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Edição: Carlos Vieira Editoração: Ulisses Demétrio

João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 14 de abril de 2019 A UNIÃO

FMI afirma que a economia


global vive momento delicado
Apesar de não prever uma recessão mundial, a chefe do fundo, Gita Gopinath, diz que “há muitos riscos” no horizonte
Foto: Getty Images

Kelly
Da BBC New

A economia global está

Oliveira
no que a economista-chefe
do Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) chama de
“momento delicado”.
Gita Gopinath diz que,
embora não anteveja uma
mensagenskelly@gmail.com
recessão global, “há muitos
riscos” no horizonte.
O FMI acaba de lançar
a mais recente edição do O Abril Indígena
relatório World Economic
Outlook, que estima que a
economia mundial vai cres-
na Era Bolsonaro
cer 3,3% neste ano e 3,6%
em 2020. No mês em que se comemora o Dia do Índio, o tema
Trata-se de um cres- que permeia as redes sociais e noticiários é o de um em-
cimento mais lento do que bate generalizado entre as políticas públicas federais e
o do ano passado - e, no os povos indígenas. Estamos em um processo de repro-
que diz respeito a 2019, cesso de direitos étnicos e de violência generalizada,
uma redução de 0,2 pontos que só tende a se agravar nos próximos dias, quando
percentuais em relação à será realizado em Brasília o 16º ATL – Acampamento
previsão inicial do próprio Os motivos, diz o rela- comerciais com os EUA e Para o Brasil, a previ- Terra Livre, que reúne indígenas de todo o país em Bra-
FMI. O organismo reviu tório, são “uma confluên- desastres naturais que afe- são do FMI é de crescimen- sília, na maior assembleia de povos do Brasil.
para baixo sua previsão de cia de fatores afetando as taram o desempenho do to de 2,1% neste ano (uma Na última semana pipocaram uma série de notícias
crescimento em 2019 para principais economias”, en- Japão. Também puxam as redução de 0,4 pontos per- sobre a questão indígena. Na quinta-feira tivemos o pre-
todas as economias desen- tre eles a desaceleração da expectativas para baixo as centuais em relação à es- sidente Jair Bolsonaro, em mais uma de suas “lives” no
volvidas do mundo - par- China (que, ao reduzir suas perspectivas de crescimen- timativa feita em janeiro) Facebook, acusando o ATL – sem nenhuma prova, diga-
ticularmente EUA, zona do importações, freia o cres- to menor na América Lati- e de 2,5% no ano que vem se de passagem - de usar dinheiro público e chamando
euro, Japão, Reino Unido e cimento do resto do mun- na, no Oriente Médio e no (aumento de 0,3 pontos isso de “farra”. No dia seguinte a coordenadora da APIB
Canadá. do), o aumento das tensões norte da África. percentuais). – Articulação do Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajaja-
ra desmentiu para a Folha de São Paulo a acusação a ir-
mando que “nunca o ATL recebeu um centavo de recursos

Previsões refletem desaceleração desde 2018 públicos para fazer essa mobilização. É uma iniciativa dos
próprios parentes [indígenas], que se organizam o ano in-
teiro para chegar a Brasília”. Eu, como pesquisadora a 20
As previsões globais refle- A economista afirma que der força, crescendo menos de anos do movimento indígena, posso atestar que o argu-
tem uma desaceleração que muito dependerá do desempe- 2% no ano que vem, à medida mento da APIB é bastante sólido.
vem desde o final de 2018, nho de economias em desen- que diminuir o impacto dos Na mesma quinta-feira o presidente Bolsonaro assi-
estimulada por fatores como a volvimento sob estresse, como cortes de impostos promovidos nou dois decretos de desburocratização que, na prática,
disputa comercial entre Estados a Turquia e a Argentina - esta pelo presidente Donald Trump. extinguem diversos conselhos federais, entre eles o CNPI
Unidos e a China, algo que o última enfrenta uma combina- Não há nenhum sinal de – Conselho Nacional de Política Indigenista, que reunia
representantes de diversos ministérios de governo e li-
FMI prevê durar até o final deste ção de inflação, alta do dólar e simpatia, por parte do rela-
deranças indígenas discutindo políticas especí icas e os
semestre. recessão econômica, e recorreu tório do FMI, com a visão de
impactos destas para as comunidades étnicas.
Depois disso, o crescimen- a um empréstimo bilionário do Trump de que o principal fator Junta-se a esse ato o desmonte da SESAI – Secretaria
to global deve ganhar mais próprio FMI. impedindo o crescimento dos de Saúde Indígena, que garante um atendimento voltado
fo r ç a, pr o s s e gu i n d o a té o Gopinath também prevê EUA é o aumento das taxas de à valorização das especi icidades e conhecimento tradi-
ano que vem. Mas Gopinath uma recuperação parcial da juros por parte do Fed (o banco cional dos indígenas, aliando medicina tradicional e con-
descreve essa retomada como zona do euro. Já a economia central americano) nos últimos vencional O im da SESAI chegou a ser anunciado pelo mi-
“precária”. dos EUA deve continuar a per- dois anos. nistro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que pretendia
municipalizar o atendimento. Ele recuou da decisão após
pressão de indígenas de todo o país.
O tema da saúde indígena foi retomado na quin-
Economista aponta sinais de problemas ta-feira durante audiência pública na Comissão de Di-
reitos Humanos e Legislação. Nela a senadora Soraia
Foto: Fórum Econômico Mundial Thronicke (PSL/MS) disferiu discurso completamente
Para a economista-chefe desinformado sobre questões indígenas, com opiniões
do Fundo Monetário Interna- preconceituosas e poucos fatos que as sustentassem.
cional, Gita Gopinath, os riscos Coube a Sônia Guajajara, novamente, esclarecer os pre-
globais atuais incluem a pos- sentes de que os indígenas o que está em jogo é uma
sibilidade de mais tensões no disputa pelo ganho de capital.
comércio internacional. A verdade, de fato, é que tais embates, com propos-
Gopinath cita como tas do Governo Federal para revisão de demarcação
exemplo o setor automo- de terras indígenas, entrada de mineradoras e madei-
tivo, área na qual Trump reiras nas áreas e redução de políticas sociais para os
avalia impor novas tarifas povos re lete uma guinada a favor do grande negócio
sobre produtos importados. As terras indígenas representam um Eldorado para a
Outro sinal de alerta ganância capitalista, onde territórios preservados re-
vem do Brexit, o processo presentam oportunidades únicas. Estamos no meio de
de saída do Reino Unido uma guinada colonialista, onde o Governo Bolsonaro
da União Europeia. O FMI e seus aliados agem como os primeiros paci icadores
reduziu para baixo as ex- missionários tentando civilizar os índios em bene í-
pectativas de crescimento cio de um modo de vida capitalista.
da economia britânica sob Ao contrário do Brasil de 1500, no entanto, os povos
a perspectiva de que o Par- indígenas vivem hoje um momento de autonomia política
lamento britânico consiga e social Temos hoje indígenas nas mais diversas pro is-
chegar a um acordo para sões, estudantes universitários que articulam identida-
uma saída ordenada da UE, des étnicas especí icas e inserção na sociedade brasilei-
o que ainda está longe de ra de forma efetiva. Diferente do índio genérico descrito
ser garantido. pelos cronistas no descobrimento, os indígenas hoje não
Um Brexit abrupto e aceitam mais o Estado com o monólogo sobre decisões
sem acordo poderá ter um que interferem em suas vidas.
impacto ainda mais duro Foram muitos anos para conquistar espaços que
no crescimento da econo- hoje estão sendo ameaçados por uma tentativa mas-
mia do Reino Unido. siva de tentar empurrar os índios para um espaço de
Além disso, o relatório silêncio e repressão. Uma tentativa que, para qualquer
do FMI vê riscos possíveis um que conheça a determinação dos povos indígenas,
de deterioração nos merca- se mostrará infrutífera. Mas, nesta luta, infelizmente,
dos financeiros globais, que muito sangue ainda poderá ser derramado, a não ser
aumentem os custos para que a sociedade brasileira entenda que este não é um
empréstimos globais, inclu- problema só dos indígenas.
sive para governos que pre-
cisem financiar suas obras. (Kelly Oliveira é Antropóloga e professora da UFPB)

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