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DOI: 10.18606/2318-1419/amazonia.sci.health.

v6n4p30-36
ARTIGO DE REVISÃO
Revista Amazônia Science & Health
Volume 6, n° 4, 2018 - ISSN 2318-1419

CUIDADOS PALIATIVOS: COMPETÊNCIAS E INTERVENÇÕES DO PSICÓLOGO

PALLIATIVE CARE: SKILLS AND INTERVENTIONS OF THE PSYCHOLOGIST

1 2 3
Meirylaine Pereira Bezerra Viegas, Vinícius Lopes Marinho, Marta Azevedo dos
Santos, 4Jeann Bruno Ferreira da Silva.
1
Psicóloga. Jornalista.
Mestre em Ciências da
RESUMO ABSTRACT Saúde pela
Universidade Federal do
Tocantins.
Introdução: É crescente o número de pessoas que Introduction: There are a growing number of
necessitam dos Cuidados Paliativos. Estes buscam people who need Palliative Care, that are seeking a 2
Docente do curso de
proporcionar uma melhor qualidade de vida ao better quality of life for the community suffering from Psicologia da
Universidade de Gurupi;
indivíduo que está sofrendo em decorrência do illness and their families. The present work carries Psicólogo, Mestre em
processo de adoecimento e a seus familiares. Este the objective of quantifying and discussing the Ciências da Saúde pela
trabalho tem o objetivo de quantificar e discutir a scientific framework concerning the application of Universidade Federal do
produção científica a respeito da atuação do the professional psychologist within Palliative Care. Tocantins. Doutorando
em Ensino pela
profissional de Psicologia em Cuidados Paliativos. Material and Methods: This database was UNIVATES.
Material e Métodos: A coleta de dados foi gathered from the Biblioteca Virtual em Saúde,
3
realizada nas bases Biblioteca Virtual em Saúde, Scielo Brasil and Portal of Electronic Journals of Docente do curso de
Psicologia da
Scielo Brasil e Portal de Periódicos Eletrônicos de Psychology (PePsic), through the research of Universidade de Gurupi,
Psicologia (PePsic), por meio da pesquisa dos published works between 2006 – 2016 concerning Psicólogo, Mestre em
trabalhos publicados entre os anos de 2006 e 2016 the psychology of Palliative Care, utilizing the Ciências da Saúde pela
a respeito da Psicologia em Cuidados Paliativos, following Health Sciences Descriptors (DECS) Universidade Federal do
Tocantins. Doutorando
utilizando os seguintes Descritores em Ciências da (keywords in health science): Psychology and em Desenvolvimento
Saúde (DECS): “Psicologia” e “Cuidados Palliative Care. In the selection phase of the Regional pela
Paliativos”. Na fase de seleção dos artigos foram referenced articles the following inclusion criteria Universidade Federal do
Tocantins.
utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos has been implemented: articles available on the
disponíveis nos sites citados, em língua mentioned sites, in Portuguese language, for free, 4
Psicóloga. Doutora em
portuguesa, disponíveis gratuitamente, que that approached the chosen theme. Results: Most Psicologia. Docente da
abordassem a temática escolhida. Resultados: A of the articles researched refer to bibliographic Universidade Federal do
Tocantins.
maioria dos artigos pesquisados é referente a research. The lack of published work regarding this
pesquisas bibliográficas. Verificou-se que os theme was observed, especially the studies that
conceitos sobre Cuidados Paliativos estavam check the effects of Palliative Care. It was verified ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA:
relacionados a terminalidade e redução do that the concepts of Palliative Care were relative to
sofrimento do paciente. Já em relação às práticas the terminality and reduction of the patients Meirylaine Pereira
profissionais as mesmas basearam-se em suffering; opposed to the relation of the professional Bezerra Viegas. Rua VS
atendimentos ao paciente e familiares, com a practices that are based in the patient and family 3, nº 386, Vale do Sol,
77441-008, Gurupi-
inserção do psicólogo em equipes attendance, with the insertion of the psychologist TO.Telefone (63) 98413
multiprofissionais.Conclusão: Observou-se a and a team of multi-professionals. Conclusion: The 3942.
carência de publicações sobre o tema, lack of published work regarding this theme was
E-mail:
especialmente de estudos que averiguem os efeitos observed, especially the studies that check the meirybezerra@gmail.com
dos Cuidados Paliativos. effects of Palliative Care.

Descritores: Cuidados Paliativos. Psicologia. Descriptors: Palliative Care. Psychology. Pain


Manejo da dor. Sofrimento. management. Suffering.

INTRODUÇÃO sofrendo, em decorrência do processo de


adoecimento.
A evolução da ciência e das pesquisas na Os estudos sobre Cuidados Paliativos têm
área médica torna possível o acesso a novos crescido nos últimos anos em uma abordagem que
medicamentos, procedimentos cirúrgicos e outras envolve diferentes áreas do conhecimento. O
intervenções para o tratamento de inúmeras Cuidado Paliativo surge como “um modelo
doenças. Todavia ainda não foram desenvolvidos terapêutico que endereça olhar e proposta
tratamentos eficazes, capazes de evitar ou curar terapêutica aos diversos sintomas responsáveis
algumas patologias graves que incapacitam ou pelos sofrimentos físico, psíquico, espiritual e social,
levam milhares de pessoas a óbito a cada ano. Em responsáveis por diminuir a qualidade de vida do
alguma fase, muitos pacientes necessitam de paciente”¹.
Cuidados Paliativos, que buscam proporcionar uma A Organização Mundial de Saúde (OMS), em
melhor qualidade de vida ao indivíduo que está um conceito definido em 1990 e posteriormente
atualizado em 2002, definiu que os Cuidados

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PSICÓLOGO.

Paliativos são a assistência promovida por uma fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, entre
equipe multidisciplinar, que tem a finalidade de outros.
melhorar a qualidade de vida do paciente e seus Nesse sentido, faz-se necessária a expansão
familiares, perante uma patologia que ameace a dos estudos que envolvem a participação do
vida. psicólogo nessas equipes de saúde e a sua
Isso pode ser feito mediante a prevenção e contribuição para a melhoria da qualidade dos
alívio do sofrimento, da identificação precoce, da serviços em saúde prestados aos pacientes e seus
avaliação e tratamento de dor e demais problemas familiares.
físicos, sociais, psicossociais e espirituais². A ampliação das pesquisas sobre o tema
A palavra "paliativa" tem sua origem do latim contribui com a disseminação de tais práticas e com
palliun, que significa manto, proteção. Para Hermes a melhor formação dos profissionais de Psicologia.
e Lamarca³ é uma proteção para os indivíduos que Diante do exposto, o presente estudo teve o
não recebem acolhimento da medicina curativa. objetivo de investigar as competências e
Porém, há um equívoco quanto ao conceito intervenções do psicólogo em Cuidados Paliativos.
de que a assistência em Cuidados Paliativos exclua
terapias que visem a cura, ou seja, como se os MATERIAL E MÉTODOS
Cuidados Paliativos pudessem ser aplicados
somente quando não há mais condições de Esta pesquisa é uma revisão bibliográfica
reestabelecimento total indivíduo. sistemática e descritiva, que discute a produção
O objetivo dos cuidados dessa natureza é científica publicada acerca do tema “Cuidados
proporcionar alívio do sofrimento associado a Paliativos” em psicologia. A pesquisa foi
alguma enfermidade e pode ocorrer paralelamente desenvolvida conforme as seguintes etapas:
às terapias que visam a cura e ainda ao definição da questão a ser pesquisada, definição de
prolongamento da vida¹. critérios de inclusão e exclusão, seleção dos artigos
O cuidado prestado a um paciente durante a na literatura, categorização dos estudos, discussão
fase do diagnóstico e tratamento de uma doença e síntese dos dados.
pode não exigir a assistência de uma equipe O estudo foi desenvolvido a partir da seguinte
especializada, e é um trabalho que pode ser questão de pesquisa: Qual a produção científica
desenvolvido por qualquer profissional da área de existente sobre o papel do psicólogo no
saúde4. atendimento a pacientes em Cuidados Paliativos e
Em 1982, o Comitê de Câncer da quais as competências e intervenções do psicólogo
Organização Mundial de Saúde (OMS) implantou nessa área? A coleta de dados foi realizada no
um grupo de trabalho que definiu políticas com foco período de 12 a 16 de fevereiro de 2017, nas bases
no alívio da dor e aos cuidados do tipo hospice a Biblioteca Virtual em Saúde, Scielo Brasil e Portal
pacientes diagnosticados com a doença, que de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePsic).
pudessem ser recomendadas a todos os países. Os trabalhos foram pesquisados utilizando os
Vinte anos mais tarde, dois documentos seguintes descritores: “Psicologia” e “Cuidados
publicados pela OMS (The Solid Facts of Palliative Paliativos”.
Care e Better Care of the Elderly) recomendaram os Na fase de seleção dos artigos foram
Cuidados Paliativos como estratégia de ação em utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos
sistemas de saúde, ampliando a aplicação dos disponíveis nos sites citados, em língua portuguesa,
Cuidados Paliativos também para pacientes dos acessados gratuitamente, que abordassem a
setores de geriatria, pediatria, doenças crônicas, temática escolhida, publicados entre os anos de
HIV/AIDS4. 2006 e 2016. Como critérios de exclusão foram
Algumas iniciativas no Brasil indicam adotados artigos que não versassem sobre o tema
avanços. Em 12 de dezembro de 2006 a portaria nº em questão, e outros textos como resenhas e
3.150 do Ministério da Saúde criou uma Câmara editoriais.
Técnica em Controle da Dor e Cuidados Paliativos, Na primeira etapa foram selecionados os
com finalidade de estabelecer diretrizes nacionais artigos que apresentavam títulos e resumos
para a assistência em dor e os Cuidados Paliativos correspondentes aos critérios de inclusão pré-
(Ministério da Saúde, 2006). estabelecidos.
Já o Conselho Federal de Medicina implantou Os artigos escolhidos foram sintetizados e
a Câmara Técnica sobre a Terminalidade da Vida organizados em fichas, conforme o modelo
que, em 2006, aprovou a resolução 1.805/06 que adaptado a partir da publicação Amaral5, que
dispõe sobre a ortotanásia no Brasil. possibilita a identificação do ano de publicação, site
Para o atendimento em Cuidados Paliativos é de origem, endereço para localização na internet,
importante a atuação de profissionais de diferentes referência bibliográfica, palavras-chave, tipo de
áreas de forma integrada em equipes formadas por pesquisa, objetivo, número de participantes,
médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, principais resultados e comentários.

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Este presente trabalho não necessitou ser


submetido para aprovação junto ao Comitê de Ética
em Pesquisa, conforme a resolução 466/2012, pois Figura 3 Metodologias utilizadas
se trata de uma pesquisa cujas informações foram
obtidas em materiais já publicados e
disponibilizados na literatura, não havendo,

Número de publicações
4,00
portanto, intervenção ou abordagem direta junto a 3,50
3,00
seres humanos. 2,50
2,00 4 4
1,50
RESUTADOS E DISCUSSÃO 1,00 2 2
0,50 1
0,00
No período pesquisado foram publicados
treze artigos com os descritores já citados,
distribuídos nas bases de dados, conforme a Figura
1:
Figura 1 Sites pesquisados

Metodologia

BVS 0%
31%
Pepsic A revisão bibliográfica e os relatos de
46% experiência foram os métodos mais utilizados na
construção dos trabalhos. Houve menor registro de
Scielo revisões integrativas, revisões de literatura e de
Brasil pesquisas de campo. Observou-se que os trabalhos
23% descritos como revisões bibliográficas, revisões
integrativas e revisões de literatura apresentaram
desenvolvimento semelhante e totalizaram 8
publicações.
Observou-se que grande parte dos autores
No período pesquisado, o maior número de utilizou como referencial em seus estudos, as
trabalhos foi publicado no Pepsic (46%), enquanto publicações de entidades que representam os
que na base Scielo Brasil e BVS houve um número profissionais que atuam no setor de Cuidados
menor de artigos publicados. Paliativos, como a Academia Nacional de Cuidados
Paliativos (ANCP), o Conselho Regional de
Figura 2 Número de publicações sobre Medicina de São Paulo (Cremesp) e Sociedade
cuidados paliativos a cada ano Brasileira de Gerontologia e Geriatria.
Nos trabalhos pesquisados, o significado do
termo Cuidados Paliativos apresentou variação.
Segundo Rezende, Gomes e Machado6, o Cuidado
Número de publicações

4,00
Paliativo é uma especialidade médica voltada para
3,00 pacientes fora das possibilidades de cura de
determinadas enfermidades. Esse tipo de
2,00 4 4 atendimento é para pacientes terminais, que são
3 considerados aqueles que apresentam um estado
1,00 2 altamente prejudicado e que, por isso, não dispõem
1 1 de tratamentos disponíveis para a recuperação do
seu bem-estar7. Já para Ferreira8, os Cuidados
0,00
Paliativos são destinados a pacientes designados
2010 2011 2012 2013 2014 2015
como terminais, que são pessoas com prognóstico
Ano de publicação de sobrevida inferior a seis meses.
Porém, segundo a ANCP 2, por não basear-se
em protocolos e sim em princípios, não adota-se a
Os estudos pesquisados foram publicados a ideia de terminalidade, mas sim de doença que
partir do ano de 2010, conforme a Figura 2. Nos ameace a vida. Refuta-se também o conceito de
anos seguintes houve uma redução no número de impossibilidade de cura, mas na possibilidade ou
artigos, sendo que em 2013 houve novo acréscimo. não de um tratamento que possa modificar o estado
Em 2014 e 2015, o número de trabalhos publicados da doença. Isso afastaria a ideia de que não há
nessas bases também diminuiu. mais nada a ser feito pelo indivíduo, quando este

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encontra-se enfermo. Os cuidados também são Wencelevski,Milanski,e Soares11, a “conspiração do


estendidos ao paciente desde o diagnóstico e não silêncio” ocorre quando familiares acreditam ser
apenas quando o mesmo está em estado grave. melhor esconder informações sobre o quadro de
O Cuidado Paliativo não se trata saúde do paciente. O psicólogo deve, portanto,
exclusivamente de cuidados prestados em abordar essa questão junto aos familiares para que
instituições, mas sim de uma filosofia de cuidado os mesmos compreendam a importância da clareza
que pode ser aplicada em diversos contextos. Sob de informações ao longo do atendimento. A
essa ótica, é uma atenção que pode ser dispensada comunicação também é importante entre os
em domicílio ou em uma instituição de saúde 9. profissionais e que, por isso, cabe ao psicólogo
Os programas em Cuidados Paliativos podem buscar manter uma boa comunicação e um
incluir a assistência domiciliar, assistência ambiente harmônico entre aqueles que estão
ambulatorial, emergência, internação, hospitalar, ligados ao atendimento ao paciente.
além de treinamento, pesquisa e ensino, serviços de A autonomia sobre sí e sobre sua condição é
consultoria e suporte para o luto. A indicação do tipo ressaltada por Rezende; Gomes; Machado 6, que
de assistência (domiciliar, ambulatorial, emergência afirma que a autonomia nas decisões do paciente
ou internação hospitalar) depende das condições repercute diretamente no seu estado físico e
clínicas e sociais do paciente e ainda das emocional. Isso dá a ele as condições para exercer
características de cada patologia10. a posição de dono de sua própria vida (grifo nosso).
As medidas terapêuticas que podem ser Os pacientes que estão aquém das possibilidades
aplicadas a Cuidados Paliativos não são apenas de cura apresentam sentimentos de impotência e
farmacológicas. Observando o conforto e a tristeza. O reconhecimento desses aspectos é
aceitação do paciente, todos os recursos não possível por meio da boa escuta e da habilidade
farmacológicos podem ser utilizados, como a profissional de descobri-los, a partir do
psicoterapia, acupuntura, massagens e técnicas de estabelecimento de um vínculo com o paciente. Ao
relaxamento corporal, musicoterapia, terapia escutar o paciente, o psicólogo trabalha a fim de
ocupacional e fisioterapia em um atendimento compreender o que o mesmo deseja.
2 12
individualizado e reavaliado frequentemente . Conforme Melo, Valero e Menezes entre as
funções do psicólogo em Cuidados Paliativos estão
Competências do psicólogo em cuidados o conhecimento das reações do paciente, a escuta
paliativos de diferentes pessoas da mesma família, a
compreensão dos fenômenos intrínsecos das
Os trabalhos pesquisados citam as relações; orientação de familiares e profissionais;
competências dos profissionais de Psicologia no atuação que promova a humanização no ambiente
atendimento a pacientes em Cuidados Paliativos. hospitalar; além da participação da comissão de
Entre elas estão: trabalhar a morte como um evento bioética, entre outras atribuições.
natural1,4. Orientar o paciente sobre a reorganização
7
de sua vida. Segundo Domingues et al , ao atender Intervenções do psicólogo em cuidados
pacientes terminais, o profissional pode auxilia-los paliativos
na compreensão da proximidade da morte e na
possibilidade de viver o período que lhe resta de O psicólogo deve articular a teoria e prática
maneira satisfatória. É um período para estimular o de forma criativa com um trabalho fundamentado
paciente a rever pessoas importantes, sendo que o em um referencial teórico baseado em princípios
perdão é um aspecto que pode ser abordado. consistentes em psicanálise, psicologia analítica,
Em conjunto com uma equipe psicologia social, análise do comportamento,
multiprofissional, o psicólogo deve adotar uma fenomenologia, entre outras abordagens¹².
postura de respeito pelo paciente, observando a sua Os trabalhos pesquisados apontaram várias
totalidade, o desconforto sentido em decorrência da intervenções que podem ser desenvolvidas pelo
doença, as dores e ainda a autonomia do indivíduo. psicólogo no contexto dos Cuidados Paliativos,
Por isso, recomenda-se visitas semanais, para entre eles: avaliar o paciente (avaliação do contexto
obtenção de dados que subsidiem uma discussão familiar que inclui o cuidador principal do paciente);
coletiva a respeito da condição do paciente. estabelecer contato com a equipe de saúde para
Posteriormente, deve-se adotar medidas que visem informar verbalmente o diagnóstico ao paciente e o
cuidados nas esferas física, emocional e social 6. plano de ação previsto; enfatizar a utilidade das
A boa comunicação é elemento fundamental habilidades de enfrentamento; trabalhar a
para o atendimento efetivo, fundamenta os elaboração da informação sobre seu estado de
relacionamentos que qualificam a vida do paciente saúde; manejar a aproximação sócio-familiar12.
nesse período da vida. Por isso, os profissionais Na fase de avaliação psicológica do paciente,
devem prestar esclarecimentos sobre a condição de faz-se necessário o contato permanente com toda a
vida ao paciente para que ele possa tomar as equipe de Cuidados Paliativos, quando é possível
próprias decisões sobre o seu futuro. Segundo

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obter informações necessárias a partir das ao paciente e, posteriormente, para os familiares


diferentes perspectivas profissionais. envolvidos.
O informe do diagnóstico e do plano de ação Os rituais de despedida são válidos e
ao paciente e familiares pode contar com o auxiliam o paciente e familiares a vivenciarem
assessoramento do psicólogo, que deverá respeitar melhor momentos em que o óbito está próximo. É
as características emocionais de cada pessoa uma oportunidade para que ocorram pedidos de
envolvida12. perdão, agradecimentos e outras questões que
Recursos para examinar o enfrentamento do possam estar pendentes no relacionamento entre os
paciente diante de problemas concretos são citados, familiares. Nessas ocasiões, os pacientes podem
sendo eles: visualização, relaxamento, meditação, desejar esclarecimentos sobre os cuidados que
reafirmação ou correção padrões adaptativos e serão prestados aos que ficam12.
desadaptados de enfrentamento e trabalhar a Um importante aspecto abordado em
história de vida do paciente (reviver situações Cuidados Paliativos é a espiritualidade e a prática
prazerosas, elaborar significados positivos, etc). religiosa. É uma estratégia de enfrentamento, que
Tais intervenções auxiliam na obtenção de gera alívio, conforto e toma o espaço da fatalidade.
pensamentos reconfortantes sobre morrer, As crenças religiosas oferecem explicações a
possíveis assuntos pendentes, despedidas, entre respeito das patologias que estão mais próximas ao
outros12. contexto sociocultural dos pacientes e seus
Uma forma de amenizar as experiências familiares, ao contrário dos termos e diagnósticos
dolorosas do paciente é ter atenção ao escutar os médicos, que muitas vezes são limitantes e
sentimentos das pessoas que estão vivenciando reducionistas13.
esse momento. Os autores afirmam que, de alguma Faz-se necessária uma distinção entre
forma, o indivíduo que está morrendo tem ciência espiritualidade e religiosidade. Espiritualidade é
disso e, portanto, faz-se necessário o apoio para conceituada como sendo essencial, ligada ao
que ele possa compreender o que está ocorrendo 8. sublime e à alma. Já a religiosidade é caracterizada
Outro recurso que pode ser utilizado pelo por influências políticas, cultuais e
psicólogo é a exploração de fantasias oriundas de socioeconômicas. A espiritualidade deve ser
medos, expectativas, frustrações e perdas dos abordada junto ao paciente e familiares não apenas
pacientes que, além de permitir a elaboração nos momentos finais da vida, mas ao longo de todo
desses conteúdos, oferece possibilidades de um o processo de evolução da patologia11.
ajustamento funcional à situação. Haja vista que as É relevante que o psicólogo e os demais
fantasias a respeito da morte para alguns são profissionais atentem-se para a religiosidade da
associadas a pânico e dor, a abordagem franca e família envolvida no momento de planejar e
clara sobre o tema possibilita uma transição com executar as intervenções.
maior serenidade ao paciente12. Os estudos de Schmidt; Gabarra e Gonçalves
e Nucci13,14 apresentaram relatos de experiência de
Orientações para o atendimento a familiares profissionais do atendimento a pacientes com
doenças crônicas graves. Um deles apresentou o
O adoecimento de uma pessoa também gera caso de um paciente do sexo masculino, 47 anos de
consequências emocionais para os familiares do idade, diagnosticado com câncer localizado
paciente. Nesse sentido, o suporte psicológico inicialmente, no estômago, mas com avanços até o
auxilia na qualidade de vida de todos aqueles que fígado.
vivenciam o processo12. Diante do grave estado de saúde do paciente,
As intervenções beneficiam tanto a pessoa os atendimentos psicológicos foram realizados com
enferma quanto seus familiares, reduzindo a objetivos claros e definidos de oferecer suporte ao
probabilidade de incidência de sintomas paciente e familiares. Entre as intervenções
psicopatológicos futuros, como ansiedade e aplicadas no atendimento ao paciente estão:
depressão, em consequência de perdas ou luto não suporte emocional ao paciente e familiares ao
elaborados13. comunicar um prognóstico grave; estímulo da
A mesma percepção é partilhada por comunicação entre familiares e a equipe
Domingues et al7, que afirma que “o psicólogo atua profissional; proporcionar condições para a
na escuta profissional da família e na decifração de expressão de sentimentos e a busca de resolução
respostas do paciente aos familiares”. Ele também de conflitos ainda pendentes entre os membros da
atua no campo da educação das expectativas, e na família, possibilitando a comunicação intrafamiliar;
mediação entre o paciente e seus familiares, reaproximação entre a família e a pessoa doente;
contribuindo com a orientação e reorganização de estimular os membros da família na utilização de
suas vidas. crenças e rituais perante a morte; atuar em prol da
Para Rezende, Gomes e Machado6, no melhoria da qualidade de vida, com a oferta de
primeiro momento o trabalho deve ser direcionado alimentação, ambiente acolhedor e com apoio para
melhoria do seu conforto físico; mediação entre a

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equipe e a família para viabilizar a administração de promovendo a interação com a equipe e ainda
medicação ao paciente, visando aliviar sintomas do avaliar o comportamento não-verbal.
paciente e ainda oferta de apoio no luto Além disso, o Manual Diagnóstico e
antecipatório. Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) também é
Além disso, foi realizado um trabalho de referenciado como uma publicação que traz critérios
reflexão com foco em um projeto de vida da esposa diagnósticos que podem ser adaptados para
e dos filhos, após o óbito, que buscou preservar os situações de patologias terminais, direcionando o
laços familiares e evitar sintomas que pudessem diagnóstico clinico final do psicólogo12.
comprometer a saúde da nova dinâmica familiar13.
No estudo de caso de Nucci 14, é relatado o CONCLUSÃO
atendimento clínico a uma adolescente do sexo
feminino, 17 anos, estudante, com diagnóstico de Ao longo dessa pesquisa observou-se a
câncer. A jovem iniciou quimioterapia, interrompida carência de publicações sobre Cuidados Paliativos
após três ciclos, e reiniciada com uma série de nove aplicados ao campo da Psicologia nos últimos dez
ciclos um mês depois. anos. Entre os artigos produzidos, a maioria trata-se
A equipe multidisciplinar que acompanhou a de estudos de caráter bibliográfico, com discreta
paciente foi formada por médicos, nutrólogo, produção de pesquisas de campo e relatos de caso.
nutricionista, enfermeiro e psicólogo. O atendimento Para que essas e outras intervenções
à paciente durou onze meses e envolveu a oferta de possam ser realizadas, no contexto institucional ou
um ambiente de acolhimento e escuta, com diálogo domiciliar, é necessário o suporte de outros
para a promoção da liberação do poder de profissionais e familiares em um ambiente que
autonomia da paciente e teve como ponto de partida propicie o acolhimento às demandas do paciente.
a compreensão de que a paciente detinha A atuação do psicólogo deve ocorrer junto ao
capacidade de orientar a sua própria vida. paciente e familiares, tendo em vista que o
Durante os atendimentos foi ofertada uma adoecimento gera consequências não apenas na
compreensão da visão de mundo da paciente e pessoa enferma, mas também em outros indivíduos
daquilo que fazia sentido para a mesma; integrou-se que o acompanham.
a equipe de cuidados visando suprir suas O atendimento pode envolver o auxílio na
necessidades físicas e psicológicas; buscou-se comunicação entre a equipe de saúde e o paciente,
facilitar a adaptação às perdas ocorridas ao longo a compreensão do diagnóstico, os aspectos
do tempo pela progressão da doença, o que emocionais que envolvem o adoecimento, a adesão
favoreceu lidar melhor com o medo da morte, ao tratamento, a autonomia do paciente diante da
angústia da separação e ainda a compreensão do sua condição, aspectos espirituais do paciente,
viver e do morrer, dentro do contexto social, entre outros.
espiritual e cultural da paciente. Buscou-se ainda Em casos mais graves, quando as evidências
respeitar a dignidade no morrer, com respeito, clínicas indicam a iminência da morte, o trabalho
tranquilidade, no lugar escolhido pela paciente, a volta-se para a comunicação intrafamiliar, rituais de
qual veio a óbito 11 meses após o diagnóstico despedida e satisfação de desejos e vontades que
inicial. ainda não tenham sido concretizados.
Além dessas intervenções, o psicólogo Ressalta-se a necessidade da maior inserção
também pode fazer uso de alguns instrumentos que desse tema na formação de profissionais da área da
auxiliam o profissional a levantar dados a respeito saúde, haja vista que a prática dos Cuidados
da condição do paciente. A Escala de Avaliação Paliativos é multiprofissional e requer diferentes
Psicossocial (Full d’Avaluació Psicosocial), tipos de abordagens. A capacitação profissional é
desenvolvida por Comas e Schröder em 1994, um fator de extrema importância nesse contexto,
avalia fatores de risco e comportamentos haja vista que a cultura biomédica e a medicina
indicadores de impacto emocional, auxiliando na curativa ainda são a tônica em muitas instituições
distinção entre os pacientes que necessitam de de ensino e em unidades de saúde.
intervenção psicológica específica dos que Sem a compreensão de todos os profissionais
inicialmente ainda não precisam. de saúde e sem uma reformulação nas práticas de
Já o HAD (Hospital Anxiety and Depression atendimento ao paciente, o exercício do trabalho do
Scale) é um questionário que favorece o diagnóstico psicólogo que deseja intervir com Cuidados
por meio da identificação de possíveis transtornos Paliativos torna-se exaustivo e, por vezes, pouco
psicopatológico12. eficaz. O cuidado paliativo envolve uma concepção
A entrevista semi-estruturada também é um de cuidado que permeia toda a assistência ofertada
instrumento de avaliação, mas recomenda-se que a ao paciente, por isso deve ser difundido de forma
mesma seja feita por meio de um diálogo aberto contínua entre os profissionais de saúde.
com o paciente. Por meio da entrevista é possível Faz-se necessário ainda o estímulo ao estudo
obter informações verbais sobre a própria doença, dos Cuidados Paliativos no âmbito da Psicologia
com foco em pesquisas, nas quais seja possível

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Recebido: 02 julho 2018. Aceito: 14 dezembro 2018. Viegas, MPB. Marinho, VL. Dos Santos, MA. Da Silva, JBF.
Revista Amazônia Science & Health - 2018 Out/Dez. CUIDADOS PALIATIVOS: COMPETÊNCIAS E INTERVENÇÕES DO
PSICÓLOGO.

obter dados a respeito dos efeitos dessas Doenças [periódico de internet]. 2013 [acesso em
intervenções. 14 fev 2017] 14(3) 452-469.

REFERÊNCIAS 13 Schmidt, B, Gabarra, LM,Goncalves,


JR.Intervenção psicológica em terminalidade e
1 Academia Nacional de Cuidados Paliativos ANCP. morte: relato de experiência. Paidéia[periódico de
Rio de Janeiro:Diagraphic, 2009. internet].2011.

2 Academia Nacional de Cuidados Paliativos ANCP. 14 Nucci,NAG. A construção de uma vida e de seu
2º ed. Manual de Cuidados Paliativos.2º ed,2012 fim. O Mundo da Saúde [periódicos na Internet].
[acesso em 12 fev 2017].Disponível em: 2012 [acesso em 14 fev 2017] 36(1):59-64.
www.paliativo.org.br
15 Felix, ZC, Costa, SFG, Alves, AMPM, Andrade,
3 Hermes HR,Lamarca ICA. Cuidados paliativos: CG, Duarte, MCS, Brito, FM. Eutanásia, distanásia e
uma abordagem a partir das categorias profissionais ortotanásia: revisão integrativa da literatura. Ciênc.
de saúde. Ciênc. saúde coletiva [periódicos na Saúde Coletiva [periódico de internet]. 2013
internet]. 2013 [acesso em 14 fev.2017]18(9):2577- [acesso em 12 fev 2017]18(9) 2733-2746.
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