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Pós-Graduação em Filosofia Contemporânea

Filosofia e Ciência

Bruna Coutinho Silva

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E A PSICOLOGIA

Belo Horizonte
2018
Bruna Coutinho Silva

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E A PSICOLOGIA

Trabalho apresentado à disciplina Filosofia e


Ciência, do curso de Pós-Graduação em
Filosofia Contemporânea, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais,
campus Coração Eucarístico.

Professora: Lídia Maria Ribeiro de Oliveira

Belo Horizonte
2018
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A revolução científica foi um marco para a história humana, por promover uma
radical mudança na compreensão do mundo, do homem, do conhecimento; movimento
que possibilitou a emergência do saber científico autônomo em sua relação com a
filosofia e a religião. Esse processo foi gradual, desde meados do século XVI ao final do
século XVII, e ocorreu tendo no seu seio contradições e conflitos (REALE; ANTISERI,
1990).
Pode-se compreender esse acontecimento através dos princípios que inaugura
como fundamento da ciência, conforme Reale e Antiseri (1990), a saber:

 a experiência como forma de obtenção de conhecimentos verdadeiros acerca dos


fenômenos do mundo;
 a valorização dos processos e das funções das coisas e acontecimentos, ao invés
de sua essência;
 a submissão do saber científico à crítica pública, pelas autoridades e instituições
competentes, que são criadas;
 a aliança definitiva entre teoria e prática;
 a instrumentação da ciência;
 a matematização do mundo, entre inúmeros outros.

Destacamos esses princípios por serem fundamentais para caracterizar esse


conhecimento que se consolidou e até hoje é vigente, conhecido como ciência moderna.
Esses princípios convergem com a concepção que Galileu construiu acerca da
ciência, enquanto forma de conhecimento matematizada, que é reflexo da constituição
da realidade em si mesma.

[...] a geometria, tomada na ingenuidade da evidência apriorística, determina


o pensamento de Galileu e o conduz à ideia de uma nova física, uma física
cujo objeto, o que há de “objetivo”, é uma multiplicidade matemática e não
mais o mundo da vida subjetivo-relativo da experiência cotidiana, de tal sorte
que, nesta matematização da natureza, o conhecimento racional deixa de ter
“sentido” para o homem e para sua experiência pré-científica do mundo.
Partindo da ideia de que a geometria favorecia uma determinação unívoca do
mundo, Galileu teria procedido ao raciocínio de que esse método teria a
capacidade de alcançar uma verdade não-relativa, de promover o
conhecimento de um ente verdadeiro em si mesmo, de sobrepujar a
relatividade das apreensões subjetivas, relatividade intrínseca ao mundo da
intuição empírica (CUNHA; SILVEIRA, 2017, p. 75).
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A concepção de Galileu acerca da ciência, como “[...] descrição verdadeira da


realidade” (REALE; ANTISERI, 1990, p.280) relega os aspectos subjetivos ao plano do
fora da ciência, na medida em que concebidos como não mensuráveis, tampouco
verificáveis publicamente.
A abertura para as dúvidas e os questionamentos sobre a realidade humana e do
cosmos pode ser compreendida como a condição de possibilidade para o surgimento de
uma ciência que se ocupa especificamente do homem e de sua psique. Quando a
psicologia surge como disciplina científica, se dá em conformidade com a ciência que se
desenvolvia à época: experimental, instrumentalizada, objetiva. Assim, a própria ciência
psicológica emerge como uma tentativa de se explicar a realidade psíquica, por meio
dos princípios da ciência moderna.
Nesse sentido:

Quando se trata de abordar a apresentação da psicologia como ciência – e os


problemas envolvidos nisso –, a primeira referência necessária é,
naturalmente, a revolução científica do século XVII, pois é a nova
racionalidade por ela disponibilizada que passa a circunscrever
hegemonicamente as condições de possibilidade de qualquer projeto que se
pretenda voltado para o conhecimento. Para o que pretendo salientar, o
importante a reter desse processo são suas características centrais. Muito
resumidamente, trata-se aí de uma drástica substituição dos quadros de
referência do pensamento: a concepção do cosmo aristotélico-ptolemaico –
ou seja, do mundo como todo finito, fechado e hierarquicamente organizado
do ponto de vista ontológico segundo um espaço heterogêneo que destinava a
perfeição às esferas celestes e o par geração/ corrupção à esfera sublunar – dá
lugar à concepção do universo aberto, cuja coesão não se expressa mais por
relações de subordinação, mas pela identidade, no espaço homogeneizado
pela geometria, de suas leis fundamentais bem como de seus componentes,
doravante pertencentes ao mesmo nível do ser (SILVEIRA, 2018, p. 12).

Da mesma forma que se buscava conhecer as leis que regiam o universo, na


psicologia, se buscava as leis que conduziam a vida psíquica, seja em sua dimensão
individual, seja social. Nessa perspectiva, Wilhelm Wundt, psicólogo alemão, no século
XIX, conduzia pesquisas para compreender o que designava por processos psicológicos
básicos, como sensação, sentimento, impulso, e os processos psicológicos complexos,
que se articulavam em nível coletivo, como pensamento, religião, arte, linguagem. A
princípio, portanto, a psicologia surge como “ciência pura”, ou seja, que não supõe
aplicação subsequente, e foi compreendida no contexto alemão como subdisciplina da
filosofia (ABIB, 1998).
Somente com o advento da segunda grande guerra que a psicologia foi utilizada
para fins práticos, em ocasião da seleção de militares, se tornando, também, “ciência
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prática”. E, definitivamente, com William James, nos Estados Unidos, no final do


século XIX, a psicologia assume outro status: a de uma ciência da natureza, tal como a
biologia, cujo objeto de estudo é a consciência.

É essa visão biológica da consciência, do conhecimento e da ação que apoia o


famoso psicólogo norte-americano na sua defesa da psicologia como ciência
natural, como um ramo da biologia. Ela deve então não só trilhar o caminho
de uma ciência positivista, mas também deve evitar as "hipóteses inseguras"
da filosofia (James, 1890/1950). Foi como filósofo consciente do complexo
enredo entre as duas disciplinas que James, diferentemente de Wundt, insistiu
em divorciá-las, para que, ao fim e ao cabo, percorressem caminhos
diferentes (ABIB, 1998, p.80).

Portanto, é com James, nos Estados Unidos, que vemos a psicologia ser orientada
gradualmente para uma perspectiva prática, e sua inserção se dá de modo significativo
no âmbito educacional e industrial.
Diante do exposto, nota-se que a revolução científica foi um marco para todo
conhecimento que, dali em diante, estava constituindo de modo autônomo seu corpus
teórico e prático, se distanciando dos saberes mais tradicionais. Uma grande revolução
do método que, como vimos, foi a condição para a emergência de um saber tal como a
psicologia. Recuperou-se um pouco o histórico de instituição deste campo de saberes e
fazeres, se fazendo notar a distância entre a revolução científica e o estabelecimento
daquela como disciplina científica e campo de atuação. Tal distância aponta também
para o desafio da emancipação da psicologia do âmago da filosofia, embora esta total
independência, a princípio, lhe rendeu o fardo de ter que se constituir nos parâmetros da
ciência moderna, ancorada nas ciências naturais, para então ter alguma legitimidade
perante a comunidade científica. Posteriormente, a psicologia revê essa total submissão
ao paradigma moderno, ao revisitá-lo e ampliá-lo, e começa a se questionar sobre suas
potencialidades e limitações para seu campo de estudos e atuação, a partir, por exemplo,
da psicanálise e da fenomenologia.
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REFERÊNCIAS

ABIB, José A. D. Virada Social na Historiografia da Psicologia e Independência


Institucional da Psicologia. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 14, n. 1, p. 77-
84, jan./abr. 2018. Disponível em:
<http://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/viewFile/20574/14647>. Acesso
em: 1º nov. 2018.

CUNHA, João G. M. da; SILVEIRA, Léa. Revolução Científica e condições de


possibilidade da Psicanálise: sobre a presença de Husserl em “A ciência e a verdade”.
Revista Ética e Filosofia Política, n. XX, v. I, p. 69-87, jun. 2017. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/eticaefilosofia/files/2009/08/20_1_cunha_3.pdf>. Acesso em: 29
out. 2018.

SILVEIRA, Léa. A psicologia é sua própria crise? Sobre o sentido epistemológico da


presença da filosofia no cerne da psicologia moderna. Fractal - Revista de Psicologia,
Niterói, v. 30, n. 1, p. 12-21, 2018. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/fractal/v30n1/1984-0292-fractal-30-01-12.pdf>. Acesso em:
29 out. 2018.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. V. 2. São Paulo: Paulinas,


1990, p. 185-198; p. 212-227; p. 248-290.

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