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Guia de Responsabilidade

Socioambiental
Carta de abertura 03
Sumário executivo 06
Introdução 08
I. Regulamentação socioambiental no Sistema Financeiro Nacional 16
A - Leis 18
B - Resolução comentada – CMN nº 4.327/2014 20
C - Regulações socioambientais específicas 30
D - Outras normas vinculadas à Responsabilidade Socioambiental 31

II. Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) 34


A - Princípios de RSA 39
B - Diretrizes da política 40
C - A responsabilidade socioambiental na organização e nos negócios 44
D - Estrutura de governança 50

III. Gerenciamento dos riscos socioambientais 54


A - Mapeamento dos negócios e dos riscos 57
B - Avaliação socioambiental nas operações de crédito 62
C - Operações com garantias imobiliárias 64
D - Registro das perdas 65

IV. Capacitação 66
V. Plano de ação 68
VI. Conclusão 79
Guia de Responsabilidade Socioambiental 2
3 PwC | ABBC

Carta de abertura

O tema responsabilidade apenas alguns. No Brasil, em 1981,


socioambiental vem ocupando, ao como marco legal, foi instituída a
longo dos últimos anos e de forma Política Nacional do Meio Ambiente,
gradativa, a agenda das empresas com a edição da Lei nº 6.938. Em
ao redor do mundo e também no 1988, a Constituição Federal, em seu
Brasil. Discute-se, cada vez com artigo 225, § 3º, teve a preocupação de
mais intensidade, sobre o papel das estabelecer – entre outras disposições
organizações – e da sociedade como sobre o assunto – que “condutas
um todo – e a incorporação de questões e atividades consideradas lesivas
socioambientais e finanças sustentáveis ao meio ambiente sujeitarão os
na gestão e nas estratégias de negócio. infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
Diversos organismos nacionais e a sanções penais e administrativas,
internacionais têm dedicado especial independentemente da obrigação
atenção ao tema, realizando estudos, de reparar os danos causados”,
aprofundando debates, oferecendo estabelecendo para o poluidor
sugestões e recomendações, auxiliando as responsabilidades nas esferas
e participando na construção de um administrativa, civil e penal.
modelo que beneficie a todos.
No caso particular das instituições
Desde a Conferência de Estocolmo, financeiras, vale lembrar que, já em
em 1972, considerada por muitos o 1992, na Declaração Internacional
primeiro grande evento mundial sobre dos Bancos para o Meio Ambiente
o meio ambiente, quando o debate e Desenvolvimento Sustentável, foi
entre desenvolvimento e ambiente evidenciado o compromisso com a
ecologicamente equilibrado começou sustentabilidade ambiental pelos
a ser travado, o assunto vem ganhando diversos sistemas financeiros. Isto foi
espaço nos meios regulatórios, feito por meio da inserção das questões
empresariais e acadêmicos, para citar ambientais na avaliação dos riscos de
Guia de Responsabilidade Socioambiental 4

investimento e financiamento, do Com base no cenário de crescente Vale lembrar que a edição dessa
apoio ao desenvolvimento de produtos importância do tema e na constatação resolução foi precedida por um
e serviços voltados à proteção do meio de que, indistintamente, todas longo debate, do qual participaram
ambiente e, por fim, das questões as instituições integrantes do diversos representantes da sociedade
internas, o que abrangia a utilização sistema financeiro estão sujeitas civil, inclusive das entidades
racional dos recursos energéticos, a riscos decorrentes de questões representativas das instituições
hídricos e de materiais. socioambientais, o Conselho financeiras, entre elas a ABBC. No
Monetário Nacional, acatando processo de audiência pública que fez
Desde então, diversos outros proposta do Banco Central do Brasil, parte da ampla discussão promovida,
compromissos, documentos, editou regulamentação específica a associação registrou entendimento
recomendações e iniciativas dispondo sobre as diretrizes a serem de que a disciplina da matéria traria
voluntárias foram firmados e adotados observadas no estabelecimento inegáveis benefícios para o sistema
em diversos países. No Brasil, o e na implantação da política de financeiro e para a sociedade como
tema Finanças Sustentáveis ganhou responsabilidade socioambiental. um todo. Adicionalmente, a ABBC
especial relevância nos últimos anos, teve oportunidade de contribuir com
ficando latente a necessidade de Na referida Resolução nº 4.327, de algumas considerações, especialmente
adequada avaliação e gerenciamento 25 de abril de 2014, o regulador alertando sobre a necessidade de
do risco socioambiental por parte das estabeleceu que a própria instituição evitar dispositivos que trouxessem
instituições financeiras. elabore e aprove sua política, o riscos não medidos à concessão
que deve ser feito observando dois de crédito, além de sugerir que o
Por outro lado, apesar da percepção princípios fundamentais: o da processo ocorresse de forma gradual
dos diversos riscos associados às relevância e o da proporcionalidade. e de comum acordo com o órgão
questões socioambientais, essa O que vai determinar a política são supervisor. Houve também o aporte
pauta também pode ser tratada os diferentes riscos, a atividade e para a elaboração do texto final, por
como oportunidade, fazendo com os perfis operacionais de cada uma meio dos diversos encontros e oficinas
que a prevenção de perdas e danos delas. Por outro lado, o sucesso da realizados com o regulador.
econômicos resulte em melhoria implementação dependerá do pleno
na eficiência da instituição como envolvimento da alta administração
um todo. Isto também pode ser da instituição no processo, da
observado por meio da abertura disseminação das boas práticas
de novos mercados, por exemplo, socioambientais em todos os níveis
o de financiamento de atividades organizacionais e do permanente
produtivas sustentáveis, novas monitoramento e acompanhamento
tecnologias, seguros, e outra vasta das operações pelas áreas diretamente
gama de possibilidades. envolvidas e impactadas.
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Com base nesse cenário, como


presidente da ABBC, tenho a satisfação
de colocar à disposição dos associados
e do público em geral o Guia de
Responsabilidade Socioambiental.
Estou convicto de que este guia
proporciona ampla abordagem
sobre o tema, com foco no perfil
de nosso público-alvo. Além disso,
ele será um disseminador de boas
práticas e servirá como orientador
para a implantação da política de
responsabilidade socioambiental
nas instituições financeiras. O guia
permite ao leitor o acesso a uma gama
de informações e referências úteis Manoel Felix Cintra Neto
para pesquisa daqueles que desejam
Presidente da ABBC – Associação
aprofundar o conhecimento sobre o
Brasileira de Bancos
tema. Nesse sentido, entendo que a
divulgação e a disseminação de seu
conteúdo nas instituições atende ao
propósito de reforçar a governança
interna de todos os associados.

Creio, finalmente, que a edição


deste guia se soma às diversas outras
iniciativas que a associação vem
adotando para contribuir com o
aperfeiçoamento e com a eficiência do
Sistema Financeiro Nacional.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 6

Sumário executivo

Este guia foi elaborado pela leis e normas que relacionam


ABBC e revisado por especialistas instituições financeiras com o tema
em sustentabilidade da PwC. O socioambiental, como as que tratam
objetivo do material é fornecer, dos direitos dos clientes e usuários,
ao associado da ABBC e às demais ou seja, ouvidoria, transparência nas
instituições financeiras, uma visão relações contratuais, portabilidade
ampla do assunto, bem como do crédito, política de “Conheça seu
ser um instrumento de consulta Cliente”, entre outros.
para auxiliar no entendimento e
na orientação quanto às normas O segundo capítulo busca orientar
estabelecidas e os aspectos as instituições financeiras sobre
socioambientais relacionados. Assim, os principais aspectos a serem
ele foi organizado em seis capítulos, contemplados pela Política de
de forma a permitir uma leitura Responsabilidade Socioambiental
contínua, ou pontual, por capítulo (doravante PRSA), de acordo
específico. com a Resolução nº 4.327/2014.
O assunto é tratado de forma
O primeiro capítulo aborda a segmentada, abordando inicialmente
regulação socioambiental no âmbito os aspectos inerentes ao conceito de
do Sistema Financeiro Nacional, responsabilidade socioambiental.
além das principais leis e normas Na sequência, o item ocupa-se da
relacionadas ao assunto. A Resolução estruturação da Política, passando
nº 4.327/2014, do Conselho a dispor sobre o mapeamento das
Monetário Nacional, ganha destaque partes interessadas e o perfil de
especial em versão comentada, que negócios. Ademais, traz orientações
procura esclarecer seus principais sobre a estrutura de governança para
conceitos e determinações. O capítulo implantação e monitoramento das
também apresenta as principais ações da PRSA.
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O terceiro capítulo é dedicado O quinto capítulo discute o


ao gerenciamento do risco plano de ação, item de extrema
socioambiental. A exemplo do importância exigido pela Resolução
item anterior, para uma melhor nº 4.327/2014. Trata-se de um
compreensão e aproveitamento, instrumento para implementar as
tratou-se o tema também de forma diretrizes estabelecidas na política.
segmentada. Como será observado, o nível de
detalhamento do Plano deve ser
O quarto capítulo contempla compatível com os riscos mapeados
um tema fundamental para o e com a complexidade da instituição
sucesso da política – a capacitação. financeira e seus produtos e serviços.
Riscos e oportunidades em Em termos práticos, o plano de
responsabilidade socioambiental ação, além de servir como roteiro,
são temas relativamente novos para acompanhamento e melhoria das
muitas instituições financeiras e medidas estabelecidas, tem o papel
seus colaboradores. Dessa forma, de orientação aos trabalhos da Fernando Alves
faz-se necessário o treinamento supervisão direta do Banco Central.
Sócio-presidente - PwC Brasil
de todo o corpo funcional. Do
contrário, corre-se o risco de Por fim, o guia é concluído no sexto
não se atingirem os principais capítulo, reforçando o papel a ser
objetivos da política: a mitigação desempenhado pelas instituições
dos riscos e o aproveitamento das financeiras na promoção do
oportunidades de negócio. Nesse desenvolvimento sustentável do
sentido, a ABBC vem trabalhando país. Como se observa, há uma vasta
em diversas frentes, de modo a literatura envolvendo, de forma
apoiar a disseminação dos conceitos geral, aspectos socioambientais
socioambientais no contexto com o mundo corporativo e com o
do Sistema Financeiro, com o mercado financeiro.
lançamento de cursos presenciais,
virtuais e a produção deste guia. Esperamos que este guia possa
contribuir para o aperfeiçoamento
das práticas de responsabilidade
socioambiental das instituições
financeiras atuantes em nosso país.

Marcus Manduca
Sócio - PwC Risk Consulting
Guia de Responsabilidade Socioambiental 8

Introdução

As questões envolvendo a defesa e O debate em torno da sustentabilidade


a preservação do meio ambiente social e ambiental no setor financeiro
dizem respeito a todos – pessoas tem sido travado de forma cada vez
naturais ou jurídicas –, conforme mais equilibrada, principalmente
preconiza a Constituição Federal. com a crescente participação dos
No campo social, da mesma forma, agentes econômicos na construção
seja pelo aspecto legal, seja pelo de estratégias que permitam o
aspecto moral, a importância da desenvolvimento sustentável. Esta é
manutenção de regras socialmente a questão fundamental da discussão:
justas e equilibradas é determinante assegurar um crescimento saudável,
para o desenvolvimento sustentável preservando o meio ambiente e
de qualquer país. Essa combinação respeitando os direitos humanos.
de fatores pode ser sintetizada em Esse desafio insere as instituições
uma expressão: responsabilidade financeiras não apenas como
socioambiental. participantes da construção desse
modelo, mas também exercendo papel
É inquestionável o papel e a de liderança nele.
responsabilidade que as instituições
financeiras desempenham nesse O envolvimento do sistema financeiro
aspecto. Ao atuar como principal com as questões sociais e ambientais
agente para alocação de recursos teve início em 1992, como resultado
na economia, unindo diferentes do amadurecimento da discussão
interesses da sociedade, de fato, a sobre a importância do tema para as
instituição financeira deve ocupar atividades econômicas, iniciada 20
papel de destaque em todo o anos antes, na Primeira Conferência
processo. Não é por outro motivo que das Nações Unidas para o Meio
o setor tem recebido a atenção cada Ambiente. O quadro a seguir traz
vez mais frequente de reguladores, um resumo dos principais eventos
acadêmicos, pesquisadores e históricos e das iniciativas nacionais
organismos internacionais. e internacionais que ajudaram a
introduzir o tema na agenda das
instituições financeiras:
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Evolução da responsabilidade socioambiental

Conferência de Estocolmo sobre o


Ambiente Humano da ONU
Congresso Internacional sobre o Meio
Ambiente: início do debate organizado sobre
desenvolvimento sustentável ante o desafio
de conciliar duas questões aparentemente
conflitantes: o crescimento econômico e a
preservação do meio ambiente.

1972 1987
Relatório Brundtland
(Nosso Futuro Comum)
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento: propõe que o desenvolvimento
sustentável é “aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de
as gerações futuras atenderem às suas próprias
necessidades”. Este modelo vincula o limite do bem
estar da sociedade ao limite máximo para utilização
dos recursos naturais, pressupondo um compromisso
de solidariedade mútuo e uma integração equilibrada
dos sistemas econômicos, social e ambiental.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 10

Evolução da responsabilidade socioambiental

Protocolo Verde
(Atualizado em 2008)
Iniciativa Financeira do Princípios e diretrizes de políticas e práticas
Programa das Nações Unidas socioambientais firmados pelos bancos públicos
para o Meio Ambiente (United brasileiros. Na Carta de Princípios para o
Nations Environmental Program Desenvolvimento Sustentável, os signatários
- Finance Iniciative - UNEP-FI) reconheceram seu papel na contínua melhoria do
Incorporação de aspectos bem-estar da sociedade e da qualidade do meio
socioambientais na gestão e ambiente. Compromisso semelhante foi assinado
nas estratégias de negócio das pelos bancos privados em 2009.
instituições financeiras.

1992 1995
Declaração Internacional dos Bancos para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Estabelecimento de compromisso das instituições financeiras com
a sustentabilidade ambiental, que deve levar em consideração
três aspectos: (i) a inserção do risco ambiental na avaliação de
investimentos e financiamentos; (ii) o apoio ao desenvolvimento de
produtos e serviços que promovam a proteção do meio ambiente;
(iii) as operações internas, incluindo a adequada administração do
consumo de energia, águas e matérias em geral.
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Índice Dow Jones de Sustentabilidade


(Dow Jones Sustainability Index – DJSI)
Índice criado com o objetivo de oferecer informações mais
precisas sobre o modelo de gestão de empresas e o compromisso
com ética, meio ambiente e aspectos sociais. Permite não apenas
acompanhar o desempenho financeiro das ações das empresas
listadas na Bolsa de Nova York, mas também o monitoramento
e a aferição do grau de sustentabilidade social e ambiental. Em
seguida, outros países criaram referenciais do gênero, como a
Inglaterra, em 2001; a África do Sul, em 2003; e o Brasil, em 2005.

1997 1999 2000


Global Reporting Initiative (GRI) Pacto Global (Global
Compact) da Organização
Desenvolvimento de padrão
das Nações Unidas
internacional para a edição de
relatórios de sustentabilidade Iniciativa criada para empresas
que abordam informações comprometidas alinharem
sociais, ambientais e econômicas operações e estratégias com base
das instituições. em dez princípios universalmente
aceitos nas áreas de direitos
humanos, trabalho, meio ambiente
e combate à corrupção. É
uma estrutura básica para
Modelo IBASE para relatório social desenvolvimento, implementação
Modelo de divulgação de ações de natureza social e divulgação de políticas e práticas
lançado em 1997 pelo Instituto Brasileiro de Análises de sustentabilidade, e oferece aos
Sociais e Econômicas (IBASE), fundado em 1981, participantes visão ampla de fluxos
pelo sociólogo Herbert de Souza – o Betinho. de trabalho, ferramentas de gestão
e outros recursos.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 12

Evolução da responsabilidade socioambiental

Princípios do Equador
Estrutura de gestão de risco composta por dez princípios,
adotada pelas instituições financeiras para identificar, avaliar
e gerenciar risco social e ambiental em projetos com valores
superiores a US$ 10 milhões. Tem por objetivo fornecer um
padrão mínimo para apoiar as tomadas de decisão de maneira
diligente e responsável. Os princípios são baseados nos
padrões de desempenho estabelecidos pelo Internacional
Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial.

2003 2005
Índice de Sustentabilidade Empresarial
(ISE) da BM&FBOVESPA
Ferramenta para análise comparativa da performance das
empresas listadas na BM&FBOVESPA comprometidas
com os princípios de gestão sustentável, com foco em
eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e
governança corporativa.

Pacto pela Erradicação do Trabalho Escravo


Comitê integrado pelo Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, pelo Instituto Observatório Social, pela
ONG Repórter Brasil e pela Organização Internacional do Trabalho. A
proposta visa a implantar ferramentas para que o setor empresarial
e a sociedade não comercializem produtos de fornecedores que se
utilizam do trabalho análogo ao trabalho escravo.
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Princípios para a Sustentabilidade em Seguros (PSI)


Iniciativa de teor semelhante ao PRI aplicável às empresas de seguro.
Lançada em 2012 no Rio de Janeiro, durante a Rio+20.

Contribuição Empresarial para a


Promoção da Economia Verde Inclusiva
Compromisso voluntário lançado em 2012, na
Rio+20, pela Rede Brasileira do Pacto Global.

2006 2012 2014


Princípios para o Investimento Responsável (PRI) Carta Empresarial pelos
Direitos Humanos e
Compromisso internacional dos principais investidores
Promoção do Trabalho
institucionais e gestores de ativos com boas práticas
socioambientais. O PRI foi lançado oficialmente na Bolsa Compromisso de respeitar os
de Valores de Nova York, depois em Paris, e lançado no direitos humanos e promover
Brasil em maio de 2006. O PRI, cuja adesão é voluntária, trabalho decente em suas
consiste na observância de seis princípios básicos atuações, construindo critérios
que incorporam as questões sociais, ambientais e de para fornecedores diretos e
governança corporativa às práticas de análise, decisão e clientes, e disseminando os
gestão de investimentos. princípios na cadeia de valor.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 14

Além das iniciativas de compromissos A sustentabilidade nos negócios


voluntários acima, outras ações têm tornou-se fundamental para as
surgido com o objetivo de fomentar operações de crédito, quando as
o debate. O IFC, por exemplo, tem questões sociais e ambientais
liderado a discussão no sistema passaram a ser tratadas como risco,
financeiro e lançou, em maio considerando as hipóteses de condutas
de 2012, o Sustainable Banking inadequadas por parte dos tomadores
Network, um grupo informal de recursos. As instituições financeiras,
de reguladores e associações de por estarem indiretamente ligadas às
instituições financeiras criado para atividades produtivas, passaram a ser
auxiliar mercados emergentes a vistas como parte integrante dessa
desenvolverem políticas ambientais cadeia e, consequentemente, a elas foi
e guias para gerenciamento de risco atribuída a corresponsabilidade nas
socioambiental e compartilhamento situações de atividades poluidoras ou
de fontes de conhecimento e danos ambientais.
tecnologias.
Adicionalmente, com as mudanças
Com esse mesmo propósito, a populacionais, ampliação da
UNEP-FI lançou o relatório Stability expectativa de vida, aumento da
and Sustainability in Banking Reform, população economicamente ativa
alertando sobre a relevância dos e o surgimento de novas empresas,
riscos ambientais sistêmicos para as questões sociais e ambientais
o equilíbrio do sistema bancário, deverão ficar mais evidentes, pois
propondo reflexão sobre a serão aplicadas a um maior número de
estabilidade em razão do inadequado pessoas, ampliando a demanda por um
ou do insuficiente tratamento do ambiente saudável.
risco socioambiental por Basileia III.
Em decorrência do mencionado
movimento voltado à sustentabilidade,
outra variável de risco passou a
ser identificada pelas instituições
financeiras como inerente aos negócios.
Esse contexto não está somente
relacionado ao risco, mas também,
ao proporcionar a compreensão das
atividades econômicas atuais e futuras,
permitirá a identificação de novas
oportunidades no mercado.
15 PwC | ABBC

Oportunidades
Questões socioambientais não estão associadas apenas aos riscos. Elas podem
gerar oportunidades efetivas de negócio e se tornar uma vantagem competitiva.
Para identificar esse potencial, é preciso estar aberto à inovação.

Medidas de ecoeficiência são um exemplo claro de como


questões socioambientais podem trazer benefícios e ganhos
reais. Trocar lâmpadas de tecnologia obsoleta por outras
mais eficientes, criar programa de redução de uso de papel e
implantar um programa de redução do uso de água são casos
clássicos nos quais é possível economizar e, simultaneamente,
agir com responsabilidade no uso dos recursos naturais.

Entretanto, há outras situações em que uma instituição


financeira pode encontrar oportunidades de negócio. Por
exemplo, há no mercado linhas de financiamento mais
baratas, voltadas ao desenvolvimento social e ambiental.
Vejamos um caso real: uma instituição financeira usou uma
dessas linhas especiais para financiar o plantio de eucaliptos
em áreas de pastagem já degradadas, para uma empresa de
papel e celulose. Em outro exemplo, uma empresa agrícola
ameaçada de entrar na lista de trabalho escravo por conta das
instalações usadas por seus funcionários recebeu assessoria e
financiamento para a adequação do local.

Projetos de cunho social podem ser também instrumento


essencial para criar um relacionamento próximo e benéfico
com clientes atuais e potenciais. Dessa forma, o apoio a
projetos social e ambientalmente responsáveis, além de gerar
ganhos reais para a sociedade e a instituição, melhoram sua
imagem perante o público. 
Guia de Responsabilidade Socioambiental 16

Capítulo I

Regulamentação socioambiental
no Sistema Financeiro Nacional

A regulação socioambiental, como As instituições financeiras, sob Muitos desses princípios foram
nas demais regras aplicáveis ao o aspecto estritamente legal, incorporados ao arcabouço legal
Sistema Financeiro Nacional (SFN), são obrigadas a observar a brasileiro já em 1981, pela Lei
é composta por leis – neste caso, regulamentação sobre o assunto há nº 6.938/1981 da Política Nacional
envolvendo toda a sociedade e mais de 30 anos. Vários princípios do do Meio Ambiente e pela Constituição
os demais setores da economia Direito Ambiental, envolvendo, por Federal, promulgada em 1988, que, no
– e também por documentos exemplo, a tríplice responsabilidade artigo 225, assegura “a todos o direito
adicionais. Em relação ao meio pelo dano – civil, administrativa e ao meio ambiente ecologicamente
ambiente, a maioria delas é editada penal – e a responsabilidade civil equilibrado, bem de uso comum do
pelo Conselho do Meio Ambiente objetiva e solidária, já fazem parte povo e essencial à sadia qualidade de
(CONAMA) e pelos conselhos do dia a dia de várias instituições. vida impondo-se ao Poder Público e à
estaduais. No que tange ao sistema Da mesma forma, os princípios do coletividade o dever de defendê-lo e
financeiro, elas são editadas pelo poluidor-pagador e do protetor- preservá-lo para as presentes e futuras
Conselho Monetário Nacional (CMN) recebedor, da prevenção e da gerações”. Adicionalmente, são
e pelo Banco Central do Brasil (BCB). precaução, entre outros, incluem-se estabelecidas as seguintes obrigações:
entre aqueles a serem observados,
quando se trata do dever de cuidado
com o meio ambiente.
17 PwC | ABBC

Essa diversidade de regulamentação Esse conjunto de normas,


§ 3º - As condutas e atividades reforça a necessidade de a instituição aqui denominado “Regulação
consideradas lesivas ao meio financeira aperfeiçoar a governança, Socioambiental”, aproxima a
ambiente sujeitarão os infratores, os controles internos e a estrutura de instituição financeira de diversos
pessoas físicas ou jurídicas, a Compliance, de forma a proporcionar atores e suas decisões, entre os quais
sanções penais e administrativas, condições para o acompanhamento merecem destaque, além do próprio
independentemente da obrigação de tempestivo da evolução dessa regulador, as Justiças Federal e
reparar os danos causados. legislação e estar atualizada sobre Estadual, o Ministério Público, o
as decisões judiciais, respectivas Ministério do Meio Ambiente, o
jurisprudências e recomendações IBAMA, as agências reguladoras
sobre o tema. estaduais, os órgãos de proteção
ao consumidor, o Ministério do
Trabalho e Emprego, além dos
governos estaduais e municipais.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 18

No quadro seguinte, são apresentados, em caráter ilustrativo, alguns


A. Leis exemplos de leis que, de alguma maneira, ainda que não diretamente
ligadas ao SFN, envolvem as instituições financeiras:

Direito difuso Ação civil pública Art. 1º - Lei nº 7.347, de 1985


Art. 3º - Lei nº 7.347, de 1985
Art. 5º - Lei nº 7.347, de 1985

Aspectos Poluidor indireto Art. 3º inciso IV - Lei nº 6.938, de 1981 - Lei PNMA
ambientais Art. 2º - Lei nº 9.605, de1998 - Lei de Crimes Ambientais

Responsabilidade civil objetiva Art. 927 - Lei nº 10.406, de 2002 – Novo Código Civil

Obrigações para instituições Art. 12 - Lei nº 6.938, de 1981


financeiras

Licenças ambientais Art. 19, § 3º - Decreto nº 99.274, de 1990

Educação ambiental Art. 3º, V - Lei nº 9.795, de 1999

Corresponsabilidade pelo dano Art. 2º - Lei nº 11.105, de 2005 - Lei de Biossegurança


ambiental na biossegurança

Mudança climática Lei nº 12.187, de 2009 - Política Nacional sobre Mudança do


Clima

Geração de resíduos e áreas Arts. 1º e 3º - Lei nº 12.305, de 2010 - Política Nacional de


contaminadas Resíduos Sólidos

Novo Código Florestal – Acesso Art. 78, A- Lei nº 12.651, de 2012 (Código Florestal Brasileiro)
ao Crédito Rural
19 PwC | ABBC

Aspectos Direitos trabalhistas Decreto-Lei nº 5.452, de 1943 - Consolidação das Leis


sociais do Trabalho Art. 7º - Constituição Federal, de 1988

Terceirização Resolução nº 194, de 2014, Súmula nº 331 do Tribunal Superior


do Trabalho

Trabalho análogo ao escravo Art. 149 - Lei nº 10.406, de 2002 – Novo Código Civil

Trabalho infantil Arts. 60 a 69 - Lei nº 8.069, de 1990- Estatuto da Criança e do


Adolescente

Diversidade social (Estatuto Lei nº 12.288, de 2010 - Estatuto da Igualdade Racial


da Igualdade Racial)

Portadores de Art. 93 - Lei nº 8.213, de 1991 - Lei de Cotas para Portadores de


necessidades especiais Necessidades Especiais

Dever geral S/As Art. 116 - Lei nº 6.404, de 1976 - Lei das Sociedades Anônimas
com a
comunidade Cooperativismo Lei nº 5.764, de 1971 - Lei das Cooperativas

Lavagem de dinheiro Lei nº 9.613,de 1998 - Lei da Lavagem de Dinheiro

Lei Anticorrupção Lei nº 12.846, de 2013 - Lei Anticorrupção


Guia de Responsabilidade Socioambiental 20

Esta seção tem por objetivo apresentar a resolução comentada


B. Resolução comentada para orientação quanto às informações contempladas na norma:
– CMN nº 4.327/2014

Comentário A meta é garantir que as transações


Resolução nº 4.327, de financeiras sejam economicamente
25 de abril de 2014* A norma trata da implantação
viáveis, respeitando os aspectos
da Política de Responsabilidade
sociais e ambientais, de forma que
Dispõe sobre as diretrizes que devem Socioambiental (PRSA) pelas
essa eficiência seja alcançada por
ser observadas no estabelecimento instituições financeiras. Sob a ótica
meio da redução de riscos, bem
e na implementação da Política de do regulador, o principal objetivo da
como da gestão responsável dos
Responsabilidade Socioambiental resolução é a gestão de risco, buscando
recursos humanos.
pelas instituições financeiras e demais estimular e integrar todos os processos
instituições autorizadas a funcionar que envolvem a análise dos riscos já
A expectativa do regulador,
pelo Banco Central do Brasil. percebidos pela instituição com o
conforme anunciado em diversas
risco socioambiental.
oportunidades, por meio de
entrevistas, oficinas, palestras e
O cumprimento da resolução
reuniões, é implantar o projeto
está atrelado à inclusão de
de forma gradual e combinada,
dispositivos que buscam o contínuo
estimulando a efetiva participação
aperfeiçoamento da governança das
dos diversos atores envolvidos, sejam
instituições financeiras, visando a
as próprias instituições financeiras –
gerar um comportamento desejável e
principalmente com a participação
harmônico (level playing field)
das associações de classe –, sejam
para todo o Sistema Financeiro
órgãos e organismos governamentais
Nacional (SFN).
e privados, direta e indiretamente
envolvidos com o setor.
Nesse sentido, a norma deixa clara
a intenção de promover melhorias
Finalmente, o regulador incentiva
na eficiência sistêmica, sempre
fortemente a capacitação como
valorizando os princípios de aumento
instrumento imprescindível na
da competição, redução da assimetria
construção do projeto. Mais
de informações, resolução de conflitos,
uma vez, neste quesito, há forte
proteção ao cliente e às demais partes
expectativa quanto ao engajamento
interessadas, segurança e estabilidade
das associações representativas das
do mercado.
instituições financeiras.
21 PwC | ABBC

O Banco Central do Brasil, na forma


do art. 9º da Lei nº 4.595, de 31 de
dezembro de 1964, torna público que
o Conselho Monetário Nacional, em
sessão realizada em 24 de abril de
2014, com base no disposto nos arts.
4º, incisos VI e VIII, da referida Lei, 2º,
inciso VI, e 9º da Lei nº 4.728, de 14 de
julho de 1965, 20, § 1º, da Lei nº 4.864,
de 29 de novembro de 1965, 7º da Lei
nº 6.099, de 12 de setembro de 1974,
1º, inciso II, da Lei nº 10.194, de 14 de
fevereiro de 2001, 1º, § 1º, e 12, inciso V,
da Lei Complementar nº 130, de 17 de
abril de 2009, e 6º do Decreto-Lei
nº 759, de 12 de agosto de 1969,

Resolveu:
Guia de Responsabilidade Socioambiental 22

Capítulo I
Do objeto e do âmbito de aplicação

Comentário Entende-se como implantação


Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre não apenas o controle e o
as diretrizes que, considerados O ponto central da norma, expresso
acompanhamento das regras que a
os princípios de relevância e com clareza já em seu primeiro
própria instituição preconiza, mas
proporcionalidade, devem ser artigo, é a determinação de que cabe
também o efetivo engajamento
observadas no estabelecimento e à instituição financeira estabelecer e
de toda a instituição, inclusive do
na implementação da Política de implementar uma PRSA.
corpo diretivo, em todas as fases de
Responsabilidade Socioambiental implantação e manutenção.
(PRSA) pelas instituições Para tanto, devem ser observados
financeiras e demais instituições os princípios de relevância, ou
Como a decisão do regulador foi a
autorizadas a funcionar pelo Banco seja, o grau de exposição ao risco
de não padronizar a PRSA para não
Central do Brasil. socioambiental das atividades
resultar em custos desnecessários
e das operações da instituição
e indevidos, cada instituição deve,
Parágrafo único. Para fins do financeira e a proporcionalidade,
como ponto de partida, fazer uma
estabelecimento e da implementação ou a compatibilidade da PRSA, em
avaliação das atividades e operações
da PRSA, as instituições referidas relação à natureza da instituição e à
que pratica. Esta avaliação deve
no caput devem observar os complexidade de suas atividades e
levar em consideração também
seguintes princípios: de seus produtos financeiros. Esses
projetos em curso que porventura
conceitos são determinantes para o
agreguem novos mercados ao
I. relevância: o grau de exposição correto entendimento da norma e,
rol de atividades da instituição,
ao risco socioambiental das consequentemente, para a
como um diagnóstico interno.
atividades e das operações da adequada implantação da política.
Estas recomendações serão vistas
instituição; e com mais detalhes em capítulos
seguintes deste guia.
II. proporcionalidade: a
compatibilidade da PRSA
com a natureza da instituição e
com a complexidade de suas
atividades e de seus serviços e
produtos financeiros.
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Capítulo II
Da política de responsabilidade socioambiental

Comentário
Art. 2º A PRSA deve conter princípios § 3º As instituições mencionadas
e diretrizes que norteiem as ações no art. 1º devem estimular a Além de estabelecer que a PRSA
de natureza socioambiental nos participação de partes interessadas deve conter princípios e diretrizes
negócios e na relação com as no processo de elaboração da política que norteiem as ações de natureza
partes interessadas. a ser estabelecida. socioambiental, a norma dá ênfase
à necessidade de envolvimento das
§ 1º Para fins do disposto no caput, § 4º Admite-se a instituição de partes interessadas no processo de
são partes interessadas os clientes uma PRSA por: estabelecimento da política. Este é
e usuários dos produtos e serviços um dos pontos centrais da norma,
oferecidos pela instituição, a I. conglomerado financeiro; e ou seja, fazer com que o público
comunidade interna à sua organização interno e externo, que, de alguma
e as demais pessoas que, conforme II. sistema cooperativo forma, se relaciona ou interage com
avaliação da instituição, sejam de crédito, inclusive a a instituição, seja ouvido e participe
impactadas por suas atividades. cooperativa central de efetivamente de sua elaboração.
crédito, e, quando houver,
§ 2º A PRSA deve estabelecer a sua confederação e banco Embora haja artigo contendo
diretrizes sobre as ações estratégicas cooperativo. disposição mais precisa no fim
relacionadas à sua governança, da resolução, o regulador, desde
inclusive para fins do gerenciamento § 5º A PRSA deve ser objeto de logo, vincula a PRSA à diretoria ou
do risco socioambiental. avaliação a cada cinco anos por parte ao conselho de administração, ao
da diretoria e, quando houver, do determinar a periódica reavaliação
conselho de administração. no mínimo a cada cinco anos da
política instituída por parte da alta
administração da instituição.

Com o objetivo de reduzir custos, ele


admite que a PRSA seja utilizada pelo
mesmo conglomerado financeiro ou,
no caso das cooperativas de crédito,
por cooperativas centrais, bancos
cooperativos ou confederações,
quando houver.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 24

Capítulo III
Da governança

Art. 3º As instituições mencionadas I. implementar as ações no âmbito § 2º É facultada a constituição


no art. 1º devem manter estrutura da PRSA; de comitê de responsabilidade
de governança compatível com socioambiental, de natureza
o seu porte, a natureza do seu II. monitorar o cumprimento das consultiva, vinculado ao conselho de
negócio, a complexidade de serviços ações estabelecidas na PRSA; administração ou, quando não houver,
e produtos oferecidos, bem como à diretoria executiva, com a atribuição
com as atividades, processos e III. avaliar a efetividade das ações de monitorar e avaliar a PRSA,
sistemas adotados, para assegurar implementadas; podendo propor aprimoramentos.
o cumprimento das diretrizes e dos
objetivos da PRSA. IV. verificar a adequação do § 3º Na hipótese de constituição
gerenciamento do risco do comitê a que se refere o § 2º,
§ 1º A estrutura de governança socioambiental estabelecido na a instituição deve divulgar sua
mencionada no caput deve prover PRSA; e composição, inclusive no caso de
condições para o exercício das ser integrado por parte interessada
seguintes atividades: V. identificar eventuais deficiências externa à instituição.
na implementação das ações.

Comentário cabe também à instituição ser objetivamente considerados


garantir o cumprimento das regras os princípios de relevância e
Adicionalmente, é vinculada a
estabelecidas. Para isso, é necessária proporcionalidade.
estrutura de governança aos princípios
a implantação de mecanismos de
de relevância e proporcionalidade
gestão que facilitem e sistematizem O regulador não estipula quaisquer
que integrarão a política. É de grande
o monitoramento, a avaliação e a parâmetros para a constituição do
importância que essa estrutura seja
correção de medidas ou ações. órgão consultivo, com relação a
capaz de implementar as ações
tamanho ou composição. Entretanto,
estabelecidas pela própria PRSA e,
Embora o regulador faculte a criação ele determina que esteja subordinado
principalmente, monitorar, avaliar a
de um comitê de responsabilidade à alta administração a adoção
efetividade e verificar a adequação dos
socioambiental, a instituição do princípio da transparência e
processos estabelecidos.
financeira deve avaliar se a natureza que a composição seja divulgada
das atividades e operações justifica inclusive quando integrada por parte
Em suma, cabe à instituição financeira
a existência de tal estrutura. interessada externa à instituição. Isso
estabelecer os princípios e as regras
São evidentes os benefícios que sugere que o regulador considera
que constituirão a PRSA, considerando
a criação de um comitê traz à oportuna a indicação de um membro
os anseios das partes interessadas.
estrutura de governança. Em caso externo para a composição do comitê.
Nessa condição de formuladora,
de constituição desse comitê, devem
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Capítulo IV
Do gerenciamento do risco socioambiental

Comentário
Art. 4º Para fins desta Resolução,
define-se risco socioambiental como O gerenciamento do risco
a possibilidade de ocorrência de socioambiental, a ser tratado no
perdas das instituições mencionadas Capítulo III deste guia, é o núcleo
no art. 1º decorrentes de danos da norma em termos operacionais.
socioambientais. A redação desse artigo da norma
deixa clara a intenção do regulador
de tratar o assunto com foco no risco,
preocupando-se, inclusive, em defini-
lo como aquele associado a perdas
decorrentes de danos socioambientais.

Comentário
Art. 5º O risco socioambiental deve
ser identificado pelas instituições O regulador deu ênfase ao risco
mencionadas no art. 1º como um socioambiental, ao reservar artigo
componente das diversas modalidades específico para determinar que esse
de risco a que estão expostas. risco deve ser percebido e tratado
como parte dos demais aos quais
a instituição está exposta. Este
comando, a despeito de ser simples
e direto, encerra um conceito
de alta relevância, pois força a
instituição financeira a fazer uma
avaliação completa de seus processos
operacionais e a verificar como os
diversos riscos interagem.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 26

Comentário
Art. 6º O gerenciamento do risco socioambiental das instituições mencionadas
no art. 1º deve considerar: Este comando normativo está entre
os poucos que estabelecem ações
I. sistemas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar, específicas por parte das instituições
avaliar, monitorar, mitigar e controlar o risco socioambiental presente financeiras, fato que aumenta sua
nas atividades e nas operações da instituição; importância. Como a norma se
aplica a todas as instituições, elas
II. registro de dados referentes às perdas efetivas em função de danos devem considerar as situações ali
socioambientais, pelo período mínimo de cinco anos, incluindo valores, descritas como condição mínima
tipo, localização e setor econômico objeto da operação; para fazer o gerenciamento do
risco. Os princípios de relevância
III. avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais negativos de e proporcionalidade são
novas modalidades de produtos e serviços, inclusive em relação ao risco evidentemente aplicáveis a este
de reputação; e caso, mas apenas com relação
à complexidade dos processos
IV. procedimentos para de trabalho, e não quanto à
adequação do gerenciamento do risco socioambiental às mudanças necessidade de observância das
legais, regulamentares e de mercado. disposições regulatórias.
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Comentário
Art. 7º As ações relacionadas ao
gerenciamento do risco socioambiental Esta disposição reforça a intenção
devem estar subordinadas a uma do regulador em tratar os aspectos
unidade de gerenciamento de risco socioambientais nas atividades e
da instituição. operações da instituição como mais
um risco interligado aos demais riscos.
Parágrafo único. Independente Por esse motivo, a norma alerta sobre
da exigência prevista no caput, a necessidade de uma estrutura de
procedimentos para identificação, governança compatível com a dimensão
classificação, avaliação, do risco socioambiental a que está exposta.
monitoramento, mitigação e controle A resolução não apenas determina que o
do risco socioambiental podem ser risco socioambiental faça parte da mesma
também adotados em outras estruturas estrutura de gerenciamento dos demais
de gerenciamento de risco da instituição. riscos a que estão sujeitas as instituições,
como estimula que os processos de
trabalho inerentes à análise de cada risco
sejam realizados de forma coordenada.

Comentário
Art. 8º As instituições mencionadas
no art. 1º devem estabelecer critérios O artigo deixa evidente a preocupação
e mecanismos específicos de avaliação do regulador com o risco socioambiental
de risco quando da realização de em operações relacionadas a atividades
operações relacionadas a atividades econômicas com maior potencial de
econômicas com maior potencial de causar danos socioambientais. Por isso,
causar danos socioambientais. ele determina às instituições a adoção
de critérios e mecanismos específicos de
avaliação de risco. Desse modo, entende-se
que, para as atividades com maior potencial
de dano socioambiental, a gestão do risco
deve ser mais criteriosa, de preferência
ter equipe especializada para avaliação
e monitoramento. A leitura do primeiro
capítulo deste guia mostra claramente a
amplitude legal e regulatória do assunto.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 28

Capítulo V
Das disposições finais

Comentário
Art. 9º As instituições mencionadas no
art. 1º devem estabelecer plano de ação Embora tratado no capítulo “Das Disposições Finais”, o
visando à implementação da PRSA. que para alguns poderia significar menor importância, o
plano de ação é um dos pontos centrais da norma. Por este
Parágrafo único. O plano mencionado motivo, também será objeto de tratamento específico deste
no caput deve definir as ações guia, no Capítulo V.
requeridas para a adequação da
estrutura organizacional e operacional Sob a ótica do regulador, o plano de ação é o documento
da instituição, se necessário, bem como que servirá como instrumento de gestão para implantação
as rotinas e os procedimentos a serem da política. Será uma das principais ferramentas de
executados em conformidade com as acompanhamento e monitoramento das diretrizes
diretrizes da política, segundo estratégicas formalizadas na PRSA, seja por parte do
cronograma especificado pela supervisor, seja por parte da instituição financeira.
instituição.

Comentário
Art. 10. A PRSA e o respectivo plano
de ação mencionado no art. 9º devem O regulador teve a preocupação expressa de vincular a
ser aprovados pela diretoria e, quando efetividade da norma à necessidade de a política e o plano de
houver, pelo conselho de administração, ação serem aprovados pela alta administração da instituição.
assegurando a adequada integração Considerando que quem estabelece a PRSA e o respectivo plano
com as demais políticas da instituição, é a própria instituição, com a participação efetiva da diretoria
tais como a de crédito, a de gestão de ou do conselho, a responsabilidade pelo seu cumprimento e
recursos humanos e a de observância recai diretamente no alto comando.
gestão de risco.
Como desfecho, o regulador teve a preocupação de alertar a alta
gerência para assegurar a integração da PRSA com as demais
políticas da instituição, citando as de crédito, recursos humanos e
gestão de risco. Sobre esse artigo, fica claro que as ações da PRSA
não devem e não podem ser executadas exclusivamente por uma
unidade, uma equipe, ou até mesmo uma pessoa. A PRSA deve se
integrar toda à organização e contar com o engajamento dessas
áreas e também das demais para seu pleno funcionamento.
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Comentário
Art. 11. As instituições mencionadas
no art. 1º devem aprovar a PRSA e o O cronograma foi estabelecido
respectivo plano de ação, na forma com o objetivo de permitir que
prevista no art. 10, e iniciar a execução as determinações regulatórias
das ações correspondentes ao plano de possam ser cumpridas de forma
ação segundo o cronograma a seguir: gradual, sem impactos relevantes na
estrutura operacional das instituições
I. até 28 de fevereiro de 2015, financeiras, respeitando, inclusive, a
por parte das instituições premissa de não lhe imputar custos
obrigadas a implementar o desnecessários.
Processo Interno de Avaliação da
Adequação de Capital (Icaap), Para as instituições obrigadas a
conforme regulamentação em implementar o Processo Interno de
vigor; e Avaliação da Adequação de Capital
(ICAAP), foi concedido prazo de oito
II. até 31 de julho de 2015, pelas meses para a adaptação normativa.
demais instituições. Às demais instituições, o prazo foi de
15 meses.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 30

Comentário sustentável. Para que isso ocorra,


Art. 12. As instituições mencionadas a expectativa é que as instituições
no art. 1º devem: O artigo reforça os comandos relativos
financeiras, no mínimo:
à governança, bem como a relação
I. designar diretor responsável direta com o regulador, ao tratar da • Gerenciem o risco
pelo cumprimento da PRSA; designação de diretor responsável, socioambiental inerente às
da forma de divulgação da PRSA e atividades e às operações.
II. formalizar a PRSA e assegurar da manutenção da documentação • Observem os princípios de boa
sua divulgação interna e relativa à PRSA à disposição do Banco governança corporativa.
externa; e Central do Brasil. É determinante
• Promovam o engajamento das
que a instituição mantenha em seus
partes interessadas.
III. manter documentação relativa controles toda a documentação
à PRSA à disposição do Banco relativa à política em todas as fases. • Garantam a divulgação das
Central do Brasil. informações de forma oportuna
Ademais, as disposições da Resolução e precisa.
nº 4.327/2014 foram editadas • Adotem uma política compatível
com o objetivo de proporcionar com a natureza, a dimensão e as
condições para que as instituições características de seus negócios,
financeiras adotem uma política de avaliando adequadamente o
responsabilidade socioambiental que custo envolvido.
agregue valor à instituição, por meio
da mitigação de riscos e da busca de • Sejam indutoras de boas práticas
novas oportunidades de negócios que socioambientais entre seus pares
contribuam para o desenvolvimento e suas partes interessadas.


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Guia de Responsabilidade Socioambiental 32

Como complementação, este item traz as demais normas editadas


C. Regulações pelo Conselho Monetário Nacional relacionadas ao tema
socioambientais socioambiental. São ressaltadas a importância do conhecimento do
teor dessas normas pelas instituições e a utilização das informações
específicas nelas contidas como referência para futuros negócios.

Resolução nº 3.813 Circular nº 3.547


Condiciona o Crédito Agroindustrial (Processo Interno de Avaliação da
para expansão da produção e da Adequação de Capital - ICAAP): estabelece
industrialização da cana-de-açúcar ao que instituições financeiras com mais de
Zoneamento Agroecológico; veda o R$ 100 bilhões em ativos demonstrem,
financiamento da expansão do plantio no processo de avaliação e cálculo da
nos Biomas Amazônia e Pantanal e necessidade de capital, como consideram
Bacia do Alto Paraguai, entre outros. o risco decorrente da exposição a danos
socioambientais gerados por suas atividades.

2008 2009 2010 2011 2013


Resolução nº 3.545 Resolução nº 3.896 Resolução nº 4.267*
Refere-se ao Crédito Institui, no âmbito do Banco Nacional Dispõe sobre
Rural, determinando de Desenvolvimento Econômico e financiamentos de projetos
que as instituições Social (BNDES), o Programa para destinados à mitigação
financeiras exijam Redução da Emissão de Gases de e adaptação à mudança
dos tomadores de Efeito Estufa na Agricultura. do clima, lastreados em
crédito documentação recursos do Fundo
comprobatória de Nacional Sobre Mudança
regularidade ambiental. do Clima (FNMC).
Resolução nº 3.876
*Revoga a Resolução nº 4.008/2011
Veda a concessão de Crédito Rural
a pessoas físicas ou jurídicas que
mantenham trabalhadores em condições
análogas às de escravo, conforme
Cadastro de Empregadores instituído pelo
Ministério do Trabalho em e Emprego.
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D. Outras normas vinculadas à


Responsabilidade Socioambiental

Transparência contratual A norma da transparência contratual tem relação direta com a PRSA, tendo em
vista, principalmente, que suas determinações tratam da prestação de informações
Resolução nº 3.694, de 2009
necessárias à livre escolha da instituição ou de seus produtos por parte do cliente.
Para tanto, ela faz menção à importância das cláusulas contratuais que abordam os
mútuos deveres, responsabilidades e penalidades.
Transparência nas
operações de crédito Esse normativo se revela plenamente atual, não apenas por seus comandos
implícitos de que os contratos e os documentos devem ser elaborados com redação
Circular nº 2.905, de 1999
clara e objetiva, mas também e, principalmente, por mencionar que a redação
respectiva deve estar adequada à natureza e à complexidade da operação ou do
serviço prestado. Ou seja, a essência dessa norma está presente na regulamentação
da PRSA. O objetivo dessa determinação, portanto, é permitir o completo
entendimento do conteúdo do contrato e a perfeita identificação de condições,
prazos, valores, encargos, multas, entre outros.

No caso específico das operações de crédito, modalidade fortemente vinculada


às questões socioambientais, os contratos respectivos devem dispor claramente
sobre encargos e despesas incidentes no curso da operação, discriminando a taxa
efetiva mensal e anual equivalente aos juros, além de indexadores ou de bases
de remuneração.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 34

Tarifas Da mesma forma, a regulamentação sobre a cobrança de tarifas pela prestação de


serviços por parte das instituições financeiras tem forte relação com a PRSA. Vale
Resolução nº 3.919, de 2010
lembrar que essa norma se aplica somente às pessoas físicas ou microempresas. A
estrutura da norma sobre o assunto está baseada em quatro grandes grupos:
·· Serviços essenciais: dispositivo que trata das tarifas que não podem ser
cobradas ou que contam com limite para os eventos de cobrança gratuita.
·· Serviços prioritários: regra que padroniza as tarifas mais comuns por
meio de tabela específica, contendo os serviços, a abreviatura e a descrição
de seu propósito.
·· Serviços especiais: comando que trata da cobrança de tarifas que eventualmente
disponham de tratamento específico em legislação ou regulamentação própria.
·· Serviços diferenciados: disposição que trata da cobrança de tarifas
expressamente relacionadas no normativo.

Em termos práticos, a tarifa que estaria mais diretamente relacionada às operações


com impactos socioambientais é a de cadastro, e sua cobrança foi permitida
basicamente para suprir custos das ações relacionadas à “Política de Conheça
seu Cliente”. Neste caso, o valor deve refletir os esforços necessários para a
adequada avaliação do cliente. Ou seja, não existe possibilidade de cobrança de
tarifa específica para eventuais custos diretamente relacionados à contratação de
operações com impacto socioambiental.

Por outro lado, no caso dos serviços especiais, permite-se a cobrança de tarifas
em algumas operações, a exemplo daquelas relacionadas aos Créditos Rural,
Habitacional e ao Microcrédito. Nesta hipótese, faz-se necessária uma consulta às
regras específicas, para verificar a aplicabilidade da operação a ser realizada. Caso
isso ocorra, o contrato deve explicitar claramente tarifa, custos, periodicidade e,
principalmente, em qual comando regulatório ou legal a cobrança está amparada.
35 PwC | ABBC

Resolução nº 3.517, de 2007 Não menos importante do que os normativos anteriores, a norma sobre o CET
deve estar no centro das atenções das instituições. Ela trata da obrigatoriedade
Custo Efetivo Total – CET
da prestação de informações ao cliente previamente à contratação das operações
de crédito, modalidade fortemente vinculada às questões socioambientais, como
já foi destacado. Pelo fato de essas informações incluírem juros, tarifas, seguros,
entre outras, um tratamento adequado da matéria também se constitui em elemento
fundamental no processo de mitigação de risco.

Portabilidades de Crédito, Este conjunto normativo, fundamental no processo de estímulo à competição e à


Salário e Cadastral correção de assimetria de informações, também se revela fortemente vinculado à
constituição da PRSA. As instituições financeiras que buscam atrair novos clientes
Resoluções nº 3.401, de 2006;
a partir do oferecimento de condições mais favoráveis devem estar particularmente
nº 3.402, de 2006; e nº 2.835,
atentas aos processos de análise cadastral e documental, tendo em vista que
de 2001
as “portabilidades”, ao permitirem rápida migração de clientes e operações
interinstituições, poderiam eventualmente comprometer o processo normal
de análise.

Resolução nº 3.694, de 2009 Esta regra também está plenamente atrelada à regulamentação que trata da
responsabilidade socioambiental, ao dispor sobre a obrigatoriedade de adequação
Adequabilidade de Produtos e
dos produtos e serviços ofertados pela instituição às necessidades, interesses e
Serviços (Suitability)
objetivos dos clientes.

Resolução nº 3.954, de 2011 Considerando a importância que o segmento dos correspondentes – cuja atuação
está focada na prestação de serviços de atendimento a clientes e usuários da
Correspondentes no país
instituição contratante – ostenta no processo de distribuição do crédito no país, e
tendo em vista que eles atuam em nome e sob a responsabilidade das instituições
financeiras, é desnecessário alertar para o grau de envolvimento também desse
setor com a PRSA.

Essa importância, no mínimo, coloca os correspondentes como um dos principais


interlocutores da instituição financeira na execução da PRSA, figurando como parte
fortemente interessada. Em adição a essa relevância, a instituição financeira deverá
estar especialmente atenta às questões jurídicas que envolvem a matéria, ante os
evidentes riscos, diretos e indiretos, que essa relação impõe.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 36

Capítulo II

Política de Responsabilidade
Socioambiental (PRSA)

O conceito de responsabilidade Confrontando esse pensamento, no Dentro desse processo evolutivo,


socioambiental vem sendo discutido fim dos anos 1970, novas teorias em 1987, foi lançado o Relatório
há mais de quatro décadas, em um trouxeram a percepção da empresa Brundtland, em que, pela
contínuo processo de evolução. como entidade moral. A ideia de primeira vez, surge o conceito de
responsabilidade individual evoluiu “desenvolvimento sustentável” como
No início dos anos 1970, o para uma perspectiva organizacional, aquele capaz de suprir as necessidades
economista Milton Friedman publicou dissociando-se do assistencialismo da geração atual, garantindo a
o artigo “The social responsibility e da filantropia, passando a capacidade de atender às necessidades
of business is to increase its profits”, compreender as consequências do das futuras gerações, harmonizando
no New York Times1, que deu negócio para o meio ambiente e para o desenvolvimento econômico, a
início à discussão de que a única a sociedade. Dessa forma, as empresas proteção ambiental e a inclusão social.
responsabilidade social da empresa passam a ser vistas pela sociedade E, em 1992, durante a Conferência das
deveria ser dar lucro a seus acionistas. como estratégicas nos debates sobre Nações Unidas sobre Meio Ambiente
problemas ambientais e sociais. e Desenvolvimento (CNUCED), a
Rio-92, discutiu-se a necessidade de
conciliar consciência ecológica com
crescimento econômico.
1. FRIEDMAN, M. , The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits, The New York
Times Magazine, New York, Setembro, 1970.
37 PwC | ABBC

Nas três últimas décadas, relatórios das empresas. Desse modo, observou-
científicos trouxeram à tona diversos se, nesse período, o crescente número Responsabilidade Social pode ser
debates acerca dos problemas de empresas que passou a adotar a definida como o compromisso que
ambientais – aquecimento global, Responsabilidade Social Corporativa uma organização deve ter para
destruição da camada de ozônio, como parte de suas estratégias. com a sociedade, expresso por meio
devastação de florestas tropicais de atos e atitudes que a afetem
etc. O que se pôde observar foi Apesar da evolução da discussão, positivamente, de modo amplo,
o surgimento e o crescimento não existe um consenso sobre o ou a alguma comunidade, de
de organizações da sociedade conceito de responsabilidade social e modo específico, agindo de forma
(ONGs) exigindo dos governos ambiental das organizações. Alguns proativa e coerente no que tange a
ações mais concretas, por meio de focam a responsabilidade social como seu papel específico na sociedade
políticas públicas e de atuações um compromisso para a sociedade, e a sua prestação de contas para
socioambientais mais consistentes como Ventura (1999)2: com ela.

2. VENTURA, Elvira C.F. Responsabilidade social das organizações: estudo de caso no Banco
Central do Brasil. Dissertação (Mestrado em Administração). Escola Brasileira de Administração
Pública/Fundação Getulio Vargas. Rio de Janeiro: Ebap/FGV, 1999.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 38

Outros já incorporam na Em relação às instituições financeiras,


responsabilidade social aspectos a Resolução nº 4.327/2014 dá enfoque
ambientais, como Gaspar (2007)3: à responsabilidade socioambiental
como parte do negócio, estabelecendo
padrões mínimos aplicáveis aos
diferentes tipos de instituições
É um processo contínuo e progressivo
financeiras e demais autorizadas a
de envolvimento e desenvolvimento
funcionar pelo Banco Central, ao
de competências cidadãs da
abranger aspectos de eficiência,
empresa, com a elevação de
concorrência e mitigação de riscos. É
responsabilidade sobre questões
importante ressaltar que um crédito
sociais e ambientais relacionadas a
recusado em uma instituição em razão
todos os públicos com os quais ela
da inconformidade ambiental ou
interage: o corpo de colaboradores
social não pode ser aceito por outra
diretos (público interno), sócios e
instituição, pois o risco permanece no
acionistas, fornecedores, clientes
sistema financeiro.
e consumidores, mercado e
concorrentes, poderes públicos,
Outro aspecto importante a ser
imprensa, comunidade e o próprio
observado na política de RSA está
meio ambiente.
relacionado à sua construção e
implantação. A política não pode ser
estruturada por apenas uma pessoa
ou uma equipe. Deve envolver toda
a organização, da alta gestão aos
colaboradores da ponta, que lidam
diretamente com o cliente. Assim, os
conceitos de sustentabilidade social
e ambiental devem ser disseminados
em toda a instituição, para que todos
tenham consciência da importância
do tema para a organização e para os
negócios, atentando para os riscos e as
oportunidades.

3. GASPAR, Alberto de Faria. Responsabilidade socioambiental empresarial: do conceito à prática.


Disponível em: www.crescer.org/labideias.php?&idArt+4. Acesso em: 31 out. 2007.
39 PwC | ABBC

A PRSA deve ser um conjunto • Realizem operações com foco no


de compromissos perante as risco inerente à atividade e aos
partes interessadas para realizar demais riscos incorridos.
seus negócios com viabilidade • Observem os princípios de boa
econômica, responsabilidade social governança corporativa.
e adequação ambiental. Esses
compromissos devem abranger • Promovam interação com as
diretrizes estratégicas e a adoção partes interessadas.
de mecanismo de gestão de risco • Garantam a divulgação das
que permita identificar, analisar, informações de forma oportuna
categorizar, mitigar, controlar e e precisa.
monitorar os riscos socioambientais
• Adotem políticas compatíveis
presentes nos negócios.
com a natureza, a dimensão e as
características de suas operações,
Tendo em vista que a PRSA, por
avaliando adequadamente o custo
força normativa, integra a política
envolvido e a aplicabilidade.
estratégica da instituição, ela deve
ser elaborada de maneira realista, • Evitem causar ou contribuir para
para que possa ser exequível e impactos negativos à sociedade e
monitorada. Uma PRSA bem ao meio ambiente.
elaborada e bem conduzida, além • Respeitem os direitos humanos.
de agregar valor para a instituição
• Incentivem parceiros e
financeira, contribui para o
clientes a adotar princípios de
desenvolvimento sustentável do
responsabilidade socioambiental.
país e para a saúde do sistema
financeiro. A política também
deve promover o engajamento dos
clientes, para fomentar a adequação
socioambiental dos negócios. Para
que isso ocorra, a expectativa é
que as instituições financeiras,
no mínimo:
Guia de Responsabilidade Socioambiental 40

Vale ressaltar que, além do Conselho Em relação às cooperativas de Os princípios e as diretrizes


Monetário Nacional ter estabelecido crédito, os princípios da devem ser tratados como o eixo
a obrigatoriedade da constituição responsabilidade socioambiental principal da PRSA; por meio deles,
de uma PRSA a partir do ano de estão alinhados com os Princípios de é possível identificar qual a política
2015, essa responsabilidade já estava Cooperativismo presentes do Art. 4º estratégica de sustentabilidade a ser
prevista em outras regulações que da Lei nº 5.764/1971: adotada pela instituição. Além da
envolvem as instituições financeiras. • adesão livre e voluntária; PRSA, o regulador também exigiu um
Por exemplo, o Art. 116 da Lei plano de ação, uma ferramenta de
nº 6.404/1976 (Lei das S/A): • gestão democrática; gestão que servirá como instrumento
• participação econômica; de natureza operacional, voltado
para a execução e a consolidação dos
• autonomia e independência;
princípios e diretrizes nas ações de
Art. 116. [...] Parágrafo único: • educação, formação e informação; rotina da instituição.
O acionista controlador deve
usar o poder com o fim de fazer a • intercooperação;
companhia realizar o seu objeto • interesse pela comunidade.
e cumprir sua função social, e
tem deveres e responsabilidades A PRSA, ainda de acordo com a
para com os demais acionistas da Resolução nº 4.327/2014, deve
empresa, os que nela trabalham ser construída sobre três pilares
e para com a comunidade em que principais: os Princípios e Diretrizes,
atua, cujos direitos e interesses deve que norteiam as ações em função da
lealmente respeitar e atender. natureza dos negócios; a Estrutura de
Governança; e o Sistema de Gestão
de Risco Socioambiental.
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A regulamentação determina que a Eis alguns exemplos ilustrativos:


A. Princípios de RSA instituição deve estabelecer princípios • ética e transparência nos negócios
e diretrizes que incorporem práticas e relacionamentos;
de natureza socioambiental nos
negócios e na relação com as partes • foco nos resultados que gerem
interessadas. Por outro lado, não valor no longo prazo;
determina conteúdo-padrão para a • gestão participativa;
política. Além disso, ela deixa
• boas práticas de governança
evidente que este conteúdo deve
corporativa;
ser compatível com os objetivos da
instituição, com as características • valorização das pessoas;
operacionais e com a complexidade • busca pela sustentabilidade social
dos produtos e serviços oferecidos. e ambiental nos negócios e nos
relacionamentos;
A política estabelecerá os princípios
• excelência e qualidade nos
que nortearão as ações da instituição.
produtos e serviços;
O plano de ação, que será tratado em
capítulo específico deste guia, será o • respeito e fortalecimento de
instrumento para que esses comandos características culturais e
sejam cumpridos e executados. São econômicas da região;
ações distintas e de igual relevância. • respeito aos direitos humanos e
à diversidade;
Quais são esses compromissos e
• atuação com equidade;
princípios que, em seu conjunto,
formarão a PRSA? A própria • combate ao crime de lavagem de
regulamentação fornece elementos dinheiro e de corrupção;
para a elaboração, além de outras • estimulo às práticas social e
recomendações que a literatura sobre ambientalmente sustentáveis entre
o tema ou mesmo acordos nacionais e as partes interessadas;
internacionais firmados sugerem.
• fornecimento de produtos
e serviços adequados às
necessidades dos clientes;
• inclusão e educação financeiras;
• promoção do desenvolvimento
sustentável local, entre outros.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 42

B. Diretrizes da política

Para a definição das diretrizes, é a estratégia socioambiental escolhida


preciso conhecer o perfil de atuação pela instituição. Por isso, o regulador
e os negócios da instituição. Em exigiu que a PRSA seja aprovada
seguida, é necessário ponderar sobre pela diretoria ou pelo Conselho de
o que é relevante ou não para o Administração, quando houver.
negócio e identificar a materialidade
dos aspectos sociais e ambientais Considerando que cada instituição
para as partes interessadas. Se, por definirá suas próprias diretrizes
um lado, os princípios são básicos estratégicas, de acordo com o perfil
para qualquer tipo de instituição e o grau de complexidade de seus
financeira, por outro, à luz das negócios, em caráter ilustrativo,
diretrizes, é possível conhecer qual é seguem algumas sugestões de
diretrizes a serem adotadas:
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Gestão da política Relacionamento com


partes interessadas

• Estabelecer um código de ética


• Revisar continuamente processos
e conduta a ser seguido nos
de gestão incorporando os
negócios e nos relacionamentos
princípios desta política.
da instituição.
• Estabelecer mecanismos de ampla
• Promover ampla divulgação
divulgação da política, bem como
e capacitação do código de
disseminar interna e externamente
ética e conduta para funcionários
os princípios estabelecidos.
e fornecedores de produtos
• Integrar a PRSA às demais políticas e serviços.
estratégicas da instituição, como
• Criar programa de educação
de crédito, recursos humanos,
financeira para públicos de
gestão de riscos, controles internos,
interesse, como clientes e
auditoria interna etc.
colaboradores/funcionários etc.
• Estabelecer periodicidade de
• Respeitar e promover os direitos
renovação/atualização da política
humanos, rejeitando práticas que
de RSA.
estimulem o trabalho análogo
• Manter e verificar continuamente a ao trabalho escravo, a mão de
adequada estrutura de governança obra infantil, ou qualquer tipo de
capaz de assegurar e de monitorar violação aos direitos humanos.
o cumprimento da PRSA.
• Criar mecanismos efetivos
• Promover estudos, pesquisas e de engajamento das partes
intercâmbio de informações sobre externas interessadas para a
boas práticas socioambientais no criação da política (por exemplo:
sistema financeiro, com o objetivo audiência pública, painel de
de aprimoramento da política e das partes interessadas, envio de
ações a ela relacionadas. questionários etc.).
• Implantar/aperfeiçoar um canal
de comunicação para facilitar
a interlocução com as partes
interessadas.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 44

• Promover acessibilidade nos


Público interno espaços físicos da instituição, para
facilitar o acesso e a inclusão social.
• Promover a interação e o diálogo • Adotar boas práticas de
aberto entre os funcionários, por ecoeficiência na organização,
meio de canal de comunicação promovendo o consumo
com a administração e preservação sustentável de recursos naturais
do sigilo. e de materiais deles derivados,
• Adotar política e programas desenvolvendo indicadores para
internos de valorização da monitoramento.
diversidade.
• Promover programas
Fornecedores e clientes
contínuos de capacitação dos
colaboradores/funcionários.
• Estimular boas práticas
• Promover ações que visem à
socioambientais entre clientes e
melhoria da qualidade de vida do
fornecedores.
público interno e da comunidade
na qual a instituição está inserida. • Fortalecer o relacionamento
com fornecedores e clientes para
• Incluir os princípios de
reduzir assimetrias de informação,
sustentabilidade social e
mitigar riscos e avaliar possíveis
ambiental nos treinamentos
oportunidades de negócio,
dos colaboradores/funcionários
ampliando a política de
da instituição.
“Conheça seu Cliente” para
• Adotar práticas de valorização dos “Conheça seu Fornecedor de
empregados e de promoção dos produtos e serviços”.
valores pessoais e profissionais.
• Criar critérios socioambientais
• Adotar critérios de na contratação de fornecedores
sustentabilidade socioambiental alinhados à política da instituição.
nos processos de avaliação de
resultados e de desempenho dos
colaboradores/funcionários, com
vista à inclusão em política de
remuneração variável.
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Comunidade Produtos e serviços

• Estimular o trabalho voluntário • Prestar informações claras sobre


entre colaboradores/funcionários produtos e serviços oferecidos a
em benefício da comunidade local. clientes e usuários.
• Estabelecer parcerias com • Desenvolver e ofertar produtos
entidades governamentais, com o e serviços que gerem benefícios
objetivo de colaborar e fomentar o sociais e ambientais, adequados às
desenvolvimento sustentável local. necessidades da população.
• Prover financiamentos para
fomento de novas tecnologias que
Gestão de risco promovam o desenvolvimento da
economia verde.
• Implantar sistema de gestão • Considerar os riscos sociais e
de risco socioambiental nos ambientais na precificação dos
negócios: operações de crédito, produtos e serviços prestados.
investimentos, participações etc.
• Estimular diretrizes e políticas
corporativas de prevenção à Transparência e prestação
lavagem de dinheiro e combate de contas
à corrupção. • Produzir e publicar relatório
• Considerar os riscos sociais e socioambiental da instituição para
ambientais na elaboração de novos melhorar o nível de informação às
produtos e serviços. partes interessadas.
• Adequar o sistema de • Disponibilizar informações
gerenciamento de risco às financeiras e não financeiras que
mudanças legais, regulamentares permitam às partes interessadas
e de mercado. avaliar todas as dimensões de
atuação da organização.
• Estabelecer mecanismos de
avaliação socioambiental
de garantias.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 46

C. A responsabilidade
socioambiental na
organização e nos negócios

socioambiental um grande
A responsabilidade socioambiental guarda-chuva, contemplando
apresenta diversos conceitos que, de as diversas atividades internas
maneira geral, são voltados para o da instituição – envolvendo o
relacionamento da empresa com as relacionamento com fornecedores,
partes interessadas e com o meio em funcionários, comunidades afetadas –,
que atua. Poucas definições focam e também dos negócios – envolvendo
na responsabilidade e na inserção clientes, investidores, parceiros
dos aspectos socioambientais no etc. Dessa forma, a PRSA não é
negócio, como visto na principal política assistencialista, mas parte
preocupação contida na Resolução do negócio praticado nas instituições
nº 4.327/2014. A norma considera financeiras, por isso ela também diz
a política de responsabilidade respeito aos riscos e às oportunidades
relacionados às operações.
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Um bom exemplo disso é o


relacionamento das instituições
financeiras com os clientes. Caso as
instituições não adotem boas práticas
de RSA com seus clientes, uma
das principais partes interessadas,
tratando-os sem ética, transparência
e sem procurar oferecer produtos
e serviços adequados às suas
necessidades, ficarão sujeitas a riscos
de conformidade legal, podendo gerar
prejuízos financeiros imediatos e, no
limite, provocar um risco sistêmico.

Para o desenvolvimento da política


e das ações socioambientais, uma
importante etapa a ser cumprida é o
mapeamento das partes interessadas,
que se faz identificando, nos públicos
que se relacionam com a empresa,
as partes mais impactadas por suas
É importante destacar que as ações e seus produtos e serviços. Outra
dimensões da organização e do etapa igualmente relevante é a criação
negócio abordadas na política estão de um programa de engajamento
inter-relacionadas e, quando bem das partes interessadas, pois, a
conduzidas, tanto uma quanto a partir das contribuições advindas
outra geram valor para a instituição. de suas participações, é possível
De forma abrangente, os resultados avaliar a materialidade dos aspectos
positivos das boas práticas de socioambientais a serem contemplados
RSA ficam dispersos na dimensão pela política.
organizacional e, muitas vezes, são
identificados apenas em longo prazo. O quadro a seguir traz um resumo
Por outro lado, a materialidade da dos custos da irresponsabilidade
falta de boas práticas é mais visível, no relacionamento com as partes
pois gera resultados negativos em interessadas e os benefícios do seu
médio e até em curto prazo. engajamento e das boas práticas
socioambientais nesse relacionamento.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 48

Partes interessadas
Riscos x Oportunidades

Colaboradores/Funcionários Acionistas ONGs

Retenção Investimentos Cooperação


Produtividade de longo prazo Parceria

Greves Desinvestimentos Campanhas


Sabotagem

Governos Mídia Fornecedores

Mitigação de risco
Recompensa Melhorias de Qualidade na compra
Benefícios fiscais imagem e reputação de produtos e serviços

Suspensão/Encerramento Publicidade Risco legal


de Atividades negativa Risco de imagem
Multas

Financiadores Clientes Comunidade local

Fidelização Melhora da imagem


Redução do Abertura para Abertura de mercado
custo financeiro novos negócios Fidelização

Aumento do Perda de contratos Boicotes


custo financeiro Processos judiciais Risco de imagem
Boicotes Sabotagem

Seguradora Regulação/Mercado

Redução Abertura de
dos prêmios novos mercados

Perda de Perda de
cobertura mercado
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A visão de que sustentabilidade social Ainda em relação à dimensão Para a promoção da ecoeficiência nas
e ambiental faz parte do negócio de organizacional, um aspecto instalações da instituição financeira,
uma instituição financeira pode ser importante a ser considerado é necessária a implantação de um
uma abordagem nova para algumas na PRSA é a adoção de um sistema com indicadores, processos
entidades dessa área, principalmente sistema de uso mais eficiente dos e rotinas, a fim de que possa ser
porque a intermediação financeira, recursos, conceito conhecido auditado, monitorado e reportado
diretamente, não é um negócio de como “ecoeficiência”. A adoção de aos gestores responsáveis e às demais
grande impacto social e ambiental. práticas mais ecoeficientes em uma partes interessadas. No capítulo
O principal impacto do negócio instituição financeira pode parecer do plano de ação, serão descritos
das instituições financeiras sobre o irrelevante, já que apresenta baixo exemplos de boas práticas de
meio ambiente e sobre a sociedade impacto sobre o meio, por não ecoeficiência.
é indireto: ocorre por meio de seus participar do sistema produtivo,
clientes e/ou investidores que, em mas gera vários benefícios. Existem São várias as vantagens na adoção
muitos casos, fazem parte do setor sete elementos fundamentais para o de boas práticas de ecoeficiência nas
produtivo. alcance da ecoeficiência: instalações de instituições financeiras
– elas estão inter-relacionadas.
Embora as instituições financeiras não 1. Minimizar a intensidade do uso
façam parte do sistema produtivo, as de materiais
atividades internas também resultam 2. Minimizar a dispersão de
em impacto no meio ambiente. Por substâncias tóxicas
exemplo, também são emissoras de
3. Minimizar o uso de energia
gases de efeito estufa, contribuindo
e água
para o aquecimento global e para as
mudanças climáticas. Um programa 4. Fomentar a reciclagem e o reuso
de mitigação de emissões é bem- de materiais
vindo, por exemplo, com redução de 5. Optar pela utilização sustentável
viagens, estímulo à diminuição do de recursos renováveis
uso de veículo pelos colaboradores/ 6. Estender a durabilidade
funcionários e medidas dos produtos
compensatórias, como a compra de
7. Promover a educação das partes
créditos de carbono.
interessadas para um uso mais
racional dos recursos naturais
e energéticos
Guia de Responsabilidade Socioambiental 50

Reduz Mitiga riscos


custos ambientas

Engaja as partes
Garante interessadas Mitiga riscos
recursos naturais com questões à saúde
socioambientais

Melhora Reduz
qualidade de vida risco legal
51 PwC | ABBC

Outro aspecto importante a ser A implantação das ações Mudanças climáticas, crise de recursos
tratado na dimensão organizacional socioambientais no âmbito hídricos, exaustão de fertilidade dos
da política é o estabelecimento organizacional deve adotar os solos, acidez dos oceanos, poluição
de critérios socioambientais na princípios da relevância e da dos lençóis freáticos por excesso de
contratação de produtos e serviços proporcionalidade. Por exemplo, fertilizantes e agrotóxicos são alguns
junto aos fornecedores. A instituição para uma instituição com grande exemplos que geram impacto direto
deve ter procedimentos próprios, de número de agências, com uma sobre os negócios dos tomadores ou
modo a mitigar riscos e a incentivar as grande estrutura organizacional, emissores com os quais as instituições
boas práticas socioambientais entre as práticas de ecoeficiência têm fazem negócios.
seus fornecedores. Mais uma vez, as mais materialidade do que para
regras e os procedimentos devem ser uma instituição de porte menor e A crise ecológica, as pressões
sistematizados, para que possam ser que funciona com uma pequena da sociedade e os aspectos
monitorados e reportados. instalação. regulatórios criam um novo ambiente
institucional no qual as questões
Na dimensão organizacional, sem Além da organização, as instituições sociais e ambientais se tornam mais
dúvida, a principal parte interessada financeiras devem adotar práticas evidentes em um ritmo acelerado
são os colaboradores/funcionários. socioambientais em seus negócios, e cada vez mais relevante para as
Por isso, a PRSA deve estar integrada uma vez que, cada dia mais, questões instituições financeiras.
à política de recursos humanos sociais e ambientais estão se tornando
da instituição. Existem outras riscos e oportunidades para qualquer As instituições que, de maneira
recomendações de ações de RSA atividade econômica, especialmente alienada, conduzirem seus negócios
a serem adotadas na organização, para os intermediadores de recursos. ignorando as questões socioambientais
propostas de atividades para o estarão incorrendo em dois erros
relacionamento com as diversas partes A necessidade de incorporar aspectos fundamentais: primeiro, por aumentar
interessadas, que serão listadas no sociais e ambientais nos negócios das a exposição aos riscos decorrentes de
capítulo sobre o plano de ação. instituições financeiras tem se tornado danos sociais e ambientais e, segundo,
evidente, não apenas por força por perder oportunidades de negócio
regulatória, mas também pela crise geradas pelas mudanças nos rumos
ecológica vivenciada nos últimos anos. da economia.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 52

D. Estrutura de
governança

O sucesso na implantação da alta relevância, que possam alterar


PRSA depende de uma adequada os resultados, as oportunidades e os
estrutura de governança que riscos nos negócios. A atuação com
assegure as condições para a transparência leva à confiança no
execução, o monitoramento, a relacionamento da instituição com
avaliação e a revisão da PRSA. A clientes, colaboradores, investidores,
criação dessa estrutura deve seguir reguladores e demais partes
os padrões de boas práticas de interessadas.
governança corporativa.
Outro princípio da boa prática de
Um dos princípios básicos de governança corporativa é a
governança é a transparência. Por prestação de contas. A instituição
meio dela, as organizações têm por financeira deve reportar informações
obrigação informar e disponibilizar de forma responsável, fundamentada
para as partes interessadas, em nas melhores práticas contábeis e
linguagem acessível ao público- de auditoria, de maneira que os
alvo, todas as informações de seu leitores possam compreender com
interesse, especialmente as de clareza o desempenho econômico-
-financeiro atual.
53 PwC | ABBC

a realização dos compromissos estabelecer, de forma clara, as alçadas


assumidos, bem como apresentar a de autorização e o estabelecimento
evolução das ações planejadas. de controles internos eficientes para
assegurar o cumprimento das regras.
A Resolução nº 4.327/2014 ressaltou
alguns aspectos importantes As funções ou atividades devem ser
relacionados à governança: (i) sistematizadas, com processos claros
designação de um diretor-responsável; e institucionalizados em manual de
(ii) aprovação pela diretoria ou pelo procedimentos para monitoração, de
Conselho de Administração, quando modo que, mesmo com a substituição
houver; (iii) subordinação da gestão do responsável, eles continuem, sem
do risco socioambiental a uma prejuízo de eficiência. A distribuição
área de risco, para evitar conflitos das funções deve evitar conflitos
de interesse; e (iv) a sugestão da de interesse. Por exemplo, não é
criação de um comitê de RSA, com aconselhável que um diretor ligado à
atribuições consultivas, que pode área Comercial seja designado como
estar subordinado ao Conselho ou à o responsável pela PRSA, uma vez
Diretoria Executiva. que haveria potenciais conflitos de
interesse.
Essa estrutura depende de uma
Em relação à responsabilidade variedade de fatores que compõem a É importante lembrar que a PRSA
socioambiental, a prestação de organização e o ambiente em que ela deve permear toda a organização
informações deve ir além dos atua. Dentre eles, pode-se destacar: e, para isso, recomenda-se que haja
dados econômico-financeiros. complexidade da instituição – porte, um profissional responsável pela
Deve contemplar os demais dados produtos e serviços – e sua estratégia coordenação que, dependendo
e informações sobre a gestão em relação à sustentabilidade social da complexidade da instituição,
socioambiental em todas as áreas e ambiental. pode estar no nível de diretor,
relevantes da instituição, reportando superintendente, coordenador,
fatos que possam gerar impactos Um importante aspecto a ser gerente e até mesmo de um analista.
positivos e negativos nos resultados, considerado na estrutura de Esse profissional não necessariamente
bem como comprometer valores em governança é a segregação de função. teria a responsabilidade exclusiva
longo prazo. Recomenda-se que a instituição da coordenação da PRSA, podendo
defina com clareza as atribuições e as acumular outras atribuições. Além
É importante reforçar que os responsabilidades dos colaboradores/ disso, compete ao coordenador da
relatórios de prestação de contas funcionários e dos demais atores política criar relatórios gerenciais,
devem conter indicadores que envolvidos na PRSA, especialmente reportando-se aos superiores sobre
forneçam condições, tanto para segregando quem tem atribuição para a gestão da PRSA e contribuindo
os gestores como para as demais autorizar, executar, aprovar, registrar para a elaboração do relatório
partes interessadas, de monitorar e auditar. Não se deve esquecer de socioambiental.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 54

Outra unidade importante dentro da Um aspecto importante a ser


estrutura de governança é o Comitê reforçado é que a área de risco
Socioambiental, com atribuições socioambiental – embora ligada ao
de natureza consultiva, vinculado à coordenador da PRSA, inclusive
Diretoria Executiva, ou ao Conselho para fornecer dados e informações
de Administração, quando houver. sobre suas ações – deve ser
A resolução abre a oportunidade subordinada a uma área de risco,
de convidar uma parte interessada como bem determina a Resolução
externa para sua composição. Essa nº 4.327/2014. Afinal, gestão de
participação, além de legitimar risco deve ser executada por quem
a política perante as partes entende de risco.
interessadas, enriquece os debates
e, de forma independente, contribui
para o aperfeiçoamento da política,
uma vez que o Comitê funcionaria
como um fórum de discussões.
55 PwC | ABBC

Conselho de
Administração

Comitê de
Responsabilidade
Socioambiental

Diretoria
Executiva

Diretor-responsável Pode ser um


da PRSA Diretor de riscos

Fornecedores Produtos

Relações
Jurídico
investidores

Coordenador Controles
Marketing/
internos
Comunicação da PRSA Compliance

Investimentos/
Outros
Participações

Pode ser um:


Recursos Gestão
·· Vice-presidente
Humanos de riscos
·· Diretor
·· Superintendente Comercial
·· Gerente
·· Coordenador
·· Analista
Guia de Responsabilidade Socioambiental 56

Capítulo III

Gerenciamento dos riscos


socioambientais

O gerenciamento dos riscos relacionados aos direitos humanos


socioambientais nas instituições no ordenamento jurídico de
financeiras foi o grande motivador diversos países, inclusive no Brasil.
para a edição da Resolução nº Dependendo da regulação de cada
4.327/2014. Após ampla pesquisa, nação, os danos sociais e ambientais
constatou-se que havia grande causados por uma atividade
disparidade no tratamento do tema econômica podem resultar em perdas
entre as instituições do Sistema financeiras para seus causadores.
Financeiro Nacional.
Desse modo, a materialidade das
Embora a discussão sobre a questões socioambientais é mais
importância da responsabilidade evidente, quando se torna risco
social e ambiental tenha avançado financeiro, ou seja, quando se
no setor empresarial, ainda é transforma em perda potencial ou
complexo para os gestores avaliarem efetiva. Nas instituições financeiras,
a materialidade das questões sociais em relação ao risco ambiental, a
e ambientais. Um facilitador para a materialidade ocorreu, inicialmente,
análise das questões ambientais foi por meio do risco legal, uma
a adoção do Princípio do Poluidor modalidade de risco operacional, de
4. Esse conceito foi acatado pela Resolução
nº 3.380 do Conselho Monetário Nacional
Pagador (PPP) e, para as sociais, acordo com o conceito definido pelo
(CMN), de 29 de junho de 2006. a adoção de outros princípios Comitê de Basileia4.
57 PwC | ABBC

A Resolução nº 4.327/2014 traz uma Um aspecto importante em relação ao ambiental, medidas que podem ter
definição muito simples para o risco risco socioambiental é que ele permeia reflexo na situação econômico-
socioambiental: “a possibilidade de as demais modalidades de risco aos -financeira dos tomadores de crédito,
ocorrência de perdas decorrentes quais as instituições financeiras estão uma vez que comprometem sua
de danos socioambientais”. Sobre expostas. Ele pode potencializar o capacidade de pagamento. O que
essa definição, vale ressalvar que risco operacional, especialmente nas é risco financeiro para o tomador
as perdas podem ocorrer mesmo modalidades legal e reputacional, os de crédito torna-se também risco
antes de se efetivar o dano. A riscos de crédito e de mercado. para o financiador. Assim, o risco
possibilidade do dano já pode ambiental, ao afetar a saúde
provocar perdas. Exemplo disso O risco socioambiental pode provocar financeira do tomador de crédito,
ocorre com o risco de reputação. Se perdas para as instituições de forma consequentemente se torna risco
uma instituição financia projetos direta e indireta. Por exemplo, as para a instituição financeira.
com alto potencial de danos sociais instituições financeiras estão expostas
e ambientais, isso pode afetar sua indiretamente ao risco ambiental nas Por outro lado, alguns
reputação, mesmo antes de o dano operações de crédito porque, de forma problemas ambientais globais,
se efetivar. Esse é o motivo pelo qual global, a legislação ambiental, tanto independentemente da legislação
algumas instituições relutam em de países desenvolvidos quanto de de cada país, em especial os
financiar empreendimentos social e países em desenvolvimento, incorpora relacionados às mudanças climáticas,
ambientalmente muito arriscados. o Princípio do Poluidor Pagador. vêm se tornando relevantes para a
Isso obriga o poluidor à prevenção, economia, inclusive com potencial
reparação e repressão do dano para comprometer a capacidade de
Guia de Responsabilidade Socioambiental 58

pagamento dos tomadores de crédito Nesse contexto, a Securities and Assim, o impacto do risco
pertencentes a atividades econômicas Exchange Commission (SEC), em socioambiental sobre os preços de
diretamente afetadas, por exemplo, fevereiro de 2010, lançou um guia ações e/ou títulos em geral afeta os
a agropecuária e o setor de energia. oficial para orientar e esclarecer o resultados das instituições financeiras,
A escassez de água é outro problema que as empresas de capital aberto uma vez que podem refletir em perdas
que tem comprometido o retorno devem divulgar sobre questões ou ganhos por causa do efeito de
financeiro e se tornou risco potencial relacionadas ao clima. O propósito variação nos preços dos ativos que
e efetivo para muitos tomadores dessa iniciativa é fazer com que as compõem seus respectivos portfólios.
de crédito, bem como a perda empresas informem aos investidores Além disso, eles sofrem perda de
de biodiversidade e dos serviços sobre a materialidade das questões reputação em relação ao seu dever
ecossistêmicos. climáticas nas operações de fiduciário, quando fazem gestão de
negócios, incluindo as novas ativos de terceiros, como na gestão de
Em relação ao risco de mercado, políticas de gestão de emissões, fundos mútuos de investimento.
muitos estudos têm comprovado que os impactos físicos das mudanças
o mercado de capitais responde tanto climáticas ou oportunidades de Contudo, as instituições não estão
de forma positiva quanto negativa negócio associadas à crescente expostas ao risco socioambiental
ao desempenho socioambiental das economia de energia limpa. apenas indiretamente, como
empresas. A falta de informações nas operações de crédito e nos
para o mercado tornava pouco viável No Brasil, a evidenciação de investimentos em que o dano
a avaliação dos fornecedores de informações sobre as práticas socioambiental é provocado pelo
crédito e financiamento das empresas socioambientais, embora não tomador ou pelo emissor. Podem
quanto às questões socioambientais, obrigatória, tem tratamento por ocorrer situações em que a instituição
mas os investidores têm pressionado meio de orientações dos reguladores financeira venha a ser considerada
os órgãos reguladores do mercado sobre a divulgação – Pareceres de responsável pela reparação do
de capitais para obrigar as empresas Orientação nº 15/87, 17/89 e 19/90 dano ambiental. Nesse caso, o risco
a divulgar mais informações sobre da Comissão de Valores Mobiliários socioambiental configura-se como
riscos sociais e ambientais, em (CVM); Norma Brasileira de risco legal. Isso pode ocorrer na área
especial sobre o clima. Contabilidade Técnica NBC-T nº operacional da organização, por
15, aprovada pela Resolução nº exemplo, na disposição de resíduos, ou
1.003/2004 do Conselho Federal de mesmo como proprietário de imóvel
Contabilidade (CFC); e Norma de com dano ambiental recebido em
Procedimento de Auditoria nº 11 do garantia de uma operação financeira.
IBRACON – Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil.
59 PwC | ABBC

Desse modo, a implantação de abrangência do gerenciamento de


A. Mapeamento dos um sistema de gerenciamento de risco socioambiental dependerá do
negócios e dos riscos risco socioambiental dependerá, grau de exposição da instituição nos
necessariamente, de uma avaliação negócios. O mapeamento do risco
dos principais negócios realizados deve seguir alguns passos descritos
pela instituição financeira. Nesse a seguir, que têm uma sequência
aspecto, é imprescindível a aplicação que vai de uma avaliação macro
do princípio da relevância. O nível de ao detalhamento.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 60

Etapa

1 Mapeamento dos negócios.

Que tipo de negócio tem exposição ao risco socioambiental? Com base no


2 princípio da relevância, decidir sobre as operações que serão sujeitas à gestão do
risco socioambiental.

·· Mapeamento do risco socioambienal na carteira de crédito.


3 ·· Categorização do risco socioambiental – alto, médio e baixo risco.

Adoção de outros critérios (porte/faturamento/localização etc.) para seleção de


4 clientes com atividades de alto e médio riscos que estarão sujeitos à avaliação de
risco socioambiental.

Inclusão dos clientes no sistema de gestão de risco socioambiental. O sistema é um


5 conjunto de regras e procedimentos sistematizados, manualizados, sujeito a controles
internos e auditado por auditoria interna e/ou externa.

Avaliação de risco das operações. Selecionar as modalidades de crédito de maior risco


6 socioambiental – por exemplo, alguns tipos de financiamento, Crédito Rural, imobiliário,
plano empresário, financiamento de projetos de infraestrutura, project finance etc.

Incluir as operações no processo e no sistema de gestão de risco que contemple todas


7 as fases da operação: identificação, avaliação, classificação e monitoramento do risco.

8 Monitoramento do risco socioambiental nas operações de crédito.

9 Avaliação e monitoramento do risco socioambiental na fase de recuperação do crédito.


61 PwC | ABBC

1ª etapa – identificar os principais Existem três aspectos relevantes que evidenciam a necessidade de fazer a
negócios da instituição: gestão do risco socioambiental nas operações de crédito:
• Operações de crédito;
• Investimentos;
• Participações;
• Emissões;
• Fusões e aquisições;
1
Risco de default do
2
Redução do valor
3
Existência
tomador de crédito das garantias, de potencial
• Gestão/administração de ativos.
em decorrência especialmente responsabilização
de problemas garantias reais. do financiador pelo
2ª etapa – avaliar em que tipo de socioambientais. dano ambiental.
negócio a instituição está mais
exposta ao risco socioambiental e
qual é a sua relevância; decidir sobre
que tipo de negócio será realizada a
avaliação de risco.

Considerando que grande parte Em relação ao risco ambiental, em Para uma mesma atividade, além
das instituições financeiras está geral, o CONAMA e os Conselhos do impacto socioambiental, outros
exposta ao risco socioambiental Estaduais do Meio Ambiente aspectos importantes podem alterar
nas operações de crédito, a 3ª fornecem listas de atividades em que o nível de risco, por exemplo: porte
etapa é o mapeamento do risco na são exigidas as licenças ambientais da empresa, nível de produção,
carteira de crédito da instituição e a e, em muitas agências ambientais localização e meio no qual está
correspondente classificação do risco. estaduais, é possível verificar o nível inserida. Quanto melhor a estrutura
de risco. O grau de exigência da institucional – regras claras e
Essa é uma etapa importante agência e da legislação ambiental, transparência, agências ambientais
do processo de implantação do para conceder a licença prévia, estruturadas, disponibilidade de
sistema de gerenciamento do risco de instalação ou de operação de dados e informações –, menor o
socioambiental. Para isso, é necessário uma determinada atividade, está nível de risco.
que todas as operações estejam diretamente relacionado ao nível de
marcadas com o Código Nacional risco. Essa informação será útil para
de Atividades Econômicas (CNAE), a classificação do risco, que pode ser
para identificar o tipo de atividade categorizado em três níveis: alto,
do tomador de crédito. Pelo CNAE, médio e baixo.
é possível segregar as atividades
potencialmente mais arriscadas sob o
ponto de vista socioambiental.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 62

Para avaliar os riscos sociais, as fará avaliação do risco socioambiental Com as diversas informações do
informações não são bem organizadas dos clientes ou a partir das operações cliente, é possível chegar a um
para fazer uma seleção das atividades de crédito. Se a decisão for pela rating socioambiental:
socialmente mais arriscadas e para avaliação dos clientes, será necessário
decidir sobre a gestão ou não do risco obter informações logo no início do
social. Contudo, ainda é possível relacionamento com a instituição, ou
fazer seleções com alguns dados seja, no preenchimento dos dados
disponíveis, como uma busca das para o cadastro. O ideal é fazer a
Identificação
pessoas físicas e jurídicas punidas avaliação do risco cliente por grupo
administrativamente pelo Ministério econômico. O risco socioambiental de
do Trabalho e Emprego (MTE) por uma empresa pode expor todo
manter trabalhadores em condições o grupo.
análogas às de escravos.
Algumas informações e documentos
O MTE também fornece estatísticas podem ser obtidos diretamente com o
das atividades econômicas cliente: licença ambiental, certificação
identificadas pelo CNAE com maior socioambiental e preenchimento Avaliação
incidência de acidente de trabalho de questionários autodeclaratórios. Informações
e informações sobre regiões onde As instituições podem fazer buscas do cliente
ocorreu uso de mão de obra infantil, automatizadas dessas informações
outro risco social muito importante a pela internet, nas agências ambientais
ser considerado. estaduais e municipais; no Ministério
do Trabalho e Emprego; no Ministério
Desse modo, o CNAE contribui para Público do Trabalho; pesquisas
a identificação do risco cliente, nas mídias e até mesmo contratar
sendo possível segregar as atividades consultorias especializadas, que
Classificação
com maior potencial de risco fornecem relatórios consolidados
socioambiental. No passo seguinte, para toda a carteira, ou para Rating socioambiental
a instituição financeira, com base individualizados, além de parecer do cliente
nos princípios da relevância e da técnico com classificação de risco.
proporcionalidade, deverá decidir se
63 PwC | ABBC

Alguns critérios da política de


“Conheça seu Cliente” fazem
parte da avaliação de risco social.
Exemplo: critérios para Prevenção
à Lavagem de Dinheiro (PLD) e de
combate ao crime de corrupção.

A decisão de fazer avaliação e lavagem de dinheiro e de corrupção fazer a avaliação prévia do risco
classificação do risco socioambiental para a sociedade, não é difícil perceber socioambiental para todos os clientes
para os clientes depende da que, ao estabelecer sistemas de ou avaliar apenas os de maior
preparação ao risco de cada identificação, avaliação e controles risco. Por exemplo, após a seleção
instituição. Algumas instituições para tentar evitar esses crimes, pelo CNAE, fazer nova seleção/
podem decidir por fazer a avaliação e a instituição estará assumindo filtro agregando outros critérios:
a classificação do risco socioambiental uma postura ética e socialmente faturamento/porte da empresa,
apenas nas operações de crédito. responsável, além de reduzir os riscos localização etc. Muitas instituições
legal, de Compliance e de reputação. financeiras têm adotado o critério
Pode haver questionamentos sobre de faturamento/porte entre os
o fato de a PLD e a anticorrupção Ainda em relação à avaliação do CNAEs selecionados e decidem
fazerem parte de responsabilidade risco cliente, adotando os princípios fazer a avaliação socioambiental das
social. Contudo, ao se observar os de relevância e proporcionalidade, empresas com faturamento superior
impactos negativos do crime de as instituições podem decidir a um determinado valor.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 64

Depois de mapear as atividades Por exemplo, a instituição fornece um


B. Avaliação de maior potencial de risco capital de giro para uma empresa de
socioambiental, as instituições extração e britamento de pedras (uma
socioambiental nas devem considerar o grau de pedreira – CNAE 0810-0/99). É uma
operações de crédito exposição. Com base no princípio atividade arriscada, sob o ponto de
da relevância, a instituição vai vista social e ambiental. A instituição
decidir se faz o gerenciamento do pode decidir incluir essa operação
risco para todas as operações em no seu gerenciamento de risco
atividades de alto e médio riscos, ou socioambiental, independentemente do
se estabelece critérios com base no valor da operação e do porte do cliente,
grau de exposição, ou seja, vai avaliar ou pode excluir essa operação do
apenas as operações acima de um sistema de gestão de risco, porque seu
determinado valor. Mais uma vez, valor é muito pequeno, e a exposição ao
isso dependerá da propensão ou da risco de crédito é baixa.
aversão ao risco de cada instituição.
A definição do valor deve fazer
parte da política e do sistema de
gerenciamento de risco. Por exemplo,
devem ser implantados sistemas que
impeçam que uma operação acima do
valor determinado e com um CNAE
Atividade classificado como de alto e médio riscos
não entre no fluxo de análise de risco
socioambiental. Ou seja, os controles
internos precisam ser eficientes.

Risco da Modalidade
operação de crédito

Uma operação pode ser de baixo


valor para uma instituição
financeira, mas de valor muito
alto para outra instituição.
Valor A exposição ao risco depende de
cada instituição.
65 PwC | ABBC

Além do valor da operação, Desse modo, para a implantação A instituição financeira não deve
outro importante critério a ser de um sistema de gestão de risco negligenciar o monitoramento no
adotado para a tomada de decisão socioambiental nas operações de sistema de gerenciamento de risco
sobre se a operação entra ou crédito, pode-se utilizar uma matriz, socioambiental. No financiamento
não no gerenciamento de risco relacionando o risco socioambiental de projetos, as licenças ambientais
socioambiental é a modalidade da da atividade econômica (CNAE) com prévias, de instalação, de operação
operação. O risco ambiental também a modalidade de crédito. É desejável e outras licenças são concedidas
depende da modalidade da operação que as operações de crédito de com condicionantes para mitigação
de crédito, especialmente por causa modalidades com alto potencial de dos danos. Por isso é necessário
do risco legal. Nos financiamentos risco socioambiental – project finance, o monitoramento por parte das
de projetos, o dever de cuidado financiamento à infraestrutura, instituições financeiras pois, uma
do financiador com os aspectos plano empresário, Crédito Rural etc. vez estabelecidas as condicionantes
socioambientais deve ser bem – e de atividade econômica, social e o cliente não as cumprir, elas não
maior do que em uma operação de e ambientalmente arriscadas sejam podem continuar com a liberação
empréstimo, como capital de giro, ou incluídas no sistema de gestão de dos recursos, sob pena de serem
cheque especial. risco socioambiental. corresponsabilizadas pelo dano.

Nos financiamentos, os recursos As operações devem ser avaliadas, No caso da avaliação de risco cliente,
têm destinação certa e facilitam a classificadas e monitoradas por equipe é aconselhável que na renovação do
identificação do nexo de causalidade especializada. Existem situações em cadastro, seja verificada a regularidade
entre o dano ambiental e a liberação que é aconselhável contratar um socioambiental, atualizadas as
dos recursos. Isso expõe o financiador consultor externo para avaliação, informações tanto por meio dos
ao risco legal como poluidor indireto, classificação e monitoramento, questionários auto declaratórios como
podendo ser corresponsável pelo dano quando o risco é muito alto, por pelos laudos de visitas e outras fontes
ambiental e sofrer perdas financeiras exemplo, contratação de de informações.
que podem ultrapassar muito os due diligence. Exemplos: (i) nos
valores financiados. Nessa situação, grandes projetos de infraestrutura; Outra forma de avaliar o cliente e de
há exposição ao risco de crédito – não e (ii) quando a quantidade desse orientar a análise de risco ambiental é
receber os recursos disponibilizados – tipo de operação na carteira é com base na lista do IBAMA – Anexo I:
e ao risco legal, ou seja, ser obrigado a muito pequena e ocorre com baixa Tabela de Atividades Potencialmente
reparar os danos causados. frequência, manter equipe ou analista Poluidoras e Utilizadoras de Recursos
especializado é mais oneroso. Ambientais, desenvolvida por órgão
ambiental de abrangência nacional e
de grande confiabilidade.5

5. Disponível em: https://servicos.ibama.gov.br/phocadownload/manual/tabela_atividades_do_ctf_app.pdf


Guia de Responsabilidade Socioambiental 66

As instituições expõem-se ao risco Além dos danos ambientais, outros


C. Operações com ambiental na modalidade de risco aspectos podem trazer riscos legais
garantias imobiliárias legal quando recebem imóveis e/ou de crédito para a instituição
em garantia com algum dano financeira, obrigando-a a avaliar os
ambiental. No Brasil e em muitos imóveis recebidos em garantia – se
outros países, a reparação do dano é área de reserva indígena, se é área
ambiental em um bem fica a cargo de reserva de quilombolas, ou área
do novo proprietário, uma vez que de preservação ambiental. Esses
a responsabilidade ambiental é aspectos precisam ser avaliados,
gravada no bem – propter rem. porque nem sempre estão averbados
nos cartórios de registro de imóveis
Desse modo, as instituições ou apresentam o Cadastro Ambiental
financeiras devem estabelecer Rural (CAR) devidamente registrado,
critérios claros, inseridos nos conforme determinado no Novo
sistemas de controle de garantias Código Florestal.
para avaliar se o imóvel recebido
apresenta área contaminada, área de
preservação ambiental degradada,
se é um patrimônio histórico, ou
se tem algum passivo ambiental
inerente. A avaliação de garantias
pode ser feita tanto internamente
quanto contar com a contratação de
consultores externos, em formato de
due diligences ambientais.
67 PwC | ABBC

O registro das perdas decorrentes De qualquer maneira, a preocupação


D. Registro das perdas dos riscos socioambientais é uma com o registro de perda visa
determinação da Resolução nº ao aprimoramento do sistema
4.327/2014. A identificação dessa de gerenciamento de risco
perda é mais clara nos casos em que socioambiental ao longo do tempo.
ela é decorrente de risco operacional. Embora não seja possível identificar
A instituição é demandada a reparar com exatidão o valor da perda por
danos sociais e/ou ambientais problema socioambiental, é possível,
originados de suas próprias pelo histórico da operação, saber que
atividades, ou de operações com problemas impactaram ou aceleraram
tomadores de crédito, emissores de o processo de default do crédito ou da
títulos, fornecedores e outros perda do valor do ativo.
parceiros de negócios.
Assim, pelo histórico da operação
Contudo, não é um procedimento ou do cliente, é possível registrar a
simples, quando se trata de uma localização do cliente/operação, a
perda decorrente de default de crédito, atividade econômica, as condições
ou mesmo de perda de valor de um contratuais etc. Registrando as
título financeiro. É difícil identificar condições gerais da operação, é
com exatidão o motivo do default possível ter maior ou menor incidência
decorrente de problemas econômico- de risco e melhorar o gerenciamento,
-financeiros que desencadearam mesmo sem validar o valor exato
uma má gestão socioambiental, ou da perda. Esse registro ainda é um
se a má gestão provocou problemas desafio, principalmente para as
econômicos financeiros que instituições menores. A sistematização
comprometeram a capacidade de do processo pode ser uma solução,
pagamento do tomador. mas é também um desafio organizar
um sistema que integre as principais
ações do banco com a avaliação do
risco socioambiental.

Uma alternativa da instituição para


reportar o prejuízo é estimar um
percentual para separar o que é
decorrente de problema de gestão
econômico-financeira do que é de
gestão socioambiental.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 68

Capítulo VI

Capacitação

Mudanças regulatórias podem ser No entanto, para que ela seja A capacitação é um elemento
um passo importante para inovações. efetiva e possibilite transformações fundamental para que a PRSA seja
A Resolução nº 4.327/2014 é um positivas para o negócio, é colocada em prática e executada
exemplo claro disso. As questões fundamental que todos os de maneira correta, conforme
socioambientais ganham cada colaboradores das instituições orientações da resolução. Sem
vez mais relevância em governos financeiras estejam não apenas ela, podem ocorrer deficiências no
e organizações do mundo todo, cientes de seu conteúdo, mas sistema de monitoramento de riscos
ocasionando riscos e oportunidades. também sensibilizados em relação socioambientais, como a execução
É evidente que, em pouco tempo, ao seu real significado. Afinal, incompleta de análises e o não
será impossível não levar em conta estamos falando do coração cumprimento de procedimentos de
a sustentabilidade socioambiental estratégico de uma instituição arquivo de documentos.
na estratégia e na avaliação de um financeira: riscos e oportunidades.
negócio. Desta forma, a resolução Trata-se de uma resolução que traz Foi neste sentido que a ABBC
antecipou inovações inevitáveis para impactos para áreas fundamentais, Educacional, em parceria com a
o Sistema Financeiro como um todo. como Crédito, Comercial, Jurídico, professora Maria de Fátima Tosini,
Compliance, entre outras. lançou o curso virtual “Introdução à
Responsabilidade Socioambiental no
Sistema Financeiro”6. Trata-se de um
e-learning de curta duração, elaborado
de modo a atingir colaboradores

6. Curso virtual “Introdução à Responsabilidade Socioambiental no Sistema Financeiro”.


Saiba mais no site da ABBC (http://ead.abbc.org.br).
69 PwC | ABBC

de todas as áreas e níveis. São O curso “Capacitação em Esses e outros cursos podem ser
animações, divididas em vídeo- Responsabilidade Socioambiental oferecidos em turmas abertas na sede
-aulas de cerca de cinco minutos com Foco na Resolução da ABBC, na Avenida Paulista, em
cada uma. O conteúdo e o formato nº 4.327/2014 do CMN” tem como São Paulo, in company ou a distância,
foram didaticamente elaborados objetivos auxiliar as instituições para todo o Brasil. É característica
para manter a motivação do financeiras na elaboração de do Educacional trabalhar com a
aluno e facilitar a absorção das sua política e proporcionar uma flexibilidade e a adaptação necessárias
informações. Apesar de curto, o compreensão geral sobre como as para cada instituição. O programa e o
curso aborda o contexto e propicia questões sociais e ambientais são formato dos cursos presenciais e virtuais
conhecimentos indispensáveis inseridas nos negócios das empresas podem ser elaborados em conjunto,
para o quadro funcional de uma e das instituições do setor financeiro. sendo completamente customizados.
instituição financeira.
Já o curso “Regulação Criada em 1999, a ABBC Educacional
Além do ensino a distância, a Socioambiental no Sistema atua há 15 anos na formação e na
ABBC Educacional também oferece Financeiro” visa a proporcionar aos capacitação de agentes do mercado
cursos presenciais voltados aos participantes uma compreensão financeiro, com a responsabilidade
que trabalharão diretamente com geral sobre a regulação pelo treinamento de mais de 20 mil
a norma, aqueles que participarão socioambiental no Sistema profissionais. A instituição tem como
da elaboração da política e aqueles Financeiro Nacional, a partir do foco transmitir conhecimentos e
de áreas diretamente impactadas, quadro normativo aplicável. desenvolver competências com base em
como Crédito, Compliance e Riscos. situações reais de trabalho, para que
profissionais operem com qualidade nas
diversas atividades do sistema financeiro,
em um mercado cada vez mais exigente
de qualificação.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 70

Capítulo V

Plano de ação

O plano de ação é o instrumento de Para atingir seu objetivo, o Plano deve


gestão para implantar a PRSA. É uma ser realista e considerar as condições
ferramenta que, além de nortear as operacionais da instituição – tanto
atividades a serem executadas pelas de orçamento quanto de recursos
instituições financeiras, será utilizada humanos – para que os prazos
pelo Banco Central para avaliar o grau estabelecidos sejam suficientes e o
de aderência às diretrizes e estratégias plano seja exequível. Para isso, um
estabelecidas. De acordo com a diagnóstico inicial da instituição se faz
regulamentação em vigor, o plano necessário, para o entendimento das
de ação deve ser apresentado pela atuais ações e daquelas que necessitam
instituição financeira com a PRSA, com de desenvolvimento e que irão compor
igual aprovação por sua Diretoria ou o plano de ação. Se mal dimensionado,
Conselho de Administração. ele acarretará custos desnecessários
à instituição, pois é exatamente nesta
A elaboração do plano deve adotar etapa do processo que as medidas
os princípios da relevância e da de execução e as providências serão
proporcionalidade, bem como os que adotadas.
fundamentaram a política, alinhados
às diretrizes estratégicas. Ao analisar o Por outro lado, para muitas instituições
plano de ação, tanto os gestores quanto – em especial as de menor porte e que
o regulador terão condições de verificar realizam basicamente operações de
de que modo e em que espaço de tempo crédito com menor espectro de risco
as ações referentes a cada diretriz –, a PRSA terá sido o primeiro contato
estratégica estabelecida na política com as questões socioambientais.
serão implantadas.
71 PwC | ABBC

Nesse caso, a execução do plano de O plano, com base nessas a. as datas para início e término
ação também pode e deve servir premissas, deve conter o das ações;
como um processo de aprendizado planejamento das ações necessárias b. o responsável e as áreas
de práticas socioambientais na para que os compromissos e as responsáveis pela execução
organização e nos negócios, diretrizes assumidos na PRSA e gestão;
como gerenciamento de riscos sejam executados, cumpridos,
socioambientais, mapeamento e acompanhados e aperfeiçoados. Isso c. os recursos necessários para
engajamento das partes interessadas e será obtido por meio da definição a execução;
outros aspectos relacionados à PRSA. de metas, do estabelecimento d. as metas ou os resultados
de rotinas e procedimentos, intermediários a serem
Não obstante exista uma vasta sem perder de vista a escala de atingidos no fim de cada
literatura nos manuais de prioridades e o cronograma para programa instituído;
administração tratando da cada uma das ações.
e. os indicadores que servirão
elaboração de planos de ação, no
para acompanhamento do
caso das instituições financeiras, essa Nesse sentido, em princípio, um
grau de execução;
ferramenta apresenta característica plano de ação deve observar uma
peculiar que facilita, de certa sequência lógica para execução das f. os mecanismos de
forma, sua constituição: o caráter determinações, contendo, para cada monitoramento; e
exclusivamente executivo. Isso porque atividade, no mínimo: g. os processos de contínuo
as primeiras etapas da criação desse aperfeiçoamento.
plano de ação já foram cumpridas
com a própria implantação da PRSA.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 72

A seguir, são listados alguns exemplos e. Avaliação da necessidade de m. Aperfeiçoamento da estrutura


de medidas que poderiam integrar um alteração do estatuto social para de ouvidoria.
plano de ação: abrigar os compromissos e as n. Revisão dos contratos de concessão
a. Definição e estabelecimento diretrizes da PRSA. de crédito, de forma que os riscos,
da estrutura de governança da f. Estabelecimento de rotina de diretos e indiretos, incorridos
instituição, que incluiria avaliação revisão e aprovação da PRSA e de pelas partes envolvidas, possam
criteriosa dos níveis e instâncias que forma ela será realizada. ser mitigados, contemplando as
decisórias organizacionais que g. Contratação de assessoria técnica diretrizes da PRSA da instituição.
se envolverão com o tema, como e/ou jurídica, caso necessário, o. Criação de mecanismos que
gerências, grupos de trabalho, para avaliar os impactos nos permitam o monitoramento e
divisões administrativas, ou até negócios da instituição, bem a gestão dos riscos, incluindo
mesmo a constituição de um como da evolução da legislação, sistemas operacionais e modelos
comitê, conforme mencionado na regulamentação e literatura de gestão de risco.
Resolução nº 4.327/2014. sobre o assunto (por exemplo: p. Desenvolvimento de produtos e
b. Declaração institucional, por meio consultoria, auditoria interna serviços que enfatizem os aspectos
de compromisso formal, de que a socioambiental). de proteção ao meio ambiente e
alta gerência da instituição está h. Criação de estrutura interna aos direitos humanos.
diretamente envolvida com as específica de compliance
questões socioambientais e que q. Estabelecimento ou participação
para acompanhar as leis e a em programas de treinamento e
estimula a participação permanente regulamentação pertinente.
dos empregados em seus diversos capacitação sobre o conteúdo da
níveis organizacionais. i. Realização de pesquisas regulares PRSA, incluindo programas de
de interesse com as partes educação financeira.
c. Elaboração e implantação de um interessadas, envolvendo público
planejamento estratégico que r. Criação de mecanismos internos
interno e externo. de disseminação das informações.
permita identificar com precisão
a situação corrente e futura da j. Realização periódica de encontros, s. Revisão da estrutura de marketing.
instituição, inclusive no que tange painéis e reuniões com outras
instituições financeiras e com t. Instituição de fluxos de processos
a potenciais riscos socioambientais
partes interessadas para a troca de aperfeiçoamento das ações
que decorram do crescimento ou da
de experiências e a definição de de interação com as partes
ampliação dos negócios gerais.
prioridades. interessadas, internas e externas,
d. Estabelecimento de fluxos e públicas e privadas.
rotinas administrativas e k. Revisão dos contratos que regem
a relação com os correspondentes, u. Estabelecimento de regras e
operacionais que permitam o
quando for o caso. rotinas que permitam o contínuo
adequado gerenciamento de
monitoramento das ações
riscos, inclusive com a criação l. Revisão da planilha do Custo empreendidas como um todo e o
de mecanismos de verificação Efetivo Total (CET). próprio gerenciamento do plano.
da interseção dos diversos riscos
incorridos pela instituição.
73 PwC | ABBC

A partir dessas observações, o quadro a seguir mostra alguns exemplos


ilustrativos de ações que podem integrar um plano, segmentados por
categorias de interesse, a ser aplicado conforme a natureza da instituição e a
complexidade e relevância de seus produtos e serviços:

Quadros do plano de ação

Estratégico/Institucional
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Declaração ou compromisso formal da
instituição e de sua diretoria e/ou conselho

Revisão do Estatuto

Revisão da Política de “Conheça Seu


Cliente”

Revisão da Política de Relacionamento com


o Cliente

Elaboração de Planejamento Estratégico

Estabelecimento de regras
de conduta
Guia de Responsabilidade Socioambiental 74

Governança
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Definição de orçamento

Definição de alçadas

Definição de áreas
específicas responsáveis

Definição de
Diretor-responsável

Definição de estrutura
funcional/administrativa

Definição sobre a criação de Comitê


de RSA

Contratação de assessoria técnica


e/ou jurídica

Contratação de pessoal
75 PwC | ABBC

Operacional
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Desenvolvimento/aquisição da estrutura
tecnológica

Realização de pesquisas com as partes


interessadas

Criação de mecanismos de disseminação


de informações

Instituição de manuais internos

Desenvolvimento de
banco de dados

Atualização do site da instituição

Produtos e serviços
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Avaliar produtos e serviços disponíveis

Implantar sistemática de desenvolvimento


de novos produtos e serviços
Guia de Responsabilidade Socioambiental 76

Legal
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Revisão dos contratos de concessão
de crédito

Revisão dos processos de concessão


de crédito

Revisão dos contratos de produtos


e serviços

Avaliação da legislação aplicável

Avaliação da adequabilidade da PRSA ao


ambiente legal e regulatório

Relacionamento com os usuários


Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Reestruturação do componente
de ouvidoria

Revisão da estrutura do SAC

Revisão da planilha do Custo Efetivo


Total (CET)

Desenvolvimento de estratégia
de marketing

Reavaliação da sistemática de cobrança


de tarifas
77 PwC | ABBC

Relacionamento com as partes interessadas


Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Criar plano de engajamento das
partes interessadas

Estabelecer programa de engajamento das


partes interessadas

Manter processo permanente de


identificação das partes interessadas

Criar mecanismos que permitam o contínuo


engajamento das partes interessadas

Realizar reuniões periódicas

Identificar partes vulneráveis


ou desfavorecidas

Criar canais de disseminação de


informações, consultas e participação
Guia de Responsabilidade Socioambiental 78

Gerenciamento de risco
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Mapeamento do risco socioambiental

Mapeamento das operações sujeitas ao


gerenciamento de risco socioambiental.

Classificação de risco socioambiental dos


clientes e das operações

Desenvolver modelo e sistema de


gerenciamento de risco

Adaptação dos atuais sistemas de


gerenciamento de risco disponíveis,
incorporando o risco socioambiental

Implantação do modelo de gerenciamento


do risco socioambiental

Avaliação dos impactos na estrutura de


capital regulamentar

Criação de políticas setoriais com critérios


socioambientais para os setores de maior
impacto social e ambiental negativos

Criação de equipe especializada


multidisciplinar para o gerenciamento de
risco socioambiental nos negócios

Verificação de processos
de provisionamento

Definição de metas e indicadores


79 PwC | ABBC

Treinamento/Capacitação
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Desenvolver projeto de treinamento

Treinar e capacitar o corpo funcional

Definir participação em eventos de


treinamento ou fóruns específicos

Desenvolver projetos e programas de


educação financeira para os colaboradores,
clientes e demais partes interessadas

Participar do processo como promotor ou


facilitador de cursos

Compliance
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Desenvolver mecanismos de
monitoramento e controle

Desenvolver mecanismos de
acompanhamento da PRSA

Desenvolver mecanismos de controle e


adequabilidade da PRSA

Criar grupos de controle para


acompanhamento da legislação e
regulamentação aplicável
Guia de Responsabilidade Socioambiental 80

Divulgação
Áreas/ Prazo para Documentos Relação com Status Observações Prioridade
departamentos implantação relacionados a PRSA
envolvidos
Data Data
inicial final
Divulgar a PRSA

Produzir relatórios gerenciais sobre a PRSA

Produzir e divulgar relatório socioambiental

O plano de ação é o compromisso que as instituições estabelecem com o órgão


regulador e consigo próprias em determinar atividades para cumprimento do
estabelecido na PRSA. O monitoramento periódico desse compromisso demonstra
a relevância das questões socioambientais para as instituições. Será um meio
utilizado pelo regulador para analisar e avaliar as ações e suas aplicabilidades.
81 PwC | ABBC
Guia de Responsabilidade Socioambiental 82

Capítulo VI

Conclusão

O debate sobre os riscos decorrentes socioambientais, inegavelmente,


de atividades que geram impacto a norma baixada pelo Conselho
socioambiental não é recente. Monetário Nacional passou a ser
Entretanto, no Brasil, ele foi considerada um marco regulatório,
intensificado a partir da edição reforçando a solidez das instituições.
da Resolução nº 4.327/2014, a
qual reforçou o papel do Sistema O normativo, que passou a integrar
Financeiro Nacional como uma complexa estrutura legal e
catalizador de recursos financeiros regulatória aplicável às operações
e indutor de boas práticas com impactos socioambientais,
socioambientais. Essa decisão teve buscou estabelecer, para todas as
reflexos positivos na imagem do país, instituições do sistema financeiro,
tendo em vista o caráter pioneiro e independentemente de suas
inovador das medidas. atividades e operações, padrões
mínimos de conduta com o objetivo
Não obstante algumas instituições, de promover maior eficiência
por sua natureza operacional, já sistêmica, redução de assimetria de
estarem observando princípios e informações e estímulo
regras voltados à mitigação dos riscos à concorrência.
83 PwC | ABBC

Por fim, vale ressaltar que a estrutura


regulatória estará concluída apenas
quando o Banco Central publicar
as normas relativas ao Relatório de
Responsabilidade Socioambiental,
colocado em discussão pública por
ocasião da Rio+20, com a proposta de
elaboração da PRSA. Sob esse aspecto,
o regulador não apontou prazo ou
data para sua conclusão. Entretanto,
a exemplo do que foi feito por ocasião
Portanto, as regras baixadas devem A norma veio exatamente mostrar dos debates sobre a norma da PRSA, o
ser vistas pelas instituições como que ele deve ser tratado sob sistema financeiro deve estar preparado
ferramentas auxiliares de análise, uma nova dimensão, mediante a para contribuir com sugestões para que
como instrumento mitigador de incorporação desse risco a uma ou o relatório se constitua em ferramenta
riscos e como elemento agregador à mais estruturas de gerenciamento auxiliar no processo de gerenciamento
estrutura de governança. A resolução existentes, bem como a identificação de risco, sem que sejam imputados
foi elaborada com o propósito de de novas oportunidades de produtos custos de observância indevidos ou
assegurar o equilíbrio entre e negócios. que as informações a serem prestadas
atividades econômicas e aspectos venham expor as instituições a riscos
sociais e ambientais. Isso significa dizer que as ações não medidos.
que vierem a ser empreendidas
O fato de o regulador ter pelas instituições, em obediência a Nesse contexto, as associações devem
expressamente declarado, em toda estrutura legal e regulatória, focar não só a adoção de ações voltadas
diversas oportunidades, que pretende transcendem à relação direta com o à aplicação direta da norma, mas
construir esse modelo com o mercado, Banco Central, mas tendem a facilitar também ao seu correto entendimento.
estimulando o level playing field, deve as tratativas que eventualmente A capacitação de todo o quadro
ser visto como uma parceria e tratado sejam necessárias com os demais funcional das instituições, em todos
de forma estratégica pela instituição. envolvidos nesse processo, como a os níveis, é um elemento fundamental
O risco socioambiental não é um risco Justiça – em todas as suas para que a PRSA seja colocada em
novo. Ele está presente sob diversas instâncias –, os Ministérios Público prática e executada de maneira correta,
formas no cotidiano das instituições. e do Meio Ambiente. conforme as orientações da resolução.
Guia de Responsabilidade Socioambiental 84

Elaboração
ABBC e PwC Brasil

Coordenação
Sergio Odilon dos Anjos
Maria de Fátima Tosini

Supervisão
Carlos Eduardo Sampaio Lofrano
Diretor Executivo

Ponceano Vivas
Diretor Institucional

Fotos
Arquivo PwC Brasil
85 PwC | ABBC

Conselho de Érico Sodré Quirino Ferreira Diretoria


Administração OMNI S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Alberto Maurício Caló
Presidente Banco Máxima S.A.
João Ayres Rabêllo Filho
Manoel Felix Cintra Neto Banco Triângulo S.A.
Banco Indusval & Partners S.A. Arno Schwarz
Banco Fibra S.A.
José Eduardo Cintra Laloni
Vice-presidente Banco ABC Brasil S.A.
Álvaro Augusto Vidigal Augusto Sérgio Amorim Costa
Banco Paulista S.A. Banco do Estado do Pará S.A.
José Luiz Acar Pedro
– BANPARÁ
Banco Pan S.A.
Conselheiros
Carlos Augusto de Oliveira
Luis Felix Cardamone Neto
Banco Original
André Jafferian Neto Banco Fibra S.A.
Banco Sofisa S.A.
Cláudio Augusto Rotolo
Milto Bardini
Banco Industrial e Comercial S.A.
Antonio Hermann Dias Menezes Banco Industrial e Comercial S.A.
– Bicbanco
de Azevedo – Bicbanco
Banco BMG S.A.
Clive Botelho
Milton Luiz de Melo Santos
Banco BMG S.A.
Aquiles Leonardo Diniz Desenvolve-SP -Agência de
Banco Intermedium S.A. Desenvolvimento Paulista
Ivo José Bracht
Cecred – Cooperativa Central de
Cristiano Malucelli Morris Dayan
Crédito Urbano
Paraná Banco S.A. Banco Daycoval S.A.
Paulo Alexandre da Graça Cunha
Edson Georges Nassar Paulo Henrique Pentagna Guimarães
Banco Pan S.A.
Banco Cooperativo Sicredi S.A. Banco Bonsucesso S.A.
Ricardo Gelbaum
Banco Daycoval S.A.

Rodrigo Braga Pentagna Guimarães


Banco Bonsucesso S.A.
Apoio financeiro:

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O termo “PwC” refere-se à rede (network) de firmas membro da PricewaterhouseCoopers International Limited (PwCIL) ou, conforme o contexto determina, a
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atua como agente da PwCIL nem de qualquer outra firma membro. A PwCIL não presta serviços a clientes. A PwCIL não é responsável ou se obriga pelos
atos ou omissões de qualquer de suas firmas membro, tampouco controla o julgamento profissional das referidas firmas ou pode obrigá-las de qualquer
forma. Nenhuma firma membro é responsável pelos atos ou omissões de outra firma membro, nem controla o julgamento profissional de outra firma membro
ou da PwCIL, nem pode obrigá-las de qualquer forma.

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