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Pressupostos da Falência (continuação)

Falência = Pressuposto subjetivo + Pressuposto Objetivo + Pressuposto Formal

Só é falido com todos os requisitos. Empresário ou sociedade empresária, a conduta


exigida em lei e a sentença declaratória de falência.

Pressuposto Objetivo: Insolvência

Direito brasileiro é dualista em matéria de concurso de credores. Há a falência e a


recuperação de empresas para empresários e sociedades empresárias. Por outro lado, para não
empresários, há a insolvência civil, regulada ainda pelo Código de Processo Civil de 1973. Há
dois sistemas que lidam com a ideia de concurso de credores.
O concurso, em regra, está associado a uma situação patrimonial deficitária. Será
instaurado quando, em princípio, um devedor não tem ativos suficientes para cobrir as suas
dívidas. Ou seja, se ele não vai conseguir pagar todos os seus credores, em princípio, o Direito é
chamado para regular um concurso e organizar prioridades. Daí a ideia de hierarquia entre
credores. Isso acontece no âmbito dos dois procedimentos. Se o sujeito não se encontra nessa
situação, não há, em princípio, razão para realizar o concurso. Credor poderia adimplir as suas
obrigações.
Pressuposto objetivo é, assim, um estado de insolvência. Devedor não consegue solver
as suas dívidas. O problema é que eu tenho insolvência em um sentido econômico, que é a
insolvência efetiva, real, e eu tenho, por outro lado, aquilo que a lei diz que é suficiente para
instaurar um concurso. Nem sempre haverá coincidência entre ambos. A insolvência civil, lá do
CPC/73, exige insolvência real. No campo da falência, não é bem assim. A lei elenca uma série
de condutas que ela considera idôneas à decretação da falência. Não se exige a prova de uma
insolvência econômica, real.
Por que a legislação faz essa distinção?
Um empresário ou uma sociedade empresária relaciona-se com um número enorme de
pessoas. Contratos muito variados... Fornecedores, empresários, consumidores... O contexto em
que uma empresa se coloca no mercado é completamente diferente daquele de uma pessoa
física. Uma empresa, ao deixar de pagar suas dívidas, gera um desequilíbrio no mercado. Então,
a lei, para decretar a falência, utiliza critérios mais brandos do que a insolvência real. Há casos,
inclusive, de falência superavitária. O problema, muitas vezes, é falta de liquidez, de fluxo de
caixa... A partir do momento em que a empresa deixa de pagar as suas dívidas, ela está
externalizando, para os demais agentes do mercado, que ela está insolvente, independentemente
de sua insolvência real. Por exemplo, pode haver uma empresa que possui um imóvel caro, mas
não possui fluxo de caixa para solver as suas dívidas. Não há insolvência real, mas há
insolvência para a Lei de Falências.
O tratamento é assim em quase todos os lugares do mundo. A mera externalização do
estado de insolvência já causa um caos no mercado. O empresário não deve deixar de pagar as
suas dívidas, porque, na medida em que o faz, pode ser interpretado como insolvente. Há,
basicamente, dois tipos legais de previsão de decretação de falência. Impontualidade e Atos
falimentares. O nosso Direito trabalha com ambas as hipóteses. A maior parte dos ordenamentos
trabalha apenas com a impontualidade. O devedor deixa de arcar com as suas obrigações e, por
isso, deve ser decretado falido. É como se houvesse uma obrigação geral de adimplemento.
O artigo 94 trata da decretação da falência:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação
líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido
de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio
ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou
da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de
burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem
ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes
para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu
domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.
§ 1o Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite
mínimo para o pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo.
§ 2o Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que
nela não se possam reclamar.
§ 3o Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será
instruído com os títulos executivos na forma do parágrafo único do art.
9o desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos
de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica.
§ 4o Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será
instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução.
§ 5o Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência
descreverá os fatos que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e
especificando-se as que serão produzidas.
O art. 94, I trata da impontualidade, sintetizada por Fábio Ulhôa como impontualidade
injustificada. Credor consegue provar essa conduta de maneira mais fácil. Basta protestar o
título e se o devedor não for capaz de justificar o atraso já se configura hipótese de falência. O
artigo 96 traz um rol exemplificativo de causas relevantes para não se pagar uma dívida:

Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta
Lei, não será decretada se o requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
III – nulidade de obrigação ou de título;
IV – pagamento da dívida;
V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a
cobrança de título;
VI – vício em protesto ou em seu instrumento;
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da
contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do
pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de
Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato
registrado.
§ 1o Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e
partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.
§ 2o As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam
a decretação de falência se, ao final, restarem obrigações não atingidas pelas
defesas em montante que supere o limite previsto naquele dispositivo.

Se o devedor apontar alguma razão relevante, seja aquelas previstas no art. 96 seja
outras que sejam relevantes, não será impontual para efeitos de decretação da falência.
Retornando ao art. 94, há que ser obrigação líquida, materializada em título ou títulos
executivos protestados. Deve ser obrigação veiculada em título ou títulos executivos. Posso,
ainda, ter a formação de um litisconsórcio ativo. Vários credores se reúnem para pleitear a
falência de um devedor comum. Esses títulos, ademais, devem estar protestados.
Qual a função do protesto?
A grande função do protesto é ser meio de prova para obrigações lastreadas num título
de crédito. Quero, de algum modo, provar a inadimplência do meu devedor. O protesto prova
que houve a cobrança efetiva. Claro que, paralelamente a essa função, o protesto serve como
eficiente meio alternativo de cobrança. A partir do momento em que se tem título protestado, há
dificuldades para ter crédito e, quanto ao empresário, enseja-se a aplicação da Lei de Falências,
nos termos do artigo 94, I. A partir do protesto, alguém está habilitado para pedir a sua falência.
A antiga lei de falências falava de um protesto para fins falimentares. A lei anterior
dizia que, previamente a requerer a falência, deveria realizar um protesto específico, para fins
falimentares. A lei de protestos é de 1997 e, ao regular o protesto para fins falimentares, previu
que esse protesto seria regido pela lei especial de falências. A lei de 2005, por sua vez, previu
que esse protesto será realizado nos termos da legislação especial de protesto. Logo, não há uma
disciplina legal sobre protesto específico para fins falimentares.
O que há de particular nesse protesto?
Jurisprudência do STJ falou que o único condicionamento que tenho que ter nesse
protesto é que a intimação do protesto seja recebida pelo representante legal da empresa,
justamente para que este tenha tido ciência do protesto, tendo oportunidade de pagar a dívida.
Logo, posso utilizar um protesto normal para requerer a falência, bastando saber se a pessoa
intimada deste processo foi o representante legal da empresa. Se o protesto for assinado por
outra pessoa, devo realizar outro no cartório, requerendo que o intimado seja o representante
legal da empresa.
O que é essa intimação? Lei fala em apontamento do título a protesto. Cartório de
Protestos vai expedir intimação do título ao devedor, dando-lhe um prazo de 3 dias para efetuar
o pagamento ou justificar a razão de não o fazer. Se assim não o fizer, o protesto será registrado.
Credor pega, então, o instrumento de protesto, com todas essas informações.
Por fim, a soma do valor injustificadamente não pago deve exceder 40 salários
mínimos. Não se declara falência por valores baixos. Esse valor é arbitrário, mas para a grande
maioria do empresariado brasileiro trata-se de uma dívida significativa. Buscou-se evitar que o
pedido de falência fosse utilizado como sucedâneo da execução. Uma das defesas do devedor,
no processo falimentar, é pagar o título. Por isso, muitas pessoas começaram a entrar com ação
de falência de pequenos valores para forçar o devedor a solver sua dívida.

As outras hipóteses trazidas pelo artigo 94 dizem respeito aos atos falimentares e à
execução frustrada.

No inciso II, tem-se a previsão da execução frustrada. Na lei anterior, era hipótese de
ato falimentar. A lei atual a colocou como hipótese autônoma. Há autores que a colocam, ainda,
como hipótese de ato falimentar. Nos termos desse dispositivo, será decretada a falência do
devedor que “executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal”. Com base nesse fato processual, o credor pode
ir à secretaria do juízo onde tramitou essa execução e solicitar uma certidão judicial e entrar
com uma ação para solicitar a falência do devedor.
Nessa hipótese, não se exige um valor mínimo para requerer a falência. Hipótese é mais
grave, por se tratar de um processo judicial. Se a pessoa tentou a execução e ela se frustrou,
agora já poderia solicitar a falência. O valor mínimo do inciso anterior, afinal, busca evitar que
se substitua a execução pelo requerimento de falência. Não há que se falar em tal substituição,
se o credor já tentou a execução. Não há, ainda, a necessidade de protesto.
Essa é a segunda hipótese mais comum e ainda é fácil de ser provada.
O inciso III apresenta os clássicos atos falimentares. Todos refletem uma externalização
do estado de insolvência. É como se a pessoa tivesse se negando a pagar ou tentasse se furtar de
suas obrigações. São situações fáticas suficientes para a decretação da falência. São condutas
praticadas por aquele que não tem condições ou que não quer pagar. Citando, novamente, o
referido inciso, tem-se que será decretada a falência do devedor que:

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio
ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou
da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de
burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem
ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes
para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu
domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.

A prova dos atos falimentares é muito mais difícil do que a dos incisos anteriores. São,
em suma, hipóteses fáticas muito detalhadas pela lei, cuja comprovação é difícil. Acaba que
ninguém pede a falência com base em atos falimentares.

Por fim, é necessário analisar o último requisito para a falência: a sentença


declaratória de falência.

Pressuposto Formal

Para compreender o pressuposto formal da falência, é necessário observar o artigo 99 da


Lei de Falências:

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações:
I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que
forem a esse tempo seus administradores;
II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90
(noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação
judicial ou do 1o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se,
para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;
III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias,
relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos,
sob pena de desobediência;
IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto
no § 1o do art. 7o desta Lei;
V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido,
ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei;
VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do
falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se
houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do
devedor se autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI
do caput deste artigo;
VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses
das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de
seus administradores quando requerida com fundamento em provas da prática
de crime definido nesta Lei;
VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da
falência no registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data
da decretação da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;
IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na
forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na
alínea a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei;
X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e
outras entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;
XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do
falido com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos,
observado o disposto no art. 109 desta Lei;
XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da
assembléia-geral de credores para a constituição de Comitê de Credores,
podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em
funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência;
XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta
às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o
devedor tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da falência.
Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da
decisão que decreta a falência e a relação de credores.

A nomenclatura “sentença declaratória” é extremamente criticada. O processo de


falência é dividido em três etapas. Uma fase pré-falimentar. A fase da falência. E a fase pós-
falimentar. A primeira fase envolve o requerimento de falência, a contestação do devedor e a
instrução probatória. Com a sentença do juiz que decreta a falência, nasce o concurso de
credores. Inaugura-se, então, a fase da falência propriamente dita. Juiz quando decreta a
falência, no entanto, não encerra a sua atuação jurisdicional. A própria lei fala que “Art. 100. Da
decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido
cabe apelação.”
Logo, a rigor, a “sentença” que declara a falência é uma decisão interlocutória.
Se puser fim ao processo de falência, seja em matéria de preliminares, seja no mérito,
de forma que não se inaugure o concurso de credores, a decisão será sentença e caberá apelação.

Além disso, essa sentença não é declaratória. Como um pressuposto da própria falência,
essa sentença é ato constitutivo do concurso de credores. Sem a sentença, não há concurso de
credores. Logo, é decisão interlocutória de natureza constitutiva da falência. É óbvio que ela
tem esse nome “sentença” por ser, basicamente, bastante complexa. Obviamente, se dou esse
nome, essa decisão terá relatório, fundamentação e parte dispositiva. O artigo 99, já citado,
inclui 13 itens que devem estar presentes nessa sentença.
Por exemplo, nessa sentença, o juiz vai fixar o termo legal da falência. Esse instituto
vai servir para trabalhar a matéria de ação revogatório e de atos ineficazes perante a massa
falida. É fixado no momento da sentença. Ademais, também é nesse momento que será
nomeado o chamado administrador judicial. O juiz pode, se for o caso, determinar o lacre do
estabelecimento do devedor. O juiz vai, ainda, determinar a intimação do Ministério Público.
Por ter vários elementos, a lei acabou chamando de sentença.

Reunidos os três pressupostos, tem-se a ideia da falência.

Além disso, diz a lei que, quando o juiz julgar improcedente o pedido da falência, ele
poderá condenar o autor do pedido por requerimento doloso de falência 1. Desde logo, pode fixar
uma indenização que será liquidada em fase de liquidação de sentença em favor do réu. O
próprio pedido de falência é doloso. Regime mais gravoso que o da litigância de má-fé.

Quando um credor vai pedir a falência, o que deve orientar para optar pela falência ou
pela execução individual?

Não há critério legal. O credor deve sopesar os prós e os contras de requerer uma
falência. Há os problemas de relações empresariais... Falência deve ser a ultima ratio. Há riscos,
não apenas de ser condenado por requerimento doloso...

ESTUDO DE CASO – AULA 02

Questão: o menor de idade está sujeito à falência?

Estabelecimento empresarial com renda própria é uma das formas automáticas de


emancipação, conforme se verifica no Código Civil. Moacir Santana, aos 17 anos, encontrava-
se emancipado.

1
Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar
improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença.
§ 1° Havendo mais de 1 (um) autor do pedido de falência, serão solidariamente responsáveis aqueles que
se conduziram na forma prevista no caput deste artigo.
§ 2° Por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar indenização dos responsáveis.
As duas respostas podem ser encontradas na doutrina. A antiga lei de falências falava
expressamente que não seria decretada a falência do menor de 18 anos. A vedação era explicada
pelos autores que não havia sentido alguém submeter-se a uma lei apenas parcialmente. Por
exemplo, como seria submetido nos aspectos civis e não nos aspectos penais? A lei dizia, em
outras palavras, que o penalmente inimputável não poderia participar da lei de falências.

A lei atual nada previu a respeito. Há quem defenda que o legislador quis acabar com a
proibição e há quem mantenha a ideia de que existe a vedação, implicitamente no sistema. Não
há uma resposta cabal...

Fase Pré-Falimentar

Introdução

É nesta fase que são observados os requisitos para o processo de falência. Se


encontrados, será proferida a sentença declaratória de falência. O devedor, então, passa a estar
em estado de falência e estará sujeito às várias imposições inerentes a esse estado. Cessa a
atividade dessa sociedade, os bens são alienados, incidência dos crimes falimentares... Quando
eu tenho a sentença declaratória da falência, entro na fase de reverberação de efeitos desse
processo. Há várias coisas que ocorrem após esse processo. O que acontece se sobrarem bens?
O que acontece com o devedor que estava impedido de exercer atividade?
Ao processo de falência, aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Civil.

Petição Inicial

A lei fala, em verdade, de requerimento de falência. O que interessa é que é uma ação
para provocar a falência do devedor. É uma petição inicial como outra qualquer, sujeita a todos
os requisitos2. Há três hipóteses de decretação da falência. A mais comum é a impontualidade

2
Art. 319. A petição inicial indicará:
I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de
inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço
eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.
§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer
ao juiz diligências necessárias a sua obtenção.
justificada; nesse caso, vou juntar o título executivo, bem como o instrumento de protesto. Se
foi execução frustrada, devo juntar o inteiro teor dos autos em que a execução se frustrou. No
caso dos atos falimentares, haverá maior influência da dilação probatória: hipóteses diversas e
mais difíceis de serem configuradas.
Além disso, devo indicar um juízo competente. Como já estudado, não há competência
para julgar processos de falência para a Justiça Federal. O processo de falência será sempre
julgado por um juiz de direito. Se estou em uma comarca com vara única, será distribuído para
ela, por óbvio. Caso contrário, dependerá das regras de organização judiciária. No caso
específico de Belo Horizonte, há as varas empresariais, que cuidam dos processos de falência. A
lei, no artigo 3°3, fala que é competente para julgar o juízo do local do principal
estabelecimento. Com isso, a lei quer regular os casos em que a sociedade possui mais de um
estabelecimento e, apesar de a lei não esmiuçar o conceito de principal estabelecimento, a
doutrina aponta elementos que podem identificar esse estabelecimento. Exemplos: Fiat  Sede
em Nova Lima, mas principal estabelecimento é em Betim (fábrica, maior número de
empregados etc.). Usiminas e Ipatinga. Sede em Belo Horizonte, mas maior atividade é em
Ipatinga. No caso concreto, é intuitivo.
Além disso, se o autor do requerimento for sociedade empresária ou empresário, ele
deve provar a sua qualificação. Isso não vigora para o CPC em geral, mas, apenas, para a Lei de
Falências. Devo, então, juntar certidão recente da junta comercial para provar que ali estou
registrado (art. 97, § 1º4).
Como já ressaltado, devem ser indicados todos os requisitos da petição inicial, incluindo
o valor da causa. Este será, usualmente, o valor do crédito cobrado.
Por fim, pode haver eventual litisconsórcio ativo. Para a impontualidade justificada, a
lei fala de título ou títulos executivos. Nada obsta, portanto, que haja múltiplos credores em
litisconsórcio ativo nessa petição inicial. Dois ou mais autores, credores de um devedor comum,
requerem a sua falência. Se houver a pluralidade de estabelecimentos, talvez seja interessante
justificar a escolha do juízo. Também deve-se demonstrar que o devedor é empresário e,
igualmente, a causa do pedido de falência.

§ 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II,
for possível a citação do réu.
§ 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a
obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.
3
Art. 3° É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação
judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de
empresa que tenha sede fora do Brasil.
4
§ 1º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a
regularidade de suas atividades.
Resposta

O juiz recebe a inicial e abre prazo de 10 dias para a contestação. Como a Lei de
Falências não traz prazo específico para a contagem de prazo, será utilizada a forma
estabelecida pelo CPC. Não há regras específicas para a citação.
Em uma ação normal, pelo rito comum, o prazo de contestação é de 15 dias. Essa ação,
que é grave e, se for decretada a falência, as consequências são severas, e o prazo é reduzido
para realizar a contestação. Na lei anterior, o prazo era de 48 horas (!). Naquela lei, havia uma
particularidade: o protesto específico para fins falimentares. O devedor, a partir do momento em
que alguém fazia o protesto para fins falimentares, já sabia que viria um processo de falência.
Apesar das críticas, a lei nem mesmo equiparou o prazo de contestação ao do procedimento
comum.
Outro contrassenso  Depois da sentença, prazo para recurso é de 15 dias. Tenho 10
dias para me defender, mas 15 para entrar com recurso.

Nessa contestação, claro, devedor poderá alegar matérias preliminares e as questões de


mérito. Pode, ainda, apresentar outros meios de defesa: depósito elisivo e pedido de recuperação
judicial.

Dentro do que já foi discutido, quais poderiam ser exemplos de preliminares?

Posso alegar, em primeiro lugar, ilegitimidade de parte, no sentido de que não estou
sujeito ao processo de falência. Sociedade de economia mista, sociedade simples, produtor rural
etc. O autor se for sociedade empresária deve provar essa condição. A ausência de tal prova
também pode ser indicada preliminarmente. De outro lado, a incompetência do juízo também
pode ser alegada, no sentido de que não é o juízo do local do estabelecimento mais relevante.

E no mérito?

Quando a falência é requerida como impontualidade injustificada, o art. 96 da LF traz


exemplos de justificativas para a impontualidade. Por exemplo, prescrição da dívida, o
pagamento da dívida, vício no instrumento de processo... e inúmeras outras hipóteses. Se
pensarmos na hipótese de execução frustrada, pode-se tentar desconfigurá-la. Nos casos de atos
falimentares, as matérias alegadas dependem da natureza do ato indicado.
Também na contestação, devo requerer a produção de provas. Por exemplo, se falo que
o título é falso, vou requerer uma perícia grafotécnica do instrumento do título.

Havendo a necessidade de produção de provas, haverá a dilação probatória. Ela não é


obrigatória. Por exemplo, se matérias alegadas forem meramente de direito, juiz já estaria
pronto para decretar ou não a falência após a contestação.

Além da contestação, posso fazer depósito elisivo e formular pedido de recuperação


judicial.
Quanto ao depósito elisivo, ele encontra-se previsto no artigo 98:

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10


(dez) dias.
Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94
desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor
correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e
honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e,
caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento
do valor pelo autor.

Depósito elisivo cabe nas hipóteses de impontualidade justificada e de execução


frustrada. Esse depósito inclui o valor correspondente ao total do crédito, com correção
monetária, juros e honorários fixados pelo juiz. Na lei antiga, falava-se em valor da dívida.
Agora, foram acrescidos juros, correção monetária e honorários advocatícios. Jurisprudência foi
incorporando essas parcelas, de forma que a lei apenas cristalizou o entendimento
jurisprudencial.
Nessa hipótese, a falência não será decretada. Se procedente o pedido de falência, juiz
ordenará o levantamento do valor pelo autor. Há uma incoerência. Dispositivo fala que a
falência não será decretada e que o valor será levantado se o juiz julgar procedente o pedido de
falência. Doutrina começou a entender que era um erro essa parte final do dispositivo. Outros,
diriam que seria decretada a falência em caso de depósito de quantia errada. É majoritário o
entendimento de que se deve desconsiderar a parte final do dispositivo.
Algumas questões.
Se o devedor alega a prescrição do título e faz o depósito elisivo para evitar que se
decrete a falência, há aceitação da dívida? Não. Apenas se não contestar.
Se faz o depósito e contesta, juiz deve analisar a contestação? Sim. Juiz analisa a
contestação e, se julgar improcedente a falência, deixa o devedor levantar o depósito. Se
entender que deveria decretar a falência, juiz deixa de fazê-lo por entender que houve o depósito
elisivo. Nessa hipótese, o dinheiro será levantado pelo autor.
Nesse momento, devedor pode pedir, também, a recuperação judicial. Isso não será
trabalhado agora, mas na unidade referente a esse instituto.

Sentença

Sentença ou julgará procedente no sentido de ser sentença declaratória de falência. Tem


esse nome de falência por ter muitos elementos a serem abordados. Pela lei (art. 100), cabe
contra ela agravo de instrumento. Tudo de acordo com o CPC. Prazo de 15 dias úteis. Agravo é
distribuído diretamente no tribunal. A falência é muito grave. Logo, será pedido, no agravo, que
seja atribuído efeito suspensivo contra a eficácia da sentença. Normalmente, ocorre esse efeito.
O periculum in mora é inequívoco. Geralmente, portanto, suspende-se a eficácia dessa sentença
declaratória de falência no âmbito desse agravo de instrumento.
Por outro, a sentença pode pôr termo ao processo. Se decretar que não há falência, cabe
apelação. No caso da procedência, juiz continua a trabalhar no processo. Entra na fase da
falência propriamente dita. Quando diz que não há falência, juiz encerra a sua participação.
Cabe, portanto, apelação. A sentença que julgar improcedente o pedido pode condenar o autor
por requerimento doloso de falência. Importante que a matéria seja alegada em contestação.

Participação do Ministério Público

Além disso, lei menciona a participação do MP. Participa da fase pré-falimentar? Artigo
4° foi vetado. A sua redação era no sentido de que o MP participava de todos os atos
processuais. Isso emperrava excessivamente o processo. Para arrecadar bens, deveria levar o
representante do MP, por exemplo. Muitas vezes, a participação era dispensável. Então, em
princípio, foi o próprio MP que solicitou o veto. Ocorre, então, que o MP é chamado em vários
momentos desse processo. Todos os crimes falimentares são crimes de ação penal pública
incondicionada.
Como a lei fala da participação a partir da sentença declaratória de falências, ele deve
participar ou não? Maioria da doutrina fala que ele pode participar, desde que haja interesse
público. O importante é saber que não há nulidade se o MP não participar da fase pré-
falimentar.

ESTUDO DE CASO – 16/08


Processo é meio de prova. Fazenda pública começou a protestar títulos de dívida ativa,
como meio de cobrança. Processo normalmente é a execução fiscal. Inicialmente, STJ entendeu
que não poderia. A própria CDA já seria meio de prova. Mais recentemente, houve uma
alteração na lei de protestos, falando expressamente que a CDA pode ser protestada. No caso,
era uma CDA protestada. Houve decretação da falência e o advogado da empresa falida entrou
com AI alegando que a Fazenda Pública não possui interesse processual.
Por quê? Por que não gera utilidades para ela?
Não tem necessidade do processo de falência. Meio adequado para cobrar é a execução
fiscal. Processo de falência pode dar utilidade para ela? Dentro da ideia de indisponibilidade do
interesse público, Fazenda Pública vai instaurar o processo de falência em que ela não será a
primeira a ser paga. É nesse sentido que seriam as alegações...
A jurisprudência pacificada do STJ é no sentido de que a Fazenda Pública não pode
requerer a falência.
Administração Pública se orienta pela legalidade. Única orientação legal é pela
execução fiscal. Permitir a falência abre mão para arbitrariedade, impessoalidade... Só poderia
pedir a falência quando houvesse critérios legais para os casos em que requer falência e os casos
em que utiliza execução fiscal.

23/08/2018

Retomando a última aula.

Artigo 97 da LF.

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:


I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo
da sociedade;
IV – qualquer credor.
§ 1o O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de
Empresas que comprove a regularidade de suas     atividades.
§ 2o O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa
às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.

Abordamos na última aula a questão de um terceiro requerer a falência, incluindo a


condicionante para os empresários de comprovar a sua condição e a da falência requerida pela
Fazenda Pública.
Próxima questão a ser abordada é a questão de um sócio, por conta e nome próprio,
requerer a falência da sociedade. Em seguida, será discutida a questão de a própria sociedade,
após a deliberação dos sócios, requerer a sua falência.
Essa primeira hipótese é extremamente complicada e, na prática, ela quase não existe. A
razão disso é que, apesar de ser mencionada na LF, a legislação societária (LSA e CC) não
trazem as hipóteses em que o sócio pode requerer a falência de sua sociedade. Igualmente, não
há regulamentação de que sócios poderão realizar esse requerimento. Vale lembrar que a lei
sempre condiciona os atos societários a particularidades de cada sócio.
Na doutrina, alguns autores falam que, para o sócio requerer a falência da sociedade,
serão utilizados os mesmos critérios da autofalência. Não parece razoável, na medida em que
tais critérios são utilizados para a falência requerida pela própria sociedade. Outros dizem que
deve haver a hipótese da dissolução acrescida de crise econômica financeira. Para além disso,
alguns autores dizem que apenas sócios minimamente classificados podem requerer a falência.
Como essa hipótese é muito indefinida, na prática ela não existe. Se sócio estiver
insatisfeito, portanto, irá trabalhar com outros institutos do direito societário. Por exemplo,
direito de retirada ou dissolução parcial. Logo, existe a previsão da lei de falências, mas não
existe a caracterização dessa hipótese nas leis societárias.

Outra ideia diz respeito à falência do espólio. A primeira reflexão sobre isso é que,
diante dessa hipótese, estamos nos referindo a uma eventual falência de um empresário
individual falecido. No caso de sociedades, os herdeiros de um sócio falecido não estão aptos a
solicitar a falência. Em princípio, há uma continuidade desta sociedade.
Por que eu faria isso – requerer a falência do empresário individual?
Em princípio, os herdeiros assumem a dívida do de cujus, no limite daquilo que foi
recebido. Se nada recebeu, não se transmite qualquer dívida. Com esse raciocínio, quando vou
fazer essa falência do espólio? Justamente, em situações de crise econômica, em que o falecido
ou só deixa dívidas ou deixa pouquíssimos bens para cobrir essas dívidas. Busca-se evitar que
credores venham, rotineiramente, cobrar dívidas do falecido, o que exigiria a prova dos poucos
bens recebidos – já utilizados para cobrir outras dívidas. O requerimento de falência acaba
sendo uma forma de transferir o problema para o âmbito da legislação falimentar, do judiciário.
A lei traz duas únicas menções a essa situação. Vai dizer que não pode ser decretada a
falência de falecido após um ano da data do falecimento. Claro que o processo se orienta por
impulso oficial e a parte não pode ser prejudicada pela morosidade do Judiciário. Em princípio,
o que se defende é que a ação deve ser ajuizada dentro de um ano. Evidente que não se deve
ajuizar a ação em período muito próximo ao fim desse próximo. Além disso, a lei faz outra
menção: se houver inventário, ele fica suspenso com o requerimento da falência.

Prosseguindo, a falência requerida pelo próprio devedor.


Em princípio, é importante se ter em mente que a LF é uma lei para lidar com
problemas econômico e financeiros. A falência requerida pelo próprio devedor é uma opção à
disposição do devedor – a mais radical delas, ao lado de outras mais brandas: a recuperação
extrajudicial e a recuperação judicial. Essa medida existe, é possível e é comum na prática. A
hipótese mais comum é quando um credor requer a falência do devedor, especialmente no caso
de impontualidade justificada.
No caso de falência requerida pelo próprio devedor, deve haver um cuidado redobrado
na análise da situação patrimonial daquele devedor. É uma falência, em geral, preparada: é
escolhida uma data oportuna para aquele devedor. Por isso, o cuidado especial é necessário para
evitar negócios simulados e bens escondidos.
Além dessas observações gerais, especificamente acerca da falência requerida pelo
próprio devedor, ela tem, no sistema da LF, uma feição de faculdade. Na lei anterior, ao menos
no campo textual, havia um dever sobre requerer-se a falência por parte do próprio devedor. Se
assim não o fizesse, devedor poderia, em tese, ser condenado por crime falimentar, pelo sentido
que, se estiver em situação financeira ruim, mais dano vai causar se não requerer a falência.
Esse contexto não existe na lei atual. Não há qualquer sanção ao fato de o devedor não requerer
a sua própria falência.
Doutrinariamente, o nome comum utilizado é autofalência, apesar de a lei falar em
falência requerida pelo próprio devedor. Alguns autores criticam, na medida em que o autor não
pode se autodecretar falido. Não existe falência ex officio.

A LF prevê:

Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender


aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo
sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da
atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:
I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais
e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com
estrita observância da legislação societária aplicável e compostas
obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório do fluxo de caixa;
II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza
e classificação dos respectivos créditos;
III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva
estimativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade;
IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor
ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação
de seus bens pessoais;
V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por
lei;
VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os
respectivos endereços, suas funções e participação societária.

Art. 106. Não estando o pedido regularmente instruído, o juiz determinará


que seja emendado.
Art. 107. A sentença que decretar a falência do devedor observará a forma do
art. 99 desta Lei.
Parágrafo único. Decretada a falência, aplicam-se integralmente os
dispositivos relativos à falência requerida pelas pessoas referidas nos incisos
II a IV do caput do art. 97 desta Lei.

Quanto aos pressupostos subjetivos, evidentemente que o requerente deve ser


empresário ou sociedade empresária. Além disso, o devedor deve comprovar a sua crise
econômico-financeira, de montante tal que não seria viável requerer a recuperação judicial.
Pressuposto objetivo, pois, seria a crise econômico-financeira, que impossibilitaria a
continuidade das atividades. Junto com essa demonstração, um extenso rol de documentos deve
ser demonstrado.
Por que são exigidos esses documentos?
Todos eles são exigidos do devedor na falência requerida por terceiro, quando o juiz for
declarar a falência. No caso da autofalência, a falência é quase certa, por isso, antecipa-se a
demonstração de tais documentos.
A lei é extremamente sintética quanto ao procedimento de autofalência. Basicamente,
são indicados os documentos e a demonstração do pressuposto subjetivo e da crise econômico-
financeira. Na sequência, o juiz irá decretar a falência.
Juiz ao examinar esse pedido de autofalência pode entrar no mérito da crise econômico-
financeira? Em princípio, não. Doutrina unânime afirma que não cabe ao juiz definir se a crise é
idônea ou não para se requerer a falência. Estado tem que se contentar com essa confissão do
estado de falência. O papel do juiz, nesse procedimento – muito semelhante ao de jurisdição
voluntária –, é basicamente um controle de legalidade. A partir do momento que tenho a
formação dos três pressupostos (após ser proferida a sentença), sujeito está falido. O restante
do procedimento é igual, independentemente de como se deu o procedimento pré-
falimentar.

No caso das Sociedades Anônimas, há uma exceção interessante:

Art. 122. [...] Parágrafo único. Em caso de urgência, a confissão de falência


ou o pedido de concordata poderá ser formulado pelos administradores, com
a concordância do acionista controlador, se houver, convocando-se
imediatamente a assembléia-geral, para manifestar-se sobre a matéria.
(Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)

Logo, há a previsão de que a falência seja requerida sem prévia deliberação.


Administradores podem requerer a falência desde que haja autorização do acionista controlador.
Isso se deve ao impacto que um requerimento de falência traria para uma companhia. Logo,
havendo concordância do controlador, administradores podem requerer imediatamente a
falência, com a posterior ratificação da assembleia-geral – que, normalmente, ocorre. Não há
qualquer controle judicial desse processo: basta que demonstre os documentos comprobatórios
das deliberações.

Há o despacho do juiz, para eventualmente solicitar a emenda da inicial.

É possível pedir a desistência antes da sentença declaratória?


A LF não fala nada sobre isso. Regime supletivo será, então, o CPC. Como não há réu,
em tese, até a sentença poderei desistir do meu requerimento de falência. Inclusive, como ato
unilateral que é, tal desistência não deve, nem mesmo, ser fundamentada. E se a sentença já
houver sido proferida? Em princípio, não caberá retratação e desistência. A sentença – ainda
que seja desafiada com agravo – faz coisa julgada material. Se o devedor conseguiu auferir um
grande montante, por exemplo, a alternativa viável, aqui, seria um acordo com os credores, visto
que não é possível se retratar e solicitar a desistência.
A sentença é igual à do art. 99 e, logo, os recursos cabíveis são os mesmos. Agravo de
instrumento será cabível em caso de procedência. Por outro lado, se a sentença termina o
processo, por qualquer razão, o recurso cabível será apelação.

Órgãos da Falência

[...]

Administrador Judicial

É quem representa a massa falida durante o processo de falência. Por exemplo, irá
cobrar de eventuais devedores que a massa falida possuir. Procurações para advogados também
serão assinadas por ele. Massa falida não é pessoa jurídica, mas é representada pelo
Administrador Judicial. [...]

Quem pode ser administrador judicial?

Tanto pessoas jurídicas – no caso especializadas nisso, por exemplo, escritórios de


advocacia -, quanto pessoas físicas. Lei não exige nada. Diz apenas que deve ser,
preferencialmente, pessoas com formação jurídica.
É nomeado pelo juiz. Quem preside o processo é o juiz. Administrador judicial é órgão
auxiliar do juiz. Deve ser alguém de sua própria confiança. Exemplo: quando o juiz nomeia um
perito, por não ter conhecimento técnico suficiente, deve ser alguém de sua confiança. A ideia
do administrador é mais ou menos a mesma. É designado na sentença declaratória de falência.

Como ele é escolhido?

Há Tribunais de Justiça que possuem um cadastro de administradores judiciais, por


exemplo, TJSP. Muito comum que o juiz tenha já um universo de pessoas em que ele confia
para esse tipo de atuação. Aptidão para ser administrador é diferente na falência e na
recuperação judicial. Além disso, é muito diferente uma falência de uma grande empresa de
uma de pequena e média empresa. Há toda essa diversidade.

O administrador judicial pode ter os seus auxiliares. É viável, pela lei, a nomeação de
uma PJ especializada, que normalmente já possui uma equipe multidisciplinar. Se um escritório
de advocacia, por exemplo, for nomeado, precisará de auxiliares, que poderão ser contratados
por ele, desde que o juiz autorize.

Remuneração. Administrador judicial recebe uma remuneração. Lei trata de sua


remuneração detalhadamente. Deve-se levar em conta o volume de serviço, o local onde é
prestado, a complexidade do trabalho, valor das dívidas e dos ativos, qualidade do
administrador... Quem paga? A massa falida. Como ninguém trabalha de graça, esse crédito
possui natureza de crédito extraconcursal. Logo, para a própria viabilidade do processo judicial,
o crédito do Administrador Judicial está fora do concurso universal de credores e, pois, está
assegurada. Outros créditos: remuneração dos auxiliares, tributos da massa falida, etc.

Além disso, é possível que haja a substituição e a destituição. A substituição não é uma
sanção e é, meramente, quando o administrador é substituído. Por exemplo, imagine que o
administrador passe num concurso para juiz. Deverá ser substituído por outra pessoa. A
destituição, por outro lado, é uma sanção. Basicamente, ocorre na hipótese de prática de crimes
falimentares ou de fraudes. No caso de destituição, tem que devolver a sua remuneração. É
óbvio que o administrador judicial possui responsabilidade pelos seus atos – civil, penal e
administrativa (perante o juiz).

Assembleia Geral de Credores


Além desses dois órgãos, há a assembleia geral de credores. É um órgão formado pelos
credores, que possui competência para deliberar qualquer assunto de interesse dos credores. Na
prática, essa assembleia quase não existe no processo de falência. São raríssimas as situações
em que há realmente uma reunião da assembleia geral de credores, no processo de falência. Na
recuperação judicial, por outro lado, ela sempre existe.

Comitê de Credores

Igual à ideia da assembleia, existe tanto na falência quanto na recuperação, mas é órgão
de criação facultativa. Enquanto a assembleia existe e se encontra latente, o comitê é de criação
facultativa. É a própria assembleia geral de credores que pode criá-lo. Acaba sendo um órgão
menor, com representantes de cada categoria de credor. Possui função consultiva, para auxiliar
o juiz e o administrador judicial. Acaba existindo mais em grandes processos de falência. Evita
que a assembleia tenha que ser convocada para inúmeros atos. Longa manus da assembleia geral
de credores.

Por fim...

Ministério Público

Havia o artigo 4° que previa atuação intensiva do MP, mas foi vetado pelo Presidente da
República. Em diversos momentos da lei, o MP é chamado a participar, mas não é mais sobre
todo e qualquer ato da falência. Atua predominantemente como custos legis, para fiscalizar o
processo. Mas, é claro, que o MP lato sensu atuará nas questões penais. Lato sensu porque há
varas em que o promotor que atua na vara empresarial não possui competência criminal.

Efeitos da Falência

1. Introdução

Imagine que houve a declaração de falência. Há uma série de repercussões jurídicas. Por
exemplo, efeitos da falência sobre os bens do devedor. O que vai acontecer? Esses bens serão
arrecadados e passarão a formar a massa falida, gerida pelo administrador judicial. Com o
recurso desses bens vou pagar os credores. E com a pessoa do falido? Própria lei vai tratar da
chamada inabilitação para o exercício da atividade empresarial. Esse falido levava uma vida
normal em termos obrigacionais, o que acontecerá com os seus débitos, créditos e contratos? O
que acontece com os atos fraudulentos praticados previamente à falência?

Primeiro, serão abordados os efeitos da falência sobre a pessoa do devedor.

2. Efeitos da falência sobre a pessoa do devedor

O primeiro efeito que a lei traz sobre a pessoa falida é a chamada inabilitação. Diz a
lei, expressamente (art. 1025), que desde a decretação da falência o devedor se torna inabilitado
para o exercício da atividade empresarial. Pelo simples fato de ser falido, automaticamente a
pessoa é segregada do mercado. Sujeito tem que parar de exercer a sua atividade. Isso vai
provocar efeitos até na extinção as suas obrigações, que pode ocorrer até mesmo depois de
encerrado o processo de falência.
A inabilitação é tida como uma sanção, automática e objetiva. O simples fato de ser
falido o leva a ser excluído do mercado. No caso de uma sociedade, é a sociedade que passará a
se encontrar inabilitada para exercer atividade empresarial. Inabilitação recai, portanto, sobre a
pessoa do devedor. Não estou dizendo, aqui, que ele não pode fazer mais nada. Digo, apenas,
que não pode ser titular de uma atividade empresária.
Se ele desrespeitar essa inabilitação, lei vai tratar como crime falimentar: violação de
inabilitação. Essa inabilitação tem uma duração até uma extinção das obrigações. Quando
conseguir extinguir suas obrigações, a inabilitação terá o seu termo, o que pode coincidir ou não
com o término do processo de falência.

A perda do direito de administrar seus bens é outro efeito da falência sobre a pessoa
do devedor. Conforme o disposto no art. 103:

Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o


direito de administrar os seus bens ou deles dispor.
Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da
falência, requerer as providências necessárias para a conservação de seus
direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa
falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo
os recursos cabíveis.

Não é tecnicamente perfeito, mas os espanhóis e argentinos chamam essa ideia de


desapossamento. O devedor é desapossado de seus bens. Não é perfeito, porque o
desapossamento diria respeito à posse, apenas. Mas, no caso, não se pode, nem mesmo, dispor
5
Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da
falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1º do art. 181 desta Lei.
Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda
à respectiva anotação em seu registro.
dos bens. Eles sofrerão uma constrição judicial. É um início de perda de propriedade. Ainda não
é efetivada. Se sobrar bens, ao final do processo, por exemplo, eles voltarão para o devedor.
No passado, muitos autores tratavam esse desapossamento como uma restrição à
capacidade civil do devedor. Mas é claro que, a rigor, não é esse o caso. A doutrina
contemporânea vê essa medida como medida assecuratória do processo de falência. Quem vai
gerir esses bens é o administrador judicial. Trata-se de uma medida que viabiliza o trâmite
normal do processo de falência.
A lei não diz o termo do desapossamento. Ele dura até o fim do processo. Se é medida
assecuratória do processo de falência, não faz sentido que a medida continue. Findo o processo,
credores insatisfeitos podem tomar medidas individuais contra esse devedor.

No parágrafo único desse artigo 103, há a previsão de direitos do falido. Esse


dispositivo nem precisava de existir na lei, mas é uma coisa óbvia. É claro que o falido possui
interesse nos assuntos da massa e, logo, que pode atuar como assistente. Claro que tem direito
de fiscalizar o processo de falência.
Além de direitos, a lei vai tratar de deveres do falido, no art. 1046. Trata-se de um rol
extenso de deveres. Como se houvesse um dever de colaboração qualificada do devedor para
com o processo, bem mais forte que o dever normal de colaboração entre as partes. No final
desse rol de deveres, o parágrafo único prevê o seguinte: “Faltando ao cumprimento de
quaisquer dos deveres que esta Lei lhe impõe, após intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá o
falido por crime de desobediência.”. É crime falimentar ou não? Se for falimentar, vai haver
repercussão no prazo de extinção das obrigações, em caso de condenação. Se não for, não há
qualquer repercussão sobre esse prazo. Quem pode cometer a esse crime? Apenas o falido... A
omissão penalmente relevante está descrita na norma. Será que podemos falar em desobediência
falimentar ou é o mesmo crime do art. 130 do Código Penal? Há as duas posições na doutrina.
Ainda não temos jurisprudência definida em qualquer dos sentidos.

Agora, o foco será em relação à falência da sociedade. Seus sócios, em princípio, não
são afetados pela inabilitação, por exemplo. Ela recairá sobre a pessoa jurídica. Quando falamos
em sociedade, seja pelo art. 982, 983, seja na parte de crimes falimentares, a lei fala que há
algumas pessoas naturais que vão responder por esses crimes: administrador e/ou liquidante.

6
Art. 104. A decretação da falência impõe ao falido os seguintes deveres:
I – assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de comparecimento, com a indicação do
nome, nacionalidade, estado civil, endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para constar
do dito termo:
a) as causas determinantes da sua falência, quando requerida pelos credores;
b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios, acionistas controladores, diretores
ou administradores, apresentando o contrato ou estatuto social e a prova do respectivo registro, bem como
suas alterações;
c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios;
d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto, nome e endereço do mandatário;
e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento;
f) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato;
g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento em que for autor ou
réu;
II – depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de comparecimento, os seus livros obrigatórios, a
fim de serem entregues ao administrador judicial, depois de encerrados por termos assinados pelo juiz;
III – não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao
juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei;
IV – comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado por procurador, quando não for
indispensável sua presença;
V – entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos ao administrador judicial,
indicando-lhe, para serem arrecadados, os bens que porventura tenha em poder de terceiros;
VI – prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou Ministério Público
sobre circunstâncias e fatos que interessem à falência;
VII – auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza;
VIII – examinar as habilitações de crédito apresentadas;
IX – assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros;
X – manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz;
XI – apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores;
XII – examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial.
Parágrafo único. Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que esta Lei lhe impõe, após
intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá o falido por crime de desobediência.
Nessa hipótese da inabilitação, se a sociedade a desrespeitar, quem responderá será o
administrador que fez aquilo pela sociedade.
Quando eu falo do desapossamento, em princípio, quero dizer respeito aos bens da
sociedade. Ela fica impossibilitada de aliená-los. Em regra, os sócios continuam livremente
administrando os seus bens, sem qualquer óbice para aliená-los.
Quanto aos deveres do falido, nos aspectos cíveis, eles recairão sobre o administrador
ou sobre o liquidante da sociedade. Se esse administrador/liquidante descumprir alguma dessas
obrigações, é a sua pessoa natural que irá responder pelo crime de desobediência citado na Lei
de Falências.

Os artigos 80, 81 e 82 também devem ser discutidos:

Art. 80. Considerar-se-ão habilitados os créditos remanescentes da


recuperação judicial, quando definitivamente incluídos no quadro-geral de
credores, tendo prosseguimento as habilitações que estejam em curso.

Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios


ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam
sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade
falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o
desejarem.
§ 1º O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado
voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2
(dois) anos, quanto às dívidas existentes na data do arquivamento da
alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data da
decretação da falência.
§ 2º As sociedades falidas serão representadas na falência por seus
administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as
mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido.

Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada,


dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas
respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência,
independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência
para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no
Código de Processo Civil.
§ 1º Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da
sentença de encerramento da falência, a ação de responsabilização prevista
no caput deste artigo.
§ 2º O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes
interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em
quantidade compatível com o dano provocado, até o julgamento da ação de
responsabilização.

Esses artigos fazem uma diferenciação entre sócios de responsabilidade limitada e


sócios de responsabilidade ilimitada.
Em quais tipos societários eu tenho sócios com responsabilidade ilimitada?
Em todos esses tipos, os sócios também serão declarados falidos, pois todos os seus
bens têm que ser arrecadados, na medida em que há responsabilidade ilimitada. Como
consequência, na fase pré-falimentar, devo citar os sócios, pois são litisconsortes passivos
necessários. Outra coisa: imagine a decretação de falência com também a falência dos sócios. É
óbvio que é um único processo, mas vamos ter várias massas patrimoniais. Não vou colocar
tudo no mesmo bolo. Primeiro, esgoto os bens da sociedade e, depois, utilizo os bens dos sócios.
Ambos, enquanto declarados falidos, serão inabilitados, desapossados e terão deveres a serem
cumpridos. Tudo na condição de falido.

Já em relação às sociedades com responsabilidade limitada, em que os sócios


respondem limitadamente pelas dívidas da sociedade, a lei fala que, a princípio, os bens dos
sócios não são atingidos pelas dívidas da sociedade. Os sócios não sofrem desapossamento, não
ficam inabilitados, não têm deveres... Não sofrem com o processo de falência.
Temos duas figuras para trabalhar nesse ponto.
A primeira delas é a desconsideração da personalidade jurídica. Basicamente, ela vai
ter lugar quando se demonstrar o abuso de direito ou a utilização da sociedade para fraudar
credores. Cabe a desconsideração no processo de falência, assim como em qualquer outro
processo. Depois de requerê-la, o incidente de declaração de pessoa jurídica terá lugar. É um
procedimento necessário para haver a desconsideração. Havendo a desconsideração, o que há de
efeitos é justamente a venda dos bens dos sócios para adimplir créditos da sociedade. Não
significa que haverá a declaração da falência dos sócios. Situação completamente diversa
daquela dos sócios de responsabilidade ilimitada.
Fora da ideia de desconsideração, há a figura da extensão dos efeitos da quebra. Trata-
se de construção jurisprudencial que existe mesmo antes do Código Civil de 2002. O que é essa
extensão dos efeitos da quebra? Ela surge, especialmente, diante de grupos de sociedades.
Como forma de estender o efeito de uma das sociedades do grupo sobre todas as outras. Hoje,
qualquer atividade econômica de porte mais elevado não é exercida por sociedade isolada –
sociedade atomisticamente falando. Por exemplo, Banco Itaú não é um banco. É um grupo
econômico, com dezenas de sociedades estruturadas sobre o controle de uma holding. E assim
todas as empresas...
Imagine que você é credor de uma pequena sociedade desse grupo econômico. Você
tem como devedor aquela sociedade da ponta. Quando é decretada a sua falência, ela quase não
tem bens. Mas ela é do grupo – de fato ou de direito. Jurisprudência definiu que os grupos são
feitos para fins específicos (contábeis, econômicos... transferência de passivos...), mas são
apenas uma coisa. Jurisprudência viu a possibilidade de grupos econômicos fraudarem credores
com a sua estrutura societária. Passou a decretar a falência de todo o grupo, quando uma
subsidiária é decretada falida. Extensão realizada para facilitar o adimplemento da dívida. Não
há regra expressa sobre como deve ser feito esse procedimento. O normal é demandar a falência
apenas da sociedade que é titular do débito. O mais comum é o próprio administrador judicial
demandar a extensão, ao devassar toda a vida da sociedade, ou seja, após a falência. Esse
instituto nasceu antes mesmo da desconsideração da personalidade jurídica, isto é, já se aplicava
na lei antiga. Efeitos são distintos da desconsideração. Desconsideração é utilizada para pegar
os bens dos sócios, unicamente. A extensão dos efeitos da quebra começou para atingir grupos
econômicos, mas, hoje, já é utilizada, inclusive, para atingir bens dos sócios.

Estudo de caso – João da Silva x Lucas Ribeiro. A lei não traz a consequência do
desrespeito do desapossamento. O falido, nesse caso, alienou bens, estando proibido de
administrar e dispor de seus bens. A lei de falências não fala nada sobre isso. É um negócio
nulo: art. 166 do Código Civil. Lei antiga falava expressamente que, no caso do devedor
desrespeitar o desapossamento, o ato seria nulo. Art. 166:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua
validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem
cominar sanção.

Inúmeros outros incisos desse artigo poderiam ser utilizados para questionar esse
negócio jurídico (VI, IV...). Repercussão da falência sobre ele: MP poderia demandar a
nulidade... Há a possibilidade de uma ação, mas a maioria dos autores é inclinada a uma mera
provocação do juiz no processo de falência. Juiz poderia decidir ,até mesmo, de ofício.

Questionário

1. Quem, em regra, está sujeito à Lei n. 11.101/2005?

Estão sujeitos à Lei n. 11.101/2005, em regra, os empresários e as sociedades


empresárias. Inclusive, a EIRELI – criada após a promulgação da Lei n. 11.101/2005 – também
está sujeita à Lei n. 11.101/2005.

2. Pode ser decretada a falência de sociedade de economia mista? Justifique.


A Lei n. 11.101/2005 veda a decretação de falência de sociedade de economia mista.
Entretanto, a proibição deve ser entendida para os casos em que essas sociedades exercem
serviço público. Para o caso de exploração de atividade econômica, a Constituição prescreve um
tratamento igualitário entre sociedades públicas e privadas. Por isso, nesse caso, será possível
decretar a falência de sociedade de economia mista. Há autores, por isso, que acreditam ser
inconstitucional esse dispositivo, no que diz respeito a essas sociedades.

3. Qual o juízo competente para processar a falência?

Nos termos do art. 3º da Lei n. 11.101/2005, o juízo competente para processar a


falência é aquele em que se localiza o principal estabelecimento do devedor ou da filial de
empresa que tenha sede fora do Brasil. A lei não estabelece critérios para definir o principal
estabelecimento, mas, pela doutrina, é possível defini-lo com base no local em que ocorre a
maior parte das atividades da empresa, com o maior número de empregados e maior volume de
produção. Trata-se de competência absoluta, em razão da matéria. Além disso, nunca será
julgado na Justiça Federal.

4. Quais são os elementos para a configuração da impontualidade injustificada, para efeito


de decretação de falência?

Para configurar a impontualidade injustificada, nos termos do art. 94, I da Lei n.


11.101/2005, é necessário que haja obrigação líquida não paga no vencimento, sem relevante
razão de direito e que se consubstancie em título ou títulos executivos protestados, cuja soma
ultrapasse 40 salários mínimos. Nesse caso, será possível que o devedor promova um depósito
elisivo...

5. Uma sociedade em comum pode requerer a falência de outra sociedade empresária?


Justifique.

A Lei n. 11.101/2015 exige que o credor empresário comprove a sua situação, mediante
a apresentação de certidão do Registro Público de Empresas. Como a Sociedade em Comum é
uma sociedade de fato, em que não houve registro de qualquer ato constitutivo, estaria
impossibilitada de requerer a falência de seus devedores.

6. A fazenda pública pode ser autora de requerimento de falência? Justifique.


A jurisprudência pacificada do STJ é no sentido de que a Fazenda Pública não pode
requerer a falência. Administração Pública se orienta pela legalidade. Única orientação legal é
pela execução fiscal. Permitir a falência abre mão para arbitrariedade, pessoalidade... Só poderia
pedir a falência quando houvesse critérios legais para os casos em que requer falência e os casos
em que utiliza execução fiscal. Além disso, a Fazenda Pública não tem necessidade do processo
de falência. Meio adequado para cobrar é a execução fiscal. Processo de falência pode dar
utilidade para ela? Dentro da ideia de indisponibilidade do interesse público, Fazenda Pública
vai instaurar o processo de falência em que ela não será a primeira a ser paga.

7. Na autofalência, qual é o pressuposto objetivo?

O pressuposto objetivo, na autofalência, é a existência de crise econômico-financeira na


empresa devedora.

8. Até quando se pode decretar a falência de alguém falecido?

A falência do espólio não será decretada após um ano da morte do devedor.

9. Até quando perduram os efeitos do desapossamento?

Os efeitos do desapossamento perduram até a extinção do processo de falência.


Diferentemente da inabilitação, o desapossamento tem uma função processual-assecuratória e,
por isso, o devedor ficará impossibilitado de administrar os seus próprios bens.

10. O que é, como é fixado e para que serve o termo legal da falência?

11. A EIRELI sujeita-se à Lei 11.101/2005?

Sim, desde que exerçam atividade empresária. Ela não consta no rol legal porque ainda
não existia na época.

12. O desapossamento, previsto no art. 103 da Lei n. 11.101/2005 significa uma diminuição
da capacidade civil do falido?

Não. A maioria dos autores entende hoje que se trata de uma medida assecuratória do processo.

13. O parágrafo único do art. 104 da Lei n. 11.101/05 prevê um crime específico de
desobediência falimentar? Justifique.
Na doutrina, há as duas posições e não há decisões jurisprudenciais sobre essa matéria. Alguns
autores acreditam que se trata, sim, de um crime falimentar.

14. O comitê de credores existe em toda e qualquer falência?

A assembleia será de existência obrigatória, ainda que possa ser convocada ou não. O comitê de
credores, por sua vez, é de criação facultativa da assembleia. Em regra, será utilizado em
falências com grande volume de recursos.

15. O Ministério Público deve intervir na fase pré-falimentar?

Em princípio, não. A Lei não exige a sua participação. Evidentemente, ele poderá participar do
processo valendo-se das regras gerais de intervenção do MP no processo, como custos legis. Ele
só será intimado da sentença declaratória de falência, por isso não terá que participar em
princípio da fase pré-falimentar.

16. O que é o depósito elisivo da falência na Lei n. 11.101/2005?

O depósito cabe nas hipóteses de impontualidade justificada e execução frustrada. Incluirá o


valor da dívida, juros e correção monetária, bem como honorários advocatícios. Se eu realizar o
depósito elisivo, a falência não será decretada. É uma hipótese de defesa eventual do devedor.
Não exime o juiz de analisar a contestação. Se acolhê-la, não decreta a falência pelo depósito.
Se não a acolher, o devedor poderá recolher o depósito.

17. O administrador judicial pode ser pessoa jurídica?

Sim, inclusive pode ser pessoa jurídica especializada nessa atividade. Não há qualquer
exigência em contrário.

18. Qual é o recurso contra a sentença que decreta a falência?

O recurso cabível, nesse caso, é o agravo de instrumento. Isso porque a sentença declaratória de
falência não põe fim ao processo, mas, apenas, à fase pré-falimentar. Se, por outro lado, a
falência extingue o processo, pondo fim à falência, o recurso cabível será a apelação.
19. É necessária a observância do rito do incidente de desconsideração da personalidade
jurídica NCPC para se desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade empresária
no processo de falência?

Sim. Não há regra específica na lei de falência que discipline outra forma de se demandar a
desconsideração da personalidade jurídica. Por isso, se quero utilizar a desconsideração da
personalidade jurídica da sociedade empresária no processo de falência, devo utilizar o
procedimento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica disciplinado pelo
NCPC. Nos casos de extensão dos efeitos da quebra, há autores que acreditam ser igualmente
necessário a utilização do incidente. A maior parte da doutrina, entretanto, defende não haver
uma forma processual específica para a extensão dos efeitos da quebra.

20. É possível a formação de litisconsórcios ativo e passivo na falência? Justifique.

Sim. Vários credores podem se reunir para demandar a falência de um devedor comum. Está
prevista em um dos parágrafos do art. 94, ainda que isso não fosse necessário. A lei talvez tenha
falado dessa possibilidade justamente para legitimar a formação daqueles 40 salários-mínimos.
Às vezes, tenho credores com valores menores do que esse, mas, juntos, ultrapassam esse valor.
Facilita a legitimidade para demandar a falência. O litisconsórcio passivo, por outro lado, diz
respeito às sociedades em que há sócios de responsabilidade ilimitada. Nesse caso, há
litisconsórcio passivo necessário, porque os sócios devem ocupar o polo passivo juntamente
com a sociedade.

Efeitos da falência sobre certos atos do Falido

Basicamente, duas disciplinas serão tratadas: atos ineficazes perante a massa e ação revocatória.
Por meio desses institutos, o juiz vai poder rever certos atos do falido praticados às vésperas da
falência. Ideia: na LF, especificamente, há mecanismos de combate a fraudes por atos do
devedor, especialmente às vésperas da falência. Na falência requerida pelo próprio devedor, há
maiores cuidados, visto que se trata de ato preparado pelo próprio devedor. Eventuais fraudes
podem estar mais escondidas.
Para abordar esses institutos, é necessário analisar a lei anterior.

Lei Antiga

Ação revocatória: qual instrumento nós teríamos no Direito Civil para combater fraudes? Ação
Pauliana. Ação revocatória, da antiga lei, era uma espécie de ação pauliana. Ela era dividida
pela própria doutrina em duas ações revocatórias. Uma primeira: ação revocatória objetiva. E
uma segunda: ação revocatória subjetiva. Em termos de estrutura legal, a redação não era muito
feliz: dispositivo descrevia os dispositivos, prevendo hipótese em que haveria ação revocatória
independente da intenção do falido de fraudar credores no caso de algumas condutas; de par
com essa ação revocatória objetiva, havia a ação revocatória subjetiva. Nesse caso, em todo e
qualquer caso caberia ação revocatória se for provada a intenção de fraudar credores do
devedor.

O que a Lei 11.101/2005 fez?

Transformou a disciplina da Ação Revocatória Objetiva e transformou nos atos ineficazes


perante a massa, que o juiz pode declarar ex officio nos próprios autos do Processo de Falência.
E a Ação Revocatória Subjetiva permaneceu existindo, sendo a única ação revocatória prevista
no ordenamento. Aparentemente, isso gerou um avanço no sistema, no sentido de que, como as
hipóteses objetivas são facilmente detectadas, há um sistema mais célere para decretá-las, sem a
necessidade de uma nova ação.

Feita essa transição da antiga lei para a nova, passa-se à análise dos atos ineficazes perante a
massa.

E art. 99, II:

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações: [...]
II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90
(noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação
judicial ou do 1o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se,
para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;

Termo legal será determinado até 90 dias antes do pedido de falência, do pedido de recuperação
em caso de falência superveniente à recuperação, ou do protesto, no caso de impontualidade
justificativa. A escolha do prazo é faculdade do juiz. Normalmente, ele escolhe o maior período
possível. É até 90 dias, mas, na prática, juízes não determinam quantidade menor de dias.
Se observar a redação do art. 99, verifica-se que o termo legal parece ser a data em que se inicia
a contar os 90 dias. Alguns autores vão chamar o período a partir do termo legal de período
suspeito ou período de suspeição. Outros autores chamam o período como sendo termo legal da
falência. Na lei, art. 129, há previsão do termo legal como sendo o período.
Nesse período, os administradores devem ficar atentos se houve algum dos atos que a lei
considera ineficazes perante a massa, que podem ser facilmente desfeitos.

Art. 129:

Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou
não intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do
termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo
desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo
legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do
termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados
em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a
parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada;
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação
da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da
falência;
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento
expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não
tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se,
no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem
devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e
documentos;
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre
vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis
realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação
anterior.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz,
alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no
curso do processo.
Alguns atos trazem o período de dois anos, os outros respeitarão o termo legal. Além disso, há a
questão dos registros, que serão ineficazes os realizados após a decretação da falência, salvo se
houver prova de protocolo anterior (prenotação).

No sistema da lei, essas questões são tão graves que o juiz pode declarar até mesmo de ofício.
Mais comum é o administrador judicial suscitar essas questões para que o juiz decrete o ato
ineficaz perante a massa, a fim de arrecadar aquele bem para o pagamento de credores.
As hipóteses de atos ineficazes perante a massa são muito próximos dos atos falimentares.
Quase todos possuem essa semelhança. Ou seja, são hipóteses que podem fundamentar o pedido
de falência. Na sequência, após decretar a falência, aqueles atos são considerados ineficazes
para os credores. O simples fato de eles ocorrerem ensejarão a decretação da falência. Daí a sua
gravidade. É óbvio que não há uma relação direta. Não é só quando alguém pedir uma falência
com base em atos falimentares que irei pedir a ineficácia desses atos, se realizados após se
decretar a falência.

A ação revocatória, hoje prevista na LF, é sempre subjetiva. Devo provar a intenção das partes
de fraudar credores. Essa ação nada mais é que uma ação pauliana específica do processo de
falência. Atos ineficazes não tem nada a ver com ação pauliana.
Art. 130 prevê o seguinte: “São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar
credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e
o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.”
Acaba sendo uma ação residual, para todo caso em que houver a intenção de fraudar credores.

Legitimado ativo para propor a ação revocatória? MP, qualquer credor e administrador judicial.

Lei imuniza alguns atos realizados durante a recuperação judicial. Ideia de que foram feitos com
a anuência dos credores.

Não é especificado um rito. Rito ordinário comum do CPC 2015.

Lei também fala na possibilidade de medidas cautelares. Nem precisava dessa previsão: aplica-
se o CPC subsidiariamente.

Lei fala que atos podem ser “revogados”. Impropriedade da lei. A rigor não vou revogá-lo, mas
anulá-lo, como ocorre quando da pauliana. Quando digo que o ato foi fraudulento, trata-se de
ato que não foi válido. Desfaço no plano da validade. No 129, lei fala em atos ineficazes. É
como se não repercutisse efeitos jurídicos para a massa. A lei fala que, em qualquer dessas
situações, as partes devem retornar ao status quo ante. ...

No caso da ação revocatória, aquele que está de boa fé pode, desde logo, fazer um pedido
contraposto para que o título que anula o negócio já reconheça o direito de haver determinado
valores que entregou para a massa. Na situação dos atos ineficazes isso é diferente, na medida
em que o sujeito também é parte ali.
Estudo de Caso

Lei estipulou prazo de 3 anos para essa ação. Agnelo Amorim. Três principais formas de
sentença: condenatórias, constitutivas e declaratórias. Afirma que, em regra, quando preciso de
sentença condenatória estou diante de um caso de prescrição. Diante de sentença constitutiva,
decadencial. Declaratória, em princípio, seria imprescritível. Na condenatória, dependo de uma
prestação de um terceiro. Como tenho que ir ao patrimônio alheio para tirar algo, prazo será
prescricional. Na constitutiva, agrido de tal forma a outra parte que tenho um direito potestativo.
É o caso de MS, ação pauliana etc. Estado pode se substituir ao sujeito e reconhecer o direito.
Por essa violência toda, o prazo deve ser decadencial. Como estou diante de uma sentença
constitutiva, porque entra no plano da validade para desfazer um negócio existente, pelos
critérios de Agnelo Amorim se trata de um prazo decadencial.

Além disso, lei não fala nada sobre prazo máximo para aplicação da sistemática dos atos
ineficazes perante a massa. Também devo aplicar esse prazo de três anos? Lei antiga tratava das
ações objetiva e subjetiva. Previa o prazo de três anos para as duas situações. Lei nova talvez
tenha esquecido, pela transformação de ação objetiva em atos ineficazes perante a massa. Mas
manteve prazo de três anos para a ação revocatória subjetiva. Alguns autores sustentam que a
aplicação dos atos ineficazes perante a massa também seguiria esse prazo. Até para ter uma
estabilização na falência. Preciso chegar em um momento de estabilidade.

Caso: falência decretada em 10 de janeiro de 2010. Para ação revocatória, teria até 10 de janeiro
de 2013. Administrador judicial ajuizou uma revocatória no dia 10 de fevereiro de 2012.
Aparentemente está tudo ok. Acontece que o ato questionado foi realizado em janeiro de 2008.
Passaram-se mais de 4 anos entre o ato e a data de proposição da ação. Réu suscitou a
decadência: pelo Direito Civil, prazo decadencial para ajuizar uma pauliana é de 4 anos. O que
o réu propõe é que o juiz analise, não o prazo para ajuizamento da revocatória, mas, sim, o
prazo de 4 anos da ação pauliana comum. Há jurisprudência que aplica os dois prazos em
conjunto.

A regra que consta geral sobre contratos bilaterais é que eles não se resolvem automaticamente
com a falência.

Contrato bilateral: prestações para ambas as partes.


Lei se refere a contratos bilaterais em que há pendências obrigacionais para ambas as partes.
Quando é um contrato bilateral em que uma das partes já exauriu a sua obrigação, ou vai ser
crédito ou vai ser débito. Exemplo: Locação. Devedor – locatário – pagou aluguel e o locador
tem que garantir a posse mansa e pacífica para ele.

Lei regula efeitos da falência contra vários contratos em espécie. No campo da compra e venda
mercantil, se sobrevier a falência, quem vendeu bens para o falido não pode obstar a entrega se
o falido já tiver revendido bens para terceiros. Caso contrário, pode haver a recusa na entrega.

Patrimônios de afetação: não sofrem efeitos da falência. Na prática, único exemplo são as
chamadas incorporações imobiliárias. Antiga falência da Encol, por exemplo. Vários prédios
parados sem conclusão. Após a falência dessa empresa, criaram lei para regular a ideia de
patrimônio de afetação. Se sobrevier a falência da construtora, universalidade patrimonial –
incorporação imobiliária – não é afetada pela falência. Lei permite a criação de
empreendimentos por meio de incorporação imobiliária.

Contratos de consumo: Não são mencionados na LF. CDC  Falência é hipótese para
desconsideração da personalidade jurídica.

Compensação: Forma de extinção das obrigações. Imagina que eu seja devedor de uma
sociedade empresária. Devo 200 mil e ela me deve 100 mil. Sou credor quirografário e ela é
declarada falida. Lei cria uma regra que posso fazer compensação com prioridade sobre outros
créditos. Quando falida vier me cobrar os 200 mil, pago apenas 100. Extingue, nesse momento,
o meu crédito. É critério de justiça, ainda que algum trabalhador fique sem receber.

Exceções:
Parágrafo único. Não se compensam:

I – os créditos transferidos após a decretação da falência, salvo em caso de sucessão por


fusão, incorporação, cisão ou morte; ou

II – os créditos, ainda que vencidos anteriormente, transferidos quando já conhecido o


estado de crise econômico-financeira do devedor ou cuja transferência se operou com fraude ou
dolo.
Falência de coobrigados  Últimos dispositivos. Lei nem precisava dispor sobre isso. Por
exemplo, sociedade é devedora de um cheque que tem um avalista. É óbvio que se eu for
satisfeito na falência tenho que parar ....

Art. 127. O credor de coobrigados solidários cujas falências sejam decretadas tem o direito de
concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, até recebê-lo por inteiro, quando
então comunicará ao juízo.

§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica ao falido cujas obrigações tenham sido
extintas por sentença, na forma do art. 159 desta Lei.

§ 2º Se o credor ficar integralmente pago por uma ou por diversas massas coobrigadas, as
que pagaram terão direito regressivo contra as demais, em proporção à parte que pagaram e
àquela que cada uma tinha a seu cargo.

§ 3º Se a soma dos valores pagos ao credor em todas as massas coobrigadas exceder o total
do crédito, o valor será devolvido às massas na proporção estabelecida no § 2o deste artigo.

§ 4º Se os coobrigados eram garantes uns dos outros, o excesso de que trata o § 3o deste
artigo pertencerá, conforme a ordem das obrigações, às massas dos coobrigados que tiverem o
direito de ser garantidas.

25/09/18

Dos Pedidos de Restituição (arts. 85 a 93)

Pedido de restituição: não é propriamente um efeito. Guarda mais relação com a questão da
arrecadação.

Há algumas aulas, foi vista a ideia da arrecadação, que vai concorrer para formar a massa falida
numa acepção objetiva. Quando eu faço a arrecadação, na verdade eu arrecado todos os bens do
devedor e aqueles que estão sob a sua posse. Isso tudo acaba sendo arrecadado para integrar o
auto de arrecadação e, mais tarde, pessoas afetadas por essa arrecadação, proprietárias de bens
arrecadados, vão entrar com pedidos de restituição, cuja função principal é extrair/subtrair da
massa falida objetiva o que não é do devedor. Bens de propriedades de terceiros que estão ativos
e não podem ser alienados para pagar dívidas do devedor falido.
O que se assemelha a esse pedido de restituição no Direito Civil? A ideia de reaver o bem. Ação
reivindicatória. Quando sou proprietário de um bem que me foi subtraído indevidamente ou
quando alguém o utiliza sem que possua a propriedade, posso entrar com ação
reivindicatória/reipersecutória. Pedido de restituição nada mais é do que uma ação
reivindicatória no âmbito do processo de falência. Esse procedimento, no âmbito da legislação
falimentar, é conhecido como pedido de restituição.
Portanto, quando eu falo em massa falida objetiva, os pedidos de restituição, no caso, os
procedentes, vão subtrair certos bens da massa falida. Logo, é o resultado de todos os pedidos
de restituição que vai definir, efetivamente, o que é ou não de propriedade do falido e que vai
ser alienado para o pagamento dos credores.
A tutela primordial da restituição é a tutela da propriedade. Mas a sua função não é
exclusivamente essa. Há outras figuras equiparadas que vão gerar a restituição.

Qual a vantagem de ter a restituição?

Ainda não estudamos a classificação dos créditos – extraconcursais ou concursais –, mas é


importante saber que os pedidos de restituição são pagos – se julgados procedentes – antes
mesmo dos créditos extraconcursais. Juiz me devolve o que é meu antes de o bem ser
arrecadado no processo de falência para pagar os credores. Por exemplo, tenho um bem
arrecadado pela massa, mas eles não a integram. Não sou credor e, portanto, não devo ser
classificado como tal. Logo, recebo o meu bem, se consigo emplacar a tese do pedido de
restituição, antes dos credores.

Jurisprudência: contribuições para o INSS ensejam o pedido de restituição. Como se a empresa


fosse mera substituta do INSS. Recolhe em folha e, supondo, não repassa para o INSS. INSS
entra com pedido de restituição, sob o argumento de que aquele valor já era de sua propriedade.
Recebe antes dos próprios trabalhadores.

Na LF:

Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se


encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir
sua restituição.
Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a
crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento
de sua falência, se ainda não alienada.
Parágrafo único é uma equiparação. Como era venda a crédito dentro do período assinalado pela
lei. Em vez de querer assinalar meu crédito, posso pedir a coisa de volta. Lei equipara para
evitar um dano maior ao credor. Contrato de leasing, por exemplo, entraria nessa equiparação.
Esse tipo de contrato é feito por instituições financeiras exatamente por possuírem maiores
garantias.

Além disso, há a hipótese de haver a restituição em dinheiro. Conforme disposto no art. 86:

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:


I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição,
hipótese em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem,
ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos
os casos no valor atualizado;
II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,
decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na
forma do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965,
desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações,
não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade
competente;
III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na
hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no
art. 136 desta Lei.
Parágrafo único. As restituições de que trata este artigo somente serão
efetuadas após o pagamento previsto no art. 151 desta Lei.

Inciso I: sucedâneo. Como a coisa não mais existe, vai ser restituído em dinheiro. Se havia uma
avaliação e a coisa não chegou a ser vendida, recebo o valor da avaliação. Se ela já tiver sido
vendida, recebo o valor que a massa recebeu.

Inciso II: contrato específico. Desde 65, já havia a previsão que essa parcela entregue ao
devedor poderia ensejar pedido de restituição. O que é um contrato de câmbio para exportação?
Sou um produtor e vendi determinadas mercadorias para exportação por 100 mil dólares.
Preciso de realizar várias despesas no Brasil. Realizo um contrato com o banco, no qual ele me
entrega o valor em reais, em troca dos 100 mil dólares. Peço adiantamento para o banco, para já
cobrir as despesas necessárias... Adiantamento: banco pode pedir a título de restituição.

Inciso III: terceiro de boa-fé que entregou valor para o devedor falido tem direito de reaver
esses valores, sem se tornar um credor. Lei assegurou um direito de restituição a esse sujeito.

Parágrafo único: únicas verbas que podem ficar acima do pedido de restituição são as verbas do
art. 1517. Pedido de restituição poderão ser preteridos pelo pagamento das verbas trabalhistas do
7
Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores
à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo
art. 151. Na verdade, são créditos concursais trabalhistas em até 5 salários mínimos por
trabalhador deverão ser pagos desde logo, havendo disponibilidade em caixa. Caráter
alimentar...

Lei cria o procedimento do pedido de restituição 8. A partir do momento em que ajuízo o pedido,
a coisa fica indisponível/bloqueada. Não será vendida pelo administrador judicial.
A petição inicial deve ser fundamentada e trazer a individualização da coisa. Quando entro com
o pedido, vai haver intimações generalizadas com prazos sucessivos de 5 dias para
manifestações. MP, credores, o próprio devedor... Manifestações contrárias serão tidas como
contestações.

Eventual apelação apenas possui efeito devolutivo. Mas quem quiser ter seu bem restituído
antes do julgamento da apelação terá que prestar caução.

haja disponibilidade em caixa.


8
Art. 87. O pedido de restituição deverá ser fundamentado e descreverá a coisa reclamada.

§ 1o O juiz mandará autuar em separado o requerimento com os documentos que o instruírem e


determinará a intimação do falido, do Comitê, dos credores e do administrador judicial para que, no prazo
sucessivo de 5 (cinco) dias, se manifestem, valendo como contestação a manifestação contrária à
restituição.

§ 2o Contestado o pedido e deferidas as provas porventura requeridas, o juiz designará audiência de


instrução e julgamento, se necessária.

§ 3o Não havendo provas a realizar, os autos serão conclusos para sentença.

Art. 88. A sentença que reconhecer o direito do requerente determinará a entrega da coisa no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas.

Parágrafo único. Caso não haja contestação, a massa não será condenada ao pagamento de
honorários advocatícios.

Art. 89. A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o requerente no quadro-geral
de credores, na classificação que lhe couber, na forma desta Lei.

Art. 90. Da sentença que julgar o pedido de restituição caberá apelação sem efeito suspensivo.

Parágrafo único. O autor do pedido de restituição que pretender receber o bem ou a quantia
reclamada antes do trânsito em julgado da sentença prestará caução.

Art. 91. O pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o trânsito em julgado.

Parágrafo único. Quando diversos requerentes houverem de ser satisfeitos em dinheiro e não existir
saldo suficiente para o pagamento integral, far-se-á rateio proporcional entre eles.

Art. 92. O requerente que tiver obtido êxito no seu pedido ressarcirá a massa falida ou a quem tiver
suportado as despesas de conservação da coisa reclamada.

Art. 93. Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o direito dos credores
de propor embargos de terceiros, observada a legislação processual civil.
Muitas vezes, se o juiz julgar improcedente o pedido de restituição, mas verificar que se trata de
um credor, o pedido de restituição será considerado pedido de habilitação de crédito. Trata-se da
fungibilidade da restituição com a habilitação do crédito. Se não for tecnicamente hipótese de
restituição, pode ser aproveitada para assegurar, ao menos, a percepção de um crédito por esse
autor do pedido de restituição.

Se não for possível pagar todos os pedidos de restituição, será realizado um rateio. Ainda não
foi estudado. Acontece entre os credores se não houver recursos para pagar todas as dívidas.
Sempre que falo em rateio é porque não consigo ir para a próxima classe. Lei prevê hipótese de
que se todos os pedidos de restituição serem procedentes e, eventualmente, não haver recursos
para pagar os credores. Nesse caso, não havendo condições de pagar integralmente os valores a
serem restituídos, será realizado o rateio.

Lei de falências: casos que não cabem restituição mas cabem embargos de terceiro é possível o
processamento de embargos no âmbito da falência.

Embargos de terceiro: mais amplos que o pedido de restituição. Servem para proteger a
propriedade e a posse. Pedido de restituição protege a propriedade. Se eu possuo uma posse
legítima a proteger. Nesse caso, não vou entrar com pedido de restituição, mas com embargos
de terceiro. STJ já pacificou que é possível se proteger com embargo de terceiro imóvel
adquirido e ainda não registrado, mas já com a escritura pública.

Estudo de Caso – Falência de Banco


Prof. Brina, como síndico, havia entendido como os correntistas. Primeira instância concordou
que possuem o direito de restituição. BACEN recorreu e o TJ manteve a decisão. BACEN
recorreu de novo, no STJ. No STJ, a decisão foi revertida.

Duas posições. Alguns atores concordando que cabe o pedido de restituição, sob o argumento
de que os correntistas são proprietários, com base em uma análise da operação econômica.
Quando vou em um banco, em momento algum eu deixo de ser proprietário do dinheiro. Por
mais que ele esteja no banco, tenho plena disponibilidade sobre ele. Propriedade em acepção
econômica. Por mais que esteja sob o poder do banco, conservo todas as prerrogativas do direito
de propriedade.
Por outro lado, STJ entendeu que se trata de um depósito impróprio ou irregular (art. 645 – CC),
depósito de bens fungíveis será regido pelas regras do mútuo. Quando deposito valores em uma
IF, dinheiro é o bem fungível por excelência. Banco não vai devolver aquelas mesmas notas.
Vai devolver em mesma quantidade e mesma qualidade, mas não exatamente o mesmo dinheiro.
Deve-se reger pela regra do mútuo, então, na verdade, há um direito de crédito a haver o bem
fungível que eu depositei.

FALTEI

04/10/2018

A partir do momento em que se tem a declaração de falência, todos os efeitos estudados


sobrevêm simultaneamente. Igualmente, é a partir desse momento que vai haver a verificação e
a habilitação dos créditos, que é o objeto desta aula.

Para começar a falar da verificação e da habilitação de crédito, é necessário rememorar a ideia


da massa falida, que pode ser lida em uma acepção objetiva e em uma acepção subjetiva. Do
ponto de vista objetivo, serão arrecadados os bens efetivos participam da massa falida objetiva
e, claro, pode ser que haja pedidos de restituição julgados procedentes. Além disso, há a massa
falida subjetiva, em que são definidos os credores da massa falida. O procedimento para tanto é
a verificação e a habilitação de créditos. Administrador judicial vai fazer a verificação dos
créditos.
Supondo que foi decretada a falência. Administrador pode reconhecer dívidas e já chamar, por
exemplo, trabalhadores a ocuparem a posição de credores da massa falida.
Uma particularidade é que a lei de 2005 delegou isso para o Administrador Judicial.
Habilitações são apresentadas a ele. Se você quiser constatar os documentos dos demais
habilitantes, você pode se dirigir ao administrador judicial. Em princípio, quem tem essa tarefa
de receber as limitações, de fazer a verificação e de criar uma lista de credores é o próprio
administrador judicial. Depois que ele publica essa lista, se houver impugnações, aí serão
dirigidas ao Juiz.
Qual é o procedimento?

Eu tenho a comunicação dessa sentença declaratória de falência por edital, convocando os


credores a se habilitarem. Da publicação da sentença, tenho um prazo de 15 dias para os
credores procederem as suas habilitações. Após esse prazo, Administrador publicará um edital
com a lista de credores.

Artigo 10 – Credores Retardatários

Para a lei, qualquer credor que perder esse prazo de 15 dias, é retardatário. Inicialmente,
enquanto o processo de falência estiver aberto, dá para o credor entrar. Se já tiver havido o
rateio, ele não recebe. Mas quanto mais ele demora a entrar, mais difícil é para entrar e mais os
riscos de ficar sem pagamento. Lei vai dar diversos momentos em que esse credor retardatário
pode entrar.

§ 5º, Art. 10

§ 5o As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da homologação do quadro-


geral de credores, serão recebidas como impugnação e processadas na forma dos arts. 13 a 15
desta Lei.

§ 6o Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu crédito
poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo
Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para
inclusão do respectivo crédito.

Se o quadro geral já tiver sido homologado, situação é mais difícil: deve entrar com ação
autônoma.

Mas lei não estabelece um prazo máximo. Enquanto o processo de falências estiver aberto, dá
para entrar no quadro geral de credores. Homologação do quadro não faz uma espécie de coisa
julgada material. Ele pode ser alterado por esses pedidos de retificação, para ingresso de novos
credores no processo de falência.

E se só tem um credor? Será que a pluralidade de credores é essencial para o processo de


falência? O concurso é fundamental?
Posições nos dois sentidos. É raro ocorrer... A maioria dos julgados fala que não tem nada a ver,
que poderia continuar o processo. Isoladamente, há casos que falam que não poderia, que a
pluralidade seria requisito necessário para o processo de falência.

Lei estabelece que, julgados os pedidos de restituição, deverão ser pagos os credores
extraconcursais e depois os concursais. Na verificação e na habilitação, vou criar um quadro de
credores concursais. Em princípio, são os credores existentes na data da falência: créditos
vencidos e os que estavam com créditos vincendos, que venceram com a decretação da falência.
Créditos extraconcursais são despesas nascidas em face da massa falida – no curso do processo
de falência.

O que é pago com prioridade no processo de falência? Créditos extraconcursais...

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os
mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da
legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados
após a decretação da falência;
II – quantias fornecidas à massa pelos credores;
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu
produto, bem como custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial,
nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos
geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83
desta Lei.

Crédito extraconcursal por excelência: administrador judicial. Vem antes mesmo de dívidas
trabalhistas. Pode ser que créditos trabalhistas também sejam extraconcursais, se relativos a
serviços prestados após a decretação da falência.
V – estímulo para que a recuperação judicial possa dar certo. Para que outros credores negociem
com a empresa em recuperação judicial. E exceção à ideia de serem créditos extraconcursais
prévios à falência.
Créditos concursais – Art. 83

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:


I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-
mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição,
excetuadas as multas tributárias;
IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta
Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em
garantia;
d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas
de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006
(Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta
Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao
seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite
estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
§ 1o Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem
objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de
alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.
§ 2o Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento
de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3o As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações
neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 4o Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.

Primeiro, trabalhadores. Duas diferenciações. Como prioridade, receberá até 150 salários
mínimos por trabalhador. O resto vai como crédito quirografário. Lei tentou limitar a classe dos
trabalhadores. Evitar a ideia comum de que apenas trabalhadores são pagos na falência.
Essa tentativa de limitação foi discutida no STF. Chegou-se a conclusão de que não havia
qualquer inconstitucionalidade. Esse teto é um valor razoável, não é aleatório nem alcança a
grande massa dos trabalhadores. Não está expropriando os demais recursos, apenas dizendo que
vai receber como credor quirografários.
Sem qualquer limite e ao lado desses créditos, estão os créditos decorrentes de acidente de
trabalho.

A segunda classe são créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado. O
excesso, o credor vai receber como credor quirografário.
No inciso III, diz-se que créditos tributários serão a terceira classe, excetuadas as multas
tributárias. A lei antiga dizia que multas administrativas não seriam exigidas em processo de
falência. Havia, inclusive, súmula... Na lei nova, multa tributária também é exigida, mas o é
depois dos créditos quirografários.
E o crédito da fazenda pública de natureza não-tributária? Equipara-se ao crédito tributário ou
não? Lei de execução fiscal: crédito da fazenda pública de natureza não tributária fica
equiparado ao crédito tributário para todos os efeitos, inclusive para ... Logo, no inciso III,
estamos tratando da fazenda pública, exceto as multas.

Concurso entre Fazendas Públicas. Imagine concurso entre Fazenda Pública Municipal,
Estadual e Federal? Há hierarquia ou recebem igualmente? CTN diz que, havendo concurso,
Fazenda Pública Federal recebe primeiro, depois a estadual e depois a municipal. Isso foi
questionado no STF e o STF entendeu que é plenamente constitucional essa distinção.
Fundamento: repartição tributária. Quando pago a União, indiretamente pago Estados e
Municípios.
Privilégio especial e geral.
Privilégios são criados para a lei. Isso só significa que não é quirografário, no concurso de
credores. No caso de privilégio especial, um caso relevante criado em 2015 diz respeito ao MEI,
à Microempresa e à Empresa de Pequeno Porte. Lei tirou o credor da condição de quirografário.
Forma de tutelar o seu crédito. MEI muitas vezes são até mesmo empregados... Merece
realmente uma proteção.

Não há diferença entre o especial e o geral. Lei que determina que um está acima do outro,
meramente.

Quirografário  Quem não possui nenhuma das características acima. Não possui garantia
nenhuma. Titular de uma nota promissória, duplicata, obrigação normal sem garantia.

Depois multas de toda natureza

Depois os subordinados

Liquidação Patrimonial = Realização do Ativo + Pagamento aos credores

Ordem de Preferência + Veda sucessão

Lei quer tentar vender a empresa como um todo, porque, nesse caso, sociedade vai receber mais
dinheiro do que se os bens fossem vendidos individualmente 9. Lei cria a preferência na ordem
de bens como um todo e estabelece a vedação da sucessão. Lei fala, ainda, que, a partir do
momento que um arrematante arremata um estabelecimento, os contratos de trabalho se
extinguirão e serão formados novos contratos de trabalho. Ainda que o trabalho continue, os
contratos são novos. As vicissitudes do contrato anterior não persistem. Há quem critique a
vedação da sucessão, afirmando ser inconstitucional: prejuízo para direitos dos trabalhadores.
STF disse que a lógica trazida pela lei é plenamente legítima, porque, com o estabelecimento da
ordem de preferência, vou receber mais dinheiro e conseguir pagar mais credores e, se houvesse
a vedação, os credores permaneceriam com um devedor falido. Evita, ainda, que os empregados
9
Aviamento: Trabalho de organização dos bens segundo a sua finalidade, para um uso específico.
Empresário recebe um sobrevalor por esse trabalho. Valor recebido é mais do que a soma dos valores dos
bens.
sejam demitidos. Apesar disso, há julgados trabalhistas que obrigam a sucessão, o que retira os
incentivos para a aquisição dos estabelecimentos em bloco da empresa.

Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas,
observada a seguinte ordem de preferência:
I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;
II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas
isoladamente;
III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos
estabelecimentos do devedor;
IV – alienação dos bens individualmente considerados.
§ 1º Se convier à realização do ativo, ou em razão de oportunidade, podem
ser adotadas mais de uma forma de alienação.
§ 2º A realização do ativo terá início independentemente da formação do
quadro-geral de credores.
§ 3º A alienação da empresa terá por objeto o conjunto de determinados bens
necessários à operação rentável da unidade de produção, que poderá
compreender a transferência de contratos específicos.
§ 4º Nas transmissões de bens alienados na forma deste artigo que dependam
de registro público, a este servirá como título aquisitivo suficiente o mandado
judicial respectivo.

E a vedação da sucessão:

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa


ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata este
artigo: [...] II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não
haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as
de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
decorrentes de acidentes de trabalho. [...] § 2º Empregados do devedor
contratados pelo arrematante serão admitidos mediante novos contratos de
trabalho e o arrematante não responde por obrigações decorrentes do contrato
anterior.

Empregados conservam seus direitos com o falido e mantém nova relação de


emprego com o novo empregador.

Início da fase de liquidação do processo.

Logo após a arrecadação dos bens, será iniciada a realização do ativo. Posso
vender a empresa diretamente para um interessado, assim como posso realizar um
leilão. Podem ser utilizadas modalidades diversas.

Simples ordem judicial será suficiente para a transferência dos bens alienados.
Registro será feito com averbação do mandado judicial. Isso vale tanto para bens em
bloco, quanto para bens isolados. Se adquiri um imóvel do devedor e ele possui dívidas
de IPTU, elas não serão exigíveis de mim. Tudo o que for prévio à aquisição será
cobrado do devedor falido.
O procedimento de alienação do ativo: o juiz ordena, após oitiva do
Administrador Judicial e orientação do Comitê, uma das seguintes modalidades: leilão,
por lances orais; propostas fechadas ou pregão. Modalidades diversas devem ser
solicitadas de maneira fundamentada pelo Administrador Judicial, com aprovação da
assembleia-geral de credores.

Leilão  Lances orais...

§ 3o No leilão por lances orais, aplicam-se, no que couber, as regras da Lei no 5.869,
de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

Propostas fechadas  Enviadas em envelopes lacrados e analisadas em um dia


marcado, em conjunto...

§ 4o A alienação por propostas fechadas ocorrerá mediante a entrega, em cartório e sob


recibo, de envelopes lacrados, a serem abertos pelo juiz, no dia, hora e local designados
no edital, lavrando o escrivão o auto respectivo, assinado pelos presentes, e juntando as
propostas aos autos da falência.

Pregão: figura híbrida de leilão e propostas fechadas. Começa com propostas


fechadas e segue com propostas orais dentro de quem já ofereceu propostas fechadas.

§ 5o A venda por pregão constitui modalidade híbrida das anteriores,


comportando 2 (duas) fases:
I – recebimento de propostas, na forma do § 3o deste artigo;
II – leilão por lances orais, de que participarão somente aqueles que
apresentarem propostas não inferiores a 90% (noventa por cento) da maior
proposta ofertada, na forma do § 2o deste artigo.
§ 6o A venda por pregão respeitará as seguintes regras:
I – recebidas e abertas as propostas na forma do § 5o deste artigo, o juiz
ordenará a notificação dos ofertantes, cujas propostas atendam ao requisito de
seu inciso II, para comparecer ao leilão;
II – o valor de abertura do leilão será o da proposta recebida do maior
ofertante presente, considerando-se esse valor como lance, ao qual ele fica
obrigado;
III – caso não compareça ao leilão o ofertante da maior proposta e não seja
dado lance igual ou superior ao valor por ele ofertado, fica obrigado a prestar
a diferença verificada, constituindo a respectiva certidão do juízo título
executivo para a cobrança dos valores pelo administrador judicial.
Valores recebidos devem ficar em conta remunerada, ainda que seja uma
poupança, para tentar maximizar os ativos do devedor (art. 147).

Realização alternativa do ativo: sociedade de credores para aquisição da


“empresa”. Situação complicada. Lei querendo trabalhar com a ideia de preservação da
empresa fala que uma das formas de realização alternativa do ativo é os credores
formarem uma sociedade e assumirem todos os ativos da empresa para se satisfazer. Na
prática, dificilmente esses credores chegam a um consenso – participação societária,
administração, funcionamento, contrato social etc. Se for o caso de criar essa sociedade,
deve-se seguir a ordem de preferência. Se os ativos só são suficientes para adimplir as
dívidas dos trabalhadores, sociedade será formada apenas com eles, por exemplo.

Pagamento aos credores

Pedidos de restituição, créditos extraconcursais e créditos concursais. Antes de


tudo, desde que haja dinheiro em caixa, posso antecipar créditos trabalhistas salariais,
vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários
mínimos por empregado. Depois desse limite, retornam à hierarquia de sua classe.
Adianto o benefício dada a sua natureza alimentar, antes mesmo de realizar o ativo.

Hierarquia não é cronológica. Não posso pagar quem se habilitou antes, se for
um credor quirografário, por exemplo. Devo ter condição de adimplir as dívidas de
todas as classes superiores, antes de passar para a próxima classe.

Restituição em dobro em caso de dolo ou má-fé (art. 152): Art. 152. Os


credores restituirão em dobro as quantias recebidas, acrescidas dos juros legais, se ficar
evidenciado dolo ou má-fé na constituição do crédito ou da garantia.

[...]
Do Encerramento da Falência e da Extinção das Obrigações do Falido

Recapitulando...
Temos uma fase pré-falimentar, normalmente, em que o credor requer a falência
do devedor por meio de petição inicial. Devedor pode oferecer contestação no prazo de
10 dias e possui algumas possibilidades de defesa, como depósito elisivo e .... . Pode ser
que haja a participação do MP... Juiz decreta a falência: sentença declaratória de
falência, para a qual o recurso cabível é o agravo. Alguns efeitos são automáticos:
inabilitação, desapossamento, arrecadação, pedidos de restituição, ajuizamento de ações
revocatórias, verificação e habilitação de crédito, pagamentos, classificação dos
credores... Tudo ocorrendo simultaneamente. Hoje, o tema será o encerramento da
falência.

Quando é que começa a acabar a falência?

A etapa final do processo de falência é inaugurada pela prestação de contas do


Administrador Judicial. Quando ele presta contas? Diz a lei que, realizado o ativo e
distribuídos os pagamentos (liquidação), o Administrador tem trinta dias para apresentar
as suas contas.
Quando se exige prestação de contas? Exemplos... Tutela e curatela no Direito
de Família... Primeira coisa a se pensar é um procedimento autônomo. Petição inicial de
prestação de contas. São autos apartados e essas contas prestadas pelo Administrador
serão julgadas pelo juiz por sentença. Vou julgar a situação patrimonial do devedor...
Presto uma solução contábil acerca do que foi feito com esses recursos.
Na hipótese de rejeição das contas, Juiz deve fixar as responsabilidades do
Administrador Judicial. Se perceber a existência de algum crime, deve dar ciência ao
MP. Entretanto, as responsabilidades que serão fixadas são de natureza civil e
administrativa. Pode, inclusive, aplicar sanção de destituição ao Administrador. Mesmo
a responsabilidade civil é possível nesse momento. Juiz fixará o que o prestador de
contas deve pagar àquele por quem ele geriu o patrimônio.
Dessa sentença, cabe apelação.
Resolvida a prestação de contas, será realizado o relatório final da falência,
pormenorizado e mais extenso do que a prestação de contas. Não diz respeito apenas às
contas, mas ao todo da falência. É normal que o juiz não encerre a falência se houver
pendências outras. Por exemplo, revocatória pendente de julgamento no Tribunal. É
normal que o processo seja suspenso até que as pendências sejam julgadas.

Se não houver pendências, o processo será encerrado por meio da sentença de


encerramento da falência (art. 15610). Ela põe fim à falência propriamente dita e abre a
fase pós-falimentar. Como sentença propriamente dita, dessa sentença cabe apelação.

Cabe uma nota quanto à personalidade jurídica da empresa. A personalidade não


se extingue com o processo de falência. Não há a dissolução por conta da sentença
declaratória de falência. Então, ela continua com personalidade jurídica até o fim do
processo de falência. Pela legislação falimentar, não há nenhuma hipótese que extingue
a sociedade por conta da falência. Por óbvio, após o encerramento da falência, os sócios
podem deliberar a extinção da pessoa jurídica. Óbvio que isso está condicionado a
inúmeros pagamentos exigidos pela junta. Não só vou ter a averbação do processo de
falência...

Desapossamento. Sociedade perde a administração dos seus bens e a


possibilidade deles dispor. Lei não fala claramente quando encerra esse
desapossamento. Como desapossamento tem uma natureza assecuratória-processual, a
conclusão é de que ele perdura até o encerramento do processo de falência. Encerrou-se
a falência, o devedor retoma a livre administração dos seus bens e a possibilidade de
deles dispor. Se se tratar de uma falência superavitária, vou devolver esses bens para o
devedor que administrará livremente...

10
Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença.
Parágrafo único. A sentença de encerramento será publicada por edital e dela caberá apelação.
Quanto à inabilitação, sabe-se que ela possui a natureza de uma sanção. Pelo
simples fato de ser decretada a falência, devedor é inabilitado. Inabilitação perdura até a
extinção das obrigações do falido. E são quatro as hipóteses de extinção das obrigações
do falido. A primeira delas é o pagamento das obrigações. A segunda é vista pela
doutrina como um favor legal. Isso só existe na falência. Não existe na insolvência civil.
Diz a lei que na falência serão extintas todas as obrigações se eu conseguir pagar todos
os credores e, pelo menos, 50% dos créditos quirografários. Se eu conseguir ter esse
nível de pagamento, isso é suficiente para extinguir as obrigações. Outras duas hipóteses
ocorrem pelo decurso do tempo, na fase pós-falimentar. Cinco anos após o
encerramento do processo se não houver crime falimentar. Dez anos após o
encerramento do processo, se houver crime falimentar.

Obrigações subsistentes, se não conseguir pagar os credores + 50% dos créditos


quirografários, deverão ser cobradas individualmente. Não existe mais administrador
judicial e é o devedor que administra os seus bens livremente. Nesse caso, essas
obrigações serão extintas mais tarde, pelo mero decurso de tempo.

Efeitos da falência sobre a prescrição: quando decreto a falência, prazos


prescricionais são suspensos. Após o encerramento do processo de falência, prazo volta
a correr. Suponhamos, por exemplo, que eu fosse credor do devedor a uma reparação
civil, cujo prazo prescricional é de três anos. Aconteceu o fato, passou um ano, quando
eu decretei a falência o prazo prescricional foi suspenso. Durante o processo de falência,
não ocorreu essa prescrição e, encerrado o processo de falência, esse prazo volta a
correr. Em dois anos, a minha obrigação estaria suspensa. Grosso dos prazos de falência
são de 5 anos para baixo. Por isso, a maioria das obrigações já terão a sua pretensão
extinta antes dos prazos de 5 ou 10 anos para o encerramento das obrigações.

Nada obsta que essas obrigações encerrem antes desses prazos. O devedor pode
requerer a extinção de suas obrigações, por exemplo, se conseguir pagar as dívidas...

Como o processo já se encerrou, falido deverá solicitar a sua reabilitação. Deve


solicitar, em novo processo, na fase pós-falimentar, que o juiz decrete a sua reabilitação
e a extinção de suas dívidas. Na prática, essa reabilitação raramente existe. Primeiro,
porque se for pessoa jurídica eu não vou querer reabilitá-la para exercer a mesma
atividade. No dia seguinte da falência, sócios podem abrir outra sociedade... Se é
empresário individual, provavelmente, ele já estará fazendo outra coisa. Processo é
muito longo... Pode ser que ele morra antes de acabar o processo ou não tenha interesse
em se reabilitar.

[...]

Recuperação Judicial

Crise econômico-financeira  Soluções de mercado. Mudanças societárias.


Investimentos, incorporações, fusões etc.

E o Direito?

Na lei anterior  Concordata

A concordata era um favor legal, que poderia ser remissória (desconto),


dilatória (prazo) ou mista (2 formas anteriores). Era quase como um “calote legal”.
Devedor assumia a dívida e o juiz acatava que houvesse um desconto ou maior prazo
para pagamento. A vontade dos credores era irrelevante.
Além disso, havia a concordata preventiva, que prevenia a falência, e a
concordata suspensiva, que suspendia a falência depois de decretada, especialmente no
caso de falência superavitária.
Concordata se mostrou um instrumento ineficiente economicamente falando. A
grande maioria de empresas que utilizavam a concordata acabavam na falência. Por
conta disso, a lei atual criou a recuperação judicial para substituir a ideia da concordata.
O próprio nome já mostra a finalidade do instituto de resgatar o devedor.
A primeira alteração importante é que, na recuperação judicial, a vontade dos
credores passa a ser relevante. Outra coisa, para além dos requisitos formais exigidos
pela lei, é que o mais importante é que a empresa seja economicamente viável. Só se
esse juízo for positivo é que eu defiro a recuperação.
Além disso, pela redação da lei, a recuperação judicial é sempre preventiva. A
partir do momento em que eu caio na falência, não possuo nenhum mecanismo que
possa suspendê-la. Posso ter a recuperação como tentativa de resgate dessa empresa
antes de ela chegar na falência. E voltando ao economicamente viável, eu – sociedade
empresária – vou provar que sou economicamente viável apresentando um plano de
recuperação, em que eu mostro que eu vou conseguir pagar, porque vou vender bens,
fazer uma fusão, arrumar novos sócios, mudar a gestão etc. E é a vontade dos credores
que vai definir se ela será possível ou não.
Para os credores, se a sociedade realmente não vai se soerguer com a
recuperação, é melhor a falência imediata. Isso porque, se a sociedade continua a atuar,
novos credores surgem e podem prejudicar os direitos dos credores já existentes. Além
disso, a sociedade pode adquirir novas dívidas e criar garantias para elas. Fazem um
juízo muito consciente acerca de conceder ou não a recuperação.
Já temos estudos que demonstram ser mais eficiente a recuperação judicial que a
concordata. Hoje, cerca de 65% das empresas que vão para a recuperação acabam indo
para a falência. Mas é mais difícil utilizar a recuperação do que era a concordata.

Quando o devedor está em crise financeira, então, ele olha para as possibilidades
que tem para salvar o seu negócio. A primeira é tentar fora do Judiciário. Exemplos:
aumento de capital, financiamento bancário, alienação de bens etc. Se isso não for
possível, vai olhar para a Lei de Falências (11.101/2005) e começa a refletir sobre os
remédios possíveis para a crise econômico-financeira. O remédio mais brando existente
é a recuperação extrajudicial. Na sequência, a recuperação judicial. Por fim, uma
medida drástica é a falência (autofalência).
A recuperação extrajudicial – embora tenha esse nome – é judicial. Seu nome se
deve ao fato de ela ser negociada fora da presença do Judiciário. Com o plano aprovado
pelos credores, o devedor o leva ao Judiciário para homologação. Esse plano passa a ter
força de título executivo judicial. Credores insatisfeitos podem executá-lo. Como ele se
desenvolve fora do juízo, não há administrador judicial. Só por essa razão e por ter
menos etapas em juízo, a recuperação extrajudicial é mais barata. Por essas
características, a lei não permite que todo e qualquer crédito seja objeto de recuperação
extrajudicial. A rigor, a lei não permite que créditos trabalhistas sejam objeto de
recuperação extrajudicial. Além disso, não há risco de falência por conta de algo
relacionado à recuperação extrajudicial. O descumprimento do plano enseja,
meramente, a execução do título.
Já a recuperação judicial exige a presença do administrador judicial e, por isso,
só por isso, ela já é mais onerosa. Também implica em aumento de custos os gastos
maiores que serão feitos com advogados e com todas as etapas do procedimento em
juízo. Além disso, a recuperação judicial é mais abrangente. Engloba mais créditos.
Todo e qualquer crédito pode ser objeto de recuperação judicial. Por ser mais
abrangente, na recuperação judicial há risco de falência, em determinadas hipóteses
previstas por lei. Esse remédio pode, portanto, ter como efeito colateral a falência.
Como ocorre sob os olhos do estado-juiz, a sucessão na venda de bens é vedada.

Art. 47  Princípio da função social da empresa. Manutenção da produtividade


da empresa, da atividade econômica.

Recuperação Judicial

Fase postulatória  Petição inicial.

Fase deliberatória  Defere o processamento da recuperação e, se a assembleia


geral de credores aceita o plano, juiz concede a recuperação.

Fase de cumprimento  Cumprimento do plano de recuperação.

Recuperação judicial: sempre será um ato voluntário do devedor. Não há na lei a


possibilidade de os credores demandarem a recuperação judicial. É um ato do próprio
devedor.

Quem pode pedir a recuperação? Empresário e Sociedade Empresária. EIRELI


também.
Há projetos de lei que querem estender a recuperação a pessoas físicas,
especialmente consumidores em face de um cenário de superendividamento.

Vedações do art. 2º também se estendem à recuperação judicial.

Empresas que não tinham acesso à concordata não teriam direito à recuperação
judicial, exceto as companhias aéreas.

Produtores rurais? Se empresário, estarão sujeitos à legislação...

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do


pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos
seguintes requisitos, cumulativamente:

§ 2o Tratando-se de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a


comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da Declaração de
Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica - DIPJ que tenha sido entregue
tempestivamente. (Incluído pela Lei nº 12.873, de 2013)

Facilitar o acesso de sociedades rurais à recuperação judicial. Não devem


comprovar o registro na junta há mais de dois anos, mas que a DIPJ tenha sido entregue
tempestivamente.

Petição inicial de RJ  Ato exclusivo do devedor.

Primeira fase: postulatória. Juiz vai analisar os requisitos. Não há intervenção de outras
pessoas no processo. Se tudo caminhar bem, haverá o deferimento do processamento da
recuperação. Justamente esse processamento tem lugar para se aferir se o devedor tem
ou não direito à recuperação.
Começa a fase deliberativa, em que o plano é apresentado e, se aprovado, juiz vai
proferir uma decisão que concede a recuperação. Aqui, busca-se o consentimento dos
credores na assembleia geral de credores.
Por fim, há a fase de cumprimento ou execução da RJ.
A recuperação judicial – em comparação com a extrajudicial – abrange uma gama maior
de créditos.
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do
pedido, ainda que não vencidos.

Primeira exceção:
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis
ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel
cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade,
inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com
reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e
prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,
observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

 Trava bancária à recuperação. Quase todos os credores mencionados são instituições


financeiras. São situações em que há uma propriedade fiduciária.
Em regra, a maioria das dívidas que temos é com instituição financeira. Elas utilizam
essas modalidades de contrato para se tornarem imunes à recuperação.

Além disso, há uma situação peculiar em relação à Fazenda Pública:


Art. 68. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS poderão
deferir, nos termos da legislação específica, parcelamento de seus créditos, em sede de
recuperação judicial, de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei no 5.172, de 25
de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional.
Parágrafo único. As microempresas e empresas de pequeno porte farão jus a prazos
20% (vinte por cento) superiores àqueles regularmente concedidos às demais empresas.
(Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)

LC 118  Lei especial deveria regular a participação da Fazenda pública em


recuperações judiciais. Essa lei (13.043/2014) não trouxe inovações, trazendo apenas
uma previsão de maior prazo para o parcelamento.

A rigor, a Fazenda Pública não participa do processo de recuperação judicial. Ela não é
mencionada como uma classe de credores da assembleia geral. Então, o crédito
tributário deve ser satisfeito à margem do processo de recuperação judicial. Com isso,
normalmente os grandes credores – fisco e bancos – ficam fora da recuperação judicial.
Pode ser que ela não atenda os seus fins, por conta de tal exclusão. Em termos práticos,
o devedor deve, paralelamente à recuperação, demandar o parcelamento de seu crédito
tributário. Mas isso traz problemas para a recuperação: como mensurar a viabilidade
financeira sem levar em conta essas dívidas no plano.

Na decisão que autoriza o processamento da RJ, há uma série de “subdecisões”. A


primeira delas diz respeito ao administrador judicial. Preciso da nomeação justamente
para realizar a verificação e a habilitação de crédito. Lei diz que o juiz vai dispensar a
apresentação de certidões negativas para o devedor contratar, salvo para contratar com a
Administração.
Além disso, deverá haver a suspensão das ações por no máximo 180 dias.

        Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação


judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor,
inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

        § 1o Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar
quantia ilíquida.

        § 2o É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou


modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza
trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão processadas
perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no
quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.

        § 3o O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1o e 2o deste artigo poderá
determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência,
e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.

        § 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese
nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento
do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos
credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de
pronunciamento judicial.

        § 5o Aplica-se o disposto no § 2o deste artigo à recuperação judicial durante o período de


suspensão de que trata o § 4o deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções
trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no
quadro-geral de credores.

        § 6o Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as


ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da
falência ou da recuperação judicial:

        I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;

        II – pelo devedor, imediatamente após a citação.

        § 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação
judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e
da legislação ordinária específica.
        § 8o A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição
para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor.

Essa suspensão não é igual na falência, em que perdura até o encerramento do processo.
A suspensão é de no máximo 180 dias. Depois disso, os credores retomam a sua vida
normal e podem ajuizar ações e executar o devedor.
Há várias discussões jurisprudenciais a respeito desse prazo.
Inicialmente, a jurisprudência do STJ se mostrou bastante rigorosa. Dizendo ser
improrrogável esse prazo. A doutrina começou a criticar, dizendo que a jurisprudência
não havia compreendido a função do prazo, qual seja que o credor possa acabar de
negociar seu plano de recuperação e tenha um tempo para respirar, enquanto se delibera
se o devedor vai ou não entrar em recuperação.
Por conta da morosidade da justiça, essa assembleia geral muitas vezes não se realiza
dentro desse prazo.
Depois, jurisprudência foi para o sentido oposto: ações suspensas até o final do
processo.
Ao final, STJ tomou a decisão que é a predominante na jurisprudência: prazo é de 180
dias ou até que haja a assembleia-geral de credores. Se nesse período não houver a
assembleia, o prazo pode ser estendido para que ela aconteça.
Com o CPC/2015, começou a discussão sobre a prorrogação desse prazo. Uma nova
discussão é se esse prazo é de dias úteis ou dias corridos. Prazo é de natureza processual
ou material? STJ fixou que são dias corridos. Não é um prazo para a realização de um
ato processual. Mas de direito material para a parte “tomar esse fôlego”.
Na prática, prazo sempre será um pouco estendido, porque há vários outros prazos em
dias úteis para serem cumpridos nesse mesmo período.

A partir daqui, juiz determinará que o devedor preste contas mensalmente, bem como
vai determinar a intimação do MP e das Fazendas Públicas.

Publicação de edital para que os credores possam se habilitar. Forma-se o quadro geral
de credores...

Dessa decisão que defere o processamento, cabe recurso? A LF não fala que cabe
agravo dela. Mas já se fixou entendimento dominante na jurisprudência que, em sede de
RJ e de falência, sempre cabe agravo. Por exemplo, devedor pode agravar de um dos
termos desse despacho.
Cabe desistência por parte do devedor? Pode haver desistência na fase postulatória. A
partir do momento em que o juiz defere o processamento da falência, não pode haver
desistência. A partir desse momento, há risco de decretação da falência...
Esse plano que o devedor vai apresentar em 60 dias, a lei vai falar que, com respeito às
dívidas trabalhistas, os parcelamentos não podem ser superiores a um ano e, quanto as
dívidas em geral, dois anos.

Apresentado o plano, com os meios de recuperação judicial, os credores terão 30 dias


para impugná-lo. Se não houver impugnação, é como se fosse aprovação tácita e o juiz
concede a recuperação. Se houver ao menos uma impugnação, juiz convocará a
assembleia geral de credores. Logo, plano deve ser aprovado em todas as classes de
credores.

 Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores
referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.

§ 1o Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta
deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos créditos
presentes à assembléia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.

§ 2o  Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser
aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu
crédito.        (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)

        § 3o O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de
quorum de deliberação se o plano de recuperação judicial não alterar o valor ou as condições
originais de pagamento de seu crédito.

Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor
cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido
aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei.

        § 1o O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve
aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido, de
forma cumulativa:

        I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os
créditos presentes à assembléia, independentemente de classes;

        II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou,
caso haja somente 2 (duas) classes      com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1
(uma) delas;

        III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos
credores, computados na forma dos §§ 1o e 2o do art. 45 desta Lei.
        § 2o A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1o deste artigo
se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver
rejeitado.

Se o plano for aprovado, passa-se à fase de cumprimento da decisão.

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