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1 Contexto histórico-legislativo
O Estado Novo foi bastante ativo na seara legislativa. Exatamente neste período
ocorreu, dentre outras obras, a nacionalização da legislação processual, com os
Códigos de Processo Civil de 1939 e Processo Penal de 1941; um novo Código
Penal para substituir o instituído logo após a proclamação da República; e as leis
de tutela aos trabalhadores, processo que desembocou na Consolidação das Leis
do Trabalho de 1943. Porém, na maior parte de sua duração não contou com um
poder legislativo, pois a Carta outorgada junto com o golpe de 10 de novembro de
1937 delegou ao Poder Executivo a prerrogativa de legislar por meio dos
decretos-lei com força de lei ordinária. Destaca-se nessa atividade a figura do
Ministro da Justiça Francisco Campos, pois por seu crivo passaram (seja de
próprio punho ou enquanto avalista das diversas comissões legislativas) muitas das
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Alcântara Machado tece severa crítica sobre tal mudança que, em seu ver,
“denuncia, em mais de um passo, desconformidade flagrante com o espírito do
atual regime político” (1941, p. 33). Enumera uma série de crimes contra a nação
cometidos no estrangeiro que a nova codificação, bem como as demais leis
vigentes, não dispõe em momento algum (1941, p. 34). Mas sua maior crítica está
na supressão do título relativo aos crimes contra a personalidade do Estado. Ele os
diferencia dos crimes contra a ordem política e social, classificando aqueles como
os contra a nação brasileira, os estados estrangeiros e os direitos políticos do
cidadão. Anota vários crimes que deixariam de ser punidos, como o vilipêndio à
bandeira nacional (1941, pp. 37-38). O penalista Galdino Siqueira acompanha esta
linha de crítica à comissão revisora1.
Esta crítica, a princípio coerente, pois ligada ao princípio do nullun crimen, nulla
poena sine proevia lege poenali, não se sustenta se ligada a uma interpretação de
acordo com a política vigente no período. Analisando o artigo 1.º do Decreto-lei
n.º 431/1938 (a nova lei de segurança, substituindo as Leis n.º 38 e 136/1935),
encontra-se tutelada como bem jurídico específico a “personalidade internacional
do Estado”. Além disso, depreende-se do mesmo dispositivo que os termos
“ordem política”, “governo” e “Estado” eram sinônimos para o Estado Novo2.
Havia, portanto, total cobertura pelo aparato legal já vigente. O mesmo vale para
os direitos políticos do cidadão, incluídos na “ordem social” 3.
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polêmica:
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Por outro lado, durante muito tempo na historiografia jurídica italiana o Código
Penal Italiano de 1930, paradigma para o nosso código (MACHADO, 1941) foi
considerado um código filiado à estirpe liberal pelo fato de preservar o princípio
da legalidade, em oposição à legislação nazista4. Mais recentemente, vários
autores têm apontado o espaço para a criminalização política como um traço
autoritário indubitável do “Código Rocco” (PELISSERO e MODONA, 1997;
SBRICCOLI, 1999) e, embora o código brasileiro ainda possa ser considerado um
código de traços autoritários em função da preeminência da idéia antiliberal de
defesa social (SONTAG, 2007), Nélson Hungria defendeu a não inserção dos
crimes políticos no código:
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Considerações finais
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Referências
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GROSSI, Paolo. Mitologias jurídicas da modernidade. Tradução de Arno Dal Ri Junior. 2 ed. rev. e atual.
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Luciano (a cura di). Storia d’Italia. Annali 12. Torino: Einaudi, 1997.
SBRICCOLI, Mario. La penalistica civile: teorie e ideologie Del diritto penale nell’Italia unita. In: COSTA,
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TOMÁS Y VALIENTE, Francisco. La codificación, de utopia a tecnica vulgarizada. In: ______. Códigos y
contemplados em todos os códigos antigos e modernos, e até na maioria com preminência, como os
crimes contra a personalidade do Estado (que não se devem confundir com os políticos), por
afetarem as condições básicas de uma sociedade policiada, bem como os crimes contra a economia
popular, relegados todos para leis especiais (art. 360)!!” (1950, p. 84).
2 É o que facilmente se constata pela leitura desta parte do dispositivo: “Serão punidos na forma
desta lei os crimes contra [...] a ordem política, assim entendidos os praticados contra a estrutura e
a segurança do Estado” (grifo nosso).
3 “[...] ordem social, como tal considerada a estabelecida pela Constituição e pelas leis
relativamente [...] aos direitos e deveres das pessoas de direito público para com os indivíduos, e
4 Cf. sobre essa discussão historiográfica “Il codice Rocco cinquant’anni dopo: La questione
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