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HISTÓRIA DA CULTURA PORTUGUESA

16ª Lição – 4 de maio de 2020

O pensamento económico português foi marcado ao longo dos séculos pelo estudo
das condições que caracterizam a nossa situação quase paradoxal de um território
europeu virado ao mar, mas com inequívocas carências, com exigentes solicitações
globais em razão da presença dos portugueses no mundo. Tal é o pano de fundo dos
movimentos que obrigaram sucessivas gerações a partir – ora para a Índia, ora, em
ocasiões diferentes e com destinos diversos, para a emigração. Em 1415 vamos para
Ceuta para superar a falta de trigo e de ouro – para beneficiar do comércio do
Mediterrâneo. Se a longa costa atlântica portuguesa permitiu contrariar a situação
periférica, o certo é que houve sempre uma tensão entre a defesa de um melhor
aproveitamento dos recursos próprios e a consideração das oportunidades dos
movimentos de pessoas e mercadorias… São bem conhecidos os alertas de Infante D.
Pedro das Sete Partidas na célebre Carta de Bruges (1426) ou as queixas de Francisco
Sá de Miranda: “Não me temo de Castela, donde guerra inda não soa, / mas temo-me
de Lisboa que ao cheiro desta canela o reino nos despovoa”. E não esquecemos, no
século XVII, o conde da Ericeira na defesa do espírito manufatureiro, a que a
descoberta do ouro do Brasil não deu continuidade. Houve, assim, plena consciência
de que era preciso fixar riquezas depois de partir em sua busca. Essa procura teria de
ser compensada de alguma forma, para que a míngua de pessoas não impedisse a
criação e consolidação de uma cabeça coerente e de uma orientação eficaz para o
império. A doutrina refere-se, por isso, às duas políticas nacionais. Falando de obras
pioneiras portuguesas no tocante à economia, cabe referir, os fundamentais autores
seiscentistas – Mendes de Vasconcelos, Severim de Faria e Ribeiro de Macedo. Em
1608, Diálogos do Sítio de Lisboa de Luís Mendes de Vasconcelos (c. 1542-1623) é o
primeiro exemplo de uma tomada de consciência sobre a importância da capacidade
criadora da economia. O autor viveu na passagem do século XVI para o século XVII, foi
Capitão das Armadas do Oriente e governador em Angola. Nesse livro – onde discutem
um Filósofo, um Soldado e um Político – encontramos a exaltação das qualidades da
cidade de Lisboa, sobretudo quando comparada com Madrid e, tratando-se do tempo
de Filipe I, durante a monarquia dual, António Sérgio (1883-1969) diz-nos que o autor
procurava convencer o rei “a mudar de Madrid para Lisboa a capital do seu império”.
Por outro lado, combate-se “o estonteamento da nossa política ultramarina, que
consistiu em se perverter o objetivo comercial com as ideias de conquista”. Luís
Mendes de Vasconcelos defende a criação e a fixação, não apenas no domínio teórico,
mas com exemplos práticos do que hoje classificaríamos como ordenamento do
território, em especial para o aproveitamento agrícola nas lezírias do Tejo e na região
de Lisboa. Ainda para Sérgio, este reformismo assenta na “política fixadora, a da
produção metropolitana, com base na estabilidade do comércio do ultramar, e da sua
nacionalização”; bem como num conceito de glória e heroísmo –“a glória do político e
do militar, o heroísmo do servidor da pátria está em concorrer para a prosperidade
dela”…

Já o clérigo e teólogo, formado pela Universidade de Évora, Manuel Severim de Faria


(1583-1654) subscreve, com preocupações semelhantes, Dos Remédios para Remédios
para a falta de Gente (1655), onde critica a prioridade bélica em detrimento do
comércio e da manufatura – somando-se esse mal á falta de investimento, aos defeitos
do arranjo agrário, à concentração fundiária, ao absentismo e ao despovoamento... De
mais a mais, o império do Índico apresentava-se frágil por falta de organização
mercantil, e por defeitos no arranjo agrário. Daí se advogar a prioridade para o
comércio, a indústria e as manufaturas, único modo de fixar recursos, devendo a
preocupação de criar riqueza prevalecer sobre a conquista. Só favorecendo o governo
do Reino a introdução de ofícios e técnicas modernas poderia o mesmo alcançar a
independência económica da nação. O jurisconsulto e diplomata Duarte Ribeiro de
Macedo (1618-1680) publicou o Discurso sobre a introdução das artes no Reino (1675).
Em coerência com a sua correspondência com o Padre António Vieira e D. Francisco
Manuel de Melo, o escritor considera ser fundamental a compreensão de que só
haveria um meio para evitar a dependência do exterior pelas importações, e esse seria
impedir que o dinheiro saísse do Reino através da criação de artes e manufaturas. A
introdução de uma tal orientação evitaria o dano que fazem ao Reino o luxo e as
modas; obstaria à ociosidade; tornaria o país povoado e abundante com gentes e
frutos; aumentaria as rendas reais (“porque o peso que levam poucos, dividido por
muitos, é mais fácil de levar e pode ser maior”); e atrairia ouro de Espanha,
aproveitaria mais as colónias e daria ao porto de Lisboa, superior ao de
Constantinopla, a primazia do comércio do mundo. Escrevendo na França de Colbert,
Ribeiro de Macedo considerava que haveria que seguir os caminhos mercantilistas de
França e Itália e que a Inglaterra começava a trilhar. Saliente-se ainda que, tal como o
Padre António Vieira, o diplomata defendeu a necessidade de encontrar um
entendimento com judeus e cristãos-novos de modo a angariar novos meios e
capacidades. Dois outros diplomatas merecem referência pela valia dos seus escritos
de orientação convergente com a de Duarte Ribeiro de Macedo – refiro-me a
Alexandre de Gusmão (1658-1753) e D. Luís da Cunha (1662-1749). O primeiro, irmão
de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, defendeu o combate à ociosidade, o aumento da
agricultura, o aproveitamento das ribeiras para navegar e regar, o estabelecimento de
fábricas, o aumento da indústria e o favorecimento do comércio dentro e fora do
reino. O segundo insiste na necessidade de dar um uso positivo à propriedade agrícola
e de favorecer o investimento nas artes. Tratava-se de colher nas experiências das
nações civilizadas os melhores exemplos com resultados práticos. Quando o já citado
António Sérgio publicou a sua Antologia dos Economistas Portugueses (1924), lembrou
que os três autores seiscentistas “iniciaram a doutrina da política da Fixação, contra a
política do Transporte; e o reformismo português, desde aí até agora, será o
desenvolvimento dos princípios que defenderam nas suas obras. Em Luís Mendes de
Vasconcelos é a Fixação, pela agricultura; em Severim de Faria, pela agricultura e pelas
indústrias; em Ribeiro de Macedo, finalmente, são as minúcias de um programa de
fomento industrial”. Logo no final do século XVII, porém, o dinheiro das minas do Brasil
e mais tarde os empréstimos do constitucionalismo e as remessas dos emigrantes
adiaram a realização das ideias dos três reformadores. Mas o seu espírito continua,
ressalvadas as distâncias e qualquer anacronismo, vivo e pertinente, em nome de um
reformismo que foi assumido por Herculano, pela geração de 1870, pela “Seara Nova”
e pelo moderno pensamento democrático. Regressar aos clássicos é, no fundo, um
privilégio, sobretudo quando podemos usufruir através da sua leitura de ensinamentos
duradouros e perenes.

Saído do período de sessenta anos em que viveu em Monarquia Dual com a Espanha,
com a sua presença na Ásia enfraquecida, quer pelas conquistas dos holandeses, quer
pelo desenvolvimento do mercado interasiático e com a perda de Ormuz (1622) e de
Malaca (1640) e expulsão do Japão (1637-41), em Portugal a procura da fixação fazia
todo o sentido. A descoberta do ouro do Brasil interrompeu, porém, a concretização
desse desígnio – o qual viria a ser concretizado algo fugazmente pela política de
Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal…

G.O.M.

Cf. Na Senda de Fernão Mendes – Percursos Portugueses no Mundo, Gradiva, 2014.

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