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E. Stein
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pensamento, de dizer o não dito, e de ler o não escrito, entre as
linhas do que estava nos textos dos filósofos.
Portanto, a pergunta pela crítica à metafísica e à religião realizada
por Heidegger, deve ser recebida numa dimensão propriamente
filosófica, que consiste em mostrar o que não se viu, ou então, o que
se passou por alto nos debates da metafísica e da religião. Talvez a
sua pretensão de usar um novo método para fazer filosofia através
da fenomenologia, o tenha conduzido na problematização das
questões que aqui estão sendo analisadas. A fenomenologia
justamente consiste em mostrar o que se oculta e num ver
particular, em que tanto insistia Husserl. É assim que Heidegger
analisa a metafísica ocidental como um conjunto de respostas que
foram apresentadas pelos grandes pensadores. É com eles mesmos
que o filósofo aprende a conhecer os grandes problemas e ao
mesmo tempo as respostas por eles encontradas. Ao criticar a
metafísica, o filósofo não se retira da fileira dos pensadores, mas
realiza com eles um exercício de mergulho para um nível mais
profundo. A metafísica não pensou propriamente aquilo que é
considerado o seu objeto principal, a questão do ser, de um modo
adequado, porque, na expressão do filósofo, ela confundiu o ser
com o ente. Isso exigia de Heidegger, então, que ele apresentasse
um novo conceito de ser desenvolvido a partir de sua
fenomenologia, na interpretação das principais obras filosóficas do
pensamento ocidental. É esse novo conceito de ser, o qual o filósofo
irá ligar à compreensão do ser, que será a base da fenomenologia
hermenêutica e vai conduzir à elaboração de Ser e tempo. É nesse
livro mesmo que ele planeja uma “destruição” ou uma
“desconstrução” das ontologias clássicas de Descartes, Kant e
Aristóteles. Sem podermos ampliar nossa análise, podemos dizer
que sua obra foi mais ou menos a implementação desse projeto que
permaneceu inconcluso em seu livro principal. (Dessa obra
projetada em 102 volumes já foram publicados 80. Que diálogo
com a metafísica ocidental!) É claro que essa desconstrução da
metafísica exigia a revisão de conceitos importantes da filosofia da
tradição como, além do conceito de ser, o conceito de tempo,
existência, verdade, sujeito, objeto, substância, e muitas outras
categorias centrais utilizadas pelos diversos grandes metafísicos.
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Com relação à crítica da religião, o autor não pode ser incluído
entre os grandes críticos das religiões, quer venham da filosofia,
quer se situem em outros campos do conhecimento e da cultura. A
religião sempre foi uma questão central para o filósofo. Isso não o
impediu de mostrar em primeiro lugar como a religião cristã
herdara da metafísica, no desenvolvimento de seus conceitos
fundamentais, um modo de pensar que o filósofo criticava. Não
podemos aceitar que o seu método fenomenológico seja
propriamente adequado para as pretensões de sua desconstrução de
questões centrais do cristianismo. No entanto, a fenomenologia lhe
permitiu um outro olhar para a questão de Deus e do
sagrado.Certamente não iremos encontrar no filósofo um conjunto
de conceitos filosóficos que satisfaçam as exigências de um
pensamento que a teologia cristã procura para a sua inteligência dos
mistérios da fé. Se o filósofo não consegue satisfazer esta
expectativa - como, por exemplo, mostrou o Pe. Lima Vaz -, ele, no
entanto, despertou de um certo tipo de sono dogmático os teólogos
e filósofos cristãos que se achavam muito seguros com os seus
conceitos metafísicos. Poderíamos ainda acrescentar que talvez a
crítica do filósofo à religião vise mais o modo como ela se insere na
cultura ocidental, recebendo dela certos elementos que entram em
colisão com a essência da religião.
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nazismo se dirijam a Karl Rahner, que fora seu aluno por vários
semestres. Lembro essa carta inédita apenas de passagem, para se
compreender o quanto o filósofo estava ligado a teólogos. Um dia
ainda saberemos das longas conversas de Max Müller, junto com
L.B. Puntel, na Hütte do filósofo, sobre problemas centrais nascidos
da ligação entre o pensamento de Heidegger e a religião. No último
congresso internacional das universidades católicas, em Manilla, o
Prof. Puntel foi um dos principais conferencistas convidados para
mostrar os grandes conflitos suscitados por um certo tipo de
interpretação de Heidegger no que se refere ao problema de Deus e
da transcendência, em dois filósofos franceses, Emanuel Levinas e
Jean-Luc Marion. Também o Pe.Vaz enumera, num de seus últimos
artigos, umas cinco correntes teológicas mundiais que
representariam equívocos importantes no modo de receber
Heidegger na teologia. Entro nesses detalhes para que se veja como
é viva a presença de Heidegger na teologia.
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arte, principalmente pela mudança de inserção da filosofia na
cultura atual. Quando se fala em “narrativas de Deus”, por exemplo,
se procura apontar para essa fragmentação, tendo seus efeitos no
universo da teologia, ou melhor, das diversas tradições em que
Deus representa um tema central. Virá, num tempo não muito
distante, como conseqüência dessa fragmentação e relativização,
uma era em que irão predominar os discursos ateísticos sobre Deus
por parte daqueles que Dele nada sabem. Digo isso com um certo
tom de ironia, porque da diluição do pensamento num tipo de pós-
modernidade mal compreendida, surgirão cada vez mais os
defensores das mais paradoxais formas de falar de tudo o que
representava um mundo orientado por uma certa estabilidade e
confiabilidade. Isso para não falarmos da questão da verdade.
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5. No contexto dessa crítica de Heidegger, como podemos
compreender sua afirmação “Chegamos muito tarde para
os deuses e muito cedo para o ser cujo poema apenas
iniciado é o homem?”