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“APROXIMAVA-SE A FESTA DOS


JUDEUS, A FESTA DAS TENDAS”
(Jo 7,2). A festa das Tendas no IV
Evangelho.
"The feast of the jews was approaching, feast of the
tents" (jo 7.2). The feast of the tents in the Fourth Gospel.

131
Rivaldave Paz Torquato , O. Carm *

RESUMO: As festas judaicas caracterizam o desenvolvimento do Evangelho de João. O evangelista


serve-se delas para esclarecer a vida e o ministério de Jesus. O presente artigo aborda a presença
da festa das Tendas neste evangelho e como ela encontra sua plenitude em Jesus. Ele realiza a
meta que esta se propunha.

PALAVRAS CHAVES: Festa(s); Alegria; Festa das Tendas; Sukkot; IV Evangelho.

ABSTRACT: The Jewish feasts characterize the development of the Gospel of John. The evangelist
serves them to clarify the life and ministry of Jesus. This article discusses the presence of feast of
the Tents in this Gospel, and how finds its fullness in Jesus. It accomplishes the goal that proposed
by the gospel.

KEYWORDS: Feast(s), Joy, Feast of Tents, Sukkot, IV Gospel.

* Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, doutor em Sagrada
Escritura pela Westfälische Wilhelms-Universität de Münster (WWU) – Alemanha, Pós-Doc.
pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) de Belo Horizonte e professor do Studium
Theologicum de Curitiba.
1. Introdução

No evangelho joanino encontramos uma afirmação de Jesus que diz: “Eu


vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena” (Jo
15,11). Esta frase é apenas a ponta do iceberg de um tema precioso na obra de
João: a alegria.1 Em outro verso bastante conhecido Jesus diz: “Eu vim para que
tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A expressão ter vida (eterna)
é também outra constante neste evangelho.2 Nesta penúltima ocorrência, porém,
Jesus acrescenta a expressão adverbial em abundância (10,10b). Ora, a abundância
de vida e a alegria são justamente duas colunas fundamentais da festa. Ambas as
dimensões tornaram-se realidade plena em Jesus. Isto ajuda entender a paixão
de João pelas festas no IV Evangelho. São mencionadas seis festas judaicas no
Evangelho joanino.3 Elas caracterizam o desenvolvimento do evangelho, pontuam
momentos relevantes da vida e ministério do mestre. Já o primeiro sinal de Jesus,
praticamente na abertura do evangelho, acontece durante uma festa de núpcias,
a festa humana por excelência. Ali se dá a abundância de vinho, isto é, de alegria.4
132 Neste pequeno trabalho nos limitaremos a examinar a festa judaica das Tendas (ou
Tabernáculos), as suas raízes, traços característicos e sua presença no IV Evangelho.

2. As festas judaicas

As festas judaicas celebram os eventos salvíficos de Deus na caminhada de


seu povo. Elas requerem um tempo e um espaço particular e reservado para o
encontro com o Senhor. São ocasiões solenes de encontro de Israel com seu Deus,
ocasiões queridas e desejadas de ambas as partes. Afinal “tudo tem seu tempo” (Ecle
3,1). Nas festas, o Senhor é o centro, a solenidade é para Ele e por isso o homem
não trabalha. Nesta ocasião o ser humano renuncia sua co-participação na criação
respeitando o primado absoluto de Deus. Na festa, a pessoa deixa-se inebriar pela
alegria divina que revitaliza: “a alegria do Senhor é vossa força” (Ne 8,10).5
1 O termo hará (= alegria, júbilo) aparece 9x (3,29.29; 15,11.11; 16,20.21.22.24; 17,13), seu
correspondente verbo haírō (= alegrar-se; regozijar-se) aparece outras 9x (3,29; 4,36; 8,56; 11,15;
14,28; 16,20.22; 19,3; 20,20). O verbo agalliaō (= exultar, regozijar-se, estar cheio de alegria)
aparece mais 2x (5,35; 8,56).
2 Cf. 3,15.16.36; 5,24.26.26; 5,39.40; 6,40.47.53.54; 20,31. Ainda dar a vida: 6,33; 10,28; 17,2.
3 Primeira festa de Páscoa em Jerusalém (2,13.23); outra festa em Jerusalém (5,1); Páscoa na
Galileia (6,4); festa das Tendas (7,2); festa da Dedicação (10,22); a Páscoa da crucificação (11,55-
19,42 [referências mais exatas: 11,55; 12,1; 13,1; 18,28; 19,14.31]) e ressurreição (20).
4 Cf. Sl 104,15; Eclo 31,27; Zc 10,7.
5 Cf. A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE. As Festas Judaicas, p. 9; A. C. COELHO. Encontros marcados
com Deus, pp. 27-9.
Algumas festas são de instituição mosaica, isto é, são mencionadas na Lei
de Moisés e, por conseguinte, são preceitos divinos. São elas: a) o sábado; b) o
início da lunação, neomênia (Rosh Hodesh); c) as festas de peregrinação: Páscoa
(Pessah); Pentecostes (Shavuot); Tendas (Hag ha-Sukkot);6 d) as festas chamadas
“austeras”, realizadas no outono: ano novo (Rosh ha-Shanah) e dia do perdão
(Yom Kippur). Para estas festas existe um calendário.7 Existem ainda outras festas
de instituição rabínica, também chamadas de festas menores ou pós-bíblicas.
Nasceram de costumes populares e foram legitimadas pelos sábios.8 Ora, a festa
das Tendas (ou Tabernáculos) é uma das três festas de peregrinação e, portanto,
de instituição mosaica.

3. A festa das Tendas

3.1. A festa
A festa das Tendas (Hag ha-Sukkot)9 é um preceito divino10 e a ordem de 133
Deus é categórica: “Habitareis sete dias em tendas” (Lv 23,42). Sua celebração
começa no dia 15 de Tishri (cf. Lv 23,34.39),11 4 dias após a celebração do Yom

6 Conforme o Êxodo: “Três vezes no ano me celebrarás festa. [...] Três vezes no ano, todo varão
comparecerá perante o Senhor Deus” (Ex 23,14.17). O Deuteronômio especifica um pouco mais:
“Três vezes por ano todo varão deverá comparecer diante do Senhor teu Deus, no lugar que ele
houver escolhido: na festa dos Ázimos [Páscoa], na festa das Semanas [Pentecostes] e na festa das
Tendas” (Dt 16,16).
7 Cf. Ex 23,14-19; 34,18-23; Lv 23; Dt 16,1-17.
8 É o caso da festa da Dedicação (Hanukkah) cf. I Mc 4,59; Ano Novo das Árvores (Tu bi-Shevat);
festa das Sortes (Purim) cf. Est 9,24-26; comemoração da destruição do Templo (9 Av) (cf. A.-C.
AVRIL – D. MAISONNEUVE. Ibid, p. 9).
9 O termo Sukkot é o plural de Sukkah = tenda. A festa é também chamada Hag ha-’Asif (= festa da
colheita cf. Ex 23,16; 34,22) ou simplesmente He-Hag (= a festa, isto é, a festa por excelência, cf.
I Rs 8,2.65; II Cr 7,8; Ez 45,25). Em grego ela é chamada de Skēnopēgía, do termo Skēnē = tenda
+ pēgnymi = erigir, construir, plantar (cf. Hb 8,2), portanto, erigir/armar uma tenda, estabelecer
morada. O termo Sukkah, no contexto da festa das tendas, é traduzido pela LXX com o termo
Skēnē em Lv 23,34.42.42.42.43; Dt 16,13; II Cr 8,13; Esd 3,4; Ne 8,14.15.16.17.17. Fora do contexto
da festa, aparece ainda em Gn 33,17.17.17; Jó 36,29; Sl 27,5; 31,21; 60,8; Is 1,8; Am 9,11; Jn 4,5; etc.
Com o termo Skēnopēgía (= festa das tendas) a LXX traduz o hebraico Hag ha-Sukkot (= festa das
tendas) em Dt 16,16; 31,10; Zc 14,16.18.19. O mesmo termo aparece ainda na LXX para designar
a mesma festa em I Mc 10,21; II Mc 1,9.18; III Esd 5,50 [apócrifo conservado na LXX como I Esd].
No NT, Skēnopēgía designa explicitamente esta festa em Jo 7,2. Cf. ainda Flávio Josefo. Ant. Jud.
13,8.
10 Cf. Lv 23,42-43; Dt 16,13-15.
11 Cf. ainda Nm 29,12; Ez 45,25. É o sétimo mês, compreende a segunda metade de setembro e a
primeira de outubro do nosso calendário. Seria em Israel a passagem do outono para o inverno.
Ocasião em que até mesmo o deserto é florido e colorido aumentando o clima de alegria da
festa.
Kippur.12 A festa dura 7 dias (plenitude) + 1, isto é, encerra no oitavo dia,13 chamado
Shemini ‘Atseret.14 Liturgicamente a festa recebe o nome de Zeman simhatenu (=
tempo de nossa alegria cf. Dt 16,14).15 O Levítico diz: “regozijareis durante sete dias
na presença do Senhor, vosso Deus” (Lv 23,40). E aí está um dos principais traços
da festa: a alegria. Aliás é a festa mais alegre entre os dias festivos bíblicos.16 Ela
era originariamente uma festa agrícola: celebrava a colheita no fim do outono,
ou seja, a última colheita do ano antes do inverno e das chuvas.17 Os indícios
disso aparecem nos textos do Pentateuco.18 Tinha, portanto, um caráter de ação
de graças. Mais tarde deu-se a ela (ou acentuou-se) um sentido mais religioso ao
inserir um evento da história da salvação, a saber, a caminhada pelo deserto por
40 anos após a saída da casa da escravidão do Egito (cf. Lv 23,43). Tempo em que
Israel habitou em tendas provisórias sob a providência de seu Deus.19 Tempo de
sofrimento, instabilidade e fragilidade, mas sobretudo de alegria pela libertação
da escravidão.20 Uma síntese do sentido da festa é feita por Ephraïm:
“Entre as três festas de peregrinação, Sukot é a mais popular. É
134 a festa por excelência, tempo de alegria e exultação espiritual,
quando o ser purificado se reconcilia com Deus e pula de alegria
pela abundância da colheita, frutas e vindima. Ao permanecer
sete dias nas cabanas, ou tendas de onde se podia entrever as
estrelas, Israel comemora alegremente a proteção milagrosa
da majestade divina que o acompanhava durante a marcha
no deserto, após a saída do Egito. Num abrigo precário, com
o inverno a chegar, os filhos de Israel se lembram de sua total
dependência de Deus, que deles fez um povo sacerdotal. A
suká é o símbolo da permanência do povo judeu garantida
pela Providência divina. [...] É também lembrança da travessia
do deserto, onde não há morada permanente, tendo apenas
Deus como guia e protetor. [...] Ao entrar na tenda, o judeu
entra na alegria e reatualiza o tempo em que, no deserto, o
povo fazia a experiência dos milagres e das maravilhas de
Deus. [...] É a festa da libertação do cativeiro, porque Sukot foi
o nome dado ao primeiro acampamento dos hebreus depois

12 O Yom Kippur (= dia do perdão/expiação) é celebrado no dia 10 (cf. Lv 23,27).


13 Na Diáspora + 2 dias, isto é, dura 9 dias e não oito. O oitavo dia é prescrito em Lv 23,36.39b; Nm
29,35. Seria antecipação da plenitude escatológica.
14 A expressão significa assembléia, convocação, reunião do oitavo dia.
15 Uma descrição para cada dia da festa encontra-se em Nm 29,12-39.
16 Cf. J. J. PETUCHOWSKI. Feiertage des Herrn, p. 53.
17 Esta origem agrícola sugere que a festa passou a ser celebrada quando Israel já estava em Canaã
vivendo sedentário e como agricultor. Da mesma forma, os sacrifícios prescritos para a festa em
Nm 29,12-39 pressupõem a liturgia do templo e não a vida nômade.
18 Cf. por ex.: Ex 23,16; Lv 23,39; Dt 16,13-15.
19 Para a tenda como símbolo da proteção do Senhor cf. Sl 27,5; 31,21.
20 Sobre estas informações veja por exemplo: A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE. Ibid, p. 62; J.
HANNOVER. Gelebter Glaube, p. 53ss.
que saíram do Egito, naquela que foi a primeira noite feliz
dos ex-escravos, que então puderam dormir ‘à sombra do
Poderoso’ (Sl 91,1)”.21

A importância e popularidade desta festa no séc. I d.C. podem ser vistas no


fato que os motivos da festa (lulav, ethrog e talvez a libação) foram estampados em
moedas cunhadas durante as rebeliões judaicas dos anos 66-70 e 132-135 d.C.22

3.2. A celebração
A celebração23 começa com a confecção da tenda.24 O material para isso
é descrito em Neemias.25 Não só recorda o deserto, serve para lembrar também
que estamos de passagem e a única proteção segura é o Senhor (cf. Hb 11,13-16).
Outro elemento importante e vinculado à tenda é a confecção do ramalhete
ou rito do lulav,26 conhecido como o feixe das quatro espécies (’arba’at ha-minim)
de plantas. Três delas vão juntas no feixe: lulav (palmeira), hadassah (mirto ou
murta ou mirra) e ’aravah (salgueiro). Uma quarta é levada separada: o ethrog 135
(cidra de cidreira ou outra fruta cítrica).27 O feixe é sinal da unidade na diversidade
dos filhos de Israel. Uma explicação simbólica proveniente da antiga pregação
rabínica atribui a cada ramo uma espécie de filho de Israel que juntos formam o
inteiro povo:
“Assim como o ethrog tem sabor e perfume, também em
Israel há pessoas que têm saber e praticam boas ações
simultaneamente. Assim como o lulav tem sabor mas não
tem perfume, também em Israel há pessoas que têm saber
mas não praticam boas ações. Assim como o hadassah tem
21 Cf. Jesus. Um judeu praticante, pp. 368-90.
22 Cf. R. VICENT. La festa ebraica delle capanne, p. 217.
23 Não se trata aqui de reproduzir o inteiro ritual da festa em seus pormenores, mas de destacar os
elementos que permitam ver a presença da festa no IV Evangelho. Este é nosso foco.
24 A tenda, biblicamente deveria ser habitável, pois segundo o preceito o israelita deveria habitar
nela por 7 dias (cf. Lv 23,42-43; Os 12,10). A prática moderna, todavia, é outra coisa.
25 Segundo ele, os chefes de família, os sacerdotes e os levitas juntamente com o escriba Esdras:
“Encontraram escrito, na Lei que o Senhor havia prescrito por intermédio de Moisés, que os filhos
de Israel deveriam morar em tendas durante a festa do sétimo mês e anunciar e mandar publicar
em todas as suas cidades e em Jerusalém: ‘Ide à região montanhosa e trazei ramos de oliveira,
pinheiro, murta, palmeira e de outras árvores frondosas, para fazer tendas, como está prescrito’” (Ne
8,14-15). Estes ramos são citados em Lv 23,40, mas não se especifica que seja para a confecção
da tenda.
26 O Lulav é a folha maior da palmeira que dá, por sua vez, o nome ao inteiro feixe de ramos.
27 Os ramos devem remontar à festa de ação de graças pelas colheitas do outono e eram usados
em procissão ao redor do altar do templo de Jerusalém antes de sua destruição e depois em
torno do púlpito na sinagoga (cf. J. J. PETUCHOWSKI. Ibid, p. 55). Quanto à ação de graças pela
colheita cf. ainda J. HANNOVER. Ibid, p. 57.
perfume mas não tem sabor, também em Israel há pessoas
que praticam boas ações mas não têm saber. Assim como o
salgueiro não tem perfume nem sabor, também em Israel há
pessoas que nem têm saber nem praticam boas ações. Que
faz então o Santo, bendito seja? Ele diz: Ata-os todos em um
feixe, expiarão uns pelos outros” (cf. Wayyiqra Rabba 30).28

No tempo dos Macabeus já se sugere uma procissão com estes ramos (cf. II
Mc 10,6-7).
Um terceiro elemento relevante da festa são as leituras bíblicas. Além da
leitura dos preceitos da festa na Torá, a haftará (leitura profética) do primeiro dia é
Zc 14 (b Meg 31a). O profeta volta-se para o futuro, quando as nações subirão para
adorar o Rei-Senhor e para celebrar a festa das Tendas.
“Acontecerá que todos os sobreviventes de todas as nações
que marcharam contra Jerusalém subirão, ano após ano, para
prostrar-se diante do rei Senhor dos Exércitos e para celebrar
a festa das Tendas. E acontecerá que aquele das famílias da
136 terra que não subir a Jerusalém para prostrar-se diante do rei,
Senhor dos Exércitos, para ele não haverá chuva. E se a família
do Egito não subir e não vier, haverá contra ela a praga para
as nações que não subirem para celebrar a festa das Tendas. Tal
será o castigo do Egito e o castigo de todas as nações que não
subirem para celebrar a festa das Tendas” (Zc 14,16-19).

O profeta universaliza a festa. A salvação messiânica, que a festa prefigura,


é para toda a humanidade. O rolo da festa é o Qohélet (Ecle) vinculado ao tema da
alegria. Recita-se ainda o Hallel egípcio (Sl 113-118). Nele louva-se o Senhor que fez
subir Israel da casa da escravidão do Egito e que, no final dos tempos messiânicos,
libertará Israel de todo domínio estrangeiro oposto ao Reino divino.29 Esperava-se
que o Messias iria chegar solenemente no encerramento desta festa.
A recitação da aclamação conclusiva do Hallel, o hoshi’a-na, isto é, salva-
nos! Na verdade são vários hashannot (pl. de hosha-na). Os dois últimos pedem
30

28 Texto citado por J. J. PETUCHOWSKI. Ibid, pp. 56-7 e A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE. Ibid, p.
67. Estes últimos oferecem outras explicações simbólicas: As 4 plantas podem significar os 4
patriarcas (Abraão, Isaac, Jacó e José) ou as 4 matriarcas (Sara, Rebeca, Raquel e Lia). Eles e elas
são fundamentos, pilares do povo que sustentam sua história (Ibid). Segundo o Midraxe Raba
de Lv 30, as 4 espécies podem significar ainda o corpo humano (palma = ossos, ou melhor, como
ramo central do lulav = a coluna vertebral; cidra = coração; mirto = olho; salgueiro = boca). Assim
todas as partes do nosso corpo têm um significado no serviço de Deus (citado por J. HANNOVER.
Ibid, p. 61 ou EPHRAÏM. Ibid, pp. 275-6).
29 Cf. A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE. Ibid, pp. 68-9.
30 A expressão vem do Sl 118,25a: ’ānnāh Yhwh hōshi’ā-nā’ = “Ah! Senhor, dá-nos a salvação!”. Daí
vem nosso hosana na aclamação do Santo na conclusão do prefácio eucarístico.
chuva fecunda que faz renascer a vida (no oitavo dia). A relação da festa com a
chuva é feito pelo profeta Zacarias, como vimos acima.
A libação da água e a luz. A partir da segunda noite, se buscava água na
fonte de Siloé e transportavam em procissão para fazer libações no altar do
templo. Esta libação tinha por base o texto de Isaías: “Com alegria tirareis água
das fontes da salvação. Erguei alegres gritos, exultai, ó habitantes de Sião, porque
grande é o Santo de Israel no meio de ti” (Is 12,3.6).31 E também Ez 47,1-2. A água era
o símbolo do Espírito que tudo fecunda e renova (cf. Is 32,15-18). A procissão era
acentuadamente festiva e luminosa.32
O oitavo dia (Shemini ‘Atseret) 33 é o encerramento, o último dia, dia de
grande solenidade (cf. Nm 29,35). É também – como já foi dito – o dia da prece da
chuva. O oitavo dia é parte da festa, mas ao mesmo tempo tem autonomia como
se fosse uma própria festa.34 O dia tornou-se a festa da alegria da Torá (Simchat
Torá).35 É uma festa especial onde se exprime a alegria e o amor pelo dom da Lei.36
A festa abre-se para o mundo que há de vir, o ser humano almeja e abre-se para a
felicidade em sua plenitude. 137
Foi ainda no oitavo dia da festa que Salomão fez a Dedicação do primeiro
Templo (cf. I Rs 8,2.63-66). Após o retorno do exílio, ainda nesta festa se restaurou
o altar do Templo (cf. Esd 3,1-4), destruído pelos babilônicos.

31 Cf. F. RIENECKER (ed.). Art. Laubhüttenfest: Lexikon Zur Bibel (1961) 829.
32 Segundo A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE: “No Templo, no recinto das mulheres, acendiam-se
candelabros que iluminavam toda Jerusalém” (cf. Ibid, p. 75). Sobre isso veja ainda: F. RIENECKER.
Ibid, 830; J. J. PETUCHOWSKI. Ibid, pp. 57-9; R. SCHNACKENBURG. Ibid, p. 240. A Mishnah Sukkah
5,1.3 diz numa referência à festa: “Não havia em Jerusalém uma única praça que não fosse
iluminada pela luz da casa da fonte”. Segundo J. KONINGS era “um espetáculo de água e luz” (cf.
O Evangelho segundo João, p. 172).
33 ‘Atseret significa também reunião, reter, deter-se e esperar. Os sábios justificavam a solenidade
deste oitavo dia – este reter, deter-se ou esperar – com a seguinte narrativa: “Deus é como um
rei que convidou todos os seus filhos para uma festa de um determinado número de dias. Ao
chegar o dia da despedida, ele lhes diz: ‘Meus filhos, quero perdir-lhes algo: fiquem mais um dia,
é-me difícil separar-me de vocês” (cf. J. HANNOVER. Gelebter Glaube, p. 62).
34 Cf. A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE. Ibid, pp. 79-84. Veja ainda Mishnah Sukkah 4,9; 5,1-4.
Lembramos que fora de Israel são dois dias.
35 Conclui-se o ciclo litúrgico da leitura da Torá com a leitura do último texto do Deuteronômio e
se retoma o ciclo com o primeiro texto do Gênesis (cf. J. HANNOVER. Ibid, pp. 62-3).
36 Neste dia já não se usa o lulav ou ethrog, nem bênção referida a Sukkot e nem se come mais
dentro da tenda. É um dia exclusivo para a alegria da Torá. Realiza-se, porém, o Hakkafot, isto é,
procissões dos membros da comunidade com os rolos da Torá (Sifrei Torá) ao redor do púlpito
(Bimah) no meio da sinagoga na liturgia matutina e vespertina. Em algumas comunidades
formam-se um círculo na sinagoga com danças entre uma procissão e outra além de muitos
cânticos (cf. J. HANNOVER. Ibid, p. 63). Dança-se com a Torá como se ela fosse a noiva, abraçam-
na com a ternura e paixão com que se tem com a amada, com uma intimidade como se só
existissem os dois. Assim se exprime o amor da Aliança que une Israel e a Torá para sempre: um
matrimônio perfeito (cf. A. C. COELHO. Ibid, pp. 87-8).
Em síntese, os elementos que emergem desta festa são: a confecção da
tenda e habitação nela, o lulav (a procissão com os ramos), a leitura de Zc 14 e o
Hallel com o hoshiana, a tríade água-Siloé-luz, a chegada do messias (a chegada
esperada do tempo salvífico) e a alegria.
Enfim, a festa das Tendas é certamente a festa mais popular e viva entre
os judeus ainda hoje. Flávio Josefo a define como “a mais santa e maior festa dos
hebreus” (cf. Ant. VIII, 4,1).

4. A festa das Tendas no IV Evangelho

Como já mencionamos no início, é notório o interesse de João pelas festas.


Não se trata de um interesse pelas festas em si, mas enquanto elas ajudam na sua
reflexão sobre Jesus, enquanto elas servem para esclarecer o ministério (e mistério)
do mestre. Dentre as festas, o evangelista oferece também alguns indícios claros
138 a respeito da festa das tendas. Mas não para nos indícios, ele apresenta a única
referência explícita desta festa em todo o NT.37 Esta ocorrência explícita ilumina e
confirma as demais. Aborda-las-emos a seguir.

4.1. Jo 7: a festa e a água


Na abertura deste capítulo o evangelista diz: “era próxima a festa dos judeus,
a Skēnopēgía” (7,2). O termo Skēnopēgía, aqui em aposição ao termo festa, é o
termo que a LXX usa algumas vezes para traduzir Hag ha-Sukkot, isto é, festa
das Tendas (cf. acima). Portanto, temos aqui uma referência explícita à festa. A
estrutura do inteiro capítulo é determinada pelo andamento da festa: antes da
festa (vv. 1-13), durante a festa (vv. 14-36) e o último dia (vv. 37-52).38
a) antes da festa (vv. 1-13). João diz que Jesus “não podia circular pela Judéia,
porque os judeus queriam matá-lo” (v. 1) e em seguida toma distância da festa, é
“a festa dos judeus” (v. 2). Depois Jesus diz a seus irmãos: “Subi, vós, à festa. Eu não
subo para essa festa, porque meu tempo ainda não se completou” (v. 8). E “ninguém
falava dele abertamente, por medo dos judeus” (vv. 13). Por um lado João usa 5
vezes o termo festa em apenas 13 versos.39 Por outro, associa a rejeição do Messias
justamente com a festa na qual se acreditava que o messias se manifestaria.40 A
37 Cf. R. VICENT. La festa ebraica delle capanne, p. 217.
38 Cf. F. PORSCH. Johannes-Evangelium, p. 76; R. VICENT. Ibid, p. 220.
39 Cf. vv. 2.8.8.10.11.
40 O verbo matar (apokteinō) aparece 12x no IV Evangelho, das quais 7x estão nestes dois capítulos
referidos a Jesus (7,1.19.20.25; 8,22.37.40). Ainda referidos a ele: 5,18; 11,53. Os restantes são:
rejeição do messias por uma parte do judaísmo vinculada às festas é um traço
joanino. A festa não é a dele. Nela, apenas se escala a trama que culminará na
própria festa, a sua páscoa.
b) durante a festa (vv. 14-36). “Quando a festa estava pelo meio, Jesus subiu
ao Templo e começou a ensinar” (v. 14). Não fala em participação na liturgia, mas
ensino.41 É a primeira vez que ele ensina no Templo.42 O foco não é o conteúdo do
ensino, mas a controvérsia. E neste contexto lança a pergunta: “Por que procurais
matar-me?” (v. 19). Até aqui não aparecem pormenores litúrgicos, o foco é a
pessoa, missão de Jesus e sua rejeição.
c) o último dia da festa (vv. 37-52). “No último dia da festa, o mais importante
[lit. o grande]...” (v. 37a). Provavelmente trata-se do 7º dia uma vez que no 8º dia,
isto é, no último dia não havia mais libações de água no altar dos sacrifícios nem
se realizava qualquer rito festivo particular.43 Jesus põe-se de pé – posição de
profeta – e grita:
“Se alguém tem sede, que ele venha a mim e que ele beba,
aquele que crê em mim!” 139
Conforme a palavra da Escritura:
“De seu seio jorrarão rios de água viva” (vv. 37b-38).44

12,10, 16,2; 18,31. Soma-se a isto o verbo prender (piazō). João o usa 8x sendo 4x nestes dois
capítulos aplicados a Jesus (7,30.32.44; 8,20). Além disso, uma tentativa de apedrejamento
(8,59). Isto revela a tensão que vai ocupando o espaço da alegria da festa.
41 Cf. ainda vv. 28.35; 8,2.20; 18,20.
42 Ensinou uma outra vez, mas na sinagoga de Cafarnaum (6,59). Tratava-se do ensino da Lei
“reservado aos escribas e doutores, porque ninguém podia exercer esta função sem ter sido
discípulo numa escola que lhe houvesse transmitido” (cf. X. LÉON-DUFOUR. Leitura do Evangelho
segundo João, p. 158). É o caso de Paulo (cf. At 22,3). Por isso o espanto dos ouvintes no v. 15.
Mas João reserva esta atividade apenas para Jesus, para o Pai (8,28) e para o Espírito (14,26). Uma
exceção ocorre numa pergunta retórica dos judeus dirigida ao cego (9,34).
43 Cf. S. SCHULZ. Das Evangelium nach Johannes, p. 121; R. SCHNACKENBURG. El Evangelio según
San Juan, p. 214. Mas J. MATEOS – J. BARRETO entendem que a expressão “no último dia” tenha
um duplo sentido, a saber, cronológico e teológico. O sentido teológico é dado pelo autor no v.
39 referindo-se ao futuro: a água será dada na manifestação da glória, isto é, na morte (19,34)
e será o dia mais solene da festa, porque nele se inaugurará o novo santuário (2,21) onde se
manifestará a glória de Deus (cf. 17,1) (cf. O Evangelho de São João, pp. 372-3).
44 Há uma discussão na exegese se o manancial de água viva é o crente ou Jesus. Alguns entendem
– numa analogia incerta com o texto da mulher samaritana (4,14) – que a água doada por Jesus
jorra no crente, ele é a fonte (cf. Pr 18,4; 20,5; Is 58,11). A maioria dos estudiosos, porém, entende
que o texto faça referência a Jesus como a fonte da qual bebe os crentes, isto é, recebem dele
o dom do Espírito (cf. v. 39). O critério que prevalece é o contexto. Sobre a questão veja, por
exemplo, R. SCHNACKENBURG. Ibid, pp. 214-7; J. KONINGS. Ibid, p. 178; X. LÉON-DUFOUR.
Ibid, pp. 169-71. Quanto ao texto enquanto citação escriturística exata não aparece em lugar
nenhum, embora muitas passagens se aproximem da mesma – como: Ex 17,6; Is 12,3; 43,19-20;
44,3; 55,1-2; 58,11; Zc 14,8; Jr 2,13; 17,13; Pr 18,4. Talvez resulte de um midrash (Ibid). De qualquer
modo, a libação é o único aspecto de Sukkot que João interpreta recorrendo à Escritura (cf. R.
VICENT. Ibid, p. 218). Sobre estas questões veja ainda L. DEVILLERS. A Saga de Siloé, pp. 69-76.
Esta proclamação de Jesus ocupa o auge da festa. Ele doa, como Messias, a
água da vida, a água verdadeira.45 A promessa ou oferta é universal: “se alguém tem
sede”, “aquele que crê”, ou seja não se restringe aos judeus. João interpreta a água
como o Espírito Santo que receberão aqueles que creem em Jesus por ocasião de
sua glória (v. 39; cf. Jl 2,28; Ez 39,29). Mesmo a Sinagoga já interpretava a libação
da água como o recebimento do Espírito e início do tempo salvífico messiânico.
Assim Jesus coloca um fim escatológico ao culto judaico.46 Ele faz uma revelação
pública – como se lhe exigiam (7,4), manifesta a sua identidade. Portanto, a “água
viva que sai de Jerusalém” (cf. Zc 14,8) é equiparada ao dom do Espírito que seria
derramado (cf. Ez 39,29) e ambos saem agora do próprio Jesus para aquele que
crê (cf. Jo 7,37-39). O messias e a salvação esperado por ocasião da festa já está
presente nele e a práxis do dom da água de Sukkot está superada.47
O evangelista, partindo da festa e particularmente do elemento da libação
do altar, focaliza nesta manifestação pública o aspecto do beber (cf. Ex 17,6) e
se amplia: fontes, rios que partem de Jerusalém (cf. Ez 47,1-2; Zc 13,1; 14,8), isto
140 é, a dimensão da abundância. Desta forma entre a menção da festa (v. 2) e a
manifestação pública (v. 37-38) emoldura o sentido da pessoa e missão de Jesus.

4.2. Jo 8: a luz e a alegria de Abraão


Em Jo 8,12 Jesus faz outra autoproclamação: “Eu sou a luz do mundo. Quem
me segue não andará nas trevas mas terá a luz da vida”. Para X. Léon-Dufour “a
metáfora da luz aplicada a Jesus dá o tom ao capítulo”.48 Com esta proclamação
Jesus afirma que em si se cumpre a promessa da luz definitiva (cf. Is 9,1) e não só
para Israel, mas para “quem me segue”, ou seja, é universal (cf. Is 42,6; 49,6). Ora,
esta proclamação evoca outro elemento da festa das Tendas, a luz (cf. Sukkah 5,2-
4). Mas enquanto a luz da festa iluminava a cidade de Jerusalém (cf. Sukkah v,
3b), Jesus se apresenta como luz do mundo.49 A luz da festa, à luz de Zc 14,6-7
referindo-se ao Dia do Senhor, tinha uma conotação messiânica.

45 Ele é rocha da qual mana água (Sl 78,16), é a fonte aberta de Jerusalém (Zc 13,1) que sai água viva
(Zc 14,8). Do mesmo contexto deste profeta (Zc 12,10) estabelece-se um vínculo com Jo 19,33-
34.37, isto é, a água viva vem do lado traspassado do Cristo.
46 Cf. S. SCHULZ. Ibid, p. 121.
47 Cf. S. BERGLER. “Jesus, Bar Kochba und das messianische Laubhüttenfest”, pp. 169-70.
Este autor ainda acrescenta: “Para ele [João] o próprio Jesus substitui Sukkot e em
geral torna o culto do templo supérfluo pelo fato que ele liga o dom da água viva à sua
pessoa, fala do templo do seu corpo (2,21), ou seja, pela promessa do Espírito dá por
extinta a peregrinação para Jerusalém” (Ibid, p. 174), tradução nossa.
48 Cf. Ibid, p. 187.
49 Cf. 1,9; 3,19; 12,46.
J. Beutler fala da história da adúltera (Jo 7,53-8,11) como uma interpolação
no texto joanino. Em seguida comenta:
“Não é totalmente claro a que situação pertence o discurso
subsequente de Jesus, que começa em 8,12 e que, através
de diversas interlocuções, se prolonga até 8,59. Quando
se considera que a história da adúltera foi acrescentada
ao Evangelho segundo João, o discurso de 8,12 seria a
continuação daquele que começou em 7,37s. Pertenceria
então ao discurso de Jesus no último dia da festa das Tendas.
O fato de Jesus, em 8,12 usar o simbolismo da luz corrobora
a impressão de que o discurso pertence à festa das Tendas”.50

De qualquer modo, são duas declarações messiânicas, inspiradas no rito da


festa: a água viva (Jo 7,37-38; cf. Zc 14,8) e a luz (8,12; cf. Zc 14,7).51 São promessas
universais que ultrapassam o judaísmo.52 Jesus se inspira em ambos os casos no
rito, mas ao mesmo tempo se sobrepõe ao rito no sentido que não é mais um
mero instrumento ritual, mas uma pessoa. Ele não é um candelabro aceso, ele é a
luz. Não transporta a água numa procissão para fazer libação no altar, ele é a água 141
que sacia. Revela sua pessoa e missão em confronto com a liderança judaica.
No v. 56 do mesmo capítulo, após a controvérsia com a liderança dos judeus,
Jesus diz: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia. Ele viu e encheu-se de
alegria”. Ora, o patriarca Abraão aparece com frequência na tradição judaica como
modelo de fé ao crente. Nesta perspectiva é apresentado como fundador da festa
das Tendas.53 Jesus estabelece aqui outro vínculo com a festa que é o tema da
alegria. A alegria de Abraão não aparece explicitamente na Escritura,54 vai aparecer
sim no Livro dos Jubileus (Jub 16,19-20). Curiosamente o evangelista – assim como
50 Cf. Evangelho segundo João, p. 209.
51 Cf. J. MATEOS – J. BARRETO. Ibid, p. 346. Segundo J. KONINGS: “No lugar central [7,37-52; 8,12-20]
estão, portanto, os dois símbolos da festa das Tendas, água (7,37) e luz (8,12). A festa das Tendas
comportava o traslado diário da água de Siloé (piscina em que desembocava a fonte do Templo,
o Gion) e culminava numa procissão solene com luzes e fachos” (cf. Ibid, p. 171). Ainda X. LÉON-
DUFOUR estabelece o elo entre os dois capítulos: “Mesmo que o capítulo 8 não inclua novas
indicações de tempo, é certo que os acontecimentos referidos se passam ainda no ambiente
desta festa da água (cf. 7,37) e, segundo certas tradições, da luz (cf. 3,12)” (cf. Ibid, p. 148; veja
ainda p. 187). Por um lado, a festa das Tendas já viveu seu último e grande dia (cf. 7,37a), mas por
outro lado não se menciona uma nova festa, Jesus continua sua atividade no Templo, a saber,
ensinando (v. 20) e o tema se vincula àquele da festa (cf. R. SCHNACKENBURG. Ibid, p. 237). Ainda
segundo este autor, o lugar de onde Jesus fala – a câmara do Tesouro (cf. v. 20) – ficava no pátio
das mulheres, que por sua vez, estava relacionado com a celebração da luz (cf. Ibid, pp. 240.247).
52 Ambas apresentam a mesma estrutura, mas esta acrescenta a expressão “Eu Sou” (com metáfora)
alcançando a forma plena de uma sentença de revelação soteriológica (cf. R. SCHNACKENBURG.
Ibid, p. 239).
53 Cf. R. SCHNACKENBURG. Ibid, p. 240. Abraão teria sido o primeiro a celebrá-la (cf. Jub 16,21).
54 Em Gn 17,17 fala-se do seu riso. Mas o contexto não permite ver ali uma expressão de alegria
confiante.
o autor de Jubileus – vincula a alegria de Abraão não com o passado, mas com o
futuro. Ver o dia messiânico, isto é, a fé e consequente observância do patriarca lhe
permitiram ver a realização da promessa. Assim João faz de Abraão testemunha
crente e alegre da vinda de Jesus. Desta forma o evangelista contrapõe a alegria
do patriarca com a tristeza e incredulidade da liderança judaica para com Jesus,
mesmo se dizendo “filhos de Abraão”.55 Sua conduta nega sua descendência. Para
Jesus, a filiação não é uma questão apenas de raça, mas sobretudo de atitudes.

4.3. Jo 9,5-7: a cura do cego em Siloé


No capítulo anterior, Jesus se declarara como “luz do mundo”, aqui ele
retoma esta declaração e a realiza devolvendo a luz dos olhos a um cego que
passa a ver.56 Ele diz: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (v. 5). Em
seguida vem a demonstração vinculada à declaração:
“Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva,
142 aplicou-a sobre os olhos do cego e lhe disse: ‘Vai lavar-te na
piscina de Siloé – que quer dizer enviado’. O cego foi, lavou-se
e voltou vendo” (vv. 6-7).

Como observa X. Léon-Dufour, “Siloé é o único lugar que recebe nome


no relato”.57 O evangelista oferece também o seu significado ‘enviado’ (do verbo
apostellō). Ora, ‘enviado’ é um tema caro a João aplicado a Jesus.58 O Pai o envia.
Ainda segundo Léon-Dufour, “ao dar a ordem de ir a Siloé, isto é, ao Enviado que é
ele mesmo, Jesus manifesta que sua missão é libertar das trevas”.59 Assim explicita
o que é ser luz do mundo. Lá em Siloé, ao executar a palavra imperativa de Jesus
lavando-se, o cego volta vendo. As bênçãos que asseguravam as águas de Siloé
chegam agora através do único Enviado.60 A recuperação da vista aos cegos
55 Sobre este v. 56 nos servimos do trabalho de R. VICENT. Ibid, pp. 221-3.
56 Também do ponto de vista literário, a conjunção kai (= e), no início do relato, faz deste episódio
um prolongamento da festa das Tendas (cf. X. LÉON-DUFOUR. Ibid, p. 229).
57 O autor acrescenta: “A piscina de Siloé, situada a sudoeste da cidade velha, encontrava-se
no fim de um túnel construído por Ezequias (em torno de 740 a.C. [cf. II Rs 20,20; II Cr 32,30;
Eclo 48,17]) para levar a Jerusalém as águas do Guihon” (cf. Ibid, p. 233). Ainda sobre isso: R.
SCHNACKENBURG. Ibid, p. 306. Segundo R. VICENT, “é significativo que na época do NT Siloé
fosse considerada como fonte (‘água viva’, em referência a Jo 7,38c) e não uma simples cisterna”
(cf. Ibid, p. 223), tradução nossa. J. MATEOS – J. BARRETO alertam para não confundir a piscina de
Siloé com a fonte do mesmo nome (Ibid, p. 427). Ao nosso entender, no contexto, o evangelista
não está preocupado com a distinção, está antes fazendo um jogo de palavras.
58 Cf. com o verbo apostellō: 3,17.34; 5,36.38; 6,29.57; 7,29; 8,42; 10,36; 11,42; 17,3.8.18.21.23.25;
20,21. Ainda com o verbo pempō: 4,34; 5,23.24.30.37; 6,38.39.44; 7,16.18.28b.33; 8,16.18.26.29;
9,4; etc.
59 Cf. Ibid, p. 233.
60 Cf. R. VICENT. Ibid, p. 224.
era sinal da chegada do Messias.61 Ora, como negar a relação desta sequência
de elementos com a festa das Tendas? Como negar que João tenha feito aqui
um jogo literário com os ingredientes da festa: água – luz – Siloé – enviado –
Messias? J. Konings exprime esta idéia dizendo: “Jesus manda o homem a Siloé, o
reservatório das águas salvíficas, de onde pouco antes tinha saído a procissão de
luz e água da festa das Tendas”.62 Segundo L. Devillers, “ao longo de seu Evangelho,
e especialmente da seção da festa das Tendas, [João] quer mostrar em Jesus o
verdedeiro Siloé, de onde flui a água viva (cf. Jo 7,38)”.63
No conjunto do capítulo, o conflito com os opositores de Jesus se escala e
Jesus revela a cegueira deles (cf. 9,39-41). A atitude deles contrasta radicalmente
com a do cego. Realiza-se para estes as palavras de Isaías: “este povo rejeitou as
águas de Siloé que correm mansamente...” (Is 8,6).

4.4. Jo 12,12-15: a entrada solene de Jesus em Jerusalém


A cena da entrada triunfal de Jesus é relatada pelos 4 Evangelhos.64 Cada 143
um, a seu modo, retoma elementos da festa das Tendas. Para nosso propósito
seguiremos o texto joanino:
“No dia seguinte, a grande multidão que viera para a festa,
sabendo que Jesus vinha a Jerusalém, tomou ramos de
palmeira e saiu ao seu encontro, clamando:
‘Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e o rei de Israel!’
Jesus, encontrando um jumentinho, montou nele, como está
escrito:
‘Não temas, filha de Sião! Eis que vem o teu rei montado num
jumentinho!’” (Jo 12,12-15).
O primeiro elemento que desponta são os ramos de palmeira que evoca o
lulav agitado na festa.65 A aclamação é tirada do Sl 118,25a.26a: ‘Hoshi’a-na! [= dá-
nos a salvação]‘Bendito o que vem em nome do Senhor’.66 Trata-se do próprio hoshana
usado na liturgia da festa, originariamente uma súplica, passa a ser um grito de
salvação e aclamação. Este grito vem seguido da bênção que se proclamava sobre
61 Cf. Mt 11,5 e //; Is 29,18; 35,5; 42,7; veja ainda 61,1 na versão grega.
62 Cf. Ibid, p. 198.
63 Cf. A Saga de Siloé, p. 158.
64 Cf. Mt 21,1-19[.12-16]; Mc 11,1-10[.15-18]; Lc 19,28-38[.45-46]. Os ramos de palmeira indicam
vitória (cf. I Mc 13,51; II Mc 10,7; 14,4).
65 Enquanto Mt 21,8 fala em “estender as vestes e cortar ramos das árvores”, João fala em “ramos de
palmeira”. Isto torna mais aderente ao lulav da festa.
66 O Sl 118 é o último do Hallel usado tanto em Sukkot como nas demais festas. Se usava na oração
pela chuva.
os romeiros que chegavam para a festa.67 A frase era aplicada a qualquer romeiro,
aqui se aplica clara e exclusivamente a Jesus – como Messias.68 O acréscimo ‘rei
de Israel’ enfatiza a esperança do Messias que devia vir. O jumentinho, segundo
Zc 9,9, é também uma referência ao rei messiânico que chegaria durante a festa,
rei da paz e não da guerra. Rei da paz não era exatamente esta a expectativa. O
rei sobre um jumentinho era um imaginário insólito, mas justamente aí estava
a particularidade do reino de Jesus. O rei da paz é o que descreve Zc 9,10.69 O
mais interessante, porém, é que João usa todos estes elementos para introduzir a
Páscoa de Jesus, a festa por excelência.

4.5. Jo 10,22: a festa da Dedicação


Entre as referências à festa das Tendas nos capítulos 7-9 e 12,12-15 João
insere a festa da Dedicação (= Hanukkah),70 também conhecida como festa das
Luzes.

144 “Houve então a festa da Dedicação, em Jerusalém. Era inverno.


Jesus andava pelo Templo, sob o pórtico de Salomão” (Jo
10,22-23).

Esta festa, celebrada de 25 do mês de Kislev ou Casleu a 2 de Tevet (novembro-


dezembro), durava 8 dias (cf. II Mc 1,18). Nela se celebrava a rededicação do
Templo por Judas Macabeu em 165 a.C., após a profanação grega liderada pelo
sírio selêucida Antíoco IV Epífanes (175-163). Com a rededicação restaurava-se o
culto judaico. O livro dos Macabeus chama esta festa de “dias das Tendas do mês de
Kisleu/Casleu” (II Mc 1,9) e em seguida recomenda: “...vós a celebreis a modo da festa
das Tendas” (v. 18). Certamente pelo fato que Salomão havia dedicado o primeiro
templo por ocasião da festa das Tendas (cf. I Rs 8,2.63-66). O mesmo ocorre com a
dedicação do altar do segundo templo no período da reconstrução pós-exílica (cf.
Esd 3,3-4).71 Além disso, ambas as festas apresentam um forte elemento comum
que é a luz. Talvez isto explique a interpolação desta festa entre as referências

67 Cf. J. KONINGS. Ibid, p. 238. Enquanto R. SCHNACKENBURG fala de “uma liturgia de ação de
graças que um coro de peregrinos cantava ao entrar no templo” (Ibid, p. 464).
68 Para S. SCHULZ a frase era originariamente pensada para o rei político de Israel, libertador do
povo do jugo do domínio estrangeiro, que estabeleceria Israel em seu messiânico-escatológico
domínio mundial. Mas aqui – corrigido pela perspectiva de Zc 9,9 – deixa-se fora a idéia de um
rei político-ativo. Apresenta-se um príncipe da paz que eliminará as guerras e estabelecerá um
reino messiânico de paz (cf. Ibid, p. 165).
69 Cf. F. PORSCH. Ibid, p. 130.
70 Hanukkah da raiz hanak = dedicar, consagrar.
71 Sobre esta festa: A.-C. AVRIL – D. MAISONNEUVE. Ibid, pp. 141-3; J. HANNOVER. Ibid, pp. 80-8; J. J.
PETUCHOWSKI. Ibid, pp. 107-21; A. C. COELHO. Ibid, pp. 107-15.
da festa das Tendas.72 Todavia, a festa da Dedicação é uma festa autônoma.
Embora parece claro que João não esteja preocupado com a coerência literária,
cronológica ou ritual das festas, quer antes mostrar que elas atingem suas metas
em Jesus.

4.6. Jo 2,13-16; 1,14: a purificação do templo e a habitação do verbo


O profeta Zacarias, olhando para o futuro, fala de uma festa das Tendas
celebrada por todas as nações (cf. Zc 14,16-19) e na sequência diz: Não haverá
mais vendedor na casa do Senhor dos Exércitos, naquele dia” (v. 21b). Ora, esta frase
parece estar na base da atitude de Jesus ao purificar o templo em Jo 2,13-16. Mas
o evangelista situa claramente o episódio no contexto da festa da Páscoa e não
das Tendas (cf. Jo 2,13). Todavia, nesta ocasião Jesus desloca o foco da instituição,
o Templo, para sua pessoa (2,19-21). Ele é o Templo. Isto é importante para o que
segue.
Outra possível alusão à festa das Tendas encontra-se na abertura do 145
evangelho quando o evangelista afirma:
“E o Verbo se fez carne,
e habitou entre nós;
e nós vimos a sua glória...” (1,14).

Na frase “habitou entre nós”, o grego usa o verbo skēnoō, literalmente


significa “armou tenda entre nós” (de skēnē = tenda).73 Poderia sugerir a passagem
provisória ou passageira do Verbo na história. Armar ou confeccionar a tenda
era parte da celebração da festa.74 Jesus, porém, não veio apenas para celebrar a
festa, ele é a festa. Ele arma a tenda que ele é.75 E isso o faz para que a alegria (da
festa) seja plena (cf. Jo 15,11). O foco vai mais longe, evoca a Tenda do Encontro,
lugar da inabitação de Deus entre os israelitas (Ex 33,7-11).76 É o lugar onde Ele
manifestava sua glória:

72 Para X. LÉON-DUFOUR, trata-se de uma única festa, as Tendas, da qual a festa da Dedicação é
uma espécie de desdobramento (cf. Leitura do Evangelho segundo João I, p. 34).
73 Cf. J.-A. BÜHNER. Art. Skēnoō, 1431-2; Art. Skēnē. Ibid, 1426-9. No NT, o verbo skēnoō
aparece ainda no Ap 7,15; 12,12; 13,6; 21,3.
74 A sabedoria também arma sua tenda. Em seguida atribui esta ação a seu criador (cf. Eclo
24,3.8.10). Em João estamos diante da sabedoria incriada. Esta realiza o que aquela prefigurava
através de sua própria carne.
75 Armar a tenda, segundo EPHRAÏM, explica a primeira parte da frase “o Verbo se fez carne” (cf. Ibid,
p. 370).
76 Cf. ainda Ex 27,21; 28,43; 29,4.10.11; Nm 7,89; 17,19; II Sm 7,6; etc..
“A nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor
encheu a Habitação. Moisés não pôde entrar na Tenda da
Reunião porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do
Senhor enchia a Habitação” (Ex 40,34-35).

O hebraico usa aqui para tenda o termo ’ōhæl (e não sukkah) e para habi-
tação (ou para tabernáculo) o termo miškān (da raiz škn = habitar, acampar). A
LXX, porém, traduz os dois termos com a mesma palavra skēnē = tenda. Da raiz
hebraica škn vem o termo rabínico shekiná = morada, presença. Na tenda, na ha-
bitação, Deus manifesta a sua presença, a sua glória, acompanhando o povo em
sua marcha pelo deserto. Ora, João tem isso presente quando acrescenta: “vimos
a sua glória”. Não está mais vinculada a um lugar, mas a uma pessoa.77 É um novo
modo de manifestar-se.
Esta Tenda do Encontro no deserto vai dar lugar ao templo em Jerusalém.78
Agora, como se exprimem J. Mateos e J. Barreto:
“Aquela presença de Deus é substituída por esta: a tenda de
146 Deus, o lugar onde ele habita no meio dos homens, é um
homem, uma ‘carne’. [...] A alusão à nova tenda anuncia já a
substituição do templo. O corpo de Jesus, sua humanidade,
será o novo santuário (2,19.21)”.79

Em Jesus todos podem ver Deus face a face80 como outrora podia Moisés na
Tenda (cf. Ex 33,11). A festa está superada, isto é, alcançou sua plena realização.
Ora, o prólogo do evangelho oferece a chave para entender a perspectiva da festa
na obra.

5. Conclusão

O desenvolvimento da obra joanina é praticamente determinado pelas


festas. O evangelista dá à obra uma perspectiva festiva, celebrativa, litúrgica.
Ele retoma as fontes e tradições a respeito de Jesus, as sistematiza em torno
das festas judaicas e, a partir daí, constrói sua teologia explicitando a pessoa e
ministério do Mestre. A obra deixa aos poucos transparecer que as instituições
e o culto antigo vão dando lugar a uma realidade nova, aquela do Cristo Jesus.
Nele as festas litúrgicas de então encontram seu cume. Nele se realiza aquilo que
77 João exprime de outro modo o pensamento mateano do “Emanuel, Deus conosco” (cf. Mt 1,23).
78 Cf. II Sm 7,1-13; I Rs 5,15-19; 6,1ss.
79 Cf. Ibid, pp. 60.61.
80 Cf. 12,45; 14,7.9.
elas anunciavam. Neste novo templo, Jesus (cf. Jo 2,21), as festas alcançam sua
plenitude. O evangelista – como já antecipamos – fala em 6 festas, um número
imperfeito. Elas preparam e convergem para a perfeição, a sétima, o Cristo
ressuscitado, Verbo eterno do Pai, expressão de sua glória. Ora, a festa das Tendas,
festa messiânica por excelência, exemplifica isso.81 Segundo A. Nicacci:
“A festa dos Tabernáculos [ou Tendas], durante a qual Jesus
cura o cego de nascença (7,2; 9,1s), lembrava a vida dos judeus
no deserto sob as tendas, quando Deus morava no meio deles,
manifestava-se na nuvem de fogo, dava-lhes água da rocha e
os guiava como o pastor guia o seu rebanho. A festa dominical
cristã era tudo isto, mas de modo superior. Era a presença do
Filho de Deus ressuscitado entre os seus (1,14), como luz do
mundo (8,12; 9,5), como fonte de água viva (7,37-39), como
o bom Pastor que conhece e guia as suas ovelhas (10,11-18).
[...] O dia festivo do cristão é a nova Páscoa que substitui todas
as festas judaicas, porque lembra o maior ato salvífico da
história, fruto do amor sem medida de Cristo (13,1). Nela se
congregam simbolicamente todas as lembranças das festas
judaicas e encontra realização o imperfeito culto material que 147
os judeus haviam rendido a Deus, na espera do verdadeiro
templo e do Cordeiro que deveria tirar o pecado do mundo”.82

Diante disso e considerando que a festa das Tendas era e é a festa da alegria
por excelência, resta a pergunta: onde está o transbordar de alegria de nossas
liturgias e de nossa vida cristã?
O Papa Francisco percebe que está faltando alegria, tanto é que na Exortação
Apostólica Evangelii gaudium afirma: “Há cristãos que parecem ter escolhido viver
uma Quaresma sem Páscoa” (EG 6). E na mesma Exortação diz: “Um evangelizador
não deveria ter constantemente uma cara de funeral”. Em seguida faz o apelo:
“Recuperemos e aumentemos o fervor de espírito, «a suave e reconfortante
alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas! (...) E que
o mundo do nosso tempo, que procura ora na angústia ora com esperança, possa
receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e desacorçoados,
impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie
fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo».” (EG 10). Oxalá
81 Conforme L. DEVILLERS: “Com uma simbologia toda própria, a festa das Tendas representa para
João o momento oportuno para revelar pouco a pouco a identidade profunda de Jesus, Messias
enviado pelo Pai. [...] a festa consistirá para ele [Jesus] na oportunidade de fazer sua afirmações
mais incisivas. É aqui, com efeito, que ele proclama do modo mais solene o famoso ‘Eu, eu sou’
(Jo 8,24.28.58; ver também 13,19). É aqui também que ele se apresenta como a Fonte de ‘água
viva’ (Jo 7,37-38) e ‘a Luz do mundo’ (Jo 8,12; 9,5). E, por fim, é aqui que ele enfatiza sua condição
de enviado do Pai” (cf. Ibid, pp. 43.47-48).
82 Cf. Comentário ao Evangelho de São João, pp. 24.25.
que a mensagem da Festa das Tendas ajude os cristãos a redescobrirem a Alegria
do Evangelho e adicionem mais alegria nas celebrações e na vida, como sugere
o Papa.
Por outro lado, a sukkah lembra-nos ainda que não temos aqui morada
permanente, somos “estrangeiros e peregrinos nesta terra... à procura de uma pátria”
(Hb 11,13b.14b) que há de vir. A sukkah é apenas a primeira tenda (Hb 9,2-3; II Pd
1,13).

6. Bibliografia

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148 BÜHNER, J.-A. Art. Skēnē: Diccionario Exegético del Nuevo Testamento II (2012) 1426-9.
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