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Possibilidades de diálogo entre Psicanálise e Educação


FÁBIO SAGULA OLIVEIRA*

Resumo
Sabemos que a Psicanálise possibilita mudanças de perspectiva na
compreensão dos fenômenos humanos, ao postular a existência do
Inconsciente e, com isso, de uma série de razões e conflitos nos quais se
pautam - mesmo que não o saibamos – nossas ações. Expandindo o raio de
ação da Psicanálise para o contexto pedagógico, mais especificamente nas
relações de ensino e aprendizagem, o presente texto traz a problemática do
possível diálogo entre a Psicanálise e as Práticas Educativas. Iniciando a
discussão retomando obras de referência no assunto, em especial, Millot
(2001) e Kupfer (1997 e 2013), exploraremos o ponto de vista destas autoras
acerca das possibilidades e limites da aproximação da Psicanálise dos
acontecimentos em sala de aula. Feito isso, passaremos para uma
contextualização do ambiente escolar, levando em consideração
problemáticas atuais como a violência, a indisciplina e a falta de
interesse/perspectiva para, finalmente, apresentarmos o que entendemos por
possibilidades de intervenção psicanalítica na escola.
Palavras-chave: Ética; Psicanálise; Relação Professor-Aluno;
Aprendizagem.

                                                            
*
FÁBIO SAGULA OLIVEIRA é Psicólogo, Mestre em Psicologia, Especialista em Teoria
Psicanalítica, Docente, Supervisor de estágio, Doutorando em Educação.

 
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No inicio da exploração de textos e controle – seja via repressão, seja via


autores sobre a relação existente entre sublimação – de uma série de instintos.
psicanálise e educação, o que se Já sobre a égide psicanalítica, temos, é
encontra é em certa medida verdade, uma grande parcela
desmotivador, pois a ideia de unir as inconsciente, indomável e
duas ciências aparece em diversos desconhecida; mas não seria uma das
escritos como sendo um desejo tarefas da psicanálise chamar a atenção
impossível e até mesmo uma ilusão dos sujeitos para estes aspectos? E ao
ingênua. O fato do pai da psicanálise perceberem e se responsabilizarem por
não ter trabalhado diretamente com estes aspectos inconscientes não
assuntos relacionados à sala de aula estariam os sujeitos melhor preparados
soma-se a ideias onde psicanálise e para desenvolverem suas
educação se organizariam visando potencialidades e (con)viverem em
objetivos diferentes. Ainda assim, o sociedade?
número de referências que trazem estes
dois termos juntos é considerável. Dentre estas obras, destaca-se “Freud
Antipedagogo” (2001) de Catherine
Fruto de seu tempo, a psicanálise Millot. Neste texto de referência, a
permite lidar com uma série de autora coloca em dúvida a possibilidade
fenômenos em diferentes contextos de uma aplicação da psicanálise no
sociais, o que demonstra certos aspectos campo educacional. Esta dúvida se
fundamentais e atemporais de seu corpo justifica pelo fato de que enquanto a
teórico. Com o axioma da influência psicanálise deseja desvendar os
inconsciente na vida cotidiana, a ideia conteúdos inconscientes para assim
do controle das ações humanas pela ajudar as pessoas a resolverem seus
racionalidade é colocada em xeque. As conflitos, as práticas educativas têm por
hipóteses freudianas contemplam uma objetivo manter estes conteúdos
série de variáveis que foram sendo inconscientes “sob controle”, para, desta
colocadas na experiência ao longo do forma, moldar o sujeito segundo os
tempo. Em “O Mal estar na civilização” objetivos da educação vigente.
(1890), Freud coloca nas práticas Seguindo a linha de raciocínio de Freud
educativas de repressão e controle das em que as práticas educativas seriam
paixões a razão para a infelicidade responsáveis pela transmissão e
humana e para o sintoma, visto que do construção dos valores morais, temos a
conflito entre os desejos e as restrições educação como, de certa forma,
da realidade e da vida em sociedade elemento constituinte das neuroses.
surgiria o (para ele irremediável) Desta forma, ambas teriam objetivos
sofrimento psíquico. “O homem, como opostos.
criador e criatura, tem que conviver
com essa ambivalência de, por um lado, Ainda nesta linha de raciocínio que
ser um ser desejante e, por outro, um ser coloca psicanálise e educação em
cultural” (DUPAS, 2008, p 83). direções opostas, Kupfer (1997) coloca
em foco questões subjetivas envolvidas
Se pensarmos no que tange os objetivos na relação professor aluno na
de cada uma das ciências, temos dentre transmissão do conhecimento.
os atributos das práticas educativas a Explorando afetos referentes à
adaptação do sujeito para a vida em transferência que poderiam facilitar ou
sociedade por via do desenvolvimento dificultar a relação com o conhecimento
de determinadas características e pelo e ao ambiente escolar. De maneira

 
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inconsciente, cada protagonista do Temos, portanto, um exemplo de


ambiente escolar acaba por colocar nas enriquecimento mútuo da psicanálise e
relações interpessoais afetos e fantasias da educação, onde ambas ampliam a
advindas do Complexo de Édipo e das compreensão do sujeito infantil e as
relações parentais. Este fato tornaria, de possibilidades de intervenção através de
certa forma, irrelevante o método e o novas técnicas e paradigmas.
conteúdo a ser aprendido, pois o que Importante ressaltar que não estamos
determinaria a aprendizagem estaria falando da simples transmissão de
fora do controle da razão. conceitos de uma ciência para outra,
mas sim de uma ampliação das
Mas será que tanto a descoberta quanto possibilidades de entender e intervir nos
o suposto controle dos conteúdos fenômenos relacionados ao
inconscientes não passariam, desenvolvimento do sujeito e aos
obrigatoriamente, pela tomada de processos de aprendizagem que ele
consciência destes mesmos conteúdos? sustenta.
Em uma reflexão posterior sobre o Ao longo do desenvolvimento das
tema, Kupfer (2013) já é mais otimista, instituições escolares, é possível
trazendo a possibilidade de uma perceber uma série de mudanças tanto
educação psicanaliticamente orientada, nas técnicas de ensino quanto nas
ou seja, que conhecimentos e conceitos maneiras pelas quais as partes
psicanalíticos podem ser aplicados para envolvidas no processo de
melhorar a qualidade da educação. produção/transmissão do conhecimento
Levando em conta as limitações e as se relacionam. Tais modificações
possibilidades da relação professor sempre atreladas ao contexto social,
aluno para a transmissão do econômico, político e tecnológico da
conhecimento. época. Cabe, portanto, o
questionamento de como, nos dias de
Acreditamos que a psicanálise trás hoje, as práticas educativas se
consigo potencial reflexivo para auxiliar relacionam com as demandas da
na compreensão dos fenômenos sociedade em que vivemos. Seria
relacionados aos processos de ensino e possível pensar a instituição escolar
aprendizagem. Seja focando na levando em consideração também
subjetividade do aluno, do professor ou questões subjetivas inerentes ao ser
até mesmo nos valores e relações humano?
compartilhados pelas diversas
instituições ligadas – direta ou Sabemos que a educação é capaz de
indiretamente – às práticas educativas, o proporcionar às pessoas a possibilidade
viés psicanalítico propõe novas posturas de pensar e agir no mundo, de maneira a
e paradigmas. modificá-lo profundamente. Mas
também existe a possibilidade de que os
Ampliando o olhar sobre as processos educativos preparem os seres
problemáticas da aprendizagem para humanos para que estes atendam às
além do determinismo biológico, a demandas da sociedade. Sendo assim, é
introdução da psicanálise no contexto razoável crer que alterações na
escolar possibilitou novas reflexões organização dos valores de uma época
sobre a educação, levando em venham causar mudanças nas relações
consideração aspectos subjetivos e estabelecidas entre sujeitos e sociedade,
particulares do sujeito que aprende. ambos produzindo mudanças mútuas e

 
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profundas. Uma mudança em relação ao alcance deste trabalho é bem limitado


que é necessário para o sujeito ocupar na resolução destes problemas.
seu lugar nesta nova realidade. “cada Entretanto, acreditamos que o olhar
indivíduo é conquistado para a psicanalítico pode contribuir para a
civilização, mas por uma ação que não compreensão do tipo de relação e da
suprime sua agressividade, antes a inibe qualidade do vínculo estabelecidos entre
e, em parte, a canaliza contra si mesmo” docentes, discentes, instituições de
(BOCA&CAROPRESO, 2011). Os ensino e seus valores e conteúdos. “Se,
diferentes contextos sociais, políticos e na época de Freud, reclamava-se que o
econômicos pelos quais a humanidade silencio imposto pelos professores não
tem passado apresentam características era saudável, pois o desejo (o que
que, em diferentes graus, acabam incomoda, o instinto, a pulsão) se
afetando a forma de professores e aluno realiza no dizer, e agora, quando
interagirem e se relacionarem, fato que ninguém mais se escuta e o silencio é
inevitavelmente, influencia na qualidade raro.” (MOURA E SILVA, 2009; 274)
do conteúdo a ser apreendido pelos
alunos. Tanto em um extremo quanto em outro,
a configuração escolar não permite que
Não é preciso pesquisar muito sobre os papeis e métodos sejam repensados
como se configura o ambiente escolar com o propósito de otimizar os
nos dias de hoje para verificar como as processos de ensino e aprendizagem. A
condutas apresentadas pelos alunos palmatória é tão nociva para a saúde
demonstram, se não uma falta de limites psíquica quanto a falta de limites e de
e uma crise de valores, uma sensação de referenciais de autoridade. Na dúvida
incerteza sobre o certo, o errado e suas sobre que método utilizar e que postura
consequências. (SILVA, 2004) Longe adotar, a autoridade docente fica
da defesa de um sistema de ensino deslocada – talvez até sem lugar – e
autoritário e opressor, as reflexões modelos “inovadores” e “releituras”
psicanalíticas trazem contribuições teóricas passam a atribuir voz e força a
interessantes sobre a importância dos sujeitos que não se encontram
limites para o desenvolvimento do ser preparados para lidar com isso e
humano; a necessidade de frustrar conduzir o próprio processo de
alguns de nossos desejos visam, muitas formação.
vezes, a manutenção não apenas de uma
vida em sociedade, como também da Não é difícil perceber, em uma parcela
própria sobrevivência do sujeito. considerável dos pais, um movimento
de evitarem que os filhos sofram e/ou
Cabe ressaltar que não estamos sejam frustrados a qualquer custo. Nesta
ignorando as condições de trabalho do tentativa – por vezes desesperada – de
professorado brasileiro; condições que poupar os filhos do sofrimento, perde-se
perpassam pelo custo de vida em nosso a noção de que existem frustrações
país, ao acesso ao local de trabalho, à necessárias para o desenvolvimento da
infraestrutura e a todos os outros criança e para a formação de seu caráter
problemas passíveis de solução com a e de sua cidadania. Dizer não, muitas
aplicação justa de nossos impostos. vezes é confundido com maldade, causa
Consideramos a quantidade de alunos de traumas e confirmação da fantasia de
por professor e o salário elementos que não se é um bom pai ou uma boa
perturbadores nos processos de ensino e mãe. Não apresentar limites para a
aprendizagem, mas infelizmente, o criança hoje pode significar deixa-la

 
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despreparada para lidar com as regras e III – Coloca a responsabilidade


frustrações que o convívio em pelo sucesso/fracasso do
sociedade invariavelmente irá impor. aprendizado em todos os
envolvidos no processo; sem
Abordaremos agora as possibilidades de propor receitas ou formulas
interlocução entre psicanálise e mágicas.
educação, tendo como foco a
estruturação e organização subjetiva das Seja com intuito profilático ou
pessoas segundo preceitos psicanalíticos interventivo, o uso da psicanálise agrega
– onde, dentre outros paradigmas, as às práticas educativas novas
ações humanas tem sua origem e são possibilidades de
determinadas em grande parte por compreensão/intervenção de fenômenos
aspectos desconhecidos ao sujeito – este como dificuldades na aprendizagem,
trabalho tem por objetivo explorar os desmotivação, violência e outros tipos
vínculos estabelecidos entre as pessoas de situações comuns no cotidiano
inseridas nos processos de ensino e escolar.
aprendizagem, visando compreender as
“Uma importante oscilação entre os
maneiras que elas se relacionam e,
trabalhos da primeira metade do
principalmente, as eventuais causas de século XX e aqueles encontrados na
suas posturas, vislumbrando a atualidade diz respeito à formação
possibilidade de avaliar as de intervenções no meio
disponibilidades para o aperfeiçoamento educacional, que passou a
de seus efeitos. Para tanto, será utilizada considerar a importância do aspecto
como ferramenta de trabalho a visão relacional entre alunos e
psicanalítica acerca da construção do professores, a contemplar a noção
psiquismo dos indivíduos, mais de infantil enquanto uma categoria
especificamente de suas pulsões (de inconsciente, atemporal e presente,
vida e de morte) e as maneiras pelas tanto na criança como no adulto e a
sustentar uma prática que busque a
quais estas instâncias se manifestam nas
formação integral do professor que
práticas e nos posicionamentos detenha conhecimento teórico de
relacionados ao ensino e à psicanálise e experiências pessoais
aprendizagem. que permitam aproxima-los de suas
Sem desconsiderar as críticas sobre a vivencias inconscientes, de suas
experiências infantis mais
impossibilidade da relação entre
recalcadas.” (ABRÃO, 2006, p238-
psicanálise e educação, propomos uma 239)
mudança de perspectiva onde a
psicanálise: Cabe ressaltar que a proposta
psicanalítica propõe dois lados do
I – Possibilita reflexões fenômeno: a subjetividade do “objeto de
importantes acerca dos estudo” (aluno, paciente, etc.) e a
processos educativos e seus subjetividade do observador, seja ele o
envolvidos; analista ou o professor. Assim sendo, as
II – Ao permitir ao sujeito vivencias individuais são valorizadas e
acesso, mesmo que parcial e precisam ser levadas em conta para
indireto, a seus conteúdos qualquer tipo de entendimento ou
inconscientes, o habilitamos para intervenção.
lidar com a realidade de maneira
Por parte do aluno, existe uma série de
menos ingênua;
desejos operando simultaneamente;

 
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desejos estes muitas vezes Partindo do modelo edípico freudiano,


ambivalentes. O querer aprender – que onde a criança encontra uma figura que
exige sacrifícios a médio e longo prazo desempenha a função materna (cuidados
– concorrem com a vontade de bagunçar e gratificações) e uma figura que exerce
e se divertir. Consequências muitas a função paterna (colocar limites nas
vezes não são consideradas antes das gratificações e fazer a criança levar em
tomadas de atitude, e razões consideração os elementos da
inconscientes influem na maneira como realidade), é possível expandir a
nos colocamos nas situações. reflexão para o contexto escolar, onde a
“Despertar o desejo pelo saber no criança é convidada – ou empurrada –
aprendiz é o auge que uma postura para o contato com uma série de regras
clínica pode almejar no processo e rotinas que acabam, cedo ou tarde, por
educacional.” (MOURA E SILVA, frustrar seus desejos. “Ao entrar
2009 ; 269) subitamente em um outro meio, a
criança experiência este outro meio, no
É possível perceber, tendo como prisma caso a escola, como um mundo hostil.”
a psicanálise, como não só a (CORREA, 2011;792)
subjetividade do aluno influi na
dinâmica dos processos de Na insegurança vivenciada pelo contato
aprendizagem, visto que o desejo de com uma realidade que frustra, os
ensinar que parte da figura do professor sujeitos se organizam (de diferentes
varia de acordo com sua história de vida formas, da maneira que podem) para se
e com a maneira que ele introjetou suas protegerem e lidarem com esta situação.
experiências. Experiências estas não Sintomas físicos, posturas agressivas,
necessariamente relacionadas de dificuldades em seguir orientações e
maneira direta com situações de ensino desempenhar tarefas podem estar
e aprendizagem. Já por parte do indicando uma forma de protesto da
docente, aspectos subjetivos também criança por estar inserida nesta
fazem parte das variáveis que levam o realidade.
sujeito a se empenhar na tarefa de
Claro que a figura que desempenha a
ensinar.
função paterna não traz apenas aspectos
negativos e persecutórios, pois ela
Portanto, é do encontro do desejo de também contribui para o
ensinar do professor com a vontade de desenvolvimento da criança, fornecendo
saber do aprendiz que a relação amor, proteção e a encorajando rumo à
pedagogia começa a se esboçar. O autonomia. “as atitudes ambivalentes
contexto no qual este encontro ocorre é referidas de amor e ódio ao pai temido e
importante (ambiente físico, recursos admirado ao mesmo tempo são
materiais, tempo) assim como os são transferidas aos professores e aos
aspectos subjetivos, como as imagos colegas.” (CORREA, 2011; 794)
internas de cada um dos envolvidos, Percebemos, portanto, que a
aspectos inconscientes e transferenciais. subjetividade e os afetos “trazidos de
A figura do professor desfruta, casa” pela criança perambulam pelo
invariavelmente de uma espécie de ambiente escolar, o que representa uma
“aura transferencial” (VOLTOLINI, faca de dois gumes para os processos
2011), que pode facilitar ou dificultar a educativos: se por um lado podem
relação professor/aluno e a relação do facilitar as relações e a aprendizagem,
discente com o conhecimento. por outro – quando ignorados ou mal

 
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manejados – podem atrapalhar tudo o intensidade com que estes elementos


que se refere à escola e aprendizado. eram utilizados nos processos
educativos.
A aproximação da figura do professor
com as imagos parentais via A temática sobre até onde autoridade
transferência desempenha – a partir do docente e liberdade discente podem ir
inconsciente dos alunos – influencia sem prejudicar os processos de ensino
ativa nas relações estabelecidas e nos aprendizagem é antigo, e a resposta
processos de aprendizagem. Neste definitiva ainda não chegou. Isto porque
contexto, uma comunicação a nível muitas variáveis estão em jogo e as
inconsciente ocorre, fazendo com que o maneiras de reagir/interagir dos
aluno, diversas vezes sem perceber, elementos envolvidos, além de diversas,
projete e transfira afetos oriundos das se estruturam em uma parte da
relações parentais para a figura do subjetividade cujo acesso é restrito,
professor; este, por sua vez, pode acabar parcial e indireto.
reagindo a estes afetos sem perceber.
Esta comunicação transferencial- Na visão psicanalítica de mundo o
contratransferencial, quando não trazida conceito de inconsciente é fundamental
para a esfera consciente das relações, para a compreensão do funcionamento
pode dificultar e muito os processos de da mente humana e de seus fenômenos
aprendizagem e influir no tipo de derivados. No lugar de relações lineares
vínculo estabelecido nas relações, “a de causa e efeito e da racionalidade, a
desobediência ao professor comporta a existência do inconsciente propõe que
revolta da criança contra a autoridade grande parte de nossos atos são
que ele simboliza, cuja matriz são os pautados e motivados por sentimentos e
pais.” (CORREA, 2011;796) razões por nós desconhecidos.

Diversas são as maneiras de vivenciar a Portanto, ao presenciar algum ato de


transferência/contratransferência e indisciplina é possível perceber não
expressar seus efeitos, visto que cada apenas o ato em si, mas sim a expressão
sujeito carrega em si as particularidades de uma dinâmica inconsciente
de sua história de vida, de sua estrutura construída ao longo das histórias de
e de sua dinâmica de personalidade. vida dos sujeitos que tenta “se atualizar”
via relações transferenciais e
Tendo em vista o exposto até aqui, contratransferenciais. Se o professor é
parece interessante nos questionarmos amado ou odiado pelos alunos, muito se
acerca das possibilidades de utilização deve à questões inconscientes dos
da transferência visando que a relação envolvidos.
de quem ensina com quem aprende seja
mais frutífera e menos desgastante, na Por sua natureza atemporal, o
medida em que ambas as partes possam inconsciente coloca em pauta a
participar efetivamente dos processos resolução/recordação de fatos e
pedagógicos. fantasias ocorridos em um passado
distante. Se camuflando nos elementos
Consideramos importante salientar que de uma nova relação, modelos de
o intuito de Freud ao pensar relações antigas tentam se presentificar
psicanaliticamente a educação e a na tentativa de obterem satisfação.
socialização – em especial a questão dos Convencidos por afetos que
limites – não era abolir a hierarquia, desconhecemos, encontramos “razões
regras e limitações, mas sim repensar a lógicas” para justificar nossas ações e

 
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posturas. Acabamos por expressar – comportamento humano nos alerta


mesmo que sem perceber e de maneira acerca de nossa (falsa) onipotência.
disfarçada – conteúdos de nossa vida
A hipótese de causar “traumas” no
inconsciente.
desenvolvimento infantil assombra
Vida e morte, construção e destruição, grande parte dos pais e dos educadores
movimento e repouso são forças que e serve de justificativa para uma série
agem nos sujeitos de dentro para fora de posturas. A questão que cabe ser
sem que se possa fazer muita coisa para colocada é: O que é trauma psicológico?
impedir suas expressões. Para a E em seguida, cabe perguntar o que
psicanálise, nos tornamos menos seria causador de um trauma e como/se
impotentes frente a estes aspectos eles poderiam ser evitados. Com a
quando passamos a prestar atenção difusão dos saberes da psicologia e da
neles e à considerar suas influencias em psicanálise houve uma “pseudo-
nossas ações cotidianas. divulgação” de conceitos para o grande
público, o que gerou mal entendidos e
“A Psicanálise, bem como os condutas equivocadas. Torna-se
estudos mais recentes sobre
necessário, portanto, a dissolução destes
Educação que interrogam as novas
formas de subjetividade, os modos
mal entendidos para que as reais
contemporâneos de sintoma e de contribuições – tanto da psicologia,
entendimento das incertezas, atos e quanto da psicanálise - sejam
éticas do gênero humano, vêm aproveitadas pelo discurso e pela prática
apostando numa fértil conexão pedagógica.
entre esses dois campos de
conhecimento e saber.” (Pereira, Se com a aproximação da psicologia às
Santiago, Lopes 2009, 142) práticas educativas havia o intuito, a
esperança e o desejo de que, ao estudar
E não poderia ser diferente, visto que o o desenvolvimento humano, os
tempo vem consagrando a psicanálise processos de aprendizagem e as
como uma importante ferramenta de relações humanas, a psicologia viria a
leitura de mundo, possibilitando uma solucionar os problemas da educação. A
compreensão mais ampla dos aproximação da Psicanálise com a
fenômenos humanos e permitindo Educação trouxe uma constatação mais
intervenções diferenciadas. Havendo difícil de digerir: a existência do
nos processos educativos uma rica inconsciente e sua influência – muitas
variedade de fenômenos humanos, a vezes ignorada – nos fenômenos
utilização da Psicanálise para tentar humanos. Sendo a educação e a
compreender e intervir no ambiente socialização pertencentes à esfera destes
escolar e seus desdobramentos parece fenômenos, também nelas a influência
algo – até certo ponto – natural. do inconsciente se faz presente.
A utilização da Psicanálise como O que buscamos mostrar em nosso
ferramenta de compreensão de mundo trabalho não é a impossibilidade dos
não é algo simples – e para muitos processos educativos ocorrerem por
inaceitável – visto que ela parte do causa do inconsciente, mas sim que eles
paradigma da impossibilidade de acesso podem ter seu alcance e sua eficiência
direto a uma parcela grande e ampliados à partir do momento em que
determinante do funcionamento da os aspectos subjetivos do ser humano
mente humana: o inconsciente. Sua sejam levados em conta. Não nos
existência e influência no referimos a uma sobreposição (ou

 
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atropelamento) da objetividade e dos eficientes de obter sua atenção e seu


métodos pela valorização desmedida do interesse, para que o conhecimento
subjetivo, mas sim uma integração possa ser transmitido e o respeito mútuo
destes dois aspectos nas práticas possa ser estabelecido.
educativas.
A possibilidade de utilizar uma parcela
Considerações finais das energias pulsionais para fins
acadêmicos auxilia o aprendiz no
Ao longo deste trabalho, foi possível processo de amadurecimento e facilita
entrar em contato com algumas leituras sua inserção e adaptação à sociedade.
que defendiam a impossibilidade da Na medida em que o inconsciente –
utilização da psicanálise para fins tanto do aluno, quanto do professor –
pedagógicos. Entendemos a divergência não é ignorado, ambos podem trabalhar
de objetivos destas duas ciências se – e para que a energia dele advinda seja
somente se – levarmos em consideração aproveitada – pelo menos em parte – no
apenas o fato de que enquanto a desempenho de tarefas e na
psicanálise prega a ausência total de aprendizagem, facilitando as relações
controle sobre os conteúdos estabelecidas entre as partes envolvidas
inconscientes e a educação professa a e a vinculação do aprendiz com a
missão de “domesticar” os impulsos prática investigativa e com o respeito à
inconscientes a fim de garantir o alteridade e à subjetividade alheia.
equilíbrio da vida em sociedade.
Entretanto, quando ampliamos esta
visão, focando não no “objetivo final” Referências
de cada uma das ciências em questão,
ABRÃO, J.F. As Origens da Psicanálise de
mas levando em consideração o que a Crianças no Brasil: entre a Educação e a
psicanálise tem a dizer acerca do Medicina in Psicologia em Estudo, Maringá, v.
fenômeno humano e como as relações 14, n. 3, p. 423-432, jul./set. 2009.
interpessoais estão presentes no campo BOCCA, F.V. CAROPRESO, F.
pedagógico, esta ideia de AGRESSIVIDADE E RELACIONAMENTO
impossibilidade desaparece. SOCIAL EM FREUD,127 a 142 in
CANDIOTTO, C. (ORG) Ética, abordagens e
Não pretendemos aplicar diretamente a perspectivas Curitiba, Paraná. Editora
teoria psicanalítica na educação, mas Champagnat: 2011.
sim propor uma reflexão acerca da CORREA, C.R.G.L. A Inauguração da
possibilidade da psicanálise mostrar, Interlocução entre a Educação e a Psicanálise
por outro viés, o que estaria envolvido no Brasil; Arthur Ramos, Transferência,
no sucesso e no fracasso escolar. ideal e Autoridade. PSICOLOGIA USP, São
Paulo, 2011, 22(4), 789-811.
Aplicando a psicanálise enquanto
instrumento de leitura dos fenômenos CUNHA. M. V. Psicologia da Educação, Rio
relacionados às práticas educativas, o de Janeiro, DP&A editora: 2003.
professor pode obter um auxílio na DUPAS, M. A. Psicanálise e Educação,
compreensão do que acontece com seu Construção do vínculo e desenvolvimento do
aluno, pois reconhece nele uma pensar. São Paulo: Cultura Acadêmica Edutora,
2008.
subjetividade, composta por afetos,
conflitos e fantasias inconscientes que FREUD, S. O mal estar da civilização, Rio de
Janeiro; Imago editora: 1930-1936.
influem diretamente em seu
desempenho e sua postura na escola. KUPFER, M. C. Freud e a educação: o mestre
Munido desta visão mais ampla, é do impossível. 2. ed. São Paulo: Ed. Scipione,
1996.
possível descobrir maneiras mais

 
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KUPFER, M. C. Educação para o futuro. PEREIRA, M.R. SANTIAGO,A.L.B, E.M.T.


Psicanálise e Educação. São Paulo; Ed. Escuta: LOPES Apresentação do Dossiê Psicanálise e
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MILLOT, C. Freud antipedagogo. Jorge
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Recebido em 2014-01-23
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