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ano 53 - nº 453 - fevereiro/2015

Prazer em aprender:
escola não é castigo

O que temos em comum


com nossos “hermanos”?

Congresso Nacional
um jornal de ideias conservador: até quando?

Ritmos biológicos e estilos


de vida: como harmonizar?
Fotografia: Tiago da Silva Greff

Fraternidade,
o caminho da paz
Assinaturas
É preciso falar. É preciso ouvir. É preciso que todas as Mundo Jovem
vozes ecoem e que, sobretudo, as vozes se entendam
e organizem a palavra e a ação coletiva. É preciso
diálogo em torno do que gera as desigualdades, e
2015
Informações: p. 3
jamais se limitar apenas às compensações. e contracapa
Douglas Belchior, professor na rede pública de São Paulo
e dos cursinhos da União de Núcleos de Educação Popular
para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro Brasil)
LÍNGUA E LITERATURA

O escritor Rubem Alves nasceu


na cidade mineira de Boa As sementes que
Esperança. Casualidade ou
não, dentre tantas belas frases
inspiradas, escreveu: “Esperança
Rubem Alves plantou
é quando, sendo inverno do lado
de fora, a despeito dele brilha o
sol de verão no lado de dentro”.

Lúcia Barcelos,
escritora, poetisa, integra a Equipe do jornal Mundo Jovem.
E-mail: lupoetando@yahoo.com.br

Rubem Alves foi teólogo, educador, tradutor


e escritor: autor de livros de Filosofia, Teologia,
Psicologia e de histórias infantis. E foi também
um grande poeta, com uma linguagem que lem-
bra os pássaros, cujos trinados são capazes de
despertar os sonhos que repousam no recôndito

2 da alma de cada um.


Ao fazer essa comparação do poeta com o
pássaro, lembrando também do
Rubem Alves educador, cabe aqui ria o caminho dos poetas, Sugestão de Site
“Enquanto a
a transcrição de suas próprias que é o caminho das ima-
sociedade feliz não Site oficial do autor:
palavras: “Escolas que são asas gens. “Uma boa imagem
chega, que haja pelo http://rubemalves.com.br
não amam pássaros engaiolados. é inesquecível”. Por isso,
O que elas amam são pássaros menos fragmentos suas crônicas e seus livros
de futuro em que a No Site do Mundo Jovem
em voo. Existem para dar aos são ricos em metáforas e
pássaros coragem para voar. alegria é servida como pequenas histórias ilustra- Documentário Rubem Alves, o profes-
Ensinar o voo, isso elas não po- sacramento, para que tivas que facilitam a com- sor de espantos. Com direção de Dul-
dem fazer, porque o voo já nasce as crianças aprendam preensão de suas disserta- ce Queiroz. Duração 44 minutos. Pode
ser assistido em nosso site, na edição
dentro dos pássaros. O voo não que o mundo pode ções. Suas palestras, para
de fevereiro de 2015, por este link:
pode ser ensinado. Só pode ser ser diferente. Que a quem teve o privilégio de www.mundojovem.com.br/edicoes
encorajado”. escola, ela mesma, assisti-las, também con-
Essa personalidade multiface- seja um fragmento templavam essa agradável
tada também muito contribuiu e característica. Para a reunião de professores
do futuro...”
continuará contribuindo através Com um estilo todo
Rubem Alves
das suas produções literárias, próprio de se expressar,
para o enriquecimento da Edu- Rubem Alves deixa dicas
cação de adultos, jovens e crianças, pois tinha o valiosas aos educadores no que diz “Milho de pipoca que não passa
pelo fogo continua milho de pipoca
dom de transformar ideias e palavras em brin- respeito à alma humana, no sentido para sempre”!
cadeiras divertidas para transmitir informações. de que é através da sensibilidade que
Em uma de suas parábolas, Rubem
Assim, suas obras tornaram-se interessantes se consegue perceber e tentar com- Alves nos compara aos milhos de
subsídios para professores e educadores de um preender melhor o que nos rodeia, o pipoca. Alguns de nós temos a
modo geral. contexto do mundo. Outra dica bem capacidade de nos transformarmos
importante do autor: tudo isso passa em “flores brancas macias” quan-
do aquecidos pelo fogo, outros
Paixão e sensibilidade pelo processo da arte de pensar.
se mantêm como piruás, milhos
Rubem Alves afirma que, para além da didá- No seu jeito de lidar com as pa- que não estouram na panela. Você
tica, “o grande segredo da Educação é a paixão lavras, Rubem Alves aponta para um concorda?
do professor”. E foi mais longe ainda com o seu casulo onde se podem gestar esperan- Um novo ano letivo se anuncia para
jeito ímpar de enxergar a profundidade das temá- ças. Ele acreditou no poder mágico da 2015. E quais são as mudanças que
ticas quando, no seu dizer poético, entendeu que palavra e permanecerá entre nós, em pretendemos ter em nossa escola?
há dois olhos para a educação: “o primeiro olho suas obras, conforme dito por ele: “Es- O que eu preciso mudar em minha
prática docente? E enquanto grupo
vê as coisas da ciência, da vida e do mundo, e o crever é o meu jeito de ficar por aqui. de professores? Como poderemos
segundo olho vê as coisas eternas”. Cada texto é uma semente...”. nos permitir mudar para melhor?
Ainda a respeito da Educação, Rubem Alves Leia mais: www.releituras.com/rubemalves_
diz que as explicações conceituais são difíceis Rubem Alves nasceu em 15 de setembro de pipoca.asp
de aprender, monótonas talvez. Então, ele prefe- 1933 e faleceu em 19 de julho de 2014.

fevereiro . 2015
Ser Fraterno: um compromisso com paz! www.mundojovem.com.br
Confira o que você vai ler Novidade:
matérias*

no Mundo Jovem em 2015! bilíngues para


desenvolver
o espanhol!
Temas escolhidos a partir de pesquisa com os assinantes * Uma por edição

Educação Ensino Religioso • A geografia no Enem Pais e Filhos


• Metodologias de ensino e • Cultura da paz • As florestas equatoriais • Relacionamento entre gerações
aprendizagem com adolescentes • A fé e suas obras • Disputas territoriais • Ciberbullying
• Mediação de conflitos na escola • Quem é Deus? • Tensões sociais e a pobreza no • Parceria família e escola
• Educação integral no Brasil • O diabo existe? mundo • A relação entre pais e filhos
• Conselho escolar • Milagres existem? • A educação na América Latina • Violência psicológica na família
• Educação escolar indígena • Religião e política • Manifestações e protestos • Afetividade e acomodação conjugal
• A mercantilização do Ensino Superior • Mulheres nas religiões • Estado, poder e mídias • Amizades e relações
• Desvalorização e desinteresse • A água nas religiões • Diversidade étnica e cultural no mundo virtual
pelo estudo • Pastoral da Criança • Violações de direitos humanos • Famílias reconstituídas
• Educação matemática • Drogas e comunidades terapêuticas • Alienação parental
• Música na escola História • Redes de proteção à infância
• Protagonismo dos estudantes Saúde e Bem-Viver • Como estudar História? e à adolescência
• Outros temas em encartes • Saúde mental • História da formação econômica
pedagógicos (veja ao lado) • Humanização do parto das sociedades Sexualidade
• Saúde comunitária • Civilizações asiáticas • Homossexualidade nas novelas
Filosofia • Qualidade de vida no trabalho • Escravismo • Sexualidade na adolescência
• Como a Filosofia ajuda a pensar? • Bem-viver e a saúde pública • Civilizações ameríndias • Dia da Mulher: o que comemorar?
• Filosofia e libertação • Medo de quê? • Civilizações africanas • Projeto de vida a dois
• De onde surgem as ideias? • Música e dança • Sistema feudal • Sexualidade infantil e
• O que é a verdade? • Contaminação dos alimentos • Sistema moderno-burguês pedofilia digital
• Pessoas invisíveis nas cidades • Vida lenta x estresse • Comunismo • Gravidez e uso de drogas
• Antroposofia • Atividades físicas na escola • Economia e História: para onde • Violência sexual
• Categorias estéticas vamos? • DSTs virais
• Ignorância X conhecimento Ciências Naturais • Liberdade sexual e responsabilidade
• Filosofia, religião e ciência • Ritmo biológico Política e Cidadania • Estresse profissional e sexualidade
• Ética do discurso • Viroses, infecções e epidemias • O novo cenário político brasileiro
• Outros temas em encartes • Corantes naturais e artificiais • Plebiscito e referendo popular
pedagógicos (veja ao lado) • Alimentos orgânicos • Cidadania, militância e mobilização
• Produtos de limpeza e higiene popular Encartes
Sociologia • Sal e açúcar • Política X politicagem pedagógicos
• Efeitos da sociedade da informação • Memória e esquecimento • Política assistencial: compensatória
• Consequências da Ditadura Militar • Som e excesso de ruído ou emancipatória? Formação de Professores
• Sociedade de consumo e • Ciência forense • “Cidadãos de bem”? • O que é o Enem?
• Efeitos da globalização e FSM • Ciências Humanas e suas
desenvolvimento • Velocidade e adrenalina
tecnologias
• Modernidade e sociedade líquida • Exercício da cidadania nas
• Ciências da Natureza e suas
• A ideologia (neo)liberal Diversidade Cultural redes sociais tecnologias
• Estado policial e sociedade de controle • Sistema Nacional de Cultura • Voto obrigatório • Linguagens, códigos e suas
• As “razões” do fundamentalismo • Comunidades tradicionais • O Brasil em reformas tecnologias
• Pierre Bourdieu e as contestações pesqueiras • Matemática e suas tecnologias
do capitalismo • Saraus das periferias Realidade Brasileira
• A pena de morte • Povos ciganos e direitos humanos • Economia brasileira Afro.Br
• Trabalho, autogestão e autonomia • Frevo: patrimônio imaterial da • Violência doméstica e Encarte de Cultura Afro-Brasileira
• Outros temas em encartes humanidade Lei Maria da Penha • Ações afirmativas
pedagógicos (veja ao lado) • Pontos de cultura • Brasil: oportunidade de negócios? • Griôs e quilombos
• Cinema, saber e crença • Crianças errantes • Educomunicação e negritude
• Religiões de matriz africana
Ecologia • Rádio no Brasil • Trabalho infantojuvenil
• Brasilidade negra
• Qual rastro deixamos no mundo? • Cultura do Norte • Inflação e deflação
• Falta de água nas cidades • Centenário de Grande Otelo • Sonegação fiscal
• Biodiversidade • O sistema carcerário Filosofia
Língua e Literatura • Desmilitarização da polícia • Heráclito, Bergson e a
• Animais de estimação
necessidade da mudança
• Estrangeiros na Amazônia • Rubem Alves • Flexibilização dos direitos
• Marx, a dialética e a
• Ecossistemas brasileiros • O desafio de ler, escrever e trabalhistas transformação do mundo
• Direito ambiental interpretar • Nietzsche e potência do ser
• Cidades sustentáveis • Literatura regional Juventudes • Wittgenstein, Paul Ricoeur e a
• Ameaças aos rios • Literatura para jovens Depoimentos de jovens sobre: filosofia da linguagem
• Abelhas em extinção? • Mediação de leitura na escola • Estudar no exterior • Adela Cortina e a ética nas
• Livro didático e a educação • Grêmio estudantil profissões
Projetos Pedagógicos • Trovas e oralidade • Inclusão no trabalho
• Valores • Imperialismo linguístico • Sociedade competitiva Sociologia
• Literatura • Mauricio de Sousa • Prevenção ao alcoolismo • A idade penal
• Meio ambiente • Língua estrangeira e música • Solidão na juventude • Jovem e meio ambiente
• Viver conectado • Jovem, trabalho, família e
• Família e escola
formação
• Juventudes Geografia • Violência física
• Jovem e suicídio: um fato social
• Produção escrita Temas relacionados à América Latina • Intercâmbio e voluntariado
• Apatia, inércia, comodismo do
• Educação para o cooperativismo • Brasileiros e latinos: o que temos • PROUNI jovem?
• Gênero e diversidade em comum?

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DOS LEITORES

Em família Palavras Fé em ação


Os pais possuem opiniões diferentes dos filhos, Palavras são sementes: Fé, agora é preciso.
mas assim mesmo pais e filhos podem se entender. Antes de crescerem para cima, Nas cidades, nos abismos
Às vezes, quando estamos em crise, devemos con- Em busca da luz do sol, do ar livre Onde a dor fez sua morada,
tar com os nossos pais (eles querem o nosso bem). e do céu azul, No exílio de cada estrada.
Quando caímos, as únicas pessoas que ficam por Devem crescer para baixo,
perto de nós são os nossos pais: eles são o nosso Buscando, no solo úmido, frio e escuro, Solidariedade para amar
“braço direito”. Valorizem os seus pais enquanto es- Os nutrientes que as fortalecem. Sem impor condições, ajudar...
tão por perto, pois um dia eles não estarão mais por Doar-se em imposição,
Palavras são plantas:
aqui para ajudá-los! Fazer diferença na multidão.
Da mesma forma que estas
Daniel Barberino, Breno Barradas e Pedro Henrique Têm suas raízes fixas no ventre da terra,
Miguel Calmon, BA A quem muito perdeu, ser
Aquelas têm sua força e autoridade
Auxílio, força, carinho.
No terreno respeitoso da escuta.
Gesto que não se retrai
Vontades Palavras são crianças: Mas no amar se refaz.
Vontade fútil, trivial, banal... Umas são gestadas no útero da mãe, Waleska Frota
Afetiva, forte, atrevida, Outras, no útero misterioso do silêncio. Fortaleza, CE
Sensacional!
Vontade poderosa, melosa, Palavras são pássaros:
preguiçosa! Depois de criarem asas, livres “Acredito que ‘educação’ é a
Rápida, lenta, duradoura! e soltas no ar, palavra-chave para dizimar a
Gostosa! Jamais retornam ao ninho abandonado,
Ampliando, em espiral, ignorância que tanto exclui
Vontade fraterna, amigável, familiar,
Essencial, perene, elementar, o raio de seus voos. os povos de seus direitos
4 De gostar!
Vontade de viver mais,
Palavras são janelas:
De igual maneira que o aproximar-se
fundamentais.”
Maria José Pereira Souza
De sorrir, de umas Biritinga, BA
De curtir, Abre os horizontes da paisagem,
De persistir! O fato de conhecer o sentido das outras
Vontades? Tenho. Aprofunda o leque do conhecimento. Aos leitores
Só não tenho,
De desistir! Palavras são águas:
Ilda Neta Silva Almeida
Deslizam e murmuram mansas nos vales, Educar para a paz
Fecundando o chão para o plantio. Para transformar uma cultura vio-
Palmas, TO
Precipitam-se e rugem bravias lenta é preciso ensinar e aprender
nos rochedos, com base no diálogo, na escuta, na
Como está a nossa “pegada”? Revelando suas energias ocultas. participação e na corresponsabilidade.
Trabalhar temas próximos da realidade,
Somos nós que alimentamos essa máquina pro- Palavras são ventos: desenvolver pessoas humanas com
dutora de lixo no planeta. Estamos com problemas Aqui uma brisa leve e suave maior equilíbrio físico e emocional, ca-
de norte a sul, do ocidente ao oriente, devido aos des- pazes de lidar com todas as dimensões
Que dobra e acaricia as espigas maduras.
matamentos, às queimadas e às guerras que atingem da vida, de forma pacífica, harmônica
Ali, um furacão tempestuoso e feliz é compromisso da escola, mas
todas as espécies de vida. Alimentando esse modo de Que tudo varre, devasta e destrói. também das famílias e de toda a so-
agir, colheremos enchentes, calor excessivo, falta de ciedade.
água, maremotos, tufões, furacões, vulcões, degelos e Palavras são flores:
Ornamentam encontros, salas e festas Comecemos o ano escolar nova-
por aí afora. É preciso dar um basta às barbáries que
mente juntos para reafirmar a paz e
estamos vendo e vivenciando desde tempos distantes, Com suas formas, perfumes e cores, a fraternidade em todos os lugares
para que a humanidade possa viver em harmonia com Mas logo murcham, secam e morrem, por onde passarmos. Que em 2015
a natureza, e as nossas crianças possam viver como Deixando no ambiente a dor de um sejamos todos sementes de paz para
crianças no Planeta Terra. vazio ou ausência. construirmos um mundo onde o amor
à diversidade seja combustível de nos-
Pedro Gomes Moreira Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS so dia a dia!
Porto Alegre, RS E-mail: vicariogenerale@scalabrini.org

ISSN n°1677-1451 Diretor: Pe. Eduardo da Silva Santos Como assinar: veja na contracapa desta edição ou
entre em contato com nossos atendentes.
Equipe responsável: Luiz Gambim, Lúcia Maria Barcelos, Maria Izabel de Fone: 0800.515200 (somente telefone fixo)
Andrade Teixeira, Jorge Alvício da Silveira Teixeira (MTPS nº 11273), Ângela Fax: (51) 3320.3889 / 3320.3902
Machado Barcelos, Rui Antônio de Souza, Márcia Oliveira de Oliveira, Assinaturas: assinaturas.mundojovem@pucrs.br
Jaqueline de Souza Franco, Márcia Helena Koboldt Cavalcante, Fabiane
Redação: mundojovem@pucrs.br
Costa Cozza, Tiago da Silva Greff, Gabriela Thomaz, Rogério da Silva Castro.
Site: www.mundojovem.com.br
Jornalista responsável (interino): Márcio Zoratto Gastaldo (MTPS nº 12492) Av. Ipiranga, 6681 - prédio 33 - CEP: 90619-900
Porto Alegre - RS - Brasil
Associado à Signis Brasil Impressão: EPECÊ Diagramação e Finalização Gráfica: Jornal Mundo Jovem
@mundojovem jmundojovem

Mundo Jovem é uma publicação mensal (fevereiro a novembro) da editora da PUCRS, sob orientação da Faculdade de Teologia: Inscrição 473301, Livro nº 14, Cartório de Registro Especial.

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ECOLOGIA

A ideia de felicidade
acoplada ao consumo, Pegada ecológica:
consumo, logo existo?
o sonho da moda,
a fugacidade dos
produtos e a aparente
abundância trazem
car sustentabilidade em nossa
efeitos a curto, médio própria casa e exigir dos órgãos
e longo prazos, com públicos o cumprimento da le-
impacto na sociedade gislação ambiental.
e no ambiente. Qual é Pensar globalmente, agir lo-
a marca que estamos calmente, conceito que contribui
deixando no planeta? para mudar o comportamento do
cidadão, introduzir a noção que
cada um dos bilhões de seres
Mirian Fabiane Dickel Strate,
humanos que habitam o plane-
bióloga e professora, Teutônia, RS.
E-mail: mirianfabiane@gmail.com ta deve fazer a sua parte. Não
vamos salvar o planeta porque
recusamos uma sacola plástica,
Vivemos em uma sociedade mas, se os sete bilhões de seres
pautada pelo consumo, que sus- humanos que habitam a Terra
tenta a economia mundial. Va-
lendo-se disso, o capital cria pro-
atualmente a recusarem, serão
sete bilhões de sacolas a menos. 5
dutos para os diversos públicos, Preservar o meio ambiente é
gostos e bolsos, de modo que, Mas alguma ras agricultadas, preservar a própria pele, e fragi-
embora milhões de pessoas vi- vez você já pensou na áreas urbanizadas lizar o meio ambiente é fragilizar
vam abaixo da linha da pobreza, quantidade de recursos natu- e, ainda, a bolsões de absorção a economia, o emprego, a saúde.
há parcelas de consumidores que rais necessários para manter o dos resíduos gerados por todas O certo é que não existe saída se
são responsáveis por alimentar o seu estilo de vida? Já imaginou as etapas implicadas nesse pro- não houver alteração nos costu-
ciclo de produção capitalista. avaliar o impacto no planeta das cesso antrópico geral. mes predatórios. É imprescindível
O que chama atenção é a suas opções no dia a dia, daquilo Portanto, em decorrência do que os cidadãos tomem conhe-
urgência de se fazer circular os que você consome e dos resídu- ato de consumir produtos e ser- cimento do seu papel enquanto
produtos e as formas de vida, os os que você gera? viços diariamente, a população agentes de conscientização e
quais rapidamente envelhecem e A pegada ecológica individu- mundial consome componentes responsabilidade ambiental, op-
são substituídos. Isso se traduz al mede o quanto a presença de ecológicos do planeta como um tando pelos produtos de empre-
em experiências de vida caracte- cada pessoa no mundo consome todo, de modo que a pegada eco- sas comprometidas com o meio
rizadas por conquistas em curto dos elementos que compõem o lógica da humanidade é a soma ambiente e a qualidade de vida
prazo, modos de ser em cons- nosso espaço de vida e existên- de todas essas áreas implicadas, da sociedade. Não existe natureza
tante busca de novas sensações, cia, com vistas ao atendimento onde quer que elas estejam no capaz de alimentar um shopping
com inquietação e insatisfação das necessidades que elege para planeta. A humanidade necessita center do tamanho do planeta.
crescentes. sua vida em sociedade. Como hoje de 1,5 planetas para manter
critério para reconhecimento seu padrão de consumo, colo-
Impacto no planeta das condicionantes do nosso cando a biocapacidade planetá-
Questões para Debate
O consumidor, na sociedade estilo de vida, a pegada ecológica ria em grande risco.
atual, está sempre em movimen- coletiva pode ser comparada
1 - Como defino o meu
to, ligado às mudanças, instigado com a capacidade da natureza Cidadania ambiental estilo de vida e de
a abolir a durabilidade e a per- de renovar esses elementos com- Sustentabilidade é a palavra consumo? Que impactos
manência das coisas, ao mesmo ponentes bióticos e abióticos do da vez, entretanto é muito mais ele gera no meio
tempo em que luta para se re- meio ambiente. do que uma palavra da moda. ambiente?
conhecer através dos inúmeros A pegada ecológica de um Ser ecologicamente sustentável 2 - Quem são os principais
depredadores e quem
bens aparentemente disponíveis país é a área total requerida para é uma forma de vida, e a única
são as principais vítimas
a todos. a produção de todas as deman- maneira de permitir que nosso dos desequilíbrios
das de consumo de sua popula- planeta se recupere para que ocasionados pelo
ção, incluindo alimentação, ves- possamos viver em paz e por excesso de consumo?
No Site do Mundo Jovem
tuário, educação, saúde, cultura, muito tempo ainda com os re- 3 - O que significa ser um
Quer saber qual pegada eco- trabalho, moradia, transporte, co- cursos naturais que ele tem para cidadão responsável
lógica está deixando no planeta? pelo ambiente de
municação, entretenimento etc., fornecer. Além disso, a cidadania
Acessa a Calculadora de Pegada todos? Que impactos
Ecológica em nosso site, na edição as quais implicam exploração da possui estreita ligação com o positivos podemos
de fevereiro de 2015, por este link: natureza no que diz respeito a meio ambiente, a partir do mo- gerar para o planeta?
www.mundojovem.com.br/edicoes matéria-prima, energia, água, ter- mento em que decidimos apli-

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JUVENTUDES

Entrevista: Nicole Walczak

Oportunidade para

Arquivo pessoal
expandir fronteiras
O sonho de expandir as fronteiras do país já se tornou realidade para
mais de 83 mil jovens brasileiros. Nicole Walczak, de 21 anos, foi uma das
contempladas pelo Ciência Sem Fronteiras e hoje estuda medicina na Holanda.
Do quarto que divide com uma finlandesa, na cidade de Leiden, a estudante
conversou com o Mundo Jovem sobre a experiência e os desafios do programa.
E-mail: nicolecwalczak@gmail.com

Nicole, fale-nos sobre a sua estranho no início, pois eu já cobra presença, você pode re- rio baixo, podem pedir ajuda
trajetória até aqui. tinha visto a maior parte do con- provar por isso. Aí, neste caso, ao governo, e serviços como Fi-
Estudei no colégio da Uni- teúdo no Brasil e pensei que não perde a bolsa. O que acontece é sioterapia e Odontologia são à
versidade Regional Integrada do precisaria me preocupar, mas que não tem nenhuma cobran- parte. Como a desigualdade so-

6 Alto Uruguai e das Missões (URI)


com bolsa parcial, porque minha
fui supermal na prova. Recém
tinha chegado, não estava muito
ça em relação à nota.
Mas o principal desafio
cial não é tão grande, a maioria
da população consegue pagar
mãe trabalhava na instituição. adaptada, sem clima para estu- mesmo é que ele ainda atinge a o seguro saúde. No Brasil, um
Entrei na Universidade Fede- dar, e o conteúdo foi passado população que tem uma condi- sistema assim dificilmente fun-
ral de Santa Maria (UFSM), em muito rápido. No Brasil, estava ção um pouco melhor, porque cionaria. 80% dos brasileiros
2010, através de um programa já acostumada a chegar em casa e eu não conheci nenhum bol- usam o SUS, a maioria porque
extinto, que se chamava Progra- retomar o conteúdo da aula. Mu- sista que tivesse alguma difi- não tem mesmo como pagar um
ma de Ingresso ao Ensino Supe- dar de ambiente dificultou muito culdade financeira: todos eram plano privado. Mas eu ainda
rior. Escolhi a medicina porque a rotina de estudos. de classe média. O programa acho que o modelo do SUS, na
sempre fui fascinada pelo corpo exige curso de línguas, e aca- teoria, é um dos melhores do
humano e queria exercer uma Quais são os pontos positi- bam sendo privilegiados aque- mundo. Na prática, ainda temos
profissão em que me sentisse vos do programa e quais devem les que podem pagar um cur- muito o que melhorar.
útil na vida das pessoas. ser aprimorados? sinho particular. Mas, quanto
Os pontos mais interessan- a isso, já vi que este ano, pelo
Como é a sua rotina de estu- tes é viver uma cultura diferen- menos na UFSM, começaram Sugestão de Site
dos na Holanda em comparação te, conhecer gente de todos os a dar curso de línguas voltado
ao Brasil? cantos, estar dentro do sistema para o Ciência Sem Fronteiras www.cienciasemfronteiras.gov.br
No Brasil, a faculdade exige educacional de outro país e, (pouco depois desta entrevista,
dedicação integral. Aqui, eu assim, entender o que pode ser o MEC aprovou o programa
estou estudando no segundo melhorado no sistema brasilei- Idioma Sem Fronteiras). Acho Ciência Sem Fronteiras
ano, e lá eu estava no quarto. ro. O conhecimento novo que é que esta questão da contra- Ciência Sem Fronteiras
Mesmo assim, não se compara levado de volta é um dos pon- partida, do que fazer depois, é um programa que busca
ao meu segundo ano no Brasil, tos mais interessantes e con- quando o estudante volta para promover a consolidação,
a expansão e a internacio-
que foi muito mais pesado em tribui para o desenvolvimento o país, tem que ser aprimorada.
nalização da ciência e tec-
questão de carga horária. O do país. E estudar em uma Falta um pouco esta continui- nologia, da inovação e da
conteúdo que a gente estuda faculdade de primeiro mundo dade do programa quando se competitividade brasileira
em um semestre aqui eles estu- era uma oportunidade só de volta para o país de origem. por meio do intercâmbio e
dam em um mês e meio. Assim quem tinha mais grana. Este da mobilidade internacional.
O projeto prevê a utili-
temos mais tempo livre para programa muda a situação. Eu Levando em conta a sua
zação de até 101 mil bol-
fazer exercício físico, realizar mesma não estaria aqui se não área, a medicina, poderia tra- sas em quatro anos para
cursos de línguas, enfim, ter fosse o Ciência Sem Fronteiras. çar um paralelo entre os dois promover intercâmbio, de
uma qualidade de vida melhor. Mas acho que pode ser um pro- países? forma que alunos de gra-
blema o governo não ter muito Na Holanda o sistema de duação e pós-graduação
façam estágio no exterior
Como está sendo esta expe- controle com o aluno aqui. saúde funciona muito bem. Até
com a finalidade de man-
riência no programa até agora? os 18 anos não é preciso pagar ter contato com sistemas
Pessoalmente, era tudo o que Como assim? Em relação à nada. Depois disso, adquire- educacionais competitivos
eu queria: ser mais independen- frequência do aluno? -se um seguro de saúde, que em relação à tecnologia e à
te e conhecer pessoas diferentes. Não. Isso depende de cada é pago conforme o salário. inovação.
Em termos acadêmicos, foi bem universidade. Se a faculdade Aqueles que recebem um salá-

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EDUCAÇÃO

No passado, a escola era o único lugar de acesso aos conhecimentos, que


lá estavam concentrados. Hoje, ela sofre uma crise sem precedentes, pois
nem sempre as informações atualizadas da internet são contempladas na
metodologia do professor, muito presa em livros e apostilas.

Desafios pedagógicos da adolescência


Cynthia Castiel Menda,

Síria Christ Birck


educadora, psicóloga clínica e escolar, mestre em Educação
pela PUCRS. Atualmente exerce suas atividades profissionais na
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), RS.
E-mail: cyncamen@terra.com.br

O próprio perfil de alguns jovens se torna um


desafio, em uma cultura imediatista, de inquietude,
contestação e desmotivação. Diante desse quadro, é
possível fazer algo na escola para que o processo de
ensino e aprendizagem se concretize? Por incrível que
possa parecer, sim, é possível e necessário fazer algu-
mas propostas diferenciadas para que o adolescente
tenha prazer em aprender e que frequentar a escola
não seja um castigo.
Não sou adepta de receitas prontas, mas penso
que, a partir de ideias que deram certo, outros pro- 7
fessores podem, dentro da sua realidade, inovar e ter
maior sucesso nessa tarefa. Então, seguem algumas Ensine seus alunos a trabalhar em grupos. importância do processo avaliativo.
propostas que, mesmo que pareçam muito simples, Comece com duplas, trios, e coloque, no O mundo moderno exige da escola
podem fazer a diferença com sua turma. máximo, cinco componentes em cada um. uma nova proposta do processo de ensino
Faça lista de exercícios como desafios e aprendizagem, com um trabalho mais
1. Escute seus alunos: proporcione espaços de di- para serem alcançados pelos alunos e dinâmico e próximo aos alunos. Cabe
álogo sempre em suas aulas. Converse quando chegar outras atividades que podem ser divididas ao professor sair da posição de queixa e
em sala de aula, trate-os pelos nomes, saiba mais de e trabalhadas em partes por cada um dos experimentar novos caminhos e oportuni-
suas histórias de vida, pergunte suas opiniões sempre grupos da sua turma. Lembre que hoje o dades para tornar esse processo prazeroso
que haja espaço na matéria que você trabalha. Utili- mercado de trabalho exige que as pessoas para ambos os lados.
ze as técnicas de júri simulado, discussão de temas saibam compartilhar conhecimentos, pla-
transversais, análise e apresentação de textos diferen- nejar ações e executá-las em equipe. Sugestões de Leitura
ciados por grupos. Tudo isso irá estimular a partici-
pação e o interesse dos alunos. Estudos diversos com- 4. Traga as manifestações artísticas O trabalho em pequenos grupos na
provam que a aproximação emocional com os alunos para sua aula: descubra os talentos dos sala de aula, de Joan Bonalds. Porto
Alegre, Artmed, 2003.
diminui a incidência de casos de violência na escola e seus alunos e use-os como aliados da
Dinâmicas em sala de aula: para to-
aumenta a motivação para frequentar as aulas. aprendizagem. Vale música, desenho, po- dos níveis de ensino, de Elaine Pereira
esia, teatro, dança. Peça que eles criem a Daroz, Recife, UFPE, 2012.
2. Use as tecnologias como aliadas da aprendiza- partir dos conteúdos desenvolvidos e se Prova: um momento privilegiado de
gem: em vez de proibir os celulares, por exemplo, ex- surpreenda com os resultados. estudo, não um acerto de contas, de
perimente fazer com seus alunos um projeto de fotos Vasco Pedro Moretto. Rio de Janeiro:
e/ou vídeos sobre a matéria que estão trabalhando. 5. Estabeleça regras de convivência: Lamparina, 2007.
Proponha mais trabalhos de pesquisa e aproveite para faça um contrato pedagógico no início do
desenvolver as habilidades de análise e síntese. Atu- ano, discutindo direitos e deveres, estabe- Para a reunião de professores
almente, as informações não são mais problema, mas lecendo os papéis de cada um na sala de
entender as que realmente são científicas e têm rele- aula. Os estudantes devem construir essas
vância necessita de uma orientação pedagógica que o regras juntos para que se comprometam Que tal dividir os professores em
professor pode dar. Igualmente, abuse das ferramen- com a sua observância. Relembre o con- pequenos grupos e aprofundar os
aspectos sugeridos pela autora?
tas que você tem disponíveis para que os estudantes trato sempre que necessário.
Seria possível traçar algumas ações
aprendam com maior facilidade os conteúdos a serem a curto e médio prazo que poderiam
desenvolvidos: vídeos, filmes, jogos para computador e 6. Elabore avaliações significativas e ser implementadas em nossa escola,
experiências práticas sempre são bem-vindas às salas contextualizadas: utilize histórias, figuras buscando contribuir com a educa-
de aula dos adolescentes. e, principalmente, o raciocínio dos estu- ção dos adolescentes. Cada grupo
pode sugerir ações e responsáveis
dantes nas suas avaliações. Faça avalia-
para que tenhamos resultados efi-
3. Trabalhe em grupo: a referência dos adolescen- ções diferenciadas: em grupo, individual, cazes, a partir da divisão de tarefas
tes é o grupo, e individualizar o trabalho na escola vai oral e escrita. Isso flexibiliza a possibili- entre professores, gestores e alunos.
na contramão dessa necessidade de pertencimento. dade de o aluno se sair bem e entender a

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PAIS E FILHOS

Filhos e filhas são sempre pensados Família e transgeracionalidade


às sombras de seus pais. Por isso,
ouvimos as metáforas “Filho de
peixe, peixinho é”, que ultrapassam
O que herdamos
gerações, por muitas décadas. Os
ditados populares, na verdade, de nossos parentes?
expõem o tema: a família e os (des)

Família Martinez – Marina Avila/freeimages.com


caminhos da transgeracionalidade.
O que isso significa?

Marta Bellini,
doutora em psicologia social, docente na
Universidade Estadual de Maringá, PR.
E-mail: martabellini@uol.com.br

Transgeracionalidade é uma noção definida


como a transmissão de valores, de padrões de com-
portamentos que passam de geração a geração. Em
outras palavras, podemos pensar na ideia, também
popular, “vem de berço”. O que vem do berço, meta-
foricamente falando? São os modos como falamos,

8 como agimos, como vestimos, como vemos o outro.


Assim, se um pai cria seu filho de maneira machista,
desvalorizando as mulheres da família e as de fora,
seu filho fará isso também. Bem, até quanto isso é pelas histórias que nos contam os avós esqueceu seu sofrimento, é capaz de
verdade? Nem sempre: o filho poderá ser muito di- ou que nós contamos a filhos e filhas. manter o ódio e a desesperança nas
ferente do pai. O filho de um pai machista não está Mudamos de lugar porque imigramos, gerações futuras. Uma filha aos 50 anos
fadado a ser outro peixe machista. Filho de peixe buscamos novas chances de emprego; ainda poderá chorar a preferência da
não é peixe. É uma pessoa que tomará a mãe, o pai, muitas vezes um pai abandona sua fa- irmã mais velha; um filho de 40 anos se
os avós como referência para sua construção, mas mília, uma mãe cria seus filhos sozinha. droga para falar aquilo que não disse ao
será sempre uma outra pessoa, será original. Um casamento se desfaz, outro se refaz. O seu pai aos seis anos de idade.
padrão de permanência nesse movimento Também ficamos em volta das do-
Laços familiares de instabilidade são os laços de amor, de enças da tradição da família. Muitas
Ocorre que, mesmo sendo uma pessoa inco- afeição. Nós sabemos que pertencemos a vezes, tomamos, inconscientemente, esse
mum, diferente de nossos pais, em família vivencia- algum grupo e que, aí, temos acolhimento. legado psicológico dos desafetos e não
mos um pouco de tudo: valores, segredos, crenças, nos desatamos dele porque são amparos
lealdades invisíveis, preferências por alguém, mitos, Rituais de passagem defensivos para nossa vida. Nesse senti-
enfim, laços de vários tipos; às vezes, nós difíceis de O nosso movimento com a família do, sem saber, somos mantidos pelo ódio
serem desfeitos ou compreendidos. Herdamos não está no tempo, na nossa história, e é aos pais, a nós mesmos e aos outros.
somente traços biológicos, mas também os traços também a nossa experiência sensorial, Conhecer as tramas da transgera-
ou laços da família. São heranças que, algumas ve- intelectual, espiritual do mundo. Boas cionalidade importa para desvelar a tes-
zes, tornamos negativas em nosso processo de viver. ou más, as experiências, no fundo, são situra das dores, dos sofrimentos e sair
Temos que pensar, então, o que é uma família. sempre aqueles rituais de passagem dos psiquismos da família. É possível.
Neste breve texto, vou tomá-la como um grupo de para nos tornarmos humanos. Pensando Nesses casos, é possível sair da zona de
pessoas com laços afetivos que têm uma história de em Walter Benjamin, a infância é o país estacamento e da exaustão, para cons-
vida. Ou seja, têm uma dinâmica que pode ser vista das descobertas. Descobertas das ruas, tituir outras experiências que também
dos brinquedos, dos cheiros, das cores, serão passadas adiante.
das aventuras, dos destinos familiares
desconhecidos. Herdamos isso, e não
Sugestões de Leitura
é pouco. Adultos, vamos repetir essas
Com base na leitura do artigo e das histórias com nossas famílias; no caso, A criança, o brinquedo e a educação,
experiências vividas por você em sua é uma representação recriada. E, assim, de Walter Benjamin. São Paulo: Editora
repassamos aos descendentes a história Summus, 1984.
família, redija um texto dissertativo-
cultural e pessoal dos antepassados. Transgeracionalidade, um olhar sistêmico,
-argumentativo, em norma culta, sobre o
Rimos, choramos e perpetuamos as his- de Clariana Palmieri Brandão Alba.
tema As tramas da transgeracionalidade na Disponível em: http://bit.ly/transgeracional
formação de valores. Selecione e organize tórias de nossos parentes.
A força do legado transgeracional numa
de forma clara os argumentos para defen- Entretanto muitos de nós detemo-
família, de Maria Emília Sousa Almeida.
der seus pontos de vista. Você tem cerca -nos nas amarrações da vida em família. Revista Psicologia: Teoria e Prática, 2008.
de uma hora para elaborar a redação. Uma mãe que foi abandonada pelos Disponível em: http://bit.ly/legado-
parentes e pelo marido, e que jamais transgeracional

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SEXUALIDADE

De tempos para cá, a presença de personagens homossexuais em


novelas tornou-se comum no Brasil. Apesar disso, as representações dos
personagens não heterossexuais apontam para uma perigosa relação entre
os discursos midiáticos e o imaginário social formulado por tais atuações.

A homossexualidade nas telenovelas


Júlio César Sanches,
agora é a seguinte: de que modo

Reprodução: Rede Globo de Televisão


jornalista, mestrando em
Comunicação na Universidade essas representações de perso-
Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ. nagens não heterossexuais na
E-mail: sanches.julius@gmail.com
TV brasileira dialogam com a
sociedade? E que características
Pesquisadores da área dos das homossexualidades estão
estudos de gênero indicam uma sendo violadas pela heteronor-
forte presença do fenômeno de matividade reiterada nessas
heterossexualização de perso- representações?
nagens que não são heteros- Partindo desses questiona-
sexuais. Desse modo, segundo mentos, poderemos identificar
os teóricos, o modelo de repre- um cenário perigoso e cruel
sentação de personagens não para aqueles sujeitos cuja se-
heterossexuais estaria cami- xualidade não é bem vista em
nhando para a consolidação de
uma imagem classificada como
nossa sociedade. Talvez essas
perguntas nos ajudem a perce- 9
heteronormativa. ber por que o Brasil é um dos
Entendendo que a hetero- ordenamento social, os perso- são revela o quanto é perversa países mais homofóbicos do
normatividade se sustenta na nagens homossexuais replicam a forma como as homossexu- mundo.
aplicação de vivências heteros- os valores de uma sociedade alidades são representadas na Da violência simbólica das
sexuais como uma norma a ser em que a heterossexualidade teledramaturgia. Há uma nítida telas para a violência corporal
seguida, identificamos que as é a norma. Além disso, eles manipulação das forças sociais das ruas, existe um conjunto de
representações de personagens submetem-se ao apagamento de atuando diretamente nessas poderes controlando os corpos,
não heterossexuais nas teleno- toda estética não heterossexual. representações, ditando exata- as sexualidades e decidindo
velas brasileiras estão completa- Sem afetações, os homossexuais mente os limites morais aceitos quem pode viver e como deve
mente alinhadas com o universo representados fingem ser pes- pela maioria dos expectadores. viver.
heteronormativo. Nas narrativas soas comuns à realidade de uma Ampliando essa questão, po-
dos últimos anos, toda e qual- sociedade que está disposta a demos considerar que existe
Reunião de professores
quer situação em que as homos- ver na TV apenas o modelo de uma homofobia pulsando nesse
sexualidades são representadas sexualidade heteronormativa. processo de visibilidade dos
trazem à baila esse teor. O conflito gerado pela pos- personagens homossexuais nas Currículo escolar
sível exibição de um beijo gay, novelas brasileiras. e sexualidade
Controle dos corpos por exemplo, desenvolveu um Compreendendo que a hete- Entender heterossexuali-
A aceitação desses persona- levante das alas mais conserva- ronormatividade está presente dade, bissexualidade e de-
mais questões de gênero é
gens não heterossexuais se dá doras da sociedade brasileira. nas telenovelas, a indagação fundamental em nossa for-
pela via da identificação de nor- Alguns personagens típicos da que devemos fazer a partir de mação como professoras(es).
malidade desses sujeitos, seja política nacional, assim como lí- Além da compreensão bio-
pela adoção de crianças, pelo deres religiosos extremistas, ini- Sugestões de Leitura lógica ou cultural, estudar
casamento, pela constituição de ciaram uma verdadeira batalha esse tema nos orienta à ga-
Um corpo estranho: ensaio rantia dos direitos humanos
família ou pela estética aceitá- contra a veiculação de uma ima- sobre sexualidade e Teoria e à superação de todas as
vel (com indumentária e gestos gem de afeto entre pessoas do Queer, de Guacira Lopes Louro. formas de preconceito.
regulados). Os personagens vão mesmo sexo na telenovela Amor Autêntica Editora, 2004. Após ler o texto e assistir
se enquadrando cada vez mais à vida. Em certa medida, esse é Documentos de identidade: ao vídeo indicado, debata
em um circuito que apaga as di- um dos aspectos que evidenciam uma introdução às teorias do com os professores, bus-
currículo, de Tomaz Tadeu da cando compreender: o que
ferenças entre ser heterossexual as disputas que acontecem em pensamos sobre as diferen-
Silva. Belo Horizonte: Autêntica
e ser homossexual. torno dessas representações. ças de gênero? Quais são
Editora, 2010.
De modo geral, as homos- os preconceitos que temos?
sexualidades representadas nas Homofobia disfarçada Em nossa escola, em que
Sugestão de Vídeo momentos reafirmamos a
telenovelas brasileiras eviden- Caso estejam alinhados com
Web aula produzida heteronormatividade? Em
ciam um horizonte de controle a moralidade hegemônica da quais atividades podemos
para a disciplina de Teorias de
dos corpos não heterossexu- sociedade, os personagens ho- Currículo, ministrada por Shirley promover a diversidade de
ais. Para serem aceitos pela mossexuais podem ser aceitos. Sales, da UFMG: http://youtu. gênero no currículo?
audiência e inclusos em um Entretanto essa aceitação/inclu- be/-e9cyqjVbjA

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SOCIOLOGIA

A sociedade da
informação, traz no A informação, a mídia e
as novas subjetividades
seu bojo histórico o
contínuo processo
de rupturas e
mudanças, passando
a adotar técnicas
específicas para
transmitir conteúdos
que reconfigurem
novas formas de
convivências sociais.

Claudionor Pereira de Lima, QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2013, p. 372
Mafalda – tira em quadrinhos desenhada pelo cartunista
MAFALDA

sociólogo e professor, São Paulo, SP.


E-mail: dionoclau@yahoo.com.br argentino Quino entre 1964 e 1973 – é uma menina preocupada
com a humanidade, a paz mundial e também com a indústria não estão atentos que a mídia
cultural. A partir da tira acima, discuta: a televisão pode ampliar geralmente utiliza de suas infor-
A universalização do ca- nossa ignorância diante da vida? Quais programas contribuem mações de forma manipuladora,
pitalismo, como modo de pro- para nos tornar alienados ou para abrir nossos olhos? mesmo quando o que é veiculado

10 dução e processo civilizatório,


adquire outros impulsos, com sujeitá-los, autoritariamente, aos radas de modo que as questões
(parcial ou inteiro) tenha no
cunho um peso de verdade.
base em novas tecnologias e idênticos programas de vários cronológica e espacial não são As questões trazidas por es-
no uso excessivo da mídia e de canais. E, ao fazer isso, esquema- mais barreiras para a interação ses autores revelam que estamos
seus dispositivos. Isso faz da tiza um mecanismo de padroni- entre pessoas. Elas passam a diante de uma sociedade de ex-
informação e da mídia elementos zação para uma homogeneidade viver sob o signo da teleimagem, cessos de estímulos, causados
importantíssimos na elaboração entre os sujeitos para agradá-los, onde tudo é instantâneo. pela tecnologia a serviço do ca-
e na ressignificação de novas mas também para controlá-los. O Cria-se, assim, um instante pitalismo, onde o virtual passa a
subjetividades do nosso tempo e, capitalismo impõe, dessa forma, sem passado e sem futuro, um ocupar o lugar do real. É inegável
consequentemente, de notáveis seu próprio ritmo frenético, le- agora mediático, muitas vezes, que o monopólio da informação
mudanças sociais, culturais, po- vando o indivíduo, geralmente, a experiência local do indivíduo. e da mídia passa a ser desenha-
líticas e econômicas. deixar de pensar e refletir sobre Através da teleimagem mesclam- do sobre os pressupostos da
o sistema ideológico que lhe é -se a cultura e a ideologia de exclusão social, de tal forma que
Indústria cultural imposto. Faz, então, com que os forma aparentemente inofensiva, os excluídos são cada vez mais
Theodor Adorno e Max valores sociais e a felicidade se- porém sempre com um fim único: excluídos, e os privilegiados, mais
Horkheim notificam que a cul- jam influenciados e condiciona- impor uma cultura dominante privilegiados. E todos consentem
tura é um dos elementos deter- dos por essa cultura que atrofia por dispositivos simbólicos. com a dominação que uma cate-
minantes para o uso do capita- a capacidade de ser espontâneo, Isso pode ser mais bem en- goria exerce sobre as outras.
lismo. No afã de cada vez mais deixando de ser soberano em tendido por meio da leitura da
resultados de “mais-valia”, há a suas escolhas. Sociedade do Espetáculo, obra
massificação da cultura, fazendo de Guy Debord, na década de Mamãe no Face
com que passe a existir o prin- A Era Digital 1960, que aponta para uma so- Zeca Baleiro
cípio da convivência midiática John Thompson traz à tona a ciedade imagética. Para Debord,
para, a partir de então, alimentar necessidade de conhecer a eficá- os indivíduos abdicam da dura Mamãe, eu fiz o disco do ano
o sistema. cia do poder simbólico e os im- realidade dos acontecimentos da E até mesmo Caetano
Parece que aprovou
Ainda segundo os autores, a pactos que os indivíduos venham vida, passando a viver movidos
Mamãe, eu sigo na minha rota
indústria cultural, por meio do a ter mediante institucionaliza- pelas aparências e pelo consumo Veja só o Nelson Motta
processo reprodutivo, tenta tor- ções e consagrações simbólicas permanente, dado o poder hip- Disse que o disco é show
nar todos os ouvintes iguais ao de valores efêmeros criados pela nótico causado pelas imagens, Só falta que a Folha de São Paulo
comunicação da mídia. as quais, em alguns graus, con- Comece a incensá-lo
Para tal interpelação, o autor seguem deixar a pessoa passiva Dizer que eu sou o cara (...)
Sugestões de Filmes
recorre ao contexto social do sé- e aberta à aceitação dos valores Zeca Baleiro satiriza a força da
Sociedade do Espetáculo culo 19, quando a comunicação impostos pelo capitalismo. Os mídia para consolidar o “su-
http://youtu.be/A4FAJsFqHe0 e a interação se davam face a indivíduos integram-se e intera- cesso” dos artistas. O que você
pensa sobre isso? Cite alguns
Além do Cidadão Kane face, e existia maior conservação gem por meio da comunicação
exemplos de influências cultu-
http://youtu.be/049U7TjOjSA de valores, crenças e a presença imagética: se não houve regis- rais que acontecem conosco.
Um dia na vida de entre os pares. Já na moderni- tro imagético ao público, então Veja o clipe da música por este link:
Eduardo Coutinho dade midiática as categorias de não é real ou não aconteceu. http://youtu.be/vs4IlPVX3cY
http://youtu.be/j9vYJ74JGzg tempo e espaço são reconfigu- Entretanto muitos indivíduos

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FILOSOFIA

Desde sua origem, a Filosofia possibilita ao ser humano o


despertar da consciência para compreender sua realidade. As
explicações dadas pelos mitos passaram a não ser suficientes,
surgindo a necessidade de um pensar fundamentado na razão.

Como a Filosofia ajuda a pensar?


Isabel Cristina Costa Freire,

Arte de Marcio Gastaldo/MJ sobre fotos de Davide Guglielmo/freeimages.com


professora de Filosofia da Educação Básica e do Ensino Superior,
especialista em Docência do Ensino Superior, Supervisão e
Orientação, São Luís, MA.
E-mail: filocoruja@yahoo.com.br

O despertar dessa consciência vem desde


o homem primitivo, que no primeiro momento
encontrou-se numa análise intuitiva e, gradativa-
mente, foi passando a naturalista, com os primeiros
pensadores na busca pelo elemento constitutivo em
caráter contemplativo. Já o período clássico eviden-
cia o ser humano procurando fundamentos para as
suas inquietações sobre sua própria essência.
Neste cenário, relembremos Sócrates (469-399
a.C.) e seus ensinamentos pelo diálogo, utilizando o
método de ironia (formulações de perguntas) e mai- 11
êutica (parturiente de ideias) numa forma humilde
de reconhecimento da ignorância como busca cons- pós-moderno é marcado pela reação às Portanto o pensar proposto pela Filo-
tante da verdade. Esse método faz pensar que não linhas anteriores, objetivando pensar sofia é dinâmico, pois leva a uma postura
devemos ficar presos a ideias prontas e acabadas. na “demissão” da Filosofia na função de investigação, compreensão, tomada de
própria e secular da metafísica. Outra decisão frente a argumentos criteriosos,
O encanto do pensar característica é que coloca a pensar na desenvolvendo as habilidades de raciocí-
Em Platão (427-347 a.C.), vamos encontrar o Filosofia como desconstrução, para a nio, contextualizando socioculturalmente
seguinte esclarecimento: a Filosofia é um saber construção de conceitos, numa articula- seus conhecimentos. Além disso, por
que se dá por meio do intelecto, e é próprio dos ção ao pensar dos espíritos livres. pensar de modo totalizante, se articula
filósofos que conseguem libertar a alma do cárcere com outras áreas de conhecimento.
corpóreo para a compreensão do eterno e imutável. Filosofia e educação
E Aristóteles (384-322 a.C.) ressalta: “pela admira- Para Saviani (1980), a tarefa da Fi-
ção, os homens (...) são levados a filosofar, ficando losofia na educação é de uma reflexão Sugestões de Leitura
primeiramente maravilhados pelos problemas”. A radical, rigorosa e de conjunto sobre os
Textos básicos de Filosofia, de Danilo Mar-
propósito, os pensamentos dos clássicos Platão e problemas que a realidade educacional condes. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
Aristóteles foram aproveitados pelos filósofos e apresenta. Por certo, o ser humano tem Educação: do senso comum à consciência
teólogos cristãos do período medieval, traçando o que ser o filósofo reflexivo, buscando filosófica, de Demerval Saviani. São Paulo:
domínio da ciência humana nos traços divinos, em elementos que se encontram na raiz d Cortez, 1980.
que o ato do conhecer está no interior humano. determinado problema, compreendendo Programa Educar para o pensar: filosofia com
Já na Modernidade, os filósofos encontraram- os reais motivos num certo rigor, saindo crianças, adolescentes e jovens. v. 3, de Silvio
-se emancipados da autoridade divina, rejeitando a das ilusões do senso comum, pautando- Wonsovicz. Florianópolis: Sophos, 2005.
tradição. Mas buscaram compreender as mudanças -se numa visão totalizante da realidade.
dessa época em várias situações. Podemos apontar Diante do exposto, surge a necessi-
Questões para Debate
alguns filósofos, entre eles Descartes, na discussão dade de analisarmos a ressignificação
do it, destacando a primeira intuição diante da ideia da Filosofia na contemporaneidade.
clara e distinta numa reconstrução do saber. Kant, Wonsovicz (2005) ressalta que “a Filo- 1 - Por que o pensar é importante
com sua filosofia crítica, tentou a síntese compre- sofia na escola, dentro de uma didática em nossas vidas?
ensiva desse período. No seu pensamento referente filosófica que começa com crianças e 2 - Pesquise mais sobre o método
à Filosofia, evidencia que “é, pois, um sistema de continua com adolescentes e jovens, é filosófico de Sócrates, partindo
todo conhecimento filosófico”, e assim existe a um saber sobre o homem e a realidade, da realidade e formulando
perguntas que ajudem a pensar
possibilidade de aprender a filosofar exercitando o sobre o mundo para compreendê-lo e o contexto que vivemos.
talento da razão, que direciona ao refletir, analisar transformá-lo”. Essa transformação é
3 - Como o pensar pode se tornar
e fazer críticas a esses sistemas. possível quando se estabelece a cons- um encanto e não um peso?
Marx nos faz refletir sobre a transformação da ciência ativa da realidade, interferindo E como pode se tornar um
realidade, natural à realidade social na conjugação com o pensar, deixando sua marca de instrumento de transformação
da teoria e práxis com o intuito de desenvolver melhoria com suas ações sábias, tendo a da realidade?
uma reflexão contextual. Por outro lado, o período consciência de si, do outro e do mundo.

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ENSINO RELIGIOSO

Entrevista: Douglas Belchior

A paz que eu quero:


com justiça e igualdade!
Buscar incessantemente a paz. Dizer, gritar, viver a paz é tarefa e

Arquivo pessoal
missão de todos e de cada um de nós. É assim que construímos a
Cultura da Paz, o único e efetivo antídoto à cultura da violência,
tão presente em nossa sociedade. Nesse sentido, construir relações
mais fraternas e solidárias, especialmente com as pessoas que mais
precisam de cuidado e atenção, é caminho possível e urgente para
que chegue a paz tão sonhada. Conversamos sobre esse tema com
Douglas Belchior, professor da rede pública de São Paulo e dos
cursinhos populares da UNEafro Brasil, que nos desafia a falar e
expressar as violências sofridas, para superá-las em busca da paz.
E-mail: negrobelchior@gmail.com
12
Como você avalia o contexto atual no Brasil? cia e a da resistência, nos acompanha, drasticamente influenciada por valores
Os desafios são imensos, pois, assim como uma vez que diante da violência, muitas que justificam a violência a partir de
outrora, o país continua dominado por alguns vezes, a mesma violência aparece como determinados padrões morais.
setores, como é o caso do agronegócio, do setor única opção de defesa. Esse caldo de Nos curtos períodos de democracia,
bancário, dos meios de comunicação nas mãos de cultura influenciou na formação dos como o que vivemos hoje, o Estado ins-
meia dúzia de famílias, da especula- valores da sociedade, na titucionalizou a violência e, com o uso
ção imobiliária, dos interesses das conformação de valores do aparato de mídia, reafirma valores
megacorporações internacionais. O “Como nos lembra religiosos, chegando até penais muito mais próximos da vingan-
capital continua fortalecido. O Brasil a canção, ‘Paz sem a base familiar, mas a vio- ça do que da justiça. De maneira que é
é um grande campo de consumo, o voz não é paz. É lência sempre foi instru- muito difícil, mesmo para os pequenos
que é muito bom para os grandes medo!’ É preciso mento de ação e prática conflitos sociais, imaginar soluções que
empresários. O Brasil é um grande falar. É preciso dos grupos que se manti- não passem pela ideia de penalização,
produtor agrícola, mas essa riqueza ouvir. É preciso veram no poder. E não se no lugar de reeducação.
e essas terras estão nas mãos dos que todas as vozes trata apenas de violência Uma sociedade que elege o consumo
mesmos latifundiários de sempre e ecoem e que, convencional, física. Falo como ponto máximo da vida, mas que ao
dos novos latifundiários a partir do sobretudo, as vozes de todas as formas de vio- mesmo tempo não proporciona opor-
agronegócio. Então, a estrutura não se entendam e lência, todas as formas de tunidades iguais para se alcançar tais
mudou. A desigualdade hoje está organizem a palavra se oprimir e impor von- desejos, cria o ambiente de disputa desi-
ofuscada por um período em que a e a ação coletiva.” tades a partir da coerção, gual, de opressão pela chegada ao resul-
economia melhorou, em que há uma do poder econômico, da tado e, consequentemente, de violências.
condição de emprego um pouco violência de gênero ou
melhor, mas isso em médio e longo prazo não nos da heteronormatividade e, principal- Como promover a cultura da paz nos
oferece expectativas positivas. Nós precisamos, mente, no caso brasileiro, do racismo. espaços onde vivemos?
então, dialogar com essa realidade em que parece Como nos lembra a canção do Rappa,
não haver conflito, não haver grandes problemas O que leva a sociedade a ser violen- “Paz sem voz não é paz. É medo!”. É pre-
sociais, mas sabemos que isso pode trazer resulta- ta? Que fatores promovem a cultura da ciso falar. É preciso ouvir. É preciso que
dos ruins e conflituosos. violência? todas as vozes ecoem e que, sobretudo,
Como já disse, somos fruto de uma as vozes se entendam e organizem a pa-
Nosso modo de viver é agressivo e violento? cultura de violência, de uma cultura lavra e a ação coletiva. É preciso diálogo
Como a violência se manifesta em nosso cotidiano? penal. De nossos 514 anos de história em torno do que gera as desigualdades,
A história de formação do Brasil, desde a inva- pós-invasão, 388 anos foram sob a e jamais se limitar apenas às compensa-
são europeia, relaciona violência e resistência. É a égide de um sistema de escravidão, onde ções. É preciso tratar e amenizar a dor,
história do genocídio indígena, do genocídio negro o uso da violência era pressuposto fun- mas é necessário curar a doença. A orga-
continuado, como ainda hoje vemos. Ao mesmo damental. Após a abolição, vivemos dois nização e a prática da educação popular
tempo é também a história da resistência desses períodos de ditaduras, momentos em são estratégias importantíssimas para
povos a toda opressão. Essa memória, a da violên- que mais uma vez a opinião coletiva foi essa tarefa.

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Como as instituições, especialmen- de pessoas que vivem o mundo e são
te as religiões, podem contribuir na influenciadas por ele. De maneira que
promoção de uma cultura da paz? o contexto social que cerca a escola
Religiões mobilizam o povo, es- e no qual estão inseridos estudantes,
Religiões e a luta
pecialmente o povo mais frágil, mais professores e funcionários é uma
dolorido pelas injustiças do mundo. das chaves para compreender seu
por justiça social
Independente da deno- funcionamento. Antes
Na sociedade brasileira, a Igreja Católica e ou-
minação e da origem ainda, a escola é um
tras igrejas cristãs têm um papel muito importante,
de fé, todas elas são “O contexto aparelho do Estado, e
de demarcação de espaço, um papel político em
expressão da cultura social que cerca a não só o prédio e a es-
determinados momentos e um papel de agregação
e da crença do povo. escola e no qual trutura, mas a proposta
social.
Tanto poder colocado estão inseridos didático-pedagógica e
Não se pode falar que as igrejas como um todo
a serviço do interes- estudantes, a política educacional
sempre tiveram um papel em favor da justiça, mas
se coletivo sempre traz professores e são elementos funda-
nos dias de hoje elas têm muito a dizer para a so-
vitórias e faz avançar funcionários é uma mentais para a prática
ciedade, no sentido de alertar para valores que são
direitos sociais. Vive- das chaves para de qualquer projeto.
cristãos, e ao mesmo tempo são valores da demo-
mos um momento rico compreender seu Infelizmente, não
cracia, como a justiça social e a solidariedade.
desse exemplo, como funcionamento.” há por parte do Estado
Principalmente a Igreja Católica, que sempre
as posições progressis- brasileiro políticas pú-
foi oficial e dominante, mas também outras igrejas
tas do Papa Francisco. blicas suficientes para
cristãs estão tendo uma oportunidade de ganhar
Quando a Igreja se dedica, em sua que todas as escolas públicas sejam
novas adesões, inclusive de quem já está presente
prática e em seu discurso, às cau- espaços qualificados de educação,
sas populares, está se colocando a de reflexão, de fomento da diversi-
na própria igreja. Transformar a religião também
numa questão de pertencimento, de escolha, não
13
serviço da paz, que acreditamos ser dade, do respeito às diferenças e,
apenas de cultura de transmissão intergeracional
o mais saboroso fruto da justiça. consequentemente, de uma Cultura
da religião.
de Paz. As iniciativas quase sempre
O que para muitas pessoas pode causar pre-
Que ações e iniciativas estão acon- dependem de ações individuais e/
ocupação pode fortalecer uma igreja, ela ter essa
tecendo no meio juvenil como formas ou de grupos que, por sua conta, as
possibilidade de viver num contexto de diversidade
de canalizar a agressividade e promo- promovem. Daí uma vez mais a im-
religiosa. E também estão chamadas a entender
ver a paz? portância da mobilização popular,
o que se entende realmente por ecumenismo. É
Em todo país surgem, a cada no sentido de cobrar que os poucos
diferente ter um ecumenismo onde há um polo
momento, novos grupos e espaços avanços conquistados em forma de
dominante tão evidente, e ter um diálogo religioso
de discussão sobre como construir leis e direitos se efetivem na prática.
onde existem vários polos. Esse é o desafio do mo-
um mundo melhor para se viver:
mento atual: construir um diálogo religioso, com
saraus, cursinhos populares, grupos Nesse sentido, as lutas políticas,
uma perspectiva ecumênica, a partir dos valores das
de discussão, grupos teatrais e de como as manifestações dos jovens, em
igrejas com vários centros, e não apenas um centro
danças, posses de hip-hop, fluxos de junho de 2013, são importantes?
que propõe as regras e os termos do que sempre se
funk. Aqueles que se dedicam à luta As mobilizações de junho abri-
chamou de ecumenismo, e hoje procuramos chamar
por justiça social precisam vivenciar ram uma brecha para recuperarmos
de diálogo inter-religioso.
esses espaços. A importância da o valor da política, como busca da
A ação e o compromisso são muito impor-
educação, o respeito à diversidade felicidade coletiva. Então penso que
tantes. Se diz que o jovem é o grande porta-voz
étnico-racial, religiosa e cultural, o a juventude brasileira, como é da
das mudanças na sociedade. Uma pessoa que sai
combate ao racismo e à violência do própria natureza da juventude, de
da proteção da família e começa a crescer passa a
Estado, a preocupação com o meio contestação, percebe o seu ambien-
experimentar, a construir sua identidade, tem uma
ambiente, o papel fundamental das te, percebe que há problemas e se
chance de se ligar no mundo, de crescer, de olhar
mulheres na dinâmica social e seu di- volta contra esse poder estabelecido.
em torno. Quem trabalha com a juventude tem a
reito ao corpo e à vida, a importância Porém nós corremos o risco dessa
ideia de que a juventude é muito propícia à partici-
da participação política, todos esses energia revolucionária própria da ju-
pação. Porém não se pode colocar tudo nas costas
são temas que mobilizam a juventude ventude ser capitalizada com valores
dos jovens, porque eles refletem a sociedade, que
e que, quando provocados dentro do conservadores. Então nós precisa-
tem pouco grau de participação. Mas a juventude
contexto, propiciam ambientes em mos aproveitar esse momento em que
tem essa força e possibilidade que não se encontra
que as potencialidades e a energia (e a população está mais sensível ao
em outras faixas etárias. A juventude é o espelho re-
não agressividade) se transformam debate político e usar as estruturas,
trovisor, pois o que acontece na sociedade acontece
em ações propositivas e mobilizações tanto da Igreja como da sociedade,
na juventude. Embora eu acredite que podemos ter
importantes para a sociedade. para organizar as pessoas do ponto
uma visão mais promissora da juventude, por conta
de vista das lutas progressistas, de
deste ciclo que ela vive.
Como a escola pode educar alunos avanço das causas populares, de
e professores para uma cultura da paz? resistência e luta por dignidade do Regina Novaes, antropóloga, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: novaes-regina@uol.com.br
Antes de qualquer coisa, a escola povo que sempre foi excluído, como
é um ambiente de convívio coletivo os indígenas e negros.

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ESPECIAL

Diante de tantas
absurdas violências Malala: jovem, mulher
e educadora para a paz
que nos últimos
tempos vemos
no noticiário
internacional, é

Trunk Archive
compreensível que o
mundo inteiro tenha
se maravilhado com
a notícia de que o
Prêmio Nobel da
Paz foi concedido a
duas pessoas, sendo
uma delas a jovem
paquistanesa de 16
anos, Malala Yousafzai.

Maria Clara Lucchetti Bingemer,


professora do Departamento de

14 Teologia da PUC-Rio, RJ.


E-mail: agape@puc-rio.br

O mérito de Malala é a luta Que ninguém se “A praça! A A violência armada aprender com ela – nesse sen-
incessante contra o trabalho iluda, porém. A história praça é do povo do talibã não esperou tido, muito sintonizada com o
infantil, a violência de gênero de Malala não foi uma como o céu é do para desfechar-se so- grande Papa Paulo VI –, que a paz
e tudo que constitui obstáculo tranquilidade, como condor. É o antro bre ela. Em 2012, foi só pode ser fruto da justiça e da
à educação, sobretudo para as a de muitas jovens de
onde a liberdade vítima de um atenta- educação.
mulheres. Ao pronunciar-se à 16 anos nos dias de do quando voltava da Siga em frente, Malala. Te
cria águias em
imprensa internacional sobre o hoje. Vivendo em um escola, desafiando a acompanhamos com carinho e
seu calor!”
prêmio, abriu o peito e os lábios país violento e dividi- norma estabelecida. admiração. E que Deus a proteja!
Castro Alves
com segurança e, ao mesmo do, onde movimentos No ônibus que a levava
tempo, com o frescor da idade políticos usam a força para ate- para casa, recebeu um tiro na
na delicada voz. E disse a frase morizar e oprimir, desde cedo cabeça. Foi internada em estado Atividade
memorável: “Uma criança, um se rebelou contra esse estado de grave, correndo risco de não
professor, um livro e uma caneta coisas e viu o conflito transferir- sobreviver.
“A praça é do povo como
podem mudar o mundo. Educa- -se para sua vida pessoal. Aos que lhe perguntaram
o céu é do condor”
ção é a solução”. como reagiria a seus agressores,
Coragem e ousadia o que faria se a atacassem de O trecho do poema O povo
ao poder, de Castro Alves,
Sugestões de Leitura Desde os 13 anos, Malala novo, sua resposta surpreendeu
inspira nossa atividade. Leve
Eu sou Malala: a história da atua como ativista em favor do o mundo: “Não se deve lutar com os estudantes a uma praça
garota que defendeu o direito à direito à educação das mulheres, crueldade e violência, mas com e organize-os em roda, de
educação e foi baleada pelo Talibã, especialmente àquelas que o re- diálogo, paz e educação”. forma confortável. A seguir,
de Malala Yousafzai e Christina gime talibã proíbe de ir à escola. Mais ainda: preocupada em peça que leiam o texto sobre
Lamb. Companhia das Letras. Malala e busque saber as opi-
Começou a ter visibilidade e abrir o coração e a mente de
Malala: a menina mais corajosa do niões dos jovens sobre ela e a
notoriedade escrevendo em um seus agressores, disse que seu luta por direitos iguais entre
mundo, de Viviane Mazza. Agir.
blog da BBC (canal internacional objetivo era mostrar como seria homens e mulheres. Algumas
de notícias) sob pseudônimo, de- importante que eles tivessem o questões sugeridas:
Sugestão de Site
nunciando a violência do regime. direito e a possibilidade de dar 1 - Por que Malala é um
Fundação Malala Yousafzai: Junto com o pai, participou de um educação aos filhos deles. Sua exemplo de vida?
www.malala.org.br documentário intitulado Perda de esperança era que entendessem 2 - A coragem de Malala
aulas: a morte da educação da que este era o motivo de seus pode nos inspirar a
No site do Mundo Jovem sermos jovens mais
mulher. Pretendia chamar a aten- protestos e sua atuação política.
Assista ao discurso que ção da opinião pública sobre as O Prêmio Nobel da Paz é, solidários que lutam por
Malala Yousafzai proferiu um mundo melhor? De
dificuldades que enfrentavam as portanto, mais do que justo re- que forma?
durante conferência na ONU.
mulheres para poder ir à aula nas conhecimento da estatura moral 3 - Como são as relações
Pode ser acessado em nosso site,
na edição de fevereiro de 2015, zonas ocupadas pelo talibã. Ma- dessa menina, essa jovem mulher entre homens e
por este link: www.mundojovem. lala defende o que considera um que engrandece a humanidade. mulheres em nosso país?
com.br/edicoes direito das mulheres: educar-se. Tomara que todos possamos

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DIVERSIDADE CULTURAL

No Sistema Nacional de Cultura (SNC), a promoção das


políticas culturais é desenvolvida de forma sistêmica e
compartilhada entre os entes federados, como em outros
sistemas de articulação de políticas públicas, a exemplo do SUS.

Cidadania cultural e diversidade


João Pontes,

Leandro Melito/Portal EBC


diretor de Cidadania e Diversidade Cultural da
Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul, cientista
social e mestrando em Sociologia (UFRGS).
E-mail: joaoppontes@gmail.com

Nos últimos anos, o governo brasileiro passou


a reconhecer que o acesso aos meios de criação,
produção, circulação, fruição, formação, memória,
pesquisa, informação e comunicação de bens e
serviços culturais é um direito social básico, como
determinam a Constituição Federal e inúmeras con-
venções internacionais, como a da Unesco.
Como contraparte ao direito dos cidadãos e das
cidadãs, o papel do Estado não é de fazer ou levar
cultura, mas justamente o de garantir as condições
de acesso a esses meios, reconhecendo a pluralidade
de culturas e potencializando a criação e a amplia- 15
ção de redes colaborativas e de compartilhamento
entre essas diferentes culturas. entendem-se as políticas culturais de Cultura); democratização da gestão (com
forma sistêmica: envolvendo um conjun- participação popular, a exemplo dos
Autonomia to de atores e instituições (a sociedade, colegiados setoriais, das conferências,
Acima de tudo, não compete ao Estado deter- os entes federativos e os três poderes), do Conselho Nacional de Políticas Cul-
minar o que deve ou não ser produzido no campo com atribuições e direitos singulares, turais, da Comissão Nacional de Pontos
da cultura: pelo contrário, as políticas culturais no em uma rede articulada, orientada por de Cultura etc.); e um planejamento que
Brasil vêm sendo marcadas pela garantia e pela planos que estruturam diretrizes e de- ultrapassa as gestões governamentais,
promoção da autonomia. Com liberdade de criação safios democráticos e participativos, e indicando diagnósticos, desafios, di-
e expressão, as políticas culturais colaboram com criam fundos interligados entre os entes retrizes e metas para o projeto de país
a construção de sujeitos sociais autônomos, com federativos (governo federal, estadual e que queremos nos próximos 10 anos (o
capacidades de reflexão, crítica, criatividade e alte- municipal). Plano Nacional de Cultura). Estes ele-
ridade. É possível considerar que as políti- mentos são os pilares de estruturação do
Ao potencializar principalmente os processos cas culturais estão no extremo oposto Sistema Nacional de Cultura.
de criação, produção e formação, opera-se a desco- às políticas de saúde. O SNC, nas pa-
lonização da cultura: descolonização dos fluxos in- lavras da ex-ministra Marta Suplicy, é Sugestão de Site
ternacionais unilaterais (e a hegemonia das culturas “a certidão de nascimento das políticas
norte-americanas e europeias, inclusive fortalecen- culturais” e data pouco mais de um ano Ministério da Cultura / Sistema Nacional
do uma cultura de integração desde o Sul mundial, de aprovação pelo Congresso. A maioria de Cultura: www.cultura.gov.br/snc
de uma América Latina unida e soberana), dos fluxos de estados e municípios sequer contam
nacionais (centrados no eixo Rio-São Paulo), desco- com os seus planos; e o acesso aos bens Sugestão de Vídeo
lonização do corpo e da mente, descolonização por e serviços culturais está longe de ser
parte de poucos(as) sobre outros(as). Todos e todas reconhecido como direito pela maioria Conheça mais sobre o Sistema Nacional
são seres culturais, são sujeitos e sujeitas da história. da população. de Cultura: http://bit.ly/painel-SNC
As políticas culturais passaram a ser vistas em Diante disso, temos três grandes
sua tridimensionalidade: cidadã (tendo em vista que desafios: a construção da consciência Questões para Debate
se trata de um direito social básico), estética (como dos direitos (cidadania cultural); a cons-
potencializadora de processos simbólicos) e econô- trução de desenhos institucionais que
mica (na medida em que lidam com o mundo do tra- compreendam os diferentes níveis de 1 - Por que devemos encarar
também a cultura como um
balho, com a mobilização de recursos, a movimenta- necessidades e demandas socioculturais,
direito da cidadania?
ção de cadeias produtivas, a geração de renda etc.). esferas de participação e atribuições es-
2 - Por que há a necessidade de
tatais (a criação e o detalhamento/apro- uma “descolonização da cultura”?
Visão sistêmica fundamento dos sistemas de cultura); e,
3 - Como reconhecer, valorizar e
A estrutura institucional vem se organizando para depois, a sua plena efetivação. promover a diversidade cultural
de acordo com as diferentes necessidades sociais, Por fim, o processo de garantia dos brasileira? Como fazer isso na
buscando dialogar com as inúmeras singularidades direitos culturais passa pela ampliação escola?
que compõem o campo da produção cultural. Assim do orçamento (o Fundo Nacional de

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GEOGRAFIA

Convidaram-me a escrever sobre a identidade latino-americana. Estou seguro de


que, se há uma barreira que nos impede de nos relacionarmos e identificarmos
com o resto do continente, não é o idioma. Tanto que, se sigo escrevendo em
espanhol, me entenderás, certo, leitor? Então, continuemos assim.

Quem somos, América Latina?


Vitor Taveira,
jornalista e mestre em Estudos Latino-Americanos, diretor da Expedição
Abya Yala e integrante da Casa América Latina Liberdade e Solidariedade
(Calles) e do programa de rádio “Soy Loco Por Ti”, de Bogotá, Colômbia.
E-mail: vitortaveira@gmail.com

Pois bem, a história que venho contar começa


em 1492, quando uns navios imensos cruzaram o
Oceano Atlântico e aqui desembarcaram Cristóvão
Colombo e os primeiros colonizadores. NÃO! Não,
“Eu tenho tantos irmãos
não, não: é mentira. Não é aí que iniciamos. A his-
Que não os posso contar
tória da América Latina começa muito antes dos
E uma noiva muito linda
europeus, pois aqui já existia vida, cultura, história
e civilização, ou melhor, tudo isto no plural. Existia Que se chama liberdade”

16 uma enorme quantidade de culturas originárias des- Atahualpa Yupanqui


te continente, que o herói cubano José Martí preferia
chamar Nossa América, que o povo Kuna nomeia
Abya Yala, “terra madura” em sua língua própria. um passado comum de exploração e soprar o vento das utopias. Dizia o sábio
dores, todavia não sanados, um presen- músico e trovador argentino Facundo
Tempero cultural te de transformações e um futuro por Cabral: “uma bomba faz mais ruído que
Às culturas que aqui já estavam, somou-se a construir. Podemos eleger estar juntos uma carícia. Porém, para cada bomba
europeia, acompanhada de um processo colonial ou separados. O colonialismo, o impe- que destrói, existem mil carícias que
repleto de violências físicas e simbólicas contra as rialismo, o capitalismo e, possivelmente, constroem a vida”. Estou seguro de que
que aqui viviam (é importante recordar). Isso sem outros ismos se beneficiaram da estra- você se identifica com isso. É certo que
falar da grande quantidade de pessoas trazidas da tégia de “dividir para dominar” e, muitas existe um ou uma latino-americana den-
África, o que foi uma das maiores brutalidades e vezes, nos olhamos como inimigos e tro de você. Pode ser que esteja dormin-
vergonhas da humanidade: a escravidão massiva competidores, não como irmãos ou do: desperta-o. JÁ!
e o comércio internacional de pessoas. Porém a cooperadores, como poderia ser. Como
contribuição europeia é, sim, muito grande e va- escreveu Ferreira Gullar em seu poema
liosa à nossa cultura, pois chegaram também não chamado Nós, latino-americanos, so- Sugestões de Leitura
só colonizadores espanhóis, portugueses, ingleses, mos irmãos “não porque seja o mesmo
A descoberta da América (que ainda
franceses e holandeses, mas também, posterior- sangue que no corpo levamos: o que é o não houve), de Eduardo Galeano. Editora
mente, imigrantes alemães, italianos, suíços, entre mesmo é o modo como o derramamos”. da UFRGS.
tantos outros. Também migraram para cá chineses, Olhar com mais atenção nossos Canto geral, de Pablo Neruda. Bertrand
japoneses, árabes, colocando ainda mais tempero vizinhos latino-americanos e aprender Brasil.
em nossa sopa cultural. deles é, então, um ato político amoroso. Todas las Sangres, José María Arguedas.
Em meio a esta mescla de tantas influências, Deixar-se penetrar pelos acordes da Editorial Horizonte.
como falar de identidade latino-americana? Melhor guitarra de Silvio Rodríguez, admirar-se A colonialidade do saber: eurocentrismo
nem falarmos dela. Melhor pensarmos plural, nas com as pinturas de Oswaldo Guayasa- e ciências sociais, organizado por Edgar-
identidades latino-americanas. Existem muitas mín, enamorar-se da voz de Chavela do Lander. Clacso Livros.
semelhanças, porém também profundas diferenças Vargas, encontrar nossa forte ternura
entre países e mesmo entre regiões dentro de um nos poemas de Mario Benedetti, viajar
mesmo Estado nacional. Porém o processo político na mágica realista dos contos de Ga-
Questões para Debate
e social dos últimos anos levanta um potente e pos- briel García Márquez, entender nossa
sível caminho: a unidade na diversidade. A hetero- realidade nos filmes de Fernando So-
1 - Que barreiras ainda impedem
geneidade não tem que ser um problema, pelo con- lanas ou perder-se nos livros de Mario a unidade latino-americana?
trário, deve ser uma virtude, pois é, possivelmente, Vargas Llosa. Isso, para recordar apenas 2 - Que importância e valor tem
a maior riqueza que temos. algumas estrelas de nossa constelação a diversidade de culturas na
latino-americana, notáveis ondas de América Latina?
Latino-irmãos sensibilidade no mar de afetos que é o 3 - Como, em nossas escolas,
Sim, somos diversos, porém também podemos nosso continente. promover a cultura e a
e devemos estar unidos. Não é um tema somente Uma pessoa que viaja sabe o quanto identidade latino-americana?
cultural, porém também histórico e político. Temos é mais bonito sonhar juntos e sentir

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GEOGRAFÍA

A mí me invitaron a escribir sobre la identidad latinoamericana. Estoy


seguro que de haber una barrera que nos impide relacionar e identificarnos
con el resto del continente, no es el idioma. Tanto que si sigo escribiendo
en español, me entenderás, ¿no es cierto lector? Entonces, continuemos así.

¿Quiénes somos, América Latina?


Silvio Rodríguez, admirarse por
las pinturas de Oswaldo Guaya-
“Yo tengo tantos hermanos
samín, enamorarse de la voz
Que no los puedo contar
de Chavela Vargas, encontrar
Y una novia muy hermosa
nuestra valiente ternura en los
Que se llama libertad” poemas de Mario Benedetti, via-
Atahualpa Yupanqui jar en la mágica realista de los
cuentos de Gabriel García Már-
quez, entender nuestra realidad
por las películas de Fernando
Solanas o perderse en los libros
de Mario Vargas Llosa. Esto
para recordar apenas algunas
estrellas de nuestra constela-
ción latinoamericana, notables
ondas de sensibilidad en el mar 17
de afectos que es nuestro con-
Vitor Taveira, las que aquí vivían, es impor- ser un problema, más bien debe tinente.
periodista y maestro en Estudios tante recordar. Esto sin hablar ser una virtud, pues es quizás la Una persona que viaja sabe
de Latinoamericanos, director de la
Expedición Abya Yala y miembro de de la gran cantidad de personas mayor riqueza de tenemos. lo tan más bonito que es soñar
la Casa América Latina Liberdade e traídas desde África en lo que juntos y sentir soplar el viento
Solidariedade (Calles) y del programa de
radio Soy Loco Por Ti.
fue una de las más grandes Latino-hermanos de las utopías. Decía el sabio
E-mail: vitortaveira@gmail.com brutalidades y vergüenzas de la Sí, somos diversos, pero músico y trovador argentino
humanidad: la esclavitud masiva también podemos y debemos Facundo Cabral: “Una bomba
y el comercio internacional de estar unidos. No es un tema so- hace más ruido que una ca-
Pues bien, la historia que personas. Pero la contribución lamente cultural. Pero también ricia. Pero para cada bomba
vengo a contar comienza en europea es sí muy grande y histórico y político. Tenemos que destruye, hay mil caricias
1492, cuando unos navíos in- valiosa a nuestra cultura pues un pasado común de explo- que construyen la vida”. Estoy
mensos cruzaron el Océano llegaron no sólo colonizadores tación y dolores todavía no seguro que te identificas con
Atlántico y desembarcaron aquí españoles, portugueses, ingle- sanados, un presente de cam- esto. Es cierto que existe un o
Cristóbal Colón y los primeros ses, franceses y holandeses bios y un futuro por construir. una latinoamericana dentro de
colonizadores. ¡NO! No, no, no, pero también posteriormente Podemos elegir estar juntos o ti. Puede ser que esté dormido.
es mentira. No es ahí que ini- inmigrantes alemanes, italianos, separados. El colonialismo, el Despiértalo. ¡YA!
ciamos. La historia de América suizos, entre tantos otros. Tam- imperialismo, el capitalismo
Latina comienza mucho antes bién migraron para acá chinos, y quizás otros ismos se be-
de los europeos, pues aquí ya japoneses, árabes, poniendo neficiaron de la estrategia de Sugestão de Filmes
había vida, cultura, historia y aún más salsa y sabor en nues- dividir para conquistar y mu-
civilización. Lo mejor, todo esto tra olla intercultural. chas veces nos miramos como Batalha das águas (También la
en plural. Existía una enorme En medio a esta mezcla de enemigos y competidores, no lluvia), de Icíar Bolhaín
cantidad de culturas originarias tantas influencias, ¿cómo hablar como hermanos o cooperado- Pachamama - O Filme,
en este continente que el héroe de identidad latinoamericana? res como pudríamos ser. Como de Eryk Rocha
cubano José Martí prefería lla- Mejor ni hablemos de ella. Mejor ha escrito Ferreira Gullar en Machuca, de Andrés Wood
mar Nuestra América y que el pensemos plural, en las iden- su poema llamado Nós, latino- Ao sul da fronteira (South of
border), de Oliver Stone
pueblo Kuna nombra Abya Yala, tidades latinoamericanas. Hay -americanos, somos hermanos
“tierra madura” en su lengua muchas similitudes, pero tambi- “não porque seja o mesmo san-
propia. én profundas diferencias entre gue que no corpo levamos: o
Sugestões de Músicas
países y mismo entre regiones que é o mesmo é o modo como
Condimento cultural dentro de un mismo Estado o derramamos”. Latinoamérica, de Calle 13
A las que ya estaban, se nacional. Pero el proceso polí- Mirar con más atención a Canción con Todos,
sumó la llegada de la cultura tico y social de los últimos años nuestros vecinos y aprender de de Mercedes Sosa
europea, acompañada de un levanta un potente y posible ca- ellos es, entonces, un acto polí- Cinco Siglos Igual, de Leon Gieco
proceso colonial repleto de vio- mino: la unidad en la diversidad. tico amoroso. Dejarse penetrar Soy Loco Por Ti, América,
lencia física y simbólica contra La heterogeneidad no tiene que por los acordes de la guitarra de de Caetano Veloso

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HISTÓRIA

O ensino de História está, quase sempre, condicionado


a uma concepção ou corrente historiográfica. Isso
quer dizer que o conhecimento histórico e o ensino da
matéria se modificaram ao longo dos tempos.

Um olhar sobre o saber histórico


Maria de Lourdes Abrantes Sarmento,

Arquivo MJ
era intenção formar um aluno
graduanda do curso de História da crítico e reflexivo, e sim um
Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), PB. aluno submisso e passivo ao
E-mail: lourdes.abrantes@yahoo.com.br autoritarismo do Estado.
Com a redemocratização
política, o ensino de História
Antes de constituir-se como passou a ser pensado para
disciplina escolar, a História instruir o aluno a criticar toda
se confundia com a história forma de repressão e autorita-
bíblica e dos deuses. Por isso, rismo. Partindo desse pressu-
da Idade Média até o século posto, infere-se que, a partir de
17 evidenciou-se uma História 1980, o ensino de História to-
ancorada na religião. Embora a mou novas direções. Passou a
história já fosse ensinada pelos ser uma arma contra o autori-

18 jesuítas desde o século 17, foi


somente no século 18 que ela
tarismo e qualquer tentativa de
censura – gerando, portanto,
ganhou contornos delimitados um cidadão em consonância
como conhecimento objetiva- que naquela época o Brasil brasileiros. Assim, na I Confe- com o contexto da época.
mente elaborado e teoricamen- enfrentava um momento deli- rência Nacional de Educação, Enquanto disciplina esco-
te fundamentado. cado, marcado por instabili- em 1927, discutiram-se os ca- lar no Brasil, a História, desde
A partir da fundação do dade social e política (crise da minhos para se construir uma sua gênese, foi usada como
Colégio Pedro II e do Insti- Independência). Fazia-se ne- identidade nacional comum, a justificação do poder da ordem
tuto Histórico e Geográfico cessário induzir o povo a co- partir do ensino de História, da dominante, como propagadora
Brasileiro (IHGB), em 1838, a laborar com a estrutura social moral e do civismo. de uma determinada ideolo-
História, enquanto conteúdo e política vigente. O objetivo Apesar dos diversos es- gia. Por isso, é nossa tarefa
de ensino específico, passou a dessa disciplina era despertar forços feitos pelo governo batalhar por uma História que
ser difundida no Brasil. O IHGB o patriotismo necessário para republicano, não se conse- leve os estudantes a compre-
surgiu como o centro pensante, a emergência de uma identida- guiu construir uma educação ender o contexto em que es-
elaborando um parâmetro de de nacional. sistemática e universalizante. tão inseridos, permitindo que
história nacional oficial, e o Esse projeto só foi alcançado ultrapassem as barreiras da
Colégio Pedro II foi o executor Nacionalismo e seus “heróis” no governo de Getúlio Vargas, dominação.
desses parâmetros, influen- No período republicano, foi quando houve a consolidação
ciados pelo positivismo e pelo legado à educação o status de de uma memória nacional e
catolicismo. redentora da nação. Por conse- patriótica, contemplando o Atividade
Nessa perspectiva, cabia guinte, buscou-se, a partir do culto aos heróis e a ênfase nas
a tais instituições elaborar ensino de História, fortalecer tradições nacionais nas aulas
uma identidade nacional, visto o espírito nacionalista neces- de História. História é coisa
sário para a sedimentação da de fofoqueiro?
Sugestões de Leitura identidade nacional, abrin- História e ditadura Por que aprender sobre tanta
do espaço para as discus- Durante todo o regime mi- gente morta se estamos vivos?
O ensino de História: revisão ur- sões concernentes a questões litar brasileiro (1964-1985), Estudar história influencia nossas
gente, de Conceição Cabrini. São educacionais. Destacou-se a a disciplina foi usada como escolhas? Essas e outras dúvidas
Paulo: Brasiliense, 2004. estão presentes na cabeça dos
proposta do pedagogo José mecanismo de manipulação
jovens. Então, que tal aproveitar
História na sala de aula: conceitos, Veríssimo, o qual acreditava social e controle da ordem o começo do ano e debater
práticas e propostas, organizado
que, para o projeto político da social vigente. Sua missão era sobre a importância de estudar
por Leandro Karnal. São Paulo:
República consolidar-se, era neutralizar qualquer tipo de História?
Contexto, 2010.
preciso um sistema educacio- crítica ao Estado. Pode-se assistir ao vídeo indi-
nal abrangente e perpetuador No período da ditadura cado e responder essas e outras
Sugestões de Sites perguntas junto com os estu-
de um patriotismo e de um militar, a História, como dis-
dantes. Além de refletir, pode-
Tempo, Revista Digital de História pertencimento nacional. Ao ciplina escolar autônoma, foi remos colher dicas de interesse
da UFF: www.historia.uff.br/tempo ensino de História cabia prio- diluída e passou a coexistir dos jovens ao longo do ano.
Rede social voltada para o ensino da rizar o estudo dos feitos e da com a Geografia sob a intitu- Link: http://youtu.be/uqJboU9vupU
história: www.cafehistoria.ning.com biografia dos grandes cidadãos lação de Estudos Sociais. Não

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POLÍTICA E CIDADANIA

Por que o Congresso Nacional ficou mais conservador? A


resposta exige uma reflexão sem preconceitos: porque parte
da sociedade brasileira é conservadora e está assustada com a
evolução dos costumes que vêm solapando os seus alicerces.

O último grito do conservadorismo


Juremir Machado da Silva,

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


escritor, jornalista e professor na Faculdade de Comunicação da PUCRS.
E-mail: juremir@pucrs.br

Quando algo importante está para mudar de-


finitivamente, é comum que pessoas se apavorem
e tentem resistir de modo radical ao inevitável. É o
efeito do estertor. O Brasil tem brincado com o jogo
eleitoral votando em candidatos como Tiririca. Uma
avaliação serena dos resultados do último pleito in-
dica que Tiririca não passa de um mal menor. Ele não
tem ideias, não tem projetos e nada representa, salvo
a triste despolitização dos seus eleitores.

Fim de uma época


O problema começa mesmo com a eleição de 19
conservadores extremados e preconceituosos como
o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro truir referências, limites e respeito mas, legislador já não pode se dar o luxo de ig-
(PP) e o gaúcho Luís Carlos Heinze (PP). Eles foram os ao contrário, de ampliar horizontes, de norar o barulho da internet. Heinze e Bol-
mais votados em seus estados. Bolsonaro faz da ho- render-se à diversidade, de coibir precon- sonaro resumem uma perspectiva. Embo-
mofobia a sua principal bandeira. Heinze foi escolhi- ceitos e de pôr fim a um estado secular de ra se sintam poderosos com seus milhares
do pela ONG britânica Survival como o “mais racista hipocrisia. O Congresso Nacional, caixa de votos, eles irão a Brasília ecoar o fim de
do ano”, por ter dito que gays, lésbicas e quilombolas de ressonância das contradições sociais um tempo, aquele tempo em que ser pre-
são “tudo que não presta”. Em sociedades cada vez da nação, não teria como escapar da exa- conceituoso, imperativamente excludente,
mais sensíveis à diferença religiosa, sexual e racial, cerbação desse conflito. era uma obrigação moral. Seria possível
Heinze e Bolsonaro encarnam o contrário, atraindo abordar outros nomes e outras razões. O
para eles os votos de parte daqueles que veem no A luta por direitos todo, porém, está na parte. Aceitar o outro
chamado politicamente correto o fim de uma época, De certa forma, a eleição de uma como ele é, naquilo que não prejudica ter-
de uma maneira de viver e de uma civilização. legislatura mais conservadora remete à ceiros, é a regra de um mundo que busca
O Brasil está em convulsão. O país entrou no li- tentativa de construção de um dique arte- mais tolerância, equilíbrio, paz, humildade
quidificador dos comportamentos cotidianos e vê-se sanal contra um tsunami. A transformação e justiça. O caminho é longo.
entre duas forças igualmente poderosas, o avanço do vem das ruas. Algumas dessas mutações já Talvez seja o caso de se tentar ver por
respeito às diferenças versus as últimas tentativas de estão legitimadas pelo Supremo Tribunal trás dessa má notícia, o crescimento do
conservação de “valores” condenados ao ocaso. Não Federal, como o caso gay. Mas as lutas conservadorismo no Congresso Nacional,
se trata de eliminação de qualquer ética ou de des- simbólicas em torno dos direitos de cada uma boa novidade: o declínio de uma era,
um, especialmente desses atores sociais cujas sombras ainda se erguem como
antes marginalizados, as chamadas mino- se fossem muralhas indestrutíveis. Até
Atividade rias, ainda se estenderão por um bom tem- quando mesmo?
po. Reformas importantes quase sempre
sofrem pesadas ameaças de retrocesso. A
Investigando o novo Congresso guerra contra certas diferenças, no entan- Questões para Debate
Tal qual Sherlock Holmes – personagem de Ar- to, parece perdida. Aquilo que se cristaliza
thur Conan Doyle –, que tal convidar os alunos na mídia, por exemplo, nas novelas de
para investigar o perfil dos deputados reeleitos 1 - Em tempos de eleições dividiu-
televisão, funciona como uma espécie de
e dos novatos? Em grupos, a pesquisa pode se o país entre aqueles que
indicador do futuro imediato. É o parado- estavam curiosos e atentos às
resultar em uma análise das principais profis-
sões dos políticos, cruzar partidos e grupos de xo maior dessa resistência formal ao que eleições e os que não queriam
representação. se impõe informalmente. Último urro. nem ouvir falar. Por que isso
O Congresso Nacional será mais con- aconteceu?
Depois, pode-se fazer um debate para revelar
as “pistas” que indicam se teremos um Con- servador pelos próximos quatro anos. Isso 2 - Conhecer e debater sobre o
gresso mais conservador no próximo período. não significa, porém, que poderá aprovar perfil dos políticos eleitos amplia
o nosso embasamento para
Dica: O site do Departamento Intersindical de Assessoria recuos expressivos em matérias sensíveis criticar e dá ânimo para perceber
Parlamentar (Diap) é uma boa fonte para começar as “investi-
gações”: www.diap.org.br de comportamento. Na era das redes so- avanços na política brasileira?
ciais, a pressão popular é permanente. O

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SAÚDE E BEM-VIVER

O conceito de saúde mental vai muito além da ideia de


doença ou a ausência dela. Entrar nesse tema consiste em
pensar o cotidiano, as possibilidades de relações que estão
sendo permitidas no dia a dia do existir.
Saúde mental

Um eixo entre o existir e o adoecer


Rubiane Rodrigues Mostazo,
psicóloga no Ambulatório de Saúde Mental de Ourinhos, SP, mestre
pela Universidade Estadual de Campinas.
E-mail: rubimostazo@yahoo.com.br

O que está em questão no campo da saúde mental


é a problemática da subjetividade humana e os des-
tinos sociais que se entrelaçam no campo da saúde
mental. Portanto o corpo social estará articulado ao
campo da saúde mental, o adoecimento se integra à

Ilustração: Júlia Corrêa


experiência humana e se torna objeto da ação como
uma realidade construída significativamente.

O sofrimento mental
A saúde mental de cada indivíduo tende a varia-
ções e influências de fatores biológicos e sociais, e

20 dependem de satisfazer adequadamente as necessida-


des emocionais, em um senso contínuo de segurança
e valor pessoal. Entretanto, quanto ao sofrimento
psíquico, consolidamos a existência humana, visto pitalar deixou de predominar e se abriu danos emocionais, desencadeando trans-
que todo indivíduo vivencia situações de sofrimento espaço para um modelo aberto, reabili- torno mental. Outro fator importante é o
intenso: isso pode ocorrer diante de perdas ou de tador, ou seja, uma atenção psicossocial, uso de álcool e outras drogas, que podem
situações estressantes. Não somos imunes ao adoe- que viabilize práticas de cuidados mais ser um risco para ocorrer uma desordem
cimento mental e podemos necessitar de ajuda para humanizadas, promovendo a autonomia, mental, aumentando a incidência de um
nos restabelecermos emocionalmente. respeitando a singularidade e a subjetivi- sofrimento mental severo e persistente.
O sofrimento mental severo e persistente pode dade na construção da cidadania. Enfim, saúde mental vai além do cam-
ocasionar um rompimento com a realidade, desenca- Como retrata Amarante (1995), a po das doenças mentais. Proporcionar
deando sintomas de diferentes formas, envolvendo o trajetória da desinstitucionalização é ca- saúde mental é entrar nas possibilidades
aspecto afetivo, de pensamento, de percepção de si e racterizada, sobretudo, pelo surgimento da existência humana e social que dizem
do mundo, sendo uma manifestação violenta e repen- de novos serviços, estratégias e conceitos respeito ao estado mental do sujeito e da
tina de ruptura do equilíbrio de um sentimento. Alu- em saúde mental, com o aparecimento do coletividade, da existência humana e de
cinações e delírios podem fazer parte do quadro de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), suas relações sociais.
sintomas em um estado de crise severa e persistente. das Cooperativas Sociais, dos Centros de
Convivências, dos Serviços Residenciais Sugestões de Leitura
Atenção e cuidado Terapêuticos e outras propostas que
Saúde mental, de J. Birman e C. B. Bezerra
O olhar e as propostas de cuidados às pessoas tenham como eixo a territorialização,
Jr. In: Saúde e Sociedade no Brasil. Rio de
em sofrimento mental têm passado por muitas re- visando aos cuidados com a pessoa, es- Janeiro: Relume Dumará, 1994.
formulações, mediante as lutas de trabalhadores, tando ela inserida em sua comunidade, Loucos pela vida: a trajetória da reforma
familiares e usuários de serviços em saúde mental. possibilitando a permanência e o fortale- psiquiátrica no Brasil, de P. Amarante. Rio
Com a implantação da Lei 10.2016/2001, que trata cimento dos vínculos afetivos. de Janeiro: Fiocruz, 1995.
da reforma psiquiátrica, novas propostas de cuidado O preconceito, a exclusão e o des- Saúde mental e atenção psicossocial, de
passaram a perpetuar no Brasil, e novos modelos de respeito aos doentes mentais ainda con- P. Amarante. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
serviços da saúde mental surgiram. O modelo hos- tinuam presentes em nossa sociedade.
Conviver com as diferenças é um desfio a Questões para Debate
Para além dos muros da escola ser aceito e pensado pela sociedade. É ne-
cessário estabelecer uma relação de amor,
solidariedade e cumplicidade no cuidado 1 - O que devemos levar em conta
A função do Centro de Atenção Psicossocial para termos uma boa saúde
às pessoas que passam por algum tipo de
(CAPS) é prestar atendimento a pessoas com mental?
sofrimento psíquico, diminuindo e evitando in- sofrimento psíquico.
2 - Como cuidar das pessoas com
ternações psiquiátricas, e articular-se com a rede A promoção em saúde mental é um sofrimento mental?
de serviços da comunidade. Que tal agendar fator importante para minimizar riscos.
uma visita da turma no CAPS mais próximo da 3 - Que avanços já tivemos e o que
Quando se proporcionam condições de precisa melhorar no atendimento
escola? É uma oportunidade para os estudantes
vida saudáveis, se promove a prevenção, às pessoas com doenças
conhecerem o funcionamento, a realidade das
comunidades e também histórias de superação. visto que os fatores ambientais são ca- mentais?
pazes de alterar o biológico e ocasionar

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CIÊNCIAS NATURAIS

A vida surgiu em um planeta cíclico: dias e noites se alternam,


as marés variam com as fases da Lua e as estações do ano
mudam conforme a posição da Terra e do Sol. Como será que
esses ciclos afetam os seres vivos, principalmente os humanos?
Ritmos biológicos

O tempo que nos rege


Aline Vilar Machado Nils e

Ilustração: Sofia Clemente


Lívia Clemente Motta Teixeira, de digestão e hormonais, pre-
biólogas e doutorandas em Fisiologia, disposição ao desenvolvimento
pesquisadoras no Laboratório de de diabetes tipo II, obesidade,
Neurociências e Comportamento da
Universidade de São Paulo (USP). dificuldade de aprendizagem e de
E-mails: machadoavs@gmail.com; atenção, entre outros.
liviaclemente@gmail.com
O ideal seria que os estu-
dantes vespertinos estivessem
Com a exposição ao ambien- no turno da tarde. Infelizmente,
te cíclico, os seres vivos que con- muitas vezes esse turno não
seguiram prever tais mudanças está disponível ao ensino médio.
e preparar seu organismo para Por outro lado, muitos preferem
reagir a elas tiveram maior chan- estudar pela manhã e ter a tarde
ce de sobrevivência e originaram livre. Assim, resta evitar a expo-
os seres vivos rítmicos que vivem sição à luz artificial e a agitação
hoje na Terra. Os ciclos de sono-
-vigília, alimentação, temperatura
durante a noite, além de buscar
ingerir alimentos leves para mi- 21
corporal, alterações hormonais e nimizar essa tendência à vesper-
reprodução (animal ou vegetal) o cronotipo do indivíduo: matu- entre 12 a 18 minutos a cada tinidade. O melhor é dormir em
são os ritmos biológicos mais tino, vespertino ou indiferente, o ano. A secreção do hormônio escuro completo, pois uma míni-
evidentes, mas há outros fatores qual muda ao longo de sua vida. melatonina – que indica para ma exposição à luz já distorce a
celulares e comportamentais que Quando bebês, nossos ritmos o cérebro que é escuro e que produção de melatonina e pode
variam ciclicamente. ainda estão em sincronização, animais diurnos devem dormir afetar os ritmos subsequentes.
Os seres vivos têm ritmici- normalmente na infância so- – também ocorre mais tarde, o
dade biológica característica da mos mais matutinos. Vamos nos que faz com que o adolescente
espécie. Humanos são animais tornando vespertinos, em geral, esteja mais alerta tarde da noite Sugestão de Leitura
diurnos, mais ativos durante o conforme vamos entrando na e prolongue o sono de manhã.
O sono na sala de aula: tem-
dia. Seus hábitos de alimentação, adolescência. Quando adultos, há Isso é um problema quando os po escolar e tempo biológi-
diurese e excreção variam ao novamente um deslocamento no horários escolares exigem que o co, de Fernando Louzada e
longo do dia de forma sincroni- sentido da matutinidade. aluno acorde cedo, enquanto seu Luiz Menna-Barreto. Editora
zada, como vários instrumentos Contudo é preciso conside- relógio biológico está programa- Vieira & Lent, 2007.
tocando uma mesma música. rar que há variações individuais, do para dormir.
e até entre homens e mulheres. O Essa tentativa de se adequar Sugestão de Vídeo
Harmonização saudável cronotipo é determinado geneti- ao relógio social pode causar
Animação Família Dias:
Os ritmos biológicos são camente, mas estudos mostram desarranjo nos seus ritmos bio- http://temponavida.com/
sincronizáveis, se ajustam a no- que o mesmo indivíduo pode lógicos, cada um tentando seguir anima.html
vos horários, principalmente apresentar características com- um horário diferente, como se
por exposição à luz natural ou portamentais diferentes depen- a orquestra desafinasse. Assim,
artificial, podendo também ser dendo do ciclo de iluminação ao muitos adolescentes não têm Atividade
sincronizados por fatores como qual é exposto. Por exemplo, se a rotina regular de duração e
horários escolares e de trabalho morar em Porto Alegre, abaixo do qualidade de sono adequada ao Qual o seu cronotipo?
numa espécie de relógio social. trópico de Capricórnio, a quan- seu descanso e desenvolvimento. Descubra seu cronotipo:
Quando esses fatores externos tidade de horas com sol varia Essa dessincronia prejudica a matutino, vespertino ou
contribuem para uma harmoni- muito ao longo do ano, mas em aprendizagem, aumenta a sono- intermediário? Isso pode ser
zação saudável entre os diferen- Natal a variação é muito peque- lência e pode causar problemas feito no site do Grupo Mul-
tes ritmos biológicos em um in- na, por esta cidade ficar próxima emocionais e de agressividade. É tidisciplinar de Desenvolvi-
mento e Ritmos Biológicos:
divíduo, ela é dita sincronização do Equador. importante ressaltar que fatores http://bit.ly/cronotipos
positiva; mas quando provocam ambientais agravam essa condi- Por meio de entrevista
dessincronização interna, é dita Mudanças na adolescência ção, como exposição exagerada com parentes e amigos,
negativa e pode prejudicá-lo. Na adolescência, o corpo à luz (lâmpadas, TV, telas de com- pode-se construir um cená-
Como podemos sincronizar passa por muitas mudanças, in- putador ou celulares), por inibi- rio do desenvolvimento do
ciclo vigília-sono, identifi-
nossos ritmos biológicos de ma- clusive nos padrões de sono do rem a ação da melatonina, o que cando diferenças individuais
neira harmônica? A preferência ciclo sono-vigília, que se desloca pode ter consequências sérias e entre as idades.
por horário de atividade define naturalmente para mais tarde, à saúde, tais como: alterações

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REALIDADE BRASILEIRA

No Brasil de hoje, a
indústria tem um papel Economia brasileira:
carências e oportunidades
muito importante na
geração de riquezas e
de postos de trabalho
qualificados. Ela
precisa investir para se
tornar mais produtiva

Arquivo MJ
e nós, trabalhadores,
precisamos ter
uma capacitação
profissional para
nos tornarmos mais
produtivos e melhorar
a nossa posição no
resto do mundo.

Lúcia Garcia,
economista do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos

22 (Dieese), Porto Alegre, RS.


E-mail: lucia@dieese.org.br

O Brasil avançou muito nos dustrial – e sabemos que a matriz para qualificar pessoas para o da seleção unificada também en-
últimos dez anos na pauta social, da terceira e da quarta revolução momento atual. Mas também é caminhada para escolas técnicas
que criou um mercado de con- industrial é o conhecimento. preciso construir um farol para o de qualificação profissional. As-
sumo para a produção, mas no futuro, um sistema de prospecção sim, estamos ampliando, racio-
campo econômico está faltando Para o jovem se preparar que aponte para a juventude os nalizando o sistema para que as
avanços mais ousados. As inicia- No Brasil há muitas estatísti- caminhos do mundo do trabalho pessoas tenham as ferramentas
tivas do governo brasileiro estão cas e indicadores, mas não uma para saber como elas podem se
voltadas para a infraestrutura, articulação das informações para Farol para o futuro preparar.
e a política industrial ainda não gerar uma interpretação e possi- O trabalho é o grande orga- Precisamos apontar para
aconteceu no Brasil. Este salto bilitar que o jovem se direcione nizador da vida social. Sem tra- o jovem e inclusive ajudar a
nós ainda precisamos dar. para as ocupações adequadas. balho não há perspectiva de co- estrutura de profissionalização,
Também estamos deixan- Isso existe nos EUA, por exemplo, esão social, colocando em risco dizendo para onde a economia e
do passar a oportunidade do onde um serviço público voltado a estabilidade política. Nós tive- a sociedade irão. Essa discussão
nosso bônus demográfico, ou para a juventude indica as ocupa- mos essa situação no Brasil nos está colocada não apenas no
seja, aquela estrutura em que no ções em alta e as ocupações em anos 1990. Os jovens sabiam âmbito da indústria, mas também
país há mais pessoas jovens do declínio. Isso é importante para que viviam no limbo, sem pers- de serviços importantes, como o
que velhas, o que ocasiona uma que o jovem possa se realizar, pectiva alguma. Hoje, a juventu- de saúde. E fica claro que, embo-
maior geração de riqueza. Temos porque ninguém trabalha sem se de tem perspectiva, mas não tem ra exista insuficiência de profis-
uma janela de mais ou menos 15 identificar com o trabalho que vai informação e direcionamento. sionais, há muitas oportunida-
anos pela frente, para que o Bra- desenvolver. Para isso, os equipamentos de des surgindo na área técnica.
sil dê um salto. Contudo ainda es- Se fizermos um balanço, formação estão começando a se
tamos apostando todas as fichas entre 18 e 24 anos você define o estruturar no Brasil.
no petróleo, que é a matriz ener- que vai fazer na vida, e é ali que Quando existe um sistema Questões para Debate
gética da segunda revolução in- precisa de informação. Precisa único de seleção para o Ensino
saber se vai ser médico, enge- Superior, por exemplo, damos
Sugestão de Filme 1 - Quais são as principais
nheiro, um excelente operário, um grande passo no país, por- carências do nosso país?
um fantástico biólogo, um jardi- que ampliamos a oferta da quali- 2 - Como essas carências
O Emprego (2008). Direção de San-
tiago Grasso. Duração: 7 min. Esta neiro, um artista plástico ou ou- ficação de Ensino Superior. Hoje podem se tornar
premiada animação ajuda a refletir tra ocupação qualquer. É preciso os jovens, cada um na sua locali- oportunidades de
sobre o papel do ser humano nas decidir nesse momento da vida, dade, concorrem a um processo trabalho para os jovens?
sociedades modernas, sobretudo mesmo que não seja definitivo. seletivo no Brasil inteiro, e isto é 3 - O que é preciso fazer
em relação ao trabalho. Pode gerar para que o jovem se
Carecemos de um sistema uma forma de conhecer o que o
um bom debate com os estudan- torne mais qualificado
tes sobre as relações sociais, o de informações e de prospecção país está oferecendo em termos
para atender às novas
trabalho, a exploração e o futuro que indique isso. Já se conhe- de ensino e de oportunidade demandas do mercado
do trabalho para os jovens. cem as ocupações nas quais o em educação. Recentemente, de trabalho?
Assista: http://vimeo.com/32966847 Estado brasileiro deveria investir passamos a ter a oportunidade

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CURTAS E DICAS

Ações para frear a desigualdade CARTUM


Os benefícios de pequenas ações para frear a
desigualdade falam por si sós. Um aumento de 1,5%
no imposto sobre a riqueza dos milionários de todo o
mundo seria suficiente para que todas as crianças do
planeta estivessem na escola, bem como para a pro-
visão de serviços de saúde nos países mais pobres.
Investir em serviços públicos gratuitos também
é essencial para acabar com a brecha entre as pes-
soas ricas e as demais. Todos os anos, 100 milhões
de pessoas em todo o mundo ficam mais pobres
por terem que pagar para receber assistência
médica. De 2009 a 2014, pelo menos 1 milhão de
mulheres morreu durante o parto, devido à falta de
serviços básicos de saúde. Fonte: www.adital.org.br

CONHEÇA!
Centro de Juventude Cajueiro
O Centro de Juventude Cajueiro de Formação, As-
sessoria e Pesquisa é um espaço voltado para partilhar Eduardo Borges
sonhos e projetos, com a missão de prestar serviços às
organizações juvenis, aos jovens e a seus educadores/ “Eu também sou vítima de sonhos
as. Oferece formação integral, cursos presenciais e Datas Especiais
adiados, de esperanças dilaceradas,
virtuais, escolas de educadores de adolescentes e jo-
vens e escolas de lideranças, entre outros. mas, apesar disso, eu ainda tenho
Janeiro: 28. Dia Nacional de Combate ao 23
Informações: http://cajueirocerrado.blogspot.com um sonho, porque não podemos Trabalho Escravo.
desistir da vida.”
BRINCADEIRA Martin Luther King Jr., pastor americano, Fevereiro: 17. Carnaval. 18. Início da
Quaresma e da Campanha “Fraternidade,
Use a cabeça! ativista dos direitos humanos
Igreja e Sociedade”. 20. Dia Mundial da
Organizar o grupo em duas filas. Entregar um Justiça Social.
boné ou chapéu para o primeiro de cada fila. A “Desejo precisamente que o diálogo
brincadeira é fazer o boné chegar ao último, pas- entre nós ajude a construir pontes Março: 8. Dia Internacional da Mulher. 10.
sando de cabeça em cabeça, sem usar as mãos, entre todos os homens, de tal modo Dia Mundial de Combate ao Sedentaris-
braços ou pernas. Incentivar o grupo com palavras mo. 14. Dia Nacional da Poesia.
que cada um possa encontrar no
de ânimo. Vence a que concluir primeiro!
outro, não um inimigo nem um No site do Mundo Jovem: confira as
Ao final pode-se conversar sobre: os pensamen-
tos e sentimentos surgidos durante a brincadeira; concorrente, mas um irmão que se sugestões para as datas comemorati-
deve acolher e abraçar.” vas: Volta às Aulas e Dia Internacional
exemplos de outras situações que exigem que saiba-
da Mulher.
mos usar a cabeça; o que isso significa na vida? Papa Francisco

PELO PRAZER DE LER


Violência e morte cor da pele e por sua classe social, pela violência da O autor é dos mais premiados
na cidade grande polícia e dos grupos de extermínios e pelo racismo. na área do livro infantil e juvenil.
Destaca-se, no livro, a estrutura que liga os Tem mais de 30 livros publicados
O rapaz do metrô: poemas para jovens em capítulos, em forma de poemas. Cada texto apa- e já ganhou quatro vezes o maior
oito chacinas ou capítulos, de Sérgio Cappa- rece como se fizesse parte do mapa de estações prêmio literário do país, o Jabuti.
relli. Rio de Janeiro, Galera Record, 2014. 149p. das linhas do metrô. E entre uma parada e outra, Foi professor universitário por
uma linha e outra, uma paisagem e outra, o jovem muitos anos: a maior parte deles
O livro é uma narrativa, em oito capítulos, em percebe o mundo ao seu redor, descobre seus na Universidade Federal do Rio
que praticamente todos os textos estão organizados sentimentos em relação aos lugares e às pessoas, Grande do Sul (UFRGS). É mineiro,
como poemas. Um jovem de 16 anos, trabalhador- dá vazão à imaginação e até exercita a escrita. É mas vive em São Paulo desde que
-aprendiz do setor de manutenção dos trens do me- também uma manifestação da coragem de quem se aposentou.
trô, testemunha e documenta (por acaso), em sua já sabe que não vai se dobrar e que a arte pode ser Este livro tem também um projeto gráfico que
câmera, uma chacina e uma onda de violência no uma forma de resistência! reforça os elementos da violência urbana: marcas de
bairro paulistano do Campo Limpo, onde mora. Para Merece destaque o tom de denúncia e incon- sangue, projéteis detonados, “oculares” de metra-
refletir sobre os acontecimentos recentes, ele anda formismo que os poemas vão conferindo à narra- lhadoras etc., apesar do acalanto que, ironicamente,
pelas linhas do metrô, tem notícias de outros crimes, tiva. E apesar do tema ser pesado, há lirismo, há abre o livro. A leitura flui que é uma maravilha!
teme por sua vida, se apaixona por uma colega de humor e grandes voos da imaginação, como subir
Celso Sisto, escritor, especialista em Literatura
trabalho, é chamado para depor etc. Sua relação de repente uma das escadarias do metrô e deparar- Infantil e Juvenil e doutor em Teoria da Literatura.
com a cidade está definida de antemão por sua -se com uma praia da Tasmânia! E-mail: celsosisto@yahoo.com.br

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Neste novo ano, que tal assinar um jornal que contribui para o
trabalho de professores e para a formação integral do jovem?
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Filosofia
Subsídio para ensino de Filosofia encartado no jornal Mundo Jovem Fevereiro de 2015, v. 7, n. 31

Tudo está em permanente


mudança, deixando de ser Reflexões sobre o tempo
continuamente o que era
e se tornando outra coisa.
Ao mesmo tempo, algo
e as transformações
sempre permanece, pois se mos ser levados, com isso, a dizer que Sempre a primeira vez
tudo passa e, aparentemente, nada Há um terceiro aspecto do tempo,
trata da mesma realidade. permanece. “Tudo flui”, como nos presente no conceito de duração –
Os filósofos chamaram diria o filósofo Heráclito, que viveu termo que o filósofo Henri Bergson
antes de Sócrates. (1859-1941) utiliza para pensar tal
esta paradoxal passagem Porém, se você prestar atenção complexidade. Observe, ainda mais
de um estado a outro de mais uma vez a esta experiência, po- uma vez, que o agora, este exato
todas as coisas, no decorrer derá perceber um segundo aspecto do momento em que vivemos, tem mais
tempo. Pois também é possível dizer, uma propriedade: ele, admiravelmen-
do tempo, de devir: o vir a pensar e sentir que: sempre é agora. te, nunca antes existiu. Este agora
ser do real. O tempo é um É, pois, eternamente agora, desde o nunca antes existiu, e também este...
enigma, e refletir sobre ele início do universo até o futuro mais E a cada vez que possamos pensá-lo
longínquo que você possa imaginar. A ou senti-lo.
pode ser admirável. existência ocorre permanentemente O agora revela, assim, a sua natu-
Sérgio A. Sardi,
no agora. Nesta perspectiva, o tempo reza de ser continuamente a primeira
doutor em Filosofia (Unicamp) e professor adjunto
passa a ser uma imagem móvel da vez. Talvez possamos sentir isso ao
do Departamento de Filosofia da PUCRS. eternidade, como nos diria outro fi- dizer: nunca antes foi agora. A du-
E-mail: sergioasardi@hotmail.com lósofo, denominado Santo Agostinho, ração, a passagem de um tempo que
que viveu na Idade Média. é sempre inaugural, percebida em
Vou propor a você uma experiência Esta natureza paradoxal do tempo uma experiência interior, repõe no
de pensamento, em etapas, em ca- nos leva a afirmar que as duas faces todo de nossa percepção do mundo
madas. Em primeiro lugar, sugiro que do tempo são verdadeiras: então, essa visão mental do mundo como
você sinta este momento em que vive, tudo passa e, simultaneamente, um jorro incessante de novidade,
sinta o agora. Observe que, a cada vez tudo permanece sendo o que é. como nos diria Bergson.
que você pronunciar esta palavra ou Assim como nós mesmos, que nos Ao dizermos e sentirmos que “este
até mesmo simplesmente pensá-la, a transformamos, mas também per- agora nunca antes existiu”, o próprio
cada vez que você puder sentir o que manecemos sendo os mesmos, ou existir, incluindo o seu existir, caro
esta palavra indica, então já não será seja: o nosso eu perdura no tempo, leitor, talvez possa também ser visto e
mais agora. Sempre que você puder apesar de ser sempre diferente. E é sentido como uma criação contínua.
sentir o agora, ele já passou. Isso pode assim o todo do real. Mas ainda há Há sentido e beleza nesta visão. Expe-
até causar alguma vertigem. E pode- algo mais a refletir. rimente contemplar o mundo assim,
incluindo a sua presença, como parte
Johannes Moreelse (1602-1634) apresenta Heráclito como o “filósofo que chora”
Heráclito desta criação, e parte fundamental,
(535-475 a.C.) pois ao contrário de todas as coisas,
todos os seres humanos temos cons-
Nasceu em Éfeso, atual
ciência da nossa própria existência.
Turquia. Foi um filósofo
Talvez isso ocorra também com outros
pré-socrático considerado o
“pai da dialética”. Parte do
seres e até com o todo da vida.
princípio de que tudo é mo-
vimento, e que nada pode
permanecer parado. Mas
Questões para debate
este é apenas um pressupos- 1 - Por que é importante refletir-
to de uma doutrina que vai mos sobre a vivência do tempo?
mais além. A mudança que 2 - Como assim, “tudo passa e tudo
acontece em todas as coisas permanece” em nossas vidas?
é sempre uma alternância 3 - Como é pensar e viver a vida
entre contrários: coisas como um “jorro incessante de
quentes esfriam, as frias novidade”?
esquentam; coisas úmidas
secam, as secas umedecem.
“Ninguém entra em um
mesmo rio uma segunda
vez, pois quando isso
Passado, presente e futuro
acontece já não se é o É admirável pensar e sentir que agora é o que sempre-nunca foi, é e
mesmo, assim como fazemos parte deste fluxo interminá- será. Pois: sempre-nunca foi agora.
as águas que já serão vel de criação e novidade. E podemos Vivemos nesta lâmina de eterna
contemplar também esta dimensão novidade, e esta criação incessante
outras.” Heráclito do ser que permanece sendo eterna- coincide com a permanência do todo
Sérgio A. Sardi
mente a mesma, além desta outra, do mundo. O existir é a pura novidade
pela qual sentimos que tudo passa. incessante do ser, jorro ininterrupto
É um modo de ver o mundo, é um do qual fazemos parte. Eis uma ima-
Dando um passo além em nossa modo de sentir a existência. gem do tempo, eis uma visão sobre
reflexão, observemos que os três Mas há ainda algo mais para nós mesmos, nossas existências e o
aspectos se ligam. Pois, se a cada acrescentar à experiência em etapas real. Eis, nas experiências que foram
vez que pensarmos o agora, ele já que propomos no início deste texto: propostas, um modo singular de pen-
passou – e, sob este aspecto, nunca pois passado, presente e futuro se sar com o qual podemos nos admirar,
é agora – por outro lado, também unem no fluir incessante a que cha- refletir, contemplar, enfim, filosofar.
observamos anteriormente que é mamos de agora. Primeiramente, o
sempre agora. Por fim, constatamos passado está presente em nossa me- Sugestão de Vídeo
um terceiro modo de sentir e pensar mória, e o futuro, em nossas expecta-
Conheça mais sobre os
o tempo, ao nos darmos conta que é tivas, e isso ocorre sempre no agora.
pensamentos de Heráclito
sempre a primeira vez que é agora, Em segundo lugar, constatamos que acessando esta vídeo-aula:
e a cada instante, e ainda, e conti- o agora é sempre novo, e assim ele http://youtu.be/G6cixmFeJGY
nuamente, eternamente, é sempre se abre continuamente a um futuro
novo e é sempre outro o permanecer inusitado. Ao mesmo tempo, o agora
a que denominamos agora. Somos é também muito antigo, pois guarda Sugestões de Leitura
conduzidos, assim, a formular estas em si tudo o que já aconteceu. Mas,
Heráclito contextualizado, de
três ideias em uma só, pois: sempre, em qualquer momento no tempo, Alexandre Costa, Ed. Odysseus.
eternamente, nunca antes foi agora. em todas as épocas da história, a
Ou, ainda: o agora é o que sempre existência ocorre sempre no agora, Henri Bergson, organizado
nunca antes existiu. O agora, con- este agora cheio de passado e que se por Silene Torres Marques e
Debora Cristina Morato Pinto.
cebido como criação, inclui em si o alarga no futuro. O agora, o tempo é Ed. Alameda.
permanecer e o passar. o puro criar-se incessante do ser. O
Atividade
Música: Como uma onda
Autor: Lulu Santos

Nada do que foi será


De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
Não adianta fugir, nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre,
Como uma onda no mar
Registre por escrito em quais mo-
mentos da nossa vida nos sentimos
como uma onda no mar, conforme
diz a música de Lulu Santos. Que
tal compartilhar com os colegas
em uma roda de conversa?

Subsídio para Filosofia encartado no jornal Mundo Jovem, v. 7, n. 31


Formação de Subsídio para
desenvolver a

Professores
Formação de
Professores sob
a perspectiva
do Enem Fevereiro de 2015, v. 3, n. 11

No ano de 2014, mais


de oito milhões de Enem: reações e ações
na educação básica
estudantes realizaram
o Exame Nacional do
Ensino Médio, o Enem.
Ao compararmos com
o seu primeiro ano de 4) Linguagens, códigos e suas tecno-
logias: Nesta área estão as disciplinas
existência, percebemos o de Língua Portuguesa, Literatura,
avanço que o exame teve Educação Física, Artes e Línguas
Adicionais (Inglês e Espanhol). Nes-
para o aluno brasileiro. ta prova é exigida principalmente a
interpretação de textos.
Roselane Zordan Costella,
professora do PPG em Geografia e da Faculdade de 5) Redação: A redação, que corres-
Educação da UFRGS, coordenadora Institucional do Pibid.
E-mail: ro.paulo@terra.com.br ponde a uma quinta prova do Enem.
exige cinco competências básicas:
Ilustração: Júlia Corrêa

domínio da norma padrão da língua


No seu primeiro ano de imple- portuguesa; compreensão da proposta
mentação o Enem foi realizado por de redação; seleção e organização das
apenas 116 mil alunos, em 1998. informações; demonstração de conhe-
Este exame nasce num cenário em cimento da língua necessária para
que se busca a avaliação diagnóstica argumentação do texto; elaboração
e o aprimoramento dos alunos da de uma proposta de solução para os
Educação Básica, atendendo aos problemas abordados, respeitando os
dispositivos da Lei de Diretrizes e valores e considerando as diversidades
Bases da Educação Nacional (LDB). socioculturais.
No ano de 2005, foi instituído o
programa Universidade Para Todos
(ProUni), que permite o acesso de É solicitado domínio sobre o sistema Interdisciplinaridade
alunos em universidades particula- internacional de medidas, grandeza As questões do Enem apresen-
res, custeados pelo governo federal. em comparação, álgebra, além de tam maior quantidade de textos
A entrada neste programa está con- interpretação de gráficos e tabelas. verbais e não verbais do que ou-
dicionada à pontuação do candidato tras provas. Às vezes há mais de
no exame do Enem e também ao 2) Ciências Humanas e suas tecno- um texto para a mesma questão.
enquadramento do mesmo num logias: A prova cobra conhecimento de Outra peculiaridade é a estrutura
perfil social e econômico exigido. História, Sociologia, Geografia e Filo- da prova, fundamentada em cinco
grandes eixos, com cinco grandes
Preparar para o Enem ou para sofia. As questões são sobre evolução
competências. Assim, em muitas
uma formação que atenda esse tipo da tecnologia, conflitos territoriais, uso
questões não há necessidade de
de avaliação exige uma postura de de recursos naturais, temas ligados à
lembrar os conteúdos específi-
escola, uma mudança de paradigma conquista de direitos como o Estatuto cos, mas saber o que fazer com
e concepção enquanto metodologia Racial, da Criança e do Adolescente e eles. O conteúdo necessário vai
de ensino e ação com relação aos do Idoso etc. As questões costumam proporcionar ao aluno o desen-
alunos. vir contextualizadas com temas atuais. volvimento de capacidades como:
Atualmente, a prova é composta argumentação, interpretação, lei-
por 45 questões, tendo no total 180 3) Ciências da Natureza e suas tec- tura, aplicabilidade de conceitos,
questões para serem resolvidas num nologias: A prova solicita conteúdos e outras. As questões, na maioria
curto espaço de tempo. Está dividida das disciplinas de Física, Química e das vezes, não se referem a um
em cinco áreas: Biologia. Os assuntos estão voltados componente curricular, e sim
para as fontes de energia, questões a uma área do conhecimento.
1) Matemática e suas tecnologias: ambientais e aplicabilidade de con- Assim, a tendência é aparecerem
A prova cobra conhecimentos de ceitos e conteúdos para interpretar questões interdisciplinares.
Matemática aplicados no cotidiano. situações cotidianas.
O Enem não representa
somente uma prova
classificatória tradicional,
Ingressar na universidade
mas também a
oportunidade de ingresso
na universidade. Quem
realiza esse exame poderá,
por meio do Sisu ou do
ProUni, conquistar vagas
gratuitas em universidades
públicas e privadas.

Roselane Zordan Costella

Ilustração: Júlia Corrêa

Após a obtenção dos resultados do destas competências; simular reda- fazendo cada questão num tempo
Enem, você poderá se inscrever no ções com temas sociais, utilizando muito rápido. Se fizer um grupo de
Programa Universidade para Todos, conceitos trabalhados no ensino 10 questões, estipule um tempo de
escolhendo até cinco cursos em uma médio e pautando as competências; dois minutos por questão; se simular
ou mais universidades particulares que rever os temas desde 1998 para ver as 90 questões, utilize um tempo
aderiram ao programa. A classificação a que se propõe esta redação. de três minutos.
se dará conforme a pontuação obtida • Apurar a sua leitura de mundo; ler • Observar o que estudou sobre
no Enem. reportagens de jornal, extraindo urbanização, energias, ambientes,
Assim, por exemplo, você pode- delas o conhecimento, não somen- estatística, saúde e outros temas
rá cursar Ciências Jurídicas numa te as informações; ficar atento na que aparecem em todas as provas
universidade particular sem precisar espacialidade e temporalidade dos desde 1998, problematizando-os.
pagar pelo estudo. O sonho da forma- acontecimentos, bem como o que • Revisar os conteúdos da mesma for-
tura se torna uma realidade, e a sua e por que aconteceu. ma que faria com outro vestibular,
vida de estudante não acaba no final • Treinar com questões e simulados, mas priorize o entendimento.
do terceiro ano de Ensino Médio, após
a conquista do diploma.
Se você não conseguir ingressar no Estude muito!
curso superior por meio do ProUni, Para a prova do Enem as ha- cotidianos com os conceitos
ainda terá chance de recuperar a vaga bilidades mais importantes são: trabalhados em aula: se o foco
em cursos que não tiveram candidatos interpretar, ler com competência, da imprensa está no Japão,
suficientes para preenchê-las. Isso será saber defender um ponto de por exemplo, entendê-lo em
possível pela inscrição no SISU (Sis- vista, argumentar, pensar em Física, Química, Geografia,
tema de Seleção Unificada), podendo propostas, resolver situações/ Filosofia, História etc. fortale-
escolher dois cursos para concorrer à problemas, administrar o tempo, cerá a capacidade de interagir
vaga que levará em conta a pontuação aplicar conceitos em situações com diferentes conhecimen-
no exame. cotidianas. Para isso é necessário: tos, fazendo com que você
1. Estudar! Essa é a sua tarefa, a esteja apto a interpretar uma
Dicas para uma boa prova sua responsabilidade. Quantas questão que exija essa com-
• Observar as pequenas mudanças horas por dia você dedica aos preensão.
que ocorrem na redação; ler cada estudos? Você sabe estudar? 4. Encontrar soluções para os
uma das competências; dar-se conta Revê o que foi trabalhado em problemas que as disciplinas
aula? Formula perguntas aos apresentam, junto com os
do que representa escrever diante
professores sobre os assuntos conteúdos trabalhados. Para
não entendidos? isso leia, classifique, escolha
O Enem em números 2. Ler com concentração, re- argumentos e resolva de forma
conhecendo nas leituras as concentrada.
2 dias de provas; diferentes informações apre- 5. Escrever intensamente, obser-
sentadas, contextualizando-as vando onde estão suas maiores
4 áreas do conhecimento; no tempo e no espaço, tecendo dificuldades e procurando,
5 provas no total críticas sobre o assunto. Leia
todos os dias uma notícia de
a cada reescrita, superá-las.
Convença o leitor das suas
4 provas objetivas mundo e transfira o contexto produções textuais sob o seu
da leitura para o seu cotidiano. ponto de vista. Seja crítico e
1 prova dissertativa (Redação) 3. Relacionar os acontecimentos consciente.

Subsídio para desenvolver a Formação de Professores sob a perspectiva do Enem, v. 3, n. 11

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