob o ponto de vista prático.
S∗gi Pg − jQgi
Igi = ∗
= i
Vi Vi ∠ − δi
S∗di Pd − jQdi
Idi = ∗ = i
Vi Vi ∠ − δi
Sgi Sdi
(Jgi ) (Jdi )
Barra i Vi
e portanto
S∗i
Ii =
Vi∗
O balanço de potência aparente na barra i pode ser estabelecido observando-se na
figura 4.1
Sgi = Sdi + Sij + Sik + Sil
ou seja
Pgi + jQgi = Pdi + jQdi + Pij + jQij + Pik + jQik + Pil + jQil
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 107
1 V1 = 1, 0∠00 pu 2 V2 = 1, 0∠δ2 pu
Sd1 Sd2
Z12 = j0, 05 pu
3 V3 = 1, 0∠δ3 pu
Sd3
Sg3
G3
tal que δ12 = 3, 430 e, adotando o ângulo da barra 1 como referência, δ2 = −3, 430 . Os
fluxos de potência reativa na linha 1-2 são Q12 = Q21 = 0,036 pu. De maneira análoga,
δ32 = 0, 570 , δ3 = −2, 860 , Q32 = Q23 = 0,002 pu, P31 = -0,249 pu, Q13 = Q31 = 0,006
pu. O balanço de potência em cada barra fornece: Pg1 = 1,769 pu, Qg1 = 0,282 pu, Pg2 =
0,0 pu, Qg2 = 1,238 pu, Pg3 = 0,321 pu e Qg3 = 0,113 pu.
1 V1 V2 2
Sd1 Sd2
LT1
Id1 Id2
LT2 LT3
V3 3
Sd3
Id3
y5
1 y4 2 y6 3
S1 S2 S3
I1 y1 I2 y2 I3 y3
A aplicação da lei dos nós de Kirchhoff ao circuito mostrado na figura 4.4 resulta nas
seguintes equações:
I1 (y1 + y4 + y5 ) −y4 −y5 V1
I2 = −y4 (y2 + y4 + y6 ) −y6 V2 (4.2)
I3 −y5 −y6 (y3 + y5 + y6 ) V3
ou, na forma compacta,
Ibarra = Ybarra Vbarra
Vbarra = Zbarra Ibarra
onde, Ibarra é o vetor das injeções de correntes nas barras; Ybarra é a matriz admitância
de barra e Vbarra é o vetor das tensões de barra.
Os termos da matriz admitância de barra da Eq. (4.2) são genericamente expressos
como
Xn
Yii = yij
j=0 (4.3)
Yij = −yij
110 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
a qual é usada para calcular as injeções de potência ativa e reativa em função das tensões
complexas nodais. Um sistema genérico de n barras possui 6n variáveis e n equações não
lineares e complexas, semelhantes a Eq. (4.5), ou alternativamente 2n equações reais e
não lineares.
As Eqs. (4.5) representam o modelo estático do sistema de potência de 3 barras
mostrado na figura 4.3. Estas equações são algébricas e não lineares, e a sua solução
requer o uso de métodos numéricos iterativos. Note que a freqüência aparece implicita-
mente através dos parâmetros da rede elétrica. Estas equações relacionam um total de 18
variáveis e podem ser decompostas em 6 equações reais. Desde que o número de equações
é menor do que o de incógnitas, 12 variáveis devem ter o seu valor especificado, o que é
feito observando-se que:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 111
• as demandas de potência ativa e reativa são conhecidas e portanto podem ser con-
sideradas variáveis especificadas;
• um ângulo é adotado como referência, de forma que todos os outros são expressos
em relação a este ângulo;
• as perdas de potência nas linhas de transmissão não são conhecidas e portanto não
é possı́vel especificar a priori a potência de todos geradores simultaneamente. Uma
geração deve permanecer em aberto para completar o balanço total de potência do
sistema após conhecidas as perdas.
Para ilustrar como a Eq. (4.5) é usada para estabelecer as equações que representam
a operação do sistema de potência em regime permanente, considere o sistema mostrado
na figura 4.5, o qual representa uma máquina sı́ncrona suprindo uma carga expressa em
termos de potência constante por 0,36 + j0,20 pu(MVA) (na base 100 MVA), através de
uma linha de transmissão com perdas e admitância shunt desprezı́veis e reatância de 0,25
pu(Ω). O objetivo é determinar como deve operar a máquina de forma a suprir a carga,
num nı́vel de tensão satisfazendo os limites de 0,95 a 1,05 pu(kV), respeitando os limites
de capacidade do gerador sı́ncrono.
Sg1
V1 V2
Barra 1 Barra 2
(referência)
LT
Sd1 = 0, 36 + j0, 20 pu
Uma análise preliminar deste problema, permite observar que 12 variáveis estão as-
sociadas a estas duas barras, 6 das quais com o valor automaticamente especificado
(Pd1 = Qd1 = 0, Pg2 = Qg2 = 0, Pd2 = 0, 36 pu, Qd2 = 0, 20 pu). As variáveis
fisicamente controláveis na máquina sı́ncrona são a potência ativa gerada (através do tor-
que mecânico da máquina primária) e a magnitude da tensão (através da corrente de
excitação). O ângulo da barra 1 é adotado como referência e a magnitude da tensão na
barra 1 é especificada em 1,0 pu, isto é V1 = 1, 0∠00 pu. Com isto, obtém-se 2 equações
112 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
complexas da forma da Eq. (4.5) e 4 incógnitas (V2 , δ2 , Pg2 , Qg2 ), dadas por
2
X
P1 − jQ1 = V1∗ Y1j Vj
j=1
= V1∗Y11 V1 + V1∗Y12 V2
2
(4.6)
X
∗
P2 − jQ2 = V2 Y2j Vj
j=1
∗
= V2 Y21 V1 + V2∗Y22 V2
O sistema não linear da Eq. (4.10) pode ser resolvido através de métodos iterativos,
tais como Newton-Raphson, Gauss-Seidel etc. No nı́vel especificado para a tensão da
barra 1, a solução deste sistema é
V2 = 0, 942 pu(kV ) δ2 = −5, 480
P1 = 0, 36 pu(MW ) Q1 = 0, 2477 pu(Mvar)
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 113
V2 δ2 P1 Q1
(pu) (graus) (pu) (pu)
V1 =1,02 pu 0,964 -5,25 0,36 0,2456
V1 =1,05 pu 0,996 -4,94 0,36 0,2427
a qual apresenta a magnitude de tensão na barra 2 abaixo do limite mı́nimo de 0,95 pu.
Para corrigir o nı́vel da tensão na barra 2, é necessário re-especificar a magnitude da
tensão na barra 1, através do ajuste da corrente de excitação da máquina sı́ncrona.
A tabela 4.1 apresenta soluções correspondentes a duas especificações de tensão na
barra 1. A análise das 3 soluções obtidas mostra que a magnitude da tensão na barra
2 é indiretamente controlada pela magnitude da tensão na barra 1. Conforme o nı́vel
de tensão aumenta, menores aberturas angulares da linha de transmissão são necessárias
para suprir potência ativa da carga e menores quantidades de potência reativa circulam
na linha.
Desde que
n
X
S∗i = (Vi ∠ − δi ) Yij (Vj ∠δj )
j=1
então n
X
S∗i = Vi Yij (Vj ∠δji )
j=1
onde δji = δj − δi , tal que separando esta equação em partes real e imaginária, obtém-se
as expressões das injeções de potência ativa e reativa em função do ângulo e da magnitude
das tensões nodais, isto é,
n
X
Pi (V, δ) = Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.11)
X
Qi (V, δ) = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1
114 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
onde ∆Pi e ∆Qi são denominados discordâncias (desbalanços, resı́duos, desvios) de potência,
e representam a diferença entre a injeção de potência oriunda da geração e da carga e a
potência que flui nas linhas de transmissão que incidem na barra i. No processo itera-
tivo do fluxo de potência, a tensão complexa de cada barra é calculada de forma que a
magnitude das diferenças ∆Pi e ∆Qi tenda a zero. Geralmente o critério de convergência
utilizado é
• |∆Pi | ≤ ǫ para todas as barras P V e P Q;
Pi = Pgiesp − Pdiesp
Vi = Viesp
δi = δiesp
Vi = Viesp
Observe que para completar o balanço de potência um gerador deve estar instalado
na barra de folga.
4
Gb4
Pd4 + jQd4
Figura 4.6: Diagrama do sistema de 4 barras
Ysh
Linha Zser Yser
2
(pu) (pu) (pu)
1-2 0,02 + j 0,06 5,0 - j 15,0 j0,03
2-3 0,06 + j 0,18 1,66 - j5,0 j 0,02
2-4 0,06 + j 0,18 1,66 - j5,0 j 0,02
3-4 0,01 + j0,03 10,0 - j30,0 j 0,01
A análise do sistema mostrado na figura 4.6 indica que as barras 1 e 2 podem ser
especificadas apenas como barras PQ enquanto que as barras 3 e 4 podem ser de
folga, PV ou PQ.
Para estabelecer as equações a serem resolvidas, suponha que as barras 3 e 4 sejam
especificadas como folga e PV, respectivamente, com V3 = 1, 03 pu, δ3 = 0, 00 ,
Pg4 = 0, 40 pu, V4 = 1, 02 pu. Note que as tensões nas barras de geração devem ser
especificadas entre os limites 0,95 pu(V) e 1,05 pu(V).
As variáveis a serem determinadas como solução do problema de fluxo de potência
são: δ1 , δ2 , δ4 , V1 , V2 , P3 , Q3 e Q4 . Observe que as três últimas variáveis são deter-
minadas à partir do conhecimento do módulo e ângulo da tensão complexa em todas
as barras do sistema. Isto significa que numa primeira etapa, é necessário resolver
apenas as equações necessárias para a determinação do ângulo e da magnitude da
tensão nas barras (5 incógnitas e portanto 5 equações). No estágio subseqüente,
as injeções de potência ativa e reativa na barra de folga e as injeções de potência
reativa das barras PV são calculadas.
• Matriz Admitância
De acordo com a Eq. (4.3), a matriz admitância de barra é dada por
+5, 00 − j14, 97 −5, 00 + j15, 0
−5, 00 + j15, 00 +8, 32 − j24, 9 −1, 66 + j5, 00 −1, 66 + j5, 00
Ybarra =
−1, 66 + j5, 0 +11, 6 − j34, 97 −10, 0 + j30, 0
−1, 66 + j5, 0 −10, 0 + j30, 0 +11, 6 − j34, 97
P1 − jQ1
= Y11 V1 + Y12 V2
V1∗
P2 − jQ2
= Y21 V1 + Y22 V2 + Y23 V3 + Y24 V4
V2∗
P3 − jQ3
= Y32 V2 + Y33 V3 + Y34 V4
V3∗
P4 − jQ4
= Y42 V2 + Y43 V3 + Y44 V4
V4∗
onde
P1esp = Pg1 − Pd1 = −0, 80
Qesp
1 = Qg1 − Qd1 = −0, 20
P2esp = Pg2 − Pd2 = −0, 00
Qesp
2 = Qg2 − Qd2 = −0, 00
P4esp = Pg4 − Pd4 = +0, 20
e os termos Pi (V, δ) e Qi (V, δ) são dados pela Eq. (4.13).
onde cada variável do vetor x é expressa em função das outras variáveis (e da própria
variável, se for necessário); o método iterativo de Gauss consiste em executar os
seguintes passos:
|x(k) − x(k−1) | ≤ ǫ
n
!
(k) 1 Piesp − jQesp
i
X
Vi = (k−1)∗
− Yij Vjat (4.18)
Yii Vi j=1, j6=i
n
!
(k) 1 Piesp − jQcalc
i
X
Vi = (k−1)∗
− Yik Vkat , i = 1, 2, . . . , n (4.19)
Yii Vi k=1, k6=i
1 P1 − jQ1
V1 = − Y12 V2
Y11 V1∗
1 P2 − jQ2
V2 = − Y21 V1 − Y23 V3 − Y24 V4
Y22 V2∗
1 P4 − jQ4
V4 = − Y42 V2 − Y43 V3
Y44 V4∗
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 121
ou em termos numéricos,
1 −0, 80 + j0, 20
V1 ∠δ1 = − (−5, 0 + j15, 0)V2 ∠δ2
5, 0 − j14, 97 V1 ∠ − δ1
1 0, 0 − j0, 0
V2 ∠δ2 = − (−5, 0 + j15, 0)V1 ∠δ1 −
8, 32 − 24, 9 V2 ∠ − δ2
(−1, 66 + j5, 0)1, 03∠δ3 − (−1, 66 + j5, 0)1, 02∠δ4 )
1 0, 20 − jQ4 0
1, 02∠δ4 = − (−1, 66 + j5, 0)V2 ∠δ2 − (−10, 0 + j30, 0)(1, 03∠0 )
11, 6 − j34, 9 1, 02∠ − δ4
(4.21)
Para representar a capacidade fı́sica dos geradores, limites de potência reativa são estabe-
lecidos para cada nı́vel de potência ativa especificada. Esses limites, os quais são obtidos
com auxı́lio da curva de capabilidade dos geradores sı́ncronos, podem ser representados
através da inequação
Qmin
gi ≤ Qgi ≤ Qgi
max
onde Qmin
gi e Qmaxgi são os limites mı́nimo e máximo de geração de potência reativa. De-
pendendo do nı́vel de carregamento do sistema de potência, a especificação da magnitude
da tensão (valores demasiadamente altos ou baixos) pode levar à violações desta restrição
de desigualdade no processo iterativo. O procedimento adotado para o tratamento deste
tipo de restrição de potência consiste no seguinte:
– caso durante o processo iterativo o limite de potência reativa gerada for violado, a
barra correspondente é convertida em barra de carga. Isto é, a injeção de potência
reativa é fixada no limite e a magnitude da tensão passa a ser uma variável adicional
calculada ao longo das iterações.
Teste de Convergência
|Viv − Viv−1 | ≤ ǫV
122 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
onde ǫV é uma tolerância pré-especificada para a tensão complexa, para todas as barras
de carga (P Q) e de tensão controlada (P V ) envolvidas no processo. Caso este teste seja
satisfeito, um teste semelhante é efetuado para os resı́duos de potência ativa e reativa, isto
é
|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)
onde ǫP e ǫQ são as tolerâncias pré-especificadas para os resı́duos de potência ativa e
reativa.
A verificação da convergência é feita tomando-se inicialmente uma tolerância relativamen-
te elevada para as tensões. Quando esta for satisfeita, efetua-se o teste de convergência nos
resı́duos de potência ativa e reativa. Caso estes não satisfaçam as tolerâncias de potência, o
processo iterativo é reinicializado com uma tolerância reduzida para as tensões. Procede-se
desta forma até que ambos os testes sejam satisfeitos.
Existem muitos esquemas alternativos para a aplicação do método de Gauss-Seidel ao
problema do fluxo de potência, cada um com um número de vantagens e desvantagens
associadas. Em geral, a maior vantagem do método de Gauss-Seidel reside no fato de
que o número de elementos no termo relativo correspondente à somatória é pequeno e
corresponde ao número de linhas de transmissão do sistema de potência. Portanto, ambos,
os requisitos de memória e os cálculos envolvidos nas iterações são reduzidos. Por outro
lado, a maior desvantagem inerente a este método é a sua convergência lenta, o que
pode ser atribuı́do ao fraco acoplamento (sob o ponto de vista matemático) entre as
barras. A taxa de convergência é também dependente dos valores relativos dos termos
diagonais da matriz admitância de barra e da seleção da barra de referência. Para sistemas
numericamente bem condicionados a solução pode ser obtida em torno de 50 iterações.
No caso de sistemas com mal condicionamento numérico (por exemplo, sistemas com alto
nı́vel de compensação série), a solução pode requerer várias centenas de iterações, e em
alguns casos não ser obtida.
Algoritmo
onde
f (x(k) )
∆x = −
f ′ (x(k) )
′
e f (x(k) ) é a primeira derivada de f (x) com relação a x calculada no ponto x(k) .
No caso de um conjunto de n equações não lineares com n incógnitas, da forma
f1 (x1 , x2 , . . . , xn )
f2 (x1 , x2 , . . . , xn )
f (x) =
...
=0
... ...
fn (x1 , x2 , . . . , xn )
supondo que uma estimativa inicial x(k) é conhecida, uma nova aproximação da solução é
dada por
x(k+1) = x(k) + ∆x
ou −1
∂f (x)
∆x = − f (x(k) ) = −J(x(k) )−1 f (x(k) ) (4.23)
∂x x=x(k)
onde
∂Ppv,pq ∂Ppv,pq
H= N=
∂δ pv,pq ∂Vpq
∂Qpq ∂Qpq
M= L=
∂δ pv,pq ∂Vpq
o que resulta em
n
X
Hii = −Vi (−Gik sen δik + Bik cos δik )Vk
k=1, k6=i
(4.27)
= −Qcalc
i − Vi2 Bii
Hik = Vi (Gik sen δik − Bik cos δik )Vk
∂∆Qi
Mii =
∂δi
n
X
= −Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )Vk (4.28)
k=1, k6=i
n
X
Lii = (Gik sen δik − Bik cos δik )Vk − Vi Bii
k=1, k6=i
Algoritmo
1. Faça k = k + 1;
2. Calcule os desbalanços de potência ativa e reativa utilizando as Eqs. (4.24) e (4.25);
3. Verifique a convergência do processo iterativo: se
|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)
tal que na forma explı́cita o conjunto de equações não lineares a ser resolvido é expresso
por
Adotando o perfil plano de tensões como solução inicial, na primeira iteração o vetor
dos desbalanços de potência é dado por
∆P1 −0, 8000
∆P2 0, 0833
∆P4 = 0, 0455
∆Q1 −0, 1700
∆Q2 0, 3200
Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 PQ 0,955 -6,91 0,00 0,00 80,00 20,00
2 PQ 0,984 -4,19 0,00 0,00 0,00 0,00
3 folga 1,020 0,00 63,81 -36,42 0,00 0,00
4 PV 1,030 -0,56 40,00 62,02 20,00 10,00
∆P = H∆δ
∆Q = L∆V
O procedimento para obter a solução das equações da rede aplicando estas aproximações
consiste em resolver alternadamente os sistemas lineares resultantes, isto é, separar o problema
principal em subproblemas P δ e QV . Isto resulta num número maior de iterações para a
convergência, porém com menor esforço computacional.
Baseando-se nas suposições mencionadas anteriormente, outras aproximações podem ser fei-
tas na matriz Jacobiana. Assim, considerando que
• cos δij ≈ 1, 0;
a expressão
Hij = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
se transforma em
Hij = Vi (Gij δij − Bij )Vj
Hij = −Bij
2 + X 2 ) é constante.
onde Bij = −Xij /(Rij ij
De maneira análoga,
Lij = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )
Lij = −Bij
O método Desacoplado Rápido é formulado com base nestas aproximações. Dois sistemas
′ ′′
lineares independentes são resolvidos, cujas matrizes de coeficientes, denotadas B e B , são
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 129
(4.31)
′′ Xij ′′
X 1
Lij ⇒ Bij = − 2 + X 2 ) = −Bij Lii ⇒ Bii = = −Bii
(Rij ij Xij
jǫΩi
Algoritmo
′ ′′
As aproximações vistas na seção anterior resultam em matrizes B e B reais, simétricas esparsas
e constantes. Elas são constantes e portanto necessitam ser fatoradas apenas uma única vez no
processo iterativo. Os passos para a solução das equações da rede elétrica via método desacoplado
rápido são sumarizados a seguir.
1. Faça k = 0;
|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)
9. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras. Para as barras P V , verifique
os limites de geração de potência reativa:
• se a geração de potência reativa da barra i está fora dos limites, fixar Qgi no limite
violado e converter a barra PV para barra PQ. A partir deste ponto a magnitude e
o ângulo da tensão na barra i são calculados através do processo iterativo;
130 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
– cos δij ≈ 1, 0;
– sin δij ≈ δij (em radianos).
• a relação X/R das linhas de transmissão é alta (Xij ≫ Rij ), de forma que a resistência
série (e portanto as perdas de potência ativa) nas linhas de transmissão são desprezadas.
Com estas aproximações, o fluxo de potência ativa numa linha sem perda é dado por
δi − δj
Pij = (4.32)
Xij
e a injeção de potência na barra i é dada por
n
X n
X
Pi = Pij = (1/Xij )(δi − δj )
j=1 j=1
n
X n
X
Pi = − Bij δi + Bij δj
j=1 j=1
n
X n
X
Pi = −δi Bij + Bij δj
j=1 j=1
A Eq. (4.33) considera todas as barras da rede elétrica e, desde que as perdas de potência
ativa nas linhas de transmissão são desprezadas, é possı́vel expressar a injeção de potência ativa
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 131
de uma barra como combinação linear das injeções de potência nas outras barras. Isto implica em
que a matriz B é singular e o sistema linear representado pela Eq. (4.33) não tem solução. Isto
também indica que o conjunto de equações lineares é redundante, de forma que se o ângulo de
uma barra for selecionado como referência, a equação correspondente pode ser excluı́da daquele
conjunto de equações. Utilizando este procedimento, obtém-se um novo sistema linear dado por
′
P=Bδ (4.35)
′
onde B é resultante da eliminação da linha e da coluna correspondentes a barra de referência
na matriz B.
Desprezando-se as resistência das linhas de transmissão do sistema mostrado na figura 4.6,
a matriz de coeficientes do sistema linear da Eq. (4.35) é expressa por
16, 67 −16, 67 0, 00 0, 00
−16, 67 27, 77 −5, 55 −5, 55
B=
0, 00 −5, 55 38, 88 −33, 33
0, 00 −5, 55 −33, 33 38, 88
e os fluxos nas linhas de transmissão, calculados com a Eq. (4.32), são dados por
P12 −0, 8000
P23 −0, 4154
P24 = −0, 3846 pu
P34 0, 1846
GS
1 4 1 : t34 3
T34
1 : t56
6 5 2
T56
GS
Pd6 + jQd6 Pd5 + jQd5 Pd2 + jQd2
Por ser a barra com maior capacidade de geração de potência ativa, a barra 1 foi selecionada
como barra de folga do sistema. A demanda total de potência ativa é 135 MW, os quais devem
ser supridos pelos geradores das barras 1 e 2. Visando manter uma certa margem (reserva)
com relação ao limite máximo de geração, a potência gerada na barra 2 foi especificada em
50 MW. A magnitude da tensão nas barras 1 e 2 foi especificada em 1,0 pu. As reatâncias
dos elementos de transmissão conectando as barras 3-4 e 5-6 correspondem a transformadores
com tap variável, cuja finalidade é controlar a magnitude da tensão nessas barras. A faixa de
variação da magnitude da tensão nas barras e dos taps é 0,90 a 1,10 pu, tendo sido ambos os taps
selecionados inicialmente em 1,0 pu. Com estas especificações, a solução do fluxo de potência
através do método de Newton-Raphson é mostrada na tabela 4.6.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 133
Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 folga 1,000 0,0000 97,44 49,35 - -
2 PV 1,000 -3,87 50,0 21,15 - -
3 PQ 0,844 -15,27 - - 55,0 13,0
4 PQ 0,867 -11,20 - - 0,00 0,00
5 PQ 0,814 -14,69 - - 30,0 18,0
6 PQ 0,847 -14,16 - - 50,0 5,00
A análise da solução mostrada na tabela 4.6 indica que a magnitude da tensão nas barras
de carga está fora da faixa de variação permitida. As perdas totais de potência ativa nas linhas
de transmissão são de 12,44 MW, correspondendo a 8,44 % da geração total de potência ativa.
Os controles disponı́veis para corrigir este baixo nı́vel de tensão são os taps dos transformadores
e a magnitude da tensão gerada nas barras 1 e 2. Ajustando-se o tap do transformador T56
para 1,05 e a magnitude da tensão na barra 1 para 1,1, a nova solução do fluxo de potência é
apresentada na tabela 4.7.
134 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 folga 1,100 0,0000 96,14 63,29 - -
2 PV 1,000 -0,90 50,0 2,72 - -
3 PQ 0,921 -12,26 - - 55,0 13,0
4 PQ 0,951 -8,84 - - 0,00 0,00
5 PQ 0,896 -11,27 - - 30,0 18,0
6 PQ 0,921 -11,03 - - 50,0 5,00
Na tabela 4.7, observa-se uma melhoria considerável no nı́vel da magnitude da tensão das
barras de carga, apesar de que ajustes adicionais precisam ser realizados para que a magnitude
da tensão de todas as barras se situe dentro da faixa recomendável. Nota-se ainda que com o
aumento no nı́vel de magnitude da tensão, as perdas de potência ativa nas linhas de transmissão
foram reduzidas a 11.1437 MW, o que corresponde a 7,62 % da geração total de potência ativa.
4.7 Exercı́cios
4.1 A tabela 4.8 apresenta os dados do sistema mostrado na figura 4.8. Os valores das
reatâncias estão na base 100 MVA e correspondentes tensões nominais. Um gerador e dois
compensadores sı́ncronos estão instalados respectivamente nas barras 1, 3 e 5.
CS1
1 2 3 4 5
j0, 2pu j0, 04pu j0, 1pu
j0, 2pu
230 kV 138 kV 69 kV
CS2
4.2 Uma linha de transmissão com perdas de potência ativa desprezı́veis, possui uma reatância
série de 0,03 pu(Ω) e susceptância capacitiva shunt total de 1,8 pu(S). Ela interliga um gerador
a uma carga de 5,0 + j2,0 pu(MVA). Foram instalados dois reatores iguais em paralelo, um em
cada extremidade da linha. Para manter a tensão na barra de carga em 1,0 pu(kV) é necessário
regular a tensão do gerador em 1,05 pu(kV). Mostre o balanço de potência deste sistema.
4.3 Para a rede de transmissão cujos dados são apresentados na tabela 4.9, determinar a
matriz admitância de barra em por unidade utilizando a análise nodal, adotando a base 100
MVA, 120kV.
4.4 Considere um sistema de potência de 4 barras, cujos dados são apresentados na tabela
4.10. Suponha que entre as barras 2 e 3 há um transformador com reatância de dispersão 0,75
pu(Ω) e tap ajustado em 0,98 no lado da barra 3.
4.5 Considere o sistema de três barras e três linhas de transmissão cujos dados (no sistema
por unidade) são mostrados na talela 4.11.
4. calcule os fluxos de potência ativa e reativa e as perdas de potência ativa e reativa nas
linhas de transmissão;
5. se a barra de tensão controlada for convertida em barra de carga, com uma injeção de
potência reativa especificada em −0, 016 pu de Mvar, com a mesma injeção de potência
ativa, qual será a nova solução das equações da rede (utilize o programa computacional
de fluxo de potência)?
6. determine a solução das equações da rede através do método de fluxo de potência lineari-
zado e compare a mesma com aquela obtida para o modelo não linear da rede elétrica.
1. especifique o tipo de cada barra e mostre a lista de variáveis a serem calculadas diretamente
na solução do fluxo de potência;
GS CS
1 4 1 : t34 3
T34
1 : t56
6 5 2
T56
GS
Pd6 + jQd6 Banco de Capacitores Pd2 + jQd2
4.7 Para o sistema da figura 4.10, adote 100 MVA como a base de potência, e suponha que
as impedâncias das linhas de transmissão estão expressas em pu numa base comum. Os dados
das barras são os seguintes: (barra 1, V1 = 1, 05∠00 pu), (barra 2, Potência ativa gerada = 25
MW, Potência ativa consumida = 50 MW, Potência reativa consumida = 25 Mvar, Magnitude
da tensão = 1,02 pu, limites de potência reativa: -10 e 30 Mvar), (barra 3, Potência ativa gerada
= 0,0 MW, Potência reativa gerada = 0,0 Mvar, Potência ativa consumida = 60 MW, Potência
reativa consumida = 30 MW). Determine as injeções de potência ativa e reativa envolvidas no
modelo não linear do fluxo de potência.
2. Comente, utilizando ilustração gráfica se necessário, sobre as formas como são obtidas as
convergências dos métodos Desacoplado Rápido e Newton-Raphson.
5. Considere uma barra com demandas de potência ativa e reativa nulas e onde esteja insta-
lado um Compensador Estático de potência reativa. Na formulação do problema de fluxo
de potência, esta barra pode ser classificada como uma barra PQ? Esta barra pode ser
classificada como uma barra PV?
138 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
1 V1 2 V2
Sd2
Z12 = j0, 25 pu
3 V3
Sd3
4.9 Uma concessionária dispõe de duas subestações de 130 kV supridas por uma barra de
geração através de um sistema de transmissão. A rede elétrica equivalente possui três barras e
três linhas de transmissão, com configuração em triângulo. As impedâncias série de cada linha e
os respectivos comprimentos são dadas na tabela 4.12, sendo desprezado o seu efeito capacitivo.
O resultado de um estudo de fluxo de potência, também mostrado na tabela 4.12, indicou a
necessidade de compensação reativa na barra 3 para manter a tensão nesta barra no nı́vel de
magnitude desejado (1,00 pu). Tomando como base trifásica 100 MVA e 130 kV,
5. mostre (e justifique) uma possı́vel classificação para as barras deste sistema, considerando
a instalação de um compensador sı́ncrono na barra 3 para a compensação desejada;
4.10 A tabela 4.13 mostra os dados de um sistema de três barras e o correspondente resultado
do fluxo de potência. Despreze o efeito capacitivo das linhas de transmissão e considere a
existência de um gerador na barra 1 e de um compensador sı́ncrono na barra 3.
1. determine a potência do compensador sı́ncrono instalado na barra 3;
2. determine a potência aparente gerada na barra de folga;
3. calcule as perdas de potência ativa e reativa do sistema de transmissão;
4. na formulação do problema de fluxo de potência, a barra 3 poderia ser classificada como
uma barra PV? Justifique a sua resposta;
5. determine a matriz admitância de barra deste sistema.
4.11 Seja um sistema de potência de três barras, conectadas em anel através de três linhas de
transmissão de resistências desprezı́veis e reatâncias X12 = 0, 33 pu, X13 = 0, 50 pu e X23 = 0, 50
pu. As demandas de potência ativa nas barras 2 e 3 são respectivamente 0,5 pu(MW) e 1,0
pu(MW). Considerando a barra 1 como referência angular e utilizando o modelo de fluxo de
potência linearizado,
1. determine os fluxos de potência nas linhas de transmissão, supondo uma compensação
reativa série de 30 % na linha de transmissão;
2. calcule o valor da compensação reativa série que deve ser utilizada na linha 1-3, de modo
que o fluxo de potência ativa na linha 1-2 não ultrapasse 0,5 pu(MW);
3. calcule o valor da compensação reativa série que deve ser utilizada na linha 1-3, de modo
que o fluxo de potência ativa na linha 2-3 seja 0,5 pu(MW);
4.12 Considere um sistema de quatro barras, conectadas em anel por linhas de transmissão
com reatâncias X12 = X13 = X24 = X34 = 0, 01 pu (Ω). Suponha que unidades geradoras estão
instaladas nas barras 1 e 3 e que as cargas das barras 2, 3 e 4 são respectivamente Sd2 = 1,0 +
j0,0 pu(MVA), Sd3 = 0,25 + j0,0 pu(MVA) e Sd4 = 1,0 + j0,0 pu(MVA). Adotando a barra 1
como referência angular,
1. Determine a matriz admitância nodal e as equações do modelo de fluxo de potência line-
arizado.
2. Usando as equações não lineares do fluxo de potência, calcule as potências aparentes ge-
radas nas barras 1 e 3, supondo que as tensões complexas nessas barras são V1 = V3 =
1, 0∠00 pu.
3. Determine as perdas reativas nas linhas de transmissão para as condições do item anterior.
140 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
Capı́tulo 5
5.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a base teórica do estudo do curto-circuito em sistemas de energia elétrica.
Inicialmente, descreve-se o fundamento analı́tico da análise de faltas simétricas, ou seja, daque-
las cuja ocorrência não causa desbalanço entre as fases do sistema trifásico. Este tipo de curto
circuito envolve simultaneamente as três fases do sistema elétrico e a sua formulação analı́tica
é de grande auxı́lio para a compreensão do estudo de curto circuito. Posteriormente, enfoca-se
a análise do curto circuito desbalanceado. Para esta finalidade, utiliza-se o conceito de decom-
posição em componentes simétricos. Um dos principais aspectos enfocados é a análise do gerador
sı́ncrono operando em vazio submetido a faltas assimétricas, e a sua correlação com os circuitos
equivalentes de Thévenin das redes de seqüência. Isto forma a base do procedimento tradicional
do estudo de faltas em sistemas de potência.
2. falta fase-fase;
3. falta fase-fase-terra;
4. falta trifásica.
As faltas podem ainda ser permanentes ou transitórias. As primeiras são irreversı́veis, de
tal modo que mesmo após a atuação da proteção o fornecimento de energia elétrica não é
restabelecido sem que sejam efetuados os devidos reparos na rede defeituosa. Esse tipo de falta
pode ocorrer, por exemplo, devido ao rompimento dos condutores. As faltas transitórias são
aquelas que ocorrem sem danos fı́sicos ao sistema de potência, e portanto a operação normal da
rede elétrica pode ser restabelecida sem maiores dificuldades após a atuação da proteção, cujo
estudo envolve basicamente:
142 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
• a capacidade dos equipamentos que devem modificar o fluxo de corrente na linha com
defeito (disjuntores, religadores automáticos, chaves fusı́veis etc);
• a corrente de falta;
R L
i(t)
+
e(t) Chave fecha
em (t = 0)
-
e(t) = Vm sin(ωt + α)
é
Rt
Vm −
sin(ωt + α − θ) − sin(α − θ) exp L
i(t) =
Z
√ ωL
onde Z = R2 + ω 2 L2 e θ = arctan( ).
R
1
O texto a seguir é baseado nas referências [1, 3, 6].
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 143
Vm Vm Rt
onde iac (t) = sin(ωt + α − θ) e icc (t) = − sin(α − θ) exp− L são denominadas respectiva-
Z Z
mente componente alternada e componente contı́nua da corrente de curto circuito. Em geral a
componente contı́nua existe em t = 0 e sua magnitude pode ser tão grande quanto a da corrente
de regime permanente.
O valor da corrente de curto circuito i(t) depende do ângulo α, da onda de tensão. Como
o instante em que ocorre a falta não é previsto, α não é conhecido a priori. Além disso, desde
que as tensões trifásicas do gerador sı́ncrono estão defasadas de 1200 , cada fase terá um valor
diferente da componente de corrente contı́nua. Esta componente decresce rapidamente, em geral
dentro de 8 a 10 ciclos.
A forma da corrente de falta, que pode ser registrada por um oscilógrafo, representação na
qual freqüentemente a componente contı́nua da corrente é removida. Nesses registros, pode ser
verificado que a amplitude da forma senoidal decresce de um valor inicial alto até um valor de
regime permanente mais baixo. Observa-se que o fluxo magnético associado às correntes de curto
circuito na armadura (ou pela fmm resultante na armadura) inicialmente percorre os caminhos
de alta relutância que não enlaçam o enrolamento de campo ou os circuitos amortecedores
da máquina. Segundo o Teorema dos Fluxos de Dispersão Constante, o enlace de fluxo num
caminho fechado não pode variar instantaneamente. A indutância da armadura é inversamente
proporcional a relutância, e portanto seu valor é inicialmente baixo. Na medida em que o fluxo
percorre os caminhos de relutância mais baixa, a indutância da armadura aumenta.
Uma interpretação alternativa indica que o fluxo magnético através do entreferro da máquina
possui valor elevado no instante de tempo em que a falta ocorre, após o qual começa a decrescer.
Quando a falta ocorre nos terminais da máquina sı́ncrona, algum tempo é necessário até a
redução do fluxo através do entreferro. Desde que a tensão produzida pelo fluxo no entreferro
regula a corrente, enquanto o fluxo decresce a corrente da armadura também decresce.
A componente alternada da corrente de falta iac (t) pode ser modelada como a resposta de
um circuito RL série com indutância ou reatância variantes no tempo L(t) ou X(t) = ωL(t),
conforme mostra a figura 5.2.
144 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
Figura 5.2: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente e reatância da máquina
sı́ncrona
Apesar da sua variação inicial, valores constantes de reatância são utilizados nos diferentes tipos
′′
de modelagem. Assim, a reatância subtransitória Xd é usada na análise de curto circuito, a
′
reatância transitória Xd é usada em estudos de estabilidade transitória e a reatância sı́ncrona
Xd é utilizada em estudos de regime permanente.
Na máquina de pólos salientes, o ı́ndice d se refere a uma posição do rotor em que o eixo das
bobinas do rotor coincide com o eixo das bobinas do estator, tal que o fluxo magnético passa
diretamente através da face polar, razão pela qual este eixo é denominado eixo direto. Por outro
lado, o eixo em quadratura está defasado 900 elétricos do eixo direto adjacente, sendo associado
′′ ′
às grandezas Xq , Xq e Xq . Porém, se a resistência da armadura é pequena as reatâncias do
eixo em quadratura não afetam significativamente a corrente de curto circuito e portanto não
são relevantes para o cálculo da corrente de falta. Nas máquinas de rotor cilı́ndrico, os valores
de Xd e Xq são aproximadamente iguais, e portanto não há necessidade da diferenciação. As
10
5
ia, A
−5
−10
−15
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec
figuras 5.3, 5.4 e 5.5 ilustram a variação da corrente nas fases de uma máquina sı́ncrona de pólos
salientes, com valores nominais 500 MVA, 30 kV, 60 Hz, sujeita a um curto circuito trifásico
sólido nos terminais da armadura (ver referência [7], página 327, para maiores detalhes sobre a
obtenção dessas curvas).
146 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
20
15
ib, A
10
−5
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec
−5
ic, A
−10
−15
−20
−25
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec
Observa-se nestas figuras, que a magnitude da corrente é alta no instante imediato após a
ocorrência da falta e tende a se manter constante após um determinado intervalo de tempo. Os
diferentes valores da reatância da máquina sı́ncrona durante o curto circuito trifásico são dados
por
′′ Emax ′ Emax Emax
Xd = ′′ Xd = ′ Xd =
Imax Imax Imax
Vi
′′
Zgi = jXd
Vi +
E fi
G -
Sgi = Pgi + jQgi
jXt
Vi Vj
Geralmente todas as cargas não rotativas são desprezadas. Porém, cargas significativas
podem ser representadas por uma admitância em derivação, conforme mostrado na figura 5.8.
Vi Vi
Idi
Idi
Pdi − jQdi
Ydi =
Sdi = Pdi + jQdi Vi2
A simplificação resultante dessas suposições não é válida para todos os casos da análise de
faltas. Por exemplo, as linhas de distribuição primária e secundária possuem valor de resistência
série que pode reduzir significativamente a magnitude das correntes de falta e portanto não
devem ser desprezadas no cálculo das correntes de curto circuito.
1 T1 2 3 T2 4
G LT1 M
100 MVA
T3
23(∆)/230(Y) kV
1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3
+ +
Eg Em
5
- -
jXT3
são equivalentes, a fonte de tensão conectada entre a barra 2 e o nó de referência não exerce
nenhum efeito sobre o sistema em termos de corrente; isto é, a contribuição à corrente de falta
IF1 é nula. As tensões internas das máquinas Eg e Em , são consideradas constantes mesmo após
a ocorrência da falta.
O segundo circuito, mostrado na figura 5.13, fornece a resposta a quarta fonte de tensão, Ig2 ,
2
IF e Im 2 . Observe que sob o ponto de vista do cálculo da corrente de falta, este circuito pode
ser interpretado como o equivalente de Thévenin visto da barra onde ocorre a falta.
A corrente subtransitória de falta é simplesmente
IF = IF2
e as contribuições do gerador e do motor à corrente de falta são respectivamente
Ig = Ig1 + Ig2
1 2
Im = Im + Im
150 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3
+ +
Eg + Em
V21 5
- -
-
jXT3
-
V21
6
+
1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3
+ +
+
Eg Em
V21 IF1 5
- -
- jXT3
onde o cálculo de Ig1 e Im1 é baseado no circuito da figura 5.12, e para a determinação de I 2 e
g
2
Im é utilizado o circuito da figura 5.13.
Ex. 5.1 Considere o diagrama unifilar da figura 5.9. Suponha que o motor está operando sob
condições nominais, com fator de potência 0,8 atrasado. Os dados para a análise de faltas na
base 100 MVA e 23 kV na barra 1, são os seguintes:
• Gerador 1: Xg = 0,20 pu;
• Motor: Xm = 0,20 pu;
• Transformadores: Xt1 = Xt2 = Xt3 = 0,05 pu;
• Linhas de transmissão: Xlt1 = Xlt2 = Xlt3 = 0,10 pu.
Considere a ocorrência de uma falta trifásica sólida na barra 2. Calcule os valores no sistema
por unidade e em unidades reais,
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 151
1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3
- jXT3
I2F
V21
6
+
onde Zeq
23 representa as associações série-paralelo das imped[ancias das linhas de transmissão,
cujo valor é 0,0667 pu. As tensões V51 e V61 são iguais e valem 1, 052∠3, 630 pu.
A impedância equivalente vista do ponto onde ocorre a falta é (ver figura 5.13)
As correntes pré-falta no gerador e no motor são iguais e valem I1g = I1m = 1, 0∠ − 36, 860
pu, tal que as contribuições do gerador e do motor à corrente de falta são respectivamente,
e a variação da tensão em cada barra devida ao curto circuito na barra j é dada por,
−Z1j I2Fj
2
V1
V2
2 −Z2j I2Fj
.. .
..
.
2 =
V −Zjj I 2
j Fj
.. ..
. .
Vn2 −Znj I2Fj
ou seja, apenas a j-ésima coluna da matriz Zbarra é necessária para se calcular a variação da
magnitude da tensão em cada barra quando ocorre um curto circuito trifásico sólido na barra j.
Em termos genéricos, a queda de tensão induzida na barra k por efeito da corrente I2Fj é dada
por,
2 Zkj
Zkj IFj = Vj1
Zjj
Se a corrente pré-falta é desprezada, a tensão pós-falta na barra k é dada por,
Zkj
Vkpf = 1 − Vj1 (5.5)
Zjj
A figura 5.14 mostra a representação do curto circuito trifásico na barra j, quando o mesmo
ocorre através de uma impedância de falta ZF .
Vj j
IFj
ZF
e
Vj1
I2Fj =
(ZF + Zjj )
tal que,
−Zkj
Vk2 = V1 k = 1, 2, . . . , n
(ZF + Zjj ) j
154 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
e, desde que
Vkpf = Vk1 + Vk2
então
Zkj
Vkpf = Vk1 − V1
(ZF + Zjj ) k
ou seja,
Zkj
Vkpf = 1− Vj1
ZF + Zjj
e, no caso particular da barra j,
ZF
Vkpf = Vj1
ZF + Zjj
Após o cálculo da tensão pós-falta em cada barra, é possı́vel determinar a corrente pós-falta
em todos os componentes da rede elétrica. Por exemplo, a corrente na linha de transmissão que
interliga as barras i e j é dada por
Vipf − Vjpf
Ipf
ij =
Zserij
Capacidade de Curto-Circuito
Considere a seção genérica de um sistema de potência mostrada na figura 5.15, e suponha que em
um dado instante ocorre um curto-circuito trifásico sólido na barra k. A corrente subtransitória
Gi Gj
i j
′′ ′′
IFik IFjk
Dk 1 Dk 2
k
Carga
A magnitude da tensão nesta barra, que antes da falta era Vk1 pu, será reduzida instantane-
amente a zero. As barras i e j, contendo fontes ativas, imediatamente começarão a alimentar a
falta com as correntes IFik e IFjk , através das linhas i − k e j − k, respectivamente. A magnitude
dessas correntes depende do valor da impedância das respectivas linhas de transmissão, atingindo
geralmente valores superiores aos valores nominais da corrente de operação. Os disjuntores Dk1
e Dk2 são controlados pelos respectivos relés para isolar a barra sujeita à falta. A magnitude da
tensão em todas as barras da rede será reduzida durante a ocorrência do curto-circuito. O valor
dessa queda de tensão é uma indicação da força da barra. Quanto menos for reduzida a tensão
quando ocorrer um curto-circuito em outra barra, mais forte é a barra considerada. A medida
dessa força é feita através da grandeza denominada Capacidade de Curto Circuito (CCC), a
qual é usada na especificação dos disjuntores e definida como o produto da tensão antes da falta
(Vk1 ) pela corrente de falta (IFk ), quando o curto circuito ocorre na barra k, ou seja,
Vk1
IFk =
Zjj
e
1
CCC =
Zjj
Ex. 5.2 Considere o sistema do exemplo 5.1, onde a tensão pré-falta na barra 2 é 1, 074∠4, 980
pu. As matrizes admitância e impedância de barra são respectivamente
−25, 00 +20, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
20, 00 −40, 00 10, 00 0, 00 10, 00 0, 00
0, 00 +10, 00 −40, 00 20, 00 10, 00 0, 00
Ybarra =
0, 00 0, 00 20, 00 −25, 00 0, 00 0, 00
0, 00 10, 00 10, 00 0, 00 −40, 00 20, 00
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 20, 00 −20, 00
V21
IF = = 7, 688∠ − 85, 010 pu
Z22
a as tensões nas barras são dadas por,
1
Vpf = Vbarra + Zbarra I2barra
156 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
onde,
1, 108∠6, 910
1, 074∠4, 980
1, 030∠2, 220
1
Vbarra =
1, 000∠00
1, 052∠3, 630
1, 052∠3, 630
tal que,
0, 251∠13, 510
0, 0
0.188∠ − 10, 300
Vpf
=
0.329∠ − 10, 300
0.094∠ − 10, 300
0.094∠ − 10, 300
V1pf − V2pf
I12 = = 5, 01∠ − 76, 480 pu
j0.050
V2pf − V3pf
I23 = = 1, 88∠79, 690 pu (LT1 )
j0.067
V2pf − V5pf
I25 = = 0, 94∠79, 690 pu (LT2 )
j0.100
V3pf − V4pf
I34 = = 2, 82∠79, 690 pu
j0.050
Ig = I12
Im = −I34
1
Desprezando as correntes pré-falta, e considerando as tensões pré-falta Vbarra mostradas
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 157
Vc1
Vc0
Vc2 Vb2
Va0
Va1
Vb0
Va2
Vb1
Vb2 Vc
Vb
Va1 Vc1
Vb0
Va Vc0
Va0 Vc2
Va2 Vb1
Sistema desbalanceado
onde os fasores Ia , Ib e Ic pertencem ao domı́nio de fase e os fasores Ia0 , Ia1 , Ia2 , Ib0 , Ib1 , Ib2 ,
Ic0 , Ic1 e Ic2 pertencem ao domı́nio de seqüência. Observe que conhecendo-se as componentes
de seqüência de uma fase, as componentes de seqüência das outras fases são automaticamente
determinadas com base no Teorema de Fortescue.
Visando simplificar a Eq. (5.6), seja o operador a definido como
a = 1∠1200
= cos 1200 + j sin 1200
√
1 3
= − +j
2 2
o qual aplicado a um fasor gira o mesmo de 1200 sem alterar o seu módulo. As componentes de
seqüência podem ser expressas em função das grandezas correspondentes à fase a, tal que a Eq.
(5.6) é re-escrita como
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2
Ib = Ia0 + a2 Ia1 + aIa2 (5.7)
2
Ic = Ia0 + aIa1 + a Ia2
ou em forma matricial,
Ia 1 1 1 Ia0
Ib = 1 a2 a Ia1 (5.8)
Ic 1 a a2 Ia2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 159
e na forma compacta,
If = AIs (5.9)
onde If e Is são vetores coluna de ordem 3 × 1, cujos componentes são os fasores corrente dos
domı́nios de fase e seqüência, respectivamente; e A é uma matriz de ordem 3 × 3 expressa por
1 1 1
A = 1 a2 a
1 a a2
1. das tensões trifásicas fase-neutro de magnitude 380 V, tomando o fasor Van como re-
ferência e seqüência de fases positiva;
Cargas Estáticas
Seja uma carga constituı́da de três impedâncias Zy , conectadas em Y , aterrada através da
impedância Zn , conforme mostra a figura 5.17.
a
Ia
b
Ib
Za Zb
Zc
Zn
In
Ic
c
t - nó de terra
e portanto
Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc
Va0 Za + Zb + Zc + 9Zn Ia0
Va1 = 1 Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Za + a2 Zb + aZc Ia1 (5.18)
3
Va2 Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Ia2
As Eqs. (5.15) e (5.18) representam analiticamente o sistema da figura 5.17 nos domı́nios de
fase e seqüência, respectivamente. Se a carga é balanceada,
Za = Zb = Zc = Zy
A Eq. (5.19) consiste de três equações desacopladas, que podem ser representadas em termos
de circuitos monofásicos de seqüência positiva, negativa e zero, conforme mostra a figura 5.17.
+ + +
- - -
No domı́nio de fase, a corrente que flui no neutro do sistema trifásico é dada por
In = Ia + Ib + Ic
e desde que
então
Ia + Ib + Ic = 3Ia0
e portanto
In = 3Ia0
As cargas conectadas em Y solidamente aterrado, Y sem aterramento e ∆ são casos parti-
culares da carga conectada em Y -aterrado. Nos dois primeiros casos, as impedâncias do neutro
162 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
Ia + Ib + Ic = 0
o que implica em
Ia0 = 0
Portanto, as correntes de seqüência zero existem apenas em sistemas trifásicos desequilibra-
dos e com neutro aterrado.
Zlt
a ā
Zlt
b b̄
Zlt
c c̄
ou na forma compacta
Vf − Vf¯ = Zf If
De forma análoga ao caso da carga estática,
Vf = AVs
Vf¯ = AVs̄
If = AIs
tal que
Vs − Vs̄ = A−1 Zf AIs
e portanto
Va0 − Vā0 Z0 0 0 Ia0
Va1 − Vā1 = 0 Z1 0 Ia1 (5.21)
Va2 − Vā2 0 0 Z2 Ia2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 163
onde Va0 , Vā0 , Va1 , Vā1 , Va2 e Vā2 são as componentes de seqüência das tensões complexas
na entrada e na saı́da da linha de transmissão, respectivamente; Z0 , Z1 e Z2 são as impedâncias
de seqüência da linha de transmissão (em geral fornecidas pelos fabricantes ou determinadas
através de ensaios apropriados), e Ia0 , Ia1 e Ia2 são as componentes de seqüência das correntes
de linha. As componentes da Eq. (5.21) são desacopladas e podem ser representadas pelos
circuitos da figura 5.20.
+ + + + + +
- - - - - -
Máquina Sı́ncronas
A figura 5.21 mostra um gerador sı́ncrono, com as bobinas da armadura conectadas em Y -
aterrado. Cada fase é composta por uma fonte de tensão independente, representando a tensão
interna do gerador Ef e a impedância da bobina da armadura Zg .
Neste caso, o fasor tensão da fase a ao nó de terra é dado por
In = Ia + Ib + Ic
e portanto
Vat = −(Zg + Zn )Ia + Efa − Zn Ib − Zn Ic (5.22)
164 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
a
Ia
b
Zg Zg Ib
+ +
E fa E fb
- -
In +
E fc
Zn
-
Zg
Ic
t: nó de terra c
Expressões semelhantes à Eq. (5.22) podem ser estabelecidas para as fases b e c, tal que a
seguinte equação matricial é obtida:
Vat (Zg + Zn ) Zn Zn Ia E fa
Vbt = − Zn (Zg + Zn ) Zn Ib + E fb (5.23)
Vct Zn Zn (Zg + Zn ) Ic E fc
a qual representa analiticamente o gerador sı́ncrono da figura 5.21 e pode ser expressa na forma
compacta no domı́nio de fase como
Vf = −Zf If + Ef (5.24)
onde Zg1 , Zg2 e Zg0 são as impedâncias se seqüência positiva, negativa e zero, respectivamente,
do gerador sı́ncrono. Essas impedâncias são determinadas em ensaios baseados na relação tensão-
corrente da máquina sı́ncrona. Por exemplo, a impedância de seqüência positiva é determinada
através do ensaio de curto circuito no gerador sı́ncrono. De maneira análoga, as impedâncias de
seqüência negativa e zero são determinadas submetendo-se este equipamento às tensões trifásicas
de seqüência negativa e zero, respectivamente. Esses valores são geralmente fornecidos pelos
fabricantes.
A Eq. (5.25) representa analiticamente o gerador sı́ncrono da figura 5.21 no domı́nio de
seqüência. É fácil observar que as equações correspondentes às componentes de seqüência posi-
tiva, negativa e zero são desacopladas, podendo cada uma ser representada por um circuito de
seqüência, conforme mostra a figura 5.22.
Observe que estes circuitos são simplificados, sendo desprezados os efeitos de saliência de
pólos, saturação e outros fenômenos transitórios mais complexos. Os circuitos de seqüência
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 165
+ + + +
- - - -
do motor sı́ncrono são semelhantes aos do gerador, exceto pelo sentido das componentes de
seqüência da corrente em cada circuito. No caso do motor de indução, desde que o enrolamento
de campo (rotor) destes equipamentos não é excitado por corrente contı́nua, a fonte independente
que representa a força eletromotriz interna é removida (substituı́da por uma impedância nula
ou curtocircuitada).
Ex. 5.4 Considere um sistema trifásico onde as seguintes três cargas conectadas em paralelo
são supridas por um a alimentador operando na tensão de 380 V:
• carga 1: conectada em ∆ e constituı́da por três impedâncias iguais a 24 + j18 Ω/f ase;
3. as potências complexas absorvida pela carga total e fornecida pela fonte, a perda de
potência ativa e reativa no sistema de transmissão;
Transformadores
Um modelo simplificado consistindo apenas de uma reatância é adotado para representar o
transformador. Desde que os transformadores são equipamentos estáticos, a impedância de
dispersão não variará se a seqüência de fase for alterada. Por esta razão, a impedância de
seqüência positiva deste equipamento é igual à sua impedância de dispersão, a qual é obtida
através do ensaio de curto-circuito, isto é,
Z1 = Z2 = jXt
166 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
3ZN Z0 3Zn
3ZN Z0
Z0
jXp jXs
P
S
T
jXt
de seqüência positiva, negativa e zero. De acordo com a modelagem dos componentes dos sis-
temas de potência mostrada na seção 5.6, apenas as redes de seqüência positiva possuem fontes
independentes e portanto o correspondente circuito equivalente de Thévenin possui uma fonte
ativa, sendo os outros dois circuitos constituı́dos apenas de uma impedância equivalente. Assim,
esses circuitos se assemelham aos da figura 5.22, o que possibilita analisar as faltas assimétricas
a partir do gerador sı́ncrono. Para esta finalidade, o seguinte procedimento é adotado:
Va a
Ic
Vb b
Zy Zy
Ia
IN = 0
Ia + Ib + Ic
Zy ZN
Ib
Vc c
Este tipo de falta, ilustrado na figura 5.27, é caracterizado pelas seguintes equações:
Va = Vb = Vc = 0
Ia + Ib + Ic = 0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 169
1 1 1 0
1
= 1 a a2 0
3
1 a2 a 0
resultando
Va0 = Va1 = Va2 = 0 (5.26)
Por outro lado
Ia0 1 1 1 Ia
Ia1 = 1 1 a a2 Ib
3
Ia2 1 a2 a Ic
1 1 1 Ia
1
= 1 a a 2 a2 I a
3
1 a2 a aIa
fornecendo
I a 1 + a2 + a
Ia0 0
Ia1 = 1 Ia 1 + a3 + a3 = Ia
3
I a 1 + a4 + a2
Ia2 0
e portanto
Ia0 = 0
Ia1 = Ia (5.27)
Ia2 = 0
De 5.26 e 5.27, observa-se que a condição estabelecida pela equação 5.26 implica em que
todas as redes de seqüência estão em curto, conforme representado na figura 5.28.
- - - -
Figura 5.28: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta trifásica
Se o curto trifásico não envolve a terra, então as condições do defeito são ainda,
Va = Vb = Vc = 0
Ia + Ib + Ic = 0
170 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
Note que, desde que Ia0 = 0, o circuito de seqüência zero também pode ser deixado em
aberto.
Curto-Circuito Fase-Terra
Considere a figura 5.29, a qual representa um gerador sı́ncrono sujeito a um curto circuito sólido
fase-terra na fase a. As equações que modelam este tipo de curto circuito no domı́nio de fase
Va a
Ia
Vb b
Zy Zy
Ib
IF
Zy ZN
Ic
Vc c
são,
Va = 0
Ib = Ic = 0
1 1 1 Ia
1
= 1 a a2 0
3
1 a2 a 0
resultando
Ia0 Ia
Ia1 = 1 Ia
3
Ia2 Ia
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 171
ou seja,
Ia0 = Ia1 = Ia2 (5.28)
IF = Ia = 3Ia0
Para que as equações 5.28 e 5.29 sejam simultaneamente satisfeitas, as redes de seqüência
do gerador sı́ncrono devem ser conectados em série, conforme mostra a figura 5.30. As conexões
+ + + +
- - - -
Figura 5.30: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-terra
das redes de seqüência na forma apresentada na figura 5.30 constituem um modo conveniente de
estabelecer as equações para a solução do problema do curto-circuito fase-terra. Por exemplo,
pode-se calcular a componente de seqüência da corrente no circuito da figura 5.30 e então
determinar a corrente de falta IF = Ia = 3I0 . Se o neutro do gerador não estiver aterrado
ZN = ∞ e IF = 0, e portanto não circula corrente na linha a. Isto pode ser visto também pela
simples inspeção do circuito trifásico, pois não existe caminho de retorno para a corrente de
defeito, a menos que o neutro de gerador seja aterrado.
Curto-Circuito Fase-Fase
Este tipo de falta, ilustrado na figura 5.31, é caracterizado pelas seguintes equações no domı́nio
de fase:
Vb = V c
Ia = 0
Ic = −Ib
172 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
Va a
Ia
Vb b
Zy Zy
Ib
IF = Ib = −Ic
IN = 0
Zy ZN
Ic
Vc c
Ia0 1 1 1 Ia
Ia1 = 1 1 a a2 Ib
3
Ia2 1 a2 a Ic
1 1 1 0
1
= 1 a a2 I b
3
1 a2 a −Ib
o que fornece
Ia0 (0 + Ib − Ib)
Ia1 = 1 aIb − a2 Ib
3
a2 Ib − aIb
Ia2
ou seja,
Ia0 = 0 (5.30)
e
Ia2 = −Ia1 (5.31)
1 1 1 Va
1
= 1 a a 2 Vb
3
1 a2 a Vb
resultando
Va0 (Va + Vb + Vb )
1
Va1 = Va + aVb + a2 Vb
3
Va + aVb + a2 Vb
Va2
e portanto
Va1 = Va2 (5.32)
Do circuito de seqüência zero,
jX0 Ia0
- - - -
Figura 5.32: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-fase
Curto-Circuito Fase-Fase-Terra
Este tipo de curto é representado na figura 5.33. e as condições que descrevem analiticamente a
falta fase-fase-terra no domı́nio de fase são
Vb = Vc = 0
Ia = 0
174 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
Va a
Ia
Va b
Zy Zy
Ib
IF = Ib + Ic
Zy ZN
Ic
Vc c
1 1 1 Va
1
= 1 a a2 0
3
1 a2 a 0
resultando
Va0 Va
Va1 = 1 Va
3
Va2 Va
ou seja,
Va
Va0 = Va1 = Va2 = (5.34)
3
e
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2 = 0 (5.35)
Para que as equações 5.34 e 5.35 sejam satisfeitas, as redes de seqüência do gerador sı́ncrono
devem ser ligadas em paralelo, conforme mostra a figura 5.27.
Observe-se que,
IF = Ib + Ic
porém,
Ia + Ib + Ic = 3Ia0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 175
- - - -
Figura 5.34: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-fase-
terra
IF = Ib + Ic = 3Ia0
1. Considera-se que as tensões nas barras são iguais (em geral a 1,0 pu ou a um valor
fornecido) e despreza-se todas as correntes pré-falta nas linhas do sistemas.
4. Para se calcular a corrente que flui para o defeito utiliza-se um procedimento análogo
aquele adotado no caso de curto-circuito nos terminais de geradores sı́ncronos funcionando
a vazio; isto é, os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva,
negativa e zero são conectados de acordo com o tipo de falta.
176 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
5. As correntes nos elementos do sistema que fluem para o ponto do onde ocorre o curto
circuito são calculadas desprezando-se as cargas. Estas correntes são portanto devidas
exclusivamente a falta.
7. Se a corrente pré-falta for considerada, as correntes pós-falta nas linhas são obtidas
aplicando-se o Teorema da Superposição.
8. Obtidas as correntes nas linhas pode-se então determinar a capacidade de interrupção dos
diversos disjuntores e os ajustes dos relés de proteção.
Ex. 5.5 Considere o sistema do exemplo 5.1, com os seguintes dados adicionais, adotando a
base de 100 MVA e 23 kV na barra 1:
• Gerador 1: X1 = X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 05 pu, Xn = 0;
• Transformadores 1, 2 e 3: XT = 0, 05 pu;
• Os circuitos de sequência positiva, negativa e zer são mostrados nas figuras 5.35, 5.36 e
5.37.
1 2 1 3 4
jXLT1
+ +
Eg Em
5
- -
jXT13
1 2 2 3 4
jXLT1
jXT23
1 2 0 3 4
jXLT1
jXT03
−25, 00 +20, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
20, 00 −40, 00 10, 00 0, 00 10, 00 0, 00
1
0, 00 +10, 00 −40, 00 20, 00 10, 00 0, 00
Ybarra =
0, 00 0, 00 20, 00 −25, 00 0, 00 0, 00
0, 00 10, 00 10, 00 0, 00 −40, 00 20, 00
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 20, 00 −20, 00
1 2 3 4
j0,20 pu j0,05 pu j0,083 pu j0,083 pu j0,05 pu j0,14 pu
G M
T1 T2
j0,083 pu
j0,05 pu T3
• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência zero são dadas por:
−20, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
0, 00 −28, 00 4, 00 0, 00 4, 00 0, 00
0
0, 00 4, 00 −28, 00 0, 00 4, 00 0, 00
Ybarra =
0, 00 0, 00 0, 00 −7, 14 0, 00 0, 00
0, 00 4, 00 4, 00 0, 00 −28, 00 0, 00
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
0, 05 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 ∞
0, 00 0, 0375 0, 0063 0, 00 0, 0062 ∞
0, 00 0, 0063 0, 0375 0, 00 0, 0062 ∞
Z0barra
=
0, 00 0, 00 0, 00 0, 14 0, 00 ∞
0, 00 0, 0062 0, 0062 0, 00 0, 0375 ∞
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
1, 00∠00
I0F =
j(0, 1397 + 0, 1397 + 0, 0375)
= −j3, 1556 pu
IaF
1 1 1 −j3, 1556 −j9, 4667
Ib = 1 a2 a −j3, 1556 = 0, 0 pu
F
IFc 1 a a 2 −j3, 1556 0, 0
Com base nos circuitos de seqência das figuras 5.35, 5.36 e 5.38,
0 0 0, 15
I12 = IF = −j2, 3667
0, 20
Ia12
−j5, 8931
0, 3167
I112 = I1F = −j1, 7635 Ib12 = −j0, 6032 pu
0, 5667
Ic12 −j0, 6032
2 2 0, 3167
I12 = IF = −j1, 7635
0, 5667
0 0 0, 05
I32 = IF = −j0, 7889
0, 20
Ia32
−j3, 5731
0, 25
I132 = I1F = −j1, 3921 Ib32 = j0, 6032 pu
5667
0,
Ic32 j0, 6032
0, 25
I232 = I2F
= −j1, 3921
0, 5667
V10 = 0 0, 2946∠00
a
V1
V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0, 6473 V1b = 0, 8785∠ − 99, 650 pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = −0, 3527
V1c 0, 8785∠99, 650
das injeções de corrente I1barra , I2barra e I0barra possuem apenas um elemento não
nulo, que são as componentes de sequência positiva, negativa e zero da corrente
de falta. Por exemplo, em sequência positiva,
0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000 0
V11
1 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 j3, 1556
V2
1 0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250 0
V =
3 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 0
V1
4 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750 0
V1
5 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250 0
V61
As componentes de sequência da tensão nas barras são portanto,
0
V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 −0.1183 −0.0197 0 −0.0197 0
1
Vbarra
2 0.6473 0.5591 0.6520 0.7216 0.6056 0.6056
Vbarra
−0.3527 −0.4409 −0.3480 −0.2784 −0.3944 −0.3944
onde Vis denota os componentes de sequência da tensão na barra. Observe que
estes valores são os mesmos obtidos através da redução dos circuitos, e portanto
resultam nos mesmos componentes das tensões nas barras no domı́nio de fase.
– A corrente na impedância do neutro dos transformadores pode ser calculada com
auxı́lio do circuito de seqência zero, isto é,
V20
InT1 = 3
j0, 05
j7, 1000
0
V3
InT2 = 3 = j1, 1833 pu
j0, 05
j1, 1833
V50
InT3 = 3
j0, 05
cuja soma resulta na mesma magnitude da corrente de curto circuito fase-terra
sólido na barra 2.
2. Curto circuito fase-fase-terra sólido;
– Corrente subtransitória de falta:
1, 00∠00
I1F = = −j5, 9079 pu
0.1397 × 0.0375
j 0.1397 +
0.1397 + 0.0375
0.0375
I2F = −I1F = j1, 2503 pu
0.1397 + 0.0375
0.1397
I0F = −I1F = j4, 6577 pu
0.1397 + 0.0375
IaF
1 1 1 −j5, 9079 0
Ib = 1 a2 a j1, 2503 = 9, 3403∠131, 580 pu
F
IcF 1 a a2 j4, 6577 9, 3403∠48, 410
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 181
Observe que IbF + IcF = j13, 9730 pu é a corrente que flui para a terra no ponto
onde ocorre o curto circuito fase-fase-terra.
– Corrente nos elementos de transmissão:
0, 15
I012 = I0F = j3, 4932
0, 20
Ia12 0, 8903∠90, 00
0, 3167
I112 = I1F = −j3, 3016 Ib12 = 5, 9154∠125, 840 pu
0, 5667
Ic12 5, 9154∠54, 150
0, 3167
I212 = I2F
= j0, 6987
0, 5667
0 0 0, 05
I32 = IF = j1, 1644
0, 20
0, 8903∠ − 90, 00
a
I32
0, 25
I132 = I1F = −j2, 6063 Ib32 = 3, 5047∠141, 280 pu
0, 5667
Ic32 3, 5047∠ − 38, 710
2 2 0, 25
I32 = IF = j0, 5516
0, 5667
0
V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 0.1747 0.0291 0 0.0291 0
1
Vbarra
2 0.3397 0.1746 0.3484 0.4787 0.2615 0.2615
Vbarra
0.1397 0.1747 0.1379 0.1103 0.1563 0.1563
onde as variáveis foram definidas anteriormente.
182 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
V20
InT1 = 3
j0, 05
−j10, 47
0
V3
InT2 = 3 = −j1, 74 pu
j0, 05
−j1, 74
V50
InT3 = 3
j0, 05
onde InT1 + InT2 + InT3 = j13, 9730 pu é a corrente total que flui para a terra
no ponto onde ocorre a falta.
1, 00∠00
I1F = = −j3, 5791 pu
j(0.1397 + 0.1397)
I0F = 0
IaF
1 1 1 0 0
Ib = 1 a2 a −j3, 5791 = 6, 1992∠1800 pu
F
IcF 1 a a2 j3, 5791 6, 1992∠00
I032 = 0
Ia32
1 1 0, 25
0
I32 = IF = −j1, 5789 Ib32 = 2, 7348∠1800 pu
0, 5667
0, 25 Ic32 2, 7348∠00
I232 = I2F
= j1, 5789
0, 5667
V30 = 0 1, 0000∠00
a
V3
V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0, 6052 V3b = 0.5322∠ − 159.960 pu
2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = 0, 3948
V3c 0.5322∠159.960
V40 = 0 1, 0000∠00
a
V4
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0.6842 V4b = 0.5931∠ − 147.450 pu
2 2
V4 = −I32 (j0, 20) = 0.3158
V4c 0.5931∠147.450
V50 = 0
1, 0000∠00
a
1 1 1 0, 10 V5
V5 = V3 − I32 (j0, 10) = 0.5526 V5b = 0, 5082∠ − 169.670 pu
0, 30
0, 10 Vc
0, 5082∠169.670
V52 = V32 − I232 (j0, 10) = 0.4474 5
0, 30
V60 = 0 1, 0000∠00
a
V6
V61 = V51 = 0.5526 V6b = 0, 5082∠ − 169.670 pu
2 2
V6 = −V5 = 0.4474
V6c 0, 5082∠169.670
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Com base nas Eqs. (5.36), as componentes de sequência da tensão nas barras são,
0
V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 0 0 0 0 0
1
Vbarra
2 0.6000 0.5000 0.6052 0.6842 0.5526 0.5526
Vbarra
0.4000 0.5000 0.3948 0.3158 0.4474 0.4474
tal que,
0
IT1 + ILT1 + ILT2 = 6, 1992∠1800 pu
6, 1992∠00
que é a corrente de falta calculada anteriormente.
5.9 Exercı́cios
5.1 Considere o sistema trifásico cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 5.39.
As tensões pré-falta são todas iguais a 1, 0∠00 pu. Tomando como base os valores nominais
do gerador 1,
184 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
Gerador 1 1 3
j0,76 Ω
50 MVA
13,8 kV
′′
Xg1 = 0, 76Ω
j01,90 Ω
Gerador 2
30 MVA 2 j1,52 Ω
13,8 kV
′′
Xg2 = 0, 95Ω
• calcular a corrente subtransitória de falta para um curto circuito trifásico sólido na barra
2 em pu e em Ampéres;
5.2 Uma fonte conectada em Y -solidamente aterrado opera com tensões fase-terra iguais a
Vat = 277∠00 V, Vbt = 260∠ − 1200 V e Vct = 295∠1150 V, suprindo uma carga trifásica
representada pela matriz de impedâncias
10 + j30 5 + j20 5 + j20
Zf = 5 + j20 10 + j30 5 + j20 Ω
5 + j20 5 + j20 10 + j30
5.3 Uma fase de um gerador trifásico opera em aberto enquanto as outras duas fases são
curto circuitadas à terra, circulando nas mesmas as correntes fasoriais Ib = 1000∠1500 A e
Ic = 1000∠300 A. Determinar os componentes simétricos destas correntes e a corrente que flui
através do neutro do gerador.
5.4 Dadas as tensões fase-terra Vat = 280∠00 V, Vbt = 250∠ − 1100 V e Vct = 290∠1300 V:
3. verifique a relação entre as tensões de fase e de linha dos componentes de seqüência das
tensões.
5.5 As correntes fasoriais numa carga conectada em ∆ são: Iab = 10∠00 A, Ibc = 15∠ − 900
A e e Ica = 20∠900 A. Determine:
3. verifique a relação entre as correntes de fase e de linha dos componentes de seqüência das
correntes.
5.6 Num sistema trifásico, tensões fase-terra iguais a Vat = 280∠00 V, Vbt = 250∠ − 1100
V e Vct = 290∠1300 V suprem uma carga balanceada conectada em Y solidamente aterrado,
composta de impedâncias iguais a 12 + j16 Ω/fase. Determine os circuitos de seqüência do
sistema e calcule as correntes de linha e suas correspondentes componentes de seqüência.
1. supondo que a fonte e a carga são conectadas por uma linha de transmissão de impedância
3 + j4 Ω/fase;
4. supondo que a carga consiste de uma conexão Y composta de impedâncias de 3+j4 Ω/fase,
com neutro aterrado por uma reatância indutiva de 2 Ω. Considere que a carga é compen-
sada por um banco de capacitores conectado em ∆, composto de reatâncias de 30 Ω/fase.
5.8 Num sistema trifásico, um gerador sı́ncrono supre um motor através de uma linha de
transmissão com impedância 0.5∠800 Ω/fase. O motor absorve 5 kW, na tensão de 200 V, com
fator de potência 0,8 adiantado. As bobinas da armadura do gerador e do motor são conectadas
em Y aterrado, com impedâncias indutivas de 5 Ω. As impedâncias de seqüência das máquinas
são iguais a Z0 = j5, Z1 = j15 e Z2 = j10 Ω. Determine os circuitos de seqüência do sistema
trifásico e calcule as tensões de linha nos terminais do gerador. Considere o motor uma carga
balanceada.
186 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
5.9 Seja um gerador sı́ncrono de 30 MVA, 13,8 kV, reatância subtransitória de eixo direto igual
a 10% e reatâncias de seqüência negativa e zero iguais respectivamente a 13% e 4%. O neutro
do gerador é aterrado através de uma reatância de 0,2 Ω. O gerador está operando em vazio
com tensão nominal nos seus terminais. Determinar a corrente subtransitória (em Ampéres)
que passa pela reatância de aterramento do neutro, quando nos terminais do gerador ocorre um
curto-circuito sólido:
1. monofásico à terra;
3. bifásico à terra;
4. trifásico à terra.
5.10 Suponha que o o gerador do sistema cujo diagrama unificar é mostrado na figura 5.40,
opera com tensão nominal quando ocorre uma falta. Considere ainda que os transformadores
são do tipo núcleo envolvente e os dados do sistema são os seguintes:
′′ ′′
• gerador: 25 MVA, 10 kV, X1 = X2 = 0,125 pu,X0 = 0,05 pu, X1 = 1,15 pu;
• A corrente que flui para o defeito e as correntes pós-falta na linha de transmissão (am
Ampères), se ocorre um curto circuito bifásico sólido (sem envolver a terra) na barra de
alta tensão do transformador T2 .
1 2 3 4 M1
G
Zn
T1 LT T2 M2
• Determinar os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência para defeitos que
ocorram no meio da linha de transmissão.
– a corrente que flui para a terra se ocorrer um curto-circuito sólido no meio da linha
de transmissão.
– a corrente que flui para a terra se ocorrer um curto-circuito fase-fase-terra sólido no
meio da linha de transmissão.
– as tensões pós-falta em cada caso.
5.12 Considere o sistema mostrado na figura 5.42. As impedâncias dos componentes são:
1 2
G1 T1 LT1 T2 G2
LT2
13,8 kV 69 kV 13,8 kV
• Transformador T1 : X1 = X2 = X0 = 0, 10 pu;
• Transformador T2 : X1 = X2 = X0 = 0, 15 pu;
3 G2
1 2 D
G1
A TR B C
LT
G3
• transformador: 100 MVA, 13,8 (∆) kV / 138 (Y -solidamente aterrado) kV, Xt = 0,10
pu;
5.14 No sistema trifásico da figura 5.44, suponha que as correntes pré-falta são desprezı́veis
e que as barras operam na tensão nominal antes da ocorrência da falta. As duas linhas de
3 Trafo 2 4 Gerador 2
1 2
Gerador 1 Trafo 1 LT 1
5 Trafo 3 6
LT 2
′′
Componente Snom Vnom X
(MVA) (kV) (%)
Gerador 1 2000 13,8 (Y aterrado) 20
Gerador 2 2000 230 (Y aterrado) 20
Trafo 1 2200 13,8(∆):500(Y aterrado) 10
Trafo 2 500 500(Y aterrado):230(Y aterrado) 10
Trafo 3 1000 500(Y aterrado):138(Y aterrado) 12
transmissão possuem reatâncias série de 0,163 (LT1) e 0,327 (LT2) Ω/km por fase e compri-
mentos de 220 km (LT1) e 150 km (LT 2). Adotando como valores base as tensões nominais
dos equipamentos e a potência de 1000 MVA, determinar (em valores p.u. e em unidades reais):
• a corrente de curto circuito trifásico sólido num ponto F da linha de transmissão 1, situado
a 30 km da barra 2;
• a corrente que flui nos geradores 1 e 2, conectados às barras 1 e 4, sob as condições de
falta do item anterior;
190 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
• a corrente que flui no lado de AT do trafo 2, sob as condições de falta do item anterior;
5.15 Considere o sistema mostrado na figura 5.45, cujos dados são mostrados na tabela 5.1.
Supondo que as correntes pré-falta são nulas e que a tensão na barra 2 é 1,0 pu.
1. determine o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade, tomando como base
os valores nominais do transformador 1;
Gerador Motor
LT1 - 220 kV
Trafo T1 2 3 Trafo T2
5.16 A figura 5.46 mostra um gerador sı́ncrono de 625 kVA, 2,4 kV e reatância subtransitória
de 20%, operando na tensão nominal, suprindo uma carga constituı́da de três motores. Cada
motor possui valores nominais 250 HP, 2,4 kV, fator de potência unitário, rendimento de 90% e
reatância subtransitória de 20%. Supondo que os motores operam todos sob as mesmas condições,
adotando os valores nominais do gerador como base e desprezando as correntes pré-falta,
• repita o item anterior para uma falta trifásica no ponto R. Observação: 1 HP = 746 W.
D
M1
R A C
G M2
B P
M3
Q
5.17 A matriz impedância de barra do sistema mostrado na figura 5.47 é dada por
0, 0793 0, 0558 0, 0382 0, 0511 0, 0608
0, 0558 0, 1338 0, 0664 0, 0630 0, 0605
Zbarra =j
0, 0382 0, 0664 0, 0875 0, 0720 0, 0603
0, 0511 0, 0630 0, 0720 0, 2321 0, 1002
0, 0608 0, 0605 0, 0603 0, 1002 0, 1301
5.18 Os dados do sistema do diagrama unifilar da figura 5.48 são mostrados na tabela 5.2.
Todas as quantidades estão em pu na base 1000 MVA e 500 kV referida a barra 1. Desprezando
as correntes pré-falta e supondo que o gerador 1 opera com 1,0 pu de tensão nos seus terminais,
• Calcule as tensões nas barras na condição de corrente de curto circuito fase-terra sólido
na barra 4.
192 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito
1 3
2
j0, 168 pu j0, 126 pu
1, 0∠00 pu
1, 0∠00 pu j0, 1333 pu + −
− + j0, 1111 pu
5 j0, 210 pu
j0, 126 pu
T1 1 2 3 T3
G1 G3
LT1 LT3
T2
G2
Zng2
[3] J. D. Glover, M. Sarma, Power System Analysis and Design, PWS Publishers - Boston,
1994.
[4] R. D. Shultz, R. A. Smith, Introduction to Electric Power Engineering, John Wiley and
Sons, 1987.