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Universidade de Brasília

Instituto de Relações Internacionais


Disciplina: História das Relações Internacionais Contemporâneas
Professor: Pio Penna Filho
Aluna: Júlia Corrêa Ramos
Matrícula: 15/0061251
“’Well, we must wait for the future to show,’ said Mr Bankes, coming in from
the terrace. ‘It’s almost too dark to see,’ said Andrew coming up from the beach”
(WOOLF, 2004, p. 147). Assim começa a segunda parte de To the Lighthouse,
escrito por Virginia Woolf em 1927, considerado um romance do entreguerras tanto
pela época em que foi escrito quanto pela temática. Em linhas gerais, é um livro em
três partes sobre duas visitas à casa de praia de uma família inglesa (a primeira e a
terceira parte), uma antes e outra depois da Primeira Guerra, e as mudanças que
esta provocou naquela, com um “corredor textual” (segunda parte, Time passes),
que pode ser lido como uma realocação do entreguerras (WALSH, 2011, p. 63).

É importante ressaltar que o conceito de período entreguerras (1919-1939) é


uma construção a posteriori, visto que a iminência de uma guerra que se sucedesse
à Grande Guerra só fica clara (apesar de alguns sinais poderem ter sido então
captados por um observador mais atento) após seu fim, e um longo período de
reflexão e investigação histórica. Apesar disso, a sensação, que sucede todas as
tragédias, de que algo ou alguém poderia ter evitado persiste, e as “profecias da
história” se proliferam: se Versalhes não tivesse tido um caráter tão vingativo, se o
mercado financeiro não tivesse ficado tão especulativo, se pudéssemos encontrar o
ponto em que tudo deu errado, se esse ponto existisse, e se a história pudesse
mudar a partir dele.

Apesar de não ser reconhecido como tal na época (como acontece com a
maioria das periodizações históricas), o entreguerras teve algumas características
que lhe conferiam alguma unidade. A primeira delas é uma necessidade coletiva de
aliviar os traumas da guerra e uma falta de orientação sobre como fazê-lo, bem
representadas pelo espírito dos “loucos anos 1920”, e pelas vanguardas artísticas,
como o dadaísmo, o surrealismo e o modernismo (WALSH, 2013), que recorriam ao
absurdo na arte para representar o absurdo da vida. Do ponto de vista da Relações
1
Internacionais tentou-se lidar com eles por meio da vingança, reforçando uma ideia
de “nós-eles” no inconsciente coletivo, o que ficou explícito no Tratado de Versalhes,
a “paz para acabar com todas as pazes”, que acabou reproduzindo essa
animosidade nos países que foram usados de bode-expiatório, a Alemanha sendo o
principal deles, tanto pela amplitude das punições e humilhações impostas, quanto
pela reação nos anos subsequentes.

Em segundo lugar, os extremos, como Hobsbawm (1995) coloca, tiveram um


papel central. Tem-se a impressão de que tudo naquela época foi o maior (as
tragédias, em particular): a maior crise financeira, o maior número de regimes
autocráticos (contraposto, no início do entreguerras, a um surto de democracias
aparentemente sem precedentes), o maior número de governos com ideologias
distintas, a maior discrepância entre elas, tudo isso após a maior guerra, a Grande
Guerra, a guerra para acabar com a história das guerras ou para acabar com a
história. Até que ponto essas impressões são apenas isso não cabe, no espaço
deste ensaio, elucidar, até porque os parâmetros para essas comparações são
difíceis de tornar objetivos. Cabe aqui somente pintar um quadro geral do período,
ou, para empregar o mesmo termo que Woolf, uma “visão”.

Em terceiro lugar, havia uma sensação de incompletude, causada pelos


traumas não superados e pelo ódio latente (e, eventualmente, explícito), sensação
essa que, se não era aparente entre as potências vencedoras 1 (e satisfeitas), ficou
claro nos países que perderam, e foram punidos por isso, que, ao contrário
daqueles, não achavam nem queriam que aquele fosse o fim, como de fato não foi.
Fazendo a análise por esse viés, fica ainda mais perceptível a ideia de continuidade
que os vinte anos de crise de Carr (1981) sugerem.

Em conjunto, essas características do entreguerras, podem sugerir uma


interpretação do que causou essa incapacidade (ou calculada negligência) por parte
de chefes de Estado e decision-makers de perceber e tomar medidas para mudar o
caminho das forças que se dirigiam para a segunda grande catástrofe do século XX.
Restou apenas esperar que o futuro mostrasse e que a história iluminasse o que foi
e, tarde demais, o que poderia ter sido.

Referências Bibliográficas:
1
Uma exceção notável a essa “cegueira dos vitoriosos” vem da literatura (WALSH, 2011)
2
CARR, Edward Hallett. Vinte anos de crise: 1919-1939. ED. Universidade de
Brasilia, 1981.

CERVO, Amado L. “A instabilidade internacional (1919-1939)”. In: SARAIVA, José


Flávio Sombra (org.). História das Relações Internacionais Contemporâneas –
da Sociedade Internacional do século XIX à era da globalização. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 131-167.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia
das Letras, v. 2, 1995.

WALSH, Kelly S. Mourning Modernism: Literature, Catastrophe, and the Politics


of Consolation.  Fordham University Press, 2011.

WOOLF, Virginia. To the lighthouse. CRW Publishing Limited, 2004.

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