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Resumo: As pesquisas que estão na origem deste artigo estão marcadas pela
preocupação de se considerar as contribuições da tradição filosófica para a discussão da
informação e da sua presença na sociedade contemporânea, e também para os saberes
que lidam com a informação. Ressalta-se que as pontes teóricas entre o aporte filosófico
e a Arquivologia, a Ciência da Informação, a Biblioteconomia ainda se encontram em
fase de construção e que, gradualmente, os subsídios filosóficos estão sendo
incorporados por alguns pesquisadores destas áreas. No campo da Filosofia, a
informação como um elemento relevante para o entendimento da realidade, acha-se
também em fase de maior reconhecimento, pois a informação, neste âmbito, não possui
ainda a mesma visibilidade de objeto do conhecimento como nos domínios das Ciências
Sociais. Mas as pontes que ligam o fenômeno informacional ao horizonte filosófico
estão sendo erguidas. O presente artigo visa apresentar algumas abordagens filosóficas
da informação.
Palavras-chave: Informação; Filosofia, abordagens filosóficas da informação
Abstract: The studies that are the basis of this article are marked by concern for the
contributions of the philosophical tradition to the discussion of information and their
presence in contemporary society and also to the knowledge that deal with information.
It is noteworthy that the bridges between the theoretical and philosophical contribution
and the fields of Archival Science, Information Science, and Librarianship are still
under construction and that, gradually, philosophical subsidies are being incorporated
by some researchers in these areas. In the field of philosophy, information as an
important factor for the understanding of reality, lies also in recognition phase, since the
information in this context is not yet the same visibility as the object of knowledge in
the fields of Social Sciences. But the bridges connecting the informational phenomenon
the philosophical horizon are being raised. This article presents some philosophical
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approaches of information.
Key words: Information, Philosophie, philosophical approaches of Information
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o âmbito da Ciência da um elemento relevante para o
Informação tem havido entendimento da realidade, es-
esforços que buscam refletir pecialmente a que hoje vivemos,
sobre a dimensão política da também se acha em fase de maior
informação, no bojo da qual está posta a reconhecimento. A informação, neste
relação entre a informação e o Estado. âmbito, não tem ainda a mesma
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As pesquisas que originaram este artigo visibilidade de objeto do conhecimento
inserem-se neste horizonte. Estas como nos domínios das Ciências
investigações também são perpassadas Sociais. Mas as pontes que ligam o
pela preocupação de considerar as fenômeno informacional ao horizonte
contribuições da tradição filosófica para filosófico estão sendo erguidas, pois,
a discussão da informação e de sua epistemologicamente, a informação
presença na sociedade contemporânea e adquiriu ao longo do século XX o
também para os saberes que lidam com estatuto de objeto do conhecimento, o
a informação. O tema deste artigo versa qual, como qualquer objeto, fi-
justamente sobre algumas destas losoficamente necessita ter uma
contribuições. Cabe ressaltar que as fundamentação do tipo filosófica ou,
pontes teóricas entre o aporte filosófico pelo menos, a explicitação do solo
e a Arquivologia, a Ciência da filosófico existente sob sua com-
Informação, a Biblioteconomia ainda se preensão.
encontram em fase de construção. Neste artigo serão apresentadas
Gradualmente, os subsídios filosóficos as linhas mestras de algumas
estão sendo incorporados por alguns abordagens filosóficas acerca da
pesquisadores destas áreas, filósofos ou informação como as elaboradas por
não. De modo similar, também no Martin Heidegger e Rafael Capurro;
Karl Marx e F. Engels, Walter
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"O dispositivo informacional: sobre Benjamin, Jiri Zeman e Milton Santos.
informação, Estado e poder na
contemporaneidade a partir do contexto das
políticas públicas de inclusão digital do governo
federal brasileiro" (doutorado concluído em
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informação apareceu, ao longo do causa das suas predições para uma era da
informação presente e futura. É problemático
século XX, em diferentes formações porque as suas pretensões são muito simplistas
e redutoras da complexidade do sentido, do
discursivas, tais como as políticas, as conhecimento e do agenciamento no mundo e
porque um exame cuidadoso das suas
econômicas, as científicas, as pretensões e modelos fundacionais revela
educativas, as sociais, em enunciados enormes e profundas exclusões e contradições.
(DAY, 2001, p.117 – tradução livre da autora)
técnicos e profissionais, que com-
tribuíram para a elaboração do Day identificou três momentos
significado social da informação e da discursivos na produção da chamada
comunicação. A partir do relato “era da informação”: a teoria do-
histórico a que se propôs, Day mostrou cumentalista européia; a teoria da
a estreita relação existente entre o informação e a cibernética, formuladas
discurso produtor da moderna ciência da nos EUA logo após o fim da Segunda
informação e as discursividades de Guerra Mundial; e a chamada “era da
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outras formações discursivas e de suas virtualidade”, que corresponderia ao
instituições que criaram uma imagem da momento presente. As obras de Paul
sociedade e do futuro como “sociedades Otlet e de Suzanne Briet seriam as
da informação”. Ao estabelecer esta representativas da primeira fase,
relação pode revelar a informação como marcada pela ampliação do significado
uma das ideologias mais fortes, social e da importância da
naturalizadas e pregnantes da era da documentação e da informação. Em
reprodução digital. Como ele afirma meados da década de 1940, a teoria da
informação e a cibernética esta-
“Informação” é um termo ideológico central beleceram a noção da informação
porque determina e policia o seu próprio
significado numa imensa extensão de espaços quantificada. N. Wiener (1968) criou
sociais e culturais. Por meio da informação,
são incluídos ou excluídos vocabulários para o um modelo informacional onde as
futuro, dando forma à história num sentido
condizente com a informação. O mundo da relações do ser humano com seu
informação dado pelos textos fundadores e ambiente são estabelecidas a partir da
pelas tradições da informação no século XX é
um mundo profundamente perturbador e troca de informações que vão
problemático. É perturbador por causa da sua
aparente naturalidade e senso comum, e por determinar sua evolução e sua
sobrevivência. Nestes termos, toda a
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Formação Discursiva é o conjunto de
enunciados marcado por um referencial, uma vida (biológica e social) é elaborada a
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identifica à essência da metafísica moderna; c) a transformado seu ideal de vida numa visão de
entrada da arte no horizonte da Estética: “a obra mundo (a visão cristã de mundo) [...]”, que se
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de arte torna-se objeto disto que se chama de populariza. O resultado é a exploração histórica e
experiência vivida, em conseqüência do que a psicológica dos mitos.(ibidem)
18), “É por isso que Heidegger dirá que tecnologias de informação é possi-
mundo material (o âmbito objetivo) co- mudança que está afetando o trabalho na
não é possível imaginar como teria sido minúsculo corpo humano. (BENJAMIN,
1985a, p. 115).
seu diagnóstico posterior.
Em seu pequeno ensaio O encontro com a modernidade
Experiência e pobreza, afirmou que a em meio às trincheiras, à inflação, à
experiência era comunicada aos mais fome foi similar ao encontro da
jovens pelos mais velhos por meio de modernidade em meio ao choque
parábolas, de provérbios, de história propiciado pela metrópole moderna. Em
passadas em locais distantes, com a ambos havia o trauma do frágil corpo
autoridade dos mais velhos, de maneira cujos sentidos e entendimento não
loquaz e concisa. Benjamin se davam conta das explosões destruidoras
questionou: “Que foi feito de tudo isso? e nem da velocidade, da luz artificial, do
Quem encontra ainda pessoas que anonimato urbano, dos movimentos da
saibam contar histórias como elas massa, das novas sensações pro-
devem ser contadas?” (BENJAMIN, porcionadas pela grande cidade.
1985a, p. 114). O autor constatou que as No ensaio A obra de arte na
ações das experiências estavam em época de sua reprodutibilidade técnica,
baixa já na geração de 1914-1918, que Benjamin novamente fez referência ao
experimentou terríveis experiências. fato de as coisas, mediante o boom da
Disse Benjamin que na volta da técnica, terem ‘ficado mais próximas’ e
primeira guerra os “combatentes tinham que esta é
voltado silenciosos do campo de
batalha. Mais pobres em experiências [...] uma preocupação tão apaixonada das
massas modernas como sua tendência a
comunicáveis e não mais ricos“ superar o caráter único de todos os fatos
através de sua reprodutibilidade. Cada dia fica
(BENJAMIN, 1985a, p. 114-115). Por mais irresistível a necessidade de possuir o
objeto, de tão perto quanto possível, na
quê? Para o autor imagem, ou antes, na sua cópia, na sua
reprodução. Cada dia fica mais nítida a
diferença entre a reprodução, como ela nos é
nunca houve experiências mais radicalmente oferecida pelas revistas ilustradas e pelas
desmoralizadas que a experiência estratégica atualidades cinematográficas, e a imagem.
pela guerra das trincheiras, a experiência (BENJAMIN, 1985b, p. 170).
econômica pela inflação, a experiência do
corpo pela fome, a experiência moral pelos
A obra de arte aurática, com sua
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pela reprodutibilidade técnica massiva. não mais estar vinculado a nós pela
Ao analisar a gênese da modernidade no experiência e, sim, veiculado como
século XIX, compreendeu o sentido da informação para ser consumido como
experiência produzida pela reprodução mercadoria.
técnica, que subsumiu os indivíduos nas Na literatura da Ciência da
multidões anônimas das metrópoles Informação a reflexão de Jirí Zeman é
industrializadas como consumidores de uma das poucas estrelas solitárias em
bens produzidos massivamente e como que há a articulação entre a herança
trabalhadores submetidos ao trabalho marxiana, a totalidade da realidade e a
repetitivo nas indústrias. Neste contexto, informação. Para ele, a informação é
ele identificou também a representação organização associada à quantidade e à
da experiência nos meios de qualidade. Em relação à primeira, tem-
comunicação de massa como o reflexo se a possibilidade de encontrar uma
da crescente separação entre a medida de organização. Isso significa
experiência pessoal e a representação da que “a informação exprime a or-
experiência como informação pública. ganização de um sistema que pode ser
Sem a experiência, que seria descrito matematicamente [...]”, sem
comunicada pela narrativa, restaria o que haja uma preocupação com a
nível das vivências. Rápidas e frágeis matéria deste sistema. (ZEMAN, 1970,
vivências que passariam a ser relatadas p. 156). Entretanto, ela não se restringe
no nível da literatura, pelo romance e no à mera quantificação. Acoplado a esse
nível dos mass media, pelas notícias, significado matemático, tão caro à
pela informação, e ainda captadas pela Teoria Matemática da Informação,
fugacidade proporcionada pela acha-se o filosófico, que se relaciona à
reprodução técnica. Com o de- qualidade da realidade material de se
senvolvimento da técnica, que se organizar e à sua própria organização.
sobrepôs ao ser humano, surgiu uma Por isso Zeman afirmou que a
nova forma de miséria: uma pobreza de informação não deveria ser considerada
experiências que faz parte da grande somente pelo viés matemático, porque
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por sua vez, tornou-se global graças a [...] a informação não apenas está presente
nas coisas, nos objetos técnicos, que formam o
ela. Santos (1996, p. 191) chamou a espaço, como ela é necessária à ação
realizada sobre essas coisas. A informação é
atenção para o fato de que os objetos o vetor fundamental do processo social e os
territórios são, desse modo, equipados para
técnicos são também informacionais, facilitar a sua circulação. Pode-se falar,
pois “graças à extrema intencionalidade como S. Gertel (1993), de inevitabilidade do
"nexo informacional". (SANTOS, 1996, p. 193
de sua produção e de sua localização, - grifo nosso)
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(Obras Escolhidas, Volume I).
Estes aspectos ora indicados foram
considerados no desenvolvimento da noção
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