Вы находитесь на странице: 1из 2

CONCEITO DE LINGUAGEM: ESPECIFICIDADE DO LITERÁRIO 1

Gong Li Cheng (mestranda do PPGEL/UFMS)

De acordo com o dicionário Houaiss, literatura é, resumindo bastante as


definições dicionarizadas, linguagem estética, conjunto de obras, portanto, literatura
como bibliografia, mas também definida como disciplina escolar que se relaciona com
os processos de alfabetização e letramento. É interessante observar a profusão de
acepções apresentadas, pois Aristóteles (na Poética) quando pensa na existência de
obras que recorriam ao verbo simples, com ou sem metrificação, ou seja, que não eram
nem tragédia nem epopeia, constata que “eis uma arte que, até hoje, permaneceu
inominada”. A ausência de um denominador comum entre a atividade do poeta épico e
os diálogos socráticos de Platão evidenciam que, para Aristóteles, era possível
identificar os gêneros “literários” produzidos na Grécia Antiga, mas ainda não era
possível forjar um denominador comum, talvez ou justamente porque tal denominador
implicasse numa reflexão mais ampla acerca da essência ou da especificidade dos
fenômenos literários.

Saltando vários séculos, é possível perceber como a questão retorna no


formalismo russo, principalmente na obra de Roman Jakobson, que buscava no tecido
da linguagem literária características imanentes, isto é, buscava os elementos que
constituíssem uma noção de “literariedade” e sua função poética. Passando rapidamente
por esses postulados, o que caracterizava o encontro entre o leitor e o objeto literário era
o “estranhamento” proporcionado pelo texto. Nesta concepção, a forma se sobrepõe ao
conteúdo, pois é a forma que distancia uma narração comum de uma fábula e não o
conteúdo narrado. Entretanto, nos projetos estéticos modernistas, da maneira que se
apresenta na poesia de Manuel Bandeira, por exemplo, encontramos os limites das
proposições formalistas. Sobretudo no “Poema tirado de uma notícia” (1925), que
apresenta uma linguagem similar à do cotidiano: a linguagem corrente dos veículos
jornalísticos.

Retomando os filósofos socráticos, é possível perceber como Platão condenou a


mimesis e Aristóteles a reabilitou, já que não é função ou objetivo da poesia reproduzir a
realidade de maneira imediata, muito pelo contrário, o que diferencia um historiador de

1
Resenha para a disciplina de Linguagens e Ensino (2020) – ministrada pelo Prof. Dr. Danglei de Castro
Pereira.
um poeta é que o último narra os acontecimentos que poderiam ter ocorrido. Após
encontrarem o “referente real” do poema de Bandeira, poder-se-ia objetar que os
acontecimentos figurados no poema realmente ocorreram e, então, o poema não
colocaria nem a linguagem em primeiro plano e nem a chamada “autorreflexividade” da
literatura. Entretanto, entre o fato ocorrido, a notícia e o poema há um distanciamento,
que poderíamos explicar como o distanciamento entre o real e a linguagem. E o que
diferencia a notícia do poema seria justamente a função que a primeira exerce: a de
informar de maneira mais ou menos objetiva. Já o poema está isento desta função; aliás,
qual seria a função da poesia? Parece-nos que é justamente a “desfuncionalização” do
poema, em relação à notícia, que permite lê-lo diferentemente, ainda que o mesmo tenha
uma linguagem corrente e ancoragem na realidade. Ele foi “tirado” de um contexto
pragmático e passou para um contexto de fruição estética.

Acerca do asseguramento deste contexto de fruição estética, conforme nos


esclarece Marisa Lajolo (1993), é papel da escola e do professor mediarem o contato
entre as obras literárias e os alunos. Para tanto, ainda de acordo com a autora, é preciso
compreender que há três instâncias da “instituição literária”: o escritor, o editor e o
leitor. Neste percurso, é possível pensar em quais autores serão selecionados, como
funcionará a distribuição dos livros e, por fim, como será a recepção deles. Visto que os
maiores desafios enfrentados pelas escolas brasileiras se concentram justamente em
questões quantitativas (falta livros nas escolas) e qualitativas (falta uma leitura efetiva
dos livros nas escolas). As pistas dadas por Lajolo, no sentido de melhorar
qualitativamente o ensino da literatura nas escolas, orientam-nos a abrir mão dos
elementos externos da obra literária e nos voltarmos para a estrutura interna delas, a fim
de revelar não o que o texto diz, mas o modo como ele diz.

Portanto, Manuel Bandeira ao “retirar” João Gostoso de uma notícia e dar-lhe


uma existência de linguagem, se é que se pode falar dessa maneira, opera um corte entre
a realidade imediata e a maneira de reinventá-la e dizê-la; assim, podemos ler seu
poema como o destino trágico-cômico de qualquer existência humana, que transcende
as categorias de espaço-tempo, proporcionando um movimento inverso: são as palavras
do poeta que nos fazem ler a realidade de maneira diferenciada.

Вам также может понравиться