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indivíduo possuir razões para emitir juízos de valor não diminui a influência
exercida pelas emoções na constituição de sua linguagem axiológica e dos atos
referentes à moral.
O reconhecimento do estatuto racional da ética não invalida a pesquisa
acerca dos componentes emotivos subjacentes às nossas tomadas de decisão no
campo da moral. Faz-se necessário, pois, que a filosofia moral contemporânea
reconheça a interação entre pathos e logos enquanto momentos diferentes,
porém complementares de uma mesmo processo. Até porque, o poder reflexivo
do homem não está dissociado de sua capacidade de viver, sentir e compartilhar
suas experiências afetivas com o outro. Antes de se conceber sapiens, o Homo é
existencialmente sentiens.
É certo que as emoções estimulam um comportamento psíquico
observável cujo a priori fundamental é uma descarga de energia nervosa.
Porém, a emoção pode representar também uma manifestação da nossa
consciência intencional ou ainda um sistema de meios que visam um fim. Para a
fenomenologia de inspiração husserliana, a emoção é algo que se coloca entre a
consciência e o mundo. Ela designa a maneira pela qual o homem reage no e
contra o mundo (Sartre).
A intencionalidade pertence ao processo de manifestação das emoções,
pois a natureza e a intensidade de um estado emotivo dependem do objeto que o
provoca e da maneira como o percebemos. Eis porque a abordagem
fenomenológica das emoções deve ser levada em conta pela psicologia
cognitiva, pois, como salienta Jon Elster (Rationalité, emotions et normes
sociales), as emoções dependem das crenças em razão da necessidade de se
avaliar cognitivamente a situação que as faz surgir antes que qualquer reação se
manifeste.
Nossas sensações se combinam com as normas da mesma forma que estas
interferem na constituição e expressão dos nossos estados mentais. Como indica
Antony Kenny em sua obra Action, Emotion and Will, “as interações entre
emoção e conduta não devem ser negligenciadas pela teoria da ação, pois a
descarga psicomotora dos afetos (catharsis) revela nossa maneira de julgar e
reagir às sensações, sendo, por isso, constitutiva da nossa existência”(p. 76)
Convém, portanto, indicar como uma filosofia da ação moral pode ser
enriquecida pelos dados sensoriais oriundos de nossas instâncias afetivas. Não
se trata de conceber as emoções como fundamento das normas ou como garantia
de sua aplicação à realidade prática. Esta função, sabemos, compete à
racionalidade do agente moral. Se nossas faculdades sensoriais se afiguram
como necessárias à análise axiológica das emoções, elas não são jamais
suficientes para constituir um critério de justificação válido para a ética.
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