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Texto da Comunicação
Introdução
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Simpósio organizado por Rosalina Costa (Univ. Évora).
velocidade ou de parar. Tais esperas são ainda mais “insuportáveis” se
pensarmos que os espaços físicos em que vivemos, feitos de deslocações
efetivas em carro, motociclo, autocarro, ou outro veículo são bem diferentes,
mais confusos, salientes e ambíguos, do que qualquer outro espaço virtual a
que cada vez mais nos habituámos nas “autoestradas” da informação.
No presente Virilio insiste que a política tem de ser pensada a partir desta
relação com a velocidade. Uma relação que é equivalente àquela que tem com
a riqueza. A cidade hipermoderna do aeroporto é um objeto de estudo típico na
economia política da velocidade, de Virilio. Aqui, a cidade territorial é descrita
como uma mera concentração de “passageiros em trânsito”. O aeroporto é
caraterizado pela sua capacidade de significar a arqueologia de uma qualquer
sociedade do futuro; a sociedade concentrada sob o vetor do transporte. Assim,
“a nova capital não é mais uma capital espacial como Nova Iorque…mas uma
cidade constituída na intersecção de praticalidades de tempo, ou, por outras
palavras, de velocidade” (Virilio & Lotringer, 1997, p. 67).
A velocidade, a rapidez e a aceleração são foco de análises diversas (Virilio,
2000b; Laux, 2011, Rosa, 2015) que fazem intersetar vários níveis de tempo
apresentados por Ramos (2009) enquanto metáforas: o tempo-recurso, o
tempo-ambiente, o tempo-horizonte e o tempo-corpo. Isto é, predomina do
ponto de vista político e económico a ideia de que o tempo se traduz num
valor monetário (tempo é dinheiro) e, portanto, quanto maior for a velocidade,
menos gastos de tempo em deslocação (física e/ou virtual) serão
necessários.
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Entrevista de Paul Virilio a John Armitage inserta no livro de 2000, intitulado Paul Virilio: From
Modernism to Hypermodernism and Beyond).
grande parte das situações – sempre que estamos a falar de famílias, com
filhos e empregos distantes da área de residência e que dependem de
serviços diversos também distantes da área de residência – os
constrangimentos de tempo impostos por estas várias esferas impedem a
desaceleração assinalada pela mobilidade “suave”.
O paradigma da velocidade
Trata-se de estudos que têm tido muito eco, principalmente ao nível das
autarquias locais que desenvolvem, embora de forma diferente, medidas
diversas de promoção de espaços de lazer, circuitos pedonais, inclusão de
passadeiras e passeios, vias específicas para bicicleta e outras, sob a égide
da promoção de “cidades sustentáveis”.
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A teorização de Paul Virilio sobre a “militarização do espaço” é mais abrangente. Usámo-la neste
texto para demonstrar justamente o incentivo crescente nas cidades que se encaminham sob o rótulo
de “cidades sustentáveis” para aumentarem o policiamento das ruas, a verificação das condições dos
veículos, autorizações de entrada, etc.
dinâmica da indústria da velocidade, embora por caminhos diversos daqueles
feitos pelo automóvel, ou, pelo menos, de um tipo específico de automóvel
(com alto consumo energético e baixo carbono).
As vozes dos vários especialistas são várias e acabam por ter poder de
vinculação em termos políticos que, muito frequentemente e tal como frisam
os estudos sociais da ciência, cedem, de forma pouco reflexiva, aos ditames
de tais especialistas, acabando por ignorar, muitas vezes, toda a rede de
elementos não tangíveis que afeta a definição e a implementação de tais
medidas, podendo, inclusivamente, torná-las ineficazes.
4
Website do SNS, acedido em: https://www.dgs.pt/em-destaque/relatorio-mundial-da-seguranca-
rodoviaria-2015.aspx. Global Report Status on Road Safety 2015, acedido em:
http://www.ansr.pt/SegurancaRodoviaria/Internacional/Documents/Global%20Status%20Report%20
On%20Road%20Safety%202015.pdf .
5
Acedido em:
http://www.ansr.pt/SegurancaRodoviaria/PlanosdeSegurancaRodoviaria/Documents/PENSE%20ANSR%202020.p
df
Segundo Miguel Macedo, no período de 2003 a 2012 «houve uma diminuição
de cerca de 57 por cento das vítimas mortais, de 56 por cento dos feridos graves
e de 29 por cento dos feridos ligeiros», escreve a Lusa. (Tvi)6
6
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/acidentes/portugal-e-o-2-pais-da-europa-ocidental-com-mais-
mortos-na-estrada
7
https://www.dgs.pt/a-dgs.aspx
pelos sujeitos (níveis de responsabilidade, direitos e deveres) e pelas
instituições, incluindo as de administração, governação e controlo.
O que ocorre com os jovens é ainda um pouco mais singular, uma vez que à
velocidade e à instantaneidade decorrente daquela corresponde um processo
de aceleração da idade social que não acompanha sempre a idade
biopsicológica. Isto é, além do desejo absoluto da antecipação e da
experiência do “agora”, há um desfasamento cada vez mais complexo entre o
acesso ao mundo da velocidade e ao domínio da informação e a qualidade
temporal das respostas naturais (biopsicológicas) que é capaz de dar a
problemas e a estímulos sociais.
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John Boyd e Philip Zimbardo (2010) expõem um ponto de vista que considerámos muito relevante
para perceber este desfasamento entre as perceções do tempo tecnologicamente determinadas e
moldadas e a tipologia de respostas temporais exigíveis em ambiente analógico. Por isso, será tão
interessante perceber a idolatria atual do transporte sem condutor a quem é atribuído maior
probabilidade de erro.
Por isso, as questões de segurança rodoviária e, nomeadamente o trabalho
velocidade como problema biopsicosociológico. Um problema que se
relaciona com a forma como pensam os sujeitos o mundo (um mundo que
cada vez mais feito de elementos espácio-temporais de tipo virtual), como se
vêm perante este e que práticas desenvolvem, face aos tipos de
constrangimentos que enfrentam.
9
Acedido através de https://gestao-frotas.com/deco-questiona-automobilistas-sobre-as-suas-
praticas-mais-comuns-em-que-se-inclui-excesso-de-velocidade-e-utilizacao-de-telemovel/
O excesso de velocidade é outra das práticas mais habituais dos automobilistas
portugueses – cerca de 43% dos inquiridos ultrapassa os 70 quilómetros por hora em
localidades limitadas a 50 quilómetros por hora; cerca de 40% dos inquiridos confessa
que ultrapassa com frequência os 140 quilómetros por hora- uma prática explicada
pela necessidade de acompanhar o fluxo de trânsito, ultrapassagens ou compensar
atrasos.
Aliás, a preferência pelo automóvel tem implícita esta ideia de que o carro,
além de símbolo de modernidade, de atualização, propicia melhor acesso a
serviços e a bens e em menor espaço de tempo e, ao mesmo tempo, propicia
o multitasking.
Tal quer dizer que todo este trabalho de diagnóstico, estudo, debate e de
reflexividade públicas acerca da velocidade implica também quem não é
utilizador de automóvel e/ou pretende circular a pé, justamente porque não
se trata de excluir utilizadores, mas de construir modos de convivência
sincronizados entre si.
É esse contexto que as estatísticas são chamadas com veemência para provar
que “não é significativo” o número de condutores que excedem a velocidade
ou de acidentes, legitimando por dentro de si mesmo a mesma sociedade
acidental, já que a surgir o acidente, este será visto como azar do destino e
não resultado da inação política porque a política está legitimada pela própria
lógica da sociedade programada.
Nota Conclusiva
Sem dúvida que se trata de um público a quem todas estas questões devem
ser postas sob o principio da cidadania. Mas, as questões relacionadas com
a velocidade, seus motivos, consequências e implicações envolvem mais as
entidades públicas e privadas, incluindo as educativas e ligados à
administração local. Primeiro, porque é necessário desconstruir a velocidade
enquanto elemento constitutivo das sociedades modernas junto da
população, em geral e junto dos decisores políticos.
O envolvimento das autarquias num problema que lhes diz respeito diretamente
e para o qual continua a não existir uma resposta eficaz, através da elaboração,
aprovação e execução, em número significativo, de Planos Municipais de
Segurança Rodoviária (p.16).
Relembremos que hoje a maior parte das crianças e jovens que circulam a pé
(de algum modo e durante algum tempo) nas estradas viveu grande parte da
vida em ambientes fechados e cada vez mais tecnológicos e virtuais, não
detendo registo (ou memória) neurofisiológico daquele ambiente, o que
dificulta a perceção do perigo.
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PENSE 2020.Acedido em
http://www.ansr.pt/SegurancaRodoviaria/PlanosdeSegurancaRodoviaria/Documents/PENSE%20ANS
R%202020.pdf
É neste sentido que nos parece também que enfrentar a velocidade nas
estradas como problema (não apenas devido ao facto de ser a causa direta
da morte de centenas de pessoas incluindo crianças e jovens, mas por ser
barreira à afirmação de melhor qualidade de vida e fonte de frustração e
eventualmente outras anomalias psicossomáticas, exige uma ação integrada
e em rede por parte do governo local, sendo extremamente importante
diagnosticar e perceber as diferenças entre freguesias e, por vezes, lugares.