Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Comunicação:
Veredas, São Paulo, ano 2, n. 2, p. 65-89, nov. 2002.
No contexto de acelerada globalização das comunicações, o mundo assiste à
revitalização das mídias locais e regionais. É uma forma de explicitar que os cidadãos
reivindicam o direito à diferença. Apreciam as vantagens da globalização, mas também
querem ver as coisas do seu lugar, de sua história e de sua cultura expressas dos meios
de comunicação ao seu alcance. Em muitos casos, como na Galícia (Espanha), além
dessa presença local, procura-se marcar a presença do local no mundo, através das
novas tecnologias. (PERUZZO, 2002, p. 67)
[...] o local ao mesmo tempo em que não permite a demarcação exata de fronteiras,
também carrega o sentido de um espaço determinado de um lugar específico ou até
mesmo de uma região, no qual a pessoa se sente inserida e partilha sentidos com seus
semelhantes. (PERUZZO, 2002, p. 68)
Com o advento das novas tecnologias de comunicação, principalmente da internet, há
um rompimento da noção de território geográfico como sendo determinante do local e
do comunitário. As dimensões de familiaridade (língua, valores, tradições, religião etc.)
podem ser partilhadas independente do espaço territorial. As relações podem se
estabelecer, com base da proximidade de interesses e identificações, através de
comunidades virtuais. (PERUZZO, 2002, p. 68-69)
Importa entender que o local se caracteriza como um espaço vivido em que há elos de
proximidade e familiaridade, os quais ocorrem por relacionamentos (econômicos,
políticos, vizinhança etc.) e laços de identidades os mais diversos, desde uma história
em comum, até a partilha dos costumes, condições de existência e conteúdos
simbólicos, e não simplesmente em decorrência de demarcações geográficas.
(PERUZZO, 2002, p. 69)
Em suma, a globalização não mata as regionalidades, pelo contrário contribui para sua
revalorização. É justamente no momento em que o local e o comunitário se apresentam
com uma inesperada vitalidade que a grande mídia passa a aumentar os espaços de
regionalização de seus conteúdos e que se desenvolve com mais vigor a interiorização
da televisão no País. As evidências estão no aumento de cadernos ou editorias,
segmentados por localidades, instituídos por jornais de grandes cidades; na ampliação
de programas produzidos regionalmente por afiliadas das grandes redes de TV; e no
crescimento das redes regionais de TV. (PERUZZO, 2002, p. 71)
Também não pode ser menosprezada a importância dos jornais do Interior, meios de
comunicação que ao longo dos anos vem persistindo na função de portadores
informação local, mesmo expressando algumas contradições, como as a seguir
explicitadas: a) Há a tendência de alinhamento às forças políticas locais no exercício do
poder, o que lhes compromete a autonomia e os desviam do interesse no
aperfeiçoamento da qualidade da informação prestada ao público; b) Em geral a
imprensa do Interior não dispõe de infraestrutura moderna, nem de mão-de-obra
qualificada em quantidade suficiente para cobrir os acontecimentos em nível local.
Dificuldade que tende a ser usada como argumento para justificar a não cobertura
sistemática in loco de acontecimentos da região e do aproveitamento acentuado de
press-releases enviados pelos setores governamental e legislativo . No entanto, se tal
circunstância é estratégica, ou seja, se o interesse de seus proprietários é justamente
sobreviver usufruindo das verbas públicas, ou se o jornalismo local não comportaria
investimentos para se oferecer uma informação de qualidade, dependeria de uma
avaliação de cada caso específico. (PERUZZO, 2002, p. 73)
No Brasil, a mídia local e regional por força de uma conjuntura expressa a partir da
globalização e pela crise econômica sofrida pelos grandes meios de comunicação,
parece expressar a redescoberta do local (por extensão do regional) como um outro
território, um outro mercado, que quer ser respeitado nas suas especificidades. Ou seja,
apesar do interesse maior ser a disseminação da produção midiática produzida nos
grandes centros para todos os cantos do País, hoje agrega-se a tendência de valorizar a
regionalização da produção. Mas, o regional, no caso da interiorização da TV, é visto
essencialmente como oportunidade de mercado, como uma alternativa para a geração de
renda. Por parte da imprensa das cidades do Interior, esta é tomada como unidade de
negócio em que a viabilidade financeira parece estar acima das preocupações com um
jornalismo de qualidade e ético. Não é que a mídia comercial não seja legítima. O que
se questiona é a prática da subserviência política e econômica em detrimento do
interesse público e do jornalismo de qualidade. (PERUZZO, 2002, p. 79)
[...] os espaços local e regional são propícios para a prática do jornalismo cívico de
proximidade, pois facilitam a inserção do jornalista na realidade concreta que o rodeia.
Permite uma relação convivial, a captação dos assuntos, angústias, alegrias e
interpretações que dizem respeito mais diretamente à vida dos cidadãos e das
comunidades, além de facilitar o seguimento das mobilizações sociais. Trata-se de um
jornalismo comprometido com seu entorno e com o interesse público. Um jornalismo de
qualidade, que ao invés de ser comprometido com segmentos políticos e econômicos no
poder, o seria com a coletividade, com a ética e a informação de interesse público.
(PERUZZO, 2002, p. 84)
PERUZZO, C. M. K. Mídia local e suas interfaces com a mídia comunitária. Anuário
UNESCO / UMESP de comunicação regional. São Bernardo do Campo: Cátedra
UNESCO / UMESP, 2003.
Na Europa há abundante bibliografia sobre mídia local já nos anos 1980 e 1990,
enquanto no Brasil o fenômeno, na perspectiva em que é tratado atualmente, começa a
despertar mais interesse de setores da academia desde o final da década de 1990. Porém,
diga-se de passagem, que a produção acadêmica à qual nos referimos é precedida por
uma outra modalidade de comunicação, a denominada comunicação alternativa, popular
ou comunitária, mais precisamente a comunicação no contexto dos movimentos sociais.
Este tipo de comunicação que, em grande parte, também se configura como sendo uma
comunicação local, está muito presente em estudos acadêmicos nos anos 1980, em
nosso país. (PERUZZO, 2005, p. 70)
É, contudo, no final dos anos 1990 que parece haver uma redescoberta do local pela
grande mídia [...] num primeiro momento, apresenta-se mais por seu lado
mercadológico do que pela produção de conteúdo regionalizado. A televisão, por
exemplo, explora a diferenciação local como nicho de mercado, interessada que está em
captar os recursos provenientes da publicidade do interior do país. (PERUZZO, 2005, p.
71)
Evidências da importância do regional/local são encontradas no incremento das redes
regionais, no aumento de programas produzidos nas regiões e na maior preocupação em
se cobrir jornalisticamente as cidades vizinhas e não apenas as cidades-sede da estação
geradora. (PERUZZO, 2005, p. 72)
Aproximadamente na segunda metade dos anos 1990, no Brasil, a mídia regional e local
começa a chamar a atenção pelo interesse demonstrado pelos segmentos de públicos
locais e regionais. Ela passa a ampliar os espaços para programas produzidos nas
regiões e a difundir conteúdos antes restritos aos meios de comunicação comunitários
engajados em lutas sociais nas localidades. (PERUZZO, 2005, p. 73)
Um terceiro aspecto implícito na discussão sobre as localidades é a globalização, mais
precisamente a relação global-local. Já está bastante claro que o fato da globalização –
da universalização ou da ocidentalização do mundo, como preferem alguns –
impulsiona uma revalorização do local, ao invés de debelá-lo, como se prognosticou
num primeiro momento. Houve, assim, a superação da tendência pessimista de
considerar que as forças globalizadas – da economia, da política e da mídia – detêm o
poder infalível de sufocar as sociedades e as culturas nos níveis nacional e local. A
realidade vai evidenciando que o local e o global fazem parte de um mesmo processo:
condicionam-se e interferem um no outro, simultaneamente. (PERUZZO, 2005, p. 74)
Pressupõe-se que o jornalismo local seja aquele que retrate a realidade regional ou local,
trabalhando, portanto, a informação de proximidade. O meio de comunicação local tem
a possibilidade de mostrar melhor do que qualquer outro a vida em determinadas
regiões, municípios, cidades, vilas, bairros, zonas rurais etc. Por vezes, se cerca de
distorções, como as que têm origem em vínculos com interesses político-partidários e
econômicos, mas, mesmo acarretando vieses de informação, acaba contribuindo na
divulgação de temas locais. Está num contexto vantajoso para o leitor ou telespectador,
ou seja, a proximidade da informação. As pessoas acompanham os acontecimentos de
forma mais direta, pela vivência ou presença pessoal, o que possibilita o confronto entre
os fatos e sua versão midiática de forma mais natural. (PERUZZO, 2005, p.78)
Na prática, o jornalismo local vem revelando algumas tendências. Os laços políticos
locais tendem a ser fortes e a comprometer a informação de qualidade. É comum a
existência de tratamento tendencioso da informação e até a omissão de fatos, em
decorrência de ligações políticas com os detentores do poder local e dos interesses
econômicos de donos da mídia. [...] Um instrumento bastante usado, nesse sentido, em
cidades do interior, são os press-releases emitidos pelas assessorias de comunicação dos
poderes executivo e legislativo, principalmente, mas também das instituições privadas.
(PERUZZO, 2005, p.78)
Parece que há, no país, um tipo de jornalismo que se torna quase como um padrão,
passando a ser reproduzido por jornais das capitais dos estados e de cidades do interior.
Referimo-nos aos assuntos típicos das editorias de política, economia, cidades, polícia
etc., que são amplamente tratados pelos jornais de circulação nacional, como também
por aqueles de cidades do interior. Ou seja, a imprensa do interior tende a cobrir os
mesmos tipos de assuntos, como pleitos eleitorais, atos dos poderes públicos,
desfalques, assaltos, assassinatos, acidentes, intempéries etc. A diferença é que sua
ocorrência é regional ou local. (PERUZZO, 2005, p.82)
[...] mídia de proximidade se constitui numa demanda regional e local. Há interesse das
pessoas em ver os temas de suas localidades retratados na mídia, como também há
interesse por parte da mídia em ocupar o espaço regional com vistas a atingir seus
objetivos mercadológicos. (PERUZZO, 2005, p.83)
[...] o local é um espaço que apresenta certa unidade, certa especificidade, mas que pode
se modificar, como também se modificam seus fluxos, ou seja, eles possuem
características que podem ser transitórias: em dado momento, apresentam uma
unicidade, em outro momento, não mais. (PERUZZO; VOLPATO, 2009, p. 145)
[...] global e o local fazem parte de um mesmo processo social, com características
sinérgicas, no qual cada dimensão espacial é transformada uma pelas outras.
(PERUZZO; VOLPATO, 2009, p. 145)
A noção de local engloba desde aspectos técnicos, como os limites físicos – rios,
oceanos, lagos, montanhas, diferenças climáticas, características de solo, aspectos
político-econômicos –, até diversidade sócio-cultural, histórica, de identidade,
lingüística, de tradições e valores etc., ou seja, estão em jogo as várias singularidades
nas quais se constroem as práticas sociais. (PERUZZO; VOLPATO, 2009, p. 146)