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Emília Ferreiro
Introdução
Para ilustrar a atividade, convidei Sandra Arara e Iran Gavião para demonstrar a
seguinte informação sem utilizar letras: Fui à Aldeia. Volto Amanhã. Assinado
Pedro Arara. Utilizaram os seguintes símbolos: ® e ¬ indicando ir e vir.
Convidamos um aluno de outra sala para “ler” a mensagem, pois apagamos a
que estava escrita. Discutimos as razões dele não ter conseguido entender e
conversamos sobre a palavra convenção, colocando que se combinássemos que
ao utilizarmos este símbolo queremos dizer que estamos indo ® e este ¬
estamos voltando, estávamos com esse acordo, convencionando o uso destes
símbolos que precisam ser ensinados para os que não sabem. Expliquei que essa
ilustração mostra um pouco do percurso sobre a construção da escrita
desenvolvida por muitos povos. Pediram para ver o vídeo novamente e
escreveram a respeito em seus cadernos de registro.
Conforme esta seqüência da aula, fiz algumas perguntas muito perigosas que eu
já antecipava iriam provocar conflitos cognitivos na turma: Será que
alfabetizamos como nossos/as professores/as nos alfabetizaram? Repetimos
sílabas como retalhos da língua? Quais serão as lembranças que nossos
alunos/as terão de nós? A reação foi um misto de dúvidas, perguntas meio
cortadas, respostas imediatas: não. Era uma prática comum em todas as aulas,
após uma discussão, os alunos e alunas discutirem com suas etnias na língua
materna.
Neste dia, foi um grande alvoroço, falavam muito e quase que ao mesmo tempo.
Após o intervalo, depois de conversar um pouco com o pessoal técnico que
acompanhou as discussões, sobre as suas interpretações a respeito destas
atitudes, convidei a turma para conversar sobre o que estava acontecendo. Sei
que o conhecimento é desagregador, sua lógica se apóia na permanente
construção e desconstrução do estabelecido, tinha uma idéia de que ali estava se
processando um desequilíbrio. Minha hipótese não demorou a ser confirmada.
Durante a conversa, desabafaram: a nossa forma de trabalhar na alfabetização é
igual aos de nosso/as antigos/as professores/as, mas como fazer diferente se só
sabemos alfabetizar assim? Explicitaram essa questão falando e outros
expressando no caderno de registro, deixaram muito claro que esta era a
pergunta, evidenciando que:
Após vivenciar várias atividades nesta linha, os grupos por etnia, confeccionaram
os seus respectivos alfabetos – fixo e móvel, na língua materna e portuguesa,
planejaram atividades relacionando-o à lista de nomes dos seus alunos e alunas;
a narração e escrita de um texto mítico – representado por um aluno que ainda
não lia convencionalmente e sendo escrito por um outro que já sabia, em
seguida com toda a sala, o texto foi relido e revisado, palavras foram destacadas
e utilizadas na elaboração de uma cruzadinha; a escrita e a leitura de um texto
estável (conhecido pelas crianças de memória) também na língua materna, a
maioria dos textos foi de música, receitas e a exposição dos materiais escritos –
portadores de textos, disponíveis na aldeia em língua portuguesa. A avaliação foi
de que os estudos estavam sendo proveitosos e estavam entendendo um pouco
sobre as novas formas de alfabetizar.
CHICHA DE MILHO
Modo de fazer
Entretanto, alertamos para o fato de que não deveremos saber que as crianças
não irão escrever se o tempo todo cobrarmos deles/as escritas totalmente
“corretas”. Precisamos ter claro que no início da alfabetização, as crianças ainda
não dão conta disso. Não é aconselhável corrigir de imediato os erros, pois são
passageiros e representam uma tentativa de compreender a escrita, entretanto,
isso não significa que não se deve fazer nada, a intervenção do/a professor/a é
muito importante para problematizar com o aluno/ao que está acontecendo e o
que pode ser feito. Sabemos que a alfabetização deve privilegiar a articulação
entre a oralidade e a escrita, a nosso ver, em um contexto indígena essa
preocupação deve ser maior levando em conta o pouco sentido da utilização da
escrita para estes povos cuja cultura fundamenta-se milenarmente em práticas
orais. A observação da aquisição da linguagem oral possibilita o conhecimento de
importantes pistas sobre o ensino da escrita, conforme afirmações de Emília
Ferreiro:
BIBLIOGRAFIA
FERREIRO, Emília. Passado e Presente dos verbos ler e escrever. São Paulo,
Cortez, 2002.
SMITH, Frank. Leitura significativa. 3. ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1999.