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O pensamento económico português foi marcado ao longo dos séculos pelo estudo
das condições que caracterizam a nossa situação quase paradoxal de um território
europeu virado ao mar, mas com inequívocas carências, com exigentes solicitações
globais em razão da presença dos portugueses no mundo. Tal é o pano de fundo dos
movimentos que obrigaram sucessivas gerações a partir – ora para a Índia, ora, em
ocasiões diferentes e com destinos diversos, para a emigração. Em 1415 vamos para
Ceuta para superar a falta de trigo e de ouro – para beneficiar do comércio do
Mediterrâneo. Se a longa costa atlântica portuguesa permitiu contrariar a situação
periférica, o certo é que houve sempre uma tensão entre a defesa de um melhor
aproveitamento dos recursos próprios e a consideração das oportunidades dos
movimentos de pessoas e mercadorias… São bem conhecidos os alertas de Infante D.
Pedro das Sete Partidas na célebre Carta de Bruges (1426) ou as queixas de Francisco
Sá de Miranda: “Não me temo de Castela, donde guerra inda não soa, / mas temo-me
de Lisboa que ao cheiro desta canela o reino nos despovoa”. E não esquecemos, no
século XVII, o conde da Ericeira na defesa do espírito manufatureiro, a que a
descoberta do ouro do Brasil não deu continuidade. Houve, assim, plena consciência
de que era preciso fixar riquezas depois de partir em sua busca. Essa procura teria de
ser compensada de alguma forma, para que a míngua de pessoas não impedisse a
criação e consolidação de uma cabeça coerente e de uma orientação eficaz para o
império. A doutrina refere-se, por isso, às duas políticas nacionais. Falando de obras
pioneiras portuguesas no tocante à economia, cabe referir, os fundamentais autores
seiscentistas – Mendes de Vasconcelos, Severim de Faria e Ribeiro de Macedo. Em
1608, Diálogos do Sítio de Lisboa de Luís Mendes de Vasconcelos (c. 1542-1623) é o
primeiro exemplo de uma tomada de consciência sobre a importância da capacidade
criadora da economia. O autor viveu na passagem do século XVI para o século XVII, foi
Capitão das Armadas do Oriente e governador em Angola. Nesse livro – onde discutem
um Filósofo, um Soldado e um Político – encontramos a exaltação das qualidades da
cidade de Lisboa, sobretudo quando comparada com Madrid e, tratando-se do tempo
de Filipe I, durante a monarquia dual, António Sérgio (1883-1969) diz-nos que o autor
procurava convencer o rei “a mudar de Madrid para Lisboa a capital do seu império”.
Por outro lado, combate-se “o estonteamento da nossa política ultramarina, que
consistiu em se perverter o objetivo comercial com as ideias de conquista”. Luís
Mendes de Vasconcelos defende a criação e a fixação, não apenas no domínio teórico,
mas com exemplos práticos do que hoje classificaríamos como ordenamento do
território, em especial para o aproveitamento agrícola nas lezírias do Tejo e na região
de Lisboa. Ainda para Sérgio, este reformismo assenta na “política fixadora, a da
produção metropolitana, com base na estabilidade do comércio do ultramar, e da sua
nacionalização”; bem como num conceito de glória e heroísmo –“a glória do político e
do militar, o heroísmo do servidor da pátria está em concorrer para a prosperidade
dela”…
Saído do período de sessenta anos em que viveu em Monarquia Dual com a Espanha,
com a sua presença na Ásia enfraquecida, quer pelas conquistas dos holandeses, quer
pelo desenvolvimento do mercado interasiático e com a perda de Ormuz (1622) e de
Malaca (1640) e expulsão do Japão (1637-41), em Portugal a procura da fixação fazia
todo o sentido. A descoberta do ouro do Brasil interrompeu, porém, a concretização
desse desígnio – o qual viria a ser concretizado algo fugazmente pela política de
Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal…
G.O.M.