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Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr.

, Araraquara ISSN 0103-4235


v. 24, n. 3, p. xx-xx, jul./set. 2013 ISSN 2179-4448 on line

UTILIZAÇÃO DE BERTALHA (ANREDERA CORDIFOLIA (TEN.)


Steenis) E ORA-PRO-NOBIS (PERESKIA ACULEATA MILL.) NA
ELABORAÇÃO DE PÃES

Camila Seffrin MARTINEVSKI*


Viviani Ruffo de OLIVEIRA**
Alessandro de Oliveira RIOS***
Simone Hickmann FLORES ***
Janaína Guimarães VENZKE****

RESUMO: As plantas alimentícias não convencionais, sendo desconhecido pela maior parte da população. Di-
conhecidas como inço ou mato, são encontradas em jar- versas dessas espécies, já foram utilizadas na alimentação
dins e quintais e podem ser uma alternativa fácil e barata anteriormente, mas entraram em desuso, até mesmo pelas
de consumir vegetais; mas pouco se conhece sobre a sua pessoas de origem rural, que já não sabem mais quais delas
composição bromatológica. O objetivo deste trabalho é têm potencial alimentício. É justamente esta falta de conhe-
prospectar o potencial alimentício de duas espécies, ber- cimento, e também da forma de preparo, a principal razão
talha (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis) e ora-pro-nobis para a não utilização dessas hortaliças (KINUPP; BAR-
(Pereskia aculeata Mill) através da caracterização da sua ROS, 2004).
composição bromatológica e seu aproveitamento na elabo- A bertalha, também conhecida como espinafre
ração de pães, sendo submetidos à análise sensorial, através gaúcho, folha-gorda, folha-santa (KINUPP et al., 2004),
de testes de aceitação de atributos. As análises foram rea- dentre outras denominações, é uma planta originária de
lizadas em base seca e feitas em triplicata. O teor proteico áreas tropicais e subtropicais da América do Sul. É nati-
da bertalha e ora-pro-nobis foi, respectivamente 21,66% e va do Paraguai até o sul do Brasil e norte da Argentina.
20,10%; quanto aos lipídeos a primeira espécie apresentou É uma trepadeira de caule delgado - com cerca de 30 cm
2,28% e a segunda 2,07%. Com relação a cinzas e fibras, de comprimento cada um, folhas em forma de coração e
a bertalha apresentou 19,81% e 27,55%, respectivamente, de coloração verde-escuro, com pequenas flores brancas e
e a ora-pro-nobis 13,66% e 39,27%. Os carboidratos to- numerosas. Também apresenta diversos tubérculos aére-
talizaram 28,70% na bertalha e 24,80% na ora-pro-nobis. os, pequenos e irregulares, de cor verde ou marrom claro
O Índice de aceitação global dos pães foi de 68,55% para (SMITH, 2007). Essa espécie não possui toxidez ou efeitos
o pão de bertalha e 77,77% para o pão de ora-pro-nobis. mutagênicos, podendo ser utilizada como hortaliça (YEN
A partir dessas análises observou-se que tais espécies são et al., 2001).
boas fontes vegetais de proteínas e fibras, sendo viáveis na Pereskia aculeata Mill, mais popularmente conheci-
preparação pães e com boa aceitação global. Outros estu- da como ora-pro-nobis, carne-de-pobre, carne-de-negro ou
dos deverão ser realizados, para que outras propriedades ainda trepadeira-limão, é uma planta da família Cactacea,
sejam conhecidas e com isso seja incentivado o consumo uma das únicas com folhas desenvolvidas. É originária das
destas espécies com maior embasamento científico. Américas, sendo nativa desde a Flórida até o Brasil (BRA-
SIL, 2010). Suas folhas têm forma elíptica e simétrica, com
PALAVRAS-CHAVE: Bertalha; Ora-pro-nobis; Análise
cerca de 7 cm de comprimento e 3 cm de largura. Seu pe-
química; Análise sensorial.
cíolo é curto, agrupando-se de duas a seis folhas em ramos
laterais. Também apresenta espinhos axilares, característi-
INTRODUÇÃO ca da sua família (DUARTE; HAYASHI, 2005), e possui
pequenas flores de coloração branca e frutos em pequenas
As plantas alimentícias não convencionais (PANCs), bagas amarelas (BRASIL, 2010).
conhecidas popularmente como inço ou mato, são espécies Segundo o Guia Alimentar para a População Bra-
de fácil cultivo encontradas em jardins, quintais e terrenos sileira (BRASIL, 2006), para ser considerada saudável, a
baldios. Seu valor nutricional ainda é pouco explorado, dieta diária deve conter todos os grupos de alimentos. Den-

*Curso de Nutrição – Faculdade de Medicina – FAMED – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Centro de Estudos em
Alimentação e Nutrição – CESAN – 90035-003 – Porto Alegre – RS – Brasil.
**Departamento de Medicina Interna – FAMED – UFRGS – CESAN – 90035-003 – Porto Alegre – RS – Brasil.
***Departamento de Ciência dos Alimentos – Instituto de Ciência dos Alimentos – ICTA – UFRGS – 90035-003 – Porto Alegre – RS – Brasil.
****Departamento de Medicina Social – FAMED – UFRGS – CESAN – 90035-003 – Porto Alegre – RS – Brasil. E-mail:
janaina.venzke@ufrgs.br.

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MARTINEVSKI, C.S.; OLIVEIRA, V.R.; RIOS, A.O.; FLORES, S.H.; VENZKE, J.G. PANCs na elaboração de pães. Alim. Nutr. = Braz. J.
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tre eles, destacam-se as frutas e hortaliças, alimentos ricos dade em estufa, a 105°C até peso constante; cinzas por in-
em fibras, minerais e vitaminas - nutrientes essenciais para cineração em mufla, a 550°C; lipídios por extração direta
o bom funcionamento do nosso organismo. No período de em Soxhlet; nitrogênio total pelo método de Kjeldahl, e
um dia, cinco porções destes alimentos devem ser consumi- convertido em proteína bruta pelo fator 6,25; os carboidra-
dos. Entretanto, estudos têm demonstrado que a população tos foram determinado por diferença, segundo a equação:
de um modo geral tem uma dieta bastante pobre em fibras
Carboidratos totais (%) = [100 - (umidade + lipídeos + pro-
e, por isso, provavelmente pobre em frutas e hortaliças
teína + cinzas]. A fibra total alimentar foi determinada se-
(NEUTZLING, 2007; MATTOS; MARTINS, 2000). Dessa
forma, as PANCs surgem como uma alternativa barata e de gundo as normas da AOAC (Official Methods of Analysis of
fácil acesso para melhorar a qualidade da dieta da popula- AOAC INTERNACIONAL), descritas por Cunniff (1995).
ção brasileira. Para as análises de pH e sólidos solúveis (SS) as
Este trabalho teve como objetivo caracterizar quimi- folhas de ambas as hortaliças foram trituradas em homo-
camente duas PANCs, bertalha (Anredera cordifolia (Ten.) geneizados de tecidos, Ultra Turrax modelo IKA T25 di-
Steenis) e ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Mill) e avaliar gital, na proporção 1:5 (folha: água) e filtradas em bomba
a aceitação de pães elaborados com elas. à vácuo com papel filtro Whatman, segundo metodologia
de Carvalho et al. (2002). As medidas foram realizadas em
MATERIAL E MÉTODOS triplicata em pHmetro de bancada da marca QUIMIS e em
refratômetro digital modelo ATAGO® Pocket PAL-3, com
As análises químicas foram realizadas no Laborató- leitura na faixa de 0 - 99°BRIX .
rio de Bromatologia do Instituto de Tecnologia e Alimen-
tos (ICTA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Elaboração dos pães
(UFRGS), os pães de forma foram elaborados no Laborató-
rio de Técnica Dietética do curso de Nutrição da UFRGS e Na elaboração dos pães utilizou-se os ingredientes:
a análise sensorial no Laboratório de Análise Sensorial do farinha de trigo fortificada com ferro e ácido fólico, óleo
ICTA da UFRGS. vegetal, açúcar, sal e fermento biológico, obtidos em es-
tabelecimentos comerciais da cidade de Porto Alegre/RS,
Coleta e preparo das amostras com a proporção de ingredientes descrita na Tabela 1.
Primeiramente, todos os ingredientes foram pesados
As espécies bertalha (Anredera cordifolia (Ten.)
Steenis) e ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Mill.), foram em balança de precisão Plenna®, capacidade de 2000 g. Os
provenientes do sítio Capororoca, na zona rural de Porto pães foram preparados a partir do método de massa direta
Alegre/RS, e colhidas nos meses de maio e junho de 2011. modificado, que consistiu da mistura dos todos os ingre-
As hortaliças previamente foram lavadas em água dientes utilizados na formulação. Misturou-se primeiro to-
corrente e mantidas em estufa a 105°C por 48 horas. O dos os ingredientes secos e, logo após, a mistura da PANC
material seco foi triturado em graal, homogeneizado e em com água, previamente preparada em liquidificador Wali-
seguida armazenado em frascos de vidro, sendo protegidos ta® Tiwist, capacidade de 1,250L. Toda a mistura e a sova
da luz direta e mantido em temperatura ambiente. foram feitas a mão. As massas foram deixadas para crescer
por 1 hora em temperatura de 21ºC e, após este período,
Análises químicas
cada uma delas foi dividida em 3 porções de aproximada-
A composição química das hortaliças foi determina- mente 540 g e boleadas à mão. Em seguida, foram coloca-
da, segundo as normas descritas por Carvalho et al.(2002), das para assar em forno Dako®, modelo Luna, pré-aqueci-
por meio dos seguintes procedimentos em triplicata: umi- do, em temperatura de 220ºC por 1 hora e 30 minutos.

Tabela 1 – Ingredientes utilizados nas formulações de pão com bertalha (PB) e pão com ora-pro-
-nobis (PO).
PB PO
Ingredientes Quantidade
% Quantidade (kg) %
(kg)
Farinha de trigo branca 1,00 100,00 1,00 100,0
Sal refinado 0,01 1,20 0,01 1,20
Açúcar 0,04 4,40 0,04 4,40
Fermento biológico 0,01 1,20 0,01 1,20
Bertalha 0,08 8,00 - -
Ora-pro-nobis - - 0,06 6,00
Água 0,45 45,50 0,50 50,00

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MARTINEVSKI, C.S.; OLIVEIRA, V.R.; RIOS, A.O.; FLORES, S.H.; VENZKE, J.G. PANCs na elaboração de pães. Alim. Nutr. = Braz. J.
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Análise sensorial face Mimosa Verde (95,10%), segundo Ohse et al. (2009).
O valor de umidade da folha ora-pro-nobis foi de 86,81%
Os pães foram submetidos através de testes de acei- (± 0,40), inferior ao da alface Regina (95,47%) e da alfa-
tação de atributos, realizado com 42 provadores não trei- ce Vera (95,58%) (OHSE et al., 2009), mas semelhante ao
nados de ambos os sexos, com idade entre 18 e 53 anos, valor encontrado por Takeiti et al. (2009) também em ora-
frequentadores do mesmo local. Os participantes que acei- -pro-nobis (89,50%).
taram participar do estudo assinaram um Termo de Consen- Quanto ao teor de proteína, em amostra seca, a ber-
timento Livre e Esclarecido, submetido ao Comitê de Ética talha apresentou 21,66% (± 1,26) e ora-pro-nobis 20,10%
de Pesquisa da UFRGS, conforme a Resolução 196/96 do (± 0,93), ambos os valores superiores ao da folha de cenou-
CNS/MS, sob número do protocolo 18127. ra (15,12%) (PEREIRA et al., 2003) e ao do cariru (0,90%),
O teste de aceitação foi realizado através de escala planta nativa da região amazônica de aspecto físico seme-
hedônica de nove pontos (1 – desgostei muitíssimo, 2 – lhante a ora-pro-nobis (MANHÃES et al., 2008). Takeiti et
desgostei muito, 3 – desgostei regularmente, 4 – desgos- al. (2009) encontraram 28,49% (± 0,40) de proteínas em
tei ligeiramente, 5 – indiferente, 6 – gostei ligeiramente, ora-pro-nobis, valor superior aos achados deste trabalho.
7 – gostei regularmente, 8 – gostei muito e 9 - gostei mui- Os resultados acima sugerem que as PANCs estu-
tíssimo) descrita por Dutcosky (2007), sendo avaliados os dadas são fontes promissoras de proteína vegetal, entretan-
atributos: aparência, cor, sabor, textura e aceitação global. to a qualidade nutricional dessa proteína é de baixo valor
As amostras foram codificadas com três dígitos aleatórios. biológico, devido a sua digestibilidade, composição ami-
noacídica e a presença de fatores antinutricionais. O pro-
Análise Estatística cessamento pode tanto melhorar como reduzir a qualidade
nutricional dessa proteína, dependendo da temperatura uti-
O cálculo das médias e desvios padrão foi obtido
lizada, do tempo de aquecimento e da presença ou não de
através de planilha Excel 2007®. As análises químicas fo-
umidade (YOUNG; PELLETT, 1994).
ram realizadas em triplicata.
Como a maioria dos vegetais, a bertalha e a ora-pro-
-nobis não são fontes de lipídios, apresentando, respecti-
RESULTADOS E DISCUSSÃO vamente, 2,28 (± 0,06) e 2,07% (± 0,05) deste nutriente
em base seca. Entretanto, o teor de lipídeos encontrado por
Análises químicas Takeiti et al. (2009) em ora-pro-nobis foi de 4,19%, apro-
ximadamente duas vezes maior do que o valor encontrado
Os resultados da avaliação da composição química neste estudo.
das hortaliças bertalha e ora-pro-nobis estão apresentados O teor de cinzas se refere à quantidade total de mi-
nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. O valor de umidade da nerais presentes nas hortaliças, apresentando a bertalha
folha de bertalha foi de 94,16% (± 0,66), próximo ao a al- 19,81% (± 0,4) e a ora-pro-nobis 13,80% (± 0,16), ambos

Tabela 2 – Composição química média da bertalha (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis) em base úmida e seca.
Porto Alegre – RS, 2011.
Quantidade (g%) Quantidade (g%)
Parâmetros químicos avaliados
em base úmida em base seca
Umidade 94,16 ± 0,66 -
Proteínas 1,26 ± 0,07 21,66 ± 1,26
Lipídios 0,13 ± 0,00 2,28 ± 0,06
Cinzas 1,15 ± 0,12 19,81 ± 0,40
Fibra alimentar 1,61± 0,03 27,55 ± 0,45
Carboidratos 1,69 28,70

Tabela 3 – Composição química média da ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Mill.) em base úmida e seca.
Porto Alegre – RS, 2011.
Quantidade (g%) Quantidade (g%)
Parâmetros químicos avaliados
em base úmida em base seca
Umidade 86,81 ± 0,40 -
Proteínas 2,65 ± 0,12 20,10 ± 0,93
Lipídios 0,27 ± 0,01 2,07 ± 0,05
Cinzas 1,80 ± 0,03 13,66 ± 0,20
Fibra alimentar 5,18 ± 0,072 39,27 ± 0,54
Carboidratos 3,29 24,80

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MARTINEVSKI, C.S.; OLIVEIRA, V.R.; RIOS, A.O.; FLORES, S.H.; VENZKE, J.G. PANCs na elaboração de pães. Alim. Nutr. = Braz. J.
Food Nutr., Araraquara, v.24, n.3, p. xx-xx, jul./set. 2013.

em amostra seca. Porém, quando comparados com ou- Análise sensorial


tros vegetais, essas PANCs podem ser consideradas com
maiores teores de minerais, apresentando a folha de cenou- Os resultados da avaliação de cada atributo pela
ra 10,50% (± 0,33) de cinzas, por exemplo (PEREIRA et análise sensorial encontram-se descritos na Tabela 5. O pão
al., 2003). Já o alface tipo Lucy Brown, contém em média com bertalha (PB) apresentou nota média de 7,02 com re-
15,86% de resíduo mineral total (OHSE et al., 2009), valor lação à aparência, enquanto o pão com ora-pro-nobis (PO)
superior ao encontrado em ora-pro-nobis, mas inferior ao apresentou 6,38. Souza et al. (2007) produziram tortas
de bertalha. salgadas com talos e cascas de hortaliças com proporções
Em amostra seca, a bertalha apresentou 27,55% (± menores que 50% e maiores que 50% destes ingredientes
0,45) de fibras e a ora-pro-nobis 39,27% (± 0,54). Ambos alternativos. A torta com menos de 50% de talos e cascas
apresentou nota média quanto a aparência de 7,04, próxima
os resultados foram superiores aos encontrados por Rocha
ao encontrado para o PB.
et al. (2008), que encontrou 12,64% (± 1,38) de fibras em
Quanto ao atributo cor, as médias das notas do PB
amostra desidratada de ora-pro-nobis. Takeiti et al. (2009)
e PO foram respectivamente 5,52 e 6,09, o que represen-
encontrou resultados próximos ao deste estudo em ora-pro-
ta índices de aceitação (IA) de 61,33% e 67,66%. Fonseca
-nobis: 39,10% de fibras. Segundo o Guia Alimentar para a
Filho et al. (1997), quando analisaram a aceitabilidade de
População Brasileira (BRASIL, 2006), a recomendação di-
pães enriquecidos com diferentes proporções de farelo de
ária de fibras é de 25 g. As hortaliças avaliadas neste estudo
trigo, subproduto do grão de trigo rico em fibras dietéticas,
mostram-se boas fontes deste nutriente, 100 g de bertalha
encontram para o pão com 15% de farelo um IA próximo ao
ou ora-pro-nobis alcançariam por si só a recomendação di-
do PB, de 60%. Já o pão com 10% de farelo foi mais bem
ária de fibras. Assim, as hortaliças estudadas, sendo pobres
aceito (IA: 70%) quanto à cor, assim como o PO.
em lipídeos e fontes de fibras, favorecem dietas hipocalóri- A nota média para o sabor do PB foi de 5,31 (IA:
cas e hipocolesterolêmica. 59%), enquanto a do PO foi de 6,78 (IA: 75%). A polpa e
Quanto ao teor de carboidratos, a bertalha apresen- a casca do baru, espécie nativa do cerrado com frutos de
tou 28,70% e a ora-pro-nobis 24,80%. Ohse et al. (2009) coloração marrom, foram utilizadas na elaboração de pães,
encontraram valores superiores aos encontrados neste es- em diferentes proporções, como forma de substituição do
tudo para diferentes tipo de alface: Lucy Brown (50,12%), farelo de trigo, visando o melhor aproveitamento deste fru-
Mimosa Verde (48,60%), Mimosa Vermelha (46,43%), Re- to. O pão com 75% de polpa e casca teve nota média de
gina (45,47%) e Vera (51,37%). Desta forma, uma alimen- 6,67 para o atributo sabor (ROCHA; SANTIAGO, 2009),
tação baseada em frutas e hortaliças não garante proteção valor muito próximo ao do PO. A aceitabilidade do PB (IA:
contra a deficiência de energia, devido à baixa densidade 59%) assemelha-se com os achados de Torres & Pacheco-
energética desses grupos de alimentos (BRASIL, 2006). Delahaya (2005), que testou pães com diferentes quantida-
Os resultados dos valores de pH e sólido solúveis des de farinha de almidón de yuca e queso llanero, obtendo
(SS) encontrados em bertalha e ora-pro-nobis estão descri- o pão com 75% de farinha de trigo normal e 25% de queso
tos na Tabela 4. Segundo Pereira (2010), o radite (Cicho- llanero um IA de 51,6%.
rium intybus L.) tem pH médio de 6,21, próximo ao pH da A média das notas relativas à textura dos pães foi
bertalha (5,63 ± 0,22) e da ora-pro-nobis (5,10 ± 0,05), va- de 7,19 para o PB e 7,05 para o PO, o que significa um
lores que também se aproximam da folha de cenoura (5,76) IA de 79,88 e 78,33%, respectivamente. Tais resultados se
(PEREIRA et al., 2003). Quanto ao teor de sólidos solúveis aproximam daqueles encontrados por Rocha & Santiago
(SS), a bertalha apresenta 0,66 ± 0,17°Brix e a ora-pro-no- (2009), que para os pães com 75 e 100% de polpa e casca
bis 0,60 ± 0°Brix, valores médios semelhantes também ao de baru obtiveram notas médias quanto à textura de 7,05 e
radite (0,55°Brix) (PEREIRA, 2010). 7,15 respectivamente.

Tabela 4 – Valores de pH e sólidos solúveis (SS) em bertalha (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis) e ora-pro-
nobis (Pereskia aculeata Mill.). Porto Alegre – RS, 2011.
Planta pH SS (°Brix)
Bertalha 5,63 ± 0,22 0,66 ± 0,11
Ora-pro-nobis 5,10 ± 0,05 0,60 ± 0,00

Tabela 5 – Escores médios dos atributos sensoriais de pão com bertalha (PB) e pão com ora-pro-nobis (PO).
Porto Alegre – RS, 2011.
Aparência Cor Sabor Textura Aceitação global
PB 7,02 5,52 5,31 7,19 6,17
PO 6,38 6,09 6,78 7,05 7,00

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MARTINEVSKI, C.S.; OLIVEIRA, V.R.; RIOS, A.O.; FLORES, S.H.; VENZKE, J.G. PANCs na elaboração de pães. Alim. Nutr. = Braz. J.
Food Nutr., Araraquara, v.24, n.3, p. xx-xx, jul./set. 2013.

Com relação à aceitação global dos pães as médias protein and fiber, being viable in preparing breads and well
das notas foram de 6,17 para o PB e 7,00 para o PO. Ziglio accepted globally. Further studies should be conducted so
et al. (2007) realizaram um estudo com farinha de sabugo that other properties are known and it is encouraged with
de milho (FSM), a utilizando sob diferentes proporções the consumption of these species with greater scientific
na elaboração de pães, de 0 a 15%. O pão com 5% de basis.
FSM teve a melhor aceitação, com nota média igual a 7,
exatamente a mesma do PO. Já o pão com 10% de FSM KEYWORDS: Bertalha; Ora-pro-nobis; chemical
teve aceitação bastante próxima a do PB, obtendo a média composition; sensory analysis.
de 6,1.
REFERÊNCIAS
CONCLUSÃO
BRASIL. Guia alimentar para a população brasileira:
A partir das análises realizadas, constatou-se que promovendo a alimentação saudável. Brasília, DF, 2006.
bertalha e ora-pro-nobis são boas fontes de proteínas e fi- 236p.
bras. Além disso, são viáveis na preparação pães, os quais BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
possuem bom índice de aceitação global. Outros estudos Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento
deverão ser realizados, verificando composição de mine- Agropecuário e Coorporativismo. Manual de hortaliças
rais, aminoácidos e tipos de fibras. Desta forma, o consumo não-convencionais. Brasília, DF, 2010. 92p.
destas espécies poderá ser incentivado com maior seguran- CARVALHO, H.H. et al. Alimentos: métodos físicos e
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and ora-pro-nobis was respectively 21.66% and 20.10%,
and lipidic content was 2.28% and 2.07%. Ash’s content NEUTZLING, M.B. Frequência de consumo de dietas
was 19.81% in bertalha and 13.66% in ora-pro-nobis. ricas em gordura e pobres em fibra entre adolescentes. Rev.
Fiber’s amount was 27.55% and 39.27%, respectively, Saúde Pública, v. 41, n. 3, p. 1 -7, 2007.
and total carbohydrates were 28.70% and 24.80%. Global OHSE, S. et al. Composição centesimal e teor de nitrato
acceptance index was 68.55% for bertalha bread and em cinco cultivares de alface produzidas sob cultivo
77.77% for ora-pro-nobis bread. From these analyzes it was hidropônico. Bragantia, Campinas, v.68, n.2, p.407-414,
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