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ENERGIA PORTUGAL 2001

EDIÇÃO Direcção Geral de Energia

Ministério da Economia

CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO Centro de Estudos em Economia da Energia

d o s Tr a n s p o r t e s e d o A m b i e n t e

DESIGN E PRODUÇÃO 2&3D Design e Produção, Lda

TIRAGEM 1 000 exemplares

PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO Te x t y p e , A r t e s G r á f i c a s , L d a

DEPÓSITO LEGAL 175 391/02

ISBN 972-8268-24-6

Janeiro 2002
PREÂMBULO
Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 154/2001, de 19 de
Outubro, o Governo aprovou o programa E4 – Eficiência Energética e
Energias Endógenas, programa necessário e urgente para Por tugal,
dado o domínio do petróleo nas fontes primárias da energia, a elevada
factura energética externa e as restrições ambientais agravados pelos
usos ineficientes da energia de origem fóssil.
O E4 representa um vasto e coerente pacote de medidas que ficou,
assim, delineado para o futuro no horizonte de 2010, criando as
condições necessárias à transformação dos mercados da energia no
país, com plena inter venção dos sectores económico, tecnológico e
financeiro, designadamente para a promoção de projectos de ener-
gias renováveis e de eficiência energética.
Cer tamente que o impacte do E4 se tornará visível a breve trecho
nas diversas ver tentes da sua inter venção. No entanto, a confiança
no seu sucesso e o estímulo ao seu pleno desenvolvimento muito
beneficiarão de uma prática de informação transparente e coerente.
Por isso, se decidiu produzir e publicar este trabalho que, pela sua
simplicidade formal, procura oferecer o quadro de referência a par tir
da informação energética disponível para Por tugal no momento de
arranque do Programa E4.
Face à diversidade das fontes e dos tempos da informação disponibili-
zada, procurou-se compilar de forma crítica o que pareceria mais útil
ao ‘benchmarking’ necessário. Aí fica, pois, o ‘Energia Portugal 2001’
3
como instrumento do E4 no caminho agora iniciado.
Preâmbulo

Lisboa, 2 de Janeiro de 2002

Eduardo de Oliveira Fernandes

Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Economia


ÍNDICE
6 Prefácio

8 A PROCURA DE ENERGIA

10 Par te 1 – caracterização da procura

18 Par te 2 – dinâmica dos sectores consumidores e gestão da procura

18 O sector dos serviços


20 O sector doméstico
21 A problemática dos edifícios
23 O sector dos transportes
26 O sector industrial

28 A O F E R TA D E E N E R G I A

30 Parte 1 – a oferta convencional

30 Energia eléctrica
37 O gás natural
41 O petróleo e derivados
44 O carvão

46 Parte 2 - a oferta descentralizada

47 A cogeração

52 As energias renováveis
52 > A energia mini-hídrica
53 > A energia eólica
55 > A energia da biomassa
59 > A energia solar
5
63 > A energia geotérmica
64 > A energia das ondas Índice

66 A microgeração

70 O SECTOR ENERGÉTICO NA ECONOMIA NACIONAL

74 A ENERGIA E O AMBIENTE

78 O S D E S A F I O S PA R A A P R Ó X I M A D É C A D A

82 Anexos
83 Anexo 1
Resolução do Conselho de Ministros n.º 154/2001, de 19 de Outubro
89 Anexo 2
Lista de Diplomas do Programa E4
PREFÁCIO

Os grandes princípios que orientam as políticas energéticas dos


países desenvolvidos e que recolhem um amplo consenso nas institui-
ções internacionais (União Europeia, OCDE, Agência Internacional
de Energia) são: a segurança do abastecimento energético, com
eficiência e equidade; a garantia de condições de qualidade e de
preço para supor te da competitividade da economia; e a minimização
dos impactes sobre o ambiente em todas as fases e processos da
cadeia de conversão energética.
A aplicação destes princípios à situação concreta de cada país
reflecte, desde logo, o próprio estado de desenvolvimento económico
e social, já que os aspectos tecnológicos vencem hoje muito facil-
mente as barreiras das fronteiras políticas.
Aqueles princípios têm, necessariamente, tradução ao nível da acção
política concreta. Desse modo, embora com ponderações e ritmos de
execução distintos, são hoje identificáveis algumas linhas de
estratégia que orientam a inter venção dos poderes públicos dos
países mais industrializados e respectivos espaços económicos no
que respeita à energia.
A primeira linha de estratégia é, sem dúvida, o processo de liberali-
zação dos mercados energéticos, tendo em vista, antes de mais,
melhorar a eficiência das cadeias energéticas e, assim, aumentar a
competitividade da economia. Por tugal está profundamente envolvido
nesse processo, que decorre de forma coordenada com os seus par-
ceiros europeus e cujo objectivo final é o estabelecimento do mercado
único da energia, no qual qualquer consumidor poderá escolher livre-
mente, no espaço europeu, o seu fornecedor de ser viços energéticos.
Um passo inovador em que Por tugal tomou uma posição pró-activa é
o da criação do Mercado Ibérico da Electricidade, a funcionar a par tir
de 1 de Janeiro de 2003.
Uma segunda linha de estratégia consiste na diversificação dos abas-
tecimentos, quer em termos de fornecedores, quer em termos de
fontes de energia, tendo em vista, simultaneamente, tornar mais
eficaz e menos poluente todo o sistema. Portugal acompanha esses
processos de diversificação, nomeadamente por via da introdução
de gás natural e sua ligação à rede europeia. O gás natural dá
contributos positivos, em todos os objectivos de política enunciados:
ao diversificar, melhora a segurança de abastecimento; sendo uma
forma de energia mais barata, aumenta a competitividade da
economia; sendo genericamente menos poluente que os demais
combustíveis fósseis, reduz o impacte ambiental do sistema
energético.
Finalmente, a terceira linha de estratégia, que hoje recebe grande
unanimidade, diz respeito à necessidade imperiosa de aumentar
significativamente o desempenho ambiental dos sistemas energé-
ticos, como condição sine qua non para o desenvolvimento susten-
tável das sociedades humanas. Isso implicará, cada vez mais, o
desenvolvimento de acções muito determinadas no sentido da maxi-
mização da eficiência em todos os elos das cadeias energéticas
e o favorecimento do contributo das formas de energia renovável
no abastecimento energético.
A eficiência energética e o aproveitamento de energias renováveis,
enquanto instrumentos de atenuação da factura energética externa
por tuguesa e da melhoria ambiental de cada unidade energética
final disponibilizada ao consumidor, constituem, assim, as direc-
trizes da dinamização do sistema energético nacional. Assim o enten-
7
deu o Governo ao aprovar o Programa E4 (Eficiência Energética
Prefácio
e Energias Endógenas), instrumento político programático de
orientação e promoção de novas vias energéticas para o futuro,
sem esmorecer no esforço pela solução do gás natural lançada em
Por tugal no início da década de noventa.
Esta publicação tem por objectivo fazer um "retrato", necessaria-
mente sintético dada a multiplicidade de assuntos, mas elucidativo
e mobilizador para os desafios que se colocam ao sistema ener-
gético por tuguês. Ao tornar conhecidos e perceptíveis os dados esta-
tísticos mais relevantes sobre o sector energético, procura-se
constituir um documento de situação e disponibilizar um léxico,
acessível ao maior número de interessados no tema energia,
formando, assim, uma base de referência indispensável para a
avaliação progressiva do Programa E4.
A PROCURA DE ENERGIA
Parte 1 CARACTERIZAÇÃO DA PROCURA

Parte 2 DINÂMICA DOS SECTORES CONSUMIDORES E GESTÃO DA PROCURA

O sector dos serviços


O sector doméstico
A problemática dos edifícios
O sector dos transportes
O sector industrial

9
A procura de energia
Definição de energia final, energia

primária e energia útil

Energia final é a energia tal como ela é disponibili-

zada, nas suas várias formas (electricidade, com-

bustíveis, gás, etc.), às actividades económicas e às

famílias, contrariamente à energia primária, que

é a energia tal como entra no sistema energético.


Parte 1
A energia primária sofre transformações para dar
caracterização da procura 1
origem à energia final (por exemplo, o car vão - ener-

10 gia primária - pode produzir electricidade - energia


A procura de energia

final). Como essas transformações têm sempre

rendimento inferior à unidade, a energia primária

é sempre maior que a energia final que lhe corres- Nas últimas duas décadas e, em par ticular, após a
ponde. Por exemplo, se uma central eléctrica tiver entrada de Por tugal na União Europeia, a procura de
um rendimento de 40%, isso significa que por energia nacional tem tido uma dinâmica for temente
cada 100 unidades de energia primária entrada crescente. Por tugal foi, aliás, o país da União Europeia
na central (por exemplo car vão), apenas se obtêm com taxas de crescimento da procura de energia final
40 unidades de energia final (energia eléctrica). Este mais significativas naquele período.
mesmo raciocínio é também aplicável às trans- Na década de noventa, a procura de energia final em
formações que sofre a energia final no utilizador, Portugal cresceu a uma taxa sustentada de cerca de 4,5%
para que este disponha da energia de que carece ao ano, de que resultou um crescimento da procura de
(energia útil) sob a forma, por exemplo, de calor, energia final de 50% entre 1990 e 1999 2. A título compa-
energia motriz, iluminação. rativo, para o conjunto dos 15 Estados-Membro da
União Europeia a taxa média de crescimento da procura
de energia final foi, entre 1990 e 1998, da ordem de 1%
Notas ao ano.
1- Neste capítulo foram utilizadas três fontes Uma análise desagregada por sector consumidor (figura
bibliográficas para informação quantitativa: os balan- 1) revela que todos os sectores de actividade tiveram
ços energéticos publicados pela Direcção Geral de for te crescimento da procura de energia entre 1990 e
Energia (DGE) e pelo EUROSTAT, para compara- 1999. Destacam-se os sectores dos transpor tes e dos
ções internacionais, e as publicações da Entidade ser viços, que aumentaram o seu consumo de energia final
Reguladora do Sector Eléctrico (ERSE), para alguma em mais de 68% e 85%, respectivamente.
informação específica sobre o sector.

2- Os números provisórios, disponíveis para 2000,

indicam que a tendência se mantém inalterada, no

que diz respeito à procura de energia final. Fig. 1 - Consumo de energia final por sector consumidor (Fonte: Direcção

Geral de Energia)

20 000

15 000 Outros
Serviços

Doméstico

10 000

Transportes
5 000

0 Indústria

Ktep 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
1: Ktep = 1000 tep
Quadro 1 - Variação do consumo de energia final, por sector de actividade

Sector Va r i a ç ã o 1 9 9 0 – 1 9 9 9 Crescimento médio

anual

Total 49,2% 4,5%

Indústria(*) 30,5% 3,0%


Definição de tep
Transpor tes 68,6% 6,0%
tep: tonelada equivalente de petróleo.
Doméstico 38,1% 3,7%
Para efeitos de contabilidade energética é neces-
Ser viços 85,8% 7,1%
sário conver ter para a mesma unidade os consumos
Outros(**) 39,1% 3,7%
e/ou produções de todas as formas de energia.

A unidade usualmente utilizada para o efeito é a

tonelada equivalente de petróleo que, como o

nome indica, é o conteúdo energético de uma


(*) Indústria transformadora e extractiva, excluindo utilizações
tonelada de petróleo indiferenciado. A unidade de
de produtos energéticos como matérias primas industriais.
energia no Sistema Internacional de Unidades é o
(**) Agricultura, pescas e construção e obras públicas.
Joule (J). A relação entre as duas unidades é:

1 tep = 41.86x10 9 J

No caso da energia eléctrica, usualmente contabili-

zada em "kilowatt hora" (kWh), a relação entre as

duas unidades é a seguinte: 11


1 tep = 11 628 kWh
A procura de energia

Como consequência desta evolução, a estrutura do con- Notas

sumo de energia final alterou-se significativamente, 3- O leitor poderá encontrar documentos que refe-

durante a década de noventa. O sector dos transpor tes rem que a indústria permanece o maior consumidor

tornou-se o maior consumidor 3


tendo, a par do sector de energia no país. Esse equívoco deve-se ao facto

dos ser viços, aumentado o seu peso relativo no consumo de, por vezes, os consumos energéticos da indús-

de energia final em 1999 (figura 2). tria virem acrescidos dos consumos de produtos

energéticos como matérias primas industriais – por

exemplo nafta para a petroquímica. Uma vez dedu-

zidos esses consumos, que não são efectivamente

consumos energéticos, chegar -se-á à conclusão

referida no texto.
doméstico
14% outros
9%
serviços
7%

indústria
transportes
37%
33%

12
A procura de energia

1980 Figura 2 - Peso dos sectores consumidores no consumo de energia final

(Fonte: Direcção Geral de Energia)

doméstico
13%
outros
8%
serviços
9%
transportes indústria
38% 32%

Na União Europeia, durante o mesmo período, o sector


dos transpor tes registou igualmente for te crescimento
1999
do consumo de energia, enquanto a tendência geral foi
para a estabilização, ou mesmo redução, de consumos
no sector industrial e para aumentos moderados nos
sectores residencial e ser viços.
A análise da procura revela a tradicional dominância dos
produtos de petróleo no perfil da procura de energia final
(figura 3), cujo contributo se aproximou dos 70%, durante
toda a década. Os produtos derivados de petróleo usados
como energia final são os combustíveis, líquidos ou sóli-
dos e também a electricidade produzida a par tir destes.
A procura de energia eléctrica cresceu cerca de 64%
entre 1990 e 2000, o que corresponde a uma taxa média
da ordem dos 5% ao ano. Como esta taxa de crescimento
é ligeiramente superior à taxa de crescimento global da
procura, a energia eléctrica tem vindo a aumentar o seu
peso na satisfação da procura, tendo atingido mais de 20%
do consumo de energia final em 2000. A rubrica "outros",
que em 98 representou quase 7% do consumo de energia
final, refere-se sobretudo ao consumo de lenhas e resí-
duos, que em Por tugal têm um peso significativo, nos sec-
tores doméstico e industrial.
18 000

16 000
Outros
Gás Natural
14 000

12 000 Electricidade

10 000

8 000

6 000

4 000

2 000
Petróleo
0 Carvão

Ktep 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Fig. 3 - Consumo de energia final por forma de energia (Fonte: Direcção

Geral de Energia)

Na figura 4 4 está indicada a evolução que sofreu a ener-


gia primária necessária para satisfazer a procura final do
sistema energético por tuguês.

25 000

Outros
20 000 Gás Natural
Electricidade

15 000

10 000

5 000
Petróleo

0 Carvão

Ktep 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

13
Fig. 4 - Consumo de energia primária (Fonte: Direcção Geral de Energia)

A procura de energia

O consumo de energia primária cresceu a uma taxa média


de 4,5% ao ano, entre 1990 e 1999. O petróleo foi a
forma de energia claramente dominante no abastecimento
do país. O seu crescimento acompanhou a evolução do
consumo de energia primária, pelo que manteve um contri-
buto sempre próximo dos 70%. Em 1999 o gás natural
Notas
representava já per to de 9% do abastecimento em ener-
4- Também na energia primária se excluem os
gia primária, fruto de um rápido crescimento a par tir
consumos como matérias primas, nomeadamente
de 1997, data do início do aprovisionamento do país com
para a indústria petroquímica.
esta forma de energia.
14
A procura de energia

Em Por tugal não se regista actualmente exploração de


qualquer produto energético com origem fóssil. Os recur-
sos conhecidos são constituídos por car vão de baixa
qualidade e não competitivo com o car vão impor tado.
Consumo de lenhas e divergências Toda a produção nacional de energia no ano 2000
estatísticas assenta em fontes renováveis. A contribuição nacional
O consumo de lenhas e resíduos ocorre essen- para o abastecimento energético surge nas rubricas
cialmente nos sectores industrial e doméstico. "electricidade" e "outros", da figura 4. A primeira referese
No primeiro, essas matérias primas são utilizadas fundamentalmente à hidroelectricidade nacional 5 , que
para produzir calor ou, conjuntamente, calor e elec- tem variações muito pronunciadas de ano para ano, uma
tricidade. Os quantitativos em causa são bastante vez que a produção depende das afluências hidrológicas.
bem conhecidos. Em contrapartida, no sector domés- No período em análise, esse contributo variou entre
tico, par te das lenhas e resíduos consumidos não menos de 3% do consumo de energia primária, em 1999,
passa pelos circuitos comerciais convencionais, e cerca de 7,7% em 1996, ano par ticularmente húmido.
pelo que essas quantidades só podem ser obtidas Na rubrica "outros" agrupa-se um conjunto variado de
por estimativa, com base em inquéritos às famílias. contribuições, das quais assume relevância estatística o
O leitor encontrará diferenças entre os Balanços das "lenhas e resíduos", cujo contributo para a energia
Energéticos Nacionais e os do Eurostat, nos quanti- primária foi estimado em cerca de 11%, no período em
tativos desta forma de energia. Tal resulta de os análise (ver caixa sobre consumo de lenhas e divergências
Balanços Nacionais apenas considerarem as esti- estatísticas). Assim, a produção de energia a par tir de
mativas das lenhas e resíduos que passam em cir- fontes endógenas variou entre cerca de 14% e 19% da
cuitos comerciais, cujo valor se estimou em cerca energia primária consumida no país.
de 1100 ktep/ano, enquanto o Eurostat considerou É de notar que há energias primárias, como a energia
uma estimativa de todas as lenhas e resíduos consu- solar, que podem ser usadas directamente pelos consu-
midos, apontando para quantidades entre cerca midores sem qualquer transformação, como é o caso
de 1800 ktep, em 1990 e cerca de 2400 ktep, do chamado aquecimento solar passivo ou da ilumi-
em 1998. Os 11% referidos no texto têm por base nação natural. Isto, para além da própria circulação
a estatística Eurostat. do ar atmosférico, como instrumento de ventilação e
da própria temperatura do ar. Esta última enquanto
expressão de uma energia gratuita que reduz as neces-
sidades de aquecimento para valores muito inferiores
Notas aos que se encontram na generalidade dos países
5- Durante a década de noventa a energia eléctrica nossos parceiros na UE. Todas essas energias podem
produzida por outras renováveis, nomeadamente ser melhor aproveitadas e, de facto, não têm um custo
eólica, não teve expressão estatística, em termos associado à sua utilização. Por conseguinte, também
de grandes números, como os que aqui se repre- não aparecem nos balanços energéticos. A sua não
sentam. contabilização em termos convencionais, porém, não
deve autorizar a que a sua relevância e o potencial da sua
utilização sejam ignorados ou simplesmente desvalorizados.
Na década de noventa Portugal importou sempre mais de
80% da energia primária que consumiu e foi, a seguir ao
Luxemburgo, que depende do exterior em quase 100%, o
país da União Europeia com maior dependência energética
externa. Os movimentos de importação e exportação de
electricidade têm tido pouca expressão mas é de crer que,
com o desenvolvimento do Mercado Ibérico da Energia, a
iniciar em 2003, haja lugar a fluxos mais significativos.

100

80

60

40

20
1990

1998
0

% da energia primária Portugal Espanha Irlanda Holanda Média UE

Fig. 5 - Dependência externa (Fonte: EUROSTAT)


15

A procura de energia

O for te crescimento do consumo de energia primária,


num contexto de população estabilizada, como o que se
verifica em Por tugal, levou a que o consumo per-capita de
energia aumentasse mais de 34% entre 1990 e 1998.
Foi o maior crescimento deste indicador em toda a União
Europeia. No entanto, Por tugal permanece o país da UE
com menor consumo de energia por habitante. Isto não
acontece por Por tugal ser um país par ticularmente efi-
ciente e também não só por razões positivas ligadas ao
clima mas, sobretudo, porque Por tugal não atingiu ainda
as condições de confor to e de posse de equipamentos
típicos dos países mais desenvolvidos.
6

5
16
A procura de energia

Média Mundial
1
em 1998

0
1990
tep Portugal Espanha Irlanda Holanda Média UE EUA
1998

Fig. 6 - Consumos de energia primária por habitante (Fonte: EUROSTAT;

site BP: www.bp.com)

O consumo de energia num país depende de um conjunto


variado e complexo de determinantes, que inclui aspectos
tão diversos como os preços da energia, o clima, os hábi-
tos de consumo e comportamento dos cidadãos, o peso
relativo dos vários sectores de actividade e, naturalmente,
o nível global de actividade económica, medido pela riqueza
produzida no país.
É usual aferir a eficiência do "factor energia" pela razão
entre o consumo de energia primária e o Produto Interno
Bruto do país. Esse indicador, usualmente designado
“intensidade energética do PIB”, toma valores muito desfa-
Notas voráveis em Portugal, quando comparado com os restan-
6- Em Por tugal a intensidade energética do PIB tes parceiros europeus. Entre 1990 e 1998 a intensidade
cresceu à taxa de 1,4% ao ano entre 1990 e 1998. energética do PIB teve o maior crescimento de todos os
No mesmo período houve outros países, individual- países da UE 6 , significando que a riqueza produzida no
mente considerados, com variações positivas do país, por unidade de energia consumida (produtividade da
indicador, por exemplo a Espanha teve um aumento energia), evoluiu negativamente, comparativamente com o
de 0,7% ao ano. No entanto, a UE, globalmente que se resistou nos países nossos parceiros. Em 1998,
considerada, reduziu este indicador a uma taxa apenas a Grécia mantinha um valor da intensidade energé-
de 0,7% ao ano entre 1990 e 1998. tica do PIB mais elevado que Portugal.
400

300

200

100

1990

1998
0

tep/ MEuro Portugal Espanha Irlanda Holanda Média UE

Fig. 7 - Intensidade energética do PIB (Fonte: EUROSTAT)

Em vários países da União Europeia verificou-se a evolu-


ção contrária. O caso Irlandês é paradigmático: graças à
reestruturação da actividade económica, com deslocação
para actividades de alto valor acrescentado e baixo con-
sumo energético, como as tecnologias da informação e
comunicação, aquele país reduziu sustentadamente a
intensidade energética do PIB a uma taxa de 4,2%
ao ano, entre 1990 e 1998. 17

A procura de energia
18
A procura de energia

Parte 2
dinâmica dos sectores
consumidores e gestão da procura 7

o sector dos serviços

Utilização da ener gia eléctrica no O sector dos ser viços foi o sector consumidor que
sector dos serviços evidenciou maior taxa de crescimento do consumo
Estima-se que a energia eléctrica contribua em energético entre 1990 e 1999 (ver quadro 1). Como este
cerca de 65% para o abastecimento energético do sector se caracteriza por uma elevada penetração da
sector dos ser viços. No entanto, dada a heteroge- energia eléctrica no seu abastecimento energético, foi o
neidade do sector, essa contribuição pode variar principal responsável pelo grande crescimento do con-
desde cerca de 45% em hospitais, até quase 100% sumo dessa forma de energia final em Por tugal. Como
nas grandes superfícies comerciais. Nestes dois consequência, o peso do sector no consumo total de
casos, a situação é par ticularmente favorável ao uso energia eléctrica passou de cerca de 19%, em 1980,
da cogeração já que o elevado uso de electricidade para 31% em 1999.
coincide com for te procura de calor e frio para fins

de climatização e outros.
serviços
19% doméstico
27%

agricultura
agricultura
2%
1%

indústria doméstico
serviços
58% 22% indústria
31%
40%

Notas

7- Informação quantitativa sobre o sector dos

transpor tes obtida junto do Instituto Nacional de 1980 1999

Estatística (INE) e junto da Entidade Reguladora


Fig. 8 - Distribuição do consumo de energia eléctrica por sector (Fonte:
do Sector Eléctrico (ERSE) sobre o uso da energia
Entidade Reguladora do Sector Eléctrico)
eléctrica nos outros sectores de actividade.
Consumos de energia no sector de

serviços: hotéis e grandes super fí-

cies comerciais

Estudos recentes neste sector 8 ajudaram a um

melhor conhecimento das fontes de energia final

e dos valores da procura, bem como à desagrega-

ção desta por utilizações finais.

Por exemplo, no caso do sector hoteleiro, o estudo

incidiu sobre uma amostra de 60 hóteis (4 e 5 estre-

las) do Continente e Ilhas, verificando-se uma gama de

consumos específicos finais muito dispersa (ver figura

abaixo), entre os 50 e os 600 KWh/m 2.ano (4 estre-

las) e 290 KWh/m 2.ano (5 estrelas).

14

12

10 Gama de consumos de energia final

8 dos hotéis de 4 e 5 estrelas


6

4
4 estrelas
2
5 estrelas
0

n.º de Hoteis 50 100 150 200 250 300 350 mais


a 100 a 150 a 200 a 250 a 300 a 350 a 400 de 400 kWh/m2.ano

Verifica-se que a energia eléctrica corresponde, em

média, a cerca de 45 % dos consumos, enquanto as

utilizações finais a que correspondem os maiores

consumos energéticos são o aquecimento e arrefeci-

mento ambiente (cerca de 30% a 35%), seguindo-se

as águas quentes sanitárias (10 a 18%), cozinhas

(16 a 18 %), iluminação e lavandarias.

Esse acentuado crescimento do consumo de energia, em Grandes superfícies comerciais


par ticular de energia eléctrica, resultou da conjugação
de três factores: i) o crescimento da própria actividade Os hipermercados e outras grandes superfícies
económica do sector; ii) níveis de exigência e critérios comerciais correspondem a outra tipologia de edifí-
de qualidade crescentes no exercício das actividades e, cios de ser viços, onde se verificam os maiores con-
sem dúvida, iii) marcadas ineficiências nos sistemas con- sumos energéticos e da mesma ordem de grandeza
sumidores, quer dos equipamentos, quer dos edifícios. 19
dos hotéis (entre os 240 e os 300 kWh/m 2 por
Efectivamente, o valor acrescentado do sector cresceu a um ano). Neste caso estes consumos são sobretudo A procura de energia

ritmo superior ao total nacional, como reflexo da chamada eléctricos (98% a 99%) e as utilizações finais mais
"terciarização da economia". Efectivamente, o peso do VAB importantes são, no caso dos centros comerciais, a
do sector dos serviços, que em 1980 representava 51%, climatização, com cerca de 70% e a iluminação,
tem aumentado continuamente, tendo ultrapassado os 60% com 20%. No caso dos hipermercados o frio indus-
em 1998. Por outro lado, este sector tem evidenciado uma trial é preponderante, com cerca de 35%, enquanto
elasticidade do consumo de energia eléctrica relativamente o ar condicionado e a iluminação têm a mesma
ao valor acrescentado de 2, no longo prazo. Isso significa ordem de grandeza (30 %).
que, por cada acréscimo de 1% no valor acrescentado, o
consumo de energia eléctrica cresce 2%. Este valor elevado Notas

da elasticidade, pode ser indicativo da existência de uma 8- Condições de utilização de energia e segurança

larga margem para a melhoria da eficiência na utilização da dos principais equipamentos energéticos na hotela-

energia final no sector. ria, ADENE, 1999.


Etiquetagem ener gética e níveis mínimos de

eficiência ener gética

No sector doméstico, os electrodomésticos originam cerca de

80% do consumo de energia eléctrica e a iluminação 15%. Os

equipamentos existentes no mercado têm desempenhos energé-

ticos muito diferentes para a mesma função, o que evidencia um

for te potencial de melhoria da eficiência energética no sector.

Para transformar o mercado, no sentido de uma maior eficiência

energética, é necessário: fomentar a utilização de equipamentos

eficientes existentes no mercado e estimular o aparecimento de

20 produtos mais eficientes, através do investimento em investigação


A procura de energia

e desenvolvimento.

Para o efeito, existe um conjunto de instrumentos políticos,

alguns dos quais já em aplicação em Por tugal:

- A etiquetagem energética contribui para o primeiro objectivo aci-

ma enunciado, ao influenciar a escolha dos consumidores, forne-

cendo informação sobre o desempenho dos equipamentos. A eti-

quetagem energética de electrodomésticos está consagrada numa

directiva quadro europeia, e nas subsequentes directivas para ca-

da tipo de equipamento. De momento, a etiqueta aplica-se em fri-

goríficos e congeladores (desde 1994), máquinas de lavar roupa,

secadores de roupa, máquinas de lavar louça e lâmpadas, estando

prevista a sua aplicação a outros equipamentos, nomeadamente

fornos eléctricos, termoacumuladores e aparelhos de ar condicio- o sector doméstico


nado. A etiqueta (ver exemplo para frigoríficos na figura abaixo) é

baseada em categorias pré-definidas, variando entre a categoria A

(melhor índice de eficiência energética) e G (pior índice). A afixação No sector doméstico, a procura de energia tem
é obrigatória em todos os equipamentos abrangidos, o que facilita acompanhado o crescimento global do consumo
a penetração dos equipamentos mais eficientes mas não permite, de energia - pese embora alguma incerteza devido
por si só, a eliminação dos menos eficientes. à for te penetração das lenhas -, de modo que
- Os níveis mínimos de eficiência energética têm o peso do sector doméstico no consumo final
por objectivo eliminar do mercado os equipamen- de energia se tem mantido aproximadamente
tos menos eficientes. Trata-se de um instrumen- constante, em torno dos 13%.
to de carácter obrigatório, aplicando-se desde já No entanto, tem-se verificado uma alteração
a frigoríficos e congeladores, a caldeiras para estrutural na procura de energia do sector, com
aquecimento de águas, e, mais recentemente, a reforço da penetração da energia eléctrica, cuja
balastros para lâmpadas fluorescentes. Os níveis procura tem crescido a taxas médias anuais
mínimos de eficiência energética para os frigoríficos superiores a 7%. Como consequência, em 1999,
e congeladores são baseados na etiqueta energé- o sector era já responsável por cerca de 27% da
tica, correspondendo à eliminação do mercado da energia eléctrica consumida, contra os cerca de
maioria dos produtos das classes D, E, F e G. 22% em 1980 (vide figura 8).
Em Portugal, o consumo de energia eléctrica no
Exemplo de etiqueta energética para frigoríficos sector doméstico tem uma elasticidade unitária
com o consumo privado que, por sua vez, depende
Outra iniciativa que merece referência é a do Sistema Europeu de directamente do rendimento disponível das famí-
Informações sobre Electrodomésticos, que envolve 12 países da lias. O crescimento sustentado deste indicador,
União Europeia. A versão portuguesa está disponível desde Outubro com forte impacto na posse e utilização de apare-
2001 em www.eais.eu.com. Com este sistema, baseado na etiqueta lhos consumidores de energia, tem sido certa-
energética europeia, o consumidor poderá obter informações sobre mente um dos motores da dinâmica da procura de
parâmetros funcionais, energéticos, ambientais e financeiros dos energia eléctrica no sector. O outro reside, como
principais electrodomésticos disponíveis no mercado. A procura

de produtos mais eficientes é, assim, estimulada, contribuindo para

um melhor diálogo entre fabricantes, distribuidores e consumidores.


identificado, na enorme multiplicidade de pequenas e Consumos energéticos no sector

grandes ineficiências resultantes quer dos próprios equi- doméstico

pamentos consumidores utilizados no sector, edifícios Os consumos médios neste sector, correspondem

incluídos, quer dos procedimentos e hábitos de utilização às utilizações para iluminação e electrodomésticos

desses equipamentos. É necessário ter presente que este (cerca de 25%), águas quentes sanitárias e cozi-

sector cobre um universo de mais de 5 milhões de consu- nhas (50%) e aquecimento e outros (25%). Destes

midores, existindo alguma inércia na adopção de padrões valores revela-se a impor tância que opções familia-

eficientes de consumo de energia devido, não só, a razões res podem ter nos consumos energéticos do país.

compor tamentais dos consumidores, como também ao A necessidade dos novos electrodomésticos mais

período necessário para a substituição dos equipamentos eficientes bem como iluminação de menor consumo,

e progressiva recuperação dos edifícios. são medidas impor tantes a incentivar (ver caixa

sobre etiquetagem).

O caso do aquecimento de águas é outra das

ver tentes, na qual a energia solar pode ser muito

a problemática dos edifícios impor tante nos próximos anos. De referir aqui a

recente iniciativa do Ministério da Economia no

âmbito do Programa E4, ao lançar o Programa

A qualidade dos edifícios e o confor to associado têm "Água Quente Solar para Por tugal", perspectivando

aumentado ao longo do tempo, particularmente nos últi- o objectivo de um milhão de m 2 de colectores sola-

mos anos. Casa de banho, esgotos, água corrente quente res em 2010.

e fria, fontes energéticas directamente disponíveis, tem- Os consumos dedicados neste sector ao confor to

peratura e humidade relativa dentro de parâmetros de térmico (aquecimento e arrefecimento), sendo cres-
21
conforto e qualidade do ar, são comodidades que foram centes nos últimos anos, necessitam de uma espe -

postas à disposição dos utilizadores de edifícios, quer de cial atenção no futuro próximo por par te de todos A procura de energia

habitação quer de serviços. As comodidades em causa os agentes envolvidos. A necessidade de r ever os

traduzem-se num acréscimo de investimento e, em geral, actuais regulamentos térmicos dos edifícios, tornando-

num maior consumo de energia. -os mais exigentes, é uma medida que se impõe com

As acções que contribuem para a racionalização do con- a brevidade possível. Um outro passo decisivo será

sumo final de energia no sector, que vêm aliás contem- o da cer tificação energética dos edifícios como

pladas no Programa E4 (Eficiência Energética e Energias medida de qualidade, que, a ser assumida pelo mer -

Endógenas) aprovado pelo Governo em Setembro de 2001, cado, muito contribuirá para que os novos edifícios

podem dividir-se em três grupos: sejam menos consumistas.

Grupo I – Acções que condicionam a dimensão e o tipo de


sistema de climatização necessário (só ventilação, só
aquecimento ou só arrefecimento e eventualmente contro-
lo de humidade), devido ao efeito que têm na envolvente do
Regulamentação aplicada a edifícios

Desde 1991 está em vigor o Regulamento das Carac-

terísticas do Compor tamento Térmico dos Edifícios

(RCCTE), relativo ao próprio edifício (a envolvente) e,

desde 1992, o Regulamento dos Sistemas Energé-

ticos de Climatização de Edifícios (RSECE) 9, relativo

aos sistemas de climatização.

O RCCTE aplica-se a todos os novos edifícios sujeitos

22 a licenciamento, com algumas poucas excepções.


A procura de energia

Tem como objectivos, assegurar condições de con-

forto térmico, sem dispêndio excessivo de energia

em aquecimento e arrefecimento e ainda, garantir edifício. Neste grupo, incluem-se a regulamentação sobre
que a construção é isenta de patologias derivadas o compor tamento térmico dos edifícios e outras acções
de condensações. que incidem na qualidade térmica do edifício, como a eti-
Este regulamento, tem uma abordagem que tem em quetagem de edifícios, campanhas de informação do
consideração a especificidade climática do país, público com vista à melhoria da qualidade da envolvente
graduando os requisitos impostos em função do do edifício e campanhas com vista à aquisição de edifícios
clima. A título de exemplo, um edifício a ser cons- termicamente eficientes.
truído em zona fria (Trás-os-Montes - Zona I 3), terá Grupo II - Acções que influenciam directamente o
maiores exigências em termos de isolamento da desempenho do sistema de climatização. Neste grupo
envolvente do que um edifício a ser construído numa incluem-se a regulamentação sobre sistemas de clima-
zona menos fria ( Algar ve - Zona I 1). tização, a etiquetagem de equipamentos e sistemas,
O E4 contempla para breve, que o RCCTE sofra uma subsídios e incentivos fiscais na escolha dos sistemas
revisão e a publicação de um novo regulamento, com mais eficientes.
critérios mais exigentes. Grupo III - Acções que influenciam indirectamente o
O RSECE define um método de verificação da potência desempenho do sistema de climatização. Neste grupo
máxima admissível, quer de aquecimento quer de incluem-se a política dos preços da energia, campanhas
arrefecimento, e aplica-se a qualquer instalação em de informação do público para manutenção de correctas
que alguma dessas potências exceda 25 kW, ou condições interiores e para o uso e escolha do sistema de
quando a soma das duas potências exceda 40 kW. climatização.
O regulamento obriga a um conjunto de procedimen- Ao nível da União Europeia, os edifícios são os maiores
tos sobre o dimensionamento, construção, instalação, consumidores de energia (cerca de 40% da energia final),
comissionamento, manutenção, controlo e gestão de mesmo quando comparados com os sectores dos trans-
energia em sistemas de climatização em edifícios por tes e da indústria. Por outro lado, apesar dos pro-
tendo em vista, sob diversas perspectivas, a eficiên- gressos feitos em termos da qualidade da edificação e da
cia do uso da energia. eficiência na utilização da energia (por exemplo, as perdas
A revisão destes regulamentos, tornando-os mais efi- térmicas, em edifícios novos na UE, são cerca de metade
cientes energeticamente, terá um impacto positivo do que se verificava em edifícios anteriores a 1945), os
em termos dos consumos energéticos dedicados ao estudos demonstram que subsiste uma ampla margem de
conforto térmico, e consequentemente na redução do melhoria, em matéria de racionalização dos consumos de
consumo de combustíveis e de electricidade nos novos energia em edifícios, a nível europeu.
edifícios, ou nos edifícios sujeitos a remodelações. Tendo como objectivo explorar esse grande recurso e, con-
sequentemente, reduzir as emissões de gases percursores
do efeito de estufa associadas ao sector, a Comissão Euro-
Notas peia apresentou uma proposta de directiva especificamente
9- Este regulamento surgiu em 1992 com a designa- destinada à melhoria da eficiência energética em edifícios,
ção de Regulamento da Qualidade dos Sistemas cobrindo áreas de intervenção prioritárias: estabeleci-
Energéticos de Climatização de Edifícios (RQSECE) e foi mento de uma metodologia comum, a nível europeu, para o
revisto em 1998, tendo adoptado a designação actual.
cálculo do desempenho energético de edifícios; estabe- Edifícios solar es passivos ou "ar qui-

lecimento de padrões mínimos de eficiência, para edifícios tectura bioclimática"

novos e para edifícios que sejam sujeitos a renovações; Nos últimos anos tem-se desenvolvido em Por tugal

estabelecimento de sistemas de cer tificação de edifícios a construção de edifícios designados por edifícios

e de informação ao público, com base nos padrões esta- solares passivos ou edifícios "bioclimáticos". Ambas

belecidos e das condições de confor to no interior de edi- as designações têm como princípio fundamental que

fícios de utilização pública; sistemas de inspecção obriga- a concepção arquitectónica e as opções construti-

tória de caldeiras e outros equipamentos de aquecimento vas e em termos de materiais utilizados tenha pre-

e arrefecimento de edifícios. sente a perspectiva da integração do edifício com o

ambiente, no respeito dos recursos naturais utiliza-

dos, sejam eles a paisagem, os materiais de rele-

vância ecológica ou a energia fóssil. Estes edifícios

o sector dos transportes utilizam a energia solar sob a forma de iluminação

natural e de calor solar directo ou indirecto, usando

processos naturais de captação (por envidraçados),

O sector dos transpor tes é o maior consumidor de ener- de armazenagem e de convecção para aquecer

gia final em Por tugal, tendo ultrapassado a indústria em ou arrefecer os edifícios.

1992, fruto de uma taxa de crescimento média que se O conceito integrador de arquitectura bioclimática,

mantém em cerca de 6% ao ano, desde 1985. Esta taxa em boa verdade, já era posto em prática na arquitec-

de crescimento do consumo de energia é a maior resis- tura tradicional dita ‘vernacular’, nomeadamente

tada nos países da União Europeia para o sector, e cerca mediterrânica. Só que hoje, o avanço dos conheci-

do dobro da taxa média europeia. mentos, nomeadamente, sobre os fenómenos térmi-

A dinâmica de crescimento fez com que os consumos no cos de média e baixa temperaturas, torna possível
23
sector em Por tugal se tenham aproximado rapidamente um compromisso vir tuoso entre a arquitectura, as

do consumo médio per capita da UE. Em 1985, na vés- tecnologias da construção e as modernas exigên- A procura de energia

pera da entrada na CEE, Por tugal tinha um consumo de cias do confor to ambiente, sem exacerbar o uso

energia no sector de cerca de 47% da média da UE, con- dos recursos naturais, em par ticular dos ener-

tra 78% em 1998. géticos. Os primeiros edifícios solares passivos

começaram a ser construídos em Por tugal no início

dos anos oitenta, sendo de referir o exemplo da

Casa Termicamente Optimizada no Por to, casa-labo-

ratório da iniciativa conjunta FEUP/LNETI, cujos

resultados foram de impor tância decisiva na con-

cepção da regulamentação térmica dos edifícios

existentes. Outros edifícios com carácter per feita-

mente comercial foram sendo promovidos de Nor te

a Sul do território.
1

0,8

0,6

24
0,4
A procura de energia

1985

1990
0,2
1996

1998
0

tep Portugal Espanha Irlanda Holanda Média UE

Fig. 9 - Consumo de energia "per capita" em transportes (Fonte: EUROSTAT)

Este for te crescimento dos consumos é explicado, sobre-


tudo, pelo crescimento explosivo do transpor te individual
de passageiros, secundado pela predominância do modo
rodoviário no transpor te de mercadorias. De notar, como
factor elucidativo, que a venda anual de automóveis ligei-
ros de passageiros triplicou em 15 anos.

300 000

250 000

200 000

150 000

100 000

50 000

unidades 1980 1985 1990 1999

Fig. 10 - Vendas anuais de automóveis ligeiros de passageiros (Fonte:

Instituto Nacional de Estatística)

Como consequência, em 1999, a taxa de motorização atin-


giu as 336 viaturas por mil habitantes – um automóvel por
cada três habitantes -, quando ainda em 1991 era de 183
veículos por mil habitantes – um veículo por cada 5,5 habi-
tantes. Simultaneamente verificou-se uma redução, em ter-
mos absolutos, da utilização do peso do transporte colectivo.
6 000

4 000

2 000 Rodoviário interurbano

Ferroviário Suburbano

Ferroviário de Longo Curso


0

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Fig. 11 - Milhões de passageiros por quilómetro transpor tado por modo

de transpor te (Fonte: Instituto Nacional de Estatística)

No transpor te de mercadorias, para compreender o peso


esmagador do modo rodoviário, bastará referir que, em
1999, o modo rodoviário transpor tou oito vezes mais
toneladas quilómetro que o modo ferroviário.
Os factores explicativos desta evolução do sector dos
transpor tes são variados. Houve um acelerado processo
de "convergência real", em matéria de taxas de motori-
zação e de consumos per capita neste sector, em par te
resultante do aumento do rendimento disponível das famí-
lias e de facilidades de acesso ao crédito. Também é do
senso comum que, em termos de desenvolvimento das
infraestruturas de transpor te, a aposta tem privilegiado
claramente o modo rodoviário em detrimento de outros,
energeticamente mais eficientes, como sejam o modo
ferroviário. É ilustrativo que, segundo estudos realizados, 25

a segunda razão mais invocada pelos condutores para A procura de energia

levar o carro para o local de trabalho, ou para o des-


tino típico, é a falta de alternativas para a deslocação.
A primeira razão é a necessidade da viatura como ferra-
menta de trabalho.
O sector industrial 10

26 Se a redução da impor tância relativa do sector industrial,


A procura de energia

no consumo de energia final nacional - ver figura 12 -


acompanha a evolução europeia, já a evolução do sector
em termos absolutos é distinta do que se verifica na
generalidade dos países da UE.
Na realidade, entre 1990 e 1998, Por tugal foi o país da
União Europeia onde, simultaneamente, se verificou a
maior taxa de crescimento do consumo de energia final no
sector e onde a intensidade energética do produto indus-
trial mais cresceu.
Para a globalidade da União Europeia, bem como para a
generalidade dos países, o acréscimo de valor acrescen-
tado industrial, medido pelo índice de produção industrial,
superou o acréscimo de consumo de energia final no
Notas mesmo período, de tal modo que ocorreram melhorias sig-
10- Informação quantitativa obtida no EUROSTAT. nificativas de intensidade energética industrial.

200

100

-100
Índice de Produção Industrial

Portugal Espanha Irlanda Holanda UE Consumo de Energia Final

Intensidade Energética Industrial

Exemplo irlandês

O caso mais extraordinário é o da Irlanda, onde o Fig. 12 - Variação do índice de produção industrial, consumo de energia

índice de produção industrial aumentou 128% entre final e intensidade energética industrial (Fonte: EUROSTAT)
1990 e 1998 e se verificou, simultaneamente, uma

redução do consumo de energia, de tal modo que a

intensidade energética do sector tinha em 1998

apenas 42% de seu valor de 1990. Naturalmente, Por exemplo, para a média da UE, o consumo de energia
tais variações na intensidade energética do produto final no sector foi praticamente o mesmo em 1990 e
industrial só são possíveis com profundas alterações 1998, apesar de o último ano ter um índice de produção
estruturais do perfil de especialização do sector industrial 11% superior ao primeiro. Assim, houve uma
industrial do país, como as que ocorreram na Irlanda. melhoria da intensidade energética do sector industrial
borracha
1%

madeira metalo-electro-mecânicas
3% 4%

vestuário outras têxtil


1% 3% 8%

alimentação papel
europeu, enquanto em Por tugal esse indicador ter-se-á siderurgia
11% 9%
5%
"degradado" cerca de 18% no período.
Par te da explicação para essa evolução negativa na inten- metalúrgica
1%

sidade energética do produto da indústria por tuguesa,


quando comparada com a média europeia, resultará do
facto de, em Por tugal, as actividades mais dinâmicas con-
tinuarem a ser as mais intensivas em energia, como ci-
mento, cerâmica e vidro, metalomecânica e papel, contra-
riamente ao que se verifica em alguns países da UE, onde
os sub-sectores de elevado valor acrescentado e baixo
consumo energético têm apresentado grande dinamismo. cimento
19% química
11%

vidro
5%
Fig. 13 - Consumo de energia final na indústria transformadora em

1999 (Fonte: Direcção Geral de Energia) cerâmica


19%

O Regulamento de Gestão do Con -

Efectivamente, a distribuição dos consumos de energia sumo de Energia (RGCE)

final no sector da indústria transformadora revela que os Em 1982, como reacção à crise energética resul-

sub-sectores da cerâmica e dos cimentos são os maiores tante do segundo choque petrolífero, foi criado o Re-

consumidores com, respectivamente, cerca de 20,5% e gulamento de Gestão do Consumo de Energia

18,5% do consumo de energia final do sector em 1999. (RGCE), visando promover a melhoria da eficiência

O que revela que quase 40% do consumo do sector está energética em todos os sectores de actividade. Foi a

concentrado em dois sub-sectores, onde a energia tem primeira experiência de regulamentação nesta área,

um grande peso como factor produtivo. Seguem-se os que se mantém ainda em vigor. O RGCE aplica-se a

sub-sectores da alimentação e bebidas, química e plás- todas as empresas ou instalações, grandes con-

ticos, papel e produtos de papel e têxtil, com contri- sumidoras ou consumidoras intensivas de energia.

buições para o consumo de energia final entre os 11% O cumprimento do regulamento, que é obrigatório,

e os 8% do consumo total de energia na indústria. passa por um conjunto de procedimentos periódi- 27

Cer tamente que par te da evolução desfavorável registada cos, envolvendo a empresa abrangida e a Direcção A procura de energia

na intensidade energética do produto industrial residirá Geral de Energia. Periodicamente devem ser elabo-

na própria ineficiência energética dos processos produti- radas auditorias energéticas, que ser vem de base à

vos, área que impor ta explorar no futuro. elaboração de planos de racionalização dos consu-

mos energéticos, que são acompanhados e monito-

rizados. Embora se aplique a todos os sector es de

actividade, pelas suas características, o RGCE terá

tido maior impacte no sector industrial. Neste

sector estão a cumprir o RGCE 473 empresas

que consomem anualmente cerca de 3,7 milhões de

tep. Isso significa que mais de metade do consumo

da indústria transformadora por tuguesa está sujei-

ta ao regime do RGCE. Nos planos de racionalização

apresentados por essas empresas previam-se

economias de energia da ordem dos 193 mil tep.


A O F E R TA D E E N E R G I A
Parte 1 A O F E R TA C O N V E N C I O N A L

Energia eléctrica
O gás natural
O petróleo e derivados
O carvão

Parte 2 A O F E R TA D E S C E N T R A L I Z A D A

A cogeração

As energias renováveis
> A energia mini-hídrica
> A energia eólica
> A energia da biomassa
> A energia solar
> A energia geotérmica
> A energia das ondas

A microgeração

29
A Ofer ta de Energia
30
A ofer ta de energia

Com objectivos meramente simplificativos pode dividir-se


a componente ofer ta do sistema energético em: energia
convencional, ou de produção centralizada, que inclui as
grandes fileiras energéticas – electricidade, combustíveis,
gás natural –; e energia de produção descentralizada,
na qual se incluem os sistemas de menor dimensão, de
produção ou transformação de energia, não totalmente
integrados nas grandes fileiras energéticas, mas rela-
cionando-se com elas – cogeração e fontes de energia
renováveis.

Parte 1
a oferta convencional

energia eléctrica

Organização do sistema eléctrico nacional >

Em termos de organização, o sistema eléctrico nacional (SEN)


é composto pelo sistema eléctrico de serviço público (SEP) e
pelo sistema eléctrico independente (SEI). Este subdivide-se
no sistema eléctrico não vinculado (SENV) e nos produtores
em regime especial (PRE).
O SEP é um sistema com características de serviço público,
definido pela obrigatoriedade de satisfação das necessidades
de energia dos clientes, uniformidade tarifária e planeamento
centralizado de longo prazo.
SEN
Sistema Eléctrico Nacional

ERSE
Entidade Reguladora do Sector Eléctrico

SEP SEI
Sistema Eléctrico de Serviço Público Sistema Eléctrico Independente

SEN V
Sistema Eléctrico Não Vinculado

Produtores Produtores Mini-Hídricas Outras Energias Cogeração


Vinculados Não Vinculados (até 10 MVA) Renováveis

Concessionária da RNT
(Rede Nacional de Transporte)

Distribuidores Distribuidores
Vinculados Não Vinculados

Clientes do SEP Clientes


Não Vinculados

Fig. 14 - Caracterização do sector eléctrico – Portugal continental (Fonte:

Entidade Reguladora do Sector Eléctrico)

O sistema tem como espinha dorsal a Rede Nacional de 31


A ofer ta de energia
Transpor te, operada pela Rede Eléctrica Nacional, S.A.
(REN), em regime de concessão do Estado, por um período de
50 anos. É a esta entidade que cabe toda a gestão técnica do
SEP, bem como o relacionamento comercial com produtores
vinculados, com distribuidores vinculados e com o SENV.
Os produtores do SEP estão vinculados ao sistema por
contratos de longo prazo e em exclusividade. O distri-
buidor vinculado obriga-se a comprar no SEP pelo menos
92% da electricidade de que necessita e apenas pode
vender a clientes do sistema público. Para efeitos de dis-
tribuição em baixa tensão, além da licença de distribuição
vinculada, deve possuir contrato de concessão com o
Município onde opera, uma vez que cabe a esta entidade
o direito de distribuição.
32
A ofer ta de energia

O sistema é sujeito a regulação económica independente,


pela Entidade Reguladora do Sector Eléctrico – ERSE, que
regula os aspectos económicos das actividades de pro-
dução, transpor te e distribuição no âmbito do SEP, bem
como as relações comerciais entre o SEP e o SENV.
O SENV funciona segundo a lógica de mercado, com base
em relações comerciais livremente estabelecidas entre as
par tes. Neste sistema, é livre a prática das actividades de
produção e distribuição em média e alta tensão e está
garantido o acesso à Rede Nacional de Transporte, mediante
tarifas reguladas.
A produção em regime especial (PRE) opera ao abrigo de
legislação específica, criada devido ao reconhecimento
dos benefícios, nomeadamente ambientais, dessa produ-
ção. Inclui a cogeração, a produção hidroeléctrica com
potência aparente instalada até 10 MVA e os restantes
produtores de energia eléctrica com base em energias
renováveis.

Infraestruturas >

Em termos de infraestruturas, o sistema eléctrico nacio-


nal é composto por um conjunto de unidades de produção
de energia eléctrica, uma rede de transpor te de energia
e uma rede de distribuição de energia eléctrica aos consu-
midores finais.
Interligação com Espanha
Cartelle

A. Lindoso
V. Furnas
Caniçada Salamonde Alto Rabagão
Touvedo
Chaves

Vila Fria Vila Nova

Oleiros Miranda
Guimarães
Ruivães
Riba D'Ave Picote

Maia Mogadouro Bemposta


Vermoim
Interligação com Espanha
Ermesinde Régua Valeira
Custóias Recarei Aldeadávila
T. Outeiro Turbogás
Carrapatelo Pocinho
Canelas
Crestuma-Lever 220 KV Interligação com Espanha
Torrão Valdigem Saucelle
Pocinho

Tabuaço

Estarreja Chafariz Sobral

Mourisca
Mortágua
Gouveia

Raiva Aguieira Caldeirão


Pereiros Vila Chã

Pombal

Cabril

Bouçã

Pracana Fratel
Batalha C. Bode

Zézere Pego
Rio Maior Fontaínhas Falagueira
Interligação com Espanha
Cedillo

Carregado
Qt. Grande
Fanhões

Sacavém
A. Mira
Seixal Porto Salvo
Carriche

Trajouce Pegões
Barreiro Qt.Anjo
F. Ferro
Caparica Palmela
60 KV Fogueteiro
Setúbal
Évora

Setúbal

33
A ofer ta de energia
Sines
Ferreira Alentejo

Sines
Neves Corvo
central termoeléctrica

Ourique
posto de seccionamento

central hidroeléctrica

subestação de transformação

150 KV
Estoi
Tunes
220 KV

400 KV

Fig. 15 - Principais infraestruturas de produção e transpor te de energia

eléctrica. (Fonte: Entidade Reguladora do Sector Eléctrico)


34
A ofer ta de energia

A produção de electricidade >>

A produção de electricidade reparte-se por duas grandes


áreas ou grupos de tecnologias: a produção por via hídrica
e a produção por via térmica. A primeira inclui cerca
de 140 centrais de dimensões muito variadas, desde
os grandes aproveitamentos, com centenas de MW de
potência instalada, como por exemplo o Alto do Lindoso
(630 MW), Miranda do Douro (363 MW) e Castelo do
Bode (139 MW), até muito pequenos aproveitamentos de
menos de 1 MW. A produção por via térmica recorre
basicamente a quatro combustíveis de origem fóssil
distintos: carvão, gás natural, fuelóleo e gasóleo. Também
aqui as dimensões são muito variadas, desde as pequenas
instalações de cogeração até às grandes centrais:
Carregado (fuelóleo e gás natural), Sines (carvão), Pego
(carvão) e Tapada do Outeiro (gás natural).
A potência instalada no sistema eléctrico nacional tem
aumentado continuamente. O SEP teve um crescimento
regular da potência instalada, quer térmica quer hídrica.
A potência hídrica assumiu valores ligeiramente superio-
res até 1985 e a térmica passou a dominar desde essa
data. A par tir de 1992 verifica-se um crescimento rápido
da capacidade instalada de produtores em regime espe-
cial, em par ticular de cogeração.

12

Eólica - PRE
10 Mini-Hídrica - PRE
Cogeração - PRE
Hídrica - SENV
8

4 Térmica - SEP

0 Hídrica - SEP

GW 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998

Fig. 16 - Evolução da potência eléctrica instalada em Por tugal

Continental (Fonte: Entidade Reguladora do Sector Eléctrico)


hídrica - SENV
13%

cogeração - PRE
11%

mini-hídrica - PRE
2%
térmica - SEP
49%
eólica - PRE

Em 1999 a potência instalada atingiu cerca de 10,5 GW 11 , <1%

repartida pelos três sistemas e por vários grupos de tecno- hídrica - SEP
35%
logias (figura 17).

Fig. 17 - Potência instalada em 1999 (Fonte: Entidade Reguladora do

Sector Eléctrico)

Em termos de energia eléctrica produzida, verifica-se uma


clara dominância da produção por via térmica do SEP a partir
de meados da década de oitenta, atingindo valores máximos
em anos particularmente secos como 1992, em que 77% da
energia eléctrica produzida foi de origem térmica.

45 Eólica - PRE
40 Mini-Hídrica - PRE
Cogeração - PRE
35 Hídrica - SENV

30
25

20
35
15
A ofer ta de energia
10
Térmica - SEP
5
0 Hídrica - SEP

TWh 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998

Fig. 18 - Produção de energia eléctrica entre 1980 e1999 (Fonte: Enti-

dade Reguladora do Sector Eléctrico)

Em termos dos contributos das formas de energia primária


para a produção de energia eléctrica, está a ocorrer uma
alteração significativa com a progressiva substituição dos Notas

derivados do petróleo por gás natural, já evidente em 2000, 11- Giga Watt ou 1 000 MW, ou ainda mil milhões

quando comparado, por exemplo, com 1990 (figura 19). de Watt.


outros
3%

hídrica
16%

carvão
petróleo
40%
41%

36
A ofer ta de energia

Fig. 19 - Contribuições para a produção de electricidade em 1990 e


1990
2000. (Fonte: Direcção Geral de Energia)

petróleo
20% gás natural
17%

A contribuição da energia hídrica para a produção nacional


carvão
35%
hídrica
28%
de energia eléctrica varia significativamente, uma vez que
depende das afluências hidrológicas. Nas últimas duas
décadas essa contribuição variou entre cerca de 58% em
1985 e cerca de 17% em 1992, ano particularmente seco.
O sistema eléctrico nacional está organizado de modo
a que a base do diagrama de carga seja preenchido pelas
centrais térmicas (gás natural, carvão e fuelóleo), sendo a
modulação da carga (adaptação à procura) realizada pela
centrais hídricas (fios de água e albufeiras).
2000

O transporte e distribuição >>

A rede de transporte estabelece a interligação entre os


principais centros produtores e as redes de distribuição,
bem como a interligação com a rede eléctrica espanhola.
A rede é quase exclusivamente constituída por linhas aé-
reas, sendo utilizados três níveis de tensão: 400 kV, 220
kV e 150 kV (ver figura 15). Existe apenas um troço
subterrâneo, de cerca de 7km, no concelho de Loures,
operando a 220 kV. A capacidade máxima de interligação
com Espanha é, actualmente, de cerca de 3800 MVA.
As redes de distribuição têm a função de conduzir a elec-
tricidade das subestações da rede de transporte até às ins-
talações dos consumidores. É também à rede de distribui-
ção que estão ligados os centros produtores de menor
dimensão, nomeadamente os dos produtores em regime
especial. As redes de distribuição compreendem as redes
de alta tensão, a 60 kV, as redes de média tensão a 30 kV,
15 kV e 10 kV e as redes de baixa tensão a 400 e 230 V.
Com excepção de cerca de uma dezena de distribuidores,
com actividade muito localizada geograficamente, a acti-
vidade de distribuição de energia é assegurada pela
EDP – Distribuição Energia, S.A., criada em Fevereiro de
2000, como resultado da fusão de quatro empresas de
distribuição, do grupo EDP, que cobriam quatro áreas do
território continental. O consumo de energia eléctrica
permanece for temente concentrado, do ponto de vista
geográfico, ocorrendo sobretudo no litoral, com destaque
para as zonas for temente urbanas e industriais. De um
modo geral, pode dizer-se que 20% dos concelhos são
responsáveis por 80% do consumo total de electricidade.

o gás natural 12

O projecto de gás natural é complexo pois inclui um con-


junto variado de infraestruturas cujo objectivo último é 37
A ofer ta de energia
levar o gás natural ao maior número possível de consumi-
dores. O projecto tem como espinha dorsal o designado
"gasoduto de alta pressão". Trata-se de uma infraestru-
tura em "T deitado" (ver figura 20), que se inicia em
Sines 13 e tem duas ligações às infraestruturas equivalen-
tes em Espanha: uma em Tui, na Galiza, a par tir do
Minho, e outra em Campo Maior - Badajoz. Além disso, Notas

existem duas derivações para o interior de Por tugal, uma 12- Informação quantitativa e qualitativa obtida junto

em direcção a Viseu, outra em direcção à Guarda. Esta da Transgás.

infraestrutura é operada pela Transgás S.A., em regime 13- O troço Sines-Setúbal ainda não está construído

de concessão que, para além do transpor te em alta pres- e só entrará em funcionamento em 2004, em simul-

são, abastece ainda grandes consumidores na área de tâneo com a entrada em funcionamento do terminal de

influência do gasoduto. GNL (gás natural liquefeito) em Sines.


Fornecimento de gás
à Galiza e Astúrias

Valença

38 Viana
Bragança
do Castelo
Chaves
A ofer ta de energia

Braga

Vila Real

Porto

Viseu

Aveiro
Guarda

Sta. Comba Dão

Coimbra
Covilhã
Coja

Pombal
Castelo Branco
Leiria

Tomar

C. da Rainha

Portalegre
Santarém
T. Vedras

V. F. Xira
Fornecimento de gás
Loures
distribuição Portgás pelo Gasoduto da "Extremadura"
LISBOA
distribuição Lusitâniagás Pegões

Almada
distribuição Beiragás Marateca
Setúbal Évora
distribuição Tagusgás

distribuição Lisboagás Tróia Mourão

distribuição Setgás

área não concessionada

Beja
Sines
terminal de GNL

UAG em operação

UAG em estudo/ projecto

UAG em construção

armazenagem subterrânea em construção

central termoeléctrica

Alvor Portimão Vilamoura


Quarteira
Loulé
gasoduto em operação Olhão
Lagos Albufeira
gasoduto em estudo/ projecto Faro

Fig. 20 - Mapa do projecto do gás natural (Fonte: TRANSGÁS)


Sobre essa rede principal foram definidas e concessiona-
das, com base num concurso público, seis áreas de con-
cessão para distribuição de gás natural, atribuídas a
outras tantas empresas distribuidoras: Setgás para a
península de Setúbal, Lisboagás para a grande Lisboa a
nor te do Tejo, Lusitaniagás para o litoral centro, Por tgás
para o litoral nor te, Tagusgás para par te do Ribatejo e
Alto Alentejo e Beiragás para as regiões beirãs. Em cada
área de concessão, a distribuidora respectiva tem a res-
ponsabilidade de desenvolver e operar a rede de distri-
buição e comercializar o gás ao consumidor final.
Subsiste, no entanto, par te significativa do território
nacional fora das áreas de concessão, nomeadamente
todo o interior a nor te do Douro e o sul do país. Os consu-
midores destas zonas serão abastecidos por via das
chamadas unidades autónomas de regaseificação de gás
natural (UAG), dado que a sua baixa densidade populacio-
nal e os longos percursos envolvidos para atingir os clien-
tes tornam absolutamente inviável, numa primeira fase, a
extensão da rede principal.
As UAG são unidades alimentadas de gás natural lique-
feito, transpor tado em camião cisterna, onde se procede
à regaseificação do gás e à sua injecção em redes locais
autónomas. Existem quatro empresas que, em regime de 39
A ofer ta de energia
licença, estão a desenvolver os seus projectos de redes
locais de gás natural abastecidas por UAG: a Medigás
para o Algarve, a Paxgás para a região de Beja, a Dianagás
para a região de Évora e a Duriensegás para as regiões
de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Além do sistema de transpor te e distribuição de gás,
acima descrito, fazem par te do projecto de gás natural
o terminal de recepção de gás natural liquefeito, em cons-
trução em Sines, e a armazenagem subterrânea em cons-
trução no Carriço, concelho de Pombal.
O terminal de Sines permitirá receber gás natural no esta-
do líquido, de qualquer par te do mundo, em navios até
165 000 m 3 , regaseificá-lo, por um sistema de permuta
40
A ofer ta de energia

térmica com a água do mar, e injectá-lo na rede nacional


de alta pressão. Esta infraestrutura tem capacidade para
injectar na rede 300 000 m 3 por hora (450 000 m 3 em
condições de pico), ou seja cerca de 2 350 milhões de m 3
por ano.
A armazenagem do Carriço assenta em cavernas subter-
râneas aber tas no subsolo, em reser vas de salgema que
existem em abundância no concelho de Pombal.
Estas duas infraestruturas são fundamentais para a
garantia e segurança de abastecimento de gás ao país,
a primeira porque permite diversificar os fornecedores
e a segunda porque permite fazer face a irregularidades e
flutuações de abastecimento.
O abastecimento de gás natural a Por tugal começou em
Fevereiro de 1997, tendo como principal cliente a Turbo-

distribuidoras regionais
gás S.A., que iniciou, na mesma altura, a exploração da
15%
central de produção de energia eléctrica, baseada na tec-
nologia mais recente de turbina a gás de ciclo combinado,
grande indústria
produção de energia situada na Tapada do Outeiro, na região do Por to.
52%
33%

Fig. 21 - Consumos de gás natural em 2000 (Fonte: Galpenergia)

Em 2000 o gás natural já representou per to de 9% do


consumo de energia primária (ver fig. 4), dos quais mais
de metade foi utilizado para a produção de energia eléc-
trica. As estimativas apontam para um rápido crescimen-
to dos consumos de gás natural, par ticularmente no sec-
tor industrial e para produção de energia eléctrica, sendo
de esperar que esta forma de energia possa representar
entre 22 e 23% da energia primária em 2010.
7

3
Distribuidoras Regionais
2
Grande Indústria
1
Produção de Energia
0

1 0 12m 3 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fig. 22 - Projecções de consumos de gás natural (Fonte: Galpenergia)

o petróleo e derivados 14

Os produtos derivados da refinação de petróleo são as


formas de energia mais consumidas em Por tugal, quer Notas

como energia primária (ver figura 23), quer como energia 14- Informação quantitativa obtida nos balanços

final. A dinâmica de crescimento dos produtos de petróleo energéticos nacionais publicados pela DGE e na

tem sido for te em todos os sectores consumidores e Galpenergia.

extraordinariamente sustentada no tempo – mais de 4%


ao ano, desde 1973.
Além de representarem quase 100% da energia consu-
mida nos transportes, estes produtos são a forma de
energia mais consumida na indústria e, ainda no ano
2000, foram também matéria prima para quase 20% da
energia eléctrica produzida de Portugal. É expectável que
o peso dos produtos de petróleo no abastecimento ener-
gético do país diminua progressivamente, por via da sua
substituição por gás natural, quer na produção de electri-
cidade quer nos consumos industriais e domésticos.

41
17
A ofer ta de energia

gasolina
15

gasóleo

12 gasolina

aviação
gasóleo outros
resid./comerc.
9
aviação
gasolina
outros
resid./comerc. outros
gasóleo

aviação outros
6 gasolina outros
gasóleo resid./comerc. transportes
outros
aviação fuelóleo
pesado residencial/ comercial
outros
fuelóleo
resid./comerc. fuelóleo pesado
3 outros pesado
indústria e energia
fuelóleo
pesado
não energ. sectores não energéticos
não energ.
não energ. não energ.
outros outros outros outros outros sectores
sectores sectores sectores sectores
0

Mtep 1973 1980 1990 1998

Fig. 23 - Consumos de produtos de petróleo (Fonte: Agência Internacio-

nal de Energia - Por tugal 2000 review)


42
A ofer ta de energia

A decomposição dos consumos por sector consumidor


e por produto consumido, além do for te crescimento já
referido, mostra alguns aspectos relevantes.
O sector dos transpor tes, em termos globais, teve uma
maior componente de crescimento em consumos de gasó-
leo que de gasolina. Efectivamente, enquanto na década
de 70 se consumia gasolina e gasóleo em quantitativos
semelhantes, no ano 2000 o consumo de gasóleo foi
cerca de 2,2 vezes superior ao da gasolina. Os valores
provisórios para 2000 indicam que esse processo se
mantém, uma vez que, de 1999 para 2000, os consumos
de gasóleo aumentaram mais de 10%, enquanto os de gaso-
lina aumentaram cerca de 2%.
Por tugal tem, por razões históricas, uma for te compo-
nente de gases de petróleo liquefeitos (propano e butano)
no seu abastecimento energético. Durante a década de 90
estes produtos representaram tipicamente 7 a 8 % da tota-
lidade de produtos de petróleo para consumo final, ou seja
5 a 6% do consumo de energia final do país. Estes gases
são consumidos sobretudo no sector doméstico e na
indústria (apenas propano). Com a extensão do abasteci-
mento de gás natural à totalidade do território continen-
tal, o consumo de gases de petróleo liquefeito tenderá a
diminuir (de 1999 para 2000 houve já uma redução de
quase 10% no consumo desses produtos).
O sector é, em Por tugal, largamente dominado pelas em-
presas do grupo Galpenergia, que detém as maiores quo-
tas de mercado na generalidade dos produtos e é proprie-
tário da maioria das infraestruturas logísticas, nomeada-
mente a refinação e a armazenagem.
50

40

30

20

10 Gasolina

Gasóleo
0

% Galp BP/Mobil Shell Cepsa Repsol Esso Agip Total Outros

Fig. 24 - Quotas de mercado de alguns produtos petrolíferos (Fonte: Gal-

penergia)

A capacidade refinadora do país situa-se em torno de


15,2 milhões de toneladas por ano, repar tida entre
Matosinhos, com cerca de 31% dessa capacidade, e Sines
com os restantes 69%. Apesar dessa capacidade refina-
dora, Por tugal é um impor tador líquido de produtos refi-
nados, nomeadamente de gasóleo e de gases de petróleo
liquefeitos.
Por tugal assumiu compromissos internacionais quanto à
detenção de reser vas de combustíveis, quer no âmbito da
União Europeia quer no âmbito da Agência Internacional
de Energia, cujos membros, por razões de segurança,
devem possuir em permanência petróleo e produtos de
petróleo suficientes para 90 dias de consumo. Nos últimos
anos, desde a desactivação das infraestruturas existentes
na zona de inter venção da "Expo 98", tem sido feito
um grande investimento em tancagem, que hoje ascende 43
a cerca de 6,2 milhões de metros cúbicos de armazena- A ofer ta de energia

gem, afecta às refinarias e às reser vas.


Foi aprovado em Conselho de Ministros, no âmbito do
pacote legislativo do Programa E4, um diploma que consa-
gra a constituição de uma entidade pública empresarial,
com o objectivo de constituir par te das reser vas estraté-
gicas do país, designada Entidade Gestora de Reser va
Estratégica de Produtos Petrolíferos. Esta entidade pública
empresarial, sem fins lucrativos, assegurará, mediante
pagamento pelas empresas que colocam os produtos
de petróleo no mercado, par te das reser vas estratégicas
de produtos petrolíferos, que cabe, por lei, às empresas
petrolíferas assegurar.
44
A ofer ta de energia

o carvão

Com a entrada em funcionamento em 1985 da central de


Sines, que permanece a maior central do sistema eléctri-
co nacional, iniciou-se em Por tugal o ciclo da produção de
energia eléctrica com car vão. O objectivo foi, na sequela
dos choque petrolíferos, o de promover a diversificação
do abastecimento energético do país, que na altura era,
ainda mais do que hoje, for temente dependente do petró-
leo. Por outro lado, pretendia-se ainda tirar par tido da
maior estabilidade dos preços do carvão no mercado inter-
nacional, quando comparados com os preços do petróleo.
Procurava-se, assim, atingir o duplo objectivo de aumen-
tar a segurança de abastecimento energético, por via da
diversificação de fontes e origens das matérias primas
e diminuir a vulnerabilidade do sistema eléctrico nacional
às for tes flutuações de preço dos produtos de petróleo
nos mercados internacionais.
Essas razões permaneceram válidas durante a década de
noventa, o que levou à construção de uma segunda cen-
tral a car vão no Pego. No entanto, a opção pelo car vão
para a produção de energia eléctrica tem sido alvo de
contestação crescente por razões de natureza ambiental,
dado o car vão ser, dos combustíveis fósseis, o que tem
maior teor em carbono na sua composição, sendo por
isso o combustível que mais CO 2 produz por unidade de
energia disponibilizada na combustão.
Além da produção de energia eléctrica, nas duas centrais
referidas, os combustíveis sólidos foram consumidos em
Por tugal sobretudo na indústria cimenteira e na indústria
siderúrgica (coque). Com o encerramento do alto-forno da
Siderurgia Nacional e a sua substituição por um forno
eléctrico, o consumo de combustíveis sólidos ficará, no
futuro, restrito às duas primeiras aplicações referidas.
4 500
4 000
3 500
3 000
2 500 outros
2 000
siderurgia
1 500
1 000 cimentos
500 energia eléctrica
0

Kt e p 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Fig. 25 - Consumos de car vão (Fonte: Direcção Geral de Energia)

Ao longo da década de noventa obser vou-se alguma esta-


bilidade no consumo de combustíveis fósseis. O car vão
utilizado na produção de energia eléctrica passou de
cerca de 2 milhões de tep para valores entre os 2,5 mi-
lhões e os 3 milhões, na primeira metade da década,
resultante da entrada em exploração da central termoe-
léctrica do Pego. A par tir daí os valores não variaram
significativamente.
Efectivamente, as centrais a car vão, em par ticular a
central de Sines, são utilizadas na base do diagrama de
cargas, pelo que a sua produção não é muito afectada
pelas flutuações da procura de energia eléctrica. Por
exemplo, em 1998 as centrais a car vão trabalharam em
média 6 500 horas, enquanto os grupos a gás trabalha-
ram 4 000 horas, as hidroeléctricas a fio de água 3 950,
os grupos a fuelóleo 3 900 e as hidroeléctricas com albu-
feira 2 500 horas. Esta é também a ordem de entrada
Canadá
da respectiva tipologia de centrais no sistema, em função 45
4%
Venezuela A ofer ta de energia
do aumento da procura. 5%

Em 1994, os balanços energéticos acusaram a última Austrália


5%
produção de antracite nacional, proveniente das minas do África do Sul
36%
Pejão entretanto encerradas, embora se tenha registado
Colômbia
consumo dos "stocks" existentes dessa matéria prima E.U.A. 37%
13%

nacional até 1997. A par tir desse ano, os combustíveis


sólidos de origem fóssil consumidos em Por tugal foram
sempre 100% impor tados. As origens das impor tações
são bastante diversificadas, com predomínio, nos últimos
anos, de car vões da África do Sul e Colômbia.

Fig. 26 - Origem dos carvões importados (Fonte: Direcção Geral de Energia) 1998
46
A ofer ta de energia

Parte 2
a oferta descentralizada

Além das grandes fileiras energéticas, tratadas no capítu-


lo anterior, normalmente associadas a grandes instala-
ções centralizadas de transformação de energia, o
sistema energético inclui também uma grande quantidade
e variedade de sistemas descentralizados. Tratam-se de
sistemas que têm como características serem de pequena
e média dimensão, estarem perto do local de consumo e a
propriedade e gestão das instalações ser, em geral, mais
diversificada que nos sistemas centralizados.
Incluem-se nesta categoria uma grande variedade de tec-
nologias, para produção de energia eléctrica, calor ou, simul-
taneamente, calor e energia eléctrica (cogeração), ou ainda
energia eléctrica e/ou calor e/ou frio (trigeração).
Sendo certo que nos sistemas de menor dimensão não é,
por vezes, possível explorar as economias de escala ineren-
tes a qualquer actividade industrial, também é inequívoco
que a produção descentralizada tem algumas vantagens.
Desde logo, tem a vantagem de diminuir a sobrecarga nas
infraestruturas de transporte, permitindo, assim, diferir ou
eliminar investimentos nessas infraestruturas e reduzir as
perdas no transporte. Em segundo lugar, a produção des-
centralizada é, salvo algumas excepções, mais trabalho in-
tensiva que a produção centralizada, que é, sobretudo,
capital intensiva. A primeira tem, por isso, impacte positivo
sobre o emprego. Acresce que as tecnologias de produção
descentralizada são, em geral, facilmente internalizáveis
pelo tecido produtivo nacional, com benefícios para a pró-
pria qualidade da actividade económica e do emprego. Final-
mente, a produção descentralizada tem, em geral, menor
impacte ambiental por unidade de energia produzida, quer
porque se refere ao próprio aproveitamento de recursos
renováveis, quer porque permite um melhor aproveita-
mento do combustível primário, quando se utilizam com-
bustíveis fósseis em geração múltipla (electricidade e/ou
calor e/ou frio).

a cogeração

Definição,
vantagens e aplicações da cogeração >

Cogeração é, por definição, a produção combinada de electri-


cidade (ou energia mecânica) e energia térmica útil, destina-
das a consumo próprio ou de terceiros. Tradicionamente,
os consumidores satisfazem a sua procura de energia com-
prando separadamente a electricidade e os combustíveis
às companhias distribuidoras. A cogeração representa uma
alternativa, de elevada eficiência energética, que permite
reduzir a factura energética dos utilizadores com necessida-
des simultâneas de calor (água quente ou vapor) e electrici-
dade ou energia mecânica.
Para além da redução da factura energética do utilizador, a 47
A ofer ta de energia
cogeração apresenta a grande vantagem de reduzir o consu-
mo de energia primária. A cogeração permite poupar cerca
de 15 a 30% da energia primária necessária para produzir,
separadamente, electricidade e calor.

electricidade ciclo combinado


rendimento 35 KWh 35 KWh
35 KWh
eléctrico 35% rendimento
100 KWh 122 KWh
eléctico 53%
combustível combustível
rendimento 50 KWh
térmico 50%

perdas
31 KWh

perdas
15 KWh caldeira
calor
50 KWh
50 KWh
rendimento
térmico 90%

Fig. 27 - Comparação entre os balanços energéticos da cogeração e da pro-


perdas
dução separada de electricidade e calor 6 KWh
48
A ofer ta de energia

Outra vantagem da cogeração é a redução dos impactes


ambientais causados pela transformação de energia.
A utilização mais eficiente dos combustíveis fósseis permi-
tida pela cogeração resulta numa diminuição significativa
das emissões de gases poluentes. Ao produzir a electrici-
dade e o calor no local da sua utilização, a cogeração per-
mite ainda reduzir os custos de transpor te e distribuição
da energia eléctrica.
As aplicações da cogeração abrangem a indústria (instala-
ções de grande escala), os ser viços (instalações de média
e pequena escala em edifícios) e o sector residencial
(instalações de pequena escala e redes de calor). As tec-
nologias mais utilizadas englobam turbinas a vapor (contra-
-pressão), motores diesel (fuelóleo), motores a gás e turbi-
nas a gás.

evolução da cogeração em Portugal >

A cogeração foi introduzida em Por tugal no sector indus-


trial nos anos quarenta, sendo as primeiras instala-
ções baseadas em turbinas de vapor (contra-pressão)
que satisfaziam grandes necessidades de vapor de baixa
pressão. Seria, no entanto, apenas na década de
noventa que a cogeração viria a ter um crescimento signi-
ficativo em termos de potência instalada e de energia
produzida.
A cogeração a gás natural é a única que actualmente
se encontra em crescimento, enquanto que a cogeração
diesel e a cogeração em contra-pressão mantêm uma
tendência de estabilização.
1 200

1 000

Gás
800

600
Diesel (fuelóleo)

400

200

0 Contra-pressão

MW 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01

Fig. 28 - Evolução da potência instalada em cogeração nos últimos 20 anos

em Portugal (Fonte: COGEN PORTUGAL)

Actualmente os cerca de 1 090 MW de potência insta-


lada e os 5 623 GWh de energia eléctrica produzida
em cogeração (fonte: COGEN Por tugal) representam, res-
pectivamente, cerca de 11% e 13% da potência eléctrica
instalada e da produção de energia eléctrica no SEN -
Sistema Eléctrico Nacional. O custo de investimento numa
central de cogeração ronda os 750 € /kW.

Fig. 29 - Distribuição da potência total de cogeração actualmente instalada

e da energia produzida em Portugal pelos diferentes tipos de cogerações uti-

lizadas (Fonte: COGEN PORTUGAL)

gás
22,2%
turbinas contra-pressão
46,8%

motores diesel
31%

motores propano 0,2 %


motores biogás 0,3 %

motores gás natural 8,3 %


49
A ofer ta de energia

turbinas gás natural 13,4 %


Distribuição da potência instalada
por tipo de cogeração

gás
32,4%

motores diesel
42,7%

turbinas contra-pressão
24,9% motores propano 0,2 %
motores biogás 0,2 %

motores gás natural 10,7 %

Distribuição de energia produzida turbinas gás natural 21,3 %


em cogeração por tipo de cogeração
50
A ofer ta de energia

A energia produzida nas centrais de cogeração é, maiori-


tariamente, destinada a satisfazer as necessidades ener-
géticas da indústria. Apenas se verifica uma pequena pene-
tração dos motores a gás propano e gás natural no sector
dos ser viços.
No contexto europeu, Por tugal encontra-se aproximada-
mente na média da União Europeia, no que respeita à per-
centagem de electricidade produzida em cogeração.

Áust r ia

B é l gic a

D inam ar c a

F inl ând ia

F r anç a

Al e m anha

Gr é c ia

I r l and a

I t ál ia

Hol and a

P or t ugal

E spanha

S ué c ia

1994
R e ino U nid o
1998
M édia UE (s/ L uxe m b ur go)
2010

% 0 10 20 30 40 50 60

Fig. 30 - Percentagem de electricidade produzida em cogeração nos vários

países da UE (Fonte: COGEN EUROPE)


o futuro da cogeração em Portugal >

A rentabilidade dos sistemas de cogeração tem, em geral, Legislação sobre a cogeração

vindo a diminuir nos últimos anos, devido essencialmente a Foi recentemente aprovado o Decreto-Lei n.º 313/2001

uma subida do preço dos combustíveis e a uma diminuição de 10 de Dezembro, que estabelece uma revisão

do preço da electricidade. A viabilidade económica dos pro- do normativo aplicável à cogeração (Decreto-Lei

jectos de cogeração depende for temente da diferença n.º 538/99 de 13 de Dezembro), dado o seu efec-

entre o preço destas duas energias, da sua estabilidade tivo contributo para a melhoria da eficiência energé-

e também do preço de aquisição dos excedentes de pro- tica e ambiental. Destacam-se a reformulação das

dução por par te do SEP – Sistema Eléctrico Público. condições a que devem obececer as instalações

No enanto, as últimas alterações legislativas vieram valo- de cogeração, a clarificação das situações de coexis-

rizar a remuneração pelo fornecimento à rede eléctrica tência de duas ou mais instalações de cogeração

da energia produzida pelo processo de cogeração, nomea- associadas a uma mesma instalação de utilização

damente através da inclusão de uma parcela ambiental de energia térmica cogerada, o ajustamento do âmbi-

e de uma parcela representativa das perdas evitadas to de aplicação do mecanismo de gestão conjunta

nas redes de transporte e distribuição de electricidade. de energia e a diferenciação do tarifário aplicável

Em 2000 verificou-se um preço médio de aquisição do SEP ao fornecimento para a rede do SEP da energia

aos cogeradores de 9,47 PTE/kWh (0,047 € /kWh), eléctrica produzida em instalações de cogeração,

prevendo-se que em 2001 este valor se tenha situado relativamente à utilização dos vários tipos de com-

em 11,21 PTE/kWh (0,056 € /kWh). bustíveis.

Os segmentos de negócio que se perspectivam como os de


maior atractividade no futuro são as grandes cogerações
(>10 MW), as cogerações a gás (>1000 kW), as mini e 51
A ofer ta de energia
micro-cogerações a gás (<500 kW) e as cogerações em
contra-pressão, utilizando combustíveis não fósseis.
O desenvolvimento da cogeração está condicionado, entre
outros, por factores que advêm das políticas públicas,
dos preços relativos das fontes de energia primária, do
desenvolvimento tecnológico. A internalização dos custos
ambientais, a implementação de políticas fiscais de apoio
às tecnologias mais eficientes, a regulação coordenada do
sector eléctrico e do gás natural, são exemplos de medi-
das incentivadoras da cogeração.
Directiva Comunitária sobre as ener-
52 gias renováveis
A ofer ta de energia

No âmbito da directiva comunitária, recentemente apro-

vada, relativa à promoção da electricidade produzida

a partir de fontes de energia renováveis no mercado as energias renováveis


interno da electricidade, Portugal assumiu o compro-

misso de que pelo menos 39% do consumo bruto

de energia eléctrica em 2010 seja de origem renovável. a energia mini-hídrica >


Esta percentagem corresponde essencialmente à

electricidade produzida, em 1997, a par tir de fontes

de energia renováveis. No entanto, como já se refe- Entende-se por mini-hídrico qualquer aproveitamento hidro-
riu, as grandes hidroeléctricas têm uma contribui- eléctrico com potência instalada inferior a 10 MW, por
ção decisiva para a energia eléctrica produzida no distinção dos grandes aproveitamentos hidroeléctricos,
país (p.e. 34% dos 39% de energia eléctrica com com centenas de MW de potência instalada. As mini-hídri-
origem nas energias renováveis em 1997). No futuro, cas regem-se por um regime jurídico específico (ver caixa),
novos empreendimentos hídricos de grande dimen- por se reconhecer a valia ambiental desta forma de produ-
são estão severamente condicionados por razões ção de energia quando comparada com a produção térmica
ambientais. Até 2010 resumir-se-ão ao Alqueva, e com as grandes centrais hídricas. Relativamente à produ-
Baixo Sabor e ao reforço de potência em Venda Nova ção térmica, a mini-hídrica tem a vantagem ambiental de
e Picote, num total de aproximadamente 790 MW. não emitir CO 2 e, relativamente à grande hidroeléctrica,
Portanto, se o consumo de energia eléctrica no país tem a vantagem de ter uma muito menor interferência nos
continuar a crescer a taxas superiores a 5% ao ano, cursos de água e, como tal, menor impacte ambiental.
o contributo das grandes hídricas será cada vez Este grupo de tecnologias foi alvo de grande interesse em
menor e, consequentemente, exigirá um maior esfor- Por tugal no final dos anos oitenta e início da década de
ço em todas as restantes áreas das energias reno- noventa, na sequência da publicação da legislação sobre
váveis. Se, pelo contrário, se reduzirem as taxas o pequeno produtor independente de energia eléctrica 15 .
de crescimento do consumo de energia eléctrica, Este novo regime jurídico, conjugado com um sistema de
o cumprimento da meta fixada na directiva acima iniciativa comunitária de apoios financeiros visando a valo-
referida será facilitado na mesma proporção. Os rização de recursos endógenos (Valoren), criou um clima
esforços de racionalização de consumos de energia favorável que permitiu o licenciamento e a instalação de
eléctrica poderão, assim, dar um contributo decisivo um número considerável de centrais mini-hídricas durante
para o cumprimento das metas. a primeira metade da década de noventa.
O Programa E4 assume como objectivo a instalação, até No entanto, dificuldades relacionadas com um procedi-
2010, de 4 000 MW de potência eléctrica adicional mento administrativo designado por "destaque" da Rede
a partir de fontes renováveis, dos quais 3 000 MW Ecológica Nacional, a que estão sujeitos todos os projectos
de energia eólica. Para atingir tal objectivo, estima-se de desenvolvimento de centrais mini-hídricas, têm conduzido
um investimento da ordem dos 5 000 milhões de euros. a atrasos no desenvolvimento de novos projectos e a uma
menor motivação por parte dos promotores privados.
Notas Actualmente existem cerca de 308 MW 16 de potência ins-
15- DL 189/88 de 27 de Maio. talada em aproveitamentos de potência inferior a 10 MW,
16- Informação APREN repartidos entre sistema eléctrico não vinculado e produ-
17- Informação ERSE tores em regime especial.
Regime legal dos pr odutores em regime espe -

cial, utilizando ener gias renováveis

O regime legal que supor ta a produção de energia eléctrica, com

base em energias renováveis, está estabelecido no DL 189/88 de

27 de Maio, com a redacção que lhe foi dada pelo DL 168/99 de

18 de Maio. Esse regime determina que toda a energia produzida

é obrigatoriamente adquirida pela distribuidora local de ener gia

eléctrica, qualquer que seja a potência da instalação, excepto

para aproveitamentos hidroeléctricos, cuja potência está limitada

aos 10 MW. Estabelece ainda os princípios e a metodologia para

o cálculo da tarifa de compra da energia eléctrica ao produtor

pela rede pública. Nesses princípios inclui-se o r econhecimento da

No âmbito do Programa E4 prevê-se a instalação mais-valia ambiental das energias renováveis, relativamente aos

de cerca de 285 MW de potência adicional, com combustíveis fósseis, para produção de energia eléctrica. A tarifa

esta tecnologia, até 2010. Como o custo médio paga ao produtor é a soma do valor da energia produzida com o

unitário de investimento é de cerca de 1 500 € valor da mais valia ambiental.

(preços de 2001) por kW, tal acréscimo de po- Embora estes princípios gerais se mantenham, foi r ecentemente

tência corresponde a um investimento de cerca aprovado em Conselho de Ministros um diploma (Decreto-Lei

de 425 milhões de euros. n.º 339-C/2001 de 29 de Dezembro), no âmbito do pacote legis-

lativo do Programa E4, que altera a fórmula de cálculo das tarifas

pagas aos produtores em regime especial, promovendo uma

a energia eólica > "remuneração diferenciada por tecnologia e regime de exploração

e atribuindo destaque apropriado às tecnologias que, embora

emergentes, como é o caso da energia das ondas e energia solar

Em Por tugal existe de há muito uma grande tra- fotovoltaica, evidenciam um elevado potencial a médio prazo",

dição de aproveitamento da energia eólica, pela como refere o próprio diploma.

via da sua transformação em energia mecânica, Neste novo regime tarifário, a energia eléctrica produzida com

para fins de moagem de cereais e bombagem de energia eólica é remunerada a 0,082 € por kWh, nas primeiras

água. No entanto, essa tradição não foi mantida 2000 horas de produção por ano, a 0.07 € nas 200 horas

quando se passou à actual fase de aproveita- seguintes, decrescendo o preço com o aumento de horas de pro-

mento da energia eólica para produção de ener- dução por ano. No entanto, a tarifa média da maioria dos parques

gia eléctrica. Assim, Por tugal não acompanhou o eólicos andará em torno dos 0,08 € por kWh, o que é significati-

crescimento notável, qualitativo e quantitativo, vamente mais que os cerca de 0,06 € por kWh pagos antes da

que se verificou na maioria dos países desenvol- entrada em vigor desta revisão legislativa. A energia eléctrica pro-

vidos, nas décadas de oitenta e noventa. duzida em centrais mini-hídricas será remunerada em torno dos

Este quadro conheceu, nos últimos cinco anos, 0,07 € por kWh, a energia das ondas em torno dos 0,224 53
A ofer ta de energia
um desenvolvimento assinalável, com muitos pro- €/kWh e a energia solar fotovoltaica a cerca de

motores a manifestarem um grande interesse no 0,284 €/kWh, para centrais com potência maior que 5 kW, e a

desenvolvimento de projectos de investimento. cerca de 0,499 €/kWh para centrais com potência até 5 kW.

Este interesse pela energia eólica ter-se-á ficado A título meramente exemplificativo, o valor médio pago pelo sistema

a dever, nomeadamente, ao quadro regulamentar aos produtores vinculados, corrigido da hidraulicidade foi, em 2000,

da actividade de produção de energia eléctrica de 9,77 escudos (0,049 €) por kWh 17 . Por outro lado, ainda

em regime especial, que coloca Por tugal em em 2000, os valores pagos aos produtores de electricidade

situação semelhante à registada nos países euro- com energias renováveis foi 11$89 (0,059 €) por kWh (para 2001

peus onde a energia eólica tem experimentado prevê-se 12$88 (0,064 €) por kWh), o que dá uma ideia do

um franco desenvolvimento. acréscimo de remuneração proporcionado pela nova legislação.

As primeiras instalações foram construídas nas Além do cálculo da tarifa, as outras alterações recentemente intro-

Regiões Autónomas dos Açores e Madeira, tota- duzidas referem-se ao reconhecimento do carácter permanente

lizando cerca de 7 MW. O primeiro parque de aero- da valia ambiental das instalações de energias renováveis e à

geradores do Continente surgiu em 1992, em regulamentação das rendas a pagar pelas empresas detentoras

de centrais eólicas aos municípios onde se encontram os r espec-

tivos parques (2,5% dos proveitos mensais).


54
A ofer ta de energia

Sines, constituído por 12 máquinas de 150 kW, totalizando


uma potência de 1,8 MW. Só em 1996 surgiu um novo
parque e, a par tir de 1998, o sector passou a ser alvo
do interesse recente que acima se referiu.

180

160

140

120

100

80

60

40

20 Em Construção

Acumulada
0

Capacidade Acumulada (MW) 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Fig. 31 - Potência instalada em Por tugal (Fonte: Instituto Nacional de

Engenharia e Gestão Industrial)

Madeira
6%

Actualmente, entre parques ligados à rede eléctrica e


Continente
93%
Açores
1%
parques em construção, o país possui 230 máquinas, de
potências nominais e fabricantes vários, totalizando uma
potência instalada de cerca de 115 MW.

Fig. 32 - Repar tição da Potência Instalada de energia eólica em Por tugal

(Fonte: Instituto Nacional de Engenharia e Gestão Industrial)


O desenvolvimento futuro da tecnologia depende de múlti-
plos factores, nomeadamente: existência de rede para
recepção da energia, restrições ambientais, tarifa de aqui-
sição da energia produzida e aspectos administrativos. No
entanto, existe a convicção de que este sector das ener-
gias renováveis continuará a crescer a bom ritmo. No âmbi-
to do programa E4 prevê-se a instalação de 3 000 MW de
potência adicional, com esta tecnologia, até 2010. Como o
custo médio unitário de investimento é de cerca de 1 050 €
(de 2001) por kW, tal acréscimo de potência corresponde
a um investimento de cerca de 3 100 milhões de euros.

a energia da biomassa 18 >

O termo biomassa define um variado conjunto de matéria


orgânica, de origem vegetal ou animal, ou ainda resíduos
resultantes da transformação natural ou ar tificial dessa
matéria, susceptíveis de serem aproveitados para fins
energéticos. A biomassa, a par da hídrica, é a forma de
energia renovável mais utilizada em Por tugal. Existe uma
grande multiplicidade de fileiras de aproveitamento ener-
gético da biomassa. As mais relevantes são as que a 55
A ofer ta de energia
seguir se enumeram e, sucintamente, se descrevem.
1. Aproveitamento de material lenhoso, para produção
de calor ou, simultaneamente, produção de energia
eléctrica e calor. Nesta fileira, ela própria muito diversi-
ficada, quer do ponto de vista das tecnologias quer do
ponto de vista da dimensão dos aproveitamentos, identifi-
cam-se três áreas tecnológicas distintas:
pequenos e médios aproveitamentos de produção de calor
para aquecimento ambiente, confecção de alimentos e pro-
dução de águas quentes. Incluem-se aqui as lareiras do-
mésticas, os fornos e fogões a lenha e as caldei- Notas

ras domésticas e semi-industriais. Estas são instaladas quer 18- Informação quantitativa fornecida pela Direcção

no sector doméstico quer no sector terciário, nomeadamente Geral de Energia


56
A ofer ta de energia

em hotéis, para produção de águas quentes utilizadas


para aquecimento ambiente e como águas quentes sanitá-
rias. Em Por tugal consumiram-se 0,54 milhões de tep
de lenhas no sector doméstico, em 1999;
aproveitamento de resíduos das indústrias da fileira
florestal, em par ticular das indústrias da pasta de papel e
Central de Biomassa de Mor tágua da madeira e do mobiliário. Nestes casos, os resíduos de
Por tugal é um dos países da União Europeia com material lenhoso resultantes das actividades industriais
maior percentagem do território dedicado à activi- alimentam caldeiras para a produção de vapor. Este, ou é
dade florestal. A floresta por tuguesa é anualmente utilizado directamente no processo industrial, por exemplo
alvo de intensos e devastadores fogos florestais. Se em estufas de secagem de madeira, ou ser ve para pro-
para a ocorrência destes incêndios não é estranho dução de energia eléctrica por recurso a uma turbina de
o tipo de floresta e o clima do país, já a intensidade contrapressão. Nestes casos, após a produção de ener-
que eles adquirem é em muito fruto da ausência de gia eléctrica o calor remanescente é ainda utilizado no
limpeza e de ordenamento das matas. Os resíduos processo produtivo. O consumo de lenha e resíduo lenhoso
da limpeza das florestas representam uma impor- no sector industrial, para fins energéticos foi, em 1999,
tante fonte de energia renovável. Assim, desde 1999 de 1,14 milhões de tep.
que opera em Por tugal uma central dedicada à pro- aproveitamento de resíduos florestais para produção
dução de energia eléctrica a par tir de resíduos flo- de energia eléctrica.
restais que não tenham outra aplicação além do Ao abrigo do FORUM "Energias Renováveis em Por tugal",
aproveitamento energético. foram identificados os seguintes potenciais para a produ-
A central está instalada no concelho de Mortágua e ção de electricidade a par tir de biomassa: biomassa flo-
inserida numa extensa área florestal englobando 29 restal 110 MW, biomassa animal 70 MW e 50MW a
concelhos, que contribuirão para o abastecimento da par tir de Resíduos sólidos Urbanos (RSU).
central. Tem uma potência eléctrica de 9 MW e con- 2. Produção e aproveitamento de biogás a partir de efluen-
some cerca de 8,7 toneladas de resíduos florestais tes domésticos, agro-pecuários ou industriais, contendo
por hora, ou cerca de 109 000 toneladas por ano de matéria orgânica. Esse tipo de efluentes pode ser tratado
resíduos. Os resíduos consumidos na central não são em equipamentos, designados biodigestores, que, em deter-
mais do que 10% do total de resíduos produzidos por minadas condições, transformam parte da matéria orgâ-
aquela área florestal. Além da energia produzida e do nica num gás combustível designado por biogás. Além de
contributo para a limpeza das matas, a central terá reduzir a carga poluente do efluente, o biogás pode ser
um significativo impacte sócio-económico, ao contri- utilizado quer para produzir calor para utilização local, quer
buir para o desenvolvimento de novas actividades para produzir energia eléctrica e calor. A produção de bio-
económicas em regiões com tendência para a deser- gás pode registar-se nomeadamente em:
tificação humana. A central emprega cerca de 20 instalações pecuárias: os efluentes de pecuárias repre-
trabalhadores e estima-se que gerará, indirecta- sentam um sério problema ambiental, mas possuem boas
mente, cerca de 200 postos de trabalho. condições para serem tratados por via desta tecnologia.
O efluente resultante fica com boas condições para adu-
bação de terras e o gás produzido pode ser utilizado para
produção de calor, utilizado localmente, ou para produção
de energia eléctrica e calor;
lamas de estações de tratamento de águas residuais
domésticas (ETAR). As ETAR domésticas produzem gran-
des quantidades de lamas, com elevada carga orgânica.
Estas podem ser tratadas em biodigestores, ficando em
melhores condições ambientais para deposição posterior
e produzindo biogás que é utilizado para produzir energia
eléctrica;
alguns efluentes industriais, nomeadamente da indús-
tria agro-alimentar, têm boas condições para serem sujei-
tos a tratamento por via das tecnologias da produção
de biogás. Mais uma vez, desse modo, se reduz a carga
poluente do efluente e se produz biogás cujas utilizações
possíveis são as mesmas dos casos anteriores;
os resíduos sólidos urbanos (RSU) quando depositados
em aterros sanitários produzem biogás que pode ser recu-
perado. Esta é hoje uma prática corrente, nomeadamente
nos novos aterros sanitários que se têm sucedido ao encer-
ramento das lixeiras em todo o país. Pode também recor-
rer-se às tecnologias do biogás como processo autónomo
de tratamento dos RSU "frescos". Neste último caso, após 57
A ofer ta de energia
a recolha dos RSU, eles são sujeitos a tratamento em gran-
des biodigestores industriais que transformam parte da
carga orgânica poluente em biogás. A empresa Valorsul
iniciou a construção do primeiro projecto deste tipo em
Portugal, que consiste numa instalação, em S. Brás, con-
celho da Amadora, permitindo o tratamento de 40 000
toneladas de resíduos orgânicos por ano, recolhidos selecti-
vamente, e a produção entre 4,4 e 4,9 milhões de metros
cúbicos de biogás por ano, dando origem a uma produção
bruta de electricidade de 8,32 a 9,32 GWh.
Em termos quantitativos estima-se que a potência eléctrica
instalada em aproveitamentos utilizando biomassa ascen-
de a cerca de 360 MW, que terão produzido em 1999
58
A ofer ta de energia

cerca de 1 080 GWh de energia eléctrica. Incluem-se


aqui as instalações de aproveitamento de resíduos flores-
tais na indústria papeleira, as instalações de incineração
de resíduos sólidos urbanos da Valorsul e da Lipor com
cerca de 75 MW de potência instalada, a central de Mor-
tágua e um grande número de pequenos aproveitamentos,
nomeadamente em instalações com produção de biogás,
cuja potência instalada ascende a cerca de 1 MW e
que produziram, em 1999, cerca de 1 GWh de energia
eléctrica.
Em termos de produção de energia eléctrica com biomas-
sa, no âmbito do programa E4 prevê-se a instalação, até
2010, de 90 MW de potência adicional com resíduos de
madeira e 50 MW com gás de aterro. Como os custos mé-
dios unitários de investimento se situam na ordem dos
1 750 e 2 000 euros (preços de 2001) por kW, respecti-
vamente, tais acréscimos de potência correspondem a um
investimento de cerca de 260 milhões de euros. Além des-
tas duas áreas tecnológicas, prevê-se ainda a instalação de
50 MW adicionais em instalações de queima de resíduos
sólidos urbanos, área em que os investimentos, embora
volumosos, não devem ser imputados totalmente à produ-
ção de energia, uma vez que nesses casos o objectivo é a
eliminação dos resíduos, sendo a energia apenas um sub-
produto.
3. A última grande fileira da biomassa para fins de apro-
veitamento de energia é a dos chamados biocombustíveis.
É uma área muito vasta, envolvendo uma grande varie-
dade de processos, de elevado conteúdo técnico. Como prin-
cípio geral, trata-se de conver ter, por processos químicos,
produtos agrícolas contendo açúcares (por exemplo frutas
ou cana de açúcar), contendo amidos (por exemplo trigo
ou milho), ou oleaginosas (por exemplo girassol ou colza)
em combustíveis líquidos, susceptíveis de serem utilizados
em máquinas várias, nomeadamente em veículos auto-
móveis. Estes biocombustíveis podem ser utilizados puros
ou misturados com gasóleos ou gasolinas.
Em Portugal já há experiências com utilização de biocom-
bustíveis, nomeadamente em quatro viaturas ligeiras e
duas pesadas da Câmara Municipal de Lisboa, utilizando
um combustível com 30% de óleo de girassol e 18 auto-
carros da Carris (17 com mistura de 5% e 1 com mistura
de 30%). No entanto, a experiência mais relevante no
domínio dos biocombustíveis está em curso há duas déca-
das no Brasil, onde o álcool, produzido a partir da cana de
açúcar, é utilizado por 5 milhões de veículos automóveis,
numa frota total de cerca de 32 milhões 19 . Esta área das
energias renováveis está a ser alvo de grande interesse
por parte de alguns países europeus, não só porque per-
mite reduzir a dependência de produtos de petróleo, como
carburantes rodoviários, mas também porque constitui uma
alternativa às limitações à produção de produtos agrícolas,
para fins alimentares, impostos pela Política Agrícola Comum.

a energia solar >

Por tugal possui excelentes condições para o aproveita-


mento da radiação solar para fins energéticos. Possui-
mos, em média, entre 2 200 e 3 000 horas de sol por 59
A ofer ta de energia
ano, enquanto na Europa Central os valores se situam tipi-
camente entre 1 500 e 1 700 horas por ano (Paris tem
cerca de 1 700, Londres cerca 1 600 e Hamburgo pouco
mais de 1 500). Além disso, temos dos mais favoráveis
índices de transparência ou claridade da atmosfera. Como
consequência da conjugação destes dois factores, o nosso
país é, na União Europeia, dos que em média mais ener-
gia solar recebe na sua superfície, por metro quadrado
(16,27 MJ/m 2 em Lisboa, 10,99 MJ/m 2 em Paris,
9,19 MJ/m 2 em Londres, 9,54 MJ/m 2 em Hamburgo
e 16,29 MJ/m 2 em Madrid).
A radiação solar pode ser conver tida em energia útil, por Notas

múltiplos processos. Cita-se, a título de exemplo, o aque- 19- Informação do Ministério dos Transportes do Brasil
60
A ofer ta de energia

cimento ambiente em edifícios, a secagem de frutos e legu-


mes em estufas solares, fornos solares para cozinhar, a
dessalinização da água do mar. No entanto, os sistema
mais conhecidos de aproveitamento da energia solar são:
conversão térmica, produzindo calor, geralmente em
colectores solares para aquecimento de águas;
conversão directa em energia eléctrica, em módulos
fotovoltaicos.

Conversão térmica da energia solar >>

Os colectores solares são equipamentos onde a energia


solar é captada de forma optimizada e utilizada para aque-
cimento de águas. O maior mercado para utilização desta
tecnologia reside, tradicionalmente, no sector doméstico,
par ticularmente em moradias unifamiliares. No entanto
podem utilizar-se colectores solares em todos os casos
onde se necessite de água quente e a tecnologia torna-
-se tanto mais interessante quanto mais intensamente
for utilizada, uma vez que é uma tecnologia sem custos
de exploração e com reduzidos custos de manutenção,
tal como a maioria das energias renováveis. Daí que haja
um grande campo de expansão em todas as situações
onde ocorra consumo intensivo de águas quentes, por
exemplo piscinas e outros equipamentos despor tivos,
condomínios, hotéis, calor de processo para o sector
industrial.
Estima-se que estejam instalados, em Por tugal, cerca de
225 000 m 2 de colectores solares para aquecimento de
águas, tendo este stock vindo a progredir a um ritmo de
5 000 m 2 /ano. São valores desoladores quando com-
parados com países com populações semelhantes e, em
muitos casos, com condições menos vantajosas de explo-
ração deste recurso. Por exemplo, na Grécia e na Áustria
instalam-se cerca de 170 000 m 2 /ano e na Dinamarca
15 000 m 2 /ano.
Após o período de aplicação do programa Valoren, nos
anos oitenta, altura em que mais colectores solares para
aquecimento de água se instalaram no país, esta tecnolo-
gia tem sido alvo de um longo período de estagnação,
fruto da má imagem adquirida na altura, devido à falta de
qualidade dos equipamentos e das instalações, má enge-
nharia ou más práticas e também devido à evolução do
preço relativo das formas de energia alternativas.
Portugal tem tecnologia e produção própria de equipamen-
tos para aproveitamento desta energia renovável e está
hoje dotado das condições técnicas que garantem a fia-
bilidade e qualidade das instalações: laboratório de testes
e sistemas de normalização e certificação de equipamen-
tos, existência de tecnologia e "know-how" nacional. No
entanto, tal não tem sido suficiente para que a tecnologia
adquira a penetração que o nosso potencial recomenda.
No âmbito do Programa E4, estão previstas acções que têm
por objectivo a dinamização do sector, nomeadamente o lan-
çamento de um programa nacional específico, "Água Quente
Solar para Portugal". Este Programa intervem a nível da pro-
moção da imagem do solar térmico para aquecimento de
água, tendo em vista a sua credibilização junto do público
alvo, desenvolvimento do mercado através, nomeadamente,
dos serviços de venda de água quente, dinamização do pro- 61
A ofer ta de energia
cesso de certificação da qualidade de produtos e da certifi-
cação profissional e reforço/adequação das medidas de
incentivo. Visa-se, com este Programa, a criação de um
mercado sustentado de 150 000 m 2 de colectores insta-
lados por ano, o que poderá conduzir a um total de 1 milhão
de m 2 de colectores instalados e operacionais até 2010, o
que não representará mais de 7% do potencial explorável.
Este objectivo traduz-se numa contribuição de 0,1 Mtep
para a energia final, ou ainda 0,15 Mtep de energia pri-
mária, que, na sua maior par te, deixa de ser impor tada.
No que se refere a emissões poderá atingir-se 0,8% de
redução de emissões de gases com efeito de estufa no
ano de 2010, percentagem calculada em relação aos
valores totais de referência de 1990, correspondendo a
0,5 Mton de CO 2 equivalente evitado.
Projecto de ener gia solar fotovoltai -

ca em Ourique

Teve recentemente início a exploração de um projecto

inovador em Por tugal, levado a cabo pela Agência

para a Energia (ADENE) e pela EDP - Distribuição,

com o apoio da Câmara Municipal de Ourique. O

projecto consiste no abastecimento de energia eléc-

trica, com base em energias renováveis, a 5 peque-

62 nos aglomerados populacionais distantes da rede


A ofer ta de energia

eléctrica, localizados na Aldeia de Santana da Ser -

ra, concelho de Ourique. O projecto inclui 3 centrais

de produção de energia, combinando geradores eóli- Solar fotovoltaico >>


cos, geradores fotovoltaicos, baterias para acumu-

lação de energia e grupos geradores diesel para

apoio (ver quadro abaixo). A energia produzida é dis- A conversão directa da energia solar em electricidade
tribuída em pequenas redes locais cobrindo os aglo- ocorre em módulos fotovoltaicos, normalmente utilizando
merados populacionais. o silício como material conversor. O leitor menos familiari-
zado poderá tomar contacto com esta tecnologia em
Caracterização do projecto (Fonte: brochura do pro- parquímetros instalados nas ruas das cidades ou em
jecto editada por ADENE) pequenas máquinas de calcular. Trata-se da forma menos
poluente de produção de energia eléctrica, sendo a única
Central Aglomerados Geradores Geradores Geradores poluição resultante, para além do impacte visual, a que
abastecidos eólicos (kW) fotovoltaicos diesel (kVA) está associada à produção das próprias células.
(kWp) Até hoje, em Portugal, a utilização desta tecnologia tem es-
Cismalhas Cegonhitas 2x15 21 15 tado circunscrita a situações onde ocorrem baixos consu-
Cismalhas mos de energia, em locais distantes da rede eléctrica,
Cerro do Guincho como por exemplo: casas e pequenas explorações agrícolas
Monte Sambro Monte Sambro 1x15 10,5 15 isoladas, equipamentos de telecomunicações e de sinaliza-
Monte Corte Monte Corte -- 10,5 15 ção. No entanto, mesmo em locais isolados ou afastados
de Coelho de Coelho da rede eléctrica a utilização desta tecnologia em Portugal
é muito inferior ao que seria possível e desejável, face à
A capacidade de acumulação de cada central, em elevada disponibilidade do recurso. Estima-se que se encon-
bancos de baterias estacionárias de chumbo, per mi- tram actualmente instalados pouco mais de 1 MW em
te uma autonomia de 3 dias consecutivos em que se sistemas fotovoltaicos, com predominância para os siste-
verifiquem condições adversas de produção de mas isolados.
energia. Os grupos geradores diesel ser vem como O custo dos módulos fotovoltaicos está muito dependente
apoio, quer no caso de se verificar alguma anomalia das economias de escala associadas à sua produção.
nos sistemas principais de produção, quer no caso Com esse objectivo, muitos países e a própria União Euro-
em que, sendo os consumos maiores que a produ- peia estão hoje apostados em criar um grande mercado
ção, o estado de carga das baterias desça abaixo para sistemas fotovoltaicos instalados nas estruturas dos
de 70% da capacidade nominal. edifícios (sobretudo telhados, mas também fachadas e su-
perfícies envidraçadas) e directamente ligados à rede
eléctrica local.
Até agora, em Portugal, a tarifa paga pela rede pública,
aos produtores de energia eléctrica em regime especial,
não era incentivadora destas tecnologias, dado estar abai-
xo do seu limiar de rentabilidade económica. No entanto,
com as alterações recentemente introduzidas na remu-
Foto da central de Cismalhas – Gentilmente cedida neração dos produtores em regime especial (ver caixa
por ADENE. sobre regime dos produtores em regime especial, utilizando
energias renováveis), seguindo o exemplo do que já é pra-
ticado noutros países europeus, espera-se um rápido
crescimento do número das instalações de energia foto-
voltaica directamente ligadas à rede pública. Em Por tugal
espera-se este desenvolvimento, especialmente em peque-
nas unidades (<5kW) instaladas e integradas na estrutura
dos edifícios.
No âmbito do Programa E4 prevê-se a instalação, até 2010,
de 50 MW de potência adicional, com especial incidência
nos sistemas com ligação à rede eléctrica. Como os custos
médios unitários de investimento, para este tipo de siste-
mas, são cerca de 6 000 euros (preços de 2001) por
kW, tal acréscimo de potência corresponde a um investi-
mento de cerca de 300 milhões de euros.

a energia geotérmica >

O interior da terra está a uma temperatura muito superior


à registada à superfície, gerando-se um fluxo contínuo
ascendente de calor que se designa por energia geotér- Projecto geotérmico de S. Pedro do Sul

mica. Para aproveitar a energia geotérmica terá que haver Em S. Pedro do Sul estão em curso projectos de

um fluído, geralmente água, que transpor te esse calor, aproveitamento do recurso geotérmico existente na 63
A ofer ta de energia
de forma útil, até ao local de utilização. A temperatura a região. Por um lado, desde 1981 que tem sido

que o fluído chega à superfície determina o tipo de apro- aproveitada a nascente do Polo do Vau, com um

veitamento: se for inferior a 150 o C designa-se geotermia caudal de 4 litros por segundo, a 60 0 C, para aque-

de baixa entalpia, e é normalmente utilizado para aqueci- cimento de estufas de produção de frutos tropicais,

mento ambiente, produção de águas quentes sanitárias e que ocupam já 0,5 hectares na exploração agro-

aquecimento de estufas agrícolas; se a temperatura for pecuária da Quinta de Valegode. Por outro lado,

superior a 150 C, designa-se geotermia de alta entalpia


o
está em curso um projecto integrado de aprovei-

e, além das aplicações referidas, pode também ser utili- tamento de um furo que debita um caudal de 10 litros

zado para produção de energia eléctrica. No território por segundo a 67 0 C. Este recurso, além da sua utili-

continental existe apenas geotermia de baixa entalpia, zação nas termas e em balneoterapia, está a ser

mas a região autónoma dos Açores é muito rica em geo- utilizado para produção de águas quentes sanitárias

termia de alta entalpia. e aquecimento ambiente do Hotel do Parque e da

No continente por tuguês a utilização da energia geotér- Pousada da Juventude. Estão ainda em curso estudos

mica tem estado sobretudo ligada ao aproveitamento de visando estender a rede de calor ao hotel do INATEL,

águas termais, para fins terapêuticos e/ou balneares, às termas antigas e às actuais.

aquecimento de piscinas e tanques em termas, aquecimento


64
A ofer ta de energia

ambiente em edifícios termais e em hotéis. A estes peque-


nos aproveitamentos, acrescem alguns poucos exemplos
fora da actividade termal, nomeadamente: o aquecimento
das piscinas municipais de Chaves, o aquecimento de estu-
fas de fruticultura na região de S. Pedro do Sul e o aque-
cimento de águas e ambiente no Hospital da Força Aérea
do Lumiar, em Lisboa. No entanto, o recurso existente
em múltiplas ocorrências de energia geotérmica no terri-
tório continental permitirá um aproveitamento muito mais
Notas extensivo e, sobretudo, mais integrado. Efectivamente, o
20- Informação da revista "Energia Solar" n.º 42, aproveitamento racional do recurso remete para a utiliza-
da Sociedade Por tuguesa de Energia Solar ção integrada do calor e do fluido geotérmico (água),
o primeiro para utilização local, tão extensiva quanto
possível, e o segundo para uso terapêutico, balnear ou
para consumo humano.
Na região Autónoma dos Açores existe um notável poten-
cial geotérmico, de alta entalpia, susceptível de ser utili-
Projecto de energia das ondas do Pico zado para produção de energia eléctrica. Neste momento
Na ilha do Pico está instalado um dos maiores sis- existe desde 1980 uma central piloto de 3 MW e, desde
temas europeus para produção de energia eléctrica 1994, uma central de 12 MW na ilha de S. Miguel que
a par tir de energia das ondas. Tem 400 kW de po- abastece a ilha em mais de 60% dos consumos de ener-
tência instalada e, em situação normal, deverá pro- gia eléctrica 20 .
duzir cerca de 1 GWh/ano de energia eléctrica. Perspectiva-se, para 2010, a possibilidade da existência
Trata-se de um sistema de coluna de água oscilan - de 30 MW na produção de energia eléctrica (nos Açores),
te, utilizável em águas pouco profundas, per to da li- 20 MW térmicos em utilizações directas e valores supe-
nha de costa. Nesta tecnologia, a onda ao aproxi- riores aos 10 MW térmicos na utilização directa do calor,
mar-se do dispositivo faz subir a coluna de água assistida com bombas de calor geotérmico.
dentro de uma caixa de cimento armado, por siste-

ma de vasos comunicantes. A coluna de água ao su -

bir comprime o ar numa câmara superior. Esse ar a energia das ondas >
comprimido, ao sair da câmara, passa numa turbina

a ar, produzindo energia eléctrica. Quando a onda

desce, todo o processo se inver te e o ar tende a Nas últimas décadas têm sido propostos e testados múl-
deslocar-se de fora para dentro da câmara. Dadas tiplos sistemas para conver ter a energia das ondas oceâ-
as características especiais da turbina, há produ- nicas em energia utilizável, nomeadamente energia eléc-
ção de energia eléctrica quer quando o ar sai, quer trica. Muitos destes equipamentos estão em fase de in-
quando entra no dispositivo. vestigação e desenvolvimento, outros estão já na fase de
demonstração de equipamentos à escala industrial ou “Archimedes Wave Swing”

mesmo na fase pré comercial. Por tugal possui uma insta- Teve inicio no final de 2001 a instalação de um equi -

lação deste tipo, baseada na tecnologia de coluna de água pamento piloto da tecnologia designada "Archime-

oscilante, na ilha do Pico, Açores. des Wave Swing", para produção de energia eléctri-

Uma das vantagens dos dispositivos de coluna de água osci- ca a par tir da energia da ondas oceânicas. O dispo-

lante reside na possibilidade da sua integração em obras sitivo, com uma potência de 2MW, tem um diâme-

marítimas com outros fins, tais como "molhos" e "quebra- tro de 9,5 metros e uma altura total de 40 metros

mar". Trata-se de, com algum investimento adicional, intro- e será instalado ao largo de Viana do Castelo, a

duzir sistemas de coluna de água oscilante nesses equipa- uma profundidade de 50 metros. O dispositivo funci-

mentos que, além de cumprirem a sua função, passam tam- ona como uma bóia, cheia de ar comprimido, na

bém a produzir energia eléctrica. Dessa sinergia decorrem qual a par te superior, o flutuador, se move para ci-

grandes vantagens para a economia dos projectos. ma e para baixo, de acordo com a onda, enquanto

Está prevista a instalação de uma nova unidade de apro- a par te de baixo se mantém fixa. O movimento do

veitamento de energias das ondas, da tecnologia holandesa flutuador é conver tido em energia eléctrica. Este

"Archimedes Wave Swing", ao largo de Viana do Castelo. projecto piloto será testado durante cerca de ano e

Será o primeiro teste de uma unidade piloto de grandes meio e os resultados serão utilizados para o desen-

dimensões, envolvendo uma tecnologia que, caso os resul- volvimento de um sistema de maiores dimensões,

tados sejam positivos, os promotores esperam vir a insta- que será explorado comercialmente. O investimento

lar em larga escala para produção de energia eléctrica a desta fase do projecto piloto ascende a cerca de

par tir de energia das ondas oceânicas. 8 milhões de Euros. A instalação e operação da uni-

Efectivando-se este projecto, Por tugal fica, no seu territó- dade estará a cargo da empresa Oceanergia, uma

rio, com os dois maiores projectos europeus de energia "joint venture" da AWS BV, promotora holandesa do

das ondas, cobrindo as tecnologias mais promissoras, no projecto, e empresas por tuguesas.

actual estado de desenvolvimento. Por outro lado, existe 65


A ofer ta de energia
no país, quer ao nível da investigação e desenvolvimento,
quer ao nível empresarial, "know-how" de ponta específico
nesta área. Estes aspectos, conjugados com a existência
de um bom e abundante recurso natural, fazem com que
o país tenha vantagens comparativas sobre a generalida-
de dos nossos parceiros europeus.
No âmbito do programa E4 prevê-se a instalação, até
2010, de 50 MW de potência adicional com tecnologias
de aproveitamento de energia das ondas. Como os custos
médios unitários de investimento são cerca de 1 500 eu-
ros (preços de 2001) por kW, tal acréscimo de potência
corresponde a um investimento de cerca de 75 milhões Foto do dispositivo AWS, em doca. Foto gentilmente

de euros. cedida por AWS BV.


66
A ofer ta de energia

a microgeração

mudança de paradigma? >

Analogamente ao que aconteceu na indústria das tele-


comunicações com o aparecimento das operadoras mó-
veis, a liberalização do mercado e as novas tecnologias
irão cer tamente transformar a indústria da produção e
distribuição de electricidade.
Em alternativa, ou em complemento às grandes centrais
electro-produtoras, a produção descentralizada de electri-
cidade, e em par ticular a micro-geração, ganha cada vez
mais razões para se impor como uma solução para o futu-
ro. Esta nova área de mercado pode vir a representar
uma mudança de paradigma e da forma como as redes de
transpor te e distribuição de electricidade são encaradas
hoje em dia.

conceito >

O conceito de micro-geração localizada não é, no entanto,


um conceito propriamente novo. Já em 1882 Thomas Edi-
son imaginou um mundo baseado na micro-geração. Edi-
son julgava que a melhor forma de satisfazer as necessi-
dades energéticas dos seus clientes seria através de re-
des de pequenas unidades de geração descentralizada, lo-
calizadas per to das casas ou dos escritórios onde exis-
tiam essas necessidades. Passado pouco mais de um sé-
culo, em que se assistiu ao aumento de dimensão das
centrais eléctricas e à expansão das redes de transpor te
e distribuição, a produção descentralizada para consumo
local volta a ser realidade e tudo indica que poderá ter
grande aceitação no futuro.
A micro-geração refere-se, em geral, a sistemas geradores,
cogeradores ou trigeradores, com potências eléctricas
inferiores a 500 kW, produzindo a energia no local do seu
consumo final, sendo por isso a produção frequentemente
denominada por descentralizada-localizada. Dentro do seg-
mento da micro-geração podem ainda isolar-se os denomi-
nados sistemas de micro-geração "doméstica", com potên-
cia eléctrica inferior a 10 kW.

tecnologias >

Novas tecnologias permitem produzir electricidade com


elevada qualidade, de uma forma eficiente, no local de
consumo final, reduzindo as perdas por transpor te nas re-
des eléctricas. Essas novas tecnologias utilizam, maiorita-
riamente, gás natural, resultando assim em menores
emissões de CO 2 do que nos casos em que se utilizam ou-
tros tipos de combustível (par ticularmente nas grandes
centrais térmicas onde o combustível utilizado é o car-
vão). Por outro lado, existe a possibilidade de mais facil-
mente aproveitar o calor liber tado na produção de electri-
cidade (e que de outra forma seria desperdiçado) contri-
buindo, assim, para um aproveitamento mais eficiente dos
recursos energéticos. 67
A ofer ta de energia
As principais tecnologias de micro-geração e micro-coge-
ração disponíveis actualmente no mercado, ou em fase
de desenvolvimento, incluem, entre outras, os convencio-
nais motores de combustão interna (diesel e gás) e as
tecnologias emergentes, como as modernas micro-turbi-
nas a gás e as promissoras pilhas de combustível. As
vantagens ambientais e energéticas, aliadas a uma cres-
cente atractividade a nível económico, estão a tornar
estas últimas tecnologias for tes alternativas à penetra-
ção num mercado até hoje dominado pelos motores de
combustão interna.
Embora alguns modelos tenham sido desenvolvidos propo-
sitadamente para a micro-geração, a maioria das micro-
turbinas deriva de motores desenvolvidos para a indústria
68
aeronáutica ou automóvel. Novos desenhos e materiais
A ofer ta de energia

permitem alcançar emissões reduzidas, rendimento relati-


vamente elevado, necessidades de manutenção mínimas e
um custo por kW competitivo. Este tipo de tecnologia en-
contra-se no início da fase de comercialização e os cons-
trutores estão muito optimistas em relação ao seu sucesso.
As pilhas de combustível representam um conceito de pro-
dução de electricidade completamente diferente dos ante-
riores, pois neste caso não existe combustão. Este tipo
de equipamento conver te directamente a energia química
contida na fonte de energia (normalmente hidrogénio ou
gás natural) em electricidade, através de um processo
electroquímico. No caso dos sistemas baseados em com-
bustão, a energia química contida no combustível sofre
uma série de conversões até atingir a forma final de ener-
gia eléctrica (química -> térmica -> mecânica -> eléctrica),
resultando em sucessivas perdas de energia. Por esta
razão, o rendimento eléctrico das pilhas de combustível é
significativamente superior ao dos motores de combustão
interna e das micro-turbinas a gás. As emissões resul-
tantes do funcionamento das pilhas de combustível são
praticamente nulas. As necessidades de manutenção são
muito reduzidas e a vida útil pode chegar a 30 anos.
A principal desvantagem reside no seu ainda elevado custo
inicial, justificado não só pela inexistência de produção em
grande escala deste equipamentos, mas também pela ne-
cessidade de utilização de materiais especiais no seu fabrico
(e.g. metais preciosos). Antevê-se o sector dos transportes
como o grande mercado inicial para as pilhas de combus-
tível, o que deverá permitir uma redução considerável
do seu custo de fabrico, através da produção em massa.

Quadro 2 - Custo das tecnologias de microgeração [€/kW] (Fonte:

Ar thur D. Little Inc.)

Actualmente Previsão 2010

Micro-turbinas a gás 800 – 990 440 – 660


Pilhas de combustível de baixa temperatura 2200 – 3300 830 – 1100
Motores de combustão interna a gás 550 – 830 440 – 750
uma nova oportunidade >

Uma das formas mais importantes de contribuir para a re-


dução da dependência energética do país consiste na abor-
dagem integrada do serviço energético junto do consumi-
dor final. A liberalização do mercado da electricidade abri-
rá, em Portugal, portas para o aparecimento de empresas
especializadas na prestação de serviços de energia, as
denominadas ESCO (Energy Services Companies). A micro-
-geração e, em particular, a micro-cogeração, represen-
tam uma nova oportunidade para este tipo de empresas.
Actualmente, a penetração da micro-geração e da micro-
-cogeração em Por tugal e na Europa é muito reduzida, de-
vido essencialmente a factores de ordem política e legis-
lativa. A ausência de um enquadramento adequado limita,
por enquanto, a atractividade da micro-geração. A equipa-
ração da micro-cogeração à cogeração, por exemplo ao
nível do acesso a tarifas de gás natural especiais, poderá
criar condições para que a micro-cogeração se torne
efectivamente uma actividade atractiva.

69
A ofer ta de energia
O SECTOR ENERGÉTICO
NA ECONOMIA NACIONAL
O sector energético desempenha, naturalmente, um papel
vital como supor te a toda a actividade económica. Além
disso ele é, por si só, um dos sectores com maior peso
na economia nacional, nomeadamente ao nível do valor
acrescentado, do investimento, do emprego e do comér-
cio externo do país.
O valor acrescentado bruto (VAB) do sector da energia, a
preços correntes, aumentou continuamente, durante a dé-
cada de noventa, a uma taxa média superior a 9% ao ano.

800

600
Gás
400
Carvão

200 Petróleo

Electricidade
0

Milhões de Contos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Fig. 33 - Valor Acrescentado Bruto do sector da energia a preços cor-

rentes (fonte: Direcção Geral de Energia)

O sector representou, tipicamente, entre 3,5% e 4% do 71

PIB nacional, entre 1990 e 1998. Dentro do sector da O sector energético na economia nacional

energia, o sector eléctrico, embora tenha perdido peso


relativo, permanece como o mais significativo em termos
absolutos. No início da década, o sector eléctrico repre-
sentava mais de 80% do valor acrescentado do sector da
energia, mas desceu para valores abaixo dos 65% nos
últimos anos da década.
O investimento no sector da energia teve uma evolução
menos monótona ao longo da década, tendo crescido nos
primeiros anos e decrescido a par tir de 1993. Atingiu
um máximo de 7,3% da Formação Bruta de Capital Fixo
nacional, em 1993, tendo decrescido a par tir dessa data.
250

200

150 Gás

100 Carvão

Petróleo
50
72
Electricidade
0
O sector energético na economia nacional

Milhões de Contos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

PREFÁCIO
Fig. 34 - Investimento no sector da energia a preços correntes (Fonte:

Direcção Geral de Energia)

O sector eléctrico é, também ao nível do investimento, o


sector tradicionalmente com maior peso, dentro do sec-
tor da energia. No entanto, é notório o esforço de inves-
timento a par tir de 1994, feito no sector do gás, e que
se relaciona com o desenvolvimento do projecto do gás
natural. Este projecto mobilizou investimentos superiores
a 71 milhões de contos em 2000, sendo previsível que,
em 2001 e 2002, os investimentos se situem em cerca
de 82 e 83 milhões de contos, respectivamente.
O emprego no sector teve uma tendência decrescente ao
longo da década, devido a reduções progressivas de efec-
tivos nos sub-sectores da electricidade e do petróleo que
não foram compensadas pelo crescimento verificado no
gás natural.

30

25

20

15 Gás

10 Carvão

Petróleo
5
Electricidade
0

Milhares 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Fig. 35 - Emprego no sector da energia (Fonte: Direcção Geral de Energia)

Devido à for te dependência externa em termos energéti-


cos (ver primeiro capítulo), as impor tações de energia
têm um impacto significativo na Balança Comercial do
país. O peso das impor tações líquidas de energia nas
impor tações FOB de mercadorias variou entre cerca de
8% e cerca de 4,5%.
12

10

% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Fig. 36 - Peso das impor tações líquidas de energia nas impor tações de

mercadorias FOB (Fonte: Direcção Geral de Energia)

A partir de finais de 1998, o preço do petróleo, que nessa


altura atingiu um mínimo de 9,13 USD/barril (Brent),
teve uma forte evolução altista, tendo-se atingido o máximo
de 37,8 USD/barril (Brent) em Setembro de 2000, des-
cendo posteriormente para se situar na faixa dos 20 a 25
USD/barril (Brent). Esta evolução teve um impacto notó-
rio no peso da energia nas impor tações de mercadorias,
nos últimos dois anos, tendo ultrapassado os 10% em
2000. Do mesmo modo, o valor das impor tações de ener-
gia, em valor, aumentou 32% de 1998 para 1999 e 108%
de 1999 para 2000, tendo-se situado no último ano em
mais de 729 milhões de contos.

73
O sector energético na economia nacional
A ENERGIA E O AMBIENTE
O aquecimento global do planeta constitui uma das gran-
des preocupações da humanidade, pelas consequências
nefastas em domínios tais como o aumento da tempera-
tura média à superfície da terra, a subida do nível dos ocea-
nos, a ocorrência de fenómenos climatéricos de grande
turbulência e cada vez com maior frequência. As altera-
ções climáticas, provocadas sobretudo pelas emissões dos
gases com efeito de estufa (GEE) decorrentes das activi-
dades humanas, originaram já o esboço concer tado de
estratégias para a sua redução, envolvendo a generalidade
dos países do globo. O Protocolo de Quioto, aprovado no
âmbito das Nações Unidas em 1997, visa a reposição das
emissões de gases com efeito de estufa, no período 2008-
-2012, nos níveis de emissão registados em 1990.
Contudo, a emissão de gases com efeito de estufa resulta
de actividades essenciais no quadro económico e social
moderno, com destaque para a utilização de recursos
energéticos de origem fóssil, por exemplo nos transpor-
tes e na indústria, e em algumas actividades industriais e
agrícolas.
A utilização de recursos energéticos de origem fóssil é
responsável, à escala mundial, por cerca de três quar tos
das emissões de CO 2 com origem nas actividades huma-
nas, por um quinto do metano emitido e por uma quanti- 75
A energia e o ambiente
dade significativa de óxido nitroso. Por outro lado, resul-
tam ainda óxidos azotados (NOx), compostos de carbono
(HCs) e monóxido de carbono (CO) que, apesar de não
serem gases com efeito de estufa, influenciam reacções
químicas na atmosfera que provocam a criação ou a des- Principais gases de efeito de estufa

truição de outros gases com efeito de estufa como é o caso CO 2 – dióxido de carbono, com origem essencial-

do ozono troposférico. mente na utilização de recursos energéticos de ori-

Portugal tem responsabilidades no âmbito dos compromis- gem fóssil;

sos internacionais para a redução de gases com efeito de N 2 O – óxido nitroso, resultante essencialmente das

estufa. Os países da União Europeia, no âmbito dos com- actividades agrícolas;

promissos do Protocolo de Quioto, acordaram numa repar- CH 4 – metano, originado sobretudo pelas activida-

tição a nível de país por forma a atingirem, em 2008-2012, des energéticas e agrícolas (incluindo a pecuária);

uma redução de 8% das emissões em relação a 1990, Compostos halogenados (HFC, PFC e SF 6 )
tendo em conta o nível de desenvolvimento das diferentes
76
economias. Neste âmbito, enquanto alguns países devem
A energia e o ambiente

reduzir as suas emissões, naquele período, Por tugal poderá


aumentá-las em 27%.
O petróleo, o gás natural e o car P
vãoR E FnaÁ
estão CIO
origem da
maior par te da energia utilizada para produzir electricida-
de, para satisfazer as necessidades de calor (vapor e for-
no) na indústria, para os transpor tes, para aquecimento
das habitações e edifícios de ser viços. A gestão da flores-
ta poderá igualmente ter um impacto significativo a nível
das emissões líquidas de CO 2 . Embora com algumas
incer tezas do ponto de vista científico sobre o impacto à
escala global das actividades ligadas à floresta, estima-se
que entre 600 a 2.6 biliões de toneladas de carbono
sejam liber tadas anualmente para a atmosfera, sobretudo
em consequência das actividades de deflorestação
que ocorrem nos trópicos. Em Por tugal, os incêndios flo-
restais constituem um elemento negativo sob este ponto
de vista.
Em termos sectoriais, as actividades de transformação de
energia representam cerca de dois terços das emissões
totais de GEE em cada ano no período 1990-1999 (ver
figura 37). Além disso, este sector é também responsá-
vel pelo for te crescimento das emissões, tendo contribuí-
do com per to de 90% do aumento registado durante este
período. A taxa de crescimento das emissões de GEE
neste sector, entre 1990 e 1999, é de cerca de 32%
enquanto que para o conjunto dos outros sectores esta taxa
é inferior a 7%. Dentro do sector energia (ver figura 38),
os sub-sectores de ofer ta de produtos energéticos e dos
transpor tes representavam cada um, em 1999, per to de
um quar to das emissões totais de GEE. No entanto, o sub-
sector transpor tes foi o principal responsável pelo
90
aumento das emissões, tendo contribuído com per to de
7,20
50% do aumento global registado durante o período em

6,39
11,89 análise. É também de sublinhar o for te crescimento das
60 0,28
5,51
11,97 emissões nos "outros sub-sectores" (residencial e terciá-
0,27 resíduos
4,74

agricultura
rio), com uma taxa de crescimento de 30,7% no referido
30 54,42
41,27 solventes e outros período.
processos industriais

energia
0

Mt CO2 eq. 1990 1999 Fig. 37 - Evolução das emissões de GEE, em 1990 e 1999, por sector

(Fonte: Plano Nacional para as Alterações Climáticas, 2000)


60

50 6,16

40 4,72 19,18

30 11,41

10,47 outros sub-sectores


20 8,90
transportes

10 18,24
indústria transformadora e construção
15,98

indústrias da energia
0

Mt CO2 eq. 1990 1999

Fig. 38 - Evolução das emissões de GEE, entre 1990 e 1999, por sub-sector

energético (Fonte: Plano Nacional para as Alterações Climáticas, 2000)

O sector energético está, assim, no centro da problemática


das alterações climáticas, pelo seu impacto no que se refe-
re à emissão de gases com efeito de estufa. A redução de
emissões deste tipo de gases surge como uma das grandes
linhas de orientação da política energética, a par da redu-
ção da dependência externa, da valorização dos recursos
energéticos endógenos e da redução dos custos da energia
como factor de competitividade da economia.
Os seguintes vectores da política energética nacional são
fundamentais para a redução das emissões:
introdução e consolidação do gás natural como fonte de
abastecimento de energia;
fomento das energias renováveis;
utilização racional de energia em todos os segmentos
consumidores;
regulamentação da utilização de energia em edifícios,
nos transportes, nos grandes consumidores industriais;
incorporação progressiva das externalidades resultantes
do uso da energia nos preços de produtos energéticos. 77
Como instrumentos privilegiados para o sucesso das linhas A energia e o ambiente

de política enumeradas, salientam-se a política de preços


de compra pela rede pública da electricidade produzida a
partir de energias renováveis, a reforma fiscal dos combus-
tíveis através da introdução de componentes ecológicas, os
acordos voluntários com os grandes consumidores e políti-
cas de apoio à introdução de novas tecnologias.
A par da política energética, as políticas no domínio dos
transportes e da introdução de novas tecnologias, visando
uma utilização menos intensiva em energia, são igualmente
vectores relevantes e de interligação entre energia e clima.
OS DESAFIOS
PA R A A P R Ó X I M A D É C A D A
Efectuada a fotografia do sistema energético por tuguês,
impor ta agora atentar nas suas vulnerabilidades e nos
seus pontos for tes, tendo em vista dar resposta aos gran-
des desafios que se deparam ao sector na próxima déca-
da e de que se destacam:
a necessidade de redução de emissões de gases po-
luentes associadas à transformação da energia, tendo em
vista o cumprimento das metas negociadas por Por tugal
no âmbito do Protocolo de Quioto (aumento máximo de
27% nas emissões de gases com efeito de estufa no
período 2008-2012 tendo por base as emissões regista-
das em 1990);
aumento da penetração das fontes de energia renová-
veis no balanço energético, como forma de reduzir as
emissões de gases com efeito de estufa e a dependência
do exterior no abastecimento energético;
organização dos mercados emergentes ligados ao sec-
tor energético, nomeadamente os mercados dos ser viços
energéticos e o mercado das emissões de gases poluen-
tes, que constituem veículos impor tantes para a raciona-
lidade e transparência do sector;
aumento generalizado da eficiência energética em todo
o sistema, desde a produção ao consumo final da energia;
alteração da atitude dos agentes consumidores face à 79
Os desafios para a próxima década
utilização da energia, através da consideração das exter-
nalidades resultantes da utilização da energia, de tecnolo-
gias eficientes e de campanhas de informação.
Em 2002 Portugal ratificará o Protocolo de Quioto, estando
já em preparação o Programa Nacional para as Alte-
rações Climáticas (PNAC) que constituirá o documento de
referência, no que se refere às políticas e medidas inter-
nas e à utilização de mecanismos de flexibilidade, para o
cumprimento do esforço de redução de emissões de ga-
ses com efeito de estufa a que Por tugal está obrigado.
Grande par te do esforço de redução está relacionado com
o sector energético, pelo que este Programa constituirá
80
Os desafios para a próxima década

um documento enquadrador de algumas políticas a definir


no âmbito, por exemplo, da organização do sistema de
transportes, da utilização da energia nos edifícios, da defi-
nição de uma política fiscal para os produtos energéticos.
No que se refere à necessidade de aumentar for temente
a penetração das energias renováveis no balanço energé-
tico, o Governo deu um passo decisivo com a adopção do
Programa E4 (Eficiência Energética e Energias Endóge-
nas). Da sua aplicação espera-se ser possível atingir, em
2010, mais 4 000 MW de potência de geração eléctrica
com recurso às energias renováveis, mais 500 MW de
cogeração e 1 milhão de m 2 de colectores solares insta-
lados para aquecimento de água.
A dinamização e modernização do sector energético, atra-
vés do fomento das energias endógenas e da eficiência
energética, terá um efeito impor tante na dinamização do
tecido empresarial, criando novas opor tunidades de inves-
timento, suscitando o aparecimento de empresas vocaci-
onadas para actuar em áreas emergentes, aumentando a
competitividade por via da redução dos custos das empre-
sas utilizadoras da energia, incentivando a investigação e
desenvolvimento de novos produtos.
Como enquadramento à dinamização do sector e ao im-
pacto das políticas, a educação e a formação, dirigidas à
população escolar e às pequenas e médias empresas, deverão
assumir um papel impor tante e constituir um instrumento
fundamental para a execução das políticas energéticas,
para a alteração de compor tamentos e para a difusão de
boas práticas.
ANEXOS
anexo 1

Resolução do Conselho
de Ministros n.º 154/2001,
de 19 de Outubro

Em sintonia com o estabelecido no Programa do Governo,


a política energética nacional visa a consecução de um
conjunto de objectivos há muito consensualizados na socie-
dade por tuguesa: segurança do abastecimento em ener-
gia, redução da factura externa resultante da impor tação
de produtos energéticos e favorecimento da competitivi-
dade do sistema produtivo nacional, no quadro da abertura
dos mercados e da construção do mercado único. Reconhe-
cendo na energia um dos factores de pressão ambiental
com mais impacte a nível local, regional e global, é ainda
política do Governo que o alcançar daquelas metas se faça
no respeito pelos valores ambientais à luz, entre outros,
dos compromissos internacionais de Por tugal, nomeada-
83
mente no quadro da União Europeia. Anexos
Dando resposta às preocupações na área da segurança do
abastecimento, prossegue o esforço no sentido da implan-
tação do gás natural como vector de diversificação das
fontes de abastecimento energético, bem como da criação
do mercado de electricidade na União Europeia, que faci-
litará as interligações das redes eléctricas e, conse-
quentemente, as trocas transfronteiriças de electricidade.
No entanto, a intensidade energética do nosso país apre-
senta valores muito elevados que tendem ainda a aumen-
tar, e a factura energética devida à impor tação de com-
bustíveis de origem fóssil quase duplicou nos últimos
três anos. Estas realidades, que afectam a competitividade
84
Anexos

da economia nacional, aconselham a adopção urgente de


medidas que conduzam à inversão da situação e apontem
novas vias de evolução do quadro energético nacional.
Os compromissos assumidos por Portugal no que se refere
à emissão de gases com efeito de estufa e a definição de
uma estratégia para responder às alterações climáticas,
como se encontra explicitado na Resolução do Conselho
de Ministros nº 59/2001, reforçam, igualmente, a neces-
sidade de considerar a eficiência energética e a promoção
das energias endógenas, com destaque para as energias
renováveis, como eixos essenciais da política energética
do Governo.
O aumento da eficiência energética, necessário para redu-
zir a intensidade energética do PIB e as emissões associa-
das à combustão de energias fósseis, passa pela adopção
de medidas do lado da ofer ta mas, também, requer novas
abordagens da problemática energética pelo lado da pro-
cura. Enquanto os mecanismos de mercado e a existência
de uma Entidade Reguladora da Electricidade a ser, em
breve, alargada ao gás natural, estimulam a eficiência do
lado da ofer ta, desde a produção de electricidade ao
transpor te/distribuição, impõe-se a necessidade de um
par ticular esforço do lado da procura.
Muito embora se tenham desenvolvido, no âmbito da indús-
tria e dos ser viços, experiências muito válidas de utili-
zação racional de energia e, nomeadamente, de produ-
ção/utilização conjunta de energia térmica e eléctrica
(co-geração) que impor ta estimular, há ainda um longo ca-
minho a percorrer para atingir, globalmente, níveis euro-
peus de eficiência energética nesses sectores. Mas, são
sobretudo os sectores dos transpor tes e dos edifícios os
que revelam as mais elevadas taxas de crescimento de
consumo de energia e de emissão de CO 2 . A evolução
destes dois segmentos da procura energética, atendendo
à sua dispersão e dependência de um largo espectro de
factores condicionantes, constitui um extraordinário desa-
fio que implica um grande esforço de modernização da
sociedade e da própria Administração, maxime, no que
respeita à gestão das cidades ou dos concelhos e das infra-
-estruturas urbanas.
Por sua vez, a valorização das energias endógenas ofere-
ce um potencial que permitirá quase duplicar a potência
actualmente disponível, a explorar sob as formas eólica,
hídrica, biomassa, solar (fotovoltaica e térmica) e também
de energia das ondas, num horizonte de 10 a 15 anos,
podendo acarretar um impulso na actividade económica
do país que poderá ser estimada como envolvendo um in-
vestimento da ordem dos 1 000 milhões de contos.
Esta orientação encontra-se em sintonia com os objectivos
da União Europeia na matéria consagrados em diversos
documentos, nomeadamente, na recente Directiva rela-
tiva à promoção da electricidade produzida a par tir de
fontes renováveis de energia.
Assim, nos termos da alínea g) do ar tigo 199º da Consti-
tuição, o Conselho de Ministros resolve:
Aprovar o Programa E4, Eficiência Energética e Energias
Endógenas, com os objectivos e medidas que a seguir se
descrevem:

objectivos >
85
Anexos
1º- Ultrapassar os desequilíbrios estruturais do
país na área da energia - O desenvolvimento da polí-
tica energética nacional tem por metas principais a redu-
ção da intensidade energética no PIB, a diminuição da
dependência externa em energia primária, permitindo
alcançar uma melhoria da segurança do aprovisionamento,
a redução da factura energética externa e a protecção
do ambiente.

2º- Potenciar a concretização do Mercado Interno


da Energia da União Europeia - A concretização do
mercado interno da energia determina um aprofundamento
legislativo e regulamentar, designadamente nas ver tentes
86
Anexos

de regulação económica, liberalização de mercados e qua-


lidade de ser viço e implica um reforço da Rede de Trans-
por te de Electricidade, incluindo a sua interligação com a
redes Europeias, continuando o esforço de melhoria da
eficiência na produção, no transpor te e na distribuição da
electricidade.

3º- Agilizar o sistema energético português - A conso-


lidação de uma dimensão de Mercado Ibérico da Electrici-
dade que, desejavelmente, deverá entrar em funciona-
mento a par tir de 1 de Janeiro de 2003 e que permita
assegurar as vantagens de um mercado alargado em
termos de eficiência e de competitividade, ao mesmo tempo
que procure salvaguardar os valores e as especificidades
das instituições por tuguesas.

4º- Promover um vasto leque de medidas de eficiên-


cia energética - A prossecução dos objectivos nesta
matéria passa pela abordagem integrada das opor tunida-
des que se oferecem do lado da ofer ta, ao nível dos siste-
mas energéticos, com realce para a criação do mercado
ibérico da electricidade e pela melhoria das prestações a
todos níveis de inter venção tecnológica, desde a produ-
ção/conversão até à distribuição de electricidade e, igual-
mente, pela organização da procura, buscando as melhores
soluções em termos de ordenamento do território, planea-
mento urbano, projecto de edifícios e de infra-estruturas
urbanas e gestão de sistemas de utilização de energia ao
nível do utilizador, sujeitando toda a actividade a critérios
de qualidade energética e ambiental segundo os valores
modernamente referidos ao conceito da sustentabilidade.

5º- Facilitar o acesso e o desenvolvimento da produ-


ção de electricidade por vias progressivamente mais
limpas e renováveis - O recurso à grande produção em
ciclo combinado, à co-geração e micro-geração, à eólica,
à s o l a r, à b i o m a s s a , e à h í d r i c a , p e r m i t i r á a p r o x i m a r
do cumprimento dos normativos ambientais comunitários
que apresentam metas a atingir no tocante à produção de
energia com origem neste tipo de fontes, com as quais é
necessário convergir.

medidas >

Os objectivos enunciados concretizam-se nas seguintes


medidas adoptadas pelo Governo:
Salvaguarda das condições de segurança do abasteci-
mento dos combustíveis, nos termos acordados internacio-
nalmente;
Clarificação e harmonização das condições de atribui-
ção de pontos de ligação às redes públicas a produtores
do Sistema Eléctrico Independente;
Valorização do Sistema Eléctrico Independente pelo
aumento da remuneração da electricidade com origem em
energias renováveis, diferenciada por tecnologia e regime
de produção de centros electroprodutores;
Promoção do gás natural como carburante e revisão,
neste contexto, das condições de licenciamento e de se-
gurança dos postos de abastecimento de combustíveis;
Definição de normas de eficiência energética para ba-
lastros de fontes de iluminação fluorescente; 87
Anexos
Reorientação dos apoios e incentivos previstos no Pro-
grama Operacional de Economia, com vista à prossecução
dos objectivos definidos em matéria de eficiência energé-
tica e de utilização de recursos energéticos endógenos;
Promoção de acções de informação sobre boas práticas
em matéria de utilização da energia e tecnologias eficientes.

A par das medidas adoptadas encontram-se em preparação


as seguintes medidas de concretização do Programa E4:
Reestruturação do sector eléctrico;
Melhoria dos padrões de qualidade de serviço no âmbito
do Sistema Eléctrico de Serviço Público;
Promoção da produção de electricidade a partir de fontes
88
Anexos

renováveis, incluindo o reforço das centrais hidroeléctri-


cas já existentes, e através de processos mais eficientes
(co-geração, ciclo combinado, micro-geração e outras tec-
nologias emergentes);
Alargamento das competências da Entidade Reguladora
do Sector Eléctrico ao gás natural;
Continuação do processo de liberalização do mercado
da energia; a expansão territorial do projecto do gás natu-
ral com vista ao reforço progressivo da segurança do
abastecimento e à correcção de assimetrias regionais; a
promoção da gestão da procura de energia nos vários
sectores (doméstico, industrial, ser viços, etc.);
Desenvolvimento de sistemas de transpor te energetica-
mente eficientes e limpos;
Lançamento de um Programa Nacional de promoção e
credibilização do aquecimento de águas sanitárias por
Energia Solar;
Lançamento de um Programa Nacional para a Eficiência
Energética nos Edifícios, incluindo a sua cer tificação ener-
gética e dinamização de inter venções energético-ambien-
tais com especial incidência no espaço urbano;
Adopção de incentivos fiscais e económicos à eficiência
energética e ao desenvolvimento de energias endógenas;
Melhoria do acesso dos consumidores à informação
sobre energia.
anexo 2

lista de Diplomas do Programa E4

diplomas aprovados >

Resolução do Conselho de Ministros nº 154/2001, de


19 de Outubro
Aprova o Programa E4, Eficiência Energética e Energias
Endógenas.

Decreto-Lei nº 298/2001, de 21 de Novembro


Define as regras de utilização do gás natural comprimido
(GNC) como combustível nos automóveis.

Decreto-Lei nº 302/2001, de 23 de Novembro


Estabelece o novo quadro legal para a aplicação do
Regulamento de Construção e Exploração de Postos de
Abastecimento de Combustíveis. 89
Anexos
Decreto-Lei nº 312/2001, de 10 de Dezembro
Define o regime de gestão da capacidade de recepção de
energia eléctrica nas redes do SEP, proveniente de centros
electroprodutores do SEI (produtores em regime especial),
definindo os princípios e os mecanismos de atribuição de
pontos de interligação com as redes do SEP.

Decreto-Lei nº 313/2001, de 10 de Dezembro


Altera o Decreto-Lei nº 538/99, de 13 de Dezembro,
revendo normas relativas às condições de exploração e
tarifárias da actividade de produção combinada de calor e
electricidade (co-geração).
90
Anexos

Decreto-Lei nº 314/2001, de P
10 R
de E
Dezembro
FÁCIO
Altera o Decreto-Lei nº 223/2000, de 9 de Setembro,
relativo à Agência para a Energia, alterando a sua deno-
minação para ADENE e procedendo ao ajustamento da sua
missão, âmbito e atribuições, por forma a conferir-lhe
maior capacidade de inter venção na promoção da eficiên-
cia energética e da valorização dos recursos endógenos.

Decreto-Lei nº 327/2001, de 18 de Dezembro


Estabelece as normas de eficiência energética para balas-
tros de fontes de iluminação fluorescente, transpondo para
o direito interno a Directiva do Parlamento Europeu e do
Conselho nº 2000/55/CE de 18 de Setembro.

Decreto-Lei nº 339-C/2001, de 29 de Dezembro


Altera o Decreto-Lei nº 168/99, de 13 de Dezembro, re-
vendo o tarifário de venda à rede pública da energia eléc-
trica produzida a par tir de recursos renováveis, diferen-
ciando por tecnologias, e atribuindo uma remuneração às
autarquias pela instalação, nos respectivos concelhos, de
centrais eólicas.

Decreto-Lei nº 339-D/2001, de 28 de Dezembro


Altera algumas disposições do Decreto-Lei nº 10/2001,
de 23 de Janeiro, cria a EGREP, EPE, Entidade Gestora de
Reser va Estratégica de Produtos Petrolíferos e aprova os
respectivos estatutos.

diplomas em preparação >

Projecto de Decreto-Lei que estabelece o regime de Li-


cenciamento de Armazenagem e Postos de Abastecimento
de Combustíveis.

Projecto de Decreto-Lei que estabelece o Regulamento


sobre manutenção e conser vação de ascensores.
Projecto de Decreto-Lei que estabelece as condições
de entrega de energia eléctrica em baixa tensão.

Projecto de Decreto-Lei que estende a regulação ao


gás natural e aprova os estatutos da entidade reguladora
conjunta com a electricidade.

Projecto de Decreto-Lei que actualiza o Regulamento


das Características do Compor tamento Térmico dos Edifí-
cios (RCCTE).

Projecto de Decreto-Lei que actualiza o Regulamento


dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios
(RSECE).

Projecto de Decreto-Lei que actualiza o Regulamento


da Gestão do Consumo de Energia (RGCE).

Projecto de Decreto-Lei que revê a legislação de enqua-


dramento de actividade económica do sector eléctrico.

Projecto de Decreto-Lei que estabelece o Regulamento


de Segurança de Instalações de utilização de energia eléc-
trica em baixa tensão.

91
Anexos

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