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Um suplemento para Lobisomem: o Apocalipse Edição de 20º Aniversário

Livro de Tribo 14
Sangue
jorrou
naquele dia.

Nossos parentes vieram


ferozmente sobre nós,
fazendeiros tornaram-
se homens malignos.

A ruína rubra caiu sobre


nossas famílias.

Fúria foi nossa


resposta.

,
Os Nascidos dos Tumulos
Roteiro – Bill Bridges
Arte – John Bridges
Como esse horror chegou até aqui?
Ouvindo os sussurros daqueles que um
dia respiraram, eu me apressei sobre
charnecas e ondas até as Órcades.

“Um silencioso”, eles


disseram quando me
espionaram.
Boderia

Crina-Cinzenta o Amargo, Minha


portador da Ira dos linhagem está
Malditos, lança para perdida! Seu povo,
espíritos malévolos. Hogboon! Espírito do capturado em
túmulo, por que veio calamidade...
até mim?

Theurge a quem os
mortos se revelam.

Ali! Muitas léguas a


distância está o meu
monte sepulcral. Procure
por meus ossos...

Estou vendo... um túmulo


destruído... fazendeiros caídos...
nos céus uma sombra estridente.

Descanso algum seu povo


colherá, sono algum você
encontrará, até que destruída
seja a sombra.
Os guerreiros que busquei, os Os Garou brincam de jogos
companheiros de ninhada de garras quando a Wyrm caminha? Vocês
afiadas. Os MacTire, jurados a defender lutariam contra um inimigo legítimo?
os recantos dos ancestrais. Ou irmão deve derrotar irmão?

Mutilador-de-Sangue e Face da
Rocha, lobos de bruto renome.

Uma luta,
velho Crina-
Cinzenta? Aye!
Conte conosco! O Clã do Couro de Javali – nossos
Parentes – está morto. As fogueiras queimam
com ódio de seus celeiros, nos clamando a
averiguar o sangue.

Espere! Por
que matar a última
sobrevivente?

Uma cabra ainda está


de pé! Pelo menos algo
sobreviveu.

Uma ave morta-viva chupou


Não seja agressivamente nesses mamilos.
enganado pelo seu O leite está repleto de seu
balido. azedume.
Que fedor! Mais do
que ossos mortos Ainda
estão ali. assim, lá para
dentro devemos
ir.

Não
agachado em
duas patas...

... sob as
quatro nós
corremos.

Os irmãos assumem suas


formas naturais. Em pernas
não tão seguras, eu os sigo
rapidamente.

Quando vimos o que


aguardava ali, com rapidez
vestimos nossas formas de
batalha.
Vocês me foram
prometidos. Está escrito
Ahhhh, meus na terra, nos nós da rocha
Uivadores. negra

Esperem! A ave morta-viva


os provoca! Nenhum leão
está diante de nós! Nosso
totem ainda vive.

Nosso totem – derrotado e devorado


por vermes. Uma mentira! E ainda assim...
um destino sombrio eu senti, uma sombra
não caída do céu, mas erguida a partir da
terra. O vil pássaro cadáver anunciou uma
profecia.
Nossa família espiritual –
Hogboon! Venha para o corrompida! A linhagem
nosso lado! Não atenda ao Escape da esterilizada. Sem futuros filhotes
chiado do Curiango! sombra do nas Órcades.
Maldito!

Lute ao lado dos


Uivadores! Lute com seus Sem Uivadores para
Parentes Lobos! assegurar as ilhas.

Não podemos salvar esse


lugar! Ele deve cair!

Eu convoco os ancestrais
a despertar, a enfurecer, a
estremecer as rochas – para
enterrar essa colina

Os adormecidos da charneca, nossos


ancestrais, estavam perdidos para nós,
mas a terra engoliria o mal.
Não estamos sozinhos! O
Clã do Couro do Javali –
eles são fomori!

Unam-se a sua
família. Não podem Nosso povo,
enfrentar vocês
mesmos... transformado em
criaturas podres e
putrefatas.

Criaturas que
temos que
matar.

A ruína rubra
cair sobre nossa
linhagem.

Fúria é nossa
resposta!

Sangue deve
jorrar.
O demônio está morto!
A estrada espiral... Vencemos!
gira... gira... O poço é o
seu destino!

Não. Ele colocou um


destino sobre nós...

... sobre toda


nossa tribo. Eu vejo
escuridão... Sinto rochas
sob meus pés...

Estou tonto com


infinitos giros.

A maldição do
pássaro cadáver... o
que pode significar?

Bah! Ninguém faz Será mesmo?


frente com os Grande Leão,
Uivadores Brancos! faça que assim
seja.

Porém, o chiado do
Curiango eu ouço, e
procuro por uma sombra
crescente.
Por Jess Hartley 10
Créditos Advertência
Este material foi elaborado por fãs e é desti-
Autor: Jess Hartley nado a fãs, sendo assim, ele deve ser removi-
Desenvolvimento: Stew Wilson do de seu computador em até 24h, exceto no
Edição: Carol Darnell caso de você possuir o material original (pdf
Diretor de Criação: Rich Thomas registrado ou livro físico). Sua impressão e/
Direção de Arte e Design: Mike Chaney ou venda são expressamente proibidas. Os di-
reitos autorais estão preservados e destacados
Arte da Contracapa: Steve Prescott
no material. Não trabalhamos no anonima-
Arte Interior: John Bridges, Brian LeBlanc, Jeff Holt, to e estamos abertos a qualquer protesto dos
Steve Prescott e James Daley. proprietários dos direitos caso o conteúdo os
Créditos da Edição Brasileira desagrade. No entanto, não nos responsabili-
zamos pelo mal uso do arquivo ou qualquer
Copyright: CCP hf espécie de adulteração por parte de terceiros.
Título Original: White Howlers Tribebook Equipe do Nação Garou Traduções Livres
Tradução: Chokos http://nacaogarou2014.blogspot.com.br/
Revisão: Chokos e RGT Contato: nacaogarou@yahoo.com.br
Capa e Imagens: RGT (Nosso 30º trabalho concluído em 03/12/2015)
Diagramação: RGT

Agradecimentos Especiais
John “Uivante” Morke por nos dar uma nova visão
sobre o fim dos Uivadores Brancos.
Holden “Dragão Verde” Shearer por mostrar os re-
flexos distorcidos dos poderes dos Uivadores Brancos.

© 2014 CCP hf. Todos os direitos reservados. A reprodução sem a per-


missão escrita do editor é expressamente proibida, exceto para o propósito
de resenhas e das planilhas de personagem, que podem ser reproduzidas
para uso pessoal apenas. White Wolf, Vampiro, Mundo das Trevas, Vampiro
a Máscara e Mago a Ascensão são marcas registradas da CCP hf. Todos os
direitos reservados. Vampiro o Réquiem, Lobisomem o Apocalipse, Lobiso-
mem os Destituídos, Mgo o Despertar, Promethean the Created, Changeling
os Perdidos, Hunter the Vigil, Geis the Sin-Eaters, W20, Sistema Storyteller
e Sistema Storytelling são marcas registradas da CCP hf.
Todos os direitos reservados. Todos os personagens, nomes, locais e textos são registrados pela CCP hf.
CCP North America Inc. é uma subsidiária da CCP hf.
Esse livro usa o sobrenatural como mecânica, personagens e temas. Todos os elementos místicos e sobrenaturais
são fictícios e direcionados apenas para a diversão. Recomenda-se cautela ao leitor.
Cheque a White Wolf online em http://www.white-wolf.com/ Confira a Onyx Path em http://www.theonyxpa-
th.com
IMPRESSÃO PERMITIDA SOMENTE COM A PROPRIEDADE DO LIVRO OU PDF ORIGINAL.
Índice
Introdução 15 Tempos Antigos 26 Parentes 37
A História dos Uivadores Brancos, Nômades e Fazendeiros 26 Como os Uivadores Brancos
Finalmente Contada 15 Uma Tribo de Muitos 27 Ganharam Seu Nome 38
Antes da Queda 15 A Invasão Romana 27 Lobos da Caledônia 38
O Mundo Deles 16 Nossa Tolice 28 Tribos Humanas 38
A Escolha Funesta 16 Em Guerra Com Roma 28 Tribos dos Parentes dos Uivadores
O Grande Conselho 29 Brancos 39
Obrigado 16
Um Povo, Muitas Faces 40
Capítulo Um: História 18 Rumo ao Sul 29
Raças 41
Conto de Morag 18 Batalha com Roma 30
O Longo Caminho de Casa 30 Lupinos 41
Tempos Antes dos Tempos 19
Retaliação 31 Hominídeo 41
Antiga Caledônia 19
O Destino de Nossos Parentes 31 Impuro 41
Antigos Parentes 19
O Funesto Final 32 Chamado da Lua 41
O Grande Inverno 20
Uma Terra Maculada 32 Ragabash 42
O Grande Inverno de Gaia 21
A Narrativa de Morag 32 Theurge 42
Fronteiras Expandidas 22
Servos ou Mestres? 33 Philodox 42
Filhos do Cervo 22
O Grande Fosso 33 Galliard 42
Lições do Grande Inverno 22
O Caminho da Espiral 34 Ahroun 43
Cervo e Leão 23
Decisões 34 Campos Tribais
Os Bons Primos 23 43
Fenrir, Falcão, Fúria e Todos 23 Um Chamado Anunciado 35
A Boderia 43
Tearlach Tecelã-de-Contos 24 Hoje 35
Os Mactire 44
Tearlach e Hélios 24 Capítulo Dois: Cultura 37 Os Toutatis 44
Conflito por Parentes 24 Nossos Deveres 37
Filhos do Leão 44
Aqueles Que Não Responderam 45 Álcool 55 Uktena 66
Fianna 45 Arquitetura 55 Wendigo 66
Crias de Fenris 45 Brochs 55 Recursos Adicionais 66
Garras Vermelhas 45 Castros 55 Capítulo Quatro: Poderes 68
Presas de Prata 45 Arte e Artesanato 56 Dons 68
Litania 45 Materiais 56 Dons dos Uivadores Brancos
Respeite o Território 45 Moedas 57 68
Seja Piedoso 46 Símbolos Recorrentes 57 Rituais 71
Honre Aqueles que Antecedem Aparência 57 Rituais de Pacto 71
a Ti 46 Vestuário 57 Ritual do Sobrevivente 71
Honre Aqueles Abaixo de Ti 46 Tatuagens 58 Rituais de Morte 71
Não Serás um Fardo para Teu Plaids e Kilts 58 Ritual da Fogueira dos Ossos 71
Povo 46 Armas e Armaduras 59 Rituais Místicos 71
A Presa Pertence ao de Posto Armas 59 Ritual da Tatuagem Sagrada 71
Mais Elevado 46
Transporte 59 Ritual da Arte Sagrada 72
Em Tempos de Paz, Líderes
Morte e Funeral 60 Pequenos Rituais 72
Fracos Devem Ser Desafiados
47 Linguagem 60 Presságio 72
Em Tempos de Guerra, Líderes Carnyx - Uivos de Guerra 60 Ritual da Tatuagem Sagrada 72
Devem Ser Obedecidos 47 Escrita 61 Espírito 72
Não Consuma a Carne de seu Ogham 61 Nível 72
Povo 47 Cuneiforme 61 Relação 72
Conceda a Clemência do Véu Fenício 61 Efeito 72
47 Fatos, Provas e a Verdade 61 Qualidade e Defeitos 73
Não Acasale Com os Seus 48 Era Glacial 61 Físicos 73
Combata a Wyrm Onde Ela Após o Grande Inverno 61 Imune ao Clima 73
Estiver 48
Era Moderna 62 Senso de Direção 73
Aurora 48
Renascimento Espontâneo 63 Afinidade com o Subterrâneo 73
Capítulo Três: O Mundo A Grande Busca 63 Mentais 73
dos Uivadores Brancos 50 Nunca Caíram 63 Sentido do Túmulo 73
Por que Contos Históricos? 50 Um Novo Elenco 63 Instinto do Lar 73
Os Desafios 50 Outras Tribos 63 Perspicaz 73
Uma História Diferente 51 Fúrias Negras Bons Instintos 74
O Apogeu 51 63 Temperamento Rude 74
O Auge dos Uivadores Brancos Roedores de Ossos 64 Sociais 74
51 Bunyip 64 Amigo dos Pictos 74
O Mundo dos Uivadores Brancos Filhos de Gaia 64 Xenófobo 74
51
Croatan 64 Sobrenaturais 74
Os Mitos dos Pictos 52
Fianna 64 Visões Proféticas 74
Nomes 52
Crias de Fenris 64 Parente de Fantasmas 74
Caledônia 52
Andarilhos do Asfalto 65 Fetiches 74
As Muralhas 52
Garras Vermelhas 65 Escudo Fantasma 74
Clima 53
Senhores das Sombras 65 Broche Animal 75
Tecnologia e Cultura 54
Peregrinos Silenciosos 65 Espelho do Túmulo 75
Agricultura e Pecuária 54
Presas de Prata 65 Pincel da Profecia 75
Culinária e Preservação 54
Portadores da Luz Interior 65 Amuletos 75

13 Uivadores Brancos
Índigo Furioso 75 Dragão Verde 78 Comedor-de-Salmão 83
Velas Fantasmas 75 Totens de Sabedoria 78 Filha-do-Alce 85
Bolo de Aveia 75 Ruído do Túmulo 78 Explorador 87
Totens 76 Cabra Montês 78 Protetor Monstruoso 89
Ninhada do Leão 76 Totens de Astúcia 78 Apêndice Dois: Lendas dos
Totens de Respeito 76 Gália 78 Uivadores Brancos 91
Alce 76 Kelpie 79 Eubh, o Imortal 91
Leão 76 Apêndice Um: Exemplos de Hathawulf Quebra-Lança 92
Totens de Guerra 77 Personagens 80 Morag “Memória da Pedra” 93
Pássaro Carniceiro 77 Espiã Nômade 81

14
Introdução
“Eles prometeram que sonhos podem virar realida-
de – mas se esqueceram de mencionar que pesadelos tam-
bém são sonhos”

– Oscar Wilde

A História dos
cacos de verdade que ainda existem derramados e espa-
lhados, coloridos e cobertos por séculos de tempo e his-
tórias contadas e maculados pela associação com o que os

Uivadores Brancos, Uivadores eventualmente se tornaram. A tribo tem sido


pintada como todo tipo de coisa, de tolos ingênuos até

Finalmente Contada
desprezíveis traidores, dependendo de quem conta a his-
tória.
Por dois mil anos, a Nação Garou lidou com dor, Diferente dos Croatan, cujo sacrifício trouxe um
raiva e culpa ao que cerca a perda dos Uivadores Brancos. bem maior, ou dos Bunyip. Cuja perda nunca foi graças a
Por vinte séculos, os Dançarinos da Espiral Negra seus próprios feitos, os Uivadores Brancos mergulharam
serviram como uma lembrança constante dos caídos Ui- na bocarra da Wyrm e suas ações geraram um exército
vadores – e o destino que o resto da Nação terá, caso bai- para servir os inimigos dos Garou. Essa escolha foi a mais
xem a guarda por um momento sequer. desonrosa, estúpida e desonrosa em toda a história da
Nação Garou.
O mundo precisou de dois milênios para esquecer
quem e o que os Uivadores Brancos realmente eram. Será?

Antes da Queda
A realidade foi substituída por geração após geração de
adaptações, interpretações e – em alguns casos – absolu-
tas criações destinadas a reproduzir o que aconteceu com Ouça agora, pela primeira vez, as palavras dos Uiva-
a tribo para seus próprios propósitos. dores Brancos sobre sua própria tribo. Viaje de volta ao
Assim como seus Parentes pictos, a história perdeu a começo da Era Comum, e além. Reúna-se ao redor das
maior parte da verdade sobre os Uivadores Brancos. Os fogueiras de turfa e ouça as histórias que se pensara per-
15 Uivadores Brancos
didas para sempre há tempos, contada por aqueles que as A história pintou essa escolha com vinte séculos de
viveram. Caminhe por entre suas vilas. Prove a maresia uma compreensão tardia. Mas para verdadeiramente com-
de suas praias, e ouça os sussurros de seus mortos vindos preender as escolhas feitas – e aprender com eles – nós
das sombras. devemos retirar as incontáveis camadas de lições de moral
Juntos, nós viajaremos ao passado e ouviremos os e preconceitos acumulados sobre o evento. Nós devemos
contos dos Uivadores e seus Parentes, contados através olhar com olhos imparciais o momento que os leva para
das suas próprias vozes. Nós conduziremos você pelas vi- a fatídica batalha, e examinar as crenças e mentalidade
las, pausaremos para ouvir nas fogueiras de seus lares e dos Garou envolvido e quais opções – ou a falta delas –
partilharemos pão com seus Parentes. Abaixo da antiga existiam para eles.
lua, viajaremos com esses guerreiros ferozes e de destino Dentro desses contextos, nós oferecemos aos leitores
sombrio, mantendo o passo enquanto eles combatem os a oportunidade de fazer mais do que apenas conhecer
servos da Wyrm, defendem suas terras natais contra todos essa tribo há muito perdida. Damos a eles a chance de
os males e – por fim – caem para seu destino sombrio. verdadeiramente conhecer quem os Uivadores Brancos
Apenas então você verdadeiramente conhecerá os eram, o que eles defendiam e, por fim, porque eles caí-
Uivadores Brancos, em todas suas paixões e fúrias, e com- ram para a Wyrm.
preenderá seu conhecimento secreto e costumes segredos. Essa exploração, além do papel único que os Uiva-
Apenas então você reclamará todas as fatias que o tempo dores Brancos (e suas encarnações modernas e corruptas)
espalhou, escavará o que foi enterrado e recuperará o que desempenham no passado, presente e futuro dos Garou,
foi perdido nos anais do tempo. torna esse livro de tribo diferente de qualquer outro.

O Mundo Deles
Nenhuma tribo da Nação Garou existe em um vá-
Obrigado
 É raro existir a oportunidade de assumir um pro-
cuo. A fim de fazer justiça aos Uivadores Brancos, nós jeto que há muito foi ventilado pela comunidade como
devemos compreender não apenas a tribo em si – sua his- uma lenda urbana e, finalmente, trazido à vida.
tória, seus hábitos, suas visões e crenças – mas também Apesar de ser os mais famosos (e mais infames) dos
sua dinâmica dentro da Nação Garou daquela era, e a metamorfos “Perdidos”, os Uivadores Brancos foram la-
amplamente distinta dinâmica entre os Garou e o resto mentavelmente sub-examinados nos primeiros vinte anos
do mundo naquele período de tempo. de Lobisomem: o Apocalipse. Por muito tempo tem sido
Para entender o papel que os Uivadores Brancos de- nosso sonho trazer essa história para a luz e compartilhá-
sempenham no mundo antigo, olhamos não apenas para -la com os fãs de Lobisomem ao redor do globo.
a tribo e sua terra natal, mas o mundo em que eles existem Através do apoio e generosidade de mais de 2100
naquele momento. Nós examinamos a rica trama de cul- apoiadores de Werewolf: The Apocalypse Deluxe 20th
turas que formava a Nação Garou e seus aliados daquela Anniversary Edition Kickstarter, esse sonho tornou-se
era, e como a tribo perdida interagia com cada um deles, uma realidade. Em nome dos criadores do Livro de Tribo
provendo informação suficiente para permitir jogadores Uivadores Brancos e daqueles que irão ler, usar e jogar
e Narradores para criar suas próprias histórias no passado com o ele nos anos que virão, nós gostaríamos de dizer
antigo, caso eles assim queiram. obrigado àqueles que apoiaram essa campanha. Seu apoio
não só financiaram esse projeto, mas também sua parti-
A Escolha Funesta cipação ativa no processo criativo através de jogos-testes,
beta-leitura e discussão de desenvolvimento tornou o pro-
O mergulho dos Uivadores Brancos no Labirinto
Negro é, talvez, a ação mais significativa e de longo alcan- jeto o melhor que poderia ser.
ce que qualquer grupo de Garou jamais tenha feito. Os Vocês tornaram possível para que contemos um dos
efeitos dessa escolha colorem os próximos dois mil anos contos mais esperados da história do Mundo das Trevas.
da história dos lobisomens, dando lugar aos maiores ini- Obrigado.
migos da Nação, e inclinando a balança cósmica a favor
da Wyrm.

Introdução 16
Capítulo Um:
História
Conto de Morag
memória perfeita do que eu vi ou ouvi, sou apenas uma
única pessoa e meu conhecimento sobre nossa tribo cer-
tamente está longe de ser tudo o que há para se saber.
Dever é algo estranho, mais forte do que o ferro e
Não sei porque nessa noite, ao invés da anterior, ou
mais nebuloso que as névoas. Algumas vezes, o caminho
da seguinte, que ele pediu isso de mim. Posso ouvir o res-
do dever é claro: um erro que deve ser consertado, um
to de minha tribo preparando para a batalha de amanhã,
mal a ser purgado. O dever chama e estamos destinados
e não há nada mais que eu queira do que estar com eles,
a responder.
para compartilhar seu trabalho e emprestar minha força
Outras vezes, entretanto, é mais oculto. Uma criança a seus esforços. Mas meu dever é claro.
pode não compreender a necessidade da tarefa que sua
Não sei porque ele deseja que essas histórias sejam
mãe põe diante dela, ou um aluno compreender todo o
contadas para a noite, ao invés de para um aluno ou mes-
significado de uma lição até muito tempo após ela estar
mo um espírito. Meu povo corre apressadamente, fazendo
terminada.
seu caminho até o portal que nos levará para nossa bata-
Frequentemente, essa é a forma de dever para com lha. Caso eles ouçam algo, é um pedacinho aqui, ou uma
os espíritos, que encontrei. Chiminage é a moeda com a frase ali, pouco demais para fazer sentido ou ser impor-
qual nós trocamos favores e apoio no mundo espiritual, tante. Talvez essas histórias sejam para os ouvidos dele.
mas até mesmo aqueles que lidam com o mundo espiritu- Ou talvez, uma vez contadas, elas simplesmente desapare-
al raramente entendem porque uma efêmera deseja que cerão na escuridão, deixando nenhum rastro de que um
uma certa árvore seja poupada quando um campo é cla- dia foram contadas.
reado, ou um alce em particular de um rebanho inteiro
Não sei a razão, em face de tudo o que encararemos
ser sacrificado.
com a aurora, pela qual o Leão me pediu o que pediu. Sei
Algumas vezes os significados tornam-se claros com apenas que sou abençoada por sua bênção, assim como
o passar do tempo, algumas vezes, permanecem um mis- minha mãe, e a mãe de minha mãe, e a mãe de sua mãe.
tério. Porém, o dever é o que é, independente se nós o Faço o que posso – o que devo – para cumprir meu dever
compreendemos por completo ou não. Assim, inicio meu para com o Leão, já que ele cumpre seu papel como nosso
chiminage quando o sol nasce e o dia inicia-se. totem. Nessa noite, esse dever é recitar tudo o que é co-
Não sei porque o Leão me pediu para contar tudo nhecido sobre nosso povo, para qualquer um que queira
o que sei sobre nosso povo antes da aurora do novo dia. ouvir.
Apesar de ser abençoada – e amaldiçoada – com uma
Capítulo Um: História 18
Que os ventos carreguem minha palavras para onde aproveitou dos arredores severos, fez um ninho para si no
o Leão deseja, através da Película, através das milhas, atra- alto das colinas e isolou seus ninhos dentro de vales e tú-
vés de qualquer fronteira que se mostre entre meus lábios neis tão fundos e escuros que a luz do sol nunca os tocou.
e os ouvidos daqueles que o Leão deseje que ouçam. Ela procriou fora de vista, usando a maravilha primal de
Assim, como em todas as coisas, cumpro meu dever. nossa terra como camuflagem para suas terríveis maqui-
Eu sou Morag, chamada de “Memória da Pedra”. Eu che- nações.
guei a esse mundo sob a lua minguante, destinada a con- Entretanto, tudo isso a serviu de nada. Nossos an-
tar os contos de meu povo. Hoje, contarei tudo aquilo tigos antepassados descobriam a mácula da Wyrm não
que sei. importando quão bem oculta ela estava. A Wyrm era for-

Tempos Antes dos


te, astuta e incansável, mas também o eram nossos an-
cestrais. Nenhum guerreiro foi mais corajoso. Todos nós
sabemos seus nomes até os dias de hoje.

Tempos Patas-Prateadas, uma loba cuja coração era tão puro


que Gaia a abençoou com um pelo de pura prata. Eubh o
Onde começar, onde começar? Assim como qual- Imortal, cuja dedicação com a Caledônia o trouxe de vol-
quer história, pelo começo, imagino. Desde o momento ta dos mortos várias vezes a serviço de Gaia. Bran Mão-
da Ruptura, quando o mundo mortal e o mundo dos -de-Sangue, que expulsou sozinho um exército de servos
espíritos foram separados, nós estivemos aqui, na Cale- da Wyrm, mesmo após um dos monstros ter arrancado
dônia. Essa era nossa terra quando o mais antigo dos fan- sua mão da espada. Cairbre e Brude, gêmeos tão pareci-
tasmas nas charnecas mais profundas era apenas um bebê dos que nem mesmo Luna podia diferenciá-los.
no sei de sua mãe. Antes do Grande Inverno, antes das Sua força e sabedoria foi a base sobre a qual nossa
grandes guerras, antes dos Fianna ou dos fomori coloca- tribo se construiu, e suas histórias ressoam até os dias de
rem os pés nessas ilhas, os Uivadores Brancos viveram e hoje. Os detalhes podem variar de lugar para lugar, mas
amaram, lutaram e morreram aqui. Nós permanecemos suas lendas ensinam a tribo nossos ideais: astúcia, dedica-
ligados a essa terra, pelo tempo, pela história e pelo dever. ção, dever, força e ferocidade.
Nosso papel sempre foi o de proteger essas terras, as Esses contos não são apenas para nossos filhotes Ga-
águas em volta delas, as profundezas abaixo e seu reflexo rou. Cada ninhada de filhotes lupinos recém-nascidos de
espiritual do outro lado, da Wyrm e de seus servos. É por uma mãe Garou ou de uma Parente lupina ouve essas his-
isso que Gaia nos colocou aqui, no princípio dos tempos. tórias antes de abrir seus olhos e saírem de sua toca. Ao

Antiga Caledônia
redor de todas fogueiras, em todas vilas e castros, crianças
de nossos Parentes humanos ouvem com grande atenção
Caledônia significa “o lugar rude” e apesar do tem- às gloriosas lendas daqueles que viveram e morreram no
po ter acertado as pontas um pouco, o nome encaixava passado antigo.
perfeitamente nos tempos antigos. As ilhas eram mais pe- Ferozes e destemidos, esses antigos guerreiros luta-
dregosas do que são hoje, repletas de straths e vales, espa- ram com garras e presas, destruindo qualquer manifes-
lhados com montanhas escarpadas e rodeadas por mares tação que a Wyrm pudesse trazer para suas terras. Mais
famintos, limitados por penhascos. Existiam florestas tão importante, eles não lutaram sozinhos.
densas de árvores que o solo permanecia na escuridão da
noite, mesmo no meio do verão e rios tão selvagens que
nunca foram cruzados. Existiam criaturas tão magníficas
Antigos Parentes
As lendas dizem que nossos Parentes lupinos de um
que fariam seu coração gritar só em vê-las. Rebanhos de
passado distante eram grandes feras, tão grandes quanto
alces ficavam tão altos em suas pernas que eram confun-
um Hispo, e capazes de esmagar crânios com suas man-
didos por árvores e pássaros faziam seus ninhos em suas
díbulas de ferro. Eles caçavam com uma letalidade que
galhadas. Lobos do tamanho de cavalos. Leões tão gran-
agora podemos apenas imaginar, trabalhando em conjun-
des quanto ursos. Ásperos olifantes, gatos com espadas
to para derrubar criaturas vinte vezes seu tamanho. Eles
como dentes e maravilhos do tipo que não existem mais
eram os ancestrais dos lobos de hoje, selvagens e indo-
desde então. Era um lugar inspirador e um tempo glo-
máveis, não deviam nada a ninguém e o sangue de nossa
rioso, e nossas histórias mais antigas contam sobre suas
tribo era mais forte por esse parentesco.
maravilhas. Gaia era forte ali, mas Ela não era a única
Incarna com olhos sob nossa bela terra natal. Humanidade ainda estava em sua infância nesse mo-
mento. Comparados a hoje, nossos Parentes humanos
A Wyrm cobiçou nossa terra para si, e fez tudo o
eram quase irreconhecíveis como tal. Eles não tinham
que podia para cravar profundamente suas garras. Ela se
19 Uivadores Brancos
uma linguagem intrincada, nenhum símbolo para marcar dernos agora vivem, através de florestas e colinas de nos-
nas pedras, apenas rosnados e uivos e resmungos. Suas sas ilhas. Eles seguiam os grandes rebanhos selvagens à
mentes eram mais próximas às de nossos Parentes lupi- medida que migravam, abatendo as presas arremessando
nos – primitivas e ferozes – e seus modos refletiam essas rochas ou com lanças de madeira endurecida, e coletavam
características. as frutas da terra à medida que cada estação oferecia sua
Eles não possuíam cidades, vilas, muralhas ou telha- dádiva. Nas praias, eles pegavam mexilhões nas rochas e
dos permanentes sobre suas cabeças. Suas ferramentas pescavam nas ondas com redes precárias, mas não possu-
eram osso e pedra semi-trabalhados, fracas demais para íam barcos para retirar a colheita do oceano.
construir como fazemos hoje em dia, então eles carrega- A vida era dura para eles – e sem a ajuda de nossa
vam as posses que tinham com eles. Vestiam apenas ru- tribo, teria sido ainda pior. Ainda assim, como nossos Pa-
des capas de pêlos amarradas ao redor do corpo como rentes lupinos, eles eram fortes e ferozes. Serviam a Gaia
vestimenta, e dormiam onde quer que a noite caía sob e eram Parentes dignos para nossos ancestrais em toda
eles, não chamando um morro de lar mais do que chama- forma que eram capazes, incluindo enfrentar a Wyrm a
riam qualquer outro. Eles não deixaram rastros, nenhum nosso lado.
caern fúnebre, casas ou pedras marcadas. Sabemos sobre Houve um adversário, no entanto, que nossos Paren-
eles através das histórias contadas pelos nossos Galliards, tes humanos não foram capazes de fazer frente: o Grande
e as memórias compartilhadas pelos fantasmas que cami- Inverno.
nhavam entre eles naquele tempo. O tempo e o Grande
Inverno podem ter varrido todo rastro de sua existência,
mas não pode apagá-los de nossas memórias. O Grande Inverno
Nossos Parentes de outrora viajavam em famílias, Todo inverno é duro. Caçar torna-se difícil, as planta-
bem menores do que as tribos que nossos Parentes mo- ções não crescem e as dádivas da terra permanecem ocul-

Capítulo Um: História 20


ta sob a neve. Nas profundezas das mais longas noites, en- desenvolver armas mais avançadas – pedras lascadas nas
tretanto, nós que vivemos hoje sabemos que a primavera pontas das lanças, facas e pontas de flechas.
retornará. Muito antes do Grande Inverno encerrar, nossos Pa-
Imagina agora um inverno mais severo do que qual- rentes humanos tinham todos partido. Aqueles Garou
quer um que você já viu, onde cada luz da aurora traz ape- que permaneceram nas áreas cobertas por gelo, eventu-
nas uma visão melhor da infindável terra congelada, que almente perderam todos seus Parentes humanos, já que
sua amada terra natal se tornara. As únicas estações são o ambiente se provou severo demais para até mesmo os
os tempos de frio avassalador com neve e sem neve. Rios mais robustos dos primitivos Parentes humanos.
desaparecem abaixo de camadas de gelo, e essas camadas Como resultado, por gerações após gerações, os Ui-
desaparecem abaixo de outras, até que o terreno seja nada vadores Brancos que residiam no gelo tomaram os Paren-
mais do que montanhas brancas, planícies brancas, vales tes lupinos como seus parceiros, tornando os habitantes
e precipícios de eterno, inflexível branco. do interior da tribo mais ferozes e selvagens do que eram
Imagine o inverno que não acaba. Não por um ano, antes.
ou uma centena deles, ou centenas de centenas de anos. Outros Uivadores Brancos, desesperados a manter
Um inverno que tão longo que as pessoas considerassem o lado hominídeo de nossa tribo viva, começou a pegar
até mesmo as histórias sobre qualquer coisa além do in- parceiros humanos entre os povos que encontravam ao
verno como mentiras ou lendas. Um inverno longo o su- longo das fronteiras das terras gélidas, incorporando san-
ficiente para que os contos de qualquer coisa além de gue novo na linhagem que diminuía. Infelizmente, isso os
gelo e frio no futuro fossem descartados como um pensa- levou a conflitos não apenas com os humanos – era um
mento desejoso ou tolice das crianças. tempo mais antigo, e os conceitos de galanteio civilizado
Assim foi o Grande Inverno, a era do gelo, a longa e não seriam um lugar comum por muitos séculos por vir
fria noite que parecia nunca acabar. – mas também com os outros lobisomens da área, que há
As temperaturas caíram e permaneceram geladas o muito consideravam os humanos disputados como sua
suficiente para que o suor de um homem congelasse em propriedade.
sua sobrancelha ou as lágrimas de uma viúva virassem gelo
antes que pudessem descer por suas bochechas. O gelo es- O Grande Inverno de Gaia
palhou a partir das montanhas, e ao invés de retroceder Quando os filhotes escutam os contos do Grande In-
como sempre havia feito, continuou até que nenhuma verno pela primeira vez, em sua inocência eles perguntam
parte da terra permanecesse livre de sua cobertura. Os por que Gaia faria tal coisa. Por que, se éramos os amados
mares recuaram das praias, até que a Caledônia não fosse de nossa Mãe, ela açoitaria nossas terras com gelo e neve?
mais uma ilha, e sim uma vasta terra devastada coberta As lendas sobre esse assunto são tão diversas quanto as
por gelo. tribos que as contam.
Muitos dos animais e pássaros que chamavam a Ca- Muitas histórias dizem de um pacto que deu errado:
ledônia de lar desde que Gaia os criou abandonaram o um trato mal tecido entre os Uivadores Brancos e as for-
lugar antes do inverno infindável. As crescentes geleiras ças elementais do inverno. Uma abertura na barganha
empurravam os grandes rebanhos de alces do coração de permitiu o Inverno a reinar sobre a totalidade do ano e
nossas terras, e com eles todos os predadores e presas. por toda a terra até que, centenas de gerações depois, os
Aqueles que ficaram para trás ou se adaptavam ao duro Garou foram capazes de encontrar uma forma de comple-
ambiente, ou caíam e alimentavam aquele que de pé es- tar a barganha e forçar o Inverno a seu antigo e transitório
tavam. papel. Os termos exatos do pacto variam de conto para
Apesar da grossa pelagem e das presas afiadas de conto, mas, no fim, são as almas robustas e a dedicação
nossos Parentes lupinos terem servindo-os bem durante absoluta dos Garou que prevalece.
o Grande Inveno, nossos Parentes humanos não foram Outras lendas dizem que o Grande Inverno foi uma
tão afortunados. Geração após geração, seus números di- punição a nossos ancestrais por negligenciar seus deveres.
minuíram enquanto o gelo e a neve tornavam a caça e a Elas dizem que a tribo se afastou de seus deveres aponta-
coleta cada vez mais difícil. Muitos morreram de fome ou dos ao ponto de que Gaia os expulsou de sua bela terra
exposição aos elementos, ou pelos predadores que tor- natal até que eles tivessem se provado dignos de assumir
navam-se mais ousados graças ao desespero. As geleiras a tarefa novamente.
empurravam os sobreviventes através dos antigos oceanos Talvez os contos mais pungentes sobre o tópico fa-
para novos territórios, distantes das plantas e animais que lam sobre as divisões dentro de nossa tribo. Eles dizem
conheciam. Mais morreram quando encontraram tribos que nossos antigos companheiros de tribo cometeram o
hostis no continente, povos que já tinham começado a
21 Uivadores Brancos
erro de se concentrar por completo nas áreas povoadas
por suas tribos específicas de Parentes. Isso deixou uma Filhos do Cervo
área no centro da Caledônia desprotegida, já que não Assim como uma bolota não se parece em nada com
era povoada por Parentes lobos ou humanos. A Wyrm se o poderoso carvalho do qual nasceu, as primeiras rela-
aproveitou dessa terra não reivindicada, afundou suas ra- ções dos Uivadores Brancos com os Fianna eram bem
ízes nesse lugar e criou um poço enorme e gangrenoso de diferentes das que temos agora.
mácula e corrupção. Uma vez que cada seita dos Garou se No começo, estávamos incertos sobre o que fazer
focava apenas nas terras onde residiam seus Parentes dire- com os Filhos dos Cervos, e eles conosco. Apesar de que
tos, a área maculada pela Wyrm passou despercebida por agora nos conhecemos como irmãos, não tínhamos in-
um longo período. Tempo demais para que, quando des- formações sobre nosso parentesco naquele momento. E,
coberta, os Garou não puderam fazer nada para derrotar como acontece entre as tribos de nossas famílias huma-
a grande doença crescente ali. Eles imploraram para sua nas, primeiro enxergamos apenas as diferenças entre nós,
Mãe Gaia por ajuda, e Ela o fez, enviando o Grande In- a estranheza dos costumes do outro, o “erro” nos cami-
verno para congelar as forças da Wyrm. Entretanto, para nhos do outro. Não estávamos com a melhor das cabe-
ensinar seus filhos uma lição, Gaia também permitiu que ças para diplomacia. O Grande Inverno trouxe desespero
o gelo caísse sobre todas as terras dos Parentes deles, até mesmo para nossa forte tribo, nos empurrando para fora
que o momento em que grupos diferentes de Uivadores da própria terra que fomos criados para proteger. Isso,
Brancos aprendessem a trabalhar em conjunto. Infeliz- em conjunto com os temperamentos quentes de nossos
mente, para a tribo, essa foi uma lição duramente apren- primos ao sul, rapidamente levou nossos primeiros en-
dida, resultando na era quase interminável conhecida contros para golpes fatais.
como o Grande Inverno. Por uma centena de cem anos, nosso povo guerreou
com os Filhos do Cervo à sombra das geleiras que se apro-
Fronteiras Expandidas ximavam. O gelo açoitava a terra, cobrindo por completo
a Caledônia e eclipsando tudo, exceto a ponta mais ao
Até o Grande Inverno, nossa tribo não tinha contato
real com o resto dos lobisomens do mundo. Nosso dever sul das ilhas, nos levando ainda mais adentro do territó-
era com a Caledônia, o deles com suas próprias terras, e rio dos Fianna. Eles reuniram seus sombrios aliados feéri-
nenhum destino ou circunstância nos colocou juntos de cos contra nós, e nós conjuramos a força e sabedoria da-
maneira significativa. O Grande Inverno nos expulsou de queles que se foram para nos ajudar em nosso problema.
nossa terra natal tradicional, e mudou tudo isso. Os resultados foram, sem surpresa alguma, catastróficos.
Centenas de Garou morreram e ambos os lados pintaram
Nosso primeiro contato foi com os Filhos do Cer-
o outro como servos da Wyrm por suas ações.
vo, que chamam a si mesmos de Fianna. Seu território
era o mais próximo do nosso, separado apenas pela dura Com o tempo, no entanto, a fúria da guerra esvane-
geografia, ao invés de pelo oceano, como era o resto do ceu e nossos povos perceberam que tínhamos mais em
mundo. Quando o gelo empurrou nossos ancestrais para
o sul, eles não se surpreenderam ao encontrar outros lo- Lições do Grande Inverno
bisomens; nossos números eram espalhados tão espaça- As histórias das Guerras do Grande Inverno
damente pelas vastas florestas da Caledônia que desco- são lições, que nos avisam sobre a tolice da ação
brir uma nova seita de nossa tribo em uma área isolada impensada sobre o planejamento, o perigo de
não era incomum. Encontrar aqueles que não seguiam o abordar uma nova situação esperando hostili-
Leão, no entanto, foi um choque. dade e não diplomacia. Nós não as contamos
Os modos dos Filhos do Cervo parecem estranhos para glorificar as vitórias de nossos ancestrais
para nós agora, mesmo após termos milhares de anos para sobre seus primos – bem, pelo menos não uni-
nos acostumarmos com suas predileções. Imagine então camente com esse propósito – mas para nos
quão estranhos eles devem ter parecido para nossos tata- lembrar que apesar de nosso dever ser para
-tantas-vezes-taravós, que nunca tinham encontrado com com a Caledônia, nós não estamos sozinhos.
eles. Sua pelagem escarlate e escura. Seus humores, tão Somos apenas uma tribo entre muitas, todos
mercuriais quanto as tempestades na primavera. Seus es- somos os filhos de Gaia, e não importa quão
tranhos títulos e Dons. Para não mencionar suas associa- forte sejamos, não podemos dar as costas para
ções com o Povo das Colinas. Não é de se assustar que as os outros guerreiros escolhidos de Gaia; Ape-
primeiras interações de nossos ancestrais com os Fianna sar do Grande Inverno ter acabado, os tempos
não foram completamente bem-sucedidas. finais se aproximam, e devemos lutar juntos
ou certamente cairemos.
Capítulo Um: História 22
comum do que tínhamos em diferenças. Isso e a necessi- Grande Inverno perdurava e os Fianna se apoiavam mais
dade de sobreviver em face dos servos restantes da Wyrm e mais em seus parentes feéricos para ajuda-los, o custo de
e a severidade do Grande Inverno impôs às nossas tribos sua ajuda se tornava cada vez mais alto. No fim, o preço
uma aliança por vezes inquieta. pedido aos Fianna foi um que nós, os Uivadores Brancos,
não estávamos dispostos a pagar.
Cervo e Leão O Grande Inverno durou gerações após gerações, al-
O primeiro encontro de nosso povo com os Fianna gumas vezes parecendo estar próximo a um fim, até surgir
sobrevive, imortalizado no conto do Cervo e Leão, onde com uma fúria ainda maior. Eventualmente até mesmo
Gaia testa o patrono de cada tribo através de uma série o povo imortal que os Fianna chamavam de irmãos não
de desafios: raciocínio, intelecto, beleza, força e, eventual- podiam suportar as tempestades infindáveis. Eles recua-
mente, ferocidade. Assim como todo Uivador Branco re- ram, não para as geleiras, mas para um lugar onde o verão
conta, a competição termina com o Leão não apenas der- ainda existia, para aguardar o fim das eternas nevascas, e
rotando seu companheiro de galhadas na batalha final, um bom número de Filhos do Cervo – seus melhores e
mas também rasgou o Cervo em pedaços para alimentar mais brilhantes, presos a pactos blasfemos demais para
a tribo do Leão através do Grande Inverno. Sem surpresa nossa tribo sequer imaginar – foram com eles. Indispos-
alguma, os Fianna não gostam dessa história, e é de mau tos a segui-los, nossa tribo foi novamente empurrada pela
tom contá-la quando nossos primos do sul estão presente. grande muralha de gelo, dessa vez, para a bocarra de uma
Apesar de simbólico, esse conto não é inteiramente fera muito mais feroz.
falso; sem o sustento e força que pegamos dos Fianna,
nosso povo nunca teria sobrevivido ao Grande Inverno, Fenrir, Falcão, Fúria e Todos
ou pelo menos teríamos emergido muito diferentes do A invasão glacial não acabou quando cobriu nossa
que somos agora. ilha. A sede da crescente muralha de gelo era tão grande
À medida que o gelo nos expulsou da Caledônia, que ela bebeu o mar que antes dividia nossa terra natal
para as terras do Cervo, nós levamos conosco uma histó- com praias estrangeiras, nos deixando um claro caminho
ria rica, uma atitude feroz e uma grande quantidade de para escaparmos de sua aproximação irrefreável.
orgulho, mas nada mais. Apenas o que podíamos carregar Infelizmente, como aconteceu quando entramos nas
em nossas costas, ou arrastar em nossos trenós. Aqueles terras de Erin, quando atravessamos o mar congelado nos
que encontrávamos eram mais dos mesmos; espalhados vimos invadindo o território de outros. Bárbaros violen-
pelas costas, eles viviam com frutos do mar e água salga- tos guiados pela sede de sangue. Altivos aristocratas, tão
da, com couros apodrecendo em seus corpos graças à ma- insano quanto nobres. Uma raça de amazonas, dedicadas
resia. Mas eles possuíam um recurso que não tínhamos: a proteger as mulheres e a Wyld. Místicos do leste distan-
seus parentes feéricos. tes. Sentinelas das vilas e observadores das matas profun-
das.
Os Bons Primos Aprendemos muito com o período que compartilha-
Os estrangeiros geralmente desconfiam da nossa tri- mos com os Filhos do Cervo. Nós reconhecemos nos-
bo graças aos nossos laços com os mortos inquietos. Te- sos primos entre os estrangeiros, não importando quão
mendo o que eles não compreendem, eles não conseguem diferente suas aparências e modos fossem dos nossos, e
apreciar a importância de nossa conexão com nosso povo. estabelecemos uma aliança entre nós. Com o tempo, per-
Da mesma forma, nós não podíamos – não podemos, para cebemos que seus deveres eram como os nossos; suas leis
falar a verdade, pois a situação se encontra inalterada até semelhantes às nossas.
os dias de hoje – compreender a ligação que os Filhos Apesar do Grande Inverno ter nos expulsado de nos-
do Cervo tinham com seus parentes feéricos. Entretanto, sa terra natal, nós ganhamos algo em nossas jornadas.
apesar de suas naturezas estranhas, no Grande Inverno os Tornamos mais do que éramos antes. Nós éramos parte
parentes fadas do Cervo forneceu ajuda a seus parentes da Nação Garou.
lobisomens. E os Fianna, por sua vez, a compartilharam
É importante perceber que essa migração não aconte-
conosco.
ceu subitamente, nem nenhuma dessas mudanças se deu
Porém, qualquer barganha com as fadas sempre tem da noite para o dia. O Grande Inverno era foi como uma
um custo. Algumas vezes parece ser tão simples quanto eternidade; durou mais do que os Uivadores Brancos já
uma história, ou a promessa de um favor. Inevitavelmen- haviam existido como tribo antes do Inverno começar, e
te, não importando quão pouco pareça ser o preço, tudo durou mais do que já existimos desde então – vidas in-
se mostra ser mais complicado, mais doloroso e mais trá- teiras após vidas. Não era como se, um dia, a tribo intei-
gico do que originalmente imaginado. À medida que o ra apenas desmontasse seus acampamentos e rumassem
23 Uivadores Brancos
Tearlach Tecelã-de-Contos nasceu no vértice entre as
Conflito por Parentes luas crescentes e minguantes. A jovem Tearlach cresceu
fascinada pelas histórias contadas pelos anciões de sua
Um dos temas mais fortes nas histórias do
Grande Inverno é a guerra por Parentes que tribo – apesar de qual tribo seu povo pertencia é uma
ocorreram entre nosso povo e os Filhos do questão de grande conjectura, até os dias de hoje.
Cervo e Fenris. O sangue vital de uma tribo Após sua Primeira Mudança, ela se devotou não ape-
são seus Parentes. E, com as famílias morando nas a aprender os contos, mas também a reconta-los, te-
no gelo, nossa tribo perdeu seus Parentes hu- cendo-os em odes épicas de bravura, honra e astúcia de
manos, era função daqueles de nós que foram seus ancestrais. E não apenas contos antigos: assim como
além das sempre crescentes geleiras assegurar uma tecelã talentosa pode criar inspiradas tapeçarias a
que os Parentes humanos continuariam a ser partir das fibras mais mundanas, Tearlach podia pegar os
parte da tribo. acontecimentos mais mundanos e apresentá-los de uma
Isso incluía fazer qualquer coisa que fosse pos- maneira que mantinha sua audiência enfeitiçada até que
sível para proteger nossos números diminutos a história estivesse terminada.
de Parentes – aqueles cujas famílias foram em- Tearlach nasceu e foi criada durante o Grande Inver-
purradas conosco para a vanguarda da invasão no, assim como a mãe de sua mãe, e a mãe da mãe de sua
do gelo – e buscar novos Parentes entre os hu- mãe antes dela. Seu povo era de grandes caçadores, que
manos que encontramos em nossa migração. viviam no grande gelo que cobria a Caledônia, caçando o
Infelizmente, por nossas primeiras interações cervo gigante e o grande e felpudo gado que eram fortes
com os Fianna, aqueles povos fortes, corajo- o suficiente para sobreviver ao frio eterno.
sos que encontramos nas regiões sul e leste já Uma estação, quando o Inverno era mais cruel e
eram familiarizados com os Garou. Sem qual- amargo do que nunca, mesmo o cervo e as vacas não en-
quer surpresa, suas famílias-lobisomens não contravam sustento nas terras gélidas. Seu povo passou a
gostaram de recém-chegados seduzindo ou caçar roedores e aves, e então a raspar o líquen e mossas
sumindo com seus Parentes, mesmo que os que grudavam nas pedras congeladas. Logo ficou claro
próprios Parentes rapidamente enxergassem a que caso ninguém fizesse algo, o povo de Tearlach mor-
vantagem em se aliar com nossa tribo. reria de fome. Os místicos fizeram seus rituais, mas suas
Muitas lendas dos Uivadores Brancos contem- mágicas não eram poderosas o suficiente para encerrar o
plam essas primeiras contendas por Parentes. infindável Inverno. Os guerreiros ameaçaram o Inverno,
O Casamento do Cervo. Caitlin e Seus Dois mas como uma estação eterna pode se importar com as
Maridos. O Solitário Lobo Vermelho. A Lon- reclamações dos mortais, não importando quão ferozes e
ga Noite de Greum. Apesar que elas possam corajosos eles fossem? Os sem lua tentaram com a maior
ter sido originalmente contadas para ridicula- astúcia possível, os juízes discutiram sobre como proce-
rizar nossos primos, elas tornaram-se um pon- der, mas não houveram respostas encontradas nas leis, e
to principal de nossa herança. Agora, nós as não se pode sobreviver apenas com a tradição. Os fracos
trazemos à tona para lembrar nosso povo dos morreram, os fortes se enfraqueceram e parecia que os
laços que compartilhamos com os Filhos do Uivadores Brancos da Caledônia deixariam de existir.
Cervo – e o resto da Nação Garou também.
para o sul. Polegada por polegada, ao longo dos anos, das
Tearlach e Hélios
Faminta e temendo pelo destino de seus amados, Te-
gerações e dos séculos, fomos expulsos de nossas terras
arlach se despediu de sua matilha e sua família e viajou
natais e entramos em solo estrangeiro. Tão lenta quanto
para o mais longe que podia, ao leste, para fazer seu últi-
inevitavelmente, nossa tribo encontrou, entrou em con-
mo esforço para salvar seu povo e sua terá.
flito, e eventualmente encontrou a paz com aqueles que
moravam nas terras que agora compartilhamos. Quando Hélios estava surgindo no horizonte, ela o
saudou com uivos de respeito, como era o modo de seu

Tearlach Tecelã-de-Contos povo.


“Bom dia, honrado Hélios”, ela uivou, como ela ti-
Apesar de nossa tribo ser conhecida pelos quatro can- nha feito a cada aurora desde que era apenas uma filhote.
tos da criação por nossos uivos de cura e de guerra, o uivo “Você é a luz que nos guia, e o brilho que torna todas as
mais importante da história de nossa tribo pode ter sido coisas possíveis. Sem você, não há nada além de escuri-
um com o qual uma jovem Galliard arrebatou o próprio dão e desespero no mundo”.
Hélios a encerrar o Grande Inverno.
Capítulo Um: História 24
Hélios ouviu suas palavras, como fazia todas as ma- capaz de cantar sua glória e louvar sua beleza. Esse conto
nhãs, e sendo de alguma forma vaidoso, ele brilhou em será o último que tecerei em sua honra”.
satisfação com as orações cantadas em sua direção. Isso, entretanto, fez com que Hélios parasse. Apesar
E, como sempre fez, a corajosa Galliard começou do Incarna pouco se importar com os filhos de sua irmã
a contar uma história onde o grande e glorioso espírito Luna, ele tinha se acostumado a ser louvado toda manhã.
do sol demonstrava sua superioridade a outros espíritos. O sol hesitou no céu, apenas por um momento, e Tearla-
Toda manhã, sua história era uma nova, e destinada a glo- ch apressou-se com seu plano.
rificar o Incarna solar, e o espírito sempre ficava satisfeito “O que me traz grande tristeza. Porque o próximo
com o conto que ela tecia em sua honra. conto que eu tinha preparada para lhe contar? Acho que
Após sua tradicional narração, porém, Tearlach con- é um conto de longe melhor do que qualquer um que já
tinuou. “Nobre Hélios, o gelo e a neve expulsou os últi- contei no passado. Ele captura verdadeiramente a majes-
mos rebanhos, e os caçadores não obtiveram sorte algu- tade de seu brilho, se me permite dizer”.
ma em meses. Meu povo se enfraquece e morre de fome, Hélios ficou intrigado. “É uma pena. Eu teria gosta-
e logo nós não mais existiremos”. do de ouvir essa história”, ele disse. “Talvez você sobrevi-
Outros haviam implorado aos espíritos por ajuda, va mais uma manhã e possa me contá-lo amanhã, antes
mas como normalmente é o modo dos grandes espíritos, de morrer”.
eles possuíam suas próprias visões de mundo e suas ocu- Essa foi a primeira vez que o espírito se importou a
pações. Tendo ouvido seu conto pela manhã, ele não dis- falar com Tearlach, e apesar de sua empatia ter deixado
se nada e continuou seu caminho pelo céu. muito a desejar, ela a assumiu como um sinal de que seu
Porém, Tearlach esperava por isso. “Espero que me plano estava funcionando.
perdoe, grande Hélios, mas temo que essa seja a última “Temo que não será possível”, ela disse, encostando
manhã que eu, ou qualquer pessoa de meu povo, seja em uma rocha. “Mesmo agora, estou fraca e mal posso
encontrar forças para falar. Ao anoitecer, estou certa de vés das árvores, o canto das aves e os sons de outras vidas
que estarei morta. Esse conto sobre seu esplendor, infeliz- que retornavam novamente à Caledônia.
mente, nunca será contado”. Sem as histórias de Tearlach para distrai-lo, Hélios se
O Incarna do sol cintilou, pensando. “Talvez você lembrou de seu dever, e correu pelos céus, como se nunca
pudesse contá-lo agora?” tivesse pausado.
Tearlach fingiu considerar a sugestão. “Acho que po- Mas até os dias de hoje, a cada manhã, enquanto o
deria. Mas estou muito fraca, e minha voz não será levada Incarna do sol surge no leste, ele pausa, já no horizonte,
até os distantes confins do mundo. Os outros Incarnas fi- esperando que ouvirá a voz de Tearlach novamente.

Tempos Antigos
cariam nervosos se você esperasse aqui para ouvir minha
história? Eu n’ao quero que eles o punam por parar para
ouvi-la”.
Com o fim do Grande Inverno, aqueles de nossa
Hélios olhou com raiva, sua fúria crescendo. “Eu não
tribo que permaneceram no gelo enviaram mensagens
sou servo dos outros Incarna! Se decido parar e ouvir seu
a seus distantes primos pelo mundo. Sua mensagem era
conto, farei exatamente isso!”
simples:
Tearlach assentiu, se desculpando por qualquer in-
“Venham para casa”.
sulto que possa ter causado ao grande e poderoso espírito
do sol. Retirando seu pesado casaco de pêlos – a proximi- E para casa eles vieram, dos desertos e das monta-
dade de Hélios espantava o frio do ar – ela começou sua nhas, das longínquas ilhas pelo mar, e das praias do con-
história. tinente. À medida que vieram, eles trouxeram Parentes
com eles, homens e lobos.
Hélios pairou sobre sua cabeça até que Tearlach en-
cerrasse seu conto, e quando ela terminou, ele elogiou a A tribo que se reformou na Caledônia era diferente
Galliard por seu trabalho. daquela que existiu nos tempos mais antigos. Por milha-
res de anos ficamos separados, crescemos em direções di-
“Essa foi, de fato, a melhor história que já ouvi. Es-
ferentes e a reintegração não foi uma tarefa simples.
tou satisfeito por você não ter morrido antes dela ter sido

Nômades e Fazendeiros
contada”. E então ele se preparou para mover pelos céus
novamente.
Tearlach suspirou. “Verdade, verdade, foi um bom Nos mais antigos dos dias, os Uivadores Branco ba-
conto. Mas, infelizmente, acho que, após ouvi-lo, não era seavam-se apenas nos dons dados a nós por Gaia para so-
uma história tão boa quanto outro sobre você na qual breviver. Nossa velocidade. Nossa astúcia. Nossas presas
tenho trabalhado. É uma pena que agora nunca saberei e garras. Nossos Parentes, humanos e lupinos, faziam o
com certeza qual das duas era melhor”. Ela encostou con- mesmo.
tra a rocha, e fechou seus olhos. Quando o gelo expulsou a tribo para fora de nossa
Como ela imaginou, Hélios não apenas pausou, ele terra natal, eles encontraram outras culturas, muitas das
na verdade andou um pouco para trás no céu, até que es- quais eram parte de suas terras por quase tanto tempo
tivesse diretamente acima de sua cabeça novamente. “Ou- quanto nós estávamos na Caledônia, apesar de não serem
tro conto? Melhor do que esse, você disse?” tão próximos a Gaia como nós éramos. Enquanto nós se-
E assim foi, conto após conto, com o Incarna do sol guíamos os rebanhos através de nossas terras, eles doma-
se permitindo ser convencido a ficar por apenas mais uma vam os animais como gado. Onde nós nos apoiávamos
história. em Gaia nos prover as riquezas das florestas e clareiras,
eles cultivavam campos e forçavam sua vontade sobre o
Tearlach contou histórias até que o gelo da Caledô-
crescimento natural de suas terras. Eles viviam em casas,
nia derretesse, e a grama crescesse verde novamente. Con-
enquanto nós dormíamos em qualquer abrigo que podí-
tou histórias até que todos os rebanhos retornassem e seu
amos encontrar.
povo pudesse novamente caçar. Ela contou histórias até
que ela não era mais uma jovem mulher, e sim uma anciã, Essas idéias eram estranhas para nós, claro, e apesar
curvada pela idade, e enrugada e de pele marrom devido de que aprendemos a ver a sabedoria em Gaia com os
aos sempre presentes raios de sol. dons que Ela compartilhou com eles – e através deles,
conosco – não foi uma transição fácil de se fazer. Apesar
Apenas então, quando a primavera novamente tinha
de muitos Uivadores Brancos adotarem os modos dos es-
chegado à Caledônia, e o Grande Inverno encerrado, a
trangeiros com quem vivemos, quando eles retornaram
voz de Tearlach cessou. Hélios pausou, esperando que os
para a Caledônia após o Grande Inverno encerrar, aque-
contos da Galliard começassem novamente, mas não ha-
les que ficaram para trás foram surpreendidos por essas
via mais som, apenas as lufadas de brisas aquecidas atra-
inovações.
Capítulo Um: História 26
À medida que os membros selvagens da tribo e seus beleceu, só retornamos após reivindicar a terra, pouco a
recém-chegados irmãos tentavam despertar caerns há mui- pouco, das mãos de qualquer mal que tivesse cravado ali
to dormentes e reconstruir novas seitas, nossos anciões suas garras.

A Invasão Romana
debatiam se integrar a agricultura e pecuária no modo de
vida dos Uivadores Brancos enfraqueceriam nosso povo.
Aqueles que trouxeram essas inovações com eles reivindi-
cavam que essas habilidades os ajudaram em seus deveres, Quando os malditos invasores de Roma chegaram na
dando a eles mais tempo para enfrentar a Wyrm do que Caledônia, nós não os enxergamos imediatamente como
quando caçavam e coletavam, pois a sobrevivência não inimigos. Nossas lições sobre pular para o conflito com
necessitava mais de tanto esforço. Entretanto, aqueles de nossos primos nos tempos antigos permaneciam conosco
mente mais tradicionais diziam que esses novos modos através de histórias contadas a cada nova geração de Ui-
eram muletas com as quais os membros que retornaram vadores Brancos, e apesar de termos sido cautelosos com
precisavam se apoiar, pois não eram mais fortes o sufi- os recém-chegados, nós demos a eles uma oportunidade
ciente para caçar como Gaia havia planejado. de provar suas intenções.
No fim, cada seita e sua tribo humana de Parentes Não tínhamos a menor idéia.
desenvolveu sua própria visão sobre o assunto. Algumas Isolados em nossa ilha, não tínhamos idéia de como
abraçaram as técnicas completamente, e essas formaram a civilização romana havia crescido, quão preciso era seu
muitas das primeiras reais vilas e cidades da Caledônia. treinamento, quão letais suas armas tinham se tornado.
Outras continuaram a ver esses novos desenvolvimentos Não tínhamos noção da meticulosidade e organização de
com ceticismo, e continuaram a viver um estilo de vida seu exército. Certamente não sabíamos que seus olhos es-
mais nômade, apoiando-se em sua própria astúcia e fero- tavam sobre nada menos que a dominação mundial. Nós
cidade para ajudá-los, e não na agricultura e pecuária. os vimos, e sua falta de habilidades sobrenaturais, e pen-
Em sua maioria, a separação permitiu que vários samos que eles não eram uma ameaça para nossa terra,
pontos de vistas dentro da tribo coexistissem sem os Ga- nosso povo, nossa tribo. Afinal de contas, nós éramos os
rou chegassem à agressão contra seus irmãos. Porém, isso Garou. Os guerreiros escolhidos de Gaia. Que ameaça es-
também levou a um período de isolacionismo tanto dos ses humanos estrangeiros poderiam representar para nós?
Garou fora das fronteiras da Caledônia quanto entre as Nosso orgulho, e a segregação que tínhamos desen-
várias seitas e grupos dos Uivadores Brancos. volvido entre a tribo no período após o fim do Grande
Inverno quase foi nosso fim.
Uma Tribo de Muitos Os romanos primeiros enviaram batedores e explo-
rados para a Caledônia, e então diplomatas. Nós permi-
É estranho, talvez, pensar que existem mais contos
timos que eles entrassem em nossas terras, e observamos
do período anterior ao Grande Inverno do que após o
enquanto nossos Parentes compartilhavam pão com eles
evento. Claro, os bardos de cada seita contam histórias de
em seus castros, fazendas e brochs. Houveram disputas e
suas próprias lendas e vitórias. Mas essas, em sua maioria,
brigas, verdade, mas nossa tribo estava acostumada. As
são únicas para aquela seita, e não para a tribo como um
tribos humanas de nossos Parentes compartilhavam mi-
todo. Uma vez que havia pouca cooperação – ou mesmo
lhares de anos de história e, esse período continha tantas
comunicação – entre os vários ramos da tribo durante
batalhas e guerras entre uma e outra quanto haviam nas-
esse período, e ainda menos com as tribos fora da Cale-
cimentos e casamentos. E, claro, nós, Garou, estávamos
dônia, os contos desse período eram igualmente segrega-
envolvidos em nossa própria guerra, protegendo nossa
dos. Temo que até mesmo nos dias de hoje, muitos con-
terra das depredações da Wyrm e seus servos. Tempos de
tos nunca chegarão aos ouvidos de qualquer pessoa além
paz na Caledônia eram poucos e passageiros. O conflito
das tribos de sua origem.
não era nada que chamasse nossa atenção. Pelo menos,
Mas um declínio nos contos lembrados não deve ser não no começo.
confundido por um abandono do dever. Longe disso.
Porém, meses se transformaram em anos, e batedo-
Não é que nós, Garou, estávamos parados durante essas
res, e então soldados, e depois exércitos inteiros seguiram
gerações entre o Grande Inverno e a invasão romana. Exa-
os diplomatas que visitaram nossas terras. Eles monta-
tamente o oposto. Era um momento de foco, de reclamar
ram acampamentos, que cresceram em fortalezas, que vi-
nossas terras e tornarmos uno com elas novamente.
raram assentamentos tão grandes quanto qualquer uma
Em muitos locais, a Wyrm foi mais rápida do que de nossas vilas tribais. Eles se mantiveram afastados, no
nós para seguir o degelo e retornar ao coração de nossa começo, oferecendo ajuda ou comércio, mas sem interfe-
terra natal. Em qualquer lugar que nossa tribo se esta- rências. Isso não durou muito tempo.

27 Uivadores Brancos
À medida que o tempo passou, o jogo romano tor- furiosos assolavam brochs, e bruxas da noite roubavam
nou-se mais claro. Eles jogaram nossos Parentes uns con- crianças de suas camas e atormentavam grávidas por toda
tra outros, oferecendo proteção a essa tribo, ou ajudando a terra. Aqueles Uivadores Brancos cujas habilidades cor-
a conquistar seus rivais de longa data. Alguns, como os riam mais do lado espiritual do que marcial tinham suas
Orcadii, caíram na isca. Os romanos ofereceram a eles mãos cheias, por tentar acalmar esse súbito levante de
proteção contra os Cornavaii, que habitavam a terra ao atividades sobrenaturais, e mal tinham eles colocado um
sul de suas ilhas, e os Orcadii foram rápidos em aceitar. fantasma para descansar e já eram chamados a lidar com
Logo, porém, eles se encontraram “protegidos” de suas o próximo.
próprias riquezas, seus bens, seus filhos e esposas, e, even- Esse desafio em duas frentes e a atitude separatista
tualmente, sua liberdade. Seus senhores estrangeiros es- nos permitiu nos reintegrar à nossa terra natal após mui-
tupraram tudo que era bom e valioso de suas terras e cul- tas gerações separados durante o Grande Inverno – mas
tura, deixando espíritos quebrados e corpos famintos em a que custo? Com nossa atenção dividida, as disputas que
seu rastro. nossos Parentes experimentavam não atraíam toda a aten-
No entanto, a maior parte das tribos humanas não ção da tribo até que fosse tarde demais.
caiu nos truques romanos, e recusaram a se submeter à
“proteção”. Essa recusa traiu a verdadeira natureza dos Em Guerra Com Roma
romanos, e eles responderam com violência rápida e im- Em questões de guerra, os Uivadores Brancos logo
piedosa, mesmo contra aqueles com quem eles tinham perceberam que enfrentar as legiões romanas de frente
anteriormente buscado como aliados. era inútil; nosso povo não tinha o treinamento e nem os
recursos para enfrentar frente-a-frente com as paredes de
Nossa Tolice escudos e batalhões em uma luta direta. Eles, no entanto,
Muitas das histórias dos primeiros anos da invasão tinham uma vantagem que os romanos nunca possuiriam
romana soam como nossa tribo estivesse negligenciando – a Caledônia era o seu território. De coração e alma, a
nossos Parentes, e talvez por algumas definições isso seja terra era seu lar, e eles conheciam cada colina, cada vale,
verdade. Se estivéssemos mais alertas às interações que cada rio e riacho e suas pedras. Ao invés de enfrentar os
nossos Parentes humanos estavam tendo com os invaso- estrangeiros diretamente, nossas tribos de Parentes usa-
res de Roma, talvez não estivéssemos na posição que hoje ram seu conhecimento da terra, sua aclimatização com o
estamos. clima local e, claro, seus familiares Garou para contraba-
Não é, entretanto, como se nós, os Garou, estivésse- lancear contra o treinamento, armamento e organização
mos relaxando nas divisas de nossos caerns, comendo ja- superior das tropas romanas. Nós atacamos seus acampa-
vali assado e admirando os ornamentos uns dos outros. A mentos, arrasamos seus assentamentos e os atormenta-
invasão dos romanos coincidiu com um período de cres- mos até que eles construíram grandes muralhas de mar a
cente atividade da Wyrm na Caledônia, apesar de que mar em vários locais pela nossa ilha, na esperança de nos
se os dois eventos estavam diretamente ligados ou não, é manter a distância de onde eles se estabeleceram. Por um
um assunto de grande conjectura, até os dias de hoje. Du- momento, pareceu que tínhamos os expulsados de nossas
rante o período que os romanos começaram a se enraizar terras, mas então, sua invasão intensificou-se.
em nossa terra natal; nossos guerreiros estavam constan- Centenas de seus barcos chegaram, alguns tão gran-
temente engajados em batalhas, travando guerra contra des quanto uma pequena vila, sendo propelidos por velas
as grandes criaturas da Wyrm que irrompiam incessante- e remos, até que pareceu que nenhuma onda chegava à
mente da superfície de nossa amada ilha, assolando suas nossas praias sem um barco romano com ela. E nesse mo-
costas e poluindo as florestas e recantos da Caledônia. mento, não foi apenas os soldados humanos que saltaram
Grandes líderes, como Hathawulf Quebra-Lança e Gisel- desses galeões para nossas terras sagradas.
le Sangue-da-Neblina, lideraram suas seitas para derrotar Tempos desesperados pedem por medidas desespera-
esses monstros, mas tinham pouco tempo além de suas das, e apesar de que talvez nunca saibamos quais pactos
guerras para se devotar aos encontros diários de seus Pa- profanos os estrangeiros fizeram para ter uma vantagem,
rentes tribais. ficou claro que não mais lidávamos com forças meramen-
Como a reagir à intrusão dos estrangeiros em seus te mundanas. As tropas fomori – caricaturas deformadas
domínios, os fantasmas de incontáveis gerações de nosso das bravas legiões romanas – transbordaram dos cais e
povo também despertaram de seu sono durante esse pe- das barrigas dessas novas armadas. Alguns evitavam a
ríodo. Espíritos há muito silenciosos escolheram aquele armadura corporal segmentada de seus companheiros,
momento para se levantar e começar a atormentar a ter- precisado de nada mais além de suas ásperas carapaças,
ra. Fantasmas famintos assombravam vilas, poltergeists conchas esmagadas ou couro desbotado de seus corpos
Capítulo Um: História 28
blasfemos. Alguns possuíam três olhos, o terceiro sendo ralmente arrancando o crânio de seus líderes caso a sur-
um orbe amarelada que os permitia a enxergar através gisse a oportunidade.
da escuridão ou ver mesmo o adversário melhor escondi- Nós tomamos grande cuidado em planejar a campa-
do. Outros não tinham olhos, baseando-se em seus tentá- nha. Os romanos tinham recuado bem além de nosso
culos ou línguas sibilantes para pegar informações sobre alcance, isolando seus quartéis generais nas partes mais
seus arredores. Gigantes, altos como árvores, aliados com ao sul da terra que nós chamamos de lar. Seria necessária
criaturas agitadas tão vis que a luz ao redor deles se dobra- uma campanha coordenada de viagem furtiva e ataques
va ao invés de recair sobre sua presença maligna. Onde os orquestrados para conseguir desferir o golpe debilitante
romanos encontraram esses aliados pútridos nós nunca que precisávamos contra seu exército. Milhares de solda-
saberemos, mas os encontraram. Eles os soltaram sobre dos estavam aquartelados além da muralha, centenas de
nossa terra e nossos Parentes e nossos caern com uma fú- fomori e um número inimaginável de antigos caledônios
ria que nossas ilhas nunca esquecerão. traidores que foram levados para o lado romano através
Seus soldados atropelavam nossos campos, queimado de suborno, chantagem ou à força.
nossas matas e envenenando nossos poços. Eles escravi- Esse não era um trabalho para uma única matilha,
zaram aqueles que podiam, mataram e devoraram os que uma seita solitária; seria necessária toda uma tribo.
não seriam escravos e trataram nossas mulheres como se Aqueles que se reuniram no Grande Conselho via-
fossem deles antes de enviá-las para seu destino final. Eles jaram de volta para suas seitas e começaram os prepara-
não mais mantinham a pretensão da diplomacia ou a es- tivos. Meses depois, eles viajaram novamente, dessa vez
perança da paz, e a dura verdade tornou-se clara. acompanhados por todas as seitas de Uivadores Brancos
A menos que fizéssemos uma ação drástica, os ro- que podiam reunir. Em duas ou quatro patas, eles parti-
manos, sem dúvida, maculariam nossa terra, destruiriam ram ao sul através das florestas e vales. Com pequenos
nosso povo e acabariam com nosso dever sagrado. barcos e jangadas, eles passaram as praias e desbravaram
Tínhamos que fazer algo. as ondas de nossos mares brilhantes. Através da Umbra,
acompanhado por qualquer aliado espiritual que pudes-
O Grande Conselho sem reunir para sua tarefa, eles viajaram profundamente
até a terra mantida pelos estrangeiros.
Nossos anciões não podiam mais ignorar a ameaça
que os romanos apresentavam. Eles convocaram uma
grande assembleia, que aconteceu na Ilha de Mull, em Rumo ao Sul
um de nossos mais velhos e sagrados caerns. Centenas A jornada foi longa e perigosa, mesmo para os esco-
de Uivadores, muitos que nunca tinham conhecido mais lhidos por Gaia. Cada seita dos Garou estava acostumada
do que um punhado de seu próprio povo fora de suas aos desafios e perigos de suas próprias regiões, mas rara-
seitas locais, viajaram através de toda a extensão da Ca- mente viajavam além de seu próprio território, e essa jor-
ledônia para participarem do conselho. O Povo de Ce- nada os levou para longe do que era conhecido. Os mo-
rones, cumprindo seu dever, atravessou os viajantes pelo radores da floresta enfrentavam passagens montanhosas.
Firth de Lorn, que fica entre a grande ilha e Mull, até as As tribos que cavalgavam perderam suas montarias para
praias arenosas de Loch Buidhe, onde a Seita do Chifre os vaus selvagens. Aqueles que viviam em ilhas se encon-
Prateado os encontrou, os protetores do Caern do Cervo traram praticamente perdidos longe das praias.
Vermelho na ilha. À medida que viajavam, eles encontraram muitas
Representantes das seitas por toda Caledônia foram ameaças: fantasmas famintos e mortos inquietos, criatu-
até o Grande Conselho, onde os mais sábios, mais co- ras da Wyrm e espíritos maculados. Eles lutaram brava-
rajosos e mais astutos montaram um plano. Apesar da mente antes de continuar sua jornada, sempre evitando a
organização dos exércitos romanos tornar difícil para der- atenção das patrulhas dos guardas romanos, grupos seus
rotá-los em uma batalha aberta, eles se baseavam bastante colaboradores fomori ou simpatizantes dos invasores es-
na direção e supervisão de seus líderes, tanto no planeja- trangeiros.
mento estratégico quanto no campo de batalha. Muitas Meses passaram, à medida que os maiores guerreiros
disputas viraram a nosso favor quando matamos o líder e de Gaia rumavam ao sul da muralha e reuniam-se em
levamos suas forças ao subsequente caos. acampamentos clandestinos próximos de cada quartel ro-
Percebendo isso, nossos anciões formularam um pla- mano. Eles se organizaram, de acordo com o plano dese-
no desesperado. Eles levariam a batalha além das mura- nhado pelos mais velhos e mais sábios da tribo, e aguar-
lhas para os acampamentos mais fortemente guardados daram o momento certo. Então, na noite em que a lua
dos romanos e decapitariam o exército estrangeiro, lite- estava cheia e a neblina era densa o suficiente para cobrir

29 Uivadores Brancos
sua aproximação, os melhores e mais brilhantes da tribo orgulho de sua vitória, no entanto, poucos dos Uivadores
atacaram cada um dos quartéis generais romanos em um Brancos ouviram e seus companheiros mais confiantes
esforço coordenado que não deixou qualquer oportuni- rapidamente desaprovavam aqueles que ficavam em silên-
dade de retirada, e pouco para a retaliação. cio.

Batalha com Roma Semanas passaram, e à medida que os Garou conti-


nuavam a ir para casa, os sinais ficaram mais fortes. Os
Muitos Uivadores Brancos morreram nessa noite, oráculos da tribo estavam quase cegos com um ataque
mas muitos, muitos mais estrangeiros caíram, incluindo de visões proféticas de morte e destruição, corrupção e
todos os líderes presentes. Na verdade, os Garou condu- profanação de tudo que era certo e bom. Temperamentos
ziram a carnificina com muito menos sacrifício de sua conflagraram e aqueles que foram ligados através das ba-
parte do que era esperado. talhas ficaram ríspidos e rudes uns com os outros. Acusa-
Os Uivadores Brancos esperavam ter que lutar para ções de roubo, desonestidade ou pior surgiram entre anti-
entrar nos quartéis romanos, passar as legiões fomori e gos companheiros de escudos, e o senso de camaradagem
as humanas. Ao invés disso, eles encontraram as defesas que havia surgido nos dias antes do ataque aos quartéis
de seus inimigos apenas levemente guarnecidas e esparsa- romano desapareceram como névoa no sol do meio-dia.
mente guardada em todos os fortes. Os batedores Garou Alguns temiam que o ar de apreensão que assolou
passaram despercebidos dos guardas romanos como se os os viajantes era um sinal de emboscada; eles começaram
últimos fossem cegos e surdos, tomando os portões ao a ver rastreadores estrangeiros em seus calcanhares e re-
longo do perímetro das fortalezas. Uma vez lá dentro, as cusaram a pausar para acampar, ou comer, ou descansar,
forças iniciais abriram caminho para o resto dos Garou, forçando a si mesmo e a seus companheiros à exaustão.
e matilha após matilha dos guerreiros mais poderosos de Eles atravessaram a primeira das muralhas romanas, pa-
Gaia irromperam pelo caminho, uivando e rasgando, em rando apenas para marcar as pedras cuidadosamente co-
cada uma das construções romanas. locadas com as águas amarelas de seu desprezo à medida
Eles destruíram tudo dentro das muralhas – quar- que reivindicavam o que tinha sido tomado deles.
téis, arsenais, construções. Eles rasgaram, queimaram e Quanto mais longa continuava a jornada, mais tor-
deixaram em ruínas tudo construído por mãos romanas nou-se claro que algo estava errado. Quando eles atraves-
ou pelos esforços dos caledônios escravizados por seus saram a muralha norte, os sinais tornaram-se inconfun-
mestres estrangeiros. Os Garou destruíram as fortalezas, díveis. Fosse na Umbra ou no reino mortal, cada dia de
e seus habitantes, matando milhares. Quando o sol se er- viagem tornava-se repleto de perigo – espíritos maculados
gueu acima das fortalezas arrasadas, todos os estrangeiros da Wyrm emboscavam os viajantes, assim como animais
dentro das muralhas estavam caídos sem vida, seu sangue distorcidos tocados pelas frias garras da Wyrm, fantasmas,
manchando o solo da Caledônia. Um pequeno pagamen- carniçais e monstros mortos-vivos. Quanto mais ao norte
to contra as feridas que eles causaram em nossa terra e iam os Garou, piores tornavam os ataques, até que toda
nosso povo. noite fosse um cerco, e toda pausa para descansar era um
Com a aurora, as névoas, e nossas matilhas, desapa- convite para a batalha. Ao longo do caminho, os Garou
receram nas matas e começaram a longa jornada de volta que retornavam descobriram fossos devastados onde ser-
para casa. Nessas primeiras noites, seus passos eram leves, vos da Wyrm eram criados abaixo do solo e começavam
apesar dos companheiros que perderam, pois seus espí- a macular tudo o que os cercava. Os Uivadores purifica-
ritos flutuavam com o conhecimento de que sua grande ram aqueles que podiam, fecharam aqueles que não con-
demanda tinha sido um sucesso. À medida que viajavam, seguiam purificar e correram ainda mais rápido para suas
seus uivos de vitória ecoavam através das colinas, já que seitas, com uma pesada capa de horror em seus ombros.
os Parentes lupinos pegavam suas canções e deixavam as Alguns dizem que foi a Seita da Garça Cinza quem
florestas ressoando com os cantos de seu triunfo. primeiro descobriu a fonte de mau presságios, outros di-
Suas canções de júbilo, no entanto, não duraram zem que foi a Maré de Sangue, ou o Cume Quebrado,
muito. ou o Vento Ininterrupto. No fim, pouco importa quem
derramou a primeira lágrima por seus companheiros ca-
O Longo Caminho de Casa ídos, ou de quem foram os uivos de luto, ranger de den-
Os primeiros sinais que alguma coisa não estava certa tes e cabelos arrancados devido ao horror. No fim, todo
foram sutis, pesadelos assombraram nossas fogueiras onde Garou chegou até esse horror à medida que retornavam
sonhos proféticos normalmente aconteciam, e sussurros para suas casas e as encontravam violadas. Nenhuma sei-
enrolados de maus presságios passavam quietamente en- ta permaneceu intacta. Todos os locais sagrados estavam
tre os espíritos aliados dos Garou. Caminhando com o profanados com sangue, bile e lágrimas dos inocentes.
Capítulo Um: História 30
Todas as tribos de Parentes agora estavam maculadas gra- rasadas até o chão, apenas os fragmentos de marfim de
ças ao toque dos profanos. ossos queimados davam o testemunho daqueles consumi-
dos em chamas.
Retaliação Porém, não importa quão cruel tivesse sido suas mor-
Independente de qual região para qual voltavam os tes, elas foram piedosas comparadas com o destino da-
Uivadores Brancos que participaram do ataque, a tragé- queles que sobreviveram.
dia que encontravam era a mesma. Seus inimigos não fi-
caram parados durante o ataque Garou. À medida que O Destino de Nossos Parentes
os aparentemente triunfantes guerreiros retornavam para Os meses em que seus guardiões metamorfose pas-
sua terra natal, eles descobriam medonhas evidências de saram em campanha, levando a guerra até os romanos,
grupos invasores romanos. Eles também descobriram por- deixou nossos Parentes comparativamente indefesos. As
que os fomori aliados dos estrangeiros estavam ausentes invasões dos fomori tomaram vantagem dessa vulnerabi-
durante a batalha. lidade – em todos os sentidos da palavra. Aqueles Paren-
Onde quer que seus Parentes viviam, fosse matilhas tes que sobreviveram o massacre inicial ficaram tão ma-
de lobo em florestas profundas ou fortalezas em colinas culados pelas memórias dos ataques fomori, mas também
atrás de muralhas resistentes, apenas ruínas existiam. Os pelo veneno de suas palavras, de seus feitos... e de suas
sortudos caíram nas primeiras ondas do ataque, rasgados sementes.
membro a membro ou esviscerados com garras tão ma- Alguns transformaram-se em fomori, corpos e espíri-
culadas que nenhuma criatura natural se aproximaria o tos deformados pela corrupção carregada por seus agres-
suficiente do cadáver para se alimentar dos restos mor- sores. Vilas inteiras se transformaram em grupos de guer-
tais. Cadáveres estavam pendurados em árvores e caibros, ra canibais. Matilhas de lobo que antes caçavam junto a
estrangulados e enforcados com suas próprias entranhas. nossos lupinos foram transformados em cães infernais,
Cabeças, membros e outras partes do corpo estavam de- bestas monstruosas que destruíam todo ser vivo no qual
sencontrados, em uma trama de cadáveres, como profa- pudessem afundar suas cruéis presas amarelas. O perfeito
nas bonecas montadas por uma criança cruel. Clareiras potencial foi transformado em algo macabro, nossos Pa-
florestais e fortalezas de madeira estavam em ruínas, ar- rentes atacavam o interior das terras que antes protegiam;

31 Uivadores Brancos
continuaram com o terror dos ataques romanos muito
tempo depois que seus “criadores” já tinham sua atenção A Narrativa de Morag
em outro lugar. É aqui que meu papel como contadora de len-
Outras evidências do veneno dos fomori demorou das termina, e meu lugar como uma oradora
mais tempo para surgir. Os fomori visitaram crimes em do que eu vi começa, pois meu próprio passa-
nossos Parentes muito piores do que a tortura ou o assas- do, antes de minha Primeira Mudança, é para
sinato. À medida que semanas e meses os drogavam, suas mim um mistério.
barrigas incharam profanamente rápido no despertar da Nasci, para todos os propósitos, de um frenesi
fúria dos fomori. As coisas que emergiram não eram Pa- repleto de Fúria. Meu berçário foi a ruína de
rentes e nem Garou. Garras envenenadas rasgavam seus um lugar que não consigo me lembrar, man-
caminhos para fora dos úteros dos Parentes. Monstros es- chado de sangue, e repleto de cadáveres da-
camosos nasceram onde esperançosos corações rezavam queles cujos nomes eu não me lembro.
para bebês humanos ou filhotes lupinos. Monstros de Esse fardo eu carrego, pois me lembro de tudo
meio espírito esganavam suas mães antes de respirar pela que vem depois. Esse é o preço que pago, pois
primeira vez, e então fugiam para a escuridão para encon- nunca serei capaz de esquecer.
trar outra presa.
A Wyrm tinha se consolidado na Caledônia da forma isso minou nossa vontade. Cada golpe contra nossos Pa-
mais dolorosa possível – nos espíritos, mentes e corpos de rentes transformados quebrou nossos espíritos de forma
nossos amados Parentes. Seus números foram reduzidos que a destruição de seus criadores nunca poderia fazê-lo.
à metade, e à metade novamente, até que encontrar um Esse amargo dever continuou por muito mais tempo
humano ou lobo com nosso sangue em suas veias fosse do que qualquer um podia ter imaginado, mais tempo do
como procurar por um único peixe em um mar eterno de que qualquer tribo pudesse suportar. Anos após os fomo-
sangue e lágrimas. ri terem partido, nossos Parentes maculados ainda davam
O que se seguiu foi uma guerra como os Uivadores à luz à sua prole com uma frequência de cortar o coração.
Brancos nunca se viram travando. Aqueles que retorna- A mácula da Wyrm corria profundamente, e nossa pró-
ram, aqueles poucos que ficaram para trás e sobrevive- xima geração morreu em seus berços, sufocando em suas
ram, e nós que passamos pela nossa Primeira Mudança próprias línguas mal-formadas ou estrangulados por pais
nos dias que seguiram o ataque fomori se reuniram, e aterrorizados pela maldade de seus corpos. Aqueles que
partiram para a caçada. sobreviveram enfrentavam um destino ainda mais cruel,
condenados à loucura, mesmo quando crianças. Conde-

O Funesto Final nados à depravação mais asquerosa por sua juventude. À


corrupção. À mácula.
Gostaria de poder dizer que tudo que veio após foi Nós suportamos a destruição de nossos Parentes
um borrão, mas isso não seria uma verdade. Eu me lem- como capas de ferro sobre nossos ombros, trajes tecidos
bro de tudo com detalhes: cada batalha, cada inimigo e de culpa e dor que tempo algum nos permitiria superar.
cada golpe dos anos horríveis que se seguiriam. Nós libe- Ainda assim, mesmo após termos matado nossos
ramos nossa Fúria nos fomori sem nenhuma restrição. inimigos e retornamos nossos Parentes maculados ao ci-
Vivemos vidas de vingança até que estivéssemos seguros clo novamente, mesmo quando nossos corações estavam
de que todo monstro maculado fosse purgado de nossa quebrados e nossos espíritos oprimidos, mesmo então
terra e nossas vidas – apesar de que não de nossas memó- nosso trabalho estava longe de terminado. Assim como
rias. nossas famílias tinham sido corrompidas, também tinha
Perdemos muitos nesses anos, muito mais do que no sido nossas terras.
ataque dos quartéis romanos. Ainda assim, nenhum de E, não importando quão ferido estávamos, de corpo
nós que caiu, morreu com arrependimento em nossos co- ou espírito, nosso dever nos intimava a purificá-la.
rações. O preço não era alto o suficiente quando medido
contra todos os erros infligidos.
O dano dos fomori, no entanto, não encerrou quan- Uma Terra Maculada
do eles perderam suas vidas. Ainda caiu sobre nós poli- Os servos de Roma golpearam profundamente no co-
ciar os males que eles tinham criado, atacando nossos ração de nossa terra natal, rompendo os santuários proi-
próprios Parentes que tinham sido corrompidos em algo bidos e locais profanos que nossa tribo passou milhares
irremediável, e os monstros nascidos da violação dos fo- de anos selando. Eles abriram todo lugar sombrio, toda
mori. Com corações pesados, assumimos essa tarefa, mas doença grande demais para ser completamente curada,

Capítulo Um: História 32


vididos pela diversidade de nossos Parentes, mas unidas
Servos ou Mestres? na enormidade de nossa dor e perda. Formamos grandes
matilhas com mais membros do que uma seita inteira po-
Eu falo sobre os fomori como servos de Roma,
pois eles apareceram para nós nas fileiras das deria ter reunido anteriormente, e caçamos os males em
legiões. Entretanto, muitos acham que a situa- seus lares, destruindo e aprisionando-os antes de nos di-
ção não era como primeiro foi imaginada. recionarmos para o próximo do que parecia ser um mar
eterno de alvos. Nós nos dirigimos ainda mais ao norte,
O exército romano, com suas fileiras e orga- torcendo, além da esperança, varrer nossa terra e puri-
nização além de toda medida humana, falava ficar a mácula que a infectou enquanto seguíamos com
fortemente da influência da Weaver, mesmo nossa campanha contra os líderes romanos.
que não estivessem cientes de sua real serven-
tia. Se as lendas são verdadeiras, algo mudou Foi lá, junto às costas noroeste, que rastreamos o úl-
dentro da natureza dos estrangeiros quando timo dos Malditos: mais ao norte do que os caerns sagra-
os fomori chegaram. dos dos Cerones, mais ao oeste do que as terras manti-
das pelos videntes Smertae. Em uma terra desolada de
Caos rastejava entre as fileiras antes contidas. rochas irregulares e arrebentações ensurdecedoras, onde
Soldados organizaram motins e se rebelaram nada vivo sobrevivia ao hostil casamento da terra e do
onde nunca haviam ousado antes. A corrup- mar, onde apenas tempestades e pesadelos nasciam, nós
ção cresceu em suas cabeças imundas, mais encontramos o Fosso.
alto do que as bandeiras de águia que os exér-
citos carregavam.
Os romanos permitiram a Wyrm em suas filei- O Grande Fosso
ras ao recrutar guerreiros fomori caídos para É o modo da Wyrm emboscar abaixo do solo. Nossa
seu exército? Foram os fomori a corroer o aço terra possuía muitas cavernas e túneis labirínticos abaixo
de suas legiões de dentro para fora? Ou foram de sua superfície, e nós arrancamos os servos da Wyrm
os romanos que vieram para servir as forças abaixo da superfície tão facilmente quanto acima. Mas
do mal, entregando-se à canção da Wyrm e isso? Isso era diferente.
recrutando alguns servos mais fortes para seu Nós forçamos nosso caminho até o Fosso, destruin-
auxílio? do espíritos malignos e monstros distorcidos. As mura-
No fim, pouco importa, eu suponho, pois o lhas de pedra ressoavam com nossos gritos de batalha e os
resultado foi o mesmo. A legião virou-se para gritos de nossos inimigos. O solo rasgado abaixo de nos-
a Wyrm, e a Caledônia suportou o impacto sos pés corria vermelho com o sangue deles e preto com
dessa nova aliança. a sujeira que eles derramavam à medida que suas vidas
malignas se encerravam em nossas garras e lâminas. Cada
cada campo de procriação de Malditos previamente fe- vez mais profundamente abaixo da superfície nós fomos,
chados por uma eternidade, e a poluição espiritual corria muito mais longe do que qualquer um de nós já tinha
nos rios de icor e mácula pelas terras. O solo em si chorou viajado no subterrâneo. Suas forças ficaram mais fortes à
com sua profanação, afundando em bocarras cavernosas medida que seguíamos, e muitos de nossos heróis caíram
que consumiram vales inteiros ou se rasgando em fervor enquanto descíamos para as próprias entranhas da terra.
de sua tristeza, deixando aberturas subterrâneas que se
Por fim, o último de nossos inimigos caiu, e o túnel
estendiam profundamente no subsolo. Desses locais pro-
caiu em silêncio com sua morte. Alguns pés adiantes, já
fundos emergiam legiões de Malditos e seres que apenas
além da batalha, uma passagem estreita se abriu para uma
a alma mais depravada poderia sequer imaginar.
câmara. Nessa câmara estava um portal de rodopiantes
Com o passar das semanas, meses e anos que se pas- cores escuras demais para serem realmente discernidas.
saram, fizemos o que podíamos para consertar os erros. À medida que observávamos, ele aumentava e diminuía,
Mas mesmo os heróis de antigamente, as lendas de nos- brilhando como uma bolha oleosa que pudesse, a qual-
sas eras místicas, não foram ferozes o suficiente para des- quer momento, estourar e liberar o que quer que estives-
truir completamente os erros de sua época, nem foram os se do outro lado.
melhores místicos de nossa tribo fortes o suficiente para
Nós entramos na câmara, cautelosos com uma possí-
dobrar os espíritos para as causas do que era bom e cor-
vel armadilha, e aproximamos do portal com ainda mais
reto. Nós, agora, com corpos feridos e almas cicatrizadas,
cautela. Nossos videntes e aqueles adeptos das visões fa-
fizemos o que podíamos.
laram sobre a maldade desse lugar, e uma maldade ain-
Nós trabalhamos juntos de uma forma que nossa tri- da pior que estava além. Os símbolos ao redor do portal
bo raramente havia conseguido no passado, não mais di-
33 Uivadores Brancos
enlouqueceram um Theurge, que fiou babando em sua
boca como um cão raivoso. Os outros aumentaram seu Decisões
cuidado, temerosos por compartilhar seu destino. Ainda Alguns tentaram entrar no portal naquele dia. Eles
assim, a necessidade de saber o que estava além, o que uivaram, babaram e rosnaram dizendo que aquele era
estava no coração desse fosso, os levou adiante. nosso dever, nossa obrigação, nosso dever. Ali era o cami-
Enquanto eles trabalhavam, nós nos reunimos ao nho para o coração da Wyrm, e nós estávamos destinados
redor do portal. Alguns se aproximaram por mórbida a percorrê-lo – a enfrentar a Besta em seu lar, a ter nossa
curiosidade, outros esperavam proteger os videntes do vingança por todas as transgressões contra nossa terra,
que quer que pudesse emergir do portal para impedir que nossos Parentes, nosso mundo.
eles usassem suas magias. Nós nos aproximamos, como se Outros discutiram que nós não sabíamos o suficien-
incapazes de manter a distância. Perto demais para ouvir te, que não tínhamos o suficiente de nossa tribo conosco
os sussurros do outro lado. Perto demais para sentir a para seguir com tamanho desafio. Nossa matilha, apesar
brisa fantasmagórica, fria como o Grande Inverno e sem de grande como a maioria das seitas de outrora, dificil-
vida como uma sepultura. Perto demais para pegar vis- mente poderia esperar matar a própria Wyrm em seu lar,
lumbres do que estava além desse portal rodopiante – es- sem auxílio.
curidão, o tipo que parece consumir toda luz, e de algum De um lado para o outro, eles enfureceram, discuti-
lugar dessas trevas, uma espiral semelhante a nada que já ram e bajularam, até que para a surpresa de todos – in-
havíamos visto antes. cluindo a minha – minha voz soou na caverna, e todos se
Os Theurges consultaram seus ancestrais; falaram silenciaram à minha volta.
com espíritos que pudessem responder seu chamado em “Vocês estão cegos?”, eu me vi perguntando. “Não
um lugar tal como esse, jogaram ossos, entraram em tran- podem pensar além desse momento?”
ses e executaram todo tipo de rituais para ajudá-los em sua Murmúrios e resmungos encheram a caverna, mas
demanda. A resposta veio para eles, que apesar de não ter eu não me importei.
sido uma surpresa, era preocupante. A passagem condu-
“Vocês buscam desafiar a Wyrm em seu lar, onde ela
zia através da Película e para dentro do próprio Malfeas.
é mais poderosa?”
O caminho levava para o coração da Wyrm.
Um rugido estremeceu a caverna, tão grande que as

O Caminho da Espiral
pedras caíram do teto e a poeira surgiu na escuridão, à me-
dida que os mais ferozes e furiosos daqueles ali reunidos
Eu ouvi muitos relatos dessa espiral nos dias que se uivaram seu desejo de atravessar o portal sem esperar por
seguiram. Cada conto contradiz os outros, para não men- mais um momento sequer. Para enfrentar o mal, onde ele
cionar o que eu mesmo testemunhei nesse dia. residia. Para vingar nossos amigos e familiares caídos.
Alguns falam de um rio oleoso, circulando para baixo “Vocês são tolos!”
na direção do estômago do esquecimento. Outros viram A caverna ficou em silêncio novamente.
uma trilha reluzente como obsidiana, cada polegada mais “Como vocês podem considerar entrar na passagem
afiada e mais irregular do que as anteriores. Uma vidente, agora, quando o resto de nosso povo não sabe nada do que
conhecida por seu trabalho com os espíritos dos mortos encontramos aqui? E se nossa entrada quebrar as amarras
inquietos, disse que viu uma mortalha abaixo onde grita- desse portal? Vocês liberariam o que quer que além dele
vam incontáveis almas amaldiçoadas à escuridão eterna. sobre o resto do mundo? Seus Parentes não sofreram o
Ela pensou que reconhecer algumas das vozes, e a simples suficiente? Vocês entregariam à própria Wyrm a entra-
idéia causou listras brancas em seu cabelo que não esta- da em nossas terras, tudo porque são impacientes demais
vam ali antes de entramos na caverna. para pensar com suas cabeças, e não com suas garras? Não
Quanto a mim, talvez foi algum truque da escuridão, aprenderam nada com sua batalha ao sul?”
ou da minha imaginação, mas eu não vi rochas ou água Tão surpresa quanto eu estava ao me ver falando, fi-
na cintilante espiral. Eu vi uma serpente, brilhante e po- quei ainda mais de perceber que os outros estavam ouvin-
lida, suas escamas cada uma maior do que qualquer um do minhas palavras. Todos de nós ainda suportávamos o
dos escudos dos soldados romanos. Ela se retorcia e tran- peso do que tinha acontecido com nossos Parentes du-
çava sinuosamente, me convidando a percorrer o cami- rante nossos ataques aos romanos. Ninguém estava dis-
nho mortal em sua espinha, até a obscuridade em seu posto a discutir se valia o risco infligir tais horrores a eles
centro. Em algum lugar, mais abaixo do que era possível novamente, não se houvesse uma outra opção.
enxergar, eu juro que podia sentir o lânguido piscar de
uma pálpebra, e o brilho de veneno pingando de uma
presa de ônix.
Capítulo Um: História 34
Um Chamado Anunciado Apenas silêncio venho em resposta.
Cada augúrio uivou sua súplica, e todos eles foram ig-
Assim, deixando guardas e mensageiros na caverna norados. Faltando estavam apenas as vozes daqueles cujos
para observar o portal, nós retornamos para nossas seitas papéis eram cantar as histórias de antigamente, e de teste-
levando a palavra do que tínhamos visto. Reconhecendo munhar a composição de novas histórias. Apenas os Can-
que isso era mais do que uma questão de nossa própria tores não emprestaram sua voz a essas súplicas.
terra e povo, enviamos notícias para todas as tribos da Na-
Ouvimos os sussurros dos mais sábios, falando sobre
ção Garou. Através de mensageiros espirituais e Pontes
os efeitos de manter o portal em observação por tanto
da Lua, através mensageiros a cavalo e de barcos, usamos
tempo, e sobre os destinos que eles temiam que nós en-
qualquer forma possível para convencer as outras tribos a
frentássemos quando o portal fosse finalmente aberto. Es-
vir e nos ajudar, na mais sagrada das tarefas.
peramos com os Místicos e Batedores, os Guerreiros e os
Combate a Wyrm Onde Ela Proliferar Onde Estiver, Juízes, enquanto eles enviavam seus uivos, e vimos a dor
afinal de contas. A Litania é clara, e a lei não é apenas nos- e a resignação nos olhos de nossos companheiros de tribo
sa, mas dada por Gaia a todas as tribos. Certamente eles quando suas súplicas permaneceram sem resposta.
se uniriam a nós, não é? Achávamos que eles pulariam na
Então nós não cantamos nossa súplica aos Galliards,
oportunidade de atacar nosso inimigo profundamente em
não emprestamos nossas declarações para aquelas que já
seu coração serpentino, certo?
tinham alcançado ouvidos surdos. Ao invés disso, como
Nós estávamos errados. também é o nosso papel, nós uivamos as profecias para os
Nossos mensageiros encontraram diplomacia em al- Garou, palavras nascidas do destino e predições destina-
guns lugares. Outras audiências ofereceram a descrença, das a serem cumpridas, apesar de que ainda não sabíamos
ou suspeita, ou aberta hostilidade. Sejam por impedimen- exatamente como.
tos bem-educados, ou promessas de considerar a possibi- “Ouçam, vocês que dão as costas a nós,” cantamos.
lidade, os resultados foram os mesmos. As respostas for- “Ouçam e lembrem de nossas palavras, apesar de fingirem
maram uma harmonia de rejeição, e a Nação nos deu as que não as escutam. Não marcharemos para nosso destino
costas. com cabeças baixas, por mais desgostoso que pareça ser.
Entretanto, não aceitaríamos a recusa levemente. Nós Nossos corações estão cheios, pois sabemos que fazemos
quem tínhamos visto o portal, visto o caminho em espiral nosso dever. Nós dançaremos a mais negra das espirais até
negro como o piche, nós sabíamos o que estava em ris- o coração da Wyrm e venceremos ou perderemos; nós en-
co. Cada um de nossos augúrios reuniram, procurando contraremos nosso destino com nossas cabeças erguidas.
os Garou que compartilhavam a mesma lua de nascença. Nosso conto não acaba aqui. Nossa canção continuará”.
Eles solicitaram, cada um de sua própria maneira, para Como imaginávamos, não houve resposta.
aqueles mais próximos compartilhassem seus deveres, en-
viando mensagens desesperadas através do globo. Hoje
“Venham,” disseram os Místicos. “Nossa vontade está Agora nos reunimos. Nosso povo: todo batedor, todo
minguando como a fina lua, nossos corações estão pesa- guerreiro, místico, curandeiro, reunido aqui em uma onda
dos e nossos espíritos estão fracos. Venham deixar a luz de de corpos que vai da caverna até a superfície. Por causa de
sua sabedoria nos guiar através desse terrível lugar escuro”. meu dever com o Leão, estou aqui na entrada do Fosso, e
Não houve resposta. conto minhas histórias enquanto meu povo marcha para
as profundezas. Eu me unirei a eles, quando a aurora che-
“Venham,” disseram os Batedores. “Nosso caminho
gar e minhas histórias chegarem ao fim. Será necessário
adiante é trançado, e estamos incertos de qual seguir. Ve-
cada um de nós trabalhando em conjunto para ter uma
nham nos ajudar a encontrar o caminho para a vitória e
chance de sucesso.
para a vingança”.
Para ter uma chance de sobreviver.
Não houve resposta.
Mas a noite já se foi pela metade, e minha história está
“Venham,” disseram os Guerreiros. “Nossas armas es- longe de estar terminada. Eu contei sobre nossa história,
tão cansadas nos ossos de nossos inimigos, nossos escudos nosso passado e nosso presente, mas há muito mais sobre
estão destruídos, e a maior das batalhas está diante de nós. nós. Eu não falei nada sobre nossos Parentes, nossa cultu-
Venham nos emprestar seus braços, suas garras e suas pre- ra, nossos modos. O Leão me pediu para contar tudo, e
sas, e nós mataremos a Wyrm de uma vez por todas!” farei o meu melhor.
Não houve resposta. A lua está ao fundo.
“Venham,” disseram os Juízes. “A lei é clara, e deve- Devo prosseguir.
mos obedecer. Venham nos ajudar a mantê-la!”
35 Uivadores Brancos
Capítulo Dois:
Cultura
Eu falei sobre a história do meu povo, mas isso é mas não retornaram ao ciclo. Sejam Garou ou não, nos-
como contar a forma de algo sem dizer sobre sua natu- so povo é parte do mundo à nossa volta, e eles possuem
reza. Nós somos mais do que o nosso passado, mais do um espírito assim como toda rocha, ou esquilo, ou tem-
que nosso presente e mais do que qualquer coisa que pos- pestade. Quando eles morrem, seus espíritos deveriam se
sa vir em nossa futura aurora. Nós somos os Uivadores voltar para Gaia para um dia serem chamados de volta
Brancos, e nos conhecer é conhecer nosso dever, nossos ao Seu dever sagrado. Mas algumas vezes, uma alma está
modos, nossas mentes e nossos corações. tão proximamente ligada ao reino mortal, seja através do

Nossos Deveres
medo, ganância ou um desejo por vingança. Essa alma
não é mais a pessoa que era antigamente, não mais capaz
de argumentar ou de uma escolha verdadeira de ação. É
Gaia criou todos os Garou para combater a Wyrm e o nosso fardo proteger os vivos daqueles que se foram e,
proteger tudo o que a Mãe criou – o mundo e a Umbra, quando possível, devolver aqueles muito ligados a esse
o físico e o espiritual – das máculas, corrupção e destrui- mundo ao ciclo, para que eles possam novamente conhe-
ção. Mas nossa Mãe deu a cada tribo tarefas adicionais, cer Gaia e sua compaixão.
tarefas das quais somos os unicamente adaptados, e com
os Uivadores Brancos não é diferente.
Primeiro, nós somos os guardiões de nossas terras, e Parentes
nossos corações e espíritos estão conectados à Caledônia Nossa tribo não está sozinha. Apesar de sermos fe-
de uma maneira que a maioria das tribos acha impossível rozes e nobres, fortes e dedicados, sem nossos Parentes
de compreender completamente. Quando o Grande In- não seríamos nada. Nossas mães, pais, irmãs e irmãos,
verno forçou a maioria de nós a sair de nossas terras na- de duas ou quatro patas, nos dão raízes para sobreviver
tais, isso mudou nosso povo de uma maneira profunda e as tempestades mais severas. Eles cuidam dos ferimen-
fundamental. Muitas das gerações que vieram depois que tos de nossos corpos, corações e espíritos, nos tornando
retornamos foram gastas nos reinventando como uma tri- completos quando a destruição da Wyrm teria nos devas-
bo e nos comprometendo novamente com esse dever pri- tado. Eles nos inspiram quando estamos lânguidos, nos
mário. apoiam quando vacilamos, e nos dão sabedoria de uma
Nosso segundo dever, não menos sagrado do que o forma que não poderíamos encontrar sozinhos. Nossos
primeiro, é cuidar daqueles que se foram antes de nós, Parentes são o coração da nossa tribo.

Capítulo Dois: Cultura 37


Lobos da Caledônia Como os Uivadores Brancos
A morte silenciosa sob patas brancas como a neve,
nossos Parentes lupinos são inigualáveis em sua ferocida-
de, astúcia, velocidade e furtividade. Seu pelo é branco Ganharam Seu Nome
prateado como o nosso em nossas formas lupinas, com Os Garou da Caledônia nem sempre tiveram
marcas cinzas escuras tornando-os praticamente invisível o nome que eles agora portam. Quando Gaia
seja nas margens enevoadas das praias ou nas profundezas deu origem aos seus filhos favoritos e deu a
das florestas mais escuras. Suas patas são longas e fortes, eles o protetorado sagrado de suas ilhas mais
e eles possuem a uma altura e meia e mais de duas vezes bonitas, eles estavam isolados dos outros fi-
o volume dos cães de caça mantidos por nossos Parentes lhos lobos-metamorfos por distância e dever.
humanos. Os contadores de história dizem que nos tem- Tendo contato com nenhum estrangeiro, eles
pos mais antigos, antes e durante do Grande Inverno, não precisavam de um nome tribal para se di-
não era incomum para nossos Parentes rivalizar com um ferenciar dos outros lobisomens. Eles eram
homem em altura mesmo com todas suas patas no chão. simplesmente Garou.
Apesar de raro nesses tempos, ainda é algo sem preceden- Foi apenas após o Grande Inverno varrer as
tes, uma circunstância assim gerou muitas lendas entre os ilhas, expulsando os Garou da Caledônia até
humanos. o continente, que eles encontraram outros
Nenhum animal é mais rápido na floresta do que lobisomens. Esses primeiros encontros fo-
nossos lobos; um cão de caça pode se distanciar deles em ram bem confusos. Algumas vezes os Garou
uma campina aberta, mas nas matas, nossos Parentes são da Caledônia e seus primos continentais tro-
imbatíveis. Seus pêlos são espessos o suficiente para atra- cavam histórias e produtos, outras vezes, so-
vessar bosques cerrados e como se estivessem passando cos e insultos sangrentos. Os lobisomens do
pela neblina, e sua força e velocidade os torna impossí- continente eram corajosos e fortes, mas os da
veis de se fugir quando eles estão atrás de sua presa. Um Caledônia possuíam a vantagem de gerações
urso ou javali crescido podia ser páreo para um único no terreno cruel que agora era sua terra na-
lobo, mas uma matilha inteira pode derrubar qualquer tal castigada pelo gelo. Eles assombravam os
um deles sem grande esforço. Sua habilidade instintiva limites das geleiras enquanto o grande gelo os
de mover como se soubessem dos pensamentos uns dos empurrava ainda mais para dentro do conti-
outros, mesmo sem o benefício de qualquer Dom dado nente, golpeando qualquer ameaça da Wyrm
pelos espíritos, é extraordinária de se observar. Muitos de que eles encontravam com uivos de ferocidade
nossos nascidos lobos passam pelo menos uma porção de de gelar a espinha. Sua bravura não conhecia
seu tempo em companhia de matilhas de Parentes, usan- limites; os inflexíveis guerreiros da Caledônia
do do conhecimento dos lobos sobre as profundezas das estavam acostumados com desafios sufocantes
matas para caçar até mesmo as manifestações mais elusi- e condições inóspitas de batalha. Sua pelagem
vas da Wyrm. branca como a neve os tornava quase invisí-
Entretanto, apesar de seu poder e proezas, não é do veis nos vazios glaciais e sua lenda se espalhou
poder físico de nossos Parentes que eu pessoalmente te- entre o resto da Nação Garou, que os nomeou
nho mais orgulho. É de seu espírito. Sua dedicação de graças à sua cor e seu desígnio – os Uivadores
um para com outro e seu compromisso é uma inspiração Brancos – sem saber qualquer outra coisa so-
para todos de nossa tribo. bre seus primos anteriormente isolados.
O Grande Inverno se estendeu de geração
Tribos Humanas para geração. Com o tempo, os Uivadores
Brancos vieram a conhecer e a ser conhecido
O que pode ser dito de nossos Parentes humanos? pelo resto da nação como mais do que apenas
Chamá-los de algo é excluir os outros que não o são. Eles uma história sussurrada ao redor das foguei-
são ferozes, exceto por aqueles que são gentis. Eles são sel- ras. Mas nomes possuem poder. Mesmo após
vagens, exceto por aqueles que são calmos. Eles são aven- a neve recuar, e nosso povo retornar para nos-
tureiros. Eles são rebeldes. Eles são impetuosos, agressivos sas ilhas nativas, o nome Uivador Branco traz
e cheios de vida. Eles são curiosos, quietos e carismáticos, de volta memórias desses tempos mais cruéis.
exceto por aqueles que não são nenhuma dessas coisas. Até o dia de hoje, nós continuamos a usá-lo,
Eles são tão numerosos e variados como peixes no ocea- com honra e orgulho.

38 Uivadores Brancos
no, pássaros no ar, feras pelas terras ou espíritos na Um-
bra. Nossas tribos cultivam o trigo, caçam javalis selva- Tribos dos Parentes dos
gens ou desbravam as águas mais profundas para retirar a
colheita do mar. Eles se guardam, buscam comércio, ou
Uivadores Brancos
algumas vezes a guerra, com aqueles ao seu redor. Eles são Até os romanos chegarem, tínhamos pouca utilidade
os Povos da Terra Rude. Eles são os Pintados. Eles são os para nomes além das descrições que uma tribo usava para
Parentes dos Uivadores Brancos e não há iguais a eles em se referir à outra. Desde sua chegada, no entanto, nomes
todo o mundo. foram dados a nós, rudes lembretes do impacto que tais
virulentos invasores podem ter nas culturas à sua volta.
Até mesmo eu, que fiz de minha função conhecer
tudo o que puder sobre nossa tribo, não estou certa de Caledones: “O Grande Povo Rude” ocupa o centro
que aprendi sobre todas as tribos humanas que comparti- da Caledônia, e reivindica ser o mais velho de todas as tri-
lham nossa herança, e seria tolice dizer o contrário. Afinal bos. Seu povo constrói gigantescos castros, em parte para
de contas, até o Grande Inverno nos empurrar além de protege-los das incursões romanas. Como seu nome in-
nossas tradicionais fronteiras, nós acreditávamos ser os dica, eles são poderosos guerreiros, bem preparados para
únicos filhos-lobo de Gaia. Melhor assumir que possam manter uma posição contra os soldados estrangeiros.
existir outros além do meu conhecimento do que afirmar Cornavaii: “O Povo do Chifre” possui seu lar na dis-
falsas certezas. Digo, então, que essas são as tribos entre tante costa nordeste da Caledònia, onde eles têm mais re-
os nossos Parentes das quais tenho conhecimento, seja lações com os Orcadii do que com o resto da Caledônia.
em primeira-mão ou através de histórias confiáveis. A in- Os invasores Cornavaii eram uma motivação maior para
formação é escassa, mas quando a Wyrm contorce abaixo os Orcadii aceitarem a “proteção” dos invasores romanos.
da superfície, nossos deveres raramente nos dão tempo Cerones: Conhecidos como “O Povo dos Caerns”,
de sobra o suficiente para visitar aqueles tão distantes de os Cerones são mais um coletivo de pequenas tribos do
nós.
Capítulo Dois: Cultura 39
que uma tribo única. Alguns os chamam de Carnonacae, zes” clamam ter um profundo conhecimento do oculto, e
ou Caereni, ou os Creones, mas eles portam os maiores todo membro de sua tribo (Parente ou não) é dito possuir
e mais poderosos caerns na Caledônia, espalhados pela pelo menos alguma habilidade com profecia, canalizar es-
costa noroeste da ilha, e eles levam muito a sério seu de- píritos, falar com os mortos ou outras habilidades arca-
ver de protegê-los. nas.
Damnonii: Antes uma tribo pacífica de fazendeiros Taexali: Nós ficamos de luto com a perda dos Taexa-
que moravam na área central da Caledônia, próxima de li, uma tribo pacífica de pastores e tratadores de animais
onde os romanos construíram sua muralha norte. Eles que antes viveram ao norte dos Venicones. Aninhados
foram espalhados ou absorvidos pelos Votadinii após a nos afloramentos leste da Caledônia, eles nunca sentiram
incursão romana em nossas terras. a necessidade de construírem os castros em que muitos
Decantae: Apesar de que a maioria do nosso povo do resto das nossas tribos Parentes viviam. Essa escolha,
nada ter a ver com os Parentes feéricos de nossos primos, junto com sua natureza pacífica, levou as forças romanas
os Fianna, “O Povo Bom” que tem seu lar nas costas da a tê-los como alvo, quando eles redobraram seus esforços
grande Moray Firth tem grande orgulho de seus laços com de invasão. Eles tiveram suas casas queimadas e foram
as fadas. expulsos para as montanhas pelas forças romanas antes
Epidii: Apesar de todas nossas tribos Parentes usa- da Batalha de Mons Gramaus, onde os legionários sob o
rem cavalos de alguma forma como bestas de carga e para maldito general, Agrícola, assassinaram os membros so-
cavalgar, “O Povo Cavalo” incorpora os animais em todos breviventes da tribo.
os aspectos de suas vidas. Eles dizem que aprendem a ca- Venicones: De todas as tribos de nossos Parentes,
valgar antes de conseguirem caminhar e que são capazes talvez aqueles conhecidos como “Os Cães de Caça” com-
de falar com seus cavalos, da mesma forma que nós fala- partilham as ligações mais intrincadas com seus primos
mos com nossos Parentes lupinos. metamorfose. Eles têm seus lares na área entre as duas
Novantae: Os Novantae moram próximo da muralha grandes bacias na costa leste central da Caledônia, onde
romana sul, ao mar oeste. Existem rumores de que eles bancos de terra e estuários tornaram difícil para os invaso-
venderam suas crianças e esposas para os invasores roma- res romanos ataca-los tão severamente quanto aos Taexali
nos em troca de seus exércitos passarem por eles sem ser mais ao norte.
molestados, mas tribos ciumentas como os Selgovae e os Votadini: Os Votadini vivem ao sul da Bodotria, o
Damnonii, que não foram tão afortunados em escapar grande estuário onde os romanos construíram a Muralha
dos invasores, foram quem provavelmente criou tais his- de Antonino. Suas terras se estendem pela costa leste e
tórias. vão até o coração centro-sul das terras baixas da Caledô-
Orcadii: A “Tribo Javali” vive em terras espalhadas nia, apesar de que sua capital é o castro de Traprain Law
da ponta nordeste da Caledônia. Apesar de seu isolamen- em Lowthan. Algumas das outras tribos olham com des-
to ter protegido-os das lutas entre as tribos do continente, confiança pelos Votadini terem concordado com a trégua
eles sofreram um grande preço a ser pago quando os inva- com os romanos; mas se não fosse por eles terem sido um
sores romanos colocaram seus olhos sobre as riquezas das divisor entre a Caledônia e o exército romano, muitas
ilhas a cerca de cem anos atrás. Agora, eles existem pre- outras tribos teriam compartilhado o mesmo destino dos
dominantemente como uma população escrava agrícola, Taexali e os Orcadii.
com os estrangeiros retirando tudo, exceto a subsistência,
dos frutos de seu trabalho. Um Povo, Muitas
Faces
Selgovae: A tribo que se chama de “Os Caçadores”
antigamente guardava o território por todo o sudoeste da
Caledônia. Eles tiveram grandes perdas durante as inva-
Assim como nossos Parentes humanos são diversos e
sões romanas e, quando a invasão se tornou ocupação,
ainda assim, um povo, também existe uma grande varie-
eles se encontraram forçados a um estilo de vida nômade.
dade entre os Garou de nossa tribo. Nós somos um, mais
Longe de destruídos, no entanto, eles levaram sua tra-
próximos uns dos outros do que qualquer um de nós é
gédia até seus agressores, adotando um estilo de ataque
dos lobisomens de qualquer outra parte do mundo. Ain-
baseado em seu conhecimento de seus antigos territórios,
da assim, somos tão diferentes como duas bolotas de uma
que eles usam para atacar as tropas romanas que ocupam
mesma árvore; compartilhamos uma grande diversidade
a área.
de habilidade e mentalidade, dever e filosofia.
Smertae: Poucas tribos da Caledônia são amplamen-
te conhecidas – ou temidas – como os Smertae. “Os Saga-

40 Uivadores Brancos
Raças Impuro
O mandamento da Litania que nos comanda a não
Talvez a mais clara diferença entre os membros de
acasalar com outros dentre os Garou é ignorado por aque-
nossa tribo é a de nosso nascimento, muitos vêm do lobo,
les que colocam seus prazeres perversos acima de tudo. O
outros da mulher, e alguns do acasalamento fadado à des-
próprio ato é errado por mil razoes, e aqueles que que-
graça de metamorfo com metamorfo. Todos possuem um
bram a Litania devem ser punidos por seus crimes.
lugar e propósito, e todos servem um papel importante
em nossos deveres sagrados. Por outro lado, alguns defendem esse mandamento
tão firmemente que eles castigam o resultado desse peca-

Lupinos do junto com aqueles que o cometeram. Lendas dizem


que os Filhos do Cervo matam a prole de dois Garou jun-
As lendas dizem que durante o Grande Inverno, nos- to com seus pais, ao invés de permitir que sua tribo sofra
sos Parentes humanos foram incapazes de sobreviver à ge- da vergonha de tamanho crime ser cometido.
leira que a Caledônia se tornou. Isso os levou, e os Ga- Isso é uma estupidez.
rou que os protegiam, seus familiares e o campo Mactire,
Não se quebra a lança porque o armeiro roubou ma-
para longe de sua terra natal por milênios. Apenas aque-
deira para fazer o cabo. Não se queima um campo porque
les nascidos dos lobos, ou que estavam dispostos a sobre-
o fazendeiro pecou. Nosso dever é exigente. Nossos nú-
viver sem contato humano, permaneceram para guardar
meros são poucos e o inimigo que encaramos é imortal.
o dever sagrado dos Uivadores Brancos para com a nossa
Qualquer Garou que obedece a Litania e serve a vontade
terra. E por milênios, enquanto a maior parte da nossa
de Gaia deveria ter a chance de fazê-lo, independente de
tribo estava espalhada aos quatro ventos, nossos lupinos
sua herança.
resistiram um inverno e frio sem fim, para proteger nossa
terra natal. Nessa época, eles ficaram mais fortes, mais Alguns dizem que eu estou influenciado em minha
selvagens e ferozes. Durante o Grande Inverno, apenas os mentalidade. Como produto de tal crime, é provável. Fe-
mais fortes poderiam sobreviver. lizmente, em minha experiência, a maioria dos Garou de
nossa tribo está disposta a permitir que eu, e a outros
Por isso, nós damos aos nossos lupinos grande res-
iguais a mim, prove que eu não sou meus pais.
peito. Sabemos que eles representam uma corrente in-
quebrável de conexão com nossa terra natal e nosso dever
sagrado. Por isso, seremos sempre gratos. Chamado da Lua
Quando fomos conjurados até esse mundo, Gaia nos
Hominídeo deu os deveres de nossas vidas. Para alguns de nós, esse
dever começa quase imediatamente. Impuros que sobre-
Nós viemos, entretanto, não apenas do lobo. En-
quanto nossos ancestrais lupinos estavam protegendo a vivem ao nascimento geralmente iniciam o treinamento
Caledônia, nossos antepassados hominídeos estavam pro- muito antes de serem capazes de mudar de forma. Eles
tegendo nossa conexão com a humanidade. Quando nos- aprendem um pouco do que seus deveres futuros serão,
sos Parentes humanos caíram para a fome, exposição ao junto com seus outros ensinamentos infantis. Quando
clima, nossos ancestrais humanos foram atingidos. Dei- um hominídeo ou lupino nasce e está destinado a mudar,
xando as terras de seu nascimento para trás, eles partiram os Garou que o reivindicam como Parente podem tam-
para aprender o que estava além de nossas tradicionais bém começar a educá-lo em suas funções futuras antes de
fronteiras. Eles viajaram através de território inimigo, sua Primeira Mudança.
encontraram culturas desconhecidas e tomaram novos Em muitos Garou, o chamado da lua é tão forte que
Parentes a partir dos seus melhores homens. Quando o influencia suas vidas mesmo quando eles não estão cien-
Grande Inverno acabou, esses novos familiares retorna- tes da existência dos lobisomens, o que dirá de seu desti-
ram com eles para a Caledônia e iniciaram novas tribos. no. Muitos são chamados para tarefas que eles seguirão
Cada uma era um Uivador Branco por completo, mas pelo resto de suas vidas, muito antes da Mudança. Sem
também carregava consigo as forças de suas antigas terras, saber que sua motivação é inspirada por uma predestina-
e essas forças nos tornou maiores do que antes éramos. ção sobrenatural, eles podem servir as necessidades espi-
Por isso, damos aos nossos hominídeos grande res- rituais de sua tribo, proteger seu povo de perigos mortais
peito. Nós sabemos que eles representam uma bravura ou serem chamados como conselheiros ou diplomatas,
e ingenuidade que é vital para a sobrevivência de nossa sem nunca saber que é a vontade de Luna que eles ocu-
tribo. pem tais papéis.

Capítulo Dois: Cultura 41


Ragabash
sível, sabem o que é incompreensível e viajam para locais
de onde outros nunca retornaram.
Aqueles nascidos sob o céu sem lua não conhecem li-
mites. Foi um Ragabash quem primeiro sugeriu que bus-
cássemos outros climas, quando o Grande Inverno ame-
Philodox
Aqueles nascidos sob a meia lua guardam em suas
açou congelar nossa tribo e acabar com sua existência. mãos nosso passado e futuro. Eles são os guardiões dos
Além disso, os Ragabash nos guiaram de volta à nossa meios sagrados, aqueles que nos lembram das tradições
terra natal, quando finalmente chegou o degelo. Os luas- estabelecidas pelos nossos antepassados e de seus moti-
-negras são capazes de qualquer coisa; seu papel é fazer, vos. Os meias luas falam das leis de nossa tribo, e assegu-
dizer e ser o que a tribo necessita, quando ninguém mais ram que todos nascidos nos caminhos dos metamorfos
conseguir. saibam não apenas das palavras da Litania, mas de seus
Alguns se especializam em mundos físicos ou espiritu- significados. Eles nos conduzem adiante. Observam nos-
ais, onde eles se movem como sombras: sem serem vistos, sos desafios, lideram a diplomacia entre seitas e matilhas
ouvidos ou percebidos. Outros não se escondem da vista, para que possamos servir Gaia sem nos perder em discus-
mas sim das repercussões, sendo os eternos questionado- sões e brigas internas.
res que perguntam as questões mais profanas para que o É dever dos Philodox manter a ordem em meio ao
resto da tribo possa examinar se é naquilo que realmente caos, e a manter a calma no centro da disputa. Eles de-
acreditam. Sem a luz de Luna para guiar seu caminho, vem enxergar o lado bom e as fraquezas em todas as coi-
eles vão onde seus deveres o levam, conduzindo outros sas, e falar a verdade de forma que os outros não apenas
até a sabedoria e verdade que eles nunca encontrariam de ouçam, mas que também prestem atenção. Eles mantêm
outra forma. o equilíbrio entre lobo e homem, entre Garou e Parentes,
Deles é o caminho da água, e como água, eles assu- entre as tribos de nosso nascimento e a tribo de nosso
mem qualquer forma. Eles podem se infiltrar nas meno- destino.
res aberturas, e quebrar a mais dura das pedras. Podem Deles é o caminho da rocha, e como a rocha, eles
trazer socorro para aqueles sedentos, ou afogar aqueles suportam tudo, e formam a fundação na qual o resto da
que subestimam seu poder. tribo se apóia.

Theurge Galliard
Aqueles nascidos na lua crescente guardam a chave Nós, Garou nascido na lua quase cheia, carregamos
para nossas vidas como mais do que criaturas mortais. um grande fardo em nossos ombros. Para nós, recai o de-
Para eles, Gaia deu o dom – e o fardo – de verdadeira- ver da atemporalidade. Nossas mentes devem guardar os
mente compreender o que é ser carne e espírito, ao mes- contos dos antigos, as canções de mil gerações e assegurar
mo tempo. Eles são incumbidos de guardar os segredos que o passado nunca seja esquecido. Nossos olhos devem
da magia, que o homem nunca deveria conhecer e que o testemunhar tudo que acontece a nossa volta: batalha e
lobo não pode esperar compreender. Em suas mãos, os traição, triunfo e tragédia, e tecer aqueles feitos em pala-
rituais se tornam mais do que palavras e ações; eles trans- vras dignas de serem lembradas. Nossas vozes devem ser
formam o mundo ao seu redor. capazes de carregar o clamor de um campo de batalha ou
O mundo do Theurge é efêmero; os espíritos da na- os sussurros de um sacrifício final, a solenidade do dever
tureza e de nossos ancestrais, de emoções e pensamentos ou a iluminação da esperança.
e de forças muito além de nossa compreensão são um Nós, Galliards, somos os cantores da história dos Ui-
dever e uma ferramenta para eles. Eles servem como di- vadores Brancos. Nós testemunhamos a glória de nossa
plomatas para nossos Parentes e povos que caíram mas tribo, sua sabedoria, honra e asseguramos que nenhum
foram incapazes de retornar ao ciclo, aliviando sua dor feito – maligno ou não – seja esquecido. Quando fazemos
e os guiando em sua jornada. Eles falam para nós sobre bem nosso trabalho, acendemos as fogueiras nas almas de
Gaia e Sua bondade, sobre os espíritos desse mundo e da- nossos companheiros de tribo, estimulamos a risada para
queles além, e de criaturas estranhas cujas almas, caso de suavizar seus corações e tecemos bálsamos para mitigar
fato as possuam, são indecifráveis para todos, exceto para seus espíritos
os Luas Crescentes.
E quando o fim vier, nossas vozes são aquelas que
Deles é o caminho do espírito, e como espíritos, sua retornam seus espíritos para o ciclo para que eles um dia
natureza não é verdadeiramente compreendida por nin- se levantem e sirvam Gaia novamente.
guém, a não ser eles mesmos. Eles enxergam o que é invi-

42 Uivadores Brancos
Nosso é o caminho do vento, e como os ventos,
um Galliard pode levantar o espírito de um Garou,
ou colocá-lo de joelhos. Nossas canções são tão vi-
tais para a Nação quanto o ar é para nossos corpos.

Ahroun
Aqueles que entram nesse mundo sob toda a
luz de Luna são uma força a ser considerada. Não há
meias medidas com um Ahroun, nenhuma hesita-
ção, nenhuma incerteza. Eles são o que são sempre
de maneira completa, sejam guerreiros ou líderes,
protetores ou executores. A chama dentro de nós
todos queima mais forte na alma dos Luas Cheias,
uma chama que os alimenta e ameaça consumi-los,
caso eles não sejam fortes o suficiente para sobrevi-
ver ao seu calor.
Em todo desafio, seja por esporte ou sobrevi-
vência, os Ahroun se encontram nas linhas de fren-
te, mostrando aos outros o caminho à frente. Eles
assumem de maneira bem disposta as tarefas mais
difíceis, aquelas que quebrariam os corpos ou es-
píritos de seres mais fracos. Em toda grande bata-
lha, todo ataque, toda emboscada, os Luas Cheias
suportam o fardo mais difícil em nome de seus ir-
mãos. Eles são o adversário mais feroz, e os proteto-
res mais passionais, e sem eles, nosso dever sagrado
não teria a esperança de ser cumprido.
Deles é o caminho do fogo, e como o fogo, eles
são capazes de todos os extremos. Eles podem ilu-
minar e proteger. Eles podem inspirar medo. Ou
podem destruir.

Campos Tribais
A Boderia
Conhecidos como “Os Silenciosos” e “Os Sur-
dos”, a Boderia serve como um canal entre os Ui-
vadores Brancos e os mortos: os fantasmas de seus
ancestrais, aliados caídos e até mesmo inimigos der-
rotados. Apesar de toda a tribo compartilhar um
dever sagrado de honrar aqueles que vieram antes
de nós e de assegurar que os mortos não incomo-
dem os vivos, a Boderia assume esse papel como seu
propósito vital.
Os Silenciosos executam os rituais que home-
nageiam aqueles que se foram, supervisam funerais
para ajudar os mortos a retornar pacificamente para
o ciclo e, quando necessário, lida com aqueles que
partiram, mas que não se foram por completo desse
mundo. Os caminhos dos mortos podem ser con-
fusos aos vivos. Os laços que prendem um espírito
humano, ou Garou, no mundo mortal podem ser tão mais selvagens da Caledônia. Uma vez ali, um penitente
simples quanto uma vingança contra seu assassino, ou deve rastrear uma das matilhas dos Mactire, e convencer
tão complexos a ponto de serem completamente incom- seu lider de seu valor. Poucos retornam de tal jornada,
preensíveis para as mentes dos vivos. Ainda assim, lidar seja por serem aceitos ou por morrer no processo.
com essas questões é o escopo da Boderia. Apesar de não odiarem os humanos ou os Garou ho-
Os seus membros não escondem sua afiliação ao minídeos, os Mactire vêem como seu dever sagrado pro-
campo; na verdade, fazê-lo é impossível. Entrar no campo teger e promover as necessidades e os melhores interesses
inclui um ritual onde o recém-iniciado passa por escarifi- dos membros Parentes lupinos da tribo. Sua maioria é
cações ou outras formas de modificações corporais extre- lupina, apesar de que eles também recebem bem os impu-
mas, como um símbolo de sua dedicação a esse caminho. ros, quando somos capazes de nos provar valorosos.
Um dos Silenciosos pode se marcar com carvão quente Os membros dos Mactire também protegem os caer-
e então esfregar pigmentos sagrados na queimadura para ns localizados em áreas onde a mudança climática ou os
marcar o padrão permanentemente em sua pele. Outro invasores estrangeiros expulsaram as populações huma-
pode entalhar símbolos místicos em sua pele, tratando nas. Alguns ainda cuidam de caerns adormecidos que fo-
os cortes com unguentos destinados a evitar que as ci- ram abandonados no Grande Inverno, na esperança de
catrizes se fechem por completo, para que os ferimentos que um dia nossa tribo seja numerosa o suficiente para
curem em padrões com significado espiritual. O Boderia despertá-los novamente e os colocar à serviço de Gaia.
que serve em nossa seita é cego de um olho, e não tem
as duas orelhas. Primeiro achei que os ferimentos fossem
cicatrizes de batalha, mas logo descobri que foram auto- Os Toutatis
-infligidos. Quando perguntei porque ele faria tal ato, ele Protetores tribais, os Toutatis são um grupo frouxa-
disse que isso o ajudava a perceber o mundo dos mor- mente ligado de matilhas de Uivadores Brancos, cada
tos sem ser eclipsado pelos sentidos dos vivos. Durante o uma dedicada a uma das numerosas tribos humanas que
tempo que o conheci, ele também decepou os dois dedos formam os Parentes do Uivadores Bracos. Um grupo me-
mindinhos da mão, e vários de seus dedos dos pés graças nos coeso do que a Boderia, uma matilha dos Toutatis
a seu dever. Aparentemente, modificações contínuas são pode ter quase nada em comum com outra, exceto que
feitas frequentemente, já que um Boderia lida com vários ambas servem como protetoras dos humanos a que são
espíritos dos mortos; é considerado uma honra dar paz a dedicadas.
um fantasma inquieto fazendo um sacrifício de sua pró- É um ponto de honra para os Uivadores Brancos que
pria forma mortal, de um jeito ou de outro. toda tribo de Parentes na Caledônia tenha pelo menos
Quase todas as seitas de Uivadores Brancos contêm uma matilha dos Toutatis observando-a. Quando muitas
pelo menos um membro do campo da Boderia, e mem- matilhas enviaram pelo menos uma porção de seus mem-
bros de seitas distintas mantém contato uns com os ou- bros para longe de seus protegidos humanos para ajudar
tros, algumas vezes se reunindo para ajudar a colocar um no ataque aos quartéis romanos, o propósito dos Toutatis
fantasma particularmente desafiador para descansar. Por tornou-se claro. Apesar de que uma única matilha possa
causa disso, e devido ao respeito inerente da tribo pela não ter sido o suficiente para evitar completamente a cor-
Boderia e seus deveres, a comunicação entre as seitas ge- rupção de nossos Parentes que aconteceu em nossa au-
ralmente recai os ombros dos membros do campo. sência, muitos dizem que caso os Toutatis tivessem ficado
para trás, o dano teria sido menor, e o preço pago pelos
Os Mactire romanos muito maior.

Com um nome significando “Filhos da Floresta”, não


é de se surpreender que os Mactire estejam entre os mais Filhos do Leão
ferozes e brutais dos Uivadores Brancos. Eles reivindicam O laço entre os Uivadores Brancos e o Leão é tão
que seus fundadores foram os membros das matilhas que antigo quanto a própria tribo. Sua proteção é a conexão
nunca deixaram a Caledônia durante o Grande Inverno, que nos une através dos anos e das milhas, apesar das dis-
e aqueles que se unem a eles, geralmente são capazes de tintas tribos de nossos Parentes, costumes contrastantes e
traçar sua ancestralidade até um membro dessas matilhas. do terreno cruel que nos separa.
Para se unir aos Mactire existe algo como metade bus- Nós somos os Filhos do Leão, todos nós. É sua bra-
ca espiritual, metade ritual de passagem. Deve-se deixar vura que nos protege quando lidamos com os mortos in-
para trás todos os pertences e viajar para as profundezas quietos. É seu rugido que ecoamos quando nossos uivos

44 Uivadores Brancos
Litania
são levados através das charnecas. É seu orgulho que nos
garante que não importando as dificuldades, nós perseve-
raremos.
Apesar de seitas possuírem costumes e leis que são
O Leão é uma força a ser considerada. Ele é orgulho-
únicas a elas, a Litania permanece uma constante. Essas
so e forte, protegendo tudo o que é seu. Ele personifica
regras não são do alcance de qualquer indivíduo ou grupo
nossa terra – primitiva e atemporal.
de Garou para alterar ou ignorar. São nossos mandamen-

Aqueles Que Não tos sagrados, passados desde de nossa criação e formam a
fundação de nossa tribo.

Responderam
Não Permita Um Caern Ser Violado
Lendas dizem que quando nosso povo deixou a Ca-
Possuímos apenas interações limitadas com o resto ledônia nas profundezas do Grande Inverno, nossos lupi-
dos Garou. Apesar de nossas viagens durante o Grande nos ficaram para trás em cada um dos caerns mais fortes
Inverno ter nos levado ao contato deles, ao retornar para para protegê-los. Quando poucos demais permaneceram
nossa terra natal e para nosso dever sagrado, muitos de em uma área para proteger um caern ou executar o ritu-
nós tivemos pouca ou nenhuma interação om aqueles al de assembleia, um único Garou se voluntariava para
fora de nossa tribo. Porém, ainda somos Garou e as outras observar o caern até o fim dos tempos. Aquele que per-
tribos são nossas irmãs, não importa quão estranhas elas manecia dedicaria o resto de sua vida àqueles caern, can-
possam ser. Apesar das lendas contarem de muitas tribos, tando para ele noite após noite, lua após lua, louvando
eu só ouvi sobre algumas, mesmo assim pouca coisa. os espíritos leais ao caern. O guardião não abandonaria
seu dever, nem mesmo para caçar. Inevitavelmente, ele
Fianna morreria: por exposição, fome, sede, antes do espírito do
caern cair em modorra. Mesmo então o espírito do guar-
Nossos primos ao sul são como nós, e ainda assim dião permaneceria, protegendo o local sagrado por toda
diferentes. Não teríamos sobrevivido ao Grande Inverno eternidade.
sem sua ajuda, mas a fissura que nossa recusa a servir seus
Se nossos ancestrais estavam dispostos a oferecer
sombrios Parentes feéricos criou entre nós não foi restau-
tudo, até mesmo sua chance de voltar ao ciclo, para prote-
rada até os dias de hoje.
ger um de nossos locais sagrados, como nós poderíamos

Crias de Fenris
fazer por menos?

Ferozes e teimosos. Esperávamos que eles pelo me-


nos respondessem nosso chamado. As lendas dizem que
Respeite o Território
Quando o Grande Inverno nos expulsou de nossa
eles nunca recusam uma briga. Acho que as lendas esta-
terra natal, nos tornamos um povo desesperado. Guiados
vam erradas.
pelo medo, transgredimos o território dos Fianna sem

Garras Vermelhas
respeito ou consideração pelo impacto de nossas ações. O
malefício que nossas ações criaram levou séculos para se
Uma tribo inteira como nossos Mactire? Parece im- desfazer. Quando aprendemos a interagir com eles corre-
provável, na melhor das hipóteses. Gaia nos fez homem e tamente, com o respeito de alguém que caminho no ter-
fera, para cuidarmos de ambos, mas também para ter as ritório de outra pessoa, ambas as tribos se fortaleceram.
forças de cada um dos lados. A astúcia lupina e o intelec- Após o fim do Grande Inverno, retornamos a nos-
to humano. A velocidade dos lobos e a força dos homens. so território sagrado. Uma vez lá, nós protegemos nossa
O instinto lupino e a lógica humana. Ambos são necessá- terra natal dos invasores por séculos. Cumprimos nosso
rios para se fazer um Garou. dever, nossos Parentes prosperaram e tudo ia bem. Então,
os romanos vieram, e tudo mudou. Não contentes em
Presas de Prata guardar suas próprias terras, os invasores buscaram fazer
o que ninguém deveria: conquistar o mundo e colocá-lo
Existem rumores de Garou a serviço do exército inva-
sob seu controle. Nós os golpeamos de volta, atacando
sor, nobres de pêlos prateados na corte com seus generais
profundamente no território que eles reivindicaram. E
e conselheiros. Claro, nenhum Garou seria tão deprava-
por essa ação, pagamos um preço terrível.
do a ponto de liberar os males que temos enfrentado em
seu próprio povo, certo? Gaia criou locais para todos seus filhos e deu a eles o
dever de proteger tais lugares. Quando alguém viola isso,

Capítulo Dois: Cultura 45


Honre Aqueles Abaixo de
tentando tomar o que não é seu por direito, perturba o
equilíbrio. Quando alguém abandona o território que re-
cebeu, perturba o equilíbrio. Até que ela restaure o equi-
líbrio, a saúde da terra, e daqueles que moram nela, sofre. Ti
Seja Piedoso
Nossos Parentes sevem a Gaia, sem os benefícios dos
Dons que Ela nos deu. Nossos jovens assumem disposta-
Gaia nos fez cheios de Fúria para que pudéssemos mente um dever que pode custá-los a vida. Nossos filho-
lutar e matar. Mas ela também nos fez forte em vontade tes se dedicam a estudar o que eles ainda apenas esperam
para que guardássemos nossas garras e presas quando fos- compreender, e esforçam-se em todas as coisas para serem
se justo fazê-lo. os heróis que Gaia os criou para ser. Esses são aqueles
É o caminho mais fácil, matar todos os que causam que seguem nossos passos. É correto dar honra a cada um
nossa ira. Esse é o modo do exército estrangeiro que es- deles por seu valor.
maga tudo em seus calcanhares. Esse é o modo da Wyrm,
rasgar e arrancar e destruir. Mas Gaia não nos pede o ca-
minho mais simples. Mesmo quando nosso temperamen-
Não Serás um Fardo para
to está elevado, quando nossa Fúria queima ardentemen-
te, ainda assim ela espera que nós a sirvamos em todas as
Teu Povo
Todos os aspectos de nossa vida são parte de um ci-
coisas
clo, e a morte chega a todos nós. Aceitar esse fato e retor-
Tirar uma vida, quando não há esperança de reden- nar de maneira disposta ao ciclo, quando for o momento
ção? Isso é piedoso. Matar alguém que já avança muito certo, assegura que nós não retornaremos como um dos
em doença ou idade ou mácula e devolvê-lo ao ciclo? Uma mortos inquietos. Nós, cujos deveres incluem cuidar da-
outra piedade. Permitir que um companheiro Garou sub- queles que não estão vivos, vimos a destruição que um
meta-se em um combate honrado, ou esteja nas mãos de fantasma pode causar sobre aqueles que ainda vivem. Li-
alguém e poupar uma alma para que ela ainda possa ser damos com as consequências daqueles que não estão dis-
redimida? Essas também são coisas piedosas, e a piedade postos a partir, que se agarram a essa vida tão fortemente
nunca é uma fraqueza. que ficam presos nesse mundo muito tempo após terem
Mas tirar uma vida que serve a Gaia, ou que possa parado de respirar.
voltar a seu serviço? Entregar-se a fúria da batalha e re- Lutar contra o ciclo não é apenas consignar seu pró-
duzir as forças da Mãe porque somos fracos demais para prio destino à separação de Gaia, talvez por toda a eterni-
controlar nossa Fúria? Isso, certamente, é um crime. dade. O ato também condena os amigos e familiares ao
tormento de lidar com o que antes era seu companheiro,
Honre Aqueles que mas não mais. É injusto. É desleal. É egoísta.

Antecedem a Ti A Presa Pertence ao de


Nossos ancestrais serviram Gaia e combateram a
Wyrm, no início dos tempos. Sem eles, a Caledônia te-
ria caído muito antes de sequer existirmos. Nossos anci-
Posto Mais Elevado
É o direito e responsabilidade daqueles com expe-
ões guardaram essas terras e protegeram nossos Parentes riência assegurar que os recursos da tribo sejam usados
quando éramos nada além de bebês e filhotes. Sem eles, onde eles possam ter maior efeito. Um jovem filhote pode
nossa geração teria sido exterminada em sua juventude. cobiçar a carne mais saborosa para si porque ela enche a
Nossos professores estudaram os modos novos e os anti- sua boca de água. Um ancião que entrega seu tesouro
gos, aprenderam sobre o lobo, o homem e espírito, quan- sabe que o coração servirá melhor a matilha ao alimentar
do nós ainda sequer tínhamos passado por nossa Primeira uma mãe que amamenta, e o dará a ela para se certificar
Mudança. Sem eles, não teríamos conhecimento, nenhu- que seus filhotes cresçam fortes, e através deles, a tribo
ma tradição, nenhum ritual ou canção para nos ensinar o prosperará. Caso surja perigo, o ancião pode entregar o
certo do errado. É correto que nós demos a eles a honra coração para um guerreiro, para dar a ele força para a luta
que merecem. vindoura. Em tempos de sacrifício tradicional, ele pode
entregá-lo ao místico, para pacificar os espíritos do caern.

46 Uivadores Brancos
Com experiência, vem a sabedoria, e com sabedoria Mas esse dever deve ser dado livremente. Não somos
vem a responsabilidade para enxergar além de seus pró- fomori, para plantar nossas sementes com força e medo.
prios interesses e ver o bem da matilha, da seita, da tribo Já vimos o que acontece desses acasalamentos; não ape-
como um todo. É o direito, e responsabilidade, dos de nas a prole profana, mas o dano causado nos corações,
posto mais elevado dar a cada um o que lhes é de direito. mentes e corpos daqueles que são tomados. Não somos
Assim, damos a presa, seja ela carne ou magia, para aque- monstros para fazer o mesmo.
les com a experiência para assegurar que ela sirva a um O lobo não pode deitar-se com o cervo e então se
bem maior. banquetear dele na manhã seguinte. Que cervo iria volun-
tariamente, sabendo que o lobo devorou seus amantes?
Em Tempos de Paz, Caso nossos Parentes acreditem que os enxergamos como
nada mais do que presas, como alimento para nossos es-
Líderes Fracos Devem Ser tômagos e quadris, como eles poderiam cumprir com seu
dever para conosco e Gaia? Eles devem saber que estão

Desafiados seguros, que são respeitados e que são valorosos. Apenas


então, eles e nós podemos cumprir nossos deveres sagra-
Mesmo as presas do lobo mais forte falha algumas dos.
vezes. Mesmo a mente mais sábia começa a devanear com
o passar dos anos. Uma árvore pode tocar os céus apenas
pelo tempo que suas raízes não falhem.
Conceda a Clemência do
Somos tão fortes quanto nosso líder. Quando ele ou
ela vacila, é o momento para o próximo assumir o fardo Véu
e se apresentar para liderar. Sem um líder forte, nenhum Houve um tempo que os Garou abatiam os mais fra-
de nós é forte. cos da humanidade, como um pastor faz com seu reba-
nho. Quando brincávamos com nossos Parentes humanos
Em Tempos de Guerra, como se eles fossem brinquedos para nosso entretenimen-
to. Quando algumas tribos forçaram a humanidade à ser-

Líderes Devem Ser vidão, apontando a si mesmo como deuses metamorfose


sobre aqueles que Gaia havia ordenado que eles cuidas-

Obedecidos
sem. Os homens tremiam ao som de nossas canções ao
vento, pois sabiam que suas vidas eram mantidas apenas
Nós somos os guerreiros de Gaia, mas qualquer guer- por nosso desejo. Eles enlouqueciam ao nos ver, pois sa-
reiro é apenas tão forte quanto seu foco. Até mesmo o biam que entre nossa ira e de nossos inimigos, eles não ti-
maior dos heróis pode ser derrotado, caso seja distraído nham qualquer esperança de se defender ou a suas crian-
do dever que tem em suas mãos. ças. Nós os destruímos, como uma criança faz com uma
boneca de argila.
Nossa força está no trabalho conjunto, como uma
matilha, uma seita e uma tribo. Gaia nos criou para coo- Aqueles foram tempos vergonhosos. Aqueles tempos
perar. Quando nosso foco deve ser sobre Seus inimigos, já se foram.
nós A servimos melhor ao ignorar nossas diferenças, pelo A memória da humanidade é curta. A maioria, fe-
menos por um momento. Se estamos mordendo os cal- lizmente, se esqueceu das transgressões feitas por nossos
canhares de nossos líderes, distraindo-os de seus deveres ancestrais. Eles não se lembram mais dos erros que come-
por nossos próprios anseios por poder, nós estamos ser- temos contra eles. Mas assim como fragmentos de argila
vindo ao inimigo. Não iremos fazer o trabalho da Wyrm. permanecem rachados quando reunidos, o dano que cau-
samos permanece. Em seus sonhos – em seus pesadelos
Não Consuma a Carne de – eles ainda se lembram.
Não somos os mestres da humanidade, nem mons-
seu Povo tros para eles temerem, exceto quando eles servem os pro-
pósitos da Wyrm além da redenção. Gaia nos ordenou a
Homem e lobo são o nosso povo. Pedimos a eles um proteger a humanidade; para assegurar que Suas criações,
dever sagrado: assegurar que os Garou continuem viven- não importando quão fracas, sobrevivam para cumprir
do. Sem eles, não podemos fazer o que Gaia colocou dian- com seus desígnios. E parte dessa proteção é mantê-los
te de nós, e nossos números se reduziriam a nada. no desconhecido. Devemos evitar aprofundar nas racha-
duras que nossos ancestrais colocaram em seus corações,

Capítulo Dois: Cultura 47


mentes e almas; essas fissuras são locais para a Wyrm ras- partes explicam como lidamos com nossas vidas diárias,
tejar e plantar suas sementes de corrupção, ódio e medo. ou nos comandam a evitar algumas ações que feririam a
Nós causamos o prejuízo. É nosso dever não piorá-lo. tribo e o mundo a nossa volta, esse mandamento nos dar
o nosso dever. Fomos feitos para seguir essa regra, para

Não Acasale Com os Seus combater a Wyrm. Até que a Wyrm esteja morta – ou nós
– continuaremos a enfrentá-la.
Nossa jornada pode ser uma jornada difícil, longa, É para isso que convocamos todos os lobisomens que
solitária e nenhuma companhia – seja ela Parente, ho- conhecemos quando encontramos a Espiral Negra. É para
mem ou lobo – pode realmente saber o que é caminhar isso que nos preparamos para entrar o portal e desafiar a
pelas trilhas que nós caminhamos. A camaradagem e pro Wyrm em seu refúgio. É para isso que vivemos. E quando
idade de se infiltrar e causar o caos. o momento chegar, será para isso que morreremos.

Aurora
Porém, o preço de sucumbir a tais desejos é a morte.
Não a morte do indivíduo, apesar de que algumas vezes
ela vem quando o impuro nasce, mas a morte de nossa
Assim como o Leão me ordenou, eu obedeci. Contei
tribo inteira. Nossos Parentes são nosso sangue vital, a
tudo que sei, sobre meu povo, nossa história, nossos fei-
força que nos conecta não apenas com a Caledônia, mas
tos e nossos caminhos.
também com Gaia a cada geração que nasce. Dar as cos-
tas para isso é dar as costas para nosso dever, nossa alma O sol se ergue e minha história encerra-se. Posso ape-
e nossa tribo. nas esperar que o que quer que nos aguarde do outro
lado da manhã, alguns sobreviverão para continuar nos-

Combata a Wyrm Onde sos contos.

Ela Estiver
Esse mandamento da Litania é a raiz de tudo aqui-
lo que somos, e tudo que fazemos. Enquanto as outras

48 Uivadores Brancos
Capítulo Três:
O Mundo dos
Uivadores
Brancos
Por que Contos Os Desafios
Histórias ambientadas em eras históricas possuem
Históricos? um grupo de desafios únicos para os Narradores e joga-
dores. Ao narrar jogos em uma ambientação moderna, os
Certos locais e épocas carregam suas próprias atmos- “como”, “por que” e “onde” são geralmente conhecidos
feras emocionais, as atormentadas ruas da Londres da Se- o suficiente para exigir pouca pesquisa ou compartilha-
gunda Guerra Mundial, por exemplo, ou as inexploradas mento de informações. História alternativa ou ambienta-
florestas da América Pré-Colombiana. O tempo e lugar ções originais permitem ao grupo uma liberdade criativa
que uma crônica se situa pode reforçar o tema dominan- completa para construir o mundo por completo o mundo
te, apenas por virtude da atmosfera inerente dessa am- que desejam. Ambientações históricas, por outro lado,
bientação. exigem pesquisa para dar certo.
Assim, algumas vezes um certo período é o melhor A maioria das pessoas não está muito familiarizada
para contar uma história em particular. Quando há uma com os verdadeiros fatos sobre os períodos de milhares
mudança significante em tipos de personagens, montar de anos no passado. Apenas uma dúzia de pessoas talvez
um jogo antes ou depois dessa modificação afeta a rea- possua acesso aos documentos de uma escavação arque-
lidade dos personagens e do mundo em que eles estão. ológica de um acampamento escocês do século II DC,
Histórias focadas nos aspectos centrais dos Sentinelas dos mas milhões já leram as histórias do Conan ou livros Dis-
Homens, os Garou que se tornaram os Tetrasomianos, cworld que possuem versões fictícias dos pictos. Roman-
que por sua vez viraram os Cavaleiros do Ferro, que even- ces fantásticos, lendas, folclore e filmes pseudo-históricos
tualmente tornaram-se os Andarilhos do Asfalto, são me- geralmente colorem nossas percepções de como eram os
lhores ambientadas na antiguidade, por exemplo. Contar dias antigos, resultando em “conhecimento comum” que
uma história dos Sentinelas dos Homens na Idade Mé- é mais ficção do que fatos.
dia ou em tempos modernos altera a natureza básica de Da mesma forma, ao lidar com períodos muito antigos e
quem são os Sentinelas dos Homens, e assim, um tipo locais muito distantes sem nenhum tipo real de referên-
diferente de história. Similarmente, uma crônica de Ui- cia, diferentes eras e locações podem se mesclar. Isso pode
vadores Brancos ambientada durante a Revolução Fran- criar um falso amálgama de culturas muito diferentes, o
cesa, apesar de potencialmente divertida, retrata os Ui- equivalente de um soldado americano moderno vestin-
vadores Brancos muito diferentemente do que eles são do o uniforme de um soldado mexicano do século XIX
representados no material cânone.
Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 50
enquanto porta um sabre da Guerra de Secessão e uma Nenhum evento história acontece em um vácuo; a
pistola de duelo da Revolução Francesa. Apesar de diver- queda dos Uivadores está intimamente ligada com outros
tido, esse tipo de mistura não fornece uma atmosfera for- elementos que aconteceram no mundo naquele momen-
te para uma campanha focando em alguma dessas eras. to. Por causa disso, a informação aqui fornecida esclarece
no geral o Mundo das Trevas durante a porção final do
Uma História Diferente meio da Idade do Ferro. Inclui as culturas humanas e Ga-
rou, assim como outros acontecimentos significantes que
Apesar do foco desse capítulo ser narrar uma
os Narradores e jogadores podem desejar incorporar em
campanha de Uivadores Brancos ambientada du-
suas campanhas históricas.
rante um período particular, nem todos os Nar-
radores e jogadores vão querer se prender a isso.
Algumas pessoas sempre querem criar algo único O Mundo dos
Uivadores Brancos
e diferente com as idéias centrais de um jogo.
Isso não é algo ruim; pensar fora da caixa pode
ser uma forma excitante de transformar material Como muitas das tribos de Lobisomem: o Apoca-
conhecido em algo novo e inovador, e nós enco- lipse, os Uivadores Brancos estão integralmente associa-
rajamos os Narradores a criar a ambientação e dos com uma cultura específica: no caso deles, os pictos.
os arcos de história que melhor combinam com Porém, diferente da maioria das tribos, a sociedade dos
seu grupo de jogadores e estilo de jogo. Uivadores Brancos não existe mais. Bem parecido com a
Para alguns pontos iniciais, cheque “Fatos, Pro- própria tribo, a cultura picta desapareceu séculos atrás, e
vas e a Verdade”, pág. 58, para sugestões sobre deixou pouco mais do que lendas e alguns artefatos para
como fazer isso com os Uivadores Brancos, a Ca- trás.
ledonia, e o final da Idade do Ferro no Mundo
das Trevas. O Apogeu
Apesar da história dos Uivadores Brancos se es-
O Auge dos Uivadores tender até a criação da tribo em tempos pré-his-
tóricos, o apogeu da tribo está próximo do fim
Brancos de sua história, que é o período logo antes e de-
pois que a “Era Atual” começou. Esse período
Para ajudar os Narradores e jogadores a explorar o le-
de tempo possui um potencial fascinante como
vante e queda dos Uivadores Brancos, essa seção introduz uma ambientação para histórias de Lobisomem:
uma campanha histórica da Idade do Ferro. Ao recapitu- o Apocalipse, que culmina no que é, indiscuti-
lar e apresentar uma breve e geral olhada na vida imedia- velmente, o ponto de virada mais dramático na
tamente antes da queda dos Uivadores, ela pavimenta o história da Nação Garou.
caminho para campanhas que são únicas à ambientação
Durante os quatro séculos de 200 AC até 200
da tribo e permite aos Narradores as ferramentas para DC, os Uivadores Brancos foram de uma dedi-
construir suas próprias histórias nesse período sem se afo- cada tribo protetora de sua terra natal e Paren-
gar em pesquisas acadêmicas. Ao apresentar uma breve tes, para a mais depravada legião de inimigos
olhada nessa era e locais, nós também queremos ajudar a que a Nação Garou enfrentaria. Seu contato e
demonstrar porque a tribo era tão dedicada em seu dever. conflito com o Império Romano iniciou uma
Essa seção explora os fatores contribuintes que resulta- trágica história que terminaria com a morte de
ram no resto da Nação não vir em sua ajuda e empresta uma tribo milenar, e o nascimento de uma intei-
um discernimento na tribo não como tolos que correram ramente nova ferramenta das forças do mal.
até sua perdição, mas como heróis desesperados que eles A despeito do sacrifício pessoal em nome de um
realmente acreditavam ser. bem maior ser um elemento vital nos contos
Nosso foco para esse capítulo é especificamente os Garou, o apogeu dos Uivadores Brancos perma-
Uivadores Brancos durante seu auge (os quatro séculos nece como um assombroso lembrete de que não
que levaram até sua queda), aproximadamente 200 AC há garantias na guerra contra a Wyrm. Algumas
até 200 DC. Fisicamente, nós nos concentramos na Ca- vezes, a intenção nobre e o abnegado sacrifício
ledônia, a área atualmente conhecida como Escócia e, não são o suficiente. Quando se combate a per-
especificamente, nas várias tribos caledonii (comumente sonificação da corrupção, perversão e poluição,
chamados de pictos), que os Uivadores Brancos reivindi- existem consequências muito maiores do que a
cavam como Parentes. simples falha, e muito piores do que a morte.
51 Uivadores Brancos
Os Mitos dos Pictos
Ilhas Shetland. Ao oeste, as Hébrides Exteriores e Interio-
res, referidas como Hiperbórea pelos romanos, contendo
Um dos primeiros desafios ao explorar a cultura pic- centenas de ilhas e vários milhares de metros quadrados
ta são os mitos dos próprios pictos. As representações de terra. A terra natal dos Fianna está a menos de 20
modernas dos “pictos” tendem a uma cultura minúscula milhas ao sudoeste do outro lado do Canal do Norte,
de bárbaros meio feéricos, cobertos em tinta azul e por- enquanto o território Fenrir está a quase 200 milhas ao
tando lanças venenosas contra seus inimigos. Apesar de nordeste, separado pelo Mar do Norte.
muitos desses elementos possuir raízes na verdade, como A costa da Caledônia é dramática, contendo muitos
um todo elas estão longe de uma imagem acurada dos estuários (baías estreitas gravadas pelas geleiras e erosão),
Parentes dos Uivadores Brancos. bacias, estreitos. Muitas das praias são pedregosas e não
Para começar, durante o apogeu dos Uivadores Bran- arenosas e cheias de aberturas rochosas ocultas, cavernas
cos, os pictos não existiam. marinhas e penhascos.
Pelo menos, os humanos não possuem registro algum A Caledônia possui duas regiões de relevo distintas.
de um povo chamado de pictos. Uma vez que os povos da As Terras Altas que contêm várias cadeias de montanha
Idade de Ferro da Escócia não deixaram registro escrito que cortam a porção norte da Caledônia, indo em diago-
sobre sua cultura, temos que nos basear em registros es- nal do sudoeste até nordeste pela ilha. As Terras Baixas
trangeiros. O primeiro uso registrado do termo “picto” é ao sul, por outro lado, são menos montanhosas. Isso as
do orador romano Eumenius, em 297 AC, aproximada- torna mais apropriadas para a agricultura e uma região
mente um século após a queda dos Uivadores Brancos. mais populosa.
Antes disso, os romanos registram grupos de povos indí- O relevo da Caledônia fornece uma imensidão de
genas vivendo em regiões ao norte de partes do que hoje oportunidades de histórias. Seitas separadas por barreiras
é chamado de Escócia, a que eles se referiam como Cale- naturais desenvolvem tradições diferentes e defendem seus
dônia, mas não se referem a eles como “pictos”. pontos de vista sobre quais mandamentos da Litania são
mais importantes. Povos focados no mar desenvolvem ri-
Nomes tuais sazonais muito diferentes, quando comparados com
os que vivem no interior ou nas montanhas. Os Garou
Apesar do termo “picto” não ser o mais correto a se com Parentes guerreiros provavelmente possuem visões
usar, é um termo útil e abrangente que fala sobre os povos distintas daqueles cujo Parentes são pastoris. Como essa
da Escócia da Idade do Ferro. Não tendo quaisquer infor- diversidade dentro da tribo afeta a política tribal? Como
mações sobre como eles se chamam, os termos romanos as relações entre as seitas acontecem quando uma ameaça
se tornam o padrão para discutir essa cultura: “Caledô- externa, como a invasão romana, chega até eles
nia”, como um termo para a antiga Escócia, e “Caledo-
nii” como um nome coletivo para os povos indígenas que As Muralhas
ali viviam. Os nomes individuais das tribos: Verturiones,
Durante a invasão e a ocupação da Caledônia, o Im-
Taexali, Vericones e coisas do tipo, são descritas na na-
pério Romano construiu duas grandes muralhas de pedra
tureza e locais assim como possíveis com a informação
e terra pela extensão da ilha. Essas muralhas, e as forta-
limitada disponível através de registros romanos milena-
lezas situadas a cada milha ou mais por todas elas, ajuda-
res. Apesar desses serem termos latinos, não há registro
ram a fornecer uma defesa contra a retaliação das tribos
de como os povos do final da Idade do Ferro na Escócia
do norte e estabeleceram as fronteiras da Britâniia manti-
chamavam sua terra, seus povos ou a si mesmo.
da pelos romanos ao sul. Da mesma forma, elas forçaram
Isso é, na melhor hipótese, uma versão super sim- o tráfego entre a Caledônia e Britânia para passar através
plificada de uma visão cultural de uma área naquele mo- de pontos específicos, que permitiram o Império a regular
mento, apropriada para Narradores e jogadores que de- o comércio e impostos no comércio entre as duas áreas.
sejam ter seus jogos na Escócia da Idade do Ferro. Não é
Primeiro eles começaram a Muralha de Adriano em
a intensão representar todo o escopo e amplitude de um
122 DC, sob o governo do Imperador Adriano, e termi-
estudo acadêmico da cultura e do período de tempo.
naram em 128 DC. Ela se estende por mais de 70 milhas,

Caledônia
em uma direção leste-oeste do forte romano de Segendu-
num na costa leste até o Solway Firth no oeste. Fotalezas
A “ilha” da Caledônia é, na verdade, o terço norte da romanas foram construídas a cerca de cada milha pela
ilha maior agora conhecida como Bretanha, assim como muralha, fazendo dela a fronteira mais amplamente forti-
quase 800 ilhas menores ao redor da maior. As Ilhas do ficada de todo o Império Romano.
Norte incluem as Ilhas Órcades e, mais ao nordeste, as
Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 52
Clima
A Muralha de Antonino está aproximadamente a
cem milhas ao norte da Muralha de Adriano, e personifi-
ca os alcances mais ao norte do Império Romano. A cons- Após várias centenas de anos de padrões climáticos
trução dessa muralha começa em 142 DC sob o governo razoavelmente moderados, a Caledônia experimentou
do Imperador Antonino Pio, e terminou em 154 DC. A mudanças climáticas significantes entre 300 AC e 200
construção dessa muralha é, provavelmente, um dos fa- DC. As terras cultiváveis foram significantemente reduzi-
tores que encorajaram os ataques de retaliação dos Uiva- das pela seca nas Terras Altas e aumento de umidade nas
dores Brancos contra os quartéis de comando romanos. Terras Baixas (que converteram antigas terras cultiváveis
Diferente da Muralha de Adriano, que a grosso modo em turfeiras), combinadas com temperaturas mais baixas
está na fronteira entre a Caledônia e as terras governadas por toda região. Com o curso de gerações, distintos po-
pelos romanos, a Muralha de Antonino estava dentro do vos nativos se mudaram para novas áreas, competindo
território da Caledônia. Assim, ela sofreu resistência sig- por terras que continuavam cultiváveis. Eles derrubaram
nificante das tribos nativos e os romanos eventualmente florestas, tanto pela madeira quanto para fazer espaços
a abandonaram por volta de 160 DC. para seus novos campos. À medida que velhos territórios
A construção de ambas muralhas pode ser um lugar se transformavam em pântanos, as pessoas estabeleciam
de início para um arco de história. Como os Uivadores propriedades e vilas em áreas marginais, como em pânta-
Brancos e seus Parentes se sentem em relação à constru- nos salgados.
ção da maior estrutura que seu povo jamais viu? O que As várias tribos dos Parentes dos Uivadores Brancos
eles acreditam ser o propósito dessas muralhas e como e as seitas com que se relacionavam estavam em grande
eles reagem a isso? Eles observarão passivamente enquan- competição pelos mesmos – e cada vez menores – recur-
to o exército romano ergue as muralhas e suas fortalezas sos. A tensão resultante pode formar a base para uma
por sua terra? Quais ramificações espirituais surgiram de crônica de Uivadores Brancos destacando o drama intra-
tamanho posto avançado da Weaver sendo criado em um -seita que ocorr quando duas tribos de Parentes entram
território, em sua maioria, da Wyld? em guerra, ou dar uma tensão adicional a uma história
que se foca em outros tópicos.

53 Uivadores Brancos
As tribos coletavam bolotas e avelãs para o consumo

Tecnologia e Cultura humano e as usavam como alimento para animais domés-


ticos. Os romanos introduziram nozes, amêndoas e casta-
nhas doces na região durante esse período, apesar de que
Arqueólogos descobriram poucas evidências sobre a
cultura das tribos humanas que habitaram a Caledônia avelãs nativas eram muito mais comuns.
durante a era anterior à invasão romana. Como as tribos Um fazendeiro podia criar gado, porcos, cabras, ove-
nativas não criavam elaborados montes sepulcrais, dei- lhas ou cavalos, apesar do último ser usado predominan-
xando para trás textos escritos ou comercializavam produ- temente para transporte e como símbolo de status, ao in-
tos resistentes com culturas externas, elas deixaram pou- vés de comida. Ovelhas, cabras e vacas eram usados para
co para que os antropólogos modernos juntassem numa fornecer carne e laticínios, com manteiga e queijo sendo
recriação da cultura da era. os produtos mais importantes para consumo e comércio.
Na verdade, a maior parte do que se sabe sobre os Uma grande variedade de aves era domesticada e usada
Caledonii só foi retido devido aos registros romanos rela- para fornecer carne, penas e ovos. Essas aves incluíam ga-
tando os povos que eles estavam invadindo. Entretanto, linhas nativas, gansos, patos, apesar de que os romanos
os romanos registraram apenas o que viram e percebe- introduziram galinhas-de-angola, faisões e pavões.
ram como importante. Como invasores estrangeiros, essa Ovelhas e cabras forneciam não apenas alimento e
informação é inerentemente preconceituosa, geralmente leite, mas também as fibras de lã que formavam a maioria
contraditória e falta discutir fatores importantes na vida das roupas (veja “Vestimentas”, pág. 54).
dessas tribos. A caça era um suplemento importante para a dieta
Isso não é o ideal para jogar uma crônica com enfo- dos Caledonii, apesar de que nos últimos tempos ela tor-
que nos Uivadores Brancos. Os jogadores querem saber nou-se mais uma atividade para o prazer do que para o
quais tipos de armas seus personagens podem empunhar, sustento. A cabra montês e o veado-vermelho forneciam
como são suas roupas e jóias, e que tipo de recurso está couro, osso, galhadas, tendões, assim como carne. Os ór-
disponível para eles em sua batalha contra a Wyrm. Tam- gãos internos, medula e sangue eram ingredientes culiná-
bém importante, os elementos atmosféricos vão a grandes rios junto com a carne de cervo. Apesar de menor, a lebre
distâncias criando um ambiente imersivo. Apesar de não e uma grande gama de aves selvagens eram parte da dieta.
ser vital, saber quais comidas e bebidas eles estão consu- Falcões e cães eram usados para ajudar nas caçadas.
mindo, como seus Parentes se parecem, e como são suas Ao longo das costas, focas e baleias eram recursos va-
casas pode dar aos jogadores um sentimento melhor em liosos, assim como bacalhau, salmão e arenque. A pesca
relação ao período e o que faz de seus personagens dife- normalmente era feita com redes ou lanças, e não anzóis.
rentes de suas contrapartes modernas. Além disso, os povos comiam aves marinhas como gan-
sos-patolas, tordos, gaivotas, cormorões, e também seus
Agricultura e Pecuária ovos. Moluscos como mexilhões, ostras, mariscos, caran-
guejos eram usados como alimento e isca para pescaria.
Na época que levou até a queda dos Uivadores Bran-
cos, a Caledônia ainda era uma economia amplamente Esse rústico estilo de vida deu aos Uivadores Bran-
pastoril. A maior parte das pessoas eram fazendeiros, vi- cos e seus Parentes uma grande conexão com a terra, as
vendo em pequenas comunidades que operavam em um estações e o mundo natural ao seu redor do que os lobi-
sistema de escamo. As fazendas eram generalizadas, e não somens modernos e seus Parentes possuem. Uma grande
especializadas, com uma família geralmente cultivando parte da vida dos Caledonii passava em cultivar, coletar ou
plantações de cereal e vegetais, criando animais domésti- preparar alimentos. Habilidades que podem ser bastante
cos e suplementando suas dietas com plantas selvagens e especializadas para os olhos modernos: abater animais,
caçadas. pecuária, horticultura, produção de cerveja e preservação
Os campos de plantio comuns incluem cevada, aveia, de alimentas eram comuns e vitais para os Caledonii.
trigo, milho e linho, que podiam ser usados tanto como
comida como fibras. Arados de ferro trabalhavam os cam- Culinária e Preservação
pos e os registros romanos creditam o uso de uma má- Carne e pão doméstico formavam uma grande parte
quina de colheita movida por bois nessa época também. da dieta dos Caledonii, suplementada por vegetais, laticí-
Vegetais podiam ser cultivados ou apanhados nas matas. nios, peixe e aves. Os grãos eram triturados em mingau,
Esses incluíam, mas não eram limitados a: repolho, alho- uma comida semelhante a farinha de aveia cozida.
-poró, ervilhas e feijões, cebolas, folhas verdes, nabos e O pão poderia ser sem leveduras, ou fermentado usan-
cenouras. do um método com leveduras ou adicionando cerveja fer-
mentada ou vinho na farinha. Apesar de existirem fornos
Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 54
na Escócia da Idade do Ferro, eles eram relativamente ra- estruturas de madeira terem há muito caído em ruínas,
ros. A maior parte das fornadas era feita em cima de uma vários exemplos de construções de pedra ainda existem,
pedra ou próxima a uma fogueira, usando uma panela de dando uma breve noção das acomodações dos Calendô-
ferro colocada sobre o pão, com brasas colocadas em seu nios. A maior parte das estruturas desse período assume
topo, parecido com um forno holandês moderno. uma das duas formas: o broch ou o castro.
Panelas e utensílios de cozinha de ferro eram comuns,
e muitos alimentos eram fervidos, assados, cozinhados Brochs
em espetos, ou preparados ao pendurá-los em tripés aci- Mesmo antes da invasão romana na Caledônia, a
ma dos fogos da cozinha. Fornos secavam os grãos como vida na Ilha Esmeralda era difícil e perigosa. A palavra
forma de preservá-los e prepará-los para serem moídos e broch significa “forte”, e assim como muitas arquiteturas
transformados em farinha. existentes na época, eles projetaram os brochs para prote-
O sal coletado da água do mar era um conservante, ger aqueles que viviam em seu interior de ataques, assim
assim como tempero. Muitas variedades de ervas nativas como dos elementos.
eram usadas na culinária e também para propósitos me- Os brochs são circulares, de vários níveis, estruturas
dicinais. O mel era o único adoçante disponível, e usado domiciliares semelhantes a torres, construídos com mura-
na medicina, tanto internamente como para uso tópico, lhas ocas de pedra e teto de madeira. A maioria possuía
como um antisséptico. algo entre 15 e 50 pés de diâmetro, com muros que iam
O sustento era um ponto fraco na armadura prover- de 10 até mais de 20 pés de altura. Acima do nível do
bial de todas as tribos e vilas. Um inimigo – sobrenatural chão, os pisos eram feitos de madeira, com escadas geral-
ou não – que estava disposto a queimar campos, macular mente construídas em espaços entre as ocas muralhas.
as águas e florestas, ou de outras formas atacar os supri- Os brochs são notórios por serem construídos usan-
mentos alimentícios, e que era tão fatal quanto um inimi- do um método de pedra seca, sem argamassa para conec-
go que corta gargantas. Assegurar que seus Parentes tives- tar os materiais. Eles existem por toda Caledônia, apesar
sem comida o suficiente era uma preocupação muito real da maior concentração ser nas partes norte da ilha. Algu-
para os Uivadores Brancos, que sabiam que suas linhas mas vezes eles se encontram sozinhos, seja nas matas ou
poderiam morrer tão facilmente pela fome como graças a próximo de terra e agua, que faz com que eles, provavel-
assassinatos. mente, protegessem fazendas próximas. Em outros luga-
res, no entanto, existem construções menores de pedra
Álcool agrupadas ao redor do broch, e em alguns locais, vários
O álcool não é um ramo só dos Fianna. As tribos pequenos brochs estão próximos, em uma formação simi-
Caledonii da Idade do Ferro apreciavam vinho e cerveja lar a uma vila.
de maneira recreativa e também medicinal. Uma vez que Uma versão menor do broch, chamada de dun, tam-
o clima não era favorável a uvas, frutas, como a baga do bém era comumente usada durante esse período. Muitos
sabugueiro, amora, amora silvestre e framboesa iam em lugares por toda a Caledônia incluem em seus nomes al-
seu vinho, mas também urze, bétulas, mel e cevada. A ce- guma variação da palavra “dun”, indicando suas raízes
vada também era o principal componente na fabricação nessas pequenas fortificações de pedra.
de cerveja.
Infelizmente, apesar da fermentação e fabricação Castros
de bebidas serem comuns na Caledonia dessa época, a Mesmo após o advento da agricultura permitir que
destilação é um processo mais recente. A produção da as tribos Caledonii formassem acampamentos, a maioria
aqua vitae e uísque não chegou até as Ilhas Britânicas por das vilas era bem pequenas. Poucas possuíam mais de 50
mais de um milênio após o terrível destino dos Uivadores habitantes, a menos que possuíssem um castro ou ou-
Brancos. tra fortificação de proteção. Ao invés de fazer uma úni-
Muitos rituais dos Uivadores, sejam eles místicos ou ca construção para proteger, os castros usavam estruturas
sociais, envolviam bebidas intoxicantes ou que alteravam naturais (colinas, penhascos, curvas de rios, penínsulas e
a percepção, que permitiam os lobisomens se comunica- similares) e reforçavam a defesa natural com muralhas de
rem mais facilmente com o mundo espiritual. proteção e uma fossa externa.
Alguns castros se tornavam permanentes. Residên-
Arquitetura cias, fazendas e outros elementos vitais algumas vezes
estavam dentro dos perímetros defendidos pelo castro,
Uma das poucas áreas onde ainda existem exemplos oferecendo a aqueles que ali moravam uma proteção de
da Escócia da Idade do Ferro é sua arquitetura. Apesar das longa duração de invasões externas, de homens ou feras.
55 Uivadores Brancos
Por outras vezes, os castros eram um ponto de “retirada”,
onde aqueles naquela área poderiam retirar-se em mo- Materiais
mentos de ataque. Alguns eram usados apenas sazonal- Quando aconteceu a queda dos Uivadores Brancos,
mente, como pontos de reuniões para comércio, rituais, o trabalho com metal em bronze e ouro já era praticado
etc. As mesmas muralhas que protegiam contra ataques na Caledônia por milhares de anos. O trabalho com fer-
também podiam acurralar animais para abate ou, em ou- ro, no entanto, era um avanço recente; apesar de alguns
tros momentos, para reunir o rebanho se necessário. traços de artefatos em ferro existirem a partir de 800 AC,
Os Uivadores, algumas vezes, usavam esse mesmo eles não eram comuns a cerca de 400 anos depois disso.
estilo de arquitetura para construir suas seitas, simples No período do auge dos Uivadores Brancos, entretanto, a
defesas de pedra para proteger qualquer artefato, item maior parte dos acampamentos teria pelo menos um fer-
sagrado, armamentos ou outros produtos que não eram reiro para fazer e consertar itens vitais para a população.
carregados por membros da seita. Eles podiam fornecer Os ferreiros derretiam ferro a partir de minério em
áreas para dormir, comer, treinar filhotes, curar guerrei- pequenas fornalhas, com apenas um pé ou dois de largu-
ros feridos, construir itens e outros aspectos do dia-a-dia ra e algumas polegadas de profundidade. Após, eles tra-
da vida Garou podiam ser facilmente conduzidos sob a balhavam em finalizar os produtos. Armas, ferramentas,
proteção de um teto de pedra. jóias, utensílios de cozinha e alguns itens domésticos po-
diam ser feitos a partir de ligas de ferro ou cobre.
Arte e Artesanato O trabalho com vidro, além de minerar obsidianas
vulcânicas, não era bem desenvolvido na Caledônia. Ape-
Apesar de sua tecnologia ser limitada, a imaginação
sar dos romanos trazerem consigo vidro trabalhado e os
e apreciação da beleza das tribos Caledonii não tinha li-
anglo-saxões da Bretanha terem uma grande produção de
mites. Eles fabricavam objetos puramente decorativos e
vidro e práticas de reciclagem, ele era uma aquisição rara
itens práticos com um olho para a estética e uma atenção
para os povos nativos. Um único lugar para trabalhar vidro
ao detalhe que pode ser apreciado até hoje.

56
nesse período foi encontrado, em um território provavel- retratadas ou quebradas, em uma forma de V, ou quebra-
mente ocupado pelos Caledones ou Decante. A maioria das duas vezes, em uma formação Z.
usava cerâmica, chifres, couro ou madeira como recipien- Considerando as interações entre os Uivadores Bran-
tes para beber, tigelas e outros recipientes para líquidos. cos e seus Parentes humanos, não é uma surpresa que
Da mesma forma, madeira, couro, argila, pedra e os- uma ampla variedade de animais também apareçam na
sos eram os materiais mais comuns para objetos domésti- arte dos Caledonii. Pássaros, como gansos e águias eram
cos. geralmente representados, assim como serpentes, peixes
Entre os Garou da Caledônia, lâminas de ferro e de e uma variedade de mamíferos mundanos: touros, lobos,
obsidianas eram muito estimadas por aqueles que prefe- cavalos, javalis e cervos. Adicionalmente, uma criatura
riam lutar com armas forjadas. Armaduras, usadas como mais misteriosa era frequente em sua arte. Geralmente
decoração ou intimidação, além de proteção, eram feitas referida como a “Fera Picta”, alguns antropólogos antigos
em sua maioria com couro, com ossos ou finas folhas de acreditavam que o nariz alongado da criatura era uma
ferro ou placas de bronze. As jóias dos lobisomens se es- tradução primitiva da tromba de um elefante, apesar de
pelhavam nas de seus Parentes: metal com gemas, ossos que a explicação mais plausível é que fosse uma versão
ou vidro retirados de seus inimigos derrotados e decora- estilizada de um golfinho. É possível que essa fera seja na
dos com símbolos de respeito, poder ou misticismo. verdade, uma entidade espiritual, e não natural, presente
na Caledônia, pela qual os antropólogos modernos não
Moedas possuem quadro de referência algum.
Esses símbolos, junto com os símbolos de Gaia, ge-
Apesar de possuir a tecnologia de trabalhar com
metais para fazê-lo, os Caledônios desse período ralmente eram incorporados em itens sagrados e do dia-a-
não possuíam sua própria cunhagem de moedas -dia pelos Uivadores Brancos. Armas, armadura, roupas,
até boa parte do século IX DC. Seus vizinhos jóias e objetos pessoais frequentemente possuíam ador-
bretões ao sul, no entanto, começaram a cunhar nos com uma combinação de decorações da Caledônia e
moedas de ouro, prata e bronze no século I AC dos Garou, e muitas das tatuagens sagradas dos Uivado-
(principalmente devido a suas interações com os res incorporavam ambos.

Aparência
romanos) e aqueles Caledonii mais próximos das
fronteiras sul adotaram o uso de moedas mais
cedo que seus primos ao norte. Em 98 DC, o Senador Caio Cornélio Tácito escre-
As tribos que possuíam interação suficiente com veu que os Caledonii possuíam cabelos vermelhos e gran-
os romanos, ou outras culturas focadas no comér- des braços, e sugeriu que isso indicava uma ligação aos
cio, eram mais prováveis a utilizar moedas em suas germânicos do continente. É possível que as várias tribos
relações. Em geral, entretanto, a economia pasto- da Caledônia possuíssem uma compleição e coloração di-
ral dependia amplamente mais do escambo e da ferentes, já que tinham ligações com culturas diferentes
troca com comunidades locais de forma diária, em sua origem. Seus vizinhos, os Silures, que habitavam
ao invés de uma economia interna baseada em o que agora é Gales, por exemplo, possuíam cabelos escu-
moedas, ou em uma indústria econômica focada ros e ondulados e compleições mais sombrias. Os bretões,
em comércio com estrangeiros. em outra parte da ilha, eram ditos possuir cabelos loiros
e pele clara, então uma ampla variedade nas cores é pos-
Símbolos Recorrentes sível de ser encontrada entre os habitantes da Caledônia.
Independente da cor de seus cabelos e de sua pele em
Vários padrões aparecem frequentemente em itens
Hominídeo, os Uivadores Brancos portam pêlos brancos
decorados desse período, sejam eles enormes pedras ou
como a neve em todas as suas formas de lobo. Apesar
pequeninas peças de jóias. Alguns eram mundanas: pen-
de que estrangeiros possam vê-los como idênticos, os Ui-
tes eram um elemento recorrente, assim como espelhos,
vadores Brancos não têm dificuldade em diferenciar vi-
chifres de bebida e caldeirões. Jóias e outros itens eram
sualmente entre os lobisomens de suas várias linhagens
decorados com imagens: colares, braceletes, broches e si-
humanas das tribos Caledonii.
milares.
Ferramentas, armas e armamentos também eram re-
tratados como elementos decorativos nos itens Caledo-
Vestuário
Lã de ovelhas domesticadas é a maior fonte de fibra
nii. Martelos e tenazes eram comuns, assim como flechas
para roupas na Caledônia durante esse período, apesar
e lanças e objetos retangulares que acredita-se que repre-
de que eles usavam cânhamo e linho, assim como pêlos
sentavam escudos. Geralmente as flechas e lanças eram
57 Uivadores Brancos
de outros animais: bode, cavalo, coelho e até mesmo texu-
go! Couro, encontrado normalmente em sapatos, cintos,
cordões e fios, e roupas de cima compunham seu guarda-
Plaids e Kilts
-roupa. Seda era uma raridade extrema, importada ape- Os Caledonii – Garou ou humanos – não ves-
nas através dos romanos ou outras rotas de comércio até tiam kilts. Não existe documentação verossímil
a Ásia e o Mediterrâneo. de um kilt antes do final de 1500. Plaids ou man-
tos eram longos pedaços de tecido sem forma que
A criação de roupas era altamente desenvolvida nes-
eram usados como uma combinação de cobertor
se período. Tecelões teciam fibras, com as mãos através
e capa, mas eram uma peça de vestimenta exte-
de carretéis e usavam uma variedade de tipos de teares (es-
rior até a Renascença.
tacionários e portáteis) para criar grandes quantidades de
tecido em padrões elaborados, incluindo tartãs ou plaids. Os plaids eram úteis como um cobertor para dor-
Os fios eram pintados antes de serem tecidos, apesar de mir, especialmente ao ar livre, ou presos no peito
que algumas vezes o tecido era deixado sem pintura, ou como uma capa. Eles normalmente tinham algo
pintado após ser tecido. Costura e crochê não foram de- entre 12 e 18 pés de comprimento e cerca de 5 pés
senvolvidos até muito depois desse período, apesar de de largura. Como os teares na época comumente
que os nós (como os usados em redes e similares) eram não tinham mais do que 30 polegadas de largura,
comumente usados. isso significava que eles eram feitos a partir de
duas longas faixas de tecido, costuradas de forma
Apesar de que alguns tecidos eram deixados sem tin-
a se unir. Plaids podiam não ser pintados, ou de
tura, outras cores eram possíveis utilizando as técnicas de
uma cor única, listrados ou mais elaboradamente
pintura dessa época: marrom e ferrugem, amarelo dou-
tecidos, no pano xadrez que carrega a definição
rado, verde, cinza, preto, vermelho escarlate, azul ou até
mais moderna de um plaid.
mesmo roxo e rosa.
Plaids eram populares entre os Uivadores Bran-
O item básico de vestuário para homens e para mu-
cos, por sua versatilidade e porque eles se aco-
lheres era uma correia, uma bata semi-ajustada. A camisa,
modavam facilmente às mudanças de forma com
normalmente costurada dos lados, nem sempre ficava nos
suas variedades de formas e tamanhos. É possível
ombros; algumas vezes a correia era presa nos ombros.
que os primeiros verdadeiros kilts foram desen-
Uma bata podia ser sem mangas ou ter suas mangas cos-
volvidos quando um as roupas não dedicadas de
turadas no ombro. Por cima disso, uma pequena jaqueta
um Garou da Caledônia foram destruídas graças
chamada de ionar, ou uma capa retangular chamada de
à uma mudança de forma inoportuna, e ele teve
brat ou plaid podia ser vestida para aquecer (veja o qua-
que improvisar com o que sobrou de suas vestes.
dro lateral Plaids e Kilts).
Mulheres e homens nobres geralmente vestiam lon-
gas batas, na altura dos tornozelos para as mulheres e da
Tatuagens
No século I AC, Júlio César disse, “Omnes vero se Bri-
batata da perna até os tornozelos para os homens.
tanni vitro in ficiunt, quod caeruleum efficit coloremc”.
Apesar de ser comum andar com as pernas descober- Essa afirmação geralmente interpretada como “Todos os
tas, os homens algumas vezes vestiam calças conhecidas bretões se pintam de azul com índigo”, criando a imagem
como trews ou braes por baixo da bata. Elas iam até o joe- dos pictos cobertos apenas por tinta ou tatuagens azuis.
lho ou tornozelo, dependendo do clima e se prendiam na Porém, muitos historiadores modernos são céticos a res-
cintura com cordões. Como as descrições das mulheres peito dessas primeiras interpretações; o índigo não mar-
dessa época mostram saias na altura do tornozelo, não é ca a pele tão bem quando utilizado como tinta corporal,
sabido se elas vestiam as trews por baixo. mas também não funciona como um agente para tatua-
Os sapatos Caledonii desse período eram distintos gem, uma vez que faz com que a ferida não se cicatrize
pois eram uniformemente criados a partir de um único apropriadamente, e não “cicatrizará dentro da ferida”.
pedaço de couro ou pele. O sapateiro costurava o mate- A palavra “vitro” também se traduz em “vidro”, fa-
rial ao redor do pé com um fio ou cortava para dobrá-lo zendo com que alguns historiados postulassem que a refe-
primorosamente ao redor do pé antes de amarrá-lo bem rência era a se usar vidro como uma forma de jóia. Porém,
apertado. como os antigos Caledônios não trabalhamavam vidro,
Os Uivadores vestiam roupas similares em suas for- mesmo que eles o trocasse com os europeus do continen-
mas humanas, geralmente usando o Ritual da Dedicação te, essa interpretação também não é satisfatória.
do Talismã para assegurar que não destruíssem suas rou- Entretanto, caso os antropólogos estivessem cientes
pas favoritas durante as mudanças de forma. sobre os Garou, o significado seria muito mais fácil de se
Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 58
interpretar. Tanto os Fianna quanto os Uivadores Bran- Os Garou dessa época usavam as mesmas armas, o
cos regularmente usavam tatuagens, incluindo tatuagens que dava a eles um estilo de luta muito diferente dos in-
fetiches, e aqueles Caledonii que se tatuavam eram Paren- vasores europeus. Os Uivadores Brancos e seus Parentes
tes, que o faziam como uma forma de denotar sua cone- eram melhores equipados para a guerra de guerrilha e
xão com os seus familiares Garou. Os rituais e processos para táticas de “cortar e correr”, enquanto Roma (e seus
que os lobisomens usavam para criar suas tatuagens certa- aliados sobrenaturais) baseava-se amplamente em sua me-
mente eram compartilhados com seus Parentes, permitin- talurgia mais avançada e em táticas com suas unidades
do a eles que criassem algo que no final os historiadores mais próximas umas das outras.
mundanos não possuiriam o contexto, conhecimento so-
brenatural ou habilidade para recriar. Transporte
Armas e Armaduras A maioria dos Caledonii vivam suas vidas inteiras, e
morriam, dentro dos limites de seu local de nascimento.
Registros dos primeiros armamentos da Caledônia A ampla maioria do transporte pessoal ocorria a pé, com
e das vestes de guerra encontram-se gravados em rochas, os cavalos sendo usados para viajar distâncias maiores,
retratando os guerreiros tribais nativos da época vestindo caso estivessem à disposição.
curtas túnicas (do comprimento do joelho ou coxa) e car- Carroças, puxadas por cavalos ou bois, eram usadas
regando pequenos escudos quadrados ou redondos, mas como transporte pessoal e para carregar produtos. Carru-
nenhuma outra armadura. agens de um único eixo com rodas de raios podiam ser
Os combates aconteciam a pé, ou em cima de cava- usadas para guerra e para entretenimento, mas raramente
los, em um estilo de guerrilha de ataque que era ainda o eram. Como nenhuma carruagem intacta desse perío-
mais letal por virtude do conhecimento das tribos de seu do foi descoberta na Escócia, é difícil dizer se as raras ima-
território natal. Apesar de que eles não possuíam o trei- gens de carruagem das artes dos Caledonii desse período
namento formal e nem a armadura dos invasores roma- representam itens que eram
nos, os Caledonii ainda eram respeitados e temidos por usados por esse povo ou
seus inimigos por sua ferocidade e astúcia, muito do qual se são representações
era um resultado da próxima ligação das tribos humanas de itens romanos ou
com seus familiares Garou. Os guerreiros lobisomens as- histórias de outras
sumiam o fardo de ensinar táticas semelhantes a matilhas épocas e locais.
para grupos promissores de guerreiros humanos das tri-
bos que eles protegiam.

Armas
Quando em combate próximo, a arma quintessencial
era a lança, tanto de uma quanto de duas mãos, com um
cabo de madeira, e a ponta de osso, sílex ou metal. Ma-
chados também eram comuns: machados pequenos de
cabeça quadrada ou machados de batalha de duas mãos.
Os guerreiros da Caledônia também usavam espadas e
facas de muitos tipos. Alguns eram apenas extensões
das facas comumente usadas como ferramentas; qual-
quer coisa que pudesse tirar a pele de um cervo ou cor-
tar um peixe poderia ser capaz de fazer a mesma coisa
em um cenário de batalha. Eles também usavam espadas
pequenas, com menos de dois pés de comprimento, em
sua maioria. A maioria possuía pontas arredondadas, e
eram usadas mais para retalhar e destroçar do que para
perfurar.
Para armas de alcance, as tribos Caledonii usa-
vam javelins, que geralmente eram apenas madei-
ra descascada até ganhar forma, arcos com flechas
com ponta de madeira endurecida, pedra ou metal e fun-
das com pedras de rio como projéteis.
59 Uivadores Brancos
Os desafios do terreno da Caledônia, combinado
com a falta de estradas, contribuíram fortemente para
uma atmosfera de isolamento entre as seitas e as tribos da
Carnyx - Uivos de Guerra
Uma das únicas qualidades que os romanos per-
área. Isso enfatiza as pontes da lua como o único método ceberam a respeito dos Caledônios foi o uso que
confiável de viagem entre seitas, com um tempo eficiente, eles tinham para o carnyx, chifres de batalha se-
mas também tornava difícil para os Garou estabelecer os melhantes a trombetas usadas para inspirá-los e
níveis de confiança exigidos para eles para desejar imple- colocar medo no coração de seus inimigos. Eles
mentar tais pontes da lua. eram tão distintos que eles foram um dos emble-

Morte e Funeral
mas que os romanos usaram para identificar os
Caledonii.
Apesar do foco dos Uivadores Brancos em interagir Eles geralmente fabricavam essas trombetas na
com os mortos, os funerais de seus povos eram, em sua forma de cabeças de animais: javalis, águias, ser-
maioria, muito informais. Já que o número de cemitérios pentes e, claro, lobos. Tribos de Parentes original-
encontrados é relativamente pequeno, é provável que a mente fizeram esses carnyx em uma tentativa de
maioria de seus mortos fosse enterrada sem proteção al- replicar os poderosos uivos de seus aliados Garou.
guma e, assim, retornavam para os elementos rapidamen-
te.
Nos exemplos onde houve enterros formais, os cor-
Linguagem
Como a língua Caledonii (ou línguas, mais provavel-
pos eram deitados, com a face para cima, em uma sepul-
mente, já que cada tribo provavelmente falava seu próprio
tura alinhada com longas pedras e cobertas com pedras
dialeto) não sobreviveu até os dias modernos, existe uma
semelhantes. Ou essas sepulturas eram marcadas com
grande quantidade de suposições sobre a fala dos povos
uma pequena pilha de pedras, arranjadas de forma qua-
da Escócia da Idade do Ferro. É provável que as antigas
dradas, redondas ou como halteres. Algumas vezes pedras
tribos da Caledônia falassem uma variedade de dialetos,
de quartzo branco eram colocadas sobre a pilha, apesar
e é provável que eles tivessem ligações com as mesmas lín-
de que não é certo se era por pura decoração ou se pos-
guas antigas que deram origem ao irlandês, gaélico esco-
suía algum significado espiritual. Lápides perpendiculares
cês, galês e córnico. Mas além de alguns nomes de locais
eram raras; uma pedra sobre a sepultura era um sinal de
que traçam suas raízes até aquela época, pouca evidência
que a pessoa enterrada era de alguma significância social.
permanece para apoiar a teoria de uma forma ou de ou-
Apesar de que muitas sepulturas eram localizadas bem
tra.
distantes umas das outras, agrupamentos semelhantes a
cemitérios não eram tão incomuns. Também não existe uma evidência sólida da utiliza-
ção de escrita pelos proto-celtas da Idade do Ferro. Exis-
Diferente de muitas culturas ao seu redor, os povos
tem pedras que datam desse período, inscritas com sím-
da Caledônia não enterravam pertences com seus mor-
bolos e desenhos que alguns discutem possuir significado
tos. Uma pessoa particularmente importante poderia ser
linguístico, mas não há um consenso dos historiadores
enterrada com um ou dois pequenos itens de valor: vi-
se os pictos (ou suas tribos predecessoras) usavam uma
dro importado, uma peça de jóia, ou similares. Porém,
linguagem escrita. Os romanos não mencionam o fato,
diferente de muitos, os Caledonii não equipavam seus
e as outras inscrições, além das Ogham, algumas vezes
mortos com riqueza e itens que viajariam com eles na
são atribuídas aos pictos porque não se encaixam com os
pós-vida. Isso parece indicar uma compreensão distinta
padrões de outras línguas celtas. Não existe rastro de co-
das diferenças entre o corpo físico e o espiritual, um co-
municação escrita sendo usada pelos nativos da Escócia
nhecimento talvez auxiliado por suas interações com seus
durante a era dos Caledonii.
irmãos Garou.
Além da língua falada por suas respectivas culturas,
Os Uivadores Brancos seguiam práticas similares. Os
os Uivadores Brancos também usavam a mesma lingua-
lobisomens sabiam que o que ficava para trás após a mor-
gem falada e escrita que os Garou usam entre si desde
te era apenas uma casca carnal; o espírito tinha se reuni-
o início dos tempos. Isso permitiu a eles se comunicar
do ao ciclo. Como tal, nada de importante era colocado
não apenas com os outros Uivadores, mesmo que não
sobre o corpo de uma Garou caído, exceto para protege-lo
compartilhassem o mesmo dialeto humano, mas também
de ser usado pelas forças do inimigo para magia ou outros
com os Fianna, Crias de Fenris ou outros Garou que eles
vis propósitos.
pudessem ter encontrado.

Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 60


Escrita Fatos, Provas e a
Apesar da Idade do Ferro ter sido, em muitas áreas,
o local de nascimento da escrita, não há evidências de
que as tribos da Caledônia usavam a escrita durante esse Verdade
período. Porém, outras culturas que eles (ou seus aliados A história dos Uivadores Brancos de Morag é apenas
Garou) possam ter interagido certamente o fizeram. Caso uma única voz, e uma que viveu e morreu junto com a
os Narradores desejem dar aos Uivadores acesso à língua tribo. Ela fala o que os Uivadores pensam deles mesmos
escrita, várias versões existiam durante o período antes da como verdade. Isso fornece ao Narrador uma narrativa da
queda da tribo para a Wyrm. história dos Uivadores, sem forçá-la a ser a única história
da tribo. Por fim, a informação é uma ferramenta a ser
Ogham usada para contar as histórias que você deseja explorar,
Talvez a forma mais apropriada de escrita para os Ui- ao invés de limitar a suas opções.
vadores Brancos e seus Parentes seria o alfabeto celta co-
nhecido como Ogham. Apesar de que o ápice do uso do
Ogham não aconteceu até o século V ou VI DC, alguns
Era Glacial
O Grande Inverno que os Uivadores Brancos falam a
etimologistas acreditam que suas raízes possam ter desen- respeito é o período glacial mais recente da era moderna, e
volvido já no século I AC, o que o tornaria uma escolha aconteceu entre 110.000 e 10.000 anos atrás, com seu pe-
apropriada para a comunicação antes da queda dos Uiva- ríodo de gelo mais intenso acontecendo cerca de 22.000
dores Brancos. anos atrás. O gelo tinha recuado por volta de 8.000 AC.
Ogham consiste em linhas semelhantes a barras, ar- Ninguém sabe muito o que aconteceu durante a Era
ranjadas vertical e diagonalmente junto com uma linha Glacial no Mundo das Trevas, muito porque os humanos
horizontal base. Alguns estudiosos acreditam que ele seja não tinham desenvolvido a civilização. Até a Revolução
relacionado, ou que tenha até mesmo fundado, com ou- Neolítica ao final da Era Glacial, os humanos espalhados
tra linguagem escrita do período, as runas germânicas. ao redor do mundo, em sua maioria, eram coletores e ca-
Cuneiforme çadores nômades. Foi apenas após o final da Era Glacial
mais recente que os humanos desenvolveram a agricultura
Cuneiforme são marcas moldadas como cunhas gra- e poderiam ajudar aqueles que não estavam diretamente
vadas em tábuas de argila, e é uma das mais velhas conhe- envolvidos na produção de comida: artesões, comercian-
cidas formas de escrita verdadeira. A escrita cuneiforme tes, construtores, filósofos, clérigos e similares.
originou-se na Mesopotamia, que é a área que atualmente Apesar de não existir evidência arqueológica de hu-
inclui e cerca o Iraque, e foi eventualmente substituída manos ou proto-humanos residindo nas Ilhas Britânicas
pelo alfabeto escrito em algum lugar por volta do mesmo durante ou antes da Era Glacial, a destruição do Grande
período da queda dos Uivadores Brancos. A última tá- Inverno apagou todos os traços dos antigos ancestrais dos
bua cuneiforme a ser datada foi criada em 75 DC, o que Uivadores Brancos, permitindo àqueles do Mediterrâneo
significa que no auge dos Uivadores Brancos, a escrita e Oriente Médio repovoar as ilhas após a Era Glacial
cuneiforme era usada como uma forma de escrita em ou-
tros lugares do mundo, especialmente no Oriente Médio Uma crônica ambientada durante a Era Glacial ofe-
e em culturas que interagiam intensamente com a região. rece recursos para aqueles que desejam explorar as pri-
meiras partes da história Garou, possivelmente antes das

Fenício Guerras da Fúria ou o Impergium. Para aqueles com um


gosto pelas Raças Perdidas, esse período oferece todo o
Outra potencial linguagem escrita que os Uivadores elenco das Raças Metamórficas, já que acontece antes da
Brancos possam ter encontrado é o alfabeto fenício, que extinção dos metamorfose como os Grondr, Apis, Cama-
era amplamente usada pela região mediterrânea durante zotz ou Okuma.
os anos finais da Idade do Ferro. O fenício eventualmen-
te desenvolveu em vários alfabetos escritos significantes:
aramaico (que depois evolui para o árabe moderno), he-
Após o Grande Inverno
breu e o alfabeto grego, que, por sua vez, gerou os alfabe- Após o Grande Inverno terminar, os Uivadores Bran-
tos latim, cóptico e cirílico. cos afastados de suas terras natais lentamente retornaram
para a Caledônia. Eles trouxeram consigo Parentes hu-

61 Uivadores Brancos
manos de climas mais temperados para substi-
tuir aqueles que foram incapazes de sobreviver
a Era Glacial na Caledônia. Através dos séculos
XIX e VIII AC, esses Parentes evoluíram de ru-
des unidades familiares de caçadores-coletores
para acampamentos tribais mais permanentes.
Por volta de 300 AC, o rebanho humano da
tribo tinha desenvolvida todas as tecnologias
básicas para a civilização: agricultura, cerâmica,
tapeçaria, mineração, navegação e astronomia.
Eles construíram casas e trabalhavam com fer-
ramentas de pedras, apesar de suas tecnologias
ainda serem cruas quando comparadas com o
resto do mundo ao redor deles. Os habitantes
da Escócia não entraram na Idade do Bronze
até cerca de 2000 AC (comparado com 3300
AC, para a maioria do Oriente Próximo).
Nesse período, a tecnologia fez seu cami-
nho do continente até as Ilhas Britânicas, onde
as antigas tribos começaram a fundir cobre e
liga-lo com estanho para fazer bronze. Eles usa-
vam esses metais em ferramentas e armas, jun-
to com o sílex, que eles já usavam anteriormen-
te. Sua tecnologia em trabalhar com metais:
fornalhas, foles e similares mais sofisticadas –
conduziram para uma produção imensamente
mais sofisticada de peças ornamentais e jóias,
ferramentas e armas: pontas de lanças, macha-
dos, facas e adagas.
A Caledônia entrou na Idade do Ferro em
aproximadamente 750 AC, provavelmente por
pegar a tecnologia da Inglaterra e do continen-
te. As ferramentas que os ferreiros da Idade do
Ferro criaram pareciam bem similares às mo-
dernas: serras, cinzéis, tenazes e martelos. Eles
relegaram o bronze ao uso ornamental nesse
momento.
Em 55 AC, o general romano Júlio César
invadiu as Ilhas Britânica com 10.000 tropas.
Apesar de que seria um século antes dos roma-
nos marcharem para a Caledônia, conduzida
por Quinto Petílio Cerial em 71 DC, o ataque
de César monta o cenário para vários séculos
de hostilidade entre as tribos nativos e os inva-
sores romanos.

Era Moderna
Como os Uivadores Brancos caíram a qua-
se dois mil anos atrás, a maioria das histórias
sobre eles irão se ambientar no passado. É,
entretanto, possível incorporar os Uivadores
Brancos em histórias modernas e cada possibi-
62
lidade oferece suas próprias vantagens e oportunidades a resto da Nação Garou, mas também implora por uma res-
explorar temas diferentes em um enredo. posta: De onde vieram os Dançarinos da Espiral Negra,
se não da queda dos Uivadores?
Renascimento Espontâneo Outra tribo caiu no lugar dos Uivadores Brancos? A
Mesmo na genética atual, pesquisadores frequente- Wyrm encontrou uma maneira de recrutar lobisomens
mente encontram resultados inesperados. Acrescente es- individualmente e não em massa, das mais diversas tri-
píritos na mistura e praticamente tudo é possível. Pois um bos dos Garou? Ou os Dançarinos da Espiral Negra do
Uivador Branco nascer de um par de pais Parentes que Mundo das Trevas é algum tipo de reflexo sombrio dos
há muito esqueceram suas ligações com os lobisomens Garou, o mal manifestado por toda a eternidade, ao invés
seria praticamente impossível; mas coisas mais estranhas da corrupção de uma das tribos guerreiras de Gaia? Cada
aconteceram. opção apresenta um ambiente e tema diferente para um
Tal nascimento certamente atrairia a atenção dos es- jogo moderno.

Um Novo Elenco
píritos, especialmente o Leão, que agora serve como par-
te da ninhada do Grifo. Ele teria que recuperar seu lugar
como totem de uma tribo inteira novamente. Ele poderia
prometer praticamente qualquer coisa para aqueles que Apesar dos Uivadores Brancos serem os candidatos
pudessem recuperar o novo filhote e mantê-lo longe do naturais a ocupar o centro do palco em uma crônica na
perigo, tudo isso enquanto guardam o desgosto do Grifo Idade do Ferro, eles estão longe de ser as únicas estrelas
por perder um poderoso servo. em potencial. Muito dos conselhos desse capítulo se foca
em criar uma história focada nos Uivadores Brancos am-
Infelizmente, os Dançarinos da Espiral Negra tam-
bientada na Caledônia durante a era da invasão romana,
bém saltariam na oportunidade de puxar um de seus ir-
mas poderia muito bem fornecer a base para um jogo sem
mãos há muito perdido para o seu não-tão-amável abraço
ser dos Uivadores, ou até mesmo sem ser sobre os Garou,
familiar. Suas tentativas de reivindicar o filhote Uivador
ambientado no advento da Era Comum.
Branco, com todo o apoio da Wyrm por trás deles, po-
dem dar até mesmo ao Garou mais valente a pensar me-
lhor em se envolver na busca do Leão. Outras Tribos
O isolamento auto-imposto dos Uivadores Brancos
A Grande Busca nos séculos que levaram até a invasão romana pode con-
A Grande Busca traz os Uivadores Brancos de volta tribuir com o silêncio que eles ouviram ao uivarem por
para os tempos modernos não através do renascimento, ajuda com a Espiral Negra. Nenhuma tribo, no entanto,
mas através da restauração do Leão como o totem tribal. existe em um vácuo e, até a sua queda, eles ainda eram
Apesar de que os Garou vivos possam não compartilhar a parte da Nação Garou, e capazes de se comunicar e inte-
ancestralidade dos clãs Caledonii, ao tentar tirar o Leão ragir com outros Garou, mesmo que tais relações fossem
da servidão do Grifo e executar feitos o suficiente em seu difíceis e raras.
nome, eles poderiam iniciar um movimento para resgatar
a tribo e seu antigo totem para sua antiga glória. Fúrias Negras
Talvez o Leão aproxime-se da matilha diretamente, Tendo visto em primeira mão os efeitos do poder do
ou através de um lobisomem que é obcecado com os Ui- exército romano quando sua amada Grécia foi conquis-
vadores Brancos e tenha recebido visões de uma jornada tada, as Fúrias Negras provavelmente são umas das mais
espiritual que poderia recuperar o bom nome do antigo simpáticas o problema dos Uivadores Brancos. Sua hesi-
totem dos Uivadores Brancos. Apesar de muitos totens te- tação em se envolver com a batalha da Espiral Negra foi
rem caído, nenhum se recuperou; a glória associada com mais prática do que filosófica. A totalidade do território
uma possível vitória poderia muito bem ser o suficiente entre a terra natal das Fúrias Negras e a Caledônia era a
para motivar os Garou a vir em auxílio do Leão. província do Império Romano, e todo o continente entre
a Grécia e a terra natal dos Uivadores Brancos estava re-
Nunca Caíram pleta de mulheres oprimidas e antigas terras da Wyld se
Talvez a opão mais exigente para reintegrar os Uiva- transformando em cidades e fazendas da Weaver.
dores Brancos aos dias modernos é remover sua queda Certamente as Fúrias adorariam ajudar, mas tinham
por completo. Essa modificação exige mais do Narrador- tanto a ser feito próximo de casa, que seria irresponsabi-
do que qualquer uma das outras opões. Ela não apenas lidade virar o rosto para as necessidades locais em nome
pede que ele preencha quase 2000 anos da história dos daqueles que foram incapazes de proteger seu próprio
Uivadores Brancos e encaixá-los na história existente do povo e território.
63 Uivadores Brancos
Roedores de Ossos dos Uivadores Brancos e persistiu por centenas de anos
após. Não é de se surpreender que o Irmão do Meio não
Roma não foi construída com voluntários; foi ergui- atendeu o chamado feito pelos Uivadores.
da – assim como muitas civilizações antigas – sobre as cos- Durante essa era, os Parentes dos Croatan esten-
tas dos escravos. Onde quer que os romanos se espalhas- diam-se por toda a costa leste central da América do Nor-
sem pelo globo, eles o faziam através do suor, lágrimas te, onde pescavam e caçavam, assim como desenvolviam
e sangue das pessoas possuídas como propriedade e, em culturas de agricultura pelo continente por todo o rio
cada cidade, os Roedores de Ossos trabalharam contra os Mississippi. Eles tinham forte parentesco e comunicação
abusos individuais das classes baixas e da proliferação da com os Uktena e Wendigo, mas quase nenhum contato
escravidão como um todo. com o resto da Nação Garou.
A sociedade Caledonii, por outro lado, não era
baseada em um sistema de trabalho escravo, e muito si- Fianna
milar à sociedade Garou, o potencial de cada indivíduo De todas as tribos dos Garou, os Fianna eram os mais
era uma questão de sua própria força, engodo e iniciativa. próximos dos Uivadores Brancos, tanto física quanto es-
Assim, apesar de que os romanos assumiam as tribos hu- piritualmente. Suas terras, separadas pelos cursos d’água
manas, nórdicos ou mesmo seus primos celtas, como es- mais estreitos, mostrava que eles compartilharam territó-
cravos, seus acampamentos raramente atraíam a atenção rio durante o Grande Inverno, e que seus Parentes, algu-
dos Roedores de Ossos que estavam trabalhando duro mas vezes para o desgosto dos Fianna, tinham se mistura-
para proteger os escravos nas cidades pelo globo. do quando o gelo empurrou ambas as tribos para fora de

Bunyip suas terras natais.


Durante o apogeu dos Uivadores Brancos, os Fianno
Apesar dos Uivadores Brancos terem se isolado após lutavam suas próprias batalhas com os romanos, que ten-
seu retorna para a Caledônia após o fim do Grande Inver- taram e falharam em conquistar a Hibernia (Irlanda). Os
no, os Bunyip eram ainda mais inacessíveis. No período territórios Fianna no continente europeu já tinham caído
do zênite dos Uivadores, os nativos da Austrália ainda não para a ocupação romana, e a tribo lutava para manter a
tinham feito contato com os povos fora de suas próprias última porção de suas terras natais quando os Uivadores
ilhas, também não iriam fazê-lo por mais de mil anos. Brancos clamaram por ajuda.
Seus protetores metamorfose, os Bunyip, se fecharam em
seu continente natal, rompendo as pontes da lua entre Crias de Fenris
eles e o resto da Nação Garou durante o Impergium. Seja Durante esse período, os Crias de Fenris e seus Paren-
graças a pura distância ou algum tipo de isolação mági- tes tinham uma diversa relação com o Império Romano
ca protetora, eles permaneceram em solidão durante esse – e uns com os outros. Algumas partes da tribo, especial-
período. É improvável que os Uivadores Brancos sequer mente aqueles nas porções norte, como a Escandinávia,
se lembrassem dos Bunyip, o que dirá pedir a eles por evitaram a cooperação com os romanos além de simples
ajuda com a Espiral Negra antes de sua queda. comércio, e limitaram ativamente sua interação com o
Filhos de Gaia faminto exército de Roma. Outras, incluindo os Godos,
Vândalos e Francos, lutaram contra as invasões romanas
Existe pouco espaço para as pessoas de paz entre so- em suas terras, atormentando as legiões com tamanha in-
ciedades fundadas com a guerra, mas os Filhos de Gaia tensidade que evitaram o avanço romano em várias áreas
acham uma forma de perseverar mesmo no período da da Europa. No entanto, os Fenrir são uma tribo indepen-
expansão romana. Seu foco era bastante centrado em dente e teimosa, e alguns se aliaram aos exércitos roma-
Roma, onde a luta entre as crenças tradicionais dos gre- nos junto com seus Parentes, lutando por uma parte dos
gos e romanos, do antigo judaísmo e da nascente religião espólios de guerra que as legiões tecnologicamente avan-
cristã, fornecia um foco para conflito e mudança em po- çadas e extremamente organizadas geravam.
tencial para o melhor.
Essa diversidade de atitude provavelmente contri-
Croatan buíram para a falta de resposta ao pedido de ajuda dos
Uivadores Brancos. Alguns Fenrir estavam ocupados de-
Os atos dos Garou europeus durante o Impergium mais protegendo suas próprias terras natais para ajudar.
envergonharam os Croatan, que se retiraram para o que Alguns acharam que o pedido dos Uivadores era um sinal
seria muito depois chamado de América do Norte, para de sua fraqueza, e recusaram-se a ajudar até que chegasse
escapar da hostilidade de seus irmãos contra a humani- o momento em que eles poderiam conquistar o território
dade. Essa separação veio milhares de anos antes do auge natal dos Uivadores e anexá-lo para si. E aqueles que se
Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 64
aliaram com os romanos viam os Uivadores como ini- Nesse período, no entanto, eles estavam pressionados
migo, apenas mais um fraco grupo de lobisomens para no conflito entre o insurgente Império Romano, as tribos
serem esmagá-los. germânicas do oeste e os Sármatas do sudeste. Lutando
para manter sua terra natal e proteger seus Parentes en-
Andarilhos do Asfalto quanto tentam cumprir com seu dever como os fazedores
Os Sentinelas dos Homens, como os Andarilhos do de reis de Gaia, os Senhores das Sombras tinham pouco
Asfalto eram conhecidos durante esse período, eram uma tempo para participar das preocupações de uma tribo tão
tribo poderosa durante esse período, mas eles focavam distante de seu território.
sua atenção em áreas com cidades de tamanho conside-
rável e populações “civilizadas”: Roma, Alexandria, An- Peregrinos Silenciosos
tióquia, Éfeso, Patna e similares. Muitos entre a tribo se Durante o apogeu dos Uivadores Brancos, os Pere-
alinharam com os mesmos humanos sedentos por poder grinos Silenciosos já sofriam com a maldição de Set por
que os Presas de Prata, e não se interessavam muito pelos mais de um milênio. Separados por suas terras natais,
desafios enfrentados pela pastoral Caledônia. tanto mística quanto físicamente, a tribo foca seus esfor-
Os Sentinelas estavam cientes dos conflitos dos Ui- ços em tentar romper a maldição, se vingar de seus ini-
vadores Brancos com o exército romano, já que os roma- migos vampiros e encontrar uma forma de recuperar seus
nos controlavam a maioria das cidades importantes não caerns perdidos, seus ancestrais e sua herança. Essa busca
asiáticas durante esse período. Entretanto, eles também era o objetivo condutor de todos Peregrinos Silenciosos
consideravam os romanos aliados mais fortes do que os durante os séculos imeditamente após a maldição, e rece-
Uivadores Brancos e seus Parentes bárbaros, e alguns até beram pouca ajuda nessa questão dos outros lobisomens.
mesmo pensavam na invasão romana da Caledônia como Não é surpresa que a atenção dos Chacais se focava quase
a evolução natural de trazer a civilização e progresso para unicamente nas questões que diretamente pertenciam às
tribos atrasadas. sua tribo e suas necessidades, ao invés de atravessar o glo-
bo para ajudar os Uivadores Brancos.
Garras Vermelhas
Uma das desvantagens de reivindicar um território Presas de Prata
como seu, especialmente um com fronteiras bem defini- Apesar dos romanos serem vistos como servos da
das como uma ilha, é que você afasta os outros que po- Weaver pela maioria dos Garou, os Presas de Prata os
deriam te ajudar mais tarde a protegê-lo. Com os Mactire viam simplesmente usando seu poder para criar e manter
protegendo os locais selvagens da Caledônia, não havia mais poder – características que os filhos do Falcão acha-
espaço ou necessidade para os Garras Vermelhas a viver vam admiráveis. Vendo a efetividade da estrutura organi-
ali. Apesar do campo Mactire e os Garras compartilha- zacional romana através dos acampamentos estrangeiros
rem muitos ideais comuns, a tribo dos lobos tinha pouca na Dácia e no Báltico no século I DC, muitos dos Presas
tolerância para as conexões do campo com seus primos de Pretas uniram forças com os romanos. Eles usaram
nascidos dos homens. Isso tornava as conexões e alianças sua sabedoria política e social para alcançar posições de
complicadas, pelo menos para os grupos como um todo. poder ou para colocar seus Parentes e servos em posições
Como é o modo lupino, a maioria dos Garras Ver- similares à medida que o Império Romano continuava a
melhas tinha o foco muito específico. As coisas que acon- expandir.
teciam fora de seu protetorado eram da preocupação da- Isso os coloca do lado errado do conflito Roma/Ca-
queles cujo os territórios abrangiam os acontecimentos. ledônia para ajudar os Uivadores Brancos quando a tribo
Isso incluiu, mas certamente não se limitou a apenas esse, condenada clama por auxílio com a Espiral Negra.
o destino dos Uivadores Brancos.
Portadores da Luz Interior
Senhores das Sombras De todas as tribos que ouviram o chamado dos Ui-
Enquanto sua terra natal na Europa Central ser a vadores Brancos, os Portadores da Luz Interior foram
linha divisória entre a expansão do Império romano e o os mais próximos a responder. Apesar deles serem forte-
resto do noroeste da Eurásia, os Senhores das Sombras mente diferentes dos outros Garou de Gaia sobre se era
eram uma tribo dividida. Alguns seguiam seus alfas dos seu dever matar a Wyrm ou simplesmente restaurá-la ao
Presas de Prata, entrando nos exércitos e na política ro- equilíbrio, a oportunidade de lidar diretamente com ela
mana. Outros acreditavam que a aliança dos Presas com através do caminho espiralado para Malfeas era um que
Roma era um sinal de fraqueza, e se punham a buscar os alguns da tribo achariam que deveria ser considerado.
supostos sucessores do “trono” Garou.

65 Uivadores Brancos
Após um conselho e consultar profecias astronômi- Apesar de serem, das Tribos Puras, os mais fisica-
cas e espirituais, os místicos da tribo acreditaram que um mente próximos da Caledônia, os Wendigo ainda esta-
grande mal viria a todos os lobisomens caso os Portado- vam a milhares de milhas do outro lado de mares de gelo
res da Luz Interior não se juntassem aos esforços dos Ui- e terras congeladas de seus primos Uivadores Brancos.
vadores Brancos. Não muito após a decisão ser tomada, Mesmo que isso não fosse um impedimento, suas atitu-
entretanto, um “convidado” apareceu no céu noturno. des agressivas e independentes, aliadas ao isolamento co-
Essa supernova alterou as predições dos astrônomos; eles mum das tribos da América os impediria de participar de
a viram como um sinal de grande mau presságio. Caso uma resposta ao pedido dos Uivadores.

Recursos Adicionais
os Portadores da Luz não se juntassem com os Uivadores
Brancos, um grande mal viria até a Nação. Caso eles o fi-
zessem, eles e os Uivadores Brancos deixariam de existir.
A informação fornecida nesse capítulo é apenas uma
Sob a luz dessa premonição de desastre, os Portado-
breve olhada na história do mundo durante o apogeu dos
res da Luz Interior decidiram permanecer no Leste, uma
Uivadores Brancos. Narradores e jogadores interessados
decisão que eles ainda debatem até o dia de hoje.
em uma pesquisa adicional podem desejar checar os li-
Uktena vros a seguir:
Durante esse período, os povos indígenas do sudo- The Art of the Picts: Sculpture and Metalwork in
este e leste da América do Norte e da Mesoamérica do Early Medieval Scotland de George e Isabel Henderson
México Central e América Central tinham formado cul- – um tesouro repleto de fotos de representações gráficas
turas de agricultura. Mais ao sul, as civilizações Chavín e dos tipos de maravilhas que os antigos povos escoceses
Moche estavam prosperando nos Andes do que agora é a eram capazes de criar.
América do Sul. Porém, o hemisfério ocidental permane- A New History of the Picts por Stuart McHardy –
cia isolado do resto do mundo, como assim permaneceria Esse livro integra pesquisa moderna e uma perspectiva
pelo milênio que se seguiria. histórica acadêmica de uma maneira que é acessível e in-
Assim como os Croatan e Wendigo, os Uktena ti- formativa.
nham pouca interação com os Uivadores Brancos, sepa- The Picts: A History por Tim Clarkson – Apesar de
rados como eram por distância, terreno e o envolvimento muitos livros disponíveis sobre a cultura picta serem es-
dos Uivadores no Impergium junto com o resto dos Ga- critos várias décadas atrás, esse foi publicado em 2012, e
rou europeus. assim tem o benefício de uma pesquisa significantemente
mais moderna.
Wendigo The Picts and their Symbols por W. A. Cummins
Diferente dos Croatan e Uktena, o clima severo que – Uma forte análise dos símbolos encontrados nos mo-
os Wendigo e seus Parentes chamavam de lar tornava a numentos rochosos dos pictos, incluindo fotografias e de-
agricultura impossível. Devido a isso, a tribo permaneceu senhos.
nômade e focada na caça por muito depois que o Irmão Picts, Gaels, and Scots por Sally M. Foster – Apesar
do Meio e o Irmão Mais Novo tinham estabelecido raízes de muito desse livro se focar nos últimos períodos da his-
permanentes e desenvolvido assentamentos e civilizações. tória escocesa, a informação sobre as antigas tribos tam-
bém é muito útil.

Capítulo Três: O Mundo dos Uivadores Brancos 66


Capítulo
Quatro:
Poderes
Dons
tos de Renome do Garou aparecem sobre sua pele ou
pêlos. As marcas brilham em índigo luminescente, ape-
sar de que cada Renome possui sua própria sutil inflexão
Além da seleção de Dons dos Uivadores Brancos de cor. Marcas de Glória aparecem como próximas do
oferecida no W20, os aqui abaixo estão disponíveis para roxo, onde linhas vermelho-sangue interlaçam com mar-
os Uivadores Brancos como Dons tribais. cas azuis. As marcas de Honra brilham com prata e tons
brancos. As de Sabedoria, por outro lado, são ressaltadas
Dons dos Uivadores com sombras escuras, o cobalto aprofundando no azul
quase preto. Renome temporário aparece como detalhes
Brancos reforçando os símbolos de Renome permanente. Esse
Dom é ensinado por um espírito Luno.
• Cheiro de Sangue (Nível Um) – Um Garou com
esse Dom tem grande facilidade para rastrear qualquer Sistema: Enquanto esse Dom está ativo, o Garou re-
humano, fera ou criatura sobrenatural cujo sangue ele cebe uma parada de dados de bônus igual ao seu posto.
tenha provado. Aqueles que possuem o Dom, geralmente Ele pode acrescentar uma quantidade desses dados em
ferem um inimigo e então usam seu poder para rastreá- um teste Social (incluindo Intimidação) envolvendo espí-
-los até seu esconderijo. Um espírito do cão de caça ensi- ritos ou outros Garou de Gaia, seja dividindo-os em testes
na esse Dom. Sociais ou usando todos seus dados em uma única ação.
Sistema: Uma vez aprendido, os efeitos do Dom são • Uivo do Banshee (Nível Dois) – Como o Dom
permanentes. O Garou recebe dois dados adicionais para dos Fianna.
qualquer teste feito para rastrear presas cujo sangue ele • Mordida do Leão (Nível Dois) – O Leão ensina
tenha provado. Esses dados também se aplicam no uso de seus filhos muitas coisas, incluindo algumas táticas de
outros Dons, como Sentir a Presa. combate que são mais comuns entre os grandes felinos
• Visão da Morte (Nível Um) – Como o Dom dos do que em canídeos. Os Garou com esse Dom recebem
Peregrinos Silenciosos: Visões do Duat. uma habilidade certeira de morder a garganta de suas pre-
sas, esmagando sua traquéia, sufocando-as até a inconsci-
• Marcas Luminosas (Nível Um) – Quando esse
ência, ou até mesmo estrangulando-as de imediato. Esse
Dom está ativo, marcas brilhantes representando os con-
Dom é ensinado por avatares do própria Leão.

Capítulo Quatro: Poderes 68


Sistema: Os efeitos desse Dom são permanentes. da cena, a sombra desaparece e esse Dom nunca mais
Após declarar o ataque da Mordida do Leão e fazer um pode ser usado naquele indivíduo. Se o Dom for usado
teste bem-sucedido de Força + Briga, um Garou com esse em um morto-vivo, eles não irão lembrar nada após sua
Dom causa o dano normal de mordida e estabelece um primeira morte; vampiros não podem responder pergun-
agarrão sufocante em sua vítima. Cada turno subsequen- tas sobre coisas que aconteceram durante sua não-vida,
te, o alvo deve fazer um teste resistido de Força em uma por exemplo.
tentativa de se livrar do agarrão. O alvo pode tentar rea- •Invocar Elemental (Nível Quatro) – Como o Dom
lizar ações além dessa, mas com +2 de dificuldade. Caso dos Uktena. Esse Dom foi usado para criar muitos dos
o alvo não se solte por um número de turnos igual ao do- montes funerários e fortalezas usados pelas tribos pictas
bro de seu Vigor, ele cai inconsciente. Uma vez que o alvo durante a associação delas e os Uivadores Brancos.
está inconsciente, ele recebe um nível de dano letal pelo •Desmoronar o Túmulo (Nível Quatro) – Em uma
agarrão a cada turno, e não pode regenerar esse dano até terra atormentada com os poços da Wyrm, a habilidade
ser solto. de destruir a integridade estrutural de um covil subter-
• Autoridade Espectral (Nível Dois) – Como o Dom râneo era imprescindível para os Uivadores Brancos. Ao
de Philodox: Chamado do Dever, mas permite que o Ga- usar esse Dom, o lobisomem é capaz de desmoronar uma
rou comande qualquer fantasma que conheça pelo nome estrutura de terra ou pedra ou túnel, tornando muito mais
completo. Diferente do Chamado do Dever, ele só pode difícil para que seja reutilizado para propósitos malignos.
ser usado em um único fantasma por vez. Esse Dom é en- Sistema: O Garou gasta um ponto de Gnose e toca
sinado por um espírito-lobo. o solo, teto ou paredes da estrutura. O jogador faz um
• Fúria Sangrenta (Nível Três) – Aqueles que luta- teste de Força + Ocultismo (dificuldade 6). A dificulda-
ram ao lado dos Uivadores costumavam se perguntar se de aumenta ou diminui com a integridade estrutural e
eles eram os mestres de sua Fúria, ou se sua Fúria era seu habilidade envolvida ao criar a estrutura; 4 para um tú-
mestre. Esse Dom é uma das razões para tal preocupação. nel rapidamente escavado; 5 para uma choça de pedra; 7
Ao se ferir, o Garou é capaz de acessar um novo reserva- para uma caverna de pedra ou um túnel rochoso natural;
tório de Fúria. Esse Dom é ensinado por um espírito do 9 para uma torre de pedra entalhada caprichosamente.
fogo. Para cada sucesso, uma seção de 5 pés da estrutura des-
Sistema: O Garou deve se ferir com uma garra ou morona.
mordida; o personagem recebe um nível de dano agrava- Esse Dom não purifica a área e, simplesmente des-
do não-absorvível e recupera toda sua Fúria temporária. truir um poço cria um ímã gangrenoso para Malditos e
Esse Dom só pode ser usado uma vez por cena. outras criaturas da Wyrm. Por isso, Desmoronar o Tú-
•Território (Nível Três) – Como no Dom dos Gar- mulo é geralmente usado na saída de um poço, após os
ras Vermelhas, apesar de que Uivadores Brancos homi- habitantes do lugar terem sido devidamente tratados e a
nídeos e impuros podem marcar a terra como sua, enta- área em seu interior ritualmente purificada.
lhando símbolos nas rochas do lugar. Pedras marcadas • Visões da Matança (Nível Quatro) – Essa temível
dessa forma podem ser usadas repetidas vezes pelo Garou maldição vem da prática dos Uivadores Brancos de se unir
que as marcou. A duração permanece a mesma; o lobiso- com os fantasmas de animais mortos. Ao marcar uma pes-
mem reativa o Dom acrescentando detalhes adicionais soa com sua saliva, sangue, ou outros fluidos corporais, o
na rocha em questão. lobisomem pode amaldiçoar sua vítima, para que ela seja
•Despertar os Mortos (Nível Três) – Esse Dom cria assombrada com visões de qualquer animal ou indivíduo
uma representação de sombras de um indivíduo caído morto por suas ações (ou inação). Até mesmo animais po-
(humano, Parente ou Garou) e permite que o lobisomem dem ser distraídos por visões de presas que estão sempre
faça algumas perguntas a ela. A sombra criada não é um à vista, mas não podem ser tocadas. Esse Dom é, claro,
fantasma ou um espírito, e não possui conhecimento que de pouco uso contra os verdadeiramente inocentes, mas
era então desconhecido pelo indivíduo antes de sua mor- contra soldados, metamorfose e vampiro que os lobiso-
te. Esse Dom só pode ser usado uma vez em um cadáver. mens normalmente encontram, é de um poder terrível.
Sistema: O Garou gasta um ou mais pontos de Gno- Esse Dom é ensinado por espíritos da serpente.
se e toca o corpo morto. Uma figura de sombras que se Sistema: O Garou deve marcar a vítima com seus
assemelha ao indivíduo morto se ergue do cadáver e irá fluidos corporais, então o jogador testa Inteligência +
responder com veracidade uma pergunta simples para Ocultismo (dificuldade igual a Força de Vontade da ví-
cada ponto de Gnose gasto pelo Garou ao ativar o Dom. tima). A vítima é assombrada por visões sangrentas de
Suas respostas não serão maiores do que uma frase por qualquer criatura viva maior do que um inseto que foi
pergunta. Após responder a última pergunta, ou ao fim morta por suas mãos. As visões duram por um dia por su-
69 Uivadores Brancos
cesso. Quanto mais mortes a vítima tenha sido responsá- ção rivalizada por poucos. Essa ligação permite que eles
vel, mais vívidas e perturbadoras são as visões. Cada dia, conjurem cura de uma maneira que as outras tribos po-
a vítima deve fazer um teste de Força de Vontade para dem apenas sonhar fazer.
não perder um ponto temporário de Força de Vontade. A Sistema: O lobisomem uiva. O jogador gasta um
dificuldade desse teste vai de 4 até 9; 4 para um inocente ponto de Gnose e faz um teste de Inteligência + Expres-
que apenas colocou armadilhas pra ratos ou acidental- são (dificuldade 7). Cada Uivador Branco (ou seus Paren-
mente atropelou um gambá; 7 para um típico Grou e 9 tes) que podem escutar o Uivo cura um ponto de dano
para um vampiro com séculos de matança em suas mãos. letal, contusivo ou agravado por sucesso. Esse Dom não
A quantidade de remorso que a vítima normalmente sen- pode ser amplificado, comunicado ou ajudado através de
tiria não tem efeito na maldição; um vampiro que não se formas naturais, artificiais ou sobrenaturais, ou perde seu
importa com as pessoas de quem ele suga até a morte ain- efeito.
da ficaria horrivelmente distraído enquanto suas vítimas • Fogo Pálido (Nível Cinco) – Esse Dom conjura as
aparecem mais reais e mais frequentemente. fogueiras sagradas usadas pelos Uivadores Brancos para
Enquanto esse Dom está em efeito, a vítima não pode assegurar que os mortos retornem ao ciclo da vida, ao in-
recuperar pontos de Força de Vontade temporários. Uma vés de tornarem-se fantasmas ou coisa pior. Ao conjurar
vez que a Força de Vontade temporária tenha se reduzido essas chamas sagradas, o lobisomem pode arremessar um
à metade da pontuação permanente, todos os testes (além jato de chamas brancas ofuscantes de sua mão, queiman-
de testes de absorção) são feitos com +1 de dificuldade do a carne dos ossos de seus inimigos.
até que os efeitos do Dom tenham acabado. Sistema: O jogador gasta um ponto de Gnose e testa
• Neblina da Charneca (Nível Cinco) – Como o Destreza + Ocultismo (dificuldade 6). As chamas causam
Dom Fianna. seis dados de dano agravado, mais um dado para cada su-
• Uivo de Cura (Nível Cinco) – Os Uivadores Tri- cesso extra no teste de ataque. Além disso, caso a vítima
bos são intimamente ligados, compartilhando uma liga- sofra mais de três níveis de dano após a absorção, ela é
cegada pela duração da cena.
Capítulo Quatro: Poderes 70
Rituais utilizadas para os mortos honrados; para inimigos, o ri-
tualista geralmente improvisa com fluidos corporais. Um
Além dos rituais conhecidos pelo resto da Nação Ga- bolo ou pedaço de pão de algum tipo é colocado na boca
rou, os Uivadores Brancos podem aprender os rituais a do cadáver, junto com um punhado de sal. Após, os parti-
seguir, que são vitais para sua sociedade. Após sua que- cipantes do ritual queimam o corpo; o Dom: Fogo Pálido
da, alguns desses rituais foram corrompidos e colocados geralmente é utilizado para esse propósito, e os seguido-
em uso pelos Dançarinos da Espiral Negra. Outros foram res do Dragão Verde são conhecidos por usar a habilida-
perdidos, apesar de que com pesquisa o suficiente, Garou de dada por seu totem para o ritual, apesar de que uma
modernos podem recuperá-los. pira mundana também funciona.

Rituais de Pacto Uma vez que o cadáver (ou cadáveres, já que o ritual
pode ser usado em muitos mortos ao mesmo tempo, desde
que cada um esteja propriamente preparado e cremado)
Ritual do Sobrevivente é consumido, os ritualistas colocam quaisquer resquícios
Nível Um sob pilhas de pedras ao invés de enterrá-los, para manter
Nascer em guerra contra a Wyrm não dá necessaria- os servos subterrâneos da Wyrm de ter acesso livre a eles.
mente a alguém os recursos para aguentar as tragédias Sistema: Se bem-sucedido, as almas dos mortos são
e horrores dessa guerra. Esse ritual permite que alguém enviadas de volta para o ciclo da vida. Seus corpos não
que tenha visto ou experimentado um evento debilitante podem ser usados de maneira bem-sucedida para propó-
expurgue-o de sua mente permanentemente. sitos necromânticos ou erguidos como os mortos-vivos,
Sistema: Geralmente, esse ritual é executado em um nem suas almas podem retornar como fantasmas.
alvo, ao invés de ser executado por ele, para ajudá-lo a recu-
perar de um trauma, seja ele humano, Parente ou Garou.
Se bem sucedido, uma memória de até dez minutos pode
Rituais Místicos
Tatuagens são mais do que simples decorativos para
ser apagado da mente do alvo. Ela é substituída por uma
as tribos pictas; elas são uma parte importante da cultura
nova memória que, apesar de não diretamente contradi-
dos Uivadores Brancos e da cultura de seus Parentes. Os
tória ao resultado da cena perdida, é mais fácil de lidar.
Garou as usam não apenas como decoração, mas tam-
A testemunha direta de uma tortura pode lembrar-se que
bém como um registro de seu Renome, como uma decla-
a cena aconteceu atrás de uma porta fechada; a memória
ração de conexão com seu espírito totem (ou espíritos),
de esbarrar com um corpo decepado pode agora incluir
e como fetiches. Os últimos dois casos são completados
um lençol convenientemente colocado para bloquear os
como uma parte de rituais sagrados, combinando a arte
ferimentos piores; uma vítima de etupro agora pode se
mundana e foco espiritual com uma forma de arte sobre-
lembrar apenas que elas desmaiaram antes da violação.
natural. Além dos efeitos detalhados abaixo, os Uivado-
O alvo desse ritual deve participar por sua vontade; res Brancos e seus Parentes tem em grande estima aque-
qualquer hesitação por parte do alvo causará a falha do les que portam tatuagens sobrenaturais criadas a partir
ritual. do Ritual da Tatuagem Sagrada. Aqueles que as possuem
ganham um dado de bônus em todo teste Social contra
Rituais de Morte os Uivadores Brancos e seus Parentes. Apenas um bônus
desse pode ser usado por um Garou em um alvo específi-
Ritual da Fogueira dos Ossos co, mesmo que ele possua várias tatuagens.
Nível Um
Vivendo uma terra onde as forças da Wyrm geral-
Ritual da Tatuagem Sagrada
mente atacam os mortos e os enterrados, os Uivadores Nível Três
Brancos desenvolveram um ritual que assegura que seus Através desse ritual, um Garou pode declarar e refor-
amigos mortos, familiares e até mesmo inimigos não se çar suas ligações sobrenaturais com um espírito em par-
levantem para serem usados contra eles. Esse ritual pode ticular. Os benefícios dessa declaração variam de acordo
ser utilizado em cadáveres, não importando quão antigo com a natureza da relação entre o espírito e o lobisomem.
ou recentemente morto, mas é não é efetivo contra aque- Entretanto, de toda forma, o lobisomem reduz a dificul-
les que já se levantaram dos mortos. dade de todos os testes Sociais com qualquer espírito que
O corpo é deitado e então borrifado com líquido. ele tenha se dedicado em um, além dos efeitos listados na
Água pura ou bebidas destiladas são mais comumente tabela abaixo.

71 Uivadores Brancos
Ritual da Tatuagem Sagrada
Espírito Nível Relação Efeito
Gaia Incarna Mãe Sagrada Ao recuperar Gnose de qualquer maneira, recupe-
ra o dobro do normal.
Luna Incarna Matrona Lunar Recebe os efeitos da Qualidade: Ligado à Lua. Ele
se acumula com os efeitos caso o personagem já
possua a Qualidade.
Leão Incarna Patrono Tribal Pode gastar um ponto de Fúria adicional por turno.
Espírito Avatar Incarna / Totem de Matilha Recebe os efeitos do Dom: Comunicação Mental
Gaffling com os membros da matilha. Se já possuir o Dom,
não há custo de Força de Vontade para falar com a
matilha.
Espírito Avatar Incarna / Totem Pessoal Recebe um dado extra em todos os testes Sociais ao
Gaffling lidar com qualquer espírito da Ninhada do totem
Espírito — Não totem Nenhum efeito adicional

A santidade do laço entre o Garou e o espírito unidos


dessa maneira também tem desvantagens. Lobisomens Ritual da Arte Sagrada
que passam por esse ritual para estreitar seu laço com um Nível Três
totem tribal, de matilha ou pessoal descobre que nenhum Apesar de ser possível de criar um fetiche ou tatua-
outro espirito servirá como seu totem, mesmo que a mati- gem cicatriz sem esse ritual, usar o Ritual da Arte Sagrada
lha seja dissolvida ou destruída, ou que o Garou renuncie torna mais fácil e dá benefícios adicionais.
sua tribo e espere encontrar auxílio em outro. Um Garou Os Garou executam esse ritual enquanto a tatuagem
pode, no entanto, possuir uma tatuagem de ligação com ou escarificação está sendo criada, preparando a arte cor-
um totem tribal e um pessoal ou de matilha ao mesmo poral como um lar ideal para o espírito ser ligada no fe-
tempo. tiche. Devido a isso, o processo ritualístico pode variar
Sistema: O Garou que executa o ritual gasta um pon- amplamente. Um espírito de fogo pode preferir cicatrizes
to de Gnose para realizar a tatuagem, assim como o lobi- de queimaduras profundas na carne, ou padrões incisi-
somem que é tatuado; caso o mestre de rituais esteja se vos semelhantes a chamas. Um espírito animal, por ou-
tatuando, ele gasta dois ponto de Gnose. Ele então testa tro lado, pode exigir que o Garou ofereça um sacrifício
Destreza + Ofícios (dificuldade 6). Se o ritual for bem-su- similar àquele que está sendo pedido, na forma de corte
cedido, o lobisomem tatuado recebe o efeito listado abai- dolorosos e profundos que deixam cicatrizes altas em um
xo para aquele espírito em particular. padrão significante para o animal.
Se o teste falhar, a tatuagem é desagradável e o espí- Caso o Garou seja morto ou a tatuagem seja comple-
rito está ofendido. O mestre de rituais e o alvo do ritual tamente removida de seu corpo – arrancando sua pele,
acrescentam dois nas dificuldades de todos os testes en- ou perdendo o membro onde ela está – o espírito é libe-
volvendo o espírito ofendido ou espíritos de seu tipo, e rado do fetiche.
aumentam em um a dificuldade das interações com ou- Sistema: O mestre de rituais testa Inteligência + Ofí-
tros espíritos no geral. Eles devem executar um Ritual de cios (dificuldade 6). Os sucessos formam uma parada de
Contrição para recuperar o antigo status entre os espíri- dados que pode ser acrescentada ao teste para executar o
tos. Para os Incarna, o Narrador deve também penalizar Ritual de Fetiche na tatuagem ou cicatriz em questão.
as habilidades inerentes do Garou relacionadas com o
Incarna: recuperação de Gnose para Gaia, mudança de
formas para Luna, habilidades ou relações tribais para o Pequenos Rituais
Leão.
Apenas uma tentativa pode ser feita para criar uma
Presságio
Tatuagem Sagrada dedicada a um único espírito, ou no Ao se abdicar de comida, o Garou aguça seu foco,
caso de espíritos mais fracos, um espirito de tipo geral (tal permitindo a ele mesmo uma maior visão sobre o mundo
qual “espírito do fogo” ou “espírito-lobo”). além do mundano.
Sistema: O lobisomem jejua do nascer do sol até o
sol poente, consumindo nada mais do que água durante

Capítulo Quatro: Poderes 72


Mentais
esse tempo. Até o nascer do sol da próxima manhã, suas
dificuldades em todas as questões ligadas a profecia, adi-
vinhação, ou interpretação de visões, seja sobre ele mes-
mo ou sobre os outros, são reduzidas em um. Sentido do Túmulo (Qualidade: 1
ponto)
Qualidade e Defeitos As profundezas da terra podem ser confusas para se
Como uma tribo, os Uivadores Brancos têm acesso orientar, especialmente para criaturas que estão acostu-
a muitos das Qualidades e Defeitos normalmente dis- madas a marcos sobre a superfície. Você, por outro lado,
poníveis ao Garou. Qualidades como Código de Honra não tem tais dificuldades; é praticamente impossível que
(“Nunca recusar um desafio”.), e Defeitos como Excesso você se perca no subsolo. Você tem um dado adicional
de Confiança e Futuro Negro são comuns entre a tribo. para qualquer tentativa de se orientar, mapear, viajar ou
Esses eram provavelmente fatores que contribuíram di- superar obstáculos terrenos que aconteçam no subsolo. À
retamente para a tribo se arremessar sem medo em seu critério do Narrador, também pode se aplicar em ambien-
destino. tes de cavernas.
Além daqueles disponíveis para outros Garou, as
Qualidades e Defeitos a seguir podem ser comprados por Instinto do Lar (Qualidade: 2
personagens Uivadores Brancos.
pontos)
Físicos Existe algo, ou alguém, com o qual você compartilha
um laço, e você é capaz de encontrá-lo, não importando
Imune ao Clima (Qualidade: 1 a distância. Essa Qualidade não é um poder sobrenatural
e irá lhe conduzir apenas até a área geral: a vila, mas não
ponto) a um habitante ou quarto, por exemplo. Também não é
uma forma de transporte. Você deve cobrir todas as dis-
Você cresceu nos ambientes mais severos e aprendeu
tâncias e passar pelos obstáculos entre você e o objeto de
a ignorar tudo que os cruéis deuses do clima pudessem
seu foco, e você está limitado pela sua forma de viagem e
jogar sobre você. Todas as penalidades de ambiente que
velocidade. Assumindo que você passe por isso, o Instinto
você normalmente receberia relacionadas são reduzidas
do Lar conduzirá você a seu destino, apesar da distância,
pela metade (arredondado para baixo).
clima ou mesmo interferência sobrenatural.
Senso de Direção (Qualidade: 1 Escolha seu “foco” (seja ele um local ou pessoa com
quem tenha forjado um forte laço) ao mesmo tempo que
ponto) opte compre a Qualidade. Apesar de ser possível alterar
Seu senso de direção é infalível. Mesmo no subterrâ- os focos, tais laços levam tempo e afeição para serem cria-
neo, você sempre sabe onde é o norte e tem -1 em todas as dos. Eles não podem ser “estabelecidos” e “reiniciados”
dificuldades para se orientar ou encontrar seu caminho. com uma simples decisão, e estão sempre à critério do
Essa Qualidade se acumula com outras, como Afinidade Narrador.
com o Subterrâneo e Sentido do Túmulo. Em circunstâncias normais, seguir o Instinto do Lar
não pede testes. Faça um teste de Percepção + Prontidão
Afinidade com o Subterrâneo quando um grande obstáculo ou empecilho como uma
(Qualidade: 2 pontos) cadeia de montanhas, uma nevasca, uma longa demora,
etc, bloquear seu caminho. A dificuldade inicia em 6, mas
Um dos deveres sagrados dos Uivadores Brancos é modificadores podem ser aplicados (+1 para um mês de
caçar os servos da Wyrm que cavam abaixo da superfície atraso, +1 para clima ou terreno agressivo, +3 para inter-
da terra. Você é particularmente capaz dessa tarefa e re- ferência sobrenatural ou distancias acima de 500 milhas).
cebe três dados adicionais para qualquer teste para ações,
incluindo combate, que aconteça abaixo da superfície. À
critério do Narrador, isso também pode ser aplicado em
Perspicaz (Qualidade: 2 pontos)
Você reconhece qualidades interiores naqueles à sua
ambientes de cavernas, tais como dentro de cadeias mon-
volta, boas ou más, e geralmente não está enganado. Aque-
tanhosas.
les que usam de Lábia ou engodos similares contra você
têm suas dificuldades aumentadas em 2 e você reduz suas
próprias dificuldades em 2 ao tentar desvendar alguém.

73 Uivadores Brancos
Bons Instintos (Qualidade: 3 Sobrenaturais
pontos) Visões Proféticas (Qualidade: 2
Você possui a incrível habilidade de intuir o melhor
curso de ação em situações envolvendo respostas instinti- pontos)
vas ao invés de lógica ou pensamento racional. Essa Qua- O véu entre os mundos é fino para você, e algumas
lidade faz de você a companhia ideal nas matas, onde a vezes você recebe vislumbres do que o futuro aguarda.
ação tem precedência sobre a razão. Você faz todos os Essas visões são, no entanto, envoltas em mistério e sim-
testes envolvendo Instinto Primitivo e Sobrevivência com bolismo. Uma vez por sessão de jogo, você recebe uma vi-
-2 de dificuldade. são que pode pertencer a um futuro próximo ou ditante.
O Narrador faz um teste de Inteligência + Enigmas (ou
Temperamento Rude (Defeito: Ocultismo) para você (dificuldade baseada na importân-
cia da informação a ser descoberta). Seus sucessos deter-
2 pontos) minam quão clara é a visão. Caso não obtenha sucessos,
Você sofre de raiva perpétua, e isso é demonstrado isso indica que as visões dão informações perigosamente
em suas palavras e ações. Você é rápido para morder seus errôneas.
companheiros de matilha e facilmente perde seu tem-
peramento. Como você frenquentemente está nervoso, Parente de Fantasmas
você tem dificuldade em acumular Fúria, já que nervoso
é seu estado de ser, e é difícil focar sua ira para algo mais (Qualidade: 2 pontos)
potente. Sempre que você encontrar uma situação que Há algo em você que os fantasmas acham interessan-
normalmente resultaria no ganho de um ponto de Fúria, te. Ao fazer testes Sociais para lidar com fantasmas (não
você deve fazer um teste de Força de Vontade (dificulda- com espíritos ou ancestrais), sua dificuldade é reduzida
de 6) para fazê-lo. em 2. Essa Qualidade não fornece a habilidade de sentir
fantasmas.
Sociais
Amigo dos Pictos (Qualidade: 1
Fetiches
Os Uivadores Brancos possuem acesso a qualquer
ponto) fetiche conhecido pela Nação Garou, desde que eles en-
volvam materiais e fabricação que estejam disponíveis
Apesar da diferente natureza dos povos pictos, você quando a tribo era viva. Obviamente, eles não usam item
não tem problema para interagir com nenhuma de suas tecnologicamente avançados, como Óculos de Espelho,
tribos humanas. Você tem talento para lidar com os diale- Assistente Digital Umbral Pessoal, e coisas do tipo. Além
tos das outras tribos, um entendimento firme de seus cos- disso, os Uivadores Brancos criaram outros fetiches, tais
tumes e, talvez, até mesmo uma reputação positiva entre como os listados abaixo.
as pessoas. Você faz os testes Sociais envolvendo Parentes
ou humanos (não Garou) das regiões pictas com -1de di-
ficuldade.
Escudo Fantasma
Nível 3, Gnose 6
Xenófobo (Defeito: 3 ou 6 Maior do que os escudos normais usados pelas tribos
pictas, esses escudos de corpo inteiro retangulares fazem
pontos) mais do que proteger um Uivador Branco de ataques;
eles o escondem da vista também. O Escudo Fantasma é
Você desconfia aqueles de fora de sua tribo e acha
ligado a um espírito de uma caça ou pássaro, geralmente
difícil lidar com eles. Você faz todos os testes Sociais que
um esquilo da rocha ou narceja. O escudo é de madeira,
não envolvam Intimidação com estrangeiros com +2 de
mas coberto pela pele do mesmo tipo de animal preso no
dificuldade, e os testes Sociais deles em relação a você
fetiche.
também recebem +2 de dificuldade. Além disso, qualquer
teste envolvendo cooperação ou trabalho em grupo com Ativado, o fetiche imediatamente assume a exata apa-
os de fora de sua tribo são feitos com +2 de dificuldade. rência de seus arredores, tornando possível esconder atrás
A versão de três pontos desse Defeito estende a qualquer dele e permanecer virtualmente invisível. Ver um lobiso-
um fora dos Uivadores Brancos (e seus Parentes). A versão mem usando esse fetiche exige um teste bem-sucedido de
de seis pontos inclui qualquer um fora de sua tribo huma- Percepção + Prontidão (dificuldade 8 se o lobisomem não
na (Venicones, Taexali, Vacomagi, etc.) ou os Uivadores estiver se movendo). A dificuldade cai para 7 caso o lobi-
Brancos diretamente relacionados com a tribo humana. somem se mova. O fetiche só é efetivo como camuflagem
se estiver diretamente entre o alvo e o lobisomem.
Capítulo Quatro: Poderes 74
Quando usado em combate, o Escudo Fantasma au- gem de um membro da tribo conhecido por suas habili-
menta a dificuldade de testes de Briga ou Armas Brancas dades visionárias.
de um ofensor em 1. Ele também aumenta a dificuldade Quando ativado, o pincel permite seu usuário a pin-
de ataques à distância contra seu usuário em 1, mas ape- tar visões do que veio antes e do que está por vir no fu-
nas os ataques que usam flechas, pedras ou similares. Ele turo. Um teste de Inteligência + Enigmas (dificuldade 7)
não é forte o suficiente para parar balas. é exigido para interpretar o significado e simbolismo da
pintura.
Broche Animal
Nível 2, Gnose 6
Esse cuidadosamente decorado broche anular de
Amuletos
bronze é forjado com padrões de animais interlaçados
que representam um tipo geral de animal, aves, insetos,
Índigo Furioso
etc. Quando ativado, o Broche Animal dá ao usuário os Gnose 6
Dons: Comunicação com Animais e Vida Animal, mas Esse amuleto é uma pasta grossa criada a partir de
apenas para o tipo de animal em seus adornos. glastum desperto, a planta índigo comum. A substância
Tipos comuns de animais incluem lobos, cavalos, cães azul brilhante é usada para criar ferozes símbolos na pele
domesticados, morcegos, abelhas, peixes, aves de rapina, ou pêlo do usuário. Os símbolos agem como uma forma
corvídeos, pássaros canoros, cobras, etc. Caso o tipo seja temporária de armadura, acrescentando um dado nos tes-
muito amplo ou muito estreito, fica a cargo do Narrador. tes de absorção do usuário para todas as formas de dano
pela duração da cena.
Espelho do Túmulo Para criar o Índigo Furioso, deve-se despertar as plan-
Nível 2, Gnose 5 tas índigos e, então, destilá-las em uma tinta índigo, mis-
turando o pigmento com gordura ou graxa para formar
Esse pequeno círculo de metal polido é decorado por
uma tintura grossa.
todo seu aro externo com figuras cadavéricas intrincada-
mente entremeadas. Ele é tradicionalmente usado pelos
Uivadores Brancos para averiguar o conteúdo dos túmu- Velas Fantasmas
los e cairns de pedra, ou para buscar passagens subterrâ- Gnose 6
neas que possam levar a fossos da Wyrm. Essas velas são gravadas com inscrições ogham de pro-
Quando ativado e pressionado contra uma superfí- teção. Enquanto a vela queimar, nenhum fantasma pode
cie sólida (o chão, uma porta, um muro, etc), o centro se aproximar a 20 pés da vela, e nenhum poder usado por
sólido do espelho torna-se opaco, revelando uma visão fantasmas pode afetar aqueles dentro desse mesmo raio.
clara da área além da superfície do espelho a uma pro- Cada Vela Fantasma queimará por um total de oito horas
fundidade de aproximadamente 10 pés. Materiais sólidos e, pode ser apagada e acesa quantas vezes necessárias.
aparecem fantasmagoricamente e semi-transparente, per- Para criar uma Vela Fantasma, um espírito do cão de
mitindo que o lobisomem veja uma passagem opaca além caça ou outro espírito de proteção deve ser ligado a uma
da rocha estratificada que ele está, por exemplo, ou para vela adornada.
determinar a grossura de uma muralha ou se alguém está
escondendo do outro lado. Da mesma forma, caso pres- Bolo de Aveia
sionado contra uma caixa, ele pode revelar um desenho Gnose 4
fantasmagórico de uma sacola dentro do container, assim
Esses simples bolos de aveia podem ser secos e sem
como a forma sombria de uma faca dentro da sacola. Áre-
gosto, mas permanecem comestíveis por anos sem se es-
as de escuridão vistas através do fetiche aparecem ilumi-
tragar. Um Garou que consuma um deles está renovado;
nadas o suficiente para permitir uma observação geral, o
o bolo apaga todos os efeitos de exaustão, fome e sede.
suficiente para perceber a roupa de um humano enterra-
Pelas próximas 24 horas, o Garou se sente descansado, hi-
do, mas não o suficiente para ler os detalhes em Ogham
dratado e saciado. Ao fim desse período, sua fome, sede e
inscritos em seu broche. cansaço começam novamente, mas todos os antigos efei-
Pincel da Profecia tos de privação somem. Ferimentos ou mazelas causadas
por outros motivos além da privação não são afetadas pelo
Nível 1, Gnose 5 Bolo de Aveia.
Esse fetiche é um pequeno pincel com cabo de ma- Para criar um Bolo de Aveia, um espírito do grão ou
deira, gravado com marcas ogham e símbolos arcanos. As de outras plantas comestíveis deve ser ligado a um bolo
cerdas quase sempre são retiradas de um animal albino, de aveia.
apesar de que alguns usam um tufo do cabelo ou da pela-

75 Uivadores Brancos
Totens
portar o peso de seus deveres como juízes e árbitros e,
para ambos, equilíbrio é vital. O Alce ensina seus segui-
dores a pensar cuidadosa e completamente antes de agir
Laços familiares são de suma importância para os Ui- ou fazer julgamentos
vadores Brancos, mas eles não são os únicos laços que Tempos Modernos: O cauteloso Alce foi enfraqueci-
unem a tribo. Até mesmo mais que as outras tribos, é do pela corrupção daqueles que ele abençoava. Agora, ele
incomum para um Uivador passar algum tempo significa- raramente é convencido a servir como um Totem para os
tivo sem estar ligado a uma matilha. Aqueles que o fazem Garou, temendo uma nova traição.
geralmente são encorajados insistentemente – seja através
de convites, repreensões de boa natureza ou até mesmo Características Individuais: Aqueles que seguem o
ameaças diretas – para acabar com seu status solitário e Alce recebem um ponto de Honra e recebem dois dados
“unir-se”. extras para qualquer teste de Investigação relacionado
com a descoberta da verdade.
Devido a isso, os totens de matilha de maneira geral
são de grande importância para a tribo. Mesmo os Ga- Características de Matilha: As matilhas que seguem
rou que estão em matilhas devotadas a outros patronos o Alce podem conjurar três pontos de Direito e três pon-
compreendem a importância de respeitar aqueles espíri- tos de Investigação por história. Além disso, aqueles do
tos que emprestam sua força e ajudam as matilhas dos augúrio Philodox encontram-se bem dispostos a elas.
Uivadores Brancos. Dogma: O Alce exige que seus seguidores nunca re-
A maioria das matilhas dos Uivadores segue espíritos cusem a ouvir os dois lados de qualquer discussão.
dentro da ninhada do Leão. Aqueles que não o fazem
geralmente buscam a bênção das ninhadas do Cervo ou Leão
do Fenris, já que os Fianna e os Fenrir são as tribos que Custo em Antecedentes: 5
compartilham relativa proximidade tanto física quanto Orgulhoso e forte, o Leão é o senhor de tudo que
em opiniões de sociedade com os Uivadores Brancos. observa. Ele é um rastreador experiente, um lutador po-
deroso e um nobre líder. Aqueles que ele protege podem
Ninhada do Leão estar tranquilos de sua segurança; enquanto o Leão cami-
nha, nenhum mal virá a eles. Já aqueles que invadem seu
Até os Uivadores Brancos dançarem a Espiral, a ni- território, usurpam seu manto ou atacam aqueles que ele
nhada do Leão era uma família poderosa de espíritos que chama de seu? Pobres deles, pois o Leão é tão impiedoso
serviam o Incarna e trabalhavam lealmente com as mati- quanto régio.
lhas de Garou que a seguia. Após a queda, eles foram dis- Alguns dos que ouvem sobre a bênção do Leao so-
persados, seus destinos jogados aos quatro ventos. Alguns bre os Uivadores Brancos ficam confusos, por associar
continuaram a seguir o muito enfraquecido Leão, even- o nome com o grande felino do continente africano. O
tualmente se unindo à ninhada do Grifo junto com seu patrono dos Uivadores, no entanto, possui apenas um
antigo Incarna. Outros tiveram o mesmo destino dos Ui- longíquo parentesco com o felino da savana. O Leão é a
vadores e caíram para a Wyrm, onde eles foram corrom- representação espiritual do Leão da Caverna, uma gigan-
pidos e presos ao serviço do Curiango. Alguns outros, tão tesca fera que caçava elefantes pré-históricos e ursos antes
enfraquecidos pela crise, não sobreviveram como Incar- de ser extinto milhares de anos atrás.
nae. Espíritos como o Kelpie podem ser encontrados nos
dias de hoje apenas como Gafflings, mera sombras de sua Enquanto muitos espíritos desapareceram ou se reti-
antiga glória, enquanto outros, como o Caern-Rattler, de- raram para a Pangéia após os animais naturais com quem
sapareceram completamente. eles estavam associados se extiguiram,o Leão deixou uma
impressão indelével nos Garou que se alinharam com ele.
Nos tempos modernos, aqueles que conseguem ga- Mesmo após os leões das cavernas terem desaparecido,
nhar a bênção de um Totem da antiga ninhada do Leão os Galliards ao redor das fogueiras dos Uivadores Bran-
pode muito bem se ver como suspeito por parte dos ou- cos e dos seus Parentes continuaram a contar histórias de
tros Garou, e é provável que seja mais difícil para eles re- seu poder, ferocidade e força. Essa dedicação manteve o
ceber Honra como Renome, mesmo que seu Totem não Leão, forte e poderoso, até o dia em que seus seguidores
seja um que tenha caído para a Wyrm. caíram para a Wyrm.

Totens de Respeito
Tempos Modernos: Quando a tribo abençoada por
ele caiu para a Wyrm, foi um imenso golpe no orgulho
insuperável do Leão. Se pudesse ser dito que um espírito
Alce entra em Harano, esse seria o estado do Leão quando o
Custo em Antecedentes: 5 Grifo o encontrou. Não querendo permitir a esse totem
que caísse em uma modorra suicida, o Grifo atormentou
O Alce foi feito para suportar o grande fardo de sua
o intratável Leão até que por fim o espírito-felino rugiu
coroa de galhadas, assim como os legisladores devem su-
em fúria e se levantou para atacar seu atormentador. Eles
Capítulo Quatro: Poderes 76
lutaram e, apesar de que o Grifo era muito mais forte do ceiro aceita apenas matilhas que são constantes sobrevi-
que o enfraquecido Leão, o totem dos Garras Vermelhas ventes, mas não tem interesse algum em covardes. Apenas
sabia do valor de uma luta provocadora para o espírito por se provar capazes de entrar em situações perigosas e
ferido. Ele permitiu que a luta se enfurecesse até que o sobreviver a elas uma matilha pode receber (e manter) o
lânguido espírito do Leão revivesse e se recuperasse, e sua favor do Pássaro Carniceiro.
forma foi enfraquecida pelo esforço, mas não mais em Apesar das versões naturais do Pássaro Carniceiro se-
risco de se dissipar devido ao desespero. rem considerados subespécies do Corvo ou Gralha, seu
Quando o Leão se recuperou, ele se uniu à ninhada aspecto sobrenatural não possui aliança alguma com o
do Grifo, onde ele agora orienta Garou predominante- Avô Trovão ou outros patronos do Corvo ou da Gralha.
mente Fianna e Garras Vermelhas. Como uma bênção Pássaros Carniceiros seguem o Leão, e apenas ele, pelo
por ter salvo o Leão, o Grifo impôs um novo dogma sobre menos enquanto isso servir seus interesses.
aqueles que viriam a seguir o Leão: eles devem destruir Tempos Modernos: Quando os Uivadores Brancos
aqueles que caçam animais selvagens por esporte. se tornaram os Dançarinos da Espiral Negra, esse prag-
Características Individuais: Aqueles que seguem o mático totem também mudou sua aliança. Ele agora age
Leão recebem um ponto temporário de Honra e 1 pon- como um totem predominantemente para aqueles que
to de Briga ou Armas Brancas (es- servem à Wyrm. Qualquer um que o siga após a queda
colhido ao receber a bênção do dos Uivadores subtrai dois pontos de qualquer re-
Leão). Anciões e aqueles parti- compensa temporária de Honra que
cularmente respeitosos às tradi- recebam e, provavelmente, serão
ções tendem a receber bem os seguidores suspeitos de portarem a má-
do Leão. cula da Wyrm.
Características de Característi-
Matilha: Matilhas cas Individuais:
que seguem o Leão Aqueles que
recebem três pon- seguem o
tos de Empatia com Ani-
mais, bem como dois pontos
de Força de Vontade por
história.
Dogma: Os seguido-
res do Leão devem proteger
os Parentes Uivadores Brancos,
humanos ou lobos, mesmo de
tribos humanas diferentes das
quais os seguidores per-
tencem.

Totens
de Guerra
Pássaro
Carniceiro
Custo em Antecedentes: 7
A morte é um processo de
seleção natural e aqueles que
morreram se provaram não serem
mais dignos de continuar a existir. Aos
olhos do Pássaro Carniceiro, eles
tornaram-se nada mais do que
um recurso para aqueles que
ainda vivem. O Pássaro Carni-

77 Uivadores Brancos
Pássaro Carniceiro subtraem um de todas as dificulda- um espírito ancestral, o Ruído do Túmulo personifica o
des dos testes de Sobrevivência e recebem um dado extra conhecimento de todos aqueles que já se foram, a sabedo-
para qualquer teste onde sua própria morte está em jogo, ria e experiência de incontáveis gerações.
incluindo – mas não se limitando a – combates. Cada Tempos Modernos: O Ruído do Túmulo desapare-
membro da matilha subtrai um de qualquer recompensa ceu após os Parentes dos Uivadores Brancos serem cor-
temporária de Honra. rompidos e adotados nas linhagens Fianna. Não é sabido
Características de Matilha: As matilhas do Pássaro se o totem foi destruído ou está simplesmente inacessível
Carniceiro recebem três pontos de qualquer teste rela- atualmente.
cionado a buscas, saprofagia, ou a utilização de materiais Características Individuais: Os seguidores do Ruído
descartados (ou cadáveres). E dois pontos de Força de do Túmulo recebem três pontos de Ancestrais. Isso repre-
Vontade por história. Os Corax vêem com bons olhos senta a conexão dada pelo totem a uma reserva de conhe-
essas matilhas. cimento cultural, e não uma conexão com um espírito
Dogma: Aqueles que seguem o Pássaro Carniceiro ancestral, mesmo membros de tribos que normalmente
não podem participar de rituais ou práticas funerárias não poderiam comprar o Antecedente Ancestrais podem
(formais ou informais) de qualquer tipo. usar esse poder.
Características de Matilha: Matilhas que seguem o
Dragão Verde Ruído do Túmulo recebem três pontos de Ocultismo e
Custo em Antecedentes: 7 três pontos de Enigmas.
Quando os Uivadores Brancos rugiam em batalha, Dogma: O Ruído do Túmulo exige que seus segui-
poucos podiam se manter diante de sua força e bravura. dores lidem com os mortos de maneira respeitosa, como
Aqueles que seguiam o Dragão Verde estavam entre os apropriado segundo sua cultura, seja através de enterros,
mais ferozes dos ferozes, recusando a considerar a derrota cremações, etc. Mesmo no campo de batalha, eles não
como uma opção. devem abandonar corpos ou deixá-los para os carnicei-
Tempos Modernos: A ferocidade e recusa de recu- ros. Além disso, criaturas da Wyrm devem ser purificadas
ar do Dragão Verde tiveram grande parte na decisão dos após a morte.
Uivadores em atacar o Labirinto, e em sua derrota. Com
grande hubris, vem grande potencial para a corrupção e, Cabra Montês
em tempos modernos, o Dragão Verde age como um dos Custo em Antecedentes: 4
totens mais fortes da ninhada do Curiango, agindo como Uma distante prima do Cervo, a Cabra Montês en-
patrono de algumas das matilhas mais ferozes dos Dança- contra uma forma de assegurar que os outros sobrevivam,
rinos da Espiral Negra. mesmo nos climas mais severos. Ela é a personificação da
Características Individuais: Três vezes por dia os se- providência feminina nas matas, um precursor indomá-
guidores do Dragão Verde podem cuspir fogo. O jogador vel das deusas do lar e da colheita.
gasta um ponto de Fúria e testa Destreza + Briga (dificul- Tempos Modernos: A Cabra Montês foi duramen-
dade 8) para atacar, com um alcance de seis metros. A te golpeada pela queda dos Uivadores Brancos, e seu lu-
cuspida causa dois níveis de dano agravado. gar foi amplamente ocupado pelo Cervo. Ela agora existe
Características de Matilha: Matilhas que seguem o como um membro da ninhada do Grifo.
Dragão Verde recebem três pontos de Força de Vonta- Características Individuais: Os seguidores da Cabra
de por história e são tidas em grande consideração pelos Montês recebem dois pontos temporários de Honra e
Ahrouns. dois pontos de Empatia.
Dogma: O Dragão Verde odeia covardia. Qualquer Características de Matilha: As matilhas que seguem
um de seus seguidores que correr de uma luta ou entrar a Cabra Montês recebem três pontos de Sobrevivência
em Frenesi Raposa por qualquer razão perde as Caracte- usáveis apenas em ambientes selvagens, e dois pontos de
rísticas Individuais recebidas de seu patrono por um dia Força de Vontade por história. Os Fianna são bem dis-
inteiro. postos com a matilha.
Dogma: A Cabra Montês exige que seus seguidores
Totens de Sabedoria nunca neguem comida àqueles que necessitam.

Ruído do Túmulo Totens de Astúcia


Custo em Antecedentes: 6
O Ruído do Túmulo é um espírito fantasmagórico de Gália
tempos e povos de antigo passado longínquo. Ele aparece Custo em Antecedentes: 12
como uma figura humanoide amorfa, rodeada por uma Gália é uma antiga e flamejante deusa da fertilidade,
camada de vento que obscurece suas feições. Diferente de a personificação da energia criativa. Ela é a espírita ma-
Capítulo Quatro: Poderes 78
trona dos artistas, artesões e atores de todos os tipos. Ela melhor arma contra o mesmo. Apesar de sua forma natu-
é a mãe da inspiração, uma musa pré-histórica, clamando ral ser de um belo cavalo de água, Kelpie também pode
seus seguidores a usarem a paixão e criatividade para su- se tornar invisível, ou aparecer como um belo humano
perar qualquer bloqueio que possam encontrar. para seduzir e então destruir seus inimigos. Ele tenta suas
Tempos Modernos: Quando seus seguidores caíram, vítimas a subir em suas costas na forma de cavalo, ou em
Gália caiu com eles, tão calorosamente quanto sua na- seus braços humanos, antes de arrastá-los para uma sepul-
tureza permite. Ela agora existe na forma maculada de tura aquática.
G’louogh, “A Deusa Demoníaca”, referida por muitos Tempos Modernos: Apesar dos espíritos do Kelpie
como “a mãe de todos os Malditos”. ainda existirem, seu Incarna foi irremediavelmente enfra-
Características Individuais: Os seguidores de Gália quecido pela queda dos Uivadores Brancos, e não existe
podem usam o Dom: Materialização de Sonhos. mais.
Características de Matilha: As matilhas de Gália re- Características Individuais: Seguidores do Kelpie
cebem acesso a dois pontos de Ocultismo. Os Galliards podem respirar embaixo d’água, e não podem se afogar.
vêem com bons olhos os seguidores de Gália. Além disso, eles recebem um ponto de Aparência, mas
Dogma: Gália pede que seus seguidores respeitem subtraem um de todo recompensa de Honra que ganham.
outros seres criativos, sendo uma boa audiência para ato- Características de Matilha: As matilhas que seguem
res ou apadrinhando artistas e artesãos talentosos sempre o Kelpie podem conjurar três pontos de Lábia e três pon-
que possível. tos de Empatia por história.
Dogma: O Kelpie exige que seus seguidores priori-
Kelpie zem a purificação de hidrovias naturais de poluição e de
Custo em Antecedentes: 5 máculas sobrenaturais em qualquer oportunidade. Além
disso, eles devem se banhar em uma fonte natural de água
Nem todas as batalhas são vencidas através da força;
doce pelo menos uma vez por mês.
Kelpie ensina como usar os desejos do inimigo como a

79 Uivadores Brancos
Apêndice Um:
Exemplos de
Personagens

Talvez mais do que qualquer tribo moderna, os Uivadores Brancos compartilham


uma história comum, um histórico comum e uma herança cultura comum. Apesar
de que as tribos humanas das quais eles pegam seus Parentes possam ser considera-
das diversas, elas são mais semelhantes umas com as outras do que aparentadas com
aquelas que vivem fora de suas terras.
Ainda assim, mesmo dentro da tribo, existe uma grande variação de experiên-
cia, aptidão e visão de mundo. Aqui estão cinco exemplos de personagens Uivadores
Brancos que refletem um pouco dessa diversidade.

Apêndice Um: Exemplos de Personagens 80


Espiã Nômade
na e assentamentos de tribos vizinhas. Você compartilha
aquilo que pode ajudar sua Tribo. Você espera que even-
tualmente isso garanta a você um pouco de respeito, ou
Mote: “Você tem algo para doar, Tia?” até mesmo amor, mas não importa quão valiosa seja a
Prelúdio: O resultado de um amor proibido forte informação que você obtenha, nunca é o suficiente para
demais para seus pais negarem, você carrega o peso de que eles perdoem você verdadeiramente pelo pecado pas-
suas transgressões. Apesar de seu tamanho diminuto, sua sado a você por seus pais. Apesar disso, você continua
mãe morreu ao trazê-la para esse mundo, e seu pai nunca empenhada, compartilhando a maior parte do que des-
a perdoou por tirar dele sua companhia. Ele se jogou na cobre com aqueles que você acha mais se beneficiarão.
Wyrm, cometendo suicídio em uma batalha impossível Você é dedicada a sua tribo, mas sempre mantêm alguns
de ser vencida, que fez com que você fosse cria- segredos – e uma faca afiada – guardada em algum lugar
da por aqueles que não a compreendiam à mão para tirar você de uma situação perigosa.
e nem a amavam. Ao crescer, o melhor Dicas de Interpretação: Sua deformidade de
que você poderia esperar era ser igno- impuro assegura que você nunca crescerá mais
rada, então você aperfeiçoou a arte de do que a aparência de criança. Você aparen-
se fazer despercebida. Sua forma es- ta uma pré-adolescente e, mesmo em Crinos,
guia e baixa estatura tornava isso mais você mal tem o tamanho de um humano adul-
fácil do que realmente seria. Desde que to. Você é normalmente confundida por um
você permanecesse quieta e ficasse fora do órfão peregrino, mais nova do que você
caminho, outros falavam mais abertamen- realmente é; um fato que você usa para
te à sua volta do que eles provavelmente sua total vantagem. Caso os outros te
fariam. Você logo descobriu que, cuida- ignorem, isso torna mais fácil para
dosamente guiado, o segredo correto você ouvir suas conversas. Se eles
poderia te livrar de um espancamento. sentem pena de você e ofere-
A melhor defesa é o ataque e, qualquer cem refeição ou abrigo, você
informação que você puder pegar dos ou- passa mais facilmente por por-
tros pode ser usada ou trocada para seu pró- tas trancadas do que qualquer
ximo benefício. Dom permitiria. E caso eles
Conceito: Os fracos e indefesos estão tentem tirar vantagem dos “in-
em todo lugar e, raramente, fazem com que defesos” quando você está em
os mais afortunados prestem muita aten- seus lares? Bem, você é mais do
ção a eles. Essa crueldade é o disfarce per- que capaz de mostrar a eles porque
feito para alguém de sua inteligência reunir ninguém deve nunca violar a tradição
segredos e ocasionalmente pegar um item da hospitalidade.
que eles achavam estar seguro. Você reuniu Equipamento: Roupas de crian-
migalhas de pão e pedaços de informação, ça, faca de ferro
de acampamentos romanos, caerns Fian-

81 Uivadores Brancos
Nome: Raça: Impura Nome da Matilha:
Jogador: Augúrio: Ragabash Totem da Matilha:
Crônica: Tribo: Uivadores Brancos Conceito: Espiã Nômade

Atributos
Físico Social Mental
Força Carisma Percepção
Destreza Manipulação Inteligência
Vigor Aparência Raciocínio

Habilidades
Talentos Perícias Conhecimentos
Prontidão Emp. C/ Animais Acadêmicos
Esportes Ofícios Cultura
Briga Etiqueta Enigmas
Empatia Crime Investigação
Expressão Armas Brancas Direito
Intimidação Performance Medicina
Liderança Arqueirismo Ocultismo
Instinto Primitivo Cavalgar Rituais
Manha Furtividade Ciência
Lábia Sobrevivência Tecnologia

Vantagens
Antecedentes Dons Rituais
Aliados Cheiro de Sangue
Contatos Abrir Selos
Parentes Persuasão

Renome Fúria Vitalidade


Glória Escoriado
Machucado –1
Ferido –1
Honra
Gnose Ferido Gravemente
Espancado
–2
–2
Aleijado –5
Sabedoria Incapacitado

Posto Força de Vontade Fraqueza Tribal


Cliath Hubris
Comedor-de-Salmão
Mote: “Busque conhecimento onde quer que possa ser en-
contrado. Encontre sabedoria em todas as coisas”.
Prelúdio: Você nasceu de uma matilha de lobos com
laços próximos aos Caledonii, próximo do Lago Ness.
Desde cedo, você era notoriamente diferente do resto de
sua ninhada, vendo e ouvindo coisas que os outros filho-
tes não conseguiam. Os espíritos do vento, água, terra e
ar falavam com você em seus sonhos e, eventualmente,
até mesmo quando você estava acordado. Isso fez com
que você se distraísse facilmente e lhe tornou um mal
caçador, mas deu a você a percepção que não estava dis-
ponível para o resto de sua matilha.
Sua Mudança veio quando uma fera espiritual flame-
jante atacou a matilha que permitiu que você caçasse jun-
to com ela quando os espíritos não estavam te distraindo.
A criatura ameaçou destruir a floresta na qual eles mo-
ravam e a matilha ao longo do processo. Durante toda a
noite, a criatura brincou com todos vocês; perseguindo-
-os através da floresta com chamas e fumaça, forçando-os
a correr até que não conseguiam mais, consumindo to-
dos aqueles que ficaram para trás. Sua Mudança veio em
um momento de desespero, presa entre um penhasco e
um rio caudaloso. O monstro de fogo atacou, queimando
seus pêlos e chamuscando a pele abaixo. A dor despertou
sua Primeira Mudança e a transformação, mas mesmo
em Crinos você não era páreo para a criatura de chamas.
Em um momento de desespero, você saltou para o
rio e clamou aos espíritos da água por ajuda. Enquanto o
rio fechava sobre sua cabeça, sua última visão foi de uma
onda tão alta quanto as árvores se erguendo para atacar a
besta de fogo. Então, tudo ficou escuro.
Você acordou na margem do rio, com o corpo cura-
do, mas com a mente repleta de curiosidade sobre os mis-
térios que havia encontrado.
Conceito: Como muitos videntes antes de você, você
experimentou do Salmão do Conhecimento dos provér-
bios e nunca mais verá o mundo da mesma forma. Você
não acredita que os humanos ou os Garou possuam a
chave para toda a sabedoria. Ao invés disso, você busca
pela verdade no mundo à sua volta: os espíritos, as es-
tações e o clima. Cada um desses, você acredita, possui
uma dica para os mistérios maiores, para aqueles astutos
o suficiente para enxergá-los.
Dicas de Interpretação: Você busca constantemen-
te pelo significado do mundo à sua volta, por sinais e
presságios que os outros são cegos demais para enxergar.
Você passa uma boa parte do tempo na Umbra, buscan-
do qualquer pedacinho elusivo de sabedoria que possa vir
da conversa com os espíritos além do próximo morro. Os
outros geralmente acham que você é levemente compli-
cado, mas na verdade, você possui muito tempo, energia
e atenção. Quanto disso algo tão mundano como comer,
dormir ou caçar verdadeiramente merece?
Equipamento: Contas de quartzo branco, saco de
pele de corsa
Uivadores Brancos
Nome: Raça: Lupino Nome da Matilha:
Jogador: Augúrio: Theurge Totem da Matilha:
Crônica: Tribo: Uivadores Brancos Conceito: Comedor de Salmão

Atributos
Físico Social Mental
Força Carisma Percepção
Destreza Manipulação Inteligência
Vigor Aparência Raciocínio

Habilidades
Talentos Perícias Conhecimentos
Prontidão Emp. C/ Animais Acadêmicos
Esportes Ofícios Cultura
Briga Etiqueta Enigmas
Empatia Crime Investigação
Expressão Armas Brancas Direito
Intimidação Performance Medicina
Liderança Arqueirismo Ocultismo
Instinto Primitivo Cavalgar Rituais
Manha Furtividade Ciência
Lábia Sobrevivência Tecnologia

Vantagens
Antecedentes Dons Rituais
Herança Espiritual Sentidos Aguçados
(Espíritos Elementais) Sentir a Wyrm
Rituais Falar com Espíritos

Renome Fúria Vitalidade


Glória Escoriado
Machucado –1
Ferido –1
Honra
Gnose Ferido Gravemente
Espancado
–2
–2
Aleijado –5
Sabedoria Incapacitado

Posto Força de Vontade Fraqueza Tribal


Cliath Hubris
Filha-do-Alce
Mote: “Qual é o outro lado dessa histó-
ria?”
Prelúdio: Sua família sempre aguar-
dou a sua Mudança; sua mãe era uma
Garou de grande Raça Pura e seu pai
um Parente que já havia gerado um pu-
nhado de lobisomens em um outro pu-
nhado de companheiras Garou. O que
seus Parentes não esperavam, entretan-
to, era a chegada de um espírito do alce
para testemunhar o nascimento e dar sua
benção ao bebê recém-nascido e chorão. Os
homens da vila contaram esse conto por gera-
ções.
Durante sua infância, o Alce ou suas manifestações
terrestres ocasionalmente apareciam durante grande perigo
ou de grande significância. Durante um inverno severo, sua
família foi salva da fome quando um grande alce saltou das
muralhas de seu forte e morreu na soleira de sua porta. Você
agora veste a pele desse sacrifício entregue pelos espíritos
como uma capa e uma constante lembrança do débito que
você tem para com o Alce e sua ninhada.
Na sua Primeira Mudança, o Alce falou com você pela
primeira vez e tem sido seu Totem pessoal e companheiro
desde então.
Conceito: Abençoada pelo Alce, você alcançou a epítome
do equilíbrio. Mesmo como uma cliath, os anciões falavam de
sua percepção e justiça com grande consideração, e muitos espe-
ram grandes coisas vindas de você. Você ativamente procura por
situações de conflito, até mesmo se colocando em perigo; você se
jogaria entre um Garou acusado e a lâmina de seu pretenso executor,
para assegurar que uma audiência justa aconteça antes da punição ser
deliberada. Isso a tornou muito popular entre os oprimidos, e também
entre aqueles que esperam convencê-la de que suas ações – não importa
quão vis – eram justificadas.
Seus detratores, por outro lado, temem que você seja ingênua demais
e que veja o mundo em muitas camadas de cinza. Eles temem que seu de-
sejo em ouvir todos os lados da história possa imobilizá-la quando a ação
for realmente necessária.
Dicas de Interpretação: Você demora para falar, e ainda mais para
agir. Faça perguntas investigativas, mas nunca forme um julgamento até
que tenha considerado todo pedaço de informação possível sobre uma
situação. Esforce-se para ser sempre justa, mesmo que isso signifique que
o culpado em potencial saia impune por falta de provas conclusivas.
Equipamento: Capa de pele de alce, ferramentas entalhadas a mão
a partir de galhadas

85 Uivadores Brancos
Nome: Raça: Hominídeo Nome da Matilha:
Jogador: Augúrio: Philodox Totem da Matilha:
Crônica: Tribo: Uivadores Brancos Conceito: Filha do Alce

Atributos
Físico Social Mental
Força Carisma Percepção
Destreza Manipulação Inteligência
Vigor Aparência Raciocínio

Habilidades
Talentos Perícias Conhecimentos
Prontidão Emp. C/ Animais Acadêmicos
Esportes Ofícios Cultura
Briga Etiqueta Enigmas
Empatia Crime Investigação
Expressão Armas Brancas Direito
Intimidação Performance Medicina
Liderança Arqueirismo Ocultismo
Instinto Primitivo Cavalgar Rituais
Manha Furtividade Ciência
Lábia Sobrevivência Tecnologia

Vantagens
Antecedentes Dons Rituais
Totem (Alce) Persuasão
Sentir a Wyrm
Verdade de Gaia

Renome Fúria Vitalidade


Glória Escoriado
Machucado –1
Ferido –1
Honra
Gnose Ferido Gravemente
Espancado
–2
–2
Aleijado –5
Sabedoria Incapacitado

Posto Força de Vontade Fraqueza Tribal


Cliath Hubris
Explorador
Dicas de Interpretação: Você sabe que existem desti-
nos piores do que morrer por uma causa. Você não sabe
quanto tempo estará vivo, mas sabe que irá aproveitar
Mote: ”Mantenha suas espadas altas, e seus espíritos ain- cada momento em sua totalidade. Você não está certo
da mais altos”. do que encontrará por aí, mas isso tem que ser mais in-
Prelúdio: Você nasceu de uma tribo já em declínio, teressante do que aquilo que encontrou em seu lar. Suas
um fato que era óbvio mesmo que ninguém falasse a esse viagens podem te levar até situações perigosas, mas algo é
respeito. Você sonhava com o mundo fora das muralhas certo, você nunca ficará aborrecido.
que cercavam sua vila. Você seguiu seus sonhos assim que Equipamento: Capa e kilt de lã, bota enfeita-
fosse velho o suficiente para escapar sem ser percebido. da de cobre, bastão de caminhada
Como uma criança, você retornaria durante a noite, dis-
posto a aceitar as punições por ter desobedecido as or-
dens de sua família de permanecer dentro das proteções
oferecidas pelas muralhas. Não importa quão dura fosse
a surra, era um preço pequeno a se pagar pela liberdade
encontrada nas terras além; e você geralmente ganhava
outra chibatada por rir da primeira delas.
Sua Primeira Mudança veio quando uma de suas an-
danças levou você até uma faminta ursa marrom e seus
dois filhotes recém-nascidos. A luta quase te matou, mas,
no fim, tornou-se uma boa história. A primeira de sua
coleção como Garou. Após sua Mudança, você foi
levado até a tribo dos Uivadores Brancos e foi edu-
cado sobre o que significa ser um Garou, mas
não foi muito antes de seu desejo por andanças
surgisse e você partiu novamente para explorar
o mundo, reunindo histórias de terras distantes
e tribos estrangeiras.
Conceito: Há um grande mundo lá fora,
além de sua vila, cheio de pessoas fazendo
coisas empolgantes. Você planeja em ser uma
dessas pessoas. Você não quer ouvir as histó-
rias das explorações alheias; você anseia por
estar ao lado desses exploradores, uivando
e rindo durante todo o caminho. Enco-
rajar os outros a beber intensamente
do cálice da vida, e fazer isso você tam-
bém, é mais do que uma paixão; é o
seu dever dado por Gaia, e um dever
que você assume com empenho.

87 Uivadores Brancos
Nome: Raça: Hominídeo Nome da Matilha:
Jogador: Augúrio: Galliard Totem da Matilha:
Crônica: Tribo: Uivadores Brancos Conceito: Explorador

Atributos
Físico Social Mental
Força Carisma Percepção
Destreza Manipulação Inteligência
Vigor Aparência Raciocínio

Habilidades
Talentos Perícias Conhecimentos
Prontidão Emp. C/ Animais Acadêmicos
Esportes Ofícios Cultura
Briga Etiqueta Enigmas
Empatia Crime Investigação
Expressão Armas Brancas Direito
Intimidação Performance Medicina
Liderança Arqueirismo Ocultismo
Instinto Primitivo Cavalgar Rituais
Manha Furtividade Ciência
Lábia Sobrevivência Tecnologia

Vantagens
Antecedentes Dons Rituais
Ancestrais Comunicação com Animais
Raça Pura Uivo Assombroso
Simular Odor de Homem

Renome Fúria Vitalidade


Glória Escoriado
Machucado –1
Ferido –1
Honra
Gnose Ferido Gravemente
Espancado
–2
–2
Aleijado –5
Sabedoria Incapacitado

Posto Força de Vontade Fraqueza Tribal


Cliath Hubris
Protetor Monstruoso
Mote: “Eu não tolerarei ameaças àquilo que é meu”.
Prelúdio: Seu temperamento e teimosia te causou problemas sem fim quando era jovem, até o dia que os pri-
meiros batedores romanos encontraram o caminho para o vale que era possuído por sua vila. Os mais velhos não
acreditaram quando você implorou a eles para não confiar nos estrangeiros, nem mesmo quando os batedores retor-
naram com soldados para “guarnecê-los” das magras despensas de seu povo. Quando guarnição e suprimentos tor-
naram-se pilhagem e estupros, você não aguentou. A fúria rubra caiu sobre você e, na manhã seguinte, nada restava
dos romanos, apenas uma mancha escarlate nas pedras do pátio de sua vila.
As histórias começaram naquela noite, sobre uma criatura das
lendas enviadas pelos deuses para expulsar os invasores roma-
nos. Agora você é o protetor de uma região inteira, sobre quem
se ouve sussurros – e algumas vezes orações – vindos daqueles
que você tomou como seus. Sua matilha ficou entre eles e as
tropas romanas invasoras em mais de uma ocasião, e sua es-
pada encontrou seu caminho nas entranhas daqueles que
abusariam e conquistariam seus Parentes.
Conceito: Você é o monstro que espreita
a noite, o caçador de pêlos brancos que
protege o povo contra todos os invasores,
mortais ou sobrenaturais. Os habitantes
de seu território dormem um pouco mais
tranquilos sabendo que em algum lu-
gar da floresta além de suas
muralhas, a besta com lâ-
mina de prata está prote-
gendo-os.
Você não vai para
longe de suas terras na-
tais para perseguir aque-
les que fariam mal a seu
povo. É o suficiente expulsar
os invasores; quando eles se
vão, eles se tornam proble-
ma de uma outra pessoa.
Dicas de Interpreta-
ção: Aquilo que você toma
como seu é sagrado; pobre
seja aquele que cause algum
mal a seus protegidos. É uma vida
recompensadora, mas solitária.
Você deve permanecer distante de
todos os indivíduos sob seus cui-
dados, ou arrisca enfraquecer sua
atenção sobre o resto. Sua respon-
sabilidade é para com o bem maior.
Você apenas pode considerar formar
uma matilha com aqueles que são tão
devotos quanto você para com o dever
de proteger os humanos e lobos que
você tomou para si.
Equipamento: Adaga de
Dente
89
Nome: Raça: Hominídeo Nome da Matilha:
Jogador: Augúrio: Ahroun Totem da Matilha:
Crônica: Tribo: Uivadores Brancos Conceito: Protetor Monstruoso

Atributos
Físico Social Mental
Força Carisma Percepção
Destreza Manipulação Inteligência
Vigor Aparência Raciocínio

Habilidades
Talentos Perícias Conhecimentos
Prontidão Emp. C/ Animais Acadêmicos
Esportes Ofícios Cultura
Briga Etiqueta Enigmas
Empatia Crime Investigação
Expressão Armas Brancas Direito
Intimidação Performance Medicina
Liderança Arqueirismo Ocultismo
Instinto Primitivo Cavalgar Rituais
Manha Furtividade Ciência
Lábia Sobrevivência Tecnologia

Vantagens
Antecedentes Dons Rituais
Aliados Força Desesperada
Fetiche Garras Afiadas
Parentes Simular Odor de Homem

Renome Fúria Vitalidade


Glória Escoriado
Machucado –1
Ferido –1
Honra
Gnose Ferido Gravemente
Espancado
–2
–2
Aleijado –5
Sabedoria Incapacitado

Posto Força de Vontade Fraqueza Tribal


Cliath Hubris
Apêndice
Dois: Lendas
dos Uivadores
Brancos
O sol está quase no horizonte, mas meu dever ainda intenso que tomou sua mãe. O povo dela temia pelo ga-
não acabou. Como poderia qualquer conto de minha tri- roto. Sua família não tinha outras mães para cuidar dele
bo estar completa sem falar daqueles que exemplificam o e ele era tão magro e pálido que eles temiam que ele não
que é ser um Uivador Branco? Eu poderia falar por dias sobrevivesse sua primeira noite.
e noites sem fim, contando as glórias daqueles que vie- Ele gritou de fome e pedindo por sua mãe por todo o
ram antes de mim, mas a noite acaba rapidamente nessa primeiro dia e, quando a lua cheia apareceu naquela noi-
época do ano e quem sabe o que a manhã trará? Eu fala- te, a resposta das orações de sua família veio da floresta
rei brevemente sobre as glórias, honras e sabedorias que escura.
inspiraram nosso povo através das eras, até que a manhã Uma loba, uma que ninguém da família já havia vis-
silencie minha língua e encerre meus contos. to, caminhou calma como você poderia imaginar até a luz

Eubh, o Imortal da fogueira da família e se agachou próxima do bebê que


chorava. Suas tetas estavam pesadas com leite e, tendo
nenhuma outra escolha além de deixar a criança faminta,
Eu já falei sobre uma de nossas primeiras lendas, Te-
arlach Tecelã-de-Contos, que encerrou o Grande Inver- eles o colocaram para mamar.
no, mas ela está longe de ser a primeira de nosso povo a Toda noite, a loba branca aparecia, e a cada noite
receber tais honrarias. Nascida muito antes do Grande Eubh se alimentava por completo antes que sua ama-de-
Inverno cair, Eubh é uma das lendas mais antigas da tribo -leite lupina desaparecesse de volta para a floresta. Com o
dos Uivadores Brancos. Seu pai era um guerreiro, morto tempo, Eubh ficou forte e quando ele desmamou, a loba
não muito tempo após se casar com sua mãe, mas tem- desapareceu, sem que ninguém fosse capaz de descobrir
po o suficiente para deixá-la com um último presente de quem ela era ou porque ela assumiu Eubh como seu pro-
uma barriga grávida. Os tempos eram difíceis, a terra esta- tegido.
va em guerra e era como se Eubh não conseguisse esperar O garoto aprendeu a caminhar e a falar bem antes
para deixar a segurança do útero de sua mãe e partir para das outras crianças e, da mesma forma, passou por sua
a batalha. Ele nasceu cedo, e em um mar de sangue tão Primeira Mudança cedo. Ele partiu rapidamente para as
91 Uivadores Brancos
batalhas, como era seu papel como Ahroun, e os contos da vila de Hathawulf, rompendo as muralhas do forte,
de sua glória levariam uma dúzia de noites para serem eles mataram e pilharam pessoas e depósitos.
contados. Mas não foi sua bravura que deu a ele seu nome A última coisa que ele se lembra antes da Mudança
de feito, quando tudo foi dito e feito. era dos soldados romanos marchando através do portão,
Eubh conheceu seu destino em um penhasco rocho- matando quem estava em seu caminho. A primeira coisa
so acima da praia. A criatura da Wyrm que ele enfrentou que ele se lembrou após a Mudança foi o cheiro de san-
era tão grande quanto uma montanha, com garras como gue e o silêncio opressor que veio por ser o único ser vivo
espadas e olhos como raios. Quando ela rugia, ela afogava na cidade que fora um dia próspera.
até mesmo o som do mar abaixo. Os dois se confronta- Quando a seita mais próxima veio investigar, eles
ram, sangue e icor jorraram e a batalha alastrou-se por descobriram centenas de lanças quebradas, fincadas no
todo o topo do penhasco. Após um dia e uma noite de topo da muralha que cercava a antiga vila de Hathawulf.
combate, Eubh rasgou profundamente o peito do mons- Em cada uma dessas lanças estava um soldado romano
tro, arrancou seu coração negro e o pisoteou no solo ro- morto. Alguns atacados por trás, ou com as gargantas cor-
choso. A besta, no entanto, não iria sem um preço. Com tadas ou estrangulados. Outros pareciam ter sido mortos
um golpe forte o bastante para despedaçar o penhasco por pedras jogadas de cima ou aleijados como se tivessem
abaixo de seus pés, a besta arrancou a cabeça de Eubh caído de uma grande altura. Nenhum deles aparentava
de seu pescoço e o monstro, Eubh e sua cabeça decepada portar as marcas de uma luta justa, mas eles estavam, to-
caíram todos ao mar. dos os homens, mortos.
O povo de Eubh ficou de luto por ele por toda a noi- Quanto ao próprio Hathawulf, ele já havia partido.
te, cantando os contos de sua glória e chorando em pro- Após completar sua terrível missão, ele começou a rastrear
funda tristeza. Mas quando a lua cheia alcançou seu ápice a legião invasora, pretendendo matar o máximo possível
acima de suas cabeças, e o lamento estava ao máximo, de invasores. Ele não sabia o que ele era, nem qualquer
algo estranho aconteceu. Uma loba branca apareceu na coisa sobre suas verdadeiras habilidades, mas ele estava
luz da fogueira, caminhando através do centro do acam- dedicado a fazer com que os romanos pagassem por des-
pamento como se ela fosse a dona do lugar. E, atrás dela, truir seu lar e sua família.
com a cabeça novamente em seu lugar, estava Eubh. A seita o alcançou em seu caminho. Eles o conven-
A loba desapareceu enquanto os Parentes de Eubh ceram a deixar de lado sua busca por vingança, ou assim
davam as boas-vindas de retorno dos mortos, mas essa não eles imaginaram. Na verdade, ele simplesmente percebeu
seria a última vez que Eubh, o Imortal, encarava a morte que podia causar muito mais destruição com um exér-
e retornava. Por fogo, veneno, afogamento – Eubh mor- cito de metamorfos ao seu lado do que poderia causar
reu de toda a forma que um homem poderia enquanto sozinho. Daquele dia em diante, Hathawulf era um alu-
enfrentava a Wyrm e protegia sua terra natal. Mas a cada no aplicado. Ele treinava constantemente, fortalecendo
uma das vezes, ele voltava para lutar novamente. Cada sua mente e corpo, aprendendo não apenas o que era ser
uma das vezes, a misteriosa loba branca acompanhava sua Garou, mas a história, jogos, magia – qualquer coisa que
ressurreição. pudesse ajudá-lo em sua vingança.
Foi apenas o Grande Inverno que encerrou a histó- Em tempos de guerra, o sobrevivente geralmente
ria de Eubh; uma avalanche o soterrou e, mesmo depois não é o mais forte, mas o mais esperto e Hathawulf era a
do gelo derreter, Eubh não voltou. As lendas dizem que prova disso. Não muito após seu Ritual de Passagem, ele
em algum lugar, profundamente em uma caverna abaixo formou sua primeira matilha, convencendo os mais for-
do solo, Eubh permanece congelado e esperando por sua tes, mas não necessariamente os mais astutos, dos novos
companheira lupina para ressuscitá-lo, para que ele possa Ahrouns a assumir a posição de alfa. Contente em ser-
novamente servir seu povo e sua terra. vir como conselheiro e investigador, Hathawulf levou sua

Hathawulf Quebra-
matilha em direção ao mesmo propósito que ele tinha se
dedicado desde sua Primeira Mudança: erradicar os inva-
sores romanos.

Lança Tão eficiente foram seus esforços que eles rapida-


mente alcançaram um status místicos com aqueles que
Nascido nos primeiros anos da Invasão Romana, eles caçavam. Os romanos chamavam a matilha de pêlos
Hathawulf nunca conheceu um tempo em que os estran- brancos de “Lupus Grex” e diziam que eram fantasmas
geiros em seu solo não atormentavam seu povo. Sua Pri- de lobos que o exército tinha matado após chegar na Ca-
meira Mudança aconteceu durante um inverno particu- ledonia, ou espíritos em forma de lobo que assombravam
larmente severo, quando as tropas atacaram os depósitos as matas. A matilha fez tudo que podiam para promo-
Apêndice Dois: Lendas dos Uivadores Brancos 92
ver essas lendas, fazendo com que os supersticiosos entre desses primeiros anos, no entanto, sempre levam você ao
as legiões romanas elevassem seus medos a alturas ainda frenesi. É como se algo estivesse forçando você a não se
maiores ao redor de suas fogueiras e barracas. lembrar.
Com o passar das próximas décadas, Lupus Grex as- Conceito: Sem saber nada de sua família ou de seu
sombravam a fronteira sul da Caledonia, indo do territó- passado, você dedicou sua vida inteira desde sua Mudança
rio entre as muralhas romanas norte e sul. Com a ajuda a seu dever. Você é completamente moldada para ser uma
das seitas locais, eles ajudaram a defender sua terra natal Galliard. Apesar de que sua criatividade e performance
da invasão romana e foram uma grande parte da razão possa ser superada por outros, você tem uma memória
pela qual os romanos nunca conquistaram a Caledonia. perfeita e guarda todos os detalhes de qualquer coisa que
No fim, o impulso de Hathawulf tornou-se sua pró- ouve, vê ou experimenta.
pria derrota. No posto de Athro, ele foi uma das forças Dicas de Interpretação: O mundo é feito de histórias
mais fortes por trás da decisão de atacar os quartéis ro- e você queima com uma necessidade de conhecer todas
manos. Usando cada pedaço de sua persuasão, esperteza elas. Ouça intensamente aos contos à sua volta, mesmo
e manipulação, ele desequilibrou a balança e convocou a os mundanos. Caso outros pareçam vacilantes a compar-
Tribo atrás de um guerreiro que conduziu o ataque. Ao tilhar suas histórias, encoraja-os a conta-las através de per-
retornar de sua vitória, no entanto, ele e o resto da Tribo guntas, questionamentos gentis e uma irredutível paciên-
descobriu seus Parentes desprotegidos assassinados, que- cia.
brados e profanados. A realização de que suas palavras ha- Equipamento: Cinto e capa, torque de bronze, faca
viam conduzido a Tribo a deixar suas famílias desprotegi- de ferro
das golpeou fortemente Hathawulf mais profundamente Caso Morag seja encontrada antes da queda dos Uivadores
do que qualquer inimigo. Apesar dos melhores esforços Brancos, ela possui as características abaixo, mas sem nenhuma
de sua matilha, o astuto batedor abandonou seus deveres. insinuação de seu (ou de sua tribo) vindouro destino sombrio.
Ele recusou participar de futuros desafios, parou de caçar, Caso seja encontrada após a queda da tribo, ela pode possuir al-
de conversar e, eventualmente, parou de comer. Um dia, guns Dons adicionais de Dançarinos da Espiral Negra e rituais
ele simplesmente desapareceu. Ninguém – nem mesmo que o Narrador achar apropriado.
o Totem de sua matilha – foi capaz de localizá-lo desde Raça: Impuro
então. Augúrio: Galliard

Morag “Memória da
Posto: 4
Físicos: Força 2 (4/6/5/3), Destreza 3 (3/4/5/5),
Vigor 3 (5/6/6/5)

Pedra”
Sociais: Carisma 3, Manipulação 4 (2/1/1/1), Apa-
rência 2 (1/0/2/2)
Mentais: Percepção 4, Inteligência 5, Raciocínio 3
É meu dever – e minha maldição – lembrar de tudo. Talentos: Prontidão, Esportes 1, Briga 1, Empatia 3,
Prelúdio: Você não se lembra nada de seu passado, Expressão 4, Intimidação 2, Liderança 3, Instinto Pri-
mas todo o resto não pode ser esquecido. Sua vida antes mitivo 2, Lábia 2
Perícias: Empatia com Animal 2, Ofícios 1, Etiqueta
de sua Primeira Mudança é um grande branco. Você é 3, Armas Brancas 1, Performance 4, Furtividade 2,
impura e, por tanto, teve que passar os primeiros anos Sobrevivência 1
de sua vida em Crinos, mas nenhuma seita admitirá ter Conhecimentos: Acadêmicos 1, Enigmas 2, Investi-
criado você. Você acordou após sua Primeira Mudança, gação 3, Medicina 1, Ocultismo 2, Rituais 3
milhas de distância do acampamento mais próximo e cer- Antecedentes: Ancestrais 2, Rituais 3, Totem (Pesso-
cado por corpos humanos que foram rasgados tão brutal- al – Leão) 5
Fúria: 8; Gnose: 8; Força de Vontade: 9
mente que não podiam ser identificados. Um Campeador Glória: 7; Honra: 2; Sabedoria: 6
de Parentes buscou os Garou mais próximos, mas o espí- Dons: (1) Chamado da Wyld, Uivo Assombroso, Sen-
rito de vontade fraca foi incapaz de dar àqueles que ele tidos Aguçados, Memória Perfeita, Sentir a Wyrm,
trouxe qualquer informação sobre sua infância. Ninguém Marcas Luminosas; (2) Maldição do Ódio, Uivo de
nas fazendas ou vila ao redor parecia saber qualquer coisa Banshee, Uivos na Noite; (3) Comunicação Mental,
sobre você, mesmo aqueles Parentes cientes da existência Canção dos Heróis, Canção da Sereia; (4) Teatro
de Sombras, Visões da Matança
dos Garou. Todo Ritual da Herança executado em você Rituais: (Pequenos) Presságio, Saudação ao Sol; (Ní-
falhou. vel Um) Cerimônia pelos Falecidos, Última Bênção,
Desde sua Primeira Mudança, você provou ser uma Ritual da Fogueira; (Nível Dois) Ritual de Conquis-
dedicada membro da Tribo, calma em seu temperamento ta; (Nível Três) Descida ao Mundo Inferior, Ritual do
Lobo do Inverno
e até em seu porte. Tentativas de te encorajar a lembrar
93 Uivadores Brancos
Nome: Raça: Nome da Matilha:
Jogador: Augúrio: Totem da Matilha:
Crônica: Tribo: Conceito:

Atributos
Físico Social Mental
Força Carisma Percepção
Destreza Manipulação Inteligência
Vigor Aparência Raciocínio

Habilidades
Talentos Perícias Conhecimentos
Prontidão Emp. C/ Animais Acadêmicos
Esportes Ofícios Cultura
Briga Etiqueta Enigmas
Empatia Crime Investigação
Expressão Armas Brancas Direito
Intimidação Performance Medicina
Liderança Arqueirismo Ocultismo
Instinto Primitivo Cavalgar Rituais
Manha Furtividade Ciência
Lábia Sobrevivência Tecnologia

Vantagens
Antecedentes Dons Rituais

Renome Fúria Vitalidade


Glória Escoriado
Machucado –1
Ferido –1
Honra
Gnose Ferido Gravemente
Espancado
–2
–2
Aleijado –5
Sabedoria Incapacitado

Posto Força de Vontade Fraqueza Tribal


Hubris
+1 de dificuldade para
recusar desafios
Hominídeo Glabro Crinos Hispo Lupino
Força(+2) Força(+4) Força(+3) Força(+1)
Nenhuma Vigor(+2) Destreza(+1) Destreza(+2) Destreza(+2)
Mudança Manipulação(–2) Vigor(+3) Vigor(+3) Vigor(+2)
Aparência(–2) Manipulação(–3) Manipulação(–3) Manipulação(–3)
Aparência 0
Dificuldade: 6 Dificuldade: 7 Dificuldade: 6 Dificuldade: 7 Dificuldade: 6
INCITA DELÍRIO Adiciona 1 dado de Reduz dificuldades
EM HUMANOS dano de Mordidas de Percepção em 2

Outras Características Fetiches


Item: Nível: Gnose:
Poder:
Item: Nível: Gnose:
Poder:
Item: Nível: Gnose:
Poder:
Item: Nível: Gnose:
Poder:
Item: Nível: Gnose:
Poder:
Item: Nível: Gnose:
Poder:
Dons Rituais

Combate
Arma/Manobra Teste Dif. Dano Alcance Cad. Pente Tabela de Briga
Manobra Teste Dif Dano
Mordida Des + Briga 5 Força + 1/A
Encontro Des + Briga 7 Especial/C
Garra Des + Briga 6 Força + 2/A
Agarrar Des + Briga 6 Força/C
Chute Des + Briga 7 Força + 1/C
Soco Des + Briga 6 Força/C
A = Dano Agravado C = Dano de Contusão
Armadura:
Natureza: Comportamento:
Qualidades & Defeitos
Qualidade Tipo Custo Defeito Tipo Bônus

Antecedentes Detalhados
Aliados Mentor

Ancestrais Raça Pura

Contatos Totem

Parentes Recursos

Outros ( ) Outros ( )

Posses Seita
Equipamento(Carregado): Nome:
Localização do Caern:
Tipo: Nível:
Totem:
Líder:
Detalhes:
Equipamento(Possuído):

Experiência
História

Descrição
Idade:
Cabelo:
Olhos:
Raça:
Nacionalidade:
Sexo:
Altura Peso
Cicatrizes de Batalha:
Hominídeo:
Glabro:
Crinos:
Hispo: Deformidade do Impuro:
Lupino:

Visual
Relações da Matilha Esboço do Personagem
Uivos do Poço

Tortured minds, our souls are screaming


From the woods the wolves are howling
We ride on the ground of our beloved land
In rage and anger we walk hand in hand

– Grave Digger, The Clans Will Rise Again

Foram muitos dias. Nosso último trabalho data de Os números do Nação Garou continuam a crescer,
2012. E então tudo pareceu que acabaria. Foi a época de e ampliaremos ainda mais. Iniciamos um novo projeto
transição em massa do Orkut para o Facebook. Perde- para o NG. Em nossa página, disponibilizamos a cada 15
mos muitos dos contatos com o antigo pessoal da comu- dias um novo episódio do GarouCast – um podcast que
nidade, fizemos novos contatos nos novos grupos. Mas tem como alvo Lobisomem o Apocalipse. Discussões e
no geral, tudo ficou estagnado. O cenário também já não opiniões de mesa de bar estarão ali, sempre com o viés no
se apresentava mais como antigamente. Uma nova onda jogo, falando de seu mundo e cenário. A equipe do Ga-
de RPG tomou conta dos jogadores brasileiros. E então, rouCast se amplia cada vez mais, e geraremos conteúdo
nessa nova onda surgiu uma palavra que levaria adiante para as mesas brasileiras. Junto com nossos fãs.
nosso jogo favorito: Kickstarter. As traduções continuarão a acontecer, com a veloci-
Através de um financiamento coletivo, Lobisomem o dade mais rápida possível. Sempre precisamos de ajuda,
Apocalipse ganharia sua edição de 20 anos. E junto do li- seja com uma tradução, com diagramação ou com revisão.
vro básico, vários suplementos foram anunciados. E logo, Além daquele apoio moral que vocês estão acostumados
nossos fãs chegaram com vontade, perguntando quando a nos dar. Não nos dedicaremos única e exclusivamente
faríamos essa nova coleção. Foi uma guerra para ter um li- aos livros da edição de 20 anos. Se essa é uma volta, te-
vro feito. Diagramação, revisão, tradução, tudo isso toma remos também material antigo, livros que ainda não fize-
tempo e trabalho. Estamos mais velhos também – ou ape- mos. Nosso projeto continua.
nas com mais XP – e isso faz com que tenhamos mais res- Junte a nós o seu uivo! Venha fazer parte do Nação
ponsabilidades. Mas nos juntamos e prosperamos. Garou!

Uivos do Poço 98
Chokos Velocidade-do-Trovão RGT
Ragabash Senhor das Sombras Ancião Iluminado Wingus Testocruciblo um Nocker entediado que foi
Já faz algum tempo que não escrevo Palavras Finais achado por um bando de lobinho
em um livro. Tempo demais. As viagens na Umbra nos Porra... mas nem me deixam dormir nessa budega...
levaram para perto demais do Abismo, mas não caímos. Como assim 6 anos? Você tá me dizendo que eu puxei
Ao observar o Abismo, vimos o oblívio, o esquecimento. um ronco de 6 anos? Caramba... e eu tinha um encontro
Tudo aquilo que ficou para trás estava sendo arrancado com uma boggan supimpa. Tá certo que elas são meio
de nós. Mas não permitiríamos isso. A Nação é forte. Os baixinhas, mas um pouco de dor nas costas no dia seguin-
Garou são fortes. te é aceitável, rá!
Em uma resolução de nossos guerreiros, erguemos Ah, pera... você me acorda depois de 6 anos para eu
nossos olhos e contemplamos o futuro. Seguimos então forjar mais um desses livrinhos tontos ai de vocês lobi-
em sua direção. Agora, atacando em duas frentes. Com nhos? Vocês se acham muito só porque são os protegidos
força, como uma matilha. Me parece um futuro que eu daquela vadia da Gaia, né não?
gostaria de ver. Vamos nos dedicar a isso. Ou! Fica assim não! Foi brincadeira, caralho! Você não
Livros e podcast. Essas são – hoje – nossas ferramen- sabe brincar? Pra que essa faca gigante ai! Para! PARA!!!!
tas. Muitos planos são moldados em nossas mentes a (resmungos incompreensíveis saindo de uma gargan-
cada dia. Não sabemos quantos deles verão a luz do dia, ta cheia de sangue e vômito)
quantos serão realizados e muito menos quantos darão
certo. Mas tenham em mente que estamos produzindo,
estamos empenhados. Quando o Apocalipse chegar, esta-
remos aqui lutando.
Um grande uivo de despedida para todos vocês. Nos
encontramos em nosso caern!

99 Uivadores Brancos
Todos conhecem a história dos Uivadores Brancos. Garou tão orgulhosos que se jogaram no estômago da Wyrm,
esperando matá-la por dentro. Eles não a mataram e ela não os matou. Porém, os Uivadores Brancos seriam lembrados
pelo seu passado e também pelo que se tornaram.

Mas essa não é sua história.

Os Uivadores Brancos sofreram com o Grande Inverno, com a reconstrução e invasões, com uma paz inquieta e uma
guerra horrível. Eles lutaram por seus Parentes e por suas terras. Eles eram orgulhosos, mas todos os Garou o são. Deles
é uma história que muitos Garou não conhecem. Aproxime-se e me deixa contá-la.

Livro de Tribo:
Uivadores Brancos inclui:
• A história dos Uivadores Brancos, dos
tempos antigos até seu grande sacrifício.

• Detalhes da cultura e história da tribo,


com informações suficientes para narrar
uma crônica inteira na época antes de sua
queda.
• Idéias para usar os Uivadores Brancos
em uma história montada nas noites
modernas.

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