Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
DA HETERONOMIA E DO ARBÍTRIO?
Lutas seculares das comunidades universitárias possibilitaram que a autonomia fosse alçada ao
ordenamento maior das Nações. No Brasil, tardiamente, foi possível insculpir a autonomia
universitária na Constituição de 1988. Nela, foi concebida de modo completo – autonomia
quanto aos fins (didático-científicos) e quanto aos meios (administrativo e de gestão financeira
e patrimonial) – e como norma bastante em si que não pode ter seu alcance limitado por
qualquer lei infraconstitucional.
Art. 17. A Estrutura Média é constituída por um conjunto de Centros, órgãos de coordenação
das atividades universitárias nas suas grandes áreas de ensino, pesquisa e extensão, pelo
Fórum de Ciência e Cultura e pelo Complexo Hospitalar da UFRJ. (Redação dada pela Resolução
CONSUNI nº 15/2008).
É importante salientar que o CONSUNI, ao alterar o Estatuto por meio da Res. 28/10, indicando
que “as Unidades que compõem o Complexo Hospitalar serão objeto de Resolução específica
do Conselho Universitário”, não excluiu a exigência de que todas elas devem estar ligadas ao
Complexo Hospitalar (CH), pois essa é a essência do modelo de gestão integrada. Com o
desmembramento do CH, este obviamente deixará de existir como totalidade de todas as
unidades e órgãos suplementares hospitalares o que somente pode ser feito, evidentemente,
em sessão especial, na forma do art. 33, parágrafo 2o. do Regimento do CONSUNI.
A questão estatutária em discussão não é só referente a quais unidades compõem o Complexo
Hospitalar (como pretende fazer crer o Reitor), mas sim a garantia do Estatuto de que todas as
unidades hospitalares de ensino da UFRJ devem compor essa estrutura integrada, que garante
a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão realizadas. Para permitir que uma empresa
tome o lugar do CH na gestão de quatro de suas unidades hospitalares, há que se excluir o
modelo do CH do Estatuto em prol da adoção do modelo EBSERH, que desmembra os hospitais
e os coloca sob a direta administração de uma empresa cuja sede é em Brasília. Por alterar a
estrutura da universidade, portanto, há que ser realizada em sessão especial, com quórum
qualificado necessário para sua aprovação. Ainda assim, corre-se o risco de que tal eventual
decisão venha a ser declarada inconstitucional (vide a ADIN no STF), por claramente violar a
autonomia universitária. Nesse caso, a discussão passaria a ser: pode uma universidade
autônoma, ainda que por maioria absoluta de seu Conselho Universitário, abrir mão de sua
própria autonomia? Cremos que não.
O que se espera de qualquer mandatário de cargo executivo é o firme cumprimento das leis
que regem o escopo de seu mandato. Não cabe ao Executivo inovar legislação e, tampouco,
assumir o papel de verdadeiro intérprete da legislação e das normas legais. Na exótica e
incompreensível formulação do Reitor da UFRJ, professor Carlos Levy, na sessão do dia
05/09/2013, o gestor apresentou o incrível silogismo: SE a Resolução n. 28/10 (estabelecida
em sessão especial) pode definir o conjunto de todas as unidades ou órgãos suplementares,
LOGO a resolução que altera o universo de todas as unidades (de modo que o Complexo
Hospitalar passaria a ser composto por parte das unidades...) pode ser deliberada em sessão
ordinária, alterando o caput do Art. 17 do Estatuto! Aos incrédulos, sugiro examinar a TV
CONSUNI da sessão.
A inovação interpretativa pretendida pelo Sr. Reitor, se abrigada pelo CONSUNI, certamente
repercutirá no estudo da teoria do direito, se mostrando típica de sistemas jurídicos
autoritários, eis que definiria que uma norma inferior poderia, segundo o seu raciocínio,
alterar o ordenamento maior. Seguindo o seu pensamento, decretos e atos do executivo
poderiam alterar leis, e leis ordinárias poderiam alterar a Constituição.
Somente as paixões partidárias, de grupos de poder, interesses particularistas ou, o que é
crível, mas condenável, o cansaço com o tema, e a convicção íntima de alguns conselheiros de
que não existe outra alternativa à EBSERH, pode explicar que tal questão tenha dividido o
Conselho. É compreensível que o mérito (cessão do patrimônio, gestão e pessoal para uma
Empresa privada) da questão divida o Conselho Superior da UFRJ, mas nunca o respeito ao
Estatuto e ao Regimento do CONSUNI.
[2] Idem.