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ADEGA 17

Especial de Vinho, Verão, ROSÉ


Despedida de Marseille:
http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/14/artigo36198-1.asp

A marca da tradição (Château Beaulieu):


http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41369-2.asp

A província preferida dos romanos:


http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41371-1.asp

A versatilidade dos rosés:


http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/16/artigo41375-1.asp
Despedida de Marseille
"Se você abrir uma garrafa de rosé e ouvir o canto das cigarras, o vinho é da
Provence", provérbio provençal

por Fábio Farah

Kronenbourg 1664. Não gosto de cerveja.


Atualmente algumas são elaboradas com o
método Champenoise. Os faraós se revirariam
nas pirâmides se soubessem que a bebida dos
escravos chegou às “taças” dos escribas. De
qualquer maneira, a cerveja francesa que abriu
essa crônica marca alguns episódios
interessantes da minha vida. A primeira vez
que a experimentei, há dez anos, no Café du
Théâtre, em Poitiers, um amigo francês
chamado Eric me falou sobre a publicidade
televisiva da marca. Enquanto um homem
bebia a cerveja, uma bela mulher se despia...
em sua imaginação. Certamente o ator estava
em uma situação melhor do que eu. Deixei o
copo de lado ao perceber que não havia
nenhuma bela mulher por perto. Com uma lata
da mesma cerveja desembarquei na estação
de Waterloo para passar uma temporada na
Inglaterra. E com essa cerveja pretendia me
despedir da Provence, depois de uma semana
visitando vinícolas da região. Após conhecer a
adega do La Côte de Boeuf, considerada uma
das melhores da Europa (havia até uma
A vista de Marseille deve ser "degustada"
garrafa monárquica, pré-Revolução Francesa), com uma taça de rosé da Provence
e um jantar, segui para o hotel em que estava
hospedado.

A vista da sacada do meu apartamento era maravilhosa, com o porto recortado por
monumentos históricos de Marseille, como a Notre Dame de la Garde, protetora da
cidade. Apesar de dispor de poucas horas antes de embarcar de volta ao Brasil, vasculhei
o frigobar a procura da cerveja francesa. Deixei a lata na mesa da varanda e tentei fechar
a porta para proteger meu quarto do frio. Estava emperrada. Empurrei-a com força e ouvi
um barulho suspeito. Ainda assim pensei em sentar-me à mesa e apreciar a paisagem
noturna. Antes, tentei abrir a porta. Percebi que estava trancado do lado de fora do
quarto. Olhei para a mesa. A cerveja me observava, impassível. “Preciso manter a calma”,
pensei, esmurrando a porta. Gritei por ajuda, mas as únicas pessoas que talvez me
ouvissem curtiam uma festa em um prédio há centenas de metros, nem um pouco
preocupadas com minha pouca sorte. Quase meia hora de infortúnio e espiei para baixo.
Mesmo com a escuridão, calculei uns cinco metros. No ponto mais alto da cidade, Notre
Dame de la Garde ouviu minha prece. Saltei da varanda. Um baque surdo no chão. Havia
caído em um bosque cerrado. Olhei para cima e deparei com a latinha de cerveja,
reinando soberana.

Vista panorâmica de Marseille

Caminhei até uma região iluminada, um pouco acima. Subi em uma árvore e alcancei a
piscina. Um oásis... Era só chegar até a porta... fechada. Com alguns pulos chamei a
atenção de pessoas no bar e, após uns quinze minutos, fui abordado por um segurança
do hotel. “Você está hospedado aqui?”, me questionou, incrédulo, depois de ouvir
atentamente minha pequena aventura. Provei que sim e recebi uma cópia da chave. Que
alívio! Passei no quarto do amigo Guilherme Corrêa para lhe relatar o meu incidente e me
convencer de que estava tudo bem. “Por que você levou uma cerveja para a varanda, em
vez de um vinho?”, questionou-me o melhor sommelier do Brasil. A pergunta fazia sentido.
Parecia uma heresia me despedir da Provence com uma Kronenbourg 1664.

De volta ao quarto, encarei friamente aquela lata na varanda. Com medo, fui até ela e
segurei-a com força. “Agora é a sua vez”, disse, antes de arremessála bem longe. Em seu
lugar, coloquei um autêntico rosé da região. Ao abrir a garrafa, ouvi o canto das cigarras e
senti um aroma de lavanda. Finalmente, eu estava na Provence e me despediria de lá da
melhor maneira. “Degustei” a paisagem noturna com a taça de vinho na mão. Não gosto
de cerveja.
A marca da tradição
O terroir do Château Beaulieu era um dos mais valorizados pelos
connaisseurs do Império Romano

por Fernando Roveri

Considerada o paraíso dos enófilos, a França ainda preserva


em diversas regiões a tradição na produção de seus vinhos.
Não é de se admirar que o país exiba os chateaux mais
tradicionais com histórias milenares. Um de seus melhores
exemplos, situados na região de Provence, é o Château
Beaulieu. Situado na cratera de um vulcão extinto, o único do
país, sua história remonta ao Império Romano e passa por
nomes conhecidos da nobreza francesa. Transformada em
feudo por Henri III, em 1576, a propriedade pertenceu aos
condes da Provence. Outro notável proprietário do castelo foi o
rei René de Provence, no século XVI.

O terroir, preservado ao longo dos séculos, é o maior de toda a


Vinhedo da vinícola
região. E certamente os romanos apreciavam suas
características, pois a vinícola era entrecortada por cinco estradas romanas e, em
escavações recentes, foram encontrados pedaços de ânforas, vasos em formato oval e
com asas simétricas utilizados para armazenar bebidas. Elas eram as "barricas" do
Império Romano. Além desses vestígios do passado, a
vinícola possui três aquedutos subterrâneos que drenam
a água e estão sendo restaurados.

O Château

O Château Beaulieu abriga mais de 169 hectares de


vinhas plantadas no coração da imensa cratera do
vulcão extinto da Trévaresse, com 350 metros de
altitude. Lá, podem ser encontradas castas de
Grenache, Cabernet Sauvignon, Syrah, Sémillon e Ugni-
Blanc, plantadas em um terroir caracterizado pela
presença de basalto, que confere aos vinhos uma Detalhe do jardim
personalidade própria.

O jardim é ornamentado por belas cercas vivas

Para se chegar ao castelo, atravessa-se uma estrada longa e reta. À distância já é


possível avistar a tradicional bodega. A bela construção tem três andares, com janelas
imponentes. Duas torres nas laterais denunciam um estilo arquitetônico mais recente do
que o resto da construção. Foram incorporadas no período napoleônico, em 1720. Na
lateral da construção, o visitante encontra uma imagem que enche os olhos: um jardim
tecnicamente construído, com cercas vivas minuciosamente esculpidas em uma mais
perfeita combinação da natureza com o talento artístico do homem, inspirada na evolução
da humanidade proposta pelo Iluminismo e pela filosofia de Voltaire como se fôssemos o
personagem de sua obra "Micrômegas" ao passearmos por tão perfeitas formas.

Cave de armazenamento do vinho

O interior da construção abriga amplos aposentos. No piso térreo, encontra-se uma ampla
- e aconchegante - sala de jantar. O teto é adornado por belíssimas pinturas antigas que
remetem aos valores tradicionais franceses como caça, música e religião. No andar
superior do castelo, um dos aposentos abriga uma capela cujas paredes estão revestidas
por imagens sacras, sinal do período em que o rei René viveu no local. Conhecido como o
Rei Piedoso, ele ostentava entre seus onze títulos nobiliárquicos o título de Rei de
Jerusalém.
Pinturas na parede e no teto remetem a valores tradicionais franceses

Adquirida há quatro anos por Pierre Guenand, mecenas e comerciante, a propriedade


passa por uma extensa reforma. Ela pode ser definida como uma volta ao passado, com a
renovação dos poços romanos, a remoção de estruturas não originais (talvez as torres
napoleônicas sejam demolidas), a pintura do castelo nas cores primitivas etc. Sua
intenção também é a renovação de parte dos vinhedos que datam do século XI. A adega,
construída no século XX, será desativada e transferida para a parte antiga do castelo.

A visita ao Château Beaulieu é uma viagem à história da bebida de Baco na terra santa
dos enófilos.
Vinho produzido na bodega
A província preferida dos romanos
Pátria de pintores, destino de celebridades e morada de santos, a Provence
fascina com seus sabores e vinhos "de prazer"

por Fábio Farah

Vinhedo provençal: terroir privilegiado recortado por paisagem estonteante

Quando os romanos desembarcaram na região francesa de Provence, em 125 a.C.,


ficaram encantados com o aroma de sálvia, alecrim, tomilho e lavanda combinados no ar
com uma precisão cobiçada pelo mais exímio chef de cozinha. E apreciaram o estilo de
vinho dos produtores locais. Eram vinhos rosé (por estar na moda, o estilo rosado
mereceu a capa desta edição de ADEGA). Os tintos mais encorpados surgiram como
exigência inglesa, já no século XVII. Mas não foram apenas as Herbes de Provence - ou a
qualidade da bebida - que fascinaram os romanos. Foi a personalidade da região, com
sua paisagem costeira e os penhascos rochosos que milênios depois inspirariam pintores
notáveis como Van Gogh, que pintou diversas vezes o Mont Ventoux, um dos pontos mais
altos da região. Ou Paul Cézanne, que dedicou parte de seu tempo à Montanha de
Sainte-Victoire e ao Golfo de Marselha.
Pontilhada por encantadores vilarejos medievais, a região pode fazer o turista julgar
Marselha uma cidade áspera. Fundada em 600 a.C. pelos gregos, que estabeleceram um
porto chamado Massalia, ela conta hoje com cerca de um milhão de habitantes. Destaque
ao Vieux Port, parte mais antiga da cidade, devastada pelos alemães na Segunda Guerra
Mundial. Talvez os estragos fossem maiores se a patrona de Marseille, Notre Dame de la
Garde, não estivesse vigiando tudo de cima de uma colina. A basílica, construída em
1864, oferece uma vista sensacional da cidade - o melhor horário para contemplá-la é de
manhã. Antes de sentar-se em um restaurante à beira do Mediterrâneo e saborear uma
tradicional bouillabaisse, harmonizada com um rosé da Provence, vale a pena visitar o
Château d´If, cenário escolhido por Alexandre Dumas para aprisionar dois de seus
personagens no clássico O Conde de Monte Cristo.

Sem deixar de lado a ficção, evoco a


encantadora Juliete Christiane Hardy,
interpretada por Brigitte Bardot em E Deus
Criou a Mulher, rodado em Saint- Tropez.
Esse clássico do cinema transformou uma
aldeia de pescadores em um dos lugares
mais badalados e glamourosos da Riviera
Francesa. É lá que celebridades como Bruce
Willis, Paris Hilton, Bono Vox e Beyoncé
Domaine de Rimauresq aproveitam parte de suas férias em iates
luxuosos, embalados por vinhos rosé. Aos
amantes de história, a região guarda muitas surpresas, como a cidade de Avignon,
escolhida como a sede do papado no século XIV. E esconde mistérios como o crânio de
Maria Madalena, em Saint- Maximin. Ela teria desembarcado na região poucos anos após
a morte de Jesus Cristo. Mas três programas são obrigatórios, independente das
preferências pessoais ou do roteiro escolhido. Passear pelas feiras, degustando os
deliciosos sabores e os aromas regionais - a de Aix-en-Provence é super! -, beber o vinho
que se tornou símbolo provençal (quem sabe na própria vinícola? Confira seleção a
seguir) e... apreciar La Vie en Rose. Sem moderação.
Rosés com história

Na comédia Um Bom Ano, dirigida por Ridley Scott e lançada no final de 2006, Max
Skinner, um homem de negócios interpretado por Russel Crowe, deixa o agito londrino
para conferir a herança deixada por seu tio recém-falecido: uma charmosa vinícola na
Provence. Sua idéia é vender a propriedade e voltar à capital inglesa. Mas ele é fisgado
pelo espírito provençal e, como todo bom filme holywoodiano, por uma belíssima mulher,
interpretada pela francesa Marion Cotillard. Abaixo, algumas vinícolas provençais que
visitei no final do ano passado e são capazes de fisgar qualquer um, seja ele um homem
de negócios ou não.

• Château Beaulieu (conferir na seção "Enoarquitetura")


Apelação: Coteaux d'Aix en Provence
Cidade: Rognes
E-mail: contact@chateaubeaulieu.fr Site: www.chateaubeaulieu.fr

• Château des Chaberts


Apelação: Coteaux Varois en Provence
Cidade: Gareoult
E-mail: chaberts@wanadoo.fr

• Château de Pourcieux
Apelações: Côtes de Provence e CP
Sainte Victoire
Cidade: Pourcieux
E-mail: contact@chateau-de-pourcieux.com
Site: www.chateau-de-pourcieux.com

• Domaine de Rimauresq
Apelação: Côtes de Provence
Cidade: Pignans
E-mail: rimauresq@wanadoo.fr
Site: www.rimauresq.fr

• Château de Pampelonne
Apelação: Côtes de Provence
Cidade: Ramatuelle
E-mail: edgar.pascaud@wanadoo.fr

Saint-Tropez: antiga aldeia de pescadores tornou-se point de celebridades


A versatilidade dos rosés
Adega visita o Barreado, charmoso recanto carioca de culinária brasileira, e
colore a casa em vários tons de rosa

por Marcelo Copello

Todos os anos, de junho a setembro, a


chique Cote d’Azur é vista através de taças
cor de rosa. No sul da França o vinho rosé é
quase um estilo de vida. Jovem, leve, fresco,
alegre e descomplicado, seco ou meio-doce,
ele vem reconquistando a fama que teve no
passado.

Até pouco tempo atrás era difícil ver uma


garrafa de rosé na mesa de conhecedores.
Muitos confidenciavam que antes de
aprender a beber adoravam os rosados
portugueses, que inundaram o nosso país na
década de 70. A má fama se devia à falta de
qualidade da oferta. Hoje dispomos de
ótimos exemplares deste vinho cheio de
Camarão na Moranga e rosé: combinação
sutilezas, refrescante e leve o bastante para
tropical
ser usado como um branco, mas ainda com
alguma relação com os reverenciados tintos.

Seu charme está, sem dúvida, na cor, que vai de um delicado tom de pêssego até o
cereja intenso, quase tinto. Em nossa cultura, o rosa representa a feminilidade, a
ingenuidade infantil e o amor fraternal. Nos vinhos, se traduz em bebidas alegres,
descompromissadas, quase fúteis. Para entender os rosados é bom lembrar que a cor
dos tintos vem quase exclusivamente das cascas das uvas, logo é possível dosar-lhes a
cor, controlando o tempo e a intensidade do contato do suco com as cascas das uvas.
Assim, os vinhos rosados são obtidos por dois métodos principais: saignée ou sangria, e
pressurage direct.

No primeiro filtra-se parte do mosto de um vinho tinto após um curto período de


maceração, normalmente de oito a 24 horas. Este processo é o mais utilizado em todo o
mundo e gera um tipo de rosado mais encorpado e de cor mais cereja. No segundo a
maceração é bem mais curta e dura apenas o
tempo em que as uvas são delicadamente
prensadas pneumaticamente depois do
esmagamento dos bagos (separação das
cascas da polpa). O produto é um rosé leve,
de cor delicada, que pode ser descrita como
salmão, pêssego ou cor de casca de cebola.
Este método é o utilizado na Provence e
praticamente só lá.

Os rosés são muito versáteis. Podem ser


usados como aperitivo, descem fácil se
combinados apenas com uma boa conversa.
À mesa normalmente se comportam como
brancos encorpados ou tintos leves.
Adaptam-se a pratos ligeiramente
condimentados. As sugestões mais típicas
são receitas mediterrâneas, como o
Bouillabaisse (sopa de peixe e frutos do mar)
e o Ratatouille (prato rústico provençal com vegetais condimentados), a Paella ou o
Couscous Marroquino.

Mas estamos em solo tupiniquim e logo vem a pergunta: e as substanciosas receitas


verde-amarelas, combinam com taças cor de rosa? Preparamos o Enogourmet deste mês
para responder a esta pergunta.
Vinho pede contexto e como disse Goethe, "as cores são ações e paixões da luz", assim
os vinhos rosados pedem luz e descontração. Pela primeira vez fizemos um Enogourmet
no almoço e ao ar livre. Para tal fomos ao Barreado, um ambiente de boa culinária
brasileira e compatível com o espírito de liberdade dos rosés, com mesas entre árvores,
suave brisa e brilho do sol. Para dar seus testemunhos sentaram-se conosco: a chef e
proprietária da casa Joana Carvalho, o jornalista Hugo Sukman, o empresário Bruno
Vasilcovsky, Marcelo Ferreira, designer do Big Brother Brasil- 7 e produtor da série Vinho
& Algo Mais, Mário Mamede, músico da banda MopTop, e Marcos Bittencourt, diretor de
ADEGA.

Os vinhos escolhidos foram perfilados de modo a mostrar os contrastes entre a grande


escola de rosados da Provence, leves e cheios de nuanças, chamados de vinhos de
plaisir (prazer) e os mais estruturados, chamados vinhos de repas (para a refeição), aqui
representados por um espanhol, um chileno e um brasileiro, todos de safras recentes,
2005 e 2006.

Para os pratos preferimos receitas bem conhecidas da culinária brasileira, que pudessem
ser facilmente reproduzidas e, ao mesmo tempo, fossem substanciosas, e
representassem, dessa maneira, um desafio aos rosados. Antes de partir para a prova,
ouçamos nosso especialista

A TEORIA por Guilherme Corrêa*

Ainda seduzido pela atmosfera mágica da Provença, de onde cheguei de um tour


enogastronômico, escrevo estas linhas sobre a vocação dos vinhos rosés para a mesa.
Certamente grandes vinhos rosés não são exclusividade daquela ensolarada terra
mediterrânea, na própria França há outras regiões que ameaçam sua supremacia. Ainda
na Europa, Espanha, Itália e Portugal entregam vinhos rosés de primeira grandeza.

No entanto, nenhuma região vinícola do mundo é tão especializada na produção de


vinhos da tipologia rosé como a Provença, representando 75% da produção das 3
principais A.O.C.s locais, que por sua vez perfazem 94% da produção total da região:
Côtes de Provence, Coteaux d'Aix en Provence e Coteaux Varois en Provence. Dona do
vinhedo mais antigo da França, constituído pelos fenícios no séc. VI a.C., a Provença
conhece o vinho rosé desde esta época, como atestam as artes antigas que sempre
representam figuras de uvas sendo pisadas e o mosto sendo imediatamente drenado das
cascas, isto é, sem maceração suficiente para se tornar um vinho A versatilidade dos
rosés tinto. Além desta especialização milenar na produção de rosés, estes vinhos
revelam um estilo único, que pode assustar aos incautos quando se deparam com uma
taça cintilando um rosé cor de salmão extremamente tênue. A técnica da pressurage
directe garante que o vinho, mesmo com tão pouca coloração e aromas tão delicados de
frutas e flores e, por vezes, um discreto mineral, consiga ter uma boca expressiva,
frutada, fragrante, nervosa e ao mesmo tempo macia. Estes deliciosos vin de plaisir afiam
o nosso paladar para iniciar uma refeição, e transitam dos peixes e frutos do mar até as
carnes brancas, desnecessário frisar o esplendor destes rosés ao lado de uma mesa
provençal ou mediterrânea. São também verdadeiros curingas para enfrentar sabores
exóticos da culinária japonesa e da tailandesa, além dos tajines marroquinos e dos curries
indianos. E por que não com pratos perfumados brasileiros como o camarão na moranga
e a moqueca de peixe? No primeiro caso acredito que o Cuvée du Golfe de Saint-Tropez
irá trazer muita vivacidade à harmonização, opondo sua acidez vibrante à tendência ao
doce da moranga e dos camarões. Talvez falte um pouquinho de estrutura na boca para
fechar um casamento harmônico. Os outros dois rosés provençais irão se apresentar com
uma moqueca de peixe, a minha opinião é que desempenharão um belo papel, pois estão
bastante acostumados a representar em casa ao lado de substanciosos e condimentados
ensopados marinhos.

Moqueca de Peixe Camarão na Moranga

Nas outras regiões vinícolas da França, da Europa e do Novo Mundo, predomina o


método de saignée de elaboração de rosés, que sofrem uma maceração pelicular mais
longa engendrando um vinho de cor rosé cereja mais intensa. Não somente na coloração,
mas estes vinhos estão mais próximos dos tintos também no perfil de aromas, com muitas
frutas vermelhas, notas herbáceas e especiadas em contraste com a tangerina e o
pêssego tão presentes nos vinhos de pressurage directe. A boca também traz mais
substância e calor que remetem aos tintos, embora com uma presença tânica quase que
imperceptível. Em síntese, os rosés de sangria são mais gordos, mais potentes e amplos
olfativamente, embora menos finos e frescos, e são mais vinhos sérios "de refeição" do
que jubilosos "de prazer".
Tanto o bem logrado rosé da incrível vinícola Villa Francioni como o da vinícola PradoRey
deverão ter a estatura ideal para conversar com o camarão na moranga, mas tenho a
impressão que o caráter "cremoso" do vinho espanhol, derivado da fermentação em
carvalho, irá criar um jogo de textura bastante envolvente com a moranga. O Santa Digna
é um rosé agradável com toques herbáceos da Cabernet Sauvignon, e ficará bem com a
moqueca se esta estiver mais ao estilo condimentado e untuoso da Bahia.

De um modo geral, todos os vinhos rosés trazem atributos tanto dos vinhos brancos
quanto dos vinhos tintos, e por isso apresentam muita versatilidade à mesa, para alegria
dos povos do mediterrâneo e nossa também, enogastrônomos neófitos que estamos
descobrindo os seus encantos mais recônditos.

*atual campeão brasileiro de Sommeliers

A PRÁTICA

O camarão na moranga
A moranga chegou fumegante à mesa, repleta de creme espesso. O prato surpreendeu
por sua delicadeza de sabor, deixando a textura cremosa como elemento principal. Nos
vinhos o contraste entre o estilo provençal e a força e modernidade dos demais caldos
despertou ódio e paixão. Bruno, Marcelo e Hugo preferiram o Cuvée du Golf por seu
frescor e maciez. Enquanto isso os demais ficaram com o vinho brasileiro, muito elogiado
por todos como a melhor surpresa do almoço. O Villa Francioni ofereceu um meio termo
entre o estilo leve provençal e a potência do espanhol. Por outro lado, para Marcos, Mário
e eu, Prado Rey foi o vinho ideal para provar a abóbora pura, por sua tendência ao doce e
potência de sabor. A única unanimidade da primeira rodada foi o Cuvée du Golf como
melhor vinho para ser apreciado puro.

A moqueca de peixe
Ao ser destampada a panela de barro que guardava a moqueca, o aroma do prato
espalhou-se rapidamente e combinou- se com os suspiros dos que aspiravam os aromas
do primeiro vinho, o Pétale de Rose. Este primeiro rosado largou na frente, mas ao longo
da prova perdeu um pouco dos aromas e foi ultrapassado por seu conterrâneo, o Cuvée
Marion, que acabou como unanimidade, coisa rara em termos de harmonização. Todos
elegeram-no como o vinho predileto para a moqueca por sua complexidade, perfil
aromático e boa acidez. O Pétale de Rose, muito fino, teve sua maciez enfatizada com o
prato e o perfil quase tutti-fruti do chileno não conversou com os coentros e o dendê do
prato. Para Mário, Marcelo e eu o chileno deixou ótima impressão e saiu-se muito bem
harmonizado com o pirão que acompanhava o peixe.
Como diria o russo Wassily Kandinsky (1866-1944) "A cor é a tecla, o olho o martelo e a
alma o piano de inúmeras cordas". Possivelmente este grande pintor gostava de vinhos
rosés e os escolhia pela cor e não só pelo paladar...

OS VINHOS

PARA O CAMARÃO NA MORANGA

Cuvée du Golfe de Saint-Tropez 2005, Les Vigneron de Grimaud, Provence- França


(KB-Vinrose, R$ 60). Elaborado com Grenache 80% e Cinsault 20% por pressurage
directe. Cor muito clara em tons de salmão e rosa chá. Nariz delicado e elegante com
notas florais e de frutas frescas. Paladar leve, macio, com 12,5% de álcool, de boa acidez,
longo.

Villa Francioni Rosé 2006, Villa Francioni, São Joaquim- Brasil (R$ 52). Elaborado com
Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Syrah, Sangiovese e Pinot Noir,
com 13,4% de álcool. Cor entre cereja e casca de cebola, muito bela, límpida e brilhante.
Aroma elegante, de médio ataque, com frutas vermelhas na frente, embora não dominem
e deixem espaço para especiarias e florais. Paladar seco, macio, elegante, bem
equilibrado e longo. Confirma a qualidade e o bom gosto dos vinhos da Villa Francione, a
melhor novidade surgida no vinho nacional nos últimos dois anos. Vale mencionar que
garrafa é belíssima.

Prado Rey Rosado 2005, Real Sitio de Vontosilla, Ribera del Duero-Espanha, (Decanter,
R$ 53). Elaborado com uvas Tempranillo, fermentadas em barris de carvalho onde
permanecem por três meses. Um rosado dos mais estruturados, com 14,8% de álcool,
aporte da madeira, pouco usada em vinhos rosés. Cor cereja intensa, límpida e brilhante.
A intensidade da cor se reflete na potência aromática, muito frutado e com toques de
baunilha e leves tostados da maderia. Paladar estruturado, quente e muito macio, quase
com uma ponta de doçura no fim de boca.

PARA A MOQUECA DE PEIXE

Pétale de Rose 2005, Régine Sumeire, Provence-França, (KB-Vinrose, R$ 110).


Elaborado com Grenache, Cinsault, Syrah e Mourvedre por pressurage directe. Cor muito
clara, um rosa chá e quase amarelo pálido, com reflexos dourados. Aromas
impressionaram bastante no início da prova, com elegância e complexidade (florais, frutas
cristalizadas); Porém, eles se perderam após alguns minutos na taça. Paladar onde a
maciez se sobrepõe a acidez moderada, com 12,5% de álcool, longo com final com toque
de doçura.

Cuvée Marion 2005, Domaine du Val de Gilly, Provence-França, (KB-Vinrose, R$ 70).


Elaborado por pressurage directe, 90% de Grenache e 10% de Barbaroux. Cor muito
clara com tons tangerina, brilhante com reflexos dourados. No início seu nariz estava
mudo, fechado, mas depois de alguns minutos abriu-se e mostrou elegância e boa
complexidade, com toques florais e frutas secas. Paladar leve e de acidez muito boa, que
se sobrepõe a seus 13% de álcool, longo.

Santa Digna Cabernet Sauvingnon Rose, Miguel Torres, Chile 2005 (Reloco, R$ 41).
Um Cabernet Sauvignon elaborado por sangria. Cor de cereja intenso e brilhante. Bom
ataque aromático com um inconfundível toque herbáceo dos Cabernets Sauvignon
chilenos, além de amoras pretas, especiarias e muito frescor. Paladar macio, com 13,5%
de álcool, boa estrutura de taninos para um rosado.

Tabela de notas

Extraordinário (de 95 a 100 pontos)


(93 a 94)
Excelente (90 a 92)
(88 a 89)
Muito Bom (85 a 87)
(83 a 84)
Bom (80 a 82)
(76 a 79)
Médio (70 a 79) (70 a 75)
- Fraco (50 a 69) (50 a 69)

= Beber
= Beber ou Guardar
= Guardar

Obs: preços aproximados no varejo, sujeitos à variação.


Joana Carvalho Marcelo Copello

Mário Mamede Bruno Vasilcovsky

Hugo Sukman Marcelo Ferreira

Marcos Bittencourt

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