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Pesquisa Estendida

ONDE BUSCAR
PERDÃO INTERPESSOAL BASEADONONA
NO ARTIGO ATUAL CICLOEMPATIA
ATUAL E
A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
NO VOLUME ATUAL EM OUTROS PROGRAMAS

BUSCAR
VANESSA DORDRON DE PINHO

■ INTRODUÇÃO
Os seres humanos são uma espécie intrinsecamente social e gregária e dependem das relações interpessoais para a sobrevivência. O
sucesso da convivência em grupos sociais complexos exige cooperação e habilidades de interação para a resolução de conflitos. Embora
existam situações competitivas, em que a agressão pode ser inevitável, é essencial reparar o dano para assegurar a cooperação futura.1
A empatia e o perdão são habilidades sociocognitivas, afetivas e de interação associadas a melhores relações interpessoais e, portanto,
relevantes para que a vida em grupo seja possível e mais satisfatória.
A empatia também é considerada uma habilidade facilitadora do perdão interpessoal, uma vez que a compreensão da ofensa, a partir
do ponto de vista do agressor, possibilita um novo entendimento sobre o evento ofensivo e dá inteligibilidade aos acontecimentos. O
reenquadramento da ofensa e do ofensor é uma capacidade cognitiva que viabiliza mudanças afetivas e comportamentais em relação ao
agente transgressor, o que contribui, portanto, para perdoá-lo.
A promoção do perdão é relevante para a restauração de relações danificadas, mas tem sido associada, especialmente, a benefícios para
a saúde e para a qualidade de vida daquele que perdoa. Desse modo, dispor de ferramentas para auxiliar os clientes a alcançarem o perdão
é de suma importância para o profissional psicoterapeuta.
As pessoas, frequentemente, vão à terapia em virtude de feridas causadas por ofensas ou injustiças reais ou percebidas. O perdão é uma
alternativa para lidar com tais eventos. Desde o final do século XX, pesquisadores clínicos começaram a investigar o uso de intervenções
para explicitamente promover o perdão.2
O presente artigo versará sobre o perdão interpessoal e sobre como a empatia é relevante para sua ocorrência. Fundamentos teóricos e
estratégias da terapia cognitivo-comportamental (TCC) serão abordados, a partir dos modelos de intervenção existentes na literatura
psicológica do perdão, dada a relevância prática da TCC na empreitada clínica da promoção dessa habilidade interpessoal.

■ OBJETIVOS
Ao final do artigo, o leitor poderá:

■ fazer uma breve revisão histórica dos estudos sobre perdão na psicologia;
■ identificar o que é e o que não é considerado perdão interpessoal, em uma visão psicológica do construto, mostrando, também, as
divergências entre os teóricos do assunto sobre a caracterização do fenômeno em questão;
■ reconhecer benefícios relacionados ao perdão, bem como fatores facilitadores e dificultadores desse fenômeno;
■ reconhecer benefícios relacionados ao perdão, bem como fatores facilitadores e dificultadores desse fenômeno;
■ conhecer uma visão multidimensional da habilidade empática;
■ entender as relações entre empatia e perdão interpessoal;
■ identificar, sucintamente, algumas das intervenções disponíveis na literatura que utilizam o modelo cognitivo-comportamental para a
promoção do perdão interpessoal, e como a empatia aparece inserida nessas intervenções;
■ identificar estratégias cognitivo-comportamentais que podem ser empregadas para promover a empatia do cliente em relação ao ofensor;
■ reconhecer os cuidados clínicos que os terapeutas devem ter ao abordar o perdão com clientes vitimizados.

■ ESQUEMA CONCEITUAL

■ BREVE HISTÓRICO SOBRE O ESTUDO DO PERDÃO


O tema do perdão tem anos de tradição nos campos da religião e da filosofia. Na psicologia, contudo, apenas há cerca de 40 anos é que os
estudos sobre esse tópico passaram a ser mais sistemáticos, tanto no campo da psicoterapia quanto em outras áreas científicas.3 A
produção brasileira sobre perdão é ainda recente e teve início na primeira década deste século, segundo Santana e Lopes.4
O estudo científico do perdão iniciou na comunidade terapêutica a partir da publicação de um livro comercial, em 1984, “Forgive and Forget:
Healing the Hurts We Don’t Deserve”, de Lewis Smedes, o qual, ironicamente, não era clínico e nem cientista, mas teólogo. Ele começou um
movimento dentro da terapia e da ciência, o qual girava em torno da ideia de que o perdão poderia beneficiar a saúde mental e o bem-estar
de uma pessoa.3

A partir das duas últimas décadas do século XX, muitos psicólogos clínicos começaram a utilizar tratamentos com o perdão no setting
terapêutico, e estratégias para ajudar os clientes a perdoarem começaram a aparecer em revistas científicas. Não demorou muito
para outros cientistas se interessarem pelo assunto.

Psicólogos do desenvolvimento começaram a pesquisar como as crianças desenvolvem o raciocínio sobre o perdão. Psicólogos da
personalidade iniciaram estudos para saber quem perdoa e quem não perdoa. Psicólogos sociais, por sua vez, examinaram como o
perdão se manifesta nas interações sociais cotidianas. E, por fim, psicólogos da saúde começaram a estudar se e como o perdão pode
afetar a saúde física e psicológica.3

Na literatura psicológica são encontrados estudos sobre o perdão interpessoal, o perdão intergrupal e o autoperdão. Contudo, neste
artigo, o tema se delimitará ao perdão interpessoal, aquele que ocorre entre dois indivíduos (de uma vítima em direção a um ofensor
especifico), em relação a uma determinada ofensa.

■ CONCEITO DE PERDÃO INTERPESSOAL


Na literatura psicológica atual, não há um consenso sobre o que é exatamente o perdão, talvez isso seja por causa do pouco tempo que
há de estudo acerca desse fenômeno complexo. Porém, há concordância de que a raiva e o sofrimento são considerados reações
pertinentes aos acontecimentos dolorosos e que perdoar envolve reconhecer a realidade da ofensa e a responsabilidade do ofensor.5-7
Também há consenso acerca daquilo que o perdão não é.

O construto perdão tem sido diferenciado de absolvição, indulto, justiça, passividade, desculpa, esquecimento, negação e
reconciliação.

A absolvição, o indulto e a justiça são conceitos da esfera jurídica, e não psicológica, e implicam processos a serem aplicados por
representantes da lei. Frequentemente, não solucionam a necessidade emocional da vítima, como o perdão o faz. O perdão pode ocorrer
independentemente da aplicação de punições ou absolvições legais.4,7 A passividade implica a aprovação de um comportamento que a
maioria das pessoas pensa ser errado, justificando a ofensa. A desculpa faz referência à isenção da culpa, não reconhecendo a injustiça
que é responsabilidade do outro.
O esquecimento significa que uma lembrança, no caso a ofensa, pode ser removida da consciência; algo que não pode ser promovido
deliberadamente. A negação refere-se a uma minimização do dano autêntico que foi causado, considerando-o banal. Por fim, a
reconciliação é a restauração do relacionamento com a pessoa que causou a ofensa. O indivíduo pode perdoar e restaurar a relação, ou
perdoar e cortar relações com aquele que lhe causou dor.2,4,7
Divergências entre os teóricos acerca do perdão estão relacionadas às seguintes condições:

■ se esse construto envolve os domínios afetivo, cognitivo, comportamental e/ou motivacional da experiência;
■ se trata-se de um fenômeno intrapessoal, interpessoal ou ambos ao mesmo tempo;
■ se o perdão implica a neutralização de respostas negativas ou se, além disso, também implica o desenvolvimento de respostas positivas.

Na seção “Empatia, terapia cognitivo-comportamental e a promoção do perdão”, serão apresentadas conceituações diferentes de perdão
interpessoal, de acordo com a proposta de trabalho de cada autor abordado.

Os autores deste artigo apresentam, por ora, a seguinte definição abrangente para o construto perdão: um processo intrapessoal e
interpessoal de transformação das respostas cognitivas, comportamentais, motivacionais e afetivas negativas – experienciadas após
uma ofensa ou injustiça – que culmina no desenvolvimento de uma visão complexa e não estereotipada do ofensor e de respostas
comportamentais, motivacionais e afetivas positivas em relação ao mesmo, além de promover a sensação de paz interior.

Na definição apresentada, consideram-se as quatro dimensões da experiência do perdão (afetiva, cognitiva, comportamental e
motivacional). A ausência de uma delas significa uma etapa intermediária no processo de perdoar. Outro aspecto da definição apresentada é
que a neutralização de respostas negativas, não acompanhadas de respostas positivas, também não deve ser considerada perdão, mas um
estágio no processo de perdoar.
Outra questão considerada na conceituação proposta é o entendimento de que o perdão ao outro é um fenômeno ao mesmo tempo
intrapessoal e interpessoal. A redução de respostas negativas e o aumento de respostas positivas são vivenciados por um indivíduo em
relação a outro. A conceituação de perdão interpessoal como um processo que se desenrola em etapas tem sido observada na literatura e
tem levado os autores a diferenciarem perdão decisional de perdão emocional.

O perdão decisional refere-se a um fenômeno que antecede a mudança emocional em relação a um ofensor; envolve a
transformação nas intenções comportamentais de uma pessoa em relação a um transgressor, de modo que o indivíduo abre mão da
vingança e da evitação e libera o ofensor do débito social incorrido pelo prejuízo.3

Segundo Elliott, algum ressentimento está presente na vítima, no perdão decisional. Trata-se de um perdão cognitivo, que reduz a hostilidade
e pode mudar o comportamento.8

O perdão emocional é aquele que inclui mudanças na emoção para com o ofensor. Essa experiência envolve a superação de
emoções negativas, como o ressentimento, a raiva, o ódio e a amargura, e transforma a pessoa de vítima, que é controlada pelo
ofensor, em um participante independente na vida.

De acordo com Fitzgibbons, que atua no campo da clínica psicológica, o perdão surge depois de o cliente ter gasto tempo considerável no
nível de decisão intelectual de perdoar. É após essa etapa que os indivíduos que buscam auxílio psicoterápico conseguem chegar ao perdão
emocional.5

Pode-se resumir que o perdão decisional tem um caráter mais cognitivo, motivacional e comportamental, de modo que a pessoa tem
o desejo de perdoar, tem motivação para trabalhar para esse fim e toma a decisão (cognitiva) de se comportar de outra forma em
relação ao ofensor. O perdão total só ocorre, no entanto, após a mudança emocional ter sido alcançada.

Salienta-se, ainda, sobre o fato de a mudança afetiva ser mais tardia que a mudança cognitiva, que evidências também foram encontradas
a partir de estudos empíricos. Por exemplo, Pinho e Falcone, em um estudo com amostra brasileira, utilizaram a Escala de Atitudes para o
Perdão (EFI , do inglês Enright Forgiveness Inventory) de Enright e Rique (2007), uma medida de autorrelato de perdão interpessoal, que
apresenta itens em três domínios da experiência (cognitivo, comportamental e afetivo). O escore dos participantes foi mais alto na subescala
ap ese ta te s e t ês do os da e pe ê c a (cog t o, co po ta e ta e a et o) O esco e dos pa t c pa tes o a s a to a subesca a
cognitiva do que na subescala afetiva, conforme resultados de pesquisas internacionais que empregaram o mesmo instrumento.9

As pessoas não tendem a abandonar facilmente o afeto negativo ou a expressar o afeto positivo por alguém que as feriu. Elas
tendem a mudar os julgamentos e, eventualmente, os comportamentos em relação ao ofensor mais facilmente.

1. Além da relevância para a restauração de relações danificadas, que outros benefícios pode trazer a promoção do perdão?

2. Há cerca de quantos anos os estudos sobre o tema perdão passaram a ser mais sistemáticos, tanto no campo da psicoterapia
quanto em outras áreas científicas?

3. A partir de qual publicação e em qual comunidade o estudo do perdão teve início?

Resposta no final do artigo

4. Sobre a definição de perdão interpessoal, marque V (verdadeiro) ou F (falso).


( ) Na literatura psicológica atual, há consenso sobre o conceito de perdão.
( ) Há concordância de que a raiva é a reação mais pertinente aos acontecimentos dolorosos, e que perdoar envolve reconhecer a
realidade da ofensa e a responsabilidade do ofensor.
( ) O construto perdão tem sido diferenciado de absolvição, indulto, justiça, passividade, desculpa, esquecimento, negação e
reconciliação.
( ) O perdão pode ocorrer independentemente da aplicação de punições ou absolvições legais.
Assinale a alternativa com a sequência correta.

A) V - V - F - F
B) V - F -V - F
C) F - V - F - V
D) F - F - V - V
Resposta no final do artigo

5. A que estão relacionadas as divergências entre os teóricos acerca do perdão?

6. Quais são as diferenças entre perdão decisional e perdão emocional?

■ RELEVÂNCIA DO TEMA
Experiências de mágoa, raiva e ressentimento interpessoal são comuns no cotidiano de todos os indivíduos. Lipp e Novaes diferenciaram
esses três sentimentos.10 Para os autores, a mágoa representa um sentimento de desgosto, de pesar, uma sensação de amargura e tristeza.
O ressentimento significa “ressentir” a mágoa por algo que já passou; é a mágoa que não se consegue superar. Em geral, ambos derivam da
impotência que se sente diante de uma afronta ou injustiça quando não se pode revidar.10
impotência que se sente diante de uma afronta ou injustiça quando não se pode revidar.
A mágoa e o ressentimento são sentimentos passivos no que se refere às ações externas e impelem a pessoa para o silêncio. A raiva
também deriva de uma afronta ou injustiça, mas – ao contrário da mágoa e do ressentimento – impele para a ação. Se a pessoa não sabe ou
não consegue expressar sua raiva, a sensação que se tem é de mágoa. Mágoa e, ocasionalmente, ressentimento, seriam produtos da
repressão da raiva.
Para Luskin, a mágoa é a experiência da raiva mantida por muito tempo, e sua formação tem a ver com a ruminação da ofensa.7 Apesar das
leves diferenças entre teóricos sobre a definição de mágoa, essa é uma sensação emocional dolorosa que motiva as pessoas a quererem
superar esse estado. É muito provável que, no decorrer da vida, cada pessoa passe várias vezes por essa experiência. A ferida
interpessoal pode decorrer de:

■ sérias injustiças;
■ ações bem-intencionadas dos outros que, sem querer, resultam em prejuízos;
■ julgamentos errôneos acerca dos outros e de suas ações.

Seja qual for a causa da ferida interpessoal, os indivíduos costumam desejar sair desse estado desagradável. O perdão pode ser um
meio efetivo de superação da mágoa.

Para ajudar as vítimas de diferentes tipos de transgressões a saírem desse estado de desprazer, muitas intervenções têm sido
desenvolvidas. Luskin destaca que existe uma riqueza de estudos na literatura científica que verificaram o uso benéfico do perdão com
diferentes populações, como:7

■ sobreviventes de incesto;
■ idosas que se sentiam desamparadas;
■ abusadores de substâncias;
■ filhos de pais negligentes;
■ pacientes com câncer;
■ casais em que um parceiro teve um caso extramarital;
■ homens que foram feridos pela decisão de sua parceira de fazer um aborto.

Em um estudo de revisão sistemática, Pinho e Falcone referem que as intervenções para a promoção do perdão contribuíram para o
aumento da autoestima, da esperança, do otimismo, do bem-estar existencial, da autoimagem positiva, da maestria para tomada de decisões
cotidianas e do encontro de significado no sofrimento. O perdão foi acompanhado de redução do estresse, da raiva, de sintomas de
depressão e de ansiedade, de sintomas físicos e da vulnerabilidade ao consumo de drogas.11
Luskin aponta que o perdão está associado ao desenvolvimento de várias emoções positivas (como afeição, solicitude, confiança e
felicidade), a uma visão mais espiritual do mundo, à sensação de maior ligação com as pessoas e com a natureza e ao melhor
funcionamento dos sistemas cardiovascular e nervoso.7 A neurociência reconhece que perdoar favorece o bem-estar e a saúde. O perdão
põe fim ao estresse causado pelo ódio crônico, que estimula a produção de hormônios do estresse, perturba o sono, aumenta o risco
cardiovascular e de depressão e ansiedade.12

Os potenciais benefícios do perdão são localizados por Worthington em quatro áreas: saúde física, mental, relacional e espiritual.3
Elliot acredita que a melhora em índices de saúde atribuída ao perdão deve-se às mudanças afetivas que ocorrem no interior da
vítima.8

O perdão também está associado à sobrevivência, tendo importante função evolutiva. Dentro de uma ótica evolucionista, o perdão é
considerado uma característica relacionada à resolução de conflitos interpessoais. Ele possibilita o reparo de relações danificadas e o fim de
hostilidades custosas e contínuas, as quais, se levadas a cabo, colocariam a sobrevivência da espécie em perigo, por meio da agressão
retaliadora. Existem muitas evidências de reconciliação entre primatas não humanos.

Embora seja difícil e talvez impossível demonstrar o perdão explicitamente entre as espécies animais, a reconciliação pode ser
compreendida como precursora evolucionária do perdão em sociedades humanas.1

Segundo de Waal, do ponto de vista filogenético, a tendência cooperativa evoluiu porque valeu a pena, em longo prazo, em termos de
sobrevivência e reprodução. A manutenção de relacionamentos, apesar de conflitos de interesse ocasionais, é uma exigência crítica da vida
em grupo. Sendo assim, é improvável que esse mecanismo tenha evoluído independentemente em várias espécies, especialmente naquelas
proximamente relacionadas.1

A reconciliação/perdão não deve ser fruto de uma mutação ao acaso, que apareceu com a espécie humana. Acredita-se que esse
atributo, talvez, tenha acompanhado os primeiros mamíferos que viviam em grupos, o que ocorreu muitos milhões de anos antes de a
espécie humana aparecer no planeta.

Dados os benefícios associados ao perdão interpessoal, muitos pesquisadores têm se dedicado a entender quais são os fatores que facilitam
a sua ocorrência e quais são os fatores que a dificultam. Conhecer as variáveis associadas ao perdão é relevante para o desenvolvimento de
estratégias efetivas na promoção do fenômeno em questão.
■ FATORES ASSOCIADOS AO PERDÃO
Estudos empíricos qualitativos e quantitativos e pesquisas experimentais têm identificado uma gama de variáveis atreladas ao fenômeno do
perdão ao outro. Em revisão feita por Pinho (2014), constatou-se que a probabilidade de perdoar é maior quando:13

■ o agressor faz esforços construtivos para restaurar a relação, pede desculpas e exibe manifestações de apaziguamento;
■ a vítima acredita que o ofensor mudou;
■ a relação anterior à ofensa era de qualidade;
■ a raiva da vítima é legitimada.

Alguns traços de personalidade também estão relacionados positivamente ao perdão interpessoal, como a amabilidade, a extroversão, a
abertura e a conscienciosidade. Por outro lado, há traços personalógicos negativamente relacionados ao perdão, como a raiva, o
neuroticismo, o medo e a hostilidade.

O estilo de apego seguro, a percepção da vítima sobre a possibilidade de vir a cometer uma ofensa similar à de seu ofensor, a
passagem do tempo, a religiosidade, a maior familiaridade com o transgressor e a crença de que o perdão diminui os sentimentos
negativos e aumenta os positivos são outros fatores associados positivamente à ocorrência do perdão ao agressor.

O nível de perdão tende a ser menor quando a ofensa é severa, quando a mágoa é intensa, quando as ofensas são contínuas, quando se
atribui culpa e intencionalidade ao agressor e quando se concebe o perdão como um ato imoral.13
A ruminação raivosa também afeta o perdão, em um sentido negativo. Já as funções executivas, por permitirem controle cognitivo sobre a
ruminação, estão associadas positivamente ao perdão. Os resultados relativos ao efeito do gênero sobre o perdão são ambíguos, mas a
maioria das pesquisas não aponta diferenças entre homens e mulheres quanto ao fenômeno em questão. A empatia é outra variável
apontada na literatura como facilitadora do perdão interpessoal.13

7. “Para Lipp e Novaes (2009), o(a) ........... representa um sentimento de desgosto, de pesar, uma sensação de amargura e tristeza”.
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna da afirmação anterior.

A) ressentimento.
B) raiva.
C) ofensa.
D) mágoa.
Resposta no final do artigo

8. Quais são as possíveis causas da ferida interpessoal?

9. Que autor(es) entende(m) a mágoa como uma experiência de raiva mantida por muito tempo?

A) Luskin.
B) Pinho e Falcone.
C) Worthington.
D) De Waal.
Resposta no final do artigo

10. Os potenciais benefícios do perdão são localizados por Worthington em quatro áreas. Cite-as.

11. Dentre os fatores associados ao perdão, qual dos seguintes itens representa um fator dificultador de sua ocorrência?

A) A pouca familiaridade com o ofensor.


B) O pedido de desculpas solicitado pelo ofensor.
C) A empatia.
) p
D) A percepção da vítima de que pode vir a cometer uma ofensa similar.
Resposta no final do artigo

12. Qual é a influência da ruminação nervosa no processo de perdão?

■ EMPATIA: UMA HABILIDADE DE INTERAÇÃO SOCIAL


Nos dias correntes, um ponto de convergência entre estudiosos é a visão da empatia como um fenômeno multidimensional, com
aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais. A definição de habilidade empática de Falcone e colaboradores indica a
multidimensionalidade do construto em questão.14

Para Falcone e colaboradores, a empatia denota “a capacidade de compreender, de forma acurada, bem como de compartilhar ou
considerar sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém, expressando esse entendimento de tal maneira que a outra pessoa
se sinta compreendida e validada”.14 Essa visão multifatorial tem levado à superação do debate histórico sobre se a empatia seria um
construto afetivo, cognitivo ou ambos ao mesmo tempo.

O componente cognitivo da empatia tem sido referido como tomada de perspectiva (TP) e diz respeito à capacidade de adotar a
perspectiva cognitiva e afetiva de outro indivíduo com acuidade, nos seus termos. A TP está atrelada a diversos processos cognitivos
complexos, como autorregulação, flexibilidade cognitiva, autoconsciência e consciência do outro e funções executivas.14-16
O componente afetivo da empatia pode ser designado como sensibilidade afetiva,14,16 que é caracterizada por sentimentos de
compaixão, simpatia e interesse pelo estado alheio, e não por angústia diante da dor do outro, pois, em função da mediação de processos
cognitivos superiores, o sujeito consegue diferenciar sua própria perspectiva da do outro e modular suas emoções. Assim, embora
sensibilizado pela observação da situação alheia, a pessoa não é inundada por emoções aversivas.15
Na vida cotidiana, o fenômeno empático é experienciado como uma totalidade complexa, na qual os seus componentes e processos
relacionados não são claramente delimitados. Em situações nas quais há sinais claros de sofrimento do sujeito observado, a empatia afetiva
pode ser ativada primeiramente, e o componente cognitivo, secundariamente, o que possibilita a modulação da experiência emocional. Em
situações mais ambíguas, como quando um cliente relata um acontecimento pessoal para seu terapeuta, que não tem experiência prévia
com esse tipo de acontecimento, um esforço mental precisa ser feito pelo profissional na tentativa de adotar a perspectiva do cliente o mais
acuradamente possível, para, então, mobilizar o afeto empático.15

O componente cognitivo da empatia parece ocupar um papel central na habilidade empática humana, pois, além de possibilitar a
compreensão do outro, facilita a regulação da própria experiência emocional. Falcone e Falcone e colaboradores ressaltam o papel
regulador da TP na experiência empática, tanto quando essa experiência se dá de uma forma automática como quando ocorre de
forma consciente e deliberada.15,16

Para diferenciar o papel da TP nas duas formas de experiência apresentadas, a autora propõe um modelo sobre duas vias da empatia:

■ empatia ativada de forma automática;


■ empatia ativada de forma deliberada.

Empatia ativada de forma automática: ocorre pela observação de outra pessoa em sofrimento. Nesse momento inicial, a pessoa pode
compartilhar a mesma emoção do outro. É graças aos processos cognitivos moderadores (como a separação mental entre o eu e o
outro) que a experiência emocional alcança um nível adequado. O comportamento pró-social depende dessa modulação emocional.
Caso contrário, a experiência afetiva aversiva levaria a uma confusão sobre quem está precisando de ajuda.15 A empatia ativada
automaticamente, portanto, não está fora de controle. Ela pode ser modulada por mecanismos cognitivos.

Empatia ativada de forma deliberada: a ativação emocional parece ser secundária à ativação cognitiva. É a TP que possibilita a
indução de sentimentos empáticos mesmo na ausência de estímulos que funcionem como gatilho (como a observação de outra pessoa
em sofrimento). Falcone fala que essa via de ativação da experiência empática envolve um esforço consciente da mente para reduzir a
tensão, no qual habilidades cognitivas são usadas para ouvir o outro com sensibilidade e para identificar intencionalmente seus
pensamentos e sentimentos.15 Nesse caso, há um esforço deliberado para inibir a própria perspectiva e adotar a perspectiva do outro.

Falcone especula que a via intencional seja a que ocorre em experiências interpessoais de conflitos de interesses, mágoas e
negociações.15 Nesses casos, o esforço deliberado para adotar a perspectiva do interlocutor antecede e favorece a compaixão, levando,
então, a uma ação em prol do outro, como o perdão interpessoal.
Ressalta se ainda que uma resposta empática instrumental deve estar presente para caracterizar a empatia como habilidade de
Ressalta-se, ainda, que uma resposta empática instrumental deve estar presente para caracterizar a empatia como habilidade de
interação e comunicação interpessoal. O comportamento empático refere-se à expressão verbal e não verbal de que compreende e de que
se interessa pelo que está se passando com o outro.14
A empatia também é motivadora de comportamentos altruístas. De Waal sinaliza que o comportamento de ajuda depende do equilíbrio
entre emoção e raciocínio; depende de emoção para importar-se com o outro e querer ajudá-lo, mas não tão intensa a ponto de tirar a
clareza do raciocínio, o que tornaria necessária uma avaliação cognitiva para planejar a melhor maneira de ajudar na necessidade específica
do interlocutor.1
Desse modo, além dos componentes cognitivo e afetivo, chama-se a atenção para a importância do componente comportamental da empatia
humana. Resume-se que a empatia, enquanto habilidade de interação social, deve abranger entendimento, sensibilidade emocional e algum
tipo de ação pró-social.

Existem diferenças individuais na habilidade empática; porém, indivíduos que apresentam problemas decorrentes da falta de empatia
podem ser beneficiados com treinamentos voltados para o desenvolvimento de tal habilidade. Uma evidência de que a habilidade
empática pode ser aperfeiçoada é a formação de psicoterapeutas, que dependem desse recurso para melhor auxiliarem seus
clientes.

Watson e Greenberg apontam que os terapeutas novatos podem melhorar sua capacidade de empatizar com os clientes. Eles podem
ser ensinados a ler mais acuradamente as demonstrações de afeto e a ser mais atentos às pistas afetivas do cliente. Eles podem,
também, ser encorajados a se engajar em autorreflexão para aumentar seus níveis de autoconsciência e insight, para que possam
melhor diferenciar seus próprios sentimentos dos de seus clientes.17

Os terapeutas podem, ainda, ser treinados a efetivamente regular suas próprias emoções, para que não sofram em função da angústia ou do
contágio emocional quando trabalham com clientes que estão experienciando muita dor. Habilidades cognitivas também podem ser
promovidas quando terapeutas novatos são encorajados a descentrar e a olhar para os problemas a partir de múltiplas perspectivas e de
diferentes modos, pois apenas quando suspendem os seus julgamentos é que as pessoas podem estar livres para tomar a perspectiva do
outro.17
Watson e Greenberg ressaltam que, idealmente, os terapeutas empáticos têm a capacidade para os aspectos cognitivo e afetivo da empatia
e que essas habilidades podem ser melhoradas. Para os autores, o entendimento empático integra informação a partir de múltiplas fontes
para identificar o significado idiossincrático da experiência para cada indivíduo, sendo uma habilidade altamente sofisticada que, quando
aplicada ou usada no contexto da psicoterapia, pode ser muito curativa.17

■ EMPATIA E PERDÃO INTERPESSOAL


A literatura evidencia que a empatia é uma das mais relevantes variáveis facilitadoras do perdão interpessoal, ainda que outros fatores
permeiem esse processo. A revisão de publicações sugere a importância, especialmente, do componente cognitivo da empatia, a TP, para
que um indivíduo consiga perdoar um ofensor. Isso não significa que a dimensão afetiva dessa habilidade não seja relevante, mas significa
que o processo de perdoar parece iniciar pela compreensão mais ampla acerca do ofensor e da ofensa.
Um dos primeiros pesquisadores clínicos a abordar o perdão interpessoal foi Fitzgibbons. O autor conceitua o fenômeno em termos
cognitivos e propõe que o perdão é possível mediante um processo de tentar entender o desenvolvimento emocional daqueles que infligiram
dor, o que permite ampliar a consciência sobre o comportamento dos ofensores.5

A partir de um maior conhecimento a respeito das ações do outro, torna-se possível compreender que os comportamentos de muitos
indivíduos podem ser atribuídos às suas cicatrizes emocionais ou às suas limitações pessoais, e que raramente a dor é infligida
deliberadamente.

De acordo com Fitzgibbons, as pessoas, primeiro, abordam o perdão cognitivamente e, depois, emocionalmente. O autor expõe que a
maioria dos clientes só sente que está perdoando verdadeiramente após ter tido um profundo entendimento daqueles que o magoaram. Sua
experiência clínica, portanto, corrobora a importância da adoção da perspectiva do agressor para conseguir perdoá-lo.5 Muitas intervenções
têm sido desenvolvidas com o propósito do promover o perdão interpessoal. A empatia integra essas abordagens. Na seção “Empatia,
terapia cognitivo-comportamental e a promoção do perdão”, o leitor poderá constatar o grande destaque dado à empatia nos programas para
o perdão.
Wade e Worthington revisaram, em seus estudos, os elementos centrais das intervenções para promover o perdão, para determinar os
componentes que são apropriados para o trabalho clínico. Os autores apontam que descrever explicitamente o que é perdão é parte
importante das intervenções, assim como permitir que os clientes falem sobre o significado e as implicações de perdoar do modo como eles
entendem.2

A falta de tempo e esforço para definir o termo perdão pode gerar conceitos errados e problemas, dada a possibilidade de os
indivíduos confundirem perdão com conceitos relacionados, como reconciliação, esquecimento ou justificativa.

Relembrar a transgressão em um ambiente apoiador é outro componente comum nas intervenções para a promoção do perdão e diz respeito
à empatia do terapeuta. As emoções da vítima podem ser validadas e acolhidas, produzindo alívio da dor emocional. Assim, a empatia do
terapeuta para com o cliente também se constitui em um elemento facilitador do processo de perdoar.2
A construção de empatia também aparece na revisão dos autores como elemento central na promoção do perdão. Wade e Worthington
apontam que a maioria das abordagens discute os benefícios de tomar a perspectiva do outro e a prevalência de erros atribucionais, que
surgem quando a empatia não é experienciada.2 Os participantes são encorajados a ver o ofensor dentro do contexto da ofensa e a,
empaticamente, entender os fatores que podem ter motivado a transgressão, incluindo os pensamentos e os sentimentos do agressor antes
e durante o evento.

Outra forma de construir a empatia se dá por meio de discussões e de exercícios focados na humanidade do ofensor, encorajando o
entendimento empático com base nas experiências compartilhadas do ser humano.

Segundo Wade e Worthington, o componente mencionado encoraja o perdão nas vítimas ao possibilita a elas ver o ofensor e a ofensa como
mais compreensíveis, mais humanos e, talvez, mais como a si mesmos do que admitido inicialmente.2 Ao se conectarem com o ofensor por
meio da empatia, as vítimas podem diminuir pensamentos e sentimentos negativos e aumentar a consideração e a preocupação positivas.
Estudos empíricos também fornecem evidências a favor da associação entre as variáveis empatia e perdão interpessoal.
Rique e colaboradores verificaram empiricamente relações teóricas entre consideração empática, TP e perdão interpessoal. A amostra da
pesquisa foi composta por 200 participantes brasileiros, com média de 20 anos de idade. Os autores empregaram a Escala Multidimensional
de Reatividade Interpessoal de Davis (EMRI) de Ribeiro e colaboradores (2001) e a Escala do Perdão, juntamente a um item de avaliação
subjetiva do perdão, que compõe a EFI de Rique e colaboradores (2009). Os resultados confirmaram as hipóteses propostas. A
consideração empática relacionou-se positivamente com a TP do outro, e ambas influenciaram positivamente o perdão. Usando equações
estruturais, o estudo também concluiu que a TP conduz a consideração empática, possibilitando o perdão.18

Rique e colaboradores acreditam que o processo de perdão vai ocorrer somente a partir de exercícios cognitivos que possam
reenquadrar a vítima e o ofensor em uma nova perspectiva.18 Assim, seria o exercício cognitivo um precedente dos afetos. Essa
visão está em sintonia com a proposta de Falcone de que, em casos de mágoa, a TP antecede a mobilização do afeto empático pelo
ofensor.15

Pinho e Falcone verificaram o valor preditivo da habilidade empática sobre o perdão interpessoal por meio de pesquisa com instrumentos de
autorrelato: o Inventário de Empatia (IE) de Falcone e colaboradores (2008) e a EFI de Enright e Rique (2007). O estudo avaliou as relações
entre empatia e perdão em mágoas muito e pouco intensas. Participaram 128 adultos, brasileiros, de ambos os sexos. Os resultados
mostraram relações positivas significativas entre empatia e perdão, mas apenas nos casos de mágoas muito intensas. A TP correlacionou-
se com perdão afetivo e comportamental, ao passo que altruísmo e sensibilidade afetiva relacionaram-se apenas ao perdão
comportamental.9
Embora o estudo de Pinho e Falcone seja de natureza correlacional, o que não possibilita inferir que a empatia leve ao perdão, pode-se
cogitar a importância da empatia para que o perdão a um transgressor ocorra, especialmente porque outros estudos apontam para a mesma
conclusão. Também parece que a empatia é relevante, principalmente quando a mágoa é intensa e o processo de perdoar é mais
difícil, o que exige mais recursos e esforço por parte da vítima. O esforço pode ser para adotar a perspectiva do algoz e conseguir
compreendê-lo, dado que a TP, um fator cognitivo do IE, foi o que apresentou mais relações significativas com o perdão.9
Estudos neurocientíficos também sustentam a importância da empatia para o perdão. Herculano-Houzel trata sobre o que acontece no
cérebro que perdoa, a partir dos resultados encontrados em um estudo italiano. Tal estudo mostrou que tanto o perdão quanto a vingança
envolvem ativação das mesmas estruturas cerebrais, porém, de maneiras diferentes.12
O perdão ocorre quando a ativação do córtex pré-frontal dorsomedial (CPFDM), que regula o comportamento emocional, é comandada por
duas estruturas que permitem a adoção do ponto de vista do agressor e a reavaliação do estado emocional dele: o precuneus e o lobo
parietal inferior, respectivamente. Isso fomenta a empatia, que coíbe ímpetos de retaliação via córtex pré-frontal (CPF /CPFDM), e traz um
estado emocional positivo: o alívio do perdão concedido.12
Se não há perdão, o CPFDM também é ativado, mas sob o controle do giro temporal medial, e não do precuneus e do parietal inferior (que
também estão ativos, mas ocupados em julgar o agressor como um vilão). Quando a agressão é avaliada como intencional e não há empatia
com o vilão, o cérebro faz o que é mais sensato: odeia ativamente quem o insultou, sem perdão.12

Com base no estudo revisado, Herculano-Houzel aponta que perdoar não depende dos fatos, e sim da avaliação consciente da
intenção e das emoções do ofensor. Para perdoar, é importante colocar-se no lugar do outro, pois a adoção da perspectiva do
ofensor facilita o perdão.12

Em síntese, a literatura revisada ratifica as relações positivas entre empatia e perdão, sugerindo que empatizar com um ofensor é uma
condição importante para perdoá-lo. Acredita-se que a TP seja o fator central nesse processo.

13. Complete as lacunas da frase a seguir.


A habilidade empática, segundo ................, denota a capacidade de ................, de forma acurada, bem como de ................ ou
considerar sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém, expressando esse entendimento de tal maneira que a outra pessoa
sinta-se compreendida e validada.
Assinale a alternativa correta.

A) De Waal - entender – dividir.


B) Falcone e colaboradores - compreender – compartilhar.
C) Watson e Greenberg - compreender – participar.
D) Wade e Worthington - envolver – compartilhar.
Resposta no final do artigo

14. Qual é a definição de TP?

15. Como é designado o componente afetivo da empatia?

A) Fenômeno empático.
B) Empatia afetiva.
C) Sensibilidade afetiva.
D) Modulação da experiência emocional.
Resposta no final do artigo

16. Observe as seguintes afirmações sobre empatia.


I – A empatia ativada de forma automática ocorre pela observação de outra pessoa em sofrimento. Nesse momento inicial, a pessoa
pode compartilhar a mesma emoção do outro.
II – Na empatia ativada de forma deliberada, a ativação emocional parece ser secundária à ativação cognitiva.
III – A empatia não é motivadora de comportamentos altruístas.
Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) Aa I, a II e a III.
Resposta no final do artigo

17. De que forma os terapeutas novatos podem melhorar sua capacidade de empatizar com os clientes?

18. Como o autor Fitzgibbons conceitua o perdão interpessoal e o que ele propõe?

19. Sabendo que estudos neurocientíficos também sustentam a importância da empatia para o perdão, explique o que acontece no
cérebro que perdoa, a partir do estudo revisado por Herculano-Houzel.

■ EMPATIA, TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E A PROMOÇÃO DO


PERDÃO
Programas para a promoção do perdão apareceram, primeiramente, dentro de um modelo de intervenção cognitivo-comportamental e
cresceram desde os anos 1980. Atualmente, pode-se falar em terapias do perdão, uma vez que existem numerosos programas para a
promoção dessa habilidade desenvolvidos por diferentes pesquisadores de diversas abordagens terapêuticas Alguns desses programas
promoção dessa habilidade desenvolvidos por diferentes pesquisadores de diversas abordagens terapêuticas. Alguns desses programas
serão apresentados, de forma sucinta, a seguir, bem como as considerações teóricas que os fundamentam.

Para saber mais:

Outras informações a respeito dos programas para a promoção do perdão podem ser obtidas nas fontes bibliográficas citadas.

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E INTERVENÇÕES PARA O PERDÃO


Dentre os autores que apresentam intervenções para a promoção do perdão, em uma abordagem cognitivo-comportamental, podem ser
destacados Luskin e Gordon e colaboradores.7,19 O propósito dessa abordagem para o perdão é levar o cliente a mudar pensamentos, o
que presumivelmente leva à mudança afetiva e comportamental. Os autores almejam que o cliente vivencie um processo de
reenquadramento, para a construção de uma nova narrativa sobre a ofensa e sobre o ofensor, de modo que o transgressor possa ser visto
de maneira mais complexa, e a transgressão seja (re)atribuída a outras causas.
Luskin, diretor do Projeto para o Perdão da Universidade de Stanford, realizou vários estudos sobre os benefícios da prática de perdoar e
desenvolveu uma metodologia para a superação dos efeitos negativos da mágoa e da culpa pela administração do perdão. O
programa proposto pelo autor inclui instrução e prática em relaxamento, meditação, imaginação guiada, e se baseia fortemente em técnicas
da terapia racional-emotiva – uma abordagem da terapia cognitiva. A intervenção que Luskin propõe pode ser utilizada para lidar com
qualquer evento não esperado, variando de confusões cotidianas, como a perda de uma vaga no estacionamento, até situações graves,
como o assassinato de um filho.7

Luskin ressalta que não se deve ignorar os problemas da vida ou não reconhecer que algumas pessoas causaram mágoa, mas que
pensar continuamente nos eventos dolorosos faz com que eles tenham poder sobre as próprias reações emocionais negativas.7

De acordo com Luskin, a criação de uma mágoa ou de um sofrimento duradouro, seja qual for o conteúdo ou o culpado identificado, envolve
a ocorrência de um evento que a pessoa não queria que acontecesse (ou a não ocorrência de um evento desejado). Além disso, três
componentes cognitivos básicos estão presentes no surgimento da mágoa:7

■ a pessoa assume a afronta em termos muito pessoais;


■ a pessoa culpa o autor da ofensa pelo modo como se sente no presente;
■ a pessoa cria uma história sobre a mágoa, sobre a qual rumina mentalmente.

Desse modo, muito espaço é alugado na mente para ofensa. Para anular a mágoa e alcançar o perdão, a pessoa precisaria fazer o
oposto:

■ ter uma perspectiva menos pessoal das afrontas;


■ não culpar o outro;
■ criar uma história de superação dos problemas.

O primeiro objetivo do programa proposto por Luskin envolve auxiliar o cliente a descobrir o impessoal no sofrimento. Para isso, o
terapeuta ajuda-o a perceber o quão comum é cada experiência dolorosa, além de que nenhum acontecimento é exclusivo; mas sim
um fato da vida. Também se desvenda a dimensão impessoal do sofrimento entendendo que a maioria das afrontas é cometida sem
a intenção de fazer alguém sofrer. Por exemplo, uma mãe incapaz de amar sua filha é um fato atrelado a uma infinidade de fatores e
não se dá pela motivação pessoal de arruinar a vida da filha. Assim, o terapeuta deve reconhecer o sofrimento do cliente, mas
também ajudá-lo a não se prender a ele e a não torná-lo pessoal.

O segundo objetivo da intervenção proposta por Luskin envolve ajudar o cliente a abrir mão do jogo da culpa, o que significa parar de
responsabilizar alguém por todos os infortúnios. 7 Por exemplo, a suposição “se não consegui uma boa profissão, é porque minha mãe não
soube me amar” expressa que o indivíduo continua a culpar o algoz do passado pelos problemas do presente. O terapeuta, então, deve
propor que não importa o que tenha acontecido ontem ou há 30 anos; no presente, cada um é responsável pelo que sente.
Mesmo entendendo como os sentimentos se originaram, é preciso desenvolver habilidades no momento atual para mudar para melhor.
Também é necessário entender que a culpa é apenas a pior hipótese que se pode oferecer ao motivo do sofrimento. Outras hipóteses são
cogitadas na terapia. Modificar a história sobre a mágoa é outra etapa importante do processo de perdoar. Estudos evidenciam que a
história contada sobre uma ofensa é totalmente diferente quando se está na posição da vítima ou quando se está na posição do ofensor.7
A história relatada não é cópia fiel da realidade objetiva. Assim, o programa para o perdão auxilia a pessoa a avaliar outros pontos de vista
sobre determinado evento e a entender que a frequência com a qual conta sua história de sofrimento, para quem conta e a maneira como
conta afetam dramaticamente suas reações e sua vida.

A história sobre a mágoa prende a pessoa ao passado de forma negativa. Ela é contada de forma a fortalecer a impotência pessoal,
pois a pessoa se coloca na posição de vítima, coloca o ofensor na posição de vilão, assume a ofensa em termos pessoais e culpa o
outro, transferindo a ele o poder de determinar como deve se sentir no presente.

Com o tratamento, a pessoa deve aprender a recontar a história, escolhendo como quer contá-la: como vítima ou como alguém com
capacidade de superação. O terapeuta instrui o cliente a tomar cuidado sobre o que falar a respeito dos eventos dolorosos. Ao começar a
falar sobre a mágoa para alguém ou ao começar a reprisar a ofensa mais uma vez na mente, a pessoa tem a opção de dar uma pausa,
respirar fundo e lembrar a si que aquela história, tão familiar, a aprisiona, é sua inimiga e está mantendo o seu sofrimento. Assim, ela pode
escolher contar a história de forma diferente, sem se amarrar ao passado, sobre o qual não tem controle.
Luskin propõe o termo regras não executáveis para auxiliar o cliente a lidar com eventos desagradáveis.7 Essa expressão é empregada
para enfatizar que criar regras para os outros e para as coisas redundará em fracasso e esgotamento emocional, pois o indivíduo não
conseguirá mudar o que não pode ser mudado e não influenciará aqueles que não querem ser influenciados. O autor enfatiza que as regras
determinam os sentimentos. Quando um fato desagradável acontece, as opções são aceitá-lo ou não.

O apego às regras mantém a pessoa presa a uma realidade que não pode controlar e traz sofrimento, frustração e impotência toda
vez que a regra não é executada.

Luskin faz uso de muitas metáforas para ilustrar diversos pontos da terapia.7 Com respeito às regras, pode-se ilustrar que qualquer um ficaria
frustrado se ficasse esperando que saísse leite da pedra. O mais adaptativo seria aceitar a realidade dos fatos e seguir em busca de outra
fonte de leite. Na terapia, a pessoa aprende a identificar suas regras e a abrir mão delas, trocando-as por desejos. O cliente é auxiliado a
descobrir sua intenção positiva por trás da experiência ofensiva, como necessidade de amor, amizade, saúde, prosperidade etc. e, em
vez de reprisar mentalmente o sofrimento, procurar novas maneiras de obter o que deseja.
Para ajudar na superação de tais regras, Luskin propõe também alguns questionamentos que estimulam a reflexão do cliente e a
reestruturação cognitiva.7 Por exemplo:

■ “Por que a vida torna-se tão difícil quando tentamos impor regras?”;
■ “Você já tentou forçar alguém a fazer algo que ela não queria? Teve êxito?”;
■ “Já tentou conseguir o que precisava de uma pessoa que não queria colaborar? Teve sucesso?”;
■ “Já ficou furioso ao cometer um erro? Isso o ajudou?”;
■ “Já ficou culpando verbalmente alguém por um erro? Resolveu a situação agindo assim?”.

Muitas outras técnicas são propostas pelo autor ao longo do processo. Podem ser destacadas:

■ exercícios para desenvolver a gratidão, como:


• lembrar-se de cada gesto amável de seus pais;
■ exercícios sobre perdão, como:
• procurar pessoas que perdoaram os outros e pedir que contem suas histórias;
• ler livros sobre perdão;
• praticar o perdão em relação a afrontas menores;
• pensar nas vezes que fez os outros sofrerem e que precisou do perdão;
■ técnicas de relaxamento pela respiração e pela visualização etc.

O processo para alcançar o perdão também envolve, inicialmente, o entendimento do cliente, com clareza, sobre como se sente a
respeito do que aconteceu e o que não está bem em relação à situação. A experiência deve ser dividida com algumas pessoas de
confiança, para obter validação e apoio social.

No programa de intervenções para a promoção do perdão, proposto por Luskin, o perdão é apresentado de forma prática, como uma
escolha, algo que não acontece por acaso, e sim como fruto de uma decisão.7 Trata-se de uma habilidade que pode ser aprendida,
mediante os três processos supracitados de anulação da mágoa.

Na compreensão do autor, o perdão é intrapessoal e independe das ações do ofensor: “É para você e para ninguém mais”. Ele entende
que o perdão é a experiência de serenidade no momento presente; não muda o passado, mas modifica o tempo atual. Significa que,
embora ferido, pode-se optar por não ficar magoado. É a compreensão de que o sofrimento é parte normal da vida.

Pode-se constatar, a partir do exposto, que o modelo de intervenção de Luskin não enfatiza a empatia, diferentemente das abordagens que
serão apresentadas a seguir. O acolhimento empático do terapeuta não é abordado.7 Supõe-se que até seja empregado, mas não é dada
ênfase a esse procedimento para a mudança do cliente. Maior destaque é dado à responsabilidade do cliente de fazer o que é
necessário para a mudança.
A adoção da perspectiva do ofensor e a compaixão também não são trabalhadas explicitamente. Acredita-se que esses fenômenos venham
a ocorrer em muitos casos, uma vez que o terapeuta estimula que o cliente explore a situação da ofensa a partir de diversos pontos de vista.
Por fim, acredita-se que o foco menor dado à empatia (um fenômeno interacional), nessa abordagem, esteja relacionado à visão intrapessoal
que o autor tem sobre a natureza do perdão. Por outro lado, o autor faz amplo uso de técnicas de reestruturação cognitiva, uma vez que
associa grande parte do sofrimento do cliente à maneira como pensa sobre o evento doloroso e sobre o outro.
Gordon e colaboradores utilizam a TCC para a promoção do perdão. Os autores apresentam uma terapia de casal específica para o
tratamento da infidelidade conjugal. O programa visa tratar as sequelas cognitivas, comportamentais e emocionais por meio da integração de
estratégias orientadas para o insight estratégias cognitivo comportamentais e da literatura sobre o trauma e sobre o perdão 19
estratégias orientadas para o insight, estratégias cognitivo-comportamentais e da literatura sobre o trauma e sobre o perdão.19
A literatura sobre o trauma sugere que, quando crenças básicas são violadas, a pessoa lesada pode perder a segurança na predição do
futuro e experienciar, consequentemente, perda de controle e aumento da ansiedade sobre sua habilidade de evitar eventos negativos. No
caso da infidelidade, o parceiro traído também tem muitas de suas suposições (como “meu parceiro merece confiança”; “minha relação é
meu porto seguro”; “eu tenho controle sobre o que acontece no meu relacionamento”) violadas. Assim, o caso extraconjugal leva à violação
de crenças centrais essenciais para a segurança emocional no relacionamento amoroso.19
Cognições decorrentes que refletem confusão podem ser: “eu não te conheço”; “você não é a pessoa que eu pensei que você fosse e a
nossa relação não é o que eu acreditava que era”; “isso não faz sentido, eu não consigo entender como você fez isso”. A pessoa ferida,
então, acha difícil seguir com a relação, mesmo que o affair do parceiro tenha terminado; não sabe exatamente por que a traição ocorreu e
por isso acha que pode ocorrer de novo; vê o parceiro ofensor como uma pessoa mal-intencionada e experencia emoções dolorosas, como
ansiedade, confusão, raiva, depressão e vergonha.
Gordon e colaboradores, considerando as semelhanças entre as respostas ao trauma e a resposta à descoberta da infidelidade conjugal, no
que diz respeito à violação de suposições, propõem um tratamento baseado em intervenções para a recuperação do transtorno de
estresse pós-traumático (TEPT) e para o perdão.19
O paradigma da exposição à lembrança do evento traumático é utilizado, assim como o exame de como o evento mudou as percepções
sobre si, sobre os outros e sobre o mundo em geral, a fim de ajudar o indivíduo lesado a examinar suas suposições e reconstruí-las de um
modo saudável, por meio da reestruturação cognitiva e de exercícios de exposição comportamental.
Intervenções da TCC de casais também são empregadas, como a promoção de habilidades de comunicação. Usa-se, ainda, o
direcionamento da atenção do parceiro lesado para as explicações que construiu para o comportamento do outro e para as expectativas e
padrões que construiu para sua própria relação e para os relacionamentos em geral. A TCC de casais é útil para:

■ a exploração dos fatores que levaram ao risco de traição;


■ a promoção de habilidades de negociação de mudanças na maneira de interagir;
■ a reestruturação das cognições problemáticas acerca dos relacionamentos.

Intervenções da terapia de casais orientadas para o insight são também utilizadas no modelo de tratamento proposto por Gordon e
colaboradores e têm o propósito de ajudar os parceiros a ganharem maior entendimento sobre como a história desenvolvimental de
cada um afeta as relações atuais. Compreender a influência do passado e conhecer as vulnerabilidades do cônjuge auxiliam o
desenvolvimento de maior empatia (TP e compaixão) de um pelo outro.19

O modelo de tratamento delineado pelos autores é composto por três estágios:

■ manejo do choque e controle do dano;


■ exploração do contexto e encontro de significado;
■ “seguindo em frente”.

O estágio 1, denominado manejo do choque e controle do dano, aborda o impacto do caso extraconjugal e abrange sessões individuais e
conjuntas, a fim de avaliar o funcionamento individual e da relação, tanto no presente quanto no passado. Com isso, o terapeuta pode:

■ identificar e manejar possíveis condições críticas (como agressão física e impulsos de suicídio);
■ iniciar a formulação das forças e vulnerabilidades individuais e relacionais (anteriores ou sucessoras ao trauma);
■ desenvolver um plano de tratamento compartilhado, delineando as responsabilidades de cada participante.

O primeiro estágio utiliza, principalmente, intervenções cognitivo-comportamentais, após a avaliação e a formulação do caso e do tratamento.
Os parceiros precisam fazer negociações sobre muitas coisas, como: quanto tempo despenderão juntos ou separados, se manterão relações
sexuais, se dormirão juntos, que contato manterão com o affair do parceiro ofensor e que informações serão compartilhadas com outras
pessoas.

Como a interação entre os parceiros tende a ser negativa nesse primeiro estágio, eles precisam também aprender estratégias de
time-ou, a fim de ventilarem as emoções e de se afastarem (e de informar ao outro a necessidade de afastamento) nos momentos em
que o nível emocional negativo contra o cônjuge é muito alto.

Nas sessões individuais, o terapeuta utiliza o acolhimento, aumenta o rapport com cada um e dá a cada membro do casal um espaço para
explorar as suas reações à infidelidade. Quando o casal sai do período mais crítico, o terapeuta pode abordar com ambos, conjuntamente, o
exame do impacto do evento sobre eles e sobre o relacionamento, com o uso de habilidades de expressão emocional, de comunicação e de
escuta adequadas, que devem ter sido ensinadas em sessões individuais anteriores.
As suposições violadas de cada um – sobre o parceiro, sobre a relação e sobre si mesmo – são identificadas.

A escrita de cartas com a supervisão do terapeuta é uma intervenção efetiva para explorar emoções e cognições sobre a ofensa de
forma reflexiva. Busca-se relacionar essas respostas a experiências desenvolvimentais.

A informação escrita na carta do parceiro ofendido pode ser lida para o parceiro ofensor para ampliar a empatia deste pelo primeiro, e o
ouvinte é preparado para escutar sem defensividade. Após a leitura, o parceiro ofensor pode expressar compreensão ao outro e mostrar
como foi afetado pela leitura (por exemplo, demonstrar remorso). Essa experiência tende a desencadear também a empatia da parte
ofendida pelo ofensor.
O estágio 2 do modelo de Gordon e colaboradores, denominado exploração do contexto e encontro de significado, envolve explorar os
fatores que contribuíram para a ocorrência do caso extraconjugal e ajudar o casal a avaliar as consequências do evento e as potenciais
respostas à intervenção.19

Um modelo conceitual compreensivo, que integre fatores recentes e desenvolvimentais de vulnerabilidade ao affair é proposto pelo
terapeuta. Ao discutirem-se esses fatores, a responsabilidade individual é colocada sobre a parte ofensora, mas a avaliação e a
compreensão do contexto em que a traição ocorreu são consideradas importantes para a recuperação.

A compreensão do porquê da ocorrência do caso extramarital é seguida de processos de solução de problemas, o que possibilita um
planejamento do casal de passos a serem tomados (por exemplo, a implementação de mudanças interacionais) para assegurarem-se de que
o caso não ocorrerá de novo. Também nesse estágio o parceiro ofensor deve ser preparado para a reatividade emocional persistente do
parceiro lesado e para sua necessidade continuada de saber por que a traição ocorreu.
A empatia é fomentada via exploração da história desenvolvimental. Cada parceiro tem a oportunidade de entender as reações do outro
e as próprias, em relação ao affair, de forma mais compreensiva. Estratégias cognitivo-comportamentais podem ser planejadas para mudar
padrões comportamentais e cognitivos disfuncionais de cada um, conforme na TCC para casais. Isso possibilita a redução da intensidade do
afeto negativo e facilita o otimismo sobre a mudança e o preenchimento emocional na relação.
O estágio 3 do modelo de Gordon e colaboradores, que pode ser chamado seguindo em frente, começa integrando informações obtidas
nas sessões anteriores para que o casal possa tomar uma decisão consciente sobre seguir em frente.19

Resumos verbais e por escrito sobre aprendizados prévios são feitos pelo terapeuta para cada membro do casal. Os cônjuges são
estimulados a discutir a viabilidade da relação e a se comprometer com o trabalho em direção à mudança, praticando o que foi
aprendido e acordado.

Se os parceiros decidem manter o relacionamento, sessões adicionais de terapia podem ser propostas a fim de se tratarem outros pontos de
dificuldade do casal. Também na decisão de divórcio, a terapia pode continuar, a fim de ajudar para que o processo se desenrole com menos
sofrimento para o casal e para outros envolvidos. Muitos casais desejam discutir crenças sobre o perdão nessa etapa.

O modelo de Gordon, Baucom e Snyder de terapia de casal para o tratamento da infidelidade conjugal baseada no perdão é definido
como um processo no qual os parceiros buscam maior compreensão de si mesmos, do outro e de seu relacionamento, a fim de libertá-
los do domínio de pensamentos, sentimentos e comportamentos negativos. O perdão seria composto por três componentes: uma visão
realista, não distorcida e equilibrada da relação, uma liberação de ser controlado por afeto negativo em direção ao agressor e um desejo
diminuído de punir o parceiro ofensor.

O perdão pode ocorrer sem necessidade que o relacionamento conjugal seja restabelecido. O processo do perdão também permite o
desenvolvimento de sentimentos mais positivos e calorosos em relação ao parceiro ofensor. O perdão saudável também requer
avaliação realista do parceiro, e não uma visão que ignora os aspectos reais e negativos do mesmo.19

A compreensão de perdão deve ser discutida com o casal a fim de deixar claro o que a terapia propõe, uma vez que as pessoas podem ter
visões diferentes acerca desse construto. Gordon e colaboradores indicam que o tratamento proposto dura entre 25 e 30 sessões, por um
período aproximado de seis meses.19 Contudo, os casais podem requerer sessões adicionais, dependendo do grau e da persistência da
desregulação afetiva, da cronicidade e complexidade dos fatores que contribuíram para o caso extraconjugal etc.
Gordon e colaboradores ressaltam que muitos elementos desse tratamento podem ser encontrados em terapias de casal mais tradicionais;
contudo, o modelo desenvolvido por eles é entendido como singular, por causa da maneira como esses elementos são estruturados e da
razão para essa estrutura e também em função da fundamentação teórica integrativa proposta.
Como se pode observar, o modelo de Gordon e colaboradores utiliza estratégias diversas para o desenvolvimento da empatia de um
cônjuge em relação ao outro.19 A exploração dos fatores históricos e atuais que facilitaram a ocorrência da ofensa possibilita a
compreensão da vítima em relação ao ofensor, bem como contribui para fomentar a compaixão. O fato de a vítima expor suas emoções
também faz com que o ofensor sinta compaixão por ela e/ou experiencie emoções, como o remorso, que sinalizam a possível mudança do
seu comportamento. Além disso, o ofensor aprende a validar os sentimentos da vítima e a demonstrar compreensão em relação a eles.
Observar as manifestações verbais e não verbais do ofensor facilita não apenas compreendê-lo (dimensão cognitiva da empatia), mas
também a desenvolver compaixão em relação ao mesmo (dimensão afetiva da empatia).

Em uma intervenção em que as partes transgredida e transgressora participam do tratamento, as oportunidades para desenvolver
empatia são maiores. Além da promoção da TP do agressor, a vítima tem a oportunidade de experienciar compaixão mais
diretamente, ao observar cicatrizes emocionais passadas do parceiro e ao ver suas manifestações emocionais atuais (como o
remorso e a própria empatia oferecida pelo ofensor à vítima).

O MODELO PROCESSUAL DO PERDÃO


O MODELO PROCESSUAL DO PERDÃO
Outra terapia do perdão com raízes cognitivo-comportamentais é a do modelo processual do perdão, desenvolvida por Enright e vários
colaboradores, a qual dispõe de muitas publicações na literatura psicológica.11
Para o autor, o perdão envolve a mudança de pensamentos sobre a ofensa e sobre o ofensor, que ocorre a partir de exercícios
cognitivos terapêuticos praticados pela vítima. Os exercícios também favorecem que a vítima comece a refletir sobre seu próprio papel antes
da e durante a situação de injustiça, sobre a relação com o ofensor antes e no presente e sobre características comuns ou de identidade
entre os dois, o que facilita a reestruturação cognitiva.18

Segundo o modelo processual do perdão, a reestruturação implicada no processo de perdoar depende de duas habilidades
empáticas: a TP do ofensor e a consideração empática. Acredita-se que a consideração atua na intensidade da mágoa, enquanto a
TP reorganiza o pensamento sobre a mágoa sofrida.18

O modelo processual do perdão foi o primeiro – especificamente designado para promover o perdão – a ser investigado
experimentalmente, por meio de uma pesquisa-intervenção realizada por Hebl e Enright.16 Antes dessa publicação, a literatura apenas
dispunha de estudos de caso isolados.

Hebl e Enright consideram quatro pontos importantes na definição do perdão:6

■ a pessoa que perdoa sofreu uma ferida profunda que elicia ressentimento;
■ a pessoa ofendida tem direito moral ao ressentimento, mas supera isso;
■ uma nova resposta ao outro emerge, incluindo compaixão e amor;
■ essa resposta ocorre a despeito da observação de que não tem a obrigação de amar o ofensor.

Para Enright, o perdão é a substituição de pensamentos, ações e sentimentos negativos por pensamentos, ações e sentimentos mais
positivos.3

O modelo processual é composto por quatro fases e é baseado em estudos que retrataram as etapas experienciadas naturalmente pelas
pessoas que alcançaram o perdão:2,6

■ a fase 1 é a da descoberta, que envolve a admissão do fato ofensivo e a experiência de suas consequências negativas;
■ a fase 2 é a da decisão de perdoar, que abrange o sentimento da necessidade de mudança e a decisão de trabalhar pelo perdão como
uma estratégia para chegar a um acordo com a ofensa;
■ a fase 3, a do trabalho, foca na tentativa de ver o ofensor por outra perspectiva, que não a ofensa, e de sentir compaixão por ele;
■ a fase 4 é a do aprofundamento, na qual se busca encontrar um significado e um propósito na ofensa e na qual ocorre a experiência dos
benefícios do perdão.
As quatro fases do modelo processual subdividiam-se em 17 unidades;6 atualmente, são 20 unidades.2 O perdão desenrola-se da seguinte
forma, segundo o modelo:

■ a pessoa não confronta o evento doloroso e estabelece defesas psicológicas inconscientemente (1);
■ a pessoa torna-se raivosa, o que pode tomar a forma de ressentimento ou pode se transformar em ódio (2);
■ a pessoa ofendida experiencia vergonha (3), emprega grande energia emocional no evento doloroso (4) e, obsessivamente, repete o
evento na mente (5);
■ a seguir, a pessoa conclui que está pior por causa do evento, enquanto o ofensor não é afetado (6); isso pode resultar na conclusão de que
a vida é injusta (7).
As unidades 1 a 7 integram a fase da descoberta e são importantes para a identificação das defesas psicológicas e da dor que a ofensa
causou. Na sequência, há as seguintes:

■ o cliente observa que as estratégias de enfrentamento atuais não estão funcionando e que pode mudar suas emoções em relação ao
evento e ao ofensor (8);
■ a pessoa compromete-se a perdoar o outro, o que, em geral, é uma decisão cognitiva (9).

As unidades 8 e 9 caracterizam a fase da decisão, na qual o indivíduo compromete-se com o perdão e com a mudança afetiva, cognitiva e
comportamental pela qual deve trabalhar. As unidades seguintes são:

■ a ocorrência de insights ao se revisar a história desenvolvimental do ofensor, o que possibilita melhor entender os motivos e
comportamentos daquele que lhe prejudicou; o reenquadramento emerge, bem como a compaixão (10 a 13);
■ o indivíduo precisa aceitar e absorver a dor, o que implica abrir mão da vingança (14);
■ insights ajudam o cliente a observar que existem imperfeições em todas as pessoas, inclusive em si, mediante a constatação de que
precisou do perdão dos outros no passado, quando foi o ofensor e causou dor a outra pessoa (15);
■ consequentemente a isso, ocorrem mudanças emocionais em relação ao transgressor, como a diminuição de afetos negativos e o aumento
de afetos positivos (16); embora a mudança emocional seja pequena no início, é a indicação de que o perdão está emergindo.
p ( ) ç j p q ç q p g
As unidades 10 a 16 constituem o regime terapêutico ativo descrito na literatura. De acordo com Hebl e Enright, para verdadeiramente
perdoar um ofensor, a vítima deve ser capaz de vê-lo em seu contexto de vida e desenvolver compaixão, o que pode emergir a partir da
exploração das influências sobre o agressor no momento do evento doloroso, por meio da TP do mesmo.6 Na última fase, a unidade 17
abrange a consciência da libertação emocional interna.

Quatro novos passos foram adicionados posteriormente ao modelo processual: a disposição para considerar o perdão como uma
opção para lidar com a ofensa foi inserida na segunda fase, e o encontro de significado no processo de perdão, a promoção da
consciência de que ninguém está sozinho na experiência de ser ferido e a observação de que a injúria pode produzir um novo
propósito na vida de alguém foram inseridos na última fase.

Dois passos prévios (16 e 17) foram reunidos em uma única e última unidade, a de vivenciar os benefícios do perdão.2
A intervenção realizada por Hebl e Enright deu-se em grupo e em oito sessões.6 Contudo, o modelo processual para a promoção do perdão
já foi empregado em psicoterapias individuais e com número de sessões variável. As intervenções são, basicamente, de caráter cognitivo e
psicoeducativo.

Inicialmente, a visão dos autores sobre o que é o perdão é apresentada. Discute-se com os participantes que o perdão é um
processo que envolve outros subprocessos e que é diferente de desculpa, esquecimento, negação e outros fenômenos. Algumas
questões para reflexão e discussão são trazidas, como: “O que, especificamente, sobre a ofensa percebida, mais causou dor?”;
“Estou preparado para perdoar essa pessoa?”; “O que preciso saber antes de começar o processo de cura por meio do perdão?”.

Compartilhar as emoções dolorosas é estimulado, a fim de dividir e aliviar a ferida. Os participantes também são convidados a refletir sobre o
que têm feito para lidar com a dor e o que podem ganhar deixando que ela se vá.
Para o comprometimento com o perdão, os clientes refletem sobre a ideia de que esse processo pode trazer mudanças a si, mesmo que não
mude o outro, e de que o perdão é uma escolha, e eles são livres para optarem ou não por isso. Explora-se por que perdoar é desejável.
Para enfatizar o compromisso, a pessoa é solicitada a ler um contrato que pede ao participante para abrir mão de qualquer vingança ou
nutrição do ressentimento em relação ao ofensor. Cada pessoa, então, tem a liberdade de assinar ou não esse contrato.
Na terceira fase, em que ocorre o processo árduo de trabalhar pelo perdão, a evocação da empatia é o elemento-chave.

A compaixão é definida e os participantes são estimulados a pensar se é possível sentir tal sentimento pelo ofensor. Nesta etapa,
auxilia-se o cliente a ver o que pode ter influenciado o agressor no momento do evento doloroso, por meio da TP dele.

A história desenvolvimental do ofensor é considerada, de modo que insights sejam favorecidos. Isso não é feito para desculpar ou distorcer,
mas para entender os motivos e comportamentos do transgressor com mais acuidade. Desse modo, é possível o reenquadramento da
ofensa e um maior entendimento sobre a parte ofensora e, consequentemente, a compaixão pelo outro. Exemplos de outras pessoas são
utilizados para ilustrar o processo e mostrar a emergência da compaixão após a maior compreensão do contexto em que o agressor agiu. O
cliente é desafiado a reformular quem é o ofensor.2,6,18

Os participantes devem considerar as instâncias nas quais eles e outras pessoas sofreram uma ferida interpessoal para observarem
que a dor que cada um sofre não é inteiramente exclusiva e que cada um precisa lidar com sua experiência dolorosa. Os clientes são
solicitados a pensar sobre uma pessoa (da história ou do conhecimento próximo) que tenha absorvido a dor causada por outro
indivíduo.

Reitera-se que aceitar a dor não significa aceitação da injustiça; o que ocorreu ainda é injusto. Por fim, o perdão é alcançado e as
consequências positivas são experienciadas. Muitas pessoas encontram um novo propósito na vida após esse processo.2,6,18

A partir do que foi apresentado, pode-se constatar que o modelo processual do perdão vale-se de ferramentas cognitivas para a
promoção da empatia da vítima pelo ofensor. Essa é a estratégia central proposta para o cliente alcançar o perdão.

TERAPIA FOCADA NA EMOÇÃO


Outra perspectiva terapêutica, que pode ser destacada pelo uso da ferramenta empática, é a terapia focada na emoção (TFE). Trata-se de
uma abordagem baseada em evidências, delineada para o aprimoramento da inteligência e da regulação emocionais, congruente às
modalidades da terceira geração das TCCs. Greenberg e colaboradores propõem o uso dessa abordagem para a promoção do perdão.20

Uma das suposições da TFE é que bloquear emoções primárias biologicamente adaptativas impede o processamento adequado e a
transformação de emoções não resolvidas.

A TFE usa o diálogo com a cadeira vazia, inicialmente, para ativar as emoções legítimas desencadeadas pela ofensa e,
posteriormente, para desencadear empatia pelo agressor. Ao reavivar o ofensor e a ofensa na imaginação, o cliente sai de uma
conversa cognitiva com o terapeuta e entra em uma confrontação e em um diálogo imaginários com o agressor. Assim, as
representações internas do eu e do ofensor podem ser reexaminadas, trabalhadas e resolvidas.
O estado emocional de não perdão (raiva e dor, por exemplo) pode ser efetivamente superado com a presença de emoções alternativas mais
saudáveis (como compaixão). Quando acessada, a empatia envolve compreender os sentimentos do outro e é um estado
cognitivo/afetivo complexo que facilita o perdão à injúria interpessoal.20

A empatia possibilita a visão do ofensor de forma humanizada e o reconhecimento de que, talvez, a vítima agiria da mesma forma
que o transgressor em circunstâncias idênticas.

A TP permite que o algoz seja revisto dentro de uma compreensão mais ampla do contexto de eventos ocorridos. Os autores ressaltam,
contudo, que a compaixão também é necessária ao perdão, pois a TP pura, sem a dimensão afetiva da empatia, não envolve os sentimentos
calorosos e benevolentes. Para Greenberg e colaboradores, o afeto empático permite a sensação de compartilhar corporalmente a
experiência do outro. Na visão desses autores, o perdão envolve a redução do não perdão, ou seja, a diminuição de sentimentos e
pensamentos negativos em relação ao ofensor e, adicionalmente, o aumento de emoções positivais – como a compaixão – e o entendimento
em relação ao transgressor.20

O tratamento proposto pelos autores constitui-se de quatro fases, que podem ser sobrepostas e não necessariamente sequenciais.

■ A fase 1, criar aliança, envolve a resposta empática e validadora à dor e à experiência emocional do cliente. Nesse estágio, o
terapeuta também ajuda os clientes a identificarem o impacto da injúria e a articularem os aspectos mais problemáticos da ofensa para
eles.
■ A fase 2, evocação e exploração, envolve reconhecer, experienciar e expressar a raiva, a tristeza, a dor e outras emoções aflitivas
associadas à injúria. O trabalho com a cadeira vazia é utilizado para ajudar os clientes a processarem emoções não resolvidas em
relação ao ofensor. É importante que o vínculo terapêutico já seja suficientemente forte nessa etapa. A evocação e exploração das
emoções podem continuar, se necessário, até quase o final do processo terapêutico. As duas fases seguintes se sobrepõem à anterior.
■ Na fase 3, trabalho autointerruptivo, intervenções são empregadas pelo terapeuta para sinalizar ao cliente processos de interrupção
emocional que emprega automaticamente, como evitação, rendição ou desesperança. As intervenções têm o objetivo de que o cliente
seja mais ativo e menos passivo, para que as emoções não sejam bloqueadas, pois isso impede a resolução que pode ser alcançada
pelo acesso e processamento emocional.
■ A fase 4, empoderamento e superação ou perdão, é assim denominada porque alguns clientes podem se recuperar apenas
superando as emoções negativas de não perdão, ao passo que outros também desenvolvem emoções mais positivas de perdão. É
nessa fase final que se encontra a promoção da empatia. A técnica da cadeira vazia é usada para que o cliente tenha possibilidade de
dialogar com o ofensor: quando, em uma cadeira, expressa suas emoções e pensamentos; quando em outra cadeira, fala a partir do
ângulo dele. O terapeuta favorece a mudança na maneira de o cliente ver o perpetrador, que é facilitada pela ativação emocional, e, ao
mesmo tempo, o ajuda a manter a responsabilidade do ofensor. A quarta fase também envolve ajudar o cliente a abandonar suas
necessidades não atendidas.

Ao longo do tratamento, o cliente é solicitado a realizar tarefas de casa. Inicialmente, utiliza-se um diário para registrar emoções e
pensamentos em relação ao ofensor e para acompanhar como as sessões de terapia desempenham um papel no processo de
mudança nas respostas às transgressões.

Mais adiante, o cliente é instruído a escrever uma carta (que não será enviada) ao ofensor, acusando-o de saber o impacto do seu
comportamento danoso. Como continuação, o cliente deve responder à carta, a partir da perspectiva do agressor, negando a acusação. Isso
permite ao cliente adotar a perspectiva do ofensor, mas também tem a função de chamar atenção para a possibilidade de o perpetrador
nunca mudar. Nesse caso, a recuperação dependerá unicamente do cliente.
Outra tarefa de casa envolve dar ao cliente algumas definições de perdão e pedir que pense sobre seu próprio entendimento a respeito
desse fenômeno e que considere se o perdão foi importante pessoalmente para ele com relação às suas injúrias emocionais. O cliente
também recebe uma folha de papel que pede para ele refletir sobre o vínculo que ainda o mantém ligado ao ofensor e para escrever sobre
suas dificuldades em abandonar a injúria emocional e sobre o que está sustentando os sentimentos dolorosos. Essas tarefas são discutidas
em sessão com o psicoterapeuta.
Pode-se constatar que a intervenção proposta por Greenberg e colaboradores faz amplo uso da empatia e valoriza a ativação emocional,
para que o processo de mudança ocorra não apenas no nível intelectual, mas também de forma “corporalmente sentida”, como indicam os
autores.20 A TFE prioriza a habilidade dos indivíduos de se relacionarem com os sentimentos e entende que esses sentimentos influenciam
nas cognições, bem como o inverso. As próprias emoções também podem ser usadas para mudar outras emoções.

MODELO REACH
Outra intervenção a ser destacada, por ser bastante difundida na literatura psicológica do perdão, é o método REACH, desenvolvido por
Worthington e colaboradores.11 O autor aborda o tópico dentro da perspectiva da psicologia positiva, que busca a emergência das forças
e das virtudes humanas, e que foi desenvolvida em sintonia com o modelo cognitivo-comportamental.

O perdão é definido como a substituição de emoções negativas do não perdão (isto é, ressentimento, amargura, ódio, hostilidade,
raiva e medo) por emoções positivas orientadas ao outro (isto é, empatia, simpatia, compaixão, amor romântico, ou amor parental). O
perdão pode ser dois tipos: decisional ou emocional.3
perdão pode ser dois tipos: decisional ou emocional.

O método REACH delineia cinco passos para desenvolver perdão; cada passo é representado por uma letra do acróstico REACH.

■ No passo 1, os participantes devem relembrar (R) a ofensa tão plenamente quanto possível, bem como os pensamentos, sentimentos
e comportamentos direcionados ao ofensor. Isso deve ocorrer em um ambiente apoiador e não julgador.2
■ O passo 2 encoraja os participantes a construírem empatia (E) pelo ofensor. A empatia é desenvolvida por meio de diferentes
exercícios e discussões que ajudam os clientes a verem os fatores situacionais que levaram à ferida. Eles tentam imaginar os
pensamentos e os sentimentos do ofensor antes e durante o momento do evento danoso.2
■ A empatia continua por meio do passo 3 – dar o presente altruísta (A) do perdão. Antes de esta proposta ser apresentada, os
participantes são estimulados a relembrar as vezes em que receberam o perdão por feridas que causaram a outras pessoas, de modo
a restaurar a visão humanizada do ofensor. Os clientes são encorajados a recordar o que sentiram ao serem perdoados. Esse passo
pretende desenvolver um estado saudável de humildade e engendrar a emoção da gratidão por ter recebido perdão de outra pessoa.2
■ No passo 4, os participantes se comprometem (C) publicamente com o perdão que eles experienciaram pelo ofensor. Eles são
engajados em discussões e exercícios que encorajam um comprometimento com o perdão, que pode ser verbalizado em voz alta ou
ser por escrito. O compromisso deve ser público, mesmo que apenas compartilhado com um único amigo íntimo. Isso visa à
manutenção do perdão.
■ A etapa 5 do modelo é a da manutenção (H, do inglês Hold on) e está logicamente ligada à etapa anterior, a do compromisso. Assim, o
objetivo é assegurar o perdão, trazendo à memória todos os ganhos alcançados, sempre que a vontade de desistir do perdão ou a
dúvida vierem à consciência. Ao se comprometer a perdoar verbalmente ou por escrito, os participantes tornam-se mais prováveis de
manter as mudanças que alcançaram por meio da intervenção.2

O modelo REACH, além de privilegiar a empatia como recurso para alcançar o perdão, também valoriza o altruísmo para com o
ofensor, com base na gratidão e na humildade pelo perdão recebido pelas próprias ofensas do passado. Desse modo, a intervenção
visa ao benefício não apenas da vítima, mas também do agressor.

Em suma, pode-se observar que a promoção da TP e da compaixão são ferramentas empáticas amplamente valorizadas nos
tratamentos que visam ao perdão interpessoal, pois possibilitam a reestruturação cognitiva acerca do ofensor e da ofensa. Isso pode ser
verificado nas intervenções em que apenas a vítima participa do processo terapêutico, como na intervenção diádica, delineada por Gordon e
colaboradores.19
Entretanto, é possível que a abordagem conjunta da vítima com o ofensor crie mais oportunidades para a experiência da empatia, uma
vez que a perspectiva do agressor pode ser acessada mais diretamente pelo diálogo. O contato próximo também aumenta as chances de
a vítima ver sinais de remorso no seu algoz e, com isso, experienciar compaixão por ele mais espontaneamente. Contudo, por diversas
razões, nem sempre há a possibilidade de ambas as partes participarem juntas do processo terapêutico.

TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E A PROMOÇÃO DA EMPATIA E DO PERDÃO

Considerando-se o que foi apresentado até aqui, propõem-se, a seguir, técnicas da TCC que podem ser utilizadas com o objetivo de
desenvolver a empatia, visando ao perdão interpessoal.

■ Acolhimento empático – Tratar o cliente com empatia é de suma importância para o estabelecimento do vínculo e favorece que o
cliente sinta-se à vontade para falar sobre suas emoções e pensamentos, em vez de reprimi-los ou escondê-los do terapeuta. Explorar
a ofensa junto a uma pessoa que compreende e legitima suas reações, independentemente de quais sejam, possibilita a “ventilação”
das emoções, a ampliação da autoconsciência e a disposição posterior para também compreender o lado do ofensor. O ambiente
empático abre o caminho para o trabalho do perdão, que envolve o esforço para explorar a ofensa por outros ângulos. O acolhimento
empático integra a maioria das terapias, inclusive as “terapias do perdão”.11
■ Modelação – Ao agir de modo empático, o terapeuta funciona como modelo, favorecendo a aprendizagem vicária da empatia
(aprender a ouvir com sensibilidade, a dar feedbacks verbais, a regular o tom de voz, a usar gestos não verbais e paralinguísticos que
denotam interesse pelo interlocutor etc.).
■ Psicoeducação – O terapeuta instrui o cliente sobre o que é empatia, quais são seus componentes, exemplifica utilizando situações
concretas do cliente, aborda os benefícios pessoais e interpessoais dessa habilidade de interação, fala sobre como viabiliza a
percepção das situações pelo ponto de vista de outras pessoas e como isso favorece o perdão, e dá exemplos de comportamentos
empáticos e não empáticos.
■ Instrução e ensaio comportamental – O terapeuta orienta o cliente sobre como agir com empatia na interação com os outros, ou
mesmo com o ofensor, quando possível e adequado. A empatia se subdivide em várias habilidades (saber ouvir, saber como falar,
saber dar feedbacks, saber adotar posturas que demonstram preocupação com o outro, saber fazer perguntas que demonstram
interesse em compreender melhor a experiência que o outro está relatando etc.) que podem ser ensinadas e praticadas em sessão
com o terapeuta. Em seguida, os clientes podem usá-las no dia a dia com os pares.
■ Experimentos comportamentais – O terapeuta passa tarefas de casa nas quais o cliente tem a oportunidade de experimentar
comportamentalmente as habilidades aprendidas em sessão e de observar as respostas dos interlocutores. Além disso, o cliente
descobre que pode compreender melhor os outros quando se dispõe a isso. Eventualmente, o comportamento empático aprendido
pode ser utilizado com o ofensor.
■ Descoberta orientada – O terapeuta faz questionamentos para favorecer a reestruturação cognitiva. Auxiliar o cliente a adotar a
perspectiva do ofensor contribui para o reenquadramento da ofensa e do agressor. No geral, possibilita, também, a compaixão pelo
agressor. Exemplos de perguntas: Por que você acha que ele agiu assim? Você acha que ele (o ofensor) pode estar passando por um
momento difícil na vida? Como ele foi criado? Será que ele também era tratado dessa forma pelos outros e é o jeito que ele aprendeu
a agir? Que mais você sabe sobre a história de vida dele? Você já o viu agindo dessa forma com outras pessoas? Então, será que foi
pessoal ou ele trata assim a todos? Você já agiu assim também em alguns momentos? O que estava passando com você na vez em
que agiu dessa forma? Será que pode estar ocorrendo o mesmo com ele?
■ Autorrevelação pessoal – O terapeuta dá um exemplo pessoal de um conflito interpessoal e como tal conflito foi solucionado após SE
entender a situação pelo ângulo da outra pessoa envolvida. Essa intervenção pode ser útil, especialmente quando o cliente tem
dificuldades para lidar com ofensas cotidianas, inerentes às relações interpessoais.
■ Uso de cartas – O cliente é instruído a escrever uma carta ao ofensor, expressando o impacto negativo da ofensa interpessoal. Após,
outra carta é escrita pelo cliente, porém, a partir da perspectiva do ofensor, explicando suas razões. As cartas não precisam ser
entregues. Essa ferramenta é mobilizadora afetivamente e pode promover o afeto empático mais diretamente, além da compreensão
cognitiva do outro.
■ Questionamento socrático – Essa técnica visa a promover a reestruturação cognitiva e pode ser proposta de forma a favorecer a
reatribuição de causalidade do comportamento do ofensor (Quadro 1).

Quadro 1

REGISTRO DE PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS E PENSAMENTOS ALTERNATIVOS


Ofensa interpessoal “Meu chefe gritou comigo na frente dos meus colegas de trabalho.”

Pensamento automático
(PA) sobre o “Ele não gosta de mim.”
comportamento do ofensor

Emoção (intensidade) Raiva (90%) e vergonha (100%)

Comportamento ou intenção
“Vontade de gritar com ele também, mas me segurei para não perder o emprego.”
comportamental

“Ele já gritou comigo outras vezes; ele não me dá “bom dia” quando chega; ele nunca pede ‘por favor’, sempre me dá
Evidências a favor do PA
ordens.”

Evidências contrárias ao PA “Ele grita com os outros funcionários também; ouvi dizer que ele está passando por um momento difícil, de divórcio.”

Explicações ou hipóteses “Ele age dessa forma sempre que está nervoso, com todos; portanto, não é pessoal. Ele sempre foi tratado assim pelos
alternativas para o pais e não sabe agir de forma mais gentil; parece ser da personalidade dele. Ele está passando por um processo de
comportamento do outro divórcio, está sofrendo e está fora de controle.”

Reavaliação da emoção Compaixão (50%), raiva (10%) e vergonha (40%)

20. Que autor(es) desenvolveu(ram) uma metodologia para a superação dos efeitos negativos da mágoa e da culpa pela
administração do perdão?

A) Greenberg e colaboradores.
B) Gordon e colaboradores.
C) Luskin.
D) Gordon, Baucom e Snyder.
Resposta no final do artigo

21. Quais são os três componentes cognitivos básicos presentes no surgimento da mágoa?

22. Explique, dentro do contexto do perdão interpessoal, o termo “regras não executáveis”.
pq , p p , g

23. Sobre o modelo processual do perdão é INCORRETO afirmar que

A) segundo tal modelo, a reestruturação implicada no processo de perdoar depende de duas habilidades empáticas: a TP do
ofensor e a consideração empática.
B) acredita-se que, enquanto a TP do outro reorganiza o pensamento sobre a mágoa sofrida, a consideração empática atua na
intensidade da mágoa.
C) é composto por cinco fases e é baseado em estudos que retrataram as etapas experienciadas naturalmente pelas pessoas
que alcançaram o perdão.
D) a sua fase 1 é a da descoberta, que envolve a admissão do fato ofensivo e a experiência de suas consequências negativas.
Resposta no final do artigo

24. Analise as seguintes afirmações sobre a TFE.


I – É uma abordagem baseada em evidências, delineada para o aprimoramento da inteligência e da regulação emocionais,
congruente às modalidades da terceira geração das TCCs.
II – Greenberg, Warwar e Malcolm propõem o uso da TFE para a promoção do perdão.
III – Uma das suposições da TFE é que não bloquear emoções primárias biologicamente adaptativas impede o processamento
adequado e a transformação de emoções resolvidas.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo

25. Como é chamada a terceira fase do tratamento proposto por Greenberg e colaboradores?

A) Trabalho autointerruptivo.
B) Criar aliança.
C) Evocação e exploração.
D) Empoderamento e superação.
Resposta no final do artigo

26. O modelo processual do perdão e o modelo REACH apresentam componentes em comum. Qual dos seguintes elementos NÃO é
comum aos dois modelos?

A) Promoção da empatia da vítima em relação ao ofensor.


B) Comprometimento com o perdão.
C) Exploração da ofensa e de suas consequências para a vítima.
D) Oferta do presente altruísta do perdão.
Resposta no final do artigo

27. Entre as técnicas da TCC que podem ser utilizadas com o objetivo de desenvolver a empatia, visando ao perdão interpessoal,
como é denominada a técnica em que o terapeuta dá um exemplo pessoal de um conflito interpessoal e como tal conflito foi
solucionado após entender a situação pelo ângulo da outra pessoa envolvida?

A) Acolhimento empático.
B) Modelação.
C) Autorrevelação pessoal.
D) Descoberta orientada.
Resposta no final do artigo

■ CUIDADOS CLÍNICOS
Ao trabalhar mágoas e ao propor o perdão como objetivo terapêutico, o profissional deve ser cuidadoso para que algumas
complicações sejam evitadas. Para isso, o terapeuta deve usar seu feeling, sua bagagem clínica e teórica e seu bom-senso e ter em
mente como está a dinâmica de sua relação com o cliente.

Muitos pesquisadores clínicos orientam os terapeutas sobre algumas situações.

■ O terapeuta não deve passar a mensagem de que a vítima de uma transgressão interpessoal real é culpada pelo seu sofrimento,
quando for propor que a forma como o cliente interpreta a ofensa influencia nas próprias reações emocionais dolorosas que está
experienciando.
■ O terapeuta não deve invalidar a dor da vítima ao buscar ampliar a compreensão a respeito da natureza compartilhada e falha de todos
os seres humanos, quando for ajudar o cliente a considerar as vezes em que ele mesmo cometeu erros ou ofendeu outras pessoas no
passado.
■ O terapeuta não deve transmitir a mensagem de que o perdão é a única opção para lidar com as mágoas interpessoais. Quando o
cliente opta por não perdoar, o terapeuta deve pensar em outras estratégias para auxiliá-lo. Mesmo estratégias frequentemente
utilizadas nas “terapias do perdão” podem ser empregadas, mas não se deve utilizar a palavra “perdão” ou colocá-la como a meta da
terapia. Para muitos clientes, a indiferença pelo ofensor é suficiente para seguirem a vida em frente e o terapeuta deve respeitar isso,
não impondo os seus valores ou sendo rígido. Santana e Lopes indicam que as pessoas podem escolher engajar-se nesse processo
de modos e em intensidades diferentes, ou mesmo decidirem não perdoar.4 Nesse caso, o psicólogo deverá apontar outros caminhos
aos clientes para lidarem com seus problemas.
■ O terapeuta não deve responsabilizar moralmente o cliente pelo perdão ao ofensor. O tema do perdão tem sido frequentemente
associado com ensinos e convicções religiosas. Tratar do tópico na terapia pode evocar em alguns clientes sentimentos de
responsabilidade moral ou a sensação de ser julgado. O perdão deve ser uma opção do cliente e não uma obrigação moral.
■ O terapeuta não deve deixar que o cliente confunda perdão e reconciliação. É comum as pessoas entenderem que a reconciliação seja
parte do perdão. Contudo, na terapia, diferenciar esses fenômenos é essencial. Wade e Worthington salientam que muitos clínicos
competentes temem que a confusão entre o perdão e a reconciliação possa levar a, irresponsavelmente, encorajar os clientes a
tolerarem o comportamento abusivo, a justificarem ações lesivas ou a negligenciarem experiências dolorosas.2 Ao separar perdão de
reconciliação, os clientes podem trabalhar para liberar a raiva, o medo e a tristeza e talvez mesmo atingir mais sentimentos positivos
pelo ofensor, enquanto mantêm limites interpessoais e distância que podem ser necessários para sua segurança emocional e física.
■ O terapeuta deve compreender a visão que o cliente tem acerca do perdão. Isso é importante para evitar confusões quanto aos
objetivos terapêuticos.

28. Ao trabalhar mágoas e ao propor o perdão como objetivo terapêutico, que cuidados deve ter o profissional para que complicações
sejam evitadas?

■ EXEMPLOS CLÍNICOS

EXEMPLO CLÍNICO 1

Cliente S., do sexo masculino, 44 anos de idade, casado. Logo na primeira sessão com seu terapeuta, expressou como demanda a
necessidade de “trabalhar o perdão”. O cliente referia mágoa em relação ao pai, que nunca foi presente, e em relação à ex-esposa,
por ofensas diversas, dentre as quais pode ser destacada a tentativa de colocar o filho que têm em comum contra ele.

Ao longo da entrevista inicial, o terapeuta pôde observar que algum nível de perdão já fora alcançado pelo cliente. S. expressava
mágoa em relação a ambos os ofensores. Contudo, com o pai, o cliente reatou relações, ajudava-o sempre que preciso fosse e
informou ao terapeuta, quando questionado, que havia tomado a decisão de não mais agir guiado pela mágoa, embora ela existisse.
Já com relação à ex-mulher, não havia relação. Quando precisava tratar de assunto sobre o filho, os ex-sogros eram o canal de
comunicação. S. também referia que a intensidade da mágoa em relação à ex-mulher era maior do que em relação ao pai.
Ao ser questionado sobre o que havia de diferente nas duas ofensas, para uma já ter sido perdoada parcialmente e a outra não, o
cliente referiu que, no caso do pai, era obrigado a conviver, já havia conversado com ele sobre seus sentimentos e podia entender
melhor a visão dele, e que, quando ele mesmo se tornou pai, pôde entender a situação por outro ângulo, compreendendo melhor, a
partir disso a sit ação i enciada como filho Com relação à e esposa o cliente informo q e perdoar é mais difícil porq e ela
partir disso, a situação vivenciada como filho. Com relação à ex-esposa, o cliente informou que perdoar é mais difícil porque ela
continuava com a ofensa (difamando-o perante o filho) e não havia sinais de que ela desejava mudar.

29. O exemplo clínico 1 permite a constatação de que o perdão interpessoal é um processo de mudanças que ocorrem ao longo do
tempo. Pode-se observar que algum nível de perdão já foi alcançado por S. em relação ao pai, o que não pode ser constatado em
relação à ex-mulher. Sendo assim, assinale a alternativa INCORRETA sobre fatores facilitadores e fatores dificultadores do perdão
interpessoal relativos a ambos os ofensores de S.

A) A TP, uma dimensão cognitiva da empatia, foi um fator facilitador do nível de perdão já alcançado em relação ao pai.
B) A reestruturação cognitiva da situação passada foi um fator facilitador do nível de perdão já alcançado em relação ao pai.
C) A continuidade da ofensa e a ausência de mudança da ex-esposa dificultam que S. a perdoe.
D) A compaixão, uma dimensão afetiva da empatia, foi um fator facilitador do nível de perdão já alcançado em relação ao pai.
Resposta no final do artigo

30. Observe as seguintes afirmações sobre o exemplo clínico.


I – O cliente, em relação ao pai, já alcançou o perdão na dimensão afetiva.
II – O cliente, em relação à ex-esposa, já alcançou o perdão decisional.
III – O cliente, em relação a ambos os ofensores, não alcançou o perdão na dimensão afetiva.
IV – O cliente em relação ao pai, já alcançou o perdão decisional.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a IV.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a II e a IV.
D) Apenas a III e a IV.
Resposta no final do artigo

EXEMPLO CLÍNICO 2

Cliente E., do sexo feminino, 31 anos de idade, divorciada. No início da terapia, E. manifestava intensa mágoa em relação ao ex-
marido, por ele tê-la trocado por outra mulher quando ainda estava grávida; por ter tido um filho com o ex-marido apenas porque era
desejo dele (uma vez que ela já tinha dois filhos de outro casamento), e porque o ex não tratava o filho com carinho.

E. mantinha boa relação com os ex-sogros e afirmava que eram eles que ficavam com o menino nos fins de semana em que o pai
deveria ficar. Além disso, todas as vezes que ela precisava falar com o ex-esposo sobre a necessidade de comprar material escolar,
roupa, presente, medicação etc. para o filho, ele dizia não ter dinheiro, mas vivia esnobando dinheiro nas fotos que postava no
facebook, como fotos de viagens e passeios com a atual mulher.
A terapeuta pôde observar que a dor emocional de E. ainda era intensa. Uma mistura de emoções, como raiva, mágoa, culpa e
tristeza, era relatada pela cliente. Desse modo, a terapeuta achou mais sensato não tocar na palavra “perdão”, inicialmente, com a
cliente, pois poderia invalidar os seus sentimentos legítimos de mágoa. A profissional optou por empregar o tempo que fosse
necessário acolhendo a dor da cliente com sensibilidade, até que a mesma manifestasse interesse de fazer o que fosse necessário
para superar a dor.
A partir desse momento, a psicoterapeuta abordou a “terapia do perdão” com muita delicadeza e respeito, para não desencadear
resistência da cliente ao tratamento. A cliente concordou com a proposta terapêutica. Na fase de psicoeducação, a terapeuta optou
por definir o perdão especialmente como uma mudança intrapsíquica, que seria benéfica para a cliente, dado ela queria superar a dor
emocional, mas ainda expressava desejo de vingança.
A terapeuta procurou sempre manter o clima acolhedor na terapia, agindo de forma empática com a cliente, ouvindo-a com atenção,
dando feedbacks verbais, fazendo perguntas para melhor compreendê-la e cuidando da postura e linguagem não verbal para
transmitir interesse e compreensão. A profissional esperava que esses recursos facilitassem a aliança terapêutica e fossem
aprendidos pela cliente por meio da modelação. Em momentos mais avançados da terapia, intervenções mais diretivas foram
utilizadas para a mudança, embora o clima empático tenha sido sempre mantido.
A terapeuta abordou os benefícios pessoais do perdão para motivar a cliente a prosseguir com a terapia. No decorrer do processo,
trabalhou-se para desenvolver a empatia da cliente em relação ao ex-esposo. A terapeuta utilizou a descoberta orientada para ajudar
a cliente a entendê-lo melhor, questionando como foi a criação dele, o modo dele de se relacionar com as pessoas em geral e outros
fatores que, pelo ângulo dele, poderiam ter levado à separação, como, por exemplo, o estilo de relação disfuncional que mantinham
etc A cliente foi solicitada a se colocar na situação do cliente e a imaginar como seriam seus pensamentos e emoções antes e após
etc. A cliente foi solicitada a se colocar na situação do cliente e a imaginar como seriam seus pensamentos e emoções antes e após
a traição ter sido descoberta. Esses recursos possibilitaram a adoção da perspectiva do ofensor, embora não tivessem o objetivo de
justificar suas ações, mas apenas de compreendê-las.
A terapeuta utilizou instrução direta para ensinar habilidades de interação social à cliente, como aprender a ouvir com sensibilidade,
aprender a ler a mensagem que o interlocutor transmite com o corpo, para além das palavras, e aprender a conversar com
assertividade, em vez de agressividade. Essas aprendizagens foram treinadas em sessão com a psicoterapeuta, por meio de role
playing. Depois, a cliente foi incentivada a empregar tais recursos nas demais relações interpessoais, inclusive com o ex-esposo.
Tarefas de casa foram propostas. Uma tarefa foi conversar com os ex-sogros para obter maiores informações sobre a criação do ex-
marido e seu estilo de relacionamento com namoradas anteriores. Essa atividade facilitou a TP e, também, a compaixão pelo
ofensor, especialmente quando os pais do ex-esposo relataram histórias passadas dele que tinham a capacidade de eliciar reações
empáticas mais automáticas. Outro exercício proposto diversas vezes como tarefa de casa foi o experimento comportamental (por
exemplo, não agredir verbalmente o ex-esposo ao conversarem). Esses experimentos promoveram um relacionamento mais
amistoso da parte do ex-esposo, o que contribuiu para a redução das emoções dolorosas da cliente.
Mais ao término da terapia, a terapeuta estimulou, sempre com muita sensibilidade e empatia, que a cliente relembrasse as vezes em
que ela mesma magoou outras pessoas, incluindo o ex-marido. Abordar essa questão fez com que a cliente entendesse que todos
nós somos humanos e falhos, e que também precisamos ser perdoados. Assim, a capacidade de entender os conflitos interpessoais
foi ampliada, bem como a compaixão em relação a si, ao ofensor e aos humanos, de modo geral.
Ao final da terapia, E. mantinha uma relação respeitosa com o ex-marido, até porque era importante para o filho que tinham em
comum. A cliente não agia mais de forma agressiva, o que facilitou a mudança do ex-marido, que passou a participar mais da criação
do filho. A mágoa foi bastante reduzida, de modo que ela não estava mais em sofrimento constante, mas ainda experienciava algum
nível de dor quando parava para ficar ruminando sobre o passado. A cliente sabia, entretanto, que apenas ela era responsável por
decidir progredir com o perdão ou por voltar a ruminar sobre a ofensa.

31. Dos itens a seguir, qual apresenta duas intervenções que NÃO contribuíram para a promoção da empatia em relação ao ofensor,
no exemplo clínico 2?

A) Descoberta orientada e acolhimento empático.


B) Descoberta orientada e contemplação dos benefícios que o perdão traz.
C) Acolhimento empático e treino assertivo.
D) Treino assertivo e contemplação dos benefícios que o perdão traz
Resposta no final do artigo

32. Sobre os resultados da terapia de E., pode-se afirmar que

A) o perdão total foi alcançado.

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