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Estados emocionais e condutas normativas : o papel das emoções na


constituição da moralidade.

Prof. Dr. Marconi Pequeno (Programa de Pós-Graduação em Filosofia-UFPb)

O que é uma emoção? Como os estados afetivos podem interferir nos


comportamentos morais a propósito da moral? Como é possível encontrar uma
articulação entre o racional e o sensitivo capaz de explicar nossa conduta
normativa? Donde vem o desejo de o indivíduo exprimir os seus sentimentos
sobre o que é bom e correto? Nossas atitudes valorativas são oriundas de um
“senso moral” inato ou são invenções culturais? Enfim, qual o lugar que as
emoções ocupam no terreno da moral ?
São inúmeras as dificuldades enfrentadas por quem busca resposta para
tais indagações. O problema aqui consiste em saber como a afetividade participa
da composição do agir moral. Ou ainda, como caracterizar o papel
desempenhado pelas emoções no universo da moral sem se deixar aprisionar
pela clássica dicotomia entendimento-sensibilidade.
Da mesma forma que os termos prazer, dor, inclinação, felicidade, amor,
são empregados em diversos sentidos, a emoção pode designar uma tendência
afetiva, uma reação intempestiva ou um fenômeno espontâneo ligado à
sensibilidade. As emoções têm servido para caracterizar um estado de
consciência, um distúrbio da conduta, uma resposta adaptativa a um
acontecimento insólito, uma descarga neurofisiológica, uma acontecimento
pulsional, etc.. Eis em que se enredam as tentativas de se estabelecer um liame
entre a moralidade e as emoções, posto que os afetos não apenas se exprimem
em graus de intensidade diferentes, como suas repercussões variam segundo os
valores vigentes em cada sociedade. Ademais, sabemos que a noção de “objeto
digno de causar emoção” é imprecisa já que depende de variáveis culturais e da
suscetibilidade dos indivíduos e de suas experiências existênciais.
Em inúmeras situações se afigura impossível estabelecer o sentido e o
alcance preciso das emoções e a linha divisória que separa os fenômenos
emocionais dos não emocionais. Os limites são ainda menos claros quando
passamos a analisar as diferentes emoções e a própria heterogeneidade dos
elementos que as constituem. As emoções, tanto quanto os fenômenos não
emocionais, podem confundir-se entre si. Algumas experiências emocionais
possuem características que se manifestam nos âmbitos neurofisiológico,
bioquímico, psíquico, comportamental. Sabe-se também que as pessoas são
capazes de, simultaneamente, amar e odiar, que certas dores são acompanhadas
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de sensação de prazer. Um dos problemas presentes no estudo das emoções


concerne à correlação entre os estímulos e as respostas. Parece evidente que as
emoções são geralmente desencadeadas por estímulos sensoriais ou pela
recordação de alguma experiência já vivenciada, seja por meio da introspecção,
seja pela observação de fatores externos. Todavia, muitos comportamentos são
manifestos sem que observemos neles qualquer significado emocional.
Ora, vimos que o tipo de reação emocional depende muitas vezes das
características singulares dos indivíduos, de experiências passadas, da
susceptibilidade de cada um, das circunstâncias, dos momentos vividos, etc..
Além disso, fatores ambientais podem modificar a relação estímulo-resposta,
fazendo com que o padrão de resposta emocional varie em cada pessoa, como
também sofra interferências do lugar onde ela se encontra. É certo que a emoção
pode adquirir um caráter desagregador do comportamento, na medida em que
aparece como um estado afetivo perturbado. No entanto, em muitos casos ela se
expressa como atitude adaptativa organizada e coerente. Apesar de tais
dificuldades, sabemos que a experiência emocional constitui um elemento
essencial do processo de sociabilidade humana.
As emoções traduzem geralmente um sentimento de aprovação ou
reprovação. É em função disso que podemos designá-las como negativas ou
positivas. É, enfim, por isso que podemos associá-las aos valores. Apesar de as
emoções revelarem nossa percepção do que é agradável ou desagradável, nem
todas as sensações agradáveis ou desagradáveis têm conteúdo emocional (um
gosto pode ser doce ou amargo, um aroma suave ou forte). Como, a rigor, nosso
comportamento tende a reproduzir nossa inclinação para o que nos causa prazer
ou repulsa, a emoção aparece como um importante elemento do processo de
tomada de decisão. A afetividade pode assim orientar a atitude do sujeito em
direção à fonte do estímulo a fim de eliminá-la ou preservá-la. Aproximamo-nos
ou nos afastamos daquilo que pode desencadear uma emoção. A emoção está,
pois, relacionada à motivação (motus- emovere). É certo que nem toda emoção
gera um comportamento motivacional organizado. Há situações em que um
comportamento emocional não se dirige para um alvo preciso. Da mesma forma,
pode-se afirmar que nem toda motivação é determinada pelo que se nos afigura
agradável ou desagradável. As motivações também podem ocorrer mediante o
concurso das nossas aptidões intelectuais ou da nossa formação (marcos
cultuais/educação). Eis o que diferencia, por exemplo, o sentimento involuntário
da fúria da motivação para fazer o bem, cuja realização, sabemos, não depende
exclusivamente das nossas experiências sensoriais.
O comportamento emocional, em virtude do seu componente afetivo, nem
sempre exige uma motivação prévia. A despeito de seu caráter freqüentemente
intempestivo, a emoção pode se fazer duradoura, como é o caso da tristeza que
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sentimos quando perdemos um amigo ou um ente querido. O luto revela o


quanto a emoção pode induzir um comportamento de reclusão e apatia nos
indivíduos. A letargia provocada pela tristeza demonstra também como e por
quanto tempo a emoção pode arrefecer ou mesmo suprimir uma conduta. O
contrário também é verdade : as emoções podem motivar o comportamento e
ajudar a coesão social.
As emoções, assim como as outras funções mentais superiores –
imaginação, percepção, memória, inteligência - assumem uma importância
fundamental no controle do comportamento. A natureza do nosso repertório de
atitudes emocionais não depende apenas do nossas funções cerebrais, pois o
corpo e a percepção que dele temos se constituem como elementos fundamental
para a configuração das respostas emocionais.
Como havia demonstrado Darwin, os afetos têm uma utilidade e um valor
: eles servem para adaptar os organismos às diferentes situações vitais. Eis por
que o medo traduz não somente a sensação de perigo, mas também o
comportamento de fuga. Darwin demonstrou que certos gestos e expressões
humanos representam vestígios dos caracteres animais de adaptação ao longo da
evolução. Estes sinais, segundo ele, deveriam ser compreendidos como
manifestações físicas cuja origem remonta a uma realidade psíquica subjacente :
a emoção. Tais atos expressivos seriam resíduos inatos provenientes de uma
herança ancestral. Eis por quê a emoção pode nos fazer reagir convenientemente
a um acontecimento.
As emoções, enquanto fenômeno mental, dependem, pois, do cérebro.
Este se apresenta não apenas como um quadro de referência para as atividades
do pensamento, mas também para as manifestações sensoriais que designamos
emoções. Disso se infere que, do ponto de vista da história evolutiva dos seres
humanos, emoção e razão interagem constituindo respostas adaptadas a
circunstâncias específicas. Sendo assim, o estabelecimento de reações
adaptativas seria definido por processos emocionais enquanto a escolha de
respostas determinadas resultaria do uso da razão.
Esta idéia desmonta o famoso dualismo cartesiano entre mente e corpo,
na medida em que os toma como realidades integradas, ou seja, como estruturas
que se fundem numa relação de correspondência. Os estados mentais e os
processos cerebrais que lhe são correlatos não podem ser tomados como algo
separado do corpo, sob pena de se reduzir as emoções a fenômenos
desconectados dos sistemas neurais e das movimentos corporais
correspondentes.
As emoções são indispensáveis à compreensão da origem e da expressão
dos comportamentos. Esta evidência, ademais, atesta que nossas apreciações
morais podem conservar uma significação emotiva. O elemento emocional
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presente na conduta humana nos permite compreender o significado de uma


decisão ou de um ato. A questão é saber se podemos fundar nossos julgamentos
morais sobre as sensações afetivas. As emoções, é certo, nem sempre estão
presentes em nossas atitudes morais. A expressão autêntica de uma emoção não
garante o valor e a rigidez de nossas convicções morais, da mesma forma que
uma decisão moral pode resultar de uma emoção insincera ou falsa. Porém,
quando verdadeiramente sentidas, as emoções podem motivar ou guiar certos
tipos de comportamento
Ora, vimos que tema das emoções constitui um terreno minado cujo
percurso exige muita precaução. Para bem atravessá-lo faz-se necessário
primeiramente distinguir as emoções morais das outras modalidades de
manifestação afetiva. A estrita correlação entre os valores e os afetos não pode
ser justificada a partir de princípios morais universais ou de uma teoria geral da
nossa conduta emotiva. Esta dificuldade, contudo, não deve arrefecer o desejo
de elucidação, nem, muito menos, servir de estorvo às iniciativas de
compreensão do problema.
As emoções possuem uma relação privilegiada com os valores na medida
em que nos permitem conferir importância aos acontecimentos a partir da
análise do seu conteúdo e configuração. Reagir sob a forma de medo, tristeza,
alegria, ódio, significa atribuir um significado específico ao fato desencadeador
de tal sintoma. Nesse sentido, os juízos de valor podem ser influenciados pela
afetividade. Por isso e que, subjacente a cada emoção, podemos encontrar um
princípio associando virtudes e sensações.
A moral comporta um saber, mas também uma decisão. Se para cada
avaliação existe uma emoções correspondente, disso se conclui que a vivência
sensitiva não somente institui valores, como se afigura capaz de suscitar atitudes
de caráter moral. Eis o que nos permite de postular uma interação entre os
afetos, as atitudes que eles suscitam e os valores que lhe são correspondentes.
Apesar de as emoções ocuparem um importante lugar no curso de nossa
experiência moral, elas não são capazes de nos fornecer uma idéia completa do
fenômeno moral. De fato, os afetos não são suficientes para explicar porque
certos princípio morais conduzem os indivíduos à ação. Da mesma maneira, não
se pode aceita que as manifestação afetivas e os predicados de valor estejam
sempre em correlação direta. O julgamento moral reclama uma legimitidade; ele
demonstra que temos motivos para agir, mas também revela que precisamos de
razões apropriadas pela justificá-los.
As emoções integram os procedimentos de tomada de decisões, entretanto
elas não são suficientes para justificar porque criamos, obedecemos e
disseminamos normas e valores. Elas nos permitem tão-somente compreender
certos aspectos do comportamento moral dos homens. Por outro lado, o fato de o
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indivíduo possuir razões para emitir juízos de valor não diminui a influência
exercida pelas emoções na constituição de sua linguagem axiológica e dos atos
referentes à moral.
O reconhecimento do estatuto racional da ética não invalida a pesquisa
acerca dos componentes emotivos subjacentes às nossas tomadas de decisão no
campo da moral. Faz-se necessário, pois, que a filosofia moral contemporânea
reconheça a interação entre pathos e logos enquanto momentos diferentes,
porém complementares de uma mesmo processo. Até porque, o poder reflexivo
do homem não está dissociado de sua capacidade de viver, sentir e compartilhar
suas experiências afetivas com o outro. Antes de se conceber sapiens, o Homo é
existencialmente sentiens.
É certo que as emoções estimulam um comportamento psíquico
observável cujo a priori fundamental é uma descarga de energia nervosa.
Porém, a emoção pode representar também uma manifestação da nossa
consciência intencional ou ainda um sistema de meios que visam um fim. Para a
fenomenologia de inspiração husserliana, a emoção é algo que se coloca entre a
consciência e o mundo. Ela designa a maneira pela qual o homem reage no e
contra o mundo (Sartre).
A intencionalidade pertence ao processo de manifestação das emoções,
pois a natureza e a intensidade de um estado emotivo dependem do objeto que o
provoca e da maneira como o percebemos. Eis porque a abordagem
fenomenológica das emoções deve ser levada em conta pela psicologia
cognitiva, pois, como salienta Jon Elster (Rationalité, emotions et normes
sociales), as emoções dependem das crenças em razão da necessidade de se
avaliar cognitivamente a situação que as faz surgir antes que qualquer reação se
manifeste.
Nossas sensações se combinam com as normas da mesma forma que estas
interferem na constituição e expressão dos nossos estados mentais. Como indica
Antony Kenny em sua obra Action, Emotion and Will, “as interações entre
emoção e conduta não devem ser negligenciadas pela teoria da ação, pois a
descarga psicomotora dos afetos (catharsis) revela nossa maneira de julgar e
reagir às sensações, sendo, por isso, constitutiva da nossa existência”(p. 76)
Convém, portanto, indicar como uma filosofia da ação moral pode ser
enriquecida pelos dados sensoriais oriundos de nossas instâncias afetivas. Não
se trata de conceber as emoções como fundamento das normas ou como garantia
de sua aplicação à realidade prática. Esta função, sabemos, compete à
racionalidade do agente moral. Se nossas faculdades sensoriais se afiguram
como necessárias à análise axiológica das emoções, elas não são jamais
suficientes para constituir um critério de justificação válido para a ética.
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Entretanto, a intervenção da afetividade parece capaz de nos indicar a boa


direção, de nos mostrar as diretrizes necessárias para uma tomada de decisão.
Eis a razão pela qual o homem não pode jamais escapar a uma apreciação
afetiva dos valores. Com isso, nós simplesmente sugerimos que em certas
circunstâncias a capacidade de sentir e exprimir emoções é indispensável à
constituição de certos comportamentos morais.
Ademais, é ingênuo pensar que o futuro da ética resida na maneira como
ela trata as emoções, nem que estas sejam suficientes para nos fornecer uma
idéia clara acerca do que é moral ou imoral. Convém apenas reconhecer que as
emoções compõem certos traços do nosso comportamento e que, por
conseguinte, fazem parte da constituição fundamental da nossa moralidade.
Poder-se-ia enfim dizer, à maneira de Kant, que : se a moral sem emoção é
vazia, uma moral que se orienta apenas pela emoção é cega..

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