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Ministério da Economia
d o s Tr a n s p o r t e s e d o A m b i e n t e
PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO Te x t y p e , A r t e s G r á f i c a s , L d a
ISBN 972-8268-24-6
Janeiro 2002
PREÂMBULO
Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 154/2001, de 19 de
Outubro, o Governo aprovou o programa E4 – Eficiência Energética e
Energias Endógenas, programa necessário e urgente para Por tugal,
dado o domínio do petróleo nas fontes primárias da energia, a elevada
factura energética externa e as restrições ambientais agravados pelos
usos ineficientes da energia de origem fóssil.
O E4 representa um vasto e coerente pacote de medidas que ficou,
assim, delineado para o futuro no horizonte de 2010, criando as
condições necessárias à transformação dos mercados da energia no
país, com plena inter venção dos sectores económico, tecnológico e
financeiro, designadamente para a promoção de projectos de ener-
gias renováveis e de eficiência energética.
Cer tamente que o impacte do E4 se tornará visível a breve trecho
nas diversas ver tentes da sua inter venção. No entanto, a confiança
no seu sucesso e o estímulo ao seu pleno desenvolvimento muito
beneficiarão de uma prática de informação transparente e coerente.
Por isso, se decidiu produzir e publicar este trabalho que, pela sua
simplicidade formal, procura oferecer o quadro de referência a par tir
da informação energética disponível para Por tugal no momento de
arranque do Programa E4.
Face à diversidade das fontes e dos tempos da informação disponibili-
zada, procurou-se compilar de forma crítica o que pareceria mais útil
ao ‘benchmarking’ necessário. Aí fica, pois, o ‘Energia Portugal 2001’
3
como instrumento do E4 no caminho agora iniciado.
Preâmbulo
8 A PROCURA DE ENERGIA
28 A O F E R TA D E E N E R G I A
30 Energia eléctrica
37 O gás natural
41 O petróleo e derivados
44 O carvão
47 A cogeração
52 As energias renováveis
52 > A energia mini-hídrica
53 > A energia eólica
55 > A energia da biomassa
59 > A energia solar
5
63 > A energia geotérmica
64 > A energia das ondas Índice
66 A microgeração
74 A ENERGIA E O AMBIENTE
78 O S D E S A F I O S PA R A A P R Ó X I M A D É C A D A
82 Anexos
83 Anexo 1
Resolução do Conselho de Ministros n.º 154/2001, de 19 de Outubro
89 Anexo 2
Lista de Diplomas do Programa E4
PREFÁCIO
9
A procura de energia
Definição de energia final, energia
é sempre maior que a energia final que lhe corres- Nas últimas duas décadas e, em par ticular, após a
ponde. Por exemplo, se uma central eléctrica tiver entrada de Por tugal na União Europeia, a procura de
um rendimento de 40%, isso significa que por energia nacional tem tido uma dinâmica for temente
cada 100 unidades de energia primária entrada crescente. Por tugal foi, aliás, o país da União Europeia
na central (por exemplo car vão), apenas se obtêm com taxas de crescimento da procura de energia final
40 unidades de energia final (energia eléctrica). Este mais significativas naquele período.
mesmo raciocínio é também aplicável às trans- Na década de noventa, a procura de energia final em
formações que sofre a energia final no utilizador, Portugal cresceu a uma taxa sustentada de cerca de 4,5%
para que este disponha da energia de que carece ao ano, de que resultou um crescimento da procura de
(energia útil) sob a forma, por exemplo, de calor, energia final de 50% entre 1990 e 1999 2. A título compa-
energia motriz, iluminação. rativo, para o conjunto dos 15 Estados-Membro da
União Europeia a taxa média de crescimento da procura
de energia final foi, entre 1990 e 1998, da ordem de 1%
Notas ao ano.
1- Neste capítulo foram utilizadas três fontes Uma análise desagregada por sector consumidor (figura
bibliográficas para informação quantitativa: os balan- 1) revela que todos os sectores de actividade tiveram
ços energéticos publicados pela Direcção Geral de for te crescimento da procura de energia entre 1990 e
Energia (DGE) e pelo EUROSTAT, para compara- 1999. Destacam-se os sectores dos transpor tes e dos
ções internacionais, e as publicações da Entidade ser viços, que aumentaram o seu consumo de energia final
Reguladora do Sector Eléctrico (ERSE), para alguma em mais de 68% e 85%, respectivamente.
informação específica sobre o sector.
que diz respeito à procura de energia final. Fig. 1 - Consumo de energia final por sector consumidor (Fonte: Direcção
Geral de Energia)
20 000
15 000 Outros
Serviços
Doméstico
10 000
Transportes
5 000
0 Indústria
Ktep 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
1: Ktep = 1000 tep
Quadro 1 - Variação do consumo de energia final, por sector de actividade
anual
1 tep = 41.86x10 9 J
sumo de energia final alterou-se significativamente, 3- O leitor poderá encontrar documentos que refe-
durante a década de noventa. O sector dos transpor tes rem que a indústria permanece o maior consumidor
dos ser viços, aumentado o seu peso relativo no consumo de, por vezes, os consumos energéticos da indús-
de energia final em 1999 (figura 2). tria virem acrescidos dos consumos de produtos
referida no texto.
doméstico
14% outros
9%
serviços
7%
indústria
transportes
37%
33%
12
A procura de energia
doméstico
13%
outros
8%
serviços
9%
transportes indústria
38% 32%
16 000
Outros
Gás Natural
14 000
12 000 Electricidade
10 000
8 000
6 000
4 000
2 000
Petróleo
0 Carvão
Ktep 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Geral de Energia)
25 000
Outros
20 000 Gás Natural
Electricidade
15 000
10 000
5 000
Petróleo
0 Carvão
Ktep 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
13
Fig. 4 - Consumo de energia primária (Fonte: Direcção Geral de Energia)
A procura de energia
100
80
60
40
20
1990
1998
0
A procura de energia
5
16
A procura de energia
Média Mundial
1
em 1998
0
1990
tep Portugal Espanha Irlanda Holanda Média UE EUA
1998
300
200
100
1990
1998
0
A procura de energia
18
A procura de energia
Parte 2
dinâmica dos sectores
consumidores e gestão da procura 7
Utilização da ener gia eléctrica no O sector dos ser viços foi o sector consumidor que
sector dos serviços evidenciou maior taxa de crescimento do consumo
Estima-se que a energia eléctrica contribua em energético entre 1990 e 1999 (ver quadro 1). Como este
cerca de 65% para o abastecimento energético do sector se caracteriza por uma elevada penetração da
sector dos ser viços. No entanto, dada a heteroge- energia eléctrica no seu abastecimento energético, foi o
neidade do sector, essa contribuição pode variar principal responsável pelo grande crescimento do con-
desde cerca de 45% em hospitais, até quase 100% sumo dessa forma de energia final em Por tugal. Como
nas grandes superfícies comerciais. Nestes dois consequência, o peso do sector no consumo total de
casos, a situação é par ticularmente favorável ao uso energia eléctrica passou de cerca de 19%, em 1980,
da cogeração já que o elevado uso de electricidade para 31% em 1999.
coincide com for te procura de calor e frio para fins
de climatização e outros.
serviços
19% doméstico
27%
agricultura
agricultura
2%
1%
indústria doméstico
serviços
58% 22% indústria
31%
40%
Notas
cies comerciais
14
12
4
4 estrelas
2
5 estrelas
0
ritmo superior ao total nacional, como reflexo da chamada eléctricos (98% a 99%) e as utilizações finais mais
"terciarização da economia". Efectivamente, o peso do VAB importantes são, no caso dos centros comerciais, a
do sector dos serviços, que em 1980 representava 51%, climatização, com cerca de 70% e a iluminação,
tem aumentado continuamente, tendo ultrapassado os 60% com 20%. No caso dos hipermercados o frio indus-
em 1998. Por outro lado, este sector tem evidenciado uma trial é preponderante, com cerca de 35%, enquanto
elasticidade do consumo de energia eléctrica relativamente o ar condicionado e a iluminação têm a mesma
ao valor acrescentado de 2, no longo prazo. Isso significa ordem de grandeza (30 %).
que, por cada acréscimo de 1% no valor acrescentado, o
consumo de energia eléctrica cresce 2%. Este valor elevado Notas
da elasticidade, pode ser indicativo da existência de uma 8- Condições de utilização de energia e segurança
larga margem para a melhoria da eficiência na utilização da dos principais equipamentos energéticos na hotela-
e desenvolvimento.
(melhor índice de eficiência energética) e G (pior índice). A afixação No sector doméstico, a procura de energia tem
é obrigatória em todos os equipamentos abrangidos, o que facilita acompanhado o crescimento global do consumo
a penetração dos equipamentos mais eficientes mas não permite, de energia - pese embora alguma incerteza devido
por si só, a eliminação dos menos eficientes. à for te penetração das lenhas -, de modo que
- Os níveis mínimos de eficiência energética têm o peso do sector doméstico no consumo final
por objectivo eliminar do mercado os equipamen- de energia se tem mantido aproximadamente
tos menos eficientes. Trata-se de um instrumen- constante, em torno dos 13%.
to de carácter obrigatório, aplicando-se desde já No entanto, tem-se verificado uma alteração
a frigoríficos e congeladores, a caldeiras para estrutural na procura de energia do sector, com
aquecimento de águas, e, mais recentemente, a reforço da penetração da energia eléctrica, cuja
balastros para lâmpadas fluorescentes. Os níveis procura tem crescido a taxas médias anuais
mínimos de eficiência energética para os frigoríficos superiores a 7%. Como consequência, em 1999,
e congeladores são baseados na etiqueta energé- o sector era já responsável por cerca de 27% da
tica, correspondendo à eliminação do mercado da energia eléctrica consumida, contra os cerca de
maioria dos produtos das classes D, E, F e G. 22% em 1980 (vide figura 8).
Em Portugal, o consumo de energia eléctrica no
Exemplo de etiqueta energética para frigoríficos sector doméstico tem uma elasticidade unitária
com o consumo privado que, por sua vez, depende
Outra iniciativa que merece referência é a do Sistema Europeu de directamente do rendimento disponível das famí-
Informações sobre Electrodomésticos, que envolve 12 países da lias. O crescimento sustentado deste indicador,
União Europeia. A versão portuguesa está disponível desde Outubro com forte impacto na posse e utilização de apare-
2001 em www.eais.eu.com. Com este sistema, baseado na etiqueta lhos consumidores de energia, tem sido certa-
energética europeia, o consumidor poderá obter informações sobre mente um dos motores da dinâmica da procura de
parâmetros funcionais, energéticos, ambientais e financeiros dos energia eléctrica no sector. O outro reside, como
principais electrodomésticos disponíveis no mercado. A procura
pamentos consumidores utilizados no sector, edifícios Os consumos médios neste sector, correspondem
incluídos, quer dos procedimentos e hábitos de utilização às utilizações para iluminação e electrodomésticos
desses equipamentos. É necessário ter presente que este (cerca de 25%), águas quentes sanitárias e cozi-
sector cobre um universo de mais de 5 milhões de consu- nhas (50%) e aquecimento e outros (25%). Destes
midores, existindo alguma inércia na adopção de padrões valores revela-se a impor tância que opções familia-
eficientes de consumo de energia devido, não só, a razões res podem ter nos consumos energéticos do país.
compor tamentais dos consumidores, como também ao A necessidade dos novos electrodomésticos mais
período necessário para a substituição dos equipamentos eficientes bem como iluminação de menor consumo,
e progressiva recuperação dos edifícios. são medidas impor tantes a incentivar (ver caixa
sobre etiquetagem).
a problemática dos edifícios impor tante nos próximos anos. De referir aqui a
A qualidade dos edifícios e o confor to associado têm "Água Quente Solar para Por tugal", perspectivando
aumentado ao longo do tempo, particularmente nos últi- o objectivo de um milhão de m 2 de colectores sola-
mos anos. Casa de banho, esgotos, água corrente quente res em 2010.
e fria, fontes energéticas directamente disponíveis, tem- Os consumos dedicados neste sector ao confor to
peratura e humidade relativa dentro de parâmetros de térmico (aquecimento e arrefecimento), sendo cres-
21
conforto e qualidade do ar, são comodidades que foram centes nos últimos anos, necessitam de uma espe -
postas à disposição dos utilizadores de edifícios, quer de cial atenção no futuro próximo por par te de todos A procura de energia
traduzem-se num acréscimo de investimento e, em geral, actuais regulamentos térmicos dos edifícios, tornando-
num maior consumo de energia. -os mais exigentes, é uma medida que se impõe com
As acções que contribuem para a racionalização do con- a brevidade possível. Um outro passo decisivo será
sumo final de energia no sector, que vêm aliás contem- o da cer tificação energética dos edifícios como
pladas no Programa E4 (Eficiência Energética e Energias medida de qualidade, que, a ser assumida pelo mer -
Endógenas) aprovado pelo Governo em Setembro de 2001, cado, muito contribuirá para que os novos edifícios
em aquecimento e arrefecimento e ainda, garantir edifício. Neste grupo, incluem-se a regulamentação sobre
que a construção é isenta de patologias derivadas o compor tamento térmico dos edifícios e outras acções
de condensações. que incidem na qualidade térmica do edifício, como a eti-
Este regulamento, tem uma abordagem que tem em quetagem de edifícios, campanhas de informação do
consideração a especificidade climática do país, público com vista à melhoria da qualidade da envolvente
graduando os requisitos impostos em função do do edifício e campanhas com vista à aquisição de edifícios
clima. A título de exemplo, um edifício a ser cons- termicamente eficientes.
truído em zona fria (Trás-os-Montes - Zona I 3), terá Grupo II - Acções que influenciam directamente o
maiores exigências em termos de isolamento da desempenho do sistema de climatização. Neste grupo
envolvente do que um edifício a ser construído numa incluem-se a regulamentação sobre sistemas de clima-
zona menos fria ( Algar ve - Zona I 1). tização, a etiquetagem de equipamentos e sistemas,
O E4 contempla para breve, que o RCCTE sofra uma subsídios e incentivos fiscais na escolha dos sistemas
revisão e a publicação de um novo regulamento, com mais eficientes.
critérios mais exigentes. Grupo III - Acções que influenciam indirectamente o
O RSECE define um método de verificação da potência desempenho do sistema de climatização. Neste grupo
máxima admissível, quer de aquecimento quer de incluem-se a política dos preços da energia, campanhas
arrefecimento, e aplica-se a qualquer instalação em de informação do público para manutenção de correctas
que alguma dessas potências exceda 25 kW, ou condições interiores e para o uso e escolha do sistema de
quando a soma das duas potências exceda 40 kW. climatização.
O regulamento obriga a um conjunto de procedimen- Ao nível da União Europeia, os edifícios são os maiores
tos sobre o dimensionamento, construção, instalação, consumidores de energia (cerca de 40% da energia final),
comissionamento, manutenção, controlo e gestão de mesmo quando comparados com os sectores dos trans-
energia em sistemas de climatização em edifícios por tes e da indústria. Por outro lado, apesar dos pro-
tendo em vista, sob diversas perspectivas, a eficiên- gressos feitos em termos da qualidade da edificação e da
cia do uso da energia. eficiência na utilização da energia (por exemplo, as perdas
A revisão destes regulamentos, tornando-os mais efi- térmicas, em edifícios novos na UE, são cerca de metade
cientes energeticamente, terá um impacto positivo do que se verificava em edifícios anteriores a 1945), os
em termos dos consumos energéticos dedicados ao estudos demonstram que subsiste uma ampla margem de
conforto térmico, e consequentemente na redução do melhoria, em matéria de racionalização dos consumos de
consumo de combustíveis e de electricidade nos novos energia em edifícios, a nível europeu.
edifícios, ou nos edifícios sujeitos a remodelações. Tendo como objectivo explorar esse grande recurso e, con-
sequentemente, reduzir as emissões de gases percursores
do efeito de estufa associadas ao sector, a Comissão Euro-
Notas peia apresentou uma proposta de directiva especificamente
9- Este regulamento surgiu em 1992 com a designa- destinada à melhoria da eficiência energética em edifícios,
ção de Regulamento da Qualidade dos Sistemas cobrindo áreas de intervenção prioritárias: estabeleci-
Energéticos de Climatização de Edifícios (RQSECE) e foi mento de uma metodologia comum, a nível europeu, para o
revisto em 1998, tendo adoptado a designação actual.
cálculo do desempenho energético de edifícios; estabe- Edifícios solar es passivos ou "ar qui-
novos e para edifícios que sejam sujeitos a renovações; Nos últimos anos tem-se desenvolvido em Por tugal
estabelecimento de sistemas de cer tificação de edifícios a construção de edifícios designados por edifícios
e de informação ao público, com base nos padrões esta- solares passivos ou edifícios "bioclimáticos". Ambas
belecidos e das condições de confor to no interior de edi- as designações têm como princípio fundamental que
fícios de utilização pública; sistemas de inspecção obriga- a concepção arquitectónica e as opções construti-
tória de caldeiras e outros equipamentos de aquecimento vas e em termos de materiais utilizados tenha pre-
O sector dos transpor tes é o maior consumidor de ener- de armazenagem e de convecção para aquecer
1992, fruto de uma taxa de crescimento média que se O conceito integrador de arquitectura bioclimática,
mantém em cerca de 6% ao ano, desde 1985. Esta taxa em boa verdade, já era posto em prática na arquitec-
de crescimento do consumo de energia é a maior resis- tura tradicional dita ‘vernacular’, nomeadamente
tada nos países da União Europeia para o sector, e cerca mediterrânica. Só que hoje, o avanço dos conheci-
A dinâmica de crescimento fez com que os consumos no cos de média e baixa temperaturas, torna possível
23
sector em Por tugal se tenham aproximado rapidamente um compromisso vir tuoso entre a arquitectura, as
do consumo médio per capita da UE. Em 1985, na vés- tecnologias da construção e as modernas exigên- A procura de energia
pera da entrada na CEE, Por tugal tinha um consumo de cias do confor to ambiente, sem exacerbar o uso
energia no sector de cerca de 47% da média da UE, con- dos recursos naturais, em par ticular dos ener-
a Sul do território.
1
0,8
0,6
24
0,4
A procura de energia
1985
1990
0,2
1996
1998
0
300 000
250 000
200 000
150 000
100 000
50 000
4 000
Ferroviário Suburbano
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
200
100
-100
Índice de Produção Industrial
Exemplo irlandês
O caso mais extraordinário é o da Irlanda, onde o Fig. 12 - Variação do índice de produção industrial, consumo de energia
índice de produção industrial aumentou 128% entre final e intensidade energética industrial (Fonte: EUROSTAT)
1990 e 1998 e se verificou, simultaneamente, uma
apenas 42% de seu valor de 1990. Naturalmente, Por exemplo, para a média da UE, o consumo de energia
tais variações na intensidade energética do produto final no sector foi praticamente o mesmo em 1990 e
industrial só são possíveis com profundas alterações 1998, apesar de o último ano ter um índice de produção
estruturais do perfil de especialização do sector industrial 11% superior ao primeiro. Assim, houve uma
industrial do país, como as que ocorreram na Irlanda. melhoria da intensidade energética do sector industrial
borracha
1%
madeira metalo-electro-mecânicas
3% 4%
alimentação papel
europeu, enquanto em Por tugal esse indicador ter-se-á siderurgia
11% 9%
5%
"degradado" cerca de 18% no período.
Par te da explicação para essa evolução negativa na inten- metalúrgica
1%
vidro
5%
Fig. 13 - Consumo de energia final na indústria transformadora em
final no sector da indústria transformadora revela que os Em 1982, como reacção à crise energética resul-
sub-sectores da cerâmica e dos cimentos são os maiores tante do segundo choque petrolífero, foi criado o Re-
18,5% do consumo de energia final do sector em 1999. (RGCE), visando promover a melhoria da eficiência
O que revela que quase 40% do consumo do sector está energética em todos os sectores de actividade. Foi a
concentrado em dois sub-sectores, onde a energia tem primeira experiência de regulamentação nesta área,
um grande peso como factor produtivo. Seguem-se os que se mantém ainda em vigor. O RGCE aplica-se a
sub-sectores da alimentação e bebidas, química e plás- todas as empresas ou instalações, grandes con-
ticos, papel e produtos de papel e têxtil, com contri- sumidoras ou consumidoras intensivas de energia.
buições para o consumo de energia final entre os 11% O cumprimento do regulamento, que é obrigatório,
Cer tamente que par te da evolução desfavorável registada cos, envolvendo a empresa abrangida e a Direcção A procura de energia
na intensidade energética do produto industrial residirá Geral de Energia. Periodicamente devem ser elabo-
na própria ineficiência energética dos processos produti- radas auditorias energéticas, que ser vem de base à
vos, área que impor ta explorar no futuro. elaboração de planos de racionalização dos consu-
Energia eléctrica
O gás natural
O petróleo e derivados
O carvão
Parte 2 A O F E R TA D E S C E N T R A L I Z A D A
A cogeração
As energias renováveis
> A energia mini-hídrica
> A energia eólica
> A energia da biomassa
> A energia solar
> A energia geotérmica
> A energia das ondas
A microgeração
29
A Ofer ta de Energia
30
A ofer ta de energia
Parte 1
a oferta convencional
energia eléctrica
ERSE
Entidade Reguladora do Sector Eléctrico
SEP SEI
Sistema Eléctrico de Serviço Público Sistema Eléctrico Independente
SEN V
Sistema Eléctrico Não Vinculado
Concessionária da RNT
(Rede Nacional de Transporte)
Distribuidores Distribuidores
Vinculados Não Vinculados
Infraestruturas >
A. Lindoso
V. Furnas
Caniçada Salamonde Alto Rabagão
Touvedo
Chaves
Oleiros Miranda
Guimarães
Ruivães
Riba D'Ave Picote
Tabuaço
Mourisca
Mortágua
Gouveia
Pombal
Cabril
Bouçã
Pracana Fratel
Batalha C. Bode
Zézere Pego
Rio Maior Fontaínhas Falagueira
Interligação com Espanha
Cedillo
Carregado
Qt. Grande
Fanhões
Sacavém
A. Mira
Seixal Porto Salvo
Carriche
Trajouce Pegões
Barreiro Qt.Anjo
F. Ferro
Caparica Palmela
60 KV Fogueteiro
Setúbal
Évora
Setúbal
33
A ofer ta de energia
Sines
Ferreira Alentejo
Sines
Neves Corvo
central termoeléctrica
Ourique
posto de seccionamento
central hidroeléctrica
subestação de transformação
150 KV
Estoi
Tunes
220 KV
400 KV
12
Eólica - PRE
10 Mini-Hídrica - PRE
Cogeração - PRE
Hídrica - SENV
8
4 Térmica - SEP
0 Hídrica - SEP
GW 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998
cogeração - PRE
11%
mini-hídrica - PRE
2%
térmica - SEP
49%
eólica - PRE
repartida pelos três sistemas e por vários grupos de tecno- hídrica - SEP
35%
logias (figura 17).
Sector Eléctrico)
45 Eólica - PRE
40 Mini-Hídrica - PRE
Cogeração - PRE
35 Hídrica - SENV
30
25
20
35
15
A ofer ta de energia
10
Térmica - SEP
5
0 Hídrica - SEP
TWh 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998
derivados do petróleo por gás natural, já evidente em 2000, 11- Giga Watt ou 1 000 MW, ou ainda mil milhões
hídrica
16%
carvão
petróleo
40%
41%
36
A ofer ta de energia
petróleo
20% gás natural
17%
o gás natural 12
existem duas derivações para o interior de Por tugal, uma 12- Informação quantitativa e qualitativa obtida junto
infraestrutura é operada pela Transgás S.A., em regime 13- O troço Sines-Setúbal ainda não está construído
de concessão que, para além do transpor te em alta pres- e só entrará em funcionamento em 2004, em simul-
são, abastece ainda grandes consumidores na área de tâneo com a entrada em funcionamento do terminal de
Valença
38 Viana
Bragança
do Castelo
Chaves
A ofer ta de energia
Braga
Vila Real
Porto
Viseu
Aveiro
Guarda
Coimbra
Covilhã
Coja
Pombal
Castelo Branco
Leiria
Tomar
C. da Rainha
Portalegre
Santarém
T. Vedras
V. F. Xira
Fornecimento de gás
Loures
distribuição Portgás pelo Gasoduto da "Extremadura"
LISBOA
distribuição Lusitâniagás Pegões
Almada
distribuição Beiragás Marateca
Setúbal Évora
distribuição Tagusgás
distribuição Setgás
Beja
Sines
terminal de GNL
UAG em operação
UAG em construção
central termoeléctrica
distribuidoras regionais
gás S.A., que iniciou, na mesma altura, a exploração da
15%
central de produção de energia eléctrica, baseada na tec-
nologia mais recente de turbina a gás de ciclo combinado,
grande indústria
produção de energia situada na Tapada do Outeiro, na região do Por to.
52%
33%
3
Distribuidoras Regionais
2
Grande Indústria
1
Produção de Energia
0
1 0 12m 3 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
o petróleo e derivados 14
como energia primária (ver figura 23), quer como energia 14- Informação quantitativa obtida nos balanços
final. A dinâmica de crescimento dos produtos de petróleo energéticos nacionais publicados pela DGE e na
41
17
A ofer ta de energia
gasolina
15
gasóleo
12 gasolina
aviação
gasóleo outros
resid./comerc.
9
aviação
gasolina
outros
resid./comerc. outros
gasóleo
aviação outros
6 gasolina outros
gasóleo resid./comerc. transportes
outros
aviação fuelóleo
pesado residencial/ comercial
outros
fuelóleo
resid./comerc. fuelóleo pesado
3 outros pesado
indústria e energia
fuelóleo
pesado
não energ. sectores não energéticos
não energ.
não energ. não energ.
outros outros outros outros outros sectores
sectores sectores sectores sectores
0
40
30
20
10 Gasolina
Gasóleo
0
penergia)
o carvão
Kt e p 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Fig. 26 - Origem dos carvões importados (Fonte: Direcção Geral de Energia) 1998
46
A ofer ta de energia
Parte 2
a oferta descentralizada
a cogeração
Definição,
vantagens e aplicações da cogeração >
perdas
31 KWh
perdas
15 KWh caldeira
calor
50 KWh
50 KWh
rendimento
térmico 90%
1 000
Gás
800
600
Diesel (fuelóleo)
400
200
0 Contra-pressão
MW 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01
gás
22,2%
turbinas contra-pressão
46,8%
motores diesel
31%
gás
32,4%
motores diesel
42,7%
turbinas contra-pressão
24,9% motores propano 0,2 %
motores biogás 0,2 %
Áust r ia
B é l gic a
D inam ar c a
F inl ând ia
F r anç a
Al e m anha
Gr é c ia
I r l and a
I t ál ia
Hol and a
P or t ugal
E spanha
S ué c ia
1994
R e ino U nid o
1998
M édia UE (s/ L uxe m b ur go)
2010
% 0 10 20 30 40 50 60
vindo a diminuir nos últimos anos, devido essencialmente a Foi recentemente aprovado o Decreto-Lei n.º 313/2001
uma subida do preço dos combustíveis e a uma diminuição de 10 de Dezembro, que estabelece uma revisão
do preço da electricidade. A viabilidade económica dos pro- do normativo aplicável à cogeração (Decreto-Lei
jectos de cogeração depende for temente da diferença n.º 538/99 de 13 de Dezembro), dado o seu efec-
entre o preço destas duas energias, da sua estabilidade tivo contributo para a melhoria da eficiência energé-
e também do preço de aquisição dos excedentes de pro- tica e ambiental. Destacam-se a reformulação das
dução por par te do SEP – Sistema Eléctrico Público. condições a que devem obececer as instalações
No enanto, as últimas alterações legislativas vieram valo- de cogeração, a clarificação das situações de coexis-
rizar a remuneração pelo fornecimento à rede eléctrica tência de duas ou mais instalações de cogeração
da energia produzida pelo processo de cogeração, nomea- associadas a uma mesma instalação de utilização
damente através da inclusão de uma parcela ambiental de energia térmica cogerada, o ajustamento do âmbi-
e de uma parcela representativa das perdas evitadas to de aplicação do mecanismo de gestão conjunta
Em 2000 verificou-se um preço médio de aquisição do SEP ao fornecimento para a rede do SEP da energia
aos cogeradores de 9,47 PTE/kWh (0,047 € /kWh), eléctrica produzida em instalações de cogeração,
prevendo-se que em 2001 este valor se tenha situado relativamente à utilização dos vários tipos de com-
de energia renováveis. No entanto, como já se refe- Entende-se por mini-hídrico qualquer aproveitamento hidro-
riu, as grandes hidroeléctricas têm uma contribui- eléctrico com potência instalada inferior a 10 MW, por
ção decisiva para a energia eléctrica produzida no distinção dos grandes aproveitamentos hidroeléctricos,
país (p.e. 34% dos 39% de energia eléctrica com com centenas de MW de potência instalada. As mini-hídri-
origem nas energias renováveis em 1997). No futuro, cas regem-se por um regime jurídico específico (ver caixa),
novos empreendimentos hídricos de grande dimen- por se reconhecer a valia ambiental desta forma de produ-
são estão severamente condicionados por razões ção de energia quando comparada com a produção térmica
ambientais. Até 2010 resumir-se-ão ao Alqueva, e com as grandes centrais hídricas. Relativamente à produ-
Baixo Sabor e ao reforço de potência em Venda Nova ção térmica, a mini-hídrica tem a vantagem ambiental de
e Picote, num total de aproximadamente 790 MW. não emitir CO 2 e, relativamente à grande hidroeléctrica,
Portanto, se o consumo de energia eléctrica no país tem a vantagem de ter uma muito menor interferência nos
continuar a crescer a taxas superiores a 5% ao ano, cursos de água e, como tal, menor impacte ambiental.
o contributo das grandes hídricas será cada vez Este grupo de tecnologias foi alvo de grande interesse em
menor e, consequentemente, exigirá um maior esfor- Por tugal no final dos anos oitenta e início da década de
ço em todas as restantes áreas das energias reno- noventa, na sequência da publicação da legislação sobre
váveis. Se, pelo contrário, se reduzirem as taxas o pequeno produtor independente de energia eléctrica 15 .
de crescimento do consumo de energia eléctrica, Este novo regime jurídico, conjugado com um sistema de
o cumprimento da meta fixada na directiva acima iniciativa comunitária de apoios financeiros visando a valo-
referida será facilitado na mesma proporção. Os rização de recursos endógenos (Valoren), criou um clima
esforços de racionalização de consumos de energia favorável que permitiu o licenciamento e a instalação de
eléctrica poderão, assim, dar um contributo decisivo um número considerável de centrais mini-hídricas durante
para o cumprimento das metas. a primeira metade da década de noventa.
O Programa E4 assume como objectivo a instalação, até No entanto, dificuldades relacionadas com um procedi-
2010, de 4 000 MW de potência eléctrica adicional mento administrativo designado por "destaque" da Rede
a partir de fontes renováveis, dos quais 3 000 MW Ecológica Nacional, a que estão sujeitos todos os projectos
de energia eólica. Para atingir tal objectivo, estima-se de desenvolvimento de centrais mini-hídricas, têm conduzido
um investimento da ordem dos 5 000 milhões de euros. a atrasos no desenvolvimento de novos projectos e a uma
menor motivação por parte dos promotores privados.
Notas Actualmente existem cerca de 308 MW 16 de potência ins-
15- DL 189/88 de 27 de Maio. talada em aproveitamentos de potência inferior a 10 MW,
16- Informação APREN repartidos entre sistema eléctrico não vinculado e produ-
17- Informação ERSE tores em regime especial.
Regime legal dos pr odutores em regime espe -
No âmbito do Programa E4 prevê-se a instalação mais-valia ambiental das energias renováveis, relativamente aos
de cerca de 285 MW de potência adicional, com combustíveis fósseis, para produção de energia eléctrica. A tarifa
esta tecnologia, até 2010. Como o custo médio paga ao produtor é a soma do valor da energia produzida com o
(preços de 2001) por kW, tal acréscimo de po- Embora estes princípios gerais se mantenham, foi r ecentemente
Em Por tugal existe de há muito uma grande tra- fotovoltaica, evidenciam um elevado potencial a médio prazo",
via da sua transformação em energia mecânica, Neste novo regime tarifário, a energia eléctrica produzida com
para fins de moagem de cereais e bombagem de energia eólica é remunerada a 0,082 € por kWh, nas primeiras
água. No entanto, essa tradição não foi mantida 2000 horas de produção por ano, a 0.07 € nas 200 horas
quando se passou à actual fase de aproveita- seguintes, decrescendo o preço com o aumento de horas de pro-
mento da energia eólica para produção de ener- dução por ano. No entanto, a tarifa média da maioria dos parques
gia eléctrica. Assim, Por tugal não acompanhou o eólicos andará em torno dos 0,08 € por kWh, o que é significati-
crescimento notável, qualitativo e quantitativo, vamente mais que os cerca de 0,06 € por kWh pagos antes da
que se verificou na maioria dos países desenvol- entrada em vigor desta revisão legislativa. A energia eléctrica pro-
vidos, nas décadas de oitenta e noventa. duzida em centrais mini-hídricas será remunerada em torno dos
Este quadro conheceu, nos últimos cinco anos, 0,07 € por kWh, a energia das ondas em torno dos 0,224 53
A ofer ta de energia
um desenvolvimento assinalável, com muitos pro- €/kWh e a energia solar fotovoltaica a cerca de
motores a manifestarem um grande interesse no 0,284 €/kWh, para centrais com potência maior que 5 kW, e a
desenvolvimento de projectos de investimento. cerca de 0,499 €/kWh para centrais com potência até 5 kW.
Este interesse pela energia eólica ter-se-á ficado A título meramente exemplificativo, o valor médio pago pelo sistema
a dever, nomeadamente, ao quadro regulamentar aos produtores vinculados, corrigido da hidraulicidade foi, em 2000,
da actividade de produção de energia eléctrica de 9,77 escudos (0,049 €) por kWh 17 . Por outro lado, ainda
em regime especial, que coloca Por tugal em em 2000, os valores pagos aos produtores de electricidade
situação semelhante à registada nos países euro- com energias renováveis foi 11$89 (0,059 €) por kWh (para 2001
peus onde a energia eólica tem experimentado prevê-se 12$88 (0,064 €) por kWh), o que dá uma ideia do
As primeiras instalações foram construídas nas Além do cálculo da tarifa, as outras alterações recentemente intro-
Regiões Autónomas dos Açores e Madeira, tota- duzidas referem-se ao reconhecimento do carácter permanente
lizando cerca de 7 MW. O primeiro parque de aero- da valia ambiental das instalações de energias renováveis e à
geradores do Continente surgiu em 1992, em regulamentação das rendas a pagar pelas empresas detentoras
180
160
140
120
100
80
60
40
20 Em Construção
Acumulada
0
Capacidade Acumulada (MW) 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Madeira
6%
ras domésticas e semi-industriais. Estas são instaladas quer 18- Informação quantitativa fornecida pela Direcção
múltiplos processos. Cita-se, a título de exemplo, o aque- 19- Informação do Ministério dos Transportes do Brasil
60
A ofer ta de energia
ca em Ourique
apoio (ver quadro abaixo). A energia produzida é dis- A conversão directa da energia solar em electricidade
tribuída em pequenas redes locais cobrindo os aglo- ocorre em módulos fotovoltaicos, normalmente utilizando
merados populacionais. o silício como material conversor. O leitor menos familiari-
zado poderá tomar contacto com esta tecnologia em
Caracterização do projecto (Fonte: brochura do pro- parquímetros instalados nas ruas das cidades ou em
jecto editada por ADENE) pequenas máquinas de calcular. Trata-se da forma menos
poluente de produção de energia eléctrica, sendo a única
Central Aglomerados Geradores Geradores Geradores poluição resultante, para além do impacte visual, a que
abastecidos eólicos (kW) fotovoltaicos diesel (kVA) está associada à produção das próprias células.
(kWp) Até hoje, em Portugal, a utilização desta tecnologia tem es-
Cismalhas Cegonhitas 2x15 21 15 tado circunscrita a situações onde ocorrem baixos consu-
Cismalhas mos de energia, em locais distantes da rede eléctrica,
Cerro do Guincho como por exemplo: casas e pequenas explorações agrícolas
Monte Sambro Monte Sambro 1x15 10,5 15 isoladas, equipamentos de telecomunicações e de sinaliza-
Monte Corte Monte Corte -- 10,5 15 ção. No entanto, mesmo em locais isolados ou afastados
de Coelho de Coelho da rede eléctrica a utilização desta tecnologia em Portugal
é muito inferior ao que seria possível e desejável, face à
A capacidade de acumulação de cada central, em elevada disponibilidade do recurso. Estima-se que se encon-
bancos de baterias estacionárias de chumbo, per mi- tram actualmente instalados pouco mais de 1 MW em
te uma autonomia de 3 dias consecutivos em que se sistemas fotovoltaicos, com predominância para os siste-
verifiquem condições adversas de produção de mas isolados.
energia. Os grupos geradores diesel ser vem como O custo dos módulos fotovoltaicos está muito dependente
apoio, quer no caso de se verificar alguma anomalia das economias de escala associadas à sua produção.
nos sistemas principais de produção, quer no caso Com esse objectivo, muitos países e a própria União Euro-
em que, sendo os consumos maiores que a produ- peia estão hoje apostados em criar um grande mercado
ção, o estado de carga das baterias desça abaixo para sistemas fotovoltaicos instalados nas estruturas dos
de 70% da capacidade nominal. edifícios (sobretudo telhados, mas também fachadas e su-
perfícies envidraçadas) e directamente ligados à rede
eléctrica local.
Até agora, em Portugal, a tarifa paga pela rede pública,
aos produtores de energia eléctrica em regime especial,
não era incentivadora destas tecnologias, dado estar abai-
xo do seu limiar de rentabilidade económica. No entanto,
com as alterações recentemente introduzidas na remu-
Foto da central de Cismalhas – Gentilmente cedida neração dos produtores em regime especial (ver caixa
por ADENE. sobre regime dos produtores em regime especial, utilizando
energias renováveis), seguindo o exemplo do que já é pra-
ticado noutros países europeus, espera-se um rápido
crescimento do número das instalações de energia foto-
voltaica directamente ligadas à rede pública. Em Por tugal
espera-se este desenvolvimento, especialmente em peque-
nas unidades (<5kW) instaladas e integradas na estrutura
dos edifícios.
No âmbito do Programa E4 prevê-se a instalação, até 2010,
de 50 MW de potência adicional, com especial incidência
nos sistemas com ligação à rede eléctrica. Como os custos
médios unitários de investimento, para este tipo de siste-
mas, são cerca de 6 000 euros (preços de 2001) por
kW, tal acréscimo de potência corresponde a um investi-
mento de cerca de 300 milhões de euros.
mica. Para aproveitar a energia geotérmica terá que haver Em S. Pedro do Sul estão em curso projectos de
um fluído, geralmente água, que transpor te esse calor, aproveitamento do recurso geotérmico existente na 63
A ofer ta de energia
de forma útil, até ao local de utilização. A temperatura a região. Por um lado, desde 1981 que tem sido
que o fluído chega à superfície determina o tipo de apro- aproveitada a nascente do Polo do Vau, com um
veitamento: se for inferior a 150 o C designa-se geotermia caudal de 4 litros por segundo, a 60 0 C, para aque-
de baixa entalpia, e é normalmente utilizado para aqueci- cimento de estufas de produção de frutos tropicais,
mento ambiente, produção de águas quentes sanitárias e que ocupam já 0,5 hectares na exploração agro-
aquecimento de estufas agrícolas; se a temperatura for pecuária da Quinta de Valegode. Por outro lado,
e, além das aplicações referidas, pode também ser utili- tamento de um furo que debita um caudal de 10 litros
zado para produção de energia eléctrica. No território por segundo a 67 0 C. Este recurso, além da sua utili-
continental existe apenas geotermia de baixa entalpia, zação nas termas e em balneoterapia, está a ser
mas a região autónoma dos Açores é muito rica em geo- utilizado para produção de águas quentes sanitárias
No continente por tuguês a utilização da energia geotér- Pousada da Juventude. Estão ainda em curso estudos
mica tem estado sobretudo ligada ao aproveitamento de visando estender a rede de calor ao hotel do INATEL,
águas termais, para fins terapêuticos e/ou balneares, às termas antigas e às actuais.
bir comprime o ar numa câmara superior. Esse ar a energia das ondas >
comprimido, ao sair da câmara, passa numa turbina
desce, todo o processo se inver te e o ar tende a Nas últimas décadas têm sido propostos e testados múl-
deslocar-se de fora para dentro da câmara. Dadas tiplos sistemas para conver ter a energia das ondas oceâ-
as características especiais da turbina, há produ- nicas em energia utilizável, nomeadamente energia eléc-
ção de energia eléctrica quer quando o ar sai, quer trica. Muitos destes equipamentos estão em fase de in-
quando entra no dispositivo. vestigação e desenvolvimento, outros estão já na fase de
demonstração de equipamentos à escala industrial ou “Archimedes Wave Swing”
mesmo na fase pré comercial. Por tugal possui uma insta- Teve inicio no final de 2001 a instalação de um equi -
lação deste tipo, baseada na tecnologia de coluna de água pamento piloto da tecnologia designada "Archime-
oscilante, na ilha do Pico, Açores. des Wave Swing", para produção de energia eléctri-
Uma das vantagens dos dispositivos de coluna de água osci- ca a par tir da energia da ondas oceânicas. O dispo-
lante reside na possibilidade da sua integração em obras sitivo, com uma potência de 2MW, tem um diâme-
marítimas com outros fins, tais como "molhos" e "quebra- tro de 9,5 metros e uma altura total de 40 metros
mar". Trata-se de, com algum investimento adicional, intro- e será instalado ao largo de Viana do Castelo, a
duzir sistemas de coluna de água oscilante nesses equipa- uma profundidade de 50 metros. O dispositivo funci-
mentos que, além de cumprirem a sua função, passam tam- ona como uma bóia, cheia de ar comprimido, na
bém a produzir energia eléctrica. Dessa sinergia decorrem qual a par te superior, o flutuador, se move para ci-
grandes vantagens para a economia dos projectos. ma e para baixo, de acordo com a onda, enquanto
Está prevista a instalação de uma nova unidade de apro- a par te de baixo se mantém fixa. O movimento do
veitamento de energias das ondas, da tecnologia holandesa flutuador é conver tido em energia eléctrica. Este
"Archimedes Wave Swing", ao largo de Viana do Castelo. projecto piloto será testado durante cerca de ano e
Será o primeiro teste de uma unidade piloto de grandes meio e os resultados serão utilizados para o desen-
dimensões, envolvendo uma tecnologia que, caso os resul- volvimento de um sistema de maiores dimensões,
tados sejam positivos, os promotores esperam vir a insta- que será explorado comercialmente. O investimento
lar em larga escala para produção de energia eléctrica a desta fase do projecto piloto ascende a cerca de
par tir de energia das ondas oceânicas. 8 milhões de Euros. A instalação e operação da uni-
Efectivando-se este projecto, Por tugal fica, no seu territó- dade estará a cargo da empresa Oceanergia, uma
rio, com os dois maiores projectos europeus de energia "joint venture" da AWS BV, promotora holandesa do
das ondas, cobrindo as tecnologias mais promissoras, no projecto, e empresas por tuguesas.
a microgeração
conceito >
tecnologias >
69
A ofer ta de energia
O SECTOR ENERGÉTICO
NA ECONOMIA NACIONAL
O sector energético desempenha, naturalmente, um papel
vital como supor te a toda a actividade económica. Além
disso ele é, por si só, um dos sectores com maior peso
na economia nacional, nomeadamente ao nível do valor
acrescentado, do investimento, do emprego e do comér-
cio externo do país.
O valor acrescentado bruto (VAB) do sector da energia, a
preços correntes, aumentou continuamente, durante a dé-
cada de noventa, a uma taxa média superior a 9% ao ano.
800
600
Gás
400
Carvão
200 Petróleo
Electricidade
0
Milhões de Contos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
PIB nacional, entre 1990 e 1998. Dentro do sector da O sector energético na economia nacional
200
150 Gás
100 Carvão
Petróleo
50
72
Electricidade
0
O sector energético na economia nacional
Milhões de Contos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
PREFÁCIO
Fig. 34 - Investimento no sector da energia a preços correntes (Fonte:
30
25
20
15 Gás
10 Carvão
Petróleo
5
Electricidade
0
Milhares 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
10
% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Fig. 36 - Peso das impor tações líquidas de energia nas impor tações de
73
O sector energético na economia nacional
A ENERGIA E O AMBIENTE
O aquecimento global do planeta constitui uma das gran-
des preocupações da humanidade, pelas consequências
nefastas em domínios tais como o aumento da tempera-
tura média à superfície da terra, a subida do nível dos ocea-
nos, a ocorrência de fenómenos climatéricos de grande
turbulência e cada vez com maior frequência. As altera-
ções climáticas, provocadas sobretudo pelas emissões dos
gases com efeito de estufa (GEE) decorrentes das activi-
dades humanas, originaram já o esboço concer tado de
estratégias para a sua redução, envolvendo a generalidade
dos países do globo. O Protocolo de Quioto, aprovado no
âmbito das Nações Unidas em 1997, visa a reposição das
emissões de gases com efeito de estufa, no período 2008-
-2012, nos níveis de emissão registados em 1990.
Contudo, a emissão de gases com efeito de estufa resulta
de actividades essenciais no quadro económico e social
moderno, com destaque para a utilização de recursos
energéticos de origem fóssil, por exemplo nos transpor-
tes e na indústria, e em algumas actividades industriais e
agrícolas.
A utilização de recursos energéticos de origem fóssil é
responsável, à escala mundial, por cerca de três quar tos
das emissões de CO 2 com origem nas actividades huma-
nas, por um quinto do metano emitido e por uma quanti- 75
A energia e o ambiente
dade significativa de óxido nitroso. Por outro lado, resul-
tam ainda óxidos azotados (NOx), compostos de carbono
(HCs) e monóxido de carbono (CO) que, apesar de não
serem gases com efeito de estufa, influenciam reacções
químicas na atmosfera que provocam a criação ou a des- Principais gases de efeito de estufa
truição de outros gases com efeito de estufa como é o caso CO 2 – dióxido de carbono, com origem essencial-
sos internacionais para a redução de gases com efeito de N 2 O – óxido nitroso, resultante essencialmente das
promissos do Protocolo de Quioto, acordaram numa repar- CH 4 – metano, originado sobretudo pelas activida-
tição a nível de país por forma a atingirem, em 2008-2012, des energéticas e agrícolas (incluindo a pecuária);
uma redução de 8% das emissões em relação a 1990, Compostos halogenados (HFC, PFC e SF 6 )
tendo em conta o nível de desenvolvimento das diferentes
76
economias. Neste âmbito, enquanto alguns países devem
A energia e o ambiente
6,39
11,89 análise. É também de sublinhar o for te crescimento das
60 0,28
5,51
11,97 emissões nos "outros sub-sectores" (residencial e terciá-
0,27 resíduos
4,74
agricultura
rio), com uma taxa de crescimento de 30,7% no referido
30 54,42
41,27 solventes e outros período.
processos industriais
energia
0
Mt CO2 eq. 1990 1999 Fig. 37 - Evolução das emissões de GEE, em 1990 e 1999, por sector
50 6,16
40 4,72 19,18
30 11,41
10 18,24
indústria transformadora e construção
15,98
indústrias da energia
0
Fig. 38 - Evolução das emissões de GEE, entre 1990 e 1999, por sub-sector
Resolução do Conselho
de Ministros n.º 154/2001,
de 19 de Outubro
objectivos >
85
Anexos
1º- Ultrapassar os desequilíbrios estruturais do
país na área da energia - O desenvolvimento da polí-
tica energética nacional tem por metas principais a redu-
ção da intensidade energética no PIB, a diminuição da
dependência externa em energia primária, permitindo
alcançar uma melhoria da segurança do aprovisionamento,
a redução da factura energética externa e a protecção
do ambiente.
medidas >
Decreto-Lei nº 314/2001, de P
10 R
de E
Dezembro
FÁCIO
Altera o Decreto-Lei nº 223/2000, de 9 de Setembro,
relativo à Agência para a Energia, alterando a sua deno-
minação para ADENE e procedendo ao ajustamento da sua
missão, âmbito e atribuições, por forma a conferir-lhe
maior capacidade de inter venção na promoção da eficiên-
cia energética e da valorização dos recursos endógenos.
91
Anexos