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Riscos da intolerância religiosa

Por Aloísio de Toledo César é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.


No Jornal Univrsidade (Ano 10 – Ed. 121 – Out. de 2009)

Há alguns anos elegeu-se presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo um


deputado estadual evangélico. Seu primeiro ato foi de intolerância religiosa: sem um
mínimo respeito pelo sentimento de fé das demais pessoas, retirou do plenário a imagem
de Cristo, que ali estava desde a inauguração do prédio.
A reação de inconformismo dos demais deputados, como também de alguns
milhões de brasileiros feridos no seu sentimento religioso, desaguou numa demanda
judicial, que só terminou quando o referido deputado deixou a presidência da
Assembleia e a imagem de Cristo voltou ao plenário.
Pouco tempo depois, um pastor do mesmo credo, durante programa de televisão,
começou a dar chutes na imagem de Nossa Senhora Aparecida, com o propósito de
demonstrar a sua inexistência e que nada lhe aconteceria se assim agisse.
Agora, quem sabe movido pela mesma e lamentável intolerância religiosa, um
promotor de Justiça ingressou com ação judicial por meio da qual pretende retirar de
todas as repartições públicas de São Paulo as imagens de Cristo ali presentes, algumas
já há mais de um século.
O sentimento religioso é de ordem subjetiva e varia de indivíduo para indivíduo.
Seja qual for a preferência externada, quer majoritária, quer minoritária, deve sempre
ser respeitada. O desrespeito leva ao radicalismo e este, todos nós temos visto, conduz a
ações violentas, que servem apenas para tirar a vida de pessoas e tornar sangrentas as
diferenças religiosas.
Um dos argumentos utilizados para justificar a ação é o de que as pessoas não-
católicas podem sentir-se constrangidas com a imagem de Cristo em repartições e que o
Estado não deve sofrer influência da religião. É o velho princípio do Estado laico.
Nunca se teve notícia de que um imposto tenha sido ou deixado de ser cobrado
em função da presença de Cristo na repartição ou de que um réu tenha sido ou não
condenado nos tribunais por sua influência. A imagem de Cristo exprime sentimento
religioso dominante há mais de 2 mil anos e faz parte de tradição merecedora de
respeito.
Sua retirada, na forma pretendida, poderia ter como consequência o início de
indesejável radicalismo religioso, nunca registrado anteriormente. Acentuar diferenças
entre católicos e não-católicos pode levar a algo imprevisível e perigoso, enfim, reflete
ação impensada, juvenil e, sobretudo, tola.
A primeira Constituição brasileira, datada de 25 de março de 1824, considerava
a pessoa do imperador inviolável e sagrada, além de não estar sujeito a responsabilidade
alguma. Ao assumir o cargo, o imperador deveria fazer um juramento que começava
assim: “Juro manter a Religião Catholica Apostólica Romana...” Assim deveria ser
porque a Constituição dizia, no seu artigo 5º: “A Religião Catholica Apostólica Romana
continuará a ser a Religião do Império...”.
Vê-se o predomínio, naquela época, de uma única religião junto ao Estado. Mas,
com a Constituição de 24 de fevereiro de 1891, que já tinha o dedo de Ruy Barbosa, a
liberdade religiosa foi reconhecida e desvinculada do Estado, reconhecendo-se a todas
as igrejas personalidade jurídica, permitindo aquisição de bens e sua administração.
O artigo 7º foi bem claro: “Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial,
nem terá relações de dependência com o Governo da União ou dos Estados.” E ainda:
“A representação diplomática do Brasil junto à Santa Sé não implica violação deste
princípio.”
Esse princípio foi reproduzido na Constituição de 1934 e nas que se seguiram,
ficando, de lá para cá, livre e desvinculado do Estado qualquer culto ou religião.
Isso equivale a dizer que todas as preferências religiosas podem ser externadas e
que não se confundem religião e Estado. O direito de credo está expresso na Carta
Magna, mas, insisto, a liberdade religiosa não pode ser confundida com o desrespeito de
uma religião em relação a outra. A intolerância leva ao fanatismo e por isso mesmo não
se pode admiti-la.
Fundado numa tradição milenar, que está nas raízes de nosso país, o cristianismo
se fez sentir em inúmeras repartições públicas, com a fixação da imagem de Cristo nas
paredes de salões nobres, tribunais e até mesmo simples repartições públicas. Tentar
tirá-las seria o mesmo que fazer católicos passarem a dar chutes nas igrejas evangélicas
por não adotarem esse símbolo de fé. É algo claramente incendiário, além de pouco
inteligente.
Tal intolerância é surpreendente e ocorre no momento em que surge em São
Paulo um movimento antagônico, de plena integração de todas as religiões. Realmente,
sob a inspiração de um ensinamento de Mahatma Gandhi, o de que política e religião
podem caminhar juntas, foi criado no Auditório Franco Montoro da Assembleia
Legislativa de São Paulo o Instituto Mahatma Gandhi, que reuniu, de forma inédita, os
representantes de 15 diferentes doutrinas religiosas, entre eles judeus, maometanos,
budistas, umbandistas e outros, e até mesmo da Ordem dos Advogados.
Seu objetivo é atuar para maior compreensão entre as diferentes doutrinas e
programar ação política conjunta em favor de todas. Um exemplo citado de benefício
coletivo foi a lei, de autoria do deputado Campos Machado, que permite aos religiosos
que guardam o sábado fazer provas de concursos públicos após as 18 horas ou no dia
seguinte.
Busca, enfim, que as diferentes religiões, com suas particularidades e
dificuldades próprias, se compreendam e atuem conjuntamente perante o Estado. É o
contrário do que se pretende fazer com a imagem de Cristo nas repartições.
O U T U B R O   D E   2 0 0 9

CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO -
Diálogo entre Teologia
e Biologia, de
Mário A. Sanches (Org.)

Criação e Evolução – diálogo entre teologia e biologia traz uma reunião de artigos,
organizados por Mário A. Sanches, de estudiosos de diversas áreas da Teologia, que
mostram como Criação e Evolução não são teorias ou concepções que se anulam, mas que
se complementam.

Serviço:
Editora Ave-Maria
Pça. Osório 389
Centro | Curitiba PR
(41) 3223.8916
livraria.pr@avemaria.com.br

[
ANO 11 - ED 122 - NOVEMBRO DE 2009

ENTREVISTA

Paz entre religião


e evolucionismo é possível,
afirma cientista
Marcio Antonio Campos, o único brasileiro a fazer parte do  Religion Newswritters
Association, entidade que reúne jornalistas especializados em religião, entrevista  Karl
Giberson, presidente da Fundação Biologos e autor de  Saving Darwin. A entrevista foi
publicada em 24 de novembro, aniversário da obra de Darwim, na Gazeta do Povo. Também
pode ser lida no blog Tubo de Ensaio, do
autor:  www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio

Há exatamente 150 anos, era publicado um livro


revolucionário: A origem das espécies, de Charles Darwin.
Mudou a maneira como as pessoas encarariam a história
da vida na Terra, e principalmente a história do ser
humano. A teoria da evolução, no entanto, já foi usada
para justificar o imperialismo, o capitalismo selvagem e até
a eugenia – fundamentalistas religiosos se aproveitam
disso para atacar Darwin, aproveitando que autores como
Richard Dawkins associam evolução e ateísmo. O doutor
em Física e professor universitário Karl Giberson pensa
diferente. Presidente da Fundação BioLogos, que busca
estabelecer a conciliação entre a ciência (especialmente
evolucionista) e o cristianismo, ele é autor de Saving
Darwin, em que analisa as reais dimensões da teoria do
naturalista britânico, mostra como Deus se encaixa no
processo evolucionário e afirma que muito daquilo que se
convencionou atribuir ao darwinismo é, de fato, uma
distorção da teoria da evolução. Giberson concedeu a
seguinte entrevista, por e-mail, à Gazeta do Povo:

Uma pesquisa recente apontou que 31% dos norte-


americanos dizem que o homem e outros seres vivos
foram criados exatamente como são, desde o início
dos tempos; 32% dizem que eles evoluíram por
processos naturais; e outros 22% falam em evolução
“guiada por um ser supremo”. Isso é realmente
possível?
Uma “evolução guiada” é aceita por muitas pessoas,
especialmente cristãos com conhecimento científico. Ela
aparece sob nomes diversos, como “evolução teísta”,
“criacionismo evolucionista”, ou “BioLogos”, o termo que
usamos para nosso projeto (e que escolhemos para escapar da bagagem negativa que vem
com o termo “evolução”). Mas a ideia de que Deus guia a evolução é bem complexa. Para ela
ser relevante, não podemos simplesmente pegar a versão secular da história e dizer “foi
Deus quem fez”. É preciso fazer afirmações teologicamente sólidas sobre o que Deus fez ou
está fazendo, e sobre como Ele está envolvido no processo. Eu diria que nós, no BioLogos,
defendemos uma versão limitada dessa “evolução guiada”, no sentido de que o cenário como
um todo está cumprindo as intenções do criador, mas, dentro dessa noção ampla, os
detalhes incluem vários eventos aleatórios e contingentes.

Mas se o processo evolucionário é movido a competição, seleção natural e


mutações genéticas aleatórias, a “atividade criativa de Deus” não tem um papel
pequeno demais para um ser todo-poderoso?
No fim das contas, precisamos olhar para a ciência. Parece mesmo que Deus está intervindo
de formas dramáticas ao longo da história natural? Nós não podemos colocar Deus numa
caixa feita de acordo com nosso interesse e insistir que Suas ações se conformem à nossa
ideia de como Deus deveria se comportar. Eu perguntaria, a quem prefere uma “presença”
maior de Deus na história, de que modo eles procuram por Deus no mundo. Essas pessoas
buscam um Deus das lacunas, que aparece naquilo que a ciência não explica? Ou buscam
por Deus na grandeza de um pôr-do-sol, na nobreza de um voluntário de sopão, ou no
sorriso de uma criança? Sem saber, nós aderimos à teologia de um Dawkins quando
insistimos que Deus deve funcionar como um engenheiro cujas ações devem ser claramente
identificadas pela ciência.

O senhor acredita que ridicularizar os criacionistas não ajuda a levar as pessoas a


aceitar a evolução. Como, então, levar o público a ver a compatibilidade entre
evolução e fé religiosa?
A chave, para a maioria, é desenvolver uma compreensão da Bíblia que vá além do que
aprenderam no catecismo ou na escola dominical. O catecismo conta histórias sobre o
Gênesis que são adequadas para crianças, mas depois ninguém revisita essas histórias para
ajudar os jovens adultos a criar uma visão madura do Gênesis. Descobrir que o livro sagrado
tem várias indicações de que não se trata de história literal é uma experiência libertadora
para os cristãos.

O que funciona melhor para quem nega a evolução: mostrar a evidência favorável à
evolução, apelando para a razão? Ou mostrar que a evolução não prejudica a
crença em Deus, apelando para a religiosidade?
É fundamental proteger a religião dos supostos “ataques evolucionistas”. A maioria das
pessoas está mais preocupada em estar de acordo com sua religião do que em estar
cientificamente atualizadas. O problema no caso dos cristãos evangélicos, infelizmente, é
que existem prateleiras sem fim de livros argumentando que a ciência comprova o
criacionismo. Para a maioria das pessoas leigas no assunto, a batalha nem é entre ciência e
religião, e sim entre “a ciência de que eu gosto” e “a ciência que ataca minha religião”.

No seu livro o senhor parece um tanto pessimista e


desiludido sobre o rumo da discussão sobre a evolução, que
deixou de ser uma busca pela verdade científica e se tornou
uma guerra cultural, onde o que importa é desmoralizar o
adversário. Nós realmente chegamos a um ponto sem volta?
Temo que sim. Algumas semanas atrás eu estava em um
impressionante museu no Kentucky, mantido pelo Answers in
Genesis, o maior e mais eficiente promotor do criacionismo da
Terra jovem em todo o mundo. O criacionismo virou uma indústria
multimilionária, com o propósito de convencer cristãos de que eles
não devem acreditar na evolução. Tudo isso ruiria se eles se
convencessem de que a evolução é real. Por outro lado, eu não
consigo imaginar como fundamentalistas científicos como Richard
Dawkins e Daniel Dennett fariam as pazes com fundamentalistas
religiosos como Ken Ham, o chefe de Answers in Genesis.

Bento XVI, quando era cardeal, pediu que houvesse um


debate honesto sobre a legitimidade das afirmações metafísicas feitas em nome da
teoria de Darwin. Na sua opinião, cientistas como Dawkins “sequestraram” Charles
Darwin como fieram os eugenistas descritos em seu livro?
Certamente Dawkins e o Novo Ateísmo sequestraram Darwin, e nósdeixamos que eles
dessem o tom do debate em termos de explicação científica, e não de Metafísica. A ciência
leva crédito pelo que pode explicar, e Deus leva crédito pelo resto. Se Deus não é necessário
para explicar o que a ciência vai desvendando, Ele não é mais necessário para nada. Nós
deixamos um “antiteólogo”, Dawkins, nos dizer o que a Teologia pode ou não fazer.

2009 é o ano de Darwin, pelo bicentenário de seu


nascimento e pelos 150 anos de A origem das espécies. Com
o ano quase no fim, qual sua avaliação dos esforços feitos
para defender a evolução e promover sua conciliação com a
religião?
Esse foi um ano interessante. Por um lado, o Novo Ateísmo
dominou a agenda, alinhando-se tanto contra o criacionismo
quanto contra a religião em geral. A reação por parte de pensadores religiosos consolidou a
polarização. Mas, entre esses dois extremos, vozes moderadas se levantaram. Intelectuais
agnósticos ou não religiosos contestaram a posição ateísta de que “a religião é má e deve
sumir”. E também houve o surgimento da Fundação BioLogos, criada por Francis Collins para
incentivar a conciliação entre evolução e cristianismo. Descobrimos que já existe um número
considerável de cristãos, geralmente entre as camadas mais instruídas, que já
compartilhavam da nossa posição, mas estavam marginalizados porque não havia quem os
representasse em público. Isso é encorajador e me faz pensar que talvez haja uma luz no
fim deste longo túnel da anticiência.
ANO 10 - ED 110 - NOVEMBRO DE 2008

DARWIN E O CATOLICISMO: A GUERRA QUE NUNCA


HOUVE

Marcio Antonio Campos


«A Igreja Católica nunca se opôs às idéias de Darwin, e A Origem 
das Espécies nunca foi colocado no Índex de Livros Proibidos.»

Em setembro deste ano, a imprensa deu um grande destaque às relações entre religiões
cristãs e a teoria de Evolução, proposta por Darwin e Wallace. A discussão começou quando
um clérigo da Igreja da Inglaterra afirmou que sua denominação devia desculpas a Darwin
por ter rejeitado suas idéias no século XIX (1). Imediatamente alguns jornalistas tiveram a
idéia de repercutir o assunto com a Igreja Católica, e coincidentemente naqueles dias o
Vaticano anunciava uma conferência internacional de cientistas que ocorrerá em Roma, em
março do ano que vem. Perguntado sobre a opinião do clérigo anglicano, o arcebispo
Gianfranco Ravasi afirmou que não era o caso de se fazer o mesmo na Igreja Católica. A
maioria dos sites brasileiros publicou a notícia com o seguinte título: Vaticano aceita
evolução, mas não se desculpa com Darwin (2).

O título pode levar a dois enganos. O primeiro, cometido por exemplo pelo jornalista João
Ricardo Gonçalves (3), é acreditar que a teoria de Darwin foi aceita pela Igreja apenas
recentemente. Na verdade, a Igreja Católica nunca se opôs às idéias de Darwin, e A Origem
das Espécies nunca foi colocado no Índex de Livros Proibidos. Ressalte-se que a teoria
evolucionista apareceu durante o pontificado de Pio IX (1846-1878), um dos papas que mais
zelou pela integridade da fé católica, inclusive publicando em 1864 o Syllabus, condenando
várias proposições consideradas erradas do ponto de vista da doutrina. Uma consulta ao
Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral (conhecido popularmente
como Denzinger) não traz nada sobre o evolucionismo na época de Darwin, nem nas décadas
seguintes.

O primeiro pronunciamento oficial da Igreja sobre a evolução viria apenas com Pio XII, em
1950, na encíclica Humani Generis (4). O Papa afirma: “(...) o magistério da Igreja não
proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate
da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva
preexistente (pois a fé nos obriga a reter que as almas são diretamente criadas por Deus),
segundo o estágio atual das ciências humanas e da sagrada teologia, de modo que as razões
de uma e outra opinião, isto é, dos que defendem ou impugnam tal doutrina, sejam
ponderadas e julgadas com a devida gravidade, moderação e comedimento (...)”. Depois
disso, João Paulo II, em uma mensagem à Pontifícia Academia de Ciências em 1996, fez a
famosa afirmação segundo a qual “novos conhecimentos levam a pensar que a teoria da
evolução é mais que uma hipótese” (5).

Apenas dois pronunciamentos conhecidos sobre o tema mostram a relevância desta


discussão dentro da fé católica. A realidade é que, do ponto de vista da fé, pouco importa se
as espécies surgiram por meio da seleção natural, do uso e desuso, do design inteligente, ou
se foram criadas por Deus da forma como são hoje. O que existe é a necessidade de se
acreditar em certos pressupostos, como o de que Deus tirou o universo do nada. Fora desses
pressupostos, o católico é livre para defender a teoria que achar melhor, correndo apenas o
risco de ser criticado por defender visões científicas obsoletas ou incompatíveis com as
evidências encontradas pelos cientistas.

Desfazer o primeiro equívoco (“a Igreja aceitou a evolução apenas recentemente”) leva,
automaticamente, a desfazer o segundo engano. A Igreja não vai “se desculpar com Darwin”
simplesmente porque não há motivo para um pedido de desculpas. Se a Igreja nunca
condenou a evolução, sempre permitiu que essa hipótese fosse investigada, que desculpas
os católicos deveriam a Darwin?

Ideologia
A polêmica sobre as teorias de Darwin surge quando alguns cientistas fazem uso do
evolucionismo para defender conclusões que extrapolam os aspectos biológicos da seleção
natural. É o que Dinesh D'Souza e outros autores chamam de “darwinismo”, ou seja, o uso
do evolucionismo para justificar posições ateístas ou que rebaixam o homem a um nível igual
ao de qualquer outro animal (6). Um dos principais nomes desta corrente, mais ideológica
que propriamente científica, é Richard Dawkins, autor de Deus, um Delírio.

Segundo estes autores “darwinistas”, a teoria da evolução retirou o homem de um pedestal


de superioridade sobre os outros animais, ao mostrar uma origem comum entre o ser
humano e outras espécies. No entanto, esses autores procuram no lugar errado a origem da
dignidade especial que o homem possui. Eles supõem que a criação “à imagem e semelhança
de Deus” exija um processo único, particular, com intervenção divina direta, para criar um
ser bípede que seria sua “criação especial”. E comprovar que o homem veio de um outro
primata pré-histórico, em vez de ter sido “especialmente moldado” por Deus, seria um baque
na visão religiosa.

Mas consideremos: se Deus não tem corpo, pois é espírito puro, a “imagem e semelhança”
não podem ser algo físico. Então só resta concluir que a imagem e semelhança residem nas
realidades espirituais que apenas o ser humano tem: a alma espiritual, o livre-arbítrio, a
inteligência e a vontade (ainda que imperfeitas).

E considerar que o evolucionismo nega a existência de Deus é uma extrapolação que carece
de qualquer base científica, e é impressionante ver como cientistas, cujo trabalho é pautado
justamente pela busca de dados e evidências, são capazes de fazer afirmações, e divulgá-las
como verdades absolutas, sem nenhuma evidência. Afirmar que a evolução se dá por leis
biológicas, físicas e químicas, e não por ação divina direta, em nada indica a inexistência de
Deus; pelo contrário, a perfeição das leis da natureza indica que partiram de uma
inteligência, em vez de serem fruto do mero acaso. Como diz o cardeal Christoph Schönborn,
“o conhecimento que adquirimos por meio da ciência moderna torna mais razoável que
nunca a crença em uma Inteligência por trás do cosmos” (7).

O Papa Bento XVI, em seu livro Fé, Verdade e Tolerância (escrito quando ainda era cardeal),
pede um diálogo franco sobre o verdadeiro alcance da teoria evolucionista (8). Ela realmente
dá margem a interpretações ateístas? Ou elas são o produto de autores contemporâneos,
que usam Darwin para promover suas próprias idéias? Em resumo, cristão nenhum precisa
ter medo de Darwin; mas é necessário, sim, se preocupar com o “darwinismo”, o uso da
teoria evolucionista pelo ateísmo militante: seu verniz científico lhe dá uma aparência
sedutora, contra a qual é preciso se prevenir.

Notas

(1) Para clérigo, anglicanos devem desculpas a Darwin. Disponível em


<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/mundo/
conteudo.phtml?tl=1&id=808432&tit=Para
-clerigo-anglicanos-devem-desculpas-a Darwin>.

(2) <http://g1.globo.com/noticias/mundo/
0,,mul7619235602,00vaticano+aceita+evolucao
+mas+nao+se+desculpa+com+darwin.html>.

(3) GONÇALVES, J.R. Um grande passo para a Igreja. 


O Dia, 21 set 2008. Jornal Universidade, outubro 2008.

(4) <http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/
encyclicals/documents/hf_pxii_enc _12081950_humanigeneris_po.html>.

(5) <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/mes
sages/pont_messages/1996/documents/
hf_jpii_mes_19961022_evoluzione_sp.html>.

(6) D'SOUZA, D. A verdade sobre o Cristianismo. 


Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2008.

(7) Resposta à questão “A ciência torna obsoleta a crença em Deus?”. 


Disponível em:
<http://www.templeton.org/belief>.
(8) RATZINGER, J. Truth and Tolerance. Ignatius Press, 2004, p. 179.
ANO 10 - ED 110 - NOVEMBRO DE 2008

BENTO XVI RECEBE HAWKING, EM EVENTO 


DA SANTA SÉ SOBRE A EVOLUÇÃO
"Não há oposição entre o entendimento
pela fé e a prova da ciência empírica"

O papa Bento XVI, que se reuniu brevemente com físicos durante evento da Academia
Pontifícia de Ciências, descreveu a ciência como uma busca pelo conhecimento da criação de
Deus. Ao grupo de cientistas, entre os quais o físico britânico Stephen Hawking, reunidos no
dia 31 de outubro, o papa disse que não há contradição entre acreditar em Deus e na
ciência.

Papa Bento XVI e o


cosmólogo
britânico Stephen
Hawking

“Não há oposição entre o entendimento pela fé e a prova da ciência empírica”, disse o


pontífice. “Galileu viu a natureza como um livro cujo o autor é Deus”, afirmou. No século
XVII, a Igreja Católica acusou o astrônomo Galileu de heresia por insistir que a terra girava
em torno do sol. E não reconsiderou a acusação até 1992. 

Hawking é um dos convidados para a longa semana de eventos que vão explorar o tema
Compreensões Científicas para Evolução do Universo e da Vida.

Evolução teísta 

Em entrevista publicada em 2007, Hawking disse que “não é religioso no senso comum”. “Eu
acredito que o universo é governado por leis da ciência”, disse ele. “Elas podem ser
decretadas por Deus, mas Deus não intervém para quebrar essas leis”.

A Igreja Católica ensina a evolução teísta, que reconhece a evolução como teoria científica.
Adeptos da doutrina acreditam que não há razão para Deus não usar um processo evolutivo
na formação das espécies humanas. 

O papa elogiou a tecnologia que permite Hawking discursar por um sintetizador de voz. Uma
doença muscular fez com que o físico perdesse sua voz. 

Stephen Hawking, autor do best-seller Uma Breve História do Tempo, discorre sobre a
origem do universo, em um evento restrito.
ANO 10 - ED 110 - NOVEMBRO DE 2008

EXPOSIÇÃO CIÊNCIA E RELIGIÃO

Em Curitiba, mostra sobre a vida e as descobertas de


Darwin

A exposição “Darwin: Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo”,


que acontece na Universidade Positivo e permanecerá até 30 de novembro, retrata a vida do
naturalista inglês Charles Darwin.
Originária do American Museum of Natural History de Nova York - a exposição foi adaptada
ao público brasileiro pelo Instituto Sangari. Um dos principais destaques são os animais vivos
e as plantas, que contextualizam aos visitantes a surpreendente diversidade da América do
Sul estudada pelo naturalista.

Serviço - A exposição sobre Darwin pode ser visitada na Universidade Positivo. Rua Professor
Pedro Viriato Parigot de Souza 5.300, bairro Campo Comprido. Ela ficará aberta ao público
até 30 de novembro de 2008. Horários: segunda a sexta-feira, das 9 às 22 horas; sábados,
domingos e feriados, das 9 às 17 horas. A bilheteria fecha uma hora antes da exposição.
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Gratuito para alunos e professores da rede pública,
mediante agendamento, e para menores de 7 anos e maiores de 60 anos. Contato de
agendamento de visitas guiadas para grupos: 0300 789 0002.
Site: www.darwinbrasil.com.br
TEOLOGIA E CIÊNCIA, 
Diálogos acadêmicos em busca do saber,
de Afonso Maria Ligorio Soares
e João Décio Passos (orgs.)

O livro divide-se em quatro seções. A primeira enfoca a história da relação entre teologia e
ciência. A segunda concentra-se na questão interdisciplinar. A terceira, apresenta a
possibilidade de ricos diálogos interdisciplinares que incluem o conhecimento teológico. Uma
quarta seção esboça alguns desafios e aponta conquistas já obtidas. A última, é propositiva e
prática, destacando o que já vem sendo feito no dia-a-dia universitário. 

Serviço:
Editora Paulinas
Rua Voluntários da Pátria
Curitiba PR
(41) 3224-8550
Fax 3223-1450
www.paulinas.org.br

A igreja católica reconhece a Teoria da Evolução e marca um simpósio, para 2009, sobre "A
Origem das Espécies", de Darwin. A iniciativa foi bem recebida por religiosos e educadores
católicos.
"O Gênesis não foi feito para explicar a criação, e sim para dar um sentido a ela. Para muitos
católicos, o criacionismo já perdeu o sentido no século 16", é a visão de Evaristo Eduardo de
 
Miranda, diretor do Instituto Ciência e Fé.

Para Edgard Leite, doutor em História das Religiões pela UERJ, "o texto bíblico é alegórico, mas
você pode fazer uma interpretação teológica". Leia o artigo de João Ricardo Gonçalves.

Ainda nesta edição, mais de Lúcio Cardoso, pelo professor Antonio Strano e a repercussão do
livro Vozes do Paraná, do jornalista Aroldo Murá G. Haygert.

O DIRETOR DE REDAÇÃO

A ARTE DE ENSINAR E APRENDER,


de Darbí José Alexandre
O principal interesse do autor ao escrever este livro sobre educação é propor um ensino
focado no aluno - visto como ser atuante e pensante e não, simplesmente, um assimilador
de conteúdos. Enxerga a necessidade da escola de quebrar paradigmas, a fim de
acompanhar a evolução do mundo moderno e do próprio estudante. Em sua exposição,
comenta recursos, materiais didáticos e métodos educacionais, para que o professor saiba
utilizá-los de modo a estimular o interesse e a participação do aluno. Fala das qualidades de
que necessitam os professores e diretores, oferecendo orientações para o seu trabalho.
Aborda questões fundamentais para o ensino no Brasil, como métodos de avaliação, plano de
curso e progressão continuada. Deseja, enfim, construir a escola da solidariedade, voltada
para a vida, e assim um mundo melhor. 

Serviço:
Editora Ave-Maria
Pça. Osório, 389, Centro
(41) 3223-8916
livraria.pr@avemaria.com.br

ANO 9 - ED 107 - AGOSTO DE 2008

A QUESTÃO DA EUTANÁSIA NO BRASIL


Cícero de Andrade Urban
“Quando a morte é o maior perigo, se espera na vida; mas quando se encontra um perigo
ainda maior, 
se espera na morte. Entretanto quando este perigo 
é tão grande que a morte se torna esperança, 
o desespero é a não esperança de não poder 
nem mesmo morrer” (S. Kieerkegaard).

O desenvolvimento científico permitiu uma melhora importante e sem precedentes da


qualidade de vida e um aumento substancial da sua longevidade nos países ocidentais. Este
último aspecto trouxe um elemento completamente novo na sociedade pós-moderna:
convive-se mais e por mais tempo com as doenças crônicas. Dessa forma, surgiu uma nova
angústia, o temor da não-vida ou da não-morte, daquele estádio intermediário e prolongado
de sofrimento que é ainda mais inquietante do que a própria morte e que trouxe dilemas
antes desconhecidos. Assim, o debate sobre a eutanásia se intensificou, mesmo que a sua
essência ético-filosófica não tenha se modificado muito nos últimos 50 anos.

Não existem, de fato, razões fisiológicas, biológicas ou clínicas para acelerar o processo de
morrer. Existem sim razões antropológicas, éticas, culturais e religiosas, favoráveis ou
contrárias, que estão envolvidas dentro deste difícil debate. Dessa forma, a eutanásia deixa
de ser um problema interno e exclusivo da medicina atual para se transformar em algo muito
mais amplo e complexo, que transcende ao universo biológico e ao da medicina científica e
passa a atingir a toda a sociedade.
Alguns dos defensores da sua legitimidade moral e, portanto da despenalização ou mesmo
da legalização da eutanásia, tendem a enquadrá-la como perfeitamente compatível com o
ambiente que existe dentro das sociedades liberais e democráticas, justo porque são elas
que devem promover cultura dos direitos. Esta, todavia, é uma simplificação jurídica que não
é compartilhada por todos os autores que se dedicam a esta questão.

No Brasil o debate sobre a eutanásia encontra-se em um âmbito superficial dentro da


sociedade e mesmo entre os médicos e outros profissionais de saúde e legisladores, que
tendem a permanecer no discurso acima explicitado. É necessário, por outro lado, uma
reflexão maior e mais aprofundada dos diversos aspectos antropológicos, éticos, sociais e
culturais existentes nos discursos pró e contra a eutanásia antes de se posicionar a respeito
no nosso meio. Aqueles que se opõem à eutanásia, mesmo não negando o valor que a
autonomia e o alívio do sofrimento possuem, defendem que cada direito reconhecido a nível
social e jurídico, venha implicado também um dever. Portanto o argumento de que a questão
da eutanásia deva ser colocada como limitada ao exercício da liberdade individual, por si só
não seria suficiente.

A relação entre o direito e o dever, necessária em todas as sociedades modernas, demonstra


que a liberdade está presente mesmo onde estão limitadas algumas escolhas individuais.
Nenhuma sociedade democrática pode existir sem elaborar critérios de justiça e, portanto,
que não limite de alguma maneira a autonomia dos seus cidadãos.

Os debates bioéticos sobre a eutanásia, apesar de encontrarem grande apelo na sociedade


globalizada, têm pouca relevância do ponto de vista epidemiológico no Brasil. São raros os
pacientes, familiares ou profissionais que efetivamente desejariam realizá-los na prática,
mesmo se estes procedimentos fossem permitidos. Além disso, entre os oncologistas, que
são os médicos mais expostos ao tratamento dos pacientes terminais, ainda não é consenso
de que com a eutanásia se possam melhorar os cuidados no final da vida. Um estudo
envolvendo 3299 membros da Sociedade Americana de Oncologia, encontrou que a
eutanásia teve o apoio de apenas 22,5% dos oncologistas. Entre os participantes da
pesquisa, apenas 3,7% já havia realizado eutanásia. Os oncologistas entrevistados também
consideram que os pedidos de eutanásia diminuem com a melhoria dos cuidados paliativos.

Vivemos uma realidade onde o acesso ao diagnóstico e ao melhor tratamento ainda está
muito distante do ideal existente nos países desenvolvidos. A legalização da eutanásia pode
representar um risco à pessoa do paciente terminal e um duro golpe ao relacionamento
médico-paciente de base hipocrática. Pode ser mais fácil e conveniente eliminar do que
cuidar. O debate, portanto, deve ser redirecionado ao outro foco, o da ortotanásia. Ou seja,
o de não prolongar desnecessariamente o processo de morrer.

Cícero de Andrade Urban é médico oncologista e mastologista, professor de Bioética e Metodologia Científica
no Curso de Medicina e no Mestrado em Odontologia Clínica do UnicenP. Colaborador do Instituto de Ciência e
Fé.

Luis Henrique Z. F. de
Macedo, 23, graduado bacharel
em Ciências Sociais, atua em
pesquisas de Ciência e Religião,
Interdisciplinariedade e Meio
Ambiente.
ANO 9 - ED 107 - AGOSTO DE 2008
Ciência e Religião: diálogo possível?
Um estudo de caso no Instituto Ciência e Fé

Luis Henrique Z. F. de Macedo

Desde 1995, um grupo de profissionais liberais e intelectuais de


Curitiba reune-se regularmente para discutir temas atuais à luz da
razão e da fé e também desenvolver e apoiar pesquisas nas áreas da
fenomenologia religiosa. Foi a partir disso que surgiu 
o Instituto Ciência e Fé (www.cienciaefe.org.br).

Existe a possibilidade real de um diálogo entre ciência e religião, que leve em conta
especificidades de cada campo sem, no entanto, esvaziar a discussão epistemológica
pelo sociólogo Max Weber e retomada por Ian Barbour, Fritjof Capra e Boaventura S
outros?

Para Luis Macedo, a existência de tais relações pode ser buscada na análise dos disc
participantes do Instituto Ciência e Fé, entidade formada por cientistas e religiosos,
dedica a estudar as inter-relações entre os dois campos. Estas relações, por sua vez
assumir várias formas (veja quadro abaixo), a saber: conflito e independência, delin
visão predominante de uma ciência moderna; e diálogo e interação, que pode sinaliz
teoria emergente da racionalidade científica, que muitos denominam de pós-modern

TIPOLOGIA DE IAN BARBOUR

Barbour fez as fundações históricas imediatas do campo interdisciplinar entre c


religião - na década de 60. Chamou o resultado desta metodologia de “reali
crítico”, a qual serve de “mão-dupla” para ambas formas de conhecimento, na
existem 4 tipos em que ciência e religião se relacionam.

Conflito - Visão moderna, as duas formas de ver o mundo são inconciliáveis,


acontece no caso clássico Criacionismo X Evolucionismo.

Independência - Religião e ciência permanecem isoladas uma da outra, sem c


mas também sem nenhum diálogo ou qualquer interação.

Diálogo - Esse modelo de relacionar ciência e religião inclui questões de front


paralelos metodológicos.

Interação - É mais comum na área teológica e procura integrar as duas visões


a que coloca que o evolucionismo não nega o criacionismo, mas seria a form
como Deus age no mundo.
Através da análise conceitual do desencantamento do mundo, proposto por Weber, v
da trajetória do pensamento ocidental a respeito das pertinências e incongruências d
relações. Segundo Weber, o processo de rompimento com os meios mágicos de man
interpretação do mundo, em um primeiro momento, e dos meios religiosos, em mom
posterior, foram desencadeados pelo surgimento de uma racionalidade prática e mun
pensava vislumbrar "o domínio total das leis da natureza e do progresso humano" (p

O rompimento de outras esferas de conhecimento com a esfera religiosa, na modern


proporcionou um "politeísmo de valores" que tornariam ciência e religião inconciliáve
Pareceria, assim, que a ciência teria tomado, finalmente, o lugar da religião enquant
explicativo do mundo. Mas, com o advento da bomba nuclear, das pesquisas com co
humanas e da pesquisa com armas químicas, esta racionalidade científica começou a
duramente questionada, principalmente com relação a sua pretensa neutralidade.

No entanto, o surgimento de uma teoria científica em transição, no princípio do séc.


novas questões à cena, impulsionadas especialmente pela epistemologia de Popper,
Kuhn. Mas foi com Morin e Capra, e com suas teorias da complexidade e sistemas qu
discussão ganhou terreno, culminando na teoria da ciência pós-moderna, representa
Boaventura de Sousa Santos. Segundo este, o paradigma emergente que colocará e
racionalidade científica moderna e dará vazão ao surgimento da teoria pós-moderna
em quatro teses. São elas: "todo conhecimento científico natural é científico social";
conhecimento é local e total"; todo o conhecimento é autoconhecimento"; e "todo o
conhecimento científico visa constituir-se em senso comum". Assim, a ciência pós-m
sensocomunizar-se, não despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas enten
como o conhecimento se deve traduzir em auto-conhecimento, o desenvolvimento te
deve traduzir-se em sabedoria de vida. (p. 35*)

Este novo paradigma, ao incorporar saberes relegados pela ciência moderna - como
teologia e os conhecimentos vernaculares - experimenta um modo holístico de interp
práxis científica. Alguns autores que defendem este novo paradigma propõem uma t
relacionar o pensamento científico ocidental e o conhecimento religioso oriental - esp
no que trata do Dalai Lama, líder espiritual do Tibet - de forma a demonstrar as poss
para a ciência advindas deste diálogo. Capra encontrou, por sua vez, diversos parale
física quântica e a experiência mística oriental. Isto leva o autor a sugerir a existênci
"epistemologia do reencantamento".

INSTITUTO No tangente aos estudiosos do Instituto em questão, a pesquisa buscou


análise de discurso de três cientistas - todos eles do campo das ciências naturais - e
religiosos, perscrutar as possibilidades deste diálogo no campo real. Para os cientista
racionalidade científica é independente e conflituosa com a racionalidade religiosa, p
adequarem à metodologia científica por eles aplicada. O autor conclui serem eles rep
da ciência moderna.

O diálogo exercido por eles dentro do Instituto não invade as questões epistemológic
não modifica a maneira de "fazer ciência", proposta pela teoria pós-moderna.
Para os religiosos, "a concepção religiosa pode moldar-se e interagir de acordo com
científico" (p.57), como no caso do evolucionismo de Darwin, que não exclui, em sua
teoria bíblica do criacionismo. O conflito, neste caso, estaria mais relegado ao campo
princípios, onde a moralidade comum da crença religiosa entraria em atrito com algu
de pesquisa da ciência moderna.

Por fim, a pesquisa trouxe como resultado mais do que um esforço de enquadrar tais
práticas na tipologia proposta por Barbour, o objetivo de tal análise seria constituir u
instrumento metodológico "válido para verificar proximidades e distanciamentos entr
diversos tipos de concepções e diálogos entre ciência e religião".

CIENTISTA PROF. WALDEMIRO GREMSKI


O professor Waldemiro Gremski é especialista em biologia celular, trabalhando hoje
biotecnologia, além de ser diretor de Pesquisa e Pós-graduação da PUCPR. Atualmen
pesquisando sobre o veneno da aranha marrom, mais precisamente em sua parte m
sua formação pessoal foi católica, estudando 9 anos em um seminário dos padres vic
Porém, ao adentrar na carreira científica a sua formação entrou em choque com as s
convicções religiosas.

Para ele, a ciência e a religião não são totalmente inconciliáveis. Contudo, por ser a
científica muito rígida, o conhecimento religioso não pode ser aplicado ao conhecime
científico. O diálogo entre os dois serve para que surja uma "fé racional", deixando d
literalismo bíblico. Ou seja, na visão do professor, o conflito está latente dentro da m
porém isto não exclui o diálogo, como forma de buscar uma fé racional. Os dois conh
para ele, também são independentes.

CIENTISTA PROFª. ELEIDI FREIRE-MAIA

A doutora em genética e biologia molecular Eleidi Chautard-Freire-Maia, professora s


UFPR, também tem como preceito religioso o catolicismo. Contudo, a religião não foi
sua formação, pois sua família não era extremamente católica e tendo estudando se
escola públicas, sem caráter religioso.

A concepção da professora Eleidi também é de que a ciência é dura, ou seja, ela não
interferência da religião dentro da sua racionalidade. Isto porque a fé não pode resp
questões da ciência, a fé tenta explicar os fatos naturais misticamente. Porém, "as d
procura de verdades", só que de maneira diferentes. Enquanto a ciência as procura"
método objetivo, a fé as procura no campo da subjetividade. O conflito para a profes
também é latente, cuja metodologia são totalmente independentes, porém com os m
objetivos. O diálogo é necessário para tornar a fé menos obscura.

REVERENDO JEAN CARLOS SELLETI

Jean Carlos Selleti é professor da Faculdade Evangélica e membro do comitê de ética


faculdade, onde analisa os projetos de pesquisa dos alunos. É formado em teologia,
especialização e mestrado em bioética. Sua formação também foi católica, porém há
anos se tornou pastor presbiteriano independente.

O diálogo pode acontecer, apesar de ser muito difícil. Isto porque a ciência tem um o
palpável enquanto o objeto religioso (Deus) não é. Os dois conhecimentos não podem
totalmente à verdade, sendo assim que o diálogo pode ajudar um a aprimorar o con
do outro. Aqui vemos um diálogo de mão dupla, o qual a pesquisa procurava. O cam
bioética é um dos locus deste diálogo. O diálogo para o reverendo é mais profundo d
os outros dois, apesar de também enxergar metodologias independentes e conflituos

CIENTISTA DOUTOR CÍCERO URBAN

Cícero Urban é formado em medicina, cuja especialidade é cirurgia oncológica e mas


Também é especialista em Bioética pela Universidade do Sagrado Coração em Roma
Atualmente é professor da Unicemp, ministrando Bioética e Metodologia Científica no
medicina. Sua formação espiritual foi Católica e para ele a religião é muito important
sua vida, tendo uma função bem definida: "ela é base de moralidade, base de compo
modelo pessoal, familiar e profissional.”

Urban crê que a relação entre religião e ciência é de complementaridade, tendo com
vida. Contudo, a religião não interfere no método científico, o qual ainda possibilita u
explicação com um grau maior de profundidade do que a religião. Porém elas se com
porque acredita que a ciência deixa de lado algumas coisas em sua profissão médica
reconfortar uma família de um paciente que morreu. Aqui vemos ainda um conflito d
metodologia, ou seja, a ciência ainda está fechada para os outros saberes. Porém, a
Selleti, ele traz para o campo científico preceitos éticos religiosos, através de um diá
epistemológico.

RELIGIOSO PROF. ANTONIO CARLOS COELHO

O professor Antonio Carlos Coelho é judeu e ministra aulas sobre ecumenismo e juda
Studium Theologicum. A sua história acadêmica é curta, porém sua carreira como "a
digna de nota. Começou cursando ciências sociais, mas não se formou, conseguindo
formação no curso de História. Como autodidata estudou teologia com os jesuítas em
Horizonte e arqueologia bíblica e tradição judaica em Israel.

Coelho crê que as duas visões de mundo são totalmente independentes uma da outr
a religião responde a seus problemas espirituais sozinha, a ciência não busca nenhum
referência na religião. Contudo, para o professor, o diálogo entre ciência e fé pode o
quando o cientista de fé sente a necessidade de conciliar as duas sabedorias. E um d
resultados é de que a ciência não é tão conflituosa quanto possa parecer. Ou seja, a
predominante para ele é a independência, porém o diálogo pode acontecer no campo

PE. ADILSON SCHIO

Adilson Schio, MS é padre da Igreja Católica Apostólica Romana, um missionário sale


Superior Provincial dos Missionários Saletinos no Brasil e preside a Fundação Salette
parceira do Instituto Ciência e Fé, na realização de eventos e publicações.

Para ele o diálogo faz com que tanto ciência quanto religião pisem em ovos, enfrenta
constituição das racionalidades, que não podem deixar de existir. Porém, o conflito n
forte pela parte da Igreja Católica, pois a ciência vai mudando a concepção religiosa,
caso do heliocentrismo. Porém, quando a ciência esbarra no principio primordial da r
(vida) ele se torna latente. Por isso o diálogo só pode ocorrer no campo do entendim
não no campo dos fundamentos. Percebe-se que para ele é importante manter a ind
das duas, apesar de que a ciência ajuda em alguns entendimentos da religião, haven
nos princípios que as duas podem pregar.

***

A relação entre ciência e religião pode se dar em diversos sentidos, mas quais são os
usuais em cada racionalidade? E também, utilizando a metodologia de Barbour (200
o diálogo pode ocorrer numa via de "mão-dupla", ou seja, da ciência para a religião
para ciência, quais das "duas vias" parecem estar mais "dispostas" ao diálogo?

Para verificar empiricamente se estas relações são possíveis, Luís Macedo foi a camp
o "Instituto Ciência e Fé", para entender quais as visões que alguns de seus membro
sobre a relação entre as duas formas de conhecimento. E no caso da ocorrência dess
como este ocorreria? Nos moldes de uma teoria "pós-moderna" de explicação dos fe
científicos e religiosos ou ocorre dentro da teoria moderna (que separa ambos domín
escolha do Instituto, não foi por acaso, e sim porque um de seus objetivos, em tese,
e promoção de uma discussão positiva entre os dois saberes, ou seja, fugindo do
fundamentalismo de qualquer uma das partes. 

Na pesquisa de campo, foi aplicada a técnica da entrevista, com três membros do In


formação acadêmica científica e três membros com formação religiosa, para uma an
discurso dos entrevistados. Estas entrevistas foram realizadas no período entre outu
novembro de 2007. Os nomes dos entrevistados foram indicados pelo professor Arol
presidente e fundador do Instituto (o "coração e o cérebro do Instituto", nas palavra
Waldemiro Gremski), de acordo com a intenção de pesquisa: três cientistas e três re
interessados diretamente ou indiretamente na relação entre os dois saberes; os cien
pesquisadores das ciências naturais.

BIBLIOGRAFIA: BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise d


conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. / CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Ed. C
Tao da física. São Paulo: Ed. Cultrix, 2002. / DALAI LAMA,.. / FLORIANI, D. - Conhecimento, Meio Am
Globalização. Curitiba: Juruá/PNUMA, 2004. / FREUND, J. Sociologia de Max Weber. / Rio de Janeiro:
Universitária, 2000. / GIDDENS, Anthony. Risco, confiança e reflexividade. In: Modernização Reflexiv
Ed. Unesp, 2003. / KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 19
E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2
MURPHY, N. Construindo pontes entre a teologia e a ciência em uma era pós-moderna. Peters, T.; Be
(orgs). In: Construindo pontes entre a ciência e a religião. São Paulo: Ed. Loyola, 2003. / PIERUCCI,
desencantamento do mundo. São Paulo: Ed. 34, 2003. / POPPER, K. A Lógica da Investigação Científi
Cultural / RUSSELL, R. J.; WEGTER-MCNELLY, K. Ciência e teologia: interação mútua. Peters, T.; Ben
In: Construindo pontes entre a ciência e a religião. São Paulo: Ed.Loyola, 2003 / SANTOS, Boaventur
Um Discurso Sobre as Ciências. Porto: Edições Afrontamento, 1985. / WEBER. M. A política como voc
Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1971 (a). / WEBER, M. A psicologia social das religiõ
Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1971 (b).
Prof. Waldemiro Gremski, é
diretor de Pesquisa e Pós-
Graduação da PUCPR e
conselheiro do Instituto de
Ciência e Fé

ANO 9 - ED 105 - JUNHO DE 2008

CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS
MORTE ANUNCIADA

Novamente as células-tronco embrionárias (CTE) foram objeto de debate nacional. N


relacionado com a sua importância, seu funcionamento ou aplicação terapêutica, ma
origem. Apesar dos avanços nessa área, o embrião continua sendo sua principal font
a sua destruição para torná-la acessível. Questionado, o STF manifestou-se favoráve
da legalidade de seu uso para pesquisa científica, o que originou grandes embates e
as mais diversas correntes científicas e religiosas.

Embora o calor do debate possa levar à conclusão de que a posição favorável ao uso
para pesquisa represente uma postura daquela corte sobre a existência ou não de vi
embrião humano, é lícito considerar que a referida manifestação não alcança tal abra
Além de o objeto de julgamento alcançar apenas embriões congelados por mais de t
clínicas de fertilização e considerados inviáveis, outras razões, específicas para o cas
certamente motivaram a corte suprema a uma posição favorável à sua liberação. Ra
maioria das entidades, em especial aquelas contrárias ao uso das CTE, simplesmente
desconsiderou, para dizer o mínimo. 

A principal delas refere-se ao fato de os embriões, objeto do julgamento, terem seu


traçado de antemão, independente de qual fosse o resultado da ação junto ao STF: a
Mesmo que a ação contra o uso das CTE fosse acatada, vedando o seu uso para pesq
morte viria pelo descarte. O resultado do julgamento apenas ampliou a forma como
será morto: num laboratório. Talvez uma forma mais nobre do que simplesmente se
no ralo da clínica! Ou seja: cria-se um enorme estardalhaço em torno da liberdade d
um embrião congelado para pesquisa, mas, em nenhum momento se viu ou ouviu qu
entidade, leiga ou religiosa, esboçar preocupação, por mínima que fosse, em relação
proteção junto às clínicas de fertilização, de onde, mais cedo ou mais tarde, certame
descartado. Entidades de grande envergadura e respeitabilidade nacional, como a CN
embora sempre tenha deixado claro que os estudos com embriões seriam um atenta
à dignidade humana, esteve praticamente ausente quando se tratou de buscar uma
duradoura para coibir a existência de embriões congelados em profusão.

Como se vê, não se poderia limitar um debate dessa magnitude ao destino de uma í
dos embriões congelados, já que poucos serão de fato utilizados para pesquisa, sem
sua produção contínua sem qualquer limite legal. Com exceção de uma resolução do
Federal de Medicina, emitida há 16 anos, não há qualquer dispositivo legal do poder
cuide do tema da reprodução assistida. A cada procedimento se obtêm entre 10 a 15
fertilizados, dos quais no máximo 4 são implantados, restando em torno de 10 embr
serão congelados. Qual a proteção que estes embriões recebem da sociedade? Mesm
ministros se manifestassem favoráveis à ação de inconstitucionalidade, os embriões,
ação, continuariam privados do seu direito à vida. Ou seja: a dura realidade que esp
embrião congelado, independente da decisão, será, mais cedo ou mais tarde, o seu r
não for destruído pelo seu uso na pesquisa, o será pelo descarte.

Por essa razão o seu manuseio não deveria causar preocupação ética apenas nos cie
legisladores ou religiosos, mas em toda a sociedade. Enquanto se produz uma enorm
discutindo a permissão do uso das CT de embriões excedentes, mobilizando o STF, p
se aproveitou a oportunidade para discutir o todo, e não apenas uma parte? Regulam
“estoques” de embriões congelados nas clínicas de fertilização, através da limitação
fecundados, poderia representar o início de uma discussão que certamente levantari
como a proteção insuficiente de vidas humanas depositadas num laboratório. Nesse
debate público aprofundado que englobasse os dois lados da questão - a permissão
uso de embriões para pesquisa e, de outro, regulamentar a sua produção nas clínica
uma oportunidade ímpar para o início de uma solução duradoura, infelizmente enter
a posturas que, por vezes, beiraram o fundamentalismo. A sociedade deveria ter sid
a responder se concorda ou não com a existência de milhares de embriões congelado
clínicas de fertilização, antes de discutir o seu uso em pesquisa. 

Ou seja, é preciso reconhecer que há uma proteção estatal insuficiente a um direito


fundamental. De uma forma ou de outra, tudo foi subtraído a estes seres, já dotados
potencialidade de um ser humano. Como estão, só lhes resta encarar, mais cedo ou
derradeiro destino: morrer. Trata-se de uma nódoa que passa ao largo de todas as d
da sociedade, em todos os seus níveis: científico, político ou religioso. Independente
dos ministros, o embrião congelado iria continuar privado de qualquer direito fundam
sobrevivência.

Numa condição infinitamente distante daquela que um ser humano, mesmo na cond
embrionária, merece da sociedade.
CÍCERO DE ANDRADE URBAN,
é Médico Oncologista e
Mastologista, professor titular de
Metodologia Científica e Bioética
na Universidade Positivo e
colaborador do Instituto de
Ciência e Fé, autor de “Bioética ANO 9 - ED 102 - MARÇO DE 2008
Clínica”, entre outros.

ENTRE A CIÊNCIA E A FÉ
 
Cícero Urban

“As tecnologias provenientes das células-tronco possuem potencial de modificar tant


com a qual nós tratamos as doenças, quanto a forma de como compreendemos a vid
maneira se expressou Débora Spar, pesquisadora da Universidade de Harvard, em e
publicado na mais importante revista médica do mundo. 

A pesquisa com células-tronco vem sendo colocada na imprensa leiga e científica, ou


internet, como o grande avanço para a descoberta de tratamentos efetivos para doe
degenerativas tais como: o diabetes, a insuficiência cardíaca, o mal de Parkinson, o
recuperação de traumas medulares e, até mais recentemente, para a cura do câncer
por outro lado, lembrar que são avanços “potenciais”, ou seja, que podem ocorrer pa
áreas e que os seus limites e efeitos indesejados ainda são quase totalmente descon
Não é demais recordar que em medicina não existe panacéia que cure a todos os ma

A ciência não evolui através do otimismo fácil ou do entusiasmo dos pesquisadores e


sociedade, mas através da superação de contrastes e de paradigmas. Para Popper, n
conseguimos efetivamente comprovar uma hipótese científica, mas conseguimos des
a sua teoria da falseabilidade, que faz (ou deveria fazer) de nós pesquisadores ao m
críticos e ponderados em nossas afirmações. A verdade científica é passageira. 
A verdade teológica, por outro lado, é proveniente da revelação divina. Perene e dog
suas colocações. As grandes religiões têm se posicionado de maneira contrária ao re
moral, à perda do senso de família, à dessacralização da vida e ao uso de alguns ser
em detrimento de outros.

O embrião humano, sem nenhum estatuto ontológico ou jurídico até hoje que o prot
considerado para alguns um amontoado de células e, portanto, como um objeto disp
outros, é um ser humano em fase inicial e que merece o mesmo respeito e proteção
dado aos outros seres humanos. Uma terceira via defende que o embrião deve ser p
conforme o grau de desenvolvimento em que se encontra. Dentro deste último ponto
apenas os embriões em fase precoce poderiam ser utilizados nas pesquisas. Esta fas
denominada por alguns como pré-embrião. Portanto, é preciso deixar claro que não
consenso nem entre os cientistas em relação a isto.

A ciência aprendeu algumas lições bastante duras com a sua imprudência nos último
aplicação prematura da terapia gênica provocou a morte de alguns voluntários sadio
pesquisas nos Estados Unidos. Também foram graves as conseqüências médico-lega
transmissão do vírus da aids e da hepatite C através de transfusões de sangue, e da
encefalopatia espongiforme (a doença da “vaca louca”), que provocou a morte de se
humanos e de animais. Dentro desta perspectiva de risco, um único clone de células
ser empregado em centenas ou milhares de pacientes, amplificando em progressão g
transmissão de doenças que vimos até hoje em progressão aritmética com outras te
Muitas destas doenças, de origem viral, em príons ou predisposição genética a tumo
não possuem testes específicos.

As células-tronco embrionárias produzem teratomas em animais de laboratório. Este


tumores, em sua maioria benignos, mas que já demonstram o potencial oncogênico
células. Todo novo fármaco descoberto inicialmente é testado em animais de laborat
este fármaco produza tumores (sejam eles benignos ou malignos) nestes animais, o
automaticamente descartado e não será utilizado para pesquisa em seres humanos.
considerada antiética, em que o risco é maior do que os potenciais benefícios. 

Além disso, em oncologia, as células-tronco vêm sendo estudadas como as responsá


com outros fatores, pela resistência dos tumores aos tratamentos quimioterápicos e
agressividade. Portanto, nem tudo o que estas células produzem pode ser considerad
positivo. Aliás, o câncer é considerado como uma doença de células-tronco.

Por outro lado, as pesquisas com células-tronco adultas, as que não são de origem e
têm apresentado resultados bastante promissores em diversas doenças e os riscos q
envolvem o uso destas células em seres humanos parecem menores. Não enfrentam
resistência do organismo receptor, a possibilidade de transmissão de doenças e a op
teológica são menores. As maiores dificuldades encontram-se ainda na sua identifica
cultivo, processo que vem sendo estudado em vários centros e que vem apresentand
resultados positivos. Não parece que as células-tronco embrionárias possam apresen
aplicação direta em seres humanos, mas que possam servir apenas para uma melho
compreensão das doenças. Teriam, portanto, um benefício indireto. Mas rotas altern
sendo criadas e é possível que não tenhamos necessidade dos embriões.

Assim, antes mesmo de colocarmos à prova os dogmas teológicos, precisamos vence


científicas importantes e que não serão resolvidas em poucos anos. Parece, para alg
grande barreira para todo o progresso está na religião ou na maneira de como iremo
o embrião na nossa sociedade e no direito. Entretanto, são estas mesmas células em
que nos apresentam as esperanças e as ilusões da tecnologia a nos colocarem as ba
prudência científica. Cientistas, teólogos, filósofos, bioeticistas e juristas devem esta
para não transformá-las nas tragédias anunciadas da imprudência e do imediatismo
tantas vezes se repetiram na história da humanidade.

ORIOVISTO GUIMARÃES é
Reitor da Universidade Positivo,
Diretor-presidente do grupo
Positivo e integrante da
Academia Paranaense de Letras.

ANO 9 - ED 102 - MARÇO DE 2008


 
O MAIS TERRÍVEL DE TODOS OS ENGANOS
Oriovisto Guimarães

Parece-me ser fato inegável que a maioria dos homens, a grande massa, não gosta
com a dúvida e encarar na solidão, que é a condição de existência do indivíduo, o
perguntas que há muitos séculos atormentam os homens. De onde vim? Para onde v
é o fim de tudo? Por que existe alguma coisa ao invés de não existir nada? Como fa
O que é o bem? O que é o mal? Qual o regime político ideal? Democracia? Dita
proletariado? Como devo proceder em minha vida afetiva? E com minha sexua

Muitas perguntas, muitas inquietações, poucas respostas definitivas. Na busca da pa


muitos homens cometem o mais terrível de todos os enganos, terceirizam o trabalho
crescimento de sua própria alma e tornam-se espíritos-anões que vivem subjugados
de um único guru, uma única ordem mística ou religiosa, ou uma única utopia polític
evidentes as semelhanças entre os sacerdotes e os militantes. Dissolvem o próprio e
a que pertencem, matam as dúvidas cometendo um verdadeiro suicídio da individua

É famosa a frase que muitos atribuem a Sócrates, mas que na verdade estava escrit
do Tempo de Delfos “conhece-te a ti mesmo”. Isso há mais de 2400 anos.

Mas como conhecer um eu que já não existe? Um eu que naufragou no nós?

O próprio Cristo, quando interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de De
respondeu: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui!
Porque o reino de Deus está dentro de vós”. (Lc 17. 20, 21 Bíblia Sagrada, Ed. SBB)

Como chegar ao reino de Deus se o diluí no partido político, na utopia, no guru de pl


verdade única de uma dada religião?

Não sou religioso, não pretendo discutir aqui se existe vida após a morte ou mesmo
Deus. Mas o reino de Deus, na Terra, aqui nesta vida, é o que eu chamo de felicidad
totalmente com Cristo, ele está dentro de nós.

Pico Della Mirândola, que nasceu em 1463, em seu famoso ensaio De Hominis Dignit
que quando Deus fez o mundo deu a cada criatura uma natureza perfeita, pronta e a
homem foi a única criatura que deixou inacabada e para compensar concedeu-lhe o
arbítrio. 

Nas palavras de Pico Della Mirândola: “Ó Adão, Deus não te criou nem celeste nem t
mortal nem imortal. A ti, e somente a ti, como criador de ti mesmo, caberá escolher
mais te agrada. Poderás degenerar para os níveis mais baixos da vida terrena e te to
animal, ou ascender aos mais altos níveis da existência e te tornares uma criatura di

Arthur Schopenhauer escreveu por volta de 1800: “A principal verdade da arte de se


continua sendo a de que tudo depende muito menos daquilo que se tem ou represen
daquilo que se é. A personalidade é a felicidade suprema. Em todas as ocasiões poss
usufrui-se na verdade apenas de si mesmo. Se o próprio eu não vale muito, então to
prazeres são como vinhos excelentes em boca azedada com fel”.

Epicteto, sábio estóico, nascido no ano 55 d.C. disse: “Se alguém desse seu corpo pa
passante qualquer, você naturalmente ficaria furioso. Por que, então, você não sente
vergonha em entregar sua preciosa mente a qualquer pessoa que queira influenciá-l

André Comte-Sponville, filósofo francês contemporâneo, afirma: “Sem o indivíduo, o


passa de um mito; a sociedade, de uma abstração; o Estado, de um monstro”.

Outro dia tive um sonho com o reino de Deus em que acredito, aquele que está dent
na porta principal não vi São Pedro com uma chave na mão; havia sim uma fechadu
como na porta de um cofre-forte. Mais abaixo, uma tabuleta que dizia: “Se você que
descubra sozinho o segredo que abre a porta, não atendemos intermediários ou ajud
o segredo é diferente de pessoa para pessoa e a qualquer tentativa desonesta de arr
porta abre-se um alçapão que leva direto para o reino da infelicidade”.

Transcrito do jornal Gazeta do Povo, de 29/02/2008

ANO 9 - ED 102 - MARÇO DE 2008

INQUIETAÇÕES, CERTEZAS E ENGANOS


A capa desta edição foi inspirada num sonho que o professor Oriovisto Guimarães, reitor da
universidade Positivo, integrante da Academia Paranaense de Letras, relata em “O mais
terrível de todos os enganos” acerca daqueles que terceirizam o trabalho de crescimento de
sua própria alma.

Evaristo Eduardo de Miranda, doutor em ecologia, com o artigo “A vida e os índios


desalmados”, nos lembra a Sublimes Deus, do século XVI - considerada a primeira
declaração universal dos direitos humanos - e a defesa da vida de índios, embriões e fetos
na Campanha da Fraternidade 2008.

Cícero Urban, médico oncologista, professor da Universidade Positivo, membro do Comitê


Científico do Instituto Ciência e Fé, afirma em “Entre a Ciência e a Fé” que as barreiras do
progresso não estão nos dogmas da religião, ou no enquadramento jurídico do embrião, mas
- acertadamente - na própria prudência científica.

Na reportagem “O terceiro setor em voga”, o jornalista Rafael Finatti tece um painel acerca
dos primeiros cursos de capacitação para um dos setores que mais cresce no país, já
envolvendo 1,5 milhão de pessoas.
No próximo número publicaremos a conclusão do artigo “Desafio da globalização para as
religiões” de Luiz Eduardo W. Wanderley.

O DIRETOR DE REDAÇÃO

Uma noite, ou melhor, uma noite, quando eu estava à espera de sono que estava atrasado
para chegar, eu me sentei em um campo, ouvindo a conversa tranquila de alguns agricultores
próximos. Eles falavam de coisas muito simples, embora nenhum dos quais foi grosseiro ou
frívolo como acontece em outras classes sociais. Os nossos agricultores raramente falam e
quando o fazem é para dizer algo necessário, sensível e, às vezes, sábio. Eventualmente, eles
ficaram em silêncio, como se a majestade serena e solene da noite, sem lua, mas repleto de
estrelas, havia derrubado um encantamento misterioso sobre as almas simples. Rompendo o
silêncio, mas não o feitiço, a voz rústica de um corpulento, fazendeiro rude, que estava deitado
estendido sobre a grama, com os olhos fixos nas estrelas, exclamou, quase como se estivesse
obedecendo a uma inspiração profunda, "How beautiful ! E, no entanto alguns dizem que Deus
não existe. "

Eu tenho repetido a mim mesmo muitas vezes desde então, que a frase de um velho
fazendeiro naquele lugar, naquele momento. Depois de meses de estudo estéril, tão
vividamente tocou minha mente e no coração que até hoje eu me lembro daquela cena
simples, como se fosse ontem.

Esse agricultor Úmbria nem sequer sabem ler. Mas, em seu coração, salvaguardada por uma
vida honesta e trabalhadora, houve um pequeno canto em que a luz de Deus desceu com uma
potência muito inferior à dos profetas e talvez maior do que a dos filósofos.

~ O físico Enrico Fermi, recebeu o Prêmio Nobel em 1938 por seu trabalho sobre a
radioatividade artificial produzida por nêutrons, e por reações nucleares provocada por
nêutrons lentos.

RICHARD , NÓS SENHORITA VOCÊ

Você já ouviu falar sobre o New Novo Ateísmo ? O velho Novo Ateísmo está terminado. Foi um
modismo Noughties , como Emo ou MySpace.

A cruzada de Richard Dawkins contra a religião "vírus" muito animado de pessoas no rescaldo
do 11/9 eo pânico mundial sobre o extremismo islâmico . Hoje apenas soa cansada e bobo - e
toda a raiva voga ateu parece pouco mais do que uma publicação golpe brilhante para vender
livros grandes para pequenas mentes.

O próprio Dawkins tornou-se uma figura triste, um homem em busca de atenção de idade que
insulta os muçulmanos no Twitter . Os outros ateus estrelas tenham se apagado , também.
Christopher Hitchens está morto, pobre homem . E você pode se lembrar de nada Sam Harris e
Daniel Dennett ter dito? Não, nem pode I.
Em seu lugar , uma outra raça de ateus nuances emergiu - com livros próprios para flog . Eles
desdenham Dawkins por sua fundamentalismo e sua grosseria . Eles são rápidos em
reconhecer os pontos fortes da religião e admitir as deficiências de incredulidade. (.. )

Em primeiro lugar, os católicos e evangélicos vai acolher o afastamento do antagonismo


outright e para nuance . Ele torna-se uma conversa mais educado. Ele restaura nossa fé na
decência humana . Mas pelo menos com Richard Dawkins , sabíamos onde estávamos .

Há algo bastante paternalista sobre a atitude dos ateus mais recentes à fé : "É claro que não
são tão estúpido para acreditar em nada , mas isso não significava que não é alegre
interessante e até útil na luta contra o de direita individualismo. " isso não é apenas
paternalista , pode ser mais destrutivo. Dawkins e Hitchens pode ter a intenção de acabar com
a religião , mas na verdade eles salvaram várias editoras cristãs como leitores de inclinação
religiosa correram para as livrarias para armar suas mentes com bons argumentos . Ainda hoje
parece haver uma indústria para a literatura anti- Dawkins .

Mas o novo novos ateus estão invadindo o mesmo território intelectual , e adotando o chão
centro filosófico - a média é moderada entre a crença ea descrença - que pode muito bem ser
mais bem sucedidos do que os seus antecessores no empurrar religião autêntica para as
margens. Dê-me bile old- fashioned qualquer dia. Volte, Professor Dawkins, tudo é perdoado .

Freddy Cinza

"O ser humano sem Deus não pode compreender-se a si mesmo; como, também, não poderá
realizar-se sem Deus." (Beato João Paulo II).

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