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A vista da sacada do meu apartamento era maravilhosa, com o porto recortado por
monumentos históricos de Marseille, como a Notre Dame de la Garde, protetora da
cidade. Apesar de dispor de poucas horas antes de embarcar de volta ao Brasil, vasculhei
o frigobar a procura da cerveja francesa. Deixei a lata na mesa da varanda e tentei fechar
a porta para proteger meu quarto do frio. Estava emperrada. Empurrei-a com força e ouvi
um barulho suspeito. Ainda assim pensei em sentar-me à mesa e apreciar a paisagem
noturna. Antes, tentei abrir a porta. Percebi que estava trancado do lado de fora do
quarto. Olhei para a mesa. A cerveja me observava, impassível. “Preciso manter a calma”,
pensei, esmurrando a porta. Gritei por ajuda, mas as únicas pessoas que talvez me
ouvissem curtiam uma festa em um prédio há centenas de metros, nem um pouco
preocupadas com minha pouca sorte. Quase meia hora de infortúnio e espiei para baixo.
Mesmo com a escuridão, calculei uns cinco metros. No ponto mais alto da cidade, Notre
Dame de la Garde ouviu minha prece. Saltei da varanda. Um baque surdo no chão. Havia
caído em um bosque cerrado. Olhei para cima e deparei com a latinha de cerveja,
reinando soberana.
Caminhei até uma região iluminada, um pouco acima. Subi em uma árvore e alcancei a
piscina. Um oásis... Era só chegar até a porta... fechada. Com alguns pulos chamei a
atenção de pessoas no bar e, após uns quinze minutos, fui abordado por um segurança
do hotel. “Você está hospedado aqui?”, me questionou, incrédulo, depois de ouvir
atentamente minha pequena aventura. Provei que sim e recebi uma cópia da chave. Que
alívio! Passei no quarto do amigo Guilherme Corrêa para lhe relatar o meu incidente e me
convencer de que estava tudo bem. “Por que você levou uma cerveja para a varanda, em
vez de um vinho?”, questionou-me o melhor sommelier do Brasil. A pergunta fazia sentido.
Parecia uma heresia me despedir da Provence com uma Kronenbourg 1664.
De volta ao quarto, encarei friamente aquela lata na varanda. Com medo, fui até ela e
segurei-a com força. “Agora é a sua vez”, disse, antes de arremessála bem longe. Em seu
lugar, coloquei um autêntico rosé da região. Ao abrir a garrafa, ouvi o canto das cigarras e
senti um aroma de lavanda. Finalmente, eu estava na Provence e me despediria de lá da
melhor maneira. “Degustei” a paisagem noturna com a taça de vinho na mão. Não gosto
de cerveja.
A marca da tradição
O terroir do Château Beaulieu era um dos mais valorizados pelos
connaisseurs do Império Romano
O Château
O interior da construção abriga amplos aposentos. No piso térreo, encontra-se uma ampla
- e aconchegante - sala de jantar. O teto é adornado por belíssimas pinturas antigas que
remetem aos valores tradicionais franceses como caça, música e religião. No andar
superior do castelo, um dos aposentos abriga uma capela cujas paredes estão revestidas
por imagens sacras, sinal do período em que o rei René viveu no local. Conhecido como o
Rei Piedoso, ele ostentava entre seus onze títulos nobiliárquicos o título de Rei de
Jerusalém.
Pinturas na parede e no teto remetem a valores tradicionais franceses
A visita ao Château Beaulieu é uma viagem à história da bebida de Baco na terra santa
dos enófilos.
Vinho produzido na bodega
A província preferida dos romanos
Pátria de pintores, destino de celebridades e morada de santos, a Provence
fascina com seus sabores e vinhos "de prazer"
Na comédia Um Bom Ano, dirigida por Ridley Scott e lançada no final de 2006, Max
Skinner, um homem de negócios interpretado por Russel Crowe, deixa o agito londrino
para conferir a herança deixada por seu tio recém-falecido: uma charmosa vinícola na
Provence. Sua idéia é vender a propriedade e voltar à capital inglesa. Mas ele é fisgado
pelo espírito provençal e, como todo bom filme holywoodiano, por uma belíssima mulher,
interpretada pela francesa Marion Cotillard. Abaixo, algumas vinícolas provençais que
visitei no final do ano passado e são capazes de fisgar qualquer um, seja ele um homem
de negócios ou não.
• Château de Pourcieux
Apelações: Côtes de Provence e CP
Sainte Victoire
Cidade: Pourcieux
E-mail: contact@chateau-de-pourcieux.com
Site: www.chateau-de-pourcieux.com
• Domaine de Rimauresq
Apelação: Côtes de Provence
Cidade: Pignans
E-mail: rimauresq@wanadoo.fr
Site: www.rimauresq.fr
• Château de Pampelonne
Apelação: Côtes de Provence
Cidade: Ramatuelle
E-mail: edgar.pascaud@wanadoo.fr
Seu charme está, sem dúvida, na cor, que vai de um delicado tom de pêssego até o
cereja intenso, quase tinto. Em nossa cultura, o rosa representa a feminilidade, a
ingenuidade infantil e o amor fraternal. Nos vinhos, se traduz em bebidas alegres,
descompromissadas, quase fúteis. Para entender os rosados é bom lembrar que a cor
dos tintos vem quase exclusivamente das cascas das uvas, logo é possível dosar-lhes a
cor, controlando o tempo e a intensidade do contato do suco com as cascas das uvas.
Assim, os vinhos rosados são obtidos por dois métodos principais: saignée ou sangria, e
pressurage direct.
Para os pratos preferimos receitas bem conhecidas da culinária brasileira, que pudessem
ser facilmente reproduzidas e, ao mesmo tempo, fossem substanciosas, e
representassem, dessa maneira, um desafio aos rosados. Antes de partir para a prova,
ouçamos nosso especialista
De um modo geral, todos os vinhos rosés trazem atributos tanto dos vinhos brancos
quanto dos vinhos tintos, e por isso apresentam muita versatilidade à mesa, para alegria
dos povos do mediterrâneo e nossa também, enogastrônomos neófitos que estamos
descobrindo os seus encantos mais recônditos.
A PRÁTICA
O camarão na moranga
A moranga chegou fumegante à mesa, repleta de creme espesso. O prato surpreendeu
por sua delicadeza de sabor, deixando a textura cremosa como elemento principal. Nos
vinhos o contraste entre o estilo provençal e a força e modernidade dos demais caldos
despertou ódio e paixão. Bruno, Marcelo e Hugo preferiram o Cuvée du Golf por seu
frescor e maciez. Enquanto isso os demais ficaram com o vinho brasileiro, muito elogiado
por todos como a melhor surpresa do almoço. O Villa Francioni ofereceu um meio termo
entre o estilo leve provençal e a potência do espanhol. Por outro lado, para Marcos, Mário
e eu, Prado Rey foi o vinho ideal para provar a abóbora pura, por sua tendência ao doce e
potência de sabor. A única unanimidade da primeira rodada foi o Cuvée du Golf como
melhor vinho para ser apreciado puro.
A moqueca de peixe
Ao ser destampada a panela de barro que guardava a moqueca, o aroma do prato
espalhou-se rapidamente e combinou- se com os suspiros dos que aspiravam os aromas
do primeiro vinho, o Pétale de Rose. Este primeiro rosado largou na frente, mas ao longo
da prova perdeu um pouco dos aromas e foi ultrapassado por seu conterrâneo, o Cuvée
Marion, que acabou como unanimidade, coisa rara em termos de harmonização. Todos
elegeram-no como o vinho predileto para a moqueca por sua complexidade, perfil
aromático e boa acidez. O Pétale de Rose, muito fino, teve sua maciez enfatizada com o
prato e o perfil quase tutti-fruti do chileno não conversou com os coentros e o dendê do
prato. Para Mário, Marcelo e eu o chileno deixou ótima impressão e saiu-se muito bem
harmonizado com o pirão que acompanhava o peixe.
Como diria o russo Wassily Kandinsky (1866-1944) "A cor é a tecla, o olho o martelo e a
alma o piano de inúmeras cordas". Possivelmente este grande pintor gostava de vinhos
rosés e os escolhia pela cor e não só pelo paladar...
OS VINHOS
Villa Francioni Rosé 2006, Villa Francioni, São Joaquim- Brasil (R$ 52). Elaborado com
Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Syrah, Sangiovese e Pinot Noir,
com 13,4% de álcool. Cor entre cereja e casca de cebola, muito bela, límpida e brilhante.
Aroma elegante, de médio ataque, com frutas vermelhas na frente, embora não dominem
e deixem espaço para especiarias e florais. Paladar seco, macio, elegante, bem
equilibrado e longo. Confirma a qualidade e o bom gosto dos vinhos da Villa Francione, a
melhor novidade surgida no vinho nacional nos últimos dois anos. Vale mencionar que
garrafa é belíssima.
Prado Rey Rosado 2005, Real Sitio de Vontosilla, Ribera del Duero-Espanha, (Decanter,
R$ 53). Elaborado com uvas Tempranillo, fermentadas em barris de carvalho onde
permanecem por três meses. Um rosado dos mais estruturados, com 14,8% de álcool,
aporte da madeira, pouco usada em vinhos rosés. Cor cereja intensa, límpida e brilhante.
A intensidade da cor se reflete na potência aromática, muito frutado e com toques de
baunilha e leves tostados da maderia. Paladar estruturado, quente e muito macio, quase
com uma ponta de doçura no fim de boca.
Santa Digna Cabernet Sauvingnon Rose, Miguel Torres, Chile 2005 (Reloco, R$ 41).
Um Cabernet Sauvignon elaborado por sangria. Cor de cereja intenso e brilhante. Bom
ataque aromático com um inconfundível toque herbáceo dos Cabernets Sauvignon
chilenos, além de amoras pretas, especiarias e muito frescor. Paladar macio, com 13,5%
de álcool, boa estrutura de taninos para um rosado.
Tabela de notas
= Beber
= Beber ou Guardar
= Guardar
Marcos Bittencourt