Вы находитесь на странице: 1из 13

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ N0 108, OUTUBRO DE 2019.

AL NOTÍCIAS
S E R V I Ç O S + C I D A D A N I A + AVA N Ç O S
2 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 3

QUEM FAZ
O PARLAMENTO CEARENSE PROGRAMOU SÉRIE DE
MESA DIRETORA
Presidente EVENTOS COMEMORATIVOS EM SEUS VEÍCULOS DE ARTIGO
José Sarto (PDT)
COMUNICAÇÃO, SESSÃO SOLENE, DEBATES E UM

Assembleia
1º Vice-presidente

A
Fernando Santana (PT)
2º Vice-presidente
Danniel Oliveira (MDB)
SEMINÁRIO SOBRE DIREITO CONSTITUCIONAL
1º Secretário
Evandro Leitão (PDT)
2º Secretário mês de outubro. Segundo o Coordenador, jornalis-
EDIÇÃO ESPECIAL É
ESFORÇO COLETIVO DA

comemora os
Aderlânia Noronha (SD)

30anos
3º Secretário ta Daniel Aderaldo, a ação envolve todas as ferra-
Patrícia Aguiar (PSD) mentas. A Rádio Assembleia leva ao ar ao longo do
4º Secretário
Leonardo Pinheiro (PP)
SUPLENTES
mês uma série de entrevistas com participantes
da Constituinte, juristas e representantes da socie-
COORDENADORIA DE
1º suplente
Osmar Baquit (PDT)
2º suplente
dade civil envolvidos no processo.
A TV Assembleia exibirá uma série de três re-
COMUNICAÇÃO
Bruno Gonçalves (Patri)
3º suplente
portagens e um documentário sobre o tema. A
Romeu Aldigueri (PDT) Revista Plenário e o Jornal AL Notícias circulam Para celebrar os 30 anos da Constituição do Esta-
AL NOTÍCIAS com uma edição especial sobre os 30 anos da do do Ceará a equipe de comunicação da Assembleia
ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA Carta estadual. O Portal Assembleia inaugura Legislativa encampou o desafio de resgatar docu-
LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ
uma galeria, que assumirá caráter permanente, mentos, fotografias, bibliografias e depoimentos de
nº 107 junho 2019
COORDENADOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL fazendo um resgate histórico do período e onde fontes que participaram ativamente do processo de
Daniel Aderaldo
é possível encontrar textos e entrevistas com os elaboração da nossa Lei Maior. Ouvimos parlamenta-
EDIÇÃO - Lúcia Stedile
SUBEDITOR : Dídio Lopes deputados constituintes remanescentes. res que elaboraram e apreciaram o texto e também
REDAÇÃO: Didio Lopes e Lúcia Stedile “O setor de Comunicação da Casa, por meio assessores que atuaram no dia a dia das discussões
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Alessandro Muratore e Alice Penaforte de todos os seus veículos, estará envolvido num de cada um dos 336 artigos que compõem nossa
FOTOGRAFIA - Paulo Rocha, Máximo Moura, projeto especial de resgate histórico e discussão Constituição, além de juristas que se dedicam ao es-
Dario Gabriel, Marcos Moura, Bia Medeiros,
José Leomar e Edson Júnior Pio sobre o fortalecimento do Estado Democrático tudo das leis na academia ou militam no Direito em
FOTO DA CAPA: Arquivo /Agência de Notícias Assembleia Legislativa do Ceará comemora ao e de Direito”, disse Daniel Aderaldo, informando nosso Estado.
IMPRESSÃO: Gráfica Ronda
Tiragem : 30 mil exemplares longo do mês de outubro os 30 anos da Cons- ainda que a Casa fará nesse período uma cam- Trata-se de um trabalho desenvolvido coletiva-

b tituição estadual. Aberta com um seminário no


dia 4/10, dia do aniversário da promulgação da
Carta Magna, a programação tem seguimento
por todo mês, com a realização de sessão sole-
ne, debates e programação especial em todos
panha institucional na mídia local de valorização
do papel do Parlamento, dos legisladores e do
Poder Legislativo como um todo. Por fim, a Coor-
denadoria editou e publicará uma edição de luxo
da Constituição do Estado, enquanto o Instituto
mente pelos profissionais da TV Assembleia, da FM
Assembleia, das Mídias Sociais, da Agência de Notí-
cias, da Revista Plenário e deste jornal. Tudo em par-
ceria e com apoio dos diversos setores da Casa. Nossa
equipe atuou trocando informações, compartilhando

da Constituição
os veículos de comunicação da Casa. de Pesquisas para o Desenvolvimento do Ceará entrevistas, debatendo inconsistências e alinhando
No dia 4 de registra-se o I Seminário de Direito (Inesp) também fará uma nova edição atualizada um material de primeira qualidade para entregar aos
Constitucional da Assembleia Legislativa do Cea- Carta Magna. cearenses conteúdos jornalísticos nas diversas plata-
rá numa realização da Procuradoria da Casa em formas de notícias de que dispomos.
parceria com o Curso de Pós-Graduação em Di- Realizamos um grande resgate desse marco legal
FALE COM A GENTE reito da Universidade de Fortaleza (Unifor). Entre e histórico para, assim, oferecermos aos cidadãos

Estadual
os participantes, juristas, acadêmicos e autorida- fontes de consultas oficiais e confiáveis de fácil aces-
Av. Des. Moreira, 2807 | Dionísio Torres des do Poder Judiciário, como o Ministro do STF, so, além de, ao mesmo tempo, instigarmos uma dis-
CEP: 60170.900 | Fortaleza – Ceará Ricardo Lewandovsky. cussão atual sobre o Estado Democrático de Direito,
TELEFONE No dia 7 a Casa realiza uma sessão solene a fim de chamarmos atenção da sociedade cearense
(0XX85) 3277.2500 comemorativa aos 30 anos da promulgação da sobre a importância da nossa Lei Maior e o impacto
PORTAL Constituição do Estado, quando será feita uma dela na vida cotidiana da população.
http://www.al.ce.gov.br homenagem aos deputados constituintes vivos Com esse espírito, apresentamos esta edição es-
DISQUE ASSEMBLEIA e ‘in memoriam’ aos já falecidos. No mesmo dia, pecial do Jornal AL Notícias.
0800 280 2887
a Casa promove um debate, no Auditório Murilo Boa leitura!
OUVIDORIA
(0XX85) 3257.9797| ouvidoria@al.ce.gov.br

a Aguiar, com políticos de projeção nacional, como


o ex-Ministro Ciro Gomes.
A Coordenadoria de Comunicação Social ela-
borou uma agenda comemorativa ao longo do
Jornalista Daniel Aderaldo
Coordenador de Comunicação da Assembleia
Legislativa do Ceará
4 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 5

DARIO GABRIEL

TEMPO DE I SEMINÁRIO DE DIREITO CONSTITUCIONAL


DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CEARÁ
REAFIRMAR
VALORES EM HOMENAGEM
AOS 30 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
PROGRAMAÇÃO

DEMOCRÁTICOS
8h – Credenciamento 14h – Painel – Assembleias Legislativas: poder
8h30min – Solenidade de abertura político, competências e crises de funções

I
Seminário de Direito Constitucional da Palestrantes:
Assembleia Legislativa do Ceará – Em ho- 9h – Painel – Ativismo Judicial e o Efeito Backlash à Filomeno Moraes
menagem aos 30 anos da Constituição Es- Jurisdição Constitucional Livre-docente em Ciência Política pela UFC. Doutor em Direito

F
tadual é o primeiro evento comemorativo Palestrantes: pela USP. Mestre em Ciência Política.
incada na soberania popular, na democracia represen- de uma série que terá seguimento ao longo George Marmelstein Lígia Melo
tativa, nos direitos humanos e na harmonia entre os do mês de outubro no Parlamento Cearense. Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra. Mestre Doutora em Direito Econômico e Desenvolvimento pela PUC/
poderes, a Carta Magna é a tradução do sentimento O Seminário tem a participação de juristas, em Direito Constitucional pela Universidade Federal do PR. Mestre em Direito do Estado pela PUC/SP. Professora do
dos brasileiros num contexto sociopolítico de grande acadêmicos e políticos, e foi organizado pela Ceará. Professor de Direito Constitucional e Filosofia do Curso de Direito da UFC.
efervescência, pós-regime militar. Fruto da instituição Procuradoria da AL em parceria com o Curso Direito. Juiz Federal. Vania Aieta (confirmada).
do Estado Democrático de Direito, a Constituição Fede- de Pós-Graduação em Direito da Universida- Rubens Beçak Pós-Doutora em Direito Constitucional pela Universidade
ral de 1988 assegurou direitos fundamentais e representa um marco de de Fortaleza. Entre os conferencistas estão Mestre, Doutor e Livre-Docente, USP; Professor da USP). de Santiago de Compostela, Espanha (2018) e pela
em conquistas sociais e políticas. o Ministro do STF, Ricardo Lewandovsky e o Rafael Xerez PUC-Rio (2017). Doutora em Direito Constitucional pela
Aqui no Ceará, em 1989, a construção da Carta Estadual contou com professor Dr.George Marmelstein. O Evento Doutor em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Mestre PUC-SP (2003).
grande participação popular, impulsionada pela reabertura democráti- acontece no dia 4 de outubro, com abertura em Direito pela Universidade Federal do Ceará. É professor da
ca. Os constituintes eleitos vivenciaram meses de intensa discussão e às 8h30min. Unifor e Juiz Titular da 2ª Vara do Trabalho de Fortaleza. 15h00min – O neoconstitucionalismo no ambiente
se pautaram pelo compromisso com um texto socialmente justo e in- da pós-verdade

NELSON JR./SCO/STF
cludente. Seguiram os preceitos de representar, legislar e fiscalizar, sem 10h – Painel - O controle abstrato de Palestrantes:
perder de vista a árdua missão de mediar conflitos da sociedade. constitucionalidade das normas estaduais e municipais Luiz Moreira Gomes Júnior
Tal bravura abriu caminho consistente para os trabalhos realizados Palestrantes: Doutor em Direito e Mestre em Filosofia pela UFMG e ex-
hoje na Assembleia Legislativa, composta por 46 deputados que repre- Gina Vidal Marcílio Pompeu. conselheiro do CNMP. Diretor Acadêmico da Faculdade de
sentam distintos matizes ideológicos e segmentos sociais. Essa diver- Pós-Doutora em Direito pela Universidade de Lisboa. Direito de Contagem.
sidade resulta de uma maturidade democrática que merece ser come- Doutora em Direito pela UFPe. Mestre em Direito pela UFC. Paulo Sávio Peixoto Maia
morada. Por isso, celebraremos os 30 anos da nossa Constituição com Coordenadora e Professora da Unifor. Consultora Jurídica da Mestre em Direito, Estado e Constituição pela Faculdade de
programação especial. Assembleia do Ceará. Direito da Universidade de Brasília (UnB). Chefe da Assessoria
Além do I Seminário de Direito Constitucional, o Legislativo Estadual Natércia Sampaio Siqueira Jurídica da Presidência da Câmara dos Deputados.
homenageia em sessão solene os constituintes de 1989 e realiza um de- Pós-doutoranda em Direito econômico pela Faculdade Rodrigo Martiniano Ayres Lins
bate com renomados políticos cearenses. Os veículos de comunicação de Direito da Universidade de Lisboa. Doutora em Direito Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza
da Casa estão envolvidos produzindo conteúdo em múltiplas platafor- Constitucional pela Universidade de Fortaleza. Mestre em (UNIFOR). Procurador-Geral da ALECE e Professor da Unifor.
mas e dedicados a remontar os fatos daquela época. Direito Tributário pela UFMG. Moderador: Dep. Elmano de Freitas (PT)
O enaltecimento da Carta Estadual ocorre num momento de neces- Juraci Mourão
sária reafirmação democrática. É um ato político, que resiste a recor- Doutor, Unifor; Professor da UniChristus e Procurador do 16h00min – Painel – A erosão do Texto
rentes afrontas às garantias fundamentais, invocando a população a se Município de Fortaleza Constitucional
envolver nas atividades da Casa e estimulando um debate que prima Palestrante:
pelo respeito ao contraditório. 11h00min – Desafios contemporâneos do Martonio Mont’alverne Barreto Lima
Federalismo Brasileiro Doutor e Pós-Doutor em Direito (Rechtswissenschaft) pela
Deputado Estadual José Sarto Conferencista: Ministro Ricardo Lewandolski (STF) Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main.
Presidente da Assembleia Legislativa do Ceará Procurador de Fortaleza.
Ministro do STF, Ricardo Lewandovsky fará conferência sobre os 12h – Intervalo para almoço 17h00min – Encerramento
'Desafios contemporâneos do Federalismo Brasileiro'
6 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 7

A Lei A
Constituição é também chamada de Carta Mag-
na por ser a Lei Suprema de um País ou dos Es-
tados. Assim, a Constituição estadual de 1989 é
a Lei Fundamental do Estado do Ceará. Suprema
CONSTITUIÇÕES
porque nela estão contidas as normas e princí- REPUBLICANAS
pios basilares de todo o ordenamento jurídico do A elaboração de Cartas Políticas
Estado, assim como a Carta Federal contém as dos Estados foi autorizada por fun-
do País. A lei maior de um estado é elaborada res- damento do decreto N°. 1 do governo
peitando os limites da Federal. Nela estão esta- Provisório republicano, baixado em

SUPREMA DO
belecidas as bases da estrutura política e social, 15 de novembro de 1889. Assim, o
tratando da aquisição, exercício e limitação do Estado do Ceará elaborou sua primei-
poder, distribuindo competências, estabelecendo ra Constituição republicana em 1891,
os direitos e garantias fundamentais que perten- criando uma câmara de deputados e
cem aos cidadãos. um senado estadual. No ano seguinte,
A nossa Constituição Federal de 1988 comple- 1892, uma nova constituição estadual

ESTADO DO CEARÁ
tou trinta anos em 2018. A Constituição do Ceará, promulgada em 1989, era promulgada.
completa 30 anos no dia 5 de outubro deste ano. A promulgação da Carta Em 1921 o Ceará realizou outro pro-
Estadual, assim como a da Federal um ano antes, estabeleceu um marco cesso constituinte, com a promulgação
histórico em função das conquistas para o povo cearense, assim como no de uma nova Constituição. A esta se
ano anterior para o povo brasileiro. sucederam as constituições estaduais
A importância histórica da Constituição de 1988 e da subsequente Car- de 1925, 1935, 1945,1947, 1967 e 1989.
ta estadual de 1989 é imensa, pelo contexto histórico em que se desenro- O Estado do Ceará elaborou nove cons-
lou. Após 20 anos de regime militar, que rapidamente descambou para um tituições, enquanto o Brasil possuiu seis
governo ditatorial e repressivo, sem a realização de eleições diretas e sem constituições federais e uma constitui-
assegurar ao povo seus direitos e garantias fundamentais, os ares demo- ção imperial.
cráticos finalmente varriam o país e estavam consolidados. A população ti- Na gestão Marcos Cals (2003/2004
nha demandas reprimidas, por participação cidadã, de modo que processos – 2005/2006) uma parceria entre a As-
constituintes de então marcaram a evolução do constitucionalismo brasi- sembleia Legislativa do Ceará  e a  Uni-
leiro, por contemplar a sociedade como um todo em seus diversos matizes. versidade Federal do Ceará foi celebrada
A partir de então, o Brasil percorreu um período de reorganização demo- para a republicação de todas as cons-
crática, pleno de avanços que eram pensados para a democracia ser cons- tituições cearenses. Atualmente elas
tante, sem interrupções. Isso porque nossa história republicana é marca- estão disponíveis no Portal oficial da
da por rupturas e posterior restabelecimento da ordem democrática. Esse ALECE (www.al.ce.gov.br) e na Bibliote-
mesmo clima de euforia democrática se reproduziu nos Estados. ca César Cals de Oliveira, da Assembleia
A Constituição Estadual de 1989 é a nona na história do Ceará. Foi feita Legislativa do Estado do Ceará.
exercendo a competência estabelecida pelo art. 25 da Constituição Federal, A versão em vigor, atualizada até a
o qual dispõe que os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e Emenda Constitucional Nº 94 de 17 de
leis que adotarem, observados seus princípios, percorrendo os mesmos cami- dezembro de 2018, foi publicada em
nhos da Carta Federal, mas adequando-as às realidades de cada Estado. uma edição do Instituto de Pesquisas
Após a promulgação, seu texto recebeu a primeira emenda dois anos de- para o Desenvolvimento do Estado do
pois. A emenda promulgada pela mesa da Assembleia Legislativa do Ceará Ceará (Inesp), na gestão do presidente
no dia 9 de abril de 1991 e até dezembro de 2011, 72 artigos haviam sido Zezinho Albuquerque (2017-2018).
acrescentados por meio de emendas.
8 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 9

PARTICIPAÇÃO POPULAR
E CIDADANIA
A Constituição cearense promulgada em 1989 não é
apenas uma Carta cidadã, ela foi além: é uma Constituição

O CONTEXTO POLÍTICO E SOCIAL DO participativa. Contou com intensa participação de diversos


segmentos da sociedade civil de modo que os diversos seg-
mentos se faziam representar por meio de instituições e

CEARÁ À ÉPOCA DA CONSTITUINTE entidades, levando aos deputados constituintes suas reivin-
dicações, além de uma presença ativa nos debates. Foi asse-
gurado na própria Carta mecanismos de participação mas o
processo Constituinte criou a cultura de efetiva presença da
sociedade nos processos decisórios das políticas públicas

E
m 1987, quando o Congresso Nacional iniciou os traba-
lhos de elaboração da Constituinte Federal, o País vivia
O INÍCIO DOS TRABALHOS e especialmente nas discussões para elaboração de leis no
Legislativo do Estado.
a esperança de renovação. O Brasil estava em plena re- Logo no início a elaboração da Carta enfrentou contratem- A realização de audiências públicas para discutir os
democratização, mas ainda havia cicatrizes e alguma pos e muitos não acreditavam que um trabalho produtivo pu- mais variados temas durante a Constituinte, por exem-
frustração: em que pese termos saído em 1985 do Regime Mi- desses ser realizado. O primeiro deles referia-se a relação da plo, se tornou norma hoje na Assembleia Legislativa do
litar que tantos traumas causou, a população precisou conviver Assembleia Legislativa com o governo de Tasso Jereissati, o Ceará onde projetos e assunto de impacto na sociedade
com a derrota das Diretas Já depois de uma grande mobiliza- que culminou com a eleição de um oposicionista, deputado são exaustivamente discutidos nas Comissões afins. Hoje
ção nacional e com a morte de Tancredo Neves antes que ele Antônio Câmara (MDB) para presidir a Casa. Além disso, sua o Legislativo cearense conta com um complexo de comis-
pudesse tomar posse como presidente do Brasil e, ao mesmo
tempo ver ascender ao cargo máximo da República, José Sar-
instalação se deu no início do período de campanha eleitoral
nos municípios, o que fazia as sessões sofrerem esvaziamen-
Deputado Antônio Câmara
promulga a Constituição em
5 de otubro de 1989.
AS CONQUISTAS DA sões técnicas, cada uma delas dotada de um auditório,
onde se vê quase todos os dias vários debates e audiên-
ney. Assim, uma nova Constituição era a última esperança da tos porque os parlamentares estavam em suas bases. Dividi- NOVA CARTA cias públicas acontecendo.
consolidação democrática que a população tanto ansiava. dos entre campanhas, atividades ordinárias do Legislativo e Os mecanismos de participação inseridos na Constituição
Após a promulgação da Constituição Federal, chamada Cons- o processo de elaboração da Constituinte, os parlamentares A Constituição estadual de 89, apesar dos contratem- de 89 mais a efetiva presença da sociedade civil nos debates
tituição Cidadã, em 5 outubro de 1988, as assembleias estaduais passaram, no começo, a sensação que os trabalhos não iriam pos e polêmicas inicias, conseguiu avanços até então im- da Constituinte abriram as portas para que a população par-
instalaram seus processos constituintes na mesma data. Nem a progredir com grandes avanços. pensáveis no Estado do Ceará. Ele não se limitou a uma ticipasse dos processos de elaboração de leis, políticas públi-
Carta Federal nem as estaduais foram elaboradas por meio de Porém, em meio a esses entraves e às pressões, ora do simples adaptação da Carta Magna, foi além em todos os cas e decisões por meio dos mais variados mecanismos, nos
Constituintes Exclusivas. Os legislativos foram alçados a essa Executivo, ora das entidades de classe, como as dos servido- temas possíveis, dentro dos limites estabelecidos pela Fe- conselhos criados no âmbito do Executivo, onde hoje encon-
condição em paralelo às suas atribuições ordinárias. res públicos, ora da sociedade civil, ora da imprensa, os traba- deral. Assim o Ceará ganhou uma Legislação inédita que é tram assento, inclusive.
Se o contexto da Constituinte Federal ocorreu dentro do lhos foram progredindo, ganhando um ritmo próprio, com um o capítulo que trata da Política Agrícola e Agrária, com 16 Solenidade de Promulgação
da Constituição Estadual
amadurecimento do processo democrático, contemplando maior envolvimento dos políticos e da sociedade e, ao final, a artigos. Foi todo elaborado pelo líder da maioria, deputa-
demandas reprimidas da população, no Estado do Ceará não Carta cearense de 89 trouxe avanços significativos. do Alexandre Figueiredo (MDB) por meio da participação
foi diferente e foi bastante intenso: ela movimentou toda a so- Esse impulso posterior nos trabalhos foi dado em boa de deputados e especialistas nas áreas agrícola e agrária.
ciedade civil. O Estado vinha num ritmo de mudanças efetivas, parte pela cobrança da sociedade e também pela eleição Outro capítulo inédito inserido na Carta do Ceará foi
o povo cearense ansiando por algo novo, com quebra de vá- de deputados mais jovens, quer da bancada da maioria, o que trata do Meio Ambiente. Surgido de um esforço da
rios paradigmas. Em 1986 o então empresário Tasso Jereissati quer do Centrão, quer do lado progressista onde cinco par- bancada progressista, em especial do petista João Alfredo,
foi eleito Governador do Estado, derrotando um triunvirato de lamentares do PT e PDT formavam um bloco aguerrido. E em meio a embates acirrados com a bancada do Centrão,
coronéis que, há anos, se revezava no Poder. O nome de Tasso assim, um ano depois, o deputado Antônio Câmara promul- esse capítulo criou mecanismos de proteção ambiental
surgiu num contexto maior, o do Movimento Pró-Mudanças, gava a nova Carta estadual, no dia 5 de outubro de 1989, que não existem em outros Estados, em que pese os
formado por jovens empresários a partir de uma mobilização em meio a manifestações e polêmicas nos dias que ante- avanços da Constituição Federal nessa área. Nele consta,
que começaram na luta pelas Eleições Diretas. cederam a solenidade. por exemplo, a exigência da aprovação pelo Conselho Es-
A eleição de Jereissati, ocorrido pouco mais de um ano após Servidores estaduais e outras categorias se manifes- tadual do Meio Ambiente, de projetos de grande impacto
redemocratização do País (o Regime Militar acabou em março tavam fora do Parlamento, insatisfeitos com o que consi- ambiental. No processo de licenciamento ambiental para
de 1985) significou uma ruptura importante na política cearen- deravam poucas conquistas, enquanto o governador Tas- esse tipo de projeto, passou a ser exigido um estudo de
se e expressou o desejo da população por novos modos de fa- so Jereissati ameaçava não comparecer à solenidade de impacto ambiental a ser aprovado pelo Conselho.
zer política, por demandas sociais e de desejo de participação promulgação e juramento da nova Carta, contrariado por A Constituição do Ceará de 1989 avançou ainda na ques-
nos processos decisórios. Com esse espírito a Constituinte es- alguns direitos que seriam assegurados ao funcionalismo tão dos municípios, trazendo-lhes mais autonomia, embora
tadual foi instalada dia 5 de outubro de 1988 com a função de estadual, dentre eles a isonomia salarial, que prejudicaria o não a desejada por ter que obedecer aos limites estabeleci-
adaptar a Carta estadual à federal. equilíbrio fiscal do Estado. dos na da Carta Federal.
10 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 11

CONSTITUINTES 1989

Agaci Fernandes Alceu Coutinho Alexandre Figueiredo Antônio Câmara Antônio dos Santos Erivano Cruz Eudoro Santana Everardo Silveira Fonseca Coêlho Francisco Aguiar

Antônio Jaco Antônio Tavares Barros Pinho Bitu dos Santos César Barreto Francisco Pinheiro Landim Franzé Moraes Geraldo Azevedo Gomes Farias Henrique Azevedo

Cláudio Pinho Domingos Fontes Edson Silva Elmo Moreno Erasmo Alencar Ilário Marques Jarbas Bezerra João Alfredo João Luiz João Viana
12 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 13

A Assembleia Legislativa abriu suas portas e recebeu com o


maior prazer todas as propostas da sociedade civil, milhares
e milhares de propostas. Muitas delas foram aprovadas no
texto base da Constituição”.  

Alexandre Figueiredo

Plano Plurianual foi o


resultado mais profícuo da
Júlio Rêgo Liaderson Pontes Luiz Pontes Macário de Brito Manoel Duca Marcos Cals
participação popular

L
íder da bancada da maioria na Constituinte, o ago- Para ele, um dos resultados mais profícuos da participação
ra conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, popular na elaboração da Carta estadual foi o estabelecimento
Alexandre Figueiredo (MDB), foi o responsável pela do Plano Plurianual (PPA) que foi implementado no início dos
elaboração de um capítulo completo da Carta Es- anos 90. “A elaboração do PPA teve a participação de todos
tadual, o que trata da Política Agrícola e Agrária do Cea- os municípios do Ceará. Foi a primeira vez que a Assembleia
rá, com 16 artigos. Alexandre foi também o deputado que saiu de casa e foi ao encontro do cidadão. Estivemos nos mu-
teve o maior numero de emendas aprovadas: 323 propos- nicípios das macrorregiões congregando todos os municípios
tas. Sua atuação rendeu uma homenagem do deputado da área. Assim fomos a Sobral, ao Cariri, ao Sertão Central, ao
Ulisses Guimarães. Ele considera que o Plano Plurianual Vale do Jaguaribe, etc. Recebemos propostas para a elabora-
Maria Dias Maria Lúcia Narcélio Limaverde Nilo Sérgio Nonato Prado Paulo Quezado (PPA) foi um dos resultados mais profícuos da participa- ção do PPA e depois na sua própria execução. E essa partici-
ção popular estabelecidos pela Constituição. pação popular forçou a execução da Constituição de 89, em
Para ele, a elaboração da constituição de 89 foi um que ainda precisamos avançar, mas ela deixou todo o cerne, o
momento histórico para o Ceará e para os que participa- rumo, para trilharmos caminhos melhores” avaliou.
ram do processo. “A Assembleia já tinha feito uma Consti- Sobre sua atuação como líder e na condição de consti-
tuição do Estado em 1945, mas nunca houve um trabalho tuinte que teve o maior número de propostas aprovadas,
com tanta abertura como o processo constituinte de 1988 Alexandre disse que se sentiu honrado por esse resultado.
a 1989” disse ele, destacando que houve uma ampla par- “Aí eu tenho que fazer justiça porque esse capítulo não foi
ticipação popular, com as entidades de classe, de traba- elaborado só pelas minhas mãos. Houve uma participação
lhadores rurais, de políticos, vereadores, prefeitos, etc. “A de vários deputados e de pessoas da mais alta qualidade
Assembleia Legislativa abriu suas portas e recebeu com o nas áreas agrícola e agrária. Esse trabalho foi a compilação
maior prazer todas as propostas da sociedade civil, milha- de muitas propostas e eu tive essa honra de ter sido asses-
res e milhares de propostas. Muitas delas foram aprova- sorado por juristas do mais alto gabarito e tenho a honra de
das no texto base da Constituição”, destacou. ter elaborado esse capítulo”, afirmou ele.

Pedro José Tarcísio Monteiro Teodorico Menezes Tomaz Brandão


14 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 15

Trouxemos talentos e contamos também com o talento dos servidores da Recebi na Assemblei a presidente da Associação do Ministério
Assembleia que, somados à atuação decisiva dos deputados, fizemos uma Público, Maria José Marinho e, atendendo às demandas da
Constituição que teve apoio amplo, da imprensa, da sociedade”.   categoria, subscrevi emenda que beneficiava o MP”.  

Antônio dos Santos Antônio Jacó

Soubemos interpretar Atuação em defesa do


a vontade popular Ministério Público

P O
ara o ex-deputado constituinte Antônio dos San- rá. Espelhamo-nos no trabalho que estava sendo feito em deputado constituinte Antônio Jacó, que era o Pri- caso foi realmente folclórico”, relembrou. 
tos, o ponto mais relevante da Assembleia Cons- Brasília, comandado por Ulisses Guimarães: a Constituição meiro Secretário da Mesa Diretora da Assembleia, Ele destaca que a participação popular foi muito grande.
tituinte foi saber interpretar a vontade popular. Cidadão. Trouxemos talentos e contamos também com o destaca um dos seus principais pontos de atuação “Na época eu era secretário da Casa o primeiro secretário
Segundo ele, os pontos que mais geravam de- talento dos servidores da Assembleia que, somados à atua- na elaboração da Carta Magna estadual como sen- tem uma função muito espinhosa de conduzir a parte ad-
mandas eram educação, saúde e seguranças, embora na ção decisiva dos deputados, fizemos uma Constituição que do a defesa dos interesses do Ministério Público. “Recebi na ministrativa. Mesmo assim, eu chegava 6h30 min, para po-
época a sociedade não enfrentasse a insegurança de hoje teve apoio amplo, da imprensa, da sociedade. Essa Consti- Assemblei a presidente da Associação do Ministério Público, der atender as demandas da minha função como secretário
em dia. “O mais interessante foi que a sociedade como um tuição que ainda hoje está vigente, com alguns aditamen- Maria José Marinho e, atendendo às demandas da categoria, e não faltar a Constituinte. Mas eu me recordo que houve
todo começou se organizar. A Assembleia como a igreja, tos, com alguns artigos excluídos”, acrescentou. subscrevi emenda que beneficiava o MP”, conta ele. uma participação popular muito acentuada. O plenário era
como a classe médica, como os pastores, tem um lado Ele confessou que até hoje carrega um sentimento de Jacó disse que aí aconteceu um fato pitoresco que en- cheio e um fato que chamou atenção na época era que to-
bom, tem os que tem algum ou defeito outros até defeitos orgulho, de muita vaidade, no sentido de alegria. Trata- trou para o folclore da Constituinte. “Uma semana depois dos os deputados participavam ativamente”, enfatizou. 
demais, mas a Assembleia representa o Poder Legislativo, -se, segundo ele, da vaidade de ter tido a oportunidade ela (procuradora) me procura. ‘Deputado, tem um proble- Disse que as votações eram feitas com o plenário
é o poder popular. Nela está o representante do comer- de representar a população do seu Estado. ”É um sen- ma aí. O deputado César Barreto apresentou uma emenda cheio, com a unanimidade dos presentes. Um tema mar-
ciante, o representante do bancário, está o representan- timento de muita vaidade, sem ser a vaidade condena- que anula a que o senhor apresentou’. Mas o César é meu cante que ele destaca referia-se à Defensoria Pública. “De
te do insatisfeito, o representante do intelectual, daquele da pelos céus. A vaidade de ter tido a oportunidade de amigo e eu falo com ele, garanti. A solução encontrada um modo geral, no Brasil, não se olha para o pobre, para o
que bebe, daquele que se acha injustiçado. A Assembleia representar a população do meu Estado. Um sentimen- foi o César Barreto votar contra a emenda que ele apre- velho e para a criança”. Disse que a Defensoria Pública  foi
é um tambor do povo, representa a sociedade com suas to de alegria. Agora nem tanto porque o tempo passou, sentou. Esse fato, na época, entrou até para o folclore da fruto desse período.
virtudes e os seus defeitos”, disse ele. mas eu tinha uma vaidade tão grande de sair daqui com política. Na hora da votação, o deputado Antônio Câma- Voltando às sessões, Antônio Jacó disse que as dis-
Antônio dos Santos diz que ele e os colegas fizeram um o bottom de deputado na lapela, aqui e em Brasília, na ra, que presidia, fez a chamada. Ele não respondeu. Ficou cussões eram acaloradas, mas respeitosas. “Depois que
trabalho profundo para elaborar a melhor Constituição para Câmara dos Deputados. Hoje já se tem até um temor de nervoso, o plenário cheio e ele ia votar contra a emenda deixei de ser parlamentar, vi alguns arroubos que não são
o Estado do Ceará. Observa que se inspiravam no trabalho se identificar como deputado. Mas as coisas estão me- que apresentou. Na segunda chamada, o deputado Câ- republicanos. Na nossa época, havia discordâncias, evi-
feito pelos parlamentares Câmara dos Deputados, na ela- lhorando. Eu fiquei tanto tempo deputado que ninguém mara pergunta: ‘Deputado César Barreto, como vota?’ Ele dentemente, cada partido defendia as suas reivindicações
boração da Carta Federal. “Fizemos um trabalho profundo conhece o Antônio dos Santos, conhece o deputado An- disse, ‘voto com a emenda do deputado Antônio Jacó’. A para que fossem analisadas, mas nunca se registrou um
para elaborar a melhor Constituição para o Estado do Cea- tônio dos Santos”, finalizou. imprensa explorou na época até de maneira debochada. fato que demonstrasse uma insensatez ou excesso na
Mas na verdade, foi o poder do convencimento. Não jus- conduta. Foi um período em que o Ceará marcou presen-
tificava disse que o Ministério Público teria ganhos com ça no contexto do país, em razão do comparecimento de
minha emenda e que a dele anulava os efeitos dela. Esse todos os parlamentares”, relembrou.
16 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 17

Quando nós sentávamos para conversar todos nós éramos Eu acho que a Constituição ainda está atualizada. Apesar do país
deputados com o compromisso de fazer uma Constituição estar passando por uma grande dificuldade, principalmente na área
que viesse realmente ao anseio do povo cearense”. econômica, com o desemprego, a Constituição cumpriu o seu papel”.

Francisco Aguiar Franzé Morais

A Constituição foi feita com Povo cearense teve uma participação


seriedade e esmero grandiosa na Constituinte

P P
ara o ex-deputado e ex-governador Francisco grande com os períodos constante de seca. “Era mais cer- ara o ex-deputado Franzé Morais, que à época era do Franzé acrescentou: “Eu acho que a Constituição ainda
Aguiar, que era filiado ao MDB, a Constituinte foi um ta a seca do que o inverno. O inverno hoje é praticamente MDB, o povo cearense teve uma participação gran- está atualizada. Apesar de o país estar passando por uma
momento de importância histórica. “Nós tivemos uma exceção. Realmente a gente tinha uma preocupação diosa na elaboração da Constituição Estadual. “Foi grande dificuldade, principalmente na área econômica, com
a Constituição Federal de 88 e a Assembleia, sem enorme com a agricultura que era nossa maior produção. um negócio fantástico. A Assembleia vivia lotada o desemprego, mas a Constituição cumpriu o papel dela.
dúvida, teve que elaborar a Carta estadual para que nós pu- Nessa parte de agricultura também estava incluída a par- durante todo o período do estudo para fazer a Carta Magna. Logicamente que depois de 30 anos é salutar modificar al-
déssemos nos adequar às diretrizes da nossa Carta maior. te da pesca, uma fonte de renda muito grande na época A Assembleia era lotada sempre. Todo dia a gente chegava e guma coisa para melhorar todo esse quadro. Os governos
Então, foi uma Assembleia que teve uma participação mui- que nós produzíamos aqui muita lagosta e essa lagosta se o povo enchia as galerias. E se aqui e acolá alguém quisesse federal, estaduais e municipais devem estar sempre juntos
to grande, muitos colegas apresentaram projetos, emendas, exportava. Sem dúvida gerava emprego, recursos circu- fazer alguma coisa contra uma Carta de extrema liberdade e para poder dar ao povo aquilo que ele merece”. 
sugestões, não apenas na Constituição, mas também nas lando no estado”, disse ele. democracia recebia muita vaia. Ninguém tinha muita cora- Morais, que era segundo vice-presidente, destaca que
disposições transitórias. De forma que foi um trabalho real- Aguiar considera que valeu a pena participar da elabo- gem para fazer nada contra”, rememorou.  a Mesa Diretora era muito unida. “Todos que faziam parte
mente feito com muito esmero, um trabalho com muita se- ração da nova Carta estadual, apesar de ter havido algu- Para ele a Constituinte Estadual foi um momento muito queriam um objetivo só. A gente conversava tudo antes de
riedade e que realmente nos deu os fundamentos que temos mas pequenas mudanças, que foram incluídas e depois importante para todos os parlamentares. “Assinar a nova entrar no plenário e já ia com uma posição pesquisada, que
até hoje com exceção de algumas pequenas emendas que foram excluídas, mas porque foi uma Constituição feita Carta, em um regime democrático, após tanto tempo em o povo gostaria que a gente registrasse. Eu acho que a Cons-
foram mudando a constituição”, prosseguiu. em função da adaptação que era preciso ter em relação a situação contrária, foi algo que marcou a todos nós que tive- tituição poderia melhorar agora, depois de tantos anos. Não
Aguiar apresentou 17 sugestões que foram compartilha- Federal, mas colocando acima de tudo as peculiaridades mos a felicidade de participar, mudando toda a história de- só o Ceará, mas o país como um todo” prosseguiu.
das com os colegas para que fossem feitas algumas adap- do nosso estado. mocrática nesse país”.  Observou que todos os constituintes, Ele acredita que o maior avanço da Constituição foi criar
tações, e sugestões para acrescentar algumas coisas. “Foi O ex-deputado disse que por coincidência seu pai foi de uma maneira geral, defendiam o que estava sendo im- medidas que melhorasse a situação do povo. “Isso voltado
um trabalho em conjunto e lembro bem que foi na parceria constituinte em 1947, que foi o ano em que ele nasceu. plantado no país, naquele período. “Nenhum de nós teve vi- para o funcionário público, o desempregado, as instituições
que tinha entre os colegas. Ali nós estávamos realmente “Nessa de 47 estava meu pai e o meu avô, pai da minha são diferente. Todos nós juntos sabíamos que tínhamos uma erguidas para ajudar os pobres. Nós lutamos muito para que
fazendo um trabalho para o estado do Ceará. Ali não tinha mãe, todos os dois foram deputados constituintes. Papai responsabilidade muito grande, até mesmo por ser o reinício essas coisas fossem minimizadas. A Constituição tinha que
partido A, partido B, partido C. Quando nós sentávamos entrou na política, papai era um homem rico aqui do Ce- da democracia. Unidos, fomos ao encontro dos desejos de ser feita para a melhoria do povo. Não era para a melhoria do
para conversar todos nós éramos deputados com o com- ará, estava entre os 10 homens mais ricos daqui. Quando todo o povo brasileiro”, disse. político, nem para as casas legislativas”, finalizou.
promisso de fazer uma Constituição que viesse realmente ele faleceu quase ninguém fez nem inventário. Tinha gas-
ao anseio do povo cearense”. to tudo. Hoje em dia diz que é o contrário, político entra
Ele diz que as suas propostas eram voltadas para a área para se locupletar, mas naquela época não, era realmente
social e agrícola porque tinha uma preocupação muito porque a pessoa amava”, concluiu.
18 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 19

Nós que estávamos pela esquerda e tínhamos um bom uso da tribuna, Temas que não apareciam antes foram abordados: indígenas, o Sistema
eu e o João Alfredo tínhamos uma boa retaguarda de apresentar Único de Saúde, direitos da criança e adolescente, da cultura, da participação
propostas, pois nós compartilhávamos propostas do Brasil inteiro”. popular. Sediamos aqui evento da bancada verde na Constituinte Federal com
um capítulo sobre meio ambiente, à frente o deputado Eduardo Jorge".

Ilário Marques João Alfredo

A esquerda soube ousar Constituição de 89 é, além de cidadã,


em suas propostas ambientalista e municipalista

P O
ara ex-deputado Ilário Marques, do PT, que foi um na linha de avançar nos direitos que na Constituição Federal já ex-deputado João Alfredo, então filiado ao PT, nismo de participação popular”.
dos sub-relatores, a Constituinte Estadual foi uma havia sido consagrada. “E, nós fomos com tanta sede ao pote afirma que a Constituição estadual de 89 foi Para ele, a influencia da Constituição Estadual foi deci-
das mais avançadas do Brasil em assegurar inúme- que, algumas das conquistas que nós implementamos, depois uma das mais avançadas do País e que, além siva nas legislações posteriores. “Foi aprovada logo após a
ros mecanismos em participação direta da popula- foi alegado inconstitucionalidade pois estaria em desconformi- de cidadã, ela é municipalista e ambientalista. Constituinte, a lei da política estadual de meio ambiente, de
ção. Ele considera que foi um momento muito rico para a dade com a Federal, mas na verdade é que, nós fomos ousa- “Aqui no Ceará sediamos alguns momentos da Constitui- 89. A nacional é de 81. Veio na sequencia da Constituinte de
história brasileira e um momento de reconstrução da demo- dos”, salientou, prosseguindo: “Nós da bancada da esquerda, ção Federal, na minha área que é a ambiental. Temas que 89, se criou um conselho estadual que era consultivo e se
cracia no país. Ele relembra que a Assembleia viveu debates trazíamos uma retaguarda de apoios a nível nacional do par- não apareciam antes foram abordados: indígenas, o Siste- tornou deliberativo. Mesmo com maioria governamental é
históricos e, “creio que da redemocratização pra cá, foi um tido, apresentamos proposta em todos os setores. Eu particu- ma Único de Saúde, direitos da criança e adolescente, da um mecanismo importante de participação popular.Outra
dos melhores momentos da casa legislativa”. larmente tive uma participação mais ativa porque assumi o cultura, da participação popular. Sediamos aqui evento da prática que não existia era das audiências pública e se elas
Ilário destaca que “o presidente Antônio Câmara foi ex- encargo de ser sub-relator, portanto, todos os capítulos da área bancada verde na Constituinte Federal com um capítulo so- existem hoje é em decorrência da Constituição de 89. A
tremamente democrático na condução da constituinte. social eu tive não só emendas como também fui o negociador bre meio ambiente, à frente o deputado Eduardo Jorge. E profissionalização dos servidores da AL e hoje a sua estrei-
Ele abriu para o debate. Nós que estávamos pela esquerda de várias emendas em diversas temáticas. Me envolvi bastan- isso influenciou a Constituição Estadual”, afirmou. ta relação com a sociedade, são coisa que decorrem desse
e tínhamos um bom uso da tribuna, eu e o João Alfredo tí- te e participei de muito gosto da Constituinte Estadual”. Para ele a Constituição estadual apresentou avanços. “Eu processo”, enfatizou.
nhamos uma boa retaguarda de apresentar propostas, pois Ilário Marques afirma que valeu a pena participar do pro- coloco dois aspectos. O da própria democratização em si, O ex-deputado lembrou que na Constituinte Federal houve
nós compartilhávamos propostas do Brasil inteiro”. Obser- cesso e colher os resultados. ”Acho que as marchas da huma- da participação popular, das emendas de iniciativa popular, uma divisão que se reproduziu aqui: Progressistas e Centrão.
vou que o enorme compromisso dos constituintes, em sua nidade, embora tenhamos momentos de contramarchas, va- embora isso seja pouquíssimo utilizado, porque até hoje “Setores conservadores se uniram e conseguiram derrotar al-
maioria, foi aprofundar aquilo que já estava consagrado na lem à pena. É uma construção. A constituinte estadual valeu não há a prática. Mas na parte ambiental avançamos mui- gumas propostas importantes e impediram um avanço maior
Constituição Federal. “E, nós aqui, aprofundamos as ques- à pena porque o Ceará teve sua política levada a um patamar to”, destacou ele. O outro avanço foi na questão ambiental e na CF. Mantiveram a tutela militar, mantendo o status das Polí-
tões do estado democrático e de direito, participação popu- elevado, claro que não foi só a constituinte, mas os processos aqui no Ceará foi criado um mecanismo que não vemos em cias Militares. A estrutura agrária foi muito tímida. E não tocou
lar, direitos sociais, direitos humanos, educação, saúde, meio sociais são reflexivos, ou seja, pela constituinte você faz os outros Estados “que é a aprovação, para projetos de grande no Judiciário. Tudo isso se repetiu aqui. Havia o bloco progres-
ambiente, direitos da mulher e, um capítulo da reforma fun- debates, reflete sobre as políticas dos dirigentes políticos da- impacto pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente. Ou seja, sista com PT e PDT, deputados Ilario Marques, eu, Edson Silva,
diária e de reforma urbana”, afirmou. quele momento e eles avançam sobre a constituinte. Então, o no processo de licenciamento ambiental (uma siderúrgica, Paulo Quezado e Narcélio Limaverde. O Centrão era liderado
Para ele, o importante é que a constituinte estadual, ao con- estado do Ceará vem avançando desde o governo Tasso e, até uma termoelétrica), que precisa de um estudo de impacto pelo Nilo Sérgio, do PDS. Tudo isso era mediado pelo deputado
trário de algumas poucas assembleias legislativas do país, foi agora, adota uma política de avanços”, pontuou. ambiental, há que ser aprovado pelo Conselho que é meca- Antônio Câmara, presidente da Casa”, finalizou.
20 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 21

Quer dizer, quando eu digo que foi uma repetição do que Brasília fez, digo Com certeza a Constituição de 89, embora não pudéssemos
que nós adaptamos, mas procuramos avançar ainda mais, fortalecendo mais botar tudo que quiséssemos pelas limitações da Carta Federal,
dentro daquilo que era possível para a constituinte estadual”. posso dizer que colocamos todas as melhorias possíveis”.

Luiz Pontes Marco Cals

Houve abertura do debate e Alinhamento à causa ambiental e


emendas de iniciativa popular defesa do uso do gás natural veicular

O O
ex-deputado Luiz Pontes (MDB) era o líder do Go- pação da sociedade. “Houve uma participação muito grande, ex-deputado Marco Cals, atual Secretário Executi- propus algumas emendas dando prioridade ao gás natural
verno. O que ele destacou sobre a Constituinte o pessoal da esquerda sempre consegue mobilizar mais, os vo de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Se- para o transporte público e táxis”, disse ele. Acrescentou que
Estadual foi a abertura para o diálogo e partici- empresários lutavam também. Tinha ainda a questão do PT cretaria das Cidades do Estado do Ceará, considera o gás natural era uma coisa moderna naquela época e hoje
pação popular. “O Alexandre Figueiredo, líder da que acabara de conquistar duas cadeiras, mas foi formado um privilégio ter tido a oportunidade de participar muito usada.
maioria, discutiu com sindicatos, com associação, discutiu um bloco de esquerda. De esquerda mesmo tinha lá era só da história cearense por meio da elaboração da Constituição O ex-constituinte lembra ainda ter participado muito
com tudo. Não só o Alexandre, como os outros todos tinham João Alfredo e o Ilário Marques. Travestidos de esquerda ali do Estado. “A gente fica imortalizado na história, junto com os dos debates, com pessoas capacitadas, apresentando, jun-
as suas reivindicações, o deputado trazia um representando estavam o Paulo Quezado, com o Edson Silva que não era demais participantes. Foi um marco importante da minha vida tamente com o Plenário da Assembleia, emendas em que
uma categoria. Nisso a Carta foi muito participativa”, disse uma esquerda propriamente dita, mas estavam ali no PDT do pública e coincide com o início dela”, disse ele. foi possível avançar cada vez mais nas conquistas da nossa
ele, lembrando que, por se tratar de algo novo, muitos vete- Brizola, aquela coisa”, acrescentou. Cals relembra que foi eleito a primeira vez em 1986, com população e sobre os servidores públicos estaduais. “Nós tí-
ranos não gostavam, tinham resistências a apresentação de O ex-constituinte acredita que “apesar desse tumulto que apenas 22 anos, ‘muito jovem e lidando com pessoas mais nhamos que adequar, portanto, não tínhamos tanta liberda-
leis de iniciativa popular. “O pessoal engasgou, mas a gente aconteceu, nós nos reunimos, nos conscientizamos da im- maduras’. Como na época não havia um índice de renova- de de apresentar propostas que avançassem além da Cons-
ia em frente e deu certo”, prosseguiu. portância e do papel histórico que a Assembleia ia ter naque- ção tão grande, a maioria dos que estavam no parlamento tituição Federal de 88”, prosseguiu.
Como líder do Governo, Luiz Pontes tem vivo na memória le momento de nós trabalharmos a constituição do Ceará, já eram veteranos. “Convivi com vários companheiros que A questão sobre as limitações impostas pela Constituição
os primeiros entraves durante a Constituinte, que estavam rela- apesar de ser uma repetição da Federal, nós tínhamos pouca me ensinaram muito. No começo ainda um pouco tímido, Federal (uma vez que ela ampliou muitos poderes do Con-
cionados com embates políticos. O então governador Tasso Je- liberdade de avançar mais um pouco do que nós desejáva- pela pouca idade e experiência, mas observando sempre a gresso Nacional e limitou muito as ações das Assembleias
reissati não conseguiu eleger o presidente e viu um adversário, mos ou que algum companheiro desejasse naquele momen- desenvoltura daquelas pessoas que tinham mais experiên- Legislativas) foi algo que tornou o trabalho mais árduo. “Nós
o deputado Antônio Câmara, presidindo a Casa e a Constituinte to, mas acho que houve avanços, principalmente na questão cia”, declarou. tínhamos mais poderes antes, até de emancipar distritos e
estadual. Ainda assim, Pontes considera que Câmara agiu de do meio ambiente”.  Logo após a promulgação da Constituição Federal, os Es- criar municípios. Depois disso foram criadas limitações. A
forma madura, conduzindo os trabalhos com brilhantismo. Luiz Pontes diz que houve avanços também nos direitos hu- tados tiveram que instalar suas Constituintes estaduais. “En- gente também podia legislar sobre matéria financeira, apre-
Luiz Pontes lembra que o maior problema era referente manos, defesa do consumidor que se mostrou posteriormente tão eu comecei a trabalhar, juntamente com os deputados sentar emendas e projetos que pudesse contribuir para a
à conquista de direito por funcionários públicos, o que fez importantíssimo, com a instalação do Decom, para a desco- do PT, com os quais me alinhei na área do meio ambiente. Eu unidade tributária no Estado. Depois da Constituição de 88,
Tasso Jereissati afirmar que o Estado poderia ficar ingover- berta de fraudes no Dpvat e aposentadorias dos idosos. “Aquilo era muito estimulado a implantar aqui no Ceará o gás natural nós tivemos a perda dessa prerrogativa. Mas dentro daquilo
nável. Lembra que depois disso, os prefeitos municipais fize- a gente descobriu graças a comissão defesa do consumidor e veicular. Meu pai tinha sido ministro das Minas e Energia, o que a gente podia ajustar, aquela legislatura foi muito rica
ram coro ao governador e todas essas coisas marcaram um esse apoio, que nós, já como presidente fizemos convênio com César Neto (irmão) deputado federal e prefeito de Fortale- para o nosso Estado, contribuiu bastante para que houvesse
início de trabalho bem lento da Constituinte. Mas, ao fim, as Procon, na época, e com a participação do Ministério Público”. za, então tinham um bom conhecimento nessa área. Então grandes avanços”, finalizou.
coisas adquiriram uma dinâmica própria e os trabalhos ga- Destacou ainda a conquista do povo de poder apresentar pro-
nharam impulso, com uma efetiva e surpreendente partici- jetos de lei, poder discutir nas audiências públicas.
22 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019 23

Houve um envolvimento muito grande da sociedade naquele Foi um fato histórico na minha vida porque nós tínhamos
momento, as pessoas tinham sede de participar, colaborar, acabado de receber a Constituição Federal e o Ceará começava
pois estávamos saindo de um momento de autoritarismo”. a trabalhar a Constituição Estadual. Foi um trabalho maravilhoso,
muita harmonia, mesmo nos debates mais quentes".

Maria Dias Maria Lúcia

Foco na democracia, participação e Prioridade para alfabetização de


inclusão de crianças deficientes crianças na rede estadual

A A
ex-deputada constituinte Maria Dias, disse que A ex-deputada disse que o trabalho era um redesenho ex-deputada Maria Lúcia Corrêa disse que sua A ex-constituinte lembra também a emenda que ela-
teve orgulho de ter ajudado a fazer a Carta es- global. “O foco era a democracia, a participação, a inclu- grande luta, durante seus mandatos e na Cons- borou junto com o deputado João Alfredo, que era do PT,
tadual de 1989. “Foi um momento muito empol- são, por exemplo, de crianças deficientes. Garantimos a tituinte foi pela educação. Por todas as dificulda- pedindo um salário mínimo para os aposentados do IPEC,
gante na vida do Brasil. Naquele tempo a transi- educação de 7 a 14 anos, universalização da educação e des encontradas na época para a alfabetização de que era lá embaixo, e nós ganhamos. ‘Vamos lá, ninguém
ção democrática efervescia no País inteiro, e eu consegui seu financiamento. Formação intelectual dos profissionais crianças no interior, que ela já havia diagnosticado em suas briga. A gente estava muito empolgado, muito. Era traba-
participar desse momento de uma forma grandiosa. Fui da educação, tudo estava no bojo. Havia toda uma solici- experiências, ela elaborou uma emenda. “Então, quando foi lhando o tempo todo’, e acrescentou: “Foi um fato histó-
eleita a quarta deputada mais votada do Estado, eu estava tação, uma demanda popular reprimida que surgia. Quan- na Assembleia Constituinte, pensei vou botar um artigo e rico na minha vida porque nós tínhamos acabado de rece-
na equipe do governo estadual como secretária, mas sai do debatíamos agricultura, por exemplo, estavam aqui os botei. Está lá. Até hoje não mudaram nem o enunciado dele. ber a Constituição Federal e o Ceará começava a trabalhar
da secretaria para participar”, disse ela. sindicatos e entidades envolvidas. O grupo que participou Era o artigo 254, hoje é o 218, parágrafo dois. Aí diz ‘as clas- a Constituição Estadual. Foi um trabalho maravilhoso,
Maria Dias afirma que tanto ela quanto os seus pares ti- teve um momento de muito valor. A nossa contribuição ses de alfabetização para crianças de 6 anos terão prioridade muita harmonia, mesmo nos debates mais quentes. Cada
nham a visão global de escrever uma Constituição num mo- até hoje rende muitos frutos”, disse ela. para o aprendizado da leitura e da escrita, ensejando acesso qual querendo o melhor possível”.
mento de transição democrática. Para mim era tão impor- Maria Dias afirma que até hoje tem a felicidade de ter ao primeiro grau…’ Está lá! E pronto, hoje estamos com todo Ela lembra ainda que momentos acalorados acontece-
tante, empolgante, que a gente tinha que se deter foco no sido deputada na Constituinte de 1989. Foi um momento mundo sendo alfabetizado, graças a Deus”, comemorou. ram muitos até. “Os líderes dos partidos era que ficavam
assunto e esquecer os deslumbramentos. Houve um envol- marcante na minha vida. Era tempo de redemocratização, Maria Lúcia referia-se a situação encontrada no sistema com a responsabilidade de ler as propostas. Eles liam, en-
vimento muito grande da sociedade naquele momento, as havia uma efervescência, para mim foi algo grandioso público estadual que não aceitava a alfabetização. “Eu fui tão cada proposta era debatida e era votada ou não. Nis-
pessoas tinham sede de participar, colaborar, pois estávamos participar desse momento histórico. Fui uma das deputa- eleita a primeira vez aqui de 79 a 82, aí não fui eleita em so, “concorda ou não concorda”. Aí chegava sempre a um
saindo de um momento de autoritarismo. Eu tinha todo um das mais votadas do Estado. E eu havia sido convidada 82. Fui para a secretaria de educação do Estado. Ubiratan acordo. Tinha que chegar a alguma coisa. Ia debatendo,
ranço daquela historia. Considero essa luta, essa participação pelo então governador Tasso Jereissati para o cargo de Aguiar, deputado, era o secretário e nós trabalhamos muito. aprendendo”, destacou.
uma vitória grande das mulheres e da educação. Sempre esti- secretaria da administração do Estado do Ceará e estava Eu tendo sido diretora de escola particular, a alfabetização, e Na opinião dela a Constituição estadual tem sido respei-
ve na linha de frente da educação, na sala de aula, em cargos à frente da Pasta no mesmo período. Mas decidi sair da a gente não conseguia, nem em Brasília, nem aqui. O siste- tada: “As coisas vão mudando. Na proporção que as coisas
do Executivo. Tudo que se vai fazer na educação é grandioso secretaria e voltei para a Assembleia porque queria par- ma público do estado que não aceitava a alfabetização. Daí vão mudando a gente tem que ir se atualizando. De uma
então me fiz muito representando a educação”, lembrou. ticipar da elaboração da nova Carta estadual”, reafirmou. a emenda. Valeu muito a pena. Fiquei feliz quando fui olhar maneira geral, acredito que a Carta está sendo respeitada.
a constituição mais atual que publicaram há pouco tempo. Pode ser até que alguma coisa tenha que ser retirada. Com o
Está aqui, intacta. Fiquei feliz”, alegrou-se. passar do tempo vem a adaptação”, finalizou.
24 ÓRGÃO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ | N0 108 | OUTUBRO DE 2019

Foi um espaço muito forte, muito saudável. Acho que é o


primeiro grito da população em termos de liberdade de
dizer o que estava precisando ou querendo”.

Paulo Quezado

As conquistas sociais foram o


principal ganho da Constituição

O
ex-constituinte Paulo Quezado, que era do PDT, Para ele, a questão social foi o principal ganho da oposi-
destaca que a constituição puxou muito para ção. “Porque em 88 a constituição promulgada, em 89 nós
o lado social. Que esse foi o principal ganho da tivemos um campo para trabalhar isso. Em relação a partici-
oposição. Foi, segundo ele, a primeira vez que pação popular a assembleia chegou a ir ao interior do estado.
houve um capítulo sobre a questão ambiental, a criação da Sobral, Juazeiro, Iguatu… Ouvia, debatia. Durou um ano esse
Defensoria Pública, coisas que não existiam na constituição processo”, prosseguiu.
anterior, direitos fundamentais. “Era muito estreita a compe- Paulo Quezado disse que o presidente Antônio Câmara
tência da constituição estadual, mas mesmo assim a gente estruturou muito bem os trabalhos. “Foi um espaço muito
passava por cima disso. Não queria saber de competência forte, muito saudável. Acho que é o primeiro grito da popu-
nem coisa alguma. Legislava do que viesse”, disse ele. lação em termos de liberdade de dizer o que estava preci-
Quezado lembra que na constituinte cearense os deputa- sando ou querendo”. Conforme Quezado, durante o ano em
dos conseguiram imprimir uma marca de mudança que foi que foi discutida a constituinte, ela tomou a maior parte dos
além da Carta Federal. “Normalmente a outra era um carim- tempos de debates na casa legislativa. “O (presidente) Antô-
bo e a gente deu esse contexto de mudança, de modifica- nio Câmara tinha uma vantagem que era ser um presidente
ção, era até uma ideia do João Alfredo. O social e despertar muito independente. Ele tinha choques e mais choques com
a população para isso. Por exemplo, a criação de juizados o governador Tasso Jereissati. Era tanto que o placar era 24
especiais. Um Fórum para cada bairro em Fortaleza, que foi a 22. Normalmente muito em cima do outro. Um voto de um
proposta nossa”, acrescentou. deputado somava muito naquele espaço”, concluiu.
Paulo disse que apresentou uma proposta que visava à Segundo ele, a população como um todo começou a sen-
criação desses juizados. “E era um juizado especial. A Cons- tir que o Brasil não seria o mesmo a partir de 88 “O Brasil
tituição Federal estruturou, aliás, fez nascer a Defensoria Pú- todo passou a falar de Constituição. A imprensa teve um
blica da União e dos Estados e eu queria puxar até para os papel importantíssimo em dizer à população o que é uma
municípios para que se pudesse criar o seu quadro de defen- constituição e qual o seu desejo para que isso se efetivasse
soria pública. A minha proposta nas Disposições Transitórias como direito. No âmbito estadual seguiu essa mesma lógica.
eram os juizados especiais que só foram implantados 10 anos A assembleia legislativa chamou para si a presença de quase
depois”, acrescentou. todos do Ceará”, finalizou.

Вам также может понравиться