A indefinição após o referendo a respeito da continuidade do Reino
Unido na União Europeia (UE) tem trazido vários questionamentos a respeito da participação do país em uma ação conjunta da UE. Até que o Artigo 50 do Tratado da União Europeia seja de fato acionado, é necessário elaborar uma resposta para a atual crise dos refugiados, seja o Reino Unido um estado- membro ou não, quando for posta em prática. Antes de discutir uma proposta a esse respeito, convém fazer uma breve análise da situação no Reino Unido.
Existem inúmeras razões históricas, políticas, geográficas ou culturais
que podem ter contribuído para o resultado do referendo; seguem algumas delas. Em primeiro lugar, esse tem sido um objetivo de certos grupos de interesse, indivíduos e partidos políticos desde a entrada do Reino Unido na Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1973, não sendo, portanto, um processo recente ou repentino. Essa postura pode ser atribuída em parte a um histórico isolacionista, ao qual contribuiu o isolamento geográfico do continente, e refletiu-se em diversas questões, das jurídicas (uso do sistema de common law, em lugar do romano-germânico) às religiosas (no caso do cristianismo, a predominância de uma instituição nacional chefiada pelo monarca, em lugar de uma internacional chefiada pelo papa).
No entanto, para o resultado do referendo de 1975 (favorável à
permanência na CEE) ter se transformado no de 2016, foi necessária uma mudança na percepção da população do Reino Unido em relação à integração com a Europa, e é plausível supor que tenha sido a crise dos refugiados. Seja por preocupações econômicas ou culturais, muitos partidários da saída atribuíram seu voto a um aumento significativo do fluxo de migrantes forçados. Como a maioria chega à Europa pelo Mediterrâneo e a abolição de controles fronteiriços internos do Acordo de Shengen dificulta qualquer garantia permanência dos migrantes nos países de entrada, a permanência na EU pode ser vista como a causa da crise.