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dos termos*
Policy and management educaƟon: exploring the
meaning of terms
Elma Júlia Gonçalves de Carvalho**
DOI: http://dx.doi.org/10.20435/231819822016106
Resumo
O obje vo deste ar go é explorar a dimensão conceitual dos termos polí ca e gestão, esclarecendo
e aprofundando o entendimento que se tem deles, bem como detectando a relação de reciprocidade
que guardam entre si. Consideramos que tal compreensão é par cularmente relevante na análise
da polí ca educacional na atualidade, especialmente quando se toma como pressuposto que elas
respondem às lutas e aos embates sociais, e que resultam das numerosas forças difusas pela socie-
dade, as quais par cipam direta ou indiretamente do poder. Nesse embate ou correlação de forças
no processo de formulação de uma polí ca ou de sua materialização na gestão, os argumentos,
a linguagem e os significados dos termos importam, pois estes se cons tuem em estratégias de
legi mação, de mobilização de pessoas em direção ao consenso e de construção da hegemonia.
Palavras-chave
Polí ca; gestão; conceitos.
Abstract
The purpose of this ar cle is to explore the conceptual dimension of the terms policy and manage-
ment, clarifying and deepening the understanding that one has on them, as well as detec ng the
mutual rela onship exis ng between them. We believe that such an understanding is par cularly
relevant in the analysis of educa onal policy today, especially when taking the assump on that they
respond to the struggles and social conflicts, which result from numerous diffuse forces of society,
which par cipate directly or indirectly on the power. In this clash or balance of forces in the process
of formula ng a policy or its materializa on in management, the arguments, the language and the
meanings of the terms ma er, as these cons tute legi miza on strategies, mobilizing people towards
consensus and construc on of hegemony.
Keywords
Poli cs; management; concepts.
* Versão preliminar deste texto foi apresentada no livro Polí cas Públicas e Gestão Educacional, publicado em
2012 pela EDUEM, Coleção Formação de Professores - EAD.
** Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, Paraná, Brasil.
formulação e a implantação das polí cas polí cas, em geral, são as redes ou as
públicas educacionais como expressão configurações de poderes, criadas e re-
de lutas, pressões e conflitos sociais. criadas nas relações sociais [...] A polí ca
As polí cas públicas educacionais são educa va elabora e realiza-se através,
produto da construção social e, por isso, sobretudo, do Estado” (STOER; ARAÚJO,
marcadas pela heterogeneidade e por 2000, p. 7-8).
“procuras sociais nem sempre compa - É necessário superar o entendi-
veis e muitas vezes contraditórias, que mento de que a responsabilidade pela
obrigam a definir prioridades, a excluir formulação das polí cas públicas e das
caminhos e a ultrapassar compromis- polí cas educa vas cabe exclusivamente
sos” (TEODORO, 2001, p. 48). Assim, ao poder público. Como elas expressam
conforme Charlot e Beillerot (1995 apud as relações entre Estado e sociedade, as
TEODORO, 2001, p. 48), “[...] estabelecer ações do primeiro devem ser vistas não
prioridades não é produzir a harmonia como uma par cularidade, mas como
pela adequação de demandas diversas; manifestação das relações sociais. Isso
é antes gerir relações de forças entre implica considerar que o Estado não é
demandas incompa veis [...]”. Dito de uma en dade em si, mas resulta e age
outro modo, as polí cas de educação, sobre a materialidade social que o cons-
tui, sendo, ao mesmo tempo, produto
[...] Exprimem também as rela-
e modelador das relações entre os ho-
ções de forças numa sociedade
– a dominação socioeconômica mens. Ou seja, implica ter em conta que
mas igualmente a dominação o papel do Estado corresponde às condi-
simbólica e cultural. Este jogo ções materiais de vida, ou seja, às rela-
das relações de forças é tanto ções econômicas inerentes à produção
mais complexo quanto todas e à reprodução das relações sociais, ao
essas forças não dispõem de desenvolvimento das forças produ vas
uma igual capacidade para for- e às condições de troca (MARX, [198?]).
mular as demandas de educa- Assim, o Estado não representa
ção e de formação (CHARLOT; um poder que paira acima da sociedade;
BEILLEROT, 1995, p. 13 apud pelo contrário, é expressão polí ca da es-
TEODORO, 2001, p. 48). trutura de classes inerente à produção.
Dessa ó ca, as polí cas são um Embora se coloque como representante
resultado, sempre provisório, do proces- dos interesses gerais, o Estado cons -
so de negociação entre grupos e forças tucional não está acima dos conflitos,
econômicas, sociais e polí cas potencial- mas profundamente envolvido neles, ou
mente conflitantes. Ou seja, respondem seja, insere-se e define-se pelos próprios
“[...] a uma configuração heterogênea conflitos e contradições da vida material,
e complexa de elementos [...] Assim, a sendo simultaneamente um fator de
polí ca educa va, em par cular, e as coesão e regulamentação social. Nesses
distanciada e obje va” (LÜCK, 2006, p. dos princípios administra vos da empre-
57-58). Já o conceito de gestão corres- sa para a escola. Com essa transposição,
ponderia a uma “óp ca abrangente e a administração da educação submete-
intera va, a visão e orientação de con- -se à lógica da gestão empresarial ou
junto, a par r da qual se desenvolvem a critérios e mecanismos de mercado
ações ar culadas e mais consistentes. (SILVA JÚNIOR, 2002), a exemplo da
Necessariamente, portanto, constitui gestão de Qualidade Total1. Isso significa
ação conjunta de trabalho par cipa vo que a educação vai sendo subme da a
em equipe” (LÜCK, 2006, p. 43). O ter- mecanismos de avaliação que induzem
mo gestão expressa a superação, e não à responsabilização das escolas por seus
apenas a subs tuição, do termo adminis- resultados, ao mesmo tempo em que
tração, já que envolve uma mudança de ocorre uma redefinição dos papéis no
paradigmas que dá ao úl mo uma nova nível central, visando à maior descentra-
acepção (LÜCK, 2006, p. 53). lização, desconcentração e flexibilização
Outros autores consideram que o administra vas, atribuindo maior auto-
termo gestão possui uma forte dimensão nomia ao poder local e à escola e valo-
polí ca, sendo iden ficado com uma re- rizando os princípios de produ vidade,
ação à forma descomprome da, neutra eficiência, produ vidade e desempenho
e tecnicista com que a administração da como ingredientes importantes para a
educação se desenvolveu no Brasil nos melhoria da qualidade do ensino.
anos de 1970 (GRACINDO; KENSKI, 1999,
1
p. 166). Nesse momento, administrar Conforme Longo (1996, p. 10), “A Gestão da
correspondia a comandar e a controlar, Qualidade Total (GQT) é uma opção para a reo-
rientação gerencial das organizações. Tem como
com base na visão obje va de quem pontos básicos: foco no cliente; trabalho em
atua sobre a unidade e nela intervém de equipe permeando toda a organização; decisões
maneira técnica e burocrá ca. Essa re- baseadas em fatos e dados; e a busca constante
ação, marcada por uma forte tendência da solução de problemas e da diminuição de
à defesa de concepções e prá cas inte- erros [...] Implica uma mudança de postura
gerencial e uma forma moderna de entender o
ra vas, par cipa vas e democrá cas, sucesso de uma organização. É uma nova filosofia
resultou no rela vo desuso do termo gerencial que exige mudanças de a tudes e de
administração e no emprego do termo comportamento. Essas mudanças visam ao com-
gestão educacional (OLIVEIRA, 2008). prome mento com o desempenho, à procura do
auto-controle e ao aprimoramento dos proces-
Desse modo, o termo gestão adquire um sos. Implica também uma mudança da cultura da
forte sen do polí co e “aparece como organização. As relações internas tornam-se mais
uma ‘nova’ alterna va para o processo par cipa vas, a estrutura mais descentralizada, e
político-administrativo da educação” muda o sistema de controle”. Na perspec va da
(GRACINDO; KENSKI, 1999, p. 165). autora, “a Gestão da Qualidade Total, exemplo de
excelência gerencial nas empresas, pode contri-
No entanto o termo gestão tam- buir de maneira significa va para a melhoria do
bém pode estar associado à transposição ensino no Brasil” (LONGO, 1996, p. 12).
no interior das ins tuições educa vas Em suma, esses são alguns dos as-
(WERLE, 2001). pectos a ser considerados na análise das
Finalmente, mais do que discu r polí cas educacionais: os termos não são
a “melhor” designação para as ações, neutros, não possuem um sen do único e
importa assinalar que, no campo edu- é importante ter claro de que perspec va
cacional, predomina a subs tuição de e com que obje vo eles são u lizados.
administração por gestão, com uma nova
concepção, na qual o comando autoritá- 4 GESTÃO EDUCACIONAL E GESTÃO
rio/centralizado/técnico e burocrá co é ESCOLAR
subs tuído pelo poder compar lhado/
descentralizado. Importa assinalar tam- Estudar o tema gestão no campo
bém que essa nova u lização faz parte da educação implica considerar a dis n-
do processo de mudanças ocorridas a ção entre gestão educacional e gestão
par r dos anos de 1990, processo esse escolar. O sen do do primeiro termo é
que traz novos desafios para a adminis- mais amplo, abrange os sistemas edu-
tração em geral e para a educacional, em cacionais, a esfera macro, ou seja, o
par cular. Importa assinalar ainda outro espaço das ações dos governos em suas
aspecto: além das diferenças conceituais diferentes esferas (federal, municipal,
e de interpretação, os diferentes sujeitos estadual). O do segundo restringe-se à
sociais, ao optar pelo termo gestão, o esfera micro, às incumbências dos esta-
fazem pautados em pressupostos e ob- belecimentos de ensino e, de modo es-
je vos dis ntos. Portanto o predomínio pecífico, às tarefas co dianas da escola
deste ou daquele sen do deve-se ao (VIEIRA, 2007).
jogo de forças polí co-ideológicas e aos As a vidades próprias da gestão
dis ntos interesses sociais e condições educacional são detalhadas na Lei de
históricas. Lembrando Paro (2001, p. Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
13): “[...] A atividade administrativa Lei nº 9394/96, cujos Art. 9°, 10 e 11
não se dá no vazio, mas em condições (BRASIL, 1996) descrevem as compe-
históricas determinadas para atender as tências e as atribuições dos diferentes
necessidades e interesses de pessoas e entes federa vos na oferta da educação.
grupos [...]”. Vejamos:
MUNICÍPIOS I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins tuições oficiais dos seus
sistemas de ensino, integrando-os às polí cas e planos educacionais da União e
Art. 11. Os dos Estados;
Municípios II - exercer ação redistribu va em relação às suas escolas;
incumbir-se-ão III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
de: IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema
de ensino;
V - oferecer a educação infan l em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o
ensino fundamental, permi da a atuação em outros níveis de ensino somente
quando es verem atendidas plenamente as necessidades de sua área de
competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Cons tuição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.
VI – assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal. (incluído pela
Lei nº 10.709, de 31.07.2003)
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema
estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica.
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Sobre a autora:
Elma Júlia Gonçalves de Carvalho: Doutora em Educação pela Universidade
Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Professora do Departamento de Teoria e Prá ca
da Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual
de Maringá (UEM). E-mail: elmajulia@hotmail.com.