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Universidade do Sul de Santa Catarina

UNISUL

TRANSMISSÃO E OPERAÇÃO DE
SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA

Engenharia Elétrica
2019 – 10 Semestre

Prof. Geraldo Kindermann

geraldokindermann@gmail.com

Coordenador do Curso: Prof. Anderson Soares André

anderson.andre@unisul.br

Apostila do Prof. Roberto de Sousa Salgado da UFSC

roberto.salgado@ufsc.br
Sumário

1 Máquinas Sı́ncronas 1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Operação em Regime Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2.1 Modos de Operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2.2 Curva de Capabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Sistemas Trifásicos Balanceados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.1 Carga conectada em Y . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.2 Carga conectada em ∆ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4 Sistema Por Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4.1 Seleção dos valores base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.2 Base em Termos de Valores Trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.3 Mudança de Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2 Representação dos Sistemas de Potência 33


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2 Diagrama Unifilar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.3 Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.3.1 Circuito Equivalente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.3.2 Autotransformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.3.3 Transformadores Trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3.4 Transformadores de Três Enrolamentos . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.3.5 Transformadores Com Tap Variável . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.4 Linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.5 Cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.5.1 Modelo Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.5.2 Modelo Polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

3 Operação das Linhas de Transmissão 65


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.2 Representação das linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.3 Equações diferenciais da linha de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.4 Transferência de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.4.1 Análise baseada nos parâmetros do quadripolo . . . . . . . . . . . . 72
3.4.2 Análise baseada no fluxo de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.5 Curvas PV e QV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
ii SUMÁRIO

3.6 Linhas de transmissão com perdas desprezı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . 83


3.7 Compensação de Linhas de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.8 Desempenho das linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

4 Fluxo de Potência 105


4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
4.2 Conceitos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
4.3 Equações Estáticas da Rede Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
4.4 Formulação do Problema de Fluxo de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . 113
4.5 Métodos de Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
4.6 Ajustes e Controles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

5 Análise de Curto Circuito 141


5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
5.2 Curto-Circuito em Sistemas de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
5.3 Máquina Sı́ncrona sob Curto-Circuito Trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . 142
5.4 Curto-Circuito Trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
5.5 Componentes Simétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.6 Representação no Domı́nio de Seqüência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
5.7 Faltas Assimétricas num Gerador à Vazio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
5.8 Análise de Faltas Assimétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
5.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Capı́tulo 1

Máquinas Sı́ncronas

1.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a modelagem analı́tica da máquina sı́ncrona trifásica para es-
tudos de operação em regime permanente nas redes de energia elétrica. Inicialmente,
a representação e os modos de operação deste equipamento em regime permanente são
mostrados, com ênfase no funcionamento da máquina como gerador sı́ncrono. A seguir,
considerando que a transmissão de energia elétrica no sistema de potência é essencialmente
trifásica, é feita uma revisão dos principais conceitos dos circuitos trifásicos equilibrados.
O capı́tulo é concluı́do com a introdução da representação do gerador sı́ncrono no sistema
por unidade.

1.2 Operação em Regime Permanente


A despeito do avanço no uso de fontes alternativas de energia, a máquina sı́ncrona trifásica
continua a ser o principal tipo de equipamento usado para a geração de energia elétrica
em grande escala. A placa deste tipo de equipamento geralmente apresenta as seguintes
informações nas quais é baseada a sua operação:
• potência aparente nominal (Snom , Volt-Ampére), tensão nominal (de linha) (Vnom ,
Volt, com o tipo de conexão das bobinas da armadura (Y ou ∆)); corrente nominal
(de linha) (Inom , Ampére). Desde que a máquina sı́ncrona trifásica é balanceada,
a potência aparente nominal,√a tensão nominal e a corrente nominal se relacionam
através da expressão Snom = 3Vnom Inom .

• frequência nominal (f , Hz) e velocidade angular nominal (ω, rpm), que são estabe-

lecidas de acordo com a equação f = , onde p denota o número de pólos da
2 60
máquina sı́ncrona;

• cosφ: fator de potência (atrasado ou adiantado);

• impedâncias de sequência positiva Z1 , negativa Z2 e zero Z0 , expressas em Ω/f ase


ou em valores percentuais, as quais são utilizadas em estudos de regime permanente
e de curto circuito;
2 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

• Zn (Ω/f ase ou valor percentual): impedância de aterramento do neutro, no caso


de conexão Y aterrada. Note que, quando a rede elétrica opera sob condições
equilibradas a corrente que flui no neutro das conexões Y é nula. Portanto este
parâmetro é utilizado apenas em cálculos requeridos na operação desbalanceada do
sistema de potência.

• corrente (contı́nua) de campo (If em A), cujo valor não deve ser ultrapassado, sob
risco da ocorrência de sobreaquecimento do enrolamento de campo.
Observe que:
• A potência de saı́da da máquina sı́ncrona é limitada pela injeção de potência mecânica
no eixo e pela corrente de armadura (por causa do aquecimento das bobinas);

• a corrente de campo indica uma faixa de operação viável e pode ser interpretada
como um limite superior recomendado;

• durante a operação em regime permanente, o desvio de frequência deve tender a


zero;

• os valores nominais da máquina sı́ncrona informam sobre a condição para a qual


o equipamento foi projetado para operar. Por esta razão, o gerador sı́ncrono não
necessariamente opera na rede elétrica com valores nominais simultâneos de potência
aparente, tensão e corrente;

• os valores percentuais das impedâncias correspondem a 100 × o valor no sistema


por unidade, na base dos dados de placa do equipamento.

1.2.1 Modos de Operação


A máquina sı́ncrona pode operar em 6 modos distintos. Em termos de potência ativa ela
pode funcionar como gerador (fornecendo potência ativa), motor (absorvendo potência
ativa) ou compensador (teoricamente sem fornecer ou absorver potência ativa). No
que diz respeito a potência reativa, a máquina sı́ncrona pode operar superexcitada (ou
sobre-excitada); isto é, fornecendo potência reativa, ou subexcitada; ou seja, absorvendo
potência reativa. Os limites de geração e absorção de potência são determinados com
auxı́lio da curva de capabilidade da máquina.

Gerador Sı́ncrono
Os circuitos monofásicos equivalentes da máquina sı́ncrona funcionando como gerador e
como motor são mostrados na figura 1.1.
As equações que representam a geração de potência são obtidas supondo-se as tensões
terminais Vg = Vg ∠00 e de excitação Eg = Eg ∠δg , e separando-se as partes real e ima-
ginária do produto Sg = Vg I∗g . Isto fornece as potências ativa e reativa liberadas pelo
gerador, as quais são expressas respectivamente por
Vg Eg Vg
Pg = sin δg Qg = (Eg cos δg − Vg ) (1.1)
Xg Xg
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 3

Ig Im
Xg Xm

+ + + +

Eg ∠δg Vg = Vg ∠00 Vm = Vm ∠00 Em ∠δm

- - - -

(a) Gerador sı́ncrono (b) Motor sı́ncrono

Figura 1.1: Circuitos equivalentes do gerador sı́ncrono e do motor sı́ncrono

onde δg é denominado ângulo de carga (ou potência) da máquina sı́ncrona. Desde que Eg >
0, Vg > 0 e Xg > 0, o sentido (sinal) da potência gerada, e portanto o modo de operação
como gerador ou motor, depende do ângulo de carga ou, em termos fı́sicos, da injeção de
potência mecânica no eixo da máquina. Ou seja, se δg > 0, a máquina opera como gerador,
e se δg < 0 a máquina opera como motor. Por outro lado, o fornecimento e a absorção
de potência reativa dependem do termo (Eg cos δg − Vg ); isto é, se (Eg cos δg − Vg ) > 0
a máquina opera sobre-excitada (Qg > 0), e se (Eg cos δg − Vg ) < 0, a máquina opera
subexcitada (Qg < 0).
No circuito equivalente mostrado na figura 1.1(b), observe que o sentido da corrente
é invertido, pois a máquina sı́ncrona opera como motor. Desta forma, as potências ativa
e reativa absorvidas pelo motor sı́ncrono possuem a mesmo sentido que a corrente na
armadura e são dadas por,
Vm Em Vm
Pm = − sin δm Qm = (Vm − Em cos δm ) (1.2)
Xm Xm
onde, considerando que o ângulo da tensão terminal do motor (Vm ) é adotado como
referência, o ângulo de carga (δm ) é negativo. Neste caso, o motor sı́ncrono opera subex-
citado quando (Vm − Em cos δm ) > 0 e sobre-excitado quando (Vm − Em cos δm ) < 0.
Os diagramas fasoriais do gerador sı́ncrono e do motor sı́ncrono sub-excitados e sobre-
excitados são mostrados nas figuras 1.2 e 1.3. Para estabelecer estes diagramas, considere
que duas máquinas sı́ncronas semelhantes são interligadas e operam uma como um gerador
e a outra como um motor, conforme mostra a figura 1.2.
No primeiro caso, supõe-se que o motor opera com fator de potência atrasado; ou seja,
o gerador sı́ncrono fornece potência ativa e reativa a uma carga de natureza indutiva, tal
que a corrente Ig = Im nos seus terminais está atrasada (pelo ângulo φ) com relação a
tensão terminal Vg = Vm . As equações que modelam esses equipamentos são mostradas
a seguir.
Eg = Xg Ig + Vg
(1.3)
Em = − Xm Im + Vm
4 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

Ig Im
Xg Xm

+ + + +

Eg ∠δg Vg = Vg ∠00 Vm = Vm ∠00 Em ∠δm

- - - -

Figura 1.2: Operação simultânea gerador/motor sı́ncrono

As Eqs. (1.3) são representadas simultaneamente no diagrama da figura 1.3, onde


podem ser observadas as relações:

Eg cos δg > Vg
(1.4)
Em cos δm < Vm

as quais indicam que:


• o gerador sı́ncrono opera sobre-excitado; isto é, fornece potência reativa com fator
de potência em atraso nos seua terminais;

• o motor sı́ncrono opera sub-excitado; isto é, absorve potência reativa com fator de
potência em atraso nos seua terminais.
O caso em que o motor sı́ncrono opera com fator de potência em avanço é representado
na figura 1.4. Com base nas Eqs. (1.3), e considerando que a corrente Ig = Im nos
terminais dos equipamentos está adiantada (pelo ângulo φ) com relação a tensão terminal
Vg = Vm , a análise do diagrama fasorial indica que,
• Eg cos δg < Vg , tal que o gerador sı́ncrono opera sub-excitado; isto é, absorve
potência reativa com fator de potência em avanço nos seua terminais;

• Em cos δm > Vm , e portanto o motor sı́ncrono opera sobre-excitado; isto é, fornece
potência reativa com fator de potência em avanço nos seua terminais.

Controle de Potência do Gerador Sı́ncrono


Sistemas de controle automático são freqüentemente utilizados na monitoração da operação
das redes elétricas. A figura 1.5 mostra os dois controles básicos de um gerador com tur-
bina a vapor; isto é, o regulador de tensão e o governador de velocidade.
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Eg

−Ig
Xg Ig
δg
δm Vg = Vm

Ig
−Xm Im

Em

Em cos δm

Vg = Vm

Eg cos δg

Figura 1.3: Operação simultânea gerador/motor sı́ncrono - motor subexcitado

Controle da potência ativa

O controle de potência ativa é realizado através da válvula que monitora a quantidade


de vapor ou água que entra na turbina (máquina primária) acoplada ao eixo da máquina
sı́ncrona. A variação da potência mecânica de entrada no gerador resulta num corres-
pondente aumento da velocidade angular do rotor. Se a corrente de excitação do campo
(e portanto a força eletromotriz interna) se mantém constante, o ângulo de carga ou
potência entre a tensão terminal e a força eletromotriz interna também se modificará. O
aumento do ângulo de carga implica numa quantidade maior da potência ativa na saı́da
da máquina. Um gerador com maior ângulo de potência requer um torque de entrada
maior e naturalmente libera maior quantidade de potência ativa ao sistema.
O governador de velocidade da turbina ajusta a potência mecânica de saı́da da turbina.
Se o nı́vel da potência requisitado nos terminais do gerador sı́ncrono varia, o governador de
velocidade controla a injeção de potência mecânica no eixo da turbina para que o gerador
sı́ncrono forneça a quantidade de potência ativa requisitada. Em resumo, o governador
de velocidade monitora a velocidade angular do rotor, a qual é utilizada como sinal de
realimentação, para controlar a potência mecânica de entrada e elétrica de saı́da.
Quando a máquina sı́ncrona está conectada a uma barra infinita a magnitude da sua
tensão terminal e a sua freqüência permanecem inalteradas. Entretanto, duas das suas
variáveis, a corrente de excitação e o torque de entrada no eixo, podem ser controladas. A
variação da corrente de campo, referida como controle do sistema de excitação, é utilizada
para operar a máquina tanto como gerador quanto como motor, e controlar a potência
6 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

Eg

Ig = Im Xg Ig

δg Vg = Vm

δm −Xm Im

−Im

Em

Eg cos δg

Vg = Vm

Em cos δm

Figura 1.4: Operação simultânea gerador/motor sı́ncrono - motor sobre-excitado

reativa. Por outro lado, desde que a velocidade angular do eixo da máquina é constante, a
única maneira de variar a potência ativa de saı́da é através do controle do torque imposto
no eixo pela máquina primária no caso do gerador e pela carga mecânica no caso do motor.

Controle de potência reativa

O controle da magnitude da tensão terminal do gerador é feito através do regulador


de tensão, através do sistema de excitação da máquina sı́ncrona. Quando a tensão de
referência varia, a tensão de saı́da do gerador deve ser modificada através do sistema de
excitação das bobinas de campo do gerador sı́ncrono. Um transformador de potencial e um
retificador monitoram a tensão terminal, a qual é utilizada como sinal de realimentação
no regulador de tensão. Se a tensão terminal decresce, o regulador aumenta a sua tensão,
de forma a elevar a tensão de excitação e a tensão terminal da máquina.
Considere um gerador sı́ncrono suprindo potência ativa, com ângulo de carga δg e
resistência da armadura desprezı́vel. A potência complexa liberada nos terminais do
gerador é dada por,

Sg = Pg + jQg
= Vg I∗g
= Vg Ig (cos φ + j sin φ)
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Valvula de vapor
Pref

Do gerador Governador Gerador


de vapor
de velocidade
If
ωm Excita- + Pg , V
Turbina
a vapor triz Ef
Pm -

Para o
condensador Regula-
dor de Retificador
tensao Filtro

Transformador
de potencial

Figura 1.5: Controles P f e QV

onde φ é o ângulo do fator de potência da carga conectada ao gerador sı́ncrono, e portanto,

Pg = Vg Ig cos φ
(1.5)
Qg = Vg Ig sin φ

Se o ângulo do fator de potência da carga é positivo (φ > 0), a carga é de natureza


indutiva, e portanto a potência reativa liberada pela máquina para a carga é positiva. Se a
potência ativa de saı́da é mantida constante com tensão terminal constante, então o termo
Ig cos φ também se mantém constante. Isto requer que a magnitude da força eletromotriz
interna varie proporcionalmente com a corrente contı́nua de excitação do campo, caso o
fator de potência da carga se modifique.
A excitação normal da máquina é definida como aquela na qual a condição Eg cos δg =
Vg é satisfeita. A máquina sı́ncrona é considerada estar superexcitada ou subexcitada
conforme Eg cos δg > Vg ou Eg cos δg < Vg , respectivamente. Quando o gerador sı́ncrono
está superexcitado, ele supre potência reativa através dos seus terminais, tal que sob o
ponto de vista do sistema ele atua como um elemento de natureza capacitiva. O diagrama
fasorial da figura 1.3 ilustra esta situação.

Controle de Tensão
A excitatriz é o dispositivo que supre corrente contı́nua para o enrolamento de campo
localizado no rotor dos geradores sı́ncronos. A bobina de campo pode ser excitada por
um gerador de corrente contı́nua, através de anéis de escorregamento e escovas coleto-
ras. Alternativamente, excitatrizes estáticas ou sem escova também podem ser utilizadas.
Neste caso, a potência em corrente alternada obtida diretamente dos terminais do gerador
8 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

ou de uma estação de serviço externa é retificada via tiristores e transferida ao rotor via
anéis de escorregamento e escovas coletoras.
O controle de tensão adota basicamente o seguinte procedimento: a magnitude da
tensão terminal do gerador é comparada com a magnitude da tensão de referência (es-
tabelecida previamente) para fornecer o sinal de erro de magnitude da tensão, o qual é
enviado ao regulador. Posteriormente, o regulador de tensão aplica uma tensão na excita-
triz, tal que a saı́da desta é a tensão contı́nua aplicada nas bobinas de campo do gerador
para ajustar a magnitude de tensão terminal.

Ex. 1.1 Considere um gerador sı́ncrono com valores nominais 635 MVA, fator de potência
0,90 atrasado, 60 Hz, 3600 rpm, 24 kV e reatância sı́ncrona 1,5639 Ω conectado a uma
barra infinita. Se esta máquina supre uma corrente de 12,221 kA com fator de potência
0,9 atrasado, determine:
1. a magnitude e o ângulo da tensão interna do gerador e as potências ativa e reativa
supridas a barra infinita.

2. o ângulo de carga e a potência reativa suprida pelo gerador se a potência ativa de


saı́da do gerador permanece constante, porém a sua excitação é (a) aumentada em
20 % e (b) reduzida em 20 %.

3. a tensão interna da máquina sı́ncrona quando a mesma opera no limite de esta-


bilidade em regime permanente, supondo que a potência ativa de saı́da permanece
constante.

Compensadores Sı́ncronos
Quando a máquina sı́ncrona opera como um Compensador Sı́ncrono, a potência ativa
suprida ou absorvida é teoricamente zero. Na prática, a potência ativa oriunda de uma
fonte externa supre as perdas internas da máquina, e o compensador sı́ncrono opera
fornecendo ou absorvendo potência reativa. Este modo de funcionamento é o mesmo de
um motor sı́ncrono operando sem carga mecânica. Ou seja, a corrente alternada é suprida
através das bobinas da armadura, e dependendo da corrente de excitação o dispositivo
pode gerar ou absorver potência reativa. Desde que as perdas neste tipo de dispositivo
são consideráveis, se comparadas às dos Capacitores Estáticos, o fator de potência com
que operam os compensadores sı́ncronos não é exatamente igual a zero.
Quando operam em conjunto com os reguladores de tensão, os compensadores sı́ncronos
podem automaticamente funcionar superexcitados (sob condição de carga pesada) ou su-
bexcitados (sob condições de carga leve). Em termos analı́ticos, estas condições são es-
tabelecidas considerando as Eqs. (1.3) e lembrando que o ângulo de carga é zero. No
caso do motor sı́ncrono, o ângulo de carga é igual a zer (δm = 00 ), e as Eqs. (1.2) são
re-escritas como,
Vm
Pm = 0 Qm = (Vm − Em ) (1.6)
Xm
tal que, (Vm > Em ) indica a absorção (subexcitação) e (Vm < Em ) indica o fornecimento
(sobre-excitação) de potência reativa pela máquina sı́ncrona.
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Os diagramas fasoriais da máquina sı́ncrona operando como compensador são mos-


trados na figura 1.6. Nos dois casos as tensões Vg = Vm , Eg e Em estão alinhadas por
causa do valor do ângulo de carga. A corrente I está defasada de 900 da tensão terminal
do compensador.
−Im Ig

Em Vg = Vm Eg φ Eg Vg = Vm Em

φ jXd Im jXd Ig jXd Ig jXd Im

Ig −Im

(a) GS sobre−excitado, MS subexcitado (b) GS subexcitado, MS sobre−excitado

Figura 1.6: Operação do compensador sı́ncrono

A principal vantagem do compensador sı́ncrono é a sua flexibilidade de operação. A


geração de potência reativa pode variar continuamente de uma maneira simples (porém
mais lenta do que a dos Compensadores Estáticos), modificando-se a tensão de excitação
da máquina sı́ncrona. A desvantagem deste tipo de operação é que em geral o equipamento
está situado longe dos pontos de consumo e necessita de elementos de transporte para
atingir a demanda, ocasionando perda de potência.

1.2.2 Curva de Capabilidade


A curva de capabilidade ou carta de potência é um diagrama que mostra todas as condições
de operação normal de uma máquina sı́ncrona conectada a uma barra infinita. Este
diagrama é de extrema utilidade para o planejamento da operação da máquina sı́ncrona
no sistema de energia elétrica. A sua elaboração requer basicamente a consideração das
correntes máximas que podem circular nas bobinas da armadura e do campo, os limites
de potência da máquina primária, e o aquecimento do núcleo da armadura. Para a sua
determinação, as seguintes suposições são feitas:
• o gerador opera com a magnitude da tensão terminal constante;
• as perdas Joule nas bobinas do estator (e portanto a resistência da armadura) são
desprezı́veis;
A construção do diagrama pode ser sumarizada nas etapas descritas a seguir [1, 2].
1. Determine o diagrama fasorial da máquina sı́ncrona, considerando que a mesma
opera sob condições nominais de tensão, corrente e fator de potência.
Neste caso, a corrente complexa nos terminais do gerador é Ig = Ig ∠φ, tal que
o modelo analı́tico deste equipamento é dado pela Eq. (1.3). A representação
10 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

geométrica desta equação é mostrada na figura 1.7, onde é ressaltada a decomposição


em quadratura da queda de tensão Xg Ig .

Volts

Eg
Xg Ig

φ Xg Ig cos φ

δg Vg
Volts
φ Xg Ig sin φ

Ig

Figura 1.7: Curva de capabilidade - Diagrama fasorial do gerador sı́ncrono

2. Faça o escalonamento de cada componente do diagrama da figura 1.7 utilizando o


Vg
fator . Conforme mostra a figura 1.8, após o escalonamento,
Xg
• os eixos cartesianos indicam as potências ativa e reativa de saı́da do gerador;
• o segmento de reta correspondente a queda de tensão na impedância do gerador
representa a potência aparente nominal trifásica Sg = 3Vg Ig , cuja decomposição
fornece as potências ativa Pg = 3Vg Ig cos φ e reativa geradas Qg = 3Vg Ig sin φ;
3Vg2
• o segmento de reta correspondente a tensão nominal escalonada é , sendo
Xg
esta grandeza igual a magnitude da potência gerada na condição do limite de
estabilidade;
3Vg Eg
• o escalonamento da força eletromotriz interna resulta na grandeza , a
Xg
qual pode ser interpretada como a potência correspondente ao limite da tensão
de excitação.
Visando expressar as grandezas da curva de capabilidade em termos de potências
trifásicas todos os componentes do diagrama da figura 1.8 são multiplicados pelo
fator 3.
3. Determine os pontos de operação do gerador sı́ncrono com corrente de excitação
constante.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 11

kW
3Eg Vg
Xg
3Vg Ig

φ P = 3Vg Ig cos φ
3Vg2
Xg
kVAr
φ Q = 3Vg Ig sin φ

Figura 1.8: Curva de capabilidade - Escalonamento do diagrama fasorial do gerador


sı́ncrono

A Eq. (1.1) pode ser re-escrita como,

Vg2
 
Eg Vg Eg Vg
Pg = sin δg Qg + = cos δg
Xg Xg Xg

cuja soma quadrática fornece,


2  2
Vg2

Eg Vg
Pg2 + Qg + = (1.7)
Xg Xg

 
Eg Vg
A Eq. (1.7) representa geometricamente um cı́rculo de raio (magnitude
Xg
Vg
da tensão interna da máquina escalonada pelo fator do passo 2), centrado no
Xg
Vg2
 
ponto 0; − , o qual é interpretado como o conjunto de pontos correspondentes
Xg
a operação do gerador sı́ncrono com a corrente de excitação constante, conforme
mostra a figura 1.9.

4. Determine os pontos de operação do gerador sı́ncrono com magnitude da corrente


da armadura constante.
O lugar geométrico desses pontos é um cı́rculo centrado na origem e com raio igual
a Sg = Vg Ig , proporcional a um valor fixo da corrente de armadura. Desde que
a tensão terminal é suposta constante, os pontos de operação representados neste
cı́rculo correspondem a uma potência aparente de saı́da com magnitude constante,
conforme mostra a 1.9.
12 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas
3Eg Vt
Semi-cı́rculo, raio =
Xg
kW

Limite da máquina primária Pg = cte

Cı́rculo, raio = 3Vg Ig

3Vg2

Xg kVAr

Figura 1.9: Curva de capabilidade - lugar geométrico dos limites do gerador sı́ncrono

5. Determine os pontos de operação limitados pela capacidade da máquina primária.


A potência ativa gerada é expressa como Pg = Vg Ig cos φ, e portanto os pontos de
operação caracterizados pela geração constante de potência ativa situam-se num
segmento de reta horizontal, cuja distância ao eixo vertical é Vg Ig cos φ. O segmento
de reta usado para representar o limite de geração de potência ativa decorrente da
capacidade da máquina primária é paralelo ao eixo que representa a geração de
potência reativa. A figura 1.9 indica esta condição.

6. Determine os pontos de operação do gerador sı́ncrono com potência reativa de saı́da


constante.
A potência reativa de saı́da é expressa como Qg = Vg Ig sin φ. De maneira análoga
à potência ativa, um segmento de reta vertical representa o lugar geométrico dos
pontos de operação potência reativa de saı́da constante. No caso da operação com
fator de potência unitário, esses pontos estão situados no segmento de reta vertical
que passa pela origem. Para operação com fator de potência atrasado (adiantado) a
potência reativa de saı́da é positiva (negativa) e os pontos de operação estão situados
nos semi-planos localizados nos dois lados do eixo vertical.

7. Determine os pontos de operação correspondentes ao limite de subexcitação do


gerador.
De acordo com a Eq. (1.1), quando a máquina opera no limite de estabilidade,
V2
Qg = − Xgg , condição na qual o gerador sı́ncrono está subexcitado. O segmento de
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 13

Vg2
 
reta entre o ponto − ; 0 e o ponto de intercessão dos dois semi-cı́rculos relativos
Xg
as operações com a corrente de excitação constante (passo 2) e com a corrente de
armadura constante (passo 3) representa o limite de subexcitação da máquina.

8. A linha radial com raio igual a Sg = Vg Ig e inclinação φ é o lugar geométrico dos


pontos de operação para os quais o fator de potência é constante. Na figura 1.9,
o ângulo φ representa a condição na qual o gerador sı́ncrono supre uma carga com
fator de potência atrasado. No caso do fator de potência unitário (φ = 00 ), os pontos
de operação são representados ao longo do eixo vertical. O semi plano situado à
esquerda deste eixo corresponde a cargas com fator de potência adiantado.

O exemplo apresentado a seguir ilustra a elaboração da curva de capabilidade através


dos passos descritos anteriormente.

Ex. 1.2 Determine a curva de capabilidade de um gerador sı́ncrono trifásico com valores
nominais 635 MVA, 24 kV (Y), fator de potência 0,9 e reatância sı́ncrona 1,5639 Ω/f ase,
3600 rpm (dados da referência [1]).

1. (Passo 1) Para a determinação do diagrama fasorial da figura 1.7, a tensão nominal


(fase-neutro) é 13,85 kV, a corrente nominal da armadura é Ig = 15, 27 kA, e o
ângulo do fator de potência é 25, 840. A magnitude da tensão interna do gerador
sı́ncrono (considerada limite de excitação) nesta condição de operação é Egmax é
32,42 kV (fase-neutro), com ângulo de carga (fator de potência nominal) igual a
41, 530.
Vg
2. (Passo 2) O fator de escalonamento , referido no passo 2, é 8,86, tal que no
Xg
gráfico da figura 1.8, a tensão fase-neutro nos terminais do gerador escalonada pelo
fator (3 × 13, 85k × 8, 86) vale 368,31.
 
Vg
3. (Passo 3) A potência reativa (3Eg ) correspondente ao limite de excitação é
Xg
(3 × 32, 42k × 8, 86k = 861, 84MV Ar. O centro do cı́rculo de raio Egmax escalonado,
é o ponto (-368,31; 0). Este conjunto de pontos representa operação do gerador
sı́ncrono com a tensão de excitação limite.

4. (Passo 4) O cı́rculo centrado na origem e com raio igual a 635 MVA representa os
pontos de operação do gerador sı́ncrono com magnitude da corrente da armadura
constante. Este cı́rculo e o do passo anterior se interceptam nos pontos (571.50
MW; ± 276.79 MVAr), correspondente a figura 1.9, os quais representam os valores
limites simultâneos relativos a corrente de armadura nominal e a força eletromotriz
interna do gerador sı́ncrono, para o fator de potência nominal. A magnitude do
ângulo de carga correspondente é ±48, 460 .

5. Não são considerados o limite imposto pela máquina primária e os pontos de operação
com geração de potência reativa constante, e portanto os passos 5 e 6 não são exe-
cutados.
14 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

6. (Passo 7) O limite da operação do gerador sı́ncrono imposto por subexcitação é


representado pelo segmento de reta que une os pontos (-368,31; 0) e (-276,79 MVAr;
571,50 MW), o qual é expresso pela equação Qg = 0, 16Pg − 368, 31 (MVAr).
A execução destes passos fornece o diagrama de capabilidade mostrado na figura
1.10.
800

700 Região de sub−excitação Região de sobre−excitação


Limite devido a Ig
600
Potência Ativa (MW)

500

400 Limite devido a sub−exc.

300

200
φ
g
100 Limite devido a Eg

δg
0
−800 −600 −400 −200 0 200 400 600 800
Potência Reativa (MVAr)

Figura 1.10: Curva de capabilidade do gerador sı́ncrono do exemplo 1.2

Eg Vg
A potência expressa pela grandeza permite calcular o valor da tensão interna
Xg
da máquina (no caso para a tensão nominal de 24 kV) multiplicando este valor pelo fator
Xg
de escalonamento . A curva de capabilidade é determinada segundo a condição de
3Vg
operação nominal, e portanto a análise de diferentes condições de operação requer o cálculo
dos valores correspondentes da tensão de excitação. Se a tensão terminal da máquina é
Vg2 Vs2
diferente da tensão nominal, então o valor deve ser corrigido para (onde Vs é a
Xg Xg
magnitude da tensão de operação). Esta mudança altera o escalonamento da figura 1.10,
de tal forma que as quantidades obtidas através do diagrama devem ser re-escalonadas,
de modo a fornecer os valores efetivos de potência ativa e reativa da operação.

Ex. 1.3 Se o gerador do exemplo 1.2 está conectado a uma barra infinita e fornecendo
458,47 MW e 114,62 MVAr na tensão de 22,8 kV, calcule a tensão interna da máquina
utilizando o diagrama de capabilidade.
A figura 1.11 mostra a localização do ponto (114,62 MVAr, 458,47 MW) no diagrama
de capabilidade, cuja distância até o ponto limite de subexcitação (-368,31; 0) é a hipote-
nusa do triângulo retângulo indicado na figura: isto é,
Vg Eg p
= (458, 47 M)2 + ((114, 62 + 368.30) M)2 = 665, 88 M
Xg
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 15

tal que,  
665, 88 M 1, 5639
Eg = × = 25, 05 kV (tensão fase-neutro)
3 13, 85 k
ou alternativamente,
 
1, 5639
Eg = 665, 88 M × = 43, 39 kV (tensão de linha)
24 k

ou alternativamente,

800

700 Região de sub−excitação Limite devido a Ig Região de sobre−excitação

600
Potência Ativa (MW)

500 (114,62; 458,42)

400 Limite devido a sub−exc. Limite devido a Eg

300

200

100

0
−800 −600 −400 −200 0 200 400 600 800
Potência Reativa (MVAr)

Figura 1.11: Curva de capabilidade - exemplo 1.1

1.3 Sistemas Trifásicos Balanceados


A teoria de sistemas trifásicos é usada no estudo da operação das redes de energia elétrica
em regime permanente. Os equipamentos utilizados na operação desses sistemas são na
sua maioria trifásicos, o que justifica a aplicação da teoria apresentada nesta seção. O
texto a seguir sumariza alguns dos principais aspectos da representação dos circuitos
trifásicos. 1

1.3.1 Carga conectada em Y


A figura 1.12 mostra uma fonte de tensão trifásica, conectada em Y , alimentando uma
carga trifásica balanceada (ou equilibrada, simétrica) conectada em Y . A fonte é suposta
ideal e portanto a sua impedância é desprezada. As tensões fase-neutro são balanceadas,
ou seja, iguais em magnitude e defasadas de 1200 . Considerando a seqüência de fase posi-
1
Alguns dos exercı́cios propostos no final deste capı́tulo foram baseados em [1] e [3].
16 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

+ + Ic

Vcn Van
Ia ZY ZY
- -

n N
-

Vbn ZY

+ Ib

Figura 1.12: Carga trifásica balanceada conectada em Y

tiva (ou abc) e tomando o fasor Van como referência, as tensões complexas são expressas
por
Van = Van ∠00 = Vf ∠00
Vbn = Vbn ∠ − 1200 = Vf ∠ − 1200
Vcn = Vcn ∠1200 = Vf ∠1200
onde Vf é a magnitude da tensão fase-neutro.
Do circuito da figura 1.12, as tensões de linha (ou fase-fase) são dadas por
Vab = Van − Vbn
= Vf ∠00 − Vf ∠ − 1200
= Vf (1∠00 − 1∠ − 1200 )

= 3Vf ∠300

Vbc = Vbn − Vcn


= Vf ∠ − 1200 − Vf ∠1200
= Vf (1∠ − 1200 − 1∠1200)

= 3Vf ∠ − 900

Vca = Vcn − Van


= Vf ∠1200 − Vf ∠00
= Vf (1∠1200 − 1∠00 )

= 3Vf ∠1500
Portanto, em sistemas trifásicos, balanceados, conectados em Y e com seqüência de
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 17

fase positiva,

Vab = 3Van ∠300

Vbc = 3Vbn ∠300 (1.8)
√ 0
Vca = 3Vcn ∠30

isto é,

• os fasores tensão de linha √
possuem módulo igual a 3 vezes a magnitude dos fasores
tensão fase-neutro (VL = 3Vf );

• os fasores tensão de linha são adiantados de 300 em relação aos correspondentes


fasores tensão fase-neutro.

Desde que as tensões fase-fase formam um triângulo que representa um caminho fe-
chado, a sua soma é zero, mesmo para sistemas desbalanceados; isto é,

Vab + Vbc + Vca = 0

e de maneira análoga,
Van + Vbn + Vcn = 0
A diferença de potencial entre os pontos neutros do gerador e da carga (figura 1.12) é

Vn − VN = VnN = 0.

As correntes de linha podem ser obtidas aplicando-se a lei da tensões de Kirchhoff e


supondo que a impedância de cada ramo da carga conectada em Y é ZY = ZY ∠θ, o que
resulta em
Van Vf ∠00
Ia = = = IL ∠ − θ
ZY ZY ∠θ

Vbn Vf ∠ − 1200
Ib = = = IL ∠ − 1200 − θ
ZY ZY ∠θ

Vcn Vf ∠ + 1200
Ic = = = IL ∠ + 1200 − θ
ZY ZY ∠θ
Vf
onde IL = é a magnitude da corrente de linha.
ZY
As correntes de linha do sistema trifásico mostrado na figura 1.12 são iguais em mag-
nitude e defasadas de 1200 e por isso também são balanceadas. A corrente no neutro é
dada por
In = Ia + Ib + Ic
e é nula para o circuito trifásico em questão. Se o sistema é balanceado, a corrente no
neutro é zero para qualquer valor de impedância variando desde curto-circuito até circuito
18 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

aberto. Se o sistema não é balanceado, as correntes de linha não serão balanceadas e uma
corrente não nula flui entre os pontos n e N.
A potência complexa em cada ramo da carga é dada por

Sa = Van I∗a
= Vf IL ∠θ

Sb = Vbn I∗b
= Vf ∠ − 1200IL ∠1200 + θ
= Vf IL ∠θ

Sc = Vcn I∗c
= Vf ∠ + 1200 IL ∠ − 1200 + θ
= Vf IL ∠θ

e a potência complexa trifásica é expressa como

S3φ = Sa + Sb + Sc
= 3Vf IL ∠θ
VL
= 3 √ IL ∠θ
3
e portanto √
S3φ = 3VL IL ∠θ (1.9)

1.3.2 Carga conectada em ∆


A figura 1.13 mostra um sistema trifásico, com a fonte conectada em Y e a carga conectada
em ∆. A carga é representada por uma impedância Z∆ = Z∆ ∠θ. Adotando-se a mesma
seqüência de fases (positiva) e o mesmo fasor de referência angular (Van ) do caso anterior,
as correntes em cada ramo da conexão ∆ são dadas por

Vab 3Vf ∠300
Iab = =
Z∆ Z∆ ∠θ


Vbc 3Vf ∠ − 900
Ibc = =
Z∆ Z∆ ∠θ


Vca 3Vf ∠1500
Ica = =
Z∆ Z∆ ∠θ
Essas correntes são balanceadas
√ para qualquer valor do ângulo da impedância Z∆ e
3Vf
possuem magnitude igual a If = .
Z∆
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 19

+ + Ic

Vcn Van
Ia Z∆
- -
Z∆ Z∆
-

Vbn

+ Ib

Figura 1.13: Carga trifásica balanceada conectada em ∆

As correntes de linha são equilibradas e podem ser determinadas através da aplicação


da lei das correntes de Kirchhoff; isto é,

Ia = Iab − Ica = 3If ∠ − θ

Ib = Ibc − Iab = 3If ∠ − θ − 1200

Ic = Ica − Ibc = 3If ∠ − θ − 2400

ou, alternativamente,

Ia = 3Iab ∠ − 300

Ib = 3Ibc ∠ − 300 (1.10)
√ 0
Ic = 3Ica ∠ − 30

Portanto, para uma carga balanceada conectada em ∆ e suprida com tensões trifásicas
balanceadas em seqüência de fase positiva,


• a magnitude das correntes de linha é igual a 3 vezes a magnitude das correntes
nos ramos da conexão ∆;

• os fasores correntes de linha estão atrasados de 300 em relação aos fasores corres-
pondentes às correntes nas fases do ∆.

No caso da carga equilibrada conectada em ∆, a potência complexa em cada fase é


20 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

dada por

Sab = Vab I∗ab


= VL ∠300 If ∠ − 300 + θ
= VL If ∠θ

Sbc = Vbc I∗bc


= VL ∠ − 900 If ∠ + 900 + θ
= VL If ∠θ

Sca = Vca I∗ca


= VL ∠1500If ∠ − 1500 + θ
= VL If ∠θ

e a potência complexa trifásica é expressa como

S3φ = Sa + Sb + Sc
= 3Vf IL ∠θ
VL
= 3 √ IL ∠θ
3
e portanto √
S3φ = 3VL IL ∠θ
que é a mesma representada pela Eq. (1.9).
Das equações deduzidas anteriormente, o módulo da impedância da carga conectada
em Y é dada por
Vf
ZY = √
3If
e da carga conectada em ∆ é expressa como

3Vf
Z∆ =
If

Se as cargas conectadas em Y e ∆ são equivalentes, a combinação dessas equações


fornece a relação
Z∆
ZY =
3
Na solução de circuitos trifásicos balanceados, apenas uma fase precisa ser analisada.
As conexões ∆ são convertidas em Y , com o neutro das cargas e dos geradores aterrados
por um condutor de impedância infinita. Com este artifı́cio, o circuito correspondente a
uma fase é resolvido e as correntes e tensões nas outras fases são iguais em magnitude a
da fase em análise e defasadas de 1200 .
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 21

Ex. 1.4 Num sistema trifásico balanceado, dois geradores conectados a barramentos dis-
tintos suprem uma carga através de duas linhas de transmissão, cada uma com impedância
igual a 0,1+j1,0 Ω/fase. A carga absorve 30 kW, com fator de potência 0,8 atrasado. Su-
ponha que o gerador G1 supre 15 kW, com fator de potência 0,8 atrasado, na tensão de
380 V. Adotando a seqüência positiva de fases e o fasor Van como referência, determine:

1. os fasores tensão de linha nos terminais da carga e nos terminais do gerador G2 ;

2. a potência complexa suprida pelo gerador G2 e o fator de potência com que opera o
gerador G2 ;

3. as perdas de potência ativa e reativa nas linhas de transmissão;

4. o rendimento do sistema de transmissão;

5. a compensação reativa necessária para a correção do fator de potência da carga para


0,95 atrasado e as impedâncias equivalentes a esta compensação, supondo que as
mesmas estão conectadas em ∆ e sujeitas a tensão da carga calculada no item (1);

6. a magnitude da corrente fornecida pela compensação reativa, supondo que a magni-


tude da tensão calculada no item (1) é mantida constante.

1.4 Sistema Por Unidade


Uma quantidade no sistema por unidade (pu) é definida como a razão entre o valor real
da grandeza e o valor base da mesma grandeza selecionado como referência; isto é

V alor real (volts, amps, ohms, watts, ...)


Quantidade em p.u. =
V alor base (volts, amps, ohms, volt − ampère, ...)

Com relação a esta definição, os seguintes aspectos devem ser observados:

• a quantidade em pu é adimensional;

• o valor base é sempre um número real;

• o ângulo de uma quantidade em pu é sempre o mesmo da quantidade verdadeira;

• valor percentual = Valor p.u. × 100.

O sistema percentual é mais conveniente para expressar valores de impedância (ou ad-
mitância). No caso do cálculo de tensões, correntes etc, o uso do sistema percentual pode
resultar em valores discrepantes, sendo portanto o sistema por unidade mais adequado
para esta finalidade. Por exemplo, uma corrente de 1,0 pu através de uma impedância de
0,02 pu resulta numa queda de tensão de 0,02 pu (ou 2%). A utilização dos correspon-
dentes valores percentuais (corrente de 100% e impedância de 2%) resulta numa queda
de tensão de 200%, o que é um valor incorreto.
22 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

1.4.1 Seleção dos valores base


A escolha dos valores base é feita considerando um elemento genérico de circuito, no qual
quatro quantidades inter-relacionadas (tensão, corrente, impedância e potência) definem
a referida especificação. O seguinte procedimento é adotado:

1. dois valores base (entre tensão, corrente, impedância e potência) são arbitrariamente
selecionados num determinado ponto do sistema;

2. os outros dois valores base são calculados utilizando-se as relações entre tensão, cor-
rente, impedância e potência num circuito monofásico. Por exemplo, em sistemas de
energia elétrica geralmente a tensão (Vb ) e a potência são escolhidas como grandezas
base (Sb ). Então os valores de corrente base (Ib ) e impedância base (Zb ) são dados
por, por
Sb Vb V2
Ib = Zb = ou Zb = b
Vb Ib Sb
Isto permite interpretar a impedância base Zb como um elemento de circuito mo-
nofásico, o qual submetido a uma tensão base de valor Vb fornecerá uma corrente base de
valor Ib e uma potência base igual a Sb .
É importante ressaltar que a quantidade adotada como base para o cálculo da potência
ativa e da potência reativa no sistema por unidade é a potência aparente base, isto é,

Pb = Qb = Sb

expressa em Volt-Ampère (VA). De maneira análoga, a quantidade base para o cálculo


da resistência e da reatância no sistema por unidade é a impedância base, isto é,

Rb = Xb = Zb

expressa em Ohms (Ω); e a admitância base é dada por


1
Yb =
Zb
é expressa em Siemens (S).

1.4.2 Base em Termos de Valores Trifásicos


Redes de energia elétrica geralmente são sistemas trifásicos. Por esta razão, os valores base
são especificados em termos de quantidades trifásicas, isto é, potência trifásica, tensão de
linha e corrente de linha. Denotando

• Sb1φ : a potência base do circuito monofásico;

• Vbf : a tensão base do circuito monofásico (fase-neutro);

• Sb3φ : a potência base do circuito trifásico;

• VbL : a tensão base do circuito trifásico (fase-fase ou de linha);


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 23

e lembrando que em sistemas trifásicos equilibrados



Sb3φ = 3Sb1φ VbL = 3Vbf

as seguintes relações podem ser estabelecidas:

Sb1φ Sb3φ /3 S
Ib = = √ = √ b3φ
Vbf VbL / 3 3VbL

Vbf VbL / 3 V2
Zb = = √ = bL
Ib Sb3φ / 3VbL Sb3φ
Num sistema de potência trifásico, as seguintes regras são adotadas para a especificação
das quantidades base:

1. o valor de potência aparente trifásica base Sb3φ é o mesmo ao longo de todo o sistema;

2. a relação entre as tensões de linha base nos lados do transformador é igual aquela
entre os valores nominais da tensão do transformador, ou seja, a tensão de linha base
passa através do transformador trifásico segundo a sua relação nominal de tensões
de linha.

Ex. 1.5 Considere o sistema trifásico representado no diagrama unifilar da figura 1.14.
Os dados dos geradores e das cargas são mostrados nas tabelas 1.1 e 1.2.

Linha de transmissão 1 Linha de transmissão 2


Carga 1
Gerador 1 Gerador 2
Carga 2
Carga 3
1 2 3

Figura 1.14: Diagrama unifilar do exemplo 1.5

Tabela 1.1: Dados dos geradores


Gerador Snom Vnom cos φ Conexão
(kVA) (V)
1 25 460 0,8 atrasado Y
2 35 460 0,9 atrasado ∆

Assuma que;

• A impedância da linha de transmissão entre o gerador 1 e a carga é 1,4 +j1,6 Ω/fase,


e da linha de transmissão entre o gerador 2 e a carga é 0,8 +j1,0 Ω/fase.
24 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

Tabela 1.2: Dados das Cargas


Carga Pdi Qdi Sdi cos φ Conexão
(kW) (kVAr) (kVA)
1 20 0,8 atrasado Y
2 12 0,9 adiantado ∆
3 15 1,0 Y

• O gerador 1 supre 20 kW a um fator de potência 0,8 atrasado, na tensão nominal.

• A potência das três cargas seja independente da tensão de alimentação.

Adote os valores de placa do gerador 1 como base e determine:


1. o diagrama de impedâncias no sistema por unidade na base mencionada;
2. a corrente da carga 1, em pu e em ampéres;
3. a tensão nos terminais do gerador 2, em pu e em volts;
4. a potência aparente suprida pelo gerador 2, em pu e em kVA;

1.4.3 Mudança de Base


Em geral, os equipamentos dos sistemas de potência apresentam na sua placa o valor per-
centual da impedância, calculada com base nos valores nominais do próprio equipamento.
Desde que os componentes do sistema de energia elétrica possuem valores nominais dife-
rentes, para se fazer cálculos no sistema por unidade é necessário referir todas as grandezas
a uma base comum. Para efetuar esta mudança de base, suponha que a impedância do
equipamento (em pu) seja expressa como
Z real Sb antiga
Zbpuantiga = = Z real
Zb antiga Vb2 antiga

e que é necessário referir este valor a uma nova base, tal que
Sb nova
Zbpunova = Z real
Vb2 nova
A combinação dessas duas últimas equações fornece
  2
pu pu Sb nova Vb antiga
Zb nova = Zb antiga
Sb antiga Vb nova
que é a relação utilizada para efetuar a mudança de base 
requerida.
Vb antiga
Observe que, no caso dos transformadores a relação deve ser calculada
Vb nova
com valores base correspondentes a um mesmo lado do transformador.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 25

Ex. 1.6 A placa de um gerador sı́ncrono apresenta os seguintes valores: 50 MVA; 13,8
kV; 20 %. Calcular:
1. a reatância deste equipamento no sistema por unidade na base 100 MVA, 12 kV;
2. o valor da reatância em unidades reais.

1.5 Exercı́cios
1.1 Os valores nominais de um gerador sı́ncrono trifásico são 50 kVA, 480 V (Y), fator
de potência 0,8 atrasado; 60 Hz, 6 polos, reatância sı́ncrona 1,0 Ω/f ase. Suponha que o
gerador está conectado a uma turbina a vapor capaz de suprir até 45 MW. As perdas por
atrito e ventilação totalizam 1,5 kW e as perdas no cobre valem 1,0 kW.

1. Determine o diagrama de capabilidade deste gerador;

2. Verifique se este gerador pode suprir uma corrente de linha de 56 A com fator de
potência 0,70 atrasado.

3. Qual a máxima quantidade de potência reativa que este gerador pode produzir?

4. Se o GS fornece 30 kW, qual a máxima quantidade de potência reativa que pode ser
suprida simultaneamente?
1.2 Uma fonte trifásica operando na tensão de 380 V supre duas cargas trifásicas balan-
ceadas cujas caracterı́sticas são:
1. carga 1: 15 kW, fator de potência 0,6 atrasado;
2. carga 2: 10 kVA, fator de potência 0,8 adiantado;
Adotando a base trifásica de 10 kVA e 380 V na fonte, determine:
1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;
2. o valor da corrente fornecida pela fonte em pu e em ampères;
3. o valor da reatância em pu/fase e em Ω/fase, da compensação reativa necessária
para tornar unitário o fator de potência da carga composta, supondo constante a
magnitude da tensão da fonte;
4. o valor da corrente fornecida pela fonte após a compensação reativa em pu e em
unidades reais.
1.3 Determine a corrente fornecida por uma linha de transmissão trifásica, com im-
pedância igual a 0,3+j1,0 Ω/fase, a um motor de 15 HP operando a plena carga, com
rendimento de 90%, fator de potência de 0,80 em atraso e tensão de 440 V. Calcule
a magnitude da tensão e a potência complexa na entrada da linha de transmissão, e a
potência complexa absorvida pela mesma. Adote os valores de operação do motor como
base. (1 HP(Horse Power) = 745,7 watts.)
26 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

1.4 Uma planta industrial necessita instalar um compressor para recalcar água de um
poço semi-artesiano. O compressor é alimentado por uma linha trifásica, conectada no
secundário do transformador da subestação de suprimento local. A tensão no secundário
do transformador trifásico é de 220 V, a corrente absorvida pelo motor do compressor é
de 100 A, com fator de potência 0,7 em atraso, e a linha trifásica tem uma impedância
de 0,1 +j 0,05 Ω/fase. Determine (em valores reais e pu, na base 20 kVA, 220 V.):

1. os fasores das tensões de fase e de linha no motor e no secundário do transformador;

2. as potências ativa e reativa absorvidas pelo motor do compressor e fornecidas pelo


secundário do transformador;

3. a capacidade de um banco trifásico de capacitores que deve ser ligado em paralelo


com o motor do compressor a fim de que o conjunto trabalhe com fator de potência
0,9 indutivo;

4. as potências ativa e reativa fornecidas pelo secundário do transformador, nas condições


de operação do item anterior, supondo que tensão no conjunto compensação-carga
permanece constante.

1.5 Uma carga trifásica absorve 250 kW com um fator de potência de 0,707 em atraso
através de uma linha de transmissão trifásica de 400 V. Esta carga está conectada em
paralelo com um banco trifásico de capacitores de 60 kVAr. Determinar a corrente total
fornecida pela fonte e o fator de potência resultante. Repita estes cálculos excluindo o
banco de capacitores e mantendo a tensão na carga, e compare os valores da corrente
fornecida pela fonte. Adote a base de 250 kVA, 400 V

1.6 Um gerador supre duas cargas trifásicas conectadas em paralelo através de uma linha
de transmissão de impedância igual a 0,1+j1,0 Ω/fase. A primeira carga é um motor de
7,5 kW, operando com potência nominal na tensão de 440 V, com rendimento de 90% e
fator de potência 0,8 em atraso. A segunda carga é representada por três impedâncias de
20,0+j50,0 Ω/fase, conectadas em ∆. Adote a base 10 kVA, 440 V, e calcule (em pu e
valores reais):

1. a corrente de linha qua alimenta a carga total;

2. o valor da tensão na fonte;

3. as perdas de potência ativa e reativa (por fase) na linha de transmissão;

4. a potência complexa fornecida pela fonte com o correspondente fator de potência;

5. o diagrama fasorial das correntes e tensões na carga total.

1.7 Um gerador trifásico operando na tensão de 380 volts supre, através de uma linha
de transmissão com impedância 0,1 + j1,0 Ω/fase, uma carga trifásica que absorve uma
corrente de 50 Ampéres com fator de potência 0,8 em atraso. Supondo seqüência de
fases positiva e tomando o fasor tensão fase-neutro na fase a da carga como referência,
determinar em pu (na base 10 kVA, 380 V) e em valores reais:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 27

1. os fasores tensão de fase e de linha na carga e no gerador;


2. as potências ativa e reativa na carga e no gerador;
3. a impedância por fase de uma conexão ∆, que associada em paralelo com a carga
torna unitário o fator de potência desta;
4. a magnitude da corrente fornecida pelo gerador após a adição da compensação rea-
tiva, supondo constante a magnitude da tensão do gerador.

1.8 Duas cargas trifásicas conectadas em paralelo são supridas por um gerador sı́ncrono,
com bobinas da armadura conectadas em Y e reatância sı́ncrona de 0,5 Ω/fase, através de
uma linha de transmissão de impedância 0,5 + j0,5 Ω/fase. A tensão interna do gerador é
380 V. A carga 1 consiste de três impedâncias de 6,0 + j9,0 Ω conectadas em ∆ e a carga
2 é composta de três admitâncias de 0,12+j0,16 S conectadas em Y. Supondo seqüência
de fases positiva e adotando o fasor tensão Vab como referência, determinar em pu (na
base 10 kVA, 380 V) e em valores reais:
1. os fasores corrente na linha de transmissão;
2. a potência complexa suprida à carga;
3. a perda de potência complexa na linha de transmissão;
4. o fator de potência com que opera cada uma das cargas, a carga total e o gerador
sı́ncrono;
5. os fasores corrente em cada fase da carga conectada em ∆.

1.9 Num sistema trifásico, um gerador sı́ncrono com valores de placa: 200 MVA, 16
kV, bobinas da armadura conectadas em Y com reatância sı́ncrona de 3 Ω/fase e fator
de potência 0,8 atrasado, supre uma carga trifásica, na tensão nominal, através de um
sistema de transmissão de impedância desprezı́vel. A carga consome 100 MVA com fator
de potência 0,8 em avanço. Adotando a seqüência de fases positiva, o fasor Van como
referência, e a base 200 MVA, 16 kV, calcule:
1. os fasores corrente de linha que suprem a carga;
2. a impedância por fase correspondente à carga, supondo esta conectada em ∆;
3. a potência complexa fornecida pelo gerador e o correspondente fator de potência;
4. a compensação reativa necessária pata tornar o fator de potência da carga compen-
sada igual a 0,95 adiantado.

1.10 Um gerador sı́ncrono trifásico supre uma carga através de um sistema de trans-
missão. Os valores de placa do gerador são: 50 kVA, 380 V, 0,5 Ω/fase, fator de potência
0,8 atrasado, 60 Hz, 1800 rpm. A impedância das linhas de transmissão é 0,1 + j0,4
Ω/ fase, e as caracterı́sticas da carga são: 25 kW, 360 V, fator de potência 0,9 atrasado.
Adote a seqüência de fases positiva e o fasor tensão de linha entre as fases a e b da carga
como referência.
28 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

1. determine a condição de operação do gerador sı́ncrono (fasores tensão de linha e


correntes, potências ativa e reativa, e fator de potência nos terminais de saı́da do
gerador);

2. as perdas totais de potência ativa e reativa no sistema de transmissão;

3. a compensação reativa necessária para tornar unitário o fator de potência da carga


(em termos de potência reativa e da impedância de uma conexão ∆);

4. a magnitude da corrente de linha da carga compensada, supondo que a tensão de


360 V é mantida.

1.11 Considere o sistema trifásico da figura 1.16, cujos dados dos componentes são
mostrados na tabela 1.5. Adote a sequência de fase positiva ( abc), a tensão fase-neutro
na barra 1 como referência, e os valores base 1000 kVA e 2, 4 kV na barra 1.

1 3 2
G2
G1
~ M
~
~ Banco Cap.

Figura 1.15: Diagrama unifilar - exercı́cio 1.15

Tabela 1.3: Dados do sistema - exercı́cio 1.15


Componente Snom Vnom cosφ Z
(kVA) (V) (Ω/f ase)
Gerador 1 (Y ) 2500 2, 4 0, 9 0, 979
Gerador 2 (Y ) 1500 2, 4 0, 9 0, 864
Motor (Y ) 2000 2, 4 0, 8 1, 152
LT 1 − 3 – – – 0, 1152 + j0, 6912
LT 2 − 3 – – – 0, 2304 + j0, 8064
Banco Cap. – – – −j8, 5447

1. Determine o circuito equivalente do sistema no sistema por unidade.

2. Considere que o conjunto motor + banco capacitor consome 1684 kVA com fator de
potência 0, 95 atrasado, e que o gerador 1 injeta no sistema 1000 kVA com fator de
potência 0, 8 atrasado e tensão com valor 5% acima do nominal. Determine, em pu
e em unidades reais:

(a) a tensão e a corrente na carga;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 29

(b) a tensão terminal e a corrente de armadura no gerador 2;


(c) a potência gerada e o fator de potência do gerador 2;
(d) a condição de excitação (sub-excitado, sobre-excitado) dos geradores e do mo-
tor.

1.12 Deseja-se supir uma carga trifásica através de uma linha de transmissão de im-
pedância de 0,1 +j 0,05 Ω/fase. A tensão de entrada na linha de transmissão é 380 V e
a corrente absorvida pela carga é 250 A, com fator de potência 0,7 indutivo. Adotando os
valores base de 165 kVA e 380 V, determine
1. a tensão complexa na carga no sistema por unidade;

2. as potências ativa e reativa na entrada do sistema de transmissão, absorvida pela


carga trifásica e pelo sistema de transmissão, no sistema por unidade;

3. o valor em unidades reais da impedância de um banco trifásico de capacitores que


deve ser ligado em paralelo com a carga a fim de que a carga compensada opere com
fator de potência 0,9 atrasado;

4. as potências ativa e reativa na entrada do sistema de transmissão, nas condições


de operação do item anterior, supondo que as tensões na entrada do sistema de
transmissão e na carga compensada pemanecem as mesmas do item anterior.

1.13 Um gerador sı́ncrono trifásico, com as bobinas da armadura conectadas em ∆ e


valores de placa 30 kVA, 500 V, fator de potência 0,8, e reatância sı́ncrona de 24%, supre
um motor sı́ncrono com as bobinas de armadura conectadas em ∆ e valores nominais 20
kVA, 460 V, 20%, fator de potência 0,9, através de um circuito com reatância 2Ω/f ase.
O motor consome 18 kVA com fator de potência 0,85 em atraso, operando sob tensão
nominal e sequência positiva de fases. Adotando a tensão de linha nos terminais do
motor como referência e utilizando grandezas reais:
1. calcule a potência complexa trifásica fornecida pelo gerador e o seu fator de potência;

2. determine as tensões internas de linha na fase a do gerador e do motor.


3. Além disso, indique a condição de excitação do gerador e do motor (subexcitação
ou sobreexcitação). Justifique a sua resposta

1.14 Considere um motor sı́ncrono trifásico sendo suprido por um gerador sı́ncrono
através de uma linha de transmissão com perdas desprezı́veis. Os valores nominais do
gerador, do motor e da linha de transmissão são mostrados na tabela 1.4. Suponha que o
motor opera com tensão nominal, absorvendo 60 kW, com tensão de excitação 1,7 kV/fase
por fase. Adote os valores nominais de potência aparente e tensão do gerador como base,
e determine (em pu e em unidades reais):
1. o ângulo de potência (ou carga), a corrente de entrada e a potência complexa com
que opera o motor;

2. o fator de potência, a tensão terminal e a potência complexa suprida pelo gerador;


30 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

3. mantendo constante a magnitude da tensão de excitação e da tensão terminal do


gerador, qual a potência ativa máxima que pode ser suprida ao conjunto LT-carga;
4. para a condição estabelecida no item anterior, calcule a tensão terminal e a potência
complexa suprida ao motor.
Faça os cálculos no sistema Por Unidade.

Tabela 1.4: Dados dos componentes do sistema da questão 1.14


Componente Snom Vnom Ef X
(kVA) (kV) (kV/fase) (Ω/f ase)
Gerador sı́ncrono 150 2,3(Y) 22
Motor sı́ncrono 112 2,3(∆) 1,7 34
Linha de transmissão 2,3 5

1.15 Considere o sistema trifásico do diagrama da figura 1.16, cujos dados são mostrados
na tabela 1.5. Adote a sequência de fase positiva ( abc) e a tensão fase-neutro na barra 3
como referência.
1 2 3 M1
G1
~ ~
G2 ~ ~ M2
Carga Estática

Figura 1.16: Diagrama unifilar - questão 1.15

Tabela 1.5: Dados do sistema - questão 1.15


Componente Snom Vnom cosφ Z
(kVA) (kV) (Ω/f ase)
Gerador 1 (Y ) 2500 2, 4 0, 9 j0, 9
Gerador 2 (Y ) 1500 2, 4 0, 9 j0, 8
Motor 1 (∆) 1000 2, 4 0, 8 j1, 14
Motor 2 (∆) 1500 2, 4 0, 8 j1.53
Carga Estática (∆) – – – 18 + j9
LT 1 − 2 – – – 0, 11 + j0, 61
LT 2 − 3 – – – 0, 13 + j0, 70

Suponha que o motor 1 consome 900 kVA com fator de potência 0,9 adiantado, o motor
2 consome 1000 kVA com fator de potência 0,9 atrasado e que o gerador 2 opera com fator
de potência 0,8 atrasado injetando 1500 kVA no sistema. Os motores operam com tensão
terminal igual a 95% do valor nominal. Para essas condições operativas calcule:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 31

1. a tensão trifásica fase-neutro e fase-fase na barra 2 do sistema;

2. a potência trifásica consumida pela carga estática;

3. as correntes nas três fases da carga estática;


4. a corrente trifásica injetada pelo gerador 1;

5. a potência trifásica fornecida pelo gerador 1 e seu fator de potência.

1.16 Considere o diagrama unifilar da figura 1.17. Os valores nominais dos componentes
deste sistema são apresentados na tabela 1.6.

1 2 3
Carga

Gerador 1

Motor 1 Gerador 2 Motor 2

Figura 1.17: Diagrama unifilar do problema 1.16

Tabela 1.6: Dados dos componentes do sistema da questão 1.16


Componente Snom Vnom Z cosφ
(kVA) (V) (Ω/f ase)
Gerador sı́ncrono 1 50 480(∆) 3, 0 0,8 atrasado
Gerador sı́ncrono 2 60 480(Y) 1, 0 0,8 atrasado
Motor sı́ncrono 1 50 460(∆) 3, 0 0,8 atrasado
Motor sı́ncrono 2 50 480(Y) 1, 0 0,9 atrasado
Linha de transmissão 1-2 0,03+0, 08
Linha de transmissão 2-3 0,03+0, 08
Carga (conexão Y) 5,50+4, 00

A condição de operação destes equipamentos é a seguinte:


1. o motor sı́ncrono 1 consome 10 kW com fator de potência 0,8 em avanço;

2. o gerador sı́ncrono 2 produz 50 kW com fator de potência 0,9 em atraso;


3. o motor sı́ncrono 2 consome 45 kW com fator de potência 0,9 em atraso, na tensão
nominal.
Adote a sequência de fases positiva (abc) e a tensão fase-neutro (fase a) da barra 3
como referência, e determine:
32 Capı́tulo 1: Máquinas Sı́ncronas

1. a potência complexa total absorvida na barra 3 e a corrente complexa nas fases da


carga em unidades reais;

2. a tensão complexa na barra 2 em unidades reais e a magnitude da corrente nas


linhas 1-2 e 2-3 em unidades reais;

3. a potência complexa total fornecida pelo gerador 2 em unidades reais;

4. a magnitude da tensão interna no gerador 1 e no motor 1 em unidades reais;

5. a potência complexa total fornecida pelo gerador 1 em unidades reais;


Capı́tulo 2

Representação dos Sistemas de


Potência

2.1 Introdução
Em estudos de redes elétricas em regime permanente, os sistemas trifásicos equilibra-
dos são modelados analiticamente pelo diagrama de impedâncias de uma fase do circuito
Y equivalente. Cada elemento constituinte do diagrama unifilar é representado por um
circuito monofásico de seqüência positiva, com os parâmetros e variáveis da rede elétrica
expressos no sistema por unidade. Este capı́tulo mostra como este circuito é determinado.
Para esta finalidade, três aspectos fundamentais são apresentados. O primeiro é o dia-
grama unifilar, que fornece uma idéia sobre a estrutura e a conexão dos componentes do
sistema, e à partir do qual é possı́vel determinar o diagrama de impedâncias. O segundo é
a representação do diagrama de impedâncias no sistema por unidade, o que visa facilitar
os cálculos de correntes e tensões no circuito elétrico. O terceiro é a modelagem analı́tica
dos componentes da rede elétrica em termos de elementos de circuitos. Isto permite obter
um modelo do sistema de potência em termos de equações obtidas aplicando-se as leis de
circuitos elétricos, cuja solução fornece os subsı́dios para a análise da rede elétrica.

2.2 Diagrama Unifilar


O diagrama unifilar é um tipo de representação dos sistemas de potência que fornece de
maneira concisa as informações significativas sobre o mesmo. Os padrões utilizados para
este tipo de representação foram instituı́dos pela ANSI (American National Standards
Institute) e pelo IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers). Alguns dos
principais sı́mbolos utilizados para construir o diagrama unifilar são mostrados na tabela
2.1.
A figura 2.2 apresenta um exemplo de diagrama unifilar no qual os ı́ndices 1 e 2 situados
sobre as linhas verticais indicam as duas barras do sistema. As bobinas da armadura
dos geradores G1 , G2 e G3 estão conectadas em Y com o neutro aterrado através das
impedâncias Zng1 , Zng2 e Zng3 . Os geradores G1 e G2 e a carga 1 estão conectados ao
mesmo barramento e portanto sujeitos a mesma tensão. De maneira análoga, o gerador
G3 impõe a tensão na barra 2, à qual está conectada a carga 2. Suponha que:
34 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

Maquina rotativa Fusı́vel

Transformador de Disjuntor a ar
dois enrolamentos
Transformador de Conexão Delta
três enrolamentos

Disjuntor Conexão Y
sem aterramento
Transformador de
corrente Conexão Y
Zn aterrado com Zn
ou Transformador de
potencial

A Amperı́metro Conexao Y
solidamente aterrado

Voltı́metro
V

Figura 2.1: Diagrama unifilar - Principais sı́mbolos

1 2

Zng1 Zng3
G1 T1 T2 G3

Zng2 G2 LT

Carga 1 Carga 2

Figura 2.2: Diagrama unifilar - Exemplo

1. a linha de transmissão que conecta os transformadores T1 e T2 é representada por


um circuito π (nominal ou equivalente);

2. cada transformador é representados por um circuito T ;

3. as cargas são modeladas analiticamente em termos de potência constante.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 35

O circuito monofásico equivalente ao diagrama unifilar mostrado na figura 2.3.

Barra 1 Carga 1 Barra 2

Geradores 1 e 2 Trafo 1 Linha de transmissão Trafo 2 Carga 2 Gerador 3

Figura 2.3: Circuito monofásico equivalente - Exemplo

Observe que, sob condições de operação balanceada em regime permanente a im-


pedância de aterramento dos geradores conectados em Y não é considerada, pois a cor-
rente que flui do neutro dos geradores para a terra é nula.

2.3 Transformadores
As principais caracterı́sticas do transformador são:
1. os enrolamentos possuem resistência, às quais estão associadas perdas de potência
ativa;

2. a permeabilidade do núcleo é finita e portanto uma corrente de magnetização é


necessária para manter o fluxo magnético no núcleo;

3. o fluxo magnético não está inteiramente confinado ao núcleo;

4. existem perdas de potência ativa e de potência reativa no núcleo.


Na figura 2.4, a força magnetomotriz que produz o fluxo magnético no núcleo é dada
por
N1 I1 − N2 I2 = ℜc φc
tal que re-agrupando os termos desta equação obtém-se
ℜc φc N2
I1 = + I2 (2.1)
N1 N1
O primeiro termo da Eq. (2.1) é denominado corrente de excitação e representa a
parcela da corrente I1 necessária para produzir o fluxo φc no núcleo. Esta corrente existe
mesmo com os terminais do secundário em circuito aberto, pois um fluxo magnético no
núcleo é necessário para induzir a tensão nas bobinas do secundário.
O segundo termo é a componente da carga da corrente fornecida ao terminal primário,
o qual é zero na operação do transformador à vazio. Esta corrente cresce à medida em que
36 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

permeabilidade µc
seção transversal Ac

φc
I2
I1
Bobina 1 Bobina 2 +
+
N1 N2 V2
V1

comprimento médio lc

Figura 2.4: Diagrama unifilar - Exemplo

a carga é adicionada ao terminal secundário do transformador, tornando-se muito mais


elevada do que a corrente de excitação. Desta forma, mesmo para um transformador real
sob condições de carga pode-se escrever
I1 N2

I2 N1
A corrente de excitação, denotada Iφ , é composta de duas componentes, uma repre-
sentando a parcela necessária para a magnetização do núcleo (denotada Im ) e a outra
responsável pelas perdas de potência ativa no núcleo (denotada Ic ). Isto é expresso ana-
liticamente por
Iφ = Im + Ic
A corrente que supre as perdas no núcleo também é composta de duas parcelas, uma
relacionada às perdas por correntes parasitas (de Focault) e outra relacionada às perdas
por histerese.
A histerese ocorre porque uma variação cı́clica do fluxo no interior do núcleo resulta
em energia dissipada em forma de calor. Este efeito pode ser reduzido utilizando-se ligas
de aço para construir o núcleo.
As correntes parasitas são induzidas no interior do núcleo perpendicularmente ao fluxo
magnético. Elas podem ser reduzidas construindo-se o núcleo com lâminas de uma liga
de aço.
Conforme visto anteriormente, segundo a lei de Faraday,

E1 = N1 (jω)φc (2.2)

isto é, a tensão E1 está adiantada do fluxo magnético φc de 900 .


Lembrando que Nφ = λ = Li, no núcleo

N1 φc = Lm Im
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 37

onde Lm é a indutância do núcleo e Im é a corrente que percorre a indutância do núcleo.


A Eq. (2.2) é re-escrita como

E1 = N1 (jω)φc = jωLm Im = jXm Im

onde Im é a corrente de magnetização que produz o fluxo no núcleo e Xm é a reatância


de magnetização do núcleo.
A última equação pode também ser obtida combinando as equações (2.1) e (2.2). Isto
fornece
 
ℜc −jE1 N2
I1 = + I2
N1 N1 ω N1

−jℜc E1 N2
= + I2
N12 ω N1


= Im + I2

onde Im e I2 representam respectivamente as correntes de excitação e de carga, esta última
referida ao primério.
A análise da equação
ℜc
Im = −j 2 E1
N1 ω
revela que Im está atrasada de 900 em relação a E1 , sendo portanto a quantidade Bm =
ℜc
interpretada como uma susceptância que representa o efeito indutivo no núcleo.
N12 ω
As perdas por histerese e correntes parasitas são representadas por um ramo shunt
1
adicional contendo uma resistência (ou condutância) Rc = , através da qual circula
Gc
uma corrente de perda Ic .
Essas considerações conduzem ao circuito equivalente mostrado na figura 2.5, o qual

inclui as correntes de magnetização e de perdas no núcleo. Nesta figura, I1 é a componente
da carga na corrente fornecida ao primário do transformador e Rc é a resistência shunt que
representa as perdas por histerese e correntes parasitas. Os parâmetros R1 , X1 , R2 e X2
são denominados parâmetros longitudinais enquanto Rc e Xm são chamados parâmetros
transversais.
Observe que o circuito equivalente é determinado de forma a satisfazer as leis de
′ ′
Kirchhoff. As impedâncias de dispersão dos enrolamentos R1 , X1 , R2 e X2 representam
as perdas Joule e a indutância própria das bobinas do primário e secundário.
A admitância do núcleo
1 1
Ym = + = Gc − jBm
Rc jXm
representa as perdas no núcleo e a potência reativa necessária para magnetizar o núcleo.
Portanto, se uma tensão alternada é aplicada nos terminais do enrolamento primário
de um transformador real, com o terminal secundário em circuito aberto, surge uma
38 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência


R1 jX1 I1 jX2 R2
I1 I2
Iφ + +
+ +
Ic Im
V1 Rc jXm E1 E2 V2

− − − −

a:1
Transformador
ideal

Figura 2.5: Transformador monofásico de dois enrolamentos

pequena corrente de regime Iφ (corrente de excitação). Esta corrente é responsável pelo


estabelecimento de um fluxo alternado no circuito magnético, pois neste caso a relutância
não é zero, necessitando-se assim de uma força-magnetomotriz não nula para estabelecer
este fluxo.

2.3.1 Circuito Equivalente


O circuito equivalente do transformador monofásico obtido eliminando-se o transformador
ideal é mostrado na figura 2.6. Neste caso, os parâmetros R2 e X2 estão referidos ao lado
1.
′ ′
I1 R1 jX1 jX2 R2 I2

+ +

V1 Rc jXm V2

− −

Figura 2.6: Transformador monofásico de dois enrolamentos

No que diz respeito aos transformadores utilizados em sistemas de potência, observa-se


que:
• em geral a corrente de excitação é aproximadamente 5 % da corrente nominal tal
que, a menos que a corrente de excitação seja de particular interesse, costuma-se
desprezar Iφ ;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 39

• transformadores de grande porte, com potência aparente nominal maior do que 500
kVA, possuem enrolamentos com as resistências desprezı́veis quando comparadas
com as reatâncias de dispersão, e portanto essas resistências podem ser desprezadas.

Isto possibilita utilizar os circuitos equivalentes mostrados nas figuras 2.7 e 2.8. Nesses
circuitos, os parâmetros do transformador referidos ao lado 1 são dados por
 2
N1
Req = R1 + R2
N2
 2
N1
Xeq = X1 + X2
N2
sem a inclusão do ramo de magnetização.

I1 I2
Req Xeq

+ +

V1 V2

− −


Req = R1 + R2

Xeq = X1 + X2

Figura 2.7: Circuito equivalente do transformador para estudos



em sistemas de potência
I1 I2
Xeq

+ +

V1 V2

− −


Xeq = X1 + X2

Figura 2.8: Circuito equivalente do transformador para estudos em sistemas de potência

Os valores base de tensão e corrente nos dois lados do transformador monofásico estão
40 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

relacionadas da mesma forma que os valores nominais dessas quantidades, isto é,
VbAT VnomAT
=
VbBT VnomBT
IbAT InomAT
=
IbBT InomBT
Por esta razão, o sistema por unidade apresenta as seguintes vantagens:
1. as impedâncias e admitâncias do transformador expressas em pu não se modificam
quando referidas aos lados de alta tensão ou de baixa tensão, evitando-se desta
forma os erros de cálculos provenientes de se referir as grandezas a um lado ou ao
outro do transformador;

2. os fabricantes de equipamentos especificam as impedâncias das máquinas e trans-


formadores nos sistemas por unidade ou percentual, adotando como base os valores
nominais do equipamento.

Ex. 2.1 Uma carga de 15 kW com fator de potência 0,8 atrasado, é suprida na tensão
de 110 V por um transformador monofásico de dois enrolamentos com valores nominais
20 kVA, 480/120 V, 60 Hz e impedância equivalente referida ao lado de baixa tensão de
0,0525 ∠78, 130 Ω. Selecione valoes base para a potência e tensão, e determine:
• o circuito monofásico equivalente em pu;

• a tensão, a corrente, a potência aparente e o fator de potência na entrada no trans-


formador;

• o rendimento e a regulação do transformador operando nesta condição.

• a compensação de potência reativa necessária para tornar o fator de potência da


carga igual a 0,9 atrasado;

• a impedância equivalente a esta compensação, supondo que a tensão na carga é


mantida;

• a corrente fornecida pelo gerador e pela compensação reativa, supondo que a tensão
na carga é mantida;

2.3.2 Autotransformadores
Conforme verificado previamente, num transformador convencional como aquele repre-
sentado na figura 2.9 as bobinas são acopladas apenas magneticamente, via fluxo mútuo
no núcleo.
O autotransformador é um dispositivo no qual as bobinas estão acopladas elétrica e
magneticamente. Isto representa a principal diferença entre este tipo de equipamento e o
transformador convencional.
As figuras 2.10 e 2.11 ilustram duas possı́veis estruturas de um autotransformador
monofásico construı́do à partir do transformador convencional da figura 2.9.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 41

I1 I2

+ +
V1 V2
− −
a:1

Figura 2.9: Transformador de dois enrolamentos

Por causa da conexão elétrica entre os enrolamentos, o autotransformador possui uma


eficiência maior do que a do transformador convencional. A corrente de excitação é mais
baixa e o seu custo é mais reduzido (se a relação de transformação não é demasiadamente
elevada).
Uma desvantagem dos autotransformadores é que, devido a conexão elétrica dos en-
rolamentos, as sobretensões transitórias passam mais facilmente através do autotransfor-
mador.
A seleção das quantidades base no autotransformador é feita da mesma forma que no
transformador convencional. A potência aparente base é a mesma em ambos os lados
do autotransformador e a relação entre as tensões base é igual àquela entre as tensões
nominais.
A impedância de um transformador convencional em unidades reais conectado como
autotransformador não se modifica por efeito desta conexão. Porém, desde que os va-
lores nominais do autotransformador e do transformador convencional são distintos, as
impedâncias destes equipamentos expressas em pu também serão diferentes. O valor da
impedância de dispersão (em unidades reais) a ser dividido pelo valor base deve ser o
mesmo em ambos os casos, ou seja, aquele que seria determinado no ensaio de curto cir-
cuito em ambos os transformadores. Note que no caso do autotransformador, este ensaio
pode ser feito apenas através de um lado do equipamento, aquele que fornece o mesmo
valor de impedância que o ensaio do transformador convencional.

Ex. 2.2 No ensaio de curto circuito para um transformador monofásico de dois enrola-
mentos, com valores de placa 10 kVA, 2500/115 V, 60 Hz, foram medidas as seguintes
grandezas: 93 watts, 162 V e 4 A. Determine:
1. os valores de placa de um autotransformador com relação de transformação 2500/2615
V, construı́do à partir deste transformador monofásico.

2. o circuito equivalente do transformador e do autotransformador no sistema por uni-


dade, adotando como base os valores nominais desses equipamentos;

3. a tensão, a corrente, a potência aparente na entrada e as perdas de potência ativa e


reativa (em pu e em unidades reais) quando cada um deste equipamentos supre uma
carga nominal com fator de potência 0,8 atrasado, na tensão nominal nos respectivos
lados de alta tensão.
42 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

I1

+ +

V1
I1 + I2
− V1 + V2

I2 V2
− −

Figura 2.10: Estrutura básica do autotransformador (a)


I1

− +

V1
I1 − I2
+ −V1 + V2

I2 V2
− −

Figura 2.11: Estrutura básica do autotransformador (b)

2.3.3 Transformadores Trifásicos


Um banco trifásico de transformadores é constituı́do alternativamente

• pela conexão de três transformadores monofásicos idênticos;

• pela conexão adequada de um mı́nimo de seis bobinas iguais dispostas num mesmo
núcleo.

Cada um dos lados do banco trifásico pode ser conectado em Y ou em ∆, conforme


ilustra as figuras 2.12 e 2.13.
A placa do banco trifásico deve apresentar os valores nominais de:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 43

a A

′ ′
a A

b B

n ′ N
b
′ B

c C


c
′ C

Y Y

Figura 2.12: Conexões do transformador trifásico (a)

• potência aparente trifásica;

• valores numéricos das tensões de linha com os correspondentes tipos de ligação (Y


ou ∆);

• valor da impedância (no sistema por unidade ou no sistema percentual).

O circuito equivalente de um transformador trifásico apresenta as seguintes caracte-


rı́sticas:

1. Nas conexões ∆∆ e Y Y, as bobinas são rotuladas de tal maneira que não há defa-
sagem angular entre as grandezas dos lados de AT e BT . O circuito equivalente é
portanto semelhante ao do transformador monofásico convencional.

2. Nas conexões ∆Y e Y ∆, um deslocamento de fase é incluı́do no diagrama de


seqüência positiva. De acordo com a Norma Técnica, as tensões e correntes no
lado de AT de um transformador Y ∆ (de seqüência positiva ou abc) estão adianta-
das de 300 das suas correspondentes grandezas do lado de BT . No caso da seqüência
negativa (ou cba), as correntes e tensões do lado de BT estão adiantadas em relação
as correspondentes grandezas do lado de AT por 300 .
44 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

a A

′ ′
a A

b B

n ′
b
′ B

c C


c
′ C

Y ∆

Figura 2.13: Conexões do transformador trifásico (b)

O circuito equivalente (ou de seqüência positiva) dos transformadores trifásicos com


conexão Y-∆ é mostrado na figura 2.14. Note que neste tipo de conexão o deslocamento
angular de 300 deve ser levado em consideração.
A seleção de quantidades base para transformadores trifásicos é feita através do se-
guinte procedimento:

1. Uma potência aparente trifásica base é selecionada para ambos os lados (alta tensão
e baixa tensão) do transformador;

2. A relação entre as tensões-base nos dois lados do transformador é igual a relação


entre as tensões nominais de linha.

Ex. 2.3 Três transformadores monofásicos devem ser conectados para formar um banco
trifásico, com o lado de baixa tensão em Y e o lado de alta tensão em ∆. A placa de cada
transformador monofásico indica os valores 50 MVA, 13,8/138 kV, 0,381 Ω referida ao
lado de baixa tensão. Determinar o circuito equivalente do banco trifásico no sistema por
unidade.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 45

AT BT ′
I1 j300
I2
Req Xeq e : 1, 0

+ +


V1 V2

− −


Req = R1 + R2 Transformador
Xeq = X1 + X2
′ Defasador

Figura 2.14: Circuito de seqüência positiva - conexão Y-∆

2.3.4 Transformadores de Três Enrolamentos


O transformador monofásico de três enrolamentos consiste em três bobinas dispostas sobre
um mesmo núcleo. Os terminais dessas bobinas são denotados por BT (baixa tensão),
MT (média tensão) e AT (alta tensão) (ou 1, 2 e 3 (primário, secundário e terciário)), de
acordo com os seus valores nominais. Sua principal vantagem é a opção de dois valores
de tensão na sua saı́da. Em geral, os valores nominais deste tipo de transformador são
dados individualmente para cada bobina; isto é,

bobina 1 : Snom1 Vnom1


bobina 2 : Snom2 Vnom2
bobina 3 : Snom3 Vnom3

não sendo os valores nominais de potência aparente necessariamente iguais.


O diagrama de um transformador monofásico de três enrolamentos é mostrado na
figura 2.15. Supondo ideal este transformador, as seguintes relações são estabelecidas:

N1 I1 = N2 I2 + N3 I3

V1 V2 V3
= =
N1 N2 N3
A figura 2.16 mostra o circuito monofásico equivalente do transformador de três en-
rolamentos. Desde que as bobinas estão dispostas sobre um mesmo núcleo, apenas um
ramo de magnetização é incluı́do na representação do circuito monofásico. Os parâmetros
deste ramo são determinados via ensaio de circuito aberto.
O circuito equivalente de um transformador de três enrolamentos utilizado em estudos
de sistemas de potência é mostrado na figura 2.17. Neste circuito, são incluı́dos apenas os
ramos correspondentes às impedâncias dos enrolamentos. Os parâmetros correspondentes
são calculados através do ensaio de curto-circuito, efetuando-se as seguintes medidas:
46 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

I2
I1
+

N2 V2
+

N1 I3
V1
+
N3
− V3

Figura 2.15: Transformador monofásico de três enrolamentos

′ ′
R2 jX2

R1 jX1 +
′ ′
R3 jX3
+

+ V2
V1 Rc jXm

V3

− −

Figura 2.16: Transformador monofásico de três enrolamentos: circuito equivalente (a)


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 47


Z2
Z1
+

Z3
+
+ V2
V1
V3

− − −

Figura 2.17: Transformador monofásico de três enrolamentos circuito equivalente (b)

• Z12 : impedância de dispersão medida do enrolamento 1 com a bobina 2 curtocircui-


tada e a bobina 3 em circuito aberto; da figura 2.17,

Z12 = Z1 + Z2

• Z13 : impedância de dispersão medida do enrolamento 1 com a bobina 3 curtocircui-


tada e a bobina 2 em circuito aberto; da figura 2.17,

Z13 = Z1 + Z3

• Z23 : impedância de dispersão medida do enrolamento 2 com a bobina 3 curtocircui-


tada e a bobina 1 em circuito aberto; da figura 2.17,

Z23 = Z2 + Z3

Das últimas três equações,


1
Z1 = (Z12 + Z13 − Z23 )
2
1
Z2 = (Z12 + Z23 − Z13 )
2
1
Z3 = (Z13 + Z23 − Z12 )
2
Estas equações são utilizadas para o cálculo das impedâncias Z1 , Z2 , e Z3 , do circuito
equivalente do transformador de três enrolamentos, à partir das medidas obtidas nos testes
de curto-circuito, Z12 , Z13 , e Z23 . Note que para efetuar a soma indicada nessas equações,
Z12 , Z13 , e Z23 devem estar referidas ao mesmo lado do transformador.
Transformadores monofásicos idênticos de três enrolamentos também podem ser co-
nectados para formar um banco trifásico. O circuito equivalente do bando trifásico é
semelhante ao do transformador monofásico de três enrolamentos. No caso das conexões
Y − ∆, o deslocamento de fase (de 300 ) deve ser incluı́do no modelo.
A seleção das quantidades base para o transformador monofásico de três enrolamentos
é feita através do seguinte procedimento:
48 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

• uma base comum de potência aparente Sb é selecionada para todos os terminais;

• as tensões VbAT , VbM T e VbBT são selecionadas de acordo com as relações nominais
de tensão do transformador.

Ex. 2.4 Os valores nominais de um transformador monofásico de três enrolamentos e os


resultados do ensaio de curto circuito neste transformador são mostrados nas tabelas 2.1
e 2.2.

Enrolamento Tensão nominal Potência nominal


Primário 79674 V 10000 kV A
Secundário 24000 V 5000 kV A
Terciário 6600 V 5000 kV A

Tabela 2.1: Transformador de 3 enrolamentos - valores nominais

Ensaio Enrolamento Enrolamento Tensão Corrente no


No. excitado curto-circuitado aplicada enrolamento excitado
1 Primário Secundário 5000 V 125,52 A
2 Primário Terciário 15000 V 125,52 A
3 Secundário Terciário 2000 V 208,33 A

Tabela 2.2: Transformador de 3 enrolamentos - ensaio de curto circuito

1. Determine o circuito equivalente do transformador no sistema por unidade, na base


10 MVA e tensões nominais;

2. Três destes transformadores são conectados em Y(AT)/∆(MT)/∆(BT). Os termi-


nais de alta tensão são ligados a um barramento de 138 kV. Calcule em pu e em
unidades reais a corrente de curto circuito e a tensão de regime permanente nos
enrolamentos secundários do banco trifásico, se um curto circuito trifásico sólido
ocorre nos terminais dos enrolamentos terciários, com 138 kV mantidos nos termi-
nais dos enrolamentos primários;

3. Com relação ao item anterior, determine a tensão nos terminais do enrolamento se-
cundário e as correntes de linha nos terminais dos enrolamentos primário e terciário
em unidades reais.

2.3.5 Transformadores Com Tap Variável


1
Os transformadores reguladores (ou com tap variável) são geralmente utilizados para
controlar a magnitude (ajustes de ±10% e a fase (ajustes de ±3 graus) da tensão. Sob
1
O texto a seguir é baseado nas referências [3, 4].
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 49

certas condições, esses transformadores também são utilizados para controlar os fluxos
de potência ativa e reativa. Para controlar a magnitude da tensão, são utilizados basica-
mente os taps do transformador enquanto que para monitorar o fluxo de potência ativa é
necessário que conexões adicionais sejam feitas, de forma a modificar a defasagem entre
os fasores tensão nos terminais do equipamento.
No caso do controle da magnitude da tensão, um dos lados do transformador possui
uma bobina com taps, utilizados para variar o número de espiras, o que permite modificar a
relação de transformação das tensões. A figura 2.18 mostra o esquema de um equipamento
deste tipo, com relação nominal de tensões 220 V/380 V. Os taps estão no lado de 380 V,
para ajustar a magnitude da tensão em ±10% do valor nominal, em passos de 5%.
1,1
1,05
1,00 Taps
0,95
0,90

220 V 0, 9 × 380V 380 V 1, 1 × 380V

Figura 2.18: Transformadores com tap variável - diagrama esquemático

Os Transformadores com Comutação sob Carga (Load Tap Changing (LTC) ou Tap
Changing Under Load (TCUL)) permitem o ajuste do tap enquanto o transformador
está energizado. A variação do tap é operada por servo-motores comandados por relés
ajustados de forma a manter a tensão num determinado nı́vel. Circuitos eletrônicos
especiais permitem esta mudança sem interrupção de corrente.
A representação de um transformador monofásico com tap variável é mostrada na
figura 2.19. O transformador com relação de transformação a : 1 é ideal, tendo como
finalidade refletir a relação variável entre os fasores tensão. O parâmetro a pode ser um
número real ou complexo. Se apenas a magnitude da tensão é ajustada o parâmetro a
é um número real. Se o equipamento opera com valores nominais de tensão, a = 1 e o
circuito mostrado na figura 2.19 se reduz ao circuito monofásico equivalente convencional.

Ii Yeq 1:a Ij

+ + +
Vj
Vi Vj
a
- - -

Transformador
ideal

Figura 2.19: Transformador de tap variável - modelo analı́tico


50 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

Sob o ponto de vista da Teoria de Quadripolos, o modelo analı́tico do transformador


com tap variável é dado pela equação
    
Ii Yii Yij Vi
=
Ij Yji Yjj Vj

a qual pode ser estabelecida a partir da figura 2.19, observando-se que no transformador
ideal,
 
Vj
Si = I∗i
a

Sj = Vj I∗j

Ii = −a∗ Ij

onde a é um número complexo.


A combinação dessas equações fornece
 
Vj
Ii = Vi − Yeq
a

Yeq
= Vi Yeq − Vj
a

Yeq Yeq
Ij = −Vi ∗
+ Vj ∗
a aa

Yeq Yeq
= −Vi ∗
+ Vj 2
a |a|

Estas equações modelam analiticamente o transformador com tap variável da figura


2.19. Se o parâmetro a é um número complexo, Yij 6= Yji e portanto a matriz dos
coeficientes não é simétrica. Por outro lado, se o parâmetro a é um número real, a matriz
dos coeficientes é simétrica, tal que

Yii = Yeq

Yeq
Yjj =
a2

Yeq
Yij = Yji = −
a
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 51

Yeq
A=
Ii a Ij
✲ ✛

+ +
   
a−1 1−a
Vi B= Yeq C = Yeq Vj
a a2
− −

Figura 2.20: Circuito π-equivalente de um transformador com tap variável

Esses parâmetros resultam no circuito π-equivalente mostrado na figura 2.20, com


parâmetros

Yeq
A=
a
 
a−1
B= Yeq
a

 
1−a
C= Yeq
a2

Ex. 2.5 Um transformador trifásico possui os seguintes dados de placa: 1000 MVA,
13,8kV(∆)/345kV(Y), reatância de dispersão igual a 11,9025 Ω referida ao lado de alta
tensão. As bobinas de baixa tensão do transformador possuem taps com variação ± 10 %.

1. Determinar o circuito equivalente deste transformador no sistema por unidade,

• quando o tap é ajustado no valor nominal;


• quando o tap é ajustado em 10% acima do valor nominal.

2. Calcular a tensão, a corrente e a potência complexa na entrada do transformador,


quando este opera nas condições do item anterior, suprindo uma carga nominal,
com fator de potência 0,8 atrasado, na tensão nominal.

2.4 Linhas de transmissão


Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros:

• Resistência série: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela corrente
que flui através do condutor;
52 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

Zser

Ysh Ysh
2 2

Figura 2.21: Circuito π representativo da linha de transmissão

• Indutância série: que representa o campo magnético criado pela corrente que per-
corre o condutor;

• Condutância shunt: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela dife-
rença de potencial no meio que circunda os condutores;

• Capacitância shunt: que representa o campo elétrico resultante da diferença de


potencial entre os condutores.

Com base no comprimento l, três tipos de linha de transmissão são distingüidos:

• linhas de transmissão longas: l > 240 km;

• linhas de transmissão médias: 80 km < l ≤ 240 km;

• linhas de transmissão curtas: l ≤ 80 km.

Em geral, as linhas de transmissão são representadas por um circuito π, conforme


mostra a figura 2.21. Porém, apesar de menos freqüentemente, o circuito T também pode
ser utilizado para esta finalidade.
Tomando como referência o comprimento da linha de transmissão, as seguintes consi-
derações podem ser feitas:

• Linhas curtas: apenas os parâmetros série da linha são levados em conta, com a
impedância série da linha de transmissão sendo expressa por Zser = Rser + jXser .
Os parâmetros shunt da linha são desprezados.

• Linhas médias: neste caso, a linha de transmissão é representada por um circuito


denominado π-nominal, no qual

Zser = Rser + jXser Ω

Ysh = jBsh S

• Linhas longas: neste caso, a linha é representada por um circuito denominado π-


equivalente , no qual

Zser = Z0 senh (γl) Ω
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 53


Ysh cosh (γl) − 1
= S
2 Z′ser
onde, s
r
Z R + jX
Z0 = = Ω
Y G + jB
γ = α + jβ
sendo γ a constante de propagação (Np/m), α a constante de atenuação (Np/m) e
β a constante de fase (rad/m).

2.5 Cargas
Em estudos de sistemas de potência em regime permanente, é necessário modelar ade-
quadamente a carga, tanto em termos quantitativos como em termos qualitativos. Numa
barra tı́pica, a demanda consiste em geral de:

• motores de indução;

• aquecimento e iluminação;

• motores sı́ncronos.

A potência absorvida pela demanda depende da natureza da carga e permite os três


tipos de representação descritos a seguir.

1. Representação em termos de potência constante, onde os MW e MV ar especificados


são supostos constantes, sendo a carga representada analiticamente por

S = P + Q

onde P e Q são as potências ativa e reativa demandadas. Esta forma, geralmente


utilizada nos estudos de Fluxo de Potência, requer valores de corrente e tensão que
resultem no valor de potência especificado. Portanto, se a tensão na carga tem
valor baixo, um alto valor de corrente é necessário para que o requisito de potência
especificada seja satisfeito.

2. Representação em termos de corrente constante, onde a corrente na carga é expressa


como
P − jQ
I=
V∗
= I∠(δ − φ)

onde, V e δ são respectivamente a magnitude e a fase da tensão complexa V∗ , e


φ = arc tg ( Q
P
) é o ângulo do fator de potência. Neste caso, a carga é especificada
em termos da magnitude da corrente e do fator de potência.
54 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

3. Representação em termos de impedância constante, a qual é a forma mais freqüente-


mente utilizada nos estudos de estabilidade. Se as potências ativa e reativa da carga
são supostas conhecidas e devem permanecer constantes, a impedância equivalente
é dada por
V V2
Z= =
I P − jQ
e a admitância equivalente é expressa por
I P − jQ
Y= =
V V2

Os estudos da operação das redes elétricas em regime permanente fornecem resultados


consideravelmente dependentes da modelagem da carga. A determinação de um modelo
matemático que represente adequadamente a demanda é uma tarefa complexa, pois geral-
mente as cargas de um sistema de potência são resultado da agregação de dispositivos de
diferentes caracterı́sticas de operação. Os dois aspectos principais desta representação são
a identificação da composição da carga em um dado momento e a modelagem analı́tica
das parcelas agregadas. Uma grande parte da demanda doméstica e alguma parte da
demanda industrial consistem de aquecimento e iluminação, tal que os primeiros mode-
los de carga representavam estas demandas como impedâncias constantes. Equipamentos
rotativos costumavam ser modelados na forma simples de máquinas sı́ncronas em regime
permanente e cargas compostas eram modeladas como uma combinação das cargas ante-
riormente descritas [5].
Os modelos estáticos básicos de carga utilizados em estudos de fluxo de potência
convencional representam o comportamento da carga num instante de tempo como uma
função algébrica da magnitude da tensão e freqüência neste instante [5]. As componentes
de potência ativa e reativa são consideradas separadamente e expressas genericamente
como
P = Kp V α f γ
Q = Kq V β f θ
onde Kp e Kq são constantes que dependem do valor nominal das demandas de potência
ativa e reativa.
As cargas estáticas são relativamente independentes das variações de freqüência e
portanto os expoentes γ e θ são considerados nulos. As figuras 2.22 e 2.23 mostram
respectivamente as caracterı́sticas de potência e corrente para a representação da demanda
em termos de potência constante, corrente constante e impedância constante.
O texto que segue apresenta os dois modelos de carga variante com a tensão mais
freqüentemente utilizados nos estudos de fluxo de potência.

2.5.1 Modelo Exponencial


Neste caso, a carga é representada por:
 α
V
P = P0 (2.3)
V0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 55

Impedância constante
P(Q)

Corrente constante
α(β) = 0,0
Potência constante

α(β) = 1,0

α(β) = 2,0

Tensão V
nominal

Figura 2.22: Representação da carga (a)

 β
V
Q = Q0 (2.4)
V0
onde V0 é a tensão nominal de referência e os expoentes α e β dependem do tipo de
carga. Os termos P0 e Q0 são as potências ativa e reativa consumidas no nı́vel de tensão
V igual à tensão de referência V0 . O ajuste dos termos exponenciais das equações (2.3)
e (2.4) permite representar a carga em termos de potência constante, corrente constante
ou impedância constante, isto é,
• se a carga for representada como injeção de potência constante (P ), os coeficientes
α e β são selecionados iguais a zero (α = β = 0, 0);

• se a carga for representada como injeção de corrente constante (I), o valor dos
coeficientes α e β é unitário (α = β = 1, 0);

• se a carga for representada como impedância constante (Z), o valor dos coeficientes
α e β é especificado como α = β = 2, 0;
A tabela 2.3 apresenta valores tı́picos dos expoentes α e β de algumas cargas carac-
terı́sticas. No caso de cargas compostas, a especificação do expoente α é geralmente feita
na faixa entre 0,5 e 1,8 enquanto que o valor de β assume valores na faixa entre 1,5 e 6,0.
Devido à saturação magnética dos transformadores de distribuição e à carga composta de
motores, o expoente β varia como função não linear da tensão.

2.5.2 Modelo Polinomial


O modelo polinomial tem sido tradicionalmente usado para representar a carga em estudos
de fluxo de potência e de estabilidade transitória. Este modelo também é conhecido
56 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

I Potência constante
α(β) = 0,0 Impedância constante
α(β) = 2,0

Corrente constante
α(β) = 1,0

Vnom V

Figura 2.23: Representação da carga (a)

Componentes da carga α β
Lâmpadas incandecentes 1,54 -
Condicionadores de ar 0,50 2,50
Ventiladores de forno 0,08 1,60
Carregadores de bateria 2,59 4,06
Fluorescentes compactas eletrônicas 0,95 - 1,03 0,31 - 0,46
Fluorescentes convencionais 2,07 3,21

Tabela 2.3: Valores tı́picos dos expoentes de carga

como ZIP (parcelas de impedância constante, corrente constante e potência constante


e representa a dependência da carga com relação à tensão). A carga em cada barra é
representada analiticamente por
"  2 #
V V
P = P0 ap + bp + cp (2.5)
V0 V0
"  2 #
V V
Q = Q0 aq + bq + cq (2.6)
V0 V0
onde P e Q são as potências absorvidas pela carga na tensão V e P0 e Q0 são os valores
nominais de potência ativa e reativa, respectivamente, para a tensão nominal V0 (geral-
mente 1,0 pu). Os ı́ndices ap , bp , cp , aq , bq e cq representam as parcelas de injeção de
potência, injeção de corrente e impedância constante, respectivamente, e satisfazem as
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 57

seguintes condições:
ap + bp + cp = 1, 0
aq + bq + cq = 1, 0
De maneira análoga ao caso anterior, o ajuste conveniente dos coeficientes a, b e c
deste modelo permite representar a demanda de diferentes formas. Por exemplo,
• se a carga for representada como injeção de potência constante, os coeficientes bp ,
cp , bq e cq são selecionados iguais a zero e ap e aq assumem valores unitários;
• se a carga for representada como injeção de corrente constante, os coeficientes ap ,
cp , aq e cq são selecionados iguais a zero e bp e bq assumem valores unitários;
• se a carga for representada como impedância constante, os coeficientes ap , bp , aq e
bq são selecionados iguais a zero e cp e cq assumem valores unitários;
Ex. 2.6 Analise a representação de uma carga constituı́da por um chuveiro elétrico, cujos
valores nominais são 2400 W, 220 V, submetido a uma tensão de 240 V através de um
condutor com reatância indutiva igual a 1 Ω.

2.6 Exercı́cios
2.1 Considere um transformador com os seguintes valores nominais: 5 kVA, 220/500 V,
60 Hz, 2,5 %. Supondo que este equipamento está operando à vazio sob condições nomi-
nais, calcule a corrente que circulará neste transformador caso ocorra um curto circuito
nos terminais do secundário.
2.2 Qual a tensão que deve ser aplicada nos terminais do primário de um transformador
de 50 kVA, 200/1000 V, 60 Hz, impedância de dispersão de 3+j5 % , para que ele supra
uma carga nominal, na tensão nominal, com fator de potência 0,8 indutivo?
2.3 Um gerador monofásico operando na tensão de 6650 V está conectado a um trans-
formador com valores nominais 150 kVA, 8750/500 V, e reatância de dispersão 10 %,
através de uma linha de transmissão de impedância j50 Ω. Uma carga representada por
uma impedância de j2 Ω é suprida através do lado de baixa tensão do transformador.
Determine as tensões, correntes e potências em pu e em unidades reais nos dois lados do
transformador.
2.4 Um transformador monofásico de três enrolamentos possui os seguintes parâmetros:
Z1 = Z2 = Z3 = j0, 05 pu, Gc = 0 e Bm = 0, 20 pu. Três transformadores com estes
mesmos valores nominais são conectados com as bobinas dos seus primários em Y e
com as bobinas dos respectivos secundários e terciários em ∆. Mostre o diagrama de
impedâncias deste banco de transformadores.
2.5 Os valores nominais de um transformador trifásico de três enrolamentos são: primário
(1), 66kV (Y ), 20MV A; secundário (2), 13, 2kV (Y ), 15MV A; terciário (3), 2, 3kV (∆),
5MV A. As reatâncias de dispersão são: X12 = 8% (na base 15MV A, 66kV ), X13 = 10%
(na base 15MV A, 66kV ) e X23 =9% (na base 10MV A, 13, 2kV ). Determine o circuito
equivalente deste transformador em pu, na base 15 MVA, 66 kV nos terminais primários.
58 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

2.6 Um alimentador conectado ao primário do transformador do exercı́cio 2.5 supre


cargas puramente resistivas de 7,5 MW a 13,2 kV e 5 MW a 2,3 kV conectadas nos
terminais secundário e terciário. Mostre o diagrama de impedâncias em pu, na base
15 MVA, 66 kV nos terminais primários. Determine a potência aparente e a corrente
fornecidas pelo alimentador. Calcule as perdas de potência no transformador.
2.7 Um transformador trifásico de três enrolamentos 132 kV/33 kV/6,6 kV, 50 Hz, 30
MVA possui os seguintes valores de impedância medidos num ensaio de curto-circuito:
Z12 = j0, 15pu, Z13 = j0, 09 pu, Z23 = j0, 08pu. A bobina de 6,6 kV supre uma carga
trifásica balanceada, com uma corrente de 2000 A a um fator de potência 0,8 atrasado. A
bobina de 33 kV alimenta uma carga trifásica balanceada, conectada em Y de j50 Ω/fase.
Determine a tensão da fonte nos terminais de 132kV , para manter 6, 6kV nos terminais
do terciário. Calcule a potência ativa fornecida pela fonte.
2.8 Dois transformadores trifásicos com valores de placa 20 MVA, 115 kV(Y)/13,2
kV(∆), 9% e 15 MVA, 115 kV(Y)/13,2 kV(∆), 7 %, operam em paralelo para suprir
uma carga de 35 MVA, com fator de potência 0,8 atrasado, a uma tensão de 13,2 kV.
Determine a magnitude da a tensão na entrada dos transformadores e a potência apa-
rente fornecida ao conjunto transformadores-carga em pu e em unidades reais. Calcule a
corrente fornecida por cada transformador à carga. Verifique como o balanço de potência
é satisfeito nessa condição.
2.9 Um transformador com valores de placa 15 kVA, 220/380 V, reatância de dispersão
igual a 20 % e com o tap variável no lado de alta tensão ajustado em 1,05 conecta um
gerador com tensão 230 V a uma carga de 12,62 + j 9,46 Ω (no lado de alta tensão).
Tomando como base os valores 10 kVA e 230 V nos terminais do gerador, determine:
1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. a magnitude da tensão na carga em pu e em volts;

3. a potência aparente suprida pelo gerador em pu e em unidades reais;

4. as perdas no transformador em pu e em unidades reais.

2.10 Considere o diagrama do sistema trifásico da figura 2.24, para o qual são fornecidos
os seguintes dados:
• gerador G1 : 150 MVA, 13,8(Y) kV, Xg1 = 30%;

• transformador T1 : três transformadores monofásicos de dois enrolamentos, cada


um com 50 MVA, 8 kV/72 kV, Xt1 = 20%, conectados como um banco trifásico de
autotransformadores 13,8 kV(Y)/138 kV(Y);

• transformador T2 : 200 MVA, 140 kV(Y)/20 kV (∆), Xt2 = 10%;

• linha de transmissão: comprimento de 80 km, reatância indutiva de 0,50 Ω/km/fase.


Desprezando a resistência dos enrolamentos, a reatância de magnetização e o desloca-
mento angular, e considerando como base os valores nominais do gerador 1, determinar:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 59

Gerador Transformador 1 LT Transformador 2 Carga

YY Y∆

Figura 2.24: Diagrama unifilar - exercı́cio 2.10

1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. a tensão do gerador 1 em pu e o fator de potência com que o mesmo opera, supondo


que a carga absorve 100 MW a 20 kV e fator de potência 0,8 atrasado;

3. sob estas condições é possı́vel o gerador suprir a carga? Justifique.

4. Refazer os itens anteriores considerando a defasagem angular dos bancos trifásicos


Y-∆.

2.11 [3] Três transformadores monofásicos de dois enrolamentos, cada um de 3 kVA,


220/110 V, 60 Hz e reatância de dispersão igual a 0,10 pu, são conectados como um
banco trifásico de autotransformadores, segundo o tipo de ligação ∆-estendido ilustrado
na figura 2.25. Determine os valores nominais das tensões de linha no lado de alta tensão
do banco trifásico.

Ha Hb Hc

220 V
Xa Xb Xc

110 V

Figura 2.25: Conexão do autotransformador trifásico - exercı́cio 2.11

2.12 Os valores de placa de um transformador trifásico de três enrolamentos são:


• primário (1): 66 kV(Y), 15 MVA;
60 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

• secundário (2): 13,2 kV(Y), 10 MVA;

• terciário (3): 2,3 kV(∆), 5 MVA;


As impedâncias de dispersão obtidas no ensaio de curto circuito são:
• Z12 = 7%, na base 15 MVA, 66 kV;

• Z13 = 9%, na base 15 MVA, 66 kV;

• Z23 = 8%, na base 10 MVA, 13,2 kV;


Através deste transformador, uma fonte de tensão constante supre uma carga de fator
de potência unitário, de 5 MW, 2,3 kV nominais e um motor sı́ncrono de 7,5 MVA, 13,2
kV, com reatância sı́ncrona de 20%. Tomando a base trifásica de 66 kV, 15 MVA no
primário do transformador, a) determinar o circuito equivalente no sistema por unidade
e b) o valor da resistência da carga em pu.
2.13 Os dados do sistema trifásico da figura 2.26 são os seguintes:
• gerador G1 : 12,5 MVA, 13,8 kV(Y), Xg1 = 110%;

• gerador G2 : 15 MVA, 13,2 kV(Y), Xg1 = 90%;

• transformador T1 : 15 MVA, 13,8 kV(Y)/69 kV(∆), Zt1 = 1 + j8%;

• transformador T2 : 10 MVA, 13,8 kV(∆)/138 kV (Y), Zt2 = 1 + j10%;

• linha de transmissão (1-4): comprimento de 80 km, 0,28 + j0,61 Ω/km/fase;

• linha de transmissão (2-3): comprimento de 80 km, 0,15 + j0,60 Ω/km/fase;

• carga L1 : corrente de 52,3 A com fator de potência 0,707 atrasado;

• carga L5 : 10 kVA com fator de potência 0,8 atrasado;


Selecionando a base trifásica de 5 MVA e 69 kV na barra 2, determinar o circuito
equivalente monofásico no sistema pu.
2.14 Um transformador monofásico de 100 kVA, 2400/240 V, X = 10 %, é conectado
para operar como um autotransformador, com relação de transformação 2400/2160 V.
1. Determinar o diagrama de conexão e os valores de placa do autotransformador;

2. determinar o circuito equivalente do autotransformador no sistema pu;

3. suponha que o transformador original tem uma eficiência de 95 % à plena carga.


Qual a eficiência do autotransformador à plena carga?

2.15 Um transformador monofásico de 20 kVA, 220/380 V, 40%, possui tap variável no


lado de AT. Uma carga de 10 kVA é suprida através de uma fonte de 230 V através deste
transformador. Calcular em que valor deve ser ajustado o tap, para que a tensão na carga
seja 360 V, caso a carga seja:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 61

Gerador 1 Transformador 1 LT23

Y∆ Y∆
LT14 Transformador 2 Carga L5

Gerador 2
∆Y

Carga L1

Figura 2.26: Diagrama unifilar - exercı́cio 2.13

1. indutiva pura;
2. capacitiva pura.
Adotar como base os valores 10 kVA e 380 V no lado de AT do trafo.
2.16 Considere o sistema cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 2.27. Os valores
nominais dos equipamentos são:
• Gerador: 30 MVA, 13,8 kV, 15 %;
• Transformadores 1 e 2: 35 MVA, 115/13,2 kV, 10 %;
• Linha de transmissão: 80 Ω;
• Motor 1: 20 MVA, 12,5 kV, 20 %;
• Motor 2: 10 MVA, 12,5 kV, 20 %, Zn = j2 Ω;

1 2 3 4 M1
G

Zn
T1 LT T2 M2

Figura 2.27: Diagrama unifilar do sistema

Supondo as grandezas base Sbase = 50 MV A e Vbase = 115 kV , referidas a linha de


transmissão, determine:
62 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. o circuito equivalente de Thévenin, obtido a partir da barra 1, supondo que esta


barra opera na tensão de 1,02 pu.

2.17 Um transformador trifásico com valores de placa 200 MVA, 345(∆)/34,5(Y ) kV,
8 %, opera como um elo, conectando um sistema de transmissão de 345 kV e um sistema
de distribuição de 34,5 kV.
1. Determine os valores de placa e o circuito equivalente dos três transformadores
monofásicos, que conectados adequadamente seriam equivalente ao transformador
trifásico em questão.

2. Supondo que uma carga uma carga trifásica de valor 180 MVA, na tensão 33 kV e
fator de potência 0,8 atrasado, é suprida por este transformador. Calcule os valores
de tensão corrente, potência aparente e fator de potência nos terminais de entrada
do transformador em pu e em unidades reais.

3. Determine a queda de tensão no transformador para as condições do item anterior,


em pu e em unidades reais.

2.18 Um gerador trifásico (35 kVA, 380 V, X=10%) operando na tensão nominal, su-
pre, através de uma linha de transmissão com impedância 0,1 + j1,0 Ω/fase, uma carga
trifásica que absorve uma corrente de 50 Ampéres com fator de potência 0,8 em atraso.
Supondo seqüência de fases positiva, tomando o fasor tensão Vab na carga como referência
e adotando os valores nominais do gerador como base, determinar (em pu e em unidades
reais):
1. os fasores tensão de fase e de linha na carga e no gerador;

2. as potências ativa e reativa na carga e no gerador;

2.19 No sistema trifásico da figura abaixo, os parâmetros das duas linhas de transmissão
são 0,163 (LT1 ) e 0,327 (LT2 ) Ω/km por fase, com respectivos comprimentos de 220 km
(LT1 ) e 150 km (LT2 ).

3 Trafo 2 4 MS
2
1 2
MS1 Trafo 1 LT1
5 Trafo 3 6
LT2

Adotando como valores base a tensão 13,2 kV e a potência de 2000 MVA na barra 1,
determinar:
1. o circuito equivalente na representação por fase, no sistema por unidade;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 63

Componente Snom Vnom X


(MVA) (kV) (%)
MS 1 2000 13,8 (Y aterrado) 20
MS 2 2000 230 (Y aterrado) 20
Trafo 1 2200 13,8(∆):500(Y aterrado) 10
Trafo 2 500 500(Y aterrado):230(Y aterrado) 10
Trafo 3 1000 500(Y aterrado):138(Y aterrado) 12

2. a tensão terminal, a corrente, a potência aparente e o fator de potência da máquina


sı́ncrona MS2 , supondo que a máquina sı́ncrona MS1 opera suprindo tensão e cor-
rente nominais, com fator de potência 0,8 atrasado;

3. o circuito equivalente de Thévenin visto da barra 6, para as condições de operação


do item anterior.
64 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
Capı́tulo 3

Operação das Linhas de Transmissão

3.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a modelagem analı́tica das linhas de transmissão para o estudo
da operação em regime permanente. Primeiramente, representa-se a linha de transmissão
por um quadripolo, definido por quatro constantes calculadas com base nos parâmetros da
linha. A seguir, estuda-se o problema do máximo carregamento que a linha pode suprir,
com enfoque na construção e na análise das curvas PV e QV. Posteriormente, mostra-
se como os parâmetros da linha podem ser utilizados em cálculos rápidos, com nı́vel
de precisão satisfatório apesar das aproximações adotadas em alguns casos. O capı́tulo é
finalizado enfocando aspectos relacionados aos fluxos de potência e a compensação reativa
das linhas de transmissão.

3.2 Representação das linhas de transmissão


Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros:
• Resistência série: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela corrente
que flui através do condutor;

• Indutância série: que representa o campo magnético criado pela corrente que per-
corre o condutor;

• Condutância shunt: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela dife-
rença de potencial no meio que circunda os condutores;

• Capacitância shunt: que representa o campo elétrico resultante da diferença de


potencial entre os condutores.
Com base no comprimento l, três tipos de linha de transmissão são distingüidos:
• linhas de transmissão longas: l > 240km;
• linhas de transmissão médias: 80km < l ≤ 240km;

• linhas de transmissão curtas: l ≤ 80km.


66 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Zser

Ysh Ysh
2 2

Figura 3.1: Circuito π representativo da linha de transmissão

As linhas de transmissão são representadas genericamente por um circuito π, conforme


mostra a figura 3.1. Neste circuito, a impedância série está relacionada à resistência e
à indutância da linha enquanto a admitância corresponde a condutância e capacitância
shunt.
Alternativamente, as linhas de transmissão podem ser representadas por um quadri-
polo, com as tensões e correntes nos seus terminais indicados conforme mostra a figura
3.2, onde e e r denotam os terminais emissor e receptor, respectivamente.
Ie Ir

+ +
Ve Quadripolo Vr
- -

Figura 3.2: Representação da linha de transmissão por um quadripolo

As relações entre as variáveis tensão e corrente nos terminais do quadripolo são ex-
pressas pela equação
Ve = AVr + BIr
(3.1)
Ie = CVr + DIr
ou na forma matricial pela expressão
    
Ve A B Vr
=
Ie C D Ir
onde, A, B, C e D são parâmetros que dependem das constantes das linhas de trans-
missão. No caso de circuitos lineares passivos e bilaterais, como o da linha de transmissão,
a relação
AD − BC = 1
é satisfeita. Esses parâmetros são números complexos, com A e D adimensionais, B
expresso em ohms (Ω) e C expresso em siemens (S).
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 67

3.3 Equações diferenciais da linha de transmissão


Considere o circuito mostrado na figura 3.3, o qual representa a seção de uma linha de
transmissão de comprimento ∆x.

I(x + ∆x) z∆x I(x)

+ +

V(x + ∆x) y∆x V(x)

- -

x + ∆x x
Tensão e corrente Tensão e corrente
na posição x + ∆x na posição x
(terminal emissor) (terminal receptor)
Figura 3.3: Modelo incremental da linha de transmissão

Os parâmetros distribuı́dos indicados na figura 3.3 são


z = r + jx (Ω/m)
y = = g + jb (S/m)
e as equações que caracterizam esta linha são
V(x + ∆x) = V(x) + (z∆x)I(x)
I(x + ∆x) = I(x) + (y∆x)V(x + ∆x)
ou, alternativamente,
V(x + ∆x) − V(x)
zI(x) =
∆x (3.2)
I(x + ∆x) − I(x)
yV(x + ∆x) =
∆x
Se ∆x → 0, as Eqs. (3.2) são re-escritas como
dV(x)
zI(x) =
dx (3.3)
dI(x)
yV(x) =
dx
As Eqs. (3.3) são diferenciais de primeira ordem e homogêneas. Elas possuem duas
incógnitas, sendo a sua solução dada por
V(x) = A1 e+γx + A2 e−γx
A1 e+γx − A2 e−γx (3.4)
I(x) =
Zc
68 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão


onde γ = zy, denominada constante de propagação, pode ser expressa em termos da
constante de atenuação α (néper/metro ou decibéis/metro) e da constante de fase (radi-
anos/metro) por
γ = α + jβ
O termo Zc , denominado impedância caracterı́stica da linha de transmissão, é expresso
como r
z
Zc = (Ω)
y
As constantes A1 e A2 são calculadas observando-se que no terminal receptor (x = 0)

Vr = V(0) Ir = I(0)

tal que

Vr = A1 + A2
A1 − A2
Ir =
Zc
o que fornece
Vr + Zc Ir
A1 =
2 (3.5)
Vr − Zc Ir
A2 =
2
Agrupando-se convenientemente os termos das Eqs. (3.4) e (3.5), obtêm-se as ex-
pressões que fornecem a tensão e a corrente em qualquer ponto x da linha de transmissão;
isto é,

V(x) = cosh(γx)Vr + Zc sinh(γx)Ir


1 (3.6)
I(x) = sinh(γx)Vr + cosh(γx)Ir
Zc
onde
expγx + exp−γx
cosh(γx) =
2
expγx − exp−γx
sinh(γx) =
2
A forma matricial das equações do quadripolo que representa uma linha de transmissão
de comprimento l, com parâmetros série e shunt distribuı́dos z(Ω/m) e y(S/m) é
    
Ve (x) A(x) B(x) Vr (x)
= (3.7)
Ie (x) C(x) D(x) Ir (x)

onde, Ve (x) e Ie (x) são a tensão e a corrente no terminal emissor (de entrada) e Vr (x)
e Ir (x) são a tensão e a corrente no terminal receptor (de saı́da), expressos em função
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 69

da distância x, medida de um ponto qualquer da linha de transmissão até o terminal


receptor. Da comparação das Eqs. (3.6) e (3.7), obtém-se

A(x) = D(x) = cosh(γx) (pu)


B(x) = Zc sinh(γx) (Ω)
(3.8)
1
C(x) = sinh(γx) (S)
Zc

Ie Z
′ Ir

+ +
′ ′
Y Y
Ve Vr
2 2

- -

Figura 3.4: Circuito π-equivalente da linha de transmissão

Para representar uma linha de transmissão com parâmetros concentrados

Z = zl = R + jX (Ω)
(3.9)
Y = yl = G + jB (S)

pelo circuito π-equivalente da figura 3.4, cujas equações caracterı́sticas são


 ′ 
Y ′
Ve = Ir + Vr Z + Vr
2
 ′
Y (Ve − Vr )
Ie = Ve +
2 Z′
 ′ 
Y 1 (Vr )
= + ′ Ve −
2 Z Z′
′ ′
onde Z e Y são os parâmetros série e shunt que compõem o circuito π-equivalente da
linha de transmissão da figura 3.4.
A combinação dessas equações fornece
 ′ ′
YZ ′
Ve = 1 + Vr + Z Ir
2
 ′ ′  ′ ′
′ YZ YZ
Ie = Y 1 + Vr + 1 + Ir
4 2
70 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

e portanto
′ ′
ZY
A(x) = D(x) = cosh(γx) = 1 +
2

B(x) = Zc sinh(γx) = Z (3.10)
 ′ ′
1 ′ ZY
C(x) = sinh(γx) = Y 1 +
Zc 4
A segunda das Eqs. (3.10) pode ser escrita como
r r
′ z zl z
Z = Zc sinh(γx) = sinh(γx) = sinh(γx)
y zl y
resultando
′ sinh(γl)
Z =Z (3.11)
γl
De forma semelhante, a primeira das Eqs. (3.10) fornece

Y cosh(γx) − 1
=
2 Z′
tal que,

Y Y tanh(γl/2)
= (3.12)
2 2 (γl/2)
sinh(γl) tanh(γl/2)
Os termos e , denominados fatores de correção, são utilizados
γl (γl/2)
para converter a impedância série e a admitância shunt (Z e Y) do circuito π-nominal
′ ′
nos correspondentes parâmetros (Z e Y ) do circuito π-equivalente. As Eqs. (3.10),
(3.11) e (3.12) representam uma linha de transmissão de qualquer comprimento. Nas
linhas longas, os efeitos de propagação de onda são consideráveis, tal que a impedância e
a admitância são submetidas a correção indicada pelas Eqs. (3.11) e (3.12) e este tipo de
linha é representado pelo circuito da figura 3.4.
No caso das linhas médias, a perda na condutância shunt é desprezı́vel porém o efeito
capacitivo é levado em conta. Por esta razão, estas linhas são representadas pelo circuito
π-nominal, no qual a impedância série e a admitância shunt são calculados com base nos
parâmetros distribuı́dos fornecidos pelo fabricante e no comprimento da linha. O modelo
analı́tico das linhas médias é mostrado na figura 3.5.
As equações de quadripolo que caracterizam este circuito são semelhantes àquelas
obtidas para uma linha de transmissão genérica, ou seja,
ZY
A= D=1+ pu
2
B= Z Ω
 
ZY
C= Y 1+ S
4
onde Z e Y são os parâmetros concentrados da Eq. (3.9) .
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 71

Ie Z = zl Ir

+ +
Y yl Y yl
Ve = = Vr
2 2 2 2
- -

Figura 3.5: Circuito π-nominal da linha de transmissão média

Nas linhas curtas a perda na condutância shunt e o efeito capacitivo entre os condutores
(ou entre os condutores e a terra) não é acentuado, e portanto apenas os parâmetros
série da linha são levados em conta. A representação deste tipo de linha de transmissão
considera apenas os parâmetros série, conforme ilustrado na figura 3.6. tal que as equações
Ie Z = zl Ir

+ +

Ve Vr

- -

Figura 3.6: Circuito representativo da linha de transmissão curta

de quadripolo que representam analiticamente este tipo de linha de transmissão são


Ve = Vr + ZIr
Ie = Ir
ou na forma matricial,     
Ve 1 Z Vr
=
Ie 0 1 Ir
e portanto
A = D = 1 pu
B= Z Ω
C= 0 S
Para linhas médias e curtas, a relação AD−BC = 1 é válida. Se a linha de transmissão
possui a mesma configuração quando vista de qualquer um dos extremos, então A = D.
A linha de transmissão curta é um caso particular da linha de transmissão média, onde
os parâmetros shunt são desprezados, o que resulta em Y = 0 e A = D = 1 e B = Z.
72 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Ex. 3.1 Para exemplificar o uso dos modelos de linha definidos com base no comprimento
da mesma, seja uma linha de transmissão trifásica, composta de condutores ACSR 127000
CMil 54/3, com espaçamento assimétrico, transposta, com impedância série e admitância
shunt respectivamente iguais a 0, 0165 + j0, 3306 Ω/km e j4, 674 × 10−6 S/km. A tabela
3.1 mostra os parâmetros que representam linhas de transmissão com estas caracterı́sticas
e com comprimentos iguais a 300 km, 160 km e 50 km.

l 300 km 160 km 50 km
Z(Ω) 4,95 + j99,18 2,64 + j52,89 0,82 + j16,53

Z (Ω) 4,72 + j96,90 2,60 + j52,54 0,82 + j16,51
Y(S) j0,0014 j0,00074 j0,00023

Y (S) j0,0014 j0,00074 j0,00023
Zc (Ω) 266,15 - j6,63 266,15 - j6,63 266,15 - j6,63
γ(km−1 ) j0,0012 j0,0012 j0,0012
A(pu) 0,9313 + j0,0034 0,9803 + j0,001 0,9981 + j0,0001
B(Ω) 4,72 + j96,90 2,60 + j52,54 0,82 + j16,51
C(S) j0,0014 j0,00074 j0,00023

Tabela 3.1: Parâmetros das linhas de transmissão × comprimento

Observa-se nesta tabela, que o efeito dos fatores de correção sobre determinados parâ-
metros é reduzido à medida que o comprimento da linha diminui. Por exemplo, a diferença
entre os valores nominais e equivalente da reatância indutiva da linha de 300 km (99,18 Ω
e 96,9 Ω) é de 2,28 Ω (2,30%). Conseqüentemente, se os parâmetros série desta linha de
transmissão longa não fossem corrigido, o cálculo da queda de tensão ao longo da linha
apresentaria um erro de aproximadamente 2%. No caso das linhas de 160 e 50 km, a
diferença entre os valores nominais e corrigidos é insignificante, indicando que não há
necessidade de se utilizar o circuito π-equivalente da linha. Com relação à admitância
shunt, no caso especı́fico desta linha o fator de correção não tem efeito considerável, tal que
os valores nominais e corrigidos são iguais, independentemente do comprimento da linha.
Nota-se ainda, que tanto a impedância caracterı́stica como a constante de propagação não
variam com o comprimento da linha de transmissão, pois estas constantes são definidas
com base nos parâmetros distribuı́dos da linha.

3.4 Transferência de Potência

3.4.1 Análise baseada nos parâmetros do quadripolo


Supondo que as tensões terminais e os os parâmetros do quadripolo que representa a linha

de transmissão são respectivamente Ve = Ve ∠δ, Vr = Vr ∠00 , A = A∠θa , B = Z ∠θz e
C = C∠θc , a corrente e a potência aparente supridas à linha de transmissão pelo terminal
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 73

emissor são respectivamente dadas por


Ie = CVr + DIr
 
Ve − AVr
= CVr + D
B
AVe ej(θa +δ−θz ) − A2 Vr ej(2θa −θz )
= CVr ejθc +
Z′
Se = (Ve ∠δ)I∗e
∗
AVe ej(θa +δ−θz ) − A2 Vr ej(2θa −θz )

jθc
= Ve ∠δ CVr e +
Z′
∗
AVe2 ej(θa −θz ) − A2 Ve Vr ej(2θa −θz −δ)

j(θc −δ)
= CVe Vr e +
Z′
Expressando esta equação na forma retangular e separando a mesma em partes real e
imaginária, obtêm-se
AVe2 cos(θa − θz ) A2 Ve Vr cos(2θa − θz − δ)
Pe = CVe Vr cos(θc − δ) + −
Z′ Z′
(3.13)
AVe2 2
sin(θa − θz ) A Ve Vr sin(2θa − θz − δ)
Qe = −CVe Vr sin(θc − δ) − +
Z′ Z′
que representam as potências ativa e reativa supridas pelo terminal emissor da linha de
transmissão. Nessas potências estão incluı́das as parcelas correspondentes às perdas na
linha de transmissão e ao terminal receptor.
De maneira análoga, lembrando que
 
Ve − AVr
Ir =
B
a potência aparente suprida ao terminal receptor é dada por
Sr = Vr I∗r
 jδ ∗
Ve e − AVr ejθa
= Vr
Z ′ ejθz

Vr Ve ej(θz −δ) − AVr2 ej(θz −θa )


=
Z′
Separando a última equação em partes real e imaginária, as potências ativa e reativa
suprida à carga são expressas por
Vr Ve AVr2
Pr = cos(θz − δ) − cos(θz − θa )
Z′ Z′
(3.14)
Vr Ve AVr2
Qr = sin(θz − δ) − sin(θz − θa )
Z′ Z′
74 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

ocorrendo a máxima transferência de potência ativa quando δ = θz ; ou seja,

Vr Ve AVr2
PrM ax = − cos(θz − θa )
Z′ Z′
sendo a potência reativa correspondente expressa como

AVr2
QM
r
axp
= − ′ sin(θz − θa )
Z

3.4.2 Análise baseada no fluxo de potência


A figura 3.7 mostra o circuito π de uma linha de transmissão conectando duas barras i e
j, onde

• Vi = Vi ∠δi e Vj = Vj ∠δj são os fasores que representam as tensões nodais;

• Z = R + jX e Y = jB são respectivamente a impedância série e a admitância shunt


da linha de transmissão;

• Sij = Pij + jQij e Sji = Pji + jQji são os fluxos de potência aparente que saem das
barras i e j, respectivamente.

Vi ∠δi Vj ∠δj

i Pij

Pji j
Qij ❄ ❄Pij ✲
Z = R + jX

Pji
❄ ❄Qji
✲ ✛
Qshi ❄ Q′ij ❄Qshj

Qji
Y
2
= j B2 Y
2
= j B2

Figura 3.7: Circuito π representativo da linha de transmissão conectando as barras i e j

A corrente que flui da barra i em direção a barra j através da impedância série da


linha de transmissão é dada por
Vi − Vj
Iij =
R + jX
e o correspondente fluxo de potência aparente é expresso por
 ∗
Vi − Vj∗

′ ′ ′ ∗
Sij = Pij + jQij = Vi Iij = Vi
R − jX
1
= (V 2 − Vi Vj ∠(δi − δj )
R − jX i
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 75

cuja expansão fornece


′ R + jX  2 
Sij = V i − V i V j (cos δij + j sin δij ) (3.15)
R2 + X 2
onde δij = (δi − δj ) representa a defasagem entre os fasores Vi e Vj .
Da separação da Eq. (3.15) em partes real e imaginária resulta
′ 1
Pij = (RVi2 − RVi Vj cos δij + XVi Vj sin δij )
R2 + X 2
′ 1
Qij = (XVi2 − XVi Vj cos δij − RVi Vj sin δij )
+XR22

Desde que a condutância shunt da linha de transmissão é desprezı́vel, nenhuma potência


ativa flui pelo ramo paralelo da linha, e portanto

Pij = Pij

No caso do fluxo de potência reativa,



Qij = Qij + Qshi

A potência aparente que flui no ramo shunt relativo a barra i é dada por
∗
V 2B

Vi Y

Sshi = Vi Ishi = Vi = −j i
2 2
e então
Vi2 B
Qshi = −
2
Portanto, os fluxos de potência ativa e reativa numa linha de transmissão são expressos
como
1
Pij = (RVi2 − RVi Vj cos δij + XVi Vj sin δij )
R2
+ X2
(3.16)
V 2B 1
Qij = − i + 2 (XVi2 − XVi Vj cos δij − RVi Vj sin δij )
2 R + X2
De maneira análoga, como sen δij = −sen δji e cos δij = cos δji , os fluxos de potência
ativa e reativa da barra j para a barra i são
1
Pji = (RVj2 − RVi Vj cos δij − XVi Vj sin δij )
R2
+ X2
(3.17)
Vj2 B 1
Qji = − + 2 (XVj2 − XVi Vj cos δij + RVi Vj sin δij )
2 R + X2
O fluxo máximo de potência ativa que é injetado na barra j é obtido derivando-se
Pr = −Pji com relação a δji e igualando-se o resultado a zero, isto é,

∂(−Pji )
= −RVi Vj sin δij + XVi Vj cos δij = 0
∂δji
76 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

o que fornece
X
tan(δij ) =
R
e portanto δ = θz , conforme observado no final da subseção 3.4.1.
As perdas de potência ativa e reativa são dadas respectivamente por

PL = Pij + Pji
QL = Qij + Qji
 
R 2 2

Pij + Pji = (V i + V j ) − 2V i V j cos δij
R2 + X 2
ou seja,  
R
Pij + Pji = |Vi − Vj |2
R + X2
2

onde o termo |Vi − Vj | representa a magnitude da queda de tensão no elemento série da


linha de transmissão, e portanto a soma dos fluxos de potência em sentidos opostos pode
ser identificada como a perda ôhmica de potência na LT.
De maneira análoga a soma dos fluxos de potência reativa fornece
 
B 2 2 X
Qij + Qji = − (Vi + Vj ) + (Vi2 + Vj2 − 2Vi Vj cos δij )
2 R2 + X 2
ou seja,  
B X
Qij + Qji = − (Vi2 + Vj2 ) + |Vi − Vj |2
2 R + X2
2

O primeiro termo desta equação pode ser identificado como a geração de potência
reativa nos elementos shunt, enquanto que o segundo pode ser interpretado como a perda
de potência reativa no elemento série da linha de transmissão.

Ex. 3.2 Para ilustrar o comportamento dos fluxos de potência, considere a linha de trans-
missão longa da tabela 3.1 conectando as barras e e r. Os fluxos de potência ativa e reativa
em ambos os sentidos são calculados com auxı́lio das Eqs. (3.16), mantendo-se a mag-
nitude das tensões nos terminais constante em 1,0 pu e variando-se a abertura angular
da linha de −π a π. A soma algébrica dos fluxos de potência ativa Per e Pre fornece o
valor da perda de potência ativa na transmissão Pl . Observa-se ainda que, fluxos positivos
de potência reativa Qer e Qre saem respectivamente das barras e e r, indicando que para
manter o nı́vel de tensão plano em 1,0 pu ambas as barras devem operar de forma a suprir
a reatância da linha de transmissão.

Ex. 3.3 Seja a linha de transmissão longa da tabela 3.1, operando na tensão de 765 kV.

Os parâmetros do circuito π-equivalente que representa esta linha são Z = 97, 0∠87, 20 Ω
′ ′
e Y = 0, 0014∠89, 990 S e do quadripolo são A = 0, 9313∠0, 2090 pu, B = Z e C =
0, 0014∠90, 060 S. Adotando a tensão nominal da linha e a potência aparente de 2199
′ ′
MVA como valores base, obtém-se Z = 0, 0177 + j0, 3641 pu, Y = 0, 0002 + j0, 3772 pu,
A = 0, 9313∠0, 2090 pu, C = −0, 0004 + j0, 3643 pu. A impedância caracterı́stica vale
Zc = 266, 15 − j6, 6376 Ω ou 1,00-j0,024 pu e a SIL é igual a 2199 MW ou 1,0 pu.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 77

Curvas P x Delta e Q x Delta


6

Qer x Delta
4
Qre x Delta

Per x Delta

Potência Ativa (Reativa) (pu)


2

Pl (perda)

−2
Pre x Delta

−4

−6
−150 −100 −50 0 50 100 150
Ângulo da Tensão (graus)

Figura 3.8: Transmissão de potência ativa entre duas barras

A figura 3.9 mostra a variação da potência no terminal emissor em função da diferença


angular da linha. Os terminais emissor e receptor são supostos compensados, para manter
a magnitude da tensão plana em 1,0 pu nos extremos da linha.
Quando a abertura angular é nula, não há transferência de potência ativa para o ter-
minal receptor, apenas a perda de potência ativa da linha (igual a 0,0002 ou 0,4398 MW)
é suprida. Nesta condição, a tensão de 1,0 pu aplicada no terminal emissor faz com que a
diferença entre as potências reativas gerada pela capacitância e consumida pela indutância
da linha seja igual a 0,1886 pu ou 414,73 Mvar. Em δ = 18, 760, a potência reativa de-
cresce a zero, com correspondente valor de 0,8837 pu para a potência ativa. Como esta
é uma linha com perdas, o limite de estabilidade ocorre quando a abertura angular vale
87, 20, com a transferência de 2,610 pu (MW) -2,555 pu (Mvar). A partir deste ponto,
a linha de transmissão opera na região considerada instável, tal que na abertura angular
de 174, 750 a potência ativa se anula enquanto a potência reativa alcança o valor -5,2905
pu. Em 1800 , a potência ativa vale -0.2690 pu e a potência reativa é igual a -5,2909 pu.

3.5 Curvas PV e QV
A magnitude da tensão no terminal receptor é determinada re-escrevendo-se a Eq. (3.14)
como
Vr Ve AVr2
cos(δ − θz ) = P r + cos(θz − θa )
Z′ Z′
(3.18)
Vr Ve AVr2
sin(δ − θz ) = Qr + sin(θz − θa )
Z′ Z′
78 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curvas P x Delta e Q x Delta


3

2 P x Delta

Potência Ativa (Reativa) (pu)


0

−1 Q x Delta

−2

−3

−4

−5

−6
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Ângulo da Tensão (graus)

Figura 3.9: Curvas Pδ e Qδ - linhas de transmissão com perdas

e somando o quadrado dessas duas expressões, cujo re-arranjo do resultado fornece

A2 Vr4 + 2A [Pr cos(θz − θa ) + Qr sin(θz − θa )] − Ve2 Vr2 + Pr2 + Q2r Z ′2 = 0 (3.19)


 

Fazendo-se y = Vr2 e

a = A2

2A [Pr cos(θz − θa ) + Qr sin(θz − θa )] − Ve2



b=

Pr2 + Q2r Z ′2

c=

a Eq. (3.19) pode ser re-escrita como uma equação de segundo grau em y, tendo como
raı́zes

−b + b2 − 4ac
ys =
2a
(3.20)

2
−b − b − 4ac
yi =
2a
√ p
tal que duas magnitudes da tensão com significado fı́sico são Vrs = y s e Vri = y i .
A curva PV de uma barra é obtida fixando-se a tensão no terminal emissor, variando-se
a demanda no terminal receptor sem alterar o fator de potência da mesma, e resolvendo-se
a Eq. (3.19) para cada valor da demanda (caso mais simples). Nos casos práticos, esta
curva é traçada com base em sucessivas soluções do fluxo de potência correspondentes à
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 79

Curva P x V − LT com perdas

1.2

fp unitário fp capacitivo
1

Modulo da Tensão (pu)


fp indutivo
0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Potência Ativa (pu)

Figura 3.10: Curva PV - cargas com diferentes fatores de potência

variação gradativa da demanda do sistema com o fator de potência mantido constante.


Para cada nı́vel de potência ativa demandada existem duas soluções de magnitude de
tensão, o que torna possı́vel uma analogia com a curva Pδ da estabilidade transitória do
ângulo do rotor em regime permanente. Ambas as curvas apresentam regiões de operação
estável e instável.

Ex. 3.4 A figura 3.10 mostra as curvas PV obtidas para cargas com diferentes fatores
de potência, com a tensão no terminal emissor fixada no valor nominal, para a linha de
transmissão referida anteriormente.
Desta figura, observa-se que:

• para cada fator de potência, existe uma potência máxima que pode ser transmitida;

• para cada demanda especificada abaixo do valor máximo, existem duas possı́veis
soluções para Vr (duas raı́zes da Eq. (3.19));

• sob condições normais, o sistema de potência opera sempre na parte superior da


curva, dentro da faixa estreita dos limites de magnitude da tensão;

• se P = Q = 0, então Ve = Vr cos θ, o que representa a condição de circuito aberto;


neste caso, Vr > Ve .

• o perfil plano de tensão ocorre para a carga de fator de potência unitário, caso no
qual P < 1, 0 pu e Vr = Ve = 1, 0 pu.

Na região superior da curva PV da figura 3.10, um aumento na demanda resulta num


desbalanço de potência reativa, tal que a magnitude da tensão do sistema tende a dimi-
nuir. Para corrigir esta redução, medidas corretivas aumentam a magnitude da tensão
80 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

no terminal emissor até que um ponto de equilı́brio seja alcançado (região estável ). Na
parte inferior da curva, um aumento na demanda resulta numa elevação da magnitude
da tensão do sistema e a medida corretiva também causa decréscimo na magnitude da
tensão, o que indica que o sistema está operando num ponto de equilı́brio instável (região
instável ). Para qualquer nı́vel de carga inferior ao nı́vel máximo de potência a ser trans-
mitida, duas soluções em termos de magnitude da tensão no terminal receptor podem ser
encontradas. A solução mais próxima ao ponto de equilı́brio estável é o correspondente
ponto de equilı́brio instável. Estes pontos de equilı́brio se aproximam um do outro con-
forme a demanda aumenta, até a condição de operação onde somente uma única solução
do fluxo de potência existe. Esta condição caracteriza o ponto extremo da curva, o qual
é denominado ponto crı́tico ou ponto de bifurcação sela-nó. A partir deste ponto, não
existem soluções reais para as equações da rede elétrica.
As curvas QV são traçadas de maneira análoga às curvas PV. Neste caso, a injeção de
potência ativa demandada é mantida constante, variando-se a potência reativa no terminal
receptor.

Ex. 3.5 Curvas QV correspondentes a diferentes nı́veis de potência ativa demandada são
mostradas na figura 3.11 para a linha de transmissão apresentada anteriormente.

Curva Q x V − LT com perdas

1.2

1 Pr = Prmax
Modulo da Tensão (pu)

0.8

Pr = 0,75Prmax

0.6

0.4 Pr = 0,50Prmax

0.2 Pr = 0,25Prmax

0
−2.5 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1
Potência Reativa (pu)

Figura 3.11: Curva QV - cargas com diferentes valores de potência ativa

A magnitude da tensão no terminal receptor é obtida variando-se a potência reativa


demandada e fixando-se a tensão no terminal emissor no valor nominal e a potência ativa
no terminal receptor em valores fracionários da potência máxima que pode ser transmitida
através da referida linha de transmissão. Essas curvas fornecem informações sobre a
compensação reativa necessária na barra para manter a tensão num nı́vel especificado.
Por exemplo, se a demanda de potência ativa é 0, 25Pmax , o nı́vel de magnitude da tensão
no terminal receptor igual a 1,0038 pu corresponde a uma demanda de potência reativa
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 81

igual a 0,0927 pu (indutiva). Se a demanda de potência ativa aumenta para 0, 50Pmax , a


magnitude da tensão correspondente a 0,0927 pu é 0,7668 pu. Para que a magnitude de
tensão de 1,0041 pu seja alcançado, é necessário que a demanda de potência reativa seja
-0,1873 pu (capacitiva), o que requer uma compensação reativa de -0,0946 pu (capacitiva).
O efeito do comprimento no carregamento da linha de transmissão pode ser deter-
minado traçando-se curvas semelhantes às da figura 3.10. Neste caso, a Eq. (3.24) é
resolvida mantendo-se a carga (injeções de potência ativa (P ) e reativa (Q)) constantes e
variando-se o comprimento da LT.

Ex. 3.6 As figuras 3.12, 3.13 e 3.14 mostram linhas de transmissão com comprimentos
variando entre 50 km e 300 km, para cargas com fatores de potência iguais a 0,70 atrasado,
unitário e 0,90 adiantado. Nestas figuras observa-se que:
Curva P x V − Carga Capacitiva

l = 300 km

1.2

l = 150 km
1
Modulo da Tensão (pu)

l = 75 km
0.8

l = 50 km
0.6

0.4

0.2

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Potência Ativa (pu)

Figura 3.12: Curva PV em função do comprimento da linha de transmissão - fator de


potência 0,70 em avanço

• linhas de transmissão com comprimento entre 150 km e 300 km podem operar com
nı́vel de tensão normal, desde que o fator de potência da carga seja elevado;
• devido às acentuadas variações na magnitude da tensão, a operação de linhas longas
não compensadas é impraticável para toda a faixa de variação do fator de potência;
• mesmo quando a linha de transmissão longa supre uma demanda igual a SIL,
condição em que as magnitudes das tensões nos terminais emissor e receptor ten-
dem a se igualar, quando o comprimento da linha é 300 km a tensão no terminal
receptor é extremamente sensı́vel a qualquer variação na potência ativa da carga;
• conforme o comprimento da linha aumenta, aproximando-se de 300 km, o ponto
de magnitude da tensão correspondente à demanda é igual à SIL se localiza em
82 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curva P x V − Carga Resistiva

SIL = 0.9996 pu(MW)


1

0.8
Modulo da Tensão (pu)

300 km 150 km 75 km 50 km
0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Potência Ativa (pu)

Figura 3.13: Curva PV em função do comprimento da linha de transmissão - fator de


potência unitário

Curva P x V − Carga Indutiva

0.8
Modulo da Tensão

300 km 150 km 75 km 50 km
0.6

0.4

0.2

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
Potência Ativa

Figura 3.14: Curva PV em função do comprimento da linha de transmissão - fator de


potência 0,90 em atraso

diferentes posições das curvas PV, tendendo a se deslocar para a parte inferior da
curva, ou seja, correspondendo à menor das duas soluções, como pode ser observado
na figura 3.13 desde linhas de 50 km e 300 km. Neste caso, a operação da LT é
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 83

virtualmente instável.

3.6 Linhas de transmissão com perdas desprezı́veis


Expressões mais simples são obtidas e os conceitos apresentados anteriormente são mais
facilmente aplicáveis se as perdas de potência ativa no sistema de transmissão forem
desprezadas. Desde que as linhas de transmissão são projetadas para operar com valor de
perda reduzido, as equações e os conceitos mostrados a seguir podem ser utilizados para
cálculos rápidos, com razoável nı́vel de precisão, no planejamento preliminar da operação
das linhas de transmissão.

Is X Ir

+ +
′ ′
B B
Vs = Vs ∠δ   Vr = Vr ∠00
2 2

- -

Figura 3.15: Linha de transmissão sem perdas

A figura 3.15 mostra a representação de uma linha com a resistência série e a con-
dutância shunt desprezadas (R = G = 0). Os parâmetros relativos à propagação das
ondas de tensão e corrente na linha são apresentados a seguir.

• Impedância caracterı́stica: r
L
Zc = Ω
C
• Constante de propagação:

γ = jβ = jω LC m−1

• Comprimento de onda - distância requerida para mudar a fase da onda de tensão


ou da onda de corrente por 2π radianos. Desde que nas linhas sem perda
V(x) = cos(βx)Vr + jZc sin(βx)Ir
sin(βx)
I(x) = j Vr + cos(βx)Ir
Zc

então V(x) e I(x) mudam de fase por 2π radianos quando x = (ou seja, atinge-se
β
um comprimento de onda) e portanto
2π 1
λ= = √
β f LC
84 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

1
O termo √ representa a velocidade de propagação das ondas de tensão e corrente
LC
1
ao longo da linha de transmissão sem perda. Em linhas aéreas √ ≈ 3×108 m/s,
LC
e na freqüência de 60 Hz, λ ≈ 5 × 106 m; ou seja, comprimentos tı́picos de linhas
de transmissão são apenas uma fração de λ = 5000 km (lembrar que µ0 = 4π ×
10−7 H/m e ǫ0 = 8, 85 × 10−12 F/m).

Os parâmetros do quadripolo são dados por

A(x) = D(x) = cos(βx)


B(x) = jZc sin(βx)
sin(βx)
C(x) = j
Zc
onde A(x) e D(x) são números reais e B(x) e C(x) são números imaginários puros.
Os parâmetros do circuito π-equivalente da linha são expressos por

′ ′ sin(βl)
Z = jX = jX
βl
′ ′
Y B B tan(βl/2)
= j =j
2 2 2 (βl/2)

A Surge Impedance Loading - SIL, denominada potência natural, representa a potência


liberada por uma linha de transmissão sem perda a uma carga de fator de potência unitário
de valor igual a impedância caracterı́stica da linha. Se uma linha de transmissão sem
perdas supre uma carga de valor igual à SIL, então a corrente no terminal receptor é dada
por
Vr
Ir =
Zc
tal que a corrente e a tensão ao longo da linha de transmissão são expressas por

V(x) = [cos(βx) + j sin(βx)] Vr


Vr (3.21)
I(x) = [j sin(βx) + cos(βx)]
Zc
A análise das Eqs. (3.21) indica que, desde que k cos(βx) + j sin(βx)k = 1, as mag-
nitudes da tensão e da corrente no terminal receptor (x = 0) e ao longo da linha de
transmissão são respectivamente,

Vr
|V(x)| = |Vr | e |I(x)| =
Zc

Portanto, se a carga é igual à SIL, o perfil de tensão é horizontal, isto é, a magnitude da
tensão e da corrente em qualquer ponto da linha sem perda é constante. Por esta razão, a
potência real suprida à carga também permanece constante ao longo da linha. A potência
reativa que flui do terminal emissor ao terminal receptor é nula, como conseqüência de
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 85

que os Mvar gerados pela capacitância shunt são iguais aqueles consumidos pela reatância
indutiva série.
Na tensão nominal, a potência real liberada é dada por
2
Vnom
SIL =
Zc

onde Vnom é a tensão nominal da linha de transmissão (de fase ou de linha, dependendo
do valor de potência desejado). A tabela 3.2 apresenta valores tı́picos da impedância
caracterı́stica e da potência natural (SIL) para linhas de transmissão aéreas operando na
freqüência de 60 Hz.
r
2
L Vnom
Vnom (kV) Zc = (Ω) SIL = (MW)
C Zc
69 366-400 12-13
138 366-405 47-52
230 365-395 134-145
345 280-366 325-425
500 233-294 850-1075
750 254-266 2200-2300

Tabela 3.2: Valores tı́picos SIL e Zc

Na prática, a demanda conectada nos terminais receptores das linhas de transmissão


de potência não é igual à SIL das linhas. Dependendo do comprimento e da compensação
da linha, a carga pode variar de uma pequena fração (durante os perı́odos de carga leve)
até múltiplos da SIL (durante os perı́odos de carga pesada). Isto faz com que o perfil de
tensão ao longo da linha seja peculiar a cada tipo de carga, conforme mostra o exemplo
a seguir.

Ex. 3.7 A figura 3.16 mostra o perfil de tensão na linha de transmissão da seção anterior,
desprezando as perdas, para diferentes tipos de carga conectadas ao terminal receptor,
com a tensão no terminal emissor mantida constante no valor nominal. A impedância
série e a susceptância shunt da linha valem respectivamente z = 0, 3306 Ω/km e y =
4, 674 µS/km. A impedância caracterı́stica, a SIL e a constante de propagação desta
linha valem respectivamente 266,1 Ω; 2199,3 MW e 0.0012 rad/m. As grandezas estão
expressas no sistema por unidade, na base 765 kV e 2199,5 MVA. Com relação a esta
figura, observa-se que:

• na condição à vazio, a corrente que supre o terminal receptor é nula, isto é, Ir0 = 0,
tal que a tensão ao longo da linha aumenta de 1,0 pu (no terminal emissor) até
1,0733 pu (no terminal receptor), segundo a expressão Ve0 (x) = cos(βx)Vr0 ;

• se a impedância da carga é igual à (SIL), o perfil de tensão é horizontal no valor da


magnitude da tensão no terminal emissor, igual a 1,0 pu no presente caso;
86 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curva V x Comprimento

circuito aberto
SIL
1

carga indutiva 1

0.8
Modulo da Tensão (pu)

0.6

carga indutiva 2
0.4

0.2

carga indutiva 3

0
0 50 100 150 200 250 300
Distância (km)

Figura 3.16: Perfil de tensão da linha de transmissão para diferentes tipos de carga

• a magnitude da tensão no terminal receptor depende da especificação da carga, e em


geral está situado entre o perfil plano e a tensão de curto circuito;

• Variando-se a impedância da carga de (1, 0+j1, 0)Zc a (0, 01+j0, 01)Zc, a magnitude
da tensão decresce ao longo da linha, de 0,8865 pu até 0,0380 pu.

• se a impedância da carga é nula (curto circuito), Vrcc = 0 e Vcc (x) = (Zc sin(βx)) Ircc ;
isto é, a tensão decresce de Vs = (Zc sin(βl)) Ircc no terminal emissor até Vrcc = 0
no terminal receptor;

Com relação à potência liberada no terminal receptor de uma linha sem perda, con-
siderando que A possui apenas a componente real (e portanto θa = 0 grau) e Z e Y
possuem apenas as componentes imaginárias (e portanto θz = θy = 90 graus), as Eqs.
(3.14) se tornam

Vr Ve
Pr = sin δ
X′
(3.22)
Vr Ve AVr2
Qr = cos δ −
X′ X′
′ ′
XB
e, desde que A = D = 1 − ,
2

Vr2 Vr Ve
 
B 2
Qr = V − − cos δ
2 r X′ X′
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 87

onde a primeira parcela representa a potência reativa gerada pela suceptância shunt e a
segunda parcela é o fluxo de potência reativa na reatância série. Estas expressões podem
ser obtidas através das Eqs. (3.17), com R = G = 0.
A máxima potência que pode ser transferida ao terminal receptor sem perda de esta-
bilidade em regime permanente ocorre quando δ = 900 e vale
Vr Ve
Prmax =
X′
com a correspondente potência reativa igual a
 ′ 
B 1
Qr (Prmax ) = Vr2 − ′
2 X
′ 2π
e, desde que X = Zc sin(βl) e β = , o limite de estabilidade em termos da SIL é dado
λ
por
V pu V pu SIL
Prmax = e r 
2πl
sin
λ
onde as tensões terminais da linha são expressas em por unidade, adotando a tensão
nominal como base.

Ex. 3.8 Considerando a linha de transmissão da seção anterior, com as perdas despreza-
das, a qual tem reatância série e susceptância shunt nominais iguais a 99,18 Ω e 0,0014
S, respectivamente, reatância série e susceptância shunt equivalentes iguais a 96,90 Ω
e 0,0014 S, impedância caracterı́stica igual a 266,1 Ω, constante de propagação igual a
j0,0012 m−1 e comprimento de onda igual a 5000 km. Supondo que a magnitude das
tensões terminais são fixas no valor nominal, o ângulo de fase δ aumenta de 00 a 900 ,
conforme a potência ativa liberada pela linha aumenta. Quando a abertura angular da
linha é zero, a potência ativa suprida ao terminal receptor é zero, porém uma pequena
quantidade de potência ativa é gerada pela capacitância da linha, conforme pode ser ve-
rificado com auxı́lio da Eq. (??). A máxima potência que a linha pode liberar é dada
por
Vr Ve V pu V pu SIL
Prmax = = e r 
X ′
2πl
sin
λ
(765k)(765k) (1, 0)(1, 0)2199, 3
= ⇔  
96, 89 2π × 300
sin
5000
= 6040, 1 MW ⇔ 2, 7165SIL = 5974.4 MW
a qual representa o limite teórico de estabilidade em regime permanente para uma linha
sem perdas, com a correspondente potência reativa igual a -2,5579 pu. Note que a tensão
nominal da linha e a SIL foram adotados como valores base nestes cálculos.
A figura 3.17 mostra a representação geométrica da potência ativa transmitida em
função da variação da diferença angular entre as tensões terminais da linha. Note que,
88 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

neste caso a potência máxima transmitida ao terminal receptor através da linha de trans-
missão sem perdas ocorre quando a abertura angular entre as tensões terminais da linha
é 900 . Quando a abertura angular da linha é zero, não há fluxo de potência através do
Curvas P x Delta e Q x Delta − LT sem perdas
3

P x Delta
2

1
Potência Ativa (Reativa) (pu)

Q x Delta
−1

−2

−3

−4

−5

−6
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Ângulo da Tensão (graus)

Figura 3.17: Curvas Pδ e Qδ - linhas de transmissão sem perdas

elemento série da linha de transmissão, apenas os elementos shunt da LT geram 0,1886


pu(Mvar). Na abertura angular de 21,35 graus, a linha transmite 1,0 pu(MW) e 0,0
pu(Mvar); isto é, a carga é igual a SIL da LT. A transferência de potência ativa máxima
de 2,7465 pu(MW) ocorre em 90 graus, com a correspondente potência reativa igual a
-2,5579 pu(Mvar). Na abertura angular de 180 graus, o fluxo de potência ativa através da
LT é zero e o de potência reativa é igual a -5,3044 pu(Mvar). Portanto, a análise desta
figura permite as seguinte observações:
• o sentido do fluxo de potência ativa varia com a abertura angular da linha de trans-
missão e portanto é determinado pelo fasor tensão que está em avanço;
• quando a abertura angular atinge 90 graus (δ = 900 ), a transferência de potência
alcança o seu valor máximo (Pr = Pmax ), o que indica que o limite de estabilidade
estática foi atingido. Se a abertura angular ultrapassar 90 graus (δ > 900 ), o sin-
cronismo entre as barras é perdido e a potência transmitida decresce com o aumento
da defasagem angular;
Ve Vr
• o termo Pmax = é chamado potência de escape ou capacidade de transmissão.
X′
Este termo representa a potência máxima que a linha pode transmitir sem ultrapassar
o limite de estabilidade estática. Ele aumenta com o quadrado da magnitude da
tensão de transmissão e decresce com o aumento da reatância da linha. Isto explica
porque é desejável utilizar altas tensões de transmissão em sistemas com baixos
valores de reatâncias série.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 89

Com relação às curvas PV e QV no caso da linha de transmissão sem perdas, a equação
do quadripolo relativa à tensão é dada por

Ve = Vr cos(βl) + jZc sin(βl)Ir

onde a impedância caracterı́stica Zc é um número real, o qual por simplificação será


denotado nesta subseção por Zc .
Se a carga do terminal receptor é representada por uma injeção de potência constante
P + jQ, a injeção de corrente corrente correspondente é dada por
P − jQ
Ir =
Vr∗
e a tensão no terminal emissor é expressa por
 
P − jQ
Ve = Vr cos(βl) + jZc sin(βl) (3.23)
Vr∗
Supondo que a tensão no terminal emissor é mantida constante, a Eq. (3.23) pode ser
re-escrita como
Vr∗ Ve = Vr∗Vr cos(βl) + jZc sin(βl) (P − jQ)
= Vr2 cos(βl) + Zc Q sin(βl) + jZc P sin(βl)

onde Vr é a magnitude do fasor tensão Vr . Em termos de módulo,


2
Vr2 Ve2 = Vr2 cos(βl) + Zc Q sin(βl) + (Zc P sin(βl))2
= Vr4 cos2 (βl) + 2Vr2 Zc Q cos(βl) sin(βl) + Zc2 Q2 + P 2 sin2 (βl)


cujo re-arranjo fornece

Vr4 cos2 (βl) + Vr2 2Zc Q cos(βl) sin(βl) − Ve2 + Zc2 Q2 + P 2 sin2 (βl) = 0
 

onde fazendo y = Vr2 , obtém-se a equação quadrática

ay 2 + by + c = 0 (3.24)

onde a = cos2 (βl), b = (2Zc Q cos(βl) sin(βl) − Ve2 ) e c = Zc2 (Q2 + P 2 ) sin2 (βl).
Da mesma forma que no caso da Eq. (3.19), a magnitude da tensão no terminal
receptor é obtida resolvendo-se a Eq. (3.24), a qual a rigor possui quatro soluções, duas
das quais com significado fı́sico.

Ex. 3.9 A figura 3.18 mostra as curvas PV obtidas para cargas com diferentes fatores
de potência, com a tensão no terminal emissor fixada no valor nominal, para a linha de
transmissão da seção anterior. No caso da linha sem perdas, observa-se que quando a
carga é igual à potência natural (SIL) com fator de potência unitário, o perfil de tensão
é plano em 1,0 pu. Observe que neste caso a potência ativa máxima correspondente à
demanda crı́tica é superior àquela correspondente ao caso das linhas de transmissão com
perdas. As curvas QV correspondentes à linha sem perda são apresentadas na figura 3.19.
90 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curva P x V − LT sem perdas

fp capacitivo
1.2

fp unitário
1

Modulo da Tensão (pu)


fp indutivo
0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Potência Ativa (pu)

Figura 3.18: Curva PV - cargas com diferentes fatores de potência

Curva Q x V − LT sem perdas

1.2

1 Pr = Prmax
Modulo da Tensão (pu)

0.8
Pr = 0,75Prmax

0.6

Pr = 0,50Prmax
0.4

0.2 Pr = 0,25Prmax

0
−2.5 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1
Potência Reativa (pu)

Figura 3.19: Curva QV - cargas com diferentes fatores de potência

3.7 Compensação de Linhas de Transmissão


Esquemas de compensação de uma linha de transmissão são mostrados nas figuras 3.20
e 3.21. A linha de transmissão é representada por um circuito π-equivalente, no qual a
impedância série é Z = R + jX e a admitância shunt é Y = G + jB. Cada metade da
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 91

compensação reativa é instalada em um extremo da linha de transmissão. As grandezas


Nc e Nl representam respectivamente as quantidades percentuais de compensação reativa
expressas em função da reatância série e da susceptância shunt da linha de transmissão.
X Nc X Nc
Terminal −j( 2 )( 100 ) Z = R + jX −j( )( ) Terminal
2 100
receptor emissor

Y Y
2 2

Figura 3.20: Compensação reativa série de linhas de transmissão

A compensação série é utilizada para elevar a capacidade de carregamento das linhas


de transmissão longas. Os bancos de capacitores são instalados em série com cada fase
do sistema de transmissão. O seu efeito é reduzir a impedância série da linha de trans-
missão (e portanto a queda de tensão ao longo da linha), aumentando assim o limite de
estabilidade em regime permanente. O uso dos capacitores série é recomendado quando a
reatância da linha de transmissão é elevada. Se os requisitos de potência reativa da carga
são reduzidos, os capacitores série são de pouca utilidade, apesar de que o uso desses
dispositivos resulta numa redução da corrente na linha de transmissão. Se esta corrente
é limitada por considerções térmicas, pouca vantagem é obtida com o uso deste tipo de
compensação (neste caso capacitores shunt deveriam ser utilizados). Se a queda de tensão
e o aumento da transferência de potência são os fatores considerados, os capacitores série
são bastante efetivos. A desvantagem deste tipo de equipamento é que dispositivos au-
tomáticos de proteção têm que ser instalados para desviar as altas correntes durante a
ocorrência de faltas e re-inserir o banco de capacitores após a falta. O uso do banco de
capacitores série pode provocar o aparecimento de oscilações de baixa freqüência, origi-
nando o fenômeno chamado ressonância subsı́ncrona. Estas oscilações podem danificar o
eixo da turbina e do gerador. A despeito disso, estudos têm mostrado que a compensação
série pode aumentar a capacidade de carregamento das linhas de transmissão longas a
uma pequena fração do custo de um sistema de transmissão novo.
De maneira análoga, bancos de capacitores e indutores shunt podem ser utilizados
para aumentar a capacidade de carregamento das linhas de transmissão, assim como para
manter a magnitude da tensão próxima do valor nominal. Eles podem ser instalados
nos barramentos, em ambos os nı́veis de transmissão e distribuição, ao longo das linhas
de transmissão, ou nas subestações e cargas. Esses dispositivos constituem um meio
de fornecer potência reativa localmente, sendo possı́vel conectá-los permanentemente ou
chaveá-los para atuar de acordo com as variações de carga do sistema. Este chaveamento
pode ser manual ou automático, controlado por relógio ou pelos requisitos de tensão
e/ou potência reativa do sistema. Algumas caracterı́sticas do uso desses equipamentos na
compensação de potência reativa são sumarizadas a seguir.
92 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Terminal Z = R + jX Terminal
receptor emissor

Y Y
2 2

B Nl B Nl
−j( )( ) −j( )( )
2 100 2 100

Figura 3.21: Compensação reativa shunt de linhas de transmissão

Os reatores shunt são utilizados para consumir potência reativa gerada por linhas com
baixo carregamento. Os reatores shunt são geralmente instalados em pontos selecionados
ao longo das linhas de transmissão de Extra Alta Tensão, de cada fase ao neutro. Os
indutores absorvem potência reativa e reduzem as sobretensões durante os perı́odos de
carga leve e/ou resultantes de surtos de chaveamentos. Entretanto, sob condições de plena
carga é necessário remover o seu efeito da linha de transmissão a fim de que a capacidade
de carregamento da mesma não seja reduzido.
Os capacitores shunt são utilizados para gerar potência reativa em sistemas com alto
consumo de reativo e/ou muito carregados, com o objetivo de elevar a tensão num dos
terminais da linha de transmissão durante os perı́odos de carga pesada. No caso da
conexão desses bancos em paralelo com uma carga indutiva, os capacitores shunt fornecem
uma parte ou o suprimento total da potência reativa. Nesta condição, eles reduzem
a corrente transmitida para suprir a carga e portanto a queda de tensão na linha de
transmissão. Conseqüentemente, as perdas de potência ativa são reduzidas, melhorando
o fator de potência da carga e com isto uma quantidade de potência ativa maior pode ser
transmitida pela linha de transmissão.
A figura 3.22 mostra o circuito que ilustra o uso do capacitor shunt na compensação
reativa de uma barra. Neste circuito, toda a rede elétrica com exceção da barra em
questão é representada pelo circuito equivalente de Thèvenin. A tensão no barramento
antes do chaveamento do capacitor é igual à tensão da fonte, isto é

Vt = Eth

Após o chaveamento do capacitor a corrente no circuito é dada por


Eth
Ic =
Zth − jXc
e a tensão Vt na barra compensada é expressa como

Vt = Eth − Zth Ic = Eth − (Rth + jXth ) Ic

O diagrama fasorial mostrado na figura 3.23 ilustra como a magnitude da tensão au-
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 93

Chave S
Rth jXth

+ Ic

+
Eth G Capacitor C
Vt
- -

Figura 3.22: Capacitor shunt - compensação reativa

Ic jXth
Eth
Ic Ic Rth
Vth

Vt

Figura 3.23: Capacitor shunt - compensação reativa / diagrama fasorial

menta na barra onde o capacitor foi instalado. Supondo que a tensão Eth é constante,
o aumento na tensão Vt causado pela adição do capacitor é aproximadamente igual a
Ic Zth , desde que antes do chaveamento Vt = Eth . Observe que tanto no caso dos capa-
citores shunt como no caso dos reatores shunt, quando a magnitude da tensão decresce a
potência reativa envolvida por estes dispositivos também decresce. No caso particular dos
capacitores, em perı́odos de carga leve, quando a magnitude da tensão tende a aumentar,
a potência reativa gerada por estes equipamentos tende a fazer com que a magnitude da
tensão aumente ainda mais, com o risco de exceder os limites.
Sob o ponto de vista da representação da linha de transmissão por um quadripolo,
os esquemas de compensação série e shunt podem ser vistos como um agrupamento de
quadripolos, da forma mostrada na figura 3.24. O quadripolo 2 representa a linha de
transmissão enquanto que os quadripolos 1 e 3 são iguais e representam a compensação
reativa. Os parâmetros correspondentes à compensação série são dados por

A1 = A3 = 1
X Nc
B1 = B3 = −j( )( )
2 100 (3.25)
C1 = C3 = 0
D1 = D3 = A 1
94 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

e no caso da compensação shunt

A1 = A3 = 1
B1 = B3 = 0
B Nl (3.26)
C1 = C3 = −j( )( )
2 100
D1 = D3 = A 1

Ie I1 I2 Ir

+ Quadripolo 1 + Quadripolo 2 + Quadripolo 3 +


Ve A1 , B1 , V1 A2 , B2 , V2 A3 , B3 Vr
- C1 , D1 - C2 , D2 - C3 , D3 -

Figura 3.24: Compensação reativa - linhas de transmissão

As relações entre as tensões e correntes na entrada e na saı́da do quadripolo são


estabelecidas observando-se que na figura 3.24,
    
Ve A1 B1 V1
=
Ie C1 D1 I1
    
V1 A2 B2 V2
=
I1 C2 D2 I2
    
V2 A3 B3 Vr
=
I2 C3 D3 Ir

e portanto       
Ve A1 B1 A2 B2 A3 B3 Vr
= (3.27)
Ie C1 D1 C2 D2 C3 D3 Ir

Ex. 3.10 O efeito da compensação da linha de transmissão é ilustrado, tomando-se a


linha de transmissão longa da tabela 3.1. Uma compensação shunt de 75% resulta no valor
j0,000354 S para a admitância shunt, não havendo modificação no valor da impedância
série da linha. A figura 3.25 mostra as curvas PV com e sem compensação, para cargas
de fator de potência unitário e 0,8 indutivo. A compensação shunt causa uma redução
no nı́vel de tensão do terminal emissor e no valor máximo da potência ativa que pode
ser transmitida através da linha. Esta última modificação não é tão significativa porque
a transferência de potência depende fundamentalmente dos parâmetros série da linha.
Variações mais acentuadas ocorrem no nı́vel da magnitude de tensão no terminal emissor.
Por exemplo, na ausência de compensação as cargas de 0,5 pu(MW) com fator de potência
unitário e 0,1 pu com fator de potência 0,8 indutivo operam respectivamente nos nı́veis
de tensão de 1,0476 pu e 1,0411 pu. Com os 75% dee compensação essas tensões atingem
os valores 0,9909 pu e 0,9849 pu, respectivamente.
Por outro lado, a compensação série resulta numa modificação na impedância série
da linha de transmissão e na conseqüente variação no valor da potência máxima a ser
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 95

Curvas P x V − compensação shunt de LT com perdas

0.8

Modulo da Tensão (pu)

0.6 (4) (3) (2) (1)

0.4
(1): fp unitário (s/comp)

(2): fp unitário (c/comp)


0.2
(3): fp indutivo (s/comp)

(4): fp indutivo (c/comp)


0
0 0.5 1 1.5
Potência Ativa (pu)

Figura 3.25: Compensação shunt da linha de transmissão com perdas

transferida ao longo da linha. Assim, supondo uma compensação série de 30% (metade
instalada em cada extremo), os parâmetros dos quadripolos referidos na Eq. (3.27) são

A1 = A3 = 1
B1 = B3 = −j14, 53 S (0, 0546 pu)
C1 = C3 = 0
D1 = D3 = A 1

Aeq = 1, 0
Beq = 0.0177 + j0.2549 (pu)
Ceq = C3 = 0
Deq = D3 = A 1

o que resulta num aumento do limite de estabilidade estática para 3,642 pu (sem a com-
pensação série este limite é 2,610 pu), para o qual corresponde uma potência reativa de
-3,89 pu (o valor sem compensação é -2,551 pu). Portanto a compensação série resultou
num aumento de aproximadamente 39% da potência ativa que pode ser transferida man-
tendo a linha plana em 1,0 pu de tensão. Entretanto, isto requer que uma quantidade
maior de potência reativa seja suprida pelo terminal receptor ao sistema de transmissão.
A figura 3.26 mostra as curvas P δ e Qδ da linha com e sem compensação reativa.
96 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curvas P x Delta e Q x Delta − compensação série de LT com perdas


4

(2)

2 (1)

Potência Ativa (Reativa) (pu)


0

−2

(3)

−4
(1): P−Delta (s/comp) (4)
(2): P−Delta (c/comp)
(3): Q−Delta (s/comp)
−6 (4): Q−Delta (c/comp)

−8
−150 −100 −50 0 50 100 150
Ângulo da Tensão (graus)

Figura 3.26: Compensação série da linha de transmissão com perdas

3.8 Desempenho das linhas de transmissão


Durante a operação em regime permanente, o desempenho das linhas de transmissão pode
ser avaliado com base nas seguintes figuras de mérito:
• regulação de tensão;
• rendimento;
• nı́vel de carregamento.
A regulação de tensão de uma linha de transmissão é definida como a variação de
tensão no terminal receptor, quando a carga varia da condição a vazio até a plena carga
com um fator de potência especificado e a tensão no terminal emissor mantida constante;
isto é,
|Vr0 | − Vrpc
RV (%) =
Vrpc
× 100

onde, RV (%) é a regulação percentual de tensão,


|Vr0 | é a magnitude da tensão no
terminal receptor na condição a vazio e Vrpc é a magnitude da tensão no terminal
receptor na condição de plena carga.
As figuras 3.27 e 3.28 mostram os diagramas fasoriais da tensão nos terminais de
uma linha de transmissão considerando apenas os parâmetros série da linha, quando a
linha supre cargas indutiva e capacitiva, respectivamente. A tensão a vazio é obtida das
equações do quadripolo, fazendo-se a corrente no terminal receptor igual a zero (Ir = 0),
o que resulta em
Ve
V r0 =
A
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 97

No presente caso, a corrente na linha de transmissão é zero na condição à vazio (Ir0 = 0),
tal que Vs = Vr0 .

V s = V r0

Vrpc jXIrpc

RIrpc
Irpc

Figura 3.27: Regulação - carga indutiva

V s = V r0

jXIrpc
Irpc

RIrpc
Vrpc

Figura 3.28: Regulação - carga capacitiva

Nas figuras 3.27 e 3.28, observa-se que a regulação mais elevada tende a ocorrer no
caso do fator de potência em atraso. Um valor mais reduzido da regulação (as vezes até
negativo) pode ser obtido no caso de fator de potência em avanço. A regulação de tensão
é uma figura de mérito relativamente fácil de se calcular e fornece uma medida escalar
da queda de tensão ao longo da linha. O valor exato desta queda de tensão é obtido
através da diferença entre os fasores tensão nos terminais emissor e receptor da linha de
transmissão.
O rendimento de uma linha de transmissão é definido como:
Pr Pe − Pl
η(%) = = × 100
Pe Pe
onde, Pr é a potência ativa de saı́da, Pe é a potência ativa de entrada e Pl é o valor das
perdas de potência ativa na linha de transmissão. Estas perdas compreendem basicamente
as perdas Joule nas resistências série das linhas de transmissão.
O nı́vel de carregamento das linhas de transmissão pode ser caracterizado de três
formas:
• através do limite térmico;
98 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

• através da queda de tensão;

• através do limite de estabilidade em regime permanente.

O limite térmico está relacionado à máxima temperatura que o condutor pode supor-
tar, a qual afeta o arco formado no seu vão (entre as torres de sustentação) e a sua rigidez
térmica. A temperatura do condutor depende:

• da magnitude da corrente que o percorre;

• do tempo de duração da magnitude da corrente que o percorre;

• da temperatura ambiente;

• da velocidade do vento;

• da condição da superfı́cie do condutor.

Se a temperatura é alta demais, o requisito de distância prescrita entre o condutor e


a terra pode não ser satisfeito ou o limite de elasticidade do condutor pode ser excedido,
de tal forma que ele não possa retornar ao seu estado original após resfriado. O limite de
carregamento das linhas curtas em geral é determinado pelo limite térmico do condutor,
ou pelos valores nominais limites dos equipamentos conectados nos terminais da linha de
transmissão (disjuntores etc).
Em linhas mais longas, com comprimento até 300 km, o carregamento depende do
limite estabelecido para a queda de tensão máxima permitida. Em geral, uma queda de
tensão de aproximadamente ±5%, ou seja, 0, 95Ve ≤ Vr ≤ 1, 05Ve é aceita na prática
como razoável. Na prática, a tensão nas linhas de transmissão decresce na condição de
carga pesada e aumenta na condição de carga leve. Nos sistemas de Extra Alta Tensão
(EAT), a magnitude das tensões deve ser mantida dentro da faixa de ±5% em torno do
valor nominal, correspondendo a uma regulação em torno de 10%. Este valor de regulação
também é considerado adequado para linhas de transmissão com nı́veis de tensão mais
baixos (incluindo transformadores).
O carregamento de linhas de transmissão com comprimento maior do que 300 km
é estabelecido com base nos estudos de estabilidade em regime permanente (habilidade
das máquinas sı́ncronas do sistema permanecerem em sincronismo), os quais fornecem
os limites para as aberturas angulares das linhas de transmissão, necessários (mas não
suficientes) para que o sistema de potência permaneça estável.

3.9 Exercı́cios
3.1 Considere uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 300 km, 765 kV, transposta,
composta de quatro condutores ACSR 1272000 CMil 54/3, cada um destes com com z =
0, 0165 + j0, 3306 = 03310∠87, 140 Ω/km e y = j4, 674 × 10−6 S/km por fase. A tensão
no terminal emissor é constante e igual à tensão nominal da linha. Determine:

1. o carregamento da linha em termos de fluxo de potência, supondo que a tensão no


terminal receptor é 0,95 pu e que a abertura angular da linha é 350 ;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 99

2. a corrente de plena carga com base no carregamento determinado no item anterior;

3. a regulação percentual para a corrente de plena carga.

3.2 Reatores shunt idênticos são conectados de cada fase ao neutro em ambos os termi-
nais da linha de transmissão do problema 3.1. Durante as condições de carga leve, eles
fornecem uma compensação reativa de 75 %. Os reatores são removidos durante o perı́odo
de plena carga. A plena carga é 1,90 kA a 730 kV e fator de potência unitário. Supondo
que a tensão no terminal transmissor é mantida constante, determine:

1. a regulação percentual da linha não compensada;

2. a admitância shunt e a impedância equivalente da LT compensada;

3. a regulação percentual da linha compensada;

3.3 Capacitores série idênticos são instalados em cada fase de ambos os extremos da LT
do problema 3.1, fornecendo 30 % de compensação. Supondo que a tensão nos extremos
da LT é 765 kV, determine a potência ativa máxima que a linha compensada pode liberar
e compará-lo com aquele da LT não compensada.

3.4 Deseja-se transmitir 9000 MW de uma usina hidrelétrica até uma carga localizada a
500 km. Determine o número de linhas trifásicas, 60 Hz, requeridas para transmitir esta
potência supondo a necessidade de uma linha de transmissão de reserva (a qual estará
sempre fora de serviço) nos seguintes casos:

• LT de 345 kV, com Zc = 297Ω;

• LT de 500 kV, com Zc = 277Ω;

• LT de 765 kV, com Zc = 266Ω;

Considere que as perdas de potência ativa na linha são desprezı́veis, a magnitude da tensão
nos terminais emissor e receptor são respectivamente 1,00 e 0,95 pu, e a abertura angular
da linha é 350 . Verifique se é possı́vel transmitir a potência requerida no exemplo anterior
com 5 ao invés de 6 condutores, se existem duas subestações intermediárias que dividem
cada linha em três seções de 167 km, e se uma seção de um dos condutores da linha está
fora de serviço.

3.5 Seja uma linha de transmissão com uma reatância série de 30 Ω/fase. Com o
objetivo de aumentar a sua capacidade de transmissão, deseja-se reduzir a sua impedância
por fase em 40 %, inserindo-se compensação série em cada fase. A corrente de maior
intensidade que pode fluir na linha é 1,0 kA. Considerando que a freqüência do sistema é
60 Hz,

1. calcule a capacitância que deve ser instalada em cada fase, a fim de que seja feita a
compensação série desejada;
100 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

2. suponha que os capacitores disponı́veis na praça comercial tem valores de placa 50


A, 2 kV. Como devem ser combinadas essas unidades num banco a fim de efetuar
a citada compensação?

3. se a corrente que flui na linha atinge o seu valor máximo, qual a potência produzida
por cada unidade? Qual a potência reativa total produzida pela compensação da LT?

3.6 Considere uma linha de transmissão trifásica, de 130 km, com resistência e in-
dutância séries e e capacitância shunt de 0,036 Ω/km, 0,8 mH/km e 0,0112 µF/km por
fase, respectivamente. Determine a impedência série e a admitância shunt do circuito
π-nominal que representa esta linha, e os parâmetros E, F, G e H da equação matricial
    
Vr E F Ve
=
Ir G H Ie

supondo que a mesma opera na freqüência de 60 Hz.

3.7 As constantes de uma linha de transmissão trifásica, 230 kV, 370 km de compri-
mento, em 60 Hz são: A = D = 0, 8904∠1, 340 pu, B = 186, 78∠79, 460 Ω e C =
0, 001131∠900 S.

1. Determine a tensão, a corrente e a potência no terminal emissor quando esta linha


supre uma demanda de 125 MW com fator de potência 0,8 em atraso, a 215 kV.

2. Calcule as perdas de potência ativa e reativa e o rendimento do sistema de trans-


missão.

3. Calcule a tensão no terminal receptor quando esta linha opera em circuito aberto,
com 230 kV no terminal emissor.

4. Determine a compensação reativa no terminal receptor, para que na condição do


item anterior a tensão neste terminal seja 230 kV.

3.8 Uma linha de transmissão trifásica de 480 km supre uma carga de 300 MVA, na
tensão de 500 kV, com fator de potência 0,8 atrasado. Os parâmetros de quadripolo desta
linha são: A = D = 0,8180 ∠1, 30 pu; B = 62,2 ∠84, 20 Ω e C = 0.0054 ∠90, 50 S.

1. determine a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor e a queda


de tensão na linha de transmissão;

2. determine as mesmas grandezas do item anterior para a condição à vazio;

3. calcule a regulação de tensão desta linha.

3.9 Considere uma linha de transmissão trifásica sem perdas, 60 Hz, 500 kV, 300 km,
com parâmetros 0,97 mH/km e 0,0115 µF/km.

1. determinar a constante de propagação, a impedância caracterı́stica da linha e os


parâmetros do quadripolo que representa a linha;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 101

2. determinar o limite de estabilidade em regime permanente quando a tensão nos dois


extremos da linha é igual a 500 kV.

3. Determinar a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor quando


a linha de transmissão supre:

• uma carga igual a potência natural (SIL) na tensão de 500 kV;


• uma carga de 400 MVA, na tensão de 500 kV e com fator de potência unitário;
• uma carga de 1600 MVA, na tensão de 500 kV e com fator de potência unitário;

Interprete os resultados.

3.10 Discorra sobre os seguintes aspectos relacionados a modelagem e análise de desem-


penho da linha de transmissão:
1. Modelos de linha de transmissão curta, média e longa e respectivos efeitos conside-
rados;

2. Potência natural (SIL) de uma linha de transmissão e aspectos relevantes da operação


com carregamento igual, superior e inferior a SIL;

3. Tipos de compensação reativa utilizados e seus respectivos efeitos. Justifique.

3.11 Considere uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 280 km, impedância série
igual a 35 + j140 Ω e admitância shunt igual a 930 ×10−6 ∠900 S. Supondo que esta linha
está suprindo 40 MW, na tensão de 220 kV, com fator de potência 0,90 atrasado,
1. determine a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor:

• adotando as aproximações de uma linha curta;


• adotando as aproximações de uma linha média;
• adotando as equações de uma linha longa;

2. Suponha que a tensão no terminal emissor permanece constante. Calcule o rendi-


mento e a regulação de tensão desta linha para cada suposição do item anterior.

3. Qual o valor da compensação reativa que fará com que esta linha se comporte como
uma linha curta?

3.12 A tensão no terminal emissor de uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 400
km, é 220 kV. Os parâmetros da linha são: resistência série igual a 0,125 Ω/km, reatância
série igual a 0,500 Ω/km e susceptância shunt igual a 3,312 µS/km.
1. determine a corrente no terminal emissor quando o terminal receptor está operando
à vazio;

2. determine a corrente, a tensão e a potência aparente no terminal emissor quando


o terminal receptor está suprindo uma carga de 80 MW em 220 kV, com fator de
potência unitário.
102 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

3. Suponha que a tensão no terminal emissor é mantida constante no valor calculado


para o suprimento da carga. Calcule o rendimento e a regulação de tensão da linha
para esta condição.

3.13 Considere uma linha de transmissão trifásica com as seguintes caracterı́sticas: 100
km, 230 kV e 60 Hz, com resistência série de 0,088 Ω/km, reatância série de 0,4654
Ω/km por fase, susceptância shunt igual a 3.524 µS/km e corrente em regime normal de
operação igual a 900 A. Tomando como base a potência de 100 MVA e a tensão nominal
da linha, determine:
1. a potência da linha de transmissão em MVA, em regime normal de operação;

2. a impedância caracterı́stica e a constante de propagação da LT em grandezas di-


mensionais;

3. os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo que representam a linha de


transmissão em valores por unidade;

4. a potência natural (SIL) da LT em valores por unidade;

5. a potência natural, caso o comprimento da LT fosse 600 km;

6. a potência máxima que pode ser transmitida pela LT desprezando as perdas.

3.14 Considere uma linha de transmissão com os mesmos valores nominais da LT da


questão anterior e comprimento igual a 500 km. Desprezando as perdas e a admitância
shunt, qual o percentual de compensação série requerida para que seja possı́vel transmitir
potência máxima igual 565,9 MW? Especifique a capacidade de compensação em regime
permanente em termos de potência, corrente e tensão.

3.15 Considere uma linha de transmissão com parâmetros série Z = j3 % e shunt


Y = j180%, conectando um gerador que opera na tensão 1,0 pu(kV) com fator de potência
0,9 atrasado e uma carga de 5,0 + j2,0 pu(MVA).
1. Supondo a ausência de compensação shunt no terminal emissor da linha de trans-
missão, qual a compensação no terminal receptor necessária para viabilizar esta
situação?

2. Qual a compensação shunt nos dois extremos da linha, necessária para manter a
tensão de 1,0 pu no gerador e na carga.

3.16 Considere uma linha de transmissão trifásica com as seguintes caracterı́sticas: 300
km, 230 kV e 60 Hz, com perdas desprezı́veis, reatância série de 0,48 Ω/km por fase,
susceptância shunt igual a 2,25 µS/km. Determine:
1. os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo que representam a linha de
transmissão; e a potência natural (SIL) desta linha;

2. a tensão, a corrente e a potência aparente na entrada da linha de transmissão quando


esta supre uma demanda igual a potência natural, na tensão nominal;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 103

3. no caso anterior, qual a potência reativa produzida pelos parâmetros série e shunt
da linha?

3.17 Considere uma linha de transmissão trifásica, 345 kV, comprimento de 320 km,
dois condutores 795000 CMil por fase, 60 Hz, resistência, reatância e susceptância res-
pectivamente de 0,0369 Ω/km, 0,3675 Ω/km e 4,5×10−6 S/km. Despreze as perdas de
potência ativa e determine:

1. a constante de propagação, a impedância caracterı́stica, a potência natural (SIL),


os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo representativos da LT;

2. a magnitude da tensão no terminal receptor, quando o mesmo opera em circuito


aberto com tensão nominal aplicada no terminal emissor;

3. a magnitude da tensão no terminal receptor, quando a linha supre uma carga igual
a SIL, com tensão nominal aplicada no terminal emissor. Justifique.

4. a tensão, a corrente, a potência no terminal emissor, a regulação e o rendimento,


quando a linha supre uma carga de 200 Mw com fator de potência 0,8 atrasado, com
tensão de 345 kV no terminal receptor;

5. comente sobre os valores de potência reativa nos terminais emissor e receptor da


linha de transmissão, para a condição de operação do item anterior.
104 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão
Capı́tulo 4

Fluxo de Potência

4.1 Introdução
Este capı́tulo aborda o problema de fluxo de potência, com ênfase em três aspectos.
O primeiro é a representação analı́tica da operação do sistema de potência em regime
permanente por um conjunto de equações algébricas não lineares. Para a determinação
deste modelo, assume-se que o sistema trifásico é balanceado e a rede de transmissão é
representada pelas correspondentes impedâncias de seqüência positiva. O segundo aspecto
enfocado diz respeito a descrição dos métodos básicos de solução para determinar as
tensões complexas ao longo da rede elétrica, e a partir destas calcular outras grandezas de
interesse tais como a corrente e os fluxos de potência nas linhas de transmissão, as injeções
de potência etc. O terceiro aspecto mostra como as soluções do fluxo de potência devem
ser ajustadas visando servir de referência a operação do sistema em regime permanente
sob o ponto de vista prático.

4.2 Conceitos Básicos


Considere uma barra genérica i, conforme mostrado na figura 4.1, a qual estão associados
os seguintes fasores:

• Sgi e Igi : injeções de potência aparente e corrente, respectivamente, correspondentes


ao gerador e relacionadas segundo a equação

S∗gi Pg − jQgi
Igi = ∗
= i
Vi Vi ∠ − δi

• Sdi e Idi : injeções de potência aparente e corrente, respectivamente, correspondentes


a carga e relacionadas de acordo com a expressão

S∗di Pd − jQdi
Idi = ∗ = i
Vi Vi ∠ − δi

• Vi = Vi ∠δi : tensão complexa na barra i;


106 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

os quais relacionam as seguintes variáveis:

Pgi , Qgi , Pdi , Qdi , Vi , δi

Além disso, os fluxos de potência aparente

Sij = Pij + jQij


Sik = Pik + jQik
Sil = Pil + jQil

saem da barra i em direção às barras j, k e l, respectivamente.

Sgi Sdi
(Jgi ) (Jdi )

Barra i Vi

Sil = Pil + Qil Sik = Pik + Qik

Sij = Pij + Qij

para a barra l para a barra j para a barra k

Figura 4.1: Barra genérica

Para simplificar a representação do circuito equivalente, reduz-se o número de variáveis


por barra agrupando-se as potências geradas e consumidas, resultando deste procedimento
a chamada injeção lı́quida de potência da barra, isto é

Si = Sgi − Sdi = (Pgi − Pdi ) + j(Qgi − Qdi ) = Pi + jQi

à qual corresponde a injeção lı́quida de corrente

Ii = Igi − Idi = (Igi p − Idi p ) + j(Igi q − Qdi q ) = Iip + jIiq

e portanto
S∗i
Ii =
Vi∗
O balanço de potência aparente na barra i pode ser estabelecido observando-se na
figura 4.1
Sgi = Sdi + Sij + Sik + Sil
ou seja
Pgi + jQgi = Pdi + jQdi + Pij + jQij + Pik + jQik + Pil + jQil
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 107

tal que, separando as partes real e imaginária, obtém-se


Pgi = Pdi + Pij + Pik + Pil
Qgi = Qdi + Qij + Qik + Qil
ou alternativamente
Pi = Pij + Pik + Pil
Qi = Qij + Qik + Qil
Ex. 4.1 Para exemplificar como é realizado o balanço de potência, considere a operação
do sistema mostrado na figura 4.2, com a magnitude da tensão plana em 1,0 pu, de forma
que 75 % da demanda de potência ativa consumida na barra 2 seja suprida através da
linha 1-2. Supõe-se que há um compensador sı́ncrono instalado na barra 2, para manter
o nı́vel da magnitude da tensão nesta barra em 1,0 pu. O objetivo é estabelecer os nı́veis
de potência ativa e reativa com que devem operar os geradores conectados as barras 1 e
3 e o compensador sı́ncrono da barra 2. Os valores por unidade mostrados no diagrama
estão na base 100 MVA. As cargas das barras 1, 2 e 3 são respectivamente 40 MVA com
fator de potência 0,80 atrasado, 200 MVA com fator de potência 0,80 atrasado e 20 MVA
com fator de potência 0,85 atrasado.
G1 CS
Sg1 Sg2

1 V1 = 1, 0∠00 pu 2 V2 = 1, 0∠δ2 pu
Sd1 Sd2
Z12 = j0, 05 pu

Z13 = j0, 20 pu Z23 = j0, 025 pu

3 V3 = 1, 0∠δ3 pu
Sd3
Sg3

G3

Figura 4.2: Sistema de 3 barras - diagrama unifilar

Conforme mostrado no capı́tulo anterior, o fluxo potência numa linha de transmissão


sem perdas e com reatância série igual a X é dado por
Vi Vj
Pij = sin δij
X (4.1)
Vi
Qij = (Vi − Vj cos δij)
X
108 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Desde que a magnitude da tensão é a mesma em todas as barras, os fluxos de potência


reativa que saem das barras 1, 2 e 3 são todos iguais e positivos. Por esta razão, não
seria possı́vel operar o sistema plano em 1,0 pu de tensão sem os dispositivos de geração
de potência reativa instalados nas barras 1, 2 e 3. As demandas de potência aparente
nas barras 1, 2 e 3 são re spectivamente 0,32 + j0,24 pu(MVA), 1,6+j1,2 pu(MVA) e
0,17+j0,105 pu(MVA). O fluxo de potência ativa na linha de transmissão 1-2 é
1, 0 × 1, 0
0, 75(1, 6) = sin δ12
0, 05

tal que δ12 = 3, 430 e, adotando o ângulo da barra 1 como referência, δ2 = −3, 430 . Os
fluxos de potência reativa na linha 1-2 são Q12 = Q21 = 0,036 pu. De maneira análoga,
δ32 = 0, 570 , δ3 = −2, 860 , Q32 = Q23 = 0,002 pu, P31 = -0,249 pu, Q13 = Q31 = 0,006
pu. O balanço de potência em cada barra fornece: Pg1 = 1,769 pu, Qg1 = 0,282 pu, Pg2 =
0,0 pu, Qg2 = 1,238 pu, Pg3 = 0,321 pu e Qg3 = 0,113 pu.

4.3 Equações Estáticas da Rede Elétrica


Para estabelecer as equações não lineares resolvidas no problema de fluxo de potência,
considere o diagrama unifilar mostrado na figura 4.3.
G1 G2
Sg1 Sg2
Ig1 Ig2

1 V1 V2 2
Sd1 Sd2
LT1
Id1 Id2

LT2 LT3

V3 3
Sd3
Id3

Figura 4.3: Sistema de 3 barras - diagrama unifilar

As injeções lı́quidas de potência nas barras são dadas por

S1 = Sg1 − Sd1 = (Pg1 − Pd1 ) + j(Qg1 − Qd1 ) = P1 + jQ1


S2 = Sg2 − Sd2 = (Pg2 − Pd2 ) + j(Qg2 − Qd2 ) = P2 + jQ2
S3 = Sg3 − Sd3 = (Pg3 − Pd3 ) + j(Qg3 − Qd3 ) = P3 + jQ3
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 109

e expressas em termos das injeções de corrente por


S1 = V1 I∗1
S2 = V2 I∗2
S3 = V3 I∗3
O circuito equivalente ao sistema de três barras é mostrado na figura 4.4. As ad-
mitâncias y1 , y2 , e y3 incluem as susceptâncias shunt das linhas de transmissão 1 − 2,
1 − 3 e 2 − 3.

y5

1 y4 2 y6 3

S1 S2 S3
I1 y1 I2 y2 I3 y3

(0) nó de referência

Figura 4.4: Sistema de 3 barras - circuito equivalente

A aplicação da lei dos nós de Kirchhoff ao circuito mostrado na figura 4.4 resulta nas
seguintes equações:
    
I1 (y1 + y4 + y5 ) −y4 −y5 V1
 I2  =  −y4 (y2 + y4 + y6 ) −y6   V2  (4.2)
I3 −y5 −y6 (y3 + y5 + y6 ) V3
ou, na forma compacta,
Ibarra = Ybarra Vbarra
Vbarra = Zbarra Ibarra
onde, Ibarra é o vetor das injeções de correntes nas barras; Ybarra é a matriz admitância
de barra e Vbarra é o vetor das tensões de barra.
Os termos da matriz admitância de barra da Eq. (4.2) são genericamente expressos
como
Xn
Yii = yij
j=0 (4.3)
Yij = −yij
110 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

onde 0 é o nó de referência e yij é a admitância do elemento de ligação entre os nós i


e j. Portanto, a somatória mostrada na Eq. (4.3) inclui todos os elementos de ligação
incidentes na barra i.
A matriz impedância de barra é definida como o inverso da matriz admitância de
barra; isto é,
−1
Zbarra = Ybarra
A matriz admitância de barra é esparsa e portanto Zbarra é uma matriz geralmente
densa. Os seus termos são interpretados da seguinte forma:
• o elemento Zii é denominado impedância própria (driving point impedance) da barra
i e representa todos os caminhos entre a barra i e a terra;
• o elemento Zik é chamado impedância de transferência entre as barras i e k;
Considerando que
S∗1 P1 − jQ1
I1 = ∗
=
V1 V1∗
S∗ P2 − jQ2
I2 = 2∗ =
V2 V2∗
S∗ P3 − jQ3
I3 = 3∗ =
V3 V3∗
é possı́vel expressar as Eqs. (4.2) em termos de potência elétrica, isto é,
P1 − jQ1
    

(y1 + y4 + y5 ) −y4 −y5 V1

 P − V1    
 2 jQ  
2   
∗ = −y4 (y2 + y4 + y6 ) −y6   V2  (4.4)
V
    
 P3 − 2jQ3  
   
−y5 −y6 (y3 + y5 + y6 ) V3
V3∗
A Eq. (4.4) pode ser expressa na forma generalizada por
n
X
Pi − jQi = Vi∗ Yij Vj (4.5)
j=1

a qual é usada para calcular as injeções de potência ativa e reativa em função das tensões
complexas nodais. Um sistema genérico de n barras possui 6n variáveis e n equações não
lineares e complexas, semelhantes a Eq. (4.5), ou alternativamente 2n equações reais e
não lineares.
As Eqs. (4.5) representam o modelo estático do sistema de potência de 3 barras
mostrado na figura 4.3. Estas equações são algébricas e não lineares, e a sua solução
requer o uso de métodos numéricos iterativos. Note que a freqüência aparece implicita-
mente através dos parâmetros da rede elétrica. Estas equações relacionam um total de 18
variáveis e podem ser decompostas em 6 equações reais. Desde que o número de equações
é menor do que o de incógnitas, 12 variáveis devem ter o seu valor especificado, o que é
feito observando-se que:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 111

• as demandas de potência ativa e reativa são conhecidas e portanto podem ser con-
sideradas variáveis especificadas;

• a magnitude da tensão (ou opcionalmente a geração de potência reativa) das barras


de geração é uma variável fisicamente controlada, e portanto pode ter o seu valor
especificado;

• um ângulo é adotado como referência, de forma que todos os outros são expressos
em relação a este ângulo;

• as perdas de potência nas linhas de transmissão não são conhecidas e portanto não
é possı́vel especificar a priori a potência de todos geradores simultaneamente. Uma
geração deve permanecer em aberto para completar o balanço total de potência do
sistema após conhecidas as perdas.

Para ilustrar como a Eq. (4.5) é usada para estabelecer as equações que representam
a operação do sistema de potência em regime permanente, considere o sistema mostrado
na figura 4.5, o qual representa uma máquina sı́ncrona suprindo uma carga expressa em
termos de potência constante por 0,36 + j0,20 pu(MVA) (na base 100 MVA), através de
uma linha de transmissão com perdas e admitância shunt desprezı́veis e reatância de 0,25
pu(Ω). O objetivo é determinar como deve operar a máquina de forma a suprir a carga,
num nı́vel de tensão satisfazendo os limites de 0,95 a 1,05 pu(kV), respeitando os limites
de capacidade do gerador sı́ncrono.

Sg1

V1 V2
Barra 1 Barra 2
(referência)
LT

Sd1 = 0, 36 + j0, 20 pu

Figura 4.5: Diagrama unifilar para o problema exemplo

Uma análise preliminar deste problema, permite observar que 12 variáveis estão as-
sociadas a estas duas barras, 6 das quais com o valor automaticamente especificado
(Pd1 = Qd1 = 0, Pg2 = Qg2 = 0, Pd2 = 0, 36 pu, Qd2 = 0, 20 pu). As variáveis
fisicamente controláveis na máquina sı́ncrona são a potência ativa gerada (através do tor-
que mecânico da máquina primária) e a magnitude da tensão (através da corrente de
excitação). O ângulo da barra 1 é adotado como referência e a magnitude da tensão na
barra 1 é especificada em 1,0 pu, isto é V1 = 1, 0∠00 pu. Com isto, obtém-se 2 equações
112 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

complexas da forma da Eq. (4.5) e 4 incógnitas (V2 , δ2 , Pg2 , Qg2 ), dadas por
2
X
P1 − jQ1 = V1∗ Y1j Vj
j=1

= V1∗Y11 V1 + V1∗Y12 V2
2
(4.6)
X

P2 − jQ2 = V2 Y2j Vj
j=1

= V2 Y21 V1 + V2∗Y22 V2

A matriz admitância de barra deste sistema é dada por


 
4, 0 −4, 0
Ybarra = −j
−4, 0 4, 0

tal que a Eq. (4.6) é expressa por

P1 − jQ1 = V1 ∠00 (−j4, 0)V1 ∠00 + V1 ∠00 (j4, 0)V2∠δ2


= −j4, 0V12 + j4, 0V1 V2 cos δ2 − 4, 0V1 V2 sin δ2
(4.7)
P2 − jQ2 = V2 ∠ − δ2 (j4, 0)V1∠00 + V2 ∠ − δ2 (−j4, 0)V2 ∠δ2
= 4, 0V1 V2 sin δ2 + j4, 0V1 V2 cos δ2 − j4, 0V22

e, desde que V1 = 1, 0 pu, Pd2 = 0, 36 pu e Qd2 = 0, 36 pu, então

P1 − jQ1 = j4, 0(−1, 0 + V2 cos δ2 ) − 4, 0V2 sin δ2


(4.8)
−0, 36 + j0, 20 = 4, 0V2 sin δ2 + j(4, 0V2 cos δ2 − 4, 0V22 )

A solução da Eq. (4.8) é obtida resolvendo-se primeiro a equação

−0, 36 + j0, 20 = 4, 0V2 sin δ2 + j(4, 0V2 cos δ2 − 4, 0V22 ), (4.9)

o que implica em determinar a solução do sistema de equações não lineares


−0, 36 = 4, 0V2 sin δ2
(4.10)
0, 20 = 4, 0V2 cos δ2 − 4, 0V22

o qual é obtido separando-se a Eq. (4.9) em partes real e imaginária; e posteriormente


calculando-se as injeções de potência da barra 1, as quais são dadas por
P1 = −4, 0V2 sin δ2
Q1 = 4, 0(−1, 0 + V2 cos δ2 )

O sistema não linear da Eq. (4.10) pode ser resolvido através de métodos iterativos,
tais como Newton-Raphson, Gauss-Seidel etc. No nı́vel especificado para a tensão da
barra 1, a solução deste sistema é
V2 = 0, 942 pu(kV ) δ2 = −5, 480
P1 = 0, 36 pu(MW ) Q1 = 0, 2477 pu(Mvar)
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 113

V2 δ2 P1 Q1
(pu) (graus) (pu) (pu)
V1 =1,02 pu 0,964 -5,25 0,36 0,2456
V1 =1,05 pu 0,996 -4,94 0,36 0,2427

Tabela 4.1: Soluções do sistema não linear

a qual apresenta a magnitude de tensão na barra 2 abaixo do limite mı́nimo de 0,95 pu.
Para corrigir o nı́vel da tensão na barra 2, é necessário re-especificar a magnitude da
tensão na barra 1, através do ajuste da corrente de excitação da máquina sı́ncrona.
A tabela 4.1 apresenta soluções correspondentes a duas especificações de tensão na
barra 1. A análise das 3 soluções obtidas mostra que a magnitude da tensão na barra
2 é indiretamente controlada pela magnitude da tensão na barra 1. Conforme o nı́vel
de tensão aumenta, menores aberturas angulares da linha de transmissão são necessárias
para suprir potência ativa da carga e menores quantidades de potência reativa circulam
na linha.

4.4 Formulação do Problema de Fluxo de Potência


Conforme mostrado na seção anterior, a injeção de corrente na barra i e a injeção lı́quida
de potência aparente correspondente são dadas respectivamente por
n
S∗ X
Ii = i∗ = Yij Vj
Vi j=1
n
X
S∗i = Vi∗ Yij Vj
j=1

Desde que
n
X
S∗i = (Vi ∠ − δi ) Yij (Vj ∠δj )
j=1

então n
X
S∗i = Vi Yij (Vj ∠δji )
j=1

onde δji = δj − δi , tal que separando esta equação em partes real e imaginária, obtém-se
as expressões das injeções de potência ativa e reativa em função do ângulo e da magnitude
das tensões nodais, isto é,
n
X
Pi (V, δ) = Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.11)
X
Qi (V, δ) = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1
114 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

onde Gij e Bij são elementos da matriz admitância de barra.


Considerando que

Si = (Pgi − Pdi ) + j(Qgi − Qdi ) = Pi + jQi

então o balanço de potência na i-ésima barra é dado por


n
X
∆Pi = (Pgi − Pdi ) − Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.12)
X
∆Qi = (Qgi − Qdi ) − Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1

onde ∆Pi e ∆Qi são denominados discordâncias (desbalanços, resı́duos, desvios) de potência,
e representam a diferença entre a injeção de potência oriunda da geração e da carga e a
potência que flui nas linhas de transmissão que incidem na barra i. No processo itera-
tivo do fluxo de potência, a tensão complexa de cada barra é calculada de forma que a
magnitude das diferenças ∆Pi e ∆Qi tenda a zero. Geralmente o critério de convergência
utilizado é
• |∆Pi | ≤ ǫ para todas as barras P V e P Q;

• |∆Qi | ≤ ǫ para todas as barras P Q.


onde ǫ é uma tolerância pré-especificada, tipicamente na faixa de 0,01 a 10,0 (MW ou
Mvar).

Classificação das Barras


A Eq. (4.12) associa quatro variáveis (Pi , Qi , Vi e δi ) a cada barra do sistema. Conforme
visto nas seções anteriores, duas dessas variáveis devem ser especificadas de forma que
as outras duas possam ser calculadas como solução das equações da rede elétrica. Para
especificar as duas variáveis de cada barra, deve-se levar em conta que esta solução deve
ser fisicamente realizável, isto é, a solução analı́tica indica como operar o sistema sob o
ponto de vista fı́sico. Para esta finalidade, as barras são divididas nos três tipos descritos
a seguir.

• Barra PQ ou de Carga - Neste tipo de barra há predominância da demanda sobre


as outras variáveis, não existindo, na grande maioria dos casos, geração de potência
na barra. As injeções de potência ativa e reativa são especificadas e a magnitude
e o ângulo da tensão nodal são calculados através da solução das equações da rede
elétrica. Portanto para uma barra de carga

Si = (Pgiesp − Pdiesp) + j(Qesp esp


gi − Qdi )
= Piesp + jQesp
i

• Barra PV ou de tensão controlada - Neste tipo de barra, a injeção de potência ativa


e a magnitude da tensão são especificados e o ângulo da tensão nodal e a injeção
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 115

de potência reativa são calculados. Para viabilizar esta especificação é necessário


que um dispositivo de controle da magnitude da tensão (compensador sı́ncrono,
compensador estático de Var etc) esteja instalado na barra. Numa barra de tensão
controlada,

Pi = Pgiesp − Pdiesp
Vi = Viesp

• Barra de folga, ou swing, ou slack ou de referência: Desde que as perdas no sistema


de transmissão são conhecidas apenas após a obtenção da solução das equações da
rede, deve-se selecionar uma barra para suprir as perdas de potência nas linhas de
transmissão e completar o balanço total de potência do sistema. Conseqüentemente,
as injeções de potência ativa e reativa não são especificadas nesta barra. Além
disso, a solução de circuitos de corrente alternada requer a escolha de um nó de
referência angular. Assim, neste tipo de barra a magnitude e o ângulo da tensão são
especificados e as injeções de potência ativa e reativa são calculadas como resultado
da solução das equações da rede elétrica, isto é,

δi = δiesp
Vi = Viesp

Observe que para completar o balanço de potência um gerador deve estar instalado
na barra de folga.

Para ilustrar a determinação do modelo analı́tico da rede elétrica operando em regime


permanente, considere o sistema cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 4.6. Os
dados das linhas de transmissão e das barras para este sistema são mostrados nas tabelas
4.2 e 4.3.
Pd1 + jQd1
Gb3
1 2 3

4
Gb4

Pd4 + jQd4
Figura 4.6: Diagrama do sistema de 4 barras

• Especificação das Barras


116 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Barra V δ Pg Pd Qg Qd P min P M ax Qmin QM ax


(pu) (graus) pu pu pu pu pu pu pu pu
1 0,00 0,80 0,00 0,20
2 0,00 0,00 0,00 0,00
3 0,00 0,00 0,00 0,0 0,80 -0,10 0,20
4 0,20 0,10 0,0 0,60 -0,05 0,10

Tabela 4.2: Dados do sistema de 4 barras

Ysh
Linha Zser Yser
2
(pu) (pu) (pu)
1-2 0,02 + j 0,06 5,0 - j 15,0 j0,03
2-3 0,06 + j 0,18 1,66 - j5,0 j 0,02
2-4 0,06 + j 0,18 1,66 - j5,0 j 0,02
3-4 0,01 + j0,03 10,0 - j30,0 j 0,01

Tabela 4.3: Dados do sistema de 4 barras

A análise do sistema mostrado na figura 4.6 indica que as barras 1 e 2 podem ser
especificadas apenas como barras PQ enquanto que as barras 3 e 4 podem ser de
folga, PV ou PQ.
Para estabelecer as equações a serem resolvidas, suponha que as barras 3 e 4 sejam
especificadas como folga e PV, respectivamente, com V3 = 1, 03 pu, δ3 = 0, 00 ,
Pg4 = 0, 40 pu, V4 = 1, 02 pu. Note que as tensões nas barras de geração devem ser
especificadas entre os limites 0,95 pu(V) e 1,05 pu(V).
As variáveis a serem determinadas como solução do problema de fluxo de potência
são: δ1 , δ2 , δ4 , V1 , V2 , P3 , Q3 e Q4 . Observe que as três últimas variáveis são deter-
minadas à partir do conhecimento do módulo e ângulo da tensão complexa em todas
as barras do sistema. Isto significa que numa primeira etapa, é necessário resolver
apenas as equações necessárias para a determinação do ângulo e da magnitude da
tensão nas barras (5 incógnitas e portanto 5 equações). No estágio subseqüente,
as injeções de potência ativa e reativa na barra de folga e as injeções de potência
reativa das barras PV são calculadas.
• Matriz Admitância
De acordo com a Eq. (4.3), a matriz admitância de barra é dada por
 
+5, 00 − j14, 97 −5, 00 + j15, 0
 −5, 00 + j15, 00 +8, 32 − j24, 9 −1, 66 + j5, 00 −1, 66 + j5, 00 
Ybarra =  
 −1, 66 + j5, 0 +11, 6 − j34, 97 −10, 0 + j30, 0 
−1, 66 + j5, 0 −10, 0 + j30, 0 +11, 6 − j34, 97

• Equações do Fluxo de Potência


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 117

A aplicação da Eq. (4.5) fornece a forma generalizada das equações complexas do


sistema-exemplo na operação em regime permanente, isto é,

P1 − jQ1
= Y11 V1 + Y12 V2
V1∗
P2 − jQ2
= Y21 V1 + Y22 V2 + Y23 V3 + Y24 V4
V2∗
P3 − jQ3
= Y32 V2 + Y33 V3 + Y34 V4
V3∗
P4 − jQ4
= Y42 V2 + Y43 V3 + Y44 V4
V4∗

As injeções de potência ativa e reativa expressas em termos do ângulo e da magnitude


das tensões complexas são obtidas com o auxı́lio da Eq. (4.11), isto é

P1 (V, δ) = 5, 0V12 + V1 V2 (−5, 0 cos δ12 + 15, 0 sin δ12 )


Q1 (V, δ) = 14, 97V12 + V1 V2 (−5, 0 sin δ12 − 15, 0 cos δ12 )

P2 (V, δ) = 8, 32V12 + V2 V1 (−5, 0 cos δ21 + 15, 0 sin δ21 )


+ V2 V3 (−1, 66 cos δ23 + 5, 0 sin δ23 )
+ V2 V4 (−1, 66 cos δ24 + 5, 0 sin δ24 )
Q2 (V, δ) = 24, 93V12 + V2 V1 (−5, 0 sin δ21 − 15, 0 cos δ21 )
+ V2 V3 (−1, 66 sin δ23 − 5, 0 cos δ23 )
+ V2 V4 (−1, 66 sin δ24 − 5, 0 cos δ24 )
(4.13)
P3 (V, δ) = 11, 66V32
+ V3 V2 (−1, 66 cos δ32 + 5, 0 sin δ32 )
+ V3 V4 (−10, 0 cos δ34 + 30, 0 sin δ34 )
Q3 (V, δ) = 34, 97V32 + V3 V2 (−1, 66 sin δ32 − 5, 0 cos δ32 )
+ V3 V4 (−10, 0 sin δ34 − 30, 0 cos δ34 )

P4 (V, δ) = 11, 66V42 + V4 V2 (−1, 66 cos δ42 + 5, 0 sin δ42 )


+ V4 V3 (−10, 0 cos δ43 + 30, 0 sin δ43 )
Q4 (V, δ) = 34, 97V42 + V4 V2 (−1, 66 sin δ42 − 5, 0 cos δ42 )
+ V4 V3 (−10, 0 sin δ43 − 30, 0 cos δ43 )

e o conjunto completo das equações de balanço de potência ativa e reativa em cada


118 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

barra são expressas por


P1esp−P1 (V, δ) = 0
Qesp
1 −Q1 (V, δ) = 0
P2esp−P2 (V, δ) = 0
Qesp
2 −Q2 (V, δ) = 0
P3esp−P3 (V, δ) = 0
Qesp
3 −Q3 (V, δ) = 0
P4esp−P4 (V, δ) = 0
Qesp
4 −Q4 (V, δ) = 0

onde
P1esp = Pg1 − Pd1 = −0, 80
Qesp
1 = Qg1 − Qd1 = −0, 20
P2esp = Pg2 − Pd2 = −0, 00
Qesp
2 = Qg2 − Qd2 = −0, 00
P4esp = Pg4 − Pd4 = +0, 20
e os termos Pi (V, δ) e Qi (V, δ) são dados pela Eq. (4.13).

4.5 Métodos de Solução


Solução via Método de Gauss-Seidel

Considere que o sistema de equações a ser resolvido é expresso por


f(x) = 0 (4.14)
onde f é um vetor coluna, de dimensão n, cujos componentes são funções não lineares
das n variáveis componentes do vetor x, isto é,

 f1 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )

 f2 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )



f(x) = f3 (x1 , x2 , x3 . . . , xn ) (4.15)
 .. ..



 . ... .
 f (x , x , x . . . , x )
n 1 2 3 n

e 0 é um vetor nulo de dimensão n.


Supondo que a Eq. (4.15) é convertida para a forma
x1 = F1 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )
x2 = F2 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )
x3 = F3 (x1 , x2 , x3 . . . , xn ) (4.16)
.. ..
. ... .
xn = Fn (x1 , x2 , x3 . . . , xn )
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 119

onde cada variável do vetor x é expressa em função das outras variáveis (e da própria
variável, se for necessário); o método iterativo de Gauss consiste em executar os
seguintes passos:

– estimativa inicial do vetor x;


– atualização do vetor x:
x(k) = F(x(k−1) )
onde k é o número da iteração corrente;
– Teste de convergência nas variáveis - o processo é encerrado quando a diferença
entre os valores de cada variável em duas iterações consecutivas for menor do
que uma tolerância especificada ǫ, isto é,

|x(k) − x(k−1) | ≤ ǫ

Com o objetivo de obter maior rapidez de convergência no processo iterativo, o


método de Gauss-Seidel utiliza o valor mais atualizado de cada variável na Eq.
(4.16). Por exemplo, na iteração k a variável x3 é dada por
(k) (k) (k) (k−1)
x3 = F3 (x1 , x2 , x3 . . . , x(k−1)
n )

Podem ser usados ainda fatores de aceleração baseados em extrapolação linear,


como a estratégia descrita a seguir. Definindo o incremento na variável xi entre
duas iterações como
(k) (k) (k−1)
∆xi = xi − xi
a atualização da variável com a aplicação do fator de aceleração α é dada por
(k) (k−1) (k)
xiac = xi + α∆xi

onde α = 1, 0 implica no processo de convergência natural e a convergência acelerada


requer que α seja maior do que 1, 0.
No caso do problema de fluxo de potência, o método de Gauss-Seidel é aplicado
re-escrevendo as equações estáticas do fluxo de potência na forma generalizada re-
presentada pela Eq. (4.5) como
Pi − jQi
= Yi1 V1 + Yi2 V2 + . . . + Yin Vn
Vi∗
tal que a tensão complexa da barra i é dada por
n
!
1 Pi − jQi X
Vi = − Yik Vk , i = 1, 2, . . . , n (4.17)
Yii Vi∗ k=1, k6=i

Um conjunto de equações da forma (4.17) é resolvido através do método de Gauss-


Seidel. Cada uma dessas equações é estabelecida de acordo com o tipo da barra em
questão, conforme descrito a seguir.
120 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

– Barras P Q - Neste tipo de barra, a injeção de potência complexa é especificada


e a tensão complexa é calculada. Portanto, a equação que caracteriza as barras
de PQ é da forma

n
!
(k) 1 Piesp − jQesp
i
X
Vi = (k−1)∗
− Yij Vjat (4.18)
Yii Vi j=1, j6=i

onde Vjat representa o último valor disponı́vel da tensão complexa Vj .

– Barras P V : Numa barra P V , a injeção de potência ativa e a magnitude da


tensão são especificadas enquanto que o ângulo da tensão e a injeção de potência
reativa são calculados considerando inicialmente a equação

n
!
(k) 1 Piesp − jQcalc
i
X
Vi = (k−1)∗
− Yik Vkat , i = 1, 2, . . . , n (4.19)
Yii Vi k=1, k6=i

onde a injeção de potência reativa na barra P V é calculada com o auxı́lio da


equação
n
X

Qcalc
i = −Im{Viat Yij Vjat } (4.20)
j=1

utilizando os valores mais atualizados das tensões complexas.


A equação (4.19) fornece a tensão complexa

(k) (k) (k)


Vi = Vi ∠δi

e, desde que o valor da magnitude da tensão na barra i é especificado a priori,


apenas o valor do ângulo é utilizado. A partir deste ponto o valor da tensão
(k)
complexa na barra P V passa a ser Viesp ∠δi durante a iteração corrente.

No caso do sistema de 4 barras mostrado na figura 4.6, o sistema de equações a ser


resolvido através do método de Gauss-Seidel é dado por

 
1 P1 − jQ1
V1 = − Y12 V2
Y11 V1∗
 
1 P2 − jQ2
V2 = − Y21 V1 − Y23 V3 − Y24 V4
Y22 V2∗
 
1 P4 − jQ4
V4 = − Y42 V2 − Y43 V3
Y44 V4∗
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 121

ou em termos numéricos,
 
1 −0, 80 + j0, 20
V1 ∠δ1 = − (−5, 0 + j15, 0)V2 ∠δ2
5, 0 − j14, 97 V1 ∠ − δ1


1 0, 0 − j0, 0
V2 ∠δ2 = − (−5, 0 + j15, 0)V1 ∠δ1 −
8, 32 − 24, 9 V2 ∠ − δ2
(−1, 66 + j5, 0)1, 03∠δ3 − (−1, 66 + j5, 0)1, 02∠δ4 )

 
1 0, 20 − jQ4 0
1, 02∠δ4 = − (−1, 66 + j5, 0)V2 ∠δ2 − (−10, 0 + j30, 0)(1, 03∠0 )
11, 6 − j34, 9 1, 02∠ − δ4
(4.21)

No caso da aplicação do método de Gauss-Seidel ao problema de fluxo de potência, o fator


de aceleração é dado por

(k) (k−1) (k) (k−1)


Vi = +Vi + α(Vi − Vi ) (4.22)

onde α é o fator de aceleração, o qual é especificado em geral dentro da faixa 1, 4 ≤ α ≤ 1, 8.

Limites de Potência Reativa

Para representar a capacidade fı́sica dos geradores, limites de potência reativa são estabe-
lecidos para cada nı́vel de potência ativa especificada. Esses limites, os quais são obtidos
com auxı́lio da curva de capabilidade dos geradores sı́ncronos, podem ser representados
através da inequação
Qmin
gi ≤ Qgi ≤ Qgi
max

onde Qmin
gi e Qmaxgi são os limites mı́nimo e máximo de geração de potência reativa. De-
pendendo do nı́vel de carregamento do sistema de potência, a especificação da magnitude
da tensão (valores demasiadamente altos ou baixos) pode levar à violações desta restrição
de desigualdade no processo iterativo. O procedimento adotado para o tratamento deste
tipo de restrição de potência consiste no seguinte:

– caso durante o processo iterativo o limite de potência reativa gerada for violado, a
barra correspondente é convertida em barra de carga. Isto é, a injeção de potência
reativa é fixada no limite e a magnitude da tensão passa a ser uma variável adicional
calculada ao longo das iterações.

Teste de Convergência

A convergência do processo iterativo na solução do fluxo de potência via método de Gauss-


Seidel é realizada em duas etapas. A primeira consiste em verificar a cada iteração se as
variações na magnitude e no ângulo da tensão complexa são significativos. Ou seja, se

|Viv − Viv−1 | ≤ ǫV
122 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

onde ǫV é uma tolerância pré-especificada para a tensão complexa, para todas as barras
de carga (P Q) e de tensão controlada (P V ) envolvidas no processo. Caso este teste seja
satisfeito, um teste semelhante é efetuado para os resı́duos de potência ativa e reativa, isto

|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)
onde ǫP e ǫQ são as tolerâncias pré-especificadas para os resı́duos de potência ativa e
reativa.
A verificação da convergência é feita tomando-se inicialmente uma tolerância relativamen-
te elevada para as tensões. Quando esta for satisfeita, efetua-se o teste de convergência nos
resı́duos de potência ativa e reativa. Caso estes não satisfaçam as tolerâncias de potência, o
processo iterativo é reinicializado com uma tolerância reduzida para as tensões. Procede-se
desta forma até que ambos os testes sejam satisfeitos.
Existem muitos esquemas alternativos para a aplicação do método de Gauss-Seidel ao
problema do fluxo de potência, cada um com um número de vantagens e desvantagens
associadas. Em geral, a maior vantagem do método de Gauss-Seidel reside no fato de
que o número de elementos no termo relativo correspondente à somatória é pequeno e
corresponde ao número de linhas de transmissão do sistema de potência. Portanto, ambos,
os requisitos de memória e os cálculos envolvidos nas iterações são reduzidos. Por outro
lado, a maior desvantagem inerente a este método é a sua convergência lenta, o que
pode ser atribuı́do ao fraco acoplamento (sob o ponto de vista matemático) entre as
barras. A taxa de convergência é também dependente dos valores relativos dos termos
diagonais da matriz admitância de barra e da seleção da barra de referência. Para sistemas
numericamente bem condicionados a solução pode ser obtida em torno de 50 iterações.
No caso de sistemas com mal condicionamento numérico (por exemplo, sistemas com alto
nı́vel de compensação série), a solução pode requerer várias centenas de iterações, e em
alguns casos não ser obtida.

Algoritmo

O procedimento para resolver as equações não lineares do fluxo de potência através do


método de Gauss-Seidel podem ser sumarizados no seguinte algoritmo: k = 0, especificar
os valores iniciais das tensões nas barras e formar a matriz admitância de barra,

1. Para i = 1, n, calcule a tensão complexa de acordo com o tipo de barra:


– Barra P V : calcule a potência reativa gerada utilizando a Eq. (4.20) e verifique
os limites correspondentes, isto é,
∗ se Qcalc
i está dentro dos limites, compute a magnitude da tensão Vi através
da Eq. (4.19) e atualize apenas o ângulo da tensão complexa da barra;
∗ se Qcalc
i está fora dos limites, especifique a geração de potência reativa
no limite violado, converta a barra PV para barra PQ e calcule a tensão
complexa na barra utilizando a Eq. (4.18);
– Barra P Q: calcule a tensão complexa na barra utilizando a Eq. (4.18);
2. Teste de convergência nas tensões complexas: se |Viv − Viv−1 | ≤ ǫV para todas as
barras, prossiga ao próximo passo; caso contrário, atualize as tensões complexas
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 123

aplicando o fator de aceleração através da Eq. (4.22); faça k = k + 1 e retorne ao


passo (1);
3. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras utilizando a Eq. (4.11) e
faça o teste de convergência nas injeções de potência: se
|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)
a convergência foi alcançada; caso contrário, selecione nova tolerância para as tensões,
faça k = k + 1 e retorne ao passo (1).

Solução via Método de Newton-Raphson

O método de Newton-Raphson é baseado numa seqüência de aproximações de primeira


ordem em série de Taylor, em torno de uma série de pontos calculados ao longo do processo
iterativo. Se uma raiz estimada x(k) de uma simples equação algébrica não-linear f (x) é
conhecida, então uma aproximação melhor pode ser obtida através de
x(k+1) = x(k) + ∆x

onde
f (x(k) )
∆x = −
f ′ (x(k) )

e f (x(k) ) é a primeira derivada de f (x) com relação a x calculada no ponto x(k) .
No caso de um conjunto de n equações não lineares com n incógnitas, da forma
 
f1 (x1 , x2 , . . . , xn )
 f2 (x1 , x2 , . . . , xn ) 
f (x) = 
 ...
=0
... ... 
fn (x1 , x2 , . . . , xn )

supondo que uma estimativa inicial x(k) é conhecida, uma nova aproximação da solução é
dada por
x(k+1) = x(k) + ∆x
ou  −1
∂f (x)
∆x = − f (x(k) ) = −J(x(k) )−1 f (x(k) ) (4.23)
∂x x=x(k)

onde J(x(k) ) é uma matriz de primeiras derivadas, de ordem n, denominada Jacobiana,


calculada no ponto (x(k) ). O elemento (i, j) desta matriz é definido como ∂fi /∂xj .
No caso do problema de fluxo de potência, o sistema de equações não lineares f (x) = 0
corresponde ao balanço de potência representado pela Eq. (4.12), isto é,

– para uma barra P Q:


n
X
∆Pi = (Pgi − Pdi ) − Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.24)
X
∆Qi = (Qgi − Qdi ) − Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1
124 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

– para uma barra P V :


n
X
∆Pi = (Pgi − Pdi ) − Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj (4.25)
j=1

O sistema linear resolvido a cada iteração do método de Newton-Raphson aplicado ao


problema de fluxo de potência é dado por
    
∆Ppv,pq H N ∆δ pv,pq
= (4.26)
∆Qpq M L ∆Vpq

onde
∂Ppv,pq ∂Ppv,pq
H= N=
∂δ pv,pq ∂Vpq

∂Qpq ∂Qpq
M= L=
∂δ pv,pq ∂Vpq

Os elementos das submatrizes H, N, M e L são obtidos diferenciando-se a Eq. (4.12) e


observando que
∂ cos δij ∂ cos δij
= − sin δij = sin δij
∂δi ∂δj

∂ sin δij ∂ sin δij


= cos δij = − cos δij
∂δi ∂δj

o que resulta em
n
X
Hii = −Vi (−Gik sen δik + Bik cos δik )Vk
k=1, k6=i
(4.27)
= −Qcalc
i − Vi2 Bii
Hik = Vi (Gik sen δik − Bik cos δik )Vk

∂∆Qi
Mii =
∂δi
n
X
= −Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )Vk (4.28)
k=1, k6=i

= Picalc − Vi2 Gii


Mik = −Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )Vk
n
X
Nii = + Vk (Gik cos δik + Bik sen δik ) + Vi Gii
k=1, k6=i

(Picalc + Vi2 Gii ) (4.29)


=
Vi
Nik = Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 125

n
X
Lii = (Gik sen δik − Bik cos δik )Vk − Vi Bii
k=1, k6=i

(Qcalc − Vi2 Bii ) (4.30)


i
=
Vi
Lik = Vi (Gik sen δik − Bik cos δik )

Algoritmo

O processo iterativo para a solução do problema de fluxo de potência via método de


Newton-Raphson pode ser sumarizado no seguinte algoritmo: k = 0, especifique valores
(k) (k)
iniciais para a magnitude e ângulo das tensões Vi e δi ,

1. Faça k = k + 1;
2. Calcule os desbalanços de potência ativa e reativa utilizando as Eqs. (4.24) e (4.25);
3. Verifique a convergência do processo iterativo: se

|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)

a convergência foi alcançada; caso contrário, prossiga ao próximo passo;


4. Forme a matriz Jacobiana (Eqs. (4.27) a (4.30));
5. Resolva o sistema linear da Eq. (4.26) para obter ∆V e ∆δ;
6. Atualize os valores de V(k) = V(k−1) + ∆V e de δ (k) = δ (k−1) + ∆δ;
7. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras. Para as barras P V ,
verifique os limites de geração de potência reativa:
– se a geração de potência reativa da barra i está fora dos limites, fixar Qgi no
limite violado e converter a barra PV para barra PQ. A partir deste ponto a
magnitude e o ângulo da tensão na barra i são calculados através do processo
iterativo;
8. Retorne ao passo (1).

Uma das vantagens do método de Newton-Raphson é a sua taxa de convergência quadrática,


o que em geral o torna mais rápido do que a maior parte dos outros métodos. Em termos
de confiabilidade, este algoritmo é menos sensı́vel a fatores que perturbam a convergência
do processo iterativo, tais como a escolha da barra de folga, a existência de compensação-
série em nı́vel elevado etc. A formulação do problema de fluxo de potência em coordenadas
polares ou em coordenadas retangulares pode ser utilizada, porém em ambos os casos deve
ser feita a separação em módulo e ângulo ou partes real e imaginária. Em geral, as soluções
são obtidas num número de iterações variando de 2 a 6.
A principal desvantagem desta técnica é a necessidade de formular e fatorar a matriz
Jacobiana. Entretanto, desde que a estrutura desta matriz possui um padrão de esparsi-
dade idêntico ao da matriz admitância de barra, técnicas de compactação e esparsidade
podem ser usadas no processo de fatoração da mesma. Outra desvantagem do método
de Newton-Raphson é que ele é aplicável apenas a funções convexas e portanto converge
126 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

sempre à solução mais próxima da estimativa inicial. Teoricamente, o problema de fluxo


de potência possui tantas soluções quanto o número de barras do sistema. Na prática
porém, a solução aceitável é bem distinta das outras, tal que ou a solução correta é obtida
após um número de iterações em geral reduzido ou a solução diverge.
Para ilustrar a aplicação deste método, considere o sistema da figura 4.6. A determinação
das variáveis do fluxo de potência (V1 , δ1 , V2 , δ2 e δ4 ) é feita resolvendo-se as seguintes
equações:

P1esp −P1 (V, δ) = 0


Qesp
1 −Q1 (V, δ) = 0
P2esp −P2 (V, δ) = 0
Qesp
2 −Q2 (V, δ) = 0
P4esp −P4 (V, δ) = 0

tal que na forma explı́cita o conjunto de equações não lineares a ser resolvido é expresso
por

−0, 80 − 5, 0V12 + V1 V2 (−5, 0 cos δ12 + 15, 0 sin δ12 ) = 0, 00


 

−0, 20 − 14, 97V12 + V1 V2 (−5, 0 sin δ12 − 15, 0 cos δ12 ) = 0, 00


 

0, 00 − 8, 32V12 + V2 V1 (−5, 0 cos δ21 + 15, 0 sin δ21 )




+V2 V3 (−1, 66 cos δ23 + 5, 0 sin δ23 )


+V2 V4 (−1, 66 cos δ24 + 5, 0 sin δ24 )] = 0, 00
0, 00 − 24, 93V12 + V2 V1 (−5, 0 sin δ21 − 15, 0 cos δ21 )


+V2 V3 (−1, 66 sin δ23 − 5, 0 cos δ23 )


+V2 V4 (−1, 66 sin δ24 − 5, 0 cos δ24 )] = 0, 00

0, 20 − 11, 66V42 + V4 V2 (−1, 66 cos δ42 + 5, 0 sin δ42 )




+V4 V3 (−10, 0 cos δ43 + 30, 0 sin δ43 )] = 0, 00

Adotando o perfil plano de tensões como solução inicial, na primeira iteração o vetor
dos desbalanços de potência é dado por
   
∆P1 −0, 8000
 ∆P2   0, 0833 
   
 ∆P4  =  0, 0455 
   
 ∆Q1   −0, 1700 
∆Q2 0, 3200

e a matriz Jacobiana é expressa por


 
15, 00 −15, 00 0, 00 5.00 −5.00

 −15, 00 25, 25 −5.15 −5.00 8.25 

J=
 0, 00 −5.15 36, 66 0, 00 −1.71 

 −5.00 5.00 0, 00 14, 94 −15, 00 
5.00 −8.41 1.71 −15, 00 24, 61
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 127

tal que a solução do sistema linear fornece


   
∆δ1 −0, 1164
 ∆δ2   −0, 0718 
   
 ∆δ4  =  −0, 0090 
   
 ∆V1   −0, 0348 
∆V2 −0, 0080
No final da primeira iteração, as variáveis atualizadas são
   
δ1 −0, 1164
 δ2   −0, 0718 
   
 δ4  =  −0, 0090 
   
 V1   0, 9651 
V2 0, 9914
e o resultado do fluxo do fluxo de potência obtido em 3 iterações é mostrado na tabela 4.4.

Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 PQ 0,955 -6,91 0,00 0,00 80,00 20,00
2 PQ 0,984 -4,19 0,00 0,00 0,00 0,00
3 folga 1,020 0,00 63,81 -36,42 0,00 0,00
4 PV 1,030 -0,56 40,00 62,02 20,00 10,00

No balanço de potência do sistema, a geração total de potência é 103.81 MW e 25.60 Mvar


e a demanda total é 100.00 MW e 30.00 Mvar, tal que a perda de potência ativa no sistema de
transmissão é 3.8075 MW.

Solução via Métodos Desacoplados


As equações básicas do método de Newton-Raphson são derivadas da expansão em série de
Taylor, omitindo-se os termos de 2a ordem em diante. As correções a cada iteração são, por-
tanto, aproximações, porém o valor da função é calculado de forma exata a cada iteração.
Assim, a solução desejada pode ser obtida com qualquer grau de precisão continuando-se o
processo iterativo, e a mesma não é dependente da precisão da correção. Isto implica numa
aproximação alternativa dos termos (envolvendo a 1a derivada) da matriz Jacobiana. Um teste
simples que permite observar certas caracterı́sticas peculiares, consiste em resolver uma equação
quadrática pelo método de Newton-Raphson substituindo a 1a derivada por uma constante ar-
bitrária. Nota-se que, a despeito desta aproximação uma boa convergência pode ser alcançada,
se a constante deve ser selecionada de forma que as equações ainda mantenham as propriedades
de convergência. Desde que a não-linearidade das equações envolvidas no problema de fluxo
de potência não é acentuada e estas equações são bem definidas em termos de caracterı́sticas
numéricas, a estratégia de solução pode explorar com vantagem essas particularidades.

Desacoplamento entre as Variáveis


Uma caracterı́stica inerente a qualquer sistema de potência é a forte dependência entre os fluxos
de potência ativa e os ângulos das tensões nas barras, e entre os fluxos de potência reativa e a
magnitude das tensões nas barras. De uma forma geral, pode ser observado que:
128 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

• Uma variação ∆P em P implica numa variação semelhante ∆δ em δ e tem pequeno efeito


sobre a magnitude da tensão (∆V ≈ 0);

• Uma variação ∆Q em Q resulta numa modificação ∆V na magnitude da tensão e tem


pequeno efeito sobre o ângulo de tensão (∆δ ≈ 0).

Algebricamente, essas aproximações podem ser representadas pela expressão

∆P = H∆δ
∆Q = L∆V

Generalizando as caracterı́sticas de desacoplamento para um sistema de potência multi-


máquinas, as submatrizes N e J na equação (4.26) podem ser desprezadas, o que resulta em
    
∆Ppv,pq H 0 ∆δ pv,pq
=
∆Qpq 0 L ∆Vpq /V

O procedimento para obter a solução das equações da rede aplicando estas aproximações
consiste em resolver alternadamente os sistemas lineares resultantes, isto é, separar o problema
principal em subproblemas P δ e QV . Isto resulta num número maior de iterações para a
convergência, porém com menor esforço computacional.
Baseando-se nas suposições mencionadas anteriormente, outras aproximações podem ser fei-
tas na matriz Jacobiana. Assim, considerando que

• δij é pequeno (menor do que 200 );

• cos δij ≈ 1, 0;

• sin δij ≈ δij .

a expressão
Hij = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj

se transforma em
Hij = Vi (Gij δij − Bij )Vj

e desde que Vi = Vj = 1,0 pu e Gij ≪ Bij ,

Hij = −Bij

2 + X 2 ) é constante.
onde Bij = −Xij /(Rij ij
De maneira análoga,
Lij = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )

e com as aproximações anteriormente mencionadas,

Lij = −Bij

O método Desacoplado Rápido é formulado com base nestas aproximações. Dois sistemas
′ ′′
lineares independentes são resolvidos, cujas matrizes de coeficientes, denotadas B e B , são
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 129

calculadas desprezando-se a resistência das linhas de transmissão na determinação dos elementos



de B e utilizando-se as seguintes expressões
′ 1 ′
X 1
Hij ⇒ Bij = − Hii ⇒ Bii =
Xij Xij
jǫΩi

(4.31)
′′ Xij ′′
X 1
Lij ⇒ Bij = − 2 + X 2 ) = −Bij Lii ⇒ Bii = = −Bii
(Rij ij Xij
jǫΩi

Melhoramentos adicionais na convergência podem ser obtidos fazendo-se as seguintes sim-


plificações:

• Omissão na matriz B dos elementos que afetam as variações em ∆Q, isto é, capacitores
shunt e transformadores com comutação sob carga;
′′
• Omissão na matriz B dos elementos que afetam as variações em ∆P, ou seja, transfor-
madores defasadores etc.

Algoritmo
′ ′′
As aproximações vistas na seção anterior resultam em matrizes B e B reais, simétricas esparsas
e constantes. Elas são constantes e portanto necessitam ser fatoradas apenas uma única vez no
processo iterativo. Os passos para a solução das equações da rede elétrica via método desacoplado
rápido são sumarizados a seguir.

1. Faça k = 0;

2. Calcule os desbalanços de potência ativa e reativa utilizando as Eqs. (4.24) e (4.25);

3. Verifique a convergência do processo iterativo: se

|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ ǫP (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ ǫQ (barras P Q)

a convergência foi alcançada; caso contrário, prossiga ao próximo passo;


′ ′
4. Determine a matriz B (Eq. (4.31) e resolva o sistema linear ∆P = B δ para obter ∆δ;

5. Atualize os valores de δ (k) = δ (k−1) + ∆δ;

6. Calcule os desbalanços de potência reativa utilizando a Eq. (4.25);


′′ ′′
7. Faça k = k+1, determine a matriz B (Eq. (4.31) e resolva o sistema linear ∆Q = B ∆V
para obter ∆V;

8. Atualize os valores de V(k) = V(k−1) + ∆V;

9. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras. Para as barras P V , verifique
os limites de geração de potência reativa:

• se a geração de potência reativa da barra i está fora dos limites, fixar Qgi no limite
violado e converter a barra PV para barra PQ. A partir deste ponto a magnitude e
o ângulo da tensão na barra i são calculados através do processo iterativo;
130 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

10. Retorne ao passo (2).


Apesar da aproximação da matriz Jacobiana, ao final do processo iterativo os desbalanços
de potência satisfazem à tolerância especificada. Portanto a solução obtida é tão precisa quanto
àquela obtida através do método de Newton-Raphson. A única diferença é que no método
desacoplado rápido o gradiente (que representa a inclinação das curvas representadas pelas
funções não lineares) das equações é mantido constante. Esta aproximação resulta numa taxa de
convergência mais lenta do que aquela do método de Newton-Raphson, porém isto é compensado
pelo menor esforço computacional por iteração.

Fluxo de Potência Linearizado


Uma solução do fluxo de potência utilizada freqüentemente em estudos onde não se requer
demasiada precisão da solução, é aquela baseada num modelo representado por um conjunto de
equações lineares. Para estabelecer este modelo, supõe-se que:
• as aberturas angulares das linhas de transmissão são pequenas, tal que

– cos δij ≈ 1, 0;
– sin δij ≈ δij (em radianos).

• a magnitude da tensão ao longo do sistema é igual a 1, 0 pu e portanto a malha QV não


é considerada;

• a relação X/R das linhas de transmissão é alta (Xij ≫ Rij ), de forma que a resistência
série (e portanto as perdas de potência ativa) nas linhas de transmissão são desprezadas.
Com estas aproximações, o fluxo de potência ativa numa linha sem perda é dado por
δi − δj
Pij = (4.32)
Xij
e a injeção de potência na barra i é dada por
n
X n
X
Pi = Pij = (1/Xij )(δi − δj )
j=1 j=1

n
X n
X
Pi = − Bij δi + Bij δj
j=1 j=1
n
X n
X
Pi = −δi Bij + Bij δj
j=1 j=1

ou, em forma matricial,


P = Bδ (4.33)
onde os elementos da matriz B são dados por
n
X 1 1
Bii = Bij = − (4.34)
Xij Xij
j=1

A Eq. (4.33) considera todas as barras da rede elétrica e, desde que as perdas de potência
ativa nas linhas de transmissão são desprezadas, é possı́vel expressar a injeção de potência ativa
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 131

de uma barra como combinação linear das injeções de potência nas outras barras. Isto implica em
que a matriz B é singular e o sistema linear representado pela Eq. (4.33) não tem solução. Isto
também indica que o conjunto de equações lineares é redundante, de forma que se o ângulo de
uma barra for selecionado como referência, a equação correspondente pode ser excluı́da daquele
conjunto de equações. Utilizando este procedimento, obtém-se um novo sistema linear dado por

P=Bδ (4.35)

onde B é resultante da eliminação da linha e da coluna correspondentes a barra de referência
na matriz B.
Desprezando-se as resistência das linhas de transmissão do sistema mostrado na figura 4.6,
a matriz de coeficientes do sistema linear da Eq. (4.35) é expressa por
 
16, 67 −16, 67 0, 00 0, 00
 −16, 67 27, 77 −5, 55 −5, 55 
B= 
 0, 00 −5, 55 38, 88 −33, 33 
0, 00 −5, 55 −33, 33 38, 88

e o vetor das injeções de potência é dado por


   
P1 −80, 00
 P2   0, 00 
 P3  =  60, 00 MW
   

P4 20, 00

Eliminando-se a linha e a coluna correspondentes respectivamente à barra e ao ângulo de


referência, a solução do sistema linear fornece
   
δ1 −0, 1227
 δ2  =  −0, 0747  radianos
δ4 −0, 0055

e os fluxos nas linhas de transmissão, calculados com a Eq. (4.32), são dados por
   
P12 −0, 8000
 P23   −0, 4154 
 P24  =  −0, 3846 pu
   

P34 0, 1846

4.6 Ajustes e Controles


O cálculo do fluxo de potência é um dos importantes estudos requeridos na análise dos sistemas de
energia elétrica em regime permanente. Os resultados deste cálculo são utilizados nos estágios
de projeto, planejamento e operação dos sistemas de potência. O objetivo deste problema é
determinar a solução das equações da rede elétrica em regime permanente, de forma que:

• a demanda seja satisfeita;

• o perfil de tensão esteja dentro de limites pré-especificados;

• as linhas de transmissão e os equipamentos operem sem sobrecarga;


132 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Os programas de Fluxo de Potência convencional desenvolvidos para aplicações múltiplas


incluem a modelagem de dispositivos de controle automático, tais como transformadores com
comutação sob carga (tap variável), transformadores defasadores, transformadores com o tap fora
do valor nominal, intercâmbio de potência entre áreas, etc. Estes programas também consideram
os limites em variáveis tais como a geração de potência reativa, a magnitude das tensões nas
barras e os fluxos de potência nas linhas de transmissão. Alguns desses ajustes são efetuados
durante o processo iterativo, incluindo-se testes adicionais na lógica do programa. O processo
de correção também pode ser executado através da utilização de relações de sensibilidade entre
as variáveis do sistema elétrico, as quais fornecem informações quantitativas sobre o efeito da
variação das variáveis controladas (magnitude das tensões geradas, potências ativas geradas,
taps, etc) sobre as variáveis dependentes (em geral, magnitude das tensões nas barras de geração,
fluxos de potência, etc).
Para ilustrar como são feitos os ajustes de uma solução do fluxo de potência, considere o
sistema da figura 4.7, cujos dados são mostrados nas tabelas 4.4 e 4.5.

Pd1 + jQd1 Pd3 + jQd3

GS
1 4 1 : t34 3

T34

1 : t56

6 5 2
T56

GS
Pd6 + jQd6 Pd5 + jQd5 Pd2 + jQd2

Figura 4.7: Sistema de 6 barras - exemplo 4.7

Por ser a barra com maior capacidade de geração de potência ativa, a barra 1 foi selecionada
como barra de folga do sistema. A demanda total de potência ativa é 135 MW, os quais devem
ser supridos pelos geradores das barras 1 e 2. Visando manter uma certa margem (reserva)
com relação ao limite máximo de geração, a potência gerada na barra 2 foi especificada em
50 MW. A magnitude da tensão nas barras 1 e 2 foi especificada em 1,0 pu. As reatâncias
dos elementos de transmissão conectando as barras 3-4 e 5-6 correspondem a transformadores
com tap variável, cuja finalidade é controlar a magnitude da tensão nessas barras. A faixa de
variação da magnitude da tensão nas barras e dos taps é 0,90 a 1,10 pu, tendo sido ambos os taps
selecionados inicialmente em 1,0 pu. Com estas especificações, a solução do fluxo de potência
através do método de Newton-Raphson é mostrada na tabela 4.6.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 133

Barra Tipo Pgmin PgM ax Qmin


g QM
g
ax Pd Qd Shunt
(MW) (MW) (Mvar) (Mvar) (MW) (Mvar) (Mvar)
1 folga 0.00 150.00 -20.00 40.00 0.00 0.00
2 PV 0.00 100.00 -20.00 40.00 0.00 0.00
3 PQ 55.00 13.00
4 PQ 0.00 0.00
5 PQ 30.00 18.00
6 PQ 50.00 5.00

Tabela 4.4: Sistema-exemplo de 6 barras - Dados das barras

De P ara R(%) X(%) Bsh (%)


1 4 8.00 37.00 3.00
1 6 12.30 51.80 4.20
2 3 72.30 105.0 0.00
2 5 28.20 64.00 0.00
3 4 0.00 13.30 0.00
4 6 9.70 40.70 3.00
5 6 0.00 30.00 0.00

Tabela 4.5: Dados das linhas de transmissão - sistema de 6 barras

Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 folga 1,000 0,0000 97,44 49,35 - -
2 PV 1,000 -3,87 50,0 21,15 - -
3 PQ 0,844 -15,27 - - 55,0 13,0
4 PQ 0,867 -11,20 - - 0,00 0,00
5 PQ 0,814 -14,69 - - 30,0 18,0
6 PQ 0,847 -14,16 - - 50,0 5,00

Tabela 4.6: Resultado do fluxo de potência - sistema de 6 barras

A análise da solução mostrada na tabela 4.6 indica que a magnitude da tensão nas barras
de carga está fora da faixa de variação permitida. As perdas totais de potência ativa nas linhas
de transmissão são de 12,44 MW, correspondendo a 8,44 % da geração total de potência ativa.
Os controles disponı́veis para corrigir este baixo nı́vel de tensão são os taps dos transformadores
e a magnitude da tensão gerada nas barras 1 e 2. Ajustando-se o tap do transformador T56
para 1,05 e a magnitude da tensão na barra 1 para 1,1, a nova solução do fluxo de potência é
apresentada na tabela 4.7.
134 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 folga 1,100 0,0000 96,14 63,29 - -
2 PV 1,000 -0,90 50,0 2,72 - -
3 PQ 0,921 -12,26 - - 55,0 13,0
4 PQ 0,951 -8,84 - - 0,00 0,00
5 PQ 0,896 -11,27 - - 30,0 18,0
6 PQ 0,921 -11,03 - - 50,0 5,00

Tabela 4.7: Solução ajustada do fluxo de potência - sistema de 6 barras

Na tabela 4.7, observa-se uma melhoria considerável no nı́vel da magnitude da tensão das
barras de carga, apesar de que ajustes adicionais precisam ser realizados para que a magnitude
da tensão de todas as barras se situe dentro da faixa recomendável. Nota-se ainda que com o
aumento no nı́vel de magnitude da tensão, as perdas de potência ativa nas linhas de transmissão
foram reduzidas a 11.1437 MW, o que corresponde a 7,62 % da geração total de potência ativa.

4.7 Exercı́cios
4.1 A tabela 4.8 apresenta os dados do sistema mostrado na figura 4.8. Os valores das
reatâncias estão na base 100 MVA e correspondentes tensões nominais. Um gerador e dois
compensadores sı́ncronos estão instalados respectivamente nas barras 1, 3 e 5.

Tabela 4.8: Dados das barras do problema 4.1


Barra Tipo V(pu) ang(0) Pd(MW) Qd(Mvar)
1 Vδ 1,000 0,00 0 0
2 PQ 0 0
3 PV 1,000 160 120
4 PQ 0 0
5 PV 1,000 80 -60

CS1

1 2 3 4 5
j0, 2pu j0, 04pu j0, 1pu

j0, 2pu

G1 j0, 2pu j0, 04pu j0, 1pu


j0, 2pu

230 kV 138 kV 69 kV
CS2

Figura 4.8: Diagrama unifilar do problema 4.1


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 135

1. Utilize o modelo linear das equações do fluxo de potência e determine as injeções de


potência ativa em todas as barras e os fluxos de potência ativa no sistema de transmissão;

2. Use as equações não lineares do fluxo de potência e calcule:

• as injeções de potência ativa e reativa nas barras 1, 3 e 5;


• a magnitude da tensão nas barras 2 e 4;
• os fluxos de potência ativa e reativa nas linhas 2-3;

4.2 Uma linha de transmissão com perdas de potência ativa desprezı́veis, possui uma reatância
série de 0,03 pu(Ω) e susceptância capacitiva shunt total de 1,8 pu(S). Ela interliga um gerador
a uma carga de 5,0 + j2,0 pu(MVA). Foram instalados dois reatores iguais em paralelo, um em
cada extremidade da linha. Para manter a tensão na barra de carga em 1,0 pu(kV) é necessário
regular a tensão do gerador em 1,05 pu(kV). Mostre o balanço de potência deste sistema.

4.3 Para a rede de transmissão cujos dados são apresentados na tabela 4.9, determinar a
matriz admitância de barra em por unidade utilizando a análise nodal, adotando a base 100
MVA, 120kV.

Linha zser (Ω) yshunt (µS)


1−2 2, 88 + j8, 64 j416, 67
1−3 11, 52 + j34, 56 j347, 22
2−3 8, 64 + j25, 92 j277, 78
2−4 8, 64 + j25, 92 j277, 78
2−5 5, 76 + j17, 28 j208, 33
3−4 1, 44 + j4, 32 j138, 89
4−5 11, 52 + j34, 56 j347, 22

Tabela 4.9: Dados para o problema 4.3

4.4 Considere um sistema de potência de 4 barras, cujos dados são apresentados na tabela
4.10. Suponha que entre as barras 2 e 3 há um transformador com reatância de dispersão 0,75
pu(Ω) e tap ajustado em 0,98 no lado da barra 3.

Linha Zser Barra V δ Pg Pd Qg Qd


(pu) (pu) (graus) pu pu pu pu
1-2 j 1,00 1 1,02 00
1-4 j 1,25 2 1,05 1,20 0,50 0,5
3-4 j 1,00 3 0,00 0,00 0,00 0,00
- - 4 0,00 1,50 0,00 0,50

Tabela 4.10: Dados do sistema de 4 barras - problema 4.4


136 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

1. Determine a matriz admitância de barra do sistema.

2. Estabeleça as equações dos desbalanços de potência a serem resolvidas via método de


Newton-Raphson em coordenadas polares.

3. Calcule os fluxos de potência entre as barras 2 e 3, considerando V2 = 1, 03∠00 pu e


V3 = 1, 00∠ − 100 pu.

4.5 Considere o sistema de três barras e três linhas de transmissão cujos dados (no sistema
por unidade) são mostrados na talela 4.11.

Barra Tipo P Q V δ Linha rser xser bshunt


1 Vδ - - 1, 0 0, 00 1−2 0, 10 1, 00 0, 01
2 PQ -0, 005 -0, 002 - - 1−3 0, 20 2, 00 0, 02
3 PV -0, 15 - 0, 98 - 2−3 0, 10 1, 00 0, 01

Tabela 4.11: Dados para o problema 4.5

1. determine a matriz Ybarra via análise nodal;

2. determine as equações da rede elétrica que modelam o problema de fluxo de potência;

3. calcule a solução do fluxo de potência utilizando o método de Newton-Raphson (utilize o


programa computacional de fluxo de potência);

4. calcule os fluxos de potência ativa e reativa e as perdas de potência ativa e reativa nas
linhas de transmissão;

5. se a barra de tensão controlada for convertida em barra de carga, com uma injeção de
potência reativa especificada em −0, 016 pu de Mvar, com a mesma injeção de potência
ativa, qual será a nova solução das equações da rede (utilize o programa computacional
de fluxo de potência)?

6. determine a solução das equações da rede através do método de fluxo de potência lineari-
zado e compare a mesma com aquela obtida para o modelo não linear da rede elétrica.

4.6 Considere o sistema da figura 4.9.

1. especifique o tipo de cada barra e mostre a lista de variáveis a serem calculadas diretamente
na solução do fluxo de potência;

2. estabeleça as equações relacionadas a potência reativa diretamente envolvidas no processo


iterativo da solução via Newton-Raphson;

3. mostre a estrutura de não-zeros da submatriz H da matriz Jacobiana, indicando as cor-


respondentes derivadas envolvidas;

4. comente sobre a possibilidade de selecionar a barra 4 como barra de folga;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 137

Pd1 + jQd1 Pd3 + jQd3

GS CS
1 4 1 : t34 3

T34

1 : t56

6 5 2
T56

GS
Pd6 + jQd6 Banco de Capacitores Pd2 + jQd2

Figura 4.9: Diagrama para o problema 4.6

5. comente sobre a possibilidade de classificar a barra 5 como barra P V .

4.7 Para o sistema da figura 4.10, adote 100 MVA como a base de potência, e suponha que
as impedâncias das linhas de transmissão estão expressas em pu numa base comum. Os dados
das barras são os seguintes: (barra 1, V1 = 1, 05∠00 pu), (barra 2, Potência ativa gerada = 25
MW, Potência ativa consumida = 50 MW, Potência reativa consumida = 25 Mvar, Magnitude
da tensão = 1,02 pu, limites de potência reativa: -10 e 30 Mvar), (barra 3, Potência ativa gerada
= 0,0 MW, Potência reativa gerada = 0,0 Mvar, Potência ativa consumida = 60 MW, Potência
reativa consumida = 30 MW). Determine as injeções de potência ativa e reativa envolvidas no
modelo não linear do fluxo de potência.

4.8 Responda as seguintes questões:

1. Explique qual a diferença em termos de precisão numérica entre as soluções do fluxo de


potência obtidas pelos métodos de Gauss-Seidel e Newton-Raphson.

2. Comente, utilizando ilustração gráfica se necessário, sobre as formas como são obtidas as
convergências dos métodos Desacoplado Rápido e Newton-Raphson.

3. Comente sobre a razão da existência de múltiplas soluções para o problema de fluxo de


potência e sobre a possibilidade de utilização das mesmas.

4. Quais as funções da barra de folga na formulação do problema de fluxo de potência?

5. Considere uma barra com demandas de potência ativa e reativa nulas e onde esteja insta-
lado um Compensador Estático de potência reativa. Na formulação do problema de fluxo
de potência, esta barra pode ser classificada como uma barra PQ? Esta barra pode ser
classificada como uma barra PV?
138 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

1 V1 2 V2
Sd2
Z12 = j0, 25 pu

Z13 = j0, 15 pu Z23 = j0, 25 pu

3 V3
Sd3

Figura 4.10: Diagrama para o problema 4.7

4.9 Uma concessionária dispõe de duas subestações de 130 kV supridas por uma barra de
geração através de um sistema de transmissão. A rede elétrica equivalente possui três barras e
três linhas de transmissão, com configuração em triângulo. As impedâncias série de cada linha e
os respectivos comprimentos são dadas na tabela 4.12, sendo desprezado o seu efeito capacitivo.
O resultado de um estudo de fluxo de potência, também mostrado na tabela 4.12, indicou a
necessidade de compensação reativa na barra 3 para manter a tensão nesta barra no nı́vel de
magnitude desejado (1,00 pu). Tomando como base trifásica 100 MVA e 130 kV,

1. determine a potência aparente suprida pelo gerador da barra 1;

2. determine a compensação reativa a ser instalada na barra 3;

3. determine a matriz admitância de barra do sistema;

4. calcule as perdas de potência ativa e reativa no sistema de transmissão;

5. mostre (e justifique) uma possı́vel classificação para as barras deste sistema, considerando
a instalação de um compensador sı́ncrono na barra 3 para a compensação desejada;

Linha zser Comprimento Barra V δ Pd Qd


(Ω/km) (km) (pu) (graus) pu pu
1-2 0,26+j0,52 13 1 1,000 0 0,00 0,00
1-3 0,26+j0,52 9,75 2 0,990 −1, 7401 0,900 0,300
2-3 0,26+j0,52 6,5 3 1,000 −1, 7412 0,600 0,200

Tabela 4.12: Dados do sistema de 3 barras - problema 4.9


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 139

4.10 A tabela 4.13 mostra os dados de um sistema de três barras e o correspondente resultado
do fluxo de potência. Despreze o efeito capacitivo das linhas de transmissão e considere a
existência de um gerador na barra 1 e de um compensador sı́ncrono na barra 3.
1. determine a potência do compensador sı́ncrono instalado na barra 3;
2. determine a potência aparente gerada na barra de folga;
3. calcule as perdas de potência ativa e reativa do sistema de transmissão;
4. na formulação do problema de fluxo de potência, a barra 3 poderia ser classificada como
uma barra PV? Justifique a sua resposta;
5. determine a matriz admitância de barra deste sistema.

Linha Zser Barra V δ Pd Qd


(pu) (pu) (graus) pu pu
1-2 0,020 + j 0,040 1 1,000 0 0,00 0,00
1-3 0,015 +j 0,030 2 0,990 −1, 7401 0,900 0,300
2-3 0,010 +j 0,020 3 1,000 −1, 7412 0,600 0,200

Tabela 4.13: Dados do sistema de 3 barras - problema 4.10

4.11 Seja um sistema de potência de três barras, conectadas em anel através de três linhas de
transmissão de resistências desprezı́veis e reatâncias X12 = 0, 33 pu, X13 = 0, 50 pu e X23 = 0, 50
pu. As demandas de potência ativa nas barras 2 e 3 são respectivamente 0,5 pu(MW) e 1,0
pu(MW). Considerando a barra 1 como referência angular e utilizando o modelo de fluxo de
potência linearizado,
1. determine os fluxos de potência nas linhas de transmissão, supondo uma compensação
reativa série de 30 % na linha de transmissão;
2. calcule o valor da compensação reativa série que deve ser utilizada na linha 1-3, de modo
que o fluxo de potência ativa na linha 1-2 não ultrapasse 0,5 pu(MW);
3. calcule o valor da compensação reativa série que deve ser utilizada na linha 1-3, de modo
que o fluxo de potência ativa na linha 2-3 seja 0,5 pu(MW);
4.12 Considere um sistema de quatro barras, conectadas em anel por linhas de transmissão
com reatâncias X12 = X13 = X24 = X34 = 0, 01 pu (Ω). Suponha que unidades geradoras estão
instaladas nas barras 1 e 3 e que as cargas das barras 2, 3 e 4 são respectivamente Sd2 = 1,0 +
j0,0 pu(MVA), Sd3 = 0,25 + j0,0 pu(MVA) e Sd4 = 1,0 + j0,0 pu(MVA). Adotando a barra 1
como referência angular,
1. Determine a matriz admitância nodal e as equações do modelo de fluxo de potência line-
arizado.
2. Usando as equações não lineares do fluxo de potência, calcule as potências aparentes ge-
radas nas barras 1 e 3, supondo que as tensões complexas nessas barras são V1 = V3 =
1, 0∠00 pu.
3. Determine as perdas reativas nas linhas de transmissão para as condições do item anterior.
140 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
Capı́tulo 5

Análise de Curto Circuito

5.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a base teórica do estudo do curto-circuito em sistemas de energia elétrica.
Inicialmente, descreve-se o fundamento analı́tico da análise de faltas simétricas, ou seja, daque-
las cuja ocorrência não causa desbalanço entre as fases do sistema trifásico. Este tipo de curto
circuito envolve simultaneamente as três fases do sistema elétrico e a sua formulação analı́tica
é de grande auxı́lio para a compreensão do estudo de curto circuito. Posteriormente, enfoca-se
a análise do curto circuito desbalanceado. Para esta finalidade, utiliza-se o conceito de decom-
posição em componentes simétricos. Um dos principais aspectos enfocados é a análise do gerador
sı́ncrono operando em vazio submetido a faltas assimétricas, e a sua correlação com os circuitos
equivalentes de Thévenin das redes de seqüência. Isto forma a base do procedimento tradicional
do estudo de faltas em sistemas de potência.

5.2 Curto-Circuito em Sistemas de Potência


O estudo das faltas nas redes de energia elétrica visa determinar as correntes e tensões resultantes
da ocorrência de um curto circuito. Essas faltas podem ser de vários tipos, envolvendo um ou
mais elementos do sistema de potência, sendo geralmente classificadas em ordem decrescente de
freqüência de ocorrência. Nos sistemas de transmissão de Alta Tensão, esta ordem geralmente
é a seguinte:
1. falta fase-terra;

2. falta fase-fase;

3. falta fase-fase-terra;

4. falta trifásica.
As faltas podem ainda ser permanentes ou transitórias. As primeiras são irreversı́veis, de
tal modo que mesmo após a atuação da proteção o fornecimento de energia elétrica não é
restabelecido sem que sejam efetuados os devidos reparos na rede defeituosa. Esse tipo de falta
pode ocorrer, por exemplo, devido ao rompimento dos condutores. As faltas transitórias são
aquelas que ocorrem sem danos fı́sicos ao sistema de potência, e portanto a operação normal da
rede elétrica pode ser restabelecida sem maiores dificuldades após a atuação da proteção, cujo
estudo envolve basicamente:
142 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

• a calibração dos relés sensı́veis a falta, que comandam os equipamentos de proteção;

• a capacidade dos equipamentos que devem modificar o fluxo de corrente na linha com
defeito (disjuntores, religadores automáticos, chaves fusı́veis etc);

• a caracterı́stica desejável nos equipamentos (geradores, transformadores, barramentos) no


que diz respeito a suportar os esforços impostos durante o defeito.

Para se ajustar adequadamente os relés, determinar as caracterı́sticas de interrupção dos


disjuntores e estimar os esforços sobre os equipamentos do sistema é necessário calcular algumas
grandezas básicas para esta finalidade, tais como:

• a corrente de falta;

• as tensões pós-falta em todas as barras do sistema;

• as correntes pós-falta ao longo de toda a rede;

O texto a seguir descreve os fundamentos teóricos usados na análise de curto circuito.

5.3 Máquina Sı́ncrona sob Curto-Circuito Trifásico


A modelagem analı́tica da máquina sı́ncrona para a análise de faltas é feita com base no seu
comportamento sob condições de um curto circuito trifásico nos seus terminais. A figura 5.1
mostra o circuito monofásico equivalente de um gerador sı́ncrono operando em vazio, sujeito a
um curto circuito trifásico sólido.1

R L
i(t)

+
e(t) Chave fecha
em (t = 0)
-

Figura 5.1: Máquina sı́ncronas sujeita a um curto circuito trifásico

Quando a chave S fecha em t = 0, a corrente elétrica correspondente à tensão

e(t) = Vm sin(ωt + α)


Rt
 
Vm −
sin(ωt + α − θ) − sin(α − θ) exp L 
i(t) =
Z

√ ωL
onde Z = R2 + ω 2 L2 e θ = arctan( ).
R
1
O texto a seguir é baseado nas referências [1, 3, 6].
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 143

A corrente de curto circuito é expressa por

i(t) = iac (t) + icc (t)

Vm Vm Rt
onde iac (t) = sin(ωt + α − θ) e icc (t) = − sin(α − θ) exp− L são denominadas respectiva-
Z Z
mente componente alternada e componente contı́nua da corrente de curto circuito. Em geral a
componente contı́nua existe em t = 0 e sua magnitude pode ser tão grande quanto a da corrente
de regime permanente.

O valor da corrente de curto circuito i(t) depende do ângulo α, da onda de tensão. Como
o instante em que ocorre a falta não é previsto, α não é conhecido a priori. Além disso, desde
que as tensões trifásicas do gerador sı́ncrono estão defasadas de 1200 , cada fase terá um valor
diferente da componente de corrente contı́nua. Esta componente decresce rapidamente, em geral
dentro de 8 a 10 ciclos.

O valor da indutância L é suposto constante, apesar de que à rigor imediatamente após a


ocorrência da falta a reatância da máquina sı́ncrona varia com o tempo. Assim, costuma-se
representar o gerador sı́ncrono por uma tensão constante em série com uma impedância variante
no tempo, a qual consiste basicamente da reatância indutiva, desde que a resistência das bobinas
da armadura é muito menor em magnitude do que a reatância do eixo direto.

A forma da corrente de falta, que pode ser registrada por um oscilógrafo, representação na
qual freqüentemente a componente contı́nua da corrente é removida. Nesses registros, pode ser
verificado que a amplitude da forma senoidal decresce de um valor inicial alto até um valor de
regime permanente mais baixo. Observa-se que o fluxo magnético associado às correntes de curto
circuito na armadura (ou pela fmm resultante na armadura) inicialmente percorre os caminhos
de alta relutância que não enlaçam o enrolamento de campo ou os circuitos amortecedores
da máquina. Segundo o Teorema dos Fluxos de Dispersão Constante, o enlace de fluxo num
caminho fechado não pode variar instantaneamente. A indutância da armadura é inversamente
proporcional a relutância, e portanto seu valor é inicialmente baixo. Na medida em que o fluxo
percorre os caminhos de relutância mais baixa, a indutância da armadura aumenta.

Uma interpretação alternativa indica que o fluxo magnético através do entreferro da máquina
possui valor elevado no instante de tempo em que a falta ocorre, após o qual começa a decrescer.
Quando a falta ocorre nos terminais da máquina sı́ncrona, algum tempo é necessário até a
redução do fluxo através do entreferro. Desde que a tensão produzida pelo fluxo no entreferro
regula a corrente, enquanto o fluxo decresce a corrente da armadura também decresce.

A componente alternada da corrente de falta iac (t) pode ser modelada como a resposta de
um circuito RL série com indutância ou reatância variantes no tempo L(t) ou X(t) = ωL(t),
conforme mostra a figura 5.2.
144 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Sub-transitório Transitório Regime Permanente

Figura 5.2: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente e reatância da máquina
sı́ncrona

De acordo com o intervalo de tempo considerado, a reatância da máquina sı́ncrona é carac-


terizada da seguinte forma:
′′
• a reatância subtransitória de eixo direto, denotada Xd , que predomina durante o primeiro
ciclo após a ocorrência da falta (até 0,05-0,10 segundos). Este valor inclui a reatância de
dispersão das bobinas do estator e do rotor do gerador, as influências dos enrolamentos
amortecedores e as partes sólidas consideradas na dispersão do rotor;

• a reatância transitória de eixo direto, denotada Xd , que predomina durante alguns ciclos
em 60 Hz (até 0,2-2,0 segundos). Este valor inclui a reatância de dispersão do estator e as
′ ′′ ′ ′′
bobinas de excitação do gerador. Em geral Xd > Xd , ou Xd ≈ Xd (se os pólos do rotor
são laminados e não possuem enrolamentos amortecedores).
• a reatância sı́ncrona de eixo direto, denotada Xd , que predomina em regime permanente.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 145

Este valor inclui a reatância de dispersão do estator e a reatância de reação da armadura


′′ ′
da máquina sı́ncrona, tal que Xd < Xd < Xd .

Apesar da sua variação inicial, valores constantes de reatância são utilizados nos diferentes tipos
′′
de modelagem. Assim, a reatância subtransitória Xd é usada na análise de curto circuito, a

reatância transitória Xd é usada em estudos de estabilidade transitória e a reatância sı́ncrona
Xd é utilizada em estudos de regime permanente.

Na máquina de pólos salientes, o ı́ndice d se refere a uma posição do rotor em que o eixo das
bobinas do rotor coincide com o eixo das bobinas do estator, tal que o fluxo magnético passa
diretamente através da face polar, razão pela qual este eixo é denominado eixo direto. Por outro
lado, o eixo em quadratura está defasado 900 elétricos do eixo direto adjacente, sendo associado
′′ ′
às grandezas Xq , Xq e Xq . Porém, se a resistência da armadura é pequena as reatâncias do
eixo em quadratura não afetam significativamente a corrente de curto circuito e portanto não
são relevantes para o cálculo da corrente de falta. Nas máquinas de rotor cilı́ndrico, os valores
de Xd e Xq são aproximadamente iguais, e portanto não há necessidade da diferenciação. As

Curto circuito trifásico − corrente na fase "a" δ = 0°


15

10

5
ia, A

−5

−10

−15
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec

Figura 5.3: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente na fase a

figuras 5.3, 5.4 e 5.5 ilustram a variação da corrente nas fases de uma máquina sı́ncrona de pólos
salientes, com valores nominais 500 MVA, 30 kV, 60 Hz, sujeita a um curto circuito trifásico
sólido nos terminais da armadura (ver referência [7], página 327, para maiores detalhes sobre a
obtenção dessas curvas).
146 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Curto circuito trifásico − corrente na fase "b" δ = 0°


25

20

15

ib, A
10

−5
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec

Figura 5.4: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente na fase b

Curto circuito trifásico − corrente na fase "c" δ = 0°


5

−5
ic, A

−10

−15

−20

−25
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec

Figura 5.5: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente na fase c

Observa-se nestas figuras, que a magnitude da corrente é alta no instante imediato após a
ocorrência da falta e tende a se manter constante após um determinado intervalo de tempo. Os
diferentes valores da reatância da máquina sı́ncrona durante o curto circuito trifásico são dados
por
′′ Emax ′ Emax Emax
Xd = ′′ Xd = ′ Xd =
Imax Imax Imax

onde Emax é a tensão máxima fase-neutro pré-falta do gerador.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 147

5.4 Curto-Circuito Trifásico


Na análise de curto circuito, supõe-se que antes da falta ocorrer o sistema está operando em
regime permanente equilibrado, tal que o fluxo de potência nas linhas de transmissão e as
tensões complexas nas barra são conhecidos. Se um curto-circuito trifásico ocorre na barra j,
a determinação das correntes que circulam na rede elétrica requer a definição das premissas
sumarizadas nas subseções a seguir.

Condição de operação pré-falta


À rigor, a condição de operação da rede elétrica antes da falta é representada pelas correntes e
tensões nodais obtidas na solução do problema de fluxo de potência. Porém, em funcionamento
normal as tensões são mantidas próximas ao seu valor nominal, de forma que as correntes pré-
falta são quase que puramente reais. Por outro lado, a variação da corrente nas linhas devida
a falta é predominantemente reativa. Assim, a corrente total, que é a expressa como a soma
vetorial de duas correntes (pré e pós-falta) defasadas de quase 900 , é praticamente igual à maior
dessas duas correntes. Isto equivale a ignorar as cargas e as admitâncias shunt e adotar as
seguintes hipóteses simplificadoras:

• as correntes pré-falta são nulas;

• as tensões pré-falta são todas iguais a 1∠00 pu (ou a um valor pré-especificado).

Representação da rede elétrica


Para determinar o circuito equivalente da rede antes da falta, deve-se inicialmente modelar
analiticamente cada componente do sistema, basicamente as linhas de transmissão, os geradores
e motores sı́ncronos e de indução, os transformadores e as cargas.
Em geral, a susceptância em derivação e a resistência série das linhas de transmissão são
desprezadas e portanto as linhas são representadas pelas sua reatância série equivalente (de
seqüência positiva).
Os geradores e motores sı́ncronos são representados por uma força eletromotriz interna cons-
tante em série com a reatância subtransitória, conforme ilustrado na figura 5.6. Geralmente,
a resistência da armadura, a saliência dos pólos e os efeitos de saturação são desprezados. Os
motores de indução de pequeno porte (potência menor do que 50 HP) não são considerados e
os de grande porte (potência maior do que 50 HP) são representados de forma semelhante a das
máquinas sı́ncronas.

Vi
′′
Zgi = jXd

Vi +
E fi
G -
Sgi = Pgi + jQgi

Figura 5.6: Representação das máquinas sı́ncronas


148 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Os transformadores são representados pela sua reatância de dispersão, conforme mostrado na


figura 5.7. A resistência dos enrolamentos, as admitâncias shunt correspondentes aos parâmetros
transversais e os deslocamentos de fase ∆ − Y são desprezados.

jXt
Vi Vj

Figura 5.7: Representação dos transformadores

Geralmente todas as cargas não rotativas são desprezadas. Porém, cargas significativas
podem ser representadas por uma admitância em derivação, conforme mostrado na figura 5.8.

Vi Vi

Idi
Idi
Pdi − jQdi
Ydi =
Sdi = Pdi + jQdi Vi2

Figura 5.8: Representação das cargas

A simplificação resultante dessas suposições não é válida para todos os casos da análise de
faltas. Por exemplo, as linhas de distribuição primária e secundária possuem valor de resistência
série que pode reduzir significativamente a magnitude das correntes de falta e portanto não
devem ser desprezadas no cálculo das correntes de curto circuito.

Análise por Redução de Circuito


Para mostrar a análise de um curto circuito trifásico, considere o sistema mostrado na figura 5.9.
Antes da falta trifásica ocorrer, este sistema é suposto estar operando em regime permanente
equilibrado, sendo representado pelo circuito monofásico equivalente mostrado na figura 5.10.
As tensões complexas nas barras são V11 , V21 , V31 , V41 , V51 e V61 .
Suponha que ocorre um curto circuito trifásico sólido na barra 2, condição na qual a tensão
nesta barra se anula. Isto é representado analiticamente por duas fontes opostas e de mesma
magnitude conectadas em série, conforme mostra a figura 5.11. A magnitude da tensão em
ambas as fontes é V21 .
A solução do circuito elétrico mostrado na figura 5.11, para o cálculo da corrente de falta
pode ser obtida aplicando-se o Teorema da Superposição. Para isto, dois circuitos são resolvidos.
O primeiro, mostrado na figura 5.12, modela a condição pré-falta. A tensão na barra 2 é
representada por uma fonte de tensão independente indicada na figura 5.12. Este circuito fornece
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 149

1 T1 2 3 T2 4
G LT1 M

100 MVA LT2 LT3 100 MVA


23 kV 23 kV
100 MVA 100 MVA
23(∆)/230(Y) kV 23(∆)/230(Y) kV
5

100 MVA
T3
23(∆)/230(Y) kV

Figura 5.9: Sistema exemplo

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

+ +

Eg Em
5
- -
jXT3

Figura 5.10: Circuito monofásico equivalente pré-falta

as correntes pré-falta Ig1 , IF1 e Im


1 . Desde que os circuitos apresentados nas figuras 5.10 e 5.12

são equivalentes, a fonte de tensão conectada entre a barra 2 e o nó de referência não exerce
nenhum efeito sobre o sistema em termos de corrente; isto é, a contribuição à corrente de falta
IF1 é nula. As tensões internas das máquinas Eg e Em , são consideradas constantes mesmo após
a ocorrência da falta.
O segundo circuito, mostrado na figura 5.13, fornece a resposta a quarta fonte de tensão, Ig2 ,
2
IF e Im 2 . Observe que sob o ponto de vista do cálculo da corrente de falta, este circuito pode

ser interpretado como o equivalente de Thévenin visto da barra onde ocorre a falta.
A corrente subtransitória de falta é simplesmente
IF = IF2
e as contribuições do gerador e do motor à corrente de falta são respectivamente
Ig = Ig1 + Ig2
1 2
Im = Im + Im
150 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

+ +

Eg + Em
V21 5
- -
-
jXT3
-
V21
6
+

Figura 5.11: Representação da falta trifásica

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

+ +
+
Eg Em
V21 IF1 5
- -

- jXT3

Figura 5.12: Circuito equivalente 1 - Teorema da Superposição

onde o cálculo de Ig1 e Im1 é baseado no circuito da figura 5.12, e para a determinação de I 2 e
g
2
Im é utilizado o circuito da figura 5.13.

Ex. 5.1 Considere o diagrama unifilar da figura 5.9. Suponha que o motor está operando sob
condições nominais, com fator de potência 0,8 atrasado. Os dados para a análise de faltas na
base 100 MVA e 23 kV na barra 1, são os seguintes:
• Gerador 1: Xg = 0,20 pu;
• Motor: Xm = 0,20 pu;
• Transformadores: Xt1 = Xt2 = Xt3 = 0,05 pu;
• Linhas de transmissão: Xlt1 = Xlt2 = Xlt3 = 0,10 pu.
Considere a ocorrência de uma falta trifásica sólida na barra 2. Calcule os valores no sistema
por unidade e em unidades reais,
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 151

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

- jXT3
I2F
V21
6
+

Figura 5.13: Circuito equivalente 2 - Teorema da Superposição

• da corrente subtransitória de falta;

• das correntes subtransitórias do gerador e do motor, considerando as correntes pré-falta;


1 = V1 = 1, 0∠00
Condições pré-falta: o motor opera sob condições nominais, e portanto Vm 4
1 1 0 0
pu, Im = I34 = 1, 0∠ − 36, 86 pu e Sm = 1, 0∠36, 86 pu. As tensões pré-falta são:

V11 = I1m (Zt1 + Zeq 1 0


23 + Zt2 ) + V4 = 1, 108∠6, 91 pu
V21 = I1m (Zeq 1 0
23 + Zt2 ) + V4 = 1, 074∠4, 98 pu
V31 = I1m (Zt2 ) + V41 = 1, 030∠2, 220 pu

onde Zeq
23 representa as associações série-paralelo das imped[ancias das linhas de transmissão,
cujo valor é 0,0667 pu. As tensões V51 e V61 são iguais e valem 1, 052∠3, 630 pu.
A impedância equivalente vista do ponto onde ocorre a falta é (ver figura 5.13)

Zth = jXth = j0, 1397 pu

e a tensão pré-falta é V21 = 1, 074∠4, 980 pu.


A corrente de falta é portanto
V21
IF = = 7, 688∠ − 85, 010 pu.
Zth
Se as correntes pré-falta não são consideradas, as contribuições do gerador e do motor à
corrente de falta são, respectivamente,

I2g =4, 296∠ − 85, 010 pu


I2m =3, 391∠ − 85, 010 pu

As correntes pré-falta no gerador e no motor são iguais e valem I1g = I1m = 1, 0∠ − 36, 860
pu, tal que as contribuições do gerador e do motor à corrente de falta são respectivamente,

Ig = I1g + I2g = 5, 01∠ − 76, 480 pu


Im = I1m + I2m = 2, 82∠ − 100, 30 pu
152 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Neste caso, a corrente de falta é


IF = 5, 01∠ − 76, 480 + 2, 82∠ − 100, 30 = 7, 688∠ − 85, 010 pu
Observa-se que as correntes pré-falta não afetam significativamente o valor da corrente de
curto circuito. Em geral essas correntes possuem valor reduzido e podem ser desprezadas no
cálculo das contribuições a corrente de falta de cada ramo.

Uso da Matriz Impedância de Barra


A operação em regime permanente é representada genericamente pela equação
Vbarra = Zbarra Ibarra (5.1)
onde Vbarra é o vetor das tensões complexas nas barras; Ibarra é o vetor das injeções de corrente
−1
nas barras; e Zbarra = Ybarra é uma matriz densa, cujos termos diagonais representam as
impedâncias dos circuitos equivalentes de Thévenin visto de cada barra.
De acordo com o Teorema da Superposição, as tensões pós-falta nas barras são dadas por
pf 1 2
Vbarra = Vbarra + Vbarra
1
onde Vbarra 2
é o vetor das tensões nodais pré-falta e Vbarra representa a modificação nas tensões
pré-falta resultante da falta trifásica. Em termos da Eq. 5.1,
pf
Vbarra = Zbarra I1barra + Zbarra I2barra (5.2)
onde, I1barra e I2barra são os vetores das injeções de corrente nas barras nas condições pré-falta e
pós-falta, respectivamente. A Eq. (5.2) pode ser re-escrita como,
1
Vpf = Vbarra + Zbarra I2barra (5.3)
Quando ocorre o curto circuito trifásico sólido na barra j, a tensão pós-falta nesta barra é
nula (ver o circuito da figura 5.11), porém a injeção de corrente é diferente de zero (ver o circuito
da figura 5.13); isto é,
Vjpf = 0
Vj1
I2Fj =
Zjj
onde −I2Fj é a injeção de corrente na barra j; Vj1 é a tensão pré-falta na barra j; e Zjj é o
elemento diagonal da matriz Zbarra correspondente a barra j.
Com relação ao circuito representado na figura 5.13, o segundo termo da Eq. (5.3) pode ser
′′
visto como uma fonte que injeta uma corrente igual a −IF2 na barra 2 (segundo elemento do
vetor I2barra ), enquanto que todos os outros elementos do vetor das injeções de corrente I2barra )
são nulos. Ou seja, há injeção de corrente não nula apenas na barra onde ocorre a falta trifásica.
No caso do curto circuito trifásico na barra genérica j, o segundo termo da Eq. (5.3) é expresso
por,
 2    
V1 Z11 Z12 · · · Z1j · · · Z1n 0
 V2   Z21 Z22 · · · Z2j · · · Z2n   0 
 2  
 ..   .. .. .. ..   .. 
 
 . 
2
 .   . . ··· ··· . .   
Vbarra =  V2  =  Zj1 Zj2 · · · Zjj · · · Zjn   −I2F  ← pos. j
  (5.4)
 j   j 
 ..   .. .. ..

 . 
 .   . . ··· .   .. 
Vn2 Zn1 Zn2 · · · Znj · · · Znn 0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 153

e a variação da tensão em cada barra devida ao curto circuito na barra j é dada por,

−Z1j I2Fj
 2   
V1
 V2  
 2   −Z2j I2Fj 

 ..    .
..

 .   
 2 = 
 V   −Zjj I  2
 j   Fj 
 ..   ..

 .   .


Vn2 −Znj I2Fj

ou seja, apenas a j-ésima coluna da matriz Zbarra é necessária para se calcular a variação da
magnitude da tensão em cada barra quando ocorre um curto circuito trifásico sólido na barra j.
Em termos genéricos, a queda de tensão induzida na barra k por efeito da corrente I2Fj é dada
por,  
2 Zkj
Zkj IFj = Vj1
Zjj
Se a corrente pré-falta é desprezada, a tensão pós-falta na barra k é dada por,
 
Zkj
Vkpf = 1 − Vj1 (5.5)
Zjj

A figura 5.14 mostra a representação do curto circuito trifásico na barra j, quando o mesmo
ocorre através de uma impedância de falta ZF .

Vj j

IFj
ZF

Figura 5.14: Representação da falta na barra j

Neste caso, a tensão pós-falta é dada por,

Vjpf = Vj1 + Vj2


= ZF I2Fj

e
Vj1
I2Fj =
(ZF + Zjj )
tal que,
−Zkj
Vk2 = V1 k = 1, 2, . . . , n
(ZF + Zjj ) j
154 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

e, desde que
Vkpf = Vk1 + Vk2
então
Zkj
Vkpf = Vk1 − V1
(ZF + Zjj ) k
ou seja,  
Zkj
Vkpf = 1− Vj1
ZF + Zjj
e, no caso particular da barra j,
 
ZF
Vkpf = Vj1
ZF + Zjj

Após o cálculo da tensão pós-falta em cada barra, é possı́vel determinar a corrente pós-falta
em todos os componentes da rede elétrica. Por exemplo, a corrente na linha de transmissão que
interliga as barras i e j é dada por
 
Vipf − Vjpf
Ipf
ij =
Zserij

onde Zserij é a impedância série da linha de transmissão.

Capacidade de Curto-Circuito
Considere a seção genérica de um sistema de potência mostrada na figura 5.15, e suponha que em
um dado instante ocorre um curto-circuito trifásico sólido na barra k. A corrente subtransitória

Gi Gj

i j
′′ ′′
IFik IFjk

Dk 1 Dk 2
k

Carga

Figura 5.15: Seção genérica de um sistema de potência

de falta é dada por


Vk1
IFk =
Zkk
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 155

A magnitude da tensão nesta barra, que antes da falta era Vk1 pu, será reduzida instantane-
amente a zero. As barras i e j, contendo fontes ativas, imediatamente começarão a alimentar a
falta com as correntes IFik e IFjk , através das linhas i − k e j − k, respectivamente. A magnitude
dessas correntes depende do valor da impedância das respectivas linhas de transmissão, atingindo
geralmente valores superiores aos valores nominais da corrente de operação. Os disjuntores Dk1
e Dk2 são controlados pelos respectivos relés para isolar a barra sujeita à falta. A magnitude da
tensão em todas as barras da rede será reduzida durante a ocorrência do curto-circuito. O valor
dessa queda de tensão é uma indicação da força da barra. Quanto menos for reduzida a tensão
quando ocorrer um curto-circuito em outra barra, mais forte é a barra considerada. A medida
dessa força é feita através da grandeza denominada Capacidade de Curto Circuito (CCC), a
qual é usada na especificação dos disjuntores e definida como o produto da tensão antes da falta
(Vk1 ) pela corrente de falta (IFk ), quando o curto circuito ocorre na barra k, ou seja,

CCC = Vk1 IFk pu(MVA)

Desde que em geral Vk1 = 1, 0 pu, então

CCC = IFk pu(MVA)

tal que no caso do curto-circuito sólido

Vk1
IFk =
Zjj
e
1
CCC =
Zjj

Ex. 5.2 Considere o sistema do exemplo 5.1, onde a tensão pré-falta na barra 2 é 1, 074∠4, 980
pu. As matrizes admitância e impedância de barra são respectivamente

−25, 00 +20, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
 
 20, 00 −40, 00 10, 00 0, 00 10, 00 0, 00 
 
 0, 00 +10, 00 −40, 00 20, 00 10, 00 0, 00 
Ybarra =  
 
 0, 00 0, 00 20, 00 −25, 00 0, 00 0, 00 

 0, 00 10, 00 10, 00 0, 00 −40, 00 20, 00 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 20, 00 −20, 00

0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000


 

 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 

 0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250 
Zbarra =  

 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 

 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750 
0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250
A corrente subtransitória de falta é dada por

V21
IF = = 7, 688∠ − 85, 010 pu
Z22
a as tensões nas barras são dadas por,
1
Vpf = Vbarra + Zbarra I2barra
156 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

onde,

1, 108∠6, 910
 
 1, 074∠4, 980 
1, 030∠2, 220
 
1
 
Vbarra =
1, 000∠00

 
 
 1, 052∠3, 630 
1, 052∠3, 630

e a variação na tensão pré-falta é,

0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000 0


  

 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 
 −7, 688∠ − 85, 010 

0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250 0
Zbarra I2barra
  
=   

 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 
 0 

 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750  0 
0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250 0

tal que,

0, 251∠13, 510
 
 0, 0 
0.188∠ − 10, 300
 
Vpf
 
=
0.329∠ − 10, 300

 
 
 0.094∠ − 10, 300 
0.094∠ − 10, 300

A contribuição dos componentes do sistema à corrente subtransitória de falta é dada por

V1pf − V2pf
I12 = = 5, 01∠ − 76, 480 pu
j0.050
V2pf − V3pf
I23 = = 1, 88∠79, 690 pu (LT1 )
j0.067
V2pf − V5pf
I25 = = 0, 94∠79, 690 pu (LT2 )
j0.100
V3pf − V4pf
I34 = = 2, 82∠79, 690 pu
j0.050

e as contribuições do gerador e do motor à corrente subtransitória de falta são,

Ig = I12
Im = −I34

1
Desprezando as correntes pré-falta, e considerando as tensões pré-falta Vbarra mostradas
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 157

anteriormente, as correntes de falta trifásica solida em cada barra são,


1, 108∠6, 910
 
= 8, 5622∠ − 83, 08 0
 0, 1294
 1, 074∠4, 980
 

 = 7, 6880∠ − 85, 01 0
 0, 1397 
 1, 030∠2, 220
 

 = 7, 3782∠ − 87, 770 
IF = 
 0, 1397 
 pu(A)
0

1, 000∠0 0

 0, 1294 = 7, 7273∠ − 90
 

 1, 052∠3, 630
 

 = 6, 0121∠ − 86, 360 
 0, 1750 
 1, 052∠3, 630
 
0

= 4, 6761∠ − 86, 36
0, 2250
e a correspondente Capacidade de Curto Circuito é dada por
1, 108 × 8, 5622 = 9, 4874
 
 1, 074 × 7, 6880 = 8, 2574 
 
 1, 030 × 7, 3782 = 7, 6053 
CCC =    pu(MVA)
 1, 000 × 7, 7273 = 7, 7273 

 1, 052 × 6, 0121 = 6, 3254 
1, 052 × 4, 6761 = 4, 9198
o que indica a barra 1 como a mais robusta com relação a um curto circuito trifásico sólido.

5.5 Componentes Simétricos


Quando um sistema de potência opera sob condições desequilibradas (por ocorrência de faltas
ou suprimento de cargas assimétricas) as correntes e tensões são desbalanceadas. Neste caso, a
aplicação de métodos convencionais para a determinação da solução desses circuitos, baseados no
uso direto da análise de malhas ou de nós, resulta num aumento de complexidade do problema.
Entretanto as dificuldades encontradas neste tipo de análise podem ser superadas utilizando-se
a Decomposição em Componentes Simétricas, proposta por C. L. Fortescue em 1918.
Segundo o Teorema de Fortescue, três fasores desequilibrados podem ser decompostos em
três sistemas de fasores equilibrados, caracterizados da seguinte forma:
• componentes de seqüência positiva, representados por um sistema de três fasores de mesmo
módulo, defasados de 1200 entre si e com a mesma seqüência de fase dos fasores originais.
• componentes de seqüência negativa, representados por um sistema de três fasores de mesmo
módulo, defasados de 1200 entre si e com seqüência de fase oposta à dos fasores originais.
• componentes de seqüência zero, representados por três fasores iguais (isto é, de mesmo
módulo e mesmo ângulo).
A figura 5.16 mostra a representação dos três sistemas de componentes simétricas.
O fasor original é definido como a soma dos componentes correspondentes em cada sistema.
As correntes trifásicas de linha são expressas por
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2
Ib = Ib0 + Ib1 + Ib2 (5.6)
Ic = Ic0 + Ic1 + Ic2
158 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Vc1

Vc0
Vc2 Vb2
Va0
Va1
Vb0

Va2

Vb1

Seqüência positiva Seqüência negativa Seqüência zero

Vb2 Vc

Vb
Va1 Vc1
Vb0
Va Vc0
Va0 Vc2
Va2 Vb1

fase a fase b fase c

Sistema desbalanceado

Figura 5.16: Representação dos componentes simétricos

onde os fasores Ia , Ib e Ic pertencem ao domı́nio de fase e os fasores Ia0 , Ia1 , Ia2 , Ib0 , Ib1 , Ib2 ,
Ic0 , Ic1 e Ic2 pertencem ao domı́nio de seqüência. Observe que conhecendo-se as componentes
de seqüência de uma fase, as componentes de seqüência das outras fases são automaticamente
determinadas com base no Teorema de Fortescue.
Visando simplificar a Eq. (5.6), seja o operador a definido como
a = 1∠1200
= cos 1200 + j sin 1200

1 3
= − +j
2 2
o qual aplicado a um fasor gira o mesmo de 1200 sem alterar o seu módulo. As componentes de
seqüência podem ser expressas em função das grandezas correspondentes à fase a, tal que a Eq.
(5.6) é re-escrita como
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2
Ib = Ia0 + a2 Ia1 + aIa2 (5.7)
2
Ic = Ia0 + aIa1 + a Ia2
ou em forma matricial,     
Ia 1 1 1 Ia0
 Ib  =  1 a2 a   Ia1  (5.8)
Ic 1 a a2 Ia2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 159

e na forma compacta,
If = AIs (5.9)
onde If e Is são vetores coluna de ordem 3 × 1, cujos componentes são os fasores corrente dos
domı́nios de fase e seqüência, respectivamente; e A é uma matriz de ordem 3 × 3 expressa por
 
1 1 1
A =  1 a2 a 
1 a a2

As Eqs. (5.8) e (5.9) podem ser re-escritas como


    
Ia0 1 1 1 Ia
1
 Ia1  =  1 a a2   Ib  (5.10)
3
Ia2 1 a2 a Ic
e
Is = A−1 If (5.11)
Portanto, A e A−1 são matrizes de transformação, que convertem respectivamente fasores
do domı́nio de seqüência para o domı́nio de fase e vice-versa.
No caso dos fasores tensão, as expressões correspondentes as Eqs. (5.8), (5.9), (5.10) e (5.11)
são     
Van 1 1 1 Va0
Vf = AVs ⇒  Vbn  =  1 a2 a   Va1  (5.12)
Vcn 1 a a 2 Va2
e     
Va0 1 1 1 Van
Vs = A−1 Vf ⇒  Va1  = 1  1 a a2   Vbn  (5.13)
3
Va2 1 a2 a Vcn
onde as componentes de seqüência das Eqs. (5.12) e (5.13) referem-se aos fasores tensão fase-
neutro. Observe que expressões semelhantes a essas equações podem ser escritas para os fasores
tensão de linha (fase-fase), utilizando as mesmas matrizes de transformação.

Ex. 5.3 Calcular os componentes simétricos:

1. das tensões trifásicas fase-neutro de magnitude 380 V, tomando o fasor Van como re-
ferência e seqüência de fases positiva;

2. das correntes de linha trifásicas de magnitude 15 A, tomando o fasor Ia como referência


e seqüência de fases positiva;

3. das correntes fasoriais de linha Ia = 10∠300 , Ib = 15∠1500 e Ic = 10∠ − 1200 .

5.6 Representação no Domı́nio de Seqüência


Os modelos dos principais componentes do sistema de potência utilizados para a aplicação da
decomposição em componentes simétricas são apresentados a seguir. O procedimento para
estabelecer estes modelos consiste basicamente em determinar as relações tensão-corrente que
representam analiticamente o componente no domı́nio de fase e converter essas grandezas para
o domı́nio de seqüência utilizando as Eqs. (5.8) e (5.12).
160 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Cargas Estáticas
Seja uma carga constituı́da de três impedâncias Zy , conectadas em Y , aterrada através da
impedância Zn , conforme mostra a figura 5.17.
a
Ia

b
Ib
Za Zb

Zc
Zn
In
Ic
c

t - nó de terra

Figura 5.17: Carga conectada em Y -aterrado

Os fasores tensão de cada fase ao nó de terra são dados por


Vat = (Za + Zn )Ia + Zn Ib + Zn Ic
Vbt = Zn Ia + (Zb + Zn )Ib + Zn Ic (5.14)
Vct = Zn Ia + Zn Ib + (Zc + Zn )Ic
tal que, o re-arranjo dos termos resulta na seguinte equação matricial:
    
Vat (Za + Zn ) Zn Zn Ia
 Vbt  =  Zn (Zb + Zn ) Zn   Ib  (5.15)
Vct Zn Zn (Zc + Zn ) Ic
a qual é expressa na forma compacta como
Vf = Zf If (5.16)
onde o ı́ndice f indica que os componentes desta equação pertencem ao domı́nio de fase.
As tensões e correntes dos domı́nios de fase e seqüência são relacionadas por
Vf = AVs If = AIs
de forma que a Eq. (5.16) pode ser re-escrita como
Vs = Z s I s
onde Vs e Is são vetores cujos termos são os componentes simétricos da tensão fase-terra e da
corrente de linha, e Zs = A−1 Zf A é a matriz impedância convertida ao domı́nio de seqüência,
a qual é dada por
Za + Zb + Zc + 9Zn Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc
 
1
Zs =  Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Za + a2 Zb + aZc  (5.17)
3 2 2
Za + a Zb + aZc Za + aZb + a Zc Za + Zb + Zc
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 161

e portanto

Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc
    
Va0 Za + Zb + Zc + 9Zn Ia0
 Va1  = 1  Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Za + a2 Zb + aZc   Ia1  (5.18)
3
Va2 Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Ia2

As Eqs. (5.15) e (5.18) representam analiticamente o sistema da figura 5.17 nos domı́nios de
fase e seqüência, respectivamente. Se a carga é balanceada,

Za = Zb = Zc = Zy

e a Eq. (5.18) é re-escrita como


    
Va0 Zy + 3Zn 0 0 Ia0
 Va1  =  0 Zy 0   Ia1  (5.19)
Va2 0 0 Zy Ia2

A Eq. (5.19) consiste de três equações desacopladas, que podem ser representadas em termos
de circuitos monofásicos de seqüência positiva, negativa e zero, conforme mostra a figura 5.17.

Zy Ia1 Zy Ia2 Zy Ia0

+ + +

Va1 Va2 3Zn Va0

- - -

Sequencia Positiva Sequencia Negativa Sequencia Zero

Figura 5.18: Circuitos de seqüência da carga conectada em Y-aterrado

No domı́nio de fase, a corrente que flui no neutro do sistema trifásico é dada por

In = Ia + Ib + Ic

e desde que

Ia1 + Ib1 + Ic1 = 0


Ia2 + Ib2 + Ic2 = 0

então
Ia + Ib + Ic = 3Ia0
e portanto
In = 3Ia0
As cargas conectadas em Y solidamente aterrado, Y sem aterramento e ∆ são casos parti-
culares da carga conectada em Y -aterrado. Nos dois primeiros casos, as impedâncias do neutro
162 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

valem respectivamente Zn = 0 e Zn = ∞. A carga em ∆ é equivalente a uma carga conectada


em Y sem aterramento, casos nos quais a soma fasorial das correntes de linha é zero; isto é,

Ia + Ib + Ic = 0

o que implica em
Ia0 = 0
Portanto, as correntes de seqüência zero existem apenas em sistemas trifásicos desequilibra-
dos e com neutro aterrado.

Impedâncias Série das Linhas de Transmissão


A figura 5.19 mostra uma linha de transmissão na qual apenas os parâmetros série (sem o efeito
das indutâncias mútuas) são considerados.

Zlt
a ā
Zlt
b b̄
Zlt
c c̄

Figura 5.19: Linha de transmissão

A queda de tensão no domı́nio de fase é dada por


      
Vaā Van − Vān Zlt 0 0 Ia
 Vbb̄  =  Vbn − Vb̄n  =  0 Zlt 0   Ib  (5.20)
Vcc̄ Vcn − Vc̄n 0 0 Zlt Ic

ou na forma compacta
Vf − Vf¯ = Zf If
De forma análoga ao caso da carga estática,

Vf = AVs
Vf¯ = AVs̄
If = AIs

tal que
Vs − Vs̄ = A−1 Zf AIs
e portanto     
Va0 − Vā0 Z0 0 0 Ia0
 Va1 − Vā1  =  0 Z1 0   Ia1  (5.21)
Va2 − Vā2 0 0 Z2 Ia2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 163

onde Va0 , Vā0 , Va1 , Vā1 , Va2 e Vā2 são as componentes de seqüência das tensões complexas
na entrada e na saı́da da linha de transmissão, respectivamente; Z0 , Z1 e Z2 são as impedâncias
de seqüência da linha de transmissão (em geral fornecidas pelos fabricantes ou determinadas
através de ensaios apropriados), e Ia0 , Ia1 e Ia2 são as componentes de seqüência das correntes
de linha. As componentes da Eq. (5.21) são desacopladas e podem ser representadas pelos
circuitos da figura 5.20.

Ia1 Z1 Ia2 Z2 Ia0 Z0

+ + + + + +

Va1 Vā1 Va2 Vā2 Va0 Vā0

- - - - - -

Sequencia Positiva Sequencia Negativa Sequencia Zero

Figura 5.20: Circuitos de seqüência da linha de transmissão

A linha de transmissão é um componente estático do sistema de potência e portanto suas


impedâncias de seqüência positiva e negativa são iguais. É difı́cil determinar com precisão a
sua impedância de seqüência zero porque as correntes de seqüência zero podem retornar pelos
mais variados caminhos, tais como o cabo de cobertura, o aterramento, as torres da linha etc.
Além disso, a impedância da terra depende do tipo de solo, umidade e outros fatores, tal que no
cálculo desta impedância costuma-se se fazer hipóteses simplificadoras em relação à distribuição
das correntes. Por esta razão, o valor da impedância de seqüência zero é o parâmetro com menor
precisão em estudos de curto circuito, sendo recomendável obter esse parâmetro por meio de
ensaios de campo. Em primeira aproximação pode-se tomar Z0 = 3 a 3,5 Z1 .

Máquina Sı́ncronas
A figura 5.21 mostra um gerador sı́ncrono, com as bobinas da armadura conectadas em Y -
aterrado. Cada fase é composta por uma fonte de tensão independente, representando a tensão
interna do gerador Ef e a impedância da bobina da armadura Zg .
Neste caso, o fasor tensão da fase a ao nó de terra é dado por

Vat = −Zg Ia + Efa − Zn In

onde a corrente no neutro é expressa por

In = Ia + Ib + Ic

e portanto
Vat = −(Zg + Zn )Ia + Efa − Zn Ib − Zn Ic (5.22)
164 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

a
Ia
b
Zg Zg Ib
+ +
E fa E fb
- -

In +
E fc
Zn
-
Zg

Ic
t: nó de terra c

Figura 5.21: Gerador sı́ncrono com as bobinas da armadura conectadas em Y -aterrado.

Expressões semelhantes à Eq. (5.22) podem ser estabelecidas para as fases b e c, tal que a
seguinte equação matricial é obtida:
      
Vat (Zg + Zn ) Zn Zn Ia E fa
 Vbt  = −  Zn (Zg + Zn ) Zn   Ib  +  E fb  (5.23)
Vct Zn Zn (Zg + Zn ) Ic E fc

a qual representa analiticamente o gerador sı́ncrono da figura 5.21 e pode ser expressa na forma
compacta no domı́nio de fase como

Vf = −Zf If + Ef (5.24)

Expressando as tensões e correntes da Eq. (5.24) no domı́nio de seqüência obtém-se


      
Va0 Zg0 + 3Zn 0 0 Ia0 0
 Va1  = −  0 Zg1 0   Ia1  +  Efa  (5.25)
Va2 0 0 Zg 2 Ia2 0

onde Zg1 , Zg2 e Zg0 são as impedâncias se seqüência positiva, negativa e zero, respectivamente,
do gerador sı́ncrono. Essas impedâncias são determinadas em ensaios baseados na relação tensão-
corrente da máquina sı́ncrona. Por exemplo, a impedância de seqüência positiva é determinada
através do ensaio de curto circuito no gerador sı́ncrono. De maneira análoga, as impedâncias de
seqüência negativa e zero são determinadas submetendo-se este equipamento às tensões trifásicas
de seqüência negativa e zero, respectivamente. Esses valores são geralmente fornecidos pelos
fabricantes.
A Eq. (5.25) representa analiticamente o gerador sı́ncrono da figura 5.21 no domı́nio de
seqüência. É fácil observar que as equações correspondentes às componentes de seqüência posi-
tiva, negativa e zero são desacopladas, podendo cada uma ser representada por um circuito de
seqüência, conforme mostra a figura 5.22.
Observe que estes circuitos são simplificados, sendo desprezados os efeitos de saliência de
pólos, saturação e outros fenômenos transitórios mais complexos. Os circuitos de seqüência
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 165

Zg1 Ia1 Zg2 Ia2 Zg0 Ia0

+ + + +

E fa Va1 Va2 3Zn Va0

- - - -

Sequencia Positiva Sequencia Negativa Sequencia Zero

Figura 5.22: Circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono

do motor sı́ncrono são semelhantes aos do gerador, exceto pelo sentido das componentes de
seqüência da corrente em cada circuito. No caso do motor de indução, desde que o enrolamento
de campo (rotor) destes equipamentos não é excitado por corrente contı́nua, a fonte independente
que representa a força eletromotriz interna é removida (substituı́da por uma impedância nula
ou curtocircuitada).

Ex. 5.4 Considere um sistema trifásico onde as seguintes três cargas conectadas em paralelo
são supridas por um a alimentador operando na tensão de 380 V:
• carga 1: conectada em ∆ e constituı́da por três impedâncias iguais a 24 + j18 Ω/f ase;

• carga 2: conectada em Y solidamente aterrado e constituı́da por três reatâncias capacitivas


iguais a 5 Ω/f ase;

• carga 3: conectada em Y aterrado por uma reatância indutiva igual a 2 Ω e constituı́da


por três impedâncias iguais a 12 + j9 Ω/f ase;
As impedâncias de seqüência da linha de transmissão que conecta a fonte à carga são iguais a
Z1 = Z2 = 0,087 + j0,996 Ω/fase, e Z0 = 0,25 + j2,88 Ω/fase.
1. determine os circuitos de seqüência que representam este sistema;

2. calcule os fasores corrente de linha que suprem cada carga;

3. as potências complexas absorvida pela carga total e fornecida pela fonte, a perda de
potência ativa e reativa no sistema de transmissão;

4. os fatores de potência com que operam a fonte e a carga;

5. o balanço de potência do sistema trifásico;

Transformadores
Um modelo simplificado consistindo apenas de uma reatância é adotado para representar o
transformador. Desde que os transformadores são equipamentos estáticos, a impedância de
dispersão não variará se a seqüência de fase for alterada. Por esta razão, a impedância de
seqüência positiva deste equipamento é igual à sua impedância de dispersão, a qual é obtida
através do ensaio de curto-circuito, isto é,

Z1 = Z2 = jXt
166 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

A impedância de seqüência zero dos transformadores depende da forma de conexão dos


enrolamentos (Y , Y aterrado ou ∆). Os diversos casos possı́veis de conexão são mostrados a
seguir.

Conexão Y − Y com aterramento em ambos os lados


Quando o neutro de ambos os lados do transformador está aterrado, há um caminho que permite
que as correntes de seqüência zero circulem nos dois lados do transformador. O circuito de
seqüência zero do transformador trifásico com conexão Y -aterrado/Y -aterrado é apresentado na
figura 5.23.
O transformador com conexão Y −Y solidamente aterrada nos dois lados é um caso particular
do anterior. A rede de seqüência zero correspondente a este tipo de conexão é a mesma da figura
5.23, com ZN = Zn = 0 e Z0 = Z1 = Z2 = jXt

3ZN Z0 3Zn

Figura 5.23: Transformador trifásico com conexão Y -aterrado/Y -aterrado - circuito de


seqüência zero

Se o transformador trifásico possui conexão Y − Y sem aterramento, ZN = Zn = ∞, o que


pode ser interpretado como um circuito aberto substituindo as impedâncias de aterramento.
Neste caso, a inexistência de aterramento impede que as correntes de seqüência zero circulem
no transformador.
No caso da conexão Y -solidamente aterrado / Y -sem aterramento, ZN = 0 e Zn = ∞, ou
seja, há um circuito aberto entre as duas partes do sistema ligadas pelo transformador, o que
impede que as correntes de seqüência zero circulem em qualquer seção do transformador.
Se o transformador trifásico possui conexão Y -aterrado - ∆, as correntes de seqüência zero
tem um caminho que as possibilita fluir para a terra, pois as correntes induzidas correspondentes
podem circular na conexão ∆. Entretanto, nenhuma corrente de seqüência zero sairá pelos
terminais do secundário e portanto não haverá circulação de correntes de seqüência zero nas
linhas conectadas a ligação ∆. Por esta razão, o circuito equivalente inclui um caminho a partir
da linha do lado Y até a barra de referência. Assim, nenhuma corrente de seqüência zero é
injetada nos terminais da conexão ∆. O circuito de seqüência zero correspondente a este tipo
de conexão inclui um circuito aberto no lado da conexão ∆. Estas considerações são modeladas
na rede de seqüência zero apresentada na figura 5.24.
Os transformadores trifásicos com conexões Y -solidamente aterrado / ∆ e Y não aterrado /
∆ são casos particulares da conexão Y aterrado / ∆ com ZN = 0 e ZN = ∞, respectivamente.
No caso do transformador trifásico com conexão ∆ / ∆, não existe caminho de retorno para
as correntes de seqüência zero e portanto elas não podem circular fora do transformador, embora
possam circular internamente nos enrolamentos da conexão ∆. A figura 5.25 mostra o circuito
de seqüência zero deste tipo de transformador.
Se o transformador trifásico possui três enrolamentos por fase, o circuito equivalente de
seqüência zero é obtido combinando-se os modelos anteriores. Por exemplo, se o primário está
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 167

3ZN Z0

Figura 5.24: Transformador trifásico com conexão Y aterrado / ∆ - circuito de seqüência


zero

Z0

Figura 5.25: Transformador trifásico com conexão ∆ / ∆ - circuito de seqüência zero

conectado em Y solidamente aterrado, o secundário em Y solidamente aterrado e o terciário em


∆, o circuito de seqüência zero é semelhante aquele apresentado na figura 5.26.

jXp jXs
P
S

T
jXt

Figura 5.26: Transformadores trifásicos de três enrolamentos com conexão Y aterrado/∆


/Y aterrado - circuito de seqüência zero

As redes de seqüência são circuitos monofásicos determinados com os componentes de um


mesmo tipo de seqüência. Em termos de elemento passivo os componentes do sistema de potência
são caracterizados pelas suas respectivas impedâncias de seqüência positiva, negativa e zero.

5.7 Faltas Assimétricas num Gerador à Vazio


Redes elétricas podem ser reduzidas a um circuito equivalente de Thévenin visto de qual-
quer barra. Este conceito pode ser estendido para os sistemas formados pelos componentes
de seqüência, resultando em três circuitos equivalentes de Thévenin, correspondentes as redes
168 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

de seqüência positiva, negativa e zero. De acordo com a modelagem dos componentes dos sis-
temas de potência mostrada na seção 5.6, apenas as redes de seqüência positiva possuem fontes
independentes e portanto o correspondente circuito equivalente de Thévenin possui uma fonte
ativa, sendo os outros dois circuitos constituı́dos apenas de uma impedância equivalente. Assim,
esses circuitos se assemelham aos da figura 5.22, o que possibilita analisar as faltas assimétricas
a partir do gerador sı́ncrono. Para esta finalidade, o seguinte procedimento é adotado:

1. escrever as equações que modelam a condição de falta do gerador sı́ncrono no domı́nio de


fase;

2. converter essas equações ao domı́nio de seqüência através da matriz de transformação;

3. identificar o circuito de seqüência resultante da conversão das equações ao domı́nio de


seqüência;

Curto Circuito Trifásico

Va a

Ic
Vb b
Zy Zy
Ia

IN = 0
Ia + Ib + Ic
Zy ZN
Ib

Vc c

Figura 5.27: Representação do gerador sı́ncrono na falta trifásica

Este tipo de falta, ilustrado na figura 5.27, é caracterizado pelas seguintes equações:

Va = Vb = Vc = 0
Ia + Ib + Ic = 0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 169

Em termos de componentes de seqüência:


    
Va0 1 1 1 Va
 Va1  = 1  1 a a2   Vb 
3
Va2 1 a2 a Vc

  
1 1 1 0
1
= 1 a a2   0 
3
1 a2 a 0
resultando
Va0 = Va1 = Va2 = 0 (5.26)
Por outro lado
    
Ia0 1 1 1 Ia
 Ia1  = 1  1 a a2   Ib 
3
Ia2 1 a2 a Ic

  
1 1 1 Ia
1
= 1 a a 2   a2 I a 
3
1 a2 a aIa
fornecendo
I a 1 + a2 + a 
      
Ia0 0
 Ia1  = 1  Ia 1 + a3 + a3  =  Ia 
3
I a 1 + a4 + a2

Ia2 0
e portanto
Ia0 = 0
Ia1 = Ia (5.27)
Ia2 = 0
De 5.26 e 5.27, observa-se que a condição estabelecida pela equação 5.26 implica em que
todas as redes de seqüência estão em curto, conforme representado na figura 5.28.

+ jX1 Ia1 + jX2 Ia2 + jX0 Ia0 +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.28: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta trifásica

Se o curto trifásico não envolve a terra, então as condições do defeito são ainda,
Va = Vb = Vc = 0
Ia + Ib + Ic = 0
170 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Note que, desde que Ia0 = 0, o circuito de seqüência zero também pode ser deixado em
aberto.

Curto-Circuito Fase-Terra
Considere a figura 5.29, a qual representa um gerador sı́ncrono sujeito a um curto circuito sólido
fase-terra na fase a. As equações que modelam este tipo de curto circuito no domı́nio de fase

Va a

Ia
Vb b
Zy Zy
Ib
IF

Zy ZN
Ic
Vc c

Figura 5.29: Representação do gerador sı́ncrono na falta fase-terra

são,

Va = 0
Ib = Ic = 0

Em termos de componentes de seqüência,


    
Ia0 1 1 1 Ia
1
 Ia1  =  1 a a2   Ib 
3
Ia2 1 a2 a Ic

  
1 1 1 Ia
1
=  1 a a2   0 
3
1 a2 a 0

resultando    
Ia0 Ia
 Ia1  = 1  Ia 
3
Ia2 Ia
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 171

ou seja,
Ia0 = Ia1 = Ia2 (5.28)

tal que a corrente que flui para a terra é

IF = Ia = 3Ia0

Por outro lado,


Va = Va0 + Va1 + Va2 = 0 (5.29)

Para que as equações 5.28 e 5.29 sejam simultaneamente satisfeitas, as redes de seqüência
do gerador sı́ncrono devem ser conectados em série, conforme mostra a figura 5.30. As conexões

jX1 Ia1 jX2 Ia2 jX0 Ia0

+ + + +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.30: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-terra

das redes de seqüência na forma apresentada na figura 5.30 constituem um modo conveniente de
estabelecer as equações para a solução do problema do curto-circuito fase-terra. Por exemplo,
pode-se calcular a componente de seqüência da corrente no circuito da figura 5.30 e então
determinar a corrente de falta IF = Ia = 3I0 . Se o neutro do gerador não estiver aterrado
ZN = ∞ e IF = 0, e portanto não circula corrente na linha a. Isto pode ser visto também pela
simples inspeção do circuito trifásico, pois não existe caminho de retorno para a corrente de
defeito, a menos que o neutro de gerador seja aterrado.

Curto-Circuito Fase-Fase

Este tipo de falta, ilustrado na figura 5.31, é caracterizado pelas seguintes equações no domı́nio
de fase:

Vb = V c
Ia = 0
Ic = −Ib
172 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Va a

Ia
Vb b
Zy Zy
Ib

IF = Ib = −Ic
IN = 0

Zy ZN
Ic

Vc c

Figura 5.31: Representação do gerador sı́ncrono na falta fase-fase

Em termos de componentes de seqüência:

    
Ia0 1 1 1 Ia
 Ia1  = 1  1 a a2   Ib 
3
Ia2 1 a2 a Ic

  
1 1 1 0
1
= 1 a a2   I b 
3
1 a2 a −Ib

o que fornece
   
Ia0 (0 + Ib − Ib)
 Ia1  = 1  aIb − a2 Ib 
3
a2 Ib − aIb

Ia2

ou seja,
Ia0 = 0 (5.30)

e
Ia2 = −Ia1 (5.31)

conforme esperado pois o curto não envolve a terra.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 173

Por outro lado


    
Va0 1 1 1 Va
1
 Va1  =  1 a a2   Vb 
3
Va2 1 a2 a Vc

  
1 1 1 Va
1
=  1 a a 2   Vb 
3
1 a2 a Vb

resultando    
Va0 (Va + Vb + Vb ) 
1
 Va1  =  Va + aVb + a2 Vb 
3
Va + aVb + a2 Vb

Va2
e portanto
Va1 = Va2 (5.32)
Do circuito de seqüência zero,

Va0 = − (jX0 + 3ZN ) Ia0

poré, desde que Ia0 = 0, então


Va0 = 0 (5.33)
O exame das equações 5.30, 5.31, 5.32 e 5.33 indica que para representar este tipo de falta
os modelos de seqüência positiva e negativa devem ser ligados em paralelo, conforme ilustra a
figura 5.32.

jX0 Ia0

+ jX1 Ia1 + jX2 Ia2 + +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.32: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-fase

Curto-Circuito Fase-Fase-Terra
Este tipo de curto é representado na figura 5.33. e as condições que descrevem analiticamente a
falta fase-fase-terra no domı́nio de fase são

Vb = Vc = 0
Ia = 0
174 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Va a

Ia
Va b
Zy Zy
Ib

IF = Ib + Ic
Zy ZN
Ic

Vc c

Figura 5.33: Representação do gerador sı́ncrono na falta fase-fase-terra

Em termos de componentes de seqüência,


    
Va0 1 1 1 Va
1
 Va1  =  1 a a2   Vb 
3
Va2 1 a2 a Vc

  
1 1 1 Va
1
=  1 a a2   0 
3
1 a2 a 0
resultando    
Va0 Va
 Va1  = 1  Va 
3
Va2 Va
ou seja,
Va
Va0 = Va1 = Va2 = (5.34)
3
e
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2 = 0 (5.35)
Para que as equações 5.34 e 5.35 sejam satisfeitas, as redes de seqüência do gerador sı́ncrono
devem ser ligadas em paralelo, conforme mostra a figura 5.27.
Observe-se que,
IF = Ib + Ic
porém,
Ia + Ib + Ic = 3Ia0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 175

+ jX1 Ia1 + jX2 Ia2 + jX0 Ia0 +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.34: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-fase-
terra

e desde que neste caso Ia = 0, então

IF = Ib + Ic = 3Ia0

5.8 Análise de Faltas Assimétricas


Para calcular as correntes de uma falta assimétrica numa rede elétrica aplica-se a mesma técnica
utilizada no estudo de faltas assimétricas em geradores sı́ncronos operando a vazio. No presente
caso, substitui-se cada rede de seqüência (positiva, negativa e zero) do sistema pelo respectivo
circuito equivalente de Thévenin, visto do ponto onde ocorre o defeito. As redes de seqüência
de um sistema de potência são determinadas acoplando-se adequadamente, segundo o diagrama
unifilar, as redes equivalentes de cada componente da rede elétrica.
O procedimento para o cálculo das correntes e tensões de curto circuito em sistemas de
potência pode ser resumido nos seguintes passos:

1. Considera-se que as tensões nas barras são iguais (em geral a 1,0 pu ou a um valor
fornecido) e despreza-se todas as correntes pré-falta nas linhas do sistemas.

2. Determina-se os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero do sistema, conectando-se


os circuitos de seqüência de cada elemento do sistema de potência segundo o diagrama
unifilar.

3. Determina-se os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva, nega-


tiva e zero vistas do ponto do defeito. Observe que a tensão da fonte independente (no
circuito de seqüência positiva) é a tensão pré-falta referida no item 1. Por outro lado, a
impedância do equivalente de Thévenin pode ser calculada de duas formas:

• por redução de circuito;


• através da matriz impedância de barra.

4. Para se calcular a corrente que flui para o defeito utiliza-se um procedimento análogo
aquele adotado no caso de curto-circuito nos terminais de geradores sı́ncronos funcionando
a vazio; isto é, os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva,
negativa e zero são conectados de acordo com o tipo de falta.
176 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

5. As correntes nos elementos do sistema que fluem para o ponto do onde ocorre o curto
circuito são calculadas desprezando-se as cargas. Estas correntes são portanto devidas
exclusivamente a falta.

6. As tensões de fase e de linha em qualquer ponto da rede devidas exclusivamente ao defeito


são calculadas ã partir da corrente nos elementos do sistema.

7. Se a corrente pré-falta for considerada, as correntes pós-falta nas linhas são obtidas
aplicando-se o Teorema da Superposição.

8. Obtidas as correntes nas linhas pode-se então determinar a capacidade de interrupção dos
diversos disjuntores e os ajustes dos relés de proteção.

Ex. 5.5 Considere o sistema do exemplo 5.1, com os seguintes dados adicionais, adotando a
base de 100 MVA e 23 kV na barra 1:
• Gerador 1: X1 = X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 05 pu, Xn = 0;

• Motor: X1 = X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 05 pu, Xn = 0, 03 pu;

• Transformadores 1, 2 e 3: XT = 0, 05 pu;

• Linhas de transmissão 1, 2 e 3: X1 = X2 = 0, 10 pu, X0 = 0, 25 pu.


As conexões Y dos transformadores 1, 2 e 3 e do gerador 1 são solidamente aterradas. Despreze
as correntes pré-falta e suponha que o motor opera sob condições nominais.
1. Determine os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero.

2. Calcule a corrente subtransitória de falta e as correntes e tensões ao longo do sistema (no


sistema por unidade e em unidades reais), nos seguintes casos:

• para um curto circuito fase-terra sólido, na fase a na barra 2;


• para um curto circuito fase-fase sem envolver a terra, nas fases b e c na barra 2;
• para um curto circuito fase-fase-terra sólido, nas fases b e c na barra 2;

• Os circuitos de sequência positiva, negativa e zer são mostrados nas figuras 5.35, 5.36 e
5.37.

1 2 1 3 4
jXLT1

jXg1 jXT11 jXT12 1


jXm
1 1
jXLT2
jXLT3

+ +

Eg Em
5
- -
jXT13

Figura 5.35: Circuito de sequência positiva


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 177

1 2 2 3 4
jXLT1

jXg2 jXT21 jXT22 2


jXm
2 2
jXLT2
jXLT3

jXT23

Figura 5.36: Circuito de sequência negativa

1 2 0 3 4
jXLT1

jXg0 jXT01 jXT02 0


jXm
0 0
jXLT2
jXLT3

jXT03

Figura 5.37: Circuito de sequência zero

• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência positiva são as se-


guintes:

−25, 00 +20, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
 

 20, 00 −40, 00 10, 00 0, 00 10, 00 0, 00 

1
 0, 00 +10, 00 −40, 00 20, 00 10, 00 0, 00 
Ybarra =  

 0, 00 0, 00 20, 00 −25, 00 0, 00 0, 00 

 0, 00 10, 00 10, 00 0, 00 −40, 00 20, 00 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 20, 00 −20, 00

0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000


 

 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 

0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250
Z1barra
 
=  

 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 

 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750 
0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250

• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência negativa são iguais


as de sequência positiva;
178 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

1 2 3 4
j0,20 pu j0,05 pu j0,083 pu j0,083 pu j0,05 pu j0,14 pu

G M
T1 T2
j0,083 pu

j0,05 pu T3

Figura 5.38: Circuito de sequência zero equivalente

• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência zero são dadas por:

−20, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
 

 0, 00 −28, 00 4, 00 0, 00 4, 00 0, 00 

0
 0, 00 4, 00 −28, 00 0, 00 4, 00 0, 00 
Ybarra =  

 0, 00 0, 00 0, 00 −7, 14 0, 00 0, 00 

 0, 00 4, 00 4, 00 0, 00 −28, 00 0, 00 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00

0, 05 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 ∞
 

 0, 00 0, 0375 0, 0063 0, 00 0, 0062 ∞ 
0, 00 0, 0063 0, 0375 0, 00 0, 0062 ∞ 
Z0barra

=  

 0, 00 0, 00 0, 00 0, 14 0, 00 ∞ 

 0, 00 0, 0062 0, 0062 0, 00 0, 0375 ∞ 
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞

1. Curto circuito fase-terra sólido;

– Corrente subtransitória de falta:

I0F = I1F = I2F

1, 00∠00
I0F =
j(0, 1397 + 0, 1397 + 0, 0375)

= −j3, 1556 pu

IaF
      
1 1 1 −j3, 1556 −j9, 4667
 Ib  =  1 a2 a   −j3, 1556  =  0, 0  pu
F
IFc 1 a a 2 −j3, 1556 0, 0

– Corrente nos elementos de transmissão:


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 179

Com base nos circuitos de seqência das figuras 5.35, 5.36 e 5.38,
  
0 0 0, 15
I12 = IF = −j2, 3667 

0, 20

Ia12
    
−j5, 8931
  

0, 3167 
I112 = I1F = −j1, 7635  Ib12  =  −j0, 6032  pu
0, 5667
Ic12 −j0, 6032
  

2 2 0, 3167 

I12 = IF = −j1, 7635 

0, 5667

  
0 0 0, 05
I32 = IF = −j0, 7889 

0, 20

Ia32
    
−j3, 5731
  

0, 25 
I132 = I1F = −j1, 3921  Ib32  =  j0, 6032  pu
 5667 
0, 
 Ic32 j0, 6032
0, 25 
I232 = I2F

= −j1, 3921 

0, 5667

– Tensões pós-falta via redução de circuitos:

V10 = 0 0, 2946∠00
 a   
 V1
V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0, 6473  V1b  =  0, 8785∠ − 99, 650  pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = −0, 3527

V1c 0, 8785∠99, 650

V20 = −I012 (j0, 05) = −0, 1183


 a   
 V2 0
V21 = 1, 00 − I112 (j0, 25) = 0, 5591  V2b  =  0, 8840∠ − 101, 580  pu
2 2
V2 = −I12 (j0, 25) = −0, 4409

V2c 0, 8840∠101, 580
V30 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = −0, 0197  V3a 0, 2842∠00
   

V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0, 6520  V3b  =  0, 8829∠ − 101, 210  pu


2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = −0, 3527

V3c 0, 8829∠101, 210
V40 = 0
 a   
 V4 0
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0, 7216  V4b  =  0, 8840∠ − 101, 580  pu
2 2
V4 = −I32 (j0, 20) = −0, 2784

V4c 0, 8840∠101, 580
V50 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = −0, 0197

0, 1914∠00
 a  
 
1 1 1 0, 10  V5

V5 = V3 − I32 (j0, 10) = 0, 6056  V5b  =  0, 8750∠ − 98, 230  pu
0, 30
0, 10  Vc

0, 8750∠98, 230
V52 = V32 − I232 (j0, 10) = −0, 3944  5
0, 30
V60 = 0  V6a 0, 2111∠00
   

V61 = V51  V6b  =  0, 8724∠ − 96, 940  pu


2
V6 = V5 2 
V6c 0, 8724∠96, 940
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Em cada circuito de seqência, as seguintes relações devem ser satisfeitas:
1 pf
Vbarra = Vbarra + Z1barra I1barra
2
Vbarra = Z2barra I2barra (5.36)
0
Vbarra = Z0barra I0barra
pf
onde Vbarra é o vetor das tensões nas barras na condição pré-falta. Note que
o circuito de sequência positiva é o único que possui fontes ativas. Os vetores
180 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

das injeções de corrente I1barra , I2barra e I0barra possuem apenas um elemento não
nulo, que são as componentes de sequência positiva, negativa e zero da corrente
de falta. Por exemplo, em sequência positiva,
 
0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000 0
  
 V11 
 1   0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250   j3, 1556 
 V2    
 1   0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250   0 
 V  =   
 3   0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000   0 
 V1    
 4   0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750   0 
 V1 
5 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250 0
V61
As componentes de sequência da tensão nas barras são portanto,

0
 V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 −0.1183 −0.0197 0 −0.0197 0

1
Vbarra
2 0.6473 0.5591 0.6520 0.7216 0.6056 0.6056
Vbarra

−0.3527 −0.4409 −0.3480 −0.2784 −0.3944 −0.3944
onde Vis denota os componentes de sequência da tensão na barra. Observe que
estes valores são os mesmos obtidos através da redução dos circuitos, e portanto
resultam nos mesmos componentes das tensões nas barras no domı́nio de fase.
– A corrente na impedância do neutro dos transformadores pode ser calculada com
auxı́lio do circuito de seqência zero, isto é,
V20
  
InT1 = 3


j0, 05

  
j7, 1000

0
  
V3

InT2 = 3 =  j1, 1833  pu
j0, 05
j1, 1833

V50
 
 

InT3 = 3



j0, 05
cuja soma resulta na mesma magnitude da corrente de curto circuito fase-terra
sólido na barra 2.
2. Curto circuito fase-fase-terra sólido;
– Corrente subtransitória de falta:
1, 00∠00
I1F =    = −j5, 9079 pu
0.1397 × 0.0375
j 0.1397 +
0.1397 + 0.0375

 
0.0375
I2F = −I1F = j1, 2503 pu
0.1397 + 0.0375

 
0.1397
I0F = −I1F = j4, 6577 pu
0.1397 + 0.0375

IaF
      
1 1 1 −j5, 9079 0
 Ib  =  1 a2 a   j1, 2503  =  9, 3403∠131, 580  pu
F
IcF 1 a a2 j4, 6577 9, 3403∠48, 410
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 181

Observe que IbF + IcF = j13, 9730 pu é a corrente que flui para a terra no ponto
onde ocorre o curto circuito fase-fase-terra.
– Corrente nos elementos de transmissão:
  
0, 15
I012 = I0F = j3, 4932


0, 20

 Ia12 0, 8903∠90, 00

   
  
0, 3167
I112 = I1F = −j3, 3016  Ib12  =  5, 9154∠125, 840  pu
0, 5667
Ic12 5, 9154∠54, 150
  

0, 3167 
I212 = I2F

= j0, 6987 

0, 5667

  
0 0 0, 05
I32 = IF = j1, 1644


0, 20

0, 8903∠ − 90, 00
  a   
I32
  

0, 25 
I132 = I1F = −j2, 6063  Ib32  =  3, 5047∠141, 280  pu
0, 5667
Ic32 3, 5047∠ − 38, 710
  

2 2 0, 25 

I32 = IF = j0, 5516 

0, 5667

– Tensões pós-falta via redução de circuitos:


V10 = 0 0, 4794∠00
 a   
 V1
V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0.3397  V1b  =  0, 2957∠ − 144, 150  pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = 0.1397

V1c 0, 2957∠144, 150

V20 = −I012 (j0, 05) = 0.1747


 a   
 V2 0, 5240
V21 = 1, 00 − I112 (j0, 25) = 0.1746  V2b  =  0  pu
2 2
V2 = −I12 (j0, 25) = 0.1747
 c
V2 0
V30 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = 0.0291  V3a 0, 5154∠00
    

V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0.3484  V3b  =  0, 2811∠ − 139, 570  pu


2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = 0.1379

V3c 0, 2811∠139, 570
V40 = 0
 a   
 V4 0, 5890
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0.4787  V4b  =  0, 4342∠ − 132, 710  pu
V42 = −I232 (j0, 20) = 0.1103 V4c 0, 4342∠132, 710

V50 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = 0.0291



 V5a
    
0, 10 0, 4469

1 1
V5 = V3 − I32 1 (j0, 10) = 0.2615

0, 30  V5b  =  0, 2016∠ − 153, 120  pu
0, 10  Vc

0, 2016∠153, 120
V52 = V32 − I232 (j0, 10) = 0.1563 
 5
0, 30
0
V6 = 0  V6a 0, 4178∠00
   

V61 = V51  V6b  =  0, 2279∠ − 156, 430  pu


2
V6 = V5 2 
V6c 0, 2279∠156, 430
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Com base nas Eqs. (5.36), as componentes de sequência da tensão nas barras
são portanto,

0
 V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 0.1747 0.0291 0 0.0291 0

1
Vbarra
2 0.3397 0.1746 0.3484 0.4787 0.2615 0.2615
Vbarra

0.1397 0.1747 0.1379 0.1103 0.1563 0.1563
onde as variáveis foram definidas anteriormente.
182 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

– A corrente na impedância do neutro dos transformadores pode ser calculada com


auxı́lio do circuito de sequência zero, isto é,

V20
  
InT1 = 3


j0, 05

  
−j10, 47

0
  
V3

InT2 = 3 =  −j1, 74  pu
j0, 05  
−j1, 74
V50
 


InT3 = 3



j0, 05
onde InT1 + InT2 + InT3 = j13, 9730 pu é a corrente total que flui para a terra
no ponto onde ocorre a falta.

• Curto circuito fase-fase sem envolver a terra;

– Corrente subtransitória de falta:

1, 00∠00
I1F = = −j3, 5791 pu
j(0.1397 + 0.1397)

I2F = −I1F = j3, 5791 pu

I0F = 0

IaF
      
1 1 1 0 0
 Ib  =  1 a2 a   −j3, 5791  =  6, 1992∠1800  pu
F
IcF 1 a a2 j3, 5791 6, 1992∠00

– Corrente nos elementos de transmissão:


I012 = 0 


 Ia12
     
0, 3167 
0
I112 = I1F

= −j2, 0000  Ib12  =  3, 4644∠1800  pu
 0, 5667 
0, 3167 Ic12 3, 4644∠00

I212 = I2F

= j2, 0000


0, 5667

I032 = 0 


 Ia32
     
1 1 0, 25 
 0
I32 = IF = −j1, 5789  Ib32  =  2, 7348∠1800  pu
 0, 5667 
0, 25 Ic32 2, 7348∠00

I232 = I2F

= j1, 5789


0, 5667

– Tensões pós-falta via redução de circuitos:

V10 = 0 V1a 1, 0000∠00


   

V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0, 6000  V1b  =  0, 5291∠ − 160, 890  pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = 0, 4000

V1c 0, 5291∠160, 890

V20 = 0 V2a 1, 0000∠00


   

1 1
V2 = 1, 00 − I12 (j0, 25) = 0, 5000  V2b  =  0, 5000∠179, 990  pu
2 2
V2 = −I12 (j0, 25) = 0.5000

V2c 0, 5000∠ − 179, 990
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 183

V30 = 0 1, 0000∠00
 a   
 V3
V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0, 6052  V3b  =  0.5322∠ − 159.960  pu
2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = 0, 3948

V3c 0.5322∠159.960
V40 = 0 1, 0000∠00
 a   
 V4
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0.6842  V4b  =  0.5931∠ − 147.450  pu
2 2
V4 = −I32 (j0, 20) = 0.3158

V4c 0.5931∠147.450
V50 = 0

1, 0000∠00
 a  
 
1 1 1 0, 10  V5

V5 = V3 − I32 (j0, 10) = 0.5526  V5b  =  0, 5082∠ − 169.670  pu
0, 30
0, 10  Vc

0, 5082∠169.670
V52 = V32 − I232 (j0, 10) = 0.4474  5
0, 30
V60 = 0 1, 0000∠00
 a   
 V6
V61 = V51 = 0.5526  V6b  =  0, 5082∠ − 169.670  pu
2 2
V6 = −V5 = 0.4474

V6c 0, 5082∠169.670
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Com base nas Eqs. (5.36), as componentes de sequência da tensão nas barras são,

0
 V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 0 0 0 0 0

1
Vbarra
2 0.6000 0.5000 0.6052 0.6842 0.5526 0.5526
Vbarra

0.4000 0.5000 0.3948 0.3158 0.4474 0.4474

– A corrente na impedância do neutro dos transformadores é zero, pois a falta não


envolve a terra. As correntes que incidem no ponto onde ocorre a falta, ou seja, no
transformador T1 e nas linhas de transmissão LT1 e LT2 (no domı́nio de fase), são:
!  0

V1f − V2f
IT1 = =  −3, 4644  pu
j0, 05
3, 4644 
!  0
V3f − V2f
ILT1 = =  −1, 8233  pu
j0, 10
1, 8233 
!  0
f f
V5 − V2
ILT2 = =  −0, 9116  pu
j0, 10
0, 9116

tal que,  
0
IT1 + ILT1 + ILT2 =  6, 1992∠1800  pu
6, 1992∠00
que é a corrente de falta calculada anteriormente.

5.9 Exercı́cios
5.1 Considere o sistema trifásico cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 5.39.
As tensões pré-falta são todas iguais a 1, 0∠00 pu. Tomando como base os valores nominais
do gerador 1,
184 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Gerador 1 1 3
j0,76 Ω

50 MVA
13,8 kV
′′
Xg1 = 0, 76Ω
j01,90 Ω

Gerador 2

30 MVA 2 j1,52 Ω
13,8 kV
′′
Xg2 = 0, 95Ω

Figura 5.39: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.1

• determinar o circuito equivalente no sistema em por unidade;

• determinar o equivalente de Thévenin visto da barra 2;

• determinar a matriz impedância de barra;

• calcular a corrente subtransitória de falta para um curto circuito trifásico sólido na barra
2 em pu e em Ampéres;

• determinar a tensão nas barras 1 e 3 sob as condições de falta em pu e em kV;

• determinar a corrente na linha 1-2 nessas condições em pu e em Ampéres;

• calcular a capacidade de curto circuito das barras 1,2 e 3 em pu e em MVA.

5.2 Uma fonte conectada em Y -solidamente aterrado opera com tensões fase-terra iguais a
Vat = 277∠00 V, Vbt = 260∠ − 1200 V e Vct = 295∠1150 V, suprindo uma carga trifásica
representada pela matriz de impedâncias
 
10 + j30 5 + j20 5 + j20
Zf =  5 + j20 10 + j30 5 + j20  Ω
5 + j20 5 + j20 10 + j30

1. Determinar os circuitos de seqüência do sistema trifásico.

2. Calcular os componentes simétricos da tensão fase-terra na entrada da linha de trans-


missão e na carga.

3. Calcular a corrente e a potência complexa nos circuitos de seqüência.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 185

4. Determinar as correntes de linha que suprem a carga e a potência complexa suprida a


carga trifásica.

5.3 Uma fase de um gerador trifásico opera em aberto enquanto as outras duas fases são
curto circuitadas à terra, circulando nas mesmas as correntes fasoriais Ib = 1000∠1500 A e
Ic = 1000∠300 A. Determinar os componentes simétricos destas correntes e a corrente que flui
através do neutro do gerador.

5.4 Dadas as tensões fase-terra Vat = 280∠00 V, Vbt = 250∠ − 1100 V e Vct = 290∠1300 V:

1. calcule as componentes de seqüência das tensões fase-terra;

2. calcule as tensões fasoriais de linha e os componentes de seqüência correspondentes;

3. verifique a relação entre as tensões de fase e de linha dos componentes de seqüência das
tensões.

5.5 As correntes fasoriais numa carga conectada em ∆ são: Iab = 10∠00 A, Ibc = 15∠ − 900
A e e Ica = 20∠900 A. Determine:

1. as componentes de seqüência das correntes nas fases da conexão ∆;

2. as correntes de linha que suprem a carga e suas correspondentes componentes de seqüência;

3. verifique a relação entre as correntes de fase e de linha dos componentes de seqüência das
correntes.

5.6 Num sistema trifásico, tensões fase-terra iguais a Vat = 280∠00 V, Vbt = 250∠ − 1100
V e Vct = 290∠1300 V suprem uma carga balanceada conectada em Y solidamente aterrado,
composta de impedâncias iguais a 12 + j16 Ω/fase. Determine os circuitos de seqüência do
sistema e calcule as correntes de linha e suas correspondentes componentes de seqüência.

5.7 Repita o problema anterior para os seguintes casos:

1. supondo que a fonte e a carga são conectadas por uma linha de transmissão de impedância
3 + j4 Ω/fase;

2. supondo que a conexão da carga é Y não aterrado;

3. supondo que a conexão da carga é ∆ consistindo de impedâncias de 12 + j16 Ω/fase;

4. supondo que a carga consiste de uma conexão Y composta de impedâncias de 3+j4 Ω/fase,
com neutro aterrado por uma reatância indutiva de 2 Ω. Considere que a carga é compen-
sada por um banco de capacitores conectado em ∆, composto de reatâncias de 30 Ω/fase.

5.8 Num sistema trifásico, um gerador sı́ncrono supre um motor através de uma linha de
transmissão com impedância 0.5∠800 Ω/fase. O motor absorve 5 kW, na tensão de 200 V, com
fator de potência 0,8 adiantado. As bobinas da armadura do gerador e do motor são conectadas
em Y aterrado, com impedâncias indutivas de 5 Ω. As impedâncias de seqüência das máquinas
são iguais a Z0 = j5, Z1 = j15 e Z2 = j10 Ω. Determine os circuitos de seqüência do sistema
trifásico e calcule as tensões de linha nos terminais do gerador. Considere o motor uma carga
balanceada.
186 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

5.9 Seja um gerador sı́ncrono de 30 MVA, 13,8 kV, reatância subtransitória de eixo direto igual
a 10% e reatâncias de seqüência negativa e zero iguais respectivamente a 13% e 4%. O neutro
do gerador é aterrado através de uma reatância de 0,2 Ω. O gerador está operando em vazio
com tensão nominal nos seus terminais. Determinar a corrente subtransitória (em Ampéres)
que passa pela reatância de aterramento do neutro, quando nos terminais do gerador ocorre um
curto-circuito sólido:
1. monofásico à terra;

2. bifásico sem envolver a terra;

3. bifásico à terra;

4. trifásico à terra.

5.10 Suponha que o o gerador do sistema cujo diagrama unificar é mostrado na figura 5.40,
opera com tensão nominal quando ocorre uma falta. Considere ainda que os transformadores
são do tipo núcleo envolvente e os dados do sistema são os seguintes:
′′ ′′
• gerador: 25 MVA, 10 kV, X1 = X2 = 0,125 pu,X0 = 0,05 pu, X1 = 1,15 pu;

• transformador T1 : 30 MVA, 10 (Y) /20 (Y-solidamente aterrado) kV, X = 0,105 pu;

• linha de transmissão: Z1 = Z2 = 2 + j4 Ω, Z0 = 6 + j12 Ω;

• transformador T2 : 20 MVA, 5 (Y) /20 (∆) kV, X = 0,050 pu;

• carga: 10 MW, 5 Mvar, 5 kV.

Gerador Trafo. T1 LT Trafo. T2 Carga

Y/Y-sol. aterr. ∆/Y

Figura 5.40: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.10

Adotando a base de 20 MVA e tensões nominais dos equipamentos, determinar:

• Os diagramas de seqüência positiva negativa e zero e as correntes pré-falta na linha de


transmissão (em ampères).

• A corrente que flui para o defeito e as correntes pós-falta na linha de transmissão (am
Ampères), se ocorre um curto circuito bifásico sólido (sem envolver a terra) na barra de
alta tensão do transformador T2 .

5.11 Seja o diagrama unifilar da figura 5.41.


Faça o estudo completo de um curto fase-terra no meio da linha de transmissão. Adote os
valores nominais do gerador como base. Os transformadores são bancos trifásicos de transfor-
madores monofásicos e os dados do sistema são os seguintes:

• gerador: 30 MVA, 13,8 kV, X1 = X2 = 15 %, X0 = 5 %, Y aterrado, Zn = j2 Ω;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 187

1 2 3 4 M1
G

Zn
T1 LT T2 M2

Figura 5.41: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.11

• transformador T1 : 35 MVA, 13,2(∆)/115(Y solidamente aterrado) kV, X = 10 %;

• linha de transmissão: X1 = X2 = 80 Ω, X0 = 250 Ω;

• transformador T2 : 35 MVA, 115 (Y solidamente aterrado)/13,2 (∆) kV, X = 10 %;

• motor M1 : 20 MVA, 12,5 kV, X1 = X2 = 20 %, X0 = 5 %, Y aterrado, Zn = j2 Ω;

• motor M2 : 10 MVA, 12,5 kV, X1 = X2 = 20 %, X0 = 5 %, Y sem aterramento;

• construir as redes de seqüência positiva, negativa e zero.

• Determinar os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência para defeitos que
ocorram no meio da linha de transmissão.

• Desprezando as correntes de carga e considerando que antes do defeito o gerador trabalhava


com tensão nominal em seus terminais, determinar:

– a corrente que flui para a terra se ocorrer um curto-circuito sólido no meio da linha
de transmissão.
– a corrente que flui para a terra se ocorrer um curto-circuito fase-fase-terra sólido no
meio da linha de transmissão.
– as tensões pós-falta em cada caso.

5.12 Considere o sistema mostrado na figura 5.42. As impedâncias dos componentes são:

1 2
G1 T1 LT1 T2 G2

LT2

13,8 kV 69 kV 13,8 kV

Figura 5.42: Diagrama unifilar do problema 5.12

• Gerador G1 : X1 = 0, 15 pu, X2 = 0, 10 pu, X0 = 0, 05 pu;


188 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

• Gerador G2 : X1 = 0, 30 pu, X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 10 pu;

• Transformador T1 : X1 = X2 = X0 = 0, 10 pu;

• Transformador T2 : X1 = X2 = X0 = 0, 15 pu;

• Linha de transmissão LT1 : X1 = X2 = 0, 30 pu, X0 = 0, 60 pu;

• Linha de transmissão LT2 : X1 = X2 = 0, 30 pu, X0 = 0, 60 pu;

expressas na base 100 MVA, 13,8 kV nos geradores e 69 kV na linha de transmissão.


Supondo que a tensão pré-falta é 1,0 pu e que as correntes pré-falta são desprezadas, deter-
mine:

• os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero.

• a matriz admitância de barra correspondente a cada circuito de seqüência.

• as correntes de falta (em pu e em Ampéres) no caso de:

– um curto circuito trifásico sólido na barra 1.


– um curto circuito fase-terra (fase a) na barra 1, com impedância de falta nula.

• Para o curto circuito fase-terra do item anterior, calcule (em pu e em Amperes):

– a corrente no neutro do gerador 1.


– a corrente no neutro do transformador 1.

5.13 Considere o sistema elétrico mostrado na figura 5.43, onde A, B, C, D e E representam


disjuntores.

3 G2
1 2 D
G1
A TR B C
LT

G3

Figura 5.43: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.13

Os valores de placa dos equipamentos são os seguintes:


′′ ′′
• gerador G1 : 100 MVA, 13,8 kV, Xg1 = Xg2 = 0,10 pu,Xg0 = 0,33 pu;
′′ ′′
• geradores G2 e G3 : 100 MVA, 138 kV, Xg1 = Xg2 = 0,80 pu,Xg0 = 0,20 pu;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 189

• transformador: 100 MVA, 13,8 (∆) kV / 138 (Y -solidamente aterrado) kV, Xt = 0,10
pu;

• linha de transmissão: XLT1 = XLT2 = 0,25 pu, XLT0 = 0,50 pu;


Suponha que as correntes pré-falta são desprezadas e que a tensão pré-falta é 1,0 pu. Considere
ainda que as bobinas da armadura dos três geradores são conectadas em Y solidamente aterrado.
Determinar:
• os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero;

• os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva, negativa e zero,


vistos da barra 1;

• as matrizes admitância de barra dos três circuitos de seqüência.

5.14 No sistema trifásico da figura 5.44, suponha que as correntes pré-falta são desprezı́veis
e que as barras operam na tensão nominal antes da ocorrência da falta. As duas linhas de

3 Trafo 2 4 Gerador 2
1 2
Gerador 1 Trafo 1 LT 1
5 Trafo 3 6
LT 2

Figura 5.44: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.14

′′
Componente Snom Vnom X
(MVA) (kV) (%)
Gerador 1 2000 13,8 (Y aterrado) 20
Gerador 2 2000 230 (Y aterrado) 20
Trafo 1 2200 13,8(∆):500(Y aterrado) 10
Trafo 2 500 500(Y aterrado):230(Y aterrado) 10
Trafo 3 1000 500(Y aterrado):138(Y aterrado) 12

transmissão possuem reatâncias série de 0,163 (LT1) e 0,327 (LT2) Ω/km por fase e compri-
mentos de 220 km (LT1) e 150 km (LT 2). Adotando como valores base as tensões nominais
dos equipamentos e a potência de 1000 MVA, determinar (em valores p.u. e em unidades reais):
• a corrente de curto circuito trifásico sólido num ponto F da linha de transmissão 1, situado
a 30 km da barra 2;

• a corrente que flui nos geradores 1 e 2, conectados às barras 1 e 4, sob as condições de
falta do item anterior;
190 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

• a corrente que flui no lado de AT do trafo 2, sob as condições de falta do item anterior;

• a corrente de curto circuito trifásico no ponto F da linha de transmissão 1, situado a 30


km da barra 2, considerando uma resistência de 5 Ω no ponto de falta;

• a capacidade de curto circuito da barra 1 em unidades reais.

5.15 Considere o sistema mostrado na figura 5.45, cujos dados são mostrados na tabela 5.1.
Supondo que as correntes pré-falta são nulas e que a tensão na barra 2 é 1,0 pu.

1. determine o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade, tomando como base
os valores nominais do transformador 1;

2. calcule a corrente de falta no caso da ocorrência de um curto circuito trifásico sólido na


barra 4 em unidades reais;

3. calcule as contribuições do gerador, do motor e de cada elemento de conexão entre as


barras à corrente de falta no sistema por unidade;

4. a magnitude da tensão pós-falta na barra 1 em unidades reais;

5. calcule a capacidade de curto circuito da barra 4.

Gerador Motor
LT1 - 220 kV
Trafo T1 2 3 Trafo T2

1 Trafo T3 5 LT2 - 110 kV 6 Trafo T4 4 ?

Figura 5.45: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.15

Elemento Snom (MV A) Vnom (kV ) Reatância


Gerador 80 22 20%
Trafo 1 50 22(Y)/220(∆) 12%
Trafo 2 40 22(Y)/220(∆) 8%
Trafo 3 40 22(Y)/110(∆) 6%
Trafo 4 40 22(Y)/110(∆) 4%
LT 1 220 121 Ω
LT 2 110 42 Ω
Motor 68,85 20 25%

Tabela 5.1: Dados do sistema da figura 5.45


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 191

5.16 A figura 5.46 mostra um gerador sı́ncrono de 625 kVA, 2,4 kV e reatância subtransitória
de 20%, operando na tensão nominal, suprindo uma carga constituı́da de três motores. Cada
motor possui valores nominais 250 HP, 2,4 kV, fator de potência unitário, rendimento de 90% e
reatância subtransitória de 20%. Supondo que os motores operam todos sob as mesmas condições,
adotando os valores nominais do gerador como base e desprezando as correntes pré-falta,

• calcule a corrente de curto circuito em pu e em unidades reais, que acionaria os disjuntores


A e B na ocorrência de uma falta trifásica no ponto P ;

• repita o item anterior para uma falta trifásica no ponto R. Observação: 1 HP = 746 W.

D
M1

R A C
G M2

B P
M3
Q

Figura 5.46: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.16

5.17 A matriz impedância de barra do sistema mostrado na figura 5.47 é dada por
 
0, 0793 0, 0558 0, 0382 0, 0511 0, 0608

 0, 0558 0, 1338 0, 0664 0, 0630 0, 0605 

Zbarra =j
 0, 0382 0, 0664 0, 0875 0, 0720 0, 0603 

 0, 0511 0, 0630 0, 0720 0, 2321 0, 1002 
0, 0608 0, 0605 0, 0603 0, 1002 0, 1301

Despreze as correntes pré-falta e considere que a tensão na barra 1 é 1,0 pu.


• Determine a barra com maior capacidade de curto circuito do sistema e o valor desta.
• Calcule a corrente de falta resultante de um curto circuito trifásico sólido na barra do item anterior;
c) determine a magnitude da tensão em cada barra e a contribuição de cada componente do sistema
à corrente de falta, na condição do item anterior.

5.18 Os dados do sistema do diagrama unifilar da figura 5.48 são mostrados na tabela 5.2.
Todas as quantidades estão em pu na base 1000 MVA e 500 kV referida a barra 1. Desprezando
as correntes pré-falta e supondo que o gerador 1 opera com 1,0 pu de tensão nos seus terminais,

• Determine a Capacidade de Curto Circuito de cada barra (em pu e em unidades reais),


para curtos-circuitos trifásico sólido e fase-terra sólido.

• Calcule as tensões nas barras na condição de corrente de curto circuito fase-terra sólido
na barra 4.
192 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

1 3
2
j0, 168 pu j0, 126 pu

1, 0∠00 pu
1, 0∠00 pu j0, 1333 pu + −
− + j0, 1111 pu

5 j0, 210 pu
j0, 126 pu

j0, 252 pu j0, 336 pu


4

Figura 5.47: Circuito equivalente - exercı́cio 5.17

• Determine as correntes no sistema de transmissão.

• Calcule as correntes na impedância do neutra dos geradores e transformadores.

Equipamento Snom Vnom X1 = X2 X0 3Xn


(MVA) (kV) (pu) (pu) (pu)
Gerador 1 500 13,8 0,400 0,080 0,600
Gerador 2 750 18,0 0,240 0,048 0,400
Gerador 3 1000 20,0 0,170 0,034 0,300
Trafo 1 500 13,8/500 0,240 0,240 -
Trafo 2 750 18,0/500 0,133 0,133 -
Trafo 3 1000 20,0/500 0,100 0,100 0,024
LT’s 500 0,200 0,500 -

Tabela 5.2: Dados do sistema teste do exercı́cio 5.18


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 193

T1 1 2 3 T3
G1 G3
LT1 LT3

Zng1 LT2 Zng3


Znt3

T2

G2
Zng2

Figura 5.48: Sistema teste do exercı́cio 5.18


Referências Bibliográficas

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[2] S. J. Chapman, Electric Machinery Fundamentals, McGraw-Hill Book Company, 1985.

[3] J. D. Glover, M. Sarma, Power System Analysis and Design, PWS Publishers - Boston,
1994.

[4] R. D. Shultz, R. A. Smith, Introduction to Electric Power Engineering, John Wiley and
Sons, 1987.

[5] J. Arillaga, C. P. Arnold, B. J. Harker, Computer Modelling of Electrial Power Systems,


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[6] T. Gönen, Modern Power System Analysis, CRC Press, 1989.

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